Educação Liberal
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Educação Educaçã o Liberal Li beral
Palestra de Olavo de Carvalho Carvalho Rio de Janeiro, 18 de Outubro de d e 2001 Transcrição: Transcriçã o: Fernando nt!nio nt! nio de ra"#o Carneiro Revisão: Patr$cia Carlos Carlos de ndrade Sem revisão do professor
Agradeço comovido comovid o as palavras do deputado dep utado Carlos Dias e da minha querida amiga Mina Seinfeld 1. E, aliás, essa é no somente uma oportunidade para ela falar a meu respeito, mas para contar tam!ém algumas coisas a respeito dela. A professora Mina está envolvida numa luta que é paralela " minha, onde encontra condiç#es muito parecidas. $%s dois estamos envolvidos na luta contra as drogas, apenas a espécie de droga é que muda& so!re as drogas de que ela trata, ainda há a discusso de se sero li!eradas ou no, ao passo que as drogas de que falo, no apenas esto li!eradas, como so o!rigat%rias. A diferença é mais ou menos esta. Mas, neste esforço monumental e merit%rio da professora Mina, ela encontra a mesma resist'ncia que encontro na minha área, porque todos esto contra& os drogados, os traficantes, os que t'm interesse pol(tico na coisa, os indiferentes e todos aqueles que querem parecer !on)inhos * todos os politicamente corretos. E, de fato, quando voc' vai para um de!ate é e+atamente como ela descreveu& so trinta pessoas para falar a favor e uma contra e depois, na transcriço, ainda cortam umas frases do que a pessoa falou e ficam lá somente tr's linhas, para provar que o de!ate foi !astante democrático. sto é pior do que no ter
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de!ate nenhum, é uma falsificaço. Agradeço muito a meus meu s alunos essa iniciativa. A idéia foi inteiramente deles, que t'm um grande mérito em fa)er isto, a!rir a outras pessoas a mesma oportunidade. $osso curso aqui no -io tem sido quase que confidencial. Creio que e+iste aqui há de)oito anos e nunca foi anunciado nem avisado continua e+istindo, no sei como. Em So /aulo há toda uma infra* estrutura montada, o n0mero de alunos é !em grande, e no /araná so cento e cinq1enta alunos. 2 um pouco estranho que aqui no -io de 3aneiro, que ainda é a capital cultural do 4rasil, nosso curso se5a to secreto assim. $o me incomodo se dou aula para um, dois ou cem alunos& o pro!lema é e+atamente o mesmo. Ademais, esse tipo de ensino requer muito tempo para dar frutos. Calculo mais ou menos dois anos, para a pessoa começar a perce!er o que está mudando em sua vida, no seu enfoque e+istencial. Agora, o tema de ho5e, que é a educaço li!eral, li!eral , é mais a!rangente do que a proposta do meu curso o curso é uma das modalidades, um dos cap(tulos do que chamar(amos de educaço li!eral. 6i!eral no se confunde com o li!eralismo pol(tico, a ideologia de Adam Smith, 7er!ert Spencer e outros, nem com o sentido da palavra li!eral nos Estados 8nidos que quer di)er esquerdista, mas tem a ver com a noço, ho5e em dia puramente nominal, de profiss#es li!erais. /rofiss#es li!erais, como o pr%prio nome di), se op#em "s profiss#es servis, que so e+ercidas em troca de uma remuneraço. /rofiss#es li!erais so e+ercidas num ato de li!eralidade do indiv(duo ou se5a, o profissional li!eral está de algum modo o!rigado a e+ercer a sua tarefa somente por um mandamento interno, somente por um dever interno, e ele tem que e+ercer aquilo com ou sem remuneraço, ou até mesmo pagando para e+erc'*la. Esse é o sentido originário. /or e+emplo, o médico na ética da idade média no poderia 5amais recusar um paciente que no tivesse dinheiro para pagá*lo o advogado a mesma coisa. E, por isso mesmo, quando havia uma remuneraço, esta se chamava honorário. 7onorário é algo que damos ao indiv(duo no pela tarefa que ele desempenhou, mas em reconhecimento da honra de sua posiço na sociedade ou do mérito de seu sa!er. 9anto fa) dar cinq1enta centavos ou cinq1enta mil, porque o que vale é a intenço.
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7o5e em dia, no é mais assim. :uando consultamos um advogado a primeira coisa que ele fa) é pu+ar uma ta!ela de honorários. A e+presso ta!ela de honorários é uma contradiço de termos, pois se so honorários, no há ta!ela. 9a!elas so de salários ou de preços, ta!ela de honorários no é poss(vel. $a idade média, a formaço para as profiss#es li!erais começava com a a!sorço do que se chamava as artes li!erais. Eram um con5unto de disciplinas, das quais tr's tratavam essencialmente da linguagem e do pensamento e quatro tratavam dos n0meros, entendidos num sentido muito mais amplo do que ho5e estamos acostumados a designar por este nome, e das proporç#es. ; n0mero seria o sentido geral da forma e da proporço. As quatro disciplinas que lidavam com o n0mero eram a aritmética, a geometria, a m0sica e a astronomia ou astrologia. A astrologia veio a se dividir em duas áreas& a astrologia esférica, que era o estudo da esfera celeste, e a astrologia 5udiciária, que era o que ho5e chamamos de astrologia * uma especulaço, se5a cient(fica ou outra coisa, so!re as coincid'ncias temporais entre o que se passa no movimento dos astros e os acontecimentos terrestres. 9udo isso era considerado parte das matemáticas, ou se5a, a matemática era, de modo geral, a ci'ncia da medida e da proporço. As outras tr's disciplinas eram a gramática, a l%gica ou dialética, e a ret%rica. Esta formaço !ásica, que geralmente começava !em mais tarde do que ho5e, aos quator)e anos, visava a transmitir ao indiv(duo, por um lado, o senso das proporç#es, o senso da forma do mundo e, por outro lado, os meios de compreenso, e+presso e participaço na cultura humana 2. ; que ho5e chamamos de educaço li!eral é uma adaptaço das artes li!erais antigas, feita so!retudo por dois educadores, -o!ert 7utchins e Mortimer Adler 3, no começo de século . $esta adaptaço, as artes li!erais dei+am de se distinguir das artes servis e começam a se distinguir do ensino profissional. 9odas as áreas de ensino visam a transmitir determinadas ha!ilidades profissionais as artes li!erais, em contra*partida, c ontra*partida, visam a formar o cidado em e m geral, o cidado no especiali)ado. Mais especificamente com a 'nfase na idéia de cidado da democracia, su!entendendo*se democracia pelo 3 d 29
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sistema onde vale a pena discutir, onde é poss(vel haver uma discusso e onde há uma possi!ilidade de que as quest#es se5am ar!itradas por meio da ra)o e no de motivos desconhecidos que uma autoridade possa ter para decidir assim ou assado. A discusso é evidentemente evide ntemente inerente " pr%pria p r%pria idéia de de democracia. Mas, por outro lado, a discusso é perfeitamente in0til se no há nenhum critério racional para ar!itragem das discuss#es. Se no há nenhum meio de os lados em disputa provarem as suas ra)#es, ou se5a, se todas as ra)#es se equivalem, ento a discusso evidentemente no vai dar em nada e a coisa no fim será resolvida pelo meio da força. /ode ser a força f(sica ou a força emocional, o apelo emocional da propaganda. Adler e 7utchins eram pessoas que pensavam pe nsavam politicamente de maneira muito diferente entre si& Adler era mais conservador e 7utchins era definitivamente esquerdista. Mas, sa!endo que há um compromisso inerente entre a idéia de democracia e a idéia de ra)o, achavam que podiam organi)ar um novo sistema de ensino no apenas !aseado na tradiço das d as artes li!erais, mas na e+peri'ncia acumulada do ensino das elites americanas. $os Estados 8nidos, antes mesmo da independ'ncia, se formaram vários colégios para a educaço e ducaço da elite el ite que, quase instintivamente, instinti vamente, adotaram como mecanismo me canismo !ásico de ensino, a leitura e a a!sorço do legado dos clássicos. Entendemos por clássico, uma o!ra que tem valor e interesse permanente, que tenha dado alguma contri!uiço que permanece efica) ao longo dos tempos aquela o!ra que, a despeito do tempo que passou depois que ela foi escrita, ainda tem algo a nos ensinar. /articularmente, e mais precisamente, se designam como clássicas o!ras que esta!eleceram certas noç#es ou transmitiram certos ensinamentos, que que vo v o formando patamares sucessivos de consci'ncia humana, de tal modo que a discusso de determinados assuntos no tenha mais o direito de descer a!ai+o daquele patamar. /or e+emplo, a partir do momento em que Arist%teles formula a ci'ncia da l%gica no é mais poss(vel discutirem*se legitimamente as coisas, como os sofistas e S%crates discutiam, utili)ando uma l%gica rudimentar, onde os procedimentos de prova se confundiam provisoriamente a procedimentos
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destinados a impressionar o ouvinte. ; pr%prio S%crates, que é um cr(tico dos sofistas, incorre freq1entemente nesse tipo de argumentaço. $o por maldade evidentemente, mas simplesmente porque os dois tipos de argumentaço, a que visa a impressionar e a que visa a provar, no haviam ainda se distinguido perfeitamente. Essa distinço s% veio mesmo com Arist%teles. E a partir do momento em e m que essa distinço fica esta!elecida, cria*se uma espécie de patamar de consci'ncia& no temos mais o direito de ignorar a e+ist'ncia dessa distinço 4. A técnica da discusso e da prova p rova foi elevada elev ada a n(vel de requinte quase inimaginável, mais tarde, pelos fil%sofos escolásticos, que tam!ém fi+am um novo patamar de e+ig'ncia. Depois surgem os processos de investigaço e prova aceitos nas ci'ncias naturais e isto vai se acumulando como uma série de patamares de e+ig'ncia de modo que, teoricamente, no ter(amos o direito de entrar na discusso de um assunto ignorando esses patamares 5á conquistados. co nquistados. Dei o e+emplo de patamares conquistados em filosofia, mas temos o mesmo processo em cada uma das ci'ncias e so!retudo nas artes. /or e+emplo, o que vai distinguir a escrita literária da escrita vulgar, nas artes literárias, é precisamente a consci'ncia de uma evoluço dos meios e+pressivos da arte, que a primeira tra) dentro de si. A escrita literária é cheia de refer'ncias aos antecessores refer'ncias a toda uma evoluço anterior. 2 praticamente imposs(vel encontrar um 0nico verso da literatura moderna que no tenha dentro de si várias camadas de significado que foram sendo acumuladas pela evoluço da poesia ao longo dos tempos. 2 evidente que, para o leitor perce!er isso, é preciso que ele pr%prio tenha noço dessa evoluço anterior, de modo que na medida que vai a!sorvendo esta consci'ncia da evoluço da arte literária, a leitura que fa) de um poeta moderno seria imensamente mais rica do que a que poderia ser feita pelo su5eito que chegasse lá sem ter o conhecimento das refer'ncias. ;u se5a, essa evoluço vai sedimentando novas linguagens e novos c%digos, cu5o conhecimento é a condiço para que se possa participar, de uma maneira consciente, do mundo cultural, do mundo das discuss#es, do mundo da comunicaço. A transmisso transmisso a um estudante ou a um 5ovem da consci'ncia c onsci'ncia
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desses patamares é que seria precisamente a educaço li!eral. ; sistema pol(tico moderno é enormemente comple+o. Se compararmos qualquer pa(s ho5e * 4rasil, 8ruguai ou /araguai * com a -ep0!lica -omana, veremos que sua organi)aço pol(tica é imensamente mais comple+a. /ara discutirmos um pro!lema qualquer da economia ou da pol(tica paraguaias, precisar(amos ter um hori)onte de consci'ncia muito mais vasto que o que o cidado cid ado romano ou o cidado cidad o da democracia democr acia grega teriam que ter para compreender seus pro!lemas locais. A acumulaço desses de sses patamares de consci'ncia, portanto, forma a série de condiç#es que, num dado momento da evoluço hist%rica, o ser humano precisa cumprir para entender o que está acontecendo em torno dele. Entender o que está acontecendo no é no é um dever e no é atri!uiço de uma profisso especiali)ada, mas é, de certo modo, uma possi!ilidade a!erta a todos os cidados. $o podemos tornar isso o!rigat%rio porque a aquisiço desse patrim
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conhecemos. ;u se5a, no estamos capacitados para discutir aquilo. 7o5e em dia todo mundo acredita que e+iste o direito " li!erdade de e+presso e o direito " li!erdade de opinio. Eu no acredito porque, para haver li!erdade de opinio é preciso, em primeiro lugar, haver uma opinio. Mas a maioria das pessoas que e+ercem a li!erdade de opinio no tem opinio. /ara ter uma opinio, preciso ter prestado atenço em algo. =req1entemente vemos pessoas que falam durante de) minutos so!re assuntos nos quais no prestaram atenço nem por dois minutos. Ento no posso chamar isso de opinio& isto é uma efuso improvisada de palavras que !rotam no momento da pessoa, mas sem nenhuma relaço com o o!5eto do qual ela está falando. Ento se acreditamos no direito universal " e+presso das opini#es, que ele é um dado primeiro e incondicional, significa que todos t'm o direito de falar pelo tempo que quiserem e todos t'm a o!rigaço de ouvir. Ento lhes pergunto& o que é o direito " li!erdade de opinio sem a contra*partida que é o direito de no ouvi*la, o direito de ir em!ora> /or e+emplo, nenhum de voc's está o!rigado a ficar sentado a(. ?oc's esto porque querem, mas t'm o direito de ir em!ora a qualquer momento. A pr%pria idéia idé ia de direito dire ito " li!erdade de e+presso, " li!erdade de opinio está condicionada ao mérito da opinio, ao valor da opinio. E esse valor é condicionado, no m(nimo, pelo interesse que o pr%prio opinante tem no assunto. magina que o su5eito no se interessou pelo assunto o suficiente para se informar a respeito dele por cinco minutos que se5am. /or que ele teria o direito de falar so!re o assunto durante seis minutos e ter(amos que escutá*lo> A conquista de uma opinio, portanto, é o primeiro passo para o e+erc(cio efetivo da li!erdade de opinio. 2 evidente que quando o indiv(duo e+pressa sua opinio numa assem!léia, ele está de certa maneira se personificando está di)endo& este sou eu, sou o ca%arada &ue 'ensa assi% e assado. Dali em diante, ele será encarado como representante daquela opinio. Mas, se o su5eito dá uma opinio que pensou na hora e da qual no vai se lem!rar nos pr%+imos de) minutos, ele personifica o qu'> 2 s% reparar um pouco nas discuss#es p0!licas que acontecem no 4rasil e perce!emos um fen
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as pessoas l'em pouco os 5ornais de grande tiragem vendem ho5e cerca de um milho de e+emplares, sendo que vendiam o mesmo na década de cinq1enta. ;u se5a, a populaço cresceu formidavelmente, o n0mero de escolas cresceu mais ainda, e as pessoas continuam lendo a quantidade de 5ornais que liam na década de cinq1enta. :uanto aos livros, no tenho cálculos mais atuali)ados, mas na década de noventa havia menos livrarias no 4rasil do que na década de cinq1enta. Apesar dessa total falta de interesse em sa!er das coisas, as pessoas sempre t'm interesse em opinar. Dificilmente vemos um rep%rter perguntar a uma pessoa na rua o que ela acha disso ou daquilo e rece!er como resposta& no sei, estou por fora do assunto. $unca vi isso. As pessoas consultadas sempre t'm opinio so!re qualquer coisa. ?endo isso ao longo dos tempos, vi que esse é um traço antropol%gico muito estranho& uma sociedade onde as pessoas no se interessam pelo assunto, mas t'm um interesse !rutal em opinar a respeito dele. $o estranhamos isso apenas porque 5á nos acostumamos, mas mas essa é uma conduta anormal. 2 uma anomalia que, repetida ao longo do tempo, aca!amos achando que é normal. ;ra, se tentamos convencer as pessoas de que e+iste um neg%cio chamado cidadania e que esta inclui o direito de opinar so!re quest#es p0!licas * e todos esto persuadidos disso * e ao mesmo tempo no cria a percepço de que para ter uma opinio é necessário ter prestado atenço no assunto, o que estamos fa)endo com essa cidadania> A está transformando numa espécie de !olha de sa!o, numa fantasia, numa mentira e numa par%dia de si mesma. A noço de cidadania e de e+erc(cio da cidadania fa) sentido a partir do momento em que as pessoas t'm realmente opini#es, no confundindo a opinio com uma efuso qualquer de palavras que !rota do inconsciente ou que foi ouvida num an0ncio de rádio anteontem e o su5eito repete. Esse tipo de falat%rio é a degradaço da li!erdade de opinio, ele no é a pr%pria li!erdade de opinio. So!retudo porque se espera que o e+erc(cio da li!erdade de opinio contenha dentro de si a possi!ilidade de uma repetiço, de uma reiteraço e de uma luta pela pr%pria opinio. Sup#e*se que a opinio de um indiv(duo valha algo para ele e, por isso, ele luta por ela. Mas se o su5eito no precisou pensar no assunto, se a opinio no lhe
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custou nada, quanto ela vale para ele> E a pergunta fat(dica& por que devo prestar atenço " sua opinio por mais tempo que voc' levou le vou para formulá*la> for mulá*la> Se voc' levou levo u dois minutos pensando no assunto, por que devo ouvi*lo durante tr's> :uando queremos que os outros façam o que no quisemos fa)er, que se5am o que no somos, entramos diretamente no culto " /apai $oel. E chamar isso de formaço da cidadania é achar que puerili)ar as pessoas é torná*las cidados. 8m homem que acha que os outros t'm o!rigaço de ouvi*lo s% porque ele é !onitinho é e+atamente como aquela criança que, quando vem visita em casa, começa a fa)er palhaçada e todos t'm que achar !onito e passar a mo em sua ca!eça. :ualquer cidado que se atreva a falar em p0!ico com essa e+pectativa está se aviltando, está permitindo que a situaço lison5eie seus dese5os pueris. Evidentemente no é esse tipo de formaço do cidado a que visamos. Educar o cidado em primeiro lugar no é educá*lo para falar, mas é educá*lo para sa!er, quer ele fale ou no. A famosa participaço é apenas um e+erc(cio de uma força interior, de um poder que o indiv(duo tem. A educaço li!eral consiste em dar a ele este poder, esta força interior e no em lhe dar os meios e as oportunidades de e+erc'*los. ?oc' 5á conheceu conhece u alguma pessoa que no tivesse nenhuma nenhu ma opinio so!re a sociedade em que vivemos> Acho que a minha av% no tinha mas ela foi a 0ltima pessoa. Se perguntasse per guntasse isso para a minha av% ela perguntaria& @ do que está falando>@ Ela nunca achou que e+istia essa possi!ilidade de ter uma opinio geral so!re a sociedade em que estava. Mas a partir da minha geraço, ou talve) a de meus pais, todo mundo foi educado para ter uma opinio so!re a sociedade, ou se5a, e+ercer uma coisa que se chama a cr(tica social. :ual é sua real possi!ilidade de ter uma viso cr(tica da sua sociedade> Em primeiro lugar, para isso voc' precisaria ter uma idéia do funcionamento da sociedade. sso leva algum tempo é um pouco tra!alhoso. Mas mesmo que tivesse a viso geral, voc' acredita realmente que o mem!ro de uma sociedade consegue colocar a ca!eça para fora dela, acima dela, e 5ulgá*la desde cima> Se todos somos de certo modo produtos da sociedade em que estamos, nossas opini#es, incluindo as negativas que so!re a pr%pria sociedade, so criaç#es dela mesma e fa)em parte do mesmo mal que denunciam. A 0nica possi!ilidade de haver uma cr(tica social
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leg(tima, que funcione, é a de que o indiv(duo humano de algum modo se coloque acima da sociedade e consiga ver nela algo que ela mesma no v'. 2 necessário que a consci'ncia dele este5a acima do n(vel de consci'ncia que aparece nas pr%prias discuss#es p0!licas. /ara criticar minha sociedade como um con5unto, preciso me colocar numa perspectiva que me permita v'*la como o!5eto, e da( 5á no sou mais um personagem p ersonagem ou um participante da coisa, mas um o!servador superior consegui uma posiço acima da confuso, de onde posso ver o que está acontecendo e 5ulgar o sentido geral das coisas. Assim como para opinar numa !riga entre marido e mulher é preciso que voc' no se5a nenhum deles. de les. :uando um casal com um pro!lema vai procurar um conselheiro matrimonial ou um psic%logo, está supondo que ele tem um ponto de vista superior a cada um deles. $o que consiste esse ponto de vista superior> Consiste em que se tenha um critério de 5ulgamento que se so!rep#e "s pai+#es e interesses em 5ogo naquele momento. Sup#e*se, portanto, que voc' tenha um conhecimento que o restante re stante da sociedade no tem. Dito de outro modo, voc' 5ulga a situaço real " lu) de uma norma, mas esta norma s% será válida se no tiver sido criada pela pr%pria situaço. ?amos voltar ao e+emplo do marido e mulher& a mulher está acusando o su5eito de no tra)er dinheiro suficiente para casa e ele a está acusando de no desempenhar as tarefas domésticas a contento. :ual a norma que vai servir para 5ulgar> /ode ser a opinio de um ou a opinio do outro> $o, a norma tem que ser uma terceira coisa que sirva para ar!itrar as duas ao mesmo tempo. ;u se5a, voc' tem que ter uma medida med ida do 5usto e do d o in5usto e esta medida no pode ter sido criada nem pela opinio de um, nem pela opinio do outro. $o caso, trata*se de uma proporço entre direitos e deveres. 2 s% o conhecimento dessa norma ou dessa proporço que lhe permitiria 5ulgar a situaço e ver qual é a cota de ra)o e de desra)o que haveria nessa discusso. ; pro!lema é& de onde vamos tirar essa norma. Se ela foi criada pela pr%pria situaço, apenas e+pressa um dos lados em conflito. Ento ela tem que ser transcendente " situaço. Assim como no 5ulgamento de um processo criminal, o su5eito matou outro, rou!ou outro, aplicou estelionato& o tri!unal vai 5ulgar aquela situaço " lu) de uma lei que transcende a situaço. Se pegarmos nossa sociedade como um todo ou a parcela da
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hist%ria que conhecemos, todos temos opinio a respeito, mas raramente nos preocupamos com o pro!lema da norma. Se digo que a sociedade é in5usta, é in5usta em face de que norma> :ual é a norma com que estou 5ulgando> ;u tenho uma norma que se5a efetivamente superior ao hori)onte de consci'ncia da discusso p0!lica, ou no posso po sso 5ulgar. ;u, ento, estou tomando partido dentro de um conflito e em seguida sou eu mesmo um mem!ro desse conflito. Estou raciocinando, portanto, em circuito fechado, como um cachorro que persegue o pr%prio ra!o. E+istem situaç#es, no entanto, onde aparece um su5eito que tem um conhecimento que a sociedade no tem. A hist%ria de Moisés na 4(!lia, por e+emplo& Moisés fa) uma cr(tica da situaço, a situaço do cativeiro dos 5udeus no Egito. Ele acha que a situaço está ruim por isso, por isso e por isso. E se lhe dissessem que a situaço é assim desde que o mundo é mundo> que sempre foi assim e sempre será assim> :ue sentido fa) voc' criticar uma u ma coisa que no tem remédio remédi o de maneira alguma> A cr(tica estaria anulada. Mas Moisés podia criticar, porque ele tinha conhecimento do que veio antes e do que viria depois * o conhecimento profético. 9inha conhecimento de que seu povo podia ser retirado dali e ir para um outro lugar onde teria uma vida melhor. E de fato fe) isto. Como sa!emos que Moisés sa!ia algo que os eg(pcios no sa!iam> /orque provou pr ovou que sa!ia. Com a travessia do Mar ?ermelho, ele provou que en+ergava a situaço dos 5udeus no Egito desde um ponto de vista superior ao da situaço real. r eal. Sa!ia que que podia pod ia fa)er e como fa)er e, de certo modo, conhecia o futuro. Esse futuro era invis(vel para os participantes da situaço. Era invis(vel tanto para os eg(pcios quanto para os 5udeus. Eles demoraram quarenta anos para ouvir o que aquele homem tinha a di)er. Esse é o prot%tipo da cr(tica social válida. ;utra cr(tica social válida tam!ém é feita por S%crates. S%crates critica uma situaço esta!elecida " qual ele no se considera superior. :uando S%crates é condenado por um tri!unal ateniense, se dirige a esse tri!unal do ponto de vista de um homem que 5á morreu. Ele praticamente se considera morto e di)& olha, realmente no sei se voc's ao me condenarem me fi)eram um malef(cio ou um !enef(cio, porque no sei e+atamente o que é a morte tenho a impresso de que talve) se5a melhor depois, que talve) voc's tenham me feito um
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!enef(cio. A consci'ncia do desconhecimento desconhecime nto da morte é uma u ma norma válida para o 5ulgamento de qualquer situaço humana. 9odos sa!emos que vamos morrer e todos sa!emos que no sa!emos precisamente o que é a morte, o que se desenrola nela e depois dela. sto nos dá uma !ase firme para 5ulgar todas as situaç#es humanas. Me lem!ro de uma confer'ncia !rilhante que o fil%sofo espanhol 3ulian Mar(as fe) no 4rasil, na época em que a 5unta militar havia institu(do a pena de morte. Durante a confer'ncia lhe perguntaram se era a favor ou contra a pena de morte e ele disse& @sou contra por um simples motivo& no sei o que é a morte e no tenho o direito de condenar um su5eito a uma coisa que eu no sei o que é sei o que é priso, tra!alhos forçados, mas morte, eu no sei o que é e esses senhores tam!ém no.@ Ento, na hora em que o indiv(duo emite este 5ulgamento, coloca*se no apenas acima da discusso p0!lica, mas quase que infinitamente acima dela, porque a discusso p0!lica é feita em termos de posiç#es relativas, de posiç#es que podem ter sua validade maior ou menor numa ou noutra situaço. Mas, de repente, chega o fil%sofo e di) algo que independe de toda a discusso. $o meio das relatividades, ele entra com o a!soluto. ; a!soluto é este& no sei o que é morte e voc's tam!ém no sa!em, e ponto final. $enhum de n%s morreu para contar como é. sto é o senso da medida. Em certos momentos, portanto, a consci'ncia pode se colocar infinitamente acima das quest#es p0!licas e encará*las desde uma medida supeiror que lhe permite um 5ulgamento 5usto. nfeli)mente isso no acontece sempre. =req1entemente nos de!atemos em quest#es onde nos falta a medida e no a encontramos. A 0nica coisa que sa!emos é que esse senso da medida universal pode ser desenvolvido nas pessoas pela consci'ncia da dimenso hist%rica, pela consci'ncia dos sucessivos patamares de consci'ncia alcançados ao longo do tempo. /orém, o indiv(duo que no rece!eu a informaço so!re este caso de Moisés, ou simplesmente no meditou so!re o assunto, simplesmente no tem idéia de que uma certa situaço pode ser 5ulgada em face de uma possi!ilidade concreta de mudá*la. $ote !em, no é um dese5o de mudá*la, mas uma possi!ilidade concreta conhecida de antemo. $o caso, Moisés sa!ia porque Deus contou para ele. /odia ter sa!ido de outra maneira. Mas ele no achava que a situaço dos 5udeus na
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época era ruim apenas porque sim, mas era ruim em face de um poder do qual Deus tinha investido esse povo antes e em face de uma promessa que Ele tinha feito para o futuro. Ento, encai+ando aquela situaço numa sucesso hist%rica perfeitamente conhecida, podemos di)er que Moisés podia 5ulgar que aquela priso p riso era ruim, porque ele e le sa!ia onde estava a porta. Agora, se estudarmos a hist%ria do século , veremos uma infinidade de revoluç#es, golpes de estado, mudanças pol(ticas feitas por pessoas que criticavam a situaço e que di)iam poder mudá*la para melhor e que produ)iram situaç#es infinitamente piores. $a década de oitenta, por e+emplo, um cidado soviético consumia menos carne do que um s0dito do c)ar em BB. sto sto significa o seguinte& 6enin e 9rotsF no sa!iam onde estava a porta propuseram uma mudança no porque tinham perfeito conhecimento da possi!ilidade concreta de reali)á*la, mas apenas porque queriam. 2 o caso de a gente di)er que este tipo de cr(tica social no é leg(tima& voc( est) criticando u%a situação %as não * %elhor do &ue a situação, * a'enas u% co%'onente dela+ ou se#a, a sua cr$tica não * u%a cr$tica, * a'enas u%a &ueia, * u% sinto%a da 'r-'ria situação, e 'ortanto não 'ode%os con.iar e% voc( 'ara resolver a situação. $a hora em que voc' passa por um sofrimento e di)
GaiG, o GaiG no é uma cr(tica válida da situaço, é apenas uma e+presso dela. 9anto que di)er GaiG no vai curar voc' de maneira alguma. Ao longo de todo o século , vemos que a cr(tica cr (tica social, em sua quase totalidade, nunca passou de e+presso ou de sintoma da situaço. -aramente se viu um empreendimento vitorioso de transformaço da sociedade com !ase na cr(tica, que produ)isse e+atamente o resultado prometido. sto significa que, desde o tempo de Moisés ou S%crates, a nossa capacidade de cr(tica social diminui formidavelmente. Simplesmente no entendemos a sociedade, no gostamos da sociedade gostar(amos de mudá*la, mas no chegamos a perce!er que nossa revolta e nosso pr%prio dese5o de mudar so apenas sintomas da pr%pria situaço social e, portanto, impotentes no somente para mudá*la, mas até para fa)er uma cr(tica o!5etivamente 5usta. So essas constataç#es que nos colocam a necessidade de
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conquista de um patamar ou de uma medida 5usta e universal, em funço da qual a cr(tica possa ser feita. 9odo ser humano tem essa possi!ilidade e, de certo modo, tem esse direito porque em!ora se5a, so! muitos aspectos, um produto, um efeito ou uma criaço de sua sociedade, há algo nele que transcende a sociedade. 7á no m(nimo a estrutura !iol%gica. $o houve nenhuma sociedade que mudasse su!stancialmente a estrutura anatomo*fisiol%gica do ser humano. Esta é uma constante. /ortanto cada um de n%s pode di)er que é fruto da sociedade !rasileira> 4om, sou fruto da sociedade !rasileira, mas sou mem!ro da espécie humana e, como mem!ro da espécie humana, e+istem em mim fatores estruturais constantes que 5á e+istiam antes de o 4rasil e+istir e que vo continuar e+istindo depois que o 4rasil aca!ar. /ortanto, como mem!ro dessa espécie animal chamada espécie humana, tenho em meu pr%prio corpo um dado que transcende a situaço hist%rica em que vivo. 2 claro que no é s% a estrutura anatomo*fisiol%gica do homem que transcende a situaço hist%rica, e+istem muitos outros aspectos. Ao longo da hist%ria humana, muitos desses elementos estruturais, constantes e universais foram se revelando " nossa consci'ncia. E foram registrados em o!ras, depoimentos e atos desses seres humanos. A aquisiço desse legado é o que é propriamente o que chamar(amos ho5e de educaço li!eral, que, nesse sentido, é a formaço do cidado consciente e portanto capa) de 5ulgar no s% fatos da sociedade, mas a pr%pria sociedade como um todo. =ormar um homem desses no é fácil. As situaç#es vo se tornando cada ve) mais comple+as e, de repente, v'em*se emergir no cenário da hist%ria situaç#es a!solutamente novas que, apesar de todos os dados que acumulou em toda a sua educaço, voc' no é capa) de compreender. Surge, por e+emplo, um fen
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cumpridos. De repente aparece um estado, a 8nio Soviética, que acha que no é !em assim, que no é importante cumprir os tratados, mas sim apenas assiná*los. De um momento para outro, os tratados se transformam em instrumentos no para limitar a aço dos contratantes mas, ao contrário, para dar mais possi!ilidades de aço contra os demais contratantes. 7itler levou essa idéia a um n(vel alucinante& cada compromisso que 7itler assinou foi assinado com a finalidade espec(fica de no ser cumprido. $os acostumamos tanto com isso que ho5e achamos natural. Certas possi!ilidades de uso de viol'ncia assassina contra pa(ses inimigos no entraram na ca!eça humana antes do século . A guerra sem declaraço de guerra é um e+emplo& voc' está e stá em guerra com outro ou tro pa(s mas no sa!e de repente re pente soltam uma !om!a no seu territ%rio. terr it%rio. sso sso foi mais uma novidade do século . ;utro e+emplo é o ataque sistemático "s populaç#es civis& no e+iste mais a noço de campo de !atalha. ; que é campo de !atalha> 2 o lugar onde voc' vai para fa)er a guerra. $o século isso desapareceu. $o há mais campo de !atalha, há guerra onde voc' estiver. :uando começaram a suceder, esses fatos dei+aram as pessoas desorientadas no havia como e+plicar. ?emos, portanto, o avanço do totalitarismo no século e a impot'ncia da intelig'ncia humana para e+plicar esse fen
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influencia a viso de quem desco!riu, porque se é poss(vel para o Estado mudar a nature)a humana por meios no*violentos ento, prestem !em atenço, a diferença espec(fica do totalitarismo dei+a de ser o pro5eto de mudar a nature)a humana e passa a ser apenas o emprego da viol'ncia. A especificidade do fen
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/or e+emplo, Arist%teles insiste muito numa coisa que chama maturidade. Maturidade no no sentido fisiol%gico, mas no sentido intelectual. ; homem maduro é o homem que teve certas e+peri'ncias e aprendeu com elas. 8ma dessas e+peri'ncias é a plena e+peri'ncia da norma, da e+ist'ncia da norma. A maior parte das pessoas simplesmente no teve isso v' as coisas acontecerem e as opini#es se entrechocarem, entrecho carem, mas nunca chegou a e+perienciar as famosas leis no*escritas de que fala a tragédia grega. /or e+emplo, em Os su'licantes de S%focles, dois 5ovens gregos fogem do Egito, onde o rei queria o!rigá*los a um casamento que no dese5avam, e vo parar numa ilha. $esta ilha pedem asilo ao rei local. ; rei fica num dilema porque, por um lado, havia uma tradiço de dar asilo a quem pede e, por outro, dando asilo ele se arriscava a uma guerra contra o Egito. Ele imediatamente argumenta para os 5ovens& @ na legislaço eg(pcia e g(pcia no há nada que impeça o rei r ei de o!rigá*los a casar com quem voc's no querem, portanto o rei do Egito no cometeu nenhuma ilegalidade@ . E eles respondem& @ é, mas acima das leis do Egito há as leis no*escritas, há as leis divinas. A lei divina di) que ninguém pode ser o!rigado a casar contra sua vontade.@ ; rei se toca com aquilo e, em seguida, tem outro pro!lema& o regime na ilha era constitucional e ele no era monarca a!soluto. 9em, portanto, que levar o pro!lema " assem!léia. -e0ne, ento, a assem!léia e, por meio de um longo e tocante discurso, consegue persuadir a assem!léia a aceitar o risco da guerra, para no infringir as leis le is no*escritas. A tragédia grega era er a um acontecimento c(vico, no apenas um espetáculo teatral. Era um empreendimento promovido pelo governo para a educaço dos cidados. $essa tragédia e em muitas outras, qual é a mensagem me nsagem transmitida> A idéia de que um pa(s é o!rigado "s ve)es a se colocar em risco para no infringir as leis no*escritas. ;u se5a, esse governo gove rno argumentava contra si mesmo, contra seu interesse, e educava as pessoas assim. 2 claro que o momento da hist%ria em que aparece a tragédia grega é um momento e+cepcionalmente luminoso na hist%ria da consci'ncia humana. 7á in0meras tragédias gregas onde se concede ra)o ao inimigo da pátria, o troiano. 9oda a educaço rece!ida na escola, os discursos pol(ticos etc., indu)iam as pessoas ao patriotismo e a tragédia entrava como elemento compensador, para que as pessoas no
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tomassem em sentido a!soluto os valores do patriotismo, porque esses valores eram relativi)ados por valores mais altos. Ento, quando e+iste uma comunidade pol(tica capa) desse n(vel de consci'ncia, é evidentemente um momento luminoso da hist%ria. E o milagre grego de que falamos no pode, evidentemente, ser encarado apenas em termos de reali)aç#es estéticas ou cient(ficas, mas so!retudo como um momento culminante na hist%ria da consci'ncia humana. hu mana. E+istem muitos outros momentos de consci'ncia e+emplar na hist%ria. 8m é a hist%ria que se passa com o genro de Maomé, Ali. 8m e+celente orador, orador , cu5os discursos esto entre os mais !elos da literatura universal, unive rsal, Ali foi um fracasso total como pol(tico, mas um grande guerreiro. Conta*se que, numa das !atalhas, ele encurralou e ncurralou um inimigo, conseguiu conseguiu desarmá*lo de sarmá*lo e encostou a espada em sua garganta. ; inimigo ento o +ingou ele ficou perple+o, colocou a espada na !ainha e foi em!ora. Em seguida, o inimigo di)& @ voc' está com a espada na minha garganta, me derrotou, e s% porque o +ingo... venci voc' com um +ingamento>@ Ele di)& @ no, no é isso, é que fiquei com raiva de voc', e se o matasse, eu no seria mais um guerreiro, seria um assassino, porque o teria matado por raiva pessoal e no tenho nada contra voc'. sso aqui é guerra..@ Esta ética guerreira durou séculos. Até o século ainda havia amostras de um esp(rito de luta cavalheiresco que predominava na guerra. 7á outro epis%dio famoso que se passa entre pr(ncipes muçulmanos e espanh%is. 8ma !atalha estava prestes a ocorrer em determinado lugar e os muçulmanos erraram o caminho. Em ve) de parar no lugar da !atalha, foram parar no castelo do pr(ncipe espanhol que iria com!at'*los. S% que o castelo estava va)io, s% estavam lá a rainha e suas aias, mucamas e crianças. Conta*se que a rainha saiu do castelo e passou*lhes um sa!o& @no t'm vergonha de encurralar mulheres e crianças assim>@ Eles pediram desculpas e foram em!ora. Se comparamos isso com o panorama do século , onde vemos, no massas de populaço, mas elites intelectuais capa)es de se fecharem completamente " metade da realidade, para encarar somente a metade que lhes interessa, ento, de fato, nossa comunidade pol(tica está e stá infinitamente a!ai+o a!ai+o do n(vel de consci'ncia daquelas comunidades.
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