BREVE ENSAIO SOBRE O ASCETISMO & O MISTICISMO NA TEOLOGIA DO COLEGIADO DA LUZ HERMÉTICA Fernando Liguori
O
Colegiado da Luz Hermética (C.L.H.) é uma Academia Brasileira de Neoplatonismo e Iniciação nos Mistérios . Como dissemos anterior-
mente,1 nosso currículo é o mesmo delineado por Jâmblico (245-325 d.C.) para sua Academia em Apameia na Síria. Todos os aspirantes que solicitam ingresso em nossa Academia passam por um período probatório como Estudantes de Mistérios. Eles são probacionistas na antecâmara da Academia. Esse período de probação dura de nove a doze meses, me ses, podendo se estender, seja por decisão do Superior Imediato dos probacionistas, do Conselho Eclesial ou por decisão pessoal. Durante este período de probação, os Estudantes de Mistérios são treinados em um curso prático de teurgia. O Colegiado da Luz Hermética entende que a teurgia é um exercício essencial a purificação, iluminação e união da Alma humana com o Bem, Uno ou Absoluto. Na tradição cristã da Igreja de Roma, os sacramentos litúrgicos são essenciais à salvação da Alma. Em nossa tradição a teurgia é essencial a salvação de nossas Almas; seja qual for o nível de iniciação, iniciante ( neófito/diácono), praticante (adepto/sacerdote) ou avançado ( mestre/bispo), todos buscamos conquistar e aperfeiçoar as virtudes teúrgicas , cujo poder é unir a Alma a seu objeto de desejo, o Bem. Esses termos, purificação, iluminação e União são palavras-chave que compreendem todo o sistema de ascetismo e misticismo teológico do Colegiado da Luz Hermética . Nós compreendemos, desde os primórdios de nossa tradição, que a Alma caminha em etapas na jornada da iniciação. Na medida em que ela inicia, avança e alcança seu objeto de desejo, o Bem, três tipos de virtudes são conquistadas. Essa fórmula de iniciação é tão universalmente aceita como eficaz, que fazem uso dela não apenas os filósofos neoplatônicos, mas os gnósticos, os cristãos, os judeus, os hindus e outras raças. Essas três etapas ou graus de iniciação da Alma são: purificação, iluminação e união. No VELHO TESTAMENTO (Sl. 33:15) encontramos: Aparta-te do mal e faze o bem, busca a paz e vá no seu encalço. A afirmação aparta-te do mal é é o caminho da purificação; faze o bem é o caminho da iluminação, quando buscamos transformar o nosso o é o caminho da chēma em um augoeides reluzente de virtudes; busca a paz é união com o Bem. Temos aí as três vias de iniciação filosófica do Colegiado 1 Veja Fernando Liguori, A FILOSOFIA DO COLEGIADO DA LUZ HERMÉTICA. Disponível na internet.
da Luz Hermética : a via purgatória , a via iluminativa e a via unitiva. A cada
etapa um tipo de treinamento espiritual é mais adequado e os Superiores Imediatos (S.I.) do Colegiado da Luz Hermética deverão ter a sensibilidade de saber aplicar os recursos espirituais de cada etapa na senda daqueles que são instruídos por eles. Quando o probacionista está pronto para receber a Iniciação nos Mistérios, ele avança a graduação de neófito. Ao ser admitido como neófito, ele inicia seu treinamento sacerdotal na Ecclasia Lvx Hermeticae como um acólito. Começa aí a via purgatória onde seu principal objetivo é livrar-se de seu velho odre. Esse é um profundo e doloroso processo de averiguação e transformação da personalidade. Para que ele possa ir em frente na via iluminativa, que inicia-se na etapa de seu sacerdócio como um adepto, o neófito primeiro precisa passar por um longo processo de purificação espiritual. Somente quando seu ochēma estiver preparado para ser enriquecido pelas virtudes celestiais é que ele estará apto a iniciar seu ministério. Muitos são aqueles tentados a queimar etapas, iniciar um sacerdócio antes da hora. No entanto, logo descobrem que é perda de tempo, pois a Luz do Divino não habita odre velho. Esse processo pode durar anos e existem aqueles que se dedicam mais a ele do que outros. Esses, assim percebemos, são os que caminham mais adiante. Fatos são fatos e contra eles não há argumentos. A iniciação é um processo de labuta sobre si mesmo; esse processo não é fácil, muito pelo contrário, deveras difícil e aqueles que nesse caminho prosperam são tidos como heróis, pois vencendo seus apetites mais animalescos, suas emoções mais avassaladoras e inclinações torpes e criminosas, conquistaram os planos de luz e perfeição com mérito digno de um Cavaleiro do Santo Graal. É na fase inicial da via purgatória que o acólito segue o caminho do filósofo. Na via iluminativa já um sacerdote, ele segue o caminho da graça ou do teólogo. Por fim, na via unitiva, ele segue o caminho hierático ou do teurgo para unir-se ao Bem definitivamente. A via unitiva é o caminho do mestre hierático e sua tarefa é hierofântica. Nessa via duas são as conquistas: a união mística e a união extática. Na união mística o mestre experimenta uma união pacífica com o Absoluto, uma inte gridade harmoniosa e um permanente estado de graça espiritual. Na união extática o mestre experimenta estados de êxtase onde arrebatamentos, revelações e visões proféticas ocorrem. Alguns questionam a legitimidade desse sistema ascético e místico, mas a razão demonstra sua utilidade: a pureza da Alma é a condição essencial para avançar da primeira etapa para a segunda. Essa pureza é o resultado de uma constante e austera disciplina espiritual. Essa disciplina inclui uma incansável luta para vencer os vícios, tendências torpes, hábitos bestiais e desequilíbrios emocionais. emocionais. Aliado a um extenso currículo de estudo, meditação m editação e ritos hieráticos de teurgia para fortalecer a vontade e sutilizar o ochēma, é possível purificar completamente a Alma e levá-la a aptidão apropriada ao caminho do sacerdócio.
Uma vez realizada essa purificação da Alma, ela precisa ser enriquecida com as virtudes celestiais (planetárias, zodiacais) dos deuses, anjos e heróis. O objetivo desse enriquecimento da Alma é carregar o o nosso ochēma de tal maneira a torná-lo um augoeides, quer dizer, um corpo estelar de de luz que não sofrerá os danos da segunda morte. Essa é uma etapa a qual todo filósofo neoplatônico se dedica profundamente, pois aqui reside a busca pela imortalidade da Alma. Através dos códigos de luz dos deuses recebidos por meio dos ritos hieráticos de teurgia, a Alma humana encarnada no reino da geração liberta-se de sua condição anatrópica e adquire um reluzente brilho estelar. Carregado com os códigos de luz dos deuses, o augoeides torna-se semelhante a eles e, por simpatia, um veículo apropriado a receber suas virtudes. Jâmblico diz: Por isso, também o nosso veículo (och ēma) torna-se esférico e movimenta-se de forma circular, significa que a alma assimilou o Nous .2 É através do augoeides somente que o teurgo poderá se unir ao Bem e receber visões e profecias. Jâmblico diz que o filósofo através da teurgia torna-se esférico e, dessa maneira, em unidade com o Bem, mantém suas funções na multiplicidade, pois a forma esférica do augoeides é capaz de conter a multiplicidade. Ele diz que é isso que restaura a perfeição da Alma, invertendo definitivamente sua condição anatrópica. 3 E na medida em que o filósofo diviniza seu ochēma e assimila os códigos de luz do Demirgo, ele começa a compartilhar do interesse que o Demiurgo tem na vida gerativa. E quando solapado por qualquer lapso de aversão a sua existência corpórea, logo o brilho de seu augoeides o dissipa imediatamente, pois sua nova perspectiva é universal, não mais individual. Seu acesso é a Realidade. Em seu ensaio D E ANIMA esclarece que todo esse processo purga completamente a Alma, culminando na construção de um veículo espiritual que não sofra os danos da segunda morte, mas não necessariamente nesses termos; ele usa a palavra catarse para descrever esse árduo processo de purificação, iluminação e União. Na via iluminativa o sacerdote/adepto intensificará suas orações, invocações e conjurações nos ritos hieráticos. Por outro lado, ele cultiva uma vida de silêncio, contemplação e meditação aspirando à unidade definitiva com o Bem. O caminho da teurgia constrói seu augoeides, o caminho místico da meditação torna a Alma dócil a inspiração do Bem. Na via unitiva o mestre/bispo já purificado e reluzente de luz, busca a união em todas as partes. Nessa etapa a teurgia tende a se simplificar, a oração torna-se simples, o olhar mais continuamente afetuoso sobre o Bem e as virtudes de luz e perfeição.
2 John DILLON, IAMBLICHI CHALCIDENSIS, Fr. 49. 3 Ibidem. Veja
também Jâmblico, DE MYSTERIIS, 59, 9-15.
Sobre o Autor: Fernando Liguori é hermetista
praticante e escritor interessado em Neoplatonismo, Tradição Salomônica, Magia na Antiguidade, Filosofia, Yoga, Tantra, Āyurveda, Xamanismo e Cabala Crioula. É líder e fundador do Colegiado da Luz Hermética , uma Escola Neoplatônica de Iniciação que inclui uma Igreja de Ciências Herméticas (Ecclesiae Lvx Hermeticae) e a Ordem das Irmãs de Seshat , cujo trabalho é apresentar os Arcanos de Mistério da Tradição Esotérica Ocidental sob uma perspectiva feminina e para mulheres apenas. Nós celebramos os Mistérios & Arcanos da Iniciação através do conhecimento inspirado transmitido por Pitágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles, Plotino, Jâmblico, Dionísio, o Areopagita e Marsílio Ficino. Somos uma comunidade teúrgica ecumênica fundada na cidade de Juiz de Fora (MG). Nós nos esforçamos para nos engajar na veneração do divino e alcançar o autoconhecimento celestial.
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