Sebenta de Métodos de Avaliação II
Afonso Arribança Ano Lectivo 2010/2011
Métodos de Avaliação II
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Introdução ..................................................................................................................................... 3 1. Contextos de emergência, aplicação e desenvolvimentos dos Métodos de Avaliação Psicológica ..................................................................................................................................... 5
Paradigmas Qualitativos v.s. Paradigmas Quantitativos/Psicométricos....................... 5
As Técnicas Projectivas.................................................................................................. 5 Então... Porque se utilizam as Técnicas Projectivas? ........................................................ 6 Como é que conhecemos o sujeito na sua singularidade? ............................................... 7 Quais são as modalidades de funcionamento mental dominantes num sujeito? ............ 7 Como e Quando utilizar as Técnicas Projectivas? ............................................................. 8 Então, que métodos podemos nós ter relativos a essa abordagem da realidade? .......... 9
Paradigmas Experimental e Psicanalítico .................................................................... 10 Conceito de Personalidade.............................................................................................. 10
Teorias ......................................................................................................................... 11
Características do modelo pulsional (freudiano) ........................................................ 12
Características dos modelos relacional ....................................................................... 13
2. Paradigmas Teóricos e Metodológicos ................................................................................... 15
Os métodos projectivos, expressivos e construtivos: inscrições ................................ 15 O caso-grupo de referência/individuo ............................................................................ 15
Paradigmas de ciência (psicológica): ........................................................................... 16 Paradigmas da Ciência..................................................................................................... 17 Acerca da objectividade .................................................................................................. 17
Objectividade v.s. Subjectividade v.s. Inter-subjectividade ........................................ 19 Objectividade (Técnicas Psicométricas) .......................................................................... 20 Subjectividade (Técnicas Projectivas) ............................................................................. 21 Intersubjectividade (Processos de Transferência e Contra-Transferência) .................... 21 Projecção e Identificação Projectiva ............................................................................... 23 Críticas: ............................................................................................................................ 25 Resumindo....................................................................................................................... 27
Os métodos projectivos, expressivos e construtivos: características ................... 28
Interpretação e simbolismo versus projecção e conflito ................................................ 28 Relação, comunicação, ligação, transformação, pensamento e simbolização versus identificação projectiva ................................................................................................... 28 A situação projectiva ....................................................................................................... 28 Página | 1
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3. O Rorschach............................................................................................................................. 32 Processo-resposta Rorschach.......................................................................................... 33 A Teoria e o Método ....................................................................................................... 35 O contexto ....................................................................................................................... 36 Protocolo ......................................................................................................................... 36 A cotação e os factores psicológicos implicados em cada elemento da cotação ........... 40 Localização ou Modos de Apreensão .............................................................................. 40 Modos de Apreensão associados .................................................................................... 42 Determinantes ou Modos Expressivos............................................................................ 43 Conteúdos Referenciais................................................................................................... 48 Carácter Banal ou Recorrente das respostas .................................................................. 49 Psicograma ...................................................................................................................... 49 Conteúdo Latente............................................................................................................ 52
Resumo........................................................................................................................ 59 A situação projectiva – Rorschach .................................................................................. 59
T.A.T. ........................................................................................................................................... 66
Conteúdo latente ........................................................................................................ 66
Codificação .................................................................................................................. 77
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A metodologia projectiva constitui um poderoso meio de recolha de dados em Psicologia tanto no contexto da investigação como no da(s) práticas(s) psicológica(s). A especificidade epistemológica destas provas projectivas transformam-nas – com particular relevância para a prova Rorschach – em instrumentos fundamentais da elaboração teórica e de vastíssima aplicabilidade nos mais diferentes domínios da Psicologia. A prova projectiva Rorschach, não só por historicamente ter sido a primeira a surgir (1920, mas também pela consistência do seu suporte teórico persistentemente actualizado, e pela mais valia científica que introduz nas mais diversas práticas de intervenção psicológica dos seus utilizadores, é reconhecida como a uma técnica paradigmática no estudo do funcionamento mental dos sujeitos. Trata-se de um poderoso dispositivo de dados no domínio do funcionamento mental humano. A natureza destes dados – produzidos a partir de uma interacção perceptivo-cognitiva específica entre o sujeito e a situação-estímulo, solidamente descrita e epistemologicamente justificada por recurso às teorias científicas da Psicologia – torna possível o seu tratamento a partir dos mais sofisticados modelos e técnicas de análise estatístico-matemática e estrutural actualmente utilizados na validação científica da investigação e da(s) prática(s) nos diversos domínios da Psicologia: estudos com planeamentos experimentais e quase-experimentais, intervenção clínica (consulta e psicologia em diversos contextos: Psicologia Forense, Perícias de personalidade e Criminologia Clínica, saúde, Educação, Orientação Vocacional, Selecção profissional e Gestão de carreiras, etc.).
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Paradigmas Qualitativos v.s. Paradigmas Quantitativos/Psicométricos
No contexto clínico podem ser utilizadas Técnicas Quantitativas Psicométricas e/ ou Técnicas Qualitativas Projectivas (Técnicas de Manchas ou Técnicas Temáticas). Por um lado à Psicometria interessa perceber se há ou não perseveração nas funções cognitivas. Nos testes Psicométricos obtêm-se valores que nos permitem conhecer determinados aspectos mas não a pessoa na totalidade. Por outro lado, as Técnicas Qualitativas Projectivas socorrem-se dos conceitos de percepção e projecção, pretendem avaliar a estrutura da personalidade, apreender a realidade psicológica do sujeito, isto é, a sua subjectividade (o que é, como se vê a si próprio na relação consigo e com o mundo, a natureza dos conflitos) e tentar descobrir as modalidades de funcionamento mental dominantes. Neste contexto parte-se de um problema, formula-se uma hipótese, e escolhe-se o instrumento a utilizar, seguindo-se a metodologia e a conclusão (a qual permite aceder ao sentido do problema e necessita de referenciais teóricos):
Problema Hipótese Metodologia Conclusão
Escolha do instrumento a utilizar
As Técnicas Projectivas
As técnicas projectivas de manchas e as temáticas são complementares, pois têm sensibilidades diferentes, a escolha entre uma e outras é feita em função do problema e das hipóteses. Estas técnicas, como já foi dito, "socorrem-se dos conceitos de percepção e projecção, pretendem avaliar a estrutura da personalidade, apreender a realidade psicológica do sujeito, isto é, a sua subjectividade (o que é, como se vê a si próprio na relação consigo e com o mundo, a natureza dos conflitos) e tentar descobrir as modalidades de funcionamento mental dominantes." Observa-se o todo, com as suas partes constituintes em interacção. Toda a interactividade humana está sempre dependente dum contexto mais próximo ou mais longínquo. As técnicas projectivas são consideradas analíticas porque só estudam uma parte do sujeito de cada vez. Como qualquer prova, estão sempre submetidas a um contexto, o qual deve ser sempre o clínico. E diferenciam-se das outras pelo seu carácter unitário e integrativo. A situação projectiva tem como objectivo apreender a realidade psicológica do sujeito, não usando objecto de comparação , mas sim estudando a forma de como o sujeito se relaciona com si mesmo e com o mundo – a situação projectiva quer atingir a singularidade do sujeito, aquilo que o distingue e aquilo que o aproxima do outro. O funcionamento mental dominante do sujeito tem dois eixos, o primeiro é a representação de si (como o próprio se vê), e o segundo é a representação da relação (como a pessoa se vê na relação). Página | 5
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A relação entre o sujeito que aplica a prova e o sujeito a quem a prova vai ser aplicada é mediatizada pela prova; a prova vai ser uma superfície projectiva mediadora da relação entre estas duas pessoas: jogo de transferência e contra transferencial (conceitos falados mais à frente). É através do psicólogo e da situação psicológica que o sujeito vai rever as situações da sua vida; o sujeito vai partilhar os seus conflitos com os outros que o rodeiam, há uma transferência de vivências para la relação – transferência. Desta forma o relacionamento exprime-se através da superfície mediadora que é a prova. Quem se submete à prova está em estado mais genuíno. Quem aplica deve identificar as zonas de incomodidade e simpatia – análise de contra transferência (transferência a partir daquele que é suposto ter mais poder); há que ter em conta que não existe neutralidade total. Considerando que o objecto de estudo na sua subjectividade só é acessível através de modelos teóricos, a metodologia projectiva tem, como característica fundamental uma conformidade e coerência entre a teoria e o método. A partir de um enquadramento teórico que deriva das teorias freudianas e das noções extraídas da psicopatologia psicanalítica foram estabelecidos pontos de concordância com um método de abordagem do funcionamento mental do sujeito. Mais tarde outros referenciais teóricos, kleinianos e pós-kleinianos introduziram a possibilidade de compreender como o sujeito procede interiormente, os processos mentais implicados na relação de objecto e aceder à natureza das relações, ligações e transformações estabelecidas entre a realidade externa e interna. Assim, numa lógica de avaliação é necessário captar a essência do estado ou processo psicológico indo ao encontro da lógica interna do sujeito, do seu funcionamento mental e da expressão que toma na situação e relação estabelecida. Tal captação tem que ser entendida através do seu carácter interactivo (recorrendo às noções de transferência e contratransferência), de construção e criação do aqui e agora onde ocorre e da subjectividade do próprio sujeito que faz com que o que diz, ainda que seja igual ao que outros dizem, possa ter significados completamente diferentes. As concepções teóricas e metodológicas, claramente definidas à priori, compatíveis e convergentes com o que se pretende saber, devem permitir identificar características adaptativas e desadaptativas do sujeito. A situação projectiva, nomeadamente no Rorschach que ocupa um lugar privilegiado na clínica, é o encontro de duas subjectividades, que irão construir uma intersubjectividade numa interacção singular e singularizante que interfere na tarefa de interpretar as manchas. No que o sujeito designa está contida uma significação. Tudo no Rch são símbolos, contidos no que o sujeito interpreta e na interpretação que o clínico faz do que o sujeito designa. Na interpretação do clínico, são reunidos três momentos: o momento em que se produz o discurso, o antes dessa produção e o aquilo a que reenvia. É necessário ligar e estabelecer novas relações entre estes momentos, reunir e atribuir sentido através da interpretação.
Então... Porque se utilizam as Técnicas Projectivas? Porque se quer apreender a realidade psicológica do sujeito, ou seja, aquilo que lhe é subjectivo; para tentar descobrir modalidades de funcionamento mental (ex.º estilo histérico ou estilo agressivo), pensando psicologicamente. Estas técnicas permitem revelar o processo mental que funda a relação do sujeito com o objecto, acedendo à sua realidade psicológica, ou seja, a forma como o sujeito vive na relação com os outros e se constrói.
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Como é que conhecemos o sujeito na sua singularidade? O Rorschach permite essa apreensão. Há uma série de variáveis parasitas que entram em linha de conta na estruturação individual do sujeito – a forma como a mente se organiza e como os factos se organizam entre si. Os normativos sociais são, de alguma forma, catalisados pelos pais, e a criança, no confronto desses impulsos e o social pré-existente, vai organizar a psique, nascendo um ser individualizado.
Quais são as modalidades de funcionamento mental dominantes num sujeito? Os estilos de funcionamento mental podem ser normais ou patológicos. Estamos habituados a ouvir: “saúde é ausência de doença”, mas não é bem assim, a saúde mental não se define como ausência de sintomas. Exemplos: Neuróticos – a maior parte das vezes cometem crimes passionais. Paranóia – delírio (o indivíduo não põe em causa, afirma: a esposa vai estender a
roupa sempre que a sirene da fábrica em frente toca, logo a esposa tem um amante). Indivíduos sintomáticos – indivíduos cuja perturbação é dolorosa, mas não é grave. Normopatia – grupo de pessoas em sociedades ditas civilizadas, com pouca
imaginação; falta de prazer em viver. Normalidade – presença num indivíduo de tudo o que é loucura em doses
homeopáticas. Histeria – marcada por uma materialidade enorme. Os traços histéricos são
importantes numa personalidade, pois permitem conquistar, assim como os traços obsessivos são necessários, pois permitem perseverar. Mania (psicose maníaco depressiva) – os traços da mania numa personalidade permitem o entusiasmo. Obsessão – os traços obsessivos numa personalidade permitem ter rigor. Doença – presença de uma série de traços em quantidades extremas. Assintomático – tem a presença da doença, mas não tem sintomas. Sinais patognomónicos – só podem ser aquilo e só aquilo.
Existem duas grandes estruturas: Psicóticas e Neuróticas (histéricas ou obsessivas). No meio destas duas estruturas existem organizações limite. A função da Psicologia é explicar e a da Medicina é diagnosticar. Contudo, o Homem não cabe num só diagnóstico, pois não somos assim tão simples. Os diagnósticos também são abertos e vão-se reformulando com o tempo, ajustando-os à pessoa duma forma mais próxima. Assim, é sempre a título de hipótese que se deve colocar o diagnóstico, e com algumas preocupações verbais. Através das técnicas projectivas consegue-se chegar ao diagnóstico patológico, e também ao diagnóstico diferencial. Quanto entre duas opções possíveis de diagnóstico existem dúvidas, recorre-se às técnicas projectivas, possibilitando a decisão por uma delas em detrimento da outra.
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Diagnóstico Psicológico O diagnóstico psicológico incide sobre as modalidades dominantes do funcionamento
psicológico (sem pressupor se determinado funcionamento é normal ou patológico); não tem o objectivo de catalogar (encontrar identidades mesográficas), pois é mais estrutural e mais dinâmico e vai para além duma classificação que acaba por “aprisionar” o sujeito. O diagnóstico explica como as partes do sujeito interagem entre si atribuindo-lhe a sua singularidade. Diagnóstico Diferencial Quando surgem dúvidas sobre a estrutura mental do sujeito, as técnicas projectivas
esclarecem entre dois diagnósticos possíveis qual será o mais acertado. Os comportamentos são polissémicos (o mesmo comportamento pode remeter para várias identidades), por isso mesmo a psicologia que se funda apenas no que é visível é pobre e muito facciosa, aquilo que é observável não é suficiente para um diagnóstico profundo. Técnicas Projectivas
Técnicas de Manchas
Rorschach:
Técnicas Temáticas
para crianças e para adultos (é a base de todas as outras técnicas que lhe sucederam)
Técnica paradigmática, pois foi a 1ª a aparecer; é objecto de muitos estudos e é a técnica mais utilizada na investigação.
TAT - foi o 1º a aparecer, serve
CAT - para crianças com 4 anos Pata Negra - crianças Era uma vez - crianças
Como e Quando utilizar as Técnicas Projectivas? Só devem ser utilizados quando necessários. Se se compreende clinicamente um caso, não se deve pedir um teste. Os testes só fazem sentido se tivermos à partida enunciado um problema, para podermos, a partir de hipóteses levantadas na relação clínica, testar as nossas hipóteses de trabalho, sabendo que é nesta inter-relação que tudo se passa. Os testes fazemse para testar hipóteses e não pessoas, e servem para as precisar (ou confirmar ou infirmar). Devem-se aplicar a partir de hipóteses intuitivas que foram claramente formuladas a partir da entrevista clínica. Há, porém, situações que obrigam a que se comece inversamente. Há então que repor os dados no seio de uma relação e dar um significado aos resultados. E o que interessa é o valor que esses resultados têm – todos os valores são policénicos. Muitas vezes é a dinâmica afectiva que acaba por sabotar os processos de pensamento, já que não se tem energia disponível para os poder efectuar devido a nós conflituais. O comportamento psicológico não se resume a um número que foi atribuído como resultado de um teste. O processo associativo é que é importante.
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Então, que métodos podemos nós ter relativos a essa abordagem da realidade? Os diferentes métodos podem ser classificados da seguinte forma: Objectivos: Essencialmente constituídos por prova concretas de características
analítica parciais – avalia-se o rendimento do sujeito (capacidade de atenção, memória, etc.). Subjectivos: Os dados obtidos dependem sempre da capacidade de introspecção do
sujeito (autobiografias, questionários, entrevista clínica, auto-observação). A fiabilidade deste método é questionável. Projectivos: Procuram essencialmente aceder por aproximação à realidade psicológica
dum sujeito, realidade essa que é imutável, e cuja essência é inatingível. Usam-se principalmente no contexto clínico mas também podem ser utilizadas em situações de recrutamento de pessoal ou na educação. Baseiam-se numa concepção de personalidade bastante diferente da dos outros métodos – a personalidade não é a soma das características parciais mas sim a totalidade em evolução (estrutura dinâmica). Os métodos subjectivos aparecem por volta do início do século e compreendem basicamente as seguintes técnicas: questionários, autobiografias, entrevistas, auto-análise ou auto-observação. Estes instrumentos interessam sobretudo quando se trata de fazer investigações com grandes massas de população. No caso dos questionários, eles têm um pequeno defeito: os dados obtidos dependem sempre muito das capacidade de interpretação dos sujeitos. A maneira como os sujeitos se auto-avaliam depende muito dos seus estados emocionais; a tonalidade emocional mais deprimida do que é habitual via fazer com que o sujeito responda às questões de uma forma mais depressiva. Há questionários que são utilizados e que se baseiam neste método psicológico e que fazem parte da metodologia dita subjectiva. Pretendem traças um perfil do sujeito com base numa série de questões que são colocadas ao sujeito. Os métodos objectivos nasceram cerca dos anos 20 e são essencialmente constituídos por provas concretas em que o pensamento do sujeito dá conta de vários aspectos: capacidade de atenção, mnésica, desempenho motor, sentido ético, etc. Estes métodos são provas com características analíticas (são parciais), que se dirigem a elementos estáticos na personalidade do sujeito e manifestações isoladas no carácter ou na personalidade. Fornecem indicadores muito importantes, ainda que parciais. Nestes métodos, pega-se num elemento da personalidade e analisa-se, comparando-se o sujeito com os sujeitos em geral. Há momentos em que é absolutamente necessário ter estas provas, por exemplo, se o indivíduo tiver um traumatismo craniano, de modo a fazer uma avaliação de danos. Não basta fazer um diagnóstico das funções e das disfunções, acima de tudo é preciso estar atento ao sujeito dessas disfunções. Quando há suspeitas quanto a uma demência faz-se uma série de provas que permitem perscrutar e pôr essa hipótese. Muitas vezes temos a forma de uma depressão da terceira idade e, na verdade, trata-se de uma doença degenerativa. Os métodos projectivos visam a investigação da personalidade, mas como concebida numa totalidade em evolução. Os diferentes elementos constitutivos da personalidade encontram-se em interacção, sendo a mesma uma unidade interactiva. Temos diferentes elementos que constituem a Página | 9
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personalidade e observa-se a mesma em termos de unidade e integração em interacção. Obviamente que isto só depois de eliminada qualquer dúvida sobre uma determinada patologia. Em vez de se criarem unidades que são arbitrárias, vai-se verificar se há recursos intelectuais (investimento cognitivo), a dinâmica afectiva (se boicota ou não o pensamento), a natureza da socialização, os mecanismos de defesa que prevalecem (se são patológicos, maleáveis ou não), o tipo de angústias, a relação de objecto. Trata-se, não de uma investigação dos aspectos cognitivos per si, mas da estrutura da personalidade. Parte-se por linhas de fractura pré-estabelecidas (estados limites; neurose-castração; psicose). Para conhecer as modalidades de funcionamento dum ser humano, estes testes são mais ricos, permitindo-nos ver, a partir da prova, como é que o sujeito funciona normalmente. É na projecção do corpo vivido que o indivíduo nos encena essa representação de si e essa representação da relação. Buscam-se, então, as modalidades do funcionamento mental dominante, a natureza dos conflitos. Tal como um grupo não é o somatório de vários indivíduos, também num indivíduo o somatório das suas capacidades não é o indivíduo. A metodologia projectiva actua sobre material mais fantasioso, sobre o discurso livre do sujeito que é testado. Ao contrário dos testes métricos, onde não existe espaço de expressão livre e em que não existem respostas certas ou erradas, na metodologia projectiva, os objectivos não são tão específicos. A lógica dos dados fornecidos por esta metodologia é muito diversificada. No entanto, a necessidade clínica exige que esta metodologia, numa dimensão avaliativa, recorra a uma certa racionalidade.
Paradigmas Experimental e Psicanalítico
A Psicologia Experimental ocupa-se do manifesto e do mensurável, do captável e do imutável, sendo submetida aos procedimentos e aos métodos. Pode considerar-se um ramo da Psicologia definido pelo seu recurso a um método: a experimentação, sendo que este método experimental passa geralmente pela forma mais completa e convincente dos procedimentos científicos. No entanto, esta opção metodológica não dispensa de uma reflexão teórica - são as teorias que servem para aprofundar o conhecimento, são elas que permitem a descrição e são também os instrumentos que servem para denominar. Por outro lado, a Psicologia Psicanalítica submete-se ao sujeito e impõe uma historicidade e um espaço e tempo de expressão e de captação pela intersubjectividade, que obriga a considerar o inefável e o mutável, a transformação e a criação.
Conceito de Personalidade É à luz da Teoria Psicanalítica que se toma em consideração o conceito de personalidade, sendo este visto através desta teoria como um todo interactivo em evolução, que reage às necessidades internas e aos estímulos externos (relações com o meio) ; o que interessa é a sua estrutura. As reacções dos sujeitos podem, então, ser de dois tipos:~ Heteroplásticas – visam a modificação do meio externo através das condutas
(descargas motoras);
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Autoplásticas – visam a própria alteração do organismo (imagens, afectos, atitudes,
etc.) para satisfazer os impulsos do sujeito. Portanto, através das respostas que o sujeito dá a um estímulo pouco estruturado (manchas) acedemos ao seu imaginário.
Teorias
As técnicas projectivas (modelo da escola de Paris) surgem em 1920 a partir de um jogo muito em voga na Viena do princípio do século, e nascem no âmbito da teoria psicanalítica da análise dos sonhos e da Psicologia da Forma (Gestalt), no sentido em que o material que se utiliza nas técnicas projectivas é ambíguo. A Psicologia da Forma parte sempre de um material ambíguo, que serve para compreender a forma da percepção, isto é, o mesmo modo de explorar símbolos ambíguos que se usa no Rorschach. A partir da percepção, da forma de abordagem do exterior, tem-se acesso às condições internas do indivíduo, através da projecção. É na análise das condições externas, elas próprias ambíguas, que se acaba por dar a conhecer os recursos internos; quando se interpreta, interpreta-se com um sistema de valores que são os nossos próprios valores. Tem a ver com o interesse das relações do sujeito com o todo e o seu vivenciado, ou seja, tem a ver com a representação de si e a representação da relação. Foi a partir da evolução dos estudos sobre a percepção que se abriram novas vias no sentido de se perceber e abordar os processos perceptivos, e que não há uma percepção pura. Uma percepção está sempre ligada a uma representação do vivido que está ligado a um afecto. E há pessoas com tendências quartativas (dificuldade em utilizar as emoções). Anzieu considera que as técnicas projectivas são uma espécie de mini-análise, aparentando-se nalguns aspectos com a cura-tipo. Nestas técnicas existem duas regras: Regra da não omissão tudo pode e deve ser dito Regra da abstinência nada pode ser feito (não há actuação, só há verbalização)
Estas regras frustram o sujeito de toda a satisfação libidinal, srcinando os efeitos de transferência, assim como a angústia, provocando também a rejeição. Pode proporcionar um espaço de libertação de angústia e pôr em marcha o sistema defensivo. Quanto a este efeito transferencial, já não somos nós que ali estamos, mas representamos alguém. As respostas têm um suporte perceptivo que se espera que seja enriquecido pelas experiências anteriores do sujeito. Esta resposta final deve ser demonstrativa que o sujeito está atento à realidade e, ao mesmo tempo, tem a capacidade de rêverie, de regredir, acabando por dar uma resposta secundarizada, perceptível, inteligível. Uma resposta pode ser muito srcinal, muito criativa e, no entanto, ser delirante. Há que ter em conta a ligação e transposição do real.
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Características do modelo pulsional (freudiano)
1. O inconsciente, os sonhos, a palavra
Todos somos dotados de uma instância com características ás quais não temos acesso. Tudo aquilo que nós vivemos são as fontes do nosso inconsciente. Determina claramente as nossas condutas. É constituído por elementos que dizem respeito a todo o desenvolvimento (prazer vs realidade). É o lugar de todos os desejos e o resultado da experiência e frustração. Determina as nossas condutas, o adoecer psíquico. A cura acontece através da libertação do recalcamento para extrair os elementos negativos que o habitam. A via privilegiada de acesso ao inconsciente são os sonhos por se aceder aos conflitos. Os sonhos são a exteriorização do inconsciente e por isso depois de contados têm de ser decifrados porque o sujeito não consegue expressar as coisas de outra forma a não ser assim. É uma maneira de falar de si sobre o que se deseja e o que se teme. Nos sonhos estão explicito conteúdos que o sujeito não conseguia exprimir de outra forma. A palavra está ligada à actividade simbólica. É por ela que me significo e é por ela que posso aumentar a capacidade de me conhecer a mim ou de me aproximar ou afastar do outro
2. A sexualidade infantil e o desenvolvimento
O corpo tem um local central. É a mente que ancora o corpo. Está ligada às funções mais básicas. É a partir da função do corpo que foi estabelecido todo um modelo de desenvolvimento. Há a assimilação de funções corporais com as funções psíquicas. O corpo é lugar de realização de trocas com o meio. Há sempre duas fases, uma mais retensiva e outra mais repulsiva. Há sempre uma ligação relacional Nas condutas que vemos usamos sempre este modelo de leitura.
3. O fálico e o primado masculino
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Os inícios dos trabalhos de Freud foram feitos com mulheres com características histéricas e tem um primado fálico Nas perturbações de histeria, predomina o fálico. O primado masculino corresponde ao estádio mais evoluído da descrição do desenvolvimento psíquico.
4. O Édipo
5. O super-ego, a castração e as neuroses
Nas psicoses há um mal que dá conta da passagem pelo Édipo e dependendo da forma como se ultrapassa. Lida-se com a castração e o ego. Na neurose há mais um reconhecer a diferença entre o sujeito e o outro que é um conhecimento básico: há dois sexos (mulheres e homens) e há diferenças de gerações (pais e filhos). É este o nível envolvido.
6. Traumatismo e fantasias: a falta, o negativo e a complementaridade
O adoecer era consequência de um traumatismo, segundo o que dizia Freud inicialmente. Depois concluiu que isto não é assim, o que acontece é que as pessoas fantasiam sobre acontecimentos vividos e aí se instala uma fantasia poderosa. Isto é importante para o desenvolvimento que representa faltas e falhas. Constitui-se uma falha/falta e o que o sujeito faz para ultrapassar isso. Os dados da realidade são menos importantes. Mesmo que o funcionamento seja arcaico isso não importa desde que funciona bem. Não há boas ou más defesas, há eficazes ou não eficazes.
Características dos modelos relacional
1. O sujeito e objectos; dentro e fora; eu e o outro - É o que acontece entre o sujeito e a realidade externa e como o sujeito reage com a realidade 2. O oral e o primado feminino – materno
3. O materno auxiliar, o par pensante, o crescimento - O materno não é a mãe, é uma função, é aquela que providencia todas as condições necessárias Página | 13
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4. Fantasmas primitivos; parte psicótica - Ligados à aniquilação e destruição e não castração – parte psicótica (M. Klein estudou meninos psicóticos ao passo que Freud estudou neuróticas). Aqui é tudo mais primitivo.
Spitz – sorriso (é o primeiro elemento da humanização), angústia do 8º mês (necessidade de se proteger reconhecendo o conhecido e o desconhecido, o bom e o um), o não (marca a distinção entre eu e o outro).
Winnicott – aparece a função materna. Aparece ligada ao holding e como a mãe leva o bebé a procurar outras estruturas. Assim fala-se em funções maternas que são obrigatoriamente providenciadas pela mãe.
Bion – necessidade que o bebé tem de que alguém cuide dele e que o estimule e o frustre na medida do necessário para que se desenvolva (“mãe suficientemente boa”).
5. O negativo - A experiência negativa ligada à mãe. Procura-se essencialmente a partir de uma experiência negativa construir-se.
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Os métodos projectivos, expressivos e construtivos: inscrições
“ Os instrumentos são teorias materializadas”
Bachelard Os instrumentos tendem a proceder à captação de dimensões subjectivas do sujeito. Podem apenas ser consideradas como métodos auxiliares. Muitas concepções sustentam a ideia de métodos de avaliação, cada uma com uma visão diferentes, no entanto, não há bons nem maus métodos, a escolha do método deve ser adaptada ao sujeito e à situação. Existem técnicas psicométricas (mais quantitativas e objectivas), construtivas, expressivas e projectivas (mais hermenêuticas, interpretativas, subjectivas e intersubjectivas). O que se procura captar? Resposta que se quer dar e que nos leva à escolha e diferenciação dos métodos. O observador em técnicas projectivas pretende aceder aos significados, o que leva o sujeito a interpretar determinada coisa de determinada forma. Interessa o contexto relacional em que as coisas acontecem. Não interessa tanto o número de respostas agrupadas em categorias específicas mas sim o quer dizer dar estas respostas. Não há condutas boas ou más, em tudo o que surge não se interfere ou penaliza o sujeito. A interferência do investigador é colocar ao sujeito outras disposições, não é só uma instrução, é um prolongamento. Operar em lógicas que se aproximam mais do método clínico que procura abordar o sujeito na sua especificidade e construir lógicas de interacção que levam a potenciar as faculdades do sujeito. Considera-se mais o que ocorre e menos as respostas.
O caso-grupo de referência/individuo Factos e comparação versus relação, c onstrução, transformação, comunicação, sentido e interpretação As técnicas projectivas não são instrumentos de medida psicológica, são sim instrumentos de elite na avaliação psicológica, a par de outros instrumentos das técnicas psicométricas. Socorrem-se dos conceitos de percepção e projecção, e o que pretendem avaliar é a estrutura da personalidade. As técnicas projectivas diferenciam-se das outras pelo seu carácter unitário e integrativo. Baseiam-se nas diferentes concepções da personalidade. Observa-se o todo, com as suas partes constituintes em interacção. Não se avaliam as respostas, pois não há respostas certas ou erradas, e convida-se o sujeito a exprimir os seus desejos. Toda a interactividade humana está sempre dependente dum contexto mais próximo ou mais longínquo. As técnicas projectivas, como qualquer prova, estão sempre submetidas a um contexto. O contexto deve ser sempre o clínico. A avaliação psicológica apareceu e continua a acontecer e a constituir-se ligada ao caso. No início da psicologia pretendia-se medir determinadas características e comparar os sujeitos nas suas dimensões exteriorizadas (ex: tempo de resposta). Pretendia-se pôr o sujeito em situação Página | 15
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experimental em que o experimentador não influenciasse, era uma lógica diferencial (o sujeito na relação com determinado grupo e o que o diferencia dos outros) e de medidas. 1º teste de inteligência – escala de Binet. Mais tarde, na sequência das grandes guerras surge a clínica ligada já não aos contextos escolares apenas, mas também a outros contextos. A lógica era colocar o sujeito em situações igualizadas e tirar conclusões. Há sempre um observador. Pretende-se sempre comparar o indivíduo com o grupo de referência. Mas começam a criar-se alternativas em que não e tem de comparar o indivíduo com o grupo de referência embora isso seja incontornável. Só assim podemos saber verdadeiramente onde se inscreve o indivíduo. Já nãos e usa tanto a comparação com o grupo de referência, saímos da lógica da comparação. Factos e comparação versus relação, transformação, comunicação, sentido e interpretação. O que interessa são os factos que emergem, a relação do sujeito com a tarefa e com a investigação na relação é que são fruto duma construção. Estes factos psíquicos não são estáticos e o que interessa é aceder à capacidade de alterá-los.
Paradigmas de ciência (psicológica):
Objectividade, subjectividade, intersubjectividade (não é a quantidade nem o
constante mas o pouco e inconstante). Modelos: correspondência/coerência: verdade (é o que capto do real e por isso é
restrito porque nem todo o facto psíquico é observável) e realidade não são dimensões captáveis de forma simples.
A objectividade não esgota o que é específico do humano porque ele cria sentidos e a nossa forma de o captar tem de ter diferentes dimensões. Os factos psíquicos emergem em função do sítio em que estão, por isso a noção de liberdade e objectividade estão ligadas ao que é inconstante. Métodos: quantitativos e qualitativos. Não se deve discutir os dois métodos
comparativamente porque são diferentes
As várias técnicas podem ser classificadas da seguinte forma: Subjectivas: (autobiografias, questionários, entrevistas, auto-análise. A
fiabilidade destas técnicas é questionável); Objectivas: Provas ditas concretas, em que o que conta é o rendimento do
sujeito (exº: capacidade de atenção, memória). Estas técnicas são analíticas porque só estudam uma parte do sujeito de cada vez.
Estamos mais na lógica do indivíduo e menos do juízo. O lugar de destaque é dado ao observador e não é padronizado que é típico das outras concepções
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Em intersubjectividade pressupõe-se que haja uma interacção entre os dois parceiros: um observador e um sujeito. O sujeito não interpreta só as coisas, dirige a resposta para aquele que está a anotar e aquilo que ele comunica não é só o que ele acha mas sim também aquilo que ele acha que quer ouvir. Assim, não há resultados de avaliação que não tenham de se ter em conta isto.
Paradigmas da Ciência
“clássicos”: objectividade, racionalidade, medida, sinal, comparação, Modelos demonstração (estados)
Procuram aceder a lógicas de objectividade (destacar um elemento que seja mensurável) para possibilitar a comparação entre sujeitos. O paradigma é o da racionalidade, apenas o que é objectivo e mensurável é tido em conta pondo de lado a subjectividade do indivíduo. Medir aqui é apenas comparar, cada sujeito é descrito porque dá um resultado relativamente a outro. Usa-se o sinal (elemento mensurável, que é o mais constante que se verifica, é aquilo que se destaca) (ex: sintoma, menina que não aprende na escola, etc). São submetidos a análises de dados que se pretende a demonstração (estado) e materialização. Há tanto mais verdade quanto mais matemática lá existir. Quando se trata de fenómenos psíquicos não são assim tão óbvios…
“Novos” modelos, paradigmas emergentes:compreensão, interpretação, significação,
construção intersubjectiva, transformacional, coerência (processos).
Os fenómenos não são assim tão simples. Para chegar ao sujeito temos de alcançar os campos e as concepções da ciência para a ceder a coisas como a subjectividade, etc. São usados paradigmas mais compreensivos onde há uma interpretação, transforma-se o manifesto para o latente, a passagem da objectividade para a subjectividade, o que ocorre no interior do sujeito. Dá-se um valor e um significado ao que o sujeito diz. A expressão de cada sujeito não pode ser captada na sua imutabilidade porque cada sujeito é considerado em relação, em comunicação, em ligação, em transformação e em simbolização. Pretende-se aceder a estes processos e pretende-se criar uma leitura do que acontece.
Acerca da objectividade Forma a proceder: acção teórica e regras de não interferência, demonstração, medida, comparação. Assenta essencialmente na forma de aceder. Há um conjunto de regras, de variáveis do examinando. Têm de se vistos numa situação sem interferências. Instrumentos: a validade. Os instrumentos têm de ser sempre considerados com critérios de validação.
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A verdade e a realidade está no método-concomitância ou causalidade: sinais,
constância, fixo.
A partir do momento em que o método é bom e justo isso remete a condições da verdade e realidade - são válidos, são defendidas todas as condições de igualização. Não se pretende aceder às lógicas da quantificação e lógicas de causalidade. Por isso tudo o que é defendido na ciência experimental está em oposição a esta concepção.
a) A partir dos paradigmas emergentes:
Do carácter cientifico e do rigor da medida à complexidade, à variabilidade e ao não mensurável. Tenta-se deixar de parte o carácter científico e o rigor tentando-se constituir como valor fundamental o sujeito. Passa-se do método para o sujeito e passa-se da validade para a complexidade e construímos um método adaptado a isso.
A distância entre formas de conhecer e objecto a conhecer. Tentamos reposicionarnos, deixamos de lado o rigor e centramo-nos no objecto/sujeito a conhecer e constituímos processos e maneiras de proceder. Não interessa se estamos a medir bem mas se temos como aceder ao sujeito.
Descontinuidade, potencial, interpretação (cada sujeito manifesta-se consoante o local em que está), especificidade de conjuntos (qualquer assunto pode ser acedido não individualmente mas num conjunto de especificidades), oscilações, singularidade, autoorganização. Queremos aceder a um sujeito descontínuo, potencial (não o que se manifesta mas o que se pode manifestar em diferentes contextos), tenta-se entrar no mundo interno do sujeito.
b) Do paradigma da quantificação ao paradigma da interpretação. c) Da quantificação à criação e (re) construção. Como o sujeito constrói as respostas e como pela nossa interferência ele se pode reconstruir.
d) Do lugar ao observador neutralizado ao do observador activo e inter-activo – a intersubjectividade. e) Do novo lugar ao sujeito psicológico. f) O comunicacional e o verbal.
A comunicação é feita dentro do sujeito e do sujeito para o outro.
g) Essência dos f enómenos psicológicos: Página | 18
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São dados a ver na sua qualidade e essência; São subsidiários de relação.
Pelo que se impõe... A passagem do método ao sujeito (situação, relação, contexto). Interessa mais as teorias e menos os métodos Destaque dado às teorias (os instrumentos são teorias materializados). Porque se pretende aceder ao sujeito. Nada é justificado pelo método. Só aquele que nos permite aceder ao facto teórico e ao sujeito
A partir do momento em que um teste é suportado por teorias ele dá-nos respostas sobre o funcionamento interno do sujeito. Há a necessidade de compreender o que o sujeito nos está a comunicar percebendo a sua dinâmica mental. As concepções psicanalíticas dão-nos conta do sujeito interior. Olhamos para o sujeito em função dos modelos e concepções. Não é um sujeito à priori. Tudo o que eu vejo é através da lente das minhas concepções.
O método é secundário às concepções do sujeito Em função da concepção que eu tenho, estabeleço a minha forma de proceder
(não é a priori).
Aplico o método em função do que eu quero Aquilo quede vou aplicar é em função da concepção e não da técnica, istosaber. é, é em função concepções que estabeleço o método. As teorias a priori – concepções do sujeito psicológico (sujeito funcionamento – diferencial normal e patológico - e sujeito relação - menos carregadas do normal e do patológico, procura entender a relação entre sujeito e objecto, dentro e fora). São teorias que nos guiam. Inscrição psicanalítica destes métodos – modelo pulsional e modelo relacional.
Objectividade v.s. Subjectividade
v.s. Inter-subjectividade A objectividade não existe, o que existe é uma realidade objectiva. O olhar sobre o objecto tem a ver com o objecto em si e a percepção individual que se tem desse objecto, sendo que a percepção está associada à representação (caixa de texto abaixo*), a qual está por sua vez associada aos afectos. O olhar sobre o objecto transforma a percepção que se tem sobre o objecto. Esse modo de ver o real externo é sempre conjugada com os nossos
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Relembrando: Representação mental é o processo pelo qual o
ser humano substitui algo real por algo mental. É a unidade básica do pensamento, istoo é, o podersem de pensar e imaginar conceito ele estar presente. Através da representação mental o sujeito organiza o seu conhecimento. Ela está relacionada com nossa experiência de vida e esta está relacionada com nossa cultura.
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desejos e necessidades. Há sempre uma ligação com um real interno e um real externo pois toda a realidade é interpretada . Quando perguntamos ao sujeito “O que é isto?” remetemos a resposta para a cor, figura e material. Se perguntarmos “O que é que isto poderia ser?” remetemos para a fantasia. Assim, ao fazer-se a pergunta no condicional, abre-se as portas ao imaginário e o sujeito vai ter de conjugar a realidade externa com a realidade interna. É o sujeito que atribui significado ao que não tem significado. Do encontro entre sujeitos e sujeito/objecto/sujeito, das mensagens entre uns e outros, impõe-se uma interpretação. O Universo Psíquico é um universo de significação e simbolização, os sentidos e os objectos aparecem sempre ligados e aos mesmo tempo separados; é através deste jogo conexão/desconexão que o objecto é recriado. No Rorschach, um estímulo pode dar srcem a uma infinitude de respostas e, desta forma, permitir ao sujeito revelar a sua criatividade, os seu conflitos. A noção de simbolização permite-nos saber como é que a situação intersubjectiva do Rorschach impõe o recurso ao símbolo, recorrendo à projecção e à identificação projectiva (compreender o processo de dar significado a uma mancha) – pressupõe comunicação entre sujeito e objecto. É através desta simbolização que nos apercebemos das passagens das diferentes partes do eu, como se estabelecem as passagens entre percepção e projecção, entre interno e externo. Quando se interpreta, interpreta-se um sistema de valores que são os nossos próprios valores. Não há uma percepção pura, está sempre ligada a uma representação do vivido que, por sua vez, está ligada a afectos.
Objectividade (Técnicas Psicométricas) A objectividade fecha, restringe e sufoca. Os defensores da psicometria fazem medições e comparações, fazendo com que o objectivo em si desapareça. À psicometria interessa perceber se há ou não perseveração nas funções cognitivas, nos testes psicométricos obtêm-se valores que nos permitem conhecer determinados aspectos mas não a pessoa na totalidade. Os testes foram feitos para testar hipóteses e não para testar pessoas; é pobre e redutor cingirmo-nos a provas que são indicadores. Todo o trabalho psicológico está muito associado à referência de psicopatológico, pelo que o enraizamento nesta referência leva a que haja uma necessidade de catalogação segundo critérios. Esta necessidade leva a que não se respeite o funcionamento mental do sujeito – não há uma só forma de adaptação à realidade. Torna-se, assim, necessária uma análise mais fina desta adaptação à realidade, sendo essa análise uma tarefa mais psicológica. Então o que é normal e o que é patológico? A patologia é a existência única e exclusiva de determinado tipo de defesa (o sujeito insiste em duas teclas do piano e não consegue tocar mais do que isso). Em termos abstractos, a normalidade é a presença de psicopatologia em doses homeopáticas os traços histéricos dauma personalidade tornam uma pessoa mais animada, os traços de(exemplo: uma neurose obsessiva tornam pessoa mais organizada). A procura incessante de objectividade é logro, porque à percepção associam-se sempre sentimentos. Os objectos estão sempre associados a emoções, não é possível não incluir os objectos no registo pessoal (identificações e introjecções).
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Subjectividade (Técnicas Projectivas) A subjectividade não tem limites, baseia-se na intuição (que é o seu ponto de partida) desprezando os instrumentos de medida. Tem um valor interrogativo e não de evacuação. A subjectividade corre o risco de "arrastar" consigo movimentos projectivos por parte do examinador, criando uma realidade orçada que não se entende porque não pertence nem ao examinador, nem ao examinado. A capacidade de adaptação à realidade externa consiste em perceber os mecanismos de defesa do sujeito, como representa a si e aos outros, como se relaciona com a realidade interna e externa. Para chegar à realidade subjectiva do sujeito há que saber escutar. A atitude de escuta deve estar enraizada numa necessidade de não ter preconceitos e pré-conceitos, quer estes derivem do quotidiano ou da investigação teórica e teorias implícitas. As teorias implícitas vão colonizar os sujeitos de investimento. A perspectiva do não saber caracteriza-se por escutar sem ter o desejo de controlar – as pessoas têm tendência de ter uma expectativa que acaba por forçar e a confirmar a suspeita inicial; quem tem o poder não deve controlar o outro mas sim percebê-lo; quando isto não se verifica estamos perante uma atitude predatória omnipotência narcísica (o outro está existe só para justificar a minha existência).
Intersubjectividade (Processos de Transferência e Contra-Transferência) Há situações em que os indivíduos se sentem invadidos, transferindo para aquela situação de avaliação psicológica muitos receios ligados à avaliação em geral (por exº: avaliação escolar, ou a avaliação que os pais, colegas e amigos fazem do sujeito). Quando há estilos comportamentais dos sujeitos que estão em avaliação psicológica, há indivíduos que rapidamente mostram o seu receio, desvalorizando-se. Há uma transferência de processos vivenciais para aquela relação que se está a ter . Vêem nos psicólogos aqueles com quem no passado tiveram situações que os marcaram. Esses receios interferem na qualidade da produção do sujeito. Também podem haver transferências da mesma natureza por quem avalia (ter sentimentos mais ou menos hostis face ao sujeito que se pretende avaliar, de acordo com a sua própria estrutura). Essa prova não pode ser só encarada como resultado do confronto directo do indivíduo com aquilo que lhe é apresentado, uma vez que urge a inquestionável importância da relação que é estabelecida com o psicólogo, que é a representação actualizada de uma vivência desagradável. Portanto, quando se aplica um teste, existe sempre uma intersubjectividade. É necessário ter atenção à maneira de nos relacionarmos com o sujeito, a fim de esbater os receios. A resposta ao pedido, depende de quem pede e qual é o objectivo. Quem decide quais são os instrumentos a utilizar é sempre o psicólogo. Ao perguntar o que se pode ver numa imagem, estamos a pedir ao sujeito que olhe para uma realidade objectiva e que nos dê a sua subjectividade, perceptiva ou projectiva. Portanto, quando estamos na situação Rorschach, existem duas subjectividades: Transferência - O que eu represento para o sujeito determina o seu comportamento e
as suas respostas.
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Contra-Transferência - Ao descodificar as respostas que ele deu, tenho que ter em
conta a forma como eu senti o sujeito. Na situação Rorschach há uma dinâmica própria do teste: um observado, um observador e no meio dos dois uma prova. Tudo o que se insere além disso é produto de relação entre duas pessoas mediatizada pela prova, pelo estímulo.
Observador
Prova
Observado
Relação entre os dois
Como já foi dito, o psicólogo possui uma certa intrusividade porque é quem tem o poder, tendo que considerar a dinâmica interpessoal na interpretação: os fenómenos transferenciais e contra transferenciais. As respostas do sujeito não são unicamente produto de confrontação do sujeito com a mancha – o psicólogo tem influência, a prova não pode ser só vista como resultado do confronto do indivíduo com aquilo que lhe é apresentado . O sujeito vai ter sempre uma imagem do psicólogo e o psicólogo também terá uma imagem do sujeito, o sujeito é significante para ele. A capacidade que o sujeito tem de se expor e interpretar está ligada com a significação que tem para o sujeito, o que pode levar a interferências na forma como o sujeito se expõe perante o psicólogo. A neutralidade é algo trabalhável com base na análise de contra-transferência. Não há que desdenhar aspectos de transferência e contra transferência, porque estes têm um peso significativo na própria interpretação do sujeito. O processo resposta–Rorschach produz-se num contexto, numa interacção entre dois sujeitos através de uma prova, na qual existe uma ambiguidade que força a projecção.
Contexto
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Interacção
Intersubjectividade
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Projecção e Identificação Projectiva A conceptualização do Rch foi alargada aos princípios teóricos kleinianos e póskleinianos (sobretudo Bion), donde surgem os conceitos de projecção e identificação projectiva. A relação entre a percepção gerada por impressões sensoriais, e a projecção, permite considerar a resposta Rch como um processo de formação de símbolo. Este resulta da actividade de pensar o que o sujeito é obrigado perante a situação catastrófica (Bion) – provocada pelo carácter desconhecido e disruptivo do material – visando a estabilização do mundo psíquico, a coerência, a união, a integração. O material Rch representa uma situação disruptiva, de caos, de perda de objecto, carregado de solicitações conflituais e paradoxais explicitadas através da relação entre os conteúdos manifesto e latente. As respostas são um produto criativo e um fenómeno transitivo que emerge da reacção ao conflito – angústia provocada no sujeito através da percepção. As respostas rch apresentam os factos que estão na sua srcem – projecção. A projecção é equivalente à interpretação, ou seja, quando o sujeito designa fá-lo diferentemente, dá o símbolo. Quando o sujeito interpreta dá um sentido que não está lá. Desloca de dentro para fora, projecta num movimento activo, dominantemente inscrito em alguma coisa que conhece. A projecção está ligada ao modelo pulsional (Freud), o confronto com o conflito provoca angústia que por sua vez mobiliza a organização defensiva. É um mecanismo de defesa da série psicótica e, em particular na paranóia. De grosso modo, consta em atribuir ao exterior coisas que o sujeito rejeita em si próprio. A projecção como conceito surge em várias teorias psicológicas e o importante é que este conceito aparece sempre associado ao conceito de percepção. Não há projecção sem percepção e vice-versa. A projecção é utilizada para apreender o real, e pode ser de natureza: Avaliativa – atribuição de significados e valores. Evacuativa – mecanismo patológico (pertence à serie psicótica, em particular à
paranóia) - é um mecanismo de defesa psicótico que consiste na atribuição ao exterior das coisas que o sujeito rejeita em si próprio. A percepção e a projecção estão estreitamente relacionadas, sendo que uma não existe sem a outra, e permitem a delimitação entre mundo interno e mundo externo bem como a sua representação mental. No entanto, é preciso não esquecer que no Rch o objecto externo solicita através do conteúdo latente, há um movimento de vai e vem entre a solicitação e o impacto que obriga o sujeito a transformar. o que diz tem características da realidade interna do sujeito e da realidade externa do que solicitou. A identificação projectiva é um conceito mais relacional, objectal. O sujeito é confrontado com uma situação desconhecida que desencadeia (pelo impacto) uma necessidade de se relacionar com o objecto o que faz mobilizando as suas experiências. Neste caso, não há conflito, há comunicação, relação com objecto, ligação, simbolização. Na identificação projectiva, que dá conta dos mecanismos caóticos, o mundo interno é criado na relação com o mundo externo. Quando é patológica, o sujeito não distingue o que é interno do que é externo. No Rorschach, o estímulo é a mancha, o qual tem características perceptivas bem precisas, apesar de ambíguas. O sujeito, através do mecanismo projectivo, vai atribuir a estas imagens ambíguas o estatuto de imagens bem definidas. É como se a partir de uma imagem desfocada se tentasse a pouco e pouco dar-lhe uma configuração mais precisa. O sujeito
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articula o imaginário com a realidade ambígua que lhe é próxima e transforma a realidade noutra realidade. Está presente quando os sujeitos utilizam estratégias defensivas e pode ser associada a uma situação de conflito. A ambiguidade do estímulo leva à mobilização da imaginação por parte do sujeito de uma forma activa, o que provoca, numa mesma resposta, a conciliação entre forças inconscientes e conscientes, tendo em conta a realidade interna e externa; O sujeito articula o imaginário com a realidade ambígua que lhe é próxima e transforma a realidade noutra realidade.. A resposta global vai ter de levar em conta a fantasia. O processo projectivo leva a que só sejam acolhidas e investidas pelo sujeito as percepções e as representações que reactivam traços mnésicos individuais ou que integram essas reacções num sistema prévio. Na situação projectiva o sujeito tem de se mobilizar para ordenar as percepções internas e externas, ver o estímulo, sentir e pensar o estímulo, e conciliar estas duas coisas numa só resposta; por isso se vão operar oscilações entre a realidade interna e a externa. Real Externo ↔ Pressão Interna
A resposta final desejada deverá conter as duas realidades, conciliando as duas pressões; deve mostrar que o sujeito tem a capacidade de regredir, dando uma resposta secundarizada, perceptível e inteligente (deve conter elementos reais propostos pela situação, que sejam coloridos pelos afectos) - a situação projectiva pode ser assimilada a uma situação de conflito, porque as características ambíguas dos estímulos levam o sujeito a ter de mobilizar activamente a imaginação e o sujeito vai ter de, num mesmo movimento, numa mesma resposta, conciliar imperativos inconscientes e imperativos conscientes; vai ter de ter em atenção a sua realidade interna e a realidade externa. Desta forma, a resposta final vai ter de ter em conta a realidade e a fantasia. A boa distância permite que a resposta, mantendo presente a realidade, mostre igualmente as ressonâncias fantasmáticas, ou seja as produções do sujeito deverão conter os elementos reais que são propostos, mas coloridos pelo afecto, isto é, com ressonância afectiva e fantasmática. Quanto aos afectos e às emoções, há-os mais emotivos ou menos emotivos: se o sujeito diz “estão aqui dois homens (ou duas mulheres) a dançar numa festa com borboletas a esvoaçar à volta”, a imagem “seres humanos” proposta pela pessoa, coaduna-se com a realidade, mas está colorida pelo afecto; as percepções estão sempre ligadas a representações. Há um encadeamento de percepção, representação e afecto e o sujeito durante o encadeamento associa sempre um afecto a essa representação que lhe surge no espírito.
Percepção
Representação
Afecto
(Retroacção)
Cada cartão tem características precisas (embora ambíguas) que se centram em 2 eixos: 1. Eixo da Representação de Si 2. Eixo da Representação da Relação
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O conteúdo latente dos cartões pode perturbar o sujeito de tal forma (pressões fantasmáticas) que ele se refugia no imaginário e perde o contacto com o princípio da realidade (quase delirante); o contrário também acontece – agarra-se à realidade e revela um funcionamento mental muito empobrecido. Por exemplo, nos cartões 2 e 3 (com vermelhos) e 8, 9 e 10 (cores pastel) do Teste de Rorschach, existem características que permitem ao sujeito situar-se diferentemente e são susceptíveis de permitir ao sujeito uma compreensão simbólica sentida em dois eixos: o eixo da representação de si e o eixo da representação da relação. Basicamente, quando o indivíduo se revê, se projecta nestas manchas de tinta, é natural que se reveja como ser humano e possa ver essas figuras humanas em relação. É da maneira como o sujeito vai jogar com estes elementos projectivos, que nós percebemos quais são os seus estilos relacionais.
A realidade objectiva entra em confronto com a realidade interna , sendo uma projecção. No limite, o real não existe, apenas a realidade individual - produto da projecção do eu sobre o exterior. Percepção e projecção participam ambas na delimitação entre o mundo interno e o mundo externo. Quando dizem que as figuras humanos estão a sangrar, o envelope físico não está constituído, o processo projectivo leva também a que só sejam acolhidas, investidas pelo sujeito as percepções, as excitações que reactivam traços mnésicos individuais. O material que interessa ao psicólogo é o que reactiva no sujeito traços mnésicos, isto é, lembranças que são importantes para o sujeito - em todos os sujeitos há estímulos que irão ser integrados num sistema pessoal. Ainda na situação projectiva, o sujeito vai ter de se mobilizar para ordenar as percepções interna e externa, aquilo que ele observa e aquilo que ele pensa sobre o que observa. Assim, vai oscilar entre a realidade e a fantasia, entre a realidade objectiva e subjectiva. É por isso que vamos observar oscilações no discurso do sujeito, movimentos mais ou menos subtis entre a realidade interna e a realidade externa, de modo a dar uma resposta que contenha essa realidade externa e, ao mesmo tempo, a sua realidade interna. De um lado temos o percepto, do outro a pressão interna - a boa distância será aquilo que permite que a resposta, mantendo presente a realidade, mostre igualmente a ressonância fantasmática do sujeito. Podemos ter duas situações extremadas: uma pressão fantasmática pode ser de tal forma forte que o sujeito deixe de poder contar com a realidade externa, por outro lado, há indivíduos que são incapazes de se alimentarem dessa ressonância fantasmática e então só existe realidade externa. Nesses casos, pode acontecer que só dêem uma resposta por cartão sem interjeições nem adjectivações. Uns deixam-se ultrapassar pela ressonância fantasmática ao ponto de ser quase delirante, outros não conseguem sair da realidade externa, não há nada de si, só o real. A capacidade de ler os fenómenos é mais protectora para as pessoas.
Críticas: Crítica à objectividade: Nos testes de medida psicológica que se resumem a um número, isto é, calculam apenas um valor e resumem o sujeito a esse valor , fazendo-o sumir-se como entidade psicológica por trás dessa quantificação, compara-se o sujeito a uma medida. Estes defendem o rigor e a objectividade a todo o custo, sendo essa objectividade a comparação do indivíduo Página | 25
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com a população de referência. Podemos medir um coeficiente mnésico e compará-lo com um grupo de referência, o que é feito, por exemplo, quando se precisa contratar sujeitos em que a capacidade de memória é paga (exº: um vigilantes que precisa de fixar rostos). A memória é muito complexa e não é um mero produto cognitivo que se tem ou não se tem: muitas vezes as pessoas que têm grande capacidade de memória são, normalmente, controladoras. Noutros contextos diferentes não é satisfatório conseguir ter apenas um valor relativamente a um sujeito - os instrumentos de medida psicológicos (Psicometria). Crítica à subjectividade: Também subjectividade há reparos a fazer, porque se a corrente objectivasubjectiva baseada na Psicometria sena inspira nos resultados dos instrumentos psicológicos, na corrente nada disso existe, já que se baseia na intuição com desprezo pelos instrumentos de medida . O risco é muito grande, pois quanto menos se percebe mais se interpreta . É mais provável que o método projectivo possa produzir mais erros do que se for medido com uma prova. Se um acredita só nos resultados obtidos por provas, o outro é baseado apenas na intuição. Mas essa intuição deve ser gerada por alguém que saiba que a intuição é um passo para o conhecimento, tendo esta que ser confrontada com elementos da realidade. A intuição surge de uma maior permeabilidade dos sujeitos ao inconsciente e é fundamental, mas também pode parasitar as relações com os outros. Ela não pode ser tomada como uma realidade absoluta, sobretudo numa situação em que o outro fica desfigurado, devendo sempre ser posta à prova. Ambas as posições são extremadas e pouco credíveis no plano psicológico. A verdadeira objectividade não existe e o que há são sinais que devem ser canalizados, interpretados e repostos junto do sujeito. Já a subjectividade corre o risco de arrastar consigo movimentos projectivos por parte do examinador que quanto menos percebe mais interpreta. Crítica em relação ao desfecho de muitas intervenções clínicas (quer se usem ou não meios auxiliares de medição psicológica): Existe uma necessidade de concluir algo a todo o custo sobre os resultados dos testes. A referência psicopatológica é fundamental mas invalida muito o conhecimento do outro. Por exemplo, mais importante do que criar uma entidade é entender quais são as modalidades defensivas mais utilizadas pelo sujeito (conhecer, por exemplo, a natureza da agressividade); o tipo de relação de objecto, isto é, como é que o indivíduo se vê a si próprio e como é que o indivíduo lida nas suas relações com os outros. Interessa conhecer também se há um envelope psicológico entre o eu e o outro, e conhecer, essencialmente, o modo de funcionamento mental. Quando psicólogo e sujeito estão em frente a um outro existem duas subjectividades: o sujeito significa algo para o psicólogo e vice versa. Aquilo que o psicólogo representa para o sujeito acaba por determinar o comportamento dele e as suas respostas, portanto quando se vai descodificar as respostas que o sujeito deu, há que ter em conta a forma como o psicólogo sentiu o sujeito, como já foi referido atrás. Aqueles que são ávidos de concluir e categorizar não conseguem atribuir um lugar a um processo mais fino de análise deste processo-resposta Rorschach. O que fazem é partir da resposta sem estar atentos ao processo mental que vai do estímulo (percepto) à resposta (processo associativo) que dura apenas umas fracções de segundo, mas mais importante que a resposta é o encadeamento das respostas. Este processo é que vai permitir individualizar o sujeito e as suas modalidades dominantes de funcionamento mental numa perspectiva de adaptação à realidade. Página | 26
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Então qual é o caminho para chegar lá? Saber escutar, despidos de pré conceitos (não colonizar os outros nem fazê-los caber à força dentro das minhas referências) e posicionarmo-nos em relação ao outro numa perspectiva de não saber, no sentido de o conhecer. É a partir da experiência com o outro que podemos teorizar, essa disponibilidade e abertura permite muito mais facilmente perceber esse mau funcionamento porque quando nós vamos equipados com pré-conceitos ou técnicocientíficos, o que acontece é a busca da confirmação da nossa ideia pré-estabelecida, havendo a tendência para meter à força os sujeitos nessas grelhas de leitura, nessas formas de aprendizagem. Mais importante que a resposta é o encadeamento das respostas, permite individualizar o sujeito e as modalidades dominantes de funcionamento mental numa perspectiva de adaptação ao real.
Resumindo... Portanto, na situação Rorschach, o testador não é totalmente neutro, é uma
pessoa intrusiva, portadora de uma identidade e de uma problemática. Existe uma dinâmica interpessoal com aspectos transferenciais, baseada na intersubjectividade. A relação é mediatizada pelo teste, é a superfície projectiva que espelha a
relação testador-testado sendo importante que ocorra a transferência e a contra-transferência. Ambos os modelos são extremados: a verdadeira objectividade não existe,
muito menos em ciências humanas; a subjectividade baseada unicamente na interpretação corre o risco de haver projecção da parte do testador (quanto menos se percebe mais se interpreta; é mais honesto admitir que não percebemos um caso do que tentar à força interpretar). A interpretação do Rorschach comporta coerência e convergência entre teoria,
métodos e técnicas. O conhecimento só é possível e rigoroso se se apoiar no prévio ordenamento metodológico. É necessário ter em atenção que quantificar não é explicar - O conhecimento é
também estabelecido a partir da descrição, compreensão e interpretação. Interpretar é criar novos sentidos, dar sentido aos sentidos; pode ser quase infinita (não é totalmente infinita porque nos sustentamos em modelos teóricos e nos factos em si).
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Os métodos projectivos, expressivos e construtivos: características
Interpretação e simbolismo versus projecção e conflito Noção que aparece nos modelos freudianos e que remete para a noção de conflito, é um mecanismo de defesa. Refere-se essencialmente a como o sujeito com o seu nível de ambiguidade face a uma tarefa a interpreta e resolve. O sujeito manuseia e faz balanceamento entre o que não está lá e o que ele tem que lá por. A leitura da realidade é pessoal. É importante a descrição que ele faz dos objectos como acede a eles.
Relação, comunicação, ligação, transformação, pensamento e simbolização versus identificação projectiva O sujeito estabelece uma relação com os outros e liga elementos da realidade interna e externa, ajusta elementos novos e isso é uma forma de perceber como se estrutura o pensamento.
A situação projectiva Na situação Rorschach há uma dinâmica própria do teste, um observado, um observador e no meio dos dois uma prova, e tudo o que se insere além disso é produto de relação entre duas pessoas mediatizada pela prova, pelo estímulo. O psicólogo possui uma certa intrusividade porque é quem tem o poder, tendo que considerar a dinâmica interpessoal na interpretação: os fenómenos transferenciais e contra transferenciais. As respostas do sujeito não são unicamente produto de confrontação do sujeito com a mancha – o psicólogo tem influência, a prova não pode ser só vista como resultado do confronto do indivíduo com aquilo que lhe é apresentado. O sujeito vai ter sempre uma imagem do psicólogo e o psicólogo também terá uma imagem do sujeito, o sujeito é significante para ele. A capacidade que o sujeito tem de se expor e interpretar está ligada com a significação que tem para o sujeito. A neutralidade é algo trabalhável com base na análise de contra transferência. Não há que desdenhar aspectos de transferência e contra transferência, porque estes têm um peso significativo na própria interpretação do sujeito. O processo resposta – Rorschach produz-se num contexto, numa interacção entre dois sujeitos através de uma prova, na qual existe uma ambiguidade que força a projecção.
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O contexto: situações de observação, não são neutras e mergulham no campo
específico que condiciona o comportamento do investigador.
É preciso caractreiisar sempre bem o contexto em que ocorre. As istuações são moldadoras da expressão que aí surge. As situações de observaçãop mergulham num contexto específico e é a situação que molda o que aí vai surgir.
Situação interpessoal, relacionar, intersubjectiva;
Independentemente da tarefa e material. São duas pessoas que são caracterixadas por condições psíquicas também elas específicas. Não podemos negligenciar o inconsciente. Pensar a situação projectiva implica saber que a linguagem coloca num local de ralevo as noções subjectivas que lhe estão subjacentes.
Mediação com um material especifico – conteúdo manifesto e conteúdo latente.
10 Cartões com características específicas quanto ao conteúdo manifesto, podem ser descritos quanto ás suas dimensões estruturais e sensoriais. As suas cararcterísticas formais estão ligadas a coisas mais simbólicas. A pessoa designa por um símbolo específico, por uma linguagem que remete para características de funcionamento interno. Tem um papel tanto mais importante quanto aquilo que nele está presente e quanto áquilo que remete.
Balanceamento entre percepção e projecção (interpretação)
Há o conteúdo manifesto e há qualquer coisa que remete a. Ele fez a passagem do que lá está para o que significa. Tem mais a ver com aquilo que o sujeito é do que com aquilo que está no cartão, é um a projecção, uma interpretação. Quando se diz “Isto parece…” significa que sou eu que estou a por lá. Projecção é mais conhecida associada a perturbações psicopatológicas (fobias, delírios). aquilo que eu receio é deslocado e transposto para um objecto por isso tenho medo de andar de elevador, de avião, etc. quando eu digo tem mais a ver comigo e menos com o objecto.
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Apelo relacional, comunicacional, das ligações, transformações, do pensamento e à
simbolização.
Há então uma identificação projectiva. A situação em si e o material têm qualidades específicas mobilizadoras desta actividade de vai e vem. Projecção e identificação projectiva são assim complementares. É no seio de uma relação que se desenvolve um estado e um tempo comunicacional dentro do sujeito e deste com a situação que vai vincular as relações. Isso dá conta de como o indivíduo cria as imagens. Projecção deriva muito mais do modelo pulsional que o indivíduo tem de atribuir significado, quando se introduz que o material e a situação são mobilizadoras da interpretação do sujeito o que faz com que ele tenha um movimento de vai e vem- identificação projectiva (modelo relacional).
“Construir” uma imagem, interpretar as manchas, comunica -las ao outro (psicólogo).
Há uma ligação interna-externa e há uma criação de um objecto. Remete para qualquer coisa que é dele. Revela a qualidad do seu pensamento e de expansão e criação.
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O Rorschach é a técnica projectiva mais utilizada e também uma das três mais importantes... O objectivo do Rorschach consiste em apreender a realidade psicológica do sujeito, isto é, a sua subjectividade (O que é? Como se vê a si próprio na relação consigo e com o mundo, a natureza dos conflitos) e tentar descobrir as modalidades de mental dominantes mecanismos defuncionamento defesa, a angústia presente,: os a Identidade (o que sou eu? – a nível da consciência como humano), a Identificação (ao nível do género), os limites do corpo, e a relação de objecto. Outra das metas a que o Rorscharch se propõe é a de identificar o tipo de estrutura mental (diagnóstico psicológico), isto é, se é Psicótica ou Neurótica e se existem estados-limite (no DSM-IV-TR a Perturbação de Personalidade Estado-Limite é definida como um padrão global de instabilidade no relacionamento interpessoal, auto-imagem e afectos, e uma impulsividade marcada com começo no início da idade adulta e presente numa variedade de contextos). Podemos admitir a situação de teste Rorschach como um triângulo, onde vão aparecer vários aspectos. Por um lado, num dos vértices, teremos a problemática do testador. Esta não é insignificante, há sempre algo de intrusivo nesta problemática; pode ser um estilo mais directo ou autoritário, mas há sempre um estilo associado ao testador. No outro vértice poderemos pôr a comunicação da dinâmica interpessoal na interpretação, isto é, os aspectos transferenciais e contra-transferenciais. Há um interpenetração de dinâmicas de uma parte e de outra: o que o sujeito vê em mim e que se repercute na forma como se relaciona com o teste e, por outro lado, a forma como eu o vejo a ele e que se repercute na forma de eu interpretar os protocolos. Finalmente, num terceiro vértice temos a dinâmica do teste, isto é, o regressivo e progressivo no próprio teste. Quer isto dizer que o Teste Rorschach é feito de movimentos progredientes e de movimentos regredientes. Movimentos Progredientes - Há indivíduos que ficam perturbados inicialmente, e
depois são capazes de mobilizar mecanismos de defesa adequados para aguentar e melhorar o nível da resposta. São movimentos progredientes. Em termos de prognóstico e diagnóstico, é muito melhor um indivíduo que é capaz de encontrar recursos em si, do que um indivíduo que acaba por mergulhar pela fantasmática que está em jogo e que não tem capacidade de distinguir o fantasma da realidade. Movimentos Regredientes - O que nós assistimos às vezes é a melhores níveis de
funcionamento nuns cartões do que noutros. Por exemplo, um sujeito pode dar 3 ou 4 respostas perante um mesmo estímulo, começando por uma resposta de boa qualidade que se vai degradando. Por outro lado, pode suceder o inverso. Portanto, pode haver uma degradação da resposta ou um melhoramento da resposta inicial. Quando há uma degradação da resposta, o sujeito tentou fazer face àquele estímulo, mas os mecanismos de defesa que utilizou não foram suficientemente sólidos para que ele se aguentasse e daí surgir a queda na qualidade da resposta. São movimentos regredientes.
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São, pois, três vértices de uma mesma questão que estão sempre em jogo nesta questão da avaliação psíquica através do uso das técnicas projectivas. Produz-se, antes de mais, num contexto, segundo numa interacção e finalmente numa intersubjectividade. É redutor pensarmos que as respostas produzidas pelo sujeito são produto unicamente do confronto entre o sujeito e a mancha, de onde estaria evacuado todo o olhar e a presença do próprio examinador. Esta interacção, esta intersubjectividade, tem expressão no próprio comportamento e na própria forma do indivíduo se expressar. A análise do protocolo tem duas vertentes: Modelos quantitativos e explicativos:
Medida psicológica e demonstração a partir de certos princípios psicométricos e estatísticos. É uma medida objectiva e é expressa no psicograma.
Modelos Interpretativos Hermenêuticos: Análise subjectiva das respostas, expressa em
três eixos: Expressão dos aspectos intelectuais; Dinâmica afectiva; Socialização. Estão ligados à significação, relação entre teoria, teste e psicopatologia. O conhecimento objectivo é fundado no real e nos sinais exteriores (atribuição de nota); o conhecimento intersubjectivo tenta perceber o processo que levou à resposta, em vez de a avaliar. A objectividade pura esconde os fenómenos - os instrumentos de medida não devem passar de auxiliares de observação que revelam dados cujo valor se apura na análise e interpretação, que têm de estar submetidos a uma teoria, modelos e métodos, para os descodificar.
Processo-resposta Rorschach O Rorschach é um instrumento para conhecer o que o seu uso provoca; permite revelar os processos mentais que fundam a relação de objecto e do sujeito com ele próprio , a representação do objecto e a representação da relação. Permite conhecer as suas capacidades criativas e de recriação (liga interno e externo e vai criar um novo objecto, uma criação sua). A realidade interna é única em cada sujeito, não é partilhável; a realidade externa é partilhável, mas é interpretada pela realidade interna. É na interacção e inter-relação destas duas realidades que reside o ponto fulcral do Rorschach. A partir desta conceptualização, o sujeito formulará o processo-resposta Rorschach – ligação, transformação e criação entre o mundo interno e o externo (subordinado pela intersubjectividade). A resposta é um novo objecto resultante desta confrontação, tentando dar sentido ao que não tem sentido – revela a natureza dos objectos internos (foram mobilizados pelos objectos externos porquê?). Podemos definir o processo de resposta RCH como um processo que nos vai permitir saber onde é que o sujeito vê aquilo que ele diz ver (modos de apreensão), o que é que o sujeito vê (conteúdo) e o que ele vê e como vê (determinantes).
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Chegamos assim à natureza do Eu → mais importante que prestar atenção à resposta do sujeito é tentar perceber esse processo associativo, que vai desde a percepção do estímulo até à resposta final. A partir de um protocolo de Rorschach bem sucedido, podemos saber qual o modo de funcionamento mental dominante (e conflitos dominantes) do sujeito noutras situações. É através da simbolização que podemos explicitar o processo-resposta Rorschach. A simbolização é fundamental dado que lidamos com material verbal, que veicula uma imagem, um conceito e um símbolo (susceptível de interpretação). A resposta Rorschach (símbolo) é permitida por:
Contexto; Relação interpessoal; Características do próprio estímulo; Instrução dada ao sujeito.
Revela a forma do sujeito pensar, como articula as ideias entre si. Esta actividade de pensar faz-se através do processo de ligação e transformação de diversos universos psíquicos, recriação e criação. A resposta final é a recriação do objecto (produto entre o interno e o externo). Tem um conteúdo explícito/manifesto e um conteúdo latente. Para se poder aceder à formulação do processo-resposta Rorscharch e, portanto, à informação mental do sujeito, procedemos à assimilação entre os processos mentais do sujeito e os processos mentais envolvidos na situação projectiva, através do recurso dominante às concepções de relação de objecto.
O processo-resposta Rorscharch: impõe e mobiliza um conjunto de processos mentais que operam num espaço transformacional constituído por elementos internos e externos que interagem entre si. formula-se através da intersecção de todas as suas dimensões: características objectivas do estímulo; características psicológicas do sujeito; contexto em que o protocolo é produzido. permite-nos ter acesso:
à natureza do objecto interno; às características particulares das suas ligações e transformações; às ligações e transformações nas relações com o objecto externo.
É importante estabelecer critérios que nos permitam entender e dar sentido à experiência emocional: que funda a percepção das manchas; que ocorre num determinado contexto; e se sustenta numa determinada interacção.
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Situação catastrófica: Acontece sempre que é pedido ao sujeito que diga o que é que as manchas poderão ser. O nome deve-se ao facto desta situação ter um carácter desconhecido e disruptivo. Ao se confrontar com as manchas com informações sensoriais sem um significado semântico preciso, o sujeito deverá converter, a partir da percepção, essas impressões sensoriais em abstracções, ou seja, em pensamentos utilizáveis e comunicáveis. Pode-se falar aqui, então, de uma função simbólica, isto é, constitui-se como uma actividade de ligação do interno com o externo, do sujeito com o objecto. Podemos, então, dizer que, através da situação Rorscharch, se pode ver como é que os elementos da percepção são usados ou não para pensar, como se desenvolvem e expressam as ligações, e as redes de relação que nos revelam a diferença/distância entre sujeito e objecto, bem como revelam as possibilidades de se operarem oscilações dinâmicas entre a dispersão e a integração através da relação continente-conteúdo.
A Teoria e o Método No contexto clínico pergunta-se ao sujeito “O que poderia ver aqui?”. Na resposta do sujeito é por vezes difícil aceder-se ao mundo interno, o que acontece quando a percepção prevalece sobre a projecção. A apreensão da realidade e a transformação entre a realidade e o mundo interno sujeito é o chamado processo de construção (o qual é diferente para cada indivíduo), que é transmitido ao clínico em forma de produto. A análise do Rorschach tem o objectivo de conhecer o funcionamento mental do sujeito, o que é possível sabendo o funcionamento do teste, o qual é possível saber pelo processo de resposta Rorschach (o qual consiste na elaboração, construção e elaboração da imagem).
Funcionamento mental
Funcionamento do teste
Processo Resposta – Rorschach
Objecto de cotação
Modo de apreensão Determinante conteúdo
O modo de apreensão determinante e o conteúdo serão objectos de cotação. ONDE
PORQUÊ?
O QUÊ?
localização, corresponde à parte da mancha que o sujeito isola
COMO?
O que é que o sujeito vê
Expressa o processo de resposta de Rorschach, faz-se por cada factor que o sujeito prevuiligia que vai de encontro ao funcionamento mental do teste: funcionamento do sujeito. É a teoria psicanalítica que permite analisar as cotações
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O contexto Durante a aplicação do Rorschach:
-
devem utilizar-se fontes de luz unidireccionais e devem ser evitadas as passagens da luz do dia para a luz artificial
-
o material necessário deve estar colocado em cima da mesa: o Rorschach com os dez cartões virados para baixo, na ordem de apresentação e em posição direita; papel e lápis/ caneta; um cronómetro discreto e de fácil acesso.
-
O sujeito deve estar colocado do lado esquerdo, sensivelmente à frente (ou à direita caso seja esquerdino)
Deve manter-se o controlo da situação - é o psicólogo que entrega o cartão e o recebe, estando sempre atento ao comportamento, continuando sempre a entregar todos os cartões, que é a forma de regular o ritmo de progressão (há cartões angustiantes que caso o psicólogo não controle o tempo, podem não ser bem explorados)
Protocolo Material e Condições de Aplicação da Prova - O Rorschach é constituído por 10 cartões nos quais estão impressos manchas de tinta: 5 em tons de cinzento (carões 1, 4, 5, 6 e 7) 2 cartões bicolores (cinzento e encarnado; cartões 2 e 3) É considerado um estímulo ambíguo, pelo que se designa por técnicas de manchas. Cada um dos cartões remete para um conteúdo latente, cada um deles tem um
determinado valor simbólico (apesar de serem claramente ambíguos). Os cartões são diferentes do ponto de vista cromático, as cores ligam-se aos afectos
(exemplo: o vermelho refere-se a afectos brutos como amor e ódio; liga-se a angústias da castração e da destruição); e também o são estruturalmente, pela articulação das diferentes perceptivas, que se reflecte emodeterminado simbólico (exemplo: características o cartão 4 e fechado compacto, enquanto cartão 7 é valor aberto, suave, curvo...). A percepção serve para que o sujeito se refira ao seu mundo interno, se projecte. Instrução A instrução deve ser adequada ao sujeito e deve ser introduzida na relação. O Rorschach considera que as instruções devem ser curtas, o que vai cumprir o objectivo das Página | 36
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técnicas projectivas, ou seja, estimula o sujeito de forma adequada – cria um espaço de liberdade no sujeito, onde estão presentes os dois objectivos principais das técnicas projectivas; a instrução será: “O que é que se poderia ver aqui?” ou “O que e que isto poderia ser?”. Outros psicólogos, como por exemplo Chabert, consideram que a instrução a dar deverá ser diferente, contendo objectivos mais explícitos: “Vou mostrar-lhe 10 cartões e peço-lhe que me diga tudo o que eles lhe fazem pensar e tudo o que se pode imaginar a partir de cada um deles”. É importante reter que todas as indicações devem ser formuladas como um pedido, assim abre-se um espaço de liberdade que é a base das técnicas projectivas. 1ª Fase da Aplicação do Rorschach: 1. Dar a instrução ao sujeito; 2. Entregar o cartão 1 na posição direita (pode entregar-se na mão ou colocá-lo em cima da mesa); 3. Accionar o cronómetro; 4. O psicólogo deve escrever tudo o que o sujeito diz na folha de anotações; 5. Devolução dos cartões. Apesar da regra ser a da não intervenção, por vezes, podem fazer-se intervenções durante a passagem dos cartões, quando o sujeito fala de algo paralelo na passagem dos cartões pode-se intervir; na fase inicial (1º, 2º e no máximo 3º cartão), quando o sujeito está a ter dificuldades, é útil e desejável que se faça um intervenção do tipo “Se pensar um pouco talvez consiga ver outras coisas”, isto, por exemplo, no caso de usar uma única imagem, ou de não nos dar imagem nenhuma, “Porque temos tempo...”. Se o sujeito falar muito rápido pode pedir-se para que repita a última palavra, ou fale mais lentamente. NOTA: O uso do talvez permite que o sujeito veja, ou não veja, o que mantém a liberdade.
O trabalho do psicólogo é um trabalho de atribuição de sentido, pelo que a sua atitude deve ser uma atitude de neutralidade: de acolhimento e de aceitação das imagens e da resposta do sujeito. O que deve constar na folha de anotações no fim da 1ª fase de aplicação? EE: elaborações expontâneas I: inquéritos C: elementos que decorrem da cotação
Devem ser anotados: Todos os silêncios que são mais ou menos longos, os quais se traduzem em pontos
(...);
As interrupções, caso ocorram (embora não devessem ocorrer, como interrupções do
tipo: telefones, entradas, fazer chichi :p, etc); Tiques, agitações na cadeira; Todas as interacções; Posição em que coloca os cartões (as rotações):
lado esquerdo; virou p baixo; virou p cima;
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virou p o lado direito;
virou p o
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Tempos: tempo de latência (aquele que decorre entre a entrega do cartão e a primeira
imagem susceptível de ser cotada que o sujeito nos dá), tempo por cartão (tempo que decorre entre a entrega e a devolução do cartão), e o tempo total (tempo decorrido entre a entrega do cartão 1 e devolução do cartão 10, que resulta da soma dos tempos por cartão)
A folha a utilizar é uma folha A4, dividida ao meio,um e voltada a dividir na proporção de dois para
A primeira fase termina com a Prova Complementar de Escolha: É pedido ao sujeito que dos 10 cartões escolha os 2 dos quais gostou menos, e os dois
dos quais gostou mais, e indique os motivos que o levaram a escolher os cartões, devemos tentar que os motivos apresentados sejam de ordem estética ou afectiva. É de notar a ordem pela qual o sujeito nos diz os cartões apesar de não ser muito relevante. Se os motivos de preferência forem iguais “Gostei mais dos cartões 9 e 10 porque s ão coloridos”, há que aceitar, pois isso implica conceder o espaço de liberdade ao sujeito.
Há sujeitos que escolhem apenas um cartão de cada, ou outros que escolhem 3 cartões, devemos aceitar esta escolha, tal como devemos aceitar se o sujeito insistir que são todos os cartões, pois cada escolha é objecto de atribuição de sentido. 2ª Fase – Inquérito (s) Explorar modalidades perceptivas: O inquérito tem o essencial do processo de resposta do Rorschach, processo este que vai ser cotado através do inquérito para que consigamos aceder ao funcionamento mental. Os inquéritos são feitos no final para não perturbar o processo associativo, isto no caso dos adultos. No caso das crianças muito novas o inquérito faz-se no final de cada cartão ou de cada elaboração, porque neste caso está a favorecer-se o processo associativo (as crianças não têm tantas defesas como os adultos). O objectivo do inquérito é aceder ao processo de resposta Rorschach, o qual é reflectido na cotação ( e sem inquérito não é possível cotar). No inquérito procura-se informação complementar à informação espontânea, ou seja, retomam-se todos os cartões, um a um, e relemos as elaborações espontâneas de cada um e pedimos para que o sujeito as explique: “ No cartão 1 o que é que o fez pensar nu ma borboleta?”, normalmente isto é suficiente para que o sujeito diga tudo aquilo com que relaciona a imagem: Página | 38
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Localização da imagem (modo de apreensão) Determinante da imagem (forma/ cor movimento) Conteúdo
Nos cartões em que há participação da cor não temos a certeza se este elemento participa ou não na resposta do sujeito. Para isso devemos ter uma folha A4 com os cartões diminuídos a preto e branco para mostrar ao sujeito durante o inquérito. Exemplo: “Ainda vê aqui a borboleta?” “Sim, sim. Veja aqui as asas recortadinhas.” Neste caso o que predomina é a forma e não a cor. o sujeito referepois algopor como ou «esquisito» o psicólogodo não deve deixar escapar Se estes elementos, aqui«estranho» pode revelar-se algo mais importante que a imagem em si, deve saber-se porque é que há a introdução de algo desta forma. Exemplo “A borboleta está voar mas vai perdendo bocados do corpo”. Se o sujeito durante o inquérito diz algo diferente daquilo que disse na elaboração espontânea, ou altera o que viu, trata-se de uma resposta adicional (R. A.), e o inquérito deve ser feito em relação à segunda imagem. Os cartões podem ser vistos em qualquer posição, por isso, são entregues na mão do paciente para que este os possa manobrar. Deve-se proceder ao registo da(s) posição/posições em que o sujeito interpretou a mancha. ˄ - Posição direita (e.g.: I (cartão) 1 (1ª resposta) ˄ (posição cartão) “resposta”) ˃ - Posição lateral (topo para a direita) ˂ - Posição lateral (topo para a esquerda) ˅ - Posição invertida Ϭ – Símbolo de rotação usado quando o cartão é virado várias vezes; a seguir coloca-se a
posição da resposta Prova das Escolhas – Perguntar quais foram os dois cartões que o sujeito gostou mais e quais foram os que gostou menos. Inquérito dos Limites – Foi um inquérito introduzido por Klopper, tem uma presença mais activa por parte do psicólogo com o objectivo de explorar modalidades perceptivas, ou conteúdos evitados pelo sujeito. Conduzir o sujeito para os encarnados presentes nos cartões bicolor, e perguntar se há algo que se possa dizer sobre o vermelho, por exemplo. Só se faz em alguns cartões quando o sujeito não vê o que é comummente visto (estas questões são colocadas depois do inquérito e são cotadas na coluna do inquérito). Resposta Adicional – Resposta dada no momento do inquérito (cotada na coluna do inquérito). Conteúdo Manifesto – descrição do que se vê: Dimensão sensorial – relacionado com a cor, os abertos e os fechados (mancha); Dimensão estrutural – relacionado com a forma que o estímulo apresenta; todos os
cartões são organizados em torno de um eixo central. Banalidades: Normalmente estes conteúdos são chamados de banalidades pois são tão frequentes que o seu não aparecimento leva a que nos interroguemos quanto à causa e sejamos levados a fazer um inquérito de limites relativo a estes cartões. Página | 39
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Figuras humanas presentes no cartão 3, onde se aplica o inquérito de limites “Será que se podia ver aqui uma figura humana?”. Este cartão é um cartão bissexual que favorece a representação de si. Cartão 5: borboleta, pássaro e morcego, “Será que aqui se pode ver uma borboleta?”
A cotação e os factores psicológicos implicados em cada elemento da cotação Na cotação há que notar que o verdadeiro sentido de cada modo de apreensão juntamente com cada determinante e conteúdo. Agrupam-se os dados num psicograma que nos permite chegar a determinadas percentagens. O funcionamento no teste reflecte o funcionamento mental. M.A. – Modo de Apreensão - Onde o sujeito vê o que diz que vê – estratégia perceptiva G, D, Dd, bl… Dets – Determinantes – Porque é que vê e como vê F, C, E,… Cont – Conteúdos – A, Ad, Bot.
Localização ou Modos de Apreensão Modos de Apreensão: O verdadeiro sentido dos modos de apreensão só se encontra se soubermos qual o determinante e o conteúdo a eles associado. Os modos de apreensão estão relacionados com a estratégia perceptiva que o sujeito utiliza ao abordar a mancha, a qual se traduz na forma de como o sujeito situa ou localiza as interpretações. Estratégia Perceptiva
Funcionamento do Teste logo
dão conta das relações que o sujeito estabelece com a realidade e com os objectos de realidade, ou seja, como o sujeito se situa na realidade.
Cinco Símbolos representam os diversos modos de apreens ão: G - resposta global, a qual se subdivide em G primário (que se divide ainda em G
simples e G simples adaptativo) e G secundário D – resposta de detalhe frequentemente interpretada DD – resposta de detalhe raramente interpretada DBL – interpretação de detalhe branco DO – detalhe oligofrénico
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As respostas globais são respostas que compreendem a totalidade da mancha. São respostas como: “borboleta”; “uma mancha negra de tinta da China”; “bailarino a rodopiar sobre si mesmo, com duas bailarinas a apoiarem-se sobre ele, com as suas capas a esvoaçar; “caranguejo com duas pinças”, “uma aranha com uma mosca na barriga”; etc.. Os produtos finais são semelhantes apesar do processos de resposta ser diferente. Para uma resposta ser considerada global é necessário que o sujeito interprete a totalidade da mancha, excepto no cartão 3, onde se considera resposta global, se o sujeito considera dois negros laterais como duas figuras humanas. G primário G simples Um exemplo de um G simples será a resposta “borboleta” (é a imagem mais neutra), ou o morcego, aqui existe uma clara diferenciação entre sujeito e objecto, há uma identidade definida, o sujeito vê-se como inteiro e repara no meio envolvente. A estratégia perceptiva utilizada é a abordagem directa e imediata da mancha, sem elaboração, destacando a figura do fundo. Pelo facto da figura ser fechada este cartão () e outros (1, 4, 5) favorecem o aparecimento de imagens G simples. Os G simples do ponto de vista do funcionamento mental dão conta de uma adaptação perceptiva de base que faz pensar se o sujeito se encontra minimamente inserido na realidade – G simples adaptativo G simples Adaptativo Exemplos: Lata de sardinhas bom petisco Maxilar com dois caninos, um deles cariado Borboleta no chão espalmada e morta à qual falta um bocado
Esta imagem não tem carácter ada asas tativo das – Aqui não há
diferenciação, o que pode fazer pensar nas dificuldades ao nível da identidade, ou da imagem corporal.
Resposta de detalhe frequentemente Interpretada Estas respostas usam partes da mancha que do ponto de vista estritamente perceptivo se impõem, são frequentemente isoladas e frequentemente interpretadas. Estas imagens são favorecidas ao aparecerem nos cartões bicoloridos e nos cartões pastel. Nestas interpretações está implícita a atitude de querer explorar os objectos da realidade interna e/ ou externa. Subjacente às respostas de detalhe existe uma função socializadora (querer conhecer o outro).
Resposta de detalhe raramente Interpretada Nestas respostas são usadas partes da mancha que do ponto de vista perceptivo não se impõem, assim sendo são raramente isoladas e raramente interpretadas. Não existe nenhum cartão que favoreça o aparecimento dos DD, podendo aparecer em qualquer um. Os DDs podem dar conta de uma determinada problemática, porque normalmente há um conteúdo que se repete ao longo de um protocolo em DDs, o qual é algo que angustia o Página | 41
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sujeito. São característicos de um pensamento minucioso e exaustivo. Quando estes se repetem ao logo dos cartões podem demonstrar um funcionamento mental obsessivo. Relativamente aos DDs interpretativos delirantes o critério que os analisa é o critério estatístico.
Interpretação de detalhe branco Estas são respostas em que o sujeito usa o espaço branco, situado no interior ou no exterior da mancha, que do ponto de vista estritamente perceptivo se impõem com inversão figura fundo. Os cartões que favorecem o seu aparecimento são os cartões 2 e 7, dependendo do cartão e conteúdo os valores interpretativos também mudam: no cartão 2 terá um valor claramente defensivo, e no cartão 7 considera-se o sujeito capturado pelo vazio – o que remete para vivências de falta, ou seja, carências afectivas.
Detalhe Oligofrénico Foi constatado que estas imagens surgiam em sujeitos com défices cognitivos, apesar deste tipo de respostas não serem específicas deste tipo de sujeitos. Revelam essencialmente inibição e um evitar confrontar-se com.... (qq coisa q eu percebi). Essencialmente Rorschach constatou que onde sujeitos normais viam figuras inteiras, outras pessoas viam apenas partes dessas figuras, o que atribuiu a restrições do campo perceptivo e do conteúdo – é esperado que não ocorram estas restrições (d e db). Os conteúdos mais frequentemente interpretados são animais (A), ou partes de animais (Ad), figuras humanas (H) ou partes de figuras humanas (Hd), bot (botânica), obj (algo fabricado pelo homem). Os Do’s estão sempre associados a Ad e Hd. Exemplo: no cartão 3, se mencionar a cabeça como parte de um todo será um Do.
Modos de Apreensão associados Estes modos de apreensão são o resultado de diversos momentos perceptivos. Assim podemos referir-nos a: G Primário - G barrado: escomotizado técnico: o sujeito interpreta o todo, mas retira uma pequena parte (parte que, do ponto de vista estritamente perceptivo não se impõe – Dd). Ao nível interpretativo, este modo de apreensão dá-nos conta de que o sujeito evita essas partes por terem, grande parte das vezes, um valor sexual ou agressivo. (G)
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- G sincréticos : existem três tipos de G sincréticos e todos eles nos remetem para problemas de separação e individualização:
- G confabulados: são resultado de uma generalização abusiva a partir de um detalhe da mancha. Podem remeter para dificuldades claras ao nível da diferenciação. Isto porque a generalização começa a partir de uma parte da mancha que do ponto de vista estritamente perceptivo se impõe. (DG; DdG; DblG)
- G contaminados: são o resultado de uma fusão ou sobreposição de imagens ou associações distintas, sendo que o resultado final vai ser uma combinação perfeitamente absurda. (D/G; Dd/G; Dbl/G)
- G informulados: são o resultado de uma enunciação dos diversos elementos constitutivos de um todo sem, no entanto, se lhe referir (ao todo). Como se o todo fosse constituído por partes que se colam, o que denuncia uma fragilidade muito grande ao nível da identidade. (D(G); Dd(G))
- G imprecisos: estas são respostas associadas a formas que o sujeito não precisa e dividem-se em dois tipos:
- G vago: o sujeito introduz o vago para não ver coisas significativas e para não ter que revelar, ou seja, este tipo de respostas aparece associado ao recalcamento. (F+/-)G
se
- G impressionistas: o sujeito deixa impressionar-se pela cor. (C; C, E) G
G Secundário Estas respostas são o resultado de uma articulação/combinação dos diversos elementos da mancha até que o sujeito tem em conta a totalidade da mesma através de um processo de elaboração. Este tipo de imagem remete-nos para um pensamento rico (creativo, com capacidade de ligar) e reflexão do sujeito. ((D)G; (Dd)G; (Dbl)G; (Do)G; G bl)
Determinantes ou Modos Expressivos Determinantes são as características do estímulo responsáveis por determinadas elaborações, e para as quais consideramos dois eixos:
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Eixo mais preceptivo onde incluímos: forma (F), Cor (C), e esbatimento
específico, textura (E) Eixo mais projectivo onde se incluem (K), claro ou escuro (Clob) e esbatimento
tridimensional (E)
Forma F As respostas formais são determinadas pela configuração da mancha (exemplo: borboleta é uma resposta que é determinada pela configuração da mancha). F+ é uma forma boa ou adequada F- é uma má forma ou forma inadequada F+- , neste caso, o sujeito é incapaz de precisar a forma/ imagem o que srcina uma
resposta indeterminada ou imprecisa (exemplo: cartão 7, resposta de detalhe em que isola uma parte e diz que é uma ilha).
As respostas formais relacionam-se com a leitura que o sujeito faz da realidade, por isso, a percentagem das boas formas de Rorschach dá-nos conta da adaptação/ inserção do sujeito na realidade.
Cor C Cromática - (C) vermelho pastel Acromática – (C’) negro, branco e cinzento
A sensibilidade à cor ou às cores dá conta da sensibilidade ao mundo interno e externo, às cores ligam-se afectos, emoções... (exemplos: cartão nº 2 – este vermelho pareceme sangue DC; cartão nº9 – por do sol DC) Podem integrar um F, o qual pode ser secundário à cor (exemplos: cartão 2 – mancha de sangue C’F ou CF; cartão 7 – nuvens cinzentas), ou então pode a cor ser secundária à forma, o que determina a imagem é a forma, mas a cor também contribui (exemplo: cartão 5 – morcego negro FC’; cartão 7 – nuvem com a forma da cabeça duma mulher).
NOTA: Quando o sujeito refere a cor apenas para a localização, a cor não entra na determinação da resposta.
O estilo cromático vai-se modificando ao longo do Rorschach , o sujeito pode ser mais, ou menos sensível à modificação do estímulo. Quando o sujeito não é sensível a essa mudança, mostra que o sujeito não tem sensibilidade interna ao mundo externo (é como se os afectos e as emoções não circulassem, o que traduz uma dificuldade em relacionar-se com os Página | 44
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afectos); se a cor entra como determinante da resposta está demonstrada a sensibilidade do sujeito relativamente aos afectos. O facto da cor estar integrada numa forma demonstra maturidade afectiva.
Vermelho – pulsões sexuais ou agressivas, as quais podem surgir em contextos de
castração ou separação (exemplos: cartão 2: animais que estão a brigar em com o outro e salta sangue por todo o lado, ou dois cachorros que se lamentam porque lhes cortaram o rabo).
Pastel – sensibilidade ao meio, tendências ligadas à ternura, etc.
Negro - está relacionado com afectos mais depressivos (luto, morte)
Cinzento – está relacionado com afectos depressivos (mais ou menos negro)
Branco – relaciona-se com afectos que dão conta da inexistência (interpretação do
branco como cor associada a temas de frio DBL), às vezes a pureza é de tal forma pura e imaculada que no limite toca no nada e não é nada; o branco remete para vazio
Esbatimento São respostas determinadas pelas diferentes tonalidades – exemplo: cartão 7, algo de nebuloso, nevoeiro (GE), ou cartão 6, estas mudanças lembram-me lama, lodo (GE). As respostas de esbatimento podem ser EF, quando a forma é imprecisa e secundária, ou FE, quando o esbatimento é secundário. Exemplos:
Cartão 7:
-
Nevoeiro (GE)
-
Farrapos de nuvens pela diferença de tonalidades (EF, há uma não definição dos limites)
-
Cabeça duma mulher desenhada numa nuvem (FE, o sujeito precisou a imagem)
-
Cão fofinho de peluche (GFE)
Respostas que incluem tecido, veludo, peluche, são imagens que remetem para o toque e para o tacto – são respostas de esbatimento.
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Pele de animal pode ser Fe ou EF, há que fazer o inquérito para perceber se o esbatimento participa ou não na resposta (exemplos cartão 6 – pele de animal, vê-se muito bem a cabeça e as quatro patas, está estendida no chão GF+; pele de animal, vê-se muito bem a cabeça, as quatro patas e o pelo GFE, pois demonstra sensibilidade à nuance, às diferentes tonalidades e ao esbatimento; ao longe parece uma pele de animal, é fofinha GEF ) No esbatimento estão presentes diferentes cores e tonalidades, as cores ligam-se aos afectos, à sensibilidade ao mundo interno (pastel); por isso as respostas de tonalidade também se referem a afectos porém não a uma afectividade franca, mas a uma subtileza, perspicácia, a presença deste tipo de resposta (na ausência de resposta de cor) pode mostrar uma afectividade abafada, reprimida.
Respostas de Esbatimento Textura A textura remete para uma dimensão táctil muito importante, os afectos. Exemplo: cartão 6 “O cãozinho de peluche é tão fofinho, apetece tocar!”. Afectos: nos primeiros objectos e nas primeiras relações muitas mensagens passam pelo tacto (o qual tem um papel fundamental). A presença deste tipo de resposta (em detrimento de outros) dá conta da imaturidade e carências afectivas. tridimensional ou perspectiva
Difusão – refere-se a imagens nas quais o grau de organização é muito ténue. Estas imagens indicam recalcamentos: o sujeito introduz algo vago para não ver coisas mais significativas. Exemplos: “Algo nebuloso”, “Farrapos de nuvens a dispersarem-se”, “Fumo”, “Espirais de
fumaça”...
Clob Para ser cotado com clob é necessário que a imagem se situe em D ou em G, é obrigatório que haja um sentimento de perigo, ameaça ou destruição (não se pode cotar Clob sem que exista um destes sentimentos). O que está subjacente são os medos, estes demonstram a presença duma angústia muito intensa, há que entender a dimensão projectiva é uma dimensão muito importante a qual se encontra aqui. Exemplos:
Cartão 4 - “Algo demoníaco, um pesadelo terrível!” Cartão 1 – “Uma impressão de terror, de fim de mundo.” Existem respostas que integram também um F, uma resposta do tipo F clob demonstra uma angústia contida e controlada (cartão 4: “É um homem terrível!”; “O abominável homem das neves”; “Um gigante”; cartão 1 “Parece uma bruxa”). Quando se verificam muitas Página | 46
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respostas do tipo ClobF está demonstrada uma fragilidade e que as dificuldades de contenção e de controlo são muito maiores (exemplo: Ih! Qualquer coisa terrível! Pegajoso, repelente, nojento! Parece uma aranha! Este exemplo é claramente um ClobF porque foram os diversos sentimentos do sujeito que o levaram a associar a uma aranha, e não houve sensibilidade relativamente à configuração da mancha).
Respostas Cinestésicas
São respostas em que há atribuição de movimento a uma forma específica.
-
Conteúdo humano K
-
Conteúdo animal Kan
-
Objecto ou fenómenos naturais Kob
-
Partes do corpo humano (Hd) ou corpo inteiro em Dd (Kp)
K menores
K maiores
K Cota-se K quando houver atribuição de movimento a uma forma humana (uma figura humana inteira em movimento), também se cota K se uma figura humana se uma figura humana se encontrar com uma atitude de intenção duma relação. Exemplos: Cartão 7: Duas mulheres que se olham; Uma mulher a ver-se ao espelho Cartão 1: Um homem a orar aos céus K (sonhar, dormir, pensar... são cotados com K) Um palhaço também se cota como K porque está sempre a rir, assim como uma bailarina (está sempre associada a movimento). EXCEPÇÂO: cartão 3, os negros laterais cotam-se sempre como K sem ser necessário que estejam associados a movimento ou a relação.
Kan Cota-se Kan no caso de haver atribuição a movimento a um animal inteiro ou quando o animal inteiro se encontra numa atitude humana. Cartão 1: uma borboleta a voar Cartão 4: (as partes mais claras dos detalhes laterais inferiores) “Parece um cão que está sentado a pensar na vida.” Excepção: No cartão 8, dois animais a subir ou a andar nas partes laterais não são cotados como kan, mas como F+; mas se o cartão se encontrar na posição lateral cota-se Kan.
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Kob A cotação Kob refere-se a objectos vistos em movimento ou a fenómenos natuarais em movimento, sendo que a força impulsionadora do movimento tem de se encontrar no interior do objecto. Exemplos:
Cartão 2: Um foguetão a subir, vê-se o fogo da propulsão (KobC) Cartão 10: Fogo de artifício (KobC) Cartão 6: (posição invertida) explosão duma bomba atómica (é sensível às diferentes tonalidades e ao fumo - KobE) Cartão 9: (posição invertida) erupção vulcânica, vê-se muito bem a lava incandescente.
Kp Refere-se a partes do corpo humano vistas em movimento ou o corpo humano em movimento visto em DD Exemplos:
Cartão 7: Um homem que balança, hesita em atirar-se ou não. Cartão 4: dois olhos que me perseguem Cartão 9: Uma cabeça está escondida por trás duma moita a espreitar.
Conteúdos Referenciais Os conteúdos mais frequentes são figuras humanas e animais.
H – figura humana inteira Hd – partes da figura humana (H) – figuras humanas irreais ou de lenda, mas que não são personagens históricos (nesse caso são H). (Hd) – partes de figuras humanas irreais ou sobrenaturais
A – animais inteiros Ad – partes de animais (A) – animais irreais (Ad) – partes de animais irreais ou sobrenaturais. Página | 48
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Pele de animal é, por convenção, cotada como A Arrad – interior do corpo, que este seja animal ou humano. Exemplo: tripas. sg – sangue sx – sexo (No cartão 6, se o sujeito referir um posto cota-se como objecto e não como sexo) bio – células pequenas nat – naturesa (exemplo: nuvens) arte – expressão artística (exemplo: pintura de crianças, pintura de Picasso...) Geo – geografia (exemplo: ilha, península Ibérica...) Geol - geologia ( grutas, buracos na terra...) Bem – emblema (águia do Benfica) Vest – vestuário, invólucros, segunda pele... (...)
Conteúdos Humanos Através duma análise das respostas humanas, podemos aceder à identificação subjectiva do sujeito nas relações humanas no geral, em particular as respostas K permitemnos aceder de forma mais precisa.
Carácter Banal ou Recorrente das respostas Quase todas as respostas banais são A. (ver caderno de apoio). Se o sujeito só expressa banalidades dá conta duma socialização de superfície, o que significa que o sujeito dá pouco de si.
Psicograma
O psicograma faz desta a recapitulação dos dados podendo assim(nos comparar os valores normativos, tornando-se forma evidentes os traços salientes quais reside a individualidade do sujeito).
Respostas – número total de respostas e comparação com os valores normativos (20 -
30)
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Recusa (interrupção no processo associativo) – anotar o cartão ou os cartões nos
quais se verifica uma recusa. (0)
Tempo total – somatório dos tempos por cartão (20 ou 30 minutos)
Tempo de resposta – (40 a 60 segundos)
Tempo de Latência médio (aproximadamente 7 minutos)
Os Modos de Apreensão podem ser: G (20 – 30%) D (60 – 80%) Dd (6 – 10%) Dbl (aproximadamente 4 %) Do (0%)
Deve anotar-se a frequência de cada modo de apreensão.
Determinantes alargados a todos os outros determinantes em que o determinante formal é determinante. H % (12% - 38%) A % (35% - 50%) Ban R (5 - 7)
Sucessão Refere-se à ordem perceptiva das respostas num cartão, a qual deverá ir sempre do geral para o particular, se esta ordem for igual em todos os cartões trata-se duma sucessão rígida; se a ordem for sistemática ao longo de 3/ 4 cartões, estamos perante um sucessão relaxada ou frouxa; se esta ordem variar sistematicamente designa-se por incoerente.
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Tipo de Apreensão É a repartição dos diversos modos de apreensão. Deve anotar-se em primeiro lugar os diferentes modos de apreensão e se algum deles estiver muito acima da norma sublinha-se duas vezes.
TRI Estabelece a relação entre as grandes sinestesias e a soma ponderada das respostas cor no geral. Desta forma permite apreciar o balanceamento o mundo interno e o mundo externo
Extroversivo
Puro
Ambigual – ambos os pólos se
Misto
expressam num grau largamente idêntico e sensivelmente igual
Introversivo
Puro
misto
Quartado puro ou coartativo – ambos os polos se expressam de forma muito insuficiente, ou são absolutamente nulos (quartado puro)
Forma Complementar Expressa a relação entre as pequenas sinestesias e as somas ponderadas das respostas de esbatimento. O valor normativo situa-se entre os 30 e os 40% Índice de Angústia Angústia de tradução corporal. O valor normativo é inferior a 12%
Elementos Quantitativos Choque Equivalente de Choque – Perseveração Comentários de Cor Comentários de Simetria – Críticas Objectivas Comentários Subjectivos Página | 51
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Conteúdo Latente Cartão I Cartão compacto, negro, que facilita uma apreensão global (G), baseandose na forma (F). O estímulo tripartido remete para a relação e interacção. Este cartão reflecte um sentimento de identidade (quando a linha média não é vivida como eixo do corpo mas como linha de separação entre duas entidades, dá conta de dificuldades de diferenciação entre o sujeito e o outro) (Chabert). A um nível menos evoluído, o cartão reactiva a relação com a mãe pré-genital nos seus aspectos positivos e/ou negativos, nas imagens de segurança ou ameaça.
Confronto com o desconhecido;
Estabilidade dos objectos internos
Banalidades: G- pássaro; morcego; borboleta.
Exemplos:
Mancha de tinta; Não vejo nada resposta defensiva; Casa com 4 janelas, muito acolhedora conotação positiva.
Cartão II A parte central vazia reenvia para o regressivo e o luto; o vermelho reenvia para o sangue e as pulsões. Este cartão reaviva as pulsões libidinais e agressivas do sujeito. Se o sujeito lida mal com as pulsões agressivas, evita o vermelho interpretando só o preto. A problemática da castração é claramente visível, bem como a angústia que lhe está directamente ligada e os processos defensivos que Página | 52
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o sujeito utiliza face a essa angústia. Quando as personagens se apresentam em duplo pode dar conta de problemas ao nível da identidade. Este cartão permite ao sujeito reviver alguns dos conflitos da sua infância, revelando uma relação simbiótica ou destruidora com a mãe.
Modo de apreensão do sujeito modo global/parcial; vermelho/preto O vermelho remete para pulsões agressivas, luta, competição, dispersão, castração Banalidades: D negros – 2 cabeças de animais; 2 animais
Exemplos:
Dois animais que lhes cortaram o rabo, a deitar sangue castração; Coelhos esborrachados a deitar sangue dispersão
Cartão III Permite uma identificação (uma identidade sexual) quer masculina (através do pénis) quer feminina (através dos seios). O resultado simbólico resulta da disposição destas silhuetas que estão muito próximas da realidade e o sujeito vai poder exprimir a necessidade de representação de si por um lado, e a representação de si face ao outro, e ainda a descoberta desse outro e o tipo de relação que é procurada com esse outro, uma relação de apoio (representação de si e representação da relação). O clima emocional é positivo e esta prancha agrada normalmente aos sujeitos. É frequentemente escolhida como a prancha preferida. O próprio estímulo, por estar próximo da realidade objectiva, isto é, por evocar facilmente as silhuetas humanas, também pode levantar problemas por isso, podendo rapidamente adquirir uma tonalidade negativa se o sujeito se vê confrontado com um outro e esse outro tem dificuldades relacionais.
Questões sexuais (é suposto um homem ver dois homens e uma mulher ver duas mulheres) Cartão propício a cinestesias (K) – as figuras podem ser vistas em relação ou reacção Banalidades: G – figuras humanas, personagens; D vermelho médio – borboleta; laço Quando o sujeito não vê as banalidades temos que questionar
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Exemplos:
Um casal num jantar romântico relação; Duas mulheres a cozinhar reacção
Cartão IV Esta prancha está ligada à força, ao poder, autoridade. autores tambémà lhe chamam Alguns a prancha do superego. Um superego que tanto pode ser materno como paterno. Sendo simbolicamente representativa dessa autoridade, podem haver reacções quer positivas quer negativas, na forma como os sujeitos se vão posicionar face a essa autoridade: sujeitos que ou se identificam com essa autoridade ou a ela se submetem. Os sujeitos vão exteriorizar representações de autoridade paterna, angústia infantil e sentimentos de culpa diante do superego, complexo de castração, transformação da agressão em depressão e eventualmente ideias de suicídio. Há sujeitos que dão respostas que valorizam o aspecto da força e outros que se refugiam numa atitude contrária à da força, dando respostas que dão conta dessa inconsistência, dessa passividade e do receio à figura de autoridade Há sujeitos que, devido ao impacto fantasmático e doloroso que a prancha lhes provoca, põem em funcionamento o mecanismo de defesa – isolamento. Este é um mecanismo da série neurótica e mais especificamente das personalidades obsessivas. Isola para não ter de se confrontar com a angústia provocada pelo aspecto fantasmático do estímulo, que reenvia, do ponto de vista simbólico, para a força, para o poder.
Potência, força, dominação, autoridade Tomadas de posição de dominância ou submissão Banalidades: G – pele de animal
Exemplos:
Gigante, King-kong questões de dominação ou pujança que poderão estar relacionados com a figura paterna; Pergaminho queimado; Tapete de quarto resposta com carácter de submissão
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Cartão V Este não é um estímulo que levante grandes questões, pois está muito próximo da realidade objectiva (tal como na prancha 3), surgindo com frequência respostas banais de animais voadores. Quanto ao valor simbólico, pelas características maciças e unitárias deste estímulo, esta prancha apela sobretudo ao sentimento de integridade física e psicológica. É chamada a prancha da identidade, a representação de si (ego ideal), onde o sujeito expressa a ideia que faz de si próprio, o que nos remete para uma integridade ao mesmo tempo psíquica e somática. Este sentimento de integridade ao mesmo tempo física e psíquica, tem a ver com a representação de si e, se houver uma recusa, isso é um alerta para uma eventual luta do sujeito contra a desorganização de si, contra o caos interno. Também pode acontecer que o sujeito fuja da representação através de respostas impessoais ou a manifeste através de uma resposta simbólica.
Identidade e representação de si Adaptação à realidade Banalidades: G – ave; morcego; borboleta
Exemplos:
Borboleta com asas esfarrapadas desfragmentação ou alteração da integridade física do objecto (limites e contornos mal definidos);
Cartão VI Do ponto de vista simbólico, é uma prancha muita saturada em factores com implicações sexuais e/ou enérgicas-dinâmicas. Mas nesta prancha, tal como na 4, o que está mais facilmente implicado na análise do estímulo é muito mais a dimensão fálica, do que a representação do corpo feminino. Esta prancha reenvia o sujeito para a problemática sexual: angústia predominante na neurose:
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angústia de castração; estados limite: angústia de perda do objecto; psicose: angústia de fragmentação. A recusa da interpretação dos cortes é sinal de problemas sexuais. A reacção emocional é frequentemente negativa, ao ponto de não ser invulgar que este cartão seja recusado. Isto acontece devido ao significado simbólico desta prancha. Face ao impacto provocado por esta mancha, pode haver respostas adaptativas, sendo a mais comum “pele de animal”.
Cartão bissexuado: parte superior masculina (pénis); parte inferior feminina (vagina) Banalidades: G ou D inferior – pele de animal
Exemplos:
Totem índio espetado no cimo de uma montanha imagem de pujança; Totem índio caído no chão sem pujança; Pele de animal sem rabo castração; Um foguetão a subir actividade
Cartão VIII As reacções a este estímulo são variadas, podendo o sujeito percepcionar a figura, o fundo, ou os dois. Quanto ao valor simbólico, trata-se de uma prancha feminina, materna, onde o sujeito é confrontado com a sua primeira relação; o vazio central é vivenciado como colo materno. Pode encontrar-se dois tipos de resposta: Securizantes – encontram-se sentimentos de vivência, de segurança, com cinestesias femininas. O não aparecimento destas cinestesias, supõe uma perturbação das relações mãe/filho. A, H e obj. Ameaçadoras ou abandónicas – quando estas imagens são percepcionadas de uma forma negativa, surge a vivência de abandono, reflectindo a patologia da vinculação.
Questões materno/feminino Relação com sexo feminino em função da relação com a mãe Banalidades: não há Página | 56
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Exemplos:
Objectos de peluche resposta de regressão;
Cartão VIII Os D rosas laterais são as partes da prancha mais interpretadas e é aqui que aparecem as respostas banais “mamíferos”, que são determinadas quase sempre pela forma. Estes detalhes estão muito próximo da realidade e isso permite ao sujeito evitar a integração da cor, ou seja, evitar lidar com os afectos. A reacção emocional é geralmente positiva, mas a introdução da cor pode ser perturbadora para o sujeito, daí que, a tonalidade emocional também possa ser negativa. Neste caso as cores remetem para imagens do interior do corpo através de anatomias, mesmo que sejam intelectualizadas; se não for esse o caso temos imagens de corpos devorados, danificados, destruídos. As cores também podem ser utilizadas com o branco no seu carácter esbatido. Uma resposta típica é “mármore” ou “pôr do sol no gelo”. Quando não é vista a resposta animal, vulgar, tem-se um problema análogo ao da prancha 5 (sinal de debilidade patológica da ligação do sujeito à realidade). Também são significativos os graus de agressividade atribuídos aos animais, ou à sua desvitalização sob a forma de emblema.
Relação com o mundo exterior; afectividade; emoções Cor comunicação; troca Banalidades: D rosa laterais – animais (excepto peixes e pássaros)
Cartão IX Este cartão apela à regressão e nem todos os indivíduos se podem permitir tal coisa. Tem um grande impacto emocional no sujeito e não há resposta banal para este cartão. A solicitação para esta regressão traduz-se numa sequência de imagens de conteúdos naturais, frequentemente ligadas ao meio aquático, que tem a ver com a imagem materna. Esta prancha remete para uma simbologia pré-genital, ou seja, uma temática ligada ao nascimento e nem todos os indivíduos têm muita facilidade em lidar com esta simbólica, pelo que muitas vezes o que aparecem são fantasias pré-genitais ligadas à gravidez/parto. Página | 57
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Ano Lectivo 2010/2011 É uma prancha frequentemente recusada, e, certamente, a mais difícil. Os sujeitos têm dificuldade em interpretá-la. Os sujeitos que gostam desta prancha apresentam respostas de cor elaboradas, isto porque vêem, na relação afectiva com o ambiente social, uma estimulação fecunda e propícia.
Questões regressivas Cartão uterino Banalidades: D rosa – cabeça de bebé ou de homem
Cartão X Dadas as suas características de dispersão, remete o sujeito para fantasmas de fragmentação. Solicita o indivíduo para essa angústia de fragmentação, testa os limites. Se o sujeito é sensível a esta problemática, tem dificuldade em unir, tornando-se mais fácil detalhar a mancha sem sentir incómodo com isso. Através do mecanismo de isolamento, o sujeito pode apreender e interpretar imagens numa perspectiva mais agressiva, entre animais, ou entre animais e pessoas. Estimula quase sempre respostas em D. Uma resposta G revela uma capacidade intelectual organizadora de alto nível (G secundária). Há sujeitos que se perturbam com a prancha, devido à cor (reagindo, nesse caso, como às pranchas já interpretadas), ou devido à extrema dispersão das manchas (sentindo verdadeiro choque ao despedaçamento).
Cartão de transferência Festa ou fragmentação Banalidades: Página | 58
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D azul lateral – caranguejo; polvo; aranha D cinzento sup. – 2 animais D verde médio – cabeça de coelho
Exemplos:
Bocados de carne espalhados no chão; guisado de carne fragmentação Torre Eiffel, jardins, fogo de artifício imagem de festa;
Resumo
A situação projectiva – Rorschach
Portanto, na situação Rorschach, o testador não é totalmente neutro, é uma pessoa intrusiva, portadora de uma identidade e de uma problemática. Existe uma dinâmica interpessoal com aspectos transferenciais, baseada na intersubjectividade. A relação é mediatizada pelo teste, é a superfície projectiva que espelha a relação testador-testado sendo importante que ocorra a transferência e a contratransferência. Ambos os modelos são extremados: a verdadeira objectividade não existe, muito menos em ciências humanas; a subjectividade baseada unicamente na interpretação corre o risco de haver projecção da parte do testador (quanto menos se percebe mais se interpreta; é mais honesto admitir que não percebemos um caso do que tentar à força interpretar). A interpretação do Rorschach comporta coerência e convergência entre teoria, métodos e técnicas. O conhecimento só é possível e rigoroso se se apoiar no prévio ordenamento metodológico. É necessário ter em atenção que quantificar não é explicar - O conhecimento é também estabelecido a partir da descrição, compreensão e interpretação. Interpretar é criar novos sentidos, dar sentido aos sentidos; pode ser quase infinita (não é totalmente infinita porque nos sustentamos em modelos teóricos e nos factos em si).
A Instrução: Apelo conflitual entre percepção e interpretação; Apelo às transformações: “criar um novo objecto e comunica-lo ao psicólogo.
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A instrução deve ser adequada ao sujeito e deve ser introduzida na relação. Rorschach considera que as instruções devem ser curtas, o que vai cumprir o objectivo das técnicas projectivas, ou seja, estimula o sujeito de forma adequada – cria um espaço de liberdade no sujeito, onde estão presentes os dois objectivos principais das técnicas projectivas; a instrução será: “O que é que se poderia ver aqui?” ou “O que e que isto poderia ser?”. Outros psicólogos, como por exemplo Chebert, consideram que a instrução a dar deverá ser diferente, contendo objectivos mais explícitos: “Vou mostrar-lhe 10 cartões e peço-lhe que me diga tudo o que eles lhe fazem pensar e tudo o que se pode imaginar a partir de cada um deles”. É importante reter todas que as indicações devem ser projectivas. formuladas como um pedido, assim abre-se um espaço deque liberdade é a base das técnicas
A Tarefa: Criar uma imagem pela interpretação; Transpor para palavras – símbolos; Comunicação dirigida ao outro (psicólogo).
Consiste na criação de uma interacção através da interpretação (captação da imagem). Depois tem de se transpor por palavras (designar) – símbolo (qualquer objecto remete para qualquer coisa no plano simbólico, isso é um símbolo e um sentido contido na própria imagem) masculino ou feminino regressivo ou….etc. A comunicação dirigida ao outro (psicólogo) – noção de intersubjectividade (o que eu acho e o que o outro acha que quer que eu ache)
O material: 10 diferentes manchas de tinta, com dimensões formais, estruturais e sensoriais
especificas; Manchas de tinta (figuração) que se destacam sobre um fundo branco, organizadas a
partir de um eixo central – simetria. Estrutura, cores e tonalidades (pólo perceptivo), com possibilidades de lhes serem
atribuídos diversas valências (pólo projectivo) – por exemplo: movimento. Os 10 cartões tomados nas suas particularidades perceptivas e estruturais apelam a
determinadas dimensões simbólicas. Compactos e aligeirados
Unitários e bilaterais Fechados e abertos Os 10 cartões tomados nas suas particularidades sensoriais mobilizam os afectos: Negro, cinzento – polaridade depressiva Branco – polaridade narcísica Vermelho – libido e agressividade Pastel – afectos maculados Representação de si e representação da relação Identidade e identificação Página | 60
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Masculino – Feminino; Paterno – Materno.
É considerado um estímulo ambíguo, pelo que se designa por técnicas de manchas. Cada um dos cartões remete para um conteúdo latente, cada um deles tem um determinado valor simbólico (apesar de serem claramente ambíguos). Os cartões são diferentes do ponto de vista cromático, as cores ligam-se aos afectos (exemplo: o vermelho refere-se a afectos brutos como amor e ódio; liga-se a angústias da castração e da destruição); e também o são estruturalmente, pela articulação das diferentes perceptivas, que seenquanto reflecte em determinado valor simbólico (exemplo:características o cartão 4 e fechado compacto, o cartão 7é aberto, suave, curvo...). A percepção serve para que o sujeito se refira ao seu mundo interno, se projecte.
Elementos constitutivos: A inter-acção (factores conscientes e inconscientes; o real e o imaginário). O material Rorschach (10 cartões com manchas de tinta diversa, estruturadas e
ambíguas). A interpretação das manchas (as respostas cartão a cartão, o protocolo). A interpretação do protocolo (cotação, agrupamento dos dados e traços salientes,
análise e interpretação).
O protocolo:
As respostas e a organização do protocolo (substantivos, nomes, símbolos);
São tratados enquanto tal para entendermos a representação simbólica a que ele acedeu. Há uma ligação entre mundo interno e externo. A cotação das respostas realizada em 4 colunas (codificação a partir dos elementos perceptivos e “projectivos”); A imagem passa a símbolo e passa a ser reveladora. Passa a dar a conhecer o que se passa no interior do sujeito. A situação Rorschach é catastrófica em si e é organizada pelo indivíduo num símbolo que depois vai ser interpretado. 1. Modos de Apreensão (onde se localiza a resposta). – lugar onde o sujeito vai perceber o símbolo, o nome, o substantivo, etc. 2. Determinantes (modos expressivos, o que determina a resposta). 3. Conteúdos (o quê, as categorias dos “objectos” designados”)
Carácter banal ou srcinal das respostas. O psicograma 4. (agrupamento dos dados e índices) Os traços salientes (factores que se destacam na relação com os os elementos normativos. Baseamo-nos na psicopatologia – neurótico, psicótico, border,etc)
Cotação do protocolo: Codificação e respectivos valores interpretativos 1ª Coluna: modos de apreensão
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O destacar a figura sobre o fundo, todo ou em parte (G, D, Dd) – diferenciação,
individuação, delimitação dentro/fora e investimento no real. A relação figura/fundo “alterada” (Dbl) – a relação com o branco vivido como falta
versus narcisismo. Os cartões II, VII e IX, são favoráveis a esta situação embora possa surgir noutros cartões (ex: “é uma máscara mas falta-lhe o buraco dos olhos”). Centrase no branco com coisas que estando em falta estão lá e que ele pode preencher com valor pulsional intenso. A restrição perceptiva e de conteúdo (Do) – a inibição da representação de si. As combinações perceptivas (do organizado ao sincrético – confabulado, contaminado e informulado) – do perceptivo e projectivo estruturado e criativo ao de estruturado e patológico. umabanal parteeda mancha interpretando o todo (cartão IV – O o sujeito monstrointerpreta deixa de ser passa a ser não os pés do monstro). Passa a ser uma representação do imago materna.
As combinações perceptivas (do organizado e o sincrético – confabulado (DG); contaminado (D/G) e informulado (D (G)) – do perceptivo e projectivo estruturado e criativo ao desestruturado e patológico. Podem-se combinar dando conta de uma carácter mais organizado e harmonioso, mais normativo (g simples e elaborados) dão-nos conta de um carácter mais desorganizado e patológico (G sincréticos).
G sincrético – há ausência de discriminação do mundo interno e externo, dificuldade na individuação e identidade do sujeito.
G contafabulados – generalização abusiva a partir de uma parte da mancha. O sujeito na realidade a partir do momento em que vê uma pequena coisa faz uma interpretação abusiva do que está a ver. (ex: um sujeito mais psicótico - “como vejo as pinças é uma lagosta”)
G contaminados – combinação ou sobreposição de duas imagens. Há contaminação de uma sobreposição. Dá conta de patologia border em que não há noção de onde começam e acabam as coisas, isto é, dos limites.
G informulados - Quando é feita referência aos vários elementos não chegando a ser dado o todo. Dá conta de patologias mais narcísicas e border que reflectem falhas que não são vistas na sua realidade.
2ª Coluna: modos de expressão ou determinantes
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A relação com o real objectivo (F) – reconhecimento emprobrecedor ou criativo,
conhecimento e temores. O recurso ao imaginário (Ks) – da projecção da imagem corporal e do relacional,
directo ou deslocado, ao pulsional directo e interpretativo. O sensorial (C e C’) - da pulsão à representação; afectos mobilizáveis e sua qualidade
(dos afectos brutos aos modelados; a carência). Sensibilidades sensoriais específicas (E e Clob) – sensibilidade, susceptibilidade da
representação de si, da fragilidade ao temor.
Nota importante: a relação dos Ks, dos C, das E, dos Clob e F
Os K apresentam um valor positivo ou negativo, como se sobrepusessem aos F. no jogo que ´r feito no pólo cinestésico é importante ver a forma como o sujeito se representa na relação e como isso se passa ao nível dos afectos. F+, F-, F± em relação ao que é mais visualmente fácil de ser percebido, organizados no psicograma em F% e F+% que dão conta dos valores da sociabilidade. É preciso ter em conta que mesmo dando muitos F- o sujeito pode ter uma riqueza a nível do dinamismo mental e isto pode ser determinante. A passagem das grandes para as pequenas cinestesias dão conta da passagem por figuras animais. Na criança pode ser um deslocamento devido a fobias. Nos adultos há que ter em conta o momento do desenvolvimento em que se encontra que dá conta do pulsional e do sexual. Dão conta dos afectos brutos modelados e da cadência. Dão conta dos aspectos pulsionais do dinamismo. Sensibilidades sensoriais especificas (E, Clob) – sensibilidade, susceptibilidade da representação de Si; da fragilidade ao temor (pode estar presente no esbatimento mas pode estar presente nas respostas Clob que dão conta de tonalidades mais disfóricas; respostas em choque dão conta dessa disforia). Aquilo que se joga nas estompagens prende-se com carências (textura), difusão (falhas no desenvolvimento) e esbatimento (falhas narcísicas)
3ª Coluna: conteúdos e temáticas
Categorias referenciais principais (A e H, inteiros ou parciais) – representação de si e
da relação.
É preferível que os indivíduos dêem referências a animais e pessoas em conteúdos mais regressivos. Nos adultos os conteúdos humanos são mais usuais mas podem fazer deslocamentos para animais. O deslocamento é melhor se é mais unitário, mais íntegro, mais Página | 63
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neurótico ou mais parcelar (psicótico). Os Border podem apresentar deslocamentos para animais e pode ter a ver com os limites.
Outras categorias referenciais – as temáticas e sua descodificação simbólica (fases do
desenvolvimento libidinal – oral, anal, fálico, genital).
É importante ter em conta as fases do desenvolvimento libidinal em que o indivíduo se encontra.
4ª Coluna: Ban e Orig Do reconhecimento e inscrição no real às particularidades criativas ao patológico dessa
inscrição e reconhecimento de si no mundo.
O psicograma
Lugar onde vão estar reunidos todos os elementos da cotação. Permite que o sujeito seja comparado com uma população mais normativa. É feita uma comparação com a população psicótica, neurótica, border, etc. assim, a leitura não é feita apenas pela psicopatologia mas também pela norma.
Agrupamento em função das colunas, relação dos elementos cotados com o conjunto
do protocolo (%) e respectiva relação com valores normativos. Os índices estruturais (TRI, FC e RC%) – intratensivo/intratensividade (Ks) e
extratensiva/extratensividade (C e E). Os elementos qualitativos da cotação (particularidades de reacção: dos choques aos
comentários).
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No TAT, ao contrário do Rch, não vemos o conflito mas antes o mecanismo de defesa.
O que interessa é a forma de contar e não os conteúdos
Método por norma são escolhidos 10 a 13 cartões (1,2,6,7,9,16 - obrigatórios)
Conteúdo latente
Cartão 1
CM: rapaz com a cabeça entre as mãos, olhando violino diante dele
CL: Identificação com um indivíduo jovem numa situação imaturidade funcional, confrontado com um de objecto de adulto, cujas significações simbólicas são transparentes.
Questão: Em que medida esta criança, cuja imaturidade funcional deve ser reconhecida, pode ser representada como capaz de utilizar o seu instrumento? Objecto
e criança percebidos na sua integridade O sujeito é capaz de se situar
inteiro perante um objecto inteiro; Rapaz
é incapaz, no tempo presente, de se servir do objecto, mas a impotência será
ultrapassada no futuro Reconhecimento da angústia de castração (em termos posse e de desejo), ou seja, reconhecimento da imaturidade actual da criança e possibilidade de se distanciar; o objecto violino pode ser investido como objecto de desejo suficientemente investido; A
negação da imaturidade funcional e da impotência actual da criança problemática
narcísica e luta anti-depressiva dominantes; evitamento da angústia da castração na afirmação de numa posição de omnipotência;
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Métodos de Avaliação II Rapaz
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é incapaz, nunca vai conseguir insuficiência do investimento em si: surgem
afectos depressivos.
Cartão 2
CM: cena campestre com uma rapariga que segura livros (1º plano), homem com um cavalo e uma mulher encostada a uma árvore, que pode ser percebida como grávida (2º plano). Diferença de gerações não é evidente, mas diferença dos sexos é clara.
CL: A relação triangular figurada é susceptível de reactivar o conflito edipiano.
Efectiva
diferenciação entre as personagens (podem estar munidas de qualquer coisa
que que pode ter um valor simbólico associado) identidade estável; Relação
dual entre casal e rapariga dependente ou por anulação de uma personagem
conflito numa relação dual;
Pseudo-triangulação
por telescopagem de papéis ou por clivagem entre o bom e o
mau objecto que se substitui à diferença de sexos processos identitários pouco estáveis; Reconhecimento
do laço que une o casal e rapariga portadora de desejos libidinais em
relação ao homem e movimentos agressivos em relação à mulher conflito edipiano, movimento pulsional (desejo libidinal pelo pai; rivalidade com a mãe); Atracção
pelo sexo oposto e rivalidade com personagem mesmo sexo marca o peso
dos interditos ligados ao incesto; Revivência
de uma problemática de perda problemática narcísica ou anti-depressiva
predominam; Laços
entre as personagens massivamente atacados nos contextos psicóticos, pode
ser associado a fantasmas da cena primitiva, destrutivos e mortíferos.
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Cartão 3BM
CM: indivíduo cujo sexo e idade são indeterminados, caído junto de uma banqueta; no canto esquerdo encontra-se pequeno objecto difícil de identificar; se a problemática à qual o cartão remete for bem percebida, o não ver o objecto não é escotomia (não ver de forma intencional?) de objecto.
CL: reenvia para a problemática da perda do objecto e põe questão da elaboração da posição depressiva (postura depressiva); põe à prova a representação narcísica de si próprio (deformação da personagem) e os processos identificatórios. Afectos
depressivos reconhecidos e associados a representação de perda do objecto
elaboração da posição depressiva; Recusa
do reconhecimento anterior defesa maior do tipo maníaco;
Cartão 4
CM: um casal, uma mulher junto de um homem que se afasta; diferença de sexos clara mas não diferença de gerações.
CL: remete para o conflito pulsional no seio de uma relação heterosexual (movimentos de agressividade e/ou libido); existe uma maior representação do dualismo pulsional. Encontra-se com muita frequência instabilidade nas identificações, o que se traduz pelas tomadas de posições alternativas masculinas ou femininas: por vezes é o homem que é percebido como potente e forte e a mulher frágil e dependente ou é uma mulher dominadora e castradora que se confronta com um homem fraco e submisso. É importante que haja uma ligação possível entre a libido e a agressividade.
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O investimento e a presença de uma terceira personagem podem acentuar o impacto edipiano da fantasmática. O cartão é estruturado no sentido do Édipo positivo: o homem e a mulher amam-se e o homem deseja ir bater-se com o seu rival para guardar aquela que ama. A valência feminina da problemática edipiana está também presente: ao alto à esquerda, num pormenor pouco figurado, há uma personagem feminina, muitas vezes percebida como parcialmente desnudada, que reactiva a rivalidade das duas mulheres pelo homem. O movimento de saída pelo homem pode ser, então, interpretado como significativo do desejo de encontrar esta outra mulher.
Cartão 5
CM: mulher de meia-idade, com a mão na maçaneta de uma porta, olha para o interior de uma sala; mulher está entre o dentro (interior da sala com mesa, ramo de flores, candeeiro sobre a mesa e espécie de aparador com estante de livros) e o fora.
CL: imagem materna que penetra e olha, não pré-julga sobre o registo conflitual no qual o sujeito se vai situar, pois as modalidade de relação à imagem materna são múltiplas.
A mãe que vem surpreender uma cena transgressiva (o cartão reactiva a curiosidade sexual e os fantasmas da cena primitiva e a culpabilidade ligada à masturbação) instância superegóica
Imagem materna sedutora: mulher que mostra a perna nua por entre a racha da saia fantasmas incestuosos ligados
No registo de uma problemática edipiana relativamente elaborada, diferenciam-se os conflitos expressos em termos de agressividade e de interditos, de desejo e culpabilidade, daqueles que remetem para uma cena de sedução reactivada no aqui e agora da aplicação. Num registo mais arcaico, em que não há suficiente interiorização do Superego, pode haver referência a uma imago materna que penetra e olha de um modo persecutório. O olhar da mulher não será então integrado num sistema conflitual interno e as moções pulsionais agressivas, projectadas sobre a personagem figurada, arrastarão uma irrupção de representações maciças e uma deformação do material (“ela tem um olhar rancoroso”).
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Cartão 6BM
CM: um casal, um homem visto de frente, com um ar preocupado, e uma mulher idosa que olha para algures; cartão estruturado pela diferença de sexos e gerações (clara).
CL: Remete para a proximidade mãe-filho num contexto de mal-estar. A diferença de gerações reenvia para o interdito da aproximação edipiana, dado que a mulher tem as costas viradas para o jovem: ”o rapaz deve deixar a mãe”.
Reconhecimento
dos
afectos
e
tristeza tema de luto, luto do pai com muita frequência, podendo esta evocação ser sustentada por um fantasma de parricídio.
Interdito: a diferença de gerações é acentuada, a mulher afasta-se do homem e vem
inscrever-se na proximidade mãe e filho uma representação de perda de objecto. Quando a problemática edipiana é suficientemente estruturante, a evocação de morte não engendra uma desorganização. É a tristeza do luto que eles partilham que aproxima os dois parceiros.
Num registo mais arcaico de relação com a imagem materna, podem observar-se fantasmas de realização incestuosa que se traduzem pela ausência da percepção da diferença de geração, por estados de grande excitação ou de desorganização parcial através de temas de destruição ou de morte que dão conta do perigo de aproximação mãe-filho.
Cartão 6GF
CM: Representa um casal heterossexual. Uma jovem sentada no primeiro plano volta-se para um homem que se inclina para ela e que tem um cachimbo na boca (não há diferença de gerações e postura das duas personagens; há um movimento
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de encontro entre o homem e a mulher).
CL: Remete para um fantasma de sedução. Põe à prova a capacidade de integrar a identificação feminina no seio de uma relação de desejo. Quando a problemática narcísica domina, há um sobreinvestimento do corpo, do ar ou da postura das personagens, a sua idealização ou, pelo contrário, a sua depreciação sem verdadeira possibilidade de elaboração do conflito pulsional.
Cartão 7BM
CM: Representa duas cabeças de homens, lado a lado. Um, “velho”, está virado para o “jovem” que está amuado. Diferença de gerações marcada, mas não há noção de imaturidade funcional.
CL: Reenvia para a proximidade pai-filho num contexto de reticência do filho. O conflito deverá desenvolver-se em termos de ternura e oposição. A energia pulsional é mobilizada tanto no seio de movimentos agressivos como libidinais (a agressividade e a rivalidade predominam quase sempre).
Quando uma proximidade mais terna é evocada remete só para a erotização da relação e pode testemunhar um apoio possível num “bom pai”, o que revela a resolução do conflito edipiano e do acesso à ambivalência
Por vezes, a ambivalência é difícil de elaborar: ou o confronto conflitual é evitado pelo recurso a uma relação especular (problemática narcísica dominante) ou então desencadeia o surgimento de fantasmas destrutivos.
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Cartão 7GF
CM: É uma mulher com um livro na mão, inclinada para uma menina com expressão sonhadora, que segura um boneco nos braços. Diferença de gerações é acentuada pela presença da boneca. A imaturidade funcional caracteriza a posição da menina.
CL: Reactiva a problemática das relações mãefilha em duas dimensões: rivalidade e identificação; interacções precoces mãe-filha.
Contexto edipiano a imagem pode
dar srcem a temas de iniciação e da identificação feminina. A mãe é portadora de desejo e a filha volta-lhe as costas. Trata-se de um cenário clássico entre o desejo de saber e a defesa contra esse desejo. Interessa aqui a qualidade dos laços “mãe-filha”, que se traduz pela forma como o boneco é agarrado pela criança. A reactivação das relações precoces mãe-filha arrasta movimentos de projecção e deslocamento sobre a relação “menina-boneco”. Está em jogo a capacidade de representar uma “mãe suficientemente boa”.
Cartão 8BM
CM: No primeiro plano está um rapaz adolescente, sozinho, com uma espingarda ao lado, de costas voltadas para a cena do segundo plano.
CL: Reactiva as representações susceptíveis de serem relacionadas com a angústia de castração e/ou agressividade para com a imagem paterna. A personagem central possui, simultaneamente, atributos da infância e da idade adulta: o rapaz parece muito jovem mas está vestido como um homem, o que pode ser compreendido como uma condensação das identificações na adolescência. Página | 72
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No registo dos processos identificatórios:
Tema de acidente de caça opta por uma posição activa (utilizar a espingarda é, de facto, numa talvez demasiado breve síntese, mostrar-se capaz de tomar o lugar do pai por identificação) ou por uma posição passiva, homossexual, figurada pela posição do homem estendido.
Cena da operação condensa os desejos parricidas e os fantasmas de castração que os engendram, no seio de uma culpabilidade edipiana. Pode ser também interpretada como cena de sedução homossexual (fantasma de penetração).
Num contexto edipiano, é o desejo de tomar o lugar do pai, e o desejo concomitante de o matar, que domina a cena. Aparece a ambivalência que é fortemente solicitada na relação com a imagem paterna: o manejo da agressividade e da libido, ligação possível do amor e do ódio.
Cartão 9GF
CM: Duas personagens do mesmo sexo e da mesma geração. No primeiro plano, uma jovem, por trás uma árvore, com objectos na mão, olha. No segundo plano, uma outra jovem corre, mais abaixo. Como pano de fundo, uma paisagem muitas vezes identificada como uma paisagem marítima.
CL: Solicita fortemente uma problemática identitária, pela confusão das personagens e a telescopagem de papéis (indicadora de perturbações ao nível da identidade). A questão da identificação sexual que é posta em causa Num contexto edipiano, a problemática reenvia para a rivalidade entre duas mulheres, com introdução de uma personagem que não figura na imagem, “um jovem” (há uma rivalidade pelo amor do rapaz). Contudo, a relação de rivalidade entre duas mulheres remete para a rivalidade da filha com a sua mãe, o que arrasta uma modificação do conteúdo manifesto do material pela introdução de uma diferença de gerações. A mãe torna-se o representante superegóico dos interditos.
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Outra dimensão reenvia para a ambivalência na relação mãe-criança, não como objecto persecutório mas como um objecto que sustém. O olhar desempenha, então, um papel de suporte e de apoio em relação à segunda personagem que corre. O confronto com a relação entre as duas mulheres arrasta emergências agressivas facilitadas pelo material e susceptíveis de introduzir problemáticas mais arcaicas. A paisagem marítima pode reactivar fantasmas de relações arcaicas perigosas ou até mortíferas temas de destruição e de morte (afogamento; tempestade).
Cartão 10
CM: proximidade de um casal; Não há diferenciação de gerações; cartão vago e sombrio; contrastes negro/branco
CL: Reenvia para a proximidade e expressão libidinal num casal. As partes do rosto na sombra não podem ser reconstruídas e integradas numa representação completa por sujeitos que sofrem de angústia de fragmentação ou de desintegração. A ausência de uma figuração interna de um objecto total, torna possível a sua reconstrução a partir de um estímulo parcial. A problemática pode remeter para uma aproximação libidinal numa relação heterossexual, onde pode haver reconhecimento da ligação sexual entre os dois parceiros ou defesas para lutar contra essa representação. O conflito pode aparecer na evocação da curiosidade sexual, sustentada por fantasmas da cena primitiva ou ligada às relações do casal parental. Quando o conflito edipiano não é estruturante, pode observar-se uma reactivação de fantasmas incestuosos, que se traduzem pela evocação de uma aproximação entre pai e filho. Num contexto de problemática narcísica, a diferença de sexos não é tida em conta e dá lugar a relações especulares: relação homossexual, busca de uma imagem de si ideal, negação da diferença. Podem também encontrar-se relações de suporte que evacuam para a dimensão sexual da proximidade e na qual o outro é investido como apoio indispensável.
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No caso das problemáticas psicóticas, há uma incapacidade do sujeito em distinguir personagens na sua integridade corporal. As qualidades particulares de sombra e de luz favorecem a confusão e a telescopagem dos papéis nos sujeitos com identidade frágil.
Cartão 11
CM É uma paisagem caótica, com vivos contrastes de :sombras e de claridade na vertical. Alguns elementos mais estruturados como uma ponte, estrada, pormenor à esquerda (dragão ou serpente, etc.) permitem uma reorganização do material
CL: O não reconhecimento da angústia constitui um índice patológico. Evoca o combate contra a natureza, representada nos seus aspectos perigosos, o que remete para a evocação das relações com a mãe natureza, isto é, com a mãe arcaica. O cartão reactiva materiais psíquicos de ordem pré-genital, pelo que se espera encontrar relatos de fantasmas arcaicos. Põe à prova a capacidade do sujeito elaborar a angústia prégenital. Interessa perceber a capacidade do sujeito “mergulhar no material regressivo”, compor esse material, emergir e construir uma paisagem relativamente organizada apegandose apenas aos elementos mais estruturantes do material manifesto. Funcionamento neurótico: o deslocamento, a condensação e a simbolização permitem a construção de um relato que se assemelha ao relato do sonho.
Cartão 13B
CM: É um rapazinho sentado na ombreira de uma porta, na soleira de uma cabana de tábuas separadas, figurando num vivo contraste de luz no exterior e de sombra no interior.
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CL: Reenvia para a solidão num contexto de precaridade do simbolismo materno figurada pela casa feita de tábuas desunidas. É preciso perceber se o sujeito é capaz de subsistir na ausência do objecto e se pode elaborar a posição depressiva. Sendo que esta imagem reactiva angústias de separação e de perda de objecto, espera-se que os afectos depressivos surjam associados a representações de perda. Por vezes surgem defesas maníacas através de relatos organizados à volta da luta antidepressiva. Num contexto de relações arcaicas com a imagem materna, a precaridade do simbolismo materno (tábuas mal justapostas) serve de suporte para a projecção de uma imagem materna enfraquecida ou deteriorada, acompanhada ou não por mecanismos de reparação. Quando os desejos de reparação não são mobilizados, podem surgir fantasmas persecutórios ou destrutivos.
Cartão 13MF
CM: No primeiro plano está um homem de pé com o braço diante do rosto. No segundo plano, está uma mulher deitada, com o peito desnudado.
CL: Remete para a expressão da sexualidade e agressividade no casal. Interessa perceber em que medida a dimensão passional da relação heterossexual é percebida e pode ser traduzida através de um cenário “legível”. A sexualidade aparece na evocação da ligação do casal e a agressividade surge na eventual evocação de um crime passional. Os temas de culpabilidade e remorso, relacionados com a expressão da sexualidade e da agressividade, mostram a oscilação entre o desejo, a libertação pulsional e a defesa em termos de interdito e de culpabilidade. São aqui postas à prova as capacidades de ligação dos movimentos pulsionais agressivos pelos movimentos libidinais.
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Cartão 19
CM: Paisagem com uma casa sob a neve, ou uma cena marítima com um barco na tempestade, rodeados de formas espectrais e vagas. Os contornos entre o negro e o branco permitem uma delimitação psíquica entre dentro e fora.
CL: Tanto o mar como a neve são referências à natureza que remetem para a imago materna. Reactiva uma problemática pré-genital na evocação de um continente e de um meio, que permitem a projecção do bom e do mau objecto. Incita ainda à regressão e à evocação de fantasmas fobogénicos. Pretende-se aqui perceber se o sujeito é capaz de organizar a separação entre o dentro e o fora e evocar um continente e um meio que permitam a projecção do bom e do mau objecto. Se ele consegue evocar as experiências positivas e negativas e assegurar a clivagem entre o bom e o mau objecto: guardar o bom no interior e expulsar o mau para o exterior. Os limites não são fiáveis, as representações de relações põem a tónica na intrusão, no persecutório, na destruição, na morte funcionamento arcaico. Põem-se aqui à prova as capacidades de delimitação entre dentro e fora, pela introjecção do bom objecto e expulsão do mau objecto (Freud, 1925).
Cartão 16
CL: Reenvia para a forma como o sujeito estrutura os seus objectos privilegiados e às relações que com eles estabelece. A sua dimensão transferencial é intensificada uma vez que o material não é figurativo e se trata do último cartão a ser proposto. Este cartão é muito importante devido às dificuldades em o interpretar e à variedade de solicitações que implica.
Codificação
Lógica: Recurso ao real, eu/outro, conflito?
É necessário inscrever as narrativas nos vários tipos de funcionamento psíquico:
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Neurótico (séries A/B) Recalcamento Border-line (série C) Clivagem Psicótico (série E) Projecção e Recusa da Realidade
As organizações defensivas dão-nos o funcionamento psíquico
Série A – Processos rígidos intra-psíquicos (na esfera do pensamento)
Referência à realidade externa
Investimento na realidade externa
Procedimento do tipo obsessivo estilo muito colado ao real
Série B – Processos lábeis inter-psíquicos (na esfera da acção)
Investimento da relação
Dramatização
Procedimento do tipo histérico lógica muito centrada no apego ao real externo
Conflito intra-psíquico (vai e vem para evitar o conflito) afectos
Série C – Organização defensiva sustentada na idealização, identificação projectiva e clivagem (aconflitual)
Particularidade do investimento da realidade externa como compensação de um interno pouco seguro, instável, frágil (o que o distingue de A) não há tensão entre o interno e o externo, fica cristalizado
Particularidade do investimento do outro da escotomia ao duplo O outro ou é inexistente ou idealizado
Problema central os limites da pele
Série E – Organização defensiva sustentada em mecanismos primários Projecção e Recusa da Realidade
Alteração da percepção alteração dos corpos; fragmentação
Massividade da projecção distorção na captação do real
Desorganização das referências identitárias e objectais confusões entre personagens
Alteração do discurso
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O outro ou é inexistente ou idealizado
Série A – remete para mecanismos de defesa neuróticos, mais normativos Conflitualização intrapessoal (conflito entre as instâncias)
Organização psíquica elaborada dominada pelo conflito que está a cargo do pensamento portador do desejo e da defesa
Série A1 – estratégias de controlo que servem para organizar o discurso do sujeito
A11 História construída próxima do tema banal - O que é significativo é não conseguir articular o conteúdo latente com o manifesto. O sujeito mantém-se bem distante das solicitações latentes do cartão, das representações e afectos que podem ser suscitados, ficando muitas vezes confinado ao socialmente permitido e ao senso comum. NOTA: quando não há elaboração, ressonância fantasmática série C
Cartão 2 vejo uma família e vejo uma rapariga que não se enquadra no modo de vida desta família
A12 Recurso a referências literárias, culturais, ao sonho – os conteúdos manifesto e latente são ligados através destes recursos o que lhe permite tratar o conflito e encontrar uma solução.
Cartão 3BM é um miúdo que foi mal tratado pelos pais, como não pensar no Charles Dikens…
A13 Integração de refª sociais e do senso comum – o conflito é abordado ao abrigo de estereótipos sociais; encontra uma solução para o conflito apelando ao senso comum.
Cartão 1 é um domingo à tarde, o menino está em casa porque foi obrigado pelo pai a estudar uma pauta musical, mas ele queria ir brincar. Ele está aborrecido mas quanto mais depressa ele estudar, mais depressa vai brincar.
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Série A2 – mecanismos que procuram repor o equilíbrio após a emergência da angústia. NOTA: se as normas de controlo são muito ligadas ao quotidiano, pormenor ou rotina (mais factuais) estamos na série F/Fa.
A21 Descrição com apego aos pormenores, incluindo expressões e posturas – a descrição material com base nos pormenorese em Dd que testemunham um compromisso entre adodefesa e a faz-se emergência de representações afectos.
Cartão 1 é um menino que foi obrigado q estudar violino, ele está com os braços em cima da mesa, com as mãos apoiadas na cara, a olhar para o violino e para a partitura.
A22 Justificação das interpretações através dos pormenores – os pormenores banais são usados para racionalizar ou recusar uma interpretação.
Cartão 1 é um menino, apoiado com os braços em cima da mesa a olhar para o seu violino com um olhar triste.
NOTA: Estes 2 procedimentos marcam o investimento no quadro perceptivo e atenção no pormenor indica o isolamento dos afectos ligados ao conflito pulsional.
A23 Precauções verbais – a utilização de expressões como talvez, diríamos que, tenho a impressão, etc., são uma forma de não comprometimento numa afirmação directa. Pode resultar da dificuldade em exprimir o conflito.
A24 Afastamento temporo-espacial – não se trata do desenvolvimento da acção no futuro; permite a organização do conflito.
Cartão 3BM é um condenado à morte, um homem que vai morrer dentro de meia hora… isto passou-se há dez anos atrás, na guerra civil.
A25 Precisões numéricas – dão maior precisão ao relato. Página | 80
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Cartão 2 é um homem que já lavrou 10 regos, uma rapariga com 24 anos que leva dois livros na mão.
A26 Hesitações entre interpretações diferentes – traduz a luta intrapsíquica.
Cartão 2 esta é a filha do proprietário que foi passar o fim de semana à quinta ou pode ser a fiilha dos caseiros que está farta de viver na quinta com os pais. A27 Vai e vem entre a expressão pulsional e a defesa – oscilação ou alternância que revelam tendência para a recusa, mastigação, formações reactivas e isolamento.
Cartão 8BM o rapaz foi à caça com o tio, estavam lá emboscados, ele era inexperiente, viu a moita onde o tio estava a mexer, pensava que era um coelho e deu um tiro ao tio. Este foi para o hospital, foi operado e já está livre de perigo, mas vieram dizer que lhe amputaram perna.
A28 Mastigação, ruminação – voltar continuamente aos mesmo elementos do tema sem que haja progresso no relato. Pode acompanhar o procedimento anterior
Cartão 4 é uma mulher a agarrar um homem, ele quer bater em alguém, um rival, mas ela agarra-o pelo braço. Como ela o está a segurar também pode ser porque descobriu que ele tem outra e não o quer deixar ir.
A29 Anulação – declara nulo e não surgido o conflito evocado (diferente do B27).
Cartão 3BM é um homem que está desesperado porque a mulher morreu num acidente. Afinal não é nada disto, é um homem que veio a uma festa onde se divertiu muito e agora está a descansar.
A210 Elementos de tipo formação reactiva (limpeza, ordem, etc) – Dá conta da reversão da pulsão no seu contrário (ajudar a opor-se a fazer mal).
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Cartão 9GF são duas raparigas que gostam do mesmo rapaz. Um dia… vê uma onda enorma a aproximar-se e sente-se no dever de a salvar.
A211 Denegação – o sujeito afirma negando; incide sobre representações e afectos, ou seja, sobre a realidade interna e não sobre a externa, como na recusa
Cartão 3BM é um Este homem desesperado que que soube a família morreu num acidente de automóvel. homem tem a certeza nãoagora se querque suicidar.
A212 Insistência no fictício – ao transformar a situação conflitual em cena de um filme, sonho ou pesadelo, distancia o conteúdo latente do cartão (diferente do A12 e do N8).
Cartão 8BM é um homem que vai a andar e é assassinado. Isto parece-me a mente de um jovem que anda a ler muitos policiais.
A213 Intelectualização – O sujeito procura dar uma formulação abstracta aos conflitos e emoções encenados como forma de evitamento.
Cartão 2 uma rapariga filha do proprietário da quinta, passeia a ver os camponeses. Podíamos dar a esta história o nome “a rapariga e o povo”.
A214 Alteração brusca de direcção no decurso da história – Depois de evocar o tema da solicitação latente do cartão, dá uma segunda interpretação sem relação com a precedente.
Cartão 8BM o rapaz está a imaginar a história que o pai lhe contava quando estava no ultramar. Um dia foi ferido quase de morte e foi operado. Também pode ser um rapaz que vai ser operado e está a antever a operação que lhe vão fazer ao apêndice.
A215 Isolamento de elementos ou personagens – nega ou ignora a relação entre os elementos e/ou personagens da imagem.
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Cartão 8BM isto são dois planos e um não tem nada a ver com o outro. No primeiro está um rapaz que é campeão de tiro ao alvo e que está a treinar. No segundo está um homem a ser esfaqueado.
A216 D ou Dd evocado e não integrado – pelo seu simbolismo.
Cartão é umahomem passear-se com uma mulher… Aqui atrás está uma mulher semi nua. Ele4continua passearacom a mulher.
A217 Acento nos conflitos intrapessoais – conflito em que não só se confrontam desejos contrários, mas em que estes se defrontam ao interdito.
Cartão 4 é um homem que passeia com a mulher, mas dentro da sua cabeça desenrola-se um confronto muito grande, o desejo de ir viver com uma mulher que conheceu há pouco tempo e o de continuar com a sua mulher.
A218 Afectos exprimidos à mínima – minimização ou ausência de afectos mesmo nas situações com uma carga afectiva importante (tema de fim, perda, destruição, etc.).
Cartão 3BM é um homem que perdeu o emprego e está tristonho. Cartão 6BM o filho chegou junto da mãe para lhe comunicar a morte do pai.
Série B – remete para mecanismos de defesa neuróticos, mais normativos Conflitualização interpessoal - Labilidade (as coisas são resolvidas na relação)
Organização psíquica elaborada dominada pelo conflito que passa pela encenação das relações interpessoais que vêm figurar o confronto entre as instâncias
B1 – Mesmo que o sujeito tenha em conta os conteúdos manifestos e latentes dos cartões, os relatos são mais criativos e srcinais.
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B11 História construída à volta de uma fantasia pessoal – enriquece a história com dados pessoais.
Cartão 2 é um grupo de estudantes universitários que resolveu construir uma comunidade numa aldeia alentejana que estava desabitada.
B12
Introdução de personagens que não figuram – permite criar um cenário imaginário.
Cartão 5 a mãe está a ouvir uma conversa entre o filho e o pai e o pai não gostou.
B13 Expressões flexíveis e difundidas – sistema de identificação que permite ao sujeito, numa narrativa ou no protocolo, tomar diversas posições ou papéis, mantendo no entanto uma identidade estável.
Cartão 2 é um grupo de estudantes universitários que resolveu construir uma comunidade numa aldeia alentejana que estava desabitada. Já recuperaram algumas casas. Aqui em 1º plano temos a Maria que gosta de ler. Atrás temos a Joana que gosta dos ares do campo, está com boas cores agora que está grávida. O Manuel gosta de trabalhar a terra…
B14 Expressão verbalizada de afectos variados, modulados pelo estímulo – relacionados com as solicitações latentes do cartão dão conta de associações possíveis entre afectos e representações.
Cartão 2 …a Maria está contente com a sua vida na comunidade. Mas a Joana como está grávida, está preocupada porque ali não há médicos e terá de ir até Espanha para ter o seu bebé.
B21 Entrada directa na expressão – na situação percebida ou nos sentimentos experimentados pelo sujeito, ou seja, no conflito.
Cartão 2 é uma rapariga que está farta de viver com os pais no campo e apetecia-lhe ir viver para a cidade Cartão 4 é um casal que está à beira do divórcio. Ela está a agarrá-lo para ele não partir… Página | 84
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B22 História com ressaltos. Fabulação longe da imagem – as sequências multiplicam-se até ao desenrolar final. O cenário é construído longe da imagem mas tem elementos do conteúdo manifesto (diferente do E7).
Cartão 4 é um casal, a mulher foi despedir-se do marido muito aborrecida porque o marido parte para uma viagem a bordo de um veleiro com um amigo, durante 4 meses, vão para a Grécia. No regresso sofrem um naufrágio (E7)
B23 Acento inscrito nas relações interpessoais. Narrativa em diálogo – o conflito é encenado através das relações entre personagens que vêm figurar as instâncias que se confrontam.
Cartão 4 é um homem que está prestes q realizar o sonho da vida dele, ele vai fazer uma viagem à volta do mundo. A mulher diz-lhe para ele não ir porque tem cá os filhos, porque vai perder o emprego. Ele responde que está decidido.
B24 Expressão verbalizada de afectos fortes ou exagerados – exprimido de uma forma teatral acompanha a representação.
Cartão 8BM A infância de um médico celebre que assistiu a operações duvidosas e ficou marcado com isso, ou que… ficou chocado pelas circunstâncias rudimentares das operações.
B25 Dramatização – sente prazer em encenar acontecimentos e relações entre personagens.
Cartão 4 A mulher agarrada ao marido implora-lhe para ele não partir porque isso seria a sua morte (B24). O marido diz-lhe: Deixa-me, sem isto a minha vida não faz sentido! E afasta-a. Ela ajoelha-se suplicando-lhe que não a deixe só.
B26 Representações contrastadas. Alternância entre estados emocionais opostos – revelam a passagem mais ou menos brusca entre imagens, temas e/ou afectos, traduzindo a labilidade do funcionamento mental.
Cartão 4 Esta é uma milionária e o seu motorista. É uma princesa e o seu guarda-costas. Página | 85
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B27 Vai e vem entre desejos contraditórios. Realização mágica do desejo – oscilação entre a expressão do desejo libidinal e a defesa – interdito pelo Superego. O fecho responderá ao princípio do prazer e não da realidade.
Cartão 2 Esta rapariga foi passar o fim-de-semana ao campo para estudar para os exames. Mas há um dia em que está a estudar e fica perturbada pelo corpo musculado dos trabalhadores.
B28 Exclamações (sobre o material), comentários, digressões (existe a necessidade de fuga à ansiedade), referências e apreciações pessoais (mantém-se a noção de alteridade, diferente de N).
Cartão 5 uma mãe muito autoritária que abriu a porta do quarto dos filhos que estavam lá com os amigos. Curioso, ainda me lembro quando era novo que a minha mãe me fazia o mesmo.
B29 Erotização das relações, invasão da temática sexual e/ou simbolismo aparente – tónica posta na sexualidade e erotismo mesmo quando os cartões não o suscitam.
Cartão 13MF É um homem que se levanta de manhã para ir trabalhar e ainda está cansado… a mulher fica deitada, mas ele tem dificuldade em partir, em emergir do seu sono, enfim, de qualquer forma ele partirá.
B210 Apego aos pormenores narcísicos com valência relacional – conota positiva ou negativamente as qualidades físicas e estéticas dos protagonistas, num contexto de relações objectais.
Cartão 7GF é uma mulher que vestiu o seu vestido novo e se está a ver ao espelho, para ver se está bonita, porque vai sair com o seu novo namorado. Está ansiosa pelo encontro, por isso pediu também a opinião à sua mãe que lhe diz quanto o seu vestido lhe cai bem realçando a sua elegância.
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B211 Instabilidade nas identificações. Exitação sobre o sexo e idade das personagens – passa de uma personagem para outra sem deixar perceber com que personagem se identifica; hesita quanto à idade e identidade sexual.
Cartão 3BM Aqui alguém está triste, não sei bem se é homem ou mulher. Talvez uma jovem mulher que sofreu um desgosto amoroso e que chora pela sua perda. Não, é um rapaz que foi castigado e que está a chorar desesperado (A29).
B212 Acento inscrito numa temática do estilo: ir, correr, dizer, fugir, etc. – acento no agir corporal que pode ser teatral e erotizado (diferente de C/Fa3 – quotidiano).
Cartão 4 O homem quer ir viajar e a mulher não quer. Ele dá-lhe um empurrão, ela cai, depois ela vai atrás dele…
B213 Presença de temas de medo, catástrofe, etc., num contexto dramatizado – associa o B24 e o B25.
Cartão 9GF duas mulheres que decidiram passar férias juntas, estão a andar pela praia. Uma delas tem medo de andar sozinha, pode aparecer algum perigo.
Série C – remete para mecanismos de evitamento do conflito (podem vir associados a qualquer outra série)
Série C/Fo – revelam arranjos fóbicos nos quais dominam o evitamento e a fuga. Utilizados em pequena escala vão permitir o prosseguimento do relato, as representações e os afectos vão reaparecer sob a forma de retorno ao recalcado. As narrativas mantém uma certa espessura simbólica, uma ressonância fantasmática em relação com as solicitações latentes.
C/Fo1 TL longos e silêncios importantes intra-relatos – prejudicam consideravelmente a construção da narrativa.
C/Fo2 Tendência geral à restrição – história muito curta onde o conflito dificilmente é abordado.
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Cartão 3BM isto é uma pessoa que está muito triste… não sei.
C/Fo3 Anonimato de personagens – sem estatuto familiar ou social; evita a evocação de representações de relações demasiado precisas ou revela a dificuldade identitária.
Cartão 3BM Alguém que está muito triste, uma pessoa que está triste.
C/Fo4 Motivos dos conflitos não indicados (muito próximo da banalização). Relatos banalizados a todo o custo, impessoais, colagem – interpretação anódina (não dá importância ao cartão)
Cartão 4 é um homem e uma mulher, eles estavam a falar mas começaram a discutir.
C/Fo5 Necessidade de questionar. Tendência a recusa. Recusa – necessidade de intervenção do examinador para continuar ou terminar a história e rejeição através da recusa.
C/Fo6 Evocação de elementos ansiogénicos seguidos ou precedidos de paragens no discurso – forma mais clara de um processo fóbico; surge facilmente nos cartões que remetem para uma vivência mais arcaica e onde os elementos estão carregados de angústia (ex: cartão 11).
Cartão 3BM é um homem desesperado (…) ao lado tem uma pistola (A2 16).
Série C/N – revelam arranjos fóbicos nos quais dominam o evitamento e a fuga. Utilizados em pequena escala vão permitir o prosseguimento do relato, as representações e os afectos vão reaparecer sob a forma de retorno ao recalcado. As narrativas mantêm uma certa espessura simbólica, uma ressonância fantasmática em relação com as solicitações latentes. Esta subsérie reenvia para modalidades narcísicas do funcionamento psíquico e para o sobreinvestimento da polaridade narcísica do fantasma. O corpo passa a ser utilizado para comunicar e produzir sentido.
C/N1 Acento inscrito na vivência subjectiva (não relacional) – Descrição fina e modulada dos afectos, traços de carácter e vivências de um dos protagonistas da história. Encenação de uma personagem investida de uma representação de si próprio. Página | 88
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Cartão 6BM É um homem que esteve muito tempo emigrado. Veio a Portugal passar as suas férias para poder estar com a sua mãe. Tem muita dificuldade em mostrar as suas emoções, chegou ao pé da mãe e ficou como que paralisado. Ele é muito tímido e reservado, sempre foi assim, desde miúdo sempre teve muitas dificuldades em fazer amizades e mostrar às pessoas o que sente.
C/N2 Referências pessoais ou autobiográficas - O sujeito conta uma história, ou uma parte da história em seu próprio nome (não mantém a descentração).
6 BM Isto sou eu a visitar a minha mãe… quando a vou visitar ela fica assim paralisada… eu costumo ir visitar a minha mãe aos domingos.
C/N3 Afecto - título - O sujeito mostra o afecto de uma forma exagerada e como que o identifica com as personagens (identifica-se com o que o cartão suscita ao sujeito).
Cartão 3 BM Isto faz-me lembrar tristeza
C/N4
Postura significante de afectos - É a atitude corporal que traduz o afecto.
Cartão 4 Uma mulher debruçada sobre um homem… mas ele vira-lhe as costas o que significa que lhe é indiferente.
C/N5 Acento posto nas qualidades sensoriais - Importância dada aos elementos que reenviam ao contacto, ao toque, ao sentir (frio, calor, sombra) (diferente de E 5 em que é o próprio que sente).
Cartão 2 uma mulher que passeia no campo, ela está a sentir a brisa suave do fim da tarde
C/N6 Insistência na demarcação dos limites e dos contornos - O sujeito tende a insistir nos limites, no envelope psíquico, invertendo a fronteira entre dentro/fora.
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Cartão 16 é uma criança que está na sua casa, que brinca no seu parque, que tem muitos brinquedos à sua volta… Cartão 19 Tempestade no Alasca, as pessoas estão seguras na cabana porque as paredes são fortes...
C/N7 Relações especulares - As duas personagens estão em relação simétrica, como num espelho, pelo que não há alteridade.
Cartão 9 GF Mulher voltou à sua aldeia e foi à falésia e revê-se a correr na praia quando era nova
C/N8 Pôr em quadro - A história fica parada como se fosse um quadro (diferente de A1 2).
Cartão 2 Faz-me lembrar uma pintura do século XVIII.
C/N9 Crítica de si - Observações, positivas ou negativas, feitas a si e que introduzam uma ruptura na continuidade da narrativa.
Cartão 1 Não sei, nunca tive jeito para contar histórias…
C/N10 Pormenores narcísicos (1) Idealização de si (2) - (1) Insistência nos pormenores que qualificam a personagem, que tem como função assegurar a referência identitária na relação com o outro. (2) Qualquer relação, positiva ou negativa, de um si percepcionado como idealmente bom/mau. Não recorre à relação (diferente de B210).
Cartão 7GF (1) Uma cena burguesa dos anos 30, a menina com sapato preto, a meia branca, o vestido com a barra rendada, com o cabelo arranjado e os caracóis, e a governanta de carrapito Cartão 1 (2) O rapaz olha para o violino… ele vai ser o maior do mundo, um músico excepcional.
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Série C/M – Remetem para mecanismos de tipo maníaco no sentido kleiniano da luta antidepressiva, numa evacuação das representações e afectos depressivos ou num sobreinvestimento dos mesmos.
C/M1 Sobreinvestimento da função de anáclise do objecto - O objecto define-se através da sua função de anáclise (dependência) e de suporte.
Cartão 10 É um casal de idosos abraçado; a mulher está a pensar no quanto precisa deste marido…
C/M2 Idealização do objecto (valência positiva ou negativa) - O objecto é representado como idealmente bom, potente, belo, ou no seu contrário.
Cartão 10 ela nem quer pensar que o pode perder, ele é extraordinário e tem tido uma dedicação fiel ao longo de toda a vida.
3 C/M Pirueta, viravolta - Através do humor o sujeito tenta escapar ao afecto depressivo ou à perda do objecto.
Cartão 10 … afinal se ele morresse, não se perdia grande coisa, se ela ficasse viúva ia fazer umas excursões, ia viver o que não viveu, podia ir no barco do Amor…
Série C/C – Condutas agidas - Manifestações comportamentais do próprio sujeito que podem estar ligadas a uma dificuldade relacionada com a elaboração psíquica ou a uma regulação ou relançamento do processo associativo.
1 C/C motora (1) mímica e ou expressões corporais (2) - O agir acompanha ou cortaAgitação o discurso. (1) Senta-se, levanta-se, mexe-se… (2) Expressões decorporal ansiedade: sudação, caretas, palidez, rubor…
C/C2 Perguntas feitas ao clínico – no sentido de apoio ou confirmação, demonstra a dependência do sujeito face a uma situação ansiogénica.
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Cartão 16 Uma história…não me ocorre nada…você não me pode ajudar? Bem é um campo verde onde está um grupo de meninos a jogar à bola. É assim? Estou a fazer bem?”
C/C3 Criticas de material e/ou de situação - Comentário (positivo/negativo) sobre o material ou a situação, quebrando a narrativa.
Cartão ? Estes desenhos já são antigos. Cartão ? A Drª ganha a vida a ouvir contar histórias.
C/C4 Ironia, escárnio - Quando a utilização do humor tende a diminuir a importância da situação do teste, transpondo para o exterior a responsabilidade da modalidade de resposta e de mau-estar que o sujeito sente (diferente do CM 3 onde o humor permanece circunscrito à narrativa, tal como pede a instrução).
Cartão ? A Drª ganha a vida a ouvir contar histórias. Cartão 7BM risos… o que é que quer que eu lhe diga acerca disto… você escreve o meu silêncio? Quanto tempo estudou para estar aqui? Cartão 3BM alguém a quem a vida corre lindamente”- com tom de cinismo
C/C5 Piscar de olho ao clínico - o sujeito procura a cumplicidade do clínico por não suportar a relação assimétrica.
Série C/Fa – Pensamento factual – A inibição não está associada a mecanismos de recalcamento. A angústia está na aparência, ausente, e o estímulo é investido como objecto real. O acento é posto nos elementos da realidade exterior. Ausência de conflito intrapsíquico. São as histórias mais pobres, porque, quando é uma situação muito patológica, não há sonho, imaginação.
C/Fa1 Apego ao conteúdo manifesto - Consiste na enumeração, dos D e Dd do cartão, num decurso marcado pela restrição, o evitamento, a fuga e a ausência de conflitualização. Sem ressonância fantasmática (deiferente de A21).
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Cartão 2 É uma mulher com livros, um homem com um cavalo e uma mulher encostada a uma árvore.”
C/Fa2 Acento inscrito no quotidiano, no factual, no actual, no concreto - acontecimentos da vida quotidiana que não despertam associações ou reacções afectivas.
Cartão 6BM É um homem que vive com a mãe, são 8 horas da manha, está a despedir-se da mãe para ir trabalhar.
C/Fa3 Acento inscrito no fazer - apresentação de uma relação directa com o CFa 2 por apresentação de uma ligação ao factual num contexto banalizado.
Cartão 5 É uma mulher que vai arrumar a sala, vai limpar o pó, aspirar,…
C/Fa4 Apelo a normas exteriores – o interdito não emana de uma Superego interior, mas por referência a um Superego exterior ou a um ideal do Ego.
Cartão 6BM É um homem que já tem 37 anos, a quem a sua mãe está a dizer que é altura de casar.”
C/Fa5 Afectos de circunstância - afectos que parece bem sentir em determinadas circunstâncias.
Cartão 6BM É um homem que vai dar os pêsames a uma tia, é por isso que ele tem um semblante carregado.
Série C (Emergência em processo primário) - característico de um funcionamento psíquico arcaico. Quando os procedimentos da série E se tornam repetitivos e intensos, permitem-nos ter uma certa segurança de que o sujeito funciona de forma desestruturada – Psicose ou Borderline. Em pequenas quantidades (esperado) revela uma certa permeabilidade das instâncias e uma flexibilidade que autorizam a irrupção e circulação de fantasmas e/ou afectos mais maciços sem que o sujeito se desorganize.
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E1 Escotomia de objecto manifesto - quando uma personagem ou elemento manifesto do cartão não é integrado na narrativa.
Cartão 1 É um menino que está sentado à mesa a pensa na sua vida.
E2 Percepção de pormenores raros e ou extravagantes - o sujeito recorre a pormenores quase nunca utilizados e dá-lhes umpode significado particular, arbitrário ou Manipula oo percebido com fins defensivos que representar um movimento dehermético. defesa ou sustentar recalcamento.
Cartão 1 É um miúdo a olhar para o s eu violino…ele tem as unhas tão curtas que parece que as roí. Cartão 3BM vê uma flor em vez de uma arma.
E3 Justificações arbitrarias a partir desses pormenores - um pormenor raro ou extravagante é utilizado para racionalizar ou para recusar uma interpretação.
Cartão 1 …como tem as unhas todas roídas é um sinal que está a ser obrigado a tocar violino.
E4 Falsas percepções - o sujeito manipula o real adaptando-o aos seus desejos interiores. Procedimento que quase confina com a alucinação (percepção de um objecto que não está presente).
Cartão 3BM É um homem que foi condenado à morte…mas eis a sombra do advogado que o vai inocentar.
E5 Percepções sensoriais - estamos no domínio da alucinação, é o sujeito que sente. O objecto e o sujeito e as realidades interna e externa estão confundidas.
Cartão 3BM É um homem que foi condenado à morte, oiço-o a gemer.
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E6 Percepção do objecto fragmentado (e/ou de objectos deteriorados ou de personagens doentes, deformados) - quando é percebida uma doença numa personagem, bem como evocação de objectos deteriorados, partidos, estragados ou mal fabricados.
Cartão 1 O menino que quer estudar violino mas tem as cordas partidas.
E7
Inadequação do tema ao estimulo: Fabulação fora da imagem - Relato apenas com uma escassa relação com o conteúdo manifesto do cartão.
Abstracção – a história não tem nada a ver com a imagem.
Simbolismo hermético - só tem sentido para o próprio e não é partilhado por todos.
Cartão 4 Um casal em que ele representa o mal e ela o bem.
E8 Expressões cruas e ligadas a uma temática sexual ou agressiva - qualquer evocação brutal de assassínio, violação, incesto, dada com pouco ou nenhum afecto.
Cartão 5 é uma velhota que está em casa, bateram à porta. É um homem que se apresenta como carteiro, a mulher está-se a virar e ele está a preparar-se para a agarrar e vai violá-la.
Cartão 8BM é um homem que vai na rua e de repente pressente que atrás dele estão a assassinar um homem, olha para trás e vê uma cena horrível, estão a retalhar o homem.
E9 Expressão de afectos e ou representações maciças ligadas a qualquer problemática (dai a incapacidade, o fim, o sucesso megalómano, o medo, a morte, a destruição, a perseguição, etc) - a expressão dos afectos dá conta a uma perda da distância, que obedece às leis da projecção, mesmo de identificação projectivo.
Cartão 19 sei lá, isto parece a casa dos horrores (representação dos afectos ligados à morte).
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E10 Perseveração – o tema mantém-se ao longo de vários cartões. A problemática que inspira esta encenação pode ser:
a culpabilidade, da castração (neurótico) a perda (narcísico) a destruição (psicose)
Cartão 6BM Um homem que está triste porque o pai morreu há uma semana. Cartão 1 o menino está triste porque o pai morreu Etc.
E11 Confusão de identidade (ou telescopagem de papeis) - A identidade das personagens de relato confunde-se podendo até ficar amalgamadas numa única representação. Confusão da identidade, processo claramente psicótico, indistinção entre o eu/não eu, eu/outro, o sujeito está a contar uma história e a determinada altura já não sabemos quem é quem, não sabemos a quem o sujeito se refere porque este não é capaz de distinguir os personagens claramente.
Cartão 8BM ele está a ver… ele está a pensar… ele está preocupado… ele é um médico famoso. Cartão 2 Isto representa o campo. Está ali um senhor que puxa um cavalo e ali é quando ela era jovem, ela… no campo porque espera um bebé.
E12 Instabilidade dos objectos - O sujeito investe moderadamente todos os objectos, sem uma preferência particular, como se todos tivessem o mesmo valor. Dá conta da incapacidade do sujeito em interiorizar a “permanência dos objectos privilegiados os objectos são bons se dão suporte, tornam-se maus quando não constituem um apoio.”
Cartão 7GF não sei se isto é um boneco ou se é um bebé; a mãe está a explicar algo acerca do boneco ou do bebé e ela não lhe está a ligar.
E13 Desorganização das sequencias temporais e ou espaciais - o sujeito apresenta uma confusão no desenrolar da história entre a acção presente, passada e futura.
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Cartão 9GF uma jovem que tinha subido a uma árvore, vê uma outra a passar a correr. Então ela descerá depois… se ela a conhecer vai-lhe perguntar o que ela tem e se pode ajudar (é também E11).
E14 Percepção do mau objecto (1), temas de perseguição (2) - Percepção de um mau objecto e/ou temas de perseguição. Há uma clivagem do objecto, que é visto apenas como mau e perigoso, podendo perseguir o sujeito. (1) Atribuição de um carácter maléfico a uma das personagens do cartão. (2) Pode surgir associado, ou não, ao mau objecto.
Cartão 9GF (2) … uma está a espiar a outra, está a ver o que a outra está a fazer.
E15 Clivagem do objecto - oscilação extrema e repetida entre representações de objectos totalmente “bons” e/ou totalmente “maus” podendo um desses objectos passar totalmente de um extremo a outro.
Cartão 9GF Parece que foge; está a fugir e está a espreitá-la. Esta tem cara de boazinha e esta de má.
E16 Procura arbitraria de intencionalidade de imagem e ou as fisionomias ou atitudes - o sujeito acredita que a imagem possui um sentido oculto, o qual ele deve desvendar/ revelar na sua resposta.
Cartão 13MF Este homem, porque tem o braço na cara quer dizer que está pensativo e ela, como tem o braço caído, quer dizer que se sentiu mal.
E17 Falhas verbais (perturbações de sintaxe) - quando ocorre uma perturbação ao nível de discurso – momentâneo ou durável, que dá conta de uma falha da secundarização sob impacto do fantasma.
E18 Associações por contiguidade (1), por consonância (2), disparates (3): (1) Discurso dominado por associação de ideias, sem ligação aparente entre elas.
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(2) Evocação de termos escolhidos pela semelhança fonética (3) Sequência de proposições que passam bruscamente de um tema para o outro que podem arrastar contracções do discurso.
E19 Associações curtas - discurso constituído por dois ou mais ideia, desprovidas de ligação lógica entre elas, como se faltassem as cadeias associativas explícitas, o que pode ser pontual ou invalidar todo o discurso.
E20 Vago, indeterminação, leveza do discurso - Infiltração no curso de pensamento pelos processos primárias, sem ter em consideração os princípios lógicos de pensamento consciente.
Cartão 2 isto seria uma história decalcada sobre um lavrador e os seus filhos.
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