ERROS COMUNS NA INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
As questões em relação a textos podem ser estruturadas de várias maneiras, entre elas: a) perguntas que exigem respostas diretas, pois incidem sobre o texto como um todo; b) questões que incidem sobre trechos trechos específicos do texto, o que exige um volta ao texto. Entretanto, quando as questões são discursivas, a atenção aos enunciados é de extrema importância para que você responda exatamente o que lhe foi perguntado e não incorra em erros muito comuns como a extrapolação, a redução ou a contradição. Segundo Amaral, Severino e Patrocínio (1991), esses processos podem ser definidos da seguinte maneira: Extrapolação
Ocorre extrapolação quando se vai além do texto, fazendo outras associações ou evocando outros elementos, quando se cria a partir do que foi lido, quando se dá asas à imaginação e à memória, abandonando o texto que era o objeto de interpretação. A extrapolação é muitas vezes um exercício de criatividade inadequada - porque leva a perder o contexto que está em questão. Geralmente, o processo de extrapolação se realiza por associações evocativas, por relações analógicas: uma ideia lembra outra semelhante e assim o pensamento se encaminha para fora do texto. Outras vezes, a extrapolação acontece pela preocupação de se descobrir pressupostos das ideias do texto, pontos de partida bem anteriores ao pensamento expresso, ou, ainda, pela preocupação de se tirar conclusões decorrentes das ideias do texto, mas já pertencentes a outros contextos, a outros campos de discussão. Reconhecer os momentos de extrapolação - sejam analógicos ou lógicos - significa conquistar maior lucidez, maior capacidade de compreensão objetiva dos textos, do contexto que está em questão. Essa clareza é necessária e é criadora: significa, inclusive, uma liberdade maior de imaginação e de raciocínio, porque os voos para fora dos textos tornam-se conscientes, por opção, serão realizados por um projeto intencional, e não mais por incapacidade de reconhecer os limites de um texto colocado em questão, nem por incapacidade de distinguir as próprias ideias das ideias apresentadas por um texto lido. Redução
Outro erro exercícios de entendimento de texto, oposto à extrapolação, é o que se chama de redução ou particularização indevida. Neste caso, ao invés de acrescentar outros elementos, faz-se o inverso: aborda-se apenas uma parte, um detalhe, um aspecto do texto, dissociando-o do contexto. Seria privilegiar um elemento (ou uma relação) que é verdadeiro, mas não é suficiente diante do conjunto, ou então que se torna falso porque passa ser descontextualizado. Desse modo, o leitor detém-se a um aspecto menos relevante do conjunto, perdendo de vista os elementos e as relações principais. Reconhecer os processos de redução representa também um salto de qualidade em nossa capacidade de ler e entender textos, assim como em nossa capacidade de perceber e compreender conjuntos de qualquer tipo, reconhecendo seus elementos e suas relações. Contradição
O mais grave de todos, é o da contradição. Por algum motivo – uma leitura desatenta, a não percepção de algumas relações, a incompreensão de um raciocínio, o esquecimento de uma ideia, a perda de uma passagem no desenvolvimento do texto – leva a uma conclusão contrária ao texto. Como esse erro tende a ser mais facilmente reconhecido – por apresentar ideias opostas às ideias expressas pelos textos – os testes de interpretação muitas vezes são organizados com uma espécie de armadilha: uma alternativa apresenta muitas palavras do texto, apresenta até
expressões inteiras do texto, mas com um sentido contrário. Um leitor desatento ou/e ansioso provavelmente escolherá essa alternativa, por ser a mais “parecida” com o texto. Por ser a que apresenta mais literalmente, mas “ao pé da letra”,
elementos presentes no texto. EXEMPLO A tradição e o moderno
A tradição é importante. É democrática quando desempenha a sua função natural de prover a nova geração com conhecimentos das boas e más experiências do passado, isto é, a sua função de capacitá-la a aprender às custas dos erros passados a fim de os não repetir. A tradição torna-se a ruína da democracia quando nega à geração mais nova a possibilidade de escolha; quando tenta ditar o que deve ser encarado como “bom” e como “mau” sob
novas condições de vida. Os tradicionalistas fácil e prontamente se esquecem de que perderam a capacidade de decidir o que não é tradição. Por exemplo, o aperfeiçoamento do microscópio não foi conseguido pela destruição do primeiro modelo: o aperfeiçoamento foi realizado com a preservação e o desenvolvimento do modelo primitivo a par com um estágio mais avançado do conhecimento humano. Um microscópio do tempo de Pasteur não capacita o pesquisador moderno a estudar uma virose. Suponha agora que o microscópio de Pasteur tivesse o poder e o descaramento de vetar o microscópio eletrônico. Os jovens não sentiriam nenhuma hostilidade para com a tradição, não teriam na verdade senão respeito por ela se, sem se arriscar, pudessem dizer: Isto nós o tomaremos de vocês porque é convincente, é justo, diz respeito também à nossa época e passível de desenvolvimento. Aquilo, entretanto, não podemos aceitar. Era útil e verdadeiro para o seu tempo - seria inútil para nós. E esses jovens deveriam preparar-se para ouvir dos seus filhos as mesmas palavras. (Wilhelm Reich - A revolução sexual)
Observe alguns exemplos de extrapolação, redução e contradição. Extrapolação: no texto, trata-se do papel dos cientistas na sociedade e sobre a importância da ciência para a
democracia, que é o melhor sistema de governo. Redução: trata-se da importância do microscópio, importante instrumento de investigação científica. Contradição: afirma-se que a tradição sempre é um empecilho para o desenvolvimento do conhecimento humano.
Como você vê, no primeiro caso, a afirmativa sai dos limites do texto, volta-se para outro assunto (papel dos cientistas na sociedade, ciência e democracia). No segundo caso, reduz-se o texto à questão do microscópio, que é apenas um exemplo usado. No terceiro caso, conclui-se o oposto do que o texto afirma: a tradição seria sempre um obstáculo. A compreensão correta do texto apresentaria os seguintes elementos e relações:
a) a importância da tradição; b) a tradição, quando é democrática fornece elementos sobre as experiências do passado; c) a tradição, quando é antidemocrática e tenta ditar o que é bom ou mau, em diferentes condições de vida; d) o exemplo do microscópio, nos dois casos. Ao analisar um texto dissertativo, identifique inicialmente o argumento principal, aquele que fundamenta a opinião exposta. Em seguida, identifique as consequências decorrentes do que está sendo afirmado e por fim, a conclusão, que é a reafirmação do argumento principal.