São Justino mártir e o Diálogo com Trifão Trifão1
Resumo
O Diálogo com Trifão é um dos texto que compõe a literatura polêmica judaicocristã nos primeiros séculos da Era Comum. Trata-se de um importante documento, pois revela elementos signiicativos so!re a rela"ão entre judeus e cristãos no século ##, so!r so !retu etudo do em $o $oma ma,, on onde de,, pr prov ovav avelm elmen ente te,, %u %usti stino no es escre creve veuu a o! o!ra ra.. &e &este ste art artig igoo introd int rodut' ut'rio, rio, apr apresen esenta"ã ta"ãoo alg alguma umass in inorm orma"õ a"ões es !io !iogr( gr(ic icas as so! so!re re )ão %us %ustin tinoo e as principais questões ao redor de sua o!ra, tais como a data"ão do texto, a controversa so!re as inten"ões do il'soo cristão, seu p*!lico-alvo e o que podemos di+er so!re o judeu Trião. I. Quem foi São Justino
)ão %ustino é considerado o mais importante entre todos os apologistas do século ##. &asceu por volta do ano em l(via &e(polis, col/nia undada pelo #mperador 0espasiano 123-43 d.C.5 no ano 46 na )amaria 1atual &a!lus, antiga )iquém5 6 il7o de 8risco 1nome latino5 e neto de 9(quio 1nome grego5, %ustino era um colono pagão incircunciso incircu nciso 1 Diál. Diál. 6:,65, que rece!eu a orma"ão liter(ria cl(ssica vigente no século ##;. &ão sa!emos ao certo por quanto tempo ele viveu em l(via &e(polis. )egundo <. =. 9arnard, %ustino não con7eceu o juda>smo até a idade adulta, o que indica que ele deixou a 8alestina ainda quando crian"a?. 8or outro lado, ). )(nc7e+ airma que %ustino teria eito os estudos prim(rios e secund(rios em l(via &e(polis. @epois, seus pais o teriam enviado a Aeso para estudar ilosoia, por ser ali um dos grandes centros culturais da Bsia. E nesse 1
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Este artigo é uma versão redu+ida de um dos cap>tulos de min7a @ isserta"ão de Destrado apresentada ao 8rograma de 8's-gradua"ão em ist'ria )ocial do @epartamento de ist'ria da aculdade de ilosoia,
tuloG O Diálogo com Trifão de São Justino mártir e a relação entre judeus e cristãos (século II). @ispon>vel emG 7ttpGHHIII.teses.usp.!rHtesesHdisponive 7ttpGHHIII.teses.usp.!rHtesesHdisponiveisH:H:;:Htde-36-2;6;3 isH:H:;:Htde-36-2;6;3Hpt-!r.p7p Hpt-!r.p7p O)9O$&, Eric . Justin Martyr. TJ!ingenG 9T Ker7ard E!eling, 34;, p. 2. Dunier aponta que a partir da I !ol. 6,-L 6, e II !ol. 4 1:5, vemos seu con7ecimento a respeito da mitologia e da poesia grega e da ilosoia estoica. #nG DFE$, C7arles. M#ntroductionN. %F)T#&. !ologie !our les c"rétiens. 8arisG @u Cer, 62, 1)ources C7rétiennes, 45. estamentum um , 9$&$@, <. =. T7e Old Testament Testament and %udaism in t7e =ritings o %ustin DartPr. #etus Testament o 0ol. ?, n ?, Out., 32?, p. ;3. )B&CEQ, )Plvain %. K. 8ro!lemes 7istoriques du @ialogue avec Trip7on de %ustin DartPr. $e%ista gustiniana, vol. R<##, on 6:, Daio-go., 6, p. 2:.
sentido, é prov(vel que ele não ten7a deixado a )amaria tão precocemente como airma 9arnard. %ustino era il'soo por o>cio e se portava como tal. Eusé!io de Cesareia o caracteri+ou como um Msincero amante da verdadeira ilosoiaN 1 &' #0,:,;5. ,:,;5. )ua trajet'ria &' #0 intelectual e sua conversão são descritas pelo pr'prio apologista no in>cio do Diálogo com Trifão.
)emp )e mpre re mo movi vido do pe pela la !u !usc scaa da ve verd rdad ade, e, %u %usti stino no r req eque uent ntou ou v( v(ri rias as esc escol olas as
ilos'icasG a estoica, a peripatética, a pitag'rica e a plat/nica. Com uma !oa medida de 7umor, o apologista narra sua !reve trajet'ria por essas escolas. Ele deixou de seguir um estoico quando perce!eu que este nada l7e di+ia so!re o con7ecimento de @eus e tratava esse aspecto como coisa desnec desnecess(ria ess(ria 1 Diál. Diál. 6,;5. O il'soo peripatético oi a!andonado por %ustino quando aquele come"ou a co!rar 7onor(rios pelos encontros 1 Diál. 6,;5. O pitag'rico tam!ém provocou grande descontentamento, pois esperava que )ão %ustino sou!esse m*sica, astronomia e geometria, ciências que desprendem a alma do sens>vel preparando-a para o intelig>vel. Fma ve+ que ele ignorava essas ciências, o pitag'rico prontamente o despediu 1 Diál. 6,?-5. 8or im, oi com um plat/nico2 que a !usca de )ão %ustino pela verdade come"ou a ser saciadaG a contempla"ão das ideias era uma orma de 4 con7ecer a @eus 1 Diál. . )egundo C7arles Dunier, essa trajet'ria ilos'ica é an(loga Diál. 6,25
ao ro rotágoras tágoras de 8latão, constituindo uma expressão liter(ria de um itiner(rio intelectual, o que não desqualiica seu valor !iogr(ico :. lém disso, essa orma"ã orma"ãoo eclética permitiu que %ustino dialogasse de igual para igual com a elite intelectual de sua época 3. Contudo, o di(logo que ele teve com um ancião, enquanto camin7ava pr'ximo ao mar, convenceu-o da insuiciência da ilosoia plat/nica e exortou-o a aceitar que a plena verdade encontrava-se nos escritos dos proetasG 6 7
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A prov(vel que esse il'soo plat/nico seja &umenius, que ensinou em Aeso . )o!re o platonismo de %ustino, ans-%Srg =itter =itter airmaG M%ustino pertence, muito provavelmente, corrente plat/nica denominada médio-platonismo. Esta é ruto de um renascimento da ilosoia plat/nica na segunda metade do século # a.C., que come"a com Eudoro de lexandria. O c7amado médioplatonismo platonismo dura até o inal do século século ## d.C. quando desem!oca desem!oca na ilosoia ilosoia neoplat/nica neoplat/nica que come"a com m/nio )accas, mestre de 8lotino e Or>genes. Com requência os representantes do médioplaton platonism ismoo assume assumem m tam!ém tam!ém elemen elementos tos de outras outras iloso ilosoia iass como como a aristo aristotél télica ica,, a estoic estoicaa ou a pitag'rica. Tratava-se de um certo ecleticismo plat/nico. 8orém, é claro que a !ase é o pensamento de 8latão e suas o!ras. &este sentido %ustino se !aseia tam!ém na ilosoia de 8latão, con7ecendo-a possivelmente através de cole"ões de textos e lorilégios, mas não as o!ras inteirasN. =#TTE$, ansgreco+romano e sua relação com %Srg. ogos S!ermati*os. inculturação do cristianismo no mundo greco+romano outras tradiç,es religiosas segundo Justino . @isserta"ão 1Destrado5 - 8onti>cia aculdade de Teologia &ossa )en7ora da ssun"ão, )ão 8aulo, 33:, p. ;. DFE$, C7arles. #ntroduction. #nG %F)T#&. !ologie !our les c"rétiens. 8arisG @u Cer, 62, 1)ources C7rétiennes, 45, p. . #dem, p. ?.
( muito tempo, existiram alguns 7omens mais antigos do que todos estes considerados il'soos, 7omens !em-aventurados, justos e amigos de @eus, que alaram inspirados pelo esp>rito divino e, divi di vina name ment ntee in insp spir irad ados os,, pr pred edis isse sera ram m o u utu turo ro qu quee es est( t( se cumprindo cump rindo exatamente agora. )ão os c7amad c7amados os proeta proetas. s. )omen )omente te eles viram e anunciaram a verdade aos 7omens, sem temer ou adul ad ular ar ni ning ngué uém, m, sem de deix ixar ar-se -se ve venc ncer er pe pela la va vang ngl' l'ria riaLL pe pelo lo contr(rio, repletos do Esp>rito )anto disseram apenas o que viram e ouviram. )eus escritos se conservam ainda 7oje, e quem os lê e nele acredita pode tirar o maior proveito nas questões a respeito do princ>pio e im das coisas e so!re aquelas coisas que o il'soo deve sa!er. Com eeito, eles nunca i+eram seus discursos com demonstra"ão, pois eles são testemun7as idedignas da verdade, acima de toda a demonstra"ão 1 Diál. 4,-65. O di(logo com esta misteriosa igura o e+ a!ra"ar o cristianismo, provavelmente em Ae Aeso so 1EF 1EF)A9 )A9#O, #O, &' #0,:,25, antes da $evolta de 9ar Coc7!a 1;6-; d.C.5. %o7annes %o7an nes Uuasten salienta três atores citados por )ão %ustin %ustinoo que oram decisivos decisivos para a sua conversãoG a !usca pela verdade, o despre+o dos cristãos pela morte e a ora"ão 7umilde praticada pelo apologista6. A interessante notar que a !usca pela verdade o tornou cristão. %ustino perce!eu a coerência existente entre a ilosoia pagã e o cristianismo, ou seja, perce!eu que a religião cristã cumpria um projeto ilos' ilos'ico, ico, concreti+ava-o, concreti+ava-o, so!retudo ao consid considerar erar aspecto aspectoss da ilosoia plat/nica. Dunier lem!ra que %ustino certamente oi o primeiro a conessar pu!licamente a é cristã e manter suas atividades como il'soo;. carga ilos'ica presente no cristianismo, que não a+ia dele uma mera religião como as outras, oi decisiva para o consentimento de %ustino nova é. Das a ilosoia presente no cristianismo não !ast !a staa pa para ra co comp mpre reen ende derr a su suaa co conv nver ersã são, o, um umaa ve ve++ qu quee mu muit itos os ou outr tros os i il' l'so soo oss contemporVneos do apologista opun7am-se é cristã. rioG 10
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)Plvain )(nc7e+ menciona a 7ip'tese de 9. 9agatti, segundo o qual a conversão não ocorreu em Aeso, mas na 8alestina, durante uma viagem eita por %ustino região. #sso porque a partir da I !ol. ;? e da I I !ol. ?? perce!e-se que o apologista possu>a um !om con7ecimento de 9elém e de %erusalém. E nesse sentido, o contato com a igreja local oi decisivo para sua conversão. Em Diál. ,; Trião se apresenta a %ustino como um reugiado Mda guerra 7( pouco terminadaN. E logo no in>cio do Diálogo o apologista narra a sua conversão. UF)TE&, %. atrologia I- "asta el concilio de icea. DadridG 9i!lioteca de utores Cristianos 19C5, 6?, p. 34. DFE$, /!. 0it.1 p. 3.
Eu mesmo, quando seguia a doutrina de 8latão, ouvia a cal*nia contra os crist stããos. Contudo, ao ver como camin7avam intrepidamente para a morte e para tudo o que é considerado espantoso, comecei a reletir que era imposs>vel que tais 7omens vivessem na maldade e no amor aos pra+eres. Com eeito, que 7omem amante do pra+er, intemperante e que considere coisa !oa devorar carnes 7umanas, poderia a!ra"ar alegremente a morte, que vai priv(-lo de seus !ens, e que não procuraria antes, de todos os modos, prolongar indeinidamente a sua vida presente e esconderse dos governantes, e menos ainda son7aria em delatar a si mesmo para ser mortoW 1 II II !ol. 6,-65. Ora, Or a, pa para ra um i il' l'so soo o pl plat at/n /nic icoo co como mo ele ele,, a at atitu itude de do doss cr crist istão ãoss po pode deria ria representar o maior grau de despre+o pelo mundo sens>vel, coisa que todo plat/nico desejava, mas era incapa+ de a+er de orma tão radical. Os cristãos reali+avam isso sem sa!er nada so!re 8latão. @e qualquer maneira, esta poss>vel constata"ão ainda não é decisiva para a sua conversão, uma ve+ que o mart>rio tam!ém poderia ser considerado um ato irracional pelas pessoas cultas. 8ortanto, aos dois primeiros atores soma-se a ora"ão 7umilde, igualmente decisiva. Eu tam!ém, ao perce!er que os malvados dem/nios tin7am lan"ado um véu so!re os divinos ensinamentos de Cristo, a im de aastar deles os outros 7omens, despre+ei da mesma orma aqueles que propagavam tais cal*nias com o véu dos dem/nios e a opinião do vulgo. Conesso que todas as min7as ora"ões e esor"os têm por inalidade mostrar-me cristão, não porque as doutrinas de 8latão seja se jam m al al7e 7eia iass a Cr Cris isto to,, ma mass po porq rque ue el elas as nã nãoo sã sãoo to tota talm lmen ente te semel7antes, como tam!ém as dos outros il'soos, os estoicos por exemplo, poetas e 7istoriadores 1 II !ol. ;,-65. O ato de 7umildade de %ustino o dierencia dos outros il'soos que se opun7am MarrogantementeN é cristã. pesar da 7umildade não ser algo que decorre da ra+ão, oi justamente essa virtude que elevou sua ra+ão a um grau de compreensão maior. 7umildade, decorrente da é, não apenas mudou a orma de pensar de )ão %ustino, mas promoveu no apologista uma transorma"ão por inteiro, alterando seu estilo de vida. Com a conversão, %ustino se transormou num pregador itinerante e iniciou sua atividade de apologista propriamente dito, uma ve+ que passou a deender os cristãos e a é?, permanecendo leigo até o mart>rio. partir do *ltimo cap>tulo do Diálogo 1 Diál. ?65 14
Eusé!io de Cesareia lem!ra queG Mcom estoo de il'soo, era em!aixador da palavra de @eus e lutava
é poss>vel airmar que ap's o encontro com Trião %ustino em!arcou para $oma. Com essa disposi"ão, dispo si"ão, ele c7ego c7egouu na capital do #mpério durante o princi principado pado de ntonino ntonino 8io 1;: 1;:-2 d.C.5 ou um pouco antes, onde undou uma escola ilos'ica para ensinar a verdade, ou seja, a é cristã, gratuitamente 1 Diál. Diál. :6,;-?5. &ão é poss>vel airmar com exatidão por quanto tempo o apologista viveu em $oma, uma ve+ que, em seu julgamento, %ustino airmou diante do preeito %unio $*stico que aquela era a sua segunda estada na cidade 1 Mart. S. Just. ###,;5. Em $oma, %ustino teve como principal advers(rio advers(rio o il'so il'sooo c>nico Crescente. s !ologias nos ornecem algumas inorma"ões a respeito de seu advers(rioG Eu mesmo espero ser v>tima das ciladas de algum desses dem/nios aludidos e ser cravado no cepo, ou pelo menos das ciladas de Crescente, Crescen te, esse amigo da desordem e da ostenta"ão. ostenta"ão. &ão merece o nome de il'soo um 7omem que, sem sa!er uma palavra so!re n's, nos calunia pu!licamente. Como se n's, cristãos, /ssemos ateus e >mpios, espal7ando essas cal*nias para congratular-se e agradar multidão transviada 1...5 Contudo, é imposs>vel que um c>nico,, pond c>nico pondoo o im supremo na indi indieren"a, eren"a, con7e"a !em algum algumaa coisa ora dessa indieren"a 1 II II !ol. :135,-6.45. %ustino relata ainda que venceu um de!ate com Crescente, cuja ignorVncia a respeito do cristianismo oi evidenciada. Ele pediu a ntonino 8io uma oportunidade para rea+er o de!ate diante do imperador. )egundo C7arles Dunier, o epis'dio com Crescente e o pedido de %ustino ao imperador são signiicativos, pois revelam as condi"ões pelas quais a mensagem cristã podia ser anunciada em $oma no século ##. Taciano, apologista e disc>pulo de %ustino, nos ornece outros elementos so!re Crescente por meio de uma cr>tica !em severaG XCrescenteY so!repujava a todos em pederastia e não tin7a outro o!jetivo além do din7eiroL e ele, que aconsel7ava o despre+o pela mort mo rte, e, de ta tall ma mane neir iraa a te temi miaa el elee pr pr'p 'pri rio, o, qu quee pl plan anej ejou ou a condena"ão de %ustino e tam!ém a min7a, como sendo um mal, porque, ao pregar aquele a verdade, desmascarava os il'soos como glutões e em!usteiros 1 Disc. 352.
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pela é com seus escritosN 1 &' #0,,:5. 9FE&O, @aniel $ui+. cta de los Martires. DadridG 9i!lioteca de utores Cristianos 19C5, 6;, p. ;;. 9FE&O, @aniel $ui+. adres !ost2licos y !ologistas !ologistas griecos (S. II). DadridG 9i!lioteca de utores Cristianos 19C5, 66, p. ;-;2.
Esse em!ate precipitou o mart>rio de )ão %ustino, que, como vimos, esperava que isso pudesse acontecer. O testemun7o de Taciano sugere a participa"ão do c>nico na condena"ão do apologista. mparado neste testemun7o, Eusé!io airmaG O respons(vel pela conspira"ão oi o il'soo Crescente Z 7omem que se esor"ava em levar uma vida e uma conduta !em adequadas ao cognome de c>nico Z , pois %ustino o 7avia repreendido muitas ve+es em presen"a de seus ouvintes 1 &' #0,2,5. Eric . Os!orn airma que não se pode levar muito a sério as palavras de Taciano so!r so !ree Cr Cresc escen ente, te, vi visiv sivel elmen mente te ex exag agera erada das. s. p pesa esarr do tes testem temun un7o 7o do di disc> sc>pu pulo lo do apolog apo logista ista,, não pod podemo emoss air airmar mar que Cre Crescen scente te oi dir diretam etament entee res respon pons(ve s(vell por sua exec ex ecu"ã u"ão. o. 8a 8ara ra Os Os!o !orn rn,, o re rela lato to do ju julg lgam amen ento to de %u %ust stin inoo ex exim imee Cr Cresc escen ente te de dessa ssa responsa!ilidade, j( que o apologista oi condenado com seis outros cristãos num processo legal, nada sugerindo que ele ten7a sido acusado por uma pessoa em particular 4. %ustino oi condenado morte pelo preeito %unio $*stico em 2. senten"a proerida pelo preeito não diere em nada de todos os outros casos correntes de condena"ão aos cristãosG MOs que não quiseram sacriicar aos deuses, nem o!edecer ao mandato do imperador, sejam, depois de a"oitad a"oitados, os, condu+idos condu+idos ao supl> supl>cio, cio, sorendo a pena capital, conorme as : leis.N 1 Mart. . %ustino e outros seis cristãos oram decapitado. 8ortanto, todos Mart. S. Just. 0,:5
eram cidadãos romanos3. importVncia de %ustino é recon7ecida por v(rios motivos. 8ara Dunier, Mele nos deixou um testemun7o *nico so!re as condi"ões em que, naquele per>odo de transi"ão, eetuava-se o di(logo entre o pensamento cristão, undamentado na tradi"ão judaica, e a ilosoia greco-romanaN6. 8uec7 ressalta a contri!ui"ão ilos'ica de %ustino é G &ele, o que atrai e retém a aten"ão do 7istoriador é que o vemos pelaa pri pel primeir meiraa ve+ pre preocu ocupad pado, o, ain ainda da que de man maneir eiraa !as !astan tante te con co nus usa, a, com o gr gran ande de pr pro! o!le lema ma qu quee a esc escol olaa de l lex exan andr dria ia deinir( com !em maior exatidão, examinar( com mais amplitude e méto mé todo do e res resol olve ver( r(,, co cons nseq eque uente nteme ment nte, e, co com m ma maio iorr êx êxito itoGG o 6 pro!lema das rela"ões entre a ilosoia e a é . 17 18 19 20 21
O)9O$&, /!. 0it. p. 3. 9FE&O, @aniel $ui+. . cta de los Martires. DadridG 9i!lioteca de utores Cristianos 19C5, 6;, p. ;2. O condenado pena capital que não possu>sse cidadania romana era cruciicado. DFE$, /!. 0it., p. 3-. 8FEC, . es !ologistes grecs du II e si3cle de notre 3re. 8aris, 36. #nG 9FE&O, @aniel $ui+. adres !ost2licos y !ologistas griecos (S. II). DadridG 9i!lioteca de utores Cristianos 19C5, 66,
8or im, para $.%. de )imone 66, %ustin %ustinoo oi o pio pionei neiro ro em mui muitos tos asp aspecto ectoss teol'gicos, doutrinais e exegéticos, tais comoG . ormulou uma teologia da 7ist'ria cristocêntricaL 6. oi o primeiro autor cristão a tratar de Kn ,-6L ;. Escreveu so!re a oposi"ão existente entre Eva e DariaL ?. Organi+ou a mais antiga cole"ão de doutrinas 7eréticasL . oi o primeiro a atri!uir as teoanias do ntigo Testamento a %esus Cristo 1logos5L 2. @escreveu em pormenores os ritos do !atismo e da eucaristia, rompendo com a disciplina do arcano 1segredo so!re os sagrados mistérios5L 4. Citou pela primeira ve+ proissões de é semi-ormaisL :. ormulou uma exegese da presen"a do 0er!o-Dessias 0er!o-Dessias na rito e de um sincero interesse em con7ecer o pensamento de seu oponente, o judeu Trião. &essa o!ra, o apologista deende a é cristã sem a!rir mão de con7ecer o juda>smo de seu tempo. #sso torna o Diálogo
tãoo or tã orig igin inal. al. Es Essa sa po post stur uraa est estav avaa em pe pere reita ita
consonVncia com seu o>cio de il'soo, propenso ao de!ate. cio do Diálogo1 %ustino airmou que a Milosoia é a ciência do ser e do con7ecimento da verdade, e a elicidade é a recompensa dessa ciência e desse con7ecimentoN 1 Diál. ;, ;,?5 ?5.. 8a 8ara ra el ele, e, 22
p. 33. )#DO&E, $. %. %ustino il'soo e m(rtir. #nG Dicionário atr4stico e de ntig5idades 0ristãs. )ão 8aulo, 8aulus, 66.
discutir so!re ilosoia, so!re as Escrituras, so!re @eus, so!re a é ou a religião era exatamente a mesma coisa. A curioso o!servar que o que aproximou Trião de %ustino oi o ato dele ser il'soo. @isse TriãoG MEm rgos, o socr(tico Corinto ensinou-me que não se deve despre+ar, nem deixar de lado os que vestem uma roupa como essa, mas de todos os modos demonstrar-l7es estima e conversar com eles, a im de tirar algum proveito para ele ou para mimN 1 Diál. ,65. ssim, oi a ilosoia que promoveu o de!ate. oi a ilosoia que deu margem para que um judeu e a um cristão discutissem so!re as Escrituras e so!re a religião. Talve+, %ustino acreditasse que a ilosoia pudesse operar uma aproxima"ão entre judeus e cristãos instru>dos. II. O Diálogo com Trifão
O Diálogo com Trifão se reere a um de!ate ocorrido ocorrido em dois dias6; entre %ustino e Trião, um judeu reugiado da guerra, provavelmente, de 9ar Coc7!a 1;6-; d.C.5 6?, j( que a pr'pria o!ra d( ind>cios para essa conclusão 6. &o entanto, em!ora o encontro ten7a ocorrid oco rridoo pouco ap's ap's a $ev $evolt oltaa de 9ar Coc7!a, Coc7!a, é cert certoo di+er que o Diálogo oi escrito durante o principado de ntonino 8io 1;:-2 d.C.5, não apenas porque %ustino airmou quee enviou qu enviou a !ologia ao imperador62, mas porque ele trata das pr(ticas judaicas sem mencionar as interdi"ões aos judeus eitas por driano 14-;: 14-;: d.C.5 na época do de!ate e
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)o!re os doi )o!re doiss dias dias de dis discus cussão são,, rc rc7am 7am!au !ault lt ai airma rma que queGG M divisão divisão do @i( @i(log logoo em duas par partes tes é atestada por uma antiga cita"ão das Sacra arallela de %oão @amasceno, 1[5. Ela é introdu+ida pela 'rmulaG Mdo segundo discurso contra contra TriãoN, o que supõe um Mprimeiro discursoN discursoN ou uma primeira Try!"on. Texte parteN. #nG %F)T#&. Dialogue a%ec Try!"on Texte grec, traduction ran"aise. #ntroduction, notes et index por Keorges $CD9Famos nos *ltimos anos de vida do apologista. Fm exemplo exemplo disso é quando quando %ustino %ustino menci menciona ona as as conse consequênc quências ias da da revolta revolta para os judeusG judeusG M@ eus, por ser presciente, sou!e que vosso povo um dia mereceria ser expulso de %erusalém e que a ninguém seria permitido nela entrarN 1 Diál. Diál. 36,65. I !ologia é mencionada no seguinte trec7oG M@igo-vos isso porque não me preocupo com nada além de di+er a verdade. &ão temerei ninguém, ainda que tivesse que ser imediatamente despre+ado por v's. prova é que, sem me preocupar em nada com meus conterrVneos, isto é, com os samaritanos, comuniquei por escrito ao imperador que estão enganados em seguir o mago )imão, de seu pr'prio povo, que eles airmam ser deus, acima de todo princ>pio, poder e or"aN 1 Diál. 6,25.
toleradas por ntonino no momento em que o apologista ele escreveu a o!ra. @a> )(nc7e+ concluir que %ustino se esquece de que situou sua discussão por volta de ;, e, no entusiasmo de sua argumenta"ão, concentrado em sua narrativa, teria inserido dados relativos ao contexto pol>tico de ntonino, presente em seu pensamento no momento em que ele escrevia, sem se dar conta de estar misturando atos relativos a épocas dierentesG ter( te r( %u %usti stino no ti tido do tem tempo po de rel reler er su suaa o! o!ra ra,, pr pres essio siona nado do pe pelo loss acon ac onte tecim cimen ento toss qu quee o co cond ndu+ u+ir iram am ao ma mart> rt>ri rioo 1u 1uma ma da data ta de 64 ela!ora"ão mais pr'xima de sua morte5W )egundo Eusé!io de Cesaréia, o encontro de %ustino com Trião ocorreu em Aeso 1 &' #0,:,25. ,:,25. esse respeito rc7am!ault salientaG &' #0 Em nen7uma parte do @i(logo, em seu estado atual, essa cidade é mencionada. 1[5 existência de um xisto 1#,5, a proximidade do mar 1CR<##, -65, tudo isso se adapta !em a Aeso, e não Z é preciso recon7ecer Z a Corinto ou a &a!lusL mas é evidente, tam!ém, que essas designa"ões são insuicientes. E, como Eusé!io retira sempre dos escritos de %ustino tudo o que nos di+ so!re ele e não parece ter nen7uma tradi"ão especial, todas as pro!a!ilidades indicam que ele retirou esses detal7es do @i(logo, sem d*vida do 8re(cio que se perdeu6:. O texto que c7ego c7egouu até n's não est( compl completo. eto. alta-nos alta-nos a dedica dedicat'ria t'ria e parte do cap>tulo 4?, onde estaria registrada a passagem do primeiro para o segundo dia de discussão. Os especialistas são unVnimes em apontar a alta de estilo e de o!jetividade do autor. Em muitos momentos, suas palavras são conusas e excessivamente repetitivas. O texto apresenta constantes digressões e extensas cita"ões !>!licas. Estas, por sua ve+, segundo 9o!ic7on, estão de acordo com um método exegético que usa a transcri"ão do texto como ponto de partida para mel7or compreendê-lo. %ustino oerece, assim, uma respost %ustino respostaa anteci antecipada pada a todas as cr>ticas que deploram essas Mintermin(veis cita"õesN, que teriam por eeito tornarr pesadas as suas proposi"ões. torna proposi"ões. importVncia importVncia dessas cita"ões no Diálogo exprime, com eeito, a 7umildade de um comentarista 27 28
)B&CEQ, /!. 0it., p. 24;. $CD9F
que nã que nãoo te tem m a pr prep epot otên ênci ciaa de ac7 ac7ar ar qu quee seu di discu scurs rsoo po possa ssa 63 prevalecer so!re o que o inspira . esse respeito, %ustino di+G )e agora vos repito aquilo que j( antes tin7a dito muitas ve+es, não me parece coisa ora de prop'sito. )empre estamos vendo o sol, a lua e os astros percorrer o mesmo camin7o, tra+endo-nos mudan"as de esta"õesL não é porque se perguntou muitas ve+es a um co cont ntad adoor qua uannto sã sãoo do dois is mai aiss do dois is e po porr se sem mpr pree te terr respo res pond ndid idoo qu quat atro ro,, qu quee el elee de deix ixar ar(( de di di+e +err qu quee sã sãoo qu quat atro ro.. Uuanto mais se airma com certe+a, sempre se di+ e se airma do mesmo modo. ssim sendo, seria rid>culo que alguém, tendo as Escr Es crit itur uras as do doss pr pro oet etas as co como mo o! o!je jeto to de su suaa co conv nver ersa sa,, as a!an a! ando dona nasse sse e nã nãoo re repe peti tisse sse sem sempr pree as me mesm smas as co coisa isas, s, ma mass pensasse em cogitar coisas mel7ores por conta pr'pria 1 Diál. :,5. o longo dos ?6 cap>tulos do Diálogo, em muitos momentos, temos a impressão de le lerr um ve verd rdad adei eiro ro mo mon' n'lo logo go.. &o en entan tanto to,, est estas as ca carac racter ter>st >stic icas as nã nãoo po pode dem m ser consideradas como al7a do autor, so!retudo quando comparamos o Diálogo com Trifão com as !ologias, cuja clare+a, o!jetividade e plano de argumenta"ão são evidenciados por %ustino. %ustino. Esta di dieren eren"a "a tex textua tuall exi existen stente te ent entre re o Diálogo e as as !ologias !ologias pode ser parcialmente explicada por se tratarem de gêneros liter(rios dierentes;. @e qualquer orma, o que pode podemos mos airmar com certe+a é que a ausência desta mesma org organi+a"ã ani+a"ãoo no Diálogo não pode levar conclusão de que o texto simplesmente oi mal escrito. Diraslov
Darcovic7 Darcov ic7 d( uma explica"ão muito pertinente pertinente a respeito destas repeti"ões repeti"ões ao reletir por que %ustino e+ questão de registrar dois dias de discussão, se apenas um dia seria suiciente para a!ordar todos os aspectos apresentadosG Din7a ideia é que a adi"ão de um segundo dia de discussões oi um arti>cio que permitiu a %ustino repetir algumas de suas per>copes do T e sua exegese. #sso porque, no segundo dia, Trião c7ega com um gr grup upoo di die eren rente te de co comp mpan an7e 7eir iros os,, qu quee 7a 7avi viam am pe perd rdid idoo as 29 30
%F)T#& D$T^$. Dialogue a%ec Try!"on. Adition critique, traduction, commentaire par 87ilippe 9O9#CO&. ri!ourgG cademic 8ress ri!ourg, 6;, p. , vol. #. O gênero do Diálogo permite uma maior li!erdade de composi"ão. composi"ão. %( as !ologias !ologias são documentos ormais. )egundo ans-%Srg =itter, Mormalmente, as !ologias não são somente uma deesa ilos'ica e argumentativa do cristianismo, mas tam!ém uma peti"ão jur>dica que visa um processo oicial a li7ellis 1termo 1ter mo téc técnic nico5. o5. Cer Certam tament entee oi ent entreg regue ue na res respec pectiva tiva c7a c7ance ncelar laria ia imp imperi erial. al. Tr Trata atavava-se se de um procedimento jur>dico por via administrativa, previsto no direito civil romano. O o!jetivo desta peti"ão era a descriminali+a"ão do nomem c"ristianumN. 1=#TTE$, /!. 0it., p. 25.
discussões da véspera. #sso d( a %ustino a oportunidade de repetir, para pa ra os re recé cémm-c7 c7eg egad ados os,, os po pont ntos os qu quee el elee co cons nsid ider eraa ma mais is ; importantes . ssim, a desorgani+a"ão interna do texto pode ser relativi+ada, se a considerarmos como co mo res resul ultan tante te de um umaa in inten ten"ão "ão um tan tanto to qu quan anto to pr prop opos osit ital al de %u %usti stino no..
como co mo um te text xtoo in inser serid idoo na
literatura polêmica judaico-cristã, mas que, no entanto, possui nuances que o a+em destoar de textos posteriores tam!ém enquadrados nesta literatura. 8ara =erner %aeger o Diálogo é
31 32 33
#F)T# D$T^$#), !ologiae !ro 0"ristianis 8 Dialogus cum Try!"one Try!"one.. 9erlinL &eI ^or_G =alter de KruPter, 6, p. 26. #dem, p. 2;. $D
exem ex empl ploo Md Mdee um ve verd rdad adeir eiroo es esor or"o "o po porr pa part rtee de am am!o !oss os in inte terlo rlocu cuto tore ress pa para ra se entenderem, em ve+ de a+er perguntas pelo mero desejo de reut(-lasN ;?. III. A datação do Diálogo e onde ele foi escrito
O Diálogo o oii es escr crit itoo de depo pois is da I !ologia :;. 8ortanto, investigar a data de comp co mpos osi" i"ão ão da dass !ologias é im impo port rtan ante te para precisa precisarr qu quan ando do o Diálogo oi escrito. escrito. )egundo rc7am!ault rc7am!aul t;2, a I !ologia oi escrita entre - d.C.;4. odo de pa+ relativa que tornou poss>vel a ela!ora"ão da o!ra ;:. 8ensar a composi"ão do texto numa data posterior morte de ntonino 8io incorre na aproxima"ão da morte do apologista, em 2. Como acilmente podemos dedu+ir que este *ltimo per>odo de sua vida oi tur!ulento, a ponto de precipitar seu mart>rio, é di>cil imaginarmos que uma o!ra de taman7a envergadura pudesse ser escrita nessas condi"ões. ssim, Mpodemos airmar que o Diálogo oi composto entre as datas limite ;-2, e provavelmente conclu>do antes de
2N;3. Como vimos, o encontro com o judeu Trião ocorreu pouco depois da $evolta de 9ar Coc7!a, uma ve+ que %ustino salienta que os compan7eiros de Trião conversavam so!re ela?. #sso signiica que o apologista escreveu a o!ra mais de 6 anos depois do enco en cont ntro ro.. Co Cont ntud udo, o, on onde de %u %ust stin inoo es escr crev eveu eu o DiálogoW )e )egu gund ndoo r rc7 c7am am!au !ault lt,, nã nãoo 34 35 36 37
38 39 40
%EKE$, =erner. 0ristianismo !rimiti%o y !aideia griega. DéxicoG ondo de Cultura Economica, 32. p. ??. Em Diál. 6,2 %ustino di+ que escreveu ao imperador. Trata-se, Trata-se, portanto, da I I !ologia. $CD9Ftulo de César, poder>amos concluir que a o!ra ora composta antes de ;3 1quando Darco urélio se tornou César5. César5. &o entanto, essa data é exces excessivam sivamente ente precoce. precoce. Das o texto tra+ outros elementos que nos aproximam de uma conclusão mais verdadeira. %ustino em muitos momentos recon7eceu os atri!utos ilos'icos do pr>ncipeG isso implica que Darco urélio j( 7avia se convertido ilosoia 1esta decisão ocorrera quando ele tin7a 6 anos de idade5. ssim, a data de composi"ão do texto é posterior a ?4. Em I !ol. 63,6 %ustino menciona o preeito do Egito Dunatius elix, cujo mandato ocorreu entre nov. ?: e ago. ?. Em I !ol. e II !ol. 6,2, ele menciona um mérito conquistado por <*cio 0ero, tam!ém il7o de ntonino 8io. Este nasceu em ; e em ; entrou para o )enado. Em ? oi designado C/nsul. 8ortanto, para Dunier a I !ologia oi escrita entre ;?, per>odo dos méritos conquistados por <*cio 0ero. 0ero. )egundo rc7am!ault esse per>odo de pa+ é mencionado por %ustinoG M&ão M&ão tendes poder para por vossas mãos so!re n's porque sois impedidos pelos que agora mandamN 1 Diál. 2,?5. )B&CEQ, /!. 0it., p. 226. MUuando c7egamos no lugar onde 7( !ancos de pedra de um e de outro lado, dois compan7eiros de Trião sentaram-se num dos !ancos, um deles tocou no assunto da guerra que 7avia terminado na %udeia Diál. 3,;5. e come"aram a conversar so!re elaN 1 Diál.
dispomos de elementos claros para airmar que %ustino o escreveu em $oma, tal como ocorreu com as !ologias. pendência est( em sa!er quando oi a primeira estada do apologista na capital do #mpério. )e ele esteve em $oma pela primeira ve+ antes de escreverr as !ologias 1portanto, antes de ou ;5, o Diálogo escreve Diálogo oi escrito em $oma. &o entanto, entant o, se sua primeira estada oi durante a compo composi"ão si"ão das !ologias 1- ou ;?5, ap's esse per>odo, ele deixou de residir em $oma. odo entre estas duas estadas oi !reve, é poss>vel que o apologista o ten7a composto ap's o seu retorno. amman, em sua reconstitui"ão cronol'gica da vida de ). %ustino, aventou a 7ip'tese de que o Diálogo ten7a sido escrito quando %ustino estava ora de $oma. )egundo ele, ap's o encontro com Trião em Aeso, %ustino em!arcou para a capital do #mpério, permanecendo na cidade até . 8ara amman, nesta primeira estada ele escreveu o Suntagma e a I I !ologia. Entre -, %ust %u stin inoo re reto torn rnou ou )a )ama mari riaa e l( es escr crev eveu eu o Diálogo, entendido como uma o!ra de reencontro e de experiência. inalmente, entre -2 %ustino vive sua segunda estada em $oma e se dedica atividade mission(ria por meio do ensino e do de!ate ilos'ico a um audit'rio de escravos, 7omens livres, estrangeiros cristãos ou pagãos. &essa época %ustino escreveu a II !ologia<=. explica"ão de amman nos parece muito mais sugestiva do que amparada em dados 7ist'ricos. composi"ão da II !ologia provavelmente não ocorreu depois de tanto tempo. %ustino não a teria pensado como uma segunda o!ra, mas como um apêndice primeira. &o entanto, a questão central é a alta de elementos 7ist'ricos que comprovem o retorno de %ustino para l(via &e(polis. O ato é que não podemos airmar, nem a dura"ão dessa sua ausência de $oma e nem onde o apologista esteve. Ele poderia ter retornado )amaria, )amari a, como tam!ém a Aeso ou viajado para qualquer outra cidade. @iante da alta de dados dad os 7is 7ist'r t'rico icoss mai maiss exp express ressivo ivos, s, rc7am!a rc7am!ault ult se con content tentaa em di+e di+err que queGG >&ada nos permit per mitee air airmar mar que %ust %ustino ino comp/s comp/s o Diálogo em $oma. &ão temos, portanto, como decidir de orma perempt'ria esta questãoN?6. Contudo, pensamos ser mais ra+o(vel deender a possi!ilidade do Diálogo ter sido escrito em $oma, centro do então c7amado #mpério uman>stico, por ali 7aver um 41 42
s ideias de amman oram mencionadas por )(nc7e+, $CD9F
/!. 0it.1 p. 22.
am!iente cultural avor(vel ao de!ate de ideias e produ"ão de con7ecimento. IV.. A estru IV estrutura tura do Diálogo
@ier @i eren entem temen ente te do qu quee oc ocor orre re na nass !ologias1
%usti %u stino no nã nãoo se segu guiu iu um pl plan anoo
rigoroso rigoro so para a composi"ão do Diálogo. )ua leitura nos causa a impres impressão são de que %ustino pode po deri riaa ap apres resen enta tarr o me mesm smoo co cont nte* e*do do de o orm rmaa ma mais is co conci ncisa, sa, se sem m com compr prom omete eterr a mensagem exposta ao longo de ?6 cap>tulos. cil esta!elecer uma estrutura clara para a o!ra, uma ve+ que o pr'prio %ustino não teve essa preocupa"ão. ssim, alguns espec esp ecial ialis istas tas pr proc ocur uram am di divi vidir dir o Diálogo
em trê trêss ou qu quat atro ro pa parte rtes, s, cad cadaa um umaa de delas las
a!rangendo muitos cap>tulos. %o7annes Uuasten divide o texto de %ustino da seguinte ormaG Cap>tulos 6-:
#ntrodu"ão
Cap>tul uloos 3-?4
Conceito cri risstão do TL
Cap> Ca p>tul tulos os ?: ?:- -: :
dor d ora"ã a"ãoo de de Cris Cristo to com comoo @eu @euss
Cap> Ca p>tul tulos os 33-? ?66 &a &a"õ "ões es qu quee seg segue uem m o Cr Crist istoo são o &o &ovo vo #s #sra rael, el, ve verd rdad adeir eiroo po povo vo escol7ido u!ertus $. @ro!ner segue a mesma estrutura de Uuasten. Ele acredita que o Diálogo oi escrito para os judeus, j( que ele undamenta seu conte*do no ntigo
Testamento, mostrando 7aver uma continuidade pensada por @eus da prepara"ão de #srael para o advento do Dessias, com as verdades cristãs preiguradas na ntiga lian"a?;. %( Diroslav Darcovic7 a+ a seguinte divisão do textoG Cap>tulos -3
8r'logo
Cap>tul uloos -? -?44
&ova
Cap>tul uloos ?: ?:- -:
8rova de de qu que %e %esu suss é o De Dess ssiias
Capp>t Ca >tul uloos 33-? ?66
Os Cri Crist stão ãoss com comoo &o &ovo #s #sra rael el
43
@$O9&E$, . Manual de atrologia. 8etr'polisG 0o+es, 0o+es, 6;, p. :2.
8ierre 8rigent demonstrou o quanto é complexa a tentativa de esta!elecer uma estrutura ou um plano do texto ??. O pro!lema central é que a escol7a de algumas tem(ticas predominantes em uma quantidade tão grande de cap>tulos não leva em conta outros assuntos que surgem em meio a essas divisões extensas. 8rigent airma queG %ustino utili+ou no @i(logo, como na primeira pologia, pequenos tratados anteriores que !em podem ter sido compostos por ele mesm me smo. o. Tai aiss tr trat atad ados os de deve vem m se serr vi vist stos os co como mo o ec ecoo de um ensina ens inamen mento to min ministr istrado ado em alg alguma uma a acul culdad dadee de teo teolog logia] ia] do ? cristianismo primitivo . V. Para quem se endereçava o Diálogo
Esta pergunta pergunta não é simples e não 7( um consenso entre os especial especialistas. istas. %ustino inicio ini ciouu a I !ologia com uma dedicat'ria clara que nos permite compreender a ra+ão da o!ra. o!r a. &o ent entant anto, o, o mesm mesmoo não acontece aconteceuu no Diálogo com Tr Trifão ifão . 8rovavelmente, esta ausência não se deve apenas ao gênero liter(rio adotado, mas perda de parte do texto original. 8ara Keorges rc7am!ault, a perda da dedicat'ria no pr'logo é atestada a partir de uma !r !rev evee pa pass ssag agem em do Diálogo que di+G Mpenas terminei de di+er estas coisas, car>ssimo amigo, os compan7eiros de Trião deram uma gargal7ada...N 1 Diál. :,;5?2. Dais adiante, adiant e, j( no inal da o!ra, o nome deste amigo é revelad reveladoG oG MCar>ssimo Darcos 8ompeu, 8ompeu, com estas palavras eu termino o meu discursoN 1 Diál. Diál. ?,5. 8or conseguinte, rc7am!ault consideraG um destinat(rio destinat(rio descon7ecido descon7ecido do Diálogo é aqui reveladoL ele é, ali(s, nomeado mais adiante, no cap. CR<#, G Darcus 8ompeius. A para pa ra el elee qu quee %u %ust stin inoo re retr tra" a"aa as pr prin inci cipa pais is pe peri ripé péci cias as de su suaa discussão com Trião e seus compan7eiros. O Diálogo era, pois, tal como a maior parte dos escritos da época, endere"ado a um amigo, e o ato de que o an/nimo !"4ltatos do cap. 0###,; não é nomeado senão no cap. CR<#, , supõe uma @edicat'ria perdida ?4. 44
45 46 47
8$#KE&T, 8ierre. Justin et l?ncien Testament. ?rgumentation scri!turaire du Traté de Justin contre toutes les "érésies comme source !rinci!ale du Dialogue a%ec Tr Tri!"on i!"on et de la rimi3re !ologie. 8arisG %. Ka!alda, 32?, p. ?-:. #dem, p. 2. Esta cita"ão é interessante, pois, além de indicar que o texto est( corrompido, permite supor que %ustino teria deixado claro quem era esse amigo na dedicat'ria da o!ra. $CD9F
@e qualquer orma, as palavras de rc7am!ault não esclarecem toda a questão. relexãoo so!re o destin relexã destinat(rio at(rio da o!ra é importante, importante, pois ornec ornecee elementos mais seguros a respeito de quais seriam as inten"ões de %ustino com este texto. Esta discussão est( a!erta entre os especialistas, que procuram avaliar três possi!ilidadesG . O Diálogo oi endere"ado aos judeusL 6. Os destinat(rios seriam os pagãosL ;. O p*!lico-alvo do texto eram os cristãos. Em alguns momentos, momentos, uma mesma cita"ão do Diálogo é utili+ada como prova da destina"ão a p*!licos dierentes, dependendo da a!ordagem dada pelos estudiosos. )omase a isto, tam!ém, a possi!ilidade de que %ustino pensasse em mais de um grupo como destinat(rio de sua o!ra. &o entanto, em lin7as gerais, vamos investigar cada uma das 7ip'teses. !. Os "udeus seriam a ra#ão de ser do Diálogo?
posi"ão mais tradicional é a de que o Diálogo oi escrito para um p*!lico judeu. )egundo @aniel $ui+, os judeus seriam a principal ra+ão para %ustino escrever o textoG podemo pode moss a air irma marr qu quee o oii um +e +elo lo ar arde dent ntee po porr co conv nver erte terr ao cristianismo os il7os de #srael que moveu o apologista cristão a redi re digi girr se seuu a amo moso so Diálogo, sem d*vida o resumo de muitas discussões orais sustentadas com eles so!re temas tão candentes como a messianidade e a divindade de %esus, com todas as enormes consequências para aquele povo desventurado que 7avia negado sua messianidade e o 7avia condenado morte por proclamar sua divindade?:. Essa possi!ilidade tam!ém oi deendida por rculo judaico, visando conversão dos judeus ao cristianismo. Estaa vis Est visão, ão, ain ainda da que mai maiss re reque quente ntemen mente te assu assumid midaa por esp especia ecialist listas as mai maiss antigos, tam!ém é considerada v(lida em estudos mais recentes. 8ara llert, o ato de 48 49
9FE&O, /!. 0it.1 66, p. 3. <K$&KE, D.-%. Saint justin- !"iloso!"e1 martyr . 8arisG 0ictor
%ustino a+er, ao longo do texto, in*meras cita"ões do ntigo Testamento, revela sua inten"ão de atingir um p*!lico judeu. lém disso, qualquer leitura casual do documento revela o seu oco centrado na vel é que o Diálogo seria uma contri!ui"ão de %ustino para a ati ativid vidade ade mis missio sion(r n(ria ia cris cristã tã num am! am!ien iente te mar marcad cadoo por pr( pr(tica ticass pro proseli selitis tistas tas ent entre re cristãos e judeus e entre judeu-cristãos e cristãos gentios. llert menciona ainda o tra!al7o de =. )7 )7ot otIe Iell ll so!re o uso que %ustino a a++ da agadá , in inco corp rpor oran ando do-a -a na su suaa argumenta"ão de orma muito similar exegese ra!>nica, o que segundo ele, implicaria necessariamente um p*!lico judeu 6. 8or im, llert considera o aspecto mais importante so!re esta questão que tam!ém oi de!atida por )tPlianopoulos ;G Mtalve+, a mais orte evidência em avor de uma destina"ão aos judeus, seja a convic"ão de %ustino de que uma por"ão remanescente dos judeus, segundo o plano de @eus, resta ainda por ser salvaN ?. #sso pode ser veriicado em três momentos no Diálogo. Em Diál. ;6,6, temosG Contudo, em todos os meus racioc>nios eu parto das Escrituras pro pr oét étic icas as,, qu quee sã sãoo sa sant ntas as pa para ra v' v's, s, e ap apoi oiad adoo ne nela lass eu vo voss apresento apresen to as min7a min7ass demo demonstra"õ nstra"ões, es, esperando que alguém de v's possa encontrar-se no n*mero dos que oram reservados, pela gra"a do )en7or dos exércitos, para a eterna salva"ão. )egundo llert, esta cita"ão indica o prop'sito da o!raG utili+ar as Escrituras aceitas pelos judeus para demonstrar a verdade do cristianismo e assim convertê-los. Em Diál. ,;, temosG Então podereis compreender que, por causa de vossa maldade, @eus @e us vo voss oc ocul ulto touu a sa! sa!ed edor oria ia co cont ntid idaa em su suas as pa palav lavras ras,, co com m 50 51 52 53 54
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exce"ã "ãoo de alguns, aos quai ais, s, pel elaa gra ra""a de sua grande mise mi seric ric'r 'rdi dia, a, co como mo di disse sse #sa #sa>a >as, s, de deix ixou ou co como mo sem sement entee pa para ra a salva"ão, como )odoma e Komorra. 8restai, portanto, aten"ão s cita"ões que arei das santas Escrituras. Elas não necessitarão de interpreta"ão, mas apenas de serem ouvidas. %ustino deixa claro que nem todos os judeus se convertem por não aceitarem a explica"ão cristã das Escrituras. O pequeno grupo dos convertidos, por sua ve+, cumpre um plano escatol'gico de @eus. Em Diál. 2?,6-;, temosG isso eu respondiG - Trião, se eu osse como v's, 7omem amigo de disputas e va+io, não continuaria a discutir convosco, pois não estais disposto a entender o que se di+. 8ensais apenas em agu"ar a mente para responder. Todavia, como temo o julgamento de @eus, não me apresso a airmar, a respeito de ninguém de vossa ra"a, que não perten"a ao n*mero dos que, pela gra"a do @eus dos exércitos, podem pod em salv salvarar-se. se. 8or isso isso,, po porr mai maiss mal mal>ci >ciaa que dem demons onstrei treis, s, continuarei conti nuarei respondendo respondendo a tudo o que o!jetardes e contrad contradi+erdes. i+erdes. A o que a"o a!solutamente com todos, de qualquer na"ão que sejam e que queiram discutir comigo ou inormar-se so!re estas questões. gora, porém, que os que se salvam de vossa ra"a, se salvam por Cristo e estão ao seu lado, é algo que j( dever>eis ter compreendido se ti tivé véss ssei eiss pr pres esta taddo at aten en"ã "ãoo s pas assa saggen enss da Esc scri ritu tura ra ante an teri rior orme ment ntee ci cita taddas por mim e, é cl clar aroo, não me te ter> r>ei eiss perguntado. 8orr i 8o im, m, pa para ra l lle lert rt,, aq aqui ui te temo moss um re resu sumo mo da dass in inte ten" n"õe õess do DiálogoG as escrituras demonstram que a salva"ão dos judeus acontece através de %esusL %ustino não se coloca na posi"ão de julgar quais judeus pertenceriam ao grupo remanescente dos que serão salvos na escatologia. Trata-se de um plano divinoL o +elo e a paciência de %ustino em continuar alando das escrituras decorre de acreditar na salva"ão dos remanescentes. $. Os destinatários do Diálogo seriam os %a&ãos
C7arles . Cosgrove airma que dol dol von arnac_2, em 3;, oi o primeiro sc"olar
a su suge geri rirr um audit audit'r 'rio io pagão pagão para para o Diálogo;B . @epois, Cosgrove discute as
argumenta"ões apresentadas por T7eodore )tPlianopoulos: a respeito de um p*!lico pagão para a o!ra. )ão elasG . O destinat(rio Darcos 8ompeu 3 é um nome romano 1portanto, o p*!lico era pagão5. 6. Em v(rios momentos do Diálogo %ustino se dirige aos gentios Diál 1 . 6;,;L 6?,;L 63,L ;6, etc.5. ;. O teor ilos'ico do pr'logo avorecia leitores pagãos. ?. orma liter(ria do texto tam!ém avorece a pagãos instru>dos. Essas argumenta"ões são acilmente contestadas por Cosgrove e Craig @. llert aprounda essa cr>tica. O nome Darcos 8ompeu aparece apenas uma ve+ em toda a o!ra. Certamente, ao longo de tantos séculos, o Diálogo oi copiado in*meras in*meras ve+es. 8or conseguinte, conseguinte, existe a possi!ilidade de que o nome ten7a sido inserido por um dos copistas. llert salienta que o nome, por si s', não pode di+er nada a respeito do p*!lico destinat(rio da o!ra, uma ve+ que Darcos 8ompeu não apenas poderia ser um gentio, mas tam!ém um pagão convertido ao cristianismo, ou até mesmo um judeu, uma ve+ que era comum judeus adotarem nomes gregos ou romanos. 1l(vio %oseo é um exemplo5 2 llert a+ ainda outra o!serva"ãoG Darcos 8ompeu podia muito !em não ser o desti de stina nat(r t(rio io do te text xto. o. O Diál. :,; e ?, seriam reerências isoladas. inda que a dedicat'ria perdida pudesse mencionar e esclarecer alguma coisa so!re Darcos 8ompeu, caso %ustino imitasse o modelo plat/nico plat/nico em seu texto, tal men"ã men"ãoo seria apenas um eeito dram(tico, que nada indicaria de orma conclusiva so!re o destinat(rio do Diálogo. Darcos 8ompeu, assim como o Te'ilo do Evangel7o segundo )ão
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CO)K$O0E, C7arles . %ustin DartPr and t7e Emerging C7ristian Canon. O!servations on t7e 8urpose and @estination o t7e @ialogue Iit7 TrPp7o. #igiliae 0"ristianae, 0ol. ;2, &o ;, set. 3:6, p. 6. $&Cb, dol von. %udentum und %udenc7ristentum. #nG Justins Dialog mit Try!"on. TC ;3, 3;, p. ?4-::. Outros autores autores que tra!al7am com esta esta 7ip'teseG 7ip'teseG KOO@E&OFK, E.$. T"e t"eology of Justin Martyr1 p. 32- 32-LL ^<@ ^<@<, <, &iels. "iloso!"ie und 0"ristentum- 'ine Inter!retation der 'inleitung um Dialog Justins1 p. 2-66L <)O&, %on. To =7om #s %ustins @ialogue Iit7 TrPp7o ddressedW ddressedWTS ;:H;, 344, p. ;:-?2. )T^<#&O8OFssimo Darco 8ompeu, com estas palavras eu termino o meu discursoN 1 Diál. Diál. ?,5. <
plano no que tange aos reais destinat(rios 2. 8rovavelmente, %ustino endere"asse sua o!ra a um p*!lico maior, e a igura de Darcos 8ompeu seria somente um destinat(rio de mera ormalidade no texto. )egundo llert, é isso que se pode concluir a partir do Diál. :,;, momento *nico em que %ustino maniesta sua inten"ão de escrever um texto a partir do di(logo em curso, deixando entender que ele desejava que sua o!ra atingisse um p*!lico mais amplo, o que para llert não exclui um audit'rio judeu. @i+ %ustinoG Com eeito, os que se c7amam cristãos, mas são realmente 7ereges sem @eus e sem piedade, j( expliquei, ensinam apenas !lasêmias, impiedades e insensate+. Uuanto a mim, para que sai!as que não digo isso apenas diante de v's, penso compor, conorme a min7a possi po ssi!i !ili lidad dade, e, um res resum umoo de to todo doss os ar argu gume ment ntos os qu quee vo voss apresentei. &ele escreverei que conesso a mesma coisa que digo diante de v's. @e ato, eu não me dispon7o a seguir 7omens ou ensinamentos 7umanos, mas a @eus e aos ensinamentos que dele provêm 1 Diál. Diál. :,;5. %( para )(nc7e+ a dedicat'ria a Darcos 8ompeu pode ser compreendida a partir da orma de diusão de um livro na antiguidade, mais precisamente no século ##, onde provavelmente, a circula"ão privada prevalecia so!re a edi"ão de livreirosG Ele o conia a Darcus 8ompeius, que se encarrega da diusão organi+an org ani+ando do leituras priva privadas das da nova o!ra entre cristãos, e depo depois is da transcri"ão, criando c'pias para passar imperceptivelmente, sem nen7uma nen7 uma diiculdade, diiculdade, da distri!ui"ão distri!ui"ão em pequ pequena ena escala diusã diusãoo 26 para um p*!lico mais amplo . )(nc7e+ conclui que Darcos 8ompeu seria uma espécie de agente liter(rio de %ustino, convidado por ele a uma leitura atenta da o!ra ou para a+er uma c'pia dela. se segu gund ndaa ar argu gume ment nta" a"ão ão de qu quee %u %ust stin inoo se di diri rige ge ao aoss ge gent ntio ios, s, qu quee sã sãoo mencionados v(rias ve+es no texto, requer uma an(lise dos termos por ele utili+ados. Em Diál. 6;,; temosG E como ninguém dissesse nada, continueiG - 8or isso, ' Trião, para ti e para todos aqueles que querem tornarse pro proséli sélitos tos vos vossos, sos, anu anunci nciarei arei uma pal palavr avraa div divina, ina, que ouv ouvii
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#dem. )B&CEQ, /!. 0it.1 p. 4.
daquele 7omem. &ão vedes que os elementos nunca descansam, nem guardam o s(!adoL permanecei como nascestes. %ustin %us tino, o, nest nestaa pas passag sagem, em, uti utili+a li+a o term termoo f fh hkf kf 1pr 1prosé osélit litos5. os5. Cro Crosgo sgove ve lem!ra que para T7eodor Qa7n os amigos de Trião não eram judeus, mas gentios Mtementes a @eusN, ainda não circuncidados2;, dado o ato de %ustino incentiv(-los para que permanecessem perman ecessem nesse estado. Diroslav Darcovic7 airma que o Diál. 6;,; deu margem a que v(r v(rios ios espe especial cialista istass con consid sideras erassem sem que %us %ustin tinoo esta estaria ria ten tentand tandoo per persuad suadir ir gen gentio tioss inclinados ao juda>smo. Ele pr'prio parece acreditar ser esta a 7ip'tese mais plaus>vel2?. Em Diál. 6?,;, temosG 0inde comigo, todos v's que temeis a @eus e que desejais ver os !ens de %erusalém. 0inde, camin7aremos na lu+ do )en7or, porque ele perdoou o seu povo, a casa de %ac'. 0inde, na"ões todas, reunamo-nos na %erusalém que j( não é com!atida pela iniquidade de seus povos. #sa>as clamaG Tornei-me maniesto aos que não me !uscavam, ui encontrado por aqueles que não perguntavam por mim]. Em Diál. ;6,, temosG Tudo o que eu vos alava, eu vos alava como digressão, para ver se inalmente acreditais no que @eus di+ contra v's, que sois il7os inse in sens nsat atos os], ], e aq aque uela la ou outr traa pa pass ssag agem emGG 8 8or or is isso so,, ve vede de qu quee continuarei conti nuarei a perseguir este povo, e os perseguirei perseguirei e tirarei de seus s(!ios a sa!edoria e dos inteligentes esconderei a inteligência]. ssim, aprendereis de n's, que omos ensinados pela gra"a de Cristo e deixareis de enganar a v's mesmos e aos que vos ouvem. 8ara Qa7n, esta passagem prova que os gentios mencionados no Diál. 6;,; eram estudantes, disc>pulos dos mestres judeus. 8or im, Cosgrove menciona outras passagens que, segundo arnac_ 2, são indicadoras de que a o!ra oi endere"ada aos pagãosG Kloriiquemos a @eus, todas as na"ões juntamente reunidas, porque ele ol7ou tam!ém para n's. @emos-l7e gl'ria, por meio do $ei da Kl'ria, por meio do )en7or das potências. 8orque ele tam!ém aprovou as na"ões e rece!e os nossos sacri>cios com mais gosto do quee os vo qu voss ssos os.. 8a 8ara ra qu quee a ala larr de ci circ rcun unci cisã sãoo se j( te ten7 n7oo o 63 64 65
Q&, T7eodor. T7eodor. . )tudien +ur %ustinus DartPr, Eeitsc"rift f5r Firc"eng Firc"engesc"ic"te esc"ic"te :, ::2, p. 2. D$CO0#C, /!. 0it., p. 2?. $&Cb, .. Judentum und Judenc"ristentum , -6, no 6.
testemun7o de @eusW Uue necessidade 7( daquele !an7o para quem oi !an7ado pelo Esp>rito )antoW 1 Diál. 63,5. isso eu respondiG - Trião, Trião, se eu osse como v's, 7omem amigo de disputas e va+io, não continuaria a discutir convosco, pois não estais disposto a entender o que se di+. 8ensais apenas em agu"ar a mente para responder. Todavia, como temo o julgamento de @eus, não me apresso a airmar, a respeito de ninguém de vossa ra"a, que não perten"a ao n*mero dos que, pela gra"a do @eus dos exércitos, podem pod em salv salvarar-se. se. 8or isso isso,, po porr mai maiss mal> mal>cia cia que dem demons onstre treis, is, continuarei respondendo a tudo o que o!jetardes e contradi+erdes. A o que a"o a!solutamente com todos, de qualquer na"ão que sejam e que queiram discutir comigo ou inormar-se so!re estas questões 1 Diál. Diál. 2?,65. &ão somos, portanto, uma ple!e despre+>vel, uma tri!o !(r!ara, uma na"ão de c(rios ou r>gios, mas @eus nos escol7eu e, aos que não perguntaram por ele, se tornou maniesto ao di+erG Eis que sou @eus para um povo que não 7avia invocado meu nome]. @e ato, esse é o povo que outrora @eus prometera a !raão, anunciandol7e que seria pai de muitas na"ões 1...5 1 Diál. 3,?5. Cosgrove Cosgr ove se posi posiciona ciona de maneira contr(ria contr(ria argu argumenta" menta"ão ão de que estes trec7os do Diálogo indicam um p*!lico pagão. 8rimeiramente, em rela"ão aos termos utili+ados por %ustino, além de fhkf 1prosélitos5, identiicados por Qa7n com os Mtementes a @eusN, @eu sN, o apo apolog logista ista tam!ém tam!ém uti utili+a li+a,, em Diál. ,?, a expressão fff kf f 1tementes @eus5. 8or isso, Cosgrove conclui que Mnão 7( evidência, no contexto ou no restoo do @i( rest @i(log logo, o, de que %ustino %ustino use, seja f fh hkf kf, , sej sejaa f ff ff f kf f no senti sen tido do ale alega gado do po porr Qa Qa7n 7n.. n nte tes, s, es esses ses te term rmos os sã sãoo us usad ados os nu num m sen sentid tidoo ge geral ral,, pa para ra descrever todos os convertidos ao cristianismoN 22. Em rela" rela"ão ão ao Diál. 6?,; e 63,, segundo Cosgrove, essas passagens não se reerem a Trião e seus compan7eiros. m!as estão carregadas de um tom !>!lico, cujo teor era lit*r lit*rgico. gico. Talve+, Talve+, ossem 7ino 7inoss utili+ utili+ados ados pelos primei primeiros ros cristão cristãos. s. 8ortan 8ortanto, to, elas di+em respeito a cristãos gentios e não a prosélitos judeus. 8or im, a inten"ão de arnac_ de recon7ece recon7ecerr os pagãos pagãos a par partir tir do Diál. 3,? tam!ém não se sustenta, uma ve+ que %ustino se identiica com o grupo, cujo povo j( é santo, isto é, j( é convertido. Fma ve+ discutidos os argumentos que levam em conta a igura de Darcos 8ompeu e as passagens que poderiam se relacionar diretamente com os pagãos, resta 66
CO)K$O0E, /!. 0it., p. 6;.
a!ordar se o conte*do ilos'ico do texto e a sua orma liter(ria indicariam com precisão que o p*!lico alvo do Diálogo eram os gentios. @essa maneira, um outro ponto que poderia dar crédito destina"ão do Diálogo ao p*!lico pagão é o teor ilos'ico do texto. Os primeiros 3 cap>tulos do Diálogo, em que %ustino discute sua trajet'ria intelectual e a sua conversão, reor"am a opinião de que o texto se destinava a pagãos em detrimento de um p*!lico judeu. ra+ão é !em simplesG %ust %u stin ino, o, ao ap apres resen entar tar o cri crist stian ianis ismo mo co como mo a ve verd rdad adeir eiraa i ilo loso soia ia,, al alaa ao aoss ge gent ntio ioss amiliari+ados com a ilosoia grega. llert menciona o tra!al7o de Koodenoug7, que a!orda o pro!lema da descontinuidade entre o pr'logo, os cap>tulos -3 1que tratam de questões questõ es ilos'icas5 e o restante da o!ra, os cap>tu cap>tulos los -?6 1que tratam dos pro!lemas pro!lemas candentes do de!ate judeu-cristão524. )egundo Koodenoug7, o oco de %ustino não seria a controvérsia em si, mas convencer um p*!lico pagão de que as questões ligadas revela"ão estão acima das questões ilos'icas. &o entanto, não podemos negar que judeus da di(spora pudessem possuir certa amiliaridade com questões ilos'icas. O pr'prio Trião seria um judeu 7eleni+ado. lém disso, conorme llert, Mnão 7( ra+ão para não considerar a 7ip'tese de que o Diálogo possa ter como undo o de!ate judeu-cristão, e ainda assim a!ranger questões ilos'icas, justiicadas pelo clima cultural mais amploN2:. '. Justino escreveu o Diálogo %ara os cristãos
Cosgrove sustenta essa 7ip'tese como a mais prov(vel, pois nota-se que um mesmo assunto presente no Diálogo é a!ordado nas !ologias de orma mais expli explicativa cativa ou di did( d(ti tica, ca, po pois is es estas tas *l *ltim timas as de desti stina navam vam-se -se a pa pagã gãos os qu quee nã nãoo co con7 n7eci eciam am ne nem m as Escrituras e nem o cristianismo. Escrevendo o Diálogo para os cristãos, muitas explica"ões eram desnecess(rias23. Outro argumento, mais signiicativo, é o ato de que %ustino a!orda uma série de pro!lemas da #greja que s' seriam relevantes para leitores cristãos 4, tais
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T"eolo ology gy of Jus Justin tin Mar Martyr tyr.. n In% In%est estiga igatio tion n Into Into of 0on 0once! ce!tio tions ns of 'ar 'arly ly KOO@E& KOO @E&OFK OFK. . T"e T"e 0"rist 0"r istian ian it itera eratur turee and Its &el &ellen lenist istic ic and Jud Judais aistic tic Inf Influe luence nces. s. %ena %ena.. 0erlag romm rommannsc annsc7e 7e 9ulc77andlung, 36;. <
como o adocionismo 4, o docetismo46 e o milenarismo4;. Contudo, a questão central para Cosg Co sgro rove ve é a de que que o Diálogo oi endere"ado aos cristãos devido preocupa"ão de %ustino em a!ordar o pro!lema do CVnon dentro de um contexto de oposi"ão s posturas de DarciãoG )e o @i(lo @i(logo go oi escrito para a #greja $omana $omana em algum momento momento depois de ;, ele oi produ+ido na altura do programa anti-judaico de Da Darc rciã ião. o. Fm Fmaa ve ve++ qu quee Da Darc rciã iãoo o oii o pr prim imei eiro ro,, at atéé on onde de sa!emos, a promulgar um cVnon escrito ixo, e uma ve+ que o cVnon radical por ele ela!orado era o resultado de uma teologia pela qual ele oi excomungado da #greja $omana, %ustino deve ter considerado necess(rio rever a questão do cVnon, contestando o que 7avia sido proposto por Darcião 4?. &a verdade, %ustino não trata do CVnon de orma expl>cita. expl>cita. &o entant entanto, o, segundo Cosgrove, o silêncio do apologista sugere sua opinião so!re o assunto. 8orr i 8o im, m, Di Dira raslo slovv Da Darco rcovi vic7 c7 lem lem!r !raa a po posi" si"ão ão de dee end ndid idaa po porr T7 T7eo eodo dore re )tPlianopoulos, que airma que o conte*do do Diálogo avorece mais um audit'rio cristão ou judeu do que um p*!lico pagão. O principal argumento é que %ustino lida com as questões centrais do de!ate judeu-cristão4.
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)egundo Cristiani, o adocionismo oi iniciado por Te'doto, Te'doto, rico curtidor de 9i+Vncio. Te'doto compreendia que o t>tulo il7o de @eus reerente a %esus, implicava necessariamente em sua ado"ão. O adocionismo adocio nismo oi condenado condenado em 3 pela 8apa 0itor 0itor #. C$#)T#, C$#)T#, Donsen7or Donsen7or.. 9re%e &ist2ria das &eresias. )ão 8auloG Editora lam!oPant, 326, p. ;. )egundo T"e 0at"o 0at"olic lic 'ncyc 'ncyclo!edi lo!edia1 a1 do doce ceti tism smoo ve vem m do te term rmoo gr greg egoo Md Mdo_ o_es esis isNN qu quee si sign gni iic icaa MaparênciaN. Esta 7eresia airmava que %esus Cristo parecia ser 7omem e que seu nascimento, seus sorimentos e sua morte não passavam de uma ilusão. O docetismo não oi propriamente uma 7eresia cristã, pois não surgiu no interior do cristianismo e oi diundida por um grupo de iéis. Esses princ>pios vieram de ora, provavelmente gestados em seitas gn'sticas. Os gn'sticos, ao negarem a matéria, a+endo uma oposi"ão entre matéria e esp>rito não podiam aceitar a Encarna"ão do 0er!o. 0er!o. $E&@QE&, $E& @QE&, %. @ocetae. @ocetae. T"e 0at"olic 'ncyclo!edia. &eI ^or_G $o!ert ppleton CompanP, 33. cesso emG 6 de mar. de 6. &eI dventG 7ttpGHHIII 7ttpGHHIII.neIadvent.orgHcat7enH4c. .neIadvent.orgHcat7enH4c.7tm 7tm )egu )e gund ndoo T"e 0at"o 0at"olic lic 'ncyc 'ncyclo!ed lo!edia ia, M idei ideiaa unda undame menta ntall do mile milena naris rismo mo,, de acor acordo do com com a compreensão dos autores cristãos, pode ser assim esta!elecidaG &o im dos tempos Cristo retornar( em todo o seu esplendor para reunir os justos, para aniquilar os poderes 7ostis, e para undar na terra um reino glorioso no qual se desrutar( das mais altas !ên"ãos espirituais e materiaisL Ele em pessoa reinar( como seu so!erano, e todos os justos, incluindo os santos redivivos, terão parte nele. o inal desse reinado os santos entrarão no para>so com Cristo, enquanto os malditos, que tam!ém terão ressuscitado, serão condenados pena eterna. dura"ão desse reinado glorioso de Cristo e de seus )antos na terra é requentemente estimada em mil anos. 8or isso tal reinado é designado como o milênio, enquanto a cren"a cren"a na reali+ reali+a"ã a"ãoo utura utura desse desse reino reino é c7amad c7amadaa milena milenaris rismo moN. N. b#$)C b#$)C,, %.8 %.8.. Dille Dillennium nnium and Dillenarianism. T"e 0at"olic 'ncyclo!edia. &eI ^or_G $o!ert ppleton CompanP CompanP,, 3. cesso emG 66 de mar. de 6. &eI dventG 7ttpGHHIII.neIadvent.orgHcat7enH;4a.7tm 7ttpGHHIII.neIadvent.orgHcat7enH;4a.7tm CO)K$O0E, /!. 0it., p. 63-66. )T^<#&O8OF
VI. (rifão e)istiu
#nicialmente, ca!e discutir a pertinência desta questão. Uue importVncia tem uma relexão a respeito da existência ou não existência de TriãoW Fma ve+ que é imposs>vel sustentar a 7istoricidade de Trião por outra onte, este questionamento não seria um also pro!le pro !lemaW maW Cer Certame tamente nte,, não 7av 7averia eria sen sentid tidoo esp especu ecular larmos mos so! so!re re esta mat matéria éria com o o!jetivo de provar uma coisa ou outra. &o entanto, esta relexão que, redu+ida a si mesma, é in'cua, adquire novos contornos quando posta como um dos aspectos para discutirmos até que ponto o texto de %ustino seria algo meramente iccional ou algo que retrate algo so!re o relacionamento entre o juda>smo e o cristianismo no século ##, no qual temos demarcando as percep"ões de um judeu e de um cristão so!re a outra religião. 8orr co 8o cons nseg egui uint nte, e, po pode demo moss su sust sten enta tarr qu quee Tri riã ãoo nã nãoo ex exis isti tiu, u, de desd sdee qu quee consideremos a o!ra como uma ic"ão liter(ria narrada em orma de di(logo. Este gênero, comum aos il'soos, seria somente um recurso para %ustino desenvolver seu pensamento. Uualquer que osse a inten"ão do apologista com o texto, direcionado ou a judeus, ou a pagãos ou a cristãos, em nada alteraria seu car(ter iccional. Trião seria apenas um personagem criado pela imagina"ão de %ustino para atender seus o!jetivos, que, estes sim, quaisquer que ossem, eram !em reais. )o! este aspecto, )(nc7e+ deu vo+ ao pensamento de Kolda Kolda7n 7n,, ao airmar airmar que o Diálogo deveria ser entendido como um procedimento exclusivamente apologético de car(ter iccional, em que %ustino usou o nome de um ra!ino ilustre para a+er triunar o cristianismo so!re o juda>smo 42. @esta orma, Trião não existiu e o di(logo nunca aconteceu. Outr Ou traa po poss ssi! i!il ilid idad adee é re rec7 c7a" a"ar ar a id idei eiaa do Diálogo co como mo um umaa li lite terat ratur uraa inteiramente iccional, ainda que Trião não tivesse existido. ssim, o texto seria o resultado de uma série de conversas de %ustino com muitos judeus em seu o>cio de il'soo. Trião personiicaria uma s>ntese desses encontros. Esta parece ser a posi"ão de T7eodor Qa7n, que airma que o Diálogo possui reerências 7ist'ricas seguras misturadas com an antasi tasias as de %us %ustin tinoo44. Tri rião ão ser seria ia um pe perso rsona nage gem m est estili ili+ad +ado, o, um umaa im imag agem em de discussões reais de %ustino com doutores judeus. 8or im, devemos considerar a 7ip'tese da existência de Trião, o que implica em uma an(lise mais prounda a respeito de quem oi este judeu. Essa possi!ilidade é 76 77
KO<@&. KO<@ &. %ustinus DartPr und die gada. Monatssc"rift f5r 6esc"ic"te und Giss Gissensc"aft ensc"aft des Judent"ums1 66, :4;, p. ?3-2, ?-, ?-;, 3;-66, 64-623. Q&. @ic7tung und =a7r7eit in %ustins @ialog mit dem %uden TrPp7on. EF6 :, ::2, p. ;4-22.
plaus>vel, plaus> vel, pois o Diálogo nos ornece um conjunto de inorma"ões o!jetivas a respeito de Trião. Tri ão. Ele se apresen apresenta ta como um reug reugiado iado da guerra na 8alest 8alestina, ina, seguramente seguramente a de 9ar Coc7 Co c7!a !a.. o oii pa para ra Co Cori rint nto, o, on onde de vi vivi viaa no mo mome ment ntoo do en enco cont ntro ro co com m %u %usti stino no,, qu que, e, provavelmen prova velmente, te, ocorreu em Aeso. Os primei primeiros ros cap>tulos do Diálogo revelam que Trião con7ecia, com certa propriedade, a ilosoia grega. Ele mesmo disse que, em rgos, ora disc>p dis c>pulo ulo de um soc socr(ti r(tico co c7am c7amado ado Cor Corint into. o. Ess Esses es elem element entos os são int interes eressant santes, es, poi poiss provocam uma indaga"ãoG Trião seria um representante do juda>smo palestino ou do juda>smo da di(sporaW #nicialmente, os dados apresentados por ele nos permitem dedu+ir que ele transitou por am!os. 8ela discussão ilos'ica no in>cio do Diálogo1 em que Trião demonstra con7ecer 8latão, ele seria um judeu da di(spora. Contudo, ao se apresentar como co mo um re reu ugi giad adoo de 9a 9arr Co Coc7 c7!a !a 1 1;6 ;6- -; ;5, 5, gu guer erra ra t> t>pi pica ca do na naci cion onal alis ismo mo e messianismo judaico, Trião poderia ser um judeu palestino. Em contrapartida, o ato de ser um reugiado de 9ar Coc7!a não é suiciente para airmar que Trião era natural da 8alestina, pois ele poderia apenas estar na região quando se delagrou o conlito. 8or conseguinte, Trião é um judeu que testemun7ou o conlito entre romanos e judeus, de graves consequências para o juda>smoL que estava ciente da reormula"ão da vida religiosa e do pensamento judaico promovidos pelo juda>smo ra!>nicoL que rece!eu a cultura grega e se interessou pelo pensamento 7elen>stico 1ilosoia5L e, por im, não menos surpreendente, Trião é um judeu que sa!ia os elementos undamentais da é cristã e con7ecia os Evangel7os. Todos estes aspectos são constatados numa leitura atenta do Diálogo. questão éG este peril estaria presente de orma real em um judeu do segundo
século, ou esta descri"ão somente poderia existir no judeu imaginado por %ustinoW o longo de sua argumenta"ão, o cuidado de %ustino ao caracteri+ar Trião contri!ui para descartar uma reerência meramente imagin(ria de seu oponente. lém disso, não é di>cil recon7ecer que esse peril seria condi+ente com s(!ios, ou ao menos, com co m 7o 7ome mens ns in instr stru> u>do dos, s, cri cristã stãos os ou ju jude deus us,, po possu ssuid idor ores es de co cons nsid ider( er(ve vell o orm rma"ã a"ãoo ilos'ica e, ao mesmo tempo, preocupados com a relexão interna 1intra religiosa5, mas tam!ém curiosos so!re a exegese e o pensamento al7eio 1inter religioso5 para airmar com !ases mais consistentes a é que proessavam. @esta orma, é pereitamente poss>vel a existência de um judeu com os tra"os dados por %ustino a Trião. esse respeito, @. Tra_atellis analisa o comportamento de Trião ao longo do de!ate, levando em considera"ão que esse comportamento oi propositalmente mencionado por %ustino em v(rios momentos. Em outras palavras, %ustino e+ questão de reor"ar tra"os
pessoais que distinguiam Trião de seus compan7eiros. partir das interven"ões de Trião, Tra_atellis airma que %ustino o apresenta com um 7omem agrad(vel, cuja Vnsia pelo sa!er e pela verdade o e+ !uscar o de!ate de orma viva e alegre, visando um crescimento espiritual ao discutir questões relacionadas a @eus4:. Em muitos momentos sua reuta"ão é eita de orma cortês. Em outros, recon7ece a grande+a das palavras de %ustino e se mostra admirado com elas. #sso não signiica que Trião se manteve passivo o tempo todo ou que a!riu mão de suas convic"ões. Ele tam!ém e+ duras cr>ticas s posi"ões do apologistaG airmou que %ustino estava louco 1 Diál. ;3,;5 e que muitas de suas explica"ões eram artiiciais e !lasemas 1 Diál. Diál. 43,5. @epois de dois dias de discussão ele não oi convencido pelo apologista a a!ra"ar o cristianismo. Desmo assim, em todo o de!ate, %ustino deixou claro que a postura de Trião era !em dierente dos outros judeus que o acompan7avam, cujo comportamento comportamento grosseiro quase levou o apolo apologista gista a a!and a!andonar onar a discu discussão ssão43. )o!re este aspecto, Tra_atellis salienta que, a despeito das atitudes de seus compan7eiros, Trião se eso esor"o r"ouu em man manter ter a dis discuss cussão, ão, mes mesmo mo dia diante nte de con contro trovers versas as pol polêmi êmicas cas:. Em questões mais sens>veis, quando a discussão tornava-se candente, Trião se disp/s a ouvir com pra+er o que %ustino tin7a a di+er, mesmo não concordando com ele. Tra_atellis, ao destacar do texto as palavras de Trião, procurando analisar a imagem e os atri!utos que %ustino quis ressaltar em seu oponente, contri!ui para diluir a conc co nclu lusã sãoo de qu quee o Diálogo é na verdade um mon'logo, ainda que, numa visão de conjunto, esta impressão pare"a ser correta. Tam!ém põe em xeque a tendência de considerar Trião como um mero coadjuvante, cujas raras interven"ões são apenas um pretexto para %ustino continuar seu longo discurso. esse respeito, Tra_atellis airmaG O *l *lti timo mo po pont ntoo de deve ve ser enati+ enati+ad ado, o, po porq rque ue o Diálogo poderia deixar a impressão de que Trião est( inclinado a concordar com %ustino, e que ele unciona apenas como um acilitador para a exposi"ão de %ustino. O que vimos até aqui parece contrariar essa impressão. Trião é essencialmente um oponente ormid(vel, que, até o inal do @i(logo, levanta questões (rduas e volta a pontos
o T$bTE<<#), @emetrios. %ustin DartPrs TrPp7o. T"e &ar%ard T"eological $e%ie@ T$bTE<<#), $e%ie@11 0ol. 43, & . H;, C7ristians among %eIs and KentilesG EssaPs in onor o brister )tenda7l on is )ixtP-it7 9irt7daP, jan.- jul., 3:2, p. 63. 79 MEntão os compan7eiros de Trião deram novamente uma gargal7ada e come"aram a gritar de orma não educada. Eu me levantei e estava pronto para ir em!ora. Trião, porém, pegando-me pelo manto, disseme que não me deixaria até que eu tivesse cumprido a min7a promessaN 1 Diál. 3,65. 80 T$bTE<<#), /!. 0it., p. 63.
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di>ceis, provando que os seus assentimentos limitados e concretos não implicam em sua aceita"ão das teses propostas por %ustino:. E, inalmente, concluiG Trião é um pensador e de!atedor alerta e +eloso, que deende suas teses com uma inlex>vel devo"ão ao que ele acredita ser a verdade, e com ina!al(vel idelidade rito de li!erdade e de sa!edoria que o leva a aceitar certos aspectos particulares, !em documentados por seu oponente:6. an(lise de Tra_atellis é importante porque atenta para o ato de %ustino insistir em caracteri+ar Trião como um judeu que destoava dos demais, cujos tra"os pessoais são salientados e, de certa orma, admirados pelo apologista. Esta visão contri!ui para a 7ip' 7i p'te tese se da ex exist istên ência cia de Tri rião ão,, po pois is um pe perso rsona nage gem m im imag agin in(ri (rioo di disp spen ensa saria ria ta tais is preocupa"ões. Contudo, considerar a personiica"ão de Trião a!re camin7o para outra discussão, so!re sua poss>vel identiica"ão com o $a!ino Tarão. 8ara tanto corro!oram três aspectosG O primeiro considera Trião um judeu eminente a partir das palavras de Eusé!io, que o identiicou com o judeu mais céle!re da época. @esta orma, Trião Trião seria um s(!io s(!io,, um ra!ino. O segundo leva em considera"ão a aproxima"ão lexicogr(ica dos nomes 1em grego5 grego5
e wyz 1em 7e!rai 7e!raico5. co5. ssim, ssim, Trião Trião seria seria a orma grega grega para para o 7e!raico 7e!raico
Tarão. 8or im, o terceiro é uma veriica"ão 7ist'rica motivada pelos dois aspectos anteriores, e se sustenta por uma poss>vel constata"ão cronol'gica e geogr(ica de que o $a!inoo Tarão $a!in Tarão não apenas oi conte contemporV mporVneo neo de %ustin %ustino, o, como tam!ém seu compa compatriota. triota. 0iveram na mesma época 1Tarão morreu em e %ustino em 25 e na mesma região 1Tarão em
#dem, p. 63?. #dem, p. 63.
com %o7annes Uuasten, que considera o Diálogo como Muma disputa de dois dias com um s(!ioo jud s(!i judeu, eu, ver veross ossimi imilmen lmente te o mes mesmo mo ra! ra!ino ino Tarã arãoo men mencio cionad nadoo na Mis"náN:?. Tudo indicaa que a identi indic identiica"ão ica"ão de Trião com Tarão Tarão oi tomad tomadaa muito mais pela airma"ã airma"ãoo de Eusé!io. Fma an(lise mais atenta da igura de Tarão e de seu pensamento acilmente avorece a posi"ão contr(ria, que nega essa identiica"ão. @esta orma, outros especialistas airmam a impossi!ilidade de Trião e Tarão serem a mesma pessoa. )egundo )(nc7e+, amparado nos estudos de &. Plda7l :, se a discussão ocorreu realmente por volta de ;, %ustino deveria ter entre 6 e ; anos de idade 1tendo nascido por volta de a 5, e Tarão, de 4 a : anos. leitura do @i(logo não sugere uma grande dieren"a de idade entre os dois protagonistas, mas, em Dial. , o judeu daria mostras, até mesmo, de um complexo de inerioridade em rela"ão ao cristãoG o que é pouco veross>mil da parte de um Tarão de ti a>tica, ca, enq enquan uanto to Trião, judeu sem preconceitos, ugiu para Corinto por causa da guerra e e+ estudos de ilosoia:2. @ani @a niel el $u $ui+ i+ po pond nder eraa qu quee $. Tar arã ão, o, al além ém de gr gran ande de di disp sput utad ador or,, er eraa um intransigente inimigo dos judeu-cristãos, o que destoa da passividade de Trião, presente em muitos momentos do Diálogo. %ustino jamais teria dialogado com o Tarão 7ist'rico :4. <. =. 9arnard tam!ém salienta queG MA, portanto, muito improv(vel que ele osse o douto $. Tarão, Tarão, que pertencia segunda gera"ão dos mestres mestr es da Mis"ná Z e, de qualquer orma, $. Tarão era ortemente anticristão, enquanto Trião argumenta a partir de um desejo real de encontrar a verdadeN::. 8or im, é imp import ortant antee ress ressalta altarr que em nen nen7um 7um momento momento do Diálogo %ustino considera Trião um ra!ino. Caso ele o osse, certamente o apologista aria questão de o ressaltar. O pro!lema da identiica"ão de Trião com Tarão ou da sua nega"ão não é uma questão ec7ada entre os especialistas. &o entanto, os que a deendem pensam a partir da 84 85 86 87 88
UF)TE&, %. atrologia I- "asta el concilio de icea. DadridG 9i!lioteca de utores Cristianos 19C5, 6?, p. 66. ^<@<, &iels. TrPp7on und Tarp7on. Studia T"eologica1 , 32, pp. 44-::. )B&CEQ, /!. 0it.1 p. 233. Trif2n f2n. #nG 9FE&O, @aniel $ui+. adres !ost2licos !ost2licos y !ologistas 6riecos %F)T#&O, San. Diálogo con Tri (S. II). DadridG 9i!lioteca de utores Cristianos 19C5, 66. p. 3;. 9$&$@, <. =. T7e Old Testament Testament and %udaism in t7e =ritings o %ustin DartPr. #etus Testament estamentum um , 0ol. ?, no ?, Out., 32?, p. ;32.
airma"ãoo de Eusé! airma"ã Eusé!io io e !usca !uscam m uma l'gica para a sua valida"ão. valida"ão. 8or outro lado, os que a negam, amparam-se no con7ecimento do 7e!raico, no pensamento e na postura do ra!ino Tarão, que em nada se aproxima do Trião apresentado por %ustino. Tudo indica que, se Trião osse realmente o $a!ino Tarão, sua conduta no di(logo seria mais com!ativa, e, certamente, ele não aceitaria com tanta acilidade, ou com tanta passividade, as cr>ticas de %ustino s pr(ticas judaicas. )egundo <. =. 9arnard, seguramente, Trião era um judeu leigo e não um ra!ino. E para tanto, corro!ora dados esparsos, porém, signiicativos e veriicados ao longo do Diálogo. Trião não se inclui entre aqueles c7amados por ele de Mnossos mestresN, e se
inclui entre aqueles que oram alertados pelos mestres a não discutir com os cristãos cristãos:3. E, além disso, segundo 9arnard, Trião descon7ecia o 7e!raico. #sso a+ com que o juda>smo de Trião não esteja no mesmo grau de proundidade dos ra!inos, o que explicaria a ausência de uma postura mais com!ativa rente s argumenta"ões de %ustino. @e acordo com 9arnard, MA até mais interessante que Trião osse um leigo, pois sua concep"ão do juda>smo representar( uma posi"ão dierente daquela da estrita ortodoxia arisaica palestina que estava sendo ortalecida ap's a reconstru"ão em %amnia, depois de 4N 3. &ão identiic(-lo com o $a!ino Tarão não o torna menos interessante. inda que seja mais veross>mil essa dissocia"ão, Trião não nos parece uma igura imagin(ria. &o entanto, )Plvain )(nc7e+ não desconsidera totalmente essa possi!ilidade, ainda que não a tome como a 7ip'tese mais correta. Talve+, %ustino, ao sa!er da reputa"ão do $a!ino Tarão, seja porque o con7eceu pessoalmente 1menos prov(vel5, seja porque oi inormado de sua ama por outros judeus 1mais prov(vel5, criou em Trião uma imagem do grande ra!inoG Talve+ ele ten7a desejado prestar 7omenagem a esse contemporVneo judeu ao nome(-lo em seu Diálogo. 8or tr(s dessa inten"ão louv(vel se esconderia o secreto desejo de um conronto real 1que não aconteceu5 com o grande Destre em um de!ate p*!lico, p*!l ico, assim como ele teria deseja desejado do conrontar-se conrontar-se com o c>nico Crescente em p*!lico diante do #mperador 3. )eja como or, o que é mais interessante nos Diálogo é que nas palavras de Trião 89 90 91
Mmigo, seria !om que tivéssemos o!edecido a nossos mestres que nos mandaram por lei não conversar com nen7um de v's, e não nos ter>amos comprometido a participar dos teus discursosN. 1 Diál. ;:,5. 9$&$@, /!. 0it., p. ;32. )B&CEQ, /!. 0it., p. 4;.
é revelado o quanto %ustino con7ecia do juda>smo de seu tempo e isso é admir(vel, so!retudo quando se leva em considera"ão que o apologista era um pagão convertido e não um judeu-cristão. 8ortanto, o pouco que ele demonstra sa!er so!re o juda>smo, por um lado se deve sua a!ertu a!ertura ra ao de!ate de!ate,, o que era constitutivo constitutivo de seu o>cio de il'soo. 8or outro lado, isso tam!ém decorreu do ato de que o relacionamento entre judeus e cristão no seculo ## era muito mais pr'ximo do que se costuma admitir.
*i+lio&rafia
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Justin contre toutes les "érésies comme source !rinci!ale du Dialogue a%ec Tri!"on et de la rimi3r rimi3ree !ologie. 8arisG %. Ka!alda, 32?. $D
)B&CEQ, )Plvain %. K. 8ro!lemes 7istoriques du @ialogue avec Trip7on de %ustin o DartPr. $e%ista gustiniana 6:, maio-ago., 6, p. 2;-4?. gustiniana, vol. R<##, n )#DO&E )#DO&E,, $. %. %ustino %ustino il'so il'soo o e m(rtir m(rtir.. #nG Dicionário atr4stico e de ntig5idades 0ristãs. )ão 8aulo, 8aulus, 66. )OT=E<<, =. . T"e 9i7lical 'Aegesis of Justin Martyr. cia aculdade de Teologia &ossa )en7ora da ssun"ão, )ão 8aulo, 33:. @aniel Darques Kiandoso @outor em ist'ria )ocial pela Fniversidade de )ão 8aulo 1F)85 8ro 8r oes esso sorr de i ist' st'ria ria no #n #nst stit itut utoo de Ce Cego goss 8a 8adr dree C7 C7ic icoo 1#8 1#8C5 C5 e na nass a acu culd ldad ades es Detropolitanas Fnidas 1DF5 e-mailG danielgiandoso|usp.!r