Estamir
a, nova forma de existência - Parte I
[1] Célio [1] Célio Garcia
Estamira é portadora de sofrimento mental. Psicótica, ela foi atendida pelo servio de sa!de mental. "edicada, ela est# so$ efeito de psicof#rmacos. "as, isso n%o di& t'do. (odos esses procedimentos n%o es)otam a *'est%o s'sc s'scit itad ada a por por Esta Estamir mira. a. +# al)o al)o ma mais is.. Esta Estamir mira a fa& fa& s'a s'a tra traet etór ória ia,, ela inventa se' território, e por onde passa com ela leva se' sofrimento mental *'e d'ra. Ele tem 'ma d'ra%o, a d'ra%o da vida, mas n%o é crnico. vida passa, mesmo *'e sea 'm tempo lento /como é o tempo dos po$res0. en%o veamos. Ela n%o permanece' internada por lon)o per2odo, nem em 3ospital, nem em 'nidade de s'$stit'i%o /lar a$ri)ado o' moradia terapê'tica0. Ela foi atendida n'm momento de 'r)ência, é $em verdade, mas ela n%o c'mp c'mpri ri' ' a tr2a tr2ade de 4'r) 4'r)ên ênci cia a - eme emer) r)ên ênci cia a - am$' am$'la lató tório rio4. 4. 5oi o'tr o'tra a a temporalidade *'e ela esta$elece'. 6 termo território serve para sit'ar por onde ando' Estamira. 7o se' caso, o território é f2sico, socio-com'nit#rio /laos, fam2lia, compan3eiros no lix%o0, território disc'rsivo /del2rio de f'ndo reli)ioso0. ('do isso formava o se' *'otidiano. 8amos 8amos c3e)ar a 'ma Cl2nica C l2nica para Estamira. Primeira anota%o 9 mar)em no nosso caderno, no servio de sa!de mental onde ela foi atendida: atendida: o sofrimento de Estamira teria sido $em maior se ela perm perman anec eces esse se adst adstri rita ta ao se servi rvio o,, se se' ' per2m per2met etro ro,, s'as s'as re)r re)ras as,, se se's 's procedimentos, s'a temporalidade /;r)ência - m$'latório - Convivência0. Convi vência0. e)'nda anota%o: mel3or teria sido se o l')ar onde est# locali&ado o se serv rvi io o de sa!d sa!de e me ment ntal al a$ri a$riss sse e espa espao o inco incorp rpor oran ando do o terr territ itór ório io de Estamira< perme#vel, ele se deixasse existir sem as imposi=es, restri=es, marca=es /3or#rio, divis%o em especialidades0 *'e esperam o paciente e o pro>ssional *'ando c3e)am ao servio de sa!de. "as, isso teria sido m'ito dif2cil. E' $em sei. li#s, sem percorrer o território de Estamira, n%o corremos o risco de ser s'rpreendido por Estamira. Esse território tem s'a an)!stia, é $em verdade, mas, para c3e)ar até l#, temos *'e ir para além do $iomédico médico,, onde onde >cam >cam as 4novas 4novas formas formas de existê existênci ncia4, a4, 'ma Cl2nic Cl2nica a para para Estamira.
Um flme
anota%o acima di& respeito ao >lme doc'ment#rio $rasileiro 4Estamira4 *'e conta a 3istória de 'ma portadora de sofrimento mental na $aixada ?'minense /próximo ao @io e Aaneiro0 *'e tirava o s'stento para s'a vida como catadora no lix%o. Ela esteve internada por ocasi%o da crise, sendo lo)o li$erada, como preconi&a a @eforma Psi*'i#trica. ó *'e o diretor "arcos Prado sem preoc'pa%o direta com nossos de$ates, nos mostra 'ma 4nova forma de existência4 para 'ma pessoa *'e n%o passa por 3ospitali&a%o em )randes o' pe*'enas 'nidades, nem por conten%o a n%o ser a medica%o posta a s'a disposi%o pela )ama de psicof#rmacos existentes at'almente. lém dessa idéia 4novas formas de existência4, tra)o considera%o *'e me tem sido !til no tra$al3o. Estamira me leva a três anota=es: 10 o >lme de "arcos Prado nos mostra o território de Estamira, o' Estamira em se' território do *'al ela n%o sai'. B0 experiência da carência crio' condi=es para a criatividade de *'e fe& prova Estamira na s'a forma de existência. 0 necessidade em pensar 'ma Cl2nica da Carência.
Por uma clínica da carência:
1. perda da experiência na modernidade. B. 6s irregulares, a*'eles *'e d%o testem'n3o da perda, ao mesmo tempo em *'e nos di&em como contin'ar. . 6 resto, o fra)mento, o ref')o, de *'e se apropriam os irregulares. D. C: persona)em cr'cial para a$ordar a carência, sua patologia. . lógica de *'e fa& 'so o irre)'lar: a n%o predica%o.
A modernidade e a experiência [Para este parágrao tive como reerência Adorno].
6 recorte *'e pon3o em desta*'e, aponta para a modernidade e conse*'entemente a perda do *'e c3am#vamos experiência. ;m primeiro testem'n3o, é encontrado no poeta *'e espairecia nas r'as con3ecidas de todos e por ele preferidas, a)ora na era da nossa modernidade, pe)o de s'rpresa passava ele a ser o ?ane'r passivo na m'ltid%o alvoroada /8ai tra$al3ar desoc'padoF Passo' a di&er a m'ltid%o0.
escrita do poeta passo' a ser, com o acontecimento modernidade, res'ltado de 'ma l'ta, 'm com$ate, 'm confronto com os in'mer#veis c3o*'es sofridos pelo 3omem na )rande cidade. 6 poeta responde com 'm )rito na tentativa de 4apropria%o da irrealidade4. 6 poeta foi 'm dos primeiros a ter consciência da m'dana de estat'to na sociedade moderna caracteri&ada pela priva%o da experiência. )ora n%o mais experiência, m'ito menos vivência. Perdi%o da realidade, experiência cada ve& mais esva&iada, real impenetr#vel, só restavam a mercadoria e o alvoroo das )randes cidades. Com a perda da experiência perdemos a rememora%o, # n%o 3# mais l')ar para as festas, nem tradi%o. 6 slo)an res)ate da tradi%o, nos deixa descon>ado de *'e al)'ma coisa # n%o existe, # foi deixada para tr#s. 6 folclore tem 'm ar de pro)rama do )overno, m'se' de cost'mes. em$ro esse mon'mento próximo da cidade de +am$'r)o na leman3a, feito para ser 'm l')ar de memória do desastre o$sc'ro *'e foi a II )'erra m'ndial< a cada ano o mon'mento se enterra al)'ns cent2metros, desaparecendo em nosso 3ori&onte, se afastando de nossa convivência. 5oi at'al o artista ao nos fa&er entender *'e os mon'mentos representam a memória, a tradi%o, a experiência *'e po'co a po'co desaparecem. 6s primeiros pacientes de 5re'd falavam dessa con?a)ra%o entre modernidade e experiência *'e # n%o encontra. Como sa$emos, fre*'entemente eram esses pacientes do Hr. 5re'd poetas e artistas do in2cio do séc'lo confrontados pela modernidade. Psican#lise nos momentos de mel3or inspira%o sempre esteve disposta a considerar a psicose como experiência radical, por isso mesmo exposta a desvios da ra&%o, sem *'e necessariamente tivéssemos *'e ver nessa experiência sinais de dé>cit o' defeito. 5re'd pensava *'e o del2rio era 'ma tentativa de c'ra, nova ordena%o do m'ndo a partir de premissas in'sitadas. 8amos considerar o del2rio a partir de 'm livro 4ire le délire. liénisme, r3étori*'e et littérat're en 5rance a' IJme siJcle4 de A'an @i)oli : a prod'%o na psicose. ssim era o caso do presidente c3re$er, nomeado para alto )rado na instKncia 'dici#ria, c'as memórias foram o$eto de leit'ra por parte de 5re'd e acan no campo da Psican#lise< sem es*'ecer o'tros leitores como Elias Canetti, e >lósofos o' liter#rios *'e viram no texto de c3re$er 'm enredo so$re o *'e acontecia na época, vis%o de acontecimentos pol2ticos, 3istóricos. Parece'-me interessante ler o livro de @i)oli, pois s'a doc'menta%o exp=e as tentativas dos primeiros psi*'iatras de darem conta do fato delirante. ;ma primeira tentativa consisti' em adivinhar o pensamento do delirante, 4ler no pensamento4 do alienado.
7ós *'e viemos depois de 5re'd, # n%o t2n3amos essas referências e entendemos como sendo simplesmente o conhece-te a ti mesmo o *'e levava a*'elas testem'n3as da modernidade a proc'rarem Hr. 5re'd. Essa atit'de, essa disposi%o de volta para si mesmo n%o so$reviveria 9 implanta%o 3e)emnica da modernidade. (ampo'co a volta para si do con3ece-te a ti mesmo daria conta do *'e ser# a avent'ra empreendida por Hr. 5re'd, # *'e a Psican#lise n%o se red'&ia a 'm experimento de pensamento, express%o encontrada em >lósofos c'a re?ex%o os levava a *'est=es na vi&in3ana da Psican#lise. té c3e)armos a 5o'ca'lt *'e nos prop'n3a como sa2da, considerar a experiência como contrapartida da ciência, ciência *'e 3avia levado # perfei%o a experimenta%o, retirando dela, precisamente, se's aspectos s'$etivos. experiência da lo'c'ra em nossa modernidade # n%o existe. s instit'i=es especiali&adas, os especialistas, cada 'm em s'a especialidade /doena mental, vel3ice, de>cientes f2sicos0 tratam de isolar e prote)er tais experiências retirando-as do ol3ar incomodado do p!$lico. 8oltemos a nossas *'est=es at'ais: veam o *'e acontece' com Lugares de memória, assim c3amados na 5rana, em comemora%o de fastos da @ep!$lica, do nti)o re)ime. @ecentemente li *'e teóricos # prop'n3am *'e poder2amos deixar para a 3istória o encar)o de re)istrar esses fastos e nefastos. (ratava-se de 'm de$ate so$re o *'e fa&er com a memória de 'sc3Lit&. e # n%o 3# experiência, n%o 3# tradi%o, nem tampo'co sa$emos mais o *'e nos é com'm. té $em po'co tempo, sa$2amos o *'e t2n3amos em com'm com as pessoas com *'em nos relacion#vamos, o' *'e con3ec2amos, o' *'e recon3ec2amos como sendo nossos... /falto'-me a palavra0. 5i*'ei impressionado com a po$re&a do me' voca$'l#rio no ass'nto. Hepois retomei a respira%o, e disse *'e talve& nen3'm dos termos *'e me ocorreram para preenc3er o va&io deixado na min3a frase me parecia 3oe em dia indicado. ntes *'al*'er 'm de nós sa$eria di&er 4s%o nossos parentes4 /laos familiares0, 4somos conterrKneos4 /laos de nacionalidade, de ori)em )eo)r#>ca0, 4pertencemos 9 mesma reli)i%o4 /ori)em reli)iosa o' c'lt'ral0, 4estamos inscritos no mesmo partido4 /lo)o lem$r#vamos as campan3as *'e 3av2amos feito 'ntos, em prol de 'm mesmo candidato, de 'm mesmo pro)rama pol2tico, do mesmo sindicato0.
té servio militar servia para nos fa&er sentir *'e t2n3amos al)o em com'm com tal pessoa con3ecida na idade ovem a)ora reencontrado na idade ad'lta. Em ve& dessas referências, somos at'almente c3amados a responder pelo nosso em-com'm através de /10 a m2dia e s'a pes*'isa i$ope, /B0 através do espet#c'lo propiciado pelos pol2ticos em vésperas de elei%o, /0 através de apelo vindo de dois campos /na=es do $em e na=es do mal0 *'e se formam diante de nossas mentes e cora=es estarrecidos, /D0 através do disc'rso ecoló)ico apressadamente form'lado em tom de ameaa, /0 *'ando se trata de preven%o em sa!de p!$lica *'e nos identi>ca simplesmente pelo sintoma o' pelo atestado de 'ma doena. 7en3'm dos apelos nos convence. Hesacreditados o social e se' lao, >co' o va&io, e com o va&io desco$rimos novas dimens=es para o em com'm. 6 despoamento dos si)ni>cantes *'e pesavam em nossas identi>ca=es nos li$era para 'ma o'tra dimens%o. 8amos anotar a per)'nta: em *'e medida a nomea%oMsi)ni>cantes identi>catórios est%o comprometidos com a ló)ica da predica%o, com se's rót'los, atri$'tos, dia)nósticosN Poder2amos c3e)ar a 'ma pr#tica pol2tica M cl2nica sem estarmos ancorados na nomea%oMsi)ni>cantes identi>catórios N experiência e as minorias: a sol'%o com'nitarista. 4)ora e' so' al)'émF4 depois *'e comeo' a fre*'entar tal /i)rea0 com'nitarista. 46 pastor e cada 'm dos presentes &elam por mim4, acrescentava. Heclara=es semel3antes podemos col3er 'nto a participantes de )r'pos de atendimento com'nitarista como para alcoolistas, assim como para dro)aditos< a mesma declara%o é col3ida por parte de apenados em pris=es. (emos *'e admitir *'e 3# al)o de verdadeiro em tais declara=es. 8amos examin#-las com a aten%o *'e elas merecem. o tratar como p'ra diferena os partic'larismos representados pelas minorias, lo)o rei>cadas pelo recon3ecimento a elas atri$'2do, a modernidade contemporKnea conse)'e 3omo)enei-los, ao mesmo tempo *'e reparte a sit'a%o em s'$-con'ntos artic'lados $'rocraticamente. 6 saldo da opera%o vem a ser 'm 4novo contrat'alismo 'niversalista4 pretensamente )arantidor de 'ma reali&a%o de totali&a%o /m'ndiali&a%o0.
O'anto a nós, desde sempre so'$emos da tens%o entre 'niversal e partic'lar< so'$emos do l')ar ne)ativo c'a marca é deixada pelo partic'lar, se pretendemos de>ni-lo. o'$emos *'e ao ne)ar o 'niversal, o partic'lar o reali&a, demonstrando assim impossi$ilidade de totali&a%o. O'al é o real 'ni>cador dessa promo%o da virt'de c'lt'ral dos s'$con'ntos oprimidos, desse lo'vor da lin)'a)em dos partic'larismos com'nit#rios /os *'ais em 'ltima instKncia remetem para além da na%o, da reli)i%o o' sexo0N 6 'ni>cador é evidentemente a a$stra%o mercadoló)ica, c'o falso 'niversal aceitaria perfeitamente partic'laridades com'nitaristas. E n%o ser# ren'nciando ao 'niversal concreto das verdades para a>rmar o direito das 4minorias4 raciais, reli)iosas, nacionais o' sex'ais, *'e se amortece a devasta%o # ca'sada. ló)ica identit#ria *'e s'stenta as minorias, lon)e de se orientar em dire%o a 'ma apropria%o dessa tipolo)ia, n%o prop=e sen%o 'ma variante do vé' de enco$rimento capitalista. Ela polemi&a contra todo conceito )enérico da arte e o s'$stit'i, por s'a própria conta, pelo de c'lt'ra, conce$ida como c'lt'ra do )r'po, cimento s'$etivo o' representativo de s'a existência, c'lt'ra destinada a si mesmo e potencialmente n%o 'niversalivel. Ela n%o 3esita, além disso, em deixar claro *'e os elementos constit'tivos dessa c'lt'ra n%o s%o plenamente compreens2veis, a n%o ser so$ a condi%o de 'ma pertinência ao s'$con'nto considerado. He onde os en'nciados catastró>cos do )ênero: só 'm 3omossex'al pode 4compreender4 o *'e é 'm 3omossex'alF ;m 4careta4 n%o sa$e o *'e sea cons'mir dro)asF Com esses dois depoimentos, $atemos 9s portas da cl2nica. 6s cons'midores de sintoma /4cons'mos fat2dicos40 encontrados em )r'pos , dro)aditos, se acomodam ao paradi)ma das leis do mercado. ssim tam$ém os pro>ssionais encarre)ados do atendimento aos *'e os proc'ram. Com o a$andono dos vel3os ideais, o pro)resso das ciências e se's novos o$etos tecnoló)icos parecem promover o imperativo de 's'fr'ir do )o&o do cons'mo ao sep'ltar a especi>cidade do deseo. Com isso, a reparti%o $'rocr#tica do espao s'$etivo através de critérios estran3os 9 sit'a%o tem conse*ências na pr#tica cl2nica. 6 partic'larismo e s'a )est%o com'nit#ria têm tra&ido conse*ências not#veis ao n2vel do atendimento cl2nico, *'ando res'lta em reparti%o do espao s'$etivo em f'n%o de critérios partic'laristas /falsamente identi>catórios, o' identi>catórios as c'stas de rót'los, o' dia)nósticos *'e valem como esti)mas o' em$lemas classi>catórios0. Esva&iam-se as *'est=es tra&idas pelo p!$lico *'e proc'ra o pro>ssional 4psi4 ao desviar-se a demanda eni)m#tica, orientada a)ora em termos 'nicamente de *'eixa. @e>ro-me expressamente aos )r'pos de atendimentos denominados )r'pos de portadores de E@ /les%o por esforo repetitivo0, )r'pos de toxicmanos,
)r'pos de 3ipertensos, )r'pos de dia$éticos, )r'pos de m%es em tais o' *'ais condi=es...e assim por diante. O'anto 9s minorias, trata-se de 'm pro$lema delicado, pois n%o $asta passar de 'ma sit'a%o de excl's%o a 'ma 4a'tonomi&a%o com'nitarista4. +# de fato, na matéria, d'as concep=es: 'ma pensa a *'est%o visando a consolida%o do dispositivo com'nitarista, o *'e certamente tra& efeitos positivos *'e tem a ver com defesa de direitos e acompan3amento de pr#ticas sociais discriminatórias. o mesmo tempo, essa concep%o tra& 'm inconveniente f'ndamental. (ransforma o pa2s em 'm mosaico de minorias, onde cada 'm defende s'a identidade sem *'e isso tra)a mel3orias ao *'e poder2amos c3amar i)'aldade pol2tica no espao p!$lico. Hefender direitos, a própria identidade, sem artic'la%o maior *'anto ao espao de decis=es )erais, n%o )arante a defesa dos direitos das minorias, incl'sive os direitos c'lt'rais, pois n%o a incl'i 'ma circ'la%o )eral onde se sit'a a pr#tica pol2tica. He *'e, efetivamente, se comp=e nossa at'alidadeN 6 cr'&amento entre a ideolo)ia c'lt'ralista e a concep%o do 3omem como v2tima fa& s'c'm$ir todo acesso ao 'niversalismo, o *'al n%o tolera ser consi)nado a 'ma partic'laridade, nem )'arda rela%o direta com o estat'to dominante o' t2pico de vitima. ló)ica )lo$ali&ante e o fanatismo da identidade associados, )raas a 'ma insepar#vel c'mplicidade, constrói a com'nitari&a%o do espao p!$lico, a ren!ncia 9 ne'tralidade transcendente da lei< com isso, o Estado pretende ser o )'ardi%o da identidade atestada da*'eles de *'em ele se encarre)a. He 'm o'tro lado, 3# 'm processo de fra)menta%o em identidades fec3adas, implementado pela ideolo)ia c'lt'ralista e relativista *'e acompan3a essa fra)menta%o. Esses dois processos s%o perfeitamente intrincados, pois cada identi>ca%o /cria%o o' monta)em de identidade0 cria 'ma >)'ra *'e fornece matéria para se' investimento pelo mercado. 7ada de mais cativante para o investimento mercadoló)ico, nada *'e oferea mais para a inven%o de novas >)'ras da 3omo)eneidade monet#ria *'e 'ma com'nidade e se' o' se's territórios. Q preciso a aparência de 'ma n%o e*'ivalência para *'e a e*'ivalência sea, ela própria, 'm processo. O'al mel3or fonte de investimentos, ines)ot#vel *'e é para o mercado, *'e o s'r)imento na cena, em forma de com'nidade reivindicativa e de pretensa sin)'laridade c'lt'ral, das m'l3eres, dos 3omossex'ais, do )r'po de ovens, dos *'e foram classi>cados como 4terceira idade4, dos toxicmanosN cada ve& 'ma ima)em social a'tori&a prod'tos novos, loas especiali&adas, centros comerciais ade*'ados, r#dios, (8s, redes p'$licit#rias direcionadas para se's nic3os, e en>m, 4de$ates de *'est=es sociais4 em 3or#rios de )rande a'diência. RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR
+# l')ar ainda para a cl2nicaN eria poss2vel 'ma cl2nica da carência, da precariedade /inventiva e criativa de novos usos0 em contrapartida 9 posi%o de v2tima o' misera$ilidadeN Para tanto, tratar-se-ia de fa&er s'r)ir si)ni>ca%o de fra)mentos em pedaos res'ltantes de destr'i%o da experiência. Em *'e podem nos interessar esses fra)mentosN endo o inconsciente atemporal, as conex=es entre 'm fra)mento e o'tro n%o o$edecem a restri=es de tempo o' marca cronoló)ica< podemos acrescentar *'e /nos son3os, por exemplo0 referidos fra)mentos s%o provenientes de diversas ori)ens. 7a verdade eles s%o reempre)ados, o' se preferirem reciclados a cada ve&. 7%o 3#, portanto cadeia, mas conex%o entre os elementos o' fra)mentos. Pr#tica pol2tica i)'almente, é ela formada de se*ências >nitas /veam a contrapartida memória eMo' l')ares de memória para comemorar fastos e nefastos de anti)os e o'tros re)imes0, se's rec'rsos provem do reempre)o de elementos de diversas fontes, tal, como no inconsciente. Em ve& de identidade, de )randes oposi=es, de ideais, tra$al3amos com a m2nima diferena< a identidade tem sido fonte e ori)em de descrimina%o, se)re)a%o, precisamente a partir de critérios tra&idos pela técnica em se' est#)io at'al. 6 s'eito perdido na )rande cidade poder# sempre ser confrontado 9 resposta *'e o constit'i' como s'eito. Ele # de' a resposta *'ando nós o atendemos. 7esse item encontramos o tema da responsa$ilidade, mas a)ora li$erado da s'a car)a moral, do se' feitio 'r2dico.
2. A irregularidade do grafteiro!pic"ador: o corpo da sua escrita
7o séc'lo I /precisamente, na época em *'e a "odernidade se imp'n3a fa&endo desaparecer a experiência0 a arte dos lo'cos, a arte das crianas, as artes ditas primitivas, eram re'nidas n'm con'nto onde os cr2ticos viam de>cit e maladresse . 6 con'nto formado por essa prod'%o era avaliado de acordo com normas e cKnones *'e deveriam nos fa&er ter acesso ao $elo através de 'l)amento estético 'niversal, privilé)io de *'em 3avia passado pela experiência a)ora em fase de destit'i%o. 6 arcaico, o selva)em, o infantil, repentinos arro'$os re)ressivos eMo' $al$'cios de 'm in2cio por ser vivido, eram considerados por 'ma E'ropa colonialista, em oposi%o a evol'2do, civili&ado. Prod'=es art2sticas devidas a portadores de sofrimento mental nos levaram a recon3ecer por ve&es, o )ênio na lo'c'ra. Essa prod'%o era encontrada n%o somente em 3ospitais
e asilos, mas era devida a pessoas por ve&es excêntricas e mar)inais, fre*'entemente mal adaptadas 9 sociedade tal como ela era. l)'mas exposi=es o'saram mostrar o novo acervo. 'r)e ent%o 'ma *'est%o: O'e classi>ca%o adotar na prepara%o de 'm cat#lo)o como é de praxe nas circ'nstKnciasN reviravolta se de' no séc'lo *'ando passamos a valori&ar a imat'ridade, o inaca$ado, o primitivo. Em 1SB1, em 5ranTf'rt 4os desen3os patoló)icos4 foram a)r'pados em três )r'pos: 10 *'adros *'e lem$ram o$ras expressionistas< B0 *'adros *'e lem$ram desen3os de criana< 0 *'adros *'e lem$ram o$ras de civili&a=es extintas. 7o entanto, a classi>ca%o deixava a desear. analo)ia com arte primitiva n%o satisfa&, pois ela é sem f'ndamento< *'anto 9 arte moderna, sea ela expressionista, c'$ista, o' f't'rista, o$edece ela 9 ló)ica, atende a al)'ma pro$lem#tica, inscreve-se por se' lado como 'ma resposta pl#stica na 3istória do academismo e'rope'. 6 termo 4arte $r'ta4 # foi lem$rado< parece'-me ele mais próximo do *'e encontramos na prod'%o )r#>ca de )ra>teiros deixados nos m'ros e painéis, estes !ltimos *'ando disponi$ili&ados por al)'ma instit'i%o.
#rafteiro $ Pic"ador. Um caso para ilustrar
Examino o caso de 'm )ra>teiroMpic3ador levado por necessidade interior incoerc2vel *'e o fa&ia prod'&ir inscri=es *'e il'stravam sit'a=es tra'm#ticas vividas por ele, tomado por imp'lso *'e invade se' corpo dando a ele elasticidade e a)ilidade ins'speitadas. 6s ra$iscos carre)ados 3a$itados por express%o pl#stica in'sitada, insepar#veis de 'ma cena sem palavras, artic'lam )ra>as e 2cones, com tendência a oc'par todo o espao dispon2vel, criando prolifera%o inconveniente. (al arte e' a colocaria do lado dos 4irre)'lares4, e n'nca do lado das crianas o' dos primitivos, como 3avia pensado o cr2tico de arte diante das o$ras de arte c3amada 4irre)'lar4 no séc'lo I. EspontKneos e instintivos l# est%o os irregulares na periferia das )randes cidades, nos arra$aldes do planeta, fre*'entemente li)ados 9 tradi%o oral, 9 m!sica 3ip-3op o' rap, 9 dana. 7o caso do Urasil encontro no $allet da
capoeira de n)ola a express%o pl#stica c'a partit'ra seriam os )rossos riscos, traado enf#tico, deixados nos m'ros, paredes, mon'mentos /infra%o considerada em nosso códi)o penal pass2vel de medida socioed'cativa, tal como presta%o de servios 9 com'nidade0, mon'mentos c'a memória sem pensamento # n%o é recon3ecida pelo ovem )ra>teiroMpic3ador. a$orda)em a*'i proposta, por en*'anto denominada 4arte irre)'lar4, ao ser pensada pode retirar o ovem de se' )'eto, minoria, o' $ando como *'eiram c3amar< retirar *'er di&er lan#-lo em dire%o ao )rande movimento de prod'%o art2stica *'e vai pelo m'ndo afora. té ent%o eles eram e ser%o mantidos na periferia das cidades, mesmo fre*entando conc'rsos o' c'rsos *'e viesses re)'lari&ar a atividade de )ra>teito. 6 mesmo diria em se tratando do catador de papel a *'em se desse como referência o )rande movimento ecoló)ico *'e perpassa o m'ndo, desde a leman3a onde o Partido 8erde /Hie Grne0 # fe& parte do )overno de coali&%o, até o Green Peace em s'as intrépidas avent'ras no mar, nos ares, na terra. ;ma exposi%o de o$etos reciclados n%o $asta< >cam faltando 'ma clinica e se' pensamento.
%. & resto' o ragmento' o reugo
Estamira, com *'em fomos aprender os primeiros passos da presente re?ex%o, era catadora de lixo no terro anit#rio, de onde tirava se' s'stento, onde encontrava se's compan3eiros e com eles praticava s'a >loso>a. 8amos re?etir so$re essa face de Estamira. Certa ve& dando s'pervis%o para pro>ssionais psi em ;nidade de recicla)em de material coletado na )rande cidade, anotei: Estamos comprometidos com maior e>ciência /(ria)em e Gest%o do material coletado, a ser reciclado0, mas n%o es*'ecemos a 4coleta porta-aporta4, e com ela a ?exi$ilidade, o informal, todos eles itens e aspectos da carênciaMprecariedade de>nida como fonte de criatividade e inven%o c'o alcance nos remete, nem mais nem menos, aos pro$lemas da 3'manidade neste séc'lo I. tria)em feita # pelo catador *'e separava minimamente os o$etos coletados necessariamente 3eteróclitos, al)'ns em fra)mentos, o'tros estra)ados, o'tros em $om estado prontos para serem re'tili&ados, # nos oferecia 'ma vis%o tra&ida pelo catador após s'a ronda pela cidade, en*'anto ela cidade )rande se representava como racionalmente ordenada, ordeira em se's passeios retil2neos, s'a limpe&a p!$lica. Cons'ltei 4Gestion des déc3ets et Ed'cation 9 lVenvironnement4. Hepois li 'm po'co so$re a >loso>a /como se di&F0 do material:
ixo, resto, ref')o, porcaria..., s%o no=es a serem de>nidas neste campo espec2>co do sa$er com recortes tecnoló)icos, antropoló)icos, >losó>cos. 6 resto, o *'e é posto de lado, por ve&es para ser es*'ecido, por ve&es contem o sentido ori)inal o *'al *'eiramos o' n%o, prolifera no m'ndo. He fato, a perda e s'as diversas modalidades nos remetem 9 matéria, o material, s'a capacidade de rec'pera%o, volta ao ciclo nat'ral das coisas. 6 lixo o *'e é reeitado, parte r'im no prod'to t%o $em em$alado, antes cons'mido, a)ora motivo de noo, de despre&o. a$emos conf'samente *'e o lixo pode se ac'm'lar, para isso criamos em port')'ês o termo lix%o na tentativa de isol#-lo no aterro. té c3e)ar 9 porcaria *'e nos fa& próximo da nat're&a na s'a s'posta $aixe&a, nos fa& recon3ecer intimidade com as excre=es, secre=es, a decadência f2sica, a morte. 6 refugo *'e nos fa& dispensar o in!til, o rid2c'lo, o insi)ni>cante. (%o po'co *'e n%o merece aten%o por parte de nosso esp2rito por 3#$ito t%o distante da matéria, da nat're&a. prod'%o ind'strial, 'ma ve& atin)ida a dimens%o dita de escala, se' processo tecnoló)ico /ce)o # *'e descon3ece os s'eitos a *'em ele se diri)e0, por ve&es, é visto como ori)em de t'do isso, mas tam$ém visto como fonte de sol'=es m#)icas. Gostar2amos de pensar n'ma clínica da carência /como orienta%o de nosso tra$al3o0 como ocasi%o de recon3ecer criatividade e inven%o, por exemplo, na constr'%o de 'm $arraco. constr'%o de 'm $arraco na favela teria al)'ma coisa a nos ensinarN Pela s'a simplicidadeN +averia 'ma estética do simplesN 6' c3e)amos ao simples após ela$ora%o cienti>caN He al)'ma maneira, a$andonei essas *'est=es, e anotei: 1. Hissociar os 'sos e os termos o$etivantes *'e os so$recarre)am, até *'e 'ma anela e s'as persianas voltem a ser 'ma a$ert'ra para o ar o' para a l'& e s'a oc'lta%o, o' 'ma >leira de col'nas possa ser visto como 'm m'ro, ora a$erto, ora descont2n'o em certos l')ares, assim tam$ém 'ma cerca, 'ma >leira de potes com plantin3as. B. 7ovos 'sos /G. )am$en0: o$etos lanados pelo marcado podem nos servir para 'so n%o previsto pelo mercado. D. 6s $arracos certamente s%o constr'2dos de acordo com as necessidades, mas nada impede *'e 'ma invariante de forma /inclina%o do teto0 faa s'r)ir 'ma constante, isto é, a )eometria se fa& presente. anota%o decisiva vem a)ora: o constr'tor de $arraco re'nindo n'ma só >)'ra a concep%o, o desen3o sea ele prec#rio o' s'm#rio, a constr'%o, >nalmente o 'so, tira a r*'itet'ra de 'm impasse a *'e se referem ar*'itetos entrevistados, #
*'e estes pro>ssionais sofrem da se)menta%o da s'a arte /estereotipada entre concep%o, desen3o a m%o, desen3o a três dimens=es no comp'tador, constr'%o e 's'#rio, cada opera%o a car)o de 'm especialista0, a 'm ponto tal *'e al)'ns se voltam para experiências na favela. P'de re?etir com eles so$re a sol'%o /dialéticaN0 do impasse encontrada pelo constr'tor de $arracos. [1]
(. Uma )línica para o P*+ ,Programa de sa-de da amília
H'as o' mais pessoas em associa%o no território ser# c3amada 'm coletivo. Cl2nica ser# exercida no coletivo. +# 'ma distin%o a fa&er entre grupo e coletivo. Uma atividade de Grupo (Grupo terapêutico, grupo Operativo) usca !usti"cativa numa certa legalidade, num certo tra!eto previsto desde o in#cio (inscri$%o, pertencimento em virtude de diagnóstico, tra$os culturais ou f#sicos) . Os sintomas em Grupos &ono sintom'ticos, por exemplo para entrar no Grupo precisa ter o sintoma. Um oletivo tra* em si uma legitimidade +ue o !usti"ca. 7osso tra$al3o, *'ando ele se vale dessa le)itimidade, vai além
dos limites inicialmente esta$elecidos. 7o atendimento coletivo, a le)itima%o s'r)ida a'tori&a 'm dos participantes fa&er coment#rios *'e di>cilmente seriam feitos /com os efeitos *'e constatamos0 na sala do médico o' do psicólo)o. 6 coletivo trata da s'$etividade a*'i de>nida como con!uga$%o de ocial e sicológico.
/errit0rio ,A reerência a1ui o grande ge0grao 3rasileiro 4ilton *antos.
6nde encontrar o territórioN (erritório é de>nido por: nós somos da+ui e +ueremos "car a*'i. 6 termo território é con3ecido na dministra%o, a*'i ele toma sentido especial. Ele pode crescer, dimin'ir, pode ir além, m'ito além /como di&ia Estamira convocando o alm em se' disc'rso delirante0. 7a rede, posso lem$rar 'ma sala de espera como 'm l')ar onde 3# ind2cios de território. 6s )estos, as conversas rolam soltas. estraté)ia das falas po'co tem a ver com o 4di#lo)o4 travado *'ando o paciente é c3amado na sala de atendimento. He repente, m'da o cen#rio, # n%o é o território, nem as falas faladas no território.
& 1ue *u35etividade6
s'$etividade poderia ser al)o próximo do *'e entendemos como t2picoN 6 livro 4"ac'na2ma, o 3erói sem nen3'm car#ter4 /1SBW0 tem sido lido como sendo t2pico do $rasileiro. 7a época /1SBW0, $'scava-se de>nir e orientar o *'e deveria ser 'm tipo $rasileiro /capa& de manter o pa2s 'ni>cado, formar 'ma na%o !nica ameaada # pela extens%o )eo)r#>ca0. Era a época posterior 9 c3e)ada dos imi)rantes em %o Pa'lo. 6 estran)eiro era visto como ameaa. 6 tema /raa, 'nidade nacional0 tam$ém estava na moda. 6s paises da E'ropa se in*'ietavam com o *'e se preparava na leman3a com ascens%o do na&ismo e do fascismo. 8amos acompan3ar o persona)em /"ac'na2ma0 com s'as contradi=es, complexidade, mestia)em, *'e n%o se coad'nam com 'ma tipolo)ia. li#s, o t2t'lo 43erói, sem nen3'm car#ter4 s')ere despoamento, inconst/ncia de alma, a$andono de si)ni>cantes identi>catórios, assim como atri$'i=es classi>catórias. Essa a inda)a%o *'e nos oriento' na presente pes*'isa.
Perdemos com a su35etividade6
Para a s'$etividade, só resta o inevit#vel, a$raar o destino acontea o *'e acontecerN 8amos contin'ar examinando a *'est%o $ord#vamos a s'$etividade através da tipolo)ia *'e pretende ser ta*'i)ra>a da realidade, 2cone *'e pretende res'mir a complexidade de 'm caso. "ac'na2ma é o nome dele, dito o tipo do $rasileiro. >)'ra de "ac'na2ma foi vista como 'm pres'mido 4 modo de ser $rasileiro4 descrito como l'x'rioso, #vido, pre)'ioso, e son3ador /termos *'e convém a 'ma tipolo)ia toda ela comprometida, de maneira nen3'ma inocente0, caracteres *'e l3e atri$'2a Pa'lo Prado, em 0etrato do 1rasil /1SBX0. 8amos pass#-lo ao crivo de m'ltiplicidades e varia=es, para inda)ar se m'itas ve&es n%o passam de estereótipos forados pelos mitos. 6s mitos n'nca s%o inocentes. realidade n'nca é completa, inexor#vel. Por isso mesmo *'e preferimos falar do paciente e se' sintoma *'e aca$a tra&endo 'm s'plemento *'e fa& entrar o acaso no 'niversal /da doena0. 6 sintoma do paciente, mesmo s'$metido # precariedade, 9 d'vida, 9 incerte&a, propicia al)'ma consistência ao m'ndo.
&s tipos n7o s7o estere0tipos.
produ8idos pela su35etividade' eles s7o
Contrariamente 9 tipolo)ia, preferimos dispensar todos os si)ni>cantes identi>catórios /psicoló)icos parentais, c'lt'rais, o' simples estereótipos0 reservando l')ar para o real da carência, do tra'matismo tal como ele é. 6 P5 é o recon3ecimento de *'e existe 'm território /a ser visitado pelo médico e s'a e*'ipe0, *'e o p!$lico n%o é massa, nem classe, mas o coletivo formado pelas pessoas residindo na*'ele território, na*'ele $eco, na*'ele lote fre*entemente oc'pado por v#rias fam2lias. +# prod'%o de '$etividade, mesmo em condi=es desfavor#veis para o s'r)imento do s'eito. O'ando al)'ém fala, podemos di&er *'e ele o fa& a partir de 'm ponto de vista, 'ma posi%o. Criar condi=es para o recon3ecimento dessa posi%o su!etiva, (no caso de 2stamira inclui o del#rio0 si)ni>ca deixar vir s'a vo& n'a e cr'a, sem )arantia de realidade . 3osso recorte tra* caso de 3omem *'e *'eria 'm atestado *'e o
dispensaria de tra$al3o por motivo de sa!de. Y ocial tem a ver com associa$%o , a'ntamento, associa%o nova *'e *'e$ra certe&as ao introd'&ir 4novos 'sos4 para o$etos no campo da solidariedade, familiar, da sex'alidade, da l2n)'a, da propriedade. Y ;ma associa%o n'm território ser# c3amada 4'm coletivo4. Y 6 coletivo d# le)itimidade. 7osso tra$al3o *'ando ele se vale dessa le)itimidade, vai além dos limites esta$elecidos. 6nde encontr#-laN Y 6 termo território é con3ecido pela lin)'a)em administrativa, mas a*'i nós o empre)amos de maneira especial. 6 território pode crescer, pode dimin'ir, pode ir além, m'ito além, como di&ia Estamira< ele n%o é limitado como pensa a administra%o. (erritório é de>nido por 'ma frase: nós somos da*'i e *'eremos >car a*'i. Y 7a rede de a!de mental posso lem$rar a sala de espera como 'm l')ar onde 3# ind2cios de território. s conversas rolam soltas, os )estos, a estraté)ia das falas po'co tem a ver com o 4di#lo)o4 travado *'ando o paciente é levado para a sala de atendimento. He repente, m'da o cen#rio. A# n%o é o território, nem as falas faladas no território. Y ;ma ve&, /n%o é cost'me0, convidamos todos os *'e esperavam na sala de espera para entrar na sala de atendimento. Como eram oito o' nove, cada 'm tro'xe s'a cadeira. Era o coletivo e a respectiva le)itima%o *'e se insta'ravam. ;m dos pacientes 3avia an'nciado s'a *'eixa e s'a demanda: 'm atestado para afastamento do tra$al3o. O'ando ele entro' na sala, 'ma m'l3er a po'co metros, lano': 4+'m 'm 3omem t%o forteF4 o' sea, ainda em condi=es de prod'&ir >l3os e s'stentar 'ma fam2lia, ass'mir 'ma m'l3er, d# pra&er a ela. Y 6 3omem *'e pretendia 'm atestado para a'sentar-se do tra$al3o, desisti' da s'a demanda, n%o disse mais nada.
Y 7o atendimento coletivo, a le)itima%o s'r)ida a'tori&a a paciente fa&er coment#rios *'e di>cilmente seriam feitos caso estivéssemos na sit'a%o de sala de atendimento. 7esta !ltima, m'da a sintaxe na fala, m'da o 'niverso semantico-pol2tico das frases< perde-se a le)itimidade.
A *u35etividade
Cl2nica do P5 é experiência contestadora por*'e contrapartida para a especiali&a%o no momento at'al 3e)emnica na pr#tica médica< contestadora por*'e contrapartida 9s diversas orienta=es na a$orda)em da psi*'e 3'mana, a)ora foradas a 'ma nova vis%o em virt'de da carência em *'e vive a pop'la%o.
& A)* ,Agente )omunitário de *a-de personagem crucial
)rande novidade tra&ida pelo P5 est# personi>cada pelos C. Pa)os como terceiri&ados, por conse)'inte n%o plenamente recon3ecidos, como convém aos *'e s%o admitidos sem *'e o sistema saia, sem *'e sistema *'eira se dar conta. 6 sistema /# por fora do avano tecnoló)ico *'e envolve a medicina0 só forma especialistas /est'dos at'ais0. *'erela )eneralista especialista /apoio0 passa a ser menos importante *'ando o persona)em C a resolve indo além do impasse. criatividade advém sem *'e nen3'ma ciência sea avisada. Ele n%o é técnico, nem tem diploma, ele é a)ente. 6 C sem nen3'ma di>c'ldade pratica a a$orda)em pela s'$etividade /mist'ra de ocial e Psicoló)ico0. 6 aviso de praxe *'ando 3# visita domiciliar n%o é constran)imento para o C. Ele é 'ma espécie de informante, visitador 8icentino, /novo0 psi da Cl2nica da Carência, ponte entre o sistema e o povo. C: por *'anto tempoN o)o ele poder# ser rec'perado, lotado em al)'m or)ano)rama /diploma, conc'rso, en*'adramento0. "as, no momento at'al s'a ori)inalidade é asse)'rada pela improvisa%o *'e cerca se' estat'to. 7%o poss'indo diploma /c'rso s'perior0 ele pode ser visto como al)'ém sem condi=es de assimilar a informa%o, transmitindo a informa%o de maneira defeit'osa /depoimento de al'na na ;niversidade0. "in3a o$serva%o vai em sentido contr#rio.
9. Uma l0gica n7o predicativa
O'al a ló)ica *'e s'stenta o irregular N (er# *'e ser 'ma ló)ica n%o predicativa. 6nde encontrar 'ma ló)ica n%o predicativa em 'soN
a0 8amos encontrar 'm primeiro exemplo na ló)ica do conto de G'imar%es @osa 4"e' tio Ia'aretê o' o caador *'e viro' ona4 no vol'me 4Estas +istórias4 /1SX10. teatrali&a%o do conto foi levada ao palco anteriormente, a*'i ela de' mar)em para a proposta *'e tra&emos, o' sea, 'ma ó)ica n%o predicativa, o' em contra partida # ó)ica Predicativa, o' ó)ica de Predicados. 8eamos como o espet#c'lo era apresentado em Glo$o @'ral de 7ovem$ro de BZZD: 4"e' tio Ia'aretê4 é 'm monólo)o-di#lo)o de 'm $')re contratado para 4desonar4 o m'ndo. Ex2mio caador, ele comea a li*'idar pinimas e s'a'ranas mas, aos po'cos vai se identi>cando com elas, até se arrepender, e passar a prote)ê-las. Paro' de matar4. 7a experiência a *'e me re>ro, Gercino, encenador do conto, e Emerentina @a$elo /assistente social0 >&eram coment#rio após a encena%o, tra&endo os persona)ens para nossa sit'a%o, # *'e atendem em 'ma cl2nica de a!de "ental fre*entada por ovens portadores de sofrimento mental, fre*'entemente em con?ito com a lei, em véspera de delin*ência. Hisse Gercino /ele mesmo mestre de capoeira0: a ona mata para so$reviver, assim tam$ém o macuncoso *'e viro' ona. E os meninos *'e atendemos a*'i no posto de sa!deN E os psicólo)os /a *'em Gercino se diri)ia na*'ele momento0 como v%o eles atender al)'ém *'e 4viro' $ic3o4 para so$reviver, tais as di>c'ldades no se' diaa-dia, noite adentro, c3e)ando a ro'$ar, até matar para.../7%o contin'o' a frase. Como falar da transforma%o ao a$andonar a ló)ica da predica%oN Essa é a nossa per)'nta, a ser levada em conta *'ando fa&emos 'ma cl2nica da carência0. $0. ;ma se)'nda referência para nós, tem sido a cr2tica de Ian +acTin) 9 classi>ca%o como opera%o de en)essamento das pessoas /45aonner les )ens4 no site eletrnico do CollJ)e de 5rance0. Hi& ele: acent'ar a importKncia de novos nomes para desi)nar novas formas de tra$al3o, de novos of2cios, de novas classes sociais, dia)nostico, é talve& simpli>ca%o excessiva. 7%o falo de 'm mito constr'2do tal como no caso de 'm 4pensamento primitivo4, mas da potência dos nomes na nossa própria civili&a%o. Hêem 'm *'ali>cativo com'm a al)'ém, feio o' $onito, e este o' a*'ele pode passar a ser feio o' $onito. conse*ência $anal transparece na o$serva%o de 7iet&sc3e: o nome das coisas importa mais do *'e t'do *'e elas posam ser.
7iet&sc3e coloca este pro$lema nos se)'intes termos: a rela%o paradoxal entre os nomes e as coisas ca'sa 4)rande di>c'ldade4. di>c'ldade, di&, é de 4nos darmos conta4. s rela=es entre os nomes de tipos de pessoas, e as pessoas, s%o para nós, praticantes do sa$er psi, tam$ém )rande di>c'ldade. Em princ2pio, di&emos *'e as coisas s%o mais importante *'e se' nome, mas nós devemos admitir - com consterna%o - *'e nomear 'ma cate)oria de pessoa é fre*'entemente pro$lem#tico, e *'e é importante para a própria concep%o *'e o indiv2d'o tem de si mesmo. c0 47ovos 'sos4 foi no%o f'ndamental para nossas interven=es n'ma Cl2nica da Carência. 6 termo proposto por )am$en /no livro 4Profanations40 é tra&ido no contexto onde o 'so de o$etos reservados ao c'lto e ao sa)rado foi fonte de discrimina%o. s concess=es $astavam aos lei)os *'e se satisfa&iam com o *'e restava. ó assim eles se apropriavam /profana%o0 de partes do animal sacri>cado *'e de in2cio n%o l3es eram devidas. @es)atar o$etos de 'm 'so de inicio reservado ao sa)rado, essa seria a tarefa pol2tica *'e nos inc'm$e. 7a at'alidade, permitir-se 'so em nada consentKneo com o marTetin) seria demonstra%o de criatividade e inven%o de *'e as crianas d%o prova em se's o)os. 6 cons'mo desenfreado vai contra esse movimento criativo *'e se imp=e como freio e critica a manip'la=es de *'e somos alvo no s'permercado e no s3oppin) de *'al*'er cidade. ;ma si)la, 'm 2cone, 'm lema expostos na lo)omarca o' )rife de 'ma marca s%o ocasi%o para reservar M preservar 'm o$eto c'o 'so passa a ser codi>cado. Em casas de )ente com parcos rec'rsos o$etos s%o aproveitados na co&in3a, no *'arto de dormir, até na sala. ;ma lata, 'ma caixa, 'm material especial, c'o conte!do foi alimento o' o'tra coisa para a fam2lia ser%o 'tens2lio, adorno. 6s $rin*'edos dos meninos eram fa$ricados com o *'e restava dos o$etos c'o 'so em princ2pio era reservado. +# até nome para esse tipo de criatividade *'e viro' termo técnico da antropolo)ia, *'ero di&er $ricola)em. "as, em ve& de 4novos 'sos4 por ve&es, fa&emos cr2tica fero& *'ando di&emos *'e 4o enfeite eMo' a decora%o é Titsc3, pensando com isso desclassi>car a inven%o4. Em nossos dias, em nossas )randes cidades, ovens infratores fa&em por ve&es em meio 9 violência inaceit#vel, 4novos 'sos4 de o$etos sociais, c'lt'rais, morais, amorosos. o ampliar a no%o de ovem infrator a)ora artic'lada 9 idéia de 4novos 'sos4, a$ro 3ori&onte para $'scar entender o *'e acontece com eles em s'a forma violenta de vida, e preparo a$orda)em para a cl2nica de atendimento do ovem infrator, do ovem em )eral com s'as maneiras, se' modo de vida at'al. @es'mindo, e' di)o *'e eles fa&em 4novos 'sos4.
d0 ló)ica do perspectivismo amer2ndio: sit'a=es do tipo 4$ic3o é )ente4 foi i)'almente contri$'i%o importante para nossa ela$ora%o /8iveiros de Castro 4 inconstancia da alma selva)em4 editora Cosac e 7aif\0. ('do se d# como se os 2ndios pensassem o m'ndo de forma inversa 9 nossa, consideradas as concep=es de 4nat're&a e 4c'lt'ra4. Cada modo de identi>ca%o a'tori&a con>)'ra=es sin)'lares /ó)ica das (ransforma=es0, ao redistri$'ir os seres existentes em coletivos com fronteiras $em diferentes se temos em mente as fronteiras con3ecidas por nossas ciências 3'manas /ó)ica da Predica%o0. imito-me a tra&er al)'mas frases do antropólo)o $rasileiro, tais como: 4... no m'ndo ind2)ena, identidade é *'e é 'ma a'sência de diferena, e n%o a diferena 'ma a'sência de identidade4. Pergunta: em *'e medida a nomea%oMsi)ni>cantes identi>catórios
estariam comprometidos com a ló)ica da predica%oN Poder2amos c3e)ar a 'ma pr#tica pol2tica M cl2nica sem estarmos ancorados na nomea%oMsi)ni>cantes identi>catórios N im, é a resposta tra&ida pela )línica da carência a partir de Gercino, o mestre e capoeira /sem es*'ecer G'imar%es @osa, 8iveiros de Castro, Ian +acTin), )am$en0. Com ela conto afastar 'l)amentos e opini=es de cole)as eMo' instit'i=es encontrados em pro)ramas de atendimento ao ovem infrator o' em con?ito com a lei. Por exemplo, *'ando somos interro)ados so$re a peric'losidade de 'm ovem infrator. [6 macuncoso de G'imar%es @osa, ami)o das onas, tam$ém passo' a ser peri)osoN Inda)ava Gercino, diante da*'ele a'ditório de psi silenciados pelos impasses em *'e vive nossa pr#tica]. Por t'do isso, c3amaria min3a proposta )línica da )arência onde encontrei demonstra%o de )rande criatividade por parte deste p!$lico a *'em dedico este tra$al3o. s >)'ras a*'i tra&idas 10 Estamira, B0 o catador de lixo, 0 o ovem infrator /)ra>teiro-pixador0, D0 o constr'tor de $arraco, 0 o a)ente com'nit#rio de sa!de, s%o eles *'e apontam para o alcance desastroso dos si)ni>cantes identi>catórios reforados por 'ma ló)ica predicativa, assim como essas mesmas >)'ras fa&em prova de criatividade *'e se instala 'ma ve& *'e estes si)ni>cantes # n%o contam para nada.