0
RODOLFO RODRIGUES SALES
A DOUTRINA DA INFALIBILIDADE DAS ESCRITURAS – Uma resposta reformada ao conceito de verdade relativa pós-moderna Monografia apresentada ao Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, atendendo às exigências avaliativas da disciplina de Monografia II, elaborada sob orientação do Professor Rev. Donizeti Rodrigues Ladeia.
SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO SÃO PAULO – AGOSTO/2016
1
Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! Rm 11.36
2
Senhor, por acaso não será verdadeira a tua Escritura, ditada que foi por ti, que és verdadeiro, ou melhor, que és a própria Verdade? Agostinho de Hipona
3
Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus pela salvação eternar em Cristo Jesus, pelo chamado ao sagrado ministério e por suas ricas e preciosas bênçãos derramadas sobre minha vida ao longo desses 4 anos de formação no seminário José Manoel da Conceição. À Simei, minha amada e preciosa esposa, que em todo tempo esteve ao meu lado, que foi compreensiva nos momentos em que não pude lhe dar maior atenção em razão do acúmulo de atividades acadêmicas e que sempre tinha uma palavra de ânimo, consolo e de admoestação em meus momentos de desânimo. Aos meus pais que sempre estiveram ao meu lado incentivando-me a continuar firme, aconselhando-me aconselhando-me diante das dúvidas e apoiando-me em todas as minhas necessidades. Aos amigos de sala que durante esses quatro anos de formação ao sagrado ministério alegraram-se com os que se alegram e choraram com os que choram. Ao Rev. Donizeti Rodrigues Ladeia por sua colaboração, orientação, compreensão e paciência ao longo da confecção desse trabalho monográfico. À Igreja Presbiteriana da Mooca e Primeira Igreja Presbiteriana de Barra do Garças, as quais me abençoaram sobremaneira por meio de suas orações, apoio financeiro, aconselhamentos aconselhamentos e confirmação do chamado ao sagrado ministério Ao Presbitério Oeste de Goiás – PROG e Presbitério Central Paulistano – PCPL pelo reconhecimento e confirmação do chamado ao sagrado ministério, pelo apoio financeiro, espiritual e emocional e por suas orações. Ao Rev. Johnny Clayton Cardoso Teles, Rev. Luiz Antônio Ferraz e Rev. Agnaldo Duarte de Faria por me acompanhar ao longo da minha caminhada cristã, colaborar para minha formação e crescimento espiritual, reconhecer meu chamado ao sagrado ministério e por seus conselhos em meus momentos de dúvidas e incertezas.
4
Resumo Esta monografia discorre sobre a doutrina da Infalibilidade das Escrituras e a sua influência no combate ao relativismo pós-moderno. O objetivo foi demonstrar os fundamentos da Inspiração e Inerrância das Escrituras e os efeitos colaterais que a pós-modernidade, através da relativização da verdade, imprimiu na leitura e interpretação das Escrituras e, após isso, demonstrar como a doutrina da Infalibilidade das Escrituras responde ao relativismo pós-moderno, resgatando novamente a realidade da verdade absoluta das Sagradas Escrituras. Os métodos empregados foram, um estudo bíblico-teológico da Inspiração e Inerrância das Escrituras; um panorama histórico da pós-modernidade e suas principais características, bem como uma análise do método histórico-crítico e das hermenêuticas pós-modernas; uma análise dos principais argumentos probatórios da autenticidade, suficiência e veracidade das Escrituras. Ao findar do trabalho, concluiu-se que, há de fato uma influência da doutrina da Infalibilidade das Escrituras no conceito de verdade absoluta que as Escrituras têm em si mesma. Palavras chave: Infalibilidade, Escrituras, pós-modernismo, relativismo.
5
INDICE INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 6 1. A DOUTRINA REFORMADA DA INSPIRAÇÃO E INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS ............................................................................................................... 10 1.1. A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS .............................................................. 10 1.1.1. CONCEITO..................................................................................................... 13 1.1.2. TEORIAS QUANTO À INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS .................... 15 1.1.2.1. TEORIA DA INSPIRAÇÃO MECÂNICA OU DITADA ........... 15 1.1.2.2. TEORIA DA INSPIRAÇÃO DINÂMICA ................................... 16 1.1.2.3. TEORIA DA INSPIRAÇÃO PARCIAL....................................... 18 1.1.2.4. TEORIA DA INSPIRAÇÃO MENTAL ....................................... 18 1.1.3. EVIDÊNCIAS INTERNAS DA INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS ....... 19 1.2. A INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS .............................................................. 24 1.2.1. CONCEITO..................................................................................................... 26 1.2.2. EVIDÊNCIAS INTERNAS DA INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS ...... 28 2. A PÓS-MODERNIDADE E A DESCONSTRUÇÃO DA VERDADE ........... 29 2.1. O QUE É PÓS-MODERNIDADE?.................................................................... 30 2.1.1. SEU NASCEDOURO ..................................................................................... 30 2.1.2. DEFININDO A PÓS-MODERNIDADE ...................................................... 33 2.1.3. CARACTERÍSTICAS DA PÓS-MODERNIDADE .................................... 35 2.2. O MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO .............................................................. 39 2.2.1. CRÍTICA DAS FONTES ............................................................................... 40 2.2.2. CRÍTICA DA FORMA .................................................................................. 42 2.2.3. CRÍTICA DA REDAÇÃO ............................................................................. 43 2.3. HERMENÊUTICAS PÓS-MODERNAS .......................................................... 44 2.3.1. DESMITOLOGIZAÇÃO............................................................................... 45 2.3.2. ESTRUTURALISMO .................................................................................... 46 2.3.3. CRÍTICA DA RESPOSTA DO LEITOR..................................................... 47 2.3.4. DESCONSTRUCIONISMO .......................................................................... 48 3. A RESPOSTA REFORMADA À RELATIVIZAÇÃO PÓS-MODERNA ..... 51 3.1. A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS ............................................................ 54 3.2. A INDESTRUTIBILIDADE DAS ESCRITURAS ........................................... 58 3.3. O CUMPRIMENTO DAS PROFECIAS PRESENTES NAS ESCRITURAS60 3.4. A HARMONIA E A UNIDADE DAS ESCRITURAS ..................................... 62 3.5. O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO ..................................................... 66 3.6. A INFLUÊNCIA TRANSFORMADORA DAS ESCRITURAS NA VIDA DAS PESSOAS ............................................................................................................ 69 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 71 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 73
6
INTRODUÇÃO1 As Escrituras Sagradas sempre estiveram em alta conta entre o povo de Deus2. Os judeus com o Antigo Testamento e a igreja do primeiro século, com o Antigo e Novo Testamento. Essa alta conta da igreja para com as Escrituras se deu porque ela desde o início sempre reconheceu a Bíblia como a palavra de Deus. A igreja desde seus primórdios via o Antigo e o Novo Testamento como inspirados por Deus, ou seja, que as Escrituras Sagradas foram sopradas por Deus 3 àqueles que por ele foram incumbidos de redigir aquilo que o próprio Senhor resolveu revelar a respeito de si mesmo e a respeito de Cristo Jesus. Mas essa visão a respeito das Escrituras não vigorou somente entre o povo de Deus do período veterotestamentário e os do primeiro século depois de Cristo. Entre os pais da igreja é possível também observar que, por reconhecerem a Bíblia, como a palavra inspirada pelo próprio Deus, esta era digna de crédito, confiança e aceitação como a única regra de fé e de prática. Esse entendimento, conhecido como a doutrina "verbal" ou "plenária" (completa) da inspiração, foi exposto por Irineu (século II), bispo de Lion, na Gália (moderna França), em sua obra Contra Todas as Heresias. Agostinho (do século IV), bispo de Hipona, África do Norte, manifestou a mesma crença — a saber, que inspiração significava ditado pelo Espirito Santo. Para Irineu e Agostinho, inspiração não era uma posse do Espirito Santo feita em transe irresistível da consciência humana do escritor, mas antes um alto grau de iluminação e uma tranquila percepção da revelação de Deus. Clemente de Alexandria, Orígenes, seu discípulo, e Jerônimo, tradutor da Bíblia para o latim, falaram sobre a inspiração como sendo extensiva a cada palavra das Escrituras. Os primeiros eruditos cristãos, confiando em Deus como o Deus da verdade e considerando-o como incapaz de engano ou confusão, reputavam sua Escritura verbalmente inspirada como sendo igualmente digna de confiança4.
Deste modo, em razão da igreja, desde seu nascedouro, até por volta do século IV reconhecer as Escrituras como inspiradas por Deus, essa por consequência, 1 Todas
as referências bíblicas apresentadas nesta monografia foram retiradas da BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. Ed. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999 2 BESSA, Josemar. A Inerrância e a Infalibilidade da Bíblia. Disponível em: < http://www.josemarbessa.com/2006/08/inerrncia-e-infalibilidade-da-bblia.html>. Acesso em: 05 Ago 2016 3 HANKO, Ronald. Disponível em: < A Inspiração da Escritura. http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/inspiracao-escritura_hanko.pdf>. Acesso em: 05 Ago 2016 4 COMFORT, Philip Wesley (ED.). A Origem da Bíblia. Trad. Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro: CPAD, 1998, p. 62
7
também a reconheceu como infalível, ou seja, para o povo de Deus, as Escrituras estão livre de erros, falhas, inveracidades e contradições, logo, uma fonte confiável e fidedigna da revelação de Deus e de sua vontade ao homem. Entretanto, com o passar dos tempos, especificamente na idade média, essa confiança quanto a inspiração e infalibilidade das Escrituras acabou sendo minada, principalmente por heresias católico romanas – tradição, magistério, infalibilidade papal, etc., que tinham como propósito principal minar a autoridade e a veracidade que as Escrituras carregam em si, sendo assim necessária a Reforma Protestante do século XVI para resgatar novamente a autoridade e a infalibilidade das Escrituras 5. Todavia, os ataques as Escrituras Sagradas não são eventos exclusivos da idade média. As décadas finais do século XX, bem como todo o século XXI são marcados por um novo período denominado pós-moderno ou pós-modernista. Essa nova fase da história da humanidade é marcada pela desconstrução. Desconstrução dos valores, princípios, conceitos, ideias e principalmente das verdades que foram edificadas ao longo do período moderno ou até mesmo em momentos anteriores a esse. Com isto, tudo o que se tinha até então como verdade absoluta, ruiu ou está por ruir diante dessas mudanças de entendimento a respeito de todas as áreas do viver humano. E a igreja mais uma vez não passa incólume a tais mudanças, pois, o pós-modernismo, com sua relativização da verdade, tem adentrado aos seus arraiais, provocando mudanças que tem levado alguns dentre o povo de Deus a questionar, ou até mesmo a se afastar das verdades presentes na Escritura, cedendo a essas investidas. Ademais, a hipótese para tal realidade quanto ao fato das Escrituras Sagradas não serem mais reconhecidas como a verdade absoluta em nossos dias, está na mudança do eixo de importância que os indivíduos têm dado a mesma. Pois estas não são mais o norte que dirige e governa a realidade dos indivíduos em suas mais diversas dimensões. Ao invés de uma única e absoluta verdade, o que há agora é, não só uma verdade para cada área do viver humano - religião, política, finanças, relacionamentos, etc. – mas cada indivíduo também constrói um edifício de verdades diferente dos demais, onde não há mais qualquer tipo de comprometimento – teórico
5
DIAS LOPES, Hernandes. A Suficiência das Escrituras. Disponível em: < http://hernandesdiaslopes.com.br/2011/10/a-suficiencia-das-escrituras/#.V6TdjfkrLIU>. Acesso em: 05 Ago 2016
8
ou prático - com as Escrituras. Não obstante, a igreja, como aquela que possui a tarefa de transformar o mundo a partir da renovação de sua mente (Rm 12.2) não pode de forma alguma se manter inerte frente a esse desafio, muito menos se associar ao espírito da época, que tem questionado o absolutismo da verdade existente nas Escrituras. Neste sentido, a igreja necessita demonstrar aos indivíduos que há sim uma verdade e, que essa verdade é absoluta e encontra-se nas Sagradas Escrituras. Diante dessa realidade, essa monografia visa oferecer uma resposta ao espírito de nossa época, ou seja, ao relativismo pós-moderno, demonstrando que esse conceito que permeia os dias atuais é errôneo, pois, há sim uma única e exclusiva verdade, que é aquela que emana das Escrituras Sagradas, onde todo conceito, ideia e valor que não seja pautado por ela deve ser considerado como uma falsa verdade. Isso deve ser feito através do resgate, estudo e aplicação prática da doutrina da Infalibilidade das Escrituras, ou seja, através do reconhecimento de que a origem das Escrituras é divina, pois, embora em sua escrita tenha sido utilizado diversos indivíduos em diversas épocas, o Espírito Santo é o seu autor primário, tornando-se assim fonte de verdade absoluta, bem como através do reconhecimento de que não há qualquer sombra de erro nos Escritos Sagrados, que tudo o que ela diz sobre Deus, sobre a origem de todas as coisas, sobre o homem e o destino final de todas as coisas não só corresponde aos fatos, mas também revestidos de verdade. Assim, a fim de alcançar seu objetivo central, dividiu-se a monografia em três capítulos. O primeiro capítulo visa inteirar o leitor acerca do que são as doutrinas da Inspiração e Inerrância das Escrituras através dos conceitos e formulações que alguns teólogos contemporâneos desenvolveram a respeito ao tema. Também, inteirar o leitor quanto algumas teorias falaciosas a respeito da doutrina da Inspiração das Escrituras, bem como demonstrar as evidências inerentes à própria Escritura que comprovam a veracidade da sua Inspiração e Inerrância. O Segundo capítulo, por sua vez, procura identificar o ventre que gerou o relativismo, bem como a forma que este se desenvolveu ao longo da história. Ele é dividido em três seções, cuja primeira parte tem como finalidade definir o que é pósmodernidade através da identificação do seu nascedouro, das definições dos pensadores ao longo da história, bem como através de suas principais características e
9
influências. A segunda seção busca demonstrar como o método histórico-crítico influenciou a relativização da verdade no período pós-moderno. A terceira seção visa identificar as hermenêuticas, ou seja, os métodos de interpretação pós-modernos que muito tem contribuído para minar o conceito de veracidade absoluta das Escrituras. O terceiro e último capítulo é composto por seis seções, cujo objetivo é trazer ao leitor a resposta que a reforma protestante do século XVI formulou contra os ataques à doutrina da Infalibilidade das Escrituras durante a idade média, mas que também são úteis em tempos pós-modernos a fim de que a ideia de relativização da verdade, no que tange às Escrituras Sagradas, seja refutada.
10
1.
A DOUTRINA REFORMADA DA INSPIRAÇÃO E INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS
1.1. A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS A autoria das Escrituras, bem como a sua autoridade são temas que sempre geraram discussões, embates e questionamentos no meio da igreja. Entre os papistas é onde podemos ver os primeiros movimentos em direção ao enfraquecimento da autoridade das Escrituras6. Embora os papistas não negassem a autoria propriamente dita das Escrituras, eles buscaram enfraquecer a sua autoridade, transferindo à igreja a fonte de inspiração que chancela credibilidade tanto à escritura, quanto à tradição 7, a fim de que pudessem livremente estabelecer suas tradições não inspiradas. Em outras palavras, a Escritura é útil para a igreja não porque Deus é o seu autor, mas sim porque a igreja romana confere utilidade e credibilidade a ela. Posteriormente é a vez do Iluminismo atacar as Escrituras Sagradas, agora não no que tange à sua autoridade, mas diretamente quanto à sua autoria. Por volta de meados do século XVIII, indivíduos como J. A. Ernesti e J. J. Semler desenvolveram a ideia de que as Escrituras são obra meramente de mãos humanas 8 e repleta de contradições como qualquer outra obra literária ao longo dos tempos. Além de Ernesti e Semler, outro nome que se desponta na defesa de que as Escrituras são um produto meramente humano e não de divino 9 é o de Friedrich Schleiermacher. Para Schleiermacher as Escrituras não contêm absolutamente nada de revelação divina, logo, não pode ser assumida como regra normativa de fé e de prática. Em sua visão, as Escrituras contêm “apenas os pensamentos de homens santos; as formas nas quais suas percepções, sem auxílio supernatural, revestem as ‘intuições’ devido a seus sentimentos religiosos”10. Movimentos pós-Iluminismo como agnosticismo, racionalismo, idealismo e existencialismo, cujas ideias negam o conceito de que Deus seja cognoscível, afirmando na verdade que Deus é incompreensível, bem como que Ele não é 6 TURRETINI,
François. Compêndio de Teologia Apologética . Trad. Valter Graciano Martins. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 105 7 HODGE, A. A. Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge. 4. Ed. Trad. Valter Graciano Martins. São Paulo: Os Puritanos, 2013, p. 62 8 MCGRATH, Alister. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a teologia cristã. Trad. Marisa K. A. de Siqueira Lopes. São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p. 131 9 HODGE, Charles. Teologia Sistemática. Trad. Valter Martins. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 133 10 Ibidem, HODGE, Teologia Sistemática , p. 133
11
transcendente e não se relaciona conosco 11 acabaram por, ao infiltrarem-se na teologia, minar a ideia de autoria divina das Escrituras, bem como contribuindo para uma infiel interpretação da mesma. Em razão desses movimentos, que vieram à baila, a fim de minar, macular e ou colocar em xeque a autoridade das Escrituras enquanto Palavra de Deus, é que surgiu e perdurou ao longo dos tempos a Doutrina da Inspiração das Escritas. Doutrina essa, cujo propósito é demonstrar a seus oponentes aquilo que as Escrituras mesmas reivindicam, ou seja, que Deus é o seu autor, logo, revestidas de autoridade e verdade 12. Como exemplo disso, temos os pais da igreja, como Justino de Roma, Agostinho de Hipona e Irineu13 que sempre defenderam a igreja dos ataques gnósticos e de outras seitas, a partir das Escrituras, por crerem que elas – Antigo e Novo Testamento – foram inspiradas por Deus, por isso veraz e infalível. Agostinho de Hipona quanto a isso afirma: Senhor, por acaso não será verdadeira a tua Escritura, ditada que foi por ti, que és verdadeiro, ou melhor, que és a própria Verdade? 14
Mais tarde, temos as palavras do reformador João Calvino, que no século XVI também saiu em defesa da autoria divina das Escrituras, dizendo: Se, pois, quisermos firmar a nossa consciência de modo que não permaneça agitada e em perpétua dúvida, é preciso que coloquemos a autoridade da Escritura muito acima das razões ou das circunstâncias ou das conjecturas humanas; quer dizer, é preciso que a estabeleçamos como base no testemunho do Espírito Santo. Porque, ainda que, por sua própria majestade, a Escritura nos leve a respeitá-la, não obstante só começa a tocar-nos quando é selada em nosso coração pelo Espírito Santo. [...] É graças à certeza dada por uma autoridade superior que concluímos, que, sem dúvida nenhuma, a Escritura nos foi outorgada diretamente por Deus15.
Mais tarde, em 29 de abril de 1647 16, a Assembleia de Westminster aprovou a Confissão de Fé de Westminster onde, dentre os vários assuntos ali tratados,
11 BOICE,
James Montgomery. O Alicerce da Autoridade Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1982, p. 189
12 SPROUL, R. C. Posso Crer na Bíblia? Trad. Francisco Wellington Ferreira. São José dos Campos/SP:
Fiel, 2014, p. 13 13 FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: Uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 90-92 14 Ibidem, FERREIRA, Teologia Sistemática: Uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual, p. 91 15 CALVINO, João. As Institutas: Edição clássica. Trad. Waldir Carvalho Luz. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, v. 1, p. 71-72 16 Ibidem, HODGE, Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge, p. 43
12
também defende a autoria divina ou inspiração das Escrituras Sagradas, afirmando categoricamente que a sua origem não é humana. Em seu Capítulo I, seção IV diz: A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus17.
Este ponto da Confissão ressalta que os fatores determinantes de autoridade das Escrituras que nos movem a crer e obedecê-la não são determinados pela Igreja, por indivíduos ou concílios, mas provém daquele que é o seu autor ou seu inspirador, Deus. Ainda no Capítulo I, agora na seção VIII, lemos: O Antigo Testamento em hebraico (língua original do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus, e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras, e que deve, no temor de Deus, lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela paciência e conforto das Escrituras18.
Na seção IV vemos que Deus não é somente o autor das Escrituras, mas que também lhe aprouve conservar a Bíblia através dos tempos, a fim de que seu povo, em todas as eras, pudesse ter acesso à Sua verdade e vontade, para que vivam de forma que a glória do Senhor seja resplandecida através de suas vidas. Ao longo desses e, de outros testemunhos que serão apresentados posteriormente, pode-se ver o início daquilo que ficou conhecido como Doutrina da Inspiração das Escrituras. Através dos tempos, essa doutrina sofreu novos ataques e distorções, mas também foi enriquecida mediante o estudo da própria Escritura, onde indivíduos puderam contribuir para um melhor entendimento e compreensão dessa 17 WESTMINSTER,
Assembléia. Confissão de Fé de Westminster. 17. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2005, p. 19 18 Ibidem, WESTMINSTER, Confissão de Fé de Westminster, p. 23
13
importante doutrina cristã.
1.1.1. CONCEITO Embora pareça fácil, definir um conceito correto e que expresse a verdade quanto a doutrina da inspiração não é tão simples quanto pareça, isso porque o tema tem “sido alvo de muita confusão em recentes discussões” 19. Em razão das inúmeras teorias – que inclusive já mencionamos algumas delas anteriormente – que se levantaram ao longo dos anos, estas acabaram por dificultar um correto entendimento da doutrina, tanto, que os que buscam se enveredar pelo assunto, podem ser levados em qualquer direção, diante dos inúmeros ventos que tentam soprá-los para longe da real verdade da inspiração das Escrituras. Contudo, nosso Deus gracioso, assim como não só inspirou homens a escrever a Bíblia, mas também a preservou ao longo da história, tem também alistado indivíduos em todos os tempos, a fim de que a verdadeira doutrina da inspiração seja defendida dos ataques dos inimigos. Isso é tão verdade, que no meio de grande parte da igreja ainda prevalece a ideia de que “é [...] constante e permanente a convicção da Igreja sobre a divindade das Escrituras e confiadas a sua guarda”20. Antes de apresentarmos nosso conceito sobre o tema, vejamos algumas definições e conceitos da doutrina da Inspiração das Escrituras. Hermisten Maia, trabalhando a respeito do assunto elucida o seguinte: Podemos definir a inspiração como sendo a influência sobrenatural do Espírito de Deus sobre os homens separados por ele mesmo, a fim de registrarem de forma inerrante e suficiente toda a vontade de Deus, constituindo esse registro na única fonte e norma de todo conhecimento do cristão21
Paulo Anglada, ao se esmerar no estudo da doutrina chegou ao seguinte entendimento e definição: O que queremos dizer quando nos referimos à inspiração das Escrituras? Que as Escrituras são de origem divina. Que, embora a Bíblia tenha sido escrita por cerca de quarenta pessoas, essas 19 WARFIELD,
Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 84. WARFIELD, p. 85 21 COSTA, Hermisten Maia Pereira da. A Inspiração e Inerrância das Escrituras . São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p. 98 20 Ibidem,
14
pessoas a escreveram movidas pelo Espírito Santo, e de tal modo dirigidas, por ele, que tudo o que foi registrado por elas nas Escrituras constitui-se em revelação autoritativa de Deus.22
Merril C. Tenney, também define a doutrina da inspiração nos seguintes termos: Inspiração é a obra sobrenatural do Espírito Santo. Ele se move sobre indivíduos especialmente escolhidos que receberam a verdade divina dele e comunicam essa verdade por Escrito, a Bíblia. O termo inspiração estende-se sobre toda e qualquer parte da Escritura, até mesmo as próprias palavras.23
Nos três autores, pelos menos três pontos são comuns. O primeiro, é que todos eles defendem a autoria divina das Escrituras, ou seja, que os Escritos presentes na Bíblia, embora tenham sido redigidos por homens, são de origem divina, dado a cada um deles através da obra sobrenatural do Espírito Santo e não por meio de experiências de intimidade e ou comunhão. Outro ponto comum é a finalidade da inspiração. Os três autores concordam que a inspiração operada por Deus nos autores secundários teve como finalidade preservar as Escrituras de qualquer forma de erro ou que algo fosse deixado de lado em relação à vontade de Deus ao seu povo. Por fim, a inspiração na visão dos autores tem por finalidade conceder autoridade as Escrituras, a fim de que o homem viva segundo a vontade e para a glória de Deus. Inclusive, a Confissão de Fé de Westminster no seu Capítulo I, seção II diz que “sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Antigo e do Novo Testamentos, todos dados por inspiração de Deus para serem regra de fé e prática” 24. Diante desses e de outros testemunhos, definimos a doutrina da inspiração das Escrituras como o agir sobrenatural do Espírito Santo na vida de homens ao longo da história sem, contudo, anular suas faculdades, culturas e particularidades, a fim de produzir documentos sem qualquer possibilidade de falhas, erros e ou omissões, que transmitam os atributos, bem como a vontade de Deus a estes, a fim de que seja uma fonte autoritativa de salvação e conduta cristã em meio à sociedade.
22 ANGLADA,
Paulo. Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras. São Paulo: Os Puritanos, 1998, p. 50 23 TENNEY, Merril C.; BARABAS, Steven, et al. Enciclopédia da Bíblia . Trad. Equipe de colaboradores da Cultura Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, v. 2, p. 241-242 24 Ibidem, WESTMINSTER, Confissão de Fé de Westminster , p. 17
15
1.1.2. TEORIAS QUANTO À INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS Na visão de Bavink, “a interpretação correta da inspiração, aparentemente, depende, portanto, de se colocar o autor primário e o secundário em correta relação um com o outro”25. Pois, somente a partir de um correto entendimento a respeito de como eles se relacionam é que poderemos elucidar a ação do Espírito Santo ao inspirálos. Contudo, assim como a autoria – inspiração – das Escrituras foi questionada ao longo dos tempos, inúmeras teorias equivocadas 26, tentaram explicar o que seria a Doutrina da Inspiração das Escrituras, mas acabaram por não expressar em seu bojo, a realidade ou o conceito correto a seu respeito. Isso porque, partiram de “diferentes concepções, tendo vários graus de legitimidade, dependentemente do ângulo de observação da pessoa que as formula” 27, bem como por seguirem os três grandes movimentos teológicos que marcaram a história da igreja, ou seja, a ortodoxia cuja crença é a de que a Bíblia é a Palavra de Deus, o modernismo que defende a ideia de que a Bíblia contém a Palavra de Deus e da neo-ortodoxia onde a Bíblia torna-se a Palavra de Deus28, teorias essas que veremos a seguir.
1.1.2.1. TEORIA DA INSPIRAÇÃO MECÂNICA OU DITADA Essa teoria afirma que Deus ditou aos autores secundários tudo aquilo que deveria ser escrito, registrado 29, cabendo a estes simplesmente registrar, sem qualquer tipo de interferência ou mudança, aquilo que Deus lhes transmitiu. Muitas vezes, quando fala-se em Inspiração Mecânica ou Ditada das Escrituras, o primeiro conceito que vem às mentes é o da psicografia, ou seja, muitos afirmam que o processo de inspiração das Escrituras é semelhante àquilo que acontece no espiritismo, onde pseudo-indivíduos “desencarnados” utilizam-se dos que encontram-se vivos para transmitir uma mensagem, sendo estes apenas um meio a fim de que a mensagem
25
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada: Prolegômena. Trad. Vagner Barbosa. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 428 26 GEISLER, Norman; WILLIAM, Nix. Introdução Bíblica : como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida, 2006, p. 15. 27 Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica : como a Bíblia chegou até nós, p 19. 28 MILHORANZA, Alexandre. As Teorias da Inspiração da Bíblia. Disponível em: < http://www.milhoranza.com/2009/09/08/teorias-da-inspiracao-da-biblia/#axzz4AWuxnL3Y>. Acesso em: 03 Jun 2016 29 ERICSON, Millard J. Teologia Sistemática. Trad. Robinson Malkomes, Valdemar Kroker e Tiago Abdalla Teixeira Neto. São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 195
16
chegue aos destinatários. Se assim o fosse, Deus para atingir seu propósito, teria que anular a personalidade, a cultura e a mente de cada indivíduo que ele utilizou para a escrita da Bíblia. Paulo Anglada, discorrendo a respeito do tema diz: Ao se afirmar que toda Escritura é inspirada por Deus, não se quer dizer com isso que cada palavra foi ditada pelo Espírito Santo, de modo a anular a mente e a personalidade daqueles que a escreveram. Os autores bíblicos não escreveram mecanicamente. Não, as Escrituras não foram psicografadas, ou melhor, 30 “pneumagrafadas” .
Ao contrário disto, os autores secundários das Escrituras não foram simplesmente um objeto nas mãos de Deus a fim de que seus propósitos fossem alcançados, mas o Senhor preservou suas personalidades, culturas e mentes, tanto que podemos ver claramente, por exemplo, nos Evangelhos, as características peculiares de cada autor ou como em 2Pe 3.15-16 onde o Pedro destaca o modo peculiar próprio de Paulo31 ao escrever aquilo que lhe foi inspirado pelo Espírito Santo. A esse respeito, lemos nas palavras de Champlin o que segue: A inspiração divina não suprimiu ou abafou a individualidade de qualquer escritor sagrado; pelo contrário, utilizou-se dela. A Palavra de Deus veio à existência através de muitos e diferentes canais humanos e a evidência das variações de estilo dá testemunho da realidade desse fator humano.32
Por fim, é importante ressaltar e destacar que não estamos afirmando que Deus não tinha o pleno controle sobre o que estava sendo escrito, pois Deus é soberano sobre tudo e sobre todos, mas que simplesmente não anulou as caraterísticas peculiares de cada indivíduo no processo.
1.1.2.2. TEORIA DA INSPIRAÇÃO DINÂMICA De acordo com essa teoria, houve no processo de inspiração e concepção dos escritos sagrados, uma combinação tanto de elementos de origem divina, como também elementos de origem humana 33. Embora em um primeiro momento sejamos levados a concluir que essa teoria transforma as Escrituras em um livro divino30 Ibidem,
ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 54 COSTA, A Inspiração e Inerrância das Escrituras , p. 93 32 CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia . São Paulo: Hagnos, v. 2, p. 475 33 Ibidem, ERICSON, Teologia Sistemática, p. 195 31 Ibidem,
17
humano, pode-se afirmar, no entanto, que trata-se de um livro cuja origem é plenamente divina, mas que não descarta os elementos, as peculiaridades e as particularidades de cada um de seus escritores. Quanto ao assunto, Berkhof afirma o seguinte: Serve para acentuar o fato de que Deus não empregou os escritores mecanicamente, mas atuou neles de maneira orgânica, em harmonia com as leis de seu próprio íntimo. Usou-os precisamente como eram [...], iluminando-lhes a mente, incitou-os a escrever; reprimiu a influência do pecado sobre sua atividade literária, e os guiou na escolha de suas palavras e nas expressões de seus pensamentos34.
Contudo, embora Berkhof teça inúmeros elogios à teoria da inspiração dinâmica, essa sofreu duras críticas. Isso porque, entende-se na teoria da inspiração dinâmica que a excelência dos Escritos Sagrados por parte dos autores secundários não se dá em razão da ação sobrenatural do Espírito Santo em suas vidas, pelo contrário, tudo aquilo que eles adquiriram e que influenciaram seus escritos advêm de uma intimidade mais profunda com Deus, no caso dos escritos veterotestamentários, ou de um caminhar junto a Jesus no período neotestamentário, ou seja, suas “experiências religiosas” é que determinam a forma como eles registram os escritos da Bíblia. Paulo Anglada nos demonstra os perigos desta teoria: Conceito racionalista que influenciou o método histórico-crítico de interpretação, e que reduz a inspiração a mera iluminação [...], os autores bíblicos foram apenas homens iluminados. A excelência dos seus escritos deve ser atribuída à influência santificadora no caráter, mente e palavras deles, devido à comunhão profunda com Deus ou pela convivência com Jesus, e não a uma ação ímpar do Espírito Santo35.
E Anglada ainda afirma mais: Mas tal concepção reduz as Escrituras à mesma categoria dos livros judaico-cristãos, distinguindo-se destes meramente quanto ao grau de iluminação. Tal doutrina despoja a Bíblia do seu caráter sobrenatural e autoritativo. Torna-a falível e admite a possibilidade de erros no seu conteúdo 36.
34 BERKHOF,
Louis. Manual de Doutrina Cristã . 1992 apud SANTOS, João Alves dos. Bibliologia: Revelação, Inspiração e Cânon: A Natureza da Inspiração, parte II. Centro Presbiteriano de PósGraduação, Universidade Mackenzie, São Paulo, 2009 35 Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 55 36 Ibidem, ANGLADA
18
1.1.2.3. TEORIA DA INSPIRAÇÃO PARCIAL Os defensores desta corrente creem que a Bíblia não é em seu todo inspirada por Deus37, mas que apenas partes dela possui tal caráter, sendo que as demais são discursos puramente humanos, sem qualquer tipo de intervenção divina ou ação sobrenatural do Espírito Santo em sua redação, ou seja, em outras palavras, as Escrituras apenas contém a Palavra de Deus 38. Entretanto, quanto olhamos para as Escrituras, especificamente o texto aureo de 2Tm 3.16 vemos que essa teoria não se sustenta, pois ali é afirmado que as Escrituras, de Gênesis a Apocalipse são inspirados por Deus. Hermisten Maia também nos faz um profundo alerta aos perigos que correm àqueles que se enveredam pelos caminhos desta teoria: O labor humano em tentar separar – como se existisse o que separar – o que é “inspirado” do que não é “inspirado” constitui-se em algo nocivo e temerário, visto que o homem arroga a si a condição de superiror à Palavra, colocando-se sobre a Bíblia para julgá-la, com critérios subjetivos, estabelecendo um “Cânon dentro do Cânon”, rejeitando o próprio testemunho das Escrituras 39.
1.1.2.4. TEORIA DA INSPIRAÇÃO MENTAL Esta teoria consegue ser mais discrepante do que a teoria da inspiração parcial, pois faz uma dicotomização entre pensamentos e palavras. Seus defensores afirmam que apenas o pensamento dos autores secundários foram objetos da inspiração sobrenatural do Espírito Santo, sendo que suas palavras não foram objetos de tal ação, por isso a presença de erros e inconsistencias nos Escritos Sagrados. João Alves dos Santos diz que “Não é possível expressar ideias sem palavras. Não é possível nem mesmo pensar sem palavras” 40, ou seja, é impossível desassociar pensamentos de palavras. Deste modo, a teoria da inspiração mental não passa de uma falácia que, por si mesma se contradiz.
37 Ibidem,
HODGE, Teologia Sistemática , p. 135 Antônio. A Bíblia é a Palavra de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. Disponível em < http://www.cpadnews.com.br/blog/antoniogilberto/fe-e-razao/30/a-biblia-e-a-palavra-de-deus-(partei).html>. Acesso em: 03 Jun 2016 39 Ibidem, COSTA , A Inspiração e Inerrância das Escrituras , p. 95 40 SANTOS, João Alves dos. Bibliologia: Revelação, Inspiração e Cânon: A Natureza da Inspiração, parte II. Centro Presbiteriano de Pós-Graduação, Universidade Mackenzie, São Paulo, 2009, p. 1. 38 GILBERTO,
19
1.1.3. EVIDÊNCIAS INTERNAS DA INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS Quando nos propomos a discutir e tecer considerações a respeito de algum assunto, é necessário que sejamos capazes de demonstrar a provas que atestam nossas teses e ou afirmações. Quanto a doutrina da inspiração das Escrituras não é diferente, existem tanto evidências internas, externas e indiretas que atestam a sua origem sobrenatural, bem como divina, ou seja, que as Escrituras advêm diretamente da parte de Deus. Entretanto, nesse trabalho não nos deteremos em discorrer as evidências externas e indiretas, mas somente quanto às evidências internas que atestam ser verdade a doutrina da inspiração. Deste modo, estamos afirmando que as Escrituras em si mesmas, tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento, atestam e demonstram ser elas, inspiradas por Deus, deste modo infalíveis e suficientes para a salvação e a instrução à vida cristã. Todavia, quando esse tipo de argumento é utilizado, é de imediato levantada a acusação de que isto nada mais é do que um raciocínio circular, ou seja, o objeto de estudo é responsável por provar a si mesmo como verídico e responsável por assegurar sua confiabilidade. Dessa forma, o argumento acaba por perder a sua força e muitas vezes até caindo em descrédito. É o que na grande maioria das vezes ocorre com argumentos bíblicos diversos, inclusive quanto à doutrina da inspiração das Escrituras. Entretanto, se analisarmos mais detidamente os discursos, observaremos que em algum momento de suas afirmações, esses também cairão no mesmo raciocício circular. Gary DeMar, primeiramente aponta que, não há como escapar desta verdade: A Bíblia alega ser a Palavra de Deus. Esse é o nosso ponto de partida. Com certeza, simplesmente porque um livro diz ser a Palavra de Deus não o torna tal coisa. Mas se um livro é a Palavra de Deus, ele certamente alegará ser a Palavra de Deus. Se um livro é a Palavra de Deus, então o que ele diz será verdade. Pode parecer estranho que citemos a Bíblia para provar que a Bíblia é a Palavra de Deus. Isso é o que os filósofos chamam de “argumento circular”. Quando provamos a autoridade da Bíblia citando a Bíblia, assumimos desde o princípio que a Bíblia é autoritativa. Isso é apenas um círculo vicioso de raciocínio, que não nos levará a nenhum lugar? Pode parecer que precisamos provar a verdade da Bíblia por algum outro padrão “neutro” externo. Certamente, se fizermos isso, teríamos que responder o que torna esse padrão autoritativo. Apenas criaríamos outro círculo que necessitaria ser
20
defendido41.
Logo em seguida, Gary cita John Frame, onde este aponta que este tipo de acusação não pode ser imputado somente aos cristãos e suas afirmações, pois em última instância todas as afirmações acabam por incorrer nesta circularidade. [Um] racionalista [para quem a razão tem autoridade final] pode provar a primazia da razão somente usando um argumento racional. Um empirista [para quem a experiência tem autoridade final] pode provar a primazia da experiência sensorial somente por algum tipo de apelo à experiência sensorial. Um muçulmano pode provar a primazia do Alcorão somente apelando ao Alcorão. Mas se todos os sistemas são circulares dessa forma, então tal circularidade dificilmente pode ser usada contra o Cristianismo. O crítico será inevitavelmente tão “culpado” de circularidade quanto o cristão 42.
Transposta essa acusação, encontramos no Antigo e Novo Testamento, as bases probatórias que confirmam a inspiração das Escrituras. A Bíblia Sagrada assegura em si mesma sua origem divina, que Deus é o seu autor e que ele capacitou indivíduos a fim de que fosse registrado, de modo infalível e inerrante, suas verdades e vontades ao seu povo de todos os tempos. François Turretini discorrendo a respeito do assunto assevera o seguinte: A própria Bíblia dá provas de que é divina, não só autoritativamente e na forma de um argumento ou testemunho simples, quando ela se proclama como inspirada por Deus ( theopneuston ). [...] A Bíblia também prova que é divina racionalmente, por meio de um argumento engenhosamente trabalhado (artificiali) com base nas marcas que Deus imprimiu nas Escrituras e que fornecem indubitável prova de seu caráter divino. Pois, como as obras de Deus exibem visivelmente a nossos olhos, por meio de determinadas marcas, a incomparável excelência do próprio artífice, e como o sol se faz conhecido por sua própria luz, ele quis na Bíblia [...] emitir diferentes raios da divindade por meio dos quais se fizesse conhecido43.
Turretini além de reafirmar que as Escrituras concedem provas indubitáveis quanto a divindade de sua autoria, ele também acrescenta mais dois pontos importantes quanto ao assunto. O primeiro deles é que o argumento apresentado 41
DeMAR, Gary. Raciocínio Circular. Disponível em: . Acesso em: 25 Jun 2015 42 FRAME, John M. Doctrine of the Knowledge of God: A Theology of Lordship (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1987), p. 130 apud DeMAR, Gary. Raciocínio Circular. Disponível em: . Acesso em: 25 Jun 2015 43 Ibidem, TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética , v. 1, p. 112
21
pelas Escrituras não provém de um raciocínio ilógico ou irracional, ou seja, Deus na sua onisciência e soberania, construiu ao longo do cânon argumentos não só quanto a salvação e conduta cristã em meio à sociedade, mas também quanto ao fato dele ser o autor das mesmas. Na visão de Turretini, basta uma análise mais detida e comprometida das Escrituras para chegar-se a conclusão de que as Escrituras fornecem inúmeros argumentos lógicos e plausíveis quanto a essa verdade. Para reforçar ainda mais essa verdade, Turretini parafraseia o salmo 19 afirmando que assim como a criação testifica a respeito do seu criador, e que basta qualquer indivíduo contemplala para chegar a essa conclusão, as Escrituras igualmente testificam a respeito do seu autor44, ou seja, tanto a criação, quanto as Escrituras provêm do próprio Deus. Assim como dito anteriormente, Deus utiliza-se de todo o cânon para demonstrar, assegurar e testificar ser ele mesmo o autor das Escrituras. Nesse diapasão, já no Antigo Testamento temos as primeiras provas e testemunhos internos quanto a inspiração por Deus da sua palavra. Herman Bavinck afirma que os profetas em seu tempo tinham a plena convicção e certeza de que aquilo que estavam transmitindo ao povo não era de sua autoria, mas que provinha de Deus, que eles eram apenas o instrumento a fim de que essa mensagem chegasse aos ouvidos dos destinatários e que mais tarde, o próprio Jesus e seus discípulos também testemunhariam a respeito da inspiração divina do Antigo Testamento. Evidência para a doutrina de que a Escritura é inspirada por Deus já é encontrada no Antigo Testamento. Os profetas eram conscientes de serem chamados por Deus e terem uma mensagem que não era sua própria, mas de Deus. [...] Para Jesus e os apóstolos, os livros do cânon do Antigo Testamento têm autoridade divina. Isso é refletido na forma pela qual eles se referem ao Antigo Testamento como autoritativo (“está escrito”, “a Escritura diz”)45.
Textos como Dt 4.2, 5; Is 1.10; Jr 1.2, 9; Os 1.1; Am 1.3 entre outros, embora não mencionem a palavra inspiração – como acontece em textos do Novo Testamento – demonstram que tudo aquilo que foi transmitido e que deveria a posteriore ser registrado, advinham da parte de Deus, não se tratava de uma divagação
humana, não se tratava de afirmações humanas, mas era o próprio Senhor instruindo, orientando e corrigindo o Seu povo através de Suas próprias palavras. Em outros textos (Ex 4.12; 2Sm 23.1-2; Hc 2.1, etc), aqueles que eram vocacionados por Deus para 44 Ibidem, 45 Ibidem,
TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética , v. 1, p. 112 BAVINCK, Dogmática Reformada: Prolegômena, p. 387
22
transmitir alguma mensagem a indivíduos ou povos, tinham a plena convicção de que estas palavras não eram alucinações, devaneios e ou palavras de outros indivíduos, mas que tais instruções advinham diretamente do trono de Deus 46, sendo a sua real vontade para aquele momento e instrução para as futuras gerações. No Novo Testamento, as passagens mais diretas e concisas quanto à doutrina da inspiração das Escrituras são 2Tm 3.16 e 2Pe 1.21. Em 2Tm 3.16 lemos o seguinte: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, (grifo nosso)” 47. Nesse versículo, a expressão inspirada por Deus é na língua grega uma única palavra, o adjetivo θεόπνευστος. Essa palavra na língua grega significa “expirado” 48, ou seja, soprado. Nesse sentido, entendemos que as Escrituras foram sopradas, expiradas por Deus àqueles que foram vocacionados por ele mesmo, a fim de que sua vontade fosse registrada aos leitores da época, bem como aos futuros leitores, cujo propósito é garantir infalibilidade, bem como autoridade a tudo quanto foi revelado da parte de Deus. Cheung ao comentar sobre o significado da palavra inspirado diz que o termo: se tornou há muito tempo um termo teológico amplo para o que a Escritura realmente ensina sobre sua origem — que ela é o ‘sopro de Deus’ — e assim também infalível, inerrante e carrega autoridade absoluta49
Ademais, O apóstolo Paulo nessa primeira parte do versículo, além de nos informar que a origem das Escrituras é divina, ou seja, advêm do próprio Deus, foi soprada pelo próprio Deus aos autores secundários, ele também informa que “Toda a Escritura é inspirada por Deus”, ou seja, a partir dessa informação podemos concluir que as Escrituras não contem a Palavra de Deus ou que somente partes dela são de origem divina, pelo contrário, tudo o que ali se encontra registrado advêm de Deus, por isso, não há qualquer possibilidade de erro em seu registro, sendo assim totalmente infalível, bem como fonte de autoridade sobre a vida do povo de Deus. Em seu comentário a 2Tm 3.16, Calvino afirma o que se segue: Para asseverar sua autoridade, ele ensina que ela é inspirada por Deus. Porque, se esse é o caso, então fica além de toda e qualquer 46 Ibidem,
BAVINCK, Dogmática Reformada: Prolegômena. SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. Ed. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999 48 Ibidem, COSTA, A Inspiração e Inerrância das Escrituras , p. 96 49 CHEUNG, Vincent. O ministério da Palavra. Brasília: Monergismo, 2010, p. 6 47 BÍBLIA
23
dúvida que os homens devem recebê-la com reverência. Eis aqui o princípio que distingue nossa religião de todas as demais, ou seja: sabemos que Deus nos falou e estamos plenamente convencidos de que os profetas não falaram de si próprios, mas que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram somente aquilo para o qual foram do céu comissiona- dos a declarar. Todos quantos desejam beneficiar-se das Escrituras devem antes aceitar isto como um princípio estabelecido, a saber: que a lei e os profetas não são ensinos passados adiante ao bel-prazer dos homens ou produzidos pelas mentes humanas como sua fonte, senão que foram ditados pelo Espírito Santo50
Calvino, assim como outros autores já citados, também defendia a autoria divina das Escrituras. Para esse teólogo reformado, não há qualquer possibilidade das Escrituras possuírem qualquer outra origem que não em Deus, ou seja, que as Escrituras não são devaneios, elucubrações, filosofias, conceitos ou valores meramente humanos, mas que foi o próprio Deus, através da ação do Espírito Santo, de forma sobrenatural, que capacitou e orientou os autores secundários a redigirem sua vontade ao homem. Ademais, Calvino ainda acrescenta que não há como se beneficiar das Escrituras, se essa crença na inspiração, na autoria divina não for algo plenamente compreendido e aceito pelo indivíduo, pois, não se crendo na inspiração, não há como crer que Deus fala através das Escrituras. Então, questionam Calvino sobre como é possível saber que tudo isto é verdade e ele responde da seguinte forma: Se alguém objetar e perguntar como é possível saber que foi as- sim, minha resposta é a seguinte: é pela revelação do mesmo Espírito que Deus se tem feito conhecer como seu Autor, tanto aos discípulos quanto aos mestres51.
Em suas palavras, somente o mesmo Espírito que vocacionou e capacitou os autores secundários das Escrituras é que pode testificar em nossos corações essa verdade. É somente através da obra do Espírito Santo em nossas vidas que passamos a enxergar as Sagradas Escrituras como provindas diretamente de Deus, que ela é a sua voz ali registrada a fim de que sejamos salvos e a assumamos como nossa regra de fé e de prática. Outro texto básico quando se fala da inspiração das Escrituras é o de 2Pe 1.21. Nessa porção das Escrituras lemos o seguinte: “porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de 50 CALVINO,
João. Pastorais: Série comentários bíblicos. Trad. Valter Graciano Martins. São José dos Campos: Fiel, 2009, p. 262-263 51 Ibidem, CALVINO, Pastorais: Série comentários bíblicos, p. 263
24
Deus, movidos pelo Espírito Santo”52. Assim como em 2Tm 3.16, essa passagem também é um texto prova quanto a origem divina das Escrituras, ou seja, que elas foram inspiradas por Deus. Neste texto, Pedro, já logo no início de suas palavras, enfatiza que nada do que está presente nas Escrituras é de origem humana 53, nenhuma das profecias, ensinos, narrativas, poesias etc, tem o homem como seu autor. Pelo contrário, o que os homens sempre fizeram foi falarem da parte de Deus. Deste modo, mais uma vez podemos concluir que, o homem nunca teve um papel ativo na composição das Escrituras Sagradas, ao invés disso, seu papel sempre foi passivo, ou seja, agiam conforme o Espírito Santo lhes movia e lhes dirigia o que deveria ser falado e posteriormente registrado, ficando assim evidente, que as Escrituras não são um amontoado de conceitos meramente humanos, mas que elas são a manifestação visível da voz de Deus ao homem, revelando-os sua vontade e verdade para a salvação e vida cristã.
1.2. A INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS Duas são as bases fundamentais para uma crença sadia e fiel nas Escrituras. A primeira delas – assunto este já tratado anteriormente – é a crença de que os Escritos Sagrados são em sua totalidade a Palavra de Deus. O segundo pilar, é a crença de que a Bíblia está livre de erros, ou seja, que ela é infalível, inerrante, logo, verdadeira em todos os seus ensinamentos 54. Isso porque, se partirmos do pressuposto de que as Escrituras possuem erros, falhas, omissões, falta de harmonia entre seus livros etc, então esse livro não pode ser confiável, não pode se tornar regra de fé e de prática, não pode ser um livro que conduza o indivíduo à salvação em Jesus Cristo e que guie seus passos em direção a uma vida que glorifique o nome do Senhor. Crer na possibilidade das Escrituras serem falíveis é assumir que todas as doutrinas construídas a partir de seu estudo são indignas de confiança e acabam por não se sustentarem, ou seja, o cristianismo entraria totalmente em colapso.
52 BÍBLIA
SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. Ed. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999 53 KISTEMAKER, Simon J. Comentário al Nuevo Testamento: Exposición de las epístolas de Pedro y de la epístola de Judas. Grand Rapids: Desafío, 1999, p. 227 54 Ibidem, ERICSON, Teologia Sistemática, p. 209
25
Isto posto, devemos também nos lembrar que ao discorrermos sobre inerrância o objetivo não é o de conferir inspiração, autoridade e ou infalibilidade às Escrituras. Não é criarmos mais um dogma a ser seguido pelos fieis, mas simplesmente trazer à baila aquilo que as próprias Escrituras falam de si mesma, é apenas demonstrar algo que os Escritos Sagrados requerem e sustentam em seu bojo. Hermisten Maia ao discorrer sobre esta doutrina diz o seguinte: É necessário que se diga que a inerrância não é uma teoria a respeito da Bíblia ou uma filosofia moderna inventada pelos fundamentalistas ou conservadores. [...], cremos que quando asseveramos com vigor a inerrância total das Escrituras estamos apenas dizendo o que a Escritura reivindica para si mesma; dessa forma, não estamos defendendo a inerrância, mas sim afirmando a inerrância da Bíblia como uma doutrina que faz parte da essência do Evangelho [...]55.
Além de demonstrarmos a importância da crença na inerrância Bíblica e que esta é uma doutrina que emana da própria Escritura, é necessário também discorrermos que a inerrância das Escrituras foi exercida pelo Senhor apenas nos escritos hebraicos e gregos, os chamados documentos autógrafos 56, que foram escritos pelos autores secundários ao serem inspirados sobrenaturalmente pelo Espírito Santo, ou seja, houve a inerrância bíblica no momento em que os Escritos Sagradas estavam sendo redigidos, fato esse confirmado pela Confissão de Fé de Westminster no seu Capítulo I, seção VIII, conforme já citado anteriormente. Herminstem Maia em seu livro A Inspiração e Inerrância das Escrituras diz o seguinte: A inerrância só se estende aos autógrafos originais, não às transcrições e traduções. Isso indica que nenhuma versão, texto ou tradução pode alegar para si, baseado em critérios subjetivos, a autoridade final, em detrimento de outros 57.
Em outras palavras, não podemos afirmar que as traduções estejam livres de erros e ou falhas, pois neste ponto o Espírito Santo já não operava ou opera no sentido dessa preservação. Entretanto, podemos perceber que mesmo a Bíblia já tendo passado por tantas traduções ao longo da história, ainda continua coesa, sem 55 Ibidem,
COSTA, A Inspiração e Inerrância das Escrituras , p. 103 NOVA DE LISBOA – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Glossário de Crítica Textual. Autógrafo: Manuscrito da mão do autor (por oposição a alógrafo). Disponível em: < http://www2.fcsh.unl.pt/invest/glossario/glossario.htm>. Acesso em 26 Jun 2015 57 Ibidem, COSTA, p. 103-104 56 UNIVERSIDADE
26
contradições e ainda revestida de verdade para a salvação e vida cristã.
1.2.1. CONCEITO Assim como na inspiração das Escrituras, definir o que de fato é a inerrância das Escrituras não é uma tarefa das mais fáceis, principalmente depois do advento da teologia liberal que colocou em cheque essa importante doutrina. Entretanto, assim como feito anteriormente, antes de definirmos seu conceito, veremos como alguns teólogos definem o que é inerrância. Hermisten Maia em seu livro A Inspiração e Inerrância das Escrituras, não define a doutrina em suas próprias palavras, mas utiliza o conceito de outro teólogo para conceituar o tema, onde este o faz nas seguintes palavras: A inerrância é o ponto de vista de que, quanto todos os fatos forem conhecidos, demonstrarão que a Bíblia, nos seus autógrafos originais e corretamente interpretada, é inteiramente verdadeira, e nunca falsa, em tudo quanto afirma, quer no tocante à doutrina e à ética, quer no tocante às ciências, físicas ou biológicas 58
Marcos Granconato 59, define inerrância das Escrituras nas seguintes palavras: A inerrância significa que tudo que a Bíblia ensina e apresenta é verdadeiro, podendo incluir aproximações, citações livres, linguagem figurada e narrativas diferentes do mesmo evento desde que não se contradigam. (Destaques do autor)60
Por fim, Augustus Nicodemos, define a inerrância das Escrituras da
58 P.
D. Feinberg, Bíblia, Inerrância e Infabilidade da: In: EHTIC, I, p. 180; Idem, The Meaning of Inerrancy: In: Norman L. Geisler, ed., Inerrancy, p. 294 apud COSTA, A Inspiração e Inerrância das Escrituras, p. 103 59 MARCOS GRANCONATO é pastor titular da Igreja Batista Redenção desde 1997, concentrando seu ministério na sede da igreja em São Paulo. É formado em Teologia pelo Seminário Bíblico Palavra da Vida (Atibaia, SP) e em Direito, pela Universidade São Francisco de Bragança Paulista. O Pr. Marcos também é mestre em Teologia Histórica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (São Paulo, SP). É autor de vários livros e atua como professor de Teologia Sistemática, Teologia Bíblica e História Eclesiástica desde 1984. Também atua como conferencista e preletor, ministrando cursos teológicos em diferentes partes do Brasil. É casado com Simone e pai de três filhas, Isabela, Helena e Sofia. Disponível em: . Acesso em: 31 Mai 2016 60 GRANCONATO, Marcos. A Inerrância da Bíblia. Disponível em: . Acesso em 26 Jun 2015
27
seguinte forma: Creio que a Bíblia foi escrita por autores sobrenaturalmente inspirados por Deus a ponto de ser verdadeira em tudo o que afirma, e isto não somente em matérias de fé e história da salvação. Ela é livre de erros, fraude e enganos. A Escritura não pode errar por ser em sua inteireza a revelação do Deus verdadeiro. Ela não é somente uma testemunha da revelação e nem ne m se torna revelação num encontro existencial. Ela permanece a inerrante Palavra de Deus independentemen independentemente te da resposta humana. humana. (Destaques (Desta ques do autor) a utor)61
Os três autores, embora utilizando-se de termos diferentes, assumem que a doutrina da inerrância das Escrituras afirma que a Bíblia, em seus originais, está totalmente livre de erros, falhas e incoerências. Os três também assumem que por consequência consequência disso, tudo o que está ali registrado é verdadeiro, ou seja, não se trata de falácias argumentativas, isso independentemente da crença ou não do homem nesse fato. A declaração de Chicago sobre a inerrância da Bíblia ainda assevera o seguinte: Tendo sido na sua totalidade e verbalmente dadas por Deus, as Escrituras não possuem erro ou falha em tudo o que ensinam, quer naquilo que afirmam a respeito dos atos de Deus na criação e dos acontecimentos da história mundial, quer na sua própria origem literária sob a direção de Deus, quer no testemunho que dão sobre a graça salvadora de Deus na vida das pessoas. A autoridade das Escrituras fica inevitavelmente prejudicada, caso essa inerrância divina absoluta seja de alguma forma limitada ou desconsiderada, ou caso dependa de um ponto de vista acerca da verdade que seja contrário ao próprio ponto de vista da Bíblia; e tais desvios provocam sérias perdas tanto para o indivíduo quanto para a Igreja62.
A declaração de Chicago além de conceituar e reforçar tudo o que até aqui já foi mencionado, mencionado, ou seja, que as as Escrituras por terem Deus Deus como seu autor, autor, tornamse por consequência inerrantes, também afirma que as Escrituras e a própria igreja correm graves perigos caso essa doutrina não seja confessada e vivida, levando as Escrituras a um total descrédito e a igreja a um distanciamento da verdade e da vontade de Deus.
61
LOPES, Augustus Nicodemus. Sobre a Inerrância da Bíblia. Disponível em: . Acesso em: 26 Jun 2015 62 O’HARE. Hyatt Regency. Declaração de Chicago Sobre a Inerrância da Bíblia. Disponível em: . Acesso em: 22 Abr 2016
28
Desse modo, podemos então definir a inerrância das Escrituras como a doutrina que reconhece que em razão da Bíblia ter sido inspirada sobrenaturalmente por Deus, essa, em seus escritos originais, é isenta de erros, falhas, contradições e inverdades, devendo devendo por isso ser crida e vivida pelo povo de Deus em tudo aquilo que afirma, sob pena da igreja trazer sobre si duras consequências caso não leve a cabo essa verdade.
1.2.2. EVIDÊNCIAS INTERNAS DA INERRÂNCIA DAS ESCRITURAS Conforme já dito na introdução ao assunto, falar da inerrância das Escrituras não é outorgar confiança, credibilidade e ou veracidade à Bíblia, mas apenas reconhecer aquilo que ela afirma a cerca de si mesma. Como também já elucidado anteriormente, a inerrância das Escrituras é resultado da Inspiração das Escrituras (2Tm 3.16, 2Pe 1.21), ou seja, assim como Deus – o autor das Escrituras - não possui em seus atributos qualquer possibilidade de erro, inconstância, falhas ou mentiras (Tt 1.2; Tg 1.17), as Escrituras em si mesmas igualmente não podem ter qualquer sombra de falhas, erros e ou contradições (Jo 10.35; Cl 1.5; 2Tm 2.15; Tg 1.18). Palavras como falhar e verdade, apresentadas nas referências bíblicas, atestam a inerrância das Escrituras, pois, algo que falha ou falta com a verdade, ou seja, mente, não pode ser-lhe atribuída inerrância, pelo contrário, se a Bíblia assim o fosse, não passaria de uma literatura qualquer, assim como tantas outras e com toda a certeza não se manteria tão vívida ao longo dos tempos, pelo contrário, possivelmente já teria sido extinta, como tantos outros livros. Contudo, embora tenha-se tantos argumentos a favor da doutrina da infalibilidade das Escrituras, veremos no próximo capítulo que não é o bastante para salvaguarda-la de novos ataques. Pois, não só o mundo, a sociedade e a cultura conheceram e sofreram os impactos da pós-modernidade a partir de meados do século XX, mas a doutrina da infalibilidade das Escrituras também sofreu os efeitos desse novo movimento, efeitos esses que tem por objetivo minar o conceito de verdade absoluta que as Escrituras carregam em si, bem como que essa seja fonte de autoridade sobre a vida dos indivíduos.
29
2.
A PÓS-MODERNIDADE E A DESCONSTRUÇÃO DA VERDADE Não é necessário um grande esforço para percebermos que o mundo em
que vivemos, a sociedade e a própria cultura 63 encontram-se em constante transformação. Paradigmas se levantam e caem, ideologias nascem, crescem, se desenvolvem, desenvolvem, tornam-se dominantes, mas em um dado momento acabam por sucumbir e são substituidas por outras que iniciam uma novo ciclo. Com isso queremos dizer que os sistemas de pensamento, ideologias e filosofias possuem uma natureza bastante dinâmica, ou seja, estão em constante transformação, readequação readequação ou sobrepondo-se umas as outras, isso em uma velocidade muito elevada, as vezes semelhante à rapidez do desenvolvimento tecnológico. Em razão dessa volatilibilidade das ideologias, filosofias e sistemas de pensamento, que acabam por influenciar, transformar e conduzir a sociedade em todas t odas as suas relações, é necessário que a igreja esteja alerta e saiba interpretar o que de fato está ocorrendo em seu tempo caso deseje exercer influência e imprimir suas convicções, essas baseadas nas Escrituras, na sociedade onde encontra-se inserida e não uma instituição voltada apenas para si mesma, preocupada com seus próprios problemas, esquecendo-se daqueles que dia após dia têm sido influênciados e dominados por essas ideologias que em sua grande parte, por estarem destituidas da luz da verdade que emana das Escrituras Sagradas, acabam por exercer uma influência e governo negativo sobre a vida dos indivíduos. Leandro Lima em sua obra Cristãos no século 21 alerta a igreja quanto a necessidade da igreja estar alerta e vigilante 64 quanto essa “dança” dos Zeitgeists 65, ou seja, dos espíritos de nossa época que acabam por exercer suas influências, sejam elas positivas ou negativas. Caso a igreja queira realizar uma obra eficaz de influência e transformação num mundo assim, ela precisa estar atenta para essas transformações. Essa foi uma das grandes funções do profetas do Antigo Testamento. Eles não eram apenas homens de visão a respeito do futuro, mas também homens que enxergavam enxergava m muito bem 63 LIMA,
Leandro Antonio de. Cristãos no Século 21: Os dilemas e oportunidades da época atual. São Paulo: Editora Agathos, 2015, p. 5, v. 1 64 Ibidem, LIMA, Cristãos no Século 21: Os dilemas e oportunidades da época atual, p. 5, v. 1 65 OLIVEIRA. Fabiano de Almeida. Reflexões Críticas Sobre Weltanschauung : Uma análise do processo de formação e compartilhamento de cosmovisões numa perspectiva Teo-referente. Fides Reformata, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 38, 2008. “Num sentido mais amplo, todo tod o indivíduo já nasce imerso em um Zeitgeist , que é o espírito do tempo, um campo mais abrangente de significado, socialmente compartilhado por uma determinada época, que moldará o estilo de vida e a maneira de pensar das pessoas.”
30
o presente. Esses homens tinham um olho em Deus e outro no mundo e, assim, conseguiam perceber as ações de Deus na história, o crescimento do mal dentro da sociedade e os principais desafios para o povo de Deus daquele período66.
Em nossos dias, o espírito dominante que tem acabado por influênciar todas as áreas do viver humano, ou seja, a arte, as relações de consumo 67, a tecnologia, t ecnologia, as relações humanas e a própria religião reli gião etc, é o pós-modernismo ou pós-modernidade pós-modernidade como também é conhecido. Espírito esse que, principalmente no âmbito religioso, tem tornado-se um perigoso inimigo ante suas influências aos valores escriturísticos e a própria Escritura. Vivemos numa época que os pensadores chamam de PósModernidade, em que tudo é certo e nada é errado. Não se pode nem ne m se deve criticar as idéias alheias, porque “verdade, cada um tem a sua”. Mas uma questão lógica salta aos olhos neste tipo de argumentação: se tudo é verdade, então nada é verdade. Porque argumentos e conceitos contraditórios não podem coexistir na mesma conceituação...o espírito pragmático de um mundo amoral e sem Deus invadiu as igrejas68.
2.1.
O QUE É PÓS-MODERNIDADE?
2.1.1. SEU NASCEDOURO Determinar o fim da era moderna e início da pós-moderna não é uma tarefa fácil, isso porque não há se quer um concenso entre os estudiosos a respeito da era em que realmente vivemos, se moderna, hipermoderna ou pós-moderna 69. Outra dificuldade encontrada quanto a historicidade da pós-modernidade é quanto aquele que primeiramente cunhou, ou seja, nominou esse novo período 70, pois, de igual forma, 66 Ibidem,
LIMA, p. 5–6, v.1 Rubem Martins. Pós-Modernidade e o Desafio da Aliança. Disponível em: . Acesso em: 26 Abr 2016 68 FILHO, Isaltino Gomes Coelho. Neopentecostalismo, 2004. In. NUNES, Élton de Oliveira. Conflito e Exclusão: O conceito de pós-modernidade e sua recepção no meio protestante brasileiro. Revista Brasileira de História das Religiões, Paraná, n. 3, p. 63, 2009 69 NUNES, Élton de Oliveira. Conflito e Exclusão: O conceito de pós-modernidade e sua recepção no meio protestante brasileiro. Revista Brasileira de História das Religiões, Paraná, n. 3, p. 60, 2009 GOUVÊA, Ricardo Quadros. A Morte e a Morte da Modernidade: Quão pós-moderno é o pósmodernismo?. Fides Reformata, São Paulo, v. 1, n. 2, 1996. Ibidem LIMA, Cristãos no Século 21: Os dilemas e oportunidades da época atual, p. 5, v. 6-8 FREITAS, Susy Elaine da Costa. As Características da Pós-Modernidade como Influência da Videoarte Contemporânea. Texto Digital, Santa Catarina, v. 8, n. 2, p. 68 70 GRENZ, Stanley J. Pós-Modernismo: Um guia para entender a filosofia do nosso tempo. São Paulo: Vida Nova, 1997, p. 34 67 AMORESE,
31
não há um concenso entre os estudiosos sobre quem o seja. Entretanto, algo muito claro quanto a parte do século XX é que esse tem sido marcado por movimentos filosóficos, artísticos, arquitetônicos, teológicos, educacionais etc, que em sua essência tem como objetivo romper, quebrar, se apartar de tudo aquilo que ao longo dos séculos passados foram cridos como verdade absoluta, como verdade fundamental 71 para a sociedade. Em outras palavras, parte do século XX tem sido marcado por profundas mudanças e transformações que tem afetado todas as esferas e níveis da sociedade. Vejamos então, um pouco do ventre que gerou e posteriormente deu a luz à pós-modernidade Anderson Perry discorre que o termo pós-modernidade ou “ postmodernismo”72 foi primeiramente cunhado nos idos de 1930 por um indivíduo chamado Federico de Onís na Espanha, embora Stanley Grenz afirme que o primeiro a cunhar o termo foi Arnold Toynbee 73. Onís utilizou o termo postmodernismo para denominar e identificar um tipo de movimento, que segundo ele estava ocorrendo dentro do próprio modernismo. Perry destaca que posteriormente alguns escritores espanhois também adotaram o termo “ postmodernismo” em seus escritos, contudo, não para designar ou tratar do mesmo assunto proposto por seu criador 74. Contudo, tais usos distorcidos do termo não foram suficientes para atrapalhar o desenvolvimento do movimento inciado por Onís. Ademais, Perry ainda demonstra em sua obra que embora o termo tenha sido usado por Onís e outros, o uso deste só ganhou notoriedade mais tarde, cerca de 20 anos depois, no mundo de fala inglesa, agora não para determinar um modelo estético como propôs Onís, mas agora para determinar uma época 75, uma era que estava se iniciando dentro do caminhar e do desenvolver da história. Isso é tão verdade que em 1954 Arnold Toynbee no oitavo volume de sua obra Study of History denominou o período pós-segunda guerra mundial de idade pós-moderna 76. Jair Ferreira dos Santos acrescenta que o fim do modernismo e início do 71 CAMPOS,
Heber Carlos de. O Plurarismo do Pós-Modernismo. Fides Reformata, São Paulo, v. 2, n. 1, 1997 72 PERRY, Anderson. As Origens da Pós-Modernidade . Trad. Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999, p. 9-10 73 Ibidem, GRENZ, Pós-Modernismo: Um guia para entender a filosofia do nosso tempo, p. 35 74 Ibidem, PERRY, As Origens da Pós-Modernidade, p. 10 75 Ibidem, PERRY 76 Ibidem, PERRY
32
pós-modernismo se dá no ano de 1950, em função de drásticas mudanças – em sua concepção - que algumas áreas do conhecimento como a ciência, artes e sociedades avançadas 77, sofreram nesse período. Para o autor, o pós-modernismo começa a ganhar corpo nos idos de 1950 quando passa a influenciar a informática 78 através da massificação de tecnologias eletrônicas cujo propósito era inundar, saturar de forma individual e massificada a sociedade com informações, diversões, bem como serviços. Ainda na década de 50, o pós-modernismo além de utilizar-se da informática para ganhar corpo e se solidificar, também lançou suas garras sobre a econômia79 desenvolvendo agora um espírito consumista na sociedade afirmando que seu hedonismo, ou seja, a sua busca pelo prazer só será satisfeita caso esse indivíduo a cada dia adquira mais e mais bens de consumo. Santos ainda acrescenta que o movimento pós-moderno também utilizouse de movimentos como a “arte Pop 80”, a arquitetura, bem como os romances, para aumentar ainda mais seus raios de alcance. Inclusive, afirma-se que é nesse período – idos de 1960 – e através desses movimentos que a pós-modernidade definitivamente se solidifica81, dando o golpe de misericórdia no movimento modernista ao propor um modelo de arte mais descontraído 82, sem ser levado muito a sério, como ocorria nos tempos modernos. Por fim, Santos demonstra que a pós-modernidade tornou-se um caminho sem volta quando quando passou a fazer parte da “filosofia 83” na década de 1970, propondo uma nova forma de crítica à vida e cultura dos “países ocidentais”. Não obstante, Heber Carlos de Campos apresenta-nos um dado a mais. Segundo o autor, embora o modernismo até então pautado por uma cosmovisão “científica materialista84” tenha prevalecido durante grande parte do século XIX e no século XX tenha aderido ao “marxismo, facismo, positivismo e existencialismo 85” como suas filosofias norteadoras do pensamento, esse veio a sucumbir e encerrar seu
77 SANTOS,
Jair Ferreira dos. O Que é Pós-Moderno. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986, p. 8 SANTOS, O Que é Pós-Moderno, p. 9 79 Ibidem, SANTOS, p. 10 80 Ibidem, SANTOS, O Que é Pós-Moderno, p. 10 81 LEITE, Luciana de A. Pós-Moderno: A problemática do pós-moderno no campo artístico. Disponível em: . Acesso em: 04 Mai 2016 82 Ibidem, LEITE, Pós-Moderno: A problemática do pós-moderno no campo artístico 83 Ibidem, LEITE 84 Ibidem, CAMPOS, O Plurarismo do Pós-Modernismo, v. 2, n. 1 85 Ibidem, CAMPOS 78 Ibidem,
33
domínio com a queda do muro de Berlim em 1989 86, período esse marcado não somente pelo fim do domínio comunista na Europa, mas também pelo fim da era moderna, período em que o pós-modernismo se instalou de uma vez por todas como o espírito dominante de nossa época. Ocorre então o início de
uma nova forma de pensar baseada
principalmente no questionamento, ou seja, passa-se a questionar os padrões morais 87 até então estabelecidos, bem como, a própria existência de uma verdade absoluta, algo que até então nenhum sistema ou época havia ousado fazê-lo.
2.1.2. DEFININDO A PÓS-MODERNIDADE Alister McGrath, Rubens Amorese e Susy Elaine formam um coro uníssono quanto a dificuldade de se formular um conceito a respeito do que é pósmodernidade. Isso ocorre por duas razões. A primeira dificuldade quanto a uma definição concisa do que é pós-modernidade repousa na falta de unanimidade a respeito do que é modernidade 88. Em outras palavras, não há como definir concisamente algo quando ainda paira dúvidas quanto aquilo que o pós-modernismo se propoe a substituir. A segunda razão é em função da falta de unanimidade entre aqueles que se propõem a estudar o assunto 89, ou seja, em razão da pluralidade de conceitos e definições concernentes à pós-modernidade, resta prejudicada – em suas concepções – a tentiva de construir um conceito que abarque toda a sua dimensão. Rubens Amorese é ainda mais incisivo quanto a essa realidade, ao afirmar o seguinte: O que é a pós-modernidade? Resposta: não sei. E tem mais: ninguém sabe. Se soubessem, não a chamavam de "pós alguma coisa". Chamavam-na pelo nome. Mas chamam-na de pósmodernidade porque só sabem até a modernidade 90.
86 Ibidem,
CAMPOS LOPES, Augustus Nicodemus. Hermenêuticas Pós-Modernas : Conferência Fiel Portugal. Disponível em: . Acesso em 04 Mai 2016. Augustus Nicodemus também concorda com Heber Campos que o marco que define o fim do modernismo e início da pós-modernidade é a queda do Muro de Berlim. 87 Ibidem, LOPES, Hermenêuticas Pós-Modernas 88 MCGRATH, Alister. Paixão Pela Verdade: A coerência intelectual do evangelicalismo. Trad. Hope Gordon Silva. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 155 89 Ibidem, FREITAS, As Características da Pós-Modernidade como Influência da Videoarte Contemporânea. v. 8, n. 2, p. 68-69 90 Ibidem, AMORESE, Pós-Modernidade e o Desafio da Aliança
34
Embora haja tais dificuldades, vejamos algumas propostas de definições e conceitos a respeito da pós-modernidade. Alister McGrath é um dentre aqueles que formam o coro quanto as dificuldades a respeito de uma definição e conceituação da pós-modernidade, mas mesmo assim não se exime de também oferecer a sua parcela de contribuição quanto ao assunto. Assim, define pós-modernidade da seguinte forma. O pós-modernismo é geralmente entendido como algo de sensibilidade cultural sem absolutos, certezas fixas ou fundamentos, que se deleita no pluralismo e divergência, e que objetiva pensar profundamente o “estabelecimento” radical de todo o pensamento humano. Em cada um desses assuntos, isso pode ser visto como uma reação consciente e deliberada contra a totalização do Iluminismo91.
Willian Lane Craig enxerga a pós-modernidade como algo extremamente nocivo à saúde do cristianismo por contrapor-se à crença da existência de uma verdade absoluta. O pós-modernismo representa um grande desafio à missão da apologética crista, em especial, por causa de suas visões em relação à verdade, à racionalidade e à linguagem. [...] A razão é que os pósmodernistas rejeitam as noções de verdade absoluta e de racionalidade efetiva, assim como a noção de que a linguagem pode comunicar, de maneira clara, assuntos de significado supremo 92.
Stanley J. Grenz define a pós-modernidade como um conjunto de ideias que visam romper definitivamente com todos os valores e conceitos construídos pela modernidade, além de também defini-la como uma filosofia que rompe com a ideia de uma única cosmovisão, afirmando existir uma pluralidade de cosmovisões. O pós-modernismo [...] trata-se de uma revolução no conhecimento. De modo mais específico, a era pós-moderna marca o fim do “universo” – o fim da cosmovisão que a tudo abrange. [...] Os pósmodernos rejeitam a possibilidade da construção de uma cosmovisão única correta e contentam-se simplesmente em falarem de muitas visões e, consequentemente, de muitos mundos 93.
Por fim, Gene Edward Veith, Jr define a pós-modernidade como uma corrente de pensamento que exclui por completo a ideia de verdade absoluta. Em sua visão, a pós-modernidade possibilita a cada indivíduo construir e tornar-se detentor de 91 Ibidem,
MCGRATH, Paixão Pela Verdade: A coerência intelectual do evangelicalismo, p. 155 Willian Lane. Ensaios Apologéticos: Um estudo para uma cosmovisão cristã. Trad. José Fernando Cristófalo. São Paulo: Hagnos, 2006, p. 282 93 Ibidem, GRENZ, Pós-Modernismo: Um guia para entender a filosofia do nosso tempo, p. 68 92 CRAIG,
35
uma verdade, que obrigatoriamente necessita ser aceita pelos demais. [...] os pós-modernistas rejeitam totalmente a verdade objetiva. [...] O que as pessoas consideram ser verdade varia, segundo os pósmodernistas, de cultura para cultura, cada qual construindo o seu próprio sistema de crenças. As pessoas também constroem suas próprias verdades ao escolherem suas próprias crenças e seus próprios significados a partir de suas próprias razões pessoais. Consequentemente, a verdade é relativa94.
Os quatro autores, embora utilizando-se de termos diferentes, assumem que a pós-modernidade, primeiramente tem por objetivo romper total e definitivamente com os conceitos, valores e verdades do modernismo e, em um segundo momento, destacam que a pós-modernidade também tem por objetivo refutar a ideia de que há uma verdade absoluta, pelo contrário, o pós-modernismo defende que cada tempo, cada cultura e cada indivíduo é responsável por construir a sua própria verdade e que essa necessita ser aceita e respeitada como tal pelos demais indivíduos. Diante desses e de outros testemunhos, definimos a pós-modernidade como uma corrente de pensamento que tem por objetivo libertar-se das amarras que prendem os pensamentos e valores a uma única forma ou a uma única visão, valorizando a pluralidade e a multiplicidade de ideias, conceitos e valores, concedendo liberdade ao indivíduo a fim de que ele por si mesmo crie seu próprio edifício teórico e de valores.
2.1.3. CARACTERÍSTICAS DA PÓS-MODERNIDADE Conforme já conceituado anteriormente, a pós-modernidade tem por objetivo romper com todos os conceitos, valores e ideias construídos pela modernidade. Desse modo, a primeira característica que encontramos na pósmodernidade é a relativização da verdade. Enquanto que na modernidade cria-se na existência de um sentido objetivo e que se podia chegar à verdade absoluta, ou seja, aquilo que é definido como verdade em um determinado tempo e lugar95, torna-se verdade para todos os tempos, lugares e 94 VEITH
JR, Gene Edward. De todo o teu entendimento: Pensando como cristão num mundo pósmoderno. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 56-57 95 OPPENHEIMER, Mike. A Arte do Humanismo no Mundo de Hoje. Disponível em: . Acesso em: 04 Mai 2016
36
para todos os indivíduos, na pós-modernidade isso já não existe. Para os pós-modernistas não existe um logos transcendental 96, a verdade das verdades, mas que as verdades são relativas, ou seja, são verdades para uns e não são verdades para outros, são verdades em um determinado tempo e lugar, mas deixam de ser em outros tempos e lugares, cada indivíduo é responsável por determinar aquilo que é certo ou errado 97. D. Estevão Bettencourt define o relativismo pós-moderno da seguinte forma: O relativismo é uma corrente que nega toda verdade absoluta e perene assim como toda ética absoluta, ficando a critério de cada indivíduo definir a sua verdade e o seu bem. Opõe-se-lhe o fundamentalismo, que afirma peremptoriamente a existência de algumas verdades e algumas normas fundamentais... O indivíduo se torna o padrão ou a medida de todas as coisas. Tal atitude está baseada em fatores diversos, entre os quais o historicismo: com efeito a história mostra que tudo evolui e se tornam obsoletas coisas que em tempos passados eram plenamente válidas 98.
Na visão de D. Estevão Bettencourt, no pós-modernismo o indivíduo é responsável por chancelar ou recusar algo como verdade. A verdade na pósmodernidade depende da cosmovisão daquele que se põe a analisar os fenômenos e não mais os métodos científicos como o fora na modernidade. Assim, a verdade se ergue ou se dissolve conforme cada indivíduo, tempo ou lugar que bem lhe aprouver. Assim, em tempos pós-modernos, uma cultura, um povo ou alguma ala da sociedade não pode requerer para si o domínio da verdade. Isso porque, cada tempo, cada povo, cada cultura tem a sua própria verdade, constrói seu próprio arcabouço daquilo que acredita ser verdadeiro, daquilo que acredita ser a melhor regra de conduta, cabendo aos demais não manifestar nenhum tipo de oposição. Pelo contrário, deve inseri-la em meio ao panteão de verdades que a pós-modernidade erigiu a partir do seu nascedouro. Não obstante, uma segunda característica da pós-modernidade é o completo repúdio a qualquer conceito de neutralidade. Durante a modernidade desenvolveu-se a crença de que era totalmente possível analisar e interpretar 96 VEITH
JR, Gene Edward. Tempos Pós-Modernos: Uma avaliação cristã do pensamento e da cultura da nossa época. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p. 30 97 Idem, OPPENHEIMER, A Arte do Humanismo no Mundo de Hoje 98 BETTENCOURT, D. Estevão. O Que é o Relativismo? Revista Pergunte e Responderemos. Rio de Janeiro, n. 531, 2006, p. 394
37
determinado objeto ou assunto de forma totalmente neutra, ou seja, totalmente isento de pressupostos que todo indivíduo carrega em si. No caso do Cristianismo, afirmavase que era possível interpretar textos das Escrituras Sagradas de modo totalmente isento, neutro, sem que a teologia do indivíduo influenciasse tal interpretação. Na pósmodernidade esse conceito foi abolido, pois desenvolveu-se a crença de que são os pressupostos tácitos de cada indivíduo que são responsáveis por determinar o modus operandi como a interpretação será realizada, bem como os seus resultados. Marcos
Neira discorrendo sobre o assunto afirma o seguinte: A interpretação de fenômenos sociais e a construção de conhecimentos são campos de lutas simbólicas disputadas pelos diversos grupos culturais que compõem a sociedade e tentam fazer prevalecer suas concepções de mundo. Todo pesquisador está influenciado por valores e experiências pessoais, familiares e profissionais, consequentemente não há como reclamar uma posição neutra de quem investiga ou do conhecimento produzido. O discurso da neutralidade é pura ingenuidade de alguns e esperteza de outros, que empregam o artifício para garantir a hegemonia. Daí a necessidade da multiplicidade de vozes no desenrolar da pesquisa, principalmente daquelas marginalizadas, bem como da explicitação do posicionamento político e epistemológico do pesquisador. Tanto uma como a outra são elementos imprescindíveis para a construção da pesquisa na perspectiva da bricolagem99.
Marcos Neira reforça aquilo já fora afirmado anteriormente. Não há qualquer possibilidade de se realizar uma pesquisa sem que os pressupostos e os paradigmas do pesquisador influenciem em seu trabalho. Em outras palavras, ele afirma que o conceito de neutralidade científica não passa de um grande mito da modernidade e que a presença de tais pressupostos e paradigmas são indispensáveis a um processo de pesquisa científica confiável. Ademais, transpondo novamente esse conceito para o cristianismo, chegase inevitavelmente à conclusão não há como aproximar-se das Escrituras Sagradas a fim de interpreta-la sem que os pressupostos, paradigmas e a sua teologia não influencie nos resultados obtidos através de seu labor, ou seja, os conceitos, valores e ideias presentes no indivíduo é que determinarão os resultados que serão colhidos. Uma terceira característica presente na pós-modernidade é o politicamente
99 NEIRA,
Marcos Garcia. O Currículo Cultural da Educação Física em Ação: A perspectiva dos seus autores. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2011, p. 63. Disponível em: . Acesso em: 04 Mai 2016
38
correto. Na modernidade eram comuns os embates, as discussões, as discordâncias, as críticas em torno de assuntos, posturas, valores e ideias. Com a chegada da pósmodernidade criou-se um respeito exacerbado 100 às diferenças, uma preocupação descomunal a fim de que ninguém se sinta ofendido com as opiniões alheias, impedindo assim em muitos casos que juízos de valor sejam emitidos sobre determinado assunto. Augustus Nicodemus Lopes, em uma de suas homilias enquanto chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie define o politicamente correto da seguinte forma: Nesta época de pós-modernidade, surgiu o conceito do politicamente correto – na mentalidade pluralista e inclusivista, a opinião e as convicções de todos têm de ser respeitadas. A razão para esse “respeito” é que a opinião de um é vista como tão verdadeira quanto a do outro. Assim, torna-se politicamente incorreto criticar as opiniões, a conduta e as preferências morais, políticas, religiosas de alguém. Devem-se amenizar os comentários críticos com eufemismos ou generalidades que não ofendam. Já que não existem conceitos absolutos na área de religião e de moral, não pode haver proselitismo, isto é, alguém tentar convencer o outro a mudar de religião ou de comportamento 101.
Através da conceituação do politicamente correto proposta por Augustus Nicodemus podemos depreender que esta característica da pós-modernidade é uma consequência da relativização da verdade. Pois, a partir do momento onde se institui uma pluralidade de verdades e, que essas devem ser aceitas como tais, nenhum indivíduo pode criticar ou emitir uma opinião contrária a determinado assunto a fim de que a sua opinião pareça melhor ou mais confiável que as demais. Deve haver um respeito mútuo de opiniões e práticas. A quarta e última característica da pós-modernidade é a inversão de valores. Assim como o politicamente correto, a inversão de valores é também resultado da perda dos absolutos. A razão para tal afirmação é simples. A partir do momento em que a verdade é polarizada 102, ou seja, deixa de ser absoluta e passa a ser relativa, e essa não estando iluminada à luz das Escrituras Sagradas, deixa-se de ter um padrão, uma regra ou um modelo norteador de valores a ser seguido, cujo resultado será que o
100 GRUDA,
Mateus Pranzetti Paul. Os Discursos do Politicamente Correto e do Humor Politicamente Incorreto na Atualidade. Assis: Unesp. Disponível em: . Acesso em: 04 Mai 2016 101 LOPES, Augustus Nicodemus. Fundamentos. São Paulo: Mackenzie. Disponível em: . Acesso em: 04 Mai 2016 102 Ibidem, PERRY, As Origens da Pós-Modernidade, p. 109
39
certo tornar-se-á errado e o que é errado tornar-se-á certo, conduzindo a sociedade de nossos tempos a um profundo, perturbador e desesperador caos moral 103. Por fim, tais características acabaram por afetar todas as áreas do conhecimento e do viver humano, regulando o modo pelo qual o conhecimento é agora concebido, bem como as relações interpessoais. Logo, o cristianismo – principalmente o estudo e interpretação das Escrituras - não passa ileso a tais características e implicações da pós-modernidade. Isso porque, em tempos pós-modernos, as verdades fundamentais das Escrituras estão sendo duramente atacadas, relativizadas, algumas invalidadas, vistas como inúteis e até mesmo arrogantes. Pois, na ótica dos pensadores pós-modernos as verdades escriturísticas não são politicamente corretas, bem como verdades absolutas. Contudo, ao analisar esse movimento e observar o seu trato para com as Escrituras, pode-se concluir que ele não inventou uma nova forma de estudar e interpretar a Palavra de Deus, mas que utiliza-se de métodos anteriores à pósmodernidade, que já colocavam em cheque a veracidade e a infalibilidade 104 das Escrituras Sagradas. Embora a hermenêuticas pós-modernas quanto a interpretação da Palavra de Deus tenha surgido no século XX, o ventre que as gerou encontra-se anterior a isso, mais especificamente, no liberalismo teológico e seu método históricocrítico de interpretação das Escrituras que tinham como objetivo primaz colocar em cheque a doutrina da infalibilidade.
2.2.
O MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO Se o ventre das hermenêuticas pós-modernas encontram-se na crítica
bíblica, que compreende tanto o método histórico-crítico, bem como a baixa crítica, o ventre destes é o Iluminismo. O Iluminismo apregoava que o homem só poderia conhecer a realidade a sua volta e dar respostas ao problemas existentes através da razão105. Essa perspectiva racional de ler a realidade acabou por adentrar ao 103 Ibidem,
CAMPOS, O Plurarismo do Pós-Modernismo, v. 2, n. 1 PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS. Os métodos de interpretação da Bíblia : Conheça cada um deles, evite equívocos e pratique uma hermenêutica sadia. Rio de Janeiro: CPADNEWS, 2013. Disponível em: . Acesso em: 09 Mai 2016 105 SÓHISTÓRIA. O Iluminismo: Pensadores e características. Disponível em: . Acesso em: 09 Mai 2016 104 CASA
40
cristianismo, dando início àquilo que ficou conhecido como liberalismo teológico. Logo, o liberalismo teológico influênciado pelo Iluminismo e pela filosofia racionalista, rompe com o método histórico-gramatical, método este adotado pelos reformadores do século XVI e aqueles que vieram a posteriori, implantando uma nova forma de interpretar as Escrituras que ficou conhecido como método histórico-crítico. O método histórico-crítico encontra-se totalmente em oposição ao método histórico-gramatical, pois esee tinha como ponto de partida a análise da intenção do autor106, ou seja, buscava-se entender quais eram as razões e as intenções do autor ao redigir determinada porção das Escrituras. Já o método histórico-crítico não tem por objetivo analisar as intenções do autores da Bíblia, pelo contrário, a sua abordagem passa a ser de questionamento quanto a redação daquela porção das Escrituras Sagradas. Segundo Augustus Nicodemus o método histórico-crítico surge a partir das palavras do teólogo liberal J. Solomo Semler que afirmou o seguinte: “A raiz de todos os males (na teologia) é usar os termos ‘Palavra de Deus’ e ‘Escritura’ como se fossem idênticos”107. A partir disto pode concluir-se que as Escrituras não são em sua totalidade a Palavra de Deus. Logo, essa não pode ser considerada infalível e inerrante, pelo contrário, deve ser vista como um livro cheio de erros e inverdades. Assim, o método histórico-crítico tem por objetivo encontrar dentro do todo das Escrituras, aquilo que seja de fato a Palavra de Deus.
2.2.1. CRÍTICA DAS FONTES O método histórico-crítico acabou por gerar diversos tipos de aproximações críticas das Escrituras. Uma destas aproximações é a chamada crítica das fontes. A crítica das fontes surgiu com um indivíduo chamado Jean Astruc. Este indivíduo ao estudar o livro de Gênesis chegou à conclusão que Moisés valeu-se de
106 Ibidem,
CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS, Os métodos de interpretação da Bíblia: Conheça cada um deles, evite equívocos e pratique uma hermenêutica sadia. 107 SEMLER, J. S. Abhandlung von freier Untersuchung des Canon, em Texte zur Kirchen- und Theologiegeschichte, 68 (Gütersloh, 1967), p. 52, apud LOPES, Augustus Nicodemus. O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica. Fides Reformata, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 121, 2005 Ibidem, CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS, Os métodos de interpretação da Bíblia: Conheça cada um deles, evite equívocos e pratique uma hermenêutica sadia.
41
algumas fontes de dados para redigir a história narrada em tal livro. Para a crítica das fontes, o relato de Gênesis não foi expirado, soprado por Deus, mas Moisés utilizouse de dados já existentes para redigi-lo. Augustus Nicodemus a este respeito ele diz o seguinte: No Antigo Testamento, a chamada crítica das fontes tem a sua origem no comentário de Gênesis (1753) de Jean Astruc, um médico francês, onde ele defende que Moisés teria usado duas fontes diferentes para escrever Gênesis, uma que se refere a Deus como Elohim e outra que se refere a Deus como Yahweh108.
Quanto ao Novo Testamento, a crítica das fontes aplica o mesmo método, ou seja, visa descobrir quais foram as fontes utilizadas pelos autores na redação de cada um livros que compõem essa porção das Escrituras. Os principais nomes que concentraram seus esforços a fim de desmonstrarem “tal verdade” são C. H. Weisse (1838) e P. Wernle (1899)109. Desse modo, pode-se definir a crítica das fontes como um método que tem por objetivo reconhecer quais foram as fontes – essas de diferentes tempos e lugares – utilizadas na redação e confecção de determinado livro das Escrituras Sagradas. A esse respeito lemos o seguinte: Crítica das Fontes – Partia do princípio de que os textos bíblicos eram edições feitas a partir de várias fontes diferentes, e usavam como pista qualquer aparente diferença de vocabulário ou estilo, repetições de histórias e digressões. A primeira hipótese desse tipo de crítica foi a Hipótese Documentária, que cria nas fontes Eloísta, Javista, Deuteronomista e do Quarto Documento no Antigo Testamento110.
Esse método não leva em conta a possibilidade dos autores terem utilizadose de diversos termos para falarem do mesmo assunto ou de uma mesma pessoa, demonstrando assim uma riqueza de vocabulário. Ao contrário, encaram essas variações como fontes de dados diferentes umas das outras, concluindo assim que as Escrituras possuem erros e que de modo algum podem ser inspiradas por Deus, levando-as a um profundo descrédito.
108 LOPES,
Augustus Nicodemus. O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica. Fides Reformata, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 123, 2005 109 Ibidem, LOPES, O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica, v. 10, n. 1, p. 124 110 Ibidem, CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS, Os métodos de interpretação da Bíblia: Conheça cada um deles, evite equívocos e pratique uma hermenêutica sadia.
42
2.2.2. CRÍTICA DA FORMA Enquanto que a crítica das fontes tem por finalidade demonstrar que os autores bíblicos lançaram mão de fontes de vários tempos e lugares para confeccionarem seus escritos, a crítica da forma tem por objetivo demonstrar que as palavras ditas por Jesus, relatadas nos Evangelhos, por exemplo, não são verdadeiras111, ou seja, a igreja a fim de que seus objetivos fossem alcançados, acabara por adultera-las e deturpa-las a seu bel prazer. O críticos da forma ainda afirmam que o objetivo primaz dessa aproximação reside na busca pela verdade, ou seja, encontrar as reais palavras de Jesus 112, por exemplo, quando essas ainda não foram deturpadas por parte da história ou da igreja quando esses resolveram por redigi-las. Em outras palavras, quando essas ainda encontravam-se em sua fase oral 113. Pois, na visão dos críticos da forma as Escrituras foram a Palavras de Deus quando essas ainda encontravam-se em sua fase oral de transmissão. Na visão dos críticos da forma as Escrituras não são a Palavra de Deus expirada a seus autores através do Espírito Santo, mas sim um livro literário como qualquer outro. Leonardo Gonçalves conceitua a crítica da forma nas seguintes palavras: A premissa fundamental da crítica formal é que os evangelhos são o produto do labor da igreja primitiva. Os autores dos evangelhos procuraram unir várias tradições orais independentes e contraditórias que existiam na igreja antes que fosse escrito o Novo Testamento. Essas tradições orais também não são dignas de confiança, consistindo basicamente de ditos e relatos individuais referentes a Jesus e aos seus discípulos. A igreja ajuntou essas tradições e usou em forma de narrativa, inventando lugares, tempos e enlaces para unir as tradições independentes 114.
Há um consenso que o principal expoente da crítica da forma é Rudolph Bultmann e que esse método tornou-se mais conhecido através da publicação de sua obra denominada A História da Tradição Sinótica115. Nessa obra Bultmann procura provar que na redação do Evangelho de Marcos o autor utilizou-se de inúmeras fontes
111
GONÇALVES, Leonardo. Crítica da Forma: O método investigativo de Rudolf Bultmann. Disponível em: . Acesso em 09 Mai 2016 112 Ibidem, LOPES, O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica, v. 10, n. 1, p. 125 113 OSBORNE, Grant R. A Espiral Hermenêutica: Uma nova abordagem à interpretação bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 256 114 Ibidem, GONÇALVES, Crítica da Forma: O método investigativo de Rudolf Bultmann 115 Ibidem, LOPES, O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica, v. 10, n. 1, p. 126
43
de dados, compilando-as em um único bloco, dando a roupagem necessária para que os objetivos que a igreja tinha em mente fossem alcançados. Bultmann assim como os críticos das fontes não cria que as Escrituras Sagradas são a Palavra de Deus em sua totalidade, mas sim que ela a contém. Inclusive chega a afirmar que no caso dos Evangelhos, menos de dez porcento 116 daquilo que se afirma ser as palavras de Jesus, realmente o são.
2.2.3. CRÍTICA DA REDAÇÃO Se para crítica das fontes o importante é identificar quais e quantas fontes foram utilizadas pelos autores e para a crítica da forma o mais importante é a transmissão oral, pois a transmissão escrita encontra-se comprometida, para a crítica da redação o que mais importa é o o redator das Escrituras Sagradas. Grant Osborne destaca o seguinte a respeito da crítica da redação. A nova escola acredita que os Evangelhos são o resultado de composição, sendo todos literários em vez de compilações artificiais. A chave é perceber como o redator (editor) usou as suas fontes e então determinar o propósito teológico por trás dessas variações 117.
A partir das palavras de Osborne podemos concluir que o redator é de suma importância para o entendimento da forma final dos textos por ele redigidos e transmitidos aos seus leitores. Pois, são esses redadores os responsáveis pela mensagem na forma como essas se encontram. Eles foram os responsáveis por se apropriarem das fontes existentes e dar-lhes os contornos finais a fim de que uma mensagem una fosse entregue 118 para que os objetivos da igreja quanto ao ensino, evangelização e doutrinação pudessem ser alcançados. Em razão desse importante papel dos redatores na composição dos Escritos Sagrados, é a eles que deve-se recorrer a fim de compreender a mensagem, as intenções e os propósitos do texto em suma. Como observado até aqui, a crítica da redação também tem por finalidade descontruir a ideia de que as Escrituras Sagradas são a Palavra de Deus. Em razão de 116 Ibidem,
CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS, Os métodos de interpretação da Bíblia: Conheça cada um deles, evite equívocos e pratique uma hermenêutica sadia. 117 Ibidem, OSBORNE, A Espiral Hermenêutica: Uma nova abordagem à interpretação bíblica, p. 257 118 Ibidem, LOPES, O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica, v. 10, n. 1, p. 127
44
tal objetivo, este método também acabou por contribuir para a disseminação da crença de que a Bíblia é sim cheia de falhas e erros e que a doutrina da infalibilidade das Escrituras é uma farsa. Isso porque, a crítica da redação deposita integralmente no redator a responsabilidade pela forma final das Escrituras a que temos acesso.Pois, em última instância foi a sua vontade que acabou por prevaceler sobre o texto e não a vontade do Espírito Santo através dos diversos autores que as Escrituras possuem. Ademais, foi também através de um comentário bíblico do livro de Gênesis denominado de Das erste Buch Mose, Genesis de autoria de um teólogo denominado Gerhard von Rad119 que a crítica da redação começou a ganhar seus primeiros contornos. Nesta obra von Rad envida todos os seus esforços tentando sempre descobrir as intençoes e propósitos do autor a respeito daquilo que ele estava a transmitir.
2.3.
HERMENÊUTICAS PÓS-MODERNAS Após o método histórico-crítico causar enormes estragos ao longo do
século XIX no que tange ao estudo e interpretação das Escrituras Sagradas, principalmente ao questionar sua veracidade e infalibilidade, o século XX vê emergir a partir do método histórico-crítico aquilo que passou a ser denominado de hermenêticas pós-modernas. Se a pós-modernidade tem por objetivo romper com todos os grilhões da modernidade, descontruindo todos os seus conceitos, valores e ideias, as hermenêuticas pós-modernas também seguem o mesmo caminho, pois procuram implantar uma nova forma de interpretação das Escrituras, desconsiderando e reijeitando as intenções e propósitos do autor, transferindo toda ênfase para o leitor, ou seja, é o leitor, com seus pressupostos e paradigmas quem irá determinar o real sentido do texto a partir de agora. A respeito das hermenêuticas pós-modernas, Moisés Silva discorre o seguinte: A ascensão do Novo Cristicismo (nos estudos literários norteamericanos) chamou a atenção para o fato de que os textos literários têm determinado significado por si mesmos, independente da intenção original do autor. Especialmente quando aplicados à Bíblia, essa visão minimiza a historicidade das narrativas. Além disso, uma crescente ênfase no papel do leitor introduzia um forte 119 Ibidem,
127
LOPES, O Dilema do Método Histórico-Crítico na Interpretação Bíblica, v. 10, n. 1, p.
45
elemento de subjetividade ao trabalho de interpretação. Apesar de, possivelmente, ser verdade que não devemos identificar o significado de um texto de maneira total e exclusiva com aquilo que o autor pretendia conscientemente comunicar, é um erro grave deixar de lado o conceito da intenção do autor ou mesmo relegá-lo a um segundo plano 120.
Moisés Silva em suas palavras não só identifica o modus operandi das hermenêuticas pós-modernas, como também faz um importante alerta quanto aos perigos desse método interpretativo das Escrituras que surge a partir de meados do século XX. Ele enfatiza que de modo algum o conhecimento pode ser formado a partir de uma total negativa dos interesses e propósitos do autor, ao contrário, que esses devem sim ser levados em consideração, mesmo que não em sua totalidade a fim de que a formação do conhecimento não se torne algo exclusivamente subjetivo.
2.3.1. DESMITOLOGIZAÇÃO A desmitologização tem como principal nome o teólogo liberal Rudolph Bultmann. Ele introduziu essa nova hermenêutica através de sua obra Jesus Cristo e Mitologia, publicada em alemão no ano de 1958 121. Bultmann influenciado pelo existencialismo122, afirma que a linguagem empregada no Novo Testamento está totalmente envolta por mitologias e sobrenaturalidade, isso por culpa dos pressupostos e paradigmas aos quais seus autores estavam envolvidos quando conceberam cada um de seus escritos. Em razão disso, Bultmann propõe que uma nova leitura seja imposta aos relatos neotestamentários, leitura essa totalmente desprovida dessa linguagem sobrenatural e mitológica, ou seja, todos os milagres, intervenções divinas e demoníacas e eventos sobrenaturais sejam extirpados das Escrituras a fim de que se encontre o verdadeiro cânon em meio a tudo o que foi registrado. Observemos o que o próprio Bultmann diz a respeito: Ninguém que seja adulto o suficiente para pensar por conta própria 120 KAISER
JR, Walter C; SILVA, Moisés da. Introdução à Hermenêutica Bíblica: Como ouvir a palavra de Deus apesar dos ruídos de nossa época. 2 ed. Trad. Paulo C. N. Dos Santos; Tarcízio J. F. de Carvalho; Suzana Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 220 121 LOPES, Augustus Nicodemus. Resenha da obra: BULTMANN, Rudolph. Jesus Cristo e Mitologia . Trad. Daniel Costa. São Paulo: Editora Novo Século, 2000, 80 p. Fides Reformata, São Paulo, v. 5, n. 2, 2000 122 CONN, Harvie M. Teología Contemporánea en el Mundo. Trad. Ewerton B. Tokashiki. Grand Rapids: Libros Desafío, 1992, pp. 38-42. Disponível em: . Acesso em: 10 Mai 2016
46
imagina que Deus possa habitar um céu situado em algum lugar. Não existe mais céu algum no sentido tradicional da palavra. O mesmo se aplica ao inferno no sentido de um submundo mítico localizado debaixo dos nossos pés. Portanto, a história segundo a qual Cristo desceu ao inferno e subiu ao céu deve ser descartada. Não podemos mais esperar pelo retorno do Filho do Homem nas nuvens ou acreditar que os fiéis o encontrarão nos ares 123.
Para Bultmann, a linguagem mitológica empregada pelo Novo Testamento a fim de tornar palpável, conceitos existentes somente no imaginário dos autores escriturísticos, não deve ser aceito nos tempos atuais. Assim, se há uma intenção em transmitir a mensagem das Escrituras Sagradas, de forma fiel e verdadeira, ao homem do século XX, o caminho a ser trilhado é o da desmitologização 124. Na visão de Bultmann as Escrituras Sagradas devem ser interpretadas de modo que o homem de nossos dias possa compreende-la, ou seja, deve haver uma intepretação que respeite o contexto existencial do indivíduo e não mais o do autor, até porque, em sua ótica o homem atual não está mais interessado em relatos mitológicos como estavam os autores escriturísticos em suas épocas.
2.3.2. ESTRUTURALISMO O estruturalismo tem os nomes de Vladimir Propp e Claude LéviStrauss125 como principais expoentes dessa hermenêutica pós-moderna, nomes esses que foram responsáveis mais por sua difusão do que propriamente por sua concepção. Ademais, o estruturalismo, enquanto método interpretativo, tem por objetivo descobrir a verdadeira mensagem que encontra-se encoberta pela mensagem superficial126. Para os estruturalistas o real sentido de um texto não está naquilo que o autor expressou através de suas palavras em determinada porção de um texto, mas encontra-se no todo da obra. Assim, se o leitor deseja encontrar o real sentido de determinado versículo das Escrituras, por exemplo, ele não pode deter-se somente em tal, mas deve abstrair a verdade do todo daquela passagem, bem como através da mensagem que está oculta no texto em análise. Assim, o intérprete nesse método deve 123
BULTMANN, Rudolph, apud, SILVEIRA, Jonathan. Rudolf Bultmann e a desmitologização. Disponível em: . Acesso em: 10 Mai 2016 124 Ibidem, CONN, Teología Contemporánea en el Mundo 125 Ibidem, OSBORNE, A Espiral Hermenêutica: Uma nova abordagem à interpretação bíblica, p. 606 126 Ibidem, OSBORNE, p. 607
47
focalizar tanto o contexto macro do texto, quanto interpretar os signos deixados pelo autor a fim de que se chegue ao real sentido da passagem. Grant Osborne em seu livro A Espiral Hermenêutica cita um exemplo que esclarecerá o método estruturalista. [...] O estruturalismo nega que a declaração de superfície de João 3.16 possa transmitir o significado do texto para o indivíduo. Em vez disso, deve-se consultar o diálogo inteiro entre Jesus e Nicodemos em João 3.1-15, em particular os códigos binários do alto (Jesus) e de baixo (Nicodemos), depois aplicar esses ao acréscimo editorial de João 3.16-21, que tem seus próprios códigos de emissão-recepção, julgamento-salvação, crer-rejeitar, [...]. Esses símbolos são então decifrados para descobrir a estrutura profunda, [...], e então transformados com base nos códigos de nossos próprios dias. O pano de fundo e a gramática de superfície não falam; são antes as oposições dentro do texto em si que comunicam o significado. Essas, além disso, falam diretamente a todo ouvinte127. (Grifo nosso)
Além do mais, para os estruturalistas a mensagem que o autor desejou transmitir no passado quando o redigiu não é mais importante. O que de fato é importante é o que ela significa agora em nossos dias. As intenções do autor são totalmente descartadas e o que prevalece são as impressões que o leitor retira através daquilo que ele consegue abstrair além da superfície do texto.
2.3.3. CRÍTICA DA RESPOSTA DO LEITOR A crítica da resposta do leitor, também conhecida como reader-response, é mais um método hermenêutico que destaca a importância do leitor no estudo e interpretação de um texto. A crítica da resposta do leitor afirma que no processo de formação do conhecimento, o leitor é tão importante, e até mais, do que o próprio autor da obra128. Tanto que David Jobling no livro A Bíblia Pós-Moderna afirma que “[...] os textos são construídos (como quer que sejam concebidos) sempre e só por leitores no ato da leitura”129. Na crítica da resposta do leitor não é mais o texto que exerce domínio sobre o leitor, mas é o leitor que passa a ter o domínio sobre a obra. A partir disso, pode-se inferir que em razão da ênfase nesse método recair totalmente sobre
127 Ibidem,
OSBORNE, A Espiral Hermenêutica: Uma nova abordagem à interpretação bíblica, p. 608 Teoria da Crítica da Resposta do Leitor: Uma introdução. Disponível em: . Acesso em: 11 Mai 2016 129 JOBLING, David; et al. A Bíblia Pós-Moderna: Bíblia e cultura coletiva. São Paulo: Edições Loyola, 2000, p. 39 128
48
leitor, poderá assim haver uma multiplicidade de interpretações a respeito do mesmo texto ou assunto. Logo, a única conclusão a que se pode chegar é que todas devem ser levadas em consideração e encaradas como verdade. Na crítica da resposta do leitor, a subjetividade, até então evitada no processo de interpretação literária, agora é vista com bons olhos e até mesmo incentivada. O leitor é quem a partir de agora tem a responsabilidade para criar o significado130 da obra que tem em suas mãos. O leitor, a partir de toda a bagagem de conhecimento e experiências é quem formará e determinará a real mensagem que o texto está a transmitir. Quando empregado à intepretação das Escrituras Sagradas, a crítica da resposta do leitor também emprega a mesma metodologia, ou seja, os autores inspirados pelo Espírito Santo, tornam-se meros expectadores nas mãos dos leitores, cabendo aos últimos a determinação do significado da passagem em questão. Além do mais, esses significados determinados pelo leitor podem variar não só de leitor para leitor, mas que um único leitor pode ter várias impressões cada vez que se aproxima do mesmo texto. Osborne ilustra muito bem essa verdade quando diz o seguinte: Em outras palavras, o Sermão do Monte como um texto é chamado à existência quando o leitor o vivencia. Além disso, não há interpretação objetiva de Mateus 5-7, mas sim um ato subjetivo quando o leitor escolhe uma estratégia de leitura e aborda o texto em conformidade com ela. Por essa razão, leitores podem vivenciar um texto de forma diferente cada vez que o leem131.
2.3.4. DESCONSTRUCIONISMO O desconstrucionismo, enquanto método hermenêutico, nunca teve em seu cerne objetivos religiosos, ou seja, tornar-se um método de interpretação das Escrituras Sagradas. Todavia, o desconstrucionismo acabou por ser adotado entre alguns estudiosos das Escrituras 132, passando assim a influenciar o campo da hermenêutica bíblica. O principal nome do desconstrucionismo é do Jacques Derrida. Embora 130 Ibidem,
OSBORNE, p. 615 OSBORNE, A Espiral Hermenêutica: Uma nova abordagem à interpretação bíblica, p. 616 132 Detweiler, 1982; Culler 1982; Ellis 1989; Burke 1992; Critchley 1992, entre outros. 131 Ibidem,
49
francês, Jacques Derrida viu seus ideais ganharem força e notoriedade nos Estados Unidos quando lá ministrou aulas na Johns Hopkins University 133. Para Jacques Derrida o pensamento, principalmente no ocidente, é formado por estruturas superiores que impedem a inserção novas formas de pensamento no estudo e formação do conhecimento. Para ele só há um caminho, a desconstrução, ou seja, para que o pensamento ocidental ganhe novas roupagens, tenha contato com outras visões e versões é necessário que essas estruturas superiores sejam colocadas a baixo a fim de que as novas estruturas possam assumir o seu lugar ao sol. Fazer justiça a essa necessidade significa reconhecer que, em uma oposição filosófica clássica, nós não estamos lidando com uma coexistência pacífica de um face a face, mas com uma hierarquia violenta. Um dos dois termos comanda (axiologicamente, logicamente etc.), ocupa o lugar mais alto. Desconstruir a oposição significa, primeiramente, em um momento dado, inverter a hierarquia 134.
Para os desconstrucionalistas os textos estão repletos de erros, bem como carregam uma carga preconceituosa a determinada ala da sociedade. Assim, cabe ao desconstrucionismo desmantelar toda a estrutura textual a fim de encontrar tais erros, que segundo eles, foram ali colocados pelos autores propositalmente a fim de exercer domínio e controle sobre seus leitores. Bill Crouse diz o seguinte: “A abordagem desconstrutiva a um "texto" [...] é a de o desmantelar, tomando especial atenção às suas pressuposições elitistas, antifeministas e pouco chiques. O projecto é informado pela filosofia segundo a qual o mundo se encontra indefinido até que alguém temporariamente e só segundo um estilo - o torna definido ao usar palavras para o descrever. Uma vez que (alegadamente) as palavras estão sempre a alterar de significado, nenhuma interpretação dessas palavras é mais correcta que qualquer outra. A função do criticismo é, portanto, expor a sua contradição inerente na própria ideia do "significado" ou veracidade dum texto.” 135
Assim, pode-se concluir que o objetivo do método desconstrucionalista é o de colocar abaixo as intenções e propósitos do autor, que em sua visão é sempre o 133 GOULART,
Audemaro Taranto. Notas Sobre o Desconstrucionismo de Jacques Derrida. Minas Gerais: PUC, 2003, p. 2. Disponível em: . Acesso em: 11 Mai 2016 134 DERRIDA, Jacques. Posições. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2001, p. 48, apud, PREDOSO JÚNIOR, Neurivaldo Campos. Jacques Derrida e a Desconstrução: Uma introdução. Disponível em: . Acesso em: 11 Mai 2016 135 CROUSE, Bill. Desconstrucionismo: O culto de Hermes pós-moderno. Disponível em: . Acesso em: 11 Mai 2016
50
de opressão e controle, construindo no lugar novos conceitos, ideias e valores abstraídos a partir do manuseio do texto por parte do leitor, a fim de que os erros e preconceitos sejam extirpados da literatura. Portanto, embora a pós-modernidade e os movimentos dela decorrentes, tenham a todo custo, tentado colocar em xeque o conceito de verdade absoluta que as Escrituras carregam em si, enxergando-a como uma literatura qualquer e não como a Palavra inspirada e inerrante de Deus, veremos no próximo capítulo alguns argumentos, algumas respostas que tem por objetivo refutar essa ideia equivocada da pós-modernidade em relação à Escritura Sagrada, demonstrando que essa é sim a verdade das verdades, o logos transcendental, por isso digna de crédito e de ser crida como a única regra de fé e de prática.
51
3.
A RESPOSTA REFORMADA À RELATIVIZAÇÃO PÓS-MODERNA A despeito de todas as controvérsias instauradas pela pós-modernidade no
que tange à veracidade, à suficiência e a autoridade das Escrituras Sagradas, a igreja primitiva, os Pais da Igreja e posteriormente os reformadores protestantes a partir do século XVI136, sempre creram e confiaram nas Escrituras, em nada duvidando. Isso porque, criam que seus escritos eram inspirados, ou seja, eram advindos do próprio Deus. Nesse diapasão, Norman Geisler tratando a respeito da doutrina da inspiração das Escrituras afirma que tanto a igreja primitiva, quanto a igreja no período dos Pais da Igreja sempre reconheceram a origem divina das Escrituras: Os da era apostólica e os que de imediato lhe sucederam reconheciam a origem divina dos escritos do Novo Testamento, ao lado da autoridade fina do Antigo Testamento. Salvo casos de heréticos, todos os grandes pais da igreja cristã, desde os tempos mais remotos, creram na inspiração divina do Novo Testamento, e assim a ensinaram. Em suma, sempre houve uma reivindicação contínua e firme da inspiração do Antigo e do Novo Testamento, desde o tempo de sua composição até o presente momento137.
Ademais, além da a igreja primitiva, os Pais da Igreja e posteriormente os reformadores protestantes a partir do século XVI crerem que a Bíblia é inspirada por Deus, eles também creram ao longo da história que essa era suficiente para governa-la e dirigi-la, em razão do fato, de que “tudo o que aprouve Deus revelar [...] em matéria de fé e prática”138, foi nela registrado, sem adicionar ou omitir qualquer tipo de informação. Em outras palavras, assim como um leme direciona e conduz uma embarcação para onde lhe aprouver, assim também o é as Escrituras no que tange à igreja. Um exemplo que pode ilustrar muito bem essa realidade da igreja, encontra-se no evento histórico do retorno de João Calvino, o reformador genebrino, de Estrasburgo na Alemanha para Genebra na Suíça, depois de dois anos de sua expulsão por parte do Parlamento139 que não acatou sua proposta de “Instrução e Confissão de Fé Segundo os Usos da Igreja de Genebra” 140. Esse retorno tão ansiado por parte dos genebrinos, foi para que João Calvino pudesse novamente retirar da Bíblia e transmitir a eles,
136 BAVINCK, Dogmática
Reformada: Prolegômena, v. 1, p. 455 GEISLER, Introdução Bíblica : como a Bíblia chegou até nós, p. 55 138 Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 74 139 POMPEU, Renato. Calvinismo e Democracia. Disponível em: . Acesso em: 14 Jul 2016 140 Ibidem, POMPEU, Renato. Calvinismo e Democracia 137 Ibidem,
52
Os princípios que deveriam reger a vida dos cidadãos daquela cidade, tanto no que se referia às questões eclesiásticas, quanto às demais questões que envolviam a administração e ordem na cidade. Por esta razão, Calvino fez da pregação baseada nas Escrituras seu principal instrumento de trabalho 141.
Isso porque, o grande desejo por parte dos genebrinos era o de que as Escrituras tomassem um lugar central na vida de todos 142, não só na esfera eclesiástica, mas também na vida civil, ou seja, os genebrinos ansiavam para que as Escrituras, pregadas por Calvino, interferisse positivamente em todo o seu modus operandi, por crerem que ela era infalível, logo, suficiente para dirigir e governar todas as suas relações. Mas, não só a igreja e os reformadores protestantes do século XVI ao longo da história reconheceram a necessidade, a importância e a suficiência das Escrituras quanto ao que o homem necessita saber para ser salvo e viva uma vida para o inteiro agrado de Deus 143. A própria Escritura reivindica tal suficiência. No Salmo 19.7-13 ela afirma que “a lei do Senhor é perfeita”, que “os preceitos do Senhor são retos” e que “o mandamento do Senhor é puro” e “mais desejáveis do que o outro [...] e mais doces do que o mel”, mas ela também declara que é por meio das Escrituras que “se admoesta o teu servo”. Além do mais, o Salmo 19 continua declarando que é somente através das Escrituras que o homem é iluminado, conscientizado e libertado de sua vida pecaminosa, demonstrando desse modo a insuperável necessidade de sua presença na vida do homem, bem como da igreja. No entanto, a igreja e os reformadores protestantes do século XVI, além de reconhecer as Escrituras como infalível e suficiente, também a reconheceu como a verdade das verdades, o logos transcendental, a verdade absoluta. Isso porque, Ela presume, dada a revelação de que Deus provê na Palavra Bíblica, que podemos conhecer seu caráter e suas intenções de maneira que correspondam ao que está aí. Sem dúvida, os escritores humanos da Escritura eram falíveis, mas a obra de inspiração do Espírito assegurou que, a despeito da falibilidade humana, a correspondência entre seus escritos e a realidade das coisas fosse
141 MIRANDA,
Daniel Leite Guanaes. Calvino e o Sola Scriptura: A aplicação deste princípio na cidade de Genebra e a sua relevância para o Brasil nos dias atuais. Disponível em: < http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/Calvino-Sola-Scriptura_Daniel-Leite.pdf>. Acesso em: 14 Jul 2016 142 WALLACE, Ronald. Calvino, Genebra e a Reforma. Trad. Marco Antônio Domingues Sant’anna. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 35 143 Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 74
53
assegurada. O resultado foi o de uma revelação plenamente confiável. Tal revelação reflete quem Deus é. Devido à ultimada pureza do seu caráter, é impossível que Deus minta144.
Além das Escrituras serem a verdade porque nela Deus revelou o seu caráter e o Espírito Santo assegurou que tudo o que fosse nela registrado se tornasse plenamente confiável. Essa também é verdade porque nela encontramos o testemunho de Jesus Cristo que assegura veementemente a sua veracidade. Em sua oração sacerdotal, registrada no capítulo 17 do Evangelho de João, Jesus nos diz o seguinte: Jo 17.17-19 17 Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. 18 Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. 19 E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade145.
Em suas palavras, Jesus está afirmando que a Escritura é verdade não porque ela se amolda, ou porque se harmoniza com algum outro padrão de verdade já existente146, pelo contrário, que a Palavra de Deus é a própria verdade a que todas as pseudo-verdades devem se harmonizar. A palavra verdade, usada por Jesus nesse trecho das Escrituras é a palavra grega ἀλήθεια, que no contexto de João tem “regularmente o sentido de realidade em contraste com a falsidade ou a mera aparência”147 e especificamente em Jo 17.17 a palavra ἀλήθεια tem o sentido de que a “palavra da parte de Deus é válida, eficaz, e não é falsa de modo algum; pelo contrário, está de acordo com a realidade. É todas estas coisas precisamente porque é a palavra reveladora do próprio Deus.” 148 Desse modo, em tempos pós-modernos onde as Escrituras Sagradas não são mais consideradas como a verdade absoluta, mas simplesmente a verdade dos cristãos, devemos seguir os sábios conselhos de James M. Boice, que assevera as seguintes palavras: Portanto, uma visão elevada da Bíblia e um forte comprometimento com a Palavra de Deus fortalecerão o cristão contra a aparente maré 144 WELLS, David F. Coragem Para Ser Protestante.
Trad. Wadislau Gomes. São Paulo: Cultura Cristã,
2010, p. 75 145 BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. Ed. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999 146 COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Introdução à Cosmovisão Reformada . São Paulo: Material não publicado, 2015, p. 318 147 BROWN, Colin; COENEN, Lothar. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2. ed. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, 2000, v. II, p. 2616 148 Ibidem, BROWN; COENEN, Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p. 2619
54
de relativismo que está varrendo toda a nossa cultura. Na verdade, a visão da Bíblia que os reformadores sustentavam é a única coisa que pode impedir que essa maré alcance o crente149.
3.1.
A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS Embora a igreja tenha ao longo dos tempos crido e sustentado que as
Escrituras, por ser inspirada e infalível, logo, fonte de suprema e irrevogável autoridade150 sobre questões doutrinárias, bem como questões da vida e prática cristã, a história nos demonstra que nem sempre houve unanimidade quanto a essa verdade, principalmente no período da idade média. Isso porque, a Igreja Católica Apostólica Romana, principalmente a partir de 1076 d.C., ao instituir o dogma da infalibilidade da igreja 151, em 1545 ao instituir o dogma que confere autoridade igual à da Bíblia, à tradição 152, bem como através do dogma da infalibilidade papal, acabou por instituir outros meios de autoridade quanto a assuntos doutrinários e questões da vida e prática cristã. Pois, para o catolicismo romano passaram a existir três grandes fundamentos de autoridade quanto ao ensino dos fiéis, os quais são: a tradição da igreja, o magistério e as Escrituras 153, ou seja, para o catolicismo romano, as Escrituras possuem autoridade derivada, isso porque, sem a interpretação por parte da tradição 154 e do magistério ela torna-se uma literatura como qualquer outra. Isso é tão verdade, que mais tarde, em 1929 o padre Bernhard Stempfle afirmou o seguinte: A Bíblia não é a única fonte de fé, como Lutero ensinou no séc. XVI, porque sem a interpretação de um apostolado divino e infalível, separado da Bíblia, jamais poderemos saber, com certeza, quais são os livros que constituem as Escrituras inspiradas, ou se as 149 BOICE,
James M.; et al. Firme Fundamento: A inerrante palavra de Deus em um mundo errante. Trad. Claudio Chagas. Rio de Janeiro: Anno Domini, 2013, p. 82 150 HANKO, Ronald. A Autoridade da Escritura. Trad. Felipe Sabino de Araújo Neto. Disponível em: . Acesso em: 18 Jul 2016, p. 1 151 MENEZES, Escriba Valdemir Mota de. O que é A Igreja Católica Romana? . Disponível em: < https://books.google.com.br/books?id=TX-wCQAAQBAJ&pg=PA10&lpg=PA10&dq=dogma+da+in falibilidade+da+igreja+1076+d+c&source=bl&ots=38Tw4uPeq8&sig=Z0JQn1A2Iogzpu8L7gBv52m rKsw&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjXp6Wvov3NAhVEx5AKHSIfAXAQ6AEIHDAA#v=onep age&q=dogma%20da%20infalibilidade%20da%20igreja%201076%20d%20c&f=false>. Acesso em: 18 Jul 2016, p. 10 152 Ibidem, MENEZES, O que é A Igreja Católica Romana? , p. 13 153 das Escrituras. Disponível MIRANDA, Leonardo. Autoridade em: < http://www.ubeblogs.com.br/profiles/blogs/autoridade-das-escrituras>. Acesso em: 18 Jul 2016 154 Ibidem, SPROUL, Posso Crer na Bíblia? , p. 15
55
cópias que hoje possuímos concordam com os originais. A Bíblia em si mesma, não é mais do que letra morta, esperando por um intérprete divino... Certo número de verdades reveladas têm chegado a nós, somente por meio da tradição divina 155.
Entretanto, Reformadores como John Wyclif, no século 14 156, Martinho Lutero, João Calvino, entre outros, buscaram combater tais inverdades edificadas pelo catolicismo romano, edificando no lugar um novo edifício, afirmando a partir de então que a Escritura é a única fonte de autoridade sobre questões doutrinárias, de vida e prática cristã, bem como que não há “nenhuma autoridade humana que seja maior, nem regra de homens capaz de suplantar seus preceitos, e nenhum ensino que possa contradizer algo que ela ensine.” 157. A esse respeito, Augustus Nicodemus também contribui afirmando que os reformadores protestantes não só lutaram para recuperar a doutrina da autoridade das Escrituras, mas também que os reformadores afirmavam que essa autoridade e infalibilidade que as Escrituras carregam é provinda de si mesma, bem como que ela deve ser o juiz e árbitro em todas as questões que envolvem a igreja, bem como a vida de cada cristão. Os Reformadores recuperaram a doutrina da autoridade das Escrituras canônicas que havia sido soterrada durante a Idade Média. Ele (sic) rejeitaram a autoridade e infalibilidade papal e reestabeleceram (sic) a autoridade e infalibilidade das Escrituras. Entenderam que este conceito é derivado da própria escritura e tem raízes nos profetas do AT, no Senhor Jesus e seus apóstolos. Assim, a Escritura passou a ser o Juiz Supremo nas Igrejas protestantes e na vida individual, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores e as doutrinas de homens e opiniões particulares têm de ser examinados (sic)158.
Entretanto, a luta contra a autoridade da Escrituras não é algo exclusivo da idade média ou do catolicismo romano. A pós-modernidade, conforme afirma Stott, tem feito brotar no coração dos indivíduos uma profunda disposição de ânimo antiautoridade159, raras vezes ou nunca vislumbrado até então. Para Stott, tudo aquilo que era aceito como símbolo de autoridade sobre o indivíduo como, “família, escola,
155 Ibidem,
MIRANDA, Autoridade das Escrituras Alderi Souza de. A Centralidade da Bíblia na Experiência Protestante. São Paulo: CPAJ, disponível em: . Acesso em: 18 Jul 2016 157 Ibidem, HANKO, A Autoridade da Escritura, p. 1 158 LOPES, Augusto Nicodemus. A Confiabilidade e a Autoridade das Escrituras. Disponível em: . Acesso em: 18 Jul 2016 159 STOTT, John. Eu Creio na Pregação. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 52 156 MATOS,
56
universidade, Estado, igreja, Bíblia, papa e Deus” 160 está sendo questionado, criticado e até mesmo abandonado. Tudo quanto dá a impressão de "autoridade estabelecida”, ou seja, de privilégio entrincheirado ou de poder inassaltável, está sendo sujeitado a escrutínio e a oposição.Um "radical" é exatamente alguém que faz perguntas inconvenientes e irreverentes a algum "estabelecimento" que antes se considerava imune à crítica 161.
A consequência dessa disposição antiautoridade apregoada pela pósmodernidade, é a condenação de todo e qualquer discurso que afirma que as Escrituras são a verdade absoluta, ou seja, eles afirmam que é impossível que um livro utilizado apenas pelas religiões seja o único provido de verdade e que todos os demais estão desprovidos de tal veracidade 162. Logo, a Escritura não pode ser considerada como o único livro provido de autoridade a fim de regular a vida e prática dos indivíduos. Assim, em tempos pós-modernos, onde o que tem prevalecido é uma disposição antiautoridade, o caminho a ser trilhado é o mesmo que os reformadores trilharam em seu tempo, frente as oposições à autoridade das Escrituras. Esses primeiramente rejeitaram tal sentimento, ou seja, não se associaram, não foram coniventes com tal postura, com tal pensamento. Na verdade, protestaram contra essa disposição de ânimo antiautoridade às Escrituras. E, em segundo lugar, demonstraram àqueles que descriam, o que é, e o porquê das Escrituras serem fonte de autoridade 163. Desse modo, faz-se necessário lembrar que as Escrituras Sagradas são fonte de autoridade, porque foram divinamente inspiradas pelo próprio Deus 164. Em decorrência de terem sido inspiradas por Deus, que é a fonte de toda verdade e que nele não há falsidade ou mentira 165, as Escrituras são verídicas em tudo aquilo que ela afirma, logo, necessita não só ser crida como tal, mas também obedecida como a única e verdadeira fonte de regra de fé e de prática a que o indivíduo 166 necessita para conduzir seus passos. Além do mais, a Escritura por ser inspirada e infalível, logo, é 160 Ibidem,
STOTT, Eu Creio na Pregação , p. 52 STOTT, Eu Creio na Pregação , p. 53 162 Ibidem, LOPES, A Confiabilidade e a Autoridade das Escrituras 163 Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica : como a Bíblia chegou até nós, p. 56 164 ANGLADA, Paulo. A Doutrina Reformada da Autoridade Suprema das Escrituras. Fides Reformata, São Paulo, v. 2, n. 2, 1997. Disponível em: < http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_II__1997__2/a_doutrina_r e.....pdf>. Acesso em: 18 Jul 2016 165 SCHWERTLEY, Brian M. Sola Scriptura e o Princípio Regulador do Culto. Trad. Marcos Vasconselos. São Paulo: Os Puritanos, 2001, p. 12 166 BAVINCK, Dogmática Reformada: Prolegômena, v. 1, p. 459 161 Ibidem,
57
suficiente fonte de autoridade e de verdade, bem como deve ser vista como fonte de autoritativa acima da autoridade humana 167 exercida por meio do Estado, da ciência, da arte etc, ou seja, todas as demais coisas necessitam estar submetidas à sua autoridade. Sproul, ao tratar a respeito das Escrituras e a sua autoridade, acrescenta que essa autoridade que as Escrituras carregam em si, permeiam o seu todo e não apenas algumas partes, pois, seu propósito é levar os indivíduos a crer que as Escrituras são a Palavra de Deus, ao invés da crença de que elas contem a Palavra de Deus. A autoridade da Bíblia está baseada no fato de que ela é a Palavra de Deus Escrita. Visto que a Bíblia é a Palavra de Deus e que o Deus da Bíblia é a verdade e fala a verdade, a autoridade da Bíblia está ligada à inerrância. Se a Bíblia é a Palavra de Deus e se Deus é o Deus que fala a verdade, então, a Bíblia tem de ser inerrante – não penas em algumas de suas parte, como alguns teólogos modernos dizem, mas totalmente, como a igreja, em sua maioria, tem dito através dos século de sua história168.
Ainda é necessário considerar, que as Escrituras são fonte de suprema e irrevogável autoridade não somente porque os reformadores e a igreja assim a reconheceram, mas também porque a própria Escritura afirma que é tal fonte 169. No período véterotestamentário, os profetas nunca pronunciavam seus discursos como sendo algo provindo de si mesmos, mas sempre asseveravam que tais palavras eram provindas do próprio Deus, por isso sempre utilizavam expressões como “assim diz o Senhor, ouvi a palavra do Senhor, palavra que veio da parte do Senhor” 170, ou seja, os ouvintes da mensagem deveriam atentar a tais palavras, reconhece-las como advindas do próprio Deus, bem como obedece-las, por serem autoritativas sobre suas vidas. No período neotestamentário, podemos observar primeiramente Jesus, em textos como Mateus 4.4, 6-7, 10 e João 10.35 ao afirmar “está escrito e a Escritura não pode falhar” confirmar a autoridade suprema das Escrituras 171. Também não podem ser esquecidas as palavras de Paulo à igreja de Tessalônica, onde ele – como de costume em suas cartas – agradece ao Senhor por aqueles irmãos terem recebido as Escrituras como ela realmente é, ou seja, a Palavra de Deus (1Ts 2.13) e não como palavras meramente humanas. Em outras palavras, aqueles irmãos reconheciam tais
167 BAVINCK, Dogmática
Reformada: Prolegômena, v. 1, p. 465 SPROUL, Posso Crer na Bíblia?, p. 13-14 169 Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 63 170 Ibidem, ANGLADA, A Doutrina Reformada da Autoridade Suprema das Escrituras 171 Ibidem, COSTA, A Inspiração e Inerrância das Escrituras , p. 111 168 Ibidem,
58
palavras como advindas de Deus, logo, plenamente revestidas de autoridade. Portanto, em tempos de relativismo pós-moderno, onde se diz existir “verdades” e não verdade, as Escrituras são fonte da verdade absoluta, porque primeiramente, são a própria Palavra de Deus revelada ao homem, inspiradas e infalíveis. Mas em segundo lugar, por consequência de serem inspiradas e infalíveis, são fonte de suprema e irrevogável autoridade, autoridade essa as quais todas as demais devem submeter-se, e isso não ocorreria, se as Escrituras de fato não fossem o logos transcendental.
3.2.
A INDESTRUTIBILIDADE DAS ESCRITURAS Além da doutrina da autoridade das Escrituras como resposta à
relativização da verdade pós-moderna, a reforma também tem a favor da veracidade absoluta das Escrituras, o argumento da sua indestrutibilidade. A despeito de sua importância, ou se se pensar bem, talvez em razão da grande importância das Escrituras para o homem, essa tem sido alvo de inúmeros ataques, sejam de ordem intermitente ou persistente, sutil ou violenta. O primeiro ataque que temos às Escrituras tentando destruí-la é o do diabo. Em Gênesis 3.1 pode-se observar claramente sua tentativa em pôr em dúvida a existência da revelação da divina: “Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse:
Não comereis de toda árvore do jardim? (Destaque nosso)”. Mais adiante, após a resposta de Eva afirmando que Deus havia determinado que de todas as árvores do jardim eles poderiam alimentar-se, menos da que se encontrava no meio do jardim (Gn 3.2-3), o diabo mais uma vez coloca em dúvida a revelação divina ao afirmar que “ É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal. (Destaque nosso)” (Gn 3.4-5). Mas a Bíblia é a Palavra de Deus e tem sobrevivido a circunstâncias totalmente adversas. Quando olha-se para a história da literatura, pode-se observar que uma porcentagem muito pequena de livros sobrevive além de um quarto de século, e
59
uma porcentagem ainda menor dura um século, e uma porção quase insignificante dura cerca mil anos. Entretanto, as Escrituras Sagradas têm resistido não só aos ataques, que vêm sobre ela de todos os lados, mas ao próprio tempo que, também colabora para que os escritos caiam no mar do esquecimento. Ademais, em 303 d.C. mais uma vez as Escrituras sofreram um forte ataque, agora por meio das mãos do imperador Diocléciano (284 – 305 d.C) 172 cuja determinação era a de que cada igreja e cada Bíblia fossem aniquilados de sobre toda a terra173, movendo uma feroz e persistente perseguição a fim de que seus objetivos fossem alcançados. Contudo, as Escrituras hoje são encontradas em mais de mil línguas e ainda é o livro mais lido do mundo 174, ou seja, ainda não se levantou nenhuma força capaz de impedir que as Escrituras alcancem os confins da terra, muito menos capaz de aniquila-la. Contudo, mesmo diante de tamanha prova de que as Escrituras são a Palavra de Deus, por isso, não só revestidas de autoridade, mas também revestidas de indestrutibilidade, os ataques não cessaram. Pois, “liberais, ateus e neo-ateus, outras religiões e a pós-modernidade” 175 tem, dentro das mais variadas formas, seja através 172
MEDEIROS FILHO, Carlos Fernandes de. Biografias: Diocleciano, Gaius Aurelius Valerius Diocletianus. Campina Grande/PB: UFCG. Disponível em: . Acesso em: 19 Jul 2016. Imperador romano (284-305) nascido perto de Salona, posteriormente Split, na costa da Dalmácia, cujas reformas contribuíram para adiar o declínio de Roma e criaram as bases do império bizantino. De origem modesta, fez carreira militar, chegando a comandante da guarda imperial e cônsul. Depois da morte do imperador Numeriano (284), matou o suposto assassino, Árrio Áper, e assumiu o poder, apoiado pelo exército da Anatólia. Reconhecido pelo Senado (285), após o assassínio do irmão de Numeriano, o coimperador Carino, deu início às reformas que marcaram seu governo. Inicialmente dividiu o império em dois (285): do Ocidente e do Oriente, com dois augustos e dois césares, com seu homem de confiança, Maximiano, a quem entregou a metade ocidental do império, enquanto ficava com a parte oriental. Em seguida, repartiu mais ainda o poder num sistema chamado tetrarquia (governo de quatro), implantado para acabar com as agitações nas sucessões imperiais (293), porém com indiscutível predomínio de sua autoridade e uma progressiva centralização de poder. O governo do Ocidente ficou, assim, dividido entre Maximiano, a quem coube a Itália e a África, e Constâncio Cloro, que recebeu a Bretanha, a Gália e a Espanha. Enquanto no Oriente, a maior parte, inclusive o Egito, ficava com o próprio Diocleciano, e as regiões do Danúbio e da Ilíria eram confiadas a Galério. No campo executivo limitou os poderes do Senado, fortaleceu e ampliou o exército imperial e promoveu reformas tributárias e legislativas. No campo judiciário, determinou que se realizassem duas compilações de leis imperiais, os códigos gregoriano e hermogeniano. No campo religioso, tornou obrigatório o culto a Júpiter, com quem se identificou, e ordenou uma violenta perseguição aos cristãos (303), que se estenderia por mais de dez anos, na Itália, África e no Oriente. Muito doente, abdicou a 1 de maio (305), obrigou Maximiano a fazer o mesmo (305) e viveu os últimos anos de sua vida no suntuoso palácio que mandara construir, em Salona. 173 Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica : como a Bíblia chegou até nós, p. 56 174 SILVA, Hélio de Menezes. Bibliologia: A doutrina da Bíblia. João Pessoa/PB: 2008. Disponível em: . Acesso em: 19 Jul 2016 175 Ibidem, LOPES, A Confiabilidade e a Autoridade das Escrituras
60
da desconsideração da existência de algo sobrenatural, seja através do questionamento quanto a sua veracidade, seja através do conceito de que mestres, gurus e seres iluminados, são superiores, ou de que as Escrituras são um livro meramente religioso, tentado minar o seu valor, o caráter e a própria existência das Escrituras, mas sem pleno e completo sucesso. Logo, a única conclusão a que se pode chegar diante de tais fatos, é a de que as Escrituras são de fato verdadeiras. Pois, nenhum livro, nenhuma literatura, nenhuma ideia ou conceito, conseguiria prevalecer por tanto tempo, como as Escrituras tem prevalecido176 e, muito menos diante de tantos e ferozes ataques que ela sofreu e tem sofrido ao passo do desenrolar da história sem sucumbir, cumprindo desse modo, as palavras de Jesus que em Marcos 13.31 afirma que “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão”.
3.3.
O
CUMPRIMENTO
DAS
PROFECIAS
PRESENTES
NAS
ESCRITURAS Outra resposta reformada ao relativismo pós-moderno, que insiste em afirmar que as Escrituras não são a verdade absoluta, mas simplesmente a verdade dos cristãos é o argumento do cumprimento das profecias relatadas nas Escrituras. No período veterotestamentário, o crivo utilizado para se aferir se a profecia era ou não verdadeira, era baseado no seu cumprimento ou no seu não cumprimento (Dt 18.22) 177. Tomando então esse crivo como fundamento para se aferir a veracidade das profecias das Escrituras, a conclusão a que se chega não poderia ser outra se não a da sua veracidade. Pois, tudo aquilo que foi predito através da boca dos profetas, quanto a tempos, locais e indivíduos178 de fato se cumpriram com precisão. Isso é tão verdade, que Calvino ao discorrer sobre as profecias veterotestamentárias afirma que essa verdade quanto ao cumprimento das profecias “Nos demais profetas, porém, isto se vê ainda muito mais claramente.” 179. Exemplo disso pode ser observado quanto às profecias a respeito da 176 Ibidem,
TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética , v. 1, p. 145 GEISLER, Introdução Bíblica : como a Bíblia chegou até nós, p. 59 178 GILBERTO, Antônio. A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros. Rio de Janeiro: CPAD, 1986, p. 24 179 Ibidem, CALVINO, As Institutas: Edição clássica. Vol. 1, p. 93 177 Ibidem,
61
dispersão de Israel 180. Em Deuteronômio 28.15-68 vemos a primeira promessa de dispersão do povo de Deus caso esse abandonasse o Senhor e desviasse de seus caminhos: “Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do SENHOR, teu Deus, não cuidando em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos que, hoje, te ordeno, então, virão todas estas maldições sobre ti e te alcançarão (Dt 28.15)”. Mais adiante, em Isaías 39.6-7, mais uma vez Deus, por intermédio de seu profeta anuncia a queda e o exílio de seu povo 181 por causa de sua insistente desobediência aos mandamentos de Deus: Eis que virão dias em que tudo quanto houver em tua casa, com o que entesouraram teus pais até ao dia de hoje, será levado para a Babilônia; não ficará coisa alguma, disse o SENHOR. Dos teus próprios filhos, que tu gerares, tomarão, para que sejam eunucos no palácio do rei da Babilônia.
Algo que pode ser observado nas palavras de Deus por intermédio de seu profeta, é que agora ele inclusive alerta o povo a respeito de qual seria o povo responsável por destruir, desterra-los e transforma-los novamente em escravos. Em Jeremias 15.4, Deus promete por meio de boca de seu servo que seguramente o reino de Judá não passaria incólume diante de seus olhos, mas que futuramente disciplinaria o seu povo por causa de sua desobediência: “Entregá-los-ei para que sejam um espetáculo horrendo para todos os reinos da terra; por causa de Manassés, filho de Ezequias, rei de Judá, por tudo quanto fez em Jerusalém.”. Em Jeremias 25.11, Deus novamente por meio de seu profeta, cerca de 100 anos antes 182, transmite a seu povo o tempo que eles ficariam exilados na Babilônia: “Toda esta terra virá a ser um deserto e um espanto; estas nações servirão ao rei da Babilônia setenta
anos. (Destaque nosso)”. Todavia, as Escrituras não contem profecias somente a respeito da queda e do exílio do reino de Judá, mas também quanto à sua restauração. Em Isaías 45.1 o Senhor não só promete a restauração a Judá, mas também relata, por meio de quem ele agiria para que essa profecia se cumprisse 183: “Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações ante a sua face, e para 180 Ibidem,
GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 24 CALVINO, As Institutas: Edição clássica. Vol. 1 182 HILL, Andrew E.; WALTON, J. H. Panorama do Antigo Testamento. Trad. Lailah de Noronha. São Paulo: Editora Vida, 2007, p.470 183 Ibidem, CALVINO, As Institutas: Edição clássica. Vol. 1 181 Ibidem,
62
descingir os lombos dos reis, e para abrir diante dele as portas, que não se fecharão.”, ou seja, o Senhor promete que o futuro rei Ciro seria o seu instrumento para libertação e restauração de seu povo à terra prometida. Quanto às profecias a respeito de Cristo184, nota-se de igual forma que essas também se cumpriram assim como as demais. Em Isaías 53, temos o belíssimo relato, cerca de 700 anos antes, do sofrimento, das agruras e da glorificação de Cristo185 quando de sua encarnação na plenitude dos tempos (Gl 4.4). Além do mais, o livro profeta Miquéias, também, cerca de 700 anos antes do nascimento de Cristo 186, relata não só a respeito do nascimento do Messias, mas também a localidade onde tal evento ocorreria: “E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. (Destaque nosso)”. Portanto, diante de tais fatos, que não só foram profetizados, mas que se cumpriram exatamente como o Senhor prometera (Jr 1.12), não há como negar tanto a origem divina das Escrituras, quanto a sua veracidade. Logo, digna de ser crida, obedecida e utilizada para combater os sofismas que tentam induzir o homem ao engano quanto à verdade absoluta das Escrituras.
3.4.
A HARMONIA E A UNIDADE DAS ESCRITURAS Além das respostas supracitadas, outra resposta que a doutrina reformada
possui quanto a inspiração, suficiência e veracidade das Escrituras, é o da sua harmonia e unidade, ou seja, embora as Escrituras sejam compostas por sessenta e seis livros, vários autores, localidades diversas, bem como escrita ao longo de séculos, nota-se, tanto que a história não se encerra ao término de cada livro, pelo contrário, no livro seguinte nota-se a continuação da história, quanto que o tema que perpassa toda a Escritura é também o mesmo, ou seja, Jesus Cristo 187. Discorrendo a respeito do assunto, J. C. Ryle não só reconhece a realidade da harmonia e unidade das Escrituras, 184 Ibidem,
GEISLER, Introdução Bíblica : como a Bíblia chegou até nós, p. 59 Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Isaías e Malaquias. Trad. Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 79 186 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2006, p. 436 187 Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 51 185 HENRY,
63
mas ousa dizer que não há outro livro com as mesmas características que as Escrituras – vários escritores, de lugares e tempos diferentes – que tenha a mesma harmonia e unidade que as Escrituras possuem. Todos nós sabemos quão difícil é encontrar uma história contada por três pessoas que não vivem juntas, na qual não haja algumas contradições e discrepâncias. Se a história é longa e envolve uma grande quantidade de detalhes, a unidade parece mais do que impossível, entre os homens em geral. Mas isso não acontece com a Bíblia. Temos aqui um livro escrito por mais de trinta pessoas diferentes. Os escritores eram homens de todas as posições e classes sociais. [...] Viveram em tempos diferentes durante um período de 1500 anos, e a maioria deles nunca viu um ao outro face a face. E ainda assim há uma perfeita harmonia entre esses escritores! Todos escreveram como se uma só pessoa ditasse para eles.188
Ademais, se as Escrituras não fossem “obra de uma só mente” 189, em outras palavras, se as Escrituras não tivessem advindo do próprio Deus, pois só “ele conhece o fim e o princípio. Só ele poderia saber o que a Bíblia revela. [...] Só ele poderia revelar a natureza, os pensamentos e os propósitos de Deus. Só ele poderia dizer se o pecado pode ser perdoado” 190, essas de modo algum teriam a unidade e harmonia que possuem. Isso porque, o contexto em que as Escrituras foram escritas de modo algum corrobora para tal realidade. O primeiro fator que não corrobora para a unidade e harmonia das Escrituras é quanto a diversidade de autores e de atividades que esses desempenhavam. Para que tivéssemos as Escrituras nos moldes que a temos hoje, foram utilizados cerca de 40 escritores 191, que exerciam as mais variadas atividades possíveis. Daí, encontrar nas Escrituras essa variedade de estilos literários que ela possui 192. Como exemplo dessa realidade, podemos citar o caso de Moisés, que junto ao povo de Israel exercia as funções de juiz, legislador, administrador sacerdote e profeta 193, mas que conforme Atos 7.22 também havia sido educado na ciência dos egípcios. Davi e Salomão eram reis e Daniel era chefe de estado na Babilônia. Em Amós 7.14 lê-se que o autor desse livro não possuía nenhum dos nobres ofícios aqui destacados, mas que 188 RYLE,
J. C. A Inspiração das Escrituras. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, (s.d.), 2-3 189 Ibidem, HODGE, Teologia Sistemática , p. 125 190 Ibidem, HODGE, Teologia Sistemática 191 Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica : como a Bíblia chegou até nós, p. 57 192 Ibidem, GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 22 193 GRONINGEN, Gerard van. Revelação Messiânica no Antigo Testamento . 2. ed. Trad. Cláudio Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 197
64
era boiadeiro e colhedor de sicômoros 194. No período neotestamentário, temos o exemplo de Mateus que era um funcionário público (Mt 9.9) e Pedro, Tiago e João que desenvolviam o ofício de pescadores 195. Por fim, temos o exemplo de Paulo que era um judeu, educado aos pés de Gamaliel (At 22.3) e quanto a lei antes de sua conversão, um fariseu (Fp 3.5). Após sua conversão, um grande e renomado teólogo erudito. Entretanto, o que se percebe ao longo das páginas das Escrituras é que, mesmo sob tão grande gama de autores, de estilos e atividades diferentes, eles transmitem uma única mensagem 196, ou seja, a mensagem da redenção 197, que culmina na pessoa e obra de Jesus Cristo. E por mais que tente se encontrar contradições em tais escritos, esses restarão fadados ao fracasso. Ademais, além da diversidade de autores, tem-se também como ponto desfavorável à unidade e harmonia das Escrituras, a diversidade de condições em que as Escrituras foram redigidas. Um exemplo disso é o do próprio pentateuco que foi escrito por Moisés enquanto o povo caminha em direção à terra de Canaã. Já Jeremias, escreveu suas profecias quando estava encarcerado (Jr 36.1-6). No período neotestamentário, temos as epístolas paulinas, onde muitas delas foram escritas enquanto Paulo encontrava-se aprisionado 198, bem como temos o contexto da redação do livro de Apocalipse, onde João encontrava-se exilado na ilha de Patmos (Ap 1.9). Some-se ainda a tudo isso, não só condições geográficas e ou situacionais em que cada livro foi escrito, mas também as próprias condições de tempo. Isso porque, as Escrituras foram redigidas em um período de cerca de dezesseis séculos 199 e nesse período muitas coisas mudaram ou até mesmo deixaram de existir. Hermisten Costa, ao discorrer sobre o assunto diz o seguinte: Num período de 16 séculos, muita coisa muda. Os conceitos mudam, as explica- ções se modificam, a compreensão da realidade se transforma. Por mais vagarosas e tímidas que fossem as transformações na antiguidade, na realidade, muitos elementos novos surgiram no cenário da história humana. No período em que a Bíblia foi escrita, o cenário militar conheceu uma sequência em que pelos menos cinco exércitos dominaram grande parte do mundo 194 COSTA,
Hermisten Maia Pereira da. A Inspiração da Escritura: Sua perfeição e harmonia. São Paulo: Mackenzie, 2009. Disponível em: < http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/A_Inspiracao_da_Escritura__sua_Per feicao_e_Harmonia.pdf>. Acesso em: 21 Jul 2016, p. 6 195 Ibidem, GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 22 196 Ibidem, TENNEY; BARABAS, Enciclopédia da Bíblia , v. 1, p. 788 197 Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 51 198 Ibidem, GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 22 199 Ibidem, ANGLADA, Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras, p. 51
65
conhecido, tais como: Os egípcios, assí- rios, babilônios, gregos e romanos; no campo da Filosofia, após um período de mitos e lendas, passando pelos Pré-socráticos, surgiram homens como Sócrates (469-399 a.C.), Platão (427-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.), até hoje respeitados em muitas de suas contribuições; na organização jurídica, os romanos são até hoje estudados, respeitados e copiados. Tudo isto evidenciando um longo processo de maturação e transformações, onde os conceitos antigos eram adaptados ou simplesmente rejeitados200.
Entretanto, mesmo em meio a tantas condições desfavoráveis à unidade e a harmonia das Escrituras, nota-se que a sua mensagem é uma. A revelação de Deus mantém-se uniforme e progressiva desde Gênesis à Apocalipse, como se tivesse sido escrita por uma única pessoa, em um curto período de tempo. Contudo, a harmonia e a unidade das Escrituras só é possível, conforme as palavras de Norman Geisler, porque “certamente ela adveio de algo que se achava fora do alcance de seus autores humanos” 201, “obra de uma só mente” 202, ou seja, se as Escrituras não tivessem como seu supremo autor, o próprio Deus, se seus autores não tivessem sido inspirados por Deus, de modo algum conseguir-se-ia ter uma só revelação, um só pensamento, um só tema, ou um só propósito203. Em razão dessa harmonia e unidade que as Escrituras carregam em si, essas não podem ser cridas somente em partes, ou seja, que somente alguns de seus trechos são Palavra de Deus, como afirma os teólogos liberais 204. Mas, devemos seguir os sábios conselhos de Charles Hodge, que ao discorrer sobre a unidade das Escrituras, faz as seguintes considerações: A unidade orgânica das Escrituras prova que elas são produto de uma só mente. São tão unidas que não podemos crer numa parte sem crer em todas; não podemos crer no Novo sem crer no Antigo Testamento; não podemos crer nos Profetas sem crer na Lei; não podemos crer em Cristo sem crer em seus Apóstolos;
Logo, mais uma vez temos uma prova indubitável de que as Escrituras não são um livro meramente religioso, verdadeiro somente para as religiões, ou um livro de origem meramente humana. Pelo contrário, as Escrituras são verdade para todos e a verdade acima de todas as verdades, porque é um livro divino, um livro advindo do
200 Ibidem,
COSTA, A Inspiração da Escritura: Sua perfeição e harmonia, p. 7 GEISLER, Introdução Bíblica : como a Bíblia chegou até nós, p. 57 202 Ibidem, HODGE, Teologia Sistemática , p. 125 203 Ibidem, GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 22 204 Ibidem, LOPES, A Confiabilidade e a Autoridade das Escrituras 201 Ibidem,
66
próprio Deus, um livro como supracitado, cuja origem provém de uma só mente; que, embora tenha usado diversos autores, nas mais diversas circunstâncias, a preservou de tal modo, que essa se apresenta a seus leitores de forma harmoniosa e uma, apresentando única mensagem, a redenção, que só é possível através de uma única pessoa, Cristo, a quem a própria Escritura diz que: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!”.
3.5.
O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO Atribui-se a João Calvino os primeiros trabalhos quanto à formulação e
desenvolvimento da doutrina do testemunho do Espírito Santo 205 quanto à autoridade e veracidade das Escrituras Sagradas. Ademais, assim como o desenvolvimento de outras doutrinas, que surgiram a partir de dúvidas dentro da própria igreja, ou para combater falsos ensinamentos que tentavam persuadir o povo de Deus ao engano, a doutrina do testemunho do Espírito Santo nasceu com a finalidade de combater heresias que tentavam macular a suficiência e a autoridade das Escrituras. Neste diapasão, Sproul assevera que: Testimonium spiritus sancti internum. Essa máxima da Reforma, que aponta para o testemunho interior do Espírito Santo, tornou-se paulatinamente mais importante à medida que a igreja teve de enfrentar a questão da integridade da Escritura Sagrada. Em virtude da falta de confiança na autoridade e na confiabilidade do depósito de fé apostólico, fomos levados reiteradas vezes a refletir em profundidade sobre a relação entre a Palavra e Espírito 206.
De forma mais específica, Calvino ao sistematizar a doutrina do Espírito Santo, procurava combater a ideia católica romana de que o valor das Escrituras só teria validade até onde a igreja assim o determinasse através da tradição, bem como a ideia de que a igreja – leia-se católica romana – também era responsável por definir quais livros eram ou não canônicos. Tal fato é tão verdade, que nas Institutas da Religião Cristã ele assim afirma: Entre a maioria, entretanto, tem prevalecido o erro perniciosíssimo de que o valor que assiste à Escritura é apenas até onde os alvitres da Igreja concedem. Como se de fato a eterna e inviolável verdade 205 GEISLER,
Norman (Org.). A Inerrância da Bíblia. Trad. Antivan Guimarães Mendes. São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 404 206 Ibidem, GEISLER, A Inerrância da Bíblia , p. 403
67
de Deus se apoiasse no arbítrio dos homens! Pois, com grande escárnio do Espírito Santo, assim indagam: “Quem porventura nos pode fazer crer que essas coisas provieram de Deus?” Quem, por acaso, nos pode atestar que elas chegaram até nossos dias inteiras e intatas? Quem, afinal, nos pode persuadir de que este livro deve ser recebido reverentemente, excluindo um outro de seu número, a não ser que a Igreja prescrevesse a norma infalível de todas essas coisas?” Depende, portanto, da determinação da Igreja, dizem, não só que se deve reverência à Escritura, como também que livros devam ser arrolados em seu cânon. E assim, homens sacrílegos, enquanto, sob o pretexto da Igreja, visam a implantar desenfreada tirania, não fazem caso dos absurdos em que se enredam a si próprios e aos demais com tal poder de fazer crer às pessoas simples que a Igreja tudo pode 207.
Tempos mais tarde, é a vez de François Turretini se levantar contra tal heresia católica romana, afirmando que o mesmo Espírito que inspirou os autores das Escrituras a redigi-la de modo infalível é o mesmo que também imprime no coração humano a certeza de que as Escrituras são de fato a Palavra de Deus e, que não cabe a igreja requerer para si tal atributo que é exclusivo do Espírito Santo. O artigo 4º da Confissão Francesa diz: “sabemos que os livros da Escritura são canônicos, não tanto pelo consenso comum da igreja, mas segundo o testemunho e persuasão internos do Espírito Santo” [...]. Daí, devemos entender, pelo Espírito Santo, o Espírito falando tanto na Palavra quanto no coração, pois o mesmo Espírito que age objetivamente na Palavra, apresentando a verdade, opera eficientemente no coração, também imprimindo essa verdade em nossa mente208.
Ademais, percebe-se que esse método não é exclusivo do catolicismo romano, na idade média. Os pós-modernistas em pleno século XX e XVI também tem adjudicado para si a responsabilidade por determinar o que é ou não verdadeiro 209. A verdade na pós-modernidade depende da cosmovisão daquele que se põe a analisar os fenômenos e não mais os métodos científicos como o fora na modernidade, ou no caso das Escrituras, não é mais o Espírito Santo quem determina se as Escrituras são verdadeiras ou não, mas sim, aqueles que a manuseia. Assim, a verdade se ergue ou se dissolve conforme cada indivíduo, tempo ou lugar bem lhe aprouver. Contudo, a partir do testemunho de Calvino e de Turretini, pode-se observar, que não cabe ao catolicismo romano, à pós modernidade, ou quem quer que
207 Ibidem,
CALVINO, As Institutas: Edição clássica, v.1, p. 81 TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética , v. 1, p. 145 209 Ibidem, BETTENCOURT, O Que é o Relativismo? p. 394 208 Ibidem,
68
seja, determinar se as Escrituras são ou não verídicas, pois, além da própria Escritura testificar de si mesma que ela é inspirada, suficiente e veraz, é também necessário que o Espírito Santo não só testifique ao homem que o mesmo agora é filho de Deus (Rm 8.16)210, mas também, assim como encontramos na segunda epístola de Pedro, que este testifique em seus corações que as Escrituras são de fato a Palavra inspirada e infalível de Deus (2Pe 1.20-21), ou seja, em cada indivíduo que é justificado pela graça, mediante a fé em Jesus Cristo (Rm 5.1), o Espírito Santo é responsável por infundir em seu coração a certeza quanto à veracidade das Escrituras Sagradas 211. Pois, conforme afirma Millard Erickson, o homem por causa de sua finitude e dos efeitos da queda, não consegue compreender a Deus em sua totalidade 212, como também carece de certeza quanto a assuntos relacionados a questões de esfera divina. A última razão pela qual a obra especial do Espírito Santo é fundamental é que os seres humanos necessitam de certeza em relação às questões divinas. Uma vez que estamos preocupados aqui com questões que envolvem vida e a morte (espirituais e eternas), é fundamental não contar apenas com meras possibilidades. Nossa necessidade de certeza é diretamente proporcional à importância do que está em jogo; em questões que envolvem consequências eternas, precisamos do tipo de convicção que o raciocínio humano não pode garantir.213
Logo, aqueles a quem o Espírito Santo ainda não infundiu em seus corações que as Escrituras são verdadeiras e divinas 214, de modo algum poderão chegar a tal conclusão, por mais persuasivos que sejam os argumentos a eles transmitidos. Pois, as Escrituras não só possuem origem divina, mas também tratam exclusivamente de assuntos divinos, cabendo-nos então seguir os conselhos de Calvino ante a essa realidade. Ora, assim como só Deus é idônea testemunha de si mesmo em sua Palavra, também assim a Palavra não logrará fé nos corações humanos antes que seja neles selada pelo testemunho interior do Espírito. Portanto, é necessário que o mesmo Espírito que falou pela boca dos profetas penetre em nosso coração, para que nos persuada de que eles proclamaram fielmente o que lhes fora divinamente ordenado215.
210 Ibidem,
GEISLER, Introdução Bíblica : como a Bíblia chegou até nós, p. 56 GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 24 212 Ibidem, ERICSON, Teologia Sistemática , p. 237 213 Ibidem, ERICSON, Teologia Sistemática 214 Ibidem, TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética , v. 1, p. 145 215 Ibidem, CALVINO, As Institutas: Edição clássica, v.1, p. 85 211 Ibidem,
69
3.6.
A INFLUÊNCIA TRANSFORMADORA DAS ESCRITURAS NA VIDA DAS PESSOAS F. B. Meyer certa feita disse as seguintes palavras a respeito das Escrituras:
“O melhor argumento em favor da Bíblia é o caráter que ela forma" 216. Com essa frase, Meyer deseja ressaltar que um, dentre os vários argumentos em favor da veracidade das Escrituras é o da sua influência transformadora que os Escritos Sagrados imprimem na vida de indivíduos e também de nações. Nesse mesmo diapasão, Turretini não só afirma a capacidade transformadora das Escrituras, provada através da conversão e da expansão do Evangelho da salvação, mas também que essa é uma marca que evidencia a origem divina das Escritas. A conversão do mundo e o sucesso do evangelho constituem clara prova de sua divindade. A menos que os apóstolos fossem homens de Deus e arautos da verdade celestial, não se poderia conceber como aconteceu que suas doutrinas [...], unicamente pela persuasão [...], no mais curto espaço de tempo, em quase todos os lugares, fossem tão propagadas que anularam toda oposição e saíram vitoriosas sobre as religiões que eram monitoradas com todos esses auxílios, de modo que todas as nações e mesmo os próprios reis, deixando a religião do país no qual haviam nascido e se educado, sem a esperança de qualquer vantagem [...] abraçaram essa que era absurda para a razão e desagradável à carne e que parecia repelir em vez de atrair217.
Em outras palavras, se a fé cristã, se as Escrituras Sagradas, se a mensagem proferida pelos apóstolos, que provinha das Escrituras, fosse uma fraude, fosse inverídica, de modo algum haveria possibilidade de se contemplar tais resultados, pois eles não existiriam218. E isso é fácil de ser comprovado, pois, por mais que os gregos fossem doutos e letrados, por mais que seus filósofos exercessem influência em todo o mundo219, não só em seu tempo, mas até os nossos dias, esses não foram capazes de combater a corrupção, a licenciosidade, a impureza, bem como o politeísmo e a idolatria que reinava abundantemente em toda a Grécia. Outro exemplo próximo é o do império Romano, que assim como os gregos exerceram uma grande influência no mundo todo em seu tempo. Foram reconhecidos por suas táticas de guerra, por seus grandes guerreiros, pela formulação de uma legislação jurídica que até hoje influência 216 MEYER,
F. B. Comentário Bíblico . 2. ed. Trad. Amantino Adorno Vassão. Belo Horizonte: Betânia, 2002 apud GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 25 217 Ibidem, TURRETINI, Compêndio de Teologia Apologética , v. 1, p. 119 218 CARSON, D. A (org.). A Verdade: Como comunicar o evangelho a um mundo pós-moderno. Trad. Jurandy Bravo. São Paulo: Vida Nova, 2015, 111 - 112 219 Ibidem, GILBERTO, A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros, p. 25
70
o direito no mundo todo 220, pela sua grande capacidade expansionista, mas que também não foram capazes de barrar a licenciosidade, a impureza, o politeísmo, a idolatria, bem como a corrupção. Tal fato é tão verdade, que a célebre frase “ o tempora, o mores” cunhada pelo senador e escritor Cícero, foi dita com o propósito de
exteriorizar a perversidade, os costumes dissolutos 221, bem como a corrupção no império Romano. Entretanto, na outra ponta do pêndulo, encontra-se as Escrituras, que em Hb 4.12222 afirma que ela mesma é “[...]é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes [...], ou seja, que ela cumpre os propósitos para o qual ela foi formada (Is 55.11), e isso pode ser visto através do testemunho de vida de inúmeros indivíduos que tiveram suas vidas completamente transformadas após esse contato direto com as Escrituras (1Pe 2.2). John Stott, discorrendo a respeito da pregação chega à seguinte conclusão a respeito das Escrituras: [...] a Palavra de Deus é poderosa . Isso se dá não somente porque Deus tem falado e continua a falar através daquilo que já tem falado, mas porque quando fala, Deus age. Sua Palavra faz mais do que explicar a sua ação; é ativa em si mesma. Deus realiza seu propósito mediante sua Palavra; (Grifo do autor)223
Portanto, diante de tais fatos que demonstram a completa transformação que Deus opera na vida do homem através das Escrituras e sua influência sobre a vida deste, bem como que nenhuma outra literatura é capaz de fazer o que as Escrituras fazem; a única conclusão que se pode chegar é quanto à suficiência, a autoridade e a veracidade das Escrituras e de que essa verdade está acima das demais. Pois, nenhuma outra é capaz de transformar radical e definitivamente a vida do homem, como a Escritura faz.
Renata Flávia Firme. Evolução histórica do Direito Romano . Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2782, 12 fev. 2011. Disponível em: . Acesso em: 22 Jul 2016, p. 2 221 PAPIN, Lourenço M. “Ó Tempora, Ó Mores”! . Disponível em: < http://www2.uol.com.br/debate/1489/cadd/cadernod04.htm>. Acesso em: 22 Jul 2016 222 Ibidem, GEISLER, Introdução Bíblica : como a Bíblia chegou até nós, p. 57 223 Ididem, STOTT, Eu Creio na Pregação, p. 109 220 XAVIER,
71
4.
CONSIDERAÇÕES FINAIS A doutrina da Infalibilidade das Escrituras é uma ferramenta fundamental
para a edificação do cristão e da igreja, bem como útil para o combate às heresias que se levantam dentro dessa. Isso fica claro a partir do primeiro capítulo, que discorreu a respeito da Inspiração e Inerrância das Escrituras, doutrinas essas que foram responsáveis por resgatar a autoridade, suficiência e veracidade das Escrituras Sagradas que haviam sido subtraídas pelas heresias católico romanas, mais tarde pelo iluminismo e os movimentos pós-iluminismo, como agnosticismo, racionalismo, idealismo e o existencialismo e, nos séculos XX e XXI pelo relativismo pós-moderno. O segundo capítulo buscou demonstrar onde e quando surgiu o pósmodernismo, bem como os seus atributos, ou seja, as características inerentes ao movimento que foram responsáveis pelo desenvolvimento e fortalecimento do conceito de relativização da verdade. Na segunda seção do capítulo, viu-se que, embora os teólogos pós-modernos neguem, o método histórico-crítico de interpretação das Escrituras teve uma forte e determinante influência sobre as hermenêuticas pósmodernas, influência essa responsável por perpetuar na pós-modernidade o conceito de que as Escrituras não são verdade absoluta, apenas a verdade da religião cristã. A terceira e última seção demonstrou como as hermenêuticas pós-modernas, assim como o método histórico-crítico, procuraram implantar uma nova forma de interpretação das Escrituras, desconsiderando e reijeitando as intenções e propósitos do autor, transferindo toda ênfase para o leitor, ou seja, é o leitor, com seus pressupostos e paradigmas quem irá determinar o real sentido do texto a partir de agora, interpretando as Escrituras como lhe aprouver. O terceiro e último capítulo buscou demonstrar que, a despeito de todas as controvérsias instauradas pela pós-modernidade no que tange as Escrituras Sagradas, a igreja sempre creu e confiou nas Escrituras, em nada duvidando. Isso porque, há inúmeros argumentos probatórios em favor da inspiração das Escrituras, ou seja, que os Escritos Sagrados são de fato advindos do próprio Deus, por isso, são verazes, infalíveis, suficientes e fonte de autoridade para a salvação e a vida cristã. Portanto, digna de confiança, credibilidade, aceitação e a única regra de fé e prática. Por fim, todo esse caminho foi percorrido, pois o objetivo dessa monografia foi demonstrar como a doutrina da Infalibilidade das Escrituras é a
72
resposta mais adequada ao espírito pós-moderno de nossa época que insiste em relativizar as Escrituras e as verdades que dela emanam. Ante esse trabalho, entendese que só haverá uma crença sólida e inabalável na veracidade absoluta das Escrituras caso esse edifício tenha como fundamento a doutrina da Infalibilidade. É somente através dessa doutrina, que emana da própria Escritura, que se pode ter um correto entendimento a respeito do que são as Escrituras, ou seja, inspiradas por Deus, infalíveis e inerrântes. Pois, a não compreensão de forma clara do que são as Escrituras, abre brecha não só para o relativismo da verdade, mas também para tantas quantas outras heresias que tentam macular, minar ou destruir as verdades de Deus presentes em seus Escritos Sagrados.
73
5.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORESE, Rubem Martins. Pós-Modernidade e o Desafio da Aliança. Disponível em: . Aces so em: 26 Abr 2016 ANGLADA, Paulo. A Doutrina Reformada da Autoridade Suprema das Escrituras. Fides Reformata, São Paulo, v. 2, n. 2, 1997. Disponível em: <
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_II__1997 __2/a_doutrina_re.....pdf>. Acesso em: 18 Jul 2016 ________________. Sola Scriptura: A doutrina reformada das Escrituras. São Paulo: Os Puritanos, 1998 BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada: Prolegômena. Trad. Vagner Barbosa. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1 BERKHOF, Louis. Manual de Doutrina Cristã . 1992 apud SANTOS, João Alves dos. Bibliologia: Revelação, Inspiração e Cânon: A Natureza da Inspiração, parte II.
Centro Presbiteriano de Pós-Graduação, Universidade Mackenzie, São Paulo, 2009 BESSA, Josemar. A Inerrância e a Infalibilidade da Bíblia. Disponível em: . A cesso em: 05 Ago 2016 BETTENCOURT, D. Estevão. O Que é o Relativismo? Revista Pergunte e Responderemos. Rio de Janeiro, n. 531, 2006
BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. Ed. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999 BOICE, James M.; et al. Firme Fundamento: A inerrante palavra de Deus em um mundo errante. Trad. Claudio Chagas. Rio de Janeiro: Anno Domini, 2013 ____________________. O Alicerce da Autoridade Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1982 BROWN, Colin; COENEN, Lothar. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2. ed. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Vida Nova, v. II, 2000
74
CALVINO, João. As Institutas: Edição clássica. Trad. Waldir Carvalho Luz. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, v. 1 ______________. Pastorais: Série comentários bíblicos. Trad. Valter Graciano Martins. São José dos Campos: Fiel, 2009 CAMPOS, Heber Carlos de. O Plurarismo do Pós-Modernismo. Fides Reformata, São Paulo, v. 2, n. 1, 1997 CARSON, D. A (org.). A Verdade: Como comunicar o evangelho a um mundo pósmoderno. Trad. Jurandy Bravo. São Paulo: Vida Nova, 2015 CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS. Os métodos de interpretação da Bíblia : Conheça cada um deles, evite equívocos e pratique uma
hermenêutica sadia. Rio de Janeiro: CPADNEWS, 2013. Disponível em: . Acesso em: 09 Mai 2016 CHEUNG, Vincent. O ministério da Palavra. Brasília: Monergismo, 2010 COMFORT, Philip Wesley (ED.). A Origem da Bíblia. Trad. Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro: CPAD, 1998 CONN, Harvie M. Teología Contemporánea en el Mundo. Trad. Ewerton B. Tokashiki. Grand Rapids: Libros Desafío, 1992, pp. 38-42. Disponível em: . Acesso em: 10 Mai 2016 COSTA, Hermisten Maia Pereira da. A Inspiração da Escritura: Sua perfeição e harmonia.
São
Paulo:
Mackenzie,
2009.
Disponível
em:
<
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/A_Inspiracao_da_Es critura__sua_Perfeicao_e_Harmonia.pdf>. Acesso em: 21 Jul 2016 _______________________________. A Inspiração e Inerrância das Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 1998 _______________________________. Introdução à Cosmovisão Reformada. São Paulo: Material não publicado, 2015
75
CRAIG, Willian Lane. Ensaios Apologéticos: Um estudo para uma cosmovisão cristã. Trad. José Fernando Cristófalo. São Paulo: Hagnos, 2006 CROUSE, Bill. Desconstrucionismo: O culto de Hermes pós-moderno. Disponível em: . Acesso em: 11 Mai 2016 DeMAR, Gary. Raciocínio Circular. Disponível em: . Acesso em: 25 Jun 2015 DIAS LOPES, Hernandes. A Suficiência das Escrituras. Disponível em: . Acesso em: 05 Ago 2016 ERICSON, Millard J. Teologia Sistemática. Trad. Robinson Malkomes, Valdemar Kroker e Tiago Abdalla Teixeira Neto. São Paulo: Vida Nova, 2015 FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática: Uma análise histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007 FRAME, John M. Doctrine of the Knowledge of God: A Theology of Lordship (Phillipsburg, NJ: Presbyterian and Reformed, 1987), p. 130 apud DeMAR, Gary. Raciocínio Circular. Disponível em:
tica/raciocinio-circular_demar.pdf>. A cesso em: 25 Jun 2015 FREITAS, Susy Elaine da Costa. As Características da Pós-Modernidade como Influência da Videoarte Contemporânea. Texto Digital, Santa Catarina, v. 8, n. 2
GEISLER, Norman (Org.). A Inerrância da Bíblia. Trad. Antivan Guimarães Mendes. São Paulo: Editora Vida, 2003 GEISLER, Norman; WILLIAM, Nix. Introdução Bíblica : como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida, 2006 GILBERTO, Antônio. A Bíblia Através dos Séculos: A história da formação do livro dos livros. Rio de Janeiro: CPAD, 1986 _________________. A Bíblia é a Palavra de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. Disponível em < http://www.cpadnews.com.br/blog/antoniogilberto/fe-e-razao/30/a-
76
biblia-e-a-palavra-de-deus-(parte-i).html>. Acesso em: 03 Jun 2016 GOUVÊA, Ricardo Quadros. A Morte e a Morte da Modernidade: Quão pós-moderno é o pós-modernismo?. Fides Reformata, São Paulo, v. 1, n. 2, 1996. GONÇALVES, Leonardo. Crítica da Forma: O método investigativo de Rudolf Bultmann. Disponível em: . Acesso em 09 Mai 2016 GOULART, Audemaro Taranto. Notas Sobre o Desconstrucionismo de Jacques Derrida. Minas Gerais: PUC, 2003, p. 2. Disponível em:
imagedb/mestrado_doutorado/publicacoes/PUA_ARQ_ARQUI20121011175312.pdf >. Acesso em: 11 Mai 2016 GRANCONATO, Marcos. A Inerrância da Bíblia. Disponível em: . Acesso em 26 Jun 2015 GRENZ, Stanley J. Pós-Modernismo: Um guia para entender a filosofia do nosso tempo. São Paulo: Vida Nova, 1997 GRONINGEN, Gerard van. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. 2. ed. Trad. Cláudio Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003 GRUDA, Mateus Pranzetti Paul. Os Discursos do Politicamente Correto e do Humor Politicamente
Incorreto
na
Atualidade.
Assis: Unesp. Disponível em:
. Acesso em: 04 Mai 2016 HANKO, Ronald. A Autoridade da Escritura. Trad. Felipe Sabino de Araújo Neto. Disponível
em:
escritura_dag_r-hanko.pdf>. Acesso em: 18 Jul 2016 ______________.
A
Inspiração
da
Escritura.
Disponível
em:
. A cesso em: 05 Ago 2016 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Isaías e Malaquias. Trad.
77
Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2010 HILL, Andrew E.; WALTON, J. H. Panorama do Antigo Testamento. Trad. Lailah de Noronha. São Paulo: Editora Vida, 2007 HODGE, A. A. Confissão de Fé Westminster Comentada por A. A. Hodge. 4. Ed. Trad. Valter Graciano Martins. São Paulo: Os Puritanos, 2013 HODGE, Charles. Teologia Sistemática. Trad. Valter Martins. São Paulo: Hagnos, 2001 JOBLING, David; et al. A Bíblia Pós-Moderna: Bíblia e cultura coletiva. São Paulo: Edições Loyola, 2000 KAISER JR, Walter C; SILVA, Moisés da. Introdução à Hermenêutica Bíblica: Como ouvir a palavra de Deus apesar dos ruídos de nossa época. 2 ed. Trad. Paulo C. N. Dos Santos; Tarcízio J. F. de Carvalho; Suzana Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2009 KISTEMAKER, Simon J. Comentário al Nuevo Testamento: Exposición de las epístolas de Pedro y de la epístola de Judas. Grand Rapids: Desafío, 1999 LEITE, Luciana de A. Pós-Moderno: A problemática do pós-moderno no campo artístico. Disponível em: . Acesso em: 04 Mai 2016 LIMA, Leandro Antonio de. Cristãos no Século 21: Os dilemas e oportunidades da época atual. São Paulo: Editora Agathos, 2015, v. 1 LOPES, Augusto Nicodemus. A Confiabilidade e a Autoridade das Escrituras. Disponível
em:
nicodemus-confiabilidade-e-autoridade-das-escrituras/>. Acesso em: 18 Jul 2016 _________________________. Fundamentos. São Paulo: Mackenzie. Disponível em: . Acesso em: 04 Mai 2016 ________________________. Hermenêuticas Pós-Modernas: Conferência Fiel Portugal. Disponível em: . Acesso em 04 Mai 2016.
78
________________________.
O Dilema do Método Histórico-Crítico na
Interpretação Bíblica. Fides Reformata, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 121, 2005
________________________. Resenha da obra: BULTMANN, Rudolph. Jesus Cristo e Mitologia. Trad. Daniel Costa. São Paulo: Editora Novo Século, 2000, 80 p. Fides Reformata, São Paulo, v. 5, n. 2, 2000
________________________. Sobre a Inerrância da Bíblia. Disponível em: . Acesso em: 26 Jun 2015 MATOS, Alderi Souza de. A Centralidade da Bíblia na Experiência Protestante. São Paulo: CPAJ, disponível em: . Acesso em: 18 Jul 2016 MCGRATH, Alister. Paixão Pela Verdade: A coerência intelectual do evangelicalismo. Trad. Hope Gordon Silva. São Paulo: Shedd Publicações, 2007 __________________. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a teologia cristã. Trad. Marisa K. A. de Siqueira Lopes. São Paulo: Shedd Publicações, 2005 MEDEIROS FILHO, Carlos Fernandes de. Biografias: Diocleciano, Gaius Aurelius Valerius
Diocletianus.
Campina
Grande/PB:
UFCG.
Disponível
em:
MENEZES, Escriba Valdemir Mota de. O que é A Igreja Católica Romana? . Disponível
em:
<
https://books.google.com.br/books?id=TX-
wCQAAQBAJ&pg=PA10&lpg=PA10&dq=dogma+da+infalibilidade+da+igreja+10 76+d+c&source=bl&ots=38Tw4uPeq8&sig=Z0JQn1A2Iogzpu8L7gBv52mrKsw&hl =pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjXp6Wvov3NAhVEx5AKHSIfAXAQ6AEIHDAA# v=onepage&q=dogma%20da%20infalibilidade%20da%20igreja%201076%20d%20 c&f=false>. Acesso em: 18 Jul 2016 MILHORANZA, Alexandre. As Teorias da Inspiração da Bíblia. Disponível em: < http://www.milhoranza.com/2009/09/08/teorias-da-inspiracao-da-biblia/#axzz4AWu xnL3Y>. Acesso em: 03 Jun 2016
79
MIRANDA, Daniel Leite Guanaes. Calvino e o Sola Scriptura: A aplicação deste princípio na cidade de Genebra e a sua relevância para o Brasil nos dias atuais. Disponível
em:
<
http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/Calvino-Sola-
Scriptura_Daniel-Leite.pdf>. Acesso em: 14 Jul 2016 MIRANDA,
Leonardo. Autoridade
Escrituras. Disponível
das
em:
<
http://www.ubeblogs.com.br/profiles/blogs/autoridade-das-escrituras>. Acesso em: 18 Jul 2016 NEIRA, Marcos Garcia. O Currículo Cultural da Educação Física em Ação: A perspectiva dos seus autores. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2011, p. 63. Disponível em: . Acesso em: 04 Mai 2016 NUNES, Élton de Oliveira. Conflito e Exclusão: O conceito de pós-modernidade e sua recepção no meio protestante brasileiro. Revista Brasileira de História das Religiões, Paraná, n. 3, 2009 O’HARE. Hyatt Regency. Declaração de Chicago Sobre a Inerrância da Bíblia. Disponível em: . Acesso em: 22 Abr 2016 OLIVEIRA. Fabiano de Almeida. Reflexões Críticas Sobre Weltanschauung: Uma análise do processo de formação e compartilhamento de cosmovisões numa perspectiva Teo-referente. Fides Reformata, São Paulo, v. 13, n. 1, 2008. OPPENHEIMER, Mike. A Arte do Humanismo no Mundo de Hoje. Disponível em: . Acesso em: 04 Mai 2016 OSBORNE, Grant R. A Espiral Hermenêutica: Uma nova abordagem à interpretação bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2009 P. D. Feinberg, Bíblia, Inerrância e Infabilidade da: In: EHTIC, I, p. 180; Idem, The Meaning of Inerrancy: In: Norman L. Geisler, ed., Inerrancy, p. 294 apud COSTA, A Inspiração e Inerrância das Escrituras
PAPIN, Lourenço M.
“Ó
Tempora,
Ó
Mores”! . Disponível em: <
80
http://www2.uol.com.br/debate/1489/cadd/cadernod04.htm>. Acesso em: 22 Jul 2016 PREDOSO JÚNIOR, Neurivaldo Campos. Jacques Derrida e a Desconstrução: Uma introdução. Disponível em: . Acesso em: 11 Mai 2016 PERRY, Anderson. As Origens da Pós-Modernidade . Trad. Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2006 POMPEU,
Renato.
Calvinismo
e
Democracia.
Disponível
em:
/textos/calvinismo/calvinismo_democracia.htm>.
Acesso em: 14 Jul 2016 RYLE, J. C. A Inspiração das Escrituras. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, (s.d.) SANTOS, Jair Ferreira dos. O Que é Pós-Moderno. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986 SANTOS, João Alves dos. Bibliologia: Revelação, Inspiração e Cânon: A Natureza da Inspiração, parte II. Centro Presbiteriano de Pós-Graduação, Universidade Mackenzie, São Paulo, 2009 SCHWERTLEY, Brian M. Sola Scriptura e o Princípio Regulador do Culto. Trad. Marcos Vasconselos. São Paulo: Os Puritanos, 2001 SILVA, Hélio de Menezes. Bibliologia: A doutrina da Bíblia. João Pessoa/PB: 2008. Disponível
em:
InspiracApologetCriacionis/Bibliologia-BibliaGenuinaConfiav elCanonicaInspiradaLivro-Helio.htm>. Acesso em: 19 Jul 2016 SILVEIRA, Jonathan. Rudolf Bultmann e a desmitologização. Disponível em: . Acesso em: 10 Mai 2016
81
SÓHISTÓRIA. O Iluminismo: Pensadores e características. Disponível em: . Acesso em: 09 Mai 2016 SPROUL, R. C. Posso Crer na Bíblia? Trad. Francisco Wellington Ferreira. São José dos Campos/SP: Fiel, 2014 STOTT, John. Eu Creio na Pregação. Trad. Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida, 2003 TENNEY, Merril C.; BARABAS, Steven, et al. Enciclopédia da Bíblia . Trad. Equipe de colaboradores da Cultura Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2008 Teoria da Crítica da Resposta do Leitor: Uma introdução. Disponível em:
. Acesso em: 11 Mai 2016 TURRETINI, François. Compêndio de Teologia Apologética . Trad. Valter Graciano Martins. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1 UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Glossário de Crítica Textual. Autógrafo: Manuscrito da mão do autor (por oposição
a
alógrafo).
Disponível
em:
<
http://www2.fcsh.unl.pt/invest/glossario/glossario.htm>. Acesso em 26 Jun 2015 VEITH JR, Gene Edward. De todo o teu entendimento: Pensando como cristão num mundo pós-moderno. São Paulo: Cultura Cristã, 2006 _____________________. Tempos Pós-Modernos: Uma avaliação cristã do pensamento e da cultura da nossa época. São Paulo: Cultura Cristã, 1999 WALLACE, Ronald. Calvino, Genebra e a Reforma. Trad. Marco Antônio Domingues Sant’anna. São Paulo: Cultura Cristã, 2003 WARFIELD, Benjamin. A inspiração e autoridade da Bíblia . São Paulo: Cultura Cristã, 2010 WELLS, David F. Coragem Para Ser Protestante. Trad. Wadislau Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2010 WESTMINSTER, Assembléia. Confissão de Fé de Westminster. 17. ed. São Paulo: