Nicolau Maquiavel, o cidadão sem fortuna, o intelectual de virtù Os termos “maquiavelismo” e “maquiavélico” fazem parte tanto do discurso erudito quanto da fala do dia-a-dia. Eles se metamorfoseiam de acordo com os acontecimentos, já que podem ser apropriado por todos. Personificando o jogo sujo e sem escrpulos, tornaram-se mais fortes do que Maquiavel Maquiavel.. Por outro lado, !á a interpreta"#o de $aquiavel como defensor da li%erdade, ao oferecer consel!os para sua conquista ou prote"#o. Rousseau Rousseau,, por e&emplo, afirmou que $aquiavel deu grandes li"'es ao povo fingindo dá-las aos Pr(ncipes )Do )Do Contrato Social, Social , livro *, cap. +.
As Desventuras de um Florentino $aquiavel nasceu em loren"a em /* de maio de 0123. 4 +tália era ent#o uma série de pequenos Estados, sujei su jeita ta a con conflit flitos os e inv invas' as'es es co const nstant antes es por parte parte de es estra trang ngeir eiros. os. Em um cen cenári ário o em qu que e a mai maior or par parte te do dos s governantes n#o conseguia se manter no poder por mais de dois meses, $aquiavel passou a inf5ncia e adolesc6ncia. 4os 73 anos 8icolau e&erce um cargo de destaque na vida p%lica. 9om a deposi"#o de :avonar :avonarola, ola, que su%stitu(ra os $édicis, $aquiav $aquiavel el passa a ocupar a :egunda 9!ancelaria, 9!ancelaria, posi"#o de consideráv considerável el responsa%ilidade responsa%ilidade na administra"#o do Estado. ;uando os $édicis recuperaram o poder, em 0<07, $aquiavel foi demitido, proi%ido de a%andonar loren"a e ficava-l!e vedado o acesso a qualquer prédio p%lico. +mpedido de e&ercer sua profiss#o, dedica-se aos estudos. =esse retiro nasceram as o%ras do analista pol(tico> O Príncipe (151!151"#, Príncipe (151!151"#, Os Discursos Sobre a Primeira Década de Tito Lívio (151"!151$#, (151"!151$#, A A Arte da Guerra Guerra (151$!1 (151$!15%# 5%# e História de Florença (15%!155# Florença (15%!155#.. &screveu ainda a com'dia A com'dia A andr!"ora,, uma io)rafia sore Castruc andr!"ora Castruccio cio Castracani e Castracani e uma cole"#o de poesias e ensaios literários. Em 0<7/, a ?niversidade ?niversida de de loren"a encarrega-o encarrega-o de escrever so%re loren"a. 9om a queda dos $édicis em 0<7@ e a restaura"#o da rep%lica, $aquiavel é identificado pelos repu%licanos como alguém relacionado com os tiranos depostos, já que rece%era deles a tarefa de escrever so%re a cidade. Ariste, adoece e morre em jun!o.
A *erdade &fetiva das Coisas 4 preocup preocupa"#o a"#o de $aquiave $aquiavell em todas as suas o%ras é o Estado realB rejeita a tradi"#o idealista de +latão, Aristteles e Santo -omas de Aquino . :eu ponto de partida e de c!egada é a realidade concreta, a verdade efetiva e$$etuale. O pro%lema central de sua análise pol(tica é desco%rir como pode ser resolvido o inevitável das coisas )verit# )verit# e$$etuale. ciclo de esta%ilidade e caos, como fazer reinar a ordem para que seja instaurado um Estado estável. $aquiavel representa uma nova articula"#o so%re o pensar e fazer pol(tica ao por fim C ideia de uma ordem natural e eterna. 4 ordem, produto necessário da pol(tica, deve ser constru(da para se evitar o caos e a %ar%árie e, uma vez alcan"ada, alcan"ad a, deve ser mantida. Para con!ecer $aquiavel, $aquiavel, é preciso suportar a ideia da incerteza, da conting6ncia, de que nada é estável e que o espa"o da pol(tica se constitui e é regido por mecanismos distintos dos que norteiam a vida privada.
Nature.a /umana e /istria 4o analisar a !istDria e sua prDpria e&peri6ncia como funcionár funcionário io do Estado, conclui que !á tra"os !umanos imutáveis. :#o atri%utos negativos )como a simula"#o, covardia ingratid#o, etc. que comp'em a natureza !umana e mostram que o conflito e a anarquia s#o seus desdo%ramentos necessários. O estudo do passado é, desta forma, uma privilegiada fonte de ensinamentos, um desfile de fatos dos quais se deve e&trair as causas e os meios utilizados para enfrentar o caos resultante da e&press#o da natureza !umana.
4 !istDria é c(clica> a ordem sucede C desordem que clama por uma ordem n#o !á meios a%solutos para “domesticar” a natureza !umana. O poder pol(tico aparece como a nica possi%ilidade de enfrentar o conflito, ainda que qualquer forma de “domestica"#o” seja precária e transitDria.
Anarquia 0 +rinciado e Re2lica $aquiavel soma outro fator de insta%ilidade C desordem proveniente da natureza !umana> a presen"a, em todas as sociedades, de duas for"as opostas, o desejo do povo de n#o ser dominado e oprimido pelos grandes e o desejo dos grandes de dominar e oprimir o povo. O pro%lema pol(tico é encontrar mecanismos que impon!am esta%ilidade e sustentem uma determinada correla"#o de for"as. Fá %asicamente duas respostas C anarquia decorrente da natureza !umana e do confronto entre os grupos sociais> o Principado e a Gep%lica. 4 escol!a entre uma e outra forma institucional depende da situa"#o concreta. ;uando a na"#o encontra-se amea"ada de deteriora"#o, é necessário um governo forte para ini%ir a vitalidade das for"as desagregadoras e centr(fugas. O pr(ncipe é um fundador do Estado, um agente da transi"#o numa fase em que a na"#o se ac!a amea"ada de decomposi"#o. ;uando a sociedade encontra formas de equil(%rio, o poder pol(tico cumpriu sua fun"#o “educadora”, ela está preparada para a Gep%lica, que o pensador tam%ém c!ama de “li%erdade”, onde o povo é virtuoso, as institui"'es s#o estáveis e os conflitos s#o fonte de vigor, sinal de cidadania ativa e, portanto, desejáveis.
*irtù 0 Fortuna 4 atividade pol(tica é uma prática do !omem sujeito da !istDria, que e&ige virtù, o dom(nio so%re a fortuna. $aquiavel inicia o penltimo cap(tulo de O Príncipe referindo-se C cren"a no destino )ortuna como for"a da provid6ncia divina, sendo o !omem impossi%ilitado de alterar o seu curso. =epois, atri%ui ao livre-ar%(trio grande influ6ncia Cs a"'es !umanas, a li%erdade do !omem é capaz de amortecer o suposto poder incontrastável da ortunaB o poder, !onra, glDria s#o %ens pelos quais o !omem de virtH luta para conquistar a ortuna. =esta forma, o poder está relacionado C sa%edoria do uso, C forma virtuosa de usar a for"a, n#o C for"a %ruta, que permite a conquista, mas n#o a manuten"#o do poder. 4 for"a e&plica o fundamento do poder> deve !aver mais nos dom(nios recém-adquiridos do que naqueles !á longo tempo acostumados ao governo de um pr(ncipe e sua fam(lia. Porém, é a posse da virtH a c!ave para o sucesso do pr(ncipe, que é a manuten"#o da conquista. Para isso, o pr(ncipe deve guiar-se pela necessidade, sa%er associar v(cios C virtù, con!ecer os meios de n#o ser %om e fazer o uso deles caso precise, sem dei&ar de aparentar possuir as qualidades valorizadas pelos governados. Os meios para vencer as dificuldades e manter o Estado, para $aquiavel, nunca dei&ar#o de ser julgados !onrosos. O mito, na o%ra de $aquiavel, é desmistificado. Gecupera as quest'es que jazem pacificadasB ao fazer isso, su%verte as concep"'es esta%elecidas e instaura a modernidade no pensar a pol(tica. Ele pagou em vida pelo risco da desmistifica"#o. 4o ser transformado em mito, é novamente vitimizado. Gesgatar a o%ra é o que se deve a 8icolau $aquiavel, o cidad#o sem fortuna, o intelectual de virtù.