KEHL, Maria Rita.tortura e Sintoma SocialDescrição completa
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Vida de Santa Rita de Casia.
Descripción: cuestionario de rita cap 4
fise matematice grupa pregatitoare
cuestionario de rita cap 4Descripción completa
Trabajo de Investigación sobre el árbol de expansión mínima. Universidad Nacional de Asunción Ingeniería en informática Algoritmos y Estructura de Datos III Autores: Marcos Tileria, Aloysiu…Descripción completa
Ing. Civil - Concreto
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Cantemos a María (villancico9
Maria Rita Kehl: A mínima diferença
Há cem anos não se fala em outra coisa. 1 O falatório surpreenderia o próprio Freud. Se ele criou um espaço e uma escuta para que a histérica pudesse fazer falar seu sexo num tempo cu!a norma era o sil"ncio o que restaria ainda por dizer ao psicanalista quando a sexualidade circula freneticamente em pala#ras e ima$ens como a mais uni#ersal das mercadorias%
v
&inda assim parece que nada mudou muito. O esc'ndalo e o eni$ma do sexo permanecem deslocados ( !á não se trata da interdição dos corpos e dos atos ( a#isando que a psicanálise ainda não aca)ou de cumprir o seu papel. *ulheres e homens #ão aos consultórios dos analistas +e como há cem anos mais mulheres do que homens, procurando no m-nimo resta)elecer um lu$ar fora de cena para uma fala que despo!ada de seu papel de lata de lixo do inconsciente +no que reside !ustamente sua o)scenidade, #em sendo expo expost sta a exau exaust stão ão ocup ocupan ando do lu$a lu$arr de dest destaq aque ue na cena cena soci social al até até a produção de uma apar"ncia de total normalidade. /arece que nada mudou muito0 mulheres e homens continuam procurando a psicanálise para falar da sexualidade e suas resson'ncias mas o que se diz ali !á não é a mesma coisa. 2O que de#o fazer para ser amada e dese!ada%3 per$untam as mulheres com al$um ressentimento0 ressentimento0 não era de se esperar que o am amor or se torn tornas asse se tão tão difdif-ci cill !á nos nos prim primei eiro ross de$r de$rau auss do para para-s -so o da emancipação sexual feminina. 2O que faço para ser capaz de amar aquela que a4nal me re#elou o seu dese!o%3 per$untam os homens perplexos diante da in#ersão da anti$a o)ser#ação freudiana se$undo a qual é próprio do femin feminin ino o faze fazerr5se 5se am amar ar e dese dese!a !arr o próp própri rio o do home homem m nar narciso ciso feri ferido do eternam eternament ente e em )usca )usca de resta restaura uração ção amar amar sem descan descanso so aquela aquela que parece deter os se$redos da sua cura. *ulheres que !á não sa)em se fazer amar homens que !á não amam como anti$amente. 6omo se pedissem aos psicanalistas0 2o que faço para +#oltar a, ser mulher%3 2como posso +#oltar a, ser homem%3 ( quest7es que me remetem o)ser#ação de &rnaldo 8a)or em arti$o de para a Folha de São Paulo so)re o choro +arrependido%, de al$umas mulheres da cena pol-tica e da m-dia )rasileiras0 2O que é isso% & feminilidade como retorno%3. 9ncapa 9ncapazz de formul formular ar uma uma interp interpre retaç tação ão satisf satisfató atória ria para para o que ouço ouço no consultório e na #ida dou #oltas em torno desse mal5estar. :ento cercar com per$untas aquilo para o que não encontro resposta. ; poss-#el que a relação conscienteito de outra forma ( os 2no#os tempos3 nos nos traz trazem em no#o no#oss su!e su!eit itos os%% ?o ?o#o #oss home homens ns e mulh mulher eres es colo coloca cam m outr outras as quest7es o)ser#ação psicanal-tica% @ aqui #ai a ressal#a0 não há nenhuma eufo eufori ria a nenh nenhum um otim otimis ismo mo no em empr pre$ e$o o da pala pala#r #ra a 2no#o no#o3. 3. & próp própri ria a psic psican anál ális ise e !á nos nos ensi ensino nou u que que a cada cada )arr )arrei eira ra remo remo#i #ida da a cada cada #éu #éu
le#antado deparamos não com um para-so de conAitos resol#idos e sim com um campo minado ainda desconhecido. ancemos mais al$uns passos nesse campo minado. O lu$ar reser#ado s mulheres na cena social +e sexual, desde o sur$imento da psicanálise foi sendo alterado +por o)ra entre outras coisas das próprias contri)uiç7es freudianas, e ampliado as ins-$nias da feminilidade se modi4caram se confundiram as diferenças entre os sexos foram sendo )orradas até o ponto em que a re#istaTime americana pu)lica em 1BBC como arti$o de capa a se$uinte pesquisa0 2Homens e *ulheres0 ?ascem >iferentes%3. ?a din'mica de encontro e desencontro entre os sexos a intensa mo#imentação das tropas femininas nos Dltimos trinta anos parece ter deslocado os si$ni4cantes do masculino e do feminino a tal ponto que #emos ca)er aos homens o papel de narcisos fr-$idos e s mulheres o de dese!antes sempre insatisfeitas. ?ão ca)e ho!e aos homens dizer0 2de#a$ar com a louçaE3 ( aterrados diante da audácia dessas que até uma ou duas $eraç7es atrás pareciam aceitar as in#estidas do dese!o masculino como homena$em sua perfeição ou como o mal necessário da #ida con!u$al% 8á sa)emos que o homem odeia o que o aterroriza. Se a #erdade do sexo #azio da mulher sempre tem que ser dissimulada com os en$odos fálicos da )eleza e da indiferença tal a an$Dstia que é capaz de pro#ocar em quem ainda sente que tem 2al$o a perder3 essa an$Dstia parece redo)rar diante da e#id"ncia de que esse sexo #azio tam)ém é faminto #oraz. 2O que elas querem de nós%3 inda$am entre si os #ar7es tentando se asse$urar de que ainda é poss-#el entrar e sair da relação com a mulher sem deixar por isso de ser homens ( mas como se a mulher que exp7e seu dese!o sexual a$e 2como um homem3 e com isso os feminiza% Os artistas da #irada do século !á pre#iam a sorte dessas no#as5ricas da conquista amorosa. &na ar"nina C pa$ou por sua ousadia de)aixo das rodas de um trem como 2a mais des$raçada das mulheres3 enlouquecida ao desco)rir que o. amor não é meio de #ida. o amor não $arante nada ( o casamento sim. @mma Go#arI queimou as entranhas com ars"nico por não ter sido capaz de tomar a a#entura amorosa do mesmo modo que seu amante Jodolfo ( apenas como uma a#entura. ?a #irada do século KK !á não ha#ia Lerther que destru-sse sua #ida pela utopia do amor de uma mulher. O amor da mulher foi deixando de ser utopia para se tornar fato corriqueiro0 são as $randes amorosas que se matam então ao desco)rir que seu dom mais precioso perde parte do #alor !ustamente na medida em que é dado. O destino da ?ora de 9)senM nos parece mais promissor porque a peça termina quando tudo ainda está por começar. @la a)andona a 2casa de )onecas3 ao desco)rir que sua alienação +termo que 9)sen nunca usou, era condição de felicidade con!u$al. >epois de entender que no códi$o do marido o amor mais apaixonado só iria até onde fossem as con#eni"ncias ?ora recusa o retorno condição feminina5infantil de seu tempo e sai em )usca de= mas aqui cai o pano e a$ora mais de um século depois fazemos o )alanço do que ela encontrou. 9ndepend"ncia econNmica al$um poder cultura e possi)ilidades de su)limação impensá#eis para a mulher restrita ao espaço doméstico. :am)ém a possi)ilidade da escolha sexual e uma se$unda +e a terceira e a quarta=, chance de um casamento feliz. @ a possi)ilidade de conhecer #ários homens e compará5los. >e ser parceira do homem reduzindo a dist'ncia entre os sexos até o limite da m-nima diferença. *as teria ?ora melhor que as contempor'neas literárias conquistado al$uma $arantia de corresponder s paix7es masculinas sem 2se des$raçar3%
?o Grasil onde historicamente todas as diferenças são menos acentuadas a história de amor mais marcante !á neste século é a história de um en$ano. ; por en$ano que o !a$unço Jio)aldo se apaixona por seu companheiro >iadorim ou *aria >eodorina que aca)a perdendo a #ida em conseqP"ncia de sua mascarada #iril. ; por en$ano ( ou não é % ( que >iadorim desperta a paixão de um homem tra#estida de homem por sua feminilidade dia)ólica que se insinua e se inscre#e !usto onde de#eriam estar os traços mais fortes de sua masculinidade ( a audácia a cora$em f-sica o sil"ncio taciturno. 6omo se Quimarães Josa ti#esse dado a entender lacanianamente0 se uma mulher quer ser homem isso não faz a menor diferença desde que continue sendo uma mulher. Ou mais0 se uma mulher quer ser homem e se esconde nisso da- sim é que ela é mesmo uma mulher. O fato é que não se trata só de esconder ou disfarçar como no caso de >iadorim. O a#anço das ?oras do século KK so)re espaços tradicionalmente masculinos as no#as identi4caç7es +mesmo que de traços secundários, feitas pelas mulheres em relação a atri)utos que até então caracteriza#am os homens não são meros disfarces0 são aquisiç7es que tornaram a+s, identidade +s, feminina+s, mais rica+s, e mais complexa+s,. O que te#e é claro seu preço em intoler'ncia e desentendimento ( de parte a parte. &qui tomo emprestado um conceito que Freud empre$ou no 2*al5@star=3R sem ter se estendido mais so)re ele. ?esse texto Freud cunhou a expressão 2narcisismo das pequenas diferenças3 tentando explicar as $randes intoler'ncias étnicas raciais e nacionais ( so)retudo a que pesa#a so)re os !udeus na @uropa. ; quando a diferença é pequena e não quando é acentuada que o outro se torna al#o de intoler'ncia. ; quando territórios que de#eriam estar )em apartados se tornam próximos demais quando as ins-$nias da diferença começam a desfocar que a intoler'ncia é con#ocada a resta)elecer uma discriminação no duplo sentido da pala#ra sem a qual as identidades 4cariam muito ameaçadas. ?o caso das pequenas diferenças entre homens e mulheres parecem ser os homens os mais afetados pela recente interpenetração de territórios ( e não só porque isso implica poss-#eis perdas de poder como ar$umentaria um feminismo mais )elicoso e sim porque coloca a própria identidade masculina em questão. Sa)emos que a mulher encara a conquista de atri)utos 2masculinos3 como direito seu reapropriação de al$o que de fato lhe pertence e há muito lhe foi tomado. /or outro lado a uma mulher é imposs-#el se rou)ar a feminilidade0 se a feminilidade é máscara so)re um #azio todo atri)uto fálico #irá sempre incrementar essa função. 8á para o homem toda feminização é sentida como perda ( ou como anti$a ameaça que a4nal se cumpre. &o homem interessa manter a mulher dist'ncia tentando $arantir que este 2a mais3 inscrito em seu corpo lhe con4ra de fato al$uma imunidade. & aproximação entre as apar"ncias as aç7es os atri)utos masculinos e femininos são para o homem mais do que an$ustiantes. ; de terror e de fasc-nio que se trata quando um homem se #" diante da pretensão feminina de ser tam)ém homem sem deixar de ser mulher. Gruxas feiticeiras possu-das do demNnio assim se desi$na#am na anti$uidade essas a)erraç7es do mundo feminino que le#a#am a mascarada da sua feminilidade até um limite intolerá#el. Só a morte a fo$ueira ou a $uilhotina seriam capazes de p7e 4m onipot"ncia dessas que !á nasceram 2sem nada a perder3. @ quem du#ida de que &na ar"nina @mma Go#ar ?ora >eodorina tenham se tornado aquilo que se costuma chamar de 2mulheres de #erdade3 a partir
do momento em que a)andonaram seus postos na conquista deste a mais que tão lo$o conquistado parece lhes cair como uma lu#a% *as quem du#ida tam)ém de que o preço dessas conquistas continue sendo alt-ssimo% uando não a morte do corpo +pois não é no corpo que se situa o tal a mais da mulherE, a morte de um reconhecimento por parte do outro na falta do que a mulher cai num #azio intolerá#el. /ois se a mulher se faz tam)ém homem é ainda por amor que ela o faz ( para ser ainda mais di$na do amor. uando o amor e o dese!o da mulher se li)ertam de seu aprisionamento narc-sico e repressi#o para corresponder aos do homem parece que al$uma coisa se es#azia no próprio ser da mulher. Os suic-dios de &na e @mma são nesse caso exemplares. :eriam suas #idas perdido o sentido depois que elas se entre$aram sem restriç7es ao conde TronsU ou a Jodolphe Goulan$er% ?ão diria que a perda de sentido se dá nelas próprias. &o dese!arem e amarem tanto quanto foram amadas e dese!adas elas deixaram de fazer sentido como mulheres ( primeiro para os amantes depois para si mesmas. ?a defesa do narcisismo das pequenas diferenças é do reconhecimento amoroso que o homem ainda pode pri#ar a mulher esta que parece não se pri#ar de mais nada não se deter mais no $ozo de suas recentes conquistas. *as não se ima$ine que o homem o faz +apenas, por cálculo #in$ati#o. ; que ele !á não conse$ue reconhecer esta mulher tão parecida consi$o mesmo na qual tam)ém odiaria ter que se reconhecer. Tale ainda dizer que não é só da falta de reconhecimento masculino que tratam o a)andono e a solidão da mulher. 8á nos primórdios dessa mo#imentação toda *elanie lein e 8oan Ji#iVre escre#iam que muito mais do que a #in$ança masculina o que uma mulher teme em represália por suas conquistas é o ódio de outra mulher aquela a quem se tentou suplantar etc. etc. Wdio que frequentemente se con4rma 2no real3 para além das fantasias persecutórias. @ aqui a)andono o campo minado das 2no#as sexualidades3 sem nada além de hipóteses e quest7es a respeito do nosso mal5estar antes que esse texto se torne paranóico mas como não ser paranóico um texto escrito por mulher so)re a am)i$uidade os impasses e as pretens7es da sexualidade feminina% * Texto escrito originalmente em 1992, e recuperado pela autora especialmente para o especial “>ia da mulher dia da luta feminista“, no Blog da Boitempo.