IMED ± Complexo de Ensino Superior Meridional
Gabriela Fagundes Curso de Direito
Platão, A República ± O Mito da Caverna.
1. Resumo O Mito da Caverna é o capítulo VII do livro A República, de Platão. O livro é todo desenvolvido em diálogos entre Glauco e Sócrates; Platão expõe as suas principais ideias de como seria o governo e o governante perfeito, através deles. E apesar de todo esse µprojeto¶ de dirigentes ideais e racionais, e de ser o protótipo de gestão política ideal, tudo isso não passa de uma utopia, criada por Platão. O capítulo VII do livro retrata a vida de um grupo de pessoas aprisionadas na escuridão de uma caverna, onde existe apenas uma pequena luminosidade, que provém de uma fogueira na extremidade desta. Os prisioneiros apenas conhecem o que eles podem ver daquela condição em que se encontram, ou seja, eles apenas vêem as sombras das pessoas, dos animais e dos objetos carregados diante daquela fogueira, que reflete na parede a frente deles. E acreditam que o que eles enxergam é a realidade, que é apenas aquilo é o que existe, é como se fosse uma delimitação feita por eles do que é o mundo real. Então, um dos prisioneiros consegue se libertar dos grilhões que o prendem na escuridão da caverna e vai para a luz. Quando ele encontra-se fora da caverna, os seus olhos cegam-se com a claridade, e posteriormente ele torna-se céptico, pois ele não sabe mais o que é a realidade, se é aquele lugar magnífico e iluminado que ele acabou de conhecer ou se é a caverna escura, onde viveu grande parte de sua vida. Mas ao mesmo tempo em que ele encontra-se incrédulo, ele está deslumbrado com a beleza e a luz da nova e verdadeira realidade. Ele fica absorto contemplando os reflexos no rio, as árvores, os animais, as estrelas e principalmente o sol. Depois de refletir sobre todos os µconhecimentos¶ que ele obteve no mundo exterior, ele lembra-se de sua primeira morada e dos seus companheiros de escravidão e da ideia que lá se tinha sobre a
realidade e a sabedoria, e pensa que ele teve sorte por ter sofrido essa metamorfose, mas ao mesmo tempo lamenta-se por ter vivido-a. Pois, tudo se torna mais fácil e prático, quando se fica na escuridão e não precisa enfrentar os conflitos internos causados pela transformação da sua forma de ver o mundo e de entender a verdadeira realidade. Finalmente, ele decide voltar para a caverna e analisar a sua antiga morada, com µoutros olhos¶ e gera uma discussão com os seus ex companheiros de prisão, e quando ele conta para eles, como era o mundo exterior e dá a sua opinião de conhecedor dos µdois mundos¶, ele faz os outros rirem, pois não acreditam em nada que ele fala, e dizem que os esforços que ele fez para chegar à luz, não valeram de nada. E é muito provável que se ele insistisse em levar alguém para a luz, seria sacrificado. Platão, também cita quais são os conhecimentos necessários para ser um bom dirigente do Estado, ele diz que um governante necessita ter um vasto conhecimento em todas as ciências exatas e militares, mas principalmente ser um bom conhecedor das ciências da alma, ou seja, segundo ele é necessário ser um filósofo. A dialética é extremamente importante para o Platão, ele utiliza a dialética de forma que elimine primeiramente a opinião do senso comum e posteriormente às hipóteses falsas, que inevitavelmente surgem diante desta derrubada.
2. Citações ³Sócrates: Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de escravidão e da ideia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao mesmo tempo a sorte dos que lá ficaram?´
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³(...) O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumina é a luz do sol. O cativo que sobe a região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. (...) Nos extremos limites do mundo inteligível está a ideia do bem, a qual só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, é belo e bom, criadora de luz e do sol no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível, e sobre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos fixos para agir com sabedoria nos negócios particulares e públicos.´
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PLATÃO. A República. Livro Sétimo. Trad. Albertino Pinhei ro. Bauru: EDIPRO. 2001. Pág. 265 PLATÃO. A República. Livro Sétimo. Trad. Albertino Pinheiro. Bauru: EDIPRO. 2001. Pág. 266
³(...) a ciência não é o que imaginam certos homens, que se gabam de poder fazê-la penetrar na alma onde não existe quase da mesma maneira pela qual se comunica a vista aos cegos.´ 3 ³(...) à semelhança dos olhos que não podem passar das trevas para a luz sem que todo o corpo se volte nessa direção, também o órgão da inteligência se deve voltar, com toda a alma, da visão do que nasce para a contemplação do que é, até que se possa fixar sobre o que há de mais luminoso no ser, e que é o próprio bem. (...)´
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³(...) cujo termo é a própria dialética. Esta ciência, conquanto puramente espiritual, pode, todavia ser representada pelo órgão da vista, o qual, como vimos, se limita, a princípio, a observar os animais, depois se eleva aos astros e, finalmente, ao próprio sol. Assim, quem se aplica à dialética, abstendo-se em absoluto do uso dos sentidos, se eleva só pela razão à essência das coisas, e, se persiste em suas investigações até alcançar com o pensamento a essência do bem, chega ao termo da ordem inteligível, como quem vê o sol chegar ao termo da ordem visível.´
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³Sócrates: O erro que hoje se comete e de que resulta o grande descrédito da filosofia é, como já dissemos, que não se tem o merecido respeito para com esta ciência, permitindo que a cultivem espíritos falsos e bastardos, quando só as almas nobres sabem cultivá-lo dignamente.´ 6 ³Sócrates: Porque nenhum homem deve aprender coisa alguma como escravo.´
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3. Análise Crítica O Mito da Caverna é uma analogia entre o conhecer e o ver, criada por Platão para mostrar a sua µvisão¶ do mundo naquela época. Ele utiliza essa alegoria para explicar como é o processo de conhecimento e qual é a reação das pessoas perante a µluz¶. Ou seja, a escuridão da caverna representa a ignorância das pessoas, a caverna é o mundo sensível em que elas vivem umµcasulo¶ onde escondem-se da realidade que as envolvem, o caminho íngreme e repleto de obstáculos significa a dificuldade de ser livre e de compreender o mundo das ideias; as sombras representam o senso comum, as crenças e as ilusões, que as pessoas µignorantes¶ tendem a acreditar tão facilmente, 3 4 5 6 7
PLATÃO. A República. Livro Sétimo. Trad. Albertino Pinhei ro. Bauru: EDIPRO. 2001. Pág. 267 PLATÃO. A República. Livro Sétimo. Trad. Albertino Pinhei ro. Bauru: EDIPRO. 2001. Pág. 268 PLATÃO. A República. Livro Sétimo. Trad. Albertino Pinhei ro. Bauru: EDIPRO. 2001. Pág. 287 PLATÃO. A República. Livro Sétimo. Trad. Albertino Pinhei ro. Bauru: EDIPRO. 2001. Pág. 291 PLATÃO. A República. Livro Sétimo. Trad. Albertino Pinhei ro. Bauru: EDIPRO. 2001. Pág. 292
acreditando que aquilo é a verdadeira realidade. O fogo e o sol representam as ideias, a iluminação da alma, o mundo inteligível. Os grilhões são as tabus que prendem as pessoas, os preconceitos, a falta de racionalidade perante o mundo. O instrumento que quebra os grilhões é a vontade de aprender, de compreender a verdadeira realidade; é a dialética, pois sem ela, não é possível evoluir. O homem que consegue libertar-se da prisão, é o filósofo. O retorno a caverna, significa o bem nas pessoas, a vontade de ajudar o próximo a evoluir e sair da escuridão. Quando o sujeito volta para a prisão e conta tudo o que ele aprendeu e conheceu para os prisioneiros, eles debocham dele, e não acreditam em nada que ele diz, e é provável que se continuar insistindo em levar alguém para conhecer o mundo externo a caverna, ele será morto. Pode-se entender que essa revolta, essa negação dos prisioneiros, seria a resistência que as pessoas possuem de não querer enxergar o que está sob a superfície da realidade do nosso mundo. Mas, uma vez que elas descobrem a verdade, não há como voltar atrás. O Mito retrata também quais são os conhecimentos e qualidades que um governante deve possuir, para ser bom o suficiente para dirigir o seu Estado. Realmente, todo o dirigente de um Estado deveria ter tais conhecimentos, mas todo esse planejamento de como seria a µrepública¶ perfeita, não passa de uma quimera. Portanto, as pessoas não devem temer e resistir de percorrer todo esse caminho íngreme, pois ele é que as levará para o mundo das ideias, da sabedoria e da racionalidade. E alcançando o mundo inteligível, nada será o suficiente. Estarão sempre em busca de algo novo para explorar e se desvencilhar dos grilhões que sempre existiram em suas vidas, independente do quanto elas lutem para permanecer apenas na µluz¶.