Funcional
Criando Relações Terapêuticas Intensas e Curativas
Robert J. Kohlenberg Mavis Tsai
A Psicoterapia Analítico Funcional, uma proposta teórica e aplicada inserida no campo da Terapia Comportamental e Cognitiva, foi desenvolvida por Kohlenberg e Tsai ao longo da década de 1980, e contribuiu
significativamente para se compreender por quais mecanismos a relação entre um terapeuta e seu cliente afeta os
processos de mudança. São discutidos nesta obra
importantes aspectos
conceituais, acompanhados por transcrições de interações terapêuticas e suas respectivas análises. Terapeutas de
diferentes abordagens, experientes ou novatos, todos estão convidados a estabelecer
com os autores uma espécie de
diálogo. Kohlenberg e Tsai nos oferecem seu sofisticado
raciocínio clínico, baseado em
uma visão científica a respeito do comportamento humano, o
qual certamente irá atrair a atenção dos profissionais brasileiros nas áreas de
Psicologia e Psiquiatria.
Psicoterapia Analítica Funcional Criando Relações Terapêuticas Intensas e Curativas
+
Psicoterapia Analítica Funcional Criando Relações Terapêuticas Intensas e Curativas
Robert J. Kohlenberg Universidade de Washington Seattle, Washington e i
Mavis Tsai Psicóloga Clínica
Seattle, Washington Tradução
Organizadora Rachel Rodrigues Kerbauy
Traduzido por Fátima Comte Mali Delitti
Maria Zilah da Silva Brandão
Priscila R. Oerdyk Rachel Rodrigues Kerbauy Regina Christina Wielenska Roberto A. Banaco
Roosevelt Starling
Reimpressão
Editores Associados
Santo André, 2006
4
Kohlenberg. Robert J. (1991) Psicoterapia Analítica Funcional: Criando Relações Terapêuticas Intensas e Curativas / Robert J. Kohlenberg e Mavís Tsai. Inclui referências bibliográficas e índice remissivo ISBN 85-88303-02-7
Terapia Comportamental. 2 Psicoterapeuta e paciente. I. Tsai. Mavis. II. Título (DNLM: 1. Comportamento.2.Relaçõesterapeuta-pacierite.3.Terapia psicanalítica. 238págs. WM.460.6 K79f] 1
.
RC489.B4KÕ5
.
2001
616.89,I42-~cc20
91-21357 CIP.
Versão em Língua Portuguesa Editora: Teresa Cristina Cume Grassi Revisora: Irene Forlivesi
Título do original (inglês)
Functional Analyíic Psychotherapy Creating Intense and Curative Therapeutic Relationships Copyright (vCJ 1991 Plenum Press New York A Division of Plenum Publishing Corporation ,
233 Spring Street, New York N.Y. 1033 ,
Direitos exclusivos para Língua Portuguesa
Copyright @2001 ESETec Editores Associados j
Editores Associados
A solicitação de exemplares poderá ser feita à ESETec (11) 4990 56 83/ 4438 68 66 www.esetec.com.br
[email protected]
Aos nossos pais Jack e Bess Kohlenberg Edwin e Emily Tsai cujo amor constante, apoio e orgulho ,
foram o sustentáculo de nossas lutas e
Prefácio Edição de Língua Portuguesa
Nós nos sentimos profundamente honrados pela tenacidade demonstrada por nossos colegas brasileiros na produção da edição em português do livro Functional Analytic Psychotherapy (FAP). Por muito tempo o Brasil tem se destacado na aplicação da análise do comportamento aos problemas clínicos e este livro ,
posiciona a FAP dentro desse género. Nossos colegas brasileiros estão empenhados em várias pesquisas instigantes e no desenvolvimento da FAP, e nós temos uma dívida de gratidão para com eles pelo trabalho que tiveram na tradução desse livro. Robert Kohlenberg mantém relações de amizade com quase todos os que contribuíram para esta tradução e guarda lembranças agradáveis de momentos em que estiveram juntos. ,
Traduzir um livro de psicoterapia analítica funcional (FAP) é uma tarefa difícil, devido às sutilezas dos conceitos teóricos e à sensibilidade para temas
culturais que se faz necessária. Os tradutores mantiveram contato conosco e temos a certeza de que eles fizeram um trabalho muito bom. Nós gostaríamos de agradecer por seu trabalho, às seguintes pessoas: Irene Forlivesi pelo prefácio, Roosevelt Starling pelo Capítulo 1, Regina C. Wielenska pelo Capítulo 2, Maly Delitti pelo Capítulo 3 Roberto Alves Banaco pelo Capítulo 4, Fátima Conte ,
,
Prefácio
pelo Capítulo 5, Priscila Derdyk pelo Capítulo 6, Maria Ziíah Brandão pelo Capítulo 7, e Rachel Rodrigues Kerbauy pelo Capítulo 8. Em especial, desejamos expressar nossa profunda gratidão a Rachel
Rodrigues Kerbauy, por ter iniciado e coordenado este árduo empreendimento, O trabalho de todos neste livro nos ajuda a alimentar o sonho de que um público cada
vez maior de terapeutas e de clientes pode ser inspirado e enriquecido pela FÂP.
R J. K. .
e
M T. .
*
Prefácio
Este livro nasceu da experiência acumulada ao longo de muitos anos tratando e pensando a respeito de nossos clientes. Nós encaramos este trabalho como um manual de tratamento que contem orientações para a criação de relações terapêuticas que sejam profundas intensas, significativas e benéficas. Este livro não é uma coleção de técnicas mesmo tendo a inclusão de várias delas. Mais do que isto, nós descrevemos um referenciai teórico que pretende servir de guia para a atividade do terapeuta. Embora a teoria da qual fazemos uso seja particularmente muito adequada para a nossa proposta, nós perdemos a maioria do nosso público no momento em que mencionamos seu nome. Desta forma, os próprios alicerces com os quais contamos, podem prejudicar o nosso desejo de compartilhar a estimulação intelectual e os nossos insights clínicos. ,
,
,
É difícil para os clínicos adotarem novas técnicas que leram em um livro. Eles não estão particularmente propensos a serem receptivos quando estas técnicas estão baseadas numa teoria que provoca uma forte reação negativa. Entretanto, esta teoria é amplamente mal-interpretada e mal-compreendida; como consequência o primeiro capítulo fornece explicações sobre os principais tópicos do behaviorismo radical abordando alguns desses mal-entendidos (talvez você ,
,
ix
x
Prefácio
não tenha notado, mas nós omitimos o nome da teoria). No Capítulo 1, nós também mostramos como o behaviorismo radical conduz o foco da atenção para a relação terapeuta-cliente.
Pretendia-se que este livro fosse lido mais ou menos na sequência, mas isto não é obrigatório. Cada capítulo é praticamente independente do outro,
porque muitos dos conceitos menos conhecidos são retomados, mesmo que eles já tenham sido apresentados num capítulo anterior. Os temas de conteúdo mais teórico e abstrato estão contidos nos três primeiros capítulos, e nos capítulos seguintes a ênfase maior é dada à aplicação clínica. Para alguns leitores, iniciar a leitura por estes capítulos mais clínicos poderia avivar o interesse em examinar
os capítulos teóricos anteriores. Nós esperamos que, ao percorrer os capítulos e observar novas formas de aplicação dos conceitos, ocorra um efeito cumulativo e os conceitos se tornem mais compreensíveis. No segundo capítulo, nós evidenciamos os princípios de como fazer psicoterapia analítica funcional (FAP). Embora forneçamos cinco princípios, somente o primeiro é realmente necessário, e esperamos que seja este a ser guardado na memória: prestar atenção aos comportamentos clinicamente relevantes ; é nisto que se concentra este livro. "
"
Talvez o terceiro capítulo venha a ser o mais difícil. É a primeira vez que são apresentados alguns dos conceitos do comportamento verbal. Também é explicado um sistema que analisa o que o cliente diz. Uma 'saída de emergência' é oferecida aos leitores que não querem perder tempo no aprendizado do sistema, ao contrário, querem dirigir-se diretamente para as principais conclusões. As emoções e o afeto são fundamentais no processo terapêutico. Contudo, nós seguimos por um caminho ligeiramente diferente daquele da maioria dos outros sistemas terapêuticos. Concluímos que, por um lado, os sentimentos não
causam os problemas de um cliente nem são os responsáveis pela mudança terapêutica. Mas, por outro lado, a terapia não funciona se os sentimentos não ocorrem. Este e outros paradoxos são explicados no Capítulo 4, no qual se espera que a nossa discussão sobre a expressão dos sentimentos traga uma luz adicional a este tópico polemico.
Todas as pessoas pensam e têm cognições. Além disso, as cognições têm um papel primordial na terapia. No Capítulo 5, nós expomos de uma nova forma a visão do behaviorismo radical sobre estes fenómenos, resultando em
uma abordagem que acreditamos, será útil aos psicoterapeutas, inclusive aos terapeutas cognitivos. ,
4
Prefácio
xi
Neste livro, a aplicação da teoria behaviorista se estendeu para além dos seus domínios costumeiros. Esta extensão ocorre em seu maior grau no Capítulo 6, no qual abordam-se os problemas do self, um tópico esporadicamente discutido nos círculos behavioristas. Nós apresentamos o self como uma experiência altamente pessoal que se manifesta de diversas maneiras, algumas mais adaptativas do que outras. Borderline, e transtorno narcisista e de personalidade múltipla estão incluídos entre as formas mal-adaptativas que colocamos em discussão. Nós explicamos os problemas do self como sendo o resultado de várias condições externas que acontecem durante o desenvolvimento, tanto normal quanto patológico, na infância.
No Capítulo 7, nós desafiamos a afirmação de que a focalização da FAP na relação terapêutica nada mais é do que a psicanálise com nova leitura. São examinados os conceitos psicanalíticos de transferência e aliança terapêutica e o modelo relacional da terapia de relações objetais. Argumenta-se sobre a questão da FAP ocupar um espaço único entre as terapias psicodinâmicas e comportamentais atuais.
Dependendo de qual seja o interesse dos leitores, alguns podem considerar que nós deixamos a melhor parte para o final. Nosso último capítulo se aprofunda nas precauções éticas, no processo de supervisão, nos problemas inerentes à metodologia tradicional de pesquisa e suas implicações para a pesquisa da FAP, e em como os princípios da FAP podem ser ampliados para que consigam abranger problemas do mundo exterior à terapia.
É necessário fazer uma referência à terminologia comportamental usada neste livro. A linguagem comportamental pode proporcionar novos insights sobre os fenómenos clínicos e transmite o que pretendemos dizer a respeito de como a terapia pode ajudar e do porquê dos problemas dos clientes. Entretanto, esta
terminologia não foi desenvolvida no ambiente psicoterapêutico, sendo, por isso, pouco eficiente para comunicar os fenómenos que lá ocorrem. Nós procuramos permanecer entre a linguagem dos behavioristas radicais e aquela usada pela maioria dos clínicos, Algumas vezes a pendência foi maior para um dos lados, mas nós tentamos obter o melhor da riqueza que cada uma delas contem. Este livro surgiu de um capítulo que constou no livro "Psychotherapists in Clinicai Practice" (1987), editado por Neil Jacobson. Nós somos gratos a Neil por nos ter encorajado a dar o primeiro passo. No nosso livro, a aplicação clínica foi facilitada por meio do uso de transcrições de casos e da ênfase dada ao comportamento verbal do cliente. O capítulo que trata do selfevoluiu de um artigo escrito originalmente por Robert Kohlenberg e Marsha Linehan.
Prefácio
xu
Bob Kohlenberg gostaria de reconhecer a importância que teve sua filha Barbara na génese deste livro, pois ela foi a responsável pelo 'retorno à vida
'
de um behaviorista radical extinto. Seu filho Andy contribuiu
significativamente com perspectivas éticas, ao mesmo tempo em que seu filho Paul o lembrava da importância de se ter uma mente investigativa, bom humor
e compromisso. Seu irmão David esteve sempre presente para escutar, fato que foi essencial para a elaboração deste livro. Mavis, querida co-autora, enriqueceu a vida dele com seu amor e intelecto ilimitados, os quais forneceram a linha-mestra que é o âmago da FAP. Mavis Tsai reverencia a lembrança de Ned Wagner, seu primeiro
orientador de pós-graduação. Foi de inestimável valor o entusiasmo que ele demonstrou por suas idéias e textos quando ela era ainda uma "caloura" na pós-
graduação. No curto período de dois anos, Ned infundiu nela um universo de confiança, curiosidade e compaixão. Seus outros dois orientadores, Stanley Sue e Shirley Feldman-Summers, também desempenharam papel essencial em seu desenvolvimento como psicóloga. Também foram mentores Laura Brown, James Coleman e Ron Smith. Bob, co-autor e seu parceiro na vida, inundou-lhe a vida com seu profundo amor, mente fértil e presença marcante, dando-lhe razão e alegria de viver.
Os colegas de clínica Carla Bradshaw, Barbara Johnstone, Karen Lindner, Vickie Sears, Eilen Sherwood, e Alejandra Suarez leram uma parte ou todo o manuscrito em suas diferentes etapas de execução e forneceram importante feedback.
Temos uma dívida especial com Anne Uemura, amiga e companheira muito próxima, que passou incontáveis horas revisando cada palavra de nosso manuscrito e nos ofereceu críticas detalhadas e construtivas.
Willard Day foi uma grande inspiração. Seu trabalho demonstrou que a interpretação é uma atividade essencial do behaviorista radical. Seu encanto pelas novas idéias tornou-se um refugio no qual elas poderiam crescer e prosperar.
Steve Hayes estabeleceu as bases para a aplicação dos princípios behavioristas radicais na psicoterapia de adultos. Stanley Messer, o primeiro estudioso com orientação psicodinâmica que levou a sério nosso trabalho, nos deu um feedback crítico valioso.
À próxima geração de terapeutas FAP - Michael Addis, James Cordova, Daria Broberg, Victoria Foilette, Allan Fruzzeli Enrico Ganaulti, Kelly Koerner, Marty Stern Julian Somers, Paula Truax. e Jennifer Waltz - nossos ,
,
Prefácio
'
#
«
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agradecimentos pela generosidade demonstrada enquanto as idéias começavam a surgir e um sistema estava se desenvolvendo
.
Agradecemos aos nossos clientes que dividiram conosco suas mais profundas dores e alegrias. Cada um de nossos clientes contribuiu para a nossa
perspicácia clínica e modelou quem somos como terapeutas. Para proteger a individualidade dos clientes que estão descritos nas histórias de casos foram alterados todos os nomes e outras informações que poderiam identificá-los ,
.
O falecimento de B. F. Skinner representa uma grande perda para todos aqueles que o admiraram. A essência de seu trabalho de uma vida toda consistia na esperança de que pudéssemos melhorar nossas vidas e o mundo no qual
vivemos. Foi com base neste legado que nós escrevemos este livro e lamentamos que ele não teve a oportunidade de lê-lo e testemunhar mais um dos inúmeros efeitos que seu trabalho teve sobre as pessoas. ,
RJ.K MT .
Sumário Capítulo 1 Introdução.
\
Princípios Filosóficos do Behaviorismo Radical.
3
..
A natureza contextual do conhecimento e da realidade.
3
Uma visão não-mentalista do comportamento; o enfoque nas variáveis ambientais que controlam o comportamento. O interesse está centrado no comportamento verbal controlado por
5
eventos diretamente observados.
6
Suportes Teóricos da FAP . Reforçamento... Especificação de comportamento clinicamente relevante. Preparando a generalização.
8 9 15 17
Capítulo 2 Aplicação Clínica da Psicoterapia Analítica Funcional.
19
Problemas do cliente e comportamentos clinicamente relevantes. CRB1: Problemas do cliente que ocorrem na sessão. CRB2: Progressos do cliente que ocorrem na sessão. CRB3: Interpretações do comportamento segundo o cliente.
19 20 21 25
Avaliação inicial .
26
Técnica Terapêutica: As Cinco Regras... Regrai: Prestar atenção aos CRBs . Regra 2 : Evocar CRBs...
27 27 30
xvi
Sumário
Regra 3: Reforçar CRB2s. Regra 4: Observe os efeitos potencialmente reforçadores do comportamento do terapeuta em relação aos CRBs do cliente. Regra 5: Forneça interpretações de variáveis que afetam o compor-
32 40
tamento do cliente.
41
Exemplo de Caso Clínico ...
47
Capítulo 3 Suplementação: Aumentando a capacidade do terapeuta para identificar comportamentos clinicamente relevantes .
51
Classificação de Comportamento Verbal. O Sistema da FAP de Classificação das Respostas do Cliente. Classificação e Observação de Comportamento Clinicamente Relevante Exemplos de Classificação de Respostas do Cliente.
51 54 65 67
Situações Terapêuticas que Frequentemente Evocam Comportamentos Clinicamente Relevantes .
69
Capítulo 4 O Papel de Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento....
75
Emoções. Aprendendo os Significados dos Sentimentos.
75 78
Sentimentos como Causas de Comportamento... Expressando sentimentos .
80 82
Evitando sentimentos .
84
Grau de contato com variáveis de controle.
85
Lembranças.
89
Implicações Clínicas. Ofereça uma Racional Comportamental para Entrar em Contato com
92
Sentimentos .
93
Aumente o Controle Privado de Sentimentos.
94
Aumente a Expressão de Sentimentos pelo Terapeuta.
96
Melhore o Contato do Cliente com Variáveis de Controle.
97
Caso Ilustrativo . 103
Sumário
1 5 ComprtamenoMdelaoprContigêcas. 4
Capítulo 5 Cognições e Crenças. 107 Terapia Cognitiva. 108
Problemas com a terapia cognitiva e o paradigma ABC Formulação Revisada da Terapia Cognitiva.
..
A Revisão FAP do
B-> C.
.
109
111
114
Tatos e Mandos: Dois Tipos de Comportamento Verbal Comportamento Governado Por Regras. 122 Estruturas Cognitivas e Comportamento Modelado por Contingências 125 .
Implicações Clínicas da Visão da FAP Sobre as Crenças. 126 Focalizando o pensamento aqui e agora . 127
Levando em consideração o papel variável que os pensamentos podem exercer.
128
Ofereça explicações relevantes sobre os problemas do cliente. 132 Use com cuidado a manipulação cognitiva direta. 133 Ilustração de Caso.
135
Capítulo 6 O self . 137
Definições Comuns do Self.... 138 Uma Formulação Behaviorista do Self. 139 f
Conceitos Básicos . 141 A emergência do "Eu" como uma pequena unidade imcional. 145 Qualidades do "Eu". 153
Desenvolvimento Mal-adaptativo da Experiência do Self. 156 Distúrbios menos graves de Self... 156 Distúrbios graves do self. 162 Implicações Clínicas. 173 Reforçando a fala na ausência de dicas externas específicas. 174
Combinar tarefas terapêuticas com o nível de controle interno no repertório do cliente....... 176
xviii
Sumário
Reforçando tantas declarações "eu X" do cliente quanto possível. 182 Capítulo 7 Psicoterapia Analítica Funcional : Uma ponte entre a Psicanálise e a Terapia Comportamental... 187
A FAP em Contraste com Enfoques Psicodinâmicos. Transferência. A Aliança Terapêutica. Relações Objetais .
188 188 196 199
FAP em Contraste com Terapias Atuais do Comportamento. 202
FAP: Um Raro Nicho entre a Psicanálise e a Terapia Comportamental. 205 Capítulo 8 Reflexões sobre ética, supervisão, pesquisa e temas culturais... 209
Temas Éticos ... 209 Proceda cuidadosamente .
210
Evite Exploração Sexual. 211 Esteja Alerta para Interromper Tratamentos Ineficientes.. 212 Atente para Valores Opressivos e Preconceituosos. 212 Evite Tirania Emocional. 213
Supervisão da FAP ..... 215 Pesquisa e Avaliação. 217 Falhas dos Modelos Convencionais de Pesquisa. 218 Métodos Alternativos de Coleta de Dados que Influenciam a Prática Clínica..... 220
Problemas Culturais Decorrentes da Perda de Comunicação . 225 Conclusão . 228 Referências... 229
índice... 235
}
1
Introdução
Quando penso naqueles pacientes que eu vi experimentarem uma grande mudança, eu sei que o fogo estava na relação terapêutica.... Havia luta e medo, proximidade, amor e terror. Havia intimidade e afronta apreensão e vergonha... era uma jornada significativa, ,
mais para o paciente que vinha buscar ajuda mas de fato, para ambos os participantes. Era um processo que percorria todo o desenrolar da terapia e deixava a ambos paciente e terapeuta alterados pela experiência... A relação terapêutica está no próprio centro da psicoterapia e é o veículo através do qual a mudança terapêutica acontece (Greben, 1981, p. 453-454) .
,
,
.
Independente da sua orientação teórica a maioria dos clínicos experientes teve clientes memoráveis, cujas mudanças excederam em muito e de maneira marcante, os objetivos formais da terapia. Para estes clientes, a descrição de Greben ,
,
parece capturar um aspecto importante do que foi o processo terapêutico, mesmo que o tratamento tenha sido baseado numa teoria bastante diferente da sua perspectiva psicodinâmica. Entretanto, o que falta nos escritos de Greben, bem como na maioria dos sistemas terapêuticos que enfocam a relação entre o terapeuta e o cliente, é um sistema conceituai coerente, com construtos teóricos bem definidos que conduzam, passo a passo, à formulação de orientações
precisas para a terapia. Descreveremos um tratamento que tem um referencial conceituai claro e preciso e, ainda assim, parece produzir o que Greben descreve. Chamamos nosso tratamento de psicoterapia analítica funcional (FA.P) e talvez possa causar uma certa surpresa o fato dele derivar de uma análise funcional skinneriana do ambiente psicoterapêutico típico. Seus fundamentos estão na obra de B. F. Skinner (por ex., 1945, 1953, 1957, 1974). Na seção seguinte, iremos rever os princípios filosóficos mais importantes do behaviorismo radical. 1
Prefácio
2
Muito embora a FAP seja um tipo de terapia comportamental, ela é bastante diferente das terapias comportamentais tradicionais, tais como o treinamento em habilidades sociais, reestruturação cognitiva, dessensibilização e terapia sexual. Ao contrário daquelas, as técnicas utilizadas pela FAP são concordantes com as expectativas dos clientes, que buscam uma experiência terapêutica
pro-funda, tocante, intensa. Além disso, ela também se ajusta muito bem a clientes que não obtiveram uma melhora adequada com as terapias comportamentais convencionais e àqueles que têm dificuldades em estabelecer relações de intimidade e/ou têm problemas interpessoais difusos, pervasivos, tais como os que recebem diagnósticos tipificados pelos do Eixo II do DSMIII-R (American Psychiatric Association, 1987). Para manejar estes problemas enraizados a FAP conduz o terapeuta a uma relação genuína, envolvente, sensível e cuidadosa com seu cliente, e, ao mesmo tempo, apropria-se com vantagens das definições claras, lógicas e precisas do behaviorismo radical. ,
Infelizmente, o behaviorismo radical tem sido largamente incompreendido e rejeitado. Quando perguntamos aos nossos colegas o que lhes vinha à mente frente ao termo behaviorismo radical, suas respostas incluíram: (1) "Eu penso nas caixas de Skinner. Sinto uma rejeição visceral. Eu acho que ele é simplista e que nega a realidade de um psiquismo interno, rico e complexo, que interage com a realidade externa. Para mim, o behaviorismo sempre me pareceu muito arrogante, ao reduzir o incrível mistério de existir, de ser, ao que pode ser observado e (2) "Você já ouviu aquela dos dois behavioristas radicais que faziam amor apaixonadamente? Depois, um perguntou para o outro: Foi bom para você! Como foi para mim? Estas reações - que o behaviorismo radical é simplis-ta, que reduz ações significativas somente ao que pode ser observado e que re-quer consenso público - são representativas dos mal-entendidos que a "
"
"
.
maioria dos clínicos mantêm. Essas distorções são devidas, em parte, à natureza
cripto-gráfica das obras de Skinner, o que íhe dificulta ser interpretado corretamente,
e também devido ao fato de que o behaviorismo radical é
frequentemente confun-dido com o behaviorismo metodológico ou convencional, que é bem mais conhecido. Em contraste com o behaviorismo radical, o behaviorismo metodo-lógico exige consenso público para as suas observações. Estudando somente o que pode ser publicamente observado, o behaviorismo metodológico exclui o estudo direto da consciência, dos sentimentos e dos pensamentos. Já bem cedo Skinner (1945) diferenciava a sua abordagem do resto da psicologia, declarando que a sua dor de dentes é simplesmente tão "
f
ísica quanto a minha máquina de escrever" (p. 294) e rejeitava o pré-requisito do consenso público. Para ser mais precisa a anedota acima, contada pelos nossos colegas, deveria começar assim: Você já ouviu aquela dos dois behavioristas metodológicos... ?". ,
"
Introdução
3
PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS DO BEHAVIORISMO RADICAL Quando alguém diz "radical", é comum vir à mente a imagem de um extremista de olhos esbugalhados. O que geralmente não se sabe é que a palavra radical vem do latim radix significando raiz. "O verdadeiro radical é aquele que tenta chegar à raiz das coisas, que não se distrai pelo superficial, vendo ,
floresta no lugar de árvores. É bom ser radical Qualquer pessoa que pense com profundidade será um deles" (Peck, 1987, p. 25). Assim é que o behaviorismo .
radical é uma teoria rica e profunda que procura chegar às raízes do comportamento humano. Lapsos verbais o inconsciente, poesia, espiritualidade e metá,
,
fora, são exemplos dos temas que têm sido discutidos pelo behaviorismo radical Sentimentos e outras experiências privadas são também considerados e "a estimulação originada no corpo desempenha importante papel no comportamento" .
(Skirmer, 1974, p. 241). Muito embora seja difícil condensar os vários volumes da obra de Skinner num breve resumo do behaviorismo radical o texto que se ,
segue é uma tentativa de descrever os seus princípios filosóficos básicos
.
A natureza contextual do conhecimento e da realidade
Skinner rejeita a idéia de que conhecendo-se algo sobre uma coisa, a expressão deste nosso conhecimento consista numa declaração sobre o quê aquele objeto do conhecimento é; a idéia de que esta coisa possa ter de alguma forma, uma identidade permanente como um ente real da natureza. Podemos atribuir o status de coisa a eventos principalmente porque estamos habituados a falar sobre o mundo como sendo composto de objetos, que sentimos possuir ,
,
,
"
"
em uma constância ou estabilidade próprias. Na verdade a meta original da ciência, qual seja a descoberta de verdades objetivas tem se mostrado cada vez mais inalcançável. No seu núcleo ciência é ou o comportamento dos ,
,
,
cientistas, ou os artefatos dessas atividades, e o comportamento científico, por sua vez, é presumidamente controlado pelo mesmo tipo de variáveis que governam quaisquer outros aspectos do comportamento humano complexo. Desta forma, os cientistas são em si mesmos, não mais do que organismos que ,
se comportam e as obser-vações que produzem não podem ser separadas dos interesses e atividades do observador.
Esta posição antiontológica de Skinner é similar ao ponto de vista construtivista ou kantiano (Efran Lukens & Lukens, 1988). No século XVIII o filósofo Immanuel Kant um dos pilares da tradição intelectual ocidental, propôs ,
,
Capítulo 1
4
que o conhecimento é a invenção de um organismo ativo, interagindo com um ambiente. Em contraste, John Locke, fundador do empirismo britânico, via o conhecimento como o resultado do mundo externo imprimir uma cópia dele mesmo numa mente inicialmente embranco Decorre daí que Locke considera as imagens mentais como sendo basicamente representações ou "descobertas" "
"
.
"
"
de algo fora do organismo, enquanto Kant assevera que as imagens mentais são inteiramente criações ou invenções" do organismo, originadas como um "
subproduto do seu percurso através da vida. Os construtivistas reconhecem o
papel ativo que elas desempenham na criação de uma visão do mundo e na interpretação das suas observações em termos daquela visão. Traduzindo essas posições em termos de prática clinica, uma empreitada objetivista, como a psicanálise clássica, é construída em torno da crença de que a verdade objetiva pode ser descoberta e, quando adequadamente revelada, conduziria a uma saúde mental melhorada. Por outro lado, a crença construtivista
é que uma boa intervenção gera as suas próprias verdades. Terapeutas objetivistas querem saber o que realmente aconteceu no passado. Terapeutas construtivistas estão mais interessados na
"
história", como uma chave para a narrativa que
está se desdobrando e que dará aos eventos contemporâneos o seu significado. Ou seja, a história e o meio ambiente imediato daquele que percebe, influenciam a percepção da experiência original e da sua recordação. As lembranças reais e os seus significados podem, assim, manter pouca semelhança com os eventos e os seus significados no passado. Muito embora uma verdade objetiva sobre o passado possa ser impossível de ser descoberta, o próprio processo de rememorar e descobrir significados é considerado como sendo uma intervenção que levará à melhora do cliente. Por exemplo, se uma cliente relata um sonho sobre incesto e em seguida põe em dúvida a sua veracidade, a ênfase não estaria em se o incesto ocorreu ou não, mas sim, preferencialmente, nas verdades inerentes ao sonho, nas condições que ela experimentou em sua vida que poderiam conduzir a tal sonho. Assim, se for efetiva em termos de benefício terapêutico ou de progressos na terapia, a intervenção terapêutica que envolve a recuperação de memórias do passado gera as suas próprias verdades. Na tradição construtivista, o behaviorismo radical enfatiza o contexto e
o significado. Tire algo do seu contexto e ele perderá o seu significado. Ponha este algo em um novo contexto e ele significará outra coisa. Esta é uma das razões pelas quais Hayes (1987) prefere o termo contextualismo para o behaviorismo radical. Problemas, mentais ou de qualquer outra natureza, não
existem isoladamente. Eles são imputações de significado que se formam dentro
Introdução
de uma determinada tradição e têm significado somente dentro desta tradição. Até mesmo experiências que as pessoas consideram puramente físicas são na verdade modeladas pela linguagem e pelas experiências prévias. A dor, por exemplo não é simplesmente o disparo de terminações nervosas; é em parte sensação, em parte ideação temerosa: um revestimento de interpretações ,
,
,
envolvendo sensações (Efran et ai 1988). ,
Mas no mais das vezes
e ainda que a posição contextualista (construtivista) possa ser intelectualmente atrativa, é difícil trazer estas idéias para a nossa prática de vida em geral e é particularmente difícil trazê-las para ,
as práticas terapêuticas. É dizer que psicoterapeutas (behavioristas radicais incluídos) podem aceitar o contextualismo em nível intelectual mas não fazem o
mesmo em nível emocional. Como colocado por Furman e Ahola (1988): Quando discutimos filosofia com os nossos colegas, talvez possamos concordar prontamente em que não existe uma única maneira de ver as coisas. Mas quando isso toca as nossas próprias crenças sobre clientes específicos tendemos a nos apegar com tenacidade às nossas próprias verdades. Esquecemo-nos de que idéias são fabricadas pelos observadores e inalmente, ,
f
.
5
.
convencemos a nós mesmos de que. de algum modo. elas nos oferecem um diagrama da realidade... Porque pensamos que sabemos quando, na verdade simplesmente imaginamos, construímos, pensamos ou acreditamos? (p 30). ,
.
Uma visão não-mentalista do comportamento: o enfoque nas variáveis ambientais que controlam o comportamento O behaviorismo radical explica a ação humana em termos de comportamento ao invés de entidades ou objetos dentro do cérebro. Assim ao invés de "memória" e "pensamentor, a análise baseia-se em lembrando" e "pensando O comportamento de introduzir uma moeda numa máquina automática de venda de doces é visto como comportamento, e não como um mero sinal que indica a presença de alguma entidade fora do comportamento em si mesmo, tais como impulso, desejo expectativa, atitude ou uma desorganização das funções egóicas. Uma explicação adequada estaria centrada não em entidades mentais, mas naquelas variáveis que afetam o comportamento tal como o número de horas sem alimentar-se. No mentalismo, processos psicológicos internos, como força de vontade" e "medo do fracasso", adquirem poderes homunculares para causar a ocorrência de outros eventos esses mais comportamentais. Explicações do comportamento serão incompletas se não envolverem a busca, tão retroatíva ,
"
,
"
.
,
,
"
,
Capítulo 1
6
quanto possível, de antecedentes observáveis do comportamento presentes no "
"
explicações psicológicas mais difundidas pouco mais fazem do que especificar algum processo interno como sendo a causa de
meio-ambiente. Muitas das
um aspecto particular do comportamento. Neste caso, é um questionamento inteiramente razoável pedirmos explicações sobre o quê faz esse processo interno agir como ele age.
É importante notar que Skinner faz objeções a coisas que sejam mentais, não a coisas que sejam privadas. Entretanto, aos eventos privados Skinner não atribui qualquer outro status distintivo que nã© seja o da sua privacidade. Eles provêm do mesmo material dos comportamentos públicos e estão sujeitos aos mesmos estímulos discriminativos e reforçadores que afetam todos os comportamentos. Assim sendo, na visão de Skinner a resposta privada de um cliente pode ter tanto (ou tão pouco) efeito causal no seu comportamento subsequente como poderia ter uma resposta pública. Assim é que, ao procurar explicações para o comportamento, os behavioristas radicais percebem a si mesmos como estando, essencialmente, engajados numa busca por variáveis de controle Eventos são considerados como variáveis de controle quando eles são percebidos como estando, de alguma forma, relacionados ao comportamento. O comportamento verbal que descreve uma relação entre um comportamento e variáveis de controle é chamado de declaração de uma relação funcional e a tentativa sistemática de descrever relações funcionais é chamada de análise funcional do comportamento, "
"
.
O interesse está centrado no comportamento verbal controlado por eventos diretamente observados
Todo comportamento verbal, não importa quão privado pareça ser o seu conteúdo, tem as suas origens no ambiente. Embora os fenómenos relacionados ao funcionamento verbal humano possam variar do mais intimamente pessoal ao mais publicamente social toda linguagem que faça sentido tem a sua forma eficaz modelada pela ação da comunidade verbal. Desta forma, quando uma falante diz que ela vê uma imagem dentro da sua mente, o que está sendo dito precisa ter-lhe sido ensinado na sua infância, por outros que não poderiam ver dentro da sua mente. Assim para o processo de ensino os professores precisariam, necessariamente, dispor de eventos diretamente observáveis (ver Capítulos 4 e 6). ,
,
"
,
»
*
/
"
Introdução
7
Que fatores estão envolvidos em levar o falante a falar o que ele ou ela faz? Conhecer de maneira completa o que leva a pessoa a falar alguma coisa é entender o significado do que foi dito no seu sentido mais profundo (Day 1969). Por exemplo, para entender o que uma pessoa quer dizer quando ela fala que ,
acabou de ter uma experiência de estar fora do corpo procuraríamos por suas causas. Primeiramente desejaríamos saber sobre a estimulação que foi experimentada no corpo. A seguir gostaríamos de saber porque um estado corporal particular foi experimentado como fora do corpo. Desta forma, procuraríamos causas ambientais na história passada daquela pessoa incluindo as circunstâncias que ela encontrou enquanto crescia e que resultaram nela falar "corpo", "fora do" acabo de ter e "Eu" (uma descrição de algumas experiências que resultam ,
,
,
,
4
"
"
,
em
"
Eu" está apresentada no Capítulo 6). Tão logo saibamos "de todos estes fatores, entenderemos profundamente o significado do que ela quis dizer. A observação direta é altamente valorizada como um método de reunir dados relevantes. Entretanto é importante notar que o que é observado não ,
,
f
necessita ser público. Skinner tem uma posição crítica no que diz respeito à filosofia da "verdade por consenso" uma perspectiva requentemente adotada por behavioristas convencionais os quais sustentam a tese de que o conhecimento científico necessita ser de natureza essencialmente pública. De fato, na maioria das vezes é mais fácil considerar a observação como algo privado, porque somente uma pessoa pode participar de um ato singular de observação. Mas o interesse não está restrito somente aos eventos que, em princípio, são considerados como sendo observáveis por uma outra pessoa. Os behavioristas radicais sentem-se livres para observar ou mesmo responder às suas próprias reações a uma sonata de Beethoven, assim como eles estão livres para observar a reação de qualquer outra pessoa (Da}', 1969). Uma vez que a observação do comportamento tenha ocorrido, os observadores são encorajados a falarem interpretativamente sobre o que foi observado, reconhecendo que a interpretação particular que for feita
por eles será uma função da sua própria história pessoal. Simplesmente, eles têm a esperança de que o quê eles vêem, venha a exercer uma crescente influência no que eles dizem.
A influência ampliada do mundo naquilo que é dito é também entendida como um contato ampliado com o mundo. O contato é altamente desejável para o cientista e pode ser visto como o núcleo da ciência. Um contato ampliado é também desejável para a maioria dos clientes que comparecem à psicoterapia. Por exemplo clientes que não expressam emoções (ver Capítulo 4), podem também ser descritos como pessoas que estão evitando contato com situações que eliciam emoções e por isso poderiam ter dificuldades em relações íntimas. ,
Capítulo 1
8
f
Os princípios ilosóficos vistos acima - que o conhecimento é contextual, que o comportamento é compreendido de maneira não-mentalista e que mesmo o comportamento verbal mais privado tem as suas origens no ambiente - fornecem a linguagem e o conceito de natureza humana que pretendem tomar clara a interação entre o comportamento de um indivíduo e o ambiente natural. Conceitos behavioristas radicais têm sido usados tanto para explicar uma ampla gama de práticas terapêuticas, como a psicanálise e a dessensibilização, como também para explicar experiências humanas como o sentimento, a apreensão, o self e a raiva. Uma outra aplicação dos conceitos skinncrianos, denominada análise experimental do comportamento, é uma abordagem mais estreita e que utiliza analogias com procedimentos de condicionamento operante desenvolvidos em laboratórios, para solucionar problemas clínicos da vida cotidiana. Usamos o termo 'analogias, porque existem diferenças significativas entre a aplicação clínica e o trabalho de laboratório (como discutiremos mais tarde) diferenças essas que têm importantes implicações para a psicoterapia. Na seção seguinte estaremos desenvolvendo os nossos argumentos sobre como os fundamentos da ,
,
,
análise experimental do comportamento compõem o suporte teórico da FAP
.
SUPORTES TEÓRICOS DA FAP
O interesse da análise experimental do comportamento está centrado no reforçamento, na especificação dos comportamentos clinicamente relevantes e na generalização (Reese 1966; Kazdin, 1975; Lutzker & Martin, 1981). Estes procedimentos têm se mostrado extremamente poderosos no tratamento de pacientes institucionais, estudantes em sala de aula e crianças muito jovens ou severamente perturbadas populações para as quais o terapeuta pode exercer um grande controle sobre o arranjo ambiental cotidiano Com as exceções de Hayes (1987) e Kohlenberg e Tsai (1987) o behaviorismo radical e a análise experimental do comportamento têm sido negligenciadas como uma fonte de procedimentos para o tratamento de adultos em consultórios psicológicos. Esta ,
,
.
,
desatenção ao behaviorismo radical como fonte de idéias para a psicoterapia de adultos é um tanto misteriosa para nós Conforme já fizemos notar, a teoria é extensiva e engloba muitos dos conceitos relevantes para o psicoterapeuta Além .
.
disso, esta concepção teórica tem estado disponível já há um bom tempo
.
Muitas
Introdução
9
das idéias relevantes para a psicoterapia foram publicadas nos anos 50 (Skinner 1953 1957). Há também muitos profissionais, analistas experimentais do
,
,
comportamento
,
que estão familiarizados com estes princípios teóricos e que
estão igualmente interessados no trabalho clínico É bem possível que o próprio sucesso da análise experimental do comportamento em ambientes controlados .
(por ex., hospitais, escolas) tenha impedido a sua aplicação ao ambiente psicoterápico, bem menos controlado. O que estamos sugerindo é que os analistas experimentais do comportamento foram tão bem sucedidos com uma aplicação limitada da teoria que não examinaram as implicações bem mais extensas do behaviorismo radical, relevantes para a psicoterapia de adultos. Um obstáculo adicional às aplicações do behaviorismo radical vem das
dificuldades na transposição dos métodos da análise experimental do comportamento para a situação psicoterapêutica. Como algumas das restrições que a situação de tratamento em consultório de pacientes adultos estabelece para esta transposição, temos: o coníato terapeuta/cliente limitado a uma ou mais horas de terapia por semana, o fato do terapeuta não ter acesso ao comportamento do cliente fora do atendimento e a falta de controle sobre as contingências fora da sessão. A FAP tem a sua base na investigação de como o reforçamento a especificação de comportamentos clinicamente relevantes e a generalização podem ser obtidos dentro das limitações de tuna situação típica de tratamento ,
cm consultório.
Reforçamento
A modelagem direta e o fortalecimento de repertórios comportamentais mais adaptativos através do reforçamento são centrais no tratamento analíticocompoitamental. Usamos o termo reforçamento no seu sentido técnico, genérico,
referindo-se a todas as consequências ou contingências que afètam (aumentam ou diminuem) a força do comportamento. A definição de reforçamento é funcional, ou seja, algo pode ser definido como um reforçador se, depois da sua apresentação, há o efeito de aumentar ou diminuir a força do comportamento que o precedeu. Para alguns leitores esta definição pode ser insatisfatória, de vez que
ela não identifica reforçadores específicos como sorvete, sexo ou confeitos de chocolate. O reforçamento não pode ser definido desta forma porque ele é um processo: um objeto funciona como um reforçador somente no contexto de um
.
s
Capítulo 1
10
dado processo e não pode ser identificado independentemente dele. Ainda que um sorvete possa reforçar o comportamento de uma pessoa, poderá não ter qualquer efeito sobre o comportamento de uma outra e, portanto, não seria um reforçador para o comportamento. Além disso, o reforçamento pode atuar sobre algo que não gostamos. Por exemplo, um dentista que esteja presente no horário combinado para o nosso atendimento, reforça nosso comportamento de marcar horários para outros atendimentos, mesmo que o tratamento dentário seja, em si mesmo, uma experiência desagradável. Mais ainda: é importante notar que o reforçamento não é um processo consciente. Muito do nosso comportamento foi modelado por processos de reforçamento antes mesmo que aprendêssemos a falar. Quando o reforçamento ocorre, ocorre também uma mudança física no nosso cérebro, da qual não nos
damos conta. Ainda que possamos experimentar uma sensação de prazer ou uma inclinação para agir desta ou daquela maneira, nós não percebemos o fortalecimento do nosso comportamento. Por exemplo, se um moço diz "Amo você para a sua namorada e ela sorri calorosamente e diz "Eu também amo você ele poderá sentir uma sensação de prazer em seu corpo e pensar Isto é maravilhoso! Mas, neste exato momento, o prazer independe do processo de fortalecimento. O pensamento "isto é maravilhoso!" foi o resultado da sensação de prazer no sentido de que ele estava descrevendo os seus sentimentos para ele "
"
"
,
"
.
,
mesmo. Seu comportamento foi fortalecido e também ocorreram aqueles sentimentos e pensamentos prazeirosos. De maneira alguma a consciência dos pensamentos e sentimentos que acompanharam o processo de reforçamento são necessários para que o comportamento seja fortalecido.
Desde o início dos tempos, somente aquelas criaturas cujo comportamento fosse fortalecido pelas suas consequências puderam adaptar-se a um ambiente em constante mudança e assim sobreviverem. Desta forma, o processo de reforçamento é o resultado da evolução. Conforme discutiremos mais adiante com maiores detalhes é um processo comportamental básico que conduz à consciência ao pensamento, ao self e à essência da experiência humana. ,
,
O momento e o/lugar do reforçamento
Uma das características bem conhecidas do reforçamento é que quanto
mais próximo das suas consequências (no tempo e no espaço) um comportamento estiver
,
maiores serão os efeitos deste processo. Qualquer um que já tenha
/
Introdução
1\
dispensado pelotas de comida a um rato numa caixa de Skinner pôde observar ,
os efeitos deletérios que o atraso do reforçador pode ter no comportamento do animal. Todavia
,
o processo de modelagem é eficaz, se a pressão na barra e a
pelota de comida estiverem bem próximas uma da outra, no tempo. De maneira semelhante, é fácil para o terapeuta reforçar e assim fortalecer, as habilidades de relaxamento do cliente enquanto elas ocorrem no consultório. Ou seja quando solicitado, o cliente prontamente relaxará no consultório porque o terapeuta ,
,
,
está presente e pode reforçar diretamente o comportamento Por outro lado, é amiúde um problema fazer com que os clientes cumpram um programa de .
relaxamento em casa, entre os atendimentos pois o terapeuta só pode reforçar o ,
comportamento quando os clientes comparecem à consulta. Para o paciente de consultório isto implica em que os efeitos do ,
tratamento serão mais significativos se os comportamentos-problema e as melhoras ocorrerem durante a sessão onde estes estarão, no tempo e no espaço, o mais perto possível do reforçamento. Esta é a razão pela qual a FAP é um tratamento para problemas cotidianos que também ocorrem durante o atendimento terapêutico. Exemplos de tais problemas incluem as dificuldades nas relações /
,
,
de intimidade, incluindo os medos do abandono, da rejeição e de ser "engolido" na relação; dificuldades na expressão de sentimentos; afetos inapropriados, hostilidade, hipersensibilidade a críticas ansiedade social e comportamentos ,
obsessivos-compulsivos. As palavras acima não se referem a estados mentais ou internos. São utilizadas aqui como termos descritivos de uso geral, para dar ao leitor uma idéia da gama de comportamentos observáveis do cliente que, sob as condições apropriadas, podem ser evocados e modificados durante a terapia. Uma outra característica importante da FAP - e que é de certa maneira
problemática - é que melhoras no comportamento do cliente que ocorrem nó consultório, deveriam ser reforçadas imediatamente. O reforçamento de
comportamentos durante a sessão é problemático porque a própria tentativa de aplicar o reforçamento de maneira imediata e contingente pode também, inadvertidamente, torná-lo ineficaz e até mesmo contraproducente.
O problema em aplicar o reforçamento durante o tratamento nasce da imitação dos métodos da análise experimental do comportamento. Com o
propósito de atingir a meta de reforçar a resposta o mais prontamente possível, os analistas experimentais do comportamento, quando clinicando, usaram procedimentos análogos aos usados, em laboratório, em experimentos operantes com animais. Aqueles clínicos adotaram a regra Dê a pelota de comida imediatamente após a resposta" e fizeram uma transposição literal para a situação "
Capítulo 1
12
"
Dê o confeito de chocolate imediatamente depois que a criança permanecer na cadeira por dois minutos. Entretanto, o propósito dos expeclínica:
"
.
rimentos de laboratório era o de estudar os parâmetros do reforçamento e não o
de beneficiar o sujeito ou obter uma generalização do comportamento para a sua vida eotidiana.
Ferster (1967, 1972b,c) discutiu extensamente as implicações clínicas
da utilização do reforçamento arbitrário, tal como o empregado em montagens de laboratório, contrastando-o com o tipo de reforçamento que ocorre no ambiente natural. Antecipando os riscos do uso do reforçamento no tratamento de pacientes de consultório Ferster avisava que muitas das recompensas utilizadas pelos ,
analistas experimentais do comportamento - alimento objetos simbólicos e ,
elogios - poderiam ser arbitrárias. Ele via isso como um sério problema clínico de vez que, comportamentos reforçados arbitrariamente somente ocorreriam quando o controlador estivesse presente ou se o cliente estivesse interessado no tipo específico de recompensa que estivesse sendo oferecida Como exemplo de um reforçamento arbitrário que foi distorcido ele citava o caso de um autista que apresentava mutismo eletivo e, tratado pela análise do comportamento, parava de falar quando o alimento não estava presente. .
,
Reforçamento Natural versus Arbitrário
Devido às deficiências do reforçamento arbitrário a FAP orienta-se ,
para prover reforçamento natural às melhoras do cliente que ocorrem durante a sessão. Nossas sugestões sobre como fazer isso se encontram no Capítulo 2 As comparações abaixo ajudarão a destacar a diferença entre os dois tipos dc reforçamento. Reforçadores arbitrários e naturais diferem em quatro dimensões básicas, como expomos-a seguir: .
1.
Quão ampla ou estreita é a classe de respostas? O reforçamento
arbitrário especifica um desempenho estreito enquanto o reforçamento natural é contingente a uma ampla classe de respostas Por exemplo um professor que .
,
esteja usando reforçamento arbitrário para ensinar um menino disléxico a ler está sujeito a estar sendo limitado e contraproducente em sua prática Como é o caso de qualquer pessoa usando reforçamento arbitrário com propósitos ,
.
educacionais
este professor precisa decidir quais os comportamentos que serão reforçados e quais os punidos. Ele decide punir o menino por ler uma revista em quadrinhos ao invés do livro texto. Este professor está mostrando uma das defi,
Introdução
13
ciências do uso de reforçamento arbitrário ou seja, ele está pedindo uma resposta ,
estreita - ler o livro-texto - e perdendo de vista a classe de respostas muito mais ampla de ler em geral. O reforçamento natural inerente à leitura (tais como os proporcionados pelas informações, pelo divertimento) reforça uma ampla classe ,
de respostas que inclui ler revistas em quadrinhos, resultados de corridas e ,
tantos outros. Assim,
um dos riscos no uso de reforçamento arbitrário é que ele
pode inadvertidamente interferir com o reforçamento natural e com a aquisição do comportamento-alvo. 2
.
O comportamento desejado existe no repertório da pessoal O
reforçamento natural inicia com um desempenho já existente no repertório da pessoa, enquanto o reforçamento arbitrário não leva em conta, no mesmo grau do reforçamento natural o repertório de comportamentos existente na pessoa. Tal é o caso quando uma mãe critica a primeira tentativa dc sua filha em costurar ,
uma peça em curva e não leva em conta o seu nível de habilidade em costurar
.
A
utilização da crítica como reforçamento arbitrário fez com que essa mãe falhasse em ver que a sua filha estava se saindo bem para o nível das suas habilidades atuais em costura. Por contraste
o reforçamento natural consistiria na apreciação, por essa mãe, de uma peça de costura utilizável que a filha conseguiu fazer em sua primeira tentativa, desconsiderando a sua aparência ,
.
3.
Quem proporciona o reforçamento é o primeiro beneficiado?
Reforçamento arbitrário produz mudanças de comportamento na pessoa sendo reforçada que somente beneficiam a pessoa que faz o reforçamento. Nenhum benefício precisa ser oferecido à pessoa submetida ao reforçamento arbitrário. Na verdade
pessoas são frequentemente prejudicadas pelo reforçamento. arbitrário. Adultos que abusam sexualmente de crianças usam reforçadores ,
arbitrários (ameaças, elogios, abuso físico) para obter aceitação. Muitas vezes eles reivindicam benefícios para a criança dizendo que ela quis isso ou "ela teve experiências de sexualidade e dessa forma foi beneficiada". Este argumento é idículo; qualquer adulto que usa sexualmente uma criança não o faz para beneficiar a ela, a criança. Na verdade, o abuso sexual pode causar uma ampla variedade de problemas e especificamente, interfere com o reforçamento natural do comportamento sexual que ocorre em relações íntimas consensuais. "
r
"
,
Para o comportamento que está sendo apresentado, o reforçador oferecido é típico e comumente presente no ambiente natural? Uma outra maneira de formular esta mesma pergunta c: Para este comportamento em particular, qual seria o reforçamento mais provável no ambiente natural? Reforçadores naturais são partes mais estáveis e fixas do ambiente natural do 4
.
"
"
.
Capítulo 1
14
que os reforçadores arbitrários. Este aspecto do reforçamento é o mais facilmente perceptível, de vez que um observador não necessita da história dos indivíduos envolvidos numa operação de reforçamento para que possa dizer quão típico é o reforçamento que está sendo utilizado. Por exemplo, a maioria das pessoas concordaria que dar doces ao seu filho para que ele vista o casaco é arbitrário, ao passo que lhe chamar a atenção por estar sem casaco é natural.
f
Pagar à sua ilha para que pratique no piano é arbitrário ao passo que o fato dela tocar simplesmente pela música criada é natural. De igual maneira multar o seu cliente em alguns centavos por não manter contato visual é arbitrário. enquanto que é natural deixar que a sua atenção flutue. ,
Em resumo, o reforçamento natural é diferente do reforçamento arbitrário
por fortalecer uma ampla classe de respostas, por ter em consideração o nível de habilidade da pessoa, por beneficiar primariamente a pessoa sendo reforçada ao invés da pessoa que proporciona o reforço e por ser típico e de ocorrência comum no ambiente natural. Entretanto a maior parte das consequências não se encaixa perfeitamente nas categorias associadas tanto ao reforçamento arbitrário quanto ao natural e provavelmente, apresentam dimensões de ambos os tipos. ,
,
Embora nenhuma pesquisa tenha comparado diretamente os reforçamentos arbitrário e natural dados que fundamentam a nossa posição provieram, paradoxalmente, de pesquisas orientadas cognitivamente e planejadas para desacreditar a ênfase behaviorista no reforçamento A pesquisa concernia aos efeitos de recompensas externas sobre a motivação intrínseca (estes termos não são comportamentais mas foram aqueles usados pelos investigadores nãobehavioristas). Por exemplo Deci (1971), num estudo típico deste tipo de pesquisa, pagou a um grupo de sujeitos para encontrarem soluções corretas para um quebra-cabeças e comparou este grupo a um outro, ao qual foi dado o mesmo problema porém sem qualquer pagamento pelo encontro da solução. Quando deixados sós por oito minutos, numa situação de "descanso", os sujeitos pagos ocuparam menos tempo manipulando o quebra-cabeças do que os sujeitos sem pagamento. Após uma revisão da literatura sobre este tipo de pesquisa ,
.
,
,
,
Levine e Fasnacht (1974) argumentaram que "recompensas externas" são arriscadas, por apresentarem pouco poder de permanência (isto é uma resistência reduzida à extinção) e interferem com a generalização solapando assim o próprio comportamento que elas visavam fortalecer. Operacionalmente, recompensas externas" e "motivação intrínseca" correspondem aos conceitos ,
"
"
,
"
de Ferster de reforçamento arbitrário e natural Assim, embora os dados sobre .
motivação intrínseca tenham tido o intento original de demonstrar deficiências
Introdução
15
na abordagem behaviorista esses dados podem ser vistos, alternativamente, ,
como um exemplo no qual o reforçamento arbitrário mostrou efeitos negativos
.
f
Especificação de comportamento clinicamente relevante
Além do reforçamento a análise do comportamento é caracterizada por sua atenção à especificação dos comportamentos de interesse O termo compor,
.
tamento clinicamente relevante (CRB) inclui tanto os comportamentos-problema como os comportamentos finais desejados Discutiremos os dois componentes .
da especificação de comportamentos clinicamente relevantes - a observação e a definição comportamental - e examinaremos as implicações disso para a condução de terapias de pacientes em consultórios. r
«
' r'
Observação
A observação é um pré-requisito necessário para a definição comportamental dos CRBs (comportamentos clinicamente relevantes). Os behavioristas assumem que, se os comportamentos podem ser observados então eles podem ser especificados e contados. Obviamente o comportamento-problema do cliente ,
,
não pode ser observado a menos que ele ocorra na presença do terapeuta. Para atender a este requisito os analistas do comportamento têm (a) tratado clientes que estão com seu movimento restrito, tais como aqueles hospitalizados ou ,
f
internados em presídios, ou (b) tratado problemas graves e que se manifestam com alta requência, como ecolalia em crianças autistas.
Ainda que seja conveniente usar problemas graves e ambientes restritos
para observar diretamente o comportamento-problema, qualquer problema que possa ser diretamente observado é adequado para uma análise do comportamento. O ambiente psicoterapêutico do cliente de consultório atende a este requisito caso o problema cotidiano do cliente seja de tal natureza que também ocorra durante o atendimento. Um exemplo significativo, ainda que trivial, é o de alguém que procura tratamento por ter ficado sem palavras ao relatar ao seu médico suas queixas e que realmente fica sem palavras quando está relatando esse seu problema ao terapeuta. Fundamentada no pré-requisito da observação, uma abordagem terapêutica analítico-comportamental para um paciente de consultório "
"
"
"
16
Capítulo 1
enfoca aqueles problemas do mundo externo ao consultório que também ocorrem durante a sessão.
Definindo comportamentalmente os CRBs
Tradicionalmente, os analistas do comportamento têm formulado descrições comportamentais de comportamentos-alvo que se refiram exclusivamente a comportamentos observáveis. Este requisito atende ao propósito de obter-se confiabilidade, medida por consenso entre os observadores Os observadores, os quais devem concordar se um problema de comportamento ocorreu ou não, habitualmente incluem o terapeuta e pelo menos uma outra pessoa. Entretanto e por conveniência, esta outra pessoa utilizada como observador costuma ser relativamente inexperiente tal como um estudante de .
,
graduação. Observadores inexperientes podem realizar o trabalho quando os comportamentos de interesse são simples tais como completar um problema de matemática, a ocorrência de um tique facial ou o comportamento de roer unhas ,
.
Mas são eles mesmos um problema quando os comportamentos são algo mais complexos (por ex. ansiedade e discórdia conjugal). Quando os comportamentos,
,
problema são mais complexos, é necessário um treinamento, antes que os observadores possam fazer o trabalho
.
Por outro lado
,
a quantidade de treina-
mento que pode ser dada é limitada. Assim o uso de observadores relativamente ,
ingénuos tem colocado um limite prático com relação à complexidade dos comportamentos com os quais os analistas do comportamento têm trabalhado Por exemplo estariam excluídos tratamentos que envolvessem comportamentos .
,
inais que não existissem no repertório dos observadores fato que não pode ser
f
,
remediado através do treinamento do observador Exemplos de tais compor.
tamentos do cliente incluem reações interpessoais mais sutis como as relacionadas ,
às relações de intimidade e à aceitação de riscos interpessoais
.
Na prática é quase impossível obter-se a desejada objetividade com ,
base nas descrições comportamentais típicas que são formuladas para problemas aplicados (Hawkins & Dobes 1977). Não obstante, o consenso entre os ,
observadores é enormemente facilitado se o comportamento que está sendo observado existe no repertório dos observadores Ainda que certas habilidades .
(por ex., lances livres no basquete ou o desempenho físico de um ginasta) possam ser observadas e avaliadas com confiabilidade por alguém que não possui essas habilidades
,
geralmente é difícil obter-se confiabilidade na observação de compor-
Introdução
17
tamentos interpessoais complexos que inexistam no repertório do observador Consequentemente, é mais fácil para os terapeutas perceberem e descreverem comportamentos clinicamente relevantes se o comportamento final desejado fizer parte do seu próprio repertório. Como exemplo, poderia ser difícil para um .
terapeuta que não tenha estabelecido relações de intimidade em sua vida
,
discriminar, no cliente, a presença ou a ausência desses comportamentos. Por estas razões e para os tipos mais sutis de problemas que a psicoterapia de clientes adultos apresenta a observação direta e a definição comportamental do problema e dos comportamentos finais desejados podem ser levadas a cabo se (a) os comportamentos relacionados ao problema ocorrem durante a sessão e desta maneira podem ser diretamente observados, e se (b) o terapeuta e os observadores forem cuidadosamente selecionados de forma que eles mesmos tenham, em seus repertórios, os comportamentos fmais desejados para o cliente. ,
Preparando a generalização
\
A terapia será ineficaz caso o cliente melhore no ambiente terapêutico mas esses ganhos não se transfiram para a vida cotidiana. Por isso, a generalização tem sido uma preocupação fundamental para os analistas do comportamento. A melhor maneira para preparar a generalização é conduzir a terapia no mesmo ambiente no qual o problema ocorre. Historicamente, os analistas do
comportamento têm conseguido este objetivo através do oferecimento de reforçamento imediato em instituições, salas de aula, na residência do cliente ou onde
mais seja possível conduzir o tratamento no mesmo ambiente onde o problema ocorreu.
Como podemos medir ou determinar se dois ambientes são similares? Uma análise formal procura descrever e comparar os ambientes em termos das suas características físicas. As limitações deste tipo de análise são encontradas quando comparamos dois ambientes que são diferentes em alguns aspectos, mas semelhantes em outros. Por exemplo, se você conduzir um tratamento para déficits de atenção numa classe de educação especial, os comportamentos adqui-
ridos generalizar-se-iam para uma classe regular ou para o ambiente doméstico? Para evitar este problema, a comparação pode ter por base uma análise funcional. Os ambientes são então comparados com base no comportamento que eles evocam, ao invés das suas características físicas. Se eles evocarem o mesmo
comportamento, então são funcionalmente similares.
*
18
Capítulo 1
Embora análises do comportamento não sejam tradicionalmente conduzidas num ambiente de psicoterapia para adultos elas poderiam ser, se o ambiente terapêutico for funcionalmente similar ao ambiente cotidiano do cliente, ,
Uma similaridade funcional entre estes dois ambientes estará demonstrada se
comportamentos clinicamente relevantes ocorrerem em ambos os ambientes. Por exemplo um homem cujo problema apresentado é uma hostilidade que se desenvolve em relações interpessoais próximas demonstrará que o ambiente terapêutico é funcionalmente similar ao seu cotidiano se ele desenvolver uma ,
,
hostilidade em relação ao terapeuta na medida em que uma relação mais próxima venha a se estabelecer entre eles.
Neste capítulo lançamos as bases para a psicoterapia analítica funcional, descrevendo seus pressupostos teóricos e filosóficos Como esquematizado no ,
.
prefácio, os Capítulos 2 e 3 são dedicados às técnicas de manejo clínico e a estratégias para ampliar as percepções do terapeuta. A seguir nos Capítulos 4 ,
e 5, revemos os conceitos o papel e a importância das recordações, das emoçõgs ,
e da cognição para a mudança do comportamento. No Capítulo 6 formulamos uma teoria comportamental do desenvolvimento da noção do self e discutimos suas implicações clínicas. No Capítulo 7 comparamos e contrastamos a FAP com a psicanálise e com outras terapias comportamentais e demonstramos que a FAP aproveita-se dos melhores atributos desses dois enfoques Finalmente, temas éticos e temas culturais de supervisão e de pesquisa são examinados no ,
,
.
,
Capítulo 8.
\
Aplicação Clínica da Psicoterapia Analítica Funcional
A aplicação clínica da FAP será discutida em termos de certos tipos de comportamento do cliente e do terapeuta os quais ocorrem ao longo da sessão de terapia. Os comportamentos do cliente são seus problemas progressos e interpretações. Os comportamentos do terapeuta são métodos terapêuticos que incluem evocar notar, reforçar e interpretar o comportamento do cliente. ,
,
,
,
PROBLEMAS DO CLIENTE E COMPORTAMENTOS CLINICAMENTE RELEVANTES
Tudo que um terapeuta pode fazer para auxiliar os clientes ocorre durante a sessão. Para o behaviorista radical, as ações do terapeuta afetam o cliente através de três funções de estímulo: 1) discriminativa, 2) eliciadora e 3) ,
reforçadora. Um estímulo discriminativo refere-se às circunstâncias externas
nas quais certos comportamentos foram reforçados e onde, consequentemente, tornam-se mais prováveis de ocorrer. A maior parte de nosso comportamento está sob controle discriminativo e é usualmente conhecido como comportamento voluntário (comportamento operante). Um comportamento eliciado 19
Capítulo 2
20
(comportamento respondente) é produzido de modo reflexo e é costumeiramente denominado involuntário. Ajunção reforçadora (discutida no Capítulo 1) referese às consequências que afetam o comportamento. Cada ação do terapeuta possui um ou mais destes três efeitos. Por exemplo, uma ação do terapeuta poderia ser perguntar ao cliente O que você está sentindo agora?" O efeito discriminativo afirma que agora é apropriado você dizer como se sente. A questão, entretanto, poderia também ser aversiva para o cliente e, assim, puniria o comportamento que precedeu a questão do terapeuta; esta é a função reforçadora. A função eliciadora da pergunta poderia fazer o cliente enrubescer, suar e induzir outros estados corporais. Os motivos pelos quais o cliente reage destas formas à pergunta "
"
"
sobre sentimentos encontram-se em sua história de vida.
Ao assumirmos que (1) o único modo do terapeuta ajudar o cliente é por meio das funções reforçadoras, discriminativas e eliciadoras das ações do terapeuta, e que (2) estas funções de estímulo no decorrer da sessão exercerão seus maiores efeitos sobre o comportamento do cliente que ocorrer na própria sessão, então a principal característica de um problema que poderia ser alvo da FAP é que ele ocorra durante a sessão. Além disso os progressos do cliente também deverão ocorrer durante a sessão e serem naturalmente reforçados pelos reforçadores existentes na sessão. O mais importante é que os reforçadores sejam ,
as açoes e reaçoes do terapeuta em relação ao cliente.
Três comportamentos do cliente que podem ocorrer durante a sessão são de particular relevância e são denominados comportamentos clinicamente relevantes (CRB).
CRB1: Problemas do cliente que ocorrem na sessão
f
CRB 1 s referem-se aos problemas vigentes do cliente e cuja requência deveria ser eduzida ao longo da terapia. Tipicamente os CRB Is são esquivas sob controle de estímulos aversivos. Tal comportamento pode ser ilustrado por r
,
casos clínicos reais como os descritos abaixo: ,
1
.
Uma cliente cujo problema é não ter amigos e que afirma "não saber conquistá-los exibe comportamentos como: evitar contato visual, res"
ponder a perguntas falando excessivamente, de um modo impreciso e tangencial tem uma "crise" atrás da putra e exige ser cuidada, fica ,
Aplicação Clínica da FAP
21
enfurecida se o terapeuta não lhe fornece todas as respostas e frequen,
temente queixa-se de que o mundo não se importa com ela e lhe reservou a pior parte. 2
.
Um homem cujo principal problema é evitar relacionamentos amorosos sempre decide, antecipadamente sobre o que vai falar na terapia, vigia o relógio para encerrar a sessão pontualmente afirma que só poderá ter sessões quinzenais em função de limitações financeiras (embora sua renda anual seja superior a trinta mil dólares) e cancela a sessão ,
,
,
subsequente àquela em que fez uma importante revelação a respeito de si mesmo. 3
.
Um homem que se descreve como "eremita" diz que gostaria de construir uma relação de intimidade está há três anos em terapia e ,
continua periodicamente a brincar com seu terapeuta afirmando que este só se interessa pelo dinheiro do cliente e secretamente o rejeita .
4
5
.
.
Uma mulher cujo padrão é mergulhar em relacionamentos inatingíveis apaixona-se pelo terapeuta.
,
Uma mulher, que foi abandonada por pessoas que "se cansam" dela f
inicia temas novos ao inal da sessão
,
,
frequentemente ameaça se matar
e apareceu bêbada na casa do terapeuta no meio da noite. 6
"
.
"
Um homem, com ansiedade para falar congela e não consegue se comunicar com o terapeuta na sessão. ,
*
CRB2: Progressos do cliente que ocorrem na sessão
Durante os estágios iniciais do tratamento, estes comportamentos não são observados ou possuem uma baixa probabilidade de ocorrência nas ocasiões em que ocorre uma instância real do problema clínico, o CRB1. Por exemplo, considere um cliente cujo problema é se afastar e vivenciar sentimentos de baixa auto-estima quando as pessoas não lhe dão atenção duranté conversas ou outras situações sociais. Este cliente pode demonstrar um padrão similar de comportamentos de afastamento durante uma consulta na qual o terapeuta não presta atenção às suas palavras e interrompe seu discurso antes que termine de falar. Prováveis CRB2s para esta situação incluem um repertório de compor"
"
"
tamento assertivo que dirigiria o terapeuta de volta para o que o cliente estava
,
-Capítulo 2
22
dizendo, ou a discriminação do crescente desinteresse do terapeuta pelo que estava sendo dito até o momento em que, de fato, interrompeu o cliente. s
O caso abaixo ilustra o desenvolvimento dos CRB2s de uma cliente.
Joanne, uma mulher brilhante e sensível, que buscou terapia em função de uma ansiedade constante, insónia e recorrentes pesadelos de estupro. Embora ela
suspeitasse ter sido abusada sexualmente pelo pai na infância, ela não guardava, especificamente, lembranças de tal abuso. Ela melhorou gradualmente no decorrer dos seis anos de terapia com o segundo autor. Alguns dos CRB2s fortalecidos em diferentes momentos do tratamento foram:
LRecordar-se e responder com emoção. Durante a infância Joanne viveu uma década de indizível terror envolvendo dor ísica e emocional provocada por quem supostamente deveria amá-la, o pai. Recordar e reagir emocionalmente ,
f
,
a estes eventos não foi reforçado. Ao invés disso, era funcional esquecer e reagir de forma não-emocional, e ela evitou estímulos que poderiam evocar sentimentos indesejáveis. Sua esquiva era pervasiva e associada às experiências precoces de não ser validada, passou a sentir-se desprovida de um senso de self (ver Capítulo 6). Joanne evitou reviver sentimentos como dor terror, impotência e ,
,
fúria não estabelecendo relacionamentos de intimidade. Ela não era aberta não ,
confiava nos outros e não se mostrava vulnerável. Um objetivo terapêutico foi reduzir a esquiva generalizada e aumentar os CRB2s de lembrar-se e viver a dor pelo ocorrido. Gradualmente, Joanne foi encorajada a aumentar seu contato com as recordações vívidas de tortura física e emocional um processo que foi terrivelmente penoso. ,
2 Aprender
a dizer o que deseja (ou seja que suas necessidades são
.
,
importantes e merecem atenção). Como ocorre com quase todos os sobreviventes de abuso sexual Joanne foi reforçada por dar ao seu pai o qjie ele desejava, mas fortemente punida por ter seu próprio desejo. Ela codificou este fato como não tendo o direito de esperar algo dos outros e aprendeu que "desejar é ruim". Eu a encorajei a desejar e gradualmente estes CRB2s foram fortalecidos Deste modo, tentei reforçar qualquer pedido que eu pudesse com referência a aspectos como ,
.
,
os temas a discutir
a duração e frequência das sessões e reasseguramentos verbais. Além disso foi explicado a Joanne que suas necessidades eram ,
,
importantes e que se eu ou outra pessoa não as preenchessem ela não deveria se ,
Aplicação Clínica da FAP "
considerar má
23
"
por ter desejos, necessidades. Um incidente importante ocorreu por volta do quarto mês de terapia, quando me ligou às 23:30 hs., durante um
episódio de flashback. Joanne estava em pânico e gritava. Na medida em que reconheci seu telefonema como um CRB2
perguntei-lhe se gostaria de ter uma sessão naquele momento o que ela aceitou de imediato. Mais tarde Joanne contou,
,
me ter sido muito difícil aceitar a oferta
embora estivesse apavorada e precisasse, de fato, estar comigo. Quando respondi à sua necessidade o querer foi reforçado. Subsequentemente Joanne aprendeu a me solicitar sessões extras e conversas pelo telefone quando isto fosse necessário e seu comportamento de expressar suas necessidades e desejos se generalizou para outros relacionamentos Com o aumento da força destes CRB2s ocorreu mudança correspondente quanto a sentir que desejar" é aceitável e que suas necessidades são importantes. ,
"
"
,
,
,
.
,
"
3
Confiar. Como as reações de seu pai eram erráticas e imprevisíveis Joanne foi reforçada por antecipar e tornar-se hipervigilante com relação a tal comportamento da parte de terceiros. Ela contou-me que levou seis meses até que passasse a confiar que eu viria pontualmente à sessão, conforme combinado com ela. Eu tinha todos esses medos - de que você me julgasse louca ou me .
,
"
ferisse, de que meus sentimentos lhe assustassem e o fizessem se afastar de mim. Mais do que me reconfortar, você me fez examinar o que eu estava sentindo em relação a você. Eu dizia que não o faria e você me respondia que você precisava confiar na sua experiência. Então Joanne tornou-se menos vigilante "
na busca de uma ação errática de minha parte, o que, por sua vez, facilitou o crescimento de nossa relação. Eu também fui capaz de manter minha palavra, sendo coerente com meus pontos de vista, e não agi de maneira imprevisível. 4 Aceitar o
amor. Após três anos em terapia comigo (esteve em terapia por cinco anos, antes de vir me procurar), Joanne descreveu um problema da vida diária de relacionamento interpessoal. Disse que, bem no fundo, sentia não saber como amar ou como ser amada. Eu lhe iz mais perguntas, buscando descobrir exatamente o que ela queria dizer, para elaborar o problema em termos comportamentais. Joanne tinha dificuldade para fazê-lo. Tentando saber se isto f
.
ocorria na sessão, perguntei-lhe se conseguiria aceitar meu amor no momento,
ela disse que não, que sentia-se fechada. Embora fosse um processo privado, cujas dimensões fossem difíceis de descrever, julguei que um CRB1 estava ocorrendo naquele momento.
Capítulo 2
24
T: Como é sentir-se fechada?
C: É como se meu coração estivesse fechado. T; Totalmente fechado? C: Talvez 5% aberto.
T: Gostaria que você tentasse abrir até 20% e aceitasse meu amor por você. C: Está aberto uns 25%.
T: Ótimo! Você conseguiria uns 40%?
Este processo foi mantido, e Joanne relatou ser capaz de "abrir seu coração cada vez mais. Eis uma descrição do que ela sentiu durante aquela sessão: Tomei coragem para me abrir e deixar o amor entrar. Foi uma mudança de foco em meu corpo e mente. Ainda que estivesse consciente do meu medo "
"
,
terror e sofrimento causados pelas experiências com meu pai, enfoquei o que sentia em relação a você, no presente, em oposição aos meus medos. Deixei que existissem duas verdades simultâneas: que meu pai abusou de mim e que você era uma pessoa com quem eu podia me sentir segura e amada. Continuei afirmando para mim mesma que queria abrir espaço para receber o amor. Eu ,
mantenho a tensão nos meus músculos quando me fecho principalmente no meu peito, como se o músculo ficasse congelado. Então a sensação física de me abrir é o relaxamento do músculo, respirar mais profundamente deixar o ar entrar em meu corpo, sentir a respiração. E como a sensação da abertura de uma lente em meu coração. ,
,
"
Não fica claro quais processos comportamentais estão envolvidos na aceitação do amor mas a descrição que Joanne faz de sua experiência sugere algumas possibilidades. Nossa interpretação é que não ser capaz de aceitar o amor foi um comportamento específico, principalmente privado o qual a manteve "
"
,
,
distante e reduziu a aversividade de relacionar-se com o seu pai. Considerando *
alguns aspectos de sua descrição algumas destas respostas foram provavelmente evocadas pelo abuso sexual. A despeito da aversividade ela permaneceu em contato com seus sentimentos e sua esquiva foi extinta, suas respostas físicas mudaram e surgiu, em paralelo, um sentimento de "aceitação do amor". ,
,
,
,
d e t a lh s p o d e r ã s o b t i d s n o t ó p i c R e g r a 5 .
Aplicação Clínica da FAP
25
Esta sessão foi um importante divisor de águas para Joanne
aprendeu que possuía controle sobre "aceitar ou não, o amor ,
"
porque
Isto a auxiliou
.
no desenvolvimento de relacionamentos amorosos mais íntimos
,
.
CRB3: Interpretações do comportamento segundo o cliente
O CRB3 refere-se à fala dos clientes sobre seu próprio comportamento "
e o que parece causá-lo o que inclui interpretações" e "dar razões". O melhor ,
CRB3 envolve a observação e interpretação do próprio comportamento e dos estímulos reforçadores discriminativos e eliciadores associados a ele. Descrever conexões funcionais pode ajudar a obter reforçamento na vida diária Maiores ,
.
Os repertórios de CRB3 também incluem descrições de equivalência
funcional que indica semelhanças entre o que ocorre na sessão e na vida diária Por exemplo Esther, uma mulher com cerca de quarenta anos, há quinze anos permanece sem qualquer contato íntimo de natureza sexual. Após seis anos em FAP com o segundo autor Esther se envolveu com um homem que conheceu na ,
,
,
igreja. Seu CRB3 era: "A razão pela qual entrei em um relacionamento íntimo
é porque você esteve ao meu lado. É uma mudança fenomenal. Não fosse você
,
eu não estaria lá. Com você encontrei o primeiro lugar seguro, onde eu tinha como falar sobre o que sentia, pude descobrir razões pelas quais seria desejável eu tornar-me sexualizada. Por um certo período de tempo estive mais abertamente atraída por você e você aceitou meus sentimentos. Aprendi que seria melhor eu preservar minha totalidade e sentir-me sexual, do que vestir uma armadura e sentir-me vazia. E eu pude praticar a ser direta com você. Este tipo de afirmação pode ajudar a aumentar a probabilidade do cliente transferir seus ganhos na terapia para a vida diária. Neste caso, o comportamento a ser transferido auxiliou a aumentar o reforçamento de estar se relacionando intimamente. ,
"
Terapeutas, por vezes, confundem repertórios de CRB3 com o comportamento ao qual eles se referem. Uma cliente afirmar que se afasta sempre que se torna dependente de um relacionamento (CRB3) difere de realmente se distanciar durante uma sessão porque está se tornando dependente do terapeuta (CRB1). E lamentável que alguns terapeutas focalizem sua atenção sobre estes repertórios que descrevem um comportamento problemático e não conseguem observar a ocorrência dos comportamentos problemáticos (CRB1) ou dos progressos (CRB2).
Capítulo 2
26
Avaliação inicial
De início, os procedimentos de avaliação da FAP não diferem daqueles rotineiramente usados pelos terapeutas em sua prática clínica. O cliente é solicitado a relatar seus problemas e outras condições de sua vida. Entrevistas, auto-relatos, material gravado, questionários e registros são utilizados para definir
o problema, gerar hipóteses sobre variáveis de controle e monitorar o progresso. Uma vez que o terapeuta já tenha alguma idéia sobre o problema e suas variáveis de controle, inicia-se a avaliação da eventual ocorrência destes
comportamentos na sessão. O terapeuta hipotetiza se um CRB1 estaria ocorrendo em um dado momento, ou apresenta uma situação supostamente capaz de evocar o CRB1. Estes procedimentos, hipotetizar e evocar, serão discutidos mais à f
rente.
A FAP centraliza sua avaliação em uma questão-chave, que o terapeuta continuamente pergunta ao cliente durante o tratamento: Isto está acontecendo agora? "isto referindo-se ao CRB1. Algumas variações possíveis: "Como você se sente, agora, a seu próprio respeito? "Neste exato momento você está se afastando? "O que acabou de acontecer se parece com o que fez você buscar atendimento? "A dificuldade que você teve de expressar os seus sentimentos agora é a mesma que você tem com sua mãe? "O que você sente agora...é semelhante à ansiedade de se expressar verbalmente que te fez buscar terapia? "
"
"
,
"
,
"
,
"
,
"
,
"
-
-
A FAP não possui procedimentos especiais para avaliar a validade do auto-relato do cliente em resposta a uma questão de avaliação. Por um lado, a resposta baseia-se num evento que acabou de ocorrer, talvez dois segundos antes. Portanto, pode ser menos sujeito às distorções que o tempo e a distância produzem nos relatos de eventos que ocorreram no passado. Por outro lado, o CRB1 provavelmente é acompanhado de respostas que interferem na auto-observaçao e também pode sofrer viéses pela exigência implícita na pergunta do terapeuta. A vantagem de avaliar o comportamento vigente, entretanto, é que o terapeuta pode observar diretamente o comportamento que o cliente está descrevendo. Isto permite avaliar a confiabilidade inter-observadores, contar e registrar respostas e constitui-se numa oportunidade de estimar a correlação entre relatos verbais e o comportamento ao qual ele se refere.
Aplicação Clínica da FAP
27
TÉCNICA TERAPÊUTICA: AS CINCO REGRAS s
Dado que a psicoterapia é um processo interacional complexo
,
envolvendo comportamento multideterminado nossas sugestões de técnica ,
psicoterapêutica não pretendem ser completas ou excluir o uso de procedimentos não descritos aqui. Pelo contrário outros métodos de terapia podem ser complementados ou ampliados para auxiliarem terapeutas a obterem vantagem de oportunidades que de outro modo poderiam passar despercebidas Por exemplo, os métodos da terapia cognitiva poderiam ser usados junto com a FAP, pois esta oferece recursos terapêuticos para trabalhar com pensamentos irracionais ou pressupostos erróneos (ver Capítulo 5). ,
.
Nossas técnicas são dispostas sob a forma de regras. Ao contrário do
significado ameaçador ou rígido que é associado ao uso comum do termo
,
propomos que as regras sejam compreendidas segundo o conceito skinneriano de comportamento verbal (Skinner 1957, p. 339), depois elaborado por Zettle e Hayes (1982). Neste contexto, as regras da FAP são sugestões para o comportamento do terapeuta, as quais resultam em efeitos reforçadores para o terapeuta. E mais uma questão de "experimente você vai gostar do que "é melhor que ,
r
"
,
,
"
você faça assim
.
Além disso
as regras não oferecem aos terapeutas a orientação específica para cobrir todo momento ou situação da sessão. Espera-se que os terapeutas atuem de forma a depender de sua experiência e de outras teorias. No início da terapia, o tempo é geralmente gasto na coleta da história de vida e de descrições dos problemas clínicos. Segue-se uma etapa exploratória com o cliente para investigar como poderia agir para melhorar sua situação. Em qualquer ponto deste processo, a adoção de regras da FAP poderia mudar o foco do tratamento para o CRB. O foco pode ser momentâneo ou dominar a cena. Deste modo, nenhum procedimento é excluído, mas, a qualquer momento, seguir regras da ,
FAP poderia conduzir à identificação e utilização de uma oportunidade terapêutica.
Regra 1: Prestar atenção aos CRBs
Esta regra é o coração da FAP. Nossa principal hipótese é que seguir esta regra melhora o resultado da terapia. Portanto, quão maior for a proficiência do terapeuta em identificar CRBs, melhores os resultados. Também hipotetiza-
Capítulo 2
28
se que seguir a Regra 1 conduzirá a uma crescente intensidade; ou seja, reações emocionais mais fortes entre cliente e terapeuta durante a sessão. Numa sessão de terapia, a consequência primária do comportamento do cliente é a reação do terapeuta. Caso o terapeuta não proceda a uma observação clara do comportamento do cliente, suas reações poderão ser inconsistentes ou antiterapêuticas, o que comprometeria o progresso. Em outras palavras, se o terapeuta não estiver ciente dos comportamentos clinicamente relevantes do cliente que ocorrerem durante a sessão, o reforçamento dos progressos no momento de sita ocorrência será algo do tipo pegar ou perder Ainda que estar consciente e prestar atenção não garantam que melhoras sejam reforçadas e comportamentos desfavoráveis sejam extintos ou punidos isto aumenta a probabilidade de reações apropriadas do terapeuta. "
"
.
,
O problema contraterapêutico gerado pela ausência de consciência é
familiar àqueles que trabalham com crianças com perturbações graves O primeiro autor recorda-se quão doloroso foi ensinar uma criança institucionalizada a calçar suas próprias meias - ele nunca havia feito isto e até .
que ele sistematicamente conseguisse calçá-las foi necessária uma hora de treino diário, ao longo de várias semanas. Seus pais levaram o garoto para uma visita à sua casa e observaram-no sair da cama e calçar as meias. Eu mal continha o
júbilo pelo progresso alcançado. Mas assim que ele calçou as meias, seus pais o advertiram por calçar cada pé de uma cor diferente imediatamente arrancafam uma delas e substituíram-na por outra de cor adequada O cliente teve um ataque de birra. Obviamente os pais não conseguiram perceber que calçar as meias era ,
.
um CRB2
membro de um repertório cuja ausência, ou baixa probabilidade de ocorrência estava diretamente relacionada ao problema. Se os pais estivessem presentes às entediantes semanas de treinamento, sua percepção teria mudado e, provavelmente, seriam capazes de reforçar naturalmente o comportamento de calçar as meias. É pena que alguns psicoterapeutas com requência, não estejam atentos aos comportamentos clinicamente relevantes que ocorrem na sessão e tendem a reagir de um modo não-terapêutico como os pais da criança autista. ,
,
f
,
,
Como se afirmou antes
é mais provável que se reforce apropriadamente o comportamento clinicamente relevante que ocorre na sessão se o terapeuta ,
observar atentamente o que se passa Vamos examinar o caso de Betty, em .
tratamento com o primeiro autor com queixa de ansiedade para se expressar ,
verbalmente
pânico, falta de assertividade perante figuras de autoridade, especialmente do sexo masculino (por exemplo supervisores e executivos da ,
,
empresa onde trabalha)
.
Durante a sessão
,
ela me pediu que ligasse para seu
Aplicação Clínica da FAP clínico e solicitasse
,
>
29
em seu nome, uma nova receita dos tranquilizantes que lhe
foram prescritos e estavam terminando. Acrescentou que tinha muito medo de fazê-lo. Tive diversas
,
e fortes, reações negativas encobertas. Primeiro, não
gostei da idéia por geralmente desencorajar a medicação, em benefício dos métodos comportamentais. Segundo pensei que renovar a receita estava sob responsabilidade de Betty não minha. Terceiro, imaginei que esta seria uma chance para a cliente praticar interagindo com seu médico, o comportamento assertivo. Por fim considerei que telefonar para o médico é uma tarefa desagradável, que parecia uma interferência sobre meu horário. Por outro lado em função da Regra 1, sabia que o pedido era definitivamente, um CRB2, um comportamento assertivo na sessão dirigido a uma figura masculina de autoridade, o qual, até então estava ausente no repertório de Betty. Estando ciente disso, concordei em ligar para o médico e cumprimentei-a pela expressão direta ao me fazer seu pedido. ,
,
,
,
,
,
,
,
A importância da Regra 1 não pode ser enfatizada em demasia. Teoricamente, seguir a Regra 1 é tudo o que precisamos para o tratamento ter sucesso. Ou seja, um terapeuta habilidoso em observar a ocorrência na sessão, ,
de instâncias do comportamento clinicamente relevante tenderá a reagir, naturalmente, no sentido de reforçar, extinguir e punir o comportamento em questão, propiciando o desenvolvimento de alternativas úteis para a vida diária. ,
A observação de repertórios como os especificados pela Regra 1 é prática usual entre terapeutas psicodinâmicos e de ecléticos reconhecidos como bastante competentes. Isto é esperado porque as ocorrências de CRB que são rotuladas como transferência servem como estímulos discriminativos importantes na terapia de orientação psicodinâmica. Além disso, seria esperado dos terapeutas com vasta experiência, independente de sua orientação teórica, que mostrassem
os tipos de comportamento da Regra 1 em função do fato de que perceber o CRB (mesmo sob a forma de estar atento a questões transferenciais) facilita o progresso clínico, o que automaticamente reforça o comportamento do terapeuta de seguir a Regra 1. Poder-se-ia esperar que este reforçamento acontecesse sem que o terapeuta estivesse consciente.
Acreditamos que os efeitos da Regra 1 refletem-se nos resultados de um estudo recente sobre os produtos das interpretações psicanalíticas (Marziali, 1984). Nesta pesquisa, as interpretações feitas pelo terapeuta foram categorizadas
do seguinte modo: 1) Interpretações T: mencionavam o comportamento do cliente que estava ocorrendo na sessão; 2) Interpretações DL: referiam-se ao comportamento que ocorria fora da sessão, na vida diária; 3) Interpretações P:
Capítulo 2
30
referentes ao comportamento do cliente que ocorreu em seu passado. A melhora do cliente se correlacionou com o número de interpretações T. Na perspectiva da FAP, a interpretação T significava que o terapeuta estava observando CRBs (ou seja, emitindo o mesmo comportamento especificado pela Regra 1). Quanto mais se prestar atenção no CRB> maior o progresso do cliente. Ao nosso ver, as melhoras decorreram das contingências fornecidas pelo terapeuta, que tendem a ocorrer naturalmente, já que ele estava observando o processo. A interpretação por si só, poderia ter contribuído para a melhora, mas, segundo a FAP, seria menos importante do que a contingência do terapeuta reforçar naturalmente as reações de melhora apresentadas na sessão. 4
,
Regra 2 : Evocar CRBs *
Em nossa opinião um relacionamento terapeuta-cliente ideal evoca CRB1 e cria condições para o desenvolvimento do CRB2.0 grau em que isto é alcançado depende é claro, da natureza dos problemas de vida diária do cliente. E possível que um terapeuta distante afastado, no estilo tela em branco" fosse a pessoa certa para alguns clientes. Uma dada medida de passividade poderia ,
,
"
,
oferecer ao cliente a chance de se desenvolver com independência (ver Capítulo 6 sobre o tratamento de problemas que afetam o "eu"). Em termos genéricos entretanto a maioria dos clientes precisa aprender a desenvolver relações de intimidade o que significa que o relacionamento terapêutico deveria evocar o comportamento do cliente que evita o estabelecimento da intimidade (CRB1). Se o cliente tiver habilidades de relacionamento adequadas para interagir com um terapeuta passivo e distante quase nada aprenderia em termos de intimidade. Por outro lado um terapeuta atívo e caloroso poderia evocar os problemas do ,
,
,
,
,
cliente e abrir espaço para progressos. Um cliente que deseja estabelecer relacionamentos de proximidade mas que teme o envolvimento, pode claramente se beneficiar com um terapeuta que expresse afetividade. ,
As descrições que clientes fazem sobre o que desejam em uma relação terapêutica apontam a importância de um relacionamento capaz de evocar certos comportamentos. Como certo cliente afirmou "Terapia é construir uma relação de amor. Se você conseguir superar seus bloqueios com uma certa pessoa conseguirá fazê-lo com outras Outro cliente expressou sentimentos similares: Se maus relacionamentos me bagunçaram então precisarei de bons relacionamentos que me ajudem a ficar curado E esta foi uma boa relação." ,
,
"
.
"
,
.
Aplicação Clínica da FAP
31
Peck (1978) opinou sobre o que torna a psicoterapia efetiva e bem sucedida:
É humano envolver-se e lutar
É desejo do terapeuta servir aos propósitos de
.
estimular o crescimento do cliente - vontade de sustentar-se pelas própria pernas
,
de envolver-se realmente num nível emocional de relacionamento; lutar de fato, com o paciente e consigo mesmo Em suma, o ingrediente essencial de uma terapia significativa e profunda é o amor (p. 173) ,
.
.
Greben (1981) que citamos no início do livro, pensou de modo similar ,
ao de Peck: í
/
Psicoterapia não é um conjunto de regras elaboradas sobre o que alguém não deve fazer: regras sobre quando ou o que falar sobre como tirar férias, lidar com ,
os momentos perdidos
,
etc. É algo muito mais simples que isso. É o encontro de
trabalho entre duas pessoas trabalho duro e honesto. Poderia afirmar que é uma jornada de amor. (p.455) ,
Nossa interpretação sobre os pontos de vista de Peck e Greben é que o cliente aprende a se envolver num relacionamento real. Um terapeuta que ama e se envolve plenamente com um cliente cria um ambiente terapêutico que evoca CRB1 s correspondentes.
Além da postura geral assumida pelo terapeuta há outras formas do ambiente ser estruturado para evocar CRBs. Embora não visem tal objetivo, técnicas específicas usadas por vários psicoterapeutas podem ser efetivas por evocarem o CRB. Alguns exemplos são: 1) Associação livre, que pode ser vista como a apresentação de uma tarefa não estruturada que impele à introspecção e evoca o CRB correspondente (ver Capítulo 6); 2) Hipnose, que pode evocar o CRB relacionado a renunciar ao controle; 3) Lições de casa: pode evocar CRBs relacionados a contra-controle ou a obediência excessiva; 4) Exercícios de imaginação: possibilitam evocar CRBs relacionados a estar sob restrição, emocionado ou em processo criativo. A reestruturação cognitiva, a técnica das cadeiras vazias, relatar sonhos e a terapia do grito primai certamente evocam CRBls apropriados para alguns clientes. O problema com estas técnicas é que o terapeuta que as utiliza pode estar tão sob controle de alter egos, de nossa sabedoria interior, do conteúdo inconsciente ou da distorção cognitiva, que o CRB não é identificado ou é visto como mero subproduto. ,
\
32
Capítulo 2
Outras abordagens incluem: 1) pedir que o cônjuge do cliente venha às sessões, se o repertório relevante, em termos do problema de relacionamento do cliente, somente emergir em sua presença (aconselhamento de casal); 2) iniciar a sessão de uma cliente bulímica com a atividade de almoço caso os CRBs só ocorram após as refeições; 3) restringir, por um tempo, os comentários que indicam que o cliente recebe a aceitação ou aprovação do terapeuta caso o ,
,
CRB se refira às dificuldades de se relacionar com quem não é explícito em termos de aprovação e aceitação.
O último exemplo levanta um problema que pode ocorrer quando um terapeuta deliberadamente altera um aspecto de seu comportamento para aumentar as chances de obter o CRB. O terapeuta pode ir longe demais ao dispor condições para evocar o CRB e sua credibilidade pode sofrer danos devido
à natureza de tal reforçamento arbitrário. Por exemplo: um terapeuta pode simular raiva para evocar o CRB num cliente cujas dificuldades são provocadas por pessoas que se enfurecem. Embora a raiva possa resultar numa interação terapêutica importante o cliente pode vir a reconhecer que a raiva não era real. Mas sim um comportamento fingido pelo terapeuta em benefício do cliente. No futuro, a expressão de raiva do terapeuta poderia justificadamente, ser interpretada como um estratagema o que impediria, é claro, a evocação do CRB. Além disso, o cliente poderá se tornar incapaz de confiar nas expressões ou verbalizações afetivas do terapeuta. Tal efeito é desnecessário afirmar, limitaria seriamente o progresso. ,
,
,
,
,
A situação descrita acima precisa ser diferenciada de outra na qual o problema do cliente é a falta de confiança que interfere em relacionamentos importantes. Tal desconfiança não se origina de interações com o terapeuta, como no exemplo citado mas possui uma longa história e sua ocorrência na relação terapêutica é coerente com sua história. Em tal caso duvidar da sinceridade das ,
,
reações do terapeuta constitui-se num CRB e deveria ser foco de tratamento
.
Seria particularmente lamentável se um terapeuta fortalecesse a falta de confiança ao conduzir indevidamente uma tentativa de estabelecer condições provocadoras do CRB. Uma salvaguarda seria o terapeuta explicar ao cliente as razões pelas quais iria, a partir daquele momento, alterar o seu comportamento. 4
Regra 3: Reforçar CRB2s
E difícil por a Regra 3 em prática Os únicos reforçadores naturais dis.
poníveis, na sessão, para o cliente adulto, são as ações e reações interpessoais
Aplicação Clínica da FAP
33
entre cliente e terapeuta. Por um lado o reforçador temporal e isicamente f
,
contíguo ao comportamento-alvo é o agente primário de mudança na situação terapêutica. Por outro lado os behavioristas, cientes da importância do reforçamento tendem a utilizar procedimentos arbitrários que comprometem a eficácia da intervenção. Como Ferster (1972a) afirmou os reforçadores naturais ,
,
"
,
são, às vezes, intrigantes porque parecem reforçar tanto o comportamento e ainda assim, seus efeitos parecem esvanecer quando se tenta usá-los ,
deliberadamente." (p. 105).
Há abordagens diretas e indiretas para se prover reforçamento natural As abordagens diretas consistem no que um terapeuta pode fazer na hora em que se requer um reforçador; entretanto, apresentam um maior risco de produzirem reforçamento arbitrário. As abordagens indiretas propiciam a ocorrência do reforçamento natural por meio da manipulação de outras variáveis diferentes do que se faz imediatamente após o comportamento com isco menor de parecer .
,
r
,
arbitrário.
Abordagens Diretas f
r
E evidente que o terapeuta que planeja dizer "muito bem" ou demonstra reações exageradas sempre que o cliente solicita reforçamento corre o isco de ser arbitrário. Esta é, provavelmente, a razão pela qual Wachtel (1977) afirmou que os comportamentais eram extremamente exuberantes no uso de elogios, o que vulgariza a relação. Tentativas deliberadas de recompensar um cliente adulto, guiadas pela regra quando o cliente demonstrar um progresso, faça um gesto positivo ou faça um elogio conduziriam facilmente ao reforçamento arbitrário. Portanto, como regra geral, é recomendável evitar procedimentos que especifiquem de antemão a reação do terapeuta, o que parece ocorrer sempre que tiramos um reforçador da cartola? sem relação alguma com a história específica de relação terapeuta-cliente. Por exemplo, se fossemos imaginar algo, com função reforçadora, para dizer a um cliente, viriam à nossa mente rases como muito bem ou "que ótimo!". Estas formas específicas de resposta poderiam facilmente ser arbitrárias porque foram criadas fora do contexto da relação cliente-terapeuta no qual ocorreria o reforçamento. "
"
4
"
"
,
f
i
"
"
Reforce uma classe ampla de respostas nos clientes. Aos clientes é mais naturalmente reforçador dispor, em seu repertório, de uma classe ampla de respostas porque ela tende a ser generalizável para outras situações. Examinemos 1
.
Capítulo 2
34
o caso de um homem, obsessivo-compulsivo, que está sendo encorajado pelo terapeuta a se soltar mais em seus relacionamentos com família e amigos. Ele gradualmente começa a chegar atrasado às sessões, tenta obter tempo extra ao final das mesmas e atrasa o pagamento das consultas. Uma reação estrita do terapeuta seria chamar o cliente às falas, ao passo que reforçaríamos uma classe de. respostas mais ampla se considerássemos os comportamentos menos responsáveis do cliente como manifestações de progresso (CRB2). 2
Compatibilize suas expectativas com os repertórios atuais dos clientes. Isto significa estar atento ao nível atual de habilidades do cliente em quaisquer áreas nas quais o cliente esteja tentando implementar mudanças (por exemplo comunicar-se melhor descrever sentimentos, controlar impulsos) sem estabelecer expectativas excessivamente elevadas. O conceito de modelagem pode auxiliar na identificação dos repertórios vigentes. Por exemplo o segundo autor atendeu uma cliente chamada Agnes, diagnosticada como borderline segundo o DSMHI-R que apresentava flutuações de humor, era explosiva e verbalmente abusiva. Frequentemente ela encerrava a terapia de modo abrupto sem aviso prévio nem provocação aparente. Tinha que enfrentar, em sua vida diária, estes mesmos problemas, o que a levou a passar por inúmeras e breves tentativas prévias de terapia porque os terapeutas a consideravam insuportável. Após um ano de .
,
,
,
,
,
,
,
terapia, no qual demonstrei rara capacidade de paciência e tolerância para com este comportamento Agnes novamente parou, ameaçou cometer suicídio, e ,
afirmou estar fazendo isto em função de eu não me importar com ela demeçstrado pela limitação do meu tempo reservado para ela. Embora pudesse ver este comportamento como a gota d'água que transbordaria o copo o conceito de modelagem me auxiliou a discriminar este evento como um CRB2 em potencial, e que deveria ser reforçado. Agnes estava de fato, pela primeira vez, descrevendo variáveis externas como causa de seus rompantes, antes de sair em disparada consultório afora. Reforcei sua melhora dizendo-lhe como eu poderia melhor preencher suas necessidades, e negociei com ela sobre a duração e requência das nossas sessões. Pela modelagem a raiva e o comportamento abusivo de Agnes reduziram-se gradualmente sendo substituídos por pedidos e descrições ,
,
f
,
,
,
diretas.
3
Amplifique seus sentimentos para torná-los mais salientes Por vezes ajuda adicionar algum comportamento verbal à reação básica frente ao cliente de modo a garantir ou aumentar a eficiência terapêutica. Embora a natureza do .
.
,
reforçador não se modifique fundamentalmente ao longo do processo
,
a
Aplicação Clínica da FAP
35
amplificação pode ser importante do ponto de vista terapêutico. Este cuidado se traduz no terapeuta sendo muito cuidadoso na explicação de suas reações ao cliente, bem como ao descrever eventos privados ou reações sutis que possam não ser discriminadas de imediato. A título de ilustração consideremos um cliente que se preocupa com a questão da intimidade e sente falta de amizades. Ao se comportar na sessão, ele produz no terapeuta reações espontâneas de natureza privada. Estas respostas podem incluir: 1) predisposições para agir de modo íntimo e carinhoso, e 2) respondentes privados que correspondem a sentirse próximo Como estes comportamentos não são discriminados pelo cliente ou possuem pouco valor reforçador o terapeuta poderia descrever alguma reação interna e dizer: "Eu me sinto particularmente próximo de você agora". Sem a amplificação, tais reações básicas importantes exerceriam pouco ou nenhum efeito reforçador sobre o comportamento do cliente que as causou. ,
,
"
"
.
,
,
Esteja ciente de que seu relacionamento com o cliente existe para o beneficio deste. Quaisquer intervenções que estejam em andamento, é importante que o terapeuta sempre se interrogue sobre o que é melhor para o cliente naquele momento e a longo prazo. Para ilustrar este princípio, vamos examinar a relação entre o conceito de reforçamento natural e o tipo de terapia proposto por Carl Rogers. Embora Rogers estivesse vinculado a uma abordagem muito diferente da FAP, as características do terapeuta naturalmente reforçador lembram, em diversos aspectos, a postura cuidadosa e genuína de Rogers. Conhecido por sua oposição ao uso do reforçamento como forma de controle sobre as outras 4
.
"
"
pessoas, Rogers certamente não tentaria fazê-lo. Mas uma análise cuidadosa de suas reações aos clientes indica que há contingências (Truax, 1966), pois Rogers reagia diferencialmente a certas classes de comportamento do cliente. Deste modo, ele produzia um padrão de reforçamento.
Ao nosso ver, a atenção de Rogers provavelmente manifestava-se como
um interesse, preocupação, sofrimento ou envolvimento, que terminavam, naturalmente, punindo CRB1 s e reforçando CRB2s e CRB3s. Deste modo, sugerimos que a proposição rogeriana é um método indireto de fortalecer a ocorrência de contingências naturalmente reforçadoras. Um terapeuta que dá atenção, conforme a formulação aqui apresentada, é alguém naturalmente reforçador, ou governado pelo que é melhor para o cliente. Na medida em que na relação terapêutica há um desequilíbrio de poder,
é especialmente importante obedecer a esta diretriz, Do contrário, os clientes poderiam ser facilmente abusados e feridos. Clientes que se envolvem sexualmente
Capítulo 2
36
com seus terapeutas são um destes casos. Peck (1978) discutiu muito bem porque é difícil conceber que um cliente se beneficie do relacionamento sexual com o terapeuta: Caso eu tivesse um caso sobre o qual concluísse, após cuidadoso e sistemático exame, que o crescimento espiritual do meu paciente seria substancialmente beneficiado pelo nosso relacionamento sexual, eu aceitaria a idéia. No entanto, em quinze anos de atividade profissional, nunca encontrei um caso assim, e acho difícil imaginar que isto sequer seja possível. Antes de mais nada, o papel de um bom terapeuta é ser um bom pai, e pais não se relacionam sexualmente com os filhos por uma série de razões, todas bastante fortes. A tarefa de um pai é estar a serviço da criança, e não usá-la para sua satisfação pessoal. Cabe ao terapeuta servir ao cliente, sem fazer uso dele para preencher suas necessidades. A tarefa
paterna é encorajar a criança em direção à independência, e o terapeuta deve .
seguir este exemplo. É difícil entender que um terapeuta que se relacione sexualmente com um cliente não o fizesse por razões pessoais ou que estivesse, por meio de tal atitude, promovendo a independência do cliente, (p. 176) ,
5
Se usar reforçadores atípicos, faça~o somente por tempo limitado, como forma de transição. Ocasionalmente um terapeuta pode desejar utilizar reforçadores atípicos em uma fase de transição do tratamento até que os reforçadores naturais assumam o controle. Mas esta atitude requer grande cautela. Além disso, recomenda-se contar ao cliente porque isto está sendo feito e que depois haverá substituição pelo reforçamento natural. Ferster (1972b) afirmou que alguns dos usos bem sucedidos de reforçadores atípicos como alimento ou elogios devam-se à forma como eles tornam o comportamento do cliente mais visível ao terapeuta e ao próprio cliente." Uma vez que tal consciência se estabelece, reações do terapeuta naturalmente reforçadoras despertariam, no cliente, repertórios relevantes que acompanham os reforçadores arbitrários. Vejamos o caso de um cliente que apresentava altas taxas de faltas no trabalho e na terapia. Obviamente, sem contato é difícil desenvolver a aliança terapêutica. Surpresas sob a forma de recompensas materiais de baixo valor como material de papelaria, ou brinquedos podem ser oferecidas como indução da presença regular às consultas. Na medida em que se desenvolvem novos repertórios que tornam a terapia em si suficientemente reforçadora estas recompensas podem .
,
,
,
"
,
,
ser retiradas gradualmente. t
6
radical
,
.
Evite a punição. Em conformidade com a proposição do behaviorismo que se opõe ao uso da punição, até agora se enfatizou o reforçamento
,
Aplicação Clínica da FAP
37
positivo. Os estímulos aversivos somente deveriam ser usados quando procedimentos que envolvam o reforçamento positivo se mostrarem ineficazes. A oposição ao uso terapêutico de estímulos aversivos baseia-se em seus
problemáticos efeitos colaterais: 1) pode gerar esquiva da terapia, 2) propicia a agressividade em geral 3) o comportamento produtivo acaba substituído por fuga e esquiva. Ferster apontou que a maior parte do controle aversivo que ,
ocorre entre pessoas é na sua essência, arbitrário. Portanto, faz sentido evitar, sempre que possível o uso de controle aversivo no tratamento de adultos atendidos ,
,
em nossos consultórios. Há casos
entretanto, nos quais os CRBls do cliente consistem em comportamento de fuga e esquiva o que impossibilita a oòorrência de CRB2s, ou seja, o desenvolvimento de repertórios mais efetivos Nestas situações, o terapeuta pode tentar bloquear a esquiva reapresentando ao cliente o estímulo discriminativo que originalmente evocou a fuga ou esquiva Consideremos, por ,
,
.
.
exemplo, uma simples questão feita pelo terapeuta: "Como foram os exercícios de relaxamento durante a semana?"
num contexto no qual o cliente concordara com a tarefa. Para alguns a pergunta seria um estímulo aversivo, que evocaria fuga ou esquiva do cliente seja mudando o assunto, mentindo ou respondendo de modo ambíguo. ,
,
,
Estas reaçÕes (por exemplo fornecendo uma resposta indireta) poderiam se relacionar com uma série de problemas do cliente em termos de relacionamentos ,
interpessoais. Se o terapeuta muda de tópico e "parte para outra" haveria ,
reforçamento da esquiva CRB1 sem que se possibilite o desenvolvimento de um repertório significativo do cliente pleno de implicações, relacionado a ser ,
"
,
direto". Portanto
a técnica principal para enfraquecer a esquiva seria introduzir, novamente, o estímulo aversivo, o que, no caso acima equivale a repetir a pergunta sobre o cumprimento dos exercícios de relaxamento. ,
,
f
Nossa impressão é que CRBls de esquiva ocorrem requentemente na terapia, talvez em toda sessão. O terapeuta pode sempre se interrogar - "O que esta resposta consegue~évitar? E difícil detectar a esquiva porque a situação "
aversiva pode ser extremamente idiossincrática dificultando que o terapeuta ,
consiga perceber o que ocorre. No exempla anterior, o cliente poderia começar a sessão já se referindo a uma crise, antes mesmo que o terapeuta lhe pergunte sobre o relaxamento. A crise pode ou não, ser esquiva do conversar sobre a ,
lição de casa. A não ser que o terapeuta tenha formulado hipóteses a respeito dos CRB1 s referentes à tarefa
a crise seria uma esquiva bem sucedida. O conceito de esquiva, do ponto de vista funcional requentemente tem pouco a ver com o ,
f
,
Capítulo 2
38
cliente estar consciente do que ocorre e é, basicamente, um comportamento modelado pelas contingências. Conforme salientou-se antes, o efeito de qualquer contingência pode ser o fortalecimento ou enfraquecimento de um comportamento, e não teria a ver com a capacidade do cliente estar ciente da contingência em vigor (ver capítulo 5 para uma discussão sobre consciência e comportamento modelado pela contingência). Não se recomenda bloquear todas as respostas de fuga e esquiva porque o bloqueio funciona como controle aversivo e isto acarreta todos os efeitos indesejáveis a ele associados. De modo correspondente, deveria ser aplicado com moderação no contexto de um ambiente primordialmente baseado em reforçamento positivo e estar de acordo com o nível atual de tolerância do cliente
aos estímulos aversivos. A tolerância se refere a uma reação diminuíàa e ao efeito desorganizados da estimulação aversiva. O reforçamento positivo resultante do novo comportamento que se desenvolve após a aversividade inicial gerada pelo bloqueio da esquiva, acaba por facilitar o aumento da tolerância. Um repertório verbal que corresponda às variáveis de controle envolvidas na esquiva (Regra 5) também pode auxiliar no aumento da tolerância. Um exemplo seria: Vou lhe perguntar novamente sobre o relaxamento porque você não respondeu. Faço isto porque acho que sua ausência de resposta é como quando sua esposa lhe pergunta sobre seu dia e vocês terminam com sentimentos de irritação. Esta "
talvez seja uma oportunidade para fazermos algo a respeito do problema." 7
Seja você mesmo na medida do possível, considerando as restrições impostas pelo relacionamento terapêutico. O terapeuta enquanto membro da comunidade verbal, tem acesso a reforçadores naturais contingentes a um comportamento específico que ocorre na sessão. Para ter acesso a estes .
,
,
reforçadores naturais, o terapeuta pode observar as reações espontâneas privadas que ocorrem logo após o comportamento do cliente. Tecnicamente, a reação privada não éper se reforçadora, mas vem acompanhada por disposições para agir publicamente de formas que são naturalmente reforçadoras. Outro método é perguntar a si mesmo "Como a comunidade responderia a este comportamento?" Nenhuma das alternativas garante que o reforçador obtido seja natural e, tampouco, terapêutico mas é um ponto de partida. Três fatores deveriam ser levados em conta para determinar se as reações privadas do terapeuta são ,
provavelmente reforçadoras: 1) o repertório atual do cliente; 2) o que é melhor para o cliente; 3) o repertório que deverá ser desenvolvido no cliente.
Aplicação Clínica da FAP
39
Abordagens indiretas
Até aqui discutimos abordagens diretas que propiciem o reforçamento natural do comportamento apresentado pelo cliente na sessão Como se apontou anteriormente há iscos envolvidos no uso da abordagem direta. Ou seja, pode ser arbitrário o terapeuta seguir uma regra sobre o que fazer na hora de reforçar ,
r
.
,
visto que a regra não faz parte do processo quando o reforçamento ocorre no ambiente natural. Por exemplo um bom pai geralmente age em função do que é benéfico para a criança sem que tenha que seguir uma regra, ou estar consciente a respeito do que fazer. As abordagens indiretas por outro lado, buscam auxiliar a manipulação, no ambiente natural de variáveis diferentes daquilo que se faz imediatamente após a detecção do CRB. Por exemplo terapeutas evitam estar ,
,
,
,
,
famintos ou exaustos durante o trabalho alimentam-se e buscam estar ,
descansados ao início de suas sessões. Isto pode ser entendido como uma forma indireta de tornar mais provável que o terapeuta reforce naturalmente os progressos do cliente. Ou seja, os cuidados do terapeuta com seu bem estar físico podem torná-lo mais atento paciente, compreensivo e, portanto, ,
naturalmente reforçador. l
.
Ampliar a percepção do que reforçar. É importante lembrar que as
mudanças podem assumir diferentes formas e ocorrem em ritmos distintos. Melhorar nossa percepção do que reforçar é o comportamento enunciado pela Regra 1 e, dentre os métodos indiretos é o mais importante. Há mais chance das reações espontâneas do terapeuta serem naturalmente reforçadoras se o comportamento do cliente for entendido como um progresso clínico. t
,
2 Avalie o seu impacto. A idéia geral é rever detalhadamente as interações .
terapêuticas. Registrar as sessões em áudio e vídeo, ou dispor de pessoas qualificadas para observarem a sessão (como ocorre nas clínicas-escola) poderia auxiliar o processo. Estt feedback favorece o aperfeiçoamento das reações do terapeuta (Regra 4). .
Pratique boas açoes, que propiciem benefícios às pessoas em geral. Outra proposta é o terapeuta se engajar em comportamentos cujo único reforçador disponível (para o comportamento do terapeuta) fosse beneficiar terceiros. Sugcre-sc, por exemplo, aumentar o número dc boasaçoes cm prol dc estranhos, engajar-se em trabalho voluntário, auxiliar pessoas economicamente desfavorecidas, com fome, entre outras. Faça-o frequentemente; se possível, todo dia. Espera-se, deste modo, fortalecer repertórios que beneficiem terceiros, o que 3
.
Capítulo 2
40
caracteriza um dos aspectos do reforçamento natural. Se o repertório fortalecido for transferido para a sessão, pode aumentar a disponibilidade do reforçamento natural, favorecendo a qualidade da terapia. 4
.
Selecione clientes apropriados à FAP. Na medida em que a FAP requer
que o reforçamento natural disponível na situação terapêutica seja relevante aos
comportamentos do cliente relacionados ao problema, a seleção de clientes que provavelmente; a) tenham problemas que ocorram durante a sessão, e b) sejam afetados pelas reações do terapeuta, seria uma quarta abordagem que de modo indireto, propicia a ocorrência do reforçamento natural. ,
Regra 4: Observe os efeitos potencialmente reforçadores do comportamento do terapeuta em relação aos CRBs do cliente
. .
i
v
i
A Regra 4 deriva-se diretamente de princípios analítico-comportamentais que enfatizam a importância dos efeitos das consequências do comportamento sobre sua futura probabilidade de ocorrência. Embora uma mudança no comportamento do terapeuta possa ser um subproduto do seguimento dessa regra, ela, em si especifica somente que o terapeuta observe o relacionamento reforçador durante a sessão e não sugere ao terapeuta que intencionalmente modifique seu próprio comportamento. Observar a relação reforçadora pode apresentar efeitos importantes sobre os resultados da terapia. Por exemplo se o terapeuta observar que suas reações parecem punir o comportamento desejável do cliente mas que ocorrem com baixa frequência isso pode levar a mudanças no comportamento do terapeuta que se tornará positivamente reforçador. Entretanto é também possível que o terapeuta continue a punir o comportamento favorável mesmo após identificar a natureza antiterapêutica da punição. Neste caso, o desenlace seria uma decisão de encaminhar o cliente a outro terapeuta ou o próprio terapeuta se submeteria à terapia visando modificar estes ,
,
,
,
,
comportamentos específicos.
A observação do terapeuta dos efeitos reforçadores de suas reações sobre o comportamento do cliente pode favorecer o seguimento da Regra 5 e o desenvolvimento de comportamentos similares no cliente - CRB3
.
0 modo mais
óbvio pelo qual isto ocorreria seria o terapeuta informar ao cliente sobre a auto"
observação: Notei que cada vez que você começou a falar sobre suas crenças
espirituais eu mudei de assunto e você não mais o trouxe à tona
" .
Deste modo,
o terapeuta fornece um modelo ao estabelecer uma relação funcional para o cliente.
Aplicação Clínica da FAP
41
A Regra 4 pode também levar o terapeuta em busca de maneiras de
fortalecer os efeitos de reações que seriam reforçadoras para o CRB mas que não são percebidas pelo cliente. Por exemplo imagine um cliente do sexo masculino com dificuldades de expressão de sentimentos em função de uma história de ter sido idicularizado ou criticado quando o fazia Estes comportamentos não aumentaram de frequência a despeito do terapeuta ouvir atentamente com expressões faciais de empatia e tecer comentários ditos com voz suave, em cada ocasião na qual o cliente expressou um sentimento. Quando inquirido a respeito descobriu-se que as reações do terapeuta não eram discernidas pelo cliente porque o ato de expressão dos sentimentos evocava emoções tão intensas (respondentes internos colaterais) que a estimulação externa não era percebida. Após o terapeuta ampliar a reação empática falando com voz clara e alta, ocorreu um aumento da taxa de comportamentos de expressar ,
r
.
,
,
,
sentimento do cliente.
É recomendável evitar o início do tratamento, se parecer provável que as contingências naturais não favoreçam a melhora de um cliente específico. Isto se aplica quando a Regra 4 leva o terapeuta a concluir que a maioria das reações frente ao cliente serão punitivas e que essas reações negativas não se relacionam com o problema do cliente, tal como As pessoas reagem negativamente frente à minha pessoa O terapeuta pode reconhecer que não "
"
.
gosta do cliente por razões que provavelmente não se modificarão em breve (por exemplo, o cliente desperta no terapeuta as lembranças de um pai adotivo cruel ou um cônjuge que fugiu com o/a amante na semana anterior).
Regra 5: Forneça interpretações de variáveis que afetam o comportamento do cliente
Nossa hipótese é que as interpretações comportamentais especificadas pela Regra 5 irão auxiliar na produção de regras mais efetivas (Zettle & Hayes, 1982) e aumentar o contato com as variáveis de controle. Esses aspectos são discutidos com maiores detalhes mais tarde.
Ao se perguntar: "Porque você fez aquilo?", respondemos com um motivo ou interpretação. Em geral, a razão inclui uma descrição do que fizemos (ou pensamos, sentimos, ouvimos) e uma afirmação acerca das causas. O que fizemos e dissemos a respeito depende, é claro, de nossas histórias pessoais. Do mesmo modo, as observações e interpretações do comportamento feitas pelo terapeuta
.
Capítulo 2
42
são em função de uma história, o que inclui sua experiência clínica e formação teórica. Entretanto, independente de quem o faça, um motivo é apenas uma unidade de comportamento verbal, uma sequência de palavras. De todo modo, cada terapia parece incluir ensinar ao cliente a atribuição de motivos que, aos olhos do terapeuta, sejam aceitáveis. Especificamente, o terapeuta cognitivista ensina os clientes a explicarem seus problemas e progressos à luz de suas crenças ou supostos, enquanto que o terapeuta da FAP espera que os motivos se reportem à história de reforçamento e variáveis de controle atuais. O cliente da psicanálise, por outro lado, deve atribuir razões em termos de conflitos infantis e memórias reprimidas. A disseminação da atribuição causal em psicoterapia é ilustrada pela descrição que Woolfolk e Messer (1988) fazem da psicanálise: um processo no qual o cliente relata o que ocorreu e fornece explicações que serão interpretadas pelo analista, acompanhadas por uma explicação diferente. A análise está completa quando as razoes tanto do cliente quanto do analista confluírem para o mesmo ponto. ,
Enquanto terapeutas, esperamos que as razões que fornecemos aos nossos clientes os auxiliem em seus problemas da vida diária. Dependendo da razão fornecida e da história do cliente é possível, entretanto, não surtir efeito algum, ou mesmo se configurar em um obstáculo para o cliente. Ao nosso ver, há dois modos pelos quais a atribuição de motivos pode afetar o cliente. ,
,
Primeiro, a razão pode conduzir a uma prescrição instrução ou regra. A interpretação "Você está agindo com sua esposa do mesmo modo como o fez com relação à sua mãe pode facilmente ser compreendida como uma prescrição ou regra que o cliente entende como Não seja injusto com sua esposa; procure tratá-la de outro modo já que obviamente, ela não é sua mãe. E se você a tratar bem seu relacionamento conjugal vai melhorar." Se a regra ou instrução irá de fato ter alguma valia, dependerá do quão precisa é sua correspondência com o ambiente natural. Por exemplo imaginemos duas razões que podem ser dadas por uma menina que pegou um biscoito quando não deveria fazê-lo. Uma razão poderia ser O demónio me obrigou a fazer." Esta razão não corresponde às condições ambientais que controlaram seu comportamento. Por outro lado afirmar Peguei o biscoito porque não comia nenhum há mais de uma semana." corresponde aos eventos ambientais e sugere possíveis intervenções que poderiam influenciar o roubo de biscoitos (por exemplo autorizá-la a comer biscoitos mais requentemente). ,
"
,
"
,
,
,
"
,
"
f
,
Em segundo lugar uma razão pode ampliar o contato com as variáveis ,
de controle e aumentar a densidade do reforçamento positivo e negativo (Ferster
*
Aplicação Clínica da FAP
43
1979). Uma analogia com a pesquisa animal pode ilustrar esse princípio Ratos foram colocados por um certo período de tempo em duas caixas experimentais diferentes nas quais recebiam choques inescapáveis Em uma das caixas choques .
.
,
não contingentes foram ministrados em intervalos aleatórios
.
Na outra caixa o ,
mesmo número de choques não contingentes foram ministrados mas cada choque foi antecedido por uma luz de aviso Quando lhes era dada a possibilidade de ,
.
escolher, os ratos invariavelmente preferiam a condição sinalizada
.
O mesmo
dado foi obtido com alimento sinalizado e não sinalizado As escolhas dos ratos .
indicaram que um sinal auxiliou a melhorar sua experiência Do mesmo modo uma interpretação poderia sinalizar eventos para os humanos .
,
.
Por exemplo uma cliente aprende durante a FAP que a razão pela qual ,
sente-se, às vezes, rejeitada durante a sessão é função da atenção do terapeuta e mais, que esta atenção se relaciona com o quão perturbado ou com pressa o terapeuta pareça estar no início da sessão. Tal interpretação poderia aumentar a chance da cliente observar o humor do terapeuta no início da sessão e afetar
f
significativamente a sua experiência rente a um lapso de atenção por parte do terapeuta. Disso resulta que a cliente estabelece um melhor contato (ela observa
quão perturbado está o terapeuta) e experiencia a desatenção do terapeuta como sendo menos aversiva.
f
Especiicações de Relações Funcionais
O repertório verbal a ser desenvolvido por terapeutas envolve afirmações que relacionam eventos durante a sessão por meio de símbolos como SdR-> Sr. Isto representa um comportamento operante no qual 1) o Sd é o estímulo discriminativo ou a situação antecedente cuja influência sobre a ocorrência de R varia com a história de reforçamento; 2) o R é a resposta ou comportamento operante influenciado pelo Sd; e3)Sréo reforçamento ou efeito da resposta no ambiente.
Por exemplo, "Quando lhe perguntei como você se sentiu a meu respeito (o Sd), você me respondeu falando sobre sua experiência na prisão (a R), que é um tópico no qual você sabe que eu tenho interesse. Eu recompensei sua esquiva discutindo sobre a prisão e não sobre seus sentimentos a meu respeito (o Sr)." Em geral, é preferível utilizar a linguagem cotidiana, mas pode-se discutir a conveniência de ensinar ao cliente a linguagem comportamental. Contudo, afirmações parciais de relações funcionais são melhores do que omiti-las (por
Capítulo 2
44
"
t
exemplo, Sempre que lhe pergunto sobre seus sentimentos em relação a mim [jSf], você muda de assunto [RJ,).
Os repertórios da Regra 5 que correspondem ao comportamento que ocorre na sessão são preferidos, se comparados àqueles correspondentes a eventos que ocorrem em outro lugar. Ainda melhores são os repertórios verbais que relacionam variáveis de controle que ocorrem fora da sessão àquelas que ocorrem na sessão, pelo fato de propiciarem a generalização. No caso a seguir ilustraremos o uso da Regra 5. Andi, uma lésbica
negra, na faixa dos vinte anos, buscou terapia com o segundo autor porque desejava "modificar padrões antigos que me impedem de aproximar-me das "
pessoas. De início, ela tinha dificuldade de falar sobre seus sentimentos e de
demonstrar qualquer tipo de afeto na terapia e descrevia ter comportamento similar em outros locais. Com cerca de seis meses de tratamento, no intervalo entre uma sessão e outra, Andi espontaneamente começou a me escrever lembretes com uma expressão mais afetiva. Considerando a escassez de expressão de Andi nas sessões, fiquei encantada, li e respondi as anotações, as quais aumentaram em frequência e tamanho. Estava ciente (Regra 1) da possibilidade de que as anotações fossem um passo na direção certa, em termos do
desenvolvimento dè relações de intimidade (CRB2) e sabia que o conteúdo das anotações incluía descrições de variáveis de controle (CRB3).
Após um ano de terapia ela escreveu: "Estou apavorada pela dependência que estou sentindo. Não imagino você fora da minha vida. Uma coisa é tornarme dependente da terapia, mas pior é depender de uma pessoa específica, a terapeuta. E mais, terapeutas existem em todos os lugares, mas não há muitas terapeutas feministas nascidas no Terceiro Mundo, situadas politicamente à esquerda do liberalismo, que compreendem a comunidade lésbica e que gostam da maneira como escrevo." \
O diálogo abaixo ocorreu na sessão seguinte: i
T: É tudo verdade, mas você deixou de lado o fato de que nosso relacionamento é especial e único e que eu realmente me importo com você. (Eu sabia que este é um estímulo discriminativo [5c/] para o tipo de comportamento de intimidade ausente em Andi [CRB2] e que evoca a esquiva bem como as dificuldades na manutenção de relacionamentos de intimidade [CRB1]).
C: Muitas pessoas se importam comigo, mas aquelas características a diferenciam. (Andi respondeu de uma maneira que me desconsiderou; eu provavelmente estava
Aplicação Clínica da FAP
45
na posição que outras pessoas candidatas ao relacionamento íntimo estiveram
,
quando expressaram se importarem com Andi - um CRB1). T: Eu me sinto diminuída quando você afirma isso.
Andi estava visivelmente chateada com esta reação. Descrevi então aspectos importantes da relação funcional "Andi, quando disse que realmente me importava com você e quis reiterar meus sentimentos, você reagiu de uma maneira impessoal. Esta reação puniu meu comportamento de lhe contar o quanto me importo com você e fez com que eu sentisse que meus sentimentos não eram relevantes. Acho que sei porque você reagiu deste modo você não quer que eu cultive meus cuidados e sentimentos positivos com relação a você." ,
Andi discorreu sobre este tema e descreveu como, em geral, lhe era difícil escutar mensagens carinhosas, de elogio ou sintonizadas com seus sentimentos - um padrão que interfere na aproximação de pessoas.
Ênfase nos processos comportamentais
Como uma estratégia geral, o terapeuta reinterpreta as afirmações do cliente em termos de relações funcionais, uma história de aprendizagem e comportamento. Tais interpretações comportamentais enfatizam a história e reduzem a importância de entidades mentalistas e não-comportamentais. Isto é
importante para o cliente porque dirige sua atenção aos fatores que acabam gerando as intervenções terapêuticas.
Por exemplo, Angela, em tratamento com o primeiro autor, não confiava em si mesma, possuía baixa auto-estima, sentia-se insegura nos relacionamentos e com dificuldade para pedir aos outros o que desejava deles.
C: Eu sinto que eu não tenho direito de existir. É como se eu não devesse viver, comigo tudo dá problema. Eu acho que fui covarde como um rato. Quando aprendi a dirigir eu congelava na minha vez de atravessar um cruzamento. Eu achava que eu nunca tinha o direito de me meter entre os carros. Isto ainda me é um pouco
traumático, embora eu já tenha melhorado um pouco. De qualquer modo, tudo isso já me indica que alguma coisa está errada. Mas e agora? [pausa longa] (A maior parte destas descrições, especialmente a da encruzilhada, poderia indicar
Capítulo 2
46
como Angela se sente agora, ao se relacionar comigo. Ver o Capítulo 3 sobre análise do comportamento verbal do cliente.) T: Eu não sei. Eu posso te apresentar meus pensamentos ou você poderia escolher um rumo a seguir. (Estou possibilitando amplificar minhas reações privadas.) C: Ah! Mas eu não tenho um rumo.
T: Você quer que eu te conte quais são meus pensamentos?
C: Ou você poderia escolher um rumo. (A expressão facial e o tom de voz indicam que ela não quer saber de meus pensamentos.)
T: É verdade, eu poderia escolher um rumo. Me parece que a idéia de lhe contar quais são meus pensamentos não lhe atrai. Acho que você não gosta dessa idéia. Você poderia me falar mais a respeito? (A esquiva de Angela de ouvir meus pensamentos é um CRB1 porque relaciona-se às dificuldades que possui para manter relações de proximidade.) C: Bom
,
acho que é um tipo de... acho que não... acho que não é meu jeito. Sabe de f
f
uma coisa? Eu acho que eu ico dando voltas ao redor mas meio que não ico... T: ...pessoal?
f
C: (acenando com a cabeça) Hu-hum. Eu meio que escolho icar na superfície.
T: Veio alguma coisa agora na tua cabeça quando eu falei que podia te contar os meus pensamentos? Alguma idéia despertou na tua mente?
C: Foi uma coisa meio idiota. Eu penso como se fosse um desses pontos meio que perigosos, sabe como é? Eu simplesmente recuo. Eu acho que não é uma boa idéia. Quer dizer, às vezes é uma boa idéia, eu acho, mas nem sempre. Talvez algumas vezes. Acho que eu não quero responder à tua pergunta. (Uma descrição de um Sd aversivo e um CRB de esquiva da intimidade da confiança, do escutar o desejo ,
dos outros.) T: Hu-hum. Ok
então eu quero te contar os meus pensamentos. Quando você disse que não tinha direito de existir, eu me lembrei do quanto sua mãe icou chateada quando você caiu no riacho porque isto a incomodava. Este foi mais um exemplo de como ela te ensinou a não ter o direito de existir de causar qualquer transtorno a alguém. (Uma interpretação baseada na história de aprendizagem e a definição de "não ter o direito de existir" em termos de não se engajar em comportamentos f
,
,
que causassem problemas aos outros.)
f
T: Nós nos confrontamos aqui quando você não queria de forma alguma que eu icasse em apuros ou que eu saísse do meu rumo para caminhar em direção ao seu ou ainda, que eu de alguma forma, me acomodasse a você. Isto é parecido com a encruzilhada. Você não quer que os outros tenham que esperar Se eles quiserem ,
,
.
Aplicação Clínica da FAP
47
seguir, não deveriam ser impedidos de fazê-lo. (Estou fazendo um paralelo entre a vida diária e a relação cliente-terapeuta apontando a contingência de evitar causar problemas.) T: Então
este é um tipo de idéia sobre como eu acho que você funciona. E uma outra coisa que eu pensei é o quanto parece que eu sou importante para você você me tem em alta conta. De fato acho você maravilhosa e mesmo quando eu me permito contar isto minhas palavras não parecem ter algum impacto sobre você. Eu acho que você não querer conhecer meus pensamentos tem algo a ver com isto. De ,
,
,
,
alguma maneira você não entra em contato com isto. É teu jeito de ser. Bom
,
isto
é o que eu penso. (Deste modo teve início uma ampliação do comportamento privado e se introduziu na sessão uma situação de vida diária na qual recebe
feedback positivo e o carinho dos outros sem ser muito influenciada por isto. É também uma tentativa de redefinir o problema em termos comportamentais um comportamento de esquiva difícil de descrever. A interpretação pode ser vista ,
"
como uma regra encoberta: não faz sentido você reagir frente a mim como o fez em relação à sua mãe ) "
.
C: Tá bom, considerando que eu deveria acreditar em você e não na minha mãe
,
eu
não sei como fazer isto. (Seria apropriado fornecer aqui uma interpretação comportamental de sua experiência de não saber como fazer isto que corresponde à diferença entre comportamento modelado pela contingência e comportamento governado por regra, tal como é discutido no Capítulo 5. A interpretação enfatizaria que o problema não é como acreditar em mim mas sim a emissão e o reforçamento do novo comportamento de ser assertiva e causar algum problema.) "
"
,
EXEMPLO DE CASO CLINICO 0
Gary buscou terapia com o primeiro autor devido a uma história de relacionamentos pessoais que começavam bem mas tornavam-se, algum tempo depois, superficiais e pouco satisfatórios, terminando em função dos sentimentos ruins que surgiam. Além disso, ele apresentava, há um longo tempo, uma depressão que flutuava em função da qualidade dos relacionamentos interpessoais do momento. Âtualmente ele estava envolvido num relacionamento importante com uma mulher, o qual parecia seguir o trágico destino dos relacionamentos "
"
anteriores.
Gary parecia afetivo e cativante, não aparentando qualquer dificuldade para se relacionar comigo nos estágios iniciais da terapia. De início, coletou-se
Capítulo 2
48
a história e o tratamento incluiu intervenções diretivas tais como: terapia racional-
emotiva, ensaio comportamental e terapia conjugal. O contrato inicial de 10 sessões foi ampliado para 20, ao longo de um período de nove meses. Nesta primeira fase da terapia, as discussões sobre o problema de Gary centravam-se no comportamento atual ou remotamente distante ocorrido fora da sessão. Identificou-se que seu problema teve origem nos primórdios da infância. Tais discussões lhe auxiliaram a alinhavar um repertório verbal razoavelmente
plausível, correspondente à relação entre sua história de vida e as variáveis de controle atuais que afetavam seu problema clínico. Deste modo, ao término de 20 sessões, Gary aprendeu que seus
f
relacionamentos pareciam azedar quando icava chateado ou irritado com sua parceira, sem discutir suas preocupações com ela. Ele se tornava
f
f
f
progressivamente mais deprimido, a-parceira reciprocamente retribuía com depressão ou raiva e, por im, ocorria o rompimento. No início do tratamento, Gary concordou em expressar seus sentimentos negativos para sua namorada. Ele concordou porque sentiu que, se não o izesse, incidiria numa falta de abertura, a qual fomentaria sentimentos ruins e uma óbvia deterioração do relacionamento. Embora Gary estivesse consciente do problema e tivesse se submetido à terapia cognitiva, ao ensaio comportamental e à terapia de casais, todas com o objetivo de tentar resolver o problema, mesmo assim ele não conseguiu expressar adequadamente os sentimentos negativos e o relacionamento chegou ao im tal como os anteriores.
A cada sessão subsequente ao rompimento, Gary parecia mais reticente e deprimido. Perguntado sobre sua crescente depressão, Gary afirmou que ela devia-se ao luto pelo relacionamento perdido e sua inadequação pessoal. Eu também observei que, nas sessões, houve piora na gravidade da depressão e, por isso, focalizei o tratamento em seu estado depressivo, nos pensamentos
próprios negativos e na desesperança de viver um relacionamento bem sucedido. Com a aplicação da Regra 1, hipotetizei que os problemas de Gary se manifestavam na sessão. Ao perguntar ao cliente se estava bravo comigo ou se havia qualquer sentimento negativo, ele negava e afirmava que seu estado reticente e a depressão não tinham nada a ver comigo. Embora não estivesse completamente convencido, abandonei temporariamente o tema da relação terapêutica e me centrei na terapia comportamental para depressão. Entretanto, o meu desconforto foi aumentando progressivamente durante as sessões e encontrei dificuldades para dar seguimento à interação. Da parte de Gary, ele parecia estar se tornando mais deprimido ainda. Quando sugeri que Gary fosse a um médico para se
Aplicação Clínica da FAP
49
avaliar a possibilidade de medicação anti-depressiva ele explodiu num discurso ,
raivoso dizendo que os médicos nunca sabiam o que estavam fazendo e que causavam mais malefícios do que benefícios.
Hipotetizando que os comentários de Gary sobre os médicos foram estimulados por sua reação a mim, (ver Capítulo 3 Causas Múltiplas), teci a seguinte interpretação comportamental (Regra 5): ,
que está acontecendo agora - o seu problema, quero dizer. Nossa relação começou de maneira legal muito descontraída e aberta. Você não tinha dificuldade em me contar sobre seus sentimentos e problemas e eu esperava ansiosamente por nossas sessões. A forma como nossa terapia começou, se assemelha à forma como a maioria de seus relacionamentos passados começaram Então, as coisas foram se tornando ruins. Você não conseguia expressar em voz alta para Joyce os seus sentimentos negativos, apesar de termos tentado várias abordagens terapêuticas. O seu relacionamento terminou. Você foi ficando deprimido e menos aberto em nossas sessões. Isto foi piorando gradualmente até o ponto atual -
T: Parece
,
,
.
você tem muito pouco a dizer e eu estou achando as sessões frustrantes eu não sei o que fazer para ajudar.
,
porque
r
C: E similar ao que aconteceu no passado e eu ando pensando em terminar. (Urna evidência adicional de que está acontecendo um CRB1.)
f
T: Então nosso relacionamento está mesmo destinado ao passo final que parece ter ocorrido tão requentemente no passado. Ele chega ao fim deixando um sabor amargo. (Para uma comparação entre comportamento intra-sessão e na vida diária, ver Capítulo 3.)
C: Eu me sinto deprimido e mal com isto tudo. É o que sempre acontece e eu me frustro porque não sei o que fazer.
T: Ótimo, agora você tem uma chance de modificar o nosso relacionamento e não se sentir mal ou frustrado. Ou você deixa nosso relacionamento terminar como
os outros e você continua infeliz e deprimido ou você pode agir de outro modo e talvez sentir-se melhor.
C: O que você quer dizer com agir diferente? Eu não sei como fazer isto. T: Baseado no seu padrão passado, devem existir sentimentos negativos e/ou hostis em relação a mim.
C: Tudo o que eu sei é que estou deprimido e quero ajuda porque me sinto mal. (Esquiva do CRB1.)
T: Você não respondeu à minha pergunta. Eu disse que eu achava que você tinha
Capítulo 2
50
sentimentos negativos ou hostis em relação a mim. (Regra 3, bloqueio da esquiva.) C: Eu não tenho, vamos falar da minha depressão. (Esquiva do CRB1.) T: Acho que você está evitando alguma coisa relacionada a mim que lhe incomoda. I
Quando você começou a terapia, eu disse que tentaria lhe ajudar. Agora você me
pede ajuda e eu tento conduzi-lo a um tema que você não acha que esteja relacionado e tenta mudar de assunto. (Regra 2, apresentando a situação evocadora - estou novamente tentando ajudar agora, o que já não funcionou anteriormente; levantase a hipótese de que o insucesso de minhas intervenções anteriores em ajudar evocou em Gary sentimentos negativos e a esquiva subsequente. Aqui são também demonstradas a Regra 3, bloqueio da esquiva, e a Regra 5, uma interpretação comportamental.) C: Eu fiz tudo que você me pediu para fazer e, mesmo assim, Joyce me abandonou. (CRB2)
T: Você fez o que pedi, Joyce o abandonou e ... C: E você não me ajudou como prometera. (CRB2, a priméfrá vez na qual uma queixa é diretamente expressa a mim.) T: Eu tentei, mas não deu certo, e você fez tudo o que eu pedi. Eu me sinto mal com isso e me pergunto o que eu deveria ter feito diferente para que Joyce e você pudessem permanecer juntos. Acho importante você ter trazido isto à tona, e quero desta vez ver o que pode ser feito. (A Regra 3 está sendo seguida, ou seja, o reforçamento natural de uma queixa é levá-la a sério e tentar fazer algo a seu respeito. Em sessões subsequentes observei em Gary um aumento de expressões de insatisfação com a terapia e comigo, Regra 4.) ,
O relacionamento terapêutico intensificou-se após este ponto com um aumento das expressões de reações emocionais entre Gary e eu. Na medida em que as sessões centraram-se quase que exclusivamente no nosso relacionamento, Gary revelou mais detalhes sobre seu desapontamento para comigo e falou sobre temas correlatos à questão da confiança. Sentimentos positivos de carinho e afeto foram também manifestados. Os CRB ls de esquiva anteriores surgiram \
,
f
f
em menor requência mas sempre que detectei a incidência de um deles, iz o bloqueio e favoreci o desenvolvimento, em Gary, de um novo repertório de expressão aberta de sentimentos negativos referentes à confiança desapontamento e raiva. Gary tornou-se capaz'de observar o comportamento clinicamente relevante no momento em que ocorria (CRB3) o que por sua vez produziu um ,
,
relacionamento terapêutico de maior qualidade. Os repertórios desenvolvidos na terapia foram prontamente transferidos para o ámbiente externo e Gary relata estar vivendo a mais satisfatória relação íntima que jamais experienciou. ,
3
Suplementação Aumentando a capacidade do terapeuta para identificar comportamentos clinicamente relevantes i
t
A funcionalidade terapêutica nasce da detecção daqueles comportamentos do cliente que são exemplos de comportamento clinicamente relevante (CRB). Temos observado que, quanto mais CRBs forem detectados mais profunda, intensa, emocional e fascinante é a terapia. Assim há lugar na FAP para qualquer método ,
,
ou conceito que possa auxiliar a detecção de CRB especialmente porque as ocorrências destes comportamentos durante as sessões não são, de um modo geral, facilmente identificadas. Como os CRBs são variáveis fracas no controle das observações por parte do terapeuta, elas geralmente requerem uma ,
suplementação (Skinner, 1957) como intuito de aumentar o seu poder de controle. Nas próximas seções (Classificação de Comportamento Verbal e Situações Terapêuticas que Evocam CRBs), nosso objetivo é oferecer suplementos para aumentar a capacidade e competência do terapeuta em observar os CRBs, também chamados algumas vezes de sensibilidade ou insight.
CLASSIFICAÇÃO DE COMPORTAMENTO VERBAL Como acontece em todo campo de trabalho humano, um sistema de classificação ou taxonomia estimula uma observação mais minuciosa. Por exemplo, uma garotinha que aprende a classificar insetos procurará e observará mais insetos, 51
52
Capítulo 3
e quando os encontrar, certificar-se-á quanto ao número de patas dos mesmos. Da mesma forma, nós propomos um sistema de classificação que aumente a observação do CRBs. A classificação de comportamentos verbais ajuda a aumentar a i
competência do terapeuta na observação de CRB, de duas maneiras. Primeiro, ela descreve o tipo de afirmações do cliente que levam à detecção do CRB. Depois, ela se firma na noção de que toda vez que o cliente fizer uma declaração, é possível que um CRB tenha ocorrido - mesmo que isso não seja facilmente identificável. O exemplo a seguir demonstra como o uso de nosso sistema de classificação pode conduzir a uma produtiva intervenção terapêutica. Uma sessão com Karen, que foi tratada pelo primeiro autor, começou com: T: Como foi sua semana?
C; A semana passada foi muito ruim,Veu tomei uma multa de $ 108 [suspiro] por licença vencida.
Nosso sistema de classificação verbal me levou a considerar que havia algo na resposta de Karen além do aparente à primeira vista. Baseado no meu conhecimento de Karen, algumas possibilidades me vieram à mente: 1
2
.
.
Ao receber a multa, ela foi pega em flagrante; talvez, seja assim que ela vê a terapia e por conseguinte, reage à mim como se estivesse com o policial. Talvez ela esteja preocupada com o custo da terapia e o pagamento de suas contas.
3
.
Ela está obviamente aborrecida com a multa e talvez seu comentário realmente indicasse
4
.
"
por favor, ajude-me a me sentir melhor!
Ela pode ter mencionado esse problema por não ter feito a tarefa de casa que eu lhe dei, e o fato de trazer o assunto da multa à tona pode ser uma maneira de evocar solidariedade ou desviar a atenção do assunto temido.
5
.
Talvez ela tenha visto um policial logo antes da sessão ou notado que havia uma passagem aérea sobre a mesa da recepcionista ao passar por lá.
Eu então passei a checar algumas dessas hipóteses, e é assim que ela reagiu quando eu perguntei sobre a conta: %
T: E quanto à nossa conta
,
você está preocupada com ela?
C: Não, porque meu seguro tem $100 dedutíveis, que eu já usei em medicamentos. Isso então cobre o dedutível e eles me asseguraram que as primeiras 10 sessões já
Suplementação
53
estão pagas. Eu não estou certa sobre o que acontece depois disso
,
mas eles têm
sido muito bons.
T: A razão pela qual eu estou abordando esse assunto é que estou tentando descobrir o que incomoda você no fato de me dever algum dinheiro .
C: Eu não gosto de dever dinheiro a ninguém
.
T; Eu sei
,
mas vamos nos ater ao nosso assunto específico. O que incomodaria você?
C: Eu tenho pensado muito nisso e uma nota de dólar me vem à mente toda vez que eu passo pela porta. ,
Essa última declaração apoiou a hipótese de que a preocupação de Karen em relação às contas se manifestou em seus comentários sobre o incidente da
multa. Mais importante entretanto, é que minha hipótese quanto aos significados ocultos me levou a descobrir que Karen se preocupava com o fato de me dever dinheiro da mesma maneira que a preocupava dever para qualquer outra pessoa. Sua preocupação e ansiedade em relação a várias contas não pagas fora o foco da terapia de reestruturação cognitiva em sessões anteriores e ela se ,
"
"
esquivou de trabalhar mais este assunto, dando a entender que esse já era um problema superado. Conforme está indicado na transcrição, ainda representava um problema. Sua falta de consciência e modo indireto de lidar com esse problema durante a sessão, no entanto, se assemelhavam ao modo inadequado de conduzir sua vida cotidiana. A identificação deste CRB1 alertou-me para uma abertura terapêutica. Ali estava uma oportunidade in vivo de bloquear a esquiva de Karen e encorajar maneiras mais adequadas para o encaminhamento do problema. Durante os seis meses seguintes, Karen desenvolveu repertórios melhores para lidar com o problema das contas por meio do aprendizado de como lidar com a sua dívida comigo. Isto também propiciou o trabalho terapêutico sobre um problema mais abrangente, relacionado às suas respostas a outras pessoas quando sentia que estava sendo negativamente avaliada.
Alguns de nossos leitores podem estar se perguntando se a nossa especulação sobre os significados ocultos se encaixa na esfera do behaviorismo, e mais ainda, podem desconfiar de sua similaridade com a Psicanálise. Mais tarde, quando explicarmos nosso sistema de classificação de comportamento verbal, mostraremos como a teoria behaviorista radical leva a este tipo de atividade
interpretativa. Mas, por enquanto, a inclusão dos significados ocultos na teoria behaviorista radical será ilustrada pela história do desafio amigável feito ao behaviorismo por Alfred North Whitehead. Em um jantar com Skinner em 1934, I
Capítulo 3
54
Whitehead disse a ele, "Vamos ver sua resposta ao meu comportamento, quando, sentado aqui, eu digo nenhum escorpião preto está caindo nessa mesa " Na manhã ,
i
seguinte, Skinner começou a escrever I Comportamento Verbal - um relato comportamental sobre a linguagem. No epílogo desse livro, que levou 23 anos para ser concluído, Skinner esquematizou os princípios comportamentais nos quais a afirmação de Whitehead se basearia. Uma das conclusões foi a de que o significado
do "escorpião preto" de Whitehead era behaviorismo. A interpretação de Skinner derivou-se da sua teoria contextual do significado, a qual forma o centro da proposta behaviorista para a linguagem. Uma vez que Skinner, um behaviorista declarado,
usou princípios comportamentais para revelar o significado oculto de uma declaração feita 23 anos antes, parece correto argumentar que tal esforço pertence à esfera do behaviorismo. De fato, o terapeuta sc encontra em uma posição mais cómoda que
Skinner para fazer interpretações sobre os relatos do paciente fundamentadas na teoria comportamental, já que (1) elas podem ser feitas imediatamente após a ocorrência dos relatos, (2) o terapeuta está em contato mais direto com as circunstâncias que rodeiam o relato, e (3) o terapeuta continua a interagir com o cliente, e pode obter informações adicionais que legitimem a sua interpretação. /
Apesar desta atividade interpretativa se parecer com a atividade psicanalítica, há profundas diferenças quanto às implicações clínicas e aos pressupostos básicos. Acima de tudo, o terapeuta comportamental deve se manter humilde, tendo sempre em mente que suas interpretações são apenas hipóteses. Além disso, a validade de suas interpretações é difícil de ser avaliada pois as variáveis de controle não podem ser isoladas em uma situação de laboratório. A teoria behaviorista sugere que os significados ocultos (na verdade, causas ocultas e variáveis de controle) estão no ambiente circundante, não são necessariamente relevantes do ponto de vista clínico, e não são o resultado de alguma coisa dentro da pessoa que luta para se expressar. Nossa visão dos comportamentos verbais do cliente sugere que interpretações psicanalíticas são úteis quando permitem que o analista observe CRBs. Como a FAP é especificamente planejada para aumentar a observação de CRBs, o desempenho desta tarefa se torna mais eficiente.
O Sistema da FAP de Classificação das Respostas do Cliente As respostas ou o comportamento verbal do cliente podem se constituir em dicas para que o terapeuta utilize o sistema de classificação da FAP de forma a chegar às possíveis causas deste comportamento enquanto ele está
Suplementação
55
ocorrendo. O sistema de classificação da FAP é baseado em conceitos do
f
Comportamento Verbal (1957) de Skinner. Um livro requentemente criticado* mas raramente lido, é uma rica fonte de conceitos que podem ajudar a detectar
CRBs na situação terapêutica. É um livro de leitura difícil e os conceitos não são de fácil compreensão. Por havermos usado alguns dos conceitos de Skinner
,
e apesar de termos feito um esforço para tornar nossa classificação compreensível
,
ela pode estar além do interesse de muitos de nossos leitores Então, aqueles que não estão interessados em aprender o sistema de classificação em detalhes nesse momento, consultem a próxima seção que resume as suas implicações. Em .
,
seguida, pule os detalhes de classificação e vá direto à seção Situações terapêuticas que frequentemente evocam CRB
.
f
Implicações do Sistema de Classiicação de Respostas para a FAP As sugestões dadas abaixo agilizam o desenvolvimento da relação terapeuta-cliente e dos CRBs assim como fazem deles um objetivo da interação terapêutica. ,
LEncorajar e reforçar as descrições do cliente que se relacionam a estímulos presentes no ambiente terapêutico. Aqui inclui-se qualquer comentário ou descrição sobre o terapeuta, a relação terapêutica sentimentos sobre a terapia (eficiência, preço, qualidades, defeitos, etc.), diálogos anteriores ou outros eventos ocorridos durante a sessão como se sentem ao vir para as sessões, qualquer ,
,
sentimento que tenham experimentado durante a sessão, o conforto ou desconforto da cadeira, da luz, e assim por diante. São exemplos de questões e afirmações
formuladas pelo terapeuta que possibilitam o relato dessas descrições por parte dos clientes: Como se sentiu ao vir para cá hoje?"; "Como se sentiu após nossa última "
"
sessão? ;
"
Como se sente em relação à terapia?"; "O que você acha que eu penso
de você?"; "Sobre o que está pensando?"; "Estou incomodado com sua hostilidade para comigo Estava imaginando se você acha que estamos fazendo progressos suficientes. ; "Estive pensando no que ocorreu durante nossa última sessão. "
"
"
Encorajar comparações controladas por eventos ocorridos na terapia e na vida cotidiana. São exemplos de relatos de clientes que se 2
*
.
Mais conhecida foi a revisão de Chomsky (1959), aceita por muitos como a crítica definitiva que desacreditou o Comportamento Verbal. Grande parte da revisão de Chomsky, entretanto, refere-se ao behaviorismo metodológico, que Skinner rejeitou veementemente e que portanto não era a abordagem utilizada no Comportamento Verbal.
Capítulo 3
56 "
enquadram aqui: A ansiedade que estou sentindo agora é parecida com a que eu sinto conversando com a diretoria. ; "Você me lembra muito meu pai. ; Você é como todos os outros - não se pode confiar em você."; "Esse é o único lugar onde me sinto seguro." "
"
"
i
Exemplos de questões terapêuticas e interpretações que estimulam esse tipo de comparações: "O que acaba de ocorrer é o mesmo que acontece quando você vê sua mãe? ; "De que modo o jeito como se sente agora se assemelha ao que você sentiu no trabalho? ; Você pode comparar seus sentimentos em relação a mim com outra pessoa muito próxima a você? ; "O jeito que você reagiu quando eu disse que me importava com você parece com o jeito com que você "
"
"
"
diz agir quando outra pessoa mostra afeição por você." 3
.
Encorajar desejos sugestões e pedidos diretos. Exemplos deste tipo ,
de resposta são: "Por favor, me ajude a superar essa ansiedade."; "Eu preciso de mais atenção."; "Eu não quero me lembrar de minha infância."; "Você poderia reduzir o valor da sessão?
" .
Os terapeutas podem encorajar os pedidos de clientes dizendo: "É permitido e desejável que você queira e peça o que quer de mim. Eu levarei em consideração todos os seus comentários mesmo que não seja possível para mim ,
fazer tudo conforme o seu desejo." imitar este tipo de comportamento para os clientes é bem saudável Exemplo: "Eu gostaria que você chegasse no horário." ,
e
"
Eu gostaria de conversar sobre seus débitos para comigo"
.
4
4
.
Use as descrições dos eventos da vida cotidiana do cliente como
metáforas para eventos que tenham ocorrido em sessão De acordo com os princípios do Comportamento Verbal, qualquer resposta do cliente pode ser determinada por múltiplos fatores; ou seja podem haver motivos ocultos (variáveis de controle menos explícitas) que o próprio cliente desconhece. Sugerimos então que você levante algumas hipóteses sobre quais poderiam ser .
,
esses eventos na sessão e se são clinicamente relevantes
Por exemplo, um cliente relata o quão incompetente seu dentista é O terapeuta pode responder, "Eu me pergunto se você está preocupado com o meu conhecimento acerca do meu trabalho" ou, no caso de um tratamento recém-iniciado, "Você acha que os .
.
,
psicólogos s bem o que estão fazendo?".
O terapeuta pode também especular se a metáfora é mais que uma mera descrição de eventos ocorridos na sessão Pode ser um pedido disfarçado e o .
terapeuta pode fazer suposições sobre quais reforçadores ocultos podem estar *
(
'
Suplementação
57
envolvidos. Por exemplo, se o cliente descreve o quão insatisfatória foi a semana e o quão infeliz ele tem estado, isso poderia ser compreendido como um pedido encoberto com reforçadores ocultos de solidariedade; e para que o terapeuta não force muito durante a sessão.
Motivos ocultos podem também ser entendidos como apelos diretos Por exemplo, o pedido do cliente de terminar a terapia poderia ser reforçado .
pela esquiva de um conflito, decorrente de se sentir atraído sexualmente pelo terapeuta.
Classificando o comportamento verbal A abordagem de Skinner não se parece com nenhum outro sistema de classificação linguística porque classifica o que é falado com base nas causas mais do que em sua forma ou formação fonética. Apesar de haver muitos níveis de causas*, aquelas às quais nos referimos aqui são simplesmente estímulos discriminativos que ocorrem antes das respostas e estímulos contingentes que ocorrem logo após. O primeiro grupo tem ênfase na definição do tato" e o segundo no mando Esses dois termos, tato e mando, exercem o papel central do nosso sistema de classificação e se referem a comportamentos verbais que "
"
"
.
diferem um do outro em suas causas.
Uma visão geral do processo de classificação é representada na Figura 1 O processo começa com a classificação da resposta do cliente como tato (quadro 1), um mando (quadro 3), ou um intraverbal (quadro 4). Nós visualizamos o sistema de classificação apresentado aqui como uma introdução ao uso dos princípios do comportamento verbal_de Skinner na situação terapêutica. Para efeitos práticos, limitamos arbitrariamente o número de conceitos de comportamentos verbais aos três citados acima, porém não exaurimos as implicações da abordagem. Ainda que uma aplicação mais completa do comportamento verbal pudesse adicionar muito mais ao processo terapêutico, sua discussão está além dos objetivos deste livro. .
G tato. Um tato é definido como uma resposta verbal que está sob controle preciso de estímulos discriminativos, e é reforçado por reforçadores l
*
.
Do ponto de vista behaviorista, há (1) contingências de causas de sobrevivência (causas evolucionárias ou de constituição); (2) contingências de sobrevivência cultural (práticas culturais); e (3) contingências de reforçamento (Skinner, 1974). /
/
Capítulo 3 CO . -N
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b
Suplementação
59
secundários generalizados. Por exemplo se lhe mostram uma bola vermelha e ,
"
perguntam, O que é isso?" e você diz
,
"Uma bola vermelha
"
,
você estaria
"
tateando" pois a forma de sua resposta ("bola vermelha") é controlada pelo objeto e é reforçada por um reforçador condicionado generalizado como uh"
,
"
huh", "certo" ou obrigado ,
" ,
ou qualquer outra resposta que indique que você
foi compreendido. Note que a contingência ou reforçador é amplo e geral
,
ao
passo que o estímulo discriminativo inicial (Sd) é específico. O tato é
assim, produzido pela presença de um estímulo particular (no caso, uma bola vermelha) e uma audiência (o terapeuta ou um parente) Os ,
.
tatos, neste sentido assemelham-se à noção de rótulos ou nomes. Entretanto, ,
como os termos rótulo ou nome sugerem a idéia de representação simbólica usamos tato" ao invés de "rótulo" para reforçar essa diferença. Do ponto de vista comportamental, as palavras "bola vermelha" não representam simbolicamente nem significam o objeto assim como a pressão à barra por ,
"
,
ratos não representa ou significa uma luz sinalizadora amarela numa caixa de Skinner. O problema com uma palavra que "representa" ou "simboliza" um objeto é que em seguida dever-se-ia explicar qual o significado destes dois termos para que houvesse a compreensão da resposta verbal. Por outro lado, ao dizermos que o tato é controlado por um estímulo discriminativo inicial, podemos explicar "
"
um comportamento simplesmente nos referindo ao processo de discriminação delineado. Este processo abrange o significado comum de "simbólico" ou "quer dizer" alguma coisa. Isso não significa, no entanto, que nós aceitamos as palavras de nossos clientes como verdade absoluta. Nossa posição exemplificada no ,
caso da multa de $108, nos conduz a uma visão bem divergente.
A localização do estímulo discriminativo (Sã) que controla o tato é importante na classificação da FAP do comportamento verbal. Do ponto de vista terapêutico o mundo pode ser dividido em dois tipos de Sds - aquele localizado nas sessões de terapia ou aquele da vida cotidiana do cliente. Os dois tipos de Sds são mostrados na Figura 1, no quadro 6 (SdVc) para a vida cotidiana, ,
f
e no quadro 7 (SdT) para terapia. Uma categoria inal, reservada para os tatos evocados pelos Sds localizados tanto na terapia quanto na vida cotidiana, é mostrada no quadro 8 (SdTVc). Então, se a situação da bola vermelha" ocorreu durante a sessão terapêutica, o tato "bola vermelha" foi motivado por um SdT "
uma vez que a bola vermelha estava localizada na sessão terapêutica.
Uma cliente que descreve uma briga com seu marido está emitindo um tato sob o controle de um estímulo discriminativo localizado em sua vida cotidiana
(isto é, um SdVc, mostrado no quadro 6). Uma cliente falando sobre uma
60
Capítulo 3 >
discussão com seu terapeuta está sob controle de estímulos localizados no ambiente terapêutico (ou seja, um StflTlocalizado na quadro 7). A mesma cliente que diz que sua briga com o marido é semelhante à sua discussão com o terapeuta está fazendo um tato sob o controle de estímulos localizados na terapia e no ambiente da vida cotidiana, e é mostrado no quadro 8 (denominado SdTVc). O foco inicial da FAP está em respostas controladas por estímulos ocorridos durante a sessão terapêutica. Assim, o terapeuta da FAP (1) fica alerta e (2) encoraja respostas controladas por SdTe SdTVc. Identificar essas respostas, aquelas controladas por SdTe SdVc, ajuda claramente na determinação de quais respostas do cliente são mais importantes. Por exemplo, aponta as respostas
mais importantes entre aquelas emitidas por Andréa, uma cliente cujo problema era uma infelicidade crónica e fobia social. Aqui estão suas declarações no início de uma sessão: 1
" .
Hoje eu perdi a calma, porque fui chamada e me disseram que eu tinha que estar em Boise semana que vem para uma entrevista de emprego de secretária. E eu não sei se posso fazer isso, eu não sei se posso conseguir isso.
"
/
2
" .
Quando saí daqui semana passada, eu me senti leve. Eu me senti realmente bem e não sei o porquê." %
3 "Eu .
4
até mesmo tinha que marcar a entrevista de modo que não interferisse com o horário da minha medicação. E isso me fez sentir estúpida. Eu imaginei o que aconteceria se eles soubessem, se eles soubessem que eu não poderia estar lá ao meio-dia porque teria que interromper o encontro para tomar minha pílula."
" .
Se eles descobrissem que estou tomando tranquilizantes, eles não iriam querer me contratar."
Essas respostas seriam classificadas como tatos óbvios mas apenas uma, a resposta 2 é controlada por um estímulo dentro da sessão - um SdT. É, ,
,
aliás, a resposta mais relevante do ponto de vista clínico (assumindo que todas estão igualmente relacionadas ao seu atuai problema). Lembre-se que um tato ocorre simplesmente devido à presença de um
estímulo. Essa característica do tato é particularmente importante para a compreensão da discussão sobre causas múltiplas e dos assim chamados significados ocultos Nós não dizemos que o cliente "usa" o tato para descrever o estímulo assim como não .
,
Suplementação
02 v
dizemos que alguém "usa" o andar para se deslocar daqui até lá Evitamos ver o cliente como usuário de uma resposta veibal porque então nos depararíamos com .
"
"
"
"
uma compreensão do que está sendo Esse "o quê" que está sendo usado é a resposta verbal e assim retomamos ao problema original o qual tentamos resolver usado
.
compreender a resposta verbal. Por exemplo, digamos que você esteja tentando entender as causas de uma ameaça de suicídio. Se você disser que o cliente "usa a "
ameaça
,
então, temos que compreender as causas do comportamento de "usar",
bem como as palavras empregadas. Por outro lado, através da nossa perspectiva poderíamos dizer que a ameaça poderia ser motivada pela atenção que ela recebe (um mando, como veremos abaixo) ou ela poderia ser controlada por comportamentos prê-suicidas (um tato) ou uma combinação dos dois. Além disso, o cliente pode ou não ,
estar ciente dos fatores controladores e/ou motivadores.
2.0 mando. Mandos são os discursos que fazem parte de demandas comandos, pedidos, e questões. Um mando é um comportamento com. as seguintes características: (1) ocorre porque é seguido por um reforçador particular (2) sua força varia conforme a privação relevante ou estimulação aversiva, e (3) ,
,
aparece sob uma ampla faixa de estímulos discriminativos. Assim, se você disser Eu gostaria de um pouco de água" porque você está com sede" isto seria um ,
"
,
mando pois haveria aí a ação de um reforçador muito específico - alguém escutando você e lhe dando água ou mostrando onde conseguí-la. A resposta a "
Eu gostaria de um pouco de água" não teria a influência de um reforçador secundário generalizado como por exemplo, alguém dizendo Está bem", ou Obrigado por compartilhar isso comigo", ou ainda "Eu entendo o que você quer dizer. Sua força também poderia variar de acordo com a necessidade que "
"
"
você tem de água. Seu mando por água pode ocorrer em quase todas as situações em que você esteja com sede e haja outra pessoa para escutar. Do mesmo modo, se um cliente lhe diz "Eu gostaria de uma sessão
isso seria reforçado (e por isso possível de ocorrer novamente) pelo fato de conseguir uma nova sessão (um reforçador específico). O mando pode indiretamente envolver privação ou estados aversivos como Por favor, extra essa semana
"
,
"
leve-me a passear", ou "Não me abandone", O comportamento do cliente, que ocorre especificamente porque evoca o cuidado do terapeuta, é um mando. Como mostra a Figura 1 e já foi dito anteriormente, a primeira classificação a se fazer é verificar se a resposta do cliente é um tato (quadro IX um mando (quadro 3) ou um intraverbal (quadro 4). O intraverbal é um comportamento verbal evocado por estímulos verbais e geralmente abrange aquelas
62
Capítulo 3
4
respostas que não podem ser classificadas como tato ou mando. Por exemplo, quando perguntam Como você está?", a resposta "Bem" geralmente é um intraverbal, uma vez que ela realmente nao tem nada a ver com os sentimentos do falante, sendo simplesmente uma resposta apropriada ao conjunto de palavras Como está você" (se a resposta "Bem" estiver realmente demonstrando os "
"
sentimentos do falante então teríamos aí um tato, e não um intraverbal). As respostas do cliente a questões como Onde nasceram seus pais?" e "Onde seu "
parceiro trabalha? «
"
são intraverbais.
.
Mandos disfarçados. Você não pode ter certeza se uma resposta dada é tato otfmando com base apenas em sua forma (ou som). A palavra fogo, por exemplo, poderia ser um mando para um bombeiro ou um tato enquanto um incêndio. Visto que a classificação de um comportamento verbal com base em sua forma ou som é denominada análise formal, o método Skinneriano de classificação com base em suas causas é denominado Análise Funcional. Usando a abordagem funcional skinneriana, quanto mais soubermos acerca do contexto e da história que levam à resposta, mais certeza teremos sobre suas causas e sua classificação enquanto tato, mando ou intraverbal. Assim, se você vir o incêndio e o falante apontando para ele, você terá o contexto necessário para classificar 3
.
seguramente aquela resposta como um tato.
O exemplo do fogo ilustra bem o fato de que a mesma palavra pode ter diferentes causas. O significado de uma palavra (ou sentença, gesto, discurso, etc.) corresponde à sua função, ou seja, um delineamento de suas causas. Quando dizemos que a "mesma" palavra pode ter "diferentes" significados, "mesma" se refere ao aspecto formal da palavra (seu som e a sua grafia) e diferente" se refere ao seu aspecto funcional. Consideremos o exemplo de um cliente que diz Eu vou me matar". Se a resposta do cliente tem um histórico de comportamento suicida, como planos de suicídio e alguns sentimentos associados a eles, então a afirmação é um tato. Se a declaração é primariamente mantida pela preocupação "
%
"
que evoca em outras pessoas, então temos um mando. Em nosso esquema de classificação, o primeiro caso está representado como um tato no quadro 1 e o segundo como um mando disfarçado no quadro 2. E disfarçado porque parece um tato se nos basearmos em sua forma, mas de fato, é um mando baseando-se
em sua funcionalidade. Os não-behavioristas podem preferir diferenciar esses dois tipos de discursos suicidas com base nas intenções e propósitos do cliente. Embora estes termos denotem um significado similar eles podem ser confusos ou ambíguos. Por exemplo, a intenção ou propósito implicam consciência? Se não implicam, o que significa ter uma intenção inconsciente? Usando nossa ,
Suplementação
63
teoria de tato versus mando
a consciência é um assunto à parte e não tem nada a ver com nossa .classificação Assim, o cliente pode ou não estar consciente do motivo que o leva à ameaça de suicídio mas isso não impede a sua classificação enquanto tato ou mando. Ademais se utilizamos as intenções ou propósitos para explicar a tentativa de suicídio por parte do cliente o próximo passo na terapia seria descobrir a origem dessa intenção ou propósito. Tatos e mandos, por outro lado já estão definidos em termos de suas origens. ,
.
,
,
,
,
O exemplo da ameaça de suicídio mostrou como a mesma expressão pode ter diferentes significados. De maneira correspondente, diferentes expressões como Por favor, me ame" e "Sou inútil e desprezível" podem ter o mesmo significado funcional (causas). O pedido explícito por amor pode ser causado por uma história passada de obtenção de amor e carinho sempre que solicitado "
"
e/ou uma atual falta de amor e carinho
.
Pela consistência de forma e de função
,
nós podemos dizer que esse cliente realmente sente aquilo que diz. A resposta é representada no quadro 3 e é abreviada como Ma. O reforçador deste mando amor e carinho, recai no sistema de classificação mostrado no quadro 10 e é representado por SrE. A segunda declaração, sobre ser inútil, poderia também ser causada pelo desejo de amor e carinho. Assim, é um mando apesar de parecer um tato; ou seja, na experiência de vida do cliente, amor e carinho ocorriam com maior probabilidade depois de uma auto-depreciação e não após um pedido direto. Como indicamos anteriormente esses mandos disfarçados de tatos são os mandos disfarçados (quadro 2). O reforçador que é contingente aos mandos disfarçados é considerado um reforçador especial, SrE (quadro 9), de maneira a significar que um reforçador específico apropriado a um mando está envolvido, e não simplesmente o reforçamento secundário generalizado que é contingente aos tatos. ,
,
,
Desta forma, é possível termos afirmações formalmente similares e funcionalmente diferentes (o exemplo do suicídio), assim como formalmente diferentes e similares funcionalmente (o exemplo do amor e carinho).
Causas Múltiplas e Estimulação Suplementar. A maioria dos comportamentos verbais tem múltiplas causas. Em adição a um estímulo controlador inicial, geralmente há estímulos controladores adicionais que também influenciam as respostas. Isso fica óbvio em lapsos verbais onde a multiplicidade de causas produz uma distorção das respostas. Um exemplo é a mulher que diz 4
*
.
Uma circunstância possível seria a de que o cliente tem um histórico de nunca ter ganho qualquer coisa de terceiros sem que haja pedido direta e forçosamente. Assim, apesar da possível ausência de amor e carinho, o mando ocorre agora devido à força de mandos em geral.
Capítulo 3
64 "
ao namorado que irá encontrá-lo para jantar às sexo horas A resposta "sexo" é resultado da presença simultânea de estímulos primários evocando a resposta .
v
e de outros adicionais evocando "sexo", apesar de aqueles para sexo serem menos visíveis a um observador externo. A maior parte das causas
"
seis
"
múltiplas, entretanto, são menos dramáticas e não produzem uma distorção tão óbvia nas respostas. Ao contrário, podem evidenciar porque um comentário em particular está naquele instante sendo feito, ao invés de outros que também seriam possíveis. Uma cliente que está sendo estimulada também por suas preocupações sobre os efeitos nocivos da terapia, pode contar as experiências que teve com um quiropata incompetente na semana anterior. Um outro cliente, com estimulação adicional por sua raiva pelo terapeuta, pode trazer à tona um incidente em que tenha perdido a compostura com sua parceira. Skinner se refere a esse processo como seleção de respostas e o propõe como alternativa para justificar porque o cliente "escolheu" aquela expressão em particular dentre tantas outras disponíveis e possíveis. 4
tf
Causas múltiplas, mandos disfarçados e reforçadores especiais são conceitos que explicam o que tradicionalmente costuma chamar-se de significados ocultos, latentes ou inconscientes. Consequentemente, temos dado uma explicação comportamental a este tipo de fenómenos, tais como, lapsos de linguagem e o modo como os clientes conseguem dizer uma coisa querendo dizer outra. Em geral, os clientes não estão conscientes destas variáveis, mas sofrem seus efeitos independentemente dessa consciência. Não situamos esses efeitos em um mecanismo interno como o inconsciente, mas, ao invés, nos referimos a eles como efeitos de variáveis sutis. Em contraste, as variáveis óbvias
são aquelas que correspondem de fato à forma da resposta. Uma metáfora, da maneira usada neste livro refere-se a respostas controladas pelas variáveis sutis. ,
Por exemplo, uma-experiência ruim no dentista é a variável óbvia que atua no cliente quando ele diz ao terapeuta Meu dentista me machucou." Se o cliente "
está contando ao terapeuta sobre o dentista naquele momento em particular porque também foi ferido pelo terapeuta, então a variável sutil é a dolorosa experiência com o terapeuta. De acordo com nossa definição, o meu dentista me machucou é uma metáfora pois é uma resposta de causas múltiplas sob "
"
controle parcial de uma variável sutil. O cliente não precisa ter (e provavelmente não tem) consciência de que a variável sutil teve efeito sobre o que ele disse.
Como mostra a Figura 1, todas as respostas do cliente são primeiramente classificadas com base nas variáveis óbvias como sendo Tato (quadro 1) um ,
*
N. do T.: em inglês six-seis e sex-sexo. ,
Suplementação
65
Mando (quadro 3) ou um Intraverbal (quadro 4). Depois naqueles locais indicados pelas lechas escuras (quadros 1 3 e 6) há a sugestão de que a variável sutil deve ser considerada. Por exemplo se tendo como base a forma, você classificou a resposta como um tato óbvio (quadro 1) e a localização dos estímulos controladores está na vida cotidiana (quadro 6) então pode-se especular em relação a quais estímulos sutis presentes na sessão (quadro 5) poderiam ter ,
f
,
,
,
,
sido acrescidos aos óbvios para que aquela resposta ocorresse. Por exemplo se o cliente está falando sobre uma relação de amizade, quais elementos da relação ,
terapêutica estão presentes também na relação exterior e que podem ser responsáveis por ele mencionar o assunto neste momento? Se o cliente descreve seus sentimentos em relação a outra pessoa, pode-se aventar a hipótese de que há similaridade com o que ele sente por você. Se o cliente descreve um evento ocorrido na semana, o que poderia haver em comum entre a relação terapêutica e o fato? y
Usar o sistema de classificação da FAP ajudará a criar hipóteses sobre as variáveis sutis que podem influenciar os comentários do cliente. Levantada a hipótese, outras informações podem ser coletadas para ajudar em sua legitimação ou rejeição. r
Classificação e Observação de Comportamento Clinicamente Relevante
Aqui estão alguns exemplos de como a classificação pode ajudar a identificar comportamentos clinicamente relevantes (CRBs) em seus clientes: Alguns clientes raramente ou nunca observam a si mesmos ou outros no aqui e agora A falta dessas observações poderia ser um CRB1 que interfere em relações mais íntimas. A observação de si mesmo e dos outros no aqui e agora deriva da classe de respostas do tato controladas por eventos na sessão 1
.
"
"
.
TaSdT (quadro 7). O principal método utilizado na identificação de CRB1 é o de pedir aos clientes para comparar seus comportamentos durante as sessões e a sua vida cotidiana (por exemplo, Você desviou o olhar e ficou quieta quando "
eu pedi para falar sobre seus sentimentos em relação a mim. E assim também com seu parceiro? ) A resposta da comparação do cliente pode ser um TaSdTVc "
.
(quadro 8). 2
.
TaSdTVc (quadro 8). Esse tipo de resposta se enquadra no aprimo-
ramento de CRB3, a descrição dos clientes sobre seu comportamento e suas
Capítulo 3
66
causas. CRB3 é uma forma especial de tato controlada por estímulos ocorridos durante a sessão terapêutica. A modelagem de CRB3 começa com o encorajamento pelo terapeuta, de qualquer tato controlado por estímulos
discriminativos na terapia (TaSdT), e tanto na terapia quanto na vida cotidiana (TaSdTVc). Uma comparação entre o comportamento nas sessões versus na vida cotidiana encaixa-se na categoria de CRB3 que pode ajudar a transferir os
ganhos da terapia para a vida cotidiana. 4
3 Respostas
sutis geralmente constituem CRB1. Primeiramente, elas mostram uma falta de consciência. Assim, quando uma resposta sutil ocorre, fornece uma oportunidade terapêutica para aumentar a consciência por meio de dicas e de reforçamento do CRB3 apropriado. Por exemplo, se um cliente está sob controle da variável sutil de ser magoado pelo terapeuta e conta a ele sobre uma experiência dolorosa no dentista, o cliente se beneficia por descrever a variável sutil e como isso o afeta (CRB3). Ou seja, o terapeuta deve ajudar o cliente a tomar consciência das variáveis que afetam o seu comportamento (Regra 5). Acreditamos que esse processo comportamental é muito semelhante ao que o psicanalista descreve como tornar consciente o inconsciente". Em segundo lugar, a razão pela qual muitas variáveis controladoras se escondem e tornam-se sutis é, principalmente, devido aos efeitos do condicionamento aversivo, indicando assim um CRB1 de esquiva. Em terceiro lugar, mandos disfarçados são frequentemente CRB1 s pois são maneiras indiretas de pedir alguma coisa e a solicitação direta é geralmente mais eficiente. .
"
"
"
Classificar as respostas do cliente leva o terapeuta a um melhor contato com o contexto total do comportamento do cliente. Ao invés de aceitar os comentários do cliente ao pé da letra, o sistema de classificação pode ajudar o terapeuta a ver as respostas como resultado de variáveis óbvias e sutis que refletem a história do cliente bem como os efeitos da relação terapeuta-cliente. Enxergar esse "quadro maior" aumenta a sensibilidade ao CRB e ao papel do 4
.
,
reforçamento nas sessões.
É importante lembrar que a classificação não é o único motivo pelo qual o CRB deve ser considerado durante a sessão. Todo o comportamento do cliente deve ser constantemente avaliado quanto às suas possibilidades de CRB. Uma avaliação de CRB é feita antes mesmo das respostas serem classificadas e o diagrama montado. Considere, por exemplo, um cliente tímido e temeroso que nunca se defrontou com uma autoridade e que repentinamente deixa escapar Você não está prestando atenção no que eu estou dizendo e isso me irrita profundamente Imediatamente podemos identificar nesta frase um CRB2 e "
"
.
Suplementação
67
um CRB3 sem nem mesmo usarmos o processo de classificação do comportamento verbal. O propósito desse processo classificatório é tornar visíveis mais CRBs do que aqueles que podem ser rapidamente averiguados mas não deve ser visto como o único método para se reconhecer este CRB. Vamos agora passar a alguns exemplos de classificação. ,
Exemplos de Classificação de Respostas do Cliente "
1
.
São dez para as cinco. É hora de ir. " De acordo com o diagrama
,
"
primeiramente nos perguntamos Isso é um tato óbvio (quadro 1), mando (quadro
3), ou intraverbal (quadro 4)?". Nossa resposta é "tato óbvio" desde que o relógio seja aparentemente o estímulo controlador subjacente à forma específica da resposta "dez para as cinco" que por sua vez serve como dica para o im da f
,
sessão. Prosseguindo no diagrama, nós determinamos a localização do estímulo discriminativo {Sã). Como o cliente se referiu ao relógio e este está localizado na sessão terapêutica é um óbvio SdT (quadro 7). ,
Agora a avaliação do CRB: se um problema da vida cotidiana do cliente ,
é que ele vive compulsivamente sob controle do relógio e "deve" encerrar a sessão pontualmente às cinco horas então a resposta é um CRB 1. Entretanto, ,
se o comentário do cliente é uma melhora em relação à sua compulsão típica do tempo, já vista em sessões anteriores (onde simplesmente levantaria e sairia) a resposta é um CRB2. O diagrama também direciona nossa atenção para fatores sutis; quer dizer, a possibilidade de que a resposta possa ser um mando disfarçado (quadro 2).
,
,
Por exemplo, uma cliente que deseja que você pare de perguntar sobre seus sentimentos. O reforçamento especial seria, então, a esquiva de discussões maiores sobre este assunto. Sendo esta uma interpretação sutil, a natureza indireta da resposta poderia ser um CRB 1. 2
"
Minha esposa se recusa a lavar as roupas. " Novamente, primeiro nos perguntamos Isso é um tato óbvio, mando, ou intraverbal? E um tato (quadro 1), se assumirmos que o próprio fato da esposa se recusar a lavar roupas é a .
r
"
variável de controle sobre a resposta. A localização deste evento é a vida cotidiana
do cliente {SdVc quadro 6). Ao avaliar as possibilidades de CRB, se o cliente mostrara-se anteriormente receoso de ser crítico em relação à sua esposa, então
poderíamos ter um CRB2. O próximo passo, de acordo com o diagrama é o de
Capítulo 3
68
fazer uma interpretação sutil de um mando disfarçado (quadro 2). E possível que o cliente não esteja simplesmente relatando os fatos como está implícito no tato óbvio, mas, ao contrário (ou em adição), tenha motivos ocultos (isto é, reforçadores sutis ou especiais - quadro 9). Os possíveis reforçadores especiais são aqueles em que o cliente deseja que o terapeuta diga algo como Que esposa irresponsável você tem ; "Aqui está a maneira de fazer sua mulher lavar a roupa ; ou Isso é péssimo, num momento em que você já está estressado Um possível CRB1 relacionado às motivações ocultas seria querer que os outros o apoiem em seus conflitos conjugais e interpessoais, sem que tenha que pedir diretamente. "
"
"
"
"
"
"
.
"
"
"
Quanto você cobra pelas sessões? " A resposta é um óbvio mando (quadro 3) pois exprime um reforçador específico (quadro 10). O reforçador 3
.
óbvio é o terapeuta estabelecer uma taxa. É possível que o mando não sej a o que aparenta, mas envolva um reforçador especial e sutil SrE (quadro 9). A mais óbvia dessas preocupações é o valor fixado pelo terapeuta. Por exemplo, o cliente poderia querer dizer Reduza o preço." Essa motivação oculta indicaria o ,
"
CRB1 de não ser direto ou não estar consciente. Se o cliente evita estabelecer
compromissos em geral então outro CRB1 poderia ser a esquiva em estabelecer o compromisso de iniciar a terapia usando o preço como desculpa. ,
,
"
Ninguém gosta de mim. " Com base em sua forma, a resposta é um tato óbvio (quadro 1). A localização do Sd de controle parece ser um SdTVc (quadro 8) pois o "ninguém" pode se referir também ao terapeuta. Se o problema atual da cliente, em suas próprias palavras é que "ela não é digna de ser amada", então a resposta indica que um CRJ31 está ocorrendo. Em termos de uma interpretação sutil o mando disfarçado (quadro 2) poderia ser Por favor, goste de mim" ou "Diga-me que gosta de mim". A qualidade indireta ou inconsciente 4
.
,
"
,
do mando disfarçado poderia ser um CRB 1. 5
" .
Eu sinto náuseas. " É um tato óbvio (quadro 1) porque a resposta
parece ser controlada por um estímulo vindo do estômago. A localização do Sd de controle deste tato está na sessão terapêutica, um SdT (quadro 7). Em geral, as declarações de sentimentos são tatos óbvios porque considera-se que sejam controladas por estímulos anteriores. Pode ser interessante notar que os estímulos de controle são privados. A resposta indica que um CRB1 está ocorrendo se a náusea é o problema atual ou um CRB2 se o cliente nunca reclama de problemas ísicos. Uma interpretação sutil é que a resposta é um mando disfarçado por empatia ou esquiva de algo que acontecia antes da reclamação ser feita ,
f
,
.
Suplementação
69
SITUAÇÕES TERAPÊUTICAS QUE FREQUENTEMENTE EVOCAM COMPORTAMENTOS CLINICAMENTE RELEVANTES
Há estímulos, comuns a situações terapêuticas que com frequência ,
ocasionam certo tipo de comportamento do cliente que pode ser clinicamente relevante. Chamamos a atenção para essas situações com o objetivo de que elas possam ser observadas quando ocorrerem na sessão. p
1. Estrutura do tempo. As sessões de terapia têm hora marcada de início e fim. O cliente pode chegar atrasado empenhar-se ao máximo para chegar cedo, querer sair mais cedo? ou não sair no horário. Chegar atrasado a um compromisso pode estar relacionado a problemas atuais tais como a esquiva de discussões emocionalmente carregadas o planejamento do tempo, ou problemas de trabalho gerados por não ser pontual. Ter dificuldades para sair ao final da sessão pode estar relacionado a comportamentos como dependência ou apego excessivos que tenham causado problemas em outros relacionamentos. Dar atenção exagerada à pontualidade pode estar relacionado a problemas como compulsão ou medo extremado de desapontar os outros associado a uma baixa --
,
,
,
,
auto-estima.
Chegar atrasado às sessões quando está havendo progresso terapêutico também pode ser um exemplo do problema para o cliente que tem dificuldade ,
"
"
em completar tarefas e acha que estragou situações onde poderia ter sido bem sucedido. Chegar tarde ou sair cedo podem ser exemplos de operantes
clinicamente relevantes para o cliente que apresenta problemas de ansiedade. Em cada caso
o comportamento operante observado durante a sessão é avaliado à procura de sua possível relevância para os problemas específicos do cliente. ,
Férias do terapeuta. Alguns clientes, especialmente aqueles com histórias de rejeição e abandono, reagem fortemente a interrupções no padrão de contato com o terapeuta. Para esses clientes, a saída do terapeuta pode eliciar medo intenso, ansiedade raiva e/ou tristeza, junto com pensamentos como Você não voltará ; "Você está tentando fugir de mim porque eu sou mau ; "Você estará diferente e não se preocupará mais comigo quando voltar ; "Como pode me abandonar justo agora quando eu preciso tanto de você? ; "Eu não posso viver sem você ; e Eu não consigo tomar conta de mim mesmo". A maioria 2
.
"
,
"
'
"
"
"
"
",
70
Capítulo 3
dos comportamentos que acompanham este tipo de sentimentos (outros, além do de falar neles) são CRB1 (ou seja, procurar isolar-se, quebrar coisas, tentativas de suicídio). 3 Encerramento.
O tipo mais difícil de encerramento é o de um tratamento incompleto que termina devido a fatores na vida do terapeuta tais como mudança de emprego, de lugar, ou o fim de um estágio. Isso pode fazer .
aflorar os sentimentos descritos no item anterior de um modo ainda mais intenso.
f
f
Em encerramentos de consenso, é o momento do terapeuta ficar atento em relação aos CRBs evocados pelo término. Encerramentos podem trazer preocupações acerca da independência e da auto-confiança, e tristezas acerca de perdas anteriores, separações e mortes. E uma chance para o cliente aprender a dizer adeus de uma maneira adequada, através da expressão da gama de sentimentos causados pelo im de uma relação especial, mas transitória. O modo como o cliente reage ao im do tratamento tem grande probabilidade de também ser uma indicação de como ele reage aos começos ou términos em outras áreas de sua vida pessoal. 4
Contas. O modo como o cliente lida com o pagamento da terapia pode representar a forma como ele lida com o dinheiro em geral. O cliente paga em dia? O cliente gerencia suas contas adequadamente? O assunto do preço pode ser inserido no tratamento de várias maneiras: (a) Pode levar a .
comportamentos de afastamento e término que estão associados a declarações do tipo "Eu não mereço gastar este dinheiro comigo, outros membros da família são mais importantes e merecem muito mais do que eu. (b) Pode ser usado para "
"
f
evitar sentimentos de intimidade em relação ao terapeuta - Você está sendo legal comigo porque eu lhe pago e esse é o seu serviço." (c) Pode ser usado para explorar o comportamento e/ou sentimento evocado por produzir (ou não) uma certa quantia de dinheiro; sentimentos de sucesso, inferioridade, incompetência, insegurança, vergonha; competitividade com ou inveja do terapeuta, (d) Ao invés de expressar diretamente para o terapeuta seus sentimentos negativos em relação às contas, a esquiva pode envolver o atraso do cliente no pagamento da terapia. (e) O cliente pode tentar uma redução dos custos da terapia através da menção do salário que recebe, (f) Se o cliente está em crise inanceira ele pode aceitar a ideia de dever o pagamento e dessa forma receber um empréstimo do terapeuta? Nessas ocasiões requentemente podemos observar comportamentos relacionados ao dar e receber numa relação e a não querer dever nada a ninguém, mesmo a ponto de ter prejuízo pessoal.
f
--1
,
,
Suplementação
5
"
71
"
Erros " ou comportamentos não intencionais do terapeuta O ditado Tudo o que cai na rede da terapia é peixe" se aplica aqui Mesmo o melhor .
.
.
terapeuta pode chegar atrasado à sessão passar do horário com o cliente anterior, ,
pensar em outra coisa enquanto o cliente está contando algo importante, esquecer
de fazer uma ligação que havia prometido ao cliente ou agir de qualquer outra maneira que faça com que o cliente se sinta pouco importante ou incompreendido Como o seu cliente reagiria a um terapeuta que não fosse perfeito? Os erros do .
terapeuta são ocasiões que podem evocar os seguintes CRBs: esquivar-se de expressar diretamente a raiva e frustração problemas associados a sentimentos ,
de baixa auto-estima, ou reagir aos erros do terapeuta de forma extremada decorrente de idealizar os outros a tal ponto que umadesilusão se torna inevitável Qualquer um desses comportamentos pode interferir no desenvolvimento de ,
.
relações estáveis. 6
Silêncios e lapsos na conversa. A característica mais evidente da
.
psicoterapia de adultos é que esta consiste em duas pessoas conversando entre si. E comum essa conversa chegar a um beco sem saída e parar - ambos parecem não ter nada mais a dizer. Essa situação pode evocar CRBs no cliente além de r
,
no próprio terapeuta. Um lapso na conversa evoca ansiedade aliada a uma certa confusão que por sua vez, dificulta ainda mais o reinício da conversa. A ansiedade confusão, e dificuldade em retomar a interaçao são o problema. O CRB2 se constituiria em aprender a tolerar mais os silêncios extinguir a ansiedade e/ou desenvolver um comportamento que facilite a retomada da conversa nas ocasiões em que ela se interrompe. ,
,
,
Expressão de afeto. Estamos nos referindo à expressão dos sentimentos que resultam do contato com estímulos que eliciam os respondentes chamados 7
.
emoções e/ou descrições de sentimentos. Nossa visão das emoções é dada no
Capítulo 4, que traz uma explicação mais completa e fornece a racional para nossos comentários nessa seção. A expressão de afetos tais como tristeza, necessidade, vulnerabilidade, raiva e carinho, facilita o desenvolvimento e a
manutenção de relações mais próximas. Há, entretanto, muitos fatores que prejudicam essa expressão. Assim, por exemplo, muitos clientes têm problemas em chorar na frente dos outros ou em expressar adequadamente sua raiva. Esse desconforto em mostrar suas emoções mais fortes frequentemente dificulta o tratamento. Clientes têm afirmado que mostrar sentimentos significaria "tornarser vulnerável demais se raco "tornar-se inferior não ser capaz de parar "
"
"
"
f
"
,
,
,
"
,
Capítulo 3
72
"
"
estar fora de controle
ou "ser motivo de chacota". Incluem-se nos
comportamentos de esquiva que estão associados à demonstração de afeto: mudar o assunto; conversas intermináveis e detalhadas sobre tópicos tangenciais; não falar; focalizar um objeto no escritório; contagem regressiva de 1000 até 1. Em alguns raros exemplos, o CRB é o uso deliberado que o cliente faz da raiva ou
das lágrimas, para controlar o comportamento dos outros. Sentindo-se bem, estando bem. Para alguns clientes, sentir-se bem ou estar bem serve como um estímulo aversivo. Isso motiva um comportamento de esquiva que aparece na forma de ser e agir de maneira infeliz ou depressiva. Alguns clientes contam que sentem ansiedade, medo, perda de controle e "uma 8
.
sensação de estar chegando ao fundo do poço.
"
Sua s histórias revelam ,
experiências nas quais foram punidos de alguma forma por sentirem-se bem, e, em consequência disso, atribuíram ao estar bem suas propriedades de controle aversivo. Por exemplo, um pai ciumento e com distúrbios psicológicos que se afasta, ou, então, pune a criança que é bem sucedida. Estar bem também poderia sinalizar a perda do terapeuta, pois a terapia se encerraria. E desnecessário dizer que o CRB 1 que consiste de depressão ou de infelicidade como forma de esquivar-se ao estar bem ou o término do tratamento poderiam comprometer seriamente o reforçamento positivo a longo prazo para o cliente. "
"
f
r k
9
Feedback positivo e demonstrações de afeição por parte do terapeuta. Alguns clientes não reagem bem às expressões positivas vindas do terapeuta. Eles podem reagir ao feedback positivo como se este fosse um reforçador arbitrário, um sinal de exigências crescentes, ou uma indicação da retirada de reforçamentos positivos. Os clientes, desta maneira, podem resistir, se esquivar, ignorar ou ainda desconsiderar o que o terapeuta lhes tenha dito. Suas respostas podem também estar acompanhadas de sentimentos de embaraço, inutilidade, desconforto e de pensamentos como "Agora terei que corresponder a essas suas expectativas ou você irá me desaprovar ; "Você não me conhece realmente, e quando conhecer, irá me deixar ; "Você está me dizendo isto para ser agradável e eu não acredito em você Todas essas respostas podem ser adquiridas em famílias nas quais o feedback positivo tenha sido associado a consequências aversivas. .
"
"
"
.
10. Sentindo-se íntimo ao terapeuta. Quando o terapeuta demonstra afeto, preocupação e compreensão ou fica ao lado do cliente durante momentos ,
difíceis, o cliente pode sentir-se íntimo do terapeuta. Esses sentimentos normalmente são acompanhados de um repertório de manter contato que inclue passar mais tempo com a pessoa, contato ou proximidade ísica; expressão de f
,
Suplementação
73
sentimentos positivos; fazer coisas para ajudar ou proteger a pessoa No entanto estes repertórios comportamentais podem ter sido punidos no passado por meio .
,
de perdas, rejeições ou abandono. Além disso as limitações da relação terapêutica ,
(limite de tempo, contato restrito à sessão, etc.) também resultam em punição "
para estes repertórios de proximidade
" .
Qualquer que seja a causa, essa
proximidade é geralmente um Sd aversivo que motiva o cliente a emitir um comportamento que a remova. Como essa esquiva pode ser difícil de detectar
pois muitos desses comportamentos de proximidade não ocorrem durante a sessão, o terapeuta guia-se pelos sentimentos colaterais. Quando você se sente
próximo ao cliente, ele se comporta de tal maneira a facilitar essa proximidade, ou ele emite comportamentos que diminuejn seus sentimentos de proximidade? Uma variedade de rçspostas de esquiva pode resultar no distanciamento incluindo tornar-se critico, sentir raiva, sentir-se entorpecido por dentro e sem sentimento ,
nenhum, dizer que não precisa mais comparecer às sessões ou fazer comentários que desmereçam o valor da relação apenas porque esta é uma relação profissional. Um primeiro passo para resolver este problema está em o cliente aprender a falar sobre a relação funcionai (CRB3s), como no exemplo "Neste instante eu estou me sentindo próximo a você, estou querendo ficar com você, mas sei que isso não é possível. Isso me entristece, então quero afastar você de mim". 11. Características do
terapeuta. Certas características estáveis do terapeuta como idade, sexo, raça, peso, atrativos físicos, e tendências de comportamento para ser falante ou quieto, gentil ou confrontador, expansivo ou discreto, liberal ou inflexível, podem evocar CRB. Por exemplo, um terapeuta .
mais velho pode fazer lembrar do pai; um terapeuta falante ou confrontador pode evocar falta de assertividade, além de sentimentos de intimidação e vulnerabilidade; um terapeuta magro pode causar inveja, retraimento e comentários do tipo Você não é capaz de entender meu problema", a um cliente acima do peso. Todo terapeuta deveria tentar pensar sobre suas próprias características e procurar pelos possíveis efeitos evocativos de CRB. "
12. Eventos incomuns. Algumas vezes o CRB mais importante pode ocorrer sob condições pouco comuns. Alguns exemplos desses eventos idiossincráticos podem ser: encontrar o terapeuta com outra pessoa fora do consultório; a terapeuta engravidar, quebrar uma„perna, ou ter que viajar por
causa de uma emergência na família. Eles podem servir como estímulos aversivos
muito fortes que provocam comportamentos tais como sentimentos intensos de r
posse, ivalidade, dependência, desamparo e mortalidade.
74
Capítulo 3
13. Sentimentos ou privacidade do terapeuta. As respostas privadas do terapeuta em relação ao cliente podem ser uma boa fonte de informações sobre os comportamentos clinicamente relevantes. Sentimentos de tédio irritação ou raiva no terapeuta podem indicar que as maneiras pelas quais o cliente está se comportando têm grande probabilidade de fazer emergir esses mesmos sentimentos em outras pessoas. Por exemplo uma cliente reclama que tem ,
,
dificuldade em fazer amizades e não entende o porquê. Você nota que facilmente se entedia com ela e sua atenção se dispersa, porque ela fala monotonamente sobre trivialidades por um longo período sem se preocupar se você está ou não interessado no assunto. Assim uma auto-observação pode auxiliar na discriminação destes comportamentos-problema e também pode ser usada para detectar as melhoras (CRB2) como por exemplo, f lar de modo mais animado ,
,
,
por um período de tempo menor, e formular perguntas. Em resumo
as situações terapêuticas que foram analisadas são representativas das diversas maneiras pelas quais os estímulos associados à terapia podem evocar CRB no cliente O sistema de classificação do comportamento verbal apresentado na primeira parte deste capítulo pode ajudar a aumentar a consciência do CRB através da focalização da atenção do terapeuta ,
.
nas causas sutis das verbalizações do cliente As auto-observaçoes dos clientes no aqui e agora e também suas comparações dos eventos na terapia com a vida .
,
cotidiana
,
são descrições que podem ajudar na generalização dos ganhos obtidos
na terapia.
4
O Papel de Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
Emoções e lembranças sempre ocuparam uma posição central em psicoterapia. A utilidade delas é atraente
,
contudo sua definição e mensuração são enganosas.
Os fundamentos behavioristas radicais da psicoterapia analítica funcional (FAP) trazem uma perspectiva diferente sobre esses tópicos e sobre a sua relevância na prática clínica.
EMOÇOES Muitas pessoas erroneamente acusam os behavioristas radicais de sustentar a teoria de caixa preta da emoção. De acordo com esta visão, emoções ocorrem dentro da pessoa (caixa preta), e por esta razão estão fora do interesse do analista do comportamento. Conforme foi mencionado no Capítulo 1, na realidade são os behavioristas metodológicos que sustentam essa visão. Em oposição behavioristas radicais pensam que "como as pessoas sentem é frequentemente tão importante quanto aquilo que elas fazem" (Skinner, 1989, p 3). ,
.
75
Capítulo 4
76
Neste capítulo, o termo sentir é usado tanto como verbo quanto como substantivo. Quando usado como um verbo, sentir é uma atividade, um tipo de açao sensorial, tal qual ver ou ouvir. Quando sua função é a de substantivo, sentir é usado como sinónimo dos termos emoção e afeto. Da mesma forma que existem objetos que são vistos, o sentir substantivo é o objeto que é sentido, como em eu sinto um sentimento Qual é o objeto sentido, entretanto, quando nos sentimos deprimidos? Outros objetos, como uma casquinha de sorvete, podem ser vistos, sentidos e provados; ou seja, o objeto (a casquinha de sorvete) pode ser conhecido de várias maneiras. Se não estivermos seguros do que estamos vendo, podemos prová-lo ou mesmo perguntar a alguém o que ele é. Este não é o caso quando o objeto é depressão ou ansiedade - nós podemos apenas senti*
"
"
.
las.
I
A visão behaviorista afirma que aquilo que sentimos é o nosso corpo. De nossos três sistemas nervosos sensoriais - exteroceptivo interoceptivo e proprioceptivo - os dois últimos estão envolvidos com processos do sentir. O sistema nervoso proprioceptivo conduz estimulação dos músculos articulações ,
,
e tendões, e está envolvido com movimento e postura. O sistema nervoso interoceptivo conduz estimulação das vísceras tais como a bexiga e o estômago, tanto quanto das glândulas, dutos e sistema vascular. Esses dois sistemas nervosos são estimulados pelas partes do corpo envolvidas no medo raiva, depressão, ansiedade, alegria e assim por diante. Entretanto, relativamente pouco é ,
,
,
conhecido sobre quais órgãos específicos estão envolvidos com os vários sentimentos que experimentamos. Esta escassez de conhecimento é especialmente evidente quando comparada ao que sabemos sobre o sistema exteroceptivo. Este 4
terceiro sistema nervoso sensorial está envolvido com o ver ouvir, sentir cheiro, ,
e tatear, e os órgãos sensórios específicos são claramente identificáveis como o olho, ouvido, nariz e pele.
Até este ponto nós discutimos (1) a atividade de sentir ou perceber a emoção e (2) o objeto que é sentido - o corpo. A questão que levantamos agora é Como o corpo entra naquele estado particular que é então sentido?" Nossa resposta presume que o estado do corpo seja "um produto colateral de causas ambientais (Skinner, 1974, p. 242). Dessa forma, para cada comportamento há um estado corpóreo correspondente. Quando estamos envolvidos no "
,
"
comportamento que classificamos como falar por exemplo, o sistema músculo,
esquelético e o sistema nervoso estão em um estado particular que muda de Nota do tradutor No caso de "feeling" enquanto substantivo a língua portuguesa admite a tradução .
pelos termos
"
sentir
,
"
e "sentimento", que também serão utilizados dependendo da situação. ,
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
77
acordo com as palavras que estão sendo ditas. Quando nós dizemos a palavra alô os vários músculos necessários para esta tarefa estão numa posição particular, que então se modifica conforme continuamos a dizer, "Como vai "
"
,
"
você? De maneira similar
quando estamos comprometidos em comportamentos operantes e respondentes de estarmos emocionados há também estados do corpo que são correlatos àquelas respostas. Para ins ilustrativos, estes estados corpóreos podem incluir mudanças na taxa cardíaca, dilatação da pupila constrição das veias, secreções glandulares e contrações musculares. Na ,
f
,
,
realidade, o presente estágio do conhecimento impede qualquer medida fisiológica precisa desses estados. Tudo o que é relevante para nossa discussão é que uma pessoa sente diferentes estados corpóreos, conhecidos apenas por ela, em correspondência com emoções diferentes.
Respostas emocionais operantes e respondentes são evocadas por situações particulares. Por exemplo, Skinner (1953 p. 166) descreveu uma situação na qual um homem foi criticado no emprego. Este homem reagiu com um padrão de resposta emocional que é chamado de raiva. Este padrão incluiu ,
f
as seguintes respostas: (1) comportamentos respondentes - o homem icou vermelho, suas mãos transpiraram, ele parou de digerir seu almoço, seu rosto
assumiu a expressão característica de raiva (enrugou a testa, inflou as narinas crispou os lábios), e (2) comportamentos operantes - falou secamente com seus colegas de trabalho, bateu uma porta, chutou um gato e assistiu a uma briga de rua com especial interesse. Havia um estado corpóreo correlato a este padrão de respostas operantes e respondentes. Se o homem se envolvesse com a atividade de sentir seu estado corporal, então ele se sentiria com raiva. Entretanto, outras pessoas que observaram esta pessoa poderiam dizer que ele estava com raiva ,
mesmo que o homem não tivesse sentido a raiva ele próprio.
Esta descrição das respostas do homem à crítica no emprego, incluindo seus comportamentos operantes e respondentes, não pretendeu ser uma descrição concisa e completa da raiva. Ao invés disso, a descrição é apenas as respostas desse homem nesta oportunidade, que são vistas por ele próprio e pelos outros como sendo raiva. Em geral, a variedade e as nuanças das emoções sugerem que tentar classificá-las definitivamente seria quase impossível. Algumas vezes, os clientes queixar-se-ão que sentem de uma forma, mas agem de outra. Este comentário parece não fazer sentido de um ponto de vista comportamental, uma vez que tudo aquilo que pode ser sentido são estados corporais que são colaterais a ações (respostas). Dessa forma, o cliente tem dois estados corpóreos que podem ser sentidos, mas diz que somente um deles é um
Capítulo 4
78
sentimento. Uma interpretação comportamental deste comentário é que estados corporais associados com respondentes são experienciados mais intensamente que estados corporais associados a operantes. Frequentemente o comportamento operante afeta o comportamento respondente, mas quando isso não acontece, o resultado é sentir de uma forma e agir de outra. Por exemplo, suponha que o homem raivoso do exemplo anterior tenha se comportado de todas as formas
descritas, com exceção de que ele afagou o gato e forçou um sorriso amistoso. Desta feita, se ele disser que agiu amigavelmente, mas sentiu-se com raiva, o sentimento ao qual ele se refere seria aquele relativo aos estados corporais associados à raiva, e não aos estados corpóreos associados ao sorrir e afagar o gato. Se pudermos assumir que ele realmente sente os colaterais corporais do afagar e sorrir tanto quanto outras respostas, seria mais correto se ele dissesse, "
Eu sinto dois sentimentos e eles são diferentes, mas uma das formas que eu sinto (colaterais de sorrir e afagar) não é o meu sentimento verdadeiro A base destas duas formas diferentes de sentimentos tem a ver com as razões para o seu afagar o gato e sorrir. Em particular, ele poderia estar consciente de que o afagar e o sorrir são resultantes de contingências sociais para fazê-lo 1fficar "
.
calmo e civilizado
"
Ele não vê os sentimentos associados ao comportamento causado por tais contingências como relevantes para os seus sentimentos .
verdadeiros.
Conforme está esquematizado abaixo, problemas clínicos algumas vezes envolvem o cenário oposto; quer dizer o sentimento ou a sensação das respostas públicas que estão sob controle é o que o cliente relata ser o sentimento verdadeiro e as respostas privadas não são observadas (por exemplo, o homem relataria sentir-se afetuoso em relação ao gato e não perceberia seus sentimentos de raiva). ,
Neste caso, o cliente é descrito como não estando em contato com seus
sentimentos, e a tarefa do terapeuta é mudar o controle para esses estados corporais que são mais privados.
Aprendendo os Significados dos Sentimentos O processo pelo qual aprendemos o que são nossos sentimentos é de maior relevância para o psicoterapeuta do que a atividade de sentir Nós não
nascemos sabendo o que nossas emoções são assim como não sabemos ao nascer o que é uma árvore. Isto precisa ser ensinado por nossos pais. Visto que o objeto a ser sentido é privado o pai que tentar ensinar uma criança a identificar (tatear) ,
,
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
79
sentimentos está em desvantagem. Ao ensinar uma criança a tatear um objeto público, como uma árvore, o pai pode apontar para a árvore, pronunciar seu nome, e reforçar uma resposta parecida tal como "ávole". Depois de muitas experiências como esta, o estímulo público, a árvore controla a resposta "árvore". No caso de um sentimento os estímulos que esperamos que ganhem controle sao estados corpóreos privados. Para cumprir este objetivo os pais devem olhar ,
,
,
,
para estímulos públicos, supor o que está ocorrendo dentro da criança com base nesses estímulos públicos pronunciar seus nomes e reforçar a resposta apropriada. Por exemplo, os pais podem olhar para um estímulo público tal ,
,
como a hora do dia e o choro da criança e supor que o estímulo privado de fome esteja presente. O pai então encorajará a criança a dizer "bebé fome". Finalmente ,
,
se os pais forem sensíveis, o estímulo privado de fome poderá ser tateado como "
eu estou com fome
" .
Tal processo de aprendizagem tem vários resultados. Primeiro o tatear e a discriminação de sentimentos não alcançarão a mesma contabilidade do tatear objetos públicos, tais como pedras e aviões. Segundo no caso de sentimentos, os estímulos públicos podem inadvertidamente ganhar controle parcial do tato porque os pais não podem estar sempre corretos a respeito de qual sentimento privado está presente com base no estímulo público. Por exemplo, algumas vezes os pais dirão o bebé está feliz com base no seu sorriso, quando o estímulo privado é somente uma dor de barriga devida a gases. Em outras ocasiões, seu sorriso é uma indicação precisa de que a alegria privada está presente e dizer o bebé está feliz está mais próximo do acerto. Conforme esta criança se desenvolve, o significado da palavra feliz vai depender do quão ,
,
"
"
"
"
frequentemente os estados corpóreos privados de alegria estiverem presentes quando ela for instigada a dizer feliz". Certos momentos nos quais esta criança estiver de fato doente ou com dor em um ambiente aparentemente feliz" (por exemplo, uma festa de aniversário) interferirão, com seus estados corpóreos privados ganhando controle sobre o seu tatear preciso de sentimentos, a menos que alguém perceba e diga, oh, você parece estar doente Em essência, o "
"
"
"
.
significado de felicidade para esta criança é o resultado do treino discriminativo similar àquele observado em tarefas de formação de conceito. Nessas tarefas, estímulos complexos são apresentados numa série de tentativas (por exemplo, grande círculo azul, pequeno círculo azul; grande círculo vermelho, pequeno círculo azul; um grande triângulo vermelho, pequeno triângulo verde) nas quais apenas aspectos específicos do estímulo são relevantes ao conceito (por exemplo, maior que ) Depois de um número suficiente de tentativas, esses aspectos relevantes passam a controlar o conceito. "
"
.
80
Capítulo 4
Uma vez que os pais usam estímulos públicos para identificar o sentimento a ser tateado, a criança pode inadvertidamente ficar sob controle parcial desses mesmos estímulos. Este fenómeno de controle público acidental sobre um sentimento é comumente reconhecido na literatura de pesquisa sobre o controle da fome. Estímulos públicos, tais como a hora do dia (hora do almoço) e a atratividade da comida, podem resultar em estou com fome Conforme "
"
.
está detalhado no Capítulo 6, não é simplesmente a resposta verbal que é controlada mas a própria experiência; ou seja, a pessoa realmente sente a fome como vindo de dentro, mesmo quando a resposta é amplamente controlada pelo relógio indicando a hora do almoço e muito pouco por um estômago cheio Uma implicação interessante desta visão é que se fosse possível para alguém sentir os sentimentos de outro, eles poderiam ser sentidos como similares ou diferentes dependendo das fontes de controle. Assim se a sua fome fosse controlada por estímulos privados gerados no seu estômago e você pudesse sentir a fome de outrem controlada por estímulos esternos você descobriria que essas duas .
,
,
,
,
,
experiências são muito diferentes. Os únicos sentimentos em comum seriam
aqueles associados com disposições para comer e procurar comida
.
Dadas as condições sob as quais o tatear sentimentos é adquirido qualquer emoção pode inadvertidamente icar parcialmente sob controle público, resultando numa confusão ou má nomeação da experiência interna real
f
,
.
a i
4
Sentimentos como Causas de Comportamento Uma emoção ou sentimento é um estado do corpo. Para cada resposta há um estado do corpo que a acompanha. Por exemplo quando se corre, um estado que acompanha o corpo pode ser sentido Embora tanto o correr quanto os sentimentos colaterais estejam presentes nós usualmente não dizemos que o correr seja causado pelo sentimento. Ao invés disso nós podemos dizer que estamos correndo para alcançar o ônibus. Ou seja não atribuímos um papel causal aos sentimentos quando como no caso do correr para alcançar o ônibus, ,
.
,
,
,
,
pode ser identificada uma clara causa externa. Há outras ocasiões
entretanto, nas quais as causas externas não são identificadas ou claramente conhecidas Por exemplo, uma mulher que corre ,
.
diariamente pode ter esquecido ou nunca ter estado consciente das condições externas (por exemplo sua melhor amiga que corre também, seu corpo ficando ,
mais irme f
cumprimentos das outras pessoas dizendo que ela está com melhor aspecto) que a levam à prática de correr todos os dias Sob estas condições, ,
.
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
81
tendemos a atribuir a causa aos estados corporais colaterais que são sentidos Assim, a praticante da corrida pode dizer que corre porque aprecia fazer isso De modo semelhante, uma pessoa que está comendo pode dizer que está fazendo .
.
isto porque está com fome. Isto geralmente significa que os antecedentes de ambos, tanto dos sentimentos colaterais da fome quanto do comer não são ,
identificados, e é dado um status causal ao sentimento.
Outras situações também conduzem a atribuições caus ais .
dos
sentimentos. Frequentemente, o sentimento pode ser sentido antes que o comportamento seja emitido. Nós podemos estar com fome sem comer com raiva sem sermos agressivos, e com medo sem fugirmos. Nesses casos tendemos ,
,
a agir, mas não o fazemos. Já que a ação é ausente ou o sentimento precede a ação, é tentador atribuir status causal ao sentimento.
O problema em atribuir status causal a estados corpóreos colaterais é que isto pode desviar a atenção dos fatores que causam tanto o comportamento (ou a inclinação para agir) quanto o sentimento colateral. Por exemplo, Jan, uma cliente do segundo autor que teve problemas diretamente resultantes da busca de seus objetivos, atribuía seu insucesso a uma falha fatal de índole, uma inabilidade de suportar a mim mesma". Deter-se e tentar mudar esses seus estados internos, que supostamente eram responsáveis pelo racasso em terminar a graduação e a escola profissional, apenas fez com que Jan se sentisse pior a seu respeito e mais impotente. Eu perguntei o que a manteve durante seis anos em terapia comigo, e ela respondeu, Coisas diferentes em ocasiões diferentes - meus amigos todos fazendo terapia, hábito, desespero, f
"
"
esperança, um sentimento de movimento, meu apego a você, ser valorizada por você Eu sugeri a ela que ninguém poderia realizar tarefas difíceis num vácuo, sem suporte externo, e que ela havia tido o meu apoio e o de seus amigos, que a ajudaram através de tempos difíceis na terapia. Por outro lado, seus pais não a apoiaram em sua escolha profissional, e ela não icou na escola por tempo suficiente para fazer amigos ou para conseguir muitas experiências "
f
.
f
recompensadoras. Por ter focalizado as condições externas que a conduziram a sucessos e racassos, e por olhar para seus estados internos ou sentimentos como colaterais, Jan ficou mais esperançosa de poder mudar seu comportamento. Mesmo que sentimentos não causem comportamento, conforme foi indicado anteriormente, a expressão dos sentimentos tem um papel importante na FAP.
Hayes (1987) baseou um sistema terapêutico em problemas causados por clientes que vêem seus sentimentos como causas. De acordo com Hayes, a visão incorreta da natureza causal dos sentimentos conduz os clientes a
Capítulo 4
82
esforçarem-se para eliminar pensamentos e sentimentos, de forma a conseguir mudar seus comportamentos e ter uma vida melhor. Os esforços dirigidos para a eliminação de sentimentos, no entanto, são fundamentalmente errados porque o problema não é o sentimento, mas sim os esforços do cliente para modificar o sentimento. O sistema terapêutico de Hayes, distanciamento compreensivo, é uma abordagem inventiva que usa métodos metafóricos e experienciais para enfraquecer o enfoque ineficaz do cliente para resolver problemas. Expressando sentimentos
A expressão de sentimentos refere-se a um continuum de comportamento Uma ponta do continuum é referida como comunicação de sentimentos. Esses são comportamentos operantes verbais cujo propósito é informar a outra pessoa sobre os sentimentos do falante. Eu sinto raiva" e "Eu amo você" são exemplos. Na outra ponta do continuum estão as demonstrações de sentimentos comportamentos respondentes não verbais que são eliciados automaticamente. Esses respondentes podem incluir o rubor a risada, expressões faciais primitivas, e soluçar de tristeza. Localizados em pontos diferentes nesse continuum estão as respostas que são parcialmente respondentes mas que foram modeladas também pelas contingências. Exemplos são o choro que tenha sido parcialmente modelado pela atenção que recebe o nó na garganta pelo pesar, a exclamação ai que é eliciada por um estímulo doloroso, mas que também mostra os efeitos das contingências (por ex., tal expressão recebe a forma "ai-yoh" em chinês). .
"
,
,
,
"
"
,
"
"
Expressar sentimentos pode ser muito útil em algumas situações particularmente no desenvolvimento e manutenção de relações de intimidade. Já que ter dificuldades em relacionar-se com intimidade é um problema comumente apresentado, expressões inadequadas de sentimentos são frequentemente ,
focalizadas, na FAP. Relações íntimas por definição, envolvem uma sensibilidade ,
f
aos efeitos do comportamento de uma pessoa sobre outra. Considerando-se o protótipo, os pais são bastante conscientes dos efeitos reforçadores e punitivos de seus comportamentos sobre seus ilhos. O comportamento dos pais por sua vez, é ,
modelado pela criança. Esse processo ocorre em parte porque os pais são sensíveis às nuanças das reações da criança Entretanto, não importa o quão sensível o pai ou a mãe seja a intimidade somente poderá ocorrer se a criança expressar sentimentos. Na relação íntima adulta expressar sentimentos tem o mesmo papel. .
,
,
Uma expressão de sentimentos também aumenta a probabilidade de que as necessidades de uma pessoa sejam atendidas (obtendo reforçamento de
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
83
outros). As necessidades podem ser satisfeitas porque uma expressão efetiva de sentimentos pode evocar no ouvinte alguns dos mesmos estados corpóreos que estão sendo expressos. Esse processo é útil porque os ouvintes podem então predizer melhor o comportamento do falante perguntando a si próprios (1) como eles se comportariam se estivessem sentindo o que está sendo expresso, ou (2) que tipos de comportamentos acompanharam a expressão de tais sentimentos por essa pessoa no passado. Conhecer bem a outra pessoa por sua vez, envolve ser apto a predizer o que a outra pessoa fará (incluindo predizer o que poderia ser reforçador para aquela pessoa). Relações íntimas parecem exigir bastante conhecimento do que esperar da outra pessoa e por conseguinte, exigem expressão emocional. ,
,
Dos dois tipos de expressão emocional (comunicar e demonstrar)
,
as
declarações verbais (comunicações) tais como "Eu estou feliz" e "Eu estou triste" têm a vantagem de serem facilmente discriminadas. A utilidade dos tatos simples, entretanto, é limitada porque a variedade e as nuanças de sentimentos excedem em muito a essas simples descrições concentradas em uma única palavra. ,
f
Descrever o estado corpóreo com requência, não é tão efetivo quanto descrever
analogias, metáforas, ou condições externas que podem produzir aquele sentimento. Seguem-se exemplos de tais descrições feitas por nossos clientes:
(1) Sentimento de não ser suficientemente adequado - "É como quando você tenta colocar uma porca num parafuso de aproximadamente o mesmo tamanho mas a rosca não é exatamente a mesma. Eles quase apertam e você fica tentando,
,
mas eles não se ajustam (2) Medo - "É como se eu estivesse andando numa viela escura e ouvisse passos atrás de mim, e eu andasse mais rápido e ouvisse os passos mais rápidos também (3) Terror - "É como se eu estivesse sozinho na casa, e a eletricidade terminasse. Eu posso ouvir um invasor se movendo "
.
"
.
pelo piso de baixo, e eu penso que ele está tentando me matar. Eu pego o telefone para pedir socorro e a linha foi cortada
" .
Por outro lado, há desvantagens no uso da comunicação de sentimentos como uma forma de expressão emocional. A principal é que o significado do sentimento pode ser altamente idiossincrático devido à ambiguidade do estímulo controlador. A declaração Eu estou deprimido" de uma pessoa pode ter pouco em comum com uma declaração idêntica de outra. Uma desvantagem adicional é que é fácil enganar o outro com o comportamento verbal. Por exemplo, "Eu te amo pode ser dito somente para conseguir uma relação sexual ou para ganhar presentes caros. Além disso, a sensibilidade do comportamento verbal às contingências sociais pode facilmente resultar em ser dito o que é socialmente apropriado ao invés de se dizer aquilo que realmente a pessoa está sentindo. "
"
Capítulo 4
84
A vantagem da demonstração de sentimentos (enquanto oposta à comunicação de sentimentos) como um método de expressar sentimentos é que ela (a demonstração) é menos suscetível às contingências e dessa forma é mais espontânea e menos provável de ser mal-interpretada. Por exemplo, embora seja possível fingir um choro, é relativamente difícil fazê-lo convincentemente. De maneira similar, é quase impossível parar um rubor a
despeito das suas consequências negativas [que esta mudança corpórea possa receber]. Para a maioria das pessoas, a extensão e as nuanças das emoções expressas são maiores através da sua demonstração do que através de descrições verbais. Por essas razões, a demonstração de sentimentos é particularmente útil na FAP como indicativa de contato com variáveis importantes.
Evitando sentimentos
f
Nós já discutimos uma das causas para as dificuldades do cliente em expressar sentimentos; ou seja, os clientes podem não saber como se sentem porque nunca aprenderam a icar sob o controle privado de seus corpos. A expressão diminuída de sentimentos pode também resultar de repreensão em numerosos contextos. Enquanto crianças, expressões de sentimentos podem ter sido punidas pelos pais por serem inconvenientes ou perturbarem. Paradoxalmente, a principal fonte de punição é derivada de um dos usos da expressão de sentimentos discutidos na seção anterior - expressar sentimentos permite aos outros nos conhecerem e predizerem nossos comportamentos. Embora tal conhecimento conduza ao reforçamento positivo numa relação íntima, também pode conduzir à punição, se o conhecimento for usado contra nós. Talvez esta seja a razão pela qual a expressão emocional é algumas vezes descrita como "
estar vulnerável
" .
A expressão de sentimentos é frequentemente punida na vida adulta porque a maior parte das culturas estabelece grandes proibições para a demonstração de emoção (Nichols & Efran, 1985). A razão para esta punição "
cultural é que a demonstração significa que a pessoa está fora de serviço" e
não está atendendo à tarefa que lhe foi designada. Isto parece ser verdadeiro para uma vasta gama de situações. Um gerente de mercearia que responde com emoção por que uma cliente lhe lembra sua mãe abusiva, sofrerá consequências negativas, assim como um piloto de avião que sucumbe em uma emergência. Está requentemente nos melhores interesses da cultura limitar a expressão de f
"
"
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
85
afetos. O lado ruim de limitar a expressão dos sentimentos é que isto causa problemas nas relações, particularmente nas íntimas.
Quando a expressão dos sentimentos é punida, as condições que evocam respostas emocionais também se tornam aversivas e são evitadas Por exemplo se uma criança é punida por sentir-se e agir afetivamente então as situações que evocam afeição podem também se tornar aversivas Sentir afeição (os estados .
,
,
.
corpóreos associados com afeição) pode também se tornar aversivo devido à
sua associação com punição. É importante notar que sentimentos aversivos não causam a esquiva de afeição; a punição causou tal esquiva tanto quanto os sentimentos aversivos. Para superar este problema não se deve enfocar os ,
sentimentos aversivos diretamente porque eles são simplesmente um estado colateral, mas sim as condições que evocaram os sentimentos aversivos. Deste
modo, a meta seria o indivíduo não mais esquivar-se de condições que evocam afeto de forma que novas consequências reforçadoras positivas possam ser experimentadas.
Falando de maneira geral, também é de interesse da pessoa submetida à punição por expressar sentimentos, limitar tais expressões. O processo comportamental envolvido na limitação de expressão afetiva é a esquiva simples. Assim como um rato esquiva de correr numa pista porque isto terminou em
punição e, em seu lugar, corre em outra, as pessoas esquivam-se de prestar atenção a certos aspectos de uma situação evocativa em favor de prestar atenção a outros. Tecnicamente, pode-se (1) esquivar às condições que trazem à tona o estado corpóreo (por exemplo, fazer sexo), ou (2) não esquivar das condições precipitantes, mas esquivar-se de sentir o estado corpóreo (por exemplo, desligarse durante o sexo). Os problemas dos clientes requentemente são resultado destas esquivas e atenções seletivas. Como resultado, o foco do tratamento clínico frequentemente recai sobre as experiências e lembranças mais aversivas dos clientes - justamente aquelas evocadas por situações às quais o cliente se esquiva "
f
"
de prestar atenção.
Grau de contato com variáveis de controle
A FAP implica em aprendizagem de novos comportamentos. O comportamento, entretanto, não pode ser separado de seu contexto. Para o terapeuta que se utiliza da FAP, o mesmo comportamento em dois contextos diferentes têm significados completamente distintos. Por essa razão, o
Capítulo 4
86
aprendizado de novos comportamentos durante a FAP não será útil a menos que o contexto da sessão seja relevante para a vida cotidiana do cliente. Por exemplo, a abordagem do treino de habilidades sociais para assertividade pode ou não ser eficiente. Quando isto não acontece, provavelmente é porque um novo comportamento foi aprendido fora do contexto relevante. Ou seja, os, clientes foram instruídos para agirem assertivamente em um contexto diferente
daquele no qual sua assertividade seria necessária. Seguindo as instruções do terapeuta para serem assertivos, eles estão, de fato, sendo complacentes. Do ponto de vista da FAP, esses clientes teriam uma chance melhor de aprenderem a ser assertivos na vida cotidiana se eles não quisessem fazer o exercício de asserção e se recusassem a fazê-lo. Assim, é importante ter o contexto da vida diária operando durante a sessão. A presença do CRB é o melhor indicador do
contexto da vida diária. O CRB, por outro lado, estará presente à medida em que as variáveis de controle forem acessadas. O que é entendido por grau ou quantidade de contato não é mais elaborado do que a relação entre a saliência de um estímulo discriminativo (Sd) numa caixa de Skinner e o controle exercido por aquele estímulo. Se uma lâmpada de baixa potência for usada para sinalizar a disponibilidade de comida para a pressão à barra e for ligada enquanto o rato estiver de costas para ela a luz terá um pequeno ou nenhum efeito sobre o comportamento de pressionar a barra. Outra forma de descrever a relação fraca entre a luz sinalizadora e a pressão à barra é que o rato está apenas parcialmente, se tanto, em contato com o estímulo. Mais controle sobre o comportamento pelo Sd pode ser visto durante uma apresentação subsequente da luz se sua intensidade for aumentada e se o rato estiver orientado em sua direção. Então, nós diríamos que o rato teve mais contato com as variáveis de controle. ,
t
Como uma analogia para a situação terapêutica na qual um cliente aprende a reagir de uma nova forma digamos que nós quiséssemos mudar o comportamento do rato no exemplo prévio de maneira que ele coce sua cabeça sempre que a lâmpada acenda, em lugar de pressionar a barra. O procedimento de retreino deveria envolver o reforçamento do coçar somente quando a lâmpada estivesse acesa. Desnecessário dizer que seria impossível fazer o coçar ficar sob controle da luz e eliminar a pressão à barra de uma só vez sem que o rato estivesse em contato com a luz. Não haveria oportunidades de treino. A situação é comparável à dificuldade que um cliente teria em aprender um novo comportamento durante a sessão quando os estímulos de controle relevantes não estivessem presentes. Por exemplo um cliente cujos comportamentosproblema somente sejam provocados por situações íntimas, terá dificuldade em ,
,
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
87
aprender novos comportamentos se a situação provocadora de intimidade não ocorrer durante a sessão.
Entrar em contato com as variáveis de controle pode evocar tanto comportamentos operantes quanto respondentes Por exemplo, a lâmpada na .
caixa de Skinner serve concomitantemente como um Sd que controla o pressionar a barra operante e também como um estímulo condicionado que provavelmente elicia salivação e outras mudanças autonômicas. Similarmente o cliente que entra em contato com as variáveis de controle pode também apresentar tanto comportamento operante quanto respondente. Por exemplo a ocorrência de uma interação íntima entre o terapeuta e um cliente com problemas de intimidade ,
,
pode produzir dois efeitos simultâneos. Um pode ser a expressão de sentimentos envolvendo lágrimas e tristeza (respondentes) enquanto o outro pode ser um CRB envolvendo uma tentativa de terminar a terapia (operante). ,
Dependendo do grau de contato, a luz terá mais ou menos efeitos
discriminativos e eliciadores e em consequência mais ou menos efeitos sobre o comportamento do rato. De modo similar, durante a FAP um cliente pode ter maior ou menor contato com variáveis de controle. Correspondentemente o cliente apresentará mais ou menos dos operantes ou respondentes associados. ,
,
Além de prover novas oportunidades de aprendizagem a limitação da esquiva e o contato crescente com as variáveis de controle têm o efeito de diminuir ,
a esquiva generalizada e aumentar o contato generalizado com o mundo. É nossa suposição que a esquiva em uma área da vida tenha mais repercussões generalizadas, diferentes para cada pessoa. Por exemplo, se alguém evita chorar, pode também evitar demonstração de afeto em geral, e deve ter dificuldade em experimentar sentimentos intensos de qualquer tipo, incluindo prazer e alegria. O caso de Jonathan, um cliente do segundo autor, fornece um exemplo específico do quanto a esquiva em uma área aparentemente pequena apresenta ramificações muito maiores. Ele estava vindo à terapia duas vezes por semana por
f
dois anos e havia feito um imenso progresso-parado de beber, contatado e trabalhado com a dor de ter crescido numa família disfuncional, aprendido como descrever seus sentimentos, desenvolvido um sentido mais sólido de si próprio, e estava começando a desenvolver uma relação íntima na qual havia um grande acordo de troca mútua. Ele estava indo tão bem que havíamos falado em diminuir a requência de sua terapia, mas uma coisa me intrigava. Quando eu perguntei a ele sobre seus sentimentos a meu respeito, ele disse que não tinha nenhum. Ele disse que era grato a mim pela minha ajuda, mas que isto estava restrito a uma relação profissional e
Capítulo 4
não era apropriado que ele tivesse por mim sentimentos iguais aos que ele tinha por outras pessoas de sua vida. Eu estava aberta para a idéia de que não havia similaridades funcionais entre nossa relação e suas relações fora da terapia, uma
vez que estas pareciam ter melhorado muito, sem que nós tivéssemos enfocado muito a nossa relação. Mas eu lhe disse que queria que ele explorasse a possibilidade de que sua esquiva em ter quaisquer sentimentos a meu respeito pudesse significar que ele estava evitando outras coisas das quais nós não estávamos conscientes. Começamos a focalizar muito mais a nossa relação, e Jonathan concordou em
prestar maior atenção a qualquer sentimento que tivesse em relação a mim. Ele começou relatando ter percebido que despertava com sentimentos calorosos a meu respeito e imediatamente ele os cortava. Eu bloqueei a esquiva de Jonathan mudando o foco da terapia para os sentimentos e reações dele que eram dirigidos a mim. Isto o conduziu a ter pensamentos, tais como Eu não mereço ter bons sentimentos, eu vou querer coisas de você e vou ficar desapontado, nossa relação icará cada vez mais fora do controle, eu me sentirei muito vulnerável Nos poucos meses seguintes, eu o encorajei a manter-se atento à nossa relação, às formas pelas quais eu expressava meu cuidado para com ele, e em como ele cortava seus sentimentos a meu respeito. Ele gradualmente passou a ter sentimentos mais intensos dirigidos a mim, e um dia ele veio e disse, Na noite passada eu senti essa ligação em meu corpo e me senti muito bem. Eu não sentia isso há muito, muito tempo [começou a icar choroso] ... desde que eu era garoto... um sentimento de pureza interna,
f
"
"
.
,
f
"
tirando um peso das minhas costas. Eu era realmente um bom garoto [chora] simpático, honesto, precavido... Eu penso que tenho essa coisa geral que há alguns
,
,
sentimentos que não são legais que eu tenha como sentimentos carinhosos pela minha mãe, sentimentos sexuais pelo meu terapeuta e sentimentos alegres como de um garoto." Jonathan também relatou que tinha problemas em atingir o orgasmo durante o sexo, e o que ele experimentava quando estava próximo ao orgasmo era ,
,
similar à maneira como ele evitava ter sentimentos a meu respeito. Em resumo
,
explorar uma área limitada de esquiva com Jonathan abriu mais esferas de
experiência para ele do que qualquer um de nós poderia ter imaginado. A visão da FAP das emoções pode ser contrastada com concepções mentalistas predominantes. Vários sistemas psicoterapêuticos e o publico em geral vêem as emoções como algo que se pode guardar reprimir e descarregar. Por mais atraentes que pareçam ser essas noções elas nos deixam com questões incómodas tais como onde elas são armazenadas, para onde vão quando são descarregadas, e o que é deixado em seu lugar quando são descarregadas Tratar as emoções como ,
,
,
.
entidades leva-nos a focalizar estes tipos de questões e nos desvia para longe do seu contexto como parte da experiência e do comportamento de uma pessoa
.
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
89
LEMBRANÇAS
Ciientes têm dois tipos de lembranças de experiências da infância que são úteis durante a psicoterapia. Um dos tipos ocorre espontaneamente no decorrer da conversação. Por exemplo, enquanto falava sobre o dinheiro devido ao
terapeuta, uma cliente lembrou-se espontaneamente que sua família foi despejada de um prédio de apartamentos quando ela era uma criança porque seu pai havia perdido o dinheiro do aluguel em jogo. O outro tipo de lembrança é diretamente instigado pelo terapeuta. Por exemplo, uma cliente que tenha uma vaga lembrança de um evento incestuoso deve ser encorajada a pensar a respeito do evento e lembrar-se mais sobre o que ocorreu. A visão comportamental desses dois tipos de lembranças estabelece uma visão um tanto diferente das noções predominantes sobre lembranças e sobre como são recuperadas. De fato, o behaviorismo radical não acredita que haja uma coisa tal qual uma memória que seja guardada na "
mente. Porém, nós acreditamos em
"
"
lembrança" e que este processo seja
importante na FAP. Nossa visão é que lembrança é o processo comportamental de ver, ouvir sentir cheiros, tocar, e de sentir o gosto de estímulos que não estejam presentes, Para explicar esta abordagem particularmente estranha das lembranças, nós discutiremos apenas o "ver estímulos" que não estejam presentes, visto que nossos argumentos aplicam-se igualmente aos outros sentidos. ,
Comecemos com a noção de que ver seja um comportamento. Quando vemos uma tulipa, há uma atividade privada ocorrendo. Não podemos descrever a atividade muito bem já que ela é privada e nós não aprendemos como falar sobre ela. Entretanto, é o comportamento privado associado com a atividade fisiológica que ocorre quando vemos alguma coisa. Porém, a atividade privada de ver não é a atividade fisiológica. Talvez uma analogia com o falar ajudará a esclarecer este ponto. Falar é um comportamento.. Diferente do ver, podemos
f
descrevê-lo porque ele é público e nós aprendemos como descrever este tipo de atividade pública. Semelhante ao comportamento de ver, há uma atividade fisiológica associada ao falar. Oposto ao caso do vex, entretanto, o falar não é uma atividade isiológica. Falar fornece estímulos discriminativos; ou seja, podemos ouvir as palavras ditas e descrever movimentos mandibulares, e assim por diante. Ver também fornece uma complexa gama de estímulos discriminativos. Os estímulos discriminativos fornecidos pelo ver são o objeto sendo visto. Assim, a experiência
Capítulo 4
90
que temos quando vemos um objeto é o resultado de estímulos discriminativos gerados pelo comportamento de ver. Lembrar, o comportamento de ver na ausência de um objeto, pode ocorrer de duas formas. Primeira, deve haver um ver condicionado de forma
respondente; quer dizer, o cliente vê X porque X foi sendo associado a outros estímulos no passado. Por exemplo, considere a palavra sete. Para algumas pessoas, pode ter havido um breve vislumbre do numeral 7 em seu olho da mente quando elas viram a palavra impressa. Nós argumentamos que este é um exemplo do ver condicionado de maneira respondente na ausência do objeto (o numeral 7) sendo visto. Similarmente, lembrar de um delicioso jantar em um restaurante pode ser evocado ao passar em frente a este restaurante. No caso "
"
de Nancy (discutido quase ao final deste capítulo), ela espontaneamente recordou-se de uma experiência de separação na casa de uma tia durante sua infância, que fôra previamente esquecida, fsto provavelmente foi o resultado de estar em contato com alguns dos estímulos que foram associados com o trauma original. Dessa forma, durante a sessão, houve alguns estímulos de separação (o terapeuta havia anunciado que estaria saindo nas férias) que foram associados com os estímulos na casa da tia, e o ver condicionado de forma respondente (lembrar) ocorreu. Esta visão do lembrar é consistente com uma vasta literatura sobre a aprendizagem dependente do estado. Esta literatura demonstra que lembrar é facilitado pela ocorrência de estímulos na situação presente que são similares àqueles presentes quando o evento lembrado ocorreu pela primeira vez (Catania, 1984). Anterior à recordação, o lembrar foi inibido porque a cliente evitou o contato com os estímulos relevantes que tanto poderiam ter eliciado o afeto quanto evocado a memória. Deste ponto de vista então, *
,
lembranças espontâneas de eventos traumáticos são um efeito automático do contato e servem como um indicador ou marcador que mostram a presença de variáveis de controle relevantes. Uma vez que o contato tenha ocorrido, comportamentos novos e mais adaptativos podem ser aprendidos. Assim, de acordo com a visão da FAP o problema fundamental produzido pelo trauma passado é que os estímulos presentes que nos lembram do trauma são evitados. ,
Quando é pedido diretamente a um cliente que se lembre de um evento, este é um operante
"
ver na ausência do estímulo
" .
Diferente do ver condicionado
por processo respondente, o qual é eliciado por um estímulo presente que foi pareado com outros estímulos no passado, o ver operante é afetado por estímulos discriminativos verbais ou não estados de privação e reforçamento. Ou seja, o ver operante sem a presença de estímulos ocorre devido a reforçamento passado ,
para tal visualização. De acordo com esta visão, quando se pergunta a alguém
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
91
como é o seu quarto de dormir a pessoa simplesmente se empenha no mesmo ,
comportamento de ver privado (ou similar) que acontece quando ela está de fato no quarto. Este ver é parecido com qualquer outro comportamento voluntário e
sua força reflete sua história de reforçamento passado. Da mesma forma que o ver sem que o estímulo esteja presente é similar ao ver quando o estímulo está presente, o lembrar-se produzirá funções discriminativas similares.
Assim, se você estiver tentando lembrar-se da localização exata da janela ou de uma cadeira em seu quarto empenhar-se na visão do quarto pode ajudar ,
a descrever exatamente onde a cadeira está de um modo muito semelhante a
quando se vê, de fato, o recinto. A pessoa faminta que imagina comida, ou a pessoa sexualmente privada que imagina estímulos sexuais, estão também empenhadas com o ver operante. Nesses dois exemplos a privação (de comida ,
ou de sexo) aumenta a probabilidade do operante (ver comida ou sexo na ausência de um estímulo).
Outra implicação do ver operante é que como outros operantes, este não ocorrerá se foi punido ou se não foi reforçado positivamente. Assim, punição pode resultar em esquecimento seletivo e amnésia. Esquecimento seletivo e amnésia têm um papel principal em transtornos dissociativos tais como, estados de fuga e transtornos de personalidade múltipla (ver Capítulo 6). ,
,
f
Ao ajudar uma cliente a lembrar-se de modo operante de um evento incestuoso que ocorreu em seu quarto, ela poderia primeiro ser instada a lembrarse dos aspectos ísicos do quarto no qual o evento ocorreu. O lembrar-se da cliente é modelado e reforçado pelo terapeuta. Por exemplo, se lembrar-se do quarto produzir aversividade em demasia e for evitado, a cliente pode ser instada a lembrar-se do corredor que levava ao quarto. Lembrar-se de um trauma antigo pode servir a pelo menos duas funções. Uma vez que o trauma tenha sido lembrado, o cliente pode, então, formular uma regra (ver Capítulo 5) que possa ajudar a melhorar o funcionamento da vida diária atual (Zettle, 1980). Por exemplo, Zettle descreveu uma cliente que não gostava de sexo com seu marido por causa de um incesto esquecido. Por ter
esquecido o incesto, a cliente havia formulado uma regra improdutiva de que os problemas sexuais eram devidos à inaptidão de seu marido. A regra era improdutiva porque direcionava o foco de atenção para os temas errados e provavelmente conduzia a discussões e frustração. Uma vez que o incesto foi lembrado, uma regra nova e mais produtiva foi formulada (por ex.: "Eu estou
reagindo negativamente ao meu marido devido a experiências aversivas passadas), a qual, por sua vez, levou a focalizar temas mais relevantes.
Capítulo 4
92
Uma segunda e mais importante função do lembrar é que ele ajuda a reduzir a aversividade dos estímulos que são evitados no presente, e assim ajuda a aumentar o contato com eles e permite a aprendizagem de comportamentos novos e mais eficazes. Ou seja, quando os eventos traumáticos são lembrados de maneira operante, a aversividade é reduzida através de extinção. Na sequência, os estímulos presentes que até então foram evitados porque eliciavam o ver respondente, serão agora contatados. Considerando o caso descrito por Zettle, o lembrar operante do trauma ajuda porque a aversividade é reduzida. Então diminuiria a probabilidade da relação sexual atual ser aversiva e o contato seria ,
melhorado porque o ver respondente evocado seria menos aversivo. O esperado seria que isto ajudasse diretamente a melhorar a relação sexual. De maneira similar, o lembrar operante do trauma passado pode também aumentar o contato com estímulos durante a sessão, os quais por sua vez resultam na evocação de CRB. Por exemplo considere um cliente que apresenta problemas relacionados a não acreditar em outras pessoas e por isso evita relações íntimas. ,
O cliente também evita confiar e formar uma relação próxima com o terapeuta. Suponha que o cliente, então, lembre de forma operante de um trauma precoce de abandono e, em consequência disso reduza a aversividade da lembrança. Então os estímulos que evocam confiança e intimidade na relação cliente-terapeuta os quais lembram ao cliente do abandono (um lembrar respondente) teriam também sua aversividade reduzida. Dessa maneira, os CRB2s de confiança e intimidade se tornam mais prováveis de ocorrer e de ser fortalecidos pelo terapeuta. ,
,
,
Na estrutura da FAP, a esquiva de memórias é problemática pois interfere com o contato de estímulos importantes na relação cliente-terapeuta. Assim como o afeto, a lembrança espontânea de eventos traumáticos é um sinalizador que indica contato com estímulos clinicamente significantes dentro da relação terapêutica.
IMPLICAÇÕES CLINICAS
As implicações clínicas de nossa conceituação teórica das emoções
conduzem a um conjunto de recomendações: (1) ofereça uma racional comportamental para a importância da expressão afetiva (2) aumente o controle privado do cliente sobre sentimentos, (3) aumente a expressão afetiva do terapeuta e (4) melhore o contato do cliente com variáveis de controle. Alguns ,
,
dos nossos métodos são semelhantes ou idênticos a técnicas de outras terapias;
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
93
o encorajamento difundido e a facilitação da expressão afetiva como um enfoque na terapia fala da utilidade de tal expressão. Embora não necessariamente únicos nossos procedimentos partem de fundamentos teóricos muito diferentes das outras terapias. Dessa forma, como acontece com várias terapias frequentemente o por que nós fazemos o que fazemos nos distancia de outros sistemas mais do que aquilo que nós realmente fazemos. Nossas recomendações são discutidas ,
,
abaixo.
Ofereça uma Racional Comportamental para Entrar em Contato com Sentimentos
AFAP difere significativamente de outras visões no fato de que a ênfase não é na liberação catártica como um fim nela mesma. Nós acreditamos que a esquiva de sentimentos é obtida por meio de contatos reduzidos com variáveis de controle para os CRBs, o que por sua vez diminui a oportunidade para a aquisição de novo comportamento. A explicação que damos ao cliente sobre a importância de entrar em contato com os sentimentos não envolve apelos tais como
"
É bom colocar para fora, liberar aqueles sentimentos reprimidos" ou,
Se você segurá-los, eles vão sair de outro jeito." Ao invés disso, é dito ao cliente que a emoção é apenas um produto eventual do lidar com os problemas, ou do entrar em contato com estímulos importantes. A ausência de emoção, entretanto, é um problema sério indicando uma esquiva que interfere com a "
terapia e também interfere com outras áreas da vida do cliente. Assim, a expressão emocional é crucial, não porque seja curativa por si mesma, mas porque serve para mostrar que o cliente está em contato com variáveis de controle importantes, e que novos comportamentos podem agora ser aprendidos.
Em termos leigos, para um cliente que passou recentemente pelo fim de um relacionamento, nós podemos dizer algo parecido com, É importante que você se deixe entristecer, porque se você evitar pensar, sentir, falar sobre Jesse, "
você acabará evitando muitas coisas, tais como atividades que vocês faziam
juntos ou encontrar novos homens, coisas estas que poderiam aflorar quaisquer r
sentimentos sobre ele. Evitando todas essas coisas, não é apenas a iqueza da
sua vida que sofrerá interferência, mas você também não terá oportunidade de imaginar o que aconteceu de errado e de aprender novas formas de lidar com "
alguém próximo a você quando problemas semelhantes aparecerem Idealmente, a resposta do terapeuta a demonstrações de emoção deveria .
ser naturalmente reforçadora. É improvável que um terapeuta que tenha
Capítulo 4
94
dificuldade com sua própria expressão afetiva ou com a expressão afetiva de outros ofereça tal encorajamento, e pode punir o afeto do cliente. Por essa razão, alguém com este tipo de repertório deficiente será claramente menos capaz de trabalhar bem com clientes que requeiram contatos gradativamente maiores com estímulos que evoquem respostas emocionais.
Aumente o Controle Privado de Sentimentos
Frequentemente, acontece a seguinte interação entre terapeuta e cliente:
T: O que você está sentindo neste momento? *
1
C: [pausa, parece perplexo] Eu não sei.
-
Nossa interpretação sobre esta observação é baseada nos estímulos (o ambiente) que são encontrados no consultório psicoterapêutico típico. A situação é geralmente aprazível - as luzes são relativamente amenas, as janelas deixam entrar pouca luz e a decoração é neutra. Usualmente, cliente e terapeuta estão sentados e inativos exceto por falarem e se moverem dentro dos limites da
,
poltrona. As expressões faciais, gestos, e tom de voz do terapeuta são relativamente controlados. Já que há uma quase completa ausência de estímulos públicos que possam indicar aos clientes como eles estão se sentindo, eles precisam contar quase que exclusivamente com estímulos privados. Se a sua história passada falhou em dar-lhes controle suficiente através de estímulos privados, então eles serão incapazes de responder à questão do terapeuta. Dessa forma, o ambiente terapêutico típico é evocativo do CRB de controle público acidental de emoções. Um objetivo do tratamento para CRB1 associado com controle público acidental pode ser direcionado a fornecer mais controle aos estímulos privados associados com sentimentos. Para alcançar isto em primeiro lugar o terapeuta deve estar razoavelmente certo de que os estados corpóreos relevantes estejam presentes e em segundo lugar, usar os princípios de treino discriminativo de forma a que os estímulos privados do cliente (estados corpóreos) ,
,
,
ganhem controle sobre a descrição de sentimentos.
Suponha que esse tipo de interação tenha se estabelecido no início de um processo de terapia e que o problema do cliente era uma inabilidade em ,
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
95
expressar sentimentos. Além disso que ele tivesse descrito em tom monótono ,
como um colega de trabalho o traiu. Nós o encorajaríamos a reviver a experiência
,
descrevendo detalhes da traição. Nossa esperança é que este recontar dos detalhes possa evocar os estados corpóreos de raiva. Nós também o observaríamos cuidadosamente para tentar encontrar qualquer sinal de raiva. Então seria dito a ele Se isto acontecesse para mim, eu estaria com muita raiva e parece que você deve estar experimentando alguma raiva neste momento" Depois de alguns eventos terapêuticos similares nos quais o cliente é incitado especificamente para tatear a raiva, a especificidade das dicas deve ser gradualmente retirada. O "
,
.
objetivo é fazer com que os estados corpóreos privados do cliente ganhem controle sobre seus relatos de raiva.
Do ponto de vista da FAP a potência da intervenção terapêutica é fortalecida se a situação emocionalmente evocativa ocorrer de fato na sessão ,
.
Por exemplo suponha que um cliente implore ao segundo autor para que ligue para o seu chefe com o propósito de ajudá-lo a conseguir um vital aumento de ,
salário. Eu recuso, e observo que o cliente parece desapontado e magoado. Neste ponto, eu estou razoavelmente certa de que os estados corpóreos relevantes de raiva estão presentes. Usando os princípios de treino discriminativo, inicialmente eu proveria estímulos públicos proeminentes para induzir o cliente aos sentimentos que deveriam ser sentidos. Eu poderia dizer, Você parece magoado e desapontado, e é o que eu sentiria se eu estivesse no seu lugar". Então, depois de várias ocasiões nas quais uma variedade de situações de mágoa e desapontamento tivessem sido processadas, eu gradualmente iria fornecer menos orientação pública. No lugar de declarar sentimentos específicos, eu diria, Esta situação me lembra de outras que você viveu no passado nas quais você sentiu alguns sentimentos fortes Mais tarde, na terapia, a simples pergunta "Como você se sente? seria suficiente. Uma sobreposição existe entre as condições que levam a uma falha do controle privado dos sentimentos e problemas do self. (Este tema "
"
"
.
"
e o processo terapêutico que conduzem a um crescente controle de estímulos privados sobre as respostas do cliente serão discutidos no Capítulo 6.)
Dada a preponderância da inabilidade dos clientes para responder ao terapeuta quando perguntados a respeito de como eles se sentem, o controle público acidental de emoções pode ser mais comum do que se imagina. Uma falha na clareza daquilo que alguém está realmente sentindo enquanto adulto, refíete a inevitabilidade dos problemas que ocorrem quando entidades externas
(por exemplo, um dos pais) tentam dar um significado para uma experiência interna da criança que eles não podem ver ou conhecer.
/
Capítulo 4
96
Aumente a Expressão de Sentimentos pelo Terapeuta Com clientes que tenham dificuldade em aceitar o carinho de outros (a
esquiva da expressão de sentimentos de atenção por outros), e que precisem de ajuda para ter contato com seus sentimentos e expressá-los, especialmente sentimentos de intimidade, nós encorajamos uma expressão ativa de sentimentos por parte do terapeuta. Por exemplo, a interação seguinte foi estabelecida entre
o segundo autor e Evelyn, cliente há Quatro anos. C: [enquanto criança] Eu tinha muita vergonha de ser pobre, de não ter nada. Minha mãe me humilhava por ser bêbada e por partir toda vez que estava bêbada. N inguém era saudável o suficiente para ser agradável. Não havia nunca qualquer segurança,
lugares bons. Eu até via você da mesma forma que eu costumava ver as pessoas que tentavam ser legais. Não é real, eu não estou segura, as pessoas não são capazes
de cuidar das outras. Isto sim é verdade. É perigoso demais confiar. No meu íntimo, eu sinto que não é seguro.
T: Certamente não foi seguro durante o seu crescimento. Com referência à minha delicadeza não ser real, na semana passada eu pedi a você que tentasse sentir o meu carinho e você disse que sentiu angústia. I
C: Sim, pontadas de angústia, uma invasão nos meus limites. Este é o último soldado que não se rendeu porque a guerra ainda continua. Como aqueles caras que você encontra rastejando entre as árvores, ainda armados dez anos depois que a guerra terminou. Para sobreviver a todos aqueles abusos, este é o último vestígio, a crença de que o mundo ainda é ruim. Eu não sei como fazer as pessoas me amarem. Este é o segredo - eu não sei como fazer isto. i
T: Você pode começar prestando atenção na suavidade da minha voz, nos meus olhos, no toque das minhas mãos, quando eu falo com você, e a pensar sobre todos os momentos especiais que nós tivemos trabalhando juntas todos estes anos.
C: 'Minha sensação é que, se você realmente me conhecer, você não vai gostar de mim.
T: Eu a conheço melhor do que qualquer outra pessoa não é? ,
C: É.
f
T: (Eu me coloquei sentada diretamente em rente a ela e pedi que ela olhasse nos meus olhos enquanto eu falava.) Evelyn, quando eu penso em você tenho sentimentos de
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afeição e amor no meu coração. Você é muito especial para mim Você sobreviveu a tantos traumas e você é uma pessoa maravilhosa e talentosa. Eu tenho estima por você e quero o melhor para você. Eu considero um verdadeiro privilégio que você .
,
tenha se mostrado tão vulnerável para mim que você tenha me deixado saber quem ,
você é, e que me tenha sido permitido ver você mudar e florescer neste tempo
.
C: [começando a chorar] É difícil pra mim me permitir acreditar em você Como é que .
.
ninguém disse isso antes para mim?
Dizer a Evelyn o que eu sentia por ela teve pelo menos quatro funções A primeira, deu a ela uma oportunidade para aprender através de exemplo, .
,
como expressar sentimentos de carinho. Segunda eu bloqueei sua esquiva da ,
minha expressão por intermédio de fazê-la experimentar a aceitação dos sentimentos de carinho vindos de uma outra pessoa numa relação próxima (CRB2). Terceira, dar a ela informações sobre os meus sentimentos me torna
mais vulnerável a ela. Isto aumentou sua capacidade para predizer o meu comportamento e em consequência sentir-se mais segura na relação. Finalmente dizer-lhe os meus sentimentos positivos em relação a ela, ajudariam Evelyn a desenvolver auto-tatos mais positivos, tais como "Eu sou uma sobrevivente eu sou especial, eu sou maravilhosa, eu sou talentosa Estes auto-tatos poderiam ajudar da mesma maneira que a terapia cognitiva faz algumas vezes (ver Capítulo ,
,
"
.
5 para uma interpretação comportamental deste fenómeno).
Melhore o Contato do Cliente com Variáveis de Controle
Como nós temos reiterado, trazer comportamentos clinicamente relevantes (CRBs) para a sessão é a maior prioridade para o terapeuta que esteja exercendo a FAP. Algumas vezes, estes CRBs não ocorrem porque o cliente não está em contato suficiente com as variáveis de controle. No contexto
de nossa discussão das emoções, consideramos uma variável de controle como <
sendo qualquer coisa no presente que lembre a alguém eventos emocionalmente estressantes ou traumas que ocorreram no passado. São inúmeros os exemplos de variáveis de controle e são, é claro, idiossincráticos para o indivíduo. Eles podem incluir questões ou declarações feitas pelo terapeuta, a intimidade na relação terapêutica, uma foto de alguém amado, cenas de um filme ou um livro, uma canção específica ou o horário do pôr-do-soL Desnecessário dizer que nós estamos mais interessados em variáveis de
controle que possam ser produzidas na terapia. De fato, todos os exemplos
Capítulo 4
98
anteriores poderiam ter sido incorporados a uma sessão. Em geral, a tarefa do terapeuta é aumentar o contato do cliente com variáveis de controle e limitar a sua esquiva de situações, as quais ocorrem durante a sessão e que evocam afeto. Quando o contato ocorrer, haverá expressão afetiva, a qual, por sus vez, pode evocar mais comportamentos de esquiva. Assim, a expressão da emoção por parte de um cliente durante a sessão serve como um indicador de que o cliente está em contato com as variáveis de controle que eliciam a emoção. O afeto aponta que está havendo contato da mesma forma que uma pessoa que chega perto de um forno quente mostra o contato real com o forno através de (1) gritar de dor, (2) retirar a mão da superfície
quente, e (3) dizendo, Ôrra! Isto está quente!". Todas essas expressões de afeto são evocadas pelo contato com o fogão quente. O estado corpóreo que é sentido é a experiência associada de dor. Se um cliente não estiver em contato com variáveis de controle relevantes que eliciariam uma resposta emocional em outros "
contextos diferentes, emoções consideradas um marcador e o CRB associado não ocorrerão.
Note que esta análise de variáveis de controle e formas de contatá-las é uma elaboração da Regra 2 (ver Capítulo 2) - Evocar CRBs". Três recomendações principais que ajudam o terapeuta a propiciar ao cliente entrar em contato com variáveis de controle serão agora discutidas: (1) Reapresente o estímulo aversivo. (2) Enfoque as formas peias quais o cliente está evitando afeto. (3) Enfoque o afeto do cliente relacionado a similaridades funcionais entre terapia e vida cotidiana. "
Reapresente o estímulo aversivo i
f
Observar quando o cliente está tentando evitar afeto e então reapresentar o estímulo aversivo ou variável de controle relevantes, requentemente bloqueará a esquiva do afeto pelo cliente. Dois estudos de caso ilustram este princípio. /
No primeiro caso, o primeiro autor estava conduzindo uma entrevista inicial com Amy, uma contabilista de 48 anos de idade que sofria de uma inexplicável dor de cabeça 24 horas por dia. Amy era muito meticulosa com datas e lugares medicações, história de trabalho, e coisas semelhantes. Ela era incapaz, entretanto de precisar o início de sua dor exceto ao dizer que ela havia ,
,
começado 8 ou 9 anos atrás e que estava presente desde então. Ela pareceu ficar
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perturbada quando eu insisti em minhas questões sobre a data do início. Ela também era hábil em mudar o tópico da conversa e o fez muitas vezes Eu .
avaliei a esquiva como um possível CRB1 e continuei pressionando para o ccntato com variáveis de controle. Eu lhe pedi que me desse um inventário de todos os eventos importantes que haviam ocorrido há 8 e depois 9 anos atrás. Eu queria saber, por exemplo, o que ela havia feito no Natal que hóspedes ela teve durante o ano, que médicos ela havia consultado se havia algum problema ,
,
,
conjugal, etc. Conforme a entrevista continuou e a esquiva foi sendo bloqueada repetidas vezes, ela mostrou mais e mais sentimentos. Quando eu perguntei a ela como se sentia, ela disse que se sentia bem. Eu tomei isto como evidência de que ela não estava sentindo muito bem seu estado corpóreo. Eu persisti com
minhas perguntas sobre eventos significativos durante aquele período de tempo
,
e finalmente ela falou sobre a morte de sua filha de 14 anos ocorrida 8 anos
atrás. Ela ficou sufocada com lágrimas, e o seu corpo tremia e seus braços se agitavam com angústia. Eu gentilmente a encorajei a recontar em detalhes as circunstâncias que envolveram a morte de sua filha. Antes desta catarse ela ,
havia evitado completamente qualquer situação que estivesse ligada à morte de sua filha. Ela mudou-se para uma nova casa sem nunca voltar para a antiga vizinhança, evitou quaisquer discussões que pudessem conduzir a assuntos sobre sua filha, mudou seu escritório, passava as férias fora de Seattle (cidade onde '
morava), e nunca se lamentava. De várias formas sua vida havia se tornado
f
extremamente restrita. Eu a encontrei uma semana depois e ela relatou que sua dor de cabeça havia desaparecido. Minha interpretação da dor de cabeça de Amy é que ela era causada por um estado corpóreo crónico, ou seja, a dor tinha uma origem ísica diretamente ligada a um estado corpóreo crónico que era evocado pela aversividade da esquiva ampliada Os eventos da sessão preveniram esquivas posteriores e o corpo de Amy voltou a um estado mais *
.
normal; a dor desapareceu.
O segundo caso é o de Roxie, uma cliente do segundo autor. Roxie tinha uma história de episódios de depressões severas, tentativas de suicídio, e alucinações. Esses episódios intensos pareciam ser provocados por situações interpessoais nas quais Roxie era criticada, contrariada ou até mesmo rejeitada. Ela reagia de forma muito emotiva a tais eventos e arriscava-se em comportamentos tais como, tentar se apunhalar com uma faca ou ingerir uma overdose de barbitúricos. Isto era particularmente verdadeiro quando a rejeição *
Este é um exemplo no qual pode-se dizer que um sentimento causou um sintoma; ou seja, o smtoma (dor de cabeça) era um estado corpóreo que era o resultado direto de outro estado corpóreo (evocado pela aversividade que ela estava evitando).
Capítulo 4
100
ocorria em uma relação que evocava apego e dependência. Depois de dois anos de terapia marcados por várias crises, a relação terapêutica desenvolveuse ao ponto de ter se tornado próxima do tipo de relação que poderia evocar episódios graves se Roxie experimentasse uma rejeição por parte da terapeuta. Do ponto de vista da FAP, tal ocorrência poderia fornecer uma oportunidade inestimável para o desenvolvimento de formas mais efetivas de lidar com a rejeição (CRB2) e aumentaria o auto-entendimento (CRB3).
f
Apesar de relutante, eu estava antecipando justamente uma oportunidade destas porque eu estava prestes a dizer a Roxie que a quantidade e o tipo de chamadas telefónicas que ela me fazia à noite e no final de semana deveriam ser restringidos. Quando esta limitação foi apresentada a Roxie, ela pouco pareceu reagir à informação. Ela não chorou nem agiu com raiva, mas somente pareceu icar menos falante e mudou o assunto. Parecia que havia sido feito pouco contato com a situação presente. Era como se ela não tivesse ouvido ou entendido o que havia sido dito. Numa tentativa de levar Roxie a entrar em contato com os estímulos
que poderiam evocar a resposta emocional, eu voltei ao assunto de estabelecer as limitações, pedindo a Roxie que repetisse o que havia entendido sobre a limitação nas chamadas telefónicas. Conforme Roxie faiava, tornou-se mais agitada. Enfocando novamente o assunto e com as minhas observações declaradas de sua esquiv , Roxie começou a sóluçar e rapidamente vocalizou um pensamento suicida. Nos vários meses seguintes Roxie obteve um entendimento maior das variáveis de controle (CRB3) - um estímulo discriminativo complexo envolvendo sua ligação a mim, a limitação das chamadas telefónicas, e uma história de rejeição e abandono. Além disso, no toma-lá-dá-cá da interação, ela aprendeu uma nova forma de reagir à rejeição. Ao invés de esquivar e ocupar-se com comportamento suicida, ela aprendeu a discutir sua dependência e medo do abandono e buscar segurança em mim. Ela foi levada gentilmente a examinar quais dos seus comportamentos afastavam as outras pessoas, incluindo a mim mesma. Eu tentei dar a ela segurança sobre meu compromisso com o seu crescimento e melhora contínuos, tanto em palavras quanto em açoes. Eu também persisti em colocar limites nas chamadas telefónicas. A lição mais importante para Jloxie foi que o seu contato com estímulos evocativos na sessão resultou numa relação mais íntima (mais reforçadora). Assim ela tornou-se capaz de experimentar o meu cuidado (segurança atenção, ajuda na solução de problemas, etc.) ao mesmo tempo em que ela também entrou em contato com os aspectos emocionais de ter os seus privilégios telefónicos limitados. Embora tenha demorado vários meses Roxie era repetidamente levada a entrar em contato ,
,
,
,
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101
com a limitação das chamadas telefónicas e com as reações emocionais que eram evocadas. Este provou ser o momento crucial para mudar a maneira como ela reagia à rejeição e criou as condições para o desenvolvimento de outros repertórios interpessoais melhorados
.
Focalize as formas pelas quais o cliente está evitando afeto Em adição à reapresentação do estímulo outra forma de aumentar o ,
contato com variáveis de controle ou de bloquear esquiva é pedir para que o cliente observe atentamente o que ele está fazendo para ignorar o sentir Com a .
"
pergunta, O que você está fazendo agora para impedir a si mesmo de sentir?"
,
nós encontramos que entre a maioria das formas pelas quais os clientes evitam afeto incluem-se as seguintes: (1) atividades cognitivas de distração (por exemplo
,
contar para trás de sete em sete a partir de mil enfocar uma imagem em branco, repetir para si mesmo Eu não vou chorar"); (2) estreitar o campo visual (por exemplo, olhando atentamente para alguma coisa do lado de fora da janela ou ,
"
,
um pequeno obj eto no consultório corno o botão de cirna da camisa do terapeuta
,
ou uma mancha no teto) e (3) atividades cinestésicas distrativas (tensionando os músculos, permanecendo bem imóvel ou não respirando). A partir do momento em que conhecemos o que eles estão fazendo para esquivar do afeto pedimos a eles para pararem de fazê-lo ou que façam alguma coisa incompatível assim como respirar profundamente e devagar ou olhar nos nossos olhos. Algumas vezes, simplesmente perguntar Há alguma coisa que você está evitando pensar ,
,
,
,
,
"
"
ou falar neste momento? trará à vista um tema intenso e o seu afeto associado.
Focalize no afeto do cliente relacionado às similaridades funcionais entre terapia e vida cotidiana Uma similaridade funcional entre terapia e o dia-a-dia é qualquer coisa na situação terapêutica que possa evocar sentimentos ou ações no cliente, similares aos evocados por uma situação fora da terapia. Para ilustrar, voltaremos ao caso de Nancy, cujos problemas centravam-se em criar e manter relações íntimas. Ela havia estado em FAP com o primeiro autor por vários meses e uma relação gradativamente mais próxima foi desenvolvida. Embora tenha ocorrido progresso, algumas deficiências de repertório ainda se mantinham. Uma delas, conforme descrita por Nancy, dizia respeito a um medo de que a pessoa de quem ,
Capítulo 4
102
ela se tornava próxima poderia desaparecer, que nunca voltaria depois de estar temporariamente separada dela devido a uma viagem ou outra razão qualquer. Ela sentia que ficaria desolada e não seria capaz de continuar com a sua vida. Nancy via esses sentimentos como parte da sua relutância passada e presente em se tornar intimamente envolvida. Este problema também interferia nas relações conforme elas iam se desenvolvendo, por causarem a ela tanto uma intensa tristeza quanto a fuga da situação, quando ameaçada por separação. Ela podia também relacionar seus medos a ter sido deixada por um namorado vários anos antes.
O julgamento de Nancy sobre como seus medos relacionavam-se a seus problemas de relacionamento é uma descrição de seu comportamento-problema e das possíveis variáveis de controle (CRB3). Seu relato, entretanto, não constituía uma real ocorrência do problema durante a sessão (CRB1). Do ponto de vista da FAP, as chances de melhora clínica são aumentadas se os medos e CRBs associados provocados pela intimidade realmente ocorrerem na relação
terapêutica e, em decorrência, fornecerem para o cliente uma oportunidade para aprender novas formas de responder. Além disso, uma descrição do seu comportamento-problema e das variáveis de controle, baseadas em um evento que ocorra durante a sessão, deveria ser mais benéfico do que basear-se apenas no comportamento do passado do cliente.
As propriedades indicadoras de afeto foram observadas no instante do choro de Nancy quando eu contei a ela sobre um período de duas semanas de férias no futuro próximo. Depois de relatar uma tristeza esmagadora, ela então tentou minimizar o evento
mudando de assunto, e com um sorriso falou sobre não precisar mais de terapia. Eu estava consciente de que um CRB1 provavelmente estaria ocorrendo. Em consequência disto, depois de algumas palavras de empatia, eu voltei ao assunto da minha futura viagem. Nancy ficou de novo chorosa e uma discussão intensa seguiu-se, envolvendo nossos ,
i
_
_
sentimentos um em relação ao outro, tanto quanto possíveis soluções para o
problema imediato causado pelas férias, tal como ter contato telefônic . Em adição, uma lembrança de uma experiência traumática infantil de ter sido deixada na casa de uma tia foi relembrada por Nancy.
Durante a sessão seguinte ao meu retorno, Nancy relatou que ela se sentiu muito melhor durante a minha ausência do que ela podia ter imaginado.
A interação foi boa durante aquela sessão com ambos nos sentindo próximos um do outro; isto foi diferente das interaçÕes raivosas e ressentidas que usualmente %
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
103
seguiam as reuniões anteriores com pessoas significativas
,
incluindo a mim
mesmo. Nos meses subsequentes nossas separações tornaram-se menos ,
perturbadoras e, consequentemente, Nancy relatou que era capaz de permanecer estável e não abandonar a relação ao pensar na separação de uma pessoa com a qual ela estivesse se envolvendo. Parecia que novos repertórios interpessoais a respeito de separação dentro de uma relação íntima haviam sido desenvolvidos
.
A expressão de Nancy sobre seus sentimentos foi importante em duas maneiras. Primeira, sua presença foi uma indicação de que a situação terapêutica era funcionalmente similar às suas situações cotidianas que envolviam intimidade e separação. Expressões similares de sentimentos e de retraimento da situação
ocorreram quando a ameaça de separação ocorreu tanto na vida diária quanto na terapia. Um terapeuta que esteja atento para estes tipos de similaridades será mais capaz de detectar CRBs. Segunda o desaparecimento de afeto junto com a tentativa de mudar o tema foi indicativo de que a cliente estava perdendo ,
contato com variáveis de controle. Eu interferi trazendo novamente à tona a
separação iminente, o que ajudou a manter contato com as variáveis de controle
.
Se o contato é mantido, o CRB pode ocorrer e gerar a oportunidade para a aprendizagem de repertórios melhorados.
CASO ILUSTRATIVO
Kelly, 24 anos de idade, a mais nova de três irmãos veio à terapia com ,
o primeiro autor apresentando os seguintes problemas: dores de cabeça
,
depressão, relacionamentos caóticos, tornando-se chorosa e com demonstrações similares de emoção sem qualquer motivo aparente, e sentindo-se desajeitada, inadequada incompetente, sem valor, e sem importância. Parte de sua história familiar envolveu seu pai abandonando a família quando Kelly tinha 8 anos e, posteriormente, encontros com ele a cada 5 anos aproximadamente. Ela disse que não tinha nenhum sentimento e poucas lembranças a respeito de seu pai. Sua história interpessoal é caracterizada por interações sociais com homens, a partir da perspectiva de ser superior ou inferior à pessoa com quem ela está falando. Uma pessoa que seja superior a ela pode aceitá-la ou abandoná-la, tem pouca consideração por ela, não a respeita e finalmente a abandonará. Ela sente atração por homens que são superiores a ela mas, ou evita estar envolvida com eles ou tem uma relação passional mas estressante na qual ela se sente sem forças para terminar e sabe que será deixada. Durante os primeiros quatro meses ,
Capítulo 4
104
de FAP, ela esteve distante e mostrou pouco afeto. Quando questionada sobre "
o que ela achava que eu sentia ou pensava sobre ela, respondeu, Como uma pessoa que você vê muito mas que você nunca pensa nela até que você a veja... eu não sei como descrever isto, é como se eu existisse sem uma presença
" .
Seu sentimento de existir sem presença reflete sua história. Ela não teve
nenhum homem importante que tenha se dedicado a ela, ela foi ignorada na
presença deles. É compreensível que por esta razão ela se sinta desprezível e sem importância na presença do terapeuta. A interação continuou: T: Bem, como você reage a mim? (Esta é uma questão padrão da FAP que tem por
objetivo trazer os tatos sob o controle dos estímulos inerentes à sessão).
C: Eu tenho este tipo de temor reverente. É muito... você é a autoridade e é ótimo que
você esteja olhando por mim. É. Eu não me permito ser colocada numa posição na qual eu possa ser machucada. Eu penso que é assim, mas parece muito cliché que eu não confio em ninguém, mas não é tanto isto quanto alguém olhar para mim pelo que eu sou. Eu sei que algumas vezes eu realmente não me vejo desta maneira com outras pessoas, você sabe, mas eu me sinto inferior. (A cliente está descrevendo nossa relação de uma forma que parece similar a como ela se sente em relação a outros na sua vida diária. Ela evita envolvimento emocional com homens que são
superiores a ela porque senão ela pode ser magoada. Sua descrição é um CRB3. A resposta é boa do ponto de vista da FAP porque está principalmente sob controle de estímulos inerentes à sessão.) 4
T: Agora em nossa relação, como você pode ser magoada por mim? C: Bem, houve algumas ocasiões em que eu prendi a respiração esperando por você, e você traz alguma coisa à tona e eu não estou segura para onde isto está se dirigindo. É como se você fosse dizer "Bem, eu cheguei à conclusão de que eu devo parar de vê-la, isto não está funcionando
" .
E, é como se eu estivesse esperando ser dispensada
o tempo todo.
(Kelly começou a chorar neste ponto. Falando sobre nossa relação, ela teve contato com estímulos evocativos associados a ter sido abandonada. Ela está "
tateando seus sentimentos que são evocados na sessão. Devido ao seu abandono primitivo, ela evita permanecer nesse tipo de situação no cotidiano. Esta esquiva contribui para os seus problemas de relacionamento. Seu afeto sugere que a relação cliente-terapeuta fornece uma oportunidade de superar sua esquiva e seu medo através do contato repetido com o estímulo evocativo, experimentando um resultado melhor do que no seu passado e em consequência melhorando suas relações na vida diária.) (Poucos minutos mais tarde) ,
Emoções e Lembranças na Mudança do Comportamento
105
T: Você estava, por assim dizer chorosa antes, certo? ,
C: Sim. Eu fico desse jeito muitas vezes. Eu fico desconcertada e sufocada
.
T: Deve haver alguma coisa que apareceu na nossa conversa originada no que nós estávamos falando e que te atinge. (Eu estava sugerindo que variáveis externas algo na nossa interaçao eram responsáveis por sua resposta emocional.) ,
,
,
C: É. T: E você não sabe o que é? C: Não, eu não sei.
T: Então, há um tipo de gatilho emocional aqui e você não está certa do que dispara o gatilho.
>
-
C: Quando eu vi meu pai pela primeira vez desde que eu tinha 15 anos, que aconteceu quando eu estava com 19 ou 20, eu devo ter chorado por dois dias seguidos. Quero dizer literalmente baldes de choro, eu não conseguia parar de chorar. Eu até ria durante o choro e eu pensava.... bom, seja o que for. (Esta é uma lembrança que foi evocada por eventos ocorridos na sessão que também evocaram respostas similares àquelas da situação lembrada.)
(Mais tarde na mesma sessão) T: Há um tipo de gatilho emocional aqui que, sem dúvida, foi causado pela sua relação com seu pai, e que, agora há pouco, surgiu entre nós. Você está convivendo com uma reação em você que não entende e que não pode antecipar a sua ocorrência. (Eu estou oferecendo uma interpretação - Regra 5.)
No decorrer dos 2 anos seguintes, CRBs relacionados a seus medos e a lembranças sobre seu pai continuaram a ocorrer enquanto Kelly formava uma
relação mais próxima comigo. Durante esse tempo, eu expressei abertamente meus sentimentos (incluindo minha alta estima por ela) e os expressei da mesma maneira que ela era encorajada a fazer. Como discutido previamente, a expressão de sentimentos pelo terapeuta tem vários efeitos positivos. Neste caso, eu me tornei mais previsível para Kelly
e ela sabia melhor o que esperar, um contraste em relação à maior parte de suas relações anteriores que foram experimentadas como perigosamente imprevisíveis.
Sua capacidade em predizer melhor o meu comportamento, por sua vez, reduziu
%
106
Capítulo 4
sua esquiva e facilitou sua expressão de sentimentos. Da mesma forma, ela experimentou isto com uma confiança crescente em mim. Além disso, minha abertura e declarações positivas espontaneamente aumentaram enquanto ela se tornava mais expressiva emocionalmente, fornecendo assim reforçamento natural
para suas melhoras. Sua expressão emocional aumentada aliada à minha aceitação dessa expressão encorajou e fortaleceu o self(ver Capítulo 6). Houve também várias discussões a respeito das características da nossa relação e sobre cada um de nossos repertórios que a tornavam tão reforçadora (Regra 5, CRB3). Essas descrições verbais ajudaram Kelly a conhecer especificamente o que esperar em uma boa relação. A experiência positiva da nossa relação permitiu a ela procurar por relações positivas similares em.sua vida diária. Próximo ao final da terapia de Kelly, ela estava relaxada e confiante durante as sessões. Ela se relacionava comigo como uma igual e não existia mais aquele temor reverente em relação a mim. Ela valorizava a nossa relação e via a si própria como sendo importante para mim. Suas relações com homens também refletiram esta melhora.
r
%
5
Cognições e Crenças J
O primeiro autor pediu a Harriet que mudasse o horário regular de sua sessão terapêutica de segunda-feira às 17hs para terça-feira às 15hs. Embora tenha concordado, Harriet revelou várias semanas mais tarde, que a mudança lhe ,
,
havia causado uma grande quantidade de problemas. Para acomodar a mudança
,
ela teve que reorganizar seus horários de trabalho e de escola, e seus problemas atuais de ansiedade e depressão aumentaram. Quando questionada do porque não recusou o pedido ou explicou o quanto a mudança seria difícil Harriet deu a seguinte explicação. Embora lhe tenha ocorrido contestar, pensou: Minha boa .vontade em concordar mostra quanto eu me preocupo com você e, além disso, eu não queria que você se zangasse comigo. Eu não posso suportar a ideia de que pessoas com quem eu me importo fiquem zangadas comigo". .
,
"
Assim como Harriet, os clientes frequentemente descrevem e/ou agem de forma a sugerir uma relação causal entre seus pensamentos e sentimentos e seus comportamentos (públicos). A visão do terapeuta sobre a natureza da relação causal entre os pensamentos (ou cognições) e o comportamento (ou ações e sentimentos) é importante, porque tal visão afeta o que ele diz e faz no decorrer da terapia. Em nenhum contexto isso é mais aparente do que nos procedimentos amplamente usados pela terapia cognitiva. Como muitos terapeutas estão familiarizados com os
107 è
Capítulo 5
108
preceitos da terapia cognitiva, nós a usaremos como base de comparação para realçar as similaridades e diferenças da Psicoterapia Analítica Funcional (FAP). De maneira geral, nós acreditamos que a terapia cognitiva seja um tratamento útil que pode ser melhorado com a adição da teoria e da prática da FAP.
TERAPIA COGNITIVA
Existe uma considerável diversidade dentro do que é compreendido como teoria e prática da terapia cognitiva, e a forma específica em que se estabelece a relação pensamento-comportamento depende de cada orientação em particular e da concepção que cada uma tem sobre pensamentos. Por exemplo, Albert Ellis (1962,1970), um pioneiro da terapia cognitiva, introduziu a ideia de que os pensamentos e sentimentos do cliente poderiam ser representados através da Figura 2a, na qual A representa eventos ambientais externos, B representa cognição e C é a ação e/ou emoção resultantes. Para Ellis o tratamento clínico então envolveria dar aos clientes a explicação ABC de seus problemas e direcionar esforços para mudar B, para que B não fosse mais ,
disfuncional.
Como há problemas com esse paradigma ABC ele foi revisto (Beck, Rush, Shaw & Emery 1979; Guidano & Liotti, 1983; Hollon & Kriss, 1984; Turk e Salovey, 1985). É nossa opinião no entanto, que a reformulação da terapia cognitiva jogou fora o bebé junto com a água da banheira; ou seja ela tem perdido algumas das características clinicamente úteis da formulação ABC e não tem abordado os problemas adequadamente. Antes de olhar a visão revista da terapia cognitiva, deixe-nos brevemente examinar alguns dos problemas com ,
,
,
,
a terapia cognitiva em si e com a formulação ABC.
A - B- C
(a) C
A -
A -
C- B
(c)
(d)
Figura 2. Paradigmas que mostram relações entrei (evento antecedente) B (crença ou pensamento), e C (comportamento consequente ou sentimento): (a) o pensamento influencia o comportamento; (b) o pensamento não tem nenhuma influência no comportamento; (c) o pensamento tem influência parcial no comportamento; e (d) o comportamento influencia o pensamento ,
.
Cognições e Crenças
109
Problemas com a terapia cognitiva e o paradigma ABC Primeiro, o paradigma ABC exclui maneiras alternativas pelas quais as cognições e os comportamentos poderiam ser relacionados. Por exemplo Russel e Brandsma (1974) sugeriram que os problemas dos clientes poderiam começar ajustando-se ao modelo do paradigma A-> B-> C. Então após numerosas ,
,
repetições da sequência ABC durante a sua vida o condicionamento clássico removeria a ocorrência de B. Em outras palavras A se torna um estímulo condicionado de segunda ordem que elicia diretamente C. Outra possibilidade sugerida por Klein (1974), é que o autoconceito negativo de um paciente deprimido, o seu desamparo e o ato de culpar-se são mais aceitos como um efeito do que como uma causa da condição. Em outras palavras, o cliente primeiramente se sente deprimido e então tem as cognições negativas. ,
,
,
A experiência clínica também sugere outros paradigmas alternativos. Quando os clientes fazem comentários tais como Eu aceito racionalmente que eu não preciso ser amado por todos, mas eu ainda me sinto desolado quando sou rejeitado eles relatam a presença de um B que é inconsistente com C. Por outro lado, alguns clientes alegam que eles não experienciam nenhum B conscientemente que preceda seus C problemáticos, assim indicando que não há B, ou que B é inconsciente. "
"
,
Um segundo problema com o paradigma ABC é que seu uso na terapia pode levar a alguns procedimentos clínicos questionáveis. Por exemplo, se o terapeuta cognitivo acredita realmente na hipótese ABC, a rejeição do cliente a tal crença do terapeuta é então desafiada. O desafio toma a forma de
questionamento direto da lógica ou da sinceridade do cliente, ou ainda propõe que haja cognições inconscientes adicionais a serem descobertas. Os desafios também podem ser indiretos. Em vez de confrontar a rejeição do cliente ao modelo ABC na sessão, o terapeuta pode dar a ele uma tarefa de casa adicional
ou testes para verificar suas convicções. A não aceitação de paradigmas alternativos é encontrada até na terapia cognitiva de Aaron Beck (1976), que
rejeita a teoria contida no modelo ABC. Um exemplo disso é que Beck sugeriu que não são pessoas sem valor, mas que não aceitam isso num nível emocional, precisariam de mais terapia cognitiva, pois seus sentimentos disfuncionais só poderiam ocorrer quando eles não acreditam realmente no pensamento racional (Beck et ai., 1979, p. 302). que clientes que dizem racionalmente
"
"
saber
"
"
A prescrição de "mais terapia cognitiva" é uma maneira indireta de desafiar a rejeição do cliente ao modelo ABC.
110
Capítulo 5
Dada a complexidade do comportamento humano, a exclusão de outras explicações concorrentes e não cognitivamente mediadas, como propõe o modelo ABC, parece não ser razoável. Do ponto de vista da FAP, um efeito antiterapêutico do modelo ABC poderia acontecer quando um cliente que não aceita a teoria ABC é desafiado pelo terapeuta. Se esse cliente estivesse procurando ajuda para se tomar mais assertivo ou ter mais confiança em suas próprias opiniões, então, contestar a teoria C do terapeuta poderia ser um comportamento desejável. Como ideal essa melhora em sessão deveria ser reforçada pela aceitação do terapeuta e não punida com a apresentação de mais desafios. ,
Um terceiro problema com o paradigma ABC refere-se à evidência usada para dar sustentação à noção de que sentimentos e ações disfuncionais são causados por Bs desviantes, irracionais ou patológicos. Um tipo de evidência que dá suporte a isso é obtida ao comparar-se os pensamentos e atribuições de clientes com os de sujeitos & Turner, 1986).
"
normais
"
(para uma revisão atualizada, ver Beidei
Não é surpresa que os clientes tendem a ter mais pensamentos disfuncionais do que as pessoas "normais". Tal pesquisa é problemática porque só demonstra que as pessoas com problemas clínicos também têm pensamentos irracionais não demonstrando que os pensamentos verdadeiramente causam os problemas. Tais informações, ao mesmo tempo em que dão suporte ao status causal das cognições, fortalecem também a noção de que as cognições são causadas por sentimentos e ações disfuncionais, ou que ambas, as cognições e as ações/sentimentos, são causadas por uma terceira variável. Algumas informações indicam até mesmo que pessoas deprimidas podem avaliar a realidade com mais precisão do que pessoas normais (Krantz 1985). Esses dados são inconsistentes com uma explicação ABC para a depressão na qual o 4
,
,
,
B é definido como uma visão desviante ou distorcida da realidade. Uma revisão
recente da literatura experimental sobre a relação entre estados internos e ações fundamenta também a noção de que B (o estado interno) e C ( a ação) são algumas vezes não-congruentes (Quattrone, 1985). Um quarto problema se deve à relação teoria-prática. Não está claro como a hipótese cognitiva (teoria) se relaciona a muitos dos procedimentos de tratamento específico (prática) Por que e como, por exemplo a argumentação .
,
lógica ou uma evidência mudam uma estrutura cognitiva? Como a teoria cognitiva dá suporte à defesa de Beck sobre a adequação do uso de uma abordagem socrática
,
na qual os clientes têm que descobrir por si mesmos suas suposições
Cognições e Crenças
111
implícitas? Até que ponto esta teoria seria relevante para a instrução direta de Ellis aos clientes para que adotem novas crenças? Quais são os princípios teóricos envolvidos em se atribuir a mudanças cognitivas o resultado das experiências de avaliação de hipóteses que os clientes realizam em sua vida diária? De que forma o que o cliente diz sobre cognições e suas respectivas relações a sintomas (metacognição) ajuda a mudar as estruturas? Como é possível ter terapias
cognitivas que não sejam metacognitivas (Hollon & Kriss 1984)? É indiscutível ,
a eficiência da terapia cognitiva. O que é problemático é a adequação da teoria para avaliar os resultados do tratamento. Como foi dito por Silverman, Silverman, e Eardley (1984 p. 1112), os efeitos clínicos que ocorrem como resultado da terapia cognitiva estão "esperando pela racional convincente" ,
.
Formulação Revisada da Terapia Cognitiva Numa tentativa de melhorar o modelo ABC, terapeutas cognitivos se voltaram para a teoria cognitiva básica e revisaram ou mais precisamente ,
especificaram, o que se entende por B (cognição) e como ele está relacionado a problemas clínicos. Por exemplo, Hollon e Kriss (1984) delinearam os diferentes usos do termo cognição e fizeram uma distinção entre produtos cognitivos e estruturas cognitivas (eprocessos cognitivos associados) Produtos cognitivos *
.
são comportamentos privados, conscientes, diretamente acessíveis, tais como
pensamentos, autodeclarações e pensamentos automáticos. Estruturas cognitivas, por exemplo os schemas (esquemas), são as entidades organizacionaisimpiícitas que desempenham um papei ativo no processamento de informações. As estruturas, no entanto, operam num nível inconsciente e como seu conteúdo não pode ser diretamente conhecido, deve ser inferido dos produtos. "
"
Como apontado por Hollon e Kriss, a distinção é similar à diferença entre a superfície e as estruturas profundas da linguística. Estruturas superficiais referem-se ao que é dito (verbalizações abertas) ou pensado (autoverbalizações encobertas), enquanto que as estruturas profundas se referem ao que se quer
dizer. Na perspectiva de Hollon e Kriss, o fator causal é a estrutura cognitiva, enquanto o pensar ou os produtos cognitivos (pensamentos irracionais, autoverbalizações. pensamentos automáticos) constituem sinais ou dicas sobre "
"
a natureza das estruturas de conhecimento de alguém
*
.
Estruturas e processos não são diferenciados nesse livro porque as distinções entre eles não afetam nossa análise.
112
Capítulo 5
Por essa razão, Hollon e Kriss sugeriram que qualquer intervenção
clínica que altere os produtos cognitivos são simplesmente tratamentos sintomáticos. Numa direção similar, Safran, Vallis, Segal, e Shaw (1986) advertiram que a mudança nos produtos tem resultados clínicos limitados, e que os esforços deveriam ser direcionados aos processos centrais Da mesma forma, Beck (1984) advertiu que uma recaída poderia ser esperada, a menos "
"
.
que as estruturas cognitivas subjacentes sejam mudadas, e declarou que a noção de que o fenómeno cognitivo cause depressão é "forçada". Presumivelmente, fenómenos cognitivos" cuja causalidade Beck rejeitou são produtos cognitivos, enquanto que as estruturas centrais ou os schemas ainda os
"
"
"
continuaram sendo vistos como causais.
Embora no campo teórico a causalidade dos produtos cognitivos tenha sido substituída pelas estruturas, uma mudança correspondente não ocorreu nos âmbitos onde a terapia cognitiva é realmente praticada. Os mesmos terapeutas cognitivos que rejeitaram o papel causal de produtos cognitivos são aqueles que criam os manuais de tratamento de terapia cognitiva e os exemplos clínicos que focalizam a mudança dos produtos cognitivos. Por exemplo, Beck, Emery, e Greenberg (1986) declararam que o terapeuta "deve ser capaz de expressar
claramente que a ansiedade é mantida por uma avaliação errada ou disfuncional de uma situação" e "dar essa explicação... na primeira sessão e reiterá-la durante toda a terapia" (p. 168). Guidano e Liotti (1983, p. 138-142) declararam que o "
primeiro passo importante em terapia ocorre quando os pacientes entendem que seu sofrimento é mediado por suas próprias opiniões "
.
Se a prática clínica tivesse seguido a mudança ocorrida na teoria "
cognitiva, o enfoque óbvio seria na mudança das estruturas subjacentes
" .
De
um ponto de vista comportamental, o cisma da teoria-prática em terapia cognitiva faz sentido. Uma vez que o único contato que o terapeuta tem com o cliente é com o seu (do cliente) comportamento e os produtos cognitivos são definidos em termos de comportamento, assim a intervenção clínica pode ser especificada como um processo de mudança de comportamento. Estruturas cognitivas, no entanto, são definidas como entidades não comportamentais que não podem ser contatadas pelo terapeuta. Como as intervenções clínicas são sempre limitadas à esfera comportamental - os pensamentos, sentimentos, verbalizações, teorizações as associações livres do cliente e assim por diante - é impossível programar tratamentos que focalizem estruturas que não envolvam esses comportamentos do cliente. Dessa forma, é difícil conceber formas de intervir nas estruturas que sejam diferentes daquelas usadas para lidar com os produtos. ,
Cognições e Crenças
113
Por exemplo, Beck et al. (1979) declarou que "as intervenções cognitivas e comportamentais [utilizadas] para modificar pensamentos são as mesmas "
empregadas para mudar as suposições ocultas (p. 252). O que diferencia os procedimentos de tratamento clínico de produtos daqueles que são utilizados para o tratamento das estruturas, é que este último deve ser primeiramente inferido (p. ex., o cliente deve abstrair ou deduzir a existência da estrutura). Mas, uma vez identificada tal estrutura, ela é abordada através dos mesmos métodos
terapêuticos utilizados na modificação dos produtos. Direcionados pela teoria a mudar uma entidade não comportamental (a estrutura implícita), enquanto se encontram limitados a trabalhar com o comportamento (produtos) do cliente, os terapeutas cognitivos ficam numa posição insustentável. Essa dificuldade teórica em modificar os esquemas e a ligação ténue entre a teoria e a explicação de como ocorre a mudança, têm sido considerados um dilema por Hollon e Kriss (1984, p. 46-48). Embora eles e outros psicólogos cognitivos, tais como Guidano e Liotti (1983), estejam trabalhando para achar maneiras de sair deste dilema, a questão é se soluções satisfatórias estão sendo ou podem ser desenvolvidas. Não é surpreendente, portanto, que a real prática básica de terapia pareça, pela necessidade, ater-se apenas aos produtos.
Governado por regras
Mando
Modelado por contingências Tato
Figura 3. Tipos de comportamento verbal que podem ou não influenciar um comportamento subsequente. O tato a si mesmo e o mando a si mesmo, os quais influenciam o comportamento subsequente, conduzem a um sub-conjunto de comportamentos governados por regras (área sombreada).
114
Capítulo 5
A REVISÃO FAP DO A-+B-* C Como alternativa, organizamos uma formulação da relação pensamento/
comportamento que mantenha a utilidade clínica, mas evite os problemas das hipóteses ABC originais. De acordo com nosso modelo, as cognições podem representar um papel maior, menor ou insignificante nos problemas dos clientes. Em decorrência, métodos de terapia cognitiva terão também uma eficácia variável com clientes diferentes, dependendo do papel que a cognição tenha no problema clínico. Nossa concepção comportamental da cognição envolve vários tipos diferentes de comportamento do cliente, incluindo comportamentos modelados pelas contingências, comportamentos governados por regras, e dois tipos de comportamento verbal, tatos" e "mandos". Como mostrado na Figura 3 eles "
,
se sobrepõem em vários níveis. De particular importância nessa análise são os comportamentos de tato e mando do cliente para si mesmo. Antes de explicar nosso modelo, iremos retomar os conceitos de tato, mando e comportamento
modelado pelas contingências que foram previamente discutidos no Capítulo 3.
Comportamento Modelado por Contingências
Como mencionado anteriormente, comportamentos modelados por contingências são aqueles comportamentos que têm sido diretamente fortalecidos por reforçamento. Muitos comportamentos, no entanto, não foram diretamente reforçados, mas ocorrem mais em função de estímulos prévios. Por exemplo, as instruções são estímulos prévios que podem evocar comportamentos complexos que nunca tenham sido diretamente reforçados. Da mesma forma, um instrutor, demonstrando o que fazer, pode evocar um comportamento não reforçado previamente. Nesses casos, as contingências modelaram o comportamento mais global (p. ex., imitar o instrutor ou seguir instruções), mas ainda não tiveram a chance de exercer muita influência no comportamento específico que está sendo imitado ou instruído. Pode-se afirmar assim, que todo comportamento é basicamente modelado por contingências. ,
Embora uma experiência consciente de prazer possa acompanhar
frequentemente uma contingência que envolve o reforço positivo ela não é uma parte necessária da modelagem e do processo de fortalecimento e não deveria ser confundida com isso. Quase todo o nosso comportamento (p ex., faiar, andar, correr etc.) ocorre por causa dos efeitos fortalecedores do reforço, e ,
.
,
Cognições e Crenças
115
esses comportamentos foram fortalecidos, na maior parte das vezes sem a nossa consciência do processo. Experiências conscientes (a serem discutidas mais tarde) têm um papel importante mas diferente daquele do comportamento que foi diretamente modelado por contingências. No entanto, o fato de a experiência consciente ser mais diretamente sentida do que os efeitos inconscientes do reforçamento pode facilmente levar à falta de atenção sobre ,
,
,
estes últimos.
Uma maneira de olhar para o comportamento de Harriet (descrito no
exemplo acima) seria a de que seu consentimento foi puramente modelado pelas contingências e não foi influenciado por seus pensamentos precedentes Desse ponto de vista, seu consentimento teria sido modelado diretamente por experiências com pessoas que mostraram a sua raiva quando ela foi inconveniente. Essas experiências poderiam ter ocorrido na infância mais tardia e/ou na infância pré-verbal. Dentre essas experiências, poderiam estar incluídas a punição ao .
obter como resposta um
"
não
"
ou outros tipos de recusa não' verbal o reforço ,
ao consentimento, e a falta de aceitação dos outros contingente à expressão de seus desejos. Isso resultou em algumas respostas (consentimento) terem-se tornado mais fortes que outras (assertividade). Portanto, vê-se que o consentimento é resultado direto de contingências e seria esperado que ocorresse de novo sob as mesmas condições, tais como as que ocorreram na sessão de terapia. Embora tais contingências possam ter esses efeitos específicos isso não significa que a cliente esteja ciente ou consciente do processo. Desta forma, é perfeitamente possível que Harriet esteja desatenta ou inconsciente das causas do seu comportamento. Nos termos do paradigma ABC, o comportamento modelado por contingências corresponderia a A-> C. O fato de que outras pessoas ,
responderiam diferentemente ao mesmo A reílete a diferença em suas experiências passadas quando em situações A.
Tatos e Mandos: Dois Tipos de Comportamento Verbal
A explicação da modelagem por contingências, no entanto, não responde por B, o pensamento que Harriet descreveu. Para explicar como Harriet veio a ter seus pensamentos, nós voltamos aos íatos e mandos, dois tipos de comportamento verbal.
Para revisar, tatos incluem a rotulação e descrição de eventos e objetos. Exemplos de tato são, "Aquilo é água", "Eu gritei com ele", e "Eu não suporto isso". \
,
116
Capítulo 5
Mandos, por outro lado, incluem comandos, propostas, ameaças e pedidos. A característica que define um mando é que ele é reforçado por um conjunto reduzido de contingências. Por exemplo, o mando, Eu gostaria de um "
"
pouco de água somente será reforçado se resultar no comportamento do ouvinte
de prover água ou algum outro líquido para matar a sede. De acordo com aposição analítica comportamental, tatos e mandos são aprendidos da mesma maneira pela qual quaisquer outros comportamentos também o são. Assim, quando e como nós apresentamos os tatos e os mandos varia de pessoa para pessoa, dependendo de suas experiências particulares. Para ter um exemplo de como o tato é adquirido, considere uma criança que aprende a dizer caminhão ao ver um caminhão passar porque foi desta maneira que o pai ou mãe o descreveu. A criança é reforçada diretamente ( está certo, aquilo "
"
"
é um caminhão") e indiretamente como quando "caminhão" entra em outros contextos (a criança diz, Eu quero um caminhão" ou "Me dê aquele caminhão"). "
,
Da mesma forma que alguém aprende a descrever objetos inanimados ou eventos passados, tais como Choveu terça-feira passada", também aprende a descrever o comportamento presente e experiências passadas de outras pessoas e de si mesmo. Um homem que se aproxima da cadeira do dentista e diz "Isso vai doer e eu estou com medo está provavelmente fazendo um tato (1) que resulta de experiências passadas de ser machucado por dentistas (2) de seus sentimentos de medo (ver Capítulo 4 para uma visão comportamental de sentimentos e do que é sentido ), e (3) de uma predição de como ele vai reagir quando estiver na "
,
"
,
"
"
cadeira.
Até esse ponto, o tato e o mando que nós discutimos foram ditos em voz alta para outra pessoa. Se ditos em voz alta ou a si mesmo não importa. Nós sabemos que tato e mando também ocorrem quando a única pessoa que ouve a descrição ou o pedido é o falante. Do nosso ponto de vista tato e mando a si mesmo é funcionalmente o mesmo que tato e mando em voz alta quando nenhuma outra pessoa está presente. Esses dois casos diferem principalmente na intensidade da resposta. Nós estamos particulannente interessados no tato e mando a si mesmo, pois isso é também conhecido como pensamento. Assim nossa definição de pensamento é tato e mando a si mesmo. ,
,
,
A questão que iremos abordar agora é porque os pensamentos (e os similares mandos e tatos em voz alta sem ninguém para ouvir) ocorrem; isto é ,
nós explicamos porque uma pessoa faria um tato ou um mando quando outros podem ouvir, como em "Isso é terrível", "Eu estou ansioso", "Seja paciente",
Cognições e Crenças "
117
Fique de boca fechada"
"
,
Saia da cama", e "Faça agora". Não fica tão claro
porque isso seria pensado ou dito em voz alta quando não há ninguém por perto. Nós estamos particularmente interessados em tato sobre si mesmo e
mando a si mesmo porque eles frequentemente englobam o que se entende por B na terapia cognitiva. Por exemplo as palavras deve e deveria são vistas como causas de neuroses por terapeutas racionais emotivos e suas intervenções clínicas ,
,
são direcionadas à eliminação de tais palavras do pensamento do cliente (Ellis
,
1970). Tipicamente essas palavras (deve e deveria) são também encontradas em mandos que se faz a si mesmo tais como "Eu nunca devo cometer erros" e Eu deveria estar feliz". Da mesma maneira "É impossível me amarem seria visto por terapeutas cognitivos como um pensamento irracional ou uma hipótese ,
,
"
"
,
disfuncional que causa os problemas do cliente. O pensamento "É impossível "
alguém me amar é um tato dirigido a si mesmo. Portanto uma explicação comportamental de porque tato e mando a si mesmo ocorren) e como eles afetam os problemas do cliente é importante para nossa compreensão de cognição e terapia cognitiva.
Tatos e mandos generalizados que não têm influência em comportamentos subsequentes Nós acreditamos que o modelo ABC engloba vários tipos de relações BC O primeiro caso que vamos considerar é uma falta de relação entre 5eC, que ocorre quando tato e mando a si mesmo são simplesmente decorrentes de uma generalização de estímulos e não do fato de eles afetarem um comportamento subsequente. Assim, nós estamos tão acostumados com o tato e mando a outras pessoas que alguma persistência seria esperada quando estamos sozinhos (p. ex., uma criança dizendo caminhão em voz alta mesmo quando os pais não .
"
"
estão por perto). A generalização de reações públicas para a esfera privada é particularmente esperada quando a sua forma pública é forte. Por exemplo, a força considerável do mando a outras pessoas é ilustrada por sua frequente "
generalização a objetos inanimados, tais como ligue!" para um carro parado ou gritos de aviso sobre uma possível falta a um time de futebol na televisão. Obviamente, esses mandos e tatos não têm efeitos nos objetos. Outro exemplo de mando sem uma audiência, que ocorre pela generalização de um
comportamento de grande força, é observado nos índios Kaingang, que gritam com tempestades e com trovões para fazê-los ir embora (Skinner, 1957). Skinner
118
Capítulo 5
considera esse comportamento semelhante àquele de gritar com homens para fazê-los ir embora, mantido também por reforçamento acidental decorrente de as nuvens irem embora.
Deixe-nos retornar ao caso de Harriet e descrever como ela poderia ter pensamentos (um comportamento) que parecessem estar ligados de forma causal a outro comportamento subsequente mas que, na realidade, não estão ligados. Nessa ilustração, nós acreditamos que seu pensamento é um tato para si mesma, que ocorre devido à generalização, e que o seu consentimento é um comportamento modelado por contingências. Para que Harriet apresentasse o tato a si mesma decorrente de generalização, ela deveria ter tido uma história na qual ela tivesse aprendido a descrever o seu próprio comportamento e suas experiências a outras pessoas, tais como dizer à sua mãe, Quando eu disse não, papai se zangou (um tato). Então, por causa da generalização de estímulos, ela se engaja em comportamentos similares quando outros não estão por perto (p. ex., fazer tato de experiências recentes). Nós estamos supondo que o pai não reforçou Harriet a dizer não a ele e reforçou a sua aceitação aos seus pedidos. Como essas contingências (reações do pai) foram modelando diretamente seu padrão de comportamento de consentimento e evocando sentimentos associados, ela também descrevia para si mesma as contingências (p. ex. "Papai "
"
,
simplesmente me afastou quando pedi sua atenção") e seus próprios comportamentos operantes e respondentes ("Eu corri para o meu quarto e comecei a chorar ) Assim, ao mesmo tempo em que o consentimento e a falta de assertividade estavam sendo modelados ela também descrevia para si mesma os eventos no momento em que iam acontecendo. Ela pensou e consentiu; o pensamento e o consentimento eram independentes um do outro. Agora, em "
.
,
situações parecidas, Harriet vai se engajar de forma semelhante nos dois comportamentos; isto é ela vai pensar e consentir. Em termos do paradigma ,
ABC, essas ações são representadas pela Figura 2b. Acontece apenas que B precede C em tempo, mas B não afeta C. As combinações dos dois comportamentos separados consentimento modelado por contingências e mando ou tato sobre si mesmo induzido por generalizações, oferecem uma noção de como uma pessoa pode ter pensamentos (comportamento de pensar) e comportamentos (um comportamento subsequente) que não estão ligados de forma causal, embora possam parecer estar. Se esse conjunto ,
,
de circunstâncias na verdade ocorre para alguns clientes seria um erro admitir seus ,
pensamentos como causa, para encaixá-los no paradigma ABC, e (concretizando o
erro) ignorar o papel das contingências na formação do comportamento /
.
Cognições e Crenças
119
Tatos e mandos generalizados que influenciam comportamentos subsequentes
Até este ponto, olhamos o pensamento como um comportamento que não entra na corrente causal de eventos que leva a C Agora iremos examinar as .
circunstâncias nas quais tato e mando a si mesmo podem ter um efeito considerável no comportamento subsequente Antes disso no entanto, é importante esclarecer um problema semântico envolvendo a palavra causa Psicólogos cognitivistas e behavioristas radicais querem dizer coisas diferentes quando se referem a causa. Para o psicólogo cognitivista, o efeito do pensamento de alguém no seu comportamento representa um tipo de relação causal (seja parcial, de contribuição, ou outro). O termo causa simplesmente significa que se considera que os pensamentos trazem uma mudança no comportamento Para o behaviorista radical, o termo causa é limitado aos efeitos das contingências .
,
.
.
.
Os mesmos efeitos que são chamados causais pelos cognitivistas isto é, os efeitos do pensamento sobre o comportamento que se segue são reconhecidos, ,
,
mas são descritos diferentemente pelos behavioristas radicais.
Por exemplo, Skinner (1957) faiou a respeito de como os eventos privados são "úteis ou "de rápida aquisição" (p. 445) e têm "efeitos práticos" (p. 440). Em sua discussão sobre a formulação de regras que guiam nosso próprio comportamento, Skinner (1969) também falou sobre a pessoa que formula tato para si mesma porque ela mesma poderia, então, reagir mais efetivamente (p. 159). Hayes (1987), ao falar sobre a relação pensamento/comportamento, referiu-se aos tipos de contingências que levariam à ocorrência de um "
"
"
,
comportamento e este, consequentemente, ,
"
iria influenciar" outro
comportamento (p. 331). Sendo assim, parece que ambos, cognitivistas e behavioristas radicais, observam um fenómeno similar, mas usam termos
diferentes para descrevê-lo. Talvez uma parte do conflito entre as duas posições seja devida a essa diferença.
f
O tato sobre si mesmo pode ser útil ao indivíduo quando o ajuda a clariicar ou identificar a situação que poderia, de outra forma, lhe ser confusa. Por exemplo, o primeiro autor estava vendo uma cliente que repentinamente se tomava hostil durante as sessões. Várias condições diferentes levavam-na à hostilidade, incluindo (1) se suas interações com seu marido haviam sido boas naquela semana, e ela sentia que eu estava muito confrontador e esperando demais dela durante a sessão; (2) se houvesse tido uma semana ruim com seu marido e achasse que eu estava
muito distante ou não envolvido; e (3) se ela sentisse que eu estava sendo muito
Capítulo 5
120
subserviente. Fazer essas interpretações para a cliente (Regra 5) não era útil
nesse ponto de sua terapia e somente evocaria mais hostilidade. As interpretações eram úteis, entretanto, quando feitas a mim mesmo. O tato sobre mim mesmo me
ajudou a descobrir um jeito de responder à hostilidade de uma maneira terapêutica. A maioria das interações humanas são bem complicadas, e o modo como alguém
faz o tato (rotula, categoriza, ou classifica) de uma situação pode ajudar a determinar uma reação efetiva.
De maneira semelhante;, o mando a si próprio pode aumentar a eficácia de uma pessoa na realização de uma tarefa que esteja em suas mãos. Um caso assim é ilustrado nas observações de Skinner sobre uma menina que falava em voz alta para si mesma enquanto praticava piano- Não, espere " "Só um minuto," e Isto está certo?" (1957, p. 444). Tais mandos a si mesma podem tê-la ajudado "
"
f
f
a fortalecer os comportamentos subsequentes de parar e ouvir. Originalmente, a criança disse esses mandos devido a uma generalização feita a partir da experiência de ouvi-los de outras pessoas e dizer aos outros as mesmas coisas. No inal, com a experiência suficiente para tal, as contingências de tocar melhor o piano (p. ex.5 para ins úteis) irão influenciar se a criança continuará ou não a fazer esses mandos a si mesma (seja em voz alta ou em pensamento). Outro comentário ou tato a si mesma feito pela criança foi, Isso está na clave de sol". "
Tal descrição poderia tê-la ajudado a reduzir erros da mesma maneira que teria ajudado se essa declaração fosse feita pela sua professora. Embora esta seção seja sobre pensamentos que afetam o comportamento subsequente, Skinner fez observações adicionais da menina que ilustram o caso
anteriormente discutido no qual pensamentos não têm efeito. A garotinha também disse, "Meu dedo está doendo tanto" e disse ao relógio "Não faça isso, você está indo muito rápido!". Skinner especulou que essas declarações não tinham efeito no comportamento subsequente de tocar piano. Assim, enquanto observava a mesma criança executando a mesma tarefa, Skinner sugeriu que alguns de seus tatos e mandos a si mesma afetaram seus comportamentos subsequentes, e outros
não. Isso corresponde à visão da FAP dos pensamentos do cliente. Além disso, o tato sobre si mesmo e o mando a si mesmo, os quais propiciam um
fortalecimento do comportamento, contribuem para manter a generalização, sendo que também ocorrerão quando não tiverem efeitos no comportamento subsequente.
O caso no qual o tato a si mesmo e o mando a si mesmo levam ao desejável fortalecimento do comportamento subsequente pode agora ser aplicado ao caso de Harriet. Suponha que Harriet tivesse aprendido a descrever certos
Cognições e Crenças
121
pedidos feitos por outras pessoas (não importa o quão inocentes) como uma prova de seu amor por elas. Ela poderia ter aprendido isso, quando criança, de sua mãe narcisista que, requentemente precisava de afirmações de amor, e que fazia perguntas com segundas intenções. Por exemplo quando sua mãe perguntava, f
,
,
"
Você gostou da torta que fiz para você?" a peigunta tinha pouco a ver com o gosto da torta. Ao invés, o que ela realmente queria dizer era, Você me ama e aprecia o que eu faço? Se não, eu vou ficar deprimida e vou me retrair," ,
"
Por conta da dificuldade de uma criança em diferenciar uma pergunta "
real
"
daquela que tem como propósito servir de teste Harriet poderia ter experienciado punições e recompensas inesperadas. Mais tarde suponha que ela tenha discutido esse problema com amigos ou um terapeuta e tenha tido consciência ou discernimento das condições que diferenciavam uma simples questão de uma questão de teste". Depois disso quando confrontada com uma questão, Harriet iria revisar privativamente (tato) as condições para decidir (discriminar) se era ou não um teste. Então, poderia dizer a si mesma: "Esse é um teste de amor. Se eu agir de uma maneira a rejeitar, ela ficará brava; se eu seguir no mesmo esquema, ela ficará feliz Nos termos do paradigma ABC, essa continuação é representada na Figura 2a. ,
,
"
,
"
.
É claro que essa descrição do pensamento de Harriet corresponde, de maneira mais próxima, ao paradigma da terapia cognitiva no qual B é um produto cognitivo, tal qual as experiências de pensamentos ou autodeclarações conscientes. Este modelo confirma que há pouco ou mesmo nenhum C condicionado ou modelado independentemente.
,
f
Nossa posição, entretanto, é a de que, embora o comportamento de Harriet tenha sido influenciado por seu pensamento e portanto corresponda ao paradigma A-> B-> C ela posteriormente experienciaria o sucesso ou o racasso de seu processo de decisão. Então seu consentimento passaria a ser influenciado mais pelos efeitos inconscientes resultantes das contingências e menos pelo processo de decisão" consciente. Esse processo, no qual comportamentos modelados por "
contingências e tato e mando a si mesmo se estabelecem inicialmente de forma independente, passando depois a interagir uns com os outros, representa uma outra organização possível da relação pensamento/comportamento. Assim, no devido tempo, uma reação que deveu-se primeiramente ao tato ou ao mando a si mesmo passa a ser modelada por contingências.
Uma interpretação ligeiramente diferente do pensamento de Harriet é a de enxergar C como modelado por contingências e, ao mesmo tempo, situar
122
Capítulo 5
um B que também reforça C. Em outras palavras, Harriet poderia ter sido submetida aos efeitos inconscientes do reforço que tornaram o seu consentimento mais provável e, ao mesmo tempo, ter se engajado num tato sobre si mesma consciente, que também fortaleceria o seu consentimento. Nesse caso, o C seria mais forte do que aquele C que fosse somente modelado por contingências ou um apenas evocado por B. Esse paradigma é representado na Figura 2c. discutidas até agora não cobrem todas as possibilidades. E possível existir um caso como o que está representado na Figura 2d, no qual as reações emocionais e/ou comportamentos são diretamente evocados e só posteriormente, à moda de James-
Lange, os clientes descobrem o que eles teriam pensado. É também possível para a ocorrência de um B independente, que se tenha um efeito no comportamento subsequente por causa do efeito da consistência, no qual se aprende que uma pessoa deve praticar o que ela prega ou "não dizer uma coisa e fazer outra". No caso da consistência, pensamentos influenciam comportamentos subsequentes porque esses indivíduos foram reforçados por fazer o que disseram que iriam fazer e punidos quando suas ações não eram consistentes com o seu comportamento verbal. "
"
É também importante mencionar alguns dos problemas especiais gerados pelo fato que Bs não podem ser observados diretamente e devem ser inferidos ou baseados em autodescrições. Deste modo, é possível que uma autodescrição de um B, como a dada por Harriet possa ser uma simples fabricação ou uma fala ,
necessária conforme a convenção social. Mesmo nos casos em que o cliente está dando sua melhor descrição de B acredita-se que tal introspecção não seja totalmente confiável e esteja sujeita a muitas influências do momento. ,
Embora uma completa avaliação da relação pensamento/comportamento incluísse esses além de outros paradigmas e fatores de influência a avaliação pela FAP e algumas de suas principais implicações teóricas são transmitidas pelos paradigmas delineados acima. ,
Comportamento Governado Por Regras Iremos agora discutir a relação entre regras comportamento governado ,
por regras, tato sobre si mesmo e mando a si mesmo. Nós estamos introduzindo
esse tópico porque a literatura sobre regras e comportamento governado por regras (Skinner, 1969; Zettle & Hayes 1982) é relevante para nosso conceito da relação pensamento/comportamento e esclarece questões futuras ,
.
Cognições e Crenças
123
Quando um tato ou mando especifica uma contingência e o comportamento necessário é considerado como uma regra. Por exemplo, a declaração Se você agisse mais amigavelmente teria mais amigos" é um tato que é uma regra porque é uma descrição que especifica um comportamento (ser amigável) ,
"
"
e uma contingência (ter amigos). Você deve fazer suas tarefas de casa ou deixar a terapia é um mando que é uma regra pois é uma ordem especificando um "
,
comportamento (fazer a tarefa) e uma contingência (largar a terapia)
.
Nesse
contexto, leis, princípios lógicos, manuais de instrução preceitos, máximas, e ameaças são tatos e mandos que são também regras. O exemplo do tato de ,
Harriet sobre si mesma é uma instância de uma regra porque especifica o comportamento necessário (consentimento) e as contingências (evitar problemas). O comportamento que ocorre como um resultado do seguimento da regra é chamado de comportamento governado por regras. Por exemplo uma mãe dá uma regra quando ela faz um tato a seu filho Se você não sair da cama agora, você vai se atrasar para a aula A obediência do filho seria então um comportamento governado por regras. Após uma regra ser apresentada o comportamento governado por regras pode ou não ocorrer. Você também poderia ,
"
"
.
,
dizer a si mesmo que tem de terminar o artigo que está escrevendo esta noite ou
se sentirá um inútil. Embora esse mando a si mesmo seja uma regra, ele pode resultar ou não em um comportamento governado por regras (p. ex., você pode ou não terminar o artigo). O comportamento governado por regras nunca ocorreria se o indivíduo não tivesse sido reforçado pelo comportamento de seguir regras, de maneira geral. Esse processo de reforçamento ocorre a partir da infância, uma vez que nos são dadas inúmeras regras na forma de Se você fizer (ou não fizer) isso e isso, então isso e aquilo vão acontecer com você". Obviamente, há muita variabilidade sobre o quanto uma regra é precisa. Para algumas crianças, os pais dão regras precisas e quando a criança segue a regra, a consequência "
especificada ocorre. Para outras crianças, as regras não são precisas e a criança aprende a ignorá-las. Por exemplo, estudantes graduados provavelmente têm histórias prévias de reforçamentos por seguimento de regras, particularmente aqueles que encontramos em sala de aula. Eles são exemplos evidentes de pessoas que foram reforçadas por seguir as instruções e ensinamentos dos professores, O comportamento específico evocado pela regra, entretanto, pode nunca ter sido reforçado. Assim, um estudante pode fazer um conj unto complexo de ações tais como planejar, fazer e analisar uma pesquisa de dissertação, que ,
não tenha sido modelado por contingências, mas está sob controle de regras.
124
Capítulo 5
No entanto, as contingências irão prevalecer como acontece com todos os
comportamentos governados pelas regras. Se as contingências de fazer a dissertação são positivas (tais como, achar resultados interessantes e vantajosos que se mostrem úteis às pesquisas futuras), o estudante pode se tornar um profícuo pesquisador. Ao contrário, se as contingências são punitivas (tais como, obter resultados equivocados, de pouca ajuda e que requeiram uma análise estatística sem fim), ele pode nunca mais fazer pesquisas após a dissertação. Semelhante ao discutido para tatos e mandos, as regras são extraídas de experiências diretas, tanto nossas quanto de outras pessoas, com contingências de reforçamento ou, ainda, através do estudo dos sistemas que as organizam. O desenvolvimento do comportamento de obtenção de regras e do comportamento governado por regras toma grande parte do comportamento das pessoas porque ele ajuda a encurtar o tedioso processo de modelagem. O tato sobre si mesma que Harriet desenvolveu é um exemplo.
É difícil dizer se uma pessoa está agindo baseada em regras {A-~$B->C) ou contingências (A -> Q, apenas olhando para a ação propriamente dita. Por exemplo, um jogador de pôquer que calcula as chances que tem antes de fazer uma jogada (A-> B-> C) poderia fazer as mesmas açoes que um jogador que tenha sido modelado por contingências (A-> C), mas suas variáveis de controle são fundamentalmente diferentes. Assim, um dos jogadores está pensando sobre o que fazer antes de efetivamente fazê-lo
e o outro está provavelmente confiando em sentimentos e intuição, que é o aspecto experiencial de uma história de reforçamento ,
prévio. Da mesma forma, a eficácia de qualquer intervenção direcionada à mudança de um comportamento dependeria de verificar se o comportamento a ser mudado é do tipo A-> C ou A-> B-> C. Se, por exemplo, você desejasse mudar o comportamento de um dos jogadores de cartas, aquele que calcula as chances poderia ser mais influenciado por novos métodos de como calcular chances aprendidos em uma escola de apostas do que o jogador modelado por contingências. ,
A distinção entre comportamento governado por regras e
comportamento modelado por contingências é usada por Skinner (1974) em sua recon-ceitualização de muitas polarizações comuns. Algumas dessas são: deliberação versus impulso idealizado versus natural, intelectual versus ,
emocional
lógica versus intuição, consciente versus inconsciente, superficial versus profundo e verdade versus crença. Da mesma forma, a distinção feita por Skinner entre comportamento modelado por contingências e comportamento governado por regras tem uma semelhança impressionante com a distinção que a terapia cognitiva faz entre produtos cognitivos e estruturas. ,
,
Cognições e Crenças
125
Estruturas Cognitivas e Comportamento Modelado por Contingências Como pontuado anteriormente, algumas formas de terapia cognitiva
salientam a importância de mudar as estruturas (em oposição aos produtos)
,
mas faltam-lhes bases teóricas para que isso possa ocorrer Uma vez que a .
análise do comportamento é primeiramente uma teoria da mudança de comportamento, seria útil traduzir a "estrutura cognitiva" para termos comportamentais com o propósito de delinear os métodos de mudança. Complementando o que foi dito sobre polarizações na seção anterior há outras semelhanças entre as características do comportamento modelado por contingências e das estruturas cognitivas descritas. Primeiro os efeitos do ,
,
reforçamento ocorrem em um nível inconsciente e as estruturas são também ,
inconscientes. Segundo, os efeitos do reforço são funcionalmente definidos (isto é, comportamentos
aparentemente diferentes podem acarretar o mesmo efeito) o que é consistente com o significado profundo atribuído às estruturas cognitivas. Terceiro, o comportamento reforçado é mudado através da experiência com as contingências e não por meio de conversas sobre as contingências o que corresponde à presença não essencial da metacognição na mudança das estruturas cognitivas. ,
"
"
,
Assim, estamos sugerindo que as estruturas centrais a que se referem os
terapeutas cognitivos sejam os comportamentos modelados por contingências, o que significaria que os terapeutas cognitivistas deveriam direcionar mais atenção às contingências quando eles estão tentando mudar as estruturas centrais. Prestar atenção às contingências é exatamente o que Jacobson (1989) fez quando descreveu como usou a relação terapeuta/cliente para mudar uma crença "
"
enraizada do cliente sobre sua maldade
.
De acordo com Jacobson, a estrutura
central foi mudada pelo fato de o cliente ter conhecido intimamente
"
"
corrido o risco de se deixar ser
pelo terapeuta e ter sido "compensado" por sua contínua
aceitação e consideração positiva.
Uma diferença conceituai entre o comportamento modelado por contingências e as estruturas cognitivas é que o primeiro é uma entidade comportamental e o último, uma entidade não comportamental. Enxergar as estruturas
como sendo entidades não comportamentais tem o efeito indesejado de distrair a atenção do processo comportamental. Por exemplo, terapeutas cognitivistas
frequentemente não reconhecem o papel do reforçamento como parte inerente de seus procedimentos. O efeito causado pela atenção do terapeuta ou as reaçÕes de
126
Capítulo 5
outras pessoas significativas podem ter um impacto importante no que o cliente diz ou faz. A despeito da orientação teórica, é aceito que o reforço é um fator a ser relativamente considerado, em algum momento. Apesar disto, os terapeutas cognitivistas, em suas análises teóricas, parecem ter uma fobia pelo termo reforçamento. Hollon e Kriss (1984) nem sequer fizeram uma referência casual a isso. Similarmente, no caso descrito por Jacobson (1989), as operações de reforçamento foram descritas, mas este termo não foi usado. Mesmo Wessells
(1982), numa elegante defesa da psicologia cognitiva, lamentou que os cognitivistas, infelizmente, negligenciaram o papel das contingências ao explicar o comportamento. A negligência ao papel das contingências provavelmente ocorreria em uma análise do caso de Harriet feita por terapeutas cognitivistas. Partindo da perspectiva deles o consentimento de Harriet teria ocorrido por causa de suas estruturas cognitivas subjacentes, e as estruturas são vistas como entidades que têm existência independente do comportamento. Dadas essas afirmações a ,
,
explicação cognitivista das ações de Harriet e dos métodos necessários à sua
mudança precisaria de algo além de uma simples razão para o comportamento e para sua mudança. Não é necessário dizer que a explicação da FAP para as ações de Harriet envolve comportamentos e intervenções clínicas que são descritas em termos de mudança de comportamento.
IMPLICAÇÕES CLINICAS DA VISÃO DA FAP SOBRE AS CRENÇAS
Embora concordemos com os terapeutas cognitivistas a respeito da idéia de que o pensamento possa preceder as ações consideramos a relação pensamento/comportamento sempre como uma relação comportamento/ comportamento. Quando os pensamentos são considerados como comportamentos o terapeuta é conduzido a considerar as várias origens do comportamento de pensar existentes e em particular, a prestar atenção nas contingências de reforçamento atuantes tanto ao seu desenvolvimento quanto à sua modificação. As quatro maiores implicações de se tratar Bs como um comportamento são ,
,
,
,
discutidas abaixo.
Focalizando o pensamento aqui e agora O pensamento do cliente estará mais sujeito à mudança terapêutica se ele acontecer próximo no tempo e no espaço, às contingências e aos estímulos ,
/
Cognições e Crenças
127
de controle relevantes. Assim, sempre que possível nós recomendamos focar o pensamento, a crença, e os outros comportamentos relevantes que ocorram ,
na sessão. Frequentemente ocorrem oportunidades de modelar £s mais
adaptativos na medida em que os pensamentos disfuncionais do cliente aparecem na relação cliente/terapeuta. Por exemplo considere que o problema de Harriet seja do tipo A->B->C. Então o consentimento de Harriet ocorre porque ela ,
,
pensou que isso mostraria o quanto ela se importava, e porque ela pensou que, fazendo o contrário, evocaria a raiva do terapeuta. Esses são exemplos de Bs ocorrendo dentro do contexto da relação. Tais pensamentos de Harriet poderiam ter sido desafiados e reinterpretados de imediato e um novo comportamento ,
poderia ter sido, então, fortalecido.
Em contraste com essa posição, os terapeutas cognitivistas focalizam comportamentos que ocorrem em algum outro lugar. Quando essa posição é levada ao extremo
o terapeuta cognitivísta pode explicitamente evitar ou descartar oportunidades terapêuticas que surgem da interação cliente/terapeuta, Por exemplo em uma discussão a respeito dos problemas técnicos de fazer uso da terapia cognitiva para a depressão Beck et al. (1979) levantou o problema ,
"
"
,
,
de um cliente que lhe disse "Você está mais interessado na pesquisa do que em me ajudar Em primeiro lugar, Beck sabiamente assinalou que mesmo que nada seja dito, um cliente que está em um projeto de pesquisa clínica pode secretamente cultivar tais pensamentos. No entanto, o motivo pelo qual tais pensamentos ocorrem, de acordo com Beck, é que clientes deprimidos podem estar distorcendo o que o terapeuta faz. Ele então sugeriu que o terapeuta pergunte ,
"
.
ao cliente se algum desses pensamentos está presente e, então, o acalme. Ainda de acordo com Beck, se possível, o terapeuta deveria evitar tais problemas, já desde o início, antecipando sua ocorrência e dando explicações completas ao cliente.
Uma análise feita pela FAP dessa situação seria diferente. Um cliente
deprimido que não se sente importante para o terapeuta, demonstra que a situação de terapia poderia estar evocando o problema que ele experiencia em outras relações de sua vida diária - aquele de não agir como quem pensa que é importante, pedindo o que quer. Isso não seria visto como um problema técnico a resolver, mas uma situação que cria uma oportunidade terapêutica importante, Mais ainda, o terapeuta da FAP não assumiria que o cliente esteja distorcendo, mas apenas que o terapeuta e o cliente estão contatando aspectos diferentes da situação vigente. Pode até ser possível que a pesquisa seja mais importante para o terapeuta, e se assim for, o cliente não estaria distorcendo". A noção de "
128
Capítulo 5
que o cliente poderia estar cultivando secretamente tais idéias. ao invés de falar sobre elas com o terapeuta, também sugere a ocorrência do problema clínico do cliente, isso é, ele pode não estar sendo direto ou assertivo durante a sessão. Embora a teoria de Beck possa, em geral, levar o terapeuta cognitivista a negligenciar situações que seriam de interesse para um terapeuta da FAP, ele
reconheceu que certas interaçÕes terapeuta/cliente podem fornecer oportunidades terapêuticas. Por exemplo, ao discutir formas de fortalecer a colaboração, ele assinalou que um cliente pode reagir a uma tarefa de casa como se fosse um teste de autoconceito e que o terapeuta deveria tentar perceber isso (Regra 1) e usar tal situação como uma oportunidade para corrigir cognições erróneas. Beck, no entanto, não deu atenção especial ao fato de que o trabalho terapêutico evidencia o comportamento que está ocorrendo naquele momento. Em vez disso, ele considerou que os efeitos seriam os mesmos se lidasse com uma cognição que ocorreu em algum outro lugar. Jacobson (1989), por outro lado, discutiu a importância de se focalizar no comportamento durante a sessão, enquanto estava praticando a terapia cognitiva de Beck. Mais ainda, ele sugeriu que esse fator fosse incorporado nas bases conceituais da terapia cognitiva para depressão. ,
I
Levando em consideração o papel variável que os pensamentos podem exercer
Além de olhar os pensamentos como comportamentos, acreditamos que é possível ter 5s que podem ou não desempenhar um papel nos problemas do cliente. Recordando a nossa discussão prévia examinamos três possibilidades: (1) que o pensamento influencia comportamentos subsequentes; (2) que o pensamento não influencia comportamentos subsequentes; e (3) que o pensamento contribui para aumentar a força de um comportamento modelado por contingências subsequente. Em outras palavras o grau do controle exercido pelo pensamento sobre sintomas clínicos está num continuum. De um lado está o tipo A->B->C puro, onde o B precedente é um comportamento que corresponde a um produto cognitivo e tem influência no problema do cliente. O tratamento para esse tipo de relação aponta para a mudança dos Bs. Os procedimentos salientados na Regra ,
,
5 para fazer interpretações são apropriados aqui e incluem as técnicas da terapia cognitiva de apresentação de argumentos lógicos questionamento das evidências ,
,
e apresentação de instruções para mudança de crenças
.
No outro extremo do continuum está o tipo A->Cno qual o sintoma foi
unicamente modelado por contingências Neste caso, o tratamento é direcionado .
Cognições e Crenças
129
para mudar diretamente os Cs - o foco seria expor o cliente a reforçamentos positivos na sessão de terapia e no ambiente natural, que poderiam modelar e sustentar novos Cs. As interpretações dadas aos clientes também corresponderiam a A -> C. Para ilustrar, eis o caso de Christina que foi criada ,
por uma mãe esquizofrênica paranóica e foi sexualmente abusada pelos padrastos quando adolescente. Mesmo antes de ter adquirido a linguagem, ela foi negligenciada, privada, abusada e rejeitada o que continuou por toda a sua ,
infância. Não é de surpreender que ela frequentemente ficasse deprimida e nervosa.
O relato que se segue é de uma sessão com Christina, depois de ela ter estado em tratamento com o segundo autor por 6 anos:
C: A vida é um espetáculo de horrores Eu sinto uma sensação tão grande de humilhação. Eu não quero lutar eu só quero descobrir como morrer. E assim que me sinto quando estou deprimida. A única coisa que me daria uma perspectiva seria ter alguém em minha vida. As coisas não me parecem tão assustadoras quando isso acontece. (Parece que o cliente está fazendo uma interpretação ABC de "Eu fico deprimida quando não tenho ninguém em minha vida" e "Neste momento, eu não tenho ninguém, portanto estou deprimida ) .
,
"
.
T: Você parece fechada a mim neste momento, você não está levando em consideração meu amor e minha preocupação. (Eu respondi assim por pensar que a depressão fosse um problema ABC, oferecendo a interpretação "Eu estou em sua vida. Tudo que você tem a fazer é aceitar isso e então você não ficará deprimida ) "
.
C: Seu problema é que você não tem nenhuma empatia. Você nunca ficou deprimida da maneira como eu estou. Se tivesse ficado, não diria coisas como "esteja aberta
para mim e que seu amor deveria melhorar as coisas. Eu ico sozinha 99% do
f
"
dia após dia, semana após semana, e você espera que eu venha aqui e seja uma pequena flor aberta? (Christina está me deixando saber, de forma clara, que ela não gostou da interpretação ABC. Isso pode ter sido similar àqueles pedidos
tempo
,
feitos por outras pessoas para que ela sinta e aja de uma forma conveniente para eles, mas que não é válida para ela. Ver o Capítulo 6 sobre o desenvolvimento do self.)
Nesse exemplo, fazer qualquer tipo de interpretação que pudesse parecer um pedido para que sentisse ou agisse de uma dada maneira, fazia Christina zangar-se e sentir falta de empatia. Eu estava numa situação difícil As interpre-tações são a primeira maneira usada por um terapeuta para indicar ao cliente que suas ideias estão sendo levadas a sério. Pensando nisso, eu quis fazer uma interpretação que fosse consistente com sua experiência; isto é, uma
130
Capítulo 5
formulação A->C,e que, ao mesmo tempo, relacionasse a resposta que Christina apresentou a mim ao contexto de sua história (Regra 5). Além disso, a interpretação precisava ser empática - livre de solicitações então eu escrevi um poema:
Depressão Devastada e exaurida
pelas atrocidades da vida afogando em minha vergonha presa em uma caverna escura e úmida
sem esperança de escapar uma criança aos gritos dentro de mim morrendo para ser abraçada morrendo.
Eu procuro por você mas você não me escuta
Você e eu estamos separados por grossas paredes de vidro. Você me vê mas não pode sentir o veneno em minha alma.
Você fala comigo sobre maneiras de sair da minha prisão mas não vê que preciso que você esteja do meu lado das grades? ,
Eu sempre fui sozinha. Sozinha quando pequenina bombardeada pela depressão e esquizofrenia de minha mãe. Sozinha quando criança sem ninguém para segurar minha mão. Sozinha quando adolescente usada como um objeto sexual ,
,
,
por padrastos e seus amigos. Usada... e descartada.
Cognições e Crenças
131
Eu tento desesperadamente encher o meu vazio com pênises anónimos os quais somente golpeiam meu coração .
Ocasionais vislumbres da luz do sol
através das camadas de merda no meu cérebro não são suficientes...
Eu não quero viver. Eu solto minha fúria em você
porque não há mais ninguém. Mas não há nem você.
Eu enviei o poema com essa nota: "Christina eu não sei como te alcançar quando você está deprimida. Esse poema é uma tentativa de me conectar com você, de ver o mundo através de seus olhos. Eu te amo querida Tenha força". ,
.
Ela me respondeu dizendo que esta era uma das melhores coisas que alguém já havia feito por ela. Durante sua infanda, Christina foi tratada como sendo sem valor; isto é,
ela desenvolveu o comportamento modelado por contingências de cuidar dos outros, mesmo que isso a prejudicasse (esse comportamento é consistente com a noção de que ela própria não tinha valor). Ela se sentiu agiu e se descreveu ,
como sendo sem valor. De acordo com o nosso modelo ela desenvolveu o autotato ,
"
Eu não tenho valor" (A ->B - C). Eu aceitei seus pensamentos de não ter valor como sendo autotatos que decorrem de seu passado e sua experiência de si mesma. Assim, eu não usei a lógica para convencer Christina de que sua crença era incorreta e então mudá-la para ver-se como uma pessoa de valor especialmente porque ela já sabia todos os argumentos lógicos. Eu também não tratei a autocrítica de "sem valor" de Christina como se fosse uma hipótese que precisava ser testada e rejeitada. Ao invés, eu me concentrei em fortalecer aqueles repertórios que são característicos de uma pessoa de valor Esse procedimento vinculava reagir a ela como sendo uma pessoa de valor por um longo período de tempo, considerando e reagindo seriamente a todos os seus pensamentos e "
"
,
"
"
.
"
"
idéias, tratando-a com preocupação e respeito, usando o tempo e energia que "
são devidos a uma pessoa de abordagem.
valor"
.
O poema foi consistente com essa
É desnecessário dizer que tratar a experiência de depressão e baixa auto-estima de Christina como
"
irracional" teria sido contraterapêutico, dada a
rejeição e o desprezo por seus pensamentos e sentimentos que ficariam implícitos nesta ação. Assim de um ponto de vista comportamental, a terapia apropriada ,
132
Capítulo 5
para um cliente com este tipo de problema A->C deveria ser mais na linha da "
experiência emocional corretiva defendida por alguns terapeutas psicodinamicamente orientados. "
Ofereça explicações relevantes sobre os problemas do cliente
Nossa análise tem também implicações para as explicações oferecidas aos clientes sobre seus problemas. Embora seja possível para um cliente com um problema í C melhorar quando lhe é dada uma interpretação A->B->C, resultados menos favoráveis também ocorrem. Isso é especialmente verdadeiro para clientes que tenham crescido em famílias disfuncionais, com adultos insensíveis a seus sentimentos. Muitos de nossos clientes sofreram abusos
emocionais, que incluem negligência, negação, ou punição pela expressão de seus sentimentos. Crianças às quais é dito repetidamente, seja direta ou indiretamente, que "não há motivo para você se sentir ou pensar dessa maneira" frequentemente crescem com problemas do self (ver Capítulo 6 para elaboração). Eles não confiam em seus sentimentos e não estão certos de quem são. Tratar tais clientes com técnicas da terapia cognitiva e dar a eles explicações que contêm a sugestão implícita de que suas suposições, crenças, ou atitudes são disfuncionais e/ou irracionais, leva ao risco de reeditar as contingências que estão associadas com a invalidação ou alienação que eles experienciaram enquanto cresciam. Adicionalmente, clientes A ->C que são tratados como se seus problemas fossem A->B->C podem desistir do tratamento no caso de sentirem-se invalidados ou ,
alienados.
Outra possibilidade é que clientes, aos quais é erroneamente dito que seus problemas são controlados por pensamentos precedentes e não por uma história de reforçamento, podem gastar muito tempo trabalhando em seus pensamentos e se excluindo de experienciar o mundo real. Por exemplo, veja o caso de uma mulher cujos medos de rejeição provêm de experiências pré-verbais com uma mãe psicótica. Suas reações à rejeição são imediatas e inconscientes. E mais importante para essa cliente ser exposta a uma variedade de experiências interpessoais que não sejam seguidas pelas consequências extremas que ela experienciou com sua mãe do que engajar-se em longas argumentações lógicas sobre desistir da ideia irracional "Eu preciso ser amada por todo mundo o tempo ,
todo".
Cognições e Crenças
133
Use com cuidado a manipulação cognitiva direta
Nós nos temos concentrado nos problemas que podem ocorrer quando tratamos um problema A ->C como se fosse um problema A ->B->C Contudo, as manipulações cognitivas diretas às vezes usadas por terapeutas cognitivos, .
,
podem beneficiar os clientes mesmo se o problema for do tipo A->C. Nós definimos manipulação cognitiva direta como sendo comportamentos do terapeuta que envolvem apelar para a razão, argumentos lógicos, ou dizer ao cliente que uma crença em particular não combina com as observações do terapeuta .
Portanto, a manipulação cognitiva direta é basicamente, dar regras. Quando o ,
cliente responde às regras mudando seus Bs (produtos cognitivos tais como crenças e pensamentos automáticos) essas mudanças são comportamentos governados por regra. Esse processo pode ser benéfico ao cliente por vários motivos. Primeiro, parece razoável dizer que as crenças contribuem pelo menos em algum grau, em muitos problemas do cliente, mesmo quando o fator iniciai é resultado de contingências. Esse paradigma é ilustrado na Figura 2c. Os métodos de terapia cognitiva direcionados para mudar Bs diretamente seriam então de grande ajuda, particularmente se o cliente também fosse exposto às contingências que poderiam levar a um comportamento melhor. ,
,
As técnicas de terapia cognitiva para problemas A -»C também poderiam beneficiar alguns clientes que fossem pensadores lógicos e lineares e que já interpretam seu problema de acordo com a hipótese ABC (embora seu problema seja A-> Q. O benefício ocorreria porque tais pessoas aprenderam a ser consistentes, isto é, elas cresceram em ambientes onde praticar o que se prega era altamente valorizado e dizer uma coisa e fazer outra" não o era. Há alguma inclinação desse tipo de cliente para agir de acordo com uma "crença" que um terapeuta fez um cliente adotar diretamente. A força de tais inclinações, no entanto, é geralmente fraca e depende da proporção de ênfase que foi posta na consistência pela subcultura do cliente. "
"
"
Uma outra maneira pela qual a manipulação cognitiva direta pode ajudar em problemas A ->C dá-se através das contingências e das regras encobertas que tais procedimentos abrigam. Por exemplo, um efeito não pretendido ao se convencer racionalmente os clientes a sustentarem uma certa crença, é que tal
procedimento envolve uma solicitação ou descrição do terapeuta nas quais está implícito que se eles se comportarem de acordo, eles irão melhorar (uma regra). Se então, os clientes se comportarem da maneira indicada e essa nova maneira de se comportar for naturalmente reforçada, os clientes melhoram,
4
134
Capítulo 5
Por exemplo, convencer Harriet de que ela pode suportar a raiva poderia ser visto como uma solicitação encoberta ou uma instrução implícita do terapeuta
para que ela agisse diferentemente. Mudanças no comportamento de Harriet seriam então o resultado do seguimento de tais instruções ou do comportamento
governado por regras. Melhoras clínicas significativas ocorrerão se o seu novo comportamento for naturalmente reforçado em sua vida diária. Esse processo fica mais óbvio quando a terapia cognitiva envolve instruções abertas e explícitas ao cliente para a mudança do comportamento. Por exemplo, Beck et ai. (1979) encorajou clientes a agirem contra suas suposições porque esta é a maneira "
"
mais poderosa de mudá-las (p. 264). Embora Beck tenha preferido ver essa intervenção como mudança de uma cognição (uma suposição), isso também
pode ser visto como sendo o terapeuta formulando uma regra para o cliente que, ao segui-ia, realiza uma exposição de seu comportamento às contingências que podem fortalecer diretamente o seu novo comportamento. Essa ênfase em construir um novo comportamento é consistente com a FAP. No entanto, pode ser contraterapêutico quando produtos cognitivos e um comportamento subsequente mudam porque o cliente está tentando agradar o terapeuta. O perigo está no fato de que as melhoras não serão mantidas pelos reforços naturais da vida diária do cliente, e os ganhos obtidos na terapia se perderão quando a terapia acabar. Esse problema foi discutido no Capítulo 2, no tópico de reforçamento natural versus reforçamento arbitrário. Uma vez que as manipulações cognitivas diretas envolvem instruções diretas sobre como pensar ou se comportar, e tornar explícitas as requisições para as melhoras, é difícil deixar de agradar o terapeuta. Uma exceção notável é o uso do método socrático e o teste de hipótese" de Beck et al. (1979), os quais vemos como maneiras engenhosas para reduzir a motivação de agradar o terapeuta e colocar os clientes "
em contato com reforçadores naturais.
Embora terapeutas da FAP possam apelar à razão, diferenças teóricas entre a FAP e as terapias cognitivas levam a comportamentos terapêuticos diferentes quando tais intervenções não são bem sucedidas. Uma abordagem que o terapeuta cognitivo poderia tentar seria a de aparecer com argumentos
adicionais sobre a impropriedade dos pensamentos do cliente. Na perspectiva da FAP, levar Harriet a mudar sua crença, convencendo-a racionalmente (à moda de Albert Elíis) de que "ela pode suportar a raiva não é garantia de um resultado favorável quando ela se encontrar em uma situação futura verdadeiramente problemática. Não existe garantia porque não há clareza sobre qual foi o comportamento mudado com o convencimento a não ser o de ela dizer "Ok, eu acredito que posso suportar." "
,
,
"
"
,
Cognições e Crenças
135
Quando o cliente muda sua declaração de uma crença por causa dos argumentos lógicos do terapeuta o sentido da declaração muda. Antes da intervenção terapêutica a declaração de crença tinha a propriedade de ser uma ,
,
descrição de experiências passadas ou uma indicação da similaridade de certas
ações. Depois que as crenças do cliente foram mudadas por causa da argumentação lógica do terapeuta elas não derivam mais de experiências, mas são apenas uma resposta para agradar o terapeuta ou se conformar com as ,
regras de lógica. Portanto não é surpresa que muitos clientes que tenham sido "
convencidos
"
a mudar suas crenças subsequentemente não mudem seus comportamentos nas situações problemáticas Tais "falhas" são frequentemente acompanhadas por explicações tais como "Eu acredito nisso intelectualmente, ,
.
,
mas não aceito num nível emocional". O terapeuta da FAP não ficaria perplexo com este fato, pois não haveria motivo para esperar nada diferente Em contraste,
nós aceitaríamos as
"
.
inconsistências" do cliente e
tentaríamos identificar variáveis que respondem pelos comportamentos tais como de (1) apoiar uma crença X e agir consistentemente com uma crença Y (2) ,
,
tentar ser consistente em apoiar e agir ou (3) tentar agradar o terapeuta sendo ,
racional.
ILUSTRAÇÃO DE CASO No caso de Kelly (descrito anteriormente no Capítulo 4) o B parecia contribuir para o fortalecimento de seu comportamento modelado por contingências. O seu tratamento e a explicação de seu comportamento eram baseados nesse modelo. Kelly tinha relações caóticas com homens devido, em parte, às suas ações erráticas e estava para recriar o mesmo padrão ao terminar prematuramente a terapia com o primeiro autor. Quando lhe foi perguntado porque queria parar, Kelly disse que fazia isso porque tinha a sensação de que eu estava, na verdade, para dizer-lhe que não iria vê-la mais, e ela pensou que deveria acabar primeiro. Embora isso soe como um problema puramente A->B C no qual B era sua hipótese sobre minhas intenções, eu assumi que o comportamento modelado por contingências também estava presente porque Kelly não pôde identificar nada que eu tivesse feito para lhe dar essa impressão. Esse é o fenómeno que leva os terapeutas psicodinâmicos a dizer que as causas da esquiva de Kelly eram inconscientes. ,
A história de abandono de Kelly, começando na infância, e a tentativa de se esquivar de um possível abandono futuro, retirando-se de relacionamentos
136
Capítulo 5
próximos, também fundamentavam a hipótese da presença do comportamento modelado por contingências.
Assim, a ocorrência do CRB1 de prematuramente largar a terapia, foi usada como uma oportunidade in vivo para Kelly checar suas suposições. Eu assegurei a ela que eu estava compromissado a completar a terapia e não iria precipitadamente terminá-la. Mais confiante, os medos de Kelly foram amenizados e ela permaneceu na terapia. Como o seu problema era também modelado por contingências, a segurança tinha apenas efeitos temporários e seus medos retornariam. No entanto, algumas vezes ela poderia pensar sobre minha atitude de renovar sua confiança e, por conseguinte moderar seu comportamento de esquiva e as suas reações emocionais. ,
Ofereci a Kelly uma interpretação baseada nos efeitos combinados de um B consciente e de um comportamento modelado por contingências inconsciente. Eu lhe expliquei que ao dizer a si mesma "Ele não me abandonou ainda, não há evidência de que me abandonará e ele disse que não o faria" ela poderia produzir os mesmos efeitos benéficos de eu dizer a ela a mesma coisa. No entanto, também assinalei que ela tinha experiências passadas com situações nas quais ela fora abandonada em condições semelhantes às da terapia e que essas eram inconscientes e não mediadas por suas declarações. As vezes portanto, ela experienciaria o medo e tentaria me evitar mesmo tentando assegurar-se ,
,
,
conscientemente. Ela sentiu que essas interpretações correspondiam a seus sentimentos. Conforme o relacionamento terapêutico evoluiu as contingências ,
presentes reforçaram os seus comportamentos que eram consistentes com seus pensamentos de que eu não a abandonaria. Por exemplo, eu era consistente na manutenção dos compromissos e quando os feriados ou as viagens interrompiam ,
o calendário, eu tentava agendar um horário para repor as sessões. Em "
consequência o novo e melhorado B (tal como, Não parece que ele vai me ,
abandonar
"
) ajudou a desenvolver um comportamento modelado por "
contingências de permanecer lá para dar uma chance" e vice-versa. Em suma
nós apresentamos um modelo no qual os pensamentos contribuem inteiramente ou parcialmente ou ainda, não contribuem com os problemas clínicos. Embora esse modelo aceite as técnicas de terapia cognitiva ele enfatiza a importância das contingências para determinar ou alterar os efeitos do pensamento em outros ,
,
,
comportamentos. Assim o uso de apelações para a racionalidade dentro da FAP é ,
apenas uma pequena parte de um conjunto maior de interações terapêuticas que
irão ajudar a desenvolver um novo conjunto de experiências e comportamentos do cliente e produzir uma mudança favorável nas crenças a eles associadas .
9
6
O self \
Sem dúvida, há uma ligação muito próxima na seguinte interação entre Beatrice ,
e sua terapeuta:
Beatrice:
É terrivelmente difícil para mim ser eu mesma.
Terapeuta: Se você não é você mesma, quem é você?
Beatrice:
Eu sou quem os outros querem que eu seja. Nem eu mesma sei quando estou sendo eu mesma.
O "self ao qual Beatrice se refere possui alguns atributos confusos. Primeiro, ela se refere ao self como algo diferente de seu próprio corpo; ou
seja, ela descreve o seu self mudando conforme o desejo dos outros, ao mesmo
f
tempo em que seu corpo ísico obviamente permanece o mesmo. Seu self portanto, não é físico - não é o seu corpo. Segundo, ela deduz que há uma experiência interna de seu self controlada por algo que é extemo. E finalmente, ela constata que esse self que ela experiencia, não é propriamente seu, porque é controlado por outros. Isso então implica que há ou poderia haver uma
experiência de seu self verdadeiro que seria imutável, e não controlada por outros.
137
138
Capítulo 6
Ao analisarmos a literatura disponível acerca do self, constatamos uma abundância deste tipo de paradoxos. Isso levou um autor a nomear seu tratado sobre o self de Há alguém no comando?" (Greenwald, 1982). Neste capítulo, forneceremos uma concepção behaviorista de self que considera esses paradoxos e diversos sentidos de se/ftípicos ou normais bem como os seus problemas ou estados patológicos Em seguida, mostraremos como aplicar nosso modelo comportamental ao tratamento. "
"
"
,
"
"
.
Começaremos por demonstrar as dimensões do selfquG serão incluídas neste relato. Nosso modelo irá explicar, a partir de uma abordagem comportamental, as características essenciais dessas descrições não patológicas, bem como das patológicas. s
DEFINIÇÕES COMUNS DO SELF As quatro descrições de self feitas por não-behavioristas que estão a seguir representam o senso comum, não patológico do termo: 4
1
Experienciando o self como o "Eu". A maioria de nós tem um sentimento do Eu". De acordo com Deikman (1973), esse "Eu" é "uma consciência permanente, descaracterizada e imutável alguma coisa central que testemunha todos os eventos externos e internos" (p 325). Deikman ainda define esse self como consciência. .
"
4
»
,
.
2
O self como deflagrador de ações. Um outro tipo de "Eu" que é sentido é o Eu quero" de "Eu quero um carro novo" ou "Eu nâo levantarei da cadeira enquanto não tiver terminado meu trabalho". Deikman descreve esse Eu" como uma força organizadora que impulsiona o indivíduo a agir. .
"
"
,
3
O self como fonte de gestos espontâneos. Segundo Winnicott (1965), o self"1real" ou "verdadeiro" é fonte de gestos espontâneos e idéias personalizadas. Do mesmo modo, Masterson (1985) definiu a criatividade como a expressão mais real do self (p. 17) O falso self, por outro lado, não tem idéias originais mas apenas aquelas originadas do outro. .
"
.
,
4
.
O self como identidade pessoal. Erikson (1968) descreveu a
identidade pessoal como uma experiência consciente de duas percepções simultâneas: (a) a igualdade do self - "a percepção da igualdade do self e a continuidade da existência do ser no tempo e no espaço" e (b) outro reconhecimento de igualdade - "a percepção do fato de que os outros reconhecem essa igualdade e continuidade" (p 50). ,
.
O self
139
Essas definições representam noções comuns sobre o self tanto na prática clínica quanto na vida cotidiana. Os conceitos utilizados nessa descrição ,
do self parecem estar além da esfera do behaviorismo e um behaviorista que ,
pretenda explicar esses fenómenos encontrará algumas dificuldades. Por exemplo, como explicar, em termos behavioristas noções como saber o que "
,
os outros querem
"
"
,
não ser eu
" ,
ou
"
uma consciência imutável e
descaracterizada"?
A própria noção de "self* enquanto um conceito explicativo é uma antítese da esquiva comportamental de usar entidades internas para explicar o comportamento Quando alguém pretende explicar o comportamento do cliente em termos de problemas do // (entendendo-se o selfcomo entidade não comportamental), uma entidade iccional é construída e erroneamente usada para explicar o comportamento. Por exemplo, alguém poderia dizer que a dependência extrema do cliente pelo ,
.
f
"
terapeuta é causada por um self inadequado. Isto é o terapeuta pode consertar ,
essa inadequação desenvolvendo um selfmais completo; por esta razão, o cliente se torna dependente, pois ele(a) experiencia um self mais adequado na presença do terapeuta. Esse tipo de explicação não serve ao behaviorista, uma vez que "self completo e "self inadequado" são novos, estruturas não comportamentais que "
ainda precisam ser descritas. Sem querer se ater a este tipo de explicações equivocadas, os behavioristas, em geral, têm evitado utilizar este termo e portanto, não têm se concentrado nos problemas do self ou seu tratamento.
Em tempo, a única exceção foi Skinner, que fez inúmeras análises teóricas do self( 1953, 1957) e contribuiu com uma base para um trabalho sob a ótica behaviorista. Nossa intenção é desenvolver as noções postuladas por Skinner e explorar suas implicações clínicas. Há pelo menos duas razões pelas quais um esforço deve ser feito neste sentido. Primeiro, os problemas do cliente descritos em termos de desordens do selfparecem ser importantes e aparecem constantemente. Uma indicação disso está na literatura sobre este assunto, dentro
_
da psicanálise moderna, psicologia do self e relações objetais. Segundo, o fenómeno do selfparece ser parte da experiência humana e os clientes geralmente descrevem seus problemas em termos do seu se//
UMA FORMULAÇÃO BEHAVIORISTA BO SELF Qualquer explicação adequada sobre o self deve levar em conta a
experiência ou senso do self Isto é verdadeiro pois as inúmeras descrições de
140
Capítulo 6
self patológico ou normal envolvem a experiência da pessoa (ou seja, experienciando uma continuidade e igualdade do self ou os clientes que não "
"
sabem quem são ) Desta forma, nosso objetivo está em entender e explicar o "
.
sentido ou experiência de self Apesar de não haver um consenso quanto ao que constitui uma explicação ou um entendimento de uma experiência, seria vantajoso entender o que é experienciado, pela identificação dos estímulos que evocam o sentimento ou sensação e o tipo de experiências passadas que afetam este
processo. Apesar de parecer uma abordagem esotérica quando descrita formalmente, é um método comumente utilizado nas experiências cotidianas. Para ilustrar, tentemos imaginar a experiência de alguém sentindo calor. Poderíamos colocar esta pessoa num quarto com a temperatura controlada, variar esta temperatura, tomar nota das temperaturas observadas e concluir qual "
"
Variando-se a temperatura é necessária para a pessoa relatar que sente umidade, do mesmo modo poderíamos determinar a influência dessa variável na experiência. Nosso estudo estaria ainda mais completo, entretanto, se pudéssemos saber algo mais sobre a história prévia desta pessoa com relação ao calor. Se esta pessoa, por exemplo, cresceu no deserto, um aumento considerável de temperatura seria necessário para evocar essa sensação de calor, ao contrário de uma pessoa que tenha nascido e vivido no Alaska. Essa tentativa de explicação
calor
.
envolve um conhecimento maior acerca dos fatores relacionados a esta
experiência. Mais especificamente, quanto mais soubermos com referência às variáveis que levam à sensação de calor na pessoa, mais poderemos dizer que entendemos a sua experiência. Como vocês podem notar, nossa abordagem ao tentar entender a experiência de uma pessoa reside no fato de entendermos o relato verbal dessa experiência. Apesar de não serem a mesma coisa, assumimos aqui que os mesmos fatores que afetam a experiência de alguém também afetam o relato verbal dessa experiência. Alguns dos leitores podem se opor a esta equivalência, baseando-se no fato de que sua própria experiência é não-verbal. Pedimos a estes leitores que reservem seu julgamento final quanto ao assunto para mais tarde. Uma experiência não-verbal do selfé consistente com a presente "
"
análise comportamental.
Nosso entendimento da experiência do self é paralela ao exemplo do calor. Assim como explicamos a experiência do calor identificando o estímulo e a história da resposta "Eu sinto calor" tentaremos explicar a experiência do self descrevendo os estímulos e a história que se relacionam com as palavras que identificam o self Palavras estas que incluem "Eu" "Mim Querido", "Davie" ou Dottie" (quando usados para se referir ao seu self) e "Você" (quando utilizado ,
"
,
"
"
,
O self
242
por uma criança pequena para se referir ao seu self). Por propósitos ilustrativos, entretanto, concentraremos nossa discussão no "Eu" genérico Nossa abordagem para o entendimento do Eu" com algumas sutis variações se aplicaria tanto para .
"
,
os sinónimos de
"
Eu" quanto a outros termos equivalentes. Assim noss&anáiise ,
do "Eu" pode ser vista como um protótipo para a análise de outras respostas verbais associadas ao self. Desta maneira o entendimento do Eu" em particular "
,
parece contemplar uma íarga faixa de experiências do self. A especificação dos "
estímulos que se referem ao Eu" também ajuda a enxergarmos a natureza do
estímulo que geralmente controla a experiência do self Conceitos Básicos
Nossa hipótese sobre o self é essencialmente uma hipótese sobre um comportamento verbal. Especificamente, o entendimento da experiência do self é a especificação dos estímulos controladores da resposta verbal "Eu" Alguns conceitos de comportamento verbal formam o fundamento de nossa abordagem: controle de estímulos, tato, unidades funcionais e a emergência de pequenas .
unidades funcionais. Como já discutimos controle de estímulos e tato faremos aqui apenas um breve resumo. ,
Controle de Estímulo
Imagine um pombo que é reforçado por bicar uma chave apenas quando uma luz estiver acesa. No final, seguindo a luz, uma resposta de bicar a chave aparecerá. Algumas conclusões óbvias que podemos tirar dessa situação são: 1
.
2
.
3
.
A resposta de bicar a chave ocorre quando o Sd (estímulo discriminativo luz acesa) está presente. Bicar a chave está sob controle do estímulo da luz acesa.
Bicar a chave é uma unidade funcional, definida como o comportamento que
ocorre entre o Sd e o reforçador. (Discutiremos isso em mais detalhes na seção das unidades funcionais.) Por ser importante para a compreensão do nosso conceito comportamental do self discutiremos o processo através do qual o acender a luz se transforma num Sd. No início do experimento, o pombo é exposto a um grupo
Capítulo 6
142
grande de estímulos que consistem no sinal luminoso, movimentos e barulhos no ambiente, luz da sala, a orientação do próprio pombo em relação à luz, assim
como à riqueza dos estímulos privados ou internos, tais como atividade fisiológica e a estimulação sinestésica que provém do sinal luminoso. Assim, mesmo que o experimentador possa sentir que a luz é o estímulo mais óbvio, pode não o ser necessariamente para o pombo. Entretanto, após repetidas tentativas, a luz se destaca o suficiente para controlar as reaçoes de bicada na chave, pois é o elemento do grupo de estímulos que está sempre presente quando os reforçadores estão em ação.
O Tato
Imagine uma criança do sexo feminino que está aprendendo a falar, e é reforçada pela alegria de seus pais por dizer maçã sempre que lhe mostram uma maçã, e não quando lhe mostram uma banana ou laranja. Finalmente, apenas o fato de mostrar a maçã a ela pode resultar na reação maçã maçã maã ou outra aproximação fonética. Algumas conclusões óbvias podem ser tiradas "
"
"
"
"
,
"
"
"
,
dessa situação, a saber: v
1
.
2
.
3
.
4
.
A resposta balbuciada "maçã" ocorre quando o Sd (estímulo discriminativo), uma maçã, está presente. A resposta "maçã" está sob o controle do estímulo maçã. A resposta "maçã" é uma unidade funcional. Não podemos dizer no entanto, que o tato "maçã" corresponde mais à fruta maçã do que, no outro experimento, a bicada" na chave pelo pombo corresponde ao sinal de luz. Desta maneira, não podemos dizer que a criança usa a palavra maçã tanto quanto não dizemos que o pombo usa a "bicada "
"
"
"
na chave
.
Assim como no caso do pombo e o sinal da luz, a fruta maçã controla a resposta verbal maça pois esta era o estímulo que estava presente toda vez que dizer maçã foi reforçado. Apesar de parecer óbvio, para que este condicionamento verbal pudesse acontecer os pais tiveram que ver a maçã (ou seja, saber que ela estava presente). Como reafirmaremos mais tarde, a "
"
"
"
,
v
f
O self
143
importância dos pais saberem que o Sd está presente é um aspecto fundamental ,
quando a criança estiver aprendendo o
"
Eu".
Unidades Funcionais
Como já vimos, a bicada na chave pelo pombo é uma unidade funcional. Quando vemos uma bicada, podemos dizer "Aí está". Mas quando se trata de um comportamento verbal fica menos claro o que pode ser considerado uma .
,
unidade ou uma ocorrência única. Mesmo que fiquemos tentados a dizer que a unidade do comportamento verbal é uma palavra isto pode levar a alguns ,
problemas, já que experienciamos nossas verbalizações como sendo, às vezes,
menores e, às vezes, maiores que uma palavra. Um exemplo ocorreu quando o primeiro autor aprendeu o hino nacional. Eu lembro de ter aprendido uma grande unidade totalmente sem sentido -
"
landaliverty"*. De maneira semelhante o alfabeto é normalmente ensinado em grandes unidades ordenadas. Torna-se difícil verbalizar as letras na ordem se começarmos por qualquer ponto do alfabeto ,
que não seja o início. Contrariamente, algumas palavras complexas, como inConstitucionalissimamente, menores
"
são realmente uma combinação das unidades
in", "constitucional", "mente".
A unidade funcional é uma concepção skinneriana de unidade de comportamento verbal e seu tamanho depende de como foi aprendida e mantida. Sendo a unidade funcional um comportamento que ocorre entre o Sd e o reforço, seu tamanho verdadeiro pode variar com a experiência. Por exemplo, uma criança pequena pode primeiramente ser instigada a dizer bebé", como duas unidades menores - os pais dizem be" e esperam a criança repetir "be", e então dizem bom, agora fala bê". Depois deste tipo de dica, quando se pede para a criança "
"
"
tatear bebé, ela poderá dizer aigo como "Be - Bê", o qual ainda assim evidencia unidades menores que a composição inteira. Porém, com o tempo, a unidade singular bebé" emergirá. Assim, unidades funcionais podem ser pequenas, como as palavras ( maçã e "oi") e fonemas (be, e bê). Unidades maiores de comportamento verbal seriam frases como Como você está", "Que Deus nos "
"
"
"
ajude cachorro-quente e Estados Unidos da América". Unidades ainda maiores, como Conselho de Administração e Finanças da Universidade, se ditas em conjunto, podem incluir o alfabeto. "
"
,
*
"
"
,
(N.T.: junção de três palavras em inglês que formam um som único = land of Iiberty).
Capítulo 6
144
A emergência de pequenas unidades funcionais
no
"
Para os ohjetivos deste capítulo, estamos particularmente interessados Eu" como uma pequena unidade funcional, ou seja. uma palavra individuai
que tenha um significado independente. Iremos contrastar dois modos pelos quais uma simples palavra pode se transformar numa unidade funcional quando uma criança está aprendendo a falar. Essa unidade funcional com uma única
palavra pode ser aprendida separadamente ou pode emergir como subproduto da aquisição de respostas maiores contendo elementos idênticos (Skinner, 1957, p 120). A aprendizagem separada da palavra enquanto unidade foi ilustrada no exemplo anterior, que mostrou como o tato maçã foi adquirido. Naquele .
"
"
exemplo, a palavra maçã foi aprendida como uma unidade. "
"
Agora usaremos um exemplo para explicar como uma palavra pode se transformar numa unidade via emergência proveniente da aquisição de unidades "
"
maiores. Neste caso, será usada a palavra grande Suponhamos que um pequeno garoto tem os tatos maçã caminhão "lápis "laranja e "cachorro" em seu repertório, mas não o tato grande Seus pais apontam para uma grande maçã numa caixa de maçãs e dizem Esta é uma maçã grande, diga Ímaçã grande Depois de algumas vezes e depois que a dica foi gradualmente retirada, a criança tateará maçãgrande Note que neste momento, devido às condições específicas sob as quais a criança aprendeu, grande não é uma unidade funcional. De fato, "grandemaçã" é uma unidade singular sem qualquer conexão com maçã e assim, não é uma combinação de duas unidades, grande e .
"
"
,
,
"
"
"
"
,
s
"
"
.
"
,"
.
"
"
.
"
"
.
"
"
"
"
,
"
maçã
Depois, os pais falam "caminhão grande". Após inúmeras tentativas
" .
"
com o caminhão grande, a criança tateará caminhãogrande Finalmente, após a criança haver experimentado um número suficiente de experiências similares com grandes laranjas, bonecas, lápis e outros objetos, a palavra grande emerge como uma pequena unidade controlada pelo estímulo do tamanho. Isso acontece porque grande é o elemento idêntico dentre uma variedade de situações nas "
.
.
"
"
"
"
quais objetos específicos (laranjas, bonecas, lápis) variam e tamanho é o elemento comum do estímulo. Após a emergência da unidade grande a criança poderá tatear "cachorro grande" mesmo que nunca tenha tido uma experiência prévia "
"
,
i
com cachorros grandes.
Diferentemente do processo no qual o "grande" emerge de unidades maiores, seria possível estabelecer experiências de aprendizagem de modo que grande fosse aprendido separadamente. Para isso, os pais teriam que apontar uma grande maçã e dizer grande (ao invés de "grande maçã") e assim a criança '
"
"
"
"
9
O self
145 "
"
poderia tatear grande O mesmo se repete para outros objetos até que seja o .
tamanho das coisas que passe a controlar o tato "grande"
.
Os exemplos citados servem para ilustrar dois métodos pelos quais uma palavra pode se transformar em uma unidade funcional. Nós simplificamos propositadamente as experiências de aprendizagem, e as descrevemos de um modo estereotipado a fim de clarear o papel dos processos fundamentais envolvidos. Não estamos sugerindo que nossos exemplos sejam uma correspondência direta dos
"
"
da criança ao aprender "grande" em seu próprio ambiente natural. Na vida real, dicas, modelos e reforçamento são usados passos
mais a esmo e inconsistentemente. Assim a palavra ,
"
"
grande é adquirida
provavelmente através da combinação de aprendizados separados e da emergência de grandes unidades e/ou outros processos menos relevantes à nossa discussão (por exemplo: aprendizagem de significados através de definições). Ao aprender a falar, a criança simultaneamente adquire unidades funcionais singulares numa faixa de tamanho que varia de pequeno a grande O período de vida compreendido entre os 6 meses e os 2 anos é conhecido como período de uma só palavra para os linguistas e psicólogos do desenvolvimento. Acreditamos que seria mais apropriado chamar este período de "Período das unidades funcionais singulares pois a criança deve aprender unidades que tenham uma ou mais palavras, mas que ainda continuam sendo unidades funcionais singulares. A observação da linguagem das crianças durante esse período legitima essa visão de unidade funcional (Dore, 1985). No início deste período as unidades singulares são palavras ou fragmentos de palavras como boneca", "maçã", maã (para maçã), "vete" (para sorvete), "cae" (para cair). Ao fmal deste período ou durante o segundo ano, de vida, muitas dessas palavras únicas tomam a forma de frases com duas ou três palavras como mordi você "bebé - mordi mais suco e eu-mais - suco mas permanecem unidades singulares você .
"
"
"
,
"
"
"
"
"
,
"
"
"
"
"
-
,
,
,
funcionais. Nesta idade, as unidades maiores não se formaram da composição
feita pela criança das unidades pequenas; elas são aprendidas como um todo.
A emergência do "Eu" como uma pequena unidade funcional
Acreditamos que o "Eu"* emerge como uma unidade funcional da aquisição de unidades maiores enquanto a criança aprende a falar num *
Nossa análise do termo "Eu", também se aplica a '1meu", "me", "nome próprio", e similares, e assumimos que estes termos têm uma sobreposição no significado funcional.
i
Capítulo 6
146
desenvolvimento normal e não patológico. Designamos três estágios de desenvolvimento relevantes para essa aprendizagem e os ilustramos na Figura 4, que mostra unidades de três tamanhos, cada qual correspondente a um estágio de desenvo lvimento.
17
Estágio II
Estágio I
stágio III
Estou com calor Estou
Estou com fome
Estou aqui
i
1
,
Me sinto triste Sinto
Me sinto mal Me sinto feliz Ouero sorvete
EU
Ouero
Ouero suco
Quero mamãe Veio carro
Veio
Veio mamãe
Veio peixe II
1
t
w
m
>
...
m
Eu X coelho
eu x y
Eu X giz de cera l
Eu X bebé
Figura 4: Os 3 estágios de desenvolvimento do comportamento verbal que resultam na emergência do "eu" como uma unidade funcional pequena. No estágio I a criança aprende unidades maiores
independentes que são a base para unidades abstraías de tamanho intermediário do estágio II. Então, o "eu" do estágio III emerge dessas unidades intermediárias do estágio II
Durante o estágio I, a criança aprendevárias unidades maiores como "
eu tenho uma boneca
" ,
"
eu tenho um coelho
"
" ,
eu quero sorvete
"
" ,
eu quero
eu vejo o carro e "eu vejo mamãe". Tenha em mente que; na verdade, estas rases devem soar como mim vê mamã ou nenê sorvete e que estamos suco/
"
,
"
,
"
"
"
f
"
,
Eu" como uma forma genérica de auto-referência. Essas grandes unidades são aprendidas como um todo (ou seja, são unidades funcionais). Esse estágio ocorre durante os dois primeiros anos de vida, usando
"
O self
147
Durante o estágio II unidades funcionais menores emergem, como "eu tenho", "eu quero" e "eu vejo" que podem ser então combinadas com alguns ,
,
objetos. É durante este estágio que a criança pode dizer "eu quero futebol" mesmo que ela não tenha pronunciado antes esta frase em particular
.
Durante o estágio III uma unidade ainda menor e única do "Eu" emerge, e ao mesmo tempo, a experiência do Eu . A partir de nossa perspectiva a aquisição da experiência do Eu" é semelhante à aquisição da experiência do futebol, do sorvete, da mamãe, ou do calor. Todos estes são tatos Entretanto essas experiências diferem do Eu,! no fato de estarem sob o controle de estímulos ,
"
,
"
.
,
"
públicos específicos e podem ser aprendidas separadamente. "Eu", por outro lado, está sob o controle de um estímulo pessoal complexo e parece ser aprendido exclusivamente através da aquisição destas unidades maiores. O real entendimento dessa experiência do self vem da descrição dos
estímulos que controlam as respostas em cada um dos três estágios Quando .
"
essas unidades funcionais se voltam para o Eu", há uma mudança correspondente nos estímulos controladores e uma ênfase maior nos componentes privados.
Estágio I: Aprendendo grandes unidades funcionais Como em todas as aprendizagens que envolvem discriminação, os pais* elevem usar estímulos públicos (que estejam disponíveis para os pais) ao ensinar as crianças a tatear. Apontamos anteriormente para o fato óbvio que um pai precisa ver a maçã, um estímulo público, a fim de ensinar o tato maçã Agora atente para o estímulo público que o pai utiliza para ajudar a criança a aprender "
"
.
"
"
um tato semelhante, embora diferente, eu vejo a maçã como uma grande unidade. Estamos presenciando os tatos maçã e "eu vejo maçã" como tendo ,
"
"
diferentes significados (isto é, sendo controlados por diferentes estímulos no adulto falante). O tato maçã é controlado meramente pela presença da maçã. Em termos cotidianos, diríamos que o tato descreve um estímulo público como em aquilo é uma maçã O tato "eu vejo uma maçã", entretanto, é controlado por uma atividade do falante - ver. Em termos cotidianos, ele descreve uma "
"
"
"
.
atividade do falante, então iremos nos referir a isto como ver. Em alguns casos, -
a atividade de ver pode não se relacionar com a presença de um estímulo público, como quando o falante imagina uma maça (Skinner, 1957). "
Reconhecemos que, entre os primeiros professores de crianças, estão incluídas também outras pessoas além dos pais. Porém, para simplificar, usamos o termo pais para nos referirmos a todas as pessoas que participam da educação das crianças. »
Capítulo 6
148
Agora imagine como os pais ensinam à criança a agir sob o controle da "
atividade de ver quando dizem eu vejo maçã
" .
De um modo ou de outro, os "
"
pais dão uma dica e encorajam a criança a dizer eu vejo maçã quando é evidente que a criança está vendo a maçã. Os pais, entretanto, não podem observar ,
\
f
diretamente a criança f1vendo a maçã" pois isso é pessoal e está disponível somente
para a criança. A questão é, qual é o estímulo público que os pais- usam para indiretamente observar a criança vendo e então, que estímulos realmente estão controlando a resposta da criança? Novamente, nossa descrição do processo é
propositadamente estereotipada e simplificada para facilitar os processos básicos de aprendizado envolvidos. Na vida real, os pais ensinam a criança de modo mais casual e inconsistente, apesar dos processos fundamentais serem os mesmos.
A parte de cima da Figura 5 (a-c) mostra um estímulo público à esquerda e um estímulo privado à direita, que estão presentes quando o pai incita a criança a dizer eu vejo maçã A perspectiva (como mostra a Figura 5a) é a relação espacial entre a criança e os objetos externos. Apesar de ser um estímulo público que está presente, ele não interfere neste momento no aprendizado da criança de eu vejo maça (ele é mostrado pois o discutiremos mais adiante). Os estímulos públicos mostrados na metade à esquerda das Figuras 5b e 5c são aqueles que os pais poderiam utilizar potencialmente para saber se a criança está mesmo vendo a maçã Esses estímulos públicos são a orientação da criança em direção à maçã e a própria maçã. A orientação que os pais observam pode incluir o virar da cabeça e o olhar ixo e intenso na direção da maçã. Os componentes dessa orientação podem variar sutilmente de tempos em tempos. "
"
.
"
"
"
"
f
.
Além desses estímulos públicos, uma gama de estímulos privados adicionais, acessíveis apenas à criança, são representados como os objetos menos destacáveis mostrados na coluna dos estímulos privados na parte de cima da Figura 5. Um
f
desses estímulos seria a atividade privada associada com a orientação pública em direção à maçã (lado direito da Figura 5b). Esse componente privado de orientação talvez corresponda aos componentes isiológicos do reflexo de orientação. Outro estímulo poderia ser a atividade do sistema visual individual associado com ver a maçã (lado direito da Figura 5c) bem como um componente geral que designamos aqui como ver (Figura 5d). O componente geral de ver é aquele que ocorre independente do que está sendo visto. Os componentes internos da perspectiva (lado direito da Figura 5a) também estão presentes. Como não podemos ter acesso aos estímulos privados podemos apenas tecer a hipótese de que há muitos outros ,
"
"
,
estímulos privados envolvidos de alguma forma com a atividade privada tais como: ,
a visão
,
audição, olfato, paladar, autonomia e estímulos cinestésicos.
O self
149
Na situação simplificada que estamos descrevendo na qual os pais ,
estão ensinando pela primeira vez à criança o tato "eu vejo maçã" espera-se que os estímulos públicos essenciais ganhem controle sobre o comportamento ,
da criança dizer "eu vejo maçã". Esses são os mesmos estímulos que os pais usam para saber se criança está vendo a maçã Assim, durante esse estágio do desenvolvimento, o tato eu vejo maçã é aprendido como uma unidade e é .
"
"
,
controlado peia presença da maçã e dos aspectos externos de orientação como mostra a Figura 5e. Apesar dos estímulos privados e outros públicos (como a perspectiva) estarem presentes durante o aprendizado, não aparecem na Figura ,
5e, pois nao há razão para eles se transformarem em Sds e eles não têm nenhum efeito. Neste sentido, eles são irrelevantes não perceptíveis e portanto não experienciados. Neste ponto do desenvolvimento da criança a declaração eu vejo maçã não envolve, como no adulto, a descrição da experiência de ver. Ao contrário, neste estágio, eu vejo maçã provavelmente tem um significado muito ,
"
,
"
,
"
"
"
"
mais próximo do tato simples maçã Apesar dos estímulos privados não terem um papel neste estágio, são importantes em estágios posteriores. .
Durante o estágio I, outras unidades grandes envolvendo "Eu" bem como eu vejo maçã também são aprendidas. "Eu quero leite de soja" "Eu estou com calor e "Eu jogo bola" são exemplos. Nossa discussão se concentra no eu vejo mas a análise se aplica a outras unidades também. "
"
,
"
"
"
Estágio II: Aprendendo unidades funcionais menores e o desenvolvimento do controle por estímulos privados
Depois de aprender um certo número de unidades funcionais grandes envolvendo eu vejo como em eu vejo uma cabra eu vejo papai e "eu vejo o cachorro as unidades funcionais menores eu vejo do estágio II emergem. A menor unidade de "eu vejo", uma vez adquirida, pode agora ser combinada com quase todos os outros tatos que estão no repertório, e a criança pode criar outras expressões singulares. O eu vejo emerge como uma unidade pois é o elemento comum em cada uma das variedades de respostas eu vejo X A orientação pública que os pais usavam para saber se a criança estava vendo poderia ser de algum modo diferente em cada uma das várias situações eu vejo existentes. Por exemplo, se a criança estivesse olhando para um avião no céu, a orientação seria diferente da utilizada se a criança estivesse olhando para "
"
"
"
,
"
"
,
"
"
"
,
"
"
"
"
.
"
"
o rosto do pai. Apesar da estimulação advinda da orientação variar de acordo
Capítulo 6
150
Estímulo Interno
Estímulo Externo
r \
(a) Perspectiva
V V-
P *
-
3
,
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4 >;
3?
(b) Orientação
"
*
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(c) Objeto \
(d) Ver
Sd
R
Sr
Estímulo
Resposta
Reforçamento
Discriminativo
(e) O Processo de Tatear
tc
Eu vejo maçã
55
6t
Sim, você vê
55
Figura 5. Na parte de cima, os estímulos privados e públicos se apresentara quando a criança aprende a dizer Eu vejo maçã", incluindo (a) a perspectiva da relação espacial entre a criança e objetos externos (b) a orientação como a virada de cabeça e direção dos olhos (c) uma maçã, e (d) a atividade privada de ver. Na parte de baixo, (e) os estímulos discriminativos, aue sureem Dara controlar a resnosta. são as orientações públicas e a maçã. "
,
,
j
O self
151 t
com os objetos vistos os estímulos privados associados à atividade "vendo" são os mesmos em todos os "eu vejo X" independente do que "X" venha a ser. A atividade privada de ver é mostrada na Figura 5d Isto sempre e tão somente acontece nas situações eu vejo mas não nas "eu quero" ou em outras combinações com eu Portanto parece provável que os estímulos internos associados à atividade ver ganhem controle de "eu vejo". ,
,
.
"
"
,
"
"
.
"
,
"
Se "eu vejo" fica sob controle dos estímulos privados como sugerimos, entãora resposta eu vejo maçã teria um significado diferente de "aquilo é uma ,
"
maçã
"
"
O segundo seria unicamente uma descrição de um estímulo externo ou em termos mais precisos, um tato controlado pela maçã No entanto eu vejo .
,
"
.
,
"
maçã é agora uma combinação de duas unidades menores onde "maçã" é um
tato controlado peio estímulo público e "eu vejo" um tato controlado pela ,
atividade
"
ver
"
do falante.
Estamos definindo o ambiente ideal não patológico como aquele que resulta no controle de
"
"
eu vejo e outras unidades intermediárias do estágio II
(ou seja, eu quero, eu sinto, eu sou, eu tenho) por estímulos internos. Esse tipo de ambiente envolveria os pais que dão dicas e reforçam a criança a dizer "eu "
vejo X toda vez que a criança está de fato vendo o objeto X e não em outras horas quando a criança está vendo Y. Esse ideal é impossível entretanto, dado ,
que os pais não vêem dentro da criança e devem se ater aos sinais públicos. Assim as habilidades de discriminação dos pais e a atenção a esses estímulos públicos são fatores importantes na determinação de qual grau do "eu vejo" ,
será controlado por estímulos privados. "
Para ilustrar
"
vamos assumir que eu vejo emergiu como uma unidade funcional durante o estágio II depois de considerável experiência com unidades maiores como eu vejo bola eu vejo gatinho e "eu vejo carro". Neste momento, tanto os estímulos públicos quanto os privados estão presentes e podem controlar a resposta eu vejo Se, então, a criança relata ver um estímulo imaginado, comum na fantasia ou na imaginação infantil, então a criança vê na ausência dos estímulos públicos com apenas a presença de estímulos privados. Os pais que apoiam a validade de tais experiências, aceitando a fala da criança seriamente, estão reforçando o controle por estímulos privados. Como resultado, a criança irá dizer "eu vejo objeto X" baseada em sua própria atividade "ver", que é privada. Os pais que idicularizam ou criticam crianças neste aspecto, diminuem o controle pelos estímulos privados e a criança irá dizer mais provavelmente eu vejo objeto X baseada apenas nas suas reações de orientação externa e quando X estiver presente tanto para o pai como para a criança. ,
,
"
"
"
,
"
"
.
r
-
"
"
"
152
Capítulo 6 >
£
Tenha em mente que não estamos descrevendo o processo no qual a criança se torna relutante em relatar sua experiência interna visual por medo ou embaraço. Esse tipo de supressão pode ocorrer apenas depois do objeto ser visto. Estamos descrevendo o processo pelo qual o objeto é visto pela primeira vez: a génese da relação (ou sua falta) entre a experiência interna e ver "
"
.
Uma outra importante fonte de reforçamento do controle de "eu vejo" pela estimulação privada de ver é a aceitação dos relatos "eu vejo" da criança em situações onde gs pais não podem ver os estímulos públicos ou estes são obscuros (por exemplo, um peixe na água que se esconde após o relato da criança, "
"
"
ou um coelho escondido nas folhas). Os pais que levam os relatos eu vejo
"
das
crianças à sério, quando não conseguem observar o estímulo controlador, proporcionam um ambiente normal ou não patológico por meio do qual os estímulos privados finalmente controlam o comportamento. Uma indicação de sucesso no ensino do controle privado de eu vejo poderia ser a habilidade da criança em responder a um pedido para fazer exercícios de imaginação. Outra aquisição seria a habilidade de fazer relatos sobre os estímulos limiares como os usados em pesquisas de psicofísica ou nos exames de visão. (Os efeitos de treinamentos mal sucedidos são discutidos no desenvolvimento patológico.) "
"
,
Estágio III: O desenvolvimento do "Eu"através de estímulos internos Após um número considerável de tatos "eu X" terem sido aprendidos, a criança entra no estágio III, e aí uma unidade menor Eu" emerge. "Eu" é um elemento idêntico em cada uma das situações eu X onde X varia. "
"
"
Vamos agora falar dos estímulos que controlam o "Eu". No desenvolvimento normal, "Eu" é um tato sob o controle daqueles estímulos comuns a cada um dos tatos eu X independente do que venha a ser X (ver, querer, ter, ser, etc). É o mesmo processo pelo qual eu vejo emerge como uma unidade sob o controle de estímulo vendo proveniente de eu vejo maçã eu vejo caminhão e assim por diante. "
"
"
"
"
"
"
"
"
,
,
"
,
Usamos o termo perspectiva, mencionado anteriormente em nossa discussão e mostrado na Figura 5a, para representar o estímulo que controla o Eu". Tomamos este termo emprestado de Hayes (1984) que discutiu a noção "
,
de perspectiva na sua análise behaviorista radical sobre a espiritualidade. Como mostra a Figura 5a a perspectiva tem tanto componentes públicos quanto privados ,
f
e inclui as características ísicas do local da criança no espaço em relação aos
O self
153
outros. É onde a criança se encontra (aqui) em oposição ao local onde a criança ,
não se encontra (lá). Na Figura 5a, a criança está representada com o tom mais escuro, é a figura central e todos os outros objetos (pessoa cachorro, etc) ,
estão localizados em relação à criança. É o estímulo público da perspectiva que os pais usam para ensinar à criança o tato você quer sorvete versus "eu quero sorvete e "eu vejo coelho" versus "você vê coelho". Os aspectos públicos "
"
"
da perspectiva também estão envolvidos quando os pais estão modelando a
respísta eu vejo uma boneca enquanto a criança está visivelmente olhando "
"
para a boneca. Os pais estão orientados para a criança e/ou de alguma maneira indicando quem deve dizer "eu vejo boneca". Se outra criança também se encontra no quarto, o pai deve agir de modo que fique claro qual criança deve dizer "eu vejo boneca "
.
A perspectiva é o estímulo que se mantém constante para todos os "eu quero X e "eu vejo X", etc., uma vez que os Xs e as atividades (querer ver, etc.) variam constantemente. Os aspectos públicos do estímulo podem variar consideravelmente em cada situação. Algumas vezes, a criança pode estar bem "
,
ao lado do pai, ou, em outras vezes, a 50 metros deste. Dadas essas variações possíveis de lugar aqui versus "lá", pode ser provável que um aspecto privado "
"
venha a ganhar controle. Durante um desenvolvimento não patológico
a
perspectiva é a localização física das atividades privadas tais como, ver, querer, ter. Assim a resposta Eu" como unidade está sob o controle de estímulo do lugar (locus). "
,
Qualidades do "Eu"
Como modo de mostrar as características do estímulo privado que controla o tato Eu", vamos contrastá-lo com o estímulo público que controla o "
tato "borboleta".
Primeiro, a pessoa que experiencia a borboleta (ou seja, que se coloca sob o controle do estímulo da borboleta) pode descrevê-la em termos físicos.
Por exemplo, a pessoa poderia dizer "parece ter dois centímetros de comprimento, cor preta e amarela e tem asas Esses atributos são as características do estímulo público. A experiência do Eu", entretanto, ultrapassa os termos físicos. A única característica do íocus é a sua relação com onde acontece a atividade privada de "
.
"
ver. Assim, a pessoa poderia descrever a característica física do Sd que controla "
Eu" como a falta de características ísicas, tal qual em "Este não é meu corpo". f
*
,
a
Capítulo 6
154
O locus permanece constante mesmo que a pessoa cresça e se torne um adulto, mude de emprego ou perca peso. O estímulo controlador do Eu" e portanto, a experiência do Eu", permanece constante mesmo que as características físicas pessoais e a localização mudem. Essa característica é semelhante à descaracterização" da descrição do se.yfeita por Deikman. "
"
"
Segundo, a borboleta tem um lugar específico - ali, por exemplo. O Eu" é descrito como estando dentro, a localização usual do estímulo privado, que se parece com o alguma coisa central de Deikman.
"
"
"
Em terceiro lugar, a localização da borboleta pode mudar de lá para cá. Uma vez que o estímulo controlador do "Eu" está sempre localizado onde está a estimulação privada do querer, ver, sentir e similares, o Eu" é experienciado como estando sempre no mesmo lugar. A borboleta pode desaparecer, ao passo que o Eu" não. Além disso, a borboleta muda de tempos em tempos - envelhece e morre. Tomando-se que o Eu" é controlado por uma perspectiva que nunca muda é descrito como atemporal. Essas características se assemelham à definição de Deikman do selfcomo sendo "imutável e atemporal" e às noções de Erikson de "igualdade do self e "continuidade". "
"
"
,
Como dissemos anteriormente, o self como aquele que origina uma ação também aparece nas descrições de selfde Masterson e Deikman. Nossa explicação
desse aspecto da experiência do self envolve o aprendizado que ocorre após a emergência do Eu" enquanto uma unidade. Esse aspecto da experiência do self reflete talvez uma moderna manifestação do animismo primitivo. Animismo é "
uma teoria das causas do comportamento. Sua proposição básica é que a fonte de toda ação pode ser atribuída à vontade de um ator. O ammista explica as ações identificando o ator que assume-se, está presente. Assim, para o animista, a atividade ver deve ser atribuída a uma entidade que a origina. A teoria ,
"
"
animística parece permear a cultura e as pessoas aprendem a atribuir quase todas as ações a uma entidade instigante. O corpo pode ser essa entidade que pratica o ver mas isso nos remete à questão de quem faz o corpo agir e ao dilema mente-corpo. O "Eu" que foi descrito não é experienciado como o próprio corpo. Assim, para o animista que existe em todos nós, uma fonte aceitável de "
"
,
"
ação seria o Eu". De nossa perspectiva, com certeza, isso não faz muito sentido. Seria o mesmo que dizer "a origem de toda ação é um locus".
A consciência também aparece na definição de self Deikman chegou mesmo a dizer que o self era a consciência. Traduzindo para termos comportamentais o que consideramos que Deikman quis dizer a consciência é ,
O self
155
a observação de nosso próprio comportamento tal qual o podemos descrever
.
Isso é também entendido como auto-conhecimento Assim, poderíamos dizer .
que tem consciência alguém que diz "Eu vejo uma borboleta", em oposição a "
corro Aquilo é uma borboleta". Outros exemplos são e Eu digo", que são tatos do comportamento público de uma pessoa e Eu escuto" Eu quero" e "Eu penso" os quais são tatos de comportamento privado. Um ,
"Eu bebo" "Eu
"
,
"
,
"
,
,
"
,
relato comportamental de níveis mais altos de consciência" envolveria a repetição de tatear um tato de um comportamento privado Por exemplo, "Eu me vejo olhando uma borboleta" e Eu me vejo vendo a mim olhando uma "
,
.
"
,
borboleta".
Como pode este tatear levar à experiência descrita por Deikman de que o
"
Eu" é a consciência? Em nossa visão a consciência é uma atividade e não ,
uma coisa. Por outro lado, o Eu" ou mais precisamente os Sds controladores "
,
do "Eu", são uma coisa e não um comportamento. Dizer que o selfé consciência é como dizer que o comportamento é uma coisa ou vice-versa Na nossa experiência diária, no entanto, as coisas são igualadas a comportamentos quando os dois estão muito associados um ao outro. Desde que o comportamento de ser =
consciente (ou seja comportamento de tatear seu próprio comportamento) está muito associado com a unidade funcional Eu" os dois são erroneamente igualados. Woodworth (citado em Catania 1984) discorreu sobre a natureza ,
"
,
,
enganosa de igualar verbos com substantivos: Ao invés de "memória" deveríamos dizer "lembrando"; ao invés de "
deveríamos dizer "pensando"... Mas, da mesma forma que outros ramos aprendidos, a Psicologia está inclinada a transformar seus verbos em substantivos. Então, o que acontece? Esquecemos que nossos substantivos são simples substitutos para os verbos, e saímos à caça de coisas denominadas pelos substantivos; mas essas coisas não existem. Há apenas as atividades as quais começamos... lembrando, (p. "
pensamento
,
303)
Em suma, os estímulos particulares que controlam a resposta "Eu" e o sentimento do Eu" depende da experiência de aquisição específica, como ilustrado em nosso relato de como a unidade de resposta "Eu" emerge. Apesar "
do desenvolvimento normal levar a um alto grau de controle da resposta "Eu"
por estímulos privados, propomos que o desenvolvimento mal-adaptativo envolve "
o oposto - um baixo grau de controle do Eu" por estímulos internos.
Capítulo 6
156
DESENVOLVIMENTO MAL-ADAPTATIVO DA
EXPERTÊNCTA DO SELF
Propomos um continuum de gravidade dos problemas do selfbasG&dâ no grau de controle privado da unidade funcional Eu". Uma ponta desse continuum representa problemas menos severos do self desenvolvidos a partir de um controle privado insuficiente sobre um pequeno número de respostas "eu "
X "
" .
Sendo o "Eu" uma unidade que emerge de um grande número de unidades "
o número comparativamente menor que não é controlado privativamente teria um efeito insignificante na experiência do self; ou seja, o self seria experienciado como relativamente imutável, localizado centralmente e contínuo. Quanto maior for a faixa de respostas "eu X" que os pais falham em trazer ao controle privado, mais problemas a pessoa experienciará com o self. Problemas graves de self estão na outra ponta deste continuum e correspondem à falta do controle privado sobre inúmeras unidades eu X eu X
,
"
"
.
Os problemas de selfdescritos na literatura psicanalítica serão explorados dentro do nosso modelo comportamental. Esses problemas de self foram "
"
colocados sob as categorias de menos severo e "severo" para indicar toscamente suas posições no continuum referente ao grau de controle privado sobre as respostas eu X Esses problemas, no entanto, não se excluem mutuamente, e "
"
.
pessoas com distúrbios severos do selfpodem experienciar os problemas descritos sob a categoria menos severo de um modo mais extremado. "
"
Distúrbios menos graves de Self Pessoas com distúrbios leves a moderados do self têm um número substancial de respostas eu X evocadas por estímulos privados, mas também têm um número significativo dessas respostas sob controle publico parcial ou total. Assim, seu senso de self pode ser consideravelmente afetado pela presença de outras "
"
pessoas e suas opiniões, humores, e desejos. É importante notar que não estamos nos referindo a pessoas não assertivas ou que sabem o que sentem ou querem, mas têm dificuldade em expressar isso aos outros Mais apropriadamente, estamos .
descrevendo uma situação na qual o que a pessoa sente ou deseja em primeiro lugar está sob o controle dos outros Em cada um desses problemas descritos .
abaixo, o grau de dificuldade experienciada pelo indivíduo variará de acordo com o grau de controle privado sobre as respostas "eu X".
O self
157
O Self instável ou inseguro
Se um número insuficiente de "eu X" icar sob o controle privado então f
,
"
a emergência do Eu" enquanto unidade funcional ficará afetada. Como apontamos, no desenvolvimento normal, o Eu" que está emergindo ica sob o controle de estímulo do locus onde as atividades de ver querer, sentir, pensar,
f
"
,
ocorrem. Se essas atividades estiverem parcialmente sob o controle público entãa ,
a experiência do self também estará parcialmente sob o controle público
.
Uma
vez que os estímulos públicos, tal como o comportamento dos pais podem variar com o tempo, a experiência do selfirí variar também de acordo com o grau em que ela estiver sendo controlada publicamente. Desta forma, um self inseguro será sentido porque varia de acordo com quem estiver presente. Na realidade o se// controlado publicamente variará mais nas relações mais próximas. Como descrevemos no controle público sobre "eu X", era uma pessoa muito importante um dos pais - que se tornava um Sd. Na vida adulta, o selfirk variar primeiramente ,
*
,
,
"
-
de acordo com outras pessoas significativas. É por esta razão que relações íntimas podem ser uma fonte de grandes conflitos. Para o indivíduo com um se instável, a esquiva à intimidade remove essa fonte de instabilidade. Uma cliente que se sinta bem com ela mesma quando está sozinha, mas lamenta que perde a si mesma sempre que entra em algum relacionamento, está descrevendo esse fenómeno. Dois subgrupos desse problema, dificuldade em conhecer o que o outro quer e sente e extrema sensibilidade aos outros, são descritos abaixo. "
"
Dificuldade em conhecer o que os outros querem ou sentem. Um pai que ensina condicionalmente seu filho um "Eu X", ou seja, que só deve emitir o comportamento quando o pai deseja que ele assim o faça, poderia ser uma descrição comportamental da proposta psicodinâmica de que o 1
.
desenvolvimento patológico envolve pais que têm dificuldade em distinguir as necessidades (reforçadores) da criança de suas próprias. O resultado de tais experiências poderia ser uma pessoa que tem dificuldade em produzir uma resposta eu quero X na ausência de estímulos públicos visíveis, tais como, a pessoa que formulasse a questão também indicasse qual deveria ser a resposta". Neste caso, o problema do self seria experienciado principalmente como "não saber se o que eu quero é realmente o que eu quero, ou se é apenas o que os "
"
"
'
outros esperam que eu deseje !
.
Como um exemplo de como uma pessoa pode punir ou deixar de reforçar um conjunto de respostas do tipo eu quero suponhamos que uma mãe esteja com sua criança em um shopping e se depara com uma máquina de doces. A "
"
,
t
158
Capítulo 6
mãe é quem quer o algodão-doce, mas ao invés de simplesmente comprá-lo, ela instiga sua criança dizendo, nene quer doce Por outro lado, se o bebé disser "nene qué doce", e ela estiver de mau humor, dirá "não, nenê não quer doce agora". E se, além desse algodão-doce, a mãe agir desse mesmo modo com todos os doces prazeres, ou seja, ela (1) induz a criança a dizer eu quero sorvete quando na verdade é ela quem quer o sorvete, e (2) ela pune a resposta da criança (como por exemplo, "você não quer sorvete, acabou de tomar um"), então, para esta criança, querer prazer não surgirá sob controle exclusivamente privado. A extensão do controle privado dependerá de o quão sensível esta mãe for aos desejos de sua criança. "
"
.
"
"
"
"
Na melhor das hipóteses, será estabelecida uma discriminação condicional na qual a criança vai querer os doces apenas quando dois estímulos
estiverem presentes: (1) o estímulo privado de querer e (2) o estímulo público da mãe também querer. Quando ambos estiverem ausentes a criança não irá querer doces. Ou pior, seu desejo por doces dependerá apenas dos desejos pessoais de sua mãe num determinado momento. Quando esta criança se tornar um adulto, umà manifestação de seu problema de self diminuído poderá ocorrer em um cenário como este: ele está comendo fora com amigos, o garçom pergunta se eie vai querer sobremesa. O adulto ficará confuso virará para os amigos e perguntará vocês querem sobremesa? e irá querer somente se os amigos quiserem. ,
,
"
"
,
Uma situação mais problemática ocorre quando um espectro maior de respostas eu X não icam sob controle privado adequado. Neste caso os pais punem ou não reforçam a faixa de respostas que são normalmente controladas por estímulos acessíveis apenas à criança como "eu quero picles eu tenho dor de barriga", "eu acho que ninguém me ama" meu sonho foi realmente assustadof e eu quero mais Pior, um problema severo do selfse desenvolverá, no qual a criança s
"
"
f
,
"
"
,
,
"
,
"
"
.
irá "sentir" ou "desejar" apenas quando os pais ou outros indicarem que ela pode assim sentir ou desejar e para ela será muito difícil se deparar sozinha com seus próprios desejps e vontades. Ou, em uma hipótese melhor, ocorrerá sob controle privado, um querei" ou sentir" condicional. Em outras palavras, quando a criança estiver sozinha, estímulos internos controlarão a resposta, mas quando os pais estiverem presentes, a criança se esquivará ao máximo da punição e maximizará a recompensa ficando atenta às reações dos pais para emitir uma resposta aceita por eles Tenha em mente que não estamos nos referindo ao fato da criança suprimir um relato verbal de ,
"
"
.
sentimentos ou necessidades. Ào invés estamos discutindo os antecedentes do ,
desenvolvimento de se tornar consciente de seus sentimentos e desejos (reforçadores) e como podemos vir a identificá-los e defini-los em primeiro lugar. ,
+
O self
159
Em termos de reforçamento para os vários tipos de comportamento verbal, tanto o tamanho como a consistência das respostas variará muito mais no ambiente natural do que nos simples exemplos explicativos que aqui demos .
Em geral, como foi discutido no capítulo sobre emoções
,
esperamos uma
inconsistência maior e uma confiança indevida em estímulos públicos durante o desenvolvimento de "eu sinto X",
onde X é uma reação emocional, fome, ou
dor, uma vez que essas reações são principalmente privadas e seus aspectos públicos são sutis. Em outras palavras, mesmo em adultos com pouco ou nenhum problema de self, seus estados internos podem ser bastante afetados por estímulos externos (por exemplo, sentir-se feliz em uma festa não sentir fome ou dor de cabeça quando intencionalmente trabalhar além do horário a im de cumprir prazos). ,
Em geral quanto menos respostas ,
"
eu X
"
f
,
a pessoa tiver sobre o controle
privado, maior será a coníusão ou dificuldade que ela terá para responder a questões que tenham a ver com preferências pessoais, desejos e valores, quando outra pessoa que estiver presente não for transparente em relação aos seus próprios desejos. Essas questões podem incluir: O que você gosta?", "O que "
você quer?
"
,
"Em
"
que você acredita? e "Quais são seus objetivos?"
Sensibilidade extrema à opinião dos outros. Sensibilidade extrema às opiniões, crenças, desejos e humores dos outros é outra forma para dizer que o eu X de uma pessoa que deveria estar sob controle privado, está na verdade 2
"
.
"
sob controle público. Se o sentido de self de uma pessoa é instável, qualquer percepção ou crítica pode ser experimentada como devastadora, pois seria entendido que os eu X criticados são errados e devem ser trocados pelos da pessoa que criticou. Isso também envolve uma substituição do controle privado fraco pelo controle de outros. Em alguns casos, a crítica de um dos pais pode ter "
"
significado uma grande mudança em seu humor e, portanto, tornou-se um estímulo discriminativo para mudanças marcantes no pensar, sentir ou ver associados com
"
eu X
" .
A vida é imprevisível, caótica, sujeita aos desejos de outros, sendo, por tudo isso, aversiva. Um exemplo dessa sensibilidade ocorreu durante uma sessão de terapia com Irene e o primeiro autor. Eu tentei suavemente discipliná-la, dizendo de um modo educado e alegre, "Oh, vamos Irene, você pode fazer melhor que isso quando ela estava meio desarticulada em responder as "
,
questões. Apesar de não aparentar, Irene me revelou mais tarde ter ficado arrasada com meu comentário sobre sua pessoa, se retraiu, e queria terminar a
t
y
160
Capítulo 6
terapia. Se o self de alguém é influenciado principalmente pelo externo, se há "
"
e as respostas "Eu" são controladas publicamente, a reação exagerada de Irene faz então sentido. controle sobre o
eu X
Uma experiência semelhante ocorreu com o segundo autor e uma cliente chamada Shelly que estava em terapia há alguns anos. Estávamos num período sem muito progresso e eu pedi a Shelly para ficar mais ativa na terapia: T: Gostaria que pensasse nos objetivos da terapia entre agora e a próxima sessão e aí poderemos conversar sobre eles. ,
4
C: [Parecendo agitada] Não sei o que você quer dizer com isso.
T: Não tenho uma noção muito clara de onde quer chegar, e queria que você tomasse um papel mais ativo. Algumas vezes sinto que trabalho muito para tirar você de dentro de si quando você não quer falar. C: [Lágrimas rolam de seus olhos, levanta da cadeira e tenta sair do consultório] Não posso aguentar mais isso. Estou fora. T: Não, Shelly, você não vai a lugar nenhum. Sente-se e vamos conversar sobre isso. C [Soluçando e tendo dificuldades em falar] Eu não achava que algo estivesse errado. Eu achei que estivesse melhorando em relação a falar. Não posso fazer o que você quer. T: Só estou tentando falar sobre formas de fazer a sua terapia melhorar e você age como se eu quisesse te mandar embora. ,
C: É como eu sinto, e vou deixá-la antes que me deixe. T: Eu estou muito compromissada com meu trabalho com você, Shelly. Nossa relação não está de forma alguma em risco. Não é essa a questão. Gostaria de poder pedir para você falar mais ou ter mais iniciativa sem você ameaçar largar a terapia.
Por Shelly ter um histórico de ser abandonada por pessoas significativas e sofrer de um self instável, ela reagiu de um modo extremado à minha crítica. Ela sentiu como se o seu mundo tivesse caído por eu não perceber as coisas da forma que ela percebia. Devido à minha crítica, Shelly ficou confusa em relação ao seu eu X e a única opção era adotar a minha concepção. Assim, a terapia e eu nos tornamos imprevisíveis e ameaçadoras. Em sessões futuras, eu dei-lhe "
"
dicas e a reforcei por ter diferentes percepções de mim sobre quanto ela falava. Como parte do processo, eu a encorajei a (1) evitar tatear nossas diferenças no sentido de eu estar certa e ela errada e (2) adotar uma regra de que meu pedido para fazê-la comportar-se de modo diferente não queria dizer que eu a
1
O self
161
abandonaria se não conseguisse ou não pudesse fazer o que eu pedia (ver o Capítulo 5 sobre cognição e crenças). Uma analogia em relação às respostas de Irene e Shelly usando
estímulos públicos mais concretos seria: Pessoa A diz "eu vejo uma manga" e a pessoa B diz Não, seu idiota, aquilo é uma laranja". Se a pessoa A acreditar em sua própria percepção, tomaria os comentários de B como loucura ou diria que B é que é idiota. Mas se a pessoa A não confiar em suas próprias percepções (isto é, se a sua resposta "eu X" não estiver sob sólido cohtrole interno) ela ficaria zangada e desorientada pois sua percepção de mundo foi julgada como "
,
sendo errada.
* *
Dificuldade em acessar o Verdadeiro Self Espontaneidade e Criatividade ,
Quando o comportamento desenvolver-se sob o controle de estímulos
aversivos, a fonte do controle é experienciada como vindo de fora e a pessoa não se sente livre (Skinner, 1971). Estímulo aversivo se refere à punição retirada de reforçamento positivo e ameaça de dano e privação. Assim a criança que cresce tentando agradar seus pais pois eles retirarão o amor se ela não o fizer sentir-se-á controlada por outros. Como discutimos anteriormente o uso de estímulo aversivo é quase sempre um exemplo de reforçamento arbitrário e a ,
,
,
,
,
criança que cresce sob o controle de reforçamento arbitrário irá sentir-se
controlada e manipulada. Como se diz em nossa cultura, um ato espontâneo é aquele que é experienciado como despontando de dentro de nós. Por isso, a ausência de atos espontâneos corresponderia a uma história dominada por controles aversivos. O "Eu" instável também poderia desempenhar um papel aqui. Assim como é possível para os querer de "eu quero" serem experimentados como originados "
"
de fora, o mesmo ocorre também com a idéia de "eu tenho uma idéia", ou os "
"
Se esse tipo de controle público estiver presente, interferirá na experiência de atos espontâneos. Do mesmo modo, a sensibilidade à crítica que caracteriza o "Eu" instável, poderia limitar a espontaneidade e a criatividade. Ações espontâneas e criativas são membros de uma larga classe de respostas que contém peculiaridades, aspectos incomuns, indecêucia, obscenidade e outras respostas geralmente rejeitadas por outros. Assim, uma grande sensibilidade às críticas resultaria na raqueza de uma classe inteira de respostas, que incluiria os atos espontâneos e criativos. eu penso
.
f
pensamentos de
Capítulo 6
162
Transtorno de Personalidade Narcisista
De acordo com Kohut (1971, 1977), uma pessoa com transtorno de
personalidade narcisista experiencia as outras pessoas como indiferenciadas do próprio indivíduo que serve as necessidades do self ou seja, a pessoa narcisista fantasia um controle sobre outros que é similar ao controle que um adulto exerce sobre seu próprio corpo. Eles são incapazes de se basear nos próprios recursos internos e, portanto, criam intensas ligações com os outros. Há uma equivalência behaviorista de transtorno de personalidade narcisista que corresponde à descrição de Kohut. Hipotetizamos que os indivíduos narcisistas crescem em condições típicas para o desenvolvimento de //instáveis
(ou seja, não receberam amor e atenção consistentes às necessidades emocionais, não foram consistentemente respeitados em suas próprias experiências e pontos de vista), mas também foram reforçados de maneira limitada ou superficial por serem charmosos, exigentes, bonitos (geralmente em mulheres) ou poderosos (especialmente em homens). Uma pessoa com esse histórico (1) não teria o controle privado sobre o Eu", e assim teria dificuldade em diferenciar os desejos dos outros de seus próprios; (2) apoiar-se-ia indevidamente em reforçadores externos (por exemplo: admiração, elogios e presentes dados pelos outros) para ter um senso de self e (3) saberia como controlar e manipular os outros (ou seja através de charme e poder) para tornar as relações mais toleráveis. "
,
,
Miller (1983) propôs uma hipótese interessante sobre as histórias da infância dos psicoterapeutas. Ela colocou que a sensibilidade às necessidades de outros e o desejo de ajudar aqueles que estão angustiados, qualidades estas de um bom psicoterapeuta, são originalmente modeladas e reforçadas por uma mãe narcisista (os termos modelagem e reforçamento são nossos e não foram usados por Miller). Obviamente, no caso da criança que cresce e se torna um psicoterapeuta, o grau de narcisismo é limitado, tanto quanto o é o distúrbio do self.
Distúrbios graves do self y
X
Um grande número de respostas "eu X" sob controle público escondem problemas graves de self. Essa situação é produzida por país que são inconsistentes em suas próprias reações a estímulos públicos visíveis (por exemplo: um pai ou mãe esquizoírênicos ouborderline). Com pais tão instáveis, a resposta eu vejo por exemplo, seria unicamente reforçada quando os seguintes "
"
,
O self
163
Sds estivessem presentes: (1) o estímulo que consiste na orientação pública da criança a um objeto público; (2) o estímulo da orientação pública dos pais; e (3) o estímulo dos pais não aparentando estarem preocupados distraídos ou tendo um episódio psicótico. Sob essas condições de aprendizado muito pouco da atividade privada de ver controlaria a resposta eu vejo Pelo contrário o ver ,
,
"
"
.
,
da criança seria controlado principalmente pelo humor e orientação pública dos pais. Sob essas circunstâncias extremas, estando os pais presentes, a criança veria um peixe apenas se houvesse estímulos públicos bem claros consistindo tanto no peixe quanto na indicação que os pais vêem o peixe. ,
O "Eu" que emerge sob essas condições é dependente das dicas fornecidas pelos pais. Como resultado, quando os pais estão presentes, o que é visto, sentido, desejado, gostado, desgostado e assim por diante, é dependente das dicas dadas
pelo pai ou mãe. Por exemplo, um conjunto de dicas poderia ser o pai aparentar estar de bom humor, aberto ao mundo estar atento ao que está em redor (os estímulos públicos) e dar indicações de que os desejos da criança serão atendidos. ,
Então, baseado nas experiências anteriores da criança de "pai de bom humor" "
,
"
tais como "estou com fome" e "eu um extenso repertório de respostas acabei de ver um pássaro aparecerão e serão reforçadas. O Eu" que emerge nessas condições estará sob controle público; ou seja o sentido ou experiência do "Eu" é dependente de dicas dadas pelos pais. Entretanto quando o pai ou a mãe está com humor diferente desatento, disperso ou mesmo alucinado, um outro repertório eu X é acionado e uma experiência diferente de "Eu", controlada por estímulos públicos, emerge (p. ex., uma criança que não mostra necessidades ou sentimentos, ou que é super sensível às necessidades dos pais). eu X
,
"
"
,
,
,
,
"
"
As categorias diagnosticas de personalidade borderline e transtorno de personalidade múltipla, discutidas abaixo, representam desordens graves do self.
Transtorno de Personalidade Borderline
A declaração "eu me sinto vazio", que é característica de cliente com
diagnóstico de transtorno de personalidade borderline, poderia ser um efeito da "
relativa ausência de Sds privados que controlam o Eu". Uma vez que querer,
sentir, pensar, etc., quase não estão sob controle privado em casos de patologia extremados, o locus é primariamente externo e depende do comportamento dos pais. A localização externa dos estímulos que evocam "Eu" seria experimentada como despersonalização, e quando esses estímulos externos estivessem ausentes, a pessoa experimentaria a ausência ou perda do self. Desde que o vazio se/efira "
"
164
Capítulo 6
a alguma coisa que estava contida dentro e agora se foi, a presença e ausência de estímulos que controlam a experiência do self seria tateado como "vazio". De acordo com Linehan (1987), um ambiente parental inadequado leva ao desenvolvimento de uma personalidade borderline. Esses pais, em gerai, (1)
invalidam os relatos que a criança faz das experiências emocionais presentes,
especialmente as negativas (por exemplo, não as ouvem com seriedade, desconfiam dos relatos, agem como se a criança não sentisse aquilo que reporta);
(2) simplificam demais a facilidade das pessoas de se controlarem emocionalmente, pensarem e agirem, invalidando assim as experiências da criança com a dificuldade e a necessidade de ajuda; (3) criticam excessivamente ou
respondem punitivamente quando a criança expressa preferências, valores e crenças que não reflitam aquelas desejadas pelos pais. A visão comportamental de Linehan é que invalidação é a falta de reforçadores positivos aos controles privados de respostas da criança. Segundo sua descrição (mas com nossas palavras), isso interfere no controle privado de uma larga faixa de respostas eu X como eu quero eu sinto eu preciso e eu acredito Como já salientado, estas contingências afetam não só a experiência do Eu quero", "Eu sinto", "Eu preciso", "Eu acredito", mas também irão afetar a experiência do "Eu" que emerge disso. "
"
"
"
"
,
,
"
"
"
,
"
"
.
"
y
Para ilustrar este modelo, nos reportaremos a Angela, uma cliente que descreveu como era fazer compras no supermercado com sua mãe. Ela enfatizou
que na maioria das vezes sua mãe era rude e a rejeitava. Ela se lembra de ficar sentada no carrinho de compras e sentir-se abandonada e confusa. Em uma das raras ocasiões em que sua mãe estava gentil e mais acolhedora, entretanto, perguntou a Angela se ela queria alguma guloseima. Seu sentimento de abandono desapareceu, e ela teve ume repentina consciência das coisas boas que queria e pediu ansiosamente por uma. Assim, controlada pelos estímulos públicos do 4
"
comportamento de sua mãe, o senso do self, o
"
"
querer
e o "ver" apareceram.
O que observamos no caso de Angela foram os efeitos dos "eu Xs" controlados publicamente sobre o descontínuo e instável senso de self O caso é também um exemplo da extrema sensibilidade de Angela aos humores dos outros. Especificamente uma mudança relativamente pequena no comportamento de sua mãe serviu como estímulo discriminativo para mudanças acentuadas no ,
pensar, sentir e ver associados ao
"
eu X
" .
O que é a experiência do "Eu" quando não há alguém significativo presente? Em ambientes normais, onde o Eu", ao final, aparece sob controle "
O self
165 "
privado, a experiência do Eu" seria semelhante em todas as situações Em um ambiente não-adaptativo, entretanto a ausência dos pais removeria o estímulo .
,
evocador do
"
Eu", de modo que a pessoa ou perderia a noção de self ou
desenvolveria uma noção de self distinta do self ou dos &selfs* evocados por outros. A explicação de como esse se/fsolitário" pode se desenvolver está
relacionada ao caso mais geral que abrange o modo como falar consigo mesmo é reforçado e mantido - um assunto discutido no Capítulo 5 sobre cognição. ,
Baseado nas noções do Capítulo 5 há momentos nos quais fazer certas ,
declarações "eu X" para o self de alguém pode ser válido (reforçador)
.
Por
"
exemplo, dizer a si mesmo, eu estou cansado e preciso descansar" pode ser útil na identificação do momento de descanso. Nesses casos é mais provável que o reforçador seja natural e portanto consistente. O //solitário desenvolvido sob essas condições seria mais consistente e imutável embora pudesse ser menos ,
,
,
extenso do que aquele desenvolvido sob uma base mais ampla de "eu X"
.
Uma descrição do que pode acontecer com um self ausente quando solitário, foi dada por Tom, um cliente que geralmente se retrai e se afasta em si mesmo. Durante esses afastamentos, de acordo com Tom ele pode relaxar e ser ,
ele mesmo. Um dia inteiro pode passar, com pouca consciência do que está acontecendo ao seu redor. Apesar de parecer que ele tem uma noção pequena do selfquando sozinho, esse selffoi experimentado como sendo estável não sujeito aos anseios de outros, e portanto, era uma experiência positiva para ele. Em ,
A esquiva dessas situações nas quais o "Eu" é controlado externamente
continuaria se, num caso igual ao de Tom, a pessoa somente pudesse icar f
-
contraste, ele considerava uma intromissão que atrapalhava este estado quando tinha que se relacionar com seu terapeuta ou com a sua mulher. Ele lembrou-se de ter começado a praticar esses afastamentos durante uma infância caótica e continuou a fazê-lo sempre que possível.
"
relaxada
"
quando o "Eu" não está sendo controlado por outra pessoa. Uma
das formas dessa esquiva seria evitar todos os outros e tornar-se um eremita. Uma forma mais prática seria evitar apenas as relações nas quais os outros exerçam controle sobre o Eu". De nossa perspectiva, sempre que as reaçÕes dos outros forem importantes fontes de reforçamento, os outros podem controlar o Eu". Assim, relações íntimas e significativas são evitadas. Como Angela "
"
descreveu, ela perdia sua identidade toda vez que ela ou outra pessoa começava a se importar. Quando isto acontece", ela diz, "é hora de pular fora". "
"
De outro lado, muitas pessoas que têm pouco controle privado sobre o Eu" consideram quase intolerável estar sozinhas. Hipotetizamos que, além das
Capítulo 6
166
condições de invalidação que interferiram em seu desenvolvimento do
"
Eu"
,
eles também ficaram sujeitos à extrema negligência de não ter as necessidades básicas atendidas (por exemplo, na fase em que eram crianças muito pequenas, eles eram deixados com fome. com sede, sujos, com frio e com medo, por longos períodos). Para essas pessoas, a negligência extrema ocorreu pois seus pais eram ausentes e/ou desatenciosos. A ausência de self\ por outro lado, também era evocada por pais ausentes ou desatentos. Sob essas circunstâncias, as condições que evocavam um selfausente eram assustadoras. Com esse histórico, eles procurariam por companhias constantes, não apenas para escapar a esse vazio mas também para evitar o pânico associado às experiências anteriores de negligência. ,
Não é incomum que indivíduos com pouco ou nenhum senso de self procurem avidamente tanto a solidão quanto a companhia de outros. Uma cliente
desse tipo, Penny, poderia mergulhar em uma série de encontros casuais para escapar ao seu vazio interior, mas assim que alguém começasse a se tornar parte mais significativa em sua vida, ela se sentia zangada e sufocada e afastaria essa pessoa dela. Esse comportamento fazia sentido já que ela esteve sujeita a um ambiente insuportável em sua infância, tanto com controles aversivos como também experiências de abandono e negligência.
Transtorno de Personalidade Múltipla Transtorno de Personalidade Múltipla (MPD) é o diagnóstico aplicado ao indivíduo que age como se fosse mais de uma pessoa. Por várias vezes, o paciente com Transtorno de Personalidade Múltipla pode falar, dramatizar, lembrar e experienciar o self de formas que normalmente são vistas apenas em indivíduos diferentes. Nossa opinião acerca da natureza e do tratamento do Transtorno de Personalidade Múltipla que são apresentados nesta seção, é majoritariamente baseada no abrangente texto de Putnam (1989). Apesar de pouca coisa ser conhecida sobre esse complexo e intrigante transtorno o fator etiológico de trauma na infância é bem aceito. Um estudo, por exemplo, constatou que 97% de todos os pacientes com Transtorno de Personalidade Múltipla contaram ter tido experiências de traumas graves de infância (instituto Nacional de Saúde Mental citado em Putnam). Esses traumas incluíam abuso sexual e/ou ísico negligência extrema e testemunho de mortes ,
f
,
,
violentas.
O self
167
O caso clássico de Transtorno de Personalidade Múltipla envolve o seguinte: durante um abuso grave a criança experimenta deixar a cena ou ,
despersonaliza, algo como uma experiência fora do corpo na qual a criança percebe seu self flutuando acima de seu corpo ou indo a outro lugar. Mais tarde
,
e com frequência, pelo resto de sua vida, os detalhes do abuso são
esquecidos; ou seja, há uma amnésia do abuso. Na literatura disponível sobre Transtorno de Personalidade Múltipla esse selfque experimenta sair de cena e tem amnésia é conhecido como host. Apesar do host ter se retirado um outro aspecto do self no entanto, está presente e consciente dos detalhes do abuso enquanto ele está acontecendo. Este aspecto do self é conhecido como alter (ou alters, já que usualmente existe mais do que um). A consciência de um alter pelos outros pode existir ou não. ,
,
Os repertórios de comportamentos que definem o host e alter(s) têm muitas características de pessoas distintas. O fato de serem considerados separados depende da definição de pessoa ou indivíduo. Se essa definição inclui um único corpo, então, o host e alter não podem ser considerados separados. Se, no entanto, uma definição comportamental for utilizada, é então possível considerarmos os múltiplos como pessoas mais ou menos separadas. Uma pessoa pode ser definida em termos de seu modo característico de agir, incluindo-se aí, os estilos de falar e de relações interpessoais, assertividade habilidades especiais (exemplo: um impressor, um médico), memórias (lembranças), bem como seus reforçadores (interesses, valores, preferências, etc). Mais ainda, uma experiência pessoal individual do self inclui continuidade, uma consciência perdurável, e um originador de ações. Em outras palavras, uma pessoa experiencia seu self ,
como o locus onde ver, ouvir e lembrar ocorrem. Esse locus é diferenciado de
pessoa para pessoa. Do ponto de vista comportamental, o host e alters podem ser, assim, considerados pessoas distintas, na medida que têm características de comportamento de pessoas distintas. O fato de ser pelo menos possível para um alter saber das experiências privadas do host, entretanto, é uma característica comportamental que não é encontrada em pessoas distintas.
A natureza da personalidade individual do host e alter é dramaticamente ilustrada quando um alter é violento ou persecutório. Putnam relata que muitas tentativas sérias de suicídio (e presumivelmente alguns suicídios) são resultado de um comportamento homicida de um alter dirigido ao host e/ou outros alters. De outro modo, alguns alters possuem somente umas poucas características de uma outra pessoa, e são conhecidos, na literatura sobre Transtorno de Personalidade Múltipla como fragmentos de personalidade. Por exemplo, o alter
Capitulo 6
168
f
pode ser um bebé com um repertório muito limitado. Para os clínicos que não tiveram experiência direta com o Transtorno de Personalidade Múltipla, talvez seja difícil aceitar a noção de que um alter (ou seja, uma pessoa cuja individualidade é definida por seu comportamento) pode ser experienciado por outros (o terapeuta) como pessoa distinta. Ambos os autores tratam clientes com Transtorno de Personalidade Múltipla e podem corroborar com os relatos de outros clínicos de que o host e alters são requentemente experienciados
como indivíduos diferentes. É condizente com o ponto de vista comportamental que, em muitos casos, são pessoas diferentes. A possibilidade de que o Transtorno de Personalidade Múltipla possa ser disfarçado deve também ser considerada, e há casos documentados desse
fenómeno. Foi também sugerido que o Transtorno de Personalidade Múltipla é um transtorno iatrogênico, ou seja, terapeutas que procuram dramas e características teatrais no Transtorno de Personalidade Múltipla podem inadvertidamente sugerir e reforçar esse comportamento em seus clientes. Mesmo que não seja diretamente sugerido ou encorajado, tratar esses alters como pessoas distintas libera contingências para manter essa separação. Um certo apoio para
o papel das contingências no Transtorno de Personalidade Múltipla foi demonstrado por Kohlenberg (1973) o qual mostrou que as várias personalidades de um paciente apareciam e desapareciam conforme eram reforçadas para tal. Apesar de termos que considerar as contingências iatrogênicas e de ingimento f
,
,
evidências sugerem que a maioria dos casos de Transtorno de Personalidade
Múltipla não são evocados para o benefício do terapeuta. Em particular, o diagnóstico do transtorno e a descoberta dos alters frequentemente ocorrem depois de 5 anos ou mais de terapia. Já que o valor adaptativo do Transtorno de Personalidade Múltipla está intimamente relacionado ao segredo e à decepção pode ser possível que muitos ou mesmo a maior parte dos casos nunca sejam ,
diagnosticados.
A Avaliação Comportamental do Transtorno de Personalidade Múltipla. Exploraremos a aplicabilidade de nossa concepção comportamental do self aos vários fenómenos de Transtorno de Personalidade Múltipla. Esses
fenómenos incluem os repertórios distintos de comportamento e a experiência do selfque caracteriza o Transtorno de Personalidade Múltipla Uma avaliação do Transtorno de Personalidade Múltipla deveria mostrar também porque a .
O self
169
reação ao estresse ocorre somente na infancia e apontar possíveis diferenças individuais que expliquem o porquê do transtorno não se desenvolver em todas as crianças gravemente traumatizadas. Entendemos que antes do trauma, a criança já havia desenvolvido ,
repertórios de comportamento que a predispunham ao Transtorno de Personalidade Múltipla. Então no momento do trauma, esses repertórios são ,
acionados e o Transtorno de Personalidade Múltipla se desenvolve. Primeiro, o self, no momento do trauma não está completamente sob ,
controle privado. De certo modo, a teoria do self apresentada neste capítulo é uma teoria de como experienciamos nosso self enquanto pessoas individuais antes de tudo. Até o instante em que os estímulos privados controlem o "Eu" algumas características do indivíduo (a personalidade única) não emergem. Especificamente, a criança tem uma experiência relativamente pequena do self como (1) contínuo, (2) originador de ações, e (3) uma consciência permanente ,
,
que vê tudo. Para que esses estados ocorram, os pais devem reforçar consistentemente as respostas eu X para que o locus ganhe controle. Antes desse processo normal se completar, uma grande variedade de experiências do selfs&o possíveis, "
"
A
Como a criança em desenvolvimento é mais propensa a mudanças na experimentação do self a norma é o se/fflutuante. Por exemplo, quando abraça seu pai, a garotinha pode estar quieta, controlada e passiva, mas quando está com outras crianças, ela se transforma. Ela pode tornar-se agitada, descontrolada e agressiva. Não só esses repertórios observáveis podem mudar, mas a criança também poderá experienciar esses selfs como separados (cujo limite será de que a experiência do seu Eu" fique sob o controle público). Acreditamos que essa atividade de ser outra pessoa é facilitada por essas experiências normais da infancia de selfs separados. "
"
"
A atividade de ser outra pessoa é geralmente observada em crianças. Elas brincam de fingir que são adultas, médicos, bruxas, pais e mães. Elas estão expostas aos estímulos públicos de ver seus pais em ação, tomarem parte como leitores numa história, ou vendo personagens de desenhos animados na TV. Esses personagens são estímulos públicos que modelam o modo como a criança irá agir, sentir e ver. Com uma pequena deixa e encorajamento, a criança geralmente adota esses papéis. Em qualquer shopping-center, as crianças podem ser vistas vestidas com a capa do Batman e pulando de bancos, correndo em roupas de cowboy, ou fazendo barulhos de aviões. Essa parafernália mostra
Capítulo 6
170
como os pais geralmente induzem e reforçam esta atividade. Apesar dos adultos também poderem "participar em ser outra pessoa", estamos afirmando aqui que esta experiência é diferente nas crianças. Como a criança tem um self mais maleável, a experiência é mais real no sentido de que um conjunto maior de atividades "eu X" pode também ser afetado. Ou seja, a criança pode realmente experienciar a sensação e a imagem visual de ser grande, forte e ágil como o Batman (o cliente com Transtorno de Personalidade Múltipla pode na verdade ver pessoas diferentes quando se olha no espelho, dependendo do alter presente). Em contraste, o ator adulto está em maior contato com um senso estável de self e com experiências visuais que o lembram que é uma pessoa comum que está representando o papel de alguma outra.
Outras contingências podem ajudar a manter o ser outra pessoa. Um garoto pode ser encorajado diretamente pelos pais a agir como outra pessoa quando lhe dizem Saia e aja como um homem". Ser outra pessoa também parece ser reforçado em brincadeiras de crianças como polícia e ladrão. Mas, o que é relevante a este tópico é que ser outra pessoa também pode ser reforçado, porque reduz a aversividade da punição. Por exemplo, se uma criança é mandada a seu quarto, e lá finge ser o Super Homem, isso pode distraí-la da condição aversiva que a levou a estar no quarto. Tenha em mente que a atividade de ingir por uma criança, cujo Eu" continua controlado por estímulos públicos pode transformar a experiência básica do que é visto ou sentido. f
"
"
,
A maleabilidade do self que se molda de acordo com as exigências dos estímulos públicos, é também demonstrada pela suscetibilidade crescente à sugestão, que é encontrada em crianças. As crianças como um grupo, são muito mais hipnotizáveis que os adultos (Putnam 1989, p. 52). Entendemos a condição de ser hipnotizável como responsividade ao controle público em detrimento daquilo que é visto e experienciado (ou seja, sugestões hipnóticas em forma de ,
,
"
"
"
você sente seus olhos pesados, muito pesados
"
,
você está ficando com calor
" ,
você vê uma estrela brilhando sobre você e ela está ficando maior e mais
brilhante"). Conforme a criança vai crescendo há uma relativa diminuição do controle pelo estímulo público o self é mais estável, e a possibilidade de ser ,
,
hipnotizável diminui. Em termos do papel do trauma quando um evento altamente aversivo ocorre repetidamente a criança é motivada a fugir e esquivar-se. Como fugir ou enfrentar o abusador é perda de tempo outros repertórios de fuga e esquiva ,
,
,
podem emergir. Ser outra pessoa pode ser um desses repertórios; ou seja, se a criança experimenta ser outra pessoa pode ser funcional fazer isto no momento ,
O self
171
do trauma, isso é particularmente verdadeiro se o fato de ser outra pessoa já tiver sido efetivo para reduzir a aversividade (como no exemplo do garoto f
mandado ao quarto como castigo). Além da redução da aversividade através da distração, o personagem que a criança inge ser poderia ajudá-la a evitar a aversividade, tendo uma consciência limitada (como um bebé) ou aumentando a tolerância à dor (como Super Homem).
Ser outra pessoa durante o trauma seria particularmente adaptativo se o host não se lembrasse do que aconteceu (amnésia). Como discutimos no Capítulo 4, lembrar é um comportamento que é sujeito às suas consequências como qualquer comportamento operante. Mesmo sem ser outra pessoa eventos ,
traumáticos geralmente não são lembrados. O lembrar é facilitado pelo contato com o estímulo relacionado ao evento que está sendo lembrado. Não lembrar é
ajudado pela esquiva daquelas situações relembradas. Ser outra pessoa que vê de modo diferente do que o primeiro self, de fato, transforma os estímulos que são vistos e assim, evita contato com os estímulos relacionados ao evento que está sendo relembrado. Isso, por sua vez, facilita a amnésia. Talvez a função primária de ser outra pessoa durante o trauma é a de facilitar a amnésia nesses casos.
Tornar-se outra pessoa durante o trauma e depois reverter e não lembrar tem o efeito de isolar o evento traumático. Se a amnésia não acontecesse, então os efeitos do trauma seriam mais intrusivos na vida cotidiana da criança, sendo este o caso do transtorno de stress pós-traumático de adultos. Assim, a criança teria temores e evitaria o abusador e tudo o mais que tivesse alguma ligação com o trauma. Esse tipo de esquiva não seria adaptativa pois costumeiramente o abusador é um dos pais ou alguém muito próximo. A criança é então dependente ,
do abusador e deve viver no ambiente onde o abuso ocorreu. Ao invés, com o
isolamento do trauma, a criança pode até mesmo ser amável e afetuosa com o
abusador na maior parte do tempo e assim receber a atenção necessária à sua sobrevivência.
Uma vez ocorrido o isolamento do trauma, o desenvolvimento do self é
f
ragmentado. Em oposição a um crescimento dos controles privados de um único Eu", há mais de um "Eu" que pode ser controlado por diferentes estímulos privados, e pode haver mais de um locus ou perspectiva. Em adição ao locus do "
Eu" para o host, pode haver diferentes locus onde a visão do alter ocorra. Essas fontes múltiplas de controle sobre o "Eu" podem vir a influenciar a experiência da localização do self Essa situação pode contribuir ainda para as "
experiências fora-do-corpo contadas por clientes com Transtorno de
Capítulo 6
172
f
Personalidade Múltipla, as quais geralmente são comparadas a assistir a um ilme ou olhar seus corpos do alto. Essas experiências separadas do host e alters
permitem o desenvolvimento independente de qualquer aspecto dapessoa. Assim, cada alter pode ter seus próprios desejos, gostos, vocabulário, experiência de self, experiências visuais, etc. Alguns alters podem ser estáticos em seu desenvolvimento, devido ao seu contato limitado com o mundo e permanecem
com a mesma idade de quando foram formados pela primeira vez. Outros alters estão em maior contato com o mundo e transformam-se ou amadurecem com a
experiência.
Características do tratamento de Transtorno de Personalidade Múltipla.
O modo como o terapeuta deve se relacionar com os alters é um assunto
importante no tratamento e leva a conflitos de aconselhamento. Por um lado, Putnam (1989) enfatiza que as personalidades dos alters não são pessoas separadas e devem sempre ser tratadas como partes de um mesmo indivíduo. Por outro lado, quando Putnam dá detalhes do tratamento, a verdade parece ser o oposto. Por exemplo, ao detalhar procedimentos do tratamento, Putnam encoraja o terapeuta a perguntar aos alters seus nomes, a averiguar como um controla o outro, a não ter favoritos e a pedir para todos prestarem atenção quando o terapeuta tem uma importante declaração a fazer.
Existe uma boa justificativa, no entanto, para cada um dos enfoques contraditórios em relação aos alters. Por um lado, o tratamento objetiva uma integração ou unificação. Tratar os alters como pessoas separadas mina este objetivo. Mas, por outro lado, existe uma parte da terapia que necessariamente envolve acessar os alters secretos, e eles permanecem secretos, a não ser que sejam tratados como pessoas separadas. Sizemore (1989), que é a Eva" do "
famoso "As 3 Faces de Evtf \ descreve a importância da aceitação clínica dos alters como reais: Com os clínicos enxergando os alters de pacientes com Transtorno de Personalidade Múltipla como partes, ragmentos ou ilusões, mas os pacientes enxergando os seus alters como outras pessoas, a comunicação f
"
"
sofre uma quebra (p. 267). Nosso modelo conceituai de comportamento parece oferecer um caminho a este dilema e ainda aponta algumas direções terapêuticas.
Em termos de comportamento os alters são mais ou menos pessoas separadas. Portanto eles devem ser tratados na terapia de acordo com o tipo de pessoa que são. Um alter que descreve a si mesmo como tendo 6 anos seria tratado de forma diferente de outro que se diz um adolescente. O objetivo do ,
,
O self
173
tratamento é trazer os alters a uma maior conscientizaçao das experiências um do outro. Geralmente este processo é altamente aversivo e evoca esquiva; ou seja, contar ao host que ele tem múltiplas personalidades provoca ansiedade porém esta ainda é menor do que contar os detalhes das experiências dos alters. ,
Assim como na terapia familiar, paciência e precaução devem ser tomadas a fim de fazer os alters revelarem seus pensamentos mais íntimos e discuti-los ,
com os outros alters. Isso 6 bastante verdadeiro nos Transtornos de Personalidade
Múltipla, pois a razão pela qual os alters surgiram era para esconder algo. No decorrer da terapia, o terapeuta deve oferecer ajuda ao alter do mesmo modo que ofereceria a qualquer outro cliente. A atenção ao CRB é sempre importante. Claro que o maior CRB1 é a falta de consciência e os repertórios distintos que são característicos do Transtorno de Personalidade Múltipla. Outro CRB1 é uma raiva voltada ao terapeuta por um alter que também está nervoso com outros alters e com outras pessoas na vida cotidiana. A medida em que os alters melhoram e aumentam sua consciência uns dos outros, o terapeuta pode ir retirando gradualmente seu papel de mediador. Com o tempo, o repertório dos alters vai se homogeneizando, e o comportamento do cliente se torna mais o de uma pessoa individual. A terapia é considerada bem sucedida quando esses clientes têm uma vida cotidiana satisfatória, mesmo que não experienciem um self único como a maioria das outras pessoas. Sizemore (1989) descreve sua experiencia pos-terapia da seguinte maneira: Mesmo alguns termos como unificação e integração parecem reforçar uma visão artificial do self. Pois, embora "
o paciente integrado com Transtorno de Personalidade Múltipla possa aceitar esses termos clínicos de uma forma intelectual, este paciente ainda possuirá o que é melhor descrito como uma convicção inconsciente: Antes eu era muitos. Agora, sou um. Mas não sou um quebra-cabeças montado" (p. 267). Ou, como sugeriu Putnam, a experiência pós-terapia de Transtorno de Personalidade Múltipla pode ser igual àquela de uma sociedade ou uma corporação. Na conferência internacional anual de Transtorno de Personalidade Múltipla e
transtornos dissociativos, em Chicago, o segundo autor ficou particularmente
comovido com uma terapeuta com Transtorno de Personalidade Múltipla que falou em um workshop sobre suas experiências de cura. Ela disse que estava agora integrada, mas todo dia ela meditava e visualizava cada um de seus alters, dizendo a eles, "Eu nunca esquecerei vocês, e nunca os abandonarei."
Capítulo 6
174
IMPLICAÇÕES CLINICAS Em termos gerais, clientes com problemas amplos de self iniciam o tratamento de uma forma cuidadosa, desconfiados, extremamente atentos e
interessados na opinião do terapeuta sobre eles, e não descrevem sentimentos, crenças, desejos, do que gostam e do que não gostam, de maneira confiante. Todos esses comportamentos provavelmente são CRB1, e indicam uma falta de controle privado sobre estímulos internos. Se o tratamento é bem sucedido, os comportamentos nas sessões se tornam confiantes, e incluem CRB2s de descrições livres de pensamentos íntimos, sentimentos, desejos, e crenças, A descrição do comportamento do cliente, que foi exposta no parágrafo
anterior, poderia passar pelo problema geral do cliente e pelo esforço psicoterapêutico geral. Essa observação combinada com a literatura sobre o
desenvolvimento e tratamento de problemas de self provavelmente reflete a prevalência de problemas do self Já que uma fonte básica das dificuldades do cliente é a falta de controle privado, o tratamento feito por um terapeuta que é acolhedor, responsivo e que encoraje a expressão ou declaração de sentimentos poderia naturalmente prover as contingências para o fortalecimento do controle privado. Este ambiente terapêutico genérico é o antídoto para o ambiente familiar pouco válido que falhou no reforçamento do controle por estímulos privados. "
"
Ainda mais, nosso modelo comportamental leva a algumas sugestões específicas (discutidas abaixo) que podem alavancar a psicoterapia mais geral. *
4
Reforçando a fala na ausência de dicas externas específicas
Em clientes com problemas de self muito de seu comportamento está
sob o forte controle de estímulo de terceiros. Parecem ser vigilantes e estão focados intensamente no terapeuta observando cada nuança de sua expressão facial e inflexão de voz. Apesar de não ser muito óbvio no início quase tudo o que o cliente fala sobre si mesmo e sobre seus sentimentos e pensamentos pode estar muito influenciado pelo controle discriminativo do terapeuta. O ,
,
procedimento terapêutico que descreveremos almeja a perda desse controle através do encorajamento e reforçamento da fala na ausência de sugestões externas específicas. Em outras palavras o tratamento consiste em reforçar os CRB2s de "eu X" controlados internamente os quais também auxiliariam na emergência do controle privado sobre "Eu" ao inal. ,
,
f
,
O self
175
Uma maneira de ajudar os clientes a estabelecerem o controle privado é usar a ferramenta psicanalítica da passividade não estruturar cada momento da ,
sessão com questões. Isso certamente irá aumentar as chances de evocar CRB2 reações eu X sob controle privado. Ao menos nos estágios iniciais do tratamento, esse tipo de estratégia é problemático por dois motivos Primeiro "
"
-
.
,
ele pode evocar um forte CRB1 de esquiva acompanhado de reações extremamente emocionais que, em último caso resultariam no abandono do tratamento pelo cliente. Tivemos numerosos clientes reclamando asperamente sobre falhas em tratamentos anteriores, devido à passividade de seus "ex,
terapeutas".
Segundo, essa tática impede o terapeuta de reforçar um CRB2 caso este ocorresse. Por exemplo, o cliente poderia dizer Eu não suporto mais isso". ,
"
Esse tipo de declaração é uma resposta "eu X" que deveria ser reforçada pelo terapeuta ao ouvi-la seriamente enquanto que a manutenção da passividade provavelmente não seria reforçadora. Um terapeuta mais ou menos passivo, entretanto, seria justamente o que o médico receitou num estágio mais avançado da terapia quando os clientes já tiverem feito alguns progressos na conquista de um selfou de um repertório de respostas eu X privativamente controlado. No outro extremo, um terapeuta altamente ativo que evita evocar a ansiedade dos clientes, fará com que o cliente sinta-se e comporte-se bem durante a sessão mas impedirá a probabilidade de ocorrência dos CRB2s. Uma terapia ideal seria aquela altamente estruturada no começo e que gradualmente vai se tornando desestruturada, conforme o progresso do cliente. ,
'
,
,
"
"
,
f
Para ilustrar estes pontos, vamos tomar um cliente de nome Terry como exemplo. Durante os meses iniciais de terapia com o primeiro autor, Terry se concentrou principalmente em seu tratamento médico e nos remédios que usava para controlar seus sintomas psicossomáticos. Quando eu formulava questões mais gerais sobre humor ou qualquer outro estado emocional, Terry icava ansioso
e bloqueado. Primeiramente, eu o ajudava sugerindo uma resposta específica baseada em estímulos públicos específicos. Por exemplo, quando um novo e grave sintoma médico apareceu, que era similar a um outro que resultou na morte de um parente, eu sugeri que Terry estivesse sentindo medo, ou seja, eu dei um estímulo público dizendo "medo". Isso é muito parecido com o que os pais fazem quando concedem aos seus filhos tatos para emoções. Numa fase inicial do tratamento, eu fiz muitas sugestões parecidas de sentimentos específicos para situações específicas. Gradualmente, nos meses que se
passaram, a especificidade foi sendo reduzida. Melhor do que continuar a dar
t
176
Capítulo 6
um sentimento específico, eu lhe dava uma lista para escolher (por exemplo dor, medo, raiva, desapontamento, irritação ou frustração). Em outras palavras, eu estava ainda apontando uma resposta baseada em estímulo público, mas a ,
especificidade do estímulo foi ampliada. Terry estava seguro de que não seria punido por responder, uma vez que lhe era dada uma resposta aprovada no primeiro caso, e uma lista" de respostas aprovadas no segundo. A idéia central "
"
"
era a de que a estrutura fosse sendo gradualmente reduzida a fim de permitir que mais estímulos privados ganhassem o controle.
Combinar tarefas terapêuticas com o nível de controle interno no repertório do cliente
A fim de variar a quantia de controle público sobre o comportamento do cliente, usamos uma variante de associação livre como técnica. Assim como a estratégia geral do terapeuta pode variar de passiva a altamente estruturada a tarefa de associação livre pode ser apresentada com mais ou menos estrutura Quando usada na FAP, a primeira intenção da associação livre não é a de descobrir ,
.
significados escondidos ou fazer uso do seu conteúdo apesar deste ser algumas ,
vezes relevante. Ao invés disso
,
é o comportamento da associação livre que
interessa. Na sua forma mais desestruturada as instruções da associação livre ,
são:
"
Diga-me tudo o que lhe vem à mente - todos os sentimentos pensamentos ,
e imagens. E importante não censurar nada. Relate tudo o que vier mesmo que pense que é banal, trivial, embaraçante, não importante, etc". Pedimos ao cliente ,
para que continue isso sem feedback do terapeuta e até podemos pedir para que faça isso sentado de modo que o terapeuta ique fora de seu campo visual. f
,
Nossa visão desta tarefa é que ela requer falar com a outra pessoa (o terapeuta) com um mínimo de sugestões externas provenientes do ouvinte Sob essas condições é possível ao cliente dizer "eu sinto X" ou "eu vejo essa imagem" .
,
sob condições que favorecem o controle pelos estímulos privados Como podemos .
ver no próximo caso os clientes com problemas extensivos de selfficam muito ansiosos e não conseguem realizar esta tarefa devido a uma falta de estimulação ,
,
pública. Eles podem realmente experimentar "uma perda do self' na ausência de dicas do terapeuta. Um fenómeno parecido ocorre quando o terapeuta comportamental usa técnicas de relaxamento ou meditação e sente que seu cliente fica altamente ansioso quando a tarefa é muito desestruturada Então, .
quando usamos a associação livre durante a FAP, são geralmente empregadas
O self
177
variações do formato clássico não-estruturado. Vários tipos de tarefas de associação livre são usados e envolvem um aumento gradual do grau de controle privado. As tarefas iniciais são de completar frases e de associar palavras. Depois, são introduzidas tarefas envolvendo imaginação mental e autoobservação de respostas privadas. Uma variação mais estruturada de associação livre é a tarefa do "cinema em sua mente
" .
Pedimos aos clientes para fecharem os olhos e imaginar que
estão sentados num cinema. Primeiro são instruídos a ver uma tela branca em
suas mentes. Então, quando o filme começa, a primeira cena é estipulada para ser a do cliente e o terapeuta sentados no consultório naquele exato momento.
Depois, o filme é descrito como voltando para trás, com o cliente andando para fora do consultório e de volta a seu carro. O filme então começa a correr cada vez mais rápido, virando um borrão. Pedimos ao cliente para visualizar o borrão que pára de repente e pedimos a ele para descrever a cena. Seria importante, é claro, reforçar qualquer resposta eu X pois elas provavelmente estão sob pelo menos um pequeno controle privado. Há uma enorme variedade dessas tarefas imaginativas, usadas na terapia gestáltica, psicossíntese e hipnoterapia, que podem ser adaptadas para a FAP. "
"
,
Outra adaptação da associação livre envolve o uso de um computador e um processador de textos. Pedimos ao cliente para digitar qualquer coisa que lhe venha à cabeça sem censurar nada. Uma vantagem neste método é que ele mesmo dá forma ao processo. Primeiro, é dada a chance ao cliente de apagar ou arrumar qualquer coisa antes que o terapeuta veja. A fim de reforçar a fala (digitação) na ausência de estímulos públicos, o terapeuta, sem fazer críticas, revê o arquivo durante a sessão. Com o tempo, o cliente é encorajado a apagar o menos possível.
O princípio de combinar tarefas terapêuticas com o nível de controles f
internos do cliente será ilustrado com o caso de Fred, um ísico de 34 anos. Ele
se sentia esmagado pela ansiedade quando era criticado ou rejeitado, tanto no nível pessoal como nas relações de trabalho. Quando criticado ou ao temer ser criticado, ele desaparecia, se isolava e não cumpria com suas responsabilidades. Obviamente, esse comportamento resultou em problemas no emprego, ainda que estivesse inconsciente de ter causado algum problema. Além disso, Fred geralmente era retraído e evitava contato humano. Ele tinha dificuldades em saber como se sentia; ou seja, faltavam-lhe respostas
sob controle privado. Fred fora chamado de
"
"
eu sinto X
alexitímico
"
"
que estivessem
(ou seja, incapaz de
Capítulo 6
178
expressar sentimentos) por um terapeuta anterior. Previsivelmente, Fred lembrava de seus pais como sendo frios, exigentes, explosivos, desaprovadores e pouco afetivos. Em sessão com o primeiro autor, foi dada a Fred uma versão de associação livre com tempo limitado: T: O que faremos aqui: eu lhe pedirei para fechar os olhos e então, tudo o que quero é que me conte que tipo de imagens ou sentimentos ou pensamentos ou memórias lhe vêm à mente. Se você vê uma imagem manchada, apenas diga "Estou vendo qualquer coisa manchada Você me conta rapidamente o que aparece, mesmo que nada ,
"
.
venha à sua mente.
(O cliente é induzido a dar respostas "eu X", e lhe é assegurado que qualquer resposta é válida.)
C: Ok. (Uma longa longa pausa) Terrível (meio rindo). ,
(Fred não faz conforme o solicitado.) T: O que está havendo?
C: Eu, eu simplesmente não consigo (Uma longa pausa). Quer dizer eu não consigo, ,
não consigo me concentrar é realmente embaraçoso, você sabe, eu deveria ser capaz de fazer isso. ,
*
T: Qual foi a sua experiência ao fechar os olhos o que aconteceu? ,
C: Quero dizer, é como se nada nada, sei lá, entende.... ,
(Ele está descrevendo um evento privado - nada aconteceu.) T: Um branco total
,
total?
(Provavelmente esta não era a melhor resposta para reforçar o comportamento privativamente controlado.) C: É. T: -Bem
,
tudo bem. Quero que me diga o que é nada. Você também disse que era
terrível
,
então, em algum momento você deve ter se sentido assim também, certo?
(Uma tentativa de remediar a possível punição na resposta anterior por dizer que 4
"
estava tudo bem em reportar uma mente em branco. Também uma dica de Eu me sinto terrível baseada na presença de estímulos públicos - seu comentário "
"terrível"
.
)
C: É T:
Então
o que faria é dizer algo como Eu não vejo nada" assim está bem, e "
,
,
"
Eu me
O self
179
sinto terrível
ou estou me sentindo ruim porque deveria ver alguma coisa." Veja, o que estou pedindo para relatar é tudo o que está acontecendo, imagens ou nenhuma ,
imagem como se sente e o que diz a si mesmo sobre isso. ,
(Dando dicas de "Eu X".) C: Eu acho que o que está acontecendo é eu tenho que ser capaz de recuar um pouco, ,
quero dizer, eu até tento e mesmo assim tenho problemas com isso. (Fred indica o quão difícil é a tarefa. Eu entendi o comentário em relação a recuar como sendo um tipo de resposta de consciência do self Mas também entendi como um mando disfarçado para que eu recue.) .
T: Você está tendo problemas para recuar e me contar sobre isso?
C; Certo. É [pausa], você sabe, ser um observador nessa situação. T: Então quando seus olhos se fecham é como se você estivesse tendo essa experiência e não pode fugir dela, é isso o que está dizendo? Você não pode se ver tendo essa experiência? ,
C: Certo.
f
T: Ok. Você está disposto a fazer isso? Quer continuar com os olhos fechados por 5 minutos e eu não direi nada a você. O que você vai fazer é experimentar o que está experienciando e depois tentar me dizer sua experiência. Então, pode icar em silêncio por 5 minutos de modo a se sentir preparado para isso. Talvez 5 minutos seja muito tempo; diria 2 minutos. Vamos fazer por 2 minutos. Então, quer tentar dois minutos?
f
(Reestruturando a tarefa. Uma vantagem de ver a tarefa como instruções para evocar respostas privativamente controladas é que o terapeuta pode modificar isso como bem entender, a qualquer momento, a im de auxiliar a atingir o objetivo.)
C: Ok. Eu acho [pausa], que parte do problema que tenho, intuitivamente é que não quero perder o contato com você.
(Esse comentário revela como é importante para Fred ter o feedback de outro, de modo a realizar a tarefa que supõe-se deveria estar sob controle interno. Note
também que é um CRB3, uma importante e rara descrição das variáveis controladoras da esquiva e ansiedade em Fred.) f
f
T: Quando você ica fora de contato, então você ica ansioso? C: Sim, acho que ficaria pior. Quanto mais durar isso. T: Faz sentido. Faz sentido para mim. E para você?
(Faz sentido para mim como um behaviorista radical que tem uma teoria sobre como pais invalidadores afetam o controle sobre estimulação privada e pública.)
180
Capítulo 6
C Não muito.
(Quase 5 minutos de conversa) C: O que significa contar a você? Faz sentido para você mas não estou muito certo de que faz sentido para mim. ,
T: Bem, tem a ver com o fato de que sou uma pessoa significativa para você E acho que isso demonstra um medo básico que você tem em relacionamentos com pessoas significativas para você. Acho que você necessita ver as reações das pessoas pois se você confiar apenas na sua impressão verá tudo de forma errada e estará em .
,
apuros.
(Estou tentando uma interpretação comportamental que descreve os problemáticos estímulos discriminativos [Sds] incluindo outras pessoas significativas a história ,
de reforçamento envolvendo punição para controles privados e a esquiva de punição por estar sob controle público.) ,
4
C: É, acho que sim. T: Eu acho que esse é o jeito de descrever isso em termos que fazem sentido
.
Mas
saber disso não acho que irá ajudá-lo acredito que seja inconsciente. Quero dizer, ,
acho que se sente assim e acho que isso reflete sua história. ,
(Aqui estou colocando a interpretação e o "conhecimento" nos seus lugares, como auxílio no comportamento governado pela regra e reconhecendo a natureza do problema modelado pelas contingências.)
C: É, eu concordo. T: Mas eu veria isso como muito importante para você tentar superar esse problema (a necessidade de estar em contato). f
C: E. [Pausa] Estou tentando descobrir um jeito de contornar o problema (a necessidade de estar em contato). Você sabe eu acho que estou mais consciente das barreiras. Estou icando mais e mais consciente disso Eu acho que é uma grande barreira bem, minha cabeça diz que tenho que refazer o meu caminho em torno disso ou descobrir uma solução. f
,
.
,
(Fred descreve seu aumento de consciência das experiências privadas da barreira. A barreira dá uma indicação da intensidade do sentimento gerado pela falta de estímulo público.) r
T: E, era o que eu estava pensando também O Bem
,
.
se fizermos isso aos poucos, talvez aumentando o tempo, e depois se eu
explicar o que lembrar e sem editar depois... ,
(Aqui está um CRB2 de sugestão de uma solução para a barreira, ao invés de sua dissociação.)
O self
181
T: Certo. Podemos tentar uma vez por 15 segundos? C: Claro.
T: Ok. Comece (Uma pausa de 15 segundos) Fim do tempo. .
C: [Pensativo] A barreira definitivamente permanece eu acho. ,
T: O que aconteceu quando você estava de olhos fechados? C: Eu realmente não ive t
quero dizer, novamente, esse branco, quero dizer, esse borrão, mas é como se houvesse alguma coisa lá girando humm, talvez meu nível de ,
,
ansiedade não estava muito alto. /
(E um relato "eu X", o relato mais elaborado de Fred da experiência imaginária até aqui.) (Alguns minutos depois.)
T: Então, esse processo pelo qual passamos nos últimos minutos não foi algo com o
qual você estivesse acostumado. É o seguinte, eu tinha uma expectativa que era muito alta para você. Você ficou muito ansioso em relação a isso conversamos sobre isso, e chegamos a uma tentativa diferente que se adequasse mais ao seu nível. E você conseguiu melhorar na tarefa de imaginação. Esse processo não é nada em comparação com o ocorrido entre você e seu pai. Isso está também relacionado a alguma coisa que acontece no trabalho. Eles lhe pedem para fazer algo, e se você não consegue, você simplesmente congela de medo. ,
(Seguindo a Regra 5, eu fiz uma interpretação baseada em eventos recém ocorridos . A situação história, comportamento e consequências são dados relacionados com ,
a vida cotidiana.)
C: É verdade. Eu acho que sinto que fiz um pequeno progresso. T: Certo, eu também acho isso.
Em suma, quatro ajustes tiveram que ser feitos para tarefas de imaginação ou de associação livre emprestadas de outras terapias. Primeiro, elas devem ser apresentadas ao cliente como tarefas cujo valor é derivado do processo (isto é, imaginar e descrever na presença do terapeuta). Idealmente, os clientes deveriam ser informados, em termos fáceis de entender, de que o importante na tarefa é que evoquem CRB2s sob controle privado. Segundo, a tarefa deve ser selecionada ou modificada de modo a variar no grau de controle privado requerido, para combinar com o nível de repertório do cliente. Por exemplo, a tarefa do cinema poderia começar com a apresentação de uma tela sem imagem ou poderia ter um tempo limitado. Terceiro, o cliente deve ser "
"
182
Capítulo 6 "
"
reforçado ao fazer declarações Se necessário, induzir declarações "eu X como ilustrado no caso de Fred, também deve ser usado. Quarto, o terapeuta deve ter em mente que outros CRBs, além dos relacionados aos problemas de self, podem ser evocados, e poderão prover oportunidades terapêuticas. Por exemplo, no caso de Terry, a tarefa de imaginação não apenas evocou um CRB relacionado ao self mas também relacionado a problemas que ele tinha eu X
.
"
,
no trabalho, ao enfrentar tarefas muito difíceis.
Reforçando tantas declarações "eu X" do cliente quanto possível r
E extremamente importante tratar com respeito todas as idéias intuições, ,
teorias e crenças do cliente que diferem das do terapeuta. Entendemos por respeito o fortalecimento do comportamento do cliente através da reação do terapeuta
,
mesmo que este indique que pensa diferente. Idealmente a reação do terapeuta deveria ser positivamente reforçadora, mesmo que isso também refletisse uma opinião divergente da do cliente. Um significado especial é dado às declarações eu X do cliente que diferem das do terapeuta pois são precisamente esses comportamentos que mais provavelmente estão sob controle privado. A ideia é reforçar tantos eu X quanto possível. ,
"
"
,
"
"
Como dissemos anteriormente
se o problema de selfdo cliente estiver relacionado com uma falta de controle privado sobre o "eu quero" é vital reforçar, ,
,
se possível, esse tipo de resposta se ela ocorrer. Uma dica importante para saber sé o eu quero do cliente está sob controle privado (em oposição ao controle público, isto é, o controle do terapeuta) é a inclinação do terapeuta em rejeitar o "
"
pedido. Por exemplo, uma cliente cujo problema de selfera que ela não sabia o ,
que queria e não podia dizer o que queria, pediu ao primeiro autor para tentar
f
hipnose, a im de que descobrisse o que queria. Minha primeira reação foi negar e dar a ela as razões pelas quais eu não usava hipnose. Usando minha inclinação de rejeitar seu pedido como uma pista que assinalava a possibilidade de que seu querer estivesse sob controle privado minha reação seguinte foi reconhecer privativamente que seu pedido era um CRB2. Vendo que isso era algo que ela "
"
,
realmente desejava eu mudei de opinião e concordei em hipnotizá-ía. ,
Outro exemplo pode ser visto no caso da cliente que perdeu sua identidade quando teve uma intensa relação com um homem Eia também .
desenvolveu uma intensa relação com o primeiro autor e me contou sobre suas experiências paranormais Mesmo que eu pessoalmente não acredite nisso .
,
O self
183
reconheci seu comportamento como CRB2 e prossegui com ela me contando sobre suas crenças.
Para clientes que não sabem como se sentem pode ser importante, nos estágios iniciais do tratamento, serem ajudados pelo terapeuta a descobrir como se sentem. Fazendo assim, o terapeuta fornece uma experiência parecida com a que ocorre no estágio L Reagindo ao estímulo público, quase da mesma maneira ,
que um pai faz quando ensina à criança tatos de sentimentos, o terapeuta auxilia na construção de tato de sentimento. As sugestões externas usadas pelo terapeuta poderiam se referir à aparência física do cliente (ou seja, o cliente pode parecer tenso, cansado, ansioso ou deprimido). O terapeuta então diz "você parece cansado ou "deprimido" ou seja lá o que for. "
Uma outra sugestão externa é a natureza da interação terapêutica que acaba de ocorrer. Por exemplo, um terapeuta que persiste em perguntar ao cliente sobre um evento desagradável mesmo que o cliente não queira falar, deve perceber que o cliente sente-se incomodado, ressentido com sua insistência. O terapeuta deve então encorajá-lo a dizer "eu sinto X". O perigo em usar este procedimento é que o terapeuta pode insistir nesta conduta por tempo demais, ou confiar excessivamente em estímulos públicos, e assim impedir ou interferir no ganho de controle de estímulos privados. Apesar de nossa discussão se concentrar em clientes que não sabem como se sentem, procedimentos semelhantes podem ser usados em estágios mais iniciais da terapia com clientes que não sabem o que querem, ou em que acreditam ou o que sabem.
Uma conjuntura delicada é exposta quando um cliente, cujo problema de selfinclui uma escassez de respostas "eu sinto", diz "eu sinto que você não se
importa comigo". Esse comentário do cliente não é incomum e deve ser tratado como um exemplo de CRB2 (admitindo que não seja um mando disfarçado). E importante para o terapeuta considerar os comentários com seriedade e não punir o CRB2 classificando-o como transferência ou fazendo a interpretação de que a resposta do cliente não está baseada em algo que aconteceu na sessão, mas sim que veio da infância. Ao contrário, as respostas mais reforçadoras seriam aquelas que validam o motivo pelo qual o cliente se sente assim. Desta
maneira, é papel do terapeuta rever cuidadosamente os eventos passados na terapia e olhar internamente para procurar quais eventos poderiam embasar a observação do cliente.
Por exemplo, o terapeuta pode ter ficado distraído ou preocupado durante a sessão ou pode também ter-se irritado com o cíicnte. Desnecessário dizer que
Capítulo 6
184
a validação do tato do cliente não retira a importância do terapeuta em enfatizar seu afeto pelo cliente em geral. Uma situação ainda mais difícil é encontrada quando o cliente vem com declarações eu X que são contraprodutivas, calúnias a si mesmo, suicidas ou homicidas. Nossas sugestões para lidar com esses tipos de declarações são "
"
dirigidas ao cliente com problemas de self que está começando a desenvolver "
"
e menos voltadas aos um controle privado maior sobre declarações clientes que se engajam cronicamente em comportamentos destrutivos. eu X
,
Contraprodutivo. Comportamentos de clientes que levam à esquiva
1
.
geralmente parecem contraprodutivos para o terapeuta. Por exemplo, o segundo autor estava supervisionando um caso no qual a cliente disse, com lágrimas em seus olhos, Eu não quero falar sobre a morte de minha mãe. Isso apenas remoe lembranças e não leva a nada". Respostas apropriadas do terapeuta devem incluir "
tanto a ênfase em que ela não precisa falar sobre isso, quanto explorar a situação mais a fundo: (a) Parece que você está prestes a chorar, como se estivesse realmente ferida por dentro... O que está sentindo?... Está com medo de que se continuar faiando irá chorar?... Como sua mãe e pai te tratavam quando você era criança e chorava? (b) "O que você quer dizer com 'remoer o passado,?... O que acontecia antes quando você falava sobre a morte de sua mãe?" (c) "Estou "
"
confuso porque eu realmente quero respeitar seus sentimentos de não querer falar sobre a morte de sua mãe, mas não quero compactuar com sua esquiva de sentimentos de dor, porque creio que evitá-los está relacionado com evitar relacionamentos próximos em geral.... O que acha que a levaria a um maior crescimento neste momento - forçar você a falar e a sentir os sentimentos sobre sua mãe ou respeitar seus sentimentos de não querer falar sobre ela, mesmo que você saiba que é isto que eu quero?... Como podemos satisfazer tanto seu desejo de não querer falar agora que é importante para o desenvolvimento de seu senso de self, quanto seu desejo de fazer progressos na terapia em geral ,
descobrindo seus sentimentos?" 2
.
Caluniar a si mesmo. "Eu sou uma vagabunda, e uma piranha... eu
me sinto como a escória da humanidade.... tenho medo de me tornar
esquizofrênica pois minha mãe era assim Essas são as declarações feitas em momentos distintos ao segundo autor por Úrsula uma cliente que eu estava "
,
.
,
vendo. No início não era verdade
,
,
minha reação era, a cada vez, assegurar a Úrsula que isso
e toda vez ela se zangava pois não se sentia reconhecida por
O self
185
mim. Ela sabia que, apesar de a minha afirmação ser importante, não permitia que ela descrevesse os sentimentos com os quais estava entrando em contato. Gradualmente, ela me treinou a combinar minha reafirmação com a permissão para que ela tivesse a oportunidade de explorar seus sentimentos. Você com certeza não é uma vagabunda, mas conte-me seus sentimentos e pensamentos sobre ser uma vagabunda, antes que eu te diga por que eu acho que não o é "A pesquisa sobre esquizofrenia indica que se você não a desenvolveu ainda, é praticamente impossível que o fará. Mas deve ser assustador para você ter este medo. Conte-me sobre isso "
"
.
"
.
Suicidas ou homicidas. Apesar de fantasias suicidas e homicidas serem aversivas para a maioria dos terapeutas escutarem em detalhes, não é 3
.
incomum para clientes com problemas de selfentrarem em contato com esses
sentimentos, pois suas histórias são repletas de necessidades insatisfeitas. É importante reforçar essas expressões de sentimentos, ajudando o cliente a contar sua história, até que o terapeuta entenda porque faz sentido para o cliente sentirse assim. Além disso, é importante que o terapeuta proíba essas ações prejudiciais,
não apenas dando uma ordem verbalmente, mas ajudando o cliente a separar sentimentos de ações (ou seja, a conexão entre pensar sobre o suicídio, sentir-se suicida e possuir comportamento suicida é aquela da relação comportamentocomportamento, onde um não leva necessariamente ao outro), e explorando a fundo as consequências de ações suicidas ou homicidas. Se essas declarações suicidas e homicidas forem na realidade mandos disfarçados como tatos (ou
seja, ameaçar suicídio para obter uma maior atenção por parte do terapeuta), então o cliente deve ser confrontado e ensinado a pedir diretamente pelo que
quer, sem comportamentos nocivamente ameaçadores. Em suma, nossa visão dos problemas de self se concentra no
desenvolvimento precoce de comportamentos modelados por contingências. Se nossas noções forem válidas, então, fazer aflorar mudanças no significado de comportamentos importantes como Eu te amo", "Eu te odeio", "Eu estou "
e "Eu preciso de atenção", parece requerer um ambiente de aprendizagem no qual eles possam ser evocados. A FAP é uma ferramenta particular-
nervoso
"
mente construída para esta tarefa.
Psicoterapia Analítica Funcional Uma ponte enire a Psicanálise e a Terapia Comportamental
Nossa interpretação behaviorista radical da psicoterapia nos leva à inesperada conclusão de que o centro do processo terapêutico é a relação psicoterapêutica .
Dizemos que ela é inesperada porque outras pessoas direcionam o behaviorismo radical para o campo oposto no qual o terapeuta evita ou diminui o valor de uma relação terapêutica que seja profunda e emocional. Carl Rogers por exemplo, comentou: Para mim [o mundo de Skinner] destruirá a pessoa humana enquanto aquela que conheci...na relação...nos momentos mais profundos da psicoterapia (1961, p. 391). ,
,
"
"
Mesmo aqueles que aceitam a idéia de que o behaviorismo radical pode levar a uma ênfase na relação terapêutica afirmam que a Psicoterapia Analítica Funcional (FAP) pouco adiciona àquilo que já é postulado nos sistemas de terapia existentes, e questionam Então, o que há de especial?". Nós temos duas reações a essas afirmações. Primeiramente, concordamos com que o foco dado pela FAP à relação terapêutica está de acordo com as tendências vigentes no campo "
da psicoterapia. É particularmente interessante que a FAP e a psicanálise sejam similares a esse respeito, visto que derivam de bases filosóficas e teóricas bem diferentes. Pontos em comum entre tratamentos que advêm de origens tão diversas são intrigantes, pois podem sugerir variáveis universais que são especialmente
187
188
Capítulo 7
importantes na produção de mudança terapêutica. Nossa segunda reacão seria a de afirmarmos que acreditamos que muitos aspectos da FAP são novos e diferentes. A visão que a FAP proporciona sobre a relação terapêutica e sobre o processo de mudança tem implicações no tratamento, que a distingue da psicanálise e de outros sistemas terapêuticos. Na discussão que segue, apontaremos similaridades e diferenças entre a FAP e os enfoques psicodinâmicos. Posteriormente compararemos a FAP com as psicoterapias comportamentais atuais e exploraremos como ela (FAP) fornece uma ponte única entre sistemas terapêuticos tão divergentes como a psicanálise ,
e a terapia comportamental.
A FAP EM CONTRASTE COM ENFOQUES PSICODINÂMICOS
A psicanálise é um sistema em desenvolvimento que apresenta diversas formas. Suas comparações com a FAP estão limitadas à maneira particular com a qual caracterizamos a psicanálise. A parte inicial de nossa discussão será focalizada na visão psicodinâmica mais tradicional sobre transferência e aliança terapêutica. Nós examinaremos então, como uma forma mais recente de ,
psicanálise - relações objetais - é mais compatível com a FAP, porém ainda difere dela de forma significativa devido a suas bases psicodinâmicas. ,
Transferência
Para o psicanalista, a transferência 6 um importante componente da relação cliente-terapeuta. A transferência é relevante para esta discussão porque se refere ao comportamento do cliente dentro da sessão. O conceito porém, tem suscitado preocupações teóricas e técnicas e exigido constantes e repetidos esclarecimentos (Paolino, 1981, p. 91). Consequentemente, examinaremos ,
"
"
apenas alguns de seus significados centrais primeiramente dando suas definições e descrições psicanalíticas e depois, traduzindo as mesmas para a linguagem ,
,
cotidiana ou para termos behavioristas. Apreciaremos então, como as noções ,
psicanalíticas de transferência podem afetar aquilo que o terapeuta faz durante as sessões ou seja, olharemos para os aspectos relacionados ao controle por ,
Psicoterapia Analítica Funcional
189
regras. Na sequência perguntaremos como o comportamento do psicanalista ,
favorece a evocação e a detecção de CRBls e o reforçamento de melhoras ou CRB2s. Desse modo apesar de o psicanalista seguir regras implícitas a uma teoria que não é baseada em conceitos comportamentais nós examinaremos as implicações clínicas dessas regras em termos comportamentais ,
,
.
Freud descreveu a transferência como sendo uma reação do cliente ao terapeuta como se ele não fosse ele próprio, mas sim alguém (importante) no passado do cliente. Ele afirmou que essa "relação emocional intensa entre o [terapeuta] e o cliente", a qual é baseada no passado, surge em toda análise e que, de fato, é impossível uma análise sem transferência" (1925 p. 42). ,
"
,
A descrição de Freud sobre transferência se parece com o conceito comportamental de generalização de estímulo (também conhecido como transfer) e traz consigo a noção de que o comportamento que ocorre na hora de terapia está relacionado com a maneira como o cliente age em seus relacionamentos significativos. Além disso, Freud considerou esses comportamentos que acontecem dentro de sessão como essenciais ao tratamento e enfatizou a
importância de emoções intensas ocorrerem dentro da sessão. Estas características poderiam servir como regras (ver Capítulo 5), as quais direcionam o terapeuta analítico a 1) prestar atenção às reações emocionais do cliente em relação ao terapeuta que também ocorram em outros relacionamentos importantes; e 2) encorajar essas reações, já que elas são essenciais. Disto tendem a decorrer efeitos clínicos positivos, visto que os comportamentos citados nos itens 1) e 2) são similares àqueles produzidos pelas Regras 1-Prestar atenção aos CRBs- e 2-Evocar CRBs- da FAF
.
Antes de olharmos para outros significados e possíveis efeitos clínicos negativos da transferência, discutiremos o conceito comportamental de generalização em maiores detalhes. De um ponto de vista comportamental, todos os nossos comportamentos atuais que são direcionados para uma outra pessoa (terapeuta ou outros) estão baseados em nossas experiências de aprendizagem passada, com aquela e/ou com outras pessoas. Consequentemente, antes mesmo de o terapeuta obter a oportunidade de reforçar uma resposta específica do
cliente, ele já é um estímulo de propriedades evocativas, dependendo de sua similaridade funcional com as pessoas pertencentes à história de vida do cliente. Por exemplo, após chegar tarde, pela primeira vez, a um encontro, o
cliente poderia antecipar as reações do terapeuta baseado em experiências passadas que teve com pessoas similares. Em um experimento que visava ilustrar
Capítulo 7
190
o conceito de similaridade funcional. Diven (1936) utilizou o condicionamento
clássico com sujeitos adultos, emparelhando a palavra barn (celeiro) com um choque elétrico. Quando mais tarde efetuou o teste para verificar generalização ou transferência, utilizando-se de palavras que não foram previamente condicionadas, ele descobriu que os sujeitos tinham respostas galvânicas condicionadas na pele para a palavra cow (vaca), mas não para a palavra "
"
yarn (fio). Portanto, a transferência ocorreu em uma dimensão ["barns (celeiros) e "cows" (vacas) são encontrados em fazendas] "
"
"
funcional e não em
"
uma dimensão física [a similaridade fonética entre barn" (celeiro) e "yarn"
(fio)]. Voltando a nosso cliente: além do que foi mencionado acima, esse cliente em particular poderá antecipar a reação do terapeuta a atrasos, baseado em experiências de chegar atrasado a médicos (se a dimensão funcional é alguém "
que você vai para te ajudar ), ou figuras de autoridade (se a dimensão funcional "
é "pessoas que estão no comando") ou pais negligentes (se a dimensão funcional é baseada em "pessoas que não têm tempo suficiente ou têm um envolvimento limitado"). A generalização também pode ser baseada em uma combinação de várias dimensões funcionais. *
Do ponto de vista da FAP, tudo que o cliente faz durante a sessão (diz, sente, pensa, percebe, etc.) são comportamentos aprendidos que ocorrem devido a 1) similaridade funcional entre os estímulos presentes durante a sessão e aqueles que estavam presentes na experiência passada de aprendizagem, e 2) experiência real durante a terapia. Esses conceitos sobre os comportamentos que ocorrem dentro da sessão podem explicar os mesmos fenómenos que a noção psicodinâmica de transferência explica. Importantes diferenças conceituais entre a psicanálise e o behaviorismo apontam, porém, para algumas implicações clínicas negativas do conceito de transferência. *
Definindo comportamento-problema 4
O conceito de transferência está impregnado com uma variedade de características, além da generalização de respostas a pessoas importantes. Em uma de suas formas mais restritas, Freud limitou a transferência a aqueles
comportamentos que acontecem dentro da própria sessão e que são derivados de certas experiências infantis" que ocorrem no período edipiano (Langs, 1976). Por exemplo, a transferência estritamente se referia às clientes do sexo feminino "
aue exigiam amor ou amizade de seus analistas do sexo masculino. Essa visão A
W
de transferência resultaria em uma regra que direcionaria o terapeuta a prestar
Psicoterapia Analítica Funcional
191
cuidadosa atenção aos comportamentos do tipo edipiano que ocorrem dentro ,
da própria sessão. Se os problemas diários da vida do cliente forem desta natureza
,
então a sensibilidade do terapeuta em relação a assuntos do tipo edipiano o levaria à detecção de C R B1 e poderia ter efeitos clínicos positivos Inversamente. efeitos negativos aconteceriam caso os problemas do cliente não fossem do tipo .
,
edipiano, e o enfoque do terapeuta em assuntos deste tipo o impedisse de perceber qualquer outro tipo de CRB.
Alexander e French (1946) definiram mais amplamente a transferência como sendo uma repetição neurótica de... comportamento estereotipado ou impróprio baseado no passado do paciente", o que é diferenciado de "reações normais ao terapeuta e à situação terapêutica como realidade" (p 72-73). Essa regra, portanto implica um dever do terapeuta de procurar comportamentos "
.
,
definidos como neuróticos e não como normais. Historicamente definir ,
anormalidade é uma tarefa bastante difícil e complexa. Na verdade interpretar ,
a anormalidade de um comportamento independente de seu contexto, é praticamente impossível. Correspondentemente, os termos neurótico, estereotipado e impróprio requerem julgamentos arbitrários reconhecidos ou não pelo terapeuta. Por exemplo é óbvio que nem todo comportamento estereotipado pode ser considerado transferência (anormal). O cliente pode estereotipadamente dizer "oi!" no início de cada sessão e é bastante improvável que o terapeuta julgue isso como transferência. De igual modo, o terapeuta deve fornecer um contexto a partir do qual poderá julgar a inadequação de um ,
,
,
"
"
"
"
,
comportamento. É possível, por exemplo, que um terapeuta tenha valores sexistas inconscientes que o levem a classificar o desejo de uma paciente do sexo feminino de se entregar inteiramente à carreira, como um comportamento neurótico ou impróprio. Do ponto de vista da FAP, incluir os critérios de anormalidade na definição de transferência cria efeitos clínicos diversos. Tal definição poderia servir como regra que leva o terapeuta a perceber os comportamentos
problemáticos que ocorrem dentro da sessão e especificados na definição, e isso poderia ter efeitos positivos para o cliente, caso os seus problemas diários estivessem incluídos nesses comportamentos. Porém, no lado negativo, um comportamento importante que não estivesse incluído nessa definição poderia passar despercebido.
Mesmo que um CRB seja identificado, um problema ainda mais sério e preocupante é o do impacto causado por uma regra nos efeitos reforçadores ou punitivos da resposta do terapeuta ao CRB. Perceba que ajuda ser capaz de
192
Capítulo 7
notar o CRB, porque entende-se que um terapeuta que está consciente do comportamento problemático de seu cliente, ocorrido dentro da sessão, irá
naturalmente encorajar e reforçar um comportamento melhorado. Às vezes, entender a resposta do cliente como transferência pode interferir no reforçamento do comportamento que indica melhora. Por exemplo, se um cliente tem sido
f
compulsivo em sua vida diária, então o fato de ele veriicar repetidamente o horário de sua consulta pode ser apropriadamente considerado como neurótico, de acordo com a definição de transferência. Se, ao contrário, o cliente tem sido historicamente despreocupado a respeito de compromissos e horários, então a
f
preocupação com o tempo pode ser considerada uma melhora. Nesse último caso, o terapeuta, que é guiado por uma visão ixa e não-contextuai do que não é saudável, pode oferecer uma interpretação que, sem intenção, acabe punindo o comportamento que indica melhora. Pelo fato de definições formais de anormalidade ignorarem o contexto, o terapeuta vê o comportamento como neurótico, inapropriado, ou estereotipado, e é provável que as suas reações naturais tenham efeitos punitivos não intencionais.
Real ou não?
Para muitos psicanalistas, a transferência envolve uma distorção da realidade. Freud considerava uma ilusão" a reação do cliente e, assim, ignorava a personalidade, o comportamento e o papel do terapeuta (Langs 1976, p. 27). Uma visão menos extremista foi apresentada por Alexander e French (1946), que sugeriam que antes da reação do cliente ser classificada como transferência, o analista deveria excluí-la como uma reação normal em relação ao terapeuta e em relação à situação terapêutica enquanto realidade (p. 72-73). Esse significado de transferência pode servir de regra que direciona analistas a examinarem seus próprios comportamentos reais e a "real" sequência de "
"
"
,
"
"
"
"
"
"
De eventos, a fim de determinar se a resposta do cliente é fato, essa situação leva o terapeuta a prestar atenção às variáveis presentes à sessão que podem afetar ou não o comportamento do cliente. Caso o terapeuta ,
ou não, normal
.
resolvesse compartilhar suas observações com o cliente mesmo isso não sendo ,
parte do processo psicanalítico, tal interação poderia ser benéfica, pois seria uma descrição de relacionamentos funcionais requerida na Regra 5. ,
Embora a distinção do real versus transferência possa levar terapeutas a examinarem suas próprias contribuições em relação à resposta do cliente essa visão poderia ter implicações clínicas negativas pois presume uma ,
,
Psicoterapia Analítica Funcional
193
perspectiva única e estática (do terapeuta) da realidade. A visão da realidade: eu estou certo e você está errado" pode não ser talvez, problemática quando o cliente expressa acusações extremas do tipo "o terapeuta está se encontrando secretamente com o seu chefe (do paciente) e armando uma conspiração para "
,
matá-lo
" .
A realidade "verdadeira", no entanto não está tão clara em comentários ,
"
mais típicos do cliente, tais como: Eu não acho que você realmente se importa o bastante comigo "Você está cansado de mim ou ainda Terapia custa muito "
"
,
"
,
dinheiro". Filosoficamente, existem motivos para se questionar a noção de uma
única e fixa verdade. É bastante provável que a realidade possa nunca ser conhecida totalmente (é esta a visão behaviorista radical discutida no primeiro "
capítulo). Mesmo se houvesse apenas uma única realidade pouco razoável presumir-se que o terapeuta estaria sempre certo. \
verdadeira
"
,
seria
Clinicamente, nós nos preocupamos com que um terapeuta que aceita o aspecto distorcido de realidade da transferência esteja menos inclinado a ,
,
considerar a possibilidade de que a percepção do cliente é válida quando ela for diferente de sua própria percepção. Isso, por sua vez, poderia privar o cliente da oportunidade de aprender como processar e resolver uma situação interpessoal na qual cada pessoa tem uma visão diferente, porém justificável, do mundo. Similarmente, um cliente submisso que tenha um inadequado senso de autocrítica poderia vir a ser punido por ser assertivo quando a sua visão da realidade diferir da de seu terapeuta. Temos preocupações parecidas quando a validação da percepção do cliente pode ser essencial para a sua melhora (ver Capítulo 6). Tal validação necessária pode ser limitada ou dificultada pela noção distorcida da ,
realidade.
Também nos tornamos apreensivos em relação ao fato de que a noção distorcida da realidade possa inadvertidamente reforçar uma posição rígida ou até mesmo autoritária de terapeutas que já tenham propensão a seguir esse caminho. Junto a essas preocupações, psicanalistas têm expressado outras no "
sentido de que terapeutas possam utilizar o conceito de transferência do não real para evitar um envolvimento real com o cliente (Greenson, 1972). A falta de um envolvimento genuíno com o cliente impede tanto a evocação do CRB quanto a ocorrência de reforçamento natural, o que é essencial para um benefício "
terapêutico na FAP.
Psicanalistas também reconhecem os problemas relacionados à suposição
de que a visão dos clientes a respeito da realidade seja uma ilusão. Por exemplo, recentemente, Gill e Hoffman (1982) propuseram uma visão diferente de transferência, que vem a ser mais coerente em relação à posição da FAP:
194
Capítulo 7
"Acreditamos
que o comportamento verdadeiro do terapeuta afete fortemente a experiência verdadeira do paciente, inclusive o que é normalmente designado como os aspectos transferenciais daquela experiência... Discordamos, portanto, daqueles que enfatizam distorção da realidade como um aspecto distintivo da transferência" (p. 139). A visão de Hoffman e Gill sobre os efeitos do controle por regras teria mais probabilidade de produzir, nos analistas, comportamentos que se assemelham aos da Regra 5 da FAF.
Transferência e comportamento aprendido Freud (1925) acreditava que a transferência era automática e resultava
de um impulso inerente. Isso ocorria em todos os casos (exceto se o cliente fosse psicótico) e sem a permissão do terapeuta (p. 42). Essa idéia é lembrada por Greenacre (1954), que conceituou transferência como um ubíquo "instinto social "
primitivo (p. 672). Essa teoria da transferência automática dilui a atenção sobre as ações do terapeuta que produzem e mantêm as reaçoes do cliente. Em resumo, as funções que o aprendizado, o estímulo atual e o reforço imediato desempenham em uma situação terapêutica são anuladas. Essa orientação do não-aprendizado reflete-se em muitas noções psicanalíticas. Tome como exemplo Langs (1982), que descreveu o efeito da comunicação perturbada do terapeuta como dando aos pacientes uma oportunidade de colocarem suas próprias perturbações no terapeuta e, portanto, encobrirem suas próprias doenças (p. 136). Obviamente, é difícil reconceituar tais noções dentro dos termos do aprendizado. "
"
Ainda assim, acreditamos que os efeitos de estímulos atuais e do aprendizado são tão fortes que devem ser acomodados dentro da psicanálise. Por exemplo Waterhouse e Strupp (1984) viam o terapeuta como um professor que criava, durante o tratamento, condições que trariam mudanças para o cliente. Stone (1982) escreveu que "as melhores lições... [ocorrem] no relacionamento terapêutico entre duas pessoas ou seja, no fenómeno de transferência. Pelo fato de a situação terapêutica ser testemunhada pelo terapeuta, a lição que se tira da sua própria observação terá uma pureza e uma realidade nem sempre presentes em materiais derivados da vida lá fora (p. 271). A posição psicanalítica, entretanto não articula claramente o que vem a ser o aprendizado, como ele acontece ou qual é o seu grau de importância em relação a outros processos. Na melhor das hipóteses é incerto como e quando o comportamento dentro de uma sessão está sujeito ao aprendizado ou é resultado dele. Na pior das hipóteses, aprendizado é relegado a um papel inferior ou secundário Essa confusão a ,
,
"
,
,
,
,
.
Psicoterapia Analítica Funcional
195
respeito da função do aprendizado produz conceitos psicanalíticos que envolvem regras conflitantes.
Considere-se, por exemplo, o comentário de Freud de que "é impossível destruir alguém que esteja ausente ou apenas pela imagem" (1912 p. 108). Provavelmente, o "alguém" a quem Freud se referia era o pai ou a mãe ,
responsáveis pelo comportamento disfuncional do cliente. O restante de seu comentário se refere à dificuldade em mudar esse comportamento disfuncional
com a terapia, a não ser que o pai ou a mãe estejam presentes durante a reação de transferência. Essa noção sugere uma regra que considera positivo o cliente reagir ao terapeuta da mesma maneira que reagiria em relação ao pai ou à mãe Enquanto essa regra encorajar o CRB, ela terá efeitos clínicos positivos. Porém se essa regra não fizer menção aos princípios do aprendizado ela não dá ao terapeuta analítico muita orientação a respeito de como obter reações de transferência. A suposição da "transferência automática" diz que tudo que o terapeuta tem a fazer é esperar até que tal comportamento ocorra, .
,
,
Ainda pior, a falta de princípios de aprendizado cria outros procedimentos que podem interferir na aquisição de transferência. Um exemplo é o princípio de neutralidade que afirma que o médico não deveria ser transparente em relação aos seus pacientes mas, como um espelho, deveria refletir apenas o que é mostrado "
a ele
"
(Freud, 1912, p. 118). Searles (1959) também alertou para as reações emocionais do terapeuta, descrevendo-as como tentativas por parte do terapeuta
de levar o paciente à loucura. A regra implícita é obvia - ser ponderado, não reagir emocionalmente, e não se auto-revelar. Do ponto de vista da FAP, se o comportamento de ser impassível e de não mostrar reações torna o terapeuta parecido com o pai ou a mãe do cliente, evocando assim o comportamento problemático deste, então isso pode ser uma boa coisa a se fazer (desde que o terapeuta não esteja alterando deliberadamente seu comportamento, de tal maneira
que possa trazer à tona os perigos do reforço arbitrário, conforme discutido no primeiro capítulo). Baseando-se no conceito de generalização, entretanto, é mais provável que o CRB que envolve confiança, medo, amor, ódio, decepção e outros sentimentos parecidos, sej a evocado por um terapeuta que reage positivamente ou negativamente em relação ao cliente e que estej a querendo, ocasionalmente, reveiar-se. O CRB é, portanto, mais provável de ser evocado por um terapeuta que apresente uma grande variedade de estímulos interpessoais do tipo que são passíveis de ocorrer em relações mais íntimas e significativas.
A confusão psicanalítica, no que diz respeito ao papel do aprendizado, pode também interferir no processo de reforçamento. Por exemplo, consideremos
196
Capítulo 7
o principio dos efeitos da neutralidade nas atividades de reforço do terapeuta. Uma reação opaca do terapeuta tende a ser desprovida da emoção e espontaneidade que geralmente servem como reforçadores em relações mais
próximas. Do ponto de vista comportamental, isso poderia ser contraterapêutico, pois as reações normais do terapeuta são vistas como o agente primário de mudança. De acordo com a FAP, as reações do terapeuta deveriam ser, ora
amplificadas (como quando o terapeuta tem uma reação positiva ao cliente, porém muito sutil para ser notada), ora moderadas (pois pode sobrecarregar). Em resumo, a nossa posição é a de que a transferência é um compor-tamento operante que ocorre em razão da similaridade entre a atual situação (que inclui o terapeuta e a relação cliente-terapeuta) e situações passadas que o cliente tenha vivenciado. Além disso, as reações do terapeuta são contingentes às respostas do cliente e poderão ter efeitos reforçadores. Finalmente, como um operante, não há
garantias de que o problema ocorrerá durante a sessão. Essa visão de transferência oferecida pela FAP tem a vantagem de sugerir suas causas, sua relação com os problemas diários do cliente, e como são afetados pelo processo terapêutico.
A Aliança Terapêutica Além da transferência
,
considera-se aliança terapêutica um outro
importante componente da relação cliente-terapeuta. A aliança terapêutica é importante por ser considerada saudável ou "boa", em contraste com a transferência que normalmente é considerada neurótica ou "ruim". De uma maneira não muito precisa, a aliança terapêutica corresponde ao CRB2, enquanto transferência corresponde ao CRB1. Como é característico de todos os conceitos psicanalíticos, existem numerosas e conflitantes visões a respeito da aliança terapêutica. Examinaremos dois temas centrais, apresentaremos uma interpretação comportamental e então observaremos as implicações clínicas. A aliança terapêutica era considerada por Freud a força motivadora primária por trás do tratamento. Isso explica os aspectos de colaboração" da relação terapêutica e é indiferenciável da transferência não-sexual e positiva" (Paolino, 1981, p. 100). Presumimos que os aspectos colaborativos a que se faz referência envolvem comportamentos do cliente tais como, ir a uma sessão mesmo quando prefere não ir conversar com o terapeuta mesmo quando isso é muito difícil, e seguir as regras do terapeuta mesmo quando são desagradáveis. Além disso, ao descrever esses comportamentos como não-sexuais eles seriam "
"
,
,
,
Psicoterapia Analítica Funcional
197
considerados normais ou saudáveis. Assim
,
um analista que seguisse essa visão
teria o comportamento governado por regra de examinar cada reação do cliente
a fim de ver se é problemática (transferência) ou colaborativa (aliança)
,
e de
"
estar procurando sempre por um bom" ou por um "mau" comportamento
.
Sucessivamente, isso levaria o analista a reagir naturalmente aos comportamentos classificados como aliança terapêutica por meio de reforçamento positivo, ,
fortalecendo-os desse modo. Nós vemos isso como um efeito positivo pois o terapeuta está respondendo até certo ponto, de acordo com as maneiras requeridas peias Regras 1 (Prestar atenção aos CRBs) e 3 (Reforçar CRB2), da FAP. ,
,
No entanto, efeitos negativos podem ocorrer em razão da natureza nãocontextual da definição de aliança terapêutica. Por exemplo é possível que, diante de algumas circunstâncias, o atraso de um cliente a uma sessão ou sua recusa em fazer associações livres possa ser considerada uma melhora que precisa ser ,
,
,
reforçada. Este pode ser o caso de um cliente extremamente passivo ou compulsivo cuja melhora pode ser punida, se o terapeuta interpretar seu comportamento de não-obediência como problemático, por não ser aliança terapêutica
.
O segundo tema envolvendo aliança terapêutica gira em torno da
habilidade do cliente de envolver-se em auto-observaçao. Por exemplo a visão de Sterba (1934) da aliança terapêutica envolvia uma das duas partes do ego. Uma parte (defensiva) é governada por forças repressivas e instintivas que interferem na terapia, enquanto que a outra parte (aliança terapêutica) é realista ,
,
procura entendimento, mudança e crescimento psíquicos. De igual modo, Paolino (1981) descreveu uma característica da aliança terapêutica como sendo "um acordo entre terapeuta e paciente de observarem o funcionamento psíquico do paciente e o seu comportamento, afim de obter o entendimento dos determinantes de tal comportamento" (p. 100). Essas noções têm como tema o cliente não apenas agindo, mas também distanciando-se e observando essas ações. Mais adiante, uma vez que essas auto-observações acontecem, o cliente é capaz de
descrever o que aconteceu a partir de uma perspectiva histórica. Por exemplo, o cliente pode ter uma explosão de raiva em relação ao terapeuta pelo fato deste não ter respondido a uma questão, mas pode também observar e descrever essa explosão como um ato de irritação baseado no fato de que seu pai nunca respondia a suas questões por considerá-las tolas. Essa segunda visão de aliança terapêutica poderia funcionar como regra que levaria o terapeuta a ser vigilante, a encorajar e a reforçar naturalmente os comportamentos do cliente de se auto-observar e de descrever as causas do que
foi auto-observado. Tal comportamento poderia ter vários efeitos clínicos
198
Capítulo 7
positivos, como, por exemplo, distanciar-se e observar a si próprio, o que é parte do CRB3. Conforme descrito no Capítulo 2, os melhores CRB3s envolvem a observação e a descrição do próprio comportamento. Esse mesmo comportamento dá início à formação das próprias regras (Capítulo 5) e ao desenvolvimento do "self, (Capítulo 6). Assim, auto-observação e descrição contribuem para uma grande melhora em vários aspectos da vida de uma pessoa.
Todavia, é provável o surgimento de efeitos desagradáveis em razão de não se enxergar auto-observação e autodescrição como comportamentos aprendidos. Por exemplo, se eles forem vistos como funções do ego, então a atenção do analista poderá voltar-se para a mobilização dos impulsos psíquicos envolvidos no fortalecimento das funções do ego, muito mais do que simplesmente
sugerir e reforçar os comportamentos relevantes. Além disso, separar aliança terapêutica de transferência é incompatível com a noção de que comportamento é contextual e que aliança e transferência estão no mesmo continuum. Entender aliança e transferência como duas coisas completamente diferentes interferiria no processo natural de modelagem. Por exemplo, estes cinco comportamentos estão todos no mesmo continuum: (1) Eu somente reagi irritadamente com você quando disse que te odiava", (2) "Eu tenho sentimentos de ódio por você", (3) "Eu odeio você", (4) "Grrrrr" (emitir qualquer som de irritação, ódio), e (5) bater nos móveis do terapeuta. O primeiro, logicamente, seria considerado uma boa resposta de aliança terapêutica. Uma cliente com um histórico de "
*
comportamento violento, no entanto, pode ter apenas o quinto comportamento no seu repertório, revelando, desta forma, falta de aliança terapêutica. Partindo da perspectiva da FAP, neste caso a ocorrência do quarto comportamento poderia ser encorajada e reforçada como um comportamento melhorado. Até agora mencionamos dois componentes da teoria psicanalítica: transferência e aliança terapêutica. Outros aspectos importantes da teoria psicanalítica tradicional podem ser resumidos brevemente: (1) um modelo de desejo é enfatizado, onde desejos instintivos e impulsos libidinosos são nossas forças motivacionais primárias; (2) o id, o ego e o superego são considerados estruturas primárias da psique humana; (3) o período edipiano é enfatizado; o desenvolvimento psicológico mais favorável está ligado a ocorrências que acontecem no quinto ou sexto ano de vida; (4) o pai ocupa um papel central, por criar medo de castração no menino e sentimento de inveja do pênis na menina e tem poderosa influência no fato da criança trabalhar com êxito ou não, o período edipiano; e (5) a ,
f
psicopatologia está relacionada a ixações psicosexuais e à incapacidade de liberar adequadamente tensões libidinosas (Eagle 1984). Ao invés de discutir neste ,
Psicoterapia Analítica Funcional
199
momento como a FAP discorda dessas suposições iremos primeiramente contrastá-las com aquelas da teoria das relações objetais e, então, comparar a terapia das relações objetais com a FAP. Finalmente iremos resumir como a FAP ,
,
,
difere de ambas, psicanálise tradicional e teoria de relações objetais
.
Relações Objetais Os teóricos das relações objetais (Kernberg 1976; Klein, 1952; Kohut, 1971; Mahler 1952), embora se considerem psicanalistas, propuseram uma revisão dos importantes aspectos da teoria psicanalítica tradicional que estão listados acima. As maiores diferenças são de que na teoria das relações objetais (1) o enfoque é dado para um modelo relacional em que as relações humanas são consideradas a pedra fundamental ou base da existência; entender como os relacionamentos são intemalizados e como eles se transformam em uma noção do "self' ajuda a tornar mais claro o que motiva as pessoas e como elas se vêem; (2) os elementos da psique consistem em estruturas relacionais (plano representacional no qual estão as internalizações de relacionamentos); (3) o período pré-edipiano é enfatizado; acontecimentos críticos que modelam a vida das pessoas ,
,
,
"
"
acontecem dos 5 aos 6 meses; (4) a interação com a mãe é vista como modelo para todas as relações subsequentes, pois essa relação inicial ocupa um grande
espaço dos primeiros anos da vida da criança, e também por estar tão relacionada com gratificação emocional e privação; e (5) a psicopatologia se centraliza em falhas no desenvolvimento do "self, e em anomalias no processo psicológico de "
separação; uma vez que o self é construído interpessoalmente, distúrbios mentais
são equivalentes a perturbações nas relações interpessoais (Cashdan, 1988).
A seguir, está a visão da FAP das cinco diferenças entre psicanálise tradicional e relações objetais: (1) Mudar a ênfase, antes sobre os desejos, para os efeitos do relacionamento, é mais compatível com a FAP, uma vez que os relacionamentos podem ser traduzidos mais facilmente em termos de controle de estímulos e reforçamento. (2) Embora a FAP evite explicações que destaquem entidades nãocomportamentais, o que é característico de todas as formas de psicanálise, a visão que as relações objetais têm das estruturas como sendo provenientes de experiências de relacionamento, as tomam mais prontas para serem testadas em termos de fatores externos do que as estruturas do id, ego e superego. (3) A ênfase dada pelas relações objetais ao desenvolvimento do comportamento pré-verbal poderia ter alguma relação com antecedentes que são necessários para o desenvolvimento do comportamento verbal relacionado ao self (discutido no Capítulo 6). Uma análise comportamental ,
"
,
200
Capítulo 7 "
self
'
iria então incorporar essas experiências iniciais. No entanto como não há nenhum conceito de estágio crítico na FAP, tanto o ponto de vista tradicional quanto o das relações objetais são incompatíveis com a FAP nesse aspecto. (4) Na FAP, não se dá significado especial ao papel do pai ou da mãe, e não se faz diferenciação entre o papel desempenhado por pais, mães ou babás. O que importa é a natureza das interações específicas e das contingências. mais completa do
,
"
"
Entretanto, alguns aspectos da posição das relações objetais a tornam mais compatível com a FAP. Primeiro, as noções de gratificação e privação estão mais próximas dos conceitos comportamentais de reforçamento e privação o que facilita sua transposição para eventos comportamentais. Segundo gratificação e privação são noções mais abstraías de motivação do que são a ,
,
"
castração e o sentimento de inveja" do pênis, se assemelhando portanto, ao ,
reforçamento (um conceito muito abstrato de motivação). Finalmente embora discordemos da conclusão de que a mãe desempenha sempre o papel mais importante o argumento de que a criança é modelada por aquela pessoa que mais contingências estabelece é coerente com aposição da FAP. (5) O conceito das relações objetais sobre separação (visualizando a si próprio ou outra pessoa como ora totalmente bom, ora totalmente ruim) é apresentado como um processo e permite uma interpretação mais clara quando envolve processos comportamentais (tais como, ver sob controle discriminativo e lembrar) ao invés de conceitos como fixações psicosexuais e a descarga de tensões libidinosas O isomorfismo entre estados mentais e estados interpessoais também chama a atenção para as variáveis externas que constituem um relacionamento interpessoal. ,
,
.
Considerando a maior compatibilidade dos conceitos das relações objetais com a FAP, seria precoce dizer que o processo clínico pode também ser mais compatível. Conforme esperado a descrição de Cashdan (1988) de terapia de relações objetais carrega uma semelhança impressionante com a FAP: ,
"
Das várias relações que constroem a vida do paciente considerações importantes deveriam ser feitas ao relacionamento com o paciente Não somente isso acontece no fenomenológico "aqui e agora" mas também contém muitos dos elementos críticos que operam no relacionamento do paciente com outras pessoas A relação cliente-terapeuta consequentemente seria vista como uma expressão in vivo do que é patológico na vida do paciente. Se esse fosse o caso, seria razoável ,
.
.
,
,
concluir que a relação cliente-terapeuta contém o maior potencial de mudança. Ao invés de ser vista como uma maneira de produzir "insight" ,
autoconhecimento
,
ou outras mudanças "no paciente", a própria relação
cliente-terapeuta bQV£sztrzns$[mDm2mfc>££>â£i82?âMÇ<3 (p. 23). "
Psicoterapia Analítica Funcional
201
Apesar das semelhanças impressionantes aterapia das relações objetais ,
de Cashdan revela algumas divergências marcantes em relação à FAP Por exemplo, ela enfatiza o mecanismo psicológico de identificação projetiva do paciente, um padrão de comportamento interpessoal no qual o paciente manipula .
outras pessoas para que se comportem ou respondam dentro de um padrão
limitado. Identificações projetivas distorcem e enfraquecem as relações atuais do paciente e representam "esforços mal-adaptados para reparar o equilíbrio entre bondade e maldade do mundo interior" (p 56), que são originárias de relações objetais insatisfatórias históricas por natureza. Assim, o indivíduo inconscientemente projeta uma parte do seu próprio eu em outro ser humano .
,
"
,
objetivando converter uma batalha interna relacionada à maldade e à inaceitabilidade em uma outra externa" (p 57). De acordo com Cashdan a .
,
maioria das identificações projetivas incluem dependência (que induz sentimentos de cuidado nas outras pessoas) poder (que induz sentimentos de fraqueza e ,
incompetência nas outras pessoas) sexualidade (que induz desejo sexual) e ingratidão (auto-sacrifício que induz outras pessoas a serem gratas). ,
,
É desnecessário dizer que essa profusão de entidades mentais não está de acordo com o enfoque da FAP. Observando a identificação projetiva de dependência, teríamos a seguinte visão: (1) Nada é projetado para outra pessoa o cliente está reagindo de maneira dependente porque foi estimulado a fazer isso no passado, e, provavelmente, quando criança era punido se mostrasse qualquer ,
,
comportamento independente. (2) Não sucede nenhuma conversão de batalha
interna para externa; a batalha interna é um efeito colateral de respostas tanto dependentes quanto independentes, que foram punidas em períodos de tempo diferentes. (3) Ser dependente perdeu muito do seu valor passado de adaptação; a dependência agora constitui um comportamento de esquiva que impede o cliente de contatar contingências mais positivas associadas com a construção de novos comportamentos (por exemplo, ser assertivo, tomar o controle de uma situação ser capaz de dar e receber).
,
Mais importante ainda, em termos de implicações clínicas, é que entendemos que designar as identificações projetivas como comportamentos específicos (por exemplo, dependência, poder, comportamento sexual, ingratidão) tende a ser problemático. Existe um julgamento a priori que diz que, se um terapeuta responde ao comportamento do cliente com sentimentos de cuidado, incompetência desejo sexual ou gratidão, isso é um reflexo da patologia do cliente, sendo, portanto, indesejável. Como afirmamos repetidamente, os comportamentos não podem ser julgados como problemáticos fora de um ,
202
Capítulo 7
contexto; isto é, embora certos comportamentos de clientes possam ser problemáticos (CRB1), também é provável que sejam melhoras (CRB2), quando considerado o repertório atual do cliente. Por exemplo, se uma cliente evitava relacionamentos por medo de estar sendo muito dependente, então, o surgimento de um comportamento de dependência seria realmente um CRB2 e deveria ser reforçado nos primeiros estágios da terapia. Ou, se a dependência havia sido considerada como um CRB 1, então, melhoras precisam ser modeladas e reforçadas, e não punidas. Uma melhora pode ser o fato de o cliente ligar para o terapeuta uma ou duas vezes por semana, ao invés de quatro ou cinco, ou diminuir o tempo de suas ligações telefónicas para menos de dez minutos. Usar a visão das relações objetais para avaliar o comportamento como patológico pode levar à punição de comportamentos de dependência, mesmo quando eles são considerados avanços.
Em resumo, embora alguns aspectos das relações objetais sejam mais compatíveis com a visão do behaviorismo radical do que é a psicanálise tradicional tanto as relações objetais quanto a visão psicanalítica tradicional compartilham suposições fundamentais que discordam da FAP. São estas: (1) estruturas mentais causam comportamentos (adaptativos e não-adapíativos) (2) a base de nossa personalidade é formada através de importantes interações tanto com o pai como com a mãe, durante períodos críticos de desenvolvimento e (3) comportamentos específicos do cliente (separação identificações projetivas) são considerados patológicos a priori. Em contraste, a FAP (1) prioriza eventos ambientais como ,
,
,
,
causas definitivas do comportamento (2) afirma que importantes eventos modelam nosso comportamento no decorrer da vida e (3) enfatiza o significado contextual ,
,
do comportamento - que um mesmo compor-tamento pode ser patológico ou adaptativo, dependendo do contexto em que ocorre. j
FAP EM CONTRASTE COM TERAPIAS ATUAIS DO COMPORTAMENTO
A FAP difere de outras terapias comportamentais na essência do significado dado a certos aspectos da relação terapêutica Especificamente, a FAP afirma que o relacionamento terapêutico é um ambiente que pode provocar e imediatamente dar início a um comportamento clinicamente relevante Esse aspecto do relacionamento raramente tem sido mencionado por terapeutas .
.
comportamentais. Algumas exceções notáveis incluem Goldfried e Davison
Psicoterapia Analítica Funcional
203
(1976), que mostraram que o comportamento dentro da sessão poderia. eventualmente, ser útil no processo de terapia comportamental. Goldfried (1982) também chamou a atenção para o relacionamento cliente-terapeuta como aspecto primordial para o entendimento da resistência durante a terapia comportamental. Essa oportunidade terapêutica, de os problemas do cliente ocorrerem na sessão terapêutica, foi também reconhecida por Goldfried que entendia a resistência ,
como sendo
"
uma benção contraditória pois, ao mesmo tempo em que interfere no andamento da terapia, também fornece ao terapeuta amostras em primeira "
mão do problema do cliente (p. 105). Embora esses autores reconhecessem a
ocorrência dos problemas do cliente dentro da sessão e sua respectiva contribuição potencial para o tratamento, eíes também os entendiam como desempenhando um papel relativamente menor dentro dos métodos de terapia comportamental Assim, essas visões parecem ter tido pouco impacto na área. Ao contrário quando terapeutas comportamentais falam a respeito da relação terapêutica e reconhecem a sua importância, eles tipicamente se referem a tais fatores como "efeitos não.
,
"
"
o uso de um
'
específicos bom relacionamento' como base para se obter cooperação durante o tratamento ou "usar o valor de reforçamento social do terapeuta para motivar ou manter mudanças na vida diária". Mesmo tendo ,
"
considerável importância, essas variáveis não direcionam a atenção para os comportamentos clinicamente relevantes que ocorrem na sessão terapêutica, como acontece na FAP.
Essa diferença de enfoque está clara na revisão de Sweet (1984) sobre assuntos de relacionamento terapêutico apresentados por terapeutas comportamentais, que incluem fatores como o impacto do relacionamento, tempo do terapeuta, e reforçamento social. Nenhum dos estudos revisados mencionou a importância dos comportamentos-problema do cliente que ocorrem durante a sessão. Algumas vezes esses comportamentos foram ignorados, mesmo tendo atraído a atenção do terapeuta, como neste caso exemplificado por Sweet: ele descreveu uma cliente que estava com medo de progredir no tratamento, o que
era manifestado, em parte, por suas reações negativas perante os elogios do terapeuta (reforçamento social foi o procedimento empregado). O terapeuta usou "
flooding" para "superar esse impasse". Ao citar esse caso como um exemplo
de como superar uma dificuldade técnica, o "medo do sucesso" dentro do processo
terapêutico, Sweet desconsiderou a importância deste fator como uma ocorrência de um problema que tinha impacto significativo em outras áreas da vida do cliente. Além disso, não foram levados em consideração os benefícios potenciais que a superação da dificuldade técnica poderia ter tido na vida do cliente. "
"
204
Capítulo 7
A FAP se parece com o treinamento de habilidades sociais porque ela enfatiza os déficits em repertórios interpessoais como a causa dos problemas do cliente e vê o tratamento como um meio para remediar esses déficits. Entretanto, as técnicas diferem significativamente, na maneira como os déficits
de habilidade são detectados e no próprio processo de remediação. Na FAP, o terapeuta é direcionado a observar, durante a sessão, ocorrências reais de sintomas apresentados, e as variáveis que os controlam. A definição do tipo e da quantidade da melhora comportamental baseia-se no repertório existente de cada cliente. Tais comportamentos-alvo podem ser sutis e difíceis de "
"
reconhecer sem essa observação direta. Por exemplo, esta situação aconteceu
com Agnes (a cliente mencionada previamente), cuja melhora consistia em dar razões para desistir da terapia antes mesmo de tornar este fato uma realidade. Talvez o mais importante na FAP seja que uma melhora é uma mudança comportamental que ocorre sob condições de estímulos que causam os sintomas. Na verdade, a equivalência funcional entre a situação terapêutica e o ambiente natural é uma pré-condição para a FAP. Se a situação terapêutica não evoca os sintomas, a FAP não pode ser feita. Assim, no sistema da FAP, os sintomas e as ,
melhoras são definidos funcionalmente.
Diferentemente, o treinamento de habilidades sociais raramente implica observação direta dos sintomas ou das condições que os causam. Além disso, as habilidades são adquiridas sob condições obviamente diferentes das que causam os sintomas. O comportamento adquirido através de treinamento, modelagem, role-playing e ensaio comportamental, durante a sessão é funcionalmente diferente do comportamento que deve acontecer na vida real, mesmo que eles possam parecer iguais. Ignorar os aspectos funcionais do comportamento é como ignorar a diferença entre aprender a pronunciar uma frase em francês sem saber seu significado, e aprender essa mesma frase conhecendo o idioma. As frases podem parecer exatamente iguais para o ouvinte, mas elas são funcionalmente muito diferentes. Pode-se encontrar uma alusão a esse problema em uma revisão feita por Scott, Himadi e Keane (1983), da literatura que trata da generalização do treinamento das habilidades sociais. Eles concluíram que a falta de generalização demonstrável é responsável pela aceitação limitada do treinamento das habilidades sociais como forma viável de tratamento. Do ponto de vista da "
"
,
FAP, a falta de similaridade funcional entre o ambiente de treinamento e o natural,
que é típica do treinamento de habilidades sociais, não fornece nenhuma garantia de que o comportamento treinado será transferido para uma situação real e que são necessárias explicações para dar conta desses casos. ,
Psicoterapia Analítica Funcional
205
Apesar das diferenças dever-se-ia enfatizar que a FAP complementa ,
e sobrepõe-se a outras terapias comportamentais. Uma vez que a terapia compor-tamental demonstrou sua eficácia ainda é o tratamento escolhido para intervenção inicial na maioria das situações. Em contraste os dados empíricos que confirmam a eficácia da FAP ainda não foram reunidos. Por essa única ,
,
razão, faz sentido tentar a terapia comportamental como primeira intervenção e só depois complementar com a FAP, conforme for necessário.
A FAP foi desenvolvida dentro do contexto da terapia comportamental No início era usada quando esta parecia ser ineficaz. Agora a FAP está sendo .
usada em conjunto com a terapia comportamental desde o início e às vezes, torna-se o modo principal de tratamento. A FAP é facilmente integrada à terapia ,
comportamental porque muitos dos métodos desta última evocam CRBs. Por exemplo, instruções específicas sobre a tarefa de casa" são requentemente
f
"
fornecidas pelo terapeuta durante a terapia comportamental. Para clientes cujos problemas envolvem docilidade excessiva, rebeldia, culpa ou ansiedade por não corresponder às expectativas, essas tarefas naturalmente abrem uma oportunidade para a FAP.
FAP: UM RARO NICHO ENTRE A PSICANÁLISE E A TERAPIA COMPORTAMENTAL
Os métodos da FAP se sobrepõem aos métodos das terapias comportamental e psicanalítica. Para ilustrar essa posição, vamos considerar o caso de Melissa, 29 anos, que procurou terapia com o segundo autor por apresentar depressão recorrente e sentir-se arrasada em função de seu pouco valor. O seu dia-a-dia não estava funcionando bem, e a sensação era de estar
"
se
afogando Sem sentir nenhum entusiasmo pela vida, ela confessou ter considerado a hipótese de suicídio. Ela lutou contra questões do tipo: Eu valho a pena? "Consigo me perdoar? "Vale a pena alguém me amar? Notamos que ela nunca tinha tido uma relação íntima. Tradicionalmente, os tratamentos "
.
"
"
"
"
,
,
.
comportamentais evitam esses problemas pouco específicos e os deixam para terapeutas psicodinamicamente orientados. Todavia nós acreditamos que esse
tipo de problema do cliente pode ser submetido a uma análise comportamental. Muitos dos repertórios a serem modelados eram aqueles necessários a relacionamentos íntimos. Além disso, muitos dos CRBls de Melissa seriam
206
Capítulo 7
evocados somente por relacionamentos de longa duração. Devido a isso, o tratamento também foi longo - eu vi Melissa por um período superior a 5 anos. A duração do seu tratamento lembra a duração de tratamentos psicanalíticos,
porém foram usados princípios comportamentais. Em nossa opinião, os resultados foram excelentes. Ao final de 5 anos, Melissa estava em um relacionamento de compromisso e escreveu a seguinte descrição da terapia: "O que [a terapeuta] me ajudou a fazer foi dar tempo a mim mesma para cicatrizar a dor. Ela me ouviu, me confortou, me amou incondicionalmente. E, como resultado de ter dado tempo a mim mesma e ter
deixado alguém me amar, hoje eu tenho uma vida cheia de amor e esperança, diferente de qualquer coisa que eu possa ter imaginado antes". Somos a favor
das avaliações rigorosas que são características dos tratamentos comportamentais e oferecemos a avaliação do resultado acima como um método provisório No entanto, a FAP é assim como a psicanálise, um tratamento complexo e de longa .
,
duração, que não permite facilmente uma avaliação dos resultados nos moldes tradicionais.
O meu papel na terapia com Melissa foi ser uma pessoa "real" verdadeira com quem ela poderia relacionar-se e brigar. Ou seja, eu não escondi minhas emoções meus valores e nem minhas opiniões. Por essa razão, evoquei os problemas que ela tinha em formar e manter uma relação íntima Entretanto também forneci, na terapia, a oportunidade de fazer um novo comportamento surgir e ser reforçado. Os trechos seguintes são algumas das interações específicas que refíetem o processo que resultou na melhora de Melissa:
,
"
"
,
,
.
,
Trecho 1
C: Eu estou sempre nervosa perto de você sentimentos
.
Eu estou contando a você sobre meus
minha vida; sinto-me nua. Quando não digo nada, me sinto segura. Quando eu o faço, não sei prever minha reação ou a sua. Eu me preocupo com o que você irá pensar. (Esse é um CRB2 significativo, uma vez que Melissa raramente ,
relatava seus sentimentos
.
Relatos desta natureza são encorajados pela FAP e pela
psicanálise.)
T: Eu me sinto mais próxima de você quando você me deixa saber quem você é (Eu estou ampliando uma resposta específica que é um reforçador natural em potencial. Apesar de ser geralmente visto como contraterapêutico por psicanalistas e não ser normalmente utilizado por terapeutas comportamentais é recomendável fazer uso dele de acordo com as regras da FAP.) .
,
,
,
,
Psicoterapia Analítica Funcional
207
C: Eu nunca senti meus sentimentos tão próximos da superfície antes nunca os senti tão intensamente. (A Regra 4 sugere a observação dos efeitos do reforçamento Essa resposta parece refletir um resultado imediato dos efeitos reforçadores da ,
.
resposta do terapeuta.) Trecho 2
T: Como será para você não me ver por 4 semanas? (Um enfoque dado ao fato do terapeuta sair de férias é um procedimento padrão dentro da FAP e da psicanálise Embora não seja frequentemente trabalhado por terapeutas do comportamento a FAP oferece uma explicação comportamental para se fazer isso em alguns casos ) .
,
.
C: Difícil, pois me sinto muito ligada a você. Esse é o único lugar onde posso falar chorar, fazer o que quiser. O fato de não te ver por um mês é uma chance para eu tentar me relacionar mais intimamente com as pessoas de quem eu gosto (Isto é um CRB2 uma resposta importante tanto para a FAP quanto para a psicanálise.) ,
.
,
T; Eu também vou sentir saudades. (É permitido fazer isso na FAP porém não na ,
psicanálise.)
Trecho 3
C: Eu me fechei (intencionalmente) em relação a praticamente todo mundo. Eu estou caindo e não quero que eles caiam comigo. Eu não quero ser um peso. T: Você também sente isso a meu respeito? (Terapeutas do comportamento poderiam ter desafiado a idéia irracional de ser um peso e não teriam perguntado seus sentimentos a meu respeito. Psicanalistas teriam provavelmente feito o mesmo que eu. A FAP talvez tivesse feito as duas coisas.)
Trecho 4
r
T: Você realmente se abriu para mim, para você mesma e para os outros. Você saiu do período suicida, e está aprendendo mais sobre o que te coloca e te tira destes estados de espírito, está correndo mais iscos, aprendendo mais sobre o que você quer, sobre o que sente e como conversar a respeito desses sentimentos. Você está mais consciente sobre sua sexualidade. (Essa é uma interpretação que traz aspectos de interesse tanto para psicanalistas quanto para terapeutas comportamentais. A comparação entre o comportamento dela dentro da sessão e o comportamento que ocorre na vida real é característica da psicanálise. A ênfase dada ao relacionamento funcional entre o seu comportamento e o seu humor na vida diária é mais característica da terapia comportamental. A interpretação da FAP contém elementos de ambos.)
208
Capítulo 7
T: O que você está sentindo agora? C: Nada. [com uma expressão de desdém] T: Isso soa como um tapa na cara, sabia? (Esse comentário é uma contingência feita dentro da sessão que bloqueou a sua esquiva. Psicanalistas teriam notado o comportamento, porém provavelmente não teriam bloqueado a esquiva com uma observação pessoal.) C: Porquê?
T: Eu estou te dizendo o que penso, portanto você deve reagir de alguma maneira em relação a isso mas você simplesmente diz nada e eu não sei o que está acontecendo. (Apesar de estar utilizando as regras sugeridas pela psicanálise dentro da sessão, a interpretação é baseada em princípios comportamentais.) "
"
,
,
C: Eu voltarei em alguns minutos, [ela sai e logo retorna] Eu simplesmente me fechei fiquei realmente assustada. O que aconteceu de mais importante na minha vida ,
este ano foi como eu tenho deixado você entrar nela, eu nunca me senti tão
fortemente amparada por ninguém antes. É assustador te dizer isso. (Note que isso é um CRB2.)
T: Me sinto mais próxima de você quando você me diz o que te assusta. (Novamente isso é uma ampliação de uma resposta pessoal que serve como reforçador natural.)
Outros tipos de intervenções feitas por mim incluíram ajudar Melissa diretamente na sua procura por um emprego analisando criticamente seu currículo, revisando seus formulários de pedidos de emprego e ensinando a ela técnicas de relaxamento para combater a ansiedade em relação à entrevista. Todas estas atividades são normais para terapeutas comportamentais porém são evitadas por psicanalistas. A FAP fornece uma razão para explicar como e quando a abordagem da terapia comportamental é apropriada. E também explica quando a passividade psicanalítica seria mais eficaz. ,
,
,
esperamos que a FAP possa mostrar as falhas e ainda incluir os melhores aspectos tanto da terapia comportamental quanto da psicanálise. Os benefícios e as desvantagens da integração das abordagens comportamental e psicanalítica foram discutidos por Messer (1983 1986). Para alguns, as Em resumo
,
,
desvantagens são os compromissos exigidos para integrar a ênfase na precisão científica parcimônia, e melhora da terapia comportamental, com a ênfase psicanalítica em explorações em aberto e na compreensão de cognições, comportamento e afeto. Com o desenvolvimento promissor a FAP parece oferecer um meio de integração que poderia minimizar estes compromissos ,
,
.
8
Reflexões sobre ética, supervisão pesquisa e temas culturais
,
Neste último capítulo, discutiremos alguns temas éticos existentes na condução da psicoterapia analítica funcional (FAP). Descreveremos como os princípios da FAP podem ser aplicados ao processo de supervisão. Em seguida enfocaremos a importante questão: Onde estão os dados", e nossas idéias não convencionais de como proceder na coleta destes dados. Finalmente, para sermos realmente diferentes, discutiremos tópicos tais como fastfood, espiritualidade, e de que forma os princípios que são a base da FAP podem ser ampliados para abranger problemas enfrentados pela nossa cultura.
,
"
TEMAS ÉTICOS
Códigos como Os Princípios Éticos dos Psicólogos (APA, 1981) e livros como Ética na Psicologia (Keith-Spiegel e Koocher, 1985) oferecem padrões profissionais que pretendem orientar clínicos em sua conduta ética. Para aumentar essas orientações (regras), selecionamos um número de temas 1
rv
t i
*
*
para discussões adicionais.
209
210
Capítulo 8
Antes de prosseguir, no entanto, temos algumas palavras a dizer sobre a ética na perspectiva comportamental, baseadas, em parte, em Zuriff (1987) e Skinner (1974). Um determinado evento pode ser um reforçador para: 1) o comportamento do cliente, 2) o comportamento do terapeuta, 3) o bem estar dos membros do grupo profissional, 4) o bem estar dos membros da sociedade como um todo, e 5) a sobrevivência da cultura. Os problemas éticos ocorrem quando os reforçadores a longo prazo são positivos para um ou mais de um desses cinco grupos, mas não para todos. Posteriormente, em uma seção sobre problemas culturais, faremos menção ao tema do conflito entre os reforçadores individuais e a sobrevivência da cultura. Embora não seja discutido aqui, tanto algumas das orientações éticas da APA quanto Keith-Spiegel e Koocher se referem às contingências conflitantes para o terapeuta individual e o grupo profissional De fato, a definição de ética de Keith-Spiegel e Koocher, um conjunto de orientações para a conduta, essencial para manter a integridade e coesão da profissão (1985, p. XIÍI), salienta a importância dos reforçadores para o grupo profissional em geral. Acreditamos, no entanto, que as contingências do terapeuta e do cliente que conflitam são as fontes mais importantes de problemas éticos. Por conseguinte, salientamos essas questões nesta seção e em nossas discussões sobre reforçamento arbitrário no Capítulo 1 e na Regra 3 do Capítulo 3. "
"
Como os clientes frequentemente nos procuram sofrendo e com necessidade de conforto e orientação eles são particularmente sensíveis à ,
,
influência do terapeuta. Os psicoterapeutas estão na posição de auxiliar a produzir grandes mudanças nesse período tão vulnerável da vida dos clientes, mas o contrário
a possibilidade de prejudicar, também existe. As questões que levantamos são relevantes para o terapeuta de qualquer orientação teórica mas algumas são particularmente relevantes para a FAP devido à potência de seus procedimentos. Discutiremos algumas precauções para auxiliar a diminuir a possibilidade de que a FAP seja usada para maltratar ou explorar clientes. ,
,
Proceda cuidadosamente
As variáveis controladoras existentes na sessão terapêutica podem ser muito poderosas. Os procedimentos da FAP tendem a produzir reações emocionais intensas e efeitos reforçadores que são associados com relacionamento íntimo. Por causa disto a FAP pode ser muito benéfica para o cliente afetando amplos repertórios. Por exemplo durante a FAP, o cliente pode aprender pela primeira vez a confiar em outro ser humano. No entanto, essas mesmas variáveis ,
,
Reflexões
211
controladoras presentes na sessão podem ser extremamente aversivas e produzir efeitos prejudiciais para o cliente, como intenso afeto negativo e repertórios associados de fuga e esquiva. Assim o cliente pode abandonar a terapia e tornarse um ermitão porque o baixar a guarda" que acontece quando uma pessoa ,
"
confia pode evocar esquiva e fuga acompanhada de dor. Visto que é comum o CRB1 ser um comportamento controlado aversivamente, é necessário, requentemente que exista alguma aversividade f
,
para: 1) evocar o CRB que é requerido para a FAP, e 2) bloquear a esquiva que se segue. Embora a pouca aversividade atrapalhe o progresso porque a esquiva do cliente é suficientemente reforçada na sessão muita aversividade pode ser ,
sufocante e imobilizadora. Os clientes cujos comportamentos diante de estímulos aversivos são geralmente disruptivos, devem ser expostos à FAP com precaução Por exemplo considere o cliente que é extremamente sensível a críticas. Neste caso, quando um colega o critica por um pequeno erro ele fica emocionalmente .
,
,
desorganizado e perde vários dias de trabalho. A FAP de início, é utilizada ,
cuidadosamente com esse cliente, pois focalizar comportamentos na sessão pode parecer uma crítica indireta e provavelmente demasiada, se ocorre no aqui e agora. Geralmente, é boa política iniciar o tratamento focalizando os problemas que ocorrem fora da sessão, usando procedimentos de outros sistemas de terapia, antes de fazer alguma coisa com os CRBs ou seja, antes de focalizar a relação terapeuta-cliente. Esse procedimento a judará a desenvolver a tarefa de orientação do tratamento, fornecendo a oportunidade de terapeuta e cliente estabelecerem um método de trabalharjuntos, sem complicações adicionais oriundas de reações ,
emocionais disruptivas. Proceder cautelosamente significa também que, identificar como CRB um comportamento na sessão é uma hipótese para ser explorada, e que a relevância clínica necessita ser demonstrada e não assumida.
Evite Exploração Sexual Uma vez que focalizar o comportamento que ocorre durante a sessão intensifica os sentimentos entre cliente e terapeuta, pode acontecer como resultado uma atração sexual entre os dois indivíduos. Mesmo pensando que discutir esses sentimentos pode ser uma possibilidade de progresso terapêutico, agir é contraterapêutico e anti-ético. Uma questão semelhante existe quando o cliente tem problemas sexuais. Um terapeuta ingénuo ou "interesseiro" pode argumentar que, de acordo com os princípios da FAP, a melhor intervenção seria envolverse sexualmente com o cliente pois os comportamentos clinicamente relevantes
Capítulo 8
212
somente surgiriam no relacionamento sexual. Ao contrário, nessa situação, a melhor intervenção é a terapia sexual do cliente com uma pessoa significativa. Como sexo entre cliente e terapeuta parece ser reforçamento arbitrário fornecido pelo terapeuta, o cliente, mais cedo ou mais tarde, se sentirá explorado e traído. isto é confirmado pelo número crescente de processos por prática indevida da profissão, movidos pelos clientes contra seus terapeutas, por ter havido relações sexuais entre eles.
Esteja Alerta para Interromper Tratamentos Ineficientes A noção básica da FAP de que os CRBs ocorrem na relação terapeutacliente pode resultar na continuação de tratamentos ineficientes. Por exemplo, o cliente cujos problemas estão centrados em sua incapacidade para terminar relacionamentos destrutivos, pode também mostrar comportamento semelhante durante uma terapia ineficiente. Muitas vezes, o cliente permanece na terapia quando seria melhor terminar o tratamento ou ser encaminhado para outro terapeuta. Acrescente-se que o papel do terapeuta como especialista/autoridade diminui a probabilidade do cliente ter a iniciativa de terminar principalmente quando ele foi advertido contra deixar a terapia prematuramente. ,
Atente para Valores Opressivos e Preconceituosos *
Devido aos fundamentos do behaviorismo radical, a FAP não tem nenhum
pressuposto sexista, racista ou discriminatório; especificamente, não há modeio do que uma pessoa saudável deva ser ou de quais tipos de comportamentos
devam estar em seu repertório. O que é favorecido são os repertórios positivamente reforçados e são abandonados os controles aversivos. Portanto,
não há base teórica para decidir quais os comportamentos específicos que devem estar nos repertórios de uma pessoa baseando-se em raça, género, orientação ,
sexual, idade deficiência física, ou pertencer a qualquer outro grupo. A teoria é ,
neutra a respeito dessas questões
.
O terapeuta no entanto, como membro de uma cultura que contém formas ,
sutis, e às vezes não tão sutis de preconceitos e discriminações, pode ter valores consistentes com essa cultura Valores se referem aos reforçadores para a pessoa; ,
.
isto significa que um terapeuta sexista ou racista pode continuar a reforçar os
Reflexões
213
comportamentos do cliente que foram modelados por uma cultura racista ou
sexista. Nós acreditamos que o efeito mais prejudicial da opressão é que o acesso aos reforçadores é limitado. Por exemplo uma mulher que aprendeu a sempre concordar, devido ao treino machista não terá acesso a reforçadores que ,
,
requeiram asserti vidade, igualmente um homem que foi punido por demonstrar sentimentos, e assim evita situações evocadoras não terá acesso a reforçadores disponíveis em uma relação íntima que requeira expressão de sentimentos. É desnecessário dizer que o acesso a reforçadores é limitado quando a educação, ,
,
,
,
o emprego e as oportunidades de relacionamento são negados com base na raça género, ou em ser membro de grupos minoritários. Consequentemente, um ,
terapeuta que reforça baseando-se no sexismo ou racismo estará interferindo em repertórios que podem a longo prazo, aumentar reforçadores positivos, ,
,
comprometendo dessa forma os objetivos da FAP Esse problema existe pelo .
fato de que o viés pode ser sutil e não ser observado pelo terapeuta Como precaução contra tal viés, é recomendável ter regularmente sessões registradas .
em vídeo e observadas por indivíduos sensíveis a essas questões
.
Evite Tirania Emocional
Tirania emocional é um termo empregado por Jeffrey Masson (1988) para descrever o abuso de poder pelos terapeutas em detrimento de seus clientes. De acordo com Masson, abuso é construído dentro da própria psicoterapia porque o poder entre terapeuta e cliente não é balanceado. O poder do terapeuta estrutura a sessão terapêutica, quanto tempo ela demora, qual a sua frequência, quais os ,
comportamentos permitidos ou não durante a sessão, e quanto ela custará. Masson também duvida do valor da relação terapêutica baseado no acolhimento atenção e preocupação do terapeuta, pois essas qualidades só podem existir entre as pessoas quando a relação é entre iguais. A psicoterapia é, segundo a conclusão de Masson (p. 251), "uma profissão que depende, para existir, da miséria das pessoas e é, por sua própria natureza, corrompida e falha. ,
"
f
Os abusos mental, emocional, ísico e sexual cometidos na profissão, os quais foram documentados por Masson, são amedrontadores e graves. Suas alegações sobre a falha e a corrupção na psicoterapia requerem uma rigorosa análise por parte dos clínicos. Examinaremos os principais argumentos de sua crítica, descreveremos a visão da FAP sobre tirania emocional e sugeriremos maneiras de limitar o abuso de poder na nossa profissão.
Capítulo 8
Primeiramente, é uma auestão de valor social saber se os abusos são /
X
contrabalanceados pelos bons efeitos da psicoterapia. A resposta para esta questão será baseada em dados empíricos concernentes ao número e à gravidade dos maus efeitos em comparação com o número e qualidade dos bons efeitos. Por um lado parece que o viés de Masson compromete seriamente sua avaliação da questão empírica. Por exemplo, ele usa relatos de pacientes individuais como evidência de abuso, enquanto que, ao mesmo tempo, analisa como mito relatos de clientes individuais que apoiam o valor da terapia ("Eu morreria se ficasse sem sua ajuda [p. 241]). "
Em segundo lugar, Masson considera que uma relação "real" só pode ocorrer quando é igual. Enfatizar realidade parece muito restrito. No mundo real, relacionamentos reais são iguais em alguns aspectos e desiguais em outros. Do ponto de vista da FAP, a realidade de uma relação é definida funcionalmente. Se evoca sentimentos autênticos como raiva amor ou terror, então alguma coisa real aconteceu. Igualdade em todas as suas dimensões não é uma condição necessária para que alguma coisa real aconteça. ,
"
"
Em terceiro lugar, em termos de equilíbrio do poder nossa visão é de ,
que o desequilíbrio não pode ser considerado bom, mau, ou neutro, sem se estabelecer o contexto. Se o poder desequilibrador é terapêutico ou não depende da natureza do problema do cliente e da resposta contingente do terapeuta. Se o problema do cliente é evocado por uma diferença de poder, então a diferença do poder que ocorre na terapia pode ser uma condição necessária (mas não suficiente) para o sucesso do tratamento. Considere por exemplo, que o cliente seja incapaz de afirmar-se e que tenha sido explorado por pessoas que tem poder sobre ele (como chefes, policiais, editores e professores). Como ele tem sido incapaz de ,
aprender novas maneiras de se relacionar com as autoridades em ambiente natural
,
a terapia pode prover uma oportunidade ideal de aprendizagem para este cliente porque a diferença do poder é igual ao ambiente natural. No ambiente de tratamento a assertividade e independência do cliente poderiam ser fortalecidas se o terapeuta fosse reforçado pela melhora. No entanto se o terapeuta falha em fazer isso, e no lugar reforça a ausência de poder do cliente então existe o ,
,
,
,
abuso.
Do ponto de vista da FAP o maior abuso que pode ocorrer na terapia é ,
quando a ação do terapeuta é controlada por outros reforçadores e não pelo progresso do cliente. Na prática clínica particular, por exemplo, o pagamento ao terapeuta é contingente a manter o cliente em terapia o que, de outro lado, ,
Reflexões
215
pode ser contraterapêutico. Mais problemáticos ainda do que dinheiro são outros reforçadores possíveis para o terapeuta como a subserviência do cliente, sua admiração, civilidade paquera, masculinidade, feminilidade e assim por diante. ,
,
Somente porque esses reforçadores poderiam ser responsáveis peio comportamento do terapeuta isto não garante que assim aconteça. No entanto o problema é difícil de resolver. ,
Tendo em vista a possibilidade de abuso parece importante a monitoria ,
do processo terapêutico por colegas e supervisores usando recursos audio,
visuais. Obviamente
,
tal monitoria depende do consentimento do cliente. Além
disto, outras maneiras precisam ser encontradas para garantir a prática terapêutica: 1) bom treino clínico consciência e sensibilidade; 2) ter o comportamento exigido do cliente no seu próprio repertório; 3) ser uma pessoa ,
capaz de ser reforçada pela melhora do cliente e não por outros reforçadores contraterapêuticos. A supervisão da FAP (discutida a seguir) aplica os princípios da FAP à relação de supervisão e pode auxiliar a garantir a adequação dos ,
terapeutas à FAP.
SUPERVISÃO DA FAP
O supervisor da FAP primeiramente explica didaticamente as regras da FAP de uma forma semelhante à apresentada neste livro. Em seguida o supervisor auxilia a colocar em prática essas regras, examinando as sessões terapêuticas e oferecendo interpretações baseadas na FAP sobre a interação terapeuta-cliente. A observação direta através de um espelho unidirecional, é a melhor forma de um trabalho de supervisão, mas também são utilizados recursos audio-visuais. A eficácia da supervisão da FAP é incrementada, no entanto, se o CRB relevante para a interação terapeuta-cliente pode ser trazido para a relação supervisorsupervisando. ,
,
Por exemplo, o segundo autor estava supervisionando um aluno de pósgraduação, cujo cliente tinha dificuldades em auto-conceito e em expressar sentimentos, quando esta interação de supervisão aconteceu:
Supervisor: Eu estou contente por trabalhar com você. Eu penso que você é realmente especial e sinto uma familiaridade e tranquilidade com você que é raro eu sentir ,
com uma pessoa que eu não conheço muito bem.
Capítulo 8
216
Supervisando: Eu estou contente também. Eu saí do nosso último encontro sentindo a relação calorosa, e decidi que continuaria a sentir isso enquanto pudesse. Eu disse às minhas amigas que é desta maneira que o curso de pós-graduação deveria ser. (Alguns meses depois.)
Supervisor: Qual a semelhança e a diferença entre o nosso processo e o seu com o AVi
VV é
Supervisando: Ela e eu somos ambas fechadas, e estamos trabalhando em estar inteiras na sessão. As diferenças são que o meu relacionamento com ela é mais limitado, eu tenho certeza por mim, mas eu sinto que é limitado por ela. Eu tenho a tendência a incorporar a maneira de agir de outras pessoas. Eu quero permanecer eu mesma, mais constante. Com você, eu tenho sentimentos de intimidade e não sei o que fazer com isto.
Supervisor: Eu sinto da mesma maneira. Eu não sei se nós temos que fazer alguma coisa sobre o nosso sentimento de intimidade. Eu tenho uma tendência de me
envolver rapidamente e com intensidade em relacionamentos, oor isso eu eostaria 1
'
±
W
de aguardar e sentir a intimidade entre nós, aproveitá-la, falar sobre ela, e observar o que acontece.
Essas interações mostram como o relacionamento de supervisão pode ser um modelo do relacionamento terapeuta-cliente; ou seja, não só a relação supervisando-cliente é o foco mas existe prioridade também para o ,
relacionamento entre supervisando e supervisor. A natureza educacional da afiliação traz dimensões adicionais ao relacionamento, e um compartilhar mútuo pode acontecer entre supervisor e supervisando, que geralmente não seria possível, ou requerido, com o cliente. Uma vez que a sessão terapêutica para esse cliente do terapeuta-estudante geralmente começa com o cliente relatando como se sentiu e o que aconteceu durante a semana, frequentemente começamos a sessão de supervisão falando sobre o que sentimos naquele momento e as questões que pensamos e que debatemos. Portanto não é necessário dizer que os comportamentos clinicamente relevantes do cliente e os princípios da FAP tornam-se os pontos principais da discussão. As questões típicas do supervisor incluem: ,
l
Como você está se sentindo com essa sessão de supervisão? Como você se sente a respeito do feedback que eu dou pra você? O que você
.
quer a mais de mim? Ou a menos? (Estas questões são comparáveis às feitas pelo terapeuta ao cliente.)
Reflexões
217
2.Quando
o seu cliente fala de coisas que você pensa que são irrelevantes
,
quais tipos de causas múltiplas podem estar operando e que expressam preocupações do cliente? De que modo você pode utilizar seus sentimentos de raiva e aborrecimento como estímulos discriminativos
para auxiliá-lo a ser um melhor terapeuta? 3.Quais
são seus sentimentos a meu respeito? Quais são seus medos e
expectativas sobre o nosso relacionamento? (Essas são questões que se comparam às formuladas pelo terapeuta ao cliente.) 4
.
Há algumas semelhanças entre os assuntos do seu cliente e os seus?
5 Eu percebi
que você não parece diferente quando seu cliente chora O que você sente quando ele está chorando? Quais são seus sentimentos
.
.
sobre o choro? ó Eu
gostaria que você fizesse uma lista sobre o que você sente ser adequado querer no nosso relacionamento, e o que você considera não ser adequado querer. (Essa proposta é semelhante àquela que o supervisando deveria dar ao seu cliente.)
.
Então, em supervisão, não somente a FAF é ensinada didaticamehte mas principalmente é ensinada experiencialmente. O relacionamento na supervisão é difícil e desafiador, embora reforçador, para o terapeuta-estudante que necessita desenvolver habilidades de intimidade, ser aberto, vulnerável, honesto, consciente e presente. Mesmo supondo que os tópicos podem algumas vezes se sobrepor ao que é analisado em terapia pessoal, ela difere da supervisão, ,
pois nesta, o foco é o desenvolvimento das habilidades clínicas do supervisando, não existindo um foco específico para as questões pessoais do supervisando, mas principalmente uma exploração de como estas questões pessoais têm impacto no seu trabalho.
PESQUISA E AVALIAÇÃO É bem conhecido o comprometimento dos behavioristas com a coleta de dados. Então, a questão que podemos levantar é, "Há um resultado sistemático ou processo de coleta de dados no qual a FAP se baseia? Infelizmente, até o momento, não há este tipo de dado. A FAP, no entanto, se baseia em inúmeros dados e estudos de laboratório no que se refere a conceitos básicos como reforçamento, esquiva, controle de estímulo e regras. Porém, nós ampliamos
Capítulo 8
218
estes conceitos para áreas que ultrapassam as condições do laboratório e a FAP passou a ter a posição de uma hipótese. Muitas sub-hipóteses específicas, implícitas na FAP, podem ser testadas empiricamente. Por exemplo, existe a hipótese de que os resultados são melhores se: 1) a terapia é estruturada para evocar comportamentos clinicamente relevantes do cliente na sessão; 2) o terapeuta repara no comportamento problema e no comportamento relacionado ao objetivo de seu cliente, à medida em que ocorrem durante a sessão; 3) o terapeuta tem em seu repertório o comportamento final desejado; 4) as reações do terapeuta modelam e reforçam melhora do cliente; e 5) o terapeuta oferece interpretações sobre o comportamento do cliente que incluem estímulos discriminativos, o comportamento interpretado e o reforçamento. Essas sub-hipóteses podem ser avaliadas empregando-se estratégias convencionais de pesquisa, com pelo menos dois grupos de sujeitos escolhidos ao acaso, um dos quais recebe a FAP enquanto o outro não. As variações destas estratégias tradicionais de pesquisa podem incluir grupos de controle adicionais e avaliação e comparação dos grupos, fatores do sujeito e do terapeuta, e tipos de problemas em tratamento. No entanto, considero que questões práticas tornam quase impossível o emprego de uma abordagem de pesquisa convencional. Por exemplo, a FAP é um tratamento longo, que requer um treinamento intenso dos terapeutas. Assim o tempo e os recursos necessários para esse estudo são imensos. Como a FAP está em seus estágios iniciais de desenvolvimento o comprometimento de verbas para estes estudos é ainda prematuro e sem justificação. Mesmo que estes obstáculos possam ser transpostos, ainda há razão para questionar a necessidade deste tipo de estratégia de pesquisa para os nossos objetivos atuais. Na próxima seção, analisaremos as falhas dos paradigmas de pesquisa convencional e procuraremos sugerir métodos alternativos para a coleta de dados que influenciem a prática clínica. ,
,
,
,
Falhas dos Modelos Convencionais de Pesquisa Examinando problemas ligados ao planejamento convencional de pesquisa
,
nossa primeira questão é
" ,
Qual é o objetivo da pesquisa clínica?" De uma
perspectiva funcional, estamos perguntando, "Quais são as contingências que mantêm os pesquisadores empregando um método específico de pesquisa?"
Embora as contingências sociais incluam solicitações para publicação
avanço
aceitação por outros pesquisadores e agências inanciadoras, a razão f
na carreira,
,
Reflexões
2X9
principal pela qual os pesquisadores clínicos fazem pesquisas é para descobrir e melhorar métodos de tratamento que existem na prática clínica Desta forma o clínico atuante é o consumidor da pesquisa clínica. O fato de este utilizar ou não o produto da pesquisa ica sendo o reforçador final que supostamente mantém as atividades do pesquisador. .
f
,
O que supõe-se que aconteça e o que realmente acontece não são a mesma coisa. De acordo com Barlow um pesquisador clínico renomado, a pesquisa clínica influencia pouco ou nada a prática clínica (1981 p.147). Isso é verdadeiro mesmo para os terapeutas comportamentais. Como pode isso acontecer? Nos últimos trinta anos, nossa disciplina tem tido o objetivo de integrar a ciência e a prática, e milhares de dólares têm sido gastos com estas pesquisas. A raiz do "
,
,
problema, de acordo com Barlow, está na limitação das estratégias de pesquisas convencionais empregando pesquisas de comparação entre grupos. 4
As exigências para fazer este tipo de pesquisa frequentemente excluem a possibilidade do clínico utilizar os resultados obtidos. Por exemplo, as estatísticas inferenciais, marca da pesquisa convencional, têm sido problemáticas. Para obter resultados de significância estatística, os pesquisadores têm que manter no mínimo a variabilidade entre os sujeitos, através da seleção de grupos de sujeitos tão semelhantes quanto possível. Isto significa que certas categorias de sujeitos são excluídas, tais como 1) os muito jovens, 2) os muito velhos, 3) os homens (ou as mulheres), 4) os que estão ingerindo medicação, 5) aqueles que têm dificuldade em falar o idioma local, 6) os que têm problemas emocionais além daqueles que estão sendo estudados, ou 7) que tenham problemas de saúde graves. Além disto, as análises estatísticas inferenciais exigem grande número de sujeitos. Assim os únicos problemas clínicos que são estudados são aqueles de grande número de pessoas. A pesquisa convencional é facilitada se um problema objetivo e específico, como agorafobia ou disfunção sexual, é estudado quando ,
está disponível uma medida confíável do resultado. Frequentemente, os sujeitos de pesquisa precisam concordar em esperar pelo tratamento, coleta de dados, entender e assinar uma forma complexa de consentimento informado, ser atendidos por terapeutas-estudantes, se comprometerem a concluir o tratamento, lerem o idioma local, não serem suicidas, e assim por diante. Como os clientes atendidos na prática clínica não são selecionados, raramente eles são os mesmos da pesquisa convencional.
Consequentemente, os resultados obtidos podem não se aplicar a clientes de consultório. Na prática clínica, os clientes frequentemente apresentam inúmeras
Capítulo 8
220
queixas vagas e subjetivas. Uma vez que os sujeitos de pesquisa tendem a ter problemas objetivos e específicos, e as informações sobre os sujeitos individuais não são disponíveis, o clínico pode não encontrar estudos sobre problemas encontrados em sua prática. Em uma palavra, as estratégias de pesquisa convencional produzem informações pouco relevantes para a prática clínica. Outra crítica referente às estratégias de pesquisa convencional é que elas não levam a inovações na teoria ou tratamento (Mahrer, 1988). Assim,
uma outra razão pela qual os clínicos não utilizam na prática as descobertas da pesquisa, é que elas contribuem pouco com novidades. Podemos, no entanto, dar crédito às metodologias das pesquisas convencionais ao considerar que estão envolvidas em auto-exame, colocando seus métodos em questão (Barlow, 1981;
Greenberg & Pinsof, 1986; Rice & Greenberg, 1984). Porém, as alternativas são pouco claras. Na próxima seção, lidaremos com esse problema funcionalmente, observando o que influencia a prática, fazendo então generalizações sobre os dados considerados.
Métodos Alternativos de Coleta de Dados que Influenciam a Prática Clínica
Provavelmente a experiência clínica pessoal figura como primeiro item da lista de todos os terapeutas ao considerarem as influências em seu repertório clínico. Joseph Matarazzo, um pesquisador clínico proeminente, afirma que "mesmo depois de quinze anos, pouco da minha pesquisa afeta a minha prática. A ciência psicológica per se não me orienta em nada. Eu continuo a ler avidamente, mas é de pouca ajuda prática. Minha experiência clínica é a única coisa que me ajudou na minha prática até hoje (itálico adicionado) (citado em Bergin & Strupp, 1972, p. 340). "
Muitos fatores contribuem para a forte influência da experiência pessoal. O mais importante é que o clínico é exposto a um conjunto de dados brutos, ou seja, tudo o que foi dito, o tom de voz do cliente, sua expressão facial, postura, caretas, atividade motora, bem como às condições externas, como tempo, crise internacional epidemia de gripe e assim por diante. Para serem reais, os dados brutos estão sujeitos a viéses (comportamentos de ver e lembrar) do clínico, ,
mas nossa impressão é a de que os clínicos lembram uma quantidade surpreendente de informações detalhadas do período da terapia do cliente. Talvez esta grande quantidade de informações seja retida porque o envolvimento do ,
clínico no processo é comparável ao lembrar em detalhes dos acontecimentos existentes no decorrer de nossas vidas.
Reflexões
221
Não importa a quantidade que um clínico vê e lembra pessoalmente, sobre a ,
terapia de um indivíduo ela excede largamente os dados existentes em escalas, avaliações, resultados de testes e descrições fornecidas em relatórios de pesquisas ,
,
convencionais, mesmo os mais minuciosos. Essas numerosas observações têm vantagens importantes
.
Primeiro
ela sensibiliza o terapeuta para tendências e classificações de grande número de variáveis, as quais em contrapartida facilitam o acesso a ,
mudanças. Por exemplo a risada autêntica de um cliente durante a sessão de ,
terapia pode ser um indicador de uma mudança significativa observada pelo terapeuta mesmo pensando-se que a ausência de risada não foi obieto, ,
anteriormente, de sua atenção. De fato no decorrer da terapia, o terapeuta coleta dados de linha de base sobre um grande número de variáveis permitindo detectar ,
,
mudanças significantes. Essas mudanças seriam perdidas em estudos de pesquisa convencional,
porque os dados são coletados para um número limitado de
variáveis pré-selecionadas.
Segundo, há abundância de informações sobre a história do cliente as suas interações no cotidiano e outras características que são baseadas na ,
*
,
entrevista inicial e na relação terapêutica em curso. À medida que o terapeuta obtém experiência com mais clientes novos clientes podem ser comparados em profundidade com os anteriores. Além disso, é útil a forma como essas comparações são feitas, avaliadas e modeladas no decorrer do tempo. ,
Terceiro, há um grande conjunto de informações a respeito de como aplicar a própria intervenção uma vez que o terapeuta já fez isso, e a observou em primeira mão. Os efeitos das intervenções são interpretados dentro do contexto da terapia, incluindo as características do cliente a natureza da relação terapêutica até aquele ponto, a base das classificações e tendências para vários comportamentos do cliente e a história de intervenções prévias com o cliente. ,
,
,
Quarto, são feitas descobertas. Por estar envolvido naquilo que acontece de momento a momento, no decorrer da terapia, o terapeuta observa os efeitos de inúmeras intervenções, intencionais ou acidentais, podendo assim fazer descobertas.
Quinto, ameaças à validade interna são consideradas. Validade interna
se refere à exclusão das hipóteses alternativas de porque uma intervenção funciona. Por exemplo, se o terapeuta oferece uma interpretação e o cliente melhora nas semanas seguintes a questão da validade interna trata da possibilidade de que outros fatores sejam responsáveis pela melhora. ,
222
Capítulo 8
Experimentos, através de grupos de controle, são a maneira mais fácil de excluir as ameaças à validade interna, mas, como foi discutido anteriormente, falta relevância a eles (validade externa). Não estamos sugerindo que os terapeutas digam a si mesmos, "eu agora vou avaliar sistematicamente a validade interna da minha interpretação, decidindo pela eliminação das hipóteses contrárias". Mas, dependendo do treino e da base, o terapeuta pode considerar outros fatores
f
que podem ter produzido o efeito. Esses fatores podem incluir o que está acontecendo na vida do cliente no momento, (p.ex., o cliente finalmente encontroa trabalho) e o efeito atrasado de intervenções anteriores. O terapeuta poderá basear-se na idedignidade da informação disponível e talvez perguntar ao cliente sua opinião de porque ocorreu a mudança. Juntando todas essas informações o ,
terapeuta decide, com vários graus de confiança subjetiva se a interpretação e/ ,
ou outros fatores causaram a melhora.
Certamente, o problema do viés pessoal pode influenciar o processo Muitos terapeutas levariam esses viéses em consideração. Para o bem ou para o mal, o terapeuta confia nas suas próprias observações e o problema evidentemente não é a falsificação de dados. Cada terapeuta leva em consideração a ameaça à validade interna, em um nivel que satisfaz o critério particular de cada um De qualquer modo, esse critério pessoal não é nem mais nem menos igoroso quando aplicado para avaliar a apresentação de dados de outros (incluindo os estudos da pesquisa convencional). Todos esses fatores, acreditamos, contribuem para o poder da experiência pessoal de influenciar a prática clínica. .
,
r
.
A idéia de que a validade interna pode ser avaliada sem fazer um experimento foi discutida por Kazdin (1981) em um trabalho sobre metodologia ,
do estudo de caso. De acordo com Kazdin o estudo de caso teve um tremendo "
,
impacto na psicoterapia" (p. 184) Assim, estudos de caso atingiram o objetivo de pesquisa clínica. Entre os casos históricos influentes temos o do pequeno .
Hans, Anna O. e pequeno Albert. Baseando-nos no estudo de Kazdin, ,
identificamos uma série de dimensões que caracterizam a influência nos estudos
de casos. Essas dimensões têm muito em comum com as características que tornam uma experiência pessoal passível de influenciar: 1
.
Ocasiões de diagnóstico. Quanto maior o número de ocasiões de
avaliações, mais fácil se torna construir uma inferência válida (a experiência pessoal é composta de um gigantesco número destas ocasiões). 2
Projeções passadas e futuras O diagnóstico continuado permite a avaliação de tendências e requências básicas as quais por sua vez permitem .
f
.
,
Reflexões
223
projetar o que acontecerá no futuro sem a intervenção. Esta intervenção se mostra eficaz à medida que o comportamento se desvia das projeções futuras Essas projeções futuras também podem ser baseadas em descrições dos problemas do cliente, sua história e vida diária. Por exemplo, o relatório completo .
da história de relacionamento de um cliente que consistentemente detalha ,
características de um transtorno de personalidade grave borderline levaria a projetar que esses padrões persistirão no futuro. Se esse padrão existente muda
depois da intervenção, aumenta a confiança de que a intervenção foi responsável pela melhora. 3
0 tamanho e a imediaticidade do efeito. Quanto mais amplo e imediato for o efeito mais fácil atribuir esse efeito a uma intervenção específica. A observação constante a sensibilidade à requência básica e à mudança que a experiência pessoal promove conduzirão à detecção de efeitos maiores e .
,
f
,
,
imediatos.
0 tipo de dado. Quanto mais próximo o dado estiver da observação bruta, mais ele influencia a audiência. Frequentemente tais,descrições são transcritas ou parte do material original é incluído nos estudos de caso. Eles são próximos dos dados brutos obtidos na experiência pessoal. 4
.
,
Descrições do cliente. Além das projeções futuras ressaltadas as informações detalhadas sobre o cliente permitem aos clínicos comparar os estudos de casos dos sujeitos com aqueles dos clientes que eles conhecem. Desta forma, pode ser avaliada a relevância bem como a credibilidade de um estudo de caso. 5
.
6
.
,
Descrição da intervenção e contexto. Os estudos de casos têm mais
influência quando eles incluem descrições do que foi feito, os efeitos das intervenções anteriores, as condições que levam ao tempo exato da intervenção e a troca nas interações que a intervenção produziu. Novidade. Desnecessário dizer que os casos são mais importantes quando eles têm algo novo a apresentar. 7
.
8 Âvaliação
das ameaças à validade interna. Essa avaliação pode ser conseguida de várias maneiras. A reputação do autor pode ser importante. Por exemplo, se um autor é conhecido pelo seu pensamento crítico, abertura e consciência sobre viéses de interpretação, e sensibilidade às questões de validade .
interna, o caso tem mais influência. Os detalhes do caso, incluindo a atenção
concedida a uma hipótese discordante, são outras maneiras de considerar a validade interna.
224
Capítulo 8
A observação local intensa proposta por Cronbach (1975) foi sugerida por Barlow (1981) como uma alternativa às estratégias da pesquisa convencional. Esse método tem pontos em comum com a experiência pessoal e com os estudos ,
de caso influentes. Sobre a observação local intensa. Cronbach diz: Um observador que coleta dados em uma situação específica está na posição de avaliar a prática ou as propostas naquele local, observando os efeitos no contexto. Na tentativa de descrever e relacionar com o que aconteceu, ele dará atenção a quaisquer variáveis que foram controladas
.
Mas ele dará atenção igual a condições não controladas às características pessoais e aos eventos que ocorreram durante o tratamento e as ,
mensurações. Na medida em que ele passa de uma situação para outra
,
sua primeira tarefa é descrever e interpretar o efeito novo em cada local talvez levando em consideração fatores únicos daquele local... Conforme ,
os resultados acumulam, a pessoa que procura o entendimento não medirá esforços para investigar como os fatores não controláveis poderiam ter causado as ramificações locais a partir do efeito modal. Isto é, a generalização ocorre tardiamente e a exceção é considerada ,
com tanta seriedade quanto a regra (p. 124-125)
.
Voltando agora para a coleta de dados da FAP o objetivo da pesquisa neste momento seria influenciar a prática clínica Nosso sistema terapêutico ,
.
precisa ser mais desenvolvido para que orientações adicionais sejam fornecidas ao terapeuta de modo que ele possa detectar e reforçar adequadamente os CRBs Assim, necessitaríamos de dados cujas características competissem com a .
experiência pessoal como aqueles encontrados em estudos de casos relevantes ,
e na observação local intensa. Estes dados deveriam conter descrições do que realmente acontece na interação terapêutica e o maior número possível de informações contextuais. A apresentação de material transcrito é muito próxima do dado bruto e dá ao consumidor a sensação do que realmente aconteceu assim como esclarece se as conclusões do pesquisador são razoáveis O emprego de recursos audiovisuais durante o tratamento facilita bastante esse processo ,
.
.
Neste livro, izemos pequenas tentativas nessa direção apresentando o material transcrito para ilustrar procedimentos ou fenómenos Uma apresentação completa deveria incluir material transcrito que: 1) fosse uma amostragem de f
,
.
todo o tratamento avaliando as mudanças no decorrer do tempo; 2) fornecesse as bases para os resultados da avaliação; 3) se interessasse pela avaliação da validade interna Atualmente .
,
estão sendo realizados estudos deste tipo.
Reflexões
225
PROBLEMAS CULTURAIS DECORRENTES DA
PERDA DE COMUNICAÇÃO O tema central da FAP é a importância da comunicação Quanto mais .
o cliente estiver em contato com os estímulos existentes na relação terapêutica que envocam CRBs, mais melhoras ele apresentará. Uma falta de comunicação ocorre devido à esquiva dos aversivos. Assim há um aumento inicial da aversividade quando a comunicação ocorre mas ao longo do tempo, ela é reduzida pelo aumento de reforçamento positivo. ,
,
O tema do aumento de comunicação tem ficado limitado à psicoterapia Contudo, apsícoterapiaéum traço cultural ocidental disponível principalmente para aqueles que têm a sorte suficiente de não precisar lutar para conseguir satisfazer necessidades básicas de alimento e abrigo. Quando sentamos em nossos consultórios fazendo a FAP, parece que simplesmente ajudar pessoas a conduzir suas vidas de maneira mais feliz e produtiva não é suficiente em um mundo que deve enfrentar a pobreza, o crime, a fome, o consumo de drogas a poluição, a .
,
,
devastação ambiental, a diminuição da camada de ozônio e a possibilidade de destruição nuclear. E um tempo no qual ambos, terapeuta e cliente, precisam dedicar mais esforços para buscar maneiras de lidar com estes problemas importantes. Talvez, uma psicoterapia com uma visão social possa estender o tema da comunicação para além das questões interpessoais e focalizar como a esquiva de contingências que estão operando mais profunda e obscuramente na cultura afeta os problemas sociais. ,
Num programa de televisão sobre a vida espiritual na índia, o americano que o narrava estava em uma rua, numa cidade sagrada, no meio de uma multidão de pessoas que tinham claramente pouca riqueza material. Ele afirmou que os ocidentais que olhassem para as pessoas dessa cultura as considerariam atrasadas e anacrónicas. Ele, então, filosofou que talvez fôssemos nós, do Ocidente, os
atrasados, porque perdemos o contato com as coisas mais profundas em nós. Concordamos que nós, da cultura ocidental, perdemos contato mas não com o que é mais profundo em nós mesmos. Perdemos contato com aquilo que está fora de nós. Essa perda de comunicação contribuiu diretamente para os grandes problemas que foram enumerados acima. Além do mais, nós pensamos que alguns estilos de vida orientados para aspectos menos materialistas e mais espirituais podem aumentar a comunicação e talvez, conduzir a algumas soluções para nossos problemas mundiais.
Capítulo 8
226
Para ilustrar nossos pensamentos sobre estes tópicos, gostaríamos de examinar o hábito ocidental de comer carne. Mas, antes de fazer isso,
necessitamos salientar que a simples menção deste tópico pode evocar reações negativas em alguns de nossos leitores. Para algumas pessoas, essa reação negativa pode resultar em uma inclinação para esquivar ou francamente evitar nossa discussão. Nossa escolha de comer a carne de animais mortos, como um
tópico de discussão, pode ilustrar experiencialmente para alguns leitores o conceito de esquiva de comunicação. Salientamos que não estamos defendendo uma posição a favor ou contra comer carne. Estamos simplesmente discutindo o tópico para demonstrar como a nossa sociedade ajuda seus cidadãos a evitar a comunicação de uma maneira que pode resultar em nosso próprio prejuízo. Quando pedimos um hamburguer, ele é servido em uma caixa de plástico e nós o pagamos com dinheiro. Ele tem um sabor agradável, e somos reforçados
por comprá-lo e comê-lo. No entanto, nós perdemos o contato com as contingências mais profundas e secretas. Nossa cultura nos ensinou a evitar o fato de que o hamburguer provém da carcaça de um animal que um dia viveu. E compreensível porque isso acontece. A divisão de trabalho é eficiente, prática, e torna a nossa vida mais agradável. Seria impossível para um homem, por exemplo, criar os bois que come, construir os walkman Sony que deseja, e extrair, quando necessário, sua vesícula biliar.
No entanto, se estivéssemos mais em comunicação com todo o processo, desde o nascimento do animal até a visão das condições horríveis nas quais vive e morre, talvez não comêssemos carne. Alternativamente, demoraria um tempo para termos a certeza de que o animal a ser comido teve uma vida livre de miséria e doença, e foi abatido em condições humanas.
No livro constrangedor, Dietfor a New América, Robbins (1987) explora os efeitos menos óbvios e mais tardios do alto consumo de carne. Para mencio-
nar alguns o consumo de carne tem sido ligado a problemas circulatórios e ,
cardíacos. Além disso, a quantidade de grãos utilizada para produzir uma refeição de carne poderia ser usada para servir dez refeições. A energia e a água utilizadas na produção de carne estão onerando nossos recursos naturais e contribuindo para a poluição. Florestas umidas são cortadas, transformando-se em terra ade,
quada para o gado, com efeitos prejudiciais ao ambiente. Assim, reduzir o consumo de carne melhoraria nossa saúde diminuiria a fome mundial, e melhoraria o ,
ambiente global. Essas contingências mais tardias entretanto, são quase impossíveis de serem contatadas diretamente e por isso, não têm forte efeito emocional na maioria das pessoas. Todavia esses fatores poderiam ter um papel reforçador ,
,
,
Reflexões
227
ampliado se houvesse mais contato com o processo de produção de carne. A experiência direta com a alimentação dos animais poderia por exemplo, dar ,
,
mais sentido ao argumento referente à quantidade excessiva de grãos utilizados
.
O fator importante de nossa ilustração é que a nossa cultura nos isola do processo de produção de carne e por conseguinte, retira o poder benéfico que estas contingências poderiam ter. Da mesma maneira, nós somos afastados de outras contingências profundas. Por exemplo nós estamos resguardados dos sem-teto dos famintos, dos idosos em seus asilos, das pessoas morrendo, do tratamento de água potável do corte das árvores para fazer papel, e dos ,
,
,
,
depósitos de lixo e esgoto. Um melhor contato com estes processos embora ,
inicialmente aversivo
,
poderia também melhorar nossas vidas e trazer benefícios
a longo prazo para o planeta. A única maneira de saber se os benefícios potenciais valeriam os custos é aumentar de algum modo o contato e descobrir o que ,
acontece.
Algumas características de uma vida não materialista e espiritual parecem estar relacionadas com a nossa análise. Definiremos superficialmente este estilo de vida como aquele no qual a riqueza não é acumulada os objetos possuídos são somente de necessidade básica, e o alimento e as roupas necessárias são feitos na medida do possível, por nós mesmos. Um aspecto importante deste estilo de vida é a utilização mínima do dinheiro. Como Skinner (1986) descreveu, o dinheiro é uma fonte indireta e maléfica de separar as pessoas das consequências do que elas fazem. O dinheiro torna-se reforçador somente quando é trocado por bens e serviços, e assim está sempre um passo distante do tipo de consequências reforçadoras às quais a espécie originalmente tornou-se suscetível" (p. 569). ,
,
"
Outra característica deste estilo de vida não materialista é a ausência
de artifícios para poupar trabalho. Estes artifícios transformaram a sociedade ocidental em uma apertadora de teclas. Nós apertamos uma tecla para lavar nossas roupas, para chamar alguém ao telefone, ou para esquentar uma xícara de água. Estas teclas nos livram da aversividade provocada pelo trabalho que estas atividades requerem, mas nos isolam das contingências profundas. Assim, o estilo de vida não materialista, juntamente com o uso mínimo de dinheiro e de artifícios para poupar trabalho, certamente ajudariam uma pessoa a ter contato com a produção de alimento, o processamento do lixo, o consumo de energia, e assim por diante.
A meditação e a reza são também encontradas nesse estilo de vida. Embora essas atividades possam ser vistas como um olhar para dentro de nós
228
Capítulo 8
4
mesmos, nós sugerimos que de alguma forma elas podem aumentar o contato com contingências externas e ocultas. Por exemplo, o ato de meditar é inconsistente com muitas das regras-padrão da sociedade que nos separam das contingências ocultas. A meditação é contra tais regras como sempre trabalhe bastante", "tenha sucesso", "junte bastante dinheiro", e "não perca tempo". Essa atividade pode ser concebida como a prática da rejeição das regras. As regras são construídas na sociedade ocidental para permitir aprendizagem através da experiência dos outros. Nosso sistema educacional é baseado na disseminação das regras. No entanto, como Skinner salientou, um dos motivos de tanto do nosso comportamento ser governado por regras, é que muito do que fazemos foi porque assim nos disseram. Os reforçadores ocultos podem estar menos disponíveis. Desta forma o meditador quebra o controle das regras que poderiam colocá-lo numa posição de ter contato com outros reforçadores. A meditação também poderia permitir o destaque dos processos corporais, como digestão e funções circulatórias e cardíacas, as quais por seu lado colocariam o meditador em melhor "
,
contato com as contingências externas que afetam essas funções. Nessa discussão breve, destacamos como pode ser benéfico aumentar
o contato com contingências ocultas. É importante notar que o comportamento de aumentar a comunicação conduz não só a uma maior percepção da dor e sofrimento do mundo, mas também há um aumento da percepção do que é
seleto e sublime. Nós concordamos com o ponto de vista de Skinner (1986) que a falta de contato com variáveis controladoras causa "enfado indiferença, ou ,
depressão" (p. 568) nas pessoas de nossa cultura. Não estamos sugerindo de forma alguma, que todos precisam retornar a uma vida simples e espiritual ,
.
Mas, talvez alguma variação em nosso atual estilo de vida que aumentasse a ,
comunicação não somente nos ajudaria a ser melhores psicoterapeutas, mas ,
também poderia enriquecer a nossa vida como um todo e nos conduzir à
exploração de soluções para muitos problemas globais.
CONCLUSÃO
Este livro é a nossa interpretação do processo psicoterapêutico Foi baseado no behaviorismo radical e no nosso comportamento que tem sido .
modelado por contingências fornecidas pelos nossos clientes Da mesma forma que outras interpretações, seu valor será medido pela sua utilidade. Se este livro produzir apenas uma intensa e significativa relação terapeuta-cliente que .
,
de outra forma não ocorreria então, para nós ele terá sido válido. ,
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índice
Ahola, T., 5
Causas múltiplas, 63-64
Alexander, F., 191,192
Cognição, 111-113
Aliança terapêutica, 196-199
estruturas,
American Psychological Association (APA),
ver também relação pensamento-com-
210
125-126
portamento
Amnésia, 91
Comportamento clinicamente relevante, 15-
Análise experimental do comportamento
,
16, 19-20
8,
9J1
Comportamento operante, 19, 77, 87
Análise formal, 62
Comportamento respondente, 19, 76-77, 87, 90
Análise funcional, 6 17, 62 ,
Assertividade, 22, 28, 86, 115
Comportamento verbal, significado de, 63
Associação livre, 31, 176-182
Confiança, 22-23, 31-32
Avaliação inicial, 26
Contato, 7, 41, 43
e problemas culturais, 225-228 durante a terapia, 85-88
Barlow, D.H., 219, 220, 224
Beck, A.T., 108, 109, 112, 127, 134
Contextualismo, 4
Behaviorismo convencional metodológico, 2
Contingência, ver Reforçamento
Behaviorismo metodológico, 2
Controle de estímulo, 141, ver também Sd
Behaviorismo radical, 1, 2, 3-8 Beidei, B., 110
CRB1, 18-19
Bergin, A.S., 220
CRB2, 19-22
Brandsma, J.M., 109
CRB3, 23 202 Cronbach, L.J., 224 Cultura Ocidental, 226
Cashdan, S., 199, 200-201 Catania, A.C., 90; 155 235
índice
236
Day, W.F., 7
Greben, S., 1,31
Deci, E.L., 14
Greenacre, P., 194
Deikman, A.J., 138,154, 155
Greenberg, L.S., 220
Divcn, K., 190
Grccnbcrg, R.L., 112
Dobes, R.W,, 16
Greenson, R.R., 193
Dor de cabeça, 98
Greenwald, A.E., 138
Dore, J., 145
Guidano, V.F., 108, 112, 113
DSM-III-R, 2,34
Hawkins, R.P., 16
Eagle, M.N., 198
Hayes, S.C., 4, 8, 27, 41, 81, 123, 152
Eardley, D., 111
Himadi, W., 204
Efran, J.S., 3, 5
Hipnose, 31, 168-169
Eilis, A., 108-117
Hoffman, I.Z,, 193
Emery, C., 108,112
Holíon, S.D., 108, 111, 113, 126
Eriksoti, E., 138
Esquecer, 91
Identidade, ver Self
Estimulação suplementar, 63-64
Inconsciente, 10,114, 125
Estímulo discriminativo (Sd), 19, 43-44, 5759
significado, 51-54, 63-64, 65 Interpretação, 41-42
Estímulos aversivos, 36-37, 84-85, 98-101
e sentimentos, 93
Ética, 209-215
c relação pcnsamcnto-comportamcnto,
definição comportamental, 209-211
132, 136
Exercícios de imaginação, 31
Intimidade, 11,31,35, 82, 157
Experiência, um relato comportamental da,
[ntraverbal, 57-58, 61-62
139-141
Fasnacht, G., 14
Jacobson, N.S., 125, 126, 128
Ferster, C.B., 12, 33, 36, 42
French, T.M., 191, 192
Kazdin, A.E., 8, 222
Freud, S., 189, 194, 195
Keane, X, 204
Função discriminativa, 19-20
Kemberg, O., 199
Função eliciadora, 19-20
Kieth-Spiegel, P., 209, 210
Função reforçadora 19-20
Klein, D.F., 109
Funções de estímulo, 19
Klein, M., 199
Furman, B., 5
Kohlcnbcrg, R.J., 8, 168 Kohut, II., 162, 199
Generalização, 17, 189
Koocher, G.P., 209, 210
Gill, M.M., 193
Krantz, S.E., 110
Golcífried, M.R., 202-203
Kriss, M.R., 108, 111, 113, 126
índice
237
Langs, R., 190, 192 194
Punição, ver Estímulos aversivos
Lembrança 4, 5, 21-22, 89-92
Putnam, F.W. 166, 170, 172, 173
,
,
,
Levine, F.M. 14 ,
Lições dc casa 31
Quattronc, G.A., 110
»
Linehan, M.M. 164 ,
Liotti
,
C., 108, 112, 113
Racismo, 212
Lukens M.D., 3
Reese, E.P., 8
Lukens, RJ. 3
Reforçamento 9-11, 40-41,114
,
,
,
Lutzker, J.R., 8
arbitrário e natural 11-15, 32-40 ,
e estruturas cognitivas 125-126 ,
Mahler, M., 199
Regras, 122-124
Mahrer, A.R., 220
exemplos de 181
Mando, 57-59 61, 115-122
e psicanálise 194
,
,
disfarçado, 62-63
,
Relação funcional 6, 43-45 ,
Martin, J.A., 8
Relação pensamento-comportamento 107-122
Marziali, E.A., 29
Relação terapêutica 30-31, 212-214, 216
Masson, J.M., 213, 214
Repressão ver Lembrança.
Masteson, J.F., 138
Respostas sutis 66
Matarazzo, J., 220
Revelar-se a si mesmo, ver Sentimentos Terapeuta
,
,
,
,
Mentalismo 5 ,
Mcsscr, S.B., 42 208
Rice, L.N., 220
Metáforas, 56, 64
Robbins J., 226
Miller, A. K„ 162
Rogers, C.R. 35, 187
,
,
,
Rush, A.( 108 Paolino, T.J. Jr., 188, 196, 197 ,
Passividade, do terapeuta 31, 174-176
Russell, P.L., 109
,
Peck,M.S„3, 31, 36
Safran,
Pensamento,
Salovey, P., 108
J.D., 112
Scott, R., 204
definição de, 116
Perspectiva, 153
Sd (estímulo discriminativo), 19,42-43, 58-59
Pesquisa,
Segal, Z.V., 112
falhas da 217-220
Seleção de respostas, 64
métodos alternativos 218-224
Self,
,
descoberta e, 220, 221 Pinsoff, W.M. 220 ,
Psicanálise, 42, 53, 66 e FAP,
188-202, 205-208
relato dc comportamento dc 140-152 definições de, 138-139 observação, 32, 65 problemas de, 156-172 Sensibilidade, 51
,
índice
238
Sensibilidade a críticas, 99-100,160-161,162 Sentimentos,
Transtorno de personalidade Borderline ,163166
esquiva de 84-85, 93, 101 definição, 75 expressão, 71, 82-83
Transtorno de personalidade múltipla, 166-
importância na terapia, 85-88, 94-95 aprendendo sobre, 78-80, 169-171 sua expressão por parte do terapeuta, 34,
Trauma
38, 72, 96, 105-106
o que é sentido, 76 Sexismo, 212 Shaw, B., 108
Shaw, B.F., 112
Significado do comportamento verbal, 63
173
Transtorno de personalidade narcisista, 162 e MPD, 166-173 e lembrança, 91 Treino de habilidades sociais, 86
Traax, C.B., 35 Tsai, M., 8 Turk, D„ 108
Turner, S., 110
Sílverman, J., 111 Silverman, J.D., 111 Sizemore, C.C., 172, 173
Skinner, B.F., 1, 2, 3, 5, 7, 8, 27, 51, 53, 54, 55, 57, 59, 62, 64, 75, 76, 116, 118, 123, 124, 139, 143, 144, 147, 161, 209, 227, 228
Unidades funcionais,
tamanho 143-145
do comportamento verbal, 143-144 Validação, 221 Vallis, T.M., 112
Sr (reforçador), 43-44
Variáveis de controle, 5
Sterba, R.F., 197
Vulnerabilidade, 84
Stone, M.H., 194
Strupp, H., 194, 220
Wachtel, P.L., 33
Supervisão, 215-216
Waterhouse, G., 194
Sweet, A.A., 203
Wessells, M.G., 126
Winnicotí, D.W., 138 Tato, 56-61, 78, 115-122, 142-143
Woolfolk, R.L., 42
Terapia cognitiva, 108 -113 Terapia Comportamental, e FAP, 202-205
Transferência, 30, 189-195
Zettle, R.D., 27, 41, 91, 123 Zuriff, G.} 210
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Os terapeutas comportamentais especialmente os orientados pelo behaviorismo radical faziam análise do comportamento aplicada, em situações bem delimitadas com comportamentos simples, e eram ,
,
,
denominados de modificadores de comportamento. Especialmente em anos mais recentes, profissionais de vários países além de pesquisas, ,
dedicaram-se à clínica. Faltava descrever esse trabalho
com a Análise do Comportamento como referencial num amplo cenário. Faltava trazer para análise, variáveis existentes no processo terapêutico. Kohlenberg e Tsai ousaram escrever um livro descrevendo seu trabalho e propondo uma forma de ,
,
fazer terapia comportamental: a FAP. Hoje este livro é um clássico. Encoraja pesquisas e análises feitas por ,
outros terapeutas comportamentais.
Rachel Rodrigues Kerbauy
ISBN 85-88303-02-7