MONOGRAFIA - Carlos Drummond de Andrade e o sentimento do mundo

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA - UVA CURSO DE LETRAS LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA  E LITERATURAS

O SENTIMENTO DO MUNDO: A LÍRICA SOCIAL DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

OLÍVIA FRANCISCO DO NASCIMENTO

RIO DE JANEIRO 2015

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA - UVA CURSO DE LETRAS LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

O SENTIMENTO DO MUNDO: A LÍRICA SOCIAL DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Letras da Universidade Veiga de Almeida, como requisito obrigatório e necessrio para a obtenção do t!tulo de Licenciatura em L!ngua "ortug "ortugues uesaa e Litera Literatur turas, as, sob sob a orient orientaçã açãoo da "rofessora #ra Cristina "rates$

RIO DE JANEIRO 2015

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA - UVA CURSO DE LETRAS LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS

O SENTIMENTO DO MUNDO: A LÍRICA SOCIAL DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE.

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Letras da Universidade Veiga de Almeida, como requisito obrigatório e necessrio para a obtenção do t!tulo de Licenciatura em L!ngua "ortug "ortugues uesaa e Litera Literatur turas, as, sob sob a orient orientaçã açãoo da "rofessora #ra Cristina "rates$

RIO DE JANEIRO 2015

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SENTIM IMEN ENTO TO DO MUND MUNDO: O: A LÍRI LÍRICA CA  &A'C(M)&*+$ +l!via rancisco do$ O SENT SOCIAL DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE $ -io de .aneiro/ Universidade Veiga de Almeida, %012$ 33 pginas$ Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Letras da Universidade Veiga de Almeida, como requisito obrigatório e necessrio para a obtenção do t!tulo de Licenciatura em L!ngua "ortuguesa, sob a orientação da "rof4 #ra Cristina "rates$

BANCA EXAMINADORA

 55555555555555555555555  55555555555555555555555555555555555 555555555555555555555  555555555   "rof4 #ra$ Cristina "rates 6 +rientadora 6 U-.7UVA U-.7UVA

  555555555555555555555555555555555555555555555  "rof4$ Ma Anne Caroline de Morais 'antos 6 'antos  6 UVA UVA

 55555555555555555555555  55555555555555555555555555555555555 5555555555555555555555 5555555555 "rof$ M$ .oão Carlos .ec8  6  6 UVA

Aprovada em/ 5575557555

Conceito/ 5555555 

3

AGRADECIMENTOS 9 professora Cristina "rates, pela maravil:osa e dedicada orientação$ "ela pai;ão que despertou em mim pela poesia combativa$ "ela inspiração e força que, sem perceber, me transmitiu durante toda min:a ngela, min:a querida avó, que deposita em mim esperanças maiores que o mundo$ Aos meus pais, que, apesar da min:a rebeldia, ainda acreditam em mim$ Aos professores Anne Morais e .oão Carlos .ec8, por se disponibili?arem a fa?er parte deste importante momento na min:a vida acad=mica$

@

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo Carlos #rummond de Andrade

2

RESUMO )ste trabal:o trata da presença da l!rica social na obra Sentimento do mundo, escrito pelo  poeta mineiro Carlos #rummond de Andrade$ + ob
Pala!a"-#$a%: Carlos #rummond de AndradeH l!rica social brasileiraH sociedadeH rasil$

I

ABSTRACT *:is Jor8 deals Jit: t:e presence of t:e social lKric in t:e boo8 Sentimento do mundo Jritten bK t:e Mineiro poet Carlos #rummond de Andrade$ *:e ob
&%'()!*": Carlos #rummond de AndradeH ra?ilian social lKricH societKH ra?il$



SUM+RIO (ntrodução$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$ 1$ L!rica e 'ociedade$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$11 %$ A l!rica social na literatura brasileira/ alguns momentos relevantes$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$1I 3$ A l!rica social de Carlos #rummond de Andrade$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$%% 3$1 A potica drummondiana$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$%% 3$% (nfDncia e mineiridade$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$%@ 3$3 + sentimento do mundo$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$%N Conclusão$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$3% -efer=ncias ibliogrficas$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$33

N

INTRODU,O + presente estudo ob
desde o seu surgimento no barroco$ AprofundarFnosFemos no seu nascimento com o poeta  baiano Gregório de Matos, tambm c:amado carin:osamente de Ooca do (nferno, passando  pelo -omantismo, com Castro Alves, pelo Modernismo dos Andrades, com a revolução literria de 1%%, para, enfim,

c:egarmos Q construção da potica social

da l!rica

drummondiana$ Após nos locali?armos :istoricamente, iniciaremos nossa pesquisa, analisando a relação a relação da persona drummondiana com o espaço7tempo e eu7mundo, pautandoFnos, sobretudo, em dois renomados estudos/ o ensaio O(nquietudes na poesia de #rummondP, do  professor e sociólogo, Antonio Candido, ensaio inclu!do em seu livro Vários Escritos SCA&#(#+, 1I2 e o livro O gauche no tempo, do poeta, professor e ensa!sta Affonso -omano de 'antAnna S'A&* A&&A, 1%T$ a?Fse necessrio ressaltar a importDncia do tema pesquisado, dada a sua importDncia  para a literatura brasileira, enriquecida pelo ol:ar cr!tico de um poeta que percorreu quase todo o sculo , e cu
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1. LÍRICA E SOCIEDADE )ste cap!tulo tem como ob
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Acusando a alienação desse mundo de Oob
+ poeta Carlos #rummond de Andrade apresenta atravs de seu eu sub
1%

observa o mundo que c:ama de OcaducoP com um ar de desDnimo, encontrandoFse, pois, inferior ao mundo que o rodeia$ + desa
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esttica, conquistam sua participação no universal$ &ão que aquilo que o poema l!rico e;prime ten:a de ser imediatamente aquilo que todos vivenciam$ 'ua universalidade não  uma #olonté de tous, não  a mera comunicação daquilo que os outros simplesmente não são capa?es de comunicar$ Ao contrrio, o mergul:o no individuado eleva o poema l!rico ao universal por tornar manifesto algo de não distorcido, de não captado, de ainda não subsumido, anunciando desse modo, por  antecipação, algo de um estado em que nen:um universal ruim, ou se
A inadaptação #rummond com o mundo dei;a de ser particular, quando reflete uma angRstia comum a outros seres que partil:am sua contemporaneidade$ Logo, o leitor  descobrir que o poema l!rico e;prime tudo aquilo que seu eu vivencia, mas que não consegue, muitas ve?es, e;pressar$ &esse aspecto, a escrita tornaFse, segundo o pensador de .aques -ancire, uma manifestação pol!tica, ou se
l!rica de criar um laço com o universal só e;iste quando presente na individuali?ação, conforme reitera Adorno/ )ssa universalidade do teor l!rico, contudo,  essencialmente social$ 'ó entende aquilo que o poema di? quem escuta, em sua solidão, a vo? da :umanidadeH mais ainda, a própria solidão da palavra l!rica  prFtraçada pela sociedade individualista e, em Rltima anlise, atom!stica, assim como, inversamente, sua capacidade de criar v!nculos universais Xallgemeine Verbindlinc:8eitY vive da densidade de sua individuação$ "or isso mesmo, o  pensar sobre a obre de arte est autori?ado e comprometido e perguntar  concretamente pelo teor social, a não satisfa?er com o vago sentimento de algo universal e abrangente$ )sse tipo de determinação pelo pensamento não  uma refle;ão e;terna e al:eia a arte, mas antes uma e;ig=ncia de qualquer  configuração lingu!stica$P  P S A#+-&+, %003,p$IT

 &o ensaio O"oesia l!rica em uma poca de contradiçEes,P a professora MaKsa Cristina #ourado S#+U-A#+, %01%T cita, muito apropriadamente, o pensamento do poeta canadense contemporDneo e um profundo participante das questEes sociais do mundo moderno, para distinguir a diferença entre a poesia social e os te;tos
 &esse sentido, devemos retornar ao < citado ensaio de Adorno, para o qual tambm, se fa? necessrio que a poesia social
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2. A LÍRICA SOCIAL NA LITERATURA BRASILEIRA: ALGUNS MOMENTOS RELEVANTES 'er aqui levantado um breve :istórico da l!rica social brasileira$ "ara que este ob
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 praticada por sacerdotes,
SMA*+', 1, p$ 12T "or volta de 1NI0, a l!rica social surge com grande força e  marcada principalmente  pela poesia de Castro Alves, tambm con:ecido como O"oeta dos )scravosP$ &ascido na a:ia, como Gregório de Matos, o autor escreveu poesias que mostram a liberação do egocentrismo romDntico, e se abre para a compreensão dos grandes problemas sociais 6  e;pressando uma indignação contra as tiranias e as opressEes do sistema colonial$ + principal foco da l!rica de Castro Alves era a abordagem dos :orrores da escravidão no rasil, enga
 notvel ao leitor o contraste entre as poesias de Castro Alves e Gregório de Matos$ Um canta pela liberdade do povo negro, outro a abomina$ +s versos de ambos apresentam um retrato do conte;to :istórico da sociedade brasileira$ + autor barroco, apesar de iniciar o g=nero no rasil, escreve uma poesia egoc=ntrica$ Gregório fala, indignado, sobre um rasil mestiço, onde negros tornaramFse escravos de gan:o e c:ateiaFse com a burguesia que surgia na poca$ "or outro lado, sculos depois, Castro Alves se utili?a do g=nero para falar do que tanto irritava o escritor barroco$ + "oeta dos )scravos, como era con:ecido, fa?ia uma poesia abolicionista$ Castro Alves via o negro como :umano, sentia em sua pele o :orror dos navios negreiros, dos cativeiros, da escravidão e, ao transferir toda a dor da população negra para os seus poemas, o autor d in!cio a uma poesia combativa, que luta pela liberdade,
europeus e !ndios$ + negro, então, passar a fa?er parte do pro
Com +sJald, em seus O"oemas da Coloni?açãoP, dentre os quais destacamos o poema O+ capoeiraP SA&#-A#), 1N, p$ @T, a Wistória do rasil ser revista, sob a ótica do coloni?ado/ eis aqui a o negro brasileiro que, num flas: cinematogrfico, derruba o opressor, vingandoFse de tantos anos de e;ploração$   ^u apan: sordado`   + qu=`   ^u apan:` "ernas e cabeças na calçada$

 &o poema O+ bic:oP, Manuel andeira SA&#)(-A, 13, p$ 1IT e;pEe a forma como o :omem  dei;ado Qs margens pelo poder e retrata a fome dos que vivem dentro de um sistema e;plorador e ego!sta$ Vi ontem um bic:o  &a imund!cie do ptio Catando comida entre os detritos$ ^uando ac:ava alguma coisa,  &ão e;aminava nem c:eirava/ )ngolia com voracidade$ + bic:o não era um cão,  &ão era um gato,

1N

 &ão era um rato$ + bic:o, meu #eus, era um :omem$

Assim, as denRncias e quebras das estticas ideali?adas passam a fa?er parte da literatura brasileira$ +s lbios de mel de (racema são dei;ados de lado para dar lugar Q  preguiça de Macuna!ma, o antiF:erói brasileiro$  &o fundo do matoFvirgem nasceu Macuna!ma, :erói de nossa gente$ )ra  preto retinto e fil:o do medo da noite$ Wouve um momento em que o sil=ncio foi tão grande escutando o murmure
)m  acuna&ma, Mario de Andrade apresenta uma :istória que retrata o multiculturalismo brasileiro e estabili?a, atravs de um nacionalismo cr!tico, as propostas do movimento antropofgico$ + !ndio perde as caracter!sticas ideali?adas do romantismo e tornaF se um antiF:erói$ Macuna!ma  preguiçoso, mentiroso, alm de não ter a bele?a esttica enaltecida pelos romDnticos$ Atravs desta obra, o autor modernista consegue fa?er uma das maiores cr!ticas Q procura da perfeição e Q linguagem culta que escondiam os verdadeiros traços da cultura nacional$ + rompimento com o tradicionalismo d força Q independ=ncia cultural brasileira$ +s :eróis modernos se tornam pessoas das camadas populares, simples :abitantes de cortiços, de  periferias, do sertão$ )ste movimento surge para enaltecer :istórias de .oss e 'everinos, que camin:avam todos os dias invis!veis aos ol:os do sistema$ +s autores modernos adotam uma linguagem informal e valori?am o cotidiano na criação de suas obras$  &a dcada de 30, depois da primeira fase modernista Stambm con:ecida como fase :eroicaT, nasce mais um estgio dentro do estilo, com a segunda fase, tambm con:ecida como fase da consolidação$ &ela, a literatura moderna aparece mais madura, os ideais de %% tornamFse concretos e se normali?am para a criação de uma temtica nacionalista$ #entro deste estgio estão poetas da primeira fase, mas um nome surge dentro dela e se fa? egrgio, de modo que :o
maiores escolas de samba brasileiras$ &o livro  argens do Te'to -//01, -ita C:aves fa? uma  profunda anlise do poeta e destaca a seguinte frase para reafirmar o nacionalismo do poeta/ O"ara mim, de todas as burrices, a maior  suspirar pela )uropa$P SCWAV)', 13, p$1IT "ara entender a esttica dos poetas da fase da consolidação, iniciaremos com a anlise do poema de Carlos #rummond de Andrade O(nocentes do LeblonP ,  presente no livro Sentimento do mundo S#-UMM+&#, 1NN, p$ I3T +s inocentes do Leblon não viram o navio entrar$ *rou;e bailarinas` trou;e imigrantes` trou;e um grama de rdio` +s inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram, mas a areia  quente, e : um óleo suave que eles passam nas costas, e esquecem$

+ poema tem presente no seu t!tulo forte ironia aos :abitantes do Leblon 6 bairro da classe mdia alta, situado no -io de .aneiro$ #rummond critica a indiferença pol!tica dos moradores deste bairro, de modo que o termo OinocentesP pode ser entendido como Oaqueles que ignoramP$ )sta ignorDncia parte da ideia de que, por fa?erem parte de uma classe  privilegiada, os c:amados de inocentes fec:am os ol:os para os que estão abai;o de seu poder  econ[mico, influenciando ainda mais as desigualdades sociais entre ricos e pobres no -io de .aneiro$ ^uando se refere ao navio que adentra a cidade, o poeta modernista questiona com eufemismos o que este traria em suas cargas$ "ara que suas indagaçEes se
Logo, o poeta refereFse ao temor Q radioatividade, e cinco anos depois esse temor tornarFseFia realidade, não no rasil, mas nas cidades de Wiros:ima e &agasa8i F situadas no .apão$ Apesar de todas estas preocupaçEes que o poeta indica, os inocentes do Leblon pouco se importam com o conte;to mundial, < que o poder econ[mico os livraria das dores que só os desfavorecidos sentiam$ +s privilgios alimentam suas vaidades e nas areias das praias cariocas, divertiamFse e ignoravam a destruição massiva que vin:a acontecendo no mundo$ #rummond, atravs desse poema, critica a burguesia carioca que se ilude no mundo mgico do Leblon$ A sua ignorDncia  o que alimenta a pobre?a e desigualdade social, quando se fec:am para os que mais precisam de sua a
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/. A LÍRICA SOCIAL DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE /.1. A )3#a *!4)6*3a6a "ara nos apro;imarmos da poesia de #rummond, escol:emos, entre os tantos trabal:os escritos sobre o poeta, a orientação de duas pesquisas que, acreditamos, possam nos elucidar  as questEes mais relevantes desse poeta, cu
S'A&*A&&A, 1%, p$12T Ao e;por seu drama em busca de um autocon:ecimento, o poeta leva o )u para o centro de sua poesia$ )ssa lin:agem e;istencialista  o que o leva a se definir como Ogauc:eP 6  sin[nimo de esquerdo, desa
)sclarecendo tais categorias, 'antAnna associa o \)u maior que o Mundo\ Q produção  potica que apresenta o personagem \num canto, escuro, imóvel e torto\ distante do mundo que v= de forma \ir[nica e egoc=ntrica\H em \)u menor que o Mundo\ trataFse da mudança da  prov!ncia para a cidade, onde percebe \que a enorme realidade pesa sobre seus ombros\, como se apresenta, por e;emplo, no verso \&ão, meu coração não  maior que o mundo7  muito menor\, encontrado no poema \Mundo grandeP$ S#-UMM+&#, 1NN, p$TH no terceiro  paradigma, ocorre, segundo o ensa!sta, o equil!brio representado pela maturidade adquirida com o passar dos anos durante os quais #rummond \aprendeu a recriar sua vida no plano  potico da memória\ apurando o seu lirismo e permitindo a interpenetração dialtica do su
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'e tentarmos derivar de cada um desses elementos S)u, mundo, poesiaT uma função ou finalidade da obra literria,ou art!stica de maneira geral, podemos de maneira simplificadora di?er que ao )u corresponde a função e;pressiva, que compreende a necessidade de e;teriori?ação da sub
+ ensa!sta parte de tr=s categorias para elucidar o comportamento da l!rica drummondiana/ o )u, o mundo e a poesia, pautandoFse na *eoria da Comunicação de .a8obson, associando o )u Q sub
#ispon!vel em/ :ttp/77JJJ$unicamp$br7iel7site7alunos7publicacoes7te;tos7t0000@$:tm Acesso em %N out$ %012$

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e;istencialistas, essas fases vão sofrendo modificaçEes, de acordo com o sentimento que o  poeta e;perimenta em relação ao mundo/ A primeira fase, con:ecida como fase gauc:e, tem como caracter!sticas o pessimismo o isolamento, o individualismo e a refle;ão e;istencial$ A ironia, o :umor e a coloquialidade são caracter!sticas da linguagem do poeta mineiro nesta poca$ , principalmente, uma fase de desencanto em relação ao mundo$ As obras desta fase são/  $lguma Poesia S130T, 4re5o das  $lmas S13@T$ #entro das definiçEes feitas por 'antAnna S1%T, esta fase se encai;aria no )u maior que o Mundo, < que  nela que o poeta se distDncia do mundo$ A segunda fase, c:amada fase social,  marcada pela vontade de participar e tentar  transformar o mundo 6 )u menor que o Mundo$ + pessimismo e o isolamento, caracter!sticas da primeira fase, são postos de lado$ As principais obras escritas pelo autor são/ Sentimento do mundo, S1@0TH .osé S1@%TH 6osa do Po#o S1@2T$ &esta fase, o poeta mineiro se solidari?a com os acontecimentos que percorrem o espaço em que vive$ Atravs da l!rica, denuncia o mundo que o engole$ A terceira fase 6 )u igual ao Mundo F  dividida em dois momentos/ poesia filosófica e poesia nominal$ &a poesia ilosófica, os te;tos refletem vrios temas de  preocupação universal F como a vida e a morte$ As principais obras são o  a7endeiro do ar  S122T e Vida passada a limpo S12T$ . a poesia &ominal  uma ruptura com o momento anterior$ #rummond utili?a neologismos e aliteraçEes, optando por uma esttica concretoF formalista$ A principal obra deste momento  "i%ão de coisas S1I%T$ A fase final, con:ecida como O tempo das mem+rias, caracteri?aFse por obras c:eias de recordaçEes do poeta$ +s temas (nfDncia e am!lia são retomados e aprofundados alm dos temas universais < discutidos anteriormente$ A principal obra desta fase  o livro escrito em 1IN, 4oitempo 6 Alm de/ $s impure7as do branco S13T, $ pai'ão medida S1N0T , 8orpo e amor S1N@T , Sinal estranho -$NO1.

/.2 I6786#3a % 36%3!3*a*% "ara entender a poesia social de Carlos #rummond de Andrade,  preciso que antes o leitor ten:a um breve con:ecimento sobre sua vida$  &ascido em 31 de outubro de 10%, em (tabira do Mato #entro SMinas GeraisT, #rummond fe? parte de uma tradicional fam!lia ruralista$ oi o Rltimo descendente de uma lin:agem ligada Q terra dos minrios$ %@

)m seus poemas, #rummond relaciona muitas ve?es seu )u com o ferro e;tra!do das montan:as de (tabira, ou ao mundo fa?endeiro ao qual pertencia$ 'egundo Affonso -omano de 'antAnna/ Oa fam!lia  a primeira matri? onde se e;ercita o conflito )u e o Mundo$ &o caso de #rummond, alm desse dado psicológico, acresce um dado socioecon[mico/ a crise da fam!lia no mundo industriali?adoP S'A&*A&&A, 1%, p$ IT$ "or meio de versos que recorrem Q infDncia, o #rummond concreti?a seu desa
S'A&*A&&A, 1%, p$0T As obras drummondianas, principalmente as da Rltima fase, retratam não só a infDncia, mas o conte;to :istórico mineiro da poca$ )stes traços :istóricos podem ser vistos no poema OA montan:a pulveri?adaP, que esta no livro OoitempoP$ C:ego Q sacada e ve
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Ao analisarmos o poema, notamos que o autor evoca uma Minas Gerais que est  passando por um momento de transição econ[mica, levada pelo lucro cu?uantas toneladas e'portamos !e
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na cr[nica OVila da utopiaP, inserida no livro 8on
Assim, entendeFse como esse eu l!rico fundeFse com sua terra dentro do realismo imaginrio$ &o poema OConfid=ncia do itabiranoP, : um claro e;emplo da união ob
&o conte;to, (tabira dei;a de ser uma prov!ncia dentro das memórias do autor$ Andrade, no seu interior, inicia uma profunda busca de traços que caracteri?am sua terra$ #esta forma, a  potica drummondiana tira (tabira plano real, que passa a sei inserir no seu imaginrio  potico, como manancial de suas dores e pra?eres, Ao reinterpretar o passado, o poeta  gauche inicia uma reinterpretação do Mundo$ A busca por uma nova consci=ncia do )u atravs das memórias, como evidenciado anteriormente,  uma tentativa de recuperar a si mesmo$ &o poema O(nfDnciaP, #rummond revela a rotina diria dos Andrades/ Meu pai montava a cavalo, ia para o campo$ Min:a mãe ficava sentada cosendo$ Meu irmão pequeno dormia$ )u so?in:o menino entre mangueiras lia a :istória de -obinson Cruso, comprida :istória que não acaba mais$

%

 &o meioFdia branco de lu? uma vo? que aprendeu a ninar nos longes da sen?ala 6 e nunca se esqueceu c:amava para o caf$ Caf preto que nem a preta vel:a caf gostoso caf bom$ Min:a mãe ficava sentada cosendo ol:ando para mim/ F "siu$$$ &ão acorde o menino$ "ara o berço onde pousou um mosquito$ ) dava um suspiro$$$ que fundo_ L longe meu pai campeava no mato sem fim da fa?enda$ ) eu não sabia que min:a :istória era mais bonita que a de -obinson Cruso$ SA&#-A#), 1NN, p$2T

O(nfDnciaP relata a vida calma levada dentro do munic!pio ruralista$  percept!vel o  pra?er de Andrade ao recorrer Qs lembranças da sua criancice e a segurança que o nRcleo familiar l:e oferecia 6 diferente do que encontrava na solidão do -io de .aneiro$ W tambm a analogia com o personagem -obinson Cruso$ + :erói do pequeno #rummond possu!a uma :istória um tanto semel:ante Q sua/ Cruso vivia afastado da civili?ação, nufrago perdido numa il:a, assim como o menino il:ado entre as mangueiras$ "or fim, o nostlgico poeta percebe e se delicia com as lembranças que l:e brotaram na memória$ +l:ando o  passado, depois de ser destroçado pelo mundo, o autor muda a visão que tem da fam!lia$ -ita C:aves, no livro 8arlos !rummond de $ndrade, afirma/ OA fam!lia que surge em seus poemas não  precisamente aquela que ele teve, mas aquela que o tempo, depois do passado, permite conquistar$ )ssa que agora aparece  a representação das marcas que :abita sua memória e ele pode transformar em matria de sua poesia$P SCWAV)', 13,  p$@IT e  dessa forma que compreende ser a sua :istória mais bonita que a de Cruso$

/./ O "%63%6) *) 46*) eitas as principais observaçEes em torno da l!rica e infDncia de Andrade, analisaremos a relação potica do autor com o mundo$ &este tópico, recorreremos mais uma ve? ao ensaio O(nquietudes na poesia de #rummondP , que se fa? presente no livro Vário Escritos SCA&#(#+, 1NT , escrito pelo professor Ant[nio Candido$ Alm deste ensaio, apresentaremos em certos momentos pensamentos do ensa!sta Affonso -omano de 'antAnna, sobretudo as informaçEes retiradas do cap!tulo O*empo/ descoberta e conquistaP , %N

do livro O gauche no tempo S'A&*A&&A, 1%T$ Atravs destes estudos, conseguiremos desenvolver uma pesquisa sobre a relação do )uFpoeta com o Mundo para mel:or  entenderemos a importDncia social da militDncia l!rica de Carlos #rummond de Andrade$ &os dois primeiros livros, #rummond se limita a registrar o mundo de uma maneira anticonvencional$ + pessimismo e o isolamento se fa?em como caracter!sticas gritantes dentro destas obras$ #e acordo com o professor Antonio Candido, este distanciamento do autorF  personagem com o mundo e;istiu devido Q Odesconfiança aguda em relação ao que di? e fa?P SCA&#(#+, 1N, p$IT$ &esta primeira fase, ainda não  poss!vel observar uma forte consci=ncia social e a militDncia que o acompan:ariam no estgio seguinte$ + )u maior que o Mundo deste primeiro momento tornaFse amb!guo e conflitante, pois O'e aborda o ser, imediatamente l:e ocorre que seria mais vlido tratar do mundoH se aborda o mundo, que mel:or fora limitarFse ao modo de ser$PS CA&#(#+, 1N, p$IT$ + amadurecimento do itabirano aparece com o livro Sentimento do mundo S1@0T$ A  potica drummondiana abreFse para o mundo como uma vo? que dissemina as inquietudes do  poeta$ A discussão em sua poesia não  mais sobre o )u, mas sobre o Mundo$ + presente social e :istórico deveFse pelo gosto do poeta pelo quotidiano, Oo  gauche de então  o indiv!duo conflagrado totalmente para a realidadeP$ S'A&*A&&A, 1%T$ + Sentimento do mundo retifica o fa?er potico do autor$ + individualismo do livro  $lguma poesia S#-UMM+&#, 1NN, p$ 3F32T perde espaço para uma consci=ncia e  preocupação com o mundo$ #rummond torna a questionar a sua relação com o outro e a sociedade$ A consci=ncia social surge como um fardo na alma do autor mineiro, cu
A Dnsia,
mundo$ )ntão entendemos que construção potica desta fase de #rummond se baseia na compreensão do mundo como uma autognose$ "ara compreenderFse, primeiro, precisa entender o mundo$ A partir disto podemos fa?er o seguinte questionamento/ como o su
+ poeta gauche levantaFse do seu canto sombrio e torto da primeira fase para e;plorar o vasto mundo ao seu redor$ )sse encontro com a realidade social fa? #rummond assustarFse com o que encontra/ guerras percorrendo o mundo, desigualdade, fome, o capitalismo crescendo descontroladamente e, por fim, o medo 6 Oe;iste apenas o medo, nosso pai e compan:eiroP, como constata no poema OCongresso internacional do medoP S#-UMM+&#, 1$NN, p$ I1T, A inquietude do eu reflete no fa?er art!stico e Oa poesia se arremessa para a frente numa conquista, confundida na mesma metfora que a revolução$P SCA&#(#+, 1NT$ Assim, a l!rica pol!tica do autor mineiro invade a alma de todos aqueles que partil:am da contemporDnea melancolia social e convida o leitor s para bradar contra o opressor/ O&ão nos afastemos muito, vamos de mãos dadas$P$ S#-UMM+&#, 1NN, p$INT 'ão as mãos que tecem o poema$ #rummond solidari?aFse com o outro atravs de um gesto afetivo, mostrandoFse igual e, logo, menor que o mundo$ )sta representação, porm, conscienti?a o :omem de que, apesar de carregar apenas duas mãos, quando seus dedos se enlaçam aos do outro, a condição de nada se eleva$ As mãos dadas passam a ser a representação a :umanidade$ A ideia de tempo nos Rltimos versos corresponde ao espaço :istórico e social, conforme afirma Affonso -omano 'antAnna, ao perceber que Oa percepção daquilo que  ess=ncia da 30

sua poca l:e vem da anlise do espaço que l:e  dado para frequentarP$ S'antAnna, 1%,  p$NIT Ao dei;ar a vida no interior de Minas Gerais para trs e mudarFse para o -io de .aneiro em 13@, o autor desencadeia uma percepção cr!tica do tempo presente$ Assim, entendemos que ao di?er que o tempo  sua matria, #rummond afirmaFse dentro de um espaço :istórico$ #epois de percebermos a relação entre o tempo e o espaço  que se torna poss!vel visuali?ar a relação de Carlos #rummond de Andrade com o mundo/ ao se declarar no  presente, o poeta, na busca de uma autoconsci=ncia, abreFse para o que est ao seu redor e, desta forma, passa a entender a angRstia dentro de si$ + professor Affonso -omano de 'antAnna e;plica, ainda, que Oa consci=ncia do intercurso do tempo e espaço dFl:e sRbita sensação de liberdadeP S'antAnna, 1%, p$NIT e o comprometimento com o real tornaFse, então, uma busca inconsciente pela liberdade$ A esse respeito, #rummond, de certa forma, apro;imaFse da ideia de que a liberdade  uma consequ=ncia da busca pela verdade$ A procura pela verdadeira ess=ncia do )u e do Mundo,
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CONCLUSO A poesia social  fruto de uma angRstia comunitria$ 'eu principal obO tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a #ida presente=.  + :o$ poesia
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