D O C Ê N C I A X ^ F O RM RM A Ç A O
WÊÈÊÊÊÊa
Questões de método
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I N K I l l s ' l l ls ls lo lo s o s s o i l l k s l l l l s l l l n s p n u l u ' l i l o s
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Refletir sobre essas ejuest ejuestões ões
Mi,m i,mli> li>. i ui om ii o puisi iiK iro sobre sobre o modo de operai do conbecimenro. L importante twumin.í-las a medida cjue o método constitui um pretexto para lc p u is ||
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• Educação Escolar: políticas políticas,, estrutura e organização • Estágio e Docência • Questões de métod o na construção da pesq Tombo:
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Sa n t o r o
F r a n c o
Série: Série: Ed ucação Infantil Infantil • Educação Infantil: fundamentos e métodos Zi lm tt R itmo s de Ol iveir a
• Educação Infantil e registro de práticas práticas Am an da Cr istin a Teagno L opes
• Eormação de professores na Educação Infantil M ar ine ide de O livei ra Gomes
Série: Ensino Fundamental • Ensino de Ciências: fundamentos e métodos D em étrio De lizoi cov
DOCÊNCIA
Jos é An dr é An go tti
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M ar ta M ar ia P erna mb uco
• Ensino de História: fundamentos e métodos Circe Ma ria Fernandes Bittencourt
• Ensino Religioso no Ensino Fundamental Lil ian Bla nc k de Ol iveir a Sérgio Rogério Rogério Azevedo Jun queira L u iz A lbe rto Sousa A lves — Ern esto Jacob Ke im
• Filosofia: fundamentos e métodos Ma rcos An ton io Lo rieri
• Para ensinar e aprender Geografia N tdi a Na cib Po ntu scb ka
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Tonioko Iyda Paganelli
N iiria Ha ng lei C acete
Série: Ensino Médio • Ensino de Biologia: histórias e práticas em diferentes espaços educativos M ar tha M ara nd ino —Sa nd ra E scovedo S elles M are ia Serra Ferreir a
• Ensino de Filosofia no Ensino Médio
Coordenação: Antônio Joaquim Severino Selma Garrido Pimenta
© 2008 by Evandro Ghedin - Maria Amélia Santoro Franco Franco
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CORTEZ EDITORA Rua Monte Alegre, 1074 - Perdizes Perdizes 05014-000 - São Paulo - SP Tel.: (11) 3864-0111 Fax: (11) 3864-4290
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Fr a n c o
Direção José Xavier C ortez
Editor Am ir Piedade
Preparação
I A?
Alexandre Soares Soares Santana
Revisão Alexandre Ricardo da Cunha Fábio Justino de Souza
Edição de Arte Mauricio Rindeika Seolin
Assistente de Arte Carolina Regonha Suster
Papéis da capa Atelier L uiz Fernando Machado Dado s Internacionais Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ghedin, Evandro Questões de método na construção da pesquisa em educação / Evandro Ghedin, Maria Amélia Santoro Santoro Franco - 2. ed. - São Paulo: Cortez, 2011. - (Coleção docência em formação. Série saberes pedagógicos / coordenação Antônio Joaquim Severino, Selma Garrido Pimenta) Bibliografia ISBN 978-85-249-1395-2 978-85-249-1395-2 1. Pedagogia 2. Pesquisa educacional - Metodologia 3. Professores - Formação Profissional I. Franco, Maria Amélia Santoro. II. Severino, Antônio Joaquim. III. Pimenta, Selma Garrido. IV. Título. V. Série.
3
Questões de método na construção da pesquisa em educação 2aedição 2011
S u m á r io .............................................................. 9
AOS PROFESSORES
A p r e s e n t a ç ã o d a c o l e ç ã o ....................... ................................... ...................... ..................... ....................... .....................11 .........11 In t r o d u ç ã o
Capítulo I
......................................................................
Novos
s e n t id o s p a r a a c i ê n c i a
21
....................... ........................... .... 35
1. A especificidade da educação ...................... ..40 2. Elementos para u ma epistemologia da ciência ciência contemp orânea............................. 46 3. Da necessidade de ressignificação do sentido de validade científica....................51 4. N ovos sentidos para a compreensão do fenômeno educativo: educativo: caminhos de transição ................ ........................ ............55 C a p í t u l o II
A ^
c o n s t r u ç ã o d o o l h a r d o p e sq u i s a d o r
.... 69
1. Educar o olhar para ler o mundo em suas suas múltiplas representações................................73 2. Do olhar que vê ao pensamento que explica e compreende por meio da interpretação ............................................... 82
C a p í t u l o III
A
r e f l e x ã o c o m o f u n d a m e n t o d o p r o c e s so
INVESTIGATWO ....................... ......................... ....... 101
C a p í t u l o IV
Pr e s s u p o s t o s e p i s t e m o l ó g i c o s e
METODOLÓGICOS DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO NUMA PERSPECTIVA HERMENÊUTICA..... ......
127
1. As relações entre política e metodologia da pesquisa em educação .............. 130 2. O ato de conhecer e seu sentido sentido pedagóg ico ...............................141 3. O conhecimento conhecimento e a construção do objeto ...................................... 148 4. A reflexão reflexão hermenêutica hermenêutica como paradigma epistemológico de pesquisa .........................133 4.1. A problemática do discurso no interior da língua como forma de significar ............................153 4.2. A construção construção do discurso como potencial de sentido significativo para a compreensão no processo investigativo ..................158 4.3. Uma compreensão da hermenêutica e o desvelamento interpretativo ... 163 4.4. A hermenêutica como como processo processo de investigação nas ciências humanas e na educação ...................171 C a p ít u l o V
A
etnografia c o m o paradigma de
CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE CONHECIMENTO
2. O trabalho trabalho de campo com o especificidad especificidadee da pesquisa etnográfica ..............................193 2.1. A observação participante como estratégia de apreensão do objeto da pesquisa etnográfica............................ 194 3. A abordagem etnográfica etnográfica e seu uso na pesquisa em educação .............................201 A PEDAGOGIA DA PESQUISA-AÇÃO .........................20 9 1. D e que pesquisa se está falando ao referir-se à pesquisa-ação? ......................21 2 2. De q ue ação se está falando ao referir-se à pesquisa-ação? ......................22 4 3. Como pesquisa e ação se integram na pesquisa-ação? ........................................235 4. Estruturação de um processo pedagógico para a pesquisa-ação ............... 23 8 4.1. Construção da dinâmica dinâmica do coletivo.. 239 4.2 . Ressignificação das espirais cíclicas . 241 4.3. Produção de conhecimento e socializaç socialização ão dos sab ere s .....................24 3 4.4. Análise/redireção e avaliação das práticas .........................................24 5 4.5. Conscientização Conscientização sobre as novas dinâmicas compreensivas ...................24 6 24 9 C o n s i d e r a ç õ e s f i n a i s ........................................24 B ib l i o g r a f ia
..........................................................255
AOS PROFESSORES
A Cortez Editora tem a satisfação de trazer ao pú blico brasileiro, particularmente aos estudantes e pro fissionais da área educacional, a Coleção Docência em Formação, destinada a subsidiar a formação inicial de professores e a formação contínua daqueles que se encontram no exercício da docência. Resultado de reflexões, pesquisas e experiências de vários professores especialistas de todo o Brasil, a coleção propõe uma integração entre a produção aca dêmica e o trabalho nas escolas. Configura um proje to inédito no mercado editorial brasileiro por abarcar a formação de professores para todos os níveis de escolaridade: educação básica (incluindo a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio) e a educação superior; a educação de jovens e adultos e a educação profissional. Completa essa formação com as problemáticas transversais e com os saberes pedagógicos. Com mais de 30 anos de experiência e reconheci mento, a Cortez é uma referência no Brasil, nos demais países latino-americanos e em Portugal pela coerência de sua linha editorial editorial e atualidade atualidade dos tem as que publica, especialmente na área da educação, entre outras. É com orgulho e satisfação que lançamos esta coleção, pois estamos convencidos de que representa novo e valioso impulso e colaboração ao pensamento pedagógico e à valorização do trabalho dos professo res na direção de uma melhoria da qualidade social da
en t a ç ã o d a c o l e ç ã o A p r e s en A Coleção Docência em Formação tem por obje tivo oferecer oferecer aos professores em processo de form ação, e aos que já atuam como profissionais da educação, subsídios formativos que levem em conta a s novas dire trizes curriculares, curriculares, buscando atender, atender, de modo criativo e crítico, às transformações introduzidas no sistema nacional de ensin o pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996. Sem desconhecer a importân cia desse documento como referência legal, a proposta desta coleção coleção identifica seus avanços e seus recuos e assu me como compromisso maior buscar uma efetiva interferência na realidade educacional por meio do pro cesso de ensino e de aprendizagem, núcleo básico do trabalho docente social. Seu propósito é, pois, forne cer aos docentes e alunos das diversas modalidades dos cursos de formação de professores e aos docentes em exercício textos de referência para sua preparação científica, técnica e pedagógica. Esses textos contêm subsídios formativos relacionados ao campo dos sabe res pedagógicos, bem como ao dos saberes ligados aos conhecimentos especializados das áreas de formação profissional. A proposta da coleção parte de uma concepção orgânica e intencionada da educação e da formação de seus profissionais, tendo bem claro que professores se pretendem formar para atuar no contexto da socie dade brasileira contemporânea, marcada por determi nações históricas específicas. Com o be m o mostram estudos e pesquisas recen recentes tes na área, os professores são profissionais essenciais nos
Trata-se da Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Essa íei aplica aplica ao campo da educação os dispositivos constitucionais, constituindo, assim, a referência fundamental da organização do sistema educacional do país.
Os professores exercem papel imprescindível e insubstituível no processo de mudança social.
A
presentação
d a c o l e ç ã o
As escolas precisam passar por profundas transformações em suas práticas e culturas para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.
Na complexa tarefa de aprimoramento da qualidade do trabalho escolar, os professores contribuem com seus saberes, seus valores e suas experiências.
A formação docente processo permanente e envolve a valorização identitária e profissional
é um
se efetivam, não geram efeitos sobre a sociedade. Por isso é preciso investir na forma ção e no desenvolvimento profissional dos professores. Na sociedade contemporânea, as rápidas trans formações no mundo do trabalho, o avanço tecnológico tecnológico configurando a sociedade virtual e os meios de infor mação e comunicação incidem fortemente na escola, aumentando o s desafios para torná-la uma conquista democrática efetiva. Transformar práticas e culturas tradicionais e burocráticas das escolas que, por meio da retenção e da evasão, acentuam a exclusão social social não é tarefa simples nem para poucos. O desafio é educar as crianças e os jovens, propiciando-lhes um desen volvimento h umano, cultural, científico científico e tecnológico, de modo que adquiram condições para enfrentar as exigências do mundo contemporân eo. Tal objetivo exi ge esforço constante de diretores, professores, funcio nários e pais de alunos e de sindicatos, governantes e outros grupos sociais organizados. Não ignoramos que esse desafio precisa ser priori tariamente enfrentado pelas políticas de governo. Todavia, os professores são profissionais essenc iais na construção dessa nova escola. Nos anos 1980-90, diferentes países realizaram grandes investimentos na área da formação e desenvolvimento profissional de professores para essa finalidade. Os professores contricontribuem com seus saberes, seus valores, suas experiências nessa complexa tarefa de melhorar a qualidade social da escolarização. Entendendo que a democratização do ensino passa pelos professores, professores, por sua formação, por sua valorização profissional e por suas condições de trabalho, pesqui
A
presentação
articulada, identitária e profissional. Essa forma ção iden titária é epistemológica, ou seja, reconhece a docência como um campo de conhecimentos específicos confi gurados em quatro grandes conjuntos, a saber: 1) con teúdos das diversas áreas do saber e do ensino, ou seja, das ciências ciências human as e naturais, d a cultura e das artes; 2) conteúdos didático-pedagógicos, diretamente relacio nados ao cam po da prática profissional; 3) conteúdos liga dos a saberes pedagógicos mais amplos do campo teórico da prática educacional; 4) conteúdos ligados à expli citação do sentido da existência humana individual, com sensibilidade pessoal e social. E essa formação identitária é também profissional, ou seja, a docên cia constitui um campo específico de intervenção pro fissional na prática social. O desenvolvimento profissional dos professores é objetivo de propostas educacionais que valorizam a sua formação não mais baseada na racionalidade técnica, que os considera m eros executores de decisões alheias, mas em uma perspectiva que reconhece sua capacida de de decid decidir. ir. Ao confrontar sua s ações cotidian as com as produções teóricas, é necessário rever as práticas e as teorias que as informam, pesquisar a prática e pro duzir novos conhecimentos para a teoria e a prática de ensinar ensinar.. Assim, as transformações das práticas docentes só se efetivarão se o professor ampliar sua consciência sobre a própria prática, prática, a de sala de aula e a da escola como um todo, o que pressupõe os conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade. Tais propostas enfatizam que os professores professores colaboram para transformar a gestão,
da c o l e ç ã o
A identidade do professor professor é simultaneamente epistemológica e profissional, realizando-se no campo teórico do conhecimento e no âmbito da prática social.
A tran sformação da prática prática do professor decorre da ampliação de sua consciência crítica sobre essa mesma prática.
A
presentação
Têm-se cobrado dos professores professores responsabilidades que ultrapassam suas atribuições no plano individual. Cabe-lhes, sim, apontar coletivamente coletivamente caminhos institucionais institucionais para enfrentar essas novas demandas.
Para enfrentar os desafios das situações de ensino, o profissional profissional da educação precisa da competência do conhecimento, de
d a c o l e ç ã o
professores como parceiros/autores não transformam a qualidade social da escola. Em consequência, valorizar o trabalho docente significa dar aos professores con dições para analisar e compreender os contextos histó rico, rico, social, cultural e organizacional que faze m parte de sua atividade docente. docente. Na sociedade brasileira contemporâne a novas exigências são acrescentadas ao trabalho dos professores. Com o colapso das velhas certezas morais, cobra-se deles que cumpram funções da família e de outras instân cias sociais; que respondam à necessidade de afeto dos alunos; que resolvam os problemas da violência, violência, da dro ga e da indisciplina; que preparem melhor os alunos para as áreas de matemática, de ciências e tecnologia para colocá-los em melhores condições de enfrentar a competitividade; que restaurem a importância dos conhecimentos e a perda da credibilidade das certezas científicas; que sejam os regeneradores das culturas/identidades perdidas com as desigualdades/diferen ças cu lturais; qu e gerenciem as escolas com parcimônia; parcimônia; que trabalhem coletivamente em escolas com horários cada vez mais reduzidos. Em que pese a importância dessas demandas, não se pode exigir que os professo res individualmente as atendam. Espera-se, pois, que, coletivamente, apontem caminhos para o enfrentamento dessas exigências. E nesse contexto com plexo que se faz necessário ressignificar a identidade do professor. professor. O ensino, ativid a de característica dele, é uma prática social comple xa, carregada de conflitos de valor e que exige posturas
A
presentação
situações ambíguas, incertas, incertas, conflituosas e, por vezes, violentas, presentes nos con textos escolares e não esco lares. É da natureza da atividade docente proceder à mediação reflexiva e crítica entre as transformações sociais concretas e a formação humana dos alunos, questionando os modos de pensar, sentir, agir e de produzir e distribuir conhecimentos. Problematizando e analisando analisando as situações d a prá tica social de ensinar, o professor utiliza o conheci men to elaborado das ciências, das artes, da filosofia, da pedagogia e das ciências da educação como ferra menta para a compreensão e a proposição do real. Esta coleção investe na valorização da capacidade de decisão dos professores. professores. Assim, discutir os te mas que permeiam o cotidiano das atividades escolares como projeto pedagógico, autonomia, identidade e profis sionalismo d os professores, violência, cultura, religiosida de, importância do conhecimento e da informação na sociedade contemporânea, a ação coletiva e interdisciplinar, ciplinar, as questõ es de género, o papel do sindicato na formação, entre outros, articulados aos contextos institucionais, às políticas públicas e confrontados com experiências experiências de outros contextos escolares e com teorias é o caminho que e sta coleção propõe. propõe. Os livros que a compõem apresentam apresentam um tratamento teórico-metodológico relacionado a três premissas: 1. Há estreita vinculação entre os conteúdos científicos e peda gógicos. 2. Produz-se conhecimento de forma construti va. 3. Existe est rita ligação entre teoria e prática.
d a
c o i t ç Ã o
Valorizar o trabalho docente implica dar aos professores professores condições para análise critica do contexto em que se realiza sua prática educativa.
O caminho proposto por esta coleção é o da discussão dos temas do cotidiano escolar, escolar, ligados aos contextos institucionais e às políticas públicas e confrontados com as teorias e a experiência.
A
presentação
da c o l e ç ã o
de formação humana e a processos metodológicos e organizacionais de transmissão e apropriação de saberes e modos de ação. O trabalho docente está impregnado de intencionalidade, pois visa à forma ção human a por meio de conteúdos e habilidades, habilidades, de pensamen to e ação, o que implica escolhas, valores, valores, compromissos éticos. Isso significa introduzir objeti vos de natureza conceituai, procedimental e.valorativa, em relação aos conteúdos da matéria que ensina; transformar o saber científic científico o ou tecnológico tecnológico em con teúdos form ativos; selecionar e organizar conteúdos de acordo com critérios lógicos e psicológicos, psicológicos, em fun ção das características dos alunos e das finalidades do ensino; utilizar métodos e procedimentos de ensino específicos, inserindo-os em uma estrutura organizacional em que participe de decisões e ações coletivas. Por isso, para ensinar, o professor necessi ta de conhecimentos e práticas que ultrapassem o campo de sua especialidade. De out ro lado, é preciso levar levar em conta que to do con
A
presentação
Na formação de professores, professores, os currículos devem considerar a pesquisa como princípio cognitivo, ; investigando com os alunos a realidade escolar, desenvolvendo neles essa atitude inv estigativa em suas atividades profissionais e assim tornando a pesqui sa também princípio formativo na docência. Além disso, é no âmbit o do processo educativo que
da c o l e ç ã o
A construção do conhecimento se dá através da prática da pesquisa. pesquisa. Ensinar e apreender só ocorrem significativamente quando decorrem de uma postura investigativa de trabalho.
mais íntima se afirma a relação entre a teoria e a prá tica. Essencialmente, a educação é uma prática, mas uma prática intencionada pela teoria. Disso decorre atri buirmos importân cia ao estágio no processo de formação do professor. Entendendo que ele faz parte de tod as as disciplinas, percorrendo o processo formativo desde o
No processo educativo, teoria e prática se associam e a educação é sempre prática intencionalizada pela teoria.
início, os livros desta coleção sugerem várias modali dades de articulação direta com as escolas e demais ins tâncias, nas quais os professores atuarão, apresentando formas de estudo, análise e problematização dos sabe res nelas praticados. O estágio tam bém pode servir de espaço de projetos interdisciplinares, ampliando a compreensão e o conhecimen to da realidade profissio
teúdo de saber é resultado de um processo de construção de conhecimento. Por isso, dominar conhecimentos não quer dizer apenas apropriação de dados objetivos pré-elapré-ela-
nal de ensinar. ensinar. As experiências experiências docentes dos alunos que já at ua m no ma gist éri o, com o tam bé m daq uel es que
borados, produtos prontos do saber acumulado. Mais do que dominar os produtos, interessa aos alunos com
participam da formação continuada, devem ser valo rizadas como referências importantes para serem dis
preender que estes são resultan tes de um processo de inves tigação humana. Assim trabalhar o conhecimento no
cutidas e refletidas nas aulas. Considerand o que a relação entre as instituiçõ es for
processo formativo dos alunos significa proceder à me diação entre os significados do saber no mundo atual e
' formação para os professores das escolas, escolas, assim com o para
aqueles dos contextos nos quais foram produzidos. produzidos. Sig
os formadores, os livros sugerem a realização de proje
madoras e as escolas pode representar representar a continuidade da
O estágio e as experiências docentes acumuladas assumem papel relevante na formação do professor.
Formar o profissional profissional da educação exige um investimento competente e crítico nas esferas do conhecimento, da ética e da política.
A
presentação
A
da c o l e ç ã o
Para subsidiar a forma ção inicial e continuada dos professores onde quer que se realize, realize, nas faculdades iso ladas, nos centros universitários e no ensino médio, esta coleção está assim estruturada:
Educaç ão In fan til profissiona is de creche e pré-escola
Ensino F undam ental professores do Is ao 5Sano e do 6Sao 92,ano 92,ano
Ensino M éd io professores do ensino médio
Ensino Sup erio r professores do ensino superior
Educa ção P rofi ssion al
presentação
• Investir em sólida formação teórica nos campos que constituem os saberes da docência. • Considerar a formação voltada para o profissionalismo docente e para a construção da identidade de professor. • Tomar a pesquisa como componente essencial da/na formação. • Considerar a prática social concreta da educação como objeto de reflexão/formação ao longo do pro cesso formativo. • Assumir a visão de totalidade do processo escolar/edu cacional em sua inserção no contexto sociocultural. • Valorizar a docência como atividade intelectual, crí tica e reflexiva. • Considerar a ética como fundamental à formação e à atuação docente.
professores do ensino profissional
Educa ção d e Jovens e A du ltos professores de jovens e adultos em cursos especiais
Saberes Pedagógicos e Formação de Professores Problemáticas Transversais Transversais e Formação Formação de Professores Professores Em síntese, a elaboração dos livros desta coleção baseia-se nos seguintes pontos:
da c o l e ç ã o
.
Ant ôni o Joa qui m S everin o Selma Garrido Pimenta coord enado res
Investir em uma concepção orgânica de formação de professores mediante um tratamento metodológico que vincula os campos dos saberes da docência: o propósito dos livros desta coleção.
In t r o d u ç ã o
'W
Introdução A destruição do sujeito pelo pensamento pós-moderno result resultou ou na impossibilidade impossibilidade de pensar uma saída política p ara a crise crise vigente vigente.. A redução dele à sua linguagem condicionou-o ontologicamente ao significado, comprimindo-o no não sentido. Tal movimento não começou na Filosofia contemporânea. Longo processo processo histórico tem reproduzido essa redução ou tem-na feit o m igrar ora para a realidade, ora para o sujeito, ora para sua linguagem. O essencialismo essencialismo platôn ico predom inou até o Renascimento, fundando uma leitura metafísica do mundo, rompida com o advento do pensamento heideggeriano. heideggeriano. O reducionismo, acima aludido, subtraiu do sujeito a possibilidade de emancipação pelo conhe cimento. Em Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino há a construção de um saber essencialista centrado no objeto, como se cada coisa tivesse uma essência que deveria ser “descoberta”. “descoberta”. A modernidade desloca esse essencialismo para o sujeito e deixa de buscar a causa primeira das coisas a fim de concentrar o pro cesso do conhecimento naquele que conhece os fatos. A ciência moderna, com uma pretensão à
In
t r o d u ç ã o
resultado, isto é, o conceito. A partir daí a epistemologia, tão celebrada na modernidade, perde espaço, porque, ao deslocar-se o centro da reflexão do sujeito para o conceito, se retira daquele o primado da verda de. O que importa conhecer já não é nem o objeto nem o sujeito como essência, mas o método que torna possível o conhecimento pela evidência da lin guagem expressa no conceito. Semelhante deslocamento funda o movimento refle refle xivo que vai ser nomeado de “pós-modernidade” por romper com a centralidade do conhecimento baseado numa essencialidade essencialidade.. Sobre esse deslocamento convém estar, em linhas gerais, de acordo, ao se conceber o conhecimento como um processo de m últiplas relações relações que não se concentra em um de seus elementos. elementos. O pensam ento pós-moderno reduziu a possibilidade do conhecimento a um de seus polos, o conceito. Nesse sentido, apesar de opor-se às leituras metafísicas, gera uma versão sua fundamentada na linguagem. Desloca a “essência” do sujeito para o conceito e não muda a interpretação dela, apenas desvia seu funda mento. Ao fixar-se fixar-se na expressão expressão sob form a de conceito, e não nas relações em processo, a pós-modernidade reproduz a mesma lógica do pensamento metafísico. As filosofias pós-modernas, ao efetuarem o desloca mento do sujeito para sua expressão expressão na linguagem — mais do que um deslocamento para o conceito — , eli eli minam a historicidade e nela o papel político que o sujeito cumpria como agente portador da emancipação coletiva coletiva pretendida pelo Iluminismo. Esse parece ser o grande problema exposto na contemporaneidade que
chão político como espaço de emancipação e das lutas coletivas por meio do conhecimento. A redução do sujeito ao conceito desenvolveu-se mediante a desconsideração das complexas relações estabelecidas entre os componentes das possibilida des do conhecer. Foi ocasionada pelo esquecimento, na dinâmica de construção do saber, de que o conhecimento só é possível quando há permanen tes e integradas relações entre seus elementos: o sujeito, o objeto, o método e o conceito. Neste tra balho de pesquisa e reflexão, as questões de método surgem como condição de retomada dos processos investigativos que tornam possíveis e cientificamente válidos os conhecimentos produzidos na área educa cional. Refletir sobre essas questões significa retomar o pensamento sobre o mod o de operar do conhecimento. conhecimento. E importante examiná-las à medida que o método constitui um pretexto para repensar as teorias educa cionais que orientam o processo metodológico do conhecimento em educação. educação. O método é aquilo que possibilita a interpretação, interpretação, mediante algum instrumento, do objeto que possui mais de u m significado. significado. Parte-se Parte-se aqui dessa ideia geral de método por entender que cada objeto investigado está carregado de sentidos, passíveis de estruturação e organização. O pesquisad or organiza esses esses sentidos do objeto por meio do discurso, que o interpreta e expressa o que ele é. O discurso é que possibilita a constituição da ciência. Por um lado, o método tem uma dimensão mais filosófica, de caráter epistemológico (como Filosofia
In
t r o d u ç ã o
In
se debruçam sobre o problema metodológico. Por outro lado, ele conta com uma dimensão operativa, instituída pelas práticas e ações que permitem o aces so da pesquisa e do pesquisador ao objeto de estudo. E justamente nesse contexto que se situam as abor dagens de pesquisa. Delas decorre uma parte mais operacional, que consiste no uso de técnicas que facultam a execução da atividade de pesquisa. Entre essas técnicas se incluem, por exemplo, as entrevis tas, como forma de abordar o objeto estudado ou de ter-lhe acesso. Pode-se dizer que o método, em sua perspectiva filosófico-epistemológica, propõe os fundamentos para o exercício de uma investigação. Aquilo que se convencionou chamar de correntes de pensamento ou formas de expressar expressar o método — ou ainda, aquilo que se chama mais propriamente de método — é nada menos que a dimensão filosófica do processo de cons trução do saber. Na maioria das vezes, não há clareza suficiente para distinguir o método das abordagens e estas das técnicas. E preciso ter clara essa distinção para lograr aprofundar o processo investigativo e a compreensão a respeito dele. Antes de mais nada, cabe dizer que a palavra método é um conceito de origem grega cujo significado é “caminho que se faz caminhando enquanto se caminha”. Portanto, o método, conforme seu significado original, é algo que só pode ser visto plenamente quando se chega ao fim do processo. Nesse sentido, quando alguém propõe um projeto de pesquisa, apenas antecipa a direção do caminho.
t r o d u ç ã o
a realização da trajetória investigativa. O m étodo de um projeto de pesquisa indica a direção por onde ela caminhará, mas é somente depois do trajeto que se pode ter uma descrição descrição mais rica e detalhada do pro cesso de investigação. O método é sempre uma perspectiva de onde se parte que permite pressentir a chegada a algum lugar. Ele propicia o vislumbre de um percurso antes de chegar aos detalhamentos do caminho. Enseja a caminhada em determinada rota. Portanto, embora não possa ser exclusivamente definido antes do cami nho, ele aponta sua direção. E isso que torna a pes quisa e o conhecimento científico possíveis. Nesse sentido, o método constitui o fundamento de toda e qualquer teoria. Esta resulta de um método que tor nou sua elaboração possível. E certo considerar que a mudança de perspectiva metodológica interfere no processo e no resultado da investigação. Questões de método trabalha em um recorte filosó fico e surge como uma reflexão a respeito do conhe cimento e de seus modos de produção. A sistemática da reflexão sobre o'método e sua influência na inves inves tigação dos objetos possibilitaram, ao longo d a his tória, a construção de várias perspectivas epistemológicas, tais como a dialética, a fenomenologia e o positivismo. Essas correntes de pensamento influenciam o modo pelo qual se compreende o conhecimento. Pode-se dizer que elas constituem teorias orientado ras dos procedimentos metodológicos, à medida que se vão disseminando pelas mais diversas ciências,
Não se vai entrar aqui na discussão dessas correntes filosóficas sobre o método. Mais à frente, elas serão tratadas brevemente. Para uma análise mais apurada, é interessante a abordagem deTrivinos (1987).
In
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conhecimento avançar em cada área e, com isso, dar origem a novos saberes e novas ciências. As correntes epistemológicas são sempre reflexões sobre o método. Mas qual o sentido do método? E possibilitar um conhecimento verdadeiro, verdadeiro, ou seja, em que haja coincidência com o próprio objeto em suas relações, relações, à proporção que seja possível afirmar e manter a verdade. No conhecimento científico, a verdade não está nem pronta nem acabada, mas consiste sempre num processo de desconstrução, construção e reconstrução — porque os problem as, ao passo que são resolvidos, trazem novas problemáticas e novas possibilidades de aprofundamento. Portanto, uma dimensão do método é essa de caráter caráter epistemológico-filosófi epistemológico-filosófico. co. N o p risma da edu cação, porém, ele não é visto simplesmente à luz da reflexão filosófica, mas também de sua contribuição à pesquisa educacional. Os trabalhos desta natureza vão ter sempre um cunho teórico-prático e menos abstrativo que a reflexão filosófica. O método, na qua lidade de caminho que possibilita o conhecimento na área educacional, é compreendido como abordagem dos objetos e da realidade. Nesse caso, na educação, essa reflexão teórico-metodológica de orientação filo sófica inclui-se mais naquilo que comumente se chama de abordagens de pesquisa. Uma abordagem não constitui, de pronto, o méto do. Como diz o termo, consiste na ação de atingir a borda, a extremidade, e não propriamente o objeto em si. Abordar é um olhar que se detém na borda para, a partir dela, atingir o centro do objeto como
uma reflexão sobre como se deve conduzir o olhar na direção direção de determinados objetos. As abordagens — fundamentalmente duas: quantitativas quantitativas e qualitativas qualitativas — não são estanques em si mesmas, mas devem ser conjugadas numa abordagem “quantiqualitativa” para que os objetos de estudo na área educacional sejam mais bem conhecidos. conhecidos. A título de exemplo, pode-se mencionar a etnogra fia, a pesquisa-ação, a história de vida e a pesquisa documental como formas de expressão das abordagens qualitativas. Todavia, como se verá ao longo deste tra balho, essas formas conjugam elementos quantitativos e qualitativos. Cada abordagem de pesquisa exige fundamentalmente determinadas técnicas técnicas (por exemplo, a etnografia implica técnicas de entrevis tas, de observação participante e de “estudo de caso” — forma de apresentaçã apresentação o de uma comunica ção científica de caráter etnográfico). As técnicas de cada abordagem exigem determinadas estratégias estratégias (que se dão pelas ações do sujeito/objeto de pesquisa), as quais, em decorrência, envolvem procedimentos táticos (as ações do pesquisador no processo) como forma de acesso ao objeto de investigação. As técnicas, as estra tégias e os procedimentos constituem a base dos dados essenciais para a análise do objeto. A análise é preferencialmente realizada com base em categorias de análise, análise, que emergem da teoria que orienta a pesquisa, da opção metodológica e do pró prio campo da investigação. As categorias de análise ensejam a construção de um esquema de trabalho que possibilitará o registro da pesquisa com base na elabo
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compreensão da realidade. realidade. Uma pesquisa é realmen te significativa quando consegue fechar o ciclo do processo investigativo. A análise dos dados ocorre, normalmente, em um momento posterior à realizaçã realizaçãoo da coleta de dados da pesquisa, mas pode ocorrer simultaneamente a ela, dependendo da abordagem escolhida. Na pesquisa-ação, por exemplo, exemplo, a análise inicia-se inicia-se simultaneamen te à própria atividade investigativa, havendo, ao final, uma metanálise, metanálise, ou seja, uma reflexão reflexão sobre a reflexão em torno da ação pesquisada. O presente livro, parte integrante da Coleção Docência em Formação, que oferece oferece subsídios para a formação inicial e contínua dos professores desde a educação infantil até o ensino superior, compõe a Série Saberes Pedagógicos e Formação Docente. Ele nasce da necessidade de estabelecer uma reflexão siste mática acerca das questões de método que envolvem o processo de pesquisa em educação. O que moveu as escolhas das temáticas propostas foi justamente a conveniência de repensar epistemologicamente os problemas da investigação nessa área. Busca-se aqui a reflexão reflexão sobre as teorias que embasam e fundamentam os processos educativos e suas perspectivas à luz do entendimento de que a epistemologia e a metodologia decorrem de uma ontologia. Assim se justificam as escolhas por determinadas abordagens investigativas — p or exemplo, pela pesquisa-ação e pela etnografia, considerando que esta tem seu foco na compreensão da cultura do grupo e aquela, nas transformações da
dinâmicas de elaboração do conhecimento, fundamental para a construção ética do ser humano. Com base na noção de que docência e pesquisa se desenvolvem como processos mutuamente engajados, este livro propõe-se redimensionar os pressupostos da pesquisa científica à luz da especificidade do ato peda gógico. Não é sua intenção oferecer aos docentes um pacote de informações sobre sobre métodos e técnicas técnicas de pes quisa em educação; pretende, ao contrário, refletir sobre a inerência e a necessidade dos processos de pesquisa como construtores do conhecimento, de sorte que sejam percebidos e requeridos como condição para o exercício crítico e reflexivo da profissão. A ob ra está dividida em seis capítulos.
O primeiro, “ Novos sentidos para a ciência”, ciência”, pro cura desmistificar o sentido de ciência tradicional e, à luz dos novos contextos em que a sociedade contem porânea está mergulhada, apresentar o ato educativo como uma de suas demandas mais complexas, a qual requer uma concepção ampliada do sentido de ciên cia. Propõe aos docentes e futuros docentes uma refle refle xão sobre a especificidade do ato educativo, que requer novas condições p ara a investigação investigação educacional. O segundo capítulo busca fazer uma análise sobre a construção do olhar do pesquisador como forma de ler o mun do em suas múltiplas representaçõe representações. s. O lei lei tor é convid ado a verificar que nenhum olhar é neutro; os olhares constroem-se pela significação do mundo. Assim, revela-se necessário aprender a olhar o mundo como condição para pensá-lo num contexto explica
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metodologia da pesquisa em educação, algumas luzes sobre a questão. Faz uma análise sobre a objetividade e a subjetividade das pesquisas educacionais, avalian do os modelos objetivista, subjetivista e dialético, ao mesmo tempo que indica alguns cuidados necessários ao pesquisador no exercício de sua atividade. Esse capítulo realça a importância da reflexão reflexão como subs trato para a ação docente. O quarto capítulo analisa os pressupostos epistemológicos e metodológicos da pesquisa em educação numa perspectiva hermenêutica. Ab hermenêutica. Ab orda a qúestão d a relação relação entre conhecimento e política, procurando com preender em que medida essa relação interfere nas metodologias da pesquisa em educação. Analisa Analisa o ato de conhecer e seu sentido pedagógico na construção do conhecimento e do objeto de investigação, ao mesmo tempo que propõe a reflexão hermenêutica como para digma epistemológico de pesquisa. O quinto capítulo trata da etnografia etnografia como para digma de construção do processo de conhecimento em educação. educação. Procura compreender a abordagem etno gráfica e seus pressupostos. Analisa e propõe o tra balho de campo como especificidade da pesquisa etnográfica. Apresenta a observação participante como estratégia de apreensão do objeto da pesquisa etnográfica e estabelece as relações entre a abordagem etnográfica e seu uso na pesquisa em educação. O sexto capítulo discorre sobre a pedagogia d a pespesquisa-ação. quisa-ação. Busca uma definição de direção da pesquisa-ação e reflete seriamente sobre os conceitos centrais dessa modalidade de investigação. Realça a
Encerra a reflexão com a estruturação de um proces so pedagógico para a pesquisa-ação, evidenciando a construção da dinâmica coletiva, a ressignificação das espirais cíclicas, a produção dos conhecimentos, a socialização dos saberes e a conscientização sobre as novas dinâmicas compreensivas. As questões de método trazidas à reflexão estão preocupadas com uma epistemologia que conjuga elementos da dialética, da fenomenologia e da her menêutica. Tal movimento reflexivo tem sua razão de ser na convicção de que essas perspectivas perspectivas complemen tam um modo especial de compreensão e permitem o avanço no conhecimento em educação. O livro propugna por uma mudança de atitude com relação a esse conhecimento e exige novas formas de interpretação dos objetos de pesquisa em educação. Destina-se à formação docente nos cursos de Pedagogia e nas demais licenciaturas, aos cursos de formação vinculados aos programas de pós-gradua ção lato e stricto sensu sensu e à preparação pedagógica de professores em exercício nas universidades, centros universitários e faculdades isoladas. Desejamos uma boa leitura e um mergulho nas Questões de método na construção da pesquisa em educação como educação como possibilidade de refletir juntos sobre o sentido da produção do conhecimento na esfera educativa.
Os autores
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Capítulo
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Novos sentidos para a ciência A construção da ciência talvez tenha sido a maior aventura do homem no que diz respeito à sua realidade existencial. O conhecimento conhecimento científico científico foi , aos poucos, permitindo-lhe descobrir as estruturas e o funcionamento do universo em suas diferentes manifestações de vida, propiciando enormes progressos nas formas de medir, medir, ava liar e controlar controlar a existência existência huma na. E sab ido que a ciência, ao mesmo tempo que proporcionou ao homem esclarecimento esclarecimento,, libertação de antigos mitos, alargamento dos saberes e domínio sobre o ambiente, produziu condições de aniquilamento e de opressão da humanidade. A aventura científica esteve sempre permeada de contradições e de ambiguidades. Se, de um lado, caminhou muito na quantificação do mundo, originando verdades com auras de infalibilidade, de outro, caminhou pouco na dimensão reflexiva de seu saber; se, de um lado, muito caminhou nas ciências denominadas “duras”, de outro, caminhou bem menos nas ciências humanas. Quando este livro põe em questão a cientificidade da pesquisa em educação, pretende adentrar nos senti-
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analisadas segundo os aportes da ciência clássica, os quais nem sempre deram conta de produzir saberes atinentes ao objeto de estudo dela. A ciência moderna sempre pretendeu arvorar-se em portadora da verdade, aspirando a ser a guardiã do caminho da salvação humana, a redentora do homem como senhor do universo. As ciências ciências huma nas, por sua vez, estiveram sempre impregnadas da racionalidade que serviu de base aos fundadores da ciência moderna, os quais, apoiados em métodos e lógicas decorrentes das ciências da natureza, avaliza ram epistemologias que pressupõem a crença na rea lidade exterior, separada do olhar e sentir humanos, acessível pelo bom uso da razão, pela neutralidade científica, pela objetividade, pelos cálculos e análises quantitativos, na busca de postulados verificávei verificáveis, s, de relações causais previsíveis. Assim, a ciência teria o poder de, com maior ou menor rigor, dotar o homem da possibilidade de descobrir a verdade do mundo. Por conseguinte, conseguinte, foi-se estabelecendo estabelecendo a noção de que apenas aquilo comprovado cientificamente, testado empiricamente, é verdadeiro, atitude epistemológica _________decorrente da herança histórica da tradição positivista. ^_________ A irailiç.ui irailiç.ui poviliv povilivi.sia i.sia v aqui vista, umlormc Scverim» Scverim» (l l>lWj, lWj, ann o unia doutrina .iiitivalvnic: ás formulações de (,'oinre. Neverino earaeteriza-.i eomo postura básica de só admiti r rumo nítido o roubei iwrnlo do< fenômenos nômenos obtido a trai'tf do método método experimenta! — matemático - - da a cu da . b.ssa b.ssa postura tmp lha a rejctç.io rejctç.io radicai dc todo conhecim conhecimento de de nature*»! metafisica e a afirmarão de um sujeito raciona! capar apenas dc configurar a fenomcnaUdade do objeto. sendo-lhe sendo-lhe vedada qu alquer pretensão de chegar a um eventual núcleo
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UãJvdid: dando contitiutdade aos empreendimentos eptstemológteo i de Hume e Kant ■O uua' direção, direção, mais mais eontemporan ca deeorrenie das transformações to positivismo positivismo íbdoxo:, eons tituind o, aliás, quase que um mov imento antipo sitivista, «?deno mina da pelo ror "dié iránsposirivisino. tá que earaereri/.a essa essa rendeneia r o fato de nao caiu a r a
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a ariva partiJpasão do sujeito na construção do objeto invesiigadtc
O interesse interesse fundamental desta obra na discussão das possibilidades científicas de investigação educacional pressupõe interrogar-se sobre “as aptidões de seu discur so pa ra dar conta de seu objeto objeto ’ (Japiassu, 1997, p. 40). Este autor argumenta que, mais do que a questão da cientificidade, cientificidade, a pr eocupação da ciência que investiga a educação deverá ser o seguinte problema: em que con dições as produções de seus pesquisadores são capazes de inventar um mundo, de tornar-se parceiras da humanidade e de pensar não somente o que é verda deiro, mas o que é justo e desejável desejável?? As afirmações do autor ressaltam a questão da ambiguidade cienjífica, em que os critérios de ver ver dade, historicamente construídos, nem sempre se fizeram acompanhar dos sentidos de construção de justiça, de solidariedade e de transformação da sociedade na direção de mais hum anidade entre os seres humanos. Não se pode, pois, deixar de concordar com Morin (1982, p. 13), ao dizer que, apesar de todo o avanço tecnológico obtido pela revolução científica, esta não produziu avanços no progresso humano e pode mais
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PercebePercebe-se, se, portanto, que o p aradigma tradicional positivista não oferece oferece suporte para a absorção das espe cificidades deste complexo objeto de estudo, a saber, a educação e, especialmente, as práticas educativas.
1. A especificidade da educação
Mialaret (1998), Chariot (1995), Pimenta (1996, 1997, 1999), Hess (1997), Pérez-Gómez (1998), Libâneo (1996, 1998), Estrela (1980), Estrela e Falcão (1990), Schimied-Kowarzik
A educação, segundo muitos autores, autores, possui certa especificidade que lhe outorga o caráter de atividade complexa, caráter esse que precisa ser contemplado nas investigações científicas sobre o objeto em questão. Assim, numa visão ampliada, é possível tentar organizar uma série de constatações, quase consen *• suais, a respeito do fenômeno educativo, a saber:
(1983), entre outros.
Conforme Franco (2001b).
• A educação é uma prática social humana; é um processo histórico, inconcluso, que emerge da dia lética entre entre homem, mundo, história e circunstân circunstân cias. Sendo um processo histórico, não poderá ser apreendida por meio de estudos metodológicos que congelam alguns mo mentos dessa prática. Deverá o método dar conta de apreendê-la em sua natureza dialética, captando não apenas as objetivações de uma prática real concreta concreta,, m as também a potencia lidade latente de seu processo de transformação. • A educação, como prática social histórica, transforma-se pela ação humana e produz transformações nos que dela participa. Dessa forma, cabe à ciência da educação reconhecer que, ao lado das característi cas observáveis do fenômeno, existe um processo de
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vivido, o que ocasionará uma reorientaçao nas ações futuras. Será fundamental que o método abra espaço para que os sujeitos envolvidos tomem consciência do significado das transformações. transformações. • A educação é um objeto de estudo que se modifi ca parcialmente quando se tenta conhecê-la, assim como, à medida q ue é apreendida, apreendida, provoca alterações naquele que dela se apropriou. Aqui se realça a necessidade do caráter dialético dessa ciência, no sentido de considerar como prioritá ria a incorporação da subjetividade na construção da realidade da educação na perspectiva da inter pretação pretação coletiva. coletiva. Será fundamental que o método dessa ciência permita a captação dos significados que os sujeitos vão construindo em processo. • A educação permite sempre uma polissemia em sua função semiótica, ou seja, nunca existe uma relação direta entre o significante observável e o significado. Assim, a ciência da educação deve considerar necessário adentrar o suposto concre to, caminhar na exploração de sua representação abstrata e buscar o novo concreto, expressão mais fiel da “síntese de múltiplas determinações”. • A educação carrega sempre a esfera da intencionali dade, o que ressalta sua complexidade axiológica. Esta requer uma atitude de multirreferencialidade (Ardoino) e exige que o método dessa ciência ciência tenha a possibilidade de adentrar na esfera de valores e que seus dados, quer quantitativos, quer qualita tivos, sejam analisados à luz dos valores implíci
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• As situações educativas estão sempre sujeitas a circunstâncias imprevistas, não planejadas, e dessa forma os imprevistos acabam redirecionan do o processo e muitas vezes provocam uma reconfiguração da situação. Portanto, um método científico, ao estudar a educação, precisa reservar espa ço de ação e de análise ao não planejado, ao imprevis to, à desordem aparente, e isso deve pressupor a ação — coletiva coletiva,, dialógica e comprometida com a emanci pação — empreendida pelos sujeitos da prática, entre os quais se inclui também o pesquisador. • A educação, tendo por finalidade a humanização do homem, integra sempre um sentido de emancipação às suas ações. Por conseguinte, o método científico que a estudará deverá ter como pressuposto a pos sibilidade de oferecer aos sujeitos do grupo pes quisado condições formadoras e incentivadoras dessa emancipação, o que poderá facilitar a trans formação democrática das condições de vida e existência dos sujeitos.• sujeitos.• • Toda ação educativa carrega uma carga de intencio nalidade que integra e organiza sua práxis, fazendo confluir para a esfera do fazer as características do contexto sociocultural, as necessidades e possibilida des do momento, as concepções teóricas e a consciên cia das ações cotidianas, num amálgama provisório que não permite uma parte ser analisada sem refe rência ao todo nem este ser analisado sem ser visto como síntese transitória transitória das circunstâncias parciais parciais do momento. Assim, para ser estudada cientificamente, a educação requer procedimentos que facultem ao
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Percebe Percebe-se -se na educação um objeto complexo que, ao ser apreendido cientificamente, não pode sofrer reduções nem fragmentações, que produziríam sua descaracterização. Percebe-se também que os critérios de cientificidade da ciência tradicional não podem dar conta — como não deram — de estudar a edu cação. Esta, como objeto de estudo, sofreu prejuízos em sua interpretação no decurso da história e hoje requer procedimentos e ações conformes a uma racionalidade que lhe sirva de pressuposto. Essa nova racionalidade deverá dar conta de absorver toda a especificidade especificidade do fenômeno educativo, educativo, delinean do os aspectos atribuidores de novo significado à noção de ciência. Para tanto, será necessário empenhar-se na reconstrução reconstrução e ressignifica ressignificação ção dos pressupostos que fun damentam a ciência clássica, especialmente: • na superação do princípio da exterioridade da rea lidade, incorporando a subjetividade construtora do real; • na transformação da visão de uma realidade com posta de fatos ilhados, atômicos, caminhando para uma concepção que incorpore a complexidade e a dialética da realidade social; • na recomposição do pressuposto de que a razão cien tífica deve pautar-se pela busca de relações causais entre os fatos e na assunção da necessária considera ção da multirreferendalidade das configurações que organizam o fenômeno humano; • na superação da busca da neutralidade neutralidade científica — que, além de isolar o sujeito do objeto, se abstém de
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• na incorporação do não quantificável — incluindo aspectos qualitativos e variáveis não observáveis, mas presentes em todo ser humano, tais como von tade, desejo, impulsos, em oções, valores — , de sorte que seja suplantada a desnecessária associação entre verdade e comprovação empírica; • no abandono da noção de que tanto os fenômenos da natureza quanto os sociais são regidos por leis invariá veis, a fim de assumir como componente da realidade social o aleatório, o imprevisível, o desconhecido; • na superação da crença de que os fatos sociais só poderão ser conhecidos se forem diluídos em variá veis, as quais poderão ser observadas, classificadas e medidas depois de operacionalizadas, operacionalizadas, assim com o na adequação de pressupostos que consideram a realida de social à luz da totalidade e da contradição; • na revisão da alegação de que há apenas duas for mas de conhecimento consideradas válidas: o conhecimento empírico e o lógico; • na revisão do conceito de rigor científico e da compreensão de que o rigor se dá somente pelo controle das medições e que conhecer significa apenas quantificar, assim como em reflexões sobre novas formas de conceber a prática como critério de cientificidade;• cientificidade;• • na revisão da concepção de que o todo se compõe da somatória de partes e que basta dividi-lo para entender a totalidade, a fim de abrir-se à relação dialética e complexa entre totalidade e partes;
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formal obtém-se com a expulsão da intenção” intenção” (Santos, 1996, p. 16), incorporando, ao contrário, a intencio nalidade como fator fundamental para a compreen são do fenômeno educativo; • no reconhecimento e esclarecimento da dimensão ética da ciência; • na compreensão de que a ciência ciência pode assumir um domínio ideológico da sociedade por meio de sua transformação em técnica. Na realidade, trata-se de um suposto paradoxo, pois o À medida que os conhecimentos das diversas áreas espanto só surge quando do saber se foram desenvolvendo de acordo com o se assume um “raciocínio positivista”. A lei da rigor científico peculiar aos pressupostos da ciência dinâmica da vida e do clássica, foram surgindo verdades até então insuspei mundo, a dialética dos processos sociais tas, que vieram a demonstrar a fragilidade fragilidade dos funda demonstram que o mentos iniciais. exercício racionai facilita Parece ser grande paradoxo o fato de que o exercício o aparecimento de uma razão que, a princípio vista científico, com base em uma racionalidade de cunho como discrepante, funciona como complementar positivista, coopere para o surgimento de produções na configuração de que serão as raízes da destruição dos pressupostos que a novas totalidades. geraram. No ent anto, é um paradoxo que se encon ________________O sentido de tra frequentem ente , presente na história das ideias; ________________O “acontecimento”, para Morin, conforme Morin (1982, p. 96): “É no momento momento que relaciona-se a um dos uma tese atinge a província mais afastada do ponto de pressupostos de sua teoria da complexidade, a saber, o partida, é neste momento que se opera uma revolução, caráter singular e fenomenal da precisamente no ponto de partida, que invalida a tese” realidade — o qual não pode ser visto isoladamente, mas Ou, ainda, como afirma o autor mais adiante: “É “É no convive em constante diálogo com o caráter o caráter singular e momento em que as ciências humanas se moldam segun repetitivo vo da realidade. realidade. “A do um esquema mecanicista, estatístico e causalista, pro natureza singular e evolutiva do mundo é inseparável de veniente veniente da física, é neste neste momento momento que a própr ia fisica sua natureza acidental e acontecimental.” acontecimental.” se transforma transforma radicalmente radicalmente e põe o problema da história
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do mundo, da rejeição do imprevisto, do aleatório, reduzindo o real à esfera do aparente, do superficial, do previsível. Mas o acaso, a necessidade, a relatividade vão-se impondo à estatística, à microfísica, à biologia e passam a ser reconhecidos como uma possibilidade na constituição da realidade, gerando novas formas de conhecimento e permitindo um salto qualitativo na compreensão do mundo. Assim, gradativamente, os princípios de imponderabilidade, singularidade, improbabilidade e desordem vão sendo incorpora dos na prática das pesquisas científicas. Primeiro nas ciências biofísico-matemáticas e só tardiamente nas ciências sociais e humanas. Outro paradoxo!
2. Elementos para uma epistemologia da ciência contemporânea Cf. Franco (2001b).
Importa por certo que a ciência hoje incorpore em seu fazer, que valide em seu exercício político, os princípios da teoria da complexidade proposta por Morin (1982, 1999); a existencialidade do conheci mento propugnada por Vieira Pinto (1985) e Morin (1999); os estudos de Habermas (1988, 1990) sobre a autorreflexividade da ciência; a questão do paradig ma emergente estudada por Santos (1989); a valida de da ciência proposta por Mialaret (1998), entre outros, sem desconhecer que o conhecimento cientí fico, metódico, será sempre o único caminho na busca da validade do saber: “Não eliminando o pressu pressu
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À luz dos princípios decorrentes das teorias supracitadas, podem-se fazer algumas observações sobre a epistemologia da ciência contemporânea. a) Ela deverá deverá levar em conta a relação dialética entre sujeito sujeito e objeto, que faz o hom em ser, de forma cada vez mais ampla, o criador das condições que o criam, indicando a necessidade de considerar sempre o objeto associado a seu ambiente, num processo contínuo de “autoeco-organizaç “autoeco-organização”. ão”. Tanto Mialaret (1996a) quanto Santos (1996) e Morin (1982) afirmam que o abandono da física clássica, da mecânica newtoniana, e a incorporação dos conhecimentos decorrentes decorrentes da mecânica quânti ca, da biologia molecular, da astrofísica, entre outros, impõem novo ponto de vista sobre a realidade: esta, como hoje se sabe, sofre interferências estruturais do sujeito, em sua relação com o objeto observado; comprova-se que a totalidade do real não se com põe da soma das partes, e, sendo assim, a relação sujeito-objeto é considerada complexa, integrativa, holística, já não comportando a fragilidade da dico tomia que separa, para medir, sujeito de objeto, pen samento de ação, teoria de prática — procedimento, aliás, tão essencial à ciência moderna. As palavras de Santos (1996, p. 28) sobre essa incompatibilidade entre os pressupostos da ciência clás clás sica e as novas descobertas e compreensões do mundo contemporâneo são contundentes: “Em vez da eternida de, a história; em vez do determinismo, a imprevisibilidade; em vez do mecanicismo, mecanicismo, a interpenetraçã interpenetração, o, a espontaneida
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b) Decorre do exposto que o todo é sempre mais e menos que a soma de suas partes, que a dinâmica da integração parte-todo é sempre emergencial, circuns tancial, e que agir pela complexidade significa enfrentar as contradições, as incertezas, superar o conhecimento simplificador e encontrar caminhos para compreender as relações entre contínuo e des contínuo, entre ordem-de sordem e organização. Será preciso preciso que a ciência — mantendõ, como diz Morin, a coerência — estabeleça npvas formas formas de convívio com a contradição, sem deixar de enfrentá-la, uma vez que “o real é enorme, enorme, for a d as normas... E no diálogo com o inconcebível e o indizível, no jogo entre claro e escuro que há pensamento: o pensamento, como a vida, só pode viver à temperatura da própria destruição ” (Morin, 1982, p. 239). c) Para absorver a contradi ção, inerente ao processo de conhecimento, será necessário admitir a lógica dialé tica como elemento constitutivo do método científico, de sorte que se permita a apreensão de toda manifestação da realidade, e então não apenas acolher a contradição, mas criar meios de dialogar com ela, utilizando-a utilizando-a,, com preendendo-a e aplicando-a. Vieira Pinto (1985, p. 45) afirma que “a lógica dialética é o sistema sistema de pensamento rac ional que reflereflete fidedignam ente o movimento rea l das transformações que se passam no mundo exterior, físico e sociaT. Ademais, apenas mediante a dialética dialética será será possível superar o histórico fosso que se foi constituindo
utilidade para esta, “assim como não há trabalho nem ação prática sobre o mundo que não dê em resultado uma representação teórica e não determine o aparecimento de novas ideias ou a descoberta de relações inéditas entre estas”. d) Essa ciência precisa assumir a incumbência de integração e disponibilização dos saberes produzidos, comunicativa proposta por promovendo a situação comunicativa Habermas, de sorte que seu papel social englobe um caráter de emancipação. Habermas (1988), sempre interessa interessado do nos proces sos de emancipação, pretende conferir à ciência um caráter de autorreflexão, que inclui a crítica por prin cípio e a intersubjetividade como pontos de partida na compreensão da subjetividade, com a finalidade de emancipar o sujeito da opressão da racionalidade. Santos (1989), ao comentar a configuração de um novo paradigma para as ciências, ciências, denominado por ele de paradigma emergente, realça seu caráter social, conhecimento o prudente pa ra uma vida construindo um conheciment decente. decente. Prudente será, para o autor, o conhecimento que emerge da precariedade de sentido da existência humana e busca novos significados para ela. Uma vida decente deverá ser buscada em nova compreen são de mundo, que parte do valor do humano e incorpora os conceitos de historicidade, processo, liberdade e consciência, de acordo com nova lógica existencial que promova a situação comunicativa pro posta por Habermas. O sentido social e reflexivo deverá ser assumido
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fomentem melhores condições de vida, mas sejam suscetíveis de discussão, crítica e aceitação, ao menos provisoriamente, por parte do conjunto da comuni dade científica de uma época. Diante desses posicionamentos, há que pensar em outras formas de estabelecimento de critérios de vali dade da ciência: não mais a experimentação empírica nem apenas o raciocínio lógico; é preciso caminhar para formas mais coerentes, ampliadas, adequadas à epistemologia da ciência contemporânea. Como se sabe, o sentido de validade é epistemologicamente inerente ao sentido de ciência. Tanto que, em uma clássica definição de dicionário, um termo é definido pelo outro: Abbagnano (1998) conceitualiza ciência como o “ conhecimento que inclua , em qualquer form a ou medida, uma garantia da própria validade ” . A noção de qualquer forma ou medida vem, no entanto, relativizar e recompor a de verdade absoluta que por muitos séculos esteve associada à ideia de ciên cia. Incorpora, por certo, as conq uistas epistemològicas epistemològicas da ciência moderna e as perspectivas já aludidas nos pressupostos da ciência ciência pós-moderna. Apesar de toda a evolução, o caráter de validade pre cisa estar presente, oferecendo suporte de certeza máxima do conhecimento, de acordo com as condições dadas, e garantindo sua universalidade subjetiva. Nesse sentido, ainda conforme Abbagnano, é válido o conhe cimento reconhecido reconhecido por todos com o verdadeiro, verdadeiro, bom, belo, justo... Parece uma afirmação óbvia, simples, clara. clara. N o entanto, surgem imediatamente dificuldades:
interesses conflitantes, como reconhecer o verda deiro, o justo? Analisar essas e outras questões revela-se uma tare fa importante para a pesquisa em educação. A ela caberá constituir um estatuto científico pautado em pressupostos éticos, que deverão impregnar toda e qualquer atividade científica: não apenas as atinentes à esfera da educação, mas também as relacionadas a todas as áreas do saber.
3. Da necessidade de ressignificação do sentido de validade científica Discutir a cientificidade de um objeto de estudo significa buscar um modo especial de legitimar o conhecimento. Gellner (1974) afirma que todo conhecimento é uma crença apoiada em alguma forma de legitimação e considera duas atitudes inte lectuais na busca da justificação de um sistema de crença: a primeira, ^denomina-a ^denomina-a de teorias de endosso, que visam à legitimação apoiada no sistema de cren cren ças existentes no sistema estabelecido; a segunda, denomina-a de teorias de seleção, em que a legitima ção se dá com base em critérios de validade indepen dentes do conjunto de crenças locais, dotados de autoridade exterior a esse conjunto. Dessa forma, a discussão d a cientificidade remete-s remete-see à discussão da racionalidade que preside o conheci mento científico.
Apud Rocha (1990)-
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da Universidade de Lyon, Develay (1998), que enfa tiza que todo conhecimento científico, científico, para ser con siderado válido, deve carregarfor carregar for te interesse interesse social. social. N o entanto, que interesse social é esse? Para o autor, ape nas a reflexão coletiva pode dar conta de determinar essa questão. Assim, sugere a criação de um Parlamento de Educação, uma espécie de conselho de atores sociais envolvidos na situação em estudo, que seria responsável pela produção coletiva da subjetivi dade, chamada por alguns de conhecimento (1998, p. 78). Develay explica que essa ideia foi original mente criada por Bruno Latour como Parlement de chose, chose, ao pensar em constituir um lugar capaz de reconciliar a política, a ciência, o bem e a verdade. Sua finalidade seria propiciar que o logos (razão, logos (razão, ver dade) não seja subordinado ao éthos éthos (o bem), nem que o bem seja subordinado à verdade (Develay, 1998, p. 76). Tal parlamento agregaria os responsáveis científicos (pesquisadores), os representantes da sociedade política, representantes das famílias, professores, talvez alunos, e poderia compor, não a utopia da intersubjetividade, mas aquilo que Félix Guattari denominou de produção coletiva da subjetividade. Por certo, a ideia desse conselho, desse parlamento, precisa ser aprofundada, no entanto deve-se realçar essa importante atitude epistemológica, que agrega ao ato de pesquisar os direta e indiretamente envolvidos, res gatando o caráter eminentemente político e emancipatório da pesquisa.
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positivistas respostas sobre a questão da prova, da prova, da certi ficação de que aquilo que se produziu realmente realmente ofere ceu resultados relevantes. Dessa forma, com o parlamento pode-se conferir de modo mais palpável a extensão dos resultados da pes quisa, mediante a análise da subjetividade coletiva, o que facilitaria a construção do estatuto científico da educação, além de propiciar o certificado social de sua validade. Tal situação confere à pesquisa o fundamen to científico de emancipação ou, como diz Develay, favorece que a verdade seja emancipatória. Essa posição aproxima-se muito dos estudos de Habermas, que p ropõe uma teoria consensual consensual da ver ver dade, segundo a qual uma comunidade examina, em uma discussão racional, as pretensões de validade de um conhecimento, na busca de um consenso verda deiro mediante a comunicação intersubjetiv intersubjetiva, a, em que os argumentos sejam racionalmente imperativos. A legitimidade tem seu sentido relacionado relacionado ao co mpor tamento coletivo. Rocha (1990) afirma que a questão da cientificid cientificidade, ade, de acordo com uma epistemologia consensualista, requer consensualista, requer a discussão acerca acerca dos critérios efetivamente utilizados na prática cotidiana da pesquisa para aceitar aceitar os argumentos consenso formado em conse conse cogentes, de modo que o consenso quência dessa argumentação se aproxime do consenso verdadeiro. Revela-se pertinente a asserção de Vieira Pinto (1985) de que o critério de validade da ciência será expresso pela prática social intencionada, fruto do
Para o autor, cogentes são argumentos substanciais que se revelem eficazes (Rocha, 1990).
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para produzir bens indispensáveis indispensáveis à existência e adqui rir instrumentos de transformação do mundo em pro veito humano. Nesse sentido, fica realçado o caráter essencial mente ideológico de toda produção científica científica e o fun damento social que deve prefigurá-la. Com base nessa reflexão, considera-se que, se o produto da ciência não puder ser apropriado apropriado pelo hom em, a tare tare fa cientifica passa a ser alienada e alienante e com isso perde as condições de sua validade. Enfim , um a ciência que passa a Incorporar, em sua epistemologia, a complexidade, a reflexividade, a intercomunicação intercomunicação de significados, a humanidade, há de necessitar de uma maneira complexa, interativa, etica, humana e comunicativa de agir. E, como a ciência só pode ser vista num processo histórico, evo lutivo, coletivo e consciente, deve buscar alternativas que respeitem as novas conquistas científicas e a necessidade de emancipação do homem por meio da obtenção de condições mais dignas de sobrevivência, realizando a articulação crítica entre ética, política e ciência e ressignificando os sentidos de progresso e desenvolvimento científico. A ciência no mundo é outra, e, como afirma Mialaret (1996b), a pesquisa científica em educação ja não pod e contentar-se em estudar a dupl a professor/aluno nem os grupos apenas, muito menos separar teoria e pratica. Sera preciso que a metodologia em educação incorpore as condições de vida, a complexi dade das variaveis que compõem um meio ambiente, sempre em constante evolução e em interdependência
alternativas de novas e significativas compreensões do real que organiza o fèno meno educativo, revela-s revela-see funda mental a consideração da ciência como um instrumento político, como uma ação intencionada, no sentido da construção de mais humanidade entre os seres humanos, e exercida na perspectiva de organizar instrumentos e construir conhecimentos que sejam elementos de trans formação do mundo e das pessoas, na direção do bem coletivo e da justiça entre os povos.
4. Novos sentidos para a compreensão do fenômeno educativo: caminhos de transição A ciência, como fenômeno social e político, carrega em seu bojo as marcas de um tempo histórico, reflete os valores sociais de uma época e incorpora em seu fazer as representações e concepções da cultura coleti va do momento. A evolução da compreensão dos fenômenos edu cacionais bem coipo as configurações complexas e variadas que o próprio processo educativo vai assu mindo para atender às novas demandas socioculturais vão exigindo que novas formas de pesquisa sejam incorporadas ao fazer cientifico. Assim a prática educativa, vista como um a síntese síntese provisória da intencionalidade educacional de uma época, num contexto específico, vai tomando suces sivamente diferentes contornos. Foi grande o impacto das metodologias qualitati
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Martins (1984 e 1989), Lüdke (1984), Lüdke e André (1986), André (1978) , Sánchez Gamboa (1989), Fazenda (1989), Demo (1984), Cunha (1989) e Espósito (1996), entre outros.
e organizando nova textura, que acabou favorecendo novas compreensões do fenômeno e exigindo novas ati tudes metodológicas que decerto ampliarão uma vez mais as dimensões do objeto de estudo em questão. A seguir, será apresentada breve análise dessa traje tória da pesquisa educacional, educacional, que, p assando a incor porar os procedimentos qualitativos, configurou uma mudança não só na concepção epistemológica da educação, como também no potencial transformador do método na consideração da realidade investigada. Longe de aprofundar todas as nuanças desse processo histórico, o objetivo é apenas especificar uma proposta metodológica para a ciência da educação, na pressupo sição de que o método indicado a essa ciência ciência deverá deverá ser integrador de diversas abordagens qualitativas, o que lhe conferirá um caráter caráter formativo-emancipatório. Em relação à pesquisa educacional no Brasil, as duas últimas décadas viram a preocupação com as abordagens qualitativas, compreensivas, dialéticas, emergir e caminhar paralelamente às abordagens de cunho positivista, quantitativo, analítico. Sánchez Gamboa (1989) constata que 66% das pesquisas em educação realizadas nos cursos de pós-graduação do Estado de São Paulo, no período de 1971 a 1984, foram empírico-analíticas e as pesquisas qualitativas (fenomenológico-hermenêuticas e crítico-dialéticas) passaram de 28%, entre 1971 e 1976, para 32% na década seguinte. Estrela (1999, p. 220) demonstra que, numa consulta às edições do Handbook of research on teaching publica das em 19 73 e 1986, se pode notar nítida diferença entre os enfoques meto
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sob diversas inspirações e diferentes metodologias, de acordo com a abordagem qualitativa. qualitativa. Certamente a porcentagem de pesquisas qualitati vas em educação, na última década, deve já ser bem superior à constatada nas épocas aqui referidas. Em um estudo ainda preliminar com base nas disserta disserta ções de mestrado e teses de doutoramento produzidas nos últimos cinco anos cujo tema central seja a práti ca docente, observa-se que a quase totalidade delas já emprega pesquisas de abordagem qualitativa, fazendo uso de um a diversidade de técnicas técnicas pouco ortodoxas, múltiplas, de acordo com uma mesma intencionali dade metodológica. Acima de tudo, demonstram forte preocupação em procurar a participação dos sujeitos pesquisados na análise dos processos e dos resultados da pesquisa. pesquisa. A emergência da abordagem qualitativa qualitativa em educa ção indica que novas necessidades e outras percepções se impuseram aos pesquisadores. pesquisadores. Lüdke e André (1986), bem como Fazenda (1989 e 1991), claramente ressaltam que, à medida que se compreendeu a educação como fenômeno integral e complexo, ela foi requisitando nova forma de pesqui sa que já não pretendesse estudar o fenômeno educa tivo de maneira descontextualizada, descontextualizada, decom pondo seu todo em variáveis observáveis e descaracterizando a própria essência do processo. Sustentam as autoras que, aos poucos, se percebeu que a tão requerida neu tralidade do pesquisador, exigência do paradigma positivista, positivista, consistia em um a exigência exigência não só im pos sível, sível, como também deturpado ra da essência do obje
Franco (2003).
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conhecemo emoss do real (1996, p. 26), “a ideia de qu e não conhec senão o que nele introduzimos”, introduzimos ”, reafirmando que a sub jetivid ade é fator inerente à p esqui sa em educação. Os novos entendimentos sobre a realidade social, que deixa de ser vista como mecânica, linear, previsível para ser considerada dinâmica, histórica e complexa, fazem que se supere a concepção de causalidade, de pre visibilidade, em direção a uma atitude que percebe a realidade como um todo dinâmico, com. múltiplas e variadas configurações. Neste ponto, será importante realçar a interdepen dência entre a mudança de percepção da realidade e a própria, que, percebida de modo diferente, diferente, muda a per cepção dos sujeitos, num jogo contínuo da realidade existencial existencial.. E , ainda, propor c omo reflexão reflexão a afirmação de Evangelista (1990, p. 216), segundo a qual “no horizonte do conflito entre entre positivismo e não positivismo [ ...] é que a conflituosidade se radicaliza e se toma condição de novasfigu ras de cientificidade”. cientificidade”. O importante, de todo modo, é considerar que a ciência se constrói gradativamente por meio da desco berta de novas e provisórias verdades, num processo contínuo de retificações constantes tal como descrito por Bachelard (1 996), e que esse fato lhe confere confere a pere pere ne missão de refletir sobre si mesma, de adequar-se aos novos movimentos do real, apreendendo e elaborando as críticas, que, quanto mais consensuais e coletivas, maiores possibilidades oferecerão à próp ria ciência. A pesquisa qualitativa surge, por volta da década de 70 do século passado, acompanhando o interes se crescente, em muitos países da América Latina,
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pressupostos teóricos, a abordagem qualitativa car rega em suas raízes os estudos das correntes filosó ficas da fenomenologia e do marxismo, pautadas no desafio de trazer para o plano do conhecimento, da ciência, a dialética da realidade. A pesquisa qua litativa também se fez com base nos estudos antro pológicos, decorrentes especialmente dos estudos etnográficos iniciados por Malinowski, com fortes vínculos estruturais funcionalistas. A pesquisa qualitativa emerge, inicialmente, no âmbito de uma visão dicotômica entre quantidade e qualidade, ainda hoje presente na concepção de m ui tos pesquisadores. Já se reconhece atualmente que quantidade e qualidade são propriedades interdepen interdepen dentes de um fenômeno. Há uma dificuldade muito grande na delimitação da conceituação de pesquisa qualitativa e na determi nação de percursos investigativos característicos dessa abordagem. De modo geral, costuma-se enfocar dois tipos de pesquisas qualitativas: a pesquisa subjetivista-compreensiva e a crítico-participativa, utilizando a denominação deTfivinos (1987), ou a pesquisa fenomenológico-hermenêutica e a crítico-dialética, fazen do uso da nomenclatura proposta por Sánchez Gamboa (1989). Franco (2003) tem utilizado a pro posta de Sánchez Gamboa, incluindo, no entanto, uma terceira perspectiva, que denomina de pesqui sa formativo-emancipatória. Segundo Vieira Pinto (19 83), há apenas duas con cepções possíveis sobre o mundo, sobre a realidade: uma é a metafísica, outra é a dialética. Assim, ambos
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A limitação metodológica decorre da coerência do método com os pressupostos epistemológicos que subsidiam a pesquisa empírica.
estruturados de forma linear, aistórica, mecanicista, pressupondo a neutralidade científica, buscando a objetividade e dela partindo, perseguindo relações de causalidade, separando sujeito de objeto, fatos de valores, ideologia de ciência. O importante a considerar considerar é que, se a pesquisa empí rica limitou a possibilidade de percepção de toda a amplitude do fenômeno educativo, este — extrapolan do o foco limitado por essa metodologia —- deixa-se apreende apreender, r, em um grau ampliado de complexidade, complexidade, pela pesquisa qualitativa. Essa retificação, gíadativamente, permitiu à ciência da educação a utilização de novos refe renciais para a pesquisa e fez emergir outros focos de per cepção na compreensão do fenômeno educativo. O apontamento de algumas dessas constatações aqui realizado visa suscitar reflexões sobre as possibi lidades de que novos estudos e pesquisas científicas venham a referendar novas e frutíferas formas de pes quisa em educação. Após alguns anos de prática da pesquisa qualitati va, estudos nela baseados baseados demonstram, de modo nem consensual nem exclusivo, que novas compreensões vão sendo incorporadas ao conhecimento educacio nal. Dentre elas, ressaltem-se as seguintes: • O professor vem à cena. Sua pessoa, sua fala, sua inter pretação do vivido, suas representações, seu olhar, a dimensão de suas necessidades e expectativas trazem novo panorama: o professor como pessoa, como profissional, como construtor de inteligibilidade, como ser reflexivo, como alguém que pensa, deci de, se angustia.
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Nas pesquisas empíricas, era retratado, muitas vezes, com um perfil médio; era tratado como um replicador de procedimentos, e podia também ser visto como um aplicador de normas disciplinares ou mesmo como um organizador do ambiente de ensino. Era igualmente bastante comum ser compreendido como um dos polos da interação social ou ainda como o transmissor de informações. O professor vai passando gradativamente, na evolu ção das pesquisas, de objeto a sujeito, pois a pesquisa qualitativa centrará centrará seu foco na descoberta desse sujei to, em sua compreensão; vai buscar sua colaboração, fazer-se parceira dele, preocupar-se com sua formação, com suas histórias. E, além do professor como sujeito, surgem também os alunos, os pais, a com unidade e rea firma-se a questão essencial do sujeito. Estando presente esse sujeito, no caso o profes sor, a pesquisa passa a incorporá-lo. Nessa nova dimensão, é possível olhar a realidade na perspec tiva do professor, e não apenas a realidade sobre ele; ao conceber a subjetividade como um fator inevitável na pesquisa entre seres humanos em ação, passa a ser possível estabelecer contatos mais profundos, adentrar nas esferas do desejo, das emoções, das frustrações do sujeito, de suas repre sentações, sentações, dos questionamentos de sua identidade. • O cotidiano entra em destaque. A pesquisa qualitativa qualitativa vai permitir a compreensão compreensão do cotidiano como po ssi bilidade de vivências únicas, impregnadas de sentido, realçando a esfera do intersubjetivo, da interação, da comunicação e proclamando-o como o espaço onde
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descrito como contingência, roteiro de atividades diárias, conjunto de variáveis ambientais, sucessão de eventos que deveriam ocorrer de forma linear, previ sível, programada. O imprevisto, o acidental, aquilo que fugia da rotina era, era, normalmente, um dado a ser incluído em observações. Enfim, o cotidiano passa a ser percebido como o espaço significativo, cultural, em que os seres humanos constroem sua existência e se fazem transformadores das circunstâncias. O homem, em sua cõtidianidade, passa a ser visto, visto, conforme Lukács, corho homem intei ro, em sua inteira individualidade. À medida que a pesquisa qualitativa favorece que a cõtidianidade seja percebida, valorizada, mostre-se como gestadora e germinadora dos valores e papéis sociais, vai possibilitando aos pesquisadores a apro priação das relações entre particularidade e totalida de, entre o indivíduo e o ser humano genérico, entre cultura e história. O olhar sério, comprometido, constante dos pesquisadores sobre o cotidiano das práticas educacionais permitiu-lhes, por certo, liberar seu pensamento de muitos raciocínios supostos e defrontar-se com realidades jamais suspeitadas, embora sempre presentes. Com efeito, não existe pes quisador que, ao adentrar a cõtidianidade de qualquer prática educacional, não tenha realizado descobertas fascinantes e, à primeira vista, não imaginadas. A des coberta do cotidiano veio referendar referendar a não linearidade, linearidade, a não objetividade, objetividade, a não previsibilidade previsibilidade dos fenôme nos que compõem a realidade social. Dos estudos baseados no sujeito inserido em um
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fenômeno educativo. A participação de novos atores na cena investigada gera neles próprios um efeito transformador. Assim, um professor, ao ter lugar em uma pesquisa de cunho participativo, participativo, passa a receber receber novas informações sobre sua própria prática, passa a refletir com maior profundidade sobre algum aspec to da pesquisa, mesmo que de interesse interesse do pesquisa dor. Ele vai sendo compelido a acompanhar o olhar do pesquisador... Despontam, em consequência, novas reflexões sobre o retorno dos produ tos dessas pesquisas na for mação dos sujeitos da prática. Em tal processo, o cotidiano descoberto propiciou novas compreensões ao pesquisador. No entanto, ainda parece ser preciso preciso que surjam novas compreensões nos sujeitos pesqui sados, não como concessões circunstanciais, num momento formal de comunicação de resultados, mas num processo genuinamente pedagógico de envolvi mento processual desses sujeitos. sentido. O • A realidade social passa a ser dotada de sentido. exercício de práticas qualitativas de pesquisa em educação possibilitou perceber a realidade social de modo diferente: ela passou a ser compreendida como algo composto de múltiplas significações, de representações que carregam o sentido da intencio nalidade. Em decorrência, ampliaram-se os estudos sobre as representações sociais, sobre o discurso e a fala dos sujeitos. Esses discursos e falas precisam ser examinados com base na simbologia, nas metáfo ras, nas entrelinhas e requerem uma busca de sen tido, análises de conteúdo, análise do discurso. Assim, novas formas de análise da coleta de dado
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ou de conteúdo, percebe-se a distância entre o mundo de quem proferiu o discurso e o daquele que o analisa. Se houvesse sido construído um universo cultural partilha do, a inteligibilidade do discurso seria mais palpável, cabendo uma hermenêutica coletiva como continuidade das práticas cotidianas. • Surgem, questões relativas à identidade, à emancipa ção, à autonomia. À medida que as personagens falam, se expressam, exprimem sentimentos, olham para si e querem perceber-se, vão surgindo ao pes quisador as questões de papéis sociais, de identida de, da busca do espaço existencial, bem como as do querer querer ser, ser, da emancipação, da autonomia. A pro blemática dos estudos identitários só pod e emergir como objeto de pesquisa quando se reconhece no sujeito, construtor de sua existência, alguém deter minado, mas não condicionado, como gostava de expressar-se Paulo Freire, fragmentado pelos papéis sociais, apertado afetivamente em condições opres soras e alienantes de trabalho, desfigurado pelas condições pouco humanizadoras impostas pelo capitalismo moderno, um sujeito sem rosto que precisa e quer conhecer-se.• conhecer-se.• • O processo processo impoe-se impoe-se ao prod uto. Focando o olhar no cotidiano, pode o pesquisador afeito afeito a práticas qua litativas perceber o fluxo dos fatos em movimento. As pessoas falam, às vezes se percebem, se reco nhecem, os grupos emergem, as identidades são descobertas, encontrando-se às vezes deterioradas, mutiladas, outras vezes em processo de construção,
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provisórios; para serem mudados, é necessário focar o olhar no coletivo que constrói o processo. Como estudar as identidades? Como mediar a identidade coletiva com identidades individuais? Como apreender as identidades construindo-se, metamorfoseando-se, lutando pela integração nos papéis sociais? Surgem várias adaptações da metodolo gia da história de vida, das “egonarrativas”, “egonarrativas”, dos estudos biográficos, do resgate da História na confluência de histórias individuais, grupais, coletivas, que procuram dar conta do novo espaço existencial que passa a ser incorporado às preocupações dos cientistas cientistas.. • As técnicas de pesquisa enriquecem-se. Quem traba lha com pesquisa qualitativa sabe que, na busca dos conteúdos implícitos, dos valores encobertos que pautam os sentidos do cotidiano, há necessidade necessidade de profundas descrições, de interpretações; os discur sos precisam ser decodificados, as falas, organizadas em unidades de significados, significados, pesquisador e pesqui sados fundem-se e criam proximidade que pode promover a intersubjetividade, os papéis alternam-se, as personagens dialogam, novas percepções agregam-se a sentidos antigos, cada fato novo pre cisa de muitos olhares... O que sempre foi já não é sentido como tal, as certezas já não são tão certas, os dados precisam de novas formas de coleta e orga nização, problemas éticos impõem-se, toca-se em sentimentos profundos. O sujeito está emergindo da opressão histórica imposta pela racionalidade. Como tratar esse sujeito que emerge? Como pes quisar as práxis educativas?
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redirecionam a história, novos atores juntam-se ao palco, diálogos cada vez mais fortes substituem os sussurros de outrora. Novas cores e olhares tomam conta do palco; o roteiro transforma-se, novos panos abrem-se, revelando histórias encobertas, sentidos latentes, novas possibilidades... Surge a consciência da complexidade da prática docente; a certeza de que a ciência educacional empí rica não tem sido capaz de revelar a dimensão dessa prática; a convicção de que “os pressupostos tácitos racionais distanciaram os professores de seus corpos, induzindo-os a tratarem a si mesmos e a seus alunos como transmissores e recebedores de informação — como androides ” (Kincheloe, 1997, p. 218).
Chega-se à consideração de que os problemas de ensinar são raramente consistentes e não possuem métodos reconhecíveis reconhecíveis de solução. Tais problemas demandam uma forma de pensamento do praticante na ação na qual alterações pontuais dos planos são necessárias. [... ] A diferença diferença entre esta form a de pensa mento do praticante e as mais tradicionais variedades cientificas cartesianas-newtonianas é profunda porque estes estilos de pensamento tecnicista aplicam construções rígidas para situações cambiantes em que elas são inaproinapropriadas (Kincheloe, 1997, p. 220).
Constata-se então a inadequação entre os funda mentos da metodologia de base cartesiana e os fun damentos da ação necessária a uma prática docente afinada com uma concepção dialética da realidade. Mas h á que ressaltar ressaltar que a emergência do novo cenário, cenário, desvelado por metodologias de cunho qualitativo, porá em evidência o professor qu e deve e po de ser reflexiv
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À medida que novos sentidos sobre a prática docente foram desvelados e os conhecimentos sobre ela puderam ser problematizados de forma crítica, antigos pressupostos, antigas crenças, crenças, antigos saberes saberes passaram a ser reconfigurados, num processo em que emerge a figura necessária da consciência docente, importante elemento da formação d o professor reflexivo. reflexivo. O processo formativo desse professor vai requerer novo enfoque sobre as metodologias investigativas no campo educacional, que terão de dar conta não só de apreender a reflexividade, mas também de construí-la. Será preciso que as novas metodologias se invistam de um caráter formativo-emancipatório, incluindo igual mente os assim chamados “práticos” “práticos” — os sujeitos que compõ em o grupo pesquisado — no processo. A busca de novos sentidos para a cientificidade cientificidade da pesquisa em educação não apenas sinalizará a nova fase dos estudos sobre a prática docente, como tam bém poderá dar conta de fundamentar a validade da pesquisa científica da educação, trazendo respostas tanto às questões concernentes à ressignificação da ciência que tratam da possibilidade possibilidade de delimitar, em cada momento, o certo, o justo, o belo e o bom quanto ao critério ético de conhecimento para todos. Será preciso esquadrinhar a relação dialética entre objeto e método, a fim de tornar evidente o fato de que o principal critério da cientificidade do método de pesquisa é a capacidade dele de alimentar e fecun dar seu objeto de estudo, apontando caminhos de desvelamento e autoconhecimento oxigenadores do
Novos
SENTIDOS PARA A CIÊNCIA
Assim se delineará a relevância social como critério fundador da ciência. Ou, como diz Brecht: “A única
Capítulo
finalidade da ciência ciência é aliviar a miséria miséria da existê existênci ncia a humana ” — e sabe-se que a grande mestra dessa misé ria é a ignorância e o desprezo pela análise profunda das circunstâncias existenciais que nos cercam.
A
CONSTRUÇÃO DO OLHAR DO PESQUISADOR
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A construção do olhar do pesquisador O processo processo de pesquisa resulta de fina e apurada percepçã percepção o do mundo, sistematizado sistematizado por meio meio de uma atitud e metódica que efetua, no texto produ zido, uma comunicação do o lhar posto com atenção sobre determinado objeto investigativo. Assim, tanto o processo processo de construção construção da pesquisa quanto o process processo o de investigação do objeto fazem parte de um mesmo exercício interpretativo que busca penetrar nas relações relações socialmente construídas para compreendê-las, explicá-las e interferir em sua constituição. Neste capítulo será proposta uma reflexão, em dois momentos distintos e complementares, sobre um m odo particular de ver e de pensar pensar a produção do conhecimento na perspectiva da pesquisa-ação. O primeiro movimento reflexivo procura pensar a construção do olhar do pesquisador com base na edu cação do modo pelo qual se olha e percebe o mundo. Nesse movimento, propõe-se que o olhar, a percep ção e a interpretação do objeto compõem complexo processo de leitura das múltiplas representações feitas
A CONSTRUÇÃO PO OLHAR DO PESQUISADOR
pensante exige uma mudança de atitude diante do mundo e do modo pelo qual os fatos são configurados pela cultura. Então, olhar é interpretar e perceber para poder compreender como são as coisas e os objetos investigados. O segundo movimento visa partir do olhar que pensa para atingir a percepção que compreende por meio da interpretação. Nesse momento, procura-se examinar a explicação e a compreensão como dois espaços distintos e complementares do processo de construção do conhecimento. Tais conceitos reme tem ao confronto epistêmico e metodológico entre as ciências humanas e as ciências da natureza, o que deixa claro que a pesquisa em educação possui uma particularidade incomparável com as outras ciên cias, especialmente porque os objetos das ciências da educação e seus métodos implicam processos diferenciados de acesso ao real. real. Para proceder a esse exame, foram usados alguns conceitos nascidos na perspectiva hermenêutica, com o entendimento de que o processo de investigação implica uma inter pretação do objeto, que não fala por si, mas pela comunicação estabelecida entre o sujeito, o objeto e os conceitos que possibilitam sua comunicação como realidade cognoscível. O terceiro movimento quer indicar que ao olhar interpretative, num viés hermenêutico, se junta uma dialética que implica reconstrução do processo de pesquisa, uma vez que exige a tomada do conheci mento e de sua construção como processo em aberto.
A CONSTRUÇÃO DO OLHAR DO PESQUISADOR
1. Educar o olhar para ler o mundo em suas múltiplas representações Educar o olhar significa aprender a pensar siste mática e metodicamente sobre as coisas vistas. Portanto, exige muito mais do que “ver” as coisas; implica perceber o que elas são e por que estão sendo do modo como se apresentam. Com efeito, a educa ção do olhar cobra a percepção das múltiplas represen represen tações do mundo e da cultura socialmente construídas. Para que isso seja possível, mais que tudo, é preciso aprender a “penetrar” no real para compreendê-lo em sua radicalidade ontológica, epistêmica e metodológica. Portanto, “o olhar deseja sempre mais do que o que lhe é dado a ver ’ ’ (Novaes, 1997, p. 9), e essa almejada passa gem da percepção percepção do objeto para seu conhecimento conhecimento im plica interpretação, interpretação, para que possa haver haver compreensão.
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Para Merleau-Ponty (1999), t odo saber instala-se nos horizontes abertos pela percepção. percepção vem de percipio que se origina em capio —agarrar, Segundo Chauí (1997, p. 40), “ percepção prender, tomar com ou nas mãos, mãos, empreende empreender, r, receber, suportar. Parece, Parece, assim, enraizar-se no tacto e no movi mento, não sendo causal que as teorias do co nhecimento sempre a considerassem uma ação paixão por contato: os sentidos precisam ser tocados (pela luz, pelo som, pelo odor, pelo sabor) para senti r”. r”. Segundo Ostrower (1997, p. 167), “os processos processos de percepção se interl igam com os próprios processo processoss de criação. criação. O ser humano é:por natureza um ser criativ criativo:. o:. No ato d e perceber, perceber, ele tenta interpretar e, nesse interpre interpretar, tar, já começa a criar, criar, não existe um momento de compreensão que não seja ao mesmo tempo criação”. Para Maciel Júnior (2003), a percepção
dá-se sempre em função dos interesses ativos que o sujeito possui. O ser humano é por natureza interesseiro, precisa tirar partido do mundo que o cerca pelo fato de a própria vida tê-lo disposto como ser ativo. Percebe tudo aquilo que o interessa do ponto de vista da sua ação, deixando-se atravessar por tudo que não lhe for interessante. A percepção é a imagem em movimento que reflete a ação possível que este pode exercer sobre ela. ela. O cérebro aparece aqui como o órgão receptor de estímulos e selecionador de movimentos. As excitações oriundas da periferia do corpo são conduzidas pelo sistema nervoso até o cérebro. Este se
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O olhar atiça o desejo de ler o implícito, busca o que não é aparente. aparente. E justamente aquilo que o jogo de sombras e luzes revela e esconde que o olhar quer ver. Ou melhor, ele busca muito mais o que as sombras escondem por trás dos vazios luminosos do que aquilo revelado de pronto pela visão. Com base no visível, o olhar quer ver o invisível. Com base no objeto visto, quer ver o que não pode ser visto imediatamente. De passagem, poder-se-ia dizer que é esse desejo de ver o invisível, perpassado pelo questionamento e pela reflexão, que desperta o pensa mento. Vê-se com os olhos, mas só se sabe o que as coi sas são por meio do pensamento. Ver não é apenas perceber o objeto, mas funda mentalmente interpretá-lo. O universo da percepção é um feixe de interpretação. Essa dialética entre per ceber e interpretar é que potencializa o pensamento, a linguagem, a criatividade e a inteligência humana, lançando a pessoa na direção do conhecimento e facultando-lhe a permanência no conhecido como forma de iluminação daq uilo que não podia ser visto. visto. O que se conhece é somente aquilo que se traz à luz, e só o que se pode trazer à luz possibilita criar e recriar o mundo, a natureza e a si próprio. Nesse sen tido, apesar de todo o avanço do conhecimento humano, ainda há um universo a ser trazido à luz do olhar para que possa ser compreendido. O movimento da percepção à compreensão exige o movimento do objeto ao pensamento, levando em conta que o objeto atinge o pensamento à mesma medida que este condiciona a leitura daquele. Enquanto o objeto pode ser tido como a coisa mesma, o pensamento sobre ele virtualiza-o na ideia, podendo
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“pensar épôr à distância [...], pensar não é experimentar, mas construir conceitos” conceitos” (Novaes, 1997, p. 11). O movimento da percepção do objeto à sua com preensão é mediado pelo conceito, representante da imagem do que é visto e do que as coisas são em si mesmas e no sujeito. De certo modo, objeto e sujei to são partes constitutivas de um mesmo mundo, onde um lê, pelo olhar, aquilo que o outro é de acor do com seu modo de compreender, à medida que compreende a si mesmo. Quando o sujeito procura ler o objeto por meio do olhar, está desabitando o mundo para poder aprofundar o conhecimento de sua forma e do seu modo de habitar as coisas. coisas. Assim, o sujeito tanto habita o m undo q uanto este o habita, o impulsiona e o condiciona a determinado mod o de ser. Pensamento e mundo, nessa perspectiva, não são coisas próximas, mas a mesma realidade. “O pensamento fala com a linguagem do olhar” olhar” (Chauí, 1997, p. 40). O que se vê é o mundo que se é, e o que se cria faz faz parte daquilo que se está sendo sendo no m undo. O olhar é condicionado pelo mundo à mesma medida que, ao olhar esse mundo atentamente, o sujeito con diciona o próprio rppdo de ser. Sendo assim, “o olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer o mundo para dentro de si” (Chauí, 1997, p. 33); “a visão depende depende das coisas e nasce nasce lã fora, no grande teatro do mundo' mundo' (p. 34); “ ver é olhar para tomar conhecimento e para ter conhecimento” conhecimento” (p. 35). Essa relação entre o ver e o conhecer, envolvendo um olhar que se tornou cognoscitivo e não apenas espectador desa tento, é o que designa ver, observar, examinar, fazer ver, instruir, instruir-se, informar, informar-se,
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que vai formando o que o sujeito é. é. Esse desejo de conhecer impulsiona seu ser. No dizer de Aristóteles (1979, p. 21-25): Por natureza, todos os homens desejam conhecer. Prova disso é o prazer c ausado pelas sensações, pois mesmo fora de toda utilidade, nos agradam por si mesmas e, acima de todas, as sensações visuais. Com efeito, não só para agir, mas ainda quando não nos propomos a nenhuma ação, preferimos a vista a todo o resto. A causa disto é que a vista é, de todos os nossos sentidos, aquele que nos faz adquirir mais conhecimentos e o que nos faz descobrir mais diferenças.
Pelo olhar é que se observa o mundo, suas expres sões, particularidades, diferenças, consistência, e se identificam os objetos, ao mesmo tempo que se cria uma espécie de “aptidão” para ver e discernir as coi sas. Segundo Chauí (1997, p. 38), a aptidão da vista para o discernimento [...] a coloca como o primeiro sentido de que nos valemos para o conheci mento e como o mais poderoso porque alcança as coisas celestes e terrestres, terrestres, distingue movimentos, ações e figura s das coisas, e o faz com maior rapidez do que qualquer dos dos outros sentidos. É ela que imprime mais fortemente na imaginação e na memória as coisas percebidas, permitin do evocá-las com m aior fidelidade e facilidade.
Pode-se dizer que a transformação ocorre quando se passa da experiência do olhar à explicação racional dessa experiência — isto é, ao pensam ento acerca do ver — e quando se passa do pensamento ao juízo. Nesse momento se estabelece uma cisão entre o olhar e a palavra, ao mesmo tempo que se exige exige uma fusão entre esses dois componentes do conhecimento ra
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para fora de si mesmo. A passagem da imagem cap tada pela visão para o pensamento e para a explicação conta com a mediação da palavra, que, pela expe riência, possibilita o desenvolvimento da memória e da inteligência. A visão passa e permanece graças à memória expressa pela palavra escrita que registra o pensamento. Por outro lado, a palavra não pode reduzir o olhar à linguagem, pois isso bloqueia o pen samento. A palavra é a potencializadora do olhar, que se explica e se compreende pela linguagem. Nesse caso, tanto o olhar quanto a linguagem são mediações para explicar e compreender o mundo e a si mesmo. A linguagem, qu e faz a mediação entre a experiência do olhar e a do pensamento, possibilita a reflexão, ampliada à me dida que o olhar se detém no objeto e vai percebendo as minúcias que se intercalam e se relacio nam pela percepção, também ampliada na reflexão. Assim, esta é possível porque mundo e ser humano são feitos do mesmo estofo. Pela linguagem, a visão e o pensamento podem ampliar-se. ampliar-se. O olhar torna-se torna-se mais atento e o pensamen to refinado. Isso talvez indique que o olhar sistemático sobre o mundo amplia a capacidade cognoscitiva do sujeito, possibilitando outras leituras e interpretações de objetos comuns. À guisa de exemplo, de acordo com Merleau-Ponty (1964, p. 35), a imagem da pintura, articu lando o olhar que procura pensá-la, amplia o universo do sujeito. Destarte, a tarefa do pintor é desvelar os meios visíveis pelos quais a pintura se torna acessível aos olhos do espectador. Deve mostrar como luz, ilu
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Pesquisar e produzir conhecimento criativo é como pintar um quadro. A pintura, expressa no recorte do artista, expõe o visível que não se vê, e é preciso aprender a ver não só o visível, mas também aquilo que ele esconde por trás de si. A pintura é “ruminação do olhar” e “inspiração, expira ção, respiração no ser”. Essas expressões /.../ não são metáforas e sim descrições rigorosas da pintura como filo sofia figurada da visão [.../. A pintura é transubstanciação transubstanciação do sensível, passagem da carne do mundo na carne do pin tor par a que dela se fa ça presente um,-nov um,-novo o visível, visível, o qua dro, visível do visível. visível. /.../ se a pintura é filosofia filosofia figurada da visão é porque nos ensina algo que compartilhamos com o pintor, o simples olhar quando nossos olhos veem [...] (Chauí, 1997, p. 60).
O pesquisador reatualiza o mundo no objeto que investiga. investiga. A investigação investigação é um a forma de ação que pro cura tornar visível o invisível, fazendo perceber o que não se percebe e ver o que normalmente não se vê. Esse exercício exercício de desvelamento desvelamento do m undo é o que permite o avanço no processo de humanização por meio do conhecimento sistemático e assistemático. Para Merleau-Ponty (1964, p. 81), “a visão não é um certo modo do pensamento ou da presença a si: é o meio que me é dado de estar ausente de mim mesmo, de assistir de dentro a fissão do ser, ser, ao término d a qual, e só só então, me fecho sobre mim” . Portanto, vês e vendo e transforma-se a visão em novo visível
que nasce para o mundo. Pode-se dizer que a Filosofia, em sua investigação da visão, ensina que: ver não é pensar e pensar não é
enunciados, juízos, proposições, mas afastamentos determinados no interior do ser; outrossim, não é contato invisível de si consigo, interioridade transpa rente e presença a si, mas excentricidade perante o sujeito e a partir dele; o conceito não é representação completamente determinada, mas “generalidade de horizonte”, e a ideia não é essência, significação com pleta sem data e sem lugar, mas o “eixo de equivalên cia”, constelação provisória e aberta do sentido. A Filosofia revela que, assim como o visível é adaptado pelo forro do invisível, invisível, também o pensamento é habi tado pelo impensado. O olhar ensina um pensar generoso que sai de si pelo pensamento de outro que o apanha e o prossegue. O olhar, identidade do sair e do entrar em si, é a definição do espírito espírito e a constru ção mais plena do ser no mundo. A filosofia do olhar instiga a ação do pensamento, que abstrai do real sua imagem sintetizada em pensa mento e a transforma em conhecimento. Bornheim (1997, p. 89) explica que [na GréciaJ com o início início do teatro e da filosofi a [...] a ação de ver encontra-se encontra-se a si própria, na açã o de olhar em si mes ma; assim, de mergmente exterior, ela passa a educar-se nas dimensões de seu próprio exercício. exercício. Aliás, o verbo “the ore m” deriva de um nome, nome, "theoros", ser espectador. Sem dúvida, a teoria é apenas isso: um ver concentrado e repetido, repetido, u m ver que sabe ver, ver, que inventa meios pa ra ver cada vez melhor. E é nessa educação do olhar, a partir dela, que se institui toda a filosofia e as ciências do Ocidente [...].
À medida que se vê, traz-se traz-se para dentro dentro tudo o que está fora. O olhar possibilita a passagem da objetivi dade para a subjetividade, criando inúmeras formas
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Essa direção do olhar é uma direção do ser, ser, um hori zonte em que se constrói e se reconstrói o modo de existir e de fazer existir o mundo nele próprio e em si. Diante desse processo criativo, é imprescindível educar o olhar para que, por meio dele, se possa aprender a pensar melhor e não se deixar enganar pela imagem construída para iludir o pensamento e alienar o espíri to humano , lembrando que olhar atentamente as coisas coisas e os ob jetos de investigação investigação é penetrar no rríundo. Nas palavras de Rouanet (1997, p. 131): É preciso olhar corretamente o que'se quer ver. Para ver tudo [...] tem que ter dois atributos principais: a lucidez e a reflexidade. Para ser lúcido, o olhar tem que se libertar dos obstáculos que cerceiam a vista; para ser reflexo, ele tem que admitir a reversibilidade, reversibilidade, de modo que o olh ar que vê possa p or sua vez ser visto. visto. Se essas características não estivessem presentes, não seria possível ver tudo, e com isso não ficaria atendido o objetivo máximo da visualida de esclarecida. Um olhar incompetente não daria acesso a todos os objetos; um olhar sem reversibilidade reversibilidade criaria uma distinção entre os que veem e os demais, fazendo com que alguns indivíduos não fossem vistos, o que [...] contraria ria a meta da universalidade.
Ver tudo é uma pretensão pretensão do Iluminismo, confor me a compreensão de que, vendo o universal, se pode revolucionar revolucionar o modo pelo qual o ser humano se cons trói no mundo. O olhar há que ser crítico, e a crítica surge com a dúvida, que questiona o m odo pelo qual as coisas se apresentam. Por isso, deve-se educar o olhar, pois, sem esse olhar crítico, há o risco de repro duzir apenas as representações representações do mundo, suas ilusões, ilusões,
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É essencial ensinar a olhar, pois “o homem que aprendeu a olhar o lhar desconfia da percepção, qu ase sempre sempre ilusória, e a relativiza, comparando-a a outras formas de percepção, que dão dos mesmos objetos uma visão diferente” (Rouanet, 1997, p. 133). Deve-se formar uma pers pectiva que ultrapasse as falsificações, para que se possa aprender a “ousar “ ousar ver e ousar saber” saber” (Rouanet, 1997, p. 147) e não se deixar enganar pela falsifica ção do olhar e pela manipulação das represent representações. ações. É preciso, enfim, aprender a olhar na direção da transformação da sociedade, olhar corretamente, o que significa “usar “ usar a vista com astúcia e com inocência. Com astúcia porque sem ela seríamos iludidos, e com inocência para não sermos corrompidos pela miragem de uma visibilidade estéril, sem fins transformadores, e posta unicamente a serviço do prazer do olhar” (Rouanet, 1997, p. 135). O olhar é sempre interpretativo, ou seja, resulta de um processo de percepção e de pensamento, portan to, de um processo reflexivo. O conhecimento cons titui-se de acordo com uma percepção que olha e manifesta o que vê na realidade, procurando expres sá-lo por meio de um processo comunicativo. Tal processo muitas vezes potencializa ou limita a expressão expressão do próprio objeto e a compreensão que o pesquisador tem dele (Ghedin, 2004). O objeto é uma construção do olhar do pesquisa dor? Pode-se afirmar que não, mas por certo a inter pretação do objeto depende, radicalmente, do modo pelo qual o pesquisad or olha a realidade. realidade. Nesse sentido, o olhar da pesquisa é sempre interpretativo. Na elabo ração de um processo metódico e sistemático de conhe
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pensamento. É justamente nesse ponto que o méto do de investigação se mostra dependente do objeto que se pretende investigar, numa relação cuja dinâ mica será aprofundada a seguir.
2. Do olhar que vê ao pensamento que explica e compreende por meio da interpretação Os fatos humanos sao significativos por causa da riqueza de significados atribuídos às coisas; o que importa nos fatos humanos não é a causa, mas sua significação, objetivos e valor. O sentido só é possível nessa perspectiva, ou seja, so existe quando algo é sig nificativo a ponto de se lhe atribuir sentido e signifi cado. O ser humano procura compreender e explicar o mundo. A compreensão é resultado de uma expli cação dada as coisas humanas e não humanas. Isso indica que a explicação, explicação, antes da própria compreensão, é a tradução da realidade num significado que tenha sentido e se processe por determinada linguagem ou por signos linguísticos propiciadores de uma comu nicação compreensiva do real. O mundo humano é significante quando o sujei to se torna hábil em explicá-lo; nessa explicação é que se fundamenta a possibilidade de compreensão do que se é ou do que se projeta para si mesmo, em meio a variedade de significações e de sentidos atribuídos ao ser no mundo. O sentido, porém, não se esgota em si mesmo; reveste-se da complexidade da realida
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É a variedade deles deles que possibilita um a interpretação e uma significação das atribuições de sentido as coisas. O sentido e sua interpretação remetem o sujeito para a compreensão e a explicação. explicação. Estas não podem ser concebidas como processos separados, mas como dois polos dialeticamente complementares. Compreender significa explicar explicar o sentido das significações significações atribuídas à realidade das coisas e do mundo. Seja qual for o méto do ou a maneira utilizada, é próprio do ser humano conferir significado significado à complexa realidade que o envolve envolve e, por meio da interpretação, compreendê-la. Para compreender o sentido dos atos humanos, e preciso passar pela explicação. explicação. A compreensão é resultado, ina cabado, de um processo de explicação. A compreensão e a interpretação interpretação subjazem a todo trabalho; ou seja, a realização ou o resultado de um trabalho de pesquisa na área das ciências humanas são a consequência de um processo de explicação, compreensão e interpretação da realidade. Esses aspectos do trabalho não são, porem, estanques em si mesmos nem se excluem, mas constituem modos interdependentes de olhar a realidade. O real manifesta-se por meio desses modos, usados para saber o porquê das coisas, do mundo e da existência huma na. Mediante a compreensão e a interpretação é que se buscam métodos explicativos, que são também compreensivos, compreensivos, ao demonstrarem determinada inter inter pretação de outra interpretação. A distinção entre compreender e explicar, entre ciên cias humanas e ciências naturais, é o resultado de um processo de construção do conhecimento e das formas e
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relação dialética entre compreender e explicar. explicar. Di stinguir a dinâmica explicativa da dinâmica compreensiva é con tinuar dicotomizando a realidade e os m odos de signifi signifi cá-la e entendê-la. A realidade é explicada porque se quer saber, e a compreensão não é um estágio final desse processo, processo, mas meio para que o sujeito saiba o que são as coisas e o mundo e o que ele próprio é. Dissociar compreensão de explicação é sacramentar um processo de separação entre o ser human o e a natu reza, enquanto ambos são constitutivos de uma mesma realidade e encontram-se inseridos e iniersos no mesmo mundo. A busca presente é de uma conjugação, de um caminho que po ssa mostrar as encruzilhadas e permitir, permitir, ainda, o caminhar em determinada direção. O saber partilhado significa a partilha do mundo, de sua expli cação e da compreensão de seu significado. significado. Do ponto de vista das ciências humanas, a interpre tação representa um enriquecimento da compreensão imediata de sentido por meio da explicação da distor ção semântica. Compreensão e explicação articulam-se dialeticamente para possibilitarem a interpretação dos fatos humanos. O modo humano de ser no mundo é condiciona do pela ciência; ou seja, fundamentalmente marcado pela forma como a Filosofia, a ciência e a educação percebem o mundo. A ciência e a tecnologia têm tri butado autoritariamente a existência humana, o que significa dizer dizer que sua visão de m undo e da realidade tem tido a primazia, impondo-se sobre todas as maneiras de compreender e conhecer as coisas. Essa conjuntura tem marcado o mundo humano com uma visão mecânica, pragmática e empirista de si
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no plano ideológico, para um processo de alienação engendrado pelo capitalismo em seu próprio interior. Todavia, a ciência é uma atividade social e o conhecimento produzido por ela destina-se a toda a sociedade, e não a uma elite ou grupo de “especialis tas”. Destarte, a ciência só se justifica enquanto está a serviço dessa sociedade e com ela discute as implica ções de suas proposições, compreensões, explicações e interpretações. Trata-se de um caminho possível, mas não é a única visão ao alcance dos seres humanos para se compreenderem como entes no mundo. A via racional (empírico-tecnológica) não pode constituir, para os sujeitos, a única visão válida na interpretação de seu ser no mundo, uma vez que a ciência, mediante seu modo de conhecer, fragmenta a realidade de tal modo, que oculta, na parte, o todo. Em seu nome também ocorrem a separação do ser humano da natureza, de seu mundo natural, a nega ção da relação mundana para impor um “mundo de mercado”, a troca das relações de harmonia por outras mercantis. mercantis. Em bora se trate de uma proprieda de do campo político, essa dinâmica expressa-se de alguma forma também nas ciências. ciências. Santos (1989) explica que o impacto do desenvol vimento científico-tecnológico faz que o mundo humano, na atualidade, seja cientificamente consti tuído. O conhecimento científico da sociedade per mite compreender o sentido da explicação explicação do mundo “natural” que as ciências naturais produzem. Em outras palavras, palavras, as ciências humanas proporcionam a compreensão que dá sentido e justificação à explica
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O movimento da modernidade foi na direção das ciências naturais; na “pós-modernidade”, faz-se necessário um movimento rumo às ciências sociais, filosóficas e humanas. Há que ressituar o ser humano no centro, não de sorte que fique distanciado de si e dos outros, dissociado da natureza, mas a fim de que retorne à sua originalidade, à sua hominização, ao encontro com o mundo natural. A modernidade negou a natureza do ser humano para poder dominar a natureza das coisas; ao fazê-lo, negou a si mesma a relação originária existente entre homem e natureza. Aqui se insere a polêmica sobre a busca de novo paradigma para as ciências, na tentativa de superação de um modo de fazer ciência que já não corresponde às necessidades atuais e não permite problematizar, com liberdade, o mundo circundante. Nas ciências humanas, não é lícito tomar distância do objeto, como exige o método das ciências naturais. A objetividade, a neutralidade e o distanciamento do sujeito em relação relação a seu objeto — pretensão pretensão das ciên cias naturais naturais — tornam-se alienação alienação se aplicados no estudo dos fenômenos humanos. O distanciamento não facultaria o conhecimento do objeto em toda a sua riqueza, em seu contexto histórico. A razão é que o cientista dos fatos culturais culturais — uma vez que tanto ele como o objeto estudado pertencem a determinada tra dição — só terá acesso acesso adequado ao objeto se dele dele não se afastar, se permanecer dentro desse universo em estudo. Caso o pesquisador, neste trabalho, tomasse uma atitude de distanciamento, estaria falsificando falsificando seu
A exigência de objetividade e de neutralidade isola as variáveis estudadas de seu contexto histórico, pro vocando uma atitude de distanciamento do sujeito com relação ao objeto estudado. No estudo das ciên cias humanas, é muito difícil difícil separar o sujeito do objeto, por ser-lhe intrínseca essa ligação. Ricoeur (1990, p. 54), referindo-se à pesquisa com textos — nu ma perspectiva metodológica de cunho hermenêutico —, afirma que “o distanciamento não é o produto da metodologia metodologia [.. .] ele é constitutivo constitutivo do fenômeno do texto como escrita; ao mesmo tempo tempo é a condição para que possa haver interpretação ”. Neste ponto se faz necessária necessária uma distinção: uma coisa é a realidade a ser pesquisada enquanto objeto de interesse interesse do pesquisa dor, que demonstra todas as suas relações, o contexto por onde transita o sujeito que pretende conhecer; outra é o pesquisador sentar-se diante do computador ou de uma folha em branco e procurar empreender uma leitura e uma releitura da realidade por meio das impressões e das informações obtidas em “campo”. Ou seja, uma situação é a realidade em seu âmbito contex tuai; outra é o contexto do autor que produz um texto sobre as observações feitas acerca da própria realidade da qual faz parte. H á um a imbricação entre todos esses esses elementos. elementos. Poder-se-i Poder-se-iaa dizer que h á um a cumplicidade entre a realidade, o autor e o texto produzido como resultado de um processo de investigação da realidade pelo autor. O que resulta de um trabalho de pesquisa é uma forma de ver e de perceber perceber a realidade com um olhar particular, sem deixar de revelar e demonstrar um contexto bem mais amplo que permite à realidade
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nas estruturas da obra e por elas. Consequentemente, a interpretação interpretação é a réplica réplica desse distanciamento fiindamental fiindamental constituído pela objetivação do homem em suas obras de dis curso, comparáveis à sua objetivação nos produtos de seu trabalho e de sua arte (Ricoeur, 1990, p. 52).
Todo discurso tem a pretensão de atingir a reali dade e exprimir o mundo; refere-se a algo, a um mundo sobre o qual está falando. A fala do discurso é a expressividade da realidade que se pretende conhecer. O discurso produzido constitui produto de determinado contexto que fala ppr intermédio do pesquisador. Não só o discurso pretende atingir a realidade, como também a própria realidade atin ge a pessoa pelo discurso. Isso quer dizer que a reali dade toca diretamente a pessoa quando esta procura tocá-la. Essa relação de cumplicidade e imbricação possibilita o conhecimento das coisas ao redor e o reconhecimento reconhecimento de que, simultaneamente, se está ao redor delas. Os discursos se referem sempre a dada realidade, podem ser falseados, mas nunca são uma espécie de ficção proposta como se fosse realidade. Interpretar é explicar o tipo de ser-no-mundo manifestado diante do texto. Esse mundo do texto não é aquele da linguagem cotidiana, que fala das coisas dadas, mas o mundo poético que propõe pos sibilidades novas do existir. No entanto, só se podem propor possibilidades quando o discurso permite uma interpretação do próprio ser-no-mundo; ou seja, só é possível ao indivíduo captar a realidade em seu contexto na proporção em que este o lança na dire ção de si mesmo, na compreensão do que é e do sen tido do ser. Sem tal busca, todo e qualquer discurso
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Freud e Nietzsche mostraram as ilusões do sujeito (Rouanet, 1990). Para compreender a si mesmo, é preciso orientar-se pelo que se deposita nas formas simbólicas, nas obras ou textos. Entra-se assim num campo tortuoso e polêmico, o das ideologias, fruto de interesse interesse não só pela abordagem que propicia, mas t am bém pela necessidade de sua crítica crítica (Franco, 1995). Segundo Ricoeur (1990, p. 59), “a crítica das ideo logias é o atalho que a compreensão de si deve necessa riamente tomar ,; caso caso esta deixe-s deixe-see form ar pela coisa do texto, texto, e não pelos preconcei preconceitos tos do do l e i t o r O que deve estar no centro de toda compreensão não é o sujeito intérprete, mas o próprio texto e a realidade que gera a possibilidade de sua explicação, compreensão e interpretação. Só haverá interpretação verdadeira quando for criado certo distanciamento da cultura em que se está inserido. Para compreender o que se é, deve-se intro duzir sempre uma atitude de suspeita que produz não só um a separação entre entre o sujeito e o texto, mas tam bém uma cisão dentro do próprio sujeito. O distanciamen to não é somenteí alienante nas circunstâncias acima apontadas, mas constitui também a condição de possibilidade de toda e qualquer compreensão e interpretação autênticas. Em sua proposta metodológica, Paul Ricoeur principia do lugar do sujeito existente, da revolução epistemológica kantiana que põe o acento no sujeito e recusa qualquer estreiteza objetivista como única possibilidade de conhecimento das coisas. Todavia, isso não significa dizer que a objetividade não seja uma
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Em Ricoeur, a síntese é continuamente adiada, aparece apenas como horizonte, como ideia-limite. A realidade constitui sempre um horizonte em aberto, do mesmo modo que o conhecimento e seu processo são possibilidades de vislumbrar a potencialidade infinita das coisas. Ignorar essa conjuntura é o mesmo que negar a realidade como movimento. Com todos os partidários da fenomenologia, sus tenta ser possível sair da estreiteza objetivista. O olhar do sujeito, sua intenção, determina a realidade a investi investigar. gar. O que Ricoeur (19 91) busca, sem voltar a um objetivismo fenomenológico, é a crítica do que pensa ser uma ilusão subjetiva, em que o ego se pren de a certa relação circular consigo mesmo. O ego pre cisa reconhecer os polos objetivos e inspirar-se neles para poder sair de si próprio. Tal saída, porém, é ilu sória, pois apenas se objetiva a própria subjetividade. Para Ricoeur, o símbolo provoca o pensamento, ou seja, o mistério estimula a vida e a filosofia. filosofia. Isso só po de ser afirmado pelo fato de a simbolização se processar nos modos de compreensão situados na subjetividade humana. Já Habermas (1987) acentua a importância do papel da razão e dos conceitos de suspeita e interesse pela emancipação. Sua hermenêutica é chamada de crítica exatamente por caracterizar-se pela descon fiança quanto ao que sucede na linguagem e por uma proposta de saída da alienação em direção à maior emancipação das pessoas. Para Habermas (1982; 1987; 1990), ao contrário de Gadamer (1997; 2001), a comunicação do dia a dia dá-
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das pessoas. Seu método dialético-crítico está ligado à filosofia de Marx. O que há de novo é a associação do método da psicanálise para estudar os fenôme nos sociais. Segundo Ricoeur (1990, p. 125-129), Habermas recorre constantemente ao paralelismo entre psicaná lise e a teoria das ideologias. Esse paralelismo repou sa sobre os seguintes critérios: • Na esteira da tradição marxista, considera que a distorção é constantemente vinculada à ação de uma autoridade, geradora da violência. violência. A “censura” “censura” constitui o conceito-chave, conceito-chave, de origem política. Em Habermas, o fenômeno da dominação produz-se na esfera da ação comunicativa; é nela que a lin guagem é distorcida em suas condições de exercí cio, no plano da competência comunicativa. Entretanto, um a hermenêutica restrita restrita à dimensão da linguagem encontra nela seu limite e não compreen de a relação entre trabalho, poder e linguagem. • As distorções da linguagem não provêm de seu uso, uso, mas da relação de poder que ela implica. O envol vimento entre linguagem e poder nem sempre é percebido pelos membros da comunidade. Esse desconhecimento é específico do fenômeno da ideologia. N a esfera das ciências sociais críticas, críticas, Habermas fala de “pseudocomunicação” ou de “compreensão sistematicamente distorcida”, por oposição à simples não compreensão. compreensão. • Se o desconhecimento é insuperável insuperável pela via dialo gai direta, a dissolução das ideologias deve ser bus cada mediante procedimentos explicativos, explicativos, e já não
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vencer a não compreensão e a ciência explicativa das distorções. A crítica das ideologias implica ter como ideia reguladora o que a hermenêutica das tradições concebe existir na origem da compreensão. Aqui entra em jogo o interesse pela emancipação. É ele que anima as ciências sociais críticas. A autorrefle autorreflexão xão cons titui o conceito correlato do interesse pela emancipação. Convém situar toda crítica das ideologias sob o signo de uma ideia reguladora: a de uma comunica ção sem limite e sem coação. A ideia reguladora é mais dever-ser do que ser; mais antecipação do que reminiscência. E ela que confere sentido a toda críti ca, porque só há dessimbolização para um projeto de ressimbolização, e tal projeto só se justifica na pers pectiva revolucionária do fim da violência. Uma escatologia da não violência constitui o horizonte filosófico último de uma crítica das ideologias. Para Stein (1996), os aspectos positivos que Habermas atribui à hermenêutica residem em sua capacidade de descrever as estruturas da reconstitui ção da comunicação perturbada e no fato de ela se vincular necessariamente à práxis, destrói a autossufi ciência das ciências do espírito — como em geral elas se apresentam apresentam — e assegura sua importância para as ciências sociais, ao demonstrar que seu domínio obje tivo está pré-estruturado pela tradição e que elas mes mas, bem como o sujeito que compreende, têm seu lugar histórico determinado. Ademais, a consciência hermenêutica atinge e fere a autossuficiência das ciências naturais e revela seus limites; da mesma forma, uma esfera de interpretação que alcançou
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Por outro lado, os limites da hermenêutica estão em seus modos de compreensão, que se movem no domínio da linguagem ordinária. Portanto, ela perde sua competência nas esferas em que as proposições divergem dessa linguagem. Também não se revela competente nas situações em que se encontra pertur bada não apenas a comunicação, mas a própria lin guagem — em cujo contexto as perturbações de comunicação deveriam ser trabalhadas. A hermenêutica filosófica filosófica constitui um método, um quadro ou um paradigma que se pretende uni versal; ou seja, visa apresentar-se como uma filoso fia com uma proposta de compreensão totalizante, que possa entrar em discussão com outros paradig mas e apresentar algumas respostas às questões por eles levantadas. O importante na hermenêutica é que ela tenha uma pretensão de universalidade, universalidade, seja um paradigma de discussão já assumido por diversos campos nas ciências humanas e constitua, com base nisso, um método de investigação. A despeito de ser mais do que justificado o estabe lecimento de certc certcM M distanciam ento entre o sujeito que pesquisa e seu objeto de estudo, parece não menos importante frisar, mais uma vez, a impossibi lidade, no campo da Filosofia e das ciências humanas, de separação total entre sujeito e objeto, uma vez que sempre se está mergulhado, histórica e culturalmen te, nos fenômenos estudados. Entre o fenômeno humano e o sujeito não pode haver esse afastamento quase total, como preconizam as ciências naturais. Na Filosofia e nas ciências humanas, tanto o sujeito
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interpretando os fenômenos humanos, vinculados ao sistema global das relações, compreende-se e interpreta-se a si mesmo dentro desse mesmo conjunto; e, ao compreender e interpretar a si mesmo, produz-se um saber, um entendimento sobre os fenômenos em estu do. Por isso, Stein (1996, p. 61) diz que compreender é algo que se constitui como totalidade, porque sig nifica uma compreensão do mundo não como um continente de conteúdos, mas como a própria trans cendência. Este mundo, ao m esmo tempo, é o sujeito e o projeto do sujeito, sobretudo o que deve dar-se. Assim, vai formar-se a chamada estrutura da circula ridade, à medida que já sempre se está no mundo e, ao mesmo tempo, se projeta o mundo. O sujeito está envolvido com os objetos do mundo e descreve o mundo no qual se dão os objetos. À luz dessa compreensão, Heidegger (1988) vai dizer que o indivíduo nunca é transparência pura, pois desde sempre está no mundo, foi jogado nele, chega sempre tarde, depois do começo do jogo: só então começa a compreender. Quando se projeta o que se quer ser, o projeto tem sempre por base deter minada situação concreta e é continuamente refeito, em função de tudo o que sobrevém ao sujeito. Na Filosofia, nas ciências humanas e na educação, o modo
da interrogação é determinado exatamente por
aquilo que se quer saber e não pelos recursos técnico-operacionais -operacionais que se possa pô r em prática. 0 fundamento do método fenomenológico fenomenológico está d ado, sobretudo, por aquilo que se busca compreender /.../. Querer saber o que é e como é algo são os dois elementos que estão na base de uma investigação, e podem ser traduzidos num só, a
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Por essa razão, razão, os instrumentos do método podem revelar-se importantes, mas serão sempre secundários em tais investigações. O acesso às coisas do mundo verifica-se sempre como totalidade. Segundo Stein (1996), o compreender não existiria se não se compreendesse o contexto. Esta é a grande questão: pensar as condições de possibilidade de uma relação entre sujeito e objeto em que um e outro não se separam inteiramente. Com efeito, na relação sujeito-objeto que aparece na frase, percebe-se o que está ali, mas só se entende porque antes já sempre se compreendeu o que significa pronunciar uma frase — ou seja, seja, “o sentido sempre se dá, se estate la e se recompõe em relação ao todo. Por isso, se tanto nas ciências humanas como na Filosofia (nas ciências her menêuticas) há método, o sentido desse termo não é uní voco, mas análogo” (Basso, 1998, p. 44).
O discurso sempre fala de alguma coisa fora dele; portanto, obriga o sujeito a olhar para fora do siste ma linguístico, para esse algo de que fala. Na quali dade de evento, ele sempre tem um sujeito que atualiza as estruturâs virtuais do código linguístico: aquele que o profere. A dimensão sincrônica, recortada e estática no tempo, própria das ciências empírico-matemáticas, faz que a leitura, por exemplo, de um texto da Física e da Quím ica da Idade Méd ia não traga nada de novo para o prosseguimento dessas ciências no futuro: são elementos museológicos. Stein (1996, p. 88-89) sustenta que os textos das ciências ciências humanas, assim como os da Filosofia, nunca
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por outras obras que se refiram a eles e pretendam apresentar sua verdade de maneira nova. Tanto é que, se se pudesse imaginar um texto de ciências huma nas acabado, um texto de Filosofia perfeito, esse seria um texto mor to — uma vez que se trataria de um texto modelar cuja leitura já não seria necessá ria, um texto que nunca mais apresentaria nada de novo nem produziria outros textos pela interpreta ção, por conta de sua perfeição. Os textos hermenêuticos nunca tomam forma definitiva. O sentido é continua ment éf desconstruído, criado e reconstituído em novas estruturas. “Portanto existe um processo processo que comanda o sentido ou que está envolvido com o processo do sentido na história, sociologia ou em outras áreas de humanas” (Stein, 1996, p. 89). Nas ciências humanas, sempre existe um resto que, se escapa em certo momento, em outro poderá mostrar-se, pois é preciso considerar também o sujei to que estuda os objetos das ciências humanas. Sua articulação com esse resto que escapa constitui parte da singularidade do texto. Esta significa, significa, em primei ro lugar, o fato de o texto ter um autor determinado, ser redigido numa língua específica, aparecer numa época definida. Esses elementos da singularidade fazem que um texto de História, Sociologia ou Psicanálise tenha sua marca e esta esconda em si uma particularidade ou uma singularidade que represente um limite para a sistematicidade, a uni versalidade e a necessidade. A questão do sujeito/objeto nas ciências humanas
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jus tam en te pelo fato de pret end er perce ber mel hor a diferença entre particularidade e sistematicidade. Este movimento é muito importante: perceber que a sin gularidade incorpora a particularidade na própria interpretação, mas de tal maneira que a singularida de não seja isolada e separada da sistematicidade e ambas resultem num tipo de totalidade. A imbricação sempre existente entre sujeito e objeto no confronto de um texto a ser interpretado constitui exatamente a imbricação da singularidade com a sistematicidade, que não é só do texto, mas também do leitor. A universalidade redime-se no texto texto pela interp interpreta retação. ção. Ela será redimida pelo méto do. Nesse ponto é que está a questão. Como o método com que se trabalha nas ciências humanas é capaz de dar conta da universalidade contida no texto (Stein, 1996, p. 90)? Nas ciências humanas, o sujeito não pode ser com pletamente distanciado de seu objeto porque nelas, ao contrário das ciências naturais, que só se interessam pelo universal, é preciso perceber tanto a sistematicidade quanto a singularidade. singularidade. A relação sujeito-objeto é flui da e, muitas vezes, a pessoa modifica-se pelas descober tas que faz e modifica a percepção do m undo exterior exterior.. O distanciamento não é produto das metodolo gias nem algo acrescentado e parasitário. E constitu tivo do fenômeno do texto como escrita; ao mesmo tempo, também é a condição da interpretação. Revela-se viável descobrir, entre objetivação e inter pretação, uma relação muito menos dicotômica e muito mais complementar do que a instituída pela
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determin ados pela situação em que ele se express expressa, a, é que conferem a diferença última a todo discurso. Não há discurso de tal forma fictício, que não vá ao encontro da realidade. Nessa perspectiva, interpretar significa explicitar o tipo de ser-no-mundo manifes tado diante do texto. A teoria da “compreensão” já não se vincula à compreensão de outrem, mas torna-se uma estrutura do ser-no-mundo. O momento do compreender responde dialeticamente ao ser em situação, sendo a projeção das possibilida des mais adequadas ao cerne das situações em que o sujeito se encontra. O que deve ser interpretado é uma proposição de mundo, de um mundo tal como se pode habitá-lo para nele projetar as pers pectivas e os horizontes mais próprios da constitui ção do ser-no-mundo (Stein, 2001). Hermenêutica e crítica das ideologias não são rea lidades opostas. A crítica das ideologias é o atalho q ue a compreensão de si deve necessariamente tomar, caso esta se deixe formar pelo texto, e não pelos pre conceitos do leitor. Em todos os níveis de análise, o distanciamento é a condição da compreensão. compreensão. Ainda não existe até hoje, na área das ciências humanas, um modo de desenvolver a informação, a interpretação, a pesquisa que, de uma ou de outra maneira, dispense a remissão a textos (Stein, 1996). A hermenêutica não deixa de ser crítica em relação às suas análises. Ao contrário, fornece instrumentos importantes que o método puramente analítico e o método dialético nem previam nem pressupunham. Resumido à ideia de totalidade, existe um elemento novo na maneira atual de pensar a questão do método.
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tão somente nu m cam inho mecânico passível de ser tri tri lhado mediante o emprego de algumas regras. No conceito de método, a hermenêutica hermenêutica amplia-se muito, justamente como consequência da ideia de totalidade. Talvez por isso se possa falar de certo caráter especulativo da hermenêutica, que possibi litaria três procedimentos na investigação: • Em primeiro lugar, lugar, pode-se pode-se falar do método her menêutico no sentido restrito, sob o aspecto de história das ideias — um a espécie de história conceituai. E preciso reconhecer que o conheci mento hodierno da história das ideias é deveras limitado. Existe essa possibilidade (ou limite), e a necessidade desse cuidado conceituai, desse cuida do com a pesquisa das ideias, com a história dos conceitos é muito importante, porque significa um exercício em função daquilo que se vai falar. Assimilar um discurso, um código mais ou menos determinado para dizer as coisas numa área de humanas, da Filosofia ou da educação, revela-se imperioso para que se possa compreender melhor o objeto sobre o qual; se quer debruçar. • Um segundo aspecto do método é o da tradição episepistemológica. Trata-se do que se poderia chamar do contexto da descoberta e do contexto da justificação. Fixam-se determinados objetos de investigação e de reflexão, surge a possibilidade de descrever historica mente e de analisar o sentido ligado à atualidade da situação. Descreve-se o contexto de como as coisas vão mostrando-se, sem dedicar atenção a uma ativi dade de justificação lógica daquilo que se observa. Só
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berta. Esses dois elementos vão-se completando naquilo que se chama, propriamente, o elemento epistemológico, aplicado nas ciências humanas em geral sem ser relacionad relacionado o ao outro contexto da histó ria dos conceitos. Por fim, há o caminho da especulação, especulação, a qual con duziu grande parte das ciências em direção a objeti vos inteiramente novos. Ela mostrou-se importante na investigação de objetos e foi a produtora de uma riqueza enorme do ponto de vista das descobertas científicas. Certamente a especulação é o outro aspec to do método. Essa direção tripartite do caminho da investigação — que poderia confluir confluir para a unidade do ponto de vista metodológico — trata-se trata-se da relação com certa capacidade de percepção e de desenvolvimento pela reconstrução e interpretação, de uma espécie de espes sura no discurso. A linguagem deve estabelecer uma articulação, articulação, um a imbricação de conceitos, de tal manei ra que possa surgir uma organização do texto, na qual se manifestem as peculiaridades dos procedimentos empregados pelo sujeito para apreender o objeto. O movimento especulativo é característica essencial da maneira pela qual a hermenêutica trabalha com o método. Esse movimento certamente se distingue de todas as pretensões lógico-analíticas. Com relação à questão da especulação, existem traços importantes projetados até na própria elaboração do texto. Tal fato significa que, muitas vezes, os textos das ciências huma nas são muito mais ensaios do que propriamente teses. Método e não método misturam-se criativamente nes
Capí Capítu tullo
A
III
REFLEXÃO COMO
FUNDAMENTO DO PROCESSO INVESTIGATIVO
A reflexão como fundamento do processo investigativo
A pesquisa e a produ ção de conheci conheciment mentoo em educação educação é um processo ao mesmo tempo objetivo e subjetivo. É objetivo objetivo porque está relacionado relacionado a um dado objeto objeto de investigação. É subjetivo porqu e envolve um sujeito. Nessa relação, a objetividade do objeto envolve-se na subjetividade do sujeito para possibilitar a conceituação da realidade. Tal envolvimento, essência do ato investigativo em educação, implica o reconhecimento do caráter dialé tico e dialógico da construção da realidade educativa, o que impõe a necessária superação da concepção dualista que historicamente historicamente pretendeu separar objeto e sujeito do conhecimento. Importa realçar que não se trata de uma concepção subjetivista, mas do entendimento de que o sujeito, ao produzir conhecimento, transforma e é transformado — processo em que elabora e organiza organiza sentidos, sentidos, com preende e interpreta com base em matrizes conceituais conceituais preestabelecidas preestabelecidas — e que essa ação de produzir senti dos, de objetivar o objeto para interpretá-lo, também constitui a realidade a ser compreendida.
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levar em conta a possibilidade de assumir atitudes metodológicas que adentrem e busquem sentido nas tramas do complexo, do caótico, do imprevisto. A pesquisa em educação, em virtude de suas diver sas peculiaridades, enfrenta constante desafio na busca de procedimentos e concepções que auxiliem o pesquisador a interagir com a realidade que pretende conhecer, compreender e até transformar. O aspecto sócio-histórico das práticas educativas imprime a cada situação educativa um caráter singu lar, irrepetível, com imensas variações no tempo, no espaço, nas formas organizativas de sua dinâmica e na natureza de sua intencionalidade. Isso implica que o objeto com o qual o pesquisador educacional traba lha é multidimensional, mutante, complexo e, para ser significado, precisa estabelecer mediações com um sujeito que carrega toda a complexidade das con figurações da existência humana. Fica difícil imaginar a utilização de procedimen tos experimentais na pesquisa educacional, uma vez que não é factível tentar controlar variáveis ou mesmo estabelecer relações causais, pretendendo pre ver resultados. Pode-se e deve-se tentar compreender a dinâmica da realidade educativa, interpretar seus caminhos, talvez explicar alguns fenômenos. A pesquisa em educação tem-se confrontado com a necessária tarefa de superação dos conceitos de linearidade, linearidade, de previsibilidade previsibilidade,, d e controle — dos quais o sentido da concepção d e ciência esteve esteve histo histo ricamente impregnado impregnado — , sem que, no entanto, esse propósito venha a realizar-se em detrimento do rigor científico, de sua consistência e plausibilidade.
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incapacidade dos métodos e técnicas técnicas da ciência ciência dita tra dicional em captar toda dimensão e potencialidade desse objeto tão mutante, tão metamórfico, carregado de valo res, de intencionalidades e de projetos implícitos. Tais características inerentes aos fenômenos educativos, carregados de finalidades e de subjetividades, trans cendem o plano da objetividade, dos critérios de rigor científico que permearam a representação tradi cional de ciência. No entanto — e este desafio desafio é grande na inves tigação educativa —, há que caminhar sempre na direção do rigor científico, organizado em outras bases, compatíveis com os pressupostos que mar cam os limites do conhecimento científico e com as especificidades da pesquisa em educação e perti nentes a esses fatores. Muitas dificuldades surgem no processo de pes quisa sobre a educação, atinentes tanto à questão da peculiaridade do objeto de estudo quanto aos métodos inerentes ao estudo de tal objeto. Todavia, as dificuldades não implicam impossibilidade de pesquisa nem justificam procedimentos superficiais que podem banalizar a ação investigativa e com prometer a validade científica. Uma das questões consideradas na superação do referido referido desafio deverá ser a da intercomunica ção entre objeto e método de pesquisa, pois, para a garantia da cientificidade, objeto e método devem confluir, interdepender; como afirma Severino (1996, p. 67), “falar do conhecimento é fa la r da construção do objeto que se conhece conhece e essa essa ução se dá através da pesqu isa ’. isa ’.
A REFLEXÃO COMO FUNDAMENTO DQ PROCESSO INVESTIGATIVO
plicidade de problemas que requerem decisões em diferentes perspectivas: perspectivas: • a afirmação e o esclareciment esclarecimento o da intencionalidade da pesquisa à luz do confronto e da escolha entre diferentes concepções de mundo e de homem e entre diferentes posições epistemológicas; • a busca de diferentes diferentes caminhos metodológicos, vista não apenas como escolha a priori, mas priori, mas construção em processo de formas e meios de percorrê-los; • reflexão sobre a focalização do ponto de relevância do problema a ser pesquisado, buscando as media ções necessárias entre o particular e o universal, entre o local e o contextual, entre o subjetivismo e a intersubjetividade. Essas três perspectivas, analisadas como opções necessárias ao pesquisador em educação, são extrema mente interligadas e denotam, a princípio, que fazer pesquisa científica em educação implica estabelecer recortes, assumir valores, selecionar prioridades, atitu des que inevitavelmente conferem à ação investigativa um caráter implicitamente político e aos produtos da pesquisa um conhecimento datado, situado, histórico e provisório. Nesse sentido, Gatti (2002, p. 10) afirma conheciment mento o obtido pela pesquisa é um conheciconhecique “o conheci mento vinculado a critérios de escolha e interpretações de dados, qualquer que seja a natureza destes dados”.
1. Metodologias Metodologias de pesquisa em educ ação
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estabelecer a metodologia que conduzirá seus traba lhos científicos. Pode-se afirmar que tal desconforto se deve, em parte, a representações inadequadas cons truídas sobre esse conceito, bem como ao papel con ferido à metod ologia no exercício exercício da pesquisa. Muitos pesquisadores iniciantes apegam-se à representação de metodologia apenas como instru mento de coleta de dados. Dessa forma, consideram que o papel da metodologia deverá ser, simplesmen te, organizar procedimentos para captação captação dos dados empíricos. Nesse caso, o percurso do método será feito a partir dos fatos até a pressuposta apreensão da realidade. Assim, o método torna-se um acessó rio à pesquisa e deixa de ser seu elemento fundador e o organizador das reflexões construtoras do conhecimento pretendido. Esse procedimento equi vocado foi denominado por Franco (2003) de con cepção instrumental da instrumental da metodologia. Contrariamente a tal perspectiva, a metodologia deve ser concebida como um processo que organiza cientificamente todo o movimento reflexivo, do sujeito ao empírico e deste ao concreto, até a orga nização de novos Conhecimentos, que permitam nova leitura/compreensão/interpretação do empíri co inicial. Essa concepção de metodologia pode ser denominada de reflexiva reflexiva (Franco, 2003), reafir mando, conforme Vieira Pinto (1983), as necessá rias articulações entre ciência e existência, uma vez que o pensamento teórico não existe desligado do plano objetivo, da prática, ou sem ter utilidade para ela, e não há trabalho nem ação prática sobre o mundo que não resultem em uma representação
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bases científicas das relações estabelecidas entre o ato de pesquisar e as novas compreensões que vão surgindo do diálogo do pesquisador com o mundo. A m etodologia da pesquisa, na abordagem reflexiva, reflexiva, caracterizacaracteriza-se se fundamentalmente por ser a atitude críti ca que organiza a dialética do processo investigativo; que orienta os recortes e as escolhas feitas pelo pesqui sador; que direciona o foco e ilumina o cenário da rea lidade a ser estudada; que dá sentido às abordagens do pesquisador e as redireciona; redireciona; que, enfim, organiza a sín tese das intencio nalidades da pes quisa .1' Assim a metodologia da pesquisa não consiste em um rol de procedimentos a seguir, não será um manual de ações do pesquisador nem mesmo um caminho engessador de sua necessária criatividade. A metodologia organiza-se em torno de um quadro de referências, decorrente de atitudes, crenças e valores que se configuram como concepções de mundo, de vida, de conhecimento. A metodologia é também a organização do pensa mento reflexivo-investigativo durante todo o processo da pesquisa. Deve institucionalizar institucionalizar os questionamentos em todas as fases do pesquisar: estabelecê-los e refletir sobre eles a luz do quadro de referências imanentes a si própria. Deve ser o exercício contínuo da dúvida metódica para chegar a verdade. Para Descartes, em seu Discurso do método, a dúvida torna-se método de investigação da verdade e só se encerra diante da reflexão, ou seja, diante do próprio ser que duvida. Se duvidamos, pensamos; se pensamos, existimos. É com base nessa assertiva (indubitável) que se constrói o pensamento. Desse modo, pode-se afirmar que o
fazer avançar o conhecimento. Obviamente essa epistemologia privilegia o sujeito em detrimento do objeto de investigação, mas constitui o primeiro fundamento do processo de construção do conhecimento humano. É esse modo de portar-se diante dos objetos que possibilita a ampliação de uma compreensão crítica das coisas. _____________________________________ Gatti (2002, p. 52) é bem incisiva nesse ponto, ao observar que ainda há carência de massa critica de sobre as ques bons pesquisadores: pesquisadores: “H á que se debruçar sobre tões de base, há que se manter a capacidade de questio namento viva e atuante, ha que se ter solidez teórica e dúvida metódica, há que se temer dogmas e verdades fáceis e antecipadas .”
Considerar dessa forma o papel da metodologia não significa o abandono de critérios de rigor; ao contrário, significa, sim, a consciência de que a opção por determinada metodologia im plica atitudes, atitudes, posi ções e procedimentos coerentemente escolhidos e exaustivamente consistentes com as convicções esta belecidas. O exercício exercício crítico sobre a linha de coerência coerência lógica e de consistênpia teórica no que diz respeito às possíveis articulações entre intencionalidades da pes quisa e ação investigativa e entre perspectiva declarada para a pesquisa e possibilidade de ações nessa direção deve garantir o rigor, evitando discrepâncias entre teo ria e método. Esse exercício crítico é que poderá fornecer ao pes quisador o caminho para além do já sabido, do senso senso comum, da coleta de dados, da descrição descrição de fatos evi dentes. Ou, como bem expressa Franco (1999):
“O fato que leva Descartes a __ duvidar de tudo se relaciona com a necessidade que tem de estabelece estabelecerr a firm eza do conhecimento científico, por isso afirma qu e precisava precisava começar tudo novamente desde os fundam entos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências. Por causa disto é que ele se esforça para colocar-se em dúvida sobre tudo, pois tem consciência de que a possibilidade de fundar uma ciência distinta da teologia depende enormemente de se estabelecer os fundamentos de tal forma de conhecimento conhecimento”
(Ghedin, 2003, p. 272). Pode-se, portanto, dizer que a dúvida é fator sem o qual não é possível construir a ciência e toda possibilidade de conhecimento científico está limitada à capacidade de duvidar de um conteúdo e de um processo estabelecido de conhecimento. É somente dessa forma que se instauram novas epistemologias e novos paradigmas para o saber humano.
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não po r um dom sobrenatural, m as porque abstr ai e apreende o movimento existente na totalidade Assumir uma posição sobre o papel da metodolo gia no ato de pesquisa e uma compreensão desse papel é mais que um a escolha a priori; trata-se, antes, de reafirmar uma concepção da relação do sujeito-pesquisador com o objeto de conhecimento. Ter a metodologia na conta de coletora de dados, concebê-la como responsável pelas bases científicas dos movimentos reflexivos do sujeito na praxis investigativa ou mesmo desconsiderar a'r necessidade d a metodologia são posições decorrentes de concepções epistemológicas diversificadas.
Como já mencionado anteriormente, Severino (1996) sustenta que falar de conhecimento é falar falar da construção deste objeto. Essa construção desenvolvese na inter-relação do sujeito que conhece com o objeto do conhecimento. E mais ou menos consensual afirmar que a rela ção sujeito-objeto pode ser interpretada segundo a configuração de, pelo menos, três diferentes modelos teóricos. Tais modelos são bem explicitados em Franco (1999) e podem ser assim sucintamente descritos:
a) Modelo objetivista Neste modelo, a relação estabelece-se a partir do objeto, pressupondo um sujeito passivo, registrador dos estímulos advindos do ambiente. Alguns princí pios fundamentam a epistemologia dessa relação, entre os quais vale salientar:
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• pressuposiç ão de que a razão razão científica deva pautar-se na busca de relações causais entre os fatos; • a busca da neutralidade neutralidade científica, científica, que, além de iso lar o sujeito do objeto, se abstém de envolvimentos envolvimentos e compromissos com o social, com o coletivo; • rejeição a todo conhecimento metafísico; • a associação entre verdade e comprovação empírica; • o pressuposto de que tanto os fenômenos fenômenos da nature za quanto os sociais são regidos por leis invariáveis; • a crença de que os fatos sociais só poderão ser conhecidos se forem diluídos em variáveis que, depois de operacionalizadas, poderão ser observa das, classificadas, medidas; • a clara divisão entre fato e valor e a exclusão dos valores como passíveis de consideração científica; • apenas duas formas de conhecimento são conside radas válidas: conhecimento empírico e lógico; • o rigor científico é aferido pelo rigor das medições, pois conhecer significa quantificar; • a busca da redução redução da complexidade, na crença de que o todo se compõe da somatória de partes e que basta dividi-lo para entender a totalidade; • a primazia da busca do funcionamento das coisas em detrimento de sua finalidade e a compreensão de que obtém-se com com a expul a “ determinação da causa form al obtém-se são da intenção” (Santos, 1996, p. 16); a pressuposição de um a ideia de ordem e estabilidade estabilidade
HMVEST1GATIVO A REFLEXÃO COM O FUND AMENT O PO PROCESSO HMVEST1GATIV
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Decorrem desses princípios consequências impor tantes à pesquisa em educação, que historicamente, na busca da objetividade científica, separou, como se pos sível fosse, o sujeito do conhecimento, de seu objeto. Para funcionarem tais pressupostos, foi necessária a organização da pesquisa educacional em torno da ideia da imutabilidade do m undo, da rejeição rejeição do imprevisto, do aleatório, reduzindo o real à esfera do aparente, do superficial, superficial, do previsíve previsível. l. Es sa situação marco u profundamente as produções científicas da educação até a década de 70 do século passado. Em relação à questão metodológica, há que pressu por que, com base em tais princípios epistemológicos, a metodologia deva funcionar como um instrumento que apenas retire da suposta realidade o que ali se encontra presente presente.. E presente significa o observável, o aparente, o empírico. A metodologia deve ser o espe lho por meio do qual a realidade se mostra-e assim deve ser fotografada, jamais interpretada. Para que esse espelho funcione adequadamente, são necessá rias muitas técnicas, manuais, procedimentos, de forma que a imagem a ser fotografada seja a mais fiel possível, seja irretocável, sem filtros, luzes ou cores próprias. Por conseguinte, nessa perspectiva, a meto dologia é meramente instrumental, servindo de ins trumento de registro do empírico, do aparente, do supostamente visível.
b) Modelo subjetivista Neste modelo, há uma inversão da epistemologia objetivista. Parte-se da supremacia do sujeito sobre o objeto de conhecimento. A realidade é, pois, percebida
Como princípios fundadores desse modelo, pode-se destacar: • a supremacia do sujeito como objeto do conhecimento; conhecimento; • a valorização valorização da subjetividade do pesquisador; • o objeto de conhecimento é aquilo que é significa significa tivo ao sujeito; • o sujeito é criador criador da realidade (penso, (penso, logo existo); • o descaso com a importância do objeto de conhe cimento; • a preocupação com processos e condições existen existenciais ciais;; • o desinteresse pela recuperação histórica dos fenô menos sociais estudados; • a compreensão dos fenômenos é feita com base na intencionalidade da consciência, na busca de supostas essências que venham a fundamentar o fenômeno; • pressupõe-se que as pessoas ajam com base em suas crenças, percepções e valores e que todo comporta mento tenha um sentido que, para ser compreen dido, precisa ser desvelado; • a categoria epistémológica é a interpretação ou a descrição interpretativa; • parte-se de uma concepção existencialista de ser humano, visto como ser de relações, que elabora sua existência e recebe dela sentido. Em termos de decorrências significativas significativas para a pes quisa em educação, há que valorizar o rompimento com a questão da objetividade e com a necessidade de neutralidade do pesquisador. pesquisador. Esse modelo trouxe à tona
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do não observável, do pressentido, do aspecto oculto das representações objetivas. O principal elemento metodológico é o próprio pesquisador, que deve entrar em contato contínuo e prolongado com seu objeto de conhecimento. Desse procedimento decorre a ênfase na busca de dados qualitativos que venham a denotar significados, ele mentos importantes na compreensão do fenômeno. Quant o à questão metodológica, houve uma preo cupação fundamental em exorcizar o emprego de procedimentos quantificáveis. Nessâ transição da maciça utilização de pesquisas de cunho quantitativo para a nova abordagem qualitativa, surge um espaço de descompasso entre o saber fazer historicamente construído construído e o novo saber fazer a ser estruturado no processo histórico. Nesse processo de reorganização do conhecimen to, verificaram-se muitos equívocos sobre as formas e meios de pesquisar em educação, alguns dos quais comentados mais adiante. Os pesquisadores inician tes, na ânsia de não serem positivistas e na falta de uma cultura de pesquisa nos moldes da abordagem qualitativa, não raro se equivocaram, subestimando o necessário rigor científico. Com efeito, a subjetividade foi, muitas vezes, interpretada como subjetivismo, subjetivismo, indicando que qual quer avaliação do pesquisador era satisfatória. Outras vezes, a identificação excessiva do pesquisador com o próprio ambiente de trabalho, transformado em ambiente de pesquisa, impediu a percepção e cons trução da intersubjetividade. Frequentemente o excesso de escrúpulos em manter a originalidade da
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Assim, foram-se confundindo relatos pessoais com interpretações significativas da cultura do contexto de um fenômeno. Novamente convém reportar-se à fala contundente de Gatti (2002, p. 50): Nessa mudança não parece ter havido um processo de transformação, mas, sim, um movimento de adesão, novamente acrítica, sem que as novas perspectivas tenham sido realmente dominadas, apropriadas com integração compreensiva e abrangente dos seus princípios básicos, estes muito complexos pela natureza mesma das metodologias não quantitativas e dos elementos novos com que se está trabalhando. Analisando algumas propostas de pesquisa desen volvidas à luz dessa abordagem, pode-se refletir: ainda se faz pesquisa ou a norma é contentar-se com narrativas pessoais, relatórios de atividades, relatos de experiências? Onde, afinal, fica a linha divisória entre fazer pes quisa e relatar dados apreendidos na esfera do senso comum? Qual o papel da metodologia em pesquisas com tal pressuposto epistemológico? Deve-se ponderar que, quando falta o devido aprofundamento epistemológico, se enfraquece a metodologia. A ausência de um estabelece o fracasso da outra. Será, portanto, necessária a garantia de que a organização organização do conhecimento se faça pelo pelo uso con tínuo da reflexão crítico-investigativa com critérios que assegurem assegurem o rigor científi científico. co. Co mo já se indicou acima, vale o alerta de que é preciso manter sempre a capacidade de questionamento, recorrendo ao exercí cio da d úvida metódica com solidez e consistência. consistência. O questionamento é fundamental para que se evite
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No que concerne à epistemologia epistemologia da metodolog ia de pesquisa, é interessante interessante notar que muitos pesquisadores iniciantes, ao se reportarem ao modelo subjetivista como suporte teórico de suas pesquisas, muitas vezes em explícita oposição ao modelo objetivista, utilizam-se da metodologia ainda em seu caráter instrumental. Ou seja, empregam-na como mera coletora e regis tradora de dados, sem proceder à análise das articula ções entre sujeito e objeto, entre fato e valor, entre a particularidade e a totalidade. Seguem de perto os mesmos princípios do modelo objetivista, com os pressupostos da epistemologia positivista. Apenas substituem dados quantificáveis por dados qualitati vos, geralmente sem criar alterações nos instrumentos de pesquisa ou nos procedimentos de análise, condu zindo o trabalho à enorme discrepância entre teoria e método e cometendo assim um “pecado mortal”, um a vez que tal discrepância inviabiliza inviabiliza a possibilida de de construção científica do conhecimento. Nesses casos, o que ocorre é que, embora se mude o modelo teórico, fundado em outros pressupostos epistemológicos, e se alterem algumas técnicas de coleta de dados, o germe do processo metodológico não se modifica, redundando a suposta pesquisa numa coleção de fatos historiados que, na realidade, não caminham no sentido de transformar conheci mentos, mas de mantê-los. Realce-se que o que garante a cientificidade é o reforço reforço ou o peso da teoria como análise do real. E sempre bom frisar que não há análise sem teoria, do mesmo modo que não há síntese sem metodologia. O que se percebe é que, nos casos mencionados,
A REFLEXÃO COMO FUNDAMENTO DO PROCESSO 1NVEST1GATIVO
direção do exercício, quase mecânico, de extrair da realidade os dados de que o pesquisador precisa para reafirmar suas convicções iniciais. Outra consequência do uso acrítico e superficial desse modelo teórico é o fato de, por priorizar o estu do do cotidiano na busca de significados que a cultu ra local atribui aos fenômenos, a pesquisa acaba pecando por irrelevância, pois os pesquisadores ini ciantes deixam de contextualizar o problema da investigação em um cenário histórico-teórico mais amplo, impossibilitando que os estudos daí decorrentes decorrentes possam ser utilizados em qualquer outra situação; nes ses casos, “a impressão que se tem é a de que o conhecimento sobre o problema começou e terminou com aquela pesquisa (Alves-Mazzotti (Alves-Mazzotti e Gewandsznajder Gewandsznajder,, 2001). Convém lembrar que o conhecimento não surge ao acaso, mas insere-se numa tradição, num processo histórico, e é essa tradição que, evidenciando seu compromisso epistemológico e metodológico, permi te o avanço da ciência. Assim, há que considerar que, a partir da emergên cia dessa nova forma de pesquisar, com muitos acertos e alguns equívocos, Tem sido possível caminhar para uma ampliação na compreensão do fenômeno educati vo, em toda sua dimensionalidade histórica. A emer gência da abordagem qualitativa em educação vem denotar que novas necessidades e outras percepções se apresentaram aos pesquisadores. A educação foi sendo compreendida como fenômeno integral, com plexo, e, portanto, foi-se requisitando nova forma de pesquisa, que já não pretendesse estudar o fenômeno educativo de maneira descontextualizada, descontextualizada, decompo ndo
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neutralidade do pesquisador, exigência do paradig ma positivista, se foi mostrando uma exigência não só impossível, como também deturpadora da essên essên cia do objeto educativo.
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• a prática social é o critério básico de verdade; • a realidade realidade empírica é ponto de partida na constru ção do conhecimento e não ponto de chegada; • não há como separar sujeito que conhece do obje
c) Modelo dialético
to a ser conhecido;
Este modelo advém da superação da dicotomização estabelecida pelas duas abordagens anteriores. Fundamentalmente, incorpora-se o caráter sócio-his tórico e dialético da realidade social, compreendendo o ser humano como transformador e criador de seus contextos. Os princípios básicos dessa concepção são a historicidade como condição para a compreensão do conhecimento e a realidade como um processo histórico constituído, a cada momento, p or múltiplas determinações, fruto das forças contraditórias exis tentes no interior de si própria.
• o processo de conhecimento conhecimento constrói-se constrói-se do empíri co ao concreto e deste ao empírico;
Portanto, sujeito e objeto estão em contínua e dia lética formação, evoluem por contradição interna, não de modo determinista, mas como resultado da intervenção humana mediante a prática. Os princípios epistemológicos desse modelo podem ser sucintamente especificados:
Considerando as consequências consequências desse modelo para a pesquisa educacional, cabe observar que ele abre grandes perspectivas para o estudo dos fenômenos educativos em toda sua complexidade, embora apre sente aos pesquisadores o desafio de saber realizar
• privilegia-se a dialética da realidade social, a histo ricidade dos fenômenos, a práxis, as contradições, as relações com a totalidade, a ação dos sujeitos sobre suas circunstâncias; • o homem é um ser social social e histórico, histórico, determinado por seus contextos, criador da realidade social e transformador de suas condições;
• o conhecimento não se restringe à mera descrição, mas busca a explicação; parte do observável e vai além, por meio dos m ovimentos dialéticos dialéticos do pen samento e da ação; • a interpretação dos dados só pode realizar-se em contexto; • o saber produz ido é necessariamente transformador dos sujeitos e das circunstâncias (práxis).
pesquisas de cunho dialético. Tais pesquisas requerem ao pesquisador que adentre na dialética da realidade social, social, compreenda e acom pa nhe o movimento da práxis do sujeito construtor de sua realidade, esteja atento ao saber produzido na prática social dos homens, bem como, consequentemente, às transformações que tal dinâmica vai produzindo nos sujeitos e nas circunstâncias e àquelas pressentidas e
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atento para realizar as interpretações em contexto, para perceber as mediações entre o particular e a totalidade, para distinguir a dinâmica das contradições inerentes ao mo vimento histórico e para saber respeitar respeitar as sínte ses provisórias provisórias de conhecimento que se vão constituin do. Deverá saber trabalhar para além do observável, saber construir os referenciais teóricos que podem mos trar-se adequados à busca da complexidade do concreto e saber, com recurso à teoria, retornar ao empírico para melhor compreendê-lo. Apenas trabalhando dessa forma pode a pesquisa em educação superar superar a histórica dicotom ia entre teo ria e prática, pois na práxis se encontra a concretiza ção da teoria e a teorização da prática. No entanto, vem a pergunta: como realizar uma pesquisa assim? Como adentrar a práxis? Como perceber os movimentos contraditórios que funda mentarão a construção de sínteses provisórias? Como reconhecer a construção do concreto para além do empírico? Com o caminhar do todo às partes e destas destas ao todo? Como interpretar em contexto? Como to mar partido, assumir compromissos políticos com o grupo pesquisado e continuar sendo pesquisador, e não apenas militante? A ausência de enfrentamento desses importantes dilemas, principalmente na atuação de pesquisadores iniciantes, tem produzido também novos equívocos no fazer pesquisa em educação. Kosik (1976, p. 45), auxiliando na proposição de pistas para tal enfrenta mento, argumenta que o conhecimento da realidade realidade histórica é um processo de apropriação teórica, ou seja, “de crítica, de interpretação e de avaliação dos
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detalhadamente a matéria, analisar suas várias formas de evolução e rastrear sua conexão ínti ma . Frigotto (1989, p. 87) oferece uma série de orien tações que devem nortear a pesquisa qualitativa em educação, as quais, recriadas e sintetizadas, se confi guram como segue: • Na delimitação da problemática em que o pro blema de pesquisa vai situar-se, é fundamental deixar clara a posição teórico-epistemológica do pesquisador, na qual se evidenciam as rupturas, as contraposições da concepção do pesquisador com o estabelecido. E importante que esta etapa da pesquisa esclareça as opções pelo recorte esco lhido: o que se acolhe na pesquisa, o que se deixa de lado? O que será ou não priorizado e por quê? Quais os sujeitos reais com os quais se vai traba lhar e de que totalidade fazem parte? • A seguir há que esmerar-se no resgate crítico da produção teórica referen referente te à problemática em qu es tão. Resgate crítico é mais que elencar estudos anteriores: é estabelecer as diferentes perspectivas de análise, comentar as contradições que histori camente se organizaram em torno do assunto e como foram sendô' superadas, identificar as rup turas que demarcaram novas perspectivas para a temática e, fundamentalmente, esclarecer as pre missas do avanço que se pretende propiciar com a pesqu isa atual. A condução da p esquisa será será feita feita pelo investigador, por sua posição teórica, e não pelos dados que tem pela frente. Esse alerta é importante para evitar evitar o equívoco de fazer da pes quisa apenas um instrumento de resolução de pro blemas que o pesquisador encontra em sua prática. prática.
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base no levantamento de material. No entanto, deve-se levar em conta que é mais prudente tal definição já estar presente quando da reflexão empreendida para esclarecimento esclarecimento da problemática, problemática, dos recortes elaborados e do próprio trabalho de organização organização do campo teórico; • Na análise dos dados, será fundamental esclarecer e identificar as conexões, conexões, as contradições, as mediações dos fatos na problemática em questão. NesSe intenso trabalho de reflexão, reflexão, em q ue se procurará caminhar para a superação do empírico, do senso comum, do observável, é que se poderá caminhar para dar um passo à frente na compreensão do fenômeno. • A síntese do trabalho deverá indicar as múltiplas determinações que interagem com o fenômeno estudado, os avanços obtidos com a pesquisa e tam bém as questões pendentes, para a necessária rede rede finição das categorias. E preciso deixar claro que, embora tais etapas da pes quisa dialética possam ser vivenciadas de forma dife rente, o questionamento metódico deve estar presente em todos os momentos do pesquisar. Advirta-se ainda que o diálogo do pesquisador com a realidade será feito por meio do movimento dialético do pensamento e essa dialética funcionará como o motor da produção cientí fica do conhecimento.
2. Algumas considerações sobre a ques tão da coerência epistemológica
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como pressupõe a concepção tradicional de ciência, mas, fundamental e q uase que basicamente, deve-se à consciência e preservação da coerência epistemológica. É comum verificar as imensas dificuldades que o pesquisador iniciante tem na vivência dessa necessá ria coerência. A análise dos modelos explicativos das relações do sujeito que conhece com o objeto de conhecimento foi apresentada na seção anterior com a intenção de ajudar o pesquisador iniciante a refletir sobre suas concepções a respeito da compreensão do processo de produção do conhecimento, ressignificá-las e integrá-las a seu modo de organizar a pesquisa. Muitas vezes, a metodologia engessa o pesquisador e a pesquisa perde sentido: aquele, na ânsia do rigor metodológico, deixa de perceber-se refletido nas in tencionalidades tencionalidades da pesquisa; esta, por sua vez, cami nha na direção do método, e não da construção do sentido. Quando o pesquisador deixa transparecer as pró prias convicções, convicções, assume c om liberdade e coragem suas perspectivas epistemológicas e delas não abre mão, a metodologia surge como auxílio na construção do conhecimento, e não como caminho burocrático da organização da pesquisa. O rigor almejado em uma investigação deve advir da convicção dos pressupostos da pesquisa e dos compromissos daquele que a realiza com a questão epistemológica. A pesquisa tem de ser a continuidade continuidade da vida do pesquisador pesquisador — segundo o princípio já exposto de que todo conhecimento é fusão de sujeito e objeto. E esse sujeito datado, situado historicamente, com suas crenças e convicções, que constrói conhecimento por meio da pesquisa; e a metodologia emana desse
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Alguns pesquisadores têm realizado estudos que evidenciam certos cuidados que o pesquisador ini ciante deve tomar, de sorte que garanta m aior consis tência a suas pesquisas qualitativas: qualitativas: Pode-se Pode-se aprofundar o conhecimento dos itens expostos a seguir nos trabalhos de Gatti (2002), Fonseca (1999) e Miranda (2001).
• A realidade pesquisada não pode ser reduzida aos discursos que os sujeitos pesquisados emitem a res peito dela, o que den otaria um subjetivismo inade quado. E fundamental que a pesquisa qualitativa considere o ponto de vista do sujeito pesquisado, mas não basta a coleta de falas e discursos dos pes quisados; deve haver depuração crítica, contextualização, identificação e diferenciação dos diversos aspectos dos discursos: a fala que esconde, a que denota, a que veio atender à expectativa expectativa do pesqui sador, entre outras dificuldades. • O percurso investigativo não pode organizar-se apenas com base no senso comum, o que denotaria um objetivismo mecanicista. Como se sabe, o co nhecimento produzido em educação deve trans cender aquele estruturado sob forma de senso comum, e, para ocorrer essa transcendência, é necessário um trabalho articulado que organize a reflexão reflexão e sistematize sistematize as m ediações. Conform e afir ma Miranda (2001, p. p. 137): “ O conhecimento sistematizado se contrapõe ao senso comum por este se constituir como um conjunto de saberes que, por não serem sistematicamente mediados pela reflexão, são aparentes, precários, imediatos, fragmentados, caóticos e parciais”. A reflexão mediadora manifesta-se em
toda a duração da pesquisa: desde os recortes ini ciais, passando pelo processo de coleta de dados
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fases fases de u ma pesquisa são contínuas, impregnando-se mutuamente. É comum pesquisadores iniciantes fazerem esta separação: coletam dados e mais dados para só depois, ao fim da coleta, longe dos sujeitos pes quisados, efetuar as interpretações. • Revela-se essencial, num processo reflexivo de pes quisa, a objetivação das subjetividades. Para tanto, deve o pesquisador evitar permanecer no nível ape nas descritivo. E sempre importante um espaço de distanciamento cognitivo que produza certo estra nhamento. Dessa forma, há que tomar muito cuida do ao pesquisar no próprio ambiente de trabalho, pois o distanciamento, o estranhamento ao familiar, passa a ser muito difícil. difícil. Esse fato, bastante relevante, relevante, requer um esforço investigativo que permita ao pes quisador desfazer-se de conclusões já elaboradas, de mitos e preconceitos já construídos. E preciso que ele encontre espaços, técnicas, meios de estranhar um ambiente tão impregnado em seu ser e em seu fazer profissional. • Evitar análises análises distanciadas distanciadas da totalidade, do contex to; a pesquisa qualitativa impõe a busca do sentido expresso na cultura} (etnografia). Fonseca (1999) alerta muito para o uso superficial da etnografia, referindo-se a um “ método etnográfico etnográfico truncado, truncado, que sefecha em técnicas e orientações teóricas, teóricas, q ue realçam o indivíduo à custa da análise social’.
• Durante todo o processo, o investigador precisa manter seu papel e, por mais empatia que tenha construído com os sujeitos da pesquisa, deve evitar imiscuir-se e/ou desaparecer sob o peso do ponto de vista dos sujeitos pesquisados (fusão
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nos pressupostos da metodologia (aproximações sucessivas). Assim, por exemplo, o pesquisador que trabalha com a m etodologia de história de vida não pode restringir-se a ser um relator de histórias. A própria história, em processo de relato, precisa ir-se organizando dialeticamente, de forma que sujeito e história se vão compo ndo historicamente, historicamente, evitando confundir momentos idealizados pelo sujeito com momentos superados e ressintetizados após ruptu ras, os quais devem ser evidenciados; • Trabalho de campo tem sentido quando conduz a novas descobertas, e não apenas quando referenda pressupostos já existentes. Deve-se buscar o novo, avançar na sistematização teórica. Esse objetivo vai sendo atingido à medida que os dados são percebi dos, captados e construídos na perspectiva do intersubjetivo, do coletivo, mediado pela teoria, transcendendo o puramente familiar, o observável, o visível e a opinião de sujeitos únicos. Assim deve o pesquisador evitar fazer de sua pesquisa apenas uma descrição criteriosa e ordenada de fatos e deve lembrar-se de que a construção da subjetividade vai além da integração de falas e depoimentos a eles, mas exige todo um trabalho crítico, analítico, her menêutico e dialético. • Deve o pesquisador buscar a construção de tuna metametodologia para elaborar a passagem da coleta de dados para a produção científica de conhecimen tos por meio da pesquisa. Com efeito, se não houver o exercício exercício contínuo d a reflexão reflexão acompanhand o cada
Capítulo
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IV
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EPISTEMOLÓGICOS E METODOLÓGICOS DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO NUMA PERS PE RSPEC PECTIV TIVA A HERMENÊUTICA
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Pressupostos epistemológicos e metodológicos da pesquisa em educação numa perspectiva hermenêutica A reflexão aqui apresentada tem por objetivo estabelecer uma linha de pensamento preocupada com a pesqu isa hermenêutica, especialmente util iza da no campofibsófico, mas com um grande potencial na pesquis a em educação, especialmente especialmente nos estudos estudos que lançam mão da pesquisa documental, bibliográfica e de análise de conteúdo. Não se quer dizer com isso que o texto apresenta estratégias par a estes estes procedimentos, mas se propõe oferecer oferecer subsídios epistemológicos epistemológicos e metodol metodológi ógicos cospa ra a fundamentação daquelas abordagens qualitativas que necessita necessitam m da hermenêutica hermenêutica como suporte suportefund ante de uma pesquisa de natureza reflexiva. Especialmente porque a perspectiva hermenêutica hermenêutica nospermite compreender e considerar integradamente as questões ideológicas, políticas e científicas, possibilitando-nos
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1. As relações entre política e metodologia da pesquisa em educação Quais as relações existentes entre a metodologia da pesquisa numa área do conhecimento humano e as políticas para a produção e financiamento da investi gação científica? Pensar essa questão revela-se impres cindível, cindível, pois decorrem dela os processos de autonom ia na produção da ciência. Conforme argumentação desenvolvida na Intro dução desta obra, a filosofia pós-moderna, pós-moderna, ao reduzir o sujeito ao conceito, limitou a reflexão à prática e retirou do cenário filosófico a possibilidade da crítica à sociedade, à política, à cultura, à econom ia e à Filo sofia. Em face dessa dinâmica, a crítica já não se dá no contexto histórico e com base nele, mas se res tringe apenas ao conceito, ao qual todo universo hu mano se circunscreve. Semelhante conjuntura elimina a política como campo de luta e de disputa pela organização e distri buição do po der na sociedade humana. A redução da reflexão reflexão à prática — esta sempre compreendida como resultado resultado d a reflexividade reflexividade — elim inou a crítica como espaço de construção teórica e prática expressa na práxis transformadora. Esse modo de pensar operacionalizou uma forma de violência simbólica, crian do um impasse na possibilidade possibilidade de construção de um sentido para o fazer fazer humano. Tanto a ciência quanto a Filosofia e, por acrésci mo, a educação perdem seu espaço público e — tam bém elas — féns da desmobilização desmobilização e da
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“laboratórios” e o espaço do debate público é transfe rido para o público dos meios de comunicação. A reflexão confina-se ao espaço privado e a crítica é reduzida à ação individual, técnica e pragmática. As palavras de Bourdieu surgem como necessário contraponto a esse estado de coisas: 0 que defendo acima de tudo é a possibilidade e a neces sidade do intelectual crítico, e principalmente crítico da doxa intelectual que os doxósofos difundem. Não há ver dadeira democracia sem verdadeiro contrapoder crítico. 0 intelectual é um contrapoder, e de primeira grandeza. É por isso que considero o trabalho de demolição do intelec tual crítico /.../ tão perigoso quanto a demolição demolição da coisa pública e inscrevendo-se no mesmo empreendimento glo bal de restauração (1998, p. 17-18).
Recuperar o papel da crítica e do intelectual intelectual como seu agente é necessidade imperiosa para criar espaços de contestação ao sistema vigente. Entretanto, não é qualquer crítica ou qualquer trabalho intelectual que abrem caminhos de superação. Esta só pode ser efeti vada por um trabalho de crítica fundamentada em pro cessos científicos científicos e coletivamente discutido e proposto. Trata-se de defender não uma volta ao cientificismo, mas a necessidade de fundamentação do conhe cimento em método rigoroso, e não na informação, sua versão barateada. Esse conhecimento fundamen tado exige um trabalho coletivo e colaborativo não só em sua produção, mas também em sua divulga ção. O conhecimento produzido e divulgado cole tivamente, além da abordagem significativa do objeto, torna possível a discussão de sua própria rigorosidade. Ademais, é possível dar-lhe um peso
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Essa perspectiva do conhecimento coletivo indica que a mobilização da vontade não implica uma falsi ficação ficação ideológica, como o faz a ideologia da globali zação, mas uma identidade intelectual criadora não só de espaços, mas também de ideias contestatórias às formas de apropriação e de expropriação da cons ciência humana expressas na exploração econômica instituída como fator de desumanização do ser hu mano na história. história. Compreendendo os intelectuais intelectuais — particular mente os críticos, ainda não cooptados pelos braços invisíveis do mercado — c omo representantes da mão esquerda” do Estado, abre-se um espaço de organização, em seu interior, que poderia ser base estruturante para o início da instauração de espaços de resistência política organizados coletivamente. A saída que a sociedade tem encontrado para me lhorar as condições de vida é a migração do público para o privado. Mas não é novidade para ninguém que as empresas privadas de educação reservam pou co espaço para o trabalho coletivo e menos ainda para o debate público. Aqueles que atuam nesse meio não raro se veem escandalizados com as circunstâncias e as imposições a que são submetidas as ideias e a pos sibilidade de sua crítica. Um espaço que podería ser descentralizado em relação ao controle do Estado assume o controle do sistema, impedindo a crítica como forma de criação alternativa de contestação. Visto que o controle se dá mais facilmente em escalas mais altas na estrutura do Estado, na “mão direita , aqueles que estão do lado oposto poderão estar tendo uma brecha não aproveitada o suficiente
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sistema. Se, em vez da migração do público para o privado, houvesse a assunção da responsabilidade his tórica na organização de um trabalho intelectual, científico e crítico de modo coletivo e colaborativo, estar-se-ia marcando o início não de uma luta moral, mas da possibilidade de um espaço político de rom pimento das condições de controle social exercido sobre a criatividade. Esse trabalho de organização coletiva de produção do conhecimento, colaborativamente instituído, é um processo lento e exigente. exigente. Lento porque há que formar uma consciência coletiva em face de uma consciência individualizada e individualista na forma de conceber a dinâmica de construção do saber. Exigente porque não se pode abrir mão do rigor metodológico nem substituir o conteúdo do saber pela informação nem as estratégias das aprendizagens pelas competências — pretensões pretensões do discurso e das políticas dominantes. É nesse sentido sentido que Bourdieu (1998, p. 35) afirma ser infinitamente mais fácil tomar posição a favor ou contra uma ideia, um valor, uma pessoa, uma insti tuição ou uma situação do que analisar o que pos suem de verdade em toda a sua complexidade. Por isso, a análise rigorosa das situações e das instituições constitui, sem dúvida, o melhor antídoto contra as visões parciais e contra todos os maniqueísmos, fre quentemente carregados de consequências mortífe ras. A necessidade do intelectual crítico configura-se, pois, uma questão central no processo de organização de espaços de resistência política em face do imperia lismo econômico.
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como meio de disseminar uma leitura e uma prática contestatória das situações vigentes. Não se trata da adoção de “técnicas de reflexão”, o que é inconcebível do pont o de vista da própria atividade reflexiv reflexiva, a, mas de um trabalho laborioso de pesquisa e de investigação das formas de organização e de interpretação do mundo, justam ente com o intuito de propor cionar outr a ma neira de compreendê-lo e suas expressões. A contestação e a reconquista da democracia con tra a tecnocracia podem revelar-se bastante produti vas. Por isso, ' é preciso acabar com a tirania dos “especialistas”, estilo
Banco Mundial ou FMI, que impõem sem discussão os veredictos do novo Leviatã, Leviatã, “os mercados finance iros”, e que não querem negociar, mas “explicar”; é preciso romper com a nova fé na inevitabilidade histórica que professam os teóricos do liberalismo; é preciso inventar as novas fo rmas de um trabalho coletivo ( B o u r d i e u , 1 9 9 8 , p . 4 1 ) .
Esse trabalho deve ser capaz de levar em conta necessidades econômicas para combatê-las e neutrali zá-las. zá-las. O trabalho coletivo coletivo de pesquisa e de produção do conhecimento é u ma form a de fundamentar ciencientificamente a contestação. Por conseguinte, só se pode combater eficazmente a tecnocracia, nacional e internacional, enfrentando-a em seu terreno privilegiado, o da ciência, e opon do ao conhecimento abstrato e mutilado de que ela se vale outro que respeite mais os homens e as reali dades com as quais eles se veem confrontados. Ao abstracionismo da ciência econômica, funda mentado na teoria matemática e assumido como modo
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como meio de interpretação e de compreensão do sen tido praxiológico da investigação e tendo como ponto de partida e de chegada o concreto real, ele pode esta belecer uma oposição ao abstracionismo economicista no qual o mercado vai lançar as bases de sua construção pretensamente universalista. Contra o universalismo mercadológico, há que opor o conhecimento etnoló gico como forma de resistência local, sem transfor mar-se num etnocentrismo. Contra a mundialização, preocupada apenas em universalizar o lucro e limitar as conquistas sociais, cabe o delineamento de outra lógica política e científica: a lógica das relações públicas na luta pela democracia participativa como forma de fortalecimento do Estado em seu papel de defensor dos direitos da cidadania, e não em sua face de instrumento de exploração via conhecimento traduzido como técnica. Trata-se de ta refa um tanto difícil, mas não tão complexa quanto se pensa. A dificuldade está no grau de organização que ela exige dos intelectuais críticos como meio de oposição ao sistema. Sua complexidade não é aquela em que se é levado a pensar num primeiro momen to, pois “o “ o neoliberalismo neoliberalismo fa z voltar, sob as aparênc ias de uma mensagem muito chique e muito moderna, as ideias mais arcaicas do patronato mais arcaico ” (Bourdieu, 1998, p. 49). A pretensa complexidade atribuída ao neoliberalis neoliberalis mo é apenas um verniz revestido de cientificidade, ou seja, a forma mais arcaica de patronato escravocrata revestida com o véu da ciência por ela cooptada.
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A globalização não é uma homogeneização, mas a extensão do domínio de pequeno número de nações sobre o conjunto das praças financeiras nacionais. O mercado do capital internacional tende a reduzir a autonomia dos mercados nacionais e proibir a mani pulação das taxas de câmbio e das taxas de juro, determinadas por um poder concentrado nas mãos de pequeno número de países. países. Este é seu, único poder: o de domínio econômico da realidade políti ca. Opor-se a essa lógica significa criar condições para inverter as relações econômicas. Não é ©'mercado dos países periféricos periféricos que depende do dinheiro das gran des potências, mas o dinheiro dos grandes capitalistas é que depende dos mercados periféricos para produ zir o lucro. Desenvolvendo por outro ângulo o raciocínio, tratar-se-ia de criar instituições capazes de controlar as forças do mercado financeiro, de introduzir uma proibição de regressão das conquistas sociais, sem render-se a seu con trole desmedido (Bourdieu, 1998). Ao darwinismo social há que opor-se uma ciência que não se renda ao discurso da competência. Já se sabe que a ideologia da competência convém muito bem para justificar uma oposição algo assemelhada àquela existente entre senhores e escravos. Por isso, o intelectual intelectual engajado é uma exigência como forma de luta e de resistência a essa lógica. Convém voltar a afirmar, juntamente com Bourdieu, que é no campo da ciência que essa teoria deve ser combatida, desmitificada, desideologizada e destruída em suas bases. Ao pragmatismo linguístico tomado como funda mento para a elaboração das bases teóricas do discurso
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O conhecimento humano é resultado dos limites e das possibilidades sociais sociais que o dificultam ou o favo recem. recem. Por conseguinte, nenhuma forma de conquis ta é totalmente individual, mas resulta desse esforço coletivo pertencente ao todo da sociedade. Reduzir o conhecimento ao indivíduo e premiá-lo individual mente constitui estratégia ideológica de dominação e cooptação do conteúdo do conhecido e do sujeito que o produz na ilusão da individualidade. Tal conjuntura precisa ser invertida invertida com a institu cionalização de redes de pesquisa, de pesquisadores e de instituições que usem a lógica da ciência para enfraquecer as bases teóricas onde o economicismo é mais forte como forma de dominação ideológica, política e cultural. Diante do discurso envernizado da utopia neoli beral a respeito da ciência, o que podemos faz er é criar não um contraprogram a, m as
um dispositivo de pesquisa coletivo, interdisciplinar e internacional, associando pesquisadores, militantes, representantes de militantes etc., tendo os pesquisadores um papel bem definido: definido: eles podem participar de maneira particularmente eficaz, pois é sua profissão, de grupos de trabalho e de reflexão, em associação com pessoas que estão em movimento (Bourdieu, 1998, p. 76).
E preciso, pois, inventar novas formas de comuni cação entre os pesquisadores, nova divisão do traba lho entre eles. Uma das missões que os pesquisadores podem cumprir, talvez melhor do que ninguém, é a luta contra o “martelamento” da mídia. Pode-se enfrentá-lo criticando-lhe as palavras e ajudando os não profissionais a munir-se de armas de resistência
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Outra estratégia, complementar a essa, é a apro ximação entre os pesquisadores e os sindicatos para a organização de programas de formação para os trabalhadores, de sorte que estes encontrem no conhecimento suas armas de luta e de resistência política em face da ilusão neoliberal. Nesse sentido, conquistar espaços de luta significa criá-los como formas de mudança. Criar espaços para a produção e a disseminação do conhecimento significa promover condições con cretas para a reflexão. Por isso é necessário reinventar o modo de perguntar e de responder, projetando nova forma de organização do trabalho de contes tação e de organização da contestação, e descobrir novos meios de expressão, que permitam comuni car aos militantes as conquistas mais avançadas da pesquisa. Essa tarefa supõe, por parte dos pesquisa dores e pesquisadoras, pesquisadoras, uma mudança de linguagem e de estado de espírito. Implica, ainda, conceber formas de pensamento teórico e de ação prática capazes de situar-se no nível em que se deve dar o combate ideológico e político. Mirando a criação de estratégias de organização das formas de resistência resistência com os instrumentos dispo níveis, é preciso potencializar ao máximo o uso das redes eletrônicas e a participação de pesquisadores nos meios de comunicação de massa, não só para com bater certa visão de mundo, mas para propor outra. A televisão propõe e impõe uma visão de mundo cada vez mais despolitizada, asséptica e incolor, envol
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O sistema de educação surge, nesse contexto, como instrumento de ampliação das consciências, a fim de que sejam capazes de resistir ou de apoderar-se das armas fornecidas pelos produtores culturais, escritores, artistas e acadêmicos ainda aptos a opor-se às forças comerciais e dispostos a gerar obras não ditadas pelas exigências do mercado. Essa resistência cultural mostra-se sempre precária, mas a precariedade concerne a todas as relações sociais. Começa-se, porém, a suspeitar de que a precariedade precariedade seja produto de uma vontade política, política, e não constitua uma fatalidade econômica, identificada econômica, identificada com a famosa “mundialização”. Constata-se que a pretensão é submeter um regi me político ao regime econômico, que, por sua vez, só pode instaurar-se com a cumplicidade ativa ou passiva dos poderes propriamente políticos. Contra esse regime político, a luta política revela-se possível. Ela pode ter como fim o encorajamento das vítimas da exploração para atuarem contra os efeitos destrui dores da precariedade e para mobilizarem-se a fim de combater tal política e neutralizar a concorrência que ela visa instaurar. v Bourdieu (1998, p. 135) pergunta: e se o neoliberalismo for apenas a prática de uma utopia, converti da em programa político, político, mas uma utopia que, com a ajuda da teoria econômica a que ela se filia, filia, consegue pensar-se como a descrição científica do real? Em tal conjuntura, essa teoria tutelar revela-se pura ficção matemática, fundada numa abstração, que consiste em pôr entre parênteses as condições econômicas e sociais, isolando-as das disposições racionais e das
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cumpre-se imenso trabalho político que visa criar as condições de realização e de funcionamento da “teoria” “teoria” — um programa de destruição destruição metódica dos coletivos. O movimento em direção à utopia neoliberal de um mercado puro e perfeito realiza-se por meio da ação transformadora e destruidora de todas as medi das políticas, pondo em risco quaisquer estruturas coletivas capazes de resistir à lógica do mercado puro, tais como a nação, os grupos de trabalho, as associa ções coletivas de defesa dos direitos doá trabalhadores e a família. O programa neoliberal tende a favorecer a ruptura entre a economia e as realidades sociais, construindo um sistema econômico ajustado à descrição teórica. A ordem profissional profissional e toda ordem social parecem parecem fundadas numa ordem das “competências”. Mais do que as manipulações tecnocráticas das relações de traba lho e as estratégias delineadas a fim de obter a submissão e a obediência, mais do que o enorme investimento em pessoal, tempo, pesquisa e trabalho, é a crença na hierar quia das competências, escolarmente garantidas, que estabelece a ordem e a disciplina na empresa privada e também na função pública. pública. Sem compartilhar necessariamente os interesses econômicos e sociais dos verdadeiros crentes, um bom número de economistas têm suficientes interesses específicos no campo da ciência econômica para da rem um a contribuição decisiva à produção e à repro dução da crença na utopia neoliberal. Muitos deles, separados do mundo econômico e social por toda a sua existência e, sobretudo, por sua formação inte
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Pergunta Bourdieu (1998, p. 145): pode-se esperar que a massa extraordinária de sofrimento produzida por tal regime político-econômico venha um dia a lastrear um movimento capaz de deter a marcha para o abismo? A transição para o “liberalismo” faz-se de maneira insensível, logo imperceptível, ocultando seus efeitos mais terríveis a longo prazo. O 11 de setembro e o 11 de março são exemplos cabais dessa forma de perver sidade oculta gerada no interior de um sistema polí tico-econômico. Pode-se ter alguma esperança razoável porque exis tem, nas instituições estatais e nas disposições dos agentes, forças que devem, de fato, trabalhar para inventar e construir uma ordem social que não tenha como única lei a busca do interesse egoísta e a paixão individual do lucro, mas dê lugar a demandas coleti vas orientadas para a busca racional de fins coletiva mente elaborados e aprovados.
2. O ato de conhecer e seu sentido pedagógico O conhecimento, como resultado resultado de um a reflexão reflexão sistemática, sistemática, rigorosa e de conjunto acerca da própria prática, de sua construção, atinge o sujeito, direta mente, no mais íntimo de seu ser. Pelo conhecimento ele se deixa envolver, distancia-se da realidade justa mente para poder compreendê-la em sua significação mais profunda, pois ela o toca em todos os níveis. O
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Todos os sentimentos e emoções envolvem-se no processo de construção do conhecimento, o qual não se encerra senão senão no fim da vida e implica uma vontade íntima de entender-se nas coisas que se vai procurando compreender. O horizonte balizador da razão constitui instru mento fundamental da compreensão como resultado de uma reflexão sistemática sobre a realidade circun dante. Conhecer significa ser capaz de enfrentar o conflito entre velhas convicções diante de novos e instigantes conceitos que interferem' no modo de pensar o mundo. É, portanto, antes de tudo, cons truir o mundo que se vai fazendo permanentemente nas construções próprias próprias do sujeito. C ada gesto, pala vra, ação são um modo de ele dar sentido ao mundo onde se faz num processo incessante de autoconstrução. O sujeito corre atrás de saber por que é pelo mundo que ele se faz quem é e se torna aquilo que busca. As coisas não se realizam passivamente, mas são sempre contradições que ele procura conciliar na relação da construção de um sentido para si e para o mundo em que atua. O processo do conhecer inter fere radicalmente em sua maneira de ser. Modifica-o por inteiro. O sujeito é transformado à medida que mergulha num universo em construção. O conhecimento significa não só uma construção social, como também uma possibilidade de constru ção da dignidade humana no interior da cultura em que se está inserido. O ideal que se apresenta diante da vontade de poder ser torna possível um processo de humanização por meio do conhecimento que deseja, deseja, acima de tudo, afirmar a própria vida cotidia
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de todo o processo educativo, pois apenas diante da necessidade de um vir-a-ser é que se revela possível a construção de um cidadão politicamente comprome tido com as transformações radicais da sociedade. Não há o que possa explicar melhor o sentido das práticas pedagógicas educativas do que os limites e as possibilidades para estabelecer em si um processo sis temático de reflexão sobre elas. O que é feito não se explica pelo como se faz, mas possui sentido diante dos significados atribuídos pelo sujeito. Esses signifi cados não são latentes, mas emanam, de fato, dos sentidos construídos. O fazer prático só tem sentido em face do horizonte de significações que se pode conferir ao “por que fazer”. O horizonte dos signifi cados possibilita um descortinar dos sentidos da pró pria prática em relação às outras práticas sociais. Um fazer sobre o qual o sujeito não refletiu sistematica mente impede-lhe o horizonte do sentido e dificulta o próprio processo de aprendizagem. Conhecer envolve desvendar, na intimidade do real, a intimidade do próprio ser, que cresce justa mente porque a ignorância se vai dissipando diante das perguntas e respostas construídas por si próprio, na qualidade de sujeito entregue ao conhecimento, o qual se mostra inerente à compreensão do próprio ser no mundo. Se há um sentido no ato de conhecer, é just ame nte este: ao cons truir o conh ecer de dad o objeto, não é somente este que se torna conhecido, mas, essencialmente, o próprio sujeito; ou seja, o conhecimento de algo implica também, simultanea mente, um autoconhecimento.
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de tod o ato de conhecer. conhecer. Se é possível sistematizar sistematizar algo do significado real das coisas, isso se dá porque toda a vida do sujeito está envolvida nesse feixe de significa ções que possibilita a compreensão. Compreender o fazer humano não é tarefa fácil numa sociedade radi calmente marcada por um pragmatismo tecnicista, onde tudo se explica por sua utilidade. Por isso mesmo, a compreensão supõe uma reflexão analítica e crítico-criativa que possa, com base no fazer-ser pedagógico, superar os enganos cognitivos que difi cultam o conhecimento das próprias práticas. A atividade atividade pedagógica está, também, radicalmen radicalmen te marcada por um fazer político, do mesmo modo que a ação política implica um fazer fazer pedagógico. Os caminhos (métodos) do conhecimento não se articu lam por si mesmos. Eles são o resultado de uma expe riência que se soma qualitativamente, qualitativamente, à medida que se faz deles objeto da pró pria reflexão. O ato reflexivo é, de fato, uma atividade que implica um a mudança ativa (política) no interior da sociedade. Se não for assim, trata-se de mero exercício intelectual marcadamente alienante, e não da construção filosófica do mundo. Aliás, a reflexão que não se torna ação política, trans formadora da própria prática, não tem sentido no hori zonte educativo. O olhar destinado à percepção do concreto explica t e pela habilidade de abstração, abstração, que adquire sentido quando, dialeticamente, pode voltar-se para a própria concretude das coisas a fim de torná-las conhecidas com toda a evidência. O ato de conhecer torna-se uma habilidade de captar as coisas e os seres, em seu pro
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pensamentos), por mais ecléticas que pareçam, são uma tentativa de não isolamento na autoafirmação da opinião pessoal. Ainda que uma mescla de infin das definições se afigure exagerada, vai adquirir sen tido pelo significado abrangente do próprio objeto sobre o qual o sujeito se debruça. Pode-se dizer que conhecer significa tornar-se hábil em descortinar os horizontes escondidos por trás das aparências. E na superação dos próprios limi tes que o conhecimento adquirido e produzido se cumula de sentido no sujeito, que assim é tocado pelas coisas ao mesmo tempo em que as toca, num exercício permanente de busca. O resultado possível de uma pesquisa é a evidência de um limite superado, apesar de todas as angústias ao longo do processo. Na dinâmica de construção do conhecimento, o sujeito amadurece não só com o próprio sofrimento, mas também com as alegrias das descobertas que vai fazendo de si mesmo, do mundo e dos outros. Uma tarefa realizada não pode, de modo algum, gerar aco modação. Ao contrário, deve gerar desinstalação, um choque no real, capaz de impulsionar o sujeito para além de onde chegóu. O conhecimento que acomo da não o é no sentido filosófico, mas alienação e ideo logia. Se o conhecimento não desinstalar o sujeito da poltrona confortável da acomodação irrefletida, não é digno desse nome. O sentido último do conhecimen to que dignifica o sujeito como tal é justamente a desinstalação e o espanto, que lançam cada ser huma no, em particular, na direção de outros significados transformadores de seu modo de ser no mundo. O conhecimento toca, pois, o sujeito no mais ínti
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sonhos quando se revela capaz de redimensioná-los diante de novas situações. As feridas abrem-se na ausência dos sonhos, na ausência da utopia; as cica trizes são as marcas dessa ausência. Nada substitui o sonho, exceto a capacidade de sonhar, e nada elimina essa capacidade revolucionária, salvo a desistência própria. Numa época de crise como a atual, o caminho da busca de um tempo possível que não está presente constitui necessidade impulsionadora da afirmação de si como parte da humanidade em construção. O conhecimento é real porque toca a possibilidade de uma proximidade daquilo que está distante. Os limites do conhecimento são limites das próprias habilidades criativas, não da infinidade da realidade. Por isso, ele implica busca permanente que possibilita, ao longo de toda trajetória, o descortino do próprio ser no horizonte do mundo. Tão surpreendente se mostra a descoberta de si no próprio objeto, que, muitas vezes, o próprio sujeito se torna “objeto” de investigação e de construção de conhecimento. E o horizonte da descoberta o descortinador da lógica da pesquisa; ou seja, o caminho sobre o qual se refletiu sistemática e criticamente é que demonstra a possibilidade de uma construção metódica do próprio processo. Todas as construções possíveis configuram-se como possibilidades de reali zação do ser que se é. O que o sujeito “revela” no objeto conhecido constitui parte de si, à mesma medida que ele é integrante do mundo. Ser sujeito interagente interagente no mund o consiste em um sentimento de pertença demonstrado pelos apegos emotivos que representam a vontade permanente de ser mais. A
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que tanto conduz ao sofrimento. O apego ao saber representa a descoberta de uma possibilidade de supe ração dos limites im postos pela sociedade de classes. Não há conhecimento pronto e acabado, do mesmo modo que não há vida absoluta. Tudo é pro cesso contínuo de construção e de autoconstrução. Olhar o que se está fazendo, refletir sobre os sentidos e os significados do fazer pedagógico constitui, antes de tudo, profundo e rigoroso exercício de compreen são do próprio ser. Marcar o ato cognitivo unicamen te pelo resultado de um processo ou fundamentar um conhecimento apenas no método ou no objeto implica empobrecer as dimensões de uma atividade totalizante impulsionada, também, por causas subjetivas e, às vezes, inconscientes. O atrativo na construção de dado o bjeto é justamente justamente a identidade do sujeito com uma realidade que é concebida à mesma proporção que constitui um exercício de identificação subjetiva da objetivamente no cotidiano, em que a vida explo de na busca constante de explicação. A objetividade do subjetivo demonstra-se pelo objeto-sujeito emanado de longo percurso de reflexão crítica, que vai às causas de todas as coisas, para iden tificar-se no horizonte da compreensão interpretativa, possibilitando o entendimento num momento determinado do próprio fazer. A construção do obje to-sujeito é, antes, uma autoconstrução. E por isso que o real toca tão diretamente diretamente o mais íntimo do pró prio ser. Isso, em certo momento, gera enorme con flito que, por vezes, o sujeito se sente incapaz de transpor. A causa desse sentimento encontra-se na
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A clareza clareza do processo só chega ao fim d a travessia travessia do caminho, justamente porque então se pode perceber a construção da qual se faz parte. A proposta aqui é um a racionalização racionalização reflexiva reflexiva do processo da construção sistemática do conhecimento, conhecimento, em que se encontra implicada toda a existência. O conhecimento adquire sentido à medida que toca existencialmente o sujeito, e conhecer implica, por conta do próprio processo, uma ação política calcada calcada no compro misso ético-político para com a sociedade. sociedade. O conhecimento constitui, em essência, a dinâmica de uma atividade política que deve conduzir o sujei to que o produz a um compromisso de transforma ção radical da sociedade, a uma ação comprometida eticamente com as classes excluídas para que possam lançar mão desse referencial como exigência de mudança, emancipação e cidadania.
3. O conhecimento e a construção do objeto O real é uma “revelação”, uma descoberta, uma interrogação, uma “criação”, nunca um dado; ou seja, a realidade mostra-se ao sujeito à mesma proporção que ele cria a habilidade de interrogá-la em seu senti do e em seu significado. Nisto consiste a árdua tarefa do conhecimento: destrinchar a complexidade do real no singular sem perder de vista e sem deixar de ter como horizonte a totalidade daquilo que aparece como particular. Essa relação estabelece-se à medida
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Portanto, conhecer é o esforço contínuo de querer e buscar compreender o mundo em que se está inserido. A leitura do mundo mostra-se significativa quando o sujeito se compreende como parte dele. Ao longo da história do conhecimento, tem-se isolado isolado o objeto do pesquisador que o investiga. Isso tem causado uma espécie de esquizofrenia na compreensão das coisas e na leitura do mundo. A busca pelo conhecimento constitui, no fundo, uma tentativa de compreender quem se é e como se é neste mundo. As tradições epistemológicas que propõem meto dologias para a construção do conhecimento mais têm ocultado que revelado a apreensão e a construção do real. Assim, os diversos princípios de conheci mento, quando apresentam a realidade como um dado, ocultam aquilo que é vital conhecer. Por isso é que há cad a vez maior convicção “de que a relação ciên ciên cia-ideologia-polític cia-ideologia-política, a, quando não é visível, visível, continua a ser tratad a de modo indigente, indigente, através d a absorção de dois de seus termos num deles, tomado dominantes ” (Morin, 1977, p. 13). A realidade é um todo, uma totalidade articulada, e não apenas a expressão de sua particula ridade manifesta pelo “olhar empírico” de quem a investiga. O real é um todo que se mostra nas partes, do mesmo modo que as partes se mostram no todo, mais do que nos limites do conhecer. Na verdade, o conhecimento nunca capta o todo, mas sua manifes tação expressa na singularidade das coisas. Destarte, o conceito remete não apenas para o objeto conhecido, mas também para o sujeito que concebe (Morin, 1977). Sujeito e objeto não são só
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está negando aqui a im portância do ser que conhece; apenas se afirma que ele, sozinho, não é suficiente para a compreensão do ser no mundo e do mundo. Todo saber deve caminhar para a totalidade, a fim de que se aproxime de sua verdade. Essa busca sempre quer, de uma maneira ou de outra, dizer ou respon der o que é o ser humano, o mundo, e o ser humano no mundo. A mundo. A ciência, por si só, não tem como responder responder ou acenar respostas definitivas nessa direção. Por outro lado, o saber dissociado gera a dissociabilidade do saber e dissocia o próprio ser. O proble ma não é a dissociabilidade ou a fragmentação do saber, saber, mas, nele, a fragmentação do SER . F ragmentar o ser do humano em nome de um saber fragmentado e incapaz de conjugar-se novamente na totalidade é o mesmo que mutilar a humanidade; ou seja, ao muti lar o conhecimento em seu processo, mutila-se o humano, a humanidade e o mundo. O conhecimento, como saber sistematizado, há que ser aquele já não fragmentado, porém circular, um conhecer que reflete sobre si mesmo. Assim, segundo Morin (1977), conceber a circularidade é possibilitar a existência de um método que se tornaria produtor de um conhecimento complexo continente de sua própria reflexividade. Esses “ círculos reflexivos”, reflexivos”, nos quais se processam os saberes, são geradores de um pensamento complexo. Busca-se, portanto, n a complexidade da rea lidade, aquilo que ela própria revela em sua totalidade. As relações presentes são expressões de toda a comple xidade da sociedade. Tal conhecimento não linear, mas circular, revela-se determinante para novo modo de fazer científico.
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o particular fosse capaz de dar conta da totalidade — , sem considerar que as partes são integrantes de um todo. O problema não é tanto o conhecimento da “parte”, mas sua absolutização. Do mesmo modo, o problema não é a circularidade, mas quando ela se fecha sobre si mesma, impedindo o processo de compreensão da totalidade das coisas, na espiral do avanço e do cresci mento da consciência e do conhecimento. Para dar origem a novos conceitos que permitam recriar o mundo e seu conhecimento, “o nosso nosso pensa mento deve investir o impensado que o coman da e o con trola. Servimo-no s da nossa estrutura de pensamento pa ra pensar. Temos Temos ain da de servir-nos servir-nos do nosso nosso pen sa mentopa ra repensar repensar a nossa estrutura estrutura de pensamento. O nosso nosso pensamento deve regressar regressar às origens, num ane l interrogativo e crítico” crítico” (Morin, 1977, p. 24). Neste momento da história humana e da ciência, mais que saber, é necessário aprender a aprender, ou seja, reor ganizar o sistema mental para reaprender a aprender. Essa construção em curso é que constitui a possi bilidade de novo m étodo de investigação, investigação, ressituando a Filosofia numa posição privilegiada no processo de aprendizagem e de interpretação do mundo. Nesse sentido, a reflexão filosófica, compreendida em seus limites históricos, torna-se imprescindível para a vida humana, de modo geral, e para a educação, em par ticular. Compreender o todo pela parte é o que se busca como tentativa de olhar não só dada realidade particular, mas como ela se revela e se mostra em sua complexidade (Japiassu, 1997). Em tal investida investida não há certeza certeza alguma, nem mesm o
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desvelar, em meio aos sistemas, a verdade oculta por detrás do aparente e de seus enganos. Trata-se de uma busca para impedir que “os ruídos do mundo, das armas, dos conflitos, conflitos, das libertações eflmeras e perturb adora s, d as opressõe opressõess duras e duradou ras, atravessem as parede s e atin jam -nos o coração coração ’ (Morin, 1977, p. 26).
O sujeito está o tempo inteiro diante de si mesmo, procurando-se fora, quando o que mais busca se encontra dentro de si. A totalidade mostra-se onde ele próprio se esconde perante o medo de ir além de onde se conflitam os horizontes de compreensão construídos na história humana. Este mundo é um mundo humano, e nele o sujeito se faz e o faz num modo específico de interpretá-lo. É nesse ponto que o ensino da Filosofia adquire importância, especial mente quando põe o sujeito diante de uma realidade construída pelo ser. O ser humano é, radicalmente, autoconstrução. E o único que tem o poder de fazer-se no mundo e, ao mesmo tempo, fazer seu mundo. Todavia, por conta do sistema político-econômico-social, tal dinâmica é permanentemente negada à humanidade, uma vez que essa negação, simultanea mente, cala no ser humano a potencialidade de cons truir outra realidade, diferente da vivida no dia a dia. Vive-se num mundo que naturaliza tudo, banali zando e desvirtuando todas as relações humanas. A transformação do ser-sujeito em ser-objeto é própria do positivismo e da ideologia, ideologia, um a tentativa de impe dir que seres humanos reivindiquem sua liberdade, negada a cada instante. A naturalização do ser huma no constitui um processo ideológico que impõe uma
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de ser-sujeito ser-sujeito converte-se em ser-objeto. A desontização” do ser-sujeito, transmudado em ser-objeto, opera-se no interior do sistema capitalista, que faz essa objetificação do sujeito ser concebida de forma natural, ou seja, reproduzir-se naturalmente no inte rior da sociedade, como se houvesse uma força da natureza que determinasse as ações humanas. É jus tamente tal mistificação e naturalização do mundo que se quer combater e negar neste trabalho. Por isso, faz-se necessário aprofundar seu método.
4. A reflexão hermenêutica como paradigma epistemológico de pesquisa 4.1. A problemática do discurso no interior interior da língua como forma de significar
Bakhtin (1992, p. 399) afirma que “todas as esferas da atividade h uman a estão sempre sempre relacionadas com com a u ti lização d a língua, qttè efetuaefetua-se se em form a de enunciados, enunciados, concretos e únicos. O enunciado enun ciado reflete as condições especí ficas e asfinalid as finalid ades de cada uma dessas dessas esfera esferas, s, não sópelo seu conteúdo, conteúdo, mas po r sua construção composicionat '. Ou seja, a construção do texto, na relação com o contexto, produz uma forma de dizer o mundo, uma linguagem que busca interpretar e significar as coisas, o que se funde indissoluvelmente no todo do enun ciado. O enunciado, as condições específicas e as
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A significação significação é perpassada po r determinada visão de mundo e por um modo de compreender os signi ficados percebidos ou não nas diversas relações. Isso, portanto, condiciona a forma pela qual se estabele cem as relações comunicativas específicas nas áreas de conhecimento. Os múltiplos olhares sobre um mesmo objeto ou sujeito (no caso das ciências huma nas) demonstram e evidenciam as manifestações individuais expressas nos gêneros do discurso; ou seja, a fala constitui um elemento fundador do pro cesso de construção do conhecimento porque revela, em seu interior, como o sujeito exprime, por si, uma explicação e uma compreensão de sua expressão única e irrepetível na história humana. Essa historicidade revela e salienta a singularidade da experiência existencial do humano. Cada enuncia do é extremamente significativo significativo porque torna explícito, na particularidade, algo que é, simultaneamente, indi vidual e universal. Tal conformação possibilita uma caminhada de investigação investigação que poderia demonstrar ser, em seu desenvolvimento, um método constituinte de uma forma particular e significativa de conhecer o mundo e de falar dele, de expressar o conhecer, sua transmissão e sua produção no continuum do continuum do humano. Essa é a significativa “instrumentalização” do processo de conhecer expresso expresso nos gêneros do discurso, enquan to expressão legítima do ser e do conhecer do humano em seu processo de autoconstrução e autocompreensão. Por conseguinte,
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e relativamente mais evoluída, principalmente escrita. Os gêneros primários, transformam-se dentro destes e adquirem uma característica particular: perdem sua relação imediata com a realidade existente e com com a realidade dos enunciados alheios (Bakhtin, 1992, p. 402).
Os discursos da fala, em geral, são formas primá rias de manifestação de sentido, porque toda expres são simultânea do pensamento e da fala raramente permite, no momento mesmo da ação, a realização de uma reflexão sobre o que se está falando. Trata-se de discursos situados no nível elementar de significa ção da vida que não exigem maiores elaborações, mas o sentido próprio do cotidiano. O discurso secundário, por sua vez, é de outra ordem, pois se estabelece, fundamentalmente, como um processo de pensamento sobre a fala; sendo assim, poder-se-ia dizer que esse modo de explicitar os sentidos implica duplo movimento de pensamen to; ou seja, pensa-se e repensa-se o próprio objeto pensado. Esse duplo movimento não é possível na fala, uma vez que,‘mesmo que se pense o que se está dizendo e sobre o que se diz, não há uma parada sis temática em tal dinâmica. Portanto, se essa constatação vale como realidade fenomênica da realidade do discurso, por questão de método, numa entrevista, deve haver a percepção e a consciência de que se está analisando um discurso simples. Não se pode, pois, exigir que os entrevista dos enunciem um discurso de segunda ordem, nem
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faz um discurso de segunda ordem sobre um discur so elaborado em primeira. A língua penetra na vida por m eio dos enunciados concretos que a realizam, e é também por meio deles que a vida penetra na língua. O enunciado situa-se no cruzamento excepcionalmente importante de uma problemática. Ele, como esfera significativa e significante da vida, não requer maiores elaborações, por que é o reflexo simultâneo de um movimento de explicação das coisas que não exige uma compreensão significante; o u seja, a concretude dcf cotidiano não necessita necessita de nenhum a elaboração de segunda ordem, mas apenas de primeira. Língua e vida são u ma coisa só especificamente especificamente no caso humano; em outros casos (nos animais) há lin guagem, mas não há língua. A língua é expressão da vida em sua máxima condição de comunicação do ser. Nesse estar sendo cotidiano, a forma de significar coincide com a forma de viver, e por isso as coisas são feitas do modo que são. Isso, porém, não é suficien te. E preciso passar da explicação para a compreensão. E, para compreender, necessita-se de um discurso de segunda ordem, pois é aí que, além do sentido, se pen sam os significados e seus processos construtivos. Quando a fala se manifesta, carrega as coisas de significados que as explicam. explicam. Q uando se pensa sobre o que se fala e se escreve, carrega-se a si próprio de sentido e significado que ajudam a compreender o porquê de todos os sentidos atribuídos às coisas. Sendo assim, pode-se dizer que essa estrutura consti tui a arquitetura do processo de construção do conheci-
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revelam os sentidos e os significados do entendimen to que eles têm do processo. A explicação das ações e a compreensão das relações estabelecidas no processo de ensino-aprendizagem situam uma problemática de sentido e de significado nessa relação. Por outro lado, aquilo que o professor expressa pela fala “reve la” a unidade de pensamento que se faz linguagem como forma de ler o mundo em suas relações com o modo de ser nele. Possibilita, ainda, “olhar” o discur so elaborado dos sujeitos que interpretam o mundo em sua complexidade. De fato, a palavra nunca se refere a um objeto isolado, mas a todo um grupo ou classe de objetos. Por tal razão, as palavras têm uma tendência latente para generalizar; em termos psico lógicos, toda palavra constitui, antes de tudo, uma generalização. Por esse seu ato verbal, o pensamento reflete a rea lidade na consciência de modo qualitativamente diverso do que o fazem a sensação e a percepção ime diatas. Pelo visto, existem todos os fundamentos para admitir que essa diferença qualitativa da unidade resulta, em essência, de um reflexo generalizado da realidade. Então se pode concluir que o significado da palavra tem, em sua generalizaçã generalização, o, um ato de pen samento na verdadeira acepção do termo. O signifi cado é parte inalienável da palavra como tal, pertence ao reino da linguagem tanto quanto ao reino do pensa mento (Vygotsky, 2000). O significado não é somente parte inalienável da palavra, mas a faz estar carregada de vida e possibili ta a troca dialogai entre os humanos. A tarefa de
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não saberiam o que são nem teriam o poder de pro jetar seu vir-a-ser sobre si mesmo s. “Por isso, o significado pode ser visto igualmente comofienômeno fienômeno da linguagem por sua natureza e como fenômeno do campo do pensamento. Nã o podemosfa la r de significado significado da palav ra tomado sepaseparadamente’ radamente ’ (Vygotsky, 2000, p. 10). Ou seja, palavra e pensamento estão tão imbrica dos, que formam a condição do ser e do agir do humano. O significado que se dá pela palavra é sem pre carregado de sentido, o qual é o modo próprio de o sujeito manifestar aos outros sua forrfia de agir e de produzir a cultura que também o produz nessa imbri cação contínua e permanente. Por isso, a língua escrita é marcada pelos gêneros do discurso, e não só pelos secundários, mas também pelos primários. A ampliação da língua escrita, que incorpora diversas camadas da língua popular, acarreta em todos os gêneros a aplicação aplicação de novo procedimento na organização e na conclusão do todo verbal e uma modificação do lugar reservado ao ouvinte, o que leva a maior o u menor reestruturação reestruturação e renovação renovação dos gêne ros do discurso (Bakhtin, 1992, p. 410). Tanto os esti los individuais como os pertencentes à língua tendem para os gêneros do discurso. Um estudo mais ou menos profundo e extenso desses gêneros é absoluta mente indispensável para uma elaboração produtiva de todos os problemas d a estilística. estilística.
4.2. A construção do discurso como potencial de sentido significativo para a compreensão no processo investigativo
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psicofisiológica do signo físico. Ou seja, todo signo imprime uma marca, uma forma visível de ser, e é nessa dimensão que é percebido, pois só assim é que pode ser compreendido. Seu reconhecimento, a compreensão de sua significação é reproduzível na língua, pois é na con jugaç ão do significad o que se constrói o discurso que pretende expressar e compreender o mundo em seu modo de ser. A compreensão da significação dá-se no contexto; com efeito, todo discurso que quer expressar e expressa algum objeto em particular ou o real em seu todo está sempre situado num contexto determinado e condicionado historicamente. Por conta disso, a com preensão é dialógica e ativa à medida que é uma forma de expressão e conhecimento dessa realidade historicamente historicamente situada. Toda forma de discurso cons titui um modo de inserção num contexto específico. A relação estabelecida entre o sujeito que busca conhecer e o modo como conhece enseja a construção de um conceito que possibilita expressar expressar a realidade por meio do que se chama de discurso. Este institui uma relação dialógica com o contexto, que sempre expressa uma forma situada de manifestação do real por meio do discurso interpretative de seus modos de ser. A passagem da imagem para o símbolo revela-lhe a profundidade e a perspectiva de sentido. A percep ção da palavra ou do mundo que a expressa só pode ser compreendida se puder revestir-se de sentido; ou seja, a imagem deve ser compreendida pelo que é e pelo que significa, por aquilo que se mostra na per cepção e por aquilo que é em sua significação mais profunda. O conteúdo do símbolo autêntico aparece
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e metodo ló gi co
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mais que se expresse como uma leitura particulariza da. O discurso, efetivamente, está sempre perpassado pelo singular, ou melhor, consiste numa forma parti cular de evidenciar as relações plurais. Então, o que é o sentido? Pode-se afirmar que é o ato de compreensão concebido como descober ta do que existe, mediante a visão, e como adjun ção, mediante a elaboração criadora a que ele é submetido (Bakhtin, 1992). O sentido é uma forma de criação do mundo. Quando se cria, cons trói-se o significado, e é nessa relação significativa que se constitui o mundo como leitura humana; ou seja, o discurso é uma forma de compreensão que expressa expressa uma explicação explicação do m undo n um conjunto de significados que o explicitam em seu ser. Esse ser é que constitui o sujeito como comunicabilidade com os outros, consigo mesmo e com o mundo. Significação e sentido são constituídos no preenchimento da rememoração e na presunção do possível, levando em conta os acontecimentos que se sucede ram no contexto de um passado inacabado. Todo passado é inacabado, pois foi um presente do qual não se interpretaram todos os sentidos. O tempo pre sente é o tempo da vida cotidiana, nem sempre inter pretado em sua inteireza, e por isso se mostra sempre carente e se imbui de sentido à medida que, nele mesmo, se buscam os sentidos em seu todo e não na manifestação particular de um modo de expressar o conjunto de sentidos. Por conseguinte, interpretar é um exercício de preenchimento dos sentidos ausentes no momento da ação e, ao mesmo tempo, uma construção, no
construir os sentidos nem sempre presentes no ato da fala e da ação. Embora uma interpretação dos sentidos não possa ser de ordem científica, conser va mesmo assim seu valor profundamente profundamente cogniti vo. Pode servir diretamente à prática que concerne às coisas. A obra ou a pesquisa, pesquisa, em sua forma de discurso, discurso, constitui um conjunto que, em sua particularidade, se conjuga numa totalidade, à medida que vai evi denciando aspectos específicos de um todo. E nessa perspectiva que o autor está presente somente no todo da obra (que deve ser interpretada em sua totalidade, pois é o conjunto que demonstra seu sentido mais pleno). O sentido não será encontrado em nenhum elemento separado do todo e menos ainda no conteúdo da obra. O autor encontra-se no momento inseparável em que conteúdo e forma se fundem, e sua presença é percebida percebida acima de tudo na forma. E nessa fusão entre forma e conteúdo que está explícito o método ou a metodologia que ins pira e, ao mesmo tempo, põe a nu os sentidos e os significados da obra expressa no discurso do autor. E por isso que o ééxto ééxto só vive vive em contato com outro texto (contexto). Somente nesse ponto de contato é que surge a luz que aclara, fazendo-o fazendo-o participar de um diá logo. Saliente-se que se trata do contato dialógico entre entre os textos, e não do contato mecânico “opositivo”, pos sível apenas dentro das fronteiras do texto, entre seus elementos abstratos, abstratos, e indispensável indispensável somente para um a primeira etapa da compreensão. Por trás do contato dialógico há o contato d e pessoas, e não de coisas. coisas. No caso da pesquisa em ciências humanas e,
Compreende-se Compreende-se aqui que toda apresentação de um trabalho de pesquisa é a construção de um discurso articulador de conceitos que evidenciam aspectos particulares do real abordados na forma de problema e apresentados como conhecimento de certo objeto investigado.
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sentidos e significados. O que significa uma pes quisa traduz-se na tríplice relação estabelecida entre o texto, o contexto e as pessoas. E essa relação que permite ultrapassar a barreira do tempo e o muro dos próprios limites como pesquisador. Portanto, pode-se dizer com Bakhtin (1992) que o aclaramento do texto se dá pela realidade das coisas extratextuais, e não pela exclusividade do texto em sua apresentação final. Assim, os fenômenos verbais tais tais como a ordem, a injunção, a prédica, a proibição, a promessa (a jura), a ameaça, o elogio, a invectiva, a injúria, a maldição, a bênção, etc. constituem uma porção im portante da realidade extracontextual e são parte integrante do próprio texto, no sentido de que o que conta é o tom, determinador e condicionador da complexa tonalidade da consciência, que serve de contexto emocional dos valores para o ato de compreensão do texto lido e para o ato de criação do próprio texto. Por isso, trata-se de descobrir a palavra e o tom potencial, de transformá-lo transformá-lo num contexto de sentido para a pessoa. A coisa que continua sendo coisa influi influi somente sobre as coisas. Para influir sobre a pessoa, ela deve revelar seu potencial de sentido, tornar-se palavra, palavra, ou seja, participar participar de um contexto virtual do sentido, passar da coisa em si para a virtualidade do pensamento, da representaçã representaçãoo do objeto. No caso da pesquisa, essa representação do objeto em forma de discurso articulado de sentido torna-se o grande nó do trabalho dos pesquisadores, pesquisadores, o que, às vezes, os faz parecer estar “inventando” o objeto de
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começa a fazer parte deles do mesmo modo que pas sam a integrá-lo. É essa intimidade que cria e faz cres cer o conhecimento. Por isso, depois de um trabalho sério de pesquisa, o pesquisador já não é o mesmo. Por outro lado, o sentido não pode modificar os fenômenos físicos, materiais; não pode operar como força material. Ele é mais forte do que qualquer força, modifica o sentido global do acontecimento e da realidade sem modificar o mais íntimo de seus componentes reais. A palavra de um texto transfigu ra-se num contexto novo. Cria novos contextos da tríplice tríplice relação mencionad a acima. Consequentemente, pode-se afirmar, com Bakhtin (1992), que não há uma palavra que seja a primeira ou a última e não há limites para o contexto dialógico: os sentidos passados nunca estão estabilizados, mas sempre se modificarão no desenrolar do diálogo subsequente, futuro. Em cada um dos pontos do diá logo que se desenrola, existe uma multiplicidade inu merável, ilimitada, de sentidos esquecidos que, em determinado ponto do desenvolvimento do diálogo, ao sabor de sua evolução, serão rememorados e renas cerão numa forma renovada. Não há nada morto de maneira absoluta. Todo sentido festejará um dia seu renascimento. O pesquisador é como a fênix: faz renascer das cinzas esquecidas do tempo os sentidos que o fogo aquecido da História queimou em seu calor cotidiano. 4.3 . Um a compreensão da hermenêutica e o desvelamento interpretativo
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existência da linguagem, na qual e pela qual se pro cessam os significados. A linguagem, porém, não é o único instrumento de manifestação da existência; ou seja, o discurso é uma forma de manifestação manifestação da rea lidade, e não a única. O discurso processado por meio da linguagem está carregado da própria realida de que o gera, e, nesse caso, o ser da linguagem e o ser como linguagem já é, em si mesmo, um sentido dado p elo discurso. Seria a hermenêutica um discurso do discurso? Um metadiscurso? Ou, por outrodado, seria uma metodologia eficaz para captar o sentido e o signifi cado do ser-no-mundo? Longe de pretender respon der a essas indagações, procurar-se-á aqui apresentar algumas ideias segundo as quais a hermenêutica se situa como instrumento que permite o aclaramento dos horizontes de significados impostos pela força do próprio questionamento da realidade. realidade. Mais do que tudo, a hermenêutica constitui o esforço do ser humano para compreender a própria maneira pela qual compreende as coisas. Ela se pro cessa na direção do sentido, que significa a própria existência humana no mundo. Esse horizonte não é imaginário, mas constitui a busca de compreensão de como o ser humano atribui sentido a si próprio e à realidade que se apresenta diante dele. O pensar da hermenêutica envolve envolve um a busca d a razão das signi ficações do ser. O ser humano transformou a natureza em cultura, a cultura em conhecimento e agora projeta, pelo conhecimento, os significados da natureza impressos no ser. Trata-se não de um círculo que se fecha, mas
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traduzir a imagem do real, real, mas essa imagem traduzi da não constitui a própria realidade, mas a fala sobre ela. É aí que a hermenêutica se torna interessante e necessária, pois é somente por ela que se pode com preender como o ser humano, estando no mundo finito e desesperado, se arrisca na direção do infinito e da esperança. O modo de ser no mundo constitui uma maneira de interpretá-lo, e essa interpretação revela-se uma tentativa do sujeito de dar-lhe significado que o faça compreender-se como parte dele. A negação dessa potencialidade da interpretação consiste, no fundo, numa negação do próprio ser, e é nela que se funda menta a exploração humana. Os interesses interpretativos divergem divergem pelo fato de qu e não há apenas um a visão do mundo e de mundo. Não há justamente porque os interesses são muitos e eles forjam inter pretações favoráveis naquilo que lhes é interessante. O mundo não passa de enfadonha interpretação escondida por detrás do medo de existir e de arriscar a própria existência na direção do nada e do infinito. Dizendo de outro modo, trata-se de uma interpretação mentirosa escondida num sistema humano que funcio na como explorador explorador dos medos e dos traumas de toda a humanidade. Criam-se deuses por ter-se deixado de acreditar no ser humano — esse é o verdadeiro “peca “peca do original”. A questão não é “pecar contra Deus”, mas trair a própria humanidade e deixar de lado o que se é verdadeiramente: mundano e humano. A negação da mundanidade é uma forma de nega ção da própr ia hominização . Trata-se de situação conveniente para sistemas sociopolíticos, econômi
Termo que designa e expressa a noção de que o ser humano se produz a si mesmo produzindo cultura e sendo por ela produzido. Não pode ser confundido com “humanização”, conceito ético que indica o processo de criação de condições de vida mais
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A falsificação do real por meio da interpretação não passa de um a forma de exploração exploração político-ideo lógica. As muitas interpretações são as múltiplas faces originárias da exploração. Nenhum sistema subsiste sem uma falsificação. As interpretações dos fatos são formas de falsificar o real e apresentá-lo como “ver dadeiro”. E nesse ponto que se encontra, no sub terrâneo do ser egocêntrico, a origem de todos os males humanos. De certo modo, tal conjuntura reproduz-se no conhecimento, na ciência, na téc nica, na política e no domínio descarado que se processa nas formas de poder. Nietzsche (1974) nega a existência do “fato” em oposição à interpretação. A seu ver, o fato é já uma interpretação do evento. O primeiro é a forma pela qual se interpreta o segundo. O evento é ontológico, o fato é sua interpretação barateada. É nessa direção que se processa a alienação por meio do discurso ideológico. Toda ideologia é falsificadora da realida de, pois oculta e revela aspectos do real que lhe são mais interessantes. A ideologia, por meio do discurso, tem o poder de falsificar a realidade, de dominá-la, de domesticá-la, juntamente com toda a humanidade. O sentido do mu ndo que emerge no âmago do ato de interpretar é o resultado da vontade de domínio. O instinto cognitivo é o instinto da propedêutica e da assimilação: ele produz os valores, ou seja, aquilo que satisfaz as necessidades, os desejos e os interesses dos centros de interpretação. Conhecer significa ava liar quais configurações são necessárias e quais são
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caos, relacionando as diferenças existentes à identida de, à semelhança e à analogia que permitem o cálcu lo, a previsão e a tolerância do devir. O devir é uma “pré-visão” interpretativa da vonta de de domínio. Co nstitui um a antecipação, antecipação, para que, quando a realidade aconteça, já esteja previamente interpretada. Esse juízo e essa interpretação antecipa da permitem a forja do significado segundo os inte resses em jogo e a transfiguração do próprio fato ao qual ele é atribuído, antes mesmo de seu evento. Talvez se possa dizer que o “mundo” económico-político seja especialista nessa nessa antecipação do significado do even to que ainda não se fez fato. Nessa perspectiva, tudo é um “pré-juízo”, um “pré-julgamento”, uma com preensão antecipada na interpretação do devir. A interpretação interpretação político-econômica é falsificadora falsificadora da realidade. Trata-se de uma forma de simplificação cujo fim é impor dada interpretação de mundo que just ifiq ue as ações do pró prio sistem a. Por mei o dela é que se processa toda a dominação e o poder de domínio. Nada mais cômodo para alguém do que fazer valer sua visão de mundo diante do próprio mundo. A falsificação aí detectada consiste em fazer do mundo o resultado do poder de conferir-lhe sig nificado de uma maneira bem determinada. Esse poder de atribuir significados pelos pelos meios do próprio sistema impõe a hegemonia interpretativa interpretativa da realida realida de. A voz do sistema é a voz da falsificação do real, é a “visão de mundo” estruturada de tal forma, que se tornou senso senso comum. A “comunilidade” da inter inter pretação, especialmente esta do sistema, é um engano intencional reproduzido reproduzido pelo poder d a imagem.
Termo que quer fazer referência a uma visão tornada senso comum em determinado grupo, beirando o dogmatismo radical na interpretação das ideias, dos fenômenos, dos fatos, da
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tornar-se hegemônica em outra vontade de poder, mas a fim de repudiar o poder de domínio e de exploração da hegemonia do campo econômico inserida na inter pretação do sistema. sistema. A luta, em meio a tal estado de coisas, não é um recurso desesperado, mas a dnica esperança de supe ração da primazia d a vontade sobre todas as vontades, da liberdade de alguns sobre sobre a de todos os outros. N a verdade, nessa conjuntura, não há como ser livre, pois só é possível a liberdade de poucos, e uma liber dade sufocada pelo poder significa, antes, escravidão. O caminho da liberdade passa pela negação da atual forma de ser do mundo. Há que negar a corrente visão de mundo com outras formas de vida, com outras interpretações que lancem os indivíduos na direção do ser humano, e não n a direção do ter humano humano ou do ter o humano. O caminho da libertação é o caminho da negação. negação. Não há como construir um mundo novo com base nas velhas estruturas interpretativas. A busca da liber dade só se sedimenta n a negação da opressão. Se está claro que o mundo é uma interpretação humana, somente outra interpretação terá o poder de concebêlo diferentemente. O mundo humano é filho da con cepção interpretativa. Ele se mostra uma construção arquitetada na consciência humana. E o que os seres humanos têm sido: a imagem de si mesmos projeta da num espelho analisado analisado — com o conhecimento, a ciência, ciência, a técnica — como se fosse a própria realida realida de. O real não é a imagem refletida no espelho, mas o próprio espelho e o sujeito que se vê como imagem de si. Olha-se a imagem como se fosse o que se é e
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Por isso seu medo de sair deste “mundo da caverna” é grande — pois estaria, secamente, secamente, diante do q ue ele próprio é. O ser humano revela-se incapaz de enca rar-se em sua animalidade. O mundo interpretado com a única voz do sistema político-econômico con siste tão somente numa forma “racionaliz “racionalizada” ada” de ani malidade que devora suas vítimas mediante a fome do ter e do consumo. O processo econômico mundial contemporâneo representa representa basicamente uma hegemonia da possibilida de de construção generalizada da proposta de consum o para aqueles que não podem consumir. Tal é a miopia do sistema político-econômico: pretende o consumo, mas ignora não ser possível consumir nessa propor ção, pois isso significaria consumir-se no esgotamen to ecológico do planeta. O mundo humano, como capacidade interpretati va, é infinito, mas a realidade ecológica do planeta onde se constrói essa humanidade mostra-se extre mamente limitada e finita, tanto quanto a vida do indivíduo. Não há como fugir dessa verdade. Pela criatividade, o ser humano superou a animalidade e produziu a cultura. 'Pela linguagem, em sua falsifica ção interpretativa, destruiu a criatividade e retroce deu à anim alidade. A volta à criatividade criatividade é o caminho da liberdade, mas como romper com o obscureci mento da visão? A transgressão é a única possibili dade de instaurar nova interpretação do mundo e outra significação da existência que permita a supe ração da animalidade do sistema escravocrata em que se está mergulhado. A causa de ser escravo da animalidade do sistema
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se esconde por trás dele? É necessário quebrá-lo para ver o que se esconde para além da aparência. Se o espelho for o sistema político-econômico, domina dor e escravista, quebre-se o sistema para ver o que há por trás da imagem refletida. Deve-se romper com a imagem para superar sua aparência e assim poder ver a concretude do próprio ser, seus limites e possibilidades. Há, no interior do espelho, um mundo que se multiplica a si mesmo. E essa multiplicação que impede o sujeito de ver o real. Para vê-lo, revela-se essencial romper com o espelho, quebrá-lo, esmigalhá-lo, para que seja apenas real e nao o reprodutor imagético das aparências de uma visão de m undo falsificad falsificadora. ora. A verdade falsificada na interpretação do sistema constitui a verdade velada da falibilidade do próprio sistema. Por isto é tão importante quebrar os padrões: neles a exploração se reproduz. Essa reprodução aconteceu e acontece até nas formas mais “revolucio nárias” produzidas historicamente. O sistema trans forma-se para adaptar-se e adapta-se para continuar ocultando um processo animalesco de exploração. Todos são vítimas queimadas em sacrifício sacrifício no caldei rão do sistema. A religião do ter exige o sacrifício do ser, o que significa a aniquilação da humanidade ou sua redução animalesca à esquizofrenia e à patologia própria a essa religião. religião. Nesse sentido, tudo é adaptá vel, pois tudo é interpretável. Convém lembrar que o mundo humano consiste num caminho só de ida, mas as curvas do caminhar permitem que se ocultem e se revelem outros hori
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hegemonia sobre todos, do qual as mais variadas interpretações existentes são somente variações. Romper com essa situação constitui a árdua tarefa da Filosofia e da educação contemporâneas que se con figuram como reflexão hermenêutica. 4.4 . A hermenêutica hermenêutica como processo de investigação nas ciências humanas e na educação
Como, com base na teoria hermenêutica, cons truir uma metodologia e um discurso interpretativo da realidade e do contexto em que se dá a pesquisa? O sujeito está, o tempo todo, diante do texto (na qualidade de fala e discurso do outro) e do contexto (na qualidade de realidade circundante), ao mesmo tempo em que se faz e é tocado pela dinâmica da rea lidade que se esforça por compreender. compreender. N a verdade, ele é parte dela tanto quanto ela passa a fazer parte de sua existência. E tocado pela realidade pesquisada do mesmo modo que pretende tocar nela para saber o que é. Ou ainda, §e isso for possível, busca “tocar” com as mãos uma realidade prenhe de significados que não se revelam imediatamente diante de seu olhar, por mais atento que esteja. Encontrando-se sempre diante de uma realidade problemática e complexa, precisa “objetivar” para poder “captar” o real. Mas a realidade não se mostra; por vezes se oculta em imagens inatingíveis. De certo modo, conhecer, para o sujeito, é entregar-se à reali dade de forma que ela o atinja e o envolva a ponto de
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que encaminham muito bem a “objetivação” do real, mas no caminho — na metodologia — mais adequado adequado para captar os significados instituídos não por obje tos, mas por outros sujeitos que significam e ressignificam o m undo e sua realidade realidade a cada instante. instante. Com base numa abordagem hermenêutica, poder-se-ia dizer que o texto é a mensagem, a fala, o discurso dos sujeitos; o contexto do texto passa a ser o contexto sociopolítico-econômico-cultura sociopolítico-econômico-cultural-vital l-vital dos sujeitos que fazem a experiência do processo educativo como for mação crítica ou como alienação. Conquanto o uni verso das significações se dê num contexto concreto, revela-se lícito perguntar, como captar o discurso (enquanto modo de dizer e interpretar interpretar o mundo) do ser humano? De certo modo, o pesquisador é o intérprete da realidade exposta diante dele. Ele está cheio de reali dades, teorias e experiências que se defrontam com outras realidades, teorias e experiências constitutivas de determinada visão de mundo envolvida no pro cesso de investigação. Assim, poder-se-ia dizer que o pesquisador possui uma pré-compreensão do real, mas só a relação estabelecida entre os sujeitos possi bilita outra compreensão. E essa pré-compreensão que possibilita a racionalização de determinado tema de pesquisa. O pesquisador é atraído pela realidade realidade em virtude de uma espécie de empatia que se instaura entre seu ser e o real, despertando-lhe o interesse e tornando possível a realização daquilo que estabelece como estudo e seu posterior entendimento. Ele assume o
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A realidade educativa constitui um conjunto de relações estabelecidas entre sujeitos que vivenciam o cotidiano. As trocas simbólicas constroem-se numa constante intersubjetividade intersubjetividade que está, o tem po todo, circunscrevendo relações de poder. Nesse jogo de ex periências cotid ianas (des) constroem-se as vidas dos educandos e decide-se o destino da sociedade futura. O poder é desmistificado pela análise e pela crítica radical de suas raízes. raízes. O pesquisad or tem de dirigir o olhar para as profundezas das relações a fim de ler o que está escondido por trás das aparências, e não ficar apenas no reflexo da superficialidade. A linguagem configura-se como instrumento pode rosíssimo que possibilita a intercomunicação, mas, acima de tudo, pode, no ambiente escolar, constituir — pelo pensamento pensamento — fator não não só de dominação, mas de resistência cultural e política. Trata-se de poder capaz de alienar ou de revelarrevelar-se se um instrum ento de libertação do processo de alienação em curso. Olhar para o real com os óculos de pesquisador é investigar como essas coisas estão inseridas e estabeleci das no cotidiano dá escola. O processo interpretativo reúne um conjunto de instrumentos que potencializa e amplia enormemente a percepção do real. real. O pesquisador procura compreender determinado contexto recortado do real e vê sua margem de erro ampliar-se, ampliar-se, um a vez que o real não pode ser captado infinitamente com uma possibilidade finita de conhecer. Ademais, as pressuposições que não encon tram confirmação aumentam ainda mais essa mar gem de erro. A compreensão de tudo o que existe
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Desse modo o contexto emerge progressivamente em sua alteridade. O pesquisador descobre o que o con texto diz e a diversidade de sua própria mentalidade, ou a distância de sua própria cultura, somente com aquelas “atribuições de sentidos” que realiza com base em sua pré-compreensão do real investigado, bem como em seu desvelamento e desvendamento. A compreensão do real é dificultada pelo fato de que ele constitui um todo complexo de relações que só podem ser compreendidas na forma de “redução”, em seu recorte, no isolamento, mediánte a percepção de que a realidade possibilita sua investigação justa mente no conjunto de sua complexidade relacional. O mérito do trabalho investigativo é poder expressar, pela parte reduzida do enfoque, a totalidade de rela ções expostas e, muitas vezes, ocultas no cotidiano. Tal limitação exige, cada vez mais, uma busca que se volte para o todo, mesmo que isso implique, ainda, determinado recorte. Não é o recorte que reduz o real, mas o limite metodológico “imposto” como possibilidade de “recortar” para conhecer. O recorte representa sempre um risco, que consiste justamente em querer tornar evidente o todo por meio da parte que o compõe. Destarte, o processo de conhecimento exige meto dologias que favoreçam, mesmo no recorte, uma abrangência maior no modo de captar a realidade que se apresenta diante dos sentidos e da reflexão. Quem quer compreender a educação tem de estar preparado para pôr-se à sua escuta. Uma consciência que interpreta deve ser sensível à alteridade não só
consciência das próprias pressuposições e dos pró prios prejuízos. E preciso ter consciência de que o contexto, apesar de estar inter-relacionado com outros, se apresenta, sempre, em suas diferenças e deve ter a possibilidad e de fazer valer valer seu conteúd o de verdade em relação às pressuposições do intérprete. As pressuposições e os prejuízos do pesquisador não devem amordaçar a realidade, o contexto em que se insere. Ele não deve silenciar o real, mas possibili tar-lhe falar por intermédio de si e da própria pes quisa. Deve ser sensível à alteridade do contexto em que busca inserir-se. O pesquisador não fala só, mas utiliza uma linguagem pela qual fala a própria reali reali dade. Ele deve falar para escutar o contexto, ou seja, propor um sentido melhor e mais adequado do que outro, para que o real se manifeste sempre mais em sua alteridade, com o que realmente é. Desse modo, um compreender realiza realizado do com consciência consciência metodo lógica não deve tender simplesmente a levar a termo as próprias antecipações, mas também a torná-las conscientes para poder verificá-las (ou questioná-las) e assim alicerçar a çpmpreensão sobre o próprio obje to a interpretar. Para tanto, o tema da pesquisa precisa ser assegu rado com base no próprio objeto. Trata-se de manter longe tudo o que pode impedir a escuta da realidade realidade de modo adequado. São os prejuízos de que o pes quisador não tem consciência que o tornam surdo para a voz do contexto. contexto. O contexto constitui um elemento elemento ocasional e não é produto do autor. Ele tem efeitos sobre a história
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procura olhar o real esperando que a própria realida de lhe “fale”. A fala do real processa-se num contexto de relações que se produzem e se multiplicam infini tamente. Cada sujeito, em seu contexto, estabelece um número ilimitado de relações que não é possível prever num primeiro olhar. Devidamente investiga das, elas tornam-se significativas para o pesquisador e configuram-se como a matéria-prima propiciadora de uma interlocução com as significações dadas às coisas com base nas relações constituintes da visão de mundo do sujeito que se quer conhecer. Nem o sujeito que pesquisa nem o sujeito a ser pes quisado são o resultado mecânico de um contexto. Antes, revelam uma série de relações que lhes possibili tam compreender o mundo e a si mesmos desta ou daquela forma. Essas compreensões é que se tornam significativas para a pesquisa. Nesse ponto, a herme nêutica pode constituir significativa metodologia capaz de permitir uma leitura que contemple, de forma mais totalizante, a realidade. Ou melhor, utili zando a hermenêutica como método, é possível buscar uma compreensão que possa partir de dada particularidade e chegar à sua universalidade com base nas relações instauradas pelos sujeitos d a reali dade a investigar.
Capítulo
A
V
ETNOGRAFIA COMO
PARADIGMA DE CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO
A etnografia como paradigma de construção do processo de conhecimento em educação A questão epistemológica da etnografia apresenta-a como possibilidade de elaboração de um conhecimento que possa captar o modo de pensar, agir e organizar o mundo dos sujeitos investigados e, mais do q ue isso, isso, exige que opesqu isado r veja o mundo do ponto de vista deles. Trata-se de trabalho extremamente extremamente dificil, pois requer deixar de lado os preconceitos e pôr-se no lugar daqueles que se está procurando conhecer. A questão central, segundo Geertz (1978; 1989) relaciona-se com os papéis desempenhados na relação investigativa. No fundo, o trabalho da etnografia etnografia constitui um registro sistemático das informações e ações dos sujeitos sujeitos pesquisados pesquisados que implica, imediatamente após, a interpretação do modo pelo qual eles agem. Nesses termos há uma identidade epistemológica entre etnografia e hermenêutica. O trabalho etnográ fico constitui uma forma sistemática de registro do
Esta parte do texto contou com a colaboração da professora professora Lu dnete Gadelha da Costa.
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não uma análise significativa das informações catalo gadas no “caderno de campo”. O trabalho etnográfico está ligado a um modo de perceber o mundo do outro ou de “treinar” o olhar para aprender a perceber perceber como o outro vê a si mesmo como alguém que se percebe diferente, com uma identidade que é sua e dos outros ao mesmo tempo. A pesquisa baseada nessa abordagem aproxima o investigador das experiências alheias, de sorte que faça a experiencia do que é o outro na compreensão que este tem de si mesmo. Portanto, o' esforço da pes quisa não é expressar a própria experiência no processo de construção do conhecimento de certo objeto, mas mostrar como foi possível captar, pela explicação e compreensão, o modo pelo qual o outro faz a própria experiência existencial. Pode-se dizer que o trabalho sempre se dá na bifurcação formada pelas relações estabelecidas entre os membros de determinado grupo e pela possibili dade de fazer a experiência (próxima ou distante) do modo de ser dos sujeitos sujeitos — embora se saiba saiba que quem faz a experiência de fato são estes e não o pes quisador, o qual procura compreender o modo pelo qual as relações instauram laços significativos para a construção da realidade e da identidade de cada membro no grupo. A proximidade com a experiência experiência alheia não não facul ta ao pesquisador conhecer o que significa aquela experiencia que o outro faz de si mesmo em sua iden tidade construída no coletivo da cultura introjetada no universo de cada indivíduo. O pesquisador aproxima-se dela para poder descrevê-la e, ao analisá-la,
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No dizer de Geertz (1978, p. 105), esse processo V um bordejar dialético contínuo, entre o menor detalhe nos locais menores e a mais global das estruturas globais, de tal form form a que ambos possam possam ser observad observados os simultaneamente”. simultaneamente”. Pode-se, com base nisso, afirmar que a abordagem etnográfica busca uma narrativa construída num permanente movimento que vai das relações bem particulares dos sujeitos ao todo da cul tura em que se inserem como protagonistas de seu modo de ser. A etnografia constitui, por conseguinte, um pro cesso interpretative que salta continuamente de uma visão de totalidade — por meio das várias várias partes que a compõem — para uma visão das partes — por meio da totalidade, causa de sua existência existência — , como uma forma de moção intelectual intelectual perpétua, perpétua, procuran do fazer uma ser explicação para a outra. Obviamente essa trajetória está ligada ao “círculo hermenêutico” de Dilthey (1979), essencial tanto para interpretações etnográficas como para interpre tações educacionais. O trabalho etnográfico e marca do pela tentativa de compreender a m aneira de viver viver e os veículos por meio dos quais essa maneira de viver se manifesta. A possibilidade de compreender o outro passa pela capacidade dele de abrir-se para manifestar a própria experiência de estar sendo. Seja qual for a compreen são daquilo que os sujeitos realmente são, ela não depende de que o pesquisador tenha, pessoalmente, pessoalmente, a experiência ou a sensação de estar sendo. A com preensão depende de uma habilidade para analisar
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mais com compreender o sentido de um provérbio, captar uma alusão, entender uma piada, do que con seguir uma comunhão de espíritos. O processo da abordagem etnográfica move-se entre uma compreensão do que é o outro em seu pró prio espaço e a possibilidade de interferir ou de agir em seu universo experiencial e conceituai. Portanto, a pesquisa, mais do que descrever o mundo do outro, precisa explicá-lo para poder com preender os significados contidos em cada gesto e ação realizados realizados por um sujeito particular ou por ações coletivas. E importante frisar que a descrição (e a des crição densa) constitui precondição da explicação e da compreensão da pesquisa, efetuadas efetuadas após um pro cesso metódico de análise das descrições. Estas, na comunicação do trabalho, são expressas por categorias que poderão evoluir evoluir para conceitos, permitindo ao pes quisador atribuir sentido ao mundo dos sujeitos.
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sociedade em particular ou, então, de determinado grupo de sujeitos no interior de um Estado-nação. Segundo Geertz (1989, p. 4), a etnografia é uma prática. Praticar a etnografia é estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos, m anter um diário [...]. [...]. Mas não são essas coisas, as técnicas e os processos determinados, que definem o empreendimento. 0 que define é o tipo de esforço intelectual que ele representa: um risco elaborado para uma "descrição densa".
Pode-se dizer que a pesquisa etnográfica é uma ati vidade observadora e interpretativa realizada pela análise de algo que é público. A análise fixa-se, por tanto, nas estruturas de significação a fim de deter minar sua base social e sua importância. Desse modo, a etnog rafia é uma descrição densa. 0 que o etnógraf etnógrafo o enfrenta defat o [...] é uma multiplicidade multiplicidade de estruturas conceituais complexas, muitas delas sobrepostas ou amarradas
1. A abordagem etnográfica e seus pressupostos Segundo Ezpeleta e Rockwell (1985; 1986), a etnografia refere-se tanto a uma forma de proceder na pesquisa de campo como ao produto final da pesqui sa. Costuma-se, também, identificá-la identificá-la como método, porém insiste-se muito mais em que ela seja um enfo que, uma abordagem ou uma perspectiva; algo que articula o método com a teoria, mas não esgota os problemas nem de um nem de outro. Com efeito, os problemas metodológicos e teóricos fazem parte de
umas às outras, que são simultaneamente estranhas, irregulare s e inexplícitas, inexplícitas, e que ele tem que, que, d e algum a forma, primeiro aprender e depois apresentar. apresentar. E isso é verdade em todos os níveis de atividade do seu trabalho de campo, mesmo o mais rotineiro: entrevistar informantes, observar rituais, rituais, deduzir os termos de parentesco, parentesco, traçar as linhas linhas de propriedade, faz er o censo doméstico... escrever seu diário. Fazer etnografia é como tentar ler [...] um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses, incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos, escrito não com os sinais convencionais convencionais do som, m as com exemplos transitórios de comportamento modelado (Geertz, 1989 , p. 7).
O trabalho etnográfico está ligado a um processo
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partir de uma compreensão de cultura, na qual essa perspectiva tem origem. Nesse sentido, assume-se aqui a posição de Geertz (197 8, p. 15), que diz: diz: “ O conceito de cultura que eu defendo é essencialmente semiótico. Acreditando que o homem é um animal amarrado a te ias de significados que ele mesmo teceu, teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; não como um a ciência experim ental em busca de leis, leis, m as como como uma ciência interpretativa, àprocura do significado .” Nessa mesma linha, “ a cultura épública porque o significado o ê' (Geertz, 1978, p. 22). O trabalho de pesquisa de cunho etnográfico torna-se importante e significativo justamente porque somente ele permite a compreensão compreensão do todo d a cultura em sua dinâmica e nas relações particulares que a compõem. Como sistema entrelaçado de signos interpretá veis, a cultura não é um poder, algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os acontecimentos sociais, os comportamentos, as instituições ou os processos; constitui, antes, um contexto, algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligível, ou seja, com densidade, evidenciando os elementos mais sutis como fundamentais para perceber os significados latentes nas relações culturais. A cultura é tratada puramente como sistema sim bólico pelo isolamento de seus elementos, especifi cando as relações internas entre eles eles e passando então a caracterizar todo o sistema de uma forma geral. A etnografia busca justamente a compreensão com
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delineamento de conclusões explanatórias com base nas melhores hipóteses, e não a descoberta do conti nente do significado e o mapeamento de sua paisa gem incorpórea. O ponto global da abordagem semiótica da cul tura é auxiliar o pesquisador na obtenção do acesso ao mundo conceptual em que vivem os sujeitos investigados, de sorte que possa, por meio do diálo go, compreender o que eles são e como constroem os sentidos para suas relações. No processo de pesquisa, a dupla tarefa é descobrir as estruturas conceituais que informam os atos dos sujeitos, o “dito” no discurso social, e construir um sistema de análise nos termos do que é genérico a essas estruturas, do que pertence a elas porque são o que são e se destacam em relação a outros determi nantes do comportamento humano. Olhar as dimensões simbólicas da ação social não significa afastar-se dos dilemas existenciais da vida em favor de algum domínio empírico de formas que não envolvam emoção; significa, antes, mergulhar no meio delas, penetrar em sua profundidade, para cap tar o sentido de ser no significado público e manifes to da cultura, cultura, pois somente nisso o pesquisador pode “tocar” para construir a visão da cultura que são os sujeitos e ele próprio. Captar o sentido implica perceber a coerência das relações estabelecidas com base nas informações for necidas ao pesquisador. A força da interpretação não repousa na rigidez com que essas relações se mantêm ou na segurança com que são sustentadas sustentadas num a argu
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Do ponto de vista metodológico, a etnografia pode ser entendida à luz de três três princípios procedimentais: 1. O conhecimento constitui um modo de estar no mundo, uma forma de vida e as variedades da expe riência intelectual. O uso de dados convergentes, tais como descrições, medidas, observações e fatos coleta dos, tem a capacidade de elucidar a vida dos indivíduos descritos no processo investigativo. investigativo. Para Geertz (1997, p. 234), “o foco em comunidades naturais, grupos de pessoas que estão ligadas entre si de m últiplas maneiras, possibilita a transformação daquilo que'parece ser apenas uma coleção de material heterogêneo em uma rede de entendimentos entendimentos sociais que se reforçam reforçam m utuam entè\ 2. O interesse em categorias linguísticas tem a tendência de concentrar-se em palavras-chave (ou, como se diz em projetos de pesquisas educacionais, em categorias de análise) análise ) que, quando têm seu sig nificado decifrado, iluminam toda uma forma de viver no mundo. 3. A concentração da atenção nos ritos de passagem, nas definições de papéis relativos à idade ou ao gênero, nos elos entre gerações sempre foi elemento importan te na análise etnográfica porque, ao demarcarem posi ções ou relacionamentos que a maioria das pessoas vivenciam, eles parecem parecem fornecer ao menos alguns po n tos razoavelmente estáveis no redemoinho do material com que se trabalha na investigação investigação etnográfica. etnográfica. De modo geral, a etnografia é concebida como “ciência da descrição cultural” e tem como pressu posto a ideia de que o pesquisador deve compreender compreender o significado latente dos comportamentos dos sujei
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e explicar explicar o compo rtamento humano (Lüdke e An dré, 1986). Engers (1994) sustenta que a perspectiva desse paradigma é a penetração no mundo pessoal dos sujeitos, buscando a compreensão, o significado par ticular da ação das pessoas. Dessa forma, ele utiliza como critério critério a evidência do acordo intersubjetivo intersubjetivo no contexto educacional. Pretende, ainda, desenvolver um conhecimento ideológico, assumindo que a des crição pode mostrar uma realidade dinâmica, múlti pla e holística. Para Borges (1994), há alguns pressupostos a ser con siderados no processo de construção de conhecimento que tenha como referência a abordagem etnográfica: • Existem realidades múltiplas, holísticas, socialmen te construídas. Cada realidade forma um todo que não pode ser compreendido se isolado do contexto. • Há intenção entre conhecimento e conhecedor, conhecedor, inse inse paráveis em virtude de suas influências recíprocas. • O objetivo da pesquisa é desenvolve desenvolverr um corpo de conhecimentos dm forma de hipóteses hipóteses de trabalho que descrevam um caso individual. Não se podem generalizar os resultados da pesquisa válidos apenas em tempo e contexto determinados. • Tudo se encontra em estado de influência mútua e simultânea, sendo impossível distinguir causas e efei tos em u ma relação direta, direta, com o no caso das ciências que usam métodos experimentais. • A pesquisa depende de valores. E influenciada
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a coleta, a análise e a interpretação dos dados e pelos valores inerentes ao contexto. Nesse modelo de pesquisa, em vez de buscar cau sas e efeitos, é preciso considerar a sincronicidade dos fenômenos e suas diversas possibilidades de realiza ção. Em determinado contexto, cada elemento inte gra-se com todos os outros. “Mas a interação não tem direcionament direcionamento, o, nem precisa produ zir um efeito efeito determinado [ ... ] que simplesmente ‘acontece’ acontece’ como um produ to da interação” interação” (Lincoln e Guba, 1985, p. 151). No contexto da investigação, déve-se levar em conta a interação entre o pesquisador e sua pesquisa, que se influenciam reciprocamente. O simples ato de observar provoca modificações tanto no observador como no observado, principalmente porque, no caso da pesquisa em educação, ambos são seres humanos e participam de culturas que se diferenciam diferenciam — e, quan do não se diferenciam, é necessário que o pesquisador construa um olhar distanciado e de estranhamento sobre o modo pelo qual as relações se produzem no espaço e na cultura estudada. A realidade poderá ser transformada quando se deixa de limitá-la e mutilá-la com preconceitos e racionalizaç racionalizações, ões, assumindo uma razão aberta aberta às emo ções e ao desconhecido. Tal posição, assumida pela fenomenologia da existência, existência, faz ver o mundo como paradoxo. Segundo Lincoln e Guba (1985), o mundo parece paradoxal apenas quando se tenta des crevê-lo, e não enquanto se está vivenciando toda sua dinâmica e complexidade. Para esses autores, o essen cial da pesquisa — portanto, dos objetos a investigar investigar é a ação dos sujeitos sujeitos em dado contexto, sempre
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visão estreita estreita de um m odo fechado, sem lugar para o sonho e a utopia. Esquece-se que o sonho e o devaneio fazem parte da realidade interna, interna, impu lsionando trans formações e crescimento pessoal pessoal (Borges, 1994). A educação constitui um fenômeno extremamen te complexo, o qual não se pode compreender sem levar em conta todas as dimensões do ser humano. Portanto, a pesquisa educacional constrói teorias que emergem das situações vividas, experimentadas no contexto da ação cotidiana, pois é lá que a vida acon tece em toda sua riqueza existencial. A realidade é sempre a mesma em suas mais diver sas facetas; há, porém, algumas concepções sobre sua natureza que favorecem a reflexão sobre essa proble mática: • realidade objetiva: concepção denominada de rea lismo ingênuo, afirma a existência de um mundo tangível tangível fora dos sujeitos. O conhecimento sobre o mundo é uma aproximação do real. • realidade percebida: é a concepção que considera a existência do real, mas não a possibilidade de conhecê-lo de forrha completa. Ele pode ser conhe cido parcialmente por meio de percepções, que constituem visões visões incompletas do mundo. • realidade construída: segundo tal concepção, a natureza é uma construção realizada pelos indiví duos. Considera-se o mundo tangível como passí vel de muitas interpretações. • realidade criada: essa concepção afirma não exis tir uma realidade pronta, acabada. O real confi
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No paradigma etnográfico, desaparece a separação separação entre o domínio da descoberta e o da verificação; o primeiro não é incorporado ao processo de investiga ção, mas apresenta-se como um precursor dela. A dicotomia entre coleta e análise dos dados transfor ma-se. Os dois movimentos são realizados simulta neamente, promovendo a autodefinição da própria dinâmica da pesquisa. À m edida que se vai efetuando efetuando a coleta, vai sendo construída a interpretação, até ser alcançado um nível de redundância das informações indicativo de que o pesquisador conseguiu o máximo de variação possível sobre dado contexto. O relato, sob a forma de estudo de caso, configura-se uma experiência vicária que propicia ao leitor reconstruir o contexto estudado por meio de descrições densas, possibilitando-lhe atingir novas compreensões críti cas com base na leitura feita da pesquisa. A posição epistemológica que permite essa interpretação é aquela segundo a qual existem múltiplas realidades construídas pelo sujeito cognoscitivo. Tal situação exige um processo reflexivo, o qual faculta ao pesqui sador o alcance de um nível mais alto de lucidez e integração em sua prática. De acordo com Castro (1994), nesse paradigma, os insights, emoções, intuições, tudo é reconhecido e incorporado de forma sistemática sistemática no processo de pes quisa, pois o pesquisador se encontra inteiro nela e se modifica em seu decurso. decurso. O pesquisador faz parte essencial essencial do processo, e suas habilidades pessoais é que vão, de certa forma, orientar, orientar,
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e na própria experiência vivida da pesquisa, que revela “m udanças udanças que refl reflete etem m experiências pass ada s efut ura s antecipações ” (Castro, 1994, p. 59).
O pesquisador usará suas habilidades de olhar, escutar, ler. Assim, tenderá a usar entrevistas e obser vações, estudar em arquivos e documentos, observar comportamentos não verbais e interpretar medidas não obstrutivas. A seleção dos sujeitos da pesquisa seguirá a amos tra intencional. intencional. Esta é definida à luz dos objetivos do estudo, que se vão esclarecendo no próprio processo de sua realização. A amostra do estudo não é estabe lecida de antemão, mas desenvolvida desenvolvida de forma inten cional com base na própria teoria que emerge dos dados e que é verificada com novas coletas inten cionais de de informação (Castro, 1994). A análise indutiva de dados proposta pelo para digma etnográfico pode ser concebida como o pro cesso de dar significado aos dados coletados em campo. Ela parte das entrevistas, das observações e envolve o estabelecimento de unidades e o processo de catego rização, vbastan te semelhan te à análise de conteúdo (Lincoln e Guba, 1985). Relacionada com a amostra intencional e com a análise indutiva de dados, encontra-se, nesse paradig ma, a ideia de grounded theory, que se desenvolve com base na análise análise dos dados coletados, coletados, e não numa teo ria que os antecede. antecede. O pesquisador parte de um foco inicial inicial e, à m edida que vai coletando e analisando os dados, vai definindo a amostra intencional e o foco da investigação. O resultado desse processo de cons
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pesquisadores naturalistas, pois a interpretação cons truída pelo investigador deve passar pelo crivo dos informantes e de outros envolvidos. Os informantes possuem o direito de participar e discutir a interpreta ção desenvolvida desenvolvida pelo pesquisador (Castro, 1994). A forma proposta de apresentação do resultado da pesquisa é o estudo de caso, que reúne as condições para conter as descrições densas e pode ser um retra to da situação investigada de maneira holística. Também oferece a possibilidade de dar a conhecer as múltiplas concepções que emergefn do estudo reali zado. O estudo de caso é considerado a forma ideal de relatório de pesquisa para o paradigma etnográfi co. Sua apresentação é problematizada, tendo em vista a audiência para a qual se dirige e as inúmeras possibilidades de comunicação do mesmo conteúdo (Guba e Lincoln, 1981). As descrições densas devem ser fonte para o julga mento do contexto estudado e das possibilidades de transferência. O limite do estudo é determinado pelo foco estabelecido na definição do problema na rela ção com os objetivos da investigação. A pesquisa começa com um foco inicial que se vai definindo e se realizando no processo de construção do conheci mento. O foco do estudo determina seus limites, fixando o que vai ser pesquisado e servindo como cri tério para inclusão-exclusão de novas informações. Apesar dessa especificidade do trabalho, é importan te lembrar que o registro deve atingir um universo sempre maior do que o enfoque determinado pelo
2. O trabalho de campo como especificidade da pesquisa etnográfica O trabalho de campo constitui um conjunto de ações orientadoras dos procedimentos de pesquisa a ser realizada em determinado contexto com o objeti vo de compreender um objeto de investigação. A expressão “trabalho de campo” surgiu das experiências práticas dos etnógrafos que procuraram e procuram validar o conhecimento das culturas ou dos grupos étnicos estudados com base nas ciências ciências sociais ou, mais especificamente, na Antropologia. Trata-se de uma forma de caracterizar uma perspectiva de pesquisa não desenvolvida nos espaços da experimentação, o que evidencia ser o conhecimento oriundo de dado contexto vivido por um conjunto de sujeitos que constroem suas relações à medida que são significati vas para o constructo de suas existências. Geralmente o trabalho de campo é apresentado com base nas técnicas da “observação participante”, no intuito de certificar que a pesquisa etnográfica implica, antes de tudo, participação efetiva na vida dos sujeitos investigados. Compreendendo essa íntima relação, convém examinar’ s descrever descrever o processo de pesqui sa por meio da observação participante. Segundo Matta (1976, p. 20), o trabalho de campo [...] tem como uma de suas características um profundo envolvime envolvimento nto do pesquisador com o seu objeto de estudo que /.../ não é um documento distante ou umafria uma fria frequência estatística, mas um conjunto de pessoas, identidades e relações caoticamente percebidas pelo investigador nos seus primeiros momentos de trabalho. É a partir deste conjunto nebuloso que /o pesquisador] procura inventar inventar
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seus dados de pesquisa. C om o já foi dito, ele envolve envolve estar dentro do mundo do sujeito: não como uma pessoa que sabe tudo, mas como alguém que quer aprender; não como um a pessoa que quer ser como o sujeito, mas como alguém que procura saber o que é ser como ele. Nessa estratégia busca-se ganhar a acei tação do sujeito não como um fim em si, mas porque isso abre a possibilidade de atingir os objetivos da investigação (Geertz, 1978). 2.1. A observação participante cqmo estratégia de apreensão do objeto da pesquisa etnográfica etnográfica Schwartz e Schwartz (1955, p. 345) definem do seguinte modo a observação participante: participante: um processo pelo qual mantém-se a presença do obser vador numa situação social, social, com a finalidade de realizar uma investigação cientifica. 0 observador está em relação face a face com os observados e, ao participar da vida deles, no seu cenário cultural, colhe dados. Assim o obser vador é parte do contexto sob observação, ao mesmo tem po modificando e sendo modificado por este contexto.
reflexão É no seio da Antropologia que se inicia a reflexão sobre a estratégia estratégia de observação como form a de cap tação da realidade empírica. O texto clássico sobre trabalho de campo nessa área é o de Malinowski (1975), fundamentado na necessidade: • de bagagem científica científica do estudioso; • dos valores da observação observação participante; participante; • das técnicas de coleta, ordenação e apresentação do
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dos sujeitos e às suas interpretações dos fatos e as interpretações e influências do pesquisador no pro cesso de pesquisa. Para Malinowski (1975, p. 40), “toda estrutura de uma sociedade encontra-se incorporada no mais evasivo Justamente nele de todos os materiais: o ser humano”. Justamente e nas relações estabelecidas entre ele e as coisas que faz e pensa é que se concentra a observação como forma de percepção da realidade. realidade. O material da observação participante, no enten der de Malinowski (1975, p. 40-44), é o conjunto de regras formuladas ou implícitas nas atividades dos componentes de um grupo social; depois, constitui a forma pela qual essas regras são obedecidas ou trans gredidas, os sentimentos de amizade, de antipatia ou simpatia que permeiam os membros do grupo. Ou seja, é preciso observar o aspecto legal e o aspecto ínti mo das relações sociais, ao lado das tradições e costumes, o to m e a importância que lhes são atribuídos, as ideias, ideias, os motivos e os sentimentos do grupo na compreensão da totalidade de sua vida, verbalizados por si próprios mediante suas categorias de pensamento. Uma atitude de observador científico consiste em assumir o ponto de vista do grupo pesquisado com respeito, empatia e a maior inserção possível. Significa abertura para o grupo, sensibilidade para sua lógica e sua cultura, lembrando-se de que a inte ração social faz parte da condição e da situação de pesquisa. “M as o etnógrafo não tem só que estender estender suas
redes no lugar correto e esperar pelo que nela cairá.
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O preparo teórico não é apenas necessário, mas imprescindível. Com efeito, se, por um lado, as ideias preconcebidas são perniciosas em qualquer tarefa científica, a antevisão dos problemas, por outro, constitui a principal qualidade de um pensador cien tífico, e esses problemas são revelados pela primeira vez ao observador por seus estudos teóricos. Domi nar a literatura representa, pois, uma precondição para ter sucesso na realização de uma pesquisa de cunho etnográfico. Outra questão a ser levada em coíita nessa prática é que o pesquisador deve ter a disposição de integrar-se no contexto de pesquisa como condição prelimi nar de boa investigação. Todo processo investigativo dessa natureza implica, de fato, disposição em sair do próprio universo cultural para mergulhar na cultura do outro, pois somente com a construção de uma identidade comum, por mais superficial que possa parecer, é que se está em condições de mergulhar nos sentidos que cada grupo constrói para suas ações. Tal atitude investigativa estabelece uma condição relacio nal que se dá entre sujeitos no processo de constru ção do conhecimento. O trabalho de pesquisa envolve aprofundamento da relação estabelecida entre pesquisador e pesquisa do dentro do universo intersubjetivo e favorece os encontros de subjetividades que, na fricção identitária de cada sujeito, permitem e possibilitam a cons trução das trocas e das relações simbólicas. O campo de observação do pesquisador tem um significado específico e uma estrutura de relevância para os seres
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para orientar o pesquisador no contexto da pesquisa. Ele sugere que o observador deve: • inserir-se no mun do de seus entrevistados, entrevistados, buscan do entender os princípios gerais que as pessoas seguem em sua vida cotidiana para organizar sua experiência, particularmente as de seu mundo so cial. Desvendar essa lógica é condição preliminar da pesquisa; pesquisa; • manter uma perspectiva dinâmica que, ao mesmo tempo, leve em conta as relevâncias de sua aborda gem teórica, o que lhe permite interagir ativamen te com o campo; • abandonar, na convivência, uma atitude externa de “cientista”, a fim de entrar na cena social dos entre vistados como um a pessoa comum que partilha do cotidiano. Ou seja, sua estrutura de relevância teó rica fica implícita e sua linguagem no campo é a mesma do senso comum dos atores sociais. Seguindo essa linha, linha, Cicourel (197 7, p. 110) insiste na construção de um “modelo do ator” pelo pesquisa dor. Ele explica: o observador científico necessita de uma teoria que forneça um modelo de ator, o qual está orientado para agir num meio de objetos com características atribuídas ao senso comum. 0 observador precisa distinguir distinguir as racionalidades científi científicas cas que usa pa ra ord enar sua teoria e seus resultados, das racionalidades do senso comum que atribui aos atores estudados. Os dois contextos contextos — cientifico e do senso comum — são construções construçõesfeita s pelo cientista.
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superficial quando inicia estudo” (Cicourel, 1977, p. 91-92). Isso significa que a condição da observação depende da autonom ia do pesquisador na compreen são dos métodos e das teorias que o ajudam a ler e interpretar a realidade investigada. Seu domínio dos mais variados instrumentos é condição fundamental para o conhecimento etnográfico etnográfico — especialment especialmentee porque, no contexto d a pesquisa, seja quem for que a realize, ele se encontra sozinho e não pode contar senão com seu próprio entendimento como recurso de observação e investigação. No contexto da investigação, cabe considerar a observação participante como processo construído duplamente pelo pesquisador e pelos autores sociais envolvidos. Esse processo possui momentos cruciais que devem ser encarados operativa e teoricamente (Minayo, 1994, p. 143). Benjamin (1933, p. 432) afirma que, em parte, o pesquisador de campo define seu próprio próprio papel e, em parte, este é definido pela situação e pelas perspecti vas dos sujeitos (ou grupos) investigados. Sua estraté gia é a de quem participa de um jogo. Ele não pode predizer as jogadas precisas que o outro vai fazer, mas pode antecipá-las da melhor maneira possível e fazer suas jogadas de acordo com os interesses da própria pesquisa. A figura do pesquisador é construída num processo que ele pode controlar apenas parcialmente, por ser marcado pelas próprias referências do grupo e interpre tado segundo os padrões culturais específicos. Da mesma forma, a visão sobre o grupo é construída
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possíveis e também depende do arcabouço teórico que dá suporte ao trabalho do observador participante. Essa construção mútua do pesquisador e do pes quisado é examinada por Berreman (1975). Tal autor afirma que pesquisador e pesquisado são ambos ato res representan representando do papéis, um diante do outro. Assim como no teatro há os bastidores, “região interior”, e o palco, “região exterior”, as pessoas tendem a comuni car-se, na interação, apenas por meio do palco, ou seja, das regras oficiais legitimadas. A relação pesqui sador—pesquisa do dá-se num jo go de cenas, em que ambos tendem a preservar a “região interior” de sua identidade como pessoa e grupo. Com relação à compreensão da realidade, Barreman enfatiza que o conhecimento tanto das regiões interiores (os segre dos de bastidores) da vida de um grupo como da encenação exterior é componente essencial para o processo de pesquisa e deve ser buscado pelo sujei to pesquisador. Além dessa inserção no campo de pesquisa, o observador deve formar determinado arcabouço capaz de fazê-lo compreender a realidade. Para Malinowski (1975,q>. 60-61), o objetivo da observa ção e do registro é apreender o ponto de vista do nati vo, sua relação com a vida e sua visão de m undo. Para Minayo (1994), o pesquisador envolvido no trabalho de campo que inclui observação participan te está mais livre de prejuízos, uma vez que não é pri sioneiro de um instrumento rígido de coleta de dado s ou de hipóteses testadas antes de o processo de pes quisa efetivar-se. Ao mesmo tempo, a fluidez própria da observação participante concede ao pesquisador a
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pode retirar de seu roteiro questões que percebe como irrelevantes; consegue compreender aspectos que se explicitam explicitam aos po ucos e que continuariam des conhecidos por outro que trabalhasse apenas com questionários. questionários. A observação participante ajuda a vin cular os fatos às suas representações e às contradições entre as leis e sua prática por meio das próprias con tradições vivenciad vivenciadas as no cotidiano do grupo. Cicourel (1980) atesta que, quanto maior é a par ticipação do observador, maior a possibilidade de penetração na chamada “região interior” do grupo. Postula o controle da objetividade dos dados obtidos com a observação participante mediante a revisão revisão críti ca do trabalho de campo e a explicitação dos procedi mentos adotados e dos diferentes papéis representados pelos sujeitos da pesquisa e pelo próprio pesquisador. Critica os dados puramente descritivos ou a vali dade dos relatos “pós-facto”. Recomenda que o pes quisador formule o mais claramente possível o que busca conhecer, ou seja, defina se quer explorar algu ma proposição teórica, testar hipóteses específicas ou fazer uma investigação exploratória sobre determina do tema ainda nebuloso. Cha ma a atenção para a necessidade de tornar explí citas as fontes de informações sobre o problema a ser pesquisado, sobre o campo em que a pesquisa se deu e sobre a situação em que a pesquisa foi desenvolvida tanto do ponto de vista institucional, da relação entre os pesquisadores, quanto da especificidade dos infor mantes, considerando tudo isso dados da própria pes quisa. São informações sobre o processo do trabalho, necessárias para sua compreensão como um todo.
A E T NO NO G RA RA F IA IA r n u o
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sociólogo francês insiste que o pesquisador tem de romper com o senso comum do grupo pesquisado e põe sempre em questão os pressupostos inerentes à sua qualidade de observador, ou seja, “de estrangeiro que, preocupado em interpretar as práticas de outro grupo, tende tende a importar para o objeto objeto os princípios de suas relações relações com esse esse objeto, objeto, incluindo-se aq ui su as rele vâncias”. Schütz (1979) define o trabalho do pesquisador como a reconstrução, com base no senso comum dos atores sociais, de uma tipificação de sua realidade capaz de ser compreendida, interpretada e compara da. Para ele, os conceitos formados pelos cientistas sociais são constructos dos constructos científicos formados num segundo nível, de acordo com as regras de procedimento válidas para todas as ciências empíricas. Os dois tipos de constructos (o do cientis ta e o do senso comum) devem ser levados em consi deração no processo de construção do conhecimento.
3. A abordagem etnográfica e seu uso na pesquisa'em educação De acordo com Lüdke e André (1986, p. 13), até pouco tempo atrás as técnicas etnográficas eram uti lizadas quase exclusivamente por antropólogos e sociólogos. No início dos anos 70, surgiu, por parte dos pesquisadores da área educacional, o interesse pelo uso dessas técnicas, o que, de certa forma, deu origem a nova linha de pesquisa denominada de
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área educacional. educacional. Nos program as de pós-graduação no Brasil surgiram muitas dissertações, teses e pesquisas dos docentes que se voltavam para a descrição das atividades de sala de aula, para as relações construídas no dia a dia da experiência escolar e para o estudo das representações dos atores escolares (André, 19 95, p. 102).
Anteriormente, as pesquisas sobre a sala de aula eram realizadas realizadas com base em instrumentos de obser vação que tinham como objetivo o registro e a análi se do comportamento de professores e alunos numa situação de interação (André, 1995, p. 99). Esses instrumentos focalizavam estritamente estritamente o q ue podia ser observado e utilizavam unidades de obser vação derivadas de categorias preestabelecidas que, por sua vez, orientavam a análise, criando certa cir cularidade na interpretação. Pode-se dizer que, nesse tipo de estudo, há uma supervalorização da meto dologia em detrimento da teoria (Delamont e Hamilton, 1976). Convém chamar a atenção para o fato fato de o uso da etnografia em educação dever envolver uma preocu pação em pensar o ensino e a aprendizagem em um contexto cultural mais amplo que o espaço restrito da sala de aula. Wolcott (1988) apresenta alguns critér critérios iospar a a uti lização da abordagem etnográfica nas etnográfica nas pesquisas que foca lizam a escola. Esses critérios são os seguintes: • O problema é redescoberto no campo e nunca exclusivamente antes da realização da pesquisa.
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• O trabalho de campo deve durar durar ao menos um ano escolar, podendo, para alguns objetos e abordagens, com uma intensificação do tempo, ser realizado durante um semestre. • O pesquisador deve ter tido uma experiência com outros povos de outras culturas, culturas, emb ora isso não seja uma exigência exclusiva, pois é possível estabelecer, metodologicamente, uma atitude de estranhamento para com o contexto da pesquisa. • A abordagem etnográfica combina várias técnicas de coleta de dados e de sistematização sistematização de informa ções que permitem “atingir” o objeto por ângulos diferentes. • O relatório de pesquisa de cunho etnográfico apresenta grande quantidade de dados primários e elabora uma narrativa que permite reconstruir o objeto em questão, bem como a realidade cultu ral dos sujeitos pesquisados. O trabalho de pesquisa orientado orientado por um a prática centrada na etnografia busca descrever, compreender e interpretar os fenômenos educativos presentes no contexto escolar. O enfoque da pesquisa centra-se no contexto de cada escola, vista como uma comunida de cultural que elabora sentido e significado para suas ações ao mesmo tempo que condiciona e estabelece um conjunto de relações e práticas mediante os sujei tos que vivenciam sua realidade. A pesquisa etnográ fica procura compreender como se dão essas relações em seu contexto e em que sentido revelam uma cul
A ETNOGRAFIA COMO PARADIGMA DE CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO
da escola permite integrar os numerosos momentos desconcertantes da observação e interpretar, a partir de uma perspectiva mais histórica, sua realidade cotidiana ”. Portanto, a pesquisa etnográfica permite situar determinada escola no contexto histórico da educa ção e da sociedade, possibilitando uma interpretação que vai além da p rópria pesquisa em si. Ca be esclare esclare cer que a abordagem etnográfica nunca tem a preten são de generalização, mas aquilo po r ela revelado — também no âmbito educacional — vai sempre além do próprio objeto investigado, pois pode dar condi ções para ler outras escolas num mesmo contexto social e político. Para André (1995 ), a pesquisa etnográfica permite permite a superação do argumento da falta de objetividade das pesquisas em educação, pois valoriza as interações que se verificam sempre num contexto permeado por uma mu ltiplicidade ltiplicidade de significados, os quais, por sua vez, fazem parte de um universo cultural a ser estu dado pelo pesquisador. Este, para entender e descre ver tal universo, deve usar a observação participante, que envolve registros de campo, entrevistas, análises de documentos, fotografias. fotografias. Segundo Engers (19 94), além desses desses instrumentos de coleta de informações, podem ser utilizadas grava ções de áudios e vídeos sobre o cotidiano, a fim de verificar ações e interações e eventos sociais do grupo. As metas e objetivos do etnógrafo influenciam a sele ção dos instrumentos à luz da teoria e da natureza do processo de pesquisa. Este utiliza a cultura como orientação conceituai e a base teórica como abordagem do estudo do cotidiano do grupo e estabelece limites
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A intensidade do envolvimento varia de acordo com as necessidades do trabalho e com as opções fei tas. O pesquisador atua como observador, entrevista dor e analista, fazendo sempre uma pon te entre teoria e empiria. A experiência e a teoria fundamentadoras do trabalho de pesquisa compõem a simbiose que per mite a superação de uma visão reducionista do obje to investigado. Nas palavras de Peixoto (2003), a superação da dicotomia entre sujeito e objeto, cons ciência e mundo, subjetividade e objetividade. A pesquisa, nessa abordagem metodológica, exige do pesquisador certa flexibilidade no trato com as pes soas e atenção para perceber detalhes que poderão ser fundamentais para a compreensão do fenômeno refle xivo, pois a crítica reflexiva constitui o ir-e-vir entre teoria e prática e faz-se necessária para compreender certos pressupostos pedagógicos que envolvem a rela ção professo r—aluno e co mun idad e escolar. Todas as informações obtidas em campo são dados considerados sempre inacabados. O observador não pretende comprovar teorias nem fazer generalizações estatísticas. O quejmsca é compreender e descrever a situação, revelar seus múltiplos significados, deixan do ao leitor a tarefa de decidir se as interpretações podem ou não ser generalizáveis com base em sua sustentação teórica. Ezpeleta e Rockwell (1986, p. 17) ressaltam que “um trabalho permanente de an álise de registro registros, s, de ida e vinda entre os dados de campo e o esforço compreensivo, [é que] sustenta o avanço progressivo na superação dos sentidos 'evidentes' das situações ’. O que importa
A
í tnocrafia c o m o
p a r a d i g m a d e CONSTRUÇÃO d o
PROCESSO d e c o n h e c i m e n t o em e d u c a ç ã o
sujeitos. Ao pesquisador cabe explorar as situações no cotidiano em que elas ocorrem. Conforme André (1995, p. 102), os estudiosos das questões educacionais recorreram recorreram à abor dagem etnográfica como uma forma de retratar o que se passa no dia a dia das escolas, isto é, buscavam revelar a complexidade da rede de interações que constitui a expe riência riência escolar diária, mostrar como se estrutura o processo de produção de conhecimento em sala de aula e as inter-relações entre as dimensões cultural, institucional e instrucional da prática pedagóg ica. 0 objetivo objetivo principal destes trabalhos era a compreensão da realidade escolar para, numa etapa posterior, agir sobre ela, modificando-a.
No entender de Ezpeleta e Rockwell (1986, p. 73), “a escola é construção social, acumula uma história social que lhe dá existência cotidiana”, cotidiana”, e por isso é de fundamental importância o estudo do cotidiano para a compreensão do papel socializador desempenhado pela escola. A instituição escolar, em sua dinâmica, reflete no dia a dia as contradições sociais. Nela, o jog o das hierarqu ias e interações entre estes processo s
(reprodução, construção e transformação, controle e apro priação, resistência e luta), em sua dimensão cotidiana, implica uma releitura releitura das categorias an alíticas gramscian as de sociedade civil e sociedade política, interpretadas como form as de relação historicamente historicamente construídas e ambas pre Rockwell, 198 6, p. 75). sentes na escola (Ezpeleta e Rockwell,
André (1995, p. 103) evidencia as contribuições da pesquisa etnográfica. etnográfica. Afirma que ela, “ao conside rar a multiplicidade de significados presentes numa dada situação, fez com que a investigação da prática
A ETNOGRAFIA COMO PARAD IGMA PE CONSTRUÇÃO PO PROCESSO PE CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO
partes para o todo e dos elementos isolados para a sua inter-relação ” . Essa perspectiva trouxe às pesquisas com foco na escola um enriquecimento muito grande do ponto de vista tanto metodológico, pela disponibilidade de ajustes durante o processo, quanto teórico, pela identificação de elementos não previstos no plane jam en to ini cia l, ma s esse ncia is par a a aná lise e a compreensão da prática pedagógica. O trabalho de campo sistemático e prolongado inerente à abordagem etnográfica, ao ser adotado pelos pesquisadores da educação, revelou aspectos fundamentais do dia a dia das escolas, da rotina de sala de aula, das relações e tensões constituintes da experiência escolar. Desvelou o cotidiano da prática prática pedagógica, inaugurando uma linha de estudos que se tornou conhecida como “pesquisa “pesquisa do cotidiano escolar”. escolar”. Desse modo, a referência teórica a princípio orientou a observação para episódios cotidianos aparentemente sem consequência para a realidade não documentada. Ao m esmo tem po, a explicitação explicitação e a reconstrução reconstrução das relações peculiares e imprevistas dessa realidade pos sibilitaram a elaboração de categorias e conceitos necessários a uma apreciação alternativa da escola (Ezpeleta e Rockwell, 1986, p. 15). No trabalho com a abordagem etnográfica, é funda mental considerar que a pesquisa de campo, indispen sável à coleta de dados, não deve ocorrer desvinculada de uma teoria que a embase. A teoria funciona como princípio orientador da pesquisa. pesquisa. O de sconhecim ento dos princípios leva muitos estudos a enorme fragili dade teórica. Seus autores parecem acreditar que a
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reconstruí-lo, o que só se mostra possível quando há uma orientação, uma proposta teórico-metodológica a ser seguida. Por outro lado, o divórcio entre o referencial teó rico enunciado e definido no princípio e o processo de coleta e análise dos dados põe em risco todo o tra balho, pois a questão central da pesquisa etnográfica é a imbricação entre teoria e empiria como orienta doras do processo investigativo. Do ponto de vista prático, o pesquisador deve diferenciar dados obtidos em campõ de opiniões ou interpretações, revelando, da forma mais clara pos sível, a fonte dos dados e as circunstâncias de sua obtenção, além de mostrar o processo de construção do relatório e tornar evidentes as justificativas das escolhas (teóricas e metodológicas) feitas em cada momen to da pe squisa e para cada finalidade finalidade que atri bui a seu trabalho.
Capítulo
A
PEDAGOGIA DA
PESQÜISA-AÇÃO
T
A pedagogia da pesquisa-ação A pesquisa-ação pesquisa-ação tem sido utilizada, nas últimas décadas, de diferentes maneiras e segundo diversas intencionalidades, passando a compor vasto mosaico de abordagens teórico-metodológicas, o que instiga a reflexão sobre sua essencialidade epistemológica e sobre suas possibilidades como práxis investigativa.
É praticamente consensual a atribuição de suas origens aos trabalhos de Kurt Lewin em 1946, num contexto de pós-guerra, pós-guerra, acompanhando uma aborda gem de pesquisa experimental, de campo. Ele a desenvolveu quando atuava junto ao governo norte-americano, e a princípio suas pesquisas tinham por finalidade a mudança de hábitos alimentares da po pulação e também das atitudes dos americanos em face dos grupos étnicos minoritários. Caminhando paralelamente a estudos sobre a dinâmica e o funcio namento dos grupos, pautavam-se por um conjunto de valores como a construção de relações democráti cas, a participação dos sujeitos, o reconhecimento de direitos individuais, culturais e étnicos das minorias, a tolerância a opiniões divergentes e ainda a conside ração de que os sujeitos mudam mais facilmente quando impelidos por decisões grupais. A forma de
Este capítulo foi anteriormente publicado em FRANCO, Maria Amélia Santoro. A pedagogia da pesquisa-ação. Educação e Pesquisa - Revista da Faculdade de Educação da USP, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 483-502, dez. 2005.0 presente texto apresenta uma série de modificações em relação ao original que não alteram substancialmente a reflexão ali desenvolvida.
A PEDAGOGIA DA PESQUISA-AÇÃO
Essa concepção inicial dentro de uma abordagem experimental, de campo, adquiriu muitas feições frag mentadas durante a década de 50 e modificou-se estruturalmente a partir da década de 80, quando incluiu entre seus pressupostos a perspectiva dialéti ca, com base na incorporação dos fundamentos da teoria crítica crítica de Habermas, e assumiu como finalida de a melhoria da prática educativa docente. São essenciais para tal enfoque os trabalhos de Elliot e Adelman, do Centro de Pesquisa Aplicada em Edu cação da Grã-Bretanha, junto ao Ford Teaching Project (1973-1976). Após os trabalhos de Lewin e as diferentes incorpo rações teóricas ao conceito e à prática da pesquisa-ação, pesquisa-ação, muitas interpretações têm sido realizadas em nome dela. Como resultado, constata-se a existência de um mosaico de abordagens metodológicas que muitas vezes são operacionalizadas na práxis investigativa sem a necessária explicitação explicitação de seus fundamentos teóricos, gerando inconsistências entre teoria e método e com prometimentos à validade científica dos estudos.
1. De que pesquisa se está falando ao referir-se à pesquisa-ação? Quando alguém opta por trabalhar com pesquisa-ação, decerto se investe da convicção de que pesquisa e ação podem e devem caminhar juntas, juntas, tendo em vista a transformação da prática. No entanto, a direção, o sentido e a intencionalidade dessa transformação serão
A P E D A G O G I A D A P E S Q U I S A - AÇ AÇ Ã O
a) quando a busca de transformação é solicitada pelo grupo de referência referência da equipe d e pesquisadores, a pesquisa tem sido conceituada como pesquisa-ação colaborativa. Nela, colaborativa. Nela, a função do pesquisador é integrar-se e conferir um enfoque científico a um processo de mudança anteriormente desencadeado pelos sujeitos do grupo; b) se se percebe a necessidade dessa transformação mediante os trabalhos iniciais do pesquisador com o grupo, como decorrência de um processo que valoriza a construção cognitiva da experiência, sustentada por reflexão crítica coletiva, tendo em vista a emancipação dos sujeitos e das condições que o coletivo considera opressivas, a pesquisa vai-se caracterizando pela criticidade e, então, tem-se utilizado a conceituação de pes quisa-ação crítica; crítica; c) se, ao contrário, a transformação for previamente planejada sem a participação dos sujeitos e apenas o pesquisador acompan har os efeitos efeitos e avaliar os resul resul tados de sua aplicação, a pesquisa pode ser mais bem denominada de pesquisa-ação estratégica. Kincheloe (1997) afirma que a pesquisa-ação crí tica rejeita as noções positivistas de racionalidade, objetividade e verdáde e deve pressupor a explicitação dos valores pessoais e práticos dos envolvidos no pro cesso investigativo. Isso se deve em parte porque a pesquisa-ação crítica não pretende apenas com preender ou descrever o mundo da prática, mas sobretudo transformá-lo. transformá-lo. A condição para essa modalidade de pesquisa é o mergulho na práxis do grupo social em estudo, do qual se extraem as perspectivas perspectivas latentes, latentes, o oculto, o não familiar que sustentam as práticas, e nela as mudanças
A PEDAGOGIA DA PESQUISA-AÇÃO
A PEDAGOGIA DA PESQUISA-AÇÃO
No entanto, ainda se podem encontrar pesquisa dores iniciantes fazendo uso da pesquisa-ação para implementar projetos ou propostas concebidos ape nas por eles próprios ou mesmo, não raro, aplicando uma proposta de mudança idealizada por um supe rior hierárquico. Nesse caso, a dimensão crítica e dia lética da pesquisa está sendo negada. A pesquisa-ação crítica deve gerar gerar um processo de reflexão reflexão — ação cole tiva, em que h á uma imprevisibilidade imprevisibilidade nas estratégias estratégias a ser utilizadas. Uma pesquisa-ação desenvolvida segun do os pressupostos positivistas revela-se extremamente contraditória com a pesquisa-ação crítica. crítica. Esta leva em conta a voz do sujeito, sua perspecti va, seu sentido, mas não apenas para registro e poste rior interpretação interpretação do pesquisador, pesquisador, u ma vez que a voz do sujeito fará parte da tessitura da metodologia da investigação. Nesse caso, a metodologia não se configura por meio das etapas de um método, mas organiza-se pelas situações relevantes que emergem do processo. Daí decorre a ênfase no caráter forma tivo dessa modalidade de pesquisa, pois o sujeito deve tomar consciência das transformações que vão ocor rendo em si próprio e no processo. É também por isso que tal metodologia assume um caráter emancipatório, pois, mediante a participação consciente, os sujeitos da pesquisa passam a ter oportunidade de libertar-se de mitos e preconceitos que organizam suas defesas contra a mudança e reorganizam sua autoconcepção de sujeitos históricos. Com base neste início de reflexão, cabe perguntar: a pesquisa-ação deve ter como intenção essencial a transformação da realidade em que se insere? Deve ser
mativo-emancipatório? Respostas a essas questões não são aind a consensuais. consensuais. M as é possível tentar uma aproximação, de for ma que se encontrem pistas para referir-se -se à pesqui a questão: de que pesquisa sefa la ao referir sa-ação?
Segundo os comentários de Mailhiot (1970, p. 46), que foi aluno de Kurt Lewin e trabalhou com ele, a pesquisa-ação deve partir de uma situação social concreta a modificar e, mais que isso, inspirar-se constantemente nas transformações e nos elementos elementos novos surgidos durante o processo e sob a influência da pesquisa. Mailhiot afirma, por outro lado, que Lewin, baseado na concepção hegeliana do devir social impregnada em seu pensamento, propõe a hipótese de que “os fenômenos sociais não podem ser observados do exterior, do mesmo modo que não podem ser observados em laboratório, de modo estático ”. Para
Lewin, os fenômenos de grupo não revelam as leis internas internas de sua dinâmica, “senão aos pesquisadores dis postos a se en gajar pessoal pessoalmente mente a fundo, neste neste dinamis mo em m archa, a respeitar-lhe os processos de evolução nos sentidos definidos que a História lhe imprime e, assim, favorecer-lhe, ao máximo, que se ultrapasse ” .
Realça ainda Mailhiot (1970, p. 47), continuando a expor o pensamento de seu mestre, que o pesquisa dor só deve tentar modificar a dinâmica de um grupo após o consentimento explícito de seus membros. Dessa forma, ele deve assumir constantemente os dois papéis complementares: de pesquisador e de par ticipante do grupo. Outro alerta importante de Lewin, considerado por Mailhiot, é que, para manter o ritmo
Côte-Thibault (1991, p. 167) assim se refere: “La recherche-action était à ce moment un essai, pour Lewin, d’incorporer systématiquement la
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Apud Côte-Thibault (1991, p. 169).
Em resumo, as origens da pesquisa-ação com Lewin apontam para uma investigaçã investigaçãoo cuja meta é a transfor transfor mação de determinada realidade, implicando diretamen te a participação dos sujeitos envolvidos no processo, atribuindo ao pesquisador os papéis de pesquisador e de participante e ainda sinalizando para a necessária emer gência dialógica da consciência dos sujeitos, na direção da m udança de percepção percepção e de comportamento. comportamento. Portanto, de acordo com a proposta inicial, falar de pesquisa-ação envolveria pressupor uma pesquisa de transformação, participativa, caminhando para processos formativos. __M as, segundo Kemmis (1984), a pesquisa-ação pesquisa-ação foi sendo objeto de interpretações e mudanças que modificaram a concepção original de Lewin: dois artigos de Lippit e Radke, datados de 1946, e outro artigo de Chein, Cook e Harding, de 1948, apresen tam-na em termos positivistas e assim obstruem seu potencial de desenvolvimento na direção que Lewin preconizava. Esses autores distinguem quatro varie dades de pesquisa-ação: a diagnóstica, a participante, a empírica e a experimental. Convém notar que tais dimensões já existiam na ideia inicial de forma integrada e essa subdivisão aos poucos acarretou o esfacelamento dos processos integrativos presentes na proposta lewiniana, produzindo, de um lado, as múltiplas abordagens dessa forma de pesquisa e, de outro, a descaracterização de suas raízes epistemológicas. C omeçava talvez, talvez, a partir daqui, a dificulda de em responder à questão que intitula esta seção. A pesquisa-ação iria, nas décadas seguintes, forta lecer-se no espaço educacional; no entanto, seguia
A PEDAGOGIA DA PESQUISA-AÇÃO
Corey, de 1949, e outro de Taba e Noel, de 1957, ambos buscando formas de melhorar a prática docen te e os resultados educativos. Metodologicamente fa lando, esses trabalhos pautavam-se mais em uma ação pesquisada, na qual partiam da identificação de pro blemas na escola, buscavam os fatores causais deles, formulavam uma hipótese de intervenção, aplica vam-na com os docentes e avaliavam coletivamente as ações empreendidas. Percebe-se que, nesse caso, o pesquisador tinha um papel de investigador, mas os docentes não eram, na realidade, alçados à mesma condição, conquanto mudassem suas ações e refletis sem sobre os resultados. O ciclo em espiral, espiral, bastante importante para Lewin, que permitia readequações e alterações de rumo no processo, processo, deixou de existir. existir. Embo ra perma necesse a ideia de transformação da realidade, ela se manifestava de forma circunstancial, em algum aspecto do real julgado relevante. O foco deslocava-se para o produto da mudança, e já não mirava o proces so. Não há como negar que por certo os docentes envolvidos poderiam beneficiar-se ao analisarem os resultados de forma coletiva ou mesmo participarem das mudanças planejadas. No entanto, perdia-se a perspectiva de um processo de pesquisa que desenca deasse nos práticos novas formas de perceber e lidar com a situação, as quais passariam passariam a ser objeto de pes quisa; perdia-se a imbricação entre pesquisa e ação. Stanford , ao comentar o declínio das pesquisas-ação em educação no fim dos anos 50, especula que isso pode ter ocorrido pela dissociação gradativa entre pes quisa e ação. Essa dissociação parece típica do aporte
Há várias maneiras de considerar a “espiral cíclica”, vista como retomada em processo processo das ações, análises, reflexões, numa dinâmica sempre evolutiva. Kurt Lewin (1946) considerava a pesquisa-ação um processo de espiral que envolve três fases: 1) planejamento, que implica reconhecimento da situação, 2) tomada de decisão e 3) encontro de fatos {fact-finding) sobre os resultados da ação. Esse fact-finding deve ser incorporado como fato novo na fase seguinte de retomada do planejamento e assim sucessivamente.
Apud Cô te-Thibault te-Thibault 7l99l7p. 172). Ã referência a Stanford (1970) feita pela autora em nota de rodapé é KEMMIS, S.; Mc TAGGART, R. (Eds.).
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Stenhouse, pesquisador inglês, criou, com alguns colegas, o Centre for Applied Research in Education na Universidade de East Anglia, na cidade britânica de Norwich. O objetivo do centro era compreender os problemas da prática docente sem perder de vista a ideia do professor como pesquisador. Em 1975 escreveu An introduction to curriculum research and development, development,
Nesse sentido, Barbier (2002) diz com bastante ênfase que a natureza da pesquisa-ação se mostra essencialmente diferente da maneira usual de pesqui sa em ciências sociais e cita Blum, utilizando-se da fala de Dubost (1987, p. 136): “a pesquisa-ação é a revolta contra a separação dos fat os e dos valores (...) é um protesto protesto contra a separação separação de pensamento e da ação, que é um a herança do ‘laissez-faire’ laissez-faire’ do século século 1ST. Portanto, ao falar de pesquisa-ação, fala-se de uma pesquisa que não se sustenta na epistemolog ia positivis positivis ta e pressupõe a integração dialética entre o sujeito e sua existência, entre fatos e valores, entre pensamento e ação, entre pesquisador e pesquisado. Mas a pesquisa-ação vai, historicamente, retornar ao palco das pesquisas em educação, agora incorporando a dialética da realidade social e os fundamentos de uma racionalidade crítica pautada em Habermas. Conforme já citado, Kemmis (1984) atribui o res surgimento da pesquisa-ação aos trabalhos conduzi dos por Elliot e Adelman, do Centro de Pesquisas Aplicadas à Educação da Universidade de East Anglia, Grã-Bretanha, no projeto denominado Ford Teaching Project (1973-1976). Essas pesquisas baseavam-se em Lewin e Stenhouse e caracterizav caracterizavam-se am-se por uma proposta de resolução de problemas segundo uma abordagem pedagógica realizada metodologicamente por indução e descoberta. Para responder à pergunta: de que pesquisa se fala , ao referir-se à pesquisa-ação?, será importante conside rar que, segundo Carr e Kemmis (1986), essa mudança empreendida na década de 70 é m uito dife rente rente daquela empreendida no fim dos anos 4 0, pelas
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• o grande desenvolvimento das abordagens qualitativo-interpretativas nas pesquisas em educação; • o aprofundamento de estudo sobre sobre formas e mode los colaborativos no desenvolvimento de progra mas escolares e de avaliação do ensino; • o compromisso ideológico e político nas formas de abordagem dos problemas sociais e políticos da educação. Com base em tais considerações, considerações, pode-se perceber que a proposta de pesquisa-ação iniciada por Lewin, continuada por Stenhouse e concretizada concretizada por Elliot e Adelman teve seu estatuto epistemológico referenda do pela questão da transformação social. Ela agora aparece abalizada por compromissos éticos e políti cos, tendo em vista a emancipação dos sujeitos e das condições que obstruem este processo, além de estar configurada por abordagens interpretativas de análise e estruturada sob a forma de participação crítica. O processo de pesquisa, por sua vez, deverá permitir reconstruções e reestruturação de significados e cami nhos em todo sect desenrolar, enquadrando-se num procedimento essencialmente pedagógico e, por assim ser, político. Considerando que “ o objetivo da Pedagogia como ciência da educação será o esclarecimento reflexivo e transformador da práxis” práxis ” (Franco, 2003, p. 83), o campo de conhecimentos pedagógicos deverá, para tanto, ser construído na intersecção entre “os saberes interrogantes das prát icas, os saberes dialogan tes das intencionalidades da práxis e os saberes que respondem
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A PEDAGOGIA DA PESQUISA-AÇÃO
uma metodologia, de caráter formativo-emancipatório, que atenda a determinados princípios fundadores, se gundo os quais a investigação sobre a práxis educativa, educativa, para realizar-se, deverá contemplar: • a ação conjunta entre pesquisador e pesquisados; pesquisados; • a realização da pesquisa em ambientes em que se dão as próprias práticas; • a organização de condições de autoformação e eman cipação para os sujeitos da ação; • a criação de compromissos com a formação e o desenvolvimento de procedimentos crítico-reflexi vos para com a realidade; • o desenvolvimento de uma dinâmica coletiva que permita o estabelecimento de referências contínuas e evolutivas com o coletivo, no sentido de apreen são dos significados construídos e em construção; • reflexões reflexões que atuem na perspectiva de superação das condições de opressão, alienação e rotina massacrante; • ressignificaç ressignificações ões coletivas coletivas das compreensões do grupo, articuladas com as condições sócio-históricas sócio-históricas;; • o desenvolvimento cultural dos sujeitos da ação. Com efeito, a pesquisa-ação, estruturada de acor do com seus princípios geradores, é eminentemente pedagógica à medida que o exercício pedagógico se configure como uma ação que confira caráter cientí cientí fico à prática educativa com base em princípios éticos que visualizem a contínua formação e emancipação
práxis exercida pelos técnicos no âmago de seu local de investimen investimento. to. O objeto da pesquisa é a elaboração elaboração da dia lética da ação num processo pessoal e único de reconstrução racionalpelo racionalpelo ator social. Com base nas reflexões até aqui desenvolvidas, podem-se distinguir algumas aproximações de res postas à pergunta que tem norteado a presente seção seção deste capítulo. As pistas encontradas manifestam-se em três dimensões: ____________________ __________ • dimensão ontológica: referent referentee à natureza do obje to a ser conhecido;
Essas três dimensões são inspiradas inspiradas em Gu ba (1990), ao analisar as
• dimensão epistemológica: referente à relação sujei to-conhecimento; • dimensão metodológica: referente a processos de conhecimento utilizados pelo pesquisador. pesquisador.
diferentes especificidades contidas no rótulo genérico de “paradigma qualitativo”. O contato com esse seu estudo deu-se por meio de Alves-Mazzotti e
A dimensão ontológica ontológica da pesquisa-ação tem que ver com a seguinte questão: o que se pretende conhe cer quando se utiliza a pesquisa-ação segundo os pressupostos atuais? De modo bem abrangente, poder-se-ia dizer que se pretende conhecer a realida de social, foco da pesquisa, de sorte que se possa transformá-la. No entanto, essa abrangência revela-se prejudicial e perigosa, pois, aceitando-a, poder-se-ia conceber o uso da pesquisa-ação meramente para fins de manipulação. Em bora o conhecimento da realida de social seja um imperativo, talvez se possa afirmar que o conhecimento pretendido será, antes, o da pedagogia de mudança da práxis. Este é aqui com
Gewandsznajder Gewandsznajder (2001).
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perspectiva crítica sobre sobre as ideologias presentes presentes na p rá tica, tendo po r objetivos a em ancipação e a form ação dos sujeitos sujeitos da prátic a ’ (Franco, 2003, p. 88).
Esse conhecimento norteador deve possibilitar, em decorrência, a produção de conhecimentos que: • permitam melhor compreensão compreensão dos condicionantes condicionantes da práxis; • facultem aos sujeitos o estabeleciment estabelecimentoo de mudanças em suas práticas profissionais; • propiciem, após adquirirem um caráter científico, a melhoria das práticas para fins coletivamente desejados; • favoreçam a reestruturação de processos formativos. A dimensão epistemológica da pesquisa-ação impli ca perguntar: como se estabelecem as relações entre sujeito e conhecimento? Diante do que já foi expos to, pode-se consentir que a pesquisa-ação se mostra totalmente incompatível com procedimentos decor rentes de uma abordagem positivista, uma vez que seu exercício requer um mergulho na intersubjetividade da dialética do coletivo. Caminha ndo na direção direção de um a perspectiva perspectiva dialé dialé tica, os pressupostos epistemológicos considerados fun damentais são os seguintes:• seguintes:• • priorização da dialética dialética da realidade social, social, da his toricidade dos fenômenos, da práxis, das contradi ções, das relações com a totalidade, da ação dos
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se vinculam teoria e prática, pensar e agir, pesqui sar e formar; • não há como separar sujeito que conhece do obje to a ser conhecido; • o conhecimento não se restringe à mera descrição, mas busca o explicativo; parte do observável e vai além, mediante os movimentos dialéticos do pen samento e da ação; • a interpretação dos dados só se pode realizar em contexto; • o saber produzido é necessariament necessariamentee transformador dos sujeitos e das circunstâncias (práxis). Na dimensão dimensão metodológica, passa-se fundamental mente à exigência de procedimentos articuladores da ontologia com a epistemologia da pesquisa-ação. Independentemente das técnicas a ser utilizadas, há que caminhar para uma m etodologia que instaure no grupo u ma dinâmica de princípios e práticas práticas dialógicas, participativas e transformadoras. É interessante aqui mencionar a advertência de Thiollent (2003, p. 20) de que “um grande desafio metodológico consiste em fiindamentar a inserção da pesquisa-ação dentro de uma perspectiva de investigação científica, concebida de modo aberto e na qu al ciência não seja sinônimo de positivismo, funcionalismo e de outros rótulo rótulos”. s”.
Podem-se relacionar relacionar alguns princípios para funda mentar a epistemologia da metodologia:
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• a praxis social é ponto de partida e de chegada na construção/ressignif construção/ressignificação icação do conhecimento; conhecimento; • o processo de conhecimento desenvolve-se nas múltiplas articulações com a intersubjetividade em dinâmica construção; construção; • a pesquisa-açao deve ser realizada no ambiente natural da realidade a ser pesquisada; • a flexibilidade de procedi mentos é fundamental e a metodologia deve permitir ajustes e caminhar de acordo com as sínteses provisórias que se vão esta belecendo no grupo; • o métod o deve contemplar o exercíci exercício o contínuo de espirais cíclicas: planejamento —> açã o —» refl exão —» p esqu isa —» ressi gnific ação —» rep lanej amen to —> ações cada vez mais ajustadas às necessidades coleti vas —» reflexões etc. etc.
2. De que ação se está falando ao referir-se à pesquisa-ação? Quand o se pretende investigar investigar a dimensão da ação na pesquisa-ação, tem-se também por finalidade refletir sobre seu sentido, suas configurações, bem como sobre seu arraigamento no processo investigativo. Há, assim, a preocupação de identificar as ações necessárias à construção/compreensão do objeto de estudo em questão, bem como aquelas aquelas fundamentais para transformar tais compreensões em produção de conhecimento. Portanto, o grande interesse é permi
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Considerando a pesquisa-ação um processo eminentemente interativo, a análise da qualidade da ação entre os sujeitos que dela participam reve la-se fundamental para definir sua pertinência epistemológica e seu potencial praxiológico. Para essa discussão, convém reportar-se a Habermas, apoiando-se, num primeiro momento, na fala de Boufleur (1997, p. 26): 0 que determina a racionalidade de uma fa la ou de uma
ação? A primeira impressão é a de que a racionalidade está na dependência dependência da confiabilidade confiabilidade do tipo de saber que a fala expressa ou que a ação encarna. De fato há uma estreita relação entre racionalidade e saber, mas Habermas argumenta que a racionalidade diz respeito nem tanto ao saber em si ou à sua aquisição, e sim à forma como os sujeitos capaze s de linguagem e de ação fazem uso desse saber. saber.
Como pode o ser humano fazer uso de seu saber por meio da ação? Considera-se que ele, ao realizar suas ações, estabelece, mediante a mobilização de seus saberes, duas relações fundamentais: • homem x natureza: pautada em uma relação de conhecimento çj domín io e caracterizada por Habermas, quando de seu uso na esfera social, como uma ação estratégica; • homem x outros homens: relação de interação simbo licamente mediada, utilizada na esfera da compreensão do outro e assim considerada uma ação comunicativa. Acompanhando o raciocínio do autor, há duas direções que podem ser tomadas:
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• ao ter as relações humanas na conta de realidades tecidas por meio de saberes intersubjetivamente partilhados, estar-se-á, pelo contrário, optando por um conceito de racionalidade comunicativa. Os dois modos de racionalidade ocorrem no dia a dia da existência. Entretanto, o exercício da pesquisaaçáo como investigação formativo-emancipatória, requer essencialmen essencialmente te o modelo do agir comunicativo. comunicativo. Quais os pressupostos desse modelo? Segundo Rojo (1997, p. 32-33), a ação comunica tiva constitui uma ação eminentemente interativa, nascida do coletivo, da equipe. Ela não pretende garantir a eficiência a qualquer custo, não é indivi dualista, não persegue o êxito; ao contrário, mostra-se uma ação dialógica, vitalista, que emerge do mundo vivido. E ssa ação nasce da situação e oferece-lhe oferece-lhe saí saí das. E comunitária, busca o entendimento, persegue a negociação, o acordo; bu sca o consenso. É axiológica, axiológica, porque acredita na validade das normas discutidas. “Man sa n a escuta eforte na tomada de decisões decisões.” Os acordos decorrentes da negociação, com base na racionalidade comunicativa, são intersubjetivos, negociados dialógica e criticamente, ao contrário daqueles derivados da racionalidade estratégica — frios, impostos, induzidos mediante gratificações, ameaças e sugestões, cuja meta é o êxito do propo nente da ação. No agir comunicativo, os participantes podem chegar a um saber compartilhado que vai tecendo a de confiança e
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de valores e convicções, o que mina a interação e não permite a criação de um clima de cumplicidade e ver dadeira participação. Portanto, a ação necessária para o exercício do tipo de pesquisa que ora se discute aqui será aquela decor rente do agir comunicativo. Mas como empreender uma ação fundamentada nesse agir? Imagine-se por um instante um pesquisador, ou uma equipe de pesquisadores, adentrando numa es cola para a realização de uma pesquisa-ação. Como se situar numa cultura com códigos, significados, repre sentações, resistências, expectativas certamente varia das e dissonantes? Como tornar familiar um ambiente tão novo, do qual, a princípio, o pesquisador não é um componente? C omo adentrar adentrar e lidar lidar com as con tradições iniciais, como percebê-las? Como fazer dos grupos ali presentes um grupo de trabalho? Como começar um trabalho de equalizar resistências e preconceitos? Como chegar ao clima de confiança e cumplicidade? Parece pertinente a preocupação de Mizukami et al (2002, p. 122), ao analisarem as dificuldades ine rentes à pesquisa na/com a prática: “comoprofessores e administradores lidam com relações assimétricas de poder que podem distorcer os dados ou colocar em risco os participantes?’ E as autoras fazem um alerta sobre as
questões éticas que emergem de relações desiguais de poder. Portanto, a grande questão que se apresenta é a da necessária interpenetração de papéis: como passar de
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Decorre daí outra desigualdade, quase que identitária: o pesquisador estará, por certo, prioritariamente envolvido na pesquisa e nos resultados desta; o pro fessor, por certo, estará prioritariamente envolvido na ação, aguardando melhorias em sua prática. Como conciliar, mediar, articular essas diferenças ancoradas no âmago do fazer profissional de cada um? Percebe-se que a pesquisa-ação dificilmente pode ser empreendida por pesquisadores iniciantes, pois há a possibilidade da ingenuidade metodológica: pu seja, de que essas dissonâncias passem' despercebidas, sejam tratadas superficialmente, caindo-se no risco do agir estratégico, o que dificultaria à pesquisa o caminhar na direção de sua intencionalidade. Diante disso, a postura colaborativa, vagarosa, vagarosa, silen ciosa, “m ansa na escuta escuta e forte na tom ada de decisões', decisões', afigura-se um caminho importante, bastante trilhado por Elliot em seus trabalhos trabalhos com professores, professores, tendo em vista a mudança curricular: “a colaboração e a negocia
ção entre especialistas e práticos (professores) caracterizam a forma inicial do que se tomou, mais tarde, conhecido como como pesquisa-ação” (Elliot, 1998, p. 138). Garrido et al (1998) também obtiveram resultados resultados importantes na pesquisa-ação empreendida numa escola pública paulista. Foram chamados pela insti tuição escolar como cooperadores de um processo que clamava por mudanças, puseram-se como cola boradores do grupo, sem abrirem mão do papel de pesquisadores, adentraram, silenciosa e vagarosamente, na cultura escola escolar, r, ao mesmo tempo em que d isponi bilizaram para o gr upo—escola a cultura d a universi
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Desde Lewin até Elliot, afirma-se afirma-se que importante característica da pesquisa-ação é seu processo inte grador de pesquisa, reflexão e ação, retomado con tinuamente sob forma de espirais cíclicas, de sorte que haja tempo e espaço para que a integração pes quisador-grupo se aprofunde e a prática desse pro cesso vá, aos poucos, tornando-se mais familiar, haja tempo para que o conhecimento interpessoal se amplie e, ainda, haja tempo e espaço para a apreen são cognitivo-emocional das novas situações vividas por todo o grupo, de práticos e de pesquisadores. Levando em conta a essencialidade das espirais cíclicas, que funcionam quer como instrumento de reflexão/avaliação das etapas do processo, quer como instrumento de autoformação e formação coletiva e, mais ainda, como uma “incubadora” que amadurece e potencializa as apreensões individuais e coletivas, especialmente no aspecto afetivo-emocional, há que convir que uma pesquisa-ação não se realiza em curto espaço temporal. É preciso tempo para estabelecer a intimidade; para construir um universo cognitivo mais próximo; para barreiras e resistências serem transformadas; para a apreensão de novos fatos e valores que emergem de constantes situações de exer cício do novo; para reconsiderações dos papéis pro fissionais; para a elaboração das rupturas emergentes; para o imprevisto; para o recomeço... recomeço... Disso decorre outra necessária consideração: a pesquisa-ação pesquisa-ação precisa precisa contar com longo tem po para sua realização plena. Não é possível desenvolvê-la como um processo aligeirado, superficial, com du
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estar aberto para reconstruções em processo, para retomadas de princípio, para reposicionamento de prioridades, sempre no coletivo, por meio de acor dos consensuais, amplamente negociados. A pressa é um pressuposto que não funciona n a pesquisa-ação pesquisa-ação e, se estiver presente, conduz, quase sempre, a atro pelamentos no trato com o coletivo, pois com ela se passa a priorizar o produto e fica mais fácil a utiliza ção de procedimentos estratégicos que vão descarac terizar a pesquisa. De tudo o que foi comentado até aqíii com o intui referirto de responder à questão: de que ação sefa la ao referirse à pesquisa-ação pesquisa-ação?, ?, destacam-se as seguintes noções sobre as ações relativas a esse tipo de pesquisa: • devem estar vinculadas vinculadas a procedimentos decorren tes de um agir comunicativo; • devem emergir do coletivo e caminhar para ele; ele; • devem ser eminentemente interativas, dialógicas, vitalistas; • devem conduzir ao entendimento, à negociação, a acordos; • devem reproduzir-se para saber compartilhado;
a geração de um
• devem procurar aprofundar a interfecundação de papéis: de participante a pesquisador e de pesqui sador a participante, cumprindo assim sua fun ção formativa; • devem procurar conviver e superar as relações assi assi
• devem integrar processos de reflexao/pesquisa e formação; • devem autoproduzir-se na sensibilidade a diferen tes tempos e espaços, emergentes das necessidades vitais do processo. Para analisar a configuração dessas ações nos papéis sociais dos participantes da pesquisa-ação, cabe realçar o trabalho de Lavoie, Marquis e Laurin (1996, p. 147-156), que, utilizando-se utilizando-se de diferente diferentess referências conceituais, procuram sintetizar os papéis prioritários do pesquisador e dos atores num proces so dessa natureza. De tal síntese derivou-se aqui outra, que possa propiciar melhor adequação ao foco do presente trabalho. São ações prioritárias (papéis sociais) do pesquisador: • ultrapassar o saber puramente fenomenológico, essencialmente subjetivo, e caminhar rumo à cons trução de um saber da prática, que se situa entre o polo subjetivo e o polo objetivo; • estabelecer estabelecer uma comunicação de igual para igual com os atores, reconhecendo-lhes reconhecendo-lhes a capacidade de dar sen tido aos acontecimentos, de organizar e planificar; planificar; • ser ser um facilitador: facilitador: só intervir quando houver necessidade; • ser capaz de descobrir que suas ações têm signifi cados diferentes para cada ator social. No entan to, deve procurar conhecer esses significados e ajustar-se a eles; • conhecer os vieses vieses de comunicação e de sentido e tra
Lavoie e Laurin são da _____ Universidade de Quebec em Trois-Rivière e Marquis da Universidade de Lavai. Os autores basearam seus estudos, neste aspecto, em Morin (1986 e 1992) — trata-se de André Morin, da Universidade de Montreal.
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• aceitar que as coisas podem mudar, que elas elas podem ser reconstruídas; • ter a capacidade de viver na incerteza e saber reco nhecer a característica única de cada situação;
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• participar ativamente ativamente da elaboração elaboração da problemáti ca da ação, da pesquisa, da busca de soluções, enfim, de todas as etapas; • colaborar nas tomadas de decisão tanto nas ques tões de pesquisa quanto nas questões da ação;
• ser capaz de fazer-se disponível aos atores, a fim de permitir-lhes observar e compreender a lógica das ações;
• ser cautelosos no trato da difusão oficial de resulta dos e prudentes nas generalizações;
• manter o rigor científico do trabalho e zelar por uma interpretação justa dos fatos e das práticas;
• agir profissionalmente profissionalmente e usar seus conhecimentos conhecimentos e experiências para questionamentos ao pesquisador;
• estar sempre a serviço de um objetivo e não de um cliente, a fim de tornar-se militante de uma causa, e não serviçal de um projeto imposto;
• estar dispostos dispostos a participar tanto tanto da pesquisa quan to das ações decorrentes;
• participar de cada etapa da evolução do projeto jun tam ent e com os outr os sujeito s. Como se pode perceber, as ações acima relaciona das pressupõem o que já se reafirmou, ou seja, que as ações do pesquisador devem caminhar de acordo com um paradigma de ação comunicativa, com foco na garantia tanto de espaço de expressão e participa ção aos práticos quanto da intencionalidade de uma pesquisa-ação. A seguir, a síntese de expectativas de ação em rela ção aos participantes, conforme as mesmas autoras: • participar da elaboração dos instrumentos e assim apreender seu significado;
• aceitar viver viver na incerteza e na instabilidade ineren tes a toda situação dinâmica, em que é impossível a previsão de tudo; • viver intimam ente a experiência e tentar objetivar e partilhar seus seus significados significados com todo o grupo. São esperadas, como se vê, atitudes voltadas à dis ponibilidade, à cooperação, ao envolvimento. No entanto, sabe-se que tais disposições nem sempre estão, de pronto, presentes no grupo. É preciso que o pesquisador saiba tecer e construir esse sentimento de parceria parceria e colaboração, instaurando um clima grupai que permita a emergência qualitativa dessas ações em todos os participantes. Tal situação pode ser mais bem vivenciada quando o grupo solicita o trabalho dos pesquisadores, como no caso já citado do traba
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Este Morin é André Morin, da Universidade de Montreal.
a solicitação feita pelo grupo expressa a vontade da maioria: muitas vezes se trata da vontade de um pequeno grupo dentro de um m aior, de diversos diversos inte resses nem sempre convergentes. Reafirma-se, nesse sentido, a preocupação de Lewin (1946) quando aliava ao estudo da pesquisa-ação o aprofundamento das investigações sobre a dinâmica e a gênese dos grupos, sobre os mecanismos de bloqueio às mudanças grupais, ou mesmo o estu do sobre a evolução de percepções coletivas de grupo. Lewin preconizava que somente um bom conheci mento sobre o funcionamento e dinâmica de deter minado grupo permite ao pesquisador adentrar em seu clima, entender sua lógica. Discorrendo sobre tal compreensão de Lewin, escreve Mailhiot (1970, p. 61): “ O objetivo a atingir, inicialm ente, é torna r grupos e subgrupos conscientes e lúcidos da dinâmica inerente à situação social em evoluçã evolução. o. N ão é senão senão a p art ir deste deste momento que subgrupos e grupos aceitarão alterações e complementos complementos às su as percepções percepções de grupo” . Outro alerta importante a pesquisadores iniciantes é sobre a necessidade de conhecer a dinâmica dos grupos — a dialética dialética da formação e dos mecanismos de reprodução do grup o — e por ela interessar-se interessar-se,, a fim de po der bem trabalhar trabalhar com pesquisa-ação. pesquisa-ação. Morin (1986, p. 304) lembra que as ações do pes quisador devem ser permeadas por um discurso acessí vel, “sem “sem aparelhagem cientifica complexa complexa ’, espontâneo, enriquecido pelas experiências vividas por meio do diálogo, e, acima de tudo, aberto às transformações. Além disso, em virtude de ser a pesquisa-ação um
3. Como pesquisa e ação se integram na pesquisa-ação? Faz-se necessária a reflexão sobre a qualidade da relação estabelecida entre a pesquisa e a ação, num processo investigativo de pesquisa-ação, pois podem surgir muitos equívocos decorrentes do não aprofun damento dessa questão. questão. Falar de pesquisa-ação significa referir-se à: • pesquisa na ação; • pesquisa para a ação; ação; • pesquisa com ação; • ação com pesquisa; • ação para a pesquisa; pesquisa; • ação na pesquisa. Há diferenças nessas variações tão sutis? Decorrem alterações, no exercício investigativo, quando se tro cam as preposições ou os posicionamentos dos dois componentes da expressão? As diferenças parecem realmente existir e tornam-se mais evidentes quando se distancia a intencionalidade metodológica de seus procedimentos. Segundo as reflexões desenvolvidas anteriormente e sintetizadas sintetizadas por Lavoie, Marquis e Laurin (1996, p. 41), a pesquisa-ação: • pode ser considerada uma abordagem de pesquisa com característica característica social social que se associa a um a estraté gia de intervenção e evolui num contexto dinâmico;
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são das práticas, a resolução dos problemas, a pro dução de conhecimentos e/ou a melhoria de uma situação dada, na direção proposta pelo coletivo; • deve originar-se de necessidades sociais reais, estar vinculada ao meio natural de vida e contar com a participação de todos os participantes, em todas suas etapas; • metodologicamente deve ter procedimentos flexíve flexíveis, is, ajustar-se progressivamente aos acontecimentos, esta belecer belecer uma comunicação sistemática éntre seus par ticipantes e autoavaliar-se durante todo o processo; • tem característica empírica; estabelece relações dinâ micas com o vivido e enriquece-se com categorias interpretativas de análise; • deve possuir um design inovador design inovador e uma forma de ges tão coletiva, na qual o pesquisador é também partici pante e os participantes tam bém são pesquisadores. Diante do exposto, fica mais evidente que, para a pesquisa-ação realizar-se, deve haver a associação da pesquisa a uma estratégia ou proposta coletiva de intervenção, indicando a posição de pesquisa inicial mente como ação de intervenção, ação essa que ime diatamente passa a ser objeto de pesquisa. Assume-se também que pesquisa e ação podem estar reunidas num mesmo processo, reafirmando a questão àa. pesquisa com ação, ação, que vai aos poucos sendo igualmente ação com pesquisa. pesquisa. No desenvolvimento da pesquisa-ação, há ênfase na flexibilidade, nos ajustes progressi
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pesquisa na/sobre a ação, podem-se ação, podem-se cometer pelo me nos dois equívocos: • transformar a pesquisa-ação em uma pesquisa de avaliação de um procedimento adotado, de uma transformação empreendida ou mesmo de um pro cesso em implementação. Neste caso, a pesquisa, embora relevante, não pode ser considerada pes quisa-ação, pois perdeu sua característica dinâmica de transmudar-se pelas transformações. Portanto, perde-se sua possibilidade de ajuste progressivo, fator fundamental à pesquisa da/na práxis; • outro equívoco, bastante bastante comum em pesquisadores pesquisadores iniciantes, é o pesquisador investigar seu próprio local e função de trabalho. Um diretor de escola, um coordenador pedagógico ou mesmo um professor realizam a pesquisa no âmbito de sua ação profissio nal. Apesar da relevância relevância desse desse procedimento, a pes quisa decorrente dificilmente pode ser caracterizada como pesquisa-ação, em razão principalmente da hierarquia de papéis profissionais, profissionais, dos poderes im plí citos, a qual passa a exigir ações estratégicas e dificil mente ações comunicativas. O que importa deixar estabelecido estabelecido é que a pesqui sa-ação sugere sempre a concom itância entre pesquisa e ação e ação e pesquisa, a ponto de o conceito admitir a possibilidade de ser talvez mais bem expresso por uma dupla flecha em vez de hífen: pesquisa ação, ação, a fim de caracterizar a concomitância, a intercomunicação e a interfecundidade. Convém deixar bem clara a existência de outros tipos de pesquisas, muito relevantes e necessários,
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e discutir essa concomitância. Deve-se apenas realçar que a concomitância, a intercomunicação e a interfecundidade entre a pesquisa e a ação —^ de acordo com os pressupostos teóricos da pesquisa-ação sinte ticamente expressos acim a — revelam-se inerentes inerentes à proposta. Decorrem daí as dificuldades operacionais/existenciais de empreender uma pesquisa-ação, uma vez que trabalhar cientificamente na concomi tância de papéis, na contradição de expectativas, na incerteza dos acontecimentos que darão rumo e novas direções ao processo requer muita convicção, ousadia e persistência.
vezes “agir n a urgência e decidir na incerteza , conforme se refere Perrenoud (2001) em relação ao fazer docente. Dessa forma, cabe enfatizar enfatizar alguns momentos que devem ser priorizados num processo de pesquisa-ação, a fim de garantir a articulação de seus pressu postos ontológicos, epistemológicos e metodológicos, numa dinâmica pedagógica que deve suscitar nos sujeitos envolvimento, participação, comprometi mento e produção de saberes, além de conhecimen tos novos a ser incorporados no campo científico. Esses momentos a ser priorizados na pesquisaação, aqui denominados de processos processos pedagógicos inter mediários, podem ser sintetizados como:
4. Estruturação de um processo pedagógico para a pesquisa-ação
• construção da dinâmica do coletivo;
E comum aos iniciantes em pesquisa solicitar um esquema prático, algo como “fases do método”, para realizarem uma pesquisa-ação. Há autores que res pondem a essa demanda com m uita propriedade, propriedade, por exemplo os já citados Lavoie, Marquis e Laurin (1996). No entanto, quer-se aqui realçar a flexibili dade metodológica da pesquisa-ação como um de seus componentes essenciais, o que implica, como todo trabalho sobre a práxis, um rigor científico vin culado mais à coerência epistemológica em processo do que ao cumprimento de um ritual de ações suces sivas. Por isso ganha realce a questão em torno de u ma pedagogia da pesquisa-ação, que envolve considerar a complexidade, a imprevisibilidade, a oportunidade
• ressignificação das espirais espirais cíclicas; • produção de conh ecimento e socialização socialização dos saberes; saberes; • análise/redireção e avaliação das práticas; • conscientização conscientização das novas dinâmicas compreensivas. compreensivas. 4.1. Construção da dinâmica do coletivo
É preciso que o pesquisador determinado a realizar uma pesquisa-ação perceba que estará lidando com um grupo de alguma forma estruturado e possuidor de uma dinâmica própria do qual ele, pesquisador, de iní cio não faz parte. Nesse grupo o pesquisador preten de, junto ao coletivo, empreender mudanças. Como chegar e imediatamente começar a pesquisar? Há que haver um “aquecimento coletivo” anterior ao trabalho
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um diagnóstico da situação para posterior planifica ção da ação a ser empreendida. No entanto, revela-se impossível o trabalho formal de diagnóstico e/ou planejamento de ação quando pesquisador e grupo ainda não se situam como um “nós” que estamos estamos jun tos para elaborar uma tarefa coletiva. Não cabem aqui considerações sobre os estudos que evidenciam que mudar as atitudes coletivas ou produzir mudanças sociais em um grupo requer uma reestruturação em sua estrutura de poder e de re presentação e nas dinâmicas que organizam suas prá ticas sociais. No entanto, emprestando um conceito empregado por Thurler (2001 , p. 59), deve-se deve-se pensar que o trabalho com pesquisa-ação requer a instalação de um clima de “cooperação profissional”. Segundo essa autora, “a cooperação profissional não corresponde ao funcionamento funcionamento da maior parte dos professor professores.. es.... o individualismo permanece permanece no âmago da identidade profiissionaF. fiissionaF. Por isso, a construção dessa cultura de cooperação deve ser tarefa comum a todos os que pretendem trabalhar no coletivo da escola. A construção da dinâmica do coletivo tem como meta sensibilizar o grupo de práticos para a cultura da cooperação. Não se trata de uma tarefa fácil. Segundo Thurler (2001, p. 75), toda cooperação pro fissional fundamenta-se em algumas atitudes que devem ser perseguidas cotidianamente: “wm certo hábito de ajuda mútua e de apoio mútuo; um capital de confiança e de franq ueza mútua ; participação de cada um na tomada de decisões coletivas; um clima caloroso, de humor, de camaradagem e o hábito de expressar seu reconhecimento ”.
superar o jogo do silêncio e o apego às atitudes defen sivas, o embaraço, a vergonha, a timidez? Mostra-se, portanto, pertinente a proposta de que a pesquisa-ação pesquisa-ação tenha uma fase preliminar preliminar constituí da pelo trabalho de inserção do pesquisador no grupo e de autoconhecimento do grupo em relação às suas expectativas, possibilidades e bloqueios. Essa fase pre liminar é também fundamental para o estabelecimento de um contrato de ação coletiva, em que se podem esclarecer questões referentes à ética da pesquisa, aos compromissos com a ação coletiva, às finalidades do trabalho a ser desenvolvido. Morin (1992) argumen ta que esse contrato deve ser aberto e constante mente questionado. Cabe ainda esclarecer que este processo pedagógi co intermediário, como os demais que se seguem, deve ocorrer durante a atividade de pesquisa-ação. Além disso, é necessário trabalhar com a perspectiva de que os processos intermediários devem ser apro priados pelo grupo de participantes, transcender o momento da pesquisa e funcionar como princípios e operadores operadores de fortnação fortnação continuada. O u seja, a cons trução da dinâmica do coletivo tem uma ênfase grande no início da pesquisa, mas deve continuar em processo de melhoria e aprofundamento até depois de seu término.
4.2. Ressignificaçao das espirais cíclicas Diz Barbier (2002, p. 117) que o verdadeiro espí rito da pesquisa-ação consiste em sua “abordagem em
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Tal reflexão permanente sobre a ação é a essência do caráter pedagógico desse trabalho investigativo. Nesse processo processo — eminentemente coletivo coletivo — de reflexão contín ua sobre a ação, abre-se espaço para a formação de sujeitos pesquisadores. pesquisadores. Já foi dito acima que as espirais cíclicas exercem funções fundamentais na pesquisa-ação, sendo: • instrumento de reflexão/avaliação das etapas do processo; • instrumento de autoformação e forínação coletiva dos sujeitos; • instrumento de amadurecimento e potencialização potencialização das apreensões individuais e coletivas; • instrumento de articulação entre pesquisa/ação/ reflexão e formação. A questão das espirais cíclicas envolve-se diretamen te com os estudos desta última década sobre a formação do professor crítico-reflexivo. Entre eles mencione-se o de Libâneo (2002, p. 69) sobre a reflexividade herme nêutica, compartilhada, solidária, comunitária. Trata-se, conforme o autor, de “ retomar apreocupação com as coisas e com as pessoas, nas prá tic as sociais cotidian as, em um mundo compartilhado, constituindo-se uma comuni dade reflexiva reflexiva de compartilhamento de significados”. Vale ainda refletir com Monteiro (2002, p. 118), quando expõe sua compreensão de que as ações do centes tendem a tornar-se habituais e são os hábitos que dão sustentação às ações, afirmando em seguida: “a (re)visão de nossas ações permite a transformação
A PEDAGOGIA DA PESQUISA-AÇÃO
por um novo olhar sobre ela’. ela’. Revela-se importante a abordagem do novo olhar, uma vez que, quando se está mergulhado na práxis, no exercício coletivo, o olhar é o que muda primeiro e é ele que não aceita mais confrontar-se com o já superado. Esse novo olhar, advindo de um sujeito consciente das transfor mações existenciais e pessoais, questiona a necessida de de novos cenários. As espirais cíclicas têm a inten ção de objetivá-lo, para que dele surjam novas neces sidades que implicam novas práticas. Assim, o método da pesquisa-ação deve contemplar o exercício contínuo de suas diversas etapas por meio das espirais cíclicas: planej ament o —» ação —» reflexão —> pesq uis a —» ress ignif icaçã o —» re plan ejam ent o —» ações cada vez mais ajustadas às necessidades coletivas —» reflexões —» apro fun dam ent o da pe squ isa —» ressig nifi caçã o —» rep lane jam ento —» novas ações etc. etc. As espirais permitem o retorno ao vivido, a reinterpretação do compreendido, revisões do já realiza do, acerto de perspectivas e possibilidades, além de garantir uma avaliação formativa do processo e a objetivação das conquistas do grupo. E um processo eminentemente pedagógico, coletivo e compartilhado.
4.3. Produção de conhecimento e socialização dos saberes Conforme enfatiza Pimenta (1999, p. 21), conheci mento não se reduz à informação, e semelhante noção é fundamental quando se pretende a produção de conhecimento. Uma pesquisa deve produzir conheci mentos com base na coleta de dados que vai realizando. realizando.
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Journal de bord.
na direção da utilização e do sentido do conhecimento. Há que caminhar para “a arte de vincular conhecimento de maneira úti l e pertinente, isto é, de se prod uzir novas form as de progresso progresso e desenvolvimento”. desenvolvimento ”. Para tanto, será necessária a articulação do conhecimento com a inteligência, inteligência, com a consciência, consciência, com a sabedo ria. “ Consciência e sabedoria envolvem reflexão, isto é, capacidade de produz ir novas form as de existência, existência, de humanização” humanização” (Pimenta, 1999, p. 22). Esse conheci mento articulado em ações pertinentes e emancipa te rias, tendo em vista a transform ação das co ndições de existência, existência, passa a ser considerado um saber — um conhecimento engajado, circunstanciado, trans formador, integrado às estruturas cognitivo-emocio nais do sujeito. A produção de conhecimento e a socialização de saberes, saberes, foco deste processo pedagógico intermediário, intermediário, são tarefas complementares e associadas, principalmen te no caso da pesquisa-ação, em que se pretende o tra balho coletivo, compartilhado. A pesquisa requer o registro rigoroso e metódico dos dados, atividade que precisa ser constantemente realizada. Há autores, entre os quais Lavoie, M arquis e Laurin (1996) e mesmo Morin (1986), que chegam a falar da necessidade de um “diário de bordo ” como instrumento necessário para consignar os dados reco lhidos durante todo o processo de pesquisa. Importa que seja um registro diário e cotidiano, de sorte que objetive o vivido e o compreendido. Esses registros de dados e fatos incluem, entre outras coisas:
• descrição de atividades e práticas do grupo;
• referências aos acordos estabelecidos para o funcio
processo de pesquisa, mas das ações empreendidas
• sínteses das reflexões reflexões e decisões grupais; • caracterização das mudanças institucionais e adm i nistrativas em curso; • descrição descrição da participação dos elementos elementos do grupo. Tais dados são discutidos, examinados, apropria dos e ressignificados pelo grupo, principalmente por meio das espirais cíclicas, transformando-se gradati vamente em conhecimentos do processo processo de pesquisa. Essas compreensões, interpretações, análises e revi sões precisam ser processadas sob a forma de registros críticos. Todo grupo deve participar, até porque essas discussões e registros são importantes instrumentos formativos do pesquisador. Nesse processo reflexivo de coletar dados, registrá-los coletivamente, discuti-los e contextualizá-los, já se está caminhando para a construção de saberes e para seu compartilhamento num processo único, dialético, trans formador dos participantes e das condições existenciais.
4.4. Análise/redireçao Análise/redireçao e avaliação avaliação das práticas Este movimento já está, na realidade, contempla do no processo das espirais cíclicas. Será tratado à parte para realçar a importância da avaliação, não do
A PEDACOCIA DA PESQUI
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de incorporarem a reflexão cotidiana como atividade inerente ao exercício de suas práticas. De acordo com Smyth (1989), citado por Amaral, Moreira e Ribeiro (1996, p. 102), a reflexão sobre a prática deve transcender os aspectos de sala de aula e conteúdo e mirar os princípios éticos e políticos da sociedade. Segundo esse autor, para conceder poder emancipatório ao professor, “é necessário questionar a valida de ética de certas prá tica s e crenças, crenças, como meio de restituir ao professo professorr seu pap el de intele ctuar . ctuar . Para a análise e a avaliação das práticas, será ne cessário um trabalho contínuo, de sorte que os par ticipantes se envolvam na auto-observação e na observação de outros, refletindo sobre as transfor mações na realidade produzidas pelas ações práti cas, reconstruindo suas percepções, construindo novas teorias sobre as práticas, trocando e analisan do intersubjetivamente suas compreensões.
4.5. Conscientização sobre as novas novas dinâmicas compreensivas compreensivas Conforme Ghedin (2002, p. 141), “o que fazemos não se explica pelo como fazemos; possui sentido diante dos significados que lhe são atribuídos. Estes significados não são latentes, mas em anam, de fato , dos sentidos que construímos”. construímos”. Falar em processo de pesquisa-ação é falar de uma atividade atividade que deve produzir transforma ções de sentido, ressignificações do que se faz ou se pensa. A transformação de sentido implica a recons trução do próprio sujeito, pois, quando se constrói o conhecer de dado objeto, não é somente este que se
Será importante, portanto, que, durante uma pesquisa-ação, haja tempo e espaço para que cada sujeito se vá apropriando das mudanças operadas em suas significações de mundo, as quais envolvem, essencialmente, mudanças em sua própria configu ração de sujeito. Os professores, ao adentrar em um processo con tínuo de revisões revisões da própria prática, acabam inco rpo rando atitudes a fim de tornarem-se investigadores no contexto da prática (Franco, 2000a). Na condição de investigadores, aprenderão e desenvolverão habili dades tais como: • elaborar novas hipóteses para realizar novas práticas; • conviver criativamente na divergência; • encontrar novas respostas para desafios que se passa a perceber; • reconhecer e utilizar as teorias implícitas da própria prática, renová-las e adequá-las; • reinterpretar as hipóteses iniciais; • buscar articulações entre fins e meios educaciona is; • perceber-se capaz de retirar retirar do coletivo as fontes de aperfeiçoamento pessoal; • aprender a compreender a relação dialética entre sujeito e objeto, entre teoria e prática; • perseguir atitudes contextualizadoras e problematizadoras e estabelecer articulações entre o fato e
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novas visões, de entender os problemas de outras formas, para além de seu repertório atual; • descobrir o significado concreto nas situações con flituosas e complexas, permitindo ver que a prática é um processo investigativo de experimentar em meio às situações a fim de buscar novas e mais ade quadas compreensões. Reafirma-se, pois, que a pesquisa-ação pode e deve funcionar como uma m etodologia de pesquisa, pesquisa, peda gogicamente estruturada, possibilitando a produção de conhecimentos novos para a área da educação e formando sujeitos pesquisadores, críticos e reflexivos.
Co
n s id e r a ç õ e s
f in a is
Considerações finais finais Este livro fo i composto com base em diálogos, reflexõ reflexões, es, pontos e contraponto contrapontoss que ganharam corpo corpo pel a parceria de um filósofo com um a pedagoga. pedagoga. No entanto, o que estava em realce era um olhar pedagógico sobre a epistemologia do conhecimento e um olhar fibsófic o sobre a prá xis investigativa. investigativa. Seu ponto de partida é a certeza de que o conhe cimento científico se constrói por meio de sínteses provisórias, que se organizam no complexo movi mento de articulação dialética entre o sujeito, o objeto e os conceitos, mediados pela metodologia do processo investigativo. Diferentes questões apresentam-se quando se assu me que qualquer objeto de estudo é, filosoficamente falando, prenhe de sentidos e que estes, sendo múlti plos e multiformes, podem ser organizados de diferen tes maneiras por meio do discurso que os interpreta e os expressa numa dimensão pedagogicamente possível. possível. Se o método possui uma dimensão fundamental mente filosófica, de caráter epistemológico, possui tam bém u ma d imensão operativa, operativa, articulada por processos processos pedagógicos de práticas e ações que permitem ao pes quisador organizar a possibilidade de acesso ao objeto da pesquisa, garantindo sua inteligibilida inteligibilidade de em determina do contexto de significados. Ouvem-se constantemente de alunos, mestrandos e doutorandos argumentações que sustentam ser o méto do o caminho a seguir. Essa noção vem repleta de sig
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curvos, que são interrompidos; há ainda os que são becos de difícil saída. No entanto, mais que tudo isso, há um sujeito nesse caminho. Um sujeito histórico que se transforma com as pedras e os encantos do caminho e, assim, renova o caminho inicial com as pedras e encantos que encontrou. O caminho, enfim, só estará completo ao fim da caminhada. Esse processo, esse necessário percurso metodológico é que constitui o objeto de discussão deste livro. O método não pode existir pronto antes do fim da pesquisa. O que existe, existe, de início, é uma intencionalidade metodológica, que ofere ce os primeiros passos e o instrumental inicial inicial.. N ão obs tante, essa intencionalidade é que deverá deverá acompanhar o pesquisador em seu processo de investigação; ela será a caixa de diálogo diálogo que acompanhará todo o processo investigativo, a qual, por sua vez, será a potencializadora da dúvida m etódica e o espaço necessário necessário para a cons trução de um conhecimento científico. Se o método fica pronto antes de a pesquisa iniciar, ele deixa de cumprir seu papel de interlocutor do pro cesso investigativo. O processo do método é método é que vai per mitir ao pesquisador encontrar espaços de reflexão que possibilitem a reatualização do sentido do objeto investigado. Reatualizando os sentidos, o pesquisador vai, aos poucos, tornando visível aquilo que, à pri meira vista, era invisível; vai trazendo à luz dos senti dos o apenas pressentido, familiarizando-se com o inesperado e estranhando o que parecia tão familiar. O diálogo com o método propicia-lhe a atenção necessária para realizar as interpretações em contexto, perceber as mediações entre o particular e a totalidade e distinguir a dinâmica das contradições inerentes ao movimento histórico, permitindo-lhe apreender e res
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quados à busca da complexidade do concreto e ainda, com recurso à teoria, retornar ao empírico com um olhar mais profundo para melhor compreendê-lo. O conhecimento, como saber sistematizado, há que ser um conhecer que reflete sobre si mesmo. Os “círculos reflexivos” que têm lugar no processo do método e nos quais se processam os saberes são gera dores de um pensamento complexo. O conhecimen to assim elaborado de forma não linear, mas circular, é determinante para novo modo de fazer científico. Já se disse, desde a Introdução, que o método, em sua perspectiva filosófico-epistemológica, propõe os fundamentos para o exercício de uma investigação. No entanto, esse exercício é realizado reflexivamente por um sujeito e suas circunstâncias na práxis investigativa, pressupondo, portanto, uma pedagogia da ação investi gativa. O movimento do pesquisador em direção à construção do conhecimento constitui um movimento de construção de si mesmo e de suas circunstâncias na perspectiva da práxis. A práxis investigativa permite a elaboração de sentidos, a recriação de possibilidades, o estar em processo processo de construção. Com o observa Imbert (2003, p. 19), referindo-se referindo-se a certos certos posicionamentos de Hegel, o saber que até então “não se mexia do lugar com todos os seus discursos” discursos” abre-se, enfim, à possibilidade de saberes novos. A categoria da possibilidade constitui a prova dos noves de uma práxis. Nessa direção, ressaltou-s ressaltou-see na presente obra que um método só existe à medida da existência de um sujeito interrogante, que reflete, pensa e organiza seu pensa mento sobre seu objeto de estudo. A ação recíproca entre o sujeito e seu objeto e as mútuas transformações decorrentes decorrentes dessa dialética implicam a vivência de um a práxis, contextualizada por determinadas abordagens
onsiderações
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investigativa é admitir, conforme Castoriadis (1999, p. reconhecime cimento nto explícito explícito da 123), que “a p rãxis par te do reconhe abertura de seu objeto, que não existe senão enquanto a reconhecê\ Mostra-se fundamental à construção do
Recorre-se aqui a comentários de Imbert (2003), p. 16, sobre escritos de Castoriadis.
conhecimento científico a consideração das múltiplas possibilidades de sentido de um objeto, as quais indu zem sua apreensão parcial, circunstancial, passível de revisão. revisão. De acordo com Imbert (200 3), as práticas diver diver gem das praxis, uma vez que aquelas provêm da técnica e do cálculo e buscam relações ótimas entre meios e fins. A práxis significa uma tensão, um projeto que abre o campo de um processo indeterminado, úáo dedutível. Por tudo isso, sustentou-se, nestas páginas, que cabe refletir sobre as questões de método aqui apresentadas à luz da concepção de que as ações investigativas em edu cação devem ser realizadas como práxis, ou seja, como’ uma prática social intencionada, planejada e organiza da em torno de um projeto político emancipatório, afirmando, como previa o projeto do Iluminismo, o sujeito e o conhecimento como portadores das possibi lidades de emancipação coletiva. Como todo trabalho de criação e pesquisa, este também finda apontando novos caminhos. Foram rea lizados alguns recortes e construídos alguns possíveis sentidos. No entanto, fica a sensação de que se trouxe à tona apenas um olhar entre tantos, diante da necessária consideração de que há muitas questões de método a ser enfrentadas e rediscutidas na busca de novas possibilida des de construção de conhecimento em educação. Para caminhar no enfrentamento dessas questões e na direção de novas possibilidades operativas, convém que os métodos de investigação educacional sejam ressignificados à luz da compreensão de que a ciência da educação precisa constantemente ser alimentada pela
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Maria Amélia do Rosário Santoro Franco é natural de Campinas - SP, SP, cidade onde se graduou em Pedagogia, Pedagogia, na PUC-CAMP, em 1968. E mestre em Psicologia da Educação pela PUC-S P e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo. Paulo. Atualmente coordena o Mestrado em Educação da Uni versidade Católica de Santos; é pesquisadora 2 do CNPq e pes quisadora do Gepefe - USP (Grupo de estudos e pesquisas sobre sobre formação do educador). Faz parte do GT de Didática da Anped e é membro do Conselho Científico dessa entidade. Coordena a série Saberes Pedagógicos da Cortez Editora. Possui várias publicações sobre a questão da epistemologia da Pedagogia e sobre a epistemologia da pesquisa em educação, com foco nos estudos sobre a pedagogia da pesquisa-ação. Foi diretora de escola pública; diretora da Faculdade de Educação da Universidade Mackenzie; coordenou diversos cursos de Pedagogia e atua como docente de ensino supe rior há mais de trinta anos em instituições particulares de ensino em São Paulo. É parecerista de diversas instituições e publicações científicas da área educacional. Evandro Ghedin é licenciado licenciado e pós-graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília (UCB), especialista em Antropologia na Amazônia e mestre em Educação pela Uni versidade Federal do Amazonas (Ufam). Doutorou-se em Filosofia da Educação, sob orientação do Prof. Dr. Antônio Joaquim Severino, na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). É professor na Universidade Universidade do Estado do Amazonas (UEA), onde coordena o Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. É professor no curso de Licenciatura em Filosofia na Faculdade Salesiana Dom Bosco (FSDB). Tem pesquisado nos últimos dez anos sobre o ensino de Filosofia. Destas pesquisas produziu: A Filosofia no ensino- a formação do pensamento reflexivo-crítico (Dissertação de Mestrado) e O filosofar comopráxis - pres supostos epistemológicos e implicações metodológicas para seu ensino na Escola Média (Tese de Doutorado). Possui experiência em coordenação pedagógica na formação de professores. Lidera o Grupo Integrado de Estudos e Pesquisas em Formação de Professores Professores para o Ensino de Ciências (CNPq); lidera o Grupo de Neurodidática Neurodidática e for mação de professore professoress para o Ensino de Ciências (CNPq/U EA/Fap eam) e é membro do Gmpo de Pesquisa em Formação do Educador (Gepefe-Feusp-CNPq). É autor de Professor Professor Reflexivo no Brasil, gênese e crítica de um conceito (em parceria com Selma
Série: Ensino Supciioi • Docência Docência no I iisino iisino Supiiim Selma Garrida Pimenta Léa das Gradas ('amargos. 1mtstasiou
Série: Problemáticas Transversais e Formação de Professores • Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico ecológico Isa be l Cr isti na de Mo ur a Ca rva lho • Indisciplina
e disciplina escolar:
fundamentos para o trabalho docente docente Celso dos Sa ntos \d»concel/o.s \d»concel/o.s
Série: Saberes Pedagógicos • Educação kscolar: kscolar: políticas, políticas, estrutura e organi/ação José Carl os I .ibâ neo Joã o Fe rreir a d e Oli vei ra M ir zi t S eab ra Toschi
• Estágio e Docência Selma Garrido Pimenta M ar ia Soco rro Lticcn a Lim a
• Questões de método na construção da pesquisa em educação Ev an dro Gh edi n M ar ia A m éli a S an tor o Franco
Série: Educação Profissional • Educação Profissional no Brasil