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CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA IZABELA HENDRIX FATE-BH
Gustavo Castro de Souza
O CULTO NA IGREJA EMERGENTE SEGUNDO DAN KIMBALL
Belo Horizonte 2010
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Gustavo Castro de Souza
O CULTO NA IGREJA EMERGENTE SEGUNDO DAN KIMBALL
Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Teologia, no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, sob a orientação do professor Dr. Floriano Sant´Anna.
Belo Horizonte 2010
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Gustavo Castro de Souza
O CULTO NA IGREJA EMERGENTE SEGUNDO DAN KIMBALL
Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Teologia, no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, sob a orientação do professor Dr. Floriano Sant´Anna.
Belo Horizonte 2010
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Agradeço a Deus por ter me capacitado para esta obra, ao meu orientador Dr. Floriano Sant´Anna por acompanhar e se empenhar comigo nesta pesquisa, ao Pr. João Parreira de Carvalho que me influenciou na escolha do tema a ser pesquisado. Agradeço aos amigos e companheiros da Fate-BH, estou levando um pouquinho de cada um de vocês comigo, em especial Aulo Pereira, Bruna, Rodrigo e Carlos Eduardo.
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“Ao longo da última década, muitos
descobriram os limites do intelecto. Um número cada vez maior de pessoas percebe que o que necessitam é muito mais que sermões e orações interessantes. Elas querem saber como podem realmente ter experiências com Deus”. - Henri Nouwen “Uma coisa é falar sobre Deus.
experimentá-lo é outra coisa bem diferente ”. - Leonard Sweet – Postmodern Pilgrims [Peregrinos Pós-Modernos]
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RESUMO Esta pesquisa busca analisar o que a denominada Igreja Emergente descreve como culto cristão em sentido de adoração clássica; pois entende-se que a desorganização no meio evangélico tem aberto portas a ideologias e filosofias que são uma contraposição contraposição à palavra palavra de Deus. Para tal feito é utilizado utilizado o método de análise literária e análise histórica. Assim, identifica o culto em seu sentido original etimológico, e também sua origem no Antigo Testamento (A.T) e Novo Testamento (N.T) para compreender o culto em diversas épocas bíblicas. Em seguida a presente situação do culto na Igreja Emergente que compreende que o culto cristão deve retornar suas origens de adoração clássica que envolve experiência pessoal com Deus, o que leva, então, com que estas pessoas que tem esta experiência a viver uma vida de entrega em função do serviço ao próximo. A Igreja Emergente não é um modelo para ser copiado, mas um pensamento motivacional a mudança de atitudes dos cristãos em relação a sociedade. Palavras-chave: Igreja Emergente, culto, adoração, Dan Kimball.
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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 07 2 O CULTO – ORIGENS BÍBLICAS E HISTÓRICAS ................................................... 09 2.1 Suas origens no Antigo Testamento ......................................................................... 10 2.2 Suas origens no Novo Testamento ........................................................................... 13 2.3 Sua evolução na História da Igreja ........................................................................... 16 3 CARACTERIZAÇÃO DA IGREJA EMERGENTE ....................................................... 21 3.1 Conceituação da Igreja Emergente ........................................................................ 22 3.1.1 Solução ou Problema ....................................................................................... 23 3.2 Onde e como surgiu ................................................................................................... 25 3.2.1 A Igreja Emergente frente a pós-modernidade .................................................... 26 3.3 Sua teologia e compreensão de mundo ................................................................... 29 4 UMA ANÁLISE DO CULTO NA IGREJA EMERGENTE .......................................... 33 4.1 A influência sociocultural no culto da igreja Emergente ......................................... 39 4.2 Análise entre o culto da igreja emergente e o culto neopentecostal. .................... 42 4.2.1 A origem neopentecostal no pentecostalismo, o valor da experiência sobrenatural. ..................................................................................................................... 42 4.2.1.1 O surgimento da IURD e IIGD. ........................................................................... 43 4.2.2 O culto neopentecostal ........................................................................................... 44 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 47
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1 INTRODUÇÃO Este trabalho, O culto na Igreja Emergente segundo Dan Kimball, busca compreender o culto na Igreja Emergente, que é denominada um movimento de inconformidade com a teologia e a prática apresentada ao longo da história. O grande problema para os emergentes é a comodidade exposta pelos cristãos da atualidade, principalmente nesta presente era onde o individualismo e o interesse próprio tomaram conta do discurso, pensamento e prática dos cristãos. Uma possibilidade para melhor compreender o que seria o ideal para o culto cristão fora feita uma análise literária e também histórica para identificar as modificações no culto. Pois nota-se que o culto cristão foi sendo moldado, e nos dias atuais o culto se tornou uma busca pelas soluções dos problemas pessoais, ao invés de ser um serviço prestado a Deus. E por estes motivos esta pesquisa busca entender o culto na Igreja Emergente que pressupõe um culto clássico, aonde as pessoas busquem a presença de Deus e o encontre de forma sobrenatural e transformadora. Como referência para tratar do assunto fora eleita a obra de Dam Kinball 1 “Igreja Emergente: Cristianismo Clássico para as Novas Gerações” ; que aborda as mudanças da Igreja ao longo dos séculos devido às mudanças filosóficas e culturais, e também a obra de Brian McLaren “Ortodoxia Generosa” que é uma das primeiras obras a tratar da teologia emergente. Ressaltando que apesar de Dan Kimball ser a fonte principal desta pesquisa, terá um peso maior no final da pesquisa, que é onde é inserido o culto na Igreja Emergente. Para alcançar o objetivo de apresentar o culto na Igreja Emergente a pesquisa foi dividida em três capítulos. No primeiro capitulo é abordado o surgimento do culto, e para isso foi necessário explicar o significado de liturgia que é entendido geralmente como a parte formal de um culto. Suas origens no A.T com as influências dos povos circunvizinhos, o sentido do sacrifício, o sentido ético e a apresentação do culto de javé como sendo uma compilação de outros cultos. O culto no N.T com o mesmo sentido do A.T, o mesmo sentido litúrgico e a grande diferença presente no
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Dan Kimball é pastor-fundador das reuniões de adoração “Graceland” na Santa Cruz Bible C hurch e está implantando uma igreja-irmã, a Vintage Faith Church, em Santa Cruz, na California, voltada para a cultura emergente pós-cristã. Dan atua na diretoria do Emergente-YS e ministra palestras com grande freqüência por todos os Estados Unidos.
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culto do N.T que é a presença de Jesus Cristo, o que transformou literalmente o culto feito antigamente. No segundo capitulo é caracterizado o que é a Igreja Emergente. Com sua teologia missional, que é chamada de cristocentrica pelos teólogos emergentes, o seu surgimento, onde e quando, e qual a sua finalidade. O questionamento feito por muitos teólogos se a denominada Igreja Emergente é solução ou um grande problema a mais dentro da pós-modernidade, que os emergentes dizem estar dentro, mas não abraçar, querem alcançar quem se encontra dentro da pósmodernidade e levar de volta a uma era clássica onde a maior preocupação era de simplesmente cumprir o mandamento de ir e pregar o evangelho a todas as pessoas. No terceiro capítulo é abordado a forma cultual da Igreja Emergente, o ideal do culto defendido por eles, um culto místico onde as pessoas se sentem parte do ambiente espiritual somente ao entrar. O valor experiencial de todas as formas, pelo tato, pela visão, audição, olfato etc. um culto onde as pessoas consigam literalmente alcançar o transcendente através de seus sentidos, por isso eles denominaram o culto como sendo multissensorial. A nova abordagem feita em seus cultos com o retorno ao sentido da igreja primitiva, uma igreja que toque na sociedade em todas as formas possíveis, sendo culturais ou sócias. E para comparar e tentar visualizar a Igreja Emergente no contexto brasileiro uma breve analise do culto neopentecostal, como surgiu no Brasil, seu foco e liderança. Portanto nesta pesquisa vê-se a necessidade de atualizações no culto cristão, que sempre será necessárias modificações segundo a cultura e o fator social, e sendo assim não há um modelo definitivo ou padrão para um culto ideal. O que poderia ser feito é um estudo antropológico para que este culto seja uma ponte de ligação entre o ser humano e o Deus criador.
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2 O CULTO - ORIGENS BÍBLICAS E HISTÓRICAS Para começar a entender o assunto proposto, a identificação bíblica 2 e histórica serão necessárias para um delinear correto e sem manipulação de fatos que ocorreram há certo tempo. E também a forma que será usado o termo liturgia. O termo liturgia não tem origem cultual, e sim uma origem histórica etimológica de encargos públicos segundo S. Marsili: “Liturgia” (grego: leitoutgía-letourgía-leitorgía-litourgía) é palavra grega da raiz leit (de leós- laós = povo), que significa geralmente “público – pertencente ao povo” e érgon (ergázomai = agir operar) no sentido de “ação – obra”. O termo assim composto significa diretamente: “obra -ação-empresa para o povo”; mas põe em relevo também – mesmo com significado secundário – o valor “publico” da ação, pelo que a palavra pode ser traduzida também como “ação -obra- empresa pública”. Daqui o uso do verbo leitourgein no sentido d e “suportar encargos públicos” na cidade (Estado) 3.
Portanto o termo liturgia tem muito mais um uso civil do que um uso cultual, mas com o passar do tempo houve uma evolução na história, assim a liturgia passou a ter um sentido novo, diferenciado ao do termo usado inicialmente. O novo sentido para liturgia aparece na época helenística, e serve para designar “serviço” que se deve prestar aos deuses por pessoas para isso designadas. Há dois pontos que podem ajudar a definir permanentemente o termo liturgia como um ato, ou serviço de culto prestado a Deus. 1- Os textos onde aparece o termo liturgia não estão correlacionados com um serviço público ou oficial, pelo contrário o verbo presente é o verbo leitourgein como o substantivo leitourgía têm um significado comum de serviço ordenado ou como uma espécie de cerimônia determinada ou com respeito a certa divindade no seu templo. 2- O termo que sempre está presente é uma marca do culto “mistérico”, que era um culto de grupos e não o oficial apresentado pelo estado, portanto liturgia é usado muito mais no plano cultual no sentido de serviço oneroso-voluntário, que se tornou o emprego vulgar do termo4. O entendimento deste termo é essencial, pois a medida que as coisas vão acontecendo os conceitos de cada palavra ganha um significado a mais. A liturgia é uma questão a ser pensada por alguns autores dentro dos cultos evangélicos
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BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada Revista e Atualizada. São Paulo: Sociedade Bíblica. 1993. Os textos bíblicos citados nesta pesquisa foram lidos nesta versão. 3 MARSILI, S. Liturgia. In. NEUNHEUSER. B. A Liturgia, momento histórico da salvação . Paulinas. 1986. p.38. 4 Ibidem.p.42
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brasileiros, que identificam os cultos litúrgicos apenas em igrejas históricas 5, ou seja luteranas e anglicanas6, essa concepção exclui as outras formas protestantes de culto, e acaba sendo um pensamento ofensivo, mas de certa forma não ofende os brasileiros. Em palavras breves e bem resumidas pode-se dizer que o termo liturgia é ligado diretamente com o usual, popular brasileiro, “culto”. “O culto é um serviço devido a Deus pelo seu povo e se expressa em todos os atos da existência humana”. O vocábulo utilizado para designar esse serviço é Liturgia, entendido como conjunto de elementos que possibilita a celebração cúltica cristã. “O culto público, promovido pela igreja, é uma parcela do serviço total do povo de Deus, no qual o Senhor vem ao seu encontro, requer a sua adoração, mostra-lhe o seu pecado, perdoa-lhe quando se arrepende, confia-lhe a sua mensagem e espera a sua resposta em fé, gratidão, amor e obediência”. Pela sua própria natureza, o culto deve “ser amplamente participativo, onde a comunidade tenha vez e voz”; e venha “expressar as angustias, lutas, alegrias e esperanças do povo, onde a Igreja esta inserida”7.
Ou seja, nesta pesquis a a palavra “culto” será equivalente a “liturgia”, ou todo serviço prestado de modo sacramental a Deus, seus instrumentos e formas. 2.1 Suas origens no Antigo Testamento. Quando Deus criou o céu e a terra, e também o homem, não havia uma forma pré-estabelecida para que esta criação o cultuasse. Embora o homem já tivesse uma forma relacional com o seu criador; é como se o homem já fosse criado com um instinto natural para manter este relacionamento com Deus. O primeiro relato que poderia ser descrito como um ato litúrgico é a oferta oferecida por Caim e Abel em Gênesis 4.3-5. Não se tem relatos que Deus havia ordenado que os homens oferecessem nada a Ele, mas parece muito mais um ato voluntário do ser humano agradar aos seres que ama. No caso de Caim e Abel, ofertaram a Deus, pois sabiam que Ele os havia criado. E aqui se tem um relato que deve ser definido para que se entenda o culto da antiga Israel, o sacrifício. Para a autora Ina Willi-Plein o sacrifício pode ser interpretado de algumas formas, em uma delas pode-se dizer que sacrifício é aquilo que é o oferecido à divindade ou a uma divindade... bem como a ação de oferecer 8, e esta interpretação 5
As igrejas citadas como históricas são limitadas pelo autor Prócoto Valasques Filho. VALASQUES FILHO, Prócoro. Características, Ênfases e Teologia. O culto Protestante. Estudos de Religião. p. 61-86. 7 VALVERDE, Messias. Liturgia e Pregação . Exodus.1996. p.11. 8 WILLI-PLEIN, Ina. Sacrifício e culto: No Israel do Antigo Testamento. Loyola. 2001.p.25. apud. Dicionário Alemão de Jacob e Wilhelm Grimm. 6
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se encaixa bem na atualidade. Outra forma é a metafórica, que é usado no sentido de renuncia, que sempre vai beneficiar alguém ou um propósito, ou, pessoa ou causa, assim como a primeira forma também tem uma idéia de dádiva 9. Também há algumas expressões que são expressas como sacrifício: 1) Zebah e zebah selamim = “abate (de um animal)” e “imolação em prol da felicidade”; minha = oferenda de alimentos”; (issâ) ‘olâ = “sacrifício pelo fogo”; “holacausto”; também o sacrifício de perfumes e a libação, que se expressam pelas raízes qtr e nsk . 2) qorban = “oferenda”. 3) todâ = “sacrifício em ação de graças; hatta’t = “sacrifício pelo pecado”; asam = sacrifício pela culpa”.10
Partindo do contexto onde acontecem os sacrifícios surge o direcional que mostra a definição do respectivo culto, ou seja, a ligação de lugares como templo e tabernáculo, onde se centralizava os cultos, os sacrifícios 11, pode-se dizer que era a centralização de toda a liturgia; e de algumas oposições como santo e não-santo; repreensível e irrepreensível; e uma finalidade importante no A.T que é a vida e a morte. Outro passo importante na compreensão deste culto no A.T é limitação proposta pelo sexo (gênero), origem e profissão dos líderes, ou em outras palavras, tinha que ser homem da linhagem sacerdotal (tribo de Leví)12. Estes aspectos presentes no texto do A.T levam a percepção de um culto inteiramente ligado à prática, não se tinha um culto estruturado, uma liturgia pensada, mas de certa forma já se sabia o que esperar nos dias presentes no tabernáculo ou templo, um formato religioso já era presente no povo de Israel; nas horas em que estavam diante do seu Deus para lhe prestar sacrifícios e lhe render louvor e adoração. Para o autor Georg Fohrer13 este contexto pode ser dividido pelas etapas que são descritas pelo povo de Israel. Inicialmente Fohrer expõe que o culto e também a religião dos Israelitas na palestina é um encontro entre a vida religiosa dos nômades com a religiosidade dos Cananeus. Os grupos israelitas trouxeram para a palestina as suas religiões de clã. Pequenos e singelos santuários certamente foram instalados nas cidades 9
Idem Ibidem p. 26. 11 Ibidem p.27 12 Idem 13 Georg Fohrer é biblista veterotestamentário de fama internacional. Entre suas maiores obras devem ser recordadas a História de Israel, os Estudos sobre a profecia veterotestamentária (1949- 1965), os Estudos sobre a teologia e a história veterotestamentária (1949-1966) Tradição e história do Êxodo, Estruturas teológicas do Antigo Testamento e Introdução ao Antigo Testamento. 10
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ou perto delas. Provavelmente, a lei do altar de Ex 20, 24-26 se aplicasse a tais instalações. Além disso, os israelitas tiveram acesso a alguns santuários cananeus. Logo, eles ligaram os deuses do clã a esses santuários, em vez de ao próprio clã (que se estabelece permanentemente agora), e as divindades cultuadas na caminhada tornaram-se divindades de lugares específicos. Conseqüentemente, tornou-se necessário transplantar para o solo palestinense as tradições concernentes aos receptores da revelação, fundadores do culto e líderes inspirados, e adaptá-las à nova situação14.
Nesta circunstância é evidenciada a adaptação do culto prestado a Deus de um modo similar ao dos Cananeus. O que mostra que o desde o principio o culto esta se adaptando ao meio que está, e tornando as coisas ao seu redor propicias para um conforto e sensação de prazer mais satisfatório. Neste caso o próprio culto, que é algo de uso particular dos Israelitas se torna um espelho do povo circunvizinho. Em um segundo momento é descrito o culto em um sentido ético, isso com uma interpretação feita através do Javismo mosaico. Exatamente como não se menciona nenhum nome próprio para Iahweh assim também não pode haver representação dele em forma visível e tangível. Exatamente como o conhecimento de um nome podia dar o poder mágico inicial ao seu portador, assim também a concentração controlável de “poder” numa imagem de Deus podia servir aos propósitos humanos por meio do culto15.
Tal situação é atribuída a falta de imagem proporcionada aos israelitas, o que leva a crer que o ser humano precisa de uma imagem para estabelecer sua fé, e como Iahweh não se mostra fisicamente e nem pronuncia seu próprio nome são criadas varias situações aonde o povo estabelece suas próprias imagens e ritos para expressar sua fé em forma ritualística. Vale ressaltar que em todas estas vezes há uma forte influência de povos estrangeiros. Até mesmo a arca da aliança, que em um ponto de vista é vista como um instrumento, não incomum, sagrado, pertencente ao grupo de Moisés, para a qual foi até reservado uma tenda. E era justamente dentro desta tenda que acontecia os encontros com Iahweh, e o motivo era por conter a arca. Já a tenda era vista como um santuário portátil. “paralelos arábicos sugerem que ela era pequena e vazia. Servia primariamente como lugar de revelação, onde se lançavam sortes ou se procurava uma decisão divina para questões e casos difíceis de solução” 16.
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FOHRER, Georg. História da Religião de Israel. Paulinas. 1982. p.68 Ibidem. p.93 16 Ibidem. p. 95. 15
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Ao falar do javismo mosaico Fohrer vai dizer que, o povo hebreu tinha algumas práticas cultuais, que os traços deste lado religioso eram proeminentes, mas faziam uma projeção para um desenvolvimento a religião cultual. No período monárquico o culto apresenta a mesma variação dos outros períodos, apesar de agora ser um culto de estado, oficial, que celebrava não somente os eventos cultuais, mas também eventos especiais da vida do estado; tudo isto podia ser por motivações pessoais ou de toda a nação. Nota-se que o culto a Iahweh era um instrumento para cultivar a comunhão do próprio Iahweh com Israel como seu povo. Nestas analises de épocas cultuais o autor defini o culto a Iahweh como o meio de promover o reconhecimento da soberania de Deus e fortalecer e aprofundar a comunhão com Deus 17 Dentro da perspectiva apresentada por Fohrer, Israel não teve um culto originalmente próprio, mas sempre um protótipo, uma cópia dos povos vizinhos, principalmente dos cananeus, os santuários, as imagens, as vestes, ou seja, tudo parte de algo que já é existente. Esse tipo de compilação pode trazer dúvida a mentalidade das pessoas, mas o fator fé se demonstra subjetivo desde os tempos de Adão e Eva. O fato é que desde o A.T os Israelitas usaram fatores culturais que estavam a sua volta para definir padrões éticos e morais, inclusive a formalidade do seu culto a Deus. 2.2 Suas origens no Novo Testamento. O culto do Novo Testamento é um continuísmo do Antigo Testamento, o mesmo termo para a definição de liturgia do A.T é o mesmo do N.T 18, só que no N.T os termos usados poderão ser interpretados de quatro formas diferentes: 1- Liturgia em sentido profano: o que é tomado como uma linguagem comum “leitourgós” (Rm 13.6;15,27; Fl 2,25; Hb 1,7.14;8,2.) Rm 13,6 os magistrados são “ministros-leitorgói” de Deus; Rm 15,27; os pagão-cristãos devem “prestar serviço com auxilio material aos judeu cristãos, como que em compensação pelo fato de que destes é que lhes veio o poder participar no cristianismo; Fl 2,25.30: Epafrodito, trazendo a Paulo as ofertas dos filipenses, levou a terno o ato de “servi -lo atencioso” (leitourgía) dos fieis com respeito ao Apóstolo e desta forma revelou-se para ele um auxilio valioso (leitourgós); Hb 1,7.14: embora se fale de “Liturgia angélica”, está não é entendida em sentido “cultual”, mas de “serviço” que os anjos prestam a Deus a favor dos homens. 17
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Ibidem. p.239-240. MARSILI, S. Op.cit. p.46. Leitourgein, leitourgia, leitourgos.
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2- “Liturgia” em sentido ritual-sacerdotal do AT , “leitourgía” (Lc 1,23; 2Co 9,12; Fl 2,7.30; Hb8,6;9,21) Lc 1,23: fala-se do turno de “serviço” de Zacarias, pai de João Batista, no templo de Jerusalém (liturgia levítica); Hb 8,26: Cristo pontífice já está sentado à direita da majestade divina, porque é “Liturgo” do verdadeiro santuário e portanto exerce con tudo os termos “liturgo-Liturgia” devem ser entendidos em função do termo de comparação, que é o pontífice hebraico, e consequentemente os próprios termos permanecem na perspectiva veterotestamentária. Hb 9,21: alusão aos objetos “litúrgicos” do culto hebraico; Hb 10,11: comparação entre a repetição diária da “liturgia” sacerdotal hebraica e a do único sacrifício de Cristo.
3- “Liturgia” em sentido de culto espiritual, “ leitourgein” ( At 13,2; Rm 15,27; Hb 10,11) Rm 15,16: Paulo se declara “ministro -liturgico” de Cristo, que desenvolve o seu “sacerdócio” (ação litúrgico -sacerdotal) com o Evangelho de modo que os pagãos, santificados no Espírito Santo, sejam sacrifício agradável a Deus. “Aqui o termo litúrgico colocado como equivalente daquele que reliza uma “ação sacerdotal” com vistas a um “sacrifício” que deve ser oferecido, insiste evidentemente no “sentido técnico -cultual”, que “Liturgia” possui no AT: “ ação de culto sacerdotal”. Por outro lado, a vítima que Paulo deve oferecer “ em sacrifício” não é um animal irracional – como fazia o sacerdote hebraico – mas os pagãos, que “ se tornam sacrifício agradável a Deus, por obra do Espírito Santo”através do evangelho anunciado pelo Apóstolo. Port anto mesmo servindo-se da terminologia técnica do culto sacerdotal hebraico, Paulo transporta os termos para o plano de um “culto espiritual”. Fl 2,17: Paulo manifesta estar disposto para “ser derramado em libação no sacrifício e na liturgia da fé” dos filipenses.
4- “Liturgia” em sentido de culto ritual cristão. At 13,2: tradução literal: “enquanto eles faziam liturgia ao senhor e jejuavam, disse ao Espírito Santo”. É o único texto bíblico do NT no qual se poderia reconhecer já o nome daquela que será de pois chamada “Liturgia Cristã”, mas é um fato que jamais – a não ser talvez aqui – aparece o nome de “Liturgia” para indicar o conjunto do culto cristão. É natural, portanto que o texto tenha suscitado o interesse dos estudiosos, os quais no entanto oferecem, a este respeito, soluções sensivelmente diferentes entre si 19.
Os cultos nos textos bíblicos apresentam sempre um sentido levítico, mas sendo que o culto Cristão é uma continuação do culto sacerdotal hebraico ou como um culto em analogia a este 20. Tanto no A.T como no N.T o sentido do culto litúrgico é buscar no espiritual do culto uma resposta, uma proximidade de Deus. Essa é a razão da fé cristã, esta foi a tradição passada diretamente através da vida demonstrada por cada israelita. 19 20
Ibidem. p.46-48. Ibidem. p.49.
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No NT, onde a centralidade é Jesus Cristo somente nas Cartas Paulinas, no livro de Atos e também em Hebreus é que apareceu esta preocupação com culto. E para entender de forma perfeita seria preciso fazer uma exegese destes textos, mas esta pesquisa não se ocupará com este aspecto. Para Leonhard Goppelt 21, já era presente diferenças no culto prestado, alguns aspectos estavam ate mesmo no repartir do pão, pois no judaísmo o partir do pão era uma prática usual antes de toda e qualquer refeição; e na nova comunidade surgida esta prática se tornou um termo técnico para uma refeição cultual especial22. Não só na comunhão da mesa, mas também a situação social se torna um diferencial deste culto, pois neste repartir do pão as pessoas se expunham com suas condições terrenas, e como prova de tudo isso alguns discípulos abandonam sua estabilidade econômica. Tudo isso através de doações voluntárias 23. Outro divisor citado por Goppelt é o conflito e o compromisso entre evangelho e lei. O exemplo perfeito para ele é o motivo da morte de Estevão, que por anunciar a primazia das boas novas às pessoas que não estavam dispostas a abrir mão de suas tradições, e nem a escutar uma palavra contrária a sua tradição, sendo estas palavras críticas, o suficiente para que Estevão fosse expulso da nação judaica 24. Algo muito importante ao falar do culto no N.T é a referência de Jesus Cristo, e sua centralidade no culto cristão, pois, pode-se dizer que “Jesus Cristo teve uma vida litúrgica, ou em outras palavras sacerdotal 25” que poderia ser percebida apenas como uma leitura superficial do N.T. Pode-se até chegar a dizer que a verdadeira glorificação de Deus na terra – que constitui a perfeita adoração – foi cumprida por Jesus Cristo no seu ministério. Se o título de sumo-sacerdote (segundo a ordem de Melquisedeque) é clara e supremamente apropriado após a Sua ascensão, não menos que verdade é que toda a Sua vida deve também ser encarada nessa perspectiva litúrgica26.
A idéia desta transformação, vinda também após Jesus, traz uma mudança considerável ao momento cúltico, pois como sumo-sacerdote, o sacrificio único oferecido por Jesus faz com que não seja mais necessário o sacrifício de animais para expiação dos pecados do homem, e com isso a fundamentação, a centralidade 21
GOPPELT, Leonhard. Teologia do Novo Testamento. 3ed. 2002. Ibidem. p.266. 23 Ibidem. p.267. 24 Ibidem. p.268. 25 ALLMEN. Op.cit. p.22. 26 Idem. Cf. O. Cullmann, Christologie Du Nouveau Testament, Neuchâtel e Paris, 1958. p.77-94. 22
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agora é cristológica. Esta definição de “oferta única” (EPHAX) exprime uma idéia de aperfeiçoamento a todo aquele que está sendo santificado 27. Portanto no N.T não só uma continuidade do culto é mostrada, mas também a inovação, vinda com a pessoa e vida de Jesus Cristo, uma nova forma cúltica, uma nova compreensão do porvir, e também da realidade. O caminho havia sido mostrado e o espelho que vinha do estrangeiro não era mais necessário, pois bastava ao povo somente seguir os passos de Jesus, para uma forma plena de adorar a Deus. 2.3 Sua evolução na História da Igreja. O que define como diferenciação entre A.T e N.T é também o que vai fazer com que a história do culto Cristão tenha uma continuidade, ou evolua através da história dos povos. É a pessoa de Jesus Cristo, pois é embasados no seu ministério como ato de perfeita adoração, praticado em sua vida, que a Igreja em seu culto, que é um memorial efetivo de um culto messiânico 28. Outra idéia muito interessante a respeito desta adoração semelhante a de Jesus Cristo é que o culto parece ter duplo sentid o: “o culto terreno celebrado pela vida, morte e glorificação do Cristo encarnado, e o culto celeste que, na glória, Ele celebra até ao dia do mundo vindouro29. Um aspecto que de fato faz parte do culto Cristão é a fé na presença da pessoa de Jesus. Antes de sua morte e ressurreição Ele inaugura esta nova fase de adoração da Igreja; E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai. (Mateus 26.26-29)
Logo o próprio Cristo promete esta presença, e em seguida ao reunir-se a igreja não está vivendo de ilusões, mas ao contrário, em cada ato de adoração vivida pela Igreja é relembrando a experiência do milagre da vinda do Cristo ressurreto para estar com os seus seguidores 30. Para A. D. Müller o culto é “a forma 27
ALLMEN. p.23. Ibidem. p.25. 29 Idem. 30 Ibidem. p.26-27. 28
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mais vívida, mais palpável, mais central e simples de atualização da presença de Cristo31. Logicamente que não é diretamente aparente, mas como só os que tiveram fé que O Jesus de Nazaré era o Cristo, assim também somente aqueles que tiveram fé conseguiram ser convencidos da presença de Jesus neste culto 32. Após toda a trajetória no A.T com suas diversidades cultuais, as similaridades com povos vizinhos e plágios dos cultos estrangeiros e também após a vinda de Jesus inaugurando uma nova forma de adoração, o assim chamado Culto Cristão tem novos objetivos e novas formas de realização, devido a circunstâncias de cada contexto relacionado com cada alma vivente. O culto cristão em eras de igreja primitiva tinha uma grande dificuldade a ser superada: Nos primeiros séculos da era cristã, houve um intenso intercâmbio entre Oriente e Ocidente. O predominante culto a César tinha levado ao oriente o evangelho da força de todo conquistador, e o Oriente trouxe para o Ocidente um reflorescimento do poder dos antigos deuses junto com um clero profissional, cujo principal objetivo era assegurar uma garantia de imortalidade ao individuo 33.
Acredita-se que estas práticas, e estes intercâmbios poderiam ter influenciado o culto Cristão que já trazia um grande mistério, e de certa forma poderia proporcionar algumas respostas as pessoas sobre algumas questões como a vida e a morte, e no mundo romano o grande sonho de todos que era a imortalidade 34. Em meio a tudo isso o cristianismo conseguiu superar estas dificuldades: O Cristianismo derrotou os mistérios em seu próprio campo. Ele tinha a vantagem de estar baseado não em um mito, mas numa pessoa histórica. Seu apelo dirigiu-se, na mesma intensidade, tanto ao individuo como toda a humanidade. Ele não conheceu barreiras, e ainda ofereceu a possibilidade de união com Deus a todos os homens. Sendo incomensuravelmente superior em seus valores morais 35.
Os mistérios poderiam ter afetado e muito o culto cristão, mas a fé em Jesus sua morte e ressurreição deram aos Cristãos uma esperança para continuar acreditando na promessa de um novo céu e nova terra. Acreditar que um dia todos os seus seguidores estariam ao lado dEle o cultuando na forma plena da adoração. Uma grande prova desta fé é a presença clamada de Jesus Cristo, que embora seja 31
ALLMEN. p.27 Apud. A.D. Müller, Grundriss der praktischen Theologie, Güttersloh, 1950. p.123158. 32 ALLMEN. p.27. 33 WAND. J. W. D. História da Igreja Primitiva: Até o ano 500. 2004. p.159. 34 Ibidem. p.160-161. 35 Ibidem. p.161.
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real, não pode ser produzida pela Igreja, e por isso a presença de Jesus Cristo é implorada, aclamada pelos fieis. O termo usado para esta aclamação é “epiklesis” 36. A partir do Sec.II a “epiklesis” começou a ser dirigida ao Espírito Santo, para uma diferenciação entre o culto oriental e ocidental. Os orientais colocam o termo epiklesis depois das palavras de consagração, já os cristãos do ocidente colocam antes das palavras de consagração; isto dá toda a diferença nas formas de expressão do culto 37. Outros termos também passam a dar sentidos ao culto cristão, como exemplo “anamnesis” no sentido de memorial, mas não simplesmente de um ato de lembrança, ou um simples ato de memória, este ato tem que tornar o memorial em uma atualização da obra feita no passado em compromisso no presente. Desta forma o culto cristão tem um sentido muito mais amplo que de uma lembrança, além de memorar a morte e ressurreição de Cristo tornando-os atuais, e tendo em si a esperança do reino por vir. Não há como esquecer o ato da encarnação do Filho de Deus e sua obra vicária, mas o futuro prometido, a segunda vinda, a antecipação ou antegozo do retorno de Cristo e do reino que Ele a de estabelecer 38. Na evolução da história o culto cristão tem o papel fundamental de identificar a igreja, como esposa de Cristo e como seu agente de transformação e atuação no mundo. A Esposa de Cristo é o sentido primeiro dado a igreja, pois é a esposa que responde, ou corresponde, sua palavra e chamado se comprometendo e se doando porque Cristo assim também o fez. A Esposa de Cristo porque ela é quem aguarda ansiosamente a sua vinda, o seu retorno, que confia em sua promessa e por ela vive, e por fim a Esposa de Cristo por amar seu libertador e esposo, consagrando-se sempre a Ele, pois o propósito é demonstrar que é Cristo a quem todo homem deve reconhecer. É por isso que a igreja se dedica por inteiro ao seu amado, e assim se manifesta em seus cultos como a comunidade nupcial, a comunidade do amor 39, a polêmica desta primeira caracterização da igreja é que a Esposa que tanto ama, então não pode trair, não pode enganar, é a que não rejubila com a demora do seu 36
ALLMEN. Op.cit. p.28-31. O autor expressa este termo como sendo a própria manifestação, ou talvez a invocação “Maranatha”, para o autor talvez o grande problema deste termo esteja na interpretação que pode lhe ser dada, pois Cristo pode estar presente no local mesmo antes de ser feita sua aclamação. 37 Idem. 38 Ibidem. p.34. 39 Ibidem. p.46.
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Senhor. A Esposa é aquela que se recusa a viver para si mesma, demonstrando a beleza e glória que lhe foi dada, e nem mesmo se vangloria na sua própria retidão, pois sabe de quem ela é corpo, e de quem ela foi encarregada a revelar ao mundo40. A segunda forma de identificação da igreja é como igreja Católica, um dos sentidos mais ricos na identificação da Igreja, que é como a igreja funciona como agente de transformação. Tal identificação da igreja demonstra seu poder comunitário que quebra barreiras sociológicas e antropológicas impostas através do século. Nesta concepção a igreja também se demonstra como comunidade batismal. E em outras formas de como a igreja é vista, tem-se a igreja diaconal que é onde a igreja assume a consciência da manifestação do corpo de Cristo, e também a igreja apostólica ou missional, que é pelo seu culto se difere do mundo41. Com o culto anamnesico a igreja foi tomando formas diversificadas de atualizações. No Séc. IV com um vocábulo diferente o que era chamado de culto passou a ser chamado de missa 42 pela igreja Católica. Esta idéia de envio , “missa”, seria usada por muitos teólogos 43, principalmente pelo questionamento de onde está a verdadeira igreja, e dentro deste questionamento o surgimento de uma possível resposta para as chamadas igrejas locais e igreja universal, ou a igreja católica. Uma afirmação que fortalece esta idéia de igreja local e universal é a confissão de fé do século XVI, que identifica a Igreja onde quer que esteja desde que a palavra de Deus seja pregada com pureza ou administrados com legitimidade os sacramentos44. Ao ver esta possibilidade de uma Igreja local, onde a liturgia acontece especificamente para esta igreja local, e a igreja universal, onde a igreja de Cristo se identifica pela pregação do evangelho, cria-se uma via com duas mãos 45, a 40
Ibidem. p.47. Ibidem. p.48-50. 42 O termo se refere ao ato litúrgico da igreja católica ao relembrar o ato salvífico de Jesus Cristo. J.J. von Allmen porem expressa suas duvidas ao surgimento do termo no Sec. IV mas acha certo afirmar que este termo vem do baixo latim “missa, missio” isto é, envio, despedida. 43 Ididem. p.50. apud.A.D. Müller. Grundriss der praktischen Theologie, Güttersloh, 1950. P.149 44 ALLMEN. apud. “Esta utem ecclesia congregatio sanctorum, in qua evangelium purê docetur et recte administrantur sacramenta” (Confissão de Augsburgo, cp. VII; cp. Die Bekenntnisschriften der evangelisch-lutherschen Kirche, Göttingen, 1930, pp. 59s e 297). 45 Ao falar de questões sociológicas e antropológicas, Percebe-se que é impossível praticar a mesma liturgia em dois lugares diferentes no mundo, há uma necessidade da atualização segundo a cultura predominante do local onde a práxis litúrgica esteja acontecendo . Mesmo sabendo que os líderes religiosos tentem impor uma linha a ser seguida, há peculiaridades, particularidades apresentadas de 41
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afirmação de um culto voltado ao cristianismo clássico, e a atualização da história da salvação do ser humano inicia uma luta entre interpretação do fato ocorrido e a prática para os dias atuais, pois não há como negar que o modelo ideal para o culto cristão seja o culto ensinado e praticado por Jesus Cristo, mas como fazê-lo em cada comunidade, Igreja Local, como não desfigurar a liturgia do culto cristão; esta luta parecia ser uma problemática que consumiria os Cristãos. O único consenso é que como Igreja de Cristo, e praticantes do culto ensinado por Jesus Cristo, por mais que o culto e a mensagem sejam atualizadas a igreja deve continuar sendo identificada pela palavra eficaz do evangelho do Senhor Jesus, o evangelho que liberta os cativos e os oprimidos. Que a igreja possa continuar dando o testemunho vivo daquele que os tem enviado, sendo o seu corpo e assumindo com consciência a responsabilidade de serem os propagadores do evangelho puro, simples e eficaz da Cruz de Jesus Cristo.
um povo para o outro, impossibilitando então esta uniformidade, esta padronização litúrgica na igreja universal.
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3 CARACTERIZAÇÃO DA IGREJA EMERGENTE Para focar a Igreja emergente alguns pontos precisam ser esclarecidos, e objetivos traçados. Alguns destes pontos são se a Igreja Emergente é um movimento, ou uma igreja em si mesma, o seu surgimento e sua linha teológica. O que melhor poderia caracterizar a Igreja Emergente seria sua compreensão de como alcançar o mundo. O pensamento “ortodoxo” 46, que engessa a igreja, se flexibilizando, tornando o evangelho de Jesus acessível a todos aqueles que realmente almejam conhecê-lo. Este processo de flexibilidade da ortodoxia estaria dentro do pensamento Emergente que é de uma igreja que se reinventa. A nova igreja pode ser de qualquer idade, qualquer denominação. Ela passa por um processo de mudança periférica semelhante ao das igrejas renovadas e restauradas, um processo de auto-análise radical, de retorno às raízes, fontes e primeiras coisas. Mas a nova igreja não tenta esboçar uma cópia. Ao contrário, ela surge como uma nova filosofia de ministério que a prepara para se deparar com quaisquer mudanças imprevisíveis que possam ocorrer. Usando o jargão contemporâneo, ela descobre “novos paradigmas”. Em termos bíblicos, ela busca não somente odres novos (renovação), como também vinho novo – que inclui uma nova atitude para com os odres em geral. A igreja decide que amará tanto o vinho novo que nunca mais se afeiçoará a odres de nenhum tipo. 47
Quando a igreja entende a necessidade destas mudanças, ela propõe o seguimento do modelo de Jesus, da Igreja primitiva, que se doa, se preocupa. A Igreja não precisa de novas estruturas, mas de novas atitudes que realmente façam a diferença na sociedade assim como Jesus modificou a vida das pessoas que estavam a sua volta. A proposta da Igreja Emergente é que haja uma quebra do continuísmo que foi dado na história. E isto quer dizer que as igrejas precisam entender que não é a estrutura o mais importante, mas o alvo a ser alcançado. É como se uma pessoa estivesse em uma jornada a cavalo, e o cavalo não agüentasse mais, o ideal é que esta pessoa procurasse outro meio para continuar ao invés de forçar o cavalo a andar mais alguns quilômetros, compreendendo que o importante não é o cavalo que esta o levando e sim a jornada que deve ser concluída 48. Por mais que seja polêmica a Igreja Emergente só tem uma proposta aos cristãos, viver em amor, um amor incondicional, para todas as pessoas de todos os credos e religiões, assim como Jesus ensinou em sua estadia aqui na terra. 46
MCLAREN, Brian. Uma ortodoxia Generosa . A Igreja em tempos de pós-modernidade. Brasília: Palavra. 2007. p.324,325 47 MCLAREN, Brian. A Igreja do Outro Lado. Brasília: Palavra. 2008. p.44. 48 Idem.
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3.1. Conceituação da Igreja Emergente A Igreja Emergente é um movimento da igreja protestante, iniciado por americanos e ingleses, com a finalidade de alcançar a geração pósmoderna. Refletindo as necessidades e os valores percebidos desta geração, as igrejas emergentes enfatizam o autêntico, a expressão criativa e uma perspectiva sem julgamentos, procurando reavaliar as doutrinas (ecclesia reformata, semper reformanda...). Igreja emergente é simplesmente um termo usado para denominar as igrejas que nasceram ou que foram [re] estruturadas para um contexto pós-moderno, pós-cristão de ser igreja no mundo de hoje 49.
Mauro Meister define a Igreja Emergente como um movimento dentro da igreja protestante, ou mesmo uma reação ao cristianismo da era moderna; uma igreja dentro do contexto pós-moderno e com objetivo de alcançar esta era e quem se encontra dentro dela. Embora não se tenha uma igreja com uma placa Igreja Emergente é possível identificar algumas igrejas que tem aderido este movimento de não conformidade com o Cristianismo, que muito foi pregado e pouco vivido, segundo os pensadores da Igreja Emergente, ao longo dos séculos. Na definição citada por Mauro Meister a Igreja Emergente é tratada como a igreja que repensa e reestrutura a igreja de acordo com o século 50, isto é uma característica da pós-modernidade e que Brian McLaren51 desenvolve de forma brilhosa afirmando ser “budista/muçulmano/hindu/judeu”, não no sentido literal, mas em forma de comprometimento. Assim como a encarnação de Jesus o limitou não somente ao povo Judeu, mas também a toda a humanidade, sua encarnação conecta seus seguidores com toda a humanidade. Inclusive...pessoas de outras religiões. Quando digo que estamos ligados e limitados pela encarnação de Cristo a todas as pessoas, não estou dizendo que todas as religiões são a mesma coisa, não importa aquilo em que você crê que a verdade é relativa, etc. Estou dizendo que, porque seguimos a Jesus, porque cremos que Jesus é 49
MEISTER, Mauro Fernando. Igreja Emergente, a Igreja do pós-modernismo? Fides Reformata. São Paulo. Makenzie. 2006. P.100. apud. http://igrejaemergente.blogspot.com/2006_01_01_igrejaemergente_archive.html. (acesso em 20 fev. 2006). 50 MCLAREN, Brian. Op. Cit. p.304. Para exemplificar a Igreja Emergente Brian McLaren usa a figura das árvores emergentes, que dentro da mata parecem não ser árvores tão importantes, pois vivem nas sombras das árvores mais velhas e que por toda a vida estiveram as cobrindo, só que um dia estas árvores mais velhas acabam caindo e estas árvores emergentes assumem o lugar destas árvores mais velhas. Outro tipo de árvores citada é uma planta semi-aquática, especificas em alguns pântanos, as raízes destas plantas estão no solo sob a água, mas os brotos crescem através da superfície da água para absorver por completo o sol não filtrado. Nesse sentido emergente são plantas que vivem simultaneamente em mundos diferentes. 51 Ibidem. Na segunda parte deste livro McLaren começa com a seguinte pergunta “Que tipo de Cristão eu sou?” e dentro desta pergunta insere vários tipos de pensamentos e visões que muitos Cristãos repudiam ou se opõem.
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verdadeiro e porque Jesus vai em direção a todas as pessoas em amor, bondade e graça, nós fazemos o mesmo [...] [...] Porque sigo a Jesus, então, estou comprometido com judeus, mulçumanos, budistas, hindus, agnósticos, ateus, adeptos da Nova Era, todos... Não somente estou comprometido com eles em amor, como também sou chamado, em certo sentido (por favor, não minimize antes de qualificar) a me tornar um deles a entrar em seu mundo e estar com eles nele.52
Este comprometimento com todas as pessoas é uma afirmação feita pelos líderes emergentes que este movimento é cristocêntrico, a encarnação de Jesus, seus ensinamentos e a forma que ele se entregou, se esvaziou de algo que poderia se apegar para ser servo53, portanto este é o modelo que a Igreja Emergente procura ensinar e seguir. O exemplo de Jesus se inseriu na cultura do povo, e serviu a todos os que estavam a sua volta, pecadores de todos os tipos e classes, publicanos, prostitutas, mendigos etc. a vida e obra de Jesus fora de servidão e assim deve ser da igreja que o segue, somente quando a igreja assumir este compromisso poderá dizer que é cristocêntrica, que realmente é igreja 54. 3.1.1. Solução ou Problema? Sendo a proposta da Igreja Emergente de uma nova prática, o pensamento é de melhoria, é de crescimento não em quantidade, mas um crescimento verdadeiro e espiritual. Um comprometimento com as pessoas e com Jesus Cristo da mesma forma que as primeiras igrejas viveram55. Com esta filosofia a Igreja Emergente tem um potencial muito grande, pois não vai ditar as regras como sendo sempre certas, pois mesmo que a um determinado tipo de pessoa não seja ideal para uma igreja, há uma igreja ideal para aquela pessoa 56. Não que a igreja vai se transformar como um camaleão para agradar as pessoas, mas se entende que há ministérios diversificados para todos os tipos de pessoas serem alcançadas. Dentro da cultura 52
Ibidem. p.275-276. Bíblia Sagrada. Versão Revista e Atualizada, João Ferreira de Almeida. 1994. “Mas esvaziou -se a si mesmo, tomando a forma de servo,fazendo- se semelhante aos homens” Filipenses 2.7 54 FREDERICO. Gustavo. O que é a Igreja Emergente?. Disponível em: . Acesso em 15/04/2010. 55 Na estrutura do culto e na conceituação da Igreja Emergente é possível ver a preocupação da expansão do evangelho que transforma realmente a vida das pessoas, a idéia Cristocentrica na igreja apresentando uma forma de servidão a Deus e aos próximos. 56 KIMBALL, Dan. A Igreja Emergente : Cristianismo Clássico para as novas gerações. São Paulo: Vida. 2008. p.147. apud: Rick Warren. Uma Vida com Propósito. “Nenhuma igreja é capaz de alcançar a todos. Prec isamos de todos os tipos de igrejas para alcançar todos os tipos de pessoas.” Rick Warren, Uma Vida com Propósito. 53
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brasileira, por exemplo, há uma grande diversidade cultural e este tipo de pensamento seria de grande ajuda para a proclamação do evangelho. Pois a cultural57 espiritualidade mística do povo brasileiro exerce uma grande influência sobre sua forma de cultuar, desde os trejeitos do culto à espiritualidade em si. Fazse necessário que os líderes eclesiais entendam que essa espiritualidade é uma característica cultural, que embora deva ser orientada pelas escrituras, faz parte do jeito de ser do povo e da sua história58, não há como negar esta força cultural atuante nas nações, nos guetos, dentro de cada pessoa. Porém essas mudanças também são descritas como problemas sendo trazidos pela igreja emergente, Tim LaHaye descreve a Igreja Emergente como a Laodicéia do século XXI 59, a igreja que não conseguiu se privar da sã doutrina e se rendeu aos mestres que sedem a suas próprias cobiças 60. Este problema que se desenvolveu ao longo de anos, para Tim LaHaye, começa dentro das escolas, com professores e mestres totalmente secularizados e que acabam influenciando as gerações, e a conseqüência desta influência é a própria pós-modernidade. Para John Piper a Igreja Emergente e seus líderes têm uma visão depreciativa das Sagradas Escrituras, e por este motivo esse movimento não irá durar muito tempo61. A definição que ele dá para a Igreja Emergente é a seguinte: ... Igreja Emergente é um termo genérico para designar uma constelação de pessoas, igrejas e movimentos que estão resistindo e se rebelando contra os excessos das mega-igrejas e contra sua maneira artificial, plástical e impessoal de ser. Eles querem ter relacionamento acima de tudo, e por isso desprezam a doutrina, porque “a doutrina separa as pessoas e os relacionamentos as une.” Eles têm diversas formas experimentais de se fazer igreja e de espiritualidade… 62
57
HAHN, Carl Joseph. História do culto protestante no Brasil. Tradução de Antônio Gouveia Mendonça. São Paulo: Aste, 1989. O autor parte da construção da própria formação do povo brasileiro, sua diversidade de culturas somadas isto até mesmo nos cultos protestantes presentes no Brasil. Os cultos foram influenciados por varias formas de pensamentos, como da teologia católica, e diversos imigrantes da Inglaterra, Alemanha, Escócia. Mas o culto brasileiro também teve muita influências sociais já atribuídas aos Índios e aos africanos que vieram escravizados pelos portugueses. 58 RAMOS, Ariovaldo. Nossa Igreja Brasileira. Hagnos. São Paulo. 2002. P.18. 59 LAHAYE, Tim. Igreja Emergente, A Laodicéia do Sec. XXI . Disponível em . Acesso em 15 de abril de 2010. 60 2 Timóteo 4.3 “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências”. Edição Revista e Atualizada. 61 PIPER, John. Igreja Emergente – apostasia da burguesia branca, estará morta em 10 anos. Disponível em . Acesso em 15 de abril 2010. 62
Idem.
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Os próprios seguidores do movimento da Igreja Emergente assumem que as mudanças propostas podem trazer certos desconfortos. Isto tudo porque a idéia que a fé tem que ser progressista, e neste estado de progresso, de seguir em frente, as pessoas estão sujeitas ao repensar dos seus próprios pensamentos e atitudes. E a partir disso conseqüentemente vem as mudanças, e que por sinal afetam diretamente a humanidade principalmente quando se trata de algo tão subjetivo como a fé 63. O interessante é desta idéia de emergência estar no próprio Jesus, na sua estadia enquanto homem aqui na terra: A verdade é que o movimento cristão, ou o que agora chamamos de igreja, foi sempre emergente. Jesus e seus seguidores eram agentes de mudança, e foi isto que lhes meteu em encrenca. De acordo com o autor do Evangelho de Mar cos, Jesus disse: “A lei do Sábado foi feita para a humanidade e não a humanidade para a lei do Sábado”, quando ele intencionalmente quebrou a sagrada lei do Sábado de sua religião. É difícil para nós entendermos como disputar a respeito disso seria difícil para pessoas de seu tempo. Você pode ter uma idéia, entretanto, se for para Israel hoje e quebrar a lei do Sábado. Jesus curou no Sábado, ele comeu com os chamados “impuros”, e confrontou os poderes e principados de sua cultura, assim como sua religião. Ele exigia mudança no sistema de crença religiosa de seu povo se este fosse injusto ou opressor àqueles que eram banidos ou marginalizados. 64
Muitos foram mortos por pensar e agir desta forma progressista, mas nem sempre o pensamento que trouxe essa discórdia e aparência de mudança é progressista, talvez esta seja a maior resistência dos pensadores ortodoxos a respeito da Igreja Emergente. 3.2. Onde e como surgiu O nome Igreja Emergente surgiu nos anos 90 65 quando Karen Ward, da Igreja dos Apóstolos de Seattle, criou um site denominado EmergingChurch.org 66, com o intuito de demonstrar sua inquietude com a igreja daqueles dias. No fim da década de 90, Brian McLaren adotou o termo emergente juntamente com Doug Pagitt, os dois eram lideres do Projeto Terranova, um projeto 63
COSTA, Nelson. Uma Encrenca chamada “Igreja Emergente”. Renovation Café. Dsiponível em < http://www.renovatiocafe.com/index2.php?option=com_content&task=view&id=256>. Acesso em 15 de Abril de 2010. “O autor deste artigo cita uma frase do teólogo Karl Rahner: Teolog ia significa levar encrenca racional ao mistério”. 64
Idem.
65
MEISTER, Mauro. Op.cit. p.97,98. Este site não se encontra disponível.
66
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desenvolvido pela Liderança de Jovem do Leadeship Network (YLN) 67. O nome foi adotado por Brian e Doug pela adequação dos novos projetos desenvolvidos, e em 2001 ficou marcado como este nome estava apropriado para os novos projetos do grupo68. O nome adotado e a mentalidade demonstrada pelos líderes só poderia estar refletindo na era presente a qual a Igreja Emergente estava inserida, a pósmodernidade, ou pelo menos a transição entre as gerações: Ainda que valores estéticos e teológicos fossem diferentes, havia a possibilidade de identificação pontual dessas diferenças, ou seja, o cerne ainda permanecia o mesmo. Essas diferenças se davam mais por estilo e estrutura teológica do que por uma abordagem filosófica da vida como um todo. Necessitando adaptar-se ao seu tempo, as igrejas consideradas evangélicas tinham confissões bíblicas diferentes e estilos de culto, música, pregação e eclesiologia que eram destinados a diferentes públicos, mas mantinham uma base comum. Nesse período formou- se a “igreja dentro da igreja”, para satisfazer anseios de gerações diferentes, mas ainda era a mesma igreja 69.
A necessidade de um novo movimento, para a resposta a uma nova geração, assim surgia a Igreja Emergente com novos pensamentos e a tentativa de seguir os passos de Jesus nos dias atuais. Evidentemente com as mudanças surgem os preconceitos e as barreiras. 3.2.1. A Igreja Emergente frente a pós-modernidade A Igreja Emergente é uma igreja que se encontra na era pós-moderna, mas isto não quer dizer que ela seja pós-modernista; na realidade é uma contra resposta a pós-modernidade, uma reposta para aquilo que é emergência 70 para as pessoas na sociedade hoje. Dan Kimball em seu Livro “A Igreja Emergente”, constrói uma linha divisora entre era moderna e pós-moderna que ajuda o leitor identificar a igreja emergente frente a pós-modernidade. Modernismo – Uma cosmovisão e uma cultura com ênfase na ciência e na tecnologia; a fé no conhecimento como bom e incontestável, num único padrão de moral e verdade absolutas, no valor da individualidade e no 67
MCLAREN, Brian. Op.cit. p.303. Idem. Os novos projetos deram início a um novo portal o www.emergentvillage.com. 69 MEISTER, Mauro. P.98. 70 MCLAREN, Brian. Op.cit. P.304-305 (apud: Steven Johnson. Emergência: a vida conectada das formigas, cérebros, cidades e software. 2001) “Emergência é aquilo que acontece quando o todo é mais astuto que a soma de suas partes. É o que acontece quando você tem um sistema de partes componentes relativamente simples – na maioria das vezes há milhares ou milhões delas – e elas integram de maneira relativamente simples. E, de algum modo como resultado de toda essa interação, algumas estruturas de nível ou de inteligência mais elevados aparecem, usualmente sem planos- mestres, exercendo autoridade. Esses tipos de sistema tendem a evoluir a partir do chão.”. 68
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pensamento, no aprendizado e nas crenças como elementos que devem ser determinados de modo lógico e sistemático. Transforma-se em: Pósmodernidade – Uma cosmovisão e uma cultura emergentes em desenvolvimento, em busca do que vai além da modernidade. Defende que não há uma única cosmovisão universal. Portanto, a verdade não é absoluta, e muitas das qualidades adotadas pelo modernismo não detêm mais o valor nem a influência de antes. Pode ser definido segundo nosso gosto, pois ainda está em formação e desenvolvimento 71.
Nesta descrição de uma era para a outra se percebe uma notável mudança de como as pessoas enxergam o mundo, e como elas vão reagir diante de suas decisões e suas crenças. O mundo pós-moderno é um mundo que se auto-compreende por meio de modelos biológicos e não mecânicos; um mundo onde as pessoas se vêem como parte do ambiente e não acima ou separadas dele. Um mundo desconfiado das instituições, das hierarquias, das burocracias centralizadas e das organizações dominadas pelo sexo masculino. É um mundo em que as redes de comunicação e as atividades locais das pessoas comuns têm precedência sobre estruturas de larga escala e sobre grandes projetos; um mundo em que a era do livro está abrindo caminho para a era da tela; um mundo faminto por espiritualidade, mas indiferente à religião sistematizada. É um mundo onde a imagem e a realidade se encontram tão profundamente e entrelaçadas que se torna difícil saber onde uma começa e a outra termina72.
Não somente na área da tecnologia, mas em todos os aspectos a mudança da modernidade para a pós-modernidade pode ser observada, a começar pela perspectiva de muitos historiadores. A era moderna é nascida no alvorecer do iluminismo, logo após a Guerra dos Trinta Anos, mas o cenário já tinha sido armado anteriormente na Renascença, onde a humanidade estava no centro da realidade. Uma frase que frisa bem esta perspectiva é a de Francis Bacon que diz que os homens podiam dominar a natureza se descobrissem os segredos dela 73. Ou seja o individuo está no centro do mundo, sua racionalidade e seu conhecimento não podem titubear, o homem com seu intelecto deve descobrir os segredos do universo. O projeto de modernidade formulado no século XVIII pelos filósofos do iluminismo consiste num desenvolvimento implacável das ciências objetivas das bases universalistas da moralidade e da lei e de uma arte autônoma consoante a lógica interna delas, constituindo ao mesmo tempo, porém, uma libertação dos potenciais cognitivos acumulados em decorrência de suas altas formas esotéricas e de sua utilização na práxis; isto é, na organização racional das condições de vida e das relações sociais. Os proponentes do iluminismo [...] cultivam ainda a expectativa extravagante de que as artes e as ciências não somente aperfeiçoariam o controle das 71
KIMBALL, Dan. p.66. KIMBALL, Dan. p.71. apud: TOMLINSON, Dave. London: Triangle, 1995. p.75. 73 GRENZ, Stanley J. Pós-Modernismo.Um guia para entender a filosofia de nosso tempo. São Paulo: Vida Nova, 2008. p.13. 72
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forças da natureza, como também a compreensão do ser e do mundo, o progresso moral, a justiça nas instituições sociais e até mesmo a felicidade humana. 74
“A demanda por um determinado tipo de conhecimento faz com que o
pesquisador moderno busque um método que demonstre a correção fundamental das doutrinas filosóficas, cientificas, religiosas, morais e políticas” 75. É um conhecimento axiomático 76 e que coloca o ser em um estado de certeza absoluta. Já na pós-modernidade estas certezas são rejeitadas, e isto se baseou na década de 70 com uma nova forma de leitura, o desconstrucionismo, este tipo de leitura abriu o entendimento para uma nova filosofia. A desconstrução surgiu como um prolongamento de uma teoria literária chamada “estruturalismo”. Segundo estruturalistas, a linguagem é uma construção social e as pessoas desenvolvem documentos literários – textos – na tentativa de prover estruturas de significado que as ajudarão a dar sentido ao vazio de sua experiência. Os estruturalistas argumentam que a literatura nos equipa com categorias que nos auxiliam a organizar e a compreender nossa experiência da realidade. Além do mais, todas as sociedades e culturas possuem uma estrutura comum e invariável. 77
Os filósofos pós-modernos aplicaram essa teoria do desconstrucionismo literário em todas as coisas no mundo. A afirmação que eles fazem é que “assim como um texto terá leitura diferente conforme o leitor, da mesma maneira a realidade será lida diferentemente por todo ser dotado de conhecimento que com ele depare”78. Isto quer dizer que não há um significado único, não há um centro transcendente para a realidade com um todo. Então com esta visão de que não há um sentido único, a mente pós-moderna recusa a dizer que a verdade é exata, e não limitam a verdade pura e simplesmente a sua mente racional, acreditam que há outras maneiras, outros caminhos validos para o conhecimento além da razão, assim a experiência do ser se valida com suas emoções e intuições79.
74
Ibidem. p.15. apud: HEARMAS, Jürgen. “Modernity: an unfinished Project”, in: The post -modern reader, editado por Charles Jencks. New York, St. Martin´s Press, 1992, p.162-163. 75 Ibidem. P.15. apud: LUECKE, Richard. “The oral the local and the timely”, Christian century, 3 de outubro de 1990, p.875. 76 BUENO, Silveira. Mini Dicionário da língua Portuguesa. Ed. Revista e Atualizada. São Paulo: FTD. 2001. “Axiomático: adj. Evidente; incontestável.” 77 GRENZ, Stanley J. Op.cit. p.18. 78 Idem. 79 Idem.
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A vantagem deste ponto de vista é o sentido de sua cosmovisão, em que o individualismo do ser humano não é favorável, mas uma vida em comunidade é valorizada. A cosmovisão pós-moderna opera com um entendimento da verdade embasado na comunidade. Assim o que quer que aceitemos como verdade, e até mesmo o modo como a vemos, depende da comunidade da qual participamos. Além disso, e de modo ainda mais radical, a cosmovisão pósmoderna afirma que esta relatividade se estende para além de nossas percepções da verdade e atinge sua essência; não existe verdade absoluta; pelo contrário, a verdade é relativa à comunidade da qual participamos. Como base nessa suposição, os pensadores pós-modernos abandonaram a procura iluminista por uma única verdade universal, supra-cultural e eterna. Em vez disso, concentram-se naquilo que é tido por verdadeiro no espaço especifico de uma comunidade. Asseveram que a verdade consiste nas regras fundamentais que facilitam o bem estar da comunidade da qual se participa. Em conformidade com essa ênfase, a sociedade pós-moderna tende a ser comunitária. 80
Um ponto que fica muito claro na era pós-moderna é o interesse do transcendente, a busca das questões relacionadas com deus, uma vida de fé e religiosidade, em outras palavras uma vida sobrenatural. Só que não é somente o sentido sobrenatural cristão que é apegado a esta geração, pois o censo divino aparente tem tanto um censo de benevolência como também um censo de cinismo e autogratificação81. Portanto os aspectos apontados pela pós-modernidade demonstram o relevante pensamento da Igreja Emergente acerca da sociedade, sua busca espiritual e centralidade em seus próprios sentimentos. A Igreja Emergente busca entender estas características pós-modernas e então fazer uma teologia adequada para tal situação. 3.3. Sua teologia e compreensão de mundo A teologia da Igreja Emergente poderia ser conceituada de várias maneiras, como teologia liberal82, como heresia, como teologia relativista etc. poderia ser descrita de varias formas por pessoas que não aderiram ao movimento, mas pelos fundadores e teólogos da Igreja Emergente poderia ser descrita de uma única forma, a igreja que não se amoldou aos padrões deste mundo e agora quer mudá-lo
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GRENZ, Stanley J. Op.cit. p.21. Ibidem. p.23. 82 O termo liberal é difícil de ser definido, pois o liberal só é liberal a um certo ponto de vista. E para os críticos da Igreja Emergente, a teologia desenvolvida pelo movimento não dá o devido valor a bíblia, mas os líderes emergentes já atacam a teologia moderna por não viver aquilo que desenvolvem como sua suma teologia. 81
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através de suas atitudes e sua missão, uma teologia bíblica comprometida com as pessoas83. O principal foco da Igreja emergente, e que talvez ajude a definir sua teologia, é o fato de serem missionais. Dan Kimball diz que o sucesso da Igreja Emergente é medido de forma missional 84, enquanto as igrejas modernas medem seu sucesso através de seus prédios, planejamentos financeiros e pessoas; a Igreja Emergente mede seu sucesso através de suas práticas, através da transformação e o exemplo que pode ser para as pessoas. Como devemos medir o sucesso na igreja emergente? Observando o resultado de nossas práticas, o que elas produzem no povo de Deus quando as pessoas são enviadas com a missão de viver como sal e luz em suas comunidades (Mateus 5.13-16), e observando se as pessoas de nossa igreja levam justiça social e caridade a sério como parte da missão que Jesus realizou. Devemos medir o sucesso ao olhar para as mesmas características que o Espírito de Deus recomendou para a igreja emergente e missionária de Tessalônica no primeiro século: “Assim, tornaram -se modelo para todos os crentes que estão na Macedônia e na Acaia. Porque, partindo de vocês, propagou-se a mensagem do Senhor na Macedônia e na Acaia. Não somente isso, mas também por toda parte tornou-se conhecida a fé que vocês têm em Deus. O resultado é que não temos necessidade de dizer mais nada sobre isso, pois eles mesmos relatam de que maneira vocês nos receberam, e como se voltaram para Deus, deixando os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro, e esperar dos céus seu Filho a quem ressuscitou dos mortos: Jesus, que nos livra da ira que há de vir” (1 Tessalonicenses 1.7-10). 85
Para McLaren não há outra forma de ver um cristão e dizer que ele não é missional, e quando ele afirma isso é o mesmo que dizer todos são comissionados, todos estão dentro das boas novas, não há quem deva ficar de fora das boas novas, mas isso não quer dizer que a injustiça no mundo vai acabar ou coisas parecidas. A fé missional que McLaren expõe é totalmente inclusivista 86, ela não é condizente com a fé que só salva alguns e coordenam outras. Jesus não veio para criar uma religião exclusivista como o Judaísmo, que era exclusiva para quem tinha a religião 83
Este pensamento fi ca claro nos Livros de Dan Kimball “A Igreja Emergente” e também no Livro de Brian McLaren “Uma Ortodoxia Generosa”. Estes pensadores que alavancaram o movimento da Igreja Emergente deixam bem claro que a tentativa deste movimento é trazer mudança de mentalidade para que haja mudança de atitude. 84 MCLAREN, Brian. Op.cit. “O termo missional surgiu nos anos 90, graças ao evangelho e à nossa rede cultural (www.gocn.org). ele foi pluralizado pelo importante livro da rede, chamado Missional Church [Igreja missional] (Darrell L. Guder, entre outros. Eerdmans, 1998). 85 KIMBALL, Dan. Op.cit. p.22. 86 MCLAREN, Brian. Op.cit. O termo usado quer dizer que a obra de Jesus inclui todos os seres humanos, de todas as etnias, credos e ra ças. Talvez o termo ideal seria o universalismo. “Isso é universalismo no sentido verdadeiro... o impulso para fora do cristianismo a partir de mim para meu próximo, do estrangeiro ao inimigo e a todas as tribos e nações da terra” (Vicent Donovan. Christianity Rediscovered).
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por genética, já o cristianismo se tornou exclusivo baseando-se em crenças, o que pode ser pior que o exclusivismo genético87. McLaren não assume nem uma posição liberal e nem conservadora, mas tenta apresentar uma terceira opção, pois o conservadorismo está preocupado somente com a salvação pessoal, e o liberalismo seria o mesmo que dizer que perdeu o respeito pela sociedade, é um ser excomungado, excluído, e por este motivo perde a essência de viver em comunidade, ou seja, assim como os conservadores os liberais se tornam um grupo pequeno e restrito 88. Então McLaren tenta desenvolver uma nova vertente dentro desta concepção do evangelho missional, onde certas palavras não podem fazer parte do vocabulário, ou pelo menos elimina distinções, como evangelismo e ação social, pois ambas estão integradas em forma de expressar ao mundo um amor que salva. Ministério e missão, o que eu faço dentro e fora da igreja, e o entendimento de ministério é missão. E também os termos missionários e campo missionário, uma vez que agora todo cristão é um missionário e todo seu lugar é um campo missionário 89. Além disso essa teologia faz um ataque não só ao cristianismo tradicional, mas a todas as religiões que usam a tática de benção e maldição; se a pessoa é adepta da religião é abençoada se não é amaldiçoada. No caminho missional, o evangelho traz benção a todos, adeptos e não adeptos igualmente 90. [...]se Jesus envia pessoas ao mundo para amar e servir seus semelhantes, seus semelhantes são beneficiados, do mesmo modo que as pessoas enviadas por Jesus, uma vez que é melhor dar que receber[...] 91
Para os emergentes este é o sentido real das boas novas, e isto foi o que Jesus ensinou aos seus doze escolhidos, Ele os enviou para que ensinasse a outras pessoas sabendo que alguns creriam e também se tornariam praticantes desta nova forma de viver. Os oprimidos seriam libertos. Os pobres seriam retirados da pobreza. Minorias seriam tratadas com respeito. Pecadores seriam amados, e não tratados com ressentimento. Industriais perceberiam que Deus se importa com os pardais e as flores silvestres de modo que suas indústrias respeitariam e não violariam o meio ambiente. Os desabrigados seriam convidados para uma refeição quente. O reino de Deus se estabeleceria não em toda a parte e nem de uma única vez, não repentinamente, mas 87
Ibidem. p.117-127. Ibidem. p.145. 89 Ibidem. p.117-127. 90 Ibidem. p.124. Brian McLaren deixa bem claro que o evangelho não traz benefícios iguais a todos. E que nem todos os cristãos desfrutam igualmente destas bênçãos. 91 Ibidem. p.125. 88
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gradualmente, como uma única semente brotando em um campo, como o trigo se espalhando em massa de pão, como luz se espalhando pelo céu no romper da aurora.
Assim se resume a teologia da Igreja Emergente, uma teologia que assume a responsabilidade de interpretar a Bíblia com o compromisso com cada ser humano presente nesta terra. Uma teologia que conscientiza os cristão a serem solidários a cada instante de vida, e que eles não são os usuários finais do evangelho. A teologia da Igreja Emergente é um proponente de libertação e justiça a todo ser humano, sem preconceito e preferências, é um caminho de benção para todo e qualquer ser humano. E o mundo é o lugar onde todos vivem e devem compartilhar em amor uns com os outros as maravilhas da salvação de Deus enviadas através de Jesus.
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4 UMA ANÁLISE DO CULTO NA IGREJA EMERGENTE Assim como as mudanças entre era moderna e era pós-moderna tem uma forte influência na filosofia e atitudes pessoais, também tem uma grande e forte influência na concepção do culto da Igreja Emergente. Partindo desta mudança de visão, o foco da ministração da Igreja Emergente terá um público alvo bem diferenciado. Na modernidade a organização do culto, entendia o público como sensível- ao -interessado, e na pós-modernidade póssensível- ao -interessado92. Para a era moderna os cultos, as mensagens eram pensadas de uma forma que as pessoas que já eram freqüentes naquele ambiente se agradassem, estas pessoas já eram as interessadas e já sabiam o que encontrariam na Igreja. Porém, na era da pós-modernidade, onde se encontra a Igreja Emergente, o pensamento não está nestas pessoas e sim nas pessoas em busca de uma espiritualidade ainda não encontrada. Uma forma apresentada foi o retorno da era clássica da Igreja em seus primórdios, um culto bem diferenciado onde o público jovem e jovem-adulto se identifique melhor, com centralização em Jesus Cristo para que seu nome seja louvado. Vejamos algumas definições para sensível-ao-interessado e pós-sensível-aointeressado: Sensível-ao-interessado como estilo de Vida: ser sensível-ao-interessado como estilo de vida significa que, em tudo o que fazemos, somos sensíveis às pessoas que estão buscando verdades espirituais. Isso se aplica às nossas conversas com essas pessoas; aplica-se ao modo pelo qual planejamos nosso culto de adoração. Nesse sentido, não é um estilo ou metodologia de adoração; é um estilo de vida utilizado em nossa vida cristã para nos tornarmos sensíveis aos interessados na fé. Sensível-ao-interessado como estilo: Atualmente na cultura norteamericana, quando alguém se refere a uma abordagem ou a um culto de adoração sensível-ao-interessado, muitas vezes está falando de metodologia ou estilo de ministério – uma estratégia de ministério para atrair aqueles que sentem que a igreja é irrelevante ou obtusa. Isso muitas vezes acarreta a remoção de tudo o que é considerado bloqueio religioso e demonstrações de espiritualidade (coisas como louvor prolongado, símbolos religiosos, períodos de oração intermináveis, liturgia etc.) para que os interessados possam se relacionar com o ambiente e ser transformados pela mensagem de Jesus. Geralmente, o culto sensível-ao-interessado funciona como porta de entrada para a igreja, mas é em outro contexto ou reunião que a igreja oferece adoração e ensinamentos mais profundos 93. Pós-sensível-ao-interessado: É retornar a uma forma básica de cristianismo clássico, que sem fazer apologia, foca a vivência do Reino pelos discípulos de Jesus. Uma reunião de adoração pós-sensível-ao-interessado destaca, jamais esconde, demonstrações plenas de espiritualidade (louvor e adoração prolongados, símbolos religiosos, liturgia, muito tempo de oração, 92 93
KIMBALL, Dan. Op.cit. p.39, 147. Ibidem. p.32.
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uso farto das escrituras e de leituras etc.) para que as pessoas possam ter uma experiência e ser transformadas pela mensagem de Jesus. Essa abordagem, no entanto, se faz com vida renovada, sem deixar de ser “sensível” à medida que se oferecem aos interess ados instruções claras e explicações regulares para que compreendam termos teológicos e exercícios espirituais94.
Na identificação do ser como sensível ou pós-sensível percebe-se que a grande diferença esta no fator experiência. Esta parece bem ser uma das características da cultura brasileira citada por Ariovaldo Ramos, uma religiosidade ligada à experiência, é exuberante e até mesmo exacerbada; e pode ser interpretada de forma correta ou errada95. Quando Dan Kimball descreve que a intenção desta nova geração é voltar ao cristianismo primitivo é justamente pelo fato de nos dias atuais não haver mais uma âncora como verdade. Tudo o que acontece no mundo poderia ser dito como influência da cultura que está presente em cada local do mundo, mas para Kimball isso não surpreende a Jesus, pois sua obra e sua pessoa sempre serão o mesmo ontem, hoje e sempre. Então esta tentativa de retornar a um cristianismo que não esteja simplesmente preocupado em se defender, mas em demonstrar que Jesus pode ser seguido, de mostrar que a igreja ainda possui uma âncora, uma fé fundamentada na mais pura e inteira verdade, por mais que o mundo esteja em tempos de relatividade96 ainda é possível ter Jesus como esta verdade e âncora 97. Um fator que ajuda nesta identificação é que na era moderna as reuniões tinham um formato linear onde tudo caminhava e direcionava para a mensagem a ser pregada; na Igreja Emergente a temática do experiencial percorre todo o culto, e este é o foco central. Assim o culto tem um alcance muito maior a estas pessoas que de certa forma já tem em mente os pensamentos de um mundo pós-moderno 98.
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KIMBALL, Dan. Op.cit. p.33. RAMOS, Ariovaldo. Op.cit. 96 O relativismo esta relacionado com o estado de capacidade do ser humano em compreender o que é a verdade; ou o que é correto. Na serie de Li vros “OS PENSADORES” Tomás de Aquino destina em seus pensamentos, uma série de textos que resultam em oito artigos, tratando do questionamento real sobre esta questão da verdade. 97 KIMBALL, Dan. Op.cit. p.36-37. 98 Ibidem. p.147-154. 95
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Quadro 1: diferença entre abordagem Moderna linear e Abordagem orgânica de fé clássica (Dan Kimball. p.150, 152.).
Momento de adoração Anúncios Abordagem
Peça teatral ou vídeo
Moderna linear
Tudo gira em torno da mensagem e conduz a ela, pois é o foco e o elemento central do culto.
Abordagem orgânica de fé clássica O tema experiencial percorre toda a reunião como foco e elemento central.
Mensagem
Música de encerramento
Neste quadro é perceptível a mudança no culto de adoração, o foco central desenvolvido na era moderna é um culto extremamente racional, o culto é projetado com um direcionamento à mensagem a ser pregada. Este sentido foi passado a cada século. Já o culto com abordagem de fé clássica tem o foco central na espiritualidade, a experiência da pessoa. Este tipo de culto faz com que todas as pessoas consigam se identificar dentro do culto litúrgico, pois por mais que a experiência seja subjetiva e pessoal há um fruto dentro da comunidade, onde o espírito ministra aos que estão oprimidos e convence os que estão em pecados. O objetivo desta mudança para uma abordagem orgânica é que as pessoas não mais
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sejam convidadas a sentar e observar o que acontece, mas que elas participem e experimentem o Deus transcendente99. Quadro 2: Valores em transformação na abordagem dos cultos de Adoração (Dan Kimball. p.132.). IGREJA MODERNA (Sensível-ao-interessado) “cultos” de adoração nos quais a pregação, a música, a programação etc. são servidas ao freqüentador Cultos projetados para alcançar aqueles que tiveram uma experiência ruim ou enfadonha com a igreja. Cultos projetados para serem contemporâneos e acessíveis. Necessidade de romper com o estereótipo do que a igreja é. Vitrais são retirados e substituídos por telas de vídeo Cruzes e outros símbolos removidos do lugar da reunião para evitar uma aparência muito “religiosa”. Local montado para que as pessoas sejam capazes de ver o palco de um assento confortável enquanto adoram.
Santuário bem iluminado e jovial é valorizado O ponto central do culto é o sermão. O pregador e o líder do louvor dirigem o culto. Utiliza tecnologia moderna para comunicar com aparência contemporânea. Cultos projetados para crescer e acomodar muitas pessoas da igreja.
IGREJA EMERGENTE (pós-sensível-ao-interessado) “Reuniões” de adoração que incluem pregação, música etc.
Reuniões projetadas para aquelas que nunca tiveram experiência com igreja. Reuniões projetadas para serem experienciais e místico-espirituais. Necessidade de romper com o estereótipo de quem o cristão é. Vitrais são levados de volta nas telas de vídeo Cruzes e outros símbolos levados de volta para o lugar da reunião para promover uma sensação de reverência espiritual. Local montado com foco na comunhão, para ser mais como uma sala de estar ou uma cafeteria enquanto as pessoas adoram. A escuridão é valorizada, pois proporciona uma sensação de espiritualidade O ponto central do culto é a experiência holística. O pregador e o líder do louvor dirigem por meio da participação na reunião. A reunião é vista como oportunidade para vivenciar o antigo até místico (e utiliza a tecnologia para obter isso). Reuniões projetadas para crescer e acomodar muitas pessoas, mas vista como um momento de encontro de uma igreja que se reúne em grupos menores.
O ponto de vista criado pela Igreja Emergente pode ser mais um ponto de vista como diz Leonardo Boff 100, pois por mais que grande parte da sociedade mundial se encaixe na era pós-moderna, ainda encontra-se pessoas que estão vivendo em perfeito estado de aceitação a era moderna. O fato é que o ponto de vista criado tem um pressuposto aonde os pés da pessoa que vê esta cravado. A
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KIMBALL. Op.cit. p.147-154. BOFF, Leonardo. A águia e a galinha. Petrópolis, Vozes, 1994. 14ed. Disponível em . Acesso dia 20 de maio de 2010. “Todo ponto de vista é a vista de um ponto”. 100
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visão de um culto ideal, ou até mesmo do que é a igreja. A visão do mundo sempre estará influenciada pelo fator sócio-cultural. Talvez a crítica feita pelos ortodoxos tenha sua validade no quesito da primazia da palavra, pois se esta busca da espiritualidade é distorcida para um entendimento simplesmente contemplativo cria-se um novo problema, pois o objetivo será somente alcançar um estado de paz de espírito. A chamada Nova Espiritualidade Contemplativa , fortalecida através da Oração Contemplativa - usada por Teresa D’Ávila, Inácio de Loyola e outros gurus da Idade Média - é a ressurgida modalidade de vida espiritual, a qual conduz os seus seguidores à “Luz Interior” (que seria o casamento do devoto com o “Cristo Cósmico”). Através dessa “luz” é que os adoradores entram em êxtase espiritual, rejubilando-se na presença de Jesus... Isto é, de “outro Jesus”! 101
Essa mudança proposta pela Igreja Emergente tende a alcançar todas as pessoas que buscam essa nova espiritualidade, e dentro desta concepção não importa a aparência, ou classe, o que importa é que as pessoas realmente tenham esta experiência com Deus, que cada um alcance o transcendente. Esta experiência propriamente dita pode ser vista de varias formas possíveis. Dentro do quadro que os cristãos já estão acostumados a ver algumas experiências podem parecer esquizofrênicas, e muitas vezes estas experiências são criticadas por aqueles que não são adeptos ao pentecostalismo, mas o fato que no século presente quando uma pessoa fala de experiência com Deus o ouvinte logo já espera uma fala miraculosa, algo paranormal aconteceu para tal testemunho. Quando se fala em “experiência com Deus”, às vezes se pensa em acontecimentos fora do comum ao alcance somente de poucas pessoas (como curas milagrosas, falar em línguas, ter visões...), ou que se passam em alguns momentos extraordinários. 102
Tais experiências têm acontecido dentro de comunidades em momentos extraordinários como a autora Ione Buyst 103 expõe em sua pesquisa sobre Liturgia, e a experiência que as pessoas têm propriamente dentro da liturgia. Ione diz em seu livro que “não considera a experiência litúrgica uma experiência fora do normal fora do alcance de um participante comum, ou fora de uma celebração litúrgica 101
SCHULTZE, Mary. A Igreja Emergente da Nova Espiritualidade. Disponível em
. Acesso em 10 de Abril de 2010. 102 BUYST, Ione. Pesquisa em Liturgia: relato e análise de uma experiência. São Paulo: Paulos, 1994. p.14. 103 Ione Buyst, beneditina, doutora em teologia com especialização em liturgia. Articulista do conselho de redação da Revista de Liturgia . Professoras e integrante da equipe do Centro de Liturgia da faculdade de Teologia N. Sra. Da Assunção, SP. Assessora treinamentos, encontros e cursos de teologia e pastoral litúrgica. Autora de vários livros entre os quais Como estudar liturgia.
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normal”104. Ione vai tratar a experiência como algo mais do que subjetivo, embora
seja subjetivo. É algo que atrai coloca em total movimento os mecanismos da pessoa. “A experiência é um conhecer por dentro, partindo da própria relação com as coisas [...] Não é educação intelectual. É algo vital que se sofre na própria carne [...] a consciência vital que prende a pessoa [...], motiva e a põe em funcionamento, mediante a fuga, o desejo, a aproximação, o engano ou a posse ”105.
A experiência que as comunidades expressam dentro da liturgia é uma forma de zelar pela experiência das primeiras comunidades, e a partir do momento que cada pessoa assume esta responsabilidade de expressar torna possível, então, a possibilidade de tornar a experiência que fora histórica, ou específica de uma comunidade, uma experiência atual e pessoal. Com isso então se tem a idéia de sempre atualizar a experiência que já foi vivida, principalmente porque ao longo do tempo o fator da dimensão pessoal dentro da liturgia perdeu muito seu valor, então esta idéia de experiência pessoal surge como uma resposta a esta negação do lado subjetivo que cativa e motiva a pessoa. O culto moderno é frio, direto e objetivo e por isso não toca nos sentidos mais importantes de cada pessoa, que são existenciais e emotivos106. Para alcançar esta espiritualidade, ou a experiência com Deus, os líderes emergentes utilizam uma estrutura litúrgica diferenciada, onde as pessoas se sintam em um ambiente completamente espiritualizado, tanto nas músicas tocadas, como na aparência do local. Tudo aspira espiritualidade, véus, velas etc. o que for necessário para tornar o local em um local aparentemente espiritual. Esta estrutura de culto é chamada de “multissensorial” 107. O argumento para tal estratégia é que Deus criou o ser humano com diversos sentidos e todos devem ser usados para sentir sua presença. Deus nos fez criaturas multissensoriais e escolheu revelar-se a nós através de nossos sentidos. Portanto, é natural que o adoremos usando todos os nossos sentidos. A adoração no templo em Jerusalém era muito mais do que apenas ouvir as palavras de um sermão. Todos os sentidos eram envolvidos. Os aromas do incenso e dos sacrifícios podiam ser sentidos, os cânticos e as trombetas do templo podiam ser ouvidos, a arquitetura transcendente de pilastras imponentes e grandes jardins podiam ser vistas. 104
BUYST, Ione. Op.cit. p.15. Idem. apud: GUERRA, Augusto. “Experiência cristã”, in Stefano FIORES & Tullo GOFFI, Dicionário de Espiritualidade, Paulos, São Paulo, 1993, pp.388-393. 106 Ibidem. p.16-17. 107 KIMBALL. op.cit. p.155-160. 105
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Até mesmo a textura e as cores do vestuário sacerdotal comunicavam aspectos específicos sobre Deus e sobre sua aliança com Israel. 108
Então nota-se que o culto da Igreja Emergente tem o objetivo de alcançar todas as pessoas em um sentido que elas possam viver na própria pele uma experiência com Deus, sendo através da visão ou escutando, tocando ou sentindo o aroma, o fato é que para os Emergentes todos precisam viver esta experiência com Deus. 4.1 A influência sociocultural no culto da igreja Emergente Nenhuma igreja é capaz de alcançar a todos. Precisamos de todos os tipos de igreja para alcançar todos os tipos de pessoas 109.
A Igreja Emergente tem o objetivo de alcançar todas as pessoas. Não há restrições para nenhum tipo de pessoas. Segundo sua teologia que compreende que todo cristão deve ser missional, deve cumprir seu papel de evangelizar, de propagar libertação, não pode haver distinção de pessoas nem de classes. Só que a Igreja Emergente surge em um cenário de países desenvolvidos, que são Estados Unidos e Inglaterra 110, e isto acaba fazendo com que a visão seja muito mais adequada para seu local de criação, ou pelo menos isso é o que parece. Mas a Igreja Emergente compreende o culto de adoração em um molde segundo a necessidade e as conformidades de cada comunidade 111. O que Dan Kimball, McLaren e os demais teólogos da Igreja Emergente querem mostrar que a igreja é mais que um prédio onde as pessoas se reúnem. O sentido real de ser igreja é dar movimento, é estar em movimento na obra de Deus. Não basta apenas entender que não há apenas uma forma de adoração, que dentro de cada cultura é necessário uma abordagem diferente, uma postura diferente, pois os fatores éticos, morais e sociais tornam as pessoas especiais em cada lugar do mundo. O que os cristãos precisam entender é que o culto de adoração tem de ser 108
Ibidem. P.156. KIMBALL, Dan. Op.cit. apud: Rick Warren. Uma Igreja com propósito. 110 No capitulo 2 desta pesquisa, é citado por Mauro Meister e outros autores a origem da Igreja Emergente. 111 KIMBALL, Dan. Op.cit. p. 147-148. O autor conta uma experiência em uma pequena cidade no México, onde a igreja reunia cerca de 200 pessoas, em um local que comportava menos da metade que ali se encontravam. A forma de adoração era bem diferente da qual ele estava acostumado, mas reconhece o trabalho dos líderes que conseguiram desenvolver um culto de adoração que supria, e motivava aquelas pessoas estarem ali adorando a Deus, em um culto feito, segundo ele, sob medida para aquelas pessoas. 109
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elaborado com Jesus no centro, não pode ter outra ênfase. Jesus nunca pode ser colocado de lado112. Ao falar que não há somente uma forma de adoração, fica claro, que todas as pessoas, de todos os estilos, podem adorar a Deus. E o culto emergente tem este objetivo de fazer com que as pessoas se sintam parte do lugar de adoração ao Senhor. A Igreja pode ter cultos com características para góticos, para roqueiros, para quem gostam de rap etc. basta apenas que os líderes compreendam que um culto de adoração tem que alcançar essas pessoas, se há esse tipo de pessoas para serem alcançadas em sua comunidade. A Igreja Emergente entende que a cultura tem influência sobre as pessoas sim, mas algo muito importante é que as pessoas vão criando novas cultura s, e “O problema que estamos vivendo numa cultura que forma espectadores... Adoração de espectadores é e sempre será uma contradição de termos 113.” E o que os emergentes mais vêm combatendo, é que se o discurso não condiz com a prática, não pode continuar assim. A igreja precisa de uma experiência com Deus que faça com que ela entenda e assuma o querer expressar Deus para as outras pessoas em qualquer lugar. “Uma coisa é falar de Deus. Experimentá -lo é outra coisa bem diferente114.” As pessoas precisam ter esta experiência com Deus, para que possam transformar a realidade de sua cultura. Ao falar de evangelização o sentimento que os teólogos da Igreja Emergente é que esta é uma missão central, mas para isso o cristão deve estudar a bíblia a fundo, e isto sempre sob muita oração para que o manejar das escrituras seja correto; e quando falar de Jesus que ele seja o centro, pois a pessoa que evangeliza não passa apenas informações sobre Jesus, mas fala como é experimentar, como é se relacionar com Ele em condições de discípulo; e não importa como se fala, o método que usa o que interessa é a transformação a mudança proporcionada na vida dos ouvintes115. Biblicamente exemplificando esta abrangência que a igreja pode ter Kimball usa o exemplo de Paulo no Livro de Atos 17 116, em que Paulo demonstra que para cada cosmovisão apresentada ele usava uma estratégia de pregação diferente. 112
Ibidem. p.149. KIMBALL, Dan. Op.cit. p.189. apud: Sally Morgenthaler, Whorship Evangelism. 114 Ibidem. p.191. apud: Leonard Sweet. Postmodern Pilgrims. 115 Ibidem. p.214-215. 116 Ibidem. p.217. 113
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Paulo levava em conta o respeito e o conhecimento que cada um poderia ter ou não das escrituras. E assim deve ser o cristão ao elaborar uma mensagem. Quando formos preparar as mensagens para a cultura emergente devemos pensar como Paulo pensou. Quando pregamos, não devemos jamais pressupor que todos concordam com nossas premissas. Você pode falar com crentes e incrédulos ao mesmo tempo, contanto que se empenhe um pouco mais e faça algumas redefinições e repense sua abordagem quando for pregar. 117
Para explanar melhor o alcance e objetivo do evangelismo Kimball desenvolveu este quadro: Quadro 3 – Valores em transformação na abordagem evangelística (Dan Kimball. p.250) IGREJA MODERNA
O evangelismo é um evento para qual você convida as pessoas. O evangelismo está preocupado basicamente em conduzir as pessoas para o céu. O evangelismo é focado em pré-cristãos. O evangelismo é realizado por evangelistas. O evangelismo é algo complementar ao discípulo. O evangelismo é uma mensagem. O evangelismo usa a razão e provas apologéticas. Missões representam um departamento da igreja.
IGREJA EMERGENTE
O evangelismo é um processo através de relacionamentos, confiança e exemplo. O evangelismo se preocupa com as experiências das pessoas dentro da realidade de viver o Reino de Deus agora. O evangelismo é focado em pós-cristãos O evangelismo é realizado por discípulos. O evangelismo faz parte da realidade de ser discípulo. O evangelismo é uma conversa. O evangelismo usa o fato de a igreja ser igreja como argumento apologético. A igreja é uma missão.
A pregação na cultura emergente envolve coração, casamento, vida de solteiro, família, amigos, criatividade, discurso, atitudes, corpo, ações, brincadeiras, sussurros, gritos, percepções, segredos, pensamentos e, sim, também nossos sermões. Nossa vida prega melhor que qualquer coisa que possamos dizer. Quando pregamos, nossas atitudes falam mais alto que nossas palavras. 118
A pregação emergente não pode ficar somente em quatro paredes, o sermão a pregação tem que surtir no efeito de uma igreja melhor. Conseqüentemente o evangelismo deve produzir pessoas melhores, comprometidas com Jesus, em estudar sua palavra com todo temor e aspirando viver a experiência de servi-lo sempre. A Igreja Emergente terá esta visão sobre a comunidade, dentro de todas as culturas, em todos os lugares do mundo. O cristão foi chamado para viver o evangelho, pregá-lo com intensidade, a intensidade da própria experiência que não pode ser guardada somente para si, mas que todos possam ouvir este Jesus, que 117 118
Ibidem. p.219. Ibidem. p.241.
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não mais só se fale, mas que se experimente, se sinta Ele entrar e mudar o viver, mudar a concepção de tudo que há no mundo, pois Ele pode mudar essa cultura, Ele pode mudar a situação social através daqueles que o servem. 4.2 Análise entre o culto da Igreja Emergente e o culto Neopentecostal. Ao pesquisar sobre o culto na Igreja Emergente, e sua adequação ao ambiente cultural para que alcance todos os tipos de pessoas, houve de certa forma uma identificação com as igrejas neopentecostais 119 brasileiras. Assim como na Igreja Emergente a valorização da experiência pessoal fica caracterizado dentro da igreja Neopentecostal. 4.2.1 A origem neopentecostal no pentecostalismo, o valor da experiência sobrenatural. Os pentecostais foram conhecidos por muito tempo como um povo barulhento que buscavam com intensidade a presença de Deus. “Cultos com orações simultâneas ou em voz muito alta, com manifestação estática e línguas estranhas eram identificados como pentecostais ”120. Esta busca e abertura espiritual pelos pentecostais geraram certo desconforto ao movimento tradicional que não entendia o que acontecia dentro das reuniões destas igrejas. Dentro delas havi a “transes e êxtases” 121 espirituais. O estado de êxtase é definido, segundo Antonio Gouvêa Mendonça, como um estado ideal para se aproximar de Deus: O êxtase é um estado de consciência considerado ideal para romper as barreiras que impedem ou dificultam a comunhão com o sagrado. Ele se caracteriza pela ruptura maior ou menor dos laços que ligam os indivíduos à realidade. Ele pode ir de um intenso estado emocional, às vezes assinalado por tremores, voz embargada ou inarticulada, choro, desbloqueio das censuras naturais, até estados de total inconsciência. Nas religiões em que se busca o êxtase é freqüente o surgimento de glossolalia que, em muitos casos, é instrumento de profecias (revelações). O fenômeno pode surgir em 119
Poderiam ser citadas várias igrejas neopentecostais, mas as principais igrejas a serem abordadas serão a Igreja Universal do Reino de Deus e também a Igreja Internacional da Graça de Deus, que são as duas maiores e mais conhecidas igrejas neopentecostais em terra brasileira. 120 MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Protestantes, Pentecostais e Ecumênicos: O campo religioso e seus personagens. São Bernardo do Campo: Umesp, 1997. p.149. 121 Ibidem. p.150. O transe e o êxtase espiritual não acontece somente em Igrejas Pentecostais ou Neopentecostais, em outras religiões também já eram presentes estas experiências, ou esta mudança de estado consciente para um estado extático, em algumas religiões são usados técnicas ou ate mesmo drogas que é o caso do culto do Santo Daime, aonde os participantes ingerem um chá que os leva a um estado de êxtase.
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qualquer participante, geralmente acompanhando tendências individuais naturais, como emotividade, misticismo ou estado de exaltação. O êxtase quando acompanhado de profecia (revelação), que indica intimidade do indivíduo com o sagrado, geralmente confere ao possuidor deste “dom” grande prestígio no seio do grupo. A profecia ou revelação é a manifestação da vontade da divindade para com seus seguidores ou até para com indivíduos que não estão em êxtase 122.
Por mais que este estado êxtase já esteja presente em algumas religiões, ele foi adequado de forma surpreendente ao pentecostalismo, que usando somente o fervor de sua fé atinge este estado que rompe esta barreira que estaria separando-o de Deus. E a única afirmação que poderia ser dita a respeito desta maneira dos pentecostais é que, se não há presença do sobrenatural em seus cultos é o mesmo que dizer não ter havido culto. Com esta busca exuberante pelo sobrenatural os pentecostais se adequaram bem a um ensinamento de John Wesley que, após a justificação e a regeneração do pecador, seguia-se de um processo da santificação progressiva, uma espécie de crescimento continuo no caminho de Deus, e para explicar melhor esta santificação progressiva ele usou o termo “segunda benção” ou ainda “segunda obra da graça”, que os pentecostais adotaram e deram u m novo nome o “Batismo com o Espírito Santo”123. Esta característica que ficou como marca maior das igrejas pentecostais abriram varias outras vertentes como: cura divina pela Igreja do Evangelho Quadrangular; fortes movimentos de evangelismo com a igreja pentecostal O Brasil para Cristo124. 4.2.1.1 O surgimento da IURD e IIGD As duas igrejas neopentecostais de maior porte que são: Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e a Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD), ambas tiveram suas raízes firmadas dentro da igreja denominada Igreja de Nova Vida que foi fundada em agosto de 1960 no Rio de Janeiro pelo missionário canadense Walter Robert McAlister, que era oriundo de uma família pentecostal125.
122
Ibidem. p.151. Ibidem. p.156. 124 Idem. 125 MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo, Loyola. 2ed. 2005. p.51-53. 123
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Os dois fundadores da IURD Edir Bezerra Macedo e Romildo Ribeiro Soares converteram-se na Nova Vida, trabalharam juntos com outros líderes para fundar a Cruzada do Caminho Eterno em 1975 que não fora bem sucedida. Depois de dois anos em 1977 fundaram juntamente com Roberto Lopes a IURD. No seu início o pregador principal era Romildo Ribeiro Soares, mas como seu cunhado era mais despojado acabou tomando a frente de muitas decisões causando uma incógnita de quem deveria ser realmente o líder a IURD, através de votação Edir Bezerra Macedo se torna então o líder principal da IURD e Romildo saindo então da igreja cuja fora fundador com Edir é indenizado e em 1980 funda então com os mesmos padrões a IIGD126. 4.2.2 O culto neopentecostal Estaria a caminho a formação de uma religião da cultura brasileira? Uma religião que, atendendo ao imaginário social brasileiro, seria uma síntese de catolicismo popular, protestantismo pentecostal e cultos afro-brasileiros? 127
Sempre que se surge algo novo surge também esperança ou temor, pois tudo que é novo traz novas perspectivas as pessoas, e sendo novo é natural surgir duvidas ou opinião crítica. O culto neopentecostal é literalmente farto em simbolismo e manifestações sobrenaturais como curas milagrosas, manifestações demoníacas etc. o culto neopentecostal não é um culto estruturado, não há um roteiro a ser seguido. Pode começar com uma serie de orações ou com cânticos ou corinhos. A direção do culto fica por conta do pastor, e é ele quem faz tudo no culto ora, canta, prega, faz pedido de oferta; o pastor que comanda o culto do começo ao fim 128. Para Mariano o culto neopentecostal supera o culto pentecostal nas crenças mágico-religiosas, e isso porque ela atende eficazmente os interesses de uma clientela pobre e que necessita de soluções mágicas. O exemplo que Mariano expõe da IURD é da agenda semanal; na segunda-feira uma solução sobrenatural para quem quer um milagre de prosperidade, na terça-feira cura física, na quinta-feira para problemas familiares e afetivos na sexta-feira libertação (exorcismo) de
126
MARIANO, Ricardo. Op.cit. p.55-56. MENDONÇA, Antonio Gouvêa. Op.cit. p.159. 128 MARIANO, Ricardo. Op.Cit. p.57 127
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demônios, aos sábados uma repetição do ritual de prosperidade, quarta-feira e domingos dedicados a adoração do Espírito Santo 129. Talvez esta forma de suprir as expectativas deste povo mais pobre se identifique com a Igreja Emergente que se propõem a alcançar a todas as pessoas. As igrejas neopentecostais têm se colocado a disposição de todas as pessoas com a intenção de solucionar os seus problemas. Na IURD os pastores e obreiros tem que demonstrar grande empenho e disposição, pois com a promessa de solução para todos os males desta terra a igre ja se torna um “pronto -socorro espiritual”130. Visto que pregam e acreditam firmemente que, por meio de fé, oração e exorcismo, podem libertar os indivíduos de quaisquer problemas ou de quaisquer demônios (o que, em seu discurso, aparece como idêntico), todos que os procuram são bem recebidos e bem tratados. Pouco importa se o consulente e virtual adepto é mendigo, alcoólatra, viciado em drogas, travesti em trajes sumários, enfermo de câncer, aids. Demandas como estas não incomodam, nem causam mal-estar. Todos são acolhidos. Pois para todos há esperança. 131
Esta semelhança fica evidente de que todas as pessoas são dignas da palavra de Deus, e podem ter uma experiência maravilhosa com Ele, o que diferencia tremendamente o aspecto da teologia e culto entre a Igreja Emergente e as igrejas neopentecostais é que na Igreja Emergente as coisas materiais são usadas para alcançar as espirituais, com seus cultos multisensoriais em ambientes que as pessoas se sintam no transcendente, já nas igrejas neopentecostais o espiritual é usado para alcançar o material, a cura física, prosperidade entre outras coisas.
129
Ibidem. p.58. MARIANO, Ricardo. p.59. 131 Idem. 130
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após análise feita, é importante lembrar a inconstância cultural que tem sido demonstrada ao longo dos tempos, principalmente em novos tempos onde o individualismo toma conta do ser humano fazendo com que ele se importe menos com as adversidades do mundo voltando-se para o seu interior e fechando-se para uma felicidade que o coletivo não faz parte. A idéia de retornar a uma era mais clássica poderia ser chamada de arrojada ou ate mesmo de louca em uma era em que a pluralidade religiosa fala mais alto do que as afirmações dos próprios fiéis. A proposta da Igreja Emergente é uma proposta firme e de compromisso com o Deus que morreu e ressuscitou, e também para com todas as pessoas. A sua teologia não envolve enriquecimento ou a certeza de que tudo vai melhorar pelo fato de aceitar Jesus como salvador, mas o que eles pregam e tentam passar para as outras pessoas é simplesmente a própria experiência de vida, a experiência que foi vivenciada com Deus e que agora tem que ser passada adiante. Constata-se que, o culto e a visão que os emergentes têm do mundo pode não ser a melhor e nem a mais adequada, mas os questionamentos e insatisfação apresentados por eles devem ser consideradas, pois todos os métodos e estruturas um dia ficam ultrapassadas. Ao tratar as questões culturais, a abrangência de pessoas diferenciadas que podem ser alcançadas pelo evangelho, esta pesquisa, cumpriu o objetivo de analisar o histórico do culto cristão em suas origens bíblicas, na história e o que os pensadores da Igreja Emergente vão identificar como o culto ideal, um culto com adoração clássica. Quando tratado sobre os cultos no Antigo e Novo Testamento, a cópia dos cultos, feito por Israel, se espelhando nos povos visinhos com sua influência e mudança, são parecidos com toda mudança presente nos dias atuais, toda a influência sócio-cultural que transforma a filosofia de vida das pessoas, que as leva a usar roupas que identifiquem quem elas são. O estilo de música, todas estas coisas estão ligadas diretamente a guetos, a grupos que são específicos e é necessário então que o evangelho seja moldado para o estilo destas pessoas. Talvez o caminho para que essa moldagem seja feita esteja na simplicidade da vida humana, os valores que se assemelham, fatores que quebram as barreiras que dividem a humanidade, tanto em fatores sociais quanto culturais.
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Portanto que o pensamento teológico não se resuma as limitações das paredes de templos feitos por mãos humanas, mas que a realidade do templo do Espírito possa ser alcançada com a palavra da verdade revelada através de Jesus Cristo. Que os líderes possam repensar suas estruturas e métodos para que a sociedade de forma geral possa desfrutar desta palavra libertadora, uma palavra que permita que as pessoas experimentem de fato a presença deste Deus pregado a muitas gerações.
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