´ CULO AVANC CALC AL AN C ¸ ADO AD O I
Rolci Cipolatti
Instituto de Matem´atica atica - UFRJ Rio de Janeiro - RJ - Brasil 2002
Segunda Edi¸c˜ cao ˜ao Revista e Ampliada
Cipolatti, Rolci C577c C´alculo alculo avan¸cado cado I/ Rolci Cipolatti. - 2 ed. rev. e aum - Rio de Janeiro: UFRJ/IM, 2002. 174p. Inlui Bibliografia ISBN: 85-87674-08-0 1. C´alculo alculo I. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Matem´atica. atic a. II. II . T´ıtulo ıtul o CDD 515
Caiu a primeira gota na terra seca Solit´ aria, aria, corajosa, cora josa, suicida, Pra que molhe o ch˜ ao, a planta cres¸ca ca Pra que brote o verde, a nova vida Cair˜ ao dezenas no in´ in´ıcio Centenas, milhares em seguida Mas de nada valer´a o sacrif´ sacr if´ıcio ıci o Se n˜ ao vier a chuva decidida
RC
Ex´ ordio O presente texto iniciou-se como notas de aula e listas de exerc´ıcios do Curso de C´alculo Avan¸cado I, curso que venho lecionando h´a alguns anos no Departamento de Matem´atica Aplicada do IM-UFRJ. Ele cont´em a primeira parte do programa do Exame de Qualifica¸ca˜o de C´alculo Avan¸cado do Mestrado em Matem´atica Aplicada. A primeira vers˜ao organizada das notas de aula, ainda densamente recheada de erros e imprecis˜oes, foi divulgada em fevereiro de 2000, no que se pretendeu ser o lan¸camento da s´erie “Textos de Matem´ atica n Aplicada ”. Embora se trate de um curso de An´ alise no R , procuramos manter o t´ıtulo original na s´erie — C´alculo Avan¸cado I . Quem sabe em futuro pr´oximo tenhamos a oportunidade de apresentar o volume dois, contendo a segunda parte do programa? Atendendo a pedidos de alguns alunos, estamos disponibilizando as solu¸c˜oes dos exerc´ıcios. Os interessados podem obtˆe-las em http://www.dmm.im.ufrj.br/~cipolatti/. Agradecemos aos alunos do Mestrado em Matem´atica Aplicada e aos colegas do IM-UFRJ pelas corre¸c˜oes e observa¸co˜es que possibilitaram a presente edi¸c˜ao. Mas como ´e extremamente dif´ıcil eliminar todos os erros e imposs´ıvel se chegar em tempo finito `a forma que possa ser considerada perfeita, continuaremos sempre contando com as corre¸c˜oes e sugest˜oes do leitor, pelo que agradecemos calorosamente. Rio de Janeiro, setembro de 2001. Rolci Cipolatti
Sum´ ario Cap´ıtulo 1: Conjuntos e Fun¸ co ˜es . Opera¸c˜oes com Conjuntos Fun¸co˜es . . . . . Composi¸ca˜o de Fun¸co˜es . Seq¨ uˆencias . . . . . Exerc´ıcios . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
1 2 4 6 6 7
. . .
. . .
. . .
. . .
. . .
. . .
. . .
. . .
. . .
. 9 . 11 . 15
Abertos, Fechados, Compactos Conjuntos Compactos . . . . n Compactos de R . . . . . Seq¨ uˆencias em Espa¸cos Vetoriais . Seq¨ uˆencias de Cauchy . . . . Seq¨ uˆencias em R n . . . . . Exerc´ıcios . . . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
. . . . . . .
Cap´ıtulo 2: M´ etricas e Normas Normas em R n . . Exerc´ıcios . . . .
. . .
Cap´ıtulo 3: 17 20 22 25 27 28 29
C´ alculo Avan¸cado I
ii Cap´ıtulo 4:
Limites e Continuidade . . . . . . Fun¸co˜es Cont´ınuas . . . . . . . . Fun¸co˜es Cont´ınuas e Compactos . . . . Fun¸co˜ es Cont´ınuas e Conjuntos Conexos . . Conjuntos Convexos e Fun¸co˜es Convexas . Continuidade Uniforme . . . . . . . Espa¸cos Vetoriais de Dimens˜ao Finita . . O Espa¸co Vetorial das Transforma¸co˜es Lineares O Teorema do Ponto Fixo de Banach . . Semicontinuidade . . . . . . . . Exerc´ıcios . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . .
31 33 35 37 37 40 41 42 43 44 48
. . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
55 55 56 60 61 62 64 64 66 66 68 70 72 73
. .
. .
. .
. 77 . 79
Cap´ıtulo 5: Fun¸ co ˜es Diferenci´ aveis . . . . . . Derivadas Direcionais . . . . . . . Fun¸co˜es Diferenci´aveis . . . . . . . O Vetor Gradiente . . . . . . . . Regras B´asicas de Deriva¸c˜ao . . . . . O Caso Geral . . . . . . . . . . A Matriz Jacobiana . . . . . . . . A Regra da Cadeia . . . . . . . . O Teorema do Valor M´edio . . . . . Derivadas Parciais ( o caso geral ) . . . Condi¸co˜ es Suficientes para a Diferenciabilidade A Fun¸ca˜o Diferencial – Fun¸co˜es de Classe C 1 A Proje¸c˜ao Ortogonal . . . . . . . Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . Cap´ıtulo 6: Curvas em R . Curvas Retific´aveis n
. .
. .
. .
. .
. .
. .
. .
. .
Sum´ ario Curvas Diferenci´aveis . Integrais de Linha e Campo Conserva¸c˜ao da Energia Exerc´ıcios . . . . .
iii . . . . Gradiente . . . . . . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. 79 . 82 . 87 . 87
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. . . .
. 91 . 95 . 96 102
. . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
. . . . .
105 106 111 113 116
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
119 122 123 125 127 129
Seq¨ uˆ encias de Fun¸ co ˜es . . . . . Convergˆencia Uniforme . . . . . . Convergˆencia Uniforme e Derivadas . . S´erie de Fun¸c˜oes e Convergˆencia Uniforme S´erie de Potˆencias . . . . . . . A Matriz Exponencial . . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
. . . . . .
133 135 139 141 142 144
Cap´ıtulo 7: Derivadas de Ordem Superior A matriz Hessiana . . . . . M´ aximos e M´ınimos . . . . . Exerc´ıcios . . . . . . . . Cap´ıtulo 8: O Teorema da Fun¸ c˜ ao Inversa . O Teorema da Fun¸c˜ao Inversa . . . Aplica¸c˜a o: o M´etodo das Caracter´ısticas O Teorema da Fun¸c˜ao Inversa (bis) . Exerc´ıcios . . . . . . . . . Cap´ıtulo 9: O Teorema da Fun¸ c˜ao Impl´ıcita O Teorema da Fun¸c˜ao Impl´ıcita . Multiplicadores de Lagrange . . Aplica¸c˜oes . . . . . . . . Multiplicadores de Lagrange (bis) Exerc´ıcios . . . . . . . .
. . . . . .
Cap´ıtulo 10:
C´ alculo Avan¸cado I
iv Exerc´ıcios
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
145
O Espa¸ co C(K;R ) . . . . . . Aplica¸c˜ao 1: o Teorema de Picard . . O Teorema de Arzel`a-Ascoli . . . . Aplica¸c˜ao 2: o Teorema de Cauchy-Peano O Teorema de Weierstrass . . . . . Funcionais Cont´ınuos e Diferenci´aveis . Aplica¸c˜ao 3: Fluxos . . . . . . . Exerc´ıcios . . . . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
. . . . . . . .
149 150 152 156 159 161 162 167
.
.
.
.
171
Cap´ıtulo 11: m
Referˆ encias
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
“At´ e onde as leis da matem´ atica se refiram ` a realidade, elas est˜ a o longe de constituir algo certo; e, na medida em que constituem algo certo, n˜ a o se referem ` a realidade.”
(Albert Einstein)
1 Conjuntos e Fun¸c˜ oes Um dos fundamentos sobre os quais a Matem´atica se alicer¸ca ´e o conceito de conjunto . No que segue, estabelecemos a nota¸ca˜o universalmente adotada e recordamos as opera¸co˜es b´asicas da Teoria dos Conjuntos . Como ´e usual, a nota¸c˜ao x X
∈
indica que o elemento x pertence ao conjunto X . Por outro lado, para indicar que o elemento x n˜ao pertence ao conjunto X , escrevemos x / X.
∈
Dizemos que A ´e subconjunto de B se todo elemento pertencente a A tamb´em pertence a B. Neste caso denotamos A B ou B A. Dizemos que dois conjuntos s˜ ao iguais se possuem os mesmos elementos. Assim, A = B se e somente se A B e B A. Representamos por o conjunto vazio, isto ´e, o (´ unico!) conjunto que n˜ ao possui elementos. Denotamos por N, Z, Q, R e C respectivamente os conjuntos dos n´ umeros naturais, inteiros, racionais, reais e complexos, munidos de suas respectivas estruturas alg´ebricas.
∅
⊂
⊂ ⊂
⊃
C´ alculo Avan¸cado I
2
Opera¸c˜ oes com Conjuntos
• Uni˜ao e Interse¸c˜ao:
Dados dois conjuntos A e B , definimos
∪ B = A ∩ B = A
– Propriedades B´ asicas:
∈ A ou x ∈ B x ; x ∈ A e x ∈ B x ; x
◦ (A ∪ B) ∪ C = A ∪ (B ∪ C ), (A ∩ B) ∩ C = A ∩ (B ∩ C ); ◦ A ∪ B = B ∪ A, A ∩ B = B ∩ A; ◦ (A∪B)∩C = (A∩C )∪(B ∩C ), (A∩B)∪C = (A∪C )∩(B ∪C ).
As propriedades acima s˜ao denominadas respectivamente Associatividade , Comutatividade e Distributividade . Mais geralmente, se Aλ definimos:
{ }λ∈Λ ´e uma fam´ılia qualquer de conjuntos,
Aλ = x ; x
∈ Aλ para algum λ ∈ Λ
Bλ = x ; x
∈ Bλ para todo λ ∈ Λ
λ∈Λ
λ∈Λ
, (1.1)
.
Exemplo 1: Fam´ılia finita de conjuntos: Λ = 1, 2, . . . , k . Neste caso denotamos:
{
}
k
Aλ =
Ai = A1
∪ A2 ∪ · · · ∪ Ak ,
Ai = A1
∩ A2 ∩ · · · ∩ Ak .
i=1
λ∈Λ
k
Aλ =
i=1
λ∈Λ
Exemplo 2: Fam´ılia infinita enumer´avel de conjuntos: Λ = N. Neste caso denotamos: ∞
Aλ =
∪ A2 ∪ · · · ∪ Ak ∪ · · · ,
Ai = A1
∩ A2 ∩ · · · ∩ Ak ∩ · · · .
i=1 ∞
λ∈Λ
Aλ =
λ∈Λ
Ai = A1
i=1
Conjuntos e Fun¸co ˜es
3
Exemplo 3: H´a freq¨ uentemente situa¸c˜oes em que precisamos formar uni˜ oes ou interse¸c˜oes de fam´ılias infinitas n˜ ao enumer´aveis de conjuntos. A t´ıtulo de exemplo, consideremos Λ = [0, 1] e Aλ = ]λ 1, λ+1[. Neste caso, ´e f´acil ver que (verifique!)
−
Aλ = ]
− 1, 2[
λ∈Λ
e
Aλ = ]0, 1[.
λ∈Λ
• Diferen¸ca e Complementar:
Dados dois conjuntos A e B , definimos
A B = x ; x
\
⊃
∈ A e x ∈ B
\
.
Quando A B, dizemos que A B ´e o complementar de B em rela¸ca˜o a A e denotamos B c = A B. A nota¸c˜ao de complementar traz ambig¨uidade, posto que o s´ımbolo B c n˜ ao indica em rela¸c˜ao a quem se est´a tomando o complementar. Por exemplo, se C B A, ent˜ao quem ´e C c ? Portanto, restringimos a nota¸ca˜o de complementar somente aos casos em que os conjuntos que consideramos s˜ao todos subconjuntos de uma dado universo . Isto ´e, denotamos por C c = C .
\
⊂ ⊂
U
U \
– Propriedades B´ asicas:
◦ (A ∪ B) \ C = (A \ C ) ∪ (B \ C ); ◦ (A ∩ B) \ C = (A \ C ) ∩ (B \ C ); ◦ (A ∪ B)c = Ac ∩ Bc; ◦ (A ∩ B)c = Ac ∪ Bc; ◦ A \ B = A ∩ Bc.
• Produto Cartesiano:
Dados dois subconjuntos A e B, definimos
× B = (x, y) ; x ∈ A e y ∈ B . Podemos observar que A × B = ∅ se e somente se A = ∅ ou B = ∅. A
De um modo geral, se A 1 , A 2 , . . . , Ak ´e uma fam´ılia finita de conjuntos, ent˜ao definimos k
i=1
Ai = A1
× · · · × Ak =
(x1 , . . . , xk ) ; x i
∈ Ai, i = 1, . . . , k
.
C´ alculo Avan¸cado I
4
´ f´acil ver que A1 E Ak = se e somente se existe i 1, 2, . . . , k tal que Ai = . Em particular, se A1 = . . . = Ak = A, ent˜ ao denotamos A A = A k . Mais geralmente ainda, se Ai i∈N ´e uma fam´ılia enumer´ avel de con juntos, podemos definir o produto cartesiano (infinito):
×···× ∅ ×···×
∞
Ai = A 1
i=1
× A2 × · · · =
∅
∈ {
(x1 , x2 , x3 , . . .) ; xi
}
∈ Ai , i = 1, 2, 3, . . .
.
Observe tamb´em que se A 1 = A2 = . . . = A, ent˜ao A 1 A2 ´e o conjunto de todas as seq¨uˆencias (x1 , x2 , . . .) de elementos de A. Nota¸ c˜ ao: A A = A N .
× ×···
× ×···
Exemplo: RN ´e o conjunto de todas as seq¨ uˆencias de n´umeros reais. Nota: Como se poderia definir o produto cartesiano de uma fam´ılia infinita arbitr´aria de subconjuntos
Aλ ?
λ∈Λ
´ poss´ıvel tal generaliza¸ca˜o? Em caso afirmativo, o que ´e R[0,1]? E Pense nisso!
Fun¸co ˜es Defini¸c˜ ao 1.1: Sejam A e B dois conjuntos. Dizemos que f ´e uma fun¸ca˜o de A em B se f A B ´e tal que:
⊂ ×
∀x ∈ A, ∃ um u´nico y ∈ B tal que (x, y) ∈ f.
(1.2)
Nota¸ c˜ ao: Se f ´e uma fun¸c˜ao de A em B, ent˜ao A ´e denominado o dom´ınio de f , B o contra-dom´ınio e escrevemos f : A Al´em disso, se (x, y)
→ B.
∈ f , ent˜ao denotamos y = f (x).
Conjuntos e Fun¸co ˜es
5
Defini¸c˜ ao 1.2: Se f : A definimos:
→ B ´e uma fun¸c˜ao e A1 ⊂ A e B1 ⊂ B,
∈ ∃ ∈
f (A1 ) = y
B ; x A1 , y = f (x) ,
f −1 (B1 ) = x
∈ A ; f (x) ∈ B1
.
f (A1 ) ´e denominado imagem de A1 por f e f −1 (B1 ) ´e denominado imagem inversa de B 1 por f . Observa¸c˜ ao: Segue da defini¸ca˜o que se f ´e uma fun¸c˜ao de A em B, ent˜ao para todo x A, f ( x ) ´e subconjunto unit´ario de B .
∈
{}
Observa¸c˜ ao: Embora o conceito formal de fun¸c˜ao dada pela Defini¸c˜ao 1.1 s´o leve em considera¸c˜ao o conceito b´asico de conjunto, ´e muitas vezes conveniente interpretar uma fun¸ca˜o f : A B como uma “regra ” que associa (que transforma) elementos de A a (em) elementos de B. Em particular, aplica¸c˜ ao ou transforma¸c˜ ao s˜ao sinˆ onimos para fun¸ca˜o.
→
f A
B Figura 1.1
Defini¸c˜ ao 1.3: Dizemos que uma fun¸c˜ao f : A B ´e injetora se x1 , x2 A s˜ao tais que f (x1 ) = f (x2 ), ent˜ao x1 = x 2 . Dizemos que f ´e sobrejetora se para todo y B existe x A tal que y = f (x). Em particular, f ´e dita bijetora se for injetora e sobrejetora.
→
∈
∈
∈
A defini¸c˜ao acima pode ser sintetizada da seguinte forma: uma fun¸ca˜o f : A B ´e sobrejetora se f (A) = B. Ela ´e injetora se, para todo y B, f −1 ( y ) ou ´e um subconjunto unit´ario de A ou ´e vazio. E f ´e bijetora se, para todo y B, f −1 ( y ) ´e um subconjunto unit´ario de A.
∈
→
{}
∈
{}
Defini¸c˜ ao 1.4: Dizemos que uma fun¸c˜ao f : A B ´e invert´ıvel se o conjunto g = (y, x) B A ; (x, y) f
→
∈ ×
∈
C´ alculo Avan¸cado I
6
´e uma fun¸ca˜o de B em A. Neste caso, dizemos que g ´e a inversa de f e a denotamos por f −1 . Como conseq¨ uencia imediata das defini¸c˜oes acima temos o seguinte resultado, cuja demonstra¸c˜ao deixamos como exerc´ıcio. Lema 1.5: Uma fun¸cao ˜ f : A bijetora.
→
B ´e invert´ıvel se e somente se ´e
Composi¸ca ˜o de Fun¸co ˜es
→
→
Se f : A B e g: B C s˜ao fun¸c˜oes, podemos definir a fun¸cao ˜ composta g f : A C por (g f )(x) = g f (x) , x A. Mais precisamente, como f ´e fun¸ca˜o, para cada x A existe um ´unico y = f (x) B tal que (x, y) f . Como g ´e fun¸ca˜o, existe um u ´ nico z = g(y) = g(f (x)) C tal que (y, z) g. Portanto, o conjunto
◦
→
∈
∈
∈
g f = (x, z)
◦
∀ ∈
◦
∈
∈
∈ A × C ; z = g(f (x))
´ portanto, uma fun¸ satisfaz a propriedade (1.2). E, c˜ao, que definimos como fun¸c˜ao composta de g com f . f A
g B
C
◦
g f
Seq¨ uˆencias Defini¸c˜ ao 1.6: Seja A um conjunto. Uma seq¨ uˆencia em A ´e uma fun¸ca˜o ϕ: N A.
→
Embora formalmente uma seq¨ uˆencia seja uma fun¸c˜ao, ´e usual identificarmos a seq¨ uˆencia ϕ com sua imagem ϕ(1), ϕ(2), . . . em A. Podemos, em particular, interpretar um ponto de A como uma seq¨uˆencia (fun¸ca˜o) constante.
{
}
Conjuntos e Fun¸co ˜es
7
As seq¨ uˆencias podem ser constru´ıdas explicitamente , quando a fun¸c˜ao ϕ ´e dada de forma expl´ıcita, ou por recorrˆencia , quando cada termo ´e obtido de termos anteriores. Por exemplo, a seq¨uˆencia de n´umeros naturais 1, 3, 7, 15, . . . pode ser definida explicitamente por ϕ(n) = 2n 1, ou pela recorrˆencia x n+1 = 2xn + 1, n 1. Al´em das aplica¸co˜es onde aparecem naturalmente, as seq¨uˆencias s˜ao u ´ teis como ferramentas de demonstra¸c˜ao, mas sua essˆencia est´a na caracteriza¸c˜ao da enumerabilidade , que permite diferenciar “tipos de infinito”.
{
−
}
≥
Defini¸c˜ ao 1.7: Um conjunto A ´e dito enumer´avel se existe uma seq¨ uˆencia ϕ: N A bijetora.
→
Exerc´ıcios Exerc´ıcio 1.1. Mostre que o cojunto vazio ´e u ´ nico. Exerc´ıcio 1.2. Seja Λ = ]0, 1[ e A λ = [λ mine λ∈Λ Aλ e λ∈Λ Aλ .
− 2, λ + 2], ∀λ ∈ Λ. Deter-
Exerc´ıcio 1.3. Considere os conjuntos A =
Aλ
e B =
λ∈Λ
Bλ ,
λ∈Λ
onde Λ = [0, 1[ e
∈ R2 ; (x − λ)2 + y2 ≤ λ2/2 (x, y) ∈ R2 ; (x − λ)2 + y 2 = λ 2 /2
Aλ = (x, y) Bλ =
Mostre que A = B. Fa¸ca um esbo¸co gr´afico de A.
, .
{ } { ∈ ≤ ≤ }
Exerc´ıcio 1.4. Considere A = 0, 1 . Mostre que podemos fazer a identifica¸c˜ao: AN = x R ; 0 x 1 . Exerc´ıcio 1.5. Prove o Lema 1.5. Exerc´ıcio 1.6. Dados A, B e C conjuntos, Aα e Bβ duas fam´ılias de conjuntos, mostre que:
{ } { }
C´ alculo Avan¸cado I
8 a)
∩ ∪ Aα
Bβ =
α
b)
β
Aα
\
β c
∩
∩ Bβ ).
(Aα
∪ Bβ ).
α,β
Bβ =
α
(Aα
α,β
c) A B = A B . d) se A B ent˜ao B c
Ac .
⊂ ⊂ c
e)
Aα
c
Acα ,
=
α
e
α
∩ \ ∩ \
Aα
α
=
Acα .
α
∩ \ ∩ \ ∩ \
f) A (B C ) = (A B) (A C ). g) (A B) C = (A C ) (B C ). h) Valem as duas ´ultimas identidades acima substituindo-se ? i) A (B C ) = (A B) (A C ). j) A (B C ) = (A B) (A C ). k) A (B C ) = (A B) (A C ).
∪
∩ por
× ∪ × ∩ × \
× ∪ × × ∩ × × \ × Exerc´ıcio 1.7. Sejam f : X −→ Y uma fun¸c˜ao, A ⊂ X , B ⊂ Y , {Aα}α fam´ılia de subconjuntos de X e {Bβ }β fam´ılia de subconjuntos de Y . Mostre que:
⊂ ⊃ ⊂ −1
a) f
Bα =
f −1 (Bα ).
b) f −1
Bα =
f −1 (Bα ). c
c) f −1 (B c ) = f −1 (B) . d) f
Aα =
f (Aα ).
e) f
Aα
f (Aα ).
f) Dˆe um exemplo para o qual n˜ ao vale a igualdade no item (e). g) Verifique que em geral n˜a o h´ a nenhuma rela¸c˜ao entre f (Ac ) e c f (A) . h) f f −1 (B) B e f −1 f (A) A, n˜ ao valendo, em geral, as igualdades nos dois casos. Dˆe condi¸c˜oes sobre f para que sejam v´alidas as igualdades f f −1 (B) = B e f −1 f (A) = A.
2 M´ etricas e Normas Para medir distˆancias entre pontos de um dado conjunto A, devemos considerar uma fun¸ca˜o que a cada dois elementos x e y de A associe um n´umero real positivo, denominado distˆ ancia de x a y. Tal fun¸ca˜o deve satisfazer as propriedades usuais da distˆ ancia euclidiana definidas para pontos do plano. Denominamos m´etricas as fun¸c˜oes que permitem “medir distˆancias” entre pontos de um dado conjunto A. Mais precisamente. Defini¸c˜ ao 2.1: Seja X um dado conjunto. Uma m´etrica em X ´e qualquer fun¸ca˜o d: X X R que satisfa¸ca as seguintes propriedades: i) d(x, y) 0, x, y X ; ii) d(x, y) = 0 x = y; iii) d(x, y) = d(y, x), x, y X ; iv) d(x, y) d(x, z) + d(z, y), x,y,z X .
× → ≥ ∀ ∈ ⇐⇒ ∀ ∈ ≤ ∀ ∈ Exemplo 1: Seja d: R2 × R2 → R definida por d(x, y) = (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 ,
onde x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ). Ent˜ao d ´e m´etrica em R 2 . Exemplo 2: A defini¸ca˜o de m´etrica 2.1 ´e geral o suficiente para que se possa medir distˆancias num conjunto qualquer n˜ ao vazio. De fato, se X ´e um conjunto qualquer n˜ ao vazio, defina d: X X R por d(x, y) =
× →
1 se x = y 0 se x = y
C´ alculo Avan¸cado I
10 Ent˜ao d ´e m´etrica em X .
No caso em que X ´e um espa¸co vetorial, podemos medir distˆancias por interm´edio de normas, que s˜ ao fun¸c˜oes que permitem “medir comprimentos”. Defini¸c˜ ao 2.2: Seja X um espa¸co vetorial. Uma norma em X ´e qualquer fun¸c˜ao : X R que satisfa¸ca as seguintes propriedades: i) x 0, x X ; ii) x = 0 x = 0; iii) λx = λ x , λ R e x X ; iv) x + y x + y , x, y X . A desigualdade em iv) ´e denominada desigualdade triangular . ´ f´ Observa¸c˜ ao: E acil ver das defini¸c˜oes acima que toda norma num espa¸co vetorial induz uma m´etrica nesse espa¸c o. De fato, se ´e uma norma num espa¸co vetorial X , ent˜ao d(x, y) = x y ´e uma m´etrica em X . Por outro lado, nem toda m´etrica induz uma norma (dˆe um exemplo!).
→ ≥ ∀ ∈ ⇐⇒ | | ∀ ∈ ∀ ∈ ≤ ∀ ∈
−
´e uma norma em X , ent˜ ao para todo x, y ∈ X
Lema 2.3: Se temos
− ≤ x
y
x+y
e
− ≤ − x
y
Prova: Da desigualdade triangular, x = x + y y = x + y + y . Logo
−
x
y .
− y ≤ x + y +
(2.1) x − y ≤ x + y . Analogamente, y = y − x + x ≤ x + y + − x = x + y + x , de onde se obt´em y − x ≤ x + y . (2.2) As desigualdades (2.1) e (2.2) nos fornecem a primeira conclus˜ao:
− ≤ x
y
x+y .
A segunda segue por argumento an´alogo.
M´ etricas e Normas
11
Defini¸c˜ ao 2.4: Seja X um espa¸co vetorial e ∗, ∗∗ duas normas definidas em X . Dizemos que estas normas s˜ao equivalentes se:
∃a, b > 0 tais que a x∗ ≤ x∗∗ ≤ bx∗, ∀x ∈ X. Normas em Rn Sabemos que o conjunto R n , munido das opera¸c˜oes usuais de soma e produto por escalar, ´e um espa¸co vetorial de dimens˜ao n. As express˜oes abaixo definem normas equivalentes em Rn : se x = (x1 , x2 , . . . , xn ) Rn ,
∈ x1 = |x1| + |x2| + ··· + |xn|, x2 = |x1|2 + |x2 |2 + ··· + |xn|2, x∞ =max{|x1|, |x2|, . . . , |xn|}.
Mais geralmente, Teorema 2.5: Se 1
≤ p < +∞, ent˜ ao
x p = |x1 | p + |x2| p + ··· + |xn| p
1/p
´e uma norma em R n . A demonstra¸ca˜o deste resultado faz uso da Desigualdade de Young , que enunciamos e demonstramos a seguir. Lema 2.6: Sejam p e q tais que 1 < p, q < + Ent˜ ao, para todo x, y R, vale a desigualdade
∞ e 1/p + 1/q = 1.
∈
p q |xy| ≤ |x p| + |yq | .
Prova: A fun¸c˜ao real t todo α e β positivos,
ln λα + (1
→ ln t ´e cˆoncava e crescente. Portanto, para
− λ)β ≥ λ ln α + (1 − λ) ln β, ∀λ ∈ ]0, 1[.
C´ alculo Avan¸cado I
12 Considerando λ = 1/p, temos 1
− λ = 1/q e conseq¨uentemente
1 1 ln α + β p q
≥
1 1 ln α + ln β = ln α1/p β 1/q , p q
e obtemos o resultado, considerando x p = α e y q = β . Como conseq¨ uˆencia do lema acima, temos a Desigualdade de H¨older ; se x = (x1 , . . . , xn ) e y = (y1 , . . . , y n ) s˜ao vetores de R n , definimos o produto escalar usual de Rn por
| |
| |
n
x; y =
xi yi .
i=1
Corol´ ario 2.7: Sejam p e q tais que 1 < p, q < + Ent˜ ao, para todo x, y Rn , vale a desigualdade
∈
∞ e 1/p + 1/q = 1.
|x; y| ≤ x pyq. Prova: Se x = (x1 , . . . , xn ) e y = (y1 , . . . , yn ), obtemos da desigualdade de Young, n
n
≤ | || | ≤ | | λx; y
λ xi yi
i=1
i=1
| | ∀
λ p p 1 xi + yi p q
q
,
λ > 0.
(2.3)
Dividindo ambos os lados de (2.3) por λ, obtemos n
≤ x; y
i=1
| | ∀
λ p−1 p 1 xi + yi p λq
| |
q
,
λ > 0.
(2.4)
Para x e y fixos, o lado direito da desigualdade (2.4) define uma fun¸ca˜o na vari´avel λ ]0, + [, isto ´e:
∈
∞
ϕ(λ) =
λ p−1 1 x p y qq . p + p λq
≤
Portanto, decorre de (2.4) que x; y min λ>0 ϕ(λ). Calculando o valor m´ınimo de ϕ(λ) (veja exerc´ıcio), obtemos o resultado.
M´ etricas e Normas
13
Nota: A desigualdade de H¨older no caso p = 2 ´e denominada Desigualdade de Schwarz . Passemos, ent˜ao, a` demonstra¸ca˜o do Teorema 2.5. Prova: Basta mostrar a desigualdade triangular, as outras propriedades sendo imediatas. Se x = (x1 , . . . , xn ) e y = (y1 , . . . , yn ), temos da defini¸c˜ao, n
p p =
x + y
|
n
xi + yi
i=1
n
| ≤ | || p
xi xi + yi
i=1
p−1
+
|
| ||
yi xi + yi p−1 .
i=1
|
Considerando os vetores
| |
| | | |
| | |
| | |
a = ( x1 , . . . , xn ), b = ( y1 , . . . , yn ) e c = ( x1 + y1 p−1 , . . . , xn + yn p−1 ), podemos expressar a desigualdade acima na forma
x + y p p ≤ a; c + b; c. Decorre, ent˜ao, da desigualdade de H¨older,
x + y p p ≤ a; c + b; c ≤ a pcq + b pcq . Observando que 1 a p = x p, b p = y p, cq = x + y p/q = x + y p− , p p
obtemos 1 1 + y px + y p− x + y p p ≤ x px + y p− p p
e o resultado decorre da simplifica¸ca˜o. Al´em do Rn , h´ a outros espa¸cos vetoriais que desempenham papel relevante na An´alise. Por exemplo:
C´ alculo Avan¸cado I
14 Espa¸ cos Vetoriais de Polinˆ omios
P
Seja V = n o conjunto dos polinˆomios reais de grau menor ou igual a n, munido das opera¸c˜oes usuais de soma de polinˆomios e produto por escalar. Ent˜ao V ´e espa¸co vetorial de dimens˜ao n + 1. As express˜oes abaixo definem normas equivalentes em V : se P (x) = a0 + a1 x + a2 x2 + + an xn ,
···
| | | |
1/p
n
P p = ai p p ∈ [1, +∞[, . i=0 P ∞ = max ai ; i = 0, . . . , n
Espa¸ cos Vetoriais de Matrizes
M
Seja V = m×n o conjunto das matrizes a coeficientes reais de ordem m n, munido das opera¸c˜oes usuais de soma de matrizes e produto por escalar. Ent˜ao V ´e espa¸co vetorial de dimens˜ao mn. As express˜oes abaixo definem normas equivalentes em V: se
×
| | | | a11 a21 .. .
A =
a12 . . . a1n a22 . . . a2n .. .. ... . . am2 . . . amn
am1
n
A p =
,
1/p
m
aij p
i=1 j =1
A∞ =max
∈ [1, +∞[,
p
aij ; i = 1, . . . , m , j = 1, . . . , n .
Observa¸c˜ ao: A semelhan¸ca nas defini¸c˜oes das normas p , com p [1, + ], definidas acima nos remete `a id´eia de construir normas em espa¸cos vetoriais de dimens˜ao n a partir de normas conhecidas em R n . De fato, considerando o exemplo dos polinˆomios, se T : n e a aplica¸c˜ao definida por T (P ) = (a0 , a1 , . . . , an ), ent˜ao T ´e um Rn+1 ´ isomorfismo , isto ´e, uma aplica¸c˜ao bijetora que preserva as estruturas alg´ebricas (estruturas de espa¸cos vetoriais) de n e Rn+1 . Al´em disso, ´e f´acil ver que P p = T (P ) p P n,
∈
∞
P →
P ∀ ∈ P
M´ etricas e Normas
15
n+1 onde . Este p representa respectivamente norma em n e R exemplo se generaliza facilmente, como se pode verificar com o seguinte resultado.
P
Teorema 2.8: Sejam V e W dois espa¸cos vetoriais de dimens˜ ao n e T : V W um isomorfismo. Se ´ e norma em W , ent˜ ao a W express˜ ao v V = T (v) W (2.5)
→
define uma norma em V . Al´em disso, se ao normas α e β s˜ equivalentes em W , ent˜ ao as normas de V definidas pela rela¸c˜ ao (2.5) s˜ ao normas equivalentes em V .
Nota: Afirmamos em cada um dos exemplos acima que todas as normas ao equivalentes. Na verdade, e veremos adiante, se p s˜ V ´e espa¸co vetorial de dimens˜ao finita, ent˜ao todas as normas s˜ao equivalentes. Ainda mais geralmente, podemos provar que um espa¸co vetorial V ´e de dimens˜ ao finita se e somente se todas as normas s˜ao equivalentes. Vejamos um exemplo de espa¸co vetorial de dimens˜ ao infinita.
Espa¸ cos Vetoriais de Fun¸ co ˜es Cont´ınuas:
Seja V = C [a, b]; R o conjunto das fun¸co˜es reais cont´ınuas definidas em [a, b], munido das opera¸c˜oes usuais de soma de fun¸co˜es e produto por escalar. Ent˜ao V ´e espa¸co vetorial de dimens˜ao infinita. As express˜oes abaixo definem normas em V :
| | b
f p = a f ∞ = max
p
1/p
| , p ∈ [1, +∞[ f (x)| ; x ∈ [a, b] .
f (x) dx
Exerc´ıcios Exerc´ıcio 2.1. Seja x = (x1 , , xn ) Rn . Mostre que cada uma das express˜oes abaixo define uma norma em R n .
···
n
1) x 1 =
| |
xi .
i=1
∈
C´ alculo Avan¸cado I
16
∞ = max{|x1 |, ··· , |xn|}.
2) x
Exerc´ıcio 2.2. Fa¸ca os detalhes da prova do Corol´ario 2.7.
∈ Rn. Mostre que p→∞ lim x p = x∞ . Exerc´ıcio 2.4. Se as normas α e β s˜ao equivalentes num espa¸co vetorial V e β e γ s˜ao equivalentes, mostre que α e γ s˜ao equivalentes. Exerc´ıcio 2.5. Sejam p1 , p2 ∈ [1, ∞]. Mostre que as normas p e p de R n s˜ao equivalentes. Exerc´ıcio 2.3. Seja x
1
2
Exerc´ıcio 2.6. Demonstre o Teorema 2.8.
∈
Exerc´ıcio 2.7. Mostre que as normas definidas em C [0, 1]; R por
| 1
f 1 =
f (x) dx,
|
0
f ∞ = max |f (x)| ; x
n˜ ao s˜ao equivalentes.
[0, 1]
Exerc´ıcio 2.8. a) Seja A matriz n n positiva-definida (isto ´e, Ax; x > 0, x e, Ax; y = x; Ay , x, y Rn , x = 0) e sim´etrica (isto ´ Rn ), onde ; denota o produto escalar usual de Rn . Mostre que x A = Ax; x ´e uma norma em R n . b) Seja B matriz n n positiva-definida (n˜ ao necessariamente sim´etrica). Mostre que x B = Bx; x ´e uma norma em Rn . c) Sejam A e B matrizes sim´etricas e positivas tais que AB = BA. Mostre que x = Ax; Bx ´e uma norma em R n .
×
×
∀ ∈ ∀ ∈
Exerc´ıcio 2.9. Seja X um conjunto e f : X Mostre que
→
Rn uma fun¸ c˜ao.
n
sup f (x) x∈X
≤
inf f (x) 2 2 − x∈X
sup f i (x)
i=1 x∈X
inf f i (x) − x∈X
n onde 2 denota a norma 2 de R . Sugest˜ ao: Seja g : X R uma fun¸c˜ao real. Mostre que
→ sup |g(x)| − inf |g(x)| ≤ sup g(x) − inf g(x) x∈X x∈X x∈X x∈X
,
3 Abertos, Fechados, Compactos Neste cap´ıtulo introduzimos os conceitos b´asicos e os principais resultados da Topologia dos Espa¸cos Normados, com ˆenfase aos espa¸cos de dimens˜ao finita e, especialmente, o espa¸co R n . Seja V um espa¸co vetorial munido de uma norma , x0 V e r > 0. O conjunto
∈
Br (x0 ) = x
V ; x
− x0 < r
´e denominado bola aberta de centro em x 0 e raio r. A Fig. 3.1 abaixo ilustra bolas de R2 relativas a normas alguns valores de p.
p = 1
p = 3/2
p = 2
∈
p = 4
p para
p =
∞
Figura 3.1 O conceito de bola aberta nos permite intruduzir diversas defini¸c˜oes— os alicerces para a constru¸c˜ao da An´alise. Iniciemos com os seguintes conceitos: ponto interior e ponto de acumula¸c˜ ao .
∈
Defini¸c˜ ao 3.1: Seja A um subconjunto de V e x 0 V . a) Dizemos que x0 ´e ponto interior de A se existe r > 0 tal que Br (x0 ) A.
⊂
C´ alculo Avan¸cado I
18
b) Dizemos que x 0 ´e ponto de acumula¸cao ˜ de A se para todo r > 0,
Br (x0 )
\ {x0} ∩ A = ∅.
Observe que se x0 ´e ponto de acumula¸ca˜ o de A, podemos tomar pontos de A t˜ao pr´oximos de x0 quanto se queira. Se x0 ´e ponto interior de A, ent˜ao x 0 ´e ponto de acumula¸c˜ao e pertence a A. Al´em disso, podemos aproximar x0 por pontos de A “em qualquer dire¸ca˜o”. Se x 0 A n˜ao pode ser aproximado por outros pontos de A, dizemos que x0 ´e ponto isolado de A. Mais precisamente, x 0 ´e ponto isolado de A se existe r > 0 tal que B r (x0 ) A = x0 . O conjunto de todos os pontos interiores de A ´e denominado interior
∈
∩
{ }
◦
de A, denotado por A: ◦
∈
A= x
A ; x ´e ponto interior de A .
O cojunto dos pontos de acumula¸c˜ao de A ´e denominado derivado de A, denotado por A ′ :
∈
A′ = x
E ; x ´e ponto de acumula¸c˜aode A . ◦
Nota: Observe que ´e imediato verificar que A A ′ e que A A′ ´e o conjunto dos pontos isolados de A.
⊂
\
Defini¸c˜ ao 3.2: Dizemos que um subconjunto A de V ´e aberto se ◦
todos os seus pontos s˜ao pontos interiores, isto ´e, A = A. Proposi¸ c˜ ao 3.3: A uni˜ ao qualquer de conjuntos abertos ´e um con junto aberto. A interse¸c˜ ao finita de conjuntos abertos ´e um conjunto aberto.
{ }
∈
Prova: Seja Aα α uma fam´ılia de conjuntos abertos e x α Aα . Ent˜ao existe ´ındice α0 tal que x A α0 . Como Aα0 ´e aberto, existe r > 0 tal que B r (x) Aα0 . Portanto
∈
⊂
⊂ Aα ⊂
Br (x)
0
Aα .
α
k Por outro lado, se x ao x Ai para todo i. Como cada i=i Ai , ent˜ Ai ´e aberto, existe r i > 0 tal que B ri (x) Ai .
∈
∈ ⊂
Abertos, Fechados, Compactos
{
19
}
⊂ Ai, para todo i = 1, . . . , k
Seja r = min r1 , . . . , rk . Ent˜ ao B r (x) e k
Br (x)
⊂
Ai .
i=1
Defini¸c˜ ao 3.4: Dizemos que um subconjunto A de V ´e limitado se existe r > 0 tal que A B r (0).
⊂
⊂ V ´e um conjunto fechado se Ac ´e
Defini¸c˜ ao 3.5: Dizemos que A aberto.
Proposi¸ ca ˜o 3.6: A interse¸cao ˜ qualquer de conjuntos fechados ´e um conjunto fechado. A uni˜ ao finita de conjuntos fechados ´e um conjunto fechado.
{ }
Prova: Seja F λ λ uma fam´ılia qualquer de conjuntos fechados. Ent˜ao F λc λ e´ uma fam´ılia de conjuntos abertos. Como a uni˜ ao de conjuntos abertos ´e aberto, segue que
{ }
c
F λ
=
λ
F λc
λ
´e um conjunto aberto. Portanto λ F λ ´e conjunto fechado. Analogamente, como a interse¸c˜ao finita de conjuntos abertos ´e um conjunto aberto, segue que c
k
F i
i=1
´e um conjunto fechado. Portanto Defini¸c˜ ao 3.7: A = A′
k
=
F ic
i=1
k e i=1 F i ´
conjunto fechado.
∪ A ´e denominado aderˆencia ou fecho de A.
Proposi¸ ca ˜o 3.8: A ´e fechado se e somente se A = A. Prova: Veja exerc´ıcios.
C´ alculo Avan¸cado I
20
Conjuntos Compactos
{ }
Defini¸c˜ ao 3.9: Uma fam´ılia Aλ λ∈Λ de subconjuntos de V ´e denominada cobertura de um dado conjunto B se
⊂
B
Aλ .
λ
∈
Se A λ ´e conjunto aberto para todo λ Λ, dizemos que a cobertura ´e aberta . Se Λ ´e conjunto finito, dizemos que a cobertura ´e finita.
⊂
Defini¸c˜ ao 3.10: Um conjunto K V ´e compacto se toda cobertura aberta de K admite subcobertura finita, isto ´e, se Aλ λ∈Λ ´e uma cobertura aberta de K , ent˜ao existem λ 1 , . . . , λk tais que
{ }
⊂ Aλ ∪ · · · ∪ Aλ .
K
1
k
Proposi¸ ca ˜o 3.11: Todo conjunto compacto ´e fechado e limitado. Prova: Seja K compacto. Provemos inicialmente que K ´e limitado. A fam´ılia B1 (x) x∈K ´e uma cobertura aberta de K . Logo, existem x1 , x2 , . . . xm K tais que
{
∈
}
m
⊂
K
B1 (xi ).
i=1
{
} ⊃ ∈ x = x + xi − xi ≤ x − xi + xi < 1 + xi ≤ ¯r. Provemos que K ´e fechado, isto ´e, que K c ´e aberto. Seja x0 ∈ K c . Para cada x ∈ K considere rx = 12 x − x0 . Ent˜ ao {Br (x)}x∈K ´e Seja r¯:= max x1 , . . . , xm + 1. Afirmo que Br¯(0) K . Com efeito, se x K , ent˜ao x B 1 (xi ) para algum i = 1, . . . , m. Assim
∈
x
uma cobertura aberta de K . Sendo K compacto, podemos encontrar x1 , x2 , . . . , xm tais que m
⊂
K
i=1
Brxi (xi ).
(3.1)
Abertos, Fechados, Compactos
{
21
}
Seja r¯:= min rx1 , rx2 , . . . , rxm > 0. Afirmo que Br¯(x0 ) fato, pela defini¸c˜a o de r¯ temos
⊂ K c.
De
m
Br¯(x0 ) =
Brxi (x0 ).
i=1
Passando ao complementar em (3.1) temos m
c
K
⊃
m
c
Brxi (xi )
i=1
⊃
Brxi (x0 ) = Br¯(x0 ).
i=1
Proposi¸ ca ˜o 3.12: Seja F Ent˜ ao F ´e compacto.
⊂ K ⊂ V , com F fechado e K compacto.
{ } { ∪ }
Prova: Seja Gα α∈Λ uma cobertura aberta de F . Ent˜ao ´e f´acil ver que Gα F c α∈Λ ´e cobertura aberta de K . Como K ´e compacto, existem α 1 , α2 , . . . , αm Λ tais que
∈
m
⊂
K
m
c
Gαi
i=1
∪ F
∪ =
Gαi
F c .
i=1
⊂ K , segue que
Como F
m
⊂
F
Gαi .
i=1
Observa¸c˜ ao: Todas as defini¸c˜oes e resultados apresentados at´e aqui neste cap´ıtulo s˜ao relativos `a norma fixada no espa¸co vetorial V . N˜ ao ´e dif´ıcil observar, por´em, que essas defini¸co˜es e resultados s˜ao invariantes para outras normas equivalentes de V . Vejamos, por exemplo, o caso de ponto interior. Sejam α e β duas normas equivalentes de V e x0 um ponto interior de A V relativamente `a norma α. Ent˜ao, x 0 tamb´em ´e ponto interior de A relativamente `a norma β . Com efeito, como as normas s˜ao equivalentes, existem n´umeros reais positivos m e M tais que
⊂
m x
α ≤ xβ ≤ M xα, ∀x ∈ V.
C´ alculo Avan¸cado I
22
Como x 0 ´e ponto interior de A relativamente `a norma α, existe r > 0 1 tal que se x x0 α < r, ent˜ao x A. Como x x0 α m x x0 β , para todo x V , segue que se x x 0 β < mr, ent˜ao x A e conclu´ımos que x 0 ´e ponto interior de A relativamente `a norma β . Isso pode ser resumido pela afirma¸c˜ao de que as topologias geradas por normas equivalentes de V s˜ ao idˆenticas .
− ∈
∈ − ≤ − − ∈
Observa¸c˜ ao: Uma caracteriza¸ca˜o importante dos espa¸cos de dimens˜ ao finita (al´em da que se refere `a equivalˆencia das normas), ´e a rec´ıproca da Proposi¸c˜ao 3.11: se V ´e espa¸co vetorial de dimens˜ ao ´ finita, ent˜ ao todo conjunto fechado e limitado ´e compacto . E o que demonstraremos a seguir para o espa¸co R n .
Compactos de Rn Para caracterizar os conjuntos compactos de Rn , consideremos os seguintes resultados.
{ } ⊃ ⊃
Lema 3.13: Seja I k k∈N uma fam´ılia de intervalos fechados e limitados de R tais que I 1 I 2 . . .. Ent˜ ao ∞
I k = .
∅
k=1
Prova: Se I k = [ak , bk ], segue da hip´otese que
≤ a2 ≤ . . . ≤ ak ≤ . . . ≤ bk ≤ . . . ≤ b2 ≤ b1. Logo {ak } ´e seq¨ uˆencia crescente e limitada e {bk } ´e seq¨ uˆencia decrescente e limitada. Portanto (veja An´alise Real) ak −→ α e bk −→ β quando k → ∞ e ∞ [α, β ] ⊂ I k . a1
k=1
Defini¸c˜ ao 3.14: Chama-se paralelep´ıpedo de Rn todo conjunto P da forma n
P =
[ai , bi ].
i=1
Abertos, Fechados, Compactos
23
Lema 3.15: Seja P k k∈N uma fam´ılia de paralelep´ıpedos de Rn tais que P 1 P 2 . . .. Ent˜ ao
⊃ ⊃
{ }
∞
k=1
∅
P k = .
Prova: P k = ni=1 [ai,k , bi,k ]. Como P 1 P 2 . . ., segue que I i,k = [ai,k , bi,k ] satisfaz I i,1 I i,2 . . . para todo i = 1, . . . , n. ∞ Logo, decorre do Lema 3.13 que k=1 I i,k = e conseq¨ uentemente ∞ k=1 P k = .
⊃
∅
⊃ ⊃ ⊃ ∅
Teorema 3.16: (Bolzano-Weierstrass) Seja A tendo uma infinidade de pontos. Ent˜ ao A ′ = .
∅
⊂ Rn limitado con ⊃
Prova: A sendo limitado, existe r > 0 tal que Br (0) A, onde Br denota a bola aberta relativa `a norma ao ∞ . Seja P 0 = B r (0). Ent˜ P 0 A e
⊃
n
P 0 =
−
I i,0 , onde I i,0 = [ r, r].
i=1
Dividindo cada intervalo I i,0 no ponto m´edio, obtemos 2n bolas fechadas de raio r/2. Como A possui infinitos pontos, alguma dessas bolas n fechadas cont´em infinitos pontos de A. Seja P 1 = i=1 [ai,1 , bi,1 ] tal bola. Novamente dividindo cada intervalo [ai,1 , bi,1 ] pelo ponto m´edio, obtemos 2n bolas fechadas de raio r/4. Seja P 2 uma dessas bolas que contenha infinitos pontos de A. Repetindo o procedimento acima ad infinitum, obtemos uma fam´ılia de bolas fechadas P k k∈N que satisfaz
{ }
⊃ P 2 ⊃ P 3 ⊃ . . .
P 1
Pelo Lema 3.15, existe x ¯ ¯ A′ . k P k . Provemos que x Dado δ > 0, seja k0 N tal que r/2k0 < δ/2. Como x¯ P k para todo k, temos P k0 Bδ (¯ x). Como P k0 cont´em infinitos pontos de A, segue que Bδ (¯ x) A x ¯ = .
⊂
∈
∈
∩ \ { } ∅
∈
Teorema 3.17: Todo paralelep´ıpedo de R n ´e compacto.
∈
C´ alculo Avan¸cado I
24 Prova: Seja P =
δ =
n i=1 [ai , bi ]
um paralelep´ıpedo de R n e
−
··· + (bn − an)2
(b1
a1 )2 +
seu diˆ ametro. Suponhamos que Gα α∈Λ seja uma cobertura aberta de P que n˜ao admite subcobertura finita. Os pontos m´edios ci = (ai + b i )/2 dos intervalos que comp˜oem P dividem P em 2n paralelep´ıpedos de diˆametro δ/2. Algum desses 2n paralelep´ıpedos n˜a o pode ser coberto por um n´umero finito de abertos de Gα . Seja P 1 tal paralelep´ıpedo. Repetindo-se o argumento acima ad infinitum, construimos uma fam´ılia P k k∈N de paralelep´ıpedos, cada P k com diˆametro δ/2k , tais que P 1 P 2 . . . ∞ Pelo Lema 3.15, x ¯ P . Portanto, α0 Λ tal que k=1 P k x ¯ Gα0 . Como Gα0 ´e aberto, r > 0 tal que B r (¯ x) Gα0 . k Escolhendo k Br (¯ x) Gα0 , N tal que δ/2 < r/2 tem-se P k o que ´e uma contradi¸c˜ao, pois P k n˜ a o pode ser coberto por uma quantidade finita de abertos.
{ }
{ } { } ⊃ ⊃
∈
∈
∃ ∈
∃
⊂
∃ ∈ ⊂ ⊂ ⊂
Teorema 3.18: Se K ´e fechado e limitado de Rn , ent˜ ao K ´e com pacto. Prova: Se K limitado, ent˜ao existe P paralelep´ıpedo tal que K P . Pelo teorema anterior, P ´e compacto. Como K ´e fechado e K P , segue que K ´e compacto. .
⊂ ⊂
Os resultados seguintes fornecem uma generaliza¸c˜ao aos Lemas 3.13 e 3.15. Teorema 3.19: Seja K α α∈Λ uma fam´ılia de compactos de Rn com a propriedade da interse¸c˜ ao finita, isto ´e, “toda subfam´ılia finita tem interse¸cao ˜ n˜ ao vazia”. Ent˜ ao
{ }
α∈Λ
∅
K α = .
Prova: Suponhamos que α∈Λ K α = e fixe α0 Λ. Afirmo que K αc α∈Λ ´e cobertura aberta de K α0 . Com efeito, se x K α0 , segue
{ }
∅
∈
∈
Abertos, Fechados, Compactos de
α∈Λ K α =
25
∅ que
∈
x
K α
c
=
α∈Λ
K αc .
α∈Λ
Como K α0 ´e compacto, existem α 1 , . . . , αm tais que m
⊂
K α0 Portanto K α0
m
K αc i =
i=1
K αi
c
.
i=1
∩ K α ∩ · · · ∩ K α = ∅, o que ´e uma contradi¸c˜ao. Corol´ario 3.20: Seja {K k }k∈ fam´ılia enumer´avel de compactos de ao Rn tal que K 1 ⊃ K 2 ⊃ . . .. Ent˜ K k = ∅. 1
m
N
k∈N
Seq¨ uˆ encias em Espa¸cos Vetoriais H´a muitas aplica¸c˜oes nas quais as seq¨ uˆencias surgem naturalmente, como nos m´etodos de discretiza¸c˜ao de equa¸co˜es diferenciais. Al´em disso, tamb´em s˜ao u ´ teis como ferramenta de demonstra¸ca˜o, como teremos oportunidade de ver neste cap´ıtulo. Relembrando a defini¸c˜ao formal introduzida no Cap´ıtulo 1, uma seq¨uˆencia de V ´e qualquer fun¸c˜ao ϕ: N V . Em geral, denotamos por xk n∈N (ou simplesmente xk ) a seq¨ uˆencia ϕ tal que ϕ(k) = x k . Se ϕ: N V ´e uma seq¨ uˆencia de V e ψ: N e uma fun¸ca˜o esN ´ tritamente crescente, ent˜ao ϕ ψ ´e denomindada subseq¨ uˆencia da seq¨ uˆencia ϕ. Uma subseq¨ uˆencia de xk k ´e usualmente denotada por xki i . Defini¸c˜ ao 3.21: Seja V um espa¸co vetorial normado. Dizemos que uma seq¨ uˆencia xk de V converge para x 0 V se
{ }
{ }
→
{ } ◦
→
→
{ }
{ } ∈ ∀ε > 0, ∃k0 ∈ N tal que se k ≥ k0 ent˜ao xk − x0 < ε. Se a seq¨uˆencia {xk } converge para x 0 , denotamos lim xk = x 0 ou xk −→ x0 . n→∞
C´ alculo Avan¸cado I
26
As seguintes propriedades s˜ao f´ aceis de demonstrar. Proposi¸ ca ˜o 3.22: Seja xk uma seq¨ uˆencia de V e A V . a) se xk converge o limite ´e u ´ nico. b) se xk converge xk ´e limitada. ′ c) x0 A existe seq¨ uˆencia xk de A (com xk = x0 para todo k) que converge para x 0 .
{ } { } ∈ ⇐⇒
{ } ⇒ ⇒ { }
⊂
{ }
Prova: Exerc´ıcio. Corol´ario 3.23: Seja A V um conjunto fechado e xk uma seq¨uˆencia de elementos de A. Se x k x 0 , ent˜ ao x 0 A.
⊂
{ }
−→ ∈ Prova: Pela Proposi¸ca˜o 3.22, se xk −→ x 0 , ent˜ao x 0 ∈ A ′ . Como A ´e fechado, A ′ ⊂ A.
O teorema seguinte estabelece uma caracteriza¸c˜ao para os compactos de um espa¸co vetorial normado (ou mais geralmente, de um espa¸co m´etrico). Teorema 3.24: Seja V um espa¸co vetorial normado e K V . Ent˜ ao K ´e compacto se e somente se toda seq¨ uˆencia xn n de K possui subseq¨uˆencia xni i tal que x ni ¯ x K . ´ claro que se xn n possui subseq¨ Prova: (= ): E uˆencia convergente, ent˜ao o limite pertence a K , pois K ´e fechado. Suponhamos ent˜ ao que existe uma seq¨ uˆencia xn n que n˜ao possui subseq¨ uˆencia convergente ′ e considere B = x1 , x2 , x3 , . . . . Ent˜ ao B = e conseq¨ uentemente N existe εn > 0 tal que B ´e fechado. Al´em disso, para cada n Bεn (xn ) B = xn . Logo Bεn (xn ) n ´e cobertura aberta de B que n˜ ao admite subcobertura finita. Como B ´e compacto (como subconjunto fechado do compacto K ), temos uma contradi¸ca˜o. ( =): Suponhamos que existe Aα α∈Λ uma cobertura aberta de K que n˜ ao admita subcobertura finita. Para cada x K , seja
⇒
∩
{ }
{ }
{ }
→ ∈ { }
{ }
⇐
∈
∅
{ }
⊂
∈
⊂ Aα , para algum α ∈ Λ
δ (x) = sup δ > 0 ; B δ (x)
´ claro que δ (x) > 0 x K . Seja E
∀ ∈
.
∈ K .
δ 0 = inf δ (x) ; x
Se provarmos que δ 0 > 0, podemos construir uma seq¨uˆencia yn n em K que n˜ao possui subseq¨ uˆencia convergente. De fato, admita por
{ }
Abertos, Fechados, Compactos
27
´ claro um instante que δ 0 > 0 e considere a cobertura Bδ0 (x) x∈K . E que esta cobertura aberta n˜ao admite subcobertura finita, pois caso contr´ario Aα tamb´ em admitiria. Consideremos ent˜a o a seq¨ uˆencia assim constru´ıda: considere y1 K qualquer e, para cada n 2, escolha y n tal que
∈
≥
n−1
∈ K \
yn
Bδ0 (yi ) .
i=1
Ent˜ao yn ym δ 0 para todo n, m N tais que n = m. Provemos ent˜a o que δ 0 > 0. Segue da defini¸ c˜ao que existe uma seq¨ uˆencia xn em K tal que δ (xn ) δ 0 . Por hip´ otese, existe uma subseq¨uˆencia xni que converge para algum x0 K . Seja ε0 = δ (x0 )/2 > 0. Ent˜ ao existe i0 N tal que xni Bε0 (x0 ) para todo i i0 . Logo, para algum α Λ,
− ≥ { } { }
∈ →
∈
≥
∈
∈
∈ Bε (xn ) ⊂ B δ(x ) (x0 ) ⊂ A α . Portanto, δ (xn ) ≥ ε 0 > 0, ∀i ≥ i 0 e o mesmo vale para δ 0 . 0
i
0
i
Seq¨ uˆ encias de Cauchy
{ }
Defini¸c˜ ao 3.25: Uma seq¨ uˆencia xk de V ´e dita seq¨ uˆencia de Cauchy se
∀ε > 0 ∃k0 ∈ N tal que k, l ≥ k0 ⇒ xk − xl V < ε. Lema 3.26: Se {xk }k ´e uma seq¨uˆencia de Cauchy em V , ent˜ ao {xk }k
´e limitada em V .
∈ {
≥ }
Prova: Seja ε = 1. Ent˜ ao existe k0 k0 , ent˜ao N tal que se k xk xk0 V < 1. Em particular, xk V < 1 + xk0 V , para todo k k0 . Assim, se M = 1 + max x1 V , . . . , xk0 −1 V , xk0 V , ent˜ao xk V M para todo k N.
− ≥ ≤
∈
Como decorrˆencia imediata da desigualdade triangular, toda seq¨uˆencia convergente de um espa¸co vetorial normado ´e seq¨uˆencia de Cauchy. Mas a rec´ıproca nem sempre se verifica. Os espa¸cos vetoriais normados para os quais todas as seq¨ uˆencias de Cauchy s˜ao covergentes s˜ao denominados Espa¸cos de Banach e s˜ao fundamentais para a An´ alise, pois neles ficam assegurados os processos de limite.
C´ alculo Avan¸cado I
28
Seq¨ uˆ encias em Rn Nesta se¸ca˜o estudaremos as seq¨ uˆencias em Rn ; mostraremos que R n ´e espa¸co de Banach. Denotamos por uma norma qualquer de Rn . Se xk k , onde xk = (x1,k , . . . , xn,k ), ´e uma seq¨uˆencia de Rn que Rn tal que converge para x0 = (x1,0 , . . . , xn,0 ), ent˜ao existe ϕ: N ϕ(k) = x k . Segue em particular da Defini¸c˜ao 3.21 e da equivalˆencia de normas que xj,k k ´e seq¨ uˆencia de n´umeros reais que converge para x j,0 .
{ }
→
{ }
Proposi¸ ca ˜o 3.27: Toda seq¨ uˆencia limitada de Rn possui subseq¨ uˆencia convergente . Prova: Se ϕ ´e seq¨ uˆencia de R n , seja A = ϕ(N). Se A ´e finito, ent˜ao existe uma infinidade de n´ umeros naturais k 1 < k2 < para os quais ϕ(k1 ) = ϕ(k2 ) = e conclu´ımos, porque seq¨ uˆencias constantes s˜ao convergentes. Se A ´e infinito, segue do Teorema de Bolzano-Weierstrass 3.16 que A′ = e conclu´ımos o resultado pelo item (c) da Proposi¸ca˜o 3.22.
· ··
· ··
∅
Teorema 3.28: Rn ´e um espa¸co de Banach. Prova: Seja xk k uma seq¨ uˆencia de Cauchy de Rn . Ent˜ ao xk k ´e limitada e, portanto, possui uma subseq¨ uˆencia xki que converge n para x i0 R . Assim, dado ε > 0 existe i0 N tal que se i ent˜ao xki x < ε/2. Como a seq¨ uˆencia dada ´e de Cauchy, existe k0 k0 ent˜ao xk x l < ε/2. Portanto, se N tal que se k, l k1 = max k0 , ki0 e k k 1 , temos
{ }
{ }
∈ ∈ − ∈ ≥ − { } ≥ xk − x ≤ xk − xk + xk − x < ε. i0
{ } ≥
i0
O Teorema a seguir complementa a caracteriza¸c˜ao dos co juntos compactos de R n (veja Proposi¸c˜ao 3.11 e Teorema 3.18). Teorema 3.29: Seja K equivalentes
⊂ Rn.
a) K ´e compacto; b) K ´e fechado e limitado;
Ent˜ ao as afirmativas abaixo s˜ ao
Abertos, Fechados, Compactos
29
c) Toda seq¨ uˆencia de K possui subseq¨ uˆencia que converge para um ponto de K . Prova: A equivalˆencia entre (a) e (b) est´a provada pela Proposi¸ca˜o 3.11 e Teorema 3.18. A equivalˆencia entre (a) e (c) ´e conseq¨uˆencia do Teorema 3.24.
Exerc´ıcios Exerc´ıcio 3.1. Sejam A e B subconjuntos de um espa¸co vetorial normado V . Demonstre as afirmativas abaixo. a) A ´e fechado A A′ . Dˆe exemplo de A fechado tal que A′ = A. b) A′ ´e conjunto fechado. c) A B = A′ B ′ . d) (A B)′ = A ′ B ′ . e) A ´e conjunto fechado. f) A ´e fechado A = A.
⊂ ∪
⇐⇒ ⊃
⇒ ⊂ ∪
⇐⇒
Exerc´ıcio 3.2. Sejam ∗ e ∗∗ duas normas equivalentes de um espa¸co vetorial V . a) Mostre que x0 ´e ponto de acumula¸c˜ao de A com rela¸c˜ao a uma das normas se e somente se ´e ponto de acumula¸c˜ao com rela¸c˜ao `a outra. b) Mostre que se A ´e um conjunto aberto em V em rela¸ca˜o a ∗, se e somente se A ´e aberto em rela¸ca˜o a ∗∗ . Mostre que o mesmo vale para conjuntos fechados e compactos.
Exerc´ıcio 3.3. Sejam A e B subconjuntos de um espa¸co vetorial normado V . a) Se A
◦
◦
⊂ B, mostre que A⊂B e A ⊂ B. ◦
◦
b) Defina α(A) =A e β (B) = B. Mostre i. A aberto A α(A). ii. B fechado B β (B).
⇒ ⊂ ⇒ ⊃
◦
iii. Dˆe exemplo de conjunto A tal que A, A, A, α(A) e β (A) sejam todos distintos.
∈
Exerc´ıcio 3.4. Seja A = f
C [0, 1]; R ; f
∞
< 1 e f 0
≡ 0.
30
C´ alculo Avan¸cado I
Mostre que f 0 ´e ponto interior de A relativamente `a norma mas n˜ ao ´e ponto interior de A relativamente `a norma 1. Exerc´ıcio 3.5. Demonstre a Proposi¸c˜ao 3.22
∞
Exerc´ıcio 3.6. Prove diretamente a equivalˆencia dos itens (b) e (c) no Teorema 3.29
4 Limites e Continuidade Iniciamos o estudo de limites e continuidade para fun¸c˜oes de R n em R m . No que segue estaremos denotando por indistintamente n R as normas euclidianas, isto ´e, as normas de e R m . 2
Defini¸c˜ ao 4.1: Sejam f : A Rn A′ e b Rm . DizeRm , x0 mos que b ´e o limite de f (x) quando x se aproxima de x0 em A (relativamente `as normas euclidianas) se
⊂
→
∈
∈
∀ε > 0, ∃δ > 0 tal que x ∈ A e 0 < x − x0 < δ ⇒ f (x) − b < ε. Neste caso denotamos b = lim f (x). x→x0
Observa¸c˜ ao: A defini¸ca˜o acima pode ser expressa usando-se a nota¸ca˜o de bolas, isto ´e:
⇐⇒ ∀ε > 0, ∃δ > 0 tal que x ∈ A ∩ Bδ (x0 ) \ {x0} ⇒ f (x) ∈ Bε (b). lim f (x) = b
x→x0
Ou ainda na forma mais concisa
∩
} ⊂
Bε (b). ∀ε > 0, ∃δ > 0 tal que f A Bδ (x0) \ {x0 Teorema 4.2: Sejam f : A ⊂ Rn → Rm , f = (f 1 , . . . , fm ), onde f i : A ⊂ R n → R , ∀i = 1, . . . , m, x0 ∈ A ′ e b ∈ R m , b = (b1 , . . . , bm ). Ent˜ ao
lim f (x) = b
x→x0
⇐⇒
lim f i (x) = b i ,
x→x0
∀i = 1, . . . , m .
C´ alculo Avan¸cado I
32
Prova: Suponhamos limx→x0 f i (x) = b i e seja ε > 0. Ent˜ao existem δ 1 , . . . , δm > 0 tais que x A e 0 < x x0 < δ i f i (x) bi < ε/m. Se e1 , . . . , em ´e a base canˆonica de Rm , ent˜ao considerando-se δ = min δ 1 , . . . , δm temos, para x A e 0 < x x0 < δ :
∈ − ⇒ | − | { } { } ∈ − f (x) − b ≤ |f 1(x) − b1| + ··· + |f m (x) − bm| < ε.
Reciprocamente, se lim x→x0 f (x) = b, para ε > 0 dado, existe δ > 0 tal que se x A e 0 < x x0 < δ ent˜ao f (x) b < ε. Como f i (x) bi f (x) b para todo i = 1, . . . , m segue o resultado.
− − − Teorema 4.3: Seja f : A ⊂ Rn → Rm e x 0 ∈ A′ . Ent˜ ao, ∀{xk }k ⊂ A tal que x k = x0, ∀k lim f (x) = b ⇐⇒ e x k → x0 ⇒ f (xk ) → b. x→x |
∈ − |≤
0
Prova: Exerc´ıcio. Teorema 4.4: Sejam f , g: A
⊂ Rn → R e x0 ∈ A′ . Se
lim f (x) = b e lim g(x) = c,
x→x0
ent˜ ao
x→x0
± g)(x) = b ± c
lim (f
x→x0
lim (f g)(x) = bc
x→x0
Al´em disso, se c = 0 ent˜ ao
lim
x→x0
f b (x) = . g c
Prova: Exerc´ıcio. Corol´ ario 4.5: Sejam f , g: A lim f (x) = b
x→x0
ent˜ ao
⊂ Rn → Rm e x 0 ∈ A′ . Se e
lim g(x) = c,
x→x0
lim f (x); g(x) = b; c .
x→x0
Limites e Continuidade
33
´ preciso ter cuidado com o limite de fun¸co˜es comObserva¸c˜ ao: E postas. De fato, parece intuitivamente razo´avel esperar que se
⊂ Rn → Rm , x0 ∈ A′ e g : B ⊂ Rm → Rk , y0 ∈ B′ s˜ao tais que f (A) ⊂ B e f : A
lim f (x) = y 0 e lim g(y) = z 0 ,
x→x0
y→y0
ent˜ao
◦
lim (g f )(x) = z 0 .
x
→
x0
No entanto, isto ´e em geral falso, como se pode ver pelos exemplos a R, definidas por: seguir. Sejam f , g: R f (x) =
1 0
→ se x =0
e
lim f (x) = 1
e l im g(y) = 1.
se x = 0
g(x) =
1 se x = 1 0 se x = 1
Ent˜ao x→0
y→1
Entretanto, ´e f´acil ver que (g f )(x) =
◦
0 1
se x = 0 se x = 0
e
lim (g f )(x) = 0.
x→0
◦
n m Lema 4.6: Seja, ∗ e ∗∗ respectivamente normas de R e R equivalentes `as normas euclidianas. Ent˜ ao limx→x0 f (x) = b relativamente a`s normas ∗ e ∗∗ se e somente se limx→x0 f (x) = b relativamente `as normas euclidianas
Prova: (Veja Exerc´ıcios)
Fun¸co ˜es Cont´ınuas Defini¸c˜ ao 4.7: Seja f : A R n R m e x0 A A′ . Dizemos que f ´e cont´ınua em x 0 se limx→x0 f (x) = f (x0 ). Mais precisamente,
⊂
→
∈ ∩
∀ε > 0 ∃δ > 0 tal que x ∈ A e x − x0 < δ ⇒ f (x) − f (x0) < ε.
C´ alculo Avan¸cado I
34
Usando a nota¸ca˜o de bolas, podemos dizer que f ´e cont´ınua em x0 se e somente se
⊂
∀ε > 0 ∃δ > 0 tal que x ∈ A ∩ Bδ (x0) ⇒ f (x) ∈ Bε f (x0) , ou ainda
∀ε > 0 ∃δ > 0 tal que f A ∩ Bδ (x0 )
B ε f (x0 ) .
Observa¸c˜ ao: Decorre das propriedades sobre limites os seguintes fatos: a) Se f = (f 1 , f 2 , . . . , fm ), ent˜ao f ´e fun¸ca˜o cont´ınua em x0 se e n R ´ somente se f i : A R e cont´ınua em x 0 . n b) Se f, g: A ao cont´ınuas em x0 e λ a o as R R s˜ R, ent˜ fun¸co˜es f + g, f g e λf s˜ao cont´ınuas em x0 . Al´em disso, se g(x0 ) = 0, ent˜ao a fun¸ca˜o f /g ´e cont´ınua em x 0 .
⊂
⊂ → →
∈
Teorema 4.8: Sejam f : A Rn R m , g: B f (A) B. Se x0 A′ , y 0 B B ′ ,
⊂
⊂ → ∈ ∩
∈
lim f (x) = y 0
⊂ Rm → Rk tais que
e g ´e cont´ınua em y 0 ,
x→x0
ent˜ ao lim (g f )(x) = g(y0 ).
x→x0
◦
Prova: Seja ε > 0 dado. Como g ´e cont´ınua em y0 , existe µ > 0 tal que y B Bµ (y0 ) g (y) B ε (g(y0 )). Como limx→x0 f (x) = y 0 , existe δ > 0 tal que x Bδ (x0 ) x0 A f (x) Bµ (y0 ). Portanto,
∈ ∩ x
⇒
∈ ∈ \ { } ∩ ∈ \ { } ∩ ⇒ Bδ (x0 )
x0
A
⇒
∈
∈
y = f (x) Bµ (y0 )
e conseq¨ uentemente
∈ Bε (g(y0))
g(f (x))
Defini¸c˜ ao 4.9: Quando uma fun¸c˜ao f ´e cont´ınua em todos os pontos de seu dom´ınio, dizemos simplesmente que f ´e fun¸ca˜o cont´ınua.
Limites e Continuidade
35
Teorema 4.10: Seja f : Rn R m . Ent˜ ao as afirmativas abaixo s˜ ao equivalentes. a) f ´e fun¸cao ˜ cont´ınua; b) se A ´e aberto em R m f −1 (A) ´e aberto em R n ; c) se F ´e fechado em R m f −1 (F ) ´e fechado em Rn ;
→
⇒ ⇒
Prova: Provemos “(a) (b)”: Seja x0 f −1 (A). Ent˜ ao y 0 = f (x0 ) A. Como A ´e aberto, existe ε > 0 tal que B ε (y0 ) A. Como f ´e cont´ınua em x 0 , existe δ > 0 tal que f Bδ (x0 ) B ε (y0 ) A. Logo B δ (x0 ) f −1 (A). Reciprocamente, dado ε > 0 seja A = B ε (y0 ) com y 0 = f (x0 ). Como A ´e aberto, temos por hip´otese f −1 (A) aberto. Logo existe δ > 0 tal que B δ (x0 ) f −1 (A). Portanto, f Bδ (x0 ) f f −1 (A) A. Provemos “(b) (c)”: Se F ´e fechado ent˜ao A = F c ´e aberto. Pelo item (b) f −1 (A) = f −1 (F )c ´e aberto. Logo f −1 (F ) ´e fechado. Reciprocamente, se A ´e aberto, ent˜ao F = A c ´e fechado. Pelo item (c) f −1(F ) = f −1 (A)c ´e fechado. Logo f −1 (A) ´e aberto.
⇔
∈
⊂
⊂ ⊂
∈
⊂
⊂
⊂ ⊂
⇔
Fun¸co ˜es Cont´ınuas e Compactos Os resultados a seguir s˜ao fundamentais, especialmente quando se tem em vista as aplica¸c˜oes. Teorema 4.11: Seja f : Rn c˜ ao cont´ınua e K Rn conRm fun¸ junto compacto. Ent˜ ao f (K ) ´e conjunto compacto de R m .
→
⊂
Prova: Seja Aλ λ∈Λ uma cobertura qualquer de f (K ). Queremos verificar se ela admite uma subcobertura finita. Como f (K ) Aλ , temos
⊂
⊂ ⊂ ⊂ ⊂ ⊂
K
f −1 f (K )
f −1
f −1 (Aλ ).
Aλ =
λ
λ
−1
Como f ´e cont´ınua, segue que f (Aλ ) λ∈Λ ´e cobertura aberta de K. Como K ´e compacto, existem λ1 , . . . , λk tais que K f −1 (Aλ1 ) f −1 (Aλk ). Portanto,
···∪
k
f (K )
k
−1
f
i=1
k
−1
f (Aλi ) =
f f (Aλi )
i=1
∪
i=1
Aλi .
C´ alculo Avan¸cado I
36
R ´ Corol´ario 4.12: Se f : Rn e fun¸cao ˜ cont´ınua e K compacto, ent˜ ao existe x, x K tais que
→ ∈ f (x) = min{f (x) ; x ∈ K }
{
e f (x) = max f (x) ; x
⊂
Rn ´ e
∈ K }.
Prova: Pelo teorema anterior f (K ) ´e compacto de R. Logo ´e fechado e limitado. Sendo limitado temos s = sup f (K ) < + e s = inf f (K ) > . Sendo fechado temos s f (K ) e s f (K ). Portanto, existem x, x K tais que s = f (x) e s = f (x).
−∞
∈
∈
∈
∞
Como conseq¨ uˆencia dos resultados anteriores, temos o Teorema da equivalˆencia das normas em R n . Teorema 4.13: Todas as normas em R n s˜ ao equivalentes Prova: Seja uma norma qualquer em Rn e 1 a norma 1 n definida por x 1 = x1 + + xn . Dado x R , temos
| | ··· | | n
∈
n
⇒ ≤ | | ≤ } ∈ x =
xi ei
x
i=1
xi ei
i=1
M x 1 ,
onde e1 , . . . , en ´e a base canˆonica de Rn e M = max ei ; i = 1, . . . , n . Seja K = x Rn ; x 1 = 1 e f (x) = x . Ent˜ao f : Rn R ´e fun¸ca˜o cont´ınua (relativamente `a norma 1 de n R ). Como K ´e fechado e limitado, e portanto compacto, segue do corol´ario anterior que existe x K tal que m: = f (x) = min f (K ). Observe que m > 0, pois se 0 = m = x x = 0. n Seja x um ponto qualquer de R . Ent˜ao y = x/ x 1 K e
{
→
∈
m
≤ f (y) =
x x 1
=
⇒
x ⇒ x1
∈
m x
1 ≤ x.
Observa¸c˜ ao: Decorre do Teorema 4.13 e do Lema 4.6 que se uma fun¸ca˜o f : Rn R m ´e cont´ınua em rela¸ca˜o a determinada norma de ao ser´a cont´ınua em rela¸c˜ao a quaisquer outras normas Rn e R m , ent˜ n m de R e R . Como veremos no final deste cap´ıtulo, este resultado se estende para espa¸cos vetoriais de dimens˜ao finita, mas n˜ao vale em geral para espa¸cos de dimens˜ao infinita.
→
Limites e Continuidade
37
Fun¸co ˜es Cont´ınuas e Conjuntos Conexos Sabemos da An´alise Real que se f : [a, b] e fun¸c˜ao cont´ınua satisR´ fazendo f (a) < 0 < f (b) (ou f (a) > 0 > f (b)), ent˜ao existe x 0 ]a, b[ tal que f (x0 ) = 0, isto ´e, f possui uma ra´ız entre a e b. Este resultado, conhecido como Teorema do Valor Intermedi´ario , se generaliza para o caso vetorial usando-se o conceito de conjunto conexo .
→
∈
Rn ´ Defini¸c˜ ao 4.14: Um conjunto B e dito conexo se para todo A1 e A 2 abertos tais que B A 1 A2 e B Ai = , i = 1, 2, tem-se A1 A2 = .
⊂ ⊂ ∪
∩ ∅
∩ ∅
Teorema 4.15: Se f : Rn junto conexo, ent˜ ao f (B)
˜ cont´ınua e B ⊂ Rn con→ mRm ´e fun¸cao ⊂ R ´e conjunto conexo. Prova: Sejam A1 e A2 abertos de Rm tais que f (B) ⊂ A1 ∪ A2 e f (B) ∩ Ai = ∅, i = 1, 2. Ent˜ao B ⊂ f −1 (f (B)) ⊂ f −1 (A1 ∪ A2 ) = f −1 (A1 ) ∪ f −1 (A2 ). Como f ´e cont´ınua e A i ´e aberto, segue que f −1 (Ai ) ´e aberto. Al´em disso, se y f (B) Ai , ent˜ao existe x B tal que y = f (x). Por defini¸c˜ao, x f −1 (Ai ) e portanto B f −1 (Ai ) = . Como B ´e conexo, f −1 (A1 ) f −1 (A2 ) = . Portanto f −1 (A1 A2 ) = A1 A2 = . Logo f (B) ´e conexo.
∩
∈ ∈
∩ ∅
∩
∈
∅ ∩ ∅ ⇒ ∩ ∅
Conjuntos Convexos e Fun¸c˜ oes Convexas Defini¸c˜ ao 4.16: Um subconjunto A de um espa¸co vetorial V ´e dito convexo se, para todo x, y A temos
∈ λx + (1 − λ)y ∈ A, ∀λ ∈ ]0, 1[. Defini¸c˜ ao 4.17: Uma fun¸ca˜o f : A ⊂ V → R ´e dita convexa se A ´e convexo e para todo x, y ∈ A, vale a desigualdade f λx + (1 − λ)y ≤ λf (x) + (1 − λ)f (y), ∀λ ∈ ]0, 1[. Lema 4.18: Seja f : A ⊂ V → R uma fun¸cao ˜ convexa. Se x1 , x2 , . . . , xk ∈ A e λ1 , λ2 , . . . , λk ∈]0, 1[ s˜ ao tais que λ 1 + ··· + λk = 1,
ent˜ ao
C´ alculo Avan¸cado I
38
≤ k
f
k
λi xi
i=1
λi f (xi ).
i=1
Prova: Veja Exerc´ıcios. Teorema 4.19: Toda fun¸c˜ ao convexa f : Rn
→ R ´e cont´ınua.
Prova: Faremos a prova em quatro etapas. Etapa 1: Se f (0) = 0, ent˜ao 0 sup f (x) ; x 1 1 < + . ´ claro que 0 = f (0) E sup f (x) ; x 1 1 . Vamos mostrar inicialmente que sup f (x) ; x 1 = 1 < + . Seja
≤ ∞ ≤ ∞ ≤ − − ≤
b = max f (e1 ), . . . , f ( en ), f ( e1 ), . . . , f ( en ) ,
onde e1 , e2 , . . . , en ´e a base canˆonica de R n . Se x Rn ´e um vetor unit´ ario, isto ´e, x 1 = 1, definimos, para i = 1, . . . , n,
{
}
∈
ai =
| |
xi / xi 1
se x i = 0, se x i = 0 .
Ent˜ao, os vetores ui definidos por ui = ai ei s˜ao vetores unit´arios. Como n
x =
| |
xi ui ,
i=1
|x1 | + ··· + |xn| = 1, conclu´ımos do Lema 4.18 que n
f (x)
≤ | |
xi f (ui )
i=1
≤ max
≤
f (u1 ), . . . , f ( un )
b.
≤ ∞ ∈ ≤ −
(4.1)
Suponhamos que sup f (x) ; x 1 1 = + . Ent˜ao, para cada k N, existe xk na bola unit´aria B = x R n ; x 1 1 tal que f (xk ) k. Em particular, como x k = 0, podemos considerar o vetor unit´ ario xk = x k / xk 1 . Como xk = xk 1 xk + (1 xk 1 )0, segue da convexidade de f que
∈
k
≥
≤ f (xk ) ≤ xk 1f (xk ) + (1 − xk 1)f (0) ≤ f (xk ), ∀k ∈ N.
Limites e Continuidade
{
39
}
∞
Logo sup f (x) ; x 1 = 1 = + , e temos uma contradi¸c˜ao com (4.1). Etapa 2 : Suponhamos f (0) = 0. Ent˜ao f ´e cont´ınua em x = 0. De fato, se f 0 em B, n˜ ao h´ a nada a provar. Suponhamos ent˜ ao f 0 em B. Segue da etapa 1 que 0 < a: = sup f (x) ; x B < + . Dado 0 < ε < a, seja δ < ε/a. Se x 1 < δ , ent˜ao x/δ 1 < 1 e f (x/δ ) a. Como podemos escrever x = δ (x/δ ) + (1 δ )0, temos da convexidade
≡
≡ ∞
−
≤
∈
≤ δf (x/δ ) + (1 − δ )f (0) ≤ δa < ε.
f (x)
(4.2)
Seja λ = δ/(1 + δ ). Ent˜ao 0 < λ < 1 e temos a combina¸ca˜o convexa λ
− x δ
+ (1
− λ)x = 0.
Pela convexidade, 0 = f (0)
≤ λf
− x δ
+ (1
− λ)f (x) ≤ λa + (1 − λ)f (x)
e conclu´ımos que f (x)
≥ −δa > −ε.
(4.3)
De (4.2) e (4.3) conclu´ımos
|f (x)| < ε
se
x1 < δ.
Etapa 3 : Se f (0) = 0. Neste caso, g(x) = f (x) f (0) ´e fun¸c˜ao convexa que se anula em x = 0. Pelas etapas anteriores, g ´e cont´ınua em x = 0, o mesmo valendo para f . Etapa 4: O caso geral. Seja x0 R n . Ent˜ ao g (x) = f (x + x0 ) ´e fun¸ca˜o convexa. Portanto, etapas anteriores, g ´e cont´ınua em x = 0. Segue que f ´e cont´ınua em x = x 0 .
∈
−
C´ alculo Avan¸cado I
40
Continuidade Uniforme Vimos anteriormente que uma fun¸c˜ao ´e cont´ınua quando ´e cont´ınua em todos os pontos de seu dom´ınio. Podemos dizer, portanto, que a continuidade ´e um conceito local . Isso se expressa na defini¸ca˜o, pelo fato de que, para cada ε e para cada x, δ = δ (ε, x) depende de ´epsilon e do ponto x. A defini¸c˜ao que introduzimos a seguir expressa um conceito global de continuidade—a continuidade uniforme. Defini¸c˜ ao 4.20: Seja A Rn e f : A ca˜o. Dizemos Rm uma fun¸ que f ´e uniformemente cont´ınua em A se ε > 0 existe δ > 0 tal que se x, y A x y < δ , ent˜ao f (x) f (y) < ε. Exemplo: A fun¸c˜ao f : R e R definida por f (x) = 1/(1 + x 2 ) ´ uniformemente cont´ınua em R . ´ claro que toda fun¸ca˜o uniformentente cont´ınua ´e cont´ınua em seu E dom´ınio. Mas a rec´ıproca ´e falsa. Considere por exemplo f (x) = x 2 .
⊂
∈ −
→
→ ∀ −
Defini¸c˜ ao 4.21: Uma fun¸c˜ao f : A Rn cont´ınua em A se existe M > 0 tal que
⊂
f (x) − f (y) ≤ M x − y ,
→ Rm ´e dita Lipschitz∀x, y ∈ A.
´ f´acil ver que toda fun¸ca˜o Lipschitz-cont´ınua ´e uniObserva¸c˜ ao: E ´ f´ formemente cont´ınua. E acil ver tamb´em, como conseq¨ uˆencia imediata do Teorema do Valor M´edio, que toda fun¸c˜ao deriv´avel f : R R cuja derivada ´e limitada em R , ´e Lipschitz-cont´ınua.
→
Proposi¸ ca ˜o 4.22: Seja f : Rn Lipschitz-cont´ınua.
{
→ R m uma fun¸c˜ao linear. Ent˜ao f ´e
}
{
}
Prova: Seja M = max f (e1 ) , . . . , f (en ) , onde e1 , . . . , en ´e a base canˆonica de Rn . Ent˜ ao, se x = (x1 , . . . , xn ) e y = (y1 , . . . , yn ), temos n
≤ |
f (x) − f (y)
i=1
xi
− yi|f (ei) ≤ M x − y1
e a conclus˜ao segue da equivalˆencia das normas de Rn . As fun¸c˜oes Lipschitz-cont´ınuas s˜ao casos particulares das H¨ oldercont´ınuas, cuja defini¸c˜ao ´e a seguinte.
Limites e Continuidade
41
Rm ´ Defini¸c˜ ao 4.23: Seja 0 < α 1. Uma fun¸ ca˜o f : A Rn e dita H¨ older-cont´ınua de ordem α em A se existe M > 0 tal que
≤
⊂
f (x) − f (y) ≤ M x − yα,
→
∀x, y ∈ A.
Exemplo: A fun¸c˜ao f : [0, [ R definida por f (x) = xα , com 0 < α < 1 ´e H¨older-cont´ınua em [0, [. ´ claro que toda fun¸ca˜o H¨older-cont´ınua ´e uniformemente cont´ınua. E
∞→
∞
Observa¸c˜ ao: Os conceitos de continuidade uniforme, Lipschitz-continuidade e H¨older-continuidade s˜ao invariantes para normas equivalentes; s˜ao portanto independentes das normas que estejam fixadas em R n e R m .
⊂
Teorema 4.24: Toda fun¸c˜ ao cont´ınua definida num compacto K n R ´ e uniformemente cont´ınua.
∈
Prova: Seja x K e ε > 0. Como f ´e cont´ınua, existe δ x > 0 tal que se y Bδx (x) ent˜ao f (y) f (x) < ε/2. Como K x∈K B δx /2 (x), segue da compacidade que existem x 1 , x2 , . . . , xk em K tais que
∈
−
⊂
k
⊂
K
Bδxi /2 (xi ).
(4.4)
i=1
{
}
∈
Seja δ = min δ x1 /2, δ x2 /2, . . . , δx k /2 Ent˜a o, se x, y K s˜ao tais que x y < δ , segue de (4.4) que x Bδxi /2 (xi ), para algum i. Portanto,
−
∈
y − xi ≤ y − x + x − xi < δ + δ x /2 ≤ δ x ⇒ y ∈ Bδ Logo, y − x < δ ⇒ f (x) − f (y) < ε e temos o resultado. i
i
xi
(xi ).
Espa¸cos Vetoriais de Dimens˜ao Finita As defini¸c˜oes e os resultados anteriores se estendem aos espa¸cos vetoriais de dimens˜ao finita via os isomorfismos naturais. De fato, se V ´e um espa¸co vetorial de dimens˜ao n, seja u1 , . . . , un uma base de V . Podemos considerar o isomorfismo T : Rn V definido por
{
→
}
C´ alculo Avan¸cado I
42
T (ei ) = u i , i = 1, . . . , n, onde e1 , . . . , en ´e a base canˆonica de Rn , que induz a V as propriedades de R n . A t´ıtulo de exemplo, consideremos a extens˜ ao do Teorema 4.13 aos espa¸cos vetoriais reais de dimens˜ao finita.
{
}
Teorema 4.25: Seja V um espa¸co vetorial de dimens˜ ao finita. Ent˜ ao todas as normas de V s˜ ao equivalentes.
{ →
}
Prova: Suponhamos n a dimens˜ a o de V e seja u1 , . . . , un uma base de V . Consideremos o isomorfismo T : Rn V definido por T (ei ) = u i , i = 1, . . . , n, onde e1 , . . . , en ´e a base canˆonica de R n . Se ao duas normas de V , sejam respectivamente ∗ e ∗∗ s˜ α e n ca˜o (2.5). O Teorema β as normas de R induzidas por T pela rela¸ 4.13 garante que estas normas s˜ao equivalentes em Rn . A equivalˆencia das normas de V ´e conseq¨ uˆencia do Teorema 2.8.
{
}
De um modo geral, sejam V e W espa¸cos vetoriais de dimens˜ao finita e f : V W , T : V c˜oes Rn e S : V Rm isomorfismos. As defini¸ anteriores se estendem naturalmente a V e W e os resultados podem ser induzidos pelo diagrama
→
→
→
f −−−−−−→
V T
T −1
S −1
g −−−−−−→
Rn
W
S
Rm
O Espa¸co Vetorial das Transforma¸c˜ oes Lineares Sejam V e W dois espa¸cos vetoriais de dimens˜ao finita e consideremos o conjunto de todas as transforma¸co˜es lineares de V em W :
L(V, W ) =
T : V
→ W ; T
´e linear .
L(V, W ) ´e espa¸co vetorial se munido das opera¸c˜oes usuais de soma de
fun¸co˜es e produto por escalar. Al´em disso, se dim V = n e dim W =
Limites e Continuidade
L
43
m, ent˜ao dim (V, W ) = mn. De fato, fixadas bases em V e W , (V, W ) pode ser identificado a m×n via isomorfismo natural. Em particular, decorre do Teorema 2.8 que (V, W ) ´e espa¸co vetorial normado com todas as normas equivalentes.
L
M
L
Nota: Se V ou W s˜ao espa¸cos vetoriais normados de dimens˜ao infinita, a situa¸c˜ao ´e muito mais complicada pois, contrariamente ao caso finito, existem transforma¸c˜oes lineares de V em W que n˜ ao s˜ao cont´ınuas. A maneira natural de se introduzir uma norma em (V, W ) ´e a seguinte (veja Exerc´ıcio 4.13): se T (V, W ), definimos T L(V,W ) = sup T x W ; x V = 1 . (4.5)
L
∈L
O Teorema de Ponto Fixo de Banach
⊂
→
Seja V um espa¸co vetorial normado, A V e f : A V uma fun¸c˜ao. Defini¸c˜ ao 4.26: Dizemos que f ´e uma contra¸c˜ ao em A se existe 0 α < 1 tal que
≤
f (x) − f (y)V ≤ αx − yV , ∀x, y ∈ A. Defini¸c˜ ao 4.27: Dizemos que x ∈ V ´e um ponto fixo para uma fun¸ca˜o f : V → V se f (x) = x.
Teorema 4.28: Seja V um espa¸co de Banach relativamente `a norma V ´e uma contra¸c˜ ao em V , ent˜ ao f possui um u ´ nico V . Se f : V ponto fixo.
→
∈
Prova: Seja x 0 V e considere a seq¨uˆencia definida implicitamente por x k+1 = f (xk ), k 0. Ent˜ao,
∀ ≥ xk+1 − xk V = f (xk ) − f (xk−1 )V ≤ αxk − xk−1 V ≤ α2xk−1 − xk−2V ≤ ·· · ≤ αk x1 − x0 V . Portanto, se k, l ∈ N, temos (supondo k ≥ l) xk − xlV ≤ xk − xk−1 V + ··· + xl+1 − xl V ≤ αk−1 + αk−2 + ··· + αl x1 − x0V l ≤ 1 α− α x1 − x0 V .
C´ alculo Avan¸cado I
44
∈ N tal que
Como α < 1, dado ε > 0, podemos escolher l 0 αl0 x1 1 α
− − x0V < ε, de modo que se k, l ≥ l 0 ent˜ao xk − xl V < ε. Logo {xk } ´e seq¨ uˆencia de Cauchy em V e, portanto, converge para algum x ∈ V .
Para concluir que x ´e ponto fixo de f , basta observar que sendo f cont´ınua, segue do Teorema 4.3 que
x = lim xk+1 = lim f xk = f n→∞
n→∞
lim xk = f (x).
n→∞
Sendo a unicidade conseq¨ uˆencia imediata da defini¸c˜ao de contra¸ca˜o, conclu´ımos a prova. ´ oportuno observar que, se uma fun¸ca˜o f ´e uma conObserva¸c˜ ao: E tra¸ca˜o em V relativamente a uma norma ao ser contra¸ca˜o ∗ , pode n˜ em rela¸ca˜o a uma outra norma equivalente (veja exerc´ıcios).
Semicontinuidade O Corol´ario 4.12 estabelece a existˆencia de m´aximos e m´ınimos para fun¸co˜es reais cont´ınuas definidas em conjuntos compactos de Rn . Este resultado, fundamental para as aplica¸c˜oes, pode ser generalizado para fun¸co˜es descont´ınuas que satisfa¸cam certas propriedades que definiremos a seguir. Defini¸c˜ ao 4.29: Sejam f : A A′ . Definimos o Rn R e x0 limite inferior e o limite superior de f (x) em x0 (ou quando x se aproxima de x 0 ) respectivamente por:
⊂
→
∈ ∩ \ { } ∩ \ { } ∈ ∩ \ { } ∩ \ { }
lim inf f (x) = lim inf f (x) ; x x→x0
r↓0
= lim inf f A r↓0
A
Br (x0 )
lim sup f (x) = lim sup f (x) ; x A x→x0
r↓0
= lim sup f A r↓0
∈
Br (x0 )
(Br (x0 )
x0 )
x0
(Br (x0 ) x0
x0 )
Limites e Continuidade
45
´ f´acil ver que Observa¸c˜ ao: E
−∞ ≤ liminf f (x) ≤ limsup f (x) ≤ + ∞ x→x x→x 0
0
e que, se f ´e fun¸c˜ao limitada, ent˜ao o limite inferior e o limite superior sempre existem. Exemplo: liminf x→0 sen(1/x) =
−1 e limsupx→0 sen(1/x) = 1.
Lema 4.30: f possui limite em x0 se e somente se o limite inferior e o limite superior de f s˜ ao iguais. Mais precisamente, l = lim f (x) x→x0
inf f (x) = limsup f (x) = l. ⇐⇒ lim x→x x→x 0
0
Prova: Suponhamos lim inf x→x0 f (x) = limsupx→x0 f (x) = l e se jam l(r) = inf f A Br (x0 ) x0 (4.6) L(r) = sup f A Br (x0 ) x0
∩ ∩
Ent˜ao, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que 0 < r < δ
⇒
l
\{ } \{ }
− ε < l(r) ≤ L(r) < l + ε.
Al´em disso, segue de (4.6) que
l
− ε < l(r) ≤ f (x) ≤ L(r) < l + ε, ∀x ∈ A ∩ Br (x0) \ {x0} . Portanto, se x ∈ A e 0 < x − x 0 < δ , ent˜ ao | f (x) − l | < ε e
conclu´ımos que l = limx→x0 f (x). Reciprocamente, suponhamos que l = limx→x0 f (x). Ent˜ ao, dado ε > 0 existe δ > 0 tal que
− x0 < δ ⇒ |f (x) − l| < ε/2.
0 < x
Definindo-se l(r) como em (4.6), temos 0 < r < δ
⇒
l
− ε/2 ≤ l(r) < l + ε/2
C´ alculo Avan¸cado I
46 e conclu´ımos que l = lim l(r) = lim inf f (x). x→x0
r↓0
O mesmo argumento mostra que l ´e o limite superior de f em x 0 . Defini¸c˜ ao 4.31: Seja f uma fun¸c˜ao real definida em A Rn e x0 A A′ . Dizemos que f ´e semicont´ınua inferiormente (sci) em x0 se f (x0 ) lim inf f (x).
⊂
∈ ∩
≤
x→x0
Analogamente, dizemos que f ´e semicont´ınua superiormente (scs) em x0 se f (x0 ) lim sup f (x).
≥
x→x0
Em particular, como consequˆencia imediata do lema 4.30, temos: Corol´ario 4.32: Um fun¸c˜ ao real f definida em A R n ´e cont´ınua ′ em x 0 A A se e somente se ´e semicont´ınua inferiormente e superiormente em x 0 .
⊂
∈ ∩
Proposi¸ ca ˜o 4.33: Seja f uma fun¸cao ˜ real definida em A Rn ′ e x0 A A . Ent˜ ao f ´e semicont´ınua inferiormente em x0 se e somente se para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que
⊂
∈ ∩
∈
− x0 < δ ⇒
x A e x
f (x) > f (x0 )
− ε.
Prova: Se f ´e sci em x 0 , ent˜ao f (x0 )
≤ l = lim inf f (x) = lim l(r), x→x r↓0
(4.7)
0
onde l(r) ´e definido por (4.6). Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se 0 < r < δ , ent˜ao l ε < l(r) < l + ε. Em particular, se x A e x x0 < r, ent˜ao l(r) f (x). Portanto, se x A e x x0 < δ , podemos escolher r > 0 tal que x x0 < r < δ e
−
∈
∈
−
f (x0 )
−
− ε ≤ l − ε ≤ l(r) ≤ f (x).
−
≤
Limites e Continuidade
47
≥ ≥
− ∀ ∈ ∩ − ∀
Reciprocamente, se f (x) f (x0 ) ε x A Bδ (x0 ), ent˜ao l(r) = inf f (x) ; x A Br (x0 ) f (x0 ) ε, r < δ . Como l(r) ´e fun¸ca˜o decrescente, segue que
∈ ∩
f (x0 )
− ε ≤ l(r) ≤ lim l(r) = lim inf f (x). x→x r↓0
(4.8)
0
A conclus˜ ao segue fazendo-se ε 0 em (4.8).
↓
Defini¸c˜ ao 4.34: Uma fun¸c˜ao real f : A e dita semiRn R ´ cont´ınua inferior (sci ) se for semicont´ınua inferiormente em cada ponto de A. Analogamente, dizemos que f ´e semicont´ınua superior (scs ) se for semicont´ınua superiormente em cada ponto de A.
⊂
→
Teorema 4.35: f : Rn e fun¸c˜ ao sci se e somente se para todo R ´ −1 α R, f ]α, + [ ´e aberto em R n .
∈
∞
→
Prova: Suponha f sci. Se x0 f −1 ]α, + [ , ent˜ao f (x0 ) > α. Considere ε > 0 tal que f (x0 ) ε > α. Como f ´e sci, segue da Proposi¸c˜ao 4.33 que existe δ > 0 tal que x x0 < δ implica f (x) > f (x0 ) ε. Logo
∈ −
∞ −
− x − x0 < δ ⇒ f (x) > f (x0) − ε > α ⇒ f (x) ∈ ]α, +∞[. o que implica que Bδ (x0 ) ⊂ f −1 ]α, +∞[ . Reciprocamente, se x0 ∈ Rn e ε > 0, considere α = f (x0 ) − ε e I = ]α, +∞[. Por hip´ otese f −1(I ) ´e conjunto aberto de Rn . Logo, existe δ > 0 tal que B δ (x0 ) ⊂ f −1 (I ). Portanto, x − x0 < δ ⇒ f (x) ∈ I ⇒ f (x) > f (x0) − ε.
Corol´ario 4.36: f : Rn R ´e fun¸cao ˜ scs se e somente se para todo 1 − α R, f ] , α[ ´e aberto em Rn .
∈
−∞ →
O resultado a seguir generaliza o Corol´ario 4.12. Teorema 4.37: Seja f : Rn c˜ ao sci e K R fun¸ Rn conjunto compacto. Ent˜ ao existe x 0 K tal que f (x0 ) = min f (K ).
∈
→
⊂
Prova: Faremos a prova em duas etapas: Etapa 1: Provemos que inf f (K ) > .
−∞
C´ alculo Avan¸cado I
48
∈ K existe δ x > 0 tal que y − x < δ x ⇒ f (y) > f (x) − 1.
De fato, como f ´e sci, para todo x
´ claro que Bδ (x) E ´e cobertura aberta de K . Portanto existem x x∈K x1 , . . . , xk K tais que
∈
k
⊂
K
Bδxj (xj ).
j =1
{
} ∈ − ≥ − ∈ ∈ ∈
− ≤ ∈
Seja m = min f (x1 ), . . . , f ( xk ) . Se y K , ent˜ao y xj < δ xj , para algum j e f (y) > f (xj ) 1 m 1. Etapa 2: Provemos que existe x0 K tal que f (x0 ) f (x) para todo x K . Seja l = inf f (K ) (l R pela etapa 1) e suponha l / f (K ). Ent˜ao l < f (x), x K . Para cada x K , considere lx R tal que l < lx < f (x) e defina I x = ]lx , + [. Ent˜ao f −1 (I x ) x∈K ´e cobertura aberta de K . Como K ´e compacto, existem, x1 , x2 , . . . , xk tais que
∈
∈ ∞
∀ ∈
⊂ k
K
f −1 (I xj )
j =1
Seja l = min lx1 , . . . , lxk . Ent˜ao l > l e se x K , ent˜ao f (x) I xj para algum 1 j k, o que implica f (x) > lxj l > l. Portanto
{ } ∈ ≤ ≤ ≥ f (x) ≥ l > l ∀x ∈ K ⇒ inf f (K ) ≥ l > l
∈
e temos uma contradi¸c˜ao. Corol´ario 4.38: Seja f : Rn c˜ ao scs e K R fun¸ Rn conjunto compacto. Ent˜ ao existe x 0 K tal que f (x0 ) = max f (K ).
∈
→
⊂
Exerc´ıcios Exerc´ıcio 4.1. Sejam f 1 e f 2 duas fun¸co˜es de Rn em R e considere g: Rn R definida por g (x) = max f 1(x), f 2 (x) . Prove se verdadeira ou dˆe contra-exemplo se falsa:
→
{
}
Limites e Continuidade
49
a) Se f 1 e f 2 s˜ao cont´ınuas, ent˜ao g ´e cont´ınua. b) Se g ´e cont´ınua, ent˜ao f 1 e f 2 s˜ao cont´ınuas. c) Sejam f 1 , f 2 , . . . , f k fun¸c˜oes cont´ınuas de R n em R. Defina f por f (x) = max f 1 (x), . . . , fk (x) . 1≤i≤k
{
}
As mesmas afirmativas de (a) e (b). Exerc´ıcio 4.2. Demonstre os Teoremas 4.3, 4.4, o Corol´ario 4.5 e os Lemas 4.6 e 4.18. Exerc´ıcio 4.3. Diz-se que uma fun¸ca˜o f : Rn e aberta se f (U ) Rm ´ m n ´e aberto de R para todo U R aberto. Seja f : Rn Rn uma fun¸ca˜o invers´ıvel tal que f −1 ´e cont´ınua. Mostre que f ´e aberta.
→
⊂
→
Exerc´ıcio 4.4. a) Sejam A e B subconjuntos de Rn e f : A B uma fun¸c˜ao bijetora. Se A ´e compacto e f ´e cont´ınua, mostre que f −1 : B A ´e cont´ınua. b) Sejam A e B subconjuntos abertos de Rn e f : A B uma −1 fun¸ca˜o bijetora e cont´ınua. Mostre que f : B A ´e cont´ınua. c) Dˆe exemplo com A, B R e f : A B bijetora e cont´ınua tal −1 que f : B A n˜ao ´e cont´ınua. Fa¸ca o mesmo com A, B R2 .
−→
⊂
−→
−→
−→
−→
−→
Exerc´ıcio 4.5. Seja f : Rn
→ R uma fun¸c˜ao cont´ınua tal que lim f (x) = + ∞. x→ +∞
⊂
(4.9)
Mostre que existe x0 Rn tal que f (x0 ) f (x), x Obs.: Se f satisfaz (4.9), dizemos que f ´e coerciva .
∈
∀ ∈ Rn.
≤
Exerc´ıcio 4.6. Mostre que a fun¸c˜ao f : [0 , ) R definida por α f (x) = x , com 0 < α < 1 ´e H¨older cont´ınua de ordem α.
∞ →
Exerc´ıcio 4.7. Considere f : [0, 1/e] f (x) =
0 1/
√ − ln x
→ R definida por se x = 0 se 0 < x
≤ 1/e
Mostre que f ´e uniformemente cont´ınua mas n˜ao ´e H¨older-cont´ınua.
C´ alculo Avan¸cado I
50
Exerc´ıcio 4.8. a) Mostre que se A Rn ´e um conjunto aberto e convexo e f : A e uma fun¸ca˜o convexa, ent˜ao f ´e cont´ınua. Mostre que o R ´ resultado ´e falso se A n˜ ao for aberto. R fun¸ b) Seja f : [a, b] c˜ao convexa. Mostre que f ´e semicont´ınua superiormente em [a, b]. c) Dˆe um exemplo de uma fun¸c˜ao convexa definida na bola B = x 1 que n˜ao seja semicont´ınua superiormente R2 ; x 2 em B .
⊂
→
→
{ ∈
≤ }
{ ∈ Rn | f (x) ≤ r} ´e
Exerc´ıcio 4.9. Prove que o conjunto N r = x convexo se f ´e fun¸ca˜o convexa.
Exerc´ıcio 4.10. Seja Ω R n um conjunto aberto e convexo. Uma fun¸ca˜o f : Ω ]0, [ ´e dita log-cˆoncava em Ω se a fun¸ca˜o log f (x) ´e cˆoncava em Ω. a) Prove que toda fun¸c˜ao log-cˆoncava ´e cont´ınua. b) Prove que f ´e log-cˆoncava f λx+ (1 λ)y f (x)λ f (y)(1−λ) , x, y Rn , λ [0, 1]. c) Prove que o conjunto N r = x R n f (x) r ´e convexo se f ´e log-cˆoncava. d) Toda fun¸ ca˜o log-cˆoncava ´e cˆoncava? Toda fun¸c˜ao cˆoncava ´e logcˆoncava?
⊂
→ ∞
∀ ∈
⇔ { ∈
∀ ∈
−
|
≥
≥ }
Exerc´ıcio 4.11. Seja f : Rn R uma fun¸c˜ao estritamente convexa , isto ´e, f tx1 +(1 t)x2 < tf (x1 )+(1 t)f (x2), para todo x1 , x2 Rn e para todo t ]0, 1[. Mostre que se f ´e coerciva (veja (4.9)), ent˜ao existe um u ´ nico x 0 Rn tal que f (x0 ) f (x), x Rn .
∈
−
∈
→
−
∈
≤
∀ ∈
⊂ Rn conjunto convexo e fechado. a) Mostre que ∀x ∈ R n , existe um ´unico y ∈ C tal que x − y 2 ≤ z − x2, ∀z ∈ C .
Exerc´ıcio 4.12. Seja C
(y = P C (x) ´e denominado a proje¸c˜ ao ortogonal de x sobre C . Temos assim definida a aplica¸c˜ao P C : Rn x
b) Mostre que y = P C (x)
→ Rn → P C (x) ⇐⇒ x − y ; z − y ≤ 0, ∀z ∈ C .
(4.10)
Limites e Continuidade
51
c) Use o item (b) para mostrar que P C satisfaz
P C (x) − P C (y)22 ≤ x − y; P C (x) − P C (y)
e conclua que P C ´e Lipschitz-cont´ınua em Rn . d) Verifique que os argumentos dos itens anteriores continuam v´alidos para qualquer norma que provenha de um produto escalar. e) Mostre que x R n , existe (n˜ao necessariamente ´unico) y C tal que x y 1 z x 1 , z C . Analogamente, existe (n˜ ao necessariamente ´unico) y C tal que x y ∞ z x ∞ , z C .
∀ ∈
∀ ∈ − ≤ − ∀ ∈ ∈
∈ − ≤ −
m Exerc´ıcio 4.13. Considere Rn munido da norma ∗ e R n munido da norma ( Rm , • ) definida por • . Seja f : (R , ∗) f (x) = Ax, onde A ´e matriz (m n). Defina
→
× M A = sup{f (x)• ; x∗ = 1}, mA = inf {C ≥ 0; f (x)• ≤ C x∗ }. 1. Prove que M A = mA = f (x0 )• para algum vetor unit´ario x0 ∈ Rn ;
2. Prove as seguintes propriedades: a) M A+B M A + M B ; b) M λA = λ M A ; c) M A 0 e M A = 0 A = 0. d) Mostre que se m = n e ao M AB M A M B . • = ∗ , ent˜ Em particular, se A ´e invers´ıvel, ent˜ao M A 1 1/M A . 3. Calcule M A nos seguintes casos: a) A: (Rn , ∞ ) (Rm , ∞ ) b) A: (Rn , 1 ) ( Rm , 1 ) c) A: (Rn , 1 ) ( Rm , ∞ ) Defini¸c˜ao: Denotando
≥
≤ ||
→ → →
⇐⇒ ·
·
−
≥
≤
A = M A,
(4.11)
temos definida uma norma no espa¸co vetorial das matrizes e vale a desigualdade Ax • A x ∗ x Rn . A norma definida por (4.11) ´e denominada norma induzida pelas normas ∗ e •
≤ ∀ ∈
C´ alculo Avan¸cado I
52
Exerc´ıcio 4.14. Se V ´e um espa¸co vetorial normado, o espa¸co das fun¸co˜es lineares cont´ınuas de V em R, ´e denominado espa¸co dual de V e denotado por V ′ . Seja V = Rn munido da norma [1, + ]. Mostre que V ′ p , com p n pode ser identificado a R e, para todo y R n , y V = y q , onde q [1, + ] satisfaz 1/p + 1/q = 1 (q = 1 se p = + e vice-versa).
∈
∞
∈ ∞ ∈ ∞
′
× n e defina a fun¸c˜ao f : Rn → Rm
Exerc´ıcio 4.15. Seja A matriz m por f (x) = Ax. Mostre que
⇐⇒ ∃k > 0 tal que f (x) ≥ k x , ∀x ∈ Rn . Exerc´ıcio 4.16. Seja M2 o espa¸co das matrizes quadradas 2 × 2 a f ´e injetora
coeficientes reais, com alguma norma. Seja det:
M2
a11 a21
a12 a22
−→ →
R
a11 a22
− a21a12
a) Mostre que det ´e cont´ınua. b) Mostre que S = A e aberto e n˜ao conexo. 2 ; det A = 0 ´ c) Seja f : S c˜ao definida por f (X ) = X −1 . Mostre que 2 a fun¸ f ´e cont´ınua em S . Sug.: X −1 X 0−1 = X −1 (X 0 X )X 0−1 .
→ M
{ ∈ M
}
−
−
Exerc´ıcio 4.17. Seja f : Rn c˜ao cont´ınua e defina Rm fun¸ n x R ; f (x) = 0 . Mostre que (f ) ´e fechado em Rn .
∈
→
Exerc´ıcio 4.18. Seja f : Rn
Z
Z (f ) =
→ R cont´ınua em 0 e tal que f (x + y) = f (x) + f (y), ∀x, y ∈ Rn . Mostre que existe a ∈ Rn tal que f (x) = a; x, ∀x ∈ Rn . Exerc´ıcio 4.19. Seja f : Rn → R cont´ınua tal que para todo x, y ∈ n R ,
f
≤ x+y 2
f (x) + f (y) . 2
Mostre que f ´e convexa.
Exerc´ıcio 4.20. Seja f : Rn ca˜o e considere seu Rm uma fun¸ gr´afico G(f ) = (x, y) Rn+m ; y = f (x), x Rn .
−→
{
∈
∀ ∈ }
Limites e Continuidade
53
a) Mostre que se f ´e cont´ınua, ent˜ao G(f ) ´e fechado em R n+m . b) Mostre que se G(f ) ´e fechado e f ´e limitada, ent˜ao f ´e cont´ınua. Rn+m ; y = f (x), x c) Considere G(f K ) = (x, y) K . Mostre que se f ´e cont´ınua e K ´e compacto em Rn , ent˜ao G(f K ) ´e compacto em R n+m .
|
{
∈
Exerc´ıcio 4.21. Seja f : Rn
∀ ∈ } |
−→ Rn tal que f k = f ◦ f ◦ · · · ◦ f ´e
k vezes
uma contra¸ca˜o. Mostre que f possui um ´unico ponto fixo. Exerc´ıcio 4.22. Verdadeiro ou falso? 1) f e g contra¸c˜oes f g contra¸ca˜o. 2) f f contra¸c˜ao f contra¸c˜ao.
⇒ ◦ ⇒
◦
Exerc´ıcio 4.23. Seja f (x, y) = ( x3 y4 + 3 , x2 + y2 8). Mostre que f n˜ ao ´e contra¸c˜ao na norma e contra¸c˜ao na norma ∞ mas ´ 1. Portanto f possui um u ´ nico ponto fixo. Calcule-o.
Exerc´ıcio 4.24. Seja g: [a, b] f : X [a, b]. Mostre que
→
−
−
→ R fun¸ca˜o cont´ınua e crescente e
sup g f (x) = g sup f (x) . x
Exerc´ıcio 4.25. Seja f : R A R conjunto limitado. a) Mostre que
⊂
sup f (x) x∈A
x
→ R uma fun¸c˜ao mon´otona crescente e
≤ f (sup A)
e
≤ x∈A inf f (x).
f (inf A)
b) Mostre que se f ´e sci ent˜ao sup f (x) = f (sup A). x∈A
{ }k seq¨uˆencia de n´umeros reais e defina: lim inf sk = lim inf {sk , sk+1 , sk+2 , . . .}. k→+∞ k→+∞
Exerc´ıcio 4.26. Seja sk
C´ alculo Avan¸cado I
54
Rn R, x0 Seja f : A A A ′ . Mostre que f ´e semicont´ınua inferiormente em x 0 se e somente se
⊂
→
f (x0 )
∈ ∩
≤ liminf f (xk ) ∀{xk }k ⊂ A tal que xk → x0 . k→+∞ ⊂
Exerc´ıcio 4.27. Prove usando argumento de seq¨uˆencias que se K e compacto e f : Rn e fun¸c˜ao sci, ent˜ao existe x 0 K tal que Rn ´ R´ f (x0 ) = min f (x) ; x K .
→ ∈ }
{
∈
−∞
a) Prove que l = inf f (K ) > b) Prove que se l = inf f (K ) ent˜ao l
{ }α uma fam´ılia de fun¸co˜es s.c.i. de Rn em
Exerc´ıcio 4.28. Seja f α R. Defina f : Ω R por:
→
∈ f (K ).
{ ∈ Rn;sup f α (x) < ∞} α ∀x ∈ Ω, f (x) = sup f α (x) α
Ω= x
a) Mostre que f ´e semicont´ınua inferiormente em Ω. b) Se f α ´e cont´ınua α, podemos concluir que f ´e cont´ınua? c) Se f α ´e fun¸c˜ao convexa α, mostre que f ´e convexa.
∀
∀
5 Fun¸c˜ oes Diferenci´ aveis Vamos iniciar o estudo da diferenciabilidade no caso das fun¸c˜oes reais de n vari´aveis, isto ´e, fun¸c˜oes f : Rn R.
→
Derivadas Direcionais Defini¸c˜ ao 5.1: Seja x 0 Rn e u um vetor unit´ario de R n . Dizemos que f possui derivada direcional em x 0 na dire¸c˜ao u se existe o limite
∈
f (x0 + λu) λ→0 λ lim
− f (x0 ) ,
denominado derivada direcional de f (em x0 na dire¸c˜ao u) e denotada por: ∂f (x0 ). ∂u No caso em que u = e i ´e o i-´esimo vetor da base canˆonica, denotamos a derivada direcional na dire¸ca˜o de e i por ∂f (x0 ), ∂x i que denominamos derivada parcial de f em x 0 em rela¸cao ˜ a x i . Defini¸c˜ ao 5.2: Uma fun¸ca˜o f : Rn e dita Gateaux deriv´avel em R´ x0 se f possui derivadas direcionais em x 0 em todas as dire¸co˜es u.
→
Observa¸c˜ ao: As derivadas direcionais podem parecer, `a primeira vista, a generaliza¸ca˜o natural para a defini¸c˜ao de derivada de uma
C´ alculo Avan¸cado I
56
fun¸ca˜o real de uma vari´ avel. Entretanto, a existˆencia das derivadas direcionais n˜ ao assegura a regularidade de f em torno de x0 , como no caso de uma vari´avel (caso n = 1). De fato, contrariamente ao caso unidimensional, uma fun¸c˜ao que ´e Gateaux-diferenci´avel num ponto x0 n˜ ao ´e necessariamente cont´ınua neste ponto. Por exemplo, consideremos f (x, y) =
xy 2 x2 + y 4 0
se (x, y) = (0, 0) sen˜ao
Figura 5.1 Se u = (u1 , u2 ) ´e um vetor unit´ario qualquer, ent˜ao
−
∂f f (λu) f (0) (0, 0) = lim = λ→0 ∂u λ
u 22 u1 0
se u 1 = 0,
sen˜ao.
Entretanto, f n˜ ao ´e cont´ınua em (0, 0). De fato, f (t2 , t) = 1/2, t = 0.
∀
Fun¸co ˜es Diferenci´ aveis No que segue consideraremos Ω Rn um conjunto aberto, norma euclidiana de R n e f : Ω ˜o. R uma fun¸ca
⊂ →
a
Defini¸c˜ ao 5.3: Dizemos que f ´e diferenci´avel (ou Fr´echet-deriv´avel) em x 0 Ω se existem fun¸co˜es L, εx0 : Rn R tais que
∈
→
f (x0 + h) = f (x0 ) + L(h) + εx0 (h),
(5.1)
Fun¸c˜ oes Diferenci´aveis
57
com L linear e ε x0 satisfazendo
|εx (h)| = 0. h→0 h lim
0
(5.2)
Se εx0 (h) satisfaz (5.2), dizemos que ε x0 ´e fun¸ca˜o o( h ). Para simplificar a nota¸ca˜o, escreveremos simplesmente ε(h), deixando de explicitar a dependˆencia de ε em x 0 . Se f ´e fun¸c˜ao diferenci´avel em x0 , ent˜ao a transforma¸ca˜o linear L ´e denominada diferencial de f em x0 (ou a derivada de Fr´echet de f em x 0 ) e denotamos f ′ (x0 ). Exemplos 1: Consideremos f (x, y) = xy. Se h = (h1 , h2 ), ent˜ao f (x0 + h1 , y0 + h2 ) = x 0 y0 + y0 h1 + x0 h2 + h1 h2 . Como L(h) = y 0 h1 + x0 h2 ´e linear e ε(h) = h1 h2 satisfaz
|ε(h)|/h ≤ h /2 → 0
→ 0,
se h
temos que f ´e diferenci´avel em (x0 , y0 ) e f ′ (x0 , y0 )(h) = y 0 h1 + x0 h2 . Exemplo 2: Consideremos f (x, y) = x/y, y = 0. Ent˜ ao podemos escrever
f (x0 + h1 , y0 + h2 ) =
x0 1 + 2 (y0 h1 y0 y0
0 h2 − y 0 h1 ) . − x0h2) + h 2(x 2 y (y0 + h2 ) 0
Como L(h) = (1/y02 )(y0 h1 x0 h2 ) ´e linear em h e a fun¸c˜ao ε(h) = h2 (x0 h2 y0 h1 )/y02(y0 + h2 ) satisfaz
−
−
|ε(h)| ≤ x20 + y02 h → 0 h y02(y0 + h2)
se
h
→ 0,
temos que f ´e diferenci´avel em (x0 , y0 ) e f ′ (x0 , y0 )h =
1 (y0 h1 y02
− x0h2).
Exemplo 3: Seja f : Rn ao linear. Ent˜ao f (x0 + h) = R uma fun¸c˜ f (x0 ) + f (h). Se considerarmos ε(h) = 0 para todo h Rn , ent˜ao
→
∈
C´ alculo Avan¸cado I
58
a identidade (5.1) fica satisfeita com L(h) = f (h), o que nos leva a concluir que f ´e diferenci´avel em x 0 e f ′ (x0 ) f . Exemplo 4: Consideremos f : Rn Ent˜ao
≡
→ R definida por f (x) = x22.
f (x0 + h) = x0 + h 22 = x0 22 + 2x0 ; h + h 22 .
Como a aplica¸c˜ao h → 2x0 ; h ´e linear e ε(h) = h22 satisfaz |ε(h)| = h2 → 0 se h → 0, h 2 segue que f ´e diferenci´avel em x 0 e f ′ (x0 )(h) = 2x0 ; h.
O resultado a seguir estabelece a unicidade da diferencial de uma fun¸ca˜o. Lema 5.4: Se f ´e fun¸c˜ ao diferenci´avel em x0 diferenciais de f , ent˜ ao L 1 = L 2 . Prova: Suponhamos que para todo h
∈ Ω e L1 e L2 s˜ ao
∈ Rn,
f (x0 + h) = f (x0 ) + L1 (h) + ε1 (h) f (x0 + h) = f (x0 ) + L2 (h) + ε2 (h)
(5.3)
com L 1 e L 2 lineares e ε1 e ε 2 fun¸c˜oes o( h ). Ent˜ao, subtraindo a primeira identidade da segunda em (5.3), temos L1 (h)
− L2(h) = ε2(h) − ε1(h).
Considerando h = λei , onde λ > 0, temos
|ε2(λei)| . i )| |L1(ei) − L2(ei)| ≤ |ε1(λe + λ λ Fazendo λ tender a zero, conclu´ımos que L1 (ei ) = L2 (ei ) para i = 1, . . . , n. Portanto L 1 L 2 .
≡
Exemplo 5: Seja f : R2 f (x, y) =
→ R a fun¸c˜ao definida por (veja Figura 5.2) |x|y se (x, y) = (0, 0),
x2 + y 2 0
sen˜ao.
Fun¸c˜ oes Diferenci´aveis
59
´ f´ E acil ver (veja Exerc´ıcios) que f ´e cont´ınua e Gateaux-deriv´avel em (0, 0). No entanto, f n˜ ao ´e diferenci´avel em (0, 0).
Figura 5.2 Exemplo 6: Seja f : R2 f (x, y) =
→ R a fun¸c˜ao definida por (veja Figura 5.3) 2y |x|x2 se (x, y) = (0, 0),
x4 + y 2 0
sen˜ao.
´ f´ E acil ver (veja Exerc´ıcios) que f ´e cont´ınua e Gateaux-deriv´avel em (0, 0), com ∂f ario u R2 . No entanto, ∂u (0, 0) = 0 para todo vetor unit´ f n˜ ao ´e diferenci´avel em (0, 0).
∈
Figura 5.3 Proposi¸ ca ˜o 5.5: Se f ´e diferenci´avel em x 0 em x 0 .
∈ Ω, ent˜ ao f ´e cont´ınua
C´ alculo Avan¸cado I
60
Prova: Segue da defini¸c˜ao que f (x0 + h) = f (x0 ) + L(h) + ε(h), onde ε(h) ´e o( h ). Portanto, existe δ 1 > 0 tal que se h < δ 1 , ent˜ao
|ε(h)| < 1. h Como L ´e linear, segue da Proposi¸ca˜o 4.22 que existe α 0 tal que L(h) α h , h Rn . Dado ε > 0, seja δ = min δ 1 , ε/(1 + α) . Ent˜ao se x Ω ´e tal que x x0 < δ , temos
|
| ≤ ∀ ∈ { ∈ − |f (x) − f (x0)| ≤ (1 + α)x − x0 < ε.
≥
}
O Vetor Gradiente Embora a existˆencia das derivadas parciais de uma dada fun¸c˜ao n˜ ao implique a sua diferenciabilidade, a diferencial quando existe, ´e dada pelas derivadas parciais, como veremos a seguir. Se L: Rn e fun¸c˜ao linear, ent˜ao existe b Rn tal que L(h) = R ´ b; h para todo h Rn . De fato, seja e1 , . . . , en a base canˆonica de R n e b i = L(ei ). Ent˜ao,
→
∈
{
n
L(h) = L
∈
}
n
hi ei =
i=1
hi bi = b; h .
i=1
Dizemos que b ´e a representa¸c˜ ao matricial de L relativamente `a base canˆonica. Seja L = f ′ (x0 ) a diferencial de uma fun¸c˜ao f . Ent˜ao, L(h) = b; h para algum b Rn e para todo h Rn . Considerando h = λei temos da defini¸c˜ao 5.3
∈
∈
−
f (x0 + λei ) f (x0 ) ε(λei ) = L(ei ) + . λ λ Fazendo λ tender a zero, conclu´ımos que f (x0 + λei ) λ→0 λ
L(ei ) = lim
− f (x0) =
∂f (x0 ). ∂x i
Fun¸c˜ oes Diferenci´aveis
61
Nota¸ c˜ ao: O vetor de R n
∇f (x0 ) =
∂ f ∂f (x0 ), . . . (x0 ) ∂x 1 ∂x n
´e denominado vetor gradiente de f em x0 e ´e tal que se f ´e fun¸ca˜o diferenci´ avel em x 0 , ent˜ao f ′ (x0 )(h) =
∇
f (x0 ); h ,
∀h ∈ Rn.
Vale repetir que a existˆencia do vetor gradiente n˜ao implica a diferenciabilidade de uma fun¸c˜ao, mas se a fun¸ca˜o for diferenci´avel ent˜ao o vetor gradiente ´e a representa¸c˜ao matricial de f ′ (x0 ) relativamente `a base canˆonica de R n . Observa¸c˜ ao: No caso unidimensional (n = 1), n˜ao existe distin¸ca˜o entre deriv´avel no sentido de Gateaux e deriv´ avel no sentido de Fr´echet. De fato, se f : R e deriv´avel em x0 , ent˜ao podemos R ´ escrever f (x0 + ∆x) = f (x0 ) + f ′ (x0 )∆x + ε(∆x)
→
e a aplica¸c˜ao linear ∆x f ′ (x0 )∆x fica unicamente determinada pela existˆencia da derivada de f em x 0 .
→
Regras B´ asicas de Deriva¸c˜ ao Proposi¸ c˜ ao 5.6: Sejam f , g: Ω R duas fun¸c˜ oes diferenci´aveis em x0 . Ent˜ ao a) f + g ´e diferenci´avel em x 0 e (f + g)′ (x0 ) = f ′ (x0 ) + g ′ (x0 ); b) f g ´e diferenci´avel em x 0 e (f g)′ (x0 ) = f (x0 )g ′ (x0 )+g(x0 )f ′ (x0 ); c) se g (x0 ) = 0 ent˜ ao f /g ´e diferenci´avel em x 0 e
→
(f /g)′ (x0 ) =
1 g(x0 )f ′ (x0 ) g(x0 )2
− f (x0)g′(x0 ) .
Prova: Faremos a demonstra¸c˜ao de (b); os outros itens s˜ao deixados como exerc´ıcio para o leitor. Por hip´otese temos; f (x0 + h) = f (x0 ) + L(h) + ε1 (h), g(x0 + h) = g(x0 ) + G(h) + ε2 (h),
C´ alculo Avan¸cado I
62
onde estamos denotando L = f ′ (x0 ) e G = g ′ (x0 ). Ent˜ ao podemos escrever f (x0 + h)g(x0 + h) = f (x0 )g(x0 ) + f (x0 )G(h) + g(x0 )L(h) + E (h), onde
E (h) = f (x0 ) + L(h) ε2 (h) + g(x0 ) + G(h) ε1 (h) + + L(h)G(h) + ε1 (h)ε2 (h).
→
|
|
Como a aplica¸c˜ao h f (x0 )G(h) + g(x0 )L(h) ´e linear e E (h) / h tende a zero quando h tende a zero, segue-se o resultado.
Observa¸c˜ ao: Usando a representa¸c˜ao matricial para a diferencial, podemos expressar os trˆes itens da Proposi¸ca˜o 5.6 por
∇(f + g)(x0 ) = ∇f (x0) + ∇g(x0 ) ∇(f g)(x0) = g(x0 )∇f (x0 ) + f (x0)∇g(x0 ) ∇(f /g)(x0) = g(x10 )2 g(x0)∇f (x0 ) − f (x0)∇g(x0 )
O Caso Geral Antes de definirmos a diferencial de uma fun¸c˜ao f : Ω ´ lembremos alguns fatos b´asicos da Algebra Linear.
⊂ Rn → Rm,
Rm ´ Observa¸c˜ao 1: Se L: Rn e uma transforma¸c˜ao linear, fixadas n as bases canˆonicas de R e Rm , existe uma matriz m n A = [aij ] tal que L(x) = Ax, x Rn .
→
×
∀ ∈
Dizemos que A ´e a matriz associada `a transforma¸c˜ao L ou representa¸c˜ao matricial (ou representa¸c˜ao em coordenadas) de L relativamente `a base canˆonica. Representaremos a matriz associada a uma transforma¸c˜ao L por [L]. Observa¸c˜ao 2: Se L1 : Rn ao duas transRm e L2 : Rm Rk s˜ n forma¸c˜oes lineares, ent˜ao podemos definir L 2 L1 : R Rk e
→
[L2 L1 ] = [L2 ][L1 ].
◦
→ ◦
→
Fun¸c˜ oes Diferenci´aveis
63
Rm ´ Defini¸c˜ ao 5.7: Uma fun¸ca˜o f : Ω e dita diferenci´avel (ou Rm Fr´echet-deriv´avel) em x0 Ω se existem fun¸c˜oes L, εx0 : Rn tais que f (x0 + h) = f (x0 ) + L(h) + εx0 (h), (5.4)
→
∈
→
εx (h) = 0. lim h→0 h
com L linear e ε x0 fun¸c˜ao o( h ), isto ´e, satisfazendo (5.5)
0
Para simplificar a nota¸c˜ao, escreveremos simplesmente ε(h), deixando de explicitar a dependˆencia de ε em x 0 . Se f ´e fun¸c˜ao diferenci´avel em x0 , ent˜ao a transforma¸ca˜o linear L ´e denominada a diferencial de f em x 0 (ou a derivada de Fr´echet de f em x 0 ) que denotamos por f ′ (x0 ). Lema 5.8: Uma fun¸cao Rm , f = (f 1 , . . . , fm ˜ f : Ω ) ´e diferenci´avel R ´ em x0 se e somente se cada uma de suas componentes f i : Ω e diferenci´ avel em x 0
→
→
Prova: Se cada f i ´e diferenci´avel em x 0 , ent˜ao existem fun¸c˜oes L i e εi satisfazendo (5.1) tais que Li ´e linear e
|εi(h)| = 0. h→0 h lim
Sejam L = (L1 , . . . , Lm ) e ε = (ε1 , . . . , εm ). Ent˜ao, ´e claro que f (x0 + h) = f (x0 ) + L(h) + ε(h) e segue do Teorema 4.13 que
ε(h) ≤ C ε(h)1 = C m |εi(h)| → 0 h h h i=1
se
→ 0.
h
Reciprocamente, se f ´e diferenci´avel em x0 , ent˜ao existem fun¸c˜oes L = (L1 , . . . , Lm ) linear e ε = (ε1 , . . . , εm ) satisfazendo (5.4) e (5.5). Como cada L i ´e linear e
|εi(h)| ≤ ε(h)1 , h h temos o resultado.
C´ alculo Avan¸cado I
64
A Matriz Jacobiana Rm ´ Se f : Ω e uma fun¸c˜ao diferenci´avel em x0 Ω, ent˜a o sua diferencial (ou sua derivada de Fr´echet) f ′ (x0 ) ´e uma transforma¸ca˜o linear de Rn em Rm . A matriz associada a f ′ (x0 ) relativamente `as bases canˆonicas de R n e Rm ´e dada por
→
∈
f ′ (x0 ) =
∂f 1 (x ) ∂x 1 0 .. . ∂f m (x ) ∂x 1 0
∂f 1 (x ) . . . ∂x 2 0 .. .. . . ∂f m (x ) . . . ∂x 2 0
∂f 1 (x ) ∂x n 0 ... ∂f m (x ) ∂x n 0
Observe que as linhas de [f ′ (x0 )] s˜ao formadas pelos gradientes de cada f i em x 0 . No caso em que m = n a matriz f ′ (x0 ) ´e denominada matriz Jacobiana de f em x0 . O seu determinante ´e denominado Jacobiano de f em x0 e o seu tra¸co ´e denominado Divergente de f em x0 , que denotamos respectivamente por
n
J f (x0 ) = det f ′ (x0 ) e
div f (x0 ) = tr f ′ (x0 ) =
i=1
∂f i (x0 ). ∂x i
Observa¸c˜ ao: Se J f (x0 ) = 0, ent˜ao a matriz f ′ (x0 ) ´e invers´ıvel. Como f ′ (x0 ) aproxima f (x) f (x0 ) na vizinhan¸ca de x0 , seria razo´avel esperar que f tamb´em fosse invers´ıvel nas proximidades de x0 . De fato ´e quase isso, como veremos mais `a frente no estudo do Teorema da Fun¸c˜ ao Inversa . O Jacobiano e o Divergente tamb´em desempenham papel importante na integra¸c˜ao de fun¸co˜es de v´arias vari´aveis.
−
A Regra da Cadeia A regra para derivar fun¸c˜oes compostas ´e tradicionalmente denominada Regra da Cadeia , embora em portuguˆes talvez fosse mais intuitivo denominar regra da corrente , tendo-se em vista a analogia da regra com a composi¸c˜ao dos elos que formam a corrente.
Fun¸c˜ oes Diferenci´aveis
65
Teorema 5.9: (Regra da Cadeia) Sejam Ω subconjunto aberto de Rn e A subconjunto aberto de Rm . Suponha f : Ω Rm e g: A Rk duas fun¸coes ˜ tais que f (Ω) A. Se f ´e diferenci´avel em x0 e g ´e diferenci´ avel em y 0 = f (x0 ), ent˜ ao g f ´e diferenci´avel em x 0 e
⊂
→
→
◦
(g f )′ (x0 ) = g ′ (y0 ) f ′ (x0 ).
◦
◦
Em particular
(g f )′ (x0 ) = g ′ (y0 ) f ′ (x0 ) .
◦
Prova: Sejam L = f ′ (x0 ) e G = g ′ (y0 ). Ent˜ao f (x0 + h) = f (x0 ) + L(h) + εf (h) g(y0 + k) = g(y0 ) + G(k) + εg (k)
∀h ∈ Rn ∀k ∈ Rm
onde ε f e ε g satisfazem (5.5). Portanto, podemos escrever
g f (x0 + h) = g f (x0 ) + G L(h) + ε(h), onde ε: Rn Al´em disso,
→ Rk ´e definida por ε = G ◦ εf + εg ◦ (L + εf ).
ε(h) ≤ G εf (h) + εg L(h) + εf (h) . h h h Pela Proposi¸ca˜o 4.22, podemos escrever
ε(h) ≤ α εf (h) + εg (k) k , h h k h onde k = L(h) + εf (h). Como k α h + εf (h) , temos
≤ ε(h) ≤ α εf (h) + εg (k) α + εf (h) . h h k h e conclu´ımos o resultado, visto que k → 0 quando h → 0.
C´ alculo Avan¸cado I
66
O Teorema do Valor M´ edio O Teorema do Valor M´edio se estende para o caso de fun¸c˜oes de R n em R e sua demonstra¸c˜ao ´e conseq¨uˆencia direta da Regra da Cadeia, como se vˆe na prova do resultado a seguir. Teorema 5.10: Seja f : Rn R uma fun¸cao ˜ diferenci´avel e x 1 e x2 dois pontos de Rn . Ent˜ ao existe x sobre o segmento de reta que liga x1 a x2 tal que
→
f (x2 )
− f (x1) = ∇f (x); x2 − x1 . Prova: Consideremos γ : R → Rn a parametriza¸c˜ao γ (t) = x1 + ´ f´acil ver que γ ´e fun¸ca˜o t(x2 − x1 ) da reta que passa por x 1 e x 2 . E ′ diferenci´ avel e γ (t0 ) = x 2 − x1 para todo t 0 ∈ R. Seja g : R → R a fun¸c˜ao real definida pela composi¸ca˜o g(t) = f γ (t) . Pelo Teorema 5.9, g ´e fun¸c˜ao deriv´avel e g ′ (t) = ∇f γ (t) ; x2 − x1 . Pelo Teorema do Valor M´edio para fun¸co˜es reais de vari´avel real, g(1) − g(0) = g ′ (t0 ) para algum t0 ∈ 0, 1 . Assim denotando por
x = γ (t0 ), segue o resultado.
Observa¸c˜ ao: O Teorema do Valor M´edio n˜ao vale para fun¸co˜es n f : R ao vale para curvas em Rm , se m > 1. Em particular, n˜ m R .
→
Derivadas Parciais (o caso geral) Seja f : Rn c˜ao diferenci´avel em x0 . Ent˜ao a diferencial Rm uma fun¸ ′ f (x0 ) fica determinada pela matriz f ′ (x0 ) . Se Rn = Rk Rl e x = (y, z) = (y1 , . . . , yk , z1 , . . . , zl ), ent˜ao podemos escrever
→ ×
f ′ (x0 ) =
∂f 1 (x0 ) ∂y 1 .. . ∂f m (x0 ) ∂y 1
··· ..
.
···
∂f 1 (x0 ) ∂y k ... ∂f m (x0 ) ∂y k
∂f 1 (x0 ) ∂z 1 .. . ∂f m (x0 ) ∂z 1
··· ..
.
···
∂f 1 (x0 ) ∂z l ... ∂f m (x0 ) ∂z l
Se considerarmos os blocos B e C definidos respectivamente por
Fun¸c˜ oes Diferenci´aveis
∂f 1 (x0 ) ∂y 1 .. . ∂f m (x0 ) ∂y 1
··· ..
.
···
67
∂f 1 (x0 ) ∂y k , ... ∂f m (x0 ) ∂y k
∂f 1 (x0 ) ∂z 1 .. . ∂f m (x0 ) ∂z 1
··· ..
.
···
∂f 1 (x0 ) ∂z l ... ∂f m (x0 ) ∂z l
∈ Rk × Rl, temos
ent˜ao para todo h = (h1 , h2 )
f ′ (x0 )h = Bh1 + Ch 2 . As transforma¸c˜oes lineares associadas `as submatrizes B e C s˜ao denominadas derivadas parciais de f em rela¸c˜ao respectivamente a y e z em x 0 e denotamos
∂f B = (x0 ) , ∂y
C =
∂f (x0 ) . ∂z
Com esta nota¸c˜ao podemos escrever ∂f ∂ f (x0 )h1 + (x0 )h2 . ∂y ∂z
f ′ (x0 )h =
Com a nota¸ca˜o das derivadas parciais, a Regra da Cadeia toma a seguinte forma Teorema 5.11: Seja f : Rk Rl c˜ ao diferenci´avel em Rm uma fun¸ n1 k n2 l (x0 , y0 ). Sejam ϕ: R c˜ oes diferenci´aveis R e ψ: R R fun¸ tais que ϕ(u0 ) = x0 e ψ(v0 ) = y0 . Ent˜ ao g: Rn1 +n2 Rm definida por g (u, v) = f ϕ(u), ψ(v) ´e diferenci´avel em (u0 , v0 ) e
× →
→
∂f g (u0 , v0 ) = (x0 , y0 ) ∂x
′
→
→
∂ϕ ∂f (u0 ) + (x0 , y0 ) ∂u ∂y
∂ψ (v0 ) . ∂v
C´ alculo Avan¸cado I
68
Condi¸c˜ oes Suficientes para a Diferenciabilidade Pelo que vimos at´e agora, s´o dispomos da defini¸c˜ao para verificar se uma dada fun¸ca˜o ´e diferenci´avel. O Teorema a seguir fornece uma condi¸ca˜o suficiente para a diferenciabilidade de uma dada fun¸ca˜o. Teorema 5.12: Seja Ω R n aberto e f : Ω c˜ ao cujas R uma fun¸ derivadas parciais existem em Ω e s˜ ao cont´ınuas em um ponto x 0 de Ω. Ent˜ ao f ´e diferenci´avel em x 0 . ` guisa de simplicidade, faremos a demonstra¸c˜ao no caso Prova: A n = 2; o caso geral segue por argumento an´alogo. Seja h = (h1 , h2 ) = h 1 e1 + h2 e2 , tal que x0 + h Ω, onde e1 , e2 ´e a base canˆonica de R 2 . Ent˜ao
⊂
→
∈
{
}
− f (x0) = f (x0 + h) − f (x0 + h1e1) + f (x0 + h1e1) − f (x0).
f (x0 + h)
(5.6) Como f possui derivadas parciais em Ω, a fun¸c˜ao g2 (t) = f (x0 + h1 e1 + th 2 e2) ´e deriv´avel em ]0, 1[. Pelo Teorema do Valor M´edio, existe ξ 2 ]0, 1[ tal que g 2 (1) g2 (0) = g 2′ (ξ 2 ), isto ´e,
∈
−
f (x0 + h1 e1 + h2 e2)
∂f − f (x0 + h1e1) = ∂x (x0 + h1 e1 + ξ 2 h2 e2 )h2 . 2
Analogamente, a fun¸ca˜o g1 (t) = f (x0 + th1 e1 ) ´e deriv´avel em ]0, 1[. Logo, existe ξ 1 ]0, 1[ tal que
∈
f (x0 + h1 e1 )
∂f − f (x0) = ∂x (x0 + ξ 1 h1 e1 )h1 . 1
Portanto, f (x0 + h) f (x0 ) =
−
∂f ∂f (x0 + ξ 1 h1 e1 )h1 + (x0 + h1 e1 + ξ 2 h2 e2 )h2 . ∂x 1 ∂x 2
Denotando por ε(h) = +
∂ f ∂f (x0 + ξ 1 h1 e1 ) (x0 ) h1 ∂x 1 ∂x 1 ∂ f ∂f (x0 + h1 e1 + ξ 2 h2 e2 ) (x0 ) h2 , ∂x 2 ∂x 2
−
−
(5.7)
Fun¸c˜ oes Diferenci´aveis
69
temos f (x0 + h) = f (x0 ) +
∇
f (x0 ); h + ε(h).
Para concluir que f ´e diferenci´avel, basta mostrar que ε(h) ´e de ordem o( h ). Por hip´otese, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se x Bδ (x0 ), ent˜ao
∈
∂f ∂f (x) − (x0 )| < ε, | ∂x ∂x i i
i = 1, 2.
Portanto, se h < δ , segue de (5.7)
|ε(h)| < ǫ|h1| + ǫ|h2| = ǫh1 e conseq¨ uentemente,
|ε(h)| < ǫ h 1 e o resultado segue da equivalˆencia das normas em R n . Observa¸c˜ ao: Vale observar que o Teorema 5.12 d´a somente condi¸ca˜o suficiente para a diferenciabilidade. De fato, uma fun¸ca˜ o pode ser diferenci´ avel num ponto x0 , mesmo tendo suas derivadas parciais descont´ınuas em x0 . Por exemplo, consideremos f : R2 R definida por 1 2 f (x, y) = x sen x se x = 0, 0 se x = 0.
→
Ent˜ao, calculando diretamente ∂f (x, y) = ∂x
2x sen 1x 0
− cos 1x
se x = 0, se x = 0,
verifica-se que ∂f e descont´ınua nos pontos (0, y) para todo y ∂x (x, y) ´ R. Por outro lado, ´e f´acil ver (verifique!) que f ´e fun¸ ca˜o diferenci´avel ′ em (0, 0) e f (0, 0) = (0, 0).
∈
C´ alculo Avan¸cado I
70
A Fun¸c˜ ao Diferencial – Fun¸c˜ oes de Classe C1 Se f : Ω e uma fun¸c˜ao diferenci´ avel em cada ponto Rn Rm ´ x do seu dom´ınio, ent˜ ao podemos considerar a fun¸c˜ao linear f ′ (x), diferencial de f em x. Temos assim a aplica¸ca˜o
⊂
→
f ′ : Ω x
→L(Rn , Rm), →f ′(x),
onde (Rn , Rm ) denota o espa¸co de todas as aplica¸c˜oes lineares de Rn em Rm . f ′ ´ e denominada a fun¸c˜ao diferencial de f (ou fun¸c˜ao derivada de Fr´ echet de f ). Observe que, fixada uma base nos espa¸cos Rn em Rm , como por exemplo a base canˆonica, ent˜ao cada elemento T de (Rn , Rm ) pode ser representado por uma matriz [T ] de m×n .
L
L
M
Exemplo 1: Se f (x, y) = (xy,x2 + y 2 ) ent˜ao f ′ : R2 dada por y x [f ′ (x, y)] = 2x 2y
→ L(R2, R2) ´e
Exemplo 2: Se f : Rn e definida por f (x) = x 22 , ent˜ ao R ´ ′ n ′ f (x) = 2x para todo x 2I , onde I denota a R . Logo f fun¸ca˜o identidade de R n em Rn .
→ ∈
≡
Se m = 1, ent˜ao o espa¸co (Rn , R) pode ser identificado com R n (ou mais precisamente com e, (Rn , Rm ) = Rn . Neste caso, 1×n ), isto ´ R ´e fun¸ se f : Ω c˜ao diferenci´avel, podemos fazer a identifica¸c˜ao
→
L M
f ′ : Ω x
L
∼
→ Rn , → ∇f (x).
Defini¸c˜ ao 5.13: Dizemos que uma fun¸c˜ao diferenci´avel f : Ω R m ´e de Classse C 1 (ou continuamente diferenci´avel) em x0 Ω se f ′ ´e fun¸ca˜o cont´ınua em x0 . Dizemos que f ´e de classe C 1 em Ω se f ′ ´e fun¸ca˜o cont´ınua em todos os pontos de Ω.
∈
→
Como j´ a vimos anteriormente, uma fun¸c˜ao f pode possuir derivadas parciais e n˜ao ser diferenci´avel. De fato, pode nem mesmo ser cont´ınua. Entretanto, se f ´e uma fun¸c˜ao convexa e possui derivadas parciais, ent˜ao ela ´e necessariamente de classe C 1 .
Fun¸c˜ oes Diferenci´aveis
71
Teorema 5.14: Seja Ω um aberto convexo de Rn e f : Ω R uma fun¸cao ˜ convexa que possui derivadas parciais em todos os pontos de Ω. Ent˜ ao f ´e de classe C 1 .
→
Prova: Como f ´e convexa, ent˜ao
− λ)x ≤ λf (y) + (1 − λ)f (x) (5.8) para todo x, y ∈ Ω e 0 ≤ λ ≤ 1. Seja K um subconjunto compacto de Ω. Ent˜ao existe δ > 0 tal que x + sei ∈ Ω para todo x ∈ K , |s| < δ , e i = 1, 2, . . . , n, onde {e1 , . . . , en } ´e a base canˆonica de Rn . Assim, f λy + (1
para y = x + sei obtemos de (5.8) f (x + λsei ) λ
− f (x) ≤ f (x + sei) − f (x).
Passando ao limite nesta desigualdade quando λ
∇
→ 0+ temos que
· ≤ f (x + sei) − f (x).
s f (x) ei
Como esta desigualdade tamb´em ´e v´alida substituindo s por segue que se s ]0, δ [, ent˜ao
∈
f (x)
− f (x − sei) ≤ ∇f (x) · ei ≤ f (x + sei) − f (x)
s para todo x K e i = 1, . . . , n. Se f n˜ ao ´e C 1 , ent˜ao existe ε > 0, x0 em Ω tal que x k x0 e
∈
→
s
−s, (5.9)
∈ Ω e uma seq¨uˆencia {xk }k≥1
|∇f (xk ) − ∇f (x0)| > ε, ∀k. (5.10) Seja K = {x0 , x1 , x2 , . . .}. Se |s| < δ/2 e k e´ suficientemente grande, ent˜ao xk ± sei ∈ Ω e, como f ´e cont´ınua em Ω (veja Exerc´ıcio 4.8), segue de (5.9) que a seq¨uˆencia {∇f (xk ) · ei } ´e limitada, para cada i = 1, . . . , n. Portanto, passando a uma subseq¨ uˆencia se necess´ario, n podemos supor que existe u ∈ R tal que ∇f (xk ) → u. Passando ao limite quando k → ∞ em (5.9), temos, para s ∈]0, δ/2[ e i = 1, . . . , n, f (x0 ) − f (x0 − sei ) f (x0 + sei ) − f (x0 ) ≤ u · ei ≤ . (5.11) s s Fazendo s → 0+ em (5.11) obtemos ∇ f (x0 ) = u, o que est´a em contradi¸c˜ao com (5.10). Portanto, x → ∇f (x) ´e cont´ınua em Ω.
C´ alculo Avan¸cado I
72
A Proje¸c˜ ao Ortogonal A Proje¸c˜ao Ortogonal sobre um convexo fechado C de Rn que introduzimos no Cap´ıtulo 4 (veja Exerc´ıcio 4.12) ´e fundamental na An´ alise Convexa e surge com freq¨uˆencia nas aplica¸co˜es. Vamos encerrar este Cap´ıtulo mostrando uma propriedade importante: que elas s˜ao derivadas de Fr´echet de fun¸c˜oes reais definidas em R n . Teorema 5.15: Seja C um conjunto convexo e fechado de Rn e considere a fun¸cao ˜ f : Rn R definida por
→
−
f (x) = x
1 P C (x); P C (x) , 2
(5.12)
onde P C : Rn e a proje¸c˜ ao ortogonal sobre C definida em (4.10). Rn ´ Ent˜ ao f ´e fun¸cao ˜ de classe C 1 em Rn e f ′ = P C .
→
Prova: Sejam x 0 e h em R n . Ent˜ao podemos escrever
f (x0 + h) = f (x0 ) + P C (x0 ); h + ε(h), onde
22 − 12 P C (x0 +h)22 + x0 +h; P C (x0 +h) − P C (x0 ) . Como g(x) = 12 x22 ´e diferenci´avel com g ′ (x) = x para todo x ∈ Rn , ε(h) =
1 P C (x0 ) 2
temos do Teorema do Valor M´edio,
1 1 P C (x0 ) 22 P C (x0 + h) 22 = 2 2 (1 θ)P C (x0 ) + θP C (x0 + h); P C (x0 )
− − − P C (x0 + h) , para algum θ ∈ ]0, 1[. Logo, ε(h) = x0 − P C (x0 ); P C (x0 + h) − P C (x0 ) − θP C (x0 + h) − P C (x0 )22 (5.13) + h; P C (x0 + h) − P C (x0 ) .
Como as duas primeiras parcelas do lado direito de (5.13) s˜ao negativas (veja Exerc´ıcio 4.12(b)), temos
≤ h2P C (x0 + h) − P C (x0)2 ≤ h22.
ε(h)
Fun¸c˜ oes Diferenci´aveis
73
Por outro lado, considerando ν = 1
− θ, temos
− ν )P C (x0 + h); P C (x0 ) − P C (x0 + h) + x0 + h; P C (x0 + h) − P C (x0 ) = x0 + h − P C (x0 + h); P C (x0 + h) − P C (x0 ) + ν P C (x0 ) − P C (x0 + h)22 ≥ 0 Portanto, 0 ≤ ε(h) ≤ h22 e temos a conclus˜ao. ε(h) = νP C (x0 ) + (1
Observa¸c˜ ao: Embora estejamos nos referindo `as proje¸c˜oes sobre convexos fechados de Rn , ´e imediato verificar que a demonstra¸ca˜o acima ´e v´alida para qualquer espa¸co de Hilbert V , isto ´e, qualquer espa¸co de Banach cuja norma seja proveniente de um produto interno.
Exerc´ıcios Exerc´ıcio 5.1. Sejam ψ , ϕ: R
→ R satisfazendo
lim ϕ(s) = 0.
s→±∞
Considere f : R2
→ R definida por f (x, y) =
ϕ(y/x 2 )ψ( x ) 0
||
se x = 0 se x = 0
(5.14)
a) Considere ψ(s) = s. Mostre que f ´e Gateaux-deriv´avel em (0, 0) com ∂f (0, 0) = 0 u R2 vetor unit´ario , ∂u
∀ ∈
mas f n˜ ao ´e diferenci´avel em (0, 0). b) Verifique que a fun¸ c˜ao f do Exemplo 6 deste cap´ıtulo ´e obtida de (5.14) com ϕ(s) = 2s/(1 + s2 ) e ψ(s) = s. c) Sejam ψ(s) = 1 s 0 e ϕ = 1[1,2] a fun¸c˜ao caracter´ıstica de [1, 2], isto ´e, ϕ(s) = 1 se s [1, 2] e ϕ(s) = 0 sen˜ao. Mostre que f definida por (5.14) satisfaz o item (a) mas f n˜ ao ´e cont´ınua em (0, 0).
∀ ≥
∈
C´ alculo Avan¸cado I
74
Exerc´ıcio 5.2. a) Considere f : Rn e R dada por f (x) = 12 x 22 . Mostre que f ´ ′ n n diferenci´ avel e que f : R e a matriz identidade I . R ´ n b) Seja f : R . Mostre R dada por f (x) = p1 x p p , com 1 < p < ′ q p que f ´e diferenci´avel. Mostre que f (x) q = x p , x Rn e 1/p + 1/q = 1.
→
→
→
∞ ∀ ∈
Exerc´ıcio 5.3. Sejam f, g: Rn c˜oes diferenci´aveis e conRn fun¸ sidere F (x) = f (x); g(x) , onde ; denota o produto escalar usual em R n . Mostre que F ´e diferenci´avel e calcule F ′ (x).
→
Exerc´ıcio 5.4. Seja A matriz n n, g : Rn c˜ao diferenci´avel R fun¸ ′ ′ T e defina F (x) = g(Ax). Mostre que F (x) = A g (Ax), x, onde A T ´e a transposta de A. Observe que, em particular, se F (x) = 12 Ax 22 , ent˜ao F ′ : Rn R n ´e dada por F ′ = A TA.
×
→
∀
→
Exerc´ıcio 5.5. Seja F (x) = Ax; x , x Rn . Mostre que F ′ = AT + A. Calcule G ′ para G(x) = Ax; Bx , A e B matrizes n n.
∀ ∈
×
Exerc´ıcio 5.6. Diz-se que uma fun¸c˜ao f : Rn e p-homogˆenea R ´ p se f (λx) = λ f (x), λ > 0. Mostre que toda fun¸c˜ao p-homogˆenea e diferenci´ avel satisfaz a rela¸ca˜o x; f (x) = pf (x). Reciprocamente, se x; f (x) = pf (x), x Rn , ent˜ao f ´e p-homogˆenea. Dˆe exemplo de fun¸ca˜o p-homogˆenea. Existe fun¸ca˜o p-homogˆenea descont´ınua?
∀
∇
∀ ∈
→
∇
Exerc´ıcio 5.7. Sabemos que o TVM ´e v´alido para fun¸c˜oes diferenci´aveis de Rn em R, isto ´e; se x1 , x0 R n , ent˜ao existe t ]0, 1[ tal que
∈
∈
− f (x0) = f ′(xt )(x1 − x0 ) = ∇f (xt ); x1 − x0 onde x t = x 0 + t(x1 − x0 ). f (x1 )
,
a) Verifique que o TVM n˜ao vale para fun¸c˜oes de Rn em Rm se m > 1. b) Mostre que vale a Desigualdade do Valor M´edio : se f : Rn Rn , ent˜ao f (x1 ) f (x0 ) 2 f ′ (xt )(x1 x0 ) 2 .
→
−
≤
Em particular, vale a desigualdade
−
f (x1) − f (x0)2 ≤ f ′(xt ) (x1 − x0)2,
Fun¸c˜ oes Diferenci´aveis
75
onde estamos denotando
f ′(x) = sup{f ′(x)h2 ; h2 = 1}. Sug.: Considere h(t) = f (x0 + t(x1 − x0 )); f (x1 ) − f (x0 ) .
Exerc´ıcio 5.8. Seja B = B1 (0) a bola unit´aria de Rn e f : B B uma fun¸c˜ao de classe C 1 . Suponha que existe α > 0 tal que f ′ (x0 )h 2 α h 2 , h Rn . Prove que
→
≤ ∀ ∈ f (x) − f (y)2 ≤ αx − y2, ∀x, y ∈ B. Exerc´ıcio 5.9. Seja f : Rn → Rm fun¸c˜ao de classe C 1 . Mostre que:
1
f (x0 + h)
− f (x0) =
f ′ (x0 + th)h dt.
0
Obs.: Se γ (t) = γ 1 (t), . . . , γm (t) , define-se
b
b
γ (t) dt =
a
γ 1 (t) dt, . . . ,
a
b
γ m (t) dt
a
(5.15)
Exerc´ıcio 5.10. Seja f : R2 0 R2 cont´ınua satisfazendo: (1) x e f (x) s˜ao linearmente dependentes para todo x R2 0 . (2) x 2 f (x) 2 = 1, x R2 0 .
\{ }→
∈ \{ }
∀ ∈ \ { }
a) Determine f (x). Mostre que f ´e diferenci´avel e determine f ′ (x). b) Se C e uma circunferˆencia que n˜ao passa pela origem, R2 ´ determine f (C ). Quem ´e f (C ) se C passa pela origem?
⊂
M
×
Exerc´ıcio 5.11. Seja V = n×n o espa¸co das matrizes n n munido da norma induzida (veja (4.11)) por uma norma qualquer de Rn . Considere f : V V a fun¸ca˜o definida por f (X ) = X 2. Mostre que f ´e diferenci´avel em V e calcule f ′ (X )H para toda H V . (Cuidado! f ′ (X ) = 2X . Por quˆe?) Fa¸ca o mesmo para f (X ) = X 3 .
→
∈
Exerc´ıcio 5.12. Seja Ω aberto de Rn e f : Ω c˜ao de Rm uma fun¸ 1 n m classe C em Ω. Mostre que ε: Ω R R definida por
×
→
→ ε(x, h) = ε x (h) = f (x + h) − f (x) − f ′ (x)h
C´ alculo Avan¸cado I
76 ´e cont´ınua em Ω
× Rn . Mostre tamb´em que ε(x, h) = 0 lim h→0 h
uniformemente nos compactos de Ω. Mais precisamente, mostre que se K Ω ´e um conjunto compacto e ε > 0, ent˜ao existe δ > 0 (independente de x K ) tal que
⊂
∈
h) h < δ =⇒ ε(x, (5.16) h < ε, ∀x ∈ K. Exerc´ıcio 5.13. Seja Ω aberto de R2 e f : Ω → R uma fun¸c˜ao de classe C 1 em Ω. Seja R ⊂ Ω o retˆangulo R = [a, b] × [c, d]. Considere g: [a, b] → R definida por
d
g(x) =
f (x, y) dy.
c
∈ ]a, b[,
Mostre que g ´e diferenci´avel em ]a, b[ e que para todo x 0 g ′ (x0 ) =
d
c
∂f (x0 , y) dy. ∂x
Exerc´ıcio 5.14. Calcule P C (x) e f (x) definida por (5.12) para cada um dos seguintes convexos:
∞
(a) C = [0, + [; (b) C = [0, 1]; (c) C = [0, + [ [0, + [ (d) C = BR (0) a bola de raio R e centro em zero de R N . Descreva o operador de proje¸ca˜o P C nos trˆes primeiros casos acima usando a nota¸c˜ao x+ x x+ = max x, 0 = . 2 Exerc´ıcio 5.15. Seja f : U Rn R fun¸c˜ao Lipschitz, U aberto e x0 U . Suponha que, para todo h Rn , existe o limite
∞×
∞
{ } ⊂ → ∈
∈
||
− f (x0)
f (x0 + λh) λ→0 λ h
g(h) = lim
(5.17)
e que a aplica¸ca˜o g: RN e linear em h. Mostre R definida por (5.17) ´ que f ´e diferenci´avel em x 0 .
→
6 Curvas em Rn Se imaginarmos uma part´ıcula se deslocando no espa¸co, podemos descrever sua posi¸c˜ao (x,y,z) em cada instante t por equa¸c˜oes x = γ 1 (t),
y = γ 2 (t),
z = γ 3 (t),
(6.1)
onde cada γ i (t) ´e uma fun¸c˜ao real da vari´avel real t, com t percorrendo um dado intervalo I R. A trajet´oria da part´ıcula ´e uma curva em R3 e (6.1) s˜ao denominadas equa¸c˜ oes param´etricas da curva (ou da trajet´oria), sendo t o parˆametro. Se denotarmos por γ : I R3 a fun¸ca˜o dada por
⊂
→
γ (t) = γ 1 (t), γ 2 (t), γ 3 (t) , ent˜ao temos uma representa¸c˜ao vetorial para as equa¸c˜oes param´etricas da curva e γ (I ), a imagem de I por γ ´e a curva de R3 sobre a qual a part´ıcula se desloca. As considera¸co˜es acima nos levam `a seguinte defini¸c˜ao para curvas em R n . Defini¸c˜ ao 6.1: Seja I um intervalo de R e γ : I c˜ao Rn uma fun¸ n cont´ınua. Dizemos que γ (I ) ´e uma curva em R e que γ ´e uma representa¸c˜ ao param´etrica ou uma parametriza¸c˜ ao da curva. Se I = a, b ´e um intervalo fechado, dizemos que a curva tem extremidades γ (a) e γ (b), ou que a curva liga os pontos x = γ (a) e y = γ (b). Se γ ´e uma fun¸ca˜o injetora, dizemos que a curva ´e simples.
→
C´ alculo Avan¸cado I
78
Rn a fun¸ Exemplo 1: Sejam u 0 e v dois vetores de R n e γ : R c˜ao definida por γ (t) = u 0 + tv. Ent˜ao γ (R) ´e a reta que passa por u0 e ´e paralela a v. Em particular, se u 0 = 0 γ ´e uma fun¸c˜ao linear.
→
∞
R2 definida por γ (θ) = Exemplo 2: Sejam I = 0, 2π e γ : I (sen θ, cos θ). Ent˜ao γ (I ) ´e a circunferˆencia unit´aria centrada na origem de R2 .
→
R3 definida por γ (θ) = Exemplo 3: Sejam I = 0, + e γ : I (e−θ cos θ, e−θ sen θ, e−θ ). Ent˜ao γ (I ) ´e uma espiral de R3 .
→
Exemplo 4: Como era de se esperar, todo gr´afico de fun¸c˜ao real cont´ınua de uma vari´ avel real ´e uma curva. Com efeito, se f : I R ´ e uma fun¸ca˜o cont´ınua definida num intervalo I , ent˜ao podemos considerar a parametriza¸ca˜o γ : I R2 definida por γ (x) = x, f (x) .
→
→
Observa¸c˜ ao: A defini¸ca˜o 6.1 acima inclui situa¸c˜oes que fogem ao senso comum. Por exemplo, seja γ (t) = (a1 , . . . , an ), para todo t R, isto ´e, γ uma fun¸c˜ao constante. Como toda fun¸ca˜o constante ´e cont´ınua, temos um ponto como caso especial de curva de Rn (compare este exemplo com caso especial de seq¨uˆencia constante). Entretanto, dois pontos isolados n˜ao podem ser considerados uma curva (justifique!). Outro exemplo: consideremos uma mesa de sinuca de dimens˜oes a e b. A trajet´oria de uma bola que se desloca sobre a mesa (aqui representada pelo retˆangulo 0, a 0, b ) pode ser descrita por uma fun¸c˜ao 2 R R , cuja imagem γ (I ) est´ γ : I a contida em 0, a 0, b . Podemos imaginar uma situa¸ca˜o ideal em que a ausˆ encia de atrito permita que a bola (considerada um ponto), uma vez deslocada, permane¸ca em movimento sobre a mesa, refletindo nos bordos indefinidamente. Nestas circunstˆancias, podemos provar que se a e b satisfazem certas condi¸co˜es, a bola passa por quase todos os pontos da mesa. Por exemplo, se a bola ´e lan¸cada de algum ponto com inclina¸ca˜o de 45◦ e a/b / Q, ent˜ao para qualquer ponto P = (x, y) [0, a] [0, b] e para cada ε > 0 existe t > 0 tal que P γ (t) < ε. Portanto, R2 ´ γ : 0, e fun¸c˜ao cont´ınua tal que γ 0, ´e um cojunto denso em 0, a 0, b . Situa¸c˜oes semelhantes aparecem em movimentos de pˆendulos girat´orios, nas figuras de Lissajous .
∈
⊂ →
∈ ∞ →
×
×
×
−
∈
∞
×
Para simplificar a terminologia, denominaremos curva γ de Rn toda
Curvas em R
n
79
→ Rn, onde I ´e uma intervalo de R .
e qualquer fun¸c˜ao cont´ınua γ : I
Curvas Retific´aveis Seja γ uma curva de Rn parametrizada por γ : I R n , onde I ´e um ´ geometricamente intuitivo considerar que se γ n˜ intervalo de R . E ao for muito complicada, podemos calcular um valor aproximado para seu comprimento pela express˜ao
→
m
γ (ti )
i=1
− γ (ti−1),
(6.2)
onde P = t0 < t1 < < tm−1 < tm ´e uma parti¸cao ˜ de I , isto ´e, um conjunto finito de pontos de I . Al´em disso, segue da desigualdade triangular que as somas em (6.2) aumentam se a parti¸c˜ao P for refinada. Portanto, ´e razo´avel que o comprimento de γ seja dado pelo supremo das somas em (6.2) para todas as poss´ıveis parti¸c˜oes de I . Para formalizar estas id´eias, denotemos por a cole¸c˜ao de todas as parti¸c˜oes do intervalo I .
{
· ··
}
P
→ R n ´e retific´avel se existe M > 0
Defini¸c˜ ao 6.2: Uma curva γ : I tal que m
γ (ti )
i=1
− γ (ti−1) ≤ M,
para qualquer parti¸ ca˜o P de I . Al´em disso, se γ ´e retific´avel, ent˜ao m
med(γ ) = sup
P ∈P i=1
γ (ti )
− γ (ti−1 ) ; t i ∈ P
´e denominado o comprimento de γ .
Curvas Diferenci´ aveis Seja γ uma curva em Rn . Se γ : I e uma fun¸c˜ao diferenci´avel Rn ´ em todos os pontos interiores de I , dizemos que γ ´e uma curva diferenci´ avel.
→
C´ alculo Avan¸cado I
80 Em particular, segue da defini¸c˜a o que
γ (t0 + ∆t) = γ (t0 ) + γ ′ (t0 )∆t + ε(∆t), onde γ ′ (t0 ): R isto ´e,
→ Rn ´e uma fun¸ca˜o linear e ε: R → Rn ´e fun¸c˜ao o(|∆t|), ε(∆t) = 0. lim ∆t→0 |∆t| Vale observar que γ ′ (t0 ): R → Rn sendo uma fun¸c˜ao linear ´e necessariamente da forma γ (t0 )(s) = su, com u ∈ R n . Al´em disso, segue
do Teorema 5.8 que a curva γ = (γ 1 , . . . , γn ) ´e uma curva diferenci´avel se e somente se cada coordenada γ i ´e fun¸ca˜o diferenci´avel no interior de I . Rn ´ Se γ : [a, b] e curva diferenci´avel em (a, b) e se existem os limites lateriais γ (t) γ (a) γ (t) γ (b) lim+ e lim , t a t b t→a t→b
→
− −
− −
−
dizemos que γ ´e diferenci´a vel em [a, b]. Se γ ′ : I cont´ınua, dizemos que γ ´e curva de classe C 1 em I . Proposi¸ ca ˜o 6.3: Se γ : [a, b] ent˜ ao γ ´e retific´avel e
→
Rn ´ e fun¸c˜ao
→ Rn ´e curva de classe C 1 em [a, b],
b
med(γ ) =
γ ′ (t) dt.
a
{
}
Prova: Seja ε > 0 e P = t0 = a < t 1 < .. . < tm = b uma parti¸ca˜o de [a, b]. Como γ ´e de classe C 1 , temos, para i = 1, . . . , m (veja Exerc´ıcio 5.9),
1
γ (ti )
− γ (ti−1) = ∆ti
γ ′ sti−1 + (1
0
− s)ti
ds,
− ti−1 . Logo, γ (ti) − γ (ti−1) − γ ′(ti−1 )∆ti ≤ 1 ∆ti γ ′ sti−1 + (1 − s)ti − γ ′(ti−1) ds.
onde ∆ti = t i
0
Curvas em R
n
81
Como t γ ′ (t) ´e uma fun¸c˜ao uniformemente cont´ınua em [a, b], existe δ 0 > 0 tal que se ∆ti < δ 0 , ent˜ao
→
γ ′ sti−1 + (1 − s)ti − γ ′(ti−1) ≤ 2(b ε− a) , ∀s ∈ [0, 1].
−
Portanto, para i = 1, . . . , m, se ∆ti < δ 0 , temos γ (ti ) γ (ti−1 ) γ ′ (ti−1 )∆ti ε∆ti /2(b a) e segue da desigualdade triangular,
≤
−
γ ′(ti−1) ∆ti − 2(bε∆t− ia) ≤ γ (ti) − γ (ti−1)
ε∆ti γ (ti−1 ) ∆ti + . 2(b a)
≤
′
−
(6.3)
−
Tomando-se a soma em i nas desigualdades (6.3), obtemos m
′
γ (ti−1 ) ∆ti
i=1
m
ε 2
− ≤
γ (ti )
i=1
− γ (ti−1) ≤ m
i=1
ε γ ′ (ti−1 ) ∆ti + . 2
Por outro lado, segue da continuidade de t γ ′ (t) que as somas m de Riemann i=1 γ ′ (ti−1 ) ∆ti convergem para a integral, isto ´e, existe δ 1 > 0 tal que se ∆ti < δ 1 ent˜ao
b
−
{ } ≤
m
γ ′ (t) dt
a
→
γ ′ (ti−1 ) ∆ti <
i=1
ε . 2
Portanto, se a parti¸ca˜o P ´e tal que ∆ti < min δ 0 , δ 1 , ent˜ao
b
a
m
′
γ (t) dt
− ≤ ε
b
γ (ti )
i=1
− γ (ti−1)
e conclu´ımos que γ ´e retific´avel com
b
med(γ ) =
a
γ ′ (t) dt.
a
γ ′ (t) dt + ε
C´ alculo Avan¸cado I
82
Integrais de Linha e Campo Gradiente Rn uma fun¸ Rn ´ Seja g: Ω c˜ao cont´ınua, onde Ω e um conn R uma curva de classe C 1 contida junto aberto. Seja γ : [a, b] em Ω. Ent˜ ao a fun¸c˜ao ϕ(t) = g γ (t) ; γ ′ (t) ´e cont´ınua e portanto integr´ avel em [a, b] .
→
→
⊂
Defini¸c˜ ao 6.4: Denominamos integral de linha de g sobre γ a integral
· b
g γ (t) ; γ ′ (t) dt.
g dγ =
γ
a
O Teorema Fundamental do C´alculo afirma que se g: ]a, b[ R definida por cont´ınua, ent˜ao a fun¸ca˜o f : ]a, b[
→
→
R ´ e
x
f (x) = y 0 +
g(s) ds
x0
∈ ]a, b[, ´e diferenci´avel e ´e a u´nica fun¸ca˜o que satisfaz f ′ (x) = g(x), ∀x ∈ ]a, b[
onde x 0
f (x0 ) = y 0 .
A quest˜ ao natural sobre a extens˜ao do Teorema Fundamental do C´alculo para as fun¸c˜o es de v´arias vari´aveis pode ser formulada da seguinte forma: Problema: Seja Ω aberto e conexo de Rn , x 0 Ω e y 0 Dada g: Ω Rn cont´ınua, deseja-se saber se existe f : Ω fun¸cao ˜ diferenci´avel tal que
∈
→
f ′ (x) = g(x), f (x0 ) = y 0 .
∈ R. →R
∀x ∈ Ω
Uma fun¸ca˜o g para a qual o problema acima tem resposta afirmativa ´e denominado Campo Gradiente em Ω e a fun¸c˜ao f ´e denominada potencial associado ao campo g . Uma condi¸c˜ao necess´aria para que g seja um campo gradiente pode ser obtida pela Regra da Cadeia. De fato, sejam x e y dois pontos de
Curvas em R
n
83
Ω e γ 1 , γ 2 : [0, 1] Ω duas curvas de classe C 1 ligando x a y . Ent˜ao, segue da Regra da Cadeia,
→
1
f (y)
− f (x) =
0
f ′ γ i (t) ; γ i′ (t) dt,
i = 1, 2,
isto ´e, as integrais de linha sobre γ 1 e γ 2 s˜ao iguais. A observa¸c˜ao acima suscita de imediato a quest˜ao sobre a possibilidade de se ligar dois pontos quaisquer de um aberto conexo por uma curva de classe C 1 totalmente contida em Ω. De fato, Lema 6.5: Sejam Ω aberto e conexo de R n , x e y dois pontos de Ω. Ent˜ ao existe uma curva γ : [a, b] Ω de classe C 1 em [a, b] ligando x a y .
→
Prova: Veja exerc´ıcios. As observa¸c˜oes acima e considera¸co˜es da f´ısica (veja pr´oxima se¸ca˜o) nos levam `a Definic˜ao 6.6: Seja Ω aberto e conexo de R n . Dizemos que g : Ω e Campo Conservativo em Ω se para todo x, y Ω e duas curvas Rn ´ diferenci´ aveis quaisquer γ 1 , γ 2 ligando x a y, temos
∈
γ 1
g dγ =
·
γ 2
→
g dγ.
·
Temos ent˜ao a condi¸ca˜o necess´ aria: Lema 6.7: Seja Ω aberto e conexo de R n . Se f : Ω e fun¸c˜ ao de R ´ 1 ′ classe C em Ω, ent˜ ao f ´e campo conservativo em Ω.
→
Teorema 6.8: Seja Ω aberto e conexo de Rn . Se g: Ω e campo Rn ´ conservativo cont´ınuo em Ω, ent˜ ao dado x 0 Ω e y 0 R, existe uma u ´nica f : Ω R de classe C 1 tal que
→
Prova: Seja f : Ω
→ ∈
∈
f ′ (x) = g(x), f (x0 ) = y 0 .
∀x ∈ Ω
→ R a fun¸c˜ao definida por
1
f (x) = y 0 +
0
g γ (t); γ ′ (t) dt,
(6.4)
C´ alculo Avan¸cado I
84
Rn ´ onde γ : [0, 1] e uma curva de classe C 1 contida em Ω ligando x0 a x. Como g ´e campo conservativo, f est´a bem definida e f (x0 ) = y 0 . Provemos ent˜ao que f ´e diferenci´avel e que f ′ g em Ω. Seja x Ω e r > 0 tal que Br (x) Ω. Para h Rn tal que n 1 h < r, seja γ 1 : [0, 2] R uma curva de classe C ligando x0 a x + h totalmente contida em Ω, satisfazendo
→
∈
⊂
→
γ 1 (t) = x + (t
≡
∈
− 1)h, ∀t ∈ [1, 2].
Ent˜ao podemos escrever
2
f (x + h) = y 0 +
0
Consideremos γ 2 , γ 3 : [0, 1]
g γ 1 (t)); γ 1′ (t) dt.
→ Rn definidas por
(6.5)
γ 2 (t) = γ 1 (t), γ 3 (s) = γ 1 (s + 1) = x + sh. Ent˜ao γ 2 e γ 3 s˜ao curvas de classe C 1 ligando respectivamente x0 a x e x a x + h. Da defini¸ca˜o (6.4), a equa¸ca˜o (6.5) toma a forma
1
f (x+h) = f (x)+
g γ 3 (s)
0
; γ 3′ (s)
1
ds = f (x)+
g γ 3 (s) ; h ds.
0
(6.6) Podemos ainda reescrever (6.6) na forma f (x+h) = f (x)+ g(x); h + ǫ(h), onde
− 1
ǫ(h) =
g γ 3 (s)
g(x); h ds.
(6.7)
0
−
Como g ´e cont´ınua em Ω, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se y x < δ , ent˜ao g(y) g(x) < ε. Portanto, se h < δ , temos de (6.7)
−
|ǫ(h)| ≤ g(γ 3(s)) − g(x) < ε. h Como a unicidade de f ´e conseq¨ uˆencia imediata do Teorema do Valor M´edio, conclu´ımos a prova.
Curvas em R
n
85
Observa¸c˜ ao: O Teorema 6.8 d´a condi¸co˜es suficientes para que g seja um campo gradiente num aberto conexo de R n , mas n˜ ao oferece um crit´erio pr´atico para isso. Podemos obter um crit´erio simples e f´acil de provar supondo Ω convexo. R. Teorema 6.9: Seja Ω aberto e convexo de Rn , x0 Ω e y0 Rn ´ Se g: Ω e fun¸c˜ ao de classe C 1 em Ω tal que g ′ (x) ´e matriz sim´etrica para todo x Ω, ent˜ ao g ´e campo gradiente em Ω.
→
∈
∈
∈
Rn duas curvas diferenci´ Prova: Sejam x, y Ω e γ 0 , γ 1 : [0, 1] aveis distintas que ligam x a y em Ω. Para cada s [0, 1], consideremos Rn definida por γ s (t) = γ 0 (t) + s γ 1 (t) γ 0 (t) . Ent˜ γ s : [0, 1] ao ′ para cada s [0, 1], γ s ´e curva diferenci´avel ligando x a y e γ s (t) = γ 0′ (t) + s γ 1′ (t) γ 0′ (t) . Seja Φ(s) a fun¸c˜ao definida por
∈
→
∈
→
∈ −
1
Φ(s) =
−
0
g γ s (t) ; γ s′ (t) dt.
Como g ´e de classe C 1 , podemos calcular a derivada de Φ em rela¸ca˜o ao parˆametro s derivando sob o sinal de integral (veja Exerc´ıcio 5.13). Assim,
1
′
Φ (s) =
0
1
=
∂ g γ s (t) ; γ s′ (t) dt ∂s g ′ γ s (t)
0
d γ s (t); γ s′ (t) + ds
1
g γ s (t) ;
0
d ′ γ (t) . ds s
Como g ′ (x) ´e sim´etrica, temos 1
0
g ′ γ s (t)
d γ s (t); γ s′ (t) dt = ds
1
0
g ′ γ s (t) γ s′ (t);
d γ s (t) dt. ds
Por outro lado, como d g γ s (t) ; γ 1 (t) dt
− γ 0(t) =
g ′ γ s (t) γ s′ (t); γ 1 (t)
+ g γ s (t) ; γ 1′ (t)
− γ 0(t)
− γ 0′ (t) ,
C´ alculo Avan¸cado I
86 podemos escrever
1
d g γ s (t) ; γ 1 (t) γ 0 (t) dt = 0. 0 dt Portanto Φ(s) ´e fun¸c˜ao constante e conclu´ımos ′
Φ (s) =
γ 1
−
g dγ = Φ(1) = Φ(0) =
·
g dγ
·
γ 0
e temos a conclus˜ao pelo Teorema 6.8.
Observa¸c˜ ao: A hip´otese sobre a convexidade de Ω no Teorema 6.9 n˜ ao ´e necess´aria, mas o resultado n˜ao pode ser estendido a todos os abertos conexos, como se pode ver pelo seguinte exemplo.
∈
Exemplo: Seja Ω = (x1 , x2 ) R2 a fun¸ g: Ω ca˜o definida por
→
−
x2 x1 , 2 2 2 x1 + x2 x1 + x22
g(x1 , x2 ) =
R2 ; 1/4 < x21 + x 22 < 4 . Seja
.
´ f´acil ver que g ´e de classe C 1 em Ω e que g ′ (x1 , x2 ) ´e matriz E sim´etrica para todo (x1 , x2 ) Ω. No entanto, g n˜ ao ´e campo conservativo em Ω. De fato, considerando γ 1 , γ 2 : [0, 1] Ω as curvas definidas por
∈
γ 1 (t) = (cos πt, sen πt)
e
γ 2 (t) = (cos πt,
ent˜ao γ 1 e γ 2 ligam (1, 0) a ( 1, 0) e π =
−
·
g dγ =
γ 1
γ 2
·
g dγ =
→
− sen πt),
−π.
R diferenci´ Portanto, n˜ao existe f : Ω avel tal que f ′ (x) = g(x) para todo x Ω. Por outro lado, g ´e de classe C 1 no convexo Ω1 = (x1 , x2 ) e sim´etrica para todo (x1 , x2 ) Ω 1 . Pelo R2 ; x1 > 0 e g ′ (x1 , x2 ) ´ R um potencial de g em Ω1 . De fato, um Teorema 6.9 existe f : Ω1 c´alculo simples mostra que f (x1 , x2 ) = arctan(x2 /x1 ) ´e potencial de g em Ω1 . Analogamente, f (x1 , x2 ) = arctan(x1 /x2 ) ´e potencial de g no convexo Ω2 = (x1 , x2 ) R2 ; x 2 > 0 . Uma generaliza¸ca˜o do Teorema 6.9 pode ser obtida fazendo-se uso do Teorema de Stokes .
→
∈
∈
→
∈
−
∈
Curvas em R
n
87
Conserva¸c˜ ao da Energia Consideremos uma part´ıcula de massa m que se desloca no espa¸co R3 sob a a¸c˜ao de um campo de for¸cas g: R3 ˜o R3 . Se γ (t) ´e sua posi¸ca no instante t, temos pela lei de Newton: a varia¸c˜ ao da quantidade de movimento em cada instante ´e igual a resultante das for¸ cas que atuam sobre a part´ıcula , isto ´e,
→
d mγ ′ (t)) = g γ (t) . dt
Se g ´e um campo gradiente, definimos a Energia da part´ıcula no instante t por E (t) = E c (t) + E p (t) =
m ′ γ (t) 2
22 − f γ (t) ,
(6.8)
onde f ´e o potencial associado a g. E c e E p s˜ao respectivamente as energias cin´etica e potencial no instante t. Como conseq¨ uˆencia da lei de Newton temos a Conserva¸cao ˜ da Energia , isto ´e, E (t) = E (0) para todo t. De fato, d E (t) = m γ ′ (t); γ ′′ (t) f γ (t) ; γ ′ (t) dt = mγ ′′ (t) g γ (t) ; γ ′ (t) = 0.
Exerc´ıcios
− ∇ −
∞ → R3 definida por
Exerc´ıcio 6.1. Seja γ : [0, + [
γ (t) = (e−t cos t, e−t sen t, e−t ). Mostre que γ ´e retific´avel e calcule seu comprimento. Exerc´ıcio 6.2. Dˆe exemplo de uma curva γ : [0, 1] pontos de R2 que n˜ ao seja retific´avel.
→ R2, ligando dois
Exerc´ıcio 6.3. Uma part´ıcula se move no plano (resp. no espa¸co) e sua trajet´oria ´e descrita por γ (t) = (1
− t)2 x1 + 2t(1 − t)x2 + t2x3,
t
∈ [0, 1],
(6.9)
C´ alculo Avan¸cado I
88
onde x 1 , x2 e x 3 s˜ao pontos dados de R2 (resp. R3 ). a) Descreva o movimento da part´ıcula, fazendo um esbo¸co da tra jet´ oria. b) Calcule γ ′ (0) e γ ′ (1). c) Se x1 , x2 e x3 n˜ ao s˜ao colineares, mostre que γ (t) est´a contido no triˆangulo com v´ertices em x 1 , x 2 e x 3 . Exerc´ıcio 6.4. O mesmo do exerc´ıcio anterior para a part´ıcula cuja trajet´ oria ´e descrita por γ (t) = (1
− t)3x1 + 3t(1 − t)2x2 + 3t2(1 − t)x3 + t3x4.
(6.10)
Observa¸c˜ ao: As curvas definidas por (6.9) e (6.10) tˆem como coordenadas polinˆ omios na vari´avel t denominados Polinˆomios de Bernshte˘ın, porque foram introduzidos por Serge˘ıBernshte˘ın em 1912 num trabalho pioneiro em Teoria da Aproxima¸ca˜o. As curvas mencionadas s˜ao denominadas Curvas de B´ezier , por ter sido Pierre B´ezier quem as introduziu nos anos sessenta como importante ferramenta para a Computa¸ca˜o Gr´afica. Enfatizamos aqui a importˆancia destas curvas na constru¸c˜ao e desenho dos caracteres e s´ımbolos (fontes do TEX) utilizados neste texto. Exerc´ıcio 6.5. Seja Ω aberto e conexo de Rn . (a) Mostre que se x e y s˜ao dois pontos quaisquer de Ω, existe uma curva ligando x a y totalmente contida em Ω. Sugest˜ao: Fixe x Ω e considere A o conjunto dos y de Ω que podem ser ligados a x por uma curva totalmente contida em Ω. Mostre que A e Ω A s˜ao abertos. (b) Mostre que existe uma curva poligonal (isto ´e, formada por segmentos de reta) ligando x a y totalmente contida em Ω.
∈
\
Exerc´ıcio 6.6. Seja γ uma curva poligonal ligando os pontos x1 , x2 e x3 de Rn . Para ε > 0 seja ε a vizinhan¸ca de diˆametro ε de γ definida por ε = x∈γ Bε (x). Construa uma curva diferenci´ avel ligando x 1 a x 3 inteiramente contida em ε . Sugest˜ ao: Use (6.9)
O
O
O
Exerc´ıcio 6.7. Prove o Lema 6.5. Sugest˜ ao: Use os dois exerc´ıcios anteriores.
Curvas em R
n
89
Rn uma curva fechada (γ (a) = γ (b)) Exerc´ıcio 6.8. Sejam γ : [a, b] diferenci´ avel e K um convexo fechado do R n tal que K γ ′ (t) ; t [a, b] . Mostre que 0 K .
→
}
⊃ {
∈
∈
Exerc´ıcio 6.9. Seja γ uma curva retific´avel de comprimento L parametrizada por γ : [a, b] R n . Seja s: [a, b] [0, L] a fun¸c˜ao definida por s(t) = comprimento de γ [a, t] se t > a 0 se t = a
→
→
a) Mostre que s ´e crescente. Mostre que se γ ´e fun¸ca˜o Lipschitz cont´ınua, ent˜ao s(t) tamb´em ´e Lipschitz cont´ınua. b) Se s(t) ´e estritamente crescente, defina γ˜ : [0, L]
→ Rn
γ˜ (s) = γ (t(s)) onde t(s) denota a inversa de s(t). Mostre que ˜γ e γ s˜ao a mesma curva, isto ´e, γ [a, b] = γ˜ [0, L] . c) Se γ : [a, b] e curva de classe C 1 em [a, b], mostre que γ ˜ ´e Rn ´ ′ 1 curva de classe C em [0, L] tal que γ˜ (s) = 1 para todo s. (Moral da hist´oria: se uma curva pode ser percorrida por uma part´ıcula com velocidade escalar γ ′ (t) = 0, ent˜ao pode ser percorrida com velocidade escalar constante).
→
Exerc´ıcio 6.10. Seja Ω Rn aberto, limitado e conexo. Demonstre a afirmativa abaixo se verdadeira ou dˆe um contra-exemplo se falsa. “Existe R > 0 tal que x, y Ω existe uma curva γ retific´avel ligando x a y tal que med(γ ) R”.
⊂ ∀ ∈ ≤
Exerc´ıcio 6.11. O aˆngulo formado por duas curvas diferenci´aveis que se cruzam num ponto P ´e, por defini¸c˜ao, o aˆngulo formado pelos vetores tangentes `as curvas em P . Mais precisamente, se γ 1 , γ 2 : I Rn s˜ ao duas curvas diferenci´aveis tais que P = γ 1 (t0 ) = γ 2 (t0 ) para algum t 0 I , ent˜ao definimos o ˆangulo θ entre γ 1 e γ 2 em P por
→
∈
γ 1′ (t0 ); γ 2′ (t0 ) cos θ = γ 1′ (t0 ) γ 2′ (t0 ) .
Uma fun¸c˜ao f : R2 e denominada transforma¸c˜ ao conforme se R2 ´ o aˆngulo entre duas quaisquer curvas que se cruzam fica preservado por f .
→
C´ alculo Avan¸cado I
90
a) Seja f (x) = Ax, x R 2 , onde A ´e matriz 2 2. Mostre que f ´e transforma¸ca˜o conforme se e somente se A ´e da forma:
∀ ∈
×
− a c
c a
ou
a c
c a
−
b) Seja f : R2 R 2 , f = (ϕ, ψ) fun¸ca˜o diferenci´avel. Determine as condi¸co˜es necess´arias e suficientes sobre f ′ para que f seja uma transforma¸c˜ao conforme. c) Calcule J f (x).
→
Exerc´ıcio 6.12. Mostre que a fun¸c˜ao f definida no Exerc´ıcio 5.10 ´e uma transforma¸ca˜o conforme. Exerc´ıcio 6.13. Determine uma curva diferenci´avel γ : [ 1, 1] tal que
−
−
γ [ 1, 1] = (x, y)
{
→ R2
∈ R2 ; y = |x|, −1 ≤ x ≤ 1}.
→ R2 definido por −y , x g(x, y) =
Exerc´ıcio 6.14. Seja g : Ω
x2 + y 2 x2 + y 2
,
onde Ω = (x, y) R2 ; y > x . Mostre que g ´e campo gradiente em Ω e determine o potencial f : Ω R tal que f = g.
∈
−
→
∇
7 Derivadas de Ordem Superior Vamos tratar neste cap´ıtulo do estudo da derivada de segunda ordem para fun¸co˜es reais definidas em um aberto de R n . Rn R uma fun¸c˜ Seja f : Ω ao diferenci´avel. Ent˜ ao, est´a bem definida a aplica¸c˜ao f ′ : Ω Rn ; R ,
⊂
→
→L x →f ′ (x). Fazendo-se a identifica¸c˜ao L Rn ; R ∼ = Rn , podemos perguntar se a ′ n aplica¸c˜ao f : Ω → R ´e diferenci´avel em algum ponto x0 ∈ Ω. No caso afirmativo diremos que f ´e duas vezes diferenci´avel em x0 . Decorre da Defini¸ca˜ o 5.3 que se f ´e duas vezes diferenci´avel em x0 , ent˜ao existem fun¸c˜oes L, ε: Rn Rn tais que
→
f ′ (x0 + h) = f ′ (x0 ) + Lh + ε(h), onde L ´e linear e ε ´e o( h ). L, a diferencial (ou derivada de Fr´echet) de f ′ em x0 , ´e denominada derivada segunda de f em x0 e denotamos L = f ′′ (x0 ).
Rn R ´ Lema 7.1: Se f : Ω e duas vezes diferenci´avel em x0 , n R satisfazendo ent˜ ao existe ǫ: R
→
⊂
→
|ǫ(h)| = 0 h→0 h2 lim
(7.1)
tal que
1 ′′ f (x0 )h; h + ǫ(h). 2
f (x0 + h) = f (x0 ) + f ′ (x0 ); h +
C´ alculo Avan¸cado I
92
Prova: Seja h Rn e t R suficientemente pequenos. Por hip´otese temos f ′ (x0 + th) = f ′ (x0 ) + f ′′ (x0 )(th) + E (th), (7.2)
∈
∈
onde a fun¸c˜ao E : Rn e o( h ). Da Proposi¸c˜a o 5.5 temos a Rn ´ continuidade de h E (h). Logo, podemos multiplicar escalarmente por h ambos os lados de (7.2) e integrar em t de 0 a 1, para obter
→
1
0
→
1 f (x0 +th); h dt = f (x0 ); h + f ′′ (x0 )h; h + 2
′
′
Como
1
f ′ (x0 + th); h dt = f (x0 + h)
0
1
E (th); h dt.
0
− f (x0 ),
temos a identidade f (x0 + h)
−
1 f (x0 ) = f (x0 ); h + f ′′ (x0 )h; h + 2
′
1
0
Para concluir a demonstra¸ca˜o, basta mostrar que a fun¸c˜ao
1
ǫ(h) =
0
E (th); h dt.
E (th); h dt
satisfaz a condi¸c˜ao (7.1). De fato, segue da desigualdade de CauchySchwarz,
|ǫ(h)| ≤ 1 | E (th); h | dt ≤ 1 E (th) dt. h2 0 h2 h 0 Como E ´e o(h ), dado ε > 0, existe δ > 0 tal que se ξ < δ , ent˜ao E (ξ ) < εξ . Em particular, se h < δ , ent˜ao E (th) < εh , para todo t ∈ [0, 1] e conclu´ımos a prova. Sabemos do C´ alculo Diferencial que se f : R → R ´e duas vezes deriv´avel e convexa, ent˜ao f ′ ´e fun¸c˜ao mon´ otona crescente e f ′′ ´e fun¸c˜ao positiva. Estes fatos podem ser generalizados para fun¸co˜es f : Rn → R
se consideradas as extens˜oes apropriadas dos conceitos de crescente e positiva respectivamente para vetores e matrizes.
Derivadas de Ordem Superior
93
Defini¸c˜ ao 7.2: Uma fun¸c˜ao g: Ω positiva em Ω se
⊂
Rn
→
Rn ´ e dita mon´ otona
− g(y); x − y ≥ 0, ∀x, y ∈ Ω. g ´e dita mon´otona negativa se −g ´e mon´ otona positiva. Defini¸c˜ ao 7.3: Uma matriz A n × n ´e dita positiva definida se Ax; x > 0, ∀x =n 0 e m Rn. A ´e dita semipositiva definida se Ax; x ≥ 0, ∀x ∈ R . A ´e dita negativa (resp. seminegativa) definida se −A ´e positiva (resp. semipositiva) definida. g(x)
Nota¸ c˜ ao: Se A ´ e semipositiva (resp. seminegativa) definida denotamos A 0 (resp. A 0). Se A ´e positiva (resp. negativa) definida, denotamos A > 0 (resp. A < 0).
≥
≤
Observe que uma fun¸ca˜o real de vari´avel real ´e crescente se e somente se ´e mon´otona positiva. Observe tamb´em que se f (x) = Ax, ent˜ao f ´e mon´ otona positiva se e somente se A ´e semipositiva definida. Teorema 7.4: Seja f : Rn c˜ ao diferenci´avel. Ent˜ ao f ´e R uma fun¸ ′ convexa se e somente se f ´e mon´ otona positiva.
→
Prova: Provemos inicialmente a implica¸c˜ao “
⇒”. Por hip´otese temos f x0 + t(x1 − x0 ) ≤ f (x0 ) + t f (x1 ) − f (x0 ) , f x0 + t(x1 − x0 ) = f (x0 ) + t f ′ (x0 ); x1 − x0 + ǫ t(x1 − x0 ) .
− ≥ − −
Subtraindo a segunda equa¸ c˜ao da primeira, obtemos t f (x1 )
t f ′ (x0 ); x1
f (x0 )
x0 + ǫ t(x1
x0 ) .
− x0), t > 0, temos ap´os divis˜ao por t
Denotando por ξ = t(x1 f (x1 ) Fazendo t
− f (x0 ) ≥
f ′ (x0 ); x1
→ 0, conclu´ımos f (x1 ) − f (x0 ) ≥
− x0
+
f ′ (x0 ); x1
ǫ(ξ ) x1 ξ
− x0 .
− x0 .
C´ alculo Avan¸cado I
94 Mutatis mutandis , f (x0 )
− f (x1 ) ≥
f ′ (x1 ); x0
− x1
e temos a conclus˜ao. Provemos a implica¸ca˜o contr´aria “ ”. Sabemos da An´ alise Real que ′ se ϕ: R e crescente, ent˜ao ϕ e´ convexa. Sejam R ´e deriv´avel e ϕ ´ n x1 , x0 e R e consideremos ϕ(t) = f x0 + t(x1 x 0 ) . Como f ´ diferenci´ avel, segue da Regra da Cadeia (Teorema 5.9) que ϕ′ (t) = f ′ x0 + t(x1 x0 ) ; x1 x0 . Provemos que ϕ ′ ´e crescente.
⇐
→ ∈
−
ϕ′ (t1 ) ϕ′ (t0 ) = f ′ x0 + t1(x1 Como x0 + t1 (x1 podemos escrever
x0 )
t0 ) ϕ′ (t1 )
(t1
x0 )
−
− − − − − − − − − −
f ′ x0 + t0 (x1
x0 + t 0 (x1
x0 )
ϕ′ (t0 ) = f ′ (xt1 )
− x0) ; x1 − x0 . = (t1 − t0 )(x1 − x0 ),
f ′ (xt0 ); xt1
− xt
−
0
,
onde estamos denotando x t = x 0 + t(x1 x0 ). Como por hip´otese f ′ ´e mon´ otona positiva, conclu´ımos que ϕ ′ ´e crescente. Logo ϕ ´e convexa e ϕ(t) ϕ(0) + t(ϕ(1) ϕ(0)) para todo t ]0, 1[. Portanto,
≤
∈
− x0) ≤ f (x0) + t f (x1) − f (x0 )
f x0 + t(x1 para todo t
−
∈ ]0, 1[.
Teorema 7.5: Seja g: Rn R n uma fun¸cao ˜ diferenci´avel. Ent˜ ao g ´e mon´ otona positiva se e somente se g ′ ´e semipositiva definida.
→
⇒”. Por hip´otese temos g(x1 ) − g(x0 ); x1 − x0 ≥ 0, g(x1 ) = g(x0 ) + g ′ (x0 )(x1 − x0 ) + ǫ(x1 − x0 ). Fazendo o produto escalar da segunda equa¸ca˜o acima por x1 − x 0 , Prova: Provemos inicialmente a implica¸c˜ao “
obtemos da primeira 0
≤ =
− g(x0 ); x1 − x0 ′ g (x0 )(x1 − x0 ); x1 − x0 g(x1 )
+ ǫ(x1
− x0); x1 − x0 .
(7.3)
Derivadas de Ordem Superior
95
Seja u Rn vetor unit´ario tal que x 1 segue de (7.3)
∈
− x0 = λu, com λ > 0. Ent˜ao,
0
≤ λ2 g′(x0 )u; u
+ λ ǫ(λu); u .
Dividindo por λ2 e usando a desigualdade de Cauchy-Schwarz, temos
≥ −
g ′ (x0 )u; u
ǫ(λu) . λu
Fazendo λ 0 obtemos a conclus˜ao. R Para provar a implica¸c˜ao contr´aria, consideremos a fun¸c˜ao ϕ: R definida por ϕ(t) = g x0 + t(x1 x0 ) ; x1 x0 . Segue da Regra da Cadeia que ϕ ´e deriv´avel e
→
−
ϕ′ (t) = g ′ x0 + t(x1
−
→
− x0) (x1 − x0); x1 − x0 .
Pelo Teorema do Valor M´edio aplicado `a ϕ, temos que existe t tal que ϕ(1) ϕ(0) = ϕ′ (t). Assim,
−
g(x1 )
− g(x0 ); x1 − x0
= g ′ x0 + t(x1
∈ ]0, 1[
− x0 ) (x1 − x0); x1 − x0
e temos a conclus˜ao porque g ′ x0 +t(x1 x0 ) ´e semipositiva definida.
−
Observa¸c˜ ao: As vers˜oes gˆemeas dos Teoremas 7.4 e 7.5 s˜ao evidentes, bastando trocar crescente, positiva, convexa pelos sim´etricos decrescente, negativa, cˆoncava .
A Matriz Hessiana Seja f : Ω
→ R fun¸ca˜o duas vezes diferenci´avel e consideremos f ′′ : Ω → L(Rn , Rn ).
Fixada a base canˆ onica de Rn , podemos fazer a identifica¸ca˜ o do espa¸co das transforma¸ c˜oes lineares (Rn , Rn ) com o espa¸co n das ′′ matrizes n n. A matriz associada a f (x0 ) ´e denominada Matriz Hessiana de f em x 0 .
×
L
M
C´ alculo Avan¸cado I
96
f ′′ (x0 ) =
∂ 2 f (x0 ) ∂ 2 x1 .. . ∂ 2 f (x ) ∂x 1 ∂x n 0
∂ 2 f (x ) ∂x 2 ∂x 1 0 .. . ∂ 2 f (x ) ∂x 2 ∂x n 0
... ..
.
...
∂ 2 f (x ) ∂x n ∂x 1 0 ... ∂ 2 f (x0 ) ∂ 2 xn
M´aximos e M´ınimos
⊂ Rn → R uma fun¸c˜ao. Defini¸c˜ ao 7.6: Dizemos que x0 ∈ A ´e ponto de m´ınimo local (resp. m´ aximo local ) para f se existe r > 0 tal que f (x0 ) ≤ f (x) (resp. f (x0 ) ≥ f (x)), para todo x ∈ A ∩ Br (x0 ). Teorema 7.7: Seja Ω ⊂ Rn aberto e f : Ω → R uma fun¸c˜ ao diferenci´ avel. Se x0 ∈ Ω ´e ponto de m´ınimo (resp. m´ aximo) local de f , ′ Seja f : A
ent˜ ao f (x0 ) = 0. Al´em disso, se f ´e duas vezes diferenci´avel em x0 , ent˜ ao f ′′ (x0 ) ´e semipositiva (resp. seminegativa) definida. Prova: Como f ´e diferenci´avel, temos
f (x0 + h) = f (x0 ) + f ′ (x0 ); h + ε(h),
onde ε(h) ´e fun¸ca˜o o( h ). Como Ω ´e aberto e x 0 ´e ponto de m´ınimo local para f , existe r > 0 tal que se h < r ent˜ao
f ′ (x0 ); h + ε(h)
Se 0 < λ < r e u
≥ 0.
(7.4)
∈ Rn unit´ario s˜ao tais que h = λu, obtemos de (7.4) f ′ (x0 ); u +
ε(λu) λ
≥ 0.
No limite quando λ tende a zero, obtemos a desigualdade
f ′ (x0 ); u
≥
0
Derivadas de Ordem Superior
97
−
para todo u unit´ario. Como f ′ (x0 ); u = f ′ (x0 ); u 0, u, ′ conclu´ımos que f (x0 ) = 0. Se f ´e duas vezes diferenci´avel em x0 , segue do Lema 7.1 que existe ǫ(h) fun¸c˜ao o h 2 tal que
− ≥
1 ′′ f (x0 )h; h + ǫ(h). 2
f (x0 + h) = f (x0 ) + f ′ (x0 ); h +
∀
O argumento anterior nos permite concluir que f ′ (x0 ) = 0 e 1 ′′ ǫ(λu) f (x0 )u; u + 2 λ2
≥ 0
∈
para todo vetor unit´ario u e para todo λ ]0, r[. Obtemos o resultado no limite quando λ 0.
→
Teorema 7.8: Seja Ω ao duas Rn aberto e f : Ω R uma fun¸c˜ ′ ′′ vezes diferenci´avel em x0 Ω. Se f (x0 ) = 0 e f (x0 ) ´e matriz positiva definida, ent˜ ao x 0 ´e ponto de m´ınimo local de f .
⊂
→
∈
Prova: Pelo Lema 7.1, temos f (x0 + h) = f (x0 ) +
1 ′′ f (x0 )h; h + ǫ(h), 2
(7.5)
para todo h suficientemente pequeno, onde ǫ(h) ´e fun¸ca˜o o h 2 . Seja µ = min f ′′ (x0 )u; u ; u = 1 . Como f ′′ (x0 ) ´e positiva definida, segue que µ > 0 e vale a desigualdade
{
} ≥ ∀ ∈
f ′′ (x0 )h; h
µ h 2 ,
h
Rn .
(7.6)
Substituindo (7.6) em (7.5), obtemos f (x0 + h)
− f (x0) ≥ µ2 h2 + ǫ(h).
Como ǫ(h) ´e o h 2 , existe δ > 0 tal que se 0 < h < δ , ent˜ao ǫ(h) < (µ/4) h 2 . Portanto,
|
|
f (x0 + h)
− f (x0 ) ≥ µ2 h2 − µ4 h2 ≥ 0
C´ alculo Avan¸cado I
98
Se f : Ω →
para todo h tal que h < δ e conclu´ımos a prova. Observa¸c˜ ao: e uma fun¸c˜ao diferenci´avel no aberto R ´ n ′ Ω ao dizemos que x0 ´e ponto cr´ıtico de f . R e f (x0 ) = 0, ent˜ O Teorema 7.8 acima nos fornece um crit´ erio—crit´erio da derivada segunda —para busca de pontos de m´ınimo local dentre os pontos cr´ıticos de f . Esse crit´ erio, tal como formulado pelo Teorema 7.8, apresenta uma dificuldade de ordem pr´atica para dimens˜oes grandes, visto que, excetuando os casos n 2 (veja Exerc´ıcios), n˜ao ´e uma tarefa simples decidir se [f ′′ (x0 )] ´e positiva definida. Podemos obter novos crit´erios caso f verifique certas condi¸co˜es de regularidade, como veremos adiante. A id´eia ´e simples, se lembrarmos certos resultados fundamentais ´ de Algebra Linear, a saber: Se A = aij )ij ´e matriz n n, definimos o tra¸co de A como a soma dos elementos da diagonal principal de A, isto ´e,
⊂
≤
×
tr(A) = a 11 + a22 +
··· + ann;
O tra¸co de A ´e um invariante para semelhan¸ca de matrizes, isto ´e, se A e B s˜ ao matrizes semelhantes, ent˜ ao tr(A) = tr(B); Se A ´e matriz diagonaliz´avel, ent˜ ao tr(A) = λ1 + λn , onde λi , i = 1, . . . , n s˜ ao os autovalores de A; Uma matriz diagoniz´avel ´e semipositiva definida (resp. positiva definida) se e somente se todos os seus autovalores s˜ ao positivos (resp. estritamente positivos). (Teorema Espectral) Toda matriz sim´etrica ´e diagonaliz´avel.
···
Lema 7.9: Seja f uma fun¸cao ˜ duas vezes diferenci´avel que satisfaz as seguintes propriedades: para todo x B r (x0 ), a matriz [f ′′ (x)] ´e diagonaliz´avel e tr [f ′′ (x)] > 0 . Ent˜ ao f atinge o seu m´aximo na fronteira da bola Br (x0 ), isto ´e
− x0 ≤ r
max f (x) ; x
∈
−
− x0 = r
= max f (x) ; x
.
Prova: Suponhamos que max f (x) ; x x 0 r = f (x), com x x 0 < r. Ent˜ao, decorre do Teorema 7.7 que f ′ (x) = 0 e
−
≤
Derivadas de Ordem Superior
99
[f ′′ (x)] ´e seminegativa seminega tiva definida. Logo, todos os autovalores de [f [ f ′′ (x)] ′′ s˜ao ao negativos, o que implica tr [f (x)] 0, em contradi¸c˜ c˜ao ao com a hip´ otese. otese.
≤
Lema 7.10: Seja 7.10: Seja f uma f uma fun¸c˜ c˜ ao duas vezes diferenci´avel avel que satisfaz as seguintes seguintes propriedades: propriedades: para todo x Br (x0 ) a matriz [f ′′ (x)] ´e e diagonaliz´avel avel e tr [f ′′ (x)] 0. Ent˜ Ent˜ ao f f atinge o seu m´aximo aximo na fronteira da bola Br (x0 ), isto is to ´e e
≥
∈
− x0 ≤ r
max f ( f (x) ; x
− x0 = r
= max f ( f (x) ; x
.
Prova: Podemos supor sem perder a generalidade que x0 = 0. Seja ε > 0 e considere a fun¸c˜ c˜aao g o g definida por g (x) = f ( f (x) +
ε x 22 . 2
Ent˜aaoo g ´e duas vezes diferenci´ diferen ci´avel avel e g ′′ (x) = f ′′ (x) + εI + εI ,, para todo n x, onde I onde I denota denota a identidade em R . Portanto,
tr [g ′′ (x)] = tr([f tr([f ′′ (x)] + nε > 0, 0 ,
∀x ∈ Br (0). (0).
Segue do Lema 7.9 que g que g atinge seu m´aximo aximo na fronteira da bola. Para concluir o resultado basta observar que ε ≤ max g (x) = max g (x) = max f ( f (x) + r2 . 2 x≤r ≤ r x =r x =r
max f ( f (x)
x≤r ≤ r
Assim, para todo ε todo ε > 0, temos ε f ( f (x) + r2 . ≤ max 2 x =r
max f ( f (x)
x≤r ≤ r
Fazendo ε Fazendo ε tender a zero obtemos max f ( f (x)
x≤r ≤ r
≤ max f ( f (x) x =r
e a conclus˜ao ao da prova, pois a desigualdade contr´aria ari a ´e imediata imed iata..
C´ alcu al culo lo Avan¸ Ava n¸cado cado I
100
Nota¸ c˜ ao: O tra¸co co da matriz Hessiana de uma fun¸c˜ caao f ˜o f :: Ω ´e den d enom omina inado do Laplaciano Laplaciano de de f f e denotamos
tr [f ′′ (x0 )] = ∆f ( f (x0 ) =
∂ 2 f (x0 ) + ∂x 21
⊂ Rn → R
2
∂ f · · · + ∂x (x0 ). 2 n
Os Lemas 7.9 e 7.10 s˜ao ao conhecidos como Pr como Princ´ inc´ıpio ıpio do M´aximo aximo e e s˜aaoo fundamentais no estudo das Equa¸c˜ c˜oes oes a Derivadas Parciais. O Lema 7.10 pode ser formulado da seguinte forma: Corol´ Cor ol´ario ari o 7.11: 7.1 1: Seja Ω R n aberto e f : f : Ω R uma fun¸c˜ cao ˜ duas ′ vezes diferenci´avel. avel. Suponha x0 Ω tal que f f (x0 ) = 0 e ∆f ( f (x) 0 ′′ para todo x B r (x0 ). Se [f (x)] ´ )] ´e matriz diagonaliz´ diagon aliz´avel avel para todo x Br (x0 ), ent˜ ao x x 0 n˜ ao ´e ponto de m´aximo aximo local de f . f .
⊂
∈
∈
∈
→
≥
Observe que ∆f ∆f ((x) 0 para todo x todo x B r (x0 ) n˜ao ao implica que f que f ′′ seja positiva definida em Br (x0 ). De fato, fato, consid considere ere f ( f (x, y ) = 5x2 y 2 . Ent˜ao ao ∆f ( f (x, y) = 8 para todo (x, (x, y ) R2 . No que segue formularemos condi¸c˜ c˜oes oes simples para que a matriz Hessiana seja diagonaliz´avel. avel.
≥
∈ ∈
−
Defini¸c˜ c˜ ao ao 7.12 7. 12:: Se f : f : Ω e uma fun¸ fun c˜ c¸ao a˜o diferenci´avel a vel em Ω e R ´ f ′ : Ω R n ´e uma um a fun¸ fu n¸c˜ cao a˜o de classe C 1 em x0 Ω, dizemos que f ´e de classe C classe C 2 em x em x 0 .
→
→
∈
→
Proposi¸ c˜ cao a ˜o 7.13: 7.13: Seja f : f : Ω c˜ cao ˜ duas vezes diferenci´aa-R uma fun¸ 2 n vel no aberto Ω Ω R . Se f ´ f ´e de clas cl asse se C C em x em x 0 Ω ent˜ ao a matriz ′′ Hessiana [f [ f (x0 )] ´ )] ´e sim´etrica.
⊂
∈
Prova: A prova se reduz ao caso n = 2 (veja o Lema a seguir). De fato, sejam h, k Rn dois vetores quaisquer e defina g (t, s) = f ( f (x0 + th + th + + sk sk), ), para s e t suficientemen suficientemente te pequenos. Ent˜ ao, ao, segue da Regra da Cadeia
∈
∂ 2 g (0, (0, 0) = f ′′ (x0 )h; k ∂t∂s ∂ 2 g (0, (0, 0) = f ′′ (x0 )k ; h ∂s∂t e temos a conclus˜ao ao se
∂ 2 g ∂ 2 g (0, (0, 0) = (0, (0, 0) ∂t∂s ∂s∂t
Derivadas de Ordem Superior
101
Observa¸c˜ ao: A hip´otese otese “f “f de classe C 2 em x0 ” na Proposi¸c˜ caao ˜o acima ´e essencial. De fato, considere a fun¸c˜ c˜aaoo f ( f (x, y ) =
xy( xy (x2 y 2 ) x2 + y 2 0
−
se (x, y ) = (0, (0, 0) sen˜aaoo
Ent˜ao, ao, um c´alculo alculo direto mostra que ∂ 2 f (0, (0, 0) = 1 ∂x∂y
e
∂ 2 f (0, (0, 0) = ∂y∂x
−1.
Lema Lema 7.14: 7.14: Seja g : R2 c˜ c˜ ao duas vezes diferenci´avel avel com R fun¸ derivadas parciais parcia is segundas s egundas cont´ cont´ınuas em (0, (0 , 0). 0). Ent˜ ao,
→
∂ 2 g ∂ 2 g (0, (0, 0) = (0, (0, 0). 0). ∂t∂s ∂s∂t
−
−
Prova: Seja Φ(s, Φ(s, t) = g (s, t) g (s, 0) g (0, (0, t) + g(0 g (0,, 0). 0). Para ara t fixado, consideremos consideremos a fun¸c˜ caao ϕ ˜o ϕ((s) = g( g (s, t) g (s, 0) que ´e deriv´ der iv´avel avel na vari´avel avel s. O Teorema do Valor M´ edio edio garante a existˆ encia encia de 0 < θ1 < 1 < 1 tal que
−
∂g Φ(s, Φ(s, t) = ϕ( ϕ(s) ϕ(0) = sϕ = sϕ ′ (θ1 s) = s (θ1 s, 0) . ∂s (7. (7.7) Aplicando novamente o TVM (com rela¸c˜ c˜ao ao a` vari´avel t avel t)) no termo da direita de (7.7), obtemos para algum 0 < θ2 < 1 < 1
−
∂g (θ1 s, t) ∂s
−
∂ 2 g Φ(s, Φ(s, t) = st θ1 s, θ2 t . ∂t∂s
(7. (7.8)
Para s fixado, fixado, consideremo consideremoss a fun¸ c˜ c˜aaoo ψ (t) = g (s, t) g (0, (0, t) que ´e deri de riv´ v´avel avel na vari´ ariavel a´vel t. De mod modo o an´ analogo a´logo ao anterior, anterior, existem 0 < θ3 , θ4 < 1 tais que Φ(s, Φ(s, t) = ψ( ψ (t)
−
−
ψ (0) = tψ = tψ ′ (θ3 t)
∂g ∂ g = t (s, θ3 t) (0, (0, θ3 t) ∂t ∂t ∂ 2 g = st θ4 s, θ3 t . ∂s∂t
−
(7. (7.9)
C´ alculo Avan¸cado I
102 De (7.8) e (7.9) obtemos a igualdade
∂ 2 g ∂ 2 g st θ1 s, θ2 t = st θ4 s, θ3 t , ∂t∂s ∂s∂t
∀
s,t.
→
A conclus˜ao da prova segue da passagem ao limite para (s, t) (0, 0) e da continuidade em (0, 0) das derivadas parciais de segunda ordem de g . Sintetizando os resultados anteriores, temos o seguinte crit´erio: Rn aberto e f : Ω R uma fun¸cao Corol´ario 7.15: Seja Ω ˜ de 2 classe C . Se ∆f (x0 ) > 0 ent˜ ao existe R > 0 tal que para todo r R o m´ aximo de f sobre a aderˆencia da bola Br (x0 ) ´e atingido sobre a fronteira x x0 = r. Em particular, se f ′ (x0 ) = 0, ent˜ ao x 0 n˜ ao ´e m´ aximo local de f em Ω.
⊂
→
≤
−
Exerc´ıcios Exerc´ıcio 7.1. Seja f : Rn Rm linear. Mostre que f ′ (x) = f , n ′ x R , isto ´e, f (x)h = f (h), x, h R n . Observe tamb´em que f ′ ´e constante e, portanto, f ′′ 0.
→ ∀ ∈ ≡ Exerc´ıcio 7.2. Seja ϕ: Rn → Rn fun¸ca˜o diferenci´avel tal que ϕ′(x)L( ) ≤ α, ∀x ∈ Rn. ∀ ∈
Rn
a) Se α < 1, mostre que ϕ ´e uma contra¸ca˜o e demonstre que para cada y Rn , existe um u ´ nico x Rn tal que y = x + ϕ(x). b) Podemos afirmar que ϕ ´e uma contra¸ca˜o se ϕ′ (x) L(Rn ) < 1, x Rn ? c) Use o item (a) para mostrar que se A ´e uma matriz n n tal que A < 1 ent˜ao (I + A) ´e invert´ıvel. d) Se ϕ ´e mon´otona positiva, mostre que para cada y R n , existe um u ´nico x Rn satisfazendo y = x + ϕ(x) (mesmo que α 1).
∈
∈
∀ ∈
∈
× ∈
≥
Exerc´ıcio 7.3. Seja C Rn convexo e fechado e P C : Rn Rn a proje¸c˜ao ortogonal sobre C (veja Exerc´ıcio 4.12). Mostre que P C ´e fun¸ca˜o mon´ otona positiva. Conclua que x
⊂
→
→ f (x) = x − 21 P C (x); P C (x)
Derivadas de Ordem Superior
103
´e fun¸ca˜o convexa. Exerc´ıcio 7.4. Calcule f ′′ (x) para cada uma das fun¸c˜oes f : Rn Observe que em todos os casos f ′ ´e linear e portanto f ′′ : Rn ´e constante.
→ R. → Mn×n
1 1 x 22 , f (x) = Ax 22 , 2 2 f (x) = Ax; x , f (x) = Ax; Bx . f (x) =
Exerc´ıcio 7.5. Considere f : RN c˜ao duas vezes diferenci´avel R fun¸ e A uma matriz N N . Defina g(x) = f (Ax). Mostre que g ´e duas vezes diferenci´avel em RN e
→
×
g ′ (x) = AT f ′ (Ax) g ′′ (x) = AT f ′′ (Ax)A Exerc´ıcio 7.6. Considere a matriz sim´etrica A =
a b , b c
a, b, c
∈ R.
Mostre que A ´e positiva definida se e somente se det A > 0 e a > 0. Mostre que se A ´e semipositiva definida, ent˜ao det A 0 e a 0 mas a rec´ıproca ´e falsa.
≥
≥
R fun¸ Exerc´ıcio 7.7. Seja f : Rn c˜ao duas vezes diferenci´avel em 2 x0 = 0 tal que f (tx) = t f (x) para todo x Rn e todo t R. Mostre que 1 f (x) = f ′′ (0)x; x , x Rn . 2
→
∈
∈
∀ ∈
{ ∈ R2; x22 ≤ 1}. Considere f : R2 → R2
Exerc´ıcio 7.8. Seja D = x de classe C 1 tal que
J f (x) = 0
∀x ∈ D
Mostre que existe x0
e
f (x) − x2 ≤ 31 ∀x ∈ D.
∈ D tal que f (x0) = 0.
C´ alculo Avan¸cado I
104
Exerc´ıcio 7.9. a) Seja A matriz n n semipositiva definida , isto ´e Ax; x 0 n x R e defina a fun¸ca˜o g (x) = Ax. Mostre que g ´e mon´ otona positiva. Seja F λ (x) = x + λAx, com λ > 0. Mostre que F λ ´e bijetora em R n . b) Seja f mon´ otona positiva e considere F λ (x) = x + λf (x), com λ > 0. Mostre que F λ ´e injetora. Se F λ0 ´e sobrejetora para algum λ 0 , mostre que F λ ´e sobrejetora para todo λ > 0. Sugest˜ ao: Dado y Rn , considere a fun¸ca˜o
∀ ∈
×
≥
∈
Φλ (x)
= F λ−01
−
λ0 λ λ0 y + x . λ λ
Mostre que Φλ ´e contra¸c˜ao para λ > λ0 /2. Repita o argumento para λ 0 /2 < λ1 < λ0 Rn fun¸ Exerc´ıcio 7.10. (M´etodo de Newton) Seja f : Rn c˜ao de classe C 1 tal que J f (x) = 0, x Rn . Considere a sequˆencia:
∀ ∈ x0 ∈ Rn e xn+1 = x n − f ′ (xn )−1 f (xn ), a) Mostre que se x n −→ x ¯, ent˜ao f (¯ x) = 0.
→
≥ 0
n
(7.10)
b) Reciprocamente, suponha que f ´e duas vezes diferenci´avel com f ′′ limitada. Se f (¯ x) = 0 para algum x ¯ , mostre que a sequˆencia definida por (7.10) converge para x ¯ se x0 for tomado suficientemente pr´oximo de x ¯.
8 O Teorema da Fun¸c˜ ao Inver nve rsa Neste cap´ cap´ıtulo abordaremos ab ordaremos um dos resultados centrais da An´aa-lise: o Teorema da Fun¸c˜ c˜ao ao Inversa. ` guisa de motiva¸c˜ A cao, a˜o, consid considere eremos mos a fun¸ func˜ c¸ao a˜o linear g : Rn Rn definida definida por g (x) = Ax Ax,, onde onde A ´e uma matriz matr iz n n. n . Sabe Sabemo moss ´ da Algebra Linear que se det A = 0, ent˜aao g o g ´ ´e invert´ inve rt´ıvel ıve l e sua su a invers inve rsaa −1 n n −1 −1 g :R e dada da da por po r g (x) = A x. R ´ Vimoss tamb´em Vimo em que g (resp. g (resp. g −1 ) ´e diferen dif erenci´ ci´avel avel em R n e g ′ (x0 ) = A = A ′ −1 −1 n (resp. g (x0 ) = A ), qualquer que seja x 0 R . Se Ω e um conjunto aberto e f : f : Ω e uma um a fun¸ fu n¸c˜ c˜ao ao difeRn ´ Rn ´ ′ renci´ avel avel em x em x 0 Ω, ent˜ao ao sabemos que f que f (x0 ): Rn e a fun¸ fu n¸c˜ caao ˜o Rn ´ linear que “melhor aproxima” f aproxima” f nas proximidades de x0 , no sentido dado por (5.1). Seria, portanto, natural esperar que
→
⊂
se f : f : Ω
×
→
∈
→
∈
→
→ Rn ´e difer dif erenc enci´ i´avel avel em x em x 0 ∈ Ω e ′ J f = 0, f (x0 ) = det f (x0 )
ent˜ ao f ´ f ´e invert inver t´ıvel nas proximi prox imidad dades es de x de x 0 . Com um pouco mais de aten¸c˜ c˜ao ao podemos observar que um tal resultado n˜ao ao pode ser verdadeiro, mesmo para n = n = 1. R a fun¸ De fato, consideremos f consideremos f :: R c˜ cao ˜ao definida por
→
f ( f (x) =
x 1 + x2 sen 2 x 0
se x = 0, se x = 0.
C´ alcu al culo lo Avan¸ Ava n¸cado cado I
106
´ imediato verificar que f E que f ´ ´e difer di feren enci´ ci´avel avel em todos os pontos de R e
′
f (x) =
1 1 + 2x sen 2 x 1 2
− cos 1x
se x = 0, 0,
se x = 0.
Se f f fosse invert´ invert´ıvel numa vizinhan¸ vizinha n¸ca c a de x0 = 0, ent˜ao ao seria ne′ cessariamente injetora nessa vizinhan¸ca. c a. Como Como f (0) = 1/ 1/2, seria necessariamente crescente nessa vizinhan¸ca. ca. Mas isso ´e imposs impo ss´´ıvel porque f porque f ′ (x) muda de sinal (infinitas vezes!) em qualquer vizinhan¸ca ca que contenha x contenha x 0 = 0. Observe que se f ′ fosse fos se cont´ınua ınua em x0 = 0, ent˜aao f o f ′ (x) > 0 para x para x suficientemente pr´oximo oximo de x de x 0 = 0 e ter´ ter´ıamos o resultado r esultado desejado. desejad o.
O Teorema de Fun¸c˜ c˜ao ao Inve Invers rsa a
→
O Teorema da Fun¸c˜ cao a˜o Inversa ´e verdadeiro verd adeiro para fun¸c˜ coes o˜es f : f : V V , V , onde V ´e um espa es pa¸co c¸o de Banach. Banach. Nesta Nesta se¸c˜ c˜ao ao veremos uma demonsn tra¸c˜ cao a˜o espec´ espec´ıfica para o caso de V = R . No que segue segue estare estaremos mos n denotando indistintamente por a norma euclidiana 2 de R e a norma induzida L(Rn ,Rn ) definida por (4.11).
Teorema 8.1: Seja Ω ⊂ Rn aberto e f : f : Ω → Rn fun¸c˜ cao ˜ de classe 1 C tal que J J f ( x ) = 0. 0 . Ent˜ ao existe δ δ > 0 tal 0 tal que f 0 0 a) f ´ f ´e injeto inj etora ra em U = Bδ0 (x0 ); b) V = f ( f (U ) U ) ´e aber ab erto to;; c) f −1 : V
→ U ´ ´e de clas cl asse se C C 1 e
′
f −1 (f ( f (x0 )) = f ′ (x0 )
−1
.
Prova: Faremos Prova: Faremos a prova em quatro etapas. Etapa 1: δ 1 > 0 tal 0 tal que f ´ f ´e injeto inj etora ra em Bδ1 (x0 ). ′ Seja A Seja A = f = f (x0 ). Como J Como J f 0, A −1 est´ a definida. Como f Como f ´ ´e de f (x0 ) = 0, A 1 classe C classe C , dado ε dado ε > 0, existe δ existe δ > 0 (dependendo de ε de ε e x 0) tal que
∃
x − x0 < δ ⇒ f ′(x) − A < ε Tome x Tome x ∈ Bδ (x0 ) e h = 0 tal que x que x + h ∈ Bδ (x0 ). Afirmativa 1: f ( f (x + h) = f ( f (x) se δ se δ ´ ´e suficientemente suficientem ente pequeno. peque no.
(8. (8.1)
O Teorema da Fun¸c˜ c˜ao ao Inve In vers rsa a
107
Rn definida por ϕ(t) = f ( De fato, seja ϕ: [0, [0, 1] f (x + th + th)) tAh. tAh . ′ ′ 1 Ent˜aaoo ϕ ´e de class cla ssee C em ]0, ]0, 1[ e ϕ (t) = f (x + th + th))h Ah Ah.. Al´ Al ´em em disso,
→
−
1
ϕ(1)
− ϕ(0) =
isto is to ´e, e,
− Ah − f ( f (x) =
Em particular,
f ′ (x + th) th)
0
≤ 1
f (x + h) − f ( f (x) − Ah f (
ϕ′ (t) dt,
0
1
f ( f (x + h)
−
f ′ (x + th) th)
0
− A hdt. − A h dt.
Como x + th
[0, 1], segue de (8.1) que ∈ Bδ (x0), ∀t ∈ [0, f ( f (x + h) − f ( f (x) − Ah < εh . (8. (8.2) Visto que h = A−1 Ah ≤ A−1 Ah , obtemos de (8.2) f ( f (x + h) − f ( f (x) > 1 − εA−1 Ah . (8. (8.3) Escolhendo-se ε Escolhendo-se ε = = 12 A−1 −1 e δ 1 o δ o δ correspondente, correspondente, temos de (8.3):
1 f ( f (x + h) − f ( f (x) > Ah . 2 Como A ´e inver nvert´ t´ıvel ve l, Ah = 0 ∀h = 0, o que demonstra a afirmativa. Etapa 2: ∃ δ 2 > 0 tal 0 tal que f f Bδ (x0 ) ´e aber ab erto to.. Como f ´ f ´e de clas cl asse se C 1 , x → J f e fun¸ fu n¸c˜ c˜ao ao co cont nt´´ınua. ınua . Log Logo, o, ∃δ˜ > 0 f (x) ´ tal que J que J f = 0 ∀x ∈ Bδ˜(x0 ). f (x) ˜}. Ent˜ Seja δ 2 = min{δ 1 , δ Ent˜ aaoo J f = 0 ∀x ∈ Bδ (x0 ) e f ´ f ´e injet in jetor oraa f (x)
2
2
em B em B δ2 (x0 ). Provemos que W que W = f Bδ2 (x0 ) ´e um conjunto aberto. aber to. Seja y Seja y 1 W . W . Ent˜ao ao existe um unico x u ´ nico x1 Bδ2 (x0 ) tal que f que f ((x1 ) = y 1 . Tome r Tome r > 0 tal que B que B r (x1 ) Bδ2 (x0 ) e considere
∈
⊂
∈
K = ∂B ∂ Br (x1 ) e u(x) = f ( f (x)
f (x1 ) , − f (
C´ alculo Avan¸cado I
108
onde ∂ B denota a fronteira de B . Como K ´e compacto e u ´e fun¸ca˜o cont´ınua, existe x ∗ K tal que
∈
{ ∈ K } = u(x∗ ). Observe que x ∗ ∈ K ⇒ x ∗ = x1 ⇒ f (x∗ ) = f (x1 ) ⇒ m > 0. Afirmativa 2: Bm/2 f (x1 ) ⊂ f Br (x1 ) ⊂ W . Com efeito, tome y¯ ∈ Bm/2 f (x1 ) . Isto ´e, y¯ − f (x1 ) < m/2. Defina w(x): = f (x) − ¯ y . Como Br (x1 ) ´e compacto, ∃x ¯ ∈ Br (x1 ) tal que w(¯ x) = min{w(x) ; x ∈ Br (x1 )}. m: = inf u(x) ; x
Observe que
− ¯y ≤ f (x1) − ¯y < m/2. Observe tamb´em que se x ∈ K , ent˜ao m m w(x) = f (x) − ¯ y ≥ f (x) − f (x1 ) − f (x1 ) − ¯ y ≥ m − = . 2 2 w(¯ x) = f (¯ x)
∈
∈ ∈
Portanto x ¯ K , o que implica x ¯ Br (x1 ). Afirmativa 3: f (¯ x) = y¯, isto ´e y¯ f Br (x1 )
Com efeito, se x ¯ ´e ponto de m´ınimo de w(x) em Br (x1 ), ent˜ao x ¯ 1 2 tamb´em ´e ponto de m´ınimo de g(x) = 2 f (x) y¯ 2 . Como x ¯ ´e ponto interior, g ′ (¯ x)h = 0, h Rn , o que implica que h Rn
− ∀ ∈
−
0 = g ′ (¯ x)h = Portanto,
∀ ∈ f (¯ x) − ¯ y; f ′ (¯ x)h =
f ′ (¯x)
T
f (¯ x)
f ′ (¯ x)
T
f (¯ x)
− ¯y ; h
¯ y = 0.
T
Como det f ′ (¯ x) = det f ′ (¯ x) = J f (¯ x) = 0, segue que f (¯ x) = y¯, e a afirmativa esta provada. Etapa 3: Se U = B δ2 (x0 ) e V = f (U ), ent˜ ao f −1 : V U ´e diferenci´avel . Seja y V e tome r > 0 tal que y + k V k tal que k < r e −1 −1 −1 h = f (y +k) f (y) = f (y + k) x. Ent˜ao k = f (x+h) f (x).
∈
−
−
∈ ∀
→
−
O Teorema da Fun¸c˜ao Inversa
109
Como f ´e diferenci´avel, temos k = f ′ (x)h + ef (h). Se x U , ent˜ao J f (x) = 0 e f ′ (x) ´e invert´ıvel. Assim, seja B = −1 f ′ (x) . Ent˜ao Bk = h + Be f (h)
∈
Portanto,
f −1 (y + k) = f −1 (y) + Bk
− Bef (h)
Para provar que f −1 ´e diferenci´avel, basta provar que
Be f (h) = 0 k→0 k lim
(8.4)
Como na Etapa 1,
k = f (x + h) − f (x) ≥ 21 Ah ≤ A−1 Ah , temos
Como h
Ah ≥ A1−1 h. Portanto,
e 0
k ≥ 2A1−1 h
≤ B ef (h) = 2A−1 B ef (h) ≤ Bef k(h) 1 h h 2A
1
−
o que implica (8.4). Logo, f −1 ´e diferenci´avel em y = f (x) e
′
f −1 (y) = f ′ (x)
−1
Etapa 4: f −1 : V U ´e de classe C 1 . Vamos denotar A = f ′ (x1 ) e B = f ′ (x2 ). Visto que B −1 B −1 (A B)A−1 , obtemos
→
−
B−1 − A−1 ≤ B−1 A − B A−1
− A−1 = (8.5)
C´ alculo Avan¸cado I
110 Por outro lado, temos para todo h
∈ Rn ,
h ≤ A−1 Ah ⇒ Ah ≥ Ah−1 , de modo que
Bh ≥ Ah − (A − B)h ≥ Ah − (A − B) h ≥ Ah−1 − (A − B) h. Portanto
Bh
≥
1 A−1
− A − B h . Como f ´e de classe C 1 , dado 0 < ε ≤ 1/2A−1 , existe δ > 0 tal que x2 − x1 < δ ⇒ B − A < ε. Portanto, se x1 − x2 < δ , temos Bh ≥ 2A1−1 h .
Tomando k = Bh vemos que (8.6) B−1k ≤ 2A−1 k ⇒ B−1 ≤ 2A−1 . Portanto, se x1 − x2 < δ , conclu´ımos de (8.5) e (8.6) B−1 − A−1 < 2A−12A − B < 2εA−12. Defini¸c˜ ao 8.2: Seja f : U → V uma fun¸c˜ao bijetora. Dizemos que f −1
´e um homeomorfismo entre U e V se f e f s˜ao cont´ınuas. Dizemos que f ´e um difeomorfismo entre U e V se f e f −1 s˜ao diferenci´aveis. Com a terminologia da defini¸ca˜o acima, podemos enunciar o Teorema da Fun¸c˜ao Inversa da seguinte maneira: Teorema 8.1: Se f ´e fun¸c˜ ao de classe C 1 e J f (x0 ) = 0, ent˜ ao existem vizinhan¸cas abertas U e V respectivamente de x 0 e f (x0 ) tais que f ´e difeomorfismo de classe C 1 entre U e V .
O Teorema da Fun¸c˜ao Inversa
111
Aplica¸c˜ao: o M´ etodo das Caracter´ısticas Como exemplo de aplica¸ca˜o direta do Teorema da Fun¸c˜ao Inversa, vamos considerar nesta se¸c˜ao o M´etodo das Caracter´ısticas para a solu¸c˜ao de equa¸co˜es a derivadas parciais de primeira ordem. Problema: Seja γ uma curva de R2 parametrizada por γ : I Ω, onde I ´e um intervalo de R e Ω um aberto de R 2 . Sejam a, b, c: Ω c˜ oes dadas. R fun¸ Determinar uma fun¸c˜ ao ϕ(x, y) solu¸cao ˜ da equa¸cao ˜
→
→
a(x, y)
∂ϕ ∂ϕ + b(x, y) = c(x, y), ∂x ∂y
(8.7)
cujos valores sobre a curva γ s˜ ao prescritos, isto ´e, ϕ γ (ξ ) = ϕ0 (ξ ) onde ϕ 0 : I R ´e uma fun¸c˜ ao dada.
→
A solu¸ca˜o do problema acima pode ser obtida via uma mudan¸ca apropriada de coordenadas, que pode ser intu´ıda pelo seguinte argumento: fixado um ponto γ 0 = γ (s0 ) = (x0 , y0 ) de γ , considere a curva Γ(ξ ) = x(ξ ), y(ξ ) que passa por γ 0 , isto ´e, Γ(0) = γ 0 . Defina z(ξ ) = ϕ x(ξ ), y(ξ ) , onde ϕ ´e solu¸ca˜o de (8.7). Se Γ ´e diferenci´avel, temos pela Regra da Cadeia,
∇
dz dx ∂ϕ dy ∂ϕ = Γ′ (ξ ); ϕ(Γ(ξ )) = + . dξ dξ ∂x dξ ∂y
Portanto, se Γ satisfaz o sistema de equa¸co˜es diferenciais ordin´arias dx = a(x, y), dξ dy = b(x, y), dξ
x(0) = x 0 , (8.8) y(0) = y 0 ,
podemos obter a solu¸c˜ao ϕ resolvendo dz = c(x, y), dξ
z(0) = ϕ 0 (s0 ).
Se repetirmos o argumento anterior para todos os pontos γ (s), s I , obtemos uma fam´ılia de curvas—as curvas caracter´ısticas—sobre as quais a solu¸ca˜o ϕ pode ser determinada.
∈
C´ alculo Avan¸cado I
112
Antes de analisarmos as condi¸c˜oes para as quais o m´etodo funciona (e onde entra em cena o Teorema da Fun¸c˜ao Inversa), vejamos um exemplo cuja solu¸ca˜o expl´ıcita pode ser calculada. Exemplo: Considere γ (s) = (s, s2 ). Determinar ϕ(x, y) solu¸c˜ao de x
∂ϕ ∂ϕ +y = xy ∂x ∂y
tal que ϕ(γ (s)) = sen(s2 ), para todo s
(8.9)
∈ R.
Solu¸ c˜ ao: Consideremos o sistema (equa¸co˜es caracter´ısticas)
dx = x, dξ dy = y, dξ dz = xy, dξ
x(0, s) = s, y(0, s) = s 2 ,
(8.10)
z(0, s) = sen(s2 )
Resolvendo as duas primeiras equa¸co˜es de (8.10), obtemos
x(ξ, s) = se ξ ,
(8.11)
y(ξ, s) = s 2 eξ .
Substituindo (8.11) na terceira equa¸c˜ao de (8.10) e resolvendo, obtemos s3 z(ξ, s) = (e2ξ 1) + sen(s2 ). (8.12) 2 Explicitando ξ e s em fun¸ca˜ o de x e y e substituindo em (8.12), encontramos a solu¸c˜ao
−
z = ϕ(x, y) =
1 xy 2
− 21
y x
3
+ sen
y x
2
.
O exemplo evidencia o ponto-chave do m´ etodo. De fato, a solu¸c˜ao das duas primeiras equa¸c˜oes de (8.10) define uma mudan¸ca de vari´aveis, isto ´e uma fun¸c˜ao f : R2 R2 , (ξ, s) (x, y).
→ →
O Teorema da Fun¸c˜ao Inversa
113
Se f ´e invert´ıvel, ent˜ao obtemos a solu¸c˜ao por
◦
ϕ(x, y) = z(ξ, s) = z f −1 (x, y).
Pelo Teorema da Fun¸c˜ao Inversa, se J f (0, s) = 0 para todo s em algum intervalo I , ent˜ao f admite uma inversa numa vizinhan¸ca de γ (I ). Considerando os dados do problema, a saber, a curva inicial γ (s) e o campo de vetores (x, y) a(x, y), b(x, y) , a condi¸ca˜o
→
a(γ (s)) b(γ (s)) J f γ (s) = =0 γ 1 (s) γ 2 (s)
indica que os vetores (a, b) e (γ 1 (s), γ 2 (s)) s˜ao linearmente independentes. Temos, portanto, uma condi¸c˜ao geom´etrica para que o m´etodo forne¸ca solu¸c˜ao, a saber, que o campo (a, b) seja transversal `a curva γ .
O Teorema da Fun¸c˜ ao Inversa (bis) A prova do Teorema da Fun¸c˜ao Inversa apresentada na primeira se¸ca˜o deste cap´ıtulo restringe o resultado a espa¸cos de dimens˜ao finita, visto que utiliza a compacidade da bola fechada. Nesta se¸ca˜o apresentamos uma prova que n˜ao faz uso desse fato e que estende o resultado a espa¸cos de Banach de dimens˜ao infinita. No que segue denotamos indistintamente por uma norma qualn quer de R e a norma induzida L(Rn ;Rn ) definida por (4.11).
Lema 8.3: (Perturba¸c˜ao da Identidade) Seja U um aberto de Rn e ϕ: U R n uma contra¸c˜ ao em U . Se f (x) = x ϕ(x), ent˜ ao f (U ) ´e aberto e f ´e homeomorfismo entre U e f (U ).
→
−
Prova: Faremos a prova em duas etapas. Etapa 1: f (U ) ´e aberto. Por hip´otese, existe 0 < α < 1 tal que ϕ(x) ϕ(y) α x y para todo x, y U . Seja y f (U ) e x U tal que y = f (x). Se R = r(1 α)/2, onde r > 0 ´e tal que Br (x) U , ent˜ao BR (y) f (U ). De fato, seja y B R (y) e considere a seq¨uˆencia definida pela recorrˆencia x0 = x, xk+1 = y + ϕ(xk ), k 0.
−
∈ ∈
∈
− ∈ ⊂ ≥
≤ − ⊂
C´ alculo Avan¸cado I
114
∈ ∀ ∈ N, e, conseq¨uentemente, {xk }k est´a bem
Afirmativa 1: xk U , k definida. De fato,
(8.13) x1 − x = y + ϕ(x) − x = y − y < R < r/2. Suponhamos que x j ∈ Br/2 (x), para todo j = 1, . . . , k − 1. Ent˜ao, xk − xk−1 = ϕ(xk−1 ) − ϕ(xk−2 ) ≤ αxk−1 − xk−2 ≤ . . . ≤ αk−1 x1 − x0 e obtemos
xk − x ≤ xk − xk−1 + ··· + x1 − x ≤ (αk−1 + ··· + 1)x1 − x <
1
1
−
De (8.13) e (8.14) conclu´ımos, por indu¸c˜ao, que xk k N. Afirmativa 2: xk k ´e seq¨ uˆencia de Cauchy. De fato, se l > k, ent˜ao
∀ ∈
(8.14)
r R = . α 2
∈ Br/2(x) ⊂ U ,
{ }
xl − xk ≤ xl − xl−1 + ··· + xk+1 − xk ≤ αk x1 − x0 . (αl−1 + ··· + αk )x1 − x0 ≤ 1−α Como α < 1, dado ε > 0, existe k0 N tal que αk < (1 α)ε/R se k k 0 . Portanto, para l > k > k 0 , temos xl xk < ε. Das afirmativas 1 e 2 conclu´ımos que existe x Br/2 (x) U tal que xk x. Segue que x = y + ϕ(x), ou equivalentemente y = f (x), o que implica y f (U ) e conclu´ımos que f (U ) ´e aberto. Etapa 2 : f ´e homeomorfismo entre U e f (U ). Como ϕ ´e contra¸c˜ao, temos
≥ →
∈
− ∈
− ⊂
∈
f (x1) − f (x2) ≥ x1 − x2 − ϕ(x1) − ϕ(x2 ) ≥ (1 − α)x1 − x2 , ∀x1 , x2 ∈ U.
(8.15)
O Teorema da Fun¸c˜ao Inversa
115
De (8.15) conclu´ımos que f ´e injetora em U . Portanto f −1: f (U ) U est´a bem definida. Igualmente de (8.15) conclu´ımos que f −1 ´e cont´ınua, pois
→
f −1(y1) − f −1(y2) ≤ 1 −1 α y1 − y2 . Corol´ ario 8.4: Sejam A, B (Rn , Rn ) com A invert´ıvel. Se A B < 1/ A−1 ent˜ ao B ´e invert´ıvel.
∈ L
−
− A−1B = A−1(A − B). Como I − A−1B ≤ A−1 A − B < 1, ϕ ´e contra¸c˜ao em Rn . Pelo Lema 8.3 f = I − ϕ = A−1 B ´e homeon Prova: Seja ϕ = I
morfismo em R e conclu´ımos a prova.
Rn aberto e f : Ω Rn fun¸ Teorema 8.5: Seja Ω cao ˜ de classe 1 C tal que J f (x0 ) = 0. Ent˜ ao existe U Ω vizinhan¸ca aberta de x0 tal que a) V = f (U ) ´e aberto em Rn ; b) f : U V ´e difeomorfismo de classe C 1 .
⊂
→
⊂
→
Prova: Faremos a prova em trˆes etapas. Etapa 1: Existe δ 1 > 0 tal que f Bδ1 (x0 ) ´e aberto e f ´e homeomorfismo entre B δ1 (x0 ) e sua imagem. De fato, seja A = f ′ (x0 ) e considere ϕ = I A−1 f . Como ϕ′ (x0 ) = 0 e ϕ′ ´e cont´ınua, existe δ 1 > 0 tal que ϕ′ (x) α < 1 para todo x Bδ1 (x0 ). Portanto ϕ ´e contra¸c˜ao em Bδ1 (x0 ). Pelo Lema 8.3, g = I ϕ = A−1 f ´e homeomorfismo entre Bδ1 (x0 ) e o aberto g Bδ1 (x0 ) . Como A ´e uma fun¸ca˜o aberta (A ´e inversa de fun¸c˜ao cont´ınua A −1 ), temos em particular f Bδ1 (x0 ) = A g(Bδ1 (x0 )) aberto e
∈
−
−
◦ ≤
◦
→
f : Bδ1 (x0 )
f Bδ1 (x0 )
´e homeomorfismo. Etapa 2 : Existe δ 2 > 0 tal que f : Bδ2 (x0 ) fismo.
→ f Bδ (x0 ) ´e difeomor2
C´ alcu al culo lo Avan¸ Ava n¸cado cado I
116
De fato, como f como f ´ ´e de clas cl asse se C 1 , dado ε = 1/ A−1 existe δ 2 > 0 tal que se x x 0 < δ 2 , ent˜aaoo f ′ (x) A < ε. Segue Segue portant portanto o do Corol´ario ario 8.4 que f que f ′ (x) ´e invert´ inve rt´ıvel ıve l para pa ra todo to do x Bδ2 (x0 ). Etapa 3 : (f ′ )−1 ´e cont´ınua nu a em f Bδ2 (x0 ) . Podemos repetir o argumento da etapa 4 da prova do Teorema 8.1.
−
−
∈
Observa¸c˜ ao: O Lema 8.3 e o seu Corol´ario ario permanecem v´alidos alidos se n substituirmos em seus enunciados R por um espa¸co co de Banach V qualquer. qualquer. Como conseq¨ conseq¨uˆ uˆencia, encia, substituindo substitu indo a condi¸c˜ c˜ao ao “J f f (x0 ) = 0” ′ por “f “f (x0 ) inve i nvert´ rt´ıvel ıvel ”, ”, temos o Teorema da Fun¸c˜ cao ˜ao Inversa para 1 aplica¸c˜ coes ˜oes de classe C classe C f : f : V V definidas V definidas em um espa¸co co de Banach V V qualquer.
→
Exerc´ xe rc´ıcio ıc ioss Exer Ex erc c´ıcio ıci o 8.1. 8. 1. Seja f Seja f :: R2
→ R2 definida por
f ( f (x, y ) = (ex cos y, ex sen y ). Qual a imagem de f ? f ? Mostre Mostre que que o Jacobi Jacobiano ano de f n˜ ao ao ´e nulo em nenhum ponto de R2 . Pelo Pelo teorem teorema a da fun¸c˜ cao a˜o inversa, todo ponto de R2 tem uma vizinhan¸ca ca onde f f ´e biu b iun n´ıvoca ıvo ca.. Entret Ent retant antoo f n˜ ao ´e 2 injetora em R . Quai Quaiss s˜ ao ao as imagens por f das f das retas paralelas aos eixos coordenados? Exer Ex erc c´ıcio ıci o 8.2. 8. 2. Para cada uma das fun¸c˜ coes ˜oes abaixo determinar: determinar: (1) quais s˜ao ao sobrejetivas; (2) quais s˜ao ao injetivas; (3) o Jacobiano; (4) os pontos de R2 onde n˜ ao se aplica o Teorema da Fun¸c˜ ao c˜ao ao Inversa.
→ R2 dada por f por f ((x, y ) = (ax + by,cx + dy) dy ) por f ((x, y ) = ( x2 + y 2 , arc tan y/x); y/x ); ∞[×R → R2 dada por f 2 2 2 → R dada por f por f ((x, y ) = (xy , x y ); → R2 dada por f por f ((x, y ) = (x3 − y, y 3 + x). Exerc Exe rc´ ´ıcio ıci o 8.3. 8.3 . Seja f : f : R3 \ P → R3 , f = (f 1 , f 2 , f 3) definida por a) b) c) d)
f : f : R2 f : f : ]0, ]0, f : f : R2 f : f : R2
f i (x1 , x2 , x3 ) = xi /(1 + x1 + x2 + x3 ), onde
{
|
}
P = (x1 , x2 , x3 ) 1 + x1 + x2 + x3 = 0 . Calcule o Jacobiano J Jacobiano J f ((x1 , x2 , x3 ). Mostre que f que f ´ ´e injeto in jetora ra e calcule cal cule f ((x −1 f .
O Teorema da Fun¸c˜ c˜ao ao Inve In vers rsa a
117
Considere Considere as fun¸c˜ c˜oes oes
Exer Ex erc c´ıcio ıci o 8.4. 8. 4.
cosh ξ = =
eξ + e−ξ eξ e−ξ , senh ξ = = . 2 2
−
a) Determine uma solu¸c˜ c˜ao ao (x0 , y0 ) para o sistema
ex cos y
− ex sen y = 1
ex cosh y + ex senh y = 1
´ poss´ıvel b) E ıvel resolver r esolver o sistema
ex cos y
− ex sen y = 1 + µ
ex cosh y + ex senh y = 1 + ν
para µ para µ e ν ν pequenos? Exer Ex erc c´ıcio ıci o 8.5. 8. 5. Sabendo-se Sabendo-se que o polinˆomio f omio f ((x) = x 3 6x2 +11 +1 1x 6 possu po ssuii as ra´ızes ızes λ1 = 1, λ2 = 2 e λ3 = 3, mostre que existe δ > 0 tal que se a + 6 < δ , b 11 < δ e c + 6 < δ , ent˜ao ao o polinˆ omio omio 3 2 g (x) = x + ax + bx + bx + c c pos possui sui trˆes es ra´ızes ıze s reai r eaiss e distinta dis tintass λ 1 , λ2 e λ3 .
−
|
|
| − |
|
−
|
Exer Ex erc c´ıcio ıci o 8.6. 8. 6. Seja Seja uma norma qualquer de Rn e considere em V = n×n munido da norma induzida, definida por (4.11). a) Seja = X V ; X ´e inv i nveert´ıvel ve l . Mostre Mostre que ´e aber ab erto to e desconexo em V em V .. b) Sejam Sejam A, B V . V . Dizemos que B ´e raiz quadrada de de A se B 2 = A. Mostre Mostre que existe existe δ > 0 tal que se A I < δ ent˜ ent˜aao A o A possui possui uma raiz quadrada. c) “Quantas” ra´ızes ızes quadradas possui a identidade I identidade I 2×2 ,
M
I
∈ ∈
∈
I
−
∈ ∈ M
I =
1 0
0 ? 1
9 O Teorema de Fun¸c˜ ao Impl´ıcita Neste cap´ıtulo vamos estudar outro resultado central da An´alise: o Teorema da Fun¸c˜ao Impl´ıcita. ` guisa de motiva¸c˜ao, consideremos a equa¸ca˜o da circunferˆencia uniA ´ imediato verificar que podemos explicitar y t´ aria x 2 + y 2 1 = 0. E como fun¸c˜ao da vari´avel x:
−
y =
− 1
x2
ou
y =
− 1 − x2.
− → −√ −
R ´ Mais precisamente, se ϕ: [ 1, 1] e a fun¸c˜ao definida por ϕ(x) = 1 x2 (ou ϕ(x) = 1 x2 ), ent˜ao ϕ est´a impl´ıcita na equa¸ca˜o da circunferˆencia. De modo an´ alogo, a equa¸c˜ao 5x2 + 5y 2 6xy 8 = 0 descreve uma elipse centrada em (0, 0).
√ −
−
−
1.6 1.4 1.2 1 y0.8 0.6 0.4 0.2 –1.6
–1.2 –1 –0.8
0 –0.4 –0.2
0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 x
–0.4 –0.6 –0.8 –1 –1.2 –1.4 –1.6
Figura 9.1
C´ alculo Avan¸cado I
120
Embora explicitar y em fun¸c˜ao de x n˜ao seja uma tarefa t˜ao imediata, vemos pela figura que existe uma fun¸ca˜o ϕ: ]a, b[ R tal que y = ϕ(x) est´a impl´ıcita na equa¸ca˜o da elipse. O mesmo pode ser feito para mais vari´aveis. Por exemplo, no sistema
→
x2 + y 2 + z 2
− 10 = 0, −y2 + z2 − 4 = 0,
as vari´aveis z e y podem ser facilmente expressas como fun¸c˜ao de x: z =
− 14
x2
2
e
y =
− 6
x2
2
.
Mas o que dizer do sistema
x3 + x2 y 2 + xyz 2
− 4 = 0, x2 − xyz + y 2 z 2 − 7 = 0?
Os exemplos acima nos remetem `a seguinte quest˜ao: Problema: Dada f : Rk+m Rm e (x0 , y0 ) Rk+m tal que f (x0 , y0 ) = 0, deseja-se saber se existe Ω Rk aberto e uma fun¸cao ˜ ϕ: Ω Rm satisfazendo a) x0 Ω e ϕ(x0 ) = y 0 ; b) f x, ϕ(x) = 0, x Ω.
→
→
∈
⊂
∈
∀ ∈
Se a resposta for afirmativa, dizemos que ϕ ´e fun¸c˜ ao impl´ıcita para a equa¸c˜ao f (x, y) = 0 na vizinhan¸ca de x0 . Observa¸c˜ ao: No caso particular em que k = m = 1, podemos obter resposta para a quest˜ao acima via Teoria de Equa¸co˜es Diferenciais Ordin´ arias. De fato, supondo f e ϕ diferenci´aveis, temos pela Regra da Cadeia ∂f ∂f + ϕ′ (x) = 0. ∂x ∂y Se f ´e de classe C 1 e ∂f ca˜o ∂y (x0 , y0 ) = 0, podemos obter ϕ como solu¸ do problema de valor inicial
dϕ = Φ(x, ϕ) dx ϕ(x0 ) = y 0
(9.1)
O Teorema da Fun¸c˜ ao Impl´ıcita
121
onde estamos denotando Φ(x, y) =
−
∂f (x, y) ∂y
−1
∂f (x, y). ∂x
As hip´ oteses que garantem a existˆencia de solu¸c˜oes para as equa¸c˜oes do tipo (9.1) (veja Cap´ıtulo 11) fornecem respostas para a quest˜ao. A “via” que permite tratar a quest˜ao acima de modo simples, ´e a que faz uso do Teorema da Fun¸c˜ao Inversa. Para ilustrar a id´eia, consideremos o seguinte caso particular. Seja f : Rn ao linear definida por f (z) = Az, Rm (n = k + m) a fun¸c˜ onde A ´e matriz m n. Denotando z = (x, y) = (x1 , . . . , xk , y1 , . . . , ym ), podemos escrever f (x, y) = Az = Bx+Cy, onde B e C s˜ao submatrizes respectivamente de ordem m k e m m, isto ´e, A = [B C ] ´e composta dos blocos B e C . Se C ´e invers´ıvel, podemos explicitar y como fun¸c˜ao de x pois
→
×
×
×
⇒ y = −C −1Bx.
Bx + Cy = 0
Neste caso, se ϕ: Rk e a fun¸ca˜o linear definida por ϕ(x) = Rm ´ −1 C Bx, ent˜ao ϕ est´a impl´ıcita na equa¸c˜ao f (x, y) = 0 na vizinhan¸ca de x 0 , qualquer que seja x 0 . Observe que neste caso particular, os blocos B e C s˜ao as derivadas parciais de f . De fato,
→
−
∂f B = (x0 , y0 ) ∂x e ϕ =
−
e
∂f (x0 , y0 ) ∂y
∂f C = (x0 , y0 ) ∂y −1
∂f (x0 , y0 ) ∂x
(9.2)
A chave para tratar a quest˜ao via Teorema da Fun¸ca˜o Inversa pode ser observada se reescrevermos a equa¸c˜ao f (x, y) = 0 na seguinte forma. Seja F : Rn ao linear definida por Rn (n = k + m) a fun¸c˜ F (x, y) = x, f (x, y) . Ent˜ao F (z) = z, onde ´e a matriz
→
A
A=
I k B
O , C
A
C´ alculo Avan¸cado I
122
×
onde I k ´e a matriz identidade de ordem k k e O ´e a matriz nula de ´ ordem k m. Sabemos da Algebra Linear que det = det C . Assim, se C ´e invers´ıvel, tamb´em ´e a matriz , sendo f´acil verificar que
×
A
A
−1
A
=
−
I k C −1 B
O . C −1
Portanto, F (x, y) = (x, 0)
⇐⇒
(x, y) = F −1 (x, 0) = (x, C −1 Bx)
−
e reencontramos a solu¸c˜ao (9.2).
O Teorema da Fun¸c˜ ao Impl´ıcita Teorema 9.1: Seja f : Rk Suponha f (x0 , y0 ) = 0 e
× Rm → Rm uma fun¸c˜ ao de classe C 1.
∂f det (x0 , y0 ) = 0. ∂y Ent˜ ao existe aberto Ω Rk e ϕ: Ω que a) x0 Ω e ϕ(x0 ) = y 0 ; b) f x, ϕ(x) = 0, x Ω.
⊂
˜ de classe C 1 tais → Rm fun¸cao
∈
∀ ∈ Prova: Seja F : Rk × Rm → Rk × Rm a fun¸ca˜o definida por F (x, y) = 1
x, f (x, y) . Ent˜ ao F ´e de classe C e a matriz Jacobiana de F em z0 = (x0 , y0) ´e
F ′ (z0 ) =
Como
I k
O
∂f (z0 ) ∂x
∂f (z0 ) ∂y
J F (z0 ) = det F ′ (z0 ) = det
∂f (z0 ) = 0, ∂y
O Teorema da Fun¸c˜ ao Impl´ıcita
123
Rk R m visegue do Teorema da Fun¸c˜ao Inversa que existe U zinhan¸ca aberta de z0 tal que V = F (U ) ´e aberto e F : U V ´e difeomorfismo de classe C 1 . Se denotarmos por (˜ x, y˜) = F (x, y) para (x, y) U , ent˜ao (x, y) = −1 F (˜ x, y˜), (˜ x, y˜) V . Como x ˜ = x, decorre da defini¸c˜ao que F −1 tem a forma
⊂
×
→
∈
∈
F −1 (˜ x, ˜ y) = x ˜, g(˜ x, y˜) ,
∈
(˜ x, ˜ y ) V,
onde g : Rk Rm e fun¸c˜ao de classe C 1 . Portanto, y˜ = f (x, y) Rm ´ se e somente se y = g(x, ˜ y ). Em particular,
×
→
f (x, y) = 0
⇐⇒
y = g(x, 0)
e conclu´ımos a prova denotando ϕ(x) = g(x, 0) para todo x U Rk .
∩
∈ Ω =
Multiplicadores de Lagrange Uma das aplica¸c˜oes importantes do Teorema da Fun¸c˜ao Impl´ıcita ´e o M´etodo dos Multiplicadores de Lagrange para o c´alculo de extremos de fun¸co˜es sujeitas a restri¸c˜oes. ` guisa de motiva¸c˜ao, seja f : Rn A c˜ao cont´ınua e conR uma fun¸ sidere o problema de otimiza¸c˜ao
→
Problema: Determinar o m´ınimo global de f sobre a bola fechada B = BR (x0 ), isto ´e, determinar x B tal que f (x) f (x), x B
≤
∈
∀ ∈
Como B ´e compacto e f ´e cont´ınua, sabemos que a solu¸c˜ao do problema existe. Se f ´e diferenci´avel e x pertence ao interior de B, ent˜a o a solu¸c˜ao pode ser determinada dentre os pontos cr´ıticos de f . Mas como determinar a solu¸c˜ao se x estiver na fronteira da bola? O resultado a seguir fornece um m´etodo, caso f seja suficientemente regular.
∈
Teorema 9.2: Sejam f , g: Rn R fun¸ c˜ oes de classe C 1 e S = x Rn ; g (x) = 0 . Suponha x 0 S tal que
∈
g ′ (x0 ) = 0
e
→
f (x0 ) = min f (x) ; x
∈ S .
C´ alculo Avan¸cado I
124
Ent˜ ao f ′ (x0 ) e g ′ (x0 ) s˜ ao linearmente dependentes, isto ´e, existe (multiplicador de Lagrange) λ R tal que f (x0 ) = λ g(x0 ).
∈
∇
∇
Prova: Se g ′ (x0 ) = 0, podemos supor sem perder a generalidade que ∂g R tal que ∂x n (x0 ) = 0. Seja λ
∈
∂f ∂g (x0 ) = λ (x0 ). ∂x n ∂x n Para concluir a prova, basta mostrar que ∂f ∂ g (x0 ) = λ (x0 ) ∂x i ∂x i se verifica para i = 1, . . . , n 1. Se denotarmos x = (˜x, y) Rn−1 R, x0 = (˜ x0 , y0 ), ent˜ao g ´e de classe C 1 , g (˜ x0 , y0 ) = 0 e
− ∈
×
∂g ∂g (x0 ) = (˜ x0 , y0 ) = 0, ∂x n ∂y
segue do Teorema da Fun¸c˜ao Impl´ıcita que existe uma vizinhan¸ca aberta Ω Rn−1 de x˜0 e uma fun¸ca˜o ϕ: Ω R de classe C 1 tais que ϕ(˜ x0 ) = y 0 e g x ˜, ϕ(˜ x) = 0, x ˜ Ω. (9.3)
⊂
→ ∀ ∈
≤ ∀ ∈ ∈
Al´em disso, como
f x ˜0 , ϕ(˜ x0 )
f x ˜, ϕ(˜ x) ,
x ˜
Ω,
verificamos que x ˜0 Ω ´e ponto de m´ınimo para a fun¸ca˜o diferenci´avel x ˜ ψ(˜ x) = f x˜, ϕ(˜ x) . Portanto, ψ ′ (˜ x0 ) = 0 e temos da Regra da Cadeia, ∂f ∂ f [ψ ′ (˜ x0 )] = (x0 ) + (x0 ) [ϕ′ (˜x0 )] = 0. (9.4) ∂ ˜ x ∂y
→
Derivando a equa¸ca˜o (9.3) em rela¸c˜a o a x ˜, obtemos ∂g ∂ g (x0 ) + (x0 ) [ϕ′ (˜ x0 )] = 0. ∂ ˜ x ∂y
(9.5)
Multiplicando a equa¸c˜ao (9.5) por λ e subtraindo de (9.4), obtemos a conclus˜ ao ∂f ∂g (x0 ) = λ (x0 ) . ∂ ˜ x ∂ ˜ x
O Teorema da Fun¸c˜ ao Impl´ıcita
125
Aplica¸c˜ oes Para exemplificar aplica¸c˜oes do M´etodo dos Multiplicadores de Lagrange, retomemos duas desigualdades importantes demonstradas no Cap´ıtudo 2: as desigualdades de H¨ older e de Young (veja Lema 2.6 e Corol´ario 2.7). Desigualdade de H¨ older: Sejam p e q tais que 1 < p, q < + 1/p + 1/q = 1. Ent˜ ao, para todo x, y Rn , vale a desigualdade
∞ e
∈
|x; y| ≤ x pyq. Prova: Seja y ∈ R n , y = 0 e consideremos as fun¸c˜oes f, g: Rn → R definidas por
f (x) = y; x ,
e
p p − 1.
g(x) = x
A fun¸c˜ao f ´e de classe C 1 pois ´e linear e A fun¸ca˜o g ´e de classe C 1 pois p > 1 e
∇f (x) = y para todo x ∈ Rn.
∇g(x) = p|x1 | p−2x1, . . . , p|xn | p−2xn , para todo x Rn . Seja S = x Rn ; g (x) = 0 . O conjunto S ´e a esfera unit´aria para a norma e compacto, existe x S ponto de m´ aximo p . Como S ´ de f sobre S , isto ´e,
∈∈
∈
≥ f (x), ∀x ∈ S. Al´em disso, ∇g(x) = 0 pois x p = 1 e f (x)
n
∇ | |
xi p−1 > 0.
g(x); x = p
i=1
∈ R tal que ∇f (x) = λ∇g(x), isto ´e, yi = λp |xi | p−2 xi , ∀i = 1, . . . , n . (9.6)
Pelo Teorema 9.2, existe λ
C´ alculo Avan¸cado I
126 ´ claro que λ > 0, pois se y˜ = y/ y p, ent˜ao E
λp = y; x ≥ y; y˜ = y 22 /y p > 0.
Como q ´e o conjugado de p, tomando o m´odulo em ambos os lados de (9.6) e elevando `a potˆencia q , obtemos
|yi|q = ( pλ)q |xi |( p−1)q = ( pλ)q |xi| p . Somando em i = 1, . . . , n, obtemos
yqq = ( pλ)q x p p = ( pλ)q . Ent˜ao, para x
∈ S qualquer, temos n
y; x = f (x) ≤ f (x) = pλ
| |
xi p = y
q x p = yq .
(9.7)
Rn x = 0 qualquer, seja x Para x ˜ = x/ x p . Ent˜ ao x˜ desigualdade (9.7) nos d´a
∈ S e a
∈
i=1
y; x ≤ yq x p. Para concluir a desigualdade, basta observar que m´ınimo para f em S .
−x ∈ S ´e ponto de
Desigualdade de Young: Sejam p e q tais que 1 < p, q < + 1/p + 1/q = 1. Ent˜ ao, para todo x, y R, vale a desigualdade
∞ e
∈ p q |xy| ≤ |x| + |y| . p
q
→ R definidas por
Prova: Consideremos as fun¸c˜oes f , g: Ω+ f (x, y) =
1 p 1 q x + y , p q
||
||
e
g(x, y) = xy
||
− 1,
onde Ω+ = (x, y) R 2 ; x > 0, y > 0 . A fun¸ca˜o f ´e de classe C 1 pois p, q > 1 e f (x, y) = x p−2 x, y q−2 y para todo (x, y) R2 .
∇
∈
| |
∈
O Teorema da Fun¸c˜ ao Impl´ıcita
127
A fun¸ca˜o g ´e de classe C 1 pois ´e polinˆ omio e g(x, y) = (y, x), para 2 todo (x, y) R . Seja S = (x, y) R2 ; g (x, y) = 0 . O cojunto S n˜ ao ´e compacto, pois n˜ ao ´e limitado. Entretanto ´e fechado e como f ´e coerciva (veja (4.9)), existe (x, y) ponto de m´ınimo de f sobre S , isto ´e, f (x, y) f (x, y), (x, y) S . Al´em disso, g(x, y) = (y, x) = (0, 0). Pelo Teorema 9.2, existe λ R tal que f (x, y) = λ g(x, y), isto ´e,
∇
∈
∈
∀
∈
∇
≤
∈ ∇ |x| p−2x = λy, |y|q−2y = λx,
∇
≥
de onde conclu´ımos que x = y = 1. Logo, f (x, y) 1 para todo (x, y) S . Seja (x, y) R2 , (x, y) = (0, 0) e defina x ˜ = x/ xy 1/p e y˜ = y/ xy 1/q . Ent˜a o (˜ x, ˜ y ) S e 1 p 1 q x ˜ + y˜ 1, p q
∈
∈
∈
| |
||
| |
|| ≥
de onde segue a desigualdade 1 p 1 x + y p q
| |q ≥ xy.
||
Para concluir, basta repetir o argumento para as fun¸c˜oes f e g acima definidas em Ω− = (x, y) R2 ; x < 0, y < 0 .
∈
Multiplicadores de Lagrange (bis)
Vimos nas se¸c˜oes anteriores o M´ etodo dos Multiplicadores de LaR grange para o caso de uma restri¸c˜ao, isto ´e, g(x) = 0, com g: Rn 1 fu¸ca˜o de classe C . Vamos tratar nesta se¸ca˜o o caso geral, com m restri¸c˜oes.
→
Teorema 9.3: Seja f : Rn R uma fun¸cao ˜ diferenci´avel e g: Rn m 1 ˜ de classe C . Seja S = x Rn ; g (x) = 0 R , m < n, uma fun¸cao
→
∈
→
C´ alculo Avan¸cado I
128
∈
∇f (x0) =
e x0 S tal que f (x0 ) = min f (x) ; x S . Se o posto de g ′ (x0 ) ´e m, ent˜ ao existe λ = (λ1 , . . . , λm ) Rm tal que
∈
∈
m
λi g(x0 ).
i=1
(9.8)
∇
Observa¸c˜ ao: A equa¸ca˜o (9.8) pode ser interpretada como um sistema linear de n equa¸co˜ es e m inc´ognitas, com n > m. De fato, podemos escrever (9.8) na forma
∂g 1 (x0 ) ∂x 1 .. . ∂g 1 (x0 ) ∂x n
··· ..
.
···
∂g m (x0 ) ∂x 1 ... ∂g m (x0 ) ∂x n
λ1 .. .
=
λm
∂f 1 (x0 ) ∂x 1 .. . ∂f 1 (x0 ) ∂x n
Ou de modo mais conciso, Hλ = F , onde H = g ′ (x0 ) T
(9.9)
T
e F =
f ′ (x0 ) . Para provar o teorema, devemos mostrar que o sistema (9.9) possui uma solu¸ca˜o λ. Prova: Se x Rn , escrevemos x = (y, z) Rk Rm , onde k = n m. Como o posto de g ′ (x0 ) ´e igual a m, a matriz g ′ (x0 ) possui m colunas linearmente independentes, que podemos supor sem perder a generalidade, serem as ´ultimas m colunas. Assim,
∈
∈ ×
g ′ (x0 ) =
∂g (x0 ) ∂y
∂g (x0 ) ∂z
−
,
∂g (x0 ) ´e invers´ıvel. ∂z Como g ´e de classe C 1 e g (y0 , z0 ) = 0, segue do Teorema da Fun¸ca˜o Rm Impl´ıcita que existe U Rk vizinhan¸ca aberta de y0 e ϕ: U de classe C 1 tal que ϕ(y0 ) = z 0 e onde a submatriz
⊂
g y, ϕ(y) = 0,
→
∀y ∈ U.
(9.10)
O Teorema da Fun¸c˜ ao Impl´ıcita
129
∈ U ´e ponto de m´ınimo para a fun¸c˜ao y → f y, ϕ(y) , y ∈ U.
Em particular, y 0
(9.11)
Portanto, segue da regra da cadeia
∂f ∂f (x0 ) + (x0 )ϕ′ (y0 ) = 0 ∂y ∂z ∂g ∂g (x0 ) + (x0 )ϕ′ (y0 ) = 0 ∂y ∂z
(9.12)
Para simplificar a nota¸c˜ao, consideremos ∂f F 1 = (x0 ) ∂y
T
∂g B = (x0 ) ∂y
T
,
∂f F 2 = (x0 ) ∂z
,
∂g C = (x0 ) ∂z T
T
,
T
,
Φ = [ϕ′ (y0 )] .
Ent˜ao, tomando a transposta nas equa¸c˜oes (9.12), temos
−F 1 −B
ΦF 2 = ΦC =
(9.13)
Como C ´e invers´ıvel, seja λ Rm solu¸ca˜o de C λ = F 2 . Ent˜ao, segue de (9.13) que Bλ = ΦCλ = ΦF 2 = F 1 .
∈
−
−
Portanto, H λ = F e conclu´ımos a prova.
Exerc´ıcios Exerc´ıcio 9.1. Considere a superf´ıcie xy z log y + e yz e = 0. ´ poss´ıvel represent´a-la na forma z = f (x, y) nas proximidades do E ponto (0, 1, 1)?
−
−
Exerc´ıcio 9.2. O ponto P = (1, 1, 2) pertence `as superf´ıcies x2 (y 2 + z 2 ) = 5 e (x z)2 + y 2 = 2. Mostre que a curva interse¸ca˜o dessas
−
−
C´ alculo Avan¸cado I
130
superf´ıcies pode ser parametrizada na forma z = f (x) e y = g(x) numa vizinhan¸ca de P . Exerc´ıcio 9.3. Seja f : R R fun¸c˜ao de classe C 1 tal que f (1) = 1 e defina S = (x, y) R2 ; 2f (xy) = f (x)2 + f (y) .
→ ∈ a) Mostre que se f ′ (1) = 0, existe r > 0 tal que S ∩ B r (1, 1) ´e 1
gr´afico de uma fun¸c˜ao y = ϕ(x) de classe C . b) Nas condi¸c˜oes do item (a), se f ´e de classe C 2 , mostre que x = 1 ´e ponto de m´aximo ou m´ınimo local para ϕ (o que implica, em particular, que S n˜ ao ´e gr´afico de nenhuma fun¸c˜ao x = ψ(y) na vizinhan¸ca de (1, 1)). c) Mostre que se S ´e gr´afico de uma fun¸c˜ao x = ψ(y) em alguma vizinhan¸ca de (1, 1), ent˜ao f ′ (1) = 0. Exerc´ıcio 9.4. Seja f : R2 R tal que f (0, 0) = 0. Encontre uma condi¸ca˜o para f que permita resolver a equa¸c˜ao f f (x, y), y = 0 com y fun¸c˜ao de x numa vizinhan¸ca de (0, 0).
→
Exerc´ıcio 9.5. Mostre que o sistema abaixo pode ser resolvido com: 1) x,y,u em fun¸c˜ao de z ; 2) x, z , u em fun¸c˜ao de y; 3) y , z , u em fun¸c˜ao de x; mas n˜ ao ´e poss´ıvel exprimir x, y,z em fun¸ca˜o de u.
3x + y x y 2x + 2y
−
− + −
z 2z 3z
+ u2 = + u = + 2u =
0 0 0
Exerc´ıcio 9.6. Seja f : Rn Rn c˜ao de classe C 1 tal que Rn uma fun¸ f (0, 0) = 0. Sejam B e C respectivamente as matrizes (relativamente `a base canˆonica)
× →
∂f (0, 0) ∂x
e
∂f (0, 0) ∂y
a) B e C s˜ao matrizes de que ordem? b) Escreva [f ′ (0, 0)] em termos dos blocos B e C .
O Teorema da Fun¸c˜ ao Impl´ıcita c) Seja φ: Rn Calcule
131
× Rn → Rn definida por φ(x, y) = f f (x, y), f (x, y) .
∂φ (0, 0) , ∂x
∂φ (0, 0) ∂y
[φ′ (0, 0)]
e
em termos de B e C . d) Se B ´e invers´ıvel e C < 1/ B −1 , mostre que a equa¸ca˜o φ(x, y) = 0 pode ser resolvida com x em fun¸ca˜ o de y numa vizinhan¸ca de 0 Rn .
∈
→ R cont´ınua tal que f (x) > 0 se x > 0,
Exerc´ıcio 9.7. Seja f : R satisfazendo
1
f (t) dt = 2.
0
Mostre que existe δ > 0 e uma u ´ nica fun¸c˜ao ϕ: [0, δ ] C 1 em ]0, δ [ tal que
→ R de classe
ϕ(x)
f (t) dt = 1.
x
Determine ϕ′ (x).
Exerc´ıcio 9.8. Calcular o valor m´aximo de f (x1 , . . . , xn ) = (x1 x2
··· xn)2
sob a restri¸ca˜o x21 + x 22 + + x 2n = 1. Utilizar o resultado para calcular a seguinte desigualdade, v´alida para n´ umeros reais positivos a1 , . . . , an : a1 + + an (a1 a2 an )1/n n
···
···
···
≤
Exerc´ıcio 9.9. Seja f : Rn
→ R definida por f (x1 , . . . , xn ) = x 21 x22 ··· x2n .
Sejam p 1 , p2 , . . . , pn n´ umeros reais estritamente positivos e defina n
∈
G = x
pi x2i = 1 .
n
R ;
i=1
C´ alculo Avan¸cado I
132 a) Mostre que existe x b) Calcule x.
∈ G tal que f (x) = max
f (x) ; x
∈ G
;
Exerc´ıcio 9.10. Seja L(Rn Rm ) a norma induzida pelas normas n m euclidianas de e (veja (4.11)). Se A ´e matriz m n, R R 2 mostre que A L(Rn Rm ) = λ, onde λ ´e o maior autovalor da matriz sim´etrica e positiva definida AT A. 2 1 Use o resultado para concluir que se A = , ent˜ao 0 1
√
×
A L (
R2 ;R2 )
=
3+
√
5.
10 Seq¨ uˆ encias de Fun¸co ˜es Seja A um subconjunto de Rn e consideremos (A, Rm ) a cole¸ca˜o de todas as fun¸c˜oes definidas em A com valores em R m , isto ´e,
F
F (A, Rm ) =
→ Rm ; f ´e fun¸ca˜o . Seja {f k }k uma seq¨ uˆencia de fun¸co˜es de F (A, Rm ) e x0 ∈ A. Dizemos que {f k } converge pontualmente em x 0 se a seq¨uˆencia {f k (x0 )} ´e seq¨ uˆencia convergente de R m . Dizemos que {f k } converge pontualmente em A se para todo x ∈ A a seq¨ uˆencia {f k (x)} ´e convergente m em R . ´ claro que se {f k } ´e pontualmente convergente em A, a unicidade E do limite nos permite definir a fun¸c˜ao limite f ∈ F (A, Rm ). Isto ´e, f : A
f (x) = limk→∞ f k (x). As considera¸c˜oes acima nos levam naturalmente `a
{ } F (A, Rm ) con-
Defini¸c˜ ao 10.1: Dizemos que uma seq¨ uˆencia f k de verge pontualmente para f em A se
∀x ∈ A, ∀ ∈ ≥
∀
f (x) = lim f k (x),
∃ ∈ −
k→∞
isto ´e, x A e ε > 0, k0 N (que pode depender de ε e x) tal que se k k0 ent˜ao f k (x) f (x) < ε.
{ }
Nota¸ c˜ ao: Se f k converge pontualmente para f em A denotamos p f k f em A.
−→
C´ alculo Avan¸cado I
134
A convergˆencia pontual tem um “defeito”; pode n˜ao transferir para a fun¸c˜ao limite as “boas” propriedades das fun¸c˜oes f k . De fato, propriedades tais como continuidade, semicontinuidade, integrabilidade, etc., podem n˜ao ser herdadas pela fun¸ca˜o limite pontual, como veremos a seguir. Exemplo 1: (Perda de Continuidade) Consideremos a seq¨ uˆencia de (R, R) definida por
F
f k (x) =
0 kx 1
se x se x se x
≤ 0 ∈ [0, 1/k] ≥ 1/k
´ imediato verificar que f k ´e cont´ınua para todo k N e que f k E converge pontualmente em R para a fun¸c˜ao de Heaviside
∈
f (x) = que ´e descont´ınua em x = 0.
0 1
≤
se x 0 se x > 0
Exemplo 2: (Perda de Integrabilidade) Consideremos a seq¨ uˆencia de [0, 1], R definida por
F
f k (x) = lim (cos k!πx)2j . j→∞
N˜ao ´e dif´ıcil mostrar (veja Exerc´ıcios) que f k (x) = 0, exceto para um n´ umero finito de pontos de [0, 1] e que f k converge pontualmente em [0, 1] para a fun¸c˜ao de Dirichlet
0 se x ´e irracional 1 se x ´e racional Portanto, f k ´e fun¸ca˜o Riemann-integr´avel em [0, 1] para todo k mas a fun¸c˜ao limite f n˜ ao ´e Riemann-integr´avel. f (x) =
∈ N,
Mesmo que a fun¸c˜ao limite pontual seja integr´avel, pode n˜ao ocorrer a conserva¸ca˜o no valor limite das integrais. De fato, considere a se´ f´ q¨uˆencia f k de ([0, + ); R) definida por f k (x) = kx2 e−x/k . E acil ver que f k converge pontualmente para a fun¸c˜ao f 0 e que
{ } F
∞
≡
+∞
0
f k (x) dx = 1,
∀ k ∈ N.
Seq¨ uˆ encias de Fun¸co ˜es
135
Convergˆ encia Uniforme
{ } F (A, Rm ) con-
Defini¸c˜ ao 10.2: Dizemos que uma seq¨ uˆencia f k de verge uniformemente para f (A, Rm ) em A se
∈ F ∀ε > 0, ∃k0 ∈ N tal que se k ≥ k0 ent˜ao f k (x) − f (x) < ε, ∀x ∈ A. Nota¸ c˜ ao: Se {f k } converge uniformemente para f em A denotamos u −→ f k f em A.
Vale observar que a convergˆencia uniforme implica na convergˆencia pontual, mas n˜ao a rec´ıproca; o k0 da convergˆencia uniforme s´o depende de ε, enquanto o da convergˆencia pontual depende do ε e de cada x. Exemplos: A seq¨uˆencia f k de [ 1, 1], R definida por f k (x) = x2 + 1/k converge uniformemente em [ 1, 1] para f (x) = x . A seq¨ uˆencia f k definida por f k (x) = x k converge pontualmente (mas n˜ ao uniformemente) em [0, 1] para a fun¸c˜ao
{ } F −
{ }
f (x) =
| |
0 se x [0, 1[ 1 se x = 1
Proposi¸ ca ˜o 10.3: Suponhamos f k
−
∈
p −→ f em A e seja
− f (x) ; x ∈ A . u Ent˜ ao f k −→ f em A se e somente se M k −→ 0. Prova: Provemos inicialmente a implica¸c˜ao ⇒. Dado ε > 0, existe k0 ∈ N tal que se k ≥ k0 , ent˜ao f k (x) − f (x) < ε/2, para todo x ∈ A. Portanto, passando ao sup em x, M k ≤ ε/2 se k ≥ k0 . A rec´ıproca ´e imediata, pois f k (x) − f (x) ≤ M k para todo x ∈ A. Defini¸c˜ ao 10.4: Uma seq¨ uˆencia de F (A, Rm ) ´e denominada uniM k = sup
f k (x)
formemente de Cauchy se
∀ε > 0, ∃k0 ∈ N tal que se k, l ≥ k0 ent˜ao f k (x) − f l (x) < ε, ∀x ∈ A.
C´ alculo Avan¸cado I
136
O Teorema a seguir, denominado Crit´erio Uniforme de Cauchy , caracteriza as seq¨uˆencias que convergem uniformemente. Teorema 10.5: f k u f em A se e somente se f k mente de Cauchy em A.
−→
Prova: A implica¸c˜ao triangular,
{ }k ´e uniforme-
⇒ ´e conseq¨uˆencia imediata da desigualdade
f k(x) − f l(x) ≤ f k (x) − f (x) + f l(x) − f (x) . Provemos a implica¸c˜ao contr´aria (⇐). Se {f k } ´e uniformemente de Cauchy em A, ent˜ao para cada x ∈ A, a seq¨ uˆencia {f k (x)} ´e seq¨ uˆencia de Cauchy em Rm . Como conseq¨ uˆencia do Teorema 3.28 existe o limite f (x) = limk→∞ f k (x) e conclu´ımos p que f k −→ f em A. u Para provar que f k −→ f em A, seja ε > 0. Ent˜ao existe k0 ∈ N tal que k, l ≥ k 0 ⇒ f k (x) − f l (x) < ε/2, ∀x ∈ A. (10.1) Fixando k e passando ao limite para l → ∞ em (10.1), obtemos k ≥ k0 ⇒ f k (x) − f (x) ≤ ε/2, ∀x ∈ A. Segue a conclus˜ao. A convergˆencia uniforme preserva as “boas” propriedades. De fato, Teorema 10.6: Seja x 0 A A′ e f k seq¨ uˆencia de fun¸c˜ ao cont´ınuas em x 0 . Se f k u f em A, ent˜ ao f ´e cont´ınua em x 0 .
−→
∈ ∩
{ }
∈ A. Ent˜ao f (x) − f (x0) ≤ f (x) − f k (x) + f k(x) − f k (x0 ) (10.2) + f k (x0 ) − f (x0 ) , ∀k. Dado ε > 0, existe k0 ∈ N tal que se k ≥ k 0 , f k (x) − f (x) < ε/3, ∀x ∈ A. Portanto, fixando k = k0 em (10.2), temos Prova: Seja x
f (x) − f (x0 ) < 2ε3 + f k (x) − f k (x0 ) . 0
0
Seq¨ uˆ encias de Fun¸co ˜es
137
− x0 < δ ,
Como f k0 ´e fun¸c˜ao cont´ınua, existe δ > 0 tal que se x ent˜ao f k0 (x) f k0 (x0 ) < ε/3 e temos a conclus˜ao.
−
Observa¸c˜ ao: O Teorema 10.6 pode ser interpretado como uma comutatividade de limites : f (x0 ) = lim f k (x0 ) = lim lim f k (x), k→∞ x→x0
k→∞
f (x0 ) = lim f (x) = lim lim f k (x). x→x0
x→x0 k→∞
De fato, a convergˆencia uniforme preserva essa comutatividade, como vemos no resultado a seguir. Teorema 10.7: Seja f k uma seq¨ uˆencia de (A, Rm ) e x0 Se f k u f em A e limx→x0 f k (x) = µ k , ent˜ ao
{ }
−→
F
∈ A′.
lim f (x) = lim µk = µ.
x→x0
k→∞
Prova: Se f k u f em A, ent˜ao f k ´e uniformemente de Cauchy. Assim, dado ε > 0, existe k 0 N tal que
−→
∈
{ }
≥ k0 ⇒ f k (x) − f l(x) < ε, ∀x ∈ A. (10.3) Para k e l fixados, podemos passar ao limite com x → x 0 em (10.3) para obter k, l ≥ k0 ⇒ µk − µl ≤ ε. Portanto, a seq¨ uˆencia {µk } ´e seq¨ uˆencia de Cauchy em R m e existe o k, l
limite µ = limk→+∞ µk . Por outro lado, temos da desigualdade triangular,
f (x) − µ ≤ f (x) − f k (x) + f k (x) − µk + µk − µ , ∀k ∈ N.
(10.4) A primeira e a terceira parcelas do lado direito de (10.4) podem ser tornadas t˜ao pequenas quanto se queira se k e´ grande. Mais precisamente, existe k 1 N tal que
∈
µk − µ < ε/3 1
e
f (x) − f k (x) < ε/3, ∀x ∈ A. 1
C´ alculo Avan¸cado I
138
Al´em disso, como limx→x0 f k1 (x) = µk1 , existe δ > 0 tal que se 0 < x x0 < δ , ent˜ao f k1 (x) µk1 < ε/3 e conclu´ımos a prova.
−
− Teorema 10.8: Seja {f k }k uma seq¨ uˆencia de fun¸coes ˜ de F [a, b]; R u tal que cada f k ´e fun¸c˜ ao Riemann-integr´avel em [a, b]. Se f k −→ f
em [a, b], ent˜ ao f ´e integr´avel em [a, b] e
b
lim
k→∞
b
f k (x) dx =
a
f (x) dx.
a
··· < xm = b
Prova: Seja P = a = x0 < x1 < [a, b] e consideremos
M ik = sup f k (x) ; x
∈ [xi−1 , xi ] , k mi = inf f k (x) ; x ∈ [xi−1 , xi ] , Consideremos tamb´em U (f k , P ) =
uma parti¸c˜ao de
∈ [xi−1, xi] mi = inf f (x) ; x ∈ [xi−1 , xi ] . M i = sup f (x) ; x
m
,
m
M ik ∆xi
e
L(f k , P ) =
i=1
mki ∆xi ,
i=1
onde ∆xi = xi xi−1 . Como f k u f em [a, b], segue que M ik M i e mki mi quando k , para todo i = 1, . . . , m. Assim, para ε > 0 dado, existe k0 N tal que ε ε M ik0 M i < e mki 0 mi < , i = 1, . . . , m . 2(b a) 2(b a)
−→
→∞ ∈ | − |
−
→
−
|
− |
→
−
∀
Portanto,
− ε2 < U (f k , P ) − U (f, P ) < 2ε , − 2ε < −L(f k , P ) + L(f, P ) < 2ε . 0
0
Somando as desigualdades acima obtemos
−ε < U (f k , P ) − L(f k , P ) − U (f, P ) + L(f, P ) < ε. 0
0
Como f k0 ´e integr´avel, existe δ > 0 tal que se ∆xi < δ , ent˜ ao U (f k0 , P ) L(f k0 , P ) < ε/2 e conclu´ımos a prova.
−
Seq¨ uˆ encias de Fun¸co ˜es
139
Convergˆencia Uniforme e Derivadas
{ }
F
Teorema 10.9: Seja f k uma seq¨ uˆencia de fun¸coes ˜ de [a, b], R u ′ tais que f k ´e deriv´avel em ]a, b[ e f k g em ]a, b[. Se para algum
−→
x0 [a, b] a seq¨ uˆencia f k (x0 ) k ´e convergente, ent˜ ao existe f : [a, b] u cao ˜ deriv´avel em ]a, b[ tal que f k f em [a, b] e f ′ = g. R fun¸
∈
{
}
→
−→ Prova: Seja ϕ(x) = f k (x) − f l (x), x ∈ [a, b]. Ent˜ ao, pelo Teorema ′ do Valor M´edio, ϕ(x) − ϕ(y) = ϕ (ξ )(x − y), para algum ξ entre x e y. Portanto, para y = x 0 ,
− f l(x) − f k(x0 ) + f l(x0 ) = f k′ (ξ ) − f l′(ξ ) (x − x0 ). (10.5) Por hip´otese, a seq¨uˆencia {f k′ } ´e uniformemente de Cauchy em ]a, b[. Logo, dado ε > 0, existe k 0 ∈ N tal que ε k, l ≥ k0 ⇒ |f k′ (ξ ) − f l′ (ξ )| < , ∀ξ ∈ ]a, b[. 2(b − a) f k (x)
Usando a desigualdade triangular em (10.5) obtemos
|f k (x) − f l(x)| ≤ 2(b ε− a) |x − x0 | + |f k (x0 ) − f l (x0)|, ∀x ∈ [a, b] { }
e conclu´ımos que f k ´e uniformemente de Cauchy em [a, b]. Pelo u Teorema 10.5, existe f : [a, b] f em [a, b]. R tal que f k
→
−→ Provemos que f ´e deriv´avel em ]a, b[. Para x ∈ ]a, b[ fixado, considere Φk : [a, b] → R definida por f k (t) − f k (x) se t = x t−x Φk (t) =
f k′ (x)
se t = x
Como f k ´e deriv´avel, vemos que limt→x Φk (t) = f k′ (x). Por outro lado, ´e f´acil ver que Φk converge pontualmente em [a, b] x para a fun¸ca˜o f (t) f (x) Φ(t) = , t [a, b] x . t x
\{ }
− −
∈
\{ }
C´ alculo Avan¸cado I
140
Se provarmos que Φ k u Φ em [a, b] x , podemos usar o Teorema 10.7 para concluir a demonstra¸c˜ao. Com efeito, pelo Teorema do Valor M´edio,
−→
\{ }
− Φl (t) = f k (t)t −− f xk (x) − f l (t)t −− f xl(x) = f k′ (ξ ) − f l′(ξ ), para algum ξ entre t e x. Como {f k′ } ´e uniformemente de Cauchy, o mesmo vale para {Φk }. Φk (t)
O Teorema acima pode ser estendido `as fun¸c˜oes vetoriais.
Teorema 10.10: Seja Ω aberto, limitado e conexo de R n . Seja f k uma seq¨ uˆencia de (Ω, R) tal que a) para algum x 0 Ω, a seq¨ uˆencia f k (x0 ) ´e convergente; b) para todo k N, f k ´e fun¸c˜ ao de classe C 1 ; c) f k′ u g em Ω.
{ }
F ∈ ∈
−→
Ent˜ ao existe f f k u f em Ω.
−→
{
}
∈ F (Ω, R) fun¸c˜ ao de classe C 1
tal que f ′ = g e
Prova: Faremos a prova em duas etapas. Etapa 1: g ´e um campo conservativo. Sejam γ 1 , γ 2 : [0, 1] Ω duas curvas de classe C 1 ligando x a y. Se denotarmos por I i , i = 1, 2, as integrais de linha
→
− 1
I i =
0
g γ i (t) ; γ i′ (t) dt,
ent˜ao podemos escrever 1
I i =
f k′ γ i (t) ; γ i′ (t) dt +
g γ i (t)
0
1
0
f k′ γ i (t) ; γ i′ (t) dt.
Pelo Teorema 6.7, f k′ ´e campo conservativo. Logo,
− − − 1
I 1
− I 2 =
g γ 1 (t)
f k′ γ 1 (t) ; γ 1′ (t) dt
g γ 2 (t)
f k′ γ 2 (t) ; γ 2′ (t) dt.
0 1
0
Seq¨ uˆ encias de Fun¸co ˜es
141
Seja M k = sup f k′ (x)
{ − g(x) ; x ∈ Ω}. Ent˜ao, |I 1 − I 2| ≤ M k med(γ 1) + med(γ 2 ) . u M k → 0 pois f k′ −→ g em Ω. Portanto, I 1 = I 2 e conclu´ımos que g ´e
conservativo. Seja y0 o limite da seq¨ uˆencia f k (x0 ) k . Pelo Teorema 6.8, existe uma u ´ nica f de classe C 1 tal que f ′ (x) = g(x) para todo x Ω satisfazendo f (x0 ) = y 0 . Etapa 2 : Provemos que f k u f em Ω.
{
}
−→
Para cada x Ω, podemos determinar γ x : [0, 1] C 1 ligando x 0 a x, de modo que
∈
Logo,
1
f k (x) = f k (x0 ) +
0 1
f (x) = f (x0 ) +
0
∈
→ Ω curva de classe
f k′ (γ x (t)); γ x′ (t) dt,
g(γ x (t)); γ x′ (t) dt.
|f k (x) − f (x)| ≤ |f k (x0 ) − f (x0)| + 1 f k′ γ x(t) − g γ x (t)) γ x′ (t) dt ≤ M k med(γ x). + 0 Como M k → 0, conclu´ımos que f k converge pontualmente para f em Ω. Para provar a convergˆencia uniforme, consideremos Φ k (x) = f k (x) − f (x). Segue do Teorema do Valor M´edio Φk (x) − Φk (x0 ) = Φ′k (ξ ); x − x0 . Como Ω ´e limitado, existe R > 0 tal que x ≤ R para todo x ∈ Ω
e, conseq¨ uentemente,
|f k (x) − f (x)| ≤ |f k (x0) − f (x0)| + f k′ (ξ ) − g(ξ ) x − x0 . Portanto, sup f k′ (x)
x∈Ω
|
e conclu´ımos a prova.
− g(x)| ≤ |f k (x0) − f (x0)| + 2M kR
C´ alculo Avan¸cado I
142
S´ eries de Fun¸co ˜es e Convergˆencia Uniforme
{ } F (A, Rm ), podemos consi-
Dada uma seq¨ uˆencia de fun¸c˜oes f k de derar seq¨ uˆencia das somas parciais k
Φk (x) =
f i (x).
i=1
{ }
A seq¨ uˆencia Φk ´e denominada s´erie de fun¸c˜ oes de termo geral f k , que denotamos por ∞
f i .
(10.6)
i=1
Dizemos que a s´erie (10.6) converge uniformemente em A se a seq¨uˆencia das somas parciais que a define converge uniformemente em A. O Crit´erio de Cauchy aplicado `a seq¨ uˆencia das somas parciais nos d´a:
Corol´ario 10.11: A s´erie ∞ i=1 f i converge uniformemente em A se e somente se ε > 0 existe k 0 N tal que se k, l k 0 ent˜ ao
∀
∈
l
≥
f i (x) < ε,
i=k+1
∀x ∈ A.
Um resultado importante para o estudo da convergˆencia uniforme de s´eries de fun¸co˜es ´e o Teste de Weierstrass , cuja prova ´e conseq¨ uˆencia imediata do crit´erio de Cauchy. Teorema 10.12: Seja f k uma seq¨ uˆencia de fun¸c˜ oes de (A, Rm ) tais que f k (x) M k , x A.
{ } ≤
Se a s´erie num´erica
F
∀ ∈
k
i
M i ´e convergente, ent˜ ao a s´erie
verge uniformemente em A.
i=1
f k con-
Seq¨ uˆ encias de Fun¸co ˜es
143
S´ eries de Potˆ encias As s´eries de potˆencias s˜ao casos particulares de s´eries de fun¸c˜oes e desempenham papel preponderante na Matem´atica. Denominamos s´erie de potˆencias em torno de x0 R as s´eries de fun¸c˜oes ∞ k=1 f k (x), k onde f k (x) = a k (x x0 ) . Como as fun¸c˜oes f k (x) s˜ao polinˆ omios e est˜ao portanto definidas para todo x R, podemos perguntar para que valores de x a s´erie converge pontualmente e/ou uniformemente. Para o estudo da convergˆencia pontual podemos usar os testes para s´eries num´ericas. De fato, para x fixado, o teste da ra´ız d´a:
∈
−
∈
lim sup k→∞
lim sup k→∞
| || − | || − k
ak x
k
ak x
| ⇒ x0 | > 1 ⇒ x0 < 1
a s´erie converge; a s´erie diverge.
Portanto, se denotarmos por R = 1/ limsup k→∞
| | k
ak ,
(10.7)
ent˜ao a s´erie converge pontualmente (e absolutamente) no intervalo ]x0 R, x0 + R[ (com a conven¸c˜ao R = + se 1/R = 0) e diverge em ] , x0 R[ ]x0 + R, + [. O n´ umero R ´e denominado Raio de Convergˆencia da s´erie. Observe que o teste da ra´ız nada informa sobre o que ocorre nas extremidades do intervalo. No que se refere ao estudo da convergˆencia uniforme, podemos aplicar o Teste de Weierstrass.
− − ∞ − ∪
∞
∞
Teorema 10.13: Seja ∞ x0 )k uma s´erie de potˆencias em k=1 ak (x torno de x0 e A um conjunto limitado qualquer tal que A esteja contido em ]x0 R, x0 + R[, onde R ´e definido por (10.7). Ent˜ ao a s´erie converge uniformemente em A.
−
−
{| − x0| ; x ∈ A}. Ent˜ao 0 < α < +∞ e |f k (x)| ≤ |ak |αk , ∀x ∈ A.
Prova: Seja α = sup x
Como α < R, limsup k→∞
| | k
ak α < 1.
C´ alculo Avan¸cado I
144
k Logo a s´erie num´erica ∞ e convergente e conclu´ımos a conk=1 a k α ´ vergˆencia uniforme da s´erie de potˆencias pelo Teorema 10.12.
Observa¸c˜ ao: As fun¸c˜oes definidas por s´eries de potˆencias s˜ao infinitamente deriv´aveis no intervalo de convergˆencia e suas derivadas s˜ao obtidas derivando-se a s´erie termo a termo. De fato, seja k
ϕk (x) =
aj (x
j =0
− x0 )j , x ∈ I R =]x0 − R, x0 + R[,
| |
onde R = 1/ limsupk→∞ k ak e ϕ a s´erie de potˆencias ∞ j =1 aj (x j x0 ) (ϕ ´e o limite pontual de ϕk em I R ). Como ϕk ´e deriv´avel, ϕ′k (x) = kj=0 ja j (x x0 )j−1 e
−
lim sup k→∞
k
|
|
(k + 1) ak+1 = lim sup k→∞
segue do Teorema 10.13 que existe ψ: I R I R e ϕ′k
−
| | k
ak = 1/R,
p → R tal que ϕ′k −→ ψ em
u ψ em todo intervalo I tal que I seja contido em I R . −→
Portanto, pelo Teorema 10.9, ϕ ´e deriv´avel em I R e ϕ′ = ψ. Como podemos repetir este argumento ao infinito, temos a conclus˜ao.
A Matriz Exponencial Podemos estender de modo natural as defini¸co˜es de convergˆencia pontual e convergˆencia uniforme `as seq¨ uˆencias de (A, W ), onde A V , com V e W espa¸cos vetoriais normados (de dimens˜ao finita ou n˜ ao), mantendo a validade da maioria dos resultados anteriores. Assim, por exemplo, se W ´e espa¸co de Banach, temos a extens˜ao do Teorema 10.5. Essas extens˜oes s˜ao particularmente importantes para o caso W = = co das matrizes n n (ou equivalentemente n×n do espa¸ (Rn , Rn ) o espa¸co das transforma¸c˜oes lineares de R n em Rn ). Al´em da estrutura de espa¸co vetorial de dimens˜ao finita, ´e uma a´lgebra se munido do produto usual de matrizes (ou equivalentemente munido da composi¸ca˜o de fun¸c˜oes), de modo que podemos considerar as s´eries
F
M L
M
⊂
×
M
Seq¨ uˆ encias de Fun¸co ˜es
145
de potˆ encias de matrizes. Mais precisamente, se Φ k : polinˆomio da forma
M → M ´e
k
Φk (X ) =
− X 0)j ,
aj (X
j =1
∈ M,
X
podemos perguntar: Problema: Para quais X temos a convergˆencia pontual da seq¨ uˆencia Φk k ? Onde o corre a convergˆencia uniforme?
{ }
∈ M
Com argumentos an´alogos aos anteriores podemos mostrar que existe p Φ: BR (X 0 ) tal que Φk Φ em BR (X 0 ) = X ; X
→ M
∈ M −
−→
X 0 < R , com R definido por (10.7). Φ ´e denominada S´erie de Potˆencias em torno de X 0 , que denotamos por ∞ X 0 )k e, por analogia, BR (X 0 ) o seu intervalo de k=1 ak (X convergˆencia. Com argumentos an´alogos aos anteriores (veja Teorema 10.13), podemos provar o seguinte resultado sobre a convergˆ encia uniforme de s´eries de potˆencias em .
−
M
Teorema 10.13 (bis): Seja ∞ X 0 )k uma s´erie de potˆenk=1 ak (X cias em torno de X 0 em = n×n e S um subconjunto de BR (X 0 ) tal que S BR (X 0 ), onde R ´e definido por (10.7). Ent˜ ao a s´erie converge uniformemente em S .
−
M M
⊂
Exemplo: (A Matriz Exponencial) Seja Φ k : 1 Φk (X ) = I + X + X 2 + 2
M → M definida por
··· + k!1 X k.
M→M
p −→ M
Como limk→∞ k 1/k! = 0, existe Φ: tal que Φ k Φ em e uniformemente em qualquer conjunto limitado de . Φ ´e denominada a Matrix Exponencial de X que denotamos por eX ou exp(X ), isto ´e ∞ 1 k exp(X ) = X . (10.8) k!
M
k=0
C´ alculo Avan¸cado I
146
Exerc´ıcios Exerc´ıcio 10.1. Seja f k : [0, 1]
→ R a fun¸c˜ao definida por
f k (x) = lim (cos k!πx)2j . j→∞
Mostre que f k (x) =
∈ {1/k!, 2/k!, . . . , 1},
1 0
se x sen˜ao
e que f k converge pontualmente em [0, 1] para a fun¸c˜ao f (x) =
1 se x ´e racional, 0 se x ´e irracional.
Exerc´ıcio 10.2. Dˆe exemplo de seq¨ uˆencia de fun¸co˜es sci que converge pontualmente para uma fun¸ca˜o que n˜ ao ´e sci.
{ } { } { } { } { } { } { } ≤ ≤ ∀ ∈ ∀
Exerc´ıcio 10.3. Sejam f k e gk seq¨ uˆencias de fun¸c˜oes definidas em A Rn com valores em Rm . Se f k e gk convergem uniformemente em A, prove que f k + g k converge uniformemente em A. Se, al´em disso, f k e gk s˜ao seq¨ uˆencias de fun¸co˜es uniformemente limitadas (isto ´e, f k (x) α e gk (x) β x A, k), mostre que ϕk definida por ϕk (x) = f k (x); gk (x) converge uniformemente em A.
⊂
{ }
Exerc´ıcio 10.4. Verdadeiro ou falso? a) Se f k u f em A, f k ´e seq¨ uˆencia de fun¸c˜oes limitadas.
−→ ⇒ { } u b) Se f k −→ f em A, com A compacto e f k cont´ınua para todo k, ⇒ {f k} ´e seq¨uˆencia de fun¸co˜es uniformemente limitadas. Exerc´ıcio 10.5. Seja g: R → R fun¸c˜ao de classe C 1 e f k : A ⊂ Rn → R seq¨ uˆencia de fun¸co˜es uniformemente limitadas (isto ´e, |f k (x)| ≤ α ∀k e ∀ x ∈ A), tal que f k −→ f uniformemente em A. Mostre que g ◦ f k −→ g ◦ f uniformemente em A. Exerc´ıcio 10.6. Considere
∞
f (x) =
k=1
1 1 + k2 x
Seq¨ uˆ encias de Fun¸co ˜es
147
Para que valores de x esta s´erie ´e absolutamente (pontualmente) convergente? Em que intervalos ela ´e uniformemente convergente? f ´e cont´ınua nos pontos em que a s´erie converge? f ´e limitada?
− − −
2
∞ k x +k Exerc´ıcio 10.7. Prove que a s´erie converge unik=1 ( 1) k2 formemente em todo intervalo limitado, mas n˜ao converge absolutamente em nenhum x. 0 1 Exerc´ıcio 10.8. Seja X = . Mostre que 1 0
exp(θX ) =
cos θ sen θ
sen θ . cos θ
Exerc´ıcio 10.9. Seja = tal que n×n e considere X X < 1. a) Mostre que I + X ´e invers´ıvel. ∞ k k b) Mostre que a s´erie de potˆencias k=0 ( 1) X converge pontualmente para (I + X )−1 em B 1 (0). c) Seja = X ; X ´e invers´ıvel e f : a fun¸c˜ao −1 f (X ) = X . Mostre que f ´e diferenci´avel em e calcule f ′ (X ).
M
I
M
∈M
∈M
Exerc´ıcio 10.10. Mostre que lim
p→+∞
−
I → M I
x p = x∞
uniformemente nos compactos de Rn . Exerc´ıcio 10.11. Seja f : Rn Rn tal que f (0) = 0 e considere f k k a seq¨ uˆencia definida por f k : B Rn , x f k (x) = kf ( ) x B, k onde B = x Rn ; 12 x 1 . Mostre que se f k k converge uniformemente em B para uma transforma¸c˜ao linear L: Rn Rn , ent˜ao f ´e diferenci´avel em 0.
−→
{ }
{ ∈
→ ∀ ∈
≤ ≤ }
{ }
−→
Exerc´ıcio 10.12. Seja K uˆencia de Rn compacto e f k k seq¨ fun¸co˜es reais cont´ınuas convergindo pontualmente em K para uma fun¸ca˜o cont´ınua f . Se
⊂
f k (x)
≤ f k+1(x), ∀x ∈ K,
{ }
k = 1, 2, . . .
mostre que a convergˆencia ´e uniforme. Mostre que o resultado ´e falso se K n˜ ao ´e compacto.
11 O Espa¸co C(K;Rm) Seja K um subconjunto compacto de Rn e considere
C (K ; Rm ) = f : K
→ Rm ; f
´e fun¸ca˜o cont´ınua .
C (K ; Rm ) ´e espa¸co vetorial (com as opera¸c˜oes usuais de soma de fun¸co˜es e produto por escalar) de dimens˜ao infinita. De fato, num espa¸co vetorial V de dimens˜ ao n, qualquer subconjunto com mais de n vetores ´e necessariamente linearmente dependente. Consideremos, por exemplo, V = C ([0, 1]; R). Para todo k N seja Ak o subcon´ f´acil ver que Ak junto Ak = f 1 , f 2 , . . . , fk , onde f k (x) = xk . E ´e linearmente independente, qualquer que seja k N . Logo, V n˜ ao pode ser de dimens˜ao finita. A norma natural de C (K ; Rm ) ´e a norma ∞ definida por
{
∈
}
∈
f ∞ = max
f (x) ; x ∈ K ,
´e uma norma qualquer de R m.
onde
Observa¸c˜ ao: O termo “natural” a que nos referimos acima ´e aqui justificado pelos resultados que se seguem, isto ´e, a norma e ∞ ´ natural do ponto de vista matem´a tico. Como na pr´ atica a norma natural ´e em geral a que melhor conv´ em a uma dada aplica¸ca˜ o ou a um dado problema, pode ocorrer que a “natural” n˜ao seja a que proporciona boas propriedades ao espa¸c o. Por exemplo, a norma euclidiana em C ([a, b], R), definida por
b
f 2 =
a
|f (x)|2
1/2
,
C´ alculo Avan¸cado I
150
´e natural para muitas aplica¸co˜es, como por exemplo os problemas que envolvem s´eries de Fourier, etc. Por´em, C ([a, b], R) n˜ao ´e espa¸co de Banach para esta norma, n˜ao ficam assim assegurados os processos de limite. Teorema 11.1: O espa¸co C (K ; Rm ) munido da norma de Banach. Al´em disso,
f k − f ∞ → 0 ⇐⇒
f k
u −→ f
∞ ´e espa¸co
em K.
Prova: Seja f k k seq¨ uˆencia de Cauchy em C (K ; Rm ). Ent˜ao f k k ´e uniformemente de Cauchy. Pelos Teoremas 10.5 e 10.6, existe f C (K ; Rm ) tal que f k u f em K . A conclus˜ a o segue da Proposi¸c˜ao 10.3.
{ }
∈
{ }
−→
Observa¸c˜ ao: O Teorema 11.1 assegura a validade em C (K ; Rm ) dos principais resultados demonstrados nos cap´ıtulos anteriores. Em especial, o Teorema do Ponto Fixo de Banach, o Teorema da Fun¸cao ˜ Inversa , o Teorema da Fun¸c˜ ao Impl´ıcita , o Teorema dos Multiplicadores de Lagrange , etc., que s˜ao importantes para as aplica¸co˜es.
Aplica¸c˜ ao 1: o Teorema de Picard Como aplica¸c˜ao dos resultados estudados at´e aqui, vamos apresentar nesta se¸c˜ao um prova elegante do Teorema de Picard para a existˆencia e unicidade de solu¸co˜es do Problema de Valor Inicial para Sistemas de Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´arias. Problema: Seja T > 0 e x0 Rn . Dada f : [0, T ] Rn Rn , deseja-se saber se existe uma ´unica curva γ : [0, T ] Rn diferenci´avel em ]0, T [ tal que
∈
γ ′ (t) = f t, γ (t) , γ (0) = x0 .
× → →
∀t ∈ ]0, T [,
(11.1)
Uma resposta afirmativa para o problema ´e dada pelo Teorema de Picard (para uma forma mais geral, veja exerc´ıcios).
m O Espa¸co C(K;R )
151
Rn fun¸ Teorema 11.2: Seja f : [0, T ] R n c˜ ao cont´ınua satisfazendo a seguinte propriedade: existe L 0 tal que
×
→ ≥ f (t, x) − f (t, y) ≤ Lx − y , ∀x, y ∈ Rn, ∀t ∈ [0, T ]. (11.2) Ent˜ ao, para cada x0 ∈ Rn , existe uma u ´ nica curva γ : [0, T ] → Rn diferenci´ avel em ]0, T [ satisfazendo (11.1).
Prova: Seja V = C [0, T ]; Rn e considere a fun¸ca˜ o Ψ: V definida por (veja nota¸c˜ao em (5.15))
→
V
t
Ψ(γ )(t) = x0 +
f s, γ (s) ds.
0
Ent˜ao, para todo t
∈ [0, T ]
− ≤ t
Ψ(γ 1)(t) − Ψ(γ 2)(t)
f s, γ 1 (s)
f s, γ 2 (s)
ds
0
(11.3)
≤ Lγ 1 − γ 2∞t.
Consideremos Ψ2 = Ψ Ψ. Ent˜ao, para toda γ
◦
∈ V ,
t
2
Ψ (γ )(t) = x 0 +
f s, Ψ(γ )(s) ds
0
e obtemos de (11.3) t [0, T ]
∀ ∈
2
≤ t
2
Ψ (γ 1)(t) − Ψ (γ 2)(t)
L Ψ(γ 1 )(s)
0
− Ψ(γ 2)(s) ds 2
≤ L2γ 1 − γ 2 ∞ t2 .
Repetindo o argumento para Ψ3 , . . . , Ψk , obtemos k k
Ψk(γ 1 )(t) − Ψk (γ 2)(t) ≤ Lk!t γ 1 − γ 2∞, ∀t ∈ [0, T ]. (11.4) Passando ao supremo em t ∈ [0, T ] na desigualdade (11.4), temos k
k
Ψ (γ 1) − Ψ (γ 2)∞ ≤
Lk T k γ 1 k!
− γ 2∞.
C´ alculo Avan¸cado I
152
Fixando k N tal que L k T k /k! < 1, conclu´ımos que Ψk ´e contra¸ca˜o em V . Sendo V um espa¸co de Banach, existe um ´unico ponto γ V ponto fixo para Ψk . Logo (veja Exerc´ıcio 4.21), γ ´e ponto fixo de Ψ, isto ´e,
∈
∈
t
γ (t) = x 0 +
f s, γ (s) ds
0
e temos a conclus˜ao.
O Teorema de Arzel` a-Ascoli Uma das diferen¸cas marcantes entre o R n (ou mais geralmente entre um espa¸co de dimens˜ao finita) e C (K ; Rm ) ´e sobre a caracteriza¸c˜ao dos conjuntos compactos. Por exemplo, os fechados e limitados de C (K ; Rm ) n˜ ao s˜ ao necessariamente compactos . De fato, mostremos que a bola fechada
∈ ≤
B = f C [0, 1]; R ; f
∞
1
n˜ ao ´e compacto em C ([0, 1], R). Seja f k (x) =
x2 , x2 + (1 kx)2
−
∈ [0, 1].
x
p ∞ ≤ 1 e que f k −→ 0 em [0, 1]. Se B fosse compacto, a seq¨uˆencia {f k } admitiria uma subseq¨ uˆencia convergente
´ f´ E acil ver que f k
(necessariamente a zero), o que ´e imposs´ıvel, pois
f k∞ = |f k (1/k)| = 1. 1.2
1
0.8
y 0.6
0.4
0.2
0
0.2
0.4
x
0.6
Figura 11.1
0.8
1
m O Espa¸co C(K;R )
153
A caracteriza¸c˜ao dos conjuntos compactos de C (K ; Rm ) ´e dada pelo Teorema de Arzel`a-Ascoli que veremos a seguir. Defini¸c˜ ao 11.3: Dizemos que C (K ; Rm ) ´e equicont´ınuo se ε > 0 existe δ > 0 tal que se x, y K e x y < δ , ent˜ ao f (x) f (y) < ε, f . m Se C (K, R ), denotamos (x) = f (x) f .
∀
X ⊂
− X ⊂
∀ ∈ X
X
∈ {
− | ∈ X}
Teorema 11.4: Seja subconjunto fechado de C (K ; Rm ). Ent˜ ao m ´e compacto em C (K, R ) se e somente se ´e equicont´ınuo e, para todo x K , (x) ´e compacto em R m .
X
X
∈ X
X
Prova: Suponhamos inicialmente compacto em C (K ; Rm ). Seja x0 K . Provemos que (x0 ) ´e compacto. Consideremos ξ k uma seq¨ uˆencia de (x0 ). Por defini¸c˜ao, existe f k tal que f k (x0 ) = ξ k . Como ´e compacto, f k admite uma subseq¨ uˆencia f ki tal que f ki f uniformemente, para algum f . Em particular, ξ ki = f ki (x0 ) f (x0 ) (x0 ). Logo (x0 ) ´e compacto. Provemos que ´e equicont´ınuo. Dado ε > 0, consideremos a cobertura Bε (f ) f ∈X de , onde
X X { } ∈ X
∈
{ } { }
X ∈ X X −→ ∈ X −→ X X { } X Bε (f ) = {g ∈ C (K, Rm ) ; g − f ∞ < ε} Como X ´e compacto, existem f 1 , f 2 , . . . , fk em X tais que X ⊂ k
i=1 Bε (f i ).
Como cada f i ´e cont´ınua em K e K ´e compacto, f i ´e uniformemente cont´ınua em K :
∃δ i > 0 tal que x − y < δ i ⇒ f i(x) − f i(y) < ε. Seja δ = min{δ 1 , δ 2 , . . . , δk }. Se f ∈ X , ent˜ao f ∈ Bε (f i ) para algum 1 ≤ i0 ≤ k e se x − y < δ , f (x) − f (y) ≤ f (x) − f i (x) + f i (x) − f i (y) + f i (y) − f (y) ≤ 2 f − f i ∞ + f i (x) − f i (y) . Mas f i (x) − f i (y) < ε pois x − y < δ ≤ δ i e f − f i ∞ < ε pois f ∈ Bε (f i ). Portanto f (x) − f (y) < 3ε, o que implica X equicont´ınuo. 0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
C´ alculo Avan¸cado I
154
{ }
Reciprocamente, consideremos f k uma seq¨ uˆencia qualquer de Como ´e equicont´ınuo, dado ε > 0, δ > 0 tal que
X .
X ∃ x − y < δ ⇒ f k (x) − f k (y) < ε, ∀k ∈ N. (11.5) Seja {Bδ (x)}x∈K cobertura de K . Ent˜ ao existem x1 , x2 , . . . , xl ∈ K l tais que K ⊂ i=1 Bδ (xi ). Por hip´otese X (x1 ) ´e compacto. Ent˜ao {f k (x1 )} ⊂ X (x1 ) admite uma subseq¨uˆencia {f k (x1 )} convergente para um elemento de X (x1 ). Como X (x2 ) ´e compacto, {f k (x2 )} admite subseq¨ uˆencia {f k (x2 )} convergente para um elemento de X (x2 ). E assim sucessivamente, construimos uma subseq¨ uˆencia de { f k } (que denotaremos por f k ) que converge pontualmente em x j , ∀ j = 1, 2, . . . , l . Logo ∃k0 ∈ N tal
i
i
ij
que
k, k′
≥ k0 ⇒ f k(xj ) − f k (xj ) < ε, j = 1, 2, . . . , l . (11.6) Tomemos x ∈ K . Ent˜ ao x ∈ B δ (xj ) para algum j0 . Se k, k ′ ≥ k0 , ent˜ao f k(x) − f k (x) ≤ f k(x) − f k (xj ) + f k(xj ) − f k (xj ) + f k (xj ) − f k (x) . Como x − xj < δ , segue de (11.5) que f k (x) − f k (xj ) < ε. Al´em disso, se k, k ′ ≥ k 0 segue de (11.6) que f k (xj ) − f k (xj ) < ε. Como k0 n˜ ao depende de x, conclu´ımos que f k converge uniformemente para algum f ∈ C (K, Rm ). Em particular, f ∈ X = X . ′
0
′
0
′
0
′
0
0
′
0
0
0
′
0
Observa¸c˜ ao: Na maioria das aplica¸co˜es nos deparamos com fam´ılias de conjuntos tais que (x) ´e somente limitado para todo x. Como (x) ´e compacto em Rm , podemos ent˜ao perguntar se ser´a tamb´em compacto em C (K, Rm ). Antes de tratar dessa quest˜ao, lembremos que um conjunto X de um espa¸co m´etrico ´e dito relativamente com pacto se X ´e compacto . Em particular, se o espa¸co m´etrico ´e Rm , ent˜ao relativamente compacto ´e sinˆonimo de limitado (lembre-se do Teorema de Bolzano-Weierstrass).
X
X
X
X
Lema 11.5: Seja C (K, Rm ). Ent˜ ao a) ´e equicont´ınuo ´e equicont´ınuo. b) (x) (x) x K . c) Se ´e equicont´ınuo e (x) ´e limitado para todo x compacto de R n ), ent˜ ao (x) = (x) x K .
X X ⊂ X X
X ⊂
⇐⇒ X ∀ ∈ X X
X ∀ ∈
∈
K ( K
m O Espa¸co C(K;R )
155
Prova: (a) A implica¸c˜ao “ ” ´e ´obvia. Provemos ent˜ao “ ”. Se ´e equicont´ınuo, dado ε > 0, δ > 0 tal que se x y < δ , ent˜ao f (x) f (y) < ε/3 f . Seja f e considere f k N tal que com f k f uniformemente em K . Ent˜ ao k0 f k (x) f (x) < ε/3 se k k 0 . Portanto,
⇐
⇒ − ∈ X ∈ ∃ ∈
X ∃ − ∀ ∈ X X −→ − ≥ f (x) − f (y) ≤ f (x) − f k (x) + + f k (x) − f k (y) + f k (y) − f (y) < ε. (b) Seja ξ x ∈ X (x). Por defini¸c˜ao, existe f ∈ X tal que ξ x = f (x). Seja f k ∈ X tal que f k −→ f uniformemente. Ent˜ ao f k (x) −→ f (x) e portanto f (x) ∈ X (x). (c) Seja ξ ∈ X (x). Ent˜ ao existe seq¨ uˆencia { ξ k } em X (x) tal que ξ k −→ ξ . Por defini¸ca˜o, existe {f k } seq¨ uˆencia em X tal que f k (x) = ξ k . Provemos que {f k } converge uniformemente em K . Seja ε > 0. Como X ´e equicont´ınuo, dado ε > 0, ∃δ > 0 tal que x − y < δ ⇒ f k (x) − f k (y) < ε, ∀k ∈ N. (11.7) Seja {Bδ (x)}x∈K cobertura de K . Ent˜ ao existem x1 , x2 , . . . , xl ∈ K l tais que K ⊂ i=1 Bδ (xi ). Por hip´otese X (x1 ) ´e limitado. Ent˜ao {f k (x1 )} ⊂ X (x1 ) admite uma subseq¨uˆencia {f k (x1 )} convergente. Como X (x2 ) ´e limitado, { f k (x2 )} admite subseq¨ uˆencia { f k (x2 )} convergente. E assim sucessivamente, construimos uma subseq¨uˆencia de {f k } (que denotaremos por f k ) que converge pontualmente em x j , ∀ j = 1, 2, . . . , l . Logo ∃k0 ∈ N tal que k, k′ ≥ k 0 ⇒ f k (xj ) − f k (xj ) < ε, j = 1, 2, . . . , l . (11.8) Tomemos x′ ∈ K . Ent˜ ao x ′ ∈ B δ (xj ) para algum j0 . Se k, k ′ ≥ k 0 ,
i
i
ij
′
0
ent˜ao
f k(x′ ) − f k (x′ ) ≤ f k(x′ ) − f k(xj ) + + f k (xj ) − f k (xj ) + f k (xj ) − f k (x′ ) . ′
0
0
′
0
′
0
′
C´ alculo Avan¸cado I
156
Como x′ xj0 < δ , segue de (11.7) que f k (x′ ) f k (xj0 ) < ε. Al´em disso, se k, k ′ k 0 segue de (11.8) que f k (xj0 ) f k (xj0 ) < ε. Como k0 n˜ ao depende de x′ , conclu´ımos que f k converge uniformemente para algum f C (K, Rm ). Assim f e ξ = f (x) (x).
−
− − ∈ X
≥ ∈
′
∈ X
Teorema 11.6: Seja K Rn compacto e C (K, Rm ). Ent˜ ao m ´e relativamente compacto em C (K, R ) se e somente se ´e m equicont´ınuo e para todo x K (x) ´e limitado de R .
⊂
X
X
X ⊂
∈ X
X
X
Prova: Se ´e relativamente compacto ent˜ao ´e compacto. Pelo Teorema 11.4, ´e equicont´ınuo e (x) ´e compacto em Rm para todo x. Pelo Lema 11.5, ´e equicont´ınuo e (x) ´e compacto. Conclu´ımos ent˜ao que ´e equicont´ınuo e (x) ´e relativamente compacto. O racioc´ınio sim´etrico leva `a conclus˜ ao da prova.
X
X
X
X
X
X
Aplica¸c˜ ao 2: O Teorema de Cauchy-Peano Como aplica¸c˜ao do Teorema de Arzel` a-Ascoli (Teorema 11.6), vamos demonstrar o Teorema de Cauchy-Peano sobre a existˆencia de solu¸c˜oes para problemas de valor inicial. Teorema 11.7: Seja Ω R2 aberto, f : Ω c˜ ao cont´ınua R uma fun¸ e (x0 , y0) Ω. Ent˜ ao existe r > 0 e ao menos uma fun¸c˜ ao de classe C 1 ϕ: [x0 r, x0 + r] R tal que ϕ(x0 ) = y 0 satisfazendo
∈ −
⊂
→
→
ϕ′ (x) = f x, ϕ(x)
∀x ∈ ]x0 − r, x0 + r[.
(11.9)
⊂ Ω uma vizinhan¸ca limitada de (x0 , y0) e considere M = max{|f (x, y)| ; (x, y) ∈ U }.
Prova: Seja U
Seja r > 0 tal que o retˆangulo
{
∈ Ω ; |x − x0| ≤ r, |y − y0| ≤ M r} ⊂ U. Consideremos o intervalo [x0 , x0 + r] e para cada n ∈ N a parti¸ca˜o definida por xi = x0 + ir/n, i = 0, 1, . . . , n. Consideremos tamb´em para cada n ∈ N a fun¸c˜ao poligonal R = (x, y)
n
ψn (x) =
i=0
ani ϕni (x),
m O Espa¸co C(K;R )
157
onde os coeficientes a n0 , an1 , . . . , ann s˜ao definidos pela recorrˆencia a0 = y 0 , ai+1 = a i +
r f (xi , ai ), i = 0, 1, . . . , n n
(11.10)
−1
e as fun¸co˜es ϕ ni s˜ao definidas por ϕn0 (x) =
−
n(x1 0
n(x 0 e para i = 1, 2 . . . , n 1, ϕnn (x) =
ϕni (x) =
− x)/r
≤ ≤ x1
se x 0 x sen˜ao
− xn−1)/r −
,
≤ x ≤ xn
se xn−1 sen˜ao
≤ ≤ ≤ ≤
n(x xi−1 )/r n(xi+1 x)/r 0
se x i−1 x xi se x i x xi+1 sen˜ao
−
(as fun¸c˜oes ϕni formam uma base para o espa¸co vetorial das poligonais com v´ertices nos pontos da parti¸c˜ao). Como ai a 0 M r para i = 1, 2, . . . , n, o gr´afico de ψn est´a inteiramente contido no retˆangulo R. Al´em disso, ´e claro que ψn ´e cont´ınua com derivada ψ n′ cont´ınua por partes. Mais precisamente,
| − | ≤
ψn′ (x) = (ani
− ani−1)n/r = f (xi−1, ani−1 ), ∀x ∈ ]xi−1 , xi [.
Em particular, temos de (11.10)
|ψn′ (x)| ≤ nr |ani − ani−1| ≤ M e como
x
ψn (x) = y 0 +
x0
temos
(11.11)
ψn′ (s) ds,
(11.12) |ψn (x)| ≤ |y0| + M |x − x0| ≤ M r. Consideremos o conjunto X = { ψn ; n ∈ N} que ´e subconjunto de C [x0 , x0 +r]; R . Segue de (11.12) que X (x) ´e limitado para qualquer x ∈ [x0 , x0 + r]. Al´em disso, como
′
′
|≤ |
|ψn(x) − ψn (x )
x
x
ψn′ (s) ds
| ≤ M |x′ − x|,
C´ alculo Avan¸cado I
158
X
segue que ´e equicont´ınuo. Decorre do Teorema de Arzel`a-Ascoli que existe uma subseq¨uˆencia (que ainda denotaremos por ψ n ) e uma fun¸ca˜o ψ C [x0 , x0 + r], R tais que ψ n ψ uniformemente em [x0 , x0 + r]. Para concluir, basta mostrar que ψ satisfaz a equa¸ca˜o (11.9), o que ´e equivalente a mostrar que
∈
→
x
ψ(x) = y 0 +
f (s, ψ(s)) ds.
x0
Consideremos as fun¸co˜es Φn e Φ definidas por
x
Φn (x) = y 0 +
x
f (s, ψn (s)) ds,
Φ(x) = y 0 +
x0
f (s, ψ(s)) ds
x0
Como f ´e uniformemente cont´ınua em R, dado ε > 0 existe δ > 0 tal que se x x′ < δ e y y ′ < δ , ent˜ao f (x, y) f (x′ , y ′ ) < ε. Como ψn converge uniformemente para ψ em [x0 , x0 + r], existe n 0 N tal que se n n0 , ent˜ao ψn (x) ψ(x) < δ . Portanto, para n n 0
| − | | − | | − | ∈ ≥ | − | ≥ x |Φn(x) − Φ(x)| ≤ |f (s, ψn(s)) − f (s, ψ(s))| ds
≤ x0 n
xi
xi
i=1
1
−
|f (s, ψn(s)) − f (s, ψ(s))| ds
≤ εr
e conclu´ımos que Φn converge uniformemente para Φ. Por outro lado, como
x
Φn (x)
− ψn(x) =
x0
f (s, ψn (s))
− ψn′ (s) ds,
podemos escrever n
|≤ ≤
|Φn (x) − ψn(x)
i=1 n i=1
≤ εr
xi
xi
1
|f (s, ψn(s)) − ψn′ (s)| ds
1
|f (s, ψn(s)) − f (xi−1, ani−1 )| ds
−
xi
xi
−
m O Espa¸co C(K;R )
159
−
Portanto a seq¨ uˆencia Φn ψn converge uniformemente para 0. Como ψn converge uniformemente para ψ, conclu´ımos que Φ = ψ. Como o mesmo argumento pode ser repetido para o intervalo [x0 r, x0 ], conclu´ımos a prova.
−
O Teorema de Weierstrass Como foi mencionado anteriormente, o espa¸co C (K ; Rn ) ´e um espa¸co de Banach quando munido da norma do m´ aximo. Portanto, no que se refere aos processos de limite, ele apresenta semelhan¸cas com R. Uma propriedade importante de R, denominada separabilidade , ´e que R possui um subconjunto enumer´avel e denso, a saber, o conjunto dos n´ umeros racionais Q . O resultado que se segue, denominado Teorema de Weierstrass , mostra que C ([a, b]; R) tamb´ em possui esta propriedade, sendo portanto um espa¸co separ´avel. A prova que aqui apresentamos ´e devida a H. Lebesgue.
Teorema 11.8: Se f C [a, b]; R , ent˜ ao existe uma seq¨ uˆencia de polinˆomios P k k tal que P k f uniformemente em [a, b].
{ }
∈
→
Prova: Faremos a prova em duas etapas. Etapa 1: Consideremos inicialmente a = 0, b = 1 e suponhamos que f (0) = 0. Como f ´e uniformemente cont´ınua em [0, 1], dado ε > 0 existe δ > 0 tal que
|x − x′ | < δ ⇒ |f (x) − f (x′ )| < ε/2. (11.13) Seja n ∈ N tal que 1/n ≤ δ e considere a parti¸c˜ao P = {x0 , . . . , xn } de [0, 1] definida por
xi = i/n,
i = 0, 1, . . . , n .
−
→
R definida Para cada i = 0, 1, . . . , n 1, considere a fun¸c˜ao ϕi : [0, 1] por ϕ1 (x) = (x xi )+ . ´ f´ E acil ver que ϕi i ´e uma base para o espa¸co das poligonais ψ que tˆem v´ertices nos pontos de e que satisfazem ψ(0) = 0. Seja
{ }
−
P
ψ(x) =
n−1
i=0
αi ϕi (x),
C´ alculo Avan¸cado I
160
onde os coeficientes α i s˜ao definidos pela recorrˆencia
α0 = nf (x1 )
αi = n f (xi+1 )
− 2f (xi) + f (xi−1 ) ,
i = 1, . . . , n
(11.14)
− 1.
Ent˜ao ψ(xi ) = f (xi ), para i = 0, 1, . . . , n e como conseq¨uˆencia de (11.13) temos f ψ ∞ < ε/2. Por outro lado, como
−
1 x 2
| −
| − xi , se provarmos que as fun¸c˜oes x → |x − xi |, i = 1, 2, . . . , n − 1, podem ϕi (x) =
xi + x
ser aproximadas uniformemente por polinˆo mios em [0, 1], teremos conclu´ıdo a demostra¸c˜ao desta etapa. De fato, suponhamos que exista um polinˆ omio Q i (x) tal que ε , ∀x ∈ [0, 1], i = 0, . . . , n − 1, | − Qi (x) < nM onde M = max{|α0 |, . . . , |αn−1 |}. Ent˜ao, considerando
| − x
xi
n−1
P (x) =
αi P i (x), onde P i (x) =
i=0
1 Qi (x) + x 2
− xi ,
temos
f − P ∞ ≤ f − ψ∞ + ψ − P ∞ < ε. Provemos, ent˜ao, que x → |x − xi |, i = 0, . . . , n − 1, pode ser aproximada uniformemente por polinˆ omios em [0, 1]. √ A s´erie de Taylor de φ(ξ ) = 1 − ξ em torno de ξ = 0 ´e ∞ 1 (2ν − 3)! 1 − ξ + (−1)ν ξ ν , ν (ν −1) 2 ν ! (ν 1)!2 − ν =2 cujo intervalo de convergˆencia ´e |ξ | < 1. Portanto, se considerarmos a seq¨ uˆencia de polinˆ omios {S k }k definidos por k 1 (2ν − 3)! S k (ξ ) = 1 − ξ + (−1)ν ξ ν , ν (ν −1) 2 − ν ! (ν 1)!2 ν =1
m O Espa¸co C(K;R )
161
| |
ent˜ao S k converge uniformemente para φ nos compactos de ξ < 1. Em particular, P k (ξ ) = S k (1 ξ 2 ) define uma seq¨ uˆencia de polinˆ omios que converge uniformemente para ξ 1 (1 ξ 2 ) = ξ nos compactos de ξ < 2. Como [0, 1] ]xi 2, xi + 2[, os polinˆ omios P k (x xi ) fornecem a seq¨uˆencia desejada. Etapa 2: Seja f C [a, b]; R e considere g : [0, 1] R definida por
−
→ √ − −√ | | √ | | ⊂ − − ∈ → g(x) = f xb + (1 − x)a − (1 − x)f (a). Ent˜ao g ∈ C [0, 1]; R e satisfaz g(0) = 0. Segue da Etapa 1 que
existe uma seq¨uˆencia de polinˆ omios G k que converge uniformemente para g em [0, 1]. Seja P k o polinˆ omio definido por P k (x) = Gk Ent˜ao P k
− − − x b
−
a a
x b
+ 1
−
a a
f (a).
→ f uniformemente em [a, b].
Funcionais Cont´ınuos e Diferenci´ aveis As fun¸co˜es reais definidas em C (K ; Rm ) s˜ao denominadas funcionais de C (K ; Rm ) e as defini¸co˜es de fun¸co˜es cont´ınuas e fun¸c˜oes diferenci´aveis se estendem ipsis litteris aos funcionais. Assim, Defini¸c˜ ao 11.9: Dizemos que um funcional J : C (K ; Rm ) R ´ e cont´ınuo em f 0 se para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que se f f 0 ∞ < δ , ent˜ao J (f ) J (f 0 ) < ε. Dizemos que J ´e cont´ınuo em C (K ; Rm ) se ´e cont´ınuo em todos os pontos de .
X⊂
Exemplo: Se g: R definido por
−
→
→ −
X
R ´ e fun¸c˜ao cont´ınua, ent˜ao o funcional J
→
J : C [a, b]; R
R,
b
J (f ) =
g f (x) dx
a
´e cont´ınuo em C [a, b], R (veja Exerc´ıcios).
C´ alculo Avan¸cado I
162
Como C (K ; Rm ) ´e de dimens˜ao infinita, existem funcionais lineares que n˜ ao s˜ao cont´ınuos. A constru¸ca˜o de exemplos de funcionais lineares n˜ao cont´ınuos, assim como a caracteriza¸ca˜o do espa¸co dual (isto ´e, o espa¸co dos funcionais lineares cont´ınuos) de C (K ; Rm ) est´a fora do alcance destas notas. Defini¸c˜ ao: Seja um aberto de C (K ; Rm ). Dizemos que um funcional J : C (K ; Rm ) R ´e diferenci´avel em f 0 se existem funcionais ǫ, L: C (K ; Rm) R tais que
O → →
J (f 0 + ϕ) = J (f 0 ) + L(ϕ) + ǫ(ϕ),
onde L ´e linear cont´ınuo e ǫ ´e o ϕ ∞ . Neste caso, L ´e denominado a Diferencial de Fr´ echet de J em f 0 . Se J ´e diferenci´avel em todos os pontos de , dizemos que J ´e diferenci´ avel em .
O
O
Exemplo: Se g: R e uma fun¸c˜ao de classe C 1 , ent˜ao o funcional R´ J : C [a, b]; R R definido por
→
→
b
J (f ) =
g f (x) dx
a
´e diferenci´avel em C [a, b], R (veja Exerc´ıcios).
Aplica¸c˜ ao 3: Fluxos
Rn uma fun¸ Seja T > 0 e f : [0, T ] Rn ca˜o satisfazendo (11.2). Pelo n Teorema 11.2, para cada x 0 R existe uma u ´ nica curva γ : [0, T ] n R diferenci´ avel em ]0, T [ solu¸c˜ao do problema de valor inicial (11.1). Temos assim definida a aplica¸c˜ao
× → ∈ Φ: Rn x0
→ →
→
C [0, T ], Rn Φ(x0 )
(11.15)
onde γ (t) = Φ(x0 )(t) ´e a solu¸c˜ao de (11.1), isto ´e,
t
Φ(x0 )(t) = x 0 +
f s, Φ(x0 )(s) ds.
0
m O Espa¸co C(K;R )
163
Defini¸c˜ ao 11.10: A aplica¸c˜ao (11.15) ´e denominada o Fluxo gerado por f (ou fluxo associado ao problema de valor inicial (11.1)). Exemplo: Como exemplo particularmente importante, consideremos a fun¸ca˜o linear f (x) = Ax, onde A ´e matriz n n. Ent˜ao podemos verificar facilmente que o fluxo gerado por f ´e dado pela matrix exponencial exp(tA) (veja (10.8)), isto ´e,
×
∀t ∈ R, ∀x0 ∈ Rn.
Φ(x0 )(t) = exp(tA)x0 ,
Al´em disso, se f (t, x) = A(t)x, onde A(t) = [aij (t)] ´e uma matriz n n cujos coeficientes s˜ao fun¸c˜oes cont´ınuas de t, ent˜ao ´e f´acil ver que o fluxo gerado por f ´e dado pela matriz exponencial exp(B(t)), t onde B(t) = 0 A(s) ds. O teorema a seguir ´e um resultado b´asico da Teoria das Equa¸c˜oes Diferenciais, conhecido como dependˆencia cont´ınua das solu¸c˜ oes com rela¸c˜ ao aos dados iniciais . Ele afirma que se os dados iniciais x 0 e x ˜0 do problema de valor inicial (11.1) est˜ao pr´oximos, ent˜ao as respectivas curvas solu¸c˜oes permanecem pr´oximas. Mais precisamente,
×
Teorema 11.11: Seja f : [0, T ] Rn Rn uma fun¸ c˜ ao satisfazendo (11.2). Ent˜ ao o fluxo gerado por f ´e uma fun¸cao ˜ Lipschitz-cont´ınua de R n em C [0, T ], Rn .
×
→
A prova ´e conseq¨ uˆencia imediata da desigualdade de Gronwall.
≥ 0 e ϕ: [0, T ] → R uma fun¸c˜ ao
Lema 11.12: (Gronwall) Sejam α, β cont´ınua e positiva tal que
t
ϕ(t)
≤ α + β
ϕ(s) ds,
0
∀t ∈ [0, T ].
≤ αeβt , ∀t ∈ [0, T ].
Ent˜ ao, ϕ(t)
t
Prova: Seja ψ(t) = α + β 0 ϕ(s) ds. Ent˜ ao ψ′ (t) = β ϕ(t) Multiplicando a desigualdade por e −βt , podemos escrever
≤ β ψ(t).
d −βt e ψ(t) dt
≤ 0,
de onde se obt´em e −βt ψ(t)
≤ ψ(0) = α e a conclus˜ao.
C´ alculo Avan¸cado I
164
Prova do Teorema 11.11: Sejam x 0 e x dois pontos de R n . Ent˜ao
t
Φ(x0 )(t) = x 0 +
0 t
Φ(x)(t) = x +
f s, Φ(x0 )(s) ds
f s, Φ(x)(s) ds
0
Subtraindo as duas identidades e calculando a norma em Rn , temos
t
Φ(x)(t) − Φ(x0 )(t) ≤ x − x0 + L
Φ(x)(s)
0
− Φ(x0)(s) ds
Pela desigualdade de Gronwall, obtemos
Φ(x)(t) − Φ(x0)(t) ≤ x − x0eLt. Passando ao supremo em t, conclu´ımos
Φ(x) − Φ(x0)∞ ≤ x − x0 eLT . O pr´ oximo resultado estabelece uma rela¸ca˜o entre a diferencial do fluxo gerado por f e o fluxo gerado por f ′ . Mais precisamente, conRn de classe C 1 satisfazendo sideremos uma fun¸ca˜o f : [0, T ] Rn (11.2) e γ (t), 0 t T , uma curva de Rn . O problema de valor inicial h′ (t) = f ′ t, γ (t) h(t), t ]0, T [, (11.16) h(0) = h 0 ,
×
≤ ≤
→
∀∈
´e denominado linearizado de (11.1) em rela¸c˜ ao a γ (t). Como, para ′ cada t [0, T ], f t, γ (t) ´e uma matriz n n, segue que o fluxo associado a (11.16) ´e dado pela matriz exponencial
∈
× t
exp
f ′ s, γ (s) ds .
(11.17)
0
O teorema a seguir estabelece uma rela¸c˜ao entre a diferencial do fluxo gerado por f e a matriz (11.17).
m O Espa¸co co C(K;R )
165
Rn uma fun¸ Teorema 11.13: 11.13: Seja f : f : [0, [0, T ] T ] Rn c˜ cao ˜ de classe C C 1 satisfazendo (11.2) e Φ o Φ o fluxo associado a f . f . Ent˜ ao Φ ´ Φ ´e difer dif erenc enci´ i´avel avel em Rn e sua diferencia diferenciall ´e o fluxo associado ao problema problema de valor valor inicial
× →
h′ (t) = f ′ t, Φ(x Φ(x0 )(t )(t) h(t), h(0) = h = h 0 .
∀t ∈ ]0, ]0, T [ T [,
(11. (11.18)
Prova: Sejam x0 , h0 Rn , y (t) = Φ(x Φ(x0 + h + h0 )(t )(t), x(t) = Φ(x Φ(x0 )(t )(t) e h(t) = Ψx0 (h0 )t, onde Φ ´e o fluxo gerado por p or f f e Ψx0 denota o fluxo associado ao problema de valor inicial (11.18). Ent˜aaoo
∈
− − − − ≤ − − ≤ − t
y (t) = x0 + h0 +
f s, y (s) ds,
0
t
x(t) = x0 +
(11. (11.19)
f s, x(s) ds,
0
t
h(t) = h0 +
f ′ s, x(s) h(s) ds.
0
Portanto, se ϕ se ϕ((t) = y (t)
x(t)
h(t) , temos
t
ϕ(t)
f s, y (s)
f s, x(s)
f ′ s, x(s) h(x) ds
0
t
f ′ s, x(s) (y (s)
x(s)
h(s)) ds + ds +
0
t
+
ǫ s, x(s), y (s)
x(s)
ds
0
onde ǫ onde ǫ((s,ξ,ζ ) := f := f ((s, ξ + + ζ ) De (11.20) obtemos
− f ( f (s, ξ ) − f ′ (s, ξ )ζ .
t
ϕ(t)
≤ C 1
onde C onde C 1 = max f ′ s, x(s)
{
; s
ϕ(s) ds + ds + C 2 ,
0
∈ [0, [0, T ] T ]} e
T
C 2 =
ǫ s, x(s), y (s)
0
− x(s) ds.
(11. (11.20)
C´ alcu al culo lo Avan¸ Ava n¸cado cado I
166 Decorre da desigualdade de Gronwall que ϕ(t) t [0, [0, T ] T ] e portanto
∈
≤ C 2eC t, para todo 1
Φ(x Φ(x0 + h0 ) − Φ(x Φ(x0 ) − Ψx (h0 )∞ ≤ C 2 eC T . (11. (11.21) Como ǫ(s,ξ,ζ ) /ζ → 0 quando ζ → → 0 uniformemente nos comn pactos de [0, [0, T ] T ] × R (veja (5.16)), dado ε dado ε > 0 existe δ existe δ > 0 tal que 1
0
T
− x(s) ds ≤ εT y − x∞ Portant Portanto, o, segue de (11.21) que se y − x∞ < δ ,
ǫ s, x(s), y (s)
0
se y ent˜aaoo
− x∞ < δ .
Φ(x Φ(x0 + h0 ) − Φ(x Φ(x0 ) − Ψx (h0 )∞ ≤ C 3 εy − x∞ . 0
(11. (11.22)
Por outro lado, decorre do Teorema 11.11 que
y − x∞ = Φ(x Φ(x0 + h0 ) − Φ(x Φ(x0 )∞ ≤ e LT h0 . Logo, Φ(x0 + h0 ) − Φ(x Φ(x0 ) − Ψx (h0 )∞ ≤ e (C −L)T h0 . (11. (11.23) Φ(x se h0 < δe −LT . Assim, se δ se δ 1 = δe δ e−LT e h0 < δ 1 temos de (11.22) e (11.23) Φ(x0 + h0 ) − Φ(x Φ(x0 ) − Ψx (h0 )∞ Φ(x < C 3 ε h 0 1
0
0
e conc c onclu´ lu´ımos ımo s a prova. Observa¸c˜ ao: Uma aplica¸c˜ c˜ao ao impor i mportante tante do d o Teorema 11.13 ´e a F´orormula de Deriva¸c˜ c˜ ao de Euler , que permite derivar em rela¸c˜ c˜ao ao a t a t certas certas fun¸c˜ coes o˜es definidas por integrais sobre regi˜oes oes de Rn que variam com o tempo. Mais precisamente, se f ( f (t, x) ´e uma um a fun¸ fun c˜ c¸ao ˜ao satisfazendo as hip´ oteses do Teorema 11.13 e Ω(t oteses Ω( t) ´e a imagem de Ω0 pelo fluxo Φ gerado por f por f ,, ent˜aaoo d dt
Ω(t)
ρ(t, x) dx = dx =
Ω(t)
∂ρ + div(ρf div(ρf )) dx. ∂t
m O Espa¸co co C(K;R )
167
Exerc´ xe rc´ıcio ıc ioss Exerc Exe rc´ ´ıcio ıci o 11.1. 11. 1. Sejam g : R Mostre que o funcional
c˜oes oe s cont´ co nt´ınuas ınu as.. → R e ψ: [a, b] → R fun¸c˜
→
J : C [a, b]; R
b
R,
J ( J (f ) f ) =
ψ (x)g f ( f (x) dx
a
´e cont´ınuo nu o em C [a, b]; R
→
Exerc Exe rc´ ´ıcio ıci o 11.2. 11. 2. Sejam Sejam J i : C [a, b]; R definidos abaixo.
b
J 1 (f ) f ) =
cos f ( f (x) dx,
J2 (f ) f ) =
a
R, i = 1, 2, 3 os funcionais
b
a
| b
J 3 (f ) f ) =
f ( f (x) dx, 1 + f ( f (x)2
f ( f (x) p dx, ( dx, ( p p > 0). 0) .
|
a
Mostre que J que J 1 e J 2 s˜ ao ao funcionai fun cionaiss uniformeme uni formemente nte cont´ınuos ınuos e que J que J 3 ´e unif u niform ormement ementee cont´ c ont´ınuo ınuo se e somente som ente se p = 1.
→
Exerc Exe rc´ ´ıcio ıci o 11.3. 11. 3. Seja K Rn compacto e J : C K ; R R um funcional. funcional. Mostre Mostre que J ´ J ´e cont´ınuo nu o para toda seq¨ uˆ uˆencia ci a f k em C em C K ; R , se f se f k f uniformemente uniformemente em K em K ent˜ ent˜aao J o J ((f k ) J (f ). f ).
⊂
−→ −→
⇐⇒
−→
{ }
Exer Ex erc c´ıcio ıci o 11. 1 1.4. 4. Verifique Verifique quais dos conjuntos abaixo s˜ao ao compactos em V em V = C [a, b]; R : x a) F 1 = φ V ; φ(x) 1 + a φ(s) ds . b) F 2 = φ V ; φ deriv´avel, φ avel, φ((a) = 1, 0 φ ′ (x) < φ+ (x) . c) F 3 = φ V ; φ deriv´avel, φ avel, φ ′ F 1 . Quais s˜ ao ao fechados? Quais s˜ao ao limitados?
{ ∈ | { ∈ { ∈
|≤
|
| } ≤ ∈ }
}
Exerc Exe rc´ ´ıcio ıci o 11.5. 11. 5. Seja Seja = f k k∈N , onde f k : [0, [0, + [ por f k (x) = sen x + 4k 4k2 π 2 .
de finid idaa ∞ → R ´e defin
X { }
a) Prove que ´ ´e equi e quicont´ cont´ınuo ınuo e uniform unif ormement ementee limi l imitado tado.. b) Prove Prove que f k 0 pontualmente, mas n˜ ao ao converge uniformemente em [0, [0, + [. (Qual a incoerˆencia encia com o Teorema de Arzel`a-Ascoli?) a-Ascoli?)
X
→ ∞
C´ alculo Avan¸cado I
168 Exerc´ıcio 11.6. Mostre que se f : [0, 1] que
1
f (x)xn dx = 0,
→ R ´e fun¸ca˜o cont´ınua tal
n = 0, 1, 2, . . . ,
0
ent˜ao f (x) = 0 em [0, 1]. Sugest˜ ao: Use o Teorema de Weierstrass.
→
Exerc´ıcio 11.7. Seja f k : [0, 1] R a solu¸ca˜o do problema de valor inicial: y y′ = , y(0) = a k . 1 + y2
−→ a, mostre que f k −→ f uniformemente em [0, 1], onde → R ´e a solu¸ca˜o do problema de valor inicial:
Se ak f : [0, 1]
y′ =
y , 1 + y2
y(0) = a.
Exerc´ıcio 11.8. Considere a seq¨uˆencia αi i=0,...,n−1 definida em (11.14). Mostre que ψ(x) = α0 (x x0 )+ + + αn−1 (x xn−1 )+ satisfaz ψ(xj ) = f (xj ), j = 0, 1, . . . , n .
−
{ } ···
Exerc´ıcio 11.9. Seja V = C [0, 1]; R e J : V definido por
1
J (f ) =
0
1 dx, 1 + f (x)2
−
→
R o funcional
∀f ∈ V .
a) Mostre que J ´e cont´ınuo em V . b) Seja o conjunto f V ; f (0) = 0 e f ´e fun¸c˜ao Lipschitz cont´ınua com constante L > 0 . Mostre que existe f tal que J (f ) = min J (f ) ; f . c) Calcule f .
X
{ ∈ } { ∈ X}
∈ X
Exerc´ıcio 11.10. Seja V = C [a, b]; R e J : V definido por b 0, a f (x) dx se f J (f ) = α se f 0,
|
|
≡ ≡
→ R o funcional
m O Espa¸co C(K;R ) onde α V ?
∈ R.
169
Para que valores de α J ´e funcional semicont´ınuo em
→
Exerc´ıcio 11.11. Sejam ψ: [a, b] c˜ao cont´ınua e g: R R fun¸ 1 fun¸ca˜o de classe C . Mostre que o funcional
→ R
→ J : C [a, b]; R
R
b
J (f ) =
ψ(x)g f (x) dx
a
´e diferenci´avel em C [a, b]; R e que J ′ (f )h =
b ψ(x)g ′ (f (x))h(x) dx a
Exerc´ıcio 11.12. Seja V = C [0, 2]; R e considere o funcional J : V R definido por
→
2
J (f ) =
0
xf (x)
1 + f (x)2
dx.
a) Mostre que J ´e funcional cont´ınuo em V ; b) Mostre que J ´e diferenci´avel em V e calcule J ′ (f )ϕ; c) Seja = f V ; f (0) = 0, f (2) 1 e f (x) f (y) y x, y [0, 2] . Mostre que ´e compacto em V . d) Calcule f 0 em tal que J (f 0 ) = max J (f ) ; f .
X ∈ | ∀ ∈ X
| | ≤ | X
−
| ≤ |x −
∈ X
∈
Exerc´ıcio 11.13. Seja x0 [a, b] e J : C [a, b]; R o funcional de Dirac definido por J (f ) = f (x0 ). Mostre que J ´e linear e cont´ınua. Em particular, J ´e diferenci´avel e J ′ (f )h = J (h). Exerc´ıcio 11.14. Seja f : R Rn R n uma fun¸c˜ao cont´ınua satisfazendo a seguinte propriedade: para cada M 0, existe L M 0 tal que se x , y M , ent˜ao
×
→
≥
≥
≤ f (t, x) − f (t, y) ≤ LM x − y, ∀t ∈ R. (11.24) a) Mostre que para todo x0 ∈ Rn existe T ∗ (x0 ) > 0 e uma ´unica curva γ : [0, T ∗(x0 )[→ Rn diferenci´ avel em ]0, T ∗ (x0 )[ satisfazendo γ ′ (t) = f t, γ (t) , ∀t ∈ ]0, T ∗(x0 )[,
γ (0) = x0 .
C´ alculo Avan¸cado I
170 b) Mostre que se T ∗(x0 ) < +
∞, ent˜ao γ (t) = +∞. lim t→T (x ) ∗
0
−
c) Mostre que a aplica¸ca˜o T ∗: Rn mente.
→
R e´ semicont´ınua inferior-
∞ × R → R definida por (1 − t)x3 se 0 ≤ t ≤ 1 0 se 1 ≤ t ≤ 2 3 (t − 2)x se t ≥ 2
Exerc´ıcio 11.15. Seja f : [0, + )
f (t, x) =
Considere o problema de valor incial
x′ (t) = f t, x(t) ,
∈ R
x(0) = x 0
Determine a fun¸ca˜o T ∗ : R
→ R .
0 < t < T ∗ (x0 )
Referˆ encias [1] Abdelhay, J.: Curso de An´ alise Matem´ atica , Vol III, Editora Cient´ıfica, Rio de Janeiro-RJ, 1955. [2] Apostol, A.M.: An´ alisis Matem´ atico , Editorial Revert´e S.A., 1960. [3] Dantas, M.J.H.: Convexidade e diferenciabilidade , Matem´atica Universit´ aria, no. 30, 2001, pp. 113–114. [4] Knuth, D.E.: The T E Xbook , Addison Wesley Publ. Company, 1989. [5] Lima, E.L.: Curso de An´ alise , Vol II, Projeto Euclides, IMPA, 1981. [6] Medeiros, L.A.: Li¸coes ˜ sobre a equa¸ cao ˜ x ′ = f (t, x), Monografias XXXII, Centro Brasileiro de Pesquisas F´ısicas, 1971. [7] Rudin, W.: Principles of Mathematical Analysis , 3rd. edition McGraw-Hill, 1976. [8] Spivak, M.: C´ e S.A., 1972. alculo en Variedades , Editorial Revert´
Este livro foi editado por: Editora IM-UFRJ Encomendas para: ˆ Editora Respons´avel: Angela C´assia Biazutti Instituto de Matem´atica-IMUFRJ Caixa Postal: 68530 - CEP: 21945-970 Rio de Janeiro, RJ, Brasil