UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC História do Pensamento Econômico - Professor Dr. Vitor Eduardo Schincariol
João Luiz Calisto Perin – RA: 21025213
Keynes, uma Introdução – Prebisch, Raúl. Editora Brasiliense, 1991. Resumo Literário:
O autor divide o livro em cinco principais capítulos que se subdividem-se em outros estudos de caso que se baseiam, principalmente, na obra “ A A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda” Moeda” de John
Maynard Keynes, publicado em 1936. O livro é caracterizado pela exposição dos argumentos de Keynes diante do estudo econômico, contraponto
suas
respectivas
opiniões
com
os
clássicos
e
os
neoclassicistas. Em seu primeiro capítulo, denominado “Introdução “Introdução ao Sistema
inicia expondo os quesitos quesitos de salário e desemprego desemprego Keynesiano” Keynesiano”, o autor inicia na perspectiva keynesiana que, em certas partes, se alinha com as definições dos clássicos. A definição convergente vem da teoria de que os salários correspondem à produtividade marginal do trabalho, ou seja , “ [...] o incremento do produto correspondente ao incremento de emprego, deduzidos previamente os outros custos.” (p. 28). E o que, Keynes, segundo
Prebisch, discorda em relação aos clássicos é no quesito da resistência marginal ao trabalho, que faz uma relação com a questão do desemprego. Os clássicos acreditam que o desemprego é dado devido à redução dos salários que é resultado de uma diminuição da produtividade, ou seja, o desemprego se deve ao fato do salário oferecido decorrente da produção não ser suficiente para atrair os trabalhadores para o trabalho. Já Keynes acredita que a questão do desemprego não se deve à decisão dos trabalhadores, mas sim a insuficiência da demanda que contrai a economia levando a um aumento no desemprego. A segunda parte do primeiro capítulo é dedicada à exposição dos quesitos de renda, poupança e investimento, em que, respectivamente, os
dois últimos são classificados como iguais, “visto que qualquer um deles é igual ao excedente da renda sobre o consumo”(p. 41). Já a renda
corresponde ao lucro dos empresários mais as rendas de todos os fatores produtivos. O segundo capítulo é de muita importância pois o autor esclarece uma teoria importante de Keynes, que é a do multiplicador. E, para, introduzir esta teoria, se fez a necessidade da explicação da questão da propensão ao consumo da população que são as “características psicológicas”(p. 52), da população diante do mercado, ou seja, o
comportando exercido pelas pessoas diante do mercado consumidor. Segundo o autor, a propensão à consumir é dada de acordo com fatores objetivos e subjetivos. O fator objetivo é, por exemplo, a política fiscal de um país, em que a reforma de seus respectivos estatutos beneficiando a distribuição social da renda, pode influir diretamente na propensão ao consumo. E o fator subjetivo é colocado como as reações institucionais e culturais dentro de uma sociedade, levando à uma maior ou menor propensão ao consumo. A teoria do multiplicador é baseada no pressuposto de que só há aumento do emprego se houver novos investimentos na sociedade ou a propensão à consumir de uma população mude. Existem dois tipos de multiplicadores, o multiplicador de investimentos e o multiplicador de emprego, que seguem o mesmo raciocínio lógico que é de que se há um aumento do investimento em X vezes, há, também, um acrescimento em X vezes da renda agregada da população, e o mesmo ocorre caso haja um aumento em Y vezes nas obras públicas, haverá um aumento de Y vezes no número de empregos (considerando que não haja redução no número de empregados de outros setores). O autor relaciona o efeito multiplicador com a poupança baseando-se na análise de que o aumento desta não está diretamente atrelado ao aumento dos investimentos (como diriam os clássicos, pelos quais se baseiam no nível do pleno emprego), e sim está atrelado à diversos fatores como, por exemplo, o aumento da taxa juros (induzindo a população a poupar mais).
O capítulo de número três é composto pela exposição dos conceitos de eficiência marginal do capital e das taxas de juros. A eficiência marginal do capital é caracterizada pela “[...] relação entre o rendimento futuro que se espera hipoteticamente de uma unidade adicional de capital, por um lado, e seu custo do outro” (p.77), e existem alguns fatores que devem ser levados
em conta quando se referir à eficiência de capital, como, principalmente, as perspectivas comportamentais das pessoas dentro do mercado financeiro em um determinado espaço de tempo. Já a teoria geral da taxa de juros nos oferece uma explicação diferenciada das teorias até então publicadas, já que elas consistiam na determinação da taxa de acordo com, somente, a preferência pelo momento do consumo em relação ao momento em que esse consumo, de fato, foi realizado (no presente ou no futuro). Foi então que Keynes afirmou que esta era uma forma incorreta de se elaborar a taxa de juros, já que era necessário a adição da preferencia por liquidez dentro do contexto, ou seja, a preferência enquanto a forma que se desejava realizar a reserva caso a preferência pelo consumo seja postergada para o futuro. O autor acrescenta no quarto capítulo a questão dos ciclos econômicos segundo a perspectiva de Keynes, que acreditava que as depressões dos ciclos eram caracterizadas não tão somente pela alta da taxa de juros, mas sim, por um “repentino colapso da eficiência marginal do capital” (p. 104), que resultava no decaimento direto dos investimentos.
Keynes acreditava que, a principal característica da fase ascendente dos ciclos era o excesso de investimentos causado por um falsas perspectivas de crescimento para o mercado futuro. Além disso, segundo Prebisch, era um erro a elevação da taxa de juros diante de uma crise, já que esta desestimularia a produção de novos investimentos, piorando ainda mais a fase depressiva dos ciclos. Dentro da mesma perspectiva depressiva dos ciclos, é acrescentado a questão da propensão ao consumo da população e o desemprego causado por esta crise devido ao baixo nível de investimento e consumo da população. É a partir disso que Keynes sugere uma intervenção do Estado na propensão ao consumo da população, para que, dentro do sistema,
ocorra uma maior demanda agregada, e consequentemente aumento do número de empregos e um maior nível de investimentos. O último capítulo do livro é usado para estudos de caso dentro das definições apresentadas por Keynes sobre as principais variáveis econômicas em seu livro. Discussões sobre o livro:
O livro escrito por Raúl Prebisch se mostra uma amostra crítica daquilo que Keynes expôs sobre conceitos e teorias econômicas em seu livro “ A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, como já citado no
resumo da obra. Partindo do início do livro, no primeiro capítulo, podemos analisar a crítica, exposição e comparação feitas por Prebisch em relação à teoria de Keynes sobre salário e todos os fatores que são influenciados quando este é modificado. Como já descrito, o salário é igual ao produto marginal do trabalho, e, partindo desse pressuposto, Keynes sustenta que o produto marginal, ou seja, o salário, diminui na mesma medida em que há o aumento do emprego pelo simples fato de que, em um curto prazo de tempo, as empresas podem ter decréscimos em seus rendimentos totais, porém sem que haja mudanças na estrutura produtiva e sua organização técnica. Este é o primeiro momento que Prebisch cita a questão do emprego, em que logo após esta citação, ele comenta a relação do desemprego entre a teoria de Keynes e o que os clássicos pensavam sobre este tema. Os clássicos acreditavam que o desemprego era causado pela resistência marginal ao trabalho, ou seja, os trabalhadores não faziam parte de atividades produtivas devido à causas específicas como a insuficiência do salário proposto para o emprego; teoria pela qual Keynes refuta sua veracidade. Segundo Keynes, o que, de fato, provoca o desemprego é a falta de demanda agregada para o consumo de todos os bens ofertados. O autor segue fazendo comparações com os clássicos, agora se referindo à teoria de que o volume da demanda agregada seria o mesmo volume de produtos ofertados ao público, dentro de um cenário em que não
importa o nível de emprego existente, já que toda a remuneração paga pelos empresários aos trabalhadores, representam mesma demanda necessária para que haja a circulação dos bens produzidos, o que, de fato é um absurdo, e Keynes contraria esta afirmação dizendo que este nível de equilíbrio da oferta e demanda é dado apenas em situações extremamente específicas e, ao contrário do que se acredita, em um nível inferior ao nível do pleno emprego da sociedade, pois quando se ultrapassa este “subnível” a demanda se torna menor que a oferta, deixando para trás o nível de equilíbrio desejado. Prebisch esclarece, também, o conceito de renda agregada que, segundo ele, é o lucro dos empresários acrescido das rendas dos fatores produtivos. Além disso, entende-se por lucro dos empresários a diferença entre as vendas e os custos dos produtos produzidos. Os temas poupança e investimento são abordados pelo autor, que sob a perspectiva keynesiana, diz serem iguais já que ambos representam a parte que não foi gasta no consumo de bens, o que os diferencia é que a poupança é o montante não gasto pelos indivíduos e o investimento é o montante não gasto pelos empresários. A questão da poupança é bastante enfatizada durante todo o livro pois ela envolve inúmeros conceitos que Keynes, de certa maneira, trouxe de maneira inovadora para a sociedade da época, como, por exemplo, seus conceitos dos ciclos econômicos, em que sua extensa fase depressiva pode ser causada pela não propensão ao consumo da população, ou seja, em tempos de crise, a população tende a guardar mais seu próprio dinheiro, para que, em caso desta depressão cíclica se agravar, ou até mesmo se estender mais do que esperado, a população pode contar com recursos financeiros guardados. O trecho a seguir mostra a definição de poupança segundo Keynes: “Um ato de poupança individual – por assim dizer – uma decisão de não jantar hoje, mas não implica, necessariamente, a decisão de jantar ou de comprar um par de sapatos daqui uma semana ou um ano, ou de consumir uma coisa específica numa data especificada. Assim sendo, produz um efeito depressivo sobre as atividades econômicas aplicadas na preparação
do jantar de hoje, sem estimular as que preparam algum ato futuro de consumo. Não é uma substituição da demanda de consumo presente por uma demanda de consumo futuro, mas apenas a diminuição líquida desta demandas” (p. 71). Por meio de um exemplo bastante palpável, tivemos a
chance de entender como a questão do ato de poupar pode influenciar a economia, bem como qual poderá ser o comportamento das pessoas dispostas ao acúmulo de poupança (a pessoa tendo a possibilidade de poupar para estar apta a realizar uma compra, ou somente a espera de um momento em que haja a necessidade do uso imediato do dinheiro). Voltando aos ciclos econômicos, segundo Prebisch, Keynes define estes ciclos econômicos por duas fases, sendo a já descrita fase decadente e a fase ascendente. A fase ascendente é descrita como o momento em que há um grande excesso de investimentos nos setores produtivos, aumentando em demasia sua produção, e, devido a uma expectativa dilatada em relação ao consumo (acontecimento que não ocorre nas proporções desejadas), o ciclo, consequentemente, entra em uma depressão. Keynes é muito conhecido pela criação do efeito multiplicador em sua teoria. Este efeito multiplicador é dividido entre multiplicador de investimento e multiplicador de emprego. O primeiro tipo de multiplicador muito se assemelha ao segundo já que ele representa a mesma quantidade de vezes acrescida no investimento e influencia com a mesma intensidade a renda agregada. A diferença entre ambos multiplicadores é que com relação ao emprego, as variáveis são modificadas pelo investimento em obras públicas e a quantidade de emprego primário. O autor dedica também uma boa parte do livro para a exposição da teoria geral da taxa de juros segundo a perspectiva keynesiana. Esta perspectiva é mostrada em contraste com as teorias existentes anteriormente que por sua vez estavam incompletas. “[...] A taxa de juros é o fator de equilíbrio entre a demanda de fundos para novos investimentos e a oferta de poupança resultante das propensões psicológicas da comunidade” (p. 83). Partindo desta definição acima exposta pelo autor a
taxa de juros era composta pela relação entre as preferências psicológicas
de um indivíduo para a liquidez e sua preferência pelo momento pelo qual irá se consumir essa reserva. O que Keynes diz ser necessário acrescentar na elaboração da taxa de juros é qual seria a maneira escolhida pelo indivíduo para gerar liquidez. A taxa de juros também influi diretamente na questão dos ciclos econômicos, e, de acordo com a análise do exemplo de Prebisch: “Seria absurdo pretender que nos Estados Unidos, em 1929, tenha havido um sobreinvestimento no sentido estrito da palavra [...] e para que a expansão se desenvolvesse sobre bases sadias, além de evitar investimentos mal dirigidos, teria sido necessário reduzir consideravelmente a taxa de juros. Ocorreu, todavia, exatamente o contrário: “a taxa de juros manteve -se elevada o bastante para desanimar os novos investimentos”[...] ”. Ou seja,
para que, diante de um momento em que haja um sobreinvestimento nos setores produtivos, ao invés de se elevar as taxas de juros para, supostamente, reestabelecer a economia, a saída encontrada por Keynes foi a de fazer exatamente o contrário, a de diminuir as taxas de juros para que os investimentos possam continuar a serem feitos. A crenças pelas quais se baseiam os teóricos sobre o aumento da taxa de juros durante os períodos de crise vem primeiramente da questão de que, durante este período o montante de investimentos acaba se revelando maior do que o montante da poupança, e baseando-se no que Keynes afirmava de que os investimentos e a poupança são iguais, estes devem entrar em equilíbrio novamente, e para que isso se torna efetivo, há o aumento da taxa de juros. Outra questão levantada pelo autor com relação a razão do aumento da taxa de juros durante os períodos de crise é que com este incremento dos investimentos, ao invés de ser acompanhado pelo crescimento da poupança ele é coberto pelo aumento da quantidade de moeda circulante, que é devido as baixas taxas de juros, com isso, aparentemente, subentende-se a necessidade do aumento das taxas. Conclusão:
O livro apresentado por Prebisch apresenta muitos conceitos keynesianos melhor explanados, e além disso, melhor discutidos, já que o
autor faz comparativos diretos entre o que Keynes apresentou, com teóricos anteriores a ele, bem como teóricos que surgiram depois dele (clássicos e neoclássicos). A razão pela qual o autor decidiu escrever o livro também se encaixa muito com a descrição desta conclusão já que o autor considerava a obra de Keynes bastante polêmica, contendo pontos teóricos, muitas vezes, “escondidos” dentre seus dizeres.
Referências bibliográficas:
Keynes, uma Introdução – Prebisch, Raúl. Editora Brasiliense, 1991
