o Zero à Esquerda
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Para muitos. o sonho son ho atual é entregarentregarse á modernidade, modernida de, ou melhor, à pós In order to print this document from Scribd, you'll first need to download it. modernidade. Participar, integrado, das redes redes mundiais: cultivar cultiva r os icones Cancel Download And Print cósmic cós mic os da religião religião do consumo; peregrinar pelas neomecas neomeca s (Miami. Nova Iorque Iorque etc); etc); frequentar as filia fil iais is do d o paraíso para íso pósmodemo: os shoppmgs; convergir para es valores e os m odos de sentir globais, esquecendo e ocultando os vestig ves tigios ios de alterid alteridao ao'e; 'e; disso di sso lve r sua identidade identidade pelos múltiplos múlt iplos fragmentos de mercados internacional internacionalizados. izados. Para estes, estes, as idéias id éias de nação, nação, estado es tado e cultura cultu ra nacionais, cultu ra popular local, tradições, Hábitos Hábitos e peculiaridades regionais, história hist ória de uma sociedade socie dade e do povo soam a categorias categorias empo em porrad rrad as que perdera perderam m significado. Eo sonho sonh o do desenvolvimento desenvolvim ento desapareceu. Este conceito, como com o processo pro cesso de entendimento da história e como com o projeto organizador organiz ador da da vontade social, socia l, foi apagado Um contradicontr aditório tóri o político, polít ico, um debate intelectual, urna urna categoria síntese do pensamento humano, cancelada. Obscurecer esta categoria, apagando a memória memó ria do progresso do desenvolvimento desenvolvim ento das forças produtivas, da da aspiração ao desenvolvimento económico, social e político, po lítico, deslocando de slocando o desejo e a vontade para o consum con sumo, o, é uma operação operação de grande grande eficácia ideológica. Na contramão contram ão de tudo disto dist o o livro retom a o tema Estados e moed as retoma esquecido esquec ido e se propõe propõ e o estudo das relações entre os estados, as moedas e o processo proc esso de desenvolvimento desenvolvim ento das nações. Os autores autores procuram procuram aviva ra memória dos interessados no desenvolvimento quanto à centra!:dade centra!:dade do valor do dinheiro na organização do sistema mundial, e mostram de forma for ma inequívoca, com o nestas úitimas décadas, o poder militar e político do império se converteu no verdadeiro avalista em última instância
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Para muitos. o sonho son ho atual é entregarentregarse á modernidade, modernida de, ou melhor, à pós In order to print this document from Scribd, you'll first need to download it. modernidade. Participar, integrado, das redes redes mundiais: cultivar cultiva r os icones Cancel Download And Print cósmic cós mic os da religião religião do consumo; peregrinar pelas neomecas neomeca s (Miami. Nova Iorque Iorque etc); etc); frequentar as filia fil iais is do d o paraíso para íso pósmodemo: os shoppmgs; convergir para es valores e os m odos de sentir globais, esquecendo e ocultando os vestig ves tigios ios de alterid alteridao ao'e; 'e; disso di sso lve r sua identidade identidade pelos múltiplos múlt iplos fragmentos de mercados internacional internacionalizados. izados. Para estes, estes, as idéias id éias de nação, nação, estado es tado e cultura cultu ra nacionais, cultu ra popular local, tradições, Hábitos Hábitos e peculiaridades regionais, história hist ória de uma sociedade socie dade e do povo soam a categorias categorias empo em porrad rrad as que perdera perderam m significado. Eo sonho sonh o do desenvolvimento desenvolvim ento desapareceu. Este conceito, como com o processo pro cesso de entendimento da história e como com o projeto organizador organiz ador da da vontade social, socia l, foi apagado Um contradicontr aditório tóri o político, polít ico, um debate intelectual, urna urna categoria síntese do pensamento humano, cancelada. Obscurecer esta categoria, apagando a memória memó ria do progresso do desenvolvimento desenvolvim ento das forças produtivas, da da aspiração ao desenvolvimento económico, social e político, po lítico, deslocando de slocando o desejo e a vontade para o consum con sumo, o, é uma operação operação de grande grande eficácia ideológica. Na contramão contram ão de tudo disto dist o o livro retom a o tema Estados e moed as retoma esquecido esquec ido e se propõe propõ e o estudo das relações entre os estados, as moedas e o processo proc esso de desenvolvimento desenvolvim ento das nações. Os autores autores procuram procuram aviva ra memória dos interessados no desenvolvimento quanto à centra!:dade centra!:dade do valor do dinheiro na organização do sistema mundial, e mostram de forma for ma inequívoca, com o nestas úitimas décadas, o poder militar e político do império se converteu no verdadeiro avalista em última instância
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Estados e moedas
/
e -------c ox
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Coleção '/ero à Coordenadores: Paulo Eduardo Arantes e Iná Camargo Costa
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Joss é Luís Fior Jo Fi orii (organizador)
Estados e moedas no desenvolvimento das nações
3a Edição
tyè ty è EDITORA ▼ VOZES Petrópolis 2000
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© 19.99, Editora Rua Frci Luís, 100 Download And Print 25689-900 Petrópolis, RJ Cancel In te rnec: lu tp vo7.es. vo7.es.co co m .br Brasil
Todos os direiros reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia c gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.
F -d ilo r -n J o : F.ni F.nio o
? Cüadnni
1: x «■Pedro ■Pedro Fmri Arantes rantes Capa e Projeto ç- ifico. Mariano» 1:x
ISBN 85.326'.2234-8
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP. Brasil) Estados Estados e moedas moedas no desenvolvimento desenvolvimento das nações nações José Jos é Luís hori ho ri (organizador). (organizador). Petrópolis. RJ : Vozes, 1999. Varios autores.
ISBN 85.326.2234-8 1. Capitalismo Capitalismo - H isto is tori riai ai.. Desenvolvim Desenvolvimento ento económico económ ico 3 . Economía mundial 4. Relações económicas internacionais 1. hori, José Luís.
99 . 34.7 y
CDD-338.91 índices para catálogo sistemático:
1. Desenvolvimento econômic econ ômico o internacional
Lite
livro foi compo-.ro e impresso pela Editora Vozes Lida.
338.9-1 338 .9-1
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SUMARIO
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apresentação
11
intr od uçã o: De volta à que stão da riqueza de algumas nações J o s é L u ís P ior; io r; GEOPOLÍTICA r. SISTEMAS MONETARIOS
49
Jo sé Luís Fiori Estados, moedas e desenvolvimento
S7
Luiz G on zaga Belluz zo Finança global e ciclos de expansão
í 19 Ca rlos A. M edeiros e Franklin Serrano Padrões monetários internacionais e crescimento OS “CAPITALISMOS TARDIOS” E SUA PROJEÇÃO GLOBAL
1S5 Aloisia Teixeira Estados Unidos: a “curta marcha” para a hegemonia 191 Jo sé Ca rlos dc Souza Braga Alemanha: império, barbárie e capitalismo avançado 223 Ematti Teixeira Torres Filho Ja p ã o : da ind in d us tria tr ializ liz ação aç ão tard ta rdia ia à g loba lo ba liz ação aç ão fin finan ance ceira ira 2.) 7 Luís Manuel Fernandes Rússia: do capitalismo tardío ao socialismo real “MILAGRES” E “MIRAGENS” N O SÉCULO XX
2S7 Wilson Cano América Latina: do desenvolvimentismo ao neoliberalismo .527 J o s é C a r lo s M ir a n d a e M a n a d a C o n c e i ç ã o Tava Ta vares res Brasil: estratégias de conglomeração
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351 351 Lu ciano Co utinho
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Coréia do Sul e Brasil: paralelos, sucessos e desastres Cancel
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379 C arlos A. M edeiros China: entre OS séculos XX c X X I PARA PARA RE 1O MA R O DEBATE BR ASILEIRO
4L5 4L5 Plituo Plituo de A m ula Sa m paio Jr. O impasse da “formação nacional” 449 M aria aria da C on ceição Tavares Tavares Império, terrirório e dinheiro
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Esteni Estenios os e m oed as propõe-se retomar o debate interrompido sobre o desenvol vimento ec on ôm ico global e a distribuição desigual desigual da riqueza entre entre os Estados na cionais, 1con tinua ndo nossa pesquisa sobre as transform transform ações contem porâne as do do capitalismo c do seu sistema de gestão política, iniciada com a publicação, em 199 7, do livro livro Poder e dinheiro. dinheiro. Os dois livros inscrevem-se no mesmo campo da economia política internacional e compartilham a “visão braudeliana, nada con vencion al, da exis tênc ia de uma relaçã o ligando ligando a criação c a reprodução ampliada ampliada do capitalismo histórico, como sistema mundial, aos processos de formação de Estados, de um lado, c de formação de mercados, de outro... (de forma que todas) as expansões e reestruturações da economia capitalista mundial ocorrem sempre sob a liderança de determinadas comu nidades c blocos de agentes governamentais e em p re s a ri a is ..U m a visão visão que que reto retorna rna e atu atual aliz izaa a convicção convicção weberian weberianaa de que que “rodos os processos de desenvolvimento econômico são lutas de dominação”. Ao contrário do Poder e dinheiro, dinheiro, entretanto, neste novo livro os autores nao partem de uma mesma hipótese: partem de uma mesma pergunta. Uma vez identi ficado e analisado o processo de mundializaçao mundializaçao das das finan ças e de "retom ada da he gemonia americana”, perguntam-se pelo futuro do desenvolvimento na periferia capitalista depois da vertiginosa polarização da riqueza mundial, que a partir da década de 8 0 jogou por terra as expectativas otimistas dos ideólogos ideólogos da globaliza globaliza ção c sua aposta numa maior conv ergênc ia e hom ogen eização da riqueza riqueza mundial mundial.. Todos os autores do livro reconhecem a excepcionalidade do desenvolvimento e reto rna m à his tória para reler seus casos casos de sucesso, à luz da expe riên cia da segunda segunda metade do século X X , quando se explicita, com mais nitidez, nitidez, o caráter crucial das das relações entre os estados, as moedas e o desenvolvimento das nações.
1A
organização deste livro não reria s:do possível sem a colaboração Jc Carlos Pinkusfeld M- Bastns editando c organizando os textos e discutindo pacientemente com cada um dos seus autores. Ajudaram nesse trabalho Luiz Daniei Willcox e Marta Malta. - Giovanm Giovanm Arrighi, Arrighi, ü longo século XX. Contraponto. Rio dc Janeiro, Editora Unesp, São Paulo, 1996, p. 9 c 10.
APRESKNTAÇAO
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contém uma introdução c quatro parres. No ensaio introdu tório, J.L. Fiori recap itula o debate e as profecias clássicas, sobre a riqueza das na Download And Print ções e a homogeneização do Cancel capitalismo, bem como o debate moderno sobre as teorias e as políticas de desenvolvimento dos países atrasados, introduzindo, no fi nal. a pergunta c a estrutura do livro. Na prime ira parte, sobre “G eop olítica e sistemas mo netários”, três artigos, de J.L . Fiori, I..G . Belluzzo e o de C. Medeiros c F. Se rrano, discutem conceitos e p ro põem algumas hipóteses sobre o papel cum prido, neste último século e meio da his tória capitalista, pelos sistemas estatais e monetários internacionais e sua dinâmica de transform ação (e impacto) na hierarquização das possibilidades e no ritmo do desenvolvimento desigual das economias nacionais. O segundo blo co desta coletân ea, so bre “O s ‘capitalismos tardios' e sua pro je ção global”, reúne quatro artigos sobre as experiências de desenvolvim ento nacio nal dos estados e “capitalismos tardios” do século XIX. À. Teixeira, J.C. Braga, F.. Teixeira c L M . Fernandes retornam à segunda metade do século passado e ana li sam as condições históricas que viabilizaram a rápida industrialização dos Estados Unidos, Alemanha, Japã o e Rú ssia, e transformaram estes quatro países no núcleo central das ordens e conflitos que atravessam o século XX. A terceira parte do livro, intitulada “‘Milagres e miragens’ no século X X ”, reú ne quatro en saios sobre algumas experiência s nacionais de desenvolvimento eco nômico posteriores à II Guerra Mundial. E neste momento que se cunha a expressão “milagre ec on óm ico”, referida ao crescimento acelerado da Alemanha e do Jap ão , mais tarde aplicada aos casos periférico s do Brasil e da Coréia, e neste fi nal de século à China. Wilson C ano analisa e comp ara a trajetória dos principais pa íses latino-americanos no período desenvolvimemisra e na “era neoliberal”. J.C. Miranda e M .C . Tavares acom panh am esta mesma trajetória, do po nto de vista do processo de conglomeração do capital, que consideram ser o fator diferenciado!’ da exp eriên cia brasil ei ra vis-â-vis os “capitalismos tardio s” e os demais casos de su cesso econômico da segunda metade do século XX. No ensaio seguinte, L. Cund idlo compara os “milagres” coreano c brasileiro até o momento das suas crises e identifica algumas incógnitas no futuro destas econom ias. Por fim, o artigo de C. M edeiros, toman do em conta elementos geo políticos internacionais, discure as ra izes e incógnitas do último caso de desenvo lvimento eco nôm ico acelerado do sécu lo XX, a China. A quarta parte do livro - “Para retom ar o debate brasileiro” - propõe-se sacudir a mesmice intelectual d os tempos n eoliberais e reatar a discussão interrom pida so bre o passado e o futuro do desenvo lvimento brasileiro. Plínio Sampaio Jr. vai até às “raízes” para rep rop or a discussão das idéias de três clássicos do pensam ento crí tico brasileiro: Caio Prado Jún ior, Florestan Fernandes e (.'ciso Furtado. Por fim, Maria da Co nc eição Tavares inicia uma nova leitura de alguns momen tos decisivos da história econô m ica brasileira. O a rtigo, com elas dialogando, con testa algumas interpretaç ões clássicas, m arxistas c estruturalistas, sobre a form ação e a natureza do “capitalismo tar dio” brasileiro. No curso desse ajuste dc contas com a história, a E s le íd os e m o e d a s
8
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APRESENTAÇÃO
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aurora desfaz algumas falsas dicoromias, com o a do crescim ento "para fora " c “para dentro’". A dimensão do territó rio nacional e a nossa cond ição permanente de impé Download And Printeconômicas, são destacadas rio excéntrico, muirás vezesCancel esquecidas pelas análises como elem entos cruciais para a interpretação da história brasileira. O ensaio chega aré os dias atuais c discute algumas perspectivas futuras a partir das especificidades dessa nova fase em que as políticas neoliberais estão consegu indo, finalmente, desin tegrar o espaço econômico e desmantelar o Estado nacional brasileiro. E s t a d o s e m o e d a s faz parte de uma pesquisa acadêm ica mais ampla, iniciada há alguns anos e que deverá prosseguir no cam po da econom ia po lítica internacional. Com o foi dito, não desenvolve uma única tese; reconh ece suas divergências inter nas e não considera que esteja dentro de sua alçada discutir ou defender projetos pol íticos ou eco nôm icos específicos. Mas todos os au tores deste livro compartem a mesma crítica ã aventura ultraliberal das atuais elites econômicas e políticas lati no-americanas, e assumem plenamente seu compromisso com um tipo de pensa mento crítico que se propõe o desafio de compreender a história, para poder transformá-la. J o s é Luís Ltori
R io de Jane iro, junho de 199 9
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INTRODUÇÃO
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Jo s é Litis Fiori
De volta à questão da riqueza de algumas nações "Em última análise, também os processos de desenvolvimento são lutas de dom inação ." (Max Weber, Escritos Políticos l)
Multiplicam -se as evidências, neste final de século, de que depois de 25 anos relegada ao esquecim ento está voltando a ocupar lugar de destaque na agenda político-econômica mundial a velha questão do “desenvolvimen to " dos países atrasados ou, noutra clave, da distribuição desigual da rique za entre as nações. Na imprensa mundial, como no debate político em vários países centrais ou peri féricos, volta-se a questionar a obsessão antiinflacionária dos Bancos Centrais c muitas lideranças mundiais já assumem explícitam ente a defesa de políticas económ icas que priorizem o aumento da produção e do emprego. Por trás dessas novas posiçõ es políticas que entram em choque direto com as idéias hegemônicas deste último quarto de século - o que está se assistindo não é apenas a retomada de um debate teórico, mas o reconhecimento da gravidade da crise que se alastrou a partir do Leste Asiático e da impotência das políticas ortodoxas para enfrentar os efeitos da convulsão financeira que vem projetando sobre o próxim o m ilê nio um horizonte de incertezas com relação aos países centrais c de pessi mismo com relação às perspectivas econômicas da periferia capitalista. Olhando para o mundo, desde 19 99 , a maioria dos analistas prevê uma de saceleração do crescimento europeu e norte-americano, uma recessão pro longada no Leste Asiático e uma regressão econ ômica gigantesca na Rússia. Ao mesmo tempo, antecipam , na outra ponta, um novo período de estagna ção na América Latina, e já ninguém tem dúvidas de que o Brasil completará, no ano 2 00 0, mais uma década perdida, em termos de crescimento e empre go. O pior, entretanto, é que. mesmo depois de superada essa conjuntura crítica, as incertezas se mantêm porque não se divisa no horizonte a possibilidade de um controle mais eficaz do iivre movimento de capitais nem, muito menos, de uma coordenação cambial entre as três grandes potên cias econômicas mundiais. Uma decisão desse tipo podería ser vantajosa para todos, trias representaria, inevitavelmente, uma redução do poder exclusivo das grandes potências de manter sua autonomia política com reiação à dé b
il
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José I.uís Fiori
In order to print this document from Scribd, you'll need to download it. próp riosfirst objetivos nacionais. Por isto. o mais
niçã o dos seus provável é que se mantenha, por mais temp o, esse cen ário internacional que vem sujeitan Download Andtirania Print do a periferia do capitalismoCancel a uma verdadeira financeira. Todas essas projeções seriam menos sombrias se fossem apenas conju n turais. O problem a é que suas tendências coincidem e aprofundam trajetó rias de mais longo prazo, as quais vêm se consolidando dc maneira contínua nestes últimos 25 anos que se sucederam ao fim do Sistema de Bretton Woods. Neste último quarto de século, com a conhe cida exce ção do Leste Asiático (que só entra cm crise na segunda metade dos anos 90 ), da índia e da China, as economias nacionais do resto do mundo acompanharam, em grandes linhas, as trajetórias das economias centrais, mesmo quando te nham partido de patamares diversos e seguido timings diferentes. E essas trajetória s - a despeito dc flutuações cíclicas e especificidades individuais foram de declínio constan te das taxas dc investimento, crescimento e em prego. co m o se pode ver nas tabelas que condensam in formações da OKCD sobre as variações percentuais anuais das principais econom ias do mundo: Tabela I Média anual das variações percentuais no PNB 1960-73
1972-79
1979-90
1990-96
EUA Japão
4.0
2.6
2.4
2.1
9.2
3-9
1.6
Alemanha
4.3
3.5 2.4
2.1
1.7
G7
4.8
2.8
2.55
1.6
l-'ONTE: OKCD, Histórica! Statisrics 1960-1995 (Paris, 1997); “Statisiical Annex", European Lconomy , n. 64 (1997), publicados ern Brenner, "The Economics of Global Turbulence", New Left Review, n. 229.
Tabela II Média anual das variações percentuais da produtividade (de toda a economía) 1960-73
1972-7.9
1979-90
1990-96
Kl A (por hora}
2.6
1.0
1.0
0.7
Japão
8.2
3.0
1.0
Alemanha
4.0
.3.0 2.7
1.5
1.85
Fo NTl S:
12
Idem.
Print document DE VOLTA A QUESTÃO DA RIQUEZA DE ALGUMAS NAÇÕES In order to print this document from Scribd, you'll first need to download it.
Tabela III Média anual das variações percentuais do estoque de capital (privado) Cancel Download And Print EUA {líquido) Japáo (bruto) Alemanha (bruto)
1960-73 4.0
12.2
6.4
1972-79 3.4 7.35 3.6
1.979-90 3.2 7.9 3.0
1990-96 2.1
4.7 (90-95) 2.7 (90-94)
FONTES: Idem.
Tabela IV
Media anual das variações percentuais da taxa de desemprego EUA )apã(i Alemanha C7 Fo
n
: KS:
1960-73 4.8 1.3 0.8
3.1
1972-79 6.7 1.9 3.4 4.9
1979-90 7.0 2.5 6.5 6.8
1990-96 6.3 2.6
7.6 6.9
Idem.
Um quadro ainda mais desfavorável quando olhado pelo seu lado “so cia l". O R elatório Anual 1.997 da Unctad, depois de constatar “que o acirra mento da competição internacional não aumentou o crescimento nem o desenvolvimento dos países”, mostra com o, nestes últimos 2.5 anos, as desi gualdades entre países ricos c “cm desenvolv im ento", bem com o dentro de cada um desses bloco s, vieram se acentuando. Em 1965, a renda média per capita dos 20% dos habitantes mais ricos do planeta era 30 vezes maior que a dos 2 0 % mais pobres (U$ 74 contra US 2. 28 1 ), enquanto em 198 0 essa di ferença já havia pulado para 60 vezes {US 283 contra US 17 .05 6). A renda per capita dos latino-am ericanos, por exem plo, que em 1979 correspondia a 3 6% da renda per capita dos países ricos, baixou para 25 % cm 19 95. At é o fim da década de 70, três países na América Latina mantiveram o cresci mento da sua renda per capita: Brasil, Colôm bia e México . Mas, a partir de 1980. o crescimento destes países despencou c eles perderam as posições que haviam conquistado em term os de participação na renda mundial. No caso do Brasil, por exemplo, as taxas médias de crescimento anual do seu PIB per capita passaram de 6% na década de 1 97 0 para 0,96% na década de 1980 e algo em torno 0 ,6 0 % entre 199 0 e 199S, segundo dados do Institu to de Pesquisa Econôm ica Aplicada do Ministe rio de Planejamento do go verno brasileiro.
Jóse Luis Fiori
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Essa evolução perversa adquiriu novas dimensões a partir de 1985, com a aceleração exponencial do processo de “financeirização" acompa And Print nhado por sucessivas crises,Cancel cada vez Download mais frequentes e com efeitos cada vez mais devastadores sobre as econ om ias da periferia capitalista mundial. De maneira tal, que varios analistas e economistas do próprio mundo an glo-saxão vêm considerando, de forma cada vez mais séria, a hipótese de que o capitalismo global esteja perdendo sua aura de infalibilidade, e de que, por tanto , a simples competição imercapitalista em mercados desregu lados e globalizados não assegure o desenvolvimento, nem muito menos a conv ergênc ia entre as econom ias nacionais do centro e da periferia do siste ma capitalista mundial. Este desencan to co m a “utopia global” deixa um indiscutível vácuo ide oló gico entre as elites econ ôm icas e políticas mundiais e desarruma, de ma neira radical, o campo das idéias na Am érica Latina, onde ela ocup ou, nesta última década, e de forma inco nrrastável, o lugar que fora do “desenvolvimentismo” depois da II Guerra Mundial. Daí a urgência em retom ar o fio da discussão inte rromp ida, voltando ao prob lema originário da eco nom ia po lítica clássica - o da riqueza das nações - e retomando o debate histórico sobre a viabilidade e os caminhos do desenvolvimento econômico nacional. Já é hora de fazer um balanço crític o da discussão, no século X X , en tre as várias teorias do desenvolvi mento atropeladas, nestes últimos vinte anos, pela restauração neociássica e suas políticas ncoüberais. Nesse momento, essa é uma reconstrução útil e talvez indispensável para todos os que se proponham avançar no camp o reó rico, ou inovar no plano prático das estratégias políticas e ec o nômicas de desenvolvimento.1
1. A s p r o f e c i a s n ã o c u m p r i d a s
Não é necessário ser materialista para reco nh ece ra importância decisi va que teve o avanço das forças produtivas promo vido pelo cap italismo in dustrial no surgimento da consciência do desenvolvimento e de todas as utopias ligadas à idéia de progresso material e hom ogen eização social. Não é casual que tenha sido só naquele contexto peculiar ao mundo europeu que tenha nascido uma ciência voltada e xclusivamente para a investigação da natureza e causas da riqueza das nações. Uma “economia política” que ao explicar o mov imento de longo prazo da acum ulação do capital se trans formo u na primeira versão daquilo que mais tarde se chamou - talvez tau tológicam ente - de “econo mia do desenvolvimen to”. F. o que é interessante notar é que também , com o no caso dos teóricos do desenvolvimento do sé-
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DF VOLTA A QUESTÃO DA RIQUEZA DE ALGUMAS NAÇÕES
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culo X X , Srnith, foram todos a um só tempo teóricos e “publicistas” que escreveram suas teorias visando propor caminhos e soluções e influenciar as políticas do seu tempo {l)o bb , 1972, Cancel Download And Print p. 2 2). E foi, sobretudo , quando tentaram sustentar suas teses políticas nas suas análises econ ôm icas que os teóricos da economia política clássica, em nome de um projeto científico, acabaram dando origem às grandes utopias modernas, sendo que a mais antiga delas - a utopia liberal - foi a que perm a neceu viva por mais tempo, culminando com a idéia da globalização. Não é este o lugar nem é nosso interesse recapitular aqui as discussões clássicas so bre os mecanismos e leis da acumulação capitalista. M as não é possível reto mar o tema do desenvolvimento sem com parar, previamente, as profecias clássicas sobre a universalização e homogeneização da riqueza capitalista com o rumo da história real destes dois últimos séculos de expansão e glo balização do capital e do poder territorial. Isto nos permite precisar os pon tos frágeis da teoria clássica responsáveis por sucessivas frustrações históricas: sua visão ambígua sobre o papel do poder político na acumula ção e distribuição da riqueza capitalista; sua visão homogênea do espaço econôm ico capitalista mundial c, finalmente, sua visão otimista ecivilizatória com relação aos povos “sem história". De David I lume a Karl M arx, todos os autores clássicos, entre o fim do século XV III e meados do século X IX , atacaram sistematicamente as políti cas e os sistemas mercantilistas e acreditaram de uma forma ou dc outra na necessidade ou na inevitabilidade do desaparecimento dos Estados territo ri ais. Não é difícil, por outro lado, localizar na obra de Adam Srnith, como na de Karl M arx, a previsão comum de que a expansão dos mercados ou o de senvolvimento das forças produtivas do capitalismo industrial promovería, no longo prazo e por si só, a inevitável universalização da riqueza capitalista. Apesar de que tenha sido só Ricardo - ou pelo menos sua leitura neoclássica que não viu o destino de Portugal e seus bons vinhos - quem levou esta idéia às últimas conseqüências, ao profetizar que o livre-comércio promovería também uma convergência e homogeneização da riqueza das nações. E, além disso, tampouco é difícil localizar na obra desses autores, como no pensa mento de todos os intelectuais e dirigentes europeus do século X IX , a crença inabalável no papel civilizacório e equalizador da expansão e dominação co lonial européia sobre os povos "primitivos" ou “incivilizados". E, no entanto , desde o início do século X IX e, em particular, depois de 1850, o que a humanidade assistiu foi a um impressionante e aceleradíssi mo processo de con centração do poder p olítico e da riqueza capitalista nas mãos de um reduzido número de Estados, a maioria deles europeus. Uma espécie de pequeno “clube de nações" que se consolida entre 18.30 e 1870 c que acumularia, a partir daí e aré o início da Primeira Guerra Mundial, taIS
losé Luís Fiori
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In order to print this document from Scribd, you'll firstpoder need to download it. do e da riqueza mundiais. No
xas cada vez maiores mesmo período, exatamen te quando a econ om ía capitalista se transformava num fenôme no And po Print global e unificado, a EuropaCancel assumiaDownload o cont role lítico colon ial de cerca de V» do ter ritó rio mundial c con sta uíam-se as redes com erciais e a base ma terial do que foi chamad o mais tarde de periferia econ óm ica do sistema ca pitalista mundial. Em pou co mais de meio século, expandiu-se a prod ução e o com ércio e criou-se uma rede cada vez mais exten sa e integrada de trans portes, incorporan do um núm ero cada vez maior de regiões c países à dinâ mica propulsora da economia inglesa. Este é o mesmo período em que se organiza e funcion a de maneira relativamente estável • com a adesão inicial e espontânea da maioria dos países europeus - o “pa drão -ouro ”, primeiro sistema monetário internacional. Nesse mesmo período, ainda quando te nha aum entado a desigualdade na distribuição da riqueza mundial, alguns poucos terr itórios privilegiados conseguiram superar o seu arraso com rela ção à Inglaterra, sendo progressivamente incorporados ao core do sistema capitalista global e à sua com petição interna de tipo imperialista. F oi a hora dos primeiros “milagres econômicos” c da industrialização acelerada dos “capitalismos tard ios” alem ão, n orte-am ericano e japonês, e do enriquec i mento de algumas “colônias de pov oam ento" ou dotninions ingleses, como foi o caso do Cana dá, N ova Zelân dia e Austrália, mas também da Argentina e do Uruguai. Territór io s que não lograram industrializar-se durante a “era dos impérios” mas conseguiram aumentar a sua participação relativa na ri queza mundial, dando às suas populações brancas níveis “europeus” de bem -estar eco nô m ico c social. Neste mesmo meio século, o resto do mundo incorporado à economia européia, como colônias ou semicolônias, não conseguiu escapar à camisa-de-força de um modelo econômico baseado na especialização e expo rtação de alimen tóse matérias-primas, e viveu um pe ríodo de baixo crescim ento e con ôm ico intercalado por cri ses cambiais cr ô nicas. Em síntese, entre 18 3 0 e 19 14 , a riqueza mundial cresceu , mas de forma extrem ame nte desigual, ao mesmo tempo cm que se expandia o po der po lítico do n úcleo europeu do sistema interesratal no qual foram in cor porados os Estados Unidos e o Japã o. E, no essencial, entre 1S7 0 c 1914, cerca de «80% do com érc io europeu seguiu dando-se entre os próprios paí ses mais ricos, enqu anto a maior parte dos investimentos ingleses se dirigiu para os próprios países industrializados ou para os seus dotninions. Faros e tendencias que contradisseram fortem enie as previsões dos eco nomistas políticos clássicos, liberais ou marxistas. E o mais provável é que na origem deste primeiro grande erro de previsão da economia política clássica esteja a ambiguidade com que sempre tratou das relações entre o poder político territorial dos Estados e do seu sistema interestatal, incluin do aí os sistemas monetários nacionais e internacionais e a dinâmica desi-
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DL VOLTA À QUESTÃO DA RIQUEZA DE ALGUMAS NAÇÕES Print document In order to print this document from Scribd, you'll first need to download it. acumulação c distribuição da riqueza. Um
gual de tema clássico dos mercam ilisras e que foi abjurado por liberais e marxistas. A sua expectativa generalizada era de crescimento e difusãoAnddaPrint riqueza capitalista, mesmo Cancel Download nos territórios coloniais. Mas, de fato, esta previsão econôm ica sempre su pôs de forma implícita ou exp lícita - sobretudo nos seus ataques aos mercam ilistas —a existência de uma condição histórica ou teórica: o necessário desaparecimento do poder e da competição entre os Estados territoriais, que deveriam ser substituídos pelos mercados ou - na fórmula utópica kan tiana - por uma grande e única confederação mundial. Esta c uma ambigüidade que já está presente na crítica de Hume ao sis tema mercantilista e na sua explicação pioneira das causas do progresso econôm ico e do equilíbrio m onetário autom ático produzido pelas relações livre-cambistas entre as nações. Como está também presente em Adam Smith, na sua visão de como atuam as vantagens comparativas absolutas dentro e fora dos países, ampliando os mercados e a produtividade, especia lizando funções e orientando a alocação dos recursos materiais e monetári os segundo critérios que desconhecem analíticamente o fenômeno das fronteiras, posto que atenderíam, teoricamente, ao interesse nacional de todos os Estados territoriais envolvidos nas transações comerciais. De tal maneira que o próprio intercâm bio acabaria promovendo também, no lon go prazo, a convergência entre a riqueza dos territórios e das regiões que fossem inicialmente mais atrasadas ou menos ricas. Os Estados e as sobera nías não desaparecem explícitam ente dos seus raciocínios, mas sâo negados ou superados por alguma variante do “universalismo benevolente” de que nos fala David Hume: “(...) Eu devo, então, ousar reconhecer que, não só como um cerna do homem mas também da Inglaterra, eu rezo para o flores cimento do comércio da Alemanha, Espanha, Itália e mesmo da França. Eu estou certo de que tanto a Grã-Bretanh a como todas estas nações prospera rão mais. se os seus soberanos e ministros tiverem adotado sentimentos be nevolentes e grandiosos na relação de uns com os outros” {apud Rotwein, p. 8 0 - 8 2 - tradução livre). O mesmo suposto em que se sustenta o argumen to de Adam Smith sobre o papel das vantagens absolutas do com ércio inter nacional ou ainda o modelo mais sofisticado de David Ricardo sobre o papel das vantagens comparativas c do livrc-com crcio internacional na re dução dos custos salariais c no aumento da lucratividade e produtividade do capital. Também no caso deles, acrítica política que todos fazem ao pro tecionismo estatal acaba reaparecendo de forma sub-reptícia como uma premissa teórica indemonstrável c a-histórica dc suas teses sobre o papel do comércio no desenvolvimento e distribuição convergente da riqueza das nações. Smith define com precisão as três funções básicas do Estado liberal, mas ao mesmo tempo este F.stado não ocupa nenhum papel no seu cálculo 17
Jóse T.iiís Fiori
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In order to print this document from Scribd, you'll first need to download it. vantagens e do bem -estar dos indivíduos.
eco nó m ico das Nesse sentido, a equação smithiana da origem da riqueza tica politicame nte indeterminada: Cancel And Printos deve levar à mesma cm qualquer tem po ou lugar, a expanDownload são dos mercad divisão do trabalho e ao aumento da produtividade e da riqueza. Da mesma forma, a versão clássica de Ricardo, que se transformou na base da teoria ortod oxa do com ercio intern acional, mesmo quando se ba seie na relação entre dois Estados soberanos, os considera apenas como unidades de cálculo, diferenciadas estáticamente com base nas suas dota ções iniciais de tipo tecno lógico. For isso para o Ricardo dos neoclássicos, a convergencia autom ática entre a riqueza das nações ó uma espécie de co n vicção axio má tica fundada na certeza de que “as nações se beneficiam da di mensão do co m érc io, da divisão do trabalho nas manufaturas e da invenção de maquinaria - todos elevam o mon tante de mercado rias, e contribuem substancialmente para a satisfação e felicidade da humanidade (...) " (Rica r do, 1.951, p. 25 -2 6 ). Argumento válido para todos os territórios nacionais independ entem ente de sua situação inicial no con tex to do com ercio inter nacional. Só mais tarde, mas ainda dentro do campo liberal da economia política clássica, toc ou a Torrens e Stua rt M ili questionar a possibilidade de um desenvolvimen to tecn ológ ico h omog êneo na Inglaterra e nas suas co lô nias ou territórios de pendentes. Ambos sustentaram, contra Smith e Rica r do, que a simples expansão dos mercados e liberação das importações inglesas não asseguraria o ritmo indispensável de crescimento das econo mias expo rtadoras de alim entos e matérias-primas - razão pela qual To r rens defendia as virtudes econômicas do colonialismo e Stuart Mili, a necessidade de que o crescimen to "p erifé rico ” fosse acelerado (no caso dos “países novos ”, e explícitam ente Austrália, Canadá e Estad os Unidos) atra vés da expan são do créd ito criado pela exporta ção de capitais ingleses (Ho, 1996, p. 413). A linha centra l e mais conhecida do argumento de M arx coincide essencialmente com a visão de Smith e Ricardo, seja no seu ataque ao mercantilis mo, seja na sua visão otimista do desenvolvimento capitalista à escala global e independente das fronteiras p olíticas nacionais. Ninguém no seu tempo afir mou de forma mais categórica do que Ma rx, no Manifesto C om unista, que, “através da exploração do mercado mundial, a burguesia configurou de ma neira cosmopolita a produção e o consumo de todos os países. Para grande pe sar dos reacionários, ela subtraiu à industria o solo nacional em que tinha os pés (...). No bigardas velhas necesidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, surgem novas necessidades, que requerem para sua satisfação os produtos dos mais distantes países e climas. No lugar da velha auto-suficiência c do velho isolamento locais c nacionais, surge um intercâmbio cm todas as direções, uma interdependência múltipla das nações” (Marx, 199 8, p. 11).
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DE VOLTA A QUESTÃO DA RIQUEZA DE. ALGUMAS NAÇÕES Print document In order to print this document from Scribd, you'll first need to download it. antecipação extraordinária da tendencia
Urna globalizante do capita lismo que reaparece, sob outra ótica, no P refacio de M arx à I a edição d’O Cancel Download Printas perspectivas futuras do Capital , onde formula sua conhecida teseAnd sobre desenvolvimento capitalista nos territórios eco nôm icos mais atrasados, ao dizer que “(...) os países que são industrialmente mais avançados mostram aos menos desenvolvidos a imagem do seu futuro". Uma visão linear que lhe permite dissolver o problema das relações conflitivas ou mesmo contra ditórias entre as tendências unificadoras de homogeneização internacional das novas tecnologias c as tendências centrípetas e diferenciadoras induzidas pelas hierarquias e a competição entre os Estados nacionais. Num outro mo mento, no terceiro volume d'G Capital, M arx aproxima-se uma vez mais de Sim th e Ricardo na sua crítica ao sistema mercantilista e na sua visão positiva do comércio internacional, que seria capaz de contrariar a tendência decli nante da taxa de lucros capitalista. E, p or fim, foi quando discutiu a domina ção inglesa na índia que Marx formulou uma de suas teses mais conhecidas sobre o papel progressista do colonialism o capitalista, num de seus artigos escritos para o New York Herald Tribtme: “A Inglaterra tem que empreen der uma dupla missão na índia: um a, destrutiva, e a outra, regenerativa - a destruição da velha sociedade asiática e o lançam ento das bases materiais da sociedade ocidental na Ásia (...)” (Owen e Sutcliíe, 1.972, p. 46). Vários autores, entre eles H.B. Davis (1 967 ). K. Mori (1.978) eP.Scaron (1980), subscreveram em distintos momentos a tese de que Marx modifi cou substancial mente sua visão sobre as perspectivas do desenvolvimento capitalista colonial a partir da década dc 1860, e com base sobretudo na análise dos casos irlandês e polonês. A partir daí Marx teria revisto sua vi são sobre a “dupla missão5' do colonialismo na índia, ao perceber que a des truição das velhas sociedades poder ia não ser condição suficiente para a construção das bases materiais do processo regenerativo. Nessa direção es creveu em 1879 que “(...) As ferrovias deram, sem dúvida, um imenso impulso ao desenvolvimento do com ércio exrerior, mas o com ércio em países que exportam principalmente produ tos primá rios elevou a miséria das massas... Na verdade todas as mudan ças foram m uito prov eitosas para os grandes prop rietários de terra, os usura rios, os comerciantes, as ferrovias, os banqueiros e assim por diante, mas muito decepcionantes para os produtores reais!" {Marx. 1S“9, p. 298-9).
Numa direção análoga, ao tratar do com ércio de algodão, Marx escre veu que "nasce urr.a nova e internacional divisão do trabalho, uma divisão adequada aos requ isitos dos centro s líderes da m oderna indústria, convertend o uma par te do globo numa área basicamen te de produção a grícola para abastecer a ou
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José l.uís Fiori
In order to print this document from Scribd, you'll first need to download it. que permanece principalmente como área industrial” {Marx,
tra parre, vol. 1, p. 424-5).
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197 4,
Mas, a não ser nestas referen cias raras e localizadas, tem razão Paul Baran, quando afirma que a linha central do argumento de M arx apoma para o reconhecimento de que “a direção geral do movimento histórico parece ter sido a mesma tanto para os estratos inferiores assim corno para os con tingentes mais avançados" (Baran, 19 57 , p. 4 0 ). Uma visão que reaparecerá radicalizada e muitas vezes distorcida entre os autores da II Internacional, que no final do século X IX condenavam os mé todo s do colonialismo, mas não o colonia lismo em si mesmo. Co mo foi o caso de Eduard B ernstein .quc frente ao problem a co lonial afirmava categoricame nte que “vamos julgar e combater certos métodos mediante os quais se subjugam os selvagens mas não qu estionamo s nem nos opom os a que estes sejam submetidos e que se faça valer para eles o direito à civilização” (Bernstein, 1978, p. 73). Com o já vimos, no meio século seguinte àpu blicação, em 18 48 , doM anifeslo com unista de M arx e dos Princípios de eco no m ia política de Stuart M ili, o capitalismo viveu uma profunda transformação econ ômica, tecn o lógica, organ izacional e financeira, e o seu núcleo político europeu iniciou uma corrida colonialista que em poucas décadas submeteu quase todo o mundo african o e asiático e transform ou a maior parte da América Latina em periferia econ ôm ica d ependente da Inglaterra. Neste, mesmo períod o, a economia política clássica cedeu lugar ao enfoque neoclássico das teorias do equilíbrio geral de Walras, Jevons, Menger, centradas no estudo do comportamento microeconômico dos indivíduos e das firmas. Foi neste novo co n tex to que o estud o do desenvolvimento passou a um segundo pla no. assumido com o um proces so gradual e con tínuo , natural e harmonioso, independente do momento e do lugar em que ocorra. Só mais tarde é que estes temas retorn aram ao debate político pela mão heterod oxa das teorias do imperialismo, que tentaram explicar, nas primei ras décadas do século X X , as causas das transform ações econ ômicas e polí ticas ocorridas na segunda metad e do século ant erior. En tre seus principais autores, Hilferding e Bukharin foram os que incorporaram, de maneira mais original, ao co rpo teó rico do seu argumento, a importância adquirida dentro da expa nsão capitalista pelas novas relações entre os Estados, a sa ber, o protecionismo e a dinâmica expansiva do capita! financeiro. Assim mesmo, m antiveram-se fiéisà linha central e mais ortodo xa da teoria do im perialismo, que. com a exceção de Rosa de Luxemburgo, compartilhou o lado otimista da visão de M ar x sobre a função progressista, pion eira e civilizatória do imperialismo nas regiões atrasadas ou colonizadas do mundo. Na verdade a preocup ação central da teoria foi sempre com a identificação das raízes econôm icas da crise responsável pela intensificação - a partir dc 20
VOI.TA AQUESTÃO DA R 1QU F 7A DE ALGUMAS NAÇÕES Print DE document In order to print this document from Scribd, you'll first need to download it. com petição que empurrou os capitais e os
18 70 - da Estados europeus à corrida imperialista dentro do núcleo político interestatal do sistema e à Download And Print guerra de 1914. Depois dcCancel 1920,eem parn culard epo isque oV ICo ngres so da Te rce ira Internacional Com unista, em 1 92 8, redefiniu uma visão crítica e pessimista com relação ao papel pioneiro do imperialismo nas regiões atrasadas do mundo, a teoria do imperialismo passou a ser peça decisiva da luta político-ideológica mundial, perdendo no entanto vitalidade teórica, só recuperada parcialmente com o debate que recomeça com Paul Baran, nos anos 40/50, e chega ao seu fina) - de maneira igualmente inconclusiva com a retomada pelo marxista inglês Bill Warren (1 980 ) da defesa da fun ção pion eira do imperialismo no que con cerne às economias atrasadas do mundo. Mas estes |á eram outros tempos, a ordem p olítica c econôm ica in ternacional e o próprio conceito de imperialismo já tinham então uma co notação completamente diferente. As vésperas da Primeira Guerra Mundial, entretanto , o balanço dos fa tos po líticos e dos números econ ôm icos parecia dar razão a um outro eco nomista político da primeira metade do século XIX, um herege no seu tempo - o alemão Georg Friedrich List. Foi ele que, em 1841, na contramão de Smith e M arx e do clima ideológico de sua época, troux e de volta o deba te mercantilista sobre a relação entre o poder político e a riqueza dos lista dos, e sobre a importância desta relação interna a cada um dos Estados nacionais, na competição dentro do sistema intcrcstatal responsável pela gestão política do capitalismo. No seu Sistema n acional de econom ia política, Friedrich List inverte completamente a discussão smithiana sobre as causas da riqueza, e desloca o olhar do problema da divisão do trabalho e da expan são dos mercados para o problema de com o se constroem ou destroem as forças produtivas dc cada nação. Xa contramão do seu tempo, List defendeu o livre-câmbio como uma política vantajosa apenas para as po tências econômicas mais avançadas. Nesse sentido, defendeu, também, o protecionismo como caminho indispensável da industrialização e da acu mulação dc riqueza, e poder, por parte dos países europeus que pretendes sem co ncorrer com a Inglaterra. Não é n ecessário relembrar que para List, ao contrário dos demais econom istas clássicos, a política, a nação e a guerra são elementos essenciais de rodo e qualquer cálculo econ ôm ico, na medida em que, para ele, a produção e distribuição da riqueza mundiais é um jogo de soma negativo, onde há e haverá sempre lugar para muito poucos Esta dos nacionais poderosos. Um jogo em que só ganhariam os povos com “vo cação de potência” e os Estados capazes de alavancar suas economias em função de seu.> objetivos e interesses estratégicos dc longo prazo. Ao lado desta sua visão sobre os caminhos da Europa, List professava um profundo pessimismo ou fatalismo com relação ao “destino” dos povos tropicais e 21
Jóse I.uís Fiori
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das nações pobres, que, segundo ele. deveriam seguir prisioneiras de suas especializações e obrigadas ao livre-cambismo inglés, sem poder ambicio And Print industrializados euro nar unía conv ergenc ia tecnCancel ológica Download com os listados peus. O lhand o retrospectivam ente, e ainda quando se possa discordar dos seus juízos éticos sobre o destino das naçõe s, não há com o não reconhece r que a historia econômica e política real do século XIX andou na direção con trária à das pro fecias universalistas e deu a mais com pleta razão a Gcorg Friedrich List. Logo depois da Primeira Guerra Mundial, o projeto de autodetermina ção e desenvolvimento nacional sustentado pela liderança liberal dos Esta dos Unidos, junto com o projeto de libertação nacional e planejamento econ ôm ico propo sto pelos países socialistas, renovaram o otimismo das ve lhas profecias do século X IX ao trazer para o primeiro plano das preocupa ções mundiais a independência e o futuro eco nôm ico das colônias européias. Nasciam ali as raízes daquilo que Irnmanuel Wallerstein chamou de “geoeultura do desenvolvimento”, que só alcançou sua plena maturidade depois da II Guerra Mundial. Para Wallerstein, o seu primeiro impulso foi dado, d ef or ma simultânea e paradoxal, pelas duas propostas competitivas das políticas externas norte-am ericana e soviética, definidas por Wilson e Lcnin em torno de 1917, e que defendiam igualmente a autodeterminação c o desenvolvi mento econômico dos povos. Nas palavras do próprio Wallerstein: “A ideologia w ilsoriiana-len inista da au tod eterm ina ção das nações , sua :gualdade abstrata, e seu paradigma descnvolvimentisra incorpora do em ambas va riantes ideológicas, íoi aceita maciça e praticamente sem exceção como o programa opera cional dos m ovimen tos po líticos das zonas periféricas e semi periféricas do sistema mu ndial" (Wallerstein, 19 7 4 , p. 115).
Na prática, en tretan to, o princípio da autode termina ção só foi respei tado, até bem mais tarde, no caso dos Estados que nasceram da derrota e destruição dos impérios otoma no e austro-húngaro. N ão por coincidência, lugar de origem da maioria daqueles que se transformaram ern pioneiros da “economia do desenvolvimento” dentro do mundo acadêmico an glo-saxã o. Fora da Europa, o princípio da autodeterm inação foi sendo es tendido de m aneira extremam ente lenta e condicionado à aceitação pelos povos colon iais dos valores liberais e dos métod os o cidentais de governo democrático. Isto significou, na verdade, a postergação das reivindicações nacionalistas pela indep endência das colôn ias até depois do fim da II Guer ra. De tal forma que só depois de 19 45 -e m paraleloco m o processoda des colon ização asiática e africana - é que, de fato, a "geo cultura do desenv olvimento” se transformou num fenômen o universal. Naquele mo mento. e em particular depois da Revolução Chinesa de 1949, as novas condições mundiais pesaram decisivamente na formação e consolidação y>
DE. ALGUMAS NAÇÕES n r VOI.TA A QUESTÃO DA RIQUEZA Print document In order to print this document from Scribd, you'll first need to download it. desenvolvimentista. Somaram-se nessa
desta hegemonia direção o fracasso econômico liberal dos anos 20/30, a urgente necessidade de reconstrução Cancel And Print do pós-guerra, o novo cenário deDownload competição geopolítica e ideológica da Guerra Fria c a disputa dos territórios que foram se tornand o independen tes, progressivamente, dos impérios europeus. De tal maneira que a partir dali e até a década de 70: “a possibilidade do desenvolvimento (econômico) de todos os países veio a ser uma fé universal, compartilhada igualmente por conservadores, liberais e marxistas. As fórmulas propostas porcada um para obter ral desenvolvimento foram ferozmente debatidas, mas a própria possibilidade não o foi" (Wallerstein, p. 163). As próprias N ações Unidas c várias outras instituiçõ es multilaterais cri adas depois da Guerra colaboraram decisivamente na formulação e difusão das novas idéias que acompanharam os programas de ajuda internacional e os financiamentos do Banco Mundial. Criar infra-estruturas, modernizar instituições e incentivar as industrializações nacionais passaram a ser as pa lavras dc ordem do mundo político e os temas que mais freqíientavam as preocupações acadêmicas do Terceiro M undo. Enere 1945 e 1 97 3, a épocadourad a do crescimen to capitalista e.socia lista mundiais fez pensar que chegara a hora de realização não só do projeto de autodeterminação dos povos, mas também das profecias econômicas dos clássicos, mesmo quando tivessem sido perseguidas por meio das polí ticas propostas pelo heterodo xo Friedrich List, implementadas pelos Esta dos desenvolvimentistas que se multiplicaram e legitimaram através de todo o mundo depois da II Guerra Mundial. E, de fato, sobretudo na déca da de 1970, assistiu-se a uma diminuição global da distância entre a riqueza dos “países industrializados" e a dos “países em desenvolvimento” (Warren, 19 80; Arrighi, 19.9.5). Ainda quando se saiba que as estatísticas que apontam nessa direção estejam fortemente influenciadas pela crise genera lizada dos países mais ricos, e pelo crescim ento excepcional do l.este Asiáti co e do Brasil e M éxico na América Latina. O sonho contudo durou pouco e na década de 80 a queda foi muito mais rápida do que a ascensão. Em p ou cos anos foram varridos sucessivamente todos os “milagres” econômicos periféricos: primeiro caíram por terra, já nos anos 60, os poucos casos de sucesso africa nos; depois, nas décadas de 70 c S 0, ruíram sucessivamente os desenvolvimentismos latino-americanos; em seguida foi a vez dos “socia lismos reais” e, agora, já no final da década de 90, são os “milagres econô micos" asiáticos que começam a andar para trás. Dc tal maneira que também o século XX vai chegando ao seu final deixando a forte impressão de que muito se andou para, na melhor das hipóteses, permanecer no mes mo lugar, do po nto de vista da distribuição do poder e da riqueza mundiais. 2i
José Luís Fiori
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In order to print this document from Scribd, you'll first need to download sabemos que a it.“restauração liberal"
Sobretudo quando já dos últimos 25 anos íoi. pelo menos, co-rcsponsável po r um novo “su rto" (mais violento e Download Anddo Print veloz do que o que ocorreu Cancel na segunda metade século X IX ) de con cen tração e centra lizaçã o da riqueza nas mãos de um núm ero reduzidíssimo de capitais privados. Capitais esses cujos centros de decisão estão situados no território daquelas mesmas potencias políticas que já monopolizavam o poder e a riqueza na segunda metade do século passado. Se Lirio Hobsbawm estima que em 18 00 a diferenç a de riqueza entre os países mais cm en os pobres era de 1 para 1,8 ee m 19 13 , na véspera da I Guer ra M undial, era de 1 para 4, mais recentem entc, a econom ista nor te-am ericana Nancy Kirsdall estimou, em artigo publicado na revista Foreign Policy, "que a relação entre a renda média do país mais rico c o mais pobre do mundo, que era de 9 para 1, no começo do século, chega a estar em torno de 60 para 1 no final do século X X " . Resultados econ ôm icos e sociais que voltam a con tradizer as profecias liberais e marxistas. M as já agora a retomada da discussão sobre o desenvolvimento envolve um balanço teórico e político mais complexo sobre a farca e extensa literatura que foi produzida no século X X e. sobretudo, depois da crise dos anos 19 30. Essa releitura crítica deve ser orientada, com o nos clássicos, para a explicação da difusão desigual da ri queza mundial, mas visando também, co mo nos clássicos, orientar, conven cer c influenciar as políticas estatais que lideraram, durante estes 50 anos, o desenvolvimento dos países atrasados de todo o mundo.
2. Um deba te teórico inconcluso: os anos SO Já faz um bom tempo desde que Albert Hirschman publicou o scu balanço da teoria do desenvolvimento produzida depois da II Guerra Mu ndial. No e xato mom ento em que estava ocorrendo o seu sorpasso pela restauração do pensamento econ ôm ico ne oclássico, irmão siamés da res tauração política neoliberal, “(...) a economia do desenvolvimento inicia-so como a ponta de lança de um esforço para se alcançar a completa superação do atraso. Hoje ficou claro que isto nao pode ser feito somente através da economia. F. por esta razão que o de clínio da economia do desenvolvimento não pode ser totalmente revertido: nossa subdisciplina obteve considerável brilho e animação através da idéia im plícita de que poderia destruir pioncamente sozinha o dragão do atraso, ou, pelo menos, que sua contribuição nesta tarefa seria central. Nós agora sabe mos que isro não c assim (...) “ (Hirschman, 1981, p. 25).
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Print document DE VOITA A QUKSTAO DA RIQUEZA DF ALGUMAS NAÇÕES In order to print this document from Scribd, you'll first need to download it.
Hirschman referíanse ao que chamou de “development e conom ics”, no qual incluía o pensamento dos autores anglo-saxões ao lado dos estruturaDownload And Print listas latino-americanos Cancel da Cepal. I loje pode-se perceber com mais nitidez que a fragilidade daquela teo ria do desenvolvimento não se restringiu ao seu economicismo. O próprio survey de I íirschman demonstra que no campo estrito do debate econ ôm i co a discussão ficou inconclusa com relação às duas dimensões básicas que ele utiliza para classificar as várias vertentes que ocupam o seu espaço con ceituai. Se todos os teóricos do desenvolvimento compartilharam a necessi dade de uma teoria específica para as economias dos países atrasados, nunca estiveram de acordo com relação à teoria de Ricardo sobre as vanta gens comparativas no comércio internacional, nem tampouco sobre a iden tificação e hierarquização dos “fatores internos” que poderíam ser os grandes obstáculos ou estímulos ao desenvolvimento das econom ias atra sadas. F. se todos compartilharam igualmente a defesa do intervencionismo estatal, jamais estiveram de acordo sobre a natureza hierárquica c co mpeti tiva da ordem política e económica internacional. Ninguém desconhece a importância decisiva que tiveram a teoria do desenvolvimento econômico de Schumpeter e a “revolução teórica” kevnesiana na origem e na legitimação da “economia do desenvolvimento”, ao encam inhar conceirualme me a rebelião antineoclássica que acompanhou a desilusão liberal dos anos 1930. Os modelos de crescimento de Harrod e Domar são seus descendentes diretos e c inegável a sua influência sobre os trabalhos pion eiros - ainda na década de 194 0 - de Rosestein-Rodan c Arthur Lewis, ou mesmo de Raul Prebisch.: Mas não há dúvida também que o campo da chamada “teoria do desenvolvimento” acabou extravasando a revolução kcyncsiana e o plano estrito da econ om ia ao incorpo rar progres sivamente indagações e conh ecim entos históricos, so ciológicos e políticos que, é verdade, acabaram pesando mais no desenho das políticas e estraté gias políticas do que nas construções analíticas da própria teoria. Nesse sentido, não há como desconhecer que na época áurea do otimis mo desenvolvimentista - durante a década de 1 95 0 - foi a “econom ia do desenvolvimento” que ocupou, de fato, o lugar central na discussão teóri ca, dentro e tora da América Latina, sobre a natureza e as causas do atraso econômico e sobre as virtudes c potencialidades da industrialização como cam inho preicrc ncia l de superação do subdesenvolvimento. M as, uma vez1
Quanto a Prebisch, cm relação aos outros autores, dcvc-sc ccr presenre que na America Latina o "(...) conteúdo daconfronração teórica que surgiu na teoria do subdesenvolvimen to foi de nature/a diferente daquele encontrado nas controvérsias que são típicas de econo mias avançadas" (Bielschowsky. p. 12). 1
Jóse l.uís Fiem
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mais, olhando retrospectivamente, mão é difícil perceber que a principal fragilidade da discussão teórica e das estrategias político-econômicas da Cancel ambigüidade Download Anddos Print quela época decorreu da mesma clássicos no tratamento da relação entre o Estado, as econom ías nacionais e os sistemas económ ico e político internacionais. E isto apesar de todos os projetos desenvolvímentistas - na contra mã o da aversão clássica pelo sistema mercantilista - par tirem da defesa explícita de um Estado forte, intervencionista e pro tecio nis ta, e de, além disso. a escola estru tur alista inovar teoricamente ao pa rtir de uma visão crítica da estrutura global e hierá rquica do sistema capitalista in ternaciona l. O problem a é que o “Estado ” dos desenvolvimentistas foi sem pre uma abstração que ora aparecia como construção ideológica idealizada, ora era tran sform ado pela teo ria “numa dedução lógica ou num mero ente epistemológico requerido pela estratégia de industrialização, sem que se tomasse em conta a natureza das coalizões de poder em que se sustentava (...)" (Fiori, 1995, p. viii). Essas idéias acabaram sustentando, sobretudo no caso latino-americano, estrategias desenvolvimentistas de natureza extremamente conservadoras, autoritárias c ami-sociais. Esta ambigüidade ou imprecisão, entretanto, é mais visível na “developm ent eeon om ics” dos autores anglo-saxóes, que além disso mantiveram sua fidelidade ã teo ria ricard iana das vantagens comp arativas e das virtudes hom ogeneizadoras do com ércio intern acional. E o que se encon tra no tra balho pioneiro de economistas como Rosestein-Rodan (1943) c Nurkse (1 9 5 1 ), que escrevem sob influência direta do modelo í larrod-Dom ar, pre ocupados, portanto, com a questão da possibilidade e viabilização de um “crescim ento ba lancead o” ou equilibrado. Para Rosesrcin, as regiões atra sadas se caracterizavam pelos baixos ingressos e substancial desemprego ou subemprego, e sua industrialização espontânea se via bloqueada pelas di mensões reduzidas dos mercados internos e pela incomp etência do seu em presariado. Como conseqüência, do ponto de vista político-propositivo, para Rodan o papel do F.stado deveria ficar restrito ao treinamento de mão-de-obra e à coordenação dos investimentos dc longo prazo. Nurkse agregava às causas do atraso o p roblem a da escassez de poupança e con side rava indispensável o papel do Estado como indutor do investimento do méstico e externo. Os trabalhos posteriores de Walter Rostow (1952) e Arthur Levvis (1954) situam-se ainda numa linha paralela à dos pioneiros. Lewis, que já havia apresentado uma primeira versão de suas idéias, em 195 1, num docum ento das Naçõ es Unidas, viu na disponibilidade ilimitada de mão-de-o bra em níveis salariais de subsistência uma especificidade des tas economias atrasadas que poderia ser transformada em fator virtuoso, à medida que estes mesm os níveis salariais fossem estendidos à totalidade do sistema produtivo, o que perm itirla, segundo ele, ma nter constantes eleva-
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