O DOMÍNIO DE SI MESMO PELA AUTO-SUGESTÃO CONSCIENTE* Emile Coué
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Do ori ori gi nal em f rancê rancês: s: “ La Maîtrise de Soi-Même par L’Autoggestion Consciente”
PARTE 1 O DOMÍNIO DE SI MESMO PELA AUTO-SUGESTÃO CONSCIENTE CONSCIENTE
A sug sugest ão, ou ant es, a aut o- sug sugest ão, é um assun ssunt o c ompl et ament e novo e ao mes esm mo t empo t ão ant i go quant quant o o mundo. É um ass ssu unt o novo ovo por que, at é hoj e, f oi mal est udado ado e, por conseg consegu ui nt e, não mui t o conh conheci do; é ant ant i go, por dat dat ar da apar apar i ção do hom homem na t er r a. De f at o, a a au ut o- sugest sugest ão é um i nst r ument ent o que nasce conosco, conosco, e est e i nst r ument ent o, ou mel hor , est a f or ça ça,, é dot ada de um poder inaudito, i nca call cul cul ável , que, co con nf or me as ci r cun cunst ânci as, pr oduz os os mel hor es ou os pi pi or es ef ef ei t os. O conh conheci ment ent o dest a f or ça é út i l a ca cad da um de nó nós e, e, par t i cul cul ar ment e, é i ndi spe spensá sáv vel aoss médi ao édi cos, aoss magi ao agi st r ados, ados, aoss advog ao advogad ados os e aos aos educad educador or es da moci dade dade.. Logo Logo
que que
a sabem sabemos pôr pôr em pr át i ca, de uma manei anei r a evii t ar , em pr i mei r o l ugar , pr ovoca carr nos consciente, devemos ev out out r os as as au aut o- sugest sugest õe õess mal i gnas, cuj cuj as conseq conseqü üênci ênci as podem odem ser desa esast st r osas; depoi epoi s p prr ovoca ovocam mos, conscientemente, as aut aut o- sugest sugest õe õess ben beni gnas, que l evam evam a saúd saúde mor al ao aoss que que soff r em de so nef r ose se,, aos de dese sen nca cam mi nhados, ví t i mas i nco con nsci ent es de au aut o- sug sugest ões ant er i or es, e qu que con conduzem ao bom ca cam mi nho os espí espí r i t os com com t endênci a a segu segui r em o mal . O SER CONSCIENTE E O INCONSCIENTE
Par a bem bem compr ee een nder der os f enôm enômenos enos da sugest sugest ão ão,, ou, ou, mai s acerr t adam ace adament ent e, da aut aut o- sugest sugest ão ão,, é pr eci so saber saber que há em nós do doi s i ndi ví duos com compl et ament e di st i nt os um um do out r o. Ambos são são i nt el i gent ent es, mas enq enquant ant o um é consci consci ent e, o out r o é i nco con nsci ent e. É a r azão zão pel a qual a sua sua exi st ênci a, ger al ment e, passa desp despe er cebi cebi da. Ent r et ant o, est a exi st ênci a pode se serr f aci l ment e co con nst at ada, desde desde qu que se t enh enha o t r abal abal ho de exam exami nar nar cer t os f enôm enômenos enos que so sob br e el es se qu quei r a r ef l et i r bem, por al guns i nst ant es. Exem xempl i f i quemos: Todos Todos s abem abem o que que é s onam onambul bul i s mo e que que o s onâm onâmbul bul o l evant ando- se à noi t e, sem estar acordado , sa saii do quar t o
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dep depoi s de mudar udar ou não não a r oupa oupa,, desce as escadas, escadas, at r avess avess a corr r edor es e, após t er pr at i ca co cad do ce cerr t os at os ou t er mi nado cerr t o se ce serr vi ço ço,, vol t a ao se seu u dor mi t ór i o e dei t a- se novam novament ent e. No di di a segui segui nt e, demonst onst r a a mai or das das admi r açõ çõe es po por enco con nt r ar f ei t o um t r abal ho, que, na véspe sper a, dei xar a por aca cab bar . Ent r et ant o, f oi el e quem o f ez, se b bem em que o não sai ba. A que f or ça ob obedece edeceu u o seu seu cor po, senã senão a uma f or ça i nconsci consci ent ent e, ao seu ser i nco con nsci ent e ? Consi der emos, agor a, o caso caso mui t o f r eqüent e, de um um i nf el i z al co coó ól i co at at aca cad do de de delirium tremens . Como que t omado de um ace acess sso o de de l oucur oucur a, el e se apod apoder er a de de um uma ar ar ma qu qual quer , uma f aca, um mar t el o, um macha achado, e f er e, f er e f ur i osa osam ment ent e aquel es qu que t êm a i nf el i ci dade de se l he acha char em per t o. Depoi epoi s de passado assado o ace acesso, sso, o i ndi ví duo r ecob ecobr a os os se s ent i dos e cont cont empl a, hor r or i zado, zado, a cena cena de sang sangue que a sua vi st a of er ece, i gnor ando t er si do el el e mesmo o seu aut aut or . Ai nda nest e caso, caso, não f oi o i nco con nsci ent e qu que con conduzi u esse 1 desgr desgr açado? açado? Se compar ar mos o ser consci consci ent ent e ao ser i nconsci consci ent ent e, const const at amos que, que, enqu enquan antt o o consc conscii ent ent e é f r eqüe eqüent nt ement ent e dot ado ado de de um uma memór i a mui t o f al ha, o i nconsci consci ent ent e é, é, ao cont cont r ár i o, pr ovi do de de um uma memór i a mar avi avi l hosa osa,, i mpecável cável , que gu guar da, sem o saber saber mos, os menor enor es acont acont eci ment ent os, os mai s i nsi gni f i ca can nt es f at os d de e nossa ssass vi das. E, co com mo é el e quem pr esi de o f unci onam onament ent o de t odos odos o oss noss nossos os ó órr gão ãos, s, por i nt er médi o do cé cérr ebr o, dá- se um f at o, que dece cerr t o par ece cerr á par adoxal xal : se el el e j ul gar que esse esse ou ou aq aquel e ór ór gão f unci ona bem ou mal , ou j ul gar que sent sent i mos est a ou aquel a i mpr essão ssão,, est e ou aquel e ór ór gão, de f at o, f unci ona bem ou mal , ou ent ão, nos sent sent i mos co c om est a ou ou aq aquel a i mpr essã essão. o. O i nconsc conscii ent ent e não não pr esi de soment ent e as as f unções nções do do noss nosso o or gani ani smo, pr esi de t ambém bém o acabam acabament ent o de todas as nossas c hamamos ações, quaisquer que sejam elas . A el e é que cham i magi agi nação, ação, e é qu quem, ao cont cont r ár i o do do qu que se adm admi t e, nos f az sempre agi agi r , mesmo e, e, sobr sobr et udo cont cont r a a nossa nossa vontade, desde esde qu que haj haj a a an nt agon agonii smo en ent r e ess essas as du duas f or ças.
E quant ant as f obi obi as na na mul t i dão, em gr aus aus di di ver ver sos, por vezes, vezes, quase i mper cept cept í vei vei s! E qu que mal es nós nós t odos odos nos nos causam causamos, em t odos odos os sent sent i dos, e não não r eag eagi mos “i medi edi at ament ent e”, cont cont r a as as “ mal i gnas aut aut osugest sugest ões” ões” por por mei o das das “boa “boass aut aut o- sugest sugest ões ões consci consci ent ent es”, f azen azendo, assi m, desap sapar ecer cer t odo sof sof r i ment o i nj ust i f i cad cado! 1
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VONTADE E IMAGINAÇÃO IMAGINAÇÃO
Se abr i r mos um um di ci onár i o e pr ocur cur ar mos sab saber o si gni f i ca cad do vontade, da pal pal avr avr a enco con nt r ar emos est a de def i ni çã ção o: “Facu “Facull dade de pr at i ca carr ou não, l i vr ement e, al gum at o”. Ace ceii t ar emos e est st a def i ni çã ção o co com mo ver ver dadei r a, i r r epr eensí vel . Mas não pode pode haver haver mai or enga engano no,, poi poi s est a vont vont ade ade que que r ei vi ndi ca cam mos com t ant a a all t i vez, ce ced de sem sempr e o passo à i magi agi nação. nação. É uma r egr egr a absoluta que não padece exceção al guma. Bl asf êmi a! Pa Parr adox adoxo! o! – br adar adar ão ão.. De f or ma al al guma. Ver dade, ade, pur a ve ver dade, ade, l hes r espon sponder ei . E, par a se conve conven ncer em, abr am os o oll hos, ol hem em t or no de si e sa saii bam co com mpr eender aqu aqui l o que que vêem vêem. Hão de ver , ent ent ão ão,, que o que que l hes hes di go não não é uma t eo eorr i a aé aérr ea ea,, pr odu oduzi da por um cér ebr ebr o doe oen nt e, mas a si mpl es exp exprr essã essão o daq daqu ui l o qu que r eal ment ent e é. é. Suponham Suponhamos que há no no sol s ol o uma t ábua de 10 met r os de compr i ment ent o po por 25 cen cent í met r os de l ar gur a. Est á cl ar o qu que t odo odo mundo undo é capaz capaz de i r de uma pon pontt a a out out r a dess dessa a t ábua ábua,, sem pôr o pé pé f or a d del el a. Mudemos, por ém, as cond condi çõe çõess da exp exper i ênci ênci a e f açam açamos de cont cont a qu que ess essa a t ábu ábua est est á col ocad ocada à al t ur a das t or r es de de uma ca catt edr al . Quem t er á, ent ão a corr agem de avança co çarr um met r o apenas, nessa est r ei t a pass pass agem agem? São os os s enho enhorr es que que me l êem? Não, Não, sem dúvi dúvi da. da. Ant es de de der der em doi s pass passos, os, começa eçarr ão a t r emer e, apesar de todos os esforços de vontade , f at al ment e ca caii r ão ao so soll o. Obser vem vem que os os senh senhor es t êm boa-vontade de de a ava van nçar ; se imaginarem que não podem , f i ca cam m na i mpossi bi l i dade absoluta de f azêzê- l o. Se os pe pedr ei r os, os car pi nt ei r os são cap capazes de de execu xecutt ar esse at at o, é po por que el el es i magi nam que o podem f azer . A ver ver t i gem só é causad causada a pe pel a i magem que se nos af i gur a de de que que vamos cai r ; ess essa a i magem agem se t r ansf ansf or ma i medi edi at ament ent e em at o, apesar de todos os nossos esforços de vontade , t ant o mai s de dep pr essa quant ant o mai s vi ol ent ent os são são esse essess esf or ços. Consi onsi der der emos uma pess pessoa oa at acada acada de de i nsôni nsôni a. Se el el a não não f az esf or ço çoss pa par a dor mi r , f i ca carr á so sosse sseg gada no l ei t o. Se, ao con co nt r ár i o, quer d dor or mi r , quant o mai s se s e esf esf or ça mai s agi agi t ada ada f i c a. Não sei se obser obser var var am que, quant ant o mai s a gen gentt e pr pr ocur ocur a se l embr ar do nom nome de de um uma pess pessoa oa,, que que se j ul ga t er esqueci esqueci do, do, mai s el e f oge oge à l embr ança, ança, at é o moment ent o em que, que, mudan udando do-- s e
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no espí espí r i t o a i déi a de de “não “não me l embr o” pel pel a de de “j á me l embr o”, o nom nome nos nos vem nat ur al ment ent e sem o menor enor esf or ço. Aquel es qu que and andam de bi ci cl et a se r ecor ecor dam de que, quand ando apr endi am a andar nessa máqui na, i am pel a est r ada, segu segur ando- se no no gu gui dão, na pe per sua suasão de qu que i r i am ca caii r . De r epen epentt e, enxer enxer gand gando o no mei o do cami nho nho um caval o ou, ou, mesmo si mpl esment e um uma pe pedr a, pr ocur cur avam vam evi t ar o ob obst ácul cul o; por ém, quant o mai s esf or ço çoss f azi am, mai s i am em di r eçã ção o a el e. A quem quem não não acont acont eceu dar dar uma gar gar gal gal hada hada,, uma r i sada que que est al ava ava t ant ant o mai s i mpet uosa osam ment ent e qu quant ant o mai or es er am os esf or ço çoss qu que f azi am par a a co con nt er ? Qual er a o est ado de espí espí r i t o de de cad cada um um, nest as vá vár i as ci r cun cunst ânci as? Eu Eu não quero cai r , mas não não posso i mpedi - l o; dor mi r , mas não posso; quero l embr ar o nome da quero dor senhor senhor a Tal, mas não posso ; quero evi t ar o obst ácul cul o, mas cont er a mi nha r i sada, sada, mas não posso. não posso ; quero cont Como se vê, vê, em ca cad da um desses con conf l i t os é sempr e a que sobr epuj epuj a a vontade, sem exceçã exceção o al al guma. imaginação que Segu Seguii ndo ndo a mesma or dem dem de i déi déi as, não não vemos um comanda andant nt e que se pr eci pi t a par a di ant e, à f r ent e das sua suas t r opas, e os seus seus subor subor di nados ados a acom companh anhá- l o, ao passo qu que o gr i t o: “s al veve- se quem puder ” de det er mi na, quase f at al ment e, uma der r ot a? Por Por que? Por Por i st o qu que, no pr pr i mei r o caso, caso, os hom homens ens se pe per sua suadem de que devem vem mar cha char par a f r ent e, e, no segun segundo, do, supõem qu que est ão ven venci dos e que é pr eci so f ugi r par a escap escapar ar à mor t e. Panur Panur ge não i gnor nor ava o contágio do exe exem mpl o, i st o é, é, a ação ação da i magi agi nação, ção, quando, par a vi vi ngar - se d de e um um negoci ant e com com quem vi aj ava, ava, compr ava o seu mai or car nei r o e o at i r ava ava ao mar , conven convenci ci do, de ant ant emão ão,, de qu que a car nei nei r ada ada t oda oda o aco com mpanhar i a, o que, al i ás, aco con nt ece ceu u. Nós, hom homens, ens, par par ecemo- nos nos mai s ou menos enos ccom om os dessa dess a r aça l aní ger a e, e, a co cont r agost o, se seg gui mos i r r esi st i vel ment e o exem exempl o al hei o pensando que que não podem podemos f azer de out r o modo. Poder i a ci t ar out Pod out r os mi l exem exempl os, mas enu enumer ação ação dessa dessa or or dem se t or ne en enf adon adonh ha. posso dei xar em si l ênci o um f at o que põe pod poder enor enor me da da i magi agi nação, ação, ou por por out out r a, na sua sua l ut a con cont r a a vontade.
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r ece eceii o que uma Ent r et ant ant o, não em evi dênci a o do inconsciente
Há ébr i os que bem quer er i am não mai s beber , mas não podem abst er - se da bebi da al coól i ca. I ndaguem del es, e r esponder ão, com t oda a si ncer i dade, que desej ar i am ser abst êmi os, que l hes abor r ece a bebi da, mas que são i r r esi st i vel ment e i mpel i dos a beber , apesar de sua vontade, apesar de saber em o mal que i sso l hes f az. . . Assi m, t ambém, cer t os cr i mi nosos comet em cr i mes, contra a vontade, e quando se per gunt a por que agi r am dessa manei r a, r espondem: “Não pude cont er - me, aqui l o me dava í mpet os, er a mai s f or t e do que eu”. O ébr i o e o cr i mi noso di zem a ver dade; el es são f or çados a f azer o que f azem, pel a si mpl es r azão de cui dar em que não se podem cont er . Dest ar t e, nós que somos or gul hosos da nossa vont ade, que acr edi t amos f azer , l i vr ement e, aqui l o que f azemos, não passamos, na r eal i dade de pobr es bonecos, dos quai s a nossa i magi nação empunha t odos os f i os. Não dei xar emos de ser esses bonecos, enquant o não a souber mos di r i gi r . SUGESTÃO E AUTO-SUGESTÃO
De acor do com o que pr ecede, pudemos compar ar a i magi nação a uma cor r ent eza que ar r ast a, f at al ment e, o desgr açado que se dei xa apanhar por el a, mal gr ado sua vont ade de al cançar a mar gem. Est a cor r ent eza par ece i nvencí vel ; t odavi a a pessoa sabendo f azê- l o, a desvi ar á do seu cur so, conduzi l a- á a uma usi na e aí t r ansf or mar á a sua f or ça em movi ment o, em cal or , em el et r i ci dade. Se est a compar ação não l hes par ece suf i ci ent e, compar emos a i magi nação a um caval o sel vagem que não t em cabr est o, nem r édea. Que pode f azer o caval ei r o que o mont a, senão dei xar - se l evar aonde o caval o o qui ser conduzi r ? E, se o caval o se enf ur ece, como mui t as vezes sucede, é num f osso que vai t er mi nar a cor r i da. Se o caval ei r o põe a r édea nesse caval o, os papéi s mudam. Não é mai s el e que vai aonde o caval o quer , e si m o caval o que segue o cami nho que o caval ei r o desej a. Agor a, que j á expl i camos a f or ça enor me do ser i nconsci ent e ou i magi nat i vo, vou l hes most r ar que est e ser , consi der ado como i ndomável , pode ser t ão f aci l ment e domado quant o uma cor r ent eza ou um caval o sel vagem.
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Mas, ant es de pr ossegui r , é necessár i o def i ni r , cui dadosament e, duas pal avr as f r eqüent ement e empr egadas sem que sej am bem compr eendi das. São as pal avr as sugestão e auto-sugestão. O que é, ent ão, a sugest ão? Pode- se def i ni - l a: “a ação de i mpor uma i déi a ao cér ebr o de out r a pessoa”. Est a ação exi st e, r eal ment e? Pr opr i ament e f al ando, não. A sugest ão, com ef ei t o, por si mesma, não exi st e, el a não exi st e e não pode exi st i r senão sob a condi ção sine qua non de se t r ansf or mar , no i ndi ví duo, em aut o- sugest ão. E est a pal avr a assi m se def i ne: “i mpl ant ação de uma i déi a em si mesmo por si mesmo”. Podem suger i r al guma coi sa a al guém; se o i nconsci ent e dest e não acei t ou est a sugest ão, se el e não a di ger i u, por assi m di zer , a f i m de t r ansf or má- l a, em autosugestão, el a não pr oduz nenhum ef ei t o. Acont ece- me, al gumas vezes, suger i r qual quer coi sa mai s ou menos banal a pessoas or di nar i ament e mui t o obedi ent es, e mi nha sugest ão f al har . A r azão di st o é que o i nconsci ent e dessas pessoas se r ecusar am a acei t ar a mi nha sugestão e não a t r ansf or mar am em auto-sugestão. EMPREGO DA AUTO-SUGESTÃO
Vol t o ao pont o onde di zi a que podemos domar e di r i gi r a noss a i magi nação, como se doma uma cor r ent eza ou um caval o br avo. Par a t al , bast a saber , pr i mei r ament e, que i sso é possí vel ( o que quase t odo mundo i gnor a) , e, em segui da, conhecer o mei o. Poi s bem, esse mei o é mui t o si mpl es; é aquel e que sem o quer er mos , sem o saber mos, de manei r a absol ut ament e i nconsci ent e de noss a par t e, empr egamos t odos os di as desde que vi emos ao mundo, mas que, i nf el i zment e par a nós, empr egamos quase sempr e mal , par a nosso mai or dano. Est e mei o é a auto-sugestão. Enquant o, habi t ual ment e, a gent e se aut o- sugest i ona i nconsci ent ement e, ser i a bast ant e aut o- sugest i onar - se consci ent ement e, cuj o pr ocesso consi st e ni st o: “pr i mei r o medi t ar conveni ent ement e sobr e as coi sas que devem ser o obj et o da aut o- sugest ão e, conf or me est a r esponda si m ou não, r epet i r mui t as vezes, sem pensar nout r a coi sa: “I st o acont ece ou i st o não acont ece; i st o vai ser ou i st o não vai ser et c. , et c. , e, se o i nconsci ent e acei t a est a sugest ão, se el e se aut o- sugest i ona, ver emos ni sso as coi sas se r eal i zar em pont o por pont o. Assi m ent endi da, a auto-sugestão não é out r a coi sa senão o hi pnot i smo t al como o compr eendo e o def i no por est as
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si mpl es pal avr as: físico do homem .
influência sobre o ser moral e o ser
Or a, est a ação é i negável e, sem vol t ar pr ecedent es, ci t ar ei ai nda al guns out r os.
aos exempl os
Se al guém se per suadi r de que pode f azer al guma coi sa qual quer , cont ant o que el a sej a possível, esse al guém a f ar á ai nda que sej a di f í ci l f azê- l a. Se, ao cont r ár i o, as pessoas crêem que não podem f azer a coi sa mai s si mpl es do mundo, t or na- se par a el as i mpossí vel f azê- l a, e, nest a or dem, os mont i nhos de ar ei a que as t oupei r as er guem são, par a essas pessoas, como i nt r ansponí vei s mont anhas. Tal é o caso dos neur ast êni cos que, acr edi t ando- se i ncapazes do menor esf or ço, f r eqüent ement e se encont r am na i mpossi bi l i dade de dar al guns passos apenas, l ogo se sent i ndo ext r emament e cansados. E est es menos neur ast êni cos, quando se esf or çam par a sai r de sua t r i st eza, mai s e mai s nel a se ent r anham, à semel hança do desgr açado que se at ol a e se af unda no pânt ano, t ant o mai s depr essa quant o mai or es são os esf or ços que f az par a se s al var . Do mesmo modo, bast a pensar que uma dor vai passar , par a sent i r que r eal ment e est a dor desapar ece, pouco a pouco, e, i nver sament e, é bast ant e pensar que se sof r e par a que i medi at ament e se si nt a chegar o sof r i ment o. Conheço cer t as pessoas que pr ognost i cam que, det er mi nado di a, vão sent i r dor de cabeça, pr edi zendo em que ci r cunst ânci as, e, de f at o, no di a assi nal ado, ci r cunst ânci as anunci adas, sent em essa dor de cabeça. Essas pess oas mesmas causam o seu mal , assi m como out r as se cur am a si pr ópr i as pel a auto-sugestão consciente . Sei que, ger al ment e, a gent e passa por l ouco, di ant e de pessoas, quando se ousa emi t i r i déi as que não est ão habi t uadas a ouvi r . Poi s bem, ar r i scando- me a passar por l ouco, di r - l hes- ei que, se cer t as pessoas são, mor al e f i si cament e, doent es, é por que imaginam est ar doent es, sej a mor al ment e, sej a f i si cament e; se al gumas pessoas são par al í t i cas, sem t er em l esão al guma, é que imaginam estar par al í t i cas, e é ent r e est as pessoas que se dão as cur as mai s ext r aor di nár i as. Se al guns são f el i zes ou i nf el i zes, é por que imaginam ser f el i zes ou i nf el i zes, por quant o ent r e duas pessoas
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col ocadas exat ament e nas mesmas condi ções, uma pode se j ul gar perfeitamente f el i z e a out r a absolutamente infeliz . A neur ast eni a, a gaguei r a, as f obi as, a cl ept omani a, cer t as par al i si as et c. , não são out r a coi sa senão o r esul t ado da ação do inconsciente sobr e o ser f í si co ou mor al . Mas, se o nosso inconsciente é a f ont e de mui t os de noss os mal es, t ambém pode t r azer a cur a das nossas doenças mor ai s e f í si cas. El e pode, não soment e r epar ar o mal que nos f ez, como t ambém cur ar as doenças r eai s, t ão gr ande é a sua ação sobr e o nosso or gani smo. I sol e- se uma pessoa em um quar t o, sent e- se numa pol t r ona, f eche os ol hos par a evi t ar di st r ação e pense uni cament e dur ant e al guns i nst ant es: “Tal coi sa est á par a desapar ecer ”, “t al coi sa vai acont ecer ”. Se, f oi , r eal ment e, f ei t a a aut o- sugest ão, i st o é, se seu i nconsci ent e acei t ou a sua i déi a, com gr ande admi r ação sua ver á r eal i zar - se aqui l o em que havi a pensado. ( Not e- se que as i déi as aut o- sugest i onadas t êm a pr opr i edade de exi st i r em nós sem o saber mos, de cuj a exi st ênci a só podemos t er conheci ment o pel os ef ei t os que essas i déi as pr oduzem) . Mas, sobr et udo, e est a r ecomendação é essenci al , a vont ade não deve i nt er vi r na pr át i ca da aut o- sugest ão; por que, se el a não est á de acor do com a i magi nação, se a gent e pensa: “quer o que t al coi sa acont eça”, e a i magi nação di z: “t u quer es, mas i ss o não suceder á”, não soment e não se consegue o que se quer , mas ai nda se obt ém exat ament e o cont r ár i o. Est a obser vação é capi t al , e expl i ca por que os r esul t ados são t ão pouco sat i sf at ór i os quando, no t r at ament o das af ecções mor ai s, se f azem esf or ços par a reeducar a vontade . É a imaginação que é preciso educar, poi s, gr aças à del i cada di ver gênci a ent r e est a e aquel a, o meu mét odo t eve sucesso onde out r os, e não poucos, f r acassar am. Das numer osas exper i ênci as que f aço, di ar i ament e, desde vi nt e anos, obser vadas por mi m, com at enci oso cui dado, pude t i r ar as condi ções que se seguem e que r esumi em f or ma de l ei : 1. Quando a vont ade e a i magi nação est ão em l ut a, é sempr e a i magi nação a vencedor a, sem exceção alguma ; 2. No conf l i t o ent r e a vont ade e a i magi nação, a f or ça da i magi nação est á na razão direta do quadrado da vontade;
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3. Quando a vont ade e a i magi nação est ão de acor do, uma não se aj ust a à out r a, mas uma se mul t i pl i ca pel a out r a; 4. A i magi nação pode ser gover nada. ( As expr essões “ na r azão di r et a do quadr ado da vont ade” e “s e mul t i pl i cam” não são r i gor osament e exat as. São si mpl esment e i magens dest i nadas a f azer compr eender o meu pensament o) . Consoant e o que acabo de di zer , par ece que ni nguém dever i a j amai s t er adoeci do. I st o é ver dade. Toda doença, quase sem exceção, pode ceder à auto-sugestão , por mai s ousada e i nver ossí mi l que possa par ecer a mi nha af i r mação. Não di go, , o que é di f er ent e. cede sempre , di go pode ceder Mas par a f azer com que as pessoas pr at i quem a auto-sugestão consciente, é pr eci so ensi nar - l hes como f azê- l o, do mesmo modo que se f az par a l hes ensi nar a l er ou escr ever , ou par a que el as apr endam músi ca et c. . A auto-sugestão é, como di sse mai s at r ás, um i nst r ument o que t r azemos conosco ao nascer e com o qual br i ncamos i nconsci ent ement e t oda a nossa vi da, como um meni no br i nca com seu mar acá. Mas é um i nst r ument o per i goso; pode f er i r , mat ar mesmo, se o manej ar em i mpr udent ement e, i nconsci ent ement e. Ao cont r ár i o, sal va quando o souber em empr egar de manei r a consciente. Pode- se di zer del e o que da l í ngua di zi a Esopo: “É a mel hor e, ao mesmo t empo, a pi or coi sa do mundo”. Vou expl i car - l hes, agor a, como se pode f azer par a que t odo mundo exper i ment e a ação benf azej a da auto-sugestão, apl i cada de um modo consci ent e. Di zendo “t odo mundo”, exager o um pouco, por que há duas cl asses de pessoas nas quai s é di f í ci l pr ovocar a aut osugest ão consci ent e: 1. Os at r asados, i ncapazes de compr eender o que se l hes di z; 2. As pessoas que não querem aprender . COMO ENSINAR AO PACIENTE A AUTO-SUGESTIONAR-SE
O pr i ncí pi o dest e mét odo se r esume, pouco mai s ou menos, nest as pal avr as: Só se pode pensar em uma coisa de cada vez, isto é, duas idéias podem se justapor, mas não se podem sobrepor em nosso espírito .
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Todo pensamento que preocupa inteiramente o nosso espírito torna-se verdadeiro para nós e possui uma tendência para transformar-se em ato .
Por t ant o, se consegui r mos f azer cr er a um doent e que vai acabar seu sof r i ment o, est e de f at o desapar ecer á; a um cl ept ômano que não f ur t ar á mai s, el e não mai s f ur t ar á, etc., etc. MODO DE FAZER A SUGESTÃO CONSCIENTE
Di z- se ao paci ent e: “Sent e- se e f eche os ol hos. Não quer o t ent ar f azê- l o dor mi r . É i nút i l . Peço que f eche os ol hos, si mpl esment e par a que a sua at enção não sej a desvi ada par a os obj et os que l he dão na vi st a. Agor a, di ga bem di r ei t o, que t odas as pal avr as que vou pr onunci ar vão f i xar - se no seu cér ebr o, i mpr i mi r - se, gr avar - se, i ncrust r ar - se nel e; que é pr eci so que el as f i quem sempr e f i xadas, i mpr essas, i ncr ust adas e que, sem o senhor quer er e sem o saber , de uma manei r a compl et ament e i nconsci ent e de sua par t e, o seu or gani smo e o senhor mesmo dever ão obedecer - l hes. Di go- l he, em pr i mei r o l ugar , que di ar i ament e, t r ês vezes por di a, de manhã, ao mei o di a e à noi t e, à hor a das r ef ei ções, o senhor t er á f ome, i st o é, sent i r á est a sensação agr adável que f az pensar e di zer : “Oh! Vou comer com pr azer ”. Com ef ei t o, comer á com pr azer , sem, ent r et ant o, comer demai s. Comer á moder adament e e o suf i ci ent e par a dei xá- l o no peso i deal . Ter á, por ém, cui dado de mast i gar demor adament e os seus al i ment os, par a os t r ansf or mar em uma past a bem mol e, ant es de engol i r . Nest as condi ções, f ar á bem a di gest ão, e não sent i r á nem no est ômago, nem nos i nt est i nos, nenhum sof r i ment o, nenhum i ncômodo e dor nenhuma, qual quer que sej a a sua nat ur eza. A assi mi l ação se f ar á bem e o seu or gani smo apr ovei t ar á t odos os seus al i ment os, par a pr oduzi r sangue, múscul o, f or ça, ener gi a, numa pal avr a: VI DA. Vi st o que a di gest ão vai ser excr eção dar - se- á nor mal ment e.
bem f ei t a,
a f unção da
Ademai s, t odas as noi t es, a par t i r do moment o em que qui ser dor mi r , at é ao moment o em que desej ar l evant ar - se, na manhã segui nt e, dor mi r á um sono pr of undo, cal mo, t r anqüi l o, dur ant e o qual não t er á pesadel os, e quando acor dar , sent i r - se- á com saúde, t odo al egr e e bem di spost o. De out r o l ado, se l he acont ece, por vezes, est ar t r i st e, pensat i vo, t er abor r eci ment os, t er pensament os t ét r i cos, de
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agor a em di ant e não acont ecer á mai s. Em vez de f i car t r i s t e, mel ancól i co, em vez de t er angús t i as , abor r eci ment os, i déi as t r i st es, vai t er al egr i a, mui t a al egr i a, sem mot i vo al gum, t al vez, mas t ê- l a- á, como l he poder i a acont ecer t er t r i st ezas sem mot i vos. Di r ei mai s: mesmo que t enha mot i vos ver dadei r os, mot i vos r eai s par a se abor r ecer e t er t r i st ezas, não se abor r ecer á, nem t er á t r i st ezas. Se l he acont ece, às vezes, t er gest os de i mpaci ênci a, ou de r ai va, est e gest o não os t er á mai s. Ao cont r ár i o, há de ser sempr e paci ent e, sempr e senhor de si mesmo, e as coi sas que o abor r eci am, pr ovocavam, i r r i t avam, dor avant e o dei xar ão absol ut ament e i ndi f er ent e e cal mo, mui t o cal mo. Se al gumas vezes é assal t ado, per segui do, domi nado por i déi as más, que l he são pr ej udi ci ai s, e por t emor es, medos, f obi as, t ent ações, r ancor es, sei que t udo i sso se af ast a, pouco a pouco dos ol hos da sua i magi nação, e par ece desf azer - se, per der - se numa nuvem l ongí nqua. Como um sonho que desapar ece ao acor dar , assi m se i r ão t odas as i magens vãs. Di go- l he mai s que t odos os s eus ór gãos f unci onam bem: o cor ação bat e nor mal ment e e a ci r cul ação do sangue se f az como deve ser ; os pul mões f unci onam bem; o est ômago, os i nt esti nos, o f í gado, a vesí cul a bi l i ar , os ri ns, a bexi ga, nada t êm de anor mal . Se, dent r e el es, al gum pr esent ement e f unci ona com anor mal i dade, est a anomal i a desapar ecer á aos poucos, cada di a, de sor t e que, br evement e, desapar ecer á por compl et o, vol t ando esse ór gão a f unci onar nor mal ment e. Al ém di sso, se exi ste al guma l esão num del es, i r á ci cat r i zando di a a di a, sar ando com r api dez. ” ( A pr opósi t o, devo di zer que não é pr eci so saber qual o ór gão af et ado, par a cur á- l o. Sob a i nf l uênci a da aut o- sugest ão: “todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor”, o I nconsci ent e exer ce a sua ação sobr e esse ór gão, que el e mesmo não sabe di st i ngui r ) . Acr escent o ai nda i st o, que é uma coi sa ext r emament e i mpor t ant e: se at é o pr esent e se sent i u com uma cer t a desconf i ança em si , di go- l he que est a desconf i ança desapar ece aos poucos par a, ao cont r ár i o, se t r ansf or mar em conf i ança em si mesmo, fundada nesta força de um poder incalculável que existe em cada um de nós. Esta confiança é absolutamente indispensável ao ser humano . Sem a conf i ança
em si mesmo, j amai s s e obt ém coi sa al guma, ao passo que com el a, pode- se consegui r t udo. ( No domí ni o das coi sas r azoávei s, bem ent endi do) . Tenha, poi s, conf i ança em si
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mesmo, que se convencer á de que é capaz de f azer não soment e bem, mas ai nda com per f ei ção, t odas as coi sas que desej a f azer , sob a condição de que sejam razoáveis e também tudo aquilo que seja de seu dever . Por t ant o, quando desej ar f azer al guma coi sa r azoável , quando t i ver de f azer uma coi sa que é de seu dever f azer , pense bem que est a coi sa é f áci l de f azer . As pal avras difícil, impossível, não posso, está devem ser forças, não posso evitar,
acima
das
minhas
cancel adas do seu vocabul ár i o. El as não exi st em em nossa l í ngua. Exi st em, si m, as pal avr as: é fácil e eu posso. Consi der ando a coi sa f áci l de f azer , el a se t or na f áci l , ao passo que par a out r os par ece di f í ci l . O senhor a f az depr essa e bem, sem se cansar , por que a f az sem esf or ço. Se, por ém, a consi der asse di f í ci l ou i mpossí vel de f azer , el a o ser i a uni cament e por que assi m a consi der ou”. Por f i m, sei que t ant o no pont o de vi st a mor al como no f í si co, o senhor goza de boa saúde, mel hor do que a que at é hoj e pôde gozar . Agor a vou cont ar at é “t r ês”, e quando eu di sser “t r ês” , o senhor abr i r á os ol hos, sai ndo do est ado em que se encont r a, bem t r anqüi l ament e, sem ent or peci ment os, sem f adi gas de espéci e al guma, mas, ao cont r ár i o, sent i ndo- se f or t e, al er t a, di sposto, com vi gor , chei o de vi da. Al ém di sso, sent i r - se- á al egr e, bem al egr e e bem de saúde em t odos os pont os de vi st a. Um, doi s, t r ês”. COMO SE DEVE PRATICAR A AUTO-SUGESTÃO CONSCIENTE
Todas as manhãs, ao acor dar , e t odas as noi t es, l ogo ao dei t ar , f echar os ol hos e, sem fixar a atenção ao que se di z, pr of er i r em voz bast ant e al t a, a f i m de ouvir as pr ópr i as pal avr as, est a f r ase, r epet i ndo- a vi nt e vezes, t endo par a i sso um cor dão com vi nt e nós: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor” . Como as pal avr as “sob todos os pontos de vista” abr angem t udo, é i nút i l f azer aut o- sugest ão par a determinados casos . Est a aut o- sugest ão deve ser f ei t a da manei r a mai s simples, mai s infantil, mai s maquinal possí vel , por t ant o, sem o menor esforço . Numa pal avr a, a f ór mul a deve ser r epet i da no t om em que se r ezam as l adai nhas. Dest ar t e, consegue- se i nt r oduz i - l a mecanicamente no i nconsci ent e, pel o ouvi do e, l ogo que nel e penet r a, el a age. A pessoa deve seguir esse método durante toda vida, porquanto é não só curativo como também preventivo .
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Ademai s, cada vez que, dur ant e o di a ou dur ant e a noi t e, se t em um sof r i ment o f í si co ou mor al , a gent e deve apegar-se i medi at ament e a si mesma, no pr opósi t o de não cont r i bui r consci ent ement e par a esse mal , e par a f azê- l o desapar ecer . A pessoa deve- se i sol ar o máxi mo possí vel , f echar os ol hos e, passando a mão pel a f r ont e ou pel o l ocal dol or i do, conf or me se t r at e de uma dor mor al ou f í si ca, r epet i r rapidamente est as pal avr as: “i st o passa, i st o passa et c. , et c. ”, dur ant e o t empo que f or pr eci so. Com um pouco de hábi t o, consegue- se f azer desapar ecer a dor mor al ou f í si ca, no espaço de 20 a 25 segundos. Deve- se r epet i r i sso a cada vez que f or necessár i o. (A prática da auto-sugestão não dispensa o tratamento médico, mas é um precioso auxiliar para o doente e para o médico). Por t ant o, é f áci l
desempenhar o papel de sugest i onador . Não ser á um mest r e que or dena, mas um ami go, um gui a que conduz, passo a pass o, o enf er mo no cami nho da cur a. Como t odas essas sugest ões se dão no i nt er esse do doent e o i nconsci ent e dest e as pr ocur a assi mi l ar e t r ansf or má- l as em aut osugest ões. Quando se dá a aut o- sugest ão, a cur a se r eal i za com mai s ou menos r api dez. SUPERIORIDADE DO MÉTODO
Est e mét odo dá, absol ut ament e, mar avi l hosos r esul t ados. Ef et i vament e, pr ocedendo- se como aconsel ho, não se f al har á nunca, a não ser com as espéci es de pessoas que f al ei at r ás e que, f el i zment e, r epr esent am apenas 3% do povo. Se, ao cont r ár i o, se exper i ment a agi r da pr i mei r a vez sobr e o paci ent e, sem expl i cações, poder - se- á obt er r esul t ado, mas soment e sobr e pessoas ext r emament e sensí vei s. Est as, por ém, exi st em em pequeno númer o. Out r or a, par ecendo- me que a sugest ão não podi a agi r bem, senão dur ant e o sono, pr ocur ava sempr e f azer dor mi r o meu paci ent e; mas, t endo const at ado que i st o er a di spensável dei xei de f azê- l o par a poupar ao paci ent e o t emor que sent e, quase sempr e, quando l he di zemos que o vamos f azer dor mi r , t emor est e que, mui t as vezes, sem que el e o quei r a, f az r esi st i r ao sono. Se, ao cont r ár i o, l he di sser mos que não quer emos f azê- l o ador mecer , por que i sso é absol ut ament e i nút i l , ganhamo- l he a conf i ança e el e houve o que l he di zemos, sem r ecei o al gum, sem nenhuma segunda i nt enção, acont ecendo, f r eqüent ement e, quando não à pr i mei r a vez, pel o monót ono da voz, f i car chei o de admi r ação por t er ador meci do. Se ent r e os senhor es há i ncr édul os, e sei que os há, di r l hes- ei , si mpl esment e, que venham t er comi go par a ver em e se convencer em, à vi st a dos f at os.
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Não pensem, ent r et ant o, que sej a necessár i o agi r da manei r a que acabo de expor , par a empr egar a sugest ão e det er mi nar a aut o- sugest ão. Pode- se f azer a sugest ão em pessoas sem el as o saber em, e sem pr epar ação al guma. Se um médi co, por exempl o, que, pel a sua aut or i dade pr of i ssi onal , j á t em f or ça sugest i va sobr e o doent e, l he di z que nada pode f azer por el e, por que a sua mol ést i a é i ncur ável , pr ovoca no espí r i t o do paci ent e uma aut o- sugest ão que l he poder á t er conseqüênci as bem f unest as. Se, ao cont r ár i o, l he di z que a doença é r eal ment e gr ave, mas que com t r at ament o, t empo e paci ênci a vi r á a cur a, al gumas ou mui t as vezes mesmo, poder á consegui r r esul t ados que l he causar ão admi r ação. Out r o exempl o: se um médi co, depoi s de haver exami nado o doent e, passa- l he uma r ecei t a e l he ent r ega sem expl i cação al guma, os r emédi os pr escr i t os t êm pouca pr obabi l i dade de pr oduzi r ef ei t o. Mas, se expl i ca ao doent e se est e ou aquel e r emédi o deve ser t omado em t ai s e t ai s condi ções e que pr oduzi r ão t ai s e t ai s ef ei t os, quase sempr e se ver i f i cam os r esul t ados pr edi t os. Se, ent r e os que me l êem, há médi cos ou col egas f ar macêut i cos, peço que não me j ul guem seu i ni mi go, poi s, ao cont r ár i o, sou seu mel hor ami go. De uma par t e, desej ar i a ver no pr ogr ama das Escol as de Medi ci na, o est udo t eór i co e pr át i co da sugest ão, par a mai or benef í ci o dos doent es e dos pr ópr i os médi cos; de out r a par t e, esper o que, cada vez que um doent e vá pr ocur ar um médi co, est e l he recei t e um ou mai s r emédi os, mesmo que não sej am necessár i os. Com ef ei t o, o doent e, quando pr ocur a o médi co, quer que el e l he i ndi que o r emédi o que o por á bom. I gnor a, as mai s das vezes, que é a hi gi ene e o r egi me que at uam e a i st o l i ga pouca i mpor t ânci a. O que l he é necessár i o é um r emédi o. Par ece- me, por t ant o, que o médi co deve sempr e r ecei t ar r emédi os ao seu enf er mo e, quando possí vel , evi t ar as r ecei t as de r emédi os especi al i zados, dos quai s se f azem gr andes r ecl amos, e que, na mai or par t e, só val em pel o ef ei t o da pr opaganda. Mas, deve r ecei t ar r emédi os f or mul ados por el e mesmo, por que i nspi r am mui t o mai s conf i ança ao doent e do que cer t as pí l ul as ou cer t os pós f aci l ment e encont r ados em t odas as f ar máci as e que di spensam r ecei t a. AÇÃO DA SUGESTÃO
Par a bem se compr eender o papel da sugest ão ou, por out r a, da aut o- sugest ão, bast a saber que o inconsciente é o
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Façamo- l he cr er , como ant er i or ment e di sse, que t al ór gão que não f unci ona bem, deve f unci onar bem. I nst ant aneament e o inconsciente l he or dena e o ór gão, obedecendo submi ss ament e, i ni ci a a r ecuper ação de sua f unção nor mal , i medi at ament e. “dirigente
mor
de
todas
as
nossas
funções” .
I st o nos dá o di r ei t o de expl i car , de uma manei r a si mpl es e cl ar a como, pel a sugest ão, pode- se sust er as hemor r agi as, debel ar a pr i são de vent r e, ext i ngui r os f i br omas, cur ar as par al i si as, as l esões t uber cul osas, as f er i das var i cosas et c. Tomo, como exempl o, um caso de hemor r agi a dent ár i a, que pude obser var no gabi net e do Sr . Gaut hé, dent i st a, de Tr oyes. Uma moci nha, a quem aj udei a cur ar - se de uma asma que l he dur ou oi t o anos, me di sse um di a que quer i a ext r ai r um dent e. Sabendo- a mui t o sensí vel , of er eci - me par a mandar ar r ancar o dent e, sem dor . Nat ur al ment e, el a acei t ou com pr azer , e mar camos a hor a com o dent i st a. No di a combi nado, f omos ao seu gabi net e. Col ocando- me em f r ent e à moça, di sse- l he: “A senhor i t a não sent e nada, a senhor i t a não sent e nada et c. ”. E, enquant o cont i nuava a mi nha sugest ão, f i z si nal ao dent i st a. Um moment o depoi s, o dent e est ava ar r ancado sem que a senhor i t a D. t i vesse sent i do qual quer dor . Como f r eqüent ement e acont ece, sobr evei o uma hemor r agi a. Ao i nvés de apl i car um hemost át i co qual quer , di sse ao dent i st a que i r i a exper i ment ar a sugest ão, sem saber de ant emão o que r esul t ar i a. Ent ão, pedi à senhor i t a D. que me ol hasse e suger i - l he que, dent r o de doi s mi nut os, a hemor r agi a ceder i a, por si mesma; e f i camos aguar dando o r esul t ado. A j ovem expel i u ai nda al guns escar r os sangüí neos e mai s nada. Di sse- l he que abr i sse a boca, ol hamos e const at amos que o sangue coagul ar a na cavi dade dent ár i a. Como expl i car est e f enômeno? Mui t o si mpl esment e: sob a i nf l uênci a da i déi a “a hemor r agi a deve par ar ”, o i nconsci ent e t r ansmi t i u, às pequenas ar t ér i as e pequenas vei as, or dem par a não dei xar escapar sangue, e el as, com br andur a, se f or am cont r ai ndo naturalmente, como o f ar i am ar t i f i ci al ment e, ao cont at o de um hemost át i co, como por exempl o, a adr enal i na. É r aci oci nando do mesmo modo, que nos é dado compr eender como pode desapar ecer um f i br oma. O i nconsci ent e, acei t ando a i déi a “o f i br oma deve desapar ecer ”, o cér ebr o or dena às ar t ér i as que o nut r em, que se cont r ai am; el as se cont r aem, r ecusam o seu auxí l i o, não al i ment am mai s o f i br oma e est e,
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pr i vado daquel e desapar ece.
al i ment o,
mor r e,
seca,
r eabsor ve- se
e
EMPREGO DA AUTO-SUGESTÃO NA CURA DAS AFECÇÕES MORAIS E DAS TARAS INATAS OU ADQUIRIDAS
A neur ast eni a, t ão comum nos nossos di as, ger al ment e cede à sugest ão pr at i cada, f r eqüent ement e, do modo como exponho. Ti ve a f el i ci dade de cont r i bui r par a a cur a de numer osos neur ast êni cos, par a os quai s f al har am t odos os t r at ament os. Um del es at é passar a um mês num est abel eci ment o especi al de Luxembur go, sem consegui r mel hor ar . Em sei s semanas, f i cou compl et ament e bom e sent e- se, agor a, o homem mai s f el i z do mundo, após t er se consi der ado o mai s desgr açado. E nunca mai s r ecai r á na sua mol ést i a, por que l he ensi nei a apl i car , a si pr ópr i o a aut o- sugest ão consci ent e, e el e a sabe f azer mar avi l hosament e. Mas, se a aut o- sugest ão é út i l no t r at ament o das af ecções mor ai s e f í si cas, quant os s er vi ços ai nda mai or es não podem pr est ar à soci edade, t r ansf or mando em pessoas honest as as i nf el i zes cr i anças que povoam as casas de cor r eção e que de l á saem par a ent r ar na vast i dão do cr i me? Não me di gam que i st o é i mpossí vel . f or nece- l hes a pr ova.
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É possí vel
e posso
PARTE II O QUE DIGO
J á expl i quei a mi nha t eor i a da aut o- sugest ão consci ent e e t ambém a apl i cação do meu mét odo. Na Par t e I “O Domí ni o de Si Mesmo. . . ”. Com cer t eza, as mi nhas expl i cações f or am cl ar as, por quant o mui t as pessoas, soment e com a l ei t ur a dessa br ochur a, consegui r am cur ar - se de mol ést i as, mui t as vezes gr aves, de que não puder am mel hor ar f azendo out r os quai squer t r at ament o. Ent r et ant o, par a me f azer mel hor compr eender , r esol vi apr esent ar mi nhas i déi as de out r a f or ma, ai nda mai s cl ar a. Foi por i sso que reuni , nest a Par t e, t udo o que di sse no cur so das mi nhas conf er ênci as, dando as r azões que me l evar am a aconsel har a pr át i ca da aut o- sugest ão, da manei r a como i ndi co. Ademai s, as consi der ações que f aço sobr e o i nconsci ent e per mi t em a f áci l compr eensão do mecani smo pel o qual el e at i nge os seus f i ns. EMI LE COUÉ Os homens f or am sempr e, em t odos os t empos, amant es das coi sas mi st er i osas e sobr enat ur ai s. Quando assi st em a um f at o, com o qual não est ão f ami l i ar i zados, e não o compr eendem, at r i buem- no l ogo a uma causa sobr enat ur al , at é o moment o em que descobr em a l ei que o det er mi nou. Houve, e ai nda há, desde os t empos mai s r emot os, pessoas que cur avam, ou ant es, pseudomédi cos que, por mei o de gest os e i mposi ções das mãos, com pal avr as e cer i môni as mai s ou menos i mpr essi onant es, mui t as vezes consegui am cur as i nst ant âneas, causando aos assi st ent es uma espéci e de admi r ação ent usi ást i ca ou t emer osa, por que t ai s f at os, par a cer t as pessoas, er am obr as do Espí r i t o mal i gno. Na Gr éci a Ant i ga, enf er mos cost ur ados dent r o duma pel e de ani mal r ecém- mor t o, passavam a noi t e nos degr aus do t empl o de At enéi a e, mui t as vezes amanheci am cur ados. Com a i mposi ção das mãos, apenas, os r ei s de Fr ança f azi am desapar ecer as escr óf ul as. A cel ha de Mesmer ext i ngui a os mal es daquel es que segur avam uma das cor r ent es nel a mer gul hada; e o zuavo J acó obt i nha r esul t ados i negávei s, com a supost a pr oj eção do seu f l ui do. At ual ment e, as associ ações Christian Science e Novo Pensamento t êm
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consegui do r esul t ados i dênt i cos, magnét i cos, pel o hi pnot i smo et c.
pel os
pr ocessos
Essas cur as, par a a mai or i a das pessoas, são chei as de mi st ér i os, e der i vam de uma f or ça par t i cul ar da qual são dot ados aquel es que as oper am, quando as devemos at r i bui r a uma f or ça i nt ei r ament e nat ur al , obedecendo a l ei s, de que mai s adi ant e t r at ar emos. Não quer o que me t omem, como mui t a vezes acont ece, por uma pessoa que cur a doent es, um oper ador de mi l agr es, que t em à sua di sposi ção t odas as f or ças ocul t as e t udo pode, mesmo e pr i nci pal ment e o i mpossí vel . Par a vos dar apenas uma i déi a do j uí zo que de mi m f azem cer t as pessoas, ci t ar - vos- ei al guns pedi dos, que me são f ei t os com mui t a f r eqüênci a. Cer t a ocasi ão, escr eveu- me uma senhor a, di zendo: “Senhor , meu mar i do não pode mai s s upor t ar - me. Poder i a o senhor consegui r t or ná- l o mai s paci ent e?” Out r a me escr eveu o segui nt e: “Senhor , meu f i l ho ar r anj ou uma ami zade má. Poder i a o senhor descobr i r um mei o de desf azê- l a?”. Uma t er cei r a di r i gi u- me uma car t a, i mper at i vos: “Senhor , est ou doent e, assi nat ur a) ”.
nest es t er mos cur ai - me! ( sem
Out r a, ai nda, comuni ca- me haver uma sua vi zi nha r ogado pr aga sobr e a sua casa, e me pede par a conj ur ar essa mal di ção. Enf i m, di z- me a úl t i ma: “Meu senhor i o quer al uguel . Poder i a o senhor i mpedi - l o?”.
aument ar
o
Poi s bem, se, dent r e vós, al guns me quer em dar a honr a de consi der ar - me capaz de r eal i zar coi sas t ai s como essas que me f or am sol i ci t adas, r ogo- vos que abandonem t al suposi ção, por ser i nt ei r ament e f al sa. Não soment e não cur o, nem f aço mi l agr es, como t ambém não sou f ei t i cei r o, nem t enho o poder especi al de que me supõem dot ado. Sou, apenas, um homem, se o qui ser em um homem capaz, mas um homem como os out r os homens, cuj a f unção não é de cur ar , mas, si mpl esment e, a de ensi nar às pessoas o que el as podem f azer , a f i m de se aj udar em a si pr ópr i as, a f i m de el as mesmas, consegui r em suas mel hor i as e se cur ar em por si mesmas, se a cur a f or possí vel .
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Lavo as mãos, quant o aos r esul t ados que possam obt er . O benef í ci o do sucesso, assi m como a r esponsabi l i dade do i nsucesso, f i ca a car go dessas pessoas, por quant o um e out r o dependem, excl usi vament e, del as. Devo ser compar ado ao pr of essor que ensi na aos seus al unos as mat ér i as necessár i as par a se submet er em ao exame, que l hes per mi t i r ão obt er o gr au de bachar el , mas que não poder á f azer por el es ess e exame. Por doi s mot i vos devei s acr edi t ar no que vos di go: O pr i mei r o é que vos f al o a ver dade; o segundo é que o vosso i nt er esse exi ge que me acr edi t ei s. Suponhamos, um i nst ant e, que eu t enha o dom de cur ar . Embor a duvi dando, admi t o que por est ar des em mi nha pr esença, eu t enha uma cer t a i nf l uênci a sobr e vós. Mas, por out r o l ado, devei s admi t i r que, quando me t i ver des dei xado, quando vos achar des na r ua, ou de vol t a a Londr es, a Nova I or que, a Chi cago, não poder ei t er mai s essa i nf l uênci a. Se adoecer des, ent ão, sent i r - vos- ei s per di dos. De mi nha par t e, di mi nuo a vossa per sonal i dade, dei xo cr er que dependei s de mi m e não de vós mesmos. Se, ao cont r ár i o, vos demonst r o que o poder que me at r i bui s não est á em mi m, mas em vós, e vos ensi no como apr ovei t á- l o, t er ei s a possi bi l i dade de ut i l i zá- l o e de consegui r , vós mesmos, a mel hor i a ou a cur a, em qual quer par t e do mundo, onde vos encont r ar des. Nesse caso, aument o a voss a per sonal i dade, vi st o que vos ensi no a depender de vós mesmos, e não de uma out r a pessoa. Cont udo, não me acr edi t ai s ai nda. r esponder - me- á. “É i nút i l i nsi st i r . i nf l uênci a que nós nos cur amos”.
A mai or i a de vós É gr aças à vossa
Como acont ece, ent ão, que me venham, às mãos, quase t odos os di as, car t as de pessoas, que nunca vi , agr adecendo- me por se t er em cur ado soment e em obser var os consel hos que ?” Mel hor dou, num l i vr o i nt i t ul ado “O Domínio de si mesmo ser á saber o que el as di zem: Primeira carta: — Ti ve a gr ande f el i ci dade de r eceber a vossa car t a de 13 de mai o, e as br ochur as que a acompanhar am, as quai s achei mui t o i nt er essant e. Há cer ca de quar ent a anos, um médi co aconsel hou- me a mandar - me oper ar as var i zes da per na ou, pel o menos, usar mei as- el ást i cas. Desde há sei s meses, ent r et ant o, que ponho
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em pr át i ca o vosso mét odo, e not o que el as j á desapar ecer am. Consi der ando- se os meus set ent a anos de i dade, esse r esul t ado não é mau. É ver dade que, quando comecei a pôr em pr át i ca os vossos consel hos, não cont ava com esse ef ei t o. Ademai s, si nt o- me capaz de j ogar as mi nhas duas par t i das de golf , di ar i ament e. ( Aus t r ál i a) W. J. ..., Sydney — Pr osseguem os mar avi l hosos r esul t ados pr oduzi dos pel o voss o mét odo. Est ou convenci do de que não poder i a ser de out r o modo. Segunda
carta:
Devei s l embr ar - vos que comecei a not ar esse ef ei t o, no espaço de t empo decor r i do depoi s de uma semana a um mês e mei o. Nat ur al ment e, t er ei s o pr azer de rel er que eu sof r i a de f ar i ngi t e, de i nsôni a, de ent er i t e e, par a ser vi r de companhi a a esse l i ndo t r i o, uma gr ande depr essão f í si ca e mor al . Lembr o- vos, ai nda, que obt i ve esses r esul t ados, apenas com est udo do vosso mét odo, sem j amai s vos t er vi st o, nem assi st i do a nenhum t r abal ho de sugest ão. At ual ment e, par a me conser var num bom cami nho, bast a- me r epet i r , sem esf or ço, à t ar de, de noi t e e pel a manhã, a vossa f amosa f ór mul a. É si mpl es. Fi z duas pessoas i nt er essar em- se pel o mét odo, sendo uma del as o médi co que me t r at ou da ul t i ma cr i se de ent er i t e. El e est á admi r ado da mudança que se ef et uou em mi m, e t enci ona i r a Nancy par a assi st i r aos vossos t r abal hos. Mel hor ai nda f i z, auxi l i ando mi nha mãe a cur ar - se de um r eumat i smo, no ver ão passado, quando vei o da Pr ovença, onde habi t a, par a j unt o de mi m. Mi nha pobr e mãe se ar r ast ava, mancando de uma per na, mui t o i nchada do j oel ho ao t or nozel o. Mei a hor a de pal est r a sobr e a exi st ênci a do i nconsci ent e e seu pr odi gi oso poder , a exper i ênci a das mãos cr uzadas e mi nha af i r mação de que el a i a andar com f aci l i dade, f oi o suf i ci ent e. Conf or me eu havi a pr evi st o, cami nhou bem, cor r eu e, desde ent ão, não mai s coxeou. Uma semana depoi s, o edema j á est ava bem di mi nuí do. Rest ava- l he ai nda uma out r a f er i da, uma cr i st a bem gr ande na ar cada super ci l i ar di r ei t a, em conseqüênci a de uma mor di da de mosqui t o, há sei s ou set e anos. Vár i as pomadas, r ecei t adas pel o médi co, não l he i mpedi r am o desenvol vi ment o. Da mi nha par t e, f i z al gumas sugest ões e el a mesma se f ez out r as. No espaço de ci nco semanas, t udo desapar eceu, sem dei xar vest í gi o de espéci e al guma.
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Ei s aí , quant o se pode f azer em benef í ci o pr ópr i o e no de out r os, quando a gent e compr eende, per f ei t ament e, o mét odo. C. ..., Saint Nazaire
ao vosso mét odo a sor t e de encont r ar - me, f i nal ment e, l i vr e das enxaquecas, que me at or ment avam, desde há vi nt e anos, par a as quai s havi a t ent ado vár i os t r at ament os e consul t ado i númer os médi cos, não só na Fr ança como no est r angei r o. Terceira
carta: — Devo
S. A. ..., Atenas
Por est es bem numer osos casos, pode- se concl ui r que não se t r at a de uma ação pessoal de mi nha par t e. A i nf l uênci a, que t enho sobr e vós, é o que chamo uma f or ça vi r t ual , exi st i ndo, apenas, no vosso espí r i t o. Mi nha i nf l uênci a é t ão soment e aquel a que cada um de vós me concedei s. Admi t amos, por um moment o, que eu t enha uma f or ça qual quer e que est a f or ça medi da, di gamos, no di namômet r o, r epr esent asse 100; mi nha f or ça, sobr e cada um de vós, por t ant o, ser i a 100. Ser á, r eal ment e, i sso mesmo? Absol ut ament e, não. Exer ci uma i nf l uênci a 0 sobr e um, um i nf l uênci a 10 sobr e out r o e, sobr e out r os mai s, uma i nf l uênci a 100, 200, 1. 000, at é mesmo um mi l hão, e mai s ai nda, consoant e a i déi a que cada pessoa f i zer dessa i nf l uênci a. Como podei s ver , na r eal i dade el a não exi st e; é apenas, o pr odut o da i magi nação de cada um. Compr eender ei s mel hor , com um exempl o. Suponhamos que est ai s passeando por uma aveni da, em companhi a de um ami go; t i r ai s um ci gar r o da ci gar r ei r a e, ao quer er acendê- l o, ver i f i cai s que nem vós nem vosso ami go t endes f ósf or os. Nessa ocasi ão, passa um senhor , f umando, t r anqüi l ament e, um char ut o. Apr oxi mai s del e e l he pedi s f ogo. O caval hei r o, mui t o gent i l ment e, apr esent a a pont a acesa do char ut o, na qual acendei s o ci gar r o. Ao vol t ar des par a j unt o do vosso ami go, est e vos di z: — “Sabei s quem é aquel e senhor ?”. “Não, por que?” — Poi s bem, é o r ei de. . . ” — ”Não é possí vel ” — Mas é possí vel t ant o quant o exat o. Agor a que sabei s quem é esse caval hei r o, por vent ur a i r ei s, novament e, pedi r - l he f ogo? Não! Não vos at r ever ei s mai s. Por que? Por que essa pessoa t em agor a, sobr e vós, uma
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i nf l uênci a que, ant er i or ment e, não t i nha, der i vada não del a, pr opr i ament e, mas t ão soment e do seu t í t ul o e de sua posi ção soci al . Por t ant o, vós mesmos cr i ast es essa i nf l uênci a, sem vos aper ceber des. Que é pr eci so, ent ão, f azer par a mel hor ar e cur ar - se a si mesmo? Par a i st o, bast a apenas, apr ender a ut i l i zar , bem e consci ent ement e, um i nst r ument o que cada um de nós possui desde o nasci ment o, usa- o desde l ogo e cont i nua usando- o t oda a vi da, sem o saber , at é o moment o de expi r ar . Est e i nst r ument o não é out r a coi sa senão a aut o- sugest ão, que se pode def i ni r assi m: é a ação de i mpor a si mesmo uma i déi a no es pí r i t o. Sucede- nos com a aut o- sugest ão, o mesmo que ao Sr . J our dai n, com r el ação à pr osa. El e admi r ou- se mui t o, quando, depoi s de ul t r apassar os ci nqüent a anos de i dade, o seu pr of essor de f r ancês l he di sse que j á f azi a pr osa quando começava a bal buci ar est as pal avr as: “Papá, mamã”, e que ai nda o f azi a quando di zi a: “Li nda mar quesa, os vossos ol hos me f azem mor r er de amor ”. O mesmo acont ece convosco, quando vos af i r mo que pr at i cai s a aut o- sugest ão, desde o di a do vosso nasci ment o e havei s de pr at i cá- l a at é ao vosso der r adei r o moment o. Par a vos most r ar que não sou exager ado, vou dar - vos um exempl o de um caso que, cer t ament e, se t er á passado com al gum de vós. Suponhamos t r at ar - se de uma cr i ança r ecém- nasci da, que r epousa no ber ço. De r epent e, ouvem- se uns pequenos gr i t os e uma das pessoas pr esent es, o pai , se est á em casa, i medi at ament e, cor r e par a a cr i ança e a t oma nos br aços. Se el a não est á r eal ment e doent e, ao cabo de al guns i nst ant es dei xa de chor ar e, novament e, a dei t am no ber ço. El a, por ém, r ecomeça a chor ar . Ti r am- na mai s uma vez e de novo se cal a. Tor nam a dei t á- l a e os gr i t os r ecomeçam. Não sei se concor dai s comi go, mas penso não er r ar di zendo que essa cr i ança pr ocur a aut o- sugest i onar seus pai s ou, por out r a, pr ocur a enganá- l os, como se di r i a em l i nguagem mai s cor r ent e. Se ef et i vament e, os pai s i magi nam que é pr eci so pegar a cr i ança, cada vez que el a chor a, a f i m de evi t ar o chor o, f azem- no em conseqüênci a da aut o- sugest ão. Dest ar t e, el es se condenam a passar qui nze ou dezoi t o meses da sua vi da, com a cr i ança nos br aços, dur ant e uma boa par t e das noi t es;
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ao passo que no seu ber ço, el a est ar i a mel hor , assi m como os pai s o est r i am na cama. E a cr i ança, , por sua vez, di z consi go mesma, na l i nguagem que i gnor amos, mas que el a compr eende, per f ei t ament e: “Cada vez que qui ser que papá ou mamã me t i r e do ber ço, bast a chor ar . ” E chor a. Se, ao cont r ár i o, dei xar em- na chor ar dur ant e qui nze mi nut os, mei a hor a ou mai s ai nda, el a, vendo que não sur t e ef ei t o o chor o, di z consi go, na sua l i nguagenzi nha: “Oh! Não val e a pena chor ar ”. E cal a- se. Como vedes, desde o pr i mei r o di a da nossa exi st ênci a, começamos a sugest i onar e a aut o- sugest i onar ; e f azemo- l o noi t e e di a, at é à hor a de mor r er . Nossos sonhos são aut o- sugest ões pr oduzi das pel o i nconsci ent e, como t ambém t udo o que di zemos, t udo o que f azemos, dur ant e o di a é det er mi nado pel as aut o- sugest ões i nconsci ent es, que só o dei xar ão de ser no di a em que as souber mos t or nar consci ent es. Ent r et ant o, é mi st er saber des que a aut o- sugest ão é um i nst r ument o per i goso, mesmo mui t í ssi mo per i goso. É a mel hor e ao mesmo t empo, a pi or coi sa do mundo, consoant e f or bem ou mal apl i cada. Quando bem empr egada, dá sempr e bons r esul t ados, por vezes t ão sur pr eendent es, que, er r adament e, os t emos na cont a de mi l agr es; quando mal empr egada, i nf al i vel ment e dá maus r esul t ados, mui t as vezes de t al modo consi der ávei s, que se t or nam ver dadei r os desast r es, não só no pont o de vi st a f í si co como no pont o de vi st a mor al . Mas, que nos acont ece, se f i zer mos uso de um i nst r ument o per i goso, com o qual nunca l i damos? Às vezes, mui t o r ar ament e, por absol ut o acaso, ser vi mo- nos del e, acer t adament e; mai s f r eqüent ement e usamo- l o mal , f er i ndonos mai s ou menos gr avement e. A mesma coi sa se ver i f i ca com a aut o- sugest ão. Se, por ém, consegui r mos f ami l i ar i zar mo- nos com t al i nst r ument o, i medi at ament e el e dei xa de ser per i goso par a nós. Por t ant o, em que consi st e o per i go de uma coi sa? Na i gnor ânci a em que nos achamos desse per i go. Uma vez que o conhecemos, el e desapar ece, por i ss o que o evi t amos. Poi s bem, o meu papel é o de ensi nar - vos a empr egar bem e consci ent ement e est e i nst r ument o per i goso por vós i nconsci ent ement e usado at é agor a, i st o é, mui t o poucas vezes bem quase sempr e mal .
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Ant es de vos dar os consel hos com os quai s vou t er mi nar , devo expor - vos os pr i ncí pi os s obr e os quai s baseei o meu mét odo, por quant o, ao cont r ár i o do que j ul gam cer t os i ndi ví duos, que o não quer em compr eender , est e mét odo não é nem empí r i co, nem i nf ant i l , mas si m, ci ent í f i co, por que se apói a em bases ci ent í f i cas e, ao mesmo t empo, baseado nas obser vações dos f at os. O pr i mei r o pr i ncí pi o pode ser enunci ado dest e modo: t oda i déi a que se f or ma no espí r i t o, boa ou má, não soment e t ende a r eal i zar - se, como o di z Ber nhei m, mas se t or na ai nda, par a nós, uma r eal i dade, dent r o do l i mi t e do possí vel . Em out r os t er mos, se a i déi a é vi ável , el a se r eal i za. Se a i déi a não é r eal i zável , nat ur al ment e não se r eal i zar á, por quant o não podemos r eal i zar o i r r eal i zável . Al ém di sso, não devemos per mi t i r - nos t er semel hant es i déi as . Suponhamos, por exempl o, que al guém t enha uma per na amput ada e i magi ne que el a vá r enascer . Subent ende- se que essa per na não se r enovar á mai s e di st o t emos absol ut a cer t eza, por que é uma coi sa i nt ei r ament e f or a do possí vel . Mas, se um i ndi ví duo sent e dor es numa par t e qual quer do seu cor po; se al guns de seus ór gãos f unci onam mai s ou menos i mper f ei t ament e; se el e t em i déi as t r i st es, pensament os t enebr osos, l embr anças obsessor as, r ecei os, pavor es, f obi as, e f azendo a aut o- sugest ão, as dor es vão pouco a pouco desapar ecendo, os ór gãos, de mel hor i a em mel hor i a, vão r ecuper ando as f unções nor mai s e, i gual ment e, aos poucos, as i déi as t r i st es, os pensament os t enebr osos, as l embr anças obsessor as, os r ecei os, os pavor es, as f obi as t ambém se vão acabando, é por que essas r eal i zações est ão no domí ni o da possi bi l i dade. Dest ar t e, a i déi a do sono pr ovoca o sono, da mesma f or ma que a i déi a da i nsôni a pr oduz a i nsôni a. Como podemos, r eal ment e, def i ni r a pessoa que dor me à noi t e? A pessoa que dor me à noi t e é aquel a que sabe que é par a dor mi r que a gent e se dei t a na cama. E a pessoa que não dor me à noi t e, que sof r e de i nsôni a habi t ual ? A pessoa que sof r e de i nsôni a habi t ual é aquel a que sabe que não é par a dor mi r que a gent e se dei t a, e que por i sso não dor me mesmo. Ef et i vament e, t odas as noi t es, ol hando par a a cama, el a pensa que vai passar , dei t ada nel a, uma noi t e t ão desagr adável como a ant er i or . Assi m pensando, t odas as
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vezes, as noi t es, par a el a, se sucedem e se assemel ham, cont r ar i ament e aos di as que, segundo di z o pr ovér bi o, sucedem- se mas não se par ecem. A i déi a da cr i se da asma det er mi na essa cr i se. Por exempl o: um asmát i co acor da de manhã, absol ut ament e sat i sf ei t o e di spost o. Passou uma noi t e magní f i ca, sem t er t i do necessi dade de quei mar , como de cost ume, pó X. . . . . nem f umar ci gar r os Z. . . . . Como no seu quar t o há pouca cl ar i dade, vai à j anel a e cor r e a cor t i na. Ent ão avi st a, at r avés da vi dr aça, uma cer r ação espess a como as de Londr es. A expr essão do seu r ost o l ogo se t r ansf or ma, a r espi r ação f oge e uma t er r í vel cr i se de asma se mani f est a. Foi por vent ur a, pr opr i ament e, a cer r ação que det er mi nou est a cr i se? Não. A cer r ação j á exi st i a, havi a mui t o t empo, sem que causasse nenhum ef ei t o. A cr i se i r r ompeu, soment e, depoi s que o doent e a vi u, poi s que, convém saber , t odo asmát i co que se r espei t a há de t er a sua cr i se nas ocasi ões de nevoei r o. A i déi a de cr i se ner vosa det er mi na essa cr i se. Cr ei o mesmo poder di zer , sem r ecei o de er r ar , que à par t e os epi l épt i cos ( e ai nda assi m) , as pessoas suj ei t as a cr i ses ner vosas só t i ver am uma cr i se ner vosa ver dadei r a, i st o é, a pr i mei r a. Todas as demai s s ão ocasi onadas por el as pr ópr i as. Ei s como expl i co i sso, e cr ei o que a ver dade est á comi go: A pr i mei r a cr i se é sempr e det er mi nada por um choque f í si co ou mor al . Passada essa pr i mei r a cr i se, o doent e di z i nf al i vel ment e: “Cont ant o que i st o não me vol t e mai s”. Não sei se t er ei s f ei t o est a obser vação: cada vez que uma pessoa di z: “cont ant o que. . . ” , com r el ação a um assunt o que l he di z r espei t o, consegue, j ust ament e, o cont r ár i o daqui l o que desej a. Se, por exempl o, di zei s: “Cont ant o que eu dur ma bem est a noi t e! , podei s t er cer t eza de que passar ei s uma noi t e em cl ar o. Embor a l á f or a est ej a gel ando, ser ei s obr i gado a sai r . Se pensai s l á convosco: “Cont ant o que eu não cai a! ”, ant es de dar quar ent a passos cai r ei s em chei o ao sol o! ”. Nest as condi ções, a cr i se, f at al ment e, se r epr oduzi r á. Se a pessoa guar da o númer o de di as decor r i dos ent r e a pr i mei r a e a segunda cr i se, di gamos uns qui nze di as, di r á consi go mesma, passada est a úl t i ma cr i se: “Cont ant o que i sso não se r epi t a nest es qui nze di as! ” No f i m de qui nze di as a cr i se r eapar ece, e assi m, aut omat i cament e, se r epet i r á duas vezes
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por mês, at é a mor t e do enf er mo, sal vo se um acont eci ment o qual quer vi er modi f i car o cur so das coi sas. Se el a não guar dar o númer o de di as que t r anscor r em ent r e as duas cr i ses, ao t er mi nar a segunda, di r á consi go: “Cont ant o que i sso não se r epr oduza! ” Nat ur al ment e, a cr i se se r epet i r á em época não det er mi nada: um di a, doi s, uma semana, um mês depoi s, ou mai s ai nda. Em suma, essa pessoa t em uma espéci e de espada de Dâmocl es suspensa sobr e a cabeça, a qual al gumas vezes cai , cont r ar i ament e ao que se dava com a ant i ga, que se conser vava, pr udent ement e, suspensa sobr e a cabeça daquel e a quem ameaçava, sem nunca se despr ender . A i déi a de enxaqueca no di a do j ant ar par a o qual f ost es convi dadas ( r ef i r o- me às senhor as) , ou no di a do j ant ar par a o qual convi dast es al guém, vos f ar á t er enxaqueca no di a exat o do convi t e; não ser á nem na vésper a, nem no di a segui nt e, que t er ei s, mai s, si m, exat ament e no di a mar cado. A i déi a de gaguei r a f az a pessoa gaguej ar ; assi m como a i déi a do medo det er mi na o medo et c. Di r ei mai s que é bast ant e pensar : “Est ou sur do, est ou cego, est ou par al í t i co”, par a ser sur do, cego ou par al í t i co. Não quer o di zer , nat ur al ment e, que os sur dos, os cegos, os par al í t i cos o sej am por pensar em que o são, mas exi st e um cer t o númer o de pessoas que o são, uni cament e, por que o j ul gam ser . Com essa cast a de gent e é que se dão os pseudo- mi l agr es que, f r eqüent ement e, se ver i f i cam em mi nha casa. Se a gent e consegue convencer a essa espéci e de par al í t i cos que el es vão andar , obser va- se que o sur do ouve, o cego vê e o par al í t i co anda. Não são t ão r ar os t ai s casos, como se poder i a i magi nar , pr i nci pal ment e em mat ér i a de sur dez. Mi nha exper i ênci a, de t odos os di as, demost r a- me que a met ade das pessoas que não ouvem são sur das por convi cção. Dent r e cent enas de casos, ei s al guns del es: Um di a, uma senhor a i ngl esa vem consul t ar - me sobr e a sua sur dez. Usava um apar el ho em cada ouvi do e, apesar di sso ( ou t al vez por causa dos apar el hos! ) , ouvi a mui t o mal . No di a segui nt e, vol t a sem os t ai s apar el hos, ouvi ndo mui t o bem.
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Est á cl ar o que se t r at a de um caso absol ut ament e psí qui co. Se houvesse l esões nos ouvi dos, ser i a mat er i al ment e i mpossí vel que, num di a, se cur assem. De out r a f ei t a, uma boa mul her do campo vem pr ocur ar - me por sof r er de enf i sema. Ao chegar par a a quar t a sessão, di z- me: “Deu- se comi go uma coi sa i nt er essant e, senhor Coué: há dezess ei s anos que eu não ouvi a no ouvi do esquer do, mas, ont em à noi t e, not ei que ouvi a dest e ouvi do t ão bem como do out r o”. E el a cont i nuou ouvi ndo. Out r o caso: Por ocasi ão da mi nha segunda vi agem à Amér i ca, hospedei - me em casa de um dos meus ami gos e, à noi t e, al gumas pessoas vi er am ver - me. Ent r e el as est ava uma senhor a que, desde mui t os anos, não ouvi a, absol ut ament e, de um dos ouvi dos. Ter mi nada a sessão, que f i z par a as pessoas pr esent es, essa senhor a est ava ouvi ndo mui t o bem. No di a segui nt e, par t i de Nova I or que a f i m de f azer uma excur são, que dur ou ci nqüent a e sei s di as. De r egr esso, hospedei - me ai nda, em casa do meu ami go e, à noi t e, as mesmas pessoas vi er am de novo f al ar - me. A dama sur da achava- se, nat ur al ment e, ent r e el as. Fui i nf or mado de que, dur ant e os t r ês di as segui nt es ao da mi nha par t i da, el a ouvi r a mui t o bem, mas que, do quar t o di a em di ant e, dei xar a de ouvi r . Assi m que me di r i gi a el a, novament e começou a ouvi r . De passagem por Fl or ença, no I nst i t ut o Br i t âni co, onde eu f azi a uma conf er ênci a, encont r ava- se um j ovem i ngl ês que, dur ant e a guer r a, f or a f er i do na cabeça. Desde o di a em que r ecebeu o f er i ment o, f i cou compl et ament e sur do do ouvi do di r ei t o. Apr oxi mando- me desse l ado, f i - l o t apar o out r o ouvi do com o dedo mí ni mo e gr i t ei bem al t o: “Est ai s- me ouvi ndo?” El e r espondeu: “Si m”. Af ast ei - me um pouco e f i z a mesma coi sa. Ouvi u- me ai nda, per f ei t ament e, a um met r o e mei o de di st ânci a, mai s ou menos. Daí par a mai s a per cepção dos sons não er a mai s ní t i da. Recomecei , ent ão, a exper i ênci a e, dest a vez, só a t r ês met r os de di st ânci a é que dei xou de me ouvi r . A t er cei r a exper i ênci a f oi cor oada com um compl et o sucesso: El e me ouvi a de qual quer di st ânci a. Tão admi r ado f i cou com esse r esul t ado, que não par ava de r epet i r , l evant ando os br aços: “I t ’ s ext r aor di nar y, i t ’ s ext r aor di nar y et c. ”. Esse f oi ai nda um caso de sur dez psí qui ca, pr ovavel ment e, em conseqüênci a de uma sur dez r eal .
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É mui t o pr ovável que a f er i da r ecebi da na cabeça haj a det er mi nado as l esões que causar am a sur dez r eal . Aos poucos essas l esões sar ar am e a ver dadei r a sur dez f oi , pr ogr essi vament e, desapar ecendo. Ent r et ant o, como o r apaz cont i nuava se j ul gando sur do, er a- o ef et i vament e. Af i nal , a sua ver dadei r a sur dez acabou compl et ament e, f i cando, por ém, uma sur dez psí qui ca, que l he dur ou at é o moment o em que o encont r ei . Em Nancy, apr esent ou- se- me um caso mui t o or i gi nal de ceguei r a. Vei o à mi nha casa, sob r ecomendação de pessoa ami ga, uma moça de 25 anos, por que est ava compl et ament e cega da vi st a esquer da, desde a i dade de 3 anos. Esse ol ho não t i nha a mí ni ma sensação de sombr a, nem de l uz. I medi at ament e depoi s da sessão, essa moça pôde ver . Nat ur al ment e, t odos os pr esent es vi r am, r ápi da, a r eal i zação de um mi l agr e.
nessa cur a,
t ão
Quant o a mi m, pr ocur ei o segr edo desse mi l agr e e encont r ei o, desapar ecendo est e por que não passava de um pseudomi l agr e. Ei s a expl i cação: — A r ef er i da moça, na i dade de doi s anos, sof r eu uma mol ést i a mui t o gr ave no ol ho esquer do, cur ando- se ao cabo de um ano. Dur ant e t odo ess e t empo, conser vou uma venda sobr e a vi st a esquer da, que, pr i vada de enxer gar pel o espaço de um ano, habi t uo- se a não ver , e guar dou esse hábi t o at é ao moment o em que vei o pr ocur ar - me. Fi z- l he a sugest ão, di zendo- l he que as l esões, que por vent ur a t i vesse, i r i am pouco a pouco desapar ecendo enquant o el a i r i a enxer gando cada vez mai s e, que uma vez cur ada dessas l esões, ver i a per f ei t ament e bem. Como não havi a l esão al guma, vi u i medi at ament e. Sou l evado a cr er que, se el a não t i vesse me pr ocur ado, f i car i a compl et ament e cega pel a aut o- sugest ão. Real ment e, quando me f ez a sua pr i mei r a vi si t a, comuni cou- me que, no t empo em que est udava pi ano, quase não podi a ver as not as. Devo di zer mai s que essa moça t i nha um l i gei r o bóci o exof t ál mi co o qual , pel o empr ego cont í nuo da aut o- sugest ão, desapar eceu bem depr essa. Out r o caso anál ogo, e não menos cur i oso, sucedeu com uma j ovem i ngl esa que, há al gum t empo, vei o pr ocur ar - me. Quando chegou à mi nha casa, mal enxer gava par a cami nhar . Logo depoi s da pr i mei r a sessão, pôde ver , como acont eceu com a senhor i t a X. , não só o suf i ci ent e par a di r i gi r os seus passos, como t ambém o necessár i o par a l er um j or nal .
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Esse pseudo- mi l agr e expl i ca- se com a mesma f aci l i dade que o ant er i or . Oi t o anos ant es, essa moça, t endo sof r i do uma mol ést i a nos ol hos, pr ocur ou um médi co especi al i st a. Est e, sem dúvi da, pr of er i u al gumas pal avr as i mpr udent es, que a f i zer am pensar que f i car i a cega. O r esul t ado dest a aut osugest ão não demor ou a mani f est ar - se e, pouco a pouco, a vi st a da j ovem f oi enf r aquecendo, at é o pont o, conf or me acabo de vos di zer , de mal poder andar na r ua. Uma sugest ão i dênt i ca à que f i z no pr i mei r o caso ci t ado, i medi at ament e oper ou a cur a. Em Par i s, obser vei um caso mui t o not ável de par al i si a. Ao pr i mei r o andar de uma casa, onde eu dava uma sessão, t r ouxer am- me uma mul her que, havi a qui nze meses, est ava compl et ament e hemi pl égi ca. Er a- l he i mpossí vel f azer o menor movi ment o do l ado enf er mo. Logo depoi s da sessão, el a se l evant ou da cadei r a e pôs- se a andar , nor mal ment e, movendo o br aço par al í t i co, como se nunca o t i vesse dei xado de mover . É bem f áci l a expl i cação dest a cur a r epent i na. Qui nze meses ant es, essa mul her sof r er a, i ndubi t avel ment e, uma congest ão cer ebr al , que l he causar a uma par al i si a r eal . Como acont ece, f r eqüent ement e, em t ai s casos, aos poucos as l esões f or am desapar ecendo, e, na mesma pr opor ção, a par al i si a ver dadei r a di mi nuí a. Cont i nuando, por ém, a doent e a pensar : “est ou par al í t i ca”, per maneci a sempr e no mesmo est ado. Em segui da, como as l esões f or am cur adas compl et ament e, a par al i si a r eal desapar eceu, mas a pessoa, j ul gando sempr e est ar par al í t i ca, cont i nuava no mesmo est ado em que f i cou no di a do aci dent e. Desde que não havi a mai s l esões a cur ar , a sugest ão de que i r i a desapar ecer a par al i si a assi m que as l esões t ambém desapar ecessem, t r ouxe um r esul t ado súbi t o. Ei s ai nda al guns casos de mol ést i as i ncur ávei s obt i ver am mel hor i as em pr opor ções i nacr edi t ávei s.
que
O pr i mei r o se deu com a senhor a X. , de Nova I or que. Assi m que chegou, r emet eu- me el a uma car t a do seu médi co, concebi da mai s ou menos no segui nt e t eor : “Car o senhor , meus col egas e eu f i zemos t odo o poss í vel par a que a senhor a X. consegui sse mel hor ar de saúde, poi s sof r i a de escl er ose múl t i pl a, mas f oi em vão. Esper o que o senhor sej a mai s f el i z do que nós”. Essa senhor a ent r ou em mi nha casa aj udada do l ado esquer do pel o mar i do e do l ado di r ei t o apoi ada numa bengal a. É i nút i l di zer que cami nhava com a mai or di f i cul dade. No f i m de qui nze di as, a senhor a X. podi a at r avessar o meu j ar di m sem auxí l i o da bengal a.
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Apenas a sua mar cha er a ai nda um pouco dur a. Há doi s anos que vem se mant endo nest e est ado. O segundo caso ocor r eu com uma senhor a de Har l em, a quem vi em pr esença do seu médi co. Como no caso pr ecedent e, t r at ava- se de uma escl er ose múl t i pl a. Quando ent r ei no quar t o del a, encont r ei - a est endi da num di vã, do qual saí a soment e de noi t e par a dei t ar - se na cama, de onde mui t o penosament e, pal a manhã, i a par a o di vã auxi l i ada por duas pessoas, que a segur avam à di r ei t a e à esquer da. Rapi dament e, expl i quei - l he o mét odo e obt i ve, dent r o de al guns mi nut os, que el a cami nhasse de um l ado par a out r o, apoi ando- se, apenas, no meu i ndi cador di r ei t o. Não soment e pôde cami nhar como t ambém subi r e descer uma escada a passos l ar gos. Al gum t empo depoi s, eu r ecebi a uma car t a da mãe del a, i nf or mando- me que, no di a i medi at o de mi nha vi si t a, a j ovem senhor a subi r a, sozi nha, ao andar super i or da casa, par a ver o quar t o dos seus f i l hos, onde, havi a onze meses, não i a, e que, no segundo di a, descer a à sal a de j ant ar , a f i m de f azer a sua r ef ei ção, em companhi a dos seus pai s. Ao cabo de doi s meses, a doent e mesma escr evi a- me par a comuni car - me que cont i nuava mel hor ando e t i nha podi do sai r e f azer vi si t as. Mal pude r econhecê- l a, est e ano, por ocasi ão da mi nha segunda vi agem à Hol anda. À mi nha chegada, l evant ou- se par a vi r - me ao encont r o. Not ei que o seu andar poder i a ser i nt ei r ament e nor mal , se l he não t i vesse f i cado uma pequena dur eza nas per nas. O t er cei r o caso é de uma at axi a num homem de 50 anos de i dade. Com a mai or di f i cul dade subi u, auxi l i ado pel a mul her , os poucos degr aus da mi nha escada. Havi a cer t o t empo que os esf í nct er es não f unci onavam mai s. A par t i r da pr i mei r a sessão, os esf í nct er es r ecomeçar am a f unci onar e, aos poucos, esse homem f oi f i cando em condi ções de andar quase nor mal ment e, a pont o de mal poder not ar - se que er a at áxi co. O úl t i mo caso t ambém é de at axi a, ver i f i cado ant es da guer r a, em um homem de cer ca de 45 anos; t i nha o andar habi t ual dos at áxi cos e vi ol ent as dor es de cabeça, que desapar ecer am bem depr essa.
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O andar do doent e mel hor ou r api dament e. Ao cabo de um mês, não pr eci sou mai s ser vi - se da bengal a e, al gum t empo depoi s andava, f aci l ment e, à or l a de um l ago assi m como dava, al egr ement e, um passei o de uma dezena de qui l ômet r os. Essas mel hor as, quase mi r acul osas, expl i cadas da segui nt e manei r a:
são
f aci l ment e
È pr eci so not ar que t odo doent e t em duas doenças: a doença r eal , par a a qual podemos dar o coef i ci ent e 1, e a doença psí qui ca, que se enxer t a na pr i mei r a, e cuj o coef i ci ent e var i a de 1 a 5, 10 ou mesmo mai s. Di gamos, por hi pót ese, que, nos casos ant er i or ment e nar r ados, a doença r eal er a r epr esent ada por 1, e a doença psí qui ca por 9. Gr aças à sugest ão e à aut o- sugest ão, a doença psí qui ca desapar eceu mai s ou menos depr essa, f i cando, apenas, a ver dadei r a mol ést i a, i st o é, um déci mo do t ot al . Qual a concl usão que t i r amos desse pr i mei r o pr i ncí pi o? Ei l a: Se t oda i déi a, que t emos no espí r i t o ( quer o di zer no i nconsci ent e) , se t or na par a nós uma r eal i dade no domí ni o da possi bi l i dade e, est ando doent es, t r azemos no espí r i t o a i déi a de cur a, est a se t or na r eal no domí ni o da possi bi l i dade, i sto é, se el a é possí vel , r eal i za- se; se não é nat ur al ment e, não se r eal i zar á. Nest e úl t i mo caso, por ém, obt er - se- á t oda a mel hor i a humanament e possí vel de obt er , o que j á é mui t o vant aj oso, quando a cur a com f r eqüênci a, é consi der ada sem pr obabi l i dade. Vej amos ai nda al guma car t as, que me f or am di r i gi das, as quai s most r ar - vos- ão o que é capaz de f azer a aut osugest ão: t r ês anos, apr oxi madament e, eu sof r i a, f r eqüent ement e, de gr andes dor es de cabeça, que at r i buí a à má di gest ão. No di a em que me sent i a at acada, não t omava al i ment o nenhum, j ul gando que i ss o me t r ar i a al í vi o. Primeira
carta: — “Há
Esse modo de pr oceder r esul t ou, par a mi m, muna gr ande f r aqueza dos ner vos e, dur ant e t odo o mês de dezembr o de 1924, conheci a neur ast eni a, com t odo o seu hor r or oso cor t ej o. Mas, a par t i r da pr i mei r a semana, em que comecei a por em pr át i ca o vosso mét odo, a di gest ão f ez- se per f ei t ament e, e aos poucos, os meus padeci ment os mor ai s s e di ss i par am.
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Consi der o- me f ever ei r o”. D. , Roanne
quase
cur ada,
desde
os
pr i mei r o
di as
de
Segunda carta : — “… Consegui , eu mesma, cur ar - me pel o vosso
mét odo, há quat r o anos, de uma met r i t e, que, at é agor a, não r eapar eceu, pel o que vos ser ei agr adeci da t oda a mi nha vi da. Rogo- vos et c. ” V. , Ver dun Terceira carta :
— “ Tomo a l i ber dade de envi ar - vos, de l onge um bom di a. Sou a pessoa que est ava sof r endo de um mal no j oel ho, havi a onze anos, e que não podi a quase andar . Faz hoj e t r ês semanas que f ui à vossa casa pel a pr i mei r a vez. Fi zest es- me andar e ai nda mai s, f i zest es- me cor r er . Agor a cor r o mai s at i vament e ai nda, poi s t i ve, ont em, a ousadi a de i r a Ri beauvi l l e e, est a manhã, f ui a Sai nt Ul r i ch e vol t ei . Par ece que est ou mer gul hada num pr of undo sonho”. J . B. … Não quer o di zer que se dei xem de t omar os medi cament os r eci t ados pel os médi cos, ou de obedecer ao t r at ament o por el e or denado, quando se põe em pr át i ca a aut o- sugest ão por mi m aconsel hada. Com ef ei t o, acho que, i ndependent ement e do val or t er apêut i co r eal , que possa t er , o r emédi o é um mar avi l hoso veí cul o de sugest ão. Quer o mesmo i r al ém: mi nha opi ni ão é que o médi co pr est a ser vi ço ao seu doent e, r ecei t ando- l he r emédi os, mesmo que os não j ul gue necessár i os, poi s que a poção, o pó, a cápsul a é que o deve cur ar , por quant o, em ger al , o doent e f az pouco caso dos consel hos de hi gi ene que se l he possam dar . Acho t ambém que os medi cament os f or mul ados pel o pr ópr i o médi co exer cem mai s ação sobr e o doent e do que os r emédi os especi al i zados, que mui t as vezes, não t em r eal val or e nos quai s o paci ent e não deposi t a a mesma conf i ança que t em naquel es que o médi co f or mul a, pessoal ment e. Sobr et udo, se l he expl i ca, ver bal ment e e mi nuci osament e, o modo de usál os, o seu ef ei t o ser á ai nda mai or . Por t ant o, l onge de consi der ar a aut o- sugest ão e a medi ci na como r i vai s, o que, i nf el i zment e, mui t as vezes acont ece, é mi st er , ao cont r ár i o, consi der á- l as boas ami gas, que, em vez de ser em i ncompat í vei s, devem se dar as mão, r eci pr ocament e, e se compl et ar em uma a out r a.
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Um dos meus mai or es desej os, um dos meus pont os vi sados é consegui r a i ncl usão do est udo obr i gat ór i o da sugest ão e da aut o- sugest ão, nos pr ogr amas das escol as de medi ci na, não só em Fr ança como t ambém no est r angei r o, par a mai or ut i l i dade da pr of i ssão de médi co, que di spor á de mai s uma ar ma no combat e cont r a a mol ést i a e, sobr et udo, par a o mai or bem dos doent es. A f al t a desse ensi nament o é l ament ável , por que, se compar amos cada um de nós com um aut omóvel , cuj o cor po é a carrosserie e cuj o espí r i t o é o mot or , not ar emos que nas escol as os est udant es apr endem a cui dar do cor po, i st o é, da carrosserie, mas i gnor am o espí r i t o ou, por out r a, o mot or . De manei r a que, se se ver i f i car um desar r anj o no mot or e est e, por si mesmo, não se conser t ar , o veí cul o não poder á mai s mover - se. Se, por ém, os est udant es soubess em, i gual ment e, cui dar do espí r i t o, i st o é, do mot or , f ar i am o veí cul o f aci l ment e pôr - se em mar cha. O segundo pr i ncí pi o, sobr e o qual se basei a a mi nha t eor i a, é o que adi ant e vou expor . Rogo- vos di spensar des t oda a vossa at enção a esse pr i ncí pi o, que f az di f er enci ar o meu, de t odos os out r os mét odos, e que l he per mi t e obt er r esul t ados r ápi dos e i nesper ados, nos casos em que out r os t r at ament os f al har am, dur ant e l ongos anos. Podemos f or mul ál o assi m: Cont r ar i ament e ao que nos ensi nam e por consegui nt e acr edi t amos, a vont ade não é a pr i mei r a f acul dade do homem, mas, si m, a i magi nação. Ef et i vament e, t oda a vez que se dá conf l i t o ent r e essas duas f acul dades, a i magi nação é sempr e vencedor a; e t oda vez que nos encont r amos nest e est ado de espí r i t o, i nf el i zment e, par a nós, mui t o f r eqüent e: “Quer o f azer t al coi sa, mas não a posso f azer ”, não soment e não f azemos o que quer emos, como t ambém f azemos o cont r ár i o daqui l o que quer emos e quant o mai s t emos vont ade, mai s f azemos o cont r ár i o do que quer emos. Tenho cer t eza de que mi nha af i r mação, par a mui t os dent r e vós, par ece mai s um par adoxo. Ent r et ant o, a mi nha i déi a não é nova, e, ant es de mi m, out r os a mani f est ar am, sem, t odavi a, af i r mar em- na t ão cat egor i cament e como eu o f aço. São Paulo , por exempl o, di sse: “O bem que eu quer i a f azer não o f aço, mas f aço o mal que eu não quer er i a f azer ”, i st o é, “quer o f azer o bem, mas f aço o mal ; quant o mai s quer o f azer o bem, t ant o mai s f aço o mal . ”
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O poet a Ovídio t ambém anunci ou a mesma i déi a, por i nt er médi o de uma das per sonagens que el e pôs em cena, f azendo- a di zer : “Video meliora probaqui, atque deterioro sequor”. ( Vej o o que de mel hor t enho a f azer e exper i ment o f azê- l o, mas f aço o cont r ár i o) . Par a vos pr ovar que t enho r azão, vou ci t ar - vos al guns exempl os de f at os, mui t o si mpl es, t i r ados da vi da cor r ent e; os quai s vemos t odos os di as sem, ent r et ant o, os saber mos apr eci ar . Lembr ai - vos de Newton. Um di a, achava- se el e dei t ado debai xo de uma maci ei r a, na época da mat ur ação. Pensava, dor mi a ou descansava, pouco i mpor t a. O f at o é que, de r epent e, cai - l he no r ost o uma maçã. El e r ef l et i u sobr e esse f enômeno e, das suas r ef l exões, nasceu a descober t a da gr avi t ação uni ver sal . Cer t ament e, concor dai s comi go ni sso, que a maçã, que cai u sobr e o r ost o de Newton, não f oi a pr i mei r a que cai u de uma maci ei r a, desde que exi st em maci ei r as sobr e a t er r a. Caí r am mi l har es, mi l hões, bi l hões, e ni nguém, at é aquel e moment o, souber a apr eci ar o f enômeno, i st o é, ni nguém soube t i r ar as conseqüênci as que el e per mi t i a. A mesma coi sa se deu com Denis Papin . Cer t o di a, aqueci a el e os pés na l ar ei r a. Pendi a da gr amal hei r a uma panel a cober t a cont endo água em ebul i ção. Papin obser vava que, de vez em quando, a t ampa se er gui a, f azendo um r uí do cr epi t ant e, ao mesmo t empo que um j at o de vapor se escapava, si bi l ando, “Lá dent r o há uma f or ça”, excl amou el e. E, a esse si mpl es r epar o de um obser vador , é que devemos os navi os a vapor e os cami nhos de f er r o. Ef et i vament e, pr i mei r a que cont endo água apr eci ar ess e
é cl ar o que a t ampa da panel a não f oi a se er guer a, quando col ocada sobr e um vaso f er vent e. Não é? Ni nguém, t ão pouco, souber a f enômeno.
O mesmo acont ece com aquel es que passo a ci t ar . O pr i mei r o é a i nsôni a. Se uma pessoa, que não dor me à noi t e, não pr ocur a conci l i ar o sono, cer t ament e não dor me, mas f i ca na cama cal ma, t r anqüi l a, sem se mexer . Se t em a desdi t a de quer er dor mi r , de esf or çar - se par a dor mi r , quando mai s o quer , quant o mai s s e esf or ça, t ant o mai s sobr eexci t ada f i ca. Como se vê, el a não f az exat ament e o que quer , mas j ust ament e, o cont r ár i o, poi s que pr ocur a o sono e, em vez dest e, encont r a o opost o, que é a sobr eexci t ação.
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O segundo é o esqueci ment o do nome de uma pessoa. Em cer t as ocasi ões acont ece que, quant o mai s pr ocur amos nos l embr ar do nome da senhor a… senhor a… Tal , mai s esse nome nos escapa à memór i a. Se, ao cabo de al guns i nst ant es, dei xamos de pr ocur ar l embr ar - nos del e, sem demor a, por si mesmo, el e nos vem à l embr ança. Consi der ando, at ent ament e, esse f at o, anal i sando- o, ver i f i camos que doi s f enômenos sucessi vos o f or mam. Ei s aqui como i sso sucede: No decor r er de uma conver sação, uma pessoa se i nt er r ompe par a di zer : “A pr opósi t o, est a manhã encont r ei com a senhor a… senhor a…” — e vaci l a par a pr of er i r o nome. — Essa hesi t ação dá l ugar a que l he venha, i medi at ament e, est a i déi a: Esqueci. Como t oda i déi a que t emos em ment e, dent r o do domí ni o da possi bi l i dade, se t or na uma coi sa r eal , a i déi a esqueci t r ansf or ma- se em r eal i dade, sendo debal de, t ant o quant o el a dur ar , t ent ar r ecor dar - se do nome, por que est e l he f oge da memór i a. Em ger al , passado al gum t empo, desi st i s, di zendo- vos: “Oh! I sso me vi r á”. Nest e moment o, a i déi a esqueci desapar ece, depoi s de t er si do ver dadei r a, e f i ca subst i t uí da por est a out r a: “I sso me vi r á”, a qual , por sua vez, se t or na ver dadei r a. Al guns moment os depoi s, a pessoa, i nt er r ompendo- se, novament e, excl ama: “Ah! sabe! é a senhor a X…, a quem me quer i a r ef er i r . ” Depoi s r ecomeçava a sua conver sa. O t er cei r o é o r i so dest emper ado. Cer t as vezes, pr ocur amos sust er o r i so e, quant o mai s o t ent amos, mai s ai nda nos r i mos e t ant o mai s al t o quant o mai s o pr ocur amos cont er . Um apr endi z ci cl i st a, quant o mai s quer desvi ar - se do obst ácul o cont r a o qual t em r ecei o de i r , mai s di r et o ai nda vai sobr e el e. Quant o mai s quer o gago evi t ar de gaguej ar , gaguej a.
mai s ai nda
A pessoa medr osa, quant o mai s quer domi nar o medo, ai nda o f az aument ar .
mai s
Qual o est ado de espí r i t o das pessoas nest es di f er ent es casos: Quero dor mi r , mas não posso ; quero l embr ar - me do
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nome da senhor a Tal , mas não posso ; quero evi t ar r i r - me, mas não posso ; quero dei xar de gaguej ar , mas não posso ; quero domi nar o medo, mas não posso ” etc? Not ai s que é sempr e não posso, i magi nação, que l eva vant agem sobr e posso, vont ade. Por t ant o, se a i magi nação l eva vant agem sobr e a vont ade, na l ut a de uma cont r a a out r a, a i magi nação é a pr i mei r a f acul dade do homem, e não a vont ade. Est e f at o pode par ecer - vos desconhecei s: ent r et ant o, a Quando a conhecer des e a conseqüênci as que el a per mi t e, senhor es de vós mesmos, f í si ca
sem i mpor t ânci a, por que o sua i mpor t ânci a é enor me. souber des apr ovei t ar as ser ei s capazes de t or nar - vos e mor al ment e.
Demai s, é necessár i o saber des que, em cada um de nós, exi st em doi s ser es bem di st i nt os um do out r o. O pr i mei r o é o ser vol unt ár i o e consci ent e que conhecemos, e que acr edi t amos ser quem nos di r i ge. Real ment e, quase t odos nos pensamos ser gui ados pel a nossa vont ade, pel o nosso Consci ent e. Mas, por t r ás desse pr i mei r o agent e, há um out r o, o I nconsci ent e ou Subconsci ent e, ao qual , pela boa razão de não conhecer mos, não di spensamos at enção. I st o é l ament ável , por quant o, t ant o no pont o de vi st a f í si co como no mor al , é el e que nos di r i ge. Como é sempr e bom dar uma pr ova daqui l o que se enunci a, vou pr ovar - vos o que acabo de di zer . Todos nós t emos no cor po um cer t o númer o de ór gãos, t ai s como o cor ação, o est ômago, o f í gado, os r i ns, o baço, et c. Quem, de nós, por sua vont ade, ser i a capaz de f azer um desses ór gãos f unci onar ? Ent r et ant o, el es f unci onam de uma modo cont í nuo, não soment e de noi t e como de di a, enquant o o nosso consci ent e dor me, por quant o est e ador mece ao mesmo t empo que o cor po. Se el es f unci onam, é necessar i ament e, sob a i nf l uênci a de uma f or ça. A f or ça é que chamamos o I nconsci ent e ou o Subconsci ent e. Poi s bem, assi m como o I nconsci ent e pr esi de ao f unci onament o do nosso f í si co, t ambém pr esi de ao do nosso ser mor al . É a segui nt e a concl usão a t i r ar desse segundo pr i ncí pi o: se o nosso I nconsci ent e é que nos conduz e se apr endemos a di r i gi - l o, por seu i nt er médi o apr endemos a nos gui ar a nós mesmos.
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Par a mai or cl ar eza, vou apr esent ar - vos uma compar ação: Consi der emos cada um de nós assent ado em um car r o at r el ado a um caval o e que, ao at r el ar em esse ani mal , haj am esqueci do de pôr - l he as r édeas, t endo- se- l he, assi m mesmo, dado uma chi cot ada. Nat ur al ment e, põe- se a andar , mas em que di r eção? Sem dúvi da, i r á onde qui ser ; par a f r ent e, à di r ei t a, à esquer da, par a t r ás, como l he convi er . Como, por ém, el e nos conduz na pequena car r uagem que vai puxando, há de nos l evar onde l he convi er i r , acont ecendo, quase sempr e, ar r ast ar - nos por um cami nho chei o de r odei r as, bar r ancos, t endo à di r ei t a e à esquer da uma val a mai s ou menos gr ande, pr of unda e l amacent a, onde encont r a mei o de nos f azer t ombar . Se consegui r mos pôr as r édeas nesse caval o, os papéi s, i medi at ament e, mudam. Gr aças às r édeas, podemos gui á- l o par a onde desej amos que el e vá; e, se, dest a vez, vamos por um cami nho r ui m, cul pemos a nós mesmos, poi s que a di r eção do caval o depende, excl usi vament e de nós. Meu papel consi st e, uni cament e, em most r ar - vos como se col ocam as r édeas nesse caval o, que não as t i nha e como, gr aças a el e, podemos conduzi r - nos como desej amos. É uma coi sa mui t o si mpl es, na ver dade, mui t o si mpl es par a ser compr eendi da à pr i mei r a vi st a. Mui t as vezes, acont ece- me di zer aos meus ouvi nt es: Se vos exponho uma coi sa compl i cada, compr eendei s, sem dúvi da, mui t o mel hor , ou por out r a acr edi t ai s compr eender mel hor ; mas est a é t ão si mpl es que, or di nar i ament e, por causa de sua pr ópr i a si mpl i ci dade, se t or na di f í ci l de di scer ni - l a. É chegada a ocasi ão de f azer al gumas exper i ênci as2 dest i nadas a demost r ar - vos a ver aci dade desses pr i ncí pi os. Rogo, por t ant o, a al guns dent r e vós, que venham aqui per t o, a f i m de me aj udar em a f azê- l as. ( Al gumas pessoas sobem o estrado). Obser vai bem que nest as exper i ênci as, não é aqui l o que di go o que se r eal i za, mas si m o que a pessoa t em em ment e. Se el a pensa, exat ament e, como l he peço, é i sso o que se r eal i za, mas se pensa o cont r ár i o, ser á o cont r ár i o que se r eal i z ar á. Vi de a descr i ção dessas exper i ênci as no capí t ul o “O Domí ni o de Si Mesmo pel a Aut o- sugest ão Consci ent e”. 2
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Não uso o hi pnot i smo, nem f aço a sugest ão, nem t r at o de f or çar pessoa al guma a f azer uma exper i ênci a, mas ensi no a f azê- l o, o que é compl et ament e di f er ent e. Em suma, devei s vos consi der ar al unos e eu pr of essor , que vos ensi na a f azer , consci ent ement e, a aut o- sugest ão que, dur ant e t oda a vi da, passai s f azendo i nconsci ent ement e. Qual o meu i nt ui t o mandando- vos f azer essas exper i ênci as? Si mpl esment e demonst r ar - vos que a i déi a que t emos em ment e se t or na uma r eal i dade no domí ni o da possi bi l i dade e que, desde que haj a conf l i t o ent r e a vont ade e a i magi nação, é sempr e est a que vence. Por t ant o, qual quer que sej a o r esul t ado da exper i ênci a, t enho sempr e r azão, ai nda que par eça est ar eu er r ado. Peço a um dos senhor es cr uzar as mãos e aper t á- l as, com ener gi a, o quant o possí vel , e que pense: “Quer o abr i r as mãos, mas não posso”. Se not o que a pessoa quant o mai s t ent a abr i r as mãos mai s ai nda as aper t a, sei que pensou como deve ser , i st o é, “não posso”, conf or me pedi , e t enho r azão. Se, ao cont r ár i o, vej o que el a as abr e, é por que pensou “posso” e ai nda t enho r azão. ( Nessa ocasi ão, f aço com vár i as pessoas a exper i ênci a das mãos cr uzadas, dos punhos f echados, das mãos compr i mi das uma cont r a a out r a, da mão enr i j ada et c. , e peço- l hes que pensem: “quer o abr i r as mãos, mas não posso”, quer o abr i r o punho, mas não posso; quer o separ ar as mãos, mas não posso” et c. , exper i ênci as que quase sempr e são bem sucedi das) . Se f aço essas exper i ênci as negat i vas, di ant e de vos 3, é par a vos most r ar aqui l o que não devei s f azer , e o que, t odavi a, passai s uma gr ande par t e da vossa vi da f azendo. Todos aqui pr esent es, com exceção de uma só pessoa ( f aço sempr e exceção de uma pessoa, par a que cada um poss a di zer consi go: sou eu essa pessoa) , t odos, pel o menos uma vez por di a, usam uma dessas expr essões: di f í ci l , i mpossí vel , não 3
Dou pr ef er ênci a a f azer exper i ênci as em pr i mei r o l ugar negat i vas, depoi s posi t i vas, t al como o pêndul o de Chervr eul , que pr ova, apenas, a pr i mei r a l ei ( t oda i déi a, que t emos em ment e t or na- se, para nós, uma r eal i dade, no domí ni o da possi bi l i dade) ao passo que as pr i mei r as exper i ênci as demonst r am as duas l ei s: 1ª “t oda i déi a de que a não podemos f azer , t ant o mai s f azemos o cont r ár i o daqui l o que quer emos” ( Lei do esf or ço conver t i do) .
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posso, est á al ém das mi nhas f or ças, não posso me abst er de… et c. Se acr edi t ai s no que di go, não usei s nunca uma só dessas expr essões, por que o seu empr ego vos f az pensar e, se pensai s, o vosso pensament o se r eal i za, de sor t e que a coi sa mai s si mpl es do mundo se t or na uma coi sa i mpossí vel . Todos vós, dest a f ei t a sem exceção, t endes encont r ado no vosso cami nho, ví t i mas de i dênt i ca aut o- sugest ão. Todos vós vi st es pessoas que não podi am abr i r ou f echar a mão, ou que andava com uma per na dur a como se f or a de pau. Poi s bem, assegur ar - vos que, sobr e cem pessoas que não podem execut ar o movi ment o que desej am, oi t ent a, segur ament e, o não podem soment e por que pensam que não o podem e, nest e est ado f i car ão t oda a vi da, se em seu cami nho não encont r ar em al guém que l hes ensi ne a pensar : “posso”. Concl usão: Pensai s sempr e “posso” e nunca “não posso” . Apr ovei t ai s, t odos, est e consel ho: não podei s i magi nar que poder osa f or ça mor al se acha cont i da nest as duas si mpl es pequenas pal avr as — eu posso —. E vi st o que vos est ou dando consel hos, dar - vos- ei mai s um que vos per mi t i r á r eal i zar mui t as coi sas sem f adi ga. Ei - l o: Quando t i ver des de f azer uma coi sa, f or mul ai l ogo est a per gunt a: é ou não possí vel ? Se a r azão vos r esponder não, não t ent ei s f azê- l a, por que ser á f at i gar - vos i nut i l ment e. Se a r azão vos r esponder sim, di zei i medi at ament e a vós mesmos que é f áci l . Que acont ecer á ent ão? Se consi der ai s essa coi sa como f áci l , el a se t or na, r eal ment e, f áci l e, par a f azê- l a, gast ar ei s exat ament e a quant i dade de f or ças r equer i da. Se, por exempl o, vos f or em pr eci so dez cênt i mos de f or ça, não gast ar ei s onze cênt i mos. Se, ao cont r ár i o, a consi der ai s di f í ci l , vi nt e ou quar ent a vezes mai s do que na r eal i dade é, em vez de gast ar des dez cênt i mos de f or ça, como no caso pr ecedent e, despender ei s doi s ou quat r o f r ancos. Dest ar t e, se consi der ei s como di f í ci l t udo aqui l o que t endes a f azer , depr essa chegar ei s ao est af ament o, ao passo que, se consi der ai s o vosso t r abal ho como f áci l , à noi t e não vos sent i r ei s cansados, como não vos sent i s pel a manhã. A pr opósi t o, vou ci t ar - vos uma compar ação, j á f ei t a em O Domí ni o de Si Mesmo. Cada um de nós pode ser compar ado a um r eser vat ór i o com uma t or nei r a, na par t e super i or , dest i nada a enchê- l o, e out r a,
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de di âmet r o um pouco mai or , na par t e i nf er i or . Se abr i r mos as duas t or nei r as o r eser vat ór i o f i car á compl et ament e vazi o Mas, se t i ver mos o cui dado de conser var a t or nei r a i nf er i or f echada, pouco a pouco o r eser vat ór i o f i car á chei o e, uma vez r epl et o, t r ansbor da exat ament e a quant i dade que r ecebe em excesso, pel a t or nei r a super i or . Poi s bem, o segr edo par a a gent e não se cansar consi st e em conser var f echada a t or nei r a i nf er i or , e só usar a quant i dade de f or ça que t r ansbor da. Essa quant i dade nos ser á suf i ci ent e, se souber mos di spor del a, se a não desper di çar mos, i st o é, se não f i zer mos esf or ços desnecessár i os. Obser vai que os mel hor es oper ár i os são os que não f azem esf or ços. O t r abal ho par ece f aci l ment e desl i zar ent r e as suas mãos. Esses oper ár i os t r abal ham mui t o, seu t r abal ho é bem f ei t o e, ao f i m do di a, não se sent em cansados. O oper ár i o medí ocr e, pel o cont r ár i o, ai nda que mui t as vezes t enha boa vont ade e se esf or ce, pr oduz mui t o menos que os pr i mei r os, o seu t r abal ho não é t ão bem f ei t o e, quando soa a hor a da saí da, sent e- se ani qui l ado de f adi ga. Por t ant o, t r abal hai , sempr e, sossegadament e e sem esf or ço. I mi t ai o boi que par ece nada f azer e, ent r et ant o, no f i m do di a, t em uma soma de t r abal ho pr oduzi do. Ponho em pr át i ca esse pr i ncí pi o e, gr aças a i sso é que, não obst ant e os meus sessent a e oi t o anos de i dade, em mar ço e abr i l de 1925 pude f azer uma excur são de t r i nt a e ci nco di as na Suí ça, dur ant e a qual vi si t ei t r i nt a e duas ci dades, t endo f ei t o cent enas de sessões e conf er ênci as de cer ca de duas hor as cada uma. Não i gnor ai s que o camponês, quando t enci ona semear o campo, t em sempr e o cui dado de l avr á- l o. Por que? Por que sabe que se se descui dar de t omar essa pr ecaução, al gumas sement es, apenas, poder ão ger mi nar , ao passo que, est ando a t er r a l avr ada, quase t odas ger mi nar ão. Faço como o camponês. Consi der o t odos aquel es que me vêm pr ocur ar , como sendo campos não cul t i vados, os quai s cul t i vo dando- l hes as expl i cações que vos dei em pr i mei r o l ugar e f azendo, em segui da, com cada um, uma das exper i ênci as, a que acabai s de assi st i r . Uma só exper i ênci a é suf i ci ent e, por que, quando se f az uma, podem f azer - se cem. Em t udo, quer no bem, quer no mal , o di f í ci l é dar o pr i mei r o passo.
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Tenho a cer t eza de que, uma vez cul t i vados, br ot ar á nel es a sement e e est a eu l anço, di r i gi ndo- l hes as segui nt es pal avr as apr ovei t ávei s a t odo o mundo: Vou pedi r - vos par a f echar des os ol hos ao ouvi r des o que vou di zer , r eabr i ndo- os soment e quando vos avi sar : Fechai os ol hos e di zei , conveni ent ement e, que t odas as pal avr as que vou pr of er i r vão f i xar - se na vossa ment e, gr avar - se e i ncr ust ar - se nel a, que devem nel a f i car sempr e gr avadas, i ncrust adas e que, sem o quer er des, sem o saber des, de modo i nt ei r ament e i nconsci ent e da vossa par t e, o vosso or gani smo e vós mesmos obedecer ei s. Como est as pal avr as são t odas pr of er i das uni cament e no vosso i nt er esse, devei s acei t á- l as, adot á- l as e t r ansf or mál as em aut o- sugest ões, que vos pr opor ci onar ão o gozo, no pont o de vi st a f í si co como no pont o de vi st a mor al , de uma saúde não só boa, mas ai nda excel ent e, mel hor do que est a que at é agor a t endes podi do gozar . Pr i mei r ament e, di go- vos que, a par t i r dest e moment o, vossas f unções f í si cas execut ar - se- ão cada vez mel hor e, em par t i cul ar ai nda, as f unções do t ubo di gest i vo, not avel ment e as mai s i mpor t ant es. Regul ar ment e, poi s, t r ês vezes ao di a, de manhã, ao mei odi a e de noi t e, na ocasi ão das r ef ei ções, sent i r ei s f ome. Não quer o di zer uma f ome bár bar a, doent i a e af l i t i va, que f az a gent e sent i r necessi dade de pr eci pi t ar - se sobr e o al i ment o, como f az um cão ou um gat o sobr e a car ne. Não, a f ome que i des sent i r é est a sensação agr adável que f az a pessoa pensar e di zer : “Ah! poi s vou comer com pr azer ! ” Nest as condi ções, comer ei s com pr azer , mesmo com enor me sat i sf ação, sem, ent r et ant o, comer demai s. Ter ei s, por ém, cui dado de mast i gar bem os vossos al i ment os. I nsi st o, par t i cul ar ment e, nest e pont o, por que quase ni nguém sabe comer . Ger al ment e, a pessoa põe o al i ment o na boca, dá- l he duas ou t r ês dent adas, engol e- o e pensa t er comi do. Não é i sso, absol ut ament e. Comer é pôr o al i ment o na boca, mast i gá- l o mui t o t empo, l ent ament e, de manei r a que f i que t r ansf or mado numa espéci e de past a mol e, que se engol e. Assi m, a di gest ão se f ar á cada vez mel hor ; sent i r ei s menos sensação de embar aço, de i ndi sposi ção, de dor , mesmo que por vent ur a t enhai s s of r i do, al gumas vezes, do est ômago e dos i nt est i nos.
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Se t endes o est ômago di l at ado, not ar ei s que a di l at ação i r á desapar ecendo, pr ogr essi vament e. Aos poucos o vosso est ômago vai r ecuper ar a f or ça e a el ast i ci dade per di das e, à pr opor ção que f or r ecuper ando essa el ast i ci dade, i r á vol t ando ao seu vol ume pr i mi t i vo, e execut ar á, cada vez com mai s f aci l i dade, os movi ment os necessár i os par a dar passagem nos i nt est i nos aso al i ment os nel e cont i dos, mel hor ando, assi m, a di gest ão est omacal e a i nt est i nal . Do mesmo modo, se sof r ei s de ent er i t e, haver ei s de not ar que essa ent er i t e i r á cedendo; a i nf l amação i nt est i nal desapar ecer á, pr ogr essi vament e, e as s ecr eções e membr anas que expel i s i r ão, gr adat i vament e, di mi nui ndo, at é ao di a em que desapar ecer ão compl et ament e, e a cur a se t er á r eal i zado. Nat ur al ment e, a di gest ão sendo bem f ei t a, a assi mi l ação f ar - se- á i gual ment e bem; vosso or gani smo apr ovei t ar á t odos os al i ment os que r eceber ; dos quai s s er vi r á par a vos pr oduzi r sangue, múscul o, f or ça, ener gi a, em uma pal avra, vi da. Por consegui nt e, i r ei s f i cando, di ar i ament e, cada vez mai s f or t e e cada vez mai s r obust o. A sensação de f adi ga e f r aqueza, que por vent ur a sent i s, vai desapar ecer , pouco a pouco, par a dar l ugar a uma sensação de f or ça e de r obust ez que, t odos os di as, i r á aument ando cada vez mai s. Se, por t ant o, t endes anemi a, obser var ei s que el a di mi nui cada di a. Vosso sangue se t or nar á cada vez mai s r i co, cada vez mai s r ubr o, cada vez mai s gener oso, r et omar á mai s e mai s, as qual i dades de sangue de uma pessoa que t em saúde. Dest ar t e, a vossa anemi a desapar ecer á, l ent ament e, l evando o séqüi t o de abor r eci ment os que el a sempr e t r az consi go. Nest as condi ções, a f unção excr et ór i a t ambém se f ar á cada vez mel hor . I nsi st o mesmo, par t i cul ar ment e, sobr e a execução dest a f unção, que é condi ção sine qua non da boa saúde. Consegui nt ement e t odas as manhãs, ao vos l evant ar des, ou vi nt e mi nut os bem exat ament e depoi s do vosso pequeno al moço, consegui r ei s o r esul t ado desej ado, sem vos ser necessár i o t omar r emédi o de espéci e al guma, ou de r ecor r er a qual quer ar t i f í ci o. Di go mai s ( i st o par a as s enhor as) , que a f unção mensal dever á r epr oduzi r - se de modo uni f or me, de vi nt e e oi t o em vi nt e e oi t o di as, e não de t r i nt a em t r i nt a di as, como mui t as vezes se j ul ga ser . A sua dur ação é de quat r o di as , nem mai s nem menos, não sendo nem mui t o abundant e nem mui t o f r aca e, nem ant es nem depoi s, não devei s t er i ncômodos nem nos r i ns, nem no bai xo vent r e, nem na cabeça, nem em par t e
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al guma, em r esumo, est a f unção é uma f unção nat ur al , que se deve, por t ant o, r eal i zar nat ur al ment e, i st o é, sem que de modo al gum t enhai s que sof r er com el a. Acr escent o que, est a noi t e, amanhã à noi t e e t odas as noi t es, no moment o em que qui ser des dor mi r , ador mecer ei s e, at é o di a segui nt e de manhã, na hor a pr ef i xada par a desper t ar , dor mi r ei s um sono pr of undo, cal mo, t r anqüi l o, f i ndo o qual vos sent i r ei s i nt ei r ament e bem de saúde, i nt ei r ament e sat i sf ei t o, i nt ei r ament e di spost o. Ademai s, se vos sent i s al go ner voso, ver i f i car ei s que esse mal , aos poucos, i r á desapar ecendo e, à pr opor ção que i sso f or se dando, sent i r ei s uma sensação de cal ma, de cal ma mui t o gr ande, que vos t or nar á cada vez mai s s enhor es de vós mesmos, t ant o no pont o de vi st a f í si co como no pont o de vi st a mor al , e não consent i r ei s mai s em sof r er com t ant a f r eqüênci a, nem com t ant a i nt ensi dade, os si nt omas mór bi dos que, por vent ur a, out r or a padecest es. Enf i m e pr i nci pal ment e ( i st o é essenci al a t odo mundo) se, at é agor a, em r el ação a vós mesmos, sent i st es al guma desconf i ança, a par t i r dest e moment o est a desconf i ança começa a desapar ecer e é subst i t uí da pel a conf i ança em vós mesmos. Adqui r i s conf i ança em vós mesmos — ouvi s? — adqui r i s conf i ança em vós mesmos, r epi t o, e est a conf i ança que obt endes vos dá a cer t eza de que soi s capazes de f azer , não soment e bem, senão mui t o bem, t udo o que desej ai s f azer , com a condição de serem coisas razoáveis , e t ambém t udo aqui l o que por dever t endes a f azer . Por t ant o, quando desej ar des f azer uma coi sa r azoável , obt er uma coi sa conf or me a r azão, quando t i ver des de r eal i zar uma coi sa i mpost a pel o voss o dever , t omai sempr e como base est e pr i ncí pi o: que tudo é fácil de fazer, desde que seja possível e que, conseqüentemente, as palavra difícil, impossível, não posso, está acima das minha forças, não posso deixar de … et c. ” f i cam compl et ament e el i mi nadas do
vosso vocabul ár i o. Essas pal avras não exi st em na nossa l í ngua, ouvi s- me bem, essas pal avr as não exi st em na nossa l í ngua. As que exi st em são: “ é fácil” e “ eu posso”. Com el as r eal i zam- se pr odí gi os. Por t ant o, desde que sej a uma coi sa possí vel , consi der ai - a f áci l , por que, nest as condi ções, el a se vos t or na f áci l , ai nda mesmo que a out r os possa par ecer di f í ci l ou i mpossí vel . E est a coi sa ser á r eal i zada depr essa, como deve
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ser e t ambém sem f adi ga, por i st o que a f azei s sem esf or ços; ao passo que el a vos ser i a di f í ci l ou i mpossí vel se como t al a houvéssei s consi der ado. Às pessoas que sof r em dor es, di go: a par t i r dest e moment o, sob a i nf l uênci a de aut o- sugest ão que vos vou ensi nar a pr at i car , vosso i nconsci ent e vai f azer com que a causa det er mi nant e dest as dor es, qual quer que sej a a sua denomi nação, desapar ecer á aos poucos, no domí ni o da possi bi l i dade. Nat ur al ment e, desapar ecendo a causa, desapar ecem as dor es na mesma pr opor ção. E quando est a causa t i ver desapar eci do compl et ament e, se por vent ur a i sso f or possí vel , as pr ópr i as dor es não se r epet i r ão mai s e a cur a est ar á r eal i zada. Se, por ém, est a causa f or de or i gem or gâni ca, só poder á desapar ecer pr ogr essi vament e, e, nest e caso, as dor es r epet i r - se- ão de vez em quando. Poi s bem, t odas as vezes que el as se mani f est ar em, exi j o que as f açai s desapar ecer i medi at ament e, usando o pr ocesso que vou i ndi car , pr ocesso que, t odavi a, se apl i ca não soment e às penas mor ai s como t ambém aos sof r i ment os f í si cos. É, poi s, a t odo mundo que me di r i j o nesse moment o, e a t odos vós, di go: Quando vos acont ecer , a qual quer de vós, sent i r al guma coi sa de que vos s obr evenha sof r i ment o f í si co ou mor al , em l ugar de menci onar essa coi sa, de sof r er por causa del a e de vos l ament ar , af i r mai a vós mesmos que a f ar ei s desapar ecer , af i r mai - o de modo bem si mpl es, mas mui t o cat egór i co. Di r ei s: Vou f azer i st o desapar ecer . É si mpl es e, ao mesmo t empo, cat egór i co. Nessa ocasi ão, f i cai a sós ( i st o não é i ndi spensável , por quant o a gent e pode i sol ar - se, mor al ment e, em qual quer l ugar ) . Est ando sós, assent ai - vos, f echai os ol hos e, passando a mão, de l eve, sobr e a f r ont e se se t r at a de um caso mor al , r epet i , mui t o r api dament e, com os l ábi os, em voz al t a, que possai s ouvi r , a f ór mul a; isto passa, isto passa et c. ” É essenci al que pr onunci ei s as pal avr as: “ isto passa, isto passa, et c. ”, bem depr essa par a que não haj a o menor i nt er val o por onde possa penet r ar a i déi a cont r ár i a, ent r e duas vezes que as pr onunci ar des. Assi m, soi s obr i gados a pensar que i sso passa e, como t oda i déi a que t emos em ment e t or na- se uma r eal i dade par a nós, i sso passa real ment e. Se o mal vol t ar , expul sai - o
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novament e, f or em.
r epet i ndo- o t ant as vezes quant as necessár i as
Ai nda que vos sej a pr eci so usar esse pr ocesso 50, 100, 200 vezes, ou mai s, por di a, usai - o, t r at ai - o como t r at ai s uma mosca que t em a i mper t i nênci a de pousar sobr e o vosso r ost o. O que f azei s nest e caso? Enxot á- l a. Se ai nda vol t ar , de novo a enxot ai s e assi m por di ant e, cada vez que el a vos i mpor t unar . Poi s bem, r epi t o, f azei o mesmo com o mal . E obser var ei s que, quant o mai s i nsi st i r des menos vezes ser ei s obr i gados a l ançar mão desse pr ocesso. Se, hoj e, o t i ver des empr egado 50 vezes, por exempl o, amanhã não o empr egar ei s mai s de 48 vezes, no di a segui nt e 46, e assi m em segui da, de sor t e que, al gum t empo depoi s, não o empr egar ei s mai s, absol ut ament e, por i sso que não se f ar á sent i r a sua necessi dade. Aquel es que são acomet i dos, per segui dos, possuí dos por i déi as t r i st es, i déi as l úgubr es, i déi as obsessor as, por t emor es, pavor es, f obi as, a esses di go; “Aos poucos not ar ei s que essas i déi as, esses t emor es, essas f obi as vão r ar eando no vosso espí r i t o, vão- se t or nando cada vez mai s f r acas, cada vez menos obst i nadas e cada vez mai s despr endendo- se de vós. Expul sai - as l ogo, usando o pr ocesso: “ Isto passa, isto passa , e t c . ” Aos ner vosos, di go: “Pouco a pouco, sob i nf l uênci a da aut osugest ão, que vos vou ensi nar , o ner vosi smo vai di mi nui r e, com el e, desapar ecer ão os si nt omas que pr oduzi a. Mesmo as cr i ses ner vosas, se as t endes, devei s consegui r desembar açar - vos del as, compl et ament e. ” De hoj e em di ant e, essas cr i ses não vos apanhar ão mai s, como dant es vos acont eci a. Cada vez que uma dessas cr i ses est i ver em pont o de se mani f est ar , apr esent ar - se- ão al guns si nt omas que vos i ndi car ão que a cr i se est á par a vi r , mas esses si nt omas não vos causar ão o menor r ecei o do mundo, por quant o, ao mesmo t empo que os sent i r des, ouvi r ei s, no vosso í nt i mo, uma voz, a mi nha, que vos di r á, r ápi do como um r ai o: “Não, senhor , não senhor a, não senhor i t a, não t er ei s est a cr i se; el a desapar ece, el a desapar eceu. ” E, ant es mesmo de apar ecer , a cr i se t er á desapar eci do. E, assi m, por di ant e. Di go- vos, de uma modo ger al que, se um ou vár i os dos vossos ór gãos f unci onam de uma f or ma, assi m, mai s ou menos def ei t uosa, aos poucos, esse, ou esses ór gãos vol t ar ão a f unci onar mel hor ando cada vez mai s e, pouco a pouco, r eadqui r i ndo o f unci onament o nor mal , ser á obt i da a cur a.
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Agor a, vou cont ar at é t r ês e, quando di sser “t r ês”, abr i r ei s os ol hos, sent i r - vos- ei absol ut ament e bons, cont ent es e di spost os. “ Um, dois, três! ” Di t a a pal avra “ três”, t odos abr em os ol hos e ol ham uns aos out r os, em ger al , sor r i ndo. Ter mi nado, di go aos vi si t ant es: — Agor a que cont r i bui com a mi nha par t e, i mpor t ant e que é a par t e que vos cabe.
r est a a mai s
Ei s aí , por t ant o, o que t er ei s a f azer dur ant e t oda a vossa vi da, r epi t o — dur ant e t oda a vossa vi da — por que a sugest ão, que vos aconsel ho a pôr em pr át i ca, não deve ser f ei t a apenas um di a, uma semana, um mês ou um ano, é pr eci so empr egá- l a dur ant e t oda a vi da, segui ndo, mui t o f i el ment e, as i nst r uções que vos vou dar , mas, pr i mei r ament e, abr o um par ênt ese par a f azer compr eender mel hor . A princípio, disse-vos que durante toda a vida passamos a fazer a auto-sugestão inconsciente e nociva quase sempre. Pois bem, fazendo, de manhã e de noite, a auto-sugestão consciente e boa, destruímos o mal que porventura nos tenhamos feito, durante as doze horas que precederam, por meio de sugestão inconsciente e nociva. Em resumo, deveis considerar esta sugestão consciente como um meio de alimento moral, tão necessário, ou mais, do que o alimento físico de que vos servis diariamente, muitas vezes até sem apetite, com o pretexto de que, para viver, é preciso comer bem. As pessoas que gozam boa saúde também devem praticar esta auto-sugestão, que não somente opera sobre as coisas atuais como ainda sobre as futuras; ela impede a vinda do mal, o que é mais fácil do que curá-lo depois de chegado. Exemplo: Quanto tempo é preciso para quebrar uma perna? Muito pouco, não é? Andais tranqüilamente pelo passeio, pisais numa casca de laranja, escorregais e caís fraturando uma perna bastou um segundo para produzir este resultado. Quanto será preciso para reparar esse mal? Com o auxílio mesmo da auto-sugestão, que, certamente apressará a cura, será preciso ficar vários dias de cama. Pois bem, como teria dito o Sr. La Palisse, se a perna não se tivesse fraturado, não haveria necessidade de consertá-la. Imaginai, pois, que todas as vezes que fizerdes uma boa auto-sugestão, desviais do vosso caminho uma casca de
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laranja ou de banana, o que, ao físico representa uma perna que evitais fraturar.
e
no
moral,
Outra comparação: Por mais rico que alguém seja, pode sempre ficar mais rico ainda. Admitamos, como exemplo, que possuis vários milhões de dólares. Sois, portanto, muito rico, não é? Mas, se vos dão um ou dois milhões mais, é claro que vos tornais mais rico ainda. Por conseguinte, se estais bons, se possuis um grande capital de saúde, praticando a auto-sugestão, que vos aconselho, aumentareis este capital-saúde da mesma forma que os outros aumentam o capital-dinheiro. Ficai bem certos que é melhor que assim seja, porque vos será inútil possuir um enorme capital-dinheiro; se não tiverdes capital-saúde, não podereis desfrutar o outro.
Enquant o vi ver des, t odas as manhãs ao desper t ar e t odas as noi t es, assi m que est i ver des dei t ados f echai os ol hos e r epet i vi nt e vezes, segui dament e, com os l ábi os e em voz de modo que possai s ouvi r as pal avr as que pr of er i s, sem t ent ar f i xar a at enção em coi sa al guma, cont ando, maqui nal ment e, com o auxí l i o de um cor dão muni do com vi nt e nós ( dezenove ou vi nt e e um, por quant o não dou i mpor t ânci a ao númer o vi nt e) a f ór mul a segui nt e: “Todos os di as, sob t odos os pont os de vi st a, vou cada vez mel hor ”. Só pode ser proveitoso pensar-se no que se diz, mas isto não é necessário. Com efeito, não é certo que o Inconsciente pense de igual forma, quando pensamos conscientemente numa coisa, por isso que o Consciente e o Inconsciente podem trabalhar ao mesmo tempo, de maneira diferente.
Admi t amos, por hi pót ese, que t odos vós e eu mesmo est ej amos absor t os no que vos di go; poder á mui t o bem suceder um r eal ej o t ocar , a cem met r os de di st ânci a, uma ár i a que, suponho, nenhum de nós conhecemos. Todos ouvi mos ess a ár i a, mas sem aper ceber mos de que a est amos escut ando e, ao sai r mos, al guns dent r e nós a poder ão f aci l ment e cant ar ol ar , t odos admi r ados de cant ar uma canção que acr edi t am nunca t er em ouvi do. Que acont eceu? Dur ant e o t empo em que nosso Consci ent e est ava pr eocupado com o que eu di zi a, a ár i a, mecani cament e, penet r ou no nosso I nconsci ent e, pel o ouvi do, e aí se f i xou.
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O mesmo sucede na pr át i ca da aut o- sugest ão. Nosso Consci ent e poder á est ar pensando, não i mpor t a em que; s e os nosso l ábi os pr onunci ar em a f ór mul a bast ant e al t o, par a que a possamos ouvi r , el a penet r a no I nconsci ent e, pel o ouvi do f i xando- se nel e, que, ent ão, t r abal har á de conf or mi dade com el a. Out r or a, eu r ecomendava aos doent es que t i vessem conf i ança, que t i vessem f é; agor a não o r ecomendo mai s. Não quer o di zer que a conf i ança e a f é não o t enham al guma ser vent i a; l onge di sso, por quant o el as podem, por si sós, det er mi nar a cur a. Mas não são i ndi spensávei s mai s do que a at enção. Ei s uma compar ação que vos per mi t i r á compr eender por quê: Suponhamos que uma pess oa i gnor e, compl et ament e, o que sej a um r evól ver ; coloco-lhe um entre as mãos, dizendo-lhe: “tomai cuidado, não aperteis este pedacinho de ferro (mostro-lhe o gatilho), porque se daria uma explosão, que poderia ser fatal a vós mesmo ou a um dos vossos vizinhos”. Pouco importa que a pessoa me acredite ou deixe de me acreditar: se der ao gatilho, o tiro parte. O mesmo acontece com a auto-sugestão. Se se dá ao gatilho, e noutros termos, se a pessoa repete a fórmula que aconselho, exatamente como ensino, o tiro parte, isto é, a auto-sugestão se produz e opera. Quando, pela primeira vez, se ouve a pequena frase: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor”, a gente sente mais é vontade de rir, porque a acha um tanto infantil ou ridícula, se, neste sentido, a julgarmos, pelos resultados que é capaz de oferecer e que, diariamente, oferece. Não obstante, encerram, na sua simplicidade, seis palavras de uma importância enorme: “sob todos os pontos de vista”. Que quer isso dizer? Isso quer dizer tudo, absolutamente tudo, todas as coisas físicas, todas a coisas morais, todas as coisas em que se pensa, mesmo aquelas em que se não pensa, porque se não pensarmos conscientemente nela, nosso inconsciente se encarrega de pensar por nós. É, portanto, uma fórmula geral, pois se refere a tudo e, sendo geral, encerra em si todas as fórmulas particulares que cada um acredita necessárias a si próprio, visto que cada qual, no seu egoísmo, pensa assim: “O meu é um caso especial”. Inútil, tudo inteiramente inútil.
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Como toda fórmula particular está, por definição, contida na fórmula geral: “Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor”, esta fórmula é suficiente em todos os casos, quaisquer que sejam. Não quero dizer que com ela podeis curar tudo. Não. Mas podeis curar tudo o que é curável e o campo, para isso, é muito vasto. Insisto, porém, sobre este ponto, porque é capital: esta sugestão deve ser feita o mais possível, de um modo simples, infantil, maquinal e, sobretudo, sem nenhum esforço (é neste ponto que, geralmente, pecam aqueles que, praticando a auto-sugestão, não conseguem os resultados que deveriam conseguir, normalmente. No ardente desejo de se desfazerem dos seus males, empregam, recorrendo à autosugestão, uma força, um fervor, uma energia, que, absolutamente, devem evitar). Deveis lembrar-vos que, no começo, vos disse que a autosugestão é um instrumento. Ora, sabeis que os resultados que se obtêm com o uso de um instrumento dependem menos deste do que do modo pelo qual é utilizado. Colocai, por exemplo, um fuzil nas mãos de uma pessoa inexperiente, fazendo-o atirar contra um alvo situado a duzentos metros de distância. Provavelmente, nenhuma bala atingirá a mira. Entregai o mesmo fuzil a uma outra pessoa, e todas as balas ou quase todas a alcançarão. Por que estes resultados diferentes? Porque a primeira pessoa não sabia usar a arma, ao passo que a outra sabia. A mesma coisa sucede com a auto-sugestão: dá bons resultados, sendo bem aplicada; do contrário, não. Em uma palavra, esta fórmula deve ser repetida no tom lento e monótono, que se usa para recitar as ladainhas. Antigamente, eu aconselhava que a pessoa, após ter procurado ficar sossegada, prestasse atenção ao que dissesse. Agora não o recomendo mais, porque observei, como vós também o deveis ter feito, que, em geral, quanto mais se quer ficar sem constrangimento, mais contrafeito se fica; quanto mais a gente trata de deter a atenção sobre um ponto, mais tende a desviar-se dele. Repetindo a fórmula, do modo como aconselho, sem vos esforçar, obtereis a atenção e a calma que procurais ter sem o conseguir.
Pel a r epet i ção, consegui r ei s, i nt r oduzi r , mecani cament e, no vosso I nconsci ent e, pel o ouvi do, a f r ase que r epr esent a uma
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i déi a: “ Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor ”. Pel as expl i cações que dei e pel as exper i ênci as que f i z, t i vest e ocasi ão de not ar que, quando i mpl ant amos uma i déi a na ment e, est a i déi a se t or na uma r eal i dade par a nós; l ogo, se met er mos na ment e ( o I nconsci ent e) a i déi a: “ Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor ”, necessar i ament e, t odos os di as sob t odos os pont os de vi st a, i r ei s cada vez mel hor . Não pode ser de out r a f or ma. Cont udo, se al gumas pessoas cont i nuar em a f azer out r a sor t e de sugest ão, como, por exempl o, est a: “Todos os di as, sob t odos os pont os de vi st a, vou cada vez pi or et c. ” ( há pessoas que passam a vi da f azendo a si mesmas est a sugest ão) , necessar i ament e, é f at al , el as i r ão t odos os di as cada vez pi or . Não dever ão, por ém, cul par nem a mi m nem ao meu mét odo, dever ão, si m, cul par - se a si pr ópr i as e bat er no pei t o, di zendo: “É mi nha cul pa, é mi nha máxi ma cul pa”. Par a t er mi nar , per mi t o- me dar um consel ho aos pai s que desej am cor r i gi r seus f i l hos, i sto é, a t odos os pai s, aconsel ho a f azer em a sugest ão nos seu f i l hos, dur ant e o sono dest es. Ei s como devem pr oceder : t odas as noi t es, assi m que a cr i ança t i ver ador meci do, ent r ar , vagar osament e, no seu quar t o, par ar cer ca de um met r o di st ant e de sua cabeça, e r epet i r , segui dament e, vi nt e ou vi nt e e ci nco vezes, em voz bai xa, numa espéci e de sussur r o, a coi sa que se desej ar em obt er del a. Com per sever ança, chega- se mui t as vezes a r esul t ados os mai s ext r aor di nár i os, ao passo que out r os pr ocessos t êm f al hado. Por exempl o, cer t os aci dent es que são o apanági o da cr i ança de pouca i dade, f aci l ment e se cur am por esse mei o. Se a cr i ança r ói as unhas, chupa o pol egar , f az car et as; se é agast ada, pr egui çosa, desobedi ent e et c. , abandona, mai s ou menos depr essa, esses def ei t os. Mas, par a i sso, como, al i ás, par a t udo, é pr eci so paci ênci a e per sever ança.
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COMO SE DEVE PRATICAR A AUTO-SUGESTÃO CONSCIENTE
Todas as manhãs, ao acor dar , e t odas as noi t es, l ogo ao dei t ar , f echar os ol hos e, sem f i xar a at enção no que se di z , pr of er i r em voz bas t ant e al t a, a f i m de ouvi r as pr ópr i as pal avr as, est a f r ase, r epet i ndo- a vi nt e vezes, t endo par a i st o um cor dão com vi nt e nós: “ Todos os dias, sob todos os pontos de vista, vou cada vez melhor ”. Como as pal avr as “ sob todos os pontos de vista ” abr angem t udo, é i nút i l f azer a aut o- sugest ão par a casos par t i cul ar es. Fazer est a aut o- sugest ão, quant o possí vel da manei r a mai s si mpl es, mai s i nf ant i l , mai s maqui nal , por consegui nt e, sem o menor esf or ço. Numa pal avr a, a f ór mul a deve ser r epet i da no t om em que se r ezam as l adai nhas. Dest e modo consegue- se i nt r oduzi - l a mecani cament e no I nconsci ent e, pel o ouvi do, e, l ogo que nel e penet r a, oper a. Segui r est e mét odo dur ant e t oda a vi da, por que não só é pr event i vo como t ambém cur at i vo. Ademai s, cada vez que, dur ant e o di a ou dur ant e a noi t e, a gent e t em um sof r i ment o f í si co ou mor al , deve apegar - se i medi at ament e a si mesma, no pr opósi t o de não cont r i bui r consci ent ement e par a esse mal , e, t ambém, par a o f azer desapar ecer . Depoi s, deve f i car só o mai s possí vel , f echar os ol hos e, passando a mão pel a f r ont e, ou pel o l ocal dol or i do, conf or me se t r at e de uma dor mor al ou f í si ca, r epet i r , r api dament e, com os l ábi os, est as pal avr as: “ Isto passa, isto passa etc., etc. ”, dur ant e o t empo necessár i o. Com um pouco de hábi t o consegue- se f azer desapar ecer a dor mor al ou f í si ca, depoi s de 20 a 25 segundos. Fazer i sso t oda vez que j ul gar necessár i o. OBSERVAÇÃO — A pr át i ca da aut o- sugest ão não di spensa o t r at ament o médi co, mas é um pr eci oso auxí l i o t ant o par a o doent e como par a o médi co. NOTA — Di ar i ament e, r ecebo car t as de pessoas ext ensament e, me expl i cam t odos os s i nt omas dos sof r i ment os e me per gunt am o que devem f azer .
que, seus
Essas car t as são i nút ei s. O meu mét odo sendo ger al e, por consegui nt e, r ef er i ndo- se a tudo, não t enho consel hos especi ai s a dar , quai squer que sej am os casos.
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