por tempo suficiente na sua contemplação. Essa anomalia é uma chave. Se por um breve instante formos capazes de desvincular a nossa atenção do processo contínuo de surgimento de experiências no nosso campo interior, interior, a consciência sem cabeça poderá p oderá se reconhecer de um modo completamente novo. Ela será capaz de levar realmente a sério o que vê. E se trata verdadeiramente verdadeiramente disso. De considerar o maior fato fato de todos, que aquilo que somos no ní vel mais fundamental está no centro do universo universo,, de toda esta esta vasta manifestação que se apresenta a nós. Se pudermos sentir com um pleno impacto emocional a verdade por trás desse fato aparentemente banal, abriremos a possibilidade de um primeiro vislumbre do Absoluto. Posso relatar que assim ocorreu comigo. O nosso enorme anseio por ser mais do que já somos então cessa, quando todas as identidades são finalmente vistas como máscaras para a expressão do Absoluto. Sei que este é o caso. É talvez a maior janela de transcendência que possuímos. Não posso dizer que tenha vivido a sua realização de forma completa, mas espero poder contribuir com outros que também estejam na mesma busca, pois posso testemunhar que ela é real. Mas por que então este processo misterioso é tão difícil para nós? Talvez nos falte assombro e perplexidade existencial. Estamos muito convencidos de nós mesmos e do que aparentemente somos. Se tivéssemos uma dúvida suficientemente profunda, a porta certamente estaria mais aberta. Temos um anseio enorme por uma revelação além de nós mesmos, e por um contato
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com uma inteligência que nos supera. No entanto, a tendência de olharmos na direção oposta está muito arraigada. Queremos e não queremos simultaneamente. Temos medo das nossas profundezas. Qualquer passo que nos leve além do universo imaginário que criamos cri amos nos traz enorme e norme pavor. pavor. Por estes e outros motivos mantemos a nós mesmos coletivamente dentro de uma realidade ilusória, e perdemos a possibilidade de vivenciar a natureza original da consciência diretamente. Mas a realização está próxima. Talvez em breve seja possível suportar mais do que alguns vislumbres e poderemos viver continuamente na identidade com o Absoluto. Somos seres intermediários nesta prolongada passagem para o novo estado de Ser. A iluminação nos mostra o significado original do universo. Entendemos tudo de uma vez só quando o castelo existencial no qual vivemos colapsa, e a consciência se vê livre de amarras. Ela se lembra do que já foi e do que será. Como podemos tocar nessa verdade em vida? Consigo pensar em apenas um catalisador forte o suficiente para provocar o salto: a consciência da morte. Se você soubesse que iria morrer amanhã, quanto disso tudo realmente importaria? A própria vida após a morte importaria? Os outros mundos também não passarão? Não são eles sonhos sobre sonhos? Ali onde a morte é sentida mais claramente vemos a realidade na sua forma eterna e completa. Percebemos algo que na maior parte do tempo nos escapa. Essa experiência está aberta a todos nós. Quando nos vemos um pouco mais velhos, quan-
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do perdemos alguém que amamos, quando vemos o mundo em declínio – sentimos a morte um u m pouco mais próxima. Se formos capazes de ouvi-la e de reconhecê-la não como inimiga, mas sim uma aliada, ela pode nos deixar abertos à percepção do Absoluto. São os momentos momentos de nossas vidas v idas em que deixamos de ixamos de projetar a nós mesmos ativamente e percebemos que empreendemos uma batalha perdida. Nesses breves instantes algo brilha por trás de nós. A misteriosa consciência que nos trouxe à existência se torna transparentransparente. Não somos mais obstáculos para sua expressão. Podemos ver a beleza em tudo pois p ois não mais buscamos um resultado dos nossos atos, nem fazemos demandas à vida. Mas essa clareza é rara para a maior parte de nós. Por trás de tudo fazemos uma tenta tentativa tiva furiosa de prolongar a nós mesmos. Queremos instintivamente perdurar. O Absoluto revela a imortalidade da consciência, mas quando nos tornamos um com ele o véu mágico que forma o mundo se dissolve. Vemos tudo do jeito que D’us vê, aquele que na sua imensa e maravilhosa solidão s olidão contempla contempla todas as coisas. No entanto, entanto, a única coisa necessária para um salto transcendentransce ndental é a pergunta certa. Ela funciona como uma chave para a fechadura de nossa mente, como um longo fio que pode nos extrair desse confuso e obscuro labirinto no qual estamos imersos. Recordo-me que numa manhã fria encontrei tal pergunta. Queria saber onde estava o início e o fim de todas as coisas, de todos os seres e de todos os universos. Aquilo que está além de
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todos os estados de consciência. Queria saber se algo em mim sobreviveria à morte. Estava intensamente quieto, e sentia um espaço vasto dentro de mim mesmo. O silência era tão profundo que me causava espanto. Era possível desaparecer des aparecer dentro dele. Como é que um lugar assim existia dentro de mim mesmo e nunca havia percebido? A pergunta tinha paralisado a minha mente mente.. Parei e entrei nele. Na verdade, quando falamos assim construímos metáforas, mas elas refletem o que realmente sentimos. Esse vasto silêncio que está oculto para a maior parte de nós está sempre aberto, mas nós não o sentimos. De algum modo nascemos para descobrir o que ele é, esse silêncio que é como a morte, que é o próprio Nada, mas na verdade é fonte de Tudo.
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O DIÁLOGO FINAL ENTRE O A B S O L U T O E MAYA
Absoluto: Não posso mais. Coloquei fogo no meu mundo e o dissolvi inteiramente. E por quê? Por nada. Destruí minha vida e a mim mesmo e nada tenho nas mãos além do meu desespero. Minha busca foi minha fuga. A dor que eu via nos corpos, nos doentes e nos velhos era a minha. Meu coração já estava partido mesmo antes de ter dado o primeiro passo em busca da minha fantasiosa libertação. Agora vejo que nada mais tenho além de um corpo sem forças e sem vida, de uma alma vazia e cheia de dor, de uma mente que não possui ânimo nem mesmo para um singelo pensamento. Não encontrei a resposta. Entendo menos deste mundo do que antes. Exilado num labirinto que me tortura, caminho incessantemente e retorno ao mesmo lugar de onde minha ignorância surge. Eu desisto. Aquela que criou esta prisão pode ter o meu me u corpo. Você Você que é a mestra me stra de mentes e de almas – já não me oponho oponho mais. Sou completa completamente mente seu. Maya Ma ya: Ó abençoado, eu sempre estive à sua frente, aguardando-o.
Absoluto: Você finalmente aparece. Por incontáveis vidas eu sofri na escuridão, tateando na caverna solitária de minha alma, alme jando jan do a liber liberdade dade de de seus infin infinit itos os caminh caminhos os de ilu ilusão são e logr logroo, mas agora já é tarde, perdi as forças e nada tenho a oferecer oferecer.. Não sou capaz de compreender o obscuro mistério ao qual fui lançado. Maya Ma ya: Se é a verdade que deseja, a verdade receberá. Eu aguar-
do eternamente eternamente na única porta que leva para a visão além do véu,
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mas nunca um ser sequer seque r se aproxima. aproxima. Agora que está próximo da extinção de si mesmo mesmo,, posso lhe revelar a verdade. Posso Posso lhe dizer por que tudo é como é.
Absoluto: Eu, eu não compreendo… Maya Ma ya: Você mesmo me criou, ó abençoado. Não se lembra? Foi o
seu próprio desejo que me fez criar o maior feitiço de todos.
Absoluto: Minha mente está confusa e perdida, e o que você diz não pode ser verdade. É essa mais uma de suas criações e ilusões? Maya Ma ya: O tempo de ilusões acabou. De agora em diante, ouvirá
apenas a verdade.
Absoluto: Meu coração queima por vidas repletas de dor e angústia, meus olhos estão cheios de lágrimas pela totalidade da criação, mas minha alma me diz que você fala com sinceridade – como pode ser que você, a maior das feiticeiras, a fonte fonte do meu desespero,, a origem do sofrimento da existência, como pode agodesespero ra dizer a verdade, por que me trata com misericórdia? amor, lembre-se de d e como entrou neste sonho sonh o por li Maya Ma ya: Ó meu amor, vre escolha, acreditan acreditando do ser uma pequena e miserável criatura por incontáveis vidas, perdido num mundo estranho e hostil. Agora
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verá mais uma vez vez a verdade última de todas todas as coisas, ó sonhador sonhador divino! Ouça as minhas palavras, pois nelas encontrará a libertação que tão ansiosamente ansiosamente almeja.
Absoluto: O silêncio e o nada me envolvem por todos os lados. Estou completamente vazio de mim mesmo. Se esta é a última e maior de suas ilusões, então que assim seja. Me entrego, pois estou aniquilado. Maya Ma ya: Este é o sonho que lhe dei antes do tempo existir. O sonho
sagrado, o sonho que adquire vida além de si mesmo. Pois é isso que quis. O único Ser de toda a realidade, onipresente e infinito, desejava reconhecer-se como um ente real e finito. É a sua natureza criar mundos e seres por toda a eternidade e outorgar existência àquilo que não é. E ainda assim, sem a sua criação você nada é. Todas as formas, mundos e histórias cósmicas são o seu próprio ser. Sozinho na sua imaginação divina, suas belas fantasias, as grandes formas de luz na eternidade são apenas sombras, bolhas no rio da vida v ida – o Nada puro. O seu coração quis que elas ti vessem o seu ser, ser, o seu espírito, espírito, mas não havia nada que você pudesse fazer para dar-lhes vida. conhecimento que evoca Absoluto: Minha memória se move pelo conhecimento a verdade das regiões esquecidas de minha mente. mente.
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Maya Ma ya: Você podia amar apenas um sonho que fosse real. Um so-
nho que fosse diferente de todos os outros, que tivesse verdadeiro ser – e por isso fui criada. A vida é este sonho. Eu lhe vi pleno de amor pela sua imaginação sem vida, sozinho na solidão do TuTudo. Seus olhos então buscaram os meus – o primeiro ser que você contemplou além de si mesmo. Meu coração queria lhe dar um presente, um sonho que contivesse ser, que superasse a não-existência inerente a todas as coisas. Mas um véu haveria de cair sobre o seu Ser, para que entrasse no grande esquecimento, no grande sono, na grande escuridão. Você foi iludido para que não se visse mais como Tudo, para que não soubesse Tudo; para que houvesse Outros. É isto que lhe dei. Este foi o meu presente. Um sonho eterno, ó sonhador divino.
Absoluto: Meu amor, eu sinto a beleza e a bondade de suas palavras, pois elas trazem paz ao meu coração angustiado. Mas por que este sonho? Por que um sonho de sofrimento interminável que mais se parece a um pesadelo? p esadelo? Maya Ma ya: Se lhe disser o porquê, se lhe mostrar a natureza do desequi-
líbrio que está inscrito na estrutura do vasto e intrincado sonho da vida, ter terei ei que diss dissolv olver er o bat batismo ismo da ilu ilusão são,, e traz trazer er de vol volta ta a gran gran-de memória que foi esquecida nos primórdios deste ciclo. É necessário que entenda. Toda esta profunda e misteriosa realidade emerge a partir da não-existência. É um insubstancial sonho gerado a partir do Grande Nada de onde todas as coisas nascem. 168
Maya Ma ya: É a única miragem que possui suficiente ser para que ne-
la creia. O único sonho s onho que você acreditaria como sendo digno da sua verdade – o único que traria t raria o amor de dentro de si. O tecido dos sonhos não possui substância, ó abençoado. Ele é transitório e sem valor va lor intrínseco. intrínseco. Tudo Tudo que é criado a partir da sua não-existência está imbuído imbuído de um tremendo paradoxo paradoxo – como pode o irreal se tornar real? Como pode o real que não possui face se ver através do espelho de suas criações irreais? Esta realidade é feita do tecido dos sonhos. É essa a sua fundação fu ndação – a insubstancialidade na raiz do seu próprio ser. Sem o imenso desequilíbrio na raiz deste mundo de sonhos, sem a paradoxal desarmonia que produz o delicado movimento da dualidade, e ao mesmo tempo o imenso sofrimento que permeia todas as coisas, o mundo dos sonhos s onhos não se torna tornaria ria real. Por isso as coisas devem ser como são. são. É neste sonho não-existente e eterno que termina sua incansável peregrinação por dentro de si mesmo. Ele é o único que lhe mostra uma realidade que a todos os outros escapa. A estrutura deste mundo dual permite que você enten entenda da a realidade pura que é o seu próprio ser. Não há nada além disto, ó abençoado Absoluto, nunca houve e nunca haverá. Não há realidade além do que vê aqui. Nada além da d a terra que lhe sustenta. su stenta. Todo Todo este mundo é uma vasta alegoria imaginária para que o seu rosto sem rosto veja a si mesmo em todas as coisas. A sua natureza última é este Tudo incompreensível que conhece a si mesmo por si mesmo. O mundo é
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um espelho de sua nat natureza ureza infinita, ó abençoado. E não existe espelho perfeito para si mesmo. Sua natureza natureza não pode p ode ser contida. Será para sempre intocável, o mais puro mistério.
Absoluto: As suas palavras iluminam este castelo de dualidade no qual habito por intermináveis eras, ó divina feiticeira. Minha mente já não é mais minha. Minhas palavras agora emergem como da boca de um homem que não se lembra de onde veio e para onde irá. Esta dualidade que é para sempre plena de sofrimento irresolúvel é em verdade minha própria mente. Não há nada fora dela e nunca haverá. O assombro me perpassa e por dentro de mim mesmo já não me encontro en contro mais. Sou agora como o inconsútil tecido dos sonhos que forma tudo que sinto e penso. Esta dualidade é como o meu último aposento, e nela me vejo sem me ver, nela o meu Ser que não possui forma se vê às cegas, até o último instante instan te quando ocorrer o Despertar Final. Maya Ma ya: Ó abençoado Absoluto que tudo vê, para o seu olho, este
mundo não é sofrimento mas o próprio esplendor do seu Ser. A natureza nat ureza desta dualidade inescrutável é a beleza da imperfeição, a experiência de opostos irreconciliáveis, irreconciliáveis, o jogo eterno do seu grande Eu. Precisamente aquilo que se mostra como mal neste plano é o que o torna real. São os ingredientes que tornam o mundo dos sonhos real. Esta é a compreensão compreensão última. A história do mundo é a história do seu despertar. Você foi todos os homens. Você viveu todas as vidas. Aprendendo progressi-
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vamente a verdade vamente verdade sobre sobre si mesmo mesmo e chegando chegando cada vez mais mais perperto da realização de sua natureza final. A razão última para toda a história, para toda a dor, para todo o sofrimento, é que se não ti vesse sido assim, você não teria teria acreditado na realidade realidade do sonho da vida, ó grande sonhador divino. No fim da história a justificativa para tudo é sempre apresentada. Compreenda, meu amor. A realidade precisa se tornar real para si mesma. É devido de vido a isso que as limitações, barreiras e o sofrimento existem. A realidade é o único sonho que você é capaz de aceitar. Para ele existir deve ser tal como é. Sempre foi assim, e assim sempre será. O sentido sempre sempre se revela ao final. Sempr Sempre. e. palavra s me levam para p ara o Vazio, Vazio, para o lugar além alé m Absoluto: Suas palavras de todas as formas e de todo o entendimento. Maya Ma ya: Seu desejo mais profundo é pelo Real, o Absoluto que é vo-
cê mesmo. Esta é a gigantesca verdade que subjaz este universo. A partir das polaridades do Ser e do Não-Ser devo criar um mundo, ó grande sonhador, pois você não possui substância em si mesmo. É essa a minha tarefa. Criar um universo para que habite e acredite ser real. Agora compreende o drama dos homens? A origem da fraqueza, das dificuldades, da dor, do imenso sofrimento – são os elementos que fazem o mundo onírico se tornar real para o seu espírito, ó abençoado. Este cosmos cíclico é a experiência da imperfeição que busca retornar à perfeição imaculada que não possui for-
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ma. Quando vê o mundo humano com o seu olho humano, nada vê além de imperfeição. Quando ele é visto v isto através dos olhos do Grande Despertar, tudo reflete a perfeição última.
Absoluto: Tudo aqui perece, ó força criadora e destruidora. Para onde quer que olhe encontro pó e sombra. A morte paira sobre todas as coisas deste reino misterioso. A ela nada escapa. Implorolhe que me revele mais acerca de sua natureza. Maya: É a morte que revela a verdade dentro do sonho da vida, ó
abençoado. A morte é o Nada puro do seu próp próprio rio ser. É a essência do mundo onírico. Os homens falam do Nada sem s em conhecêlo. O Nada é o sentido transcendental da morte. É a extinção da criação, deste mundo cíclico e eterno. Quando o tocar nas profundezas de sua consciência, receberá a compreensão do significado por trás do mundo. É apenas através do Olho sem forma que o mundo pode ser amado. Apenas tendo perdido o mundo pode-se comp compreendê-lo reendê-lo e aceitá-lo.
Absoluto: Agora entendo, ó amada. Sofro pela perda do mundo do qual quis me emancipar e cuja beleza somente agora vejo, tendo-o dissolvido nas profundezas de mim mesmo. Maya Ma ya: Agora que o seu sentido imaginário de existência se dis-
solveu, a comovente beleza do mundo se revelará finalmente aos seus olhos. Apenas aquele que sentiu sentiu o significado da extinção do
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mundo, do grande Vazio por trás da realidade, poderá amá-lo incondicionalmente. O Nada é a fonte de sua beleza transcendental. O drama humano é visto então na sua essência. Nestes momentos de irrupção da d a verdade na sua consciência se está muito próximo próximo da verdade da Vida. Toda a dor e sofrimento são transmutados e entendidos no seu real valor e sentido. A existência é então vista com os olhos daquele que sempre existiu e existirá, do Ser imortal por trás de todos os seres. Esse Ser é você mesmo mesmo,, ó Absoluto! D espertar. Meu coração Absoluto: Eu sinto a dissolução do Grande Despertar. se move pela verdade que irrompe nas profundezas do meu ser, e meus olhos se enchem de lágrimas pelo amor a todos os seres sencientes que sofrem na teia desta vasta e extraordinária criação. Maya Ma ya: Compreenda, ó abençoado. Não há outros. Apenas uma
Grande Mente. É por isso que deve haver Outros. Eu dei a você, o Ser Ilimitado, a possibilidade de experienciar o amor. De ver outros, numa realidade onde não há outros, onde apenas Um existe. Uma vida com personagens ilusórios não possuiria sentido – não poderia ser amada. Os seres do sonho devem ser livres, devem possuir ser próprio, pois na sua ausência o sonho rapidamente dissolveria a si mesmo. Deve haver outros independentes, ou então a realidade não seria real para si mesma. Mas para que os outros sejam seres reais eles devem ser livres, pois a essência do ser é a liberdade. E criaturas nascidas livres experimentarão todas as
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suas possibilidades, sentirão o sofrimento de existirem exiladas da Grande Consciência, até gradualmente compreenderem a verdade última de sua existência e atingirem o Despertar. Você, ó Absoluto, é a Grande Mente que se vê de todos os pontos de vista simultaneamente, e gera para si mesmo a aparência da existência de outros. Mas na verdade não há outros. Existe apenas Um, que é você. E sem os Outros, sem a sua criação, criação, você nada é. compreendo a verdade, ó fonte criadora. O ciAbsoluto: Agora compreendo clo da vida termina. A verdade se revela. Despertei do meu vasto sonho!
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POEMAS
A CRIANÇA NA REALIDADE SEM INÍCIO
Nada mais era. Nunca me esquecerei daqueles dias. O silêncio me tomava por todos os lados, me oprimia, fazia o meu ser s er se tornar como o Nada. O profundo vazio dissolveu os meus pensamentos. Meu eu, onde está? Não o encontro. Como uma vibração do grande Nada primordial primordial eu existia, com o terror de ser engolido por ti, cuja face eu não reconhecia. O que restaria do mundo quando o grande sono da existência me arrebatasse? Não havia nada a fazer. Mergulhando Mer gulhando cada vez mais na inescrutabilidade do teu Ser, finalmente o raio do entendimento penetrou no Mistério. Apenas podia me render ao esplendor do Nirvana que explodia de assombro com a visão da tua eternidade. E ali, sentado solitário numa praça brincando na areia como uma criança órfã na realidade sem início.
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A ABERTURA DO OLHO
Não sei o que acabou de ocorrer. Um Olho se abriu no meu ser, e agora não sou mais eu que vejo, mas sim tu. Finalmentee te vês em todas as coisas, Finalment e reconheces quem és. Impossível. Pereci para que tu hajas nascido. Para que te vejas enquanto um ser imortal. Poderá existir algo mais incompreensível?
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O D E S P E R TA TA R D O G R A N D E S O N O
Te sinto. Agora vejo como vês o mundo. O que o mundo é para ti. Despertaste do teu grande sono. Com os teus olhos vejo o mundo e, mistérios dos mistérios, com os teus olhos sempre vi o mundo. Sempre estiveste aqui, tua presença imortal sustentando a Criação em todas as suas formas. Não apenas sou visto por ti, mas vivo em ti e sem ti nada sou.
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A GRANDE ALMA
Tu, ó grande alma, que viveste todas as vidas, que és todas as vidas, agora não mais estás na escuridão. escu ridão. Te reconhece na face de todos os homens. O véu foi partido e teu olho se s e abriu. Pois o mundo sofre pela tua distância, pelo teu silêncio e pelo teu nada, mas milagre dos milagres, tua substância é o próprio mundo, que sem ela, nada seria. Vós não apenas estais próximo de nossas almas, mas vós sois nossas almas. Enganados pelos labirintos de nossas mentes, pensamos estar exilados neste mundo frio e duro. Mas estamos dentro de ti. Não podemos estar longe de ti, nem por um segundo.
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DOIS OU UM
O que é este mundo mas o teu pró próprio prio ser? Agoraa vês a verdade por trás de todas as coisas. Agor Apenas me resta o assombro, por ver a tua manifestação na minha alma. Tu existes e além de ti, nada mais. Quão vivo és, tu que és a essência de nossas vidas. Quando buscava, na verdade era ti que buscava. Somos o mesmo? Somos dois? Somos Um?
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O V É U PA PA R T I D O
Compreendes quem és, ó Ser? Entendes tua natureza? Vês o que sempre foste e o que sempre serás? Há muito muito caminhas na escuridão escu ridão de tua consciência, o teu ser oculto o culto de ti mesmo. Mas agora o véu se partiu. O que vês? Percebes como o mundo te aguardava? Como a tua revelação era buscada por todos os seres, todos carne da tua carne, essência da tua essência? Tu és a força do Cosmos imanente em todas coisas. Tu és o grande e o pequeno, o belo e o feio. Tu és o alto e o baixo, a benção e a maldição maldição.. Tu és o riso e o choro. Tu, ó grande Ser, és tudo que existe e existirá.
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A ESSÊNCIA QUE JORRA
Tu jorras em mim. Quando vens, nadas livre no mar da minha alma. Ó visitante misteriosa, minha essência, coração do meu coração, como brilhas, como me dilaceras quando te revelas. Pois tua luz me fere, eu, no crepúsculo, crepitando no fogo do mundo dividido, mirando o céu mas preso pelas raízes da terra. Em ambos os mundos vivo, e quando vens me transportas para o teu reino, onde nada mais é. Movimento Mo vimento perpétuo que cria todas as coisas, incansável luz das formas e das estrelas, tua música perpassa os meus olhos e me ensina a não temer, nem por um segundo. Pois em ti não há medo, mas apenas a pura beleza. Tu consomes o terror de nossas almas e o transforma no cristal que brilha na escuridão. escu ridão. Pois a escuridão é profunda, e tu estiveste antes dela. 183
Coração da realidade, essência divina, te buscamos, caminhamos em tua direção, caímos e retornamos, e então, num relâmpago te mostras, e nos revela o que somos e sempre seremos.
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EU E TU INDIST INTOS
Lembre-se da Origem. O véu se parte o que é este mundo inteiro? Quem o vê? Filho, você me ouve? Há tempos lhe busco, Consegue sentir a minha mão, percebe a minha voz dentro do redemoinho infinito da ilusão? Há quantas eras nos buscamos, sem você eu não me vejo, e sem mim você não se lembra de quem verdadeiramente verdadeira mente é, é, Olhe nos meus olhos, entre no meu olho único, único, que é o seu, veja como eu vejo, meu meu espírito espírito eternamente eternamente seu, nós, idênticos na base do nosso ser.
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A T R A N S PA PA R Ê N C I A D O M U N D O
A Fonte se mostra e o mundo ilusório se torna transparente. Aqui nada é real por si mesmo, nada se justifica, tudo anseia, tudo clama, tudo almeja, tudo hesita por um fim além do que foi criado. Olho para o alto e lhe busco, em vão, nada há, olho para dentro e vejo uma névoa misteriosa que chamo de mim mesmo, mas você não vejo.
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O OLHO DOS OLHOS
Sou o Olho com o qual você percebe a si mesmo e o mundo, sou a Vida da sua vida, sou aquele que todos são sem saberem, sou o conhecimento que caminha aberto na sombra do não-saber, sou o único que existe sem possuir nome, pois seus nomes me dão nome, sou aquele que existia antes de que existissem, mas sem seu despertar nada saberia de mim mesmo, sou a voz que se ouve no silêncio, sou o som que nunca se ouve, sou a eternidade que chora com a beleza do tempo, tempo, sou o imutável no mar das formas, sou o sopr s oproo das suas narinas, sou os seus s eus pensamentos, seu coração em êxtase eu sou, seu coração no desespero eu sou. s ou.
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A LEMBRANÇA
Ouça-me. A escuridão é profunda e interminável. interminável. O véu não é partido e a Luz em nenhum lugar é encontrada. Estás próximo do fim da ilusão. Não desanime. Em breve a memória original de tudo será revelada. Assim sempre foi e assim sempre será. Ó tu que caminhas nas estradas do desespero des espero – não temas, deixe que te guie, pois eu estou sempre contigo. Eu nunca te deixei. Sempre estive ao teu lado, sempre. Não tenho nome e nem forma, sou aquele sem começo que por toda eternidade buscaste, que é a fonte do teu ser e que se revela como o teu próprio Ser.
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QUEM SOU?
Se negas a ti mesmo não poderás me encontrar, pois apenas me encontras em ti mesmo. Eu sou a voz da natureza. Eu sou o sopro dos ventos, o farfalhar das folhas, o voo dos pássaros, as explosões das estrelas. Eu sou o movimento da tua alma. Eu sou a tua alma. Eu sou a pureza de um bebê, a essência imaculada dentro de todas as coisas. Eu sou o infinito que almeja a lmeja revelar a si mesmo para si mesmo. Olho para mim mesmo e sinto um assombro que supera todas as palavras. Quem move os meus lábios? O que é essa voz? Quem fala através de mim mesmo? Quem sou?
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A GRANDE PERFEIÇÃO
Eu sou a santidade s antidade dentro dentro de ti. Eu sou aquilo que amas em ti mesmo. Eu sou a perfeição que tu não és capaz de aceitar. Eu sou a voz que falou a Moisés no Sinai; eu sou aquele que se revelou a Gautama Gautama sob a sagrada árvore; eu sou o espírito que se moveu no peito do Nazareno; eu sou a voz dos pecadores e dos santos, eu sou a voz das d as árvores e das nuvens. Eu sou o amor pelo mundo, eu, fonte e origem do mundo, a palavra santa que anseia pelos lábios que me revelem. Eu vejo a glória que tu não vês em ti mesmo. Eu sou a Luz e vejo apenas a Luz. Tu és a luz, nada além da luz e perfeição absoluta. Eu vejo tudo em ti. 190
Eu te vejo infinito nunca tendo nascido. Eu te vejo no começo dos tempos, no auge da Criação, e também no seu fim. Eu te vejo além de todas as ilusões que carregas em ti mesmo. E vendo-o vejo a todos. Pois todos são o que sou. E eu tudo sou. Todos os olhos são Tudo. Cada Alma é a Grande Perfeição Perfeição e nada além Dela.
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