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N O I T E S N Ô M A D E S
mos conscientes das dificuldades e das vicissitudes inerentes a tal tarefa. Em segund segundoo lugar, lugar, acreditam acreditamos os que este este estudo estudo tambm tambm !ossa !ossa contribuir contribuir !ara o am!lo debate em torno dos im!asses recentes da cl"nica !sicanal"tica contem!or#nea no que di$ res!eito res !eito %s formas de abordagem % a!reens&o do su'eito. Ou se'a, !rocuramos demonstrar, no #mbito das culturas 'ovens urbanas, as agudas transforma()es que v*m se o!erando nas modalidades de comunica(&o, distanciadas da valori$a(&o da dimens&o discursiva da linguagem. Neste sentido, a!resentamos ao leitor um vasto con'unto de e+em!los de abordagens da sub'etividade, cu'o ei+o central de e+!ress&o ancora se na !erformance cor!oral, na *nfase sobre o ttil, o situacional situacional e, !rinci!almen !rinci!almente, te, sobre a interativida interatividade. de. O con'unto con'unto dessas dessas transforma()es a!resenta, sem d-vida, im!actos significativos sobre como tratar e curar su'eitos que cada ve$ mais se encontram afastados dos recursos tradicionais com que a cl"nica !sit anal"tu a ale o'e contou/ refle+ refle+ivi ividad dade, e, interi interiori oridad dade, e, autoco autoconli nlirt rt iinento iinento I ste estudo estudo,, !ortant !ortanto, o, !rocura contribuir !ara o desafio e 0 1 im!asse 23ue assolam os modos de sub'e sub'eti tiva va(& (&oo cont contem em!oi !oi%iu %iu 41s 41s Nessa Nessa !ers !ers!ec !ecti tiva va,, a dime dimens& ns&oo da e+teriori$a(&o 2l.i e+istem u vem delineando novas configura()es da vida sub'etiva qu0 a!ontam !ara a necessidade de se re!ensar a !r)!ria est mi ma d0 1 . i 56ua 56uali li lame lament ntee a esta esta nece necess ssid idad ade, e, redes redesen enam am se tcm3 tcm3 101ialulad0 07 es!ecialidades que colocam em +eque o tra(ado 849:;4 Ildiai1 4las dimens)es internas e e+ternas nos su'eitos
Acima de tudo, acreditamos que >> llmiai • I< significativas transformações da subjetividade > <>in< ni|".i nu i . ,ia em curso, rodu!indo efeitos e >.,eiando imass< < eil< s uI.#l< . ara todos n$s. %ste livro resulta em uma t< num i .&. ma< amento dessas transformações, transformações, assim < omo > m um i n I nu i toda tirania de seus imasses
N OIT E S NÔM ADES
. Capítulo I
IA DA NIGHT
Os nômades não têm uma história, só têm uma geografia.
B?IC <@ATTA=I, Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia
B vasto e m-lti!lo o es!ectro de autores e linas de !ensamento que se entr entrec ecru ru$a $am m em seus seus diag diagn nst stic icos os,, enfa enfati ti$a $and ndoo qu quee o espaço teria substitu"do substitu"do o tempo como como !rinc" !rinc"!io !io de intelig inteligibi ibilida lidade de das forma( forma()es )es 5 culturais contem!or#neas . A con consta stata( ta(&o &o descon desconcer certan tante te de 8qu 8quee nossa nossa vida cotidiana, nossas e+!eri*ncias !s"quicas, nossas linguagens culturais s&o o'e dominadas !elas categorias de es!a(o e n&o !elas de tem!o, como o eram no !er"odo anterior do alto modernismo8 , longe de esgotar as discuss)es, a!enas o !onto de !artida !ara a configura(&o de um saber interdisci!linar, em sintonia com as transforma()es em!"ricas. O deba debate te a res! res!eit eitoo da es!a es!aci ciali alida dade de torn tornou ouFs Fsee estr estrat atg gic icoo !ara !ara a com!reens&o de quest)es centrais das Gi*ncias Sociais contem!or#neas. Em torno dessa temtica !rodu$iuFse um con'unto de refle+)es na interface entre a Sociologia, a Antro!ologia, os Estudos Gulturais e, mesmo, a Hsican Hsicanli lise se e a >iloso >ilosofia fia.. Surgiu Surgiu,, assim, assim, na -ltima -ltima dcada dcada,, uma nov novaa 8geografia cultural8, estruturada em torno de tr*s !ar#metros tericos/ as no()e no()ess de es!a es!a(o (o e luga lugarr n&o n&o env envol olve vem m sri sries es de rela rela() ()es es fora fora da sociedade, mas est&o im!licadas na !r!ria !rodu(&o das rela()es sociais e s&o, em si mesmas, socialmente !rodu$idas as rela()es esF!aciais e os lugares a elas associados s&o m-lti!las e contestveisJ a *nfase no es!a(o tra$, em si mesma, um novo modo de abordar o tem!o K.
NI GHT IA DA
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ESPACIALIDADES CONTEMPORÂNEAS
Em um artigo !ioneiro intitulado 8Os es!a(os outros8, Micel >oucault atribui ao deslocamento das rela()es entre tem!o e es!a(o a causa da inquietude contem!or#nea. Se 8a !oca atual , antes de mais nada, a !oca do es!a(o8L, o novo regime es!acial constituiuFse em torno de uma srie de transforma()es a !artir das quais a !rodu(&o social do es!a(o substituiu a locali$a(&o f"sica. >oucault, !orm, n&o est interessado a!enas em a!ontar !ara a centralidade do es!a(o, mas !ara sua fle+ibiliF $a(&o, !ois a contem!oraneidade estaria e+!erimentando uma 8dessacrali$a(&o !rtica do es!a(o8 , assim como ocorreu com o tem!o durante a modernidade. A !artir desse interesse, >oucault dedicaFse a !ensar os lugares 8que t*m a curiosa !ro!riedade de estar em rela(&o com todos os outros, mas sob um modo tal que eles sus!endem, neutrali$am ou invertem o con'unto das rela()es que se encontram, !ara eles, !reviamente designadas8 . Esses es!a(os seriam 8diferentes8 dos es!a(os culturais ordinrios nos quais vivemos, e >oucault !ro!)e camFlos de 8eterot!icos8 !ara diferenciF los dos es!a(os 8ut!icos8. Embora ambos se refiram a uma contesta(&o a um s tem!o m"tica e real da ordem es!acial concreta em que vivemos, as eteroto!ias s&o lugares efetivamente reali$ados, enquanto as uto!ias n&o t*m e+ist*ncia concreta. As eteroto!ias seriam, assim, 8lugares outros em rela(&o aos es!a(os culturais ordinrios8 . Hara viabili$ar uma 8eteroto!ologia8, ou se'a, uma descri(&o sistemtica dos es!a(os eterot!icos, !reciso levar em conta alguns as!ectos/ n&o sociedade sem eteroto!ias o funF i loilamento destas !ode variar istoricamente as eteroto!ias i26mi a ca!acidade de 'usta!or vrios es!a(os, em si mesmos nu om!at"veis as eteroto!ias est&o associadas freqPentemente 55 u!turas com o tem!o tradicional 28eterocronias8Q as eteroto!ias su!)em um sistema de abertura e fecamento es!acial que as isola e as torna !enetrveis simultaneamente. O que constitui o carter singular desses es!a(os, sua 8alteF i idade8, a rela(&o de diferen(a que estabelecem com outros es!a(os, de modo a !rodu$ir uma desestabili$a(&o das rela()es es!aciais em torno de !rticas sociais e discursivas. Desde que >oucault o introdu$iu, o conceito de 8eteroto!ia8 tem sido utili$ado, !or diferentes autores, es!ecialmente no #mbito das culturas 'ovens, sem!re referidos a forma()es identitrias e atos de resist*ncia vinculados a lugares 8alternativos8. Revin eterF nigton um dos autores que melor inter!retam a dimens&o relacional dos es!a(os eterot!icos. Segundo ele, nenum es!a(o !ode ser descrito de modo fi+o
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NOITES NÔMADES
como eterot!ico, !ois estes t*m significados m-lti!los e variveis !ara os agentes sociais, de!endendo de sua situa(&o es!ec"fica. Alm do mais, n&o di$em res!eito, a !riori, % resist*ncia ou % ordem, mas !odem estar relacionados a um ou a outro, ' que envolvem o estabelecimento de modos alternativos de organi$a(&o. Goncordamos com a formula(&o desse autor, segundo a qual 8 essa combina(&o eterog*nea entre materialidade, !rticas sociais e eventos situados e o que eles re!resentam em o!osi(&o a outros es!a(os, que nos !ermite camFlos de eterot!icos8. E tambm que as eteroto!ias envolvem novos modos es!aciais de intera(&o social e discurso, em uma !alavra, sociabilidade. Todavia, discordamos que os es!a(os eterot!icos !ossam ser definidos meramente !or uma diferen(a de re!resenta(&o em torno de formas alternativas de organi$a(&o es!acial. As eteroto!ias definemFse fundamentalmente !or !rticas es!aF ciali$antes, a um s tem!o concretas e simblicas, que n&o se encontram, necessariamente, locali$adas e n&o est&o sem!re condicionadas !or variveis ideolgicas ou movimentos de resist*ncia. Do !onto de vista conceituai, a conecida diferencia(&o entre 8es!a(o8 e 8lugar8 !ro!osta !or Micel De Gerteau, bem como sua defini(&o do es!a(o como 8lugar !raticado8, revelaFse estratgica !ara nossa argumenta(&o. Segundo esse autor, o lugar a ordem segundo a qual os diferentes elementos 2tanto volumes quanto su!erf"ciesQ que com!)em materialmente a realidade organi$amFse uns em rela(&o aos outros, segundo ei+os !recisos 2ordenadas e coordenadasQ. A !ossibilidade, !ara duas coisas, de ocu!arem o mesmo lugar est, !ortanto, e+clu"da. Assim definido, o lugar abarca 8uma configura(&o instant#nea de !osi()es8 e 8im!lica uma indica(&o de estabilidade8, ' que os elementos considerados 8se acam uns ao lado dos outros, cada um situado num lugar 6!r!rio6 e distinto85U. Diferentemente do lugar, o es!a(o n&o !ossui a unicidade e a estabilidade a!ontadas anteriormente. Ao contrrio, 8e+iste es!a(o sem!re que se tomam em conta vetores de dire(&o, quantidades de velocidade e a varivel tem!o8. Nesse sentido, o es!a(o constitu"do !elo cru$amento de mveis, se'am eles cor!os ou fragmentos, e 8animado !elo con'unto dos movimentos que a" se desdobram8. O es!a(o, !ortanto, 8 o efeito !rodu$ido !elas o!era()es que o orientam, o circunstanciam, o tem!oraliF $am e o levam a funcionar em torno da unidade !olivalente de !rogramas conflituosos855.
NI GHT IA DA
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Seguindo as sugest)es de >oucault e De Gerteau, nosso argumento est voltado !ara os movimentos contem!or#neos de reescritura do 8es!a(o8, considerado como resultante de !rticas istricas e contingentes, !ara alm das coordenadas estticas que definem a ordem dos lugares. TrataFse, !ortanto, de !ensar o tem!o e o es!a(o con'untamente, e a ambos como !rodutos de interFrela()es, !ois 8uma ve$ su!erada a i!tese de que es!a(o e tem!o s&o categorias mutuamente e+clusivas, uma ve$ admitido que o es!a(o com!osto !or uma multi!licidade de istrias, !ercebeFse que nada !oderia ser a um s tem!o mais ordenado e mais catico que o es!a(o, com todas as suas 'usta!osi()es inusitadas e efeitos emergentes involuntrios85. O tra(o !ol"ticoFcultural mais caracter"stico da contem!oraneidade !arece ser, 'ustamente, as m-lti!las transforma()es !elas quais vem !assando a metr!ole como modelo de organi$a(&o social e es!acial. Segundo o antro!logo italiano Massimo Ganevacci, 8estamos transitando de uma formaFcidade como cora(&o da modernidade, com !recisos contornos es!aciais, !ers!ectivas geomtricas e divis)es em classes !recisas, cidade !ara ser constru"da no !ro'eto e atravs do !ro'eto, a uma formaFmetr!ole que dissolve tudo isso/ uma metr!ole comunicativa8 5J. A identidade da nova formaFmetr!ole n&o seria determinada !or seus limites materiais !recisos, mas !or flu+os comunicacionais que instauram um du!lo !rocesso de fragmenta(&o e recombina(&o, em todos os n"veis. Desse modo, a metr!ole contem!or#nea !olic*ntrica, !ois 8difundeFse e !roliferaFse em m-lti!las dire()es8, e !olifVnica, !ois nela 8novos ti!os de culturas fortemente !lurali$ados e fragmentados es!alamFse e transitam85K. Isso introdu$ um elemento criativo nas e+!eri*ncias sub'etivas e sociais que desestabili$a as identidades estveis, em suas dimens)es filosficas, antro!olgicas e 'ur"dicas, !rodu$indo identidades m-lti!las e nomadismos !s"quicos centrados fundamentalmente na esteti$a(&o do cor!o. Desse modo, 8uma !luralidade de culturas 2e subculturas, com estilos de vida e identidade aFtem!oWraisX, vidas esteti$adas, modas descartveisQ fragmenta a metr!ole e a dilata sem mais fronteiras definidas/ as fronteiras s&o mveis como as identidades, fronteiras !lurais e !olifVnicas85L. A muta(&o da formaFmetr!ole a!ontada !or Ganevacci, na verdade, !arte de um con'unto mais am!lo de transforma()es que tem camado a aten(&o de diferentes autores. O arquiteto e filsofo franc*s Haul Yirilio,
NOITES NÔMADES
!or e+em!lo, considera que os meios de comunica(&o de massa, tal como redefinidos !elas tecnologias virtuais, e+ercem um forte im!acto sobre a arquitetura das cidades e as formas de e+!eri*ncia urbana. Sua anlise da sociedade tecnolgica atual a!onta !ara o surgimento de uma nova configura(&o de es!a(o e tem!o que !rodu$ fenVmenos socioculturais com!le+os, !rovocando a altera(&o das nossas refer*ncias !erce!tivas, cognitivas e !ol"ticas. A cave da leitura que Yirilio !ro!)e a res!eito da contem!oraneidade reside na idia de que os meios de comunica(&o de massa organi$am o 8mundo8 em fun(&o da !rodu(&o e difus&o de informa()es e imagens, cu'o !rinc"!io o binVmio dist#nciaF velocidade mais !recisamente, a dissolu(&o das dist#ncias em fun(&o dos !rocessos de acelera(&o. A originalidade dessa abordagem reside na considera(&o do tem!o como vetor !rivilegiado da nova configura(&o es!acial, res!onsvel !ela desestabili$a(&o das a!ar*ncias sens"veis e dos modos de e+!eri*ncia. Segundo ele, uma das conseqP*ncias culturais das tecnologias virtuais a dissolu(&o da vis&o de mundo dominada !ela geometria euclidiana das su!erf"cies regradas, baseada na armonia e na !ro!or(&o das formas. Essa vis&o cede a um novo ti!o de !erce!(&o, na qual a !resen(a f"sica !erde !rogressivamente seu valor anal"tico !ara a a!reens&o da realidade, 8em benef"cio de outras fontes de avalia(&o eletrVnica do es!a(o e do tem!o que nada t*m em comum com as do !assado8 5. A !artir dessa nova rela(&o de for(as entre a dist#ncia e a velocidade, a era virtual marca a !assagem do es!a(o 8substancial8 2cont"nuo e omog*neoQ !ara o es!a(o 8acidental8 2descont"nuo e eterog*neoQ, no qual a intercambialidade !assa a !re!onderar sobre a locali$a(&o. Assim como todos os outros as!ectos da realidade ob'etiva, o es!a(o urbano tambm com!osto e decom!osto !or sistemas de tr#nsito e transmiss&o de informa()es e imagens, o que tlissolve os !rinci!ais ei+os de refer*ncia que !autavam a e+!eF i l*ncia da cidade, tanto em termos simblicos e istricos 2com ' decl"nio da centralidade e da a+ialidadeQ, quanto em termos geomtricos
2com a desvalori$a(&o da antiga re!arti(&o das dimens)es f"sicasQ. Isso significa que a teleto!ologia dissolve a lorma urbana/ 8unidade de lugar sem unidade de tem!o, a cidaF 2le desa!arece ent&o na eterogeneidade do regime tem!oral das 2470 nologias avan(adas85. Na cidade 8su!ere+!osta8 contem!oF
NI GHT IA DA
.iea, liberaFse um elemento constitutivo das e+!eri*ncias sociais, a 8tra'etividade8, que formas anteriores de organi$a(&o urbana teriam minimi$ado, devido % o!(&o !elo sedentarismo. Seriam esses modos de circula(&o, es!ec"ficos do mundo contem!or#neo, !ass"veis de um olar antro!olgicoZ &
li inegvel que a contem!oraneidade constituiuFse !or um con'unto de transforma()es que !rodu$iram uma forma de e+!eri*ncia cultural qualitativamente distinta daquela que caracF ici i$ou os diferentes desdobramentos da modernidade. De acordo com o antro!logo franc*s Mare Aug, a camada 8i!ermoF ilernidade8 seria caracteri$ada !ela acelera(&o, em todas as escalas da e+!eri*ncia social e sub'etiva, o que gerou tr*s caracter"sF IR .is baseadas no e+cesso. A su!erabund#ncia es!acial seria uma dessas caracter"sticas, mas n&o a -nica, !ois a contem!oraneidade seria marcada tambm !ela su!erabund#ncia factual e !ela Mi!erabund#ncia identitria. Do !onto de vista da 8i!ermodernidade8, a su!erabund#nF 2 i.i factual est relacionada n&o a!enas % crise do sistema de i c!resenta(&o baseado na idia de !rogresso, mas tambm % aceF leia(&o e multi!lica(&o dos acontecimentos !rovocadas !ela i evolu(&o tecnolgica nos meios de trans!orte e comunica(&o. I 1o mesmo modo, a su!erabund#ncia es!acial caracteri$aFse !ela crise dos sistemas de refer*ncias baseados na idia de totalidade, crise esta !rodu$ida !ela diminui(&o das dist#ncias e !ela ?u il idade de comunica(&o que dissolvem fronteiras materiais e culturais. A su!erabund#ncia identitria, estreitamente vinculada aos !rocessos a!ontados anteriormente, caracteri$aFse !ela individuali$a(&o e+acerbada das refer*ncias, o que tornou m-lti!los e flutuantes os mecanismos de identifica(&o tanto individuais quanto coletivos. Se o desafio da modernidade !arece ter sido !ensar o tem!o, na i!ermodernidade 8temos que rea!render a !ensar o es!a(o85, !ois a mudan(a na es!acialidade o !rinc"!io ativo das figuras do e+cesso a!ontadas anteriormente. Goncretamente, o regime es!acial caracter"stico da contem!oraneidade im!lica mudan(as de escala que se tradu$em, concretamente, em modifica()es f"sicas notveis, como as concentra()es urbanas, as migra()es em massa e, es!ecialmente, a multi!lica(&o de lugares de tr#nsito ou !assagem que Aug camar de 8n&oFlugares8. Em termos descritivos, os 8n&oFlugares8 s&o constitu"dos !elas vias areas, ferrovirias, rodovirias e !orturias, os domic"lios mveis considerados 8meios de trans!orte8 2avi)es, trens, Vnibus, naviosQ, as
NOITES NÔMADES
grandes cadeias de otis, os !arques de la$er, os grandes centros comerciais e, enfim, 8as redes de cabo ou sem fio que mobili$am o es!a(o e+traterrestre !ara a comunica(&o85. Em termos anal"ticos, a categoria de 8n&oFlugar8 defineF se em o!osi(&o % no(&o antro!olgica de 8lugar8, que se refere a culturas locali$adas no tem!o e no es!a(o, em torno das quais se constroem re!resenta()es identitrias, coerentes e estveis. Desse modo, 8se um lugar !ode se definir como identitrio, relacional e istrico, um es!a(o que n&o !ode se definir nem como identitrio, nem como relacional, nem como istrico, definir um n&oFlugar8 U. Aug esclarece que a categoria engloba duas realidades comF !lementares, !orm distintas. Hor um lado, os es!a(os constitu"dos em rela(&o a certos fins 2trans!orte, tr#nsito, comrcio, la$erQ e, !or outro, a rela(&o que os indiv"duos mant*m com esses es!a(os. 8Se as duas rela()es se corres!ondem de maneira bastante am!la e, em todo caso, oficialmente 2os indiv"duos viaF I un. com!ram, re!ousamQ, n&o se confundem, no entanto, !ois m n.ioF lugares medeiam todo um con'unto de rela()es consigo IF5 om os outros que s di$em res!eito indiretamente a seus fins/ i mi como os lugares antro!olgicos criam um social org#nico, i in n.ioFlugares criam tens&o solitria.85 Os n&oFlugares estruF iim.miFse em torno da !assagem, do !rovisrio e do ef*mero e 9 .i ibcleccm uma rela(&o meramente contratual entre seus !asF t.inics anVnimos, cu'a circula(&o regulada !or mquinas autoF lli.@ii as e cart)es de crdito. Neles, n&o !oss"vel estabelecer la!)es, nem criar identidades singulares, mas sim individualidades solitrias. l6ara Aug, 8o n&oFlugar o contrrio da uto!ia/ ele e+iste e .m abriga nenuma sociedade org#nica8. Ganevacci critica essa conce!(&o sociologicamente negativa do n&oFlugar e afirma 03iic Aug n&o teria !ercebido que 8a nova metr!ole sem si : ledade/ !or isso sem lugares8J. Alm do mais, a !o!ulari$ado das tecnologias virtuais introdu$iu a mobilidade em todos os !lanos da e+!eri*ncia. Gomo lembra Yirilio, 8o valor estratF G.u o do n&oFlugar da velocidade definitivamente su!lantou o do lugar8K. TrataFse, ent&o, de !ensar os !adr)es de sociabilidade e r. arquiteturas sub'etivas geradas em torno do deslocamento R rlcrado. Nesse conte+to, o desafio anal"tico seria buscar recurF M is adequados !ara investigar as conseqP*ncias dessa muta(&o, alm de enfrentar 8o desafio terico de inovar conceitos adequados %s novas formas de comunica(&o visual8L.
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@ma tentativa bemFsucedida de enfrentar esse desafio foi leita !elo antro!logo indiano Ar'un A!!adurai. Segundo ele, n&o !oss"vel analisar as configura()es sociais e sub'etivas conF icm!or#neas sem uma 8am!la sociologia do deslocamento8, !ois tanto a m"dia eletrVnica quanto os diversos movimentos migratrios teriam introdu$ido uma nova ordem de instabilidade nas forma()es sociais e sub'etivas. A !ro!osta deste autor !ensar as formas culturais no mundo contem!or#neo como Inndamentalmente 8fractais8, ou se'a, dotadas de 8fronteiras, estruturas e regularidades n&oFeuclidianas8. A *nfase dada na 8din#mica cultural daquilo que agora camado de desterritoF riali$a(&o8, termo que se a!lica a ob'etos ou !rocessos que cada ve$ mais o!eram de modo a transcender limites territoriais e identidades es!ec"ficas. O autor !ro!)e, ent&o, que a fluide$ desses !rocessos de deslocali$a(&o se'a tradu$ida, no !lano transnacional, !ela a!lica(&o do sufi+o 8 scape8. A utili$a(&o desse sufi+o !ermite descrever a forma fluida e irregular das novas !aisagens sociais e sub'etivas !rodu$idas a !artir de flu+os tecnolgicos, miditicos, financeiros, ideolgicos e tnicos. Seu uso tambm indica que os !rocessos qualificados como fluidos n&o di$em res!eito a rela()es ob'etivamente dadas, mas a !rodu()es discursivas e com!ortamentais istrica e socialmente situadas . Desse modo, o carter definidor da contem!oraneidade 8n&o a qualidade ob'etiva dos lugares, nem a quantidade mensurvel do movimento F nem algo que estaria unicamente no es!"rito F, mas o modo de es!aciali$a(&o, a maneira de estar no es!a(o, de ser no es!a(o8 . Esse novo regime de es!aciali$a(&o das e+!eri*ncias sociais e sub'etivas que se estrutura em torno do deslocamento e n&o da fi+a(&o, levouFnos a investigar a 8tra'etiF vidade8 como com!onente fundamental das culturas 'ovens urbanas.
NOMADISMOS METROPOLITANOS
Sbado, J. @m !osto de gasolina na ?agoa =odrigo de >reitas 2ona Sul do =ioQ !alco de intensa movimenta(&o. O vaivm de carros e o entraFeFsai da lo'a de conveni*ncia !oderiam !assar !or cenas banais na rotina noturna da cidade. Afinal, um !osto de gasolina , em !rinc"!io, um lugar de !assagem. Hara um observador atento %s novas cartografias da noite carioca, !orm, o cenrio es!ecialmente revelador/ o !osto um dos l>oints !referidos !elos 'ovens de classe mdia, em sua deambulaF 2,5o noturna !elas festas e boates da cidade. B l que os freqPenF i .ulores
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NOITES NÔMADES
ass"duos desses ambientes marcam encontros e se !re!aF i .uri, com o consumo de lances r!idos e bebidas, antes de !arF iii !ara a night. Nos finais de semana, a camada !rFnigt no !osto come(a !or volta das 5, quando um grande n-mero de 'ovens se conF t entra no local em busca de contatos e informa()es sobre as melores o!()es noturnas da cidade. Ocu!ados !or animados G.i n!os, muitos carros, geralmente novos e de marcas e modelos v.ilori$ados no mercado, s&o estacionados no !tio, alterando a 0 onfigura(&o es!acial do local. Hortas e malas s&o mantidas aberF I.is, !ara facilitar o acesso aos bancos e !ro!agar o som, alis, basF i.inte alto. TemFse a im!ress&o de que o !osto tornouFse um ambiente lounge a cu aberto, no qual a !erman*ncia breve, mas intensa. Esse ambiente com!osto, de modo fluido, !or diferentes gru!os que se sucedem at cerca de da man&, quando os [ltimos remanescentes se encontram !ara a !sFnigt, antes do momento, sem!re adiado, de voltar !ara casa. \uem !ermanece no local observando o ritmo frentico em que as aglomera()es se lormam e se dis!ersam, como revoadas, entende !or que ]os Macado Hais afirmou que 8os 'ovens !assaram a viver nos cus, migrando como !ssaros8JU. A trama ri$omtica que liga os 8guerreiros da nigt8 F como 7.ao conecidos esses 'ovens F e+tra!ola o conte+to material do !osto. Atravs do uso com!ulsivo de telefones celulares, indiv"duos e gru!os es!alados em diversos !ontos da cidade !ermanecem conectados, formando uma verdadeira rede de comuniF 2 a()es simult#neas. No interior dos carros em movimento, nas !equenas rodas que se formam no !osto, nas !ortas e, como veremos adiante, at mesmo no interior das boates, o celular instrumento fundamental 8!ara o uso dos nVmades que t*m que estar 6constantemente em contato68J5. 8Gelular n&o !ra conversar, pra se achar. E !ra usar na ora, instant#neo.8 @m dos 'ovens entrevistados no !osto de gasolina a!onta o !a!el estratgico do celular no conte+to da !rF nigt/ A parada do !osto mais um aquecimento da !rFnigt mesmo. !ego se ligando, marcando um tem!o antes de cegar. "elular direto. !ego tambm fica sufocando nego que tem celular de conta e tal. !ego sem celular de conta Wimita um menino !edindo o celular do amigo em!restadoX/ 6n&o, pera#, rapidinho, uma liga(&o$ina6, n&o sei qu*. D uma ligada fica a night inteira Wfa$endo gra(a dessa situa(&o i!otticaX. O !osto mais !ra voc* ir com a galera. A" vai l, nego bebe, n&o sei qu*. A" quem bebe, bebe, quem fuma, fuma, fa$ essas porra a". A" nego vai e se liga/ 6A", t$ ondeZ6 %&antos aqui no ?eblon, tamos !artindo !ra l tal ora.6 6TranqPilo.6 Harte e se encontra l.
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?ances r!idos, como amb-rgueres, cacorrosFquentes e batatas fritas s&o consumidos com avide$, bem como bebidas alcolicas, como a cerve'a e as bebidas ice'(. A o!(&o !redileta, !orm, o gumm), drinque !re!arado instantaneamente com vodca, ! de suco de frutas e, eventualmente, gelo ou gua gelada, ' consagrado como a bebida 8t"!ica8 dos freqPentadores da night. A !arada estratgica na lo'a de conveni*ncia !ermite, tambm, que os 'ovens se abaste(am de um elemento essencial !ara a noite que !romete ser marcada !or muitos bei'os na boca/ as balas alls, de !refer*ncia no sabor cere'a. O fumo est !resente, mas n&o domina o ambiente, e o uso de drogas es!ordico, dir"amos mesmo que quase ine+istente. ?embramos que esses mesmos 'ovens lotam, durante o dia, as academias de ginstica. Embora os cuidados com o cor!o n&o os transformem, !ro!riamente, em uma 8gera(&o sa-de8, seus efeitos se fa$em sentir na modera(&o relativa F se com!arada com outros segmentos da 'uventude F com que consomem fumo, drogas e mesmo bebidas alcolicas. Os gru!os ' cegam formados, ocu!ando um ou vrios carros, ou se formam no local, !ois o !osto um dos !ontos de i i uiitro favoritos da galera. Todos os gru!os, !orm, !arecem milinictidos a uma lgica id*ntica de e+!ans&o que incor!ora luivtr. elementos, refa$endo de modo incessante sua configuraF . 27 0 mu ial. A mobilidade tanta que alguns carros n&o cegam 7 05555F5 .5 estacionar no local. ?imitamFse a diminuir a velocidade I6 ii i que seus ocu!antes !ossam fruir, em movimento, essa agiF i ii, u i, acenando !ara os conecidos ou, sim!lesmente, verificanF ilii quem est l. Nas !rinci!ais ruas da ona Sul e da ^arra da li3iu a, verdadeiros comboios de carros se formam. Das 'anelas, ir. ocu!antes interagem uns com os outros, entre brincadeiras e 8 i_ara(&o8 e at mesmo distribuem bebidas, mesmo com os carF 55 is em movimento. No !osto, !orm, !redominam !equenos gru!os de cinco i Mi seis com!onentes, geralmente organi$ados em torno de difeF icu(as de g*nero. A!esar de alguns gru!os mistos, meninos e meninas tendem a se agru!ar e a se situar no es!a(o de modo diferenciado. ] !oss"vel verificar que a intera(&o dos se+os !arece se fa$er atravs da media(&o do gru!o, como veremos adiante. A conversa no interior de cada um dos gru!os segue .mimada, e gira em torno da !ergunta que atraiu todos at ali/ 8\ual a boa da night Z8 Hor toda !arte, a intera(&o marcada !or discursos entrecortados, gestuali$a(&o intensa e risos frenticos que se estruturam em torno de uma varivel comum/ a brincadeira com os amigos ou, em uma
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!alavra, a 8$oa(&o8. A circula(&o !ermanente e a troca incessante de olares colocam os !equenos gru!os em rela(&o e anteci!am o clima de 8a$ara(&o8 que caracteri$a o universo das boates. Interrom!emos a animada conversa de Diego, estudante de 5 anos, morador do ?eblon, com um gru!o de amigos, !ara saber desde quando ele freqPenta o !osto de gasolina e o que torna esse es!a(o t&o atraente/ Antes da gente ter 5 WanosX, a galera toda marcava na !ra(a da Selva de Hedra Wcondom"nio situado ao lado da Gobal doGa!"tulo I I I
S@^]ETIYIDADES EM DES?IE/ DA ?`?@COS DE IDENTI>IGAO
!unca as histórias indi*iduais foram tão e+plicitamente referidas pela história coleti*a, mas nunca, tamm, os pontos de identificação coleti*a foram tão flutuantes.
MA=G A@
Os !rocessos de reconfigura(&o es!acial criados !elo movimento e+tensivo que se o!era em torno das boates da ona Sul carioca t*m, como contra!artida, significativas altera()es nas manifesta()es sub'etivas. Novas modalidades de !rocessamento e arquitetura dos regimes de afeto e sociabilidade des!ontam entre os 'ovens, !rovocando remane'amentos cruciais nas economias internas desses agentes. Os novos regimes de e+!eri*ncia es!acial aqui estudados, alm de 8im!lodirem8 as territoriaF lidades cannicas, em sua mtrica dimensional e omog*nea, geram flu+os sub'etivos diferenciados.
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Hassaremos a avan(ar nesta discuss&o sobre as transforma()es, os redesenos e as novas configura()es da sub'etividade verificadas no conte+to da contem!oraneidade. Nossa inten(&o consiste em desdobrar conceitos e categorias que nos !ermitir&o melor iluminar o sentido de uma grande muta(&o em marca nos novos diagramas e cartografias mentais. Hara tanto, !ro!oF moFnos a e+aminar um con'unto de abordagens tericas que v"in se debru(ando sobre as com!le+as altera()es sofridas nas formas !elas quais com!reendemos e atribu"mos sentido % dimens&o da sub'etividade. O tratamento dessas abordagens tomar como ei+o de liga(&o e de costura anal"tica o movimento de desli$e o!erado da lgica da identidade !ara a lgica da identifica(&o nas modalidades de com!reens&o das novas configura()es sub'etivas. Isto significa di$er que este movimento de desli$amento ser, aqui, com!reendido como um mecanismo lgico de ancoragem, ou, ainda, como um denominador comum %s diversas inter!reta()es sobre o su'eito contem!or#neo que estaF r&o em 'ogo neste debate. O conceito ou a categoria de identidade indissocivel dos !rocessos de constitui(&o da figura moderna de su'eito. =estrinF gimoFnos aqui a!enas a listar, como caracter"sticas centrais dessa abordagem, a idia de su'eito centrado, coeso, uno e indivis"vel, cu'a lgica de organi$a(&o e funcionamento bali$ada !ela n"tida demarca(&o entre os !lanos interno e e+terno da e+ist*ncia. Este seria o su'eito ca!a$ de e+!ressar a metaf"sica do dentro_fora, com!reendida no interior da lgica de uma esttica da e+!ress&o, como nos di$ ]ameson5. S&o igualmente caras a este modelo de su'eito as no()es de autocr"tica, !rivacidade, interioridade, refle+&o, intros!ec(&o, resguardo da intimidade etc. Se !rocuramos estender o raio dessas considera()es ao #mbito da !sicanlise clssica, !or e+em!lo, igualmente revelador o fato de que ela n&o !ode !rescindir desta mesma arquitetura de su'eito 2que foi !ensada a !artir de um conte+to istrico e de uma vis&o de mundo oriundos do individualismo e da tradi(&o da ermen*uticaQ !ara funcionar como !rtica cl"nica. =eferimoFnos ao indiv"duo da !sicanlise tal como concebido !or >reud, cu'os mecanismos centrais de funcionamento est&o a!oiados nas modalidades de autoconecimento vertical, refle+ivo, 8invernal8, e !ara o qual a idia de 8mundo interno8 !ossui inegvel legitimidade e im!ort#ncia. A !rtica cl"nica a!licvel a este modelo de su'eito conta com !ouca margem de recurso e manobra tcnica !ara alm do !er"metro metodolgico da escuta_inter!reta(&o sobre o qual ela se alicer(a. N&o cabe, aqui, tratar dos infinitos desdobramentos deste debate, que tra$ em seu cerne o questionamento de um modelo de su'eito que !arece
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NOITES NÔMADES
encontrar, na contem!oraneidade, evidentes sinais de esgotamento enquanto instrumento conceituai cave !ara a a!reens&o de novas e recentes manifesta()es da sub'etividade. N&o estaria este 8indiv"duo8 !erdendo es!a(o significativo na 8tribuna de quest)es8 que atualmente a!ontam !ara novas gramticas sub'etivas que v*m colocando em quest&o o !r!rio sentido do autoconecimentoZ E a no(&o de mundo internoZ Teria este, o'e, a mesma !rofundidade, im!ort#ncia e legitimidade !ara su'eitos cu'a escala de urg*ncia e !rioridades revela uma dimens&o de !ragmatismo e necessidade de 8com!et*ncia8 e efici*ncia cada dia mais distantes do #mbito do cultivo esttico_refle+ivo de siZ Neste sentido, a quase que oni!resen(a atual da categoria da 8com!et*ncia8 no novo cenrio cultural da !sFmodernidade 2sobretudo, entre os contingentes 'ovens da !o!ula(&oQ, !arece !rivilegiar e atribuir maci(a *nfase %s idias de a(&o, viv*ncia, ato e fato em suas m-lti!las modalidades de articula(&o com a !r!ria categoria do mercado. Este -ltimo !arece inscreverFse na e+ata 8contram&o8 do !adr&o cr"tico em que costumava ser re!resentado no conte+to do alto modernismo . Gom esta formula(&o, n&o !retendemos afirmar que novas gramticas sub'etivas este'am necessariamente se tornando mais !rodutivas no sentido de uma lgica inesca!avelmente racionalista e instrumental. Gabe a!enas assinalar o fato de que, no inter'ogo das novas rela()es tem!o_es!a(o com o !lano da sub'etividade, !oss"vel atribuir certa disfuncionalidade ao reino das atitudes umanas que se destacam !ela valori$a(&o e+cessiva da esfera do mundo interno dos indiv"duos, e do indiscut"vel valor da dimens&o do autoconecimento 2e+istencial, vertical e refle+ivoQ. Este su'eito da modernidade, cu'a crucial e+ig*ncia de rediF mensionamento e revis&o acabamos de !roblemati$ar, assentaF se sobre um !ar#metro de funcionamento e organi$a(&o regido, fundamentalmente, !ela lgica da identidade. Ye'amos, ent&o, como se tradu$em diversos diagnsticos contem!or#neos que se !ro!)em a !ensar as novas forma()es sub'etivas atravessadas !or este desli$amento do !lano da identidade !ara o da identifica(&o.
IDENTIFICAÇÃO E PLURALISMOS DO EU
Hodemos creditar aos estudos de Micel MaffesoliJ um tratamento !ioneiro atribu"do % im!eriosa significa(&o deste desli$amento identidade_identifica(&o !ara a com!reens&o das novas forma()es sub'etivas que emergem na contem!oraneidade. 8>are'ando8 o novo es!"rito do tem!o e suas sensibilidades alternativas, atravs de um leque de
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significa()es atribu"das % lgica da identifica(&o, este autor sublina a afirma(&o de uma 8nova sensibilidade coletiva centrada no cotidiano8, em que o !rocesso de constru(&o do eu se inscreve a !artir de uma 8lgica comunicacional8K. A articula(&o din#mica e criativa o!erada entre estes dois n"veis de manifesta(&o da identifica(&o nos !ermite desdobrar a contribui(&o de Maffesoli na dire(&o de alguns acados centrais !ara os nossos !ro!sitos de trabalo. Ao referirFse a uma abordagem comunicacional da sub'etividade, este autor nos remete a um vasto cam!o de !ossibilidades interativas e de agrega(&o entre !essoas, que !odem ser sinteti$adas na 8idia obseF dante de estar 'unto8 L. A lgica da identifica(&o a!iaFse na idia de um self m-lti!lo que se e+!ressa atravs de in-meras motiva()es gregrias/ motiva()es estticas, imagticas e sensoriais. A identifica(&o vivida fundamentalmente como um !rocesso, no qual o fato comunicacional causa e efeito de um 8!luralismo !essoal8. ormas de comunica(&o situacionais e cor!orais constituemFse em e+em!lifica()es de novas te+tualidades subsumidas !elo !rocesso de identifica(&o. No ei+o desta discuss&o, ocorreFnos refor(ar, ainda na esteira da contribui(&o deste autor, as distin()es entre l"nguas 8egoc*ntricas8 e 8lococ*ntricas8, que seriam dominantes em distintas culturas. Sua i!tese encaminaFse na dire(&o de a!ro+imar nossa cultura dos tra(os e caracter"sticas da dominante lococ*nF trica. 8As !rimeiras !rivilegiam o indiv"duo e suas a()es orquestradas. E as segundas acentuam o meio ambiente, quer se'a ele natural ou social. Hodemos, igualmente, considerar que, numa mesma cultura, s&o encontradas seqP*ncias diferenciais. Elas, %s ve$es, acentuam o as!ecto coletivo, desindividuali$ante. Em todo caso, essa mina i!tese no que di$ res!eito % nossa cultura. Nesse sentido, a valori$a(&o do es!a(o, !elo vis da imagem, do cor!o, do territrio, seria, sim!lesmente, a causa e o efeito da su!era(&o do indiv"duo num con'unto mais am!lo8. No universo de 'ovens !esquisados, o cor!o mquina de comunicar, n&o somente como recurso gestual, ttil, material, mas igualmente como !rtica narrativa situacional. Ou se'a, ao cor!o conferida a dimens&o
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NOITES NÔMADES
interativa central de um situacionismo generali$ado, em que a a!ar*ncia assume uma loquacidade !articular, definindo e recortando fronteiras de sentido, cdigos de a!ro+ima(&o e distanciamento entre os su'eitos. O novo es!"rito do tem!o, condu$ido !elo !rimado da identifica(&o, !arece a!ontar !ara novas rela()es de for(a nas configura()es sub'etivas. Estas -ltimas encontramFse cada ve$ mais afastadas de valores -nicos, singulares, mondicos, naturali$ados e essenciais situados nos !lanos moral, religioso e intelectual. Gomo nos lembra mais uma ve$ este autor, 8a esttica, enquanto lgica comunicacional, assegura a con'un(&o de eleF mentos at ent&o se!arados85U. O am!lo, multifacetado e com!le+o cenrio de comunica()es e de formas de intera(&o e contato que atravessam as e+!eri*ncias de nossos informantes !ermite fa$er refer*ncia % instala(&o de uma semitica gestual no circuito das culturas 'ovens contem!or#neas. B neste sentido que vale a !ena fa$er, aqui, uma r!ida men(&o % necessidade de se !ensar sobre essas novas semiticas afastadas de uma refer*ncia nostlgica e melanclica. Ou se'a, sob o dia!as&o da idia da !erda, do va$io ou da falta, de um su'eito que estaria se 8esvaindo8 com a modernidade e suas formas cannicas de re!resenta(&o e !erce!(&o da sub'etividade. Hensamos, ao contrrio, sobre a necessidade de desatrelamento de uma bagagem nostlgica !ara se !ensar o re!ertrio t&o !oliF fVnico de novos agenciamentos e !rticas discursivas e comunicacionais que atravessam o universo mental de nossos inforF mantes. Neste universo, 8cada !essoa gira em torno de um 6ns6, ativando, desta forma, um !rinc"!io relacional. Esta comunica(&o ttil !ode a!resentarFse va$ia de sentido, o que n&o deve im!ortar !ara o observador social, !ois a constata(&o dessa comunica(&o deve ser !re!onderante e n&o o 'ulgamento de valor baseado na fun(&o da consci*ncia da ra$&o instrumental855.
EXPRESSIVIDADE E PERFORMANCE
A dimens&o e+!ressiva da e+!eri*ncia, !ercebida como uma varivel crucial !ara o ree+ame das !ol"ticas de identidade vigentes na sociedade contem!or#nea, introdu$ida !or Revin eterington em seu +pressions of /dentit): 0pace, 1erformance, 1olitics. Ao construir uma refle+&o sobre novos estilos de vida alternativos, novos movimentos sociais e subculturas 'ovens, este autor !retende mostrar como uma das !rinci!ais quest)es relacionadas % identidade no interior desses gru!os vinculaFse a uma !ol"tica de identifica(&o ou reconecimento que to!oloF gicamente
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com!le+a em sua com!osi(&o. A *nfase atribu"da a esta dimens&o to!olgica das novas !ol"ticas de identidade di$ res!eito ao desafio !ro!osto !or eterington em rela(&o a trabalos recentes reali$ados no cam!o da sociologia da moderniF dade_!sFmodernidade e identidade, dos !rocessos de destradiF cionali$a(&o, neotribalismo e novos movimentos sociais. Alm desses trabalos, este autor refereFse tambm ao fato das literaturas atuais sobre consumo e movimentos sociais encontraremF se !or demais cativas de um instrumental terico, estreito e asfi+iante, vinculado %s idias de mobili$a(&o, organi$a(&o e re!ertrios de a(&o. Sua !ro!osta, enfim, revela uma contra!artida e esses trabalos e o ob'etivo de deslocar algumas de suas reivindica()es denotativas sobre identidade e !ol"ticas de identidades. Em !oucas !alavras, !oss"vel di$er que o desafio da refle+&o de eterington reside na tentativa de e+!lodir termos denotativos tais como/ 8Novos movimentos sociais, com sua eran(a egeliana, e, a !artir da", olar !ara a multi!licidade de 6fragmentos6, 6restos6, 6sobras6 que !ermanecem dessa e+!los&o8. Tal 8e+!los&o denotativa8 o!erada a !artir da *nfase atribu"da !or este autor % idia de com!le+idade to!olgica/ 8O es!a(o dessas !osi()es de identidades e+!ressivas 2que !ossuem muitas ve$es um carter !erformticoQ e o que elas significam n&o euclidiano, liso e omog*neo, mas enrugado, quebradi(o e incerto8 5. A forma(&o da identidade como um !rocesso de identifica(&o um movimento es!acialmente situado, em que o 'ogo de intera()es, as estruturas !rodutoras de situa()es e suas com!le+idades to!olgicas criam o es!a(o e suas novas configura()es sub'etivas.
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sociais e suas !ol"ticas de identidade. @ma refle+&o mais detida e .5 !rofundada sobre essas novas formas de cultura !oder nos a!ro+imar da idia de su'eitos como autores de seus 8!r!rios inteiros de vida, o que requer que a dimens&o da sub'etividade se'a tomada como uma dimens&o anterior e inde!endente da identidade8 5L. E !oss"vel situar o !ensamento de eterington em contra!artida a correntes tericas com!rometidas com uma vis&o de m'eito cultivador de uma 8voca(&o8, que com!reendida como um 8camado8, ou se'a, como um modelo !ara o desenvolvimento de uma identidade forte, maci(a e inner-directed 5. TrataFse 3ii", !ortanto, de uma com!reens&o de su'eitos morais, a!tos a i,ir de forma equilibrada, baseados em um !ensamento racional, su'eitos autodirecionados, ca!a$es de 'ulgamentos morais inde!endentes de !ress)es e+ternas. Neste sentido, !ara esses tutores, o indiv"duo, mais do que o coletivo, o !rinci!al foco ili aten(&o quando se discutem quest)es de identidade. A conF ii a !artida e o desafio terico de eterington a essa vis&o encontram subs"dios e fontes de refor(o em uma tradi(&o mais antro!olgica na lina dureimiana que, atravs de disc"!ulos como ^ataille, Yictor Turner, =en
PAISAGENS SUBJETIVAS E CRIAÇES EXISTENCIAIS
Os avan(os tecnolgicos contem!or#neos, quando observados, sobretudo no #mbito da m"dia eletrVnica, v*m dando origem a !rocessos de acelera(&o, !ulveri$a(&o e mistura de e+!eri*ncias que atingem os su'eitos de modo com!le+o e, muitas ve$es, desestabili$ador. Este o tra(ado de um !anorama ca!a$ de nos enviar % formula(&o de mais um diagnstico das im!lica()es do desli$amento identidadeFidentifica(&o na constitui(&o das sub'etividades contem!or#neas. Tais avan(os tecnolgicos !odem ser
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entendidos como es!cies de alavancas !ara remaneF 'amentos e altera()es das forma()es sub'etivas contem!or#neas subsumidas !elo cenrio mais am!lo da globali$a(&o econVmica. De acordo com a !sicanalista Suel =olni, 8!aisagens sub'etiF .is8 se com!le+ificam, em circunst#ncias de transforma(&o e ilciisifica(&o das identidades5. Esta com!le+ifica(&o re!ousa, !arado+almente, sobre uma tens&o/ ao mesmo tem!o que refeF i Eneias identitrias locais e fi+as !ersistem, identidades globais I le+"veis e mveis come(am a !rodu$ir efeitos desestabili$adores c inquietantes. 8As sub'etividades contem!or#neas, inde!endente de sua morada, tendem a ser !ovoadas !or afetos dessa !rofus&o cambiante de universos uma constante mesti(agem de for(as delineia cartografias mutveis e coloca em +eque seus abituais contornos85. A autora desenvolve este argumento discutindo at que !onto as configura()es sub'etivas da atualidade desestabili$am a conce!(&o moderna do eu, sem rom!er efetivamente com a refer*ncia identitria5. O diagrama inter!retativo !ro!osto !or =olni !ara as novas !aisagens sub'etivas contem!or#neas a!iaFse na idiaF cave de 8!rocessos de singulari$a(&o8U ou cria(&o e+istencial. Esses !rocessos s&o constitutivos e simultaneamente !rodutores dos novos cenrios de diversidade das e+!eri*ncias sub'etivas. Ou se'a, a diversidade dessas e+!eri*ncias a!onta !ara um significativo !rocesso de transi(&o em curso/ configura()es identitrias egemVnicas, arbitrrias e istricas F fruto de !rocessos de ob'etifica(&o baseados na estrutura(&o da e+!eri*ncia !s"quica em torno da se!ara(&o entre interior e e+terior F dei+am de se a!resentar como refer*ncias ou como elementos marcadores centrais nestas contingentes e movedi(as !aisagens sub'etivas. A *nfase de!ositada na idia de 8cria(&o e+istencial8 abre es!a(o !ara a investiga(&o de configura()es de sub'etividades que se caracteri$am e+atamente !or sua nature$a !arcial e contingente. Mais uma ve$, destacaFse aqui a im!ort#ncia da dimens&o de !rocessualidade, mutabilidade e im!recis&o de contornos, im!licada na com!osi(&o destas novas cartografias sub'etivas. Nada mais indissocivel das !aisagens sub'etivas contem!or#neas do que as for(as da !rocessualidade. A 8vibratibilidade8 de nosso olo5 condi(&o essencial !ara que se'a !oss"vel !erceber 8outros flu+os W...X outros diagramas de rela()es de for(as8 nas configura()es sub'etivas contem!or#neas. @ma conce!(&o 8transversalista8 da sub'etividadeJ F assim >li+
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NOITES NÔMADES
!rodu(&o, a !artir de inst#ncias individuais, coletivas e institucionais. Gama a aten(&o, aqui, !ortanto, o distanciamento da !ro!osta de inalmente, a abordagem transversalista da sub'etividade tambm ca!a$ de invocar um tratamento alternativo ao convencional tra(ado euclidiano da !erce!(&o da identidade baseada na estrutura(&o da e+!eri*ncia !s"quica em torno da se!ara(&o entre interior e e+terior. B !oss"vel estabelecer !ontos de conflu*ncia entre =olni e 2inattari no que di$ res!eito ao e+ame das mudan(as de !ers!ectiva !or que !assam as forma()es sub'etivas contem!or#neas. Ambos refor(am a im!ort#ncia dos !rocessos de singulari$a(&o c de cria(&o e+istencial dessas forma()es, atribuindo, !ortanto, inegvel !eso % diversidade, ao carter contingente e !arcial das inst#ncias coletivas e individuais que est&o subsumidas nessas novas modalidades de sub'etiva(&o. Esta conflu*ncia de vis)es tambm se tradu$ no desafio travado na dire(&o dos !rocessos egemVnicos de constitui(&o sub'etiva. A eficcia da contra!artida a esses !rocessos encontra sua for(a motri$ nas altera()es !ermanentes que atravessam as sub'etividades, ou se'a, nos !rocessos contem!or#neos de ressingulari$a(&o. Hara
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FLUXOS DE IMAGINAÇÃO NOMADISMOS PS!"UICOS
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O !rocesso contem!or#neo de intera(&o din#mica das massivas correntes migratrias com a m"dia eletrVnica converteFse em mais uma fonte de inteligibilidade e inter!reta(&o dos novos conte+tos de instabilidade na !rodu(&o das sub'etividades contem!or#neas. Ar'un A!!adurai e+amina a influ*ncia desses novos meios em uma dimens&o transnacional, !ro!ondoFse a investigar sua im!lica(&o !ara a com!reens&o da nature$a da ru!tura inaugurada !ela modernidade. A!esar do tratamento abrangente e da abordagem transnacional de sua anlise, ela nos !ermite estabelecer claras linas de cone+&o com o !lano das sub'etividades. Melor di$endo, trataFse de uma modalidade de refle+&o que nos faculta o registro da m-tua corres!ond*ncia entre o !lano macro e micro da anlise, de fatores estruturais que constituem, ao mesmo tem!o em que s&o constitu"dos !or sub'etividades em muta(&o. Esta m-tua corres!ond*ncia nos autori$a a identificar, !aralelamente, o diagrama do desli$e idenF tidade_identifica(&o, ainda que mantendo os termos transnacionais da !ro!osta de investiga(&o do autor. M"dia e migra(&o, !or conseguinte, s&o entendidos como tra(os diacr"ticos da modernidade e v&o incidir, de modo radical, sobre o registro da imagina(&o, como fonte de e+!erimenta(&o com o self ma2ing. Mais do que isto, o diagnstico de A!!adurai enfati$a o crucial !a!el da m"dia eletrVnica enquanto fornecedora dos meios !ara o self- imagining como um !ro'eto social cotidiano, em que a imagina(&o e+tra!ola os es!a(os e+!ressivos da arte, do mito e do ritual. A imagina(&o, !ortanto, !assa a n&o mais estar circunscrita a cam!os regionali$ados de legitima(&o, como os da e+!ressividade, !assando a fa$er !arte de um !ro'eto social cotidiano, incorF !orandoFse ao e+erc"cio mental das !essoas comuns. DestacaFse, aqui, a condi(&o decisiva das altera()es nos modos !ree+istentes de comunica(&o e conduta e m dire(&o a novas fontes e novas disci!linas !ara a constru(&o de selues e de mundos imaginados. Hrticas es!aciais e flu+os sub'etivos !odem ser e+aminados em sua intera(&o no #mbito do que A!!adurai define como 8configura(&o de esferas !-blicas dias!ricas8, nas quais imagens em movimento encontram es!ectadores desterritoriali$aF dos. Essas esferas definem o es!a(o !ara o e+erc"cio das e+!eri*ncias sub'etivas modernas, !rovenientes do cru$amento entre ambos os fatores, m"dia e migra(&o. O fundamento do v"nculo entre a globali$a(&o e a modernidade estaria, nessa rela(&o mutvel e im!revis"vel, entre as mensagens veiculadas !elos meios de comunica(&o de massa e as audi*ncias migratrias. Em s"ntese, 8a m"dia eletrVnica e a migra(&o em massa marcariam o mundo do !resente n&o como for(as
NOITES NÔMADES
tecnicamente novas, mas como fatores que !arecem estimular 2e %s ve$es, obrigarQ o e+erc"cio da imagina(&o. ]untas, elas criariam irregularidades es!ec"ficas, !orque tanto es!ectadores quanto imagens circulam simultaF neamente8JU. Em fun(&o das transforma()es tecnolgicas, a imagina(&o tornouFse um fato social, coletivo, ao longo das -ltimas dcadas, fornecendo a base !ara uma 8!luralidade de mundos imaginados8J5. DestacaFse aqui, !ortanto, o singular !a!el conferido % imagina(&o no universo !sFeletrVnico, quando ela se torna !arte da lgica da vida cotidiana da qual teria sido subtra"da na istria do Ocidente. @ma observa(&o deve ser inclu"da no e+ame deste argumento/ a distin(&o que este autor !ro!)e entre imagina(&o e fantasia. No mundo contem!or#neo, o consumo seria, inegavelmente, !arte do !rocesso civili$atrio ca!italista, todavia, 8onde consumo, !ra$er, e onde !ra$er, ag*ncia8J. A no(&o de fantasia teria a conota(&o im!l"cita de !ensamento des!rovido de !ro'etos e a()es, ou se'a, de alcance ob'etivo, e !ossuidor de um tom individualista e !rivado, enquanto a imagina(&o tra$ im!l"cita a idia de !ro'eto, no sentido da anteci!a(&o de um ti!o de e+!ress&o 2esttica ou n&oQ. Nesse sentido, a 8fantasia !ode se dissi!ar 2!ois sua lgica sem!re autotlicaQ, mas a imagina(&o, es!ecialmente quando coletiva, !ode tornarFse o combust"vel !ara a a(&o8JJ. =esta acrescentar que, ao tratar da imagina(&o, A!!adurai refereFse fundamentalmente ao seu uso coletivo, e n&o individual, 8como uma !ro!riedade das coletividades e n&o como uma mera faculdade de indiv"duos es!ecialmente dotados8JK. Os meios de comunica(&o de massa geraram novas formas de comunidade afetiva, ou se'a, 8gru!os que come(am a imaginar e sentir coisas coletivamente8 JL. Em 8To!ogra!ies of te self8, artigo deste mesmo autor, obtivemos im!ortantes subs"dios !ara uma refle+&o sobre a variabilidade da rela(&o entre a linguagem, os sentimentos e as to!ografias do self em diferentes sociedades. Gama a aten(&o !ara os nossos ob'etivos, neste trabalo, a metfora to!ogrfica ca!tada em sua dimens&o e !ro!riedade es!acial como forma de inteligibilidade dos novos agenciamentos e configura()es da sub'etividade. Os !rocessos de singulari$a(&o ou de cria(&o e+isF tencial, tal como entendidos no diagnstico de =olni, nutrem a diversidade das e+!eri*ncias sub'etivas em torno de configura()es !arciais e contingentes que A!!adurai camou de 8to!ografias alternativas do self. Entre essas modalidades to!ogrficas, e+istem !rticas reguladas de im!rovisa(&o que este autor se dedicou a estudar, e cu'a lgica de manifesta(&o sub'acente %s suas manifesta()es !-blicas J.
NI GHT IA DA
J
Esta abordagem envolve uma cr"tica ao modo dicotVmico e ocidental !elo qual a temtica das emo()es tem sido abordada, es!ecialmente no que di$ res!eito % o!osi(&o entre 8estados internos8 e 8formas e+ternas8 J. Neste sentido, encontramoFnos diante de conclus)es e+tra"das de investiga(&o etnogrfica reali$ada !elo autor, demonstrando que as emo()es s&o formas !-blicas discursivas cu'a eficcia se baseia na e+!eri*ncia cor!orificada, sem que isso im!lique qualquer substrato biolgico universal. TrataFse aqui de e+em!lifica()es de 8to!ografias alternativas do self, em que a !aisagem emocional n&o est constru"da sobre sentimentos internos, biogrficos ou idiossincrticos no sentido ociF dental. Ela constru"da, ao contrrio, !elos efeitos emocionais criados !ela negocia(&o !-blica das !alavras e dos gestos J. O foco da contribui(&o de Massimo GanevacciJ sobre as novas !ers!ectivas nomdicas como distintas do nomadismo tnico inscreveFse como mais uma contribui(&o relevante !ara a e+em!lifica(&o do desli$e das forma()es identitrias !ara a lgica da identifica(&o. Estas novas !ers!ectivas nomdicas t*m lugar no conte+to dos !rocessos globais, com!le+os, !lurais e sincrtiF cos da contem!oraneidade. A descontinuidade verificada entre esses novos nomadismos e as formas tradicionais n&o e+cluiriam a!ro!ria()es transversais, sincretismos o!ostos, estranas cone+)es, dilogos dissonantesKU. A nova formaF metr!ole n&o fi+a es!acialmente sua identidade a !artir de limites materiais !recisos, e caracteri$aFse, antes, 8!or um mutante flu+o comunicativo8K5/ flu+os descentrali$ados, conflituosos, mveis e "bridos desconcertam as identidades e os !anoramas metro!olitanos K. Nossos informantes reconfiguram es!acialidades na metr!ole. Ou se'a, abitam a tra'etria sem tomar, necessariamente, como rota de cegada os !ontos definidos em um tra'eto. O carter criativo, inslito e im!rovisado das incurs)es reali$adas !elos 'ovens ao longo da noite na cidade, tornaFse fonte valiosa de !roblemati$a(&o do conceito ocidental de identidade 8nos seus significados 'ur"dicos, filosficos e antro!olgicos8 KJ. =eferimoFnos aqui a modalidades alternativas de abordagem e utili$a(&o dos es!a(os metro!olitanos que nos !ermitem inferir sobre !rocessos de dissolu(&o de identidades integradas, estveis e coesas. Em outras !alavras, formas de 8nomadismo !s"quico8 8!arecem des!ontar em meio a frenticas recombina()es travadas no interior da formaFmetr!ole
K
NOITES NÔMADES
contem!or#nea que deve ser com!reendida de modo !lural"stico, descentrali$ado e conflitual8KK.
FLUXOS SUBJETIVOS O 3zoar3: di*ersão e gra*itação
O ato de 8$oar8, em sua a!reens&o semiolgica, e+!ressa a ca!acidade de fa$er grande ru"do, emitir som forte e confuso ou equivalente a $umbir, !rodu$ir ru"do semelante ao dos insetos. Hermanece nesta defini(&o a !ro!riedade ruidosa inscrita nas novas economias internas dos flu+os sub'etivos. =uidosa em sua dimens&o incessante de deslocamento e circula(&o. ^arulenta em sua busca des!ercebida e contingente da frui(&o ocasional, da cria(&o e da inven(&o. 8oa(&o8 confere significa()es a inter'ei()es, mimetismos, !erformatividades da a(&o, uma semitica gestual. Associa(&o de intensidade e movimento, o 8$oar8 uma e+!eri*ncia somente ca!tvel em flu+o, cu'a organi$a(&o ri$oF mtica, verificvel em sua tre!ida(&o, em sua vibra(&o, em seu arremesso cont"nuo. Alm de acionar a dimens&o numrica das