René Guénon – Estudos Estudos sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo – Comunidade Comunidade Teúrgica Portuguesa
RENÉ GUÉNON
ESTUDOS SOBRE A FRANCO-MAÇONARIA E O COMPANHEIR COMPANHEIRISMO ISMO 1
René Guénon – Estudos Estudos sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo – Comunidade Comunidade Teúrgica Portuguesa
Études sur la Franc-Maçonnerie et le Compagnonnage (vols. I et II), René Guénon. Éditions Traditionnelles, Paris, 1964, 1965. Estudos sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo. Traduzido do original francês por Vitor Manuel Adrião, Lisboa, 2014.
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Études sur la Franc-Maçonnerie et le Compagnonnage (vols. I et II), René Guénon. Éditions Traditionnelles, Paris, 1964, 1965. Estudos sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo. Traduzido do original francês por Vitor Manuel Adrião, Lisboa, 2014.
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RENÉ GUÉNON (Dados biográficos) Nasceu em 15 de Novembro Novembro de 1886, em Blois, França, França, com o nome de René Jean Marie Joseph Guénon, filho do arquitecto Jaez Baptiste Guénon e de uma jovem da burguesia local, Anna Léontine Jolly. De saúde incerta porém aluno brilhante, cursou Matemáticas elementares em 1904 e, mostrando reais aptidões para esse ramo do saber universitário, alguns professores convenceram-no a prosseguir os estudos de Matemática em Paris. Assim, em Outubro de 1904, seguiu para a capital francesa instalando-se primeiro no Quartier Latin, depois na Rua St.-Louis-en-L´Ile, n.º 51, tendo entrado no Colégio Rollin como aluno de Matemáticas especiais, curso que viria a abandonar em 1906 por problemas de saúde. É por essa altura, entre 1906 e 1909, que pela mão de amigos entra em contacto com a Escola Hermética do médico militar Gérard Encausse, com o pseudónimo de “Papus”, na qual se filia. Igualmente afilia-se na Ordem Martinista, chefiada pelo mesmo Papus, que pretendia ter como origem uma transmissão regular da antiga Ordem dos Eleitos Cohens, fundada no século XVIII por Martinets de Pasqually (ao qual, aliás, se atribui uma origem incerta – francesa, espanhola e portuguesa – no no entanto garantida ser originário de uma família israel-sefardita da Península Ibérica: Las Cazas ou Das Casas). Aí alcançou o grau supremo de “Superior Incógnito” ou “Desconhecido”, “Desconhecido”, passando a tomar conhecimento dos documentos da Ordem. Or dem. Seguidamente, fez-se receber em duas Ramas maçónicas que tinham relações próximas com a Ordem Martinista: a Loja a Loja Simbólica Humanidad n.º 240 , do Rito do Rito Nacional Espanhol , e o Capítulo e Templo “INRI”, “INRI”, do Rito do Rito Primitivo Primitivo e Original Swendenborguiano. Swendenborguiano. Neste último recebeu de Theodore Reuss, Grão-Mestre do Grande Oriente e Soberano Santuário do Império da Alemanha, o cordão de seda negra de Kadosch. Kadosch. Por outra parte, criou-se no Templo do Rito Misto do Direito Humano um Soberano Grande Conselho do Rito de Mênfis-Misraim para a França e suas dependências, tornando-se a Loja Humanidad Loja Humanidad Loja-Mãe Loja-Mãe desse Rito. Nele René Guénon recebeu a patente do 30.º-90.º grau. No Congresso Congresso Espiritualista e Maçónico de 1908, René Guénon Guénon esteve como secretário secretário da mesa, mas logo o abandonou após a sessão de abertura, em confronto ideológico aberto com Papus, presidente do mesmo. No decurso do Congresso conheceu pessoalmente Fabre des Essarts, que com o pseudónimo de “Synesius” era “Synesius” era o patriarca p atriarca da Igreja Gnóstica, e solicitou-lhe a sua admissão. É admitido e em 1909 consagrado “bispo” por “Synesius”, adoptando o n ome iniciático 3
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“Palingenius” (a primeira parte deste nome grego significa “que renasce”, equivalente do significado de seu nome René, “renato”, e a segunda “génio”, por extenso: “o génio que renasce”). No interior desse grupo veio a encontrar Léon Champrenaud (Abdul-Haqq) e Albert de Pourvourville (Matgioi), que o ajudaram ajudara m a fundar a revista “La Gnose” em Novembro de 1909, inicialmente como ”órgão oficial da Igreja Gnóstica Universal”, na qual Guénon publicou os seus primeiros artigos. A revista revista deixou de se publicar em Fevereiro Fevereiro de 1912. 1912. Ainda em 1908, surgiu a oportunidade de René Guénon fundar uma “Ordem do Templo” renovada, compreendendo sete graus. Ess a “Ordem”, de existência efémera, esteve na origem da ruptura entre Guénon e Papus; efectivamente, esse último expulsou-o das diversas organizações sob o seu controlo. Guénon foi então admitido na Loja Tebah, Tebah, dependente da Grande Loja de França, Rito Escocês Antigo e Aceite. Aí permaneceu permaneceu até 1914, data em que o eclodir da I Guerra Mundial obrigou as Lojas Loja s a “adormecer”. Em Julho de 1912 casou, segundo o rito católico, com Mlle. Berthe Lory, professora primária. Nesse Nesse mesmo mesmo ano converteu-se converteu-se efectivamente ao ao Islão, recebendo a luz ou “barakah” do Sheikh Abder Rahmân Elish El-Kebir, por intermédio de Abdul-Hâdi (nome islâmico de John Gustaf Agelii, também conhecido pelo seu nome de artista plástico, Ivan Aguéli). Dispensado do serviço militar durante a Grande Guerra, devido à sua fraca saúde, mas necessitando de enfrentar as necessidades materiais, foi obrigado a trabalhar como professor do ensino particular em diversos colégios. Em Outubro de 1917 foi nomeado professor de Filosofia em Setif, na Argélia. Este período da sua vida na Argélia, naturalmente serviu para aperfeiçoar os seus conhecimentos de língua árabe e estabelecer contacto com certos mestres e meios espirituais islâmicos. Em 1918 regressa a França e em 1919 encontra-se novamente em Paris, com a sua mulher e uma jovem sobrinha, abandonando o ensino mas preparando alguns dos muitos livros que irá publicar ao longo dos anos ( Introdução Geral ao Estudo das Doutrinas Hindus, Hindus, Apercepções sobre a Iniciação, Iniciação, O Rei do Mundo, Mundo , etc., a par de várias centenas de artigos que viram a luz da edição). Em 1922 dá-se o seu encontro com Paul Chacornac, e daí em diante passa a colaborar na revista editada por esse, Le Voile d´Isis (“O Véu de Ísis”), mais tarde designada Études Traditionneles (“Estudos Tradicionais”). Em Em 1924 participa com Jacques Maritain e René Grousset no debate organizado pela revista Nouvelles Littéraires (“Novidades Literárias”), por ocasião do lançamento do livro de Ferdinand Ossendowski, Bêtes, Hommes et Dieux (“Bestas, Homens e Deuses”), o qual, juntamente com o anterior de Saint Yves d´Alveydre, Mission de l´Inde en Europe (“Missão da Índia Índia na Europa”), iriam inspirá-lo a escrever o seu Le seu Le Roi du Monde (“O Rei do Mundo”), publicado em 1927. Nele aborda a temática da Agharta, Agharta, aprestando-se a situá-la no plano puramente simbólico e arredando-se de representá-la no plano pl ano efectivamente real; mesmo assim, esse livro terá sido o causador directo da mudança das relações entre Guénon e alguns representantes da tradição hindu, por terem considerado as informações fornecidas nessa obra serem demasiado precisas, mesmo que indicadas como exclusivamente simbólicas, atreverme-ia a chamar-lhes chamar- lhes “especulativas”, em detrimento da realidade “operativa” que, reconheça -se, Guénon não quis reconhecer por motivos só seus conhecidos, um deles, quiçá, o de pretender propositadamente propositadamente baralhar ou confundir tudo, ou então tão-só o baralhar-se confundindo-se completamente. Mas a verdade é que certos brahmanes e panditas (“sacerdotes e instrutores”) sobretudo do Norte da Índia, ainda assim reprovaram-no severamente. severamente. Isto por haverem coisas de que não se deve falar demasiadamente... No final de 1925 profere na Sorbonne a única conferência pública da sua vida, tendo escolhido o tema La tema La Métaphysique Orientale (“A Metafísica Oriental”). E continuará a dar lições de Filosofia até 1929 no Cours Saint-Louis, onde estudava a sua sobrinha. Em 15 de Janeiro de 4
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1928 a sua mulher faleceu, e pouco depois a sua tia, Mme. Duru, tendo a sua sobrinha voltado para casa da família. René Guénon ficou só. Em 1929 conheceu Marie W. Shillito, filha do “rei” dos caminhos-de-ferro canadianos, viúva de um engenheiro egípcio, Hassan Farid Dina. Tanto ela como o marido, enquanto este foi vivo, colocaram a sua fortuna ao serviço da investigação científica e de outros tipos de investigação. Mme. Dina viria a auxiliar grandemente em que a obra dispersa já publicada de Guénon fosse comprada aos diferentes editores e centralizada numa única casa editora, que a publicaria a seguir como exclusiva: a sede da revista Le Voile d´Isis, situada no Quai Saint-Michel (“Praça São Miguel”), em Paris. Em 5 de Março de 1930, René Guénon parte para o Egipto em companhia de Mme. Dina. No Cairo, onde primeiro se instala provisoriamente e depois definitivamente, tornar-se-á o Sheik Abdel Wahed Yahia, o seu nome islâmico significando “o servidor do Único”. Inteiramente islamizado, falando árabe sem qualquer sotaque, Abdel Wahed Yahia era agora um modesto habitante do Egipto, vivendo uma vida muito simples repartida entre o estudo e a oração. Em Julho de 1934 daria mais um passo na sua integração no mundo árabe, desposando Fatma ou Fátima, filha mais velha do Sheik Mohammad Ibrahim, em cuja residência o casal passa a viver, até que em 1937 decide ir para os arredores a oeste do Cairo, instalando-se no bairro de Doki, num lugar sossegado onde ninguém os incomodava. A sua casa era uma vivenda branca, escondida pela verdura, na esquina de uma rua tranquila. Guénon chamou- lhe “Vila Fátima” e sobre a porta estava escrita a frase em árabe : “Deus é a Majestade das Majestades”. Do seu casamento com Fatma nasceram duas filhas e dois filhos: Khadija, em 1944, Leila, em 1947. Entretanto, em 1948 obtém a nacionalidade egípcia. Em 5 de Setembro de 1949 nasce o seu primeiro filho, Ahmed, enquanto o seu segundo filho, Abdel Wahed, nascerá após a sua morte, em 17 de Maio de 1951. Em Novembro de 1950 os três filhos de Guénon adoeceram ao mesmo tempo, e enquanto não se curaram ele recusou deixar-se tratar, a tal ponto que se lhe tornou impossível qualquer actividade e os seus amigos não receberam mais nenhuma carta sua. Isso valeu-lhe no mês seguinte, Dezembro, ficar gravemente doente, ficar retido no leito passando a ser assistido pelo seu médico e amigo pessoal, dr. Katz. Contudo, os seus males agravaram-se de dia para dia: tinha dificuldade em falar, pronunciando com dificuldade algumas palavras, e esboçava descontroladamente certos movimentos, sintomas degenerativos da doença de Alzheimer. Por fim, em de 7 de Janeiro de 1951, verificou-se o desenlace fatal: já não conseguia alimentar-se nem ingerir qualquer medicamento, embora mantivesse a lucidez, tendo várias vezes erguido a cabeça da almofada exclamando: El Nafass Khalass, ou seja, “a alma está saindo do corpo”. Morreu às 23 horas desse dia, s endo as suas últimas palavras: Allah, Allah. Segundo as testemunhas, o seu corpo repousava “calmamente, com o rosto muito sereno, tendo desaparecido a crispação das últimas horas”. E o seu médic o não soube explicar a causa da morte, visto que nenhum órgão fora particularmente atingido – “como se a alma tivesse partido misteriosamente”. O funeral, muito simples, decorreu no dia seguinte. O corpo ficou depositado no túmulo da família de sua mulher e, de acordo com o ritual islâmico, foi envolto num lençol de linho e deitado directamente sobre a areia, com o rosto voltado para Meca. Pouco antes de morrer, Guénon havia declarado à sua mulher que desejava que o seu gabinete de trabalho fosse mantido tal como estava, prometendo “que, mesmo invisível, ele estaria aí”.
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Para terminar a feitura destes curtos dados biográficos de René Guénon, devo citar as duas fontes de consulta que foram imprescindíveis à mesma: o Prefácio de António Carlos Carvalho, Um homem simples: René Guénon, ao livro deste, A Crise do Mundo Moderno (Editorial Vega, Lisboa, Outubro de 1977), e Alguns dados sobre a vida e a obra de René Guénon, por Vitor de Oliveira, tradutor do seu livro O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos (Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1989).
A obra póstuma de René Guénon, Estudos sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo, foi editada em dois volumes pela primeira vez em Paris em 1964 e 1965, mas que aqui, na edição portuguesa, estão reunidos num único mesmo mantendo a ordem cronológica original de 1929 a 1950, onde além dos capítulos reportando-se aos múltiplos aspectos do tema maçónico o autor faz a crítica literária de livros e artigos de revistas que o seu editor parisiense de Voile d´Ísis, depois Etudes Traditionnelles, fazia chegar a ele já residindo no Cairo. Sobressai do conjunto da obra a distinção que René Guénon faz entre Maçonaria Operativa e Maçonaria Especulativa dando a primazia e mais-valia à primeira em detrimento da segunda, e igualmente o apelo constante ao “aperfeiçoamento humano” por parte dos maçons modernos preocupados quase exclusivamente com factores externos de natureza político-social, por exemplo, do que propriamente com a apuração interna realizando a Grande Obra Maçónica, ou seja, a criação do “Homem Novo” em termos de espiritualidade verdadeira, mental, emocional e física dentro da mais estrita ortodoxia maçónica. As suas críticas literárias de autores e obras cuja maioria desapareceu entretanto com a II Grande Guerra Mundial, têm o valor de quem conheceu de perto a maioria dos supraditos e o modo como agiram e agitaram através do ocultismo e do esoterismo a sociedade do seu tempo, antevendo o autor com muita precisão que tudo isso acabaria no conflito armado que abrasou o Mundo de 1939 a 1945, descartando-se a-priori de certos movimentos esotericistas, nacionalistas e xenófobos, entretanto surgidos e que impuseram as suas políticas segregacionistas de que até hoje o Mundo, particularmente a Europa, se ressente. Estudos sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo termina de um modo brusco, como se o agravamento da doença e a morte do autor o tivessem impedido de a finalizar. Sendo o livro mais “fulanizado” de toda a obra literária de René Guénon, as informações inéditas que contém são de uma preciosidade indispensável para todos os estudiosos de Franco-Maçonaria e Companheirismo e um testemunho directo do desenvolvimento e acção dos principais intervenientes do ocultismo e esoterismo na Europa desde o século XVIII até à metade do XX. As inúmeras notas pessoais do tradutor acompanhando as opiniões do autor, servem igualmente como enriquecimento da obra nos seus vários pontos aparentemente obscuros onde as mesmas aparecem com a exclusiva pretensão de os clarear. Por tudo, Estudos sobre a Franco-Maçonaria e o Companheirismo merecem ser lidos e estudados por todo que se importam com estes temas de Tradição Iniciática, afiliados ou não nessas correntes tradicionais por esta obra ser sobretudo de interesse geral. A todos desejamos boa leitura e os maiores sucessos particulares nos seus estudos e pesquisas onde esta ferramenta literária impõe-se como indispensável.
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