ESTE MATERIAL É PARTE INTEGRANTE DO CURSO ONLINE “HISTÓRIA DA MODA” DA EDUK (WWW.EDUK.COM.BR) CONFORME A LEI Nº 9.610/98, É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL OU DIVULGAÇÃO COMERCIAL DESTE MATERIAL SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E EXPRESSA DO AUTOR (ARTIGO 29)
A moda em tempo� de guera Como forma de expressão, a moda contextualiza-se em momentos de guerra e transforma-se em documento datado para estudo comportamental.
A influência bélica no comportamento de moda vem de longa data. orna-se um tanto quanto difícil enumerar as guerras, revoluções e conflitos ao longo dos tempos e suas consequências no universo dos vestíveis, uma vez que elas, lamentavelmente, sempre acontecem e, normalmente, mudam o rumo da História. Portanto, este artigo evidencia as guerras mais marcantes da História a partir do II milênio do cristianismo. O ponto de partida desta reflexão são as Cruzadas – oito (as oficiais) entre 1096 e 1291. Com intuito de salvar os lugares santos cristãos no Oriente, destruídos pelos islâmicos, o europeu cristão ocidental parte para às guerras chamadas de “santas”. Lá encontra um Oriente muito mais avançado e, ao retornar para o Ocidente, leva mercadorias que o lado oeste da Europa não conhece e passa a comercializar. Com o comércio e com o passar do tempo, surge a burguesia mercantilista que, por sua vez, quer imitar os modos e as roupas da nobreza. As casas monárquicas, especialmente a de Borgonha, incomodam-se com tal cópia e passam a inventar novas aparências. Com o repetitivo ciclo de inovação e cópia, surge o conceito de moda, ou seja, algo novo para se diferenciar daqueles burgueses sem tradição que querem se parecer visualmente com os nobres. É durante a Guerra dos Cem Anos (13371453), entre França e Inglaterra, que surge esse conceito. A partir de 1393, a palavra “moda” é empregada como conceito de modo ou maneira e, em 1482, é a primeira vez que aparece com a acepção de “maneira coletiva de vestir-se”. A palavra “moda” vem do latim modus, que significa modo (maneira). Portanto, moda antes de ser moda é modo, maneira e comportamento. Por corruptela linguística da palavra francesa façon, que também quer dizer “modo”, “maneira”, surge em inglês a palavra fashion, que tem exatamente o mesmo significado. No período do Renascimento, especialmente na primeira metade do século XVI, as roupas rasgadas estiveram muito em voga por influência de mercenários alemães denominados landsknecht (servos da terra), que copiaram as roupas
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rasgadas das tropas suíças que, durante a Batalha de Grandson, em 1476, venceram o duque de Borgonha, Carlos, o emerário. Com a imitação por parte dos alemães, difundiu-se essa ideia por toda a Europa e, mesmo entre os nobres, a moda era usar os tecidos de suas roupas rasgados, o que ficou conhecido, em língua portuguesa, como a moda das “talhadas”. Com a Revolução Francesa, em 1789, que não foi uma guerra propriamente dita, os rumos da História da Humanidade mudam e, por extensão, a moda também. odos os excessos visuais que marcam a corte dos “Luíses” (XIV, XV e XVI), simbolizando status e poder, deixam de ser referência de moda após a Queda da Bastilha, durante o reinado de Luís XVI e Maria Antonieta. Com a revolução desencadeada pelos sans-culotte, todo e qualquer fausto torna-se fora de moda; e com guilhotina estabelecida na Praça da Revolução (atual Praça da Concórdia, em Paris), vão-se as cabeças e com elas vão-se as perucas, símbolo de prestígio social. Nada mais de excessos e, na sequência histórica, com Napoleão Bonaparte, coroado imperador em 1804, a moda segue bem mais simples em volumes e ornamentos, demonstrando novos tempos, sendo inspirada na Grécia Antiga. É a moda Império que, por excelência, exalta características como a cintura abaixo do busto, o vestido de algodão solto sobre o corpo feminino e o cabelo “à ventania”. Caminhando para o século XX, logo na década de 1910, há a insurreição de “A Grande Guerra” (1914-1918), posteriormente denominada de I Guerra Mundial. Este momento bélico muito influencia o comportamento do mundo. Com a guerra, surge o trench coat (casado de trincheira), usado por aqueles que lutavam. Com os homens no campo de batalha, as mulheres ocupam seus lugares no campo de trabalho. É o início da emancipação feminina e, em consequência do novo momento, não se pode mais manter a aparência das roupas da Belle Époque. Nada mais de longos vestidos e cinturas afuniladas por espartilhos. Apesar de Paul Poiret, ainda na primeira década do século XX, já ter sugerido a eliminação do espartilho na moda feminina, ele só desaparece, de fato, após a circunstância da guerra. A mulher que trabalha não tem mais como ficar espartilhada e tolhida em seus movimentos. Paralelamente, o comprimento das saias e dos vestidos também começa a se encurtar para a altura das canelas, uma vez que a mulher no trabalho precisa de maior praticidade e conforto. Na década seguinte, os anos 1920, as mulheres de fato encurtam as saias até os joelhos e cortam seus cabelos a maneira dos meninos – à la garçonne -, como símbolo de emancipação adquirida durante a Grande Guerra.
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A II Guerra Mundial (1939-1945) traz, também, mudanças diversas na moda. Os próprios uniformes dos soldados agora já têm um conceito maior de camuflagem, uma vez que são na cor verde oliva, diferentes dos uniformes azul marinho da I Guerra Mudial. No dia a dia, as roupas femininas ganham aspecto de masculinização, por influência dos uniformes dos soldados, especialmente no uso de duas peças – saia e casaquinho ou saia e blusa – por praticidade e, também, por favorecerem maior permuta entre as peças. Os ombros acentuados por ombreiras tornam-se, também, marca registrada dessa masculinização. A recessão têxtil obriga o racionamento caracterizado pelo uso de uma caderneta ou cupons para a compra de tecidos ou roupas e complementos. Em razão do aproveitamento de sobras de tecidos, torna-se moda o debrum de outra cor nas golas, mangas etc.; ou a gola, tampos de bolsos e acabamentos em outro tecido, servindo de enfeite para os momentos de crise econômica. As roupas, contudo, tornam-se mais esmirradas e o vestido chemisier (inspirado nas camisas – chemises – masculinas) é de grande uso. Os sapatos também assumem aparência pesada por influência dos calçados masculinos. Sobre a cabeça, é comum o uso de turbantes para prender os cabelos, considerando que o retorno ao campo de trabalho nas fábricas obriga as mulheres a prendê-los por questões de segurança. Fora do trabalho, o cabelo preso também é moda, pelo próprio turbante, um chapéu ou uma redinha. A meia fina, de náilon, desaparece do mercado durante a guerra por causa do direcionamento da fibra para o fabrico de paraquedas. Para substituí-la, as mulheres pintam as pernas com estrato de nogueira e fazem a risca da costura com lápis de maquiagem. A Guerra do Vietnã (1959-1975) e, concomitantemente, a Guerra Fria (desde 1947) entre as duas potências mundiais de então – EUA e URSS – trazem novos comportamentos de moda. Na própria Guerra do Vietnã já se usa a estampa camuflagem, e a atitude de repulsa do jovem ocidental contra a guerra faz surgir o movimento hippie com sua linguagem visual de contestação revelada em cabelos despenteados, roupas de aspecto artesanal, estampas floridas (flower power) e muito “paz e amor”. A moda agora é jovem e descompromissada. A vida comunitária dos hippies favorece a unificação de gêneros na moda, motivando o surgimento do conceito da moda unissex. Enquanto um grupo com os pés no chão reflete a Guerra do Vietnã, outro grupo com a cabeça no espaço espelha a Guerra Fria, pela conquista espacial, e influencia a moda com a criação de novos tecidos, com roupas de recortes ESTE MATERIAL É PARTE INTEGRANTE DO CURSO ONLINE “HISTÓRIA DA MODA” DA EDUK (WWW.EDUK.COM.BR) CONFORME A LEI Nº 9.610/98, É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL OU DIVULGAÇÃO COMERCIAL DESTE MATERIAL SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E EXPRESSA DO AUTOR (ARTIGO 29)
aerodinâmicos, com uso do zíper e das cores branco e prata para roupas e sapatos, das perucas alusivas aos capacetes dos astronautas e dos materiais inusitados para a elaboração das novas propostas de roupas. oda essa dinâmica dá uma aparência jovem e de contestação à grande moda dos anos 1960. Já no século XXI, o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, em Nova York e Washington, também afeta o comportamento de moda. Se a passarela já sugere, assim como a rua assimila, o uso do preto com propostas neopunks, de uma hora para outra, após o atentado, o branco, a renda, o bordado, detalhes artesanais, o amassado e o estilo romântico impõem-se como proposta a uma reflexão de um novo “paz e amor” desencadeado também pela moda. Com a Guerra do Iraque, nos anos 2000, a moda encontra sua maneira de repensar e de denunciar tal situação. A moda não propõe o uso de uniformes de combate, que seria a forma mais banal de retratá-la, mas, sim, a denúncia da tão indesejada guerra. A moda atual propõe o individualismo, que é mais estilo do que moda, portanto, paradoxal ao conceito de uniformes e uniformização, uma vez que os uniformes trazem, em si, a ausência de subjetividade e, em contrapartida, um agir coletivo. Contudo, a moda descobre suas maneiras de sobrevivência e transmite suas mensagens de paz, nem que seja pelas simples e diretas mensagens estampadas em camisetas de malha. Participa, porém, da contextualização histórica e compromete-se em promover uma atitude de paz. Além do mais, o início do século XXI é recente e, historicamente, os acontecimentos precisam de um tempo de maturação para que se possa perceber melhor suas consequências e mudanças.
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A hióia d� biquini Três séculos de história: cresce o uso e diminui o tamanho.
Os banhos de mar faziam parte do receituário terapêutico, principalmente contra a depressão; as piscinas eram tanques próprios para a cultura de peixes (piscis em latim) e, além disso, exibir-se sumariamente e molhado era considerado muito indecoroso. Portanto, até o fim do século XIX, não havia preocupação com as roupas de banho. Nesse mesmo final oitocentista, surge o hábito da prática esportiva entre os financeiramente privilegiados, e um dos primeiros esportes a surgir e repercutir foi a equitação. Vieram outros, tais como o jogo de peteca, arco e fecha, tênis e, também, a ida à praia. Esse “ir à praia”, porém, até então, era passear pela areia, descansar e apreciar o mar num mirante e vestido(a) de branco sem esquecer da sombrinha, pois bronzear a pele não era bem visto, implicando a condição de trabalhar a céu aberto que, involuntariamente, acabava queimando a pele. O tempo passou até que as pessoas resolveram molhar os pés e, quem sabe, os joelhos. Sendo assim, as roupas precisavam ser mais práticas e as damas do fim do século XIX e do início do século XX portavam traje de banho em tricô de lã (mais elástico que o tecido e em lã para maior proteção) composto de calção até os joelhos, túnica, capa quase longa, amarrada aos ombros, cabelos presos ou toucas, meias de lã e sapatos. Com o século XX chegou a Grande Guerra, posteriormente chamada de I Guerra Mundial (1914-1918). A mulher emancipou-se e, na década seguinte, os trajes de banho já tinham outra aparência, mais curtos e, então, com as coxas à mostra. A Cia. Jantsen, nos Estados Unidos, fabricou, em 1920, a primeira peça de malha elástica canelada. A ornamentação era geométrica, influência do Art Déco, e Jean Patou criava trajes excepcionalmente belos. Chanel, nessa década, começou a incentivar o bronzeamento da pele como status para a mulher que, agora, trabalha va e tinha direito ao lazer de fim de semana no litoral. A grande ruptura nas roupas de banho deu-se, mesmo, com um novo paradigma na moda no período pós-II Guerra Mundial, em 1946, quando um criador de moda francês, chamado Louis Réard, lançou o “duas-peças” na piscina Molitor
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em Paris, denominando-o de bikini, em virtude dos testes atômicos realizados no Atol de Bikini, no Pacífico. remenda foi a ousadia que somente uma dançarina de cabaret teve a coragem de exibi-lo publicamente. Mas será que o biquíni foi in venção dos anos 1940? Com essas características e para a função de banho de mar e/ou piscina sim. odavia, no período do apogeu da Roma Antiga, séculos III e IV da Era Cristã, tem-se registro de duas-peças em mosaicos de ginastas na Sicília, compostos por uma tanga (um tapa sexo, como uma calcinha) e o strophium (uma banda de tecido enrolada nos seios), para a prática dos exercícios. Vale a pena lembrar que o “bi” de biquíni não se refere a “dois, duas”, como se imagina por ser duas-peças e, sim, por ser o nome do Atol de Bikini, do qual a moda se apropriou. Contudo, a nomenclatura dos anos 1960 de “monoquíni” para uma peça inteiriça e que deixava o seio à mostra, lançando em 1964 por Rudi Gernreich, é mais uma invenção de nomenclatura estilística do que variação etimológica. Os anos 1960 trouxeram a emancipação e, até essa época, o biquíni continuava timidamente usado. De fato, predominavam nas praias e piscinas em tecidos como a helanca. No Brasil, o presidente Jânio Quadros proibiu-o nas praias, mas essa proibição só ajudou a difundi-lo, e, como diz a música, “na areia tem mais peixe que no mar”. A partir daí, o biquíni só se popularizou. Coube especialmente à Inês Mynssen a fabricação e difusão do biquíni no Brasil. De algodão, tanto a calcinha quanto o sutiã (agora sem enchimentos), o biquíni tornou-se o uniforme das praias nacionais. Coube também à Inês a invenção do modelo “cortininha”, de grande aceitação, pois os triângulos que cobriram os seios eram reguláveis, adaptando-se muito bem à silhueta de cada usuária. Os anos 1970 trouxeram o elastano em substituição ao algodão, difundindo, também, a ginástica e a prática do “cooper”. Em 1974, a atriz Rose di Primo desfilou nas praias cariocas a “tanga”, ou seja, uma calcinha que não tinha dado certo e que foi cortada nas laterais, acrescidas de cordões para serem amarrados nas laterais, deixando os ossinhos da bacia acentuados e revelando a virilha. Sucesso total no Brasil e no mundo. Os anos 1980 trouxeram o culto ao corpo, e, para os biquínis, o Brasil lançou o “fio dental”, deixando praticamente o bumbum à mostra. Outros modelos surgiram como o “asa delta”, o “enroladinho” etc. Os anos 1990 reintroduziram o maiô como traje de banho, mas ele não conseguiu desbancar o biquíni, tão assimilado como roupa de banho e identidade da moda brasileira. Estampados, coloridos, de crochet, de tecido laminado, com aplicações de novos acabamentos, de tecido de altíssima tecnologia têxtil, misturas de calcinha e sutiã de modelos distintos, e ESTE MATERIAL É PARTE INTEGRANTE DO CURSO ONLINE “HISTÓRIA DA MODA” DA EDUK (WWW.EDUK.COM.BR) CONFORME A LEI Nº 9.610/98, É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL OU DIVULGAÇÃO COMERCIAL DESTE MATERIAL SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E EXPRESSA DO AUTOR (ARTIGO 29)
muito mais, em corpos esculturalmente trabalhados, o mínimo de tecido continua sendo o máximo da moda brasileira.
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Reve� � pasad� O passado é percebido por meio de detalhes e sutilezas que misturam diversas identidades na tentativa de criar uma nova referência.
Na produção cultural do século XIX, as artes plásticas e, em especial, a arquitetura utilizaram-se muito do recurso de rever o passado por meio de um novo olhar contemporaneizado ao tempo em que foi relido. Daí uma série de movimentos com o prefixo “neo”, tais como neoclássico, neogótico, neobarroco, entre outras propostas estéticas oitocentistas. Isso, além de outros fatores, fez com que ocorresse uma significativa mudança no final do século, por meio de uma nova proposta, cujos padrões estéticos privilegiam novas sensibilidades, novas interpretações e novas formas, resultando em uma nova arte que ficou conhecida como Art Nouveau, ou seja, a “arte nova”. O desgaste das releituras levou, de fato, a novas soluções de padrões estéticos. Essa prática de visita ao passado também costuma ser comum no universo da moda. Se observarmos com mais rigor as imagens que nos servem de documentos históricos de moda, veremos que alguns períodos se basearam em referências passadas para criar o novo. Um exemplo significativo foi a moda do período napoleônico, denominada de Império, que resgatou referências da Grécia Antiga, mas também tentou resgatar – praticamente não vingou – detalhes da moda renascentista (lembrando que o Renascimento também foi um período de revalorização das questões greco-romanas), como os rufos e as talhadas. No princípio do século XX, ainda na primeira década, o criador francês Paul Poiret, negando o uso do espartilho que apertava o corpo feminino, sugeriu roupas mais soltas, de cintura alta (logo abaixo dos seios) inspiradas na moda Império, o que não teve pronta aceitação. O abandono do espartilho só ocorreu, de fato, na década seguinte, durante os anos da Primeira Guerra Mundial. Mais adiante no tempo, exatamente em 1947, outro criador francês, Christian Dior, inspirando-se nas roupas femininas do final do século XIX, especialmente nas mulheres da Belle Époque, revalorizou o corpo feminino com cinturas marcadas e saias rodadas. Dior também usou o recurso da releitura ao criar silhuetas que denominou de “Linha Corola” (como eram chamadas as mulheres da Belle Époque) e “Linha 8”, à semelhança das mulheres de silhueta ampulheta do mesmo período e que entrou para a História como “New Look”. ESTE MATERIAL É PARTE INTEGRANTE DO CURSO ONLINE “HISTÓRIA DA MODA” DA EDUK (WWW.EDUK.COM.BR) CONFORME A LEI Nº 9.610/98, É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL OU DIVULGAÇÃO COMERCIAL DESTE MATERIAL SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E EXPRESSA DO AUTOR (ARTIGO 29)
Em particular a partir dos anos 1980, essa realidade de reler o passado tornou-se uma prática constante nas diversas formas de produção cultural: música, arquitetura, decoração e design e outras. A moda também assim o fez. Isso não significa que seja cópia do passado, pois nunca é exatamente igual, uma vez que existe o fator tempo, que nunca é o mesmo: olhar para o passado, então, serve de inspiração para momentos que não encontram padrões próprios ou que, intencionalmente, funcionam como saudosismo para resgatar algo que estava esquecido e que a sensibilidade o faz notar. É resgatar a memória do passado na possibilidade de criar a futura memória contemporânea. Na área específica da moda, essa prática foi muito elaborada, principalmente devido aos cadernos de tendências, tão em voga na época do apogeu dos Bureaux de style europeus, ou seja, nos anos 1980 e início dos anos 1990, que determinavam propostas de modo e moda para estações vindouras. Nos temas apresentados, sempre havia um deles com nítida inspiração retrô. Assim, a moda do final do século XX foi inundada de referências históricas e neste início do século XXI não tem mudado de perspectiva. Uma grande diferença atual é que a inspiração não vem de um único período do passado. O conceito do crossover está muito presente, ou seja, há identidades de períodos distintos mesclados num mesmo visual. É um verdadeiro hibridismo, no qual períodos e culturas diferentes se mesclam e resultam numa nova identidade visual. O passado é percebido por meio de detalhes e de sutilezas que misturam di versas identidades na tentativa de criar uma “nova” referência. A falta de identidade passa a ser a “nova” estética. Como se não bastasse, é nítida a continuidade da valorização do artesanal, à semelhança da segunda metade do século XIX, que negava os valores industriais da época para o resgate de um passado artesanal. Sendo assim, na complementação do conceito de hibridismo, um outro conceito muito contemporâneo também aparece: a ideia do “local no global”, isto é, as referências culturais de diversos povos levadas à globalização para que não sejam esquecidas numa época de revolução tecnológica. E, assim, a moda revaloriza aspectos de referências folclóricas diversas, em especial por meio dos bordados, dando um toque mais humanizado e individualizado à produção industrial alicerçada, agora, nos pilares tecnológicos. É o princípio do século XXI resgatando valores do século XIX. ESTE MATERIAL É PARTE INTEGRANTE DO CURSO ONLINE “HISTÓRIA DA MODA” DA EDUK (WWW.EDUK.COM.BR) CONFORME A LEI Nº 9.610/98, É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL OU DIVULGAÇÃO COMERCIAL DESTE MATERIAL SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E EXPRESSA DO AUTOR (ARTIGO 29)
A moda do� ano� 1990 A linguagem de moda do fnal de século e fnal de milênio.
Acredito que a Queda do Muro de Berlim, em 1989, possa ser, enquanto marco, o ponto de partida dessa reflexão, e que também pode ser analisada em questões da moda. Se o fato simboliza o fim de uma época e de uma ideologia, obviamente marca o início de outras. Na moda, pode-se dizer que representa o fim de determinadas barreiras e preconceitos no vestir e o aparecimento de uma grande liberdade de se expressar visualmente: é esse o conceito que vai definir a moda na década de 1990. razendo uma herança do decênio anterior, os anos 1990 iniciam continuando com as releituras históricas da moda, tão arraigadas no processo criativo. Devido a sua importância, é montada, em 1990, no Metropolitan Museum of New York uma grande exposição com a curadoria de Richard Martin e Harold Koda, intitulada “Te Historical Mode”. O conceito de “tribos urbanas”, forte nos anos 1980, tem sua continuidade no início dos anos 1990. A moda grunge, de influência vinda de Seattle (EUA.), marca o modo de vestir dos jovens, que aderem ao estilo descontraído de peças sobrepostas, roupas oversized, e a cultuada camisa de flanela xadrez amarrada à cintura. ambém entram em evidência clubbers, drag-queens, cybers, ravers entre outros grupos; e a ordem é a moda jovem, ousada e irreverente. odavia, essa dinâmica de “tribos” vai se perder com o passar do tempo e ganhar uma dimensão maior quando atinge um caráter mais universal, tornando-se, no decorrer da década, as “subculturas” ou “subgrupos”. Contudo, é com o conceito de “supermercado de estilos” que a moda dos anos 1990 passa a ter sua própria identidade quando mescla informações e influências de diversas fontes. ed Polhemus, em seu livro Street Style – from Sidewalk to Catwalk, editado em 1994 pela Tames & Hudson de Londres, elucida muito bem essa ideia. Nos anos 1970, a moda se comporta como um grande diferenciador na escala social; já nos anos 1980, o aspecto de individualismo se consagra com a fidelidade da pessoa à sua tribo, sem receber influências de outras ideologias contemporâneas à sua. Sendo assim, com a evolução de conceitos e valores, a moda dos anos 1990 adquire o caráter de mistura e é uma verdadeira esponja que absorve diversas ESTE MATERIAL É PARTE INTEGRANTE DO CURSO ONLINE “HISTÓRIA DA MODA” DA EDUK (WWW.EDUK.COM.BR) CONFORME A LEI Nº 9.610/98, É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL OU DIVULGAÇÃO COMERCIAL DESTE MATERIAL SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E EXPRESSA DO AUTOR (ARTIGO 29)
referências vindas das mais distintas realidades e, todas juntas, formam uma nova proposta. A falta de identidade passa a ser a própria identidade. É uma espécie de liquidificador de aspectos visuais, e a liberdade de vestir passa a ser muito grande. É a metáfora da globalização na moda. Não é mais a individualidade, mas a coletividade. É aonde quero chegar quando cito a Queda do Muro de Berlim e a reunificação das Alemanhas, em 1980, e, por extensão, a união e aceitação de pessoas, conceitos e valores. Por falar em Berlim, vale a pena lembrar do maior encontro de jovens associando música, moda e comportamento, a Love Parade. No final dos anos 1990, este acontecimento reuniu em torno de 1 milhão e 800 mil pessoas de todo o mundo dançando ao som da música eletrônica pelas ruas de Berlim, que pode ser considerada uma grande passarela e um excelente termômetro para o comportamento e a moda jovens. Este evento pode ser considerado o maior encontro mundial de jovens da atualidade, unidos pela cultura musical. Por sinal, desde o término da Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje, não se pode desvincular comportamento e moda jovens das influências musicais. O espaço adquirido pelo streetwear, recebendo e passando informações na e da rua, solidifica-se na moda dos anos 1990. Juntamente, o sportwear também faz escola. O “desconstrutivismo” é a outra ideia desenvolvida nos anos 1990, surgida especialmente pela influência dos estilistas belgas na moda, tendo o nome Martin Margiela como grande mentor intelectual desse conceito. É uma desconstrução para um novo construir; um tipo de paradoxo que acabou se firmando na moda. É uma espécie de evolução da reciclagem tão em voga na moda no fim dos anos 1980 e ínicio dos anos 1990; e do ponto de vista comercial e popular, esse conceito transforma-se em bainha desfiada e overlock aparente. Uma outra realidade a ser documentada, também vinda dos anos 1980, é o avanço tecnológico têxtil. A microfibra da década anterior evolui – e muito. Na atualidade são desenvolvidos tecidos com alta tecnologia, podendo responder a diversos anseios do nosso dia a dia. São os chamados tecidos inteligentes: utilização de finíssimos fios metálicos; tecidos que mudam de cor de acordo com o estado de espírito do usuário; tecidos bactericidas etc. tornaram-se reais – o futuro é aqui e agora. Isso realmente pode ser considerado novo e não apenas uma novidade na moda. A moda italiana ganha novas dimensões, especialmente no nome de Gianni Versace, que se torna um ícone fashion mundial com seus dourados, suas estamESTE MATERIAL É PARTE INTEGRANTE DO CURSO ONLINE “HISTÓRIA DA MODA” DA EDUK (WWW.EDUK.COM.BR) CONFORME A LEI Nº 9.610/98, É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL OU DIVULGAÇÃO COMERCIAL DESTE MATERIAL SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E EXPRESSA DO AUTOR (ARTIGO 29)
pas arrojados e muita sensualidade; contudo, sua morte prematura nos deixa com a sensação de órfãos desglamorizados, abalando não só o setor como a sociedade em geral. Moschino, outro italiano que também não está mais entre nós, marca presença na moda dos anos 1990 com irreverência e humor. Já a moda norte-americana, prática e básica, quer roubar a cena com sua visão mais comercial e sua produção de qualidade em alta escala; inclusive antecipando seus lançamentos aos dos europeus. Inúmeros outros fatores se fazem presentes e contribuem para a moda dos anos 1990, no entanto, a característica de rejuvenescimento é uma constante. Não é somente o rejuvenescimento – via cosmética, plástica, ou por meio das práticas esportivas – mas também o rejuvenescimento empresarial. A ideia parte dos anos 1980 com a marca Chanel, quando ocorre a contratação de um “sangue novo” chamado Karl Lagerfeld para criar as respectivas coleções. Percebem-se resultados positivos e, assim, outras casas iniciam a contratação de novos talentos para dar uma cara nova às marcas já consagradas. Acontece o mesmo com as casas Dior, Givenchy, Prada, Gucci e mais recentemente com Saint-Laurent e Kenzo. Com isso, a moda, especialmente a alta-costura, ganha uma nova posição de prestígio. Paradoxo é outra palavra que integra o vocabulário da moda dos anos 1990, ou seja, uma época de antagonismos convivendo no mesmo visual: Oriente X Ocidente; masculino X feminino; sintético X natural; exótico X belo; caro X barato; produtos sofisticados X produtos de camelô etc. Surgem os novos profissionais de moda, os stylists, que são verdadeiros criadores de conceitos, ideias e principalmente imagens. A preocupação ecológica também está presente na moda dos anos 1990, e essa conscientização reflete-se em muitas coleções de estilistas renomados, que denunciaram as agressões ao planeta erra por intermédio das criações de suas roupas. É a moda fazendo-se presente, atualizada e notada no contexto mundial. O status é grande e quem faz e divulga a moda galga também o patamar de prestígio, respeito e sofisticação. É o que acontece com as manequins que di vulgam o trabalho dos criadores. A ideia da supermodelo começa ainda nos anos 1980 com Inès de La Fressange; e nos anos 1990 algumas outras, tais como Claudia Schiffer, Cindy Crawford, Linda Evangelista, Christy urlington, Naomi Campbell, Kate Moss, Amber Valetta e agora a nossa Gisele Bündchen, adquirem a posição de supermodelos: são as famosas top-models internacionais. Anoréxicas ou torneadas fazem tanto sucesso que superam em fama as estrelas de cinema e da música; e ESTE MATERIAL É PARTE INTEGRANTE DO CURSO ONLINE “HISTÓRIA DA MODA” DA EDUK (WWW.EDUK.COM.BR) CONFORME A LEI Nº 9.610/98, É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL OU DIVULGAÇÃO COMERCIAL DESTE MATERIAL SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E EXPRESSA DO AUTOR (ARTIGO 29)
trazem para a moda e para seus respectivos bolsos cifras incalculáveis, Essa posição de prestígio e de status social que a moda quer adquirir a qualquer custo vai ser tão significativa que ela quer se transformar em arte no que diz respeito ao aspecto de transgressão (que é uma das características marcantes das artes em geral). A intenção é chocar, causar sensação, nem que seja de repulsa. É o papel da arte e da moda nesse momento. Esse arrivismo artístico da moda é tão bem aceito que surge, em 1996, na Itália, especificamente em Florença e também nas cidades vizinhas de Prato e Livorno, a primeira Bienalle della Moda. Essa primeira edição traz como tema “Il empo e La moda”. A segunda, em 1998, apresenta o tema “La Moda si veste de Cinema”. Vários são os locais da mostra nessas três cidades e muitos são os criadores-estilistas-artistas, de diversos países, que interpretam o tema em instalações verdadeiramente geniais. É a moda que realmente adquire o status de arte numa sociedade de consumo e, mesmo tendo a característica da efemeridade, ela consegue se impor. Aqui no Brasil, a moda ganha nova e prestigiada posição. A temática nacionalista, sem ser folclórica e sendo moderna, ganha espaço pela interpretação de ufi Duek a partir de meados da década de 1990; indo de Maria Bonita e Lampião a Niemeyer, da Amazônia à Ipanema; sem falar de sua projeção no mercado norte-americano. Isso se deve, entre outros, a diversos fatores: o academicismo da moda aparece no final dos anos 1980 e começa a formar os novos profissionais. A imprensa em geral dá um excelente espaço para a moda, abrindo campo para o surgimento de novos veículos e nomes como o de Érika Palomino, que se consagra criando estilo em textos, imagens e enfoques que desmistificam e democratizam a, até então quase inatingível, moda. A produção literária ganha também espaço e respeito, e os editores começam a investir nessa fatia de mercado. Surgem as feiras e bazares alternativos, criando chances para aqueles talentosos ainda não estabelecidos. A oportunidade de divulgação de trabalhos também aparece com a onda de eventos e lançamentos diversos que se tornam cada vez mais importantes. Surgem os grandes desfiles descobrindo e promovendo talentos, como o Phytoervas Fashion, sob o patrocínio de Cristiane Arcangeli e comando de Paulo Borges que, mais adiante, parte para o Morumbi Fashion. Este evento rapidamente se consagra e passa a acontecer duas vezes por ano, para as respectivas coleções de
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inverno e verão, nas quais grandes nomes da moda lançam, num mesmo evento, suas propostas a cada estação. É a moda que se profissionaliza e se institui. É o reconhecimento de muito trabalho e criatividade. Criadores brasileiros como Alexandre Herchcovicth e Fause Haten conseguem projeção internacional, e, o que é mais meritório, mantendo seus pés fixados na erra Brasilis. É isso. Moda é expressão de um povo e de sua cultura. É como a própria história, ou seja, um rio que flui e banha as margens por onde passa, trazendo e levando o húmus da criação estilística para fertilizar o solo e fazer com que a semente possa germinar.
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Conideaçõe� obe a moda maculina A moda como dinâmica transformadora de comportamento e da aparência da fgura masculina
Dois são os gêneros. Várias são as formas de comportamento em diversas áreas. No universo da moda, homens e mulheres sempre tiveram suas necessidades de se impor e de criar as próprias identidades. Hoje, semelhante ao que já foi no passado, homens e mulheres podem usar características visuais parecidas sem se comprometerem dentro do gênero a que pertencem. O ser humano cobriu o corpo por pudor, por adorno e/ou por proteção, e o macho da espécie sempre se enfeitou sem que isso, em termos culturais, fosse considerado demérito. Muito pelo contrário, o que ele usava o ajudava a se impor em seu meio, sobressaindo-se entre os demais. Assim foi construída a História da Humanidade pelo viés da indumentária e/ou da moda. Nas diversas tradições ao longo do percurso histórico, a indumentária e a moda são uma espécie de linguagem com a qual transmitimos inúmeras mensagens sem que haja a verbalização. Independente do aspecto de pudor e de proteção, peles e garras de animais simbolizavam destreza e valentia; joias em metal e pedras preciosas denunciavam posses e poder secular; bordados e o uso de determinadas cores distinguiam classes sociais; rendas, babados, perucas e maquiagem demonstravam prestígio e riqueza material; e, assim, a figura masculina construiu seu universo por meio da imagem, tão importante no passado como na atualidade, guardando as diferenças estéticas das épocas, mas igualando na vontade de se destacar e de se impor entre os semelhantes. Portanto, o adorno sempre foi uma maneira de diferenciação social, de estratificação temporal. Existem, porém, diversas maneiras de trabalhar visualmente os ditos enfeites, ora mais evidentes, em outros momentos bem discretos ou quase inexistentes. Sim, a vaidade (um dos sete pecados capitais é um bem da condição humana. De uma forma ou de outra, ela está presente no comportamento humano. A partir de meados do século XIX, em pleno apogeu da Revolução Industrial, o homem adotou nova conduta ao se vestir. oda a classificação de prestígio, poder e posse passou a ser identificada pela discrição e não mais pela ornamentação visual. Ele passou a se impor socialmente pelo que produzia numa sociedade industrial e capitalista. Enfeites tornaram-se atributos somente femininos e, dessa forma, suas ESTE MATERIAL É PARTE INTEGRANTE DO CURSO ONLINE “HISTÓRIA DA MODA” DA EDUK (WWW.EDUK.COM.BR) CONFORME A LEI Nº 9.610/98, É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL E PARCIAL OU DIVULGAÇÃO COMERCIAL DESTE MATERIAL SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA E EXPRESSA DO AUTOR (ARTIGO 29)
roupas ficaram austeras e discretas, como reflexo de um novo pensamento e, por extensão, de um novo comportamento associado a uma vida de trabalho e à produção material. As esposas e as filhas, estas sim tornaram-se verdadeiras expressões de fausto e riqueza por meio de excesso visuais em formas, volumes, tecidos e, especialmente, adornos em geral. Esse comportamento foi a grande realidade por aproximadamente cem anos, começando a mudar nos anos 1950, pós II Guerra Mundial, quando os jovens começaram a criar uma identidade própria de moda. Com o surgimento da moda unissex, no fim dos anos 1960 e início dos anos 1970, a assimilação de um novo comportamento de moda pelos homens muito contribuiu para significativas mudanças em modos e, por conseguinte, em modas. O processo da emancipação feminina, construída ao longo de todo o século XX, e a invasão do território masculino de moda, principalmente nos anos 1980, talvez tenha ajudado o homem a perceber que o visual unissex se transformou em aspectos de androginia e possibilitou que ele se apropriasse de ícones da moda e comportamentos estabelecidos como tipicamente femininos. A pluralidade comportamental de moda, do fim do século XX, alicerçou um início de século XXI com importantes conquistas (ou reconquistas) masculinas no cuidado com a aparência. Hoje, o homem não mais se envergonha em estar preocupado com suas roupas, em estar atualizado com as novas propostas de moda, em pensar na harmonia (em cada identidade estética) de seu fenótipo, frequentando salões de beleza, academias de ginástica e, também, contratando personal stylists para auxiliar nas compras específicas de moda. De fato, não é gratuitamente que o mercado masculino de moda vem crescendo cada vez mais, representando uma boa fatia econômica de produção e consumo. Informado e exigente, o homem contemporâneo, do início do século XXI, legitima-se nos modos resgatando o que sempre o identificou (à exceção de um hiato de cem anos aproximadamente) ao longo da História da Moda: a pecaminosa vaidade da aparência instituída pela exigente sociedade de cultura material.
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