Editora Globo, 2007 Monteiro Lobato sob licença da Monteiro Lobato Licenciamentos, 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada apr opriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer orma ou meio, se!a eletr"nico, de otoc#pia, $ravaç%o etc, sem a permiss%o dos detentores dos cop&ri$hts. Ediç%o' (r)ete (lonso *coordenaç%o+, ec)lia -assarani, Luciane rt)/ de astro Ediç%o de (rte' (driana -ertolla ilveira onsultoria epesquisa' Mareia amar$os, 1ladimir acchetra reparaç%o de te3to' Mar$" Ne$ro 4evis%o' M5rcio Guimar%es de (ra6!o e 5$ina )mpar roduç%o editorial' 2 Est6dio Gr5ico lustraç8es' aulo -or$es olori/aç%o das ilustraç8es' Eliana -or$es r9ditos das ima$ens' (cervo ia. da Mem#ria *capa * capa :eca Tatu/inho, p5$ina 7+; (cervo am)lia Monteiro Lobato *otos de Monteiro Lobato, p5$inas < e =, capa de (s 4einaç8es de Nari/inho, p5$ina =+; -iblioteca Monteiro Lobato > %o aulo *capa e p5$ina ilustrada de Nasino, p5$ina ? @ados nternacionais de atalo$aç%o na ublicaç%o *+ *Amara -rasileira do Livro, , -rasil+ Lobato, Monteiro, B==2>BCD=. Mem#rias da Em)lia Monteiro Lobato; ilustraç8es aulo -or$es. > %o aulo ' Globo, 2007. -N C7=>=?>2?0>DFC=>< B. Literatura inanto>!uvenil . -or$es, aulo. 07>CBB< @@>02=.? )ndices para cat5lo$o sistem5tico' B. Literatura inantil 02=.? 2. Literatura inanto>!uvenil 02=.? B Ediç%o > i mpress%o Ediç%o > mpress%o Monteiro Lobato :os9 -ento Monteiro Lobato *Taubat9, B=DB==2 > %o aulo, D7BCD=+. Escritor, !ornalista, editor, tradutor, empres5rio do erro e do petr#leo. Estudou @ireito, mas lo$o abandonou a proiss%o para se dedicar H literatura. Iundador da ind6stria editorial no a)s, tornou>se, com as hist#rias do )tio do icapau (marelo, um dos maiores autores inanto>!uvenis do -rasil. Editora Globo ( (v (v. :a$uar9. B.D=? > inventor do nosso a/>de>conta B=DB=22 BC0? inicia o namoro com Maria da ure/a Natividade, ure/inha,comquemse casa em BC0=. @urante sua inAncia, Monteiro Lobato passava horas brincando, subindo em 5rvores e pescando no riacho. Mas ele n%o dispensava um bom livro de aventuras, que lia
na bibl biblio iote teca ca do seu seu av". av". @e @esd sdee peq peque ueno, no, escre escreve veuu para para os !orna !ornai/ i/in inho hoss do doss col9 col9$i $ios os que reqJentou. ontinuou escrevendo depois de ormado em @ireito e, em ve/ de trabalhar como advo$ado, tornou>se escritor, criando o )tio do ica>pau (marelo. Mas o que tinham os seus livros de t%o especial para transorm5>lo em um dos nossos maiores autores, inventor da pr#pria literatura inanto>!uvenil no a)sK ansado de 5bulas importadas, ambientadas na Europa e tradu/idas para o portu$us de modo conuso, Monteiro Lobato ima$inou um cen5rio especial e bem brasileiro para seus persona$ens. E, para p ara conquistar os leitores, contou co ntou hist#rias h ist#rias de maneira man eira simples e direta, 5ceis de compreender. omo nossa l)n$ua est5 em constante mudança, certas palavras que utili/ou dei3aram de ser usadas com o passar do tempo. Mas todas elas continuam mantidas, tal qual ele escreveu em seus livros. uando voc n%o entender al$uma delas, pe$ue um dicion5rio e aça uma pesquisa como, ali5s, o pr#prio Lobato a/ia. Ele preocupava>se tanto com o uso correto das palavras que leu um dicion5rio in>teirinho, de ( a , anotando o que ia descobrindo descob rindo para utili/ar depois em seus livros. Monteiro Lobato respeitava a inteli$ncia das crianças e dos !ovens. No )tio do icapau (marelo toda a turma tem ve/ e tem vo/. s netos de @ona -enta s%o sempre ouvidos com carinho, convivendo com os adultos de i$ual para i$ual. omum nos dias de ho!e, essa atitude era impens5vel na 9poca de Lobato. uando ele criou suas hist#rias, no começo do s9culo OO, os pais alavam e os ilhos obedeciam sem dar um pio. N%o questionavam os adultos, nem di/iam o que pensavam. Ioi ele quem ensinou como todo mundo podia sair $anhando com o di5lo$o. edrinho, Nari/inho e a incr)vel boneca Em)>lia, PbocudaP e palpiteira como ela s#, conversam com os mais velhos livremente. Talve/ Talve/ por isso, desde o lançamento de ( menina do nari/inho arrebitado, arrebitado, no inal de BC20, Lobato venha a/endo tanto sucesso. (s crianças adoram o espaço de liberdade e ima$inaç%o que o )tio representa, onde aprendem brincando sobre qualquer assunto. Monteiro Lobato $ostava muito de escrever para crianças e !ovens e, com o p# de pirlimpimpim, soltou as amarras da antasia. Nas asas da ima$inaç%o seus leitores via!am com a turma do )tio atrav9s do tempo e do espaço. ( uma velocidade superior H da lu/, voam ao passado ou ao uturo para voltar sempre cheios de novidades. Em suas aventuras encontram deuses $re$os, convivem com a -ranca de Neve, eter an, @om ui3ote, Gato I9li3... %o hist#rias que divertem e atiçam a curiosidade. N%o 9 H toa que sempre ica um $ostinho de quero mais... Mareia amar$os e 1ladimir acchetta BC27 Nomeado adido comercial em Nova QorR, muda>se para os Estados Snidos. 1olta ao -rasil em BCFB. BCF2 (s atividades de sua primeira empresa de peruraç%o de oços de petr#leo tm in)cio. BCD0 condenado a seis meses de pris%o. D7BCD= criador do )tio do icapau (marelo morre em %o aulo, !eito emiliano de ser Todo mundo concorda com a importAncia de recordar os atos da vida. em isso n%o saber)amos quase nada sobre o passado da humanidade. s $randes persona$ens da ist#ria, com mai6sculo, sempre tiveram o cuidado de dei3ar re$istradas suas $l#rias e conquistas para as $eraç8es uturas. (s pessoas comuns tamb9m tm muita coisa interessante
na bibl biblio iote teca ca do seu seu av". av". @e @esd sdee peq peque ueno, no, escre escreve veuu para para os !orna !ornai/ i/in inho hoss do doss col9 col9$i $ios os que reqJentou. ontinuou escrevendo depois de ormado em @ireito e, em ve/ de trabalhar como advo$ado, tornou>se escritor, criando o )tio do ica>pau (marelo. Mas o que tinham os seus livros de t%o especial para transorm5>lo em um dos nossos maiores autores, inventor da pr#pria literatura inanto>!uvenil no a)sK ansado de 5bulas importadas, ambientadas na Europa e tradu/idas para o portu$us de modo conuso, Monteiro Lobato ima$inou um cen5rio especial e bem brasileiro para seus persona$ens. E, para p ara conquistar os leitores, contou co ntou hist#rias h ist#rias de maneira man eira simples e direta, 5ceis de compreender. omo nossa l)n$ua est5 em constante mudança, certas palavras que utili/ou dei3aram de ser usadas com o passar do tempo. Mas todas elas continuam mantidas, tal qual ele escreveu em seus livros. uando voc n%o entender al$uma delas, pe$ue um dicion5rio e aça uma pesquisa como, ali5s, o pr#prio Lobato a/ia. Ele preocupava>se tanto com o uso correto das palavras que leu um dicion5rio in>teirinho, de ( a , anotando o que ia descobrindo descob rindo para utili/ar depois em seus livros. Monteiro Lobato respeitava a inteli$ncia das crianças e dos !ovens. No )tio do icapau (marelo toda a turma tem ve/ e tem vo/. s netos de @ona -enta s%o sempre ouvidos com carinho, convivendo com os adultos de i$ual para i$ual. omum nos dias de ho!e, essa atitude era impens5vel na 9poca de Lobato. uando ele criou suas hist#rias, no começo do s9culo OO, os pais alavam e os ilhos obedeciam sem dar um pio. N%o questionavam os adultos, nem di/iam o que pensavam. Ioi ele quem ensinou como todo mundo podia sair $anhando com o di5lo$o. edrinho, Nari/inho e a incr)vel boneca Em)>lia, PbocudaP e palpiteira como ela s#, conversam com os mais velhos livremente. Talve/ Talve/ por isso, desde o lançamento de ( menina do nari/inho arrebitado, arrebitado, no inal de BC20, Lobato venha a/endo tanto sucesso. (s crianças adoram o espaço de liberdade e ima$inaç%o que o )tio representa, onde aprendem brincando sobre qualquer assunto. Monteiro Lobato $ostava muito de escrever para crianças e !ovens e, com o p# de pirlimpimpim, soltou as amarras da antasia. Nas asas da ima$inaç%o seus leitores via!am com a turma do )tio atrav9s do tempo e do espaço. ( uma velocidade superior H da lu/, voam ao passado ou ao uturo para voltar sempre cheios de novidades. Em suas aventuras encontram deuses $re$os, convivem com a -ranca de Neve, eter an, @om ui3ote, Gato I9li3... %o hist#rias que divertem e atiçam a curiosidade. N%o 9 H toa que sempre ica um $ostinho de quero mais... Mareia amar$os e 1ladimir acchetta BC27 Nomeado adido comercial em Nova QorR, muda>se para os Estados Snidos. 1olta ao -rasil em BCFB. BCF2 (s atividades de sua primeira empresa de peruraç%o de oços de petr#leo tm in)cio. BCD0 condenado a seis meses de pris%o. D7BCD= criador do )tio do icapau (marelo morre em %o aulo, !eito emiliano de ser Todo mundo concorda com a importAncia de recordar os atos da vida. em isso n%o saber)amos quase nada sobre o passado da humanidade. s $randes persona$ens da ist#ria, com mai6sculo, sempre tiveram o cuidado de dei3ar re$istradas suas $l#rias e conquistas para as $eraç8es uturas. (s pessoas comuns tamb9m tm muita coisa interessante
a contar. or meio dos seus relatos, descobrimos detalhes e curiosidades sobre o cotidiano dos povos. Mas ser5 que al$u9m t%o no vinho quanto qua nto a Em)lia !5 tem assunto para um livro de mem#riasK Na verdade, a boneca !5 passou por tantas situaç8es surpreendentes que poderia encher uma estante inteira de volumes. ara n%o cansar as m%o/inhas delicadas, dita para o 1isconde de abu$osa suas proe/as !unto com a turma do )tio do icapau (marelo. (o (o lon$o destas p5$inas, p5$ inas, cheias de ilustraç8es coloridas, vamos acompanhando passo a passo as andanças da Marquesa de 4abic#, desde que PnasceuP do retalho de uma saia de Tia Nast5cia e $anhou o dom da ala. aciente, o sabu$o de milho toma nota de tudo e mostra que Monteiro Lobato antecipava o costume moderno de dar depoimentos a !ornalistas e escritores. No inal, a pr#pria Em)lia pe$a a caneta para contar suas açanhas em oll&Uood, a amosa cidade das estrelas de cinema, que ela visitou ao lado de eter an e da (lice do a)s das Maravilhas. omo se isso n%o bastasse, ainda ilosoa, e3pondo suas impress8es sobre tudo e todos, sempre naquele seu !eito PemilianoP de ser e raciocinar. M. . e 1. . Em)lia resolve escrever suas Mem#rias. (s diiculdades do começo. @e tanto Em)lia alar em Pminhas Mem#riasP que uma ve/ @ona -enta per$untou' > Mas, ainal de contas, bobinha, que 9 que voc entende por mem#riasK > Mem#rias s%o a hist#ria da vida da $ente, com tudo o que acontece desde o dia do nascimento at9 o dia da morte. > Nesse caso > caçoou @ona -enta >, uma pessoa s# pode escrever mem#rias depois que morre... > Espere > disse Em)lia. > escrevedor de mem#rias vai escrevendo, at9 sentir que o dia da morte vem vindo. Ent%o p5ra; dei3a o inal/inho sem acabar. Morre sosse$ado. > E as suas Mem#rias v%o ser assimK > N%o, porque n%o pretendo morrer. Iin!o que morro, s#. (s 6ltimas palavras tm de ser estas' PE ent%o morri...P, com reticncias. Mas 9 peta. Escrevo isso, pisco o olho e sumo atr5s do arm5rio para que Nari/inho ique mesmo pensando que morri. er5 a 6nica mentira das minhas Mem#rias. Tudo mais verdade pura, da dura > ali na batata, como di/ edrinho. @ona -enta sorriu. > 1erdade 1erdade puraV Nada mais di)cil do que a verdade, Em)lia. > -em sei > disse a boneca. > -em sei que tudo na vida n%o passa de mentiras, e sei tamb9m que 9 nas mem#rias que os homens mentem mais. uem escreve mem#rias arruma as coisas de !eito que o leitor ique a/endo uma alta id9ia do escrevedor. Mas para isso ele n%o pode di/er a verdade, porque sen%o s en%o o leitor ica vendo que era um homem i$ual aos outros. Lo$o, tem de mentir com muita manha, para dar id9ia de que est5 alando a verdade pura. @ona @o na -ent -entaa espa espant ntou> ou>se se de que uma uma simp simple less bon boneq equi uinh nhaa de pano pano and andass assee com id9i id9ias as t%o t%o ilos#icas. > (cho $raça nisso de voc alar em verdade e mentira como se realmente soubesse o que 9 uma coisa e outra. (t9 :esus risto n%o teve Animo de di/er o que era a verdade. uando "ncio ilatos lhe per$untou' Pue 9 a verdadeKP, ele, que era risto, achou melhor calar>se. N%o deu resposta. > ois eu seiV > $ritou Em)lia. > 1erdade 9 uma esp9cie de mentira bem pre$ada, das que nin$u9m desconia. # isso.
@ona -enta calou>se, a reletir naquela deiniç%o, e Em)lia, no maior assanhamento, correu em busca do 1isconde 1isconde de abu$osa. omo n%o $ostasse de escrever com a sua m%o/inha, queria escrever com a m%o do 1isconde. > 1isconde > disse ela >, venha ser meu secret5rio. 1e!a papel, pena e tinta. 1ou começar as minhas Mem#rias. sabu$uinho cient)ico sorriu. > Mem#riasV ois ent%o uma criatura que viveu t%o pouco !5 tem coisas para contar num livro de mem#riasK sso 9 para $ente velha, !5 perto do im da vida. > Iaça o que eu mando e n%o discuta. 1e!a papel, pena e tinta. 1isconde 1isconde trou3e papel, pena e tinta. tinta. entou>se. entou>se. Em)lia preparou>se para ditar. ditar. Tossiu. Tossiu. uspiu e en$as$ou. N%o sabia como começar > e para $anhar tempo veio com e3i$ncias. > Esse papel n%o serve, enhor 1isconde. uero papel cor do c9u com todas as suas estrelinhas. Tamb9m a tinta n%o serve. uero tinta cor do mar com todos os seus pei3inhos. E quero pena de pato, com todos os seus patinhos. 1isconde er$ueu os olhos para o teto, resi$nado. @epois alou; e/>lhe ver que tais e3i$ncias eram absurdas; que ali no s)tio de @ona -enta n%o havia patos, nem o tal papel, nem a tal tinta. > Ent%o n%o escrevoV > disse Em)lia. > ua alma, sua palma > murmurou o 1isconde. > e n%o escrever, melhor para mim. W boaV... Em)lia, ainal, concordou em escrever as Mem#rias naquele papel da casa, com pena comum e tinta de @ona -enta. Mas !urou que havia de imprimi>las em papel cor do c9u, tinta cor do mar e pena de pato. 1isconde 1isconde disparou na $ar$alhada. > mprimir com pena de patoV W boaV... mprime>se com tipos, n%o com penas. > ois se!a > tornou Em)lia. > mprimirei com tipos de pato. 1isconde er$ueu novamente os olhos para o orro, suspirando. Estavam Estavam os dois echados no quarto dos badulaques. ervia de mesa um cai3%o/inho, cai3%o/inho, e de cadeira um ti!olo. Em)lia passeava de um lado para outro, de m%os Hs costas. a ditar. > 1amosV > disse ela depois de ver tudo pronto. > Escreva bem no alto do papel' PMem#rias da Marquesa de 4abic#P. Em letras bem $ra6das. 1isconde 1isconde escreveu' escreveu ' MEMX4( @( M(4SE( @E 4(-X > ($ora escreva' ap)tulo rimeiro. 1isconde escreveu e icou H espera do resto. Em)lia, de testinha ran/ida, n%o sabia como começar. sso de começar n%o 9 5cil. Muito mais simples 9 acabar. in$a>se um ponto inal e pronto; ou ent%o escreve>se um latin/inho' IN. Mas começar 9 terr)vel. Em)lia pensou, pensou, e por im disse' > -ote um ponto de interro$aç%o; ou, antes, bote v5rios pontos de interro$aç%o. -ote seis... 1isconde 1isconde abriu a boca. > 1amos, 1isconde. -ote a) seis pontos de interro$aç%o > insistiu a boneca. > N%o v que estou indecisa, interro$ando>me a mim mesmaK E oi assim que as PMem#rias da Marquesa de 4abic#P principiaram de um modo absolutamente imprevisto' ap)tulo rimeiro
KKKKKKK Em)lia contou os pontos e achou sete. > orte um > ordenou. 1isconde deu um suspiro e riscou o 6ltimo ponto, dei3ando s# os seis encomendados. > -em > disse Em)lia. > ($ora ponha um... um... um... 1isconde escreveu trs uns, assim' B,B,B. Em)lia danou. > edacinho de asnoV N%o mandei escrever nada. Eu ainda estava pensando. Eu ia di/er que escrevesse um ponto inal depois dos seis de interro$aç%o. 1isconde começou a assoprar e a abanar>se. or im disse' > abe que mais, Em)liaK melhor 9 voc icar so/inha aqui at9 resolver deinitivamente o que quer que eu escreva. uando tiver assentado, ent%o me chame. @o contr5rio a coisa n%o vai. > W que o começo 9 di)cil, 1isconde. 5 tantos caminhos que n%o sei qual escolher. osso começar de mil modos. ua id9ia qual 9K > Minha id9ia > disse o 1isconde > 9 que comece como quase todos os livros de mem#rias começam > contando quem est5 escrevendo, quando esse quem nasceu, em que cidade etc. (s aventuras de 4obinson ruso9, por e3emplo, começam assim' PNasci no ano de B XtimoV > e3clamou Em)lia. > erve. Escreva' Nasci no ano de... *trs estrelinhas+, na cidade de... *trs estrelinhas+, ilha de $ente desarran!ada... > or que tanta estrelinhaK er5 que quer ocultar a idadeK > N%o. sso 9 apenas para atrapalhar os uturos historiadores, $ente muito me3eriqueira. ontinue escrevendo' E nasci duma saia velha de Tia Nast5cia. E nasci va/ia. # depois de nascida 9 que ela me encheu de p9talas duma cheirosa lor cor de ouro que d5 nos campos e serve para estuar travesseiros. > @i$a lo$o macela, que todos entendem. > -em. Nasci, ui enchida de macela que todos entendem e iquei no mundo eito uma boba, de olhos parados, como qualquer boneca. E eia. @i/em que ui eia que nem uma bru3a. Meus olhos Tia Nast5cia os e/ de linha preta. Meus p9s eram abertos para ora, como p9s de cai3eirinho de venda. abe, 1isconde, por que eles tm os p9s abertos para oraK > 5 de ser da raça > respondeu o 1isconde. > 4aça, nada. W o h5bito de icarem desde muito crianças $rudados ao balc%o vendendo coisas. Tm de abrir os p9s para melhor se encostarem no balc%o, e acabam icando com os p9s abertos para ora. Eu era assim. @epois ui melhorando. o!e piso para dentro. Tamb9m ui melhorando no resto. Tia Nast5cia oi me consertando, e Nari/inho tamb9m. Mas nasci muda como os pei3es. Sm dia aprendi a alar. > ei como oi a hist#ria > disse o 1isconde. > 1oc en$oliu uma alinha de papa$aio. > Est5 erradoV Nari/inho teve d# do papa$aio e n%o dei3ou que o matassem para tirar a alinha. Iiquei alante com uma p)lula que o c9lebre @outor aramu!o me deu. Nari/inho conta que a p)lula era muito orte de modo que iquei alante demais. (ssim que abri a boca, veio uma torrente de palavras que n%o tinha im. Todos tiveram de tapar os ouvidos. E tanto alei que es$otei o reservat#rio. ( ala ent%o icou no n)vel. > Tenha pacincia, Em)lia > disse o 1isconde. > Iicou muito acima do n)vel, porque a verdade 9 que voc ainda ho!e ala mais do que qualquer mulher/inha. > Mas n%o alo pelos cotovelos, como elas. # pela boca. E alo bem. ei di/er coisas en$raçadas e at9 ilos#icas. nda h5 pouco @ona -enta declarou que eu tenho
coisas de verdadeiro il#soo. abe o que 9 il#soo, 1iscondeK 1isconde sabia, mas in$iu n%o saber. ( boneca e3plicou' > W um bicho su!inho, caspento, que di/ coisas elevadas que os outros !ul$am que entendem e icam de olho parado, pensando, pensando. ada ve/ que di$o uma coisa ilos#ica, o olho de @ona -enta ica parado e ela pensa, pensa... > Iicam pensando o qu, Em)liaK > ensando que entenderam. 1isconde enru$ou a testinha e quedou>se uns instantes de olho parado, pensando, pensando. (quela e3plicaç%o era positivamente ilos#ica. > E como sou il#soa > continuou Em)lia > quero que minhas Mem#rias comecem com a minha ilosoia da vida. > uidado, MarquesaV Mil s5bios !5 tentaram e3plicar a vida e se estreparam. > ois eu n%o me estreparei. ( vida, enhor 1isconde, 9 um pis>ca>pisca. ( $ente nasce, isto 9, começa a piscar. uem p5ra de piscar, che$ou ao im, morreu. iscar 9 abrir e echar os olhos > viver 9 isso. W um dorme>e>acorda, dorme>e>acorda, at9 que dorme e n%o acorda mais. W, portanto, um pisca>pisca. 1isconde icou novamente pensativo, de olhos no teto. Em)lia riu>se. > Est5 vendo como 9 ilos#ica a minha id9iaK enhor 1isconde !5 est5 de olhos parados, er$uidos para o orro. uer di/er que pensa que entendeu... ( vida das $entes neste mundo, senhor sabu$o, 9 isso. Sm ros5rio de piscadas. ada pisco 9 um dia. isca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria ilhos; pisca e $eme os reumatismos; por im pisca pela 6ltima ve/ e morre. > E depois que morreK > per$untou o 1isconde. > @epois que morre vira hip#tese. W ou n%o 9K 1isconde teve de concordar que era. 1isconde começa a trabalhar para Em)lia. ist#ria do an!inho de asa quebrada. Nesse ponto um urro veio distrair>lhes a atenç%o. Era uindim, chamando Em)lia para uma prosa. > Escute, 1isconde > disse ela. > Tenho coisas muito importantes a conversar com uindim. Iique escrevendo. 15 escrevendo. Iaça de conta que estou ditando. onte as coisas que aconteceram no s)tio e ainda n%o est%o nos livros. > ( hist#ria do an!inho de asa quebrada serveK > inda$ou o 1isconde. > XtimoV Nin$u9m l5 ora sabe o que aconteceu por aqui com o an!inho que cacei na 1ia L5ctea. onte isso e mais outras coisas. que quiser. 15 contando, contando. > Mas assim as Mem#rias icam minhas e n%o suas, Em)lia. > N%o se incomode com isso. No im dou um !eito; aço como na P(ritm9tica...P. @isse e saiu correndo. 1isconde icou de pena no papel, a pensar, a pensar. or im começou' (N:N @E (( SE-4(@( (s crianças que leram 4einaç8es de Nari/inho com certe/a tamb9m leram a 1ia$em ao c9u, onde vem contadas as aventuras dos netos de @ona -enta, da Em)lia e tamb9m as minhas no pa)s dos astros. N%o recordarei, portanto, nada disso. # direi que houve l5 por cima tais estrepolias que os astr"nomos da Europa vieram quei3ar>se a @ona -enta das brincadeiras que estavam perturbando a harmonia celeste. @ona -enta, ent%o, nos chamou para bai3o com um bom berro' P@esçam !5 da), cambadaVP. @escemos todos, e com $rande espanto @ona -enta viu que Em)lia tinha tra/ido o an!inho de asa quebrada, que descobrira, muito triste da vida, l5 entre as estrelas.
Nin$u9m descreve o rebuliço que houve na casa. ( vida parou. s pintos icaram sem quirera. ( 1aca Mocha icou sem palhas. ei!%o queimou na panela. Nin$u9m queria saber de outra coisa sen%o ver, cheirar, apalpar e conversar com o an!inho. E havia ra/%o para isso, porque !amais descera ao mundo uma criatura t%o mimosa. W at9 di)cil dar id9ia da $alante/a daquela lor/inha das alturas. Muito louro, cabelos cacheados, olhos a/uis, asas mais brancas que as do cisne. omo era lindoV neli/mente uma das asas se partira no ossinho do encontro, o que o impedia de voar. neli/mente para ele; para n#s oi eli/mente. e n%o osse o quebramento da asa, Em)lia n%o o pe$aria e n#s n%o ter)amos o $osto de conhecer em pessoa aquele mimo dos c9us. Sma criatura do c9u n%o pode saber nada das coisas da terra, de modo que o an!inho se mostrou de uma i$norAncia absoluta de tudo quanto aqui por bai3o a $ente sabe at9 de cor. Teve de ir aprendendo com Em)lia, a proessora. > PYrvore, sabe o que 9KP > per$untava ela. E como o an!inho arre$alasse os olhos a/uis esperando a e3plicaç%o, Em)lia vinha lo$o com uma das suas. > PYrvore > di/ia > 9 uma pessoa que n%o ala; que vive sempre de p9 no mesmo ponto; que em ve/ de braços tem $alhos; que em ve/ de unhas tem olhas; que em ve/ de andar alando da vida alheia e se implicando com a $ente *como os tais astr"nomos+ d%o lores e rutas. Smas d%o pitan$as vermelhas; outras d%o laran!as doces ou a/edas > e 9 destas que Tia Nast5cia a/ doces; outras, como aquela enorme ali *as liç8es eram sempre no pomar+ d%o umas bolinhas pretas chamadas !abuticabas. 1amos, repita' !a>bu>ti>ca>ba...P an!inho atrapalhava>se e repetia errado' !a>ti>bu>ca>ba... a/endo Em)lia rolar de rir. (s per$untas do an!inho eram sempre de uma ininita in$enuidade. > PMas por que essas tais 5rvores nunca saem do mesmo lu$arKP > Porque tm ra)/es > e3plicava a Em)lia. > 4ai/ 9 o nome das pernas tortas que elas eniam pela terra adentro. -em que querem andar, as pobres 5rvores, mas n%o conse$uem. # saem do lu$ar/inho em que nascem quando sur$e o machado.P > Pue animal 9 esseKP > PMachado 9 o mudador das 5rvores, muda a orma delas, a/endo que o tronco e os $alhos iquem curtinhos. Muda>lhes at9 o nome. Yrvore machadada dei3a de ser 5rvore. assa a ser lenha. Lenha. 4epita.P > PW al$um deus esse machado t%o poderoso assimKP Em)lia ria>se, ria>se... > P@eus, nada, burrinhoV W antes um diabo malvad)ssimo, mas diabo sem chires, sem cauda, sem p9s de cabra, sem cabeça, sem braços, sem nada. # tem corte e cabo...P > Pue 9 caboKP > Pabo 9 uma perna s#, por onde a $ente se$ura. Iaca tem cabo. Garo tem cabo. -ule tem cabo *e bico tamb9m+. (t9 os pa)ses tm cabo, como aquele amoso abo da -oa Esperança que 1asco da Gama dobrou; ou aquele abo 4oque, da Guerra de anudos, um que morreu e viveu de novo. s e39rcitos tamb9m tm cabos. Tudo tem cabo, at9 os tele$ramas. ara mandar um tele$rama daqui H Europa os homens usam o cabo submarino.P an!inho icava de boca aberta, sem entender coisa nenhuma. > PEnt%o o ZsubmarZ tamb9m tem caboKP > Pomo n%oK E comprid)ssimos, que v%o dum continente a outro.P > PE 9 por esses cabos que a $ente pe$a no marKP
Em)lia ria>se, ria>se. pobre an!inho n%o tinha id9ia nenhuma das coisas da terra, porque sempre vivera no c9u, l5 nas nuvens. Em)lia era obri$ada a e3plicar tudo, tudo... > Ph > disse ela > voc n%o ima$ina como 9 interessante a l)n$ua que alamos aquiV (s palavras da nossa l)n$ua servem para indicar v5rias coisas dierentes, de modo que saem os maiores embrulhos. tal cabo, por e3emplo. ra 9 isto, ora 9 aquilo. 5 os cabos de aca, de bule, de panela, como eu !5 disse, que s%o as pontas por onde a $ente pe$a nesses ob!etos. 5 os cabos da $eo$raia, que s%o terras que se pro!etam mar adentro. 5 os cabos do e39rcito, que s%o soldados. 5 os cabos submarinos, que s%o uns ios de cobre comprid)ssimos por meio dos quais os homens passam tele$ramas dum continente a outro por dentro dos mares. E h5 um tal Zdar caboZ que 9 destruir qualquer coisa.P > PMas por que 9 assimKP > Para atrapalhar a $ente. Eu penso que todas as calamidades do mundo vm da l)n$ua. e os homens n%o alassem, tudo correria muito bem, como entre os animais que n%o alam. (s ormi$as e as abelhas, por e3emplo. Esses bichinhos vivem na maior ordem poss)vel, com suas comidinhas a hora e a tempo > e que comidasV mel 9 uma pereiç%o que voc nem sonhaV E3atinho da cor de seus cabelos, mas sem cachos; em ve/ de cachos tem avos. E qual o se$redo da elicidade desses animai>/inhosK Sm s#' n%o alam. No dia em que derem de alar, adeus ordem, adeus pa/, adeus melV ( l)n$ua 9 a des$raça dos homens na terra.P > Pe 9 assim, por que eles n%o cortam a l)n$uaKP Em)lia ria>se, ria>se. > Portar a l)n$uaK Essa palavra l)n$ua quer di/er duas coisas' um #r$%o da boca, onde est5 locali/ado o paladar e tamb9m a ala dos homens. 5 l)n$uas do 4io Grande, que vm em latas e servem para comermos e h5 as l)n$uas da alaç%o > a l)n$ua latina, a $re$a, a portu$uesa, a in$lesa. Estas n%o servem para comer > s# para armar bate>boca...P > Pue 9 issoKP > P-ri$as sonoras. (ntes de bri$ar com socos e tapas e tiros, as criaturas bri$am com desaoros.P > Pue 9 desaoroKP > P@esaoro 9 a/er certos elo$ios a uma pessoa. 1ou dar um e3emplo. Temos por aqui um animal chamado cachorro ou c%o, bicho de muito bons sentimentos, o mais ami$o do homem. W t%o dedicado e amoroso, que o consideram o s)mbolo da idelidade. W o c%o que $uarda os quintais contra os homens ladr8es. W o c%o que descobre a caça no mato. W o c%o que pu3a os tren#s nas re$i8es s# de $elo. W no c%o que o homem a/ e3perincias de laborat#rio. c%o 9 um colosso. ois bem. uando um homem compara outro homem ao c%o, di/endo ZTu 9s um c%oZ, o outro pu3a aca. @esaoro 9 isso...P > PN%o estou entendendo > murmurou o an!inho. > e o c%o 9 um animal com tais qualidades, chamar c%o a um homem devia at9 ser uma honra.P > Pois 9 coisa de pu3ar aca ou dar tiro. utro e3emplo. 5 por aqui certo animal ainda mais precioso que o c%o > a vaca. ( maior maravilha de bondade e utilidade que e3iste no mundo 9 a vaca. @5 leite para os ilhotes dos homens. @5 quei!o. @5 mantei$a. (l9m disso d5 os be/erros, que crescem, viram bois e v%o pu3ar os carros dos homens e os arados com que eles reme3em a terra para a/er suas plantaç8es. @5 a carne com que os homens a/em bies e picadinhos. @5 o couro com que os homens
se calçam. @5 o mocot# com que as co/inheiras preparam as $el9ias, um doce $ostos)ssimo. @5 os ossos com que se a/em bot8es e mil coisas.P > PEnt%o 9 a maravilha das maravilhasVP > observou o an!inho, entusiasmado com a vaca. > Pe 9V T%o maravilha que em certos pa)ses, como no E$ito, a vaca era adorada, virou deusa. (l9m disso, a vaca 9 de uma docilidade ininita. -asta di/er que eu, que sou deste tamanhinho, aço o que quero da 1aca Mocha de @ona -enta. (quele animal%o me obedece em tudo > vai para l5, vem para c5, vira para a esquerda, vira para a direita > 9 s# eu alar com ela. E de medo de mim n%o 9, porque com uma chirada a Mocha me !o$a lon$e. or bondade apenas, por docilidade de $nio. ois muito bem. ( vaca 9 tudo isso que acabo de di/er e ainda muito mais. No entanto, se voc comparar a mais su!a ne$ra da rua com uma vaca, di/endo' Z1oc 9 uma vacaZ, a ne$ra rompe num escAndalo medonho e se estiver armada de rev#lver d5 tiro...P > Pue coisa interessanteVP > e3clamou o an!inho, assombrado. > PE vice>versa > continuou Em)lia. > 5 por aqui uns animais que s%o malvad)ssimos, umas verdadeiras pestes, como a tal cobra, que tem veneno nos dentes e o tal ti$re, que 9 est6pido e crudel)ssimo. Todos os homens tm tamanho #dio Hs cobras e aos ti$res que n%o podem ver um s# sem o destruir imediatamente. Mas se num verso um poeta compara uma mulher a uma cobra, di/endo, por e3emplo, que ela tem movimentos de serpente *serpente 9 o mesmo que cobra+, a Zelo$iadaZ rebola>se de $osto. E se um homem compara outro a um ti$re, este outro sorri. E3istiu na Irança um c9lebre lemenceau que oi apelidado o Ti$re. ensa que ele pu3ou acaK Nada disso. -abava>se todo quando o tratavam de ti$re. Mas osse al$u9m trat5>lo de c%o ou vacaV... (h, vinha tiro na certa...P an!inho ouvia, ouvia e icava a cismar. 4ealmente, era>lhe imposs)vel entender as coisas da terra. > PTodo o mal vem da l)n$ua > airmava a boneca. > E para piorar a situaç%o e3istem mil l)n$uas dierentes, cada povo achando que a sua 9 a certa, a boa, a bonita. @e modo que a mesma coisa se chama aqui de um !eito, l5 na n$laterra de outro, l5 na (lemanha de outro, l5 na Irança de outro. Sma trapalhada inernal, an!inho.P uem icava atrapalhado era o an!inho. Em)lia tinha um modo desnorteado de pensar. (ssim, por e3emplo, as suas c9lebres PasneirinhasP. Muitas ve/es n%o eram asneiras, eram modos dierentes de encarar as coisas, como quando e3plicou ao an!inho o caso das rutas do pomar. > PIrutas s%o bolas que as 5rvores penduram nos ramos, para re$alo dos passarinhos e das $entes. @entro h5 caldos ou massas de todos os $ostos. (s maç%s usam massas. (s laran!as usam caldo. E as pimentas usam um ardor que queima a l)n$ua da $ente.P > PEnt%o tm o$o dentroK Io$o 9 que queima.P Em)lia ria>se. > P(h, an!inhoV 1oc vai custar a compreender os se$redos da l)n$ua humana. Este ZqueimaZ 9 outro caso. ueimar 9 uma arte que s# o o$o a/, mas quando uma coisa arde na l)n$ua n#s di/emos que queima.P > PMas queima mesmoKP > PN%o queima, mas n#s di/emos assim. Sm 5cido que pin$amos na pele n#s tamb9m di/emos que queima. Sma lo!a que est5 em liquidaç%o n#s di/emos que est5 ZqueimandoZ as suas mercadorias. No brinquedo do esconde>esconde, quando o que est5 de olhos vendados che$a perto do escondido, n#s di/emos que est5 ZqueimandoZ.P > PEnt%o... ent%o... ent%o > di/ia o an!inho > a trapalhada deve ser medonha.P Em)lia ria>se, ria>se.
> PEu !5 estive no a)s da Gram5tica, onde todos os habitantes s%o palavras. E um dia hei de contar por mi6do como a Gram5tica lida com elas e conse$ue dar ordem ao pensamento.P > P@ar ordem n%o 9 mandar uma pessoa a/er uma coisaKP > PW e n%o 9. [s ve/es 9, outras ve/es n%o 9. @ar ordem pode ser mandar a/er uma coisa e tamb9m pode ser botar cada coisa no seu lu$ar.P > PE como a $ente sabe quando 9 de um !eito ou de outroKP > Pelo sentido.P > PE que 9 sentidoKP Em)lia desanimou. N%o h5 nada mais di)cil do que ensinar an!inhos. > PEscute c5, Ilor. uem entende bem disto de l)n$uas e $ram5ticas 9 o uindim. Tome umas aulas com ele.P > Pue 9 aulaKP Em)lia saiu correndo, sen%o icava louca... ( hist#ria do an!inho corre mundo. 4ei da n$laterra manda ao s)tio de @ona -enta um navio cheio de crianças. (s conversas de Em)lia com o an!inho n%o tinham im, e por mais que ela e3plicasse as coisas da terra ele cada ve/ as entendia menos. Sma terr)vel embrulhada oi se ormando em sua cabecinha. Enquanto isso as duas velhas tratavam>lhe da asa quebrada com un$Jentos e emplastros. Em)lia n%o $ostou daquilo. > Pe o an!inho sarar > disse ela >, 9 bem poss)vel que voe e u!a daqui, e como 9KP > PN%o voa, n%oV > sosse$ou Tia Nast5cia, que tinha muita pr5tica de criaturas que voam >, $alinhas, marrecos e patos. > orto a ponta de uma asa dele e quero ver.P ( presença do an!inho no s)tio oi causa de muitas bri$as, porque a boneca se considerava dona dele. Ela o descobrira' lo$o, era seu. @a) os terr)veis pe$as com edrinho e Nari/inho. > PEla est5 monopoli/ando o an!o, vov#V > quei3ava>se a menina. > N%o o lar$a, atropela o dia inteiro o coitadinho com as tais ilosoias da vida. Eu, se osse a senhora, tomava o an!inho dela.P Mas @ona -enta achava $raça naquilo e ia dei3ando. ( hist#ria do an!inho começou a correr mundo. Toda $ente das redonde/as veio v>lo. s !ornais deram not)cias. r5dio e o tel9$rao transmitiram essas not)cias para todos os pa)ses. E de tal modo a novidade se espalhou que as crianças do mundo inteiro icaram assanha>d)ssimas para conhecer o an!inho. ueriam H viva orça vir ao s)tio brincar com ele. Mas virem como, se as crianças do mundo s%o milh8esK s pais e as m%es e3plicavam aos ilhos que era o maior dos absurdos pensarem em semelhante coisa. (contece, por9m, que quando uma criança quer vivamente uma coisa e n%o conse$ue d5 de ema$recer, ica doentinha, cheia de bichas. E as crianças do mundo inteiro começaram a icar doentinhas e lombri$uentas de tanto dese!o de virem ao s)tio. ( situaç%o tornou>se t%o $rave que o 4ei da n$laterra, o residente 4oosevelt, o IJhrer da (lemanha, o @uce da t5lia, o mperador do :ap%o e o Ne$us da Eti#pia se reuniram em conerncia para tratar do assunto. @epois de muita discuss%o icou assentado que todas as crianças do mundo seriam levadas ao s)tio de @ona -enta.
Mas por partes. rimeiro as de um pa)s; depois as de outro > e assim at9 o 6ltimo. ara saber quais iriam primeiro, oi preciso tirar a sorte. residente 4oosevelt escreveu o nome de cada pa)s num pedacinho de papel e os botou, bem dobrados, dentro do chap9u de dois bicos do mperador do :ap%o. Em se$uida pediu ao Ne$us, que era o mais velho, para tirar um. ( sorte avoreceu as crianças da n$laterra. uando saiu nos !ornais a not)cia desse ato, oi um hurra imenso no mp9rio -ritAnico e uma choradeira ainda maior nos outros pa)ses. 4ei da n$laterra, ent%o, mandou preparar um $rande navio cheio de doces, brinquedos e livros de i$uras, e nele embarcou a criançada in$lesa sob as ordens de um dos seus melhores almirantes > o (lmirante -roUn. Ele iria lev5>las ao s)tio de @ona -enta. 1ivaV 1ivaV 1ivaV ( criançada in$lesa, no dia marcado para o embarque, encheu o enorme transatlAntico \onderland, na maior al$a/arra e pinoteamento. Iicou aquilo que nem um enorme viveiro de periquitos louros. pobre (lmirante levava as m%os aos ouvidos, murmurando' > Per5 poss)vel que este barulho dure at9 che$armos ao s)tio de @ona -entaKP uase icou doido o pobre homem, porque, como era a 6nica $ente $rande de bordo *sem contar os marinheiros da tripulaç%o+, tinha de atender a tudo, apa/i$uar as terr)veis bri$as que a cada instante sur$iam, por causa de um doce maior que outro ou de um livro de i$uras que v5rias crianças queriam ver ao mesmo tempo. Ieli/mente n%o houve temporal durante a via$em, de modo que as crianças n%o en!oaram, che$ando ao -rasil em pereito estado. momento da invas%o do s)tio de @ona -enta oi importante. ( boa senhora n%o ora avisada, de modo que teve a maior surpresa de toda a sua lon$a vida de mais de sessenta anos. Estava @ona -enta na varanda, remendando umas meias uradas de edrinho, quando viu l5 lon$e uma poeira na estrada. > PNast5cia > $ritou ela >, tra$a o meu bin#culo. Estou vendo uma poeira muito esquisita l5 lon$e. er5 boiadaKP ( ne$ra trou3e o bin#culo. @e nada valeu. edrinho havia tirado os vidros para a/er aquele c9lebre telesc#pio com que espiou o dra$%o de %o :or$e na Lua. @ona -enta, que i$norava isso, olhou pelos canudos va/ios e icou na mesma. > PMinha vista est5 t%o cansada que nem com este bin#culo, que 9 e3celente, consi$o en3er$ar melhor. N%o est5 vendo uma poeirada, Nast5ciaKP > PEstou, sim, inh5. Mas boi n%o 9. or este caminho nunca passa boiada. oisas dos meninos, inh5 vai ver. (l$uma nova reinaç%o com o tal p# de pirlimpimpim. Eles n%o dormem...P Nisto apareceu Nari/inho, que estivera no pomar ensinando Ilor das (lturas *nome do an!o+ a descascar tan$erinas. > P1ov#V > $ritou ela assanhad)ssima. > 1em vindo um bando enorme de criançasV :uro que souberam l5 ora do nosso an!inho e vm brincar com ele...P > PredoV > e3clamou Tia Nast5cia. > e aquilo tudo 9 criançada, onde vamos parar, inh5K ada um 9 uma ome > e onde vou arran!ar bolinho para tanta omeK Nem uma barrica inteira de arinha d5 para contentar metade do povar9u que vem vindo...P @ona -enta começou a sentir palpitaç8es do coraç%o. > PN%o se ali!a, vov# > disse a menina. > avemos de dar um !eito. ( senhora bem sabe que sabemos dar !eito a tudo.P
@isse e oi correndo conerenciar com edrinho e Emilia. Encontrou>os no alto da pitan$ueira, espiando a estrada. > PEstamos ritos, Nari/inhoV > $ritou o menino l5 do $alho. > 1em um tal bando de crianças, que se entenderem de nos urtar o an!o n%o haver5 meio de resistir, urtam mesmo...P edrinho desceu da 5rvore. ( id9ia de que a criançada de ora vinha raptar o an!inho enchia>o de apreens8es. riança 9 criança. soladas ainda passam, mas em bandos s%o os bichos mais daninhos do mundo. > PE a$oraK > di/ia ele. > ue havemos de a/erKP Emilia meteu o bedelho. > P# h5 um !eito > disse ela >' escondermos o an!inho no oco da i$ueira e vestirmos o 1isconde de an!o. e a criançada o raptar, raptar5 um an!o also > o verdadeiro icar5 aqui.P edrinho e Nari/inho entreolharam>se. > PN%o est5 m5 a id9ia da Emilia > disse o menino. > Tenho aquelas asas do $avi%o que o ompadre Teodorico matou outro dia. Temos a ca>misola nova que vov# e/ para a Emilia. om isso e mais al$uma coisa aremos do 1isconde um an!o bem re$ular.P > PMas an!o tem asas brancas > ob!etou a menina >; as do $avi%o s%o pintadinhas.P > Pom arinha de tri$o eu aço asa de qualquer cor icar branca como neve > resolveu edrinho. > W isso. 1amosV orra, Emilia, e pe$ue o 1isconde. E voc, Nari/inho, ve!a barbante para amarrar as asas e o resto. N%o temos um minuto a perder.P Nunca se viu no s)tio correria tamanha. an!inho verdadeiro, muito assustado sem compreender coisa nenhuma, oi escondido por edrinho no oco da i$ueira. > PIique aqui muito quietinho. N%o se me3a, n%o aça o menor barulho.P > PTenho medo deste escuro > disse ele. > (qui h5 ratos de asas.P > PE l5 h5 raptores, que vm vindo em bando enorme. > (ntes ratos do que raptores. Iique quietinho, sen%o tudo est5 perdido.P Lar$ou>o l5 bem no undo do oco e voltou correndo. Nari/inho !5 trou3era as asas do $avi%o, barbante e a camisola nova da Em)lia. # altava eu, 1isconde. > P@epressa, Em)liaVP > $ritou o menino. > PEle est5 resistindo > respondeu de lon$e a boneca. > @i/ que n%o tem vocaç%o para an!o...P > PTra$a>o H orçaV @epressaV N%o h5 tempo a perder.P Em)lia pu3ou>me pelo braço e eles me a$arraram, me eniaram na camisola, me pre$aram as asas e polvilharam tudo com uma nuvem de arinha de tri$o. Iiquei um an!o esquisit)ssimo, mas an!o. > PMuito bem > disse edrinho, aastando>se para apreciar o eeito. > arece um antasma, mas serve. ($ora vou p">lo naquele $alho da pitan>$ueira. (ssim todos poder%o v>lo e nin$u9m poder5 pe$5>lo. Iicando embai3o, os in$lesinhos o espandon$am num minuto. riança 9 o diabo.P Iui ent%o en$anchado numa orquilha da pitan$ueira, onde iquei suspirando. Era imposs)vel ima$inar>se an!o mais triste e c"mico. (s asas oram arrumadas com tanta pressa que uma lo$o pendeu. > PN%o a/ mal > disse edrinho. > Todos sabem que o an!inho tem uma asa quebrada. Escute, 1isconde' saiba comportar>se como an!o, est5 entendendoK ru/e os braços no peito, e quando as crianças che$arem aça carinha de riso celestial, com os olhos er$uidos. E n%o se meta a alar. uem ala somos n#s, aqui embai3o.P Nari/inho, que subira H pitan$ueira, berrou l5 de cima' > PEst%o che$ando, edrinhoV uase na porteira !5. W hora de ir receb>los.P
edrinho oi. Trepou H porteira e icou H espera. [ rente do bando de crianças vinha um velho ardado, de $rande chap9u de dois bicos na cabeça. ( criançada parou. velho adiantou>se. Ie/ uma saudaç%o e disse' > Penhor, a not)cia da via$em ao c9u que os netos de @ona -enta i/eram che$ou at9 n#s l5 na n$laterra, e ua Ma!estade o 4ei Eduardo 1 houve por bem permitir que as crianças in$lesas, comandadas por mim, que sou o (lmirante -roUn, viessem visitar o an!o que a enhora Marquesa de 4abic# trou3e da 1ia L5ctea.P edrinho correspondeu H saudaç%o do (lmirante e disse' > PTemos muita honra em receber no s)tio de vov# as crianças in$lesas comandadas pelo ilustre (lmirante -roUn. Estamos, entretanto, muito receosos de que no meio de tanta criança venham al$uns elementos perversos, que nos queiram a/er mal, raptando o an!inho. Em vista disso resolvemos s# dar entrada a essas crianças se por acaso o enhor (lmirante nos entre$ar um re9m.P (quelas palavras, ditas em tom irme, aborreceram o velho (lmirante, que n%o havia pensado em semelhante hip#tese. > P( sua desconiança, senhor > disse ele >, nos oende. s in$lesi>nhos que tra$o s%o todos da mais ina educaç%o.P > Pei disso > tornou edrinho. > Mas como pode o enhor (lmirante provar que entre eles n%o se acha oculto al$um maleitorK Eis por que resolvemos e3i$ir um re9m, sem que isso queira si$niicar a menor oensa ao 4ei da n$laterra, nem a 1ossa onra, nem a toda esta criançada.P (lmirante pensou por uns instantes e disse' > PMuito bem. ompreendo tudo e aceito as condiç8es propostas. Eu mesmo oereço>me. Iicarei na sala, conversando com a sua e3celent)ssima av#, enquanto o meu bandinho de crianças se diverte no pomar.P > Pereitamente, enhor (lmirante > disse edrinho. > Est5 aceita a sua proposta. 1ou abrir a porteira.P @isse e, descendo da porteira, abriu>a. > Podem entrar...P (quilo oi o mesmo que er$uer a portinhola duma tulha de ca9 bem cheia. 4olou criança para dentro do terreiro como rolam $r%os de ca9 da tulha aberta. Lindas todas, de todos os louros poss)veis e de um corado de maç% ou psse$o. lhos a/uis, pele alv)ssima. omo s%o lindas as crianças in$lesasV ara transorm5>las em an!os bastaria colar nas costas de cada uma duas asinhas. Enquanto a onda de crianças inundava o terreiro, Nari/inho, l5 no pomar, me a/ia as 6ltimas recomendaç8es, a mim, 1isconde. > PE comporte>se, heinK > di/ia ela. > M%os cru/adas no peito, olhos no c9u > assim... E levante um pouco a asa esquerda... Est5 muito ca)da. (ssim...P Em)lia veio com um cai3%o va/io, que colocou rente ao tronco da pitan$ueira. > Para que isso, Em)liaKP > inda$ou a menina. > Para $uardar os presentes. mposs)vel que n%o tra$am muitos presentes. Nin$u9m visita an!o com as m%os abanando.P L5 no oco o an!inho tremia de medo. Sm dos tais Pratos de asasP viera pendurar>se bem sobre sua cabeça. Mesmo assim o an!inho n%o deu o menor $rito, nem e/ o menor movimento. Era obedient)ssimo.
@ona -enta estava na varanda, muito bonitona no seu vestido preto de babados. edrinho condu/iu para l5 o (lmirante. > P1ov# > disse ele > tenho a honra de apresentar o enhor (lmirante -roUn, que ua Ma!estade o 4ei da n$laterra mandou comandando as crianças que morriam de vontade de brincar com o an!inho. (lmirante concordou em icar como re9m a) na sua sala.P @ona -enta emperti$ou>se toda e respondeu' > PTenho imenso or$ulho em conhecer 1ossa onra, enhor (lmirante -roUn. # n%o estou entendendo essa hist#ria de re9m a que meu neto acaba de reerir>se...P. edrinho e3plicou rapidamente que era uma $arantia contra qualquer depredaç%o que as crianças i/essem no s)tio. > Pue absurdo, meu ilhoV > e3clamou @ona -enta. > # me admiro de o (lmirante n%o ter>se ma$oado com uma desconiança dessa ordem. ( honra alt)ssima que nos a/ o 4ei da n$laterra 9 a maior com que poder)amos sonhar, e se voc, edrinho, mostrou desconiança, a ponto de obri$ar o (lmirante -roUn a oerecer>se como re9m, bem triste id9ia icar5 ele a/endo da nossa hospitalidade...P > PTudo isso 9 muito lindo, vov# > respondeu edrinho >, mas a senhora bem sabe como s%o crianças. odem revoltar>se contra o (lmirante e nos urtar o an!inho, e como 9K Ele 9 um e elas s%o muitas.P velho in$ls sorriu. > Pe osse assim, meu menino, n%o poderia haver e39rcitos no mundo, nem esquadras. s $enerais e almirantes, que comandam e39rcitos e esquadras enormes, n%o os mantm na disciplina por meio da orça )sica > sim da orça moral. om a orça moral, um homem so/inho domina milh8es.P > PEle 9 bobinho, (lmirante > e3plicou @ona -enta. > N%o aça caso do que disse. 15 entrando sem a menor cerim"nia, porque esta casa 9 sua. E a criançada que v5 com edrinho e brinque H vontade. Laran!as temos bastante.P (lmirante subiu os seis de$raus da varanda, com o chap9u de dois bicos debai3o do braço. (pertou a m%o de @ona -enta com tal orça que ela e/ uma careta. > Pueira sentar>se, enhor (lmirante > disse a boa velha disarçando a dor. E para dentro' > Nast5cia, ve!a depressa um cae/inho.P > PEu preeriria um u)sque, minha senhora > murmurou o (lmirante, que estava morto de sede, mas sede de in$ls, dessas que s# u)sque mata.P N%o havendo u)sque na casa, @ona -enta e/ sinal a edrinho para que mandasse buscar na venda do Elias Turco uma $arraa. E depois, para o ilustre persona$em' > Preia, (lmirante, que esta sua visita em nada me espanta. E sabe por quK orque estou acostumada aos maiores prod)$ios do mundo. que acontece neste s)tio, meu @eus do c9uV, nem queira saber, (lmiranteV No começo est5 claro que muito nos assust5vamos, eu e Tia Nast5cia. Mas ho!e... (s aventuras dos meus netos n%o tm conta. (t9 pelo c9u !5 andaram > pela 1ia L5ctea, ima$ine...P > Pei disso, minha senhora. s !ornais de Londres trataram do caso dos astr"nomos que aqui estiveram em comiss%o, e com o saudoso 4ei :or$e 1, que @eus ha!a, tive ense!o de conversar a respeito. Ele achava a Marquesa de 4abic# um ser/inho muito interessante, embora um tanto shocRin$ Hs ve/es...P > Pobre 4ei :or$eV > suspirou @ona -enta. > enti imensamente a morte sua. ue car$a pesada n%o h5 de ser a do rei dum $rande imp9rioV Eis uma vida que eu n%o inve!o.P > PNem eu > a!untou o (lmirante. > reiro comandar os meus cru/adores a reinar sobre o mundo.P
> PE a 4ainha 1i6va, como vai indoK Mais consoladinha !5KP > P1ai vivendo, minha senhora. $olpe oi terr)vel.P @ona -enta suspirou. > PN%o valemos nada nesta vida, (lmirante. uando che$a o nosso dia, o $ancho da morte nos pesca, se!amos reis ou mendi$os. Mas... parece que est5 bem cansado, (lmirante...P > PMais que cansado, minha senhora. Estou meio morto. W ent%o brincadeira uma via$em destas, de duas semanas no mar, lidando com um carre$amento de mil crianças endemoninhadasK SV...P > P4ealmenteV Eu aqui no s)tio, com dois netos apenas, Hs ve/es me ve!o doida. %o dois que valem por dois mil, tais as maluquices que inventam, ou as reinaç8es, como eles di/em. Mas n%o aça cerim"nia, (lmirante. Tenho ali a minha redinha. @eite>se e tire um corte de sono.P (lmirante n%o esperou se$undo convite. (comodou>se como p"de na redinha de @ona -enta e oi echando os olhos. uando Tia Nast5cia apareceu com a bande!a de ca9, ele roncava. > PssiuV N%o o acorde... > sussurrou @ona -enta. > (lmirante est5 morto de canseira. ma$ine que passou duas semanas no mar, lidando com mil crianças, isso da n$laterra at9 aqui...P > PredoV > e3clamou a preta. > Esses in$leses tm cada umaV... -em di/ eu edrinho que eles s%o ZcntricoZ.P > PE3cntricos, Nast5cia > corri$iu @ona -enta. > E a criançadaK omo est5 se comportando l5 no pomarKP > PNem sei, inh5. N%o espiei ainda > nem tenho cora$em de espiar. Estou s# ima$inando os ZhorroresZ...P an!o also. rotesto das crianças in$lesas. (parece eter an. onversas com o an!inho verdadeiro. ( criançada in$lesa, depois que o (lmirante entrou na sala de @ona -enta, oi com edrinho para o pomar. > P an!oV an!oV > $ritavam todas. > ueremos ver o an!oV...P edrinho deteve>se diante da pitan$ueira e apontou para a estranha i$ura de m%os cru/adas no peito e olhos no c9u, en$anchada na orquilha da 5rvore. > PL5 est5 eleV an!o 9 aquilo.P Ie/>se $rande silncio. Milhares de olhos a/uis se enocaram na i$urinha. 6bito, uma das crianças e3clamou' > Pue an!o eioVP, e a barulhada começou. PN%o valia a pena virmos de t%o lon$e para vermos issoP, $ritou outra. E terceira' PEm qualquer casa de brinquedos em Londres temos coisa melhorP. E quarta' Parece an!o de pau... Nem se me3eP. Nari/inho me e/ sinal, a mim, 1isconde, para que me me3esse e i/ uns movimentos muito desa!eitados. > PuK > berrou de repente uma menina. > (n!o de cartolaK nde !5 se viu issoKP @e ato. Na pressa da arrumaç%o os meninos esqueceram>se de tirar da minha cabeça a c9lebre cartolinha, de modo que l5 estava o an!o de cartola na cabeça, muito branca, porque tamb9m ora polvilhada de arinha de tri$o. Em)lia salvou a situaç%o. Trepando no cai3%o/inho, pediu silncio e disse' > P1ou e3plicar o motivo da cartola. @ona -enta nos contou que a cartola 9 uma invenç%o in$lesa; da) a nossa id9ia de botar uma car>tolinha na cabeça dele como homena$em Hs crianças in$lesas que o vinham visitar.P
s in$lesinhos entreolharam>se. ( e3plicaç%o era boa. Mas continuaram a estranhar o an!o. > Ps que conheço dos livros de i$ura > disse um > s%o muito mais bonitos. %o $ordinhos. Esse 9 ma$ro como bacalhau.P Em)lia e3plicou' > PW que andou doente. pobre/inho quebrou a asa num tombo que deu l5 nas estrelas. Est5 sarando; lo$o ica t%o $orducho como antes. N%o notam que est5 com a asa esquerda ca)daK uebrou>a bem no encontro. Tia Nast5cia !5 botou cola>tudo.P > PMas a cara dele n%o 9 de an!o > observou outra criança. > arece cara eita com aca. 1erdadeira cara de pau...P > PW da doença > insistiu Em)lia. > 1ocs que n%o tm asas n%o ima$inam como quebradura de asa esquerda desi$ura um pobre an!o...P (pesar das belas e3plicaç8es as crianças in$lesas continuavam de nari/ torcido. N%o conse$uiam en$olir aquele an!o t%o eio. > PIrancamente, perdemos a nossa via$em > murmuraram diversas > e o melhor 9 levarmos de volta os presentes tra/idos. Esse an!o n%o merece nenhum, nem merece que brinquemos com ele. # merece um pontap9...P E a vaia começou. > PIora o an!o ma$roV...P > PMorra o an!o eioV...P > PLincha o an!o cartoludoV...P berreiro tornava>se cada ve/ maior, e a coisa acabaria em desastre, se um lindo menino n%o sur$isse berrando' > ParemV Nem mais uma palavraV uem vai a$ir a$ora sou eu.P > Peter anV.P > e3clamou edrinho, reconhecendo o amoso menino que !amais quis crescer. > Pim, sou eter an, e !5 sei de tudo. Esse an!o 9 also, 9 o tal 1isconde disarçado em an!o. an!inho verdadeiro est5 escondido em qualquer parte.P > PE se or assimKP > $ritou edrinho assustado. > Pe or assim > tornou eter an > ou vocs nos mostram o an!inho verdadeiro, ou n#s damos uma busca em re$ra neste s)tio at9 o descobrirmos.P edrinho encheu>se de cora$em e disse com vo/ irme' > PN#s estamos em nossa casa e saberemos deend>la contra tudo e contra todos. Medo n%o temos > de nadaV uem manda aqui no s)tio sou eu > depois de vov#. or bem a coisa vai, enhor an, mas por mal a coisa n%o vai, n%oV Nem a pauV Nem a tiro de rev#lverV Lembre>se que o (lmirante -roUn est5 como re9m l5 na sala de vov#. ( vida daquele velho nos oi coniada em $arantia do bom comportamento de vocs...P eter an caiu em si. (l9m disso, n%o queria bri$ar; queria apenas ver o an!inho verdadeiro; de modo que perdeu a emp5ia e disse conciliatoriamente' > P4econheço que est5 em sua casa, edrinho, mas voc h5 de admitir que 9 uma verdadeira !udiaç%o nos receberem deste modo. Ii/emos uma via$em lon$u)ssima, por ordem do 4ei, para visitar o an!inho, e ao che$armos vocs nos impin$em um macaco de sabu$oV ra, 9 preciso concordar que isso 9 um pouco meio muito...P > PMacaco de sabu$o dobre a l)n$uaV > $ritou Em)lia. > 1isconde 9 um verdadeiro s5bio, estimad)ssimo de todos daqui, at9 de @ona -enta. 4etire o macacoV...P eter an, que n%o queria bri$ar, retirou o macaco e disse, voltan>do>se para edrinho' > P1amos. 4esponda H minha interpelaç%o.P edrinho conessou tudo.
> Pim, 9 verdade. onesso que o an!o verdadeiro 9 outro > e est5 bem escondido. Ii/emos isso porque sabemos o que s%o crianças e tivemos medo que nos escan$alhassem o an!inho.P > PMuito bemV > e3clamou eter an. > ($ora que lealmente nos conessou a maroteira, mostre>nos o an!o real. N%o receie coisa al$uma. Eu me responsabili/o por tudo. N%o dei3arei que criança nenhuma toque nele.P > Psso muda o aspecto da quest%o > tornou edrinho. > :5 que voc se responsabili/a, poderei mostrar o an!inho verdadeiro. Mas nin$u9m h5 de pe$ar neleV W delicad)ssimo, um verdadeiro vidro, e assusta>se com qualquer coisa.P > PN%o tenha medo de nada, edrinho. Eu n%o dei3arei que as crianças da n$laterra quebrem o an!inho.P Enquanto os dois discutiam, Em)lia se atracava com (lice do a)s das Maravilhas, que tamb9m viera no bando. (lice estava torcendo o nari/ a tudo e achando que aquele s)tio n%o parecia di$no de um an!inho. > PSma casa velha, estas 5rvores tortas por aqui, aquele leit%o l5 lon$e nos espiando > ent%o isto l5 9 morada di$na de um an!inho ca)do do c9uK s an!os querem nuvens bem redondas. e o lev5ssemos para Londres, haver)amos de dar>lhe um pal5cio de cristal cheio de nuvens de ouro > ouro oo bem macio.P > P( senhora est5 muito en$anada > rebateu Em)lia. > an!inho anda muito satiseito por aqui. Tem se re$alado de brincar. utro dia me disse que estava en!oado de nuvens redondas e n%o trocava todas as nuvens do c9u por este pomar.P > P@isse isso por simples delicade/a > volveu (lice. > s an!os s%o as criaturas mais delicadas que h5. Mas se voc entrar bem dentro da id9ia dele, vai ver que est5 doidinho por ir conosco para a n$laterra.P > Pois daqui n%o sai, nem que o mundo venha abai3oV > $ritou Em)lia. > e a/em muita quest%o de possuir um an!o, podem levar o da pitan$ueira...P Estavam nesse ponto quando edrinho e eter an che$aram a acordo. @epois de tudo bem combinado, o rei/inho da Terra do Nunca bateu palmas e $ritou' > PriançadaV edrinho cedeu aos meus ar$umentos. 1ai mostrar>nos o an!inho verdadeiro, mas com uma condiç%o' nin$u9m tocar nele, porque 9 um verdadeiro vidro. Espero que essa condiç%o se!a respeitada por todos, visto como acabo de dar a edrinho a minha palavra de honra.P ouve um murm6rio de descontentamento. (s crianças in$lesas s%o como todas as mais' n%o se contentam com ver as coisas, querem pe$ar tamb9m. Em todo caso, como eter an dera a sua palavra de honra, n%o houve rem9dio sen%o se conormarem. > PEm)lia > disse ent%o edrinho >, v5 depressa ao oco e tra$a o an!o.P Em)lia oi correndo. nstantes depois voltava, muito cheia de si, tra/endo pela m%o a encantadora criaturinha celeste. ue del)rioV Na maior curiosidade a criançada in$lesa se reuniu em redor dele; como ossem muitas, as que n%o conse$uiram lu$ar na rente treparam Hs 5rvores para ver melhor. (s 5rvores do pomar icaram mais cheias de crianças do que de rutas. 1olta e meia um $alho estalava e ca)a com diversas, num berreiro medonho. uem primeiro diri$iu a palavra ao an!inho oi (lice. (!oelhou>se diante dele, no maior dos enlevos, e murmurou' > PEncantinho, como 9 o seu nomeKP > PMeu nome 9 Ilor/inha das (lturas para a servirP > oi a $alan>te/a da resposta. > Pomo 9 delicadoV > e3clamou (lice voltando>se para eter an.
> Ilor/inha das (lturas para me servirV... E que idade tem, an!inhoKP > PN%o tenho idade > respondeu ele. > ou parado, n%o cresço. 5 s9culos que vivo sempre deste mesmo tamanhinho...P > PEst5 vendo, eter anK > $ritou (lice. > Tal qual voc. W parado. N%o cresce...P > PW como eu tamb9m > !untou Em)lia. > Eu tamb9m n%o cresço. Nasci deste tamanho e deste tamanho icarei sempre. abem que a proessora do an!inho sou euK Eu, simV... Tenho>lhe ensinado mil coisas. er$unte>lhe, por e3emplo, o que 9 lor.P (lice per$untou ao an!inho o que era lor. > PIlor > respondeu ele > 9 um sonho colorido e cheiroso, que com as ra)/es as plantas tiram do escuro da terra e abrem no ar. Ioi como Em)lia me ensinou.P Todos se admiraram da poesia daquela deiniç%o, mas (lice n%o queria ouvir o an!inho repisar as coisas ensinadas pela Em)lia; queria saber como eram as coisas l5 no c9u. > Ponte>nos como 9 l5. @eve ser lindo, n%oK onte a sua vidi>nha toda...P an!inho contou' > PN%o me lembro quando nasci. (cho que sou ilho das nuvens e das estrelas, porque sempre me achei rodeado de nuvens e estrelas. Meu principal brinquedo era a/er bolinhos de massa c#smica para !o$5>los no 9ter. Esses bolinhos iam crescendo no espaço e viravam novas estrelas...P > PE os cometas de caudaK Ia/ia tamb9m bolinhos de cometasK > quis saber (lice.P > Pim. W muito 5cil. -asta a/er um bolinho redondo e depois dar um pu3o dum lado, dei3ando um começo de rabinho. uando a $ente !o$a esses bolinhos no espaço, a velocidade vai a/endo que o rabinho se encompride cada ve/ mais, e se abra todo, muito oo, adquirindo aquela orma de cauda de cometa que vocs aqui conhecem...P ( criançada in$lesa estava maravilhada e doida por ir brincar de Pbolinhos de estrelasP no c9u. Em)lia torceu o nari/, e como uma das crianças lhe per$untasse se tamb9m n%o estava doida por aquilo respondeu com ar de arta' > P:5 me en!oei disso. Ii/ tanto bolinho de estrela e cometa l5 na 1ia L5ctea que ho!e at9 preiro a/er bolinhos de barro. Estou arta...P (s crianças in$lesas olharam>na com prounda inve!a. (lice prosse$uiu nas per$untas. > PE as nuvensK Muito maciasKP > PMais que a paina daqui. N%o e3iste nada mais lindo que as nuvens, porque n%o param nunca de mudar de orma e cor. Eu rolava por cima das redondas, como se ossem travesseiros de sonho. (tirava>me de uma para outra, Hs ve/es de $rande altura. uando ca)a, mer$ulhava at9 ao meio. Sma $ostosuraV...P > PMas brincava so/inhoKP > PN%o. 5 l5 milh8es de an!inhos como eu. -rinc5vamos o dia todo. Ioi numa dessas brincadeiras que houve o desastre.P > Ponte como oi esse desastreP > pediu (lice. > PEu estava com os outros brincando de rolar de nuvem em nuvem. Nisto ormou>se embai3o de n#s uma $rande. @ei um pulo. uando ca)a, aundei dentro da nuvem at9 ao meio, $ostosamente. 6bito, um choque aqui no encontro da asa esquerda. @ei um $rito. Eu havia esbarrado num corpo estranho.P > Porpo estranhoK > e3clamou (lice. > ois h5 corpos estranhos nas nuvensKP > PN%o h5 > disse o an!inho >, mas nesse dia houve. @entro da nuvem estava um corpo estranho que eu s# en3er$uei no momento do choque. Tinha pernas e braços, cabeça e cartola...P
> PEra o 1iscondeV > berrou Em)lia. > Na nossa via$em ao c9u ele caiu da Lua e icou $irando no espaço como sat9lite. Numa das voltas com certe/a esbarrou no an!inho.P > PE depoisKP > inda$ou (lice, cada ve/ mais curiosa. > P@epois perdi os sentidos. N%o vi mais nada. uando meus olhos se abriram, encontrei>me na imensa plan)cie da 1ia L5ctea, no colo de uma criaturinha estranha. Era aqui a Em)lia...P Em)lia voltou>se para a criançada, radiante de or$ulho, para que todos vissem que era ela mesma. > PE que maisKP > PEm)lia me ninava, e quando abri os olhos me alou uma porç%o de coisas que n%o entendi. @epois vieram vindo os outros. (pareceu aquela l5 > e apontou para Nari/inho >; e aquele l5 > e apontou para edrinho. > E tamb9m um senhor muito s9rio, de $randes orelhas e olhar triste.P > P -urro IalanteVP > $ritou Em)lia. eter an cochichou para edrinho que a/ia muita quest%o de conhecer o burro. > PE depoisKP > volveu (lice. > P@epois descemos do c9u > disse o an!inho. > @ona -enta nos havia chamado com um berro' Z:5 para bai3o, cambadaVZ s astr"nomos estavam aqui neste s)tio, se quei3ando das reinaç8es eitas l5 nas alturas. uando che$uei e vi esses homens tive medo. Smas barbas $randes, #culos no nari/, carecas...P > PE como vai se dando por aquiKP > PtimamenteV > respondeu o an!inho. > Todos me querem muito e me tratam na palma da m%o. Nast5cia a/ uns quitutes que n%o e3istem l5 no c9u. W das pipocas que eu $osto mais. Tamb9m dos bolinhos...P > P-olinhos de estrelasKP > PN%o. @um p# branco...P > PIarinha de tri$oVP > berrou Em)lia. > PEla amassa esse p# com $ema de ovo e $ordura > continuou o an!inho. > Enrola os bolinhos entre as palmas brancas de suas m%os pretas e os p8e em lata num buraco muito quente chamado orno. assado al$um tempo os bolinhos icam no ponto > e 9 s# comer.P > Pue $alante/aV > e3clamou (lice. > ue amorV om que $raça ele conta uma simples receita de bolinhoV... E rutasK Tamb9m comeKP > Pe comeV > berrou Em)lia. > Gulos)ssimo, at9. ara devorar pitan$as, n%o h5 outro.P > Pim > conirmou o an!inho >, $osto muito de pitan$as, quando est%o com o vermelho !5 bem escuro. @as verdes, amarelas ou apenas um pouco vermelhas, n%o $osto. Muito a/edas. utra ruta de que $osto muito s%o as !atibucabas...P > P:a>bu>ti>ca>basV > emendou Em)lia. > N%o h5 meio de ele di/er certo...P > PTamb9m vocs aqui no -rasil arran!am cada nome para as rutasV > observou (lice, que nunca tinha visto !abuticaba. > Essa, a avaliar pelo nome, deve ser do tamanho de uma melancia.P > P(o contr5rio > disse Nari/inho. > nome 9 $rande, mas a ruta 9 das menores que temos. retinha e assin/inha...P > PE a$ora 9 tempoKP > quis saber eter an, !5 com 5$ua na boca. > P(ntes ZsesseZV > suspirou Em)lia. > ($ora s# temos laran!a. Gosta de laran!a>lima, eterKP > Pe $ostoV > respondeu ele. > 9lo>meV ual 9 o p9KP > P(quele bai3inho, perto da cerca. Tem caniveteKP
eter an correu a apanhar meia d6/ia de laran!as, que veio chupar perto do an!inho. (o verem aquilo as outras crianças tamb9m icaram com 5$ua na boca. Ioi uma correria. > Pran$es, oran$esVP > $ritavam em in$ls. avança oi tamanho que n%o icou no pomar uma s# laran!a para rem9dio. > PEu quero de cuiaVP > di/ia uma. > PEu quero de $omoVP > di/ia outra. Sm amarelo tapete de cascas recobriu o ch%o. > Pue coisa $ostosa > murmurou (lice > chupar laran!a>lima ao lado de um an!inho do c9u que conta as coisas de l5V Estou mudando de opini%o, Em)lia. Estou achando que esse s)tio de @ona -enta 9 ainda mais $ostoso que o nosso ]ensin$ton Garden l5 de Londres...P > PE 9 mesmo > observou Nari/inho. > N%o h5 lu$ar no mundo que valha o s)tio de vov#. uem o v pela primeira ve/, com estas 5rvores velhas, todo espandon$ado, n%o d5 nada por ele. Mas depois que o conhece n%o troca nem pela ali#rnia, que 9 um para)so. s)tio de vov# 9 $ostoso como um chinelo velho.P E a menina p"s>se a contar as mil coisas passadas ali, as aventuras do p# de pirlimpimpim, o encontro do -urro Ialante l5 no a)s das I5bulas, o casamento dela com o r)ncipe Escamado, a ida ao a)s da Gram5tica e outros epis#dios aventurescos. > P(t9 ao a)s da Gram5tica vocs oramKP > e3clamou (lice admirada. > PE saiba que nos divertimos muito. 1isconde raptou um diton>$o e Em)lia desmorali/ou completamente uma velha coroca implican>t)ssima, chamada rto$raia Etimol#$ica. lhe, (lice, se voc passar dois dias aqui conosco, !uro que n%o quer mais saber da n$laterra.P > PEstou vendo > respondeu (lice. > sto aqui parece que vale a pena...P (lmirante assombra>se com o que v. L5 na sua salinha @ona -enta conversava com o (lmirante -roUn sobre a pol)tica do mp9rio -ritAnico. (lmirante !5 dormira uma boa soneca e a$ora, sentado na rede, ia bebendo o u)sque mandado vir da venda do Elias Turco. Era alsiicado. Mesmo assim o velho in$ls o bebia, embora com caretas a cada $ole. > Pois 9 isso, minha senhora. 5 estou eito cap%o de pintos, a atravessar os mares com o meu e39rcito de crianças. ( trabalheira que me deram na via$emV (t9 suo s# de lembrar>me disso...P > PE por alar, (lmirante, como h5 de ser para enchermos tantas barri$uinhasK mantimento que h5 aqui no s)tio n%o d5 para a d9cima parte.P velho in$ls sorriu. > PN%o se incomode, minha senhora. rovidenciei sobre tudo. @entro em pouco che$ar%o os meus marinheiros com um $rande carre$amento de comedorias. oder5 a senhora ter a bondade de levar>me ao pomarK reciso ver o an!inho. Mas aqui entre n#s' 9 mesmo um an!inho do c9u ou trata>se de al$uma reinaç%o dos seus netos, um simples an!o de prociss%oKP > PW dos le$)timos, (lmirante, posso $arantir e o senhor o veriicar5 com os seus pr#prios olhos. or mais prodi$ioso que isto se!a, n%o passa da mais pura realidade. (h, (lmirante, 1ossa onra n%o ima$ina o que acontece neste s)tioV # vendo. Tanta e tanta coisa, que ho!e, como !5 disse a 1ossa onra, n%o me admiro de mais nada. e o ol aparecer ali na porteira e me disser' > Z-oa tarde, @ona -entaVZ > eu o recebo como se osse o ompadre Teodorico. > ZEntre, enhor ol. ( casa 9 sua.Z ositivamente n%o me admiro de mais nada, nada, nada...P
s dois velhos sa)ram de braços dados para a visita ao an!inho. Ioi di)cil abrir passa$em no bolo de crianças apinhadas em redor dele. (o ver o an!inho, lindo, lindo de n%o poder mais, o (lmirante -roUn arre$alou os olhos e pu3ou os #culos. E3aminou o an!inho atentamente, sempre desconiado de al$um embuste; apalpou o encontro das asas para ver se n%o eram asas de an!o de prociss%o. Em)lia advertiu>o' > PN%o pe$ue com muita orça que quebra. Ele 9 um vidro.P (lmirante sacudia a cabeça, pensativo. > PW e3traordin5rio, n%o h5 d6vidaV Tenho setenta anos e !amais me derontei com um prod)$io assim. uando che$ar a Londres e der ao rei o meu testemunho, 9 bem poss)vel que ua Ma!estade se assanhe e queira vir tamb9m, queira vir ver com os seus reais olhos este assombroso prod)$io...P > PXtimoV > e3clamou @ona -enta. > ue venha, que venha sem a menor cerim"nia. ( 6nica pessoa que ainda n%o apareceu por aqui oi um rei de verdade. 4eis da 5bula e dos pa)ses maravilhosos, desses que usam coroinhas de ouro, temo>los tido aos montes.P (lmirante n%o cessava de assombrar>se. > Pue coisa e3traordin5riaV Sm an!inho ca)do do c9u...P > Pa)do n%o, (lmirante > corri$iu Em)lia. > Tra/ido. uem o trou3e ui eu.P > Puem 9 esta estranha senhoritaKP > inda$ou o (lmirante, pondo os olhos na boneca. > Pois 9 a Em)lia, n%o vK > disse @ona -enta. > @e ato oi ela quem trou3e o an!inho l5 da 1ia L5ctea, onde o ZcaçouZ, como costuma di/er.P > P(hnV ( Em)lia, sim, a enhora Marquesa de 4abic#V > disse o (lmirante recordando>se. > ei, sei. ua Ma!estade a 4ainha 1i6va !5 me alou das proe/as desta amosa criaturinha, mostrando at9 muito dese!o de conhec>la pessoalmente.P > PIoi pena eu n%o ter sabido disso antes > volveu @ona -enta. > :5 estivemos em Londres, na nossa via$em em torno do mundo para estudar $eo$raia. e eu soubesse do dese!o da rainha, teria eito uma visita a ua Ma!estade para a apresentaç%o da Em)lia...P @epois de bem visto o an!inho, e de uma prosa com ele, o (lmirante aastou>se, sempre de braço dado a @ona -enta. Ioram dar uma volta pelo s)tio. > PEstou achando tudo por aqui muito po9tico > disse o in$ls correndo os olhos pelas 5rvores. > ue lindo este imenso tapete amarelo com que a senhora orrou o pomarV...P @ona -enta riu>se. (lmirante tinha a vista ainda mais raca que a dela, de modo que tomou o ch%o orrado de cascas de laran!a por um imenso tapete amarelo. Nisto uma vaca mu$iu. > PW a Mocha > e3plicou @ona -enta >, uma vaca e3celente que temos aqui h5 !5 muitos anos.P > PMeu pai oi criador de vacas :9rsei > disse o (lmirante > e eu ainda conservo al$umas da sua criaç%o. uando voltar H n$laterra hei de mandar para aqui uma de presente. Leiteiras melhores n%o e3istem.P > Pois icarei imensamente a$radecida > respondeu @ona -enta. > ( pobre da Mocha est5 bastante velha. Mal d5 o leite necess5rio ao consumo da casa.P No est5bulo a Mocha teve a honra de ser apresentada ao (lmirante -roUn, o qual oi saudado por um MuV especial, em portu$us, visto que a pobre vaca n%o sabia uma s# palavra de in$ls, nem &es. (lmirante $abou os seus enormes olhos cheios de bondade. > P1>se que 9 uma vaca de muito bons sentimentos mas pouco leite > disse o velho maru!o. > uantos litros d5KP > PN%o che$a a trsP > respondeu @ona -enta. ilho do criador de vacas :9rsei riu>se.
> P(s de meu pai davam de/ ve/es isso.P @ona -enta arre$alou os olhos. > P(hV Eu aqui com uma assim at9 montava uma 5brica de quei!o...P > P5 de t>la, minha senhora. 5 de t>la.P Nisto um /urro muito discreto soou. > Puem 9KP > quis saber o (lmirante. > PW o onselheiro, o nosso -urro Ialante > e3plicou @ona -enta. Nele 9 que os meninos oram para o c9u.P (lmirante -roUn sorriu, pensando l5 consi$o' > Pobre velhaV 1isivelmente est5 caducaP. Mas quando oi apresentado ao -urro Ialante e este murmurou, na sua vo/ $rave de burro da 5bula' > PTenho muita honra em conhecer 1ossa enhoriaP > o (lmirante quase caiu para tr5s. Teve de se$urar>se no rabo que o burro lhe estendeu. > PW espantoso, minha senhoraV Est5 aqui um en"meno que se eu contar ao 4ei Eduardo ele !ul$ar5 que 9 caduquice minha. Sm burro alanteV sto positivamente me dei3a com as id9ias atrapalhadas...P @ona -enta $o/ou o atrapalhamento do in$ls. > PIoi o que me sucedeu no começo, (lmirante. Iiquei tamb9m atrapalhada, sem saber o que pensar. @epois ui me acostumando. o!e acho t%o natural que esse burro ale, como acho natural que uma laran!eira produ/a laran!as. Todas as tardes che$o at9 aqui para dois dedos de prosa. (l9m de alante, o nosso onselheiro 9 um puro il#soo.P > P@e que escolaKP > PSm il#soo est#ico. ostumo ler>lhe trechos das Meditaç8es de Marco (ur9lio. s coment5rios que ele a/ mereciam ser escritos e publicados.P (lmirante n%o conse$uia voltar>se do assombro. > PMas... mas, @ona -enta, a senhora !5 reletiu que isto 9 um en"meno que contradi/ tudo quanto a cincia estabeleceu a respeito da ala e da inteli$ncia dos animaisKP > P4eleti, sim. Eu sei o que tenho em casa, enhor (lmirante.P Sm tropel e uma al$a/arra interromperam o di5lo$o. edrinho e eter an vinham correndo para ali, acompanhados de mais de cem crianças. > P burro que alaV burro que alaV > $ritavam todas. > 1amos conversar com o burro que alaV...P he$aram. Em torno do e3celente animal ormou>se uma roda enorme. Todos alavam ao mesmo tempo, per$untando mil coisas ao pobre onselheiro, que se via tonto para atender a tantos clientes. @ona -enta e o (lmirante dei3aram>nos naquele divertimento que n%o e3istia na n$laterra e recolheram>se H salinha. Estavam l5, ainda comentando o prodi$ioso caso do -urro Ialante, quando Tia Nast5cia veio di/er que um $rupo de marinheiros se apro3imava. (lmirante sorriu. > P%o as comedorias que vm vindo > disse ele > e n%o 9 sem tempo. om o aperitivo das laran!as que chuparam, as crianças devem estar tinindo de ome.P E assim era. Mal avistaram os marinheiros do almoço, uma $ritaria atroadora encheu os ares. > P lancheV lancheV...P (bandonaram o an!inho, o -urro Ialante e as 5rvores em que estavam trepadas para s# cuidarem dos est"ma$os. ue suculento lanche oi aqueleV -em se via andar ali o dedo do 4ei da n$laterra. andu)ches de todas as qualidades, quei!os, $el9ias de rutas, maç%s e pras, cremes e p%e/inhos em quantidades enormes.
Tia Nast5cia veio espiar. (quela abundAncia encantou>a. > Pra $raçasV > murmurou a velha preta. > e n%o che$asse esse reorço, isto por aqui icava como a/enda por onde passou nuvem de $aanhotos. Nem a casca das 5rvores se salvaria... redoVP edrinho insinuou>se entre os maru!os. ela primeira ve/ via os amosos mariners da maior esquadra do mundo. 1ermelhaços, louros e ruivos, com calças de boca>de>sino. E que caras havia entre elesV @e puros lobos>do>mar. Em dado momento, por9m, edrinho empalideceu. Sm dos maru!os o impressionara proundamente. aiu dali e correu em procura de eter an, que estava atracado com um sandu)che de presunto de QorR. > PTenho uma coisa muito s9ria a di/er > murmurou>lhe edrinho a meia>vo/. > En$ula isso depressa e apareça l5 no pomarP > e oi esper5>lo debai3o da pitan$ueira. eter an n%o tardou. > Pue h5KP > inda$ou, en$olindo o 6ltimo bocado do sandu)che. > P5 que descobri uma coisa muito s9ria' o apit%o Gancho2 est5 entre os marinheiros que vieram tra/er o almoço. 4econheci>o pereitamente.P eter an empalideceu. > PN%o pode ser, edrinhoV Naquela batalha no navio dos cors5rios bati>me a espada com esse monstro, e o ui apertando de $olpes e mais $olpes, e ele recuando, recuando at9 que > tchibumV > caiu nZ5$ua, bem dentro da $oela do crocodilo. Ioi assim que o apit%o Gancho morreu.P > PMorreu, nadaV Essa $ente n%o morre. om certe/a comeu o crocodilo, em ve/ de o crocodilo comer a ele. E a prova 9 que o vi no meio dos lobos>do>mar que vieram com o lanche. 1i>o com estes meus olhos, eterV he$uei pertinho, cheirei. Ele mesmo, com a m%o de $ancho calçada numa luva e aquele edor de pirata...P eter an permaneceu uns instantes pensativo. 2 ersona$em que aparece no livro eter an. > PE que querer5 por aquiKP > Pertamente que anda atr5s de vocP > su$eriu edrinho. > Pmposs)velV Nin$u9m sabia que eu vinha. Nada contei a nin$u9m > nem a \end&. 4esolvi embarcar no momento de o navio sair. -asta di/er que ui a 6ltima pessoa que se meteu a bordo. N%o, edrinho. N%o oi por minha causa que o apit%o Gancho veio. Ioi por causa do an!inho, !uroV...P > PMas que h5 de querer com o an!inhoKP > PW boaV 4apt5>lo. 1oc n%o calcula que ne$#cio 9 um an!inho desses nas unhas de um e3plorador. :5 n%o di$o para trabalhar em circo, mas no cinema, edrinhoV No cinemaV Em oll&UoodV ara entrar nas itas das @iones, da hirle&, do :acR ooperV oisa de render milh8es. Nunca houve no mundo uma estrelinha an!o.P > P4ealmente > murmurou edrinho. > (t9 eu !5 havia pensado nisso...P > Pois !uro, edrinho, que o apit%o Gancho veio com essa id9ia na cabeça, e tamb9m !uro que !5 est5 de plano ormado para urtar o an!inho.P > P(cha bom prevenirmos o (lmiranteKP > PNada disso. Eu n%o dou importAncia a $ente $rande. ostumo resolver todas as diiculdades por mim mesmo, com a meninada. Escute. E3istem armas por aquiK Espadas, lanças, pistolasKP edrinho suspirou.
> P(h, eter anV e voc soubesse que boba e medrosa 9 a vov#... Tem medo de tudo, at9 das baratas. N%o pode ver um rev#lver. Iaca, s# admite essas de mesa, de ponta redonda. Em mat9ria de armas s# tenho uma espin$ardinha de cano de $uarda>chuva que eu mesmo i/, e o meu velho bodoque...P eter an sorriu com superioridade. > Pois l5 na Terra do Nunca temos um verdadeiro arsenal. @epois de bater o apit%o Gancho, iquei com todas as armas dos cors5rios. (t9 um canh%o/inho do navio pirata eu levei para a Terra do Nunca.P > PLevou um canh%oVK...P > P# n%o levei os $randes por serem muito pesados e consumirem muita p#lvora. 1oc n%o ima$ina, edrinho, como canh%o $rande come p#lvoraV Mas espadas, pistolas, espin$ardas, lanças, machados e punhais, isso levamos tudo. Lembra>se daqueles lobos que nos rondavam por l5K ois ca)mos de tiros neles. N%o icou umV s que n%o morreram, u$iram com cem pernas, apavorad)ssimosV Nossa caverna l5 na Terra do Nunca est5 ho!e como a ortale/a do Gibraltar' ine3pu$n5velVP edrinho remiu de entusiasmo; depois suspirou, pensando com raiva do paciismo de @ona -enta. > Pue penaV > e3clamou. > e vov# dei3asse, poder)amos tamb9m a/er disto aqui uma ortale/a ine3pu$n5vel. Est5 vendo aquele cupim l5 no pastoK Tem um oco #timo para ninho de metralhadora.P > PTamb9m pelo alto destas 5rvores 9 poss)vel esconderem>se muitos atiradores > observou eter an correndo os olhos pelo pomar. > 1oc, n%o sei, mas eu sou capa/ de transormar isto aqui numa tremenda ortale/a. lhe' daquele lado corro uma linha dupla de trincheiras. [ esquerda e H direita abro ossos intranspon)veis...P > Pom uma ponte levadiçaVP > a!untou edrinho, entusiasmado. > Psso s# em casteloP > volveu eter an em tom de despre/o ante os conhecimentos militares de edrinho. Nesse instante um vulto atraiu>lhes a atenç%o > um marinheiro que caminhava disarçadamente, repetidas ve/es olhando para tr5s. > PEleVP > cochichou edrinho. eter an, velho conhecedor do apit%o Gancho, concordou. > PTem ra/%o, edrinho. W ele mesmoV # que eniou a m%o de $ancho naquela luva para disarçar> se. nde est5 o an!inhoKP > PNo oco da i$ueira $rande, l5 onde o escondemos quando a criançada apareceu. @epois que os marinheiros do almoço che$aram, dei ordem H Em)lia para que o $uardasse no oco novamente.P > Pnde 9 a i$ueiraKP > P(quela $randona, l5. W oca por dentro, como as 5rvores da Terra do Nunca.P s dois meninos ocultaram>se atr5s da pitan$ueira para melhor se$uirem os movimentos do ladr%o. iname cors5rio, sempre na ponta dos p9s, olhava em todas as direç8es, are!ando qualquer coisa. > Parece que 9 pelo aro que esses monstros se $uiamP > observou eter an. > PMas com o an!inho n%o arran!a nada, ele 9 totalmente inodoro.P > Pue quer di/er issoKP > Pnodoro quer di/er sem cheiro nenhum, como a 5$ua. ( 5$ua 9 incolor, inodora e ins)pida.P > PMas 9 capa/ de descobri>lo por induç%oP > su$eriu eter an. Ioi a ve/ de edrinho per$untar o que era induç%o.
> PW uma esp9cie de adivinhaç%o l#$ica > disse eter an. > :uro que assim que o apit%o Gancho en3er$ar a i$ueira pensar5 em oco, porque quase todas as i$ueiras velhas tm ocos; e pensando em oco, pensar5 no an!inho escondido l5 dentro. sso 9 que 9 induç%o.P E oi o que se deu. Mal o cors5rio en3er$ou a i$ueira, indu/iu lo$o e p"s>se a caminhar na direç%o dela. Nisto apareceu, inesperadamente, um se$undo vulto. > PlheV... 1em vindo outro. ( coisa se complica...P edrinho n%o tardou a reconhec>lo. > Pope&eV marinheiro ope&e, eterL.P eter an n%o conhecia esse i$ur%o. > Puem 9 eleKP > per$untou. > PSm homen/inho terr)vel, eter. N%o h5 no mundo quem o vença. @errota tudo. er5 que 9 c6mplice do apit%oKP N%o era. ( conversa entre ope&e e o cors5rio ia mostrar que n%o era. s meninos ouviram tudo pereitamente. > P1iva, enhor ope&eV > e3clamou o apit%o Gancho. > ue 9 que o tra/ por aquiKP > P mesmo que tra/ a voc, apit%oP > respondeu ope&e na sua vo/ rouqu)ssima. > P(cho que podemos nos entender e nos a!udar mutuamente > tornou Gancho. > 1ou contar tudo. 1im entre os marinheiros do (lmirante -roUn com a id9ia de levar o an!inho para Londres. 4ender5 bom dinheiro num circo.P ope&e sorriu. > Pois saiba que tive a mesma id9ia e vim dos Estados Snidos para lev5>lo a oll&Uood. No cinema esse an!o dar5 mais sorte do que em todos os circos do universo. N%o podemos, pois, nos entender, enhor apit%o Gancho.P > Pom seiscentos milh8es de colubrinasV > urrou o cors5rio. > ei que voc 9 valente, mas n%o tenho medo de caretas. 1im para levar o an!inho e hei de lev5>lo.P ope&e n%o respondeu. Limitou>se a rir e soltar uma baorada do seu amoso cachimbo de apito >pulpuV endido por aquele despre/o, o apit%o Gancho oi descalçando a luva. horrendo $ancho de erro apareceu, de ponta aiad)ssima. s dois meninos, atr5s da pitan$ueira, começaram a sentir>se eletri/ados. eter an teve d# de ope&e, achou que estava ali, estava escalavrado para o resto da vida. edrinho, entretanto, apostou em ope&e. ( luta rompeu. s dois marinheiros atracaram>se com a maior 6ria. Eram $olpes e mais $olpes, um em cima do outro. Sm soco de ope&e na quei3ada de Gancho o e/ bambear, como bbedo; orte, por9m, que era o pirata, lo$o se irmou nas pernas e avançou, deserindo uma $anchada contra o ombro de ope&e. que a este valeu oi a a$ilidade. No momento em que o $ancho vinha descendo, ope&e quebrou o corpo. Mesmo assim oi riscado de leve. E a luta prosse$uia cada ve/ mais ero/, com rasteiras, munhecaços, pontap9s na barri$a. @urante minutos, nenhum levou vanta$em. s dois contendores equivaliam>se em orça. > PEsse ope&e n%o 9 homem para medir>se com o apit%o Gancho. (cabar5 cansado e apanhandoP > murmurou eter an ao ouvido de edrinho. > PW que ope&e ainda n%o en$oliu o espinareP > e3plicou edrinho, dei3ando eter an na mesma. utra $anchada do cors5rio riscou o ombro do marinheiro. ope&e, ent%o, enureceu>se, aastando> se de/ passos, sacou do bolso a lata de espinare, cu!o conte6do en$oliu a meio. > P($ora voc vai verVP > cochichou edrinho.
E eter an viu. 1iu ope&e avançar contra o cors5rio numa 6ria louca, com os m6sculos dos braços crescidos como bolas. (o primeiro soco dado nas uças do apit%o, este cambaleou e oi estatelar>se no ch%o a oito metros de distAncia. > PEst5 vendo o que 9 murroKP > murmurou edrinho entusiasmado. Mas o apit%o Gancho levantou>se e investiu mais uma ve/. oitadoV Levou tal roda de murros, que icou como paçoca que sai do pil%o. ope&e amassou>o. Mas amassou mesmo, como quem amassa p%o. (massou>o de tal modo que o dei3ou transormado em pasta de $ente. eter an arre$alava os olhos, no maior dos assombros. > P(h, ope&e 9 assim > disse edrinho. > em espinare, n%o vale nada, apanha de qualquer pun$a. Mas quando en$ole uma dose de espinare, ah, n%o e3iste no mundo quem possa com eleVP barulho da luta atra)ra a atenç%o da criançada e do (lmirante. 1ieram todos correndo. > Pue oiK ue oiKP edrinho contou o que se havia passado. > P-andidosV > e3clamou o (lmirante -roUn. > Esses dois marinheiros vieram sem ser convidados. N%o i$uram na minha lista. 1ou p">los a erros nos por8es do \onderland.P > P">los 9 modo de di/er > advertiu edrinho. > # e3iste um. outro !5 virou pasta de $ente. que h5 a a/er 9 enterr5>lo, bem undo.P (lmirante apro3imou>se do marinheiro ca)do e e3aminou>o. 1iu que de ato era assim. Em se$uida voltou>se para ope&e. > PE vosmec, enhor ope&eV Estou reconhecendo>o muito bem. ue hist#ria 9 estaK omo se meteu na tripulaç%o do \onderland sem ter sido en$a!adoKP ope&e, que estava bbedo como uma cabra, riu>se. > P(h, ah, ahV > e atirou umas baoradas do cachimbo antes de responder. ada baorada era um apitinho' puVpuV E na sua vo/ rouqu)ssima disse' >am a sailor man.P > Pei dissoV > berrou o (lmirante. > E sei tamb9m que vai passar uns tempos nos por8es do \onderland, com umas pulseirinhas de erro nas munhecas.P ultrabbedo ope&e respondeu com mais trs apitos de baroadas e um > P(h, ah, ahVP > rouqu)ssimo. ndi$nado com o desrespeito, o (lmirante -roUn $ritou para os maru!os' > PTodos aquiV ($arrem>me este bbedo e metam>no a errosVP ope&e continuava impass)vel. Ie/ mais um >pul pul > e caiu em $uarda. ( luta entre ope&e e os marinheiros do \onderland oi dessas coisas que s# $nios do tamanho de haRespeare e @ante se atrevem a descrever > e mesmo assim descrevem mal. Nunca houve tanta pancada no mundo. e "ssemos !untar toda a imensa pancadaria que h5 no @om ui3ote de La Mancha e com ela orm5ssemos um monte, esse monte icaria pequeno diante da pancadaria que houve no pomar de @ona -enta. espinare in$erido pelo sailor man era do bom, de modo que se tornaria imposs)vel venc>lo. Sm a um os maru!os do \onderland iam sendo postos ora de combate. uando caiu o 6ltimo, ope&e deu uma risada $rossa e e/ >pulpulpulpul... (lmirante, que esperava tudo menos quatro pus, icou seriamente atrapalhado. Toda a sua marinha$em estava ca)da e ele, so/inho. e ope&e tivesse a id9ia de esmo>lo, seria uma des$raça completa, e tamb9m uma enorme aronta para o almirantado britAnico. ue a/erK (lmirante oi aconselhar>se com @ona -enta.
> PMinha senhora > disse ele >, o desenlace desta luta me dei3ou completamente desarvorado. ositivamente n%o sei como a$ir...P Tia Nast5cia apareceu nesse momento para per$untar se a/ia bolinhos ou rebentava pipocas. > P( situaç%o 9 muito s9ria, Nast5cia > respondeu @ona -enta. > 1enha per$untar isso mais tarde, depois de resolvido este horr)vel incidente.P > P1amos, minha senhoraV > insistia o (lmirante. > ue acha que devo a/erKP @ona -enta, completamente tonta, mostrou>se incapa/ de uma su$est%o. Nisto apareceu Em)lia, muito lampeirinha. > PEu sei um !eito de arrumar tudo > disse ela >, e de acabar de uma ve/ para sempre com a prosa desse ope&e...P (lmirante, apesar da horr)vel situaç%o em que se encontrava, n%o p"de dei3ar de rir>se. > PN%o se ria, (lmirante > tornou @ona -enta. > 1ossa onra n%o conhece a Em)lia. Tem eito tanta coisa que n%o me admirarei se der uma boa sova no ope&e.P > Pue absurdo, minha senhoraV > e3clamou o (lmirante. > (pesar do muito respeito que a senhora me merece acho que est5 a abusar de mim. Essas suas palavras oendem>me, oendem o almirantado britAnico, oendem ua Ma!estade o 4ei Eduardo 1...P ara acalm5>lo @ona -enta contou diversos epis#dios em que as coisas icaram em situaç%o de verdadeiro im de mundo e ainal tudo se resolveu com uma inesperada saidinha da Em)lia. (lmirante, por9m, n%o quis saber de nada. Emburrou, oendid)ssimo com a hip#tese de que uma simples boneca de pano pudesse conse$uir o que os seus valentes lobos>do>mar n%o tinham conse$uido. Em)lia un$ou e disse' > P@ei3e tudo por minha conta, @ona -enta. :uro que dou uma arrumaç%o #tima. Enquanto isso a senhora v5 despe!ando pin$a dentro desse bie malpassadoP > concluiu ela, olhando com despre/o para o (lmirante. > PEm)liaV > $ritou @ona -enta. > Mais respeito para com os mais velhos.P Mas Em)lia n%o quis saber de nada. -otou meio palmo de l)n$ua para o (lmirante e l5 se oi pisando duro. @ona -enta suspirou. Em)lia descobre o se$redo de ope&e. Em)lia oi H co/inha pedir a Tia Nast5cia que pusesse uma porç%o de olhas de couve no pil%o e amassasse tudo muito bem, a/endo uma pasta. Nast5cia per$untou para qu. > PN%o 9 da sua contaP > respondeu a diabinha. Tia Nast5cia tamb9m suspirou. Mas e/ a pasta de couve pedida, com a qual a boneca encheu uma latinha. Embrulhou>a num !ornal e, muito se$ura de si, oi ter com ope&e. > PEu sei do seu se$redo, enhor ope&e > disse ela inocentemente. > hama>se' espi>na>re. em espinare o senhor vale tanto como um homem qualquer.P ope&e e/ >puV puV > PMas eu tamb9m sei > continuou Em)lia > que o seu espinare s# a/ eeito por quin/e minutos. assados quin/e minutos o senhor est5 bambo outra ve/.P ope&e riu>se $rosso, rosnando' > P@obre os quin/e minutos e ter5 acertado. uVpuVP Em)lia aastou>se. Era !ustamente aquilo o que ela dese!ava saber' quanto tempo durava nos m6sculos do marinheiro o eeito do espinare. orreu a conerenciar com edrinho.
> PEscute, edrinho. se$redo de ope&e 9 o espinare, mas o eeito do espinare s# dura meia hora, di/ ele. omo !5 se passaram vinte minutos desde que en$oliu a dose, isso quer di/er que daqui a de/ minutos ele pode ser atacado.P > PMas ope&e n%o en$oliu a lata inteira, vi muito bem > observou o menino. > # metade. Escondeu o resto no oco da i$ueira. W por isso que n%o se arreda de l5. (ssim que or preciso, en$ole o resto da lata e ica outra ve/ dono do mundo por mais meia hora.P > Pei disso > murmurou Em)lia >, mas vou tomar as minhas providncias. Garanto que daqui a de/ minutos ope&e poder5 ser atacado sem peri$o nenhum.P > P(tacado por quemKP > $ritou edrinho. > PomessaV or voc e eter an.P > P@eus me livreV > e3clamou o menino. > eria a maior das loucuras. Ele, que moeu o apit%o Gancho e todos os marinheiros do \on>derland, tamb9m me moer5 enquanto o diabo esre$a um olho. ue id9iaV...P Em)lia a$arrou edrinho, >lo abai3ar>se e cochichou>lhe qualquer coisa ao ouvido. ( cara do menino e3pandiu>se. > P(hnV > e3clamou. > e 9 assim, ent%o !5 n%o est5 aqui quem alou. Tudo muda de i$ura. ue id9ia e3celente, Em)liaV ( melhor id9ia que voc teve em toda a sua vida...P E $anhando cora$em' > Pois est5 combinado. Eu e eter an atacaremos ope&e daqui a de/ minutos.P @isse e oi comunicar a sua resoluç%o a @ona -enta e ao (lmirante. s dois velhos icaram assombrad)ssimos. > Pue loucura, meu ilhoV > e3clamou a boa senhora. > Nem pense nisso. ro)bo>o de pensar nisso.P > P4ealmente > acrescentou o (lmirante > o que este menino prop8e n%o passa de um desvario de criança. ue absurdoV (tacar um monstro de orça, que acaba de destruir com a maior acilidade todo um pelot%o de vi$oros)ssimos lobos>do>mar...P edrinho cochichou no ouvido de @ona -enta o mesmo que Em)lia cochichara no seu. ( velha arre$alou os olhos, com e3press%o de surpresa e ale$ria. > P-om. e 9 assim, ent%o tudo muda de i$ura. ( id9ia 9 e3celente...P uem icou bobo de uma ve/ ante aquela s6bita mudança de opini%o oi o (lmirante, e como nin$u9m lhe cochichasse nada aos ouvidos bobo icou e bobo continuou. > PN%o estou entendendo nada de tudo isto, minha senhoraP > disse ele. > PEntender5 daqui a pouco, enhor (lmiranteP > respondeu @ona -enta piscando o olho.P E $ritou para a co/inha' > PNast5cia, pode vir saber se o (lmirante preere pipocas ou bolinhos...P ope&e estava encostado ao tronco da i$ueira, de modo a echar com o corpan/il a abertura do oco. sso atrapalhava Emilia, cu!o plano era entrar na 5rvore para di/er qualquer coisa ao an!inho. 1endo que pela rente n%o podia entrar, pensou em outra porta. tal oco tinha duas aberturas' aquela embai3o e outra em cima, na orquilha dos primeiros $alhos > ou a Pchamin9P, como os meninos di/iam. Essa chamin9 li$ava o bo!o do oco H orquilha e, embora osse estreita, dava pereitamente passa$em a um corpinho seco e mi6do como o da boneca. Mas para subir H i$ueira era preciso empre$ar a ast6cia e Emilia empre$ou a ast6cia. Ioi conversar com ope&e. > Penhor ope&e > disse ela com o ar/inho de santa que sabia a/er nas ocasi8es $raves >, sabe que esta i$ueira d5 uns i$uinhos muito $ostososK s sanhaços e
morce$os re$alam>se...P marinheiro olhou para cima e viu que realmente a i$ueira estava coberta de pequeninos i$os. > PuV puVP >e/ ele com o cachimbo. Emilia continuou' > Pe o senhor me a!udar a subir l5 em cima, posso colher uma quantidade, metade para mim, metade para o senhor...P marinheiro sentiu 5$ua na boca, pois $ostava muito de i$os. 4espondeu com um puV puV, que queria di/er sim, e a!udou Emilia a trepar H 5rvore. Lo$o que se pilhou l5 em cima, a espert)ssima boneca tratou de procurar a abertura da Pchamin9P. nstantes depois estava no bo!o do oco, alando com o an!inho. > PNem queira saber, an!inho, o turumbamba que vai l5 por ora, tudo por sua causaV ope&e e os marinheiros do navio se pe$aram H unha, e ope&e venceu. Escan$alhou com todos eles. (lmirante est5 co^çando a cabeça. N%o sabe como a$ir. plano de ope&e 9 urtar voc daqui. uer transormar voc em estrelinha de cinema, l5 em oll&Uood.P > PIa/er de mim estrelinhaK > repetiu a mimosa criatura, com cara de surpresa. > Esse oll&Uood 9 al$um c9uKP > PN%o, burrinhoV W a cidade do cinema. (s estrelas e estrelinhas de l5 s%o de carne e osso, como n#s. Mas depois eu e3plico isto. ($ora n%o h5 tempo. 1im s# para uma coisa. Est5 vendo esta lataK > e mostrou>lhe a lata de couve mo)da que trou3era embrulhada num !ornal. > ois 9. 1oc vai pe$ar esta lata e troc5>la por aquela que o marinheiro ope&e $uardou na beira do oco. # isso. Mas tem de o a/er com muito !eito, de modo que ope&e n%o perceba coisa nenhuma, est5 entendendoKP an!inho n%o estava entendendo nada, o que o n%o impediu de e3ecutar ielmente a ordem de Em)lia. e$ou a lata de couve, encaminhou>se na ponta dos p9s para a abertura do oco e, depois de espiar se o marinheiro estava olhando, e/ a troca na pereiç%o. Nem uma ormi>$uinha que andava por ali percebeu a mudança. > PXtimoV > e3clamou Em)lia quando o viu voltar com a lata de espinare. > ($ora voc continua aqui muito quietinho e sem receio de coisa nenhuma. :uro que tudo acabar5 bem.P > PMas estou com muito medo daquele rato de asa dependurado aliP > disse ele apontando com o dedinho para o teto do oco. > PSm simples morce$o > e3plicou Em)lia. > Ieio s#. N%o morde an!o. 1ive de comer os i$uinhos desta i$ueira. N%o se impressione. # n%o ique debai3o dele porque os tais morce$os comem os i$uinhos e Hs ve/es os descomem em cima da cabeça da $ente...P Ieita esta recomendaç%o, Em)lia es$ueirou>se pela chamin9 acima. aiu na orquilha. aminhou en$atinhando por um dos $alhos, at9 alcançar o ramo mais pr#3imo de ope&e, o qual estava de cabeça er$uida e boca aberta, procurando en3er$ar a bonequinha. > PEstou aquiV > disse ela mostrando>se. > (para>me nos braços.P ope&e estendeu os braços peludos. em medo nenhum Em)lia deu um pulo > upaV > PE os i$osKP > per$untou o marinheiro assim que a dep"s em terra. > P1erdes, meu caro. N%o achei um s# maduro. s morce$os n%o dei3am. (ssim que v%o amadurecendo, eles > nhoqueVP ope&e desapontou e Em)lia oi correndo conerenciar com edrinho e eter an. > ProntoV > $ritou ela ao che$ar. > (qui tm vocs a lata de espinare do ope&e. Troquei>a por uma i$ual de couve mo)da. uem vai a$ora en$olir o espinare maravilhoso
n%o 9 ele, s%o vocs. ope&e s# en$olir5 couve mo)da, e com aquela couve no papo icar5 bambo como $el9ia. ue horas s%oK 1e!am se os de/ minutos !5 se passaram.P edrinho correu H sala de !antar. 1iu no rel#$io da parede que s# altavam trs minutos para completar os de/. 1oltou correndo. > PIaltam s# trs minutosP > disse ele. > PMuito bem > e3clamou Em)lia. > 1ocs podem ir en$olindo o espinare > metade cada um.P edrinho tomou a lata e en$oliu metade, a/endo uma careta. e>ter an en$oliu o resto, a/endo outra careta. > Pode ser e3celente para dar orça > disse ele >, mas $ostoso n%o 9...P (lice, que andava em procura de Em)lia, apareceu nesse momento. > P(rre que a acheiVP > e3clamou. > Pue h5 de novoKP > quis saber Em)lia. > P5 que a criançada est5 num verdadeiro pavor, alando em u$ir do s)tio e outras coisas assim. Tenho eito tudo para sosse$5>las, mas n%o consi$o.P > Psso de criançada in$lesa 9 l5 com o (lmirante 4e9m -roUn. Ele que as trou3e, ele que se arrume.P > P:5 alei com o (lmirante > tornou (lice >, mas n%o valeu de nada. pobre velho est5 completamente bobo. N%o sabe o que a/er. Tenho at9 medo que de repente caia morto de con$est%o cerebral.P > PN%o morre, n%o > $ritou Em)lia. > @aqui a minutos o problema estar5 completamente resolvido por n#s e voc vai ver a cara de riso do (lmirante.P > PMinutosKP > repetiu (lice, sem nada compreender. > PMinutos, sim, menina. N#s vamos dar um pe$a tremendo no tal ope&e.P (lice cada ve/ compreendia menos. > Pe$a tremendoK er5 que @ona -enta mandou vir al$um e39rcito com canh8es para atac5>loK N%o estou entendendo esse seu Zn#s vamosZ, Em)lia...P > Pois n#s somos n#s, eu, edrinho e eter an. 1amos dar cabo da prosa do ope&e, n#s trs. W isso.P (lice !ul$ou que osse brincadeira. > PomoKP > per$untou. > Pomendo > respondeu Em)lia. > omendo espinare aqui e couve mo)da l5. (h, ah, ahV...P > E vendo a cara de boba de (lice' > PN%o pense mais nisto, minha cara. W ponto liquidado. 1amos H co/inha ver o que h5 de bom. Tia Nast5cia !5 deve ter uns bolinhos prontosP > e, a$arrando>a pela m%o, levou>a H co/inha. Nast5cia estava de ato ritando bolos. Em)lia e/ a apresentaç%o. > PEsta aqui, Tia Nast5cia, 9 a amosa (lice do a)s das Maravilhas e tamb9m do a)s do Espelho, lembra>seKPF > PMuito boas tardes, enhora Nast5ciaVP > murmurou (lice cumprimentando de cabeça. > PS9V > e3clamou a preta. > ( in$lesinha ent%o ala nossa l)n$uaKP > P(lice !5 oi tradu/ida em portu$us > e3plicou Em)lia. > E voltando>se para a menina' > Gosta de bolinhosKP Nast5cia apresentou>lhe um na ponta do $aro. > Prove, menina bonita.P (lice devorou o bolinho, arre$alando os olhos > e pediu a receita. Nast5cia riu>se. > P4eceita, dou; mas a quest%o n%o est5 na receita, est5 no !eitinho de a/er. utro dia esteve c5 a so$ra do Nh" Teodoro e tamb9m quis a receita. @ei. abe o que
aconteceuK Ela e/ o bolinho pela receita e saiu uma borracha. Nin$u9m p"de comer. (h, ah, ahV sto de co/inhar, menina, tem seus se$redos. # mesmo para uma criatura como eu que nasci no o$%o e no o$%o hei de morrer...P F Em)lia a/ reerncia aos livros (lice no pa)s das maravilhas e (lice no pa)s do espelho. assados trs minutos, Em)lia voltou para onde estavam edrinho e eter an. > ProntoV > disse ela. > @e a$ora em diante vocs podem atacar o monstro. :5 se passou a meia hora. (cabou o eeito do espinare que ope&e en$oliu.P > PE n#s !5 estamos sentindo o eeito do que en$olimosP >, disse eter an, e para o provar pe$ou uma erradura que estava no ch%o e partiu>a pelo meio, rindo. Entraram a combinar o plano de ataque. > PEu avanço > disse edrinho > e desaio ope&e. Ele ri>se. hupa o cachimbo e a/ >puVpuV>E nem pensa no espinare, vendo que somos dois crilas. 1ou eu ent%o e assento>lhe um p9>de>ouvido. 1oc do outro lado assenta>lhe um pontap9. ope&e, ent%o, percebendo que somos crilas especiais, volta>se para a lata de espinare e en$ole a couve mo)da. E ica mais bambo ainda. E vou eu e...P (ssim combinado o ataque, os dois meninos encaminharam>se na direç%o da i$ueira, se$uidos da Em)lia. Enquanto isso, l5 na saleta @ona -enta caçoava com o (lmirante. > PTome este cae/inho > di/ia ela, apresentando>lhe uma 3)cara. > Nada melhor do que o ca9 para estimular os nervos e levantar o moral.P Mas o abatimento do (lmirante era enorme. Estava a pensar nas suas tremendas responsabilidades. ue conta iria dar ao reiK Iora escolhido como o homem de mais coniança de ua Ma!estade. Graças a isso os pais de toda aquela criançada lhe entre$aram os ilhos. ra, se acontecesse uma des$raça, se ope&e na sua bebedeira investisse contra as crianças e as machucasse, que contas daria ele ao rei e aos paisK > PMinha senhora > disse o pobre (lmirante >, acho bom tele$raarmos ao $overno brasileiro pedindo a remessa imediata de tropas. # com um batalh%o bem servido de metralhadoras poderemos dar cabo desse monstro.P @ona -enta ria>se. > PN%o 9 preciso tanta coisa, (lmiranteV 1ossa onra n%o conhece o en$enho de meus netos. N%o h5 o que eles n%o consi$am. ois se at9 ao c9u !5 oramV...P > Pei disso > respondeu o (lmirante. > Mas a via$em ao c9u oi eita $raças ao tal p# de pirlimpimpim, e a senhora mesma me disse que !5 o $astaram todo. e ainda houvesse al$um restinho poderia ser que...P > PEles h%o de arrumar>se, (lmirante. Mesmo sem o p# maravilhoso h%o de dar um !eitinho.P (lmirante n%o podia compreender a calma da velha. > P:eitinhoV :eitinhoV > e3clamou. > 5 de/ minutos que a senhora est5 a alar nisso. ue !eitinhoK omo pode haver !eitinhos contra o colosso que acaba de destroçar os melhores homens do \onderlandKP @ona -enta ria>se, ria>se. > PTome o seu ca9 sosse$ado, (lmirante, e dei3e tudo por conta da criançada. senhor n%o conhece meus netos...P (lmirante suspirou e assoprou. L5 no pomar edrinho e eter an pararam diante de ope&e. > P(mi$o ope&e > começou edrinho >, sabemos que voc 9 o rei dos valentes e que tem corrido mundo a escan$alhar quantos inimi$os aparecem. o!e mesmo praticou
uma $rande açanha com o amassamento do apit%o Gancho e dos marinheiros do \onderland. Ioi uma aventura ma$n)ica, n%o resta d6vida. Mas a$ora vai medir>se conosco. repare>se.P ope&e olhou bem para os dois crilas e nem sequer se di$nou a responder. hupou s# o cachimbo >puVpuV... > PIaça pulpuV quanto quiser > disse eter an >, porque esses pu>pus ser%o os 6ltimos. ( sova que vamos dar em voc h5 de ser escrita em livros.P ope&e e/ mais dois pu>pus > os 6ltimos. nesperadamente edrinho avançou e assentou>lhe um murro no p9 do ouvido; eter an avançou do outro lado e deu>lhe um tremendo pontap9 na barri$a. @ois $olpes s#, mas dois $olpes de tal ordem que ope&e arre$alou os olhos. 1iu que tinha pela rente contendores mais peri$osos que todos os marinheiros do \onderland. E n%o quis saber de hist#rias > correu para a lata de espinare escondida no oco. Tomou>a e en$oliu tudo, a/endo uma careta. Esre$ou a barri$a e avançou contra os meninos. (hV ue tourada bonitaV s dois meninos espinarados ca)ram de murros em cima do marinheiro encouvado, como c%es amintos que se lançam ao mesmo osso. Ioi murro de todas as bandas, de todo !eito e de todos os calibres. ope&e virou peteca. Sm soco de edrinho o !o$ava sobre eter an. 1inha o soco de eter an que o arremessava sobre edrinho. E naquele vaiv9m icou ope&e por dois minutos, enquanto a criançada em redor batia palmas e $ritava' > PutroV utroV Sm murro nos quei3os a$oraV...P uem teve a honra de pre$ar o $rande murro nos quei3os, o murro que derruba nocaute, oi edrinho. (ssentou um murro debai3o para cima > baV ope&e deu duas voltas no ar e aplastou>se no ch%o, sem sentidos. edrinho a$arrou>o ent%o por uma perna e pu3ou>o para !unto da massa do apit%o Gancho. > ProntoVP > $ritou em se$uida, virando>se para a criançada. > Pocoricoc#V > cantou eter an. 4omperam palmas e vivas. Sma $ritaria medonha. > P1iva edrinhoV 1iva eter anV...P uando o berreiro che$ou H sala, @ona -enta sorriu e disse a Mr. -roUn' > Pronto, (lmirante. ope&e !5 est5 nocaute.P > Pomo sabeKP > PN%o ouve os $ritos de vit#riaK Eu tinha certe/a de que ia ser assim e por isso n%o me incomodei. ope&e derrotou os marinheiros do \onderland, venceu o apit%o Gancho, mas com os meus netos ele se estrepou. %o uns danadinhos...P Tia Nast5cia apareceu nesse momento. > Porra, inh5V > di/ia ela. > 1enha verV eu edrinho e aquele outro deram uma tunda no marinheiro do puV puV que o coitado virou massa de $ente. 1enha ver que coisa linda, inh5...P @ona -enta e o (lmirante oram ver. E viram. 1iram ope&e sem sentidos, ao lado do corpo amassado do apit%o Gancho. E viram tamb9m uma coisa muito curiosa' os marinheiros do \onderland, que pareciam mortos, começaram a ressuscitar. Er$ueram>se e vieram a/er roda em torno das duas massas de $ente. > Pue 9 issoK > interpelou Mr. -roUn. > N%o estavam mortos, ent%oKP Sm deles respondeu por todos'
> PTonteados apenas, (lmirante; mas como vimos que era imposs)vel vencer ope&e, icamos ca)dos no ch%o, a in$ir de mortos.P > P-em > disse o (lmirante, satiseito de n%o ter perdido os seus homens. > Levem para o navio estes dois re$ueses, e, se voltarem a si, ponham>nos a erros. ( :ustiça in$lesa os !ul$ar5.P s marinheiros a$arraram as duas massas de $ente e se oram com elas para o caminh%o dos sandu)ches. > PSV> e3clamou o velho in$ls. > ue susto raspeiV Nem o $rande (lmirante Nelson !amais se viu numa alhada semelhante. Mas muito eu dese!aria que a senhora me e3plicasse todo este mist9rio.P @ona -enta e3plicou. > PNada mais 5cil, (lmirante. Sma simples troca de latinhas que a Em)lia e/. pobre ope&e s# 9 $ente depois que in$ere o tal espinare da lata. Mas Em)lia trocou a sua lata de espinare por uma de couve mo)da, e trou3e o espinare para os meninos. # isso...P > PE por que a senhora n%o me avisou h5 mais tempoK or que me e/ passar por tamanhas an$6stiasKP > quei3ou>se o coitado. > Para proporcionar a 1ossa onra o imenso pra/er que neste momento est5 sentindoP > respondeu a velha. (lmirante chamou Em)lia para receber os seus cumprimentos. > PTudo dependeu da sua id9ia, enhora Marquesa > disse ele. > ( principal coisa oi trocar a lata de espinare pela de couve mo)da. abe>lhe, portanto, a $rande honra deste memorabil)ssimo eito, e estou certo de que ua Ma!estade britAnica saber5 recompens5>la devidamente. Talve/ a aça baronesa do mp9rio.P > Preiro que ua Ma!estade britAnica me mande uma cai3a de latas de leite condensadoP > respondeu a boneca. maior pra/er de Em)lia era abrir dois uros na tampa duma lata de leite condensado para escorrer o io num prato, desenhando letras. @ois urinhos > um para a sa)da do leite, outro para a entrada do ar. om um uro s# o leite n%o sai. Lo$o depois... Estava o 1isconde nesse ponto das Mem#rias, quando Em)lia entrou. > omo vai o serviçoK > inda$ou ela. > :5 escreveu al$uma coisaK > Sm colosso, Em)liaV ontei toda a hist#ria do an!inho, a vinda das crianças in$lesas, a luta de ope&e com o apit%o Gancho, com os marinheiros do \onderland e depois com edrinho e eter an... > ontou que ui eu quem salvou tudoK ue se n%o osse a minha id9ia da couve a situaç%o teria sido um horrorK > ontei tudo direitinho. > Ent%o leia. 1isconde leu todos os cap)tulos !5 prontos, aos quais Em)lia aprovou e $abou, achando>os muito bem escritinhos. > Est5 bem > disse ela. > Minhas Mem#rias v%o a $alope. uero provar ao mundo que aço de tudo, que sei brincar, que sei aritm9tica, que sei escrever mem#rias... > abe escrever mem#rias, Em)liaK > repetiu o 1isconde ironicamente. > Ent%o isso de escrever mem#rias com a m%o e a cabeça dos outros 9 saber escrever mem#riasK > ereitamente, 1iscondeV sso 9 que 9 o importante. Ia/er coisas com a m%o dos outros, $anhar dinheiro com o trabalho dos outros, pe$ar nome e ama com a cabeça
dos outros' isso 9 que 9 saber a/er as coisas. Ganhar dinheiro com o trabalho da $ente, $anhar nome e ama com a cabeça da $ente 9 n%o saber a/er as coisas. lhe, 1isconde, eu estou no mundo dos homens h5 pouco tempo, mas !5 aprendi a viver. (prendi o $rande se$redo da vida dos homens na terra' a esperte/aV er esperto 9 tudo. mundo 9 dos espertos. e eu tivesse um ilhinho, dava>lhe um s# conselho' Pe!a esperto, meu ilhoVP > E como lhe e3plicar o que 9 ser espertoK > inda$ou o 1isconde. > Muito simplesmente > respondeu a boneca. > itando o meu e3emplo e o seu, 1isconde. uem 9 que e/ a P(ritm9ticaPK 1oc. uem $anhou nome e amaK Eu. uem 9 que est5 escrevendo as Mem#riasK 1oc. uem vai $anhar nome e amaK Eu... 1isconde achou que aquilo estava certo, mas era um $rande desaoro. > E se eu me recusar a escreverK e eu dei3ar as Mem#rias neste ponto, que 9 que aconteceK Em)lia deu uma $rande risada. > -oboV e i/er isso, pensa que me apertoK orro l5 com uindim e ele me acaba o livro. -em sabe que uindim me obedece em tudo, ce$amente. W in6til, 1isconde, lutar contra os espertos. Eles acabam vencendo sempre. or isso, abai3e a crista e continue. pobre 1isconde deu um suspiro. Era assim mesmo... > E a$oraK > inda$ou. > ue mais quer que conteK > resto da hist#ria do an!inho. onte como oi a u$a do an!inho para o c9u. 15 escrevendo que eu !5 volto. Estou brincando de pe$ador com o uindim. @isse e saiu correndo. 1isconde tomou da pena e com toda a resi$naç%o continuou. @epois dos atos que acabamos de narrar, prosse$uiu o 1isconde no cap)tulo se$uinte, tudo correu sem novidades no s)tio. (s crianças in$lesas passaram l5 trs dias, brincando de mil brinquedos, no maior contentamento poss)vel. s caminh8es do \onderland vinham duas ve/es por dia, de manh% e H tarde, com o carre$amento de comedorias > e eram tantas que Tia Nast5cia descansou do o$%o. Ela e @ona -enta aderiram aos sandu)ches, $el9ias e quei!os do 4ei da n$laterra. # quem n%o $ostou da esta oi o an!inho. (s crianças o atropelavam demais. N%o havia para ele um s# momento de sosse$o. sso acabou dando>lhe uma id9ia' escapar, voltar para o c9u. No terceiro dia, Ilor das (lturas e3perimentou as asas. 1oou um bocadinho, como se osse para a criançada ver. entiu>se bem. ( quebradura estava pereitamente soldada. Ioi ent%o que resolveu u$ir para sempre. Mas como !5 estivesse $ostando dos meninos do s)tio n%o u$iu como um u!%o qualquer. @espediu> se, l5 do !eitinho dele. he$ando perto de Nari/inho, murmurou' > PNari/inho, dei3e>me dar um $rande abraço e um bei!o em voc. Gosto tanto da minha ami$a...P Nari/inho dei3ou>se abraçar e bei!ar in6meras ve/es. @epois oi ter com edrinho e alou em outro tom. > Pedrinho > disse ele >, ique certo de uma coisa' se al$um dia eu desaparecer *por morte, est5 claro+, levarei uma lembrança eterna de todos daqui, e principalmente de voc.P E abraçou>o e bei!ou>o tamb9m. Em se$uida oi ter com a boneca. > PEmilinha, venha dar>me um abraço e um bei!o.P > Para que tanta coisa, meu an!oK er5 que quer dei3ar>nosKP > PN%o. (penas quero dar parab9ns pelo que voc e/.P Em)lia abraçou>o e bei!ou>o > mas desconiou, indo di/er H menina'
> PEstou desconiada do an!inho. Esses abraços e bei!os parecem>me ora de prop#sito. ara mim, ele est5 pensando mais 9 em u$ir. :5 sarou. :5 voa. E se Tia Nast5cia n%o cortar lo$o a ponta de uma das suas asinhas, prrrV... l5 se vai ele a qualquer momento.P > PN%o se!a boba, Em)liaV :uro que o an!inho n%o pensa mais no c9u. Est5 acostumad)ssimo conosco.P > Pode ser > disse a boneca >, mas, por causa das d6vidas, vou insistir com Tia Nast5cia para que lhe corte a asinha, !5, !5. E se ela n%o tiver cora$em eu mesma a cortarei.P Em)lia oi e intimou a preta a cortar a asa do an!inho naquele mesmo dia. > P@eus me livreV > respondeu Tia Nast5cia. > ortar a asa de um an!o do c9u, como se osse $alinhaK... @eus me livre de cometer semelhante sacril9$io. s an!os s%o criaturas celestes.P > Pois ent%o eu mesma corto > $ritou Em)lia. > Ele est5 mudado e ho!e me deu um abraço e um bei!o com cheirinho de despedida. E !5 voa pereitamente, sabeKP @isse e correu ao quarto de @ona -enta em procura da tesoura. Estava a reme3er na cesta de costura, quando um imenso berreiro se levantou no pomar. Em)lia correu H !anela. > P an!inho voouV > $ritava a criançada. > 1ai voando altoV 1ai sumindo no c9uV...P Em)lia ainda p"de v>lo nos ares. L5 se ia que nem uma $arça, subindo, subindo sempre. :5 era um ponto no espaço. or im desapareceu... Nin$u9m descreve o desespero das crianças. ch%o do pomar icou ensopado de l5$rimas. edrinho dava pontap9s raivosos nas cascas de laran!a. Nari/inho, no colo de @ona -enta, soluçava com desespero. # Em)lia n%o chorou. (penas enureceu>se contra Tia Nast5cia. > P(quela burronaV rometeu que cortava a asinha dele e n%o cortou. ($ora, est5 a)...P Ioi correndo H co/inha tomar satisaç8es. > P1iu o que a senhora e/K or causa da sua lerde/a, do seu medo, do tal Zsacril9$ioZ, perdemos o nosso an!inho. 1oouV Ioi>se para sempre...P Nast5cia en3u$ou uma l5$rima na ponta do avental. > PMas eu n%o tinha cora$em de cortar a asinha dele, Em)lia. Tive medo. Essas criaturinhas do c9u s%o as aves de @eus. @eus podia me casti$ar...P > Pasti$ar, nadaV > berrou Em)lia. > Todas as aves s%o de @eus e no entanto prendemos can5rios e sabi5s nas $aiolas e comemos pombos assados sem que @eus se importe. ensa que Ele ica o tempo todo prestando atenç%o nas aves do quintal do c9uK Tem mais que a/er, boba. (l9m disso an!o 9 coisa que h5 l5 por cima aos milh8es. Sm de menos, um de mais, @eus nem percebe. erdemos o an!inho por sua culpa s#. -urronaV Ne$ra beiçudaV @eus que te marcou, al$uma coisa em ti achou. uando ele prete!a uma criatura 9 por casti$o.P Tia Nast5cia rompeu em choro alto > t%o alto que @ona -enta veio ver o que era. Em)lia e3plicou' > PEsta burrona teve medo de cortar a ponta da asa do an!inho. Eu bem que avisei. Eu vivia insistindo. o!e mesmo insisti. E ela, com esse beiç%o todo' ZN%o tenho cora$em... W sacril9$io...Z. acril9$io 9 esse nari/ chato.P > PEm)liaV > repreendeu @ona -enta. > 4espeite os mais velhosV N%o abuseVP > P-olasVP > $ritou Em)lia retirando>se e batendo a porta. > Pomo est5 icando isolenteVP > murmurou @ona -enta.
Era o dia da volta da criançada. Lo$o depois o (lmirante -roUn deu aos marinheiros as ordens necess5rias e apitou. Todos se reuniram em torno dele. > PMeus meninos e meninas > disse o velho in$ls, de p9 no topo da escadinha da varanda. > ( nossa esta che$ou ao im. assamos neste s)tio trs dias ini$ual5veis, na companhia desta boa $ente e do an!inho que acaba de desaparecer nas nuvens, saudoso das estrelas do c9u. 1amos reembarcar para a n$laterra. uero a$ora que vocs desilem diante de @ona -enta e lhe a$radeçam com um bom shaRe>hands *aperto de m%o+ a maravilhosa hospeda$em que nos proporcionou. Mas antes disso v%o me acompanhar num hurra de saudaç%o.P E berrou' > PurraV urraV @ona -entaVP > PurraV...P > ecoaram as crianças num coro de vo/es que encheu os ares. eter an subiu H escadinha. > PurraV urraV edrinho...P > $ritou ele. E as crianças ecoaram' > PurraV urraV edrinhoVP (lice trepou H escada. > PurraV urraV Nari/inho e Em)lia.P E mil vo/es ecoaram' > PurraV urraV Nari/inho e Em)lia.P (o ouvir o berreiro, Tia Nast5cia, l5 no o$%o, murmurou consi$o' > Pomo estes in$lesinhos urram, meu @eusV...P. Em se$uida as crianças desilaram diante de @ona -enta, que teve a pachorra de apertar a m%o de todas, uma por uma. > PGoodb&eVP > iam elas di/endo a cada shaRe>hand. he$ou a ve/ de o (lmirante despedir>se. > PMinha senhora > disse ele >, n%o sei como a$radecer a boa acolhida que tivemos neste abençoado s)tio. 1ou com recordaç8es que conservarei pelo resto da vida. E de tudo saberei dar boa conta a ua Ma!estade britAnica.P @ona -enta respondeu' > Penhor (lmirante, a honra que o 4ei da n$laterra nos e/ mandando aqui a lor da criançada in$lesa 9 dessas coisas que at9 dei3am uma pessoa com um n# na $ar$anta. N%o encontro palavras de a$radecimento. eço que apresente a ua Ma!estade as minhas homena$ens e di$a H 4ainha 1i6va que senti proundamente a morte de seu au$usto esposo. (deus, enhor (lmirante -roUnV ue se!am muito eli/es na via$em, s%o os meus mais sinceros votos. (deusV...P ( criançada, com o velho (lmirante H rente, p"s>se em marcha. uando che$aram H porteira, Em)lia $ritou' > P(deus, (liceV (deus, eter anV (deus, (lmiranteV N%o se esqueça da minha cai3a de latas de leite condensado, nem da vaca prometida H @ona -enta...P Nari/inho danou. > PEsta siri$aitaV Numa hora assim a $ente comporta>se. W o momento solene. ue id9ia n%o ir5 a/endo o (lmirante de voc, $ulosaKP > Pue bem me importaV > e3clamou Em)lia. > que quero 9 que venha a minha cai3a de leite.P @epois de tudo acabado, @ona -enta pediu H Tia Nast5cia que lhe trou3esse uma bacia de 5$ua de sal. > Para qu, inh5KP > Para me curar, Nast5cia. s tais shaRe>hands desta in$lesada escan$alharam com a minha pobre m%o...P
Nesse ponto das Mem#rias o 1isconde lembrou>se de que ele tamb9m tinha m%os e parou para esre$5>las. 4eleu o 6ltimo cap)tulo. Gostou. 4iu>se, pensando l5 consi$o' Pou um danadinho para escreverV Mas por muito que escreva !amais conquistarei ama de escritor. Em)lia n%o dei3a. (quela diaba assina tudo quanto eu produ/o...P >Muuuul... > soou um vo/eir%o na !anela do quarto. 1isconde voltou>se. Era uindim. rinoceronte eniara o oci>nho pela abertura da !anela. Em)lia, montada no chire dele, $ritou' > :5 acabou o serviço, 1iscondeK > (cabei a hist#ria do an!inho. ( criançada in$lesa l5 se vai embora, com o (lmirante na rente. ontei a hist#ria do leite condensado > aquela tremenda rata que voc deu... Em)lia escorre$ou do chire do rinoceronte e entrou pela !anela. Ioi e3aminar a obra do 1isconde. I>lo ler a 6ltima parte escrita. @eu a sua aprovaç%o. > Est5 bem. Ialta a$ora aquele caso do eninha > disse ela. > -em sabe que depois do passeio ao a)s das I5bulas icamos aqui numa d6vida a respeito do eninha. Sns queriam que ele osse o eninha mesmo; outros achavam que era o pr#prio eter an. s dois meninos eram i$ualmente invis)veis, quando queriam ser invis)veis, e ambos cantavam cocoricoc#. meio de sair da d6vida, na minha opini%o, seria a/er uma consulta a eter an > e lo$o que a criançada in$lesa partiu, com o (lmirante H rente, eu me lembrei disso. > Pedrinho > disse eu > aproveite a ocasi%o para saber de eter an se o eninha 9 ele.P D Este persona$em aparece em 4einaç8es de Nari/inho, volume 2. > PXtima lembrançaVP > respondeu edrinho > e mandou 4abic# atr5s do bando !5 lon$e, com um recado que me lembro muito bem. Sm recado assim' P(mi$o eter' aça o avor de responder se o eninha 9 ou n%o 9 voc. 5 muito tempo que andamos aqui na d6vida. Mas n%o minta. 4esponda a s9rio. eu ami$o edrinhoP. Esse recado oi escrito Hs pressas num dos pap9is que vinham embrulhando os sandu)ches de presunto de QorR. Lembro>me disso porque ui eu quem apanhou do ch%o o papel em que edrinho escreveu o recado. edrinho escreveu o recado, dobrou o papel muito bem dobradinho, e disse a 4abic#' > P15 correndo atr5s do bando e entre$ue isto a eter an. E espere a resposta.P Nesse ponto o 1isconde interrompeu Em)lia e continuou a hist#ria. > E3atamente > disse ele. > E 4abic# oi correndo, mas parou lo$o adiante da porteira, atr5s do cupim. cheirinho a presunto de QorR daquele papel en$ordurado perturbou a cabeça dele... 4abic#, ent%o, comeu o recado sem nem sequer ter a lembrança de ler o bilhete, de modo a poder dar o recado verbalmente. E meia hora depois... Em)lia tapou a boca do 1isconde. > @ei3e>me contar o resto. Meia hora depois 4abic# reapareceu, in$indo>se cansad)ssimo, com aquela cara de boi ladr%o que ele tem quando a/ al$umas das suas. > ProntoV > disse ele a edrinho. > :5 entre$uei o recado a eter an.P > PE qual oi a respostaKP > per$untou edrinho. > 4abic# atrapalhou>se, começou a mascar. > P( respostaK > repetiu. > ( resposta... a resposta oi que... que ele a$radecia muito as suas palavras de despedida e que quando che$asse H n$laterra ia... ia...P edrinho avermelhou de c#lera.
> Palavras de despedidaK Eu l5 escrevi palavras de despedidaK Naquele bilhete eu apenas per$untava se o eninha era ou n%o era ele...P > PW verdadeV > e3clamou 4abic#. > N%o sei onde ando com a cabeça. sso mesmo. (ssim que entre$uei a eter an o papel, ele o leu, pensou um minutinho... e... e respondeu assim' Z@i$a ao enhor edro que... que pode ser que sim, pode ser que n%oZ. Ioi isso...P > PIicamos na mesmaV > e3clamou edrinho, danado. > eter an est5 se a/endo de misterioso.P Mas eu, que n%o sou tola, desconiei lo$o. (pro3imei>me disarça>damente da boca de 4abic# e cheirei > e senti um cheirinho de bilhete comido. > P1oc devorou o bilhete, 4abic#V > ui $ritando. > Tanto devorou que est5 com cheiro de bilhete devorado na bocaVP > PN%o devorei, Em)liaV :uro que n%o devorei...P > mentiu o miser5vel. > P@evorouV @evorouV @evorouV...P > 1oc, 1isconde, vinha entrando, lembra>seK, ainda de camisola branca e asas > isto 9, com uma asa s#; a outra !5 havia ca)do. Eu, ent%o, disse' > P1isconde, o senhor que 9 um herlocR, venha resolver esse caso. (plique a sua cincia na boca de 4abic# e ve!a se ele devorou um recado escrito em papel de sandu)che, que edrinho mandou a eter an.P > 1oc, 1isconde, oi buscar a lente dos detetives e e3aminou todos os pelinhos do ocinho de 4abic#. E disse' > Por aqui h5 sinais de ter andado um recado.P 4abic# deendeu>se' > PNada mais natural, visto que levei o recado na bocaP > disse ele. > 1oc, 1isconde, prosse$uiu na investi$aç%o, e3aminou>lhe os dentes e descobriu, entaladinhos neles, os sinais do crime. E $ritou' > P1e!o nos v%os dos dentes deste quadr6pede pedacinhos de papel mascadoP > n%o oi assim mesmo, 1iscondeK edrinho, ent%o, n%o quis saber de mais nada. re$ou no Marqus tamanho pontap9 que ele oi parar a cinco metros de distAncia, a/endo > coin, coin > e sumiu>se. > ( eterna $ulodice de 4abic# e/ que perdssemos a melhor oportunidade de saber se eninha era o mesmo eter an ou n%o. > Escreva este caso, 1isconde. E depois pode contar a hist#ria inteira do uindim aqui no s)tio. 15 escrevendo, que eu !5 volto > concluiu Em)lia > e saiu correndo. 1isconde !5 estava com os dedos cansados de tanto escrever, e tamb9m revoltado contra as e3i$ncias de Em)lia. 6bito riu>se. P1ou pre$ar>lhe uma peçaP, pensou l5 consi$o. P1ou escrever uma coisa e quando ela voltar e me mandar ler eu pulo o pedaço ou leio outra. W isso...P E p"s>se a escrever contra a boneca, assim' PEm)lia 9 uma tirana sem coraç%o. N%o tem d# de nada. uando Tia Nast5cia vai matar um ran$o, todos correm de perto e tapam os ouvidos. Em)lia, n%o. Em)lia vai assistir. @5 opini8es, acha que o ran$o n%o icou bem matado, manda que Tia Nast5cia o mate novamente > e outras coisas assim.P PTamb9m 9 a criatura mais interesseira do mundo. Tudo quanto a/ tem uma ra/%o e$o)stica. # pensa em si, na vidinha dela, nos brin>quedinhos dela. or isso mesmo est5 icando a pessoa mais rica da casa. Eu, por e3emplo, s# possuo um ob!eto > a minha cartola. :amais conse$ui ser propriet5rio de outra coisa, porque se arran!o qualquer coisa Em)lia encontra !eito de me tomar. (t9 aquele diton$uinho que raptei no a)s da Gram5tica e escondi na boca a diaba descobriu e me e/ cuspir ora.P
PEla, entretanto, possui um colosso de coisas. quartinho da Em)lia est5 cheio > mais ainda que este quarto de badulaques. W dona de $rande n6mero de pernas e braços e cabeças de bonecas > das que Nari/inho quebrou. Tem uma coleç%o de panelinhas de barro, e outra de caquinhos coloridos de louça. Sma ve/ quebrou de prop#sito uma linda 3)cara verde de @ona -enta s# para completar a sua coleç%o de caquinhos > porque estava altando um caquinho verde...P PTem besouros secos, um morce$o seco, lores secas, borboletas secas e at9 um camar%o seco. Tem coleç%o de ios de cabelo, que ela enrola um por um como cordinhas. abelos de @ona -enta, de Nari/inho e edrinho, do apit%o Gancho, do ope&e. Na sua coleç%o, di/ ela, s# alta uma coisa' io de cabelo de um homem totalmente careca.P PE tem mais coisas. Tem uma coleç%o de selos, todos cortados. Em)lia recorta as cabecinhas e mais i$urinhas dos selos e pre$a>as num 5lbum. N%o h5 o que n%o ha!a naquele quarto. @urante uns tempos andou com mania de colecionar verru$as, das que tm um io de cabelo plantado no meio. sso por causa da so$ra do ompadre Teodorico, que veio um dia aqui. Essa velha possui uma verru$a na cara. Em)lia começou a namorar aquela verru$a. or im oereceu H velha um tost%o por aquilo > ima$inemVP PEm)lia 9 uma criaturinha incompreens)vel. Ia/ coisas de louca, e tamb9m a/ coisas que at9 espantam a $ente, de t%o sensatas. @i/ asneiras enormes, e tamb9m coisas t%o s5bias que @ona -enta ica a pensar. Tem sa)das para tudo. N%o se aperta, n%o se atrapalha. E em mat9ria de esperte/a n%o e3iste outra no mundo. arece que adivinha, ou v atrav9s dos corpos.P PSm dia, em que muito me impressionei com qualquer coisa que ela disse, propus>lhe esta per$unta' > Mas, ainal de contas, Em)lia, que 9 que voc 9KP PEm)lia levantou para o ar aquele implicante nari/inho de retr#s e respondeu' > ou a ndependncia ou Morte.P PIiquei pensativo. Na realidade, o que Em)lia 9, 9 isso' uma independencia/inha de pano > independente at9 no tratar as pessoas pelo nome que quer e n%o pelo nome que as pessoas tm. ara ela eu sou o Milho; o (lmirante 9 o -ie...P P(qui no s)tio quem manda 9 ela. or mais que os meninos açam, no im quem conse$ue o que quer 9 a Em)lia com os seus amosos !eitinhos. erta ve/...P Em)lia entrou nesse momento. > omo v%o as Mem#rias, 1iscondeK Mais um cap)tuloK > im > respondeu o 1isconde, meio atrapalhado. > Escrevi mais um cap)tulo... > obre quK 1isconde, que n%o queria ler aquele cap)tulo contra ela, começou a inventar. > Escrevi > disse ele > sobre... sobre a nossa volta da via$em ao c9u. ontei o... o tombo que vocs deram de cima daquele cometa. Em)lia desconiou. > 1isconde, 1iscondeV senhor est5 me tapeandoV... Esse seu ar de cachorrinho que quebrou a panela est5 me di/endo que o senhor escreveu uma coisa e quer impin$ir outra. pobre 1isconde corou at9 a rai/ das palhinhas. mposs)vel en$anar aquele a/ou$ueV ( boneca arrancou>lhe das m%os o cap)tulo. Leu>o... Mas com $rande assombro do 1isconde n%o e/ a cena que ele esperava. Em)lia icou uns instantes meditativa. @epois disse'
> senhor me traiu. Escreveu aqui uma porç%o de coisas perversas e desa$rad5veis, com o im de me desmorali/ar perante o p6blico. Mas, pensando bem, ve!o que sou assim mesmo. Est5 certo. Leu mais uma ve/ o cap)tulo. > W isso mesmo. ou tudo isso e ainda mais al$uma coisa. ode icar como est5. ada um de n#s dois, 1isconde, 9 como Tia Nast5cia nos e/. e somos assim ou assados, a culpa n%o 9 nossa > 9 da ne$ra beiçuda. ada ve/ que Em)lia alava na ne$ra lembrava>se do an!inho u$ido, de modo que naquele momento esqueceu das Mem#rias para pensar nele. > N%o posso alar nessa ne$ra beiçuda sem que o san$ue n%o me venha H cabeça, 1iscondeV erdemos Ilor/inha das (lturas s# por causa de um tal Psacril9$ioP que a burrona inventouV mposs)vel conormar>me com a perda do meu an!inho... E depois de uns instantes de meditaç%o' > Estou a ver>me com ele em oll&Uood, no cinema... 6bito, teve uma id9ia. > ode ir embora, 1isconde. Eu mesma quero acabar estas Mem#rias. 1ou contar o que teria acontecido se Tia Nast5cia houvesse cortado a ponta da asa do an!inho. Iomos para oll&Uood no \onderland, com toda a criançada in$lesa, eter an e o (lmirante. E (lice tamb9m. Iu$i do s)tio. Eu !5 andava en!oada de bolinhos, de pitan$ueira, de pa)ses>da>$ram5tica. Iu$i > u$i > u$i com o an!inho e o 1isconde. ( via$em oi #tima, e3ceto para o 1isconde, que en!oou a ponto de deitar ao mar metade da sua cincia. 1omitou lo$aritmos, An$ulos e triAn$ulos, leis de NeUton > uma trapalhada. Eu n%o en!oei coisa nenhuma, nem o an!inho. Em ve/ disso, aproveitei o tempo para estudar com o (lmirante a l)n$ua de (lice. No im da primeira semana o velho declarou a eter an' > PW e3traordin5ria a inteli$ncia desta criançaV :5 est5 alando in$ls sem o menor sotaqueVP N%o era elo$io, n%o. @e ato assimilei com tal pereiç%o aquela l)n$ua que che$uei at9 a corri$ir muitos erros de (lice. Em Nova QorR desembarcamos. ouve bri$a. (lmirante queria levar>me para \ashin$ton, a im de apresentar>me ao tal residente 4oosevelt. Eu s# queria saber do cinema. ueria oll&Uood, que 9 a cidade do cinema. N%o discuti. Iin$i que ia para \ashin$ton e ui parar em oll&Uood, de avi%o. > omo issoK > per$untar5 al$u9m; e eu responderei' PN%o me amolem com cornos. omi$o n%o h5 como. Iui e acabou>se.P L5 che$ando, com o an!inho por uma das m%os e o 1isconde pela outra, ui lo$o em procura da hirle& Temple. -ati na porta da casinha dela. 1eio uma criada. > P@ona hirle& est5KP > per$untei. uando a criada nos viu, arre$alou os olhos e abriu uma boca deste tamanho. > Phirle&, corraV... 1enha ver trs en"menos > $ritou ela. > Sm an!inho, uma boneca e um sabu$o de cartola...P hirle& veio de $alope. Mas n%o mostrou o menor espanto. (braçou>me, di/endo' oll&Uood. > PEu sabia que voc acabava che$ando at9 aqui. (inda ontem disse H mam%e' Zualquer coisa est5 me di/endo que Em)lia n%o tardaZ.P uem se admirou daquelas palavras ui eu. > PEnt%o... ent%o !5 me conheciaKP > per$untei.
> Pra, Em)liaV uem n%o conhece a Marquesa de 4abic#K Iiquei sabendo que em oll&Uood todos sabemos de cor/inho aqueles livros onde vm contadas as suas hist#rias. caso da p)lula alante, da via$em ao a)s da I5bula, onde @ona -enta se sentou em cima do dedo do 5ssaro 4oca pensando que era rai/ de 5rvore... uem n%o sabe essas hist#riasKP > Pois ent%o, minha cara hirle&, estamos mais do que pa$as > disse eu >, porque no -rasil n%o h5 quem n%o conheça voc. (quela sua ita do tempo da $uerra, quando voc oi pedir ao residente Lincoln que soltasse o prisioneiro, e começou a comer maç% no colo dele > ZEste pedaço 9 meuZ > ZEste a$ora 9 o seuZ > n%o h5 por l5 quem n%o conheça. abemos voc de cor, hirle&.P > PXtimoV > disse ela. > E que pretendem a/er por aquiKP > Pue per$untaV retendemos virar estrelas. Minha id9ia 9 empre$ar>me na aramount, eu e estes companheirinhos. Iormaremos o mais estupendo trio que ainda houve. ue achaKP > P(cho que vai ser um sucesso louco, Em)liaV Nunca apareceu no cinema um an!o de verdade, nem uma boneca alante, nem um sabu$o cient)ico.P > P:5 n%o 9 maisP > murmurei olhando para o 1isconde com o meu ar compun$ido. > PN%o 9 mais o quKP > Pient)ico. Na via$em por mar o 1isconde en!oou e vomitou toda a cincia. Est5 va/io...P > Pue penaV > e3clamou hirle&. > E a$oraKP > Pavemos de dar um !eito. Tenho id9ia de lev5>lo a uma universidade para ench>lo de novo. Talve/ ha!a por l5 al$uma bomba de cincia, como as de $asolina.P hirle& reletiu uns instantes. > PN%o 9 preciso > declarou por im. > onheço $randes artistas do cinema que n%o possuem cincia nenhuma. 4in>tin>tin, por e3emplo. ual a cincia deleK Nenhuma. N%o sabe nem o que 9 verbo. E quantos outrosV Mas, olhe, antes de vocs se apresentarem H aramount, podemos a/er um ensaio de ita aqui em casa. Tenho tudo o que 9 necess5rio. Enredo, inventaremos um. uerKP > PXtimo, hirle&V > e3clamei entusiasmada. > E enredo !5 tenho um e3celente na cabeça. ( bordo vim todo o tempo pensando nisso.P > Pual 9KP > PSma itinha tirada do @om ui3ote de La Mancha. onhece a hist#riaKP > Pe conheçoV W de todos os livros o de que $osto mais. :5 o li trs ve/es.P > Pois muito bem > disse eu. > 1isconde ser5 @om ui3ote. Eu serei o moinho de vento. an!inho ser5 ancho ança...P > Pue !udiaç%oV > e3clamou hirle& com os olhos em Ilor das (lturas. > Ia/er de um encantinho destes um $orducho daqueles...P > PTudo por brincadeira, hirle&. uanto mais maluco, mais en$raçado. E voc ar5 o papel do cura da aldeia.P > PN%oV > $ritou hirle&. > uero a/er o papel de 4ocinanteV ue amor de cavalo aqueleV...P rontoV Estava tudo resolvido. (rran!ar vestu5rios oi um instante. hirle& tinha um quarto cheio de brinquedos e coisas que lhe davam. rimeiro vestimos de @om ui3ote o 1isconde, com uma tampa de lata na cabeça > o elmo de Mambrino. om a lata de uns va$8e/inhos quebrados i/emos a couraça; e com outra tampa de lata, o escudo. Iicou altando a lança. > PE lança, hirle&K > per$untei, n%o vendo por ali nada que pudesse espetar.P > Pabo de vassoura serveKP
> PMuito $rande, muito pesado para ele.P > Pabo de vassourinha > e3plicou lo$o hirle&. > Tenho uma de um tamanho que serve pereitamente > e lo$o achou uma vassourinha sem vassoura, s# cabo. Ie/ ponta. > Est5 aqui uma lança boa para um espirro de $ente > disse ela dando>a ao 1isconde. > 1amos a$ora Zsan>charZ o nosso an!o.P Eu rolei de rir quando hirle& acabou de arrumar o an!inho com um pequeno travesseiro amarrado na barri$a para servir de pança. E pendurado no ombrinho dele um alor!e. Iicou um amor de ancho ança. # altava o burrinho. > PE o burrinhoKP > per$untei. > Pavalos temos aqui em quantidade > disse hirle&, reme3endo num monte de brinquedos onde havia de tudo. (chou lo$o um cavalo sem rabo, que icou sendo burro. an!inho montou.P > P1iva, viva ancho ançaV > $ritamos as duas dando um bei!o naquela $alante/a barri$uda. Ilor das (lturas e/ bico. Estava assustado de ver>se $ordo daquela maneira.P > PE como vai voc a/er o moinho de ventoKP > per$untou hirle&. > PNada mais simples > respondi. > Iico plantada ali naquele lu$ar, que 9 a estrada, ico $irando o braço direito como asa de moinho, assim...P > PXtimoV > e3clamou hirle&. > odemos ent%o começar.P E começamos. lantei>me H beira da estrada, muda como um pei3e, a $irar o braço, /unnn... L5 lon$e apareceu @om ui3ote, montado no 4ocinante>hirle&, com o an!inho>ancho atr5s. (ssim que me viu, @om ui3ote parou e disse' > Plha l5, ami$o anchoV Estou vendo H beira do caminho um terr)vel $i$ante. 1ou atac5>lo.P an!inho>ancho, que havia decorado mal o que tinha de di/er, respondeu' > PN%o 9 $i$ante, meu senhor. W a Em)lia in$indo de moinho.P > PTu 9s o rei dos patetas, anchoV > disse @om ui3ote. > :uro que 9 o tremendo $i$ante Milarrobas, o maior comedor de crianças que e3iste. Espera>me neste ponto. 1ou atac5>lo. @epois de vencido, poder5s recolher os despo!os.P E @om ui3ote atacou, de lança em riste, a/endo 4ocinante disparar na minha direç%o num $alope louco. 4ocinante>hirle& teve de se$urar as perninhas dele, para que n%o ca)sse cem tombos. uando vi apro3imar>se de mim aquele cavaleiro andante de tampi>nha de lata na cabeça e lança apontada, re$irei os braços com mais orça. E quando ele che$ou ao meu alcance dei>lhe tal peteleco que ele voou pelos ares, indo cair de ponta>cabeça dentro de uma cai3a de bombons va/ia. Iicou l5 de pernas para o ar, mudo, sem poder di/er o que tinha de di/er. 4ocinante>hirle& oi tir5>lo da cai3a. # ent%o @om ui3ote e3clamou' > P(cuda, anchoV maldito $i$ante dei3ou>me em pandarecos.P an!inho>ancho veio correndo, a pu3ar o seu burrinho>cavalo, que era de rodas. he$ou e esqueceu a alaç%o ensinada. > Pue 9 que eu di$o a$oraK > per$untou ele a 4ocinante>hirle& com aquela carinha linda de an!o ca)do do c9u.P 4ocinante>hirle& repetiu>lhe ao ouvido a r9plica, isto 9, o que ele tinha de di/er. E ele' > Penhor meu amo, bem eitoV Eu n%o disse que era moinhoK N%o quis acreditar, n%o 9K ois a$ora omente>se...P @om ui3ote respondeu' > PN%o era moinho, n%o, anchoV Era o $i$anteV Mas o maldito m5$ico Ireston o transormou em moinho no momento em que o ataquei. ($ora estou aqui com as costelas
quebradas, sem poder levantar>me...P > Pua alma, sua palma > disse ancho. > uem vai buscar l%, sai tosquiado. -oa romaria a/, quem em casa ica em pa/. ($Jente>se...P @om ui3ote $emia no ch%o. 4ocinante>hirle& tamb9m devia estar ca)do, a $emer, mas pulou esse pedaço. Estava, sim, a rir>se doidamente da atrapalhaç%o de ancho com o travesseirinho da pança. > P travesseiro est5 caindoVP > murmurava ancho muito alito. > P@ei3e que caiaV > $ritei. > Ia/ de conta que voc ema$receu da dor de ver o seu amo espandon$ado. 1amos a$ora condu/ir @om ui3ote para a aldeia da Mancha.P hirle& lar$ou de ser 4ocinante e eu lar$uei de ser moinho. Levantamos @om ui3ote do ch%o para o arrumarmos em cima do burrinho>cavalo de ancho > e l5 omos para a aldeia. (o atravessarmos a sala de !antar, vimos a m%e de hirle& arrumando a mesa para o lanche. > Pue maluquice 9 essa, minha ilhaK > per$untou a boa senhora, que n%o sabia de nada. E vendo> me ali, mais o an!inho' > E que crianças esquisitas, hirle&V nde descobriu issoKP > PN%o s%o crianças, mam%e. Esta 9 a Em)lia, a amosa boneca que a/ coisas do arco>da>velha no s)tio de @ona -enta, e este 9 o an!inho de asa quebrada que ela caçou nas estrelas.P ( m%e de hirle& abriu tamanha boca que tive medo que me en$olisse. ( coitada n%o entendeu patavina, pois nunca tinha ouvido alar de mim, nem do s)tio, nem do an!inho. uis mais e3plicaç8es. > Pmposs)vel, mam%eV > respondeu hirle&. > Estamos com pressa de che$ar H aldeia da Mancha onde mora este cavaleiro andante...P > Pue cavaleiro andante, minha ilhaKP > interrompeu a boa senhora espantada. > P@om ui3ote, mam%e, este de costelas quebradas que se$ue no burrinho>cavalo. E para mim' > @epressa, moinhoV N%o temos tempo a perder. nosso doente est5 desen$anado.P (travessamos a sala no trote e sa)mos para a rua, dei3ando a m%e de hirle& ainda de boca aberta e olhos arre$alados, sem entender cois)ssima nenhuma. Na rua chamamos um t53i. Entramos. usemos dentro o pandareco. > P@epressaV > $ritou hirle&. > Toque para a aldeia da Mancha onde mora este re$us.P homem do t53i n%o sabia onde era a tal aldeia. > PW em qualquer parteV > $ritou hirle&. > Toque depressa antes que ele morra.P t53i saiu na volada. Sma batida na porta veio interromper o trabalho de Em)lia em suas Mem#rias. Era @ona -enta. > Estou estranhando a sua quietura aqui neste quarto, Em)lia, e vim saber o que h5 > disse a boa velha. > N%o h5 nada, @ona -enta. W que estou escrevendo as minhas Mem#rias e acabo de che$ar a um ponto muito interessante. t53i vai numa volada louca para a aldeia da Mancha. cavaleiro andante $eme com trs costelas quebradas. ancho perdeu a barri$a de travesseiro. 4ocinante>hirle& dei3ou a mam%e na sala de !antar com uma cara i$ual/inha H sua. @e ato, a cara de @ona -enta estava i$ual/inha H cara que a m%e da hirle& e/ na sala de !antar, quando viu aquele bando de louquinhos passar por l5. > Mas... > começou @ona -enta. > N%o estou entendendo nada de nada de nada, Em)lia. E3plique>se. > %o as minhas Mem#rias, @ona -enta. > ue Mem#rias, Em)liaK
> (s Mem#rias que o 1isconde começou e eu estou concluindo. Neste momento estou contando o que se passou comi$o em oll&Uood, com a hirle&, o an!inho e o sabu$o. W o ensaio de uma ita para a aramount. > Em)liaV > e3clamou @ona -enta. > 1oc quer nos tapear. Em Mem#rias a $ente s# conta a verdade, o que houve, o que se passou. 1oc nunca esteve em oll&Uood, nem conhece a hirle&. omo ent%o se p8e a inventar tudo issoK > Minhas Mem#rias > e3plicou Em)lia > s%o dierentes de todas as outras. Eu conto o que houve e o que devia haver. > Ent%o 9 romance, 9 antasia... > %o mem#rias ant5sticas. uer ler um pedacinhoK > ($ora, n%o. Tenho de ir escolher a ran$a que Tia Nast5cia vai matar. uando o seu trabalho estiver conclu)do, ent%o o lerei. Estou deveras curiosa de ver o que sai dessa cabecinha... > iolho 9 que n%o 9V @ona -enta retirou>se e Em)lia continuou. (ntes disso esteve uns instantes com os olhos no orro, pensando l5 consi$o' PEstas velhas s# servem para atrapalhar a vida da $ente. N%o me lembro mais onde estava. (h, sim... Na volada do t53i. )amos para a aldeia da ManchaP. > P@epressa, driverlP > $ritou hirle& para o choer. > P:5 che$amos > disse ele > e parou.P > PW aqui ent%o a aldeia da ManchaKP > per$untou hirle&. > Pereitamente. ( senhorita n%o disse que era em qualquer parteK Lo$o, 9 tamb9m aqui.P > PEst5 certoP > aprovou hirle&, saltando do t53i comi$o e o an!inho. Nesse momento... > (), enhora Em)liaV > e3clamaram duas vo/es atr5s dela. Escrevendo suas Mem#rias, heinK Eram Nari/inho e edrinho, aos quais @ona -enta havia contado tudo. > uero ler um pedaço > disse a menina. Em)lia escondeu a papelada. > N%o pode ainda. # depois que orem publicadas. > ara que esse en!oamentoK Tem medo que eu coma a sua literaturaK > e Nari/inho oi a$arrando nas Mem#rias H orça. Leu um pedaço. Gostou. > Est%o en$raçadas, sim, edrinho. 1enha ver. edrinho leu !unto com ela mais um pedaço e a conseqJncia oi icarem tamb9m assanhad)ssimos para escrever mem#rias. > 1ou começar as minhas !5 > disse Nari/inho, !o$ando a papelada e saindo a $alope. > E eu tamb9mV > $ritou o menino, saindo noutro $alope. > nve!ososV > murmurou Em)lia. > (ssim que me vem a/endo uma coisa, querem a/er o mesmo. :untou a papelada do ch%o. -oce!ou. E3aminou os dedos. > omo cansa escreverV Estou com a m%o doendo. melhor 9 continuar com a munheca do 1isconde. Ioi H !anela. hamou' > W hora, 1iscondeV 1enha correndoV 1isconde veio correndo. > :5 estou com os dedos do)dos de tanto escrever > disse ela. > ontinue as Mem#rias. > Em que ponto est5K > Estou com a hirle& e o an!inho em oll&Uood, levando @om ui3o>te para a aldeia da Mancha, que pode ser em qualquer parte. ontinue. 1isconde abriu a boca, espantado. N%o estava entendendo coisa nenhuma. > 1amos, escrevaV > disse ela.
> omo poderei escrever uma hist#ria que n%o seiK Nunca estive em oll&Uood, nem nunca voc me contou essa passa$em. > E que tem isso, boboK Eu tamb9m n%o estive l5 e estou contando tudo direitinho. uem tem miolo n%o se aperta. 1isconde leu o pedaço escrito. > ue horror, Em)liaV Eu transormado aqui em @om ui3ote, com trs costelas quebradas, moribundo... sto 9 abusar da humanidade. > ois abuse da humanidade e termine a hist#ria. > @a maneira que eu quiserK > inda$ou o 1isconde, !5 com um plano na cabeça. > im. @a maneira que quiser > respondeu Em)lia. > :ura que de qualquer modo serveK > :uroV (o ouvir o !uro, o 1isconde incou com tanta orça um ponto inal na hist#ria que at9 urou o papel. > rontoV Est5 conclu)da. Em)lia plantou>se diante dele, de m%o/inhas na cintura, danada. > im, senhorV :5 9 desaoro. re$ou>me uma peça, a/endo>me !urar. lhe, 1isconde, se me pre$a outra assim, !uro que cumpro a minha palavra. @epeno>o, sabeK Em)lia !5 ameaçara o 1isconde de o PdepenarP, isto 9, de lhe arrancar as perninhas e os braços, e o 1isconde icava branco de cera ao lembrar>se disso. Eis por que se apressou a p"r um rabinho naquele ponto inal, transormando>o em v)r$ula. > Eu estava brincando, Em)lia > disse ele. > N%o conclu) com ponto, e sim com v)r$ula. uer di/er que a coisa continua. 1ou contar o resto da hist#ria, pode icar sosse$ada. > ssoV E quando acabar me chame. Estou na salinha de costura de @ona -enta. Em)lia saiu e o 1isconde continuou as Mem#rias do ponto em que Em)lia parar5, assim' P...Nesse momento, v)r$ula, @om ui3ote aproveitou>se dum instante em que o Moinho se havia aastado e disse para 4ocinante>hirle&' > (mi$o 4ocinante>hirle&, este Moinho 9 uma peste, vive atropelando a humanidade e sobretudo a mim, que sou a maior das v)timas. (meaça>me sempre dum casti$o tremendo' depenar>me.P > Pomo, senhor cavaleiro da ManchaK omo pode o Moinho depenar 1ossa enhoria, se 1ossa enhoria s# possui penas l5 no seu escrit#rio, que 9 lon$e daqui, na aldeia da ManchaKP > Puando o Moinho ala em depenar>me, tem na cabeça uma id9ia horrenda, qual a de arrancar>me estas duas pernas e estes dois braços que Tia Nast5cia me deu.P 4ocinante>hirle& horrori/ou>se com tamanha crueldade e disse' > PN%o tenha medo que tal aconteça, enhor @om ui3ote. e o Moinho tentar a/er isso, encarre$o>me de pre$ar>lhe uma valente pare>lha de coices. onie em mim e n%o tenha medo de nada.P Nisto apareceu o Moinho, di/endo' > PEstamos e3traviadas, hirle&V Ialei com o pol)cia da esquina, com um vendedor de !ornais e com o homem do arma/9m. Nin$u9m sabe da tal aldeia da Mancha.P @om ui3ote cochichou bai3inho para 4ocinante>hirle&' > Pabem, sim. Moinho est5 mentindo. Eu, se osse voc, pre$ava>lhe !5 a parelha de coices.P > Pacincia, @om ui3oteV > respondeu 4ocinante>hirle&, in$indo ter ouvido outra coisa. > -em sei que costela quebrada d#i muito, mas quem manda 1ossa enhoria andar se pe$ando com moinhosK uem moinhos apetece 9 isso o que acontece.P
@om ui3ote lançou um olhar de #dio contra o Moinho malvado que o tinha redu/ido Hquela triste situaç%o. Nisto passou um auto, com um homem conhecido da hirle&. > P1iva Mr. :ohnV > $ritou ela. > Ioi #timo que nos encontr5ssemos. Eu ia !ustamente H sua procura, para apresentar trs novos artistas vindos da (m9rica do ul.P > PN%o me ale em artistas novos > respondeu Mr. :ohn, que era o $overnador da aramount. > Estou arto. Tenho mais de mil propostas de artistas novos. mundo inteiro quer entrar para o cinema.P > PMas estes s%o especiaisP > disse hirle&. > PTodos s%o especiais > replicou o homem. > N%o h5 um que n%o di$a de si as maiores maravilhas.P Nesse momento o homem deu comi$o, 1isconde. Iicou lo$o de olho arre$alado. > Puem 9 esta estranha e interessante i$urinhaKP > inda$ou. > Pois 9 !ustamente um dos artistas novos sobre que alei > respondeu hirle&. > Estivemos ensaiando uma ita tirada do @om ui3ote. Este 1isconde a/ o papel do her#i, e !5 levou o tranco da asa do moinho. Est5 em pandarecos, todo mo)do por dentro, com trs costelas partidas.P Mr. :ohn assombrou>se. E3aminou>me de todos os lados, e/>me per$untas e acabou di/endo' > Pois, minha cara hirle&, acho que voc acertou. Este re$uesi>nho d5 uma estrela de cinema de primeir)ssima ordem. (s itas em que ele aparecer v%o causar um sucesso tremendo.P > PE nas em que este aparecerKP > per$untou hirle& apresentando o an!inho. Mr. :ohn tonteou. omeçou a $a$ue!ar. > Puem... quem 9... esta... maravilhosa criançaKP > PSm an!o de verdade, Mr. :ohnV 6nico que !5 desceu do c9u H terra. uer verK > e tirou o capotinho que escondia as asas de Ilor das (lturas. > ode e3aminar as asinhas dele. 1e!a que s%o naturais e n%o amarradas, como as dos an!os de prociss%o.P Mr. :ohn e3aminou, pe$ou, apalpou, p"s os #culos, e3aminou outra ve/ e por im nem p"de alar de tanta $a$ueira. Sm an!o de verdade, ali em oll&Uood, positivamente era coisa de revolucionar o mundo. > PE temos ainda o terceiro > continuou hirle& apresentando o Moinho. > Esta 9 a amosa Em)lia, que nasceu no c9lebre s)tio de @ona -enta.P > PN%o interessa > respondeu Mr. :ohn imediatamente, sem $a>$ueira nenhuma. > -onecas de pano n%o valem nada.P > PMas esta 9 alante, Mr. :ohnVP > ale$ou hirle&. > Pior ainda > disse ele. > odemos a/er ne$#cio com @om ui3ote e o an!inho. Mas a tal boneca de pano pode limpar as m%os Hs paredes. 1ade retroV...P 1isconde estava nesse ponto, quando Em)lia entrou. (pavorado, escondeu as tiras. > uero ver issoV > $ritou a boneca. > :5V... > E eu n%o quero mostrar > respondeu o 1isconde. > N%o passa de simples borr%o. Est5 cheio de erros. 1ou passar a limpo. @epois mostrarei. Em)lia deu>lhe um peteleco e tomou>lhe as tiras. Leu>as. Iicou vermelhinha como as rom%s. > om que ent%o, enhor 1isconde, est5 me sabotando as Mem#rias, heinK 4isque !5 todas as impertinncias e escreva o que vou di/er. 1isconde pe$ou da pena e com toda a humildade oi pondo no papel o que Em)lia quis. > PE ent%o > ditou ela > o tal Mr. :ohn aceitou como estrela da m53ima $rande/a no c9u de oll&Uood, primeiro Em)lia, Marquesa de 4abic#, depois o an!inho. (o 6ltimo, o tal 1isconde de abu$ueira ou abu$osa, recusou imediatamente, di/endo'
> Zsto aqui n%o 9 cocho de vacas. ue id9ia, enhora hirle&V Era l5 poss)vel eu contratar para a aramount um sabu$o de perninhasK abu$os, minha cara, temos c5 na ali#rnia aos milh8es. N%o 9 preciso que venha nenhum de oraZ. > PE !o$ando dali para bem lon$e aquele sabu$o bolorento, levou>nos em seu lindo autom#vel para os est6dios da aramount.P Em)lia parou nesse ponto, com os olhinhos duros is$ados no 1isconde. > ($ora, sim. ($ora a coisa est5 direita, e3atinho como se passou. > assou, nadaV > disse o 1isconde num resmun$o. > 1oc nunca esteve em oll&Uood... > Estive, sim > em sonho. E tudo quanto vi em sonho oi e3atamente como acabei de ditar. Eu e Ilor das (lturas viramos estrelas da tela. 1oc oi para uma lata de li3o. > sso n%o escrevoV > protestou o 1isconde. > Escreva ou n%o, oi o que aconteceu. ($ora, ruaV onha>se daqui para ora, seu pirata... 1isconde u$iu no trote, muito eli/ de ter escapado ao depenamento. Em)lia sentou>se e escreveu' P(cabo de contar as olhas de papel !5 escritas e ve!o que s%o muitas. 1ou parar. Este livro ica sendo o primeiro volume das minhas Mem#rias. se$undo escreverei depois que icar velha. (ntes de pin$ar o ponto inal quero que saibam que 9 uma $rande mentira o que anda escrito a respeito do meu coraç%o. @i/em todos que n%o tenho coraç%o. W also. Tenho, sim, um lindo coraç%o > s# que n%o 9 de banana. oisinhas H toa n%o o impressionam; mas ele d#i quando v uma in!ustiça. @#i tanto, que estou convencida de que o maior mal deste mundo 9 a in!ustiça. uando ve!o certas m%es baterem nos ilhinhos, meu coraç%o d#i. uando ve!o trancarem na cadeia um homem inocente, meu coraç%o d#i. uando ouvi @ona -enta contar a hist#ria de @om ui3ote, meu coraç%o doeu v5rias ve/es, porque aquele homem icou louco apenas por e3cesso de bondade. que ele queria era a/er o bem para os homens, casti$ar os maus, deender os inocentes. 4esultado' pau, pau e mais pau no lombo dele. Nin$u9m levou tanta pancadaria como o pobre cavaleiro andante > e estou vendo que 9 isso que acontece a todos os bons. Nin$u9m os compreende. uantos homens n%o padecem nas cadeias do mundo s# porque quiseram melhorar a sorte da humanidadeK (quele :esus risto que @ona -enta tem no orat#rio, pre$ado numa cru/, oi um. s homens do seu tempo que s# cuidavam de si, esses viveram ricos e eli/es. Mas risto quis salvar a humanidade e que aconteceuK N%o salvou coisa nenhuma e teve de a$Jentar o maior dos mart)rios. uando alo assim, Nari/inho me chama de il#soa e ri>se. N%o sei se 9 ilosoia ou n%o. # sei que 9 como sinto e penso e di$o. Eu era uma criaturinha eli/ enquanto n%o sabia ler e portanto n%o lia os !ornais. @epois que aprendi a ler e comecei a ler os !ornais, comecei a icar triste. omecei a ver como 9 na realidade o mundo. Tanta $uerra, tantos crimes, tantas perse$uiç8es, tantos desastres, tanta mis9ria, tanto sorimento... or isso acho que o 6nico lu$ar do mundo onde h5 pa/ e elicidade 9 no s)tio de @ona -enta. Tudo aqui corre como num sonho. ( criançada s# cuida de duas coisas' brincar e aprender. (s duas velhas s# cuidam de nos ensinar o que sabem e de ver que tudo ande a hora e a tempo. uindim s# quer saber de capim e de recordar os tempos atormentados que passou em S$anda, em lutas constantes com as eras e os homens caçadores. e ele escrevesse mem#rias, !uro que seriam mil ve/es mais interessantes
que as minhas. ( 1aca Mocha tamb9m vive bem quieta no seu pasto e na cocheira, onde nunca lhe altam boas palhas de milho. 1ai tendo seus be/errinhos e vai dando leite para todos n#s. Leite como o dela n%o h5 no mundo. ( Mocha capricha. -urro Ialante est5 bem velho, coitado. W do tempo de La Iontai>ne, aquele homem que passeava no a)s das I5bulas, tomando nota do que ouvia aos animais, para escrever livros. Est5 t%o velho e ilos#ico que s# @ona -enta o compreende bem. onversa altas ilosoias. 4abic#, esse n%o vale nada. ( $ula o perdeu. N%o sendo coisa de comer, n%o se interessa por nada mais no mundo. Nem vale a pena alar nele. s outros persona$ens do s)tio s%o inanimados, embora e3celentes pessoas. E3iste aquele :o%o Ia/> de>onta que por uns tempos oi animado, alou, a$iu e soube portar>se t%o heroicamente nas nossas aventuras com apinha 1ermelha. Mas quebrou>se por dentro e umedeceu. Iicou um pedaço de pau H>toa. Entre os persona$ens inanimados $osto muito da porteira e da pitan$ueira. ( porteira s# sabe a/er uma coisa' abrir>se e echar>se. ara abrir>se espera que as pessoas animadas a a!udem. (bre>se, a pessoa animada passa e ela echa>se por si mesma, com o peso, a/endo nhem, nhem. -oa pessoa. @ali n%o vem mal ao mundo. ( pitan$ueira, essa 9 importante. Est5 enorme. -ate em altura todas as 5rvores do pomar, e3ceto a i$ueira do oco, e tem casca sem nenhum mus$o, lisa. ada ano se enche de pitan$as, das bem doces, divididas em $omos. N%o $omos como os de laran!a, separados uns dos outros; os $omos das pitan$as s%o apenas para eneite, $rudadinhos. E outra e3celente pessoa, de onde tamb9m n%o vem mal ao mundo. onsidero todas as 5rvores do pomar como e3celentes criaturas. N%o alam, n%o saem do seu lu$ar/inho, n%o se intrometem na vida alheia, s# tratam de preparar as lores e as rutas de todos os anos. ada qual abrica uma qualidade de ruta > e 9 o que mais admiro, visto que a terra do pomar 9 a mesma para todas. (pesar disso, uma a/ laran!as>de>umbi$o, outras a/em laran!as>tan$erinas, ou limas, e h5 at9 as que a/em os tais lim8es a/ed)ssimos, que Tia Nast5cia corta em rodelas para eneitar os leit8es assados. ( que eu acho mais interessante 9 a !abuticabeira. Enorme e com uma copada bem redondinha em cima. (s olhas, muito !untas, n%o dei3am atravessar o menor raio de sol. uando che$a certo ms, os seus $alhos cobrem>se de bot8e/inhos brancos, que v%o en$rossando e se abrem em pequenas lores. @epois as lores secam e caem e icam umas bolotinhas verdes do tamanho de $r%os de chumbo. Esse chumbinho verde vai crescendo at9 icar a) do tamanho de uma no/. omeçam ent%o a mudar de cor. erdem o verde, icam pretas como Tia Nast5cia. (h, que esta 9 aqui no s)tio quando as !abuticabas prete!amV Nari>/inho, edrinho e 4abic# mudam>se para debai3o da !abuticabeira. Mas essas rutas duram pouco. @uas semanas no m53imo. uando acabam, 9 preciso que a $ente espere mais um ano para virem outras. ada 5rvore d5 a sua ruta; mas sombra, todas d%o da mesma qualidade. ue coisa $ostosa uma sombraV Nos dias quentes 9 na sombra da !abuticabeira que nos reunimos para ouvir as hist#rias e liç8es de @ona -enta. Tenho de di/er umas palavras sobre esta senhora. @ona -enta 9 uma criatura boa at9 ali. # isso de me aturar, quanto n%o valeK que mais $osto nela 9 o seu modo