Calvino Calvino e sua influência influência no m und o ocidental © 1990, 1990, Editora Cultura Cristã. Publicado in the western wo rld pela Zondervan originalmente co m o título Calvin and his influence in Publishing House, G rand R apids, Michigan - USA. Todos os direitos direitos são reservados. reservados. Ia edição edição 19 90 -3 .00 0 exemplares exemplares 2a edição 2 0 14 -3 .00 0 exemplares
Conselho Editorial Antônio Coine Augustus Nicodemus Gomes Lopes Cláudio Marra {Presidente) Heber Carlos de Campos Jr. Misael Batista do Nascimento Tarcízio José de Freitas Carvalho U li l i ss ss es es H or o r ttaa S im im õe õe s Valdeci da Silva Santos
R353c
Produção editorial Tradução Júlia Pereira Lalli (Caps. 2 e 14) Luiz Albe rto Teixeira Sayão (Cap. 11) Sabatini Lalli (Caps. 1,4 e 6) Vera Lúcia L. Kepler (Caps. 3,5,7-10,12-13, 15-16) R e vi vi s ão ão Claudete Agua Elvira Castanon Editoração Zenaide Rissato Capa Magno Paganelli
Reid, W. Santford San tford Calvino e sua influência no mundo ocidental / W. Santford Reid. São Paulo: Cultura Cristã, 2014. 400 p.: 16x23cm Tradução de Calvin and his influence in the Western World ISBN 978-85-7622-071-8 1. Calvin ismo 2. Cosm ovisão 3. Histó ria da Igreja I. Título CDU 275.4
A posição doutrinária da Igreja Presbiteriana do Brasil é expressa em seus “ símbolos de fé”, que apresentam o modo Reformado e Presbiteriano de compreender a Escritura. Escritura. São esses símbolos a Confissão de Fé de Westminster e e seus catecismos, o Maio o Maior r e e o Breve. o Breve. Como Editora oficial de uma denom inação confessional, cuidamos para que as obras publicadas publicad as espelhem sempre essa posição. Existe a possibilid ade, porém, d e autores, às vezes, mencio narem ou mesmo defenderem aspectos que refletem a sua própria opinião, sem que o fato de sua publicação por esta Editora represente endosso integral, pela denominação e pela Editora, de todos os pontos de vista apresentados. A posição da denominação sobre pontos específicos porventura em debate poderá ser encontrada nos mencionados símbolos de fé.
s 6DITORR 6DITORR CUl CUlTURf TURfii CRIS IST TR Rua Miguel Teles Jr., 394 - CEP 01540-040 - São Paulo - SP Caixa Postal 15.136 - CEP 01599-970 - São Paulo - SP Fones: 0800-0141963 / (11) 3207-7099 / 33462700 - Fax: (11) 3209-1255 www.editoraculturacrista.com.br -
[email protected] Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas Vargas Editor Ed itor : Cláudio Antônio Batista Marra
Sumário Introdução
1 .0
Calvinismo como força cultural
7
11
Por Robert D. Knudsen 2. A propagação propaga ção do Calvinismo Calvin ismo no século 16
30
Por W. W. Stanford Reid Re id 3. Suíça: triunfo triu nfo e declínio dec línio
53
Por Richard C. Gamble 4. A idade de ouro do Calvinismo Calvin ismo na França: 1533-1633
72
Por Pierre Courthial 5. Calvino e o Calvini Cal vinismo smo nos Países País es Baixos
93
Por W. W. Robert Rob ert Godffey God ffey 6. A Igrej a Reformad Re formadaa da Alemanha: . Calvinistas Calvinistas,, uma influente minoria
122
Por D. D. Clair Cl air Davis 7. A Reforma helvética helvéti ca na Hungria
141
Por Kálmán O. Tóth 8. Calvino Calvin o e a Igreja Igre ja Anglic Ang licana ana Por Phillip Edgcumbe Hughes
173
9.
A modificação puritana da teologia de Calvino Por R.T. Kendall
10. A Contribuiç Cont ribuição ão do Calvinism Calv inismoo à Escócia Escó cia PorJ. D. Douglas 11. Origens Origen s “cristãs” “cristãs ” da América: ANov AN ovaa Inglaterra Inglate rra puritana purit ana como um caso de estudo Por George M. Marsden
204
2233 22
248
12. Os irlandeses-escoceses irlandeses-esco ceses na América Am érica PorC. Gregg Singer
2711 27
1 3 .0 Calvinismo Calvinismo holandês na América Por John H. Bratt
2977 29
14. A influênc influ ência ia de Calvino Calv ino no Canadá Can adá Por W. W. Stanford Reid Re id
319
15.0 15 .0 impac impacto to do Calvini Calvinismo smo na Au Australásia stralásia Por Alexander Barkley
3344 33
16.0 Calvinismo Calvinismo na África do Sul PorGideonThom
3555 35
Notas No tas
377
Introdução O objetivo desta obra de dezesseis capítulos, escritos por diferentes autores autores tidos por especialistas em suas respectivas áreas, áreas, é mostrar a naturez a e a impo impo rtância do Calvinismo com o força mold adora da cultura ocidental, força que que atuou fortemente nos dois primeiros séculos depois da Reform a e que, nos séculos 18 e 19, grosso modo, entrou em declínio, sofrendo s ofrendo distorções distorçõ es prov pr ov ocad oc adas as pelo pe lo adve ad vent nto o do R acio ac ion n alis al ism m o - que qu e o con c on fron fr on tou to u com co m o forç fo rçaa externa - , e pelo surgim ento de formas de dissidênc ias internas, dentre as quais se destacam o Arm inianismo e o Puritanismo. O Puritanismo, não obstante constituir constituir,, em alguns aspectos, uma distorção do Calvinismo - particularmente particularmente no ascetismo da vida cotidiana e na concepção da economia que veio a desenvolver-se posteriormente -, foi uma força extraordinári extraordináriaa que atuou singularmente na formação da grande nação do Norte. Norte. Eis Eis como Alexis de Tocqueville, Tocqueville, em A Demo De mocra cracia cia na Améric Am érica, a, se refere aos puritanos:
.
... os imigrantes da Nova Inglaterra levavam consigo admiráveis elementos de ordem e de moralidade; entravam pelo deserto acompanhados de suas esposas e de seus filhos. Mas o que os distinguia, sobretudo, de todos os outros [colonizadores] era a própria finalidade de sua empreitada. Não tinham abandonado o seu país forçados pela necessidade; deixavam deixav am para trás uma posição social cuja perda perd a seria lamentável e meios de vida garantidos; tampouco passaram ao Novo Mundo a fim de ali melhorar a sua situação ou de fazer aumentar as suas riquezas; arrancavam-se às doçuras da pátria para obedecer a uma necessidade puramente intelectual; expondo-se às misérias inevitáveis do exílio, exílio, desejavam fazer triunfar triun far uma ideia. ... os imigrantes pertenciam àquela seita inglesa que, por causa da austeridade de seus princípios, tinha recebido o nome de puritan pur itana a. O Puritanismo não era apenas uma doutrina religiosa: confundia-se ainda, em vários aspectos, com as teorias democráticas e republicanas mais absolutas. Por causa dessa tendência tinha ganho os seus mais perigo per igosos sos adver ad versár sários ios.. Perse Pe rsegu guido idoss pelo pel o govern gov erno o da m ãe-pát ãe- pátria ria,, ofendidos no rigor de seus princípios pela marcha cotidiana da sociedade sociedade em cujo seio viviam, os puritanos procuravam procur avam uma terra tão
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MU NDO OCIDENTAL
bárbara e tão abandonada abandonada pelo mundo mundo que que nela pudessem ainda viver à sua maneira e rezar a Deus em liberdade.1 Assim, na opinião opin ião abalisada abalisad a de Alexis de Tocqueville, a contribuição dos puritanos purit anos para par a a formaçã form açãoo cultural e política polí tica da N ova ov a Inglaterra Inglat erra foi de singular singu lar importância importância e marcou funda e indelevelmente a tradição de liberdade - e da consequente responsabilidade que ainda hoje, hoje, não obstante as vicissitudes vicissitudes advenientes nos últimos últimos tempos, caracterizam a dem ocracia americana. americana. “As colônias inglesas, e foi essa uma das principais causas da sua pros pr ospe peri rida dade de,, sem se m pre pr e goza go zara ram m de m aior ai or liber lib erda dade de inte in teri rior or e de m a ior io r independência política que as de outras nações; em nenhum ne nhumaa parte, parte, porém, foi esse princípio de liberdade liberdad e mais completamente completam ente aplicado que nos Estados da Nova No va Ingl In glat ater erra ra.”2 .”2 Parece haver, haver, sem dúvida, uma relação de ca usa e efeito entre entre o tipo de colonizadores da Nova Inglaterra I nglaterra - primeiro os puritanos da Inglaterra e, mais tarde, os calvinistas da Escócia, da Irlanda e da Holanda -, e a grandeza reconhecida de suas instituições culturais, jurídicas, jurídic as, sociais e econômicas, grandeza que prevalece até hoje. Os capítulos deste livro que falam da influência do do Calvinismo Ca lvinismo na Escócia, na Irlanda e na Holanda, permitirão ao leitor entender de que modo mo do os colonizadores calv inistas que saíram desses país pa íses es,, des d esem empe penh nhar aram am seu se u papel pap el n a cons co nstr truç ução ão da d a gran gr ande de dem de m ocra oc raci ciaa dos Estados Unidos, papel que ficou claro não só na organização p olítica dessa nação, mas tam bém e sobretudo no que se refere ao valor va lor e à solidez de seus sistemas de educação. Em seu livro livro A religião reli gião e o dese d esenv nvolv olvim imen ento to da ciên c iência cia mode mo derna rna,3 ,3 R. Hooykaas Hooyk aas fala da participação participaç ão dos dos protestantes na pesquisa científica científica e diz que “As “As pesquisas pesqu isas sociológicas têm demonstrado que, até bem recentemente, os protestantes foram relativamente mais numerosos num erosos entre os cientistas do que seria de se esperar, em função funçã o do seu número núm ero global” . Segundo Segund o Hooykaas, ainda, A. de Candolle “Constatou que, entre os membros estrangeiros da Paris, de 1666 1666 a 1883, 1883, os protestant prote stantes es foram fora m bem Académie Acad émie des Sciences Science s de Paris, mais numerosos do que os católicos-romanos”. Na população da Europa Ocidental, Ocidental, fora da França, a proporção de católicos-romanos para protestantes “era de seis seis (católicos) (católicos) para pa ra quatro (protestantes), (protestantes), enquanto, entre os membros mem bros estrangeiros da Acad Ac adém émie ie des Sciences, a proporção proporç ão era de seis (católicos) para par a vinte vin te e sete (prote (pr otesta stante ntes)” s)” . N a Suíça, Suíç a, a propor pro porçã çãoo de católic cató licosos-rom roman anos os para pa ra protesta prote stante ntess “era “er a de dois (católic (ca tólicos) os) par p araa três (prote (pr otesta stantes ntes). ). No N o entanto, enta nto, para pa ra o período perío do menc me ncion ionad ado, o, houve ho uve quato qu atorz rzee protes pro testan tantes tes suíç s uíços os memb me mbro ross da católi co-roma mano” no”..4 Hooykaas Hooykaa s cita ainda aind a R. R. K. Merton, Académie Acadé mie e nenhum católico-ro
IN T TR RODUÇ O
IN T TR RODUÇ O
par p araa quem qu em,, em 1938, entre en tre os grup gr upos os de dez de z cien ci entis tista tass que, qu e, dura du rant ntee a Commonwealth, Commo nwealth, constituíram o núcleo que daria origem à Royal Society, Society, “sete eram acentuadamen te puritanos”.5 puritanos”.5 A explicação para esse fenômeno não está na importância dada à doutrina da predestinação, como sugeriu Merton, que ampliou essa tese, “demonstrando “dem onstrando que a atitude atitude de autorrepressão, simplicidade e diligência diligência também fomentou o interesse e a aptidão pela pesquisa científica e tecnológica” tecno lógica” .6N a verdade, a explicação mais consentân con sentânea ea está na natureza das Confissões de Fé amplam ente aceitas pelas com unidades reformadas, pois, segundo segund o Hooykaas, essas essa s Confissõ Con fissões es “são provavelme provav elmente nte os documento docum entoss mais representativos da opinião dominante do minante entre os genuíno s calvinistas do século 16”. Segundo essas Confissões, na observação de Hooykaas, para a fé prot pr otes esta tant nte, e, as b oas oa s obra ob rass são cons co nsid ider erad adas as com co m o fruto fru toss da grati gr atidã dãoo pela pe la salvação recebida e não uma confirmação con firmação por p or havê-la recebido. Isso é claro claro Catecismo de d e Heidelberg quanto da Confissão Confissão belga (os chamados tanto do Catecismo 37 Artigos).
O que é mais impressionante acerca dos primeiros cientistas protestan tes é o seu amor pela natureza, na qual reconhecem a obra das mãos de Deus, e o prazer que revelam em investigar os fenômenos naturais. Um dos pais da anatomia anatomi a comparada, o holandês Volcker Volcker Coiter (153476), 76), jamais jamai s se cansava de exaltar a providência do Criador, Criador, evidencia da na maravilhosa adaptação da estrutura animal; o botânico Clusius declarou que as descobertas botânicas causavam-lhe tanta tan ta alegria como se ele tivesse descoberto um prodigioso tesouro; o oleiro huguenote Bemard Palíssy, (1510-90), amava apaixonadamente as plantas, “mes mo as mais desprezadas”. Em uma ocasião, ele manifestou sua ira contra alguns trabalhadores por estarem maltratando plantas; em seu profundo sentimento sentimento por essas criaturas criaturas irmãs, ele dizia que que não sabia por que as plantas pla ntas não clamavam contra as torturas que sofriam nas mãos dos homens.7 Do ponto de vista de sua su a influência política, o Calvinismo “tem “te m favorecido governos representativos e tem lutado contra as várias formas de Absolutismo”, Absolutismo” , como diz John T. MacNeill, em sua obra The History and Character of Calvinism. Na N a verdade, foi com o Calvinismo que qu e a forma representativa de governo (democrático-republicano) se desenvolveu e se consolidou nos tempos modernos. Samuel Rutherford, um dos do s mais capazes defensores do Calvinismo políti po lítico co britâ br itânic nico, o, sus s uste tenta nta que q ue a salus (salvação, bem-estar) descansa descan sa sobre
10
CALVINO E A SUA INFLUENCIA NO MUNDO OCIDENTAL
a soberania do povo. Ele diz que o poder não vem diretamente do céu àqueles que o exercem, mas é dado ao povo por po r Deus como direito hereditário, hered itário, e é
10
CALVINO E A SUA INFLUENCIA NO MUNDO OCIDENTAL
a soberania do povo. Ele diz que o poder não vem diretamente do céu àqueles que o exercem, mas é dado ao povo por po r Deus como direito hereditário, hered itário, e é tomado emprestado do povo pelos que governam, e pode ser retomado pelo povo, quando quem o exerce se toma tom a embri embriagado agado por ele! ele! Assim, ao ler este livro, o leitor poderá avaliar ava liar o testemunho dos autores de cada capítulo a respeito do impacto do Calvinismo Calvinis mo sobre a cultura cultur a em geral e sobre o sistema sistema de educação educação e de governo - com seus reflexos na economia economia e na vida social das respectivas comunidades -, sistemas estabelecidos e desenvolvidos nos países em que prevaleceu, como força dominante, a influência influência do Calvinismo.
Sabatini Lalli Edito Ed itorr da 18ediçã ed ição o
1
O CALVINISMO COMO FORÇA CULTURAL
Calvino foi patrono dos modernos direitos humanos. Em seu se u pensamento pensamento ele antecipou a moderna mo derna forma republicana de governo. Contribuiu para a moderna modern a compreensão compreens ão da relação entre ent re lei natural e lei positiva. positiva. Ao lado dos movimentos sociais e políticos de seu tempo, compreendeu que a origem do Estado nacional moderno, o surgimento do comércio burguês internacional, internacional, o desenvolvimento desenvolviment o da classe burguesa e a vasta expansão do mercado monetário exigiam uma um a nova avaliação da proibição de empréstimo de dinheiro a juro. Além disso, Calvino Calvin o levantou-se lev antou-se contra os abusos do poder, em seu tempo, e debateu o problema proble ma do direito à revolta. revolta. O impacto de Calvino e do Calvinismo sobre a moderna cultura ocidental está bem documentado. Reconhece-se que essa influência foi foi grande. Calvino e o Calvinismo ocuparam seu lugar entre as maiores forças que moldaram nossa moderna modern a sociedade ocidental. É importante descreve des creverr essas influências influ ências do ponto de vista histórico. Qual foi a influência do Calvinismo? Calvinism o? Até onde se estendeu estende u essa influência? Contudo, para avaliar avalia r o Calvinismo como uma força cultural propriamente, é preciso prec iso descer des cer a um nível mais profund pro fundoo de question ques tionam amento ento.. O que, no Calvinismo, Calvinismo, determina a forma peculiar pela qual ele se relaciona com a cultura? cultura? Qual é o caráter distintivo que ele imprime à cultura? Nesses aspectos, em que difere ele de outros movimentos protestantes? Sem levantar questões como essas, dificilmente alguém tem te m condições de inquirir significativamen significativamente te em que extensão ocorreu sua influência.' Toma-se claro que a mais significativa maneira de alguém aproximar-se aproximar-se do Calvinismo é ter em mente que qualquer movimento que alcançou importância histórica, terá uma correspondente corresponde nte influência influên cia cultural. cultural. Isso é um
CALVINU t, A !>UA lNMAJfcNClA NU MUNDO OCIDfcN 1AL
fato em relação ao Calvinismo. Contudo, é também verdade quanto ao Luteranismo, ao Anabatismo, ao Metodismo, ao Puritanismo e a outros
CALVINU t, A !>UA lNMAJfcNClA NU MUNDO OCIDfcN 1AL
fato em relação ao Calvinismo. Contudo, é também verdade quanto ao Luteranismo, ao Anabatismo, ao Metodismo, ao Puritanismo e a outros movimentos. E verdade de qualquer qualque r movimento, independentemente inde pendentemente da atitude que ele tenha para com a cultura. Mesmo a postura pos tura antissecular de um segmento de igrejas que se confessam confe ssam cristãs, tem um tipo especial de influência cultural, ainda que seja uma influência negativa. O retraimento de cristãos em relação àquilo que é chamado de “envolvimento “envolviment o cultural” tem, em si mesmo, um impacto cultural. cultural. Mais importante do que o problema da d a extensão da influência influên cia do Calvinismo será o problema prob lema da qualidade dessa dess a influência. influência. Ao tratar o Calvinismo Calvinismo como uma força cultural cultural portanto - por mais importante importante que essa força possa parecer - não temos em mente uma descrição desacompanhada da influência que ele exerceu sobre a nossa noss a cultura ocidental. ocidental. Em vez disso, disso, indagamos o que é que, no Calvinismo, determino u o caráter dessa influência. Por que o Calvinismo teve uma atitude positiva para com a cultura e foi capaz de fazer contribuições culturais construtivas? constru tivas? Porque, em verdade, essa atitude positiva pertence ao verdadeiro gênio do Calvinismo, tanto que o Calvinismo teve em mira não só uma u ma reforma na doutrina, na vida individual e na vida da Igreja, mas também tamb ém a transformação transfor mação de toda a cultura, em nome de Cristo. Cristo. Ao responder respon der a essas essas indagações, podemos, por conveniência, organizar org anizar nossos pensamentos em tomo to mo de quatro pontos principais: principais: 1. No Calvinismo não há dicotomia entre Cristianismo e cultura; cultura; 2. Por causa de sua sua maneira penetrante penetrante de entender a doutrina da criação, a universalidade universalidad e da revelação divina e o lugar da lei é impossível ao Calvinismo Calvinismo - e observe-se a importância de de manter-se intacta a doutrina doutrina bíblica da relação Criador-criatura Criador-criatura - pensar em termos de uma simples e incondiciona incondicionall distinção entre as esferas de atividade divina divin a e humana; humana; 3. Toda a vida, inclusive a cultura, é teonômica, isto é, tem sentido somente quando q uando está sujeita a Deus e à sua sua lei; lei; 4. O poder do Deus-Criador-Soberano abrange também o curso da História, História, de modo mod o que se pode discernir dis cernir a revelação revelação de Deus também tam bém naquilo que pertence mais imediatamente imediatam ente à cultura ou, seja, seja, à atividade formadora formado ra do homem ho mem..
Atitude positiva do Calvinismo em relaçã à cultura Calvino expressou sua gratidão a Deus, porque Deus, ao mesmo tempo em que trouxe à luz o evangelho em sua pureza, trouxe à existência também o renascimento renascimento das das humanidades.2 Foi Guilherme Budé que, que, ao tempo de
O CA CAL V IN IS M O CO CO M O FO FO R ÇA C U L T U RA L
13
O CA CAL V IN IS M O CO CO M O FO FO R ÇA C U L T U RA L
13
Calvino, procurou introduzir na França um panorama panora ma da cultura humanística surgida na Renascença italiana. italiana. Promoveu Promove u o gosto pelas artes liberais (bonae litteraè) em contraposição c ontraposição aos estudos que preparavam o indivíduo para ganhar a vida (Teologia, Lei, Direito, Medicina1). Calvino concordou resolutamente com Budé em que as artes liberais eram essenciais à formação do homem, ao desenvolvimento de sua humanidade. De fato, encontramos em Calvino acentuado acentuad o gosto pelas artes liberais e interesse em instruir-se nelas, de modo que ele nada fica a dever aos humanistas seus contemporâneos. Não são necessárias muitas palavras, disse ele, para expressar quão cara nos é a aquisição das artes liberais.4 Também para com a retórica e as as ciências naturais, Calvino teve uma atitude positiva. A influência dos princípios da retórica, sobre seu método teológico, teológico, pode ser constatada. constatada. Na introdução introdução de seu Comentário às cartas aos tessalonicenses, Calvino reconhece que deve sua cultura humanística e seu método de ensino (discendi rationem) ao bem conhecido humanista Maturin Cordier. Como a retórica, as ciências naturais são dons de Deus, criados por ele ele para o uso uso da humanidade.5 A fonte última da verdadeira ciência da natureza não é outra senão o Espírito Espírito Santo.6 Santo.6 Contudo, Calvino foi foi inflexível oponente da pseudociência da astrologia, que gozava de grande prestígio em seu tempo, tanto quanto goza em nossos dias.7 O clima espiritual no qual Lutero se desenvolveu, desenvolveu , foi o do misticismo mistic ismo do final da Idade Média. Diferente de Calvino e Melanchthon, Lutero permaneceu muito muit o tempo incólume às influências do Renascimento da cultura humanística de seu tempo. Em contrapartida, Calvino cedo se dedicou aos estudos humanísticos. Como teste de sua competência, comp etência, de sua erudição humanística, hum anística, ele escreveu seu famoso famoso lementia tia,, de Sêneca.8 comentário sobre o De Clemen Sêneca.8 Educado pelos humanistas e autorizados eruditos de seu tempo - Pierre de F Etoile e Andrea Alciati Alciati -, - , bem versado na filosofia da cultura clássica, clássica, e ele mesmo mesm o reconhecido como um erudito humanista, Calvino revelou, ao longo de toda a sua vida, vida, domínio domíni o da cultura contemporânea contemp orânea e profundo interesse no seu desenvolvimento. Ele continuou a demonstrar empenho em relação à humanidade do homem e em relação relação àquelas boas dádivas de Deus - que incluíam incluíam a arte e a música - e que eram capazes de contribuir para para o seu desenvolvimento.9 É um erro supor que o duradouro interesse de Calvino pelos estudos humanísticos e pelo desenvolvimento cultural do homem fosse um simples remanescente do tempo que precedeu sua conversão à fé evangélica. Sua preoc preocup upação ação para com os estud estudos os hu huma manís nístico ticoss e para com aqu aquilo ilo que diz resp respeit eitoo ao que é humano está muito inseparavelmente inseparavelme nte ligada ao seu modo global de pensar, para permitir essa interpretação. De fato, fato, num sentido que precisa ser
14
CALVINO CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL
bem defin definido ido e cuidad cuidadosa osame mente nte preser preserva vado do de má compre compreen ensão são,, Ca Calvi lvino no pode pode chamado chamado de “humanista”.1 “humanista”.10Atravé de tod sua vida, ele te ofund
14
CALVINO CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL
bem defin definido ido e cuidad cuidadosa osame mente nte preser preserva vado do de má compre compreen ensão são,, Ca Calvi lvino no pode pode ser chamado chamado de “humanista”.1 “humanista”.10Através Através de toda toda a sua vida, ele teve teve um um profund profundoo compromisso para par a com aquilo que é humano. humano. De fato, fato, Calvino criticou criti cou mordazmente aqueles cujo humanismo fazia supor que eles se tinham firmado contra a soberania sobe rania de Deus, Deus, contra a Palavra de Deus, Deus, contra contra a depravação do homem e contra as doutrinas da d a graça. graça. Aos Institutio tio Relig Religio ioni niss 27 anos, na famosa carta que serve de introdução à sua Institu Christianae [Instituição [In stituição da Religião Cristã], ele fala abertamente contra cont ra o humanismo humanismo que não leva em conta a doutrina evangélica.1 evangélica .11 Mais do que contra contra um humanista cristão como Budé, Calvino ataca aqueles humanistas que fazem a apoteose do ser human hu mano1 o12e pensam pensam que a realização daquilo que é humano pode ser alcançada somente na presumida independência independênci a de Deus e de sua sua revelação. Ele mesmo, como um humanista, rejeitou rej eitou aquilo que era o coração da ideia de personalidade personalidad e do Renascimento, a ideia de que o homem é a fonte criadora de seus próprios vvalores alores e, portanto, no fundo, incapaz i ncapaz de pecar.1 pecar. 13 Se os estudos humanísticos eram caros a Calvino Calvino pelo fato de favorecerem o desenvolvimento desenvolvimento das virtudes humanas, se as ciências devessem devessem ser cultivadas como dons de Deus, os humanistas humanistas deviam d eviam opor-se àqueles que pensavam que as artes e as ciências podiam pod iam ser empregadas empregadas como se fossem suficientes sufici entes em si mesmas. Era estranho à mente de Calvino o pensamento de que as artes e as ciências podiam estar livres da religião (non debere distrahi a religione scientid ).14 ).14 Ninguém deve supor que a atitude de Calvino para com aquilo que é humano e para com aquilo que pertence à realização humana não tem necessidade de correção. No entanto, sua atitude positiva para com esses valores é inerente ao seu pensamento e têm profundas implicações para aqueles que se consideram calvinistas. Isso contribui para a compreensão do modo pelo pelo qual qual o Calvinism Calvinismoo atua como como uma força força cultu cultural ral.. Para Calvino, diferentemente do que ocorria com outros líderes da Reforma, não existe dicotomia dico tomia básica entre o evang evangelho elho e o mundo, entre o evangelho e a cultura. Ao mesmo tempo, ele não aceitava aceitav a simplesmente, sem critica as realizações realizações do gênio humano. Sua atitude atitude exigia exigi a que tais realizações realizações fossem analisadas quanto às razões que as inspiravam, pois deviam estar sujeitas aos preceitos de Cristo. O
divino e o humano no Calvinismo
Calvino cria na absoluta soberania de Deus. Como os outros refor madores, ele cria também que o crente, em seu coração, é imediatamente ligado ao Deus soberano, como ele se revelou em sua Palavra. Como já
O CALV IN ISMO CO COM O FO FOR ÇA CULTURAL
15
O CALV IN ISMO CO COM O FO FOR ÇA CULTURAL
15
mostramos (em outro lugar), isso não significa que a atividade soberana de Deus, para Calvino, se mantenha numa relação de indiferença ou, possivelmente, possivelmente, de de antítese antítese para com aquilo que é humano e para com aqu aquilo ilo que pertence ao campo das realizações culturais humanas. Calvino Calv ino entendia de tal tal modo a atividade de Deus, que não deixava lugar a esse esse dualismo. O Deus que opera soberanamente soberan amente no coração do homem é o mesmo Deus que se revelou como o Criador do homem e dos valores de sua cultura. cultura. Aquele que tem um profundo domínio da revelação reve lação que Deus fez de si si mesmo, como Criador, compreenderá compreende rá que o divino e o humano humano não devem ser concebidos como se fossem extremos contrários de um espectro, de modo pe r se, rebaixar o outro. Deus não é honrado que exaltar a um, seria, de per quando se envilece a sua criação, nem a criação é exaltada exaltad a quando se envilece envilece a Deus. A criação criaçã o é expressão expres são da vontade vonta de de Deus como Criador. A criação, em seu estado incólume, D Deus eus chamou boa. Ele se revelou interessado in teressado nela. Para glorificar a Deus não é preciso denegrir a criação: é apenas necessário pôr em prática, prática, em relação relação à natureza natureza,, aqu aquilo ilo que responde responde à vontade vontade criador criadoraa de Deus para ela. Aquele que tem profunda compreensão da revelação re velação bíblica no que diz respeito à criação, compree compreenderá nderá que o que está em discussão não é a mera mera ênfase sobre o que é divino ou o que é humano, mas se - quer seja humano ou pertenç pertençaa à esfera esfera da ativi atividad dadee humana humana - , tem sido sido levad levadoo a molda moldar-s r-see à vo vont ntad adee de Deus, como está expresso em sua lei. Ou seja, verá que o que está em discussão é se tais atividades respondem responde m àquilo que Deus desejava deseja va para sua criação desde d esde o começo. É claro que a doutrina reformada da imediata operação da graça de Deus no coração humano, através de sua Palavra, Palavra, levantou-se em oposição ao ponto de vista de que o humano é uma esfera e sfera semiautônoma se miautônoma que antecede o divino e que, que, rrealizando ealizando obras pelos próprios poderes poder es do indivíduo, serve de preâmbulo preâmbulo,, necess necessário ário à operação operação da graça. graça. Qua Quando ndo Lutero Lutero começou começou a expor sua doutrina da justificação justif icação só pela fé, o nominalista Guilherme de Occam, em cuja lógica ele tinha sido instruído instruído por Trutvetter e Usingen - e a quem Lutero chamou seu professor {magister meus)'5 -, já tinha criado um clima de pensamento incompatível com a ideia de que a natureza é o preâmbulo da graça. Occam rejeitou a ideia de que qualquer coisa fora do evangelho pudesse servir para julgá-lo ou agir como uma plataforma adaptada à misericordiosa provi provisão são de De Deus us e para a respo resposta sta de fé por pa parte rte do ho hom mem. em. Lut Lutero ero orgul orgulha hava va-se de de pertencer perten cer à escola de Occam, a quem considerava consi derava o principal e o mais talentoso dos doutores escolásticos.
16
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL
A posição nominalista pareceu ajustar-se, ajustar-se, além disso, às suas doutri d outrinas nas a respeito da graça. Os nominalistas ensinav Deus age diretamente,
16
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL
A posição nominalista pareceu ajustar-se, ajustar-se, além disso, às suas doutri d outrinas nas a respeito da graça. Os nominalistas ensinavam ensinav am que Deus age diretamente, dirigindo-se ao homem com absoluta e soberana exigência, sem dar lugar ao exercício de poderes humanos naturais de juízo, juízo , discriminação ou escolha. escolha. Ensinavam que a graça divina não é concomitante com as obras humanas, mesmo quando entendida como perfeição divina. divina. Ensinavam que a graça divina opera imediatamente no coração do homem, indiferentemente i ndiferentemente ou, ou, mesmo, em oposição à capacidade humana. humana. Não estou sugerindo que a compreensão de Lutero a respeito das doutrinas da graça tenha surgido ou, mesmo, tenha dependido deste ensino dos nominalistas. Sustento que o seu entendime entendimento nto é fruto de sua leitura das Escrituras. Escrituras. A tradição occamista, contudo, forneceu-lhe f orneceu-lhe base para a sua crítica contra o ponto de vista de que a natureza naturez a é o preâmbulo preâmb ulo da graça. Depois de descobertas essas doutrinas, no entanto, entanto, os ensinos nominalistas nominalis tas contribuíram para para influ influen enci ciar ar seu seu desen desenvo volv lvim imen ento to teol teológ ógic icoo e para para deter determi mina narr sua sua conc concep epçã çãoo a respeito respeito de como o evangelho se relaciona com a cultura. cultura. E reconhecido que o ponto de vista vist a de Lutero a respeito respeito do que é chamado “dois reinos” é profundamente profundamente influenciado influe nciado pelo Nominalismo. Para P ara a esfera da natureza, ensinava ele, o conceito aristotélico do conhecimento, amplamente aceito, é suficiente. Para a religião, contudo, só a revelação é autoridade. Nessa área, a razão humana tem de submeter-se inteiramente à Palavra de Deus. A inteligência natural e sua lógica, limitadas ao finito, são prejudiciais à teologia porque não n ão conduzem à fé, mas a afastam afasta m dela. dela. A maneira pela qual essa tradição nominalista fazia distinção distinçã o entre o divino e o humano tem, na verdade, um ponto de contato com o emprego verbal concreto nas Escrituras, pois elas falam, frequentemente, da atividade de Deus e da atividade ativi dade do homem de tal maneira man eira que os coloca em posição posiçã o diametralmente oposta um contra o outro. outro. E possível, por po r isso, adotar essa maneira de as Escrituras colocarem a questão, sem penetrar pene trar a verdade que está por trás dela. dela. Isso, ao que parece, era er a o que ocorria ocorr ia com o modo como os nominalistas entendiam entendia m o ensino bíblico a respeito de Deus e do homem, pois pensavam pensavam neles neles em termos termos de confron confronto to entre entre graça e natur naturez eza. a. Era Era inev inevitá itáve vell que essa tradição (nominalista) influenciasse a maneira pela qual Lutero desenvolveu sua teologia teolo gia e concebeu a relação entre Cristianismo e cultura. cultura. Lutero, corretamente, afirma af irma a doutrina evangélica da imediata operação da graça soberana de Deus por meio da Palavra. No pensamento de Lutero, contudo, contudo, há uma marcante distinção distinção entre a esfera íntima ínt ima do divino, divino, atividade espiritual, e a esfera exterior das práticas seculares. Na linha da posição
O CALV1NISMO COMO FORÇA CULTURAL
17
O CALV1NISMO COMO FORÇA CULTURAL
17
nominalista, essa esfera exterior, em contraste com a esfera íntima, é considerada formal e convencional. Pelo menos em relação ao campo espiritual, espiritual, ela é colocada em posição de d e indiferença. A atividade atividad e cultural humana, human a, que pertence a essa esfera esfe ra externa, é aceitável, contanto que seus padrões não sejam aplicados à esfera espiritual. espiritual. Não há, porém, porém, nenhuma conexão íntima entre ela e esse campo espiritual. A atividade espiritual influencia influenci a a cultural, cultural, para empregar uma metáfora, somente quando se agita e se derrama dentro dentro dela. Em comparação com a atividade ativida de espiritual, a atividade cultural humana deve ser tolerada. Dentro deste contexto, não causa surpresa surpres a o fato de Melanchthon, Melanchthon, ao descobrir descobri r que na posição de Lutero não havia nenhum nenhu m ponto íntimo de ligação no contato com a cultura cultur a e voltado para pa ra os fundamentos fundament os da teologia, em seu programa programa prático prático da reforma reforma universitá universitária ria - , inclinar-s inclinar-see mais e mais mais para uma uma posição não crítica de aceitação daquilo que vinha vin ha a ele a partir do meio secular. secular. Ele acomodou sua posição mais e mais à posição de Ar Aristóteles istóteles que, segundo dizia, tinha desenvolvido a única úni ca filosofia científic cient ífica.1 a.16 Certo, com relação às reformas da doutrina da graça, em sua convicção pessoal, Melanchthon, não n ão obstante, acomodou-se à cultura secular s ecular de de um modo que era impossível a Calvino. Calvino. No pensamento pensamento de Calvino, Calvino, não não encontramos esse dualismo. dualismo. Para ele, ele, na verdade, não há esfera de atividade at ividade humana relativamente autônoma, autôno ma, que preceda a operação da graça de Deus. Além do mais, não há limite para a soberania divina, quando ela opera no coração humano. No pensamento de Calvino, contudo, essas posturas combinam combi nam com a profunda compreensão da doutrina bíblica da criação. criação. Deus é o Criador Cri ador soberano absoluto e sustentador de todas as coisas. Nada existe que ele não tenha criado e que não esteja sujeito à sua vontade criadora. Todas as coisas, inclusive as que parecem mais triviais, são reveladoras da sua soberania. Além do mais, sua vontade criadora criado ra soberana abrange aquilo que é humano e aquilo que pertence à esfera das realizações humanas, naturalmente natur almente as da história e do desenvolvimento cultural. Tudo está sujeito à sua vontade vontad e como vem expresso expre sso na sua lei. lei. Em Calvino, portanto, não encontramos encont ramos uma simples e global distinção entre Deus e homem, entre aquilo que é divino e aquilo que é atividade ativi dade humana, humana, noções que equivalem a cálculo matemático. Na verdade, pode-se po de-se respeitar a plenitude plenitude da distinção distinção bíblica entre o Criador Criador e sua criatu criatura. ra. No entanto, entanto, é um profund profundo o discern discernim iment ento o dessa dessa verdad verdadeira eira doutrin doutrinaa bíblica bíblica que que leva leva o indiv indivídu íduo o a evitar o uso dos termos “Deus” “Deus ” e “homem”, “homem” , em sentido global (em ( em bloco), modo simples e absoluto contra o qual estamos fazendo advertência. Essa cilada pode ser evitada se, como Calvino, pensarmos pensar mos na criação sob o horizonte
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL
da revelação de Deus, em termos da expressão expre ssão da vontade do Deus Criador, a lei.
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL
da revelação de Deus, em termos da expressão expre ssão da vontade do Deus Criador, em sua su a lei. Calvino compreendeu compree ndeu que tudo o que se conforma conform a com a vontade de Deus, como está expresso na criação, tem a aprovação de Deus. Quando responde ao propósito criador de Deus, o homem responde àquilo que está de acordo com a sua natureza, àquilo que Deus, na criação, declarou bom. Por isso, isso, Calvino pôde aceitar ac eitar com entusiasmo o programa p rograma da ciência ci ência natural, natural, de pôr pô r às claras os segredos segredo s do unive u niverso rso de Deus. Desse Dess e modo, ele também tam bém pôde aceitar livremente livremente as realizações realizações do gênio humano, humano, que que contribuíam contribuíam para a humanização do homem. Admitia que essas coisas não tinham sentido separadas da religião; religião; porém, na n a verdade, verdade, eram plenas de sentido com ela. ela. Eram preciosos dons dons de Deus concedidos concedidos (ao ser humano) pelo Espírito Espírito Santo Santo.. Para dizer a verdade, a humanidade está depravada em seu coração por causa do pecado e a cultura não se desenvolveu desenvo lveu sem severas distorções. A depravação, contudo, é contrária à natureza, não é natural. natural. Aquilo que não responde à vontade criadora de Deus, que não está verdadeiramente de acordo com sua lei, é uma expressão express ão da antinaturalidade que entrou no mundo por causa do pecado. Essa deformação, não obstante ser se r grande, grande, não é tal que tenha separado o mundo e sua cultura do propósito e plano plano de Deus. Nem é tal que o mundo não manifeste mais a glória de Deus. As boas dádivas de Deus são largamente distribuídas, sem qualquer favor favo r especial aos da família da fé. fé. A verdade, que está presente presen te pela influência influ ência do Espírito Santo, Santo, deve ser abraçada, portanto, onde quer que seja encontrada. A despeito da depravação do coração do homem, Deus tem, por sua graça comum, conservado resíduos candentes daquilo que responde à sua vontade criad cri ad ora. or a.117 Por isso, isso, é possível entender que que haja mesmo brilhantes realizações do espírito humano huma no entre os que têm, no coração, coração, pouco ou nenhum lugar para os ensinos da P alavra de Deus. Deus. O ponto de vista de Calvino a respeito da relação entre Deus D eus e o homem parece estar compendiado em sua famosa afirmação, afirmação, feita no começo começo de sua Instituição, Instituição, de que há uma correlação entre o conhecimento que o homem tem de Deus e o conhecimento conheci mento que tem de si si mesmo (Dei notitiam et nostri res esse coniunctas)}%Isso significa que o homem só se conhece verdadeiramente, quando se conhece à luz de Deus e de sua revelação, com o corolário implícito de que, se se conhece verdadeiramente, conhece verdadeiramente também a Deus. Não é muito extrair dessa correlação o pensamento de que o ser humano, estando estando verdadeiramente relacionado com Deus pela piedade, estará verdadeiramente relacionado consigo mesmo, e estando relacionado consigo mesmo pela piedade, estará verdadeiramente relacionado com Deus.
O CALVINISMO COMO FORÇA CULTURAL
19
O CALVINISMO COMO FORÇA CULTURAL
19
Segundo meu modo de entender a questão, a ideia de Calvino a respeito respeito da correlação entre o nosso conhecimento de Deus e o nosso nosso conhecimento de nós mesmos abriu o caminho ca minho para ele se deparar com aquilo que, para ele, ele, deve ter sido o maior problema, isso é, o problema da d a relação entre a educação humanística humanísti ca que ele recebeu, e pela qual continuava tendo grande respeito, e as verdades verdade s do evangelho, que ele abraçou em sua conversão. conversão. Essa relação expressava expressa va um ponto de vista no qual o perigo de tomar toma r “Deus” e “homem” “home m”,, o “divino” e o “humano” em bloco já tinha sido superado. Seu ponto de vista permitia per mitia-lhe, lhe, de uma um a forma verdadeir verda deirame amente nte compat co mpatível ível com co m o ensino das Escrituras, assegurar assegura r um lugar pleno à humanidade do homem e às realizações culturais, sem detrair de trair um mínimo da honra e da glória de Deus. Calvino considerou a humanidade do homem em sua profundidade. De fato, esse modo profundo de com preender preend er o homem homem não se inspirou na ideia de humanidade universal, tal como a do Renascimento, onde se pensava que o home homem m fosse uma personalidade personalidad e autônoma, a fonte criadora de seus próprio pró prioss valore v alores; s; em vez v ez disso, resultou resu ltou da Revelaçã Reve lação o de Deus no que se refere ao seu propósito na criação, aos efeitos deformadores deformad ores do pecado e à provisã pro visão o de Deus para a redenção rede nção do ser humano huma no e de seu mundo. Para Calvino, tomou-se possível relaciona re lacionarr a ideia de humanidade à antítese religiosa reli giosa retratada na Escritura. O caminho cam inho foi aberto pela ideia de que o homem se toma humano em sua relação com Deus. O ser humano, em si mesmo, é verdadeiramente verdadeir amente humano quando responde respo nde àquilo que constitui o modo de ser de sua natureza, àquilo para o que foi foi criado.19 Desse Dess e modo mo do é possível possí vel constata const atarr que o humanum é realizado não no isolamento autônomo a utônomo do ser humano em relação a Deus, mas na sua relação com ele. A autonomia humana pecaminosa, pec aminosa, longe de ser o caminho caminh o para a autorrealização autorrealiz ação humana hu mana é, em si si mesma, uma distorção daquilo daqu ilo que é humano. Contra essa posição, é claro que o que que está em discussão discus são não é uma ênfase simples, re lativa, ou a ausênc ia de ênfase a respeito respeito do homem e dos produtos da atividade ativida de humana. O ponto em questão é se naquilo que o homem faz e no modo modo como concebe a si mesmo está de acordo com o que Deus planejou para ele desde o começo, em sua soberana vontade criadora. criadora. SegueSe gue-se, se, desse fato, que qualquer ideia de homem ou de atividade humana, humana, ou dos produtos dessa d essa atividade, deve ser s er examinada quanto às suas raízes raízes religiosas. religiosas. Procura Proc ura o homem expressar expre ssar sua humanidade segundo a lei lei de Deus? Está ele pronto a reconhecer reconhece r a inaturalidade ligada a tudo o que é humano e a toda realização humana, humana, por causa do pecado? Está ele preparado para depender - em tudo tudo o que se relaciona com ele mesmo mesmo e com suas atividades atividades -, da graça redentora rede ntora de Cristo e de seu poder restaurador? restaurador ?
20
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL OCIDENTAL
A partir dessa perspectiva, percebemos agora que podemos trazer à luz, de forma mais efetiva, quão humanístico é o pensamento de Calvino. Sua
20
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL OCIDENTAL
A partir dessa perspectiva, percebemos agora que podemos trazer à luz, de forma mais efetiva, quão humanístico é o pensamento de Calvino. Sua posição, no que se refere refer e aos interesses da glória de Deus e do evangelho evangel ho de Jesus Cristo, Cristo, não exige que ninguém negue ou, mesmo, deprecie aquilo que é humano. Na realidade, a humanidade do homem pode ser exaltada sem que se avilte a honra de Deus. O interesse naquilo naqui lo que é humanum e naquilo que a ele se se refere refere só se toma tom a humanismo humanism o no sentido pejorativo, quando defende o ponto de vista de que o centro de gravidade do ser humano, como se existisse, existisse, reside nele mesmo, numa presumida autonomia vis-à-vis com o seu Criador. Criador. Essa espécie de humanismo, como com o fizemos notar, notar, surgiu surgiu durante a Renascença e floresceu no tempo do Iluminismo. Iluminismo. Contra essa espécie de humanismo Calvino reagiu vigorosamente, visto que seus expoentes estavam estava m tentando, por todos os meios à sua disposição, fazer abortar aborta r a causa da Reforma. Reforma. O Calvinismo e o governo de Deus por por meio da lei
Até aqui verificamos verificam os que, para Calvino, a vontade soberana sobe rana do Deus Criador não tem limites. Está presente em todas as coisas, mesmo naquelas que, aparentemente, aparenteme nte, são as mais insignifica insignificantes. ntes. Tudo revela Deus e expressa, de um modo ou de outro, sua majestade majes tade e glória. Observamo Obser vamos, s, além disso, que essa vontade vontade soberana de Deus não pode ser entendida se a separarmos da revelação que ele faz de si mesmo e da expressão de sua vontade, na sua lei, lei, à qual o homem e toda a criação, na verdade, estão sujeitos. Corresponde ao pensame pensamento nto de Calvino dizer diz er que o ser humano se realiza como pessoa quando, em sua resposta a Deus, com partilha com ele em sua revelação. O próprio próprio homem responde livremente à chamada de Deus, obedecendo à vontade soberana sob erana de Deus que, que, certamente, certame nte, não o deixa encurralado, mas lhe serve de meio dentro den tro do qual ele se realiza rea liza como com o ser humano. hum ano.220 Entendendo dessa maneira, volto à minha min ha terceira proposição: para Calvino, toda a vida, inclusive inclu sive aquilo que é chamado chamad o livremente livremen te “cultura”, “cultura” , é teônoma, isto é, tem a sua razão de ser se estiver estive r sujeita a Deus e à sua lei. lei. O que vem particula parti cularm rmente ente à luz aqui é o que Calvino Calvin o pensa da lei. Se Deus, Deus, como com o Criador, está acima ac ima da lei (Deus Iegibus soluíus), soluíus ), sem que coisa alguma fora do seu próprio próprio ser possa limitá-lo, limitá -lo, o ser humano e todo o cosmos com ele estão e stão sob a Lei, sujeitos a ela. Pois tudo aquilo aq uilo que se refere à natureza da criação, em sua totalidade, está ligado pela pe la lei de Deus. Deus. Separada desses laços a existência da criação não tem sentido. Assim, a imagem que nos vem à mente, quando consideram co nsideramos os o ponto de vista de Calvino a respeito da soberania divina, não é a de um tirano
O CALVINISMO COMO FORÇA CULTURAL CULTURAL
21
O CALVINISMO COMO FORÇA CULTURAL CULTURAL
21
despótico, porém a de um grande arquiteto, termo com que Calvino designa desi gna a Deus frequentemente.21 Quando falava da criação, Calvino podia p odia referir-se facilmente ao seu aspecto arquitetônico, à sua arquitetura, como revelação da grandeza e da bondade de Deus. Deus. Para Calvino, a ideia da criação traz consigo a ideia de ordem, ordem em que tudo é construído com uma estrutura magnificente, magnif icente, uma expressão expre ssão de beleza.2 beleza. 22 Entendendo dessa maneira, é impossível ver, na ideia calvinista da soberania de Deus, sanção para qualquer espécie de soberania humana ilimitada. ilimitada. Mesmo que q ue o homem possa ter sua autoridade sancionada s ancionada por Deus, essa autoridade é limitada. limitada. A soberania humana é sempre restrita aos limites estabelecidos estabelecid os para ela. Esses dois fatos, que integram totalmente o caráter do Deus s oberano criador, criador, como ele se revela na sua Palavra e na existência imensurável de toda a sua criação, aparecem na ideia reformada da vocação. vocação. A Lutero é atribuído o fato de ter provocado uma revolução de tipo copemicana copemican a à ideia de vocação, vocação, em relação ao que se pensava dela na Idade Média. Esse conceito tinha sido aplicado apenas a algumas áreas especiais, chamadas de “ordens santas”, sa ntas”, para as quais era necessário uma consagração especial. Na verdade, a ideia corrente era de que só o monasticismo constituía con stituía verdadeira verdadeir a vocação. vocação. Do mesmo modo, a vida de contemplação espiritual era mais valorizada valorizada do que a vida ativa.23 Ao reconh r econhecer ecer que toda t oda a vida v ida é santa quando reflete reflet e o propósito de Deus, Lutero faz a ideia de vocação estender-se para abranger toda atividade humana legítim legítima. a. O pleno pleno impacto da revolucionária concepção concepç ão de Lutero só pode pode ser sentido, contudo, contud o, se escape da espécie de dualismo dualism o em que ele mesmo caiu, ao distinguir entre um campo espiritual íntimo e uma esfera de ordenanças externas. externas. Calvino, Calvino, como já afirmei, afirmei, nunca concordou com esse ponto de vista dualista. dualista. Na N a verdade, como Lutero também fez, Calvino rejeitou a ideia de que a natureza é o preâmbulo da graça, sustentando que Deus opera imediatamente no coração humano por meio da sua Palavra. Palavra. Calvino, porém, não foi atingido pelas influências nominalistas que afetaram o sistema de pensamento de Lutero. Lutero. O ponto de vista de Calvino, como demonstrei na seção precedente, não envolve de modo algum qualquer qualque r depreciação da atividade cultural, cultural, nem das instituições instituições humanas. Na Reforma calvinista, calvinista, a ideia de vocação podia assumir a mais pura expressão expressã o de sua significação universal. Para Calvino, a vida do homem, em sua totalidade, é compreendida como uma resposta respos ta à chamada de Deus. O homem é um ser do pacto. pacto. Como Lutero Lutero bem disse, o homem ho mem tem uma um a lei certa segundo a qual ele deve viver e
11
UALVINU UALVINU b A SUA NELUENCIA NU MUNUU OCIDENTAL
morrer (certa regula tum vivendi viven di tum moriendi). moriendi). Em todos os aspectos de sua vida, o indivíduo é confrontado com o Deus soberano, perante pera nte o qual ele
11
UALVINU UALVINU b A SUA NELUENCIA NU MUNUU OCIDENTAL
morrer (certa regula tum vivendi viven di tum moriendi). moriendi). Em todos os aspectos de sua vida, o indivíduo é confrontado com o Deus soberano, perante pera nte o qual ele deve prestar presta r conta de si mesmo. Na verd v erdad ade, e, a vocaç voc ação ão ou cham ch amad adoo de Deu Deuss tem sentid se ntidoo univ u nivers ersal. al. A ideia reformada da vocação, contudo, não atinge sua expressão plena, separada da ideia de que há vocações particulares. particulares. A Reforma recuperou r ecuperou a ideia da santidade de todas as atividades humanas legítimas. O que está em jogo, jogo , portanto, portanto, não é se alguém é objeto de uma vocação particular particular,, mas se na esfera em que exerce sua atividade, atividade, ele realiza o seu trabalho à luz da vocação divina e ali serve a Deus de todo o seu coração. Um dos aspectos principais do ponto de vista de Calvino a respeito respeito da vocação estava no fato de ele entender que a grande diversidade de dons tinha sido dada aos indivíduos de acordo com a soberana vontade von tade do Espírito Espírito de Deus. Assim como não é apenas um raio de sol que ilumina o mundo, mas todos os raios se combinam num nu m conjunto para realizar a tarefa dele, do mesmo modo Deus distribui amplamente os seus dons, com o fim de manter a humanidade hum anidade em mútua m útua interdepend interdep endênc ência.2 ia.244 Entre os os homens há uma diversidade de dons que possibilitam uma diversidade dive rsidade de funções. Aquele que tem um lugar particular e uma tarefa pressupõe-se que tenha te nha uma vocação. Ao assumir ass umir esse esse lugar e suas obriga o brigações, ções, o indivíduo tem uma vocação definida ).25 A vvocação ocação que alguém tem é uma resposta obediente à (certa vocatio).25 divina vocação.26 Em relação a isso, Calvino empregou outra figura, a do corpo. Ele estendeu esten deu essa figura figura à Igreja, à família e ao Estado.2 Estado. 27 As vocaç vo caçõe õess secular sec ulares es pertencem ao Estado.2 Estado.28 Os membros do Estado bem como os da Igreja, com seus diversos dons, estão unidos num corpo com funções mutuamente dependentes. Assim, Calvino desenvolveu des envolveu aquilo que tem sido chamado um conceito “orgânic “ orgânico” o” da Igreja, do Estado e da família, etc.29 etc.29 A ideia reformada reforma da da vocação, especialmente como ela foi desenvolvida por Calvino, Calvino, conduz à ideia de que a santidad santidadee prende-se àquilo àquilo que é chamado chamado de “atividades culturais” do homem. A atividade cultural do homem é considerada como uma resposta à chamada divina, que envolve uma tarefa cultural divinamente determinada. Portanto, a atividade cultural do homem é teônoma e só tem sentido como uma resposta re sposta a Deus e à sua Lei que, por sua vez, estabelece os seus laços e determina o seu significado. Esse passo, na verdade, foi anteriormente anteriormen te dado por Calvino. Calvino. Calvino vislumbrava vislumbrav a essa esfera orgânica o rgânica na família. família. A família é uma ordenança da criação fundada por Deus.30 E uma eterna e indestrutível instit instituiç uição ão divina.3 divina.31 Ao chefe chefe da família, no no sentido restrito restrito da palavra, palavr a, o marido,
U L AL A L V1 V 1 IN IN 15 1 5 M U L U M U r U K V A t U L I U K r tL tL
foram concedidos dons don s especiais do Espírito. Em virtude de tais dons ele foi foi
U L AL A L V1 V 1 IN IN 15 1 5 M U L U M U r U K V A t U L I U K r tL tL
foram concedidos dons don s especiais do Espírito. Em virtude de tais dons ele foi foi dotado de autoridade, autoridade que foi chamado cha mado a exercer na esfera particular em que foi colocado. Dentro da família há uma relação especial de superorsuperordenação e subordinação. De acordo com a disposição dispos ição divina, o marido é o cabeça da esposa, mas o é de tal modo que ele deve cu idar dela como cuida do seu próprio corpo. Na verdade, ele deve amá-la como Cristo amou a sua Igreja e entregou a si mesmo por ela. Por seu lado, a esposa deve ser submissa ao marido, no Senhor, oferecendo-lhe oferec endo-lhe o amor e a obediência obed iência a que ele tem direito como seu cabeça. cabeça. Acima Acima dos dois - marido e mulher - , no entanto, está o Cabeça de todas as coisas, Jesus Cristo. Ambos, marido mari do e mulher, são limitados em sua autoridade aut oridade e atividade. A vida deles, como casados, alcança realização em sua obediência obediênc ia à Lei Lei de Deus, naquilo que diz respeito à esfera para a qual foram chamados. O ponto de vista de estrutura orgânica de Calvino está presente também em sua maneira de conceber o Estado, no qual ele viu uma analogia com a família.3 família.32 Ele relacionou com o Estado, também, sua ideia de diversidade div ersidade do gênero humano, quanto aos dons e esferas de atividade. atividade. O Estado também é análogo a um corpo, no qual os vários membros têm t êm seu próprio lugar e função. função. No Estado, Estado, os indivíduos indivíduos são reunidos uns aos outros numa unidade unidade orgânica, orgânica, com diferentes posições na vida e diferentes funções. Acima Acim a do Estado está o governo. A autoridade deste, ensinou ens inou Calvino, não é derivada deriva da da vontade vonta de do povo; antes de tudo, tudo , ela é dada por po r Deus.33 Deus.33 A fonte divina divin a da autoridade do magistrado mag istrado está es tá no fato de ter ele recebido dons peculia pec uliares res do Espírito Espí rito para governa gov ernar.3 r.34 Dentro da esfera do Estado, po p o rtan rt an to , há uma um a au to rid ri d ad e, há um cen ce n tro tr o de p o d er d ivin iv inaa m en te legitimado. Calvino partilhou partilh ou da antiga ideia de que o governo está acima da Lei, porque porqu e ele é a sua fonte fonte (princeps prin ceps legibus solutus). De fato, ele admitiu que o governador governad or é a fonte da Lei Positiva, que obriga obrig a nos limites do seu território. Nesse Ne sse sentido, sentid o, Calvino Calvin o falou do gover go vernad nador or como co mo a lei personi pers onific ficada ada (lex su stentou que a animata).35 Na verdade, em sua concepção geral Calvino sustentou autoridade de um um governador govern ador é limitada. limitada. Um governador governad or deve, ele mesmo, submeter-se à Lei Positiva, que vige nos limites do seu território.36 território.36 Lei Positiva, Positi va, além do mais, é apenas uma expressão da Lei, pois, além dela, há a Lei Natural, Natural, a Lei Lei da Nature Na tureza,3 za,37 7 que Calvino Calvi no associo as sociou u estreitame estreit amente nte com a probidade. probidade . Cada Lei Positiva P ositiva deve expressar o princípio da probidade. Se não for assim, será inútil.3 inút il.38 8
c,
u a
,
.
nu m u n uu u c
u e
,n a
Que significa para Calvino a Lei Natural? A resposta a essa questão não é simples. simples. Como Lutero e Melanchthon, Calvino tinha viva apreciação
c,
u a
,
.
nu m u n uu u c
u e
,n a
Que significa para Calvino a Lei Natural? A resposta a essa questão não é simples. simples. Como Lutero e Melanchthon, Calvino tinha viva apreciação pela Lei Lei Romana largamen largamente te aceit aceita, a, e interpreta interpretava va os sistemas sistemas legais legais corrent correntes. es. Ele compartilhou da distinção que o jurista juri sta romano Quintiliano Q uintiliano fez entre as leis dadas a cada um, pela natureza natureza - isto é, o direito natural ( iustum naturá), e as leis que pertencem ao fo lk ou ao povo, em cujo contexto conte xto as leis recebem sua formal formal expressão judicial judic ial (iustum constitutione).3 ). 39 A aber ab ertu tura ra de Calvin Cal vino o para com a Lei Romana Romana nesse ponto, envolvendo, como envolve, um acordo formal com a ideia de que há uma Lei Lei Natural, está em consonân cons onância cia com a sua atitude, em geral, para com as realizações culturais humanas e, mais particularmente, particularm ente, está de acordo acord o com a sua atitude atitude para com o sistema de Lei Romana, no qual ele introduziu muito poucas correções. O fato de aceitar a Lei Natural não significa, significa, contudo, que ele não a colocasse numa perspectiva que, naturalmente, naturalmente, pudesse pud esse mudar o seu significado. significado. Sustentar um ponto de vista a respeito respeito da Lei da Natureza, como Calvino fez, não significava entrar no campo dos estoicos, com sua s ua concepção de razão universal, ou num acordo substancial com a Lei Romana, Ro mana, em seu ponto de vista a respeito da origem e do sentido da Lei Natural. Que Calvino pudesse aceitar a Lei Lei Romana, de modo mod o algum dependia de como ele interpretava interpretava seu lugar no plano providencial de Deus nem envolvia a necessidade de ele reinterpretá-la, fazendo distinções dentro do contexto de seu modo de entender entende r a doutrina cristã. cristã. Aceitá-la era agradável à sua ideia de que Deus não tinha permitido ao mundo ir à ruína por causa do pecado, mas que o tinha preservado preserva do por p or meio de sua graça comum. A aceitação, por parte de Calvino, de alguma espécie de doutrina de Lei Natural reflete, também, sua interpretação do ensino da Escritura, no que se refere àquilo que entendem por natureza (physcei) os que estão fora do âmbito da revelação reve lação especial especia l de Deus e que, diferente dos judeus, não receberam os oráculos (ta logia) de Deus. Não obstante, obs tante, o fato de estes fazerem por po r natureza as coisas que estão escritas na Lei Lei de Deus, deve ser, segundo Calvino, atribuído atribuíd o às sensibilidade humana distribuída a todos os homens (sensus communis), fato que reflete a vontade divina e que tem sido preservado do aniquilamento pela graça comum de Deus. Segue-se, desse fato, que Calvino não podia pensar na Lei da Nature Na tureza za como com o um direito direi to inerente ineren te à razão universa univ ersal, l, ele a entend ente ndia ia como separada da mensagem mensage m bíblica. A Lei da Natureza Natu reza tinha de ser relacionada relacion ada com a ordem da criação, por meio da qual, a despeito das devastações provoc pro vocadas adas pelo pecado, pecad o, Deus continu cont inuaa a revelar rev elar-se -se em toda tod a parte p arte e em todos os tempos.
O CA CA L V IN IS M O CO CO MO FO F O R Ç A C ULT UR AL
25
O CA CA L V IN IS M O CO CO MO FO F O R Ç A C ULT UR AL
25
Um governador governador,, então - que na verdade, verdade, para Calvino, Calvino, é a fonte das Leis Positivas inscritas inscritas nos códigos de seu território território -, - , está sujeito à Lei da Natureza. Natureza. Segundo Calvino, essa Lei da Natureza Nature za é o princípio e o objetivo de todas as Leis Positivas, Po sitivas, e é a Lei Lei que estabel est abelece ece os seus limites.4 limi tes.40 0 Um governador, gover nador, porta portanto nto,, está sujeito sujeito a uma Lei Lei (da Natureza Natureza)) cuja autorida autoridade de exced excede, e, em muito, uito, à de quaisquer leis que ele mesmo possa gerar. Em última análise, ele está sujeito a Deus, que é a fonte final de toda lei e de toda autoridade. De fato, o respeito que Calvino tinha para com o magistrado e para com os dons de governar era enorme. O homem é obrigado a aproximar-se de um governador como de alguém dotado, pelo Espírito do próprio Deus, de extraordinários dons que o qualificam para governar. governar. Contudo, essa autoridade humana, conquanto seja sancionada pela autoridade divina, é sempre restrita, restrita, sendo demarcada pelos limites próprios do ofício de governador. governador. O ponto de vista de Calvino a respeito da vocação, tanto da atividade na esfera do lar, lar, do Estado, do magistério magist ério ou da Igreja, exibe sempre essas duas faces. Há, de um lado, a ideia de que tudo na vida é resposta à vocação universal de Deus, cuja vontade soberana abrange todas as coisas e cuja provid pro vidência ência se estende esten de a cada c ada pormen por menor or da existên exis tência cia humana. De outro lado, há a ideia paralela de que a resposta respost a humana é canalizada canalizad a por vocações específicas, de modo que qu e cada um tem o seu lugar e desempenha suas funções dentro do corpo. c orpo. Caberia ao grande estadista estadist a e teólogo holandês, Abraham Kuyper, unir as linhas do ensino reformado e desenvolver a ideia da “esfera soberana” so berana” ou, ou, como ela tem sido chamada, “soberania “so berania nas esferas individuais individuai s da vida”, vida” , pois Deus, cuja soberania se estende sobre a totalidade da vida, tem ordenado várias esferas na sociedade, cada uma das quais dispõe de uma soberania dentro dentro de sua sua própria órbita.4 órbita.41 Calvino já tinha compreendido, contudo, que há uma diversidade div ersidade de dons e vocações, e que cada um desses dons ou vocações tem de ser compreendido em relação com Deus e sua soberana vontade. Segundo Calvino, bem como co mo segundo Kuyper, Kuyper, cada um u m pode servir de acordo com seus dons peculiares, capacidades especiais e em seu próprio lugar, lugar, e ser agraciado com o conhecimento de que foi incumbido de realizar uma particular particular vocação de Deus. Deus. O ponto de vista de Calvino a respeito da diversidade de vocações estabelecidas por Deus toma imperativo reconstruir a difundida noção dos tempos modernos, concernente à natureza da cultura e da sociedade. Até aqui aqui tenho t enho empregado a palavra cultura em sentido mais amplo e indiscriminado, indiscriminado,
26
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL
sem levar em conta a questão do uso uso comum com um do termo. Segundo esse uso, cultura é o termo geral que q ue denota a ordem trazida à existência existê ncia pela agência
26
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL
sem levar em conta a questão do uso uso comum com um do termo. Segundo esse uso, cultura é o termo geral que q ue denota a ordem trazida à existência existê ncia pela agência humana. Tem-se como cultura tudo aquilo que não surge pronto, pronto, como parte integrante da natureza. Assim, ela inclui toda linguagem, li nguagem, todas as leis, todas as convenções sociais, etc. Na maior parte das vezes, vezes, quando quando um contempo contemporâneo râneo discute um tópico tal como “Cristianismo e cultura”, ele tem em mente o termo cultura interpretado desse modo. A cultura abrangendo todo engenho humano e seus produtos produ tos é posta pos ta em contrast con trastee com aquilo aq uilo que pertence per tence à esfera esfe ra do divino. Introduz-se Introduz-se,, desse modo, uma discussão de relação relação do Cristianismo - como sendo sendo de origem divina -, - , com aquilo que é produto da engenhosidade engenhosidade humana, humana, no mais amplo sentido se ntido da palavra. O ponto de vista de Calvino a respeito da Natureza e da Lei Natural sugere que essa maneira de ver ve r precisa ser reconstruída. reconstruída. Seu ponto de vista não admite que toda lei e toda estrutura (que não é parte da natureza) sejam compreendidas como produtos do engenho humano. O próprio engenho humano (para Calvino), Calvino), ao contrário, adquire sentido dentro da d a estrutura estabelecida pelas pelas ordena ordenaçõe çõess divin divinas, as, que a prerrog prerrogativ ativaa humana humana está longe longe de poder mudar udar.. Outra vez Calvino não admite que se considere o divino e o humano em bloco. A atividade humana éple ép lena na de sentido só dentro do doss limites estabelecidos estabelecidos pela vontade soberana soberana de Deus, expressa em sua Lei. Lei. A Lei Lei de Deus constitui constitui uma estrutura permanente para a atividade humana, humana, fora da qual essa atividade perde o significado significado.. A atividade cultural cultural humana, na verdade a totalidade totalidade da cultura, é teônoma e só tem sentido em sua relação com Deus e sua Lei. O
Calvinism Calv inismo o e a atividade ativida de cultural do homem
Calvino Calvino viveu num tempo de inquietação e mudanças, numa num a época que ele mesmo descreveu em termos muitos elogiosos. elogiosos. Foi um tempo te mpo de renovação do pensamento, pensamento, de profundas profundas desordens desorden s sociais e de conflitos religiosos. Tanto Tanto em relação ao Renascimento quanto à Reforma havia não apenas uma vívida consciência de retomo àquilo que durante longo tempo tinha ficado f icado obscurecido obscurecido - um retomo retomo às fontes fontes (adfontes ) -, mas também havia a consciência de que esse retomo era o marco de um novo começo, a emergência de uma nova idade que seria diferente, em grau marcante, daquela que a precedia imediatamente. Em meio a tal inquietação, não surpreende o fato de ter surgido, também, um sentido de transformação transform ação histórica. Essa consciência consciê ncia dominou
O CA LV IN IS M O C O M O F O R ÇA CU LTU RA L
27
O CA LV IN IS M O C O M O F O R ÇA CU LTU RA L
27
também tam bém Calvino. Seu S eu ponto de vista a respeito da Lei Natural não o impediu impediu de ser flexível com respeito às mudanças mudança s que tinham lugar por toda parte, parte, ao redor dele. Ele sabia que era impossível associar as sociar a vontade de Deus com a ordem existente, pois fazer isso significaria sancionar as forças do conservantismo conserv antismo e da reação. reação. A investida característica caract erística do seu tempo contra as ideias e costumes bem estabelecido esta belecidoss não era apenas destrutiva e destituída de sentido. Contudo, é claro que Calvino Calvin o não abandonou aba ndonou tudo às forças da História, como já nos mostrou a discussão a respeito da Lei. Quando ele abraçou a doutrina da Lei Natural, ela mesma estava es tava num tal abandono. Ele não repudiou seu seu ponto de vista de mudança - de Deus ou de de sua Lei Lei - de forma a ser conduzido derrotado à trilha da revolução. Ainda que fosse mais controlado do que Lutero, em sua atitude para com essas forças, Calvino desprezou aqueles que, à margem da Reforma, combatiam com fervor revolucionário aquilo que estava estabelecido. Não obstante obst ante,, é verdade verd ade que Calvino Calv ino tinha tin ha uma visão vis ão aguçada aguç ada para (compreender) (compreen der) o papel da História. Além Alé m do mais, ele foi um homem hom em moderno no sentido de não considerar a História como um movimento de imagem da eternidade. eternidade. Sua recusa em limitar a vontade soberana s oberana do Deus criador não poder po deria ia obstru obs truir ir a História. Hist ória. Para Pa ra Calvino Calv ino,, o sentido sen tido da História His tória resid r esidee nela nel a mesma.4 mesma .422 A História Histó ria e as mudanças mudan ças histórica his tóricass estão incluídas na esfera da atividade ativida de soberana sobe rana de Deus e realizam realiza m os propósitos propósito s de sua von vontade. tade.443 Possuiria então Calvino um princípio bem elaborado de mudanças históricas, históricas, princípio que favorecia a proeminência que ele dava à História sem cair, por um lado, no conservado cons ervadorismo rismo e, por outro, sem cair ca ir numa num a posição revolucionári revolu cionária? a? Teria ele uma clara noção daquilo que constitui a cultura, de modo a poder ver com clareza clarez a como a História e a formação da cultura histórica histórica têm seu lugar luga r dentro da ordem do cosmos, como Deus o criou? criou? Na verdade, ele estava plenamente ciente do que tinha sido feito no passado para a construção de um ponto de vista cristão a respeito da Históri H istória, a, pois lera os Pais da Igreja, Igreja, inclusive Agostinho, que foi foi o primeiro a desenvolver de senvolver aquilo que poderia ser chamado de filosofia cristã da História. História. De fato, ele mesmo desenvolveu um ponto de vista a respeito da História. Contudo, Cont udo, a resposta às questões acima acim a deve ser negativa. Calvino Calvi no não desenvolveu uma filosofia da História no sentido técnico técnic o da palavra. É melhor dizer que Calvino possuía um sentido sumamente afinado da atitude que o cristão deve ter com respeito à mudança mudanç a histórica, um sentido que foi desenvolvido por seu estudo da História, na sua instrução e, especialmente, na sua profunda compreensão c ompreensão do ensino bíblico.
iO
LMLV
liNU f . A S U A l IN UN DO OCIDE OC IDE NTA L I N f L U t N U I A NO M UNDO
E significativo a esse respeito que, antes de sua conversão à fé evangélica, Calvino j á estava estav a plenamente envolvido env olvido naquilo que foi uma das
iO
LMLV
liNU f . A S U A l IN UN DO OCIDE OC IDE NTA L I N f L U t N U I A NO M UNDO
E significativo a esse respeito que, antes de sua conversão à fé evangélica, Calvino j á estava estav a plenamente envolvido env olvido naquilo que foi uma das mais poderosas forças modemizantes modemizante s de seu tempo: o Renascimento humanístico. humanístico. Isso Isso já tinha produzido poderoso impacto nos círculos católicos-romanos. Dá testemunho disso o fato de o líder do humanismo francês, Budé, ser um católico-romano e ter influenciado alguns dos mais chegados companheiros de Calvino. Calvino firma-se firm a-se primeiro como um humanista. Só depois ele alcançou o desenvolvimento que o transformou no maior sistematizador sistem atizador da Reforma. Tendo já colocado seus pés no mundo moderno, o problema de Calvino não seria como entrar na modernidade, mas como se relacionar, ele mesmo e a nova cultura, com as velhas verdades do evangelho, verdades verda des que tinham sido outra vez trazidas à luz pela Reforma, e como interpretar i nterpretar o mundo moderno à luz dessas verdades. Não se deve também ta mbém esquec es quecer er que Calvino, no interesse i nteresse de aplica apl icarr as as verdades do evangelho evangel ho à vida, foi levado à arena da vida vid a prática. prática. Seus princípios não tiveram, a respeito dessas verdades, o ar de irrealismo que caracteriza caracteri za os esquemas ideais que têm pouco ou nenhum contato com a vida real. Há em Calvino um saudável sa udável realismo. Tem sido sido sugerido que seus princípios princíp ios tiveram efeito porque ele estava estav a em contato com as situações situ ações reais da vida e estava em condições condiç ões dc muda m udarr essas situaçõ s ituações.4 es.44 Vemos Vemos Calvino, por exemplo, tentando, tanto quanto possível, repor as Leis Canônicas Canônic as em Genebra, juntam junt ament entee com os princípios princí pios da Lei Lei Romana.4 R omana.45 Vemo-lo em cooperação com Marot, elevando o nível de apreciação pela música no culto.4 culto.46 Vemo-lo entrando no campo da educação, com a fundação da Academia de Genebra, e tentando desenvolver desen volver uma verdadeira concepção cristã da cultura.47 Encontramo-lo, através de sua intensa atividade ativida de literária, elevando eleva ndo a alturas altur as inabituais, inabitu ais, o nível da língua língu a francesa.4 france sa.48 8 N a intr i ntroduç odução ão de se dirige ao rei de uma forma que lembra sua Instit Instituía uíass da religi religião ão cristã , ele se os antigos apologistas, pleiteando o bem-estar bem-es tar dos verdadeiros seguidores do evangelho, mas afirmando, também, de uma forma que evidencia o mais profu pr ofundo ndo interes inte resse se pela pel a situaç situ ação ão polít po lítica ica corre co rrente nte,, que os verda ve rdade deiro iross interesses do Estado só alcançam o progresso quando há verdadeira obediênc obedi ência ia a Cristo e às verdades ver dades de sua Palavra.4 Palav ra.49 9Na verdade, para Calvino, Calvi no, a Palavra de Deus não devia permanecer perm anecer enclausurada enclausura da no coração humano. A energia delas deviam irradiar-se irradiar-se por todo o mundo, em toda vida, incluindo incluindo o domínio da cultura. cultura. No fundo, fun do, cont co ntud udo, o, foi pelo pe lo fato de Calv Ca lvin ino o ter te r pene pe netr trad ado o tão profúndamente na concepção do mundo, que ele foi foi capaz de desenvolver um sentido próprio da História e de sua sua dinâmica. Foi Foi por ter entendido, como
O CALVINISMO COMO FORÇA CULTURAL CULTURAL
29
O CALVINISMO COMO FORÇA CULTURAL CULTURAL
29
Agostinho antes dele, o significado reprodutivo re produtivo da doutrina bíblica da criação, que ele reconheceu a soberania e a providência de Deus sobre todas as coisas, coisas, de modo que coisa alguma escapa esca pa à vontade criadora de Deus. Isso tomou possível, possí vel, para ele, ele , ver ve r que essa vonta vo ntade de se estende esten de a toda História Histó ria e àquilo que é central central à História, ou seja, à atividade formadora formado ra do homem, que é o coração coraçã o do desenvolvimento desenvol vimento cultural. Quem se coloca na posição de Calvino não tem necessidade de conceber a atividade cultural humana contrastada contr astada com a presumida esfera esfe ra da atividade divina. A cultura pode ser se r concebida como um aspecto aspec to da atividade humana, distinta da natureza, mas não como independente da Lei divina, divina, do plano divino e da divina vocação. A ativida atividade de cultural humana human a pode ser concebida como uma resposta à chamada de Deus, do mesmo modo como o é toda a vida, e pode ser ser julgada julg ada quanto a se é ou não levada a efeito de acordo com a vontade do Deus criador. O que se exige é uma reconstrução reco nstrução da ideia de cultura, ideia concebida conceb ida dentro do contexto da revelação revelaç ão divina, contexto dentro dentr o do qual qual a cultura se toma tom a plena de sentido. A atividade cultural humana, levada a efeito em obediência obediê ncia à Lei de Deus, é uma expressão de sua vontade. Está na linha do pensamento de Calvino dizer diz er que aquilo que flui flui da cultura, tem um lugar no plano de Deus, Deus, uma vez que se relaciona com o fim desta era e com a vida de um novo céu e de uma nova no va terra.
2 A PROPAGAÇÃO DO CALVINISMO NO SÉCULO 16
A comunicação é sempre uma questão de grande importância em qualquer civilização ou cultura, mas tem se tomado tomad o mais importante do que que comumente em nossa própria sociedade. A imprensa, o rádio e a televisão desempenham desemp enham grande grand e papel em nossas decisões e, de uma forma form a geral, geral, em nossa maneira de pensar. Com as facilidades de comunicação que temos hoje, e que o homem jamais jam ais teve em tempos passados, temos a tendência de achar que o tempo em que vivemos é o único período em que a comunicação, a propaganda - ou como quer que a chamemos é valorizada de fato fato.. Contudo, quando q uando nos voltamos para o século 16, não temos como evitar evi tar a surpresa ante a maneira manei ra como informações informaç ões e ideias de todos os tipos circulavam pela pel a Europa. Euro pa. Um dos exemp exe mplo loss mais mai s marca ma rcante ntess dessa des sa difusã dif usãoo de ideias idei as toma-se tom a-se visível visível na forma como o Calvinismo se espalhou a partir de uma pequena cidade suíça, suíça, Genebra, por grande parte da Europa, Europa, indo dos braços mais baixos do Danúbio até as regiões nórdicas da Escócia. O Luteranismo também tam bém se espalhou bastante rapidamente rapidament e nos primeiros tempos da Reforma, mas logo começou a recuar como maré vazante, com exceção feita apenas às regiões mais teutônicas como a Alemanha e Escandináv Escandinávia. ia. As ideias de Calvino, por outro lado, penetravam e, frequentemente, suplantavam as de Lutero em regiões tão diversas quanto quan to as da França, Escócia, Holanda e Hungria. Hungria. Apesar das dificuldades da geografia física, física, dos obstáculos causados por oposição política e pela perseguição instigada por autoridades católicas, católicas, o Calvinismo Calvinismo conseguiu expandir sua influência influência e ampliar suas fronteiras fronteiras a ponto de ser considerado o inimigo número um da Igreja Católica Romana e dos governos absolutistas. absolutistas. Embora E mbora haja inúmeras razões que q ue demonstram isso, isso, um fator muito importante é constituído pela forma f orma e pelos meios utilizados na propagação do Calvinismo Calvinismo por toda a Europa do século 16 16.
A PROPAGAÇÃO DO CALVINISMO CALVINISMO NO SÉCULO 16
31
A PROPAGAÇÃO DO CALVINISMO CALVINISMO NO SÉCULO 16
31
Ao tentarmos compreender a questão da comunicação, devemos reconhecer reconhece r que a transmissão transmissão de ideias depende muito da sociedade em e m que essas ideias são expressas. expre ssas. Temos tido muito bons exemplos exemp los deste fato nos jargõe jar gõess criados por po r estudantes estuda ntes universitá univ ersitários rios e pela geração geraçã o hippie dos anos 1960 19 60.. Além disso, a questão da tecnologia tecnolo gia da comunicação comunic ação e da transmissão de ideias na sociedade hoje tem importância crucial. Haja vista que hoje o computador está assumindo uma função completamente revolucionária nesse mesmo campo. No entanto, dada a técnica técnic a dessa maneira de comunicar, ela é compreendida por muito poucos, ou seja, apenas por aqueles que foram tecnicamente treinados para usá-la. usá-la. Dessa forma, para compreender o sucesso sucesso da transmissão das ideias de Calvino e para explicar exp licar parcialmente o sucesso obtido em divulgá-las, é necessário que olhemos primeiro os antecedentes sociais da Reforma e o desenvolvimento dos meios de comunicação. comunicação. Desenvolvimento no final do período medieval e no início dos tempos modernos
Os dois séculos que se passaram entre 1300 e 1500 foram séculos de mudanças rápidas, e mesmo revolucionárias, na sociedade da Europa Ocidental. Se Petrarca ou Dante pudesse voltar para conversar com Erasmo teria se encontrado em em um mundo completamente completament e diferente daquele que havia conhecido. conhecido. De um lado, a Europa havia sofrido o ataque devastador da peste negra, ou peste peste bub bubôni ônica, ca, que matou um terço terço da popu populaçã laçãoo de algun algunss pa paíse íses. s. Essa tragéd tragédia ia produ produziu ziu efeit efeitos os e implic implicaçõ ações es de longo longo alca alcanc nce. e. Precisa Precisamo moss nos lembrar lembrar também também de que foi durante esses séculos que eclodiu a Renascença, que o Grande Cisma e o Movimento Conciliatório na Igreja seguiam se guiam seu curso e, fmalmente, fmalmente, que descobertas geográficas modificaram muitas das perspectivas dos europeus ocidentais ocidentais - inclusive a descoberta descoberta da América América e a circunavegação do Cabo da Boa Esperança, e a abertura posterior de um caminho direto para o distante distante Oriente. Por volta de 15 1500 00,, a Europa era um continente diferente, diferente , com uma sociedade fundamentalmente fundamental mente modificada. Um dos efeitos da peste negra foi o declínio da economia na Europa Ocidental, quando a demanda de bens, assim como a mão-de-obra que os produzia. produz ia. Contudo, Contud o, por volta volt a da metade meta de do século sécu lo 15, na medida medid a em que as pessoas se tomava tom avam m mais resistentes resisten tes à doença, as populações popula ções começ co meçaram aram a crescer e, mesmo que seu número não tenha chegado aos níveis anteriores à praga prag a - senão quand quandoo o século 16 já ia bem adianta adi antado do - , a indústria indú stria e o comércio comérci o começaram começa ram a se recuperar. Novas técnicas técnic as criadas nas indústrias de manufatura de tecidos de lã, na mineração do carvão e na produção de
32
C AL AL VIN O E A SU SU A IN IN FL FL U Ê N C IA N O M UN UN D O OC ID EN ENT AL
armamentos, tudo contribuía para estimular a economia; especialmente nos
32
C AL AL VIN O E A SU SU A IN IN FL FL U Ê N C IA N O M UN UN D O OC ID EN ENT AL
armamentos, tudo contribuía para estimular a economia; especialmente nos países do noroeste, como a Inglaterra e Holanda. Por causa disso, aumentou a necessidade de um fluxo maior de dinheiro, dinheiro, resultando no aperfeiçoamento dos métodos de financiamento e no surgimento de importantes empresas de operações bancárias, como a dos Médici, de Florença e a dos Fuggers, de Augsburgo. Todos esses fatores contribuíram para a expansão geral geral do comércio depois de 1450, o que levou, por sua vez, à formação de uma rede de comunicações que desempenharia des empenharia um papel muito importante na transmissã transmissãoo de ideias durante o século 16.' 16.' Essa rede surgiu também em função das mudanças de classe que estavam ocorrendo em algumas regiões da Europa, Europa, em e m consequência do desenvolvimento econômico. Apesar de sempre ter havido mercadores e artesãos aos quais podemos chamar chama r de classe média, por estarem entre a nobreza nobrez a e a classe classe dos servos, não foi senão na última parte do século sé culo 15 que a verdadeira verda deira classe média começou a surgir. surgir. Em vez de alguns poucos pou cos comerciantes comercia ntes e banqueiros, um número muito maior de homens interessados em comércio, mesmo que em escala bastante pequena, começou a desem-penhar essa função na sociedade. Ao noroeste da Europa, em países como Inglaterra, Holanda e Alemanha Ocidental, a nova classe de homens começava a desalojar desaloj ar a nobreza de sua posição de comando da sociedade.2 Enquanto a nobreza sofria por causa da inflação que grassava, a nova classe comercial vicejava em decorrência da expansão expansã o econômica econômic a e se toma to mava va o suporte suporte de reis reis que tinham tinham uma necessidade cada vez maior maior de dinheiro vivo. vivo. Politicamente, os séculos 14 e 15 viram o rápido crescimento de um sentimento de nacionalismo nacional ismo em muitas regiões. Foi o período do esforço de expansão dos ingleses, tan tanto to nas ilhas Britânicas com comoo na França, do outro lado do Canal, esforços que resultaram no desenvolvimento desenvolvim ento e na consolidação do sentimento nacionalista nacionalist a não apenas dos ingleses, mas também dos franceses france ses e escoceses. Já no final do período, período, o nacionalismo nacionali smo espanhol fortaleceu-se na luta contra os mouros. mouros. Esse nacionalismo nacionali smo popular, popular, por sua vez, auxiliou o surgimento do que veio a ser conhecido como as “novas monarquias” mona rquias”.. Os monarcas das nações em desenvolvimento, desenvolvim ento, com o objetivo de consolidarem consolidare m seu poder, poder, tanto dentro de seus próprios países como na oposição oposiçã o a inimigos externos, precisavam de uma administração administra ção e de exércitos que só podiam ser s er mantidos mantidos com o apoio financeiro financeiro da nova classe média.3 Dessa forma, o equilíbrio político do poder estava começando a se modificar em alguns países. Outra mudança, que ocorreu entre e ntre 1300 1300 e 1500 1500 teve lugar na orientação do pensamento ocidental. ocidental. A teologia de Tomás de Aquino, Aquino, com sua aceitação da realidade dos universais, universais, nos quais particip participavam avam os particulares, perdeu perde u a
A PROPAGAÇÃO DO CALVINISMO NO SÉCULO 16
33
A PROPAGAÇÃO DO CALVINISMO NO SÉCULO 16
33
primazia primazia com o surgime surgimento nto de ideia ideiass “modernas” “modernas” anu anunciad nciadas as por homens como como Marsílio de Pádua e Guilherme de Occham. O individual ou o particular passou a ser considerado a única entidade real, ao passo que os universais passaram a ser considerados apenas classificações nominais. nominais. Esse novo modo de pensar foi foi ainda ai nda mais enfatizado com o interesse demonstrado pelo pensamento pensament o clássico expresso nas então recém-descobertas ou recém-estudadas recém-estuda das obras de autores gregos e latinos. O humanismo renascentista, renascentista , com sua sua ênfase sobre o indivíduo, indivíduo, particularmen particu larmente te sobre homem de “ v /V/ /V/m” , deu uma força adicional ao ponto de vista de que o indivíduo é a figura central de qualquer qualqu er conceito a respeito do homem e de suas atividades, visão essa demonstrada por Pico de la Discurso sobre a glória do do homem.4 homem.4 Mirandolla em seu Discurso Todas essas mudanças tiveram influência sobre o padrão de comunicação. Certamente, a Idade Média tinha seu próprio métod métodoo de transmitir ideias, mas esse método alcançava um número relativamente pequeno de pessoas pessoas e, por isso, isso, o movimento movimento de ideias ideias era bastante bastante limi limitad tado. o. Considerand Considerandoo que a grande maioria m aioria das pessoas pessoa s era analfabeta, a sociedade sociedad e medieval era uma sociedade basicamente basicamente oral e visual. visual. A Igreja transmitia seus ensinamentos às pessoa pessoass por meio de quadros, quadros, imagens e cerimônias. Mesmo a pregação não era comum. Normalmente, quando os governos precisavam registrar muitos atos, privilégios e eventos usavam os serviços do clero, a única classe classe letrada. letrada. As novas ideias desenvolvidas desenvolvid as nas escolas daqueles daquele s dias por pensadores revolucionários, como Pedro Abelardo, eram geralmente transmitidas por alunos que haviam estudado com esses homens. Os livros e documentos daquele tempo, produzidos em em pergaminho até 13 1300 00,, eram normalmente normalment e escritos em latim. Dessa forma, forma, sua leitura era limitada àqueles que tinham educação universitária e dinheiro suficiente para comprar artigos muitos caros. caros. O século 15 assistiu a uma mudança radical de mentalidade. mentalidade . De um um lado, a redescoberta da literatura clássica despertou um novo interesse pela educação educaç ão e pela cultura, interesse fortalecido pelo uso do pap papel el na produção de livros, livros, fato que reduziu consideravel con sideravelmente mente seu preço. Além disso, apesar dos conflitos conflitos internacionais constantes, o surgimento de Estados nacionais facilitou facilitou um pouco a circulação pela Europa, Europa, resultando no aumento do número de estudantes que se deslocava de uma universidade para outra. O fato de Copémico, depois de estudar na Polônia, poder ir estudar Ciência na Universidade de Pádua, na Itália, demonstra quanto a situação estava se modificando. À medida que a classe média crescia, era indispensável ind ispensável que os que a integravam tivessem ao menos uma educação elementar elemen tar para poderem comerciar comerci ar e negocia negociar. r. Um novo grupo de leitores começou a surgir; surgir; contudo, um público capaz de ler l er no vernáculo e não no latim das universidades.5 univers idades.5
34
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL OCIDENTAL
Tudo isso fornecia as bases para o mais revolucionário desenvolvimento de senvolvimento
34
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL OCIDENTAL
Tudo isso fornecia as bases para o mais revolucionário desenvolvimento de senvolvimento do século 15: a invenção da imprensa. No início in ício do século havia sido divul gado o uso de blocos de madeira entalhada para a reprodução de ilustrações e de textos relativamente relativame nte curtos. Apesar de os livros poderem ser repro duzidos dessa maneira, ma neira, sua publicação era lenta e bastante dispendiosa. Por volta de 1450 1450,, no entanto, que Johannes Gutenberg, Gutenb erg, um alemão de Mainz, desenvolveu uma um a liga de metal que podia ser usada para fazer tipos móveis. O resultado foi uma verdadeira revolução em todo o processo de transmissão e comunicação comunica ção de ideias. ideias. Trabalhando primeiro em Mainz e depois em Estrasburgo, Gutenberg conseguiu consegu iu uma reputação bastante rápida para suas suas publicações e, conse quentemente, outros indivíduos dessas duas cidades passaram a se dedicar ao ofício de impressor. impressor. A partir da Alemanha, as técnicas do novo nov o processo logo se espalharam para a Itália, e Veneza se se tomou tomo u o principal centro cen tro de obras impressas. Pouco tempo depois, outras cidades, como Basileia, na Suíça, seguiram seguira m seu exemplo, de forma que por volta de 1500 1500 a imprensa impren sa se tomara relativamente comum. Estima-se que entre 1450 e 1500 tenham sido produzidos entre dez mil a quinze mil textos diferentes, atingindo um total de quinze a vinte milhões de cópias. O uso do papel e do tipo móvel deu à produção produção de livros um caráter completamente comple tamente diferente do que tivera antes de 1450. Além de tomar tom ar possível a produção de livros baratos e em grande quantidade, a imprensa contribuiu para o surgimento de uma revolução intelectual em muitos outros aspectos também. Embora seja verdade que, até 1500 1500,, a maioria dos livros impressos impress os eram antigas obras de autores latinos, l atinos, obras novas começaram a surgir com frequência cada vez maior m aior nas línguas vernáculas. Isso significa que os novos métodos de produção de livros visavam aos novos leitores. Essas obras não eram mais produzidas produzida s só para as pessoas que tinham formação universitária, universitária, mas também para p ara aquelas que só podiam podi am ler le r em sua língua materna. Talvez, de igual importância, importân cia, como apontado por Marshall McLuhan, uma nova disposição de espírito foi gerada pela revolução da imprensa. imprensa. Conquanto seja um pouco difícil pensar segundo segundo o padrão linear de de pensamento de McLuhan, resta pouca dúvida de que a ênfase passou a ser dada muito mais à palavra escrita es crita e à sua compreensão intelectual. A comunicação visual tomou-se menos importante do que a capacidade de compreender compreen der o raciocínio raciocínio intelectual ou mesmo abstrato.6 A nova classe de leitores, tendo recebido receb ido um tipo de treinamento diferente daquele que era dado um século século antes, começava agora a pensar pens ar em diferentes diferentes
A PROPAGAÇÃO PROPAGAÇÃO D O CALVINISMO CALVINISMO NO SÉCULO 16
35
A PROPAGAÇÃO PROPAGAÇÃO D O CALVINISMO CALVINISMO NO SÉCULO 16
35
termos, podendo podendo avaliar e absorver absorve r novas ideias. ideias. Além disto, com com a possibilidade de produzir livros mais rápida e economicamente, as novas ideias podiam ser espalhadas mais facilmente, alcançando classes sociais que, até aquele momento, haviam estado à margem de tais questões. Mesmo que muitas pessoas pesso as não pudessem pudess em ler, outra outrass liam para elas, dando-lhes dando -lhes condição c ondição para aceitar e avaliar não apenas a necessidade de instrução, mas também as ideias contidas nos livros. Essa foi a base sobre a qual se deu a transmissão transm issão dos ensinamentos dos reformadores protestantes e, particularmente, dos de João Calvino. Desenvolvimento do século 16
O século 16 viu o clímax do desenvolvimento dos dois séculos precedente prece dentes, s, nos quais o novo padrão cultural se tomar tom araa completam comple tamente ente declarado, declarado, preparando o advento da Idade Idade Moderna. Assim, para pa ra entendermos o que aconteceu no século 16, precisamos ter te r em mente o que aconteceu antes e reconhecer reconhe cer que novas forças e elementos estavam influenciando a cultura e a civilização da Europa Ocidental. Uma das características caract erísticas do século 16 foi foi a aceleração do processo que tivera início cerca de cinquenta ci nquenta ou cem anos antes. A inflação, inflação, por exemplo, parece ter sido acelerada, acelerada, em parte devido à afluência do ouro vindo do Novo Mundo, aliada à reabertura reabe rtura das minas de prata do Tirol, Tirol, de onde os Fuggers de Augsburgo retiraram muito de sua riqueza. riqueza. O resultado dessa espiral inflacionária, inflacionária, aliada ao aumento da população e a outros fatores, foi a aceleração do desenvolvimento desenvolvimento do comércio comércio com o consequente consequente estímulo ao crédito, crédito, operações operações bancá bancária riass e inve investi stime mento ntos. s. Co Cons nsta, ta, ainda ainda,, qu quee com a economia economia europeia europeia dirigi dirigida da para o Oeste mais do que para o Oriente Orie nte Próximo, e devido ao rápido desenvolvimento econômico de regiões como a Holanda, o Vale do Reno e partes das Ilhas Britânicas, Britân icas, o peso da econom eco nomia ia europeia euro peia voltou-se volto u-se mais rapidamente do que antes para o Noroeste.7 Essas mudanças econômicas produziram mudanças correspondentes nas relações das classes sociais assim como em e m sua distribuição geográfica. No decorrer deco rrer do século 16 16,, a nobreza nobr eza começou com eçou a sentir que sua posição econômica se tomava mais difícil a cada dia, pois, apesar de ser rica em terras, tinha pouco dinheiro vivo. Por P or essa razão, com frequência, os nobres estavam, direta ou indiretamente, na dependência dependên cia financeira dos elementos da população que se dedicavam dedicav am ao comércio. Diretamente, Diretamente , eles podiam obter empréstimos empréstimos dos comerciantes ou banqueiros e, indiretamente, indiretamente, podiam se alistar em exércitos mercenários ou no serviço dos monarcas cujas rendas tinham
36
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA INFLUÊNCIA NO MUN DO OCIDENTAL
uma proporção proporç ão cada vez maior ma ior das taxas taxas cobradas à classe média. Isso significa
36
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA INFLUÊNCIA NO MUN DO OCIDENTAL
uma proporção proporç ão cada vez maior ma ior das taxas taxas cobradas à classe média. Isso significa que “quem paga a conta, dá o tom” . As classes classe s mercantis, aliadas a grupos de profissionais profis sionais liberais, como os advogados advo gados,, estavam desta des ta forma ganhand gan handoo cada vez maior m aior influência influência sobre o governo, fenômeno fenômen o particularmente visível nas regiões do Noroeste.8 No roeste.8 As mudança m udançass sociais se refletiam na arena política, política, mesmo mesm o nos países onde o absolutismo da nova monarquia se tomara mais m ais óbvio. óbvio. A dependência que o imperador imperado r Carlos V tinha do apoio financeiro financeiro dos Fuggers, para a guerra contra os turcos ou contra os luteranos, e a dependência depen dência que Francisco I tinha tinha dos comerciant com erciantes es de Paris, tanto tanto para manter seu poder pod er dentro de seu próprio país paí s quant qu antoo para pa ra a guerra gue rra cont co ntra ra o imperado impe rador, r, dem d emon onstr stram am a impor imp ortân tância cia que a classe dos comerciantes e banqueiros havia assum ido para os monarcas, que já não podiam pod iam mais depender dep ender de serviços feudais ou de seus vassalos, quer na qualidade de soldados, soldados, quer na qualidade de conselheiros. conselheiros. Na N a verdade, foi a recusa dos banq ueiros em fornecer mais fundos p ara o rei francês, de um lado, e para o imperador, de outro, outro, que pôs fim à guerra franco-espanh fra nco-espanhola ola po p o r volta vol ta de 1559, com c om o Tratad Tra tadoo de Cha C hate teau au-C -Cam ambr bres esis. is. O utros utr os mona mo narc rcas, as, como Henrique H enrique VIII da Inglaterra e os Stewarts da Escócia, todos enfrentavam enfren tavam os mesmos problemas.9 Quase se poderia pod eria afirmar que foram os constantes conflitos do século 16 que tomaram possível, à classe média, adquirir tanto poder. Até 1559, França e Espanha, e depois o Império, estavam quase que constantemente lutando lutando um contra o outro, estando a Inglaterra, Inglaterra, a Escócia Escó cia e a Dinamarca sempre envolvidas, ora de um lado, lado, ora de outro. O envolvimento do papado nesses conflitos con flitos acabou por po r minar sua influência espiritual. espiritua l. A partir de 1560 1560 o tipo de conflito começou come çou a mudar, pois esse era o período de guerras religiosas. religiosas. De fato, tinha havido lutas na Alemanha Alem anha entre os luteranos e as forças imperiais nas décadas de 1530 1530 e 1540, 1540, mas esses conflitos eram bastante intermitentes, ao passo que as guerras religiosas na Fran ça e Holanda, com a participação adicional adicional da Inglaterra Inglaterra e Escócia, Escócia, ocuparam a maior maio r parte parte dos últimos quarenta anos do século 16.'° Por trás desses conflitos, conflitos, em todo to do o decorrer d ecorrer da última parte do século 16, havia diferenças e conflitos ideológicos. Novas ideias estavam sendo disseminadas à medida que a Renascença alcançava seu apogeu no pens pe nsam amen ento to literário lite rário,, artístico artí stico,, políti po lítico co e social. socia l. Não N ão é por acaso ac aso que q ue gran g randes des trabalhos como os de Michelangelo, na n a Capela Cistina, a conclusão da Basílica de São Pedro, a obra O príncipe, de Maquiavel, e The Courtier, de Castiglione, todos pertencem ao século 16. Na década déc ada de 1540 1540,, surgiu a obra de Copémico Copém ico sobre a revolução dos astros e o livro de Vesalius sobre o tecido do corpo
A PROPAGAÇAO PROPAGAÇAO DO CALV1NISMO CALV1NISMO NO SÉCULO 16
37
humano. Estes foram for am dois tratados científicos revolucionários que causaram, à Igreja Igreja Católica Roma Ro mana na e também a algumas igrejas protestantes, sérias
A PROPAGAÇAO PROPAGAÇAO DO CALV1NISMO CALV1NISMO NO SÉCULO 16
37
humano. Estes foram for am dois tratados científicos revolucionários que causaram, à Igreja Igreja Católica Roma Ro mana na e também a algumas igrejas protestantes, sérias dificuldades intelectuais. intelectuais. Com o surgimento da imprensa, im prensa, essa nova mentalidade estava se espalhando velozmente, em especial entre a crescente classe média, agora um público leitor que que acolhia de bom grado gra do a visão humanista do indivíduo como sendo sen do o responsável por seu próprio progresso por meio do uso de sua raz ra z ão .11 No N o ent e ntan anto to,, a m a ior io r das da s mud m udan ança çass int i ntel elec ectu tuai aiss vei v eioo com c om a Ref R efor orma ma.. Nov enta e No N o dia 31 de ou outu tubr bro, o, segu se gund ndoo a trad tr adiç ição ão,, L uter ut eroo preg pr egou ou suas sua s Noventa cinco teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg. Apesar de ele ter feito isso isso inicialmente apenas apena s como um exercício acadêmico, desafiando, em latim, a todos os que viessem para um debate sobre aqueles pontos, logo se tomou claro que esse gesto havia gerado um conflito, conflito, na verdade, uma revolução muito maior do que ele jamais jam ais poderia ter imaginado. imaginado. Sua declaração de que a Igreja Católica e suas doutrinas estavam em conflito com os ensinamentos das Escrituras E scrituras causaram causar am tal furor, na Aleman Ale manha ha e além de suas fronteiras que tanto ele quanto a Igreja foram tomados de surpresa. surpresa. A pergunta que surge então, é: Como e por que o fato de Lutero ter divulgado suas teses - um estratagema acadêmico comum para provocar debates - causou tamanho tumulto? Provavelmente, a razão fundamental fundamental foi foi o fato fato de Lutero ter sido primeiramente, prime iramente, e antes de de mais nada, um pregador que proclamava suas ideias, e dentro da Igreja, para pessoas do povo. Ele sustentava que apenas pela pregação as Escrituras se tomavam a palavra viva. Além disso, ele tinha dois grupos de aliados na dissem inação de suas ideias: ideias: estudantes estu dantes de Wittenberg Wittenbe rg e pregadores pregad ores treinados trein ados e enviados de sua universidade para viajar pelo país pregando as doutrinas que haviam aprendido nas aulas de Lutero. L utero. Tão importante quanto os pregadores e professores das doutrinas de Lutero, foi a palavra palav ra impressa. Uma U ma das razões para a rápida disseminação Nov enta e cinco teses por toda a Saxônia foi o fato de um arrojado das Noventa impressor local ter conseguido que o documento fosse traduzido para o alemão. alemão. Em seguida, imprimiu-o im primiu-o em grande quantidade e vendeu-o por po r todo todo o país país.. Comerciantes, soldados e outros viajantes viajantes que passavam passav am pela Saxônia obtinham cópias que levavam para suas próprias próprias terras. terras. Quer Q uer porque concordassem com Lutero ou comprassem as cópias só por curiosidade, o fato é que as ideias de Lutero foram divulgadas ampla e rapidamente. rapidame nte. Contudo, Contud o, Lutero não par p arou ou ne ness ssas as tese te sess e tom to m ou ou-s -see um pro p rolíf lífer eroo p an anfl flet etár ário io par p araa o resto re sto de sua vida, soltando panfletos como balas de canhão a cada duas semanas, para desconforto do inimigo e auxílio dos amigos e de seus defensores.
38
C A LV INO E A SU SUA IN IN FL FL U Ê N C IA N O MU MU ND ND O OC OC ID E NTA L
38
C A LV INO E A SU SUA IN IN FL FL U Ê N C IA N O MU MU ND ND O OC OC ID E NTA L
Lutero, no entanto, não era um pensador pensa dor ou escritor sistemático. Ele resolvia os problemas à medida que surgiam, mas nunca elaborou uma afirmação sistemática sis temática de sua posição teológica que, por essa razão, razão, precisa ser montada a partir de seus panfletos, de seus comentários e de suas “conversas ao redor da mesa”. A sistematização da Reforma luterana foi ommun unes es feita por Philip Melanchthon, que tentou t entou estabelecer, estabelecer, com seu Loci Comm (1521), a primeira prime ira teologia sistemática sist emática luterana. Contudo, Contudo , apesar apesa r de ter sido sido um trabalho muito importante no sentido de apresentar uma visão sistemática da fé evangélica, sua obra parece nunca ter tido grande popularidade fora da Alemanha. Escrita E scrita originalmente em latim, latim, nunca foi traduzida para muitas línguas vernáculas como com o foram muitas das produç produções ões de Lutero. Os escritos de Lutero e de Melanchthon, no entanto, divulgaram as novas doutrinas amplamente apesar de serem frequentemente atacados e reprimidos por autoridades políticas e eclesiásticas antagônicas.1 antagôn icas.12 Enquanto isso, a Reforma tomava corpo na Suíça, onde Zuínglio liderava um movimento pró-Reforma pró-Refo rma em Zurique, obtendo relativo sucesso, pois cons c onseguiu eguiu,, inclusive incl usive,, persu pe rsuad adir ir algumas algu mas das d as outras outr as cidade cid adess da região regiã o germano-suíça, germano-suíça, como Basiléia Basiléia e Berna - cidades cidades de língua língua francesa francesa - a livrarem-se do jugo jug o da d a Igreja de Roma. Ele também entrou em conflito com Lutero sobre a doutrina da presença de Cristo no Sacramento da Ceia do Senhor. Senhor. Como outros homens envolvidos e nvolvidos no movimento reformado, escreveu e screveu alguns trabalhos curtos que não parecem ter gozado de grande popularidade em seus próprios dias. Envolvendo-se Envolvendo -se nos conflitos políticos com o cantão cantão suíço, Zuínglio Zuíngli o morreu mor reu na Batalha Batal ha de Kappel em 1532.13 Henry Bullinger, o homem que substituiu Zuínglio, teve uma vida bem mais longa e uma influência bem maior do que a de seu predecessor. Oferecendo proteção a protestantes perseguidos em outros países, foi capaz de influenciar muitos que tinham vindo em busca de segurança e de instrução em sua cidade. Quando esses refugiados voltavam para seus lares, Henry Bullinger mantinha com eles constante correspondência, tendo escrito mais cartas que todos os outros reformadores reformad ores reunidos. Para aumentar a extensão da influência do Protestantismo, Protestantismo, Bullinger Bu llinger também escreveu bastante e, apesar Decades, s, que de nunca ter produzido uma teologia sistemática completa, sua Decade consistia em estudos bíblicos, e seus muitos panfletos, exerceram ex erceram influência influê ncia sobre protestantes tão distantes dali quanto os reformadores ingleses e os húngaros húngaros.. Bullinger Bullinger,, como os outros reformadores, produziu impacto sobre a consciência consc iência religiosa relig iosa da Europa Ocidenta Ocid ental.1 l.14 Enquanto isso, na pequena cidade de Genebra, situada junto ao lago Leman, na verdade parte do ducado de Saboia, os acontecimentos acontecime ntos vinham se
A PROPAGAÇÃO DO CALVIN1SMO CALVIN1SMO NO SÉCU LO 16
39
dirigindo para a Reforma, não obstante ter surgido primeiro como uma um a revolta
A PROPAGAÇÃO DO CALVIN1SMO CALVIN1SMO NO SÉCU LO 16
39
dirigindo para a Reforma, não obstante ter surgido primeiro como uma um a revolta dos cidadãos contra a autoridade a utoridade do bispo. bispo. Quanto de interesse religioso religioso os cristãos tinham, realmente, realme nte, é difícil difícil avaliar. avaliar. Mas o fato fato é que expulsaram seu bispo bispo e, ao mesmo tempo, com a ajuda dos habitantes de Berna, seus vizinhos de língua francesa, forçaram o duque de Saboia a fugir para o norte. norte. Em 15 1535 35,, um certo Guilherme Farei, pregador pr egador protestante refugiado que viera de Paris, chegou a Genebra onde, imediatamente, tomou providências providência s no sentido de implantar implantar uma reforma refo rma religiosa com resultados que ele, provavelm provav elmente ente,, nunca nunc a previra.1 previr a.155 A disseminação das ideias de Calvino
Caso algum leitor deste capítulo venha a pensar que gastamos um tempo muito longo para ch chegar egar ao tema aqui apresentado, é necessário levar em conta dois fatos. Primeiro não é possível compreender a disseminação das ideias teológicas de Calvino ou mesmo suas outras ideias a menos que tenhamos alguma noção do clima social e intelectual no qual ela ocorreu. Foi o ambiente radicalmente radical mente transformado transf ormado que possibilitou a difusão rápida e ampla de suas ideias. ideias. E só na medida em que conhecemo conhe cemoss a forma como as ideias de outros reformadores foram transmitidas é que podemos compreender como, num espaço de tempo menor do que vinte anos, as ideias de Calvino se propagaram mais amplamente do que as de muitos, senão de todos os outros outros reformadores. reform adores. Para que possamos compreender as bases da influência de Calvino, precisamos nos reportar à sua educação inicia inicial.l. Em primeiro lugar, lugar, estudando estudando na Universidade de Paris, provavelmente sob a orientação de homens como John Major, o escolástico escocês, ele se interessou pelas disciplinas humanistas humanistas à medida que se preparava para ingressar no clero. No entanto, devido a uma controvérsia que seu pai teve com o bispo de Noyon, para par a quem vinha trabalhando como tabelião, Calvino, de repente, recebeu recebe u ordens para deixar o sacerdócio e mudar para Orleans, onde poderia receber treinamento como advogado. Em Orleans e Bourges, Calvino recebeu instrução sobre Direito do professor tradicionalista Pierre de L’Estoile e do humanista italiano italianoAndréa Alciat. Alciat. Igualmente importante é o fato fato de Calvino poder pode r ter-se convertido ao Protestantismo enquanto estudava em Orleans Orl eans ou Bourges, de forma que, após a morte de seu pai, pai, Calvino Calvino retomou a Paris para continuar ali ali seus estudos humanistas. Sua perspectiva agora era era bastante diferente da que tivera ao sair sair.. Nos primeiros primeiros tempos de sua vida cristã cristã,, Calvino Calvino recebeu a incumbênci incumbênciaa de escrever o prefácio de uma Bíblia francesa traduzida do latim por um
40
CALVINO CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTA OCIDENTAL L
primo pri mo seu, Pierre P ierre Robe Ro bert rt Olivéta Oliv étan, n, e isso iss o deve dev e ter ocorr oc orrido ido aprox ap roxim imad adam amen ente te
40
CALVINO CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTA OCIDENTAL L
primo pri mo seu, Pierre P ierre Robe Ro bert rt Olivéta Oliv étan, n, e isso iss o deve dev e ter ocorr oc orrido ido aprox ap roxim imad adam amen ente te na mesma mesm a época em que ele publicava seu primeiro trabalho importante, o seu comentário sobre o De Clementia, do filósofo romano Sêneca. Sêneca. Pouco depois disso, Calvino iniciou sua participação participação na disputa teológica ao escrever um ataque à doutrina que ensinava a “morte da alma”, anunciada por um dos grupos anabatistas. O ma is importante nesse mom ento, no entanto, foi foi seu peque peq ueno no livro liv ro de sete capítulos, capítulo s, escrito escr ito para par a auxilia auxi liarr grupos gru pos de estudo, estud o, livro no qual divulgava divulg ava doutrinas bíblicas visando defendê-las de interpretações errôneas. errôneas. Esse livro era a sua Instituição Institu ição da religião religião cristã, publicado em B asileia em 1536. 1536. Era o início de uma um a longa série de sete edições ediçõe s revistas e aumentadas aumenta das até 1559. A intenção original de Calvino era passar sua vida estudando e escrevendo sobre teologia e filosofi filosofia; a; contudo, não seria assim. assim. Quando Q uando de passage pas sagem m por Genebra Gene bra foi, na verdade, verdade , detido por Guilherme Guilh erme Farei, que insistiu com cie para que o ajudasse a implantar a Reforma naq uela cidade. cidade. Apesar de relutante, relutante, Calvino, C alvino, afinal, afinal, consentiu. Ele e Farei, Farei, no entanto, buscavam buscav am uma um a Reforma tão absolutamente completa, não só em questões de fé como também tamb ém nas de moral, ou seja, nas de comportam ento e costumes. P or isso, isso, em 1538, 1538, foram obrigados a retirar-se. retirar-se. Calvino, sem dúvida, recebeu rec ebeu sua expulsão com co m grande prazer, prazer, esperando encon en contrar trar em Estrasburgo a paz e o sossego para estudar. estudar. Isso, no entanto, não aconteceria, acontec eria, pois Martin Bucer B ucer constrangeu-o constran geu-o a assumir o pastorado da congregação cong regação de refugiados franceses naquela naque la cidade, cidade, fazendo-o também participar de alguns encontros entre protestantes protestantes e católicos católicos que ocorriam naquela época. Para completar, quando o cardeal Sadoleto escreveu ao povo de Genebra, indu zindo a população popu lação a retom ar ao aprisco romano, esta mand ou a carta para Calvino pedin do-lhe que a respondesse. Ele o fez e com grande eficiência. Em parte, como consequência conseq uência da resposta de Calvino a Sadoleto, em em 1540, 1540, momento em que Genebra G enebra se encontrava em estado de virtual anarquia, o Conselho da cidade decidiu cham ar Calvino de volta para ser seu orientador e guia. guia. Quando Q uando Calvino Ca lvino respondeu responde u que não desejava retomar, as autoridades de Genebra escreveram a Farei, que havia partido para Lausane, e ele, fmalmente, persuadiu Calvino C alvino a retom ar a Genebra Gen ebra em 1541 1541.. Depois do seu retomo, retom o, Calvino perm aneceu em Genebra G enebra até sua sua morte, morte, em 1564 1564.. Foi dessa peq p eque uena na cid ci d ade ad e - na ca cabb ec ecei eira ra do rio Róda Ró dano no,, cid ci d ade ad e de pou po u co pres pr estí tígi gioo econômico, político e intelectual, intelectual, que qu e Calvino exerceu grande influência sobre sobre a Reforma religiosa da E uropa Ocidental, sentindo-se, sen tindo-se, ainda hoje, os efeitos efeitos desse movimento. movimento. Em seus cinquenta cinquenta e cinco anos de vida, Calvino provocou impacto em sua própria geração; e, nas gerações posteriores, foi um impacto
A PROPAGAÇÃO PROPAGAÇÃO D O CALVIN1SMO CALVIN1SMO NO SÉCULO 16
41
A PROPAGAÇÃO PROPAGAÇÃO D O CALVIN1SMO CALVIN1SMO NO SÉCULO 16
41
igualado por poucos na História. História. A questão questão que se levanta é: Como Com o e por po r que foi ele capaz de provocar prov ocar tal impacto? Os calvinistas, obviamente, responderiam, res ponderiam, como fez John Knox, que ele era um um “notável servo do Senhor”. Senhor” . Contudo, houve também alguns fatores circunstanciais circunstanciais de seu trabalho e uma situação situação que, pela providência de Deus, lhe deram condições condiç ões para exercer exer cer sua influência tão am pla e efetivam ef etivam ente.16 ente.16 E provável que o fator mais importante na divulgação das ideias de Calvino tenha sido o próprio caráter cará ter dele. dele. Calvino Calvin o era um pensado pe nsadorr e escritor Ins tituías ías , escrita sistemático. sistemático. Q uando se lê, mesmo a primeira edição das Institu quando ele tinha 25 anos, fica-se impressionado com o estabelecimento cuidadoso de sua posição e de suas afirmações. Mesmo que alguns acusem a Calvino de ser racionalista, racionalista, a verdade é que ele era lógico em seu raciocínio, raciocínio, proc pr ocur uran ando do e vita vi tarr deduç ded uçõe õess e ana a nalo logi gias as falsas. fals as. Co Cont ntud udo, o, ao mes m esmo mo temp te mpo, o, ele estava totalmente preparado para reconhecer que não tinha todas as respostas, respostas, uma vez que lidava com o mistério do próprio Deus. Deus. Agindo assim, estava sempre sem pre disposto a traçar uma linha e dizer: dizer: “Até esse ponto, e não além”. Nisso demonstrava um misto de lógica sistemática e um senso de mistério que respeitaria e não investigaria. Suas Instituías, seus comentários bíb b íbli lico cos, s, suas su as c a rtas rt as e seu se u s p a n fle fl e tos to s , todo to do o seu se u tra tr a b a lho lh o tra tr a z essa es sass características que podem não ter agradado a alguns mas falaram ao coração de muitos. Talvez, Talvez, possamos com preender preend er a estrutura de pensamento de Calvino se observarmos os princípios que regiam o seu pensamento teológico. teológico. O seu princípio formal era a autoridade das Escrituras, do Antigo e do Nov N ovoo Testa Te stame mento. nto. Ele acr a cred edita itava va que qu e a Bíb B íblia lia era er a a Palav Pal avra ra de Deu D euss escrita. escrit a. Não N ão ob obst stan ante te o esf e sfor orço ço de algu al guns ns,, em an anos os rece re cent ntes es,, em e m incl in clui uirr o apo a poio io de Calvino a várias várias formulações formula ções doutrinárias sobre inspiração verbal, inerrância das Escrituras Escrituras ou coisas semelhantes, Calvino não faz qualquer qualqu er declaração explícita sobre esse assunto. assunto. Sua opinião era que a Bíblia é reconhecida como a Palavra de Deus, não por deduções lógicas ou por observações observa ções e testes experimentais, mas ma s porque o Espírito Santo testifica testifica ao crente que ela é a Palavra de Deus. E, por ser a Palavra de Deus, deve ter autoridade final sobre todas todas as outras formas de conhecimento no que se refere à natureza do homem e à sua relação com Deus, seu Criador Criado r e Senhor.17 Quanto ao conhecimento e compreensão humanas hum anas da natureza, o homem faz descobertas através de investigações experimentais, tendo sempre sem pre em mente, é claro, que a Bíblia estabelece a interpretação final para todas as coisas (cf. seus comentários come ntários sobre astronomia astron omia em Gênesis G ênesis 1.16).1 1.16).188 O princípio material do pensamento de Calvino era a soberania de De Deus us.. Como Criador, Sustentador, Sustentador, Redentor Red entor e Rei, Deus é soberano sobre todas as
42
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL
suas criaturas, bem como sobre as ações destas. destas. Essa E ssa doutrina doutr ina estabelece a
42
CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL
suas criaturas, bem como sobre as ações destas. destas. Essa E ssa doutrina doutr ina estabelece a base e o fundamen fundamento to para todas todas as demai demais. s. Caso alguma formulaçã formulaçãoo doutriná doutrinária ria tendesse a transgredir a soberania de Deus, precisaria precisa ria ser ou reformulada, ou completamente rejeitada. rejeitada. Dessa forma, sua declaração sistemática da fé cristã partiu, natural mente, da doutrina doutrin a da soberania de Deus. Deus. No entanto, todas as declarações de fé devem, necessariamente, ser orientadas orientadas e delimitadas pelos ensinamentos das Escrituras. Escrituras. Ao formular uma doutrina como a da eleição, eleição, por exemplo não obstante estar ela ela baseada na soberania de Deus -, - , seria possível possível ceder à tentação de incluir muitas implicações lógicas, e Calvino considerou impróprio, na verdade pecaminoso, ir além daquilo que a Bíblia diz sobre a questão. Ainda que essa limitação li mitação deixe, mesmo assim, certos paradoxos paradoxo s na fé cristã, cristã, esses paradoxos devem ser aceitos, disse ele, pois ideias que parecem inconciliáveis devem dev em ser mantidas em tensão, uma vez que o Deus soberano falara por intermédio de seus profetas e apóstolos. apóstolos. Mesmo que essa postura não satisfaça os racionalistas, Calvino, seguindo seus dois princípios fundamentais, não poderia pensar p ensar de outra outr a forma.1 form a.199 Calvino, no entanto, não era apenas um teórico desvinculado de qualquer interesse interesse prático. prático. Como advogado - função função pela qual de certa maneira, maneira, se tomara a força motriz motriz da reforma legislativa legislativa de Genebra Genebra - como polemista lutando lutando constantemente constantemente para manter e fortalecer o Movimento Reformado - , ele precisava prec isava ser prático na utilização de seus princípios teológicos. Quando se leem suas cartas, suas Instituías, seus comentários e seus panfletos, tem-se a impressão de estar diante de um homem muito ligado aos fatos que que ocorriam em seu mundo. mundo. Seus panfletos panfletos sobre astrologia e sua carta sobre a questão da usura refletem pensamentos práticos, da mesma mesm a forma, as alusões que fazia de seus textos em seus sermões. Não Nã o é de surpreender, portanto, que não só os estudiosos mas, também, o obstinado negociante negocian te daqueles dias respondessem com co m considerável entusiasmo às ideias de Calvino. Para entender a ampla influência de Calvino, devemos observar não apenas o seu modo de expressar-se e sua maneira man eira de pensar, mas, também, os meios de que se utilizou para comunicar comun icar suas ideias. Pregações e cursos foram os meios básicos de propagação de seus pensamentos; de igual impor tância foram seus contatos pessoais e, mais importante que tudo, foram seus escritos. escritos. Será necessário necessário examinarmos exam inarmos todos esses meios de comunicação comunica ção se quisermos compre co mpreender ender como ele teve, e por isso isso ainda tem, uma força tão abrangente sobre o pensamento ocidental. Mais do que isso, precisamos adquirir alguns conhecimentos a respeito daqueles a quem ele influenciou; daqueles que aceitaram sua teoria e a colocaram em prática prá tica no século 16.
A PROPAGAÇÃO DO CALVINISMO CALVINISMO NO SÉCULO 16
43
A PROPAGAÇÃO DO CALVINISMO CALVINISMO NO SÉCULO 16
43
Como já foi mencionado, mencionado, a pregação era fundamental na exposição e na comunicação das ideias de Calvino. Nesse aspecto, Calvino Ca lvino estava de pleno acordo com Lutero, Bullinger, Bucer, Bucer, e com a maioria dos outros reformadores. Poder-se-ia quase dizer dize r que a Reforma trouxe o renascimento renascimen to da pregação. Calvino, aparentemente, começara a pregar logo depois de sua conversão, pois, segundo a tradição afirma, ele costumava pregar em algumas igrejas igrejas em Bourges, ou perto de Bourges, quando qua ndo era er a estudante. Ao voltar para Genebra, Genebra, em 15 1541 41,, a pregação se tomou sua principal ocupação, ocupação, uma um a vez que assumira assum ira o púlpito da Igreja de Saint Pierre não apenas apen as aos domingos, mas, inclusive, i nclusive, por mais três vezes durante a semana. Esse fato deu a ele grande oportunidade de apresentar sua interpretação das Escrituras para os cidadãos cidadãos de Genebra Gene bra bem como para os estrangeiros, tanto os que viviam vivia m na cidade, como para os que ali se encontravam encontrava m apenas de passagem. passagem. Provavelmente, devido ao fato de pregar com tanta tan ta frequência, Calvino, Calvino, ao que parece, não tinha o hábito de escrever seus sermões, senão espora dicamente, pois sabemos que, em certa ocasião, redigiu alguns sermões que havia pregado, mandando-os para Elizabeth, rainha da Inglaterra. Seu procedimento normal parece ter sido gastar um tempo considerável considerável pensando no significado de seu texto. Depois disso, subia sub ia ao ao púlpito prepa-rado para fazer uma homilia ho milia sobre uma passagem de cinco a quinze ou vinte versículos. versículos. Isso consis consistia tia num rápido comentário come ntário sobre o texto, com uma aplicação aplicaç ão de seu ensino essencial à vida cotidiana do cristão, cristão, mas especialmente e specialmente voltada ao crescimento espiritual e a uma um a avaliação de sua relação com Deus. De acordo com sua maneira sistemática sistemátic a de trabalhar, trabalhar, Calvino normal mente seguir o esquema de pregar sobre um determinado livro da Bíblia, Bíblia, do começo ao fim, capítulo por capítulo, domingo após domingo. Isso significa que havia continuidade nos seus ensinamentos, tanto em relação à expla nação do texto como na aplicação aplicaçã o das Escrituras. Calvino Calvin o tinha o cuidado de manter suas explanações, bem como suas aplicações, aplicações, dentro do contexto do livro como um todo e, também, dentro do contexto contex to de sua situação histórica. Não interpretava interpre tava as Escrituras alegoricamente. alegoricamen te. Sempre Se mpre trazia traz ia os ouvintes de volta ao fato de que o centro da vida vid a cristã é o próprio Cristo. Os ouvintes de Calvino, frequentemente, expressavam expressav am o desejo de ter cópias impressas de seus sermões, para leitura ou para dá-las a outros, mas Calvino não cedia, em parte por redigir apenas alguns de seus sermões. Em consequência disso, e apesar de sua oposição, alguns dos membros mem bros de sua congregação contrataram um certo Raguenier de Bar-sur-Seine, um refugiado francês, francês, para anotar a notar os sermões de Calvino em uma espécie de taquigrafia. Alguns Alguns impressores impresso res de Genebra quiseram, então, imprimir impri mir esses
44
CALVINO CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL
sermões, ao que Calvino foi firmemente contrário, a princípio. Afinal, em 1557 1557,, deu a Conrad Badius, cunhado do editor Robert Rob ert Estienne, permissão
44
CALVINO CALVINO E A SUA INFLUÊNCIA NO MUNDO OCIDENTAL
sermões, ao que Calvino foi firmemente contrário, a princípio. Afinal, em 1557 1557,, deu a Conrad Badius, cunhado do editor Robert Rob ert Estienne, permissão para pa ra impri im prim m ir sua série sé rie de sermões serm ões sobre sob re os dez manda ma ndame mento ntos. s. N o ano seguinte, seguinte, outra vez, depois de d e muita pressão e discussão, permitiu permit iu a publicação de seus sermões sobre a vida e a obra de Cristo. Muitos desses sermões nunca foram publicados, tendo sido descobertos apenas recentemente. Contudo, os sermões publicados foram logo traduzidos para muitas outras línguas vernáculas e se tomaram um importante meio para a divulgação ampla dos ensinamentos ensiname ntos do reformador reformado r de Genebra. Foi assim que os sermões de Calvino passaram a cumprir uma dupla função. Naturalmente, influenciavam aqueles que os ouviam, pois sabemos que, depois das pregações, pregações, as pessoas se aglomeravam ao redor redo r de de Calvino para par a conve co nversar rsar com ele sobre o que havia havi a dito e, em geral, formavam form avam uma procissão proci ssão para acomp ac ompanh anhá-lo á-lo até sua casa. Mas os sermõ s ermões es influe in fluenciav nciavam am também també m os que os liam em outros países, quer no original francês, quer qu er em suas próprias línguas. Com relação a esse fato, é interessante notar o que relata Richar Ri char Bannatyne, secretário de John Knox. Diz ele que enquanto Knox estava em seu leito de morte, alguns sermões do “Messire João Calvino” C alvino” eram lidos para ele em francês, francês, língua que ele compreendia muito bem. Eram, provavelm prova velment ente, e, os sermões serm ões sobre “La Passion de Notre Seigneur”. Os sermões eram, portanto, o principal meio de transmissão das ideias de Calvino.20 Profundamente relacionada com seu trabalho de pregador era sua atuação como professor. Em Estrasburgo ele esteve em íntimo contato com Jean Sturm e Martin Bucer, Bucer, ambos muito interessados inte ressados em desenvolv dese nvolver er um sistema sist ema educacional que que proporcionasse instrução a todas as crianças da cidade. Ao voltar para Genebra, ele trabalhou por algum tempo com base nesta ideia, ideia, até que, finalmente, em 1559 1559,, ele estabeleceu estabeleceu um completo sistema s istema de educação. educação. A partir de seus esforços surgiu a Academia de Genebra, instituição que mais tarde se tomaria a Universidade da cidade. Calvino não apenas desempenhou proeminente papel no estabelecimento da Universi Universidade, dade, e foi também um dos seus professores de Teolog Teologia, ia, ensinando aqueles que planejavam entrar en trar para o ministério. ministério. Durante muitos anos ele fez conferências, fazendo exposições sobre vários livros li vros da Bíblia. Bíblia. O responsável pela Academia Academ ia era Teodoro Beza, Beza, que viera vie ra de Lausa La usane.2 ne.211 O trabalho de Calvino, tanto como pregador prega dor quanto como professor, foi extremamente extremament e eficaz em Genebra; estudando-se estudando- se a história da cidade durante esse período, período, pode-se ver ve r que muito da mudança ocorrida o corrida ali foi foi provocada por po r suas atividades. E verdade verd ade que até 1555 1555 ele enfrentou enfrento u forte oposição oposiç ão às suas ideias, ideias, especialmente espec ialmente às que se referiam à disciplina da Igreja, Igreja, oposição
A PROPAGAÇAO DO CALVINISMO NO SÉCULO 16
45
por parte par te daqueles daquele s que discordavam discordav am tanto de suas doutrinas quanto de seus
A PROPAGAÇAO DO CALVINISMO NO SÉCULO 16
45
por parte par te daqueles daquele s que discordavam discordav am tanto de suas doutrinas quanto de seus conceitos a respeito de moralidade. Contudo, a partir do momento em que assumiu o principal púlpito da cidade, do qual pregava pregav a cerca de cinco vezes por semana, além das preleções bíblicas que fazia, fazia, Calvino Calvino passou a dispor do meio mais eficiente efi ciente para instilar suas ideias. ideias. Como C omo resultado, por po r volta de 15 1555 55,, ele ganhou a batalha e, desse ano em diante, até sua morte, em 1564, sua influência influência teológica e moral m oral dominav do minavaa Genebra.22 Genebra.22 Contudo, havia h avia algo mais do que a influência geral que ele exercia sobre Genebra e além dela. A população da cidade, cerca de nove mil habitantes, quase se duplicara com o número de refugiados que para ali afluíam a fim de descansar das perseguições que sofriam em seus próprios países. A congregaç congre gação ão france fra ncesa sa era a maior ma ior e, em alguns algun s aspe a specto ctos, s, a mais impopular, mas havia também congregações congr egações espanholas e italianas italianas às quais foi acrescentada a congregação inglesa, sob orientação de John Knox, durante o reinado de Maria Tudor Tudor.. Havia H avia ainda aqueles que vinham estudar com Calvino e com seus colegas de magistério. Vinham de muitos países diferentes, mas, mas, particularmente, p articularmente, da d a França, Holanda, Alemanha, Inglaterra e Itália. Itália. Muitos deles voltaram para seus próprios países mais tarde, continuando continuan do ali o trabalho da Reforma. Depois da fundação da Academia, Academ ia, a afluência afluên cia de estudantes se tomou tomo u ainda maior, na medida em que vinham vinham estudar não apenas Teologia Teologia,, mas também Direito, bem como para adquirir uma educação geral. geral. Quando esses estudantes retomavam para seus lares, levavam consigo as ideias de Calvino, as quais buscavam proclamar. Não era raro que terminassem term inassem suas carreiras carreira s na fogueira.2 fogue ira.233 Não obstante, obstante, a maioria dos historiadores historiadores de Calvino enfatiza o valor de sua pregação pregaçã o e de seu magistério e poucos parecem parece m achar a char que sua relação relação com as pessoas fosse de alguma importância. Calvino é normalmente norm almente descrito como um homem homem muito austero, triste e mesmo mal ma l humorado. No entanto, e ntanto, o testemunho daqueles que visitaram Genebra Gen ebra e tiveram contato com Calvino nos oferece uma imagem image m muito diferente; ele, ao que tudo indica, possuía possuí a um senso de humor humo r que tinha um quê de satírico, como com o se pode ver ve r ao longo de alguns de seus escritos como, como, por exemplo, seu panfleto sobre a necessidade de se fazer um inventário de todas as relíquias religiosas da Europa. Apesar Ap esar de sofrer de uma série de doenças crônicas, crônicas, inclusive de úlcera, Calvino parece ter sido muito hospitaleiro. hospitaleiro. Um relato conta que ele era saudável o suficiente para gostar go star de joga jo garr boliche.2 bolich e.244 Acima Acim a e além de tudo isso, o fato de ele ter conquistado a lealdade quase feroz de uma ampla variedade de tipos de personalid personalidade ade indica indica que era capaz de comunicar comunicar suas suas ideias ideias de forma efetiva e dinâmica em seus relacionamentos pessoais. pessoais.
n, / \ a u / \ iiNrLUfclN iiNrLUfclNClA ClA INU INU MUNÜU MUNÜ U OCIDENTAL OCIDE NTAL
Calvino recebia muitos visitantes que vinham das mais diversas regiões e
n, / \ a u / \ iiNrLUfclN iiNrLUfclNClA ClA INU INU MUNÜU MUNÜ U OCIDENTAL OCIDE NTAL
Calvino recebia muitos visitantes que vinham das mais diversas regiões e passavam pouco tempo em Genebra, muito frequentemente apenas para encontrar-se com ele. John Foxe, o martirologista martirologi sta inglês, e o bispo Coverdale Coverdal e são dois bons bons exemplos. Calvino Cal vino estava também em constante contato com outros reformadores, especialmente esp ecialmente com Bucer, Bullinger e Melanchthon, com os quais sempre trocava ideias. Foi em consequência de seu relacio-namento com Bullinger Bu llinger que ambos assinaram o Consensus Cons ensus Tigurinus de 1549, 1549, no qual fazem a declaração de que a “presença real” de Cristo, na Ceia do Senhor, Senhor, é efetivada pelo Espírito Santo no momento em que o crente recebe os elementos. Dessa maneira, foi definida uma posição intermediária intermediária entre a “consubstanciação”, “consubstanciação”, defendida defendid a por Lutero, e a interpretação interpretaç ão puramente simbólica, de Zuínglio.2 Zuíngli o.25 Além de seus contatos com estudantes e com outros reformadores, Calvino mantinha volumosa correspondência com homens e mulheres de toda a Europa, Europa, desde reis e seus conselheiros, até pessoas pes soas de classes mais baixas que lhe escreviam pedindo auxílio ou conselho. Talvez, Talvez, essas suas cartas cart as sejam o melhor melho r retrato do “verdadeiro” Calvino. Essas cartas eram sempre práticas e muito diretas. Ele escreveu uma carta para confo co nfortar rtar John Knox quando quan do Maijorie, Maij orie, sua esposa, morreu; escreveu escrev eu uma convicta convi cta carta de repreensão repree nsão para Louis du Tillet, um velho amigo que desertara da causa reformada, retomando à Igreja de Roma; Roma; escreveu es creveu também cartas de incentivo para os que enfrentavam perseguições e conflitos por causa da fé, como foi o caso de cinco estudantes de Lausane que iam ser mortos na fogueira de Lyon Lyon;; escreveu cartas, dando conselhos cons elhos a protestantes que planejavam fundar uma congregação, e mandou também uma carta a um ministro que lhe escrevera pedindo conselho sobre problemas particulares. Em todas essas cartas, pode-se ver suas muitas facetas: sua ternura, sua compaixão, sua raiva ocasional para com aqueles que se provavam provavam indignos indignos de confiança e, também, sua integridade e força intelectual. Quase não há dúvida de que essas cartas tenham sido muito importantes, não apenas no sentido de manifestar sua personalidade como também no sentido de divulgar suas ideias por p or toda a extensão do território europeu.26 europeu.26 Não obstante obstan te falarmo fal armoss das pregações pregaç ões e do magistério magistéri o de Calvino, Ca lvino, de seu relacionamento relacion amento pessoal pessoa l e de sua correspondência, correspondênc ia, sem dúvida sabemos que o meio mais eficaz e ficaz de que se valeu para difundir difun dir suas ideias foram fo ram seus escritos formais. Pode-se dizer que os outros meios de comunicação comuni cação eram a fonte de onde onde brotavam seus escritos formais, pois em mais de uma ocasião foi foi como resultado re sultado de suas próprias experiências experi ências como pregador, professor professo r ou ou em consequência de seus contatos pessoais p essoais que ele sentiu a necessidade de escrever. E foram seus escritos que tiveram a maior circulação e o efeito
A PRO PA PA G AÇ AÇÃ O D O CA CA LV LV IN IS MO MO N O SÉ SÉCU LO LO 16 16
47
A PRO PA PA G AÇ AÇÃ O D O CA CA LV LV IN IS MO MO N O SÉ SÉCU LO LO 16 16
47
mais duradouro, como se pode observar obse rvar pelo fato de que muitos deles continuam sendo republicados em diferentes países e em muitas línguas diferentes ainda no século séc ulo 20. Religião Sem dúvida, dentre todos os seus escritos, Instituías da Religião Cristã 27 foi, e ainda é, o mais importante. i mportante. Publica P ublicado do originalmente origina lmente em e m 15 1536 36,, foi foi revisado e republicado sete s ete vezes tanto em latim como em francês, francês, partindo de uma pequena monografia monog rafia de sete capítulos que ele mesmo escreveu, para se tomar toma r uma obra de 79 capítulos na edição de 15 1559 59.. No início, Calvino procurou proc urou seguir seg uir a ordem do Credo Cred o dos Apóstolos. Apósto los. Mais tarde, no entanto, achando isso insatisfatório, insatisfatório, mudou a estrutura da obra, expandindo e ajustando seu pensamento mais completamente a cada nova edição. Quando se lê o trabalho da última últim a edição em inglês, editada por J. T. T. McNeil e Ford Lewis Battles, na Biblioteca de Clássicos Cristãos, atento para as referências às diferentes edições, pode-se observar observa r que Calvino, o estudante incansável, incansável, acrescentava acrescenta va a cada ca da nova edição os conhecimentos exegéticos e teológicos teológicos que acumulara desde desde a edição anteri anterior. or. Estudando Estudand o constanteme co nstantemente, nte, tanto a Bíblia quanto quanto escritores como Bema B emard rd de Clairvaux e muitos dos diferentes pais da Igr Igreja eja,, Calvino acrescentava um número cada vez maior de referências referências a eles, edição edi ção após ediçã e dição.2 o.288 Da maior importância nesse processo proce sso de divulgação foi foi o fato de que, a partir de 15 1541 41,, Calvino estava preparando comentários sobre vários livros livros da Bíblia, em função de suas pregações prega ções e aulas. Rejeitando Reje itando o método alegórico quádruplo dos comentaristas medievais, e evitando as “admoestações” do Comentário Comentá rio de Lutero sobre Gálatas, Gálatas, Calvino seguiu a técnica técnic a tipicamente humanista da exegese histórico-gramatical, apegando-se firmemente ao contexto histórico dos livros e procurando entende en tenderr exatamente o que eles estavam querendo dizer. dizer. Seu método era verdadeiramente empírico. A medida me dida que acumulava mais conhecimentos conhecimen tos com esses estudos, Calvino foi capaz de Instituías. No decorrer de toda sua vida, utilizá-los nas revisões de suas Instituías. escreveu Comentários sobre a maior parte dos livros da Bíblia, Bíblia, tendo evitado alguns dos textos mais difíceis, como o de Cântico dos Cânticos Cântic os de Salomão Salo mão e o Livro do Apocalipse. Calvino parece ter evitado fazer afirmações claras sobre o que esses livros verdadeiramente verdadeiram ente significavam. O conjunto de seus Comentários foi finalmente finalment e editado em Genebra, no final da década de 15 1570 70 e no início da década de 158 1580, 0, sendo amplamente amplam ente dissemin diss eminado ados.2 s.299 Calvino era também um panfletário. Uma das primeiras edições de sua coleção de panfletos, de posse do autor au tor deste capítulo, forma um volume, in-fólio, de mais de mil páginas. páginas. Seus panfletos eram não só numerosos, mas mas
48
CALVINO E A SUA INFLUENCIA NO M UNDO OCIDENTAL
muito variados também em temas e objetivos. Um dos principais motivos motiv os que levavam Calvino divulgar, em formato pequeno, o significado de algumas
48
CALVINO E A SUA INFLUENCIA NO M UNDO OCIDENTAL
muito variados também em temas e objetivos. Um dos principais motivos motiv os que levavam Calvino a divulgar, em formato pequeno, o significado de algumas das doutrinas e práticas cristãs, era seu desejo de esclarecer es clarecer o povo. Um de seus panfletos, “Forme des Prières” [Forma de Orações], era, na verdade, um guia de culto para a Igreja de de Genebra, mas teve considerável consideráv el influência influê ncia sobre a prática prátic a litúrgica litúrgic a das igrejas reformadas reform adas em Genebra, Gene bra, na França bem como na Escócia, Holanda Hola nda e em outros países, onde suas ideias haviam sido aceitas. Talvez Talvez o mais panfletário de todos todos os seus panfletos tenha tenh a sido sua explanação sobre o significado da Ceia do Senho Senhor. r. Esse panfleto foi em parte responsável pela assinatura do “ Consensus TigurinusLutero afirmou que esse teria evitado seu conflito com Zuínglio. O motivo essencial de Calvino, para escrever panfletos, no entanto, parece ter sido a polêmica. Natura N aturalmente lmente que um de seus alvos principais principai s era a Igreja Católic Cató licaa Romana. Foi em 1541 que qu e ele escreveu escr eveu sua carta ao cardeal Sadoleto, o qual instara com os genebrinos para que retomassem à Igreja Romana. Nessa Ness a carta, Calvino Calv ino mostra mos tra que Roma deserta des ertara ra do Cristia C ristianism nismoo bíblico. bíbl ico. Dois anos mais tarde, tarde, publicou p ublicou seu artigo satírico sobre as relíquias e outro outro artigo constrangendo constrangendo o imperador Carlos V a parar de perseguir os protestantes. protestantes. Depois das primeiras sessões sessõe s do Concílio de Trento, Trento, Calvino Calvin o escreveu um panfleto atacando atacando suas suas decisões. Não podemos nos nos esquecer também, de que as Instituías, com sua carta dedicada a Francisco I da França, rogando tolerância toler ância para com os protestantes, era, em si mesma, um panfleto, ainda ai nda que bastante volumoso. volumoso. Calvino não se limitou a controvérsias com os católicos-romanos. católicos-roma nos. Um dos seus primeiros primei ros panfletos, intitulado i ntitulado “Psychopannichia”, atacava atacava a doutrina da “morte da alma” defendida por alguns anabatistas. anabatistas. Em um panfleto posterior lançou alguns dardos sobre um grupo de anarquistas espirituais conhecidos como “libertinos”. “libertinos” . Em outro escreveu uma um a crítica devastadora devastado ra à astrologia, astrologia, que era tão popular naqueles naquele s dias quanto o é hoje e, em grande parte, pelo mesmo motivo: o declínio na fé cristã. cristã. Assim, Assim , mesmo mesm o imerso em questões de pregação preg ação e magisté mag istério, rio, mesmo enqu enquanto anto escrevia esc revia Comentári Com entários os e revisava revis ava suas Instituías, Calvino encontrava tempo para abordar os problemas contemporâneos enfrentados enfrenta dos pelo movimento protestante. É de se perguntar como ele conseguia fazer f azer tudo isso? Não surpreende sur preende que Calvino tenha morrido aos 55 anos! A maior parte de seus panfletos aparecia apar ecia primeiro em latim, pois era endereçada à classe mais instruída: instruída: os acadêmicos. Contudo, pouco tempo depois surgia também em francês, traduzidos, traduzid os, às vezes, pelo próprio Calvino,
A PROPAGAÇÃO DO CALVINISMO NO SÉCULO 16
49
às vezes por algum dos editores de Genebra. Normalmente, depois de um