MARIA: A MÃE DE CORAÇÃO INFINITO MARCELO MORAES CAETANO 1
SUMÁRIO: A religião e o espaço das almas – 11 Sobre a fé e seu lugar – 55 A lenda de um pássaro – 65 Sobre a alegria - 69 Escuro iluminado – 77 Sobre a mente – 82 Sobre a esmola – 88 O claro e o escuro – 98 Após o banquete - 109 O rito: aparência e essência – 116 A árvore e a andorinha – 127 Sobre a humildade – 130 Sobre a vaidade – 138
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O TERÇO DO ROSÁRIO ALIMENTO PARA TODOS OS DIAS 10 AVE-MARIAS
(4. MISTÉRIO)
(3.
MISTÉRIO) PAI-NOSSO
PAI-NOSSO
1O AVE-MARIAS
10 AVE-
MARIAS
(5. MISTÉRIO)
(2.
MISTÉRIO) PAI-NOSSO
PAI-
NOSSO
10 AVE-MARIAS
10 AVE-MARIAS
SALVE-RAINHA (Ladainha de Louvor à Virgem)
FIM
(1. MISTÉRIO) PAI-NOSSO 3 AVE-MARIAS
PAI-NOSSO CREDO
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PRINCÍPIO
ORAÇÕES: Credo: Creio em Deus-Pai, Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra, e em Jesus Cristo, Seu Único Filho, Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu aos céus, está sentado à direira de Deus-Pai TodoPoderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos; Creio no Espírito Santo, na Santa Virgem Maria, nos Santos Anjos de Deus, na comunhão dos Santos, na transubstanciação dos pecados em luz, na ressurreição da carne e na Vida Eterna: Amen. Pai-Nosso: Pai-Nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso Nome, venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa Vontade, assim na terra como no céu; O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos de todo o mal. (Porque Vosso é o Reino, o Poder e a Glória, para sempre: Amen.) Ave-Maria: Ave-Maria, cheia de Graça, o Senhor é convosco; Bendita sois Vós entre as mulheres, e Bendito é o Fruto de Vosso Ventre, Jesus; Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte: Amen. Jaculatória: (A ser feita ao término das contas pequenas de cada Mistério.) Ó Meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
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Levai as almas todas para o céu, e socorrei principalmente aquelas que mais precisarem, Abençoai a todos os homens de Boa-Vontade, Abençoai nossas famílias E dai-nos a Paz. Amen. Salve-Rainha: Salve-Rainha, Mãe de Misericórdia, Vida, Doçura, Esperança nossa, Salve; A Vós bradamos, os riquíssimos filhos de Eva, a Vós suspiramos, sorrindo e amando neste Vale de Paz; Eia, pois, Advogada nossa, os Vossos Olhos Misericordiosos a nós volvei, e depois deste Louvor, mostrai-nos Jesus, o Bendito Fruto de Vosso Ventre; ó Clemente, ó Piedosa, ó Doce e sempre Virgem Maria; Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo: Em Nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo: Amen.
Fim: Pela evocação do Amor Infinito: Virgem Maria: Mãe Bendita, Mãe Santa, Mãe Imortal: Pela Vossa Amorosa Intercessão, Pelo Vosso Piedoso Auxílio, Pelos Vossos Infinitos Dons: Concedei-me a Graça de amar, Concedei-me a Graça de ser amado, Concedei-me a Graça de compartilhar, Assim como era no princípio, agora e sempre, Por todos os séculos dos séculos, Em Nome de Jesus Cristo, Vosso Filho, Nosso Senhor, A Deus Pai Todo-Poderoso, através do Espírito Santo de Luz e Doçura,
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Rogamos a Vós humildemente: Amen.
Ladainha à Virgem Mãe:
(Corpo) Nossa Senhora, Imperatriz da Criação, Mãe de Deus-Filho Eterno, Grande Mãe Unificada, Mãe do Amor, Mãe da Magnanimidade, Mãe das Fortalezas, Mãe da Liberdade, Mãe da Misericórdia, Mãe Bendita, Mãe Eterna, Mãe Venerável, Mãe da Humildade, Mãe da Caridade, Mãe da Oração, Mãe da Fé, Mãe do Brio, Mãe da Prudência, Mãe da Compreensão, Mãe da Aceitação, Mãe da Ternura, Mãe do Sorriso, Mãe da Alegria, Mãe da Luz, Mãe da Valentia, Mãe do Destemor, Mãe de todos nós, Vosso Filhos, Mãe da Paz, Casa de Ouro, Rainha de todos os Anjos, Rainha de todos os Santos, Co-Redentora da espécie humana, Rainha do Amor, Rainha da Paz, Rainha do Perdão, Rainha do céu, Rainha da terra, Luz Sem-Fronteiras, Piedade das Piedades, Estrela Alva da Manhã, Juventude Infinita, Broto Nascente, Graça da Vida, Beleza Sem-Fim, Gema de Brilho Imortal, Sorriso dos Anjos, Leveza dos Homens, Raiz da Prosperidade, Raiz da Eterna Generosidade do Pai Altíssimo, Árvore Viva da Abundância, Mãe de todas as Bênçãos, Mãe Inesgotavelmente Fértil, Criança Puríssima, Criança Madura, Criança Perfeita, Nascimento da Bondade, Renovação do Corpo, Espírito Santo Pioneiro, Bebê Ressuscitado e Vivo Aleluia!
(Mente) Inspiração do Amor, Estrelinha da Noite, Chama Acesa do Alívio, Farol Perene da embarcação humana, Limpeza da Limpeza, Eternidade em Flor, Galho Fecundo da Redenção, Raiz Profundíssima da Alma, Raiz Profundíssima da Mente, Raiz Profundíssima do Corpo, Guia Confiável, Rosa desabrochada em Vida, Caule de Vida Plena, Árvore da Criação, Mulher Amada em todos os atos, Mulher amada em todos os pensamentos, Mulher amada em todas as palavras, Mulher Una entre as Mulheres, Arca de Vigor, Primeiro Anjo da Redenção, Força Viva, Cura Humana, Cura Divina, Cura
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Eterna, Seiva de Aleluia, Glória mil vezes Abençoada, Luz onde só há Luz, Amor que nutre, Conforto das Cabeças, Bênção das Bênçãos, Sangue Congênito de Jesus Cristo, Sangue Tecido por Deus, Sangue que nos é Alimento, Libertação e Cura, Laço de Amor, Jardim de Amizade, Harpa de Sua Majestade o Rei dos reis, Música de Eterna Esperança, Música de Eterno Louvor, Música de Eterna Gratidão, Saltério Bendito dos Anjos, Livro de Cura Sem-Fim, Canção Nova, Eterno Sorriso, Êxtase Divino para a Piedade, Lago de Placidez, Lago de Aceitação, Lago de Infinitos Peixes, Lago de Fartura, Lago de Amor, Segredo Revelado pela Paz, Equilíbrio Dócil e Perene Aleluia!
(Alma) Sublimidade da Paz, Perdão em forma de Pétala, Divina Graça do Pai, Flor Vicejante do Trono de Deus, Ombro de Repouso Imorredouro, Salto ao Paraíso, Visão mais calma dos Anjos, Nuvem de Ternura, Conselheira dos Santos, Conselheira dos Anjos, Conselheira das Almas, Perfume de Alívio, Certeza da Vitória, Eterno Sorriso, Confiança das Confianças, Alvura dos Corações, Seio onde não há tormenta, Brasa de Amor, Unificação dos Opostos, Unidade Benigna, Mãe Una, Mãe Grácil, Lâmpada Desperta, Coração Afagado por Deus, Carícia do Espírito, Arma dos Cristãos, Arma de todo Ser, Amante da terra, Amante do céu, Escudo Intransponível de Amor, Beleza Incondicional, Modelo de Fé, Exemplo de Deus, Inspiração dos Sonhos, Esperança Realizada, Promessa Cumprida, Equilíbrio na Abundância, Bondade na Fartura, Compaixão na Plenitude, Fraternidade Constante, Amor em todos os Moldes, Água da Vida Sem-Fim, Lar dos Corações que amam, Fonte dos corações que amam, Origem da Paz, Rainha dos Corações, Rainha das Mentes, Rainha dos Corpos, Rainha das Almas, Eterno Sorriso de Amor, Eterno Sorriso de Gratidão, Mar do Céu e da Terra Aleluia!
Velai e rogai incessantemente por nós, que recorremos a Vós (10 vezes): Ajudai-me a difundir o Vosso Poderoso Amparo (10 vezes):
Amen.
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OS SACRATÍSSIMOS, SANTÍSSIMOS MISTÉRIOS DE DEUS:
I Os Mistérios Gozosos: Anunciação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo, Filho Eterno
(Segundas e quintas-feiras)
1. Mistério: A Anunciação do Arcanjo São Gabriel à Virgem Maria. 2. Mistério: A visita de Maria Santíssima à sua prima Santa Isabel. 3. Mistério: O nascimento de Nosso Senhor, Jesus Cristo. 4. Mistério: A apresentação de Jesus no Templo e a purificação de Maria, segundo os costumes judaicos. 5. Mistério: Jesus no Templo entre os doutores da lei, perguntando e ensinando.
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II Os Mistérios dolorosos: Flagelo, Paixão e Cruz do Messias
(Terças e sextas-feiras)
1. Mistério: A oração de Jesus Cristo no Horto de Getsêmani. 2. Mistério: A flagelação de Nosso Senhor. 3. Mistério: A coroação de espinhos em Jesus Cristo. 4. Mistério: Jesus Cristo carregando sua Cruz para o Gólgota. 5. Mistério: A crucificação de Nosso Senhor, Jesus Cristo.
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III Os Mistérios Gloriosos: Promessas cumpridas: Eternidade de Jesus Cristo, da SS. Virgem Maria e do SS. Espírito Santo Paráclito de Deus (Quartas-feiras, sábados e domingos) 1. Mistério: A Ressureição de Jesus Cristo. 2. Mistério: A Ascenção de Jesus Cristo aos céus, envolto na Glória do Pai. 3. Mistério: A vinda do Diviníssimo Espírito Santo sobre a Virgem Maria e os Apóstolos no Cenáculo. 4. Mistério: A Assunção da Virgem Maria, Mãe do Messias e de toda a Glória de Deus, Bendita entre todas as mulheres, Mãe de todos nós. 5. Mistério: A Coroação definitiva da Virgem Maria no Esplendor Infinito do Céu, Rainha dos Anjos, Rainha dos Santos, Rainha dos Homens, Flor da Eternidade, Matriarca do Amor, Imperatriz da Paz.
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A religião e o espaço das almas.
Sobre as religiões da terra, assaz complexos são os assuntos que com vocês ainda hei de abordar, o que estarei fazendo, inclusive, por ser o objetivo motor destas mensagens, em meio a todas elas. Peço-lhes, de antemão, contudo, que se disponham, desde sempre, no íntimo de suas almas, a abrirem-se piedosamente à aceitação mais profunda e honesta de todas sem mesmo excetuar nenhuma dentre as inúmeras formas de religião deste globo. Aceitação é a palavra-chave quando lidamos com religiões, porque estas são o fruto claro de limitações inerentes a cada cultura. Digamos que todas as religiões são, no fundo, uma mesma resposta, que foi dada, no entanto, em decorrência de perguntas muito diversas embora idênticas quanto à meta, repito. Porque a resposta de que falei poderia assim resumir-se: “A expansão total do homem em direção à Natureza Suprema de Deus”. Ou seja, Deus poderia ser comparado, de antemão, a uma espécie de matéria prima que todos trazem em seus interiores, matéria prima esta que, como um fermento, cresce e atinge o seu próprio objetivo. Ou seja: nascemos de Deus (que é nossa matéria prima) e voltamos a Deus (que é nosso objetivo). Assim, vemos que Deus nos dá a matéria, o meio e a finalidade para que a expansão ao Absoluto ocorra e seja bem-sucedida. E essa expansão tem apenas um grande objetivo, que, a propósito, bem poderia ser considerado e visto como o efetivo resumo daquele resumo da grande e única resposta por detrás das “diversas” religiões. Esta resposta única seria, então: “A Felicidade”. Ou seja, tudo tem por objetivo a Felicidade. Só se encontra Deus na Felicidade; só existe expansão onde há Deus. O homem precisa achar Emanuel, Deus conosco. Só então um homem será, apenas, e o que é o ponto máximo, a excelência de seu Ser, ele será, enfim, aquele que será. Mais nada:
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Deus respondeu a Moisés: “EU SOU AQUELE QUE SOU”. E ajuntou: “Eis como responderás aos israelitas: Aquele que se chama EU SOU enviame junto de vós.” (Êxodo, 3, 14) Meus filhos, deixo um pequeno sobreaviso: não estou aqui preconizando o hedonismo, a busca pelo prazer irrestrito, mas a busca pela Felicidade irrestrita, o que é bastante outra coisa. Tal Felicidade só ocorrerá na cooperação, o que contraria a quem pensa, por exemplo, que a “Felicidade” justifica a ganância, a ambição cega, os atropelos... Como estarei mostrando, a Felicidade Única que é Deus existe inclusive no “sofrimento”. Podemos dizer que Deus está até no Inferno. Porque não existem dois ou mais Deuses, um para o comando de cada lugar, pois cada homem é o centro do Universo, e, portanto, só pode estar ligado a Um Deus, que é a matéria que animou a este próprio homem, dando-lhe o sopro da alma. O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente. (Gênese, 2: 7) Deus é a origem de tudo “No princípio, Deus...” (Gênese, 1:1), como ainda mostrarei outras vezes, e mais especificamente dedico um capítulo a tal abordagem. Tudo provém de Deus, nada nasce que não tenha tido Sua anuência: Bens e males, vida e morte, pobreza e riqueza vêm de Deus. (Eclesiástico, 11: 14) À frente, estarei dedicando todo um capítulo também a essas obras dúplices de Deus. Portanto, reparem como o politeísmo acaba, no fim, convergindo à Essência do Absoluto: vários Deuses significam um Único Deus. São apenas referenciais distintos, mas que, olhados do Absoluto Deus-Homem , apontam inequivocamente para a existência de um Único Grande Ser: CriadorCriação-Criatura. Pai, Filho, Espírito-Santo. E todas as “outras” trindades veneradas pelas religiões mundo afora... Porque o Senhor é um Deus Imenso, um rei que ultrapassa todos os deuses. (Salmo 94, 3)
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Mas é preciso achar Deus em Si mesmo. É preciso que se “desmascare” o que as sociedades querem impingir como “Deus”. A alma é a fagulha ígnea de Deus. A alma justifica o corpo como o fio dágua justifica o riacho enquanto tal. Meus caros, o que faz com que possamos considerar um fio dágua como um riacho? Exatamente este fio dágua. Porque o riacho não o seria sem ele. E o que faz com que um riacho possa ser considerado como um fio dágua? Exatamente este riacho. Porque igualmente não haveria fio dágua se não houvesse riacho. Portanto, eles são aquilo que são, para, daí, poderem complementar, na sua imagem, a justificativa final (e finalidade é o grande segredo da Natureza) de que há, sempre, necessidade (eis um outro segredo), tanto dessa imagem quanto do próprio ser complementar que a justificou. Riacho sem fio dágua? Fio dágua sem riacho? Seriam meros projetos? Quem sabe se tanto! E para nada serve um projeto que não se concretize. O projeto é a Ação de Deus, segundo a visão do homem, mas no homem a Ação é concreta como a carne. Daí porque as religiões, inadvertidamente, querem preconizar que a alma vem de Deus e a carne é passível de tentações, concupiscências, “pecados”, enfim. A Ação é a finalidade do homem. Este homem não o seria sem a carne. Nada substitui a Ação. Só Ela de fato justifica todas as coisas. No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto de Deus. (Evangelho de São João, 1: 1-2) No princípio era a Ação. E é ao princípio que tudo retorna, como já o mostrei acima: Deus é começo, meio e fim. A meta de todas as coisas a sua finalidade está no seu princípio; e só se chega a tal ponto com Ação própria, o “suor do próprio rosto”:
“Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar.” (Voz do Senhor, Gênese, 3: 19) No meio (entre o princípio e o fim) entra a Ação do homem. No princípio e no fim, repito, a de Deus. O meio é o elo Deus-Homem, portanto. Por isso podemos ousar dizer: a vida é o meio. A vida é o modo. É como cada um se conduz diante daquilo que é. EU SOU AQUELE QUE SOU. Somos pó, isto é, nascemos da Liberdade do Vento, do Infinito, do Não-Conceito, e, para lá, 13
passando (ou passados) pela Prisão, pelo Finito e pelo Conceito, retornaremos com nossa Coroa de Vitória Definitiva! Isto só ocorre, mais uma vez o digo, mediante as condições específicas e diversificadas com que Deus quis aprontar, uma a uma, as Suas Amadas Criaturas. Irmãos, cada um permaneça diante de Deus na condição em que estava quando Deus o chamou. (São Paulo, I Coríntios, 7: 24) No modo está a vida. Deus é, como Ele próprio mostrou, Alfa e Ômega... princípio e fim. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Começo e o Fim. (Epílogo do Livro do Apocalipse, v. 13) Homens e mulheres são como o Tau... o meio do caminho. Tudo isso é a Criação! Volto à parábola do fio dágua e do riacho. A mesma coisa ocorre entre a alma e o corpo. A alma existe porque existe o corpo, e o corpo existe porque existe a alma. Fio dágua e riacho são “sinônimos” assim como corpo e alma. “Sinônimos complementares”, pode-se dizer. Tal indissolubilidade é que, infelizmente, parece não ser sequer vislumbrada por muitas religiões. Ou, pior do que não ser vislumbrada, diria eu que muitas são as religiões que, de tal forma conhecem esta faculdade (se assim podemos dizer) de indissolubilidade, que, aproveitando-se desta ciência, atormentam homens e mulheres através da deturpação de que “o corpo é causa de pecado”... Não! Se houvesse o “pecado” como se quer mostrar em algumas religiões (com muitos nomes diferentes, atenção...), este “pecado” haveria de morar, antes, na alma, não no corpo. “Somente não comereis carne com a sua alma, com seus sangue.” (Voz do Senhor, Gênese, 9: 4) “A alma está pronta, mas a carne é fraca” diz Jesus. Portanto, já nascemos livres do “pecado original”, porque não é da Natureza do corpo (“carne”), nem tampouco de sua competência, o julgamento dos Atos que habitam a alma. Assim, uma vez que a alma esteja pronta, o corpo não tem a mancha de nascença que lhe querem imputar segundo o fazem, isto é, da forma como o dizem ser. Se há “pecado”, o único lugar que o justificaria enquanto tal seria a alma. Por isso “não se peca apenas por ações, mas por pensamentos e 14
palavras”. Meus filhos, não pecar com o corpo não significa não pecar com a alma. Devemos entender como “pecar” tudo aquilo que é prejudicial ao crescimento de um ser. Não tudo aquilo que é prejudicial à manutenção de dogmas que apenas justificariam a continuidade do poder de uns poucos homens... Há quem se abstenha de pecar por falta de meios, mas ressente o aguilhão do pecado até em seu repouso. (Eclesiástico, 20: 23) Desse versículo também podemos tirar que a verdadeira humildade, ou inocência, ou total abstenção do pecado, ou seja, do prejuízo a si mesmo, encontra-se apenas no homem forte, aquele que pode fazer algo, mas tem o poder da vontade superior àquela ação que lhe seria perniciosa, não a fazendo, portanto, por livre Ação (ou Reação). Esta Ação (ou Reação) é calcada, portanto, no instinto, que adveio como conseqüência da força inicial, para a qual retorna como causa, mas também na razão, que adveio do (e com o) discernimento para separar o que lhe é proveitoso do que não lho é. Aqui houve a real inocência, uma espécie de volta ao berço divino, a morte definitiva da culpa, da vergonha, da recriminação (daí vemos a “morte” de que se precisará para se entrar no “reino dos céus”, os Edens da terra e do céu, como nos ensina o Mestre): O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam.
(Gênese, 2: 25)
Este homem e esta mulher fortes que são nus por estarem despidos da roupagem pesada da vaidade, podendo, pois, discernir mais claramente o que é prejuízo do que é benefício este homem e esta mulher agem sem precisarem ser coagidos por causa da impotência, mas, em vez disso, são impelidos pelo forte impulso da Magnanimidade e Generosidade que têm em seus interiores. Muito estarei falando sobre a verdadeira humildade, a que acabo de fazer menção. Só deixo, por enquanto, de aviso: só há força na humildade e só há humildade na força. Novamente, são causa e conseqüência recíprocas. Mas voltando àquela imputação a de que temos um pecado original e o aumentamos dia e noite sem cessar , vemos que as religiões são eficazes em gerar a paralisia da culpa por meio de tal noção. Esse “pecado original” pode receber diversos nomes, porém se resume a uma episteme: Todos os seres que estão na terra aí estão para o pagamento de uma dívida. Essa dívida recebe, das religiões, nomes como “pecado”, “carma”, “sina” e outros que tais.
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Meus caros, ainda que fosse (ou mesmo que seja) verdade, não estou eu aqui para neutralizar-lhes uma crença específica, que, pode, e muito bem, conviver, contudo, com uma noção bastante mais racional e razoável a respeito de suas vidas na terra: Pois quem pode saber o que é bom para o homem na vida, durante os dias de sua vã existência, que ele atravessa como uma sombra? Que poderá dizer ao homem o que acontecerá depois dele sob o sol? (Eclesiastes, 6: 12) Porque, como bem o sabemos, a Lei de Deus para os homens da terra é para a terra! O Nosso Deus é um Deus de vivos, não de mortos, como nos ensina Jesus, que, ademais, exorta-nos a que deixemos aos mortos enterrarem seus próprios mortos, para que o possamos seguir, Ele, que representa VIDA! Com efeito, os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem mais nada; para eles não há mais recompensa, porque sua lembrança está esquecida. Amor, ódio, ciúme, tudo já pereceu; não terão mais parte alguma, para o futuro, no que se faz debaixo do sol. (Eclesiastes, 9: 5-6) Muito infeliz há de tornar-se um homem apenas voltado para o que acontece “depois dele sob o sol”, visto que não lhe é dado conhecer tal época. Já direi em breve, em um capítulo dedicado exclusivamente a isto, mas o tomo de antemão agora: o maior e melhor rito a Deus é o supremo amor à vida e à terra que Ele nos deu como Primeira Casa: Ora, pois, come alegremente teu pão e bebe contente teu vinho, porque Deus já apreciou teus trabalhos. (Eclesiastes, 9: 7)
Sim, meus amados, não nascemos com um “pecado original” que teria sido trazido de nossos ancestrais (Adão e Eva) ou de nossas próprias vidas pregressas. Antes, muito pelo contrário, nascemos legitimados pelo Poder de Fogo e Sangue da Alma de Deus, que é tão Superior a todas as coisas, que, ainda que existissem pecados e carmas e sinas negríssimas, ainda assim teríamos tido um nascimento cheio de Glória e Esplendor, “porque Deus já apreciou nossos trabalhos!” Só nos cabe mantê-lo e seguir em frente na VIDA.
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Porque, enquanto um homem permanece entre os vivos, há esperança; mais vale um cão vivo que um leão morto. (Eclesiastes, 9: 4) Volto, entretanto, às religiões. Por que se utilizam do “ardil” de dizerem que trazemos, ao nascermos, exatamente o contrário da Chama de Amor que nos susterá para sempre? Porque com tal afirmação, algumas das religiões conseguem manipular seres humanos. Principalmente ao atribuírem quase exclusivamente ao corpo a possibilidade de que se dê início ao crescimento daquela “mancha de nascença”, separando o corpo da alma. Já sabemos que em tal separação habitará a ruptura mais grave do homem: a sua cisão da Natureza de Deus, que é a sua própria Natureza. Onde houver fenda haverá obstáculo ao crescimento, que é, justamente ao contrário, um caminho no sentido de UNIÃO. Quem separa corpo de alma quer viver realidades a que não tem acesso, encontrando por isso um muro de cegueira, semelhante àquele que os soberbos encontram ao se dizerem Deus, ou completamente ausentes de “pecados” (todas as vezes que empregarmos tal palavra, empreguemo-la, já o disse, no sentido de “qualquer coisa que se põe como entrave à União que leva a Deus, ao Emanuel”). Todos os homens são pecadores, portanto, pois sempre estarão diante da Grande Luta, do Bom Combate, indo, portanto, em crescimento marcial rumo a Nosso Grande Redentor Universal: Jeová! Desconfiem sempre de doutrinas que venham em nome de qualquer tipo de desunião, desligamento Corpo e alma são Naturezas Análogas, cada um tem a sua Ação específica. Mas são idênticos quanto ao Criador e à Criatura. Portanto, são indissolúveis, porém complementares. Não devemos tratá-los da forma tão ostensivamente distinta como o querem muitas das religiões. Corpo e alma são como o fio dágua e o riacho. E as margens que ladeiam esta Grande Natureza (corpo/alma) se chamam mente, sempre dupla, como toda margem deve ser. Em toda a Criação está patente a duplicidade. “Onde houver dois ou mais reunidos em meu nome, eu lá estarei”, ensina o Mestre Supremo, Jesus, porque onde houver dois, haverá tudo. Temos em nosso interior a Essência de Deus. Mas Ela é como uma pedra bruta: se não passar por um processo de lapidação e de depuração, permanecerá tosca. No princípio, tudo é tosco, sem forma, sem luz, e não se deve, portanto, negar este “princípio ativo de impulsão”:
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No princípio, Deus criou os céus e as terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. (Gênese, 1: 1-2) Esta parte do Livro do Gênese pode muito bem ser aplicada a cada um dos seres humanos: somos os céus (alma) e a terra (corpo), e o Espírito de Deus habita em nossas águas (mente), condutoras eternas do “bem” e do “mal”... veículo, como a própria chuva e a evaporação, entre o céu e a terra, entre a terra e o céu... Uma água que deve ser eternamente reciclada, sob pena do término da própria vida. Podemos comparar essa Essência igualmente à massa de um bolo, como já o fiz acima: em todas as substâncias conjuntamente existe a latência para que o tal bolo fique pronto; mas essa latência só se torna um fato mediante condições muito específicas, de trabalho e ambiente. Seriam como o Ato (nada substitui a Ação) de preparar e o forno adequado para este preparo. Dessa forma, repito, no que tange às “diversas” religiões, a resposta é apenas aquela a Felicidade; as perguntas que levam àquele centro, contudo, podem ser aparentemente diversas, o que leva à conclusão errônea de que os objetivos das religiões são diferentes uns dos outros. Não: só há um objetivo Deus e Homens. Mas há muitas formas de se chegar a tal objetivo, desde que se tenha Consciência, mãe do crescimento. A quem foi mostrada e revelada a ciência da sabedoria? Quem pode compreender a multiplicidade de seus caminhos? (Eclesiástico, 1: 7) Na identidade e na diversidade é que, justamente, repousa a essência da Criação. É claro, então, que os meios de se alcançar a expansão devem refletir igualmente a diversidade inerente ao ser humano. Seria impossível que diante de condições tão distintas, todos os homens assumissem a mesma conduta a fim de alcançarem o que, isto sim, lhes é comum: a Busca pelo Absoluto. Seria como querermos que dois bolos feitos com ingredientes distintos e assados sob temperaturas diferentes acabassem tendo a mesma forma, o mesmo gosto... Deus sempre há de ser a Diversidade... Ó Senhor, quão variadas são as vossas obras! Feitas todas com sabedoria, a terra está cheia das coisas que criastes. Eis o mar, imenso e vasto, onde, sem conta, se agitam animais grandes e pequenos. (Salmo 103: 24-25)
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Partamos, assim, do que une homens e mulheres, e que está acima das diferenças entre eles: a Identidade Humana. É nessa Identidade (que estarei mostrando como a Natureza Ser-Humano), Identidade, portanto, que podemos chamar de Natureza, é nessa Identidade-Natureza, então, que está a presença Plena de Deus, a Sua Imagem e Semelhança, Plural e ao mesmo tempo Unívoca: Deus criou o homem à Sua Imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. (Gênese, 1: 27) No fundo todo homem é igual já em seu aspecto, por assim dizer, operacional: em linhas gerais, todo nariz serve para respirar, todo sangue para o transporte, dois olhos que vêem, ouvidos de escutar, e assim por diante. As características físicas de um homem, portanto, são sempre vinculadas a necessidades funcionais, tanto imediatas como, por assim dizer, práticas e mesmo transcendentais. Reparem desde já que a Santa Mãe Natureza não mantém espaços para aquilo que permanece inútil, porque a própria inutilidade é algo infenso à Essência da Natureza. A propósito, o que torna análogas várias Naturezas Diversas é, exatamente, a função semelhante, mas em níveis diversos, desempenhada por tais Naturezas. Falarei sobre isso muito em breve, ao mostrar como o Homem chega a seu Supremo Pai. Também no aspecto psicológico há enorme identidade entre os homens, porque todos eles buscam, sem exceção, a despeito de culturas e formações éticas diferentes, uma só coisa: Integralização. É algo atávico ao ser humano, faz parte de suas mais profundas (ainda que inconscientes) aspirações. E é através dessa Meta comum que todos os homens e mulheres, agora olhados um a um, individualmente, conseguem fazer emergir, de si próprios, uma Essência Indivisível, como a própria Essência-Prima de Deus. Assim, da Integralização se chega à Individuação, que, da forma como expliquei, pode ser chamada Emanuel, o nome de Jesus, que significa Deus Conosco. Eis que Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Isaías 7, 14), que significa ‘Deus conosco’. (Voz do Anjo do Senhor a São José, relatada no Evangelho segundo São Mateus, 1, 23). O homem chega ao seu Emanuel por um processo de crescimento a Deus (pois é o homem quem vai a Deus) que deve utilizar todas as faculdades inerentes ao estatuto supremo de ser humano. 19
Portanto, o primeiro passo do homem é reconhecer esta Identidade, este “estatuto supremo de ser humano”: a busca pelo comum da Integralização. Vemos mais uma vez que a Consciência é a mãe do crescimento, como eu disse há poucos instantes. E, talvez como conseqüência e ao mesmo tempo causa desta Integralização (lembre-se da parábola que propus do fio dágua e do riacho, com aplicação para alma e corpo, causas e conseqüências recíprocas e pendulares), o que todo homem quer é ser feliz. Não só quer como pode, porque tem direito e dever de ser feliz. A felicidade é uma obrigação humana, porque talvez seja a única Verdade que é, a um só tempo, a causa e a conseqüência da busca por Deus. Portanto: a Felicidade irmana os seres humanos. E também o sofrimento, por conseqüência que poderia ser definido como a ausência momentânea da felicidade , torna-os comuns; ou seja, o sofrimento também irmana os seres humanos. Na verdade, sofrimento e felicidade acabam sendo partícipes do mesmo termômetro, de uma mesma escala, porém que em graduações e patamares diversos desta escala: há limites (limites que se diferenciam de homem para homem) onde o “sofrimento” termina e, portanto, a “felicidade” começa. E há, por conseguinte, “zonas de interseção”, em que, de tal forma as modalidades se tornam limítrofes, que, mesmo àquele que as vivencia, faz-se quase impossível diferenciá-las ou descrevê-las. Veremos inclusive que o mais elevado processo de Emanuelização haverá de prescindir do campo conceitual; naquele momento, simplesmente como que se abre mão de conceitos, na medida em que estes próprios são limites dados às coisas, só podendo ser aplicados a elas, portanto, enquanto elas próprias forem também limitadas. Daí o “és pó e ao pó retornarás”, como já mostrei. Também por isso a visão que o homem tem de Deus é sempre imperfeita, porque, para falar d’Ele, é preciso circunscrevê-lo a conceitos. As religiões orientais se aproximam bastante desta verdade evolutiva do “nada” (ou do “vazio”, como se prefira chamar) em sua episteme denominada Nirvana. Ocorre, como inevitável estipêndio àquele processo, a queda absoluta de análises mentais e mesmo de descrições puramente racionais. Porque o homem terá chegado à Fusão, em que Deus, a Natureza-Una e ele serão uma só coisa, como o eram no princípio, muito antes das trevas terem se separado da luz. E a Natureza, Imagem e Semelhança de Deus, é inteiramente destituída de raciocínio, assim com também o é de cisões, o que nos leva a sabermos que esta mesma ausência de racionalidade e de cismas é o que movimenta tudo o que existe. Podemos dizer que o homem apresenta a tendência à Fusão. 20
Mas é este, repito, o mais elevado estágio, que, por ora, não deve ir além do vislumbre e da esperança. Primeiro é preciso ver-se algo, descrever-se algo, para, depois, sentir-se esta matéria; de tal ponto, voltamos a poder descrever a mesma matéria... Agora houve o nascimento do Poder, o que já torna muito íntimos Deus e o Homem, cada um com Seu Poder, Poderes que são comparáveis, embora não idênticos, quanto à função, pois justamente na diferença entre eles é que reside a Sua Grande Utilidade (o que justifica todas as coisas), já que são Poderes, afinal, Complementares: um necessita do outro para que a sua própria função seja perfeita. E “Perfeito” é tudo aquilo que está pronto para expandir-se... Meus amigos, não há uma única mitologia ou religião no mundo que tenha deixado de aludir à ajuda indispensável do ser humano a Deus para a consecução final do projeto da Grande Criação. No capítulo do Livro do Gênese intitulado O Paraíso, em que se mostra exatamente a construção deste Paraíso, vemos como, já num primeiro momento, a cooperação do homem a Deus (e vice-versa) permitiu a vitória: No tempo em que o Senhor Deus fez a terra e os céus, não existia ainda sobre a terra nenhum arbusto nos campos, e nenhuma erva havia ainda brotado nos campos, porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra e nem havia homem que a cultivasse. (Gênese, 2, 5)
Assim sendo, mais uma vez quanto à “felicidade” e ao “sofrimento”, repito que não passam de modalidades, por assim dizer, de uma Natureza idêntica, assim como o “quente” e o “frio”, por exemplo, são modalidades da natureza “calor”: mais calor se chama “quente”; menos calor, “frio”. E onde, exatamente, um passa para o outro, isto é questão individual, na medida em que cada ser humano “suporta”, “recusa” ou “aprecia” uma modalidade de acordo com razões igualmente individuais. (O mesmo princípio se pode aplicar a Luz e Trevas, Verdade e Mentira, bem como a todos os opostos que tanta celeuma causam nos meios religiosos, como se existisse um marco divisor incontroverso para cada um deles...) Por isso, repito, a Integralização é aquilo que, alheio a modalidades distintas, embora de uma mesma Natureza, como “sofrimento” e “felicidade”, modalidades que são sujeitas a sentimentos e análises individuais, de fato faz dos homens uma só grande Substância, no que tange à Origem (Deus) e, portanto, à Meta (Deus). 21
Integralização significa ânsia por compartilhar, com Deus, e, intuitivamente, com todos os outros homens, que são a manifestação física de Deus mais imediata (muito embora toda a Criação seja Imagem e Semelhança do Criador), um Sumo Indivisível, que se poderia chamar a Natureza-Infinita, ou Natureza-Una, a parte inefável e absoluta, a única Verdade Absoluta, que, portanto, contém em si todas as Verdades Relativas e todas as Mentiras Relativas. Mas esta Natureza-Una é um como último estágio de evolução ou Fusão, e é exatamente por esse motivo que muitas religiões trucidam o homem ao quererem que este “pule” as etapas naturais, de onde, só então, poderia chegar àquele último estágio: a Natureza-Una. É como querer que alguém que esteja aprendendo neste momento a nadar já seja, amanhã mesmo, campeão desse esporte! Vocês vêem tolice nesta atitude?... Mas volto um pouco. Dizia eu, agora, que toda a Criação é Imagem e Semelhança do Criador. Sim, meus filhos, o homem e a mulher não têm o privilégio de serem as únicas Imagens do Criador. Deus contém em si todas as Criaturas, e todas elas merecem, portanto ser chamadas de Deus. Embora não sejam Deus em Sua Natureza-Mor, entendam bem. Tentarei explicar melhor, com base em metáforas bem simples. É como dizermos: “Flor”. Dessa noção, ou desta Natureza-Mor, podemos dizer: violeta, acácia, crisântemo, rosa. Todas estas manifestações, que são físicas e apreensíveis, podem ser igualmente chamadas de “Flor”, e cada uma delas será, de fato, uma “Flor” isto é a Identidade da Integralização , porém diferentes, entre suas espécies e entre cada exemplar de uma mesma espécie, em cor, formato, função, cheiro, tamanho... isto é a Diversidade da Integralização. É a Diversidade que faz com que cada uma delas não seja a Natureza-Mor “Flor”, embora uma por uma compartilhe desta Natureza igualmente pela Identidade. Ou seja, o Limite faz chegar-se ao Ilimitado. O Limite é uma das mais sérias prescrições do Grande Pastor Divino, e veio do princípio das gerações, do início absoluto da ancestralidade humana: “Não removerás os marcos de teu vizinho, que teus predecessores fixaram na herança que te couber na terra, cuja posse há de te dar o Senhor, teu Deus.” (Deuteronômio, 19: 14) Assim ocorre entre Homens e Deus. Só somos seres-humanos porque compartilhamos, cada um de nós em nossa Diversidade (Limite), cada um com seus “marcos herdados na terra”, com todos os demais seres humanos, 22
pela Identidade, portanto, da Natureza de Deus (que é Ilimitado). Em resumo: somos idênticos porque somos diversos. Cada um com sua função completa a Grande Natureza Humana, que, esta sim, vai à Natureza-Infinita, ou NaturezaUna, passando por Deus. A igualdade só existe na diferença. E o segredo de se atingir a Identidade, a partir desta Diversidade, se chama Compartilhar. A partir daí se atinge a Integralização. Assim é que a mesma inerência transcendental, Invisível, Infinita, Ilimitada do homem é que o torna, exatamente por ser de tal Natureza (Infinita), essa inerência é que o torna, repito, Finito, Visível, Limitado. Por outro lado, como num palíndromo musical, esta Finitude, Visibilidade e Limitação, tudo isso torna o homem Invisível, Ilimitado Infinito! Porque são “Prisões” que o levam a necessitar da “Liberdade”. Também por serem opostas, são duas modalidades suscetíveis a apreensões individuais, como no caso em que ilustrei com a escala dividida em “quente” e “frio”.... Tentarei explicar melhor. Ocorre que a Natureza-Mor do homem não é Deus, cuja Natureza-Mor é, em Deus, Ele mesmo: “Eu sou o que sou”. Esse é o segredo. Já a NaturezaMor de todos os homens é “Ser-Humano”, não Deus. Assim a Natureza-Mor que une acácias, violetas etc. é, nelas, “Flor”, também não é Deus. “Flor”, “Ser-Humano” são Naturezas-Mores para os seres que as compõem. Mas, como veremos, são Naturezas-Menores em relação a Deus, que é Trino e Uno: está na Sua Natureza-Mor, em todas as Suas NaturezasMenores (Que são Naturezas-Mores para as Criaturas) e simultaneamente em todas as Naturezas-Menores, que são as próprias Criaturas (incluam-se aqui as inanimadas, e Tudo o que existe); a União de tudo isso é a Natureza-Una, que é também Deus, e é “onde” Ele se faz, portanto, Uno ou Infinito. Mas voltemos a uma análise mais acurada. A Natureza-Mor de Deus é, repito, “Deus”. Apenas “Deus”, ou, simplesmente, EU SOU. E ajuntou o Senhor: “Eis como responderás aos israelitas: Aquele que se chama EU SOU me envia junto de vós.” (Gênese, 3: 14) Chega a ser cômico um homem dizer: “Eu sou Deus”. Seria a mesma coisa que Deus dizer: “Eu sou homem”... Lembrem-se: Deus é apenas EU SOU! Somente a tautologia pode explicar exatamente a Essência de cada Um, mesmo A de Deus:
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Eu sou eu. Tu és tu. Deus é Deus.
Porque cada Criatura manifesta Deus, que é Ilimitado, em seus estados Limitados, como já vimos, que é o Eu Individual. A única Verdade que manifesta Deus integralmente é a União, que se chama Natureza-Una, de que falarei mais, e à qual cada ser se funde, no que se pode chamar Eu Total. Para se chegar a este Eu Total, como veremos, o Eu Individual precisa, antes, como numa iniciação, em que parte deste próprio individualismo necessitará morrer (e por necessitar é que acaba, cedo ou tarde, morrendo de fato), dirigir-se rumo ao Eu Coletivo. Respectivamente e aqui já está previamente resumido o caminho a Deus, à Emanuelização ocorre que o homem parte de sua Natureza-Menor (Eu Individual) para a sua Natureza-Mor (Ser-Humano, o Eu Coletivo de que ele, indivíduo, faz parte). Como essa mesma Natureza-Mor é uma das NaturezasMenores de Deus, aquele homem alcança uma primeira iniciação, em que, ao fundir-se à Natureza-Menor de Deus, concomitantemente a sua (deste homem) Natureza-Mor, ele alcança a Chave para as Portas do Céu, que é a NaturezaMor do próprio Deus, fundindo-se, aí, à Natureza-Una, tendo alcançado, por fim, o próprio Eu Total. Não tente pular etapas, pois terá que voltar àquela que pensa ter pulado.. O Eu Coletivo é a Porta Final que devemos transpor rumo ao nosso Paraíso; e isso se fará com o Auxílio Santíssimo de Deus; podemos dizer que este Portal, o último Portal, o Eu Coletivo, é como o Bronze, que será desfeito rumo à Mãe Definitiva, ou o Grande Retorno ao Total: Ele arrombou as portas de bronze e despedaçou os ferrolhos de ferro. (Salmo 106) Esse ferro pode muito bem ser considerado análogo ao Eu Individual, por suas identidades com a Luta, com a Guerra, com a necessidade, enfim, de Ação a que o homem quis no princípio dos tempos submeter-se. Essa Submissão Voluntária Primitiva recebe o nome de Adão. O que levou a que ela fosse espontânea e docemente abraçada, e que bem podemos conceber como o Impulso Inicial à Transcendência, recebe o nome de Eva (em hebraico, repito, Hava, ou Vida).
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Voltarei a outros pontos, utilizando parábolas e exemplos análogos, um pouco mais simples de serem compreendidos, dada a espécie didática de que são imbuídos. Ora, uma flor não manifesta Deus da mesma forma como um homem O manifestaria, bem como a acácia e a violeta, que são flores, não manifestam o estado de Flor da mesma forma. Tampouco Maria, João, Pedro, Antônia manifestariam o estado de Ser-Humano de forma idêntica, mas apenas eis o segredo! análoga, uma vez que têm as mesmas Naturezas-Mores (acácia e violeta: Flor; Maria, João, Pedro, Antônia: Ser-Humano). “Assim na Terra como no Céu”. As manifestações são análogas (porque há Diferenças Individuais) mas de uma mesma Grande Natureza (porque há Identidades entre todas). Por isso diremos que o frio é análogo ao calor, e o sofrimento à felicidade, e o homem a Deus. O que torna tudo isso Uno é a Natureza-Infinita, repito, cuja descrição seria sempre falha na exigüidade dos conceitos, das palavras, dos pensamentos a que somos sutilmente submetidos... Pois muito bem, então o que liga, afinal, o homem a Deus? Suas Naturezas Deus / Ser-Humano. Essa Natureza é a mesma para Ambos, Deus e humanidade, e não deixa de ter, por isso, sua característica mais importante: servir de Elo. Como eu já direi, ela é como o Deus-Filho da Santíssima Trindade, exatamente por unir o Criador (Deus) à Criação (Filho). E é o que Jesus representa. Esta mesma relação liga Deus, que se manifesta Integral em cada uma de suas Naturezas-Menores, porque mesmo estas são, em Deus, Ilimitadas (ou Integrais), por exemplo, com a Flor, que é, também, uma Natureza-Mor, para cada espécie de flor (violeta, acácia...). Ligam-se pelas Suas Naturezas Deus / Flor. A mesma coisa acontece com todas as demais Naturezas-Mores da Natureza-Infinita, que é a União de tudo, o que faz de todas as coisas Uma Única Natureza. Porque todas as Naturezas-Mores da terra são ao mesmo tempo Naturezas-Menores de Deus, sendo, portanto, Elos entre a Infinitude Final de Deus e as Criaturas, sem exceção, que manifestam Finitamente a Centelha Divina presente na Natureza-Mor de que provieram. Tudo isso é Natureza-Infinita. Essa Natureza-Infinita, ou Natureza-Una, é o Nada que participa de Tudo. Porque n’Ela nada existe a menos que tenha uma função. Numa metáfora 25
bem humana, poderíamos dizer que esta Natureza-Una é a própria Mãe de Deus... Ela é a Fusão Definitiva. É o que faz de um Deus Trino um Deus Único. Assim sendo, o que liga uma acácia a Deus é a Natureza-Mor “Flor”, partícipe, esta sim, da Natureza-Mor de Deus, que é, n’Ele, o próprio Deus porque Ele é o Único que possui também a forma Imanifesta (e Infinita) da Natureza-Infinita ou Natureza-Una, que é o que podemos chamar de NaturezaMor de Deus, ou, pela Santíssima Trindade, o Pai. Em outras palavras, o que ligou a acácia a Deus (ao Infinito, pois) foi exatamente a participação (ou compartilhamento) desta acácia na sua NaturezaMor, Imanifesta e Limitada (para ela, porque essa mesma Natureza é para Deus Manifesta e Ilimitada), que se chama “Flor”. “Flor” seria, por analogia, como o Eu Coletivo do Eu Individual “acácia”, e este seu Eu Coletivo lhe dará a Chave para as Portas do Eu Total: Deus, Céu, Paraíso... Porque até as Criaturas irracionais têm acesso àquele Paraíso. Cada ser só participa de Deus pela passagem por sua Natureza-Mor, seja ela qual for: Ser-Humano, Flor etc. Mas obviamente, cada Natureza-Mor tem suas próprias Chaves, pois são Eus Coletivos Diversos... Diferentes... Múltiplos... Multímodos... como toda a Grande Natureza se quis fazer! Só se entra no Infinito pelo Finito. Não existe Ilimitado que não passe pelo Limitado. Primeiro se passa pelo Limitado de si mesmo, que é Manifesto; depois se vai ao Limitado da espécie (o Coletivo), que é Imanifesto para cfada Criatura olhada isoladamente, em si mesma, e é, a um tempo, o “primeiro” Ilimitado de Deus, Manifesto em relação a Ele; só então se atinge o “segundo” Ilimitado de Deus, que é o Infinito Verdadeiro sem maiores possibilidades de descrição. Prestem muito atenção. Disse eu há pouco que Verdade e Mentira são como o quente e o frio, isto é, são graduações de uma mesma escala. Reparem como a Mentira convive, até em Deus, harmonicamente com a Verdade: Ora para Deus, a Finitude da Natureza-Mor Ser-Humano é uma Mentira, pois que esta mesma Natureza é, para Ele, o Senhor, uma NaturezaMenor, porém Infinita, já que Deus não experimenta por isso não conhece o Limite na forma como nós o conhecemos. Nós vivemos como num Sonho de Deus... Respondeu Jesus: “O que é impossível aos homens é possível a Deus.” (Evangelho segundo São Lucas, 18: 27)
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Por isso somos um Grande Projeto de Infinito... Só a nós caberá a Ação que nos couber (de novo a tautologia é o melhor modo de se explicarem as “complicações” aparentes que se nos defrontam). E esta mesma Ação é tudo aquilo que ao homem sempre haverá de caber: Quem não quiser trabalhar não tem o direito de comer. (II Epístola de São Paulo aos Tessalonicenses, 3: 10) Assim: O que cultiva seu solo terá pão à vontade; o que corre atrás das vaidades fartar-se-á de miséria. (Provérbios, 28: 19)
Tudo o que há de Finito é como uma espécie de Mentira para Deus, que só vê a Verdade no momento em que o Limitado se funde à sua própria Natureza-Infinita, que é Deus, e que é, pois, Ele Próprio, o EU SOU. O homem é Imagem e semelhança de Deus. “Façamos o homem à nossa Imagem e Semelhança” (Voz do Senhor; Gênese 1: 26) Para este homem, por seu turno, tudo o que há de Infinito é Mentira, pois ele, enquanto homem, só poderá atingir a transcendência de si mesmo pelo Finito, pela sua Ação, e, exatamente quando atingir tal transcendência, não poderá mais ser concebido como “homem”, ao menos não no sentido restrito de tal palavra, pois este “homem” já não estará confinado a seu Eu Individual; pelo que se prova que, a um homem, apenas o Finito é a Verdade. “Faça por onde que Eu te ajudarei.” Todo o Infinito é Mentira, para o homem. Na soma da Verdade com a Mentira que, num homem, muito bem pode ser resumida como a soma da Ação com a Fé, pois que a Ação está no Finito assim como a Fé está no Infinito é que se encontrará o êxito na empreitada rumo à Eternidade. Poderíamos definir a Fé, dessa forma, como a Ação no Infinito. A transcendência é a soma dos opostos, o que perfaz a TOTALIDADE. Só se é Total ao se promover a Grande União Final. “Final” com o sentido, sempre, de FINALIDADE. Isto é: META! Porque, assim como todo homem nasce (Alfa) do Infinito, é para este Infinito que deverá retornar ao Fim (Ômega) de todas as coisas. Aí não há homens; só há Deus, Fundido naquelas que foram Suas Criaturas, e hoje, como Ele Próprio, 27
são apenas EU SOU (mas um EU SOU que precisa ser atingido com esforço próprio, com o “suor do próprio rosto”, com Ação, enfim, repita-se). Foi da Vontade do homem atingir “novamente” a Identidade com Deus por conta própria. Assim, este homem terá de pagar com o desenvolvimento da própria Vontade àquela mesma Identidade Divina com que já veio predestinado ao mundo a Transcendência Inerente. Essa Transcendência, repito, só é alcançada no consórcio definitivo entre os Opostos Naturais que carreiam todos os homens e todas as mulheres: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que ele não estenda a sua mão e tome também o fruto da árvore da vida, e o coma, e viva eternamente.” (Voz do Senhor; Gênese, 3: 22) O próprio Projeto Transcendental de Deus para o homem a Árvore da Vida , ao se revelar a este homem, deu-lhe a chamada “tentação”, pois que ele passou a conviver com seus dois opostos, bem ali, à sua frente e ao seu alcance: “bem” e “mal”, necessitando fazer com que tais “opostos” se (re)encontrassem, uma vez que são, ambos, provindos da Suprema NaturezaInfinita. Rico e pobre se encontram: foi o Senhor que fez a ambos. (Provérbios, 22: 2) Cabe a esse homem, repito, uni-los novamente, como era no princípio, quando Luz e Trevas não haviam, ainda, sido sequer separadas (e “Deus viu que era bom” separá-las). Deus colocou os dois grandes luzeiros no firmamento dos céus para que iluminassem a terra, presidissem ao dia e à noite, e separassem a Luz das Trevas. E Deus viu que isso era bom. (Gênese, 1: 17-18) E, repito, o homem é o único capaz de atingir a Deus, com o “suor do próprio rosto”. Foi esta a sua Grande Conquista por ter ousado (e Deus ama a ousadia, porque ama a coragem e a nobreza de coração) comer do que lhe fora proibido. Foi a primeira “tentação” a que Deus quis submeter o homem. E este homem foi vitorioso ao ter “sucumbido” a ela?... Foi o “não” do homem que o fez necessitar lutar pelo retorno àquilo que ele tem de herança.
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O homem precisou, porque foi esta a sua primeira manifestação Filial de Vontade, precisou alcançar com esforço do próprio corpo a glória final. Deus dá todas as coisas de que necessitaria um de seus filhos, porém cabe a estes o “esquadrinhá-las”, isto é, ir atrás da revelação (Consciência) de cada uma delas, sob pena de, embora tendo toda a terra e todo o céu por herança definitiva, nunca poder usufruir de tal tesouro: A glória de Deus é ocultar uma coisa; a glória dos reis é esquadrinhá-la. (Provérbios, 25: 2) “Não há nada de oculto que não venha ser revelado” confirma Jesus, o Grande Mestre Branco, sempre atestando numa “Segunda” vez o que os Profetas disseram: Deus fará prestar contas de tudo o que está oculto, todo ato, seja ele bom ou mau. (Eclesiastes 12: 14)
As riquezas servem antes de entrave àqueles que as não esquadrinharem com pulso firme de quem é impelido pela Ação Pura e pela Fé Pura: esta vida e a vida vindoura respectivamente (que se unem numa só Vida Plena, Total). Jesus respondeu: “Ninguém há que tenha abandonado, por amor do Reino de Deus, sua casa, sua mulher, seus irmãos, seus pais ou seus filhos, que não receba muito mais neste mundo e no mundo vindouro a vida eterna.” (Evangelho segundo São Lucas, 18: 29-30)
Aqueles homens “embriagados” pela própria riqueza são como o rico, a quem Jesus fala: Mais fácil é passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino dos Céus. Porque o excesso de riqueza a que todos os homens são sujeitos, pois a terra toda é riquíssima é, ao mesmo tempo que uma “bênção”, também uma “maldição” àquele homem; sempre as graduações “opostas” de uma mesma escala... muito próximas às partes do corpo que Jesus ensina que melhor seria cortá-las para entrar-se nos céus sem elas do que, ainda que se as tivéssemos, padecêssemos num inferno pessoal. O homem que se perde na riqueza do próprio caminho é como este que se descreverá:
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Vi um mal debaixo do sol, que calca pesadamente o homem. Isto é, um homem a quem Deus deu sorte, riquezas e honras; nada que possa desejar lhe falta; mas Deus não lhe concede o gozo, reservando-o a um estrangeiro. Isso é vaidade e dor. (Eclesiastes, 6: 1-2) Como eu já disse, e estarei sempre sempre repetindo: a vaidade poda a capacidade de discernimento. Em uma palavra: a vaidade retira de um homem a sua Consciência. Um homem vaidoso, excessivamente trajado de indumentárias inúteis, de “vestes sujas”, jamais terá a naturalidade necessária para a investigação da Natureza, que é Una, Infinita, TOTAL. Essa Natureza-Una que o homem deve esquadrinhar é a Árvore da Vida. E a Consciência definitiva da Árvore da Vida que pressupõe, repito, a união dos “opostos”, “bem” e “mal”, que passam, pois, a ser desocultados pelos Atos do homem, a revelação do que é “oculto” é que dará ao homem a sua Glória de Rei. Vale a pena “repetir” (o certo será dizer: confirmar!):
A glória de Deus é ocultar uma coisa; a glória dos reis é esquadrinhá-la. (Provérbios, 25: 2)
Vejam, no último Livro da Bíblia (o Apocalipse), como de fato é à Árvore da Vida que se retorna, isto é, à GRANDE UNIÃO TOTAL: Felizes aqueles que lavam as suas vestes para ter direito à árvore a vida cujos nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro. (Epílogo do Livro do Apocalipse, 14) Eu declaro a todos aqueles que ouvirem as palavras da profecia deste livro: se alguém lhes ajuntar alguma coisa, Deus ajuntará sobre ele as pragas descritas neste livro; e se alguém dele tirar qualquer coisa, Deus lhe tirará a sua parte da árvore da vida e da Cidade Santa, descritas neste livro. (Epílogo do Livro do Apocalipse, 18-19) Em resumo: o modo do homem, o seu Tau, é a Ação! Quem não trabalha não come! Quem cultivar seu solo terá pão à vontade. Como cada Natureza-Menor se comporta de seu modo particular como eu já disse “o modo é a vida” (há até certas filosofias e religiões que apregoam líderes elementais para cada tipo de Natureza-Mor, inclusive a dos 30
seres inanimados, que regulariam os modos distintos de ascensão), falarei um pouco mais sobre a Natureza-Mor Ser-Humano, especificamente. Um homem só participa de Deus porque é um Ser-Humano. Toda Natureza-Mor (como Ser-Humano o é) será Imanifesta, porque é o conjunto de Potencialidades para cada uma de suas Naturezas-Menores, que são o único posto onde Potencialidades viram Ação. Não se chega a Deus fugindo-se da Humanidade, isso não seria possível a um homem... E repare que o grau de Compartilhamento (ou a Fusão pela Identidade) para se chegar a Deus acaba atingindo o Globo inteiro. Ora, várias são as Naturezas-Mores, que, no fim das contas, possuem alguma Identidade e qualquer Identidade é suficiente com a Natureza-Mor Ser-Humano... Por exemplo: Animais... (pela forma como se comportam fisiologicamente); ou Vegetais (por serem, como Ser-Humano, seres vivos); ou Minerais (por viverem na Terra!); e assim por diante. A Natureza-Mor de Deus, Imanifesta no Infinito, como eu já disse, tem Suas Naturezas-Menores, Manifestas, também, no Infinito. São NaturezasMenores de Deus todas as Suas Criações, que, portanto, nascem do Infinito. Por sua vez, as Naturezas-Menores de Deus (Ser-Humano, Flor...) são, cada qual, Naturezas-Mores, porém no Finito, para cada uma das espécies ali viventes: acácia, violeta, Maria, João. Porque Flor é a Natureza-Mor de uma acácia, de uma rosa... Da mesma forma, Ser-Humano é a Natureza-Mor de Maria, Joaquim, Pedro... Portanto, tais Naturezas-Mores são Imanifestas, como toda Natureza-Mor, repito, porém no Finito. Tais Naturezas-Mores também possuem, naturalmente, suas NaturezasMenores, que são Manifestas no Finito. Essas Naturezas-Menores (pela última vez o digo) são a acácia, o crisântemo, a azaléia, a rosa (para a Natureza-Mor Flor); e também, Maria, João, José, Joaquim, Marcelo, Pedro, Joana (para a Natureza-Mor Ser-Humano). Este é um esquema bem simples que nos permite visualizar, sem maiores delongas e fantasias, a ligação do homem com Deus. Em tal esquema, entretanto, há muitas “ramificações”, que apenas atrapalhariam, embora, o quanto se espera destas exíguas mensagens. Em resumo: uma das Naturezas-Menores de Deus o Ser-Humano , manifesta no Infinito, para Deus, é, para cada homem e mulher, uma NaturezaMor, Imanifesta, portanto, mas no Finito. O que une Deus a cada homem e mulher é o fato de cada homem e mulher ter em comum a participação na Humanidade, que é, para cada um desses homens e mulheres, a sua NaturezaMor, chamada Ser-Humano. O Imanifesto Finito de cada homem e mulher, sua Natureza-Mor, portanto, é o que os liga ao Manifesto Infinito de Deus, uma, 31
apenas uma de Suas Naturezas-Menores chamada Ser-Humano. Do Finito Total (João, Maria...: Ser-Humano) para o Infinito Total (Deus: Deus). Um homem não atinge a Deus enquanto não se souber e não se aceitar SerHumano. E Ser-Humano é, para cada homem e mulher, uma condição Finita, embora Imanifesta. Já para Deus, repito, esta mesma “condição” é Manifesta, embora Infinita. Deus se manifesta no que é, para os seres-humanos, com limites de sentidos, Imanifesto. Por isso Deus é sempre invisível para o homem, porque mesmo onde Ele se manifesta, mesmo aí o homem não tem acesso visual. O Infinito de Deus se manifesta no Imanifesto dos Finitos. E só o manifesto dos Finitos pode ser visto por todos os seres-humanos. Todos os Imanifestos são invisíveis, sejam Finitos ou Infinitos (Só há um Imanifesto Infinito). E como todo Imanifesto, mesmo nos Finitos, é a própria Natureza-Mor, é claro que cada criatura só pode atingir a Deus enquanto pertencer plenamente à sua própria Natureza-Mor. Portanto, cada criatura precisa compartilhar de todas as Potencialidades Imanifestas Finitas (sua Natureza-Mor Ser-Humano) para atingir a Ação Manifesta Infinita de Deus (a Sua Natureza Menor SerHumano). Esta ligação entre a Natureza-Mor Ser-Humano e a Natureza-Menor de Deus Ser-Humano é o que, na Santíssima Trindade, se chama Filho. Daí: “Ninguém chega ao Pai senão pelo Filho...” O conjunto de todas as Naturezas-Mores Finitas (Ser-Humano, Flor...) se chama Criação. A Criação é, portanto, todas as potencialidades Imanifestas Finitas do Universo inteiro... E esta Criação só se verbaliza em suas múltiplas Criaturas. E a única Natureza-Mor Infinita existente, que é Deus, se chama Criador, ou, como eu já disse, simplesmente Pai. E mesmo este Pai tem uma Mãe: a Natureza-Infinita, ou Natureza-Una. Entendam bem que as limitações da linguagem e da própria forma de geração humana acabam tolhendo a compreensão de Deus. Mas, no fundo, são Limitações a que o próprio Deus quis se submeter... Mais uma vez se comprova: as Limitações são divinas. Este Criador manifestou-se primeiro a Si Próprio, porém no Infinito, quando se quis a Si Mesmo Diferente, em várias Naturezas-Menores: SerHumano, Flor... Ou seja: Deus também quis submeter-se à Diversidade. Toda a Integralização se calca na Diversidade. Toda Natureza-Mor é unificada, porém todas as Naturezas-Menores são Diversificadas. Cada elemento da Natureza-Mor, ou seja, cada Natureza-Menor, se chama, na Santíssima Trindade, de Espírito Santo. Portanto, Maria, João (acácia, rosa, violeta) são, cada um deles, o Espírito Santo.
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Isto é: a Integralização partilhar das Naturezas de Deus, unificadas no que se pode chamar, repito, Natureza-Una se dá, pelos homens e mulheres, cada um no seu patamar, de modo diferente de um para o outro, como é diferente, por exemplo, a rosa da violeta (e mesmo uma rosa de outra rosa...), e através do compartilhamento, em tais diferenças, como Ser-Humano. Ali se dará a Integralização. Por isso eu disse há pouco: Na identidade e na diversidade é que, justamente, repousa a essência da Criação. É o que se chama de “Comunhão”, ter “um só corpo e um só espírito”, isto é, dar para receber a essência comum que une todos os homens igualmente à Sombra e à Luz, segundo sejam as necessidades individuais, do Criador. Sim, estas mensagens têm como objetivo insuflar nos peitos o ânimo para que cada um busque, com todos, a formação de Um só Corpo e um só Espírito... Escolhi, por razões não tão relevantes, as parábolas, mantras e metáforas adotados pelo Antigo Testamento e pelo Novo, mais especificamente pelo catolicismo; porém, deixo claro que estas mensagens o são talvez aproveitando a etimologia da palavra “católico” para todos os sereshumanos, mesmo aos que se dizem ateus. Porque, no fim, são mensagens de busca pela Felicidade, esta Felicidade a que têm direito e dever qualquer homem, qualquer mulher. Por que integralizar-se é o caminho? Ora, compartilhando a Natureza-Mor Ser-Humano, que é uma Imagem Impessoal, ou Coletiva, portanto, o homem acaba atingindo a Natureza-Menor Ser-Humano, Menor para Deus, como sabemos, e que é porta, enfim, para a Natureza-Mor também de Deus. (E tudo em Deus só tem um Nome, Suas Naturezas, Unificadas pelo Nome, apenas se podem chamar Deus, em hebraico, IHVH.) Ao atingir esta Natureza-Mor de Deus (ou simplesmente Deus), cada homem terá atingido a própria Essência, a Essência de si mesmo, que é uma Imagem Pessoal, Individual, e este homem pode chamar-se, apenas agora, repito EMANUEL. Porque agora terá Deus com ele. Por aquela Imagem Impessoal, que é a alma da Natureza-Mor SerHumano, e que é, esta sim, feita à Imagem e Semelhança (analogia) de DeusPai, que também é Natureza-Mor, é que as culturas nascem. Isto é, emanam de uma espécie de eflúvio coletivo que irmana mais proximamente determinadas comunidades humanas. Assim, a própria cultura não deixa de ser uma espécie de NaturezaMor, visto que é Imanifesta, cheia de Potencialidades, porém diríamos que uma Natureza-Mor secundária. A única Natureza-Mor primária para o ser humano é 33
exatamente esta: Ser-Humano. E, desta Natureza-Mor primária, as únicas Naturezas-Menores também primárias são Pedro, Maria, Joaquim... cada homem e cada mulher! Todas as suas roupas e posses e pertences e religiões são Naturezas-Menores secundárias... Todo o mais, no que diz respeito a homens e mulheres, será, portanto, secundário, e não terá na vida outra serventia senão a de, justamente, servir a tais homens e mulheres. Porque muito mais valem as almas, a coletiva e as individuais, do que quaisquer outros meios de compreensão de tais almas. “Muito mais valem os homens e mulheres do que os pássaros e os animais”, ensinou Jesus, referindo-se a isso. Dizia eu, então, que a cultura é uma Natureza-Mor (por ser Imanifesta e comum) secundária (por ser uma centelha e uma operária da grande NaturezaMor Ser-Humano). Podemos falar, então, e sobretudo, numa Grande Cultura Humana, elo, zona de interseção que pertenceria a todos os seres humanos, de todas as culturas, muito próxima, pois, da própria Natureza-Mor primária SerHumano. Essa Grande Cultura Humana se esboçaria em espécies de padrões idênticos nas mais diferentes culturas do globo. É o que se chamou arquétipo. Ela pode ser detectada e comprovada pelas coincidências aparentes nas manifestações culturais, por exemplo nas ritualísticas e folclóricas. Assim, mesmo em cotejo com a Grande Cultura Humana, que é também fragmento, operária da Grande Natureza-Mor primária Ser-Humano, as culturas variadíssimas da terra são, realmente, um tipo secundário na melhor das hipóteses de Natureza-Mor (e todas as manifestações, por exemplo, rituais são Naturezas-Menores, também secundárias, dessa Natureza-Mor secundária). Ora, como a religião é uma das Naturezas-Menores das culturas, de uma a uma, reparem quão variadas hão de ser, pela própria necessidade que as fez vir à luz, todas elas, quer olhadas em conjunto, quer observadas individualmente, cujas diferenças de povo para povo serão também enormes. Não se enganem. Toda religião é, portanto, uma, apenas uma manifestação secundária de uma Natureza-Mor igualmente secundária (determinada cultura) sob o regimento de uma Grande Natureza-Mor também secundária (a Grande Cultura Humana). Então, pergunta-se: por que dar-se tanta importância às diferenças entre essas religiões, quando poderiam ser encaradas beneficamente como a materialização de fontes (as culturas e a Grande Cultura) que traduzem os anseios intrínsecos a uma dada comunidade? É um meio muito palpável e claro de “tradução”. Assim sendo, a cultura “traduz” as Imagens Impessoais de uma comunidade (o conjunto de todas essas Imagens Impessoais, repito, se chama Natureza-Mor Grande Cultura Humana, que é secundária, mas partícipe direta 34
da Natureza-Mor primária Ser-Humano), e a religião “traduz” uma das manifestações desta Imagem Impessoal perquirida, chamada de cultura, também em certo conjunto de seres humanos. Por isso a Grande Cultura Humana tem tantas culturas, e cada cultura tem tantas religiões... Por ser uma tradução de Imagens Impessoais, a cultura é uma ferramenta utilíssima aos homens, e não deve, pois, ser desprezada. Nem as línguas, nem os rituais, nem as religiões, nem nada que tenha nascido por causa de uma cultura qualquer. Porque desprezar uma única Natureza-Menor significa desprezar toda a Natureza-Mor que a contém... (Quem despreza um homem despreza a Deus!) Nenhuma cultura é desprezível, portanto; nem seus atos manifestos, tampouco... Assim, o homem, para crescer, uma vez que necessita compartilhar com a Natureza-Mor Ser-Humano, precisará necessariamente passar pelas NaturezasMores secundárias, como o é a própria cultura, e, pois, pelas suas formas Manifestas, como o são a própria religião e a língua, dentre outras, repito. Entretanto, muito acima disso está o crescimento de um homem e de uma mulher rumo a Deus... Muito acima de fatores secundários estão as almas... Nada exceto as almas há de primário na Natureza. Este crescimento para atingir-se a Deus tende, contudo, a tornar os homens egoístas, e o egoísmo é completamente contrário ao verdadeiro crescimento, isto é, aquele que faz, de fato, com que se chegue a Deus. Porque o egoísmo proíbe a Ação de Compartilhamento. E não agir para isso não vale nada: tudo deve nascer como conseqüência de uma Ação, para a qual se volta, agora, como causa. A Ação é o centro de todas as coisas. A Ação é a Palavra, o Verbo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus, e o Verbo era Deus” (Evangelho de São João, 1, 1). O Verbo-Ação é causa e conseqüência. O egoísmo é uma verdade falsa. Não é uma mentira, porque mentira é outra coisa... É uma verdade porque existe, mas é falsa porque não leva a nada: e a Meta justifica tudo; o que não tem Meta é falso. Muitas são as verdades travestidas de falsidade e as falsidades travestidas de verdade, o que causa tanta confusão entre os homens, principalmente em relação àquelas verdades e falsidade que, entre si, assemelham-se na superfície, como, por exemplo, a vaidade e a individuação... de que falarei em breve. Ora, a vaidade, metaforicamente, pode ser concebida como um excesso de roupas, enquanto a individuação pode ser concebida, igualmente de forma metafórica, como a nudez. E, embora opostos (ou justamente por isso), a nudez e a
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ostentação individuação e vaidade tendem a confundir-se nos sentidos limitados e parcos do homem... Tal ocorre, como eu disse, entre o verdadeiro crescimento, ou individuação, e o egoísmo (filho da vaidade). Em ambos ocorre um crescimento, por isso ambos são verdades, porém um é verdade real, pelos frutos que dá, e outro é apenas ilusório... ou falso. O egoísmo é “o fermento dos fariseus”, de que nos fala Jesus: faz crescer portanto é verdade mas não leva a nada portanto é falso! O egoísmo nos soa como uma espécie de “atalho” a Deus, porque se “cresce” de forma mais rápida com ele... Porém, não há atalhos para Deus... Só há o que há, assim como Ele é o que é, e nós somos o que somos. Não há outro meio de se fundir à Sua Natureza-Mor. (Que se funde à Natureza-Una.) Assim, o mais alto padrão de compartilhamento culmina no mais alto padrão de individuação. O homem cresce em si, e atinge a Deus em tal crescimento (porque o motivo da necessidade de crescimento é a necessidade de se chegar a Deus, “Pai Nosso que está nos céus”, isto é: no Alto, aonde só se chega crescendo), como conseqüência e causa do compartilhamento com uma Natureza-Mor análoga à Natureza-Mor de Deus e comum a uma das Naturezas-Menores de Deus; repita-se, por fim: Ser-Humano Deus-Filho. Homem-Deus, Deus-Homem. Mas quais são os caminhos para esta Integralização? O que ela é exatamente? Quando um homem se conscientiza de que é igual a todos os outros basicamente pelas duas razões que enumerei acima físicas e psicológicas (e sempre funcionais, isto é, justificadas pela função) , ele passa a compreender, aceitar as limitações dos outros homens (em tudo iguais a ele), porque compreende, e aceita, que são os únicos caminhos factíveis em relação àquela pessoa. Esta é a primeira forma de perdão. E muitos são os caminhos de Deus, ou os caminhos a Deus, “cuja casa tem muitas moradas”, como nos diz o Mestre Supremo, Jesus, Pastor. E todos esses caminhos são, portanto, um só caminho, reto e imperecível, escolhidos ou possíveis (querer e poder, coisas tão diferentes...).
“Senhor, mostrai-me os vossos caminhos, e ensinai-me as vossas veredas.” (Salmo 24, 4)
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“O Senhor é bom e reto, por isso reconduz os extraviados ao caminho reto, dirige os humildes na justiça, e lhes ensina a Sua via. Todos os caminhos do Senhor são Graça e Fidelidade, para aquele que guarda Suas Alianças e Seus Preceitos.” (Salmo 24, 8-10) Esta é a verdadeira compaixão, que evidencia as semelhanças (físicas e psicológicas) entre todos os seres humanos, que, por serem iguais, buscam ser iguais por uma só meta: que é Deus. E, com este sentimento de compreensão e aceitação, um homem se torna verdadeiramente piedoso, pois conhecerá a razão principal de certos atos. Dessa forma, aceitar uma religião significa compreender e considerar que, de outro ângulo (diverso), a mesma pergunta foi feita (em essência idêntica), o que resultará, pois, em respostas igualmente a um tempo diversas e idênticas. Trata-se, portanto, da mesma coisa olhada por parâmetros vários. Ou é como se fosse uma mesma palavra dita em línguas diferentes, pois que, se não se fizesse assim, haveria sempre aqueles a quem a resposta, posto que dada, soaria incompreensível. Daí resulta a aparente diversificação religiosa do planeta. Não há religiões pregando, por exemplo, a existência de vários deuses, nem mesmo as politeístas o fazem, pois sabem da impossibilidade que grassaria em um Império supostamente dividido por forças e poderes iguais. Não seria respeitada a noção mais clara para Deus: o Limite. Todas sabem da essência indivisível de um único Deus. Algumas enfatizam, contudo, as manifestações filiais infinitas deste Deus, o que chamam elas de deuses. São, repito, apenas formas de se dizer uma única coisa: a imutabilidade e indivisibilidade de Deus. Deixem-nas, pois na verdade não estão “erradas”, porque não existem “erros” em religião, existe, como em todo o mais da vida, aquilo que se pôde fazer, uma forma específica como se pôde compreender um número de verdades que, como eu já disse, não passam exatamente da mesma verdades porque só há uma, no que tange à busca mais profunda. Eu diria que esta Verdade, quando Imanifesta, se chama Natureza-Una, e, quando Manifesta, se chama Felicidade. Por isso “a Felicidade não é deste mundo”, isto é: não é proveniente deste mundo, pois nasce da Grande Natureza-Una ou Natureza-Infinita, a Mãe de Deus..., que, sendo Imanifesta (na verdade a maior de todas as Imanifestas, que une as outras e as faz dar frutos), não pertence ao mundo visível, “este mundo”, porque o tem, como tem os demais, em si mesma. E esta Felicidade é, portanto, um direito e um dever de todos os humanos. Nenhum homem deve orgulhar-se de si mesmo se não for feliz. Ouçam: 37
“Um homem, embora crie cem filhos, viva numerosos anos e numerosos dias nestes anos, se não pôde fartar-se de felicidade e não tiver tido sepultura, eu digo que um aborto lhe é preferível.” (Eclesiastes 6, 3) Assim, e em resumo, não é preciso que se respeite ou que se compreenda uma religião, porque, para isso, seria necessário conhecê-la e prezá-la profundamente, mas é fundamental que se aceitem e que se considerem todas elas, já que, em suas diversidades aparentes (e reais), há um fundo idêntico de necessidade, vínculo humano. Daí os muitos caminhos que são um só. Portanto, é sempre imprescindível que se enfatizem as semelhanças humanas, não as eventuais diferenças, pois que são, estas últimas, assaz superficiais, e vêm basicamente quando falamos em cultura. A propósito, as religiões nascem, no seio do homem, graças a dois fatores primordiais e que se confundem: o medo e o temor. É nesta confusão que, em princípio, se baseiam as religiões. O temor é fator inerente ao homem, e o próprio medo é também fator inerente a todos os homens. Mas medo e temor são realidades diferentes, que só se confundem por uma semelhança superficial. É bastante comum que os homens confundam realidades distintas por causa de suas semelhanças imediatas. Assim acontece com a confusão que se faz, por exemplo, entre simplesmente conseguir fazer algo e poder fazer algo. Porque em ambos os casos, a coisa será feita. E isso é o bastante para que se pense que ela foi feita por poder... Mas nem sempre é assim. Da mesma forma é muito comum que um homem confunda querer com necessitar. E igualmente vêm sendo confundidas realidades como o Destino (“Considera a obra de Deus: quem pode endireitar o que Ele fez curvo?” Eclesiastes 7, 13. E ainda: “Quanto ao mais, que cada um viva na condição na qual o Senhor o colocou ou em que o Senhor o chamou” I Coríntios, 7, 17; “Irmãos, cada um permaneça diante de Deus na condição em que estava quando Deus o chamou.” I Coríntios, 7, 24) e o Acaso, de que falarei no momento certo. Assim é que “não se deve confundir o joio com o trigo.” Se são semelhantes, são-no apenas quanto à forma, porém não quanto à função, que é aquilo que, bem como eu já disse, torna comuns psicológica e fisicamente todos os homens, e o próprio Deus em face deles. A função de uma coisa é aquilo que a justifica, portanto é o que de mais importante esta coisa tem. Não apenas o seu aspecto de superfície? Como discernir essas realidades parecidas?
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Apenas “pelo fruto se conhece a árvore”. É preciso esperar que o joio nasça, e que cresça, para, só então, ver-se que ele não é trigo. Só na Meta se justifica uma existência: “Mais vale o fim de uma coisa que o seu começo.” (Eclesiastes 7, 8) E nessa mesma esteira se confunde o medo com o temor. Não há religião não digo pensamento, o que é muito outra coisa que não tenha nascido no medo: da punição, da ação, da reação, das forças incontroláveis, internas e externas. É por isso, inclusive, que, até hoje, a maior parte das religiões continua sobrevivendo no (e do) medo, naquele mesmo medo que, como todas elas sabem, foi o que lhes deu alento, sopro de vida, ensejo de viver. Mas são coisas diferentes em suas conseqüências, embora semelhantes em seus aspectos, são como o joio e o trigo. Vejam como vem a conseqüência do medo em face do real temor. O coração medroso do insensato jamais tem temor em seus pensamentos; assim também o que não se apóia nos preceitos divinos. (Eclesiástico, 22: 2) Como vemos, o medo, antes de tudo, obscurece a ação benéfica do temor. E toda religião veio também pela política. Elas, ao saberem por que vieram, podem utilizar-se deste fator de causa, de origem, rumo à manutenção indefinida de suas próprias existências. É assim que nenhuma delas abre mão do medo, seja por coação, seja por doutrina... Saiba-se, desde início, entretanto, que certa dosagem de medo é mesmo preferível à intrepidez cega e sem direção de alguns homens, que, não tendo sequer aonde chegar (ou por que lutar), acabam lutando a esmo, sem Meta, sem Fim, com qualquer ser humano, sem motivo e sem crescimento. São pessoas que se tornam áridas e extremamente arrogantes, pois não conhecem limites. E muitas são as religiões que não vêem senão no medo a colocação do limite. O Limite individual deve advir do temor, não do medo. Ali este Limite encontrará aquilo a que está destinado desde outros mundos a Felicidade. A Felicidade é a Meta e a Meta é o que permite que tanto Maria quanto Pedro, Joaquim, Joana... possam ser chamados Seres-Humanos, suas NaturezasMores, e é, por fim, o que os torna “um só corpo e um só espírito”, elo com a Natureza-Mor de Deus, o Pai, difundido na Natureza-Una. Vejam, agora, o que vem como conseqüência do temor.
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“Que advém ao homem que teme ao Senhor? Deus lhe ensina o caminho que deve escolher. Viverá na felicidade, e sua posteridade possuirá a terra.” (Salmo 24, 12-13)
Para haver crescimento e haver crescimento é o que importa é necessária certa quantidade (qualitativamente elevada) de temor, vamos chamálo de o “Bom”, ou “Prudência Intuída”, pois isto é o que modela os atos segundo padrões salutares e universais de temperança. Medo é deletério, e é aquilo que, além de paralisar determinada ação, obscurece igualmente a capacidade de aceitação, quando mais não seja, da própria impossibilidade de agir ante o fato em tela. O medo corrói por impotência, e nada há de mais abjeto que um ser humano impotente... é aquele pecador que não peca por falta de meios mas “ressente o aguilhão do pecado até no repouso”... Devemos tratar as religiões, portanto, como basicamente a soma de duas realidades antropológico-sociais e psíquicas: em primeiro lugar, nascida de uma necessidade profunda por parte do homem de explicar aquilo que não pode enxergar, embora sinta (incluindo-se, aqui, o seu imenso medo de que falei e a sua sequiosa busca de comunhão), ou seja, um fator “espiritual” (pseudoespiritual); e, em segundo, o uso que desta necessidade fazem outros homens, aproveitando-se dela para manipular, pela fé de tantos e tantos, suas vidas, isto é, um fator político. Assim, em muitas religiões arde, ao mesmo tempo, o fogo da fé e o da cobiça. (Não necessariamente fé, mas em muitos casos, repito, medo, puro medo.) Não estou generalizando religiões, nem tampouco homens, o que estou fazendo e deixando de sobreaviso é apenas isto: a religião, organizada que é, esquematizada e munida por homens, será, por essa exata razão, passível de inúmeras falhas. Orai e vigiai eis duas palavras que resumem tudo o que disse eu até aqui: ora-se por fé; e vigia-se por precaução e prudência: alma e mente. O homem verdadeiramente religioso faz uma coisa sem abrir mão, jamais, da outra: ele “dá a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Política e espírito andam juntos na religião, não se iludam jamais. Ter a doçura da pomba e a precaução da serpente. Sim, meus filhos, a religião é resultado da alma e da mente... Muito falaremos sobre isso. O Amor Universal (esse a que chamo “Eflúvio Paterno”), o Amor Universal vence, em qualquer situação, os simples rótulos que se lhe queiram dar, ampliando-se, derramando-se, esparramando-se e abrindo-se com a simplicidade de uma grande e ÚNICA rosa. Falei simplicidade; sim: porque é a forma através da qual se manifesta o Amor de Deus; simples como a rosa. 40
Esta rosa é a pura gema do Amor Essencial que habita entre os homens, movendo-os numa só direção, um sentido apenas: Deus! O Criador Onipotente de todas as coisas visíveis e invisíveis, O Ser Magnífico e Supremo Eternamente Digno de Louvor, Glória e Ação de Graças! A Força das forças! Há, portanto, a grande mola que nosso Pai quis dar-lhes, a vocês e a nós todos, de Graça: o Seu Amor. Não se importem, dessa forma, com o modo como este ou aquele povo preferiu (ou pôde) conduzir aquilo que, de Graça, e em porções iguais e justas, lhe foi ofertado. Não quero dizer com tudo isso que o nome dado às coisas não acabe mesmo por interferir na real essência daquelas. A razão de se lhes ter dado certo nome, e não outro qualquer, acaba, realmente, por fazer incidir sobre as tais coisas certos matizes inexistentes em outras nomeações igualmente possíveis. Isso é cultural e passa despercebido ao homem desavisado. Sabemos que a linguagem é grande arma de poder e manipulação. “Eis que são um só povo, disse o Senhor, e falam uma só língua; se começam assim, nada os impedirá futuramente de executarem todos os seus empreendimentos. Vamos, desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se compreendam uns aos outros.” (Voz do Senhor, Gênese, 11: 6-7)
E por isso é aliada incorruptível dos homens que se valem da religião para minimizar o espectro de ação de outros homens, tolhendo-os, em prol de vidas alheias. Mas o que ocorre e que é bastante maior que essa questão levantada é o fato de que as religiões, todas elas, são tentativas de sistematização, no mais das vezes de modo incipente, do que é, por natureza, a um só tempo simples e multímodo: o Amor. Isto é, o Amor se resume à simplicidade e à variedade. Ele não se divide, mas se espalha. É como a gota de mercúrio. Assim sendo não há sistematização plausível para Ele. Como não o haveria tampouco para Deus, Sua Fonte. Em tudo na vida há e haverá diferença. Uma das palavras que, por sinal, melhor definiriam Deus seria exatamente esta: “Diferença”. Assim o é sobretudo quanto ao Amor. Por que tentar fazer dele uma “caixa de sapatos”, útil e desnecessária, se, na sua essência imutável, o que opera infinitamente é a mudança? O amor às vezes é inútil e muitas vezes necessário; pode ter aplicação imediata, quase pragmática, ou pode remover, com paciência e mutismo, silenciosamente, montanhas e montanhas de mágoa; podemos vê-lo 41
num gesto concreto de compaixão, ou passar vidas e vidas sem nunca enxergálo, por não aceitação de que, ainda que invisível, o Amor é o Amor, e sempre o será. O Amor pode vir sob a manifestação, até, do que chamam vocês de ódio. Por isso é tão difícil discernir o Amor, que ao homem íntimo de Deus, é antes sentido, intuído, experimentado. Por que discutir as formas de vida se em todas elas há a mesma imutável e variadíssima Vida? que é Amor. Por que ser recalcitrante contra as diferenças se é nelas que corre fluídica a seiva da Infinitude do Nosso Pai? Além disso, por que lutar contra as diferenças se elas são o que mais notória e fartamente existe na Natureza? Por que, enfim, lutar contra Deus, que não se manifesta Igual em nada, e dá a todas as criaturas a Unção da Individualidade e a da Irrepetibilidade? Todas as coisas, inclusive homens e mulheres, são feitos à imagem e semelhança de Deus. Como compreender que tudo seja igual a Deus se nada é igual entre si em termos imediatistas? E, por isso mesmo, como admitir que só haja um Deus? Ora, porque Deus não avalia segundo formas físicas imediatistas, mas sob o parâmetro da essência, porque em tudo há e haverá, enquanto houver vida, a Sua Essência o Amor. Que é de onde viemos e para onde tornamos. E é isto o que Ele vê quando nos olha. A partida e a chegada. O que medeia a relação entre homens e Deus é a Hierarquia, não o Poder. Porque poder é algo absolutamente igual em Deus e nos homens, cada um deles em seu posto. Os poderes de Deus são para Deus, mas os do homem, para o homem. Nem mesmo Deus interfere nestes poderes humanos, porque estaria infringindo o que nunca faz limites, Leis que Ele mesmo implantou entre nós, extensíveis a Ele próprio. O que ocorre, mais uma vez o digo, é a Hierarquia, o que é bem outra coisa. Isto é, nós temos funções obrigatórias diante de Deus, o que são nossos deveres para com o Pai, mas Ele, em Seu Trono de Luz e Glória, também tem as Suas obrigações, os Seus deveres diante de todos nós. Trata-se de uma simples relação para tratarmos em termos apenas humanos em que os deveres (de ambas as partes) abrem terreno aos direitos (das mesmas partes). Deus nunca é arbitrário em Seu posto, porque tudo o que faz tem um propósito, uma meta, um objetivo o que é o grande Dever de Deus, Nosso Criador. O nosso é cumpri-lo, e, com isso, temos direito à felicidade, a mesma eternamente que faz regozijar Nosso Senhor, em seu Direito Santo à eterna Felicidade. Por isso os poderes são iguais: Deus tem poder para estipular os caminhos; mas só o homem tem poder para cumpri-los. A hierarquia é o que explica esta relação igualitária de poderes.
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Não se preocupem mais com as brigas ou com as tentativas de se apararem tais ou quais “arestas” religiosas, com as tentativas de se fazer uma única religião no mundo, já que as religiões com seus rótulos e livros de códigos intrincados não passam, creiam-me, de simples distinções antes culturais, sociológica e antropologicamente explicáveis, portanto, do quê, de fato, intrínsecas às aspirações pungentes da alma. (Tais aspirações, estas sim, refletem-se amiúde no corpo e na mente, porque vêm da alma. Sobre tudo isso falarei melhor.) De antemão, fique avisado isto: sempre tenham muita desconfiança de tudo o que vier em tentativa de tornar homogêneos os homens... Assim ocorre com os meios de comunicação, com certos modismos, com algumas religiões. E, além de todos esses aspectos mais emergenciais, saibam que a “unidade” cristã, sob os parâmetros preconizados pelo homem (e falamos em Cristo por ser ele o nosso Mestre e Guia), ou segundo as formas como se vem pregando a sua “idealização benéfica”, não é, de forma alguma, real plano de Nosso Senhor, porque esta “unidade” haveria de podar, aparar, cercear, enfim, muitas e muitas verdadeiras vocações de Fé, Oração e Caridade. Assim sendo, antes haja diferenças rotulares, com manutenção da Essência Amorosa de (e para) Deus, do quê, num consórcio religioso, numa convergência idealizada por homens, haver uma como “religião cristã global” que, como estipêndio (indefensável), apagasse as profundas marcas (e os sintomas) da presença viva do Espírito de Deus o real sentimento de comunhão humana. Essas marcas e sintomas sim têm o condão inequívoco da Unificação Cristã Suprema (não uma “religião cristã”), que ocorre mesmo entre aqueles homens que nunca nem sequer ouviram o nome “Cristo”. Lembrem-se de quem foi o eleito na parábola do Bom Samaritano: este mesmo! apesar de provir de povo tão adverso à “religião” do homem socorrido... Também esta parábola traz outro ensinamento: a Compaixão deve ser endereçada a qualquer ser humano, sem distinção (rotular ou religiosa inclusive), mas, uma vez efetuada a ação, deve-se imediatamente seguir em frente, sem olhar para trás, pois que isto evita contaminação. A “pena” é um sentimento em geral muito ruim, pois contamina a quem o leva. Isto ocorre por algumas razões: em primeiro lugar, em geral a pena nasce de sentimento de culpa de quem a teve, e nada se faz de fértil que tenha nascido em culpa; em segundo lugar, porque ter pena significa, invariavelmente, não permitir que outra pessoa evolua, carregando a cruz que lhe é de direito, na medida em que a pena, sendo passional, e portanto 43
irrefletida, gera interferência, abuso, invasão no santíssimo limite alheio (que foi estipulado por Deus...). Além disso, a pena em geral impossibilita a ação, e, quando não o faz (ou seja, quando seu tutor promove algum ato movido por ela), sempre este tutor estará contaminado por sua própria ação, cujo alicerce terá sido, necessariamente, atabalhoado. Assim sendo, só há distúrbios no sentimento de pena, ainda quando, em seu nome, se faz algo. Antes de tudo, é preciso que o ser humano seja humilde o suficiente para saber duas coisas: ele não é insubstituível, portanto, se não pode ajudar a uma pessoa que lhe pede algo, esta pessoa não morrerá à míngua pela falta de providência naquele momento. O único ser que nunca pode falhar e por isso nunca falha é Deus. Dele é que dependemos a todo o instante. Além disso, como já falei, uma segunda verdade é que a pena acaba contaminando a pessoa que agiu em prol do outro. Sem contar o efeito talvez mais pernicioso de todos: um homem que se vê ajudado por pena alheia irá, de regra, abdicar inconsciente ou conscientemente de seu “salvador”, porque não admite, em seu íntimo, ter sido erguido por outro homem, em toda a essência semelhante a ele próprio. Aquele outro homem, envaidecido, superior (ao menos segundo os olhos do homem ajudado), passa a estar em posição de supremacia, envolto em poder. É como se ele assumisse a posição de Deus. Por isso não é raro que se perceba a ingratidão após um auxílio dado. Isto ocorre se o auxílio for dado passionalmente. Um homem que aja por paixão esperará, de outros homens, um reconhecimento imediato. Só quem age com Amor, que é fruto da Mente-Coração, poderá saber esperar, pascendo nas ervas da Eternidade. Compaixão é outra coisa, tem outra natureza. Nasce do Amor, que nasce da Compreensão, que, por fim, nasce da Identidade. A partir disso, o homem experimenta, pelo tempo necessário ao auxílio, se este puder ser prestado, ou tiver realmente de sê-lo, a dor, o sofrimento alheio. Se um homem apenas sentir o sofrimento alheio com total intensidade, em vez de um único sofrimento, teríamos dois... O trabalho se reduplica?... Não seria necessária uma cura, mas duas... Por isso digo: não sentir o sofrimento alheio, a cruz alheia, mas experimentá-los. O próprio exemplo de Cristo mais uma vez nos esclarece: ao estar morrendo na Cruz, experimentando seu sofrimento inevitável, Ele próprio, Jesus Cristo, tinha, a seu lado, mais dois homens em igual agonia. Nem no âmbito meramente humano Jesus se viu desamparado, pois pôde, uma vez cercado de seres humanos em igual estertor, aplacar ou aceitar com sensível resignação tal estertor. Ele mesmo, humano que era, sentiu um momento de 44
revolta ou injustiça, ao perguntar ao Pai: por quê? No entanto, viu-se como um homem em meio a outros em igual Identidade sofrimento. Com isso, calou aquilo que, nele, era a última centelha humana: a dúvida. Dúvida quanto aos desígnios perfeitos de Deus. Percebeu, então, que Deus nunca se compraz com sofrimentos humanos, mas não os extirpa, já que são fontes de crescimento e união. E porque, sobretudo, como eu já mostrei, são da mesma escala da felicidade, porém em patamares diversos. Jesus uniu-se definitivamente à espécie humana, comungou por fim com todos eles, homens, e um dos bandidos crucificados a seu lado aquele que aceitou a própria Cruz foi, no mesmo instante, cear no Paraíso Eterno ao lado do Messias. Porque disse Sim à sua própria condição Ser-Humano, e comungou no Corpo de Cristo, DeusFilho, naquele exato momento. Participou da sua Natureza-Mor Ser-Humano e entrou, por Ela, na Natureza-Menor de Deus Ser-Humano. Ali está o Filho, e “só se chega ao Pai (Natureza-Mor de Deus) pelo Filho”... como sabemos... Sim, o sofrimento é tanto maior quanto mais isoladamente se vive este. A maior forma de se superarem sofrimentos inevitáveis como a perda de um ente amado, uma decepção etc. é saber-se que não se é o único a ter de carregá-lo. Assim, percebemos que só o homem ajuda o homem na questão do sofrimento que é do homem, não de Deus. Uma das razões da criação de Deus foi justamente confiar ao homem o que lhe é de encargo e direito. A Deus, o que é de Deus. A César, o que é de César. O homem tem responsabilidades sobre a Criação: “Cada um carregue a sua cruz.” O sofrimento, enquanto está ocorrendo, gera feridas que podem combalir o homem. Por isso, de que adiantariam duas pessoas feridas em vez de uma? (Da cicatrização de tais feridas ocorre o crescimento.) O homem, por ser homem, sabe onde dói e quanto dói certa flecha, mas, se a receber junto com outro homem, dificilmente vai poder ajudá-lo a removê-la, porque, antes, precisa curar a si mesmo... Em suma, é preciso conhecer a dor, não ter a dor. Com isso, o homem poderá ajudar, de forma honesta, sem a deformidade assaz detestada por Deus a hipocrisia , com o coração, enfim, e estará imediatamente justificado em seu ato. E, acima de tudo: não espera e nem precisa ter reconhecimento, gratidão. Ele apenas fez o que tinha de Ter feito, simplesmente agiu por Ação. Assim, atenção, uma vez que este ato foi consolidado, é obrigação do homem que o promoveu “não olhar para trás”... Porque, se o fizer, estará não mais ajudando, mas, sim, humilhando o homem a quem o auxílio já foi dado. Já foi dado! O homem que olha para trás será como a esposa de Loth: transforma-se num ser paralisado, estátua de sal.
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Assim, quem passa por um sofrimento deve procurar outros que também passem ou tenham passado. É importante poder compartilhar nessa hora. Quem não estiver passando, no entanto, não precisa passar no corpo para prestar auxílio, mas precisa lembrar-se de sua humanidade, para, com isso, gerar o laço definitivo de união a Compaixão com que o socorro dado será definitivo, ao menos em relação a quem o deu. (Mas para lembrar-se é preciso conhecer...) Portanto, se vai ajudar, entre na vida da pessoa, ajude-a. Mas saia! E não é preciso mais se lembrar do que fez, porque está feito. Guarde apenas a essência do sofrimento superado. É como guardar o perfume de uma rosa após ter esta morrido. “A sua mão direita não deve saber o que fez a esquerda”. Mãos servem para fazer, não para saber ou lembrar. A Ação vale mais. A mente registra, o coração ordena, a mão faz! Não se enleve com seu próprio ato, policie a própria mente neste sentido, não fique se maravilhando com “tamanha complacência”... de sua parte... pois saiba que, apesar de ter tido “intenção boa”, seu ato pode, até, ter acarretado males indizíveis à pessoa “ajudada”. Não terá sido sua culpa, pois o mais importante você fez: agiu! Dali em diante, os poderes serão da própria pessoa de como lidar com o que recebeu de suas mãos (que, ainda que muito ruim, pode ser convertido pelo outro em bens) e do próprio Deus, que, em Suas linhas, conduzirá todo o processo humano-divino aonde Suas metas tiveram por bem desenhar. Neste momento Deus passa a interferir a favor sempre a favor! da outra pessoa. Portanto agora o caso é entre Deus e aquela pessoa, não tem nada a ver com você. Todo este processo que envolve homens e Deus é o Destino, como se vê, totalmente calcado na Atividade, que é fruto do Acaso, da Liberdade, da Vontade, ao contrário da visão estereotipada que os homens (principalmente ocidentais) têm dele. Assim, quem se mantém no eixo do processo (Destino) após a ajuda está interferindo no poder de Deus, invadindo o Seu limite. É por isso que se “contamina” da vida alheia, porque passa a querer carregar a cruz que não lhe pertence. É como Simão Cireneu. Por isso a compaixão significa nãoenvolvimento. Significa Amor: Coração e Mente. Significa, sobretudo, Ação as mãos e desapego: desapegar-se das próprias mãos e da própria Mente! Mas nunca do Coração! Ordenou que sentisse? Já sentiu? Fez? Esqueça! (O sentir não se apaga...) Todos podemos (e devemos) ajudar, sempre! Interferir, nunca! Também se pode falar na parábola dos dez mendigos, para voltarmos à supremacia do ato puro em face do rótulo religioso, em que, sendo todos
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curados, apenas o da mesma procedência do homem da parábola anterior (samaritano) quis voltar para demonstrar a gratidão que sentia (Lucas, 10:17). Sim, meus filhos, a Compaixão verdadeira, sim, gera gratidão; a pena, o seu oposto. O que prova mais uma vez: a Caridade é o Xis, o Tau, não se relaciona a “religiões”, porque religião é de âmbito, também, humano, e não tem necessariamente em todas as suas filigranas o toque de interseção (e intercessão...) divina, o que a torna, portanto, em muitos aspectos, dogma puro, mente em seus ardis, raciocínio, formulação. Não é inspiração ou intuição. E dogma não cura, não ilumina, dogma não é nada, não é coisa alguma para Deus. Porque Deus prescinde da mente pura para viver, o que nasce exclusivamente dela é, portanto, fruto de vaidades unicamente humanas, face a outras vaidades (ou aspirações) igualmente humanas. Não têm nada a ver com a ligação homemDeus. Ele, Nosso Pai, não tem dogmas, o que Ele tem são Leis. Leis estas a que Ele próprio respeita incondicionalmente, sem burlar a nenhuma delas. E todas Elas são-nos reveladas cuidadosamente com o passar do tempo real, porque estão todas presentes na natureza visível e invisível. Não há motivos para um homem acovardar-se diante de outro pela suposta circunstância, ou “evidência” (falaz e equivocada), de que este último deteria conhecimentos só a ele revelados, podendo estar, com esse “privilégio de Deus” (Deus não privilegia a ninguém), acima dos outros homens. Assim é que o conhecimento pode ter seu lado prejudicial ao homem: “Os presentes e as dádivas cegam os olhos dos juízes. São em sua boca como um freio que os torna mudos e os impede de castigar. Sabedoria escondida é tesouro invisível. Para que serve uma e outro? Mais vale aquele que dissimula sua insipiência, do que aquele que esconde sua sabedoria.” (Eclesiástico, 20: 31-3) Aqueles “presentes e dádivas” são, justamente, o conhecimento. Porque, na verdade, muitos são os “conhecimentos” que aparentemente um homem teria alcançado por “revelação”, mas que foram, somente, formulados por brilhantismo da mente, mente pura, e por isso são obra de malhas cartesianas e lógicas, silogísticas, perfeitamente atraentes e sedutoras em sua aparência, mas com intuitos nem sempre igualmente benéficos. Eles próprios sabem que na mente reina exclusivamente o âmbito humano (exclusivamente, se estivermos falando quanto a Deus), e, por isso, para receberem autoridade aos olhos dos outros homens, dizem que tais conhecimentos não lhes chegou por formulação racional, senão que, em vez disso, lhes teria vindo por inspiração divina. Com isso, ganham imediato respeito e prestígio, inaugurando a falsa hierarquia de que precisam para, em seus altos postos, perpetrar os manejos que vislumbravam de há muito. Essa 47
hierarquia humana simplesmente existe na ação dos homens contra eles próprios... (literalmente!) não é Obra nem Lei de Deus, é erva daninha do diabo, literalmente ocorre, doce e agradável aos sentidos, por determinação de Satanás, com anuência, fique bem claro, do próprio Senhor dos Exércitos. É, como se vê, o lado mental da religião. Em nada se relaciona à alma. Porém é um lado necessário... A propósito, uma precaução: a consideração é algo que se deve dar irrestritamente, a quem quer que seja, porque é aceitação dos limites e possibilidades do ser humano diverso; o respeito, entretanto, é algo muito diferente, que só deve ser dado a pouquíssimas pessoas, em quem realmente passamos a confiar respeito e confiança são uma coisa única , só àquelas pessoas a cujos braços nós nos pudéssemos jogar cegamente da altura de um penhasco, sem medo da queda... A estas sim vale nosso respeito. Às outras, consideração e certa distância. Ter a prudência das serpentes e a doçura das pombas, como eu já disse. Sem hostilidade, mas com individuação. E cuidado: ser ingênuo não é virtude, é defeito muito, extremamente grave. Qualquer religião, seja ela qual for, lida com a mesma coisa: a Verdade. Portanto, aquilo que deverá ser “ensinado” numa religião simplesmente será tentativa de tradução da Verdade rediviva (nunca se repete a Verdade, mas se reclama esta). Por isso, por exemplo, a Bíblia, contendo todo o Conhecimento Supremo do homem, pode ser livremente aberta, pois apenas “quem tem ouvidos ouvirá”, como diz Jesus. O Conhecimento é inato àqueles que o “ouvirem” e, portanto, compreenderem. Compreenderiam, ainda que não ouvissem. Saberiam porque sabem. Nunca se dá Conhecimento; apenas o que se pode fazer é ativar Conhecimento. Reclama-se a Verdade, apenas isto. Aumentar, sim; criar, não. Na Natureza tudo se transforma. Não se pode criar sobre o nada. Criação é sinônimo, sempre, de transformação até para Deus. O crescimento vem sobre o que já se tem. Como fazer crescer uma árvore cuja semente não exista? Antes é preciso havê-la para, depois, ordenar-lhe e promover-lhe crescimento. Nunca o contrário ocorreria. “Não se jogam pérolas a porcos”, porque estes, embora vejam a mesma pérola que qualquer outra criatura esteja vendo, não a compreenderiam, porque nasceram para não compreender, não saber o que é aquilo. E esta é sua função: não-saber. Pode-se falar por parábolas ou de forma explícita, é a mesma coisa: quem tiver de compreender a mais enigmática parábola, este vai entendê-la, cedo ou tarde; por outro lado, a mais clara das palavras poderá passar como vento, e passará, àquele que a não puder compreender.
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Jesus disse, muito claramente, num raro momento em que não se conduziu por parábolas, mas com total explicitude, a seus doze discípulos: “Eis que subimos a Jerusalém. Tudo o que foi escrito pelos profetas a respeito do Filho do homem será cumprido. Ele será entregue aos pagãos. Hão de escarnecer dele, ultrajá-lo, desprezá-lo; batê-lo-ão com varas e o farão morrer e ao terceiro dia ressurgirá.” O Evangelista prossegue, referindo-se, agora, aos discípulos: Mas eles nada disso compreendiam, e estas palavras eram-lhes um enigma cujo sentido não podiam entender. (Lucas, 18: 31-4) Ou seja, isto mostra bem que o Mestre não falava por parábolas para ser incompreensível, mas apenas porque sabia que, tendo falado claramente ou não, suas palavras só atingiriam, e no momento exato, a quem devessem ou pudessem atingir, a ninguém mais. Suas palavras são como flechas certeiras, apontadas, em meio a infinitas criaturas, a apenas poucas delas: “Muitos serão os escolhidos, mas poucos os eleitos.” Não há jamais palavras jogadas ao vento: “Céus e terras passarão, mas a Palavra não passará.” Porque tudo o que Ela é é-o exatamente por não (precisar) aparecer, isto é, por ser não-sendo. O lastro da Palavra está na Invisibilidade desta, que, sem precisar vir à luz, é a própria Luz Revelação. Portanto, meus filhos, quem não é contra nós é por nós, não pode haver nem há, definitivamente! outra possibilidade; a natureza de uma boa árvore se vê por seu fruto, não por seu caule, que é seu estereótipo. Aquele que faz é! E é muito mais do que aquele outro que, pregando ardorosamente sua própria religião, ou “clamando Senhor, Senhor!”, tentando impingi-la, ou mesmo impingir a sua compreensão de Deus a outrem, repetindo-repetindo, geralmente aos brados, atendo-se a detalhes doutrinários e dogmáticos que em nada ajudariam a elevar o Amor, renitentes na manutenção de (pseudo) “verdades” temporais criadas e ensinadas por homens, nem sequer sente a Infinitude e Glória de Nosso Pai que habita os céus com Sua Verdade Eterna! A Casa de Nosso Pai tem muitas Moradas! Cada um chegue a Ela, à sua própria Morada, por seus meios, que são os limites intrínsecos a cada homem, e diferentes de um para outro. “Que filho vale mais, o que disse ‘Não faço’, mas fez ou o que disse ‘Faço’, mas não fez?” É preciso haver respeito pelo homem e consideração por seus caminhos. Respeito é Amor; consideração é Consciência. Quem age assim age com Deus. Não importa a sua denominação religiosa, nem muito menos isso seria barreira à sua chegada cheia de bem-aventurança aos Paraísos da terra e do céu. Não critique religiões ou atos; aprenda com os erros (use a razão e o discernimento para isso) a respeito daquilo que você mesmo não deve fazer: e 49
nunca faça a ninguém o que não quer que façam a você. E ainda: “Que tua mão não seja aberta para receber, e fechada para dar.” (Ecl. 4:39) Agindo desse modo, vocês serão cristãos, mesmo que nunca tenham ouvido falar no Nome de Nosso Eterno Redentor, Jesus Cristo. (Posso lembrá-los, a título de ilustração, da quantidade de aparições da Mãe de Deus, mesmo junto a povos “nãocristãos”, como ao pequeno indiozinho asteca Juan Diego, em Guadalupe, nó século XVI...) Os rótulos religiosos são, em muitos casos, se não em todos eles, disparates arbitrariamente estipulados, ou que, no mínimo, sofreram manipulações, em muitos pontos, por homens de poder, sequiosos de glória mundana, e que, nesse afã, impingem a seus subordinados na terra determinadas formas de conduta religiosa que lhes apraza, que lhes seja conveniente às intenções espúrias e, num último alvo, que se lhes encaixe no mais recôndito desejo de reconhecimento, autopromoção e fama terrena. São homens que buscam, na religião, o poder. Sobre isso já falei o bastante. Não critiquemos tais homens, não percamos tempo com isso, porque são criaturas que só merecem distância mas não desprezo, porque são fortes e temíveis , já que são fontes impensáveis de ressequidão, verdadeiros sorvedouros. Cada um dá aquilo que tem. Nenhuma pessoa pode dar mais do que o que possui. Não adianta pedir a um mendigo, ou exigir dele, que lhe dê uma fortuna em ouro e jóias... Portanto, deixe-os dar aquilo que eles próprios têm: muito pouco. Preocupe-se em conhecer os seus próprios limites, para, deles, dar, por você, o que puder. Faça a sua vida sobre a sua matéria-prima. Não puxe demais sua corda nem exija ou permita que outros o façam com você , porque ela arrebentaria e, como canta o Salmo, “de que serviria eu se baixasse à campa? acaso louvaria meu pó ao Senhor?” Você vale muito mais vivo, com todas as limitações benditas que o fazem único, do que morto e, porventura ainda que fosse , um ser “sem limites”... Pense assim! Ame seus limites, porque Deus também os têm... todos eles evidenciados pela bondade (crueldade) da Natureza: observe-a... Dessarte, aquilo que sustenta (ou deveria sustentar) o mais sublime motor da religião o Eflúvio Paterno de Amor , este Amor Universal Infinito, este acaba se encontrando como que tolhido, minado, “precisando” adequar-se não à Lei Suprema que rege suas vidas (da qual é ele próprio o Sumo, Grande Artífice), mas a leis não raro pejadas de mesquinharia e conformidades a este ou àquele indivíduo ganancioso e inconseqüente, codificadas segundo visões egocêntricas. Indivíduo inconseqüente sobretudo por não medir o quão perniciosa a ele mesmo é a própria ganância. Seu feitiço volta-se contra ele. Fere com o mesmo ferro com o qual é ferido. A ganância pode ser resumida 50
como uma sede infinita, sede tantálica, como a busca por satisfação que nunca encontra repouso; como a extirpação do sentimento de prazer e, no segundo estágio, do próprio sentimento de Felicidade. Muito cuidado, portanto eu os estarei advertindo a todo o momento , com as etiquetas que se querem, aqui e ali, pôr no grande Fluxo de Amor que habita e há entre vocês. O que importa por trás, à frente, no meio , o que importa é este Fluxo: o Amor é o que importa. Nada, coisa alguma derruba ou abala o Amor. O veneno não deixa de sê-lo por estar acondicionado numa embalagem escrita “Mel”. Tampouco o mel seria fatal, ainda que posto em meio à mais fatal dentre as poções. Assim também o azeite não se tornaria doce por assemelhar-se ao mel; nem o mel temperaria com o aroma do azeite uma salada por terem, um e outro, a mesma cor, compartilhando a consistência dourada. São semelhantemente distintos, incomparáveis e idênticos, não se repetem mas perfazem a completude Sal-Doce, assim como os homens entre si e diante do Criador único e Eternamente Louvável. Mas muito cuidado também com isto: o meio influencia e pode mesmo destruir uma pessoa. A flor mais bela e forte, também esta flor precisará viver em meio a terreno que não seja o tempo todo adverso; caso contrário, nossa flor sucumbe, e falece... Até um camelo precisa frear para o descanso. Mesmo Deus precisa de cuidados... Assim sendo, o mel deste Amor não deixa de sê-lo, em Essência Trina, por estar escondido que é o que a sordidez de alguns faz por inépcia sob refolhos e refolhos de doutrinas falsas, manipuladoras e sequiosas de poder mundano, temporal. Esta sede não abalaria, nem ela própria, com toda a sua força contrária à de Deus, o Seu Amor. Ele é o próprio Deus Onipotente entre nós. Ele. É a Onividência Divina. E nada escapa a Seu olhar; Ele tudo sabe. O Amor é. Escondido, revelado. Quando vocês se amarem de fato, uns aos outros, estarão, imediatamente, regenerando, revigorando, aumentando com pujança a grande e universal Corrente do Amor. Estarão amando a Deus. Serão Suas Luzes Vivas na terra. Serão Aleluias caminhando por searas de fragrância e cores. Nada mais lhes faltará daí para a frente. Jamais passarão por provações pesadas. Farão emergir de seus corações a Aceitação e a Alegria na Vida! Poderão ajudar com verdadeiras fortunas, e fortunas incalculáveis lhes serão dadas sem cessar. Serão, como vêem, Imagem e Semelhança Plena de Nosso Amadíssimo Pastor Louvável, Eterno e Manso: Deus! Meus amados filhos, tudo provém do Amor. Todas as coisas nascem do Amor, e se, aparentemente, morrem, é que foram ao Amor, acreditem, buscar 51
repouso, quietude e paz. Ali encontrarão um sorriso que nem a mais incrível e potente criatura da terra ou de outros reinos poderia chegar a fazer estremecer. O Sorriso de Amor é a Cura do homem. É o sorriso da Eternidade. Quão doce é o Amor, quão sublime a Sua Infinitude. Quem fala no Amor fala em Deus, fá-lO sorrir. Quero que sintam, comigo, amados filhos, que sintam este Eflúvio. Dele provêm todas as coisas, visíveis e invisíveis; e apenas da sua sombra bendita e igualmente amada nasce o mal. (A respeito das antinomias da natureza, das oposições, excludentes ou dialéticas, estarei falando-lhes adiante.) Do Amor nascem os homens, dele os pássaros, as flores, a água, o céu, o fogo, o ar, dele as delícias da alma, os Anjos, a inteligência, a razão, o sentimento, a clareza, a aceitação. É imprescindível que se reaprendam todas essas coisas, pois, se assim não o fizerem, vocês ficarão à mercê de tempestades, vicissitudes “incontroláveis”. Ora, mas quem ou o quê, afinal, as poderá fortemente subestimar, reduzindo-as à mais notória calmaria? Deus e Seu Amor! “Até aqui virá tua arrogância!” Não foi o que disse o Senhor às ondas do mar? E a esse mesmo mar, alhures, “ameaçou e ele se tornou seco, e os conduziu por entre as ondas como através de um deserto”. Tudo isso foi dito para nós. Saibam, amados, que, na verdade, Ele no-lo disse! Foi a nós que se destinava sua Esperança de Amor, porque Ele é Pai e Ele é Mãe, Ele é o Primeiro e o Último, é Alpha e é Ômega, Ele é todas as coisas numa só e Grande Essência de Amor. Sintam, portanto, essa Essência, antes que continuem se sentindo desamparados e órfãos. Deus nunca nunca! abandonará aqueles que O amam e O invocam de coração. “Deus ama os corações retos!” Coração reto é aquele que sente e raciocina, experimenta e transforma, desce e ilumina: “Busca e acha, pede e recebe, quando bate à porta, esta se abre”, como diz nosso Mestre. Nada falta àquele homem. Nunca sentirá desânimo ante a vida e ante outros homens. Será ele mesmo a chama de Amor, a qual crepitará nos momentos alegres ou tristes, bons ou maus. Coisa alguma poderá tocar num só fio de cabelo do homem que ama a Deus, porque o Amor do Nosso Pai nos volta, nos retorna, nos protege, acaricia e acalenta numa proporção incomensurável, imensa, indizível, impossível de ser descrita segundo os padrões de entendimento humano! O Amor que oferecemos a Deus e a nossos irmãos é o maior sopro de vida que nunca deixará que nada de ruim nos encoste um dedo, porque o Amor afugenta a provação. O Amor recolhe. O Amor protege (e como protege!). Amem-se uns aos outros, sigam a palavra do Mestre. Vocês já trazem o Grande Guia em seus corações: o Amor. Sigam-nO o quanto antes, deixem-nO tomar inteiramente conta de seus corpos, mentes e almas, de seus Seres, 52
permitam, assim, que Ele adentre, ou que jorre, em suas moradas terrenas... corpóreas, mentais ou anímicas. Façam todas as noites uma oração especial ao Sagrado Coração de Maria e ao Sagrado Coração de Jesus para que aumentem não mais a intransigência ou intolerância religiosa entre vocês (tão submissas à ganância cega de uns e outros nessa terra...), mas, em vez disso, para que estes Sacratíssimos Corações, Puríssimos e Santíssimos, roguem a Deus para plantar, regar e fazer florescer o Amor nos corações de cada homem e mulher. 1 Salve-Rainha. Andem, Filhos do meu Coração, enxuguem suas lágrimas, aprontem-se, levantem suas cabeças, animem seus corpos, mentes e almas, estejam prontos e em vigília eterna, porque urge começarmos a Grande Luta, o Bom-Combate. A missão que desde já lhes confio, dando-lha como responsabilidade suprema, é a propagação plena e profunda do Amor. Aos poucos eu lhes estarei falando e exortando acerca de tantas quantas sejam as manifestações palpáveis desse Amor: O Perdão, a Boa-Vontade, a Esperança, o Amparo, a Paciência, a Temperança, o Carinho, a Compreensão a Caridade! , o Sono progressivo e perceptível às coisas que perturbam a alma. Por ora, deixo-lhes esta mensagem, passageira quanto necessária: Difundam entre Vocês o Amor! E não sou eu quem lho pede... Vocês já são prontos para essa tarefa. Na verdade já nasceram prontos para ela, pois na sua santa gestação, já nela Deus o consagrou Sua Criatura, pondo-lhe, por isso mesmo, a Chama Acesa do Seu Amor. Esta Chama nunca apaga. Ainda que diante de barbáries, escândalos e atrocidades que se espalham como erva daninha entre vocês, que grassam como epidemia infecta, mesmo diante da cizânia do desamor, do fel da incompreensão, e da impaciência, do veneno da falta de Caridade, mesmo diante disso tudo, quem triunfará? Deus, Eterno Vitorioso do Universo! Como? Com seu Infinito, Lento e Progressivo Amor cheio de Graça, Perdão e Majestade!
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Peguem-nO agora, Ele está à sua frente, atrás de vocês, olhem-nO a pulsar em seu interior, em seu pensamento, em cada célula sua... em todos os lugares existe a Essência Divina! Vocês nunca ficarão sós se se apegarem ao Amor. Não andarão desacompanhados e nenhuma sombra os abalará na jornada: suas almas estarão conosco; seus corpos, a despeito das imperfeições ou tentações a que tenham sucumbido, seus corpos encontrarão a paz no seio dos irmãos irmãos a quem vocês próprios retribuirão com igual paz. No próprio homem se verá a Majestade de Deus. E a Sua Paz! A paz é o sintoma do Amor. É apenas conseqüência do Amor. Ao pregarem a paz, mostrem, assim, o como naturalmente ela emana daquilo que pus como a Raiz Eterna e Imutável de todas as coisas: o Amor. Ao discursarem doravante sobre as Harmonias que passarão a ocorrer como água e ar entre vocês, mostrem-nas como conseqüência, por fim, de uma só coisa: o Amor. Vocês não estão sozinhos nesta batalha, profunda e feliz. Esperem, tenham Fé e Paciência. Sinais incontáveis os acompanharão dia a dia: o rejuvenescimento de seus corpos, de suas forças e ânimos, a fortaleza e humildade em suas almas, o descanso em suas mentes, a persistência e o auxílio precioso de sua razão, o frescor e verdura crescentes a cada minuto de tudo isso em vocês. Eu, sua Mãe, não verei jamais seus defeitos, não enxergarei em tempo algum aquilo que vocês próprios condenam intimamente em vocês. Meus amados filhos, vocês não seriam, por si mesmos, o grande instrumento de que Nós, da Milícia Celeste, precisamos... ... Mas a Chama de Amor Eternamente Acesa, que permanece e permanecerá para sempre em vocês, em seu Corações, Esta sim o é, e o será para sempre, por todos os séculos dos séculos. Nós amamos o seu coração, amamos o seu Amor. E precisamos de Você com Ele! Mater Dei. Rio de Janeiro, 22/07/2000, sábado, à noite ( 21 h.). Completada em 08/08/2000, terçafeira, de manhã (9h).
Sobre a Fé e Seu lugar.
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Meus filhos amados, esta é uma lição que vai àqueles que carecem do mais divino dom: Fé. Para isso, estarei a todo o instante fazendo pequenos paralelos entre Ela e o Amor. Quero ensinar-lhes não apenas a adquirir, por meio de muita oração, este sublime dom, mas, além disso, também a como manejá-lo adequadamente, vivificando-o, o que pressuporá, inclusive, saber guardá-lo, protegê-lo prudentemente em certas ocasiões. (Porque a verdade é que, assim como a mãe resguarda seu rebento de uma fera, assim mesmo deverá o homem de fé guardá-la segura diante de certos percalços.) Há homens faltos de Fé; e outros muitos perdulários desta mesma Fé. A um e ao outro a Fé parece antes do mais um grande empecilho à vitória. Porque, meus filhos, não há nenhum descomedimento que se mostre salutar no fim. Nenhum excesso produz bom fruto, seja para a árvore, seja para a terra. E nenhuma árvore serve apenas para si mesma. Nenhum fruto perfeito pode vir sem semente. Na verdade, por ser um presente do Pai, a Fé será algo adquirido por vocês através de seus próprios esforços. Sim, amados e amadas, a Fé não é o próprio Amor, em si mesmo indivisível nasce, vive e permanece aceso em cada um de vocês , mas é análoga a Ele, podendo ser mais bem comparada à fumaça do incenso do que à sua brasa: a fumaça, diáfana, muito pouco palpável, está sempre à procura daquela brasa pela qual se poderá sustentar, subindo, então, daí, como caracóis iluminados olorosos, até o céu, em forma de oração. Tudo aquilo que lhes for dado pela Graça de Deus (incluo aqui a Fé) deve ser por vocês próprios alimentado e regado dia a dia, pois, atenção: Deus dá, o homem sustenta, a natureza provê. Sempre foi assim. A Fé não é o próprio Amor... Tampouco poderíamos dizer que Ela seja, por exemplo, uma como manifestação do Amor. Porque as manifestações do Amor são sempre, a rigor, resultantes e causadoras, simultaneamente, da Caridade. A Caridade para todos e tudo. Amor gera Caridade. Mas Caridade também gera Amor... Não nos deixemos “impregnar”, portanto, pela noção de Naturezas-Mores e NaturezasMenores quando lidamos com Amor e Fé, que são Dons podemos assim dizer relacionados entre si por caminhos não ajustáveis àquela noção de Naturezas que apliquei para falar-lhes sobre a relação entre Deus e o Homem. A Fé pode ser considerada análoga ao Amor se e apenas se gerar Caridade. Se não, não. Não há o combustível do fogo na Fé em si mesma, isoladamente, mas quando esta Fé gera compreensão, entendimento (Caridade), 55
trata-se, pois, do princípio do Amor. O Amor nascendo. E aí houve analogia perfeita, “assim na terra como no céu”. Meus caros, muitos são os recursos, até mesmo bem simples e pragmáticos, que podem gerar Caridade, indo-se, daqui, diretamente para o Amor. Como eu já disse inúmeras vezes, incansáveis vezes, não se alcança o Invisível senão pelo Visível. Ora, alguém já viu um Amor andando por aí?... E, no entanto, “feliz daquele que não precisou ver para crer”, já no-lo disse Jesus, dirigindo-se a São Tomé, seu tão importante Discípulo, que, no entanto, precisou pôr os dedos nas chagas, senti-las... É necessário que se sintam as chagas... Onde está este Amor, então? Já viu um ser humano hoje? Então viu o Amor. A Humanidade é o Amor. Todas as demais Naturezas-Menores de Deus também se finalizam nas formas visíveis do Amor... Maria, Pedro, Antônio... rosa, violeta, acácia, crisântemo... A Grande Natureza-Una poderia muito bem chamar-se, apenas Amor. Ora, meus amigos, a própria educação é Amor. A gentileza é Amor. A retribuição é Amor. O sorriso é Amor. O esquecimento das ofensas é Amor. Essas sim poderiam ser consideradas “Naturezas-Menores” (apenas por metáfora ou analogia a tal conceito real) do Amor. E quando vocês praticam tais formas de Amor, sabem quem é a primeira pessoa atingida por Ele? Vocês mesmos! Aquele que pratica o Amor, seja nas suas grandes, seja nas suas pequenas formas (se é que se pode assim falar...), este é o primeiro beneficiado. Talvez isso leve alguns à crença de que, portanto, o Amor é algo “interesseiro”, já que devemos praticá-lo em nome de nosso próprio benefício. Também se poderia pensar e é o que tantas religiões difundem! que o Amor deve ser praticado como “expiação” de “pecados” ou como “antídoto”, “poção mágica” contra o Fogo do Inferno... Pior que isso, poder-se-ia dizer: o Amor não tem sentido; o homem não sabe amar; o Amor é uma ilusão. São sofismas! São sofismas! Vou responder a cada uma dessas questões que podem afligir a quem quer lidar com o Amor. Em primeiro lugar, o Amor não pode ser interesseiro por uma razão muito simples: se houver interesse, não houve verdadeiramente Amor. É como dizermos que uma pedra pode ser ao mesmo tempo um homem. Poderíamos até dizer que a pedra e o homem têm em comum o espaço em que cresceram, cada um à sua maneira, mas daí a dizermos que uma e outro são a mesma coisa... 56
Semelhantemente ocorre com o Amor e o interesse: dividem espaço no coração do homem, e acabam, por isso, tendo elos que os poderiam confundir, mas nunca igualar. Tenham em mente o seguinte: Deus quer o coração. Portanto, mais vale aquele que age por interesse, consciente desse interesse, sem mascará-lo, sem hipocrisias, do que aquele que está repleto de um “Amor” inútil... Sim, porque este “tipo de Amor” é que se pode chamar de ilusão. Nos frutos não há de haver ilusões, jamais. Se algo vai beneficiá-lo direta e notoriamente, faça-o. Não há nenhuma Lei Natural que apregoe que o homem não deva agir em seu próprio benefício, mesmo que um benefício direto, imediato. O homem deve ter discernimento para saber, até, a quem deverá dar algo, se isso lhe for de proveito mais tarde. O homem deve ter o desapego do Amor, mas também a sabedoria do investimento: “Permanece fiel ao teu amigo em sua pobreza, a fim de te alegrares com ele em sua riqueza.” (Eclesiástico, 22: 28) A única questão é que “nem só de pão vive o homem...”, isto é, não apenas de resultados imediatistas. Então, o Amor e o interesse acabam cumprindo funções análogas, têm frutos parecidos: os dois são “o pão nosso de cada dia”. Pão para o corpo; pão para o espírito. Um é imediato; o Outro é Eterno. Ambos são humanos. Não se despreze a nenhum deles. Ou será que um homem jamais precisou de uma pedra?... Pois bem, e quanto a dizer-se que o Amor “livra do Inferno”, fique esclarecido: no “Inferno” também existe o Amor. Porque em nenhum lugar onde viva uma Alma Individual, uma Natureza-Menor, poderá ter deixado de existir o Amor do Pai e o Amor da Mãe, respectivamente as Naturezas-Mores Deus e Infinita. Então, digamos que o Amor não livra do Inferno, mas transforma este em Paraíso. Não são como dois lugares diferentes, mas como um só lugar em cujo centro a necessidade maior é apenas uma: Aprender! Mais uma vez, quando falo em aprender, estou falando: cada um de seu jeito, de sua forma natural, pois o modo como se chega ao Eflúvio Paterno é rigorosamente individual, como os milagres que Jesus já fazia de um em um... O fim de uma coisa justifica seus caminhos. Mais vale este fim que qualquer outra coisa. Portanto, falo novamente: se uma pessoa só pode ser impelida a agir em prol da Ação caritativa por algum interesse, ou por medo do inferno, ou para “expiar um pecado”, ora, que mal há nisso? Apenas na falta de consciência ou na dissimulação de tal interesse poderia haver males. No mais, não os haverá. Deixem que aquela pessoa assim faça, que aja desse modo, 57
porque muito em breve aprenderá que a função que cumpre é, na verdade, perene, eterna, imortal a função de aprender. Deixem que comece agindo por “interesse próprio”, para que depois aprenda que este é, no fundo, o real interesse de toda a humanidade e, portanto, de Deus. É como eu já disse em relação às religiões: são modos diferentes de se chegar ao mesmo Fim. Ora, o interesse é intrínseco à Natureza de todas as coisas, se entendermos por “interesse” o que ele tem de mais profundo: evolução, necessidade. Não há nada na Natureza que se movimente de forma gratuita, sem pagar um “honorário” pela própria existência, esteja ela no nível em que estiver. Ninguém respira de graça, pois ali está o seu metabolismo despendendo energia... Este é apenas um exemplo, suficiente. É preciso, apenas, agir em prol do Amor, seja do modo como melhor aprouver àquele que agiu. Aqui poderíamos rapidamente fazer uma digressão: o Temor a Deus pressupõe o desapego nas Ações; o Medo de Deus pressupõe o interesse no que a Ação propiciará. Sabemos que o medo pressupõe o desejo (interesse em algum fim) e vice-versa, ou seja, mais uma vez como num palíndromo: o desejo pressupõe o medo. Alimentam-se mutuamente. É um pouco do que se chamou de Eros e Tânatos... O desejo não pode ser reprimido, sob pena de “explodir”, por exemplo, num ódio, este sentimento improdutivo, estéril e frágil como o vidro. Assim ocorre com o interesse numa Ação: não o reprimam, para não acabarem reprimindo o mais importante que é a própria Ação! Se fizerem alguma coisa visando a outra, façam-na com real convicção, até para a fazerem bem. Fazer bem! Porque em tudo, em todas as Ações, há de haver competência. Meus filhos, a competência é para Deus a primeira das Virtudes! A Sua maior característica palpável. Que seja a de todos nós, portanto! Somente no Temor a Deus, contudo, ocorrerá desapego. É um outro degrau. No Temor não houve interesse porque não houve medo. Este desapego poderia ser entendido como abstinência, que só é atingida em certa etapa evolutiva, e que não pode, portanto, ser acelerada, mascarada, dissimulada. Reparem nos processos evolutivos da abstinência ou desapego (metaforicamente os “eunucos”): Seus discípulos disseram-lhe: “Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se casar!” Respondeu Jesus: “Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens, e há eunucos que a si mesmos se
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fizeram por Amor do Reino dos Céus. Quem puder compreender compreenda!” (São Mateus, 19: 10-12) O “casar-se” é, também, naturalmente uma parábola que se refere ao Compartilhamento de um homem com os demais seres humanos. Ou seja, falase em Ação pelo próximo... em Fusão: Por isso o homem deixa seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne. (Gênese, 2, 24)
Por fim, quanto a dizer-se que o Amor não tem sentido, que o homem não sabe amar e que o Amor é uma ilusão... o que direi? Apenas uma coisa: Mais vale a “ilusão” do Amor que a certeza do desprezo. Aquele que age pelo próximo em nome de um Amor que julga ilusório, mas mesmo assim age, este cedo ou tarde vai compreender que apenas em tais Ações existe a certeza, o fato, o concreto, e tal certeza vai se estender, em breve, ao próprio Amor. Ou seja, até a Fé (certeza) nasce da Ação, do princípio do Verbo. Ilusões... certezas... Tudo isso se anula perante a Ação. Por isso retorno especificamente à Fé. A Sua importância está justamente no fato de que, através dela só através dela , chegamos aos pés do Trono do Senhor, enquanto seus filhos, com nossas orações, pedidos, súplicas, e mesmo angústias e aflições. A angústia sem fé é o desespero, e este, acreditem, jamais deu bons frutos. A aflição ausente de fé é como o mais árido entre os desertos. Apenas na fé existe o descanso, porque a fé é o maior veículo de comunicação entre nós todos e Deus. Vejam bem, não se trata de paliativo, maquiagem da realidade: é o ponto de luz que transmuta realidades áridas em férteis. É como estrela-guia. Não estamos falando em êxtases, devaneios, delírios, transes, mas em Comunicação Verdadeira. Aos que tiverem ouvidos de ouvir... A oração é a própria comunicação, e a fé, como já disse, é o seu veículo, o instrumento capaz de conduzir nossa alma ao Pai. Um homem que ora sem fé, acreditem, fala com as paredes. A oração é o porta-voz da alma, é o nosso anjo individual, é o nosso mensageiro particular que vai direto a Deus mediante a fé.
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A Natureza-Mor de Deus poderia ser comparada metaforicamente à própria alma de Deus. Assim sendo, antes de manifestar-Se sob as Suas “diversas” Naturezas-Menores, como por exemplo a de Ser-Humano, que é, como sabemos, uma Natureza-Mor para cada homem e mulher, antes de manifestar-Se assim, repito, Deus concebeu toda a Sua Criação, em algo análogo ao pensamento ou ao sonho. E este Pensamento Divino, assim podemos chamá-lo, este Pensamento se materializou infinitamente nas Naturezas-Menores de Deus: Ser-Humano, Flor... E daí sabemos o resto da Criação. Portanto, tudo nasce do Pensamento Divino, que, pois, permanece aceso. A oração é o acesso humano a tal Pensamento. O homem vive como numa espécie de Sonho de Deus. Por isso cada homem, em sua limitação, precisa adentrar neste Sonho Divino, através da oração, análoga a tal Sonho, nos Limites do homem. Ela é comunicação com Deus. A comunicação mais direta com Ele, assim, é análoga, em última instância, à telepatia. Mas voltando ao Amor, para começar, eu diria que, no âmbito corporal, a fé seria a roupa; o Amor, a pele. (Percebam que, no mais alto estado de Individuação, a própria fé, que é como roupa, passa a ser desnecessária, e apenas a pele que é o amor já é suficiente para resguardar e amparar um ser humano.) A fé, indo-se à natureza, pode ser o oxigênio; o Amor é o sol e seu calor. A fé seria a água que precisamos beber em quinhões fartíssimos diariamente; o Amor é o metabolismo, fogo interno que mantém nossas células vivas, trabalhando e pulsando em busca de mais e mais vida, neste mundo e no outro, mais vida, por meio de transformações sucessivas e úteis. Portanto, como se vê, o alimento da fé ajuda a sustentar até a maior chancela de Deus em nós o Amor. Eis a sua mais sublime importância. Pois sem Amor não haverá mais vida; e sem fé, no começo, haverá muito pouco Amor. Enquanto for necessário, não abra mão de ferramentas que ajudem a alcançar a Deus. Lembrem-se: “O fim é mais importante que o começo”. Por isso não se abdica, se for necessário, de uma cultura, tampouco de uma religião, e, num nível mais próximo da Individuação, da própria fé. Seria extremamente difícil, para vocês, o trabalho diretamente com o Amor, porque, além de ser uma energia situada no âmbito da alma, onde ele se porta em todo o seu império, soberano, é a energia que mais vem sendo culturalmente prescindida neste mundo em que vocês assistem. Por isso, num segundo estágio vocês devem se preocupar em lidar com o Amor, diretamente com ele, ou em entendê-lo. Amor que significa desapego. Lembrem-se: o Amor é a pele. Em princípio, basta-lhes senti-lo o mais profundamente possível, como Tomé sentiu as chagas de Cristo, vivê-lo, querê-lo, amá-lo. E protegê-lo com a 60
roupa que representa a fé. É preciso amar o Amor, quase como numa relação instintiva de sede, amar a possibilidade única de amar. Sejam vocês os Menestréis de Deus: cantem o Seu Amor em cada coração que viva! Após essa etapa, vocês poderão começar a, conscientemente, promover a sua expansão, numa jornada que não será apenas de seus corpos e mentes, embora seja deles também, mas, sobretudo, será ofício de suas almas, jornada que estará sendo sempre guiada por mim e por meus anjos (chamarei de meus anjos a todos aqueles que me ajudarem nesta luta de amor, em prol do seu crescimento infinito). Como vocês estão percebendo, a luta pela fé é um trabalho árduo justamente pela razão de necessitar, a todo o instante, da ajuda mental. A alma pede fé, mas a mente, deturpada por ditames culturais aqui e ali, muitas vezes interrompe o fluxo de alimentação entre o corpo (orando) e a própria alma (levando e clamando por mais). Atinem com isto: a mente é uma grande aliada, mas apenas se luta em prol do crescimento individual. Ficará mais fácil, para todos nós, se começarmos do palpável, que é a oração. Porque, como eu já disse: não se atinge o Infinito senão pelo Finito... Todos aqueles que se julgam faltos ou parcos de fé nesta hora deve haver interferência da mente e da alma para que se promova um julgamento reto façam duas vezes por dia, uma de preferência pela manhã, a seguinte oração:
Ao Belíssimo Discípulo São Tomé: Caro Amigo e Companheiro de Jesus, Vós, que cumpristes Vossa Jornada adentrando em primeiro lugar nos Planos do Amor, ensinai-nos a reconhecer este Amor em cada fagulha da Criação. Assim como vislumbrastes o Invisível no Visível, dai-nos a chama para que obtenhamos, na face de cada companheiro da terra, a Face Insubstituível do Amor de Deus. Porque Vós sentistes na pele a Chaga Benfazeja do Elo HumanidadeDeus, as aberturas corpóreas de nossa Ligação com o Pai e com a Mãe, as Flores Vermelhas do Guerreiro Jesus. Amen
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À Virgem Maria, ao Sagrado Coração de Jesus, a São José e ao Arcanjo São Gabriel: Assim como Vós, Maria e José, crestes na anunciação do Arcanjo São Gabriel, Porta-Voz de Deus Pai, quero crer cada vez mais no Amor Celeste. Fazei-me, Sagrado Coração de Jesus, instruído pelo Espírito de Deus, Espírito Santo Bendito, receber os sinais da Sua presença em minha jornada. E, tal como aparecestes pessoalmente e por sonho para encher os corações da Mãe e do Pai Adotivo de Jesus, a Virgem Maria e o Venerável São José, Mãe e Pai de todos nós, igualmente, peço-Vos, Arcanjo São Gabriel, Arcanjo Querido de Nosso Senhor, Arcanjo que sabe que para Deus nada é impossível, Arcanjo que traz consigo a Graça, Arcanjo que nos rejubila de Amor e Luz, peço-Vos, Santo Arcanjo Amigo Meu e de todos, que Vós guieis diligentemente todos os meus passos, iluminando-me, de agora em diante, pela Fé e Sabedoria nos Mistérios Revelados segundo a mais alta Glória de Deus. Que a Fé seja a minha luz, mostrando-me para onde seguir, rumo à Sabedoria. Que o Amor seja minha Meta sincera, e que por ele meu coração se expanda sem Limite. Amen Antes de qualquer outra coisa, é preciso que vocês criem um tão estreito laço de comunicação com Deus, que, em todo lugar e a toda hora, seus corações estejam travando contato, diálogo com o Pai. É como eu já falei certa vez: nós é que precisamos crescer para alcançarmos o Pai... Quanto maior a Natureza-Menor João, Maria, Pedro etc., maior o contato direto com a Natureza-Mor Ser-Humano, e, desta Natureza, já em Elo direto, Comunhão Pacífica com a Natureza-Menor de Deus Ser-Humano (ou simplesmente Deus), Elo a que podemos chamar, como eu já disse, de Filho, chega-se à completude da Natureza-Mor de Deus (ou simplesmente Deus), que reconhecemos por Pai, de onde, enfim, haverá a Fusão com a Natureza-Infinita ou Natureza-Una, reconhecida por Mãe. É o Grande Retorno, de que todas as religiões, filosofias, metafísicas, iniciações, teologias e antropologias falam amiúde! Tal expansão se dá pela Comunicação. Daí estarmos o tempo todo invocando e evocando os Santos Anjos de Deus, que representam exatamente a Comunicação, que é sinônimo de Comunhão (até na própria raiz: “comun-”). Dentro em breve,
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vocês terão criado uma proteção inconspurcável, cujo alicerce terá sido a fé, cujos tijolos terão sido suas orações diárias e cujo abrigado será o Amor. Mas muito cuidado, devo preveni-los (e o farei sempre) desde já, com a preocupação excessiva sobre a fé. Como eu disse ainda há pouco, ela não é como a pele, mas como a roupa; a pele é o Amor. O corpo e a alma demandam fé. Nesta hora, a mente, um pouco ardilosa ou equivocada, poderá se pôr como entrave à irrupção desse fluxo divino de Amor, obstando à consecução da fé. Não que vocês devam, por isso, livrar-se da mente o que nem sequer seria possível , mas, sim, devem deixá-la em repouso momentâneo, após o qual, acreditem, uma vez com alma e corpo abastecidos, roborizados, ela mesma sentirá um tal gozo de harmonia e paz, como nem saberia agradecer a seus donos, que são vocês, tamanha bênção conquistada. Quando a alma pede fé, está carente também de Amor, e, por isso, não pergunte: apenas escute. Nos momentos de oração, também não pergunte: apenas faça. Ponha de lado os questionamentos nas horas em que o coração pedir-lhes algo. Cumpram os “desejos” do coração, que, na verdade, são necessidades, devendo, pois, ser levadas a cabo. E o que fazer com a mente? Embora eu lhe tenha dedicado, abaixo, um capítulo inteiro, digo-lhes agora: a mente é aliada do coração. A propósito em algumas línguas orientais a palavra que designa mente é a mesma para designar coração... Assim sendo, é preciso que, por juízo próprio, quanto á fé, vocês saibam discernir adequadamente a forma de usá-la. Quando o corpo sente frio, vocês escolherão agasalhos e roupas que o aqueçam. Se está calor, ou se o sentem, ao invés disso, escolherão roupas mais leves. Nem deixam de suprir uma necessidade, nem precisam, para isso, comportar-se como ímpios apenas impelidos pelo instinto irrefreável. Unem necessidade a razão. Conhecem os sinais: “Se há nuvens, conhecem que é chegada a tempestade... Ora, por que não reconhecem os sinais maiores da chegada do Reino de Deus?” É o que nos pergunta Jesus! Assim deve ser a relação, no que tange à fé, entre alma e mente. Quando a alma pedir muita fé, deve-se dar-lha em farnel abundante, através deste maior veículo que vocês possuem o corpo. Em vez disso, se a alma estiver aquecida no regaço profundo do Amor, vocês já poderão pôr mãos à obra e partir, com seus corpos, ao trabalho palpável da promoção deste Amor tão farto: esta é a Caridade. Sim, meus filhos, a razão de tudo é o Amor, e tudo, através do Amor, verte-se em Caridade. A Caridade justifica todas as coisas. A Caridade é a prova suprema e irrefutável do Amor. Olhem o semblante de um homem e de
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uma mulher de Caridade, e verão nele o Amor de que falo tanto. É físico, é visível. Assim sendo, nunca se esqueçam de alimentar diariamente a fé. Porém, esta não é a meta final de vocês: é tão-só o meio pelo qual chegarão graciosos e gloriosos ao Trono de Deus, limpos de qualquer vestígio impuro, angelicais e plenos no Amor. Quantas guerras já não foram estabelecidas pelo fundamentalismo?... Aqueles que se preocupam apenas com a fé, sem quererlhe o resultado ulterior mais prolífico, são como um agricultor que, demasiadamente preocupado com a terra, esqueceu-se de semeá-la. Não sejam vocês próprios como este agricultor, mas sim como o homem que, sem esquecer-se da terra, adubando-a e vincando nela sulcos de fertilidade, conhece outrossim a hora de plantar, regar, esperar, admirar-se, colher, ter para si próprio e distribuir.
“Por ora subsistem a Fé, a Esperança e a Caridade as três. Porém a maior delas é a Caridade.” (São Paulo, I Coríntios, 13, 13) Que Deus ilumine suas cabeças para esta nova jornada espiritual de cura. Estarei a seu lado a cada minuto, e nunca deixarei de rogar a Deus pela sua luz interna. Que vocês cresçam em Fé, Amor, Sabedoria e Caridade.
Amen. Mater Dei. Rio de Janeiro, 28/07/2000, sexta-feira, de manhã (7h30min).
A lenda de um pássaro.
Contou-me o que passarei a partilhar: Um pássaro, muito pequeno quanto lindo, de asinhas amareladas, voa no jardim sem-compromisso. Pousa e vai ciscando por uma abençoada, pensa ele, trilha de farelinhos de... trigo? Ou...
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... milho! Vai e vai, já mal agüentava comer, poderia, agora, se quisesse, ter alçado novamente seu vôo rumo à liberdade que nem a morte enfrenta. Ainda que não esteja, a liberdade sempre é. Mas optou pelo excesso de milho. Como em todo excesso, muito milho. Jogado igual às reticências pelo chão da estrada sem fins, suspenso... Prisão repentina! Desce-lhe sobre o corpo a jaula impossível. Um homem a pega pela alça e o pássaro não alça vôo, pois é preso. E triste. Fica pendurado sem entender na parede. Tenta cantar, e, pássaro, não vendo motivos uma gaiola tão estreita, mal se vê dela o mundo grande, um esboço mal acabado de mundo, um universo resumido, sem vida, nem mundo, uma grande ausência, o peso do não-vôo , não vendo este, não canta. Passa um dia, definha. Passa outro. Pássaro, morre. O homem retira o cadáver e aponta sua arma, outra emboscada no jardim sem-compromisso, contra o próximo. Cai-lhe nas unhas um pássaro, diferente, dessa vez: de peito azul e bico muito curto. Peito estufando. Cantava, mas parou, para sempre (um dia de vida ainda), após preso. Este sobreviveu menos que o outro, morreu de falta de esperança mais rápido. Aquele ali é o homem retirando o novo cadáver, não importa se ele sorri ou não. Agora? Aprisiona outro (nunca) passarinho, quieto e de asas macias como algodão. Este cantava também, e, também, imediatamente foi preso, acabou cessando. A desistência foi sua primeira reação. Está pendurado numa parede branca. É este aqui. Ficou tão triste! Um dia. Passa um dia... o outro vai começar a acabar e ele, pássaro, tenta um canto e, apenas, não vendo motivos... ...canta. Como canta? Adormece cantando e acorda, no outro dia, para cantar. Ainda triste, canta. Estufa leve e humilde o peito e... canta. O homem nem crê que tal fato ocorria, que fosse como é sim tão verdade. Que fosse verdade? Ele canta. Passa outro dia. Bem menos triste. Acostumado à prisão, passou a cantar? Não por costume, por amor, é mola. Quem se acostuma a ela? Nada. O homem, passado outro dia, começa a tecer uma certa, digamos, uma certa desconfiança daquela renitência onírica. Nem é a sua mais fecunda agrura? Teimoso, passa outro dia, cada vez mais e mais forte canta o pássaro preso na gaiola fechada, muito alegre. Passa outro dia. Alegre. 65
O homem e o pássaro alegre! respira e não pode ver tamanha quase felicidade (em estar preso?) em seu prisioneiro. Canta, o pássaro canta. Aquele mesmo homem, cruel, exatamente por isso, irrita-se, leva a gaiola de volta ao jardim, e deixa a portinhola aberta. Vira de costas para ela e só o que sabe fazer é reclama. Portal aberto de uma ex-gaiola. Pássaro, sorri. A luz. Enfim o pássaro voa e é mais livre do que antes fora de ser preso. Ora é libertação. Felicidade para sempre, acima de tudo por um motivo: (conquista). E felicidade Felicidade não passa nunca, porque nem é feita de momentos, mas de Tempo Eterno. E de alegria.
Para ser livre é necessário ser livre.
Ao Arcanjo Santo Anael, com a Virgem Maria Piedosa e Clemente: Salve-Rainha (2 vezes) 1. Parte: Invocação. Arcanjo Celeste e Brincalhão, Arcanjo Amigo de todas as Crianças, Arcanjo da Alegria e do Amor Infinitos de Deus, Arcanjo Leve e Poderoso como o ar, 66
Arcanjo tão gentil como a brisa e tão transformador como a tempestade, Arcanjo que ama o Amor, Vós, que sois Mensageiro do Amor, que sois Príncipe do Perdão, que sois Vitorioso da Alegria:
2. Parte: Súplica. Ponde em meu coração o mesmo Amor, Cura das Curas, que transportais incessantemente convosco (3 vezes), Enchei meu coração até que transborde com a Essência Bendita e Crescente do Amor de Nosso Deus (3 vezes), Fazei-me sentir a pujança do Perdão e o vigor da Aceitação, nascentes do Amor do Rei dos reis, Deus-Pai que está no céu (3 vezes). Mostrai-me que a verdadeira arma contra todos os males é o Amor Eterno (10 vezes).
3. Parte: Louvor. Aleluia, Aleluia, Aleluia, Hosana in Excelsis, Bendito o que vem em Nome do Senhor, Hosana in Excelsis (3 vezes), Nós Vos bendizemos até o Infinito, pelos séculos dos séculos, Arcanjo Santo Anael, Nós Vos glorificamos até o infinito, pelos séculos dos séculos, Arcanjo Santo Anael, Nós Vos agradecemos, Senhor, pelo Vosso Mensageiro ao nosso lado: Louvado seja infinitamente e incessantemente o nosso Deus de Amor, Eterno em sua Essência Bendita, Essência que amo acima de tudo e de todos: Amen 1 Salve-Rainha
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Mater Dei. Rio de Janeiro, 28/07/2000, começo da tarde.
Sobre a alegria.
Que belo momento este, em que poderemos discorrer sobre a mais gratificante felicidade do espírito: a alegria de coração! Um coração alegre é tão vivo quanto a água, e tão leve quanto um céu azul, assemelha-se à brisa fresca, porque não precisa mostrar-se explicitamente para ser o grande bálsamo dos bálsamos... Não há, no mundo, nem nesse em que vocês vivem nem tampouco neste em que vivo eu (preparando seus lugares a meu lado), não há nem poderia haver nada mais cheio de graça e luminosidade do que a alegria aprofundada no coração. Nenhuma bênção maior poderia recair sobre um homem do que a de ter consigo a alegria enraizada. Porque, dessa raiz, dessa raiz surgem todas as boas disposições para o serviço de Deus. Com ela se louva profunda e 68
eficazmente. Nada há digno de louvor se não tiver sido feito com alegria. Um trabalho contristado tira o ânimo e faz a disposição vergar. E, nesse estado, nenhuma obra edificante poderá lograr êxito. Sobretudo se tal obra o for a Nosso Deus Bondoso e Compassivo. Todo o trabalho para Deus e é ele um só trabalho deverá vir regado pela alegria, que lhe serve de lastro. Da alegria todo o mais nascerá. Dela surge o bom-humor, a beleza, a satisfação, a plenitude, a generosidade, a temperança, a contenção, o autocontrole, a tolerância, o perdão, a boa-vontade, a grandeza de alma, enfim. É a raiz mais fértil que poderá haver algum dia, a raiz de maior poder revigorante, regenerador e, naturalmente, curativo. A alegria é a raiz do amor. Acreditem, meus filhos, que, se vocês cultivarem a alegria, ainda que em meio a adversidades, estarão afofando lindamente, e de tal forma, os terrenos de plantio de amor, que, ainda que um tanto tarde, este amor há de florescer pujante como um carvalho, uma árvore frutífera centenar, milenar, infinita, com uma copa de luz tão espessa e brilhante, que seu poder de libertação e cura atingirá os rincões mais longes de todos os mundos, em espectros variados e claros e faiscantes como a luz da aurora. Aliás, tenham por certo que a alegria é a verdadeira e mais bela aurora do homem, uma aurora individual e que, tal como é, deve acontecer-lhes diariamente, infalível; ou porventura já deixou o sol, um dia que tenha sido, de vir a lume, trazendo consigo seus raios, seu calor, sua vida realizada? Ainda que esteja nublado o dia, ou que nos refiramos a um determinado hemisfério em que as noites duram meses, ainda assim haverá o sol, lá está ele, bem aqui, alimentando-nos, posto que à distância, de suprema luz. (E sem esta distância ele chegaria a ser-nos letal...) A alegria deve preceder todas as coisas, porque, segundo já lhes disse, é a raiz do amor. O amor é como o cimo daquela árvore que ainda há pouco lhes propus em parábola. O fruto de toda essa linda abundância será, como não poderia ser diferente a Felicidade! (O caule é a oração.) Não o havendo, portanto, uma raiz de alegria alimentada e regada com real constância, esta árvore por acaso haveria de sobreviver? Assim, deixem, sempre, a qualquer hora, em qualquer situação, deixem a alegria, este estado abençoado e cheio da mais alta graça dos Anjos e Arcanjos do Senhor, preencher seus corações até transbordar, quando, então, vocês próprios hão de ser como jarras cheíssimas de bênção, derramando-a sobre quem os vir, quem os tocar. Não permitam em tempo algum, pela razão que for, que uma tristeza prolongada sobrepuje a alegria. Transformem as fases difíceis em verdadeiros exercícios, treinamentos para a aquisição desta alegria.
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Não estou aconselhando a vocês que neguem essas fases difíceis, ou que forjem “alegria” em seus semblantes, enquanto, por dentro, uma verdadeira tormenta revoltosa os quer impelir a rochedos e recifes pontiagudos... São fases de sofrimento inevitável que não devem ser desprezadas ou negadas. Pelo contrário: vivam-nas com dignidade e aceitação, encarando-as cheios de prontidão a Deus. “Do ventre de minha mãe eu vim nu, e nu haverei de retornar para lá.” Um excelente exercício para o corpo, nessas fases muito obscuras, é o jejum, de que falarei um pouco adiante; o jejum é ato de humildade e ajuda na clarificação da mente e do corpo, servindo para os períodos em que a alma estiver sentindo-se “desprovida” de alimento: a oração corpo e o transporte desta mente se tornam eficazes nos momentos de maior demanda por parte da alma. Mas saibam que, sempre, vocês hão de sair dessas “tormentas revoltosas” com leveza e graça, abarrotados e fartos de tanta alegria, alegria que não mais tardará, que já vem vindo, que lhes bate à porta. Vocês têm de sair ilesos, atentem para isto: Ilesos, Incólumes, Indenes, Intemeratos, Inigualáveis. Por uma razão: Alegria. Ei-la. Fortifiquem corpo, alma e mente nessa nova empresa. Não desanimem jamais, voltem-se para si mesmos, convivendo francamente com a dor, franca e honestamente, não a maquiem, nunca a deturpem em imagem falsa, não subestimem a dor, ela é forte e passageira como um pedaço de papel ínfimo ao vento, mas existe, aceitem-na em intimidade, e, com oração, peçam que o luto, o sentimento de rejeição, a chaga da injustiça, a mancha do desprezo ou o que quer que lhes esteja afligindo e amargurando qualquer que seja sua dor , que isto seja repelido para longe de vocês, virando fogo, cinza, fumaça, nada... enfim... Mas deixando de conta a Alegria. O sofrimento paga, não duvidem, a mais alta conta a Deus e a vocês, como Imagens d’Ele.... Não tenham pudor de recorrer a Deus mais avidamente nesses momentos difíceis, porque, quando vocês estão bem, alegres e vivificados, vocês serão mais úteis a Deus caminhando sozinhos, com seus próprios pés, do que prostrando-se diante de Sua Onisciência que, justamente por sê-lo, os conhece tão bem... Mesmo um filho que nunca tenha recorrido a Deus, quando o faz por uma primeira vez, recebe d’Ele tanto quanto aquele outro que vive a Seus Pés. Aliás, um homem desviado pode ser muito mais útil, e às vezes de fato o está sendo, porque está em promoção, com sua energia que na verdade é Sua Energia do Reino Imperial de Sua Potestade Máxima, Nosso Senhor,
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Jeová! Por não ser um fraco, está fazendo o que Deus mais quer de nós: está trabalhando. Daí que a ovelha mais comemorada, celebrada entre todas, foi a centésima, a que se perdeu, como o filho festejado, que foi o pródigo... Isso lhes será como a transformação de uma pedra bruta em diamante lapidado e perfeito. Como a transformação do barro turvo em porcelana alva. Ou como a passagem da lágrima de tristeza à lágrima de gratidão a Deus, louvor a Deus e alegria, muita alegria. Assim serão seus corações: uma pedra preciosa fulgurante, uma estrela retinindo, um cristal lívido uma lágrima de alegria. A lágrima é a manifestação mais honesta que possuímos em nosso coração, porque não mente, não dissimula. E quando esta lágrima o for de alegria, louvor e Ação de Graças a Deus, que maravilha! A alegria deve sempre triunfar. Deve crescer nos seus corações como a água cresce na maré cheia, como um bebê se torna em jovem, como o milho se transforma em pipoca diante de nossos olhos e, quando somos pequeninos, criancinhas de colo, para nosso grande e sorridente pasmo, vemos a panela encher-se com sorrisos. (E que aroma tem!) E uma coisa tão simples já nos pasmou outrora!... Pois deixem essa mesma sensação de admiração e água na boca tomar conta de suas almas deste momento em diante. Que ela lhes seja tão leve como a bolha de sabão, tão inquebrantável como o puro diamante. Que lhes seja um brilho fulguroso. A alegria deve pipocar em suas almas, pipocar em seus amados corações. Ela é como pérolas, milhões e milhões rolando escada abaixo, é como os fogosde-artifício rebentando mil faíscas de cores no céu da noite, como o marulho da cachoeira, como um jardim de flores multicoloridas que atraiu os mais diversos pássaros e borboletas, é enfim como o bimbalhar de muitos sinos, sininhos de todos os tamanhos e do mais puro ouro, com badalos que, mais do que ao corpo, estarão promovendo a cura à alma e à mente. É vida pulsando, não apenas latente, mas realizada, consubstancial à mais alta propriedade de todos os Anjos e Santos de Deus. Oh meus filhos, eu passo muito, muito tempo imaginando seus corações como verdadeiros jardins com mil e mil flores abundantes atraindo para si toda a sorte de pássaros! Essa é uma imagem que vocês próprios devem guardar de seus corações: um Jardim de Deus, um pedaço vivo do céu. “Um homem embora crie cem filhos, viva numerosos anos e numerosos dias nestes anos, se não pôde fartar-se de felicidade e não tiver tido sepultura, eu digo que um aborto lhe é preferível.” (Eclesiastes, 6: 3) Nada aumenta a vida e a saúde senão a alegria, porque, dela, repito, nascem o amor e a felicidade. Não é mérito por si só, exclusivo ou isolado, possuir uma vida longa: o mérito está em possuir longevidade no coração! A alegria é a mãe da juventude, da leveza, da graciosidade. Ela torna leve, 71
levíssimo, quem a enverga. “O coração do homem modifica seu rosto, seja em bem, seja em mal. O sinal de um coração feliz é o rosto alegre; tu o acharás dificilmente e com esforço.” (Eclesiástico, 13: 31-2) A alegria faz manso de coração quem a distribui. Num sorriso habita luz. Quem leva consigo alegria traz para si amor. É a mais visível fonte inextinguível que Deus pôs na terra e no céu. É a colheita mais rápida e inesperada que vocês poderão vislumbrar. Planta-se alegria, e, no mesmo instante, colhe-se amor.
Cultivar a alegria.
Não entregues tua alma à tristeza, não atormentes a ti mesmo em teus pensamentos. A alegria do coração é a vida do homem e um inesgotável tesouro de santidade. A alegria do homem torna mais longa a sua vida. Tem compaixão de tua alma, torna-te agradável a Deus, e sê firme; concentra teu coração na santidade, e afasta a tristeza para longe de ti, pois a tristeza matou a muitos, e não há nela utilidade alguma. A inveja e a ira abreviam os dias, e a inquietação acarreta a velhice antes do tempo. Um coração bondoso e nobre banqueteia-se continuamente, pois seus banquetes são preparados com solicitude. (Eclesiástico, 30: 22-7) Um homem alegre atrai ao seu redor toda a sorte de benevolência e magnanimidade, faz crescer afeto, harmonia. Paz. Faz vicejar, como um rio vivo, compaixão e entendimento mútuo. Ele abençoa com sua presença qualquer recinto onde esteja. Este homem será sempre alvo de beneplácitos, será sempre aprovado, e, em qualquer conjuntura, contará em sua casa, inteiramente à sua disposição, com um número precioso de amigos e benfeitores valiosos, desse mundo onde vocês estão e também deste meu, acreditem. Ele nunca estará sozinho, mas terá consigo sempre a paz e a autoestima brotando como rosas amarelas, de pétalas vicejantes, graciosas, túrgidas
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e repolhudas e sempre-vivas. Possuirá a propriedade de fazer despertar o ânimo e o moral elevado nos irmãos. Terá o frescor das crianças e a eterna juventude estampada na face. Seus dentes serão a madrepérola; seus olhos, janelas de cristal à mais linda paisagem possível. Possuirá a sagacidade do dragão e a mansuetude da pomba. Será uma serpente alada. Terá a claridade das manhãs, o brilho do orvalho, será recebido com flores aonde quer que vá. Seu perfume emanará da alma. Nunca entrará num lugar em desacordo. Chegará benquisto e sairá amado. Será modelo de vida para quantos tenham o privilégio de conhecê-lo. Receberá os melhores conselhos, que repassará sem olhar a quem. Só ele herdará as melhores terras, amará sem distinção ou preconceito, será igualmente amado. Ninguém o criticará, e, ao entrar num lugar, criará imediatamente uma tal luz, que dissipará qualquer mácula ou distúrbio que aí tenham existido. Será ele próprio um anjo, além de, naturalmente, carregar em sua proteção multidões e multidões das mais elevadas falanges angelicais da Glória de Deus, deste Deus a quem amará e, por sinal, de quem será muito, muito, infinitamente amado. Portanto, lhes digo: sejam alegres como crianças. A linguagem do céu é a alegria. Apenas a criança entra no céu. O céu é delas, crianças. Quem não aprende esta linguagem não pode conhecer o paraíso, porque será sempre como um forasteiro que não conhece a língua do próprio país. Mas quem ama a alegria é alegre no amor, e, em muito breve, brevíssimo, já estará colhendo as flores de Deus, pois será uma criança abençoada, e o próprio Deus lhe sorrirá dia após dia, como a uma criança bendita, iluminada, porta-voz da mais grandiosa felicidade, que se torna a própria Essência do Pai: Amor e Caridade. Mas, meus caros e amados, entro agora com espécie de antítese do quanto falei, não para desmerecê-lo, mas para promover a prevenção que nunca é tardia ou desnecessária. Quando as coisas estiverem muito boas, não ria em excesso. E assim, quando houver um sofrimento, a dor que ele causa igualmente há de desaparecer ligeira como um sonho que passou. Assim mesmo, porque em tudo, o que resta é a fé... e ela é a mesma na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na vida e na morte. Quem aprende vivendo o caminho do meio nunca sairá dele. Não é necessário que se sufoque o momento da recompensa com penitências e flagelos, que, neste instante, seriam desnecessários. Não é preciso abafar a alegria com jejuns prolongados, suplícios ao corpo quando este apenas, agora, estaria fruindo o troféu por que lutou há tanto tempo. Mas tampouco se lembre das tristezas, nem da dor que estas causaram, porque a dor tende não a desaparecer com os anos, como se diz, mas a ser por estes anos 73
transformada, para que com ela se possa lidar em consciência. Assim também, ao ter um provento divino muito claro o que se usa chamar “Boa Sorte” , atendam que, para Deus, apenas é a mesma Sorte existente nos momentos em que se lhes achega a tristeza, uma vez que, para o Pai, não existem dois tipos de Sorte, mas apenas um: a que Ele é. Não há diferença clara, limite fiel entre a privação e a abastança. O que há entre uma e outra é o tipo distinto, diferente de vivência que se deve experimentar. A vida é de momentos saborosos, sempre. Às vezes o sabor é de mel, às vezes de tamarindo, água, damasco, açúcar, sal, eternamente sal... Para cada momento há uma chave. E para cada chave, um momento. Não haveria fechadura se esta não dispusesse de sua chave, tampouco haveria esta última sem aquela primeira. Porque, se assim não fosse, ambos, chave e momento, ambos perderiam a razão de ser, e, embora existissem, nunca poriam termo a tal existência, dando fim às próprias vidas... Porque a existência só se justifica no fim O ponto é: amar. A meta, prosseguir. O alvo, chegar. Sem meios dispersos, com a tranqüilidade dos que são: FIM.
A tristeza apressa a morte, tira o vigor, e o desgosto do coração faz inclinar a cabeça. A tristeza permanece quando o corpo é levado; e a vida do pobre é o espelho de seu coração. Não entregues teu coração à tristeza, mas afasta-a e lembra-te do teu fim. Não te esqueças dele, porque não há retorno; de nada lhe servirás e só causarás dano a ti mesmo. (Eclesiástico, 38:19-22) E, por fim, o mais importante de todos os ensinamentos: a Felicidade justifica qualquer coisa. Tudo estará certo quando você estiver feliz. Não pense que há guias exteriores a você mesmo, ou que haveria, por acaso, alguma realidade extrínseca, a posteriori, alheia a seu coração não há! Deus é você, 74
habita no seu âmago: Ele O é. Quer a melhor bússola para o caminho de sua vida? ei-la: a sua Felicidade! É a única missão que vocês têm de “cumprir” ante o Trono Sagrado de Deus. Nada mais haverá: só há Felicidade. Só ela é o sintoma inequívoco de uma Cura Profunda sendo operada. Só ela prova a Essência Indivisível de Deus, que é Belo e Felicíssimo. Deus você é o Sucesso Eterno, não há quem possa duvidar ou questionar. Você é a Vitória. Rezem diariamente esta parte do Salmo 64:
Senhor Nosso Deus, Feliz aquele que vós escolheis e chamais para habitar em vossos átrios. Possamos nós ser saciados dos bens de vossa casa, ó Deus, nosso salvador! da santidade de vosso templo. Vós nos atendeis com os estupendos prodígios de vossa justiça. Vós sois a esperança dos confins da terra e dos mais longínquos mares. Vós, que, com a vossa força, sustentais montanhas, cingido de vosso poder. Vós, que aplacais os vagalhões do mar, o bramir de suas vagas e o tumultuar das nações pagãs. À vista de vossos prodígios, temem-vos os habitantes dos confins da terra; saciais de alegria os extremos do oriente e do ocidente. Visitastes a terra e a regastes, cumulando-a de fertilidade. De água encheu-se a divina fonte e fizestes germinar o trigo. Assim, pois, fertilizastes a terra: irrigastes os seus sulcos, nivelastes as suas glebas; amolecendo-as com as chuvas, abençoastes a sua sementeira. Coroastes o ano com os vossos benefícios; onde passastes ficou a fartura. Umedecidas as pastagens do deserto, revestem-se de alegria as colinas. Os prados são cobertos de rebanhos, e os vales se enchem de trigais. Só há júbilo e cantos de alegria. Ensino-lhes agora o seguinte Rosário, que deve ser rezado de preferência pela manhã, já que é um rosário pleno de energia e fulgor, o que poderia torná-lo um tanto ou quanto agitado durante o sono:
Salve-Rainha.
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Três Ave-Marias. Contas grandes: 1 Pai-Nosso e a seguinte jaculatória: Arcanjos de Deus, derramai-me alegria, luz e graça. Fazei-me tão leve como a criança que Deus me tornou. Contas pequenas: a seguinte jaculatória: Maria Santíssima, Anjos do Senhor, molhai e regai incessantemente meu coração com vossas lágrimas de alegria. Salve-Rainha. Evocar três vezes a seguinte jaculatória: Aleluia, Aleluia, Aleluia, Benditos os Arcanjos e Anjos da Glória de Deus, pois fazem de mim uma rosa de alegria e esperança para todos. Amen. Amen. Mater Dei. Rio de Janeiro, 31/07/2000, segunda-feira, noite (20h), após o terço do rosário (mistérios gozosos).
Escuro iluminado.
A partir deste instante, meus filhos, passo a narrar-lhes uma curta parábola o que estarei fazendo em muitas outras ocasiões , que deve antes ser assimilada do que propriamente compreendida. Fi-la para que vocês a digerissem, não para a questionarem ou nela buscarem elos de uma inteligibilidade que porventura se disponha seqüencialmente sob os augúrios e a égide da razão. É uma pequena história, muito leve e superficial... conquanto escura... De madrugada, além das duas horas, o menino, que dormia em sua cama confortável, estando, porém, num estado de sono entre a vigília e as profundezas dos sonhos, começa a ouvir um barulho um tanto inquietante, que imediatamente o põe desperto, um barulho sub-reptício e sem qualquer pudor de atemorizá-lo. Era algo que se assemelhava a leves tapas da palma ou do
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dorso da mão sobre a perna, ou à carne sendo batida na tábua de cortar, ou a petelecos incisivos numa almofada dura. Indecifrável, enfim. Este menino estava completamente sozinho em casa, pois seus pais haviam viajado. Assim, teve medo. Sobretudo por morar num apartamento em andar alto e com janelas gradeadas, o que limitava a suposta procedência do barulho. Eliminara, de chofre, uma presença humana: não poderia ser ladrão. Já completamente desperto pelo temor, apalpou, em sua mesa-decabeceira, o interruptor do abajur, para acendê-lo e poder ir apurar a tal proveniência do ruído, que tanto o atormentava. Esse ruído, a cada instante mais inquietador, não cessara, tampouco aumentara ou se intensificara: apenas permanecia. Apalpando o tampo da mesinha a seu lado, acha o interruptor do abajur. Tenta acendê-lo... mas não consegue. A luz não vem. É então imediatamente tomado por um sobressalto que ainda não experimentara, e sente uma espécie de premonição acerca daquele barulho: o que é? o que não é... Levanta-se no escuro do quarto e corre ao interruptor da lâmpada. Aperta-o. A lâmpada não acende. Poderia estar faltando luz, o que era uma explicação plausível e o que nem um pouco serviria de alívio , mas, no entanto, nem essa possibilidade havia, porque, no lugar em que ele mesmo estava, o ventilador ainda gira inclemente, indício da eletricidade que corria pelas veias nervosas do apartamento. Foi ao corredor, já então absolutamente repleto (e tomado) de um terrificante pânico, porém sob controle, em função do desconhecimento da natureza e da origem do barulho. Tenta a luz do corredor, já em si mesmo descrente da vitória, e a luz, cujo interruptor tem em seus dedos, não acende tampouco. Não há outra solução: vai à porta da sala e ganha o corredor de seu andar, apertando a campainha do vizinho de porta num afã desalentador, a ofegar, sentindo um medo e uma opressão quase insuportáveis. O vizinho aparece com a família ao encalço, assustados pela visita em meio à madrugada. O menino entra convulsivo, aos prantos, e a esposa do vizinho o abraça, ao menino, para confortá-lo. Acendem as luzes da sala, mas essa até mesmo a luz da sala do vizinho, embora tenha sido acesa continua penumbrosa, assustadora, uma luz não-luz. Na casa do vizinho, passam, agora, a escutar o mesmo ruído que o menino escutara sozinho em sua casa. A família, então, entra também num nervoso quase incontido. Aquele barulho tapas curtos, ligeiros e espaçados continua. Entretanto, com um agravante: agora passavam a ficar de um momento para o outro mais e mais fortes, cada vez mais fortes. 77
A família corre da sala para o quarto, deixando o menino esquecido. Este, com as pernas impossíveis de tanto medo, este fica gélido e clama: Não me deixem aqui, eu não posso correr! não consigo!... Alguém da família volta e o toma pelas mãos, levando-o ao quarto. Lá, jogam-se no chão devido ao forte medo. Alguns choram, porque o barulho nitidamente se aproxima do quarto. E, apesar disso (ou talvez por isso), ficam todos paralisados junto à porta, jogados no chão uns sobre os outros, à espreita, curiosos, conjecturando em meio a lágrimas de medo. Agarram um deles agarra um criado-mudo, e, pateticamente, joga-o na porta, como que para servir de anteparo à autoria do ruído, fosse ela qual fosse, mas, ao mesmo tempo, a fim de permitir que, de onde estavam, pudessem finalmente conhecer tal autoria. O barulho é agora fortíssimo e eles finalmente visualizam algo no corredor... O quê? aquilo... o que é? Uma pequena massa densa e firme, de um palmo de extensão, pouco menos de meio de largura, brilhante e cinza, vinha colubreando, se debatendo, arrastava-se pelo chão do corredor. Parecia ereta em sua pequenez desconcertante e longe. Houve uma leve histeria, que se verte em estado simplesmente eufórico, depois do qual surge apenas a inércia e parecia uma ratazana? finalmente uma quase vontade, talvez reprimida, de suspirar... Era tão-somente um peixe vivo que esbatia violentamente o rabo contra o assoalho do corredor; tinha ainda o brilho da água nas escamas, e era tão pequeno quanto indefeso e apetitoso. Cinza e denso. Um peixe fazendo taptap-tap com o rabo no chão, a cabeça levantando. No mesmo instante houve um palor de alívio e o menino em menos de um segundo estava de volta a sua cama, dormindo, ao lado de sua mesa-decabeceira, seu abajur, que acende a lâmpada muitíssimo bem, tão bem quanto o ventilador continuava sua ronda noturna, em giros constantes, dá uma gargalhada brilhante, alegre, beirando a felicidade de um alívio eterno, o “pesadelo” não passava de uma graciosa prova do bom-humor e da leveza de Deus, que tornou tudo em júbilo, gozo e folguedo, uma perfeita brincadeira, fez que se pudesse rir de todas as coisas (felizes aqueles que reconhecem que a maior presença de Deus é o riso, e que no riso existe a essência pura do céu). Pois muito bem, filhos, acabou-se a história.
Ensinarei uma poderosíssima oração de evocação ao Arcanjo São Miguel. 78
Se for feita apenas aos domingos, esta oração deve ser dita pela manhã (ou à tarde) e, caso se queira, pode ser repetida pela noite. Na manhã desse domingo em que se clamará a oração, deve-se acender uma vela, de preferência de doze horas e de preferência amarela, pela Grandeza e Honra do Arcanjo São Miguel. Tal oração não precisa ser diária, mas, em períodos muito conturbados da vida, em que a perturbação da mente e do espírito estejam mais proeminentes, ela deve ser feita, no mínimo, em novena, começando-se no domingo de manhã (acendendo-se a vela amarela), uma única vez, sem que seja preciso, então, repetir-se à noite, e terminando-se na outra segunda-feira. Nos dias de semana ela pode (e deve) ser feita à noite, junto ao leito. Apenas aos domingos deve ser feita de manhã e à noite (ou apenas de manhã, se se estiver fazendo a novena, como foi dito há pouco). É uma oração que afastará de todos vocês, para todo o sempre, energias espúrias, iníquas e forasteiras, energias que queiram aproveitar-se de suas auras para delas se alimentarem. É, portanto, uma oração de leveza espiritual e exorcismo, além de ser evocação ao amor fraterno e à cura em todos os níveis, fazendo-os exalar saúde, através da recomposição orgânica promovida pelo sonho e por uma bela noite de repouso, coisas que alimentam corpo, mente e alma. Não hesitem em fazê-la constantemente. O tempo irá torná-la, creiam, a mais inquestionável proteção espiritual, mental e corporal a todos vocês. É uma oração que abre as portas, derruba as barreiras, elimina os entraves. Cria uma proteção de ouro, alimenta o seu Anjo da Guarda, ajuda a todos os Santos que o protegem e que velam por vocês em batalhas contra forças que não se vêem. Deve ser feita, sempre que se quiser, em intenção a outras pessoas, a quem se esteja querendo dar, sem nenhuma dúvida, um grande, incomensurável presente envolvido em Luz e Graça: a proteção e a saúde.
A São Miguel Arcanjo (à noite): Primeira parte: ladainha e evocação: Ó Príncipe dos Anjos, São Miguel Poderoso e Piedosíssimo, Justo e Benevolente, Cheio de Clemência e Ardor Divino, Arcanjo Benigno, Chama de Amor Celestial, Amante da Retidão, Revelador Supremo das Milícias Celestes, Porta-Voz Grandiloqüente do Mundo dos Sonhos, Arauto Sábio e Protetor do “Entremundo”, Cavaleiro Destemido das Lutas para o Bem, 79
Herói Incansável do Bom-Combate, Eterno Vitorioso, Couraça Luminescente, Fiel Escudeiro dos Portais da Razão, Espada Gloriosa da Claridade Mental, Justiça, Justiça, Justiça, Regulador Potente e Infalível dos Sentimentos, Conselheiro dos Santos e Anjos, Guardião das Portas do Subconsciente, Armadura dos Símbolos Oníricos, Temperança Invencível das Emoções, Equilíbrio entre Mente e Coração, Servidor Áureo do Trono do Senhor, Aquele que decifra os Enigmas Obscuros, Livro Aberto da Sabedoria, Potestade da Dissipação das Incertezas, Luz Amarela das Luzes Amarelas, Ouro dos Ouros, Espada de Infalível Poder, Claridade onde não há sombras, Amigo da Justiça Infinita, Libertação provinda de Deus, Aquele que desamarra os laços, Aquele que desfaz os nós, Aquele que desatrela as malhas, Aquele que tudo vê, Aquele que tudo faz ver sem medo e com Clareza, Arcanjo de Infinita Doçura, Sol Radiante do Meio-dia, Arcanjo Espelhar de Deus, Aquele que dilapida a Treva, Exterminador das Penumbras, Presença Forte da Alegria, Felicidade Robusta, Abundância de Bênçãos e Graças, Intransponível Arcanjo da Glória Eterna, Arcanjo Bendito que fala em nome de Jeová:
Segunda parte: súplicas: Dai-me, eu que humilde e confiante Vo-lo suplico, a graça de noites de sono embebidas em aconchego e luz, tranqüilas e reconfortantes, abrigadas em sonhos que me cicatrizem a inteireza, com alegria. Apartai de mim qualquer medo; expulsai de minha presença os inimigos; clareai-me; quebrai as correntes que nem sequer posso ver e as correntes que impedem meu coração de amar, fulminando-as; Fazei, com Vossa Espada, Espada de Fogo e Luz, Espada de Justiça, que meus caminhos sejam um eterno dia rumo à Vitória; abri meus caminhos para a Vossa Grandiosa Luz e Bênção; Dai-me também a graça de um despertar transbordante de amor, felicidade e paz, vigoroso e feliz. Que minha mente, com meu corpo e minha alma, aspirem Fraternidade e Luz: recebam e dêem indistintamente, para sempre, o mais puro Amor do Céu.
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Terceira parte: agradecimento e louvor:
Infinitas Graças vos sejam dadas para sempre, Arcanjo São Miguel, porque ouviste meu rogo (10 vezes). Pela Vossa Luz Inigualável, Hosana in excelsis (10 vezes). Amen. 3 Ave-Marias. Mater Dei. Rio de Janeiro, 02/08/2000, à tarde (17h30min).
Sobre a mente.
Meus filhos muito amados, reparem na localização exata de suas mentes: entre o corpo e o espírito; a meio caminho entre os planos físico e psíquico. Pois muito bem, isso não é à toa, não foi arbitrariamente estabelecido por Deus, nem tampouco ocorreu por simples acaso. Se o local da mente é no intermédio entre essas duas extremidades de que falei, tal ocorre exatamente porque ela, a mente, é a intermediadora entre os dois planos, o veículo de comunicação fluídica, a veia que conduz sangue e seiva bruta das raízes corpóreas aos cimos anímicos, de onde retornará a seiva elaborada que servirá de provimento, comida a quaisquer planos do Ser, integralizando-O. A mente é, como se percebe, veículo de condução e providência. É a soberana e irrecorrível Juíza da existência humana. É a grande sacerdotisa que, com os instrumentos mais adequados e precisos, de que ela e apenas ela dispõe, atribui os valores exatos a cada fator fundamental que ocorra dia a dia, segundo a inexorável passagem das horas a que vocês, ainda, estão sujeitos.
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Sem a mente, acreditem, todo o mais ruiria, na medida em que aquele transportar de seivas e de sangue tão fundamental à espécie humana deixaria de haver, o que teria, como conseqüência nefanda, a míngua, pouco a pouco, da alma e do corpo. Essa míngua que lhes estarei ensinando a repelir para longe de vocês destruiria não só a uma como também ao outro (alma e corpo respectivamente), porque o fluxo da oração (corpo) deve subir em forma de seiva bruta à alma, que, através de seu mais afiado instrumento de trabalho, a fé, refinará esta seiva e a tornará producente dos mais preciosos elementos nutritivos ao próprio corpo, que é, em última instância, exatamente para onde retornará a oração. (Vê-se que oração sem fé é vaso sem água.) Como vocês vêem, o alimento do corpo tem origem no corpo. Mas é como matéria-bruta e valiosíssima que precisa ser digerida pela alma. No entanto, nada, repito, nada se dará se não houver a mente preparada, em exercício. Assim, a obscuridão mental gera trevas no decurso corpoalma, gerando, por conseqüência, igual obstáculo no decurso almacorpo. Se não houver esse decurso, como haveria percurso? Isto é, sem o meio a mente não haveria resultados alma e corpo. Sem a perfeita e afiada conduta (ou deveria dizer condução?...) mental, sempre muito clara e limpa, corpo e alma perecem por falta de alimento, mesmo que esse alimento esteja sendo providenciado pelo corpo, através da oração, ou que a própria alma esteja devidamente abastecida, com sua vital fé. O problema não seria a matéria ou a sua digestão, mas o transporte do resultado útil oriundo desta última. Seria como um angustiante caso em que se morresse de sede simplesmente por não se conseguir tragar, sorver o líquido vital, embora estivesse ele bem ali, na altura das mãos e da garganta. Nunca se deverá, dessarte, preterir ou subjugar a mente; muito pelo contrário, devemos ter com ela a preocupação atinente ao lugar que lhe cabe, reconhecendo-a poderosa em seu verdadeiro posto: o de Juíza. Como já discorri no capítulo “Sobre a fé e seu lugar”, o momento da oração deverá calar por um instante a mente. Assim também deve haver silêncio desta no momento em que a alma demandar fé. Porque, ora, são dois momentos de extrema intimidade com a intuição, algo que, o mais das vezes, vem por veículos não muito condizentes à enorme clareza e logicidade mental, por vir, essa intuição, como formas indiferentes ao crivo do processo analítico com que a mente está habituada a lidar. Fé e oração de forma alguma serão instantes de análise (decomposição ou quebra), mas, ao invés disso, vêm muito mais peremptoriamente para que se construa, elabore, armazene, faça crescer, edifique, apronte componha.
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Quero dizer que o pedido de alimentação (alma/fé) e o fornecimento desta (corpo/oração) não deve se dar com influxo da mente, que, então, seria antes prejudicial do que produtiva. No entanto, após esses dois processos distintos, a mente deve atuar. (Quando digo “após”, digo não numa relação cronológica de passagem, mas numa espécie de simultaneidade temporal que não se afinaria muito ao entendimento humano, porque é a passagem devida a Deus. O importante é que, em breve, todos os processos de edificação do Ser alimentação/condução estejam ocorrendo ao mesmo tempo, o que ocorrerá sem dúvida.) Se a mente não intermediar os mais elevados processos do Ser, apenas o caos há de imperar, e, o que é pior, imperar num local em que, de nenhuma forma, este caos poderia estar sequer existindo o local do Crescimento. A ausência de clareza mental faz oração e fé permanecerem estanques, como se fossem o que não são! matérias amorfas, inerciais, estéreis e, quase, destrutivas. Há, pois, uma inversão muito severa dos reais valores das duas maiores fortalezas do Ser se não houver justa intercessão da mente. Com efeito, é por isso mesmo que se vêem mundo afora tantos e tantos atos vândalos cometidos em nome da “fé”: guerras, hecatombes, holocaustos; e, a par disso, igualmente as inúmeras cenas de histeria levadas a cabo em nome da “oração”, como se gritos incontidos e gestos alarmantes e desmesurados não fossem antes uma ofensa do que um louvor a Deus e a Seus Anjos... Meus filhos, tais cenas e episódios lamentáveis ocorrem exatamente pelo fato de seus precursores e protagonistas não terem consigo a vela sempre acesa da mente, porque não possuem razão (em todos os sentidos...). Não estou de nenhuma forma criticando o brio, o carisma, o entusiasmo na oração. Nem preconizo que a oração deva ser apática, sem vida. De forma nenhuma: o desânimo é um grande pecado... No entanto, o que não se pode entender é a histeria ou a simples repetição mecânica de gestos e palavras que não passem, antes, pelo coração. Nunca profira uma única palavra a Deus se esta não tiver origem real no coração. E isso meus filhos, só quem pode julgar são vocês mesmos, cada um de vocês, individualmente em seus mais recônditos planos mentais. Deus ama os corações sinceros, e apenas neles infundirá sabedoria. Sabedoria este fruto da mente nascido no coração! A boca fala e deve falar sobre o que vem do coração. Se assim não for, o que está havendo é hipocrisia diante de Deus, “Aquele que nos sonda” (Salmo 138), que nos conhece, que de nós tudo e tudo! sabe. A mente não tem por papel obliterar o coração, nublá-lo de forma nenhuma! O que deve fazer a todo o instante é servir com justeza como canal sempre aberto para que a boca
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se abra em louvores francos e honestos ao Senhor e às Suas Altas Milícias. Isto é, também, um verdadeiro ato de Fidelidade a Deus. Muito mais fiel e leal será o homem e a mulher que orem calados mas com o coração, do que aqueles outros que, aos berros quase inarticulados, não obram o bem, não são capazes de amar e perdoar, aceitar, e mal conhecem ou prezam a Infinitude do Senhor de todos os Exércitos e Coros Celestiais: Nosso Deus Todo-Poderoso! Saibam, meus amadíssimos rebentos, saibam que a atuação do Senhor é sempre assaz discreta. Nunca, em lugar algum, se ouve um rugido de Deus ou de Seus Mensageiros mais íntimos, não se escutam por aí urros que pudessem porventura provir de Deus; e, no entanto, todas as obras visíveis e invisíveis são de Sua Autoria Eterna... Silenciosamente Lhe pertencem... O espalhafato apenas serve de escândalo aos Anjos de Nosso Deus. Uma alma silenciosa e tranqüila é em si mesma um bálsamo de cura. Portanto, pensem eis a mente em ação se seus louvores não vêm sendo antes um gesto de justificativa diante dos homens do que um real ato de amor filial a Nosso Bondoso Pai. Dentre todos os pecados abominados por Deus, creiam-me, a hipocrisia, sobretudo em relação a Ele, é dos mais abominados, execrandos. Aquele que ora não para Deus, mas para justificar-se diante dos outros homens, já recebeu ali mesmo a sua “recompensa”: o reconhecimento alheio, raso, perfunctório. Mas aquele que ora com total Amor à Grandeza de Nosso Pai, este acumula sem cessar um tesouro incorruptível (nem mesmo o pecado poderia cerceá-lo ou miná-lo) assim na terra como no céu, e, assim que for levado à presença do Pai, receberá, e infinitamente mais valioso e cheio, o galardão, tesouro em que depositou seu próprio coração. Porque de tudo, só o coração há de permanecer. Usem a mente para avaliar o tamanho de suas devoções; não sejam como espelhos sem personalidade que repetem o que quer que se lhes mostre, por mero receio de serem rejeitados. Antes serem rejeitados por homens e acolhidos por Deus que o oposto, em que não há nenhum mérito. O que Deus quer de vocês é o coração, o Amor, de onde todo o mais nascerá como fonte sem-fim. Sem a mente, não haverá autocontrole. A incontinência, em qualquer âmbito, alarma ao Senhor. O desvario ferve o bom-senso. A intemperança queima à brasa o espírito. A insanidade retira um homem ou uma mulher de seu caminho de luz, desviando-os a searas duvidosas e, sempre, infrutíferas. O impulso incontrolado compromete a saúde. Mulheres e homens sãos conhecem os próprios limites em qualquer nível , e, justamente, exploram esses limites em prol de si mesmos, fazendo-os expandir-se passo a passo e tornando-os, uma vez que são os fatores que os diferenciam dos outros homens e mulheres, em sua mais inegável identidade, suas impressões digitais, marcas de nascença 84
em tudo e por todos os ângulos louváveis e benditas. Aí está a Justiça de Deus! Não em dar o mesmo farnel para todos, mas em dar a todos a mesma oportunidade de transformar o farnel obtido em árvores frondosas e ainda mais férteis do que a água. Não questione, assim, o que se recebeu, ou por quê se recebeu este tanto, mas, sim, como expandir-se ao máximo este Prêmio, esta Graça. (Lembrem-se da Parábola dos Talentos e de como a Retidão do Soberano Juiz promoveu Julgamento com Eqüidade para todos...). Meus filhos, desconhecer os limites ou querer atropelá-los é, emergentemente, a mais nefasta conseqüência da escuridão mental. Aceitação e autocontrole são frutos bentos da relação íntima com Nosso Pai, são como o bom fruto retirado da boa árvore, ou como o lar fincado profundamente sobre terra firme, em que passará a tormenta, inundá-lo-á, mas não o abalará jamais. Por isso, uma vez que se tenham processado ambos os eflúvios da alimentação oração/fé cada um em seu lugar de direito, e com o fim último de fazê-los Servos Perfeitíssimos da Glória Infinita, aí, então, poderá entrar a mente em campo, ocupando muito dignamente, ora, o seu lugar de direito conduzir e reconduzir, levar e trazer incessantemente, ser mediadora em relação às quantidades, aos farnéis, aos quinhões devidos a cada lugar. Trata-se, em último caso, de perda ou no mínimo de desperdício de energia querer a Deus sem a interferência posterior (mas acronologicamente), não é demais lembrar da razão mental. Um homem e uma mulher que lidem eficazmente com suas faculdades mentais encontrarão um perfeito banquete, ainda em vida, porque seus passos farão sorrir desde o primeiro até o último dos Anjos dos Coros Celestiais, com a mais perfeita aquiescência dos Santos de Deus, e do próprio Deus. Eu os consagro Filhos do Altíssimo, e clamo à Misericórdia de Deus que abençoe suas mentes com a Luz que as fará dar sempre os mais frutuosos alimentos para a Saúde do corpo e da alma. São Miguel Arcanjo participará nesta sua perfeita empresa, e eu mesma estarei a seu lado, com o Santo Arcanjo Orifiel, Guardião da Sabedoria Frutuosa que nasce em Deus.
Amen.
Esta oração que lhes ensinarei tem o fito de estabelecer intimidade direta entre Deus e as mentes de todos vocês. Deve ser feita sempre que se desejar clareza mental, e pode ser acompanhada de um copo dágua, o qual 85
deverá permanecer diante de suas cabeças (ou acima destas) durante a evocação, devendo ser bebido após a mesma. Pode-se também acender uma vela amarela acima da cabeça, que deverá arder durante a evocação e após esta. É um veículo muito eficiente de clarificação mental, podendo, inclusive, abrir canais de manifestação muitíssimo mais diretos dos Santos Anjos em suas vidas; isto é, permite que suas orações cheguem inteiras e rapidamente ao Senhor, já que suas mentes (veículo) estarão mais roborizadas e prontas, velozes e protetoras. É um excelente modo de amplificar sobremaneira o carro que conduz as orações a Deus. Como se vê, o apogeu da mente implica uma oração mais pujante e uma chegada mais rápida desta ao Trono Celestial, com o conseqüente retorno sobremodo (e, até, inesperadamente) veloz. Pode ser feita a qualquer hora do dia, mas deve sempre ser evocada em silêncio, para que a mente não interfira caudalosamente na sua própria cura. Ao fazerem-na, mantenham a cabeça baixa, em sinal de reverência e atenção máxima Àqueles a quem está ela sendo endereçada.
A Deus Pai, aos sete Arcanjos Veneráveis do Trono de Deus, à Virgem Maria: Deus Santíssimo, Deus que nunca muda, Deus eternamente digno de Louvor: Nós bendizemos Vossas Obras, Nós bendizemos Vossas Criaturas, Nós bendizemos Vossa Presença; Sois para sempre Uno, Sois para sempre Imortal, Sois para sempre o Único Deus, Senhor Nosso, de Misericórdia Infinita: Abri nossas mentes à Vossa Luz (3 vezes), Limpai nossas mentes com Vossa Luz (3 vezes), Preparai nossas mentes por Vossa Luz (3 vezes). Virgem Piedosa, Maria, Mãe de Jesus Cristo, Mãe de todos nós: Abri nossas mentes à Cura de Deus (3 vezes), Limpai nossa mentes com a Cura de Deus (3 vezes),
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Preparai nossas mentes pela Cura de Deus (3 vezes). Sete Arcanjos Providenciais da Realeza Incontestável de Deus: Abri-nos à Misericórdia que vem de Deus (3 vezes), Limpai-nos com o Perdão que vem de Deus (3 vezes), Preparai-nos pelo Amor que vem de Deus (3 vezes). Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, Para sempre seja louvado. Mil vezes Bendito seja Deus, pois envia sem cessar Sua Luz à minha mente, curando-a de minuto em minuto (10 vezes) Salve-Rainha Mater Dei. Rio de Janeiro, 03/08/2000, à tarde (14h20min), antes do Terço da Misericórdia, também durante e após este.
Sobre a esmola. Meus amados filhos, hoje é em exortação que me dirijo a vocês todos. Não venho em nome de algo pacífico, isto é, aceito prontamente por todos, algo que, porventura, pudesse imediatamente ser assimilado e posto em prática por aqueles que me ouvem (tampouco a missão de Jesus Cristo o foi, antes trouxe Ele a espada da dissensão, porque não veio para ser político, mas para trazer Lei). Trata-se, como indica o título desta minha mensagem, da esmola. Minhas Flores de Alegria, filhos abençoados, há toda uma imensa e indescritível gama de problemas sócio-econômicos por detrás das causas mais peremptórias da pobreza humana da terra. São muitos os fatores que levam o capital a ser drenado, sugado, sendo, por isso, muitas vezes motivo severo de tropeço para alguns, mais ávidos por essa energia do dinheiro (por isso “é mais difícil entrar um rico no reino dos céus...” Mas para Deus nada é impossível!). E já quero deixar bem claro que, como em todo o mais, o excesso de dinheiro é antes prejudicial do que benéfico. Muito, muitíssimo difícil é conseguir-se evolução plena dentro da energia de um dinheiro desmesurado. Ai daqueles para quem o dinheiro foi sugado, porque, além de estarem estes privando amargamente a muitos e muitos, estão eles próprios, receptores do 87
dinheiro, perdendo todo e qualquer parâmetro do que venha realmente a ser a Felicidade está bússola benéfica! E, ao perderem o parâmetro da Felicidade, perdem o parâmetro de si mesmos, saem de si rumo ao “deus dinheiro”, a quem, unicamente, estarão prestando oblações e sacrifícios. (Há muitos “deuses” na terra, dos quais estarei falando, entre os quais o dinheiro é o mais notório; mas há um só Deus!) Portanto, esses “sacerdotes do dinheiro” deixam um dogma em direção a outro: o dogma do dinheiro. E, como qualquer outro dogma, é este, também, feito por homens, oriundo de homens, contra homens, sendo, por isso, letal. Não quero e Deus não quer, muito menos que criatura alguma seja “pobre”, “miserável”, “pedinte”, porque a riqueza que há no céu é inigualável; mas o que queremos é que essa criatura não faça do dinheiro seu único alvo, pois nem mesmo na terra tal pessoa acharia o Paraíso: “A César o que é de César; a Deus o que é de Deus”. Precisamos das duas coisas: terra e Deus. É preciso que se unam, assim, os dois planos: temporal, espiritual. Se falta um, falta equilíbrio. E não há plenitude e abundância, tampouco. Mas, acima de toda essa gama, de todos esse matizes extremamente complexos, dessas intrincadas urdiduras psicossociais, de que falei, geradoras da mendicância, há, creiam-me profundamente, a necessidade da emergência notória da Compaixão, que, em suma, se converte em Caridade. Precisamos de vocês para que a Caridade vá, aos poucos, sendo suscitada e ressuscitada em cada coração humano. Como é belo ser humano! Quão cheia de Graça e Benevolência de Deus Pai é a Essência da Humanidade! (que é a última das evoluções de um ser nesse planeta). Mas a Essência, sem Caridade, há de tornar-se como a gota no mar, o grão de areia afundado no Infinito das criaturas do mundo, aquele fragmento que, embora componente do Todo, se perde, sem forma, engolfado aridamente por esse Todo, que lhe passa a ser, daí, novo motivo de tropeço. O homem sem Caridade é o “sal insípido na terra.” Nada do que ele faz é Legítimo, nada possui o Lastro Poderoso de Deus. É um eterno mau tributário a Nosso Senhor. Está em débito. Mas pela Generosidade do Pai, “basta uma palavra e o homem será salvo”. Basta um ato de Caridade Cordial para que multidões e multidões de pecados pregressos, faltas corrosivas à mente se esvaiam como um nada, confundidos pelo Amor ao Sofrimento. Não achem que esteja eu falando, porventura num cultivo (ou mesmo cultura...) do sofrimento, que é, esta sim, uma prática extremamente difundida entre vocês, com o objetivo de criar homens e mulheres enfraquecidos e, portanto, que não reajam a não importa 88
quantas atrocidades se lhes fizerem. Falo de um Entendimento da condição humilde, um Afeto cheio de Cordura pelo desprivilégio do próximo, um Amor especial, enfim, àqueles que mais precisam dEle: os Pequeninos de Deus. Isso é amar o Sofrimento. Não sejam indiferentes e Ele... Aos poucos vou lhes mostrar que nesse mesmo Amor é que habita a Maior Força contra o inimigo na terra. Não pode haver exorcismo tão grande quanto a Chaga de Jesus em Seu Suplício Cruciante! Ao se invocar a Essência do Sofrimento de Cristo e por Cristo , que foi o Resumo Eterno de toda a humanidade, Sofrimento que porta em si todo e qualquer outro Sofrimento, creiam que o diabo e seus seguidores fogem atemorizados, porque conhecem, eles também, a Verdade que há naquele Sofrimento Benéfico e Comum: “Tu és verdadeiramente o Filho do Altíssimo”, reconhecem eles também; e por essa sentença muitas e muitas almas convertidas conheceram o Paraíso, ainda na própria terra. Muita atenção: Não cultivem o Cristo Crucificado como se Ele fosse você mesmo, não cultuem a Crucificação Crística: isto já foi, já está feito, com a sua aprovação ou com a sua reprovação Ele, Jesus Cristo, já morreu na Cruz! Quer você exista, quer deixe de existir, Ele já morreu! Ainda que o mundo acabasse agora, Ele já morreu! Independe de você, e, portanto, não tome aquela Cruz para você: Ela não é sua. Simplesmente saiba que foi por você, o que é muito diferente. Aceite-A, porque esta foi a única missão de Cristo. Se Ele não A tivesse carregado e por você! , acreditem que então Ele próprio não teria tido nenhum valor na terra, teria sido, Ele mesmo, o sal insípido na terra. O Sofrimento de Cristo não é o seu sofrimento, é simplesmente o Sofrimento de Cristo, e ponto final! Mas Ele foi por você? por nós todos? pergunto mais uma vez. Sim! Ainda que você não queira ou não acredite... Nem é preciso querer, acreditar, professar a Santa Cruz para ser salvo por Ela. Ela é por você. Se não fosse assim não teria valia alguma. Não é preciso “recarregar”, “reportar”, “reconduzir” aquilo que já está efetivado. Olhe agora para o agora! Quantas pessoas sofrem de verdade, física, psicológica e animicamente perto de vocês... Para quê, então, desviar seu olhar deste Sofrimento atual para um Outro que já foi devidamente missionado? Esqueçam-nO, Ele não pode e nem deve emergir em detrimento do que há de atual, ocorrendo agora! Não permita que seu coração fique empedernido, bruto, não o deixe tornar-se um bloco de pedra, pois, se isso ocorre, qualquer golpe, por menor que seja, lhe é fatal porque uma pedra não pode nunca cicatrizar-se... Mas saibam, meus filhos, que, assim como a Palavra que eu lhes trago pode lhes ser a Salvação, poderá ser-lhes, no seu oposto, como a Perdição 89
inequívoca. Assim, um homem sem Caridade não a dando e não a recebendo é a mesma coisa que um nada. Ele se reduz àquilo que, em seu próprio íntimo através da Consciência da Luz com que já nasceu, a Chama do Amor do Pai , aquele homem se reduz àquilo que condena, passa a ser a fonte de seu próprio veneno. Passa a ser um divorciado de si mesmo. Quem deixa de participar da Comunhão Universal dando deixa, naturalmente, de ser abençoado com a Comunhão Individual recebendo. “Com a medida que usares para o outro, serás tu igualmente medido.” Amor só gera Amor. “Há um Deus que julga na terra!”, canta o Salmo. As seqüelas de um homem ímpio, insensível, alheio, estas já lhe serão abertas no seu próprio mundo terreno, não no outro. Estes homens e suas feridas são uma tribulação sem fim, precisam gritar para se fazerem perceptíveis... Tal homem tem a mesma importância que uma gota perdida no mar, se analisada segundo uma visão, digamos, superficial: esta gota é nada. E quão superficial é o homem sem Caridade... Seja porque não a soube dar, seja porque não a pôde receber. O ser humano é movido pelo Amor Fraternal, e, se não fosse esse Amor, a Criação acabaria em dois segundos, morrendo por falta de ar, asfixiada, sem o Socorro Providencial de Deus, sem coisa alguma... A Caridade justifica todos os projetos de Deus em nossas vidas. Por isso, os fatores políticos, ou o que quer que venham a ser aqueles que levam à pobreza um filho de Nosso Amado Senhor, não são “justificativas” para que não se estenda a mão em auxílio real a quem o pede. A Caridade é maior do que a política. Ela, esta Caridade, é maior do que todo e qualquer pecado. Vocês já nasceram vitoriosos, são vencedores, porque, se Deus não tivesse ordenado Pessoalmente, sua gestação nem sequer se teria completado, seria interrompida antes de seu termo definitivo. A gestação é uma Vitória Natural e Divina. É uma prova de Deus em cada um de nós (Jesus veio à luz através do parto, um filho feito de carne como vocês...). Todo o céu estremece de júbilo quando na terra nasce uma criança. É semelhante a um relâmpago alaranjado que corta os Páramos Celestiais de ponta a ponta, reboa estrepitosamente, troando de Vitória... Ninguém, nada impede a Vitória de um Projeto de Deus. E você O é. Você é Vitória. E faz parte, pode saber neste momento, não só de um Projeto, mas, sim, é O Projeto! Aquilo que mais amorosamente Ele vem nutrindo e acariciando em Seu Seio repleto de Fulgor e Claridade! Faça por onde, retribuindo a Nosso Doce Criador a Chama Eterna que foi plantada em seu coração de Filho Amado e Dileto, que Ele o ajudará! Porque Deus espera de você o mesmo tudo que Ele lhe deu, numa retribuição que praticamente O faz precisar de sua ajuda. Ele, por outra prova de Seu Amor Sem-Barreiras, Ele 90
quis precisar do homem. Que Grande Amor! O Ser Uno e Superior a todas as coisas quis ter filhos com quem contar! na verdade porque o que O faz Uno é justamente esta Sua Necessidade Divina e Santa! Mas volto aos fatores sócio-culturais. É claro que eles não devem ser desprezados, como eu falava há pouco, sejam eles quais forem, geradores que são do estado de pobreza, o qual, por seu turno, culmina com a indigência humana e a mendicância, fomentando estas, por fim, a necessidade da esmola. Tais fatores, contudo, dada a incapacidade relativa que acomete todo e qualquer homem, devem, em certos casos, ser preteridos em prol de uma atitude mais palpável, factível, pontual e realizada: a Doação, a Esmola. Assim, por vocês não poderem resolver todas as causas o que seria o ideal daquele lastimável estado de penúria (por mais poder que tenha um homem, é este sempre muito relativo, porque esbarra nos poderes de outros homens, poderes estes iguais aos daquele primeiro, se não maiores ainda do que este...), por não poderem, repito, resolver todas aquelas causas, natural lhes será, portanto, resolver ou aplacar a conseqüência, dando abnegadamente a Esmola àqueles que lha pedirem. Em outro momento já adverti: Cada um conheça os seus próprios limites, e tente expandi-los, sem atropelar, para isso, a inexorável passagem do tempo. Isto é: faça agora aquilo que você pode fazer agora. Não deixe de fazer “só um pouco” para gastar esse tempo se lastimando por não poder fazer “muito”, pois quem assim age, por insensatez, nem estará obrando o bem, nem estará impedindo que a fadiga alheia aumente. Não faz nada, perdido em lástimas e elucubrações, fica tão-somente excogitando... Por negligência, preguiça, acomodação, deixa de agir em Socorro? desperdiçou o tempo de que dispunha, e este tempo, este já passou... Aquele que age, ao contrário, este caminha com Anjos. A Boa-Vontade é meio caminho rumo ao Paraíso Paraíso no céu, e na terra. O homem que age é a mesma gota do mar, igual àquele homem sem Caridade; mas, dessa vez, a Gota se agiganta, porque é vista de dentro do mar, não por sobre este... Querer obrar o Bem é metade da Caminhada. O Caminho completo é ainda mais simples que aquele primeiro: traduz-se em Boa-Vontade e Amor. É preferível, sempre, o servo que disse “não”, mas fez, arrependido, exatamente segundo o Pai mandou, àquele outro servo que, dizendo um sonoro “sim” ao Pai, nada fez segundo Suas Ordenações... Cruzou os braços, entregou-se ao ócio e à vadiagem. Expulsem-nos para muito longe de vocês, repilam-nos, são energias que escandalizam os Anjos de Nosso Guia e Curador Eterno. Tenham mais medo da preguiça do que da brasa ardendo de uma fogueira. Corram na
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direção oposta à modorra da alma, do corpo e da mente. (Sempre estarei orando para isso!) É preciso orar, mas também trabalhar: ora et labora, Deus adest sine mora. “Erguerei as mãos para executar vossos mandamentos, e meditarei em vossas leis.” (Salmo 118, 48) Meus filhos, quem tem pouco dá desse pouco, e quem tem muito, desse muito. Eu não peço a ninguém que tire dos próprios filhos, ou que se prive amargamente de algo, ou que alimente o estrangeiro em detrimento da própria família: a Caridade, sem dúvida, começa em casa (e a primeira dessas casas é você mesmo). Nenhum pássaro deixa de alimentar os próprios filhotes e vai dar aos de outros pássaros. Mas ele não se importaria, acreditem, se tivesse de alimentar, também, aqueles filhotes forasteiros (como acontece com muitas espécies), até porque sabe, de experiência mas também de instinto, sabe de nascença, que as provisões de Nosso Pai são bastantes para os filhotes dele e os de todo o restante dos pássaros de todo o mundo! “Todos esses seres esperam de Vós que lhes deis de comer em seu tempo. Vós lhes dais e eles o recolhem; abris as mãos e se fartam de bens.” (Salmo 103) “Agradeçam ao Senhor por Sua Bondade, e por Suas Grandes Obras em favor dos homens, porque dessedentou a garganta sequiosa, e cumulou de bens a que tinha fome.” (Salmo 106, e também o Magnificat da Virgem Santíssima) O que lhes peço que façam é, sempre que dispuserem, dar do que é seu aos que nada ou muito pouco têm. Dar a quem pede e a quem não pede. Eis um Sinal da Presença de Deus em cada coração. Esmola é atitude concreta de Amor. Saibam que a nenhum homem agrada o ato de pedir a outro homem. A esmola é, não raro, uma extrema humilhação àquele que dela depende ou que nela se fia. Este homem, humilhado, é, exatamente por essa razão, um filho muito dileto de Nosso Senhor, de Nosso Bondoso Pai, e, dessa forma, todo aquele que ajuda a tal filho está se tornando, de imediato, um filho igualmente amado de Deus, benquisto, exaltado. Em mais de um momento a Sagrada Escritura nos adverte: É preferível, a quem quer que seja, morrer a ter de pedir esmola. Isso se dá justamente pela humilhação que causa este ato. Portanto, filhos amados, não desprezem jamais o coração de quem pede, um coração humilhado, não desprezem jamais um pequenino. Compadeçam-se dele como se estivessem diante de um filho seu, de um irmão, de um grande amigo desamparado pelos homens. 92
Não há necessidade alguma de sentimentalismo em torno da esmola. Muito pelo contrário, quanto mais objetivo for o ato, tanto menor será o constrangimento e a humilhação daquele que pede e recebe. Ao dar, tente sempre ser o mais possível discreto, não faça soarem trombetas diante da cena, nem tampouco impute sua presença por muito tempo àquele a quem foi dada a esmola. Já deu? Saia. E não olhe para trás. Se possível, ainda e sempre é! reze, em silêncio, por aquela pessoa, e, depois disso, esqueça-a: ela está com Deus. Se puder ajudar apenas com uma palavra, um sorriso, um bom conselho, faça-o, porque um conselho sábio, na hora exata, é mais abundância que mil potes de ouro: “Mais vale aquele que dissimula sua insipiência do que aquele que oculta sua sabedoria” (Eclesiástico, 20:32). Se não puder realmente ajudar, não se lamente, apenas reze pela pessoa. (A questão poderia ser: dar o quê? Sinta o que de melhor poderia, naquele instante, ser dado. Nem sempre o dinheiro é a melhor coisa... Às vezes dar uma vara de pescar vale mais do que dar um peixe.) Se aquela pessoa não teve sequer um gesto, mínimo que seja, de agradecimento, nem pense em perdoar, pois não é caso para Perdão, é caso para Amor: ame-a, e esqueça-a, depois disso, por causa do Fogo Rosa do Amor. Esmola é Amor (por isso tão poucos a entendem ou aceitam), é muito mais do que Perdão ou Caridade: é Tudo isso. Ao dar esmola, não use a mente em processos intrincadamente analíticos e cerebrinos de seleção. Não discrimine segundo estereótipos: “A este não dou porque é jovem demais, a este outro não dou porque está bêbado, àquele não dou porque foi grosseiro...” Quem tem Amor, ou está querendo desenvolvê-lO, simplesmente não possui, no ato supremo da Caridade, discriminações que tais: pediram-me? será dado segundo minhas posses. E mais uma vez lhes falo: Não esperem gratidão daquele homem a quem vocês socorreram. Por maior que fosse esta gratidão, ela nem sequer de longe se igualaria à Gratidão que Nosso Deus está tendo por você. Quem ameniza o sofrimento alheio deixa de tê-lo como ameaça, espanta para sempre, de si próprio, para muito, muito longe, aquela Cruz, passa a tê-la vivido sem tê-la experimentado, possuirá essa Bem-Aventurança junto a Deus. A Comunhão Fraternal do Sofrimento é a Grande Porta Aberta para o Paraíso, na terra e no céu. Basta, agora, volver... Seja Bem-Vindo, meu amado filho, ao Seu Lar! O mundo de vocês é regido por “leis” e mecanismos extremamente falíveis e compensatórios. Assim, aquilo que enriquece a uns empobrece a outros. É nesse aparente equilíbrio que se sustentam os fluxos financeiros da terra, a distribuição de capital. Se uma pessoa está enriquecendo muito, dada a escassez, o limite de dinheiro disponível, obviamente outra pessoa estará 93
empobrecendo paulatinamente. (Apenas o Amor pode, como em todo o mais, curar essa desastrosa divisão de bens.) E vocês, o que podem fazer para ajudar? Mais do que isso: o que podem fazer agora para ajudar? Antes de tudo, rezem muito para que os corações, sobretudo os dos poderosos, se abram ao Amor, à Compaixão, que se comiserem dos irmãos indigentes. (Não deixem de fazer, conforme lhes pedi, a oração aos Sagrados Corações de Jesus e Maria para que Deus plante, regue e faça florescer o Amor nos corações de cada homem...) E, além desse ato tão concreto, existe este outro: a Esmola. Meus filhos a Esmola não é a solução para a pobreza do mundo mas pode levar um alento indispensável àqueles que a recebem. Sei de muitos suicídios que, num momento de desespero e cegueira absoluta, foram evitados graças à Magnanimidade de um espírito bom que, por Amor, estendeu a mão àquele que seria o derradeiro pedido de um outro espírito, cansado, sem ânimo, triste. Portanto, a esmola pode literalmente! salvar vidas. E Deus nunca se esquece daquele que Lhe resgata uma alma. Este homem é um Santo, e desde já, no Trono de Nosso Pai Infinitamente Misericordioso, ele bebe da complacência de Seu Pai sem precisar pedir licença aos outros homens, porque bebe do que lhe pertence por Herança em Vida. O homem Santo é aquele que se alegra com a alegria alheia e chora com o sofrimento alheio... Aí está a Comunhão Fraternal do Sofrimento, como eu disse um pouco acima. “Permanece fiel a teu amigo em sua pobreza, a fim de alegrar-te com ele na sua prosperidade.” (Eclesiástico, 22:28). Se faltar uma dessas vertentes ao homem sentir as felicidades e as angústias que ele mesmo, por sua própria carne, não chegou a viver este homem ainda não foi tocado inteiramente por Deus. Se o homem precisasse experimentar em sua própria carne todos os sofrimentos humanos para comiserar-se, é óbvio que nem toda uma vida seria suficiente para que ele expiasse uma semelhante tortura!... Assim, o homem que só crê no que vê ainda não chegou muito perto da Verdade Luminescente do Pai. O coração deste homem está duro; e Deus detesta os corações duros. Se a pessoa é incapaz de compartilhar, ainda não está envolta no Espírito de Deus Pai. Como poderia, assim, beber na Fonte da Sua Paz, desfrutar do seu Banquete, Deliciar-se com o Seu Maná? A Esmola não substitui, assim, as militâncias sociais, as instituições de Caridade. Ela é, apenas, repito, um gesto concretizado de Piedade e Amor. Ela é aquilo que se pôde fazer na hora, que você fez na hora, hic et nunc, e que, por Divina Inspiração, não foi protelado para “outro dia”... Quem dá Esmola vence! A Esmola triunfa sobre o pecado! Se o Coração ama, compartilha! Nada
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purifica tanto um homem quanto a Caridade nascente do Coração que verdadeiramente ama com raiz. Ela é o Espírito da Paz. Discipline-se, aprenda a dar. Mesmo quando seu coração ainda renitente opuser resistência a essa prática, doutrine-o, pouco a pouco, pois, como sabemos, o coração é a inocência sublime do corpo e, por isso mesmo, é uma criança; e, como tal, necessita de todo o nosso amparo: Amor, Reprimenda, Ensinamento. No princípio, se não quiser doar por Amor, não doe. Mas, como um de seus objetivos, peça a si mesmo, a Deus, peça-Lhes o desejo de dar com desapego e abnegação; peça isto: Precisar! Precise querer, queira querer, queira, e, dentro em breve, saiba querer você aprendeu. O caminho é um só: a necessidade gera o desejo, que, pela experimentação, gera, quando devidamente amadurecida e trabalhada esta última, discernimento. E, embora todos vocês já nasçam sabendo portanto com a latência pulsante do discernimento , este discernimento permaneceria latência se não passasse pelos processos de necessidade e desejo instinto e vivência. Cada ser humano tem as suas necessidades diferentes, cada um deve lidar com elas de acordo com suas bússolas individuais, seus guias, que são, como já falei, a própria Felicidade. No princípio, um coração mais endurecido poderá relutar contra a esmola, repito, mas, apesar disso, é preciso amolecê-lo paulatinamente, amorná-lo, para que, com isso, ele possa servir a si próprio e mais tarde a todos como um ponto de cura interminável. O mais importante, no princípio de toda prática luminescente (como o é a Esmola), não é querer, mas, sim, precisar. Só há um querer que deve reinar no começo de todas as coisas, e eu o reitero aqui e agora: querer precisar! Termino com a mais peremptória constatação: Estas palavras não são para todos os homens, não estão ao alcance de todas as criaturas: Aquele que tiver ouvidos de ouvir, apenas este a ouvirá..., porque os homens são diferentes uns dos outros Graças a Deus! E tampouco estas palavras são a única fonte de chegada a Deus: A casa de meu Pai tem muitas Moradas! Deixe cada um viver segundo aquilo que pode. Seja o melhor dentro daquilo que você próprio puder. Ainda se sente contrário à Esmola, como que coagido, coibido a dá-la? então não dê, nunca dê apenas para agradar a Deus, porque a Deus não se agrada, Ele sim não precisa de uma tal “esmola”... Aquele cujo coração manda não dar... não deve realmente dar. E este homem não será “punido”, “repreendido” por isso. Repreendidos serão apenas os homens que fizerem por hipocrisia. Deus não é venal. Faça apenas o que o coração ordenar, pois há quem ajude muito
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mais aos homens fazendo outras coisas, em vez de dar Esmola. Não quer dar? não dê; não dê para “comprar” uma vaga no céu, porque elas não estão à venda (ao menos não por dinheiro...). Como saber o que manda o coração? Repito: Provirá dele, se for de fato dele, uma Felicidade indiscutível, emanando Paz. Quem aceita a si mesmo, com seus limites, ainda que sejam estes um veto à Esmola, passa a aceitar mesmo o sofrimento alheio, sem precisar, para isso, envolver-se pessoalmente nesse sofrimento, já que cada um carrega o seu próprio. Não sinta um sofrimento que não é seu por isso Esmola não é sentimento, é ação! , porque quem se deforma assim há de, certamente, não mais possuir discernimento bastante para reconhecer onde deva curar os seus verdadeiros sofrimentos. Agindo desse modo, nem cura ao outro (porque isto é tarefa primacial deste outro), nem pode curar-se a si mesmo, não evoluindo. De quê ou a quem serve um tal homem?... (Porém ele também é um filho de Deus, e tão amado quanto o mais santo de todos os santos.) Amen. À Virgem Maria, a São José, aos Querubins de Nosso Senhor Eterno. Ave-Maria (1 vez) Ó Santa Mãe de Nosso Redentor: Abri meu Coração Coração que Lhe entrego amorosamente à prática da Caridade todos os dias, para que, assim, eu me aproxime do sofrimento de meus irmãos, amenizando-o como um Bálsamo de Amor e Bondade; Ó São José, Esposo Casto da Virgem Maria, Sombra de Proteção a Jesus, meu Redentor: Como Vós, que eu sinta em meu Coração a amargura do sofrimento de meus irmãos, podendo, embebido na mesma Fé que Vos regeu, transformar essa amargura no Dulcíssimo Amor de Nosso Deus Pai, para que, assim, superemos juntos, meus irmãos e eu, todos nós, as tristezas, que deixarão de existir; Ó Querubins Benditos e Benfazejos do Trono Celestial Supremo:
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Que Vossos Sopros de Aleluia e Graça toquem infinitamente meu Coração, para que eu socorra, sem humilhar, a todos aqueles que precisarem de mim, sendo eu próprio um Anjo de Bênção a meus amados irmãos.
Deus Eterno, Deus Santo, Deus Imortal: Receba por Vossas Mãos esta minha Oferta de Amor e Prontidão a Vós. Obrigado, Senhor Nosso Deus (10 vezes). Pai-Nosso (3 vezes) Mater Dei. Rio de Janeiro, 10/08/2000, quinta-feira, de manhã (10h30min).
O claro e o escuro.
Volto ao primeiro capítulo destas minhas mensagens “A religião e o espaço das almas” , repetindo, ipsis literis, algumas palavras daí. Dizia eu: “Quão doce é o Amor, quão sublime a Sua Infinitude. Quem fala no Amor fala em Deus, fá-lO sorrir. Quero que sintam, comigo, amados filhos, que sintam este Eflúvio. Dele provêm todas as coisas, visíveis e invisíveis; e apenas da sua sombra nasce o mal.” Meus filhos, pergunta Jó: “Se todos os bens nascem de Deus, porventura não nasceriam d’Ele igualmente os males?” Também se vê nas Letras Santas, como já mostrei: “Bens e males, vida e morte, pobreza e riqueza vêm de Deus” (Eclesiástico, 11: 14) E mais:
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“O Senhor Deus fez brotar da terra toda sorte de árvores, de aspecto agradável e de frutos bons para comer; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal.” (Gênese, 2, 9)
Em outro ponto da Sagrada Escritura, no Antigo Testamento, vemos: “Diante do mal está o bem; diante da morte, a vida, assim também diante do justo está o pecador. Considera assim todas as obras do Altíssimo; estão sempre duas a duas, opostas uma à outra.” (Eclesiástico, 33: 15)
Como e por quê isso acontece? Porque Deus assim dispôs, eis um novo mistério de Suas Mãos. Não cabe a nós perguntar, mas agir segundo as Disposições do Grande Pai e Mãe: Nosso Deus Bondoso! Não precisamos entender as veredas do Senhor para amá-las profundamente. Acaso “entende” a mãe o Amor que sente e nutre por seus filhos? E, ainda assim, atrapalhará esse não-entender a manutenção e o crescimento daquele Amor? A resposta é tão óbvia quanto aquela que se destina ao caminho de Deus: amar não depende de entender. São realidades muito distintas... embora um Amor salutar nos faça entender tantas coisas... Se Deus nos deu Sua Luz Suprema, deu-no-la com o fito de, com Ela, termos a ferramenta com a qual estaremos iluminando, antes, a nós mesmos. É preciso que haja, no princípio, uma intensa vontade de perquirir com Amor a Luz de Deus Pai, para, com esta Luz, observar a Sua Verdade Imutável: “Lançai sobre mim a Vossa Luz e Fidelidade e Verdade; que elas me guiem.” (Salmo 42) O homem primeiro se conhece a si mesmo. O médico primeiro se cura a si mesmo. “Tira primeiro a trave de teu próprio olho!” É preciso que todos os seus rincões, portanto, sejam encarados verdadeiramente por vocês. E após encarados finalmente vivenciados, experimentados, perquiridos, para, só então, se lhes tornarem compreensíveis em suas filigranas mais sutis... e belas (nesse ponto vocês poderão ousar dizer: belas! E que Deus diga Amen). A propósito, um homem que sofreu e pôde ser curado há de compadecerse muito mais do que um outro que nunca tenha experimentado a dor. “Mais grato é aquele que foi mais perdoado”... e também mais curado. A aceitação 98
de seu escuro lhe será, portanto, Fonte Inesgotável de Compaixão e Agradecimento. Cada vez que vocês perdoarem isto é, aceitarem de coração um “defeito” em vocês mesmos, estarão abrindo um manancial inexaurível de Perdão aos “defeitos” alheios. Porque experimentar as causas de um desses “defeitos” é a única solução para que se compreendam os mesmos em outras pessoas, cuja identidade humana por si só já vale como lastro de perdão. Deus não encara nenhuma escuridão a não ser como o ponto mais fervorosamente passível de Crescimento individual, para, daí, nascer, então, a Cura em níveis sem fronteiras: a Cura Universal. Ela não existiria se não tivesse havido, antes, a Cura Individual, a Caridade em si mesmo. “Acaso pode um cego guiar outro cego?” Não cairiam ambos no abismo?... E nunca se esqueçam (nem duvidem) de que Deus mora igualmente no escuro, ali estando a cada passo de suas vidas, sem abandonar nem sequer um de Suas Criaturas Benditas: vocês: “Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo.” (Salmo 22) Meus caríssimos filhos, à medida que vocês se forem iluminando, esta Luz que jorra de Deus estará, aos poucos, revelando sombras que, provavelmente, vocês próprios ainda não reconheciam em seus íntimos. Esse movimento poderia ser extremamente perigoso (porém é irreversível), se não viesse acompanhado de muitos momentos de oração e jejum, momentos de introspecção, treinamentos ativos para o corpo com reflexo na alma, através da mente, conforme já falei alhures. São momentos de vocês adentrarem em suas selvas, seus bosques cerrados, suas florestas densas. De ficarem sozinhos ou melhor, vocês e todos nós aqui do céu, com Nosso Senhor acima de tudo! Assim, um corpo imbuído de Fortaleza Divina obtida segundo aquelas formas que preguei há pouco será a muralha segura que os estará contendo, e também contendo as ondas bravias que os acossarão em momentos de confronto psíquico muito intenso, fomentado por aquela Luz Clarividente que Nosso Deus, por Sua Piedade, lhes enviou com Seus Anjos e Santos. Muito cuidado para não terem um outro tipo de cegueira: a cegueira da Luz. Quem pode encarar, sem ofuscamentos não raro letais, a luz do sol em todo o seu esplendor? Muita Luz é também muita Sombra, não há como ser de outra forma. O que fazer, então, com esta Sombra?
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Poderíamos, equivocadamente, pensar que, ora, será mais fácil abdicar daquela Luz em prol de uma vida com menos conflitos internos ou existenciais. Fujam, meus filhos, de tal solução, que se configura desastrosa; corram escandalizados desse “atalho”: não existem atalhos para Deus, mas apenas verdadeira peregrinação; não tentem ludibriá-lO, nem tampouco a si mesmos... Só no confronto Luz-Sombra existirá o fim das suas angústias mais penetrantes e fundas. Só aí mora o término da aflição oriunda da sede pelo Absoluto que os regula. Só nesses dois elementos unificados residirá o fim das tormentas atrozes da humanidade. Aceitar, viver, lidar, perdoar e curar: eis a questão que lhes proponho. Apenas com Amor igual enviado à Luz e à Sombra os nódulos do homem se tornarão, a ele próprio, as Aleluias Eternas. Mas, e esta Sombra, como lidar com Ela, afinal? O primeiro passo, como eu disse agora há pouco, é vivê-la, não como se não existisse, ou como se fosse um “erro” de Nosso Pai: não há nenhum erro nas Ordenações de Nosso Deus! Ele é o Único Ser Perfeito! Imaginar que existiria um “equívoco” em Deus é a suprema soberba humana, porque aquele que o faz avalia, julga a Nosso Criador, e, o que é pior, segundo parâmetros de avaliação e julgamento adstritos à humanidade e às suas esferas abscônditas, isto é, Limitadas. A Sombra não é, pois, um “lapso” do Eterno e Bondoso Pai. E sobre a Luz? Ora, a Luz que passará a habitar em vocês não tem como objetivo, naturalmente, curar outras Luzes. Esta Luz, este Dom Crístico e Intransferível, tem como batalha a Cura das Sombras. Ela não veio para curar os sãos, porque estes não precisam de Médico, mas para curar os enfermos. É a sua Sombra, meu caro e amadíssimo filho, é a sua Sombra que precisa ser amada, para, com esse Amor, ser, enfim, definitiva e eternamente curada, sem precisar, para isso, deixar de existir. Ela não precisa ser escondida, como um filho feio e rejeitado do qual temos vergonha... Deus não se envergonha de nenhum dentre seus muitos e muitos filhos. Todos são em raiz um poderoso motivo de Gáudio! Não se envergonhem de suas Sombras: curem-nA. Curar uma Sombra significa aceitá-la como parte fértil de nossa mais profunda Natureza Humana. “Feliz o homem que não tem o remorso do pecado.” Meus filhos, poucas energias (quem sabe apenas o ódio seja tão deletério) poderiam fazer pesadíssima a mente de quem as experimenta; dentre elas, contabilizem-se o remorso e a culpa. Afastem-nos para muito longe de vocês. A perniciosidade da culpa é ainda mais extensa do que a da própria falta que, uma vez cometida mas já o foi , porventura tenha gerado aquele turbilhão malfazejo. Porque a falta é perdoada, seja ela qual for, uma vez que tenha sido aceita; mas a culpa corrói, e continua corroendo até que se lhe impute um freio: “Até aqui avançou 100
a arrogância de tuas ondas...” repete Nosso Bondoso Pai, dessa vez às culpas, aos remorsos do homem. Peçam a Ele que os ajude (mas vocês são parte ativa nesse processo, como em todos os outros), que os ampare e reedifique na luta contra os remorsos. Arrepender-se é uma coisa: ajuda a direcionar um homem a não mais cometer o que ele, através de sua Consciência, avaliou como erro; corroer-se é outra muito distinta. Ainda que vocês reconheçam um erro medonho em suas atitudes, pensem antes em um arrependimento profundo, porque, então, Deus em vocês já lhes terá perdoado; e a prova deste Perdão é o fato de que vocês próprios terão parâmetros para, num futuro, não mais reincidirem naquele erro. Isso já basta. Não há nenhum motivo para vocês mesmos se impingirem flagelos sobre-humanos, como a tortura psicológica e obsessiva da culpa, porque, nesse caso, estarão, com outro ato de soberba e arrogância, querendo igualar-se a Deus, pois a inflição da sentença ao homem só é justa se provém de Nosso Grande e Perfeitíssimo Senhor Onividente; e atenção! nem Ele o faz! Nosso Deus nunca pune por uma falta, apenas guia para que ela não se repita futuramente. E, para que ouçamos esse Guia, precisamos estar com o coração limpo até ou sobretudo da culpa. A culpa turva o entendimento, e um homem movido por ela é alguém fraco o suficiente para, sem nem perceber, recair incontáveis vezes no erro que tanto o martiriza... Não há doçura no remorso, ele não agrada a Deus, não é um sinal de sabedoria e nem de servidão a Deus, e tampouco prenuncia uma vontade real de mudança. Não! É sinal apenas de fraqueza, e, por isso, deve ser curado imediatamente. (Deus estará também nessa empresa com todos vocês!) Remorso e culpa não são Sombras, que devessem, porventura, ser amadas, como eu falei e falarei para sempre que deve ocorrer com as Sombras reais, mas são antes como a penumbra cinzenta, plúmbea, parda, que não permite a visão nem da Luz, nem da Sombra. São uma nuvem pesada que impede o real fluxo. Portanto, se você errou... avalie, sem o grilhão insuportável da culpa. Liberte-se antes dela: antes de comer, lave as mãos! Um bom guia para a avaliação do erro em vocês será as suas próprias Consciências. Mas para isso vocês precisarão, também, depurar essa Consciência, limpando-a de preconceitos e pensamentos fossilizados em vocês mesmos. Disso falarei adiante. Saibam que o Perdão deve, antes do mais, começar em vocês próprios. Quem sabe perdoar a alguém soube, antes acreditem , perdoar-se a si mesmo. Ninguém que se deteste poderá amar seu semelhante, porque, sendolhe semelhante, será, por isso mesmo, igualmente detestado. Quem não se
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perdoa não perdoa ao próximo, porque somos todos um grande espelho de Deus, A Natureza-Comum, Filhos. Proponho uma contemplação. Imaginem um rio de água cristalina e roxa atravessando sem cessar seus abdômens, de lado a lado, do esquerdo ao direito, e purificando qualquer mácula que pode haver depositada aí. Imaginem-se deitados num chão de terra viva, sintam a fertilidade profunda dessa terra, sintam-se como sendo frutos, vocês mesmos, do carinho maternal dessa terra brotando por vocês. Vocês são o gérmen vivo da terra, a semente viva da terra. Sintam seus abdômens abraçados por essa terra, e vejam, agora, o cordão umbilical que ainda (e para sempre) os liga a ela, num fluxo de Amor, Alimentação, Pulso, Vida, Saúde. Essa região do corpo que descrevi é um poderosíssimo centro de saúde e regeneração, de vida, enfim, devendo receber todo o carinho de vocês e devendo ser especialmente observada e amada. Nunca desprezem seu estômago, seu intestino, seu fígado, seu rim. São órgãos cuja nobreza está no fato de trazerem alimentação, renovação, purificação, transformação. Têm tanto valor quanto qualquer outra célula de seus corpos. Tudo em vocês emana vida. Mas também há vida nas Sombras, meus filhos. A Sombra deve ser encarada como refúgio. Deve ser vista como a gruta úmida e reconfortante no meio de um deserto muito árido. “Como é preciosa a Vossa Bondade, ó Deus! À sombra de Vossas Asas se refugiam os filhos dos homens!” (Salmo 35)
A Sombra deve ser como o abrigo dos pássaros que migram em busca de comida. É ela sim o ponto de parada e reconforto na trajetória retilínea e curvilínea em busca do Amor de Deus. É na Sombra que habita o Refazer. Nela mora o Reconstruir. Dela nascem as forças vitais para o prosseguimento. Que tristeza devo externar a vocês por causa dos tantos séculos em que suas culturas salvo poucas e honrosas exceções subestimaram o lado escuro como se fosse um lado vergonhoso, fétido, abjeto e malfadado ao lixo dos lixos! É no lado escuro que se porá em prática e exercício do Verdadeiro Amor. Deus também habita esse lado, porque, “se o Reino fosse dividido, não haveria de subsistir, mas ruiria.” Deus fala do que é de Deus, e, se Ele os quis no masculino e no feminino, claros e escuros, “bem e mal”, simultaneamente, a despeito da forma física que vocês tenham, todas essas coisas devem receber, 102
de Deus, o tratamento apropriado, que se resume numa verdade posta à luz por vocês mesmos: o Amor. As pessoas desse mundo mal sabem, por exemplo, chorar. Ah meus filhos, dois conselhos práticos eu lhes daria. O primeiro é este: chorem, não tenham pudor diante de vocês próprios. O choro, extremamente saudável, quando não é de amargura ou raiva, impede muitas obstruções de energia pelos seus corpos, mentes e almas. No tempo de chorar, chorem; mas não deixem que esse tempo se estenda além do que aquele que lhe for reservado. Para tudo há um tempo. Todas as coisas se tornam erradas se vêm no momento errado. E tudo está certo quando está na hora certa. “A quem compararei os homens desta geração? Com quem se assemelham? São semelhantes a meninos que, sentados na praça, falam uns com os outros, dizendo: Tocamos flauta e não dançastes; entoamos lamentações e não chorastes” (Evangelho de São Lucas, 7:31-32). Não estejam vocês, em nenhuma situação, entre esses tais meninos, porque são “meninos” no sentido de imaturos para ver a Presença Divina, são incrédulos, são pessoas pouco ou nada adaptadas a viver na terra. Viver na terra! Se Deus os pôs aí, meus queridos e amadíssimos rebentos, não foi à toa, porque Nosso Pai não faz nada à toa, nada inadvertidamente. A terra não é um mero “trampolim” para outro mundo! Por que semelhante desprezo com o chão que os ampara? Não confiem em nada Invisível sem antes confiar plenamente no Visível. Não se deixem ludibriar por falácias, por ilusões. Deus pôs em todas as coisas Invisíveis uma manifestação Visível E Ele é Simples, Singular, Perfeito em seus Desígnios! Vivam na terra, mas sobretudo vivam a terra. Esta forma de agir é também um poderosíssimo louvor a Deus. Menosprezar a terra é menosprezar a casa que lhes foi dada. A terra é um lar bendito e que, a cada dia, é novamente abençoado e amado por Deus em Seu Trono Celeste. O outro conselho é este: Bebam muita água. Nada, bebida alguma substitui a água pura. Quanto mais água vocês beberem, melhor: ela será o rio de depuração em seus abdômens. Um abdômen limpo, como eu já disse, ativa a Boa-Vontade humana, com todas as conseqüências benéficas daí provenientes. Eu gostaria, agora, de ser um pouco mais direta no assunto “Sombra”. Uma dessas Sombras que todos vocês carregam é o sexo. Meus filhos, o sexo foi-lhes, também, um presente do Diviníssimo Pai, e, por isso, não pode e nem teria como ser preterido ou relegado. Quero dizer-lhes que a sexualidade nada tem a ver, numa linha reta de julgamento, com a evolução espiritual de 103
vocês, com as suas ascensões rumo à Luz. Repito: quanto mais Luz for jogada sobre seus Seres, tanto maior será o realce de suas Sombras. E delas, como nem seria de outra forma, há de emergir primeiramente o sexo. Em primeiro lugar isso vai ocorrer por causa, mais uma vez, das infindáveis manipulações culturais que se lhes impõem a todo o momento, principalmente em relação a sexo. A propósito, será fundamental que vocês desenvolvam olhos e ouvidos seletivos, que possam joeirar, dentre tanta matéria suja, o ouro precioso do aprendizado salutar. Vocês precisam agir como verdadeiros garimpeiros, separando o ouro da ganga. Muita análise eis a mente na assimilação de “informações” que lhes são passadas ininterruptamente. Voltando ao sexo, tenta-se ligá-lo, por exemplo, ao poder, ao dinheiro, dá-se a ele o estatuto de troféu de ricos e poderosos, como se fosse um privilégio desses. Assim, o sexo passa a agir em suas vidas como uma espécie de ícone, ídolo, uma espécie de “deus”... porque todos o reverenciam como troféu. Mas não é. Ele é apenas uma ânsia atávica pela vida, uma sede ancestral de perpetuação, uma busca interna e profundíssima pela felicidade e equilíbrio. E deve ser encarado exatamente assim. Podar a sexualidade significaria extirpar do homem e da mulher o seu cordão umbilical com a terra. E este cordão umbilical, como eu disse há pouco, permanecerá, ainda que em elo virtual, para sempre unindo o homem à sua genitora telúrica. Sim, meus filhos, três coisas em suas culturas foram postas para escanteio, assombrosamente tidas como realidades malsinadas ao “exorcismo”: a terra, o feminino e o sexo. E, acreditem, este último está inteiramente calcado na realidade primitiva e mais instintual, inconsciente, daqueles dois primeiros. (Devo lembrá-los que uma das discípulas mais fervorosas e próximas de Jesus foi Maria Madalena, a prostituta quase apedrejada pela hipocrisia de seu povo. Devo lembrar também que a caça às bruxas, na Idade Média, foi fomentada por enorme pânico dos homens poderosos em relação ao resquício do Poder Feminino, ainda então subjacente na sociedade.) Não há “sexo errado”. O que pode haver de erro, nele, como o há em todo o mais, é a liberalidade excessiva, a intemperança, o descontrole, porque isso gera vício, e um homem com vício, enquanto permanece assim, carece urgentemente de Carinho, Amor e Caridade, pois precisa ser curado. Ser dependente do sexo é, este sim, um erro que pode advir da ausência da razão. A dependência é a maior de todas as castrações humanas, porque simplesmente extirpa do homem a sua fonte de prazer. Imaginem uma pessoa que goste muito 104
de determinada comida. Se esta pessoa comer aquela comida excessivas vezes, tornando-se dependente dela, deixará de comê-la por prazer, passando a agir automática e irracionalmente. Está, portanto, dominada. Assim é com o sexo. Quando falei na relegação do feminino com a conseqüente relegação do sexo, quis falar na morte absoluta das sociedades matriarcais, quando o regime matrilinear permitia certa liberdade sexual igualitária a homens e mulheres. Isso ocorria porque, ao contrário da forma como acontece hoje, os bens e posses da família passavam da mãe para os filhos (e os conhecimentos místicos apenas da mãe para a filha...), o que fazia importar muito pouco, para questões de ascendência, quem fosse o pai de uma criança. Com o falecimento de tais sociedades, passou-se gradativamente a dar-se a mesma prerrogativa aos homens, que, então, exigiram da mulher a castidade, a virgindade, porque seriam formas de garantir-lhes, a eles, homens, a proveniência de seus descendentes. Foi, portanto, graças à insegurança masculina que se exigiu da mulher servilidade, submissão, subserviência. Passaram a ter valor segundo o tamanho do monopólio masculino “fidelidade” que exalavam... Foram coagidas, coibidas... Como vemos, a sociedade passou de um extremo a outro. E, como em todo extremo há prejuízo, assim o foi com as sociedades matriarcal e patriarcal. A minha mais fecunda esperança é que, nessa Nova Empresa que lhes dei, a Empresa do Amor, haja cultural e socialmente a união dessas duas sociedades, o que fará germinar uma sexualidade mais livre e, dessa forma, bem menos complicada e “obscura” para todos vocês. Tal liberdade (não falei “libertinagem”) há de desimpedir, finalmente, suas evoluções espirituais. Não queira chegar à alma tendo pulado o corpo ou a mente... Quando houver resolução franca do sexo, o corpo terá finalmente sua Sombra de Repouso, podendo revigorar-se para seguir em frente rumo ao seu caminho de direito: alimentar a alma, com auxílio imperioso da mente. Quanto à castidade, ao celibato, ouçam Nosso Mestre: “Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender compreenda.” (Mt. 19: 11-12) Isto é, a abstinência não é para todos, pois, se o fosse, dentro em breve a espécie humana se extinguiria. Já utilizei esta parábola também em outra aplicação. Quanto ao casamento, saibam que não é, tampouco, uma fórmula inquestionável de felicidade. Basta que se vejam as inúmeras famílias dissolvidas por aí afora, mercê de casamentos estraçalhados que se mantiveram 105
em nome de justificativas ante a sociedade. Quando eu falo isso, não estou apontando uma “ameaça” a esta sociedade, não é o vislumbre do “fim da espécie”, porque, como mostrei, e repito, haverá sempre aquelas pessoas que, também já no ventre da mãe, terão a vocação do matrimônio... e este vai sobreviver, mas, com ajuda de Deus, não mais impelido por conveniências ou hipocrisias, e sim por real vocação daqueles que a têm. Ameaça é apenas esta seguinte: falta de Amor... Portanto, meus filhos, nada, nenhuma conduta seria ameaça à procriação, ao poder de gerar vidas que Deus lhes deu, mais uma vez, por sua Incomensurável Benignidade. Fiel a Deus é aquele que não se trai a si mesmo.
“Há quem se abstenha de pecar por falta de meios, mas ressente o aguilhão do pecado até em seu repouso.” (Eclesiástico, 20:23)
Tenham em mente que de Deus nada se oculta. Para ele, não há nada oculto que não venha a ser, já de início, revelado.
“Senhor, diante de Vós estão todos os meus desejos, e meu gemido não Vos é oculto.” (Salmo 37)
Não existe, para Nosso Amoroso Genitor, a divisão Luz/Sombra. Para Ele tudo constitui um único Reino, o Seu Reino. Ele é nosso Criador, conhece nossa Natureza tão intimamente, que nem sequer saberíamos descrever tal ciência tal Onisciência! Mas, acima de tudo, Ele é o Ser que mais nos ama e aceita, perdoa-nos de uma forma como nem concebemos o Perdão com Amor Infinito. Nada se iguala ao Amor de Deus por todos nós! Não faça desse Amor motivo de tropeço em suas vidas. Ele é sua maior Bênção. Bebam-nA! Amen.
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Com a Eterna Chaga Aberta de Cristo, convertida em Flor da Humanidade, Com o Amor de Deus, Nossa Mãe Celestial e Nosso Pai Indescritivelmente Longânime, com a Virgem Maria, análoga à Natureza-Una, Mãe de Jesus Redentor, Deus-Filho, Elo Infinito, Visível e Invisível, com Todos os Santos e Anjos do céu, especialmente com São Pedro, Grande e Incomparável Mártir para a Eternidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo, Guia que recebe e doa as Chaves Eternas, cheio de Autoridade e Amor, Bendito Santo, Amigo e Irmão: Feliz aquele que em seu coração Não obra o mal, nunca deixa de amar, Pois quem ama semeia Perdão; E é Poder de Cura eternamente no olhar! Seu íntimo é a Bênção vinda com Deus, Seu corpo, um Alento Divino de Amor; As mãos distribuem num rio, aos seus Irmãos, o Alívio a toda, a qualquer dor. É um homem de Luz que espelha Alegria, Um ser tão amado, que o Pai fala assim: “Meu Filho, que a Luz te conforte no Dia E que a Noite não te amedronte no Fim!” Nosso Pai, lá do alto, sorrindo, agradece Infinitamente cercado no Amor... Os pássaros com asas subindo-Lhe em Prece, A chuva e suas águas descendo em Louvor... Que Deus te inspire o Coração, ó Criança, A que Ele possa prosseguir amando: Que em Sua Luz, Gema Inigualável de Esperança, O Seu Escuro seja Doce, Calmo e Brando... Amen.
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1 Ave-Maria. 1 Salve-Rainha. 1 Pai-Nosso. Mater Dei. Rio de Janeiro, 10/08/2000, quinta-feira, à noite (20h) e sexta-feira, 11/08/2000, também à noite (19h).
Após o banquete.
Escutem apenas:
Era um menininho muito criança e com o peito estourando de curiosidade. Teve um dia em que, no comecinho da tarde, o sono o pegou assim desprevinido, e ele se deitou na sua cama e, por ser criança ainda, muito criança, pega imediatamente num adormecer leve. E nem entendia como poderia estar querendo dormir assim, no meio do sol... O sol ia lá fora brincando. Ele ouve um e só! baque seco na sua porta. Pan. Acordou, mas continuou na cama deitado. Olhou com um olho apenas (porque o outro ficou dormindo; o menino ficou com uma cara de coruja assim, engraçado...), e dorme. Nessa hora ele vê que o sol está em cima da sua cabeça, não incomoda, mas resolve checar, afinal, que sol é este aqui, tão abusadinho em cima de mim? ele diz. E quando olha bem, vê que seu quarto inteiro está num jardim sem flores, sem nenhuma árvore, mas com um sol engraçado no alto, e perto, brilhando e brincando. Céu azulado. E também a grama, baixa e muito verde, é realmente muito verde, por mais que eu dissesse a vocês “verde” eu não poderia descrever-lhes a verdura desta grama, grande e muito viva, parecia um neném-grama em que logo se observa o tamanho do futuro e simultâneo crescer. (Crescer!) Ele vê o sorriso do sol e seus olhinhos são pequenos. Seu nome inteirinho brilha vermelho na barriga do sol: “Ele Ele de Ele” estava escrito o seu nome. Ele ri de cair no chão, de tanto. Porque o sol tem barriga! O sol também, quando vê que tem barriga, ri: eles gargalham de rolar, rolar, rolar... Ele sobre todas as coisas no chão. E além de ter escrito o seu nome, como se fosse um cinto no sol.
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De repente, sem ter parado de rir, aliás não fez mais na vida outra coisa, ele observa uma parede branca, uma janelona abertíssima no meio e as cortinas, cortinas brancas, ventando para dentro do seu quarto... Então, pensou ele mas como ele era sábio! , o meu quarto é que está do lado de fora! Não entendeu muito o que dissera, mas, como já tinha dito, era verdade e pronto. Pulou a janela (na verdade nem era preciso pular, bastava contornar a parede, porque, em torno dela, só havia a mesma paisagem que eu lhe descrevi agorinha, você lembra?), e viu a mesma paisagem lá de dentro (ou de fora) do seu quarto-com-sol. Ele gritou: Meu Deus, que mesa! Era certa mesa quadrada com uma toalha branca muito grossa e limpa até o chão (de grama). A toalha, quando pegava no chão, ia tão além do “necessário” para apenas cobrir a mesa, que parecia um tapete. Ele riu de novo, e o sol também. O sol é um menino que ri de tudo! Mas, e em cima da toalha que ficava em cima da mesa quadrada? Que riqueza! Tão rica, mas tão rica era, que tinha sobre si um Banquete e tanto, generoso, brilhava com a luz de ouro. Era tão plena, tão rica, tão abundante, que só de olhar o menininho já se sentiu saciado, feliz, até ficou rindo à toa... Um banquete! vinho ametista retinindo, numa garrafona oval (aliás, também se viam ovos, muitos ovos quase arrebentando as cascas ovais de tão brancos que eram), retinindo o sol, que parecia mais livre do que nunca naquele pequeno mar de violeta contido no ovo da garrafa brilhante, o sol ficava engraçado de violeta, roupa de festa, o menino até riu dele mesmo; sopa, numa grande panela feita de pão, fervia fumaça com cheiro de sal, uma delícia! outros e outros pães, quase todos redondos, esféricos, brancos, beges, cor-de-pele, negros, pães amarelos, em todos eles milhões de fios de barba de milho e trigo e farelo e semente e cereais até não se ver mais quantos; uma vela acesa no meio, grande e branca, era a única coisa a mostrar a presença do vento muito forte! Esse vento começou a trazer o cheiro, aroma das flores (mas nem se viam estas). Depois do eflúvio, começaram a chegar pétalas das flores, pareciam até os seus pólens, de tão coloridas: amarelas, marrons, brancas, rosas, vermelhas, azuis... Viu passar voando a cortina branca de filó. Ele foi andando e ajeitando a franja dourada pelo sol, porque, meu Deus, disse ele, mas que vento!... hein! Viu um laguinho realmente muito pequeno, pode acreditar, ele devia ter pouco mais de dois metros no diâmetro. Redondinho que nem um olho, ele pensou. Mas logo percebeu a densidade das águas...
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E aí as águas do lago entraram, chupadas pela própria terra, sumindo. Ficou um terreno alagadiço, como se feito de argila molhada e escura, cheia de peixes pulando vivos, era uma lama primordial que, ele pensou, parecia até o princípio de todas as coisas, de todas as vidas. Aquele lago ex-lago se tornou o caldeirão do sol? Porque ele o viu e sentiu tão rico quanto aquela mesa, percebeu que tudo na mesa fora cozido e preparado amorosamente naquela argila úmida. O lago se afunda mais. Ele viu que ali se esboçava, no fundo, uma escada. Ela era tão escura tão escura (eu estou falando sobre a escada e o lugar), no seu fundo era tão impossível de ver alguma coisa, que o menino entrou sem nem vacilar, além de tudo porque o vento parara de incomodá-lo de leve e não havia outra coisa a ser feita senão descer. À medida que o fazia descer , percebeu que sua cabeça lhe era o farol dourado, mas humilde e apenas suficiente, sem excessos, que iluminava a escada. Aí mesmo foi que desceu tranqüilo e curioso. Está chegando embaixo. Sabe o que ele viu? uma coruja! Começou a rir e instintivamente procurou o sol para checar se seu companheiro ainda ria com ele. Claro que não viu o sol, o sol ficara no alto daquele jardim sem flores e sem árvores, como sempre estivera. Pela primeira vez o menino ficou grave, seu rostinho dourado pegou, acho que emprestada, uma austeridade ímpar e par ao mesmo tempo. De repente ficou pálido como neve. Teve medo. Era uma sala escura, negra, negra, mas com uma iluminação branca e muito branca que vinha de algum lugar. Meu Deus, gritou, esta deve ser a toca (ele disse mesmo “caverna”) de uma... ... apareceu uma linda mulher (ou será menina ou anciã?) de túnica prateada, capuz que lhe realça o sorriso claro... antes mesmo que ele tivesse pensado... “a caverna de uma bruxa”. No centro da sala, depois da pilastra que parecia a raiz de uma árvore imensa, ele viu que aquela mulher se dirige para um caldeirão fervendo fervendo. Ali, começam a subir fumacinhas brancas, que, em si mesmas, revelam uma lua crescendo, cresce, cresceu e ficou cheia e cor de platina. A mulher apenas toma esta Lua e a dá nas mãos do menino, depois, sorriem, ela vira e some no meio da sua toca. O que vou fazer com esta Lua. Ele afirma. Começa a subir a escada, olhos arregalados, que ele (eu me enganara? agora sim ele parece uma coruja) olhe só para a Lua Grande que traz na mão! 110
Lá em cima, o sol ainda sorri, brincava. Aí vem em sua direção, do menininho, um Rapaz completamente dourado, desde a roupa que vestia, uma túnica idêntica àquela da Moça (a palavra “moça” foi bem escolhida) lá debaixo, e lhe estende as mãos, pedindo-lhe a Lua. Ele dá com um olhar de espanto leve e curiosidade engraçada. O sol ri da cara dele. Ele não gosta muito... Mas quando o Rapaz de ouro também ri, ele enfim sorri, e a Lua começa a subir ao céu. Da escada, vem a Moça com calma e segurando a túnica e sorrindo de leve, sempre olhando para o chão (é tão prudente, pensou ele!). Quando vai chegando ao jardim, também vai chegando a Lua ao céu, e se ajeita perto do Sol, que sorri meio rubro, meio vermelho, meio laranja de tanta felicidade. A Lua ri como sempre quis poder! Ela fica, então, de repente, tão grande como o Sol, e seu brilho de prata, junto com o de ouro do Sol, faz com que o jardim tome coloração que, você me desculpará, mas é impossível, de tão bela, descrevê-la, apenas imagine o Belo. É o próprio Belo em si. O equilíbrio dos dois parecia que estava perfilando não um, mas dois Sóis, ou duas Luas, de tão igualmente importantes e fontes de Calor-Humanidade. O Rapaz de ouro vai em direção à Moça de prata e a abraça. Eles se fundem como uma só e linda Substância, que, agora, tomou a forma de um coração, metade prateado, metade dourado. Este coração, que tem duas anteninhas, como de inseto, parecem os caracóis de uma borboleta, voa com suas asas e entra, como fumaça, no coração do menininho. Ele, muito curioso, quer ver o que acontece. O que acontece? O coração prateado-dourado vira uma semente no Coração do menininho, e, de fruto, nasce uma luz de um rosa tão intenso e comedido, que todo o jardim branco-amarelado se torna a Rosa de uma Luz, aberta para sempre no seu Coração. A Rosa é esta aqui, nunca mais vai morrer. Pode pegá-lA: é toda Sua! feita para o Simples Amor. Disse-lhe o Sol, amando e acariciando a Lua. “Fim”...
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Ensino-lhes agora um dos Louvores que mais se fazem no céu. Doulho, a todos vocês, amados rebentos, para que, juntando-se às Milícias Celestes, nenhum mal ou inimigo triunfe sobre vocês. Ninguém os vencerá, meus filhos, porque está selada eternamente, por Nosso Senhor Jesus Cristo, a Aliança Indelével entre vocês e o Pai. Eu sou apenas um intermédio servil à Bondade de Nosso Deus de Amor. Estou pronta para ser-Lhe um Arauto, e, para vocês, uma Advogada. Mas Ele, Jesus Universal, Ele é o Sumo-Pontífice, a Razão das coisas, o Sentido Exato, Aquele que tudo justifica, Aquele que nos coloca de volta em Nosso Lar, Aquele que nada pede, senão Amor, Aquele que tudo dá e que tudo conhece. Deus é a Brasa queimando em nossos Corações. Por isso, abra-se a sua boca em Louvor a Ele, que sorri um Sorriso Eterno de Amor e Piedade. A esse Louvor, que, como eu disse, é um dos mais fervorosos e acariciados cá no céu, juntei as súplicas que vocês farão para terem depurados os seus corpos, as suas mentes, as suas almas. Façam-no de joelhos, mantenham a cabeça baixa, com alegria e contrição. Ao fazê-lo, permita que um sorriso franco e meigo nasça de suas entranhas, porque ele é a chave de qualquer Louvor... Se possível, acendam uma vela, de qualquer cor, e um incenso, que deverão ficar no chão, em frente a vocês, como prova da Devoção e do Laço Filial que os Une à Misericórdia de Deus. A vela e o incenso são uma Oferta a Ele, que sempre recebe com Amor a quem O invoca e a quem Lhe clama Socorro de coração. Vocês nem imaginam o quão Curativo e Benigno é este Louvor-Oração. Comam-no com o prazer de quem se banqueteia com Amigos muito Amados e Fiéis. O Alimento que vocês terão no céu é muito semelhante, por isso vocês precisam acostumar-se, pois o que é doce para uns... é amargo para outros... Que Deus abençoe, sempre, seus corações e suas línguas, para que O louvem condignamente, porque Ele é a Essência Trina do Perdão e da Amizade Infinita, Amor, Luz, Consciência! Amen. 112
À Virgem Maria, Mãe do Eterno e Verdadeiro Redentor, Nosso Senhor Jesus Cristo, a todos os Coros Celestiais dos Serafins de Deus, em Sua Glória SemComeço e Sem-Fim:
“Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida de sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava de dores, sentindo a angústia de dar à luz.” (Apocalipse, 12:1-2)
Ó todos os Coros Angelicais, prostrados em Eterno Louvor Àquele em Quem só há Bondade, Amor e Perdão: Ó Mãe das Mães, Virgem das Virgens, Mulher Perfeita entre as Mulheres, Resumo de Vida Plena em Deus, Nosso Salvador: Ó Serafins de Seis Asas do Império Infinito e Calmo de Nosso Bom Deus: Exultai, Santos e Anjos de Deus, por nosso Eterno Socorro! A Vós nos juntamos para, humildes e amparados, louvar eternamente a Luz da Face de Nosso Único, Imortal e Verdadeiríssimo Deus Pai, Suprema Generosidade do Universo, Primeira e Única Lei: Louvado seja Infinitamente Deus em Seu Amor! (10 vezes) Vinde, Senhor, em Nosso Amparo! (3 vezes) Benditas sejam todas as Obras do Altíssimo! (10 vezes)
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Segurai, Senhor, em nossas mãos! (3 vezes) Prostrados Vos adoramos sobre todas as coisas, Rei Soberano do Universo, Nosso Senhor! (10 vezes) Abençoai nossas Almas, Bondoso Pai, Senhor Nosso! (3 vezes) Glorificados sejam os Desígnios Perfeitos e Inquestionáveis do Nosso Amorosíssimo Pai de Doçura Celestial (10 vezes) Perdoai, Senhor, pelo Sangue Bendito de Vosso Unigênito Cordeiro, todas as nossas faltas ante Vós (3 vezes) Aleluia, Aleluia, Aleluia, O Senhor vive em Sua Glória e Esplendor Eternamente! Ele é o Rei do Universo! (10 vezes) Amen. 1 Pai-Nosso.
Mater Dei. Sábado, 12/08/2000, à tarde (14h30min) e domingo, 13/08/2000, também à tarde (14h).
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O rito: aparência e essência.
Meus filhos, com toda a Infinitude e Majestade, que são as únicas descrições a que se presta Nosso Pai Amado, com toda a Sua Pujança e Glória Eternas, Ele, em total Esplendor de Benevolência, “Envolto em Luz como de um Manto”, segundo revela o Salmo cantado em cítaras, harpas e flautas, Luz a que nem a soma dos infinitos astros luminosos do céu faria justiça, Deus Imortal, Único e Verdadeiro, Nosso Pai e Nossa Mãe que em tudo nos assiste, com Toda essa Sua Incomensurável Luminescência Imutável, com o Fulgor Ardoroso que possui, com tudo isso, tal Essência de Amor e Vida não pode ser fisicamente vista pelo homem... Não foi dado ao homem vislumbrar a Integralidade de Deus, porque Ele é o único Ser Inteiro e Perfeito, o único que, embora se expanda eternamente, crescendo sem fim, nunca muda, e, embora sempre se renove, não altera a Bondade-Inteireza de Seu Sumo-Coração, que é a única Essência que não precisou nascer e nem morrerá jamais, apenas viveu, vive e há de viver pelos séculos sem fim. (E Deus é a única Verdade sem Fim...) Em primeiro lugar, não lhes será preciso e nem possível, por enquanto vê-lO em Sua Glória Total para conhecer esta Glória e, sobretudo, amá-lA. Isso ocorre exatamente graças àquela Chama de Amor, a Sua Chama de Amor, Chama Viva que Ele instituiu piedosamente nos corações de cada homem, com quem já nasce viva e pronta. (Quando nasce um homem, toda a sua essência já está ali, nem mais um côvado se põe nesta essência: é papel dela, doravente, expandir-se, expandir a sua, força então latente, missionando para realizá-la.) Assim, embora Deus não seja visível, não é tampouco invisível, porque, muito mais do que visto, entendido, Nosso Pai é amado e sentido sobre todas as coisas, sobre todos os reinos, sobre todas as espécies de seres vivos da terra, acima de todas as estrelas e dentro de todos os homens e mulheres, lenhos e veias, mais profundamente que o mais íngreme abismo dos mares. Ele é menor que os íons, e, embora caiba confortavelmente em cada próton, elétron, nêutron, açambarca em Sua Voz Tonitruante os maiores vales da terra e as maiores montanhas do mar. Tudo nEle se resume a Seu Olho do Amor. E nem o próprio olho da águia veria tanto e tão longe quanto se vê com este Olho do 115
Amor, que, portanto, caberia na mais ínfima pulsação de vida que nem sequer enxergaríamos... Deus é em Tudo o que há! Deus é Soma Perpétua, Resumo e Legitimação, Expansão de todas as coisas, vivas e mortas, visíveis e invisíveis, claras e escuras! Minerais, vegetais, animais, nada escapa ao Poder de Deus, porque em tudo Ele é! “Eu sou o que sou!” Ele no-lo disse ao anunciar-se a Moisés. Fogo, terra, ar, água, éter, metal se curvam e se erguem ante Deus. Ele é o que é! Ele está e é em nós, em cada célula vibra a Sua Essência Trina e Inteira. E sua Palavra reverbera ab eternum, ad infinitum, pois nem começou em dia específico, nem terminará em data estipulada porque não cessa de animar a Chama de Amor , o Eflúvio Paterno que nos torna Suas Criaturas Muitíssimo Amadas! A Palavra de Deus não se torna, em tempo algum, ultrapassada, antes pelo contrário, ultrapassa, ela sim, Imperiosa e Soberana, todas as demais palavras. A Palavra de Deus é o Amor. No entanto, Ele também se fez Carne, e continua se fazendo por todos os séculos e séculos. Ele veio como homem, habitou Pai, Eli, Eli, lema sabachtani), a alegria, a oração, a cólera (lembrem-se de como Jesus expulsou a pontapés os vendilhões da Casa de Deus!), o Perdão humano, o Divino Registro, a tentação, o pranto (“Jesus chorou”). Ele se fez e se faz, sempre, o Ser Vivo e Supremo entre nós. “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó” (Êxodo, 3:6). Ora, Ele “não é Deus dos mortos, mas Deus dos vivos!” (Evangelho segundo São Mateus, 22:32) E, também enquanto Filho, continua Vivo, Consubstancial ao Pai, Uma Única Essência, porém igualmente Vivo entre todos os homens, feito, ainda, da mesma Carne Bendita que Lhe deu corpo, não apenas mente e alma. Além de em Seu Próprio Filho, Deus também é Carne em cada um de vocês, um por um, em cada coração brilha a Essência Encarnada de Deus. Ele não é, portanto, como querem os ateus, os céticos, fiando-se tão-só naquilo que podem medir, uma “abstração”... Ele também o é. Mas Deus é tão concreto quanto é toda a Sua Natureza Santa, toda a terra, todos os animais, todos os rios, as montanhas e vales, cada erva nova nascente nos morros e planícies, cada homem e mulher, feitos à Sua Imagem e Semelhança, cada morte e cada recomeço. Deus ama as suas criaturas, cada uma delas, Ele ama os animais, e, como prova máxima, fez Seu Filho Unigênito nascer numa estrebaria, entre jumentos, bezerros, ovelhas, pois, lá, entre os homens, “não havia lugar para Jesus, Maria e José”. Naquela manjedoura, que é o lugar onde o gado se alimenta, nasce o Cordeiro de Deus. E, de fato, essa Manjedoura Bendita nos tem sido, desde então, a mais Pura Fonte Inesgotável de Alimentos e Manjares Indizíveis! Nós 116
somos o Rebanho de Deus. Ele é nosso Pastor. “Senhor, Vossa Bondade chega até os céus, Vossa Fidelidade se eleva até as nuvens. Vossa Justiça é semelhante às montanhas de Deus, Vossos Juízos são profundos como o mar. Vós protegeis, Senhor, os homens como os animais.” (Salmo 35) O desprezo aos animais racionais ou irracionais é, portanto, semelhante desprezo às Ordenações do Próprio Deus. Vocês são a Luz Concreta de Deus. Ele também quis precisar do Concreto para se fazer Presente. Deus não seria Deus se não fossem vocês! E vocês não seriam vocês se não fosse Deus. Porque Ele é o que é em vocês! A Abstração de Deus seria um nada se não fosse o lastro de concretude que a legitima. (Deus também é Nada, porém que não este nada ilegítimo, inercial, é um Nada pulsante, um Vazio Consubstancial pronto para gerar e acolher, embora neste seu ponto já não precise disto nem daquilo.) Deus é o Ciclo da Vida. E, conforme eu já anunciei em outra ocasião: Para tudo há um tempo, uma hora certa para todas as coisas. “Fizestes a lua para indicar os tempos; o sol conhece a hora de se pôr.” (Salmo 103) É claro, portanto, que a primeira forma de rito a Deus é amar o que Ele deu de concreto: só quem ama aquilo que vê pode amar aquilo que não vê! E aí, então, vomo disse Nosso Divino Mestre a Tomé: “Feliz do que não viu e acreditou...” Como o homem poderia aceitar que estará sendo eternamente perdoado (aceito) se nem sequer conhece a Profunda Verdade do Perdão por nunca tê-lA experimentado? Quem não perdoa estará praticamente rejeitando, pelo livre-arbítrio de que é dotado, o Perdão de Deus. (O homem pode rejeitar a Deus, se quiser, o que não significa que deixaria de, por isso, ser igualemente amado: será que o Ciclo da Vida Deus se interromperia pelo fato de um homem nem saber que Ele existe?... Assim, só existe uma Verdade: o Arbítrio Divino, que é este: Deus é (e em você)! Dentro deste Arbítrio, você é Livre... para crer ou não crer, porque Deus é! e independe de você, faça o que fizer...) A sua mente, sem o treinamento para as Verdade da alma, da consciência, do corpo, repelirá rotundamente o Perdão Divino. Porque quem não dá não pode receber. “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.” Há, portanto, uma só Medida, um só Julgamento! Julgamento este, contudo, que é dado em função do quanto cada um recebeu do Pai (Parábola dos Talentos...). Digamos que a Quantidade é a mesma no Julgamento, mas a Qualidade é diferenciada, sim! Ou, se se preferir, teríamos no Julgamento a mesma Qualidade com Quantidades diferentes... 117
Como podemos esperar na Bondade de Nosso Pai, no Seu Amor, se não pudermos, nem concretamente, efetivar a Caridade com o farnel de que fomos dotados? O que é Caridade? Como se conceberia o Amor a Deus sem o Amor à Natureza, aos animais, à terra, aos homens e mulheres? “Até o pássaro encontra um abrigo, e a andorinha faz um ninho para pôr seus filhos. Ah, Vossos Altares, Senhor dos exércitos, meu Rei e meu Deus!” (Salmo 83) Porque em tudo isso, repetirei sempre, em tudo isso, Ele é e será por toda a Eternidade das Eternidades! O Amor Contemplativo a Deus é de suma importância para o homem. É preciso que todos nós, é preciso que mesmo os Anjos e Santos, homens e mulheres, mesmo os seres irracionais, é preciso que todos nos prostremos no Altar de Deus, que Lhe tributemos Eternas Ações de Graça: “Sempre, em todas as ocasiões, bendize ao Senhor!” vem em nosso auxílio o Livro de Tobias. A Contemplação é uma forma de Amor. Porém não deve ser-Lhe o único Amor. Deus é a soma de todos os Amores, é o Amor Ímpar, Crescente e Imutável, cuja Presença é concreta, pois Ela está e é em cada átomo de Sua Natureza, em todas as formas de energia retinirá infinitamente a Centelha Paternal que a tudo anima e que em tudo possui Vida Pulsante e Realizada! À medida que nos aproximamos do Microcosmo, aproximamo-nos por semelhança do Macrocosmo. E na Convergência, Consubstanciação de Um & Outro o Senhor é conosco! A Epifania de Nosso Senhor só pode ser louvada através de Suas Hierofanias. Isto é, não se conseguirá, dada a limitação inerente a todos os homens e a todas as criaturas, não se conseguirá louvar a Integralidade Divina se não se puder louvar as Suas Manifestações Individuais. “Ó Senhor, quão variadas são as Vossas Obras! feitas, Todas, com Sabedoria, a terra está cheia das coisas que criastes. Eis o mar, imenso e vasto, onde, sem conta, se agitam animais grandes e pequenos.” (Salmo 103) Por isso Ele não quis mostrar-Se em toda a Sua Glória, ou não precisou fazê-lo, porque Ele é Tudo, em tudo o que se olha se estará, sempre, vendo a Sua Bondade. “A terra está cheia da Bondade do Senhor”, canta-nos repetidamente o Salmo de Retidão e Direito. Meus Filhos, Deus é Indivisível, Ele não se fragmenta. Portanto, amar aquilo em que ele está significa amar aquilo que Ele é! Para Nosso Magnânimo Genitor não existe a cisão entre estado e essência, entre ser e ter, entre forma e conteúdo não existe distinção entre corpo e alma... Deus está assim na terra como no céu. O Seu Reino é que vem a nós. Não seria preciso morrer para alcançá-lO: “Deixai aos mortos enterrarem 118
seus mortos!”, lembra-no o evangelista. Aos vivos, cabe a Vida! Uma Vida Presente: vivam para viver. O Paraíso é aqui. “A felicidade não é deste mundo”, mas é na Soma de todos os Mundos, corpo, mente e alma, claro e escuro, sim e não, homem e mulher, resumidos em cada Criatura, racional ou irracional, cada um com seu papel e sua função intransferíveis, Criaturas que habitam segundo diferentes formas físicas o nosso Amado Planeta! Aqui sim haverá Felicidade! A Felicidade é a Soma. É a grande Paz, por isso é preciso lutar para alcançá-la. “Com efeito, os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem mais nada; para eles não há mais recompensa, porque sua lembrança está esquecida. Amor, ódio, ciúme, tudo já pereceu, não terão mais parte alguma para o futuro, no que se faz debaixo do sol. Ora, pois come e bebe contente teu vinho, porque Deus já apreciou teus trabalhos. Traja sempre vestes brancas e tenha sempre azeite perfumado em tua cabeça. Desfruta da vida com a mulher que amas, durante todos os dias da fugitiva e vã existência que Deus te concede deabixo do sol. Esta é a tua parte na vida, o prêmio do labor a que te entregas debaixo do sol.” (Eclesiastes, 9: 6-9) Dir-se-á sabiamente que viver em plena e franca Felicidade é o primeiro rito a parte concreta a Deus. Até mesmo no céu, o paraíso de Deus para os homens, que é a terra prometida, até mesmo aí Deus assegurou a exigência da manutenção do rito (o símbolo da concretude através da qual se chega à plenificação do abstrato): “‘Quando tiverdes penetrado na terra que o Senhor vos dará, observareis esse rito. E quando vossos filhos vos disserem: que significa esse rito? respondereis: é o sacrifício da Páscoa, em honra do Senhor, que, ferindo os egípcios, passou por cima das casas dos israelitas no Egito e preservou nossas casas.’ O povo inclinou-se e prostrou-se.” (Êxodo, 12:25-27). Não se importe, portanto com outras coisas sobremaneira diáfanas, não se preocupe com a fumaça, deixando de aquecer-se no fogo que a gerou; quem se preocupa apenas com a Fé, que é como a fumaça, deixa de realizar agora a Sua mais Sublime Virtude, a Caridade, que é como o fogo. Nesse ponto, podemos dizer que a Fé é apenas o sintoma da Presença Pulsátil de Deus em nossos corações Amados. Tudo o que habita a alma teve como raiz a terra. Porque se Deus não quisesse um corpo para vocês, vocês não o teriam! Ao homem caberá sempre a labuta. É através dela que se atinge a Plenitude Celestial. É na terra Chronos que se ganha a Graça do céu Kairós! As estações do ano são uma prova de que Deus ama a exatidão do tempo, de que nesta precisão habita a mesma atemporalidade com a qual Ele se comunica e na qual Ele está. Não se chega à Graça Eterna, atemporal, sem ter-se passado,
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passo a passo, pelo tempo inexorável, pelo hoje-amanhã, pelo aqui-e-agora, pelo “Pão nosso de cada dia”! “Fazeis brotar a relva para o gado, e plantas úteis ao homem, para que da terra possa extrair o pão. O vinho que alegra o coração do homem, o óleo que lhe faz brilhar o rosto e o pão que lhe sustenta as forças. As árvores do Senhor são cheias de seiva, assim como os cedros do Líbano que ele plantou.” (Salmo 103) Por isso, não seja transcendentalista em demasia, não se restrinja ao âmbito da alma, porque, se você assim proceder, mente e corpo demandarão cuidados. Não imagine que todas as Manifestações Divinas sejam herméticas, obscuras, impensáveis, etéreas... Não! Nosso Deus é a mais Simples dentre todas as explicações do Universo: é o Amor. Ponto! É Indelével em Seu Sorriso Dulcíssimo! Ele não é uma essência distante que nos observa, aos Santos e Anjos, homens e mulheres, impassível, altaneiro... Isto não é Nosso Deus. Ele permanece Aceso e habita no céu e na terra e em todos os caminhos do Universo. Cada um daqueles em que Deus está, repito, é a Própria Essência do Amor Universal e Eterno, e deve ser tão Amado quanto se ama a Ele Próprio, porque é, definitivamente, Ele Próprio! Orem muito a Deus Pai para que os auxilie sempre. Amem-se eternamente uns aos outros, amparem-se, ajudem-se, unam-se, comunguem, socorram-se: Ora et labora, Deus adest sine mora! Àquele que ama e trabalha, nada, nada faltará, jamais! Deus está e é neste Homem Eleito! Escutem:
Imaginem que seus pés tocam uma terra úmida e fofa, quase como um barro molhado, porém quente, morno, extremamente confortável. Ao olharem seus pés, vocês perceberão que eles estão de tal modo firmes naquele barro primordial, que é como se seus próprios corações estivessem pulsando nas solas de seus pés. Vocês estiveram em pé por todo esse tempo... Ajoelhem-se, agora, neste mesmo barro, e sintam-no em suas mãos, suas pernas, o calor e umidade sobem enfim por todo o seu corpo, num processo natural, acalentando-os, aquecendo-os. Neste momento, ao observarem o céu, vocês reparam que ele está nublado, como que se movendo num Espírito de Luz e Água. Alguns coriscos passam a cortá-lo, é como a densidade de uma chuva que se aproximaria. Porém vocês estão seguros neste barro. Vocês percebem, então, que, daquele 120
céu, surge uma espécie de Energia Vital que os esteve alimentando e nutrindo por toda a Vida, pregressa, presente e futura, vocês simplesmente sabem, nasceram sabendo, não ousariam nem sequer duvidar, porque seus corações ensinam a Verdade. Vocês se sentem o elo perfeito entre a Água, o Fogo e o Ar daquele céu, que é, ao mesmo tempo, claro e negro, e sempre, sempre se movimentando rumo à expansão. Você, dando a ele a Terra que você mesmo está protegendo (e em que você próprio está protegido), observa maduramente que ele cresce e se retrai, amplia e retesa... você descobre então: o céu está respirando! Você começa, no barro, como um componente vivo deste barro, começa a respirar no mesmo ritmo e com a mesma calma e intensidade daquele céu. Agora é você quem o está nutrindo, alimentando. De repente os céus se abrem e ficam de um Azul Radiante. Você vê a Luz Dourada que desce e envolve toda a terra. No seio de tanta Luz, você observa o crescimento gradativo, mas crescendo sempre, de um Rosto. É o Rosto de Deus, sorrindo cheio de Amor por cada um de vocês, amando a todas as criaturas, amando a terra inteira, em cada um de seus membros vitais. Você encara melhor o Rosto, sempre sorrindo muito... Sabe de quem é Aquele Rosto Abençoado Eternamente? É Seu. É um Espelho Bendito de Profunda Luz. O que ocorre? A sua alma cresceu de tal forma, que tocou o céu. Você foi a ponte entre o céu e a terra, e, de agora em diante, haverá um processo natural de alimentação e retroalimentação entre vocês. Esse processo nunca tem fim, e é a Essência do Amor Nutritivo e Substancioso de Nosso Adorado, Amado, Exaltado e Glorificado Pai Eternamente Incorruptível. Nenhum Anjo de Deus ficou fora desta sua empresa de integralização consubstancial ao Rei Soberano do Universo Deus Eterno!
Amen.
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Aos Serafins do Senhor, para que nos ajudem a louvar, adorar e bendizer eternamente a Deus Pai, Criador do céu e da terra: 1 Ave-Maria. “No ano da morte do rei Ozias, eu vi o Senhor sentado num Trono muito elevado; as franjas de seu manto enchiam o templo. Os Serafins se mantinham junto d’Ele. Cada um deles tinha seis asas; com um par, velavam a face; com outro, cobriam os pés, e com o terceiro, voavam. Suas vozes se revezavam e diziam: ‘Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus do Universo! A terra inteira proclama Sua Glória!’” (Livro do Profeta Isaías, 6: 1-3)
4 Pai-Nossos. Ó Serafins do Trono do Senhor Nosso Deus Amorosíssimo: Vós, que vedes a cada segundo a Face Luminescente do Criador; Vós, que conheceis e compreendeis a Infinitude da Graça do Perdão de Deus Pai; Vós, que portais conVosco a mais Amável Essência do Amor de Jeová:
Introibo altare Dei, Ad Deum qui laetificat juventutem meam! (Salmo 42) (3 vezes)
Dai-me a Brasa Viva de Seu Altar, Fazei que a Brasa Viva de seu Altar venha até mim e toque minha boca, Penetrai minha língua com a Brasa Viva do Altar do Senhor, Fazei que, com essa Brasa Viva, meu corpo seja inteiramente purificado e limpo das faltas, e ficarei mais alvo do que a neve,
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Fazei que, com essa Brasa Viva, meus lábios se abram em louvor ao Altíssimo Redentor,
Que meus lábios se abram em Ações de Graças Eternas a Deus, Nosso Amor, Nossa Luz, Que meus lábios reconheçam pelo meu coração que só Deus é o Senhor dos Exércitos, a Quem me prostro por todos os séculos dos séculos!
Como são amáveis as Vossas moradas, Senhor dos Exércitos! Minha alma desfalecida se consome suspirando pelos Átrios do Senhor, meu coração e minha carne exultam pelo Deus Vivo! (Salmo 83)
Fazei de mim um Altar Vivo a Deus Pai, (3 vezes) Fazei de mim um Anjo de Luz a meus Irmãos, (3 vezes) Fazei que eu aceite meu corpo como Fonte Inexaurível de Amor, (3 vezes) Fazei de meu corpo a raiz da minha Paz, (3 vezes) Fazei que eu veja em meu corpo a Essência Viva de Deus (3 vezes). Felizes os que habitam em Vossa Casa, Senhor: aí eles Vos louvam para sempre. Feliz o homem cujo Socorro está em Vós, e só pensa em Vossa Santa Peregrinação. Quando atravessam o vale árido, eles o transformam em fontes, e a chuva do outono vem cobri-los de Bênçãos. Seu Vigor aumenta à medida que avançam porque logo verão o Deus dos deuses em Sião. (Salmo 83) Santo, Santo, Santo, É o Senhor Deus do Universo, O céu e a terra proclamam Vossa Glória, Hosana nas Alturas, Bendito O que vem em Nome do Senhor Hosana nas Alturas!
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Verdadeiramente, um dia em Vossos Átrios vale mais que milhares fora deles. (Salmo 83)
Aleluia, Aleluia, Aleluia! Os Santos e Anjos rejubilem, exultem e se plenifiquem no Altar de Deus, o Santo Eterno de todos os Santos!
O Senhor Deus é nosso sol e nosso escudo, o Senhor dá a Graça e dá a Glória. Ele não recusa os Seus Bens àqueles que caminham na inocência. Ó Senhor dos Exércitos, feliz o homem que em Vós confia! (Salmo 83)
Infinitas vezes Vos glorificamos, Senhor! Infinitas Graças Vos rendemos, Senhor! Infinita é a Vossa Majestade, Senhor! Infinitas são as Vossas Luzes, Senhor! Infinito é o Vosso Perdão, Senhor!
Sois Santo, sois, Eterno, sois Forte e Inabalável, sois Reto e Justo, Misericordioso e Compassivo, sois Alegre e Fonte Eterna de Confiança, sois o Único Deus, Santo de todos os Santos, Deus Santíssimo, Nosso Senhor, Deus Imortal, com todos os Anjos, Prostrados e felicíssimos Vos adoramos, Nosso Deus! Amen.
Senhor, eu Vos entôo, exaltando Vosso Benigno Nome Santo e Triunfante, o Salmo 95:
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3 Pai-Nossos.
1 Ave-Maria. 1 Salve-Rainha.
Rio de Janeiro, 15/08/2000, Celebração da Assunção Gloriosa da Virgem Maria aos céus, terça-feira, de manhã (9h) e à tarde (17), após o Terço dos Mistérios Dolorosos e mais um Rosário Integral.
Mater Dei.
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A Árvore e a Andorinha. Trevas fogem, surge o sol envolto num manto de glória tal, que a lua, depois do arrebol, não sai de sua memória. Este sol, que já renasceu atrás de cada montanha, nos trouxe, nos raios do seu dourado, alegria tamanha, que a árvore, estremecendo, falava pra sua andorinha (sussurros...): “Mas não entendo por que esta alegria não vinha mais cedo, por todo o ano... Por que não ficar parada em vez de causar o dano de, indo-se nessa estrada, matar-nos, deixar-nos pouca sustentação para cada passagem?” E ficava rouca... “Você, andorinha amiga, obrigam-na a procurar no sul onde se persiga por tempos! um novo lar... E eu, que antes dava ninho, depois, já não tendo folha, expulso-a como se um vinho raro se impedisse por rolha... Espero, em seu coração, que, embora sem ter escolha contrária, me dê Perdão por eu não ter tido folha... Que nunca mais seja em vão o meu período de encolha. E agora, que você volta espero trazer consigo os filhos, o exército e a escolta, e que me tomem por amigo.” 126
A andorinha não mais que olhava e apenas vindo sorria. O sol... já no alto... se amava... por trás dele o mesmo dia. Então, disse ela ao amigo, fechado, murcho, tristonho: “Ó árvore, mas eu não ligo ter ido, porque é um sonho voltar à terra natal, é como voltar à infância... não existe fartura tal: eu digo após minhas andanças! Você não nos expulsou, ao ter ficado sem frutos, sem folhas... Você ensinou que a vida é feita de curtos momentos, de um dia/a/dia que anda como caminho, e traz com ele alegria maior que a de todo vinho! Agora você procura no céu das águas por terra... aquela mesma fartura que Nosso Bom Deus encerra!... Eu olho, miro você, depois de encarado o mundo, e resumo: voltou a ser o mesmo e após um segundo! Aliás, não é o mesmo de antes, agora, com folhas novas, seus brotos, bebês, gigantes, vida nascendo em suas covas... Eu vejo: você é melhor passado por cada outono, quando só mesmo o Amor lhe restituiria o trono! Você se tornou mais jovem, não tendo o coração duro... Espero que se renovem 127
seus frutos: você é maduro! Agora, que está mais novo, eu pude trazer comigo a minha família, meu povo, pra conhecer meu amigo. Olhem, meus irmãos, é aquele o ninho redondo de Amor, e o nosso lar fica nele, não há morada melhor! Voltamos, depois de andar o mundo, e posso dizer: Nenhuma casa é um lar tão cheio como você!” A árvore, sorridente, enchendo-se de primícias, se ajeita, se estufa e sente as tantas, tantas delícias que as aves trazem com elas depois desse tempo fora. (Também voltaram mais belas, tão lindas de hora em hora!) A árvore ponderou: “Esse momento de ausência foi pra mostrar quem eu sou... Eu devo-lhe reverência...” Todos estavam mais fortes, mais leves, cheios de Graça, viveram, com suas mortes, que Felicidade... não passa! que tudo um dia renasce, porque a questão é esperar... Se a vida não nos amasse, a quem poderia amar? Rio de Janeiro, 16/08/2000, quarta-feira, de manhã (4h30min).
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Sobre a humildade.
Tentarei ser concisa, porque é este um assunto bastante simples e claro, como todas as Leis de Deus. E, no entanto, é assunto atrozmente deturpado com intenções escusas por suas sociedades, ou pela maioria delas. Viu-se na humildade (ou se diz sobre esta) ser ela uma causa de se adquirir o paraíso. Erra-se em dois pontos: em primeiro lugar, que paraíso?! o que é isto exatamente? não há um paraíso; em segundo lugar, a humildade é o sintoma, a conseqüência de que se está perto daquele suposto e mítico, vamos chamar assim, por enquanto, paraíso. Porém que este mesmo paraíso, repito, é para todos, não é para os que o quiserem, apenas, mas para os que já podem têlo, nem é tampouco a única das casas de Nosso Pai, que, como disse Jesus, tem muitas moradas. Nem só desta morada viverão todos os homens. Há vários e vários paraísos, ajustados às necessidades que o Próprio Criador houve por bem estipular diferencialmente de homem para homem... Nada do que Deus faz é igual para todos, sempre haverá na Obra Sacrossanta de Nosso Pai a marca indelével da variação, da circunstância, do individual, do atômico, da diferença, enfim. Entenda-se de princípio o seguinte: ser humilde não é sinônimo de ser humilhado. Nesta aproximação semântico-etimológica é que se fiam quase todas as religiões, ainda que o neguem peremptoriamente, querendo ir de encontro a Deus ao apregoarem a homogeneização dos homens, como se estivessem estes homens entrando no reino subterrâneo, acorrentados por Hermes, falsos pretendentes que seriam da fidelidade da esposa de Ulisses, a nossa mitológica Penélope das tramas infinitas... Ou como os convivas da parábola da ceia, em que o rei, sendo recusado de nobres e ricos, mandou chamar pobres e indigentes, mendigos e desvalidos, não tolerando, contudo, nem mesmo entre estes, quem não estivesse adequadamente vestido (pronto, consciente) para tão especial banquete... Atenção, que muitos são chamados, e poucos os eleitos! Vigiar também significa encontrar a hora certa, e aprontarse, como que se vestindo esmeradamente, para ela. Se Deus fez a todas as coisas únicas e irrepetíveis, não seria imprudência humana querer refazê-las com massificação infensa à Obra Original? Sim: O “paraíso”, se realmente fosse um só, no mínimo haveria de ter muitas portas, de alturas, larguras e profundidades diferentes para cada homem que aí passasse. Já não nos disse Deus: Com a medida que julgardes sereis julgados? Pois que o julgamento de cada um depende de cada um. E só. Deus quis se eximir desta tarefa cartesiana e como tudo o Ele fez extremamente simplória. Deu-a 129
como encargo ao próprio homem, que é quem liberta ou aprisiona o outro homem. Um homem que se deixa humilhar por outros muito dificilmente haverá de conseguir, de fato, alcançar a humildade, porque esta é para homens tão grandes, tão superiores (não digo “superiores” numa relação de hierarquia, mas de diferença, porque lidamos, ao falarmos de Deus, apenas com diferenças...), para homens enfim de tal forma ricos e plenos espiritualmente, que suas índoles jamais permitiriam de outros homens um estado de humilhação. Mesmo no que aparentemente seria humilhação, há, no homem humilde, ou por sua parte, simples descaso quanto à natureza da suposta humilhação que lhe perpetram. É como se a águia se importasse com vociferações da minhoca contra ela; ou como se a lagarta precisasse passar toda a vida de borboleta remoendo o antigo estado por que teve de passar a fim da metamorfose, quando rastejava incontinenti; ou ainda como se um tigre precisasse andar mostrando as garras até para um sapo que o “ameaçasse”... Este tem sido, assim me quer parecer, o maior de todos os equívocos no concernente à humildade: compará-la à humilhação, aproximar uma da outra. Saibam que são realidades, no fundo, incompatíveis, paradoxais e contraditórias. E também quanto ao orgulho: compará-lo à arrogância, e, desta aproximação, tolhê-lo impiedosamnte. Meus filhos, entre os judeus povo de tanta sabedoria, aprendida inclusive entre a fauna e a flora conta-se um pequeno proêmio, que serve como tal para o Tu Bishvat, o Ano Novo das Árvores; é mais ou menos o seguinte: Todas as árvores, quando estão despidas de suas folhas, para trocaremnas, se tornam elevadas, eretas, pontiagudas, são espetadiças e não sustêm o homem de sombra, abrigo ou alimentação. Apenas apontam os galhos para cima, numa postura de soberba e artificialismo, um estereótipo, são bem parecidas, aliás, àqueles homens que gritam “Senhor, Senhor”, de que nos fala Jesus, Divino Mestre, e que nem por isso entrarão nos céus... Mas, como numa repentina mágica, as folhas vão voltando a surgir em seus lugares de direito porque o tempo quis , e esta árvore, agora, enchendo-se de novo, aos poucos, vai retornando a seu estado real de árvore, à sua missão (apenas ser uma árvore), e começa a ficar tão pesada de exuberância de seiva, de fartura e generosidade, é uma festa, uma Thalía perfeita, e de tal forma suas folhas e frutos são fortes e fartos, que seus galhos invariavelmente voltam-se para o chão, de onde em verdade partiram originariamente, apontando para as próprias raízes e aconchegando-se ao redor e dentro destas (sabe-se que o diâmetro da copa de uma árvore equivale ao 130
diâmetro de sua raiz, ela é para cima do mesmo tamanho que é para baixo, é assim na terra como no céu: orgulho e humildade, respectivamente). Saibam que pela essência verdadeira de uma se poderá medir a outra. Eis como se comporta o homem: sua humildade é antes apenas o sintoma da grandeza, da grandeza maior: a conquistada por ele através da ação irretorquível do tempo. E seu orgulho é que lhe dará asas, para que alce o vôo que Deus lhe programou. Para tudo houve um tempo, e nem mesmo Deus quis intervir na passagem paciente deste tempo, de que já falei amiúde em capítulos pregressos. Ouçam a bela exortação que medeia o livro sapencial do Eclesiastes (3: 1-8): “Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado; tempo para matar, e tempo para sarar; tempo para demolir, e tempo para construir; tempo para chorar, e tempo para rir; tempo para gemer, e tempo para dançar; tempo para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las; tempo para dar abraços, e tempo para apartar-se; tempo para procurar, e tempo para perder; tempo para guardar, e tempo para jogar fora; tempo para rasgar, e tempo para costurar; tempo para calar, e tempo para falar; tempo para amar, e tempo para odiar; tempo para a guerra, e tempo para a paz.” Assim, o homem verdadeiramente humilde é sobretudo orgulhoso, porque, como a Árvore Nova, este homem, e só ele, não apenas sabe o que passou, como, agora, tendo já passado, possui em si mesmo confiança inabalável, uma vez que sabe, também, que pode vencer com suas próprias providências, fornecidas eoriginariamente por Deus, os óbices que se lhe puserem pelo caminhar à frente. Verteu, com sabedoria, sofrimento em orgulho. Soube dar tempo ao tempo, tirando, daí, eficiência. A humildade acarreta orgulho, porque é vitória. E deve, realmente, acarretá-lo, porque o orgulho advindo da humildade é tão fértil e exuberante quanto a vegetação rediviva de uma árvore que acaba de vencer as agruras do 131
inverno, e precisa, e quer e pode reflorescer, reflorestar-se, renascer mais bela ainda, porque mais ainda integrada à vida total... ...eis o melhor conceito de Belo integrar-se à vida total. A primeira verdade da Prima-vera... Orgulho significa consciência a respeito da própria força, e é mola imprescindível para que desta força sempre se retirem mais e mais frutos, ininterruptamente. (A vaidade é vazia, como já no-lo diz sua raiz: “vã”. Envaidecer-se significa, aqui, estufar-se de algo que não se possui, é jactância, bazófia, contrato de homem. Seria como a mosca que quer se passar por leão, por lhe ter sido dito sobre a majestade deste último...) O orgulho é extremamente salutar, porque ajuda na preservação da humildade verdadeira, uma vez que são, ambos, orgulho e humildade, consciência de força. (E num dado momento, nem o próprio orgulho, arma que é, nos será necessário, pois que a humildade não mais precisaria de “proteção”...) Ouçam o que Jesus diz a respeito de si mesmo, o orgulho que possui em ser quem é, a ciência demonstrada acerca da própria grandeza: “A rainha do meio-dia levantar-se-á no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque ela veio dos confins da terra ouvir a sabedoria de Salomão! Ora, aqui está quem é mais que Salomão. Os ninivitas levantar-se-ão no dia do juízo para condenar os homens desta geração, porque fizeram penitência com a pregação de Jonas. Ora, aqui está quem é mais que Jonas.” (Evangelho de São Lucas, 11: 31-32) Ou ainda: “O Filho do homem é senhor também do sábado” (São Lucas, 6:5) E também quando Marta, ocupada com a limpeza da casa, pergunta a Jesus sobre por que Maria o estava lavando, sem preocupar-se igualmente com a lida caseira, lhe responde nosso Mestre: “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada.” (São Lucas, 10: 41-2) E a “boa parte”, como sabemos, era estar aos pés de Jesus, o que foi conhecido, sabido e anunciado pelo próprio Jesus, que, portanto, nem por um momento sequer duvidava da própria importância unívoca para todos os homens e mulheres. Ter orgulho de si é não precisar anunciar-se como tal; mas, se for preciso, anunciar-se. Todas as coisas na vida respondem à adaptação: não há erros na vida; o erro é apenas não estar adaptado a ela. O homem precisa antes do mais adaptar-se a ela: a única liberdade que tem é a de ser o que é, mas mudando passo a passo para os ajustes devidos à passagem. O próprio Jesus não tinha “outra liberdade” além da que o levou glorioso ao lado direito de Nosso Deus, 132
onde reside e residirá para sempre. Assim, tendo abraçado com amor o seu projeto, este se deu em plenitude. É por isso que há, também, a hora esta é a palavra-chave: hora de demonstrar o orgulho de se ser quem se é, porque só através deste “ser” é que o homem atingirá o seu estado de Glória, o que é seu. Tudo está errado quando está no lugar errado, e tudo está certo quando está no lugar certo. Imaginem que um homem vá de sunga a uma festa soirée; ou que vá de smoking à praia; ou que entre nu em uma repartição pública, em um teatro; ou que entre vestido no banho... Porque nenhuma das indumentárias é errada em si mesma ou por si mesma, entretanto que todas, do modo como foram postas, estão erradas, e, assim, são erradas. Esta é a eternidade das coisas. “Será mal recebida a máxima que sair da boca do insensato, pois que ele a diz fora de tempo.” (Eclesiástico, 20: 23) Se Jesus se tivesse deixado humilhar naquelas horas aludidas, comprovadas pelo Evangelista Lucas, ter-se-ia perdido a chance de ensinamentos profundos. E isto em nome de quê? de um nada, de um vazio de Deus, porque se não tivesse ensinado, Jesus simplesmente não teria sido fiel a Deus, ele O teria traído, por não dar ensejo à missão que lhe foi confiada e entregue ensinar. Precisou ser orgulhoso para ser verdadeiramente humilde. E amava tanto a sua humildade quanto o fato de ser quem é, já que são realidades ele o percebeu interdependentes. Somente graças a este orgulho, a esta certeza e confiança na Providência Divina que habitava dentro dele, graças à consciência da humildade adquirida e herdada, é que Ele, Jesus Cristo, o Messias, é que Ele pôde dar guarida à sua própria Missão. E só quem de fato atingiu muito profundamente a humildade será grande o bastante para dar a outra face... Quem ainda não atingiu não deve dá-la, porque estará, apenas, violentando a si mesmo, acelerando um estágio que ainda não atingiu. E, como não se aceleram estágios na natureza, o que terá feito terá sido, em verdade, a não-vivência dos estágios pelos quais deveria estar passando: nem atinge a idealização impingida, nem tampouco experimenta o que tem ao acesso. É como se aquela nossa árvore quisesse ficar cheia de frutos antes do tempo. Querer, ela até pode. (A verdade é que o homem goza do direito de querer, simplesmente querer, ainda que contrário ao projeto que herdou, ele tem o direito de espernear como criança caprichosa, de rolar no chão quando tudo lhe indica estar desajustado a seu real momento.) Assim, querer ficar cheia antes do tempo é um direito que muito bem assiste àquela árvore; mas poder ficar cheia antes do tempo, não. Não depende apenas dela, o tempo há de impor seus limites inconspurcáveis. O ano é um anel: todo começo daí a noção de Ano Novo 133
(que, por ser revelação, o que leva os homens à independência, é considerada por algumas religiões ocidentais como um conceito pagão) traz consigo a mudança do nascimento, que terá necessariamente pressuposto a morte prévia: isso é começo. É um circuito que deve ser obedecido, senão por bem, então por mal, eis algo não importante a Deus, Nosso Senhor, que também o é do tempo de todos os tempos. Não só o tempo impõe limites às criaturas, mas também a própria Natureza de Deus, como já foi dito, é de suma notoriedade quanto à diferenciação impingida àquilo que cria. Assim é que o homem diz: “Considera a obra de Deus: quem poderá endireitar o que Ele fez curvo?” (Eclesiastes 7: 13) Porque em cada centímetro imensurável da Criação Divina há de retinir sempre mais nitidamente a marca do Individual, Indivisível de Deus, que é em todas as coisas, e ao mesmo tempo, e se exime de estar nelas sem essência. Em muitos momentos da vida, o mais importante ou talvez a única coisa a ser feita é observar o crescimento das folhas, a sua regeneração lenta, contínua e óbvia, visível e notória. Pa-ci-ên-cia... “Mais vale o fim de uma coisa que o seu começo. Um espírito paciente vale mais que um espírito orgulhoso.” (Eclesiastes 7: 8) Querer aprender. Observar e sentir, em perfeito mutismo e silêncio (aquele é exterior; este, interior), a paciente ânsia por vida de todos os seres que são. E são momentos em que apenas se deve sentir o quão rapidamente as unhas, cabelos e pele se regeneram passo a passo, dia a dia, aleatoriamente ao desejo suposto de que permanecessem imóveis... Simplesmente não ficariam, ainda que assim quiséssemos. Nem a falta de fé em Deus é capaz de retardar este processo: acredite ou não, lá estarão as vegetações crescendo e aumentando; dando-se crédito ao crescimento das novas sementes ou não lho dando, elas estarão bem aqui para mostrar-lhe não para provar-lhe que ali estão. Independe de uma suposta fé a vida renovada diariamente da natureza, repito. E a propósito, como é belo, belíssimo observar o orgulho que a natureza tem de ser o que é... Este é um ensinamento que serve às esperas por algo a que pungentemente se aspira, assim como serve de evidenciar a liberdade, a independência das Leis de Deus em relação à fé ou mesmo à falta desta quanto à sua existência! Elas existem sim, mostram-nos sua Verdade claramente, com o orgulho que lhes é peculiar, isto é, revestido de humildade verdadeira, nobreza, não se ajustam a desejos, são imutáveis porém (e por isso) variam, justamente por serem nobres, obedecem à linearidade do tempo cronológico, porque se conduzem ao Tempo Primordial, que vêem a cada passo mais nítido. Estas Leis encarnam o Destino, são os limites Sacrossantos de Deus, e são Elas próprias
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servas do tempo: são a Paciência Imutável da Natureza. Não pulam etapas que não possam pular... se pularam, é porque podiam... Para ser humilde é preciso ter. (Depois, ter humildade.) Talvez ter acumulado, para que se prepare, após este acúmulo, o terreno para se desacumular. Talvez ter vivido. Ou ter sido. Eu diria que um ter intransitivo mesmo, sem complementos, senão que apenas ter, o ter que leva ao ser: o habere que leva ao habitare. Não haverá humildade sem acúmulo. Não haverá casa sem tijolos. A humildade é como um estado de fadiga deste acúmulo, é como o homem que se alivia ao expurgar o repasto que, momentos atrás, satisfizera-o. Agora estará pronto para outras comezainas, de que se livrará com igual alívio. Ai daquele que não se livra, porque terá em seu âmago o podre daquilo que já foi essencial (e não mais é). “Vim nu do ventre de minha mãe e para lá assim mesmo retornarei” disse Jó. És pó e ao pó retornarás... E ainda puluis et umbra sumus... Quem pára no tempo, em vez de crescer, apodrece. Vide as uvas, que ou envelhecem tornando-se vinho precioso, ou envelhecem avinagrando... Aquele que não obtiver espontânea e conscientemente a própria nudez, semelhante à originária que não passa de um esquecimento das coisas da terra, gerado contudo pelo cansaço destas mesmas coisas há de sofrer de todas elas o aguilhão penetrante que só cala no momento da exaustão e, pois, do esvaziamento. Ainda que nãon peque, retomo aqui o eclesiástico, terá na carne o fogo deste pecado, cometido pior do que na própria carne: cometido na mente e na alma. O único pecado é: não conhecer-se. Dir-se-ia que assim se resume o trajeto de vida de um homem: não-sabe, aprende, esquece. Bem-aventurados os pobres de espírito porque entrarão no reino dos céus , porque só os haverá entre aqueles que outrora foram muito e muito ricos, cansaram-se da riqueza e, por vontade própria ação! , abdicaram desta riqueza com desapego. Não acelere estágios. Primeiro aprenda, encha-se como a árvore. Acumule. Depois doe tudo, nascemos para doar. Desaprenda. Um homem aprende para desaprender. Livre-se de tudo, porque já não haverá coisa que lhe faça falta. “Tudo o que a tua mão encontra para fazer, faze-o com todas as tuas faculdades, pois que na região dos mortos, para onde vais, não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria”, resume a Bíblia em seu Testamento Antigo Mas no momento azado, no seu devido lugar. (“Lugar” é palavra chave para Deus: espaço-tempo-velocidade.) Portanto, quer ser humilde? Então esqueça a humildade e preocupe-se em crescer muito (e isto acontece alheio à sua própria vontade, apenas e 135
simplesmente acontece, tão-somente... lembre-se das unhas, das gramíneas, das flores...), porque esta humildade, só então, lhe virá mas como conseqüência, já o disse de acordo com o que vocês têm por bem denominar “Destino”. O destino do homem é ser humilde. Chamem-no como quiserem, mas vejam que é graças à Lei que os rege que virá a todos vocês esta humildade. Pode esquecê-la, porque ela virá com o tempo. Agora o tempo é de crescer. De esperar. De agir. De aprender. E de mais nada.
Mater Dei. 11/09/2000, segunda-feira, de manhã (5h); 29/09/2000, sexta-feira, à noite (18h).
Um menino, um velho e um jumento entraram na cidade, caminhando, os três, lado a lado. Assim que os viram, gritaram-lhes de longe: “Mas que absurdo! porque sacrificar o velho, que há de morrer em breve, e deixar o jumento andando apenas com uma carga de farinha nas costas. E o velho, ouvido este comentário, subiu no jumento, sendo puxado pelo menino. Entraram, em breve, numa outra cidade, pouco além daquela primeira. Ao verem a cena o velho sobre o jumento e o menino puxando este último logo se riram e
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vociferaram: “Ora, ora!... um velho daqueles, que há de morrer logo, sendo poupado, enquanto o meninote, cheio de energia e dias pela frente, cheio de vida, vai a gastá-la com quem não tem o que dar...” E o velho desceu do lombo do jumento, para que o menino subisse. Outra cidade, gritam: “Como!? será que pensam que este pobre animal não se cansa com um peso dobrado nas costas... Por que este menino, que é cheio de energia, não desce do jumento e divide o restante da carga de farinha que há nele com o velho?” ... E assim fizeram os três...
Sobre a vaidade.
Compreensão. Nenhum homem é feliz se não compreende a todos os outros homens, sem exceção. Entretanto que hei de delimitar, com a clareza que puder, a diferença entre compreender, aceitar e anular-se. De saída já se diga: a compreensão e a aceitação conquanto sejam realidades distintas são, igualmente, irrestritas, isto é, devem se endereçar a qualquer ser senciente. Já a anulação própria, ou, como costumamos dizer, a auto-anulação, esta não gera nada de produtivo, nem em quem a cometeu, nem naquele “em nome de quem” ela foi cometida. (Ela é sempre em nome de coisa alguma, pois nunca dá bons frutos.) Esta é sempre uma verdade sutil, e de certa forma até mesmo perigosa de ser enunciada, pois pode gerar a impressão, à medida que se desenrola, de que se trata de necessidade de desenvolvimento do ego, o que, como veremos, é exatamente o contrário da causa pela qual estaremos propugnando. Assim, poder-se-á ter a impressão (equivocada, repita-se) de que não auto-anular-se é sinônimo de fortificar a carapaça (externa) que envolve os seres humanos. E, no entanto, como esta realidade é pouco verdadeira... A carapaça não deixa de ser, nunca, apenas uma carapaça. E é com ela que se municia o inimigo invisível. Porque só a vaidade é arma poderosa nas mãos deste inimigo invisível. Ele, que é o mais poderoso, já que contra o visível sempre se pode, no mínimo, esboçar reação, tendo, pois, ainda que pouca, alguma chance de vitória, o inimigo invisível não pode chegar ao homem senão por meio da vaidade deste. Nada ocorre de excepcionalmente ruim se não vem calcado na vaidade. O homem vaidoso não compreende coisa alguma e a compreensão não é, de fato, 137
para o homem vaidoso. Ele é inteiramente cego, não vê um palmo à frente ou atrás dos olhos, só conhece a imagem que acalenta e nutre de si próprio, não raro semelhante à imagem que lhe chega por meios alheios a ele. Imagem falsa, tortuosa, deformada. Ele precisa ter séquitos inteiros de “admiradores” a seu redor, vive numa atmosfera cercada de luxo, fidalguia e soberba, da qual se alimenta. Não encontra mais nada de que se nutrir, exceto desta atmosfera de ostentação sobre a qual falei. Entendam que o “luxo, a fidalguia e a soberba” podem manifestar-se sob infinitas (ou quase infinitas) vestimentas, inclusive como ausência de vestimentas, o mais próximo possível, pois, da “humildade”, antípoda da vaidade... É interessante, aqui, lembrarmos de outra história muito popular, a chamada “A roupa nova do rei”, em que este rei, ganancioso, movido por vaidade, contrata o melhor alfaiate do mundo é pede-lhe que lhe faça a melhor roupa do mundo. Este alfaiate, muito bem calcado na vaidade notória do rei, sabendo que, por essa razão, qualquer coisa que fizesse se ajustaria à imagem expressionista do rei em relação a si próprio, simplesmente não faz roupa alguma, e o rei, pelado, continua ostentando a mesma soberba que ostentava (porque ostentar é tudo o que o homem vaidoso pode fazer) quando vestido com as roupas mais caras do mundo. É como se o mundo inteiro não fizesse mais do que a obrigação ao “curvar-se” ante sua majestade. Ou seja, outro provérbio popular nos vem em socorro: Não é o hábito (a vestimenta) que faz o monge. Isto é: muito cuidado até com pessoas que ostentam muita simplicidade e humildade, porque, se precisam ostentar, de modo externo, é porque, internamente, decerto não possuem aquela simplicidade e aquela humildade que põem para fora de si, não as tendo. Em uma palavra: quem precisa mostrar significa não precisa precisar daquilo que mostra. E, por isso, mostra por deleite, puro deleite: o prazer do prazer. Buscam intrinsecamente (e inconscientemente), assim como o fazem todos os homens, sem exceção, a transcendência. Porém, perdem-se na estrada, embevecidos a estrada do prazer. Não é à toa que muitas religiões recriminam este prazer. Erram ao fazê-lo, pois o prazer é ponte ao céu, quase espelho da Plenitude Transcendental a que está destinado o homem. Mas o fato é que, realmente, o prazer em si é tão perigoso quanto o próprio perigo seria em si. Pois que ambos não passam de meios, não se trata, em nenhum deles, de meta. Quem ama o prazer, pode morrer de prazer. A vaidade se resume como a necessidade de mostrar, e, sempre que isso ocorre, aí se pode detectá-la, esteja ela da forma
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como estiver. A vaidade não tem um estereótipo, uma fórmula única, mas, pelo contrário, é armadilha que se manifesta, repito, “sob diversas vestimentas”... Assim, aquela atmosfera de luxo de que falei não é necessariamente uma atmosfera de dinheiro, pois este é alcançado por uns poucos na terra. Mas, ainda que falte o dinheiro em si, todo o status promovido por ele, mesmo que ficticiamente, toda a volubilidade que ele expõe, tudo isso estará ao redor daquele homem. A energia do dinheiro, ainda que este não haja em verdade, é o grande guia do homem vaidoso. É como o pecado sentido ainda quando não feito, e, mesmo assim, tão cheio de dolo quanto qualquer outro pecado: peca-se por ações, mas também por palavras e por pensamentos! Isto significa que, às vezes, não se comete o ato por mera falta de meios físicos para cometê-lo, o que não invalida a presença daquele ato na alma. Assim ocorre com a vingança, com a gula, com a luxúria. E quanto vale a alma muito mais do que o corpo em termos de pecado!... Porque não existe pecado para o corpo. Este, por conta própria, é incapaz de detectar um “ato errado”. Assim, a ausência de dinheiro não impede suas duas maiores fontes (e conseqüências) negativas: cobiça e ganância. Fontes estas centradas na necessidade e no prazer, convergentes, todos em um único termo: vaidade. Meus amados, os bens materiais não são, de nenhuma forma, artigo desprezível. O que não são, tampouco (nem devem ser), é o objetivo único para uma pessoa em sua vida. Porque, se assim ocorrer, ocorrerá rapidamente a adaptação desta pessoa à sua nova situação, o que lhe gera, cedo ou tarde, novo descontentamento face àquela situação recém-conquistada. Com isso, ainda mais dinheiro será necessário para suprir as “necessidades” básicas daquela pessoa face ao prazer, que, como se percebe facilmente, está malfadada à sede eterna, conhecida, enfim, como ganância. Esta pessoa tem a boca na água e já não pode bebê-la. Como um Midas, transforma em ouro o que não deve ser ouro: suas reais necessidades instintivas, como, acima de tudo, o amor. Amor não é dinheiro, e quem ousar fazê-lo como tal há de se definhar como um galho sem água. A César, o que é de César... Mas a Deus, o que é de Deus! Isto é: ao dinheiro, o seu lugar. Alheio, inclusive, a muita coisa. O homem vaidoso é movido pelo preconceito, direção de sua vida, pois todo o mundo, e tudo o que há nele, precisaria adequar-se, curvar-se à “nobreza explícita” da roupagem que ele “centro do universo” enverga altaneiro e desdenhoso, cheio de empáfia, como que agindo naturalmente, embebido e asfixiado pelos próprios gases de arrogância. Ele julga as coisas como se o mundo precisasse dele, e, assim, “goza da imensa regalia de ser o que é...”
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Na verdade, esta regalia todos os homens têm: ser o que são. A regalia que ele, vaidoso, detém consigo, e que supõe ser benéfica, é a de ter o que tem... Mas o que isso importa? Acaso tomaria o mundo conhecimento de sua morte? O mundo é o que serve, por ser o veículo de Deus, como parâmetro e individualmente analisável para o certo e o errado. Ele não é, como pregam as religiões, ou a maioria delas, o rebotalho de Deus, Seu refugo. O mundo, em si, nunca erra. Errado é quem não se adapta, sendo exatamente quem é, ao mundo. Pois a Casa de Deus (que não se divide em Céu/ Inferno/ Purgatório/ Mundo), a Casa de Deus tem muitas moradas. E em toda Ela (pois todas não passam de Uma) caberá cada um dos seres humanos, sem que precisem anularse para isto. (A vaidade é a maior fonte de anulação, mais que qualquer outro despautério perpetrado pelo homem.) A Deus importa muito que um de Seus filhos feneça, a cada um de nós isoladamente isto importa; mas ao mundo, como um todo que é, não. Ai de quem vive exclusivamente pelo mundo, porque é como o pó das ilusões. Morre e, simplesmente, morre. Como eu já disse, o mundo é o veículo, e quem ama demasiadamente um veículo (como o prazer, o perigo), acaba morrendo dele. Não deixa, não é, não tem, embora creia piamente no contrário. Ali mesmo, como nos ensina Jesus, diante dos homens, já recebeu toda a “recompensa” que poderia, porventura, receber: o “aplauso”, que foge como a chama de um palito de fósforo. A vaidade destrói a defesa humana, porque é como aquela roupa que vai afogando, sufoca devagar e imperceptivelmente a naturalidade (e a natureza) de um homem. Ele não é; ele apenas tem. E sente necessidade, a todo o instante, de provar a todos o quanto tem, pois julga e nisso tem razão que se aproximam dele atraídos exclusivamente por suas posses. Posses, a propósito, que ele necessita deixar explícitas. Ele, ao julgar que o mundo se curva a seus pés, é quem se curva aos pés de todas as criaturas do mundo. Julgando-se exaltado, está sempre abaixo de todos os homens, porque precisa de todos eles, da admiração externa e superficial destes. Ajusta-se a todos na contramão do Verdadeiro Ajuste. Ele não tem liberdade nenhuma, é o maior dos prisioneiros, pois tudo o que fizer precisará da aprovação humana irrestrita. Não dá um passo que não olhe para os lados. E só “prossegue” se for aplaudido. E, ainda que prossiga, apenas o medo de todas as criaturas o acompanham “mundo afora”. Na verdade, ele não anda, não caminha, nunca chega. Apenas rumina. A vaidade não o deixa ver-se frente a frente consigo mesmo. Ao fazê-lo tolhido, ela vai minando seus mecanismos de defesa, e este homem, que julgava ter multidões, miríades de subalternos, perceberá a emboscada existente por 140
trás destes “seguidores”. São como o predador sub-reptício, traiçoeiro, sugam o sangue do “poderoso” esperando a hora adequada para cobrar dele o sacrifício que despenderam tendo estado a seu “dispor”. E cobram o preço mais alto que se pode imaginar. A vida. Nada pode provir de bom de um homem que segue os vaidosos pela vaidade estampada nestes... Assim, quanto mais vaidoso, mais perigo atrai. É uma relação, portanto, de interesse, uma hierarquia forjada, que rui ou que se inverte no momento exato em que aquele que detinha o “poder” não mais o detiver por alguma razão. Ao primeiro descuido, um laço. A relação que emana do vaidoso junto aos outros homens é a da humilhação recíproca: humilha e é (ou será) humilhado. Não há carinho em seu coração. Só há estampa. Mas, quando a roupa é arrancada (ainda que à força), tudo se revela, e não haverá nada oculto que assim permaneça indefinidamente. Ele se tornará, ainda que contrariamente à sua vontade, apenas o que é: um ser humano completamente nu, e natural, como todos os outros seres humanos. O homem que age por vaidade age sempre por deformação. Ele não sabe quem é, pois, ao olhar-se, apenas o que vê é aquilo que “tem”, que lhe foi dado pelo mundo. Se o “admiram”, repito, fazem-no tão-somente por bajulação. Como ele ostenta apenas o que tem, as pessoas só poderiam ver, naturalmente, isto que tem. Assim, foi ele próprio quem atraiu em torno de si as pessoas oportunistas. Ele o fez por estar cego pela vaidade, que, ao tirar-lhe o discernimento, fê-lo dar preferência à quantidade (não à qualidade) no que tange às suas companhias. Mas este homem, se se deixar engolir pela vaidade, só perceberá o quão graves são estas palavras quando aquilo que ele supunha ter quem sabe por todos os séculos dos séculos vier por terra, desmoronar, afundar, submergir, e os seus “admiradores” o abandonarem sozinho que é a forma como todos vêm ao mundo um dia , destinado, enfim, a traçar um caminho de base na essência, não no fortuito, jamais no caráter acidental, eventual, passageiro e efêmero das coisas da vida. O homem vaidoso é movido por afã de ascensão imediata, e não consegue discernir conseqüências no futuro. Escandaliza pela indiscrição. Para ele, apenas vale o que está valendo. Ele tem visão demasiado curta, estreita a cada passo, pois não conheceria sequer o efeito de entregar-se aos “sins” apaixonados que o inflamam. A maior liberdade do homem, a última que o abandonaria mas o vaidoso não pode conceber esta Verdade , é simples e contundente: poder dizer “não”. Triste é o homem que precisa agradar a todos indistintamente
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porque esta tarefa é impossível à humanidade. Vaidoso é quem não sabe distinguir. Quem não conhece o momento exato de uma ação, de um ato, de uma atitude até mesmo a de fazer ou não fazer o bem ainda é vaidoso de coração. Ainda joga pérolas aos porcos. No fundo, o que busca é promover-se. Diz “sim” por medo de perder um centímetro do tecido caro que o envolve, de sua roupa cheia de falácia e aprovação. E, assim sendo, vende a si mesmo pela ninharia desta aprovação social, que é rasteira, barata, oportunista, e que morre na superfície. (E ele, no fundo, reconhece como sendo mesmo de tal matéria...) Este homem é consumido pelo próprio fogo. Suas roupas, excessivas, e caras pois custam um preço altíssimo , vêm para sufocá-lo pouco a pouco. E ele só percebe no último instante, quando alcança a dureza do chão a que está destinado, antes de poder, daí, alçar seu vôo verdadeiro. Livrar-se da vaidade. Pela pureza, inocência, liberdade. E pelo amor. Em Deus, Nosso Amado Pai, tudo é possível. E tudo é amor, liberdade, inocência. E pureza. Em seu regaço não há culpa. Há eterna união, o claro se junta ao escuro, fundem-se num farnel de Generosidade e Amor. Só não há culpa de fato quando não há vaidade. Então se alcança a essência. E todas as coisas passam, simplesmente, a ser naturais, a ser elas próprias, sem intervenção estrangeira que as manche. Que Deus o abençoe com Sua maior Bênção: fará de você uma Criatura Natural. Não há nada mais que importe alheio a isso.
Amen.
Não permitais, Senhor, que meus olhos vejam a vaidade, Fazei-me viver em Vossos Caminhos. (Salmo 118)
Quem será digno de subir ao monte do Senhor? Ou de permanecer no seu lugar santo? Quem tem as mãos limpas e o coração puro, cujo espírito não busca as vaidades, nem perjura para enganar seu próximo. (Salmo 23)
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Senhor de todos os Exércitos, Milícias e Potestades Angélicas, Santa Mãe de Deus, Senhor dos Reis: Pureza, Inocência, Liberdade e Amor. Que eu, por Vossas Misericórdias, seja apenas uma criatura natural que aja por amor, coma por amor, receba e doe por amor. Tirai de mim todas as roupas que me afogam e permiti que, do meu coração, apenas floresça Bondade. Que eu ame por compaixão, sentindo a tristeza de todos os homens e mulheres do mundo. E que dê a eles a consideração e o carinho que se dão a uma criança. Que jamais nos esqueçamos desta criança. E nunca nos esqueceremos de amá-la e de nutrir este amor sempre com muito mais amor. 1 Ave-Maria. Amen.
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