A noite estrelada 1889 – Vincent Van Gogh
NOITE ESTRELADA A obra escolhida é “a noite estrelada” de Vincent Van Gogh, pintada em meados de 1889 quando Vincent ficou internado no asilo de Saint Remy. Van Gogh viveu num período com marcantes transições históricas, parte de suas obras faz referencia ao estado de espírito muito presente na época, o sentimento de que a arte deve revelar as características expressivas do mundo. A noite estrelada foi escolhida por fazer parte de um momento de fragilidade intensa do artista e por acreditar-se ser a única obra do artista que foi feita de memória. Creio que encontra-se dificuldade em analisar apenas uma obra do artista isoladamente, pois as obras produzidas e seu autor estão tão intimamente ligados que me atreverei a fazer uma analise estética que vá além da obra, uma analise estético psicologica de Vincent Van Gogh.
A tela é dividida horizontalmente pela linha do horizonte e verticalmente pelo cipreste. A cidade longínqua, de pequenas casas, contrasta fortemente com o cipreste em primeiro plano. As pinceladas são curvilíneas, e se integram de maneira rítmica sobre a superfície da pintura. Céu, cipreste e cidade integram-se em um movimento turbilhonante de luz. Analisando as linhas de “Noite estrelada” podemos perceber que estão carregadas de emoção e de sentido. Os traços são curtos, alguns parecem pequenas vírgulas, outros são indiscutíveis curvas. Há espaços entre as cores, há um ritmo, uma repetição ritmada. Se tornam cada vez mais densas e param. Fazendo uma analogia com a
NOITE ESTRELADA A obra escolhida é “a noite estrelada” de Vincent Van Gogh, pintada em meados de 1889 quando Vincent ficou internado no asilo de Saint Remy. Van Gogh viveu num período com marcantes transições históricas, parte de suas obras faz referencia ao estado de espírito muito presente na época, o sentimento de que a arte deve revelar as características expressivas do mundo. A noite estrelada foi escolhida por fazer parte de um momento de fragilidade intensa do artista e por acreditar-se ser a única obra do artista que foi feita de memória. Creio que encontra-se dificuldade em analisar apenas uma obra do artista isoladamente, pois as obras produzidas e seu autor estão tão intimamente ligados que me atreverei a fazer uma analise estética que vá além da obra, uma analise estético psicologica de Vincent Van Gogh.
A tela é dividida horizontalmente pela linha do horizonte e verticalmente pelo cipreste. A cidade longínqua, de pequenas casas, contrasta fortemente com o cipreste em primeiro plano. As pinceladas são curvilíneas, e se integram de maneira rítmica sobre a superfície da pintura. Céu, cipreste e cidade integram-se em um movimento turbilhonante de luz. Analisando as linhas de “Noite estrelada” podemos perceber que estão carregadas de emoção e de sentido. Os traços são curtos, alguns parecem pequenas vírgulas, outros são indiscutíveis curvas. Há espaços entre as cores, há um ritmo, uma repetição ritmada. Se tornam cada vez mais densas e param. Fazendo uma analogia com a percepção que tenho do mundo, as pinceladas de van gogh são equivalente a obstáculos físicos e psicológicos que dá todo esse tom dramático e emocional a tela. Enquanto alguns acreditam que a tela pode ter sido feita espontaneamente, sem nenhuma referencia visual de paisagem real, outros acreditam que se trata de uma representação história de um acontecimento cósmico ocorrido na época, em um artigo encontrei uma citação a Frayze Pereira (1994) “No confronto entre o céu reconstituído e o céu pintado por Van Gogh, os astrônomos confirmaram a colocação exata das estrelas e a posição da lua na tela, revelando a objetividade da observação de Van Gogh com relação à natureza.” Essa afirmação se deu através de estudos feitos com as cartas enviadas para Theo, irmão de Vincent, A partir da data em que a carta que falava sobre “A noite estrelada” foi escrita, eles traçaram um mapa astronômico da época e afirmar que a noite estrelada de fato ocorreu. Vincent não foi nem um pouco convencional, e antes de falar de “A noite estrelada” deve-se considerar diversos aspectos relevantes de sua trajetória para que a apreciação da obra seja também relevante. Dentro dos padrões estéticos da época era nova a presença do elemento “comum” nas obras de arte. No século XVII pintores como Rembrandt, Velázquez e Ribeira, por exemplo, levaram para as telas o grotesco, repugnante, anormal... Van Gogh leva para suas telas o homem trabalhador comum, mas jorra cores e pinceladas espaçadas, como se ele fizesse a junção do impressionismo com o fauvismo. Embora atualmente a obra de Vincent seja considerada bela, não havia nada de convencional na época em que foi produzida, não só pela forma como as pinceladas se davam, mais pelos temas abordados, muitas emocionantes e impactantes, o auto-retrato com a orelha cortada é uma das obras que beira o trágico em diálogo com a sua aparência fora dos padrões “feio”. Outro elemento onipresente na obra de Vincent é o desequilíbrio, a loucura, implicitamente, na forma como ele expressa o que vê em suas pinturas, ou explicitamente, nas expressões de seus auto-retratos. Não se pode falar de “A noite estrelada” sem apreciar outras noites estreladas do pintor, as estrelas de Vincent são explosivas, são pontos desfocados de luz de alguém que vê aquilo como algo sublime, e é essa a reação que temos diante de noite estrelada. Em trecho de um artigo publicado na revista “superinteressante” retirei o seguinte tópico “Van Gogh confessaria a seu irmão, Theo, que experimentava uma terrível necessidade de sair à noite para pintar
as estrelas. Movido por este impulso, Van Gogh instalou-se às margens do Ródano, de início colando velas nas abas do seu chapéu, depois sob um lampião de gás, para alumiar a palheta e a tela. Deste modo, Van Gogh pintou as estrelas em telas que, finalmente em setembro, seriam enviadas a Theo, com a observação de que a Noite estrelada era uma de suas obras mais calmas.” O que é a calma pra Van Gogh senão uma noite rebuscada e explodindo cores?! O CAMINHO DOS CIPRESTES, 1890 Dos seus quadros sobre o céu noturno, o céu mais notável é “O caminho dos ciprestes” (maio de 1890), que Van Gogh descreveu em carta a Gauguin, de 17 de junho de 1890: "Um céu noturno com uma lua sem brilho, só o delgado crescente emergindo da sombra opaca projetada da Terra, uma estrela com um brilho exagerado, se você quiser, brilho suave de rosa e verde no céu ultramar onde passam as nuvens(...) Muito romântico, se lhe parece, mas também acho provençal..." Nessa tela, a "estrela com brilho exagerado" é Vênus, que esteve em conjunção com a Lua em 19 de junho de 1890. Sobre as cores de Van Gogh Recentemente foi descoberto que a cor azul estimula a criatividade, o surpreendente foi saber que na época em que as noites estreladas de Vincent foram elaboradas ele também teve uma produção bastante relevante, supõe-se cerca de 150 telas apenas em 1889, quando esteve um Saint Rémi. O azul é a cor predominante nas noites de Van Gogh, Principalmente em “A noite estrelada”, na maioria dos estudos da cor azul ele está relacionado à tranqüilidade, calma... Mas vale ressaltar que o azul também está relacionado à tristeza e melancolia, sentimentos que não era tão comum de se apreciar em obras de arte. Num texto que fala sobre o significado das cores extrai “O escuro azul da meia-noite age como um forte sedativo sobre a mente, permitindo-nos conectar com nossa parte intuitiva. Mas demasiado azul escuro pode produzir depressão.” A noite estrelada nos trás um pouco dessa sensação de solidão profunda, de rebuscamento e introspecção, de alguém que está mergulhado em si. O AMARELO. Num texto retirado de um artigo cientifico sobre estudo das cores “Amarelo: É uma cor luminosa e muito forte para atrair a atenção, seja sozinho ou em conjunto com outras cores. É feliz, vibrante, vivo. Está relacionado com Luz, angústia, esperança, atenção”. Vincent utilizava bastante o amarelo em suas telas, existem teorias que falam que o fato se deve a uma possível intoxicação digitálica, e que os círculos luminosos que acompanham os objetos iluminados poderiam ser resultados de um glaucoma. Essa é uma das teorias que explica as formas existentes em seu quadro “A noite estrelada”. O amarelo para Van Gogh é luz e desespero. A luz é quando ele representa o sol que o consome pelo excesso de luminosidade e o desespero e pela luta interior que era para ele representar a sensação que o sol lhe proporcionava. As duas cores têm significados quase opostos, enquanto um se refere a frieza, tristeza, tranqüilidade, o outro se relaciona com felicidade, vida, luz... quando Van Gogh faz a junção desses elementos num elemento noturno e mostra o quão paradoxal é sua obra, é a busca da luz na escuridão, ele transforma o menor ponto de luz num enorme espiral de brilho.
O SUBLIME O termo sublime (do latim sublimis, "que se eleva" ) entrou em uso no século XVIII, antes do nascimento de Van Gogh, o termo indicaria uma nova categoria estética, que se assinalava do belo e do pitoresco. O sublime provoca reações estéticas na qual a sensibilidade se volta para aspectos admiráveis e grandiosos da natureza, o que era considerado um ambiente hostil e misterioso, que desenvolve no indivíduo um sentido de solidão, passa ser considerado algo além do belo, um elemento que transcende.
O termo passou a ter aceitação maior após 1674, quando foi publicada a tradução francesa de Nicolas Boileau do Tratado sobre o sublime, escrito por um anônimo designado pelos modernos como Pseudo Longino. Como conceito estético, o sublime designa uma qualidade de extrema amplitude ou força, que transcende o belo. O sublime é ligado ao sentimento de inacessibilidade diante do incomensurável. Como tal, o sublime provoca espanto, inspirado pelo medo ou respeito. Edmund Burke e Kant defendem que a beleza não é o único valor estético. Diante da uma tempestade, o sentimento seria do sublime, mais que do belo. Nascido da vontade de exprimir o inexprimível, o gosto pelo sublime prevalece sobre o gosto pelo belo. O sublime provoca espanto e apreciação ao mesmo tempo. Dentro do conceito do “sublime” trabalho no livro História da feiúra de Umberto eco pude identificar elementos que dialogam com a obra elaborada por Vincent. Kant descreve o sublime como algo ligado ao assombroso, profundo, aquilo que provoca comoção. “O sublime comove, o belo estimula” ou encanta. (Kant, 1764, Observações sobre o sentimento do belo e do sublime, p.21.) Freud cita a beleza sublime como sendo algo para além do belo ideal imaculado, estático, especular, homo, temos o sublime que transita entre a vida e a morte, marcado pelo tempo, pelo paradoxo humano, pela divisão subjetiva, indicando então a diferença radical, o singular, o héteros. Adolfo S. Vázquez, professor da Universidade Nacional Autônoma do México, diz que “neste sentido, são sublimes um furacão, uma catarata, o céu estrelado ou o imenso deserto, assim como o comportamento dos homens que arriscam ou sacrificam sua vida por uma causa nobre” (VÁZQUEZ, 1999, p. 231). A noite estrelada tem movimento, não é uma obra estática, ela representa movimento, no centro da tela pode-se observar grandes espirais que se repetem como fractais da representação do vento da noite, as curvas tem dia e noite se misturando como se tudo fosse a mesma coisa, o azul e o amarelo, a luz e a sombra, o paradoxal. A noite estrelada em si já é sublime, mas não apenas ela, mas a forma como ela foi representada pelo artista, trata-se de algo além do observável, a noite estrelada é vista e mostrada pelos olhos do artista, quando se cogita a possibilidade de que a forma como as estrelas são pintadas se deve a um possível glaucoma, toda a interpretação muda, a tela não é uma representação nua e crua do fato, mas um fato filtrado pelos olhos do outro, por isso que é sublime, pela forma quase trágica como a noite se dava diante dos olhos dele, é a forma que ele via e sentia a noite e as estrelas. No filme “sede de viver” Um dialogo é travado a respeito da tela e da cor amarela que está sendo colocada na tela: Uma freira que tratava de Vincent elogia o trabalho e pergunta se o ceifeiro que ele pintara é fruto da imaginação, logo ele responde que: aquela figura é representação de qualquer homem que se esforce no calor pra terminar o seu trabalho, é a figura da morte. Ela interrompe dizendo: Não parece uma morte triste? Ele responde: Não, acontece em plena luz do dia com o sol castigando tudo numa luz de ouro puro. Noutro trecho que foi dito pelo próprio Vincent ele diz que o amarelo sempre tem duplo sentido, que significa luz e desespero. Uma série de afirmações paradoxais nos coloca diante do sublime de Van Gogh. Os quatro recortes de céus Observando as datas e a forma como os céus foram pintados, fiz um recorte de quatro trechos de telas de Vincent e pude observar como o olhar dele é lançado diante dos diversos acontecimentos astronômicos. Vincent era apaixonado por astronomia e acompanhava com freqüência as edições de periódicos de astronomia, era a revista de astronomia editada por Camille Flammarion. O fato analisado é que com o passar do tempo o vislumbre de Van Gogh pela noite apenas crescia, nas obras do terraço do café e a noite estrelada do Ródano é notável a timidez do olhar, no terraço do café as estrelas parecem intimidadas pelas luzes do terraço e quase não se vê o brilho esplendoroso dos olhos de Vincent. Na noite estrelada do Ródano o olhar já é lançado de outra forma, as estrelas já faíscam brilho na noite, ainda timidamente, ambos são da mesma época, 1888. Em 1889 e 1890 é que se torna notável a evolução desse olhar. Em noite estrelada as estrelas já são cheias de magnificência, são onze estrelas e uma lua que mais parece o sol, é sem dúvida a noite mais iluminada que já existiu. O caminho dos ciprestes, 1890 é, para mim, o auge da sublimação da noite, ela passa pelo estado sólido, líquido e gasoso entre 1888 e 1890. Se pudesse explicar cientificamente eu conjeturaria um estado de evolução de seu glaucoma, como conseqüência a evolução da sublimação da forma e do olhar, evolução também da forma de contemplar e de reproduzir a forma como ele sentia a noite.
O ANTECEDENTE DA CONCLUSÃO Quando iniciei minha busca pelos conteúdos que abordaria na analise estética pude me deparar diversas vezes com a mesma referencia musical, resolvi trazê-la, pois embora ele nunca vá explicar tudo, pois a obra e o artista são inexplicáveis, ela aborda referências de bastante relevância e que só pude compreender após a conclusão do trabalho, foi necessária muitas referencias para que eu pudesse compreender de fato o que a canção dizia, essa analise estética não seria a mesma se essa canção não existisse. Vincent- Don McLean Noite estrelada Pinte suas cores de azul e cinza Olhe os dias de verão Com olhos que conhecem a escuridão da minha alma Sombras nas colinas Desenhe as árvores e os narcisos Sinta a brisa e os arrepios de inverno Em cores na terra de neve Agora eu entendo O que você tentou me dizer E como você sofreu por sua sanidade E como você tentou os libertar Eles não queriam ouvir, eles não sabiam como Talvez eles te ouçam agora Noite estrelada Flores em fogo com chamas brilhantes Nuvens que giram em uma roxa neblina Refletem nos olhos azuis de Vincent Cores mudando de tom Campos matutinos de grãos âmbar Rostos cansados com dor São acalmados pelas mãos afetuosas do artista Porque eles não podiam te amar Mas mesmo assim seu amor era verdadeiro E quando não havia mais esperança Naquela noite estrelada Você tirou sua própria vida, como amantes geralmente fazem Mas eu poderia ter te falado, Vincent, Esse mundo nunca foi desenvolvido para pessoas tão bonitas quanto você Noite estrelada Retratos pendurados em paredes vazias Cabeças sem porta-retratos em paredes sem nomes
Com olhos que observam o mundo e não esquecem Como os estranhos que você conheceu Os homens acabados, com roupas rasgadas O espinho prateado de rosas sangrentas Está esmagado e quebrado, na neve virgem Agora eu acho que sei O que você tentou me dizer E como você sofreu por sua sanidade E como você tentou os libertar Eles não queriam ouvir Ainda não estão ouvindo Talvez nunca ouvirão Conclusão Dentro da analise estética usando como referencia a história da feiúra senti-me desafiada a abordar algo que pra mim é belo, mas apenas com o conhecimento dos diversos conceitos abordados no livro é que pude perceber que o artista e a obra que escolhi transcendem o conceito de belo. Desfiz-me de pré-conceitos quando li história da feiúra, principalmente no capítulo que aborda “o sublime” nesse capitulo pude aprender que aquilo que muitas vezes eu considerava como belo, mas que sentia que o termo belo era pequeno demais para explicar, na verdade não era apenas belo, era mais que belo, transcendia o belo, era o sublime, o que provoca admiração e sobressalto, é que mesmo sendo perigoso não deixa de ser belo, um furação, trovões... Vincent Van Gogh conseguiu expressão graficamente o sublime, a sua forma de olha e sentir o mundo, nos fazendo refletir sobre o brilho de cada estrela e sobre cada pincelada da tela.
Análise do estilo Temática
O tema principal de seus primeiros trabalhos é o camponês. Entre 1881 e 1885, quando se iniciou na pintura, Van Gogh pintou uma série de desenhos e quadros, cujo máximo momento foi Os comedores de batata. As preocupações moralistas e religiosas do autor traduziram-se no profundo amor que sentia pelas personagens humildes e desamparadas dos camponeses holandeses. Desde que havia tentado ser pregador religioso nas minas de carvão do Borinage, a miséria destes havia impregnado sua imaginação e senso de solidariedade. As telas são tecnicamente soturnas, de cores escuras, marrons e preto, dentro de uma tendência realista social. (Na ilustração à esquerda, Auto-retrato, 1886-7, óleo sobre cartão, Art Institute, Chicago). Sua temática posterior à chegada em Paris (1886) é totalmente determinada pelos seus objetivos estéticos e técnicos. Se ele vê na cor a razão maior de sua expressão, verdadeiro veículo simbólico da espiritualidade, Van Gogh vai pintar, por exemplo, girassóis, onde a explosão do amarelo parece um retrato exato de seu turbulento universo espiritual. Se a pincelada remoinhante é sua marca, serão os ciprestes e os trigais, por exemplo, a expressão maior na natureza de seu ritmo gestual que ascende como chama. O interesse pelo ser humano nunca o abandonou. Uma grande série de retratos, alguns deles verdadeiras obras-primas, formam uma galeria de penetrante desvelar da alma alheia. Sem condescender com o retratado, nem tampouco aviltá-lo, Van Gogh revela com carinho os desvãos da alma, por onde tantos se deixam levar. Assim, também, deve-se reservar atenção cuidadosa aos seus vários autoretratos. Como o outro grande mestre holandês, Rembrandt, Van Gogh vê no
auto-retrato uma forma de auto-conhecimento. Inúmeros, eles descrevem seus variados sentimentos e momentos de vida. São um dos conjuntos de pinturas mais angustiantes da história da arte. Um ponto é particularmente intenso: os olhos, penetrantes, ao final da vida descrentes, não nos olham, mas atravessam pelo observador em busca do espírito, da compaixão.
A pincelada Van Gogh intensificou a marca do pincel como recurso expressivo. O gesto criador foi valorizado principalmente pelos românticos (Delacroix, por exemplo), os quais evitavam o acabamento polido das superfícies das suas pinturas. Van Gogh recebeu esta qualificação técnica através da arte impressionista, especialmente o uso pontilhista da cor de Seurat. Em seus últimos anos, Van Gogh chegou a empregar a tinta diretamente do tubo sobre a superfície da tela, o que ocasionava um espesso impastede tinta.
Aplicadas em cores puras, as pinceladas são justapostas lado a lado, em uma trama que, ao final de sua vida, ganha um ritmo alucinante. Como verdadeiros jorros de tinta espatulada, as pinceladas eletrizam a superfície da tela, movimentam os ciprestes, atormentam os auto-retratos. Uma imaginação exasperada e uma urgência de sentimento move sua mão, o que atesta a imensa quantidade de quadros produzidos em pouco tempo. A superfície rude resultante de tal técnica é, inesperadamente, o suporte ideal para uma alma tão apaixonada. Ao invés de grosseira, sua pincelada é extática. (Na ilustração à direita, Estrada com cipreste e estrela, 1890, óleo sobre tela, 92x73 cm, Rijksmuseum Kröller-Müller, Otterlo, onde são visíveis as marcas das pinceladas de Van Gogh)
A cor
Cores demais vivenciamos em nosso dia a dia. Qualquer loja de material artístico vende tubos e tubos dos mais variados matizes. Mas a cor de Van Gogh é mais do que esta variedade caótica de matizes. Olhando suas pinturas, parece-nos que a profusão é a maior virtude. Ledo engano. Lendo seus escritos, especialmente as cartas que deixou para o irmão, Theo, aprendemos que acreditava na ressonância profunda de cada matiz na alma humana. Para Van Gogh, cada cor era o símbolo de uma paixão. (Na ilustração à esquerda,Quatorze girassóis em um vaso, 1888, óleo sobre tela, 93x73 cm, National Gallery, Londres Exemplo da intensidade do uso da cor por Van Gogh). Como o interior do Café noturno, as personagens são descritas não pela sua aparência exterior, mas pelos contrastes de cores complementares que habitam seu universo interior, subjetivo. Assim o par vermelho e verde das paredes e do teto, intensificados pelo amarelo do piso, não permite a entrada de ar neste ambiente de perdição. Tudo está em suspenso, até mesmo a luz parece ter dificuldades em disseminar-se, ficando imóvel, próxima à lâmpada a gás. Parece que o amarelo tinha a sua preferência. Predomina o amarelo na maioria de suas grandes obras, assim como é amarelo o trigal que pintou nos últimos dias antes de suicidar-se. O Trigal com corvos é uma síntese de amarelo sobre o qual pairam os urubus pretos em revoada, preto que é a ausência da cor, ausência da luz e da vida. Os comedores de batata
Van Gogh pinta esta tela em Nuenen, onde sua família morou por algum tempo. Pretendia retratar a dura realidade da vida camponesa, sua humildade e dignidade. Van Gogh realizou diversos estudos preparatórios para esta obra, não só da composição mas, também, dos personagens individualizados. Utiliza-se de poucas cores, variadas nos contrastes de claro e escuro. A tinta aplicada é espessa, com a pincelada talhando cada figura como se fosse feita de madeira. (Na ilustração à direita, Os comedores de batata, 1885, óleo sobre tela, 82x114 cm, Vincent van Gogh Museum, Amsterdã). O café noturno
Era um café situado na praça Lamartine, estabelecimento muito comum na Paris da época, dormitório para bêbados, mendigos e prostitutas. Van Gogh viveu ali durante algum tempo antes de se alojar na Casa Amarela. A posição do observador é bastante elevada, o que amplia a sensação de profundidade das linhas do piso. Também a posição da mesa de bilhar, perpendicular à linha de base do quadro, aprofunda o efeito de perspectiva. (Na ilustração à esquerda, O café noturno, 1888, óleo sobre tela, 70x89 cm, Yale University Art Gallery). O uso das cores complementares puras, especialmente o contraste entre vermelho e verde, torna o ambiente abafado, um universo fechado em si mesmo pela força das cores. Até mesmo a luz parece ter dificuldade em se movimentar pelo ar entumecido, ficando "ancorada", próxima aos lampiões. Das mesas visíveis, duas estão cobertas de copos e garrafas vazios, o que indica uma hora avançada da noite (o relógio marca 0h:14), em que muitos dos freqüentadores já foram embora do bar. Três mesas estão ocupadas e, em duas delas, na extrema esquerda e direita da pintura, as pessoas nada consomem.
Pela sua postura corporal, parece que já se acomodam para passar a noite, dormindo debruçados sobre as mesas. Ao fundo um casal conversa e bebe. À direita, um homem bebia e, ao que parece, levanta-se para posar para o artista. Olha para ele fixamente. As personagens são dispostas distantes umas das outras para aumentar a sensação de isolamento e solidão. Van Gogh escreveu a seu irmão que procurou expressar neste quadro "as terríveis paixões humanas com o vermelho e o verde", e que um café "é um lugar onde uma pessoa pode arruinar-se, enlouquecer ou cometer um crime". A noite estrelada
Este quadro é pintado quando da estadia do pintor em Saint Remy. Naquela época, o pintor esteve internado em um asilo psiquiátrico, onde realizou mais de 150 quadros. A tela é dividida horizontalmente pela linha do horizonte e verticalmente pelo cipreste. A cidade longínqua, de pequenas casas, contrasta fortemente com o cipreste em primeiro plano. As pinceladas são curvilíneas, e se integram de maneira rítmica sobre a superfície da pintura. Céu, cipreste e cidade integram-se em um movimento turbilhonante de luz e espiritualidade. (Na ilustração à direita, Noite estrelada, 1889, óleo sobre tela) Pai Tanguy
Tela do período parisiense do pintor. Tanguy era um comerciante de arte, amigo de Cézanne, Pissarro, Monet, entre outros. Tanguy conservou este retrato até o final da vida, prova da amizade que reuniu a
ambos. A salientar, na tela, o fundo, atrás da personagem, recoberto de estampas japonesas, que desempenharam importante papel nas artes européias do final do século XIX. Van Gogh as admirava e chegou a ter uma coleção destas gravuras. A pincelada vigorosa e as cores intensas são indicações de seu estilo maduro de pintar. (Na ilustração à esquerda, Retrato de Pere Tanguy , 1887-8, óleo sobre tela, 92x75 cm, Museu Rodin, Paris). Retrato do Dr. Gachet
O dr. Gachet aqui retratado era um psiquiatra e pintor amador. Van Gogh trata-se com ele, e pinta este belo retrato. O médico tem uma expressão melancólica, os olhos azuis perdidos ao longe, amplificados pelo azul presente ao fundo. Toda a composição baseia-se na presença de várias diagonais. Uma, a da mesa sobre a qual debruça-se o personagem, é pintada de vermelho vivo e é quase paralela à diagonal produzida pela inclinação da cabeça do médico. Seus dois antebraços correspondem a duas diagonais paralelas, antagônicas à diagonal da mesa. As pinceladas são dramáticas, pesadas, especialmente no casaco. (Na ilustração à direita, Retrato do dr. Gachet , 1890-06, Museu d'Orsay). O quarto do artista em Arles
Aqui estão as três versões que o artista pintou deste tema. Van Gogh escreveu a seu irmão: 'a contemplação do quadro deve repousar a cabeça, ou melhor, a imaginação.' Todas as sombras são eliminadas e as cores puras são modeladas através da aplicação da tinta espessa. A perspectiva conduz o olhar para dentro da quarto e a janela, entreaberta, atrai a curiosidade do observador.
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A amizade de Gauguin
Os dois artistas desenvolveram uma amizade tumultuada pelos temperamentos fortes e obstinados. Os objetos sobre a cadeira de Gauguin parece que esperam pela volta do amigo. As velas eram acesas nas portas das casas para iluminar o retorno dos que haviam partido.
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A cadeira de Vincent com cachimbo, de Van Gogh 1888, óleo sobre tela, National Gallery, Londres
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Cadeira de Gauguin com livros e vela, de Van Gogh 1888, óleo sobre tela, Rijksmuseum Vincent Van Gogh, Amsterdã
A noite estrelada 1889 – Vincent Van Gogh O artista liberta-se de qualquer naturalismo no emprego das cores, declarando-se um colorista arbitrário. Van Gogh apaixona-se pelas cores intensas e puras sem nenhuma matização, pois têm a função de representar emoções. Cores fortes e linhas retorcidas, deformação proposital da realidade. O céu mostra uma avassaladora turbulência e a noite envolve tudo. Tudo está em movimento ondulante.Essa tela foi pintada de memória, durante o dia, enquanto o pintor estava internado num sanatório, olhando pela janela…. O fulgor do cipreste que sobe aos céus parece chamas, na busca da transcendência da alma humana. As estrelas que explodem resplandecem libertas de seu sentido original, o brilho que inspira os amantes apaixonados, causando-nos uma experiência estética que nos obriga vê-las diferentes.Elas parecem, assim como a lua, explodir de energia Nossos sentidos, ao olhar a obra, parecem estar despertos para o diferente, levando-nos a outras dimensões. O cipreste escuro compensa o brilho da lua no canto oposto, dando equilíbrio e nos obrigando a não sair das dimensões do quadro, fazendo um contraponto com a torre da aldeia. A forma dos objetos determina o ritmo das pinceladas, um ritmo alucinado e ondulante, indicador de emoção, determinação e força.Segundo Van Gogh, a noite é mais viva e mais ricamente colorida que o dia. Observar a tela é sentir como se alguém quisesse comungar com a natureza todo seu estado interior, deixando-se levar pelo infinito e buscando explicação para esse borbulhar de emoções que constantemente parece estar aprisionado dentro de um corpo que não consegue conter o que de fato lhe vai na alma. A sensação que temos é que, tranqüilidade e ternura estão presentes na aldeia por meio da presença humana e nos leva a perceber o contraste das casas humildes com o movimento efervescente das estrelas, que carregam junto de si a lua quarto minguante para o mesmo ondular, obrigando-a a fazer parte de um jogo alucinante e vertiginoso. Assim são as pessoas de alma forte, resistem, como a lua, ao movimento imposto pela vida, algumas vezes cruel, outras suave, mas certamente envolvente. Carregam consigo a força do cipreste, altivo e determinado por uma vontade que está acima de qualquer tormenta que a natureza possa lhe impor. São firmes e pacientes como a aldeia, que espreita o turbilhão, mas que aguarda serenamente o momento da calmaria, pois sabe que ela sempre chega. A tela nos dá a sensação de movimento constante, assim como os olhos de quem procura a comunhão com o outro e tem dentro de si um vulcão sempre pronto a entrar em erupção e que carrega consigo lua e estrelas,fruto de um viver ondulante que envolve a tudo e a todos. O tempo da tela é um tempo que agora está em nós, como alguém que invade todos os nossos espaços internos e externos, subjugando-nos de forma impiedosa ao tecido chamado vida.