A Igreja Emergente – parte 1: Fundo Histórico Fernando Canale, PhD O Teólogo anglicano Alister McGrath descreve o Protestantismo como uma “entidade viva cuja identidade muda ao longo do tempo.” “na mutação biológica – explica McGrath – pequenas alterações no código genético, guia para o surgimento de novas formas.” A pós-modernidade trouxe mudanças históricas profundas na cultura e filosofia ocidental. Estas mudanças alcançaram os círculos evangélicos durante os últimos vinte anos, gerando um número de respostas. Uma delas, a “Igreja Emergente” movimento que está ganhando força, atenção e influência. Justin Taylor acredita que se trata de uma mudança significativa em alguns segmentos do evangelicalismo. A liderança da Coalizão Evangélica e o futuro da Reforma Protestante podem estar em risco. Quais são a extensão e natureza das mudanças que ocorrem no movimento da igreja emergente? Além disso, o movimento da Igreja emergente representa uma menor mutação evolutiva na história do Evangelicalismo ou o surgimento de uma nova forma de macro evolução? Para responder estas questões, provisoriamente precisamos manter em nossas mentes um breve esboço da experiência teológica protestante (parte 1), ganhar um conhecimento da obra e a situação presente no Evangelicalismo Americano (parte 2), tornar a familiarizar-se com uma breve amostra das reações “Neoevangélicas” para as mudanças que ocorrem dentro do movimento evangélico (parte 3), explorar os fundamentos filosóficos e níveis dessas mudanças (parte 4), e considerar o modo pelo qual a presente situação relaciona-se com o futuro da Reforma Protestante (parte 5). O objetivo deste artigo é destacar alguns importantes aspectos teológicos da experiência evangélica que podem ajudar-nos a melhor compreender e avaliar a presente situação e vislumbrar o futuro. Meu foco, então, é teológico mais que histórico. Há muitos e extensivos estudos sobre os fatos básicos envolvidos na teologia e evolução histórica do Protestantismo e Evangelicalismo. Por necessidade, qualquer tentativa de lidar com questões amplas distorcerá e os “caricaturará”. Selecionar caricaturas e enfatizar alguns aspectos da realidade que eles representam para fazer um ponto. Quando elas estão próximas da realidade, caricaturas ajudam a comunicar pontos gerais rápida e claramente. Na teologia, preferimos falar de modelos ao invés caricaturas. Ainda, meu objetivo limitado neste artigo requer menos do que um modelo que geralmente envolve Teologia Sistemática. Protestantismo Europeu
A história das mutações genéticas a partir do qual o Evangelicalismo Protestante salta é complexa. Na tentativa de descrever e avaliar a natureza e o intervalo de variação do Evangelicalismo, que atualmente experimenta o fenômeno da igreja Emergente, devemos manter em nossas mentes algumas significantes mutações anteriores.
Simplificando uma realidade altamente complexa com o fim de assegurar um rápido panorama histórico para eventos contemporâneos, poderíamos dizer que a experiência protestante começou com as mentes de mestres da Reforma, Lutero (1517), Calvino (1536), e os Reformadores Radicais (1521). Lutero gerou uma ideia revolucionária; Calvino desenvolveu a ideia em um sistema; os Reformadores Radicais anteciparam a complexidade e fragmentação do Protestantismo e o papel que a escritura e leigos desempenharão na evolução do movimento. Eventualmente, igrejas do “estado” surgiram a partir do movimento da reforma (1560 e 1570). Confessionalização é o entrelaçamento de “crenças religiosas e práticas com os objetivos do estado.” No processo da organização, Luteranos e Comunidades (Calvinistas) reformadas “definiram-se por explícitas e extensivas formulações doutrinárias.” Assim, linhas doutrinárias e organizacionais foram torcidas. Na Inglaterra, Anglicanismo (1520 e 1530) e, Puritanismo (1558), avançaram em diferentes visões da Reforma Protestante. Enquanto o Anglicanismo mantendo-se próximo a tradição tentou purificar a organização e os excessos morais do Catolicismo Romano extraindo das ideias de Lutero e Calvino. Seguindo as escrituras mais de perto, o Puritanismo tentou uma mais profunda e extensiva reforma no cristianismo seguindo o modelo calvinista de Genebra. Depois de trinta anos de guerra (1618-1648), uma exausta Europa necessitava de uma pausa dos debates religiosos e da reforma. Como uma cultura secular de tolerante racionalismo emergiu com a modernidade, o compromisso religioso e frequência às igrejas diminuíram grandemente. E neste novo clima cultural, de renovação e adaptação protestante, sobreveio o Pietismo (1675). As ideias petistas de Nikolaus Ludwig Graf Zinzendorf´s (1700-1760) influenciaram as ênfases de John Wesley (1703-1791) sobre o papel da experiência na vida do cristão. Todas essas ideias e práticas religiosas cruzaram o Atlântico e povoou o fértil solo dos primeiros americanos criando e configurando, por sua vez, novos desenvolvimentos centrados em torno de uma época de mudanças, tais como, por exemplo, o primeiro (1702-1750) e segundo (1800-1850) Grandes Despertar. Com o passar do tempo, a complexidade e as opções de práticas religiosas cresciam. Forças centrífugas subjugaram as centrípetas. Para superar as desvantagens da teologia e a fragmentação eclesiológica, denominações protestantes americanas começaram a cooperar em projetos específicos, como por exemplo, projeções missionárias e traduções das escrituras para línguas estrangeiras. O Evangelicalismo Protestante é uma coalizão de denominações protestantes que tentam superar suas fragmentações trabalhando unidas nas tarefas teológica e prática. Como o Protestantismo, o Evangelicalismo americano é um variado, multifacetado e complexo fenômeno que desafia descrições e definições nítidas. Além disso, o termo “Evangelicalismo" pode descrever referências histórica, doutrinária, e pastoral.
Historicamente, isso pode se referir ao setor do Protestantismo americano influenciados pelos dois Grandes Despertar e as denominações metodistas, batistas fortalecidas por eles. Doutrinariamente, pode estar referindo-se a um sumário teológico de crenças
partilhadas por várias denominações protestantes. Pastoralmente, isso pode fazer referência a uma coalizão de denominações trabalhando por uma causa comum. Neste artigo uso o termo “Evangelicalismo” em um sentido geral e inclusivo para descrever o centro do Protestantismo Americano durante os vigésimo e vigésimo primeiro século. Teologia Protestante Moderna
Depois de trinta anos de guerra, as novas tendências filosóficas começaram a reformular o cenário intelectual da civilização europeia. Francis Bacon (1561-1526), Descartes (1596-1650), Thomas Hobbes (1588-1679), e John Locke (1632-1704), entre outros, lideraram o lançamento de um implacável ataque sobre as fundações epistemológicas da filosofia clássica e da ciência abrindo o caminho para o surgimento da era moderna. De várias maneiras, a nova era sacudiria os fundamentos do Cristianismo. Um desses caminhos foi o crescimento do Método Histórico Crítico, baseada na alegação de que a escritura não é um livro inspirado, desenvolvido por filósofos como Baruc Spinoza (1632-77) e John Locke (1632-1704). Mais de um século depois, o teólogo protestante Friedrich Daniel Ernest Scheleirmacher (1768-1834), o pai da Teologia Protestante Moderna, pensou que a solução para o problema epistemológico apresentado pela modernidade foi aceitar suas premissas e reajustar a construção teológica para a nova situação. Delineado a partir de sua tradição pietista Scheleirmacher argumentou que Deus revela-se através dos sentidos em vez da razão. Sobre esta base, Scheleirmacher passou a articular um sistema de Fé Cristã que se tornou uma sólida alternativa para o sistema calvinista reinante. Embora ambos os sistemas fossem cristãos, eles avançaram amplamente distintos nas interpretações de doutrinas, vida, e práticas eclesiásticas. Logo, as modernas ideias científicas passaram a desafiar a cosmologia bíblica por meios da teoria da evolução.
Fundamentalismo
Não surpreendentemente, líderes do protestantismo americano reagiram divergentemente às novas ideias científicas e a abordagem modernista de teologia defendida por Scheleirmacher. Desde que as novas ideias apelaram aos intelectuais, os mesmos reagiram primeiro. Por várias e diferentes razões, alguns acharam as mudanças nos fundamentos do cristianismo avançadas convencidos pela modernidade, outros não. Progressivamente, alguns professores de teologia e seminários ajustaram as novas ideias, outros, tornaram-se críticos das mesmas. Durante o século XIX, teólogos vindos do Antigo Seminário Teológico de Princeton entenderam que a aceitação da moderna epistemologia e cosmologia eram incompatíveis com o Protestantismo Bíblico tradicional. A aceitação do método histórico crítico de interpretação bíblica, do sistema teológico de Scheleirmacher, e a teoria da evolução, representava uma recusa aos fundamentos do Protestantismo Bíblico. Como prestigiados herdeiros dos Antigos teólogos da Princeton, Archibald
Alexander (1772-1851), Charles Hodge (1797-1878), Archibald Alexander Hodge (1823-1886) e Benjamin Breckridge Warfield (1851-1921). 20 usaram suas heranças calvinistas para defender e reafirmar a clássica compreensão da Reforma Protestante contra os adversários da ciência moderna e teologia. Kevin J. Vanhoozer nos relembra “Charles Hodge e B. B. Warfield lançaram as bases para a teologia evangélica conservadora.” Na virada do vigésimo século, dois diferentes eventos estavam se formando no Protestantismo americano. Numa dianteira intelectual, o criticismo bíblico alemão influenciado por ideias filosóficas modernas foi corroendo a autoridade da Escritura nos seminários. Na testeira da experiência de vida prática, o Pentecostalismo veio à existência. O primeiro levou ao surgimento do movimento fundamentalista que defendeu a autoridade do primeiro significado histórico da escritura. Este último levou ao aparecimento do movimento carismático que produziu um reavivamento na frequência à igreja através das linhas denominacionais. Com o tempo, as modernas ideias e as modernas reinterpretações da teologia cristã chegaram à cultura popular e desafiaram a prática ministerial. Isso deu origem ao que conhecemos hoje como “Fundamentalismo.” Assim como as palavras “Protestantismo” e “Evangelicalismo”, “Fundamentalismo” também têm uma ampla gama de significados e referências diferentes. Por exemplo, pode-se referir a qualquer anti-intelectual, absolutista, e autoritário com posição de qualquer espécie. Pode também referir-se a qualquer religião em geral, para um particular período da história do Evangelicalismo Americano. Nesse artigo, eu uso a palavra “fundamentalismo” para referir-me a mutação do protestantismo americano que evoluiu durante a primeira metade do vigésimo século. Alguns ligam as origens da versão “fundamentalista” do evangelicalismo americano ao “Credo Niágara” em 1878. Um inimigo comum, cultura moderna e teologias modernas unidas a um espectro teológico diverso que incluíram milenaristas e advogados da antiga teologia de Princeton. Entre as 14 afirmações incluídas no Credo Niágara, cinco desses pontos falam influentemente contra a modernidade: a inerrância bíblica, a divindade e nascimento virginal de Cristo, a expiação substitutiva de Cristo, sua ressurreição corporal, e a segunda vinda. Esta ação revelou um modus operandi comum. Em vez de discutir contra a modernidade ou mostrando as deficiências da teologia moderna proveniente do pensamento bíblico sólido, fundamentalistas “afirmam que a Bíblia, a doutrina cristã e sua experiência não necessitam ser redefinidas a luz do conhecimento científico, filosófico e pressupostos literários da cultura moderna, mas antes sim reafirmou como o único desafio legítimo para a sua arrogância.” Ironicamente, de acordo com alguns, o fundamentalismo eventualmente levou a uma versão nova do Evangelicalismo protestante. Dois eventos tornaram-se emblemas do movimento fundamentalista, a publicação de Os Fundamentos entre 1910 e 1915 e “ O Objetivo da Trilha do Macaco ” em 1925. O primeiro, uma iniciativa teológica, “defendeu o cristianismo evangélico conservador” e
mais tarde, um evento cultural, produziu uma legislação anti-darwiniana no Tennessee. Por conta da controvérsia teológica, várias denominações protestantes dividiram-se em alas Fundamentalistas e Modernistas. Por causa da mídia no O Objetivo da Trilha do Macaco “rotularam os conservadores teológicos como reacionários e anti-intelectuais.” Evangélicos procuraram distanciar-se do rótulo do fundamentalismo. Em resumo, o Fundamentalismo veio à existência como uma resposta aos desafios da Modernidade levantados contra o Cristianismo em geral e em particular o Protestantismo Conservador. Não havia nenhuma nova luz das Escrituras, avivamento espiritual, ou compreensão sistemática por trás disso. Por sua origem e natureza, o Fundamentalismo foi um movimento apologético. Neo- Evangelicalismo
Vários fatores levaram a insatisfação com o Fundamentalismo Evangélico, entre eles, por exemplo, o fato de que muitos destes eram “populistas, ignorantes e hostis à teologia intelectual” e trouxeram o isolacionismo, derivado da cultura, retirado da tendência cultural da América. Por meados dos anos de 1940, “um número influente de pensadores surgiu dentro das fileiras do Fundamentalismo, que procuravam um corretivo ao que eles entendiam como um crescimento social e estreiteza intelectual no movimento.” Fora desta inquietação surgiu o movimento Neo-evangélico, sob a liderança inicial de E. J. Carnell, Harold Ockenga e Carl F. H. Henry. Eles procuravam reformar o Fundamentalismo nas áreas do conhecimento, apologética e sua dimensão social. Ainda, os novos evangélicos continuaram a lutar contra a visão neo-ortodoxa das Escrituras e o Sistema Teológico Modernista de Schleiermacher. Os Neo-evangélicos também se distanciaram do fundamentalismo por seu alcance social e compromisso ecumênico. Enquanto o Seminário Teológico Fuller abraçou a reforma e tornou-se a principal instituição do Neo-evangelicalismo, Christianity Today veio a ser sua voz não oficial. O movimento do Neo-evangelicalismo de profundas raízes históricas volta para o meio do século XIX. No calcanhar do Segundo Grande Despertar, quando Karl Marx e Friedrich Engels debatiam suas ideias, e Charles Darwin desenvolvia sua teoria evolucionária, evangélicos protestantes na Europa sentiram um desejo crescente de demonstrar unidade espiritual. Em 1846, este sentimento levou oitocentos líderes de cinquenta e dois grupos cristãos em oito nações para se reuniram em Londres e organizar a Aliança Evangélica Mundial. O alvo dessa organização com uma forte orientação pietista, foi primariamente ecumênica baseada na declaração não autorizada e incompleta declaração das crenças. Mais de um século depois, na Convenção Woudschoten na Holanda, um grupo internacional de líderes evangélicos organizou a Irmandade Evangélica Mundial (1951) como uma alternativa ecumênica intraevangélica ao Conselho Mundial das Igrejas (1948). John Stott, renomado ministro anglicano, ajudou a redigir os claros objetivos ecumênicos da Irmandade Evangélica Mundial: o apoio, defesa e confirmação do Evangelho; e cooperação no Evangelho. Estas bases doutrinárias seguiram as mesmas linhas anteriormente adotadas pela
Aliança Evangélica Mundial. Não é de surpreender, houve pequena diferença, entre Neo-evangélicos e os Fundamentalistas, na área da teologia. O debate teológico sobre questões tradicionais não resolvidas continuou. Contudo, a convicção de que Protestantes deveriam se relacionar com os ensinamentos científicos, desafiando doutrinas e práticas evangélicas não por ignorá-las, mas por envolve-las intelectualmente, foi crescente entre intelectuais evangélicos. Eventualmente, isso se tornou o divisor de águas, distinguindo Neo-evangélicos de Fundamentalistas. Progressivamente, abraçando suas doutrinárias, teológicas e ecumênicas tradições evangélicas, Neo-evangélicos dessa maneira envolveram-se na Modernidade em áreas como responsabilidade social, eclesiologia, ciência, Escritura e teologia. Na sociedade, Neo-evangelicos estão envolvidos na cultura por prossecução da aplicação social do evangelho. Na eclesiologia, eles encaram a modernidade com seus seminários, igrejas e missões organizadas. Na ciência, eles mudaram recentemente do criacionismo para abraçar o abismo temporal do evolucionismo histórico. Na Escritura, eles mudaram da completa para a limitada inerrância e usam o método histórico crítico. Indiscutivelmente, com o passar do tempo, mais evangélicos estão ladeados com Bernard Ramm´s (1916-1992), do que com a visão de Evangelicalismo de Carl Henry (1913-2003). Estes foram os temas quentes da época. Porém, nem todos os Neo-evangelicos estão felizes com a nova tendência descrita acima. Nos círculos teológicos, surgiu uma controvérsia sobre a inerrância da Bíblia e no século XXI continua. Esta controvérsia toma lugar dentro de instituições evangélicas e seminários. Norman Geisler, por exemplo, considera que a nova acomodação evangélica para a demanda do método histórico crítico é um “desvio dos antigos ensinamentos evangélicos sobre as escrituras.” No meio da controvérsia teológica a ortodoxia histórica protestante continua inalterada. De modo geral, na prática dos ministérios houve pouca mudança. O entusiasmo inicial agitado pelas campanhas evangelísticas de Billy Graham nas décadas de 50 e 60 diminuiu com o passar do tempo e a secularização da sociedade americana. O fundamentalismo sobreviveu no caráter distintivo do ministério evangélico, com alguns descrevendo esse fenômeno como “Neo-fundamentalismo.” Assim, enquanto os teólogos evangélicos enfrentavam desafios que floresciam da ciência moderna, ministros evangélicos enfrentavam de safios que floresciam da cultura moderna. Aparentemente, a teologia evangélica e o ministério prático enfrentavam o mesmo inimigo, Modernidade, sem muita cooperação interdisciplinar. Em meados do século XX, profundas mudanças filosóficas e culturais surgiram no ocidente cultural, desencadeadas pela primeira (1914-1918) e segunda (1939-1945) Guerras Mundiais. Como a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) na Europa diminuiu a autoridade da fé cristã como um guia confiável para a civilização e inaugurou a era moderna da razão, as duas guerras mundiais produziram uma perda da confiança na razão e instituições humanas abrindo o caminho para a era pós-moderna de liberdade
individual e comunitária. O existencialismo na Europa (décadas de 40 e 50), e o Movimento Hippie na América (décadas de 60 e 70), enfatizou a liberdade individual e tornaram-se precursores da pós-modernidade. Ministros evangélicos agora enfrentam a cultura secular moderna com seu materialismo, individualismo, e subjetivismo em suas próprias igrejas. Como sempre, as novas ideias atingiram e transformaram primeiro e rapidamente, as gerações mais jovens. Ao mesmo tempo, o Protestantismo também estava experimentando uma época de mudanças. Depois da Segunda Guerra Mundial, o Pentecostalismo “era o que mais tinha ultrapassado a linha principal das denominações que dominaram o cenário religioso americano de 1800 a 1950.” A renovação carismática do Evangelicalismo “levou a novos estilos de adoração, uma explosão em “canções de adoração,” uma nova preocupação para a dinâmica da adoração, e um crescimento na antipatia ao tradicionalismo do culto litúrgico formal.” Ainda, achamos o caráter distintivo da renovação carismática não no estilo, mas na natureza da adoração que lhes falava. Adoração, de acordo com os carismáticos é o “encontro imediato com Deus através do Espirito Santo e consequente transformação do indivíduo.” Manifestações externas de milagres no culto provê uma irresistível atração para muitos, incluindo os incultos, materialistas, secularizados, e racionalmente inclinados. Acesso direto a Deus, intermediado pelo sacerdote, pastor, igreja, doutrina ou credo estava disponível apenas indo à igreja. Como Alister McGrath fundamenta corretamente, esse fenômeno implicou a necessidade de muito se repensar a teologia e práticas do cristianismo. Com o tempo, pastores neo-evangelicos descobriram que enquanto a pregação bíblica e a doutrina ortodoxa não aumentou a frequência nas igrejas; a adoração carismática o fez. Essa descoberta abriu caminho para o uso pragmático do estilo de adoração para atingir o povo de mente secularizada liderados por Bill Hybels (1975-200) da Willow Creek. À medida que o fim do vigésimo século se aproximava em meio a essas vertiginosas mudanças culturais foram no Evangelicalismo eclipsando a Escritura; as mudanças eram quase despercebidas, mas não muito. Em 1984, Francis Schaeffer ponderou, Há uma crescente aceitação da metodologia existencial neo-ortodoxa. Há uma crescente infiltração das ideias humanistas dentro de ambos, teologia e prática. Há uma crescente aceitação do pluralismo e alojamento... aqui vemos novamente o grande desastre evangélico. Enquanto Schaeffer lamentou a rendição dos líderes evangélicos em sua batalha contra a modernidade, a modernidade foi evoluindo para o pós-modernismo. Talvez a maior de todas as mutações filosófica e cultural desde Platão. Em 1988, o teólogo católico romano Hans Kung anunciou para os teólogos seguidores, que o advento da nova era na civilização do ocidente estava a caminho. “depois das mudanças de paradigmas da reforma no décimo sexto século e da modernidade no décimo sétimo e décimo oitavo,
experimentamos, como eu creio, no final do vigésimo século, uma nova mudança de paradigma para uma ‘nova era’ que provisoriamente é chamada de ‘pós-moderna. ’” Tudo estava prestes a mudar.
Conclusões A partir da breve e parcial descrição de alguns pontos na longa, complexa e variada história do Protestantismo podemos sublinhar os seguintes pontos, pois eles podem nos ajudar a melhor entender a evolução nos primórdios do vigésimo primeiro século. O protestantismo emergiu da Escritura como uma reforma da Igreja Católica Romana e um desafio sério a cultura. Por uma variedade de razões, a reforma da Igreja Católica Romana evoluiu para fora de seus muros. A reforma realizada durante o século XVI foi incompleta e continuou durante o século XVII notavelmente com os teólogos puritanos. A reforma foi fragmentada devido a sua incapacidade para desenvolver um sistema coerente de teologia baseada no princípio da Sola Scriptura. Lutero e Calvino desenvolveram um sistema protestante de teologia usando fundamentos da teologia Católica Romana. Esse sistema proveu um centro para a unidade na diversidade denominacional evangélica mesmo em tempos pósmodernos. Indiscutivelmente, o desenvolvimento da reforma protestante abrandou, quando a ciência e a filosofia moderna nivelaram os sérios desafios aos padrões dos fundamentos bíblicos. O fato de o protestantismo enfrentar os desafios da modernidade pelo caminho apologético desacelerou seu desenvolvimento e distraiu-os de sua missão evangélica. Além disso, os apologistas não resolveram os problemas intelectuais que ainda ficaram sem respostas confrontando sucessivas gerações de intelectuais evangélicos. Na ausência de respostas intelectuais aos modernos desafios científicos e filosóficos para a Escritura, acreditando na Bíblia, líderes Neo-evangélicos tem progressivamente acomodado interpretações bíblicas e ensinamentos, aos ditames da ciência cultura populares nas áreas da teologia, doutrinas, ministérios e adoração. Em resumo, Neo-evangélicos enfrentaram a secularização por adotarem uma visão modernista Neo-ortodoxa da Escritura e secularizando a música e a liturgia na adoração. Brotando da herança protestante, a renovação carismática compete com a Escritura e parece desviar o protestantismo para longe da mesma.
A filosofia e a cultura pós-moderna adicionam um novo desafio para o protestantismo. Depois de dois séculos gradualmente surgindo da Escritura, o protestantismo confrontou desafios da ciência e cultura durante os três últimos séculos. Aparentemente, o foco da Reforma Protestante é manobrar progressivamente da Escritura para a cultura. É a Reforma Protestante emergente da Escritura chegando ao fim? Fernando Canale é professor de teologia e filosofia no Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia, Universidade Andrews.