Fichamento para o trabalho de Literatura Clássica I sobre A Odisseia, Homero. REFERÊNCIA: HARTOG, François. Memória de Ulisses – narrativas sobre a fronteira na Grécia Antiga. Trad. Jacyntho Lins Brandão. Ed. UFMG, Belo Horizonte: 2004 1. Hartog nos diz que Ulisses não é herói de conhecimento e sim de reconhecimento. Para isso, lhe serve, instrumentalmente, a memória. 2. “Ele guarda a memória de quem é e, antes de tudo, de seu nome.” (p.26) O sentimento de retorno de Ulisses provém do medo do esquecimento de si mesmo, de sua origem. 3. A polytropia1 de Ulisses é o exercício da rememoração. Estando em outro lugar, a todo momento referencia-se a seu lugar de origem. 4. O périplo exercido por Ulisses, entretanto, são ocasiões de esquecimento. Trata-se da economia de viagem. 5. O esquecimento como mecanismo do ser para que ele – – Ulisses – busque a sapiência, a experienciação. 6. “Curiosidade não passa de vaidade” (p.27) Ulisses é um viajante sem vaidade. Ou seja, a viagem, de modo geral, está associada a uma certa vaidade do viajante, pois a experiência serve como substrato para a narração e, portanto, para a imortalidade pretensa de seus atores. 7. “É no espaço aberto por esse retardamento (de que trata o aedo) que se inscreverá a experiência do outro e se desenrolarão, no movimento de uma narrativa, as grandes partilhas da antropologia grega” (p.28) – Estruturalmente, a narrativa com excessos de detalhes – épica – épica – – tentará tentará reproduzir ao mesmo tempo o efeito de retardamento do experienciador no leitor, como se este fosse um segundo viajante e precisasse esquecer seu referencial para experienciar outro(s). 8. Ulisses descobre-se no tempo dos homens. Esforço da imortalidade falha no canto de Demódoco. 9. “Esse mundo [homérico] 2, sem verdadeira sociabilidade, é imóvel. Sem passado e sem memória: mundo do esquecimento, que nenhum aedo itinerante habita, e do apagamento para quem nele é lançado: o lótos é uma flor de esquecimento e a droga da Circe, um phármakon que apaga a lembrança da pátria. Circe e Calipso cantam enquanto tecem, mas ninguém ouve seus cantos; Éolo e os seus festejam durante todo o dia, mas seu banquete perpétuo ignora o que faz a alegria e o ornamento dos banquetes, o canto do aedo: o próprio Ulisses deve também contar, ponto por ponto, a tomada de Ílion” (p.40). Destituída da sua função alimentadora, vital, o lótos torna-se medicamento, terapia que leva aos poucos a uma morte mental. Circe e Calipso são cantoras sem ouvinte. 10.“(...) 10. “(...) Desse espaço de angústia e de esquecimento, o único aedo é, afinal, Ulisses, que sempre se recorda: Alcinoo compara seu mythos, a narrativa de suas aventuras, ao canto verídico do aedo”. (p.40) Isto é, Ulisses tem competência e responsabilidade em se lembrar, pois sua condição de pai e rei – – família e súditos -, guerreiro – – com glórias e 1
Polytropos – o de muitos lugares, muitas voltas, muitos espaços. Na verdade, o mundo que Hartog se refere trata-se da junção de todos os grupos citados na Odisseia, exceto os Feácios, cujas práticas sociais, tais como alimentação e d ivertimento ivertimento – canto, aedo, narração – se aproximam mais das práticas humanas, isto é, diacronicamente diacronicamente gregas. IPC
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nome, e aedo – com narrativas, não o permitem que ele se esqueça ou caia no esquecimento. 11. Há na Odisseia 3 tipologias de Musas – filhas da Memória, Mnemosine. a. A musa do aedo, no caso, a de Homero, que lhe permite cantar, sem nenhum esquecimento, as viagens de Ulisses. b. A não-musa de Odisseu. Isto significa dizer que todo saber de Odisseu e seu discurso não são inspirações e sim saberes de experiência. Neste caso, a não-Musa é tomada como ausência de Musa. c. As contra-Musas, a saber, as Sereias, cujo canto, em vez de fazer lembrar, apresentar, eternizar, é diametralmente oposto. 12.“Toda sua vida – até morrer – o herói luta para escapar da multidão dos „sem nome‟” (p.46) 13. A glória e o retorno são perdidos por Ulisses durante a passagem pelas Sereias. Essa perdição torna-se signo da morte momentânea do herói. OBS: Fiz desta forma, em fichas de citação e paráfrase, pois acho melhor para transformar em texto e inserir citações no trabalho. Os itens sem aspas são minhas reflexões de algumas partes. Há outras partes do texto que não desenvolvem a questão da Memória e do Esquecimento, limitando-se apenas a apresentar o mundo de Homero (semelhante àquele texto da Vida quotidiana no tempo de Homero). Eu as li, porém as evitei. Caso não estejam muito claro alguns itens, me pergunte a fim de que eu desenvolva parágrafos outros.
CANTO IX – O RELATO DE ODISSEU – CÍCONOS, LOTÓFAGOS E O CICLOPE 1. “de pão e carne, no tempo em que o vinho nas grandes crateras/ deita o escanção, para os copos de todos encher até as bordas” (9, 10 – p.154) – Alimentação humana. É a primeira identificação de Ulisses com os Feácios. 2. “Pelo meu nome princípio darei, que a saber venhais todos/ como me chamo e porque hóspede vosso ainda seja, conquanto/ venha da Morte a escapar e por mais que me encontre distante. (16-18 – p. 154) – Enunciação da identidade como condição de escapamento da Morte. 3. “Por nove dias dali me levaram os ventos funestos/ por sobre o oceano piscoso; somente no décimo à terra/ nos foi possível descer dos Lotófagos que comem flores.” (82-84 – p.156) – Alimentação dos Lotófagos. É a primeira observação de Ulisses. 4. “sócios escolho e os envio, com o fim de notícias obterem/ sobre que gente aí morava, e se vive de pão, como todos 3” (88-89 – p.156). É importante ressaltar que, do ponto de vista alimentar, Ulisses precisava verificar se esses povos eram humanos. 5. “Quem quer que viesse a provar uma vez desse fruto gostoso/ nunca a resposta haveria trazer, nem de novo empegar-se;/ desejaria, isso sim, morar sempre com os homens lotófagos, / a comer loto sempre, 3
Os humanos, os gregos.
esquecido, de vez, do retorno” (94-97 – p.156). Trecho importantíssimo em que é descrito o efeito do loto.