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Vassao © 1990, Editora Editor a Cultura Crista. Todo Todoss os direitos reserv reservado ados. s. Consolo, Eleny Vassao I a edição 1990 2a edição 1993 3- edição 1996 4a edição edição 2000 20 00 53edição 2004 6a edição 2011 -
3.000 3. 000 3.000 3. 000 3.000 3.00 0 3.000 3.000 3.000 3.0 00
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Conselho Editorial Ageu Cirilo de Magalhães Jr. Cláudio Marra (Presidente) Fabiano de Almeida Oliveira Francisco Francisco Solano Sol ano Portela Portela Neto Heber Carlos de Campos Jr. Mauro Fernando Meister Tarcízio José de Freitas Carvalho Valdeci Va ldeci da Silva Santos Santo s
mtoÚ3Í Revisão: Wilton Lima Elvira Castanon
Editoração: Rissato
Capa: Magno Paganelli A311c A31 1c Aitken, Eleny Vassão de Paula Paula Consolo Con solo / Eleny Vassão Vassão de Paula Aitken Aitken - 6a ed. ed. - São Paulo: Cultura Cristã, 2011. 128 p; 14x21 cm. ISBN 978-85-7622-434-1 1. Aconselhamento Cristão. Cristã o. 2. Atendimento a enfermos. enfermos. 3. Evangelizaçã Evangelização. o. I. Aitken, E.V.P. II. Título.
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CDD21 e d .- 253.5 253
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6DITORA CUlTURfi CRISTA R. Miguel iguel Teles Teles Jr., 394 - Cambuci Cambuci - São Paul Paulo o - SP - 01540-040 Caixa Post Postal al 15.136 - 01599-970 - São Pau Paulo lo - SP Fone Foness 0800-0141963 / (11) 3207-7099 - Fax Fax (11) (11) 3209-1255 www.editoraculturacrista.com.br -
[email protected] Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas Editor: Cláudio Antônio Batista Marra
Sumário D e d ic a t ó r ia ............ .................. ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ........ .. 7 Agradecimentos ............................................................. ,............ 8 Apresentação.................................................................................... 9 Inspira Ins piração ção e d e sa fio fi o ............. ................... ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ .......... .... 13 U m a palavra pala vra da a u to r a ............ .................. ............ ............ ............ ............. ............. ............ ............ .......... .... 14 1. P ro v aç ão ............ .................. ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............. ............. ........ 1 7 Reações Rea ções nas prov pr ovaç açõe ões......... s............... ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ........ 2 7 Opção pela vida .............................................................. 27 A op opção ção pela m o r t e ....... .......... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ... 2 9 Jó : seu so frim fr im en to ............ .................. ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ........ 3 3 A impor im portân tância cia da g ra tid ti d ão ...... ......... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ..... 3 8 N as c in z a s ............ .................. ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............. ............. ............ ........ .. 4 3 2. Os amigos de J ó .................................................................... 46 Satanás Sata nás ataca po porr meio me io dos a m igo ig o s........ s........... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ..... .. 5 3 3. C o n s o lo ............ .................. ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ............ ......... ... M aria J o s é ...... .......... ....... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ... Branco Dinamite ....................................................................
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4. Jesus Jes us sentou-se nas c in z a s ...... ......... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ...... ..... .. Jesus Jesu s é Deus, De us, mas sentou nas cinzas cinzas do li x o .... ...... .... .... ..... ..... .... .. Ele sentou-se nas cinzas, mas não nos julgou .............. Ele sentou-se nas cinzas e nos aceitou aceito u e cativou cativo u ......... .... ..... Ele sentou-se nas cinzas e se e n v o lv e u ...... ......... ...... ...... ....... ....... ...... ...... ..... .. Ele sentou-se nas cinzas... e nostocou.............................. nos tocou.............................. Ele sentou-se nas cinzas... e nosouviu.............................. nos ouviu.............................. Ele sentou-se nas cinzas... e nos permitiu falar com ele
72 72 74 81 86 88 92 95
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5. Onde está o teu Deus?................................................. 100 6. A cura de Deus ............................................................. 109 Quando Deus aparece................................................. 111 7. Perdão............................................................................ 116 Conclusão.............................................. 123 Notas ................. 125 Bibliografia ........................................................................ 127
Dedicatória
"Ao meu querido marido Gavin Levi Aitken, aos meus amados filhos Dalton, Davi, Denis, Daniel e Aimee, e aos meus netinhos Bárbara, Andrew, Júlia, Philip, Melissa, Matias e Anne, presentes do Senhor, que têm enriquecido minha vida e ministério."
Agradecimentos "À nossa querida e eficiente Equipe de Capelania, que tem vivido a fé cristã a cada dia, ao ministrar o consolo do Senhor aos enfermos nos hospitais, a nossa gratidão e carinho."
Apresentação Aproximadamente doze anos atrás, enquanto servia como palestrante numa semana da Estância Palavra da Vida, fiquei conhecendo Eleny Vassao. Naquele primeiro encontro Eleny nada mais era do que um nome como outro qualquer. Durante aquela semana, contudo, pude observar seu profundo interesse pelas Sagradas Escrituras. Nada melhor que um ouvinte fazendo anotações sem fim para motivar um ministrante da Palavra. Essa observação fez que desejasse conhecê-la mais de perto. Tivemos várias conversas naquela semana. Logo percebi que estava diante de uma pessoa singular. Junto com aquela fome insaciável pela Bíblia existia uma vida que personificava seus conhecimentos. Seu amor genuíno pelas coisas de Deus e sua vida altruísta me impressionaram, como tem sido o caso na vida de todos que a conhecem. Vivendo e servindo a Deus em Muriaé, MG, não tivemos mais contato até voltar para São Paulo no princípio de 1989. Em 1990 fui convidado para fazer parte de uma diretoria de Capelania Hospitalar que estava em formação. Tive então encontros com a Eleny um mês, sim, outro mês, não, por ocasião de reuniões envolvendo a diretoria. E isso permitiu que o trabalho de capelania fosse observado mais de perto. Havia um pouco de ironia em tudo isso, pois nunca consegui ficar dentro de um hospital por muito tempo. Fazia apenas visitas de beija-flor para membros doentes da igreja. O cheiro de hospital, as cenas grotescas e os gemidos de pacientes sofrendo, representavam para mim um quadro totalmente insuportável.
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Mas tudo isso mudou quando a minha esposa, Margarida, companheira fiel de 35 anos (namoro, noivado e casamento) adoeceu. Depois de uma curta passagem pela UTI do Hospital Osvaldo Cruz, tendo sofrido um infarto bastante sério, ela foi transferida para o Incor do Hospital das Clínicas. Pela primeira vez, em toda a minha vida, tive de permanecer nos corredores, nas salas e no quarto de um hospital por um período que nos parecia uma eternidade. De repente, estava diante de uma realidade nunca vivida por mim, totalmente imprevista, pois um mundo de sofrimento havia atingido em cheio o nosso lar. Dois dias depois recebi uma ligação às dez horas da noite que me deixou totalmente desnorteado: “Sr. Gavin, infelizmente a sua esposa teve uma grande piora no seu estado físico, de fato, ela acabou de falece falecer! r! Por favor favor,, esteja aqui amanhã cedo, munido munid o de toda a documentação necessária”. No dia seguinte lá estava eu na porta do Incor, acompanhado por uma família muito querida, e de amigos meus. Mas, ao entrar naquela sala de recepção, senti a necessidade de alguém que pudesse sentir a profundidade de minha dor, que pudesse experimentar meu sofrimento, que pudesse comunicar palavras de consolo, alguém que tivesse passado pela mesma experiência. Eu não me lembro de ter recebido uma resposta tão rápida às minhas orações, pois ao entrar naquele hospital, bem diante de mim abriu-se a porta do elevador e desceu a própria Eleny Vassão. Ela ficou tão surpresa quanto eu, pois, não sabendo do falecimento de minha esposa, tinha procurado o quarto dela a fim de visitá-la. Ao tomar conhecimento do fato, ela logo pensou: coitado do meu amigo Gavin, como gostaria de encontrá-lo. Um abraço, sem palavras, de alguém que tinha perdido o marido poucos anos antes, em circunstâncias bem semelhantes e no mesmo hospital, trouxe-me a compreensão que tanto pedia a Deus. Passaram-se muitos meses. Durante esse tempo, estando nos EUA em visita à minha família, realizei um check-up para ver meu quadro de saúde. Mais uma vez Deus operou de maneira fantástica. A minha consulta foi marcada com um
Apresentação
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médico cristão que conhecia a minha esposa e que soube do falecimento dela. Para mim, aquele consultório se transformou naquele dia num verdadeiro santuário de Deus, pois o médico do corpo efetuou o papel de um médico de alma, passando para mim as várias etapas por onde teria de caminhar no meu luto. Regressando ao Brasil, reassumindo meus compromissos, tentei fugir da realidade enterrando-me por inteiro nos meus estudos. Longas horas se passaram, dias compridos, cheios de solidão e saudades. Chorava abertamente longe da vista dos filhos, para que pudesse estar firme e forte na presença deles. Não consegui, contu c ontudo, do, enganar a minha filha de 21 21 anos de idade. idade. Um dia, ao chegar em casa, tendo voltado de seu serviço, a Aimee me confrontou pela primeira vez, com todo o carinho possível e com uma preocupação bastante amorosa, tão característica dela. “Pai”, disse ela: “sei que o senhor está sendo muito forte e corajoso em face de tudo que tem acontecido. Creio eu, todavia, que muito desta força sua é pelo fato de eu ainda continuar no lar, fazendo-lhe companhia. No futuro talvez bem próximo vou me casar e, então, o senhor vai estar sozinho. Portanto, se eu fosse o senhor daria um jeito na sua vida”. Apesar de ter levado um susto, em consequência dessa ousada proclamação procl amação de uma filha minha que parecia amadurecer amadurecer de uma hora para outra, pus-me a refletir sobre um assunto que ainda não tinha ocupado meus pensamentos naquela altura. Deus nem me deu tempo de pensar muito, mas já tinha agido por trás do cenário. No dia seguinte, em sua soberania, ele colocou Eleny em contato comigo por telefone. Eu não pretendo contar o restante da história, seria detalhada demais e foi solicitado apenas para escrever a apresentação de um de seus livros e não para escrever um livro. Só quero deixar, contudo, alguns pensamentos a respeito deste livro. Quantas vezes tenho escolhido um livro de minha vasta biblioteca, de aproximadamente 1.500 volumes, e tenho lido o seguinte comentário em muitos deles: “Nunca prestei muita atenção aos escritos de tal tal ou tal autor até até que o conheci conheci em pessoa”. A minha história é bem melhor. Eu já gostava dos
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livros e admirava muito a autora deles. Mas quando ela se tornou a minha esposa compreendi bem melhor o valor dos livros e principalmente de escritores em si. Durante os meses de meu luto, o que ocupou dois anos de minha vida, ela me transmitiu, de maneira bem mais vívida, o conteúdo de seu livro Consolo. Achei incrível, mas os mesmos passos do luto que me foram apresentados por aquele médico se achavam bastante desenvolvidos neste livro e ricamente ilustrados pela vasta experiência da Eleny no Hospital das Clínicas e no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Hoje tenho prazer de me envolver diariamente neste ministério de Capelania, ao lado de minha esposa. Como a minha vida e o meu ministério de ensino têm sido enriquecidos por uma convivência íntima com esta preciosa e valiosa serva do Senhor. Eu a tenho em grande estima e a considero uma recompensa, ainda em vida, por ter servido a Deus, fielmente, por uns trinta anos nesta pátria amada. Em colaboração com meus filhos, Todd e Aimee, uma nora, Marília, uma neta, Bárbara, um futuro genro, Edgard, e quatro filhos adotivos, Dalton, Davi, Denis e Daniel, filhos da Eleny, apresento-lhes um livro escrito por uma esposa exemplar, uma mãe superdedicada e, acima de tudo, uma ministra de misericórdia muito preciosa aos olhos de Deus e uma fonte de consolo para inúmeros pacientes e seus familiares. São Paulo, inverno de 1995 G
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L e v i A i t
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Missionário com Missões Cristãs em Muitas Terras Professor do Seminário Bíblico Palavra da Vida Professor da Apec e Conselheiro de seus obreiros
Inspi In spiração ração e d esafi esafio Misericórdia é uma palavra extremamente significativa. Quando descreve um dos atributos de Deus, ela revela o aspecto do caráter divino que nos dá alívio e esperança em face de nossa rebeldia e depravação. É por sua misericórdia que Deus nos resgata. Mas o Deus de toda a misericórdia deseja vê-la em nós também, enquanto convivemos com a miséria e a necessidade que nos cercam. Na verdade, segundo Jesus, precisamente nosso modo de reagir às carências do próximo será recordado pelo Senhor no dia final. Não seremos questionados quanto a artigo de fé, não seremos chamados a fazer uma apresentação lógica e sistemática do que cremos. Não que seja sem importância o nosso credo. Dá-se que, melhor do que palavras, nossos atos de misericórdia darão conta de nossas convicções. Consolo, de Eleny Vassão, é livro de elevada capacidade inspirativa e de grande desafio. Ele nos fala da misericórdia de Deus e nos estimula ao ministério da consolação. A exposição bíblica, ao mesmo tempo em que apresenta a pessoa de Deus, também nos chama para fazer o trabalho divino. O exemplo de homens e mulheres dedicados a consolar nos convida também a olhar à nossa volta como Deus nos olhou: misericordiosamente. C
A. B. Editor
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Um a p alav alavra ra da au tora Trabalhando há mais de doze anos junto aos pastores no Hospital das Clínicas de São Paulo, e há seis anos no Hospital Emílio Ribas com pacientes terminais de AIDS, achei que seria muito fácil transmitir conceitos sobre Consolo. Mas, ao apanhar papel e caneta para iniciar este livro, descobri como é difícil definir o que é consolar. Esta dificuldade se deve em grande parte porque tal conhecimento é algo contínuo, prático e específico para cada situação, para cada pessoa. Estou sempre aprendendo no contato diário com os meus pacientes e descobrindo minha incapacidade para fazê-lo, bem como a pobreza de minhas palavras e, ainda, minhas insuficiências de amor. Tenho encontrado a necessidade de estar a cada momento dependendo do Senhor, buscando no seu grande coração a sabedoria e a compaixão para consolar. Por todas essas razões, é por demais difícil colocar sensações, emoções —como risos e lágrimas —sobre um papel frio e impessoal. Mas o faço pela urgente necessidade de preparar consoladores para atender a um mundo triste e vazio, cheio de valores (em grande parte sem valor real), que se aproxima cada vez mais da borda de um poço escuro e sem fundo. Relato aqui algumas experiências vividas com alguns pacientes aos quais pude ser útil levando-lhes consolo. Não o faço com outra intenção senão a de, pior meio deste compartilhamento, levar o leitor a apreciar algumas ideias acerca do que entendo como consolo, ajudando para que se torne também um consolador. Escrevo este livro em oração, pedindo ao Senhor que fale ao seu coração como tem falado ao meu.
U ma p a l a v r a da a u t o r a
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A ideia de fazê-lo partiu da observação do consolo oferecido por alguns irmãos de nossas igrejas, que, mesmo tendo boas intenções, não sabem como transmiti-lo, imitando, muitas vezes, os “amigos de Jó” e deixando o paciente irritado e deprimido deprimi do por ter sido “consolado” com julgamentos julgam entos ou “chavõe “chavões” s” evangélicos generalizados e fora do contexto. Baseei-me no estudo do livro de Jó: em suas perdas, seu sofrimento, nas fases de sua crise e na diferença entre o consolo desejado e o oferecido pelos amigos. Muitas vezes agimos como fariseus, com uma estrutura mental rígida e sem misericórdia. Queremos salvar o mundo inteiro, e nos esquecemos dos fracos, dos feridos, dos doentes que estão morrendo ao nosso redor. Usamos textos e mais textos bíblicos na tentativa de exorcizar pecados ocultos nas pessoas e consolá-las, mas isso não acontece. Creio que Deus quer nos ensinar a consolar com o seu consolo, por meio de Jó e também das experiências que nos têm permitido viver. Este é um livro muito especial para mim porque foi escrito com a ajuda de três amigos e irmãos queridos, os quais eu conheci no leito da enfermidade: Tânia, Pedro e “Branco Dinamite”. Eles estudaram o livro de Jó e juntos discutimos muitos trechos, os quais eles se identificaram com a dor de Jó, o consolo por ele recebido, seus questionamentos e suas perdas. Por intermédio deste estudo reafirmaram sua fé em Deus, debaixo de uma nova visão de sua pessoa. Crescemos juntos. “Branco Dinamite” é um ex-paciente do Hospital das Clínicas, a quem eu pude evangelizar e consolar, acompanhando-o por dez anos. Ele é jovem, está paraplégico numa cadeira de rodas. Sabe o que é sofrer, mas tem sido consolado por Deus. Tânia foi paciente do Hospital das Clínicas por 26 anos. Morou ali desde os 2 anos, depois de ter paralisia infantil e ficar tetraplégica. Faleceu em dezembro de 1994. Pedro também morou no Hospital por dezenove anos, companheiro de dor de Tânia. Aceitou a Jesus por seu
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testemunho e, além de ser “irmão” dela, da Eliana, da Luciana, da Cláudia, do Paulo e do Anderson por afinidade, pela condição e por fornecerem uma mesma “família” no hospital, também foi seu irmão em Cristo. Esses adolescentes são, na sua maioria, tetraplégicos, e estarão sempre presos a uma cama. Dependem de um pulmão artificial e de cuidados especiais de enfermagem. Têm sofrido muito, mas são muito alegres. Quem entra nessa enfermaria pensando em consolá-los, sai consolado e muito mais feliz. O consolo de Deus e de algumas pessoas tem aliviado suas dores, fazendo deles fonte de bênçãos e de consolo para todos aqueles que deles se aproximam. Em setembro de 1991 o Senhor provou-me duramente com a morte de meu marido Fálsico Cavalcanti, aos 42 anos. Isso aconteceu subitamente, deixando-me em estado de choque com quatro filhos adolescentes, com idades entre 9 e 15 anos. Mas todos nós pudemos experimentar o “consolo que excede todo o entendimento” da parte do Senhor. Por meio dele ficamos mais fortes. Mesmo em meio à dor pudemos falar de consolo com maior autoridade. Depois de quatro anos, em meio ao luto e a sérias provações, Deus ouviu as minhas orações, dando-me um marido que veio preencher todos os meus sonhos e ainda mais. Gavin Aitken é missionário americano há mais de trinta anos no Brasil e também viúvo, com um casal de filhos já adultos. Temos sido muito felizes em todos os aspectos, integrando família, dons e ministérios para a glória de Deus. Amigo leitor, meu desejo sincero é que, mediante este livro, livro, sua vida seja edificada e o nome do Senhor seja glorificado. E l e n y V a s s ã o
1 Provação Queridos irmãos, a vida de vocês está cheia cheia de dificuld dificuldades ades e de tentações? Então, sintam-se felizes, porque, quando o caminho é áspero, a perseverança de vocês tem uma oportunidade de crescer. Portanto, deixem-na crescer, e não procurem desviar-se dos seus problemas. Porque, quando a perseverança perseverança de vocês estiver afinal plenamente crescida, crescida, vocês estarão preparados para qualquer coisa, e serão fortes de caráte caráter, r, íntegros e perfeitos (Tg 1.2-4 Bíblia Viva). C o
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Senhor, não clamou teu Filho do alto da cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” E não era e é ele substituto perfeito, único aceito e exigido por ti? Por que, então, esta imensa sensação de abandono e distância, se nele e em seu sacrifício coloquei a minha confiança? Por amor de ti mesmo, de quem uso o nome, não me coloques em provas demasiado fortes. Só tu sabes até que ponto a corda pode ser distendida sem se romper: mas eu não tenho a força de teus heróis, Senhor...
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Sou quase toda carne. Uma carne que sofre, grita, blasfema, pesa-se, vinga-se em si mesma, anseia desaparecer, fundir-se em algo maior, mais alto, mais perto de ti. Se a cada vez que sucumbir à própria fraqueza levares-me alguém, que só sei tão precioso depois de o perder, não sei que futuro me espera. Receio acabar mais só que tu mesmo no princípio. E tu te bastavas. Mas, mesmo assim, nos criaste porque precisava de um objeto para o teu amor... Disse-se blasfêmia, o teu perdão, Senhor. Mas, em face da tua onisciência, de que adiantaria a simulação? É melhor a confissão: terrível, dolorosa como um tumor rasgado sem anestesia, mas necessária e inevitável, para purificação...1 Para pensar em sofrimento e provação, temos de pensar em Jó. O nome desse homem foi registrado na Bíblia, servindo-nos como exemplo de fé, como prova de que o homem bom também é provado, como consolo para todos os que sofrem. O livro de Jó conta a história de um homem bom assoberbado por aflições. É despojado das suas riquezas, da sua família e da sua saúde, sem saber por que Deus consentiu aquilo. Somente o leitor sabe que Deus está procurando comprovar ao diabo que a fé de Jó é genuína. Três amigos vêm consolá-lo na sua desgraça, e se envolvem numa longa discussão. Os amigos procuram explicar o que acontecera vinculando os sofrimentos de Jó aos seus pecados. pecad os. Jó rejeita a teoria teoria deles. deles. Em vez de aceitar aceitar o seu conselho no sentido de arrepender-se e assim reconciliar-se com Deus, Jó insiste na sua própria inocência e questiona a justiça do tratamento dado por Deus.
Provação
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A essa altura, intervém o quarto personagem, Eliú, que faz quatro discursos que, segundo pensa, solucionarão o problema; mas eles não fazem diferença. Finalmente, o próprio Senhor se dirige a Jó. Seu discurso transforma a atitude de Jó, que responde com submissão contrita. Por fim, Deus declara que Jó sofrera sem culpa pessoal e lhe restaura a prosperidade e a felicidade. Passaremos agora a estudar o livro de Jó mais detalhada mente, observando de perto sua pessoa, sua tragédia e reação diante dela, e os conselhos de seus amigos. Ficaremos surpresos ao notar que muitos desses conselhos são repetidos hoje por pessoas com boas intenções, mas realmente sem preparo, causando resultados por vezes desastrosos. Deus abençoou Jó com grande prosperidade. Era o homem mais rico de todo o Oriente. Possuía ouro e prata em abundância, exercia grande influência em sua comunidade, era respeitado e honrado por todos. Tinha grande sucesso em seus empreendi-mentos; sua esposa e seus filhos estavam ao seu redor; sua mente e seu corpo eram saudáveis e estavam em pleno vigor. Esse homem era também completo em termos de caráter e moral. Ele era um exemplo de integridade quanto à moralidade e à religião. Possuía a consciência limpa, tanto diante de Deus quanto diante dos homens. E o mais importante: era um servo de Deus. Jó realmente era um homem bom e fiel a Deus. Tão bom e tão fiel que se destacou diante dele, chamou sua atenção: “Em certa ocasião, quando os anjos se reuniram na presença do S e n h o r , Satanás, o acusador, estava entre eles” (Jó 1.6 BV). Deus reuniu-se com todos os anjos, os bons e os maus. Muita gente por aí diz que há uma grande luta entre o bem e o mal, Deus e Satanás. E mentira. Satanás é um anjo mau, caído, pai da mentira, acusador dos homens, tentador e tudo o que há de mau. Mas ele não é o Senhor, não tem a estatura de Deus nem seus atributos. Deus é o Senhor, e está no controle de tudo.
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Ele permite certas ações de Satanás, mas continua com as rédeas nas mãos. E Jó foi achado digno de ser provado por Deus e tentado por Satanás. É Deus quem chama a atenção atenção de Satanás Satanás para Jó, Jó , quando o inimigo conta que estava rodeando a terra e observando os homens: “Você observou bem a meu servo Jó?”, perguntou o S e n h o r . “Não há homem igual a ele em toda a terra, tão sincero e justo, obediente a Deus e cuidadoso para não cometer pecado!” (Jó 1.8 BV). Jó amava a Deus, sua fé era profunda e não se baseava nos bens que recebia recebia dele. dele. Mas M as Satanás duvidou disso diante de Deus. Jó tem razão para isso”, respondeu Satanás. “O Senhor deu a ele ele do bom e do melhor, melhor, protegendo protegendo J ó e sua família de todos os males e tristezas tristezas e íàzendo dele um homem homem riquíssimo! Não Não é sem razão razão que Jó obedece! obedece! Experimente, porém, porém, tirar todas as riquezas riquezas e os bens que o Senhor deu a Jó; Jó ; ele vai se revoltar revoltare dizercoisas horrív horríveis eis contra o Senhor (Jó 1.9-11 BV). Quando a nossa fé em Deus está apoiada nos bens que ele nos dá, estamos em perigo. Temo muito por alguns irmãos que, em suas orações, só agradecem pelas coisas que Deus lhes tem dado e sempre pedem mais. Quando vêm as provações, começam a duvidar dele por não estar sendo o Deus-Papai Noel que aprenderam a amar não por ele mesmo, mas por seus presentes. É como a criança que aguarda ansiosa pela chegada do Papai Noel. Se ele vier sem a sua sacola de presentes, a criança ficará decepcionada. Seu amor não é ao Papai Noel, mas aos presentes que ele lhe dá. E era isso que Satanás queria provar a Deus, envergonhando-o por meio de Jó, quando este o abandonasse em meio ao sofrimento. Talvez, no parecer de Satanás, a piedade de Jó fosse artificial por nunca ter passado por um teste. Deus lhe dera tudo e o protegera do mal. Então, Deus deu permissão a Satanás para tentá-lo. E o Senhor respondeu a Satanás: “Você pode destruir tudo o que eu dei a Jó, mas não toque no corpo e na saúde dele” (Jó 1.12 BV).
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E foi assim que ele perdeu tudo, inclusive seus dez filhos. Algumas tempestades da vida vêm de repente: uma grande perda, perda, um a derrota esmagadora, um a grande dor. dor. Tudo desabou sobre sobre a cabeça cabeça de Jó. De uma só vez, vez, perdeu perdeu tudo e todos dor estonteante, enlouquecedora. Mas a sua fé não estava em seus bens, e Deus foi glorificado em seu sofrimento mediante uma fé limpa, sem interesses: Mesmo no meio de tanta desgraça, Jó não pecou nem disse que Deus era culpado do seu sofrimento (Jó 1.22 BV). Um homem pode ficar diante de Deus despojado de tudo quanto a vida lhe deu e ainda assim nada lhe faltar. “O estoico zomba daquele que derrama lágrimas, ao crente, porém, não é proibido chorar. As vezes, diante de uma dor muito grande, a pessoa permanece calada, enquanto a tesoura do tosquiador roça a sua carne trêmula; mas quando o nosso coração se abate sob uma série contínua de provações, podemos buscar alívio no choro. Há, porém, algo ainda superior a isto.” Dizem que em certos lugares fontes de água doce saltam no meio das águas salgadas do mar; mar; que as mais lindas flor flores es dos Alpes se encontram nos recantos mais agrestes e escarpados das montanhas; que os mais sublimes salmos foram o produto da mais profunda agonia da alma. Pois bem, assim, entre as múltiplas provas, aqueles que amam a Deus encontrarão motivo de grande aleg alegria.2 ria.2 Quando há calmarias na minha vida, a princípio “aproveito” para fazer tudo que me dá prazer, e aos poucos vou me afastando de Deus. Já quase não leio a Bíblia, oro somente nas refeições aquela “reza” decorada e repetida... e fico vazia. Ixruvo o Senhor porque ele não me deixa ficar assim. Meu ministério no hospital é cheio de provações contínuas, e não terei palavras para consolar se não estiver estiver em comunhão com unhão com o Senhor. Senhor. Sinto-me Sinto-m e falando “palavras “palavras de vento” a pessoas que precisam desesperadamente de consolo. E não tenho o que lhes dar. E sou vazia. Mas ele me desafia constantemente, não me deixa sem provas e lutas, porque me conhece. Sabe quanto eu preciso delas para crescer. E ele conhece
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os meus limites. Somente porque estou aprendendo a amá-lo sobre todas as coisas e tenho a certeza de que ele me ama, posso ter a confiança de me entregar em suas mãos sem impor condições. Deus Deu s é fiel.. fiel.... e não permitirá... permitirá... que sejamos provados além além das forças que ele mesmo nos dá para vencer. Que alívio saber disso! “Quando Deus põe um peso sobre nós, ele sempre põe seu braço debaixo.” Mas nem sempre permitimos que o Senhor atue em nós. É dolorido, dá trabalho e não queremos o seu toque. Preferimos ficar comodamente estacionados. Muitas vezes queremos somente uma “porção de Deus”, de modo mo do que atenda as nossas necessidad necessidades es e nos deixe acomodados. Mas ele não permite que o tenhamos em nossas mãos, ele nos quer incondicionalmente nas dele. Eu gostaria de comprar três dólares de Deus, que não cheguem a fazer explodir a minha alma e nem venham incomodar meu sono, mas que sejam suficientes para garantir-me um copo cop o de leite quente e uma soneca ao sol. sol. Não quero dele uma quantidade tão grande que me faça amar os negros, nem colher beterrabas junto com os trabalhadores migrantes. Quero êxtase, não transformação pessoal; quero o calor de um ventre materno, não outro nascimento. nascimento. Quero Quero um um quilo de eternidade eternidade em um saquinho de papel. Por favor, dê-me três dólares de Deus!3 Nosso ego não deseja Deus na sua inteireza, mas tê-lo a uma distância razoável. Queremos dele apenas uma porção suficiente para nos salvar do inferno, para nos dar bênçãos, para nos proteger, para nos impedir de sofrer. Não queremos conhecê-lo profundamente, e só o buscamos verdadeiramente quando estamos no fim de nossas forças, sem mais nada para lhe oferecer, quando temos maior consciência de nossa nudez. Mas Deus quer fazer de nós pessoas úteis em suas mãos. Não vasos de barro vazios, mas cheios da sua pessoa, transbordando de amor por ele, dessedentando outros que nos rodeiam. Ele quer que sejamos doadores, não somente receptores; servos, e não superastros.
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Deus Deu s quer q uer nos n os fortalece fortalecer, r, aperfeiçoar e nos tornar tor nar semelhantes semelhantes a Jesus. Ele não quer que sejamos como vasos de vidro ou de porcelana. Deseja ver-nos como peças de aço, enrijecidas, capazes de suportar torções e compressões até o máximo, sem se partir. A fé cresce em meio às tempestades. “Ele sabe o meu caminho; se ele me provasse, sairia eu como o ouro” (Jó 23.10). E no meio das tempestades da vida que exercitamos a fé e vemos a Deus com maior clareza. Quando Quando Deus quer um carvalho, carvalho, ele o planta planta num lugar lugar onde as tormentas o fortificarão e onde as chuvas se abaterão sobre ele, ele, pois pois é no no meio da da batalha contra contra os elementos elementos que o carvalho ganha suas fibras rijas e se torna o rei da floresta. As árvores mais fortes não são as encontradas ao abrigo das florestas, mas as de campo aberto, onde ventos de todos os lados as açoitam, açoitam, curvam e torcem, torcem, até que por fim atinjam atinjam toda a sua estatura. estatura. Essa madeira é a mais mais procurada procurada para o fabrico de carrocerias e de instrumentos pesados. Quando Quando Deus quer aperfeiçoa aperfeiçoarr um homem, ele o coloca no meio de alguma tempestade. A história dos grandes homens é sempre de rudezas e asperezas. Ninguém se faz grande enquanto não tiver passado pelas ondas de torme tormenta nta e encontrado a resposta resposta da sua oração: oração: “Ó Deus, torna-m torna-me, e, quebranta-me, faze-me”. Portanto, quando virmos um gigante espiritual, lembremo-nos de que a estrada que devemos palmilhar para ficar ombro a ombro com ele não é aquela alameda florida e ensolarada, mas, sim, um trilho íngreme, estreito e rochoso, onde as rajadas do inferno quase nos derrubam, onde pedras pontiagudas pontiagudas nos rasgam a carne, carne, onde espinhos nos ferem a fronte, fronte, e onde répteis répteis venenosos venenosos nos atacam de ttodos odos os lados. Os heróis da vida são os que foram açoitados pela tormenta e marcados pela batalha.4 Uma heresia que engana e confunde a muitos diz que quanto mais nos tornamos íntimos de Deus, quanto mais o conhecemos, mais fáceis se tornam as coisas. Há por aí uma falsa teologia dizendo que Deus quer que seus filhos estejam
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alegres, tenham tudo o que desejam e, se alguma coisa lhes falta em bens materiais, é porque a fé deles está pequena. Por essas ideias, quando enfrentamos provações nosso primeiro primeiro pensamento é que Deus está nos nos punindo. Ou então supomos que, se orássemos mais, as circunstâncias não frustrariam os nossos sonhos. Esse pensamento não se coaduna com a vida e a mensagem de Jesus Cristo, nem com a dos santos, mártires e fiéis seguidores do Mestre. Noss No ssaa oração não deve deve ser por vida fácil, fácil, mas por uma vida capacitada por Deus, Deus , que se torna grande grande pela sua graça.5 Satanás estava usando Jó, com a permissão de Deus, para desacreditar desacreditar o nome no me do d o próprio p róprio Deus, Deu s, querendo fazê-lo fazê-lo renuncia renunciarr totalmente a ele e amaldiçoá-lo. Mas mesmo quando Jó foi ferido em todo o seu corpo, sofrendo por muito tempo, abando-nado, sozinho, cuspido, não abandonou o seu Deus. Questio-nou, reclamou, brigou, mas não o deixou. E, mesmo diante de mais este sofrimento terrível, Jó não disse disse uma palavra palavra má contra Deus (Jó 2.10 2 .10 BV). Jó fora sacudido, mas não prostrado pelas calamidades. Ele não tinha orgulho ou medo de ser considerado menos espiritual por chorar sua dor diante de todos. A graça nos ensina não a viver sem tristeza, mas a mantê-la sob controle, conectando-a com a penitência, a submissão, a fé e a esperança. Um erro erro que Satanás sempre sempre comete é pensar pensar que Deus De us é limitado como ele. E outro, é pensar que os servos de Deus são iguais aos dele: aproveitadores que se vendem a qualquer preço, hipócritas hipócritas que que têm uma vida superficial, superficial, e orgulhosos que nunca aceitariam ser h humilhados. umilhados. Quanto Qua nto mais ele esmagava a Jó, Jó , mais este exalava exalava um perfume que ao mesmo m esmo tempo t empo agradava a Deus e deixava deixava Satanás boquiaberto. Quanto mais pressionado, mais proclamava proclamava J ó a sua lealdade lealdade a Deus. Satanás foi obrigado a ver um homem reabilitado e um Deus glorificado, glorificado, na medida em que os dois continuaram a caminhar juntos, num
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relacionamento perfeitamente satisfatório. Jó foi a Deus com sua dor esmagadora, esmagadora , curvou-se até o pó, e o adorou. Foi a maravilhosa graça divina na vida de Jó que o impediu imped iu de amaldiçoar a Deus; Deus ; foi a constante constante presença de Deus Deu s com ele; foi o imbatível poder de Deus em sua vida vida.. Nós Nó s não precisamos de graça para para morrer, morrer, mas sim para viv viver. er. Quand Qu ando o chegar chegar a hora de morrer, morrer, nós a teremos.6 Nossas noções acerca de Deus influenciam o modo como reagimos às provações. Se não crermos que ele nos ama, que faz com que todas as coisas cooperem para o nosso bem —mesmo que no momento não possamos entendê-las —e que ele está no controle absoluto de tudo, não permitindo que nenhuma dor seja maior que o consolo que ele mesmo nos dá para suportar e vencer, então, só então nos desesperaremos. O apóstolo Paulo foi um homem que andou com Deus. O Senhor o usou maravilhosamente para levar o seu evangelho aos não judeus, e sua amizade por ele era tão grande que Deus lhe fez revelações maravilhosas sobre a sua pessoa e projetos. Mas ele conhecia a Paulo, e não queria que a grandeza dessas revelações fizesse com que o apóstolo se orgulhasse, afastando-se do Pai. Então, deu-lhe um presente amargo, para fazê-lo permanecer sempre fiel. “Um “U ma coisa eu digo: em vista de serem tão extraordin extraordinárias árias estas experiências que eu tive, tive, Deu D euss ficou ficou receoso de que eu me inchasse inchasse com elas: elas: por por isso, foi-me dada uma doença que tem sido um verdadeiro espinho em minha carne, um mensageiro de Satanás Satanás,, para para me ferir e me me atormentar, atormentar, e para esvaziar meu orgulho. Em três ocasiões diferentes implorei a Deus Deus que me fizesse fizesse ficar ficar bom de novo. E cada vez vez ele ele disse: disse: ‘Não. ‘Nã o. Mas Ma s eu estou com você, você, isso é tudo que você preci precisa. sa. Meu poder pod er revela revela-se -se melhor nos fracos’” fracos’” (2Co (2C o 12.7-9 BV). Se desenvolvermos um relacionamento com Deus independentemente das circunstâncias cir cunstâncias de nossas vidas, então poderemos ser capazes de ficar firmes quando a realidade física desmoronar. desmoronar. Podemos aprender a confiar em Deus De us apesar de toda a injustiça da vida. Não N ão é essa essa a lição principal de Jó?7 Jó ?7
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N o livro livro de Jó , vemos que Satanás sugeriu sugeriu que J ó foi foi condicionado a am ar a Deu s pelo que este este lhe lhe dava. dava. Ma s Jó calou o acusador ao declarar sua fé apesar de tudo o que acontecera. acontecera. Despo De spojad jado o de tudo, tudo , exceto de sua liberdade, ele ele ainda assim exercitou exercitou aquela liberdade para crer crer num Deus a quem não podia pod ia ver.8 ver.8 Conforme vemos, a batalha mais importante não ocorreu nos céus ou ao redor de Jó , m as
dentro dele. dele.
Con fiaria em D eus?
Os céus aguardavam sua resposta, que Deus já sabia. Ele nos ensina que nos momentos em que a fé é mais difícil e menos provável, então ela é mais necessária. Deus sabe como eu temo passar por grandes provações. Ao imaginar a perda de Jó, seus bens, seus filhos e sua saúde... suas dores terríveis, sua incapacidade de agir, sua perplexidade por não entender como o Deus de amor podia permitir tanto horror... realmente tenho medo de sofrer uma fração do que ele sofreu. Mas a Palavra de Deus conforta o meu coração. A certeza de sua presença sustentando-me em qualquer provação reanima meu espírito, dando-me a segurança da vitória. Seu conforto dá-me ousadia de perguntar, como Paulo: Que podemos dizer diante de coisas tão magníficas quanto estas? estas? Se Deus D eus está do nosso lado, q uem é que pode estar contra nós? Visto que ele, ele, em nosso favor, favor, não poup p oupou ou nem o seu próprio Filho, mas o entregou por todos to dos nós, será que certamente não nos dará tu do o mais? Quem Que m se atreve atreve a nos acusar, acusar, a nós que qu e Deus D eus escolheu para ser dele? dele? Será que Deus faria isso? Nunca! Foi ele quem nos perdoou e nos deu o direito de ficar com ele. ele. Quem Qu em nos condenará, condenará, então? então? Cristo? Não! Não ! Foi Fo i ele ele quem morreu por nós e voltou à vida por nossa causa, e agora está sentado no lugar de maior honra honra junto jun to a Deus, Deu s, rogando por nós n ós lá no céu. Quem, então, pode ocultar de nós o amor de Cristo? Quando Qua ndo estamos em aflição aflição ou em e m desven desventura, tura, quando somos som os perseguidos de morte mor te ou destruídos, será que isso acontece acontece porque ele não mais nos ama? E se tivermos fome, fome, ou o u ficarmos
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sem dinheiro, dinheiro, ou passarmos por perigos, perigos, ou o u formos f ormos ameaçados de morte, será será porque Deus D eus nos desamparou? desamparou? Não, pois as Escrituras nos dizem que por sua causa precisamos estar prontos a enfrentar a morte a qualquer momento do dia —somos como ovelhas, prontas a ser abatidas no matadouro. Mas apesar de tudo isso, temos uma vitória vitória esmagadora por meio de Cristo, que nos amou a ponto de morrer por nós. Estou convencido convencido de que nada na da poderá jamais nos separar do seu amor. A morte não pode, tampouco tamp ouco a vida. Os O s anjos não poderão, e todas as forças do inferno não poderão afastar afastar de nós o amor amo r de Deus. Nossos No ssos temores pelo pelo dia de hoje, hoje, nossas preocupações sobre o dia de amanhã, ou o lugar onde estivermos —bem —bem alto no céu, ou nas profundezas do mar —nada, —nada, jamais, ja mais, será capaz de separar-nos do amor de Deus demonstrado pelo nosso nosso Senhor Jesus Cristo quando morreu morreu por nós (Rm (Rm 8.31-39 8.3 1-39 BV). REAÇÕES NAS PROVAÇÕES É desconcer desconcertante tante ver como a vida tom t omaa algumas pessoas pessoas tristes tristes e outras graciosas. D uas ua s pessoas podem p odem atravessar o mesmo vale de circunstâncias circunstâncias desanimadoras. U m a sai com renovado vigor e alegria, a outra, com ressentimento e desânimo. A alguns, a tragédia edifica; mas a outros, faz desmoronar. desmoronar. Alguns crescem, crescem, outros murcham.9 murch am.9 Durante os primeiros meses depois do trauma, a pessoa necessita de tempo e compreensão. Diante de uma crise, uma provação, cada um de nós tem pela frente uma decisão a tomar: optar pela vida, o que nos leva a superar a crise, crescer e ter maior maturidade; ou op tar p ela morte, morte, deixando que esta tenha domínio sobre a vida. O pção
pela vida
As pessoas que fazem essa opção refletem sobre o que passaram, conversam com os amigos ou parentes íntimos sobre os seus sentimentos, recobram a confiança nelas mesmas e voltam a trabalhar com dedicação e a colaborar com os outros
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em busca de um futuro melhor. Elas cresceram em meio à dor, tornaram-se mais sábias e maduras, aprenderam a usar os “ciclones da vida”. Pergu Pergunte nteii a um piloto qual a maior dificuldade dif iculdade de voo pela zona do Caribe. “São os ciclones?” indaguei. A resposta foi: foi: “Não; “N ão; podemos podem os aproveitar aproveitar os ciclon ciclones. es. Eles Eles se movem vagarosamente no seu centro, de modo que colocamos o avião nas suas margens e, assim, temos atrás de nós um u m vento de cem milhas. Ao regres regressar sar,, tomam to mamos os a outra margem do ciclone. Aproveitamos, assim, o ciclone tanto na ida quanto qua nto na volta”.1 volta”. 10 Nossas reações determinam o tipo de vida que levamos. Diante da dor, poderemos reagir nos lastimando amargurados ou com confiança e coragem, fazendo com que o mal nos torne melhores.
Crescendo em meio a crise Como poderemos crescer em meio à crise? O Dr. Jorge Maldonado nos fala sobre esse tema em seu livro Consolacióny vida. Para Para crescer crescer em meio m eio à crise precisamos: precisam os: a. Refletir sobre o acontecido: o que me aconteceu? Como isso me afetou? b. Aceitar a perda: o que aconteceu, acontece! Nada posso fazer para mudar o que passou. c. Expressar nossa dor: encontrar alguém com quem possamos desabafar. d. Dar a nós mesmos tempo para sarar: compreender que não devemos apressar-nos no processo de recuperação. e. Fazer os ajustes necessários para seguir adiante: a vida não parou; vale a pena continuar vivendo! Como reagir, optando pela vida? 1. Desabafar seus sentimentos? Uma pessoa sacudida profundamente por uma tragédia está afetada social, econômica e psicologicamente. Há como um terremoto em seu interior. Isso produz tensões, muita dor, desejo de gritar, chorar, de acabar com a vida. Esses sentimentos
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se manifestam em tão grande intensidade que parecem um vulcão em erupção. É necessário a liberação desses sentimentos de maneira correta. E a melhor maneira de fazê-lo é falando honestamente sobre seus sentimentos em relação ao acontecido, sem medo de se expressar, com palavras não pré-elaboradas, que brotem diretamente do coração. Se sentir vontade de morrer ou se estiver zangado com Deus, deve dizê-lo. Falar sem medo de escandalizar, de ofender, de blasfemar, de ser incoerente. Falar sobre um sentimento inconfessável é o primeiro passo para dominá-lo e suplantá-lo. 2. Redirecionar a conduta A tragédia produz mudanças muda nças inevitáv inevitáveis. eis. Se Se se tratar da perda de uma pessoa, não a teremos mais para nos fazer confidências ou ouvir as nossas. Se se tratar da perda per da de uma coisa, teremo teremoss de aprender aprender a viversem ela e sem sem as comodidades e benefícios que ela nos proporcionava. Precisamos refazer nossa conduta conduta diante dessa dessa nova realidade. realidade.111 Nesse novo caminho é importante a contribuição da fé e da esperança. Sair de uma catástrofe sem a ajuda da fé é algo quase impossível. Se não cremos em Deus, buscando nele as forças, dificilmente iremos em frente. O fato de que nossa vida precisa ser redirecionada para novos alvos exige de nós forças que somente a pessoa de Jesus pode dar. Diante do caos, da destruição de nossos referenciais, precisamos buscar novas metas para nossa vida e para nossa família. A falta de esperança e de planejamento são sinais de que a morte se instalou em nós. Ficamos imóveis, apáticos e sem ver nada além de trevas. Mas a esperança de que mesmo nos momentos difíceis e desfavoráveis podemos lutar, trabalhar e vencer nos impulsionará para a frente. A OPÇÃO PELA MORTE Roberto estava com 17 anos quando foi internado no Hospital Emílio Ribas. Jogado na rua pela família, abandonado
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pelos amigos, sem dinheiro, sem trabalho, era terreno aberto para as doenças oportunistas dentro de seu quadro de AIDS. Era muito difícil conversar com ele. Encolhido sobre o leito, olhar sem vida, movimentos lentos e sem expressão, retratava a morte em vida. Só o vi falando em voz alta uma vez: brigava com a enfermeira enfermeira porque não queria mais tomar banho, nem a deixava deixava trocar os lençóis de sua cama. Queria ir embora, mas não tinha como, nem para onde ir. Isso aconteceu na sexta-feira. No sábado Roberto morreu. Sem palavras, sem complicações de seu estado clínico, nada. Sem explicações. Ele havia optado pela morte e ninguém poderia detê-lo. Podemos saber que uma pessoa optou pela morte pelos seguintes sintomas: 1. Separação Ela evita a confrontação física ou psicológica com a realidade. 2. Negação Quando a pessoa nega ter sentido, ou se nega a expressar algum dos sentimentos relacionados com as reações iniciais (tristeza, raiva, medo, culpa, etc.). A negação consiste em exagerar ou menosprezar um ou mais desses sentimentos, ultrapassando o sintoma inicial como forma de compensar outra emoção repri mida, como é o caso do pranto contínuo muito tempo depois do trauma. Tal comportamento é uma maneira de evitar sentir raiva ou culpa. 3. Agressividade Caracteriza-se por uma defesa desmedida dos direitos próprios, a ponto de não respeitar os direitos alheios. Egoísmo! O único que vale é o seu direito, o resto “que se dane”. 4. Passividade
É acomodação, apatia, mesmo diante da violação de seus próprios direitos.
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5. Interdependência Comportamento competitivo em relação às outras pessoas, especialmente especialmente aquelas qu e sofreram perdas iguais ou semelhantes semelhantes às dela. É uma maneira de dizer que sua perda foi maior que a dos outros, pelo que justifica a sua dor. Ou, o contrário, ao comparar sua perda com a de outros, procura provar a si mesma que o que se passou com ela não pode ser comparado à perda sofrida pela outra pessoa. Existem muitas pessoas que não foram preparadas para a morte e a dor, principalmente numa sociedade como a nossa, em que elas vivem para os prazeres sem pensar na possibilidade de que algo trágico possa lhes acontecer. Quando enfrentamos a dor e a perda, assumindo nossos sentimentos e expressando-os, aceleramos nossa recuperação. Algumas pessoas têm dificuldades para expressar seus sentimentos, por razões culturais, pela formação familiar (homem não chora!) ou pelas características de seu temperamento. Quando a pessoa não começa a “trabalhar” sua perda dentro de certa faixa de tempo, fatalmente evoluirá para uma crise secundária com as seguintes características: 1. Depressão crônica Algumas pessoas reagem à dor da perda com apatia, parando na vida. Mas se isso se prolongar por mais de seis meses, se a pessoa não voltar a trabalhar e chegar a separar-se dos demais é possível possível que precise precise da ajuda de um bom bo m psicólogo psicól ogo ou o u psiquiatra cristão. Ela pode estar em perigo de romper com a realidade e refugi refugiar-s ar-see em um m undo und o interior interior e fechado (psicose ou loucura). 2. Hiperatividade Agora, seu desejo de trabalhar não é mais para ser útil. É uma fúga de seus problemas. 3. Hipoatividade É uma extensão do sintoma inicial da apatia. Ela passa o dia todo com um mínimo de atividade, não se penteia mais, não quer tomar banho, trocar de roupa ou sair de casa.
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4. Superidentificação A pessoa se identifica tanto com o morto que passa a agir como ele agiria. Isto requer uma ação rápida em busca de ajuda profissional. 5. Somatização crônica Agora ela vive vive continuamente enferma. enferma. O impacto impac to emocional que a feriu também a atingiu fisicamente. 6. Alteração relacional Ela passa a comportar-se de maneira diferente da costumeira. 7. Farmacodependência A pessoa passa a experimentar o álcool, remédios ou outras drogas, e se vicia. 8. Agressividade e/ou tentativa de suicídio Ela se torna muito agressiva e/ou tenta matar-se. 9. Criminalidade Começa a portar-se mal. Sem nunca ter tido problemas com a lei, começa a cometer pequenos furtos e a andar em más companhias. 10. Falta de afetividade Ela se torna insensível, indiferente e perde o desejo de dar ou receber carinho. Precisa de muita ajuda para que não ponha fim à própria vida. Toda pessoa que não esteja fortemente apoiada numa fé verdadeira pode correr o risco de perder a esperança e optar pela morte. A intervenção de um consolador amoroso, que seja usado por Deus em sua reabilitação, comunicando-lhe a certeza da presença e ação do Pai em sua vida, poderá tirá-la do “fundo do poço”, levando-a a optar pela vida.
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JÓ: SEU SOFRIMENTO Jó, o homem mais justo e temente a Deus que existiu sobre a face da terra, estava arrasado. Primeiro perdera todos os seus bens materiais: seu rebanho de ovelhas fora queimado; os bois, os camelos e os jumentos, roubados. Depois perdeu quase todos os seus servos, a quem tratava com dignidade e amor. A seguir, como se já não bastasse tanta desgraça, um de seus servos que sobrevivera veio dar-lhe a mais triste notícia: todos os seus filhos estavam reunidos na casa do irmão primogênito, compartilhando da amizade e carinho uns dos outros, quando um vento muito forte derrubou a casa sobre eles e todos morreram. A saudade, juntando-se à tristeza, trouxe à sua mente lembranças de imagens passadas, de momentos alegres. Como se espera o nascimento de um filho! Nove meses de preparo, de carinho, de espera para ver o rostinho tão lindo daquele bebê que se mexe no interior da mãe. Então chega o dia tão esperado: o primeiro prim eiro choro, e seus olhos enchem-se enchem-se de lágrimas lágrimas ao contemplar aquele ser perfeito que Deus formou em segredo. Todos os dedinhos perfeitos, a boquinha sempre faminta, o calor do corpinho tão amado. Depois, você o acompanha enquanto cresce, participa da alegria de ver seus primeiros passos, sorri com suas peraltices, faz-se criança com ele em seus brinquedos. Logo ele estará na escola, em pouco tempo já será um adolescente e terá vontade própria, lutará por suas opiniões. Quantas lutas, cheias de momentos de alegria e de tristeza! Mas tudo vale à pena, é maravilhoso poder acompanhar o crescimento de nossos filhos, sonhar juntos, planejar com cada um o seu futuro, sua profissão, viver juntos a vida. Mas, de repente, sem nenhum aviso nem explicações, ele sofre um acidente ou fica muito doente e morre. Deixa de existir, desaparece de nosso convívio, de nossa intimidade e deixa um enorme vazio. Seus livros, sua cama, seus objetos favoritos, suas fotos... tudo continua intacto, mas ele se foi para sempre. Uma dor profunda e surda esmaga o nosso coração. Milhões de pensamentos desconexos voam pela nossa mente, sem que consigamos organizá-los. Não há uma linha definida, somente confusão.
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Uma vontade absurda de gritar, chorar, morrer, e ao mesmo tempo uma dor tão grande que nos faz calar. Mudos, pois não há como expressar tudo isso sem palavras. Jó se lembrava de cada um de seus filhos com carinho, com saudade. Ainda não podia crer na notícia. A realidade era por demais difícil de aceitar. Num piscar de olhos, acabou-se o barulho de vozes, risos, risos, o canto, as discussões... tud o se aquietou. Tod os se foram. foram. M orreram. orreram. D e sua família tão tão grande, só restou restou a esposa que, naquelas circunstâncias, não o socorreu como era de se esperar. Ter-lhe-ia sido mais arrasador o choque? Não estava preparada para tanto? Mas, como diz o dito popular: “Desgraça pouca é bobagem”. Em meio a tanta dor, Jó adoece. Não um simples resfriado ou
EU ESTIVE COM JÓ Nunca imaginei que veria um homem como Jó. A cena era tão horripilante e cruel que a lancei para a dimensão de filmes de terror. Mas ele estava ali na minha frente. Muito magro, com o corpo semicoberto pelos lençóis, só deixava ver a sua cabeça, os braços e o peito coberto por tumores. Seu nome era Antônio. Aproximei-me e o chamei, mas ele mal podia abrir os olhos cobertos de pústulas, que estavam também dentro das pálpebras, deixando escorrer o sangue e o pus malcheiroso. Suas mãos estavam em carne viva. Não havia lugar são em seu corpo. Quando me olhou, os olhos semicerrados, mostrou-se feliz com minha presença. Finalmente alguém se aproximara dele! Já fazia quatro meses que estava naquela situação e, apesar de todo o cuidado médico, ninguém conseguia melhorar muito o seu estado. As pústulas se fechavam durante algum tempo para, em seguida, abrirem-se novamente. Penso que senti o mesmo impacto que devem ter sentido os amigos de Jó: dor, ao ver tanto sofrimento, e a incapacidade de saber que nem mesmo a medicina tinha solução para aquele mal. Chorei ao pensar como ele estaria se sentindo naquela situação. A única coisa que podia fazer no momento era ficar ao seu lado, quieta, orando ao Senhor para que aliviasse seu sofrimento.
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alguma doença que se resolvesse por si mesma ou com o chá de ervas da vovó. Tudo começou com uma coceira, e logo apareceram as manchas na pele que da noite para o dia se transformaram em tumores que purgavam e causavam dores constantes. A identificação de doenças com nomes antigos não é tarefa fácil, mas a opinião médica dos nossos dias sugere que a doença de Jó fosse um caso de furunculose estafilocócica gen eraliza da.12 da.12 O utr os já falam em elefan tíase13 tíase13 e aind a o utros, em lep ra .14 .14 Em artigos na revista Fé e Vida, o Prof. Flamínio Fávero, então Catedrático de Medicina Legal na Faculdade de Medicina de São Paulo, ligada ao Hospital das Clínicas, concluiu que a doença de Jó era pênfigo foliáceo, ou fogo selvagem. E a conclusão dele parece a única que combina Foi ele quem começou a falar. Agradeço a Deus por ter me mandado ali para consolá-lo. Dizia que Deus é muito bom, e tinha certeza de que o Senhor estava cuidando dele. Não tinha medo da morte e até estava ansioso para que ela chegasse logo, mas enquanto isso não acontecia estava disposto a enfrentar a vida e o sofrimento com fé. Falei-lhe de Jesus, de seu amor, seu perdão e da certeza da vida eterna garantida a todos que lhe entregam a vida. Contei-lhe a experiência de Jó e ele sorriu, consolado. Emocionado, agradeceu a minha visita, pedindo que orasse por ele e que voltasse sempre. Ao encontrar pessoas em grande sofrimento, como o Antônio, preocupo-me com tipos de palavras a usar para consolá-las, certa de que as encontrarei revoltadas contra Deus. Mas sempre me surpreendo, pois a situação é inversa. Vejo-as clamando pela presença mais íntima de Deus, louvando-o por seu amor e companhia. Quando não lhes resta mais esperança, anseiam pelo céu, preocupadas em saber como chegar lá! Portas abertas, coração receptivo e sedento da mensagem de Jesus, a única que nos dá razão e forças para viver.
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com a descrição da Bíblia. Mas a falta de pormenores impede o diagnóstico clínico. Só podemos avaliar de “longe” sua dor ao ler os dados que a Bíblia nos fornece: 1. Essa doença atacou-lhe o corpo inteiro; somente a gengiva não foi afetada: “Então Satanás partiu da presença do S e n h o r e lançou uma terrível doença sobre Jó. O corpo de Jó ficou inteiramente coberto de feridas abertas e cheias de pus, dos pés à cabeça” (Jó 2.7 BV). 2. O mau hálito e o cheiro de seu corpo tornavam-no repugnante: “Minha própria esposa não chega perto de mim por causa do mau cheiro que sai de minha boca quando falo; por causa do mau cheiro dessas feridas abertas, meus próprios irmãos não se aproximam de mim” (Jó 19.17 BV). 3. Muitas infecções. As chagas criavam vermes, pústulas que estavam em constante erupção: “A minha carne está vestida de vermes e de crostas terrosas; a minha pele se encrosta e de novo supura” (Jó 7.5). 4. Emagreceu muito e seus dentes apodreceram: “Os meus ossos se apegam à minha carne, e salvei-me só com a pele dos meus dentes” (Jó 19.20). 5. Ele se despelava e tinha febre: “Minha pele, dura e negra, quebra-se e cai; dentro de mim, os ossos queimam como fogo” (Jó 30.30 BV). 6. Chorava muito: “Já não tenho mais lágrimas; meus olhos já estão vermelhos de tanto chorar e tenho profundas olheiras, como um homem prestes a morrer” (Jó 16.16 BV). 7. Sofria de insônia e pesadelos: “Quando vou me deitar penso: ‘Quem dera que já fosse de manhã!’ mas a noite é comprida, e eu me viro de um lado para outro na cama, sem poder dormir” (Jó 7.4 BV). “Quando vou dormir, penso que o sono me fará esquecer a dor e o sofrimento, mas o Senhor me assusta com pesadelos horríveis” (Jó 7.13-14 BV). 8. Falta de visão: "... sobre as minhas pálpebras está a sombra da morte” (Jó 16.16b). Os outros o olhavam com olhares perturbados: “Quando os três viram Jó, de longe, não reconheceram seu amigo, de tão
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mudado que estava” (Jó 2.12 BV). “Meu coração está quebrado em pedaços; meus dias estão estão cheios de dor e sofrimento. M inhas noites são cheias de dor e parece que os meus ossos estão sendo furados e quebrados sem parar. Minha doença é tão terrível que meu corpo ficou todo deformado, minhas roupas ficaram cheirando a pus e colaram à minha pele” (Jó 30.16-18 BV). A perda de seus filhos e bens trouxe-lhe a dor, porque representou o início de um processo de morte. Jó estava sofrendo em meio a muitas dores do corpo e da alma. Estava passando por uma época de crise; e diante dela tinha de escolher: ou fazer uma opção pela vida, superando a crise, amadurecendo e tendo vitória sobre a morte que se instalara em sua vida, ou então permitir que os sinais de morte se incorporassem cada vez mais nele, deixando que dominassem sua vida. É necessário ter amigos que possam ajudar, trabalhando criativamente sobre os sentimentos que acompanham a perda, optando pela vida, lutando contra a morte, exercendo o ministério de consolação, transmitindo vida. Jó estava começando a enfrentar a crise e creio que, chocado choc ado e ferido com o estava, sua primeira reação foi de negação negação ou incredulidade. Jó deve deve ter ter demorado demo rado muito a crer crer no que de fato acontecer aconteceraa com seus filhos. Talvez ele tenha pensado: “Não é possível! Faz uma hora que conversei com eles!”. Essa reação de incredulidade incredulidade é como com o um u m m ecanismo de defesa utilizado como proteção emocional diante da dor imensa. Essa etapa não dura muito, porque a própria realidad realidadee leva leva a pessoa a assum ir a veracidade veracidade do fato de sua su a perda. perda. Vencida a primeira etapa, teve teve início um p rocesso para enfrentar a dor. dor. Sofrer So frer ante a perda, manifestar manife star exteriormente exteriormente este e outros sentimentos é uma reação normal, natural e necessária .15
Determinada linha de interpretação bíblica ensina que o cristão nunca pode estar triste, que o sofrimento não cabe na vida do crente e que se deve constantemente louvar a Deus por todos os fatos da vida. Nada é mais perigoso do que isso. Afastar
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a dor seja pela contenção de suas manifestações, pela repressão do choro ou escapando para atitudes místicas é “extremamente prejudicial, ao contrário do que muitos pensam”. A Bíblia nos diz para louvar a D eus em todas as circunst circunstânci âncias as (porque ele as permite para o nosso crescimento), mas não por todas as circunstâncias. A IMPORTÂNCIA DA GRATIDÃO “N u saí do ventre ventre de minh a mãe e nu voltar voltarei; ei; o S e n h o r o deu e o S e n h o r o tomou; bendito seja o nome do S e n h o r !” !” (J ó 1.21).
Jó não reclamou, não brigou com Deus por ter tirado seus filhos e seus bens. Ficou triste, muito triste, é claro. Mas não “atribuiu a Deus falta alguma” (Jó 1.22).
REAÇÕES NATURAIS DIANTE DAS CRISES 1. Angústia - É uma uma experiência experiênci a normal nas pessoas que que viveram uma grande tragédia. Normalmente não podem dormir, têm pesadelos, tribulação, estão inquietas, tornam-se sensíveis, irritáveis, assustam-se com tudo, desconfiam, sentem-se incapacitadas para fazer as coisas, desesperam-se por estarem sós. 2. Ira - Podem Podem dirigi-la contra a natureza, natureza, o destino, contra contra Deus, até mesmo contra os que morreram (e me deixaram só), contra os que sobreviveram (por que eles e não outros?), e ainda contra as pessoas que querem ajudá-las. 3. Medo - Principalmente Principalmente quanto quanto ao futuro; futuro; não veem como como poderão seguir adiante sem a pessoa que morreu, ou têm medo de que a tragédia possa se repetir. A perda do Mestre, com a crucificação, produziu medo nos discípulos, que acabaram escondidos, temendo que os judeus fizessem o mesmo com eles. 4. A culpa - É o sentimento sentim ento mais comum ante uma perda. perda. A pessoa se reprova por coisas que deixou de fazer pela pessoa querida. 5. Somatização - Podem Podem ficar enfermas fisicamente: dores de cabeça, dores no corpo, enjoos, diarreia, desmaios, sensação
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Jó era agradecido pelos bens que Deus lhe permitira possuir. Ele não achava que Deus era obrigado a lhe dar todas as coisas boas por ele ser um homem bom. Sabia que tudo que recebia era pelo am or e pela graça de De us, não p or seus méritos pessoais. pessoais. A gratidão gera alegria de viver e ser agradecido é a expressão de maturidade e saúde. A gratidão nos leva a sentir a vida como co mo um presente presente constante.1 consta nte.16 6 A cada novo amanhecer, ainda na cama, agradeço ao Senhor por mais um dia de vida e entrego-me entusiasmada em suas mãos, esperando as “surpresas” que ele preparou para mim nesse dia. Viver é realmente uma aventura segura quando sabemos estar nas mãos de um Deus que nos ama, que tem controle absoluto sobre todas as coisas e as usa (mesmo que nos pareçam ruins) para o nosso bem.
de pressão no peito, pressão, sufocamento, falta de ar, cansaço, falta de sono. Sabemos que no caso de Jó sua doença não era por uma fatalidade, mas sim causada por Satanás para prová-lo. 6. Alteração de comportamento - As pessoas pessoas mudam de conduta diante de uma crise. Há quem se torne indiferente, apático, sem vontade de fazer nada, nem sequer levantar-se. Outras tornam-se demasiadamente ativas, não param quietas, não podem dormir, trabalham sem parar. Outras, ainda, têm visões e ouvem vozes. 7. Ideias suicidas - Diante Diante da perda, perda, muitas pessoas pensa pensam m que seria melhor morrer. "Por que, pois, me tiraste da madre? Ah! Se eu morresse antes que olhos nenhuns me vissem!" (Jó 10.18). 8. Emoções intensas - É normal normal e saudável manifestar essas essas emoções e falar delas. Não é saudável contê-las e reprimi-las; é melhor expressá-las com franqueza para sentir alívio. "Durante os primeiros meses depois do trauma, a pessoa necessita de tempo e compreensão para vivenciar, elaborar e logo perder naturalmente nat uralmente os sintomas si ntomas inicia i niciais."1 is."17
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Paulo e Silas (At 16.25), dentro da prisão, com os pés presos ao tronco, as costas feridas, cheias de vergões feitos pelos chicotes, cantavam louvores a Deus, seguros do seu amor e direção. Aquele que é agradecido aprende a ser feliz com as pequenas coisas da vida. Não espera pelos grandes e fantásticos eventos para se alegrar. Olhando ao seu redor, crê que tudo quanto q uanto tem é um presente. presente. Não N ão existe nele a busca do prazer como um fim em si mesmo; com atitude madura e saudável saudável desfruta do que tem e dá graças a Deus, a seus semelhantes, semelhantes, e à vida por serem tão generosos generosos consigo. consigo.1 18 Jó se alegrava com seus filhos, com as reuniões de família, com a riqueza e a comodidade que estas lhe davam, mas jamais colocou neles o seu coração. Não se prendeu a eles. O Senhor continuava a ser seu maior tesouro, e seus filhos e bens, presentes do amor do Pai. Mas, além da perda, Jó estava enfermo em sua carne. Nem ele, sendo tão bom, escapou. A doença atinge a todos, indistinta mente. Ela nos lembra que somos frágeis, finitos e que também vamos morrer um dia. Arranca-nos de nossos devaneios e futilidades, desafiando-nos a buscar a Deus e a viver dentro de uma nova dimensão, planejando cada dia cuidadosamente e vivendo-o intensamente, como se fosse o último. A graça não mantém os crentes crentes longe da morte. A riqueza riqueza não pode comprar sua isenção dela. A riqueza não pode prevenir contra os seus assaltos. Reis e súditos, patrões e empregados, ricos e pobres, cultos e incultos, professores e alunos, médicos e pacientes, ministros e ouvintes, todos caem igualmente diante desse grande inimigo. A doença ajuda aj uda a amolecer o coração dos homens e lhes lhes ensina a sabed s abedori oria. a.1 19
Deus sempre cura? Alguns dos santos desta terra não foram curados e morreram, morreram, no leito, de não pequenos sofrimentos. Será que Deus não os quis curar? Sim; ele apenas adiou a cura para a hora da cura definitiva pela ressurreição. ressurreição. Cur C urou ou mais tarde.
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Nesse ínterim, ele concede poder ao ao sofredor, não só para suportar o sofrimento, mas também para utilizá-lo até a libertação final. Há muitos que são chamados para o ministério do sofrimento, para para carregar a cada dia dia a sua cruz e viver a despeito despeito disso. disso.2 20 Quando leio o magnífico texto bíblico de Hebreus 11, observo nessa “galeria dos heróis da fé” homens e mulheres que realmente andaram com Deus, provando este fato por meio de circunstâncias adversas na vida de cada um deles. Gente como a gente, que escolheu obedecer, colocando a vontade do Senhor acima da sua própria. Pessoas que tinham falhas, mas sabiam que, mesmo que Deus estivesse entristecido com elas, não deixaria de lhes dar o amor de Pai, e arrependidas voltaram para os seus braços para serem usadas em grandes missões. Nesse texto, vemos nomes como os de Abel, Enoque, Enoqu e, Noé, No é, Abraão, Sara, Jacó, José, Moisés, Raabe, Gideão, Baraque, Sansão, Jefté, Davi, Samuel e dos profetas. “Todas essas pessoas confiaram em Deus e, em consequência, ganharam batalhas, destruíram reinos, governaram bem o seu próprio povo e receberam o que Deus lhes prometera; foram preservadas preservadas do mal numa nu ma cova de leões leões,, e numa num a fornalha ardente. ardente. Alguns, por meio da sua fé, escaparam de morrer à espada. Alguns tornaram-se fortes novamente depois de estarem fracos ou doentes. Outros receberam grande força na batalha; fizeram exércitos inteiros recuar e fugir. E algumas mulheres, por meio da fé, receberam de volta seus queridos já mortos. Mas outros confiaram em Deus e foram espancados até a morte, preferindo morrer em em lugar de abandon ar a Deus D eus para ficarem ficarem livr livres es confiando que, depois disso, eles se levantariam novamente para uma vida melhor. Alguns foram escarnecidos e suas costas foram dilaceradas com chicotes, e outros foram acorrentados em masmorras. Alguns morreram apedrejados e outros serrados ao meio; a outros foi prometida a liberdade se renegassem a fé, e depois foram mortos à espada... Passaram fome, ficaram doentes e foram maltratados —bons demais para este mundo” (Hb 11.33-38 BV).
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DONA HILDA HILDA
Dona Hilda era uma senhora muito amiga, irmã na fé, membro da Igreja Presbiteriana da Lapa. Professora dedicada e atenciosa, era muito amada pelos seus alunos. Ao aposentar-se, ofereceu-se para trabalhar junto à Capela Evangélica do Hospital das Clínicas, e a parte que lhe coube foi lecionar para os pacientes com paralisia infantil. No dia do primeiro contato com seus alunos, Dona Hilda levantou-se da cama sentindo ainda fortes dores nas costas que a mantiveram em repouso por vários dias. Quando tudo estava tratado para o início das aulas, percebeu que se sentia cada vez mais doente. Procurou médicos, massagistas, acupunturistas, fez dezenas de exames, até que se definiu seu diagnóstico: linfoma, e num estado tão adiantado que não teria mais nenhum tratamento. Lembro-me de ter sido informada do diagnóstico pelos seus médicos e, junto com eles, comunicado ao seu marido, Plácido, e seu filho, Marcos. Foram momentos difíceis, de muitas lágrimas. Não sabíamos bem como lhe comunicar a notícia, quando ela nos disse: "Sabe, os médicos conversaram comigo hoje: estou com linfoma, não tenho mais tratamento, e vou morrer. Mas estou em paz, não me preocupo, porque o Senhor está comigo". As palavras morreram em nossa garganta, e só pudemos ficar ao seu lado, segurar a sua mão e chorar junto com ela. Dona Hilda ficou pouco tempo no hospital. Preferiu morrer em casa. Mesmo neste tempo de internação, pôde contar às médicas médicas a razão de de sua paz paz - a certeza da da vida vida eterna - e falar-lhes falar-lhes de seu amigo Jesus. Nunca a encontrei revoltada, brava ou reclamando de seu problema. Compartilhava, sim, suas muitas dores, e pedia que lêssemos a Bíblia e orássemos com ela. Havia gratidão ao Senhor em seu coração e muita paz refletida em seus olhos. Um dia antes de sua morte estive em sua casa, levando um coral para cantar hinos em louvor e gratidão a Deus, em voz suave, para animá-la e consolá-la. Ela chorava agradecida, chamando um a um dos coristas para segurar sua mão e abençoá-la. Morreu em paz, sem questionamento e sem revolta.
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Eles não foram curados, protegidos da morte, mas eram pessoas especialmente amadas por Deus. Andaram com o coração grato pela companhia do Senhor, fizeram da alegria de Deus a sua força, e não reclamaram diante do sofrimento. Homens e mulheres dos quais o mundo não era digno. NAS CINZAS Jó estava sentado nas cinzas. Triste, com muitas dores, sofrendo tremendamente, Jó procura o consolo da companheira de sua vida. Aquela que podia sentir sua dor, porque fora atingida na mesma proporção: também perdera tudo e todos. Ela se aproximou de Jó, olhou-o e ficou muito irritada ao ver a atitude submissa dele diante de Deus e dos acontecimentos. Havia perdido a fé, fé, a esperança. esperança. Dirigiu Dirig iu a J ó palavras palavras de desespero, desespero, de quem não espera mais nada da vida: “Você ainda vai tentar ser muito religioso, mesmo depois de tudo o que Deus nos fez? O melhor que você tem a fazer é amaldiçoar a Deus e morrer!” (Jó 2.9 BV). Mas Jó sabia que só lhe restava a fé. Não uma fé infantil, apoiada nos bens que Deus lhe dera e depois tirara. Fé na pessoa de Deus, e não no que ele lhe dava. Almejar a Deus D eus e viver viver na graça não nos isenta de passar pelo vale vale de lágrimas lágrimas - nem tudo são rosas, nem tudo é planície, há vales profundos e vales áridos; há ermos, há desertos, há sequidão, sequi dão, há esterilidade.2 esteri lidade.21 Felizes são também as pessoas que qu e fazem do Senhor Senho r a sua força e resolvem, em seu coração, seguir pelos retos caminhos de Deus! De us! Elas são capazes de transformar lugares lugares secos em fontes, transformar tristezas e sofrimentos em alegrias e bênçãos, em lugares cobertos de flores e frutos com a chuva da primavera. Sempre que surge uma dificuldade, elas recebem recebem a força de Deus. (SI (SI 84.5-7 84. 5-7 BV) Mas a esposa de Jó reagiu de maneira diferente ao sofrimento; ela optou pela morte em vida, pela revolta, pelo
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escuro. Não podia mais crer num Deus que lhe tirava tudo o que mais amava. Melhor seria morrer a viver daquela maneira. Amaldiçoar ao Deus a quem servira toda a vida e que “em troca” os tratava assim. Sem mais nada na vida, vida, sentindo-se sentindo-se o lixo lixo da hum anidade, levanta-se do lugar onde fora tão rico e abençoado e se arrasta para outro, que se coaduna mais com seu atual estado de espírito: o monturo. Ali era o vazadouro público, situado fora dos muros da cidade. Ali se queimava, a intervalos regulares, as imundícies e o lixo da terra. Era o ponto de encontro dos cães e de jovens sem eira nem beira; aqueles, ávidos pelo resto de carne que pudesse ainda ser encontrado agarrado às carcaças
OMISSÃO 0 bem que deixamos de fazer. Este é o tema do Juízo Final, como Cristo descreve em Mateus 25.31-46. Ao contrário do moralismo, que imagina que ele nos reprovará pelas faltas que cometemos, Jesus nos lembra de que seremos julgados pelas boas ações que deixamos de fazer. "Lembrem-se também de que saber o que deve ser feito e não fazer é pecado" (Tg 4.17 BV). Onde encontrar todos aqueles amigos que sempre estavam em sua casa nas horas felizes de festas, banquetes, nascimentos? Onde estavam seus irmãos, parentes e também aqueles pobres, viúvas e órfãos, a quem sempre prestara cuidados? Todos haviam sumido. Eles se omitiram em prestar socorro. De estar ao lado de Jó quando ele mais necessitava. Nós também temos nos omitido. Nossos pastores. Nossas igrejas. Temos oferecido uma ajuda muito superficial e distante, só para cumprir o nosso "dever cristão". Os médicos também têm se omitido. Até mesmo os cristãos, que teriam todas as condições de ajudar. E em alguns corações mais sensíveis brota a culpa. Graças a Deus que ainda há alguns que sentem a culpa e caminham para uma mudança de atitude. O Dr. Paul Tournier, em seu excelente livro Culpa e graça, fala-nos sobre esse assunto:
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que por ali eram atiradas; estes, sempre prontos a desenterrar e a aproveitar o que outros haviam lançado fora. Foi ali, naquele lugar de miséria e de refugo, que se sentou aquele que fora o maior de tod os do O riente .22 .22 Jó estava sentado nas cinzas cinzas do lixo; agrilhoado, agrilhoado, em udecido, sufocado, confuso, irado, desprezado, rejeitado, dolorido, sem refugio, sem amor, sozinho. Jó precisava de gente. Gente amiga e querida que o com preendesse, sentisse sua dor, que o deixasse chorar e desabafar. Que o ajudasse a recomeçar a viver. Jó sonhava com alguém que viesse sentar-se com ele nas cinzas.
A culpa da omissão nos ocorre constantemente na nossa atividade profissional. Será que damos às pessoas que estão de algum modo ligadas a nós tudo o que Deus quer que lhes demos? Será que não nos contentamos, muito frequentemente, com um trabalho superficial? Será que nós, médicos, não sentimos às vezes que o medicamento que prescrevemos não é senão um paliativo ineficaz? Não seria necessário ir mais fundo, abordar os problemas de vida que entrevemos por trás da angústia de nosso próximo? Mas talvez isso seja árduo e difícil, não saberemos o que dizer diante de problemas delicados. Isto pode nos levar a um terreno pouco familiar, mesmo a questões morais e religiosas sobre as quais não nos sentimos seguros. Então, uma receita para a farmácia, um conselho de higiene, uma boa palavra de encorajamento ou de simpatia profunda, já é alguma coisa. Tentamos nos justificar dizendo a nós mesmos que fizemos o nosso dever de médicos. Um padre, um pastor ou um amigo poderá fazer o restante, e melhor do que nós. Será que o paciente não esperava esperava mais mais de seu médico? méd ico?2 23 É fácil sermos "técnicos", deixando o atendimento psicológico para o psicólogo e o espiritual para o capelão. Mas Jesus disse aos seus discípulos: "Dai-lhe, "Dai- lhe, vós mesmos, mesmos, de comer" (Mt 14.16).
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Os amigos amigos deJó “O amigo é sempre leal, leal, mas na hora da dificuldade ele se torna mais que um amigo; passa a ser nosso irmão” (Pv 17.17 BV). Abrindo com dificuldade os olhos cobertos de tumores, Jó vê ao longe três vultos que se aproximam, caminhando em sua direção. Quando a distância é menor, nota que eles também olham para ele e param assustados. Não reconhecem naquela sombra enegrecida de homem o amigo das horas felizes. Ninguém lhes dissera que seu estado físico era assim tão repugnante. Em sinal de angústia e dor erguem a voz e choram, rasgando seus mantos. Muito se fala contra os “amigos de Jó”, mas poucos sabem dar valor aos versículos que descrevem a fidelidade e o consolo deles. Quando todos os outros fugiram, omitiram-se, eles permaneceram fiéis. Haviam conhecido Jó em seus dias de prosperidade, comido e se alegrado com ele, e ali escolheram ficar agora, na hora da dor e do choro. Elifaz era um patriarca importante, solene, conservador e sincero em sua simpatia. Seu nome significa “Deus é puro”. E confrontar significa estar ao lado daquele que é fraco, apoiando-o. Bildade, cujo nome significa “velha amizade”, era outro consolador. Zofar era o terceiro. A vinda deles animou um pouco a Jó, na esperança de receber algum consolo.
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Aqueles homens importantes, bem vestidos, vindos de tão longe, desceram de seus pedestais, identificaram-se com o amigo e com ele sentaram-se nas cinzas. Foram longos sete dias e noites em que ali permaneceram calados, por causa da intensidade da dor do amigo. Deram uma maravilhosa prova de amizade. “Durante os sete dias seguintes, os três se sentaram junto com Jó, sobre a cinza, sem dizer uma única palavra, porque viram que a dor de Jó era grande demais e falar não ajudaria em nada” (Jó 2.13 BV). Tenho aprendido a calar-me calar-me diante da dor de um paciente, paciente, mas tenho muito a caminhar ainda, porque sei que não conseguiria fazê-lo durante sete dias e sete noites. Provavel mente ficaria tentando quebrar aquele silêncio, procurando palavras para preenchê-lo. O que fazer quando a pessoa não quer falar? Nestes casos, é quando se requer o ministério da consolação, porque ao não falar a pessoa está reprimindo seus sentimentos, está interiori zando-os. O ministério da consolação, nestes casos, tem início com o calar-se junto. Não podemos cair na tentação de falar. Se ela não quer falar, muito menos quer ouvir. Poderemos manifestar nossa solidariedade por meio m eio de pequenos gestos carinhosos, como abraçá-la, segurar a sua mão. Chorar junto com ela... mas nunca falar. Ninguém há que, sabendo ter ao lado um bom amigo disposto a ouvi-lo, vai ficar muito tempo calado. Logo abrirá a boca para desabafar. Mas é necessário esperar que este silêncio seja quebrado por ele. Conversando com a Tânia e o Pedro, perguntei-lhes: “Por que é tão importante ficar calado durante algum tempo diante daquele que está sofrendo?”. Eles me responderam: —A pessoa que se cala, fica em silêncio, sente com mais profundidade o problema do outro. É bom ter alguém ao meu lado quando estou triste, com problemas, chorando... eu sinto falta de uma pessoa amiga, que me compreenda. {Tânia) O Pedro respondeu: —Quando perdemos alguém querido ou estamos sofrendo por algum outro motivo, se o amigo vem nos consolar e se
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mantém calado, ele pode sentir com mais intensidade os nossos sentimentos, pode se aprofundar mais. Mas eu acho que é bom a pessoa falar também, porque é falando que poderá nos ensinar algum as coisas, dar opiniões que ajudem a resolv resolver er os problemas. Sabe, uma vez o Shieh (médico-residente evangélico) encontrou-me chorando. Aí, ele chegou perto de mim, abraçou-me e passou a mão na minha cabeça. Como eu não falei nada e continuei a chorar, ele pegou uma cadeira, sentou-se ao meu lado, pegou minha mão, encostou a cabeça na minha cama e começou a chorar também, enquanto orava baixinho. Choramos juntos por algum tempo e quando eu estava melhor, peguei a Bíblia e começamos a ler juntos e a compartilhar. Contei o problema pelo qual estava passando, pedi sua opinião, e devagarinho, bem devagarinho, foi se estampando um sorriso no meu rosto. Então, ele cantou uma música para mim: L á está e stá o meu tesouro tesouro.. L á onde não h á chor choro. o. Onde todos cantaremos juntos Hinos de louvor ao Senhor...
Ele me disse que quando canta essa música e o sofrimento é muito grande, ele fica pensando no céu, em suas ruas de ouro; fica contente em saber que iremos para lá por causa de Jesus, e que lá não haverá mais choro. Quando eu converso profundamente com algum amigo sobre as maravilhas de Deus, parece que Deus se aproxima de mim e me conforta, acaricia e abraça com seus braços fortes. Então eu fico com o coração m uito leve, leve, e sinto que é D eus m esmo esm o quem está me consoland o. É muito gostoso quando isso acontece. Eu sinto as mãos de Deus sobre mim, e sei que ele não me despreza e me dá alegria mesmo em meio à tristeza. “Gosto demais de todos os meus amigos que moram ali, naquela enfermaria de paralisia infantil. Admiro a alegria, a força que transmitem, a maneira como enfrentam e, ao mesmo tempo, convivem com o sofrimento.”
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“Nesses sete anos no Hospital das Clínicas, convivendo diariamente com eles, tenho aprendido a não compará-los, pois, mesmo que estejam no mesmo contexto, têm estruturas diferentes diferentes;; e a respei respeitá-l tá-los, os, principalmen te qua ndo estão sofrendo por algum novo problema.” O processo processo de sofrimento torna caminho diferente diferente para para cada pessoa, mas é importante que ela se permita sofrer. Ninguém Ning uém que tenha perdido um ente querido vai ganhar ganhar uma recompensa especi especial al no céu por voltar à normalidade no rmalidade imediatamente, como se a pessoa jamais tivesse tivesse existido. existido. Os que conseguem atravessar atravessar bem um u m período de dor d or são, em geral, aqueles que reconhecem seus sentimentos, admitem sua ira ou amargura, procuram vencê-las vencê-las e dão a si mesmos tempo para serem curado cu rados.2 s.24 4 Cada pessoa reage de maneira diferente ao sofrimento. Não podemos padronizar reações, tempo de sofrimento ou intensidade. Mas é importante deixá-la fazer a nossa agenda de consolo, mostrando-nos a sua necessidade e quando devemos falar. Somente Soment e quando nos colocamos a favor da pessoa que sofre, contactando-a em seu contexto de vida e referências de significado, significa do, é que somos capazes de ser ajudadores. ajudado res.2 25 Uma mãe, que perdeu três filhos, disse: —A melhor coisa que alguns de meus amigos fizeram por mim foi permitir que eu chorasse. Eles não me censuravam, apenas apena s deixavam que eu chora sse.26 sse.26 Jó estava calado. Você pode pod e ter toda a teologia do universo, mas na hora em que a coisa dói na carne, carne, penetra as emoções, emoções, atravessa atravessa o peito, confunde a cabeça, agoniza a alma, mexe com as entranhas, fica fi ca difícil equacionar eq uacionar a dor.2 dor. 27 Jó estava calado. Tão perturbado que não podia falar. Como numa panela de pressão, revolvia-se dentro dele o calor terrível de pensamentos negativos, que o tornavam mudo, estático. E é isso o que acontece quando somos envolvidos envolvidos por uma onda o nda de angústias; angústias; ou extravasamos extravasamos num torvelinho de queixas e murmurações, murmurações , ou silenciamos.2 si lenciamos.28 8
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SENTADOS NAS CINZAS Os amigos de Jó ficaram sete dias e sete noites sentados nas cinzas com ele, mas quando começaram a falar, demonstraram não estar “empatizados” com o amigo e nem sequer percebiam a intensidade de sua dor. Não foram capazes de compreendê-lo e, ao abrirem a boca, revelaram o que estavam pensando durante esse longo tempo: “Por que Jó estava sofrendo assim? O que ele fez para merecer isso? Qual o tamanho de seus pecados para ser castigado tão duramente por Deus? Não podemos compreender as ideias deste homem! Temos de levá-lo à verdade!”. O mundo demonstra uma genero generosa sa simpatia para com os doentes e enfermos, enfermos, mas esta simpatia simpatia está bem longe de de ser tão altruísta como se imagina. imagina. Há toda sorte de desprezo desprezo,, de repugnância, de julgamentos escondidos atrás dessa caridade aparente e, mesmo mesmo algumas algumas veze vezes, s, na condescendência condescendência da caridade. Na realidade, há no inconsciente de todas as pessoas certa repugnância defensiva contra a doença e a enfermidade, vestígios da miséria humana que preferimos esquec esquecer. er. A pobreza, a doença doença e a morte trazem ao espírito espírito o problema problema existencial com uma brutalidade dolorosa, ao qual muitos desejariam, conscientemente ou não, fechar os olhos. A doença estimula a sensibilidade dos doentes, que percebem intuitivamente em muitas pessoas saudáveis certa resistência que sentem como desprezo ou repulsa. Jesus Jes us Cristo, Crist o, com seu realismo habitual, habitual, refere refere-se -se a esta tendência humana humana de voltar as costas ao sofrimento na parábola do Bom Samaritano (Lc 20.31), e na do Juízo Final Final (Mt2 (M t25. 5.43 43).2 ).29 9 Os amigos de Jó fizeram intervenções centradas em sua ansiedade e compulsão de “salvadores”. Porque eles estavam julgando Jó, não quiseram ouvi-lo, e deixaram de ser consoladores que aliviam a carga do sofredor para se tornar “consoladores molestos”, como Jó os acusa: “Assim também vós outros sois nada para mim; vedes os meus males e vos espantais” (Jó 6.21).
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“Vós, porém, besuntais a verdade verdade com mentiras e vós todos sois médicos que não valem nada. Tomara vos calásseis de todo, que isso seria a vossa sabedoria!” (Jó 13.4-5). “Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vós sois consoladores molestos. Porventura, não terão fim essas palavras de vento?” (Jó 16.2-3). “Por que me perseguis como Deus me persegue e não cessais de devorar a minha carne?” (Jó 19.22). “Vocês foram como esses riachos para mim; eu esperava encontrar ajuda mas vocês se afastaram, espantados com a minha desgraça” (Jó 6.21 BV). “Ao que me parece, vocês são os donos da sabedoria, são a voz do povo... Agora, porém, os meus próprios amigos zombam e fazem pouco caso de mim! Vocês se sentem muito seguros e por isso zombam de quem está sofrendo, empurram quem já está tropeçando!” (Jó 12.2,4b-5 BV). “Porque vocês torcem o sentido se ntido das minhas m inhas palavras. Vocês Vocês são médicos que não sabem sabe m descobrir de scobrir doenças! doenças! Se vocês calassem calassem a boca, mostrariam mais sabedoria do que me dando esses conselhos tolos!... De que adianta vocês falarem essas mentiras tolas e pensarem que são ‘mensageiros de Deus’? Será que Deus ficaria satisfeito em ver que vocês torcem a verdade para provar que ele está certo?” (Jó 13.4-5,7 BV). “Já estou cansado de ouvir o que vocês estão me dizendo. Afinal, que espécie de amigos são vocês? Querem me consolar ou me acusar? Suas palavras é que são vazias e sem sentido. O que eu fiz para vocês me encherem os ouvidos com essas respostas tolas?” (Jó 16.2-3 BV). “Vocês zombam de mim enquanto eu derramo lágrimas sinceras diante de Deus, pedindo que ele me ouça como faria um homem com seu amigo” (Jó 16.20-21 BV). “Até quando vocês vão me castigar com essas acusações falsas? Até quando encherão meu coração de tristeza? Já perdi a conta de quantas vezes vocês me ofenderam e me acusaram de ser um pecador rebelde... Vocês estão querendo usar a minha
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desgraça para provar provar a si si mesmos mesm os que qu e são muito mu ito justos e sinceros” sinceros” 0 ó l 9 2 3 a, a , 5 B V ). ). “Já não chega o castigo que recebo de Deus? Será que vocês também vão se voltar contra mim?” (Jó 19.22 BV). “Ouçam o que eu digo! Se ao menos vocês ouvirem, isso já será um alívio para par a o meu me u coração. coraç ão. Tenham Ten ham um pouc po uco o mais ma is de paciência comigo e depois que eu falar vocês podem zombar quanto quiserem” (Jó 21.2-3 BV). De consoladores, transformaram-se em trituradores. Foram insensíveis, grosseiros, usaram linguagem violenta e ofensiva. Colocaram sal e vinagre em suas feridas, em vez de óleo. Mas o grave é que o julgamento, seja verbal, seja velado, que os doentes sentem vem, sobretudo, dos mais bem intencio nados em suas palavras de conforto. Muito frequentemente, são os visitantes mais dedicados que causam as culpas mais funestas. Prova disso está nos amigos de Jó e nos seus belos discursos! Eles tiveram, a princípio, a delicadeza de se calar “sete dias e sete noites” diante de sua dor. Eles não lhe voltaram as costas; vieram para sofrer com ele e consolá-lo. Mas, envolvidos pelo zelo, começaram a conversar, a filosofar, a exortar; falaram tanto que prejudicaram a Jó; com tantas palavras bonitas, fizeram-lhe mais mal que todos os seus males, de tal maneira que ele exclamava: “... Vós todos sois médicos que não valem nada” (Jó 13.4). Por trás dos nobres propósitos dessas saudáveis pessoas, o doente Jó percebe um terrível espírito de julgamento, uma insinuação constante consta nte de que os males que o assolam assolam são punições puniçõ es divinas! Mesmo nas exortações à fé, Jó sente uma acusação, quando Bildade lhe diz: “Mas, se tu buscares a Deus e ao Todo-poderoso pedires misericórdia, se fores puro e reto, ele, sem demora, despertará em teu favor e restaurará a justiça da tua morada” (Jó 8.5-6). E, evidentemente, dá a entender que, se Jó não sara, é porque não implora ao Todo-poderoso, ou que não lhe é obediente o bastante! Assim, Jó replica: “Vede que conheço os vossos pensamentos e os injustos desígnios com que me tratais” (Jó 21.27).
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Assim, nós vemos crentes, teólogos e leigos de todas as igrejas e de todas as denominações, sobretudo sobretudo as mais zelosas zelosas em socorrer doentes, doentes, esmagá-los esmagá-los com testemunhos testemunhos religiosos, religiosos, proclamar com força o poder de Deus que sara os que confiam nele, dando a entender ao doente que lhe falta fé.30 Em “Jó, tem sido lógico é Portanto,
resumo, os amigos de Jó diziam: Deus está tentando dizer-lhe algo. Seu sofrimento enorme, e deve haver uma razão. O único motivo que Deus está zangado com algum pecado seu. confesse sua falta e Deus aliviará o seu sofrimento.”
SATA SATANÁ NÁSS ATA ATACA CA POR ME IO DO S A MIGO S Quando Quando um um general general falha num ataque direto, direto, ele, muitas veze ve zes, s, tem meios para aplicar um ataque indireto; indireto; quando quando não pode forçar a posição de um inimigo, inimigo, ele o faz retroced retroceder; er; e um exército que resiste galhardamente contra repetidos ataques frontais, ficará muitas vezes vezes em pânico quando quand o as tropas inimigas atacarem pela frente ou por trás. Mais fatal ainda será o resultado quando os próprios aliados subitamente subitamente se voltarem contra ele e se transformarem em colunas de ataque. Satanás tinha falhado no ataque direto; as mais esmagadoras aflições tinham falhado contra o constante Jó: mas a batalha ainda não estava ganha. E a peculiaridade da última prova, que lhe veio em em conjunto, é surpreendente. Era um ataque não de frente, mas de lado; ataque não dos seus inimigos declarados, mas daqueles que se diziam seus amigos. A última prova de Jó foi trazida pela dura suspeita suspeita de seus amigos. A altercação altercação entre entre eles era de que sob o governo justo justo de Deus Deus há sempre nesta vida uma concordância exata entre o pecado e o castigo, e que as calamidades que se abateram sobre Jó só podiam ser consequência de grandes pecados. Podemos traçar um paralelo entre os sofrimentos de Jó e os de Jesus. Ainda que em medidas diferentes, ambos eram sustentados por Deus, eram justos, testemunhas testemunhas da verdade verdade e da santidade; ambos tiveram um fim vitorioso sobre seus acusadores. Mas Mas há há outro ponto ponto de coincidência entre entre eles eles:: foram atacados atacados por seus inimigos e traídos por seus amigos.
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Nisso, eu penso, constituiu-se a amargura dessa última prova pela qual qual Jó passou. passou. Destituído de todos os bens terrenos, Jó certamente contava com a simpatia simpat ia de seus seus amigos; mas até isso lhe foi negado. Seus amigos não só falharam, mas ainda se tornaram seus acusadores e tentaram abalar a sua fé na própria pró pria integrida in tegridade.3 de.31 Leila e eu estávamos no pronto-socorro acompanhando uma amiga enferma quando fui chamada por uma assistente social para atender outra mulher. mulher. Esta E sta senhora senho ra estava estava desesperada, chorando, gemendo e gritando, por saber que seu filho de 13 anos estava morrendo. Assentamo-nos num lugar mais calmo e deixamos deixamos que qu e ela ela falas falasse. se. Con tou-n os que tu do começara havia havia cinco meses. O garoto, filho muito meigo e querido, a ajudava nos trabalhos caseiros e começou a sentir fortes dores de cabeça. Feitos os exames, constatou-se que ele estava com um tumor cerebral em estado avançado. Com muito sacrifício, ela o levara frequentemente para o tratamento com radioterapia e quimio terapia, mas de nada adiantou. Naquela manhã o tumor havia se rompido e o menino estava à morte. A mãe chorava muito, e uma das frase frasess que disse disse cham ou m inha atenção: - A culpa é minha, eu não tive fé suficiente para salvá-lo, por isso ele está morrendo! E logo começou a explicar: —Sou da Igreja Universal do Reino de Deus e ouço todos os cultos pelo rádio, colocando um copo de água sobre ele, para que a água seja abençoada e eu possa ungir meu filho. O pregador disse que se eu tivesse muita fé, com certeza meu filho seria curado. Minha fé foi muito pequena, por isso ele está morrendo; eu sou culpada! Deus não ouviu minhas orações! A pobre mulher queria morrer de dor pelo filho e pela culpa de não tê-lo salvado. Fico ao mesmo tempo triste e irada ao ouvir frases assim: “Deus é Pai, ele vai curá-lo” ou “Ele não vai morrer se você fizer isto ou aquilo”; “Você não pode desistir. A morte vem de Satanás. Se desanimar, o estará entregando a Satanás, e se ele morrer será porque você fez isso”.
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Quanta ignorância! Que distorção da teologia! Como isso esmaga a pessoa já arrasada! Há curas divinas; há curas miraculosas; há curas pela oração e pela fé. Os que tiveram esta experiência ou os que dão testemunho disso devem falar delas para a glória de Deus e para sustentar a esperança dos doentes. Mas há pessoas que ultrapassam rapidamente as fronteiras da verdade em tais testemunhos; generalizam como se Deus curasse todos que o invocam; e culpam todos que recorrem à medicina científica ou aos medicamentos, como se estes não fossem também dons de Deus. Os motivos que incitam certos crentes a exagerar no testemunho são tão nobres que eles não se apercebem do mal que podem fazer à causa e aos doentes. Diante de um paciente que obteve a cura, outros doentes, que invocaram a Deus e não obtiveram respostas, podem sentir-se culpados com a própria falta de fé e até mesmo decepcionados e desanimados. Até as mais belas exortações suscitam culpa. Deve-se... deve-se... Deve-se deve-se... Deve-se ter paciência, deve-se suportar, deve-se aceitar, deve-se esperar, deve-se lutar... E o doente sente-se culpado por não ter paciência, por não poder esperar, lutar, aceitar. Será que a pessoa visitante faria melhor em seu lugar? Os sofrimentos de muitas pessoas são agravados, sem querer, pelos conselhos dos crentes mais caridosos.
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“Que Deus maravilhoso maravilhoso nós temos. temos. Ele é o Pai do nosso Senhor Jesus Jesus Cristo, Cristo, a fonte de toda a misericórdia, misericórdia, e aque aquele le que tão maravilhosamente nos conforta e fortalece nas dificuldades dificul dades e provações! E p por or que ele faz isso? isso? Para que, quando os outros estiverem aflitos, necessitados da nossa compaixão e do nosso estímulo, possamos transmitir-lhes essa mesma ajuda e es esse se mesmo consolo que Deus De us nos deu” (2Co 1.3-5 BV). “Consolar é um ministério. O mais difícil, talvez. Agradável é ouvir música, contar histórias alegres, falar sobre sucessos, principalmente o próprio. Procurar os que choram, penetrar o misterioso país das lágrimas assusta” (Myrtes Mathias).
Tesouros das escuridades Deus me deixou conhecer o remorso: sentir-me réptil e verme; ré e promotora, o dedo estendido na própria direção, num ângulo só possível numa consciência que se debate na angústia de voltar atrás, começar de novo. Suplicando a graça única de mais uma oportunidade que, provavelmente, seria perdida mais uma vez... Deus me permitiu passar pela dor, sem esperança de cura,
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sem promessa de libertação... Deixou-me conhecer o abandono, o esquecimento, a solidão, maior ainda, porque não no deserto, “onde feras e anjos” fazem companhia, mas no meio da multidão... Permitiu-me passar pela tentação... Não foi tudo de uma vez só. Houve uma sequência, um “crescendo” para baixo, sempre para baixo, até onde os “porquês” não encontraram resposta, nem no céu, nem no inferno... E então, só então, escuridão compacta, sólida, o milagre aconteceu: A pedra bruta fez-se brilhante lapidado, mais precioso ainda contra o fundo negro da dor. E eu retornei: Marcada e exausta como quem sai de uma batalha; exultante como quem volta com os despojos. Não saberei nunca por que foi preciso descer a tal escuridade, mas terei sempre um “porquê” como início da resposta que Deus quer que eu seja: quando me confessarem erros, chorarem fracassos, clamarem por oportunidades perdidas, falarem de dor, haverá uma sinceridade muito maior em meu gesto de consolo, minha palavra de compreensão: uma identificação só possível naqueles que, passando pelas “escuridades”, lembraram-se das promessas, tomaram posse delas e voltaram com seus “tesouros”, tão mais preciosos por causa do contraste, do milagre que lembram, do preço que custaram ao Senhor!...3 Senh or!...32 2
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MARIA MARIA JO SÉ Na escuridão daquela enfermaria do Hospital Emílio Ribas, Maria José chorava baixinho. Já era tempo de estar dormindo, mas aquela notícia a arrasara. Há muitos dias suportava dores enlouquecedoras, mas a vontade de sarar e voltar para junto do marido e do filhinho ajudavam-na a ter esperança renovada e força para lutar. Queria crer que a Medicina tivesse uma solução para seus pés e suas mãos gangrenadas, sequela da meningococemia. Estavam muito pretos, e, em algumas partes, murchos; a pele, rasgando-se, expunha partes da carne. Seus dedos pareciam feitos de plástico preto enrugado. Mas naquela noite, todas as esperanças tinham ido por água abaixo. Sua médica lhe dissera que teria de amputar todos os dedos da mão, e depois os dois pés, acima dos tornozelos. Seus sonhos, aos 22 anos, tornaram-se pesadelos. Como continuar a viver? Sentada ao seu lado, chorávamos juntas. Como poderia consolá-la? Quais palavras poderiam ajudá-la nessa hora? “Deus, o Senhor está me castigando? Será que eu cometi pecados tão grandes para que o Senhor me castigue assim? Eu mereço todo este sofrimento?” Maria José chorava, e lançava sua dor aos céus. “Por que eu? Não queria muita coisa da vida; só poder cuidar do meu bebê, arrumar minha casinha de dois cômodos, viver bem com meu marido... mas como fazê-lo, sem mãos e pés?” Orei ao Senhor pedindo ajuda e comecei a conversar com ela. Disse-lhe que não sabia a razão por que Deus estava permitindo aquele sofrimento, mas estava certa de que ele estava sofrendo com ela. Falei-lhe de seu amor e também de nossa separação dele. Contei-lhe acerca de Jesus, inteiramente Deus e inteiramente homem; de seu sofrimento... sobre a cruz. Falei-lhe de seu propósito, de sua ressurreição e da vida nova e eterna que oferece a todos os que nele creem. Sobre o corpo novo e perfeito que teremos no céu, eternamente com o Senhor. Oramo Or amoss juntas, e o Senhor estava estava pres presente. ente. Maria Mar ia José Jo sé convidara convidara Jesus para ser seu Salvador, Senhor de sua vida. Entregou-se
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sem reservas, sem barganhas, crendo que somente ele poderia ajudá-la ajudá- la e fortalecê-la fortalecê-la para que pudesse voltar e viver viver plenamente, plenamente, apesar de tudo. Ensinei-lhe dois cânticos: Não Não há há impossívelpara Deus Deus.. Não, não há, Meu Deus Deus tem todo opoder. Elefez fe z tudo o que existe existe No céu céu, terra e mar Meu Deus Deus tem todo opoder. Disse-lhe que ele tem todo o poder em suas mãos para curá-la, mas não sabia se este seria o seu propósito. Mas que ela deveria estar pronta a aceitá-lo, fosse este qual fosse, porque ele estaria com ela, mostrando-lhe o caminho, carregando-a no colo, enxugando suas lágrimas e confortando-a. Depois cantamos: Desani Desanimados mados?? Não! Não! Não! Não! Não! Nã o! Dores, Dores, tristezas, podem surgir, Com Cristo alegres alegres vamos seguir. seguir. Desani Desanimado mados? s? Não! ão! Não! Nã o! Não! Não! Seus olhos avermelhados de chorar possuíam agora um novo brilho. A alegria e a esperança transbordavam de seu coração e transpareciam em seu rosto. Estava com o Senhor, incondicionalmente. Estava certa de seu socorro aqui e agora, e tinha plena convicção de uma vida nova, com um corpo novo e perfeito para sempre no céu. Ao chegar ao hospital na manhã seguinte, notei que as enfermeiras daquele setor estavam muito preocupadas com a moça. Como lhe dar uma notícia tão má, sobre sua amputação? Acalmei-as, dizendo-lhes que a paciente já sabia de seu estado, e que estava bem. Rapidamente dirigi-me à sua enfermaria; conversamos brevemente, e depois começamos a cantar. Sua companheira de quarto também aprendera os cânticos, e tomou parte no recém-formado conjunto.
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Quando as enfermeiras entraram na enfermaria, não podiam acreditar no que viam. Como era possível uma pessoa com dores terríveis, prestes a sofrer amputações, estar com aquele rosto alegre, os olhos brilhantes e cantando? Milagre?! Só mesmo Deus poderia estar lhe dando forças! Transferida para o Hospital das Clínicas, ainda esperou dez dias pelas amputações, pois havia greve dos funcionários. Após vários adiamentos, finalmente chegou o dia da cirurgia. cirurgia. No N o Centro Ce ntro Cirúrgico, C irúrgico, o anestesista anestesista estranhou: - Você Você não está triste, com medo? Ao que Maria José respondeu: —Estou triste, sim, mas não estou com medo. Orei, pedindo a Jesus que estivesse aqui comigo e ele está aqui! Estou segura em suas mãos. A medicação para que dormisse não fez efeito, e Maria José assistiu a toda a cirurgia. Ouviu o barulho irritante da serra, viu quando seus pés foram cortados e depois jogados no balde, ao lado da mesa de cirurgia. Sofria, mas sentia uma paz inexplicável. Voltando à enfermaria após a cirurgia, consolou seu pai. Naquela Naq uela noite, as dores dores foram muito fortes, fortes, mas Maria José podia pod ia testemunhar a força que a socorria e que era sobre-humana. Passaram-se os dias em meio a infecções, curativos dolorosos e sem anestesia, febres e também depressões. Mas a moça reagia a tudo com sua fé e vontade de viver. Suas companheiras de enfermaria sentiam-se fortalecidas pelas suas reações, e com ela começaram a cantar aqueles cânticos aprendidos em meio à dor. Brincamos que contrataríamos aquele coral para alegrar outros pacientes. Depois de alguns dias, Maria José já estava sentada na cama, toda feliz por estar conseguindo comer sozinha e também por poder limpar sua mesinha de cabeceira. Logo foi embora para casa. Mutilada, mas consolada pelo Senhor, com o corpo e a alma curados, e viva para sempre. Quando nossa vida segue uma rotina diária, sem grandes oscilações, podemos falar em sofrimento, como o de Maria José, mas torna-se algo muito distante e irreal no meio de nossa
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alegria. Vendo pessoas com problemas ou enfermas, é-nos fácil consolá-las com palavras espirituais e amigas. Às vezes até nos atrevemos a lhes dizer: “Sei o que você está passando”, quando na verdade nunca experimentamos nada parecido para saber o que é sentir dor. Foi o que aconteceu com um pastor chamado Joachim Braun. Em todos os seus anos de pastorado já pregara muitos sermões sobre sofrimento e consolo, oficiara muitos enterros, confortara muitas famílias enlutadas, visitara e consolara muitos enfermos. Sofrera ao fazê-lo, mas nunca havia sentido na pele a dor de perder alguém muito próximo e querido. Foi na morte da esposa que ele sentiu a força arrasadora do sofrimento. Confortado por amigos, mas principalmente por Deus, saiu da experiência mais maduro, mais pronto a consolar, com consolação igual à que recebera de Deus. Ele escreve: O meu sofrimento é um poder; uma força obscura e sinistra. É uma força que agarra a pessoa, erguendo-a do chão, a ponto de fazê-la flutuar no ar, indefesa, sem qualquer ponto de apoio. Só com muito esforço conseguia conseguia lembrarlembrar-se se de que nos dias bons considerava o sofrimento uma bênção, bênção, e com essa convicção convicção consolara outras pessoas sofredoras. Agora, porém, só lhe voltam à mente pequenos fragmentos da convicção, ela já perdeu sua força. Seu mundo está está sendo destruído. A totalidade do seu mundo! Como continuar lutando? Não é em si próprio nem no mundo que ele vai achar forças para lutar. Pois necessita de uma força mais poderosa, capaz de compensar a força da gravidade que pesa sobre ele. Portanto, ela não pode ser deste mundo (Joachim Braun Braun - Entre o con conso solo lo e as lágrim lágrimas) as).. Todos nós fomos feridos e carregamos nossas chagas. Diante delas temos uma opção de fazer: ou fazemos de nossa dor um modo de nos identificarmos com a dor do outro —nos abrimos, choramos, compartilhamos e deixamos que o Senhor comece a nos curar —e o consolo que ele nos dá transborda em nós, consolando outros também, ou nos fechamos em nós mesmos, desenvolvendo nossa autocompaixão, tornando-nos
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amargurados com Deus e o mundo e não servimos para nada, a não ser para destruir e azedar outras vidas. Não existe cristão sem cruz. Teremos de passar muitas vezes pela aflição durante nossas vidas. Perdas, traições, dores físicas, decepções, abandonos... muitas vezes nosso espírito quedará quieto, tristonho e abatido sob tremendo peso. A resposta a esse sofrimento reside no questionamento, no aprendizado, na paciência e na aceitação. Não é aceitar simples e resignadamente os problemas, sofrimentos e provações. É triunfar sobre eles, cantar vitória, mesmo em meio à dor. Assim como a prata se purifica com o fogo, o cristão é o atleta de Deus cujos músculos espirituais se fortificam com a disciplina do treinamento nas dificuldades. Algumas pessoas têm um talento especial e uma aptidão para doar-se e portar poder curador. Dispõem-se a aprender a amar, a sofrer junto, a consolar. É relativamente fácil “amar” coisas abstratas como, por exemplo, a paz, multidões com fome ou mesmo toda a huma nidade. Também amar aqueles que nos amam é fácil. O problema verdadeiro reside em amar pessoas a quem não conhecemos, mas que precisam de nós. Precisamos aprender a amar. Há muitas pessoas sofrendo, buscando desesperadamente um gesto de carinho, um olhar de consolo, uma palavra de esperança. Muitos de nós sabemos disso tudo, mas ficamos de braços cruzados, esperando uma emoção forte que nos impulsione à ação. Mas o tipo de amor que Jesus ordena que mostremos não é uma emoção. Não tem nada a ver com simpatia ou afeição. É mais do que “cumprir um dever” ou dar receitas de consolo. Madre Tereza de Calcutá, ao ser chamada para receber o prêmio Nobel da Paz, fez um discurso breve e simples: “Sou uma mulher pequena. Não lhes peço dinheiro, tempo, ou algum esforço especial; só peço que cada um dê a si mesmo, até doer”. Dar coisas é relativamente simples, mas consolar é dar a si mesmo, e todos os cristãos estão envolvidos nesse ministério de cura e consolação. Deus sofreu conosco em Jesus, e nos consola da maneira como ele mesmo se consolou e foi consolado no Filho.