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I" r eimpr essao essao, 2000
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Participar-pesquisar: Ciencia sem conhecimento e a ru fna da alma. R abelais, Pantagr uel, VIII
J a que cad a urn d os autor es d esta segunda coleHinea sobr e 0 nssunto vai d e algum modo discutir teor i as e praticas de mod alid ud es de pesquisa participar' te , quero reservar para estas poucas p{lginas d e introdufiio uma quesHio que, por ser possivelmente menos cientif ica e menos politica, em aparencia, nao tern sido abord lld a em pu blico ate aqui. Ela parece fazer parte daquilo que, sendo s 'ntid o por todos, nao deve ser falado entre ninguem, muito menos '11\ ur n livro. Hi segr edos que se ocultam de teorias; assuntos do humano If l • Ita no of i cio do pesquisador e que somente 0 pensar sobre a pl'f llica pessoal revela. Durante anos apr e ndemos que boa parte de 11 111 11 rnetodologia cientifica adequada serve para proteger osujeito < I ' si pr6prio, d e sua propria pessoa, ou seja: de sua subjetividade. Ou' entr e quem pesquisa e quem e pesquisado nao exista senao IIlnn pr oximidade policiada entre 0metodo (0 sujeito dissolvido em (' j'lncia) e 0 objeto (0 outro sujeito dissolvido em dado). Fora do d ominio de qualquer interesse que nao 0 da propria ciencia, tudo se l'I:solvccom boa teor ia no principio, uma objetiva neutralidade no Ill"io e uma rigorosa articula~ao de ambas as coisas com os dados II btidos, no final. Mais tarde, tempos coletivos de militancia que, em sucessivos 111)111 nlos, tornaram humanos e proximos os "objetos de pesquisa", Tam exper iencias e cr en~as que, acr edito, temos compartido, 1t'lIUX
com varia~oes, viuios e d ifer entes cientistas sociais. Uma delas: s6 se conhece em profund id a de alguma coisa da vida da sociedade ou d a cultur a, q uand o atr aves de urn envolvimento - em alguns casos, urn com pr ometimento - pessoal entr e 0 pesquisad or e aq uilo, ou aquele, que ele investiga. Outr a: nao e pr o priamente urn metodo o bjetivo d e tr abalho cientifico q ue determina a priori a qualidade d a rela~ao entre os p610sda pesquisa, mas, ao contrario; com freqiiencia e a inten~ao pr emeditada, ou a evidencia r ealizada de uma rela~ao pessoal e /ou politica estabelecida, ou a estabelecer, que sugere a escolha d os modos concretos de realiza~ao do trabalho de pensar a pesquisa. Uma ultima: em boa medida, a logica, a tecnica e a estrategia de uma pesquisa d e campo dependem tanto de pressupostos teor icos quanto da maneira como o· pesquisador se coloca na pesquisa e atraves dela e, a partir dai, constitui simbolicamente 0outro que investiga. Uma das difuculdades fundamentais em uma atividade cienti· f ica cujo "outr o lad o" e constituido tambem por pessoas, sujeitos sociais quase sem pre dif e rentes do pesquisador (indios, negr os, camponeses, " popula~Oes mar ginalizadas", oper arios, migrantes) e a d e como tratar, pessoal e metodologicamente, uma rela~ao antecedente de alteridadeque se esta belece e que, na maioria d os casos, e a propria condi~ao da pesquisa. Algumas rela~Oesd e pr oximidad e entre a pratica catequetica d o passad o, a d o professor de hoje e a do pesquisad or de campo, ajudam a compr eend er, ora por o por urn ao outro, ora por aproxima-Ios, a quesUio d ificil da construriio d o outr o que antecede e dirige 0 exercicio da pratica. A missao do pr egad or catequista q ue ur n dia aportou da Eur o pa no pais era a de fazer d o outro urn "como eu", desde que subalterno. Atraves d e ideias inculcad as, d e habitos mudados e de ritos de mudan~a im postos, d e struiraquilo que se para na vida, na consciencia e na cultura, 0 outr o de mim, desde que, ao ingressar em meu mundo, a proximidade ad qu irid a pelo outr o nao venha a a bolir a diferen~a entre nos. 0ind io cristianizad o e 0 negr o bati:l.ad o,como resultad o de urn trabalho violento e segura de r e-signif ica~1I.od a cultura (a morada d os simbolso) e da identidade (a mor ad a d os signif icados culturais da diferen~a), para ser finalmente um cr isU\o como eu , desde que ainda indio ou negr o, ou s eja, d esde q u llUllca urn outro eu. Urn ser agora humano, porque cristao, mas liild Ind io ou negro e, portanto urn subalterno legitimo a quem a
chama-Io de "irmao", mas urn pr oximo sobre q uem a nova dif erell~a estabelecida autoriza submeter, red uzir ou escravizar . Nos livros de Historia d o Br asil uma constru~ao equivalente d o outr o subalterno aparece de mod o exemplar. Os su jeitos nomidad os, atraves de cujas falas e a~5esflui 0 fio da historia, sao os senhor e s do poder ou os seus emissarios. Sao tambern, aq u i e ali, ur n red uzid o r e pertorio d e sujeitos po pulares - indios, negr os e brancos pobres, q uando nao "mesti~os" - que se d estacam, seja por cum pr irem exemplarmente as or dens do senhor, se ja por se re belar em, tambem exemplarmente, a elas. Henriq ue Dias e urn caso; Zumbi, urn outro. Nomes, datas e biografias sao urn d ireito legitimo desenhor es e mediad ores, os primeir os, pelo que fazem, os ultimos, pelo q ue cr iam. Os "outr os" aparecem como gent es. Como povos "nativos" sem nomes porque, imersos plenamente em uma cultur a, d e· q u e sao a f ace pitoresca, estao totalmente f or a· da hist6r ia, de que sao su jeitos plenamente sub jugad os. Nos livr os de "Hist6r ia Patr ia" as inumeras na~5es indigenas sao "ind ios", na melhor hipotese, "tu pis" e "tapuias". Enquanto os d a minha gera~ao tiveram de d ecorar tod os os nomes dos famigerad os donatarios de capitanias hereditarias, ate hoje as criam.as das escolas nao sabem de que povos, de q ue na~Oes,vieram os nossos "negr os escr avos". Assim, a mar gem d a historia e pr esentes no "livr o de historia" por serem coletivamente a sua face d e silencio, indios, negr os, mesti~os e brancos pobres sao, ali, d e pleno d ireito, os sujeitos d a cultura. Excluidos social e pessoalmente d o oficio de participar do f azer a hist6ria; vazios da id entidad e e, nao rar o, d o pr oprio nome da classe da "gente" de que sao, sao pur o s "ti pos cultUrais", segundo a logica da cultur a escolar que, ha muitos anos, povoa 0 pais de eternos cangaceir os, mulatas, cabr ochas, vaq ueiros do Nor deste, gauchos, capoeiras, seringueir os e cantadores de cor del. Ora, tambem par a 0 pesq uisador social, a existencia do d iferente e a condi~ao da pr atica. Esta afirma~ao, que apenas par cialmente se a plica ao histor iador e ao cientista politico, possui uma validade cr escente no caso do soci610go e, para 0 antr op610go, e 0 pr oprio come~o do seu cred o. Assim, enq uanto as histor ias de suas proprias ciencias s ac urn r e pertorio erud ito de nomes, escolas e r ef er encias de rela~oes entre uns e outr as: segundo as suas ideias, segundo as suas "contr ibui~oes", numa analise onde sem pr e 0 resultado coletivo da "escola" e ur n somat6rio de tra balhos nominad os d e sujeitos plenamente pessoais, quand o de novo 0 outro "popular "
que, de tanto pretender ser 0 da "classe" ou da "categoria", ameacya nao conter a fala nem 0 imaginario de ninguem. Nao e que 0 outro " po pular" nao participe dapesquisa, ele nao participa sequer do ser pesquisado. Para serem constituidos como a substancia das cit~nciassociais: "grupos sociais", "culturas", "movimentos", "processos", "casos" ou "movimentos" populares, saD igualmente reduzidos, seja a ur n anonimato de seus sujeitos (aquilo mesillo que a ciencia recusa com horror quando fala de si propria), seja a urn anonimato de suas proprias identidades sociais. Nao custa refletir a respeito da boa intencyaoque levava cientistas sociais a ocultarem cuidadosamente 0 nome da comunidade onde faziam os seus "estudos de comunidade". Nao custa pensar a razao pela qual, durante muito tempo, uma das caracteristicas universalmente mais aceitas para definir 0 que e "cultura popular" era justa mente 0 seu anonimato. Ou seja, entre outras coisas, 0 que a distingue da nossa e que, eriquanto 0 erudito da cultura e a necessidade da identidade pessoal do autor , o que toma legitim a a popular e que nela ele nao exista, ou porque f oi esquecido no tempo, ou porque, nao tendo at ores d e histor ia, 0 povo nao deve ter tambem autores de sua pr o pr ia cultur a. Nao custa avaliar uma insistencia do uso do questionario que, mais do que tomar as coisas faceis e objetivas, estabelece, tambem no momento da pesquisa, uma maxima desigualdade na relacyaoentr e urn lado e o outro. Entre ele e 0 catecismo ha uma curiosa semelhancya: urn possui todas as perguntas e, 0 outro, todas as respostas. Entre os primeiros homens que constituiram os "tempos modemos" de nossas ciencias, a pesquisa do outro - mais simples, mais distante, menos matreiro e resistente - servia a explicar-nos, ou a explicar totalidades: "0homem", "a religiao", "os estagios da humanidade" (onde irredutivelmente as formas pr imitivas eram sempre as do outro e, as exemplares, as do nos). A Historia e e pica e, por isso, nao so 0 senhor cabe nela como deve ser, mesmo quando inimigo, 0 sujeito dos solos mais importantes. Indios, negros, sujeitos de mundo sem classes, ou sujeitos das de baixo em nosso mundo, faziam momentos breves de urn coral escondido, mesmo quando entoavam 0 hino do aliado. Mas a Sociologia e a Antropologia perguntam sobre relacyoesque, cotidianas, podem ser ate comicas. Entao e melhor perguntar sobre nos atraves do outro. Nada mais simples: tomar para cada instituicyao ou fenomeno cultural a sua "forma mais simples" e pesquisar como funciona ali; depois, com-
aquilo funciona "em geral" ou, em "nossa sociedade". A Australia
era otima par a isto. "Foi dito muitas vezes que a sociedade ocidental era a (mica a te r produzido etnografos; que residia ali a sua gra~d~za e, a falta. de outras superioridades, que estes the contestem, a umca que os obnga a inclinar · se perante ela, uma vez que, sem ela, nao existiriam. Poderia tambem, do mesmo modo, pretender-se 0 contrario; se 0 Ocidente produziu etnografos, e porque urn remorso muito podaroso deveria atormenta-Io, obrigando-o a confrontar a sua imagem com a de sociedades d iferentes, na esperan~a de que elas refletirao identicas taras ou ajudarao a explicar como e que as suas se desenvolveram no seu seio" (Claude Levi-Strauss , Tristes Tropicos, pp. 384-385).
Houve avancyosimpor tantes. Hoje em dia existe uma com preensao ampla de que, ainda que 0 objetivo da ciencia social seja pr oduzir explicacyOestao universais quanta possivel, na verdade a pesquisa do outro em pr imeiro lugar serve para ex plica-Io. Quando Malinowsk i desembarcou sozinho nas ilhas de Trobr i and, nao era apenas urn metodo q ue ia ser reinvent ado ali; era uma atitude. Nao mais r econstruir a ex plicacyaoda sociedade e d a cultur a do "outro" atraves de f r agmentos de relatos de viajantes e missionarios. Ir conviver com 0 outro no seu mundo; aprender a sua lingua; viver sua vida; pensar atraves de sua logica; sentir com cle. "Logo depois que me instalei em Omarakana (Ilhas Trobriand), comecei, de certa forma, a tomar parte na vida da aldeia, a buscar quais os acontecimentos importantes ou festivos, a adqui r ir urn interesse pessoal no diz-que-d iz e no desenrolar dos acontecimentos da pequena aldeia; a acordar cada manha par a urn dia que se me apresentava mais ou menos como se apresenta para 0 nativo ... Durante 0 meu passeio matinal pela aldeia, podia observar os intimos detalhes da vida familiar , a higiene, a cozinha, as refei~Oes; podia ver os preparativos para 0 dia de trabalho, as pessoas saindo para atender aos seus interesses, ou grupos de hornens e mulheres ocupados em algumas tarefas manufatureiras . Disputas, piadas, cenas familiares, eventos usualmente triviais, as vezes dramaticos, mas sempr e significativos, formavam a atmosfera de minha vida diaria, assim como da deles.... Mais tarde, no cor r er do dia, 0 que quer que aeonteeesse seria facilmente acessivel; nao havia qualquer possibilidade de que escapasse a minha observa~ao" (Bronislaw Malinowski, "Objetivo, Metodo e Alcance desta Pesquisa" - Desvendando Mascaras So-
E tudo isto por que? Porque em todos os mundos sociais todas as institui~oes da vida estao interligadas de tal sorte e de tal maneira seex plicam atraves da posi~ao que ocupam e da fun~ao que exercem no interior da vida social total, que somente uma apreensao pessoal e demorada de tudo possibilita a explica~ao cientifica daquela sociedade. Porque, tambem, 0 primeiro fio de logica do pesquisador deve ser nao 0 seu, 0 de sua ciencia, mas 0 da propria cultura que investiga, tal como a expressam os proprios sujeitos que a vivem. Estava inventada a observar;iio participante. Este mergulho por inteiro no mundo do outro nao imped iu que uma ciencia sociologicamente renovada se desobrigasse das questoes efetivamente sociais das condi~oes de vida dos outros. Assim, uma Antropologia, cujo metodo era enfimpartici pante , nem por isso tornou-se ela propria politicamente participativa, a partir do que come~ou a descobrir . Pesquisando e escrevendo na mesma Inglaterra de onde 0 polones Malinowski saira para Trobriand , 0 alemao Marx inver tia a questao. Nao e necessario que 0 pesquisador se fa~a oper ar io ou como ele, para conhece-Io. E necessario que 0 cientista e sua ciencia sejam, primeiro, urn momento de compromisso e partici pa~ao com 0 trabalho historico e os projetos de luta do outro, a quem, mais do que conhecer para explicar, a pesquisa pretende compreender para servir. A partir dai uma nova coerencia de trabalho cientifico se instala e permite que, a servi~odo metodo que a constitui, diferentes t ecnicas sejam viaveis: 0 relato de outros observadores, mesmo quando nao cientistas, a leitura de documentos, a apIica~ao de questionarios (Marx mesmo fez urn, mas as avessas), a observa~ao da vida e do trabalho. Estava inventada a participar;iio da pesquisa. Quando 0outro se transforma em uma convivencia, a rela~ao obr i ga a que 0 pesquisador participe de sua vida, de sua cultura. Quando 0 outro me transform a em urn compromisso, a rela~ao obriga a que 0 pesquisador participe de sua historia. Antes da rela~ao pessoal da convivencia e da rela~ao pessoalmente politica do compromisso, era faci! e barato mandar que "auxiliares de pesquisa" aplicassem centenas de questionarios apressados entre outros q ue, escolhidos atraves de amostragens ao acaso "antes", seriam r eduzidos a porcentagens sem sujeitos "depois". Isto e bastante mnis dificil quando 0 pesquisador convive com pessoas reais e, atrayeS d elas, com culturas, grupos sociais e classes populares. Quando comparte com elas momentos redutores da distancia do outro 110
vista livre e a historia de vida se impoem. 0 pesquisador descobre com espanto que a maneira espontanea de urn entrevistado falar sobre qualquer assunto e atraves de sua pessoa. Que a maneira natural de uma pessoa explicar alguma coisa diante do gravador, e atraves de sua "historia de vida", ou atraves de. urn f r a gmento de r ela~oes entre a sua vida e aquilo a que responde. Em boa medida descobre que metodos e tecnicas de que se arma com cuidado sao meios ar bitrarios pelos quais 0investigador submete a sua a vontade do outro, 0investigad o. Mas 0limite da red efini~ao a alter idade tern acontecido, entre muitos d e n6s, pesq uisadores, qllando 0 outr o , proximo, enquanto 11m sujeito vivo mas provisor io d a "minha pesquisa", tor na-se 0 ompanhcir o de ur n compr omisso cuja trajetor ia, traduzida em tra balho politico e luta popular, obriga 0 pesquisador a repensar nao s6 a posi~ao de sua pesq uisa, mas tambem a de sua propr i a pessoa. A rela~ao de partici pa~ao da pratica cientifica no trabalho politico d as classes populares desafia 0 pesquisador aver e compreender tais classes, seus sujeitos e seus mundos, tanto atraves de suas pessoas nominadas, quanto a p artir de urn tr a balho social e politico d e classe q ue, constituindo a r a zao da pr atica, constitui igualmente a r a zao da pesquisa. Esta inventada a pesquisa participante. Nao porque - como querem tantos, tantas vezes - uma fra~ao obediente de sujeitos populares participa subalternamente da pesquisa do pesquisador, mas porque uma pesquisa coletiva participa organicamente de momentos do trabalho de classe,. quando ela precisa se r econhecer no conhecimento da ciencia.
Este segundo volume de documentos de/sobre pesquisas participantes e mais complicado que 0 primeiro. Aqui estao reunidos escritos de diferentes pessoas, do Brasil, da America Latina e da Eur o pa. Como acredito que pesquisa participante nao provem de uma unica teoria, nao e urn metodo unico e, muito menos, nao deve tender, seja a substituir 0 que equivocadamente tern sido charnado de " pesquisa tradicional", seja a constituir-se como uma "escola" propria, escolhi documentos regidos pela diferen~a. Deixei que falassem aqui pessoas que defendem pontos de vista diversos, a partir de teorias as vezes opostas. Permiti que variasse 0 grau de radicaIidade de uma proposta e, 8.0 escolher exemplos de pesquisas parti-
selecionei algumas ex per iencias possiveis. Reconhe~o que faz falta na coletanea urn tipo de documento, 0da critica cientifica e da cr itica politica das d iferentes propostas de pesq uisa partici pante. la. que, ou por faIta de textos ou por falta de coragem, nao 0 inclui entre os q ue saDapresentados aqui, deixo a urn out ro a sugestao d e que isto seja feito em urn proximo Iivr o, se possivel, breve. Este e 0 momento, leitor, par a anunciar em juIho de 1984 a r eaIiza~ao, em Sao Paulo, de urn 3? Seminario Latino-americano de Pesquisa Par ticipante. Muito mais do que no caso dos dois primeir o s - urn em Car tagena, na Colombia, 0 outr o em Patzcuar o, no Mexico - aquele sera 0 momenta de r eunir mos, finalmente, a euf oria dos pr imeiros tempos da "ex periencia", uma critica seria e ser enade sua pr atica.
Pesquisa participante: Propostas e proJetos* Marcela Gajard o**
Urn estilo supoe a ideia de totalidad e e possi bilidade historica. Atrai, enquanto tal, diversas manif esta~oes que ocorrem em urn mesmo campo d e atividade. Este e , pensamos, 0 caso d as praticas que visualizam par tici pa~ao, investiga~ao e a~ao educativas como momentos d e ur n mesmo processo. Pensamos que nelas se encontr a o ger me d e ur n ou mais estilos alter nativos d e trabalho junto a setor es popular es. Pensamos aind a que estes se inscrevem em uma per s pectiva r nais ampIa, qual se ja, a de contri buir , por meio d a produ~ao e comunica~ao d e conhecirnentos, par a a cr ia~ao de uma nova hegernonia. Muitos sao os esf or ~os d esenvolvidos em tor n o dessa id6ia. Gr and e e a experiencia acumulad a. Varias as vertentes e pr opostas q ue confluem par a d ar cor po a ur n estilo d e tr a balho que ve na apr opria~ao coletiva d o saber , na pr odu~ao coletiva de conheci-
(*1 Este artigo sustenta-se integralmente em um trabalho preparado par a Research Review and Ad visor y Group ( RRAGI , do IORC, Canadfl, publicado pr imeiramente sob 0 titulo "Evoluci6n, situaci6n actual y perspectivas de las estrategias de investlgaci6n par ticipativa en America Latina", FLACSO, 1982, mimeo. Tr adu~lio de Julio Assis Simoes. (**1 Marcela Gajar do, educadora, M. A. em Sociologia. Pesquisadora associada da Facultad Latinoamer icana de Ciencias Sociales (FLACSOI, Chile. Trabalha atualmente como especialista em educa~lio rur a l no Instituto Interamericano de Cooper aci6n par a la Agricultura (IICAI, escr it6rio do Brasil.
IBGE, C enso A gropecuar io: cear a, Funda~ao Instituto Brasileir o d e Geografia e Estatistica, Rio de J aneir o, IBGE, 1979, 696 paginas: tab. (Censos Economicos 1975, ser ie regional, v . I, t. 7). IBGE, S inopse p reliminar do censo d emogra fico: C eara, F unda~ao Instituto Brasileiro de Geograf ia e Estatistica, Rio d e Janeir o, IBGE, 1981, 72 paginas: tab. (Recenseamento Ger al do Brasil, 1980,9: v. 1, t. I, n? 8) Laing, Ronald D., A poUt i ca da ex per iencia e Ave d o Par also , Rio de Janeiro, Vozes, 1974. Oliveira, R osiska d e & Oliveira, Miguel Darcy de, Pesquisa social e a~ao ed ucativa: conhecer a r ealidade para poder tr ansfor ma-Ia". I n: Brand Ao, Car los R . (org.), Pesquisaparticipante, Sao Paulo, Brasiliense, 1981, p p. 17·33. Oquist, Paul, "La e pistemologia de la investigacion-accion", in: C r ltica y poUtica en ciencias sociales... , o p. cit . , pp. 3·30, t. 1. U NESCO, Of icina Regional d e Educacion para America Latina y e l Car ibe, "Metodologia de planif icacion d e la ed ucacion par a el desar rollo integrado d e zonas r urales", in: Boletin de Ed ucaci6n , Santiago de Chile, (23·24), ago.l jun. e jul./dez., 1978.
A participa~ao da
pesquisa no trabalho popular* Car los Rod r igues Br andiio**
Participa~ao ?
Ja q ue, nos d ias de hoje, na boca de quem manda 0 tr abalho de quem f az pode ser sernpre participante, e import ante rever 0 que significapar ticipar, na hor a de fazer . Tal como tern sid o escrita e praticada, a ideia d e pesquisa participante e recente, embora aqui e ali algumas f orrnas pioneiras tenham sid o realizadas. Urn exernplo: o questionario da enquete d e Marx entre o perarios que, mais d o q ue coletar dados so br e a sua condi~ao, er a urn exercicio de faze-Ios pensar , enquanto respond iam. Outr o exemplo: 0 levantar nento do universo vocabular no metodo d e alfabetiza~ao de Paulo Freire que, ja nos principios da decada d e 60, convocava a comunidade pesquisad a a par ticipar tanto d a pesq uisa quanta dos tra balhos d e ed uca~ao popular a que os seus dad os serviam. Quand o ho je se fala so bre 0 assunto tr es principios par ecern estar em jogo. Eles estao na base d a critica d o que apressad amente se convencionou chamar , por oposi~ao, de pesquisa trad icional, assirn como ser vem para justificar a pro posta alternativa de uma pesquisa par ticipante. Pr imeir o: a possi bilidade 16gica e politica de (*) Documento apresentado dur ante 0 II S eminflrio Latino-americano de Pesquisa Participante, Patzcuaro, Mbxico, 9 a 13 de maio d e 1982. ("* ) Antrop6logo, pr ofessor do Departamento de Ciencias Sociais da UNIC AMP
sujeitos e gr u pos das classes populares (oper ar ios, suboperarios, lavr adores sem terra, posseiros, camponeses, migrantes, homens e niulheres de lugar es e trabalhos servis) serem os produtores diretos ou, pelo menos, os participantes associados do proprio saber organico da classe, ur n saber que nem por ser popular deixe de ser cientifico e crltico. Urn saber que oriente a a~ao coletiva e que, justamente por refletir a pr a tica do povo, seja plenamente cr ltico e cientif ico, do seu ponto de vista. Segundo: 0 poder de determina~ao do uso e do destino politico do saber prod uzido pela pesquisa, tenha ela tido ou nao a participa~ao de sujeitos populares em todas as suas eta pas. Terceiro: 0 lugar e as for mas de par ticipa~ao do conhecimento cientif ico erudito e do seu agente pr of issional d e sa ber, no "tr abalho com 0 povo" que ger a a necessidade da pesquisa, e na pr6pr ia pesquisa que gera a necessidade da sua par ticipa~ao. Or a, com muita fr eq iiencia, a idtHa d e part ici par;ao na pesq uisa, na pr atica coletiva e na acumula~ao d o saber que ambas dever iam produzir ref or~a apenas ur n dos lados da questao: 0 das alter nativas d e presen~a ativa d e indios, cam poneses e o perar ios no tra balho de r ealizar momentos de pesquisas de campo pre-definidas e contr oladas por agentes er ud itos de med ia~ao.1 Participar;ao, partici par sac palavras que traduzem ai, portanto, a possi bilidade d o envolvimento do trabalho popular na produ~ao de conhecimento sobre a condi~ao da vida do povo . Homens e mulheres de comunid ad es populares sac convocados a serem sujeit os das pesq uisas d e que eram antes oobjeto de est udo. Mas su jeitos do q ue? Em que condi~oes? Ate quando? Sem deixar que se perca a for ~a desta ideia renovador a , quer o discuti-la aqui, procurando compreender 0 seu outro lado, aq uele cuja complexidade nao r a ro se acentua a tal ponto que a pesquisa aca ba sendo inviavel, seja como pesquisa , seja como participant e
(1) Agentes er uditos de mediat;ao, agentes de mediat;ao: este eo nome que tenho dado para 0 que somos, quase todos. Profissionais com especializal;:oessetoriais (educadores, alfabetizadol'es, cientistas sociais etc.) que, em nome e atraves de alguma instituil;:ao pr omotora de programas de educao:;:ao, desenvolvimento etc., realizam praticas de interveno:;:aojunto a comunidades populares. Fora 0 aspecto secundario de ser uma prfltica profissional, a caracterfstica mais relevante e que ela sempre ocor re como uma ponte entre a e que 0 agente, agencia e a comunidade. Uma outra caracter fstica da mediao:;:ao em geral, nl!loparticipa das instancias decis6rias dasdiretrizes de pr ogr amas de intervenl;:aosociopolitica junto lis classes popular es atraves das praticas sociais setoriais que realiza. Nao e raro que esta seja, ao mesmo tempo, a condio:;:aodo trabalho e uma ra l!loseria das contradil;:oes do agente de al;:oescomunitarias
Falo daq uestao anteced ente da participa~ao d a pesquisa no inter ior de trabalhos de media~ao com as classes populares. Falo da possibilidad e de transf orma~ao de uma pr atica cient ifica, q ue d ur a nte tanto tem po ocultou 0 seu ser p o[[t ica , em uma pratica que justamente por af irmar-se po[[t ica na origem e no d estino, reclamaser cient i fica. Pr o ponho pensarmos juntos, leitor , 0 problema da participa~ao da pesquisa no tra balho popular, para concluirmos, a partir d ai, as alternativas d e participa~ao popular no trabalho da pesquisa. Muito d e pr o p6sito, ao inves d e tr abalhar sobre teorias ou, como e usual, so br e os dados d e uma (mica ex periencia de pesqulsa, escolhi contar uma historia. R elato 0 caso das r elac;oes, ora dificeis, ora francamente animador as, entre 0 trabalho de pastoral popular d e uma igreja no interior do Brasil e as pesquisas que em alguns dos seus momentos f oi necessario fazer . R ecuo a urn tempo q ue come~a entre 1968 (noite negra) e 1970 e conto como, ao tango de 15 anos, diferentes alter nativas d e investiga~oes d e campo foram articuladas, d iscutidas, feitas e demonstr ad as: urn as 6teis, outr as desnecessarias. Em urn primeir o momento d escr evo, item por item, as pesquisas f eitas e as r azoes pr at icas do seu fazer, ao longo do trabalho de uma Igr eja que a si mesma se definiu "compr ometida com os pobres e oprimidos" de uma regiao do Estado de Goias cuja vida social e inteiramente dominada pela atividade agropastoril. 2 Em urn segundo momento d etalho ur n modele de pesquisa par ticipante que, depois d e pensado com muita am plitude, foi realizado a penas em
par ti ci pante.
(2) For a do contexto brasileiro nem sempre e f acil compreender 0 sentido de expressoes como "'gr e ja do Evangelho", "Igreja Pobre", "'greja da Libertao:;:ao".Sao tftulos frequentes e conflitivos no Brasil. Sl!lo nomes, na verdade autodenominal;:oes, atribuidos a setores da Igreja C at61icaque se consideram alinhados polftico-pastor almente com as classes popular es. Nao se conf undem com setores apenas progr essistas das igrejas cat6licas e evangelicas que lutam, em toda a Amer ica Latina, pela defesa dos direitos humanos. Sao setores d a I greja que reconhecem ser tarefa evangelica sua 0 colocar e m-se a ser vio:;:o de projetos de construo:;:aode bases sociais do poder popular: a) criando movimentos populares sob seu controle, mas destinados aos interesses das classesdominadas; b) ajudando de forma assessoraaos movimentos populares comunitar i os; c) apoiando os movimentos populares de classe (este, 0terreno mais dif f c il). Sao, no Brasi!, os setores, os movimentos, os grupos e pessoas mais sistematicamente reprimidos e postos sob controle politico, jurfdico e policial. Recentemente 0 Centro Ecumenico de Documentat;ao e Informat;ao publicou um longo dossie sobre a repressl!lo oficial a tais' seteres da Igreja Cat6lica
uma pequena parte. Em urn ultimo momenta saio d os casos contados para a sua cr i tica e, dela, para uma avalia~ao do sentido d a par ticipariio da pesquisa nas situa~oes em que ela se prop5e uma pesquisa participant e.
A partir do ana de 1968 come~ou a existir no interior de Goias, em uma regiao de 13 municipios que vai desde perto da capital, Goiania, ate as beiras do rio Araguaia, uma experiencia de r elarroes entre dioceses cat6licas e comunidades de camponeses e lavr adores, hoje tida como renovadora em muitos aspectos. Ate entao a presenrra de urn trabalho de Igr e ja na regiao apenas atualizara de muitas maneiras estr ategias de controle de monop6lf o s sociais e religiosos. Algumas exper iencias d e movimentos d e cr istaos da decada de 60 haviam side poucos anos antes desarticulados. Mesmo os casos pioneir os d e envolvimento d e setor e s da Igre ja com questoes de causa popular - dos q uais 0 pr oblema d a terra f oi sempre 0 mais intenso - d eixavam por def inir propostas duradour a s do que comerrou a ser chamadode urn "compromisso com 0 povo", na linha de urn trabalho de "pastoral popular " que participasse da hist6ria e da pr atica de realiza~ao de uma "liberta~ao dos oprimidos" . Obispo nome ado para ocupar a sede da Diocese de Goias (nome da cidade que foi a primeira capital do estado) veio da regiao de Conceicao do Araguaia onde, desde entao ate hoje, eram e sac graves e constantes os conflitos entre lavradores posseiros e em presas rurais.3 Durante alguns anos imediatamente anteriores a sua transferencia do Para para Goias, ele foi urn dos integrantes mais ativos da equipe local do Moviment o de Educariio de Base. Pouco
(3) Posseiro e 0 usuario de terras ainda nao tituladas . Ou seja, e 0 pretendente fls terras sobre as quais trabalha . A expansao da fr o nteira agraria no Brasil em direc;:ilo fls areas agricolas do Extremo Oeste e fI Amazonia recrudesceu a luta d os posseir o s pela defesa de terras que ocupam , alguns hll mais de 30 anos de trabalho continuo, contra as ac;:5esexpropriativas combinadas de autoridades governamentais, fazendeiros e empresas latifundiarias de capital multinacional. Dois Iivros do soci610go Jose de Souza Martins silo fundamentais para a compreensilo das questoes agrarias no Brasil e, sobretudo , na Amazonia: Expropriat;ao e Violencia - a questao polftica no campo (sao Paulo, HUCITEC, 1980) e Os Camponeses e a Polftica no Brasil - as lutas
depois d e haver constituido a sua primeir a equipe de trabalho, buscou meios d e transferir para 1 3 0 a experiencia do MEB com educa~ao popular via escolas r ad iofonicas.4 Urn Pr ojeto de Educariio da Comunid ad e - P E C chegou a ser discutid o e escrito. No entanto, antes mesmo q ue 0PEC fosse posta em a~ao, d o is f atos importantes aconteceram. De urn lade, os direitos da r ad ioemissora d a Diocese de Goias f or am cassados pelo gover no e nunca mais devolvidos. De outr o lade, a eq ui pe de agentes de pastoral concluiu, contra as pr imeiras deli bera~oes, que era outr a a realidade de vida e tta balho dos lavr ador es d a regiao e, portanto, outr as dever iam ser as relarr oes de tr a balho pastoral entre a Igr e ja e eles.5 Depois d os acontecimentos militares de 1964 e principalmente ap6s os acontecimentos politicos de 1968, cessaram os acordos entre setores do Governo Federal e setores da Igr e ja Cat6lica que ate entao estiveram associados para a. r ealiza~ao de projetos de educa~ao e d esenvolvimento, como 0 que deu origem ao proprio Movimento de Ed uca~ao de Base. A p6s a desar ticula~ao de gr u pos, movimentos e institui~oes que ger ar am no Brasil a ideia e a pratica de C ultura Popular e de Educariio Po pular, 0 Estado tomou a seu cargo a iniciativa de produ~ao d ireta d e trabalhos semelhantes - mas com logica, 6tica, etica e politica dif e rentes - de educariio e de comunidade, tanto em meio r u ral quanta nas cidades. Aos poucos, nas ar eas onde bispos progressistas nao 0 extinguiram, por falta de condi~oes de continuar r ealizando 0 mesmo tipo de pratica pedag6gica, 0 MEB f oi tor nado por setor es conservadores d a Igr eja Cat6(4) 0 Movimento de Educac;:ao de Base, MEB, resultou de um conv€mio celebrado em 1961 entre a Confederac;:ilo dos Bispos do Brasil e 0 governo brasileiro. Dedicou-se f I Educac;:ilo de Base nas areas rurais dos estados mais subdesenvolvidos da federac;:ilo . Entregue a leigos cat6licos, avanc;:olJ em direc;:aoa uma pratica de compromisso popular . E m 1 96 4 0 gover n ador do entao Estado da Guanabara apreendeu em uma grllfica milhares de cartilhas de alfabetizac;:ilo do MEB, Viver e Lutar . Ap6s 0 golpe militar de 1964, 0 MEB foi r epr imido com viol€mcia em alguns estados. Os bispos pr ogressistas retiraramse dele e 0 denunciaram sobretudo ap6s 1968 e 1970 . Ver 0 estudo de Emanuel de Kadt, Cat holic Radicals in Brazil (Londres, Oxfor d Univer s ity Press, 1970). No momenta hfl quatro teses de mes tr a do e doutor a mento sendo elaboradas sobreo MEB. (5) Uso aqui as expr e ss5es costumeiras na area da Diocese de Go ias: agente de pastoral e 0 profissional que, atraves das equipes de pastoral d a agente de base e 0 nome Igreja, r ealiza 0 seu trabalho junto fls comunidades; dado aos sujeitos das comunidades populares participantes dos movim entos populares em vinculac;:ilo com a Igreja. Sao os lavradores , as mulheres lavr a. doras, os migrantes das periferias lIavradores ainda ou subemp r egados ur -
lica. Em tempos de acentuada repressao politic a a toda e qualquer experH~nciacoletiva que redundasse em acumula~ao de poder popular, ou mesmo de poder civil, 0 poder de Estado acumulou estrategicas e razoes para impedir 0 surgimento, ou destruir a amea~a de continuidade de experiencias de trabalhos de mobiliza~ao popular. A hip6tese de uma outra ampla institui~ao nacional do tipo do MEB foi entao descartada. Do mesmo modo, na totalidade das dioceses cat6licas onde aos poucos se estabeleciam linhas de uma pastoral popular foram deixadas de lado a~oes complexas de educa~ao duradoura. Pequenas unidades de trabalho de media~ao entre a Igreja e 0 povo come~aram a surgir. Serao as formas pioneiras das comunidades eclesiais de base ou dos drculos biblicos. Em Goias, por exemplo, grupos ageis e dedicados a analise politico-pastoral "da realidade" esparramaTam-se por toda parte e tomaram 0 nome de Grupo do Evangelho.
Esse e 0 momento em que pela primeira vez surge ali a ideia de realiza~ao de uma pesquisa como urn meio direto de se obter conhecimentossobrea "realidade social" capazes de servir a orienta~ao dos trabalhos. Uma das primeiras assembleias diocesanas, onde era ainda nao-significativa a participa~ao de representantes dos lavradores, decidiu a realiza~ao de uma ampla pesquisa socio-economica comquestionarios aplicados junto a comunidades populares de todos os municipios da Diocese: grupos de lavradores residentes em fazendas; famHias de camponeses sitiantes, de parceiros e de lavradores residentes em aglomerados de sitios e chacaras ou nas vilas rurais, aos quais os goianos dao 0 nome de patrimonios; lavradores ou ex-camponeses migrados para a periferia das cidades da regiao. Alguns pressupostos da pesquisa socio-economica poderiam ser resumidos aqui. Importante lembrar que eles apenas foram ficando claros ao longo do proprio trabalho e que, em alguns casos, foi muito grande a distancia entre 0 pens ado e 0 vivido, entre 0 projeto, a realiza~ao da pesquisa e a utiliza~ao dos seus dados. 1) A pesquisa, depois de ter os seus usos definidos pela pr6 pria assembleia diocesana, seria realizada atraves da aplica~ao de urn mesmo longo questionario que deveria levantar todos os indicadores mais importantes das condi~oes atuais de vida e trabalho das fammas pobres da regiao: participa~ao familiar no trabalho produtivo, renda familiar, condi~oes de habita~ao, higiene, saude, educa~ao, comunica~ao e lazer. 2) Fora urn assessor eventual, nao sedam chamadas pessoas
Assim, as mesmas pessoas que decidiram a realiza~ao da pesquisa fariam 0 trabalho de sua execu~ao e usariam os seus dados. 3) Depois de concluida a aplica~ao dos questionarios e depois de escrito 0 seu relatorio, a pesquisa se converteria em urn instrumento: a) de conhecimento direto da "realidade local" por parte dos agentes de trabalho; b) de base para a montagem e articula~ao dos pIanos setoriais de trabalho direto com as comunidades populares; c) de instrumento de denuncia publica sobre processos de expro pria~ao das condi~oes de trabalho, tanto de pequenos proprietarios quanta de parceiros e assalariados rurais; d) de material para uso dos grupos de trabalho pastoral. Foi feito como fora decidido. Urn questionario maior do que 0 necessario foi elaborado, discutido e revisto (mas nao reduzido). Depois de pronto e depois de treinado 0 pessoal de aplica~ao, ele foi levado a cerca de 1900 residencias de pessoas da regiao. Quando reunidos e trabalhados, os dados resultaram em urn relat6rio que, mimeografado, foi distribuido a todas as equipes de trabalho pastoral. Alguns meses mais tarde, urn numero entao reduzido de bis pos do Nordeste e do Centro-Oeste deliberou apresentar documentos de avalia~ao critica das condi~oes presentes de vida do povo de suas regioes. Em urn tempo de silencio, aqueles foram exemplos quase (micos de denuncia publica. 0documento tomou como base a Pesquisa s6cio-econ6mica-religiosa da Diocese de Goias, a qual foram reunidos depoimentos de inumeros lavradores do Estado de Goias. Transcrevo urn momento do documento em que dados da pesquisa sao usados: "De 1955 pessoas com quem procuramos falar, 1210 disseram que esHiodesempregadas e enfrentam 0trabalho que aparece na hora, no tempo em que e maior a precisao. Quer dizer que se a gente pega tres pessoas, s6 uma tern emprego com ordenado. As outras duas vivem como podem, de 'biscate': trabalham aqui ou ali, hoje sim, amanha nao, urn mes sim, outro nao... todo mundo sabe como e . E todos disseram que tern profissao. Quer dizer, 0 que falta mesmo e 0 emprego" (apud PSERDGoirls, p. 6).6
(6) Outras pesquisas tern side feitas em outras regio es do pars. Ht l nelas o objetivo de produzir dados e material de conhecimento da realidade local e de reunir informa<;:5es que possam fundamentar denuncias feitas por setores da
Entre 1972 e 1973 uma pequena ser ie de acontecimentos muito decisivos na tra jetor ia d as relal;oes entr e os agentes de ' pastoral e os agentes de base produziu pouco a pouco mod ifical;Oesna maneira de pensar , f azer e usar pesquisas locais na r egiao. Uma pr imeir a intenl;ao de pr esenl;a da igr eja local na vid a e nas iniciativas setor iais de or ganizal;ao popular tor nou-se em pouco tem po urn compr omisso de alianl;a d ireta da Igre ja com as comunidad es po pular es. Uma 5 :'assembleia d ivid iu em dois momentos a hist6r ia q ue narr o aq ui, a partir de sua f ace de produl;ao de conhecimento para a or iental;ao da pratica. Desde entao a "Igr eja de Goias" reconheceu-se compr omissada com ur n pr o jeto de libertal;ao popular, cu ja cond ul;ao f oi entendid a como d evendo ser d os pr oprios agentes d o povo organizados como classe. Este compr omisso pr ovocou u m rompimento politico d e prestal;ao de servil;osd os agentes d e pastoral com su jeitos e grupos das classes dir igentes, representadas na r egiao pelos grandes fazendeir os e por autor id ades politicas d e contr ole. Em ter mos concr etos, a "o p~ao pelo povo" or ientou a pratica pastoral a ser urn ser vil;o de cria~ao, ajuda e apoio a gropos e movimentos popular es, inicialmente apenas de camponeses e outros tr abalhad ores rur ais e, depois, das difer e ntes categorias de su jeitos populares migrados para as cidades: o perarios, subempregados, artesaos, lavadeiras, empregadas domesticas. Ed uca<:iio Popular er a , entao, um dos nomes que tr aduzia 0 trabalho ali realizado. Urn trabalho exercido por agentes de med ial;aOque, pr ocurando abd icar de possuir em projetos historicos alter nativos, colocavam-se a servi~o do tra balho popular de pr od uzi-Ios, fortalece-Ios e conduzi-los atr aves tambem d a acumula~ao d o saber e do pod er d o s aber .
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nuncia - caso Araguaia- Tocantins, elabor a da pelo pessoal da Comissao Pastoral da Terra (Goi£mia , 1981 l. Outra e a pesquisa "0 Peao Entr ou n a Roda, o Peao", que analisa as relac;:oes entre lavr adores posseir o s, peoese fazendeiros da regia o do rio Ar a guaia, no Estado de Mato Gr o sso (Sao Felix do Araguaia, 1980). Esta ultim a acaba de ser r epublicada no n~ 13 dos Cader n os d o CEDI - Gar impo. (Pedidos ao CEDI: Rua Cosme Velho, 98 Fundos Cosme Velho, Rio de Janeir o.) (7) Educaryao Popular eo nome dado pela s equipes de pastoral de Goifls a todo tipo de pnHic a de mediac;:ao que pr o move ou assessor a os movimentos populares. A extensao do nome "educac;:ao popular " justifica-se, em primeir o lugar, porque os seus trabalhos implicam pr o cessos de r ef lexao , c rltica da r ealidade, produc;:ao de saber popular (af coloca-se a pesquisa participante); em segundo lugar, por q ue servem, como uma ativid ade de r ef lexao e organizac;:ao de grupos populares, fl melhoria das condic;:oes pessoais e coletivas de parti-
Aos poucos alguns parametr os sobre 0 que significava conhecer "a realidade social do povo" f or a m sendo mudados. Nao era bastante acumular dad es a r espeito de "condil;oes de vida". De urn lado, a maior par t e dos agentes vivia junto aes lavrador es e, convivenda com eles, apr end ia com a propr ia observal;ao dir eta da vida social a apreend er as suas condil;oes. De outro lado, a partir do momenta em q ue, em suas comunidades, sujeitos populares cr iavam os seus pr o prios gru pos d e tr abalho de repr esentac;1io e luta, er a a par tir deles, do q ue enfr entavam passo a passo e d o q ue pr ecisavam conhecer , q ue se definiam as prioridad es d e conhecimento, logo, d e pesquisa. Assim, as investigal;oes seguintes pr ocuraram responder a duas exigencias: 1) ser urn instr u mento d e outros instr u mentos d e trabalho, como meio de pr oduC;ao de conhecimentos que orientassem diretamente as atividad es de educa~1io po pular , elas proprias pensad as como meios de or ganiza~ao e instrumentalizal;ao das unidades po pulares de pratica social e politica, de q ue 0 M oviment o d os f oi, durante muito tem po, uma das mais imporTrabalhadores tantes; 2) ser urn instrumento agil de conhecimento dir e to de questOes que tivessem a ver com necessidades imediatas e que pudesse ser incorporado, sem dif iculd ades, tanto ao tra balho r ealizado pelos agentes d e past oral nas atividad es q ue er am pro prias da Igr eja (Gr u pos de Evangelho, cur sos, assembleias) q uanto ao trabalho f eito pelos a gent es d e base e q ue eram pr o prias do movimento popular (Movimento dos Tr abalhad ores, sindicatos, o posil;oes sindicais, associa~oes de morad or es, comissoes d e saud e). 8 R elato alguns exem plos sucessivos de pesq uisas que inicialmente, mesmo nao contand o com a partici pac;ao po pular ativa no pr ocesso, procuravam estar partici pando de trabalhos popular es a que deviam servir .
( 8) Em Goifls hf l ur n reconhecimento de que existem tr abalhos popular es que os agentes de Igreja geram e dir i gem por sua conta, ainda que mais esmo adiante agentes de base possam co-par ticipar da direc;:ao ou possam populares da Igreja, pensados como IOstruassumi-la. Sao os movimentos mentos de tr abalh o pastoral a servic;:o dos lavradores. Sao os trabalhos que a Igreja faz. Ha movimentos populares das comunidades, sejam elas r urais, ou sejam de perifer i a das pequenas cidades. Sao pr o duzidos pelas pr6pria~ comunidades e devem ser dirigidos pelos seus representantes. Sao os movlmentos que a Igreja ajuda e parte desta a juda assessora e 0 que se considera como uma das f aces do trabalho de educaryao popular . Hfl, finalmente, movimentos populares de classe em que os lavradores, por exemplo, entram como categor ia de trabalho (sindicatos, oposic;:oes sindicais) ou como categor ia P?lf tica (Movimento dos Tr abalhadores Par tido dos Trabalhadores) Sao os mo im n
n:
Em urn dos municipios mais distantes da sede da D iocese, Br itania, 0 entao governador d o Estado de Goias usava 0 seu poder a f im de pressionar pequenos proprietarios para que the vendessem suas terr as. Autor idades locais e capangas arm ados pressionavam, primeiro com 0 pregao das vantagens na venda e depois com amea~as, aqueles que resistiam a venda for~ad a. De outr a parte, lavr ador es sem ter r as eram cada vez mais impedidos de plantar 0 seu ar roz de subsistencia no solo f er til q ue a· seca sazonal do lago dos Tigr es, as mar gens d a cid ade, deixava a espera da semente. Pouco menos d e 100 cam poneses aca baram vend endo suas pr opriedad es. Convocados por eles e outr os, agentes de tra balho pastor al d a Igre ja pr ocur aram ar ticular uma dif icil r esistencia. Urn d os seus instr umentos f oi um a pequena pesq uisa f eita junto a 52 camponeses que r ecem haviam v end id o suas ter r a s. Entr e os itens da f olha aplicada, os mais impor tantes eram sobr e as condi~oes em q ue se deu 0 pr ocesso de venda f or ~ad a. Como os dados d a pesq uisa ser i am para servir a uma a~ao imed i ata de resistencia, sequer f o i elaborad o ur n relat6rio f inal. Escr ita a mao, a sintese d os d ad os f oi d evolvid a as pessoas do lugar e serviu como instrumento de d iscussao em suas reunioes. Dentro de uma situa~ao onde nao raro apenas 0 testemunho de urn momenta d e luta popular e tud o 0 que so bra, 0 material da Pesquisa d os lavr adores de Brit finia - que nao conseguir am r eaver suas terr as nem conseguir am coletivamente outras, dentr o do e stado - f oi acrescentado a tantos outros q ue, por algum tem po, for am us ados em d ocumentos publicos de analise e d enuncia d os processos de ex pulsao da terra. 9
tos que a Igreja ap6ia. Para simpliticar, estas unidades operativas da pr fl tica de organizalfaO popular sac chamadas de: movimentos de Igreja, movimentos populares, movimentos de c1asse.Emterm os gerais, chamo-os de mov/mentos populares. (9) Documentos que circulam entre os lavradores e que, em um primeiro momento, a Igreja e outras instituilfoes eruditas comprometidas com a causa popular faziam para os lavradores e outros gr upos populares. Hoje em dia. com 0 fortalecimento e a apropriac;;aopopular dos meios eruditos de cornunicac;;ao.os pr6prios movimentos popular es e movimentos de c1asseproduzem os seus boletins, volantes etc. Hfl uma grande cir culaC;;aodeles por todo 0 inter ior do pais. A Diocese de Goifls taz , para seus agentes e para as comunidades, um Boletim. Assim tambem, mas agora a nivel nacional. 0 taz a Comissao Pastoral da Te Grup metido nao vinculados
Tod o 0 tr abalho mais def inid amente politico d a r gr c ja de Goias esteve d urante o s pr imeiros anos concentr ado nus comunid ades agrarias: povoados d e f azendas ou povoad os d e camponescs. No entanto, so bretudo a p6s 0 ana d e 1970, ocorr eu na r egiao como em tantas outrasd e todo 0 territ6rio nacional - urn acelcramento d o exod o rural. Familias d e lavradores em pr o pon;oes geometr i cas er am f or~adas a a bandonar em as suas terras d e pr opried ad e e cultivo, como no caso d e peq uenos pr oprietar ios de pr od uc;ao cam ponesa q ue, por pressao, pauper izac;ao ou end ivid amcnto, cram o br igados a vend er suas ter ra s. Em numero aind a maior, inumer as familias d e lavr adores parceir os, agregad os, er am f or c;adas a d eixar terr as de f azendas, porque os "d onos" as ex pulsavam par a substituir cam pos d e lavoura por pastos de gado, ou para su bstituir lavouras de cereais cultivadas com forc;ade trabalho humano por lavouras mecanizad as. A "ex pulsao do campo" deslocou em pouco tempo uma pro por~ao muito gr ande de f amilias das areas rurais para a periferia das pequenas cidades d a regiao, as maiores d e las com nao mais do que 10O OQ ha bitantes. No entanto, a maior parte dos trabalhador es r ur ais migr ad os para a cid ade permanecia ocu pad a com 0 tr a balho agr ario, como trabalhador es volantes (" b6ias-frias") ou como "meeiros" (lavnidor e's p"ar ceir os). Tam bem de 1972 em diante comec;ou a aumen tar geometricamente 0 numer o d e tra balhadores desempregados no cam po e na cid ad e. Esta era uma nova situac;ao par a os pIanos e tr abalhos r ealizados pel as eq ui pes de agentes. Muitos dos pr6prios militantes "de base" haviam migr a do tam bem para as "pontas de rua" da cid ade. Tornou-se ur gente uma reor ienta~ao da pratica politica d a educa~ao po pular . Urn dos instr umentos de di scussao e reorientac;ao dos tra balhos d e med ia~ao dos agentes d e pastoral foi uma " pesquisa sobr e as f amilias migr antes". Aind a nesta investigaC;ao nao houve uma par ticipac;ao popular. A ideia apenas amadur ecia, a medida que cada vcz mais agentes popular es assumiam 0 controle dos mavi-
Igreja tendem a especializar-se na prodUlfaOde material popular e eles tendern a tornar -se veiculadores de pesquisas. Exemplos: Grupo de Documentalfao e Retlexao (Goianial, Centr o de Estudos do Trabalho (Belo Hor izontel, URPLAN (Sao Paulo).
mentos de Igreja (como os Grupos do Evangelho) ou dos moviment os populares, tanto ao nivel da comunidade (como as associa~oes de
moradores ou as comissOespopulares setoriais), quanto ao nivel da classe (como 0 Movimetno dos Trabalhadores, as oposi~oes sindicais e, mais tarde, 0 Partido dos Trabalhadores - PT). Os agentes de pastoral elaboraram uma pesquisa montada ainda sobre urn questionario que foi aplicado junto a cerca de 200 f a milias de lavradores migrantes para as "pontas de r ua". A investiga~ao conseguia agora f a zer uma slntese entre as d uas anteriores. De urn lade ela produziu conhecirnentos sobr e indicadores de condi~oes de vida: moradia, saude, educa~ao, trabalho e salario e vida comunitaria na nova situa~ao de r esidencia na cidade. De outro lade, ela investigou 0 pr6pr io processo do exodo "d a r~a" par a a cidade: as razoes atribuidas a migra~ao, 0 modo de vinda da f amilia do campo, as estrategias de r e organiza~ao da vida familiar na cidade.1 o Por volta de 1973, uma d inamica de r ela~Oes - pr a tica politico-pedag6gica _ reunioes per i6d icas de avalia~ao e r eor ienta~ao da linha de trabalhos (assembleias d iocesan as ou avalia~oes) _ pesq uisas setoriais instrumentalizador as da pratica d ir eta e d as reuniOes - constituiu-se como uma rotina. 0fortalecimento dos gr opos populares, nao s6 devido a presen~a da Igreja de Goias, mas tam bem aos pr6prios processos de amadur e cimento e as conquistas de espa~o por parte de comunidades e gr upos politicos de lavradores, alterou signif icativamente 0teor das rela~oes entre os agentes de base e os agentes d e past oral. A tr a jet6r ia desta varia~ao pod er i a ser escr ita da seguinte maneira: 1~ etapa: 0 pr ocesso decis6rio e as situa~Oes de pr odu~ao de conhecimento sac controlados pelos agentes de pastoral, rnesmo quando todo 0 trabalho de educa~ao popular destina-se a realiza~ao de urn projeto de "li berta~ao popular ", cuja condu~ao deveria ser "da base"; 2~ etapa: ha uma co-participa~ao ampliada dos agentes de base (lavrador es, mulheres de lavradores, categor ias populares ur banizadas) nas assernbleias e avalia~oes decis6rias da linha de a~ao e na co-dire~ao dos movimentos popular es da Igreja;
(10) Uma das antigas militantes das equipes estudo posterior , com base na pesquisa das famllias
de Goias escreveu um migr antes: 0 Povo das
3~ eta pa: 0 trabalho politico desloca-se, aos poucos, para os movimentos populares de comunidade e de d asse, na mesma medida em que os agentes de base partici pam efetivamcnte de grupos de decisao e d as eq ui pes de pesquisa e progr ar nac;ao d os tr abalhos da diocese. 11
De pois d e consolid ad a a pr atica de inter calar ativid ad es d e investiga~ao com momentos de tr a balho dir eto, aqui e ali sur gem iniciativas setoriais. Pesquisas sac feitas para cobr ir aspectos especificos do trabalho r ealizado, ou par a sondar caminhos a seguir. Uma delas f oi ur na ampla investiga~ao a respeito do sentido da pr esen~a e das contradi~oes de uma Igr e ja que, sendo estrutur a lmente associad a ao longo d a hist6ria br asileir a as classes d ominantes, procura alianc;as e pr od uz tra balhos politico-pastorais dirigidos de urn modo cada vez mais d ef inido ao f ortalecimento d o poder d os movir nentos d e classe. Esta f oi uma d as mais d emorad as e provavelmente a mais inutil exper iencia de pesq uisa da diocese. Em bora tenha sido a pontada como urna necessidade ur gente, ela nao nasceu de ur n consenso dos pr 6prios agentes de pastoral. Por outr o lado; em momento algum conseguiu inser ir-se naturalmente no dia-a-dia de seu tr abaIho pedag6gico. Foi totalmente desconhecida pelos militantes de base e, assim, depois de concluida, a pesquisa habita a poeir a de uma estante pouco fr eq iientada do Centro de Treinamento, em urn r elat6r i o com 0 nome de: A I gr eja d o Evangelho. Sera pr ovavelmente urn dos documentos r nais im por tantes par a quem no futuro pretenda estudar a hist6r ia d a Igr eja d e Goias. Mas nao ser viu par a or i entar e f ortalecer 0seu tr abalho. Algumas pequenas pesquisas sac realizadas par a responder a duvid as a res peito do comportamento dos agentes, especificamente
(11) Este e um duro momenta dos trabalhos de um setor popular da Igreja. Aquele em que uma parte significativa dos seus trabalhos divide-se com grupos e movimentos populares que, como tal, estao necessariamente desvinculados de uma orie ntay8o direta e de qualq uer tipo de controledireto , tanto da Igreja Cat6lica, quanta de qualquer outro grupo, instituiyao ou progr ama de mepiayao, mesmo quando eles estejam definidamente comprometidos com
no trabalho religioso. Questoes as vezes descuidadas no calor de urn trabalho de educac;ao popular ou no envolvimento d os agentes com a li.nh~ d .e frente do Movimento dos Trabalhadores e das oposic;oes smd lCals de lavrad ores sao, no entanto, muito importantes para os propr ios lavradores.12 Este e 0 motivo por que f oi feita uma pequena pesquisa so bre 0 batismo. De uma ampla consulta a lavradores "da roc;a" e da cidade, f oram tornados pontos de orientac;ao d o tr abalho propriamente religioso. Ate aqui apenas narrei as relac;oesentre 0 trabalho popular e as pesquisas realizadas pelos agentes de pastoral da Diocese de Goias. A primeira parte destas reflexoes serve para exemplificar urn modo de pratica com classes populares rur ais onde a pesquisa tenta existir como urn recurso politico-pedagogico de acompanhamento dos trabalhos. Ela serve· a produc;ao de conhecimento para a programac;ao tanto quanta para a avaliaC;aodo que foi feito. No espac;o entre urn ponto e outro, serve para a ref lexao de equi pes de agentes que trabalham na base. Fora a consciencia de que a pesquisa, em urn contexto de tra balho com comunidad esrur ais e d e per iferia, devia ser d irigid a cada vez mais a elas proprias e devia, por tanto, ser feita em f unc;ao de aC;aescoletivas ali realizadas concretamente, para responder as suas duvidas diretas, aos poucos os agentes alcanc;aram uma outra com preensao do assunto. Ela foi 0 caminho para a descober ta da ideia da par t ici par;iio popular em urn modelo de pesquisa participant e que buscava ser parte integrante de urn pr ogram a de educac;ao popular e ser via ao seu encaminhamento, a sua realizac;ao. Descobriu-se com a pr o pria ex periencia que ate entao quase todo 0 trabalho de produc;ao do conhecimento e quase todo 0 uso politico- pedagogico deste conhecimento estavam concentrados nas maos dos agentes de pastoral. 0fato de que, em intenc;ao e, as vezes, na realidade, 0 conhecimento produzido com a pesquisa fosse "usado para 0 trabalho popular" ou "levado ao povo em r eunioes" nao anulava a evidencia de que a pratica da pesquisa negava em ate o que era a todo momenta af i rmado e reafirmado nas r e unioes e assem bleias: que 0 exercicio do contr ole politico popular - cond i-
(12) Em varios munidpios onde os sindicatos do trabalhador rur al eram contr olado~ por lavr~dores "pelegos", controlados pelo Estado ou por gr upos de f aze~de~r os, s~rglr~m movimen!os de Oposi91l0 Sindical. Em alguns deles houve vlt6nas eleltorals destes movlmentos, sempre apoiados pelos agentes de
c;ao de urn processo social de libertac;ao - deveria comec;ar no interior dos proprios grupos e das instituic;oes mediadoras comprometidas com as classes populares. Assim, q ual seria 0 sentido e 0 valor de estudos, seminar i os e pesquisas "sobre" 0 povo da regiao, so br e os seus problemas e sobre os determinantes politico-economicos dos seus problemas? Pesquisas e estudos onde 0 campones, mesmo sendo sujeito da pratica pasioral e 0 suposto sujeito do pr o jeto polftico d e libertar;iio, nao era o su jeit o , mas 0 objeto dos tr abalhador es concr et os de realizac;ao desta prat ica e dest e projeto. Esboc;ava-sea partir d ai a passagem de pesq uisas sobre par a pesquisas com , e este foi 0 comec;ode urn passo bastante impor tante.
Quando a diocese completou 10 anos de atuac;ao em areas rurais de Goias, f oi decidid a a r ealizac;ao de uma pesq uisa que atualizasse 0conhecimento d os agentes de pastoral e agentes d e base sobr e "a r ealid ad e social" d a regiao, avaliasse 0 andamentoe as condic;oesde tr a balho dos diferentes grupos e movimentos populares - os da Igr eja, os das comunid ades e os das categor ias de trabalhadores rurais - e a judasse a decisao do trabalho da Igreja de Goias feito ate entao. A pr imeir a ideia foi a d a repetic;ao, 10 anos depois, da grande " pesquisa socio-economica". De imediato a pr oposta mostrou-se inadequada. Tinha havido ur n avanc;o muito grande em ter m os de compreensao da realidade local. Se, antes, tratava-se d e equipes recem-chegadas a uma area rural de atuac;ao, agora elas contavam com 10 anos de exper iencias diretas junto as comunidades camponesas. Ao longo do tempo tornou-se claro que 0 trabalho diario sofria interrupc;oes prejudiciais quando era repartido com uma atividade absor v ente como uma pesq uisa. Os propr i os sujeitos do tra balho de educac;ao popular haviam sofrido mudanc;as de peso. Haviam migr ado para a cidad ~ e, com isto, transferido para as suas periferias 0 polo o perativo das ac;oes de assessor ia das eq uipes d e agentes. Haviam constituid o o s seus proprios movimentos e r eclamavam uma participac;ao mais direta em todos os espac;os anteriormente cr iados pela ac;ao da Igreja na r e giao. Segundo alguns, a propria pratica dos agentes d a Igr eja e do campesinato er a 0 melhor
d eterminantes dessas condi~oes), assim como do proprio andamento d a pnitica da educa~ao popular e dos movimentos populares. Por q u e razoes perguntar com questionarios aquilo que a vida respond ia por si mesma, todos os dias? Sur g iu entao a proposta da elabor a~ao de urn modelo de pesquisa que se incor porasse a propria pratica cotidiana. Ur n ti po d e investiga~ao que fosse 0 mais plenamente possivel co-participada por agentes de urn lado e do outro; que estivesse 0 mais diretamente possivel "colada" a pr6pria a~ao que grupos, equipes, movimentos e comissoes da Igreja, das comunidad es e do campesinato estivessem desenvolvend o naquele momento; que fosse urn instrumento d e trabalho e nao urn instrumento para 0 trabalho, ou seja, separ ado dele. Que, portanto, produzisse material de conhecimento e orienta~ao ao longo de sua mar cha, e nao apenas em ur n momenta f inal. Por outro lado, 0 q ue se constatou era q ue, no momenta em que se tern ur n tipo de envolvimento agente-povo conf igur ad o e em processo e no momento em q u e se ter n uma associa~ao d e pratica po pular + pratica d e media~ao (0 tr a balho d ir e to d as comunid ades e grupos popular es com a partici pa~ao e assessoria de institui~oes e grupos de agentes com pr ometidos), estes eram os polos deter minantes - as "por t as de entrada" - de todas as questoes a serem conhecidas, pesquisadas e discutidas. Este e ur n ponto muito im portante. Ele nao s6 abre caminho para a Par tici pa~ao de militantes po pulares na pr o du~ao do seu conhecimento, como coloca, mais do que metodos e tecnicas rotineiros, a pr o pria est ru t ura de pr odw;iio social d o conheciment o atraves d a pesq uisa, em funr;iio dos movimentos po pulares, a seu ser vi~o. Tratava-se de descobrir como pensar, pr ogramar e realizar pesquisas compativeis com a pratica politico-cultural popular , 0 que e diferente de convocar sujeitos do povo a virem par ticipar de pesq uisas sobre ele proprio e seu mundo, dentro de nossos padroes tr a dicionais apenas estrategicamente "po pularizados". Neste momento quero calar a minha escr i ta e fazer ouvir -se aqui uma f ala coletiva do passad o. Com algumas pequenas revisoes que em nada' alteram 0 sentido, transcrevo urn dos documentos em q ue as discussoes d e 1979 foram "J?ostas no papel". "A sugestao vind a do grupo piloto de discussao sobre a pesquisa f oi a de que ela so teria sentido e so deveria ser f eita se: 1.°. fosse uma
e a participa<;ao - inclusive decisoria - de representantes d a base (populares). Por outro lado, foi decidido que nos nao nos preocupariamos em investigar 'setores' da 'realidade d a regiao da diocese'. Procuranamos principalmente pesquisar os niveis d e rela<;oes sociais q ue ajudem a explicar como estes vetores da vid a social dos lavradores estao ar ticulados agora, como eles envolvem e contr o lam a vida dos lavrador es e como a nossa pratica esta colocada fr e nte ao que acontece neles. Nao se trata, por tanto, de pesquisar condi<;oesde vida, ou a situa9ao das comunidades rur ais, ou de perif~r ia, q uanto a isto ou aquilo. Ha ur n tr abalho nosso - agente + base; h a situa90es de dif erentes ti pos de conflitos entr e categor ias de sujeitos sociais em var ias areas da regiao; ha d iferentes f ormas d e resposta popular . Este con junto d e fatos da d inar n ica d a vid a politic a que a todos com promete e oloeo da pesquisa. Esta id eia ser a mais d esenvolvid a adiante. Ela pod er ia por enquanto ser r epr esentada conf or me Figura 1. Estes ser a o os passos durante os primeiros periodos de resolu<;aoe realiza93.0 da pesquisa: 1?) a eq uipe provisor ia de coor dena93.0 d eve levar a ideia it Equi pe Diocesana de Coor dena9ao par a estabelecer ali uma d iscussao d ecisoria sobr e 0 assunto; 2?) a proposta devera ser am plamente debatida nas comunid ades, mesmo considerando-se que nas d iscussoes anterior es sempr e houve r e presentantes
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• questoes de
• questoes de
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- - -- relayoes sociopolf ticas- -determinantes de tais questoes
• nossos tr abaIhos de apoio a luta pela terra
1
• trabalh os de apoio as lutas populares por melhores
- -
como conhecimento da r ealidade social da r egiao
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• nossa par ticipac;:aonas lutas e movimentosde
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como avaliac;:ao de Iiossa pratica pastoral
das bases; 3?) como material-piloto, as equipes locais deverao fazer levantamentos simples, com participac;ao popular . Estes levantamentos da realidade local devem envolver: a) situac;Oesde conflito entre lavradores e f~zendeiros, por exemplo, assim como formas populares de resistencia em todas as areas de atuac;ao dos movimentos populares (terra, trabalho, direitos humanos, educac;ao, saude, etc.); b) experiencias de trabalho de educac;ao e pastoral popular em diferentes setores de atuac;ao. Como um passo preliminar da pesquisa, tal trabalho-piloto de simples levantamento de situaryoesde conflito e experiencias de pratica devera resultar em pequenos relatorios , sobre os quais trabalhariamoscomo base para a elaboraC;aodos passos seguintes. Ao mesmo tempo 0 pessoal de assessoria da pesquisa fara os estudos necessarios ao seu aprofundamento. Estes estudos serao somados aos dados de nossos levantamentos, para a discussao de um modelo de pesquisa. Eis, portanto, a ideia basica da pesquisa. Nao se trata de manter 0 controle de todo 0 trabalho e apenas 'explicar' as bases que uma investigaC;aovai ser realizada, pedir sugestoes esparsas ao povo e prometer que os resultados serao 'devolvidos' a ele. Ao contrario, a ideia e a de construir uma autopesquisa. No modelo tradicional- mesmo quando 0 pesquisador se sente comprometido com 0 povo - 0 'centro de direC;ao'e alheio a ele. Ali se define como a investigac;aovai ser feita, por que ela vai ser feita e quem vai ter que tipo de acesso aos seus dados. Assim, 0 mesmo povo considerado como '0sujeito' de um processo de mudanc;as sociais que se deseja provocar segue considerado como objeto da pesquisa feita para produzir 0 conhecimento necessario ao encaminhamento de tal projeto de mudan~as. 0 que ocorre sao expropriac;oes impostas uma vez mais: a) os agentes da base nao participam do processo decisorio a respeito da defini~ao e da constrUl;ao do modelo de investigac;ao; b) durante a sua realizac;lio,eles e tudo 0 que cerca as suas vidas (a comunidade, os grupos tradicionais ou organicos, suas condi~oes de vida, suas maneiras de sentir e pensar) slio constituidos e abordados como 'objetos de pesquisa', algo externo a respeito do que se investiga; c) as comunidades de base nlio participam do processo de tratamento e analise dos resultados da pesquisa, os mesmos resultados que slio diretamente fornecidos por elas como 'dados da investigac;ao'; d) finalmente, as comunidades nlio possuem acesso direto a tais resultados que muitas vezes, sequer slio comunicados ao povo,
Ora, para grupos de agentes comprometidos, a pratica politic a e ped agogica anterior a propria pesquisa e que deve determina-Ia. E que deve definir como e por que ela deve ser feita. E esta pr iitica existe em um ponto de rela~oes entre agentes de educaryiioe agentes de base (das comunidades, dos movimentos populares, dos grupos e comissoes). Assim, todo e qualquer processo de produc;ao de conhecimento que venha a ser incorporado a esta pratica e aos processos de transforma~iio que ela objetiva, deve ser uma 'empreitada' comum que, em um mesmo trabalho, comprometa todos os gropos e sujeitos envolvidos. Isto vale para todas as fases, tanto as de traba/ho quanto as de decisiio e uSO. Sobra entao uma pergunta: e possivel r ealizar isto na pratica? Para 0nosso caso existem duas ideias , dois modelos mais usuais, mas nos teremos que construir juntos 0nosso caminho: 1.° modelo: a) os agentes de pastoral discutem com os do povo a necessidade da pesquisa e os seus procedimentos; b) os agentes resolvem sobre a metodologia e os procedimentos, criam os instr u mentos de pesquisa e os aplicam j.unto as comunidad es; c) de posse dos dados obtidos, eles fazerrt 0 tr atamento necessario e elaboram um relatorio; .. , d) finalmente, simplificam os dados, colocam a Iinguagem do relatorio em urn 'nivel popular' e os devolvem 'ao povo'. 2? momento: a) os agentes discutem com os representantes do povo sobre a pesquisa a partir de uma pratica antecedente; b) agentes de um lade e do outro decidem sobre ela, elaboram os seus procedimentos (quando os agentes de educac;ao tr adllzem 0 linguajar cientifico emuma linguagem adequada aos lavradores) e articulam metodos e procedimentos de investigac;ao que permitam tanto uma aplica<;aono campo quanto urn tratamento e uma analise co-participada (mesmo que haja at tarefas diferenciadas); c) de posse dos dados obtidos com 0 trabalho de campo, agentes e povo analisam 0 material, discutem 0 seu significado e os seus usos diretos (fazer relatorio? levar para discussao nas comunidades? usar como documentario atual de denuncia da situa~lio da vida do povo?). Partin do destas premissas, a proposta da pesquisa sobre a situa~ao do povo e 0 andamento das lutas populares na regiao dos municipios e a que se segue.
dores e dos migr antes para as 'ponta s d e r ua'. Ou se ja, nao proceder como na 'Pesquisa socio-economica' f eita hi 10 anos. Nao concentrar, pOI'outr o lado, a investigac;ao sobre urn unico aspecto da vida do povo 'da r o<;a' e d a cid ade, por exem plo: as cond i coes de acesso ao tr a balho, a saude e a educac;ao. Finalmente, nao realizar uma investigac;ao centrad a em algum aspecto da pr a tica que estamos desenvolvendo como urn tipo de avaliac;ao de urn setor unico de nosso trabalho, como ja f oi feito com outras pesquisas. Como pensar , portanto, uma pesq uisa que esteja inser ida pienamente em nossa realid ade e que envolva todos os tipos de pessoas participantes de urn mesmo trabalho de Iibertac;ao? Urn caminho 'seria 0 de pensar uma investigac;ao que nos permita compr eend er a rea/idad e social olhando-a atr a ves de nossa pratica. Isto e mais ou menos 0 mesmo q ue afirmar q ue a pesquisa deve avaliar a nossa pratica atraves d e seus efeitos sobre a vida social da r egiao. Este - poderia ser urn primeir o passo para cr iarmos juntos ur n tipo de pesquisa que esca pe d os padr Oes acad emic os e se adeq iie as nossas condic;Oesd e tr abalho e a exper iencia d e tantos anos de envolvimento lavrad or es-agentes em Goias. E ur n caminho par a tornar efetiva a par ticipa{:iio po pular em uma pesquisa que, pOI' sua vez, partici pe , como urn instr u mento de trabalho, dos movimentos de Igreja, de comunid ade e de c1asse. Melhor do que nos sac os agentes d a base os que sabem definir quais os aspectos da vida social que eles precisam conhecer ou apr of und ar para oriental' a sua pratica (nas comissOes, nos gru pos de base, nos movimentos); que eles q uerem conhecer a respeito de si proprios para r edefinir a sua pratica (q uestoes de identidade popular , ideologia d o campesinato, posic;ao de c1asse, interesses de c1asse,etc.); que eles consider am relevantes como contribuic;ao de nosso tr a balho de educac;ao popular - nossas atividades avaliadas com melhor es criter ios pelo proprio povo, de acordo como incidir am sobre ele e tal como ele a partir dai atr ibui significados a isso. Assim, ao inves de uma equipe de agentes de pastoral determinar 0 que e im por tante investigar , perguntando depois aos r e presentantes das comunidades e dos movimentos popular es 0 que eles acham disso, nos vamos estabelecer os pontos a serem pesquisados a l!ar tir de u rn levantamento feito com esses proprios r epresentantes. E possivel que tenhamos surpr esas ai. Podemos chegar com algumas ideias pr ontas e ouvir dos repr e sentantes que sac outras as questOes que os estao preocupand o mais. A sensibilidade par a ouvir e com preender 0 ponto de vista e as razOesdos gr u pos d e base e 0 primeiro passo. Sem ele os outros se perdem.
Poderiamos, em princi pio, d esenvolver a id l:ia q ue r oi colocad a pOl'alguem em nossa primeir a r euniao. Muito bern, se 0nosso pr o jeto d e conhecimento da realid a de e d e avalial,:uode nossa pd ltica politico-ped agogica sobr e e la nao e rigorosamente acad emico, entao n1\o d evemos r ecortar acad emicamente 0'o b jeto de pesq uisa·. Ve jarnos, 0 nosso com prornisso aqui e com a l iber tacao d e urn povo o pr ir nid o c nao a penas com a r nelhoria setorial d e alguns aspectos d e sua vid a mater ial. 0 processo de r ealizac;ao desta 'libertacao' sao transr or rna· coes estr uturais significativas, incidindo sobr etudo nos polos cle r elac;oessociais q ue produzem as cond icOes d e opressao (questao agr {lria. q uestao das relac;Oesca pitalistas d e tr a balho, q uestao do poder popular etc.). Or a, 0 caminho de oPCao d a Igr e ja de Goias e 0 d a realizacao de tr ansf ormacoes estrutur ais atr a ves d a conq uista do poder po pular sobr e as estruturas de decisao d a vid a politica local, r egional e naciona!. Assim, toda a nossa pratica de pa stor al popular (que temos chamad o tam bem d e uma pr atica d e ed uca{ :iio popular) esta dir igida it tr ansfor mac;ao de toda a realid ade. Por em, ela incide com prior idade so br e alguns setores es pecificos de tal realidade, com a es peranca de que ha ja ai urn efeito multi plicador (nao somos os unicos nem a nossa e a unica regiao ond e se dao tr a balhos de mo bilizac;ao popular ) que, pOI' sua vez, partici pe d o processo d e articulac;ao de relac;Oesque contri buam para a transformac;ao de tod as as estr uturas sociais de teor politico. E sobre certas areas con f lagr a das de relar yi5essocia is que temos trabalhado preferentemente. POl'outro laclo, e 0 que acontece ai no interior de tais ar eas de relacoes 0 que explica d a melhor maneira aquilo que esta acontecendo em toda a ar r nacao da vid a social. POl' exemplo, 0 exame d a luta entr e os lavr adores e as fazend eiros de BritalJ.iapela posse de ter ra s, ou 0 estudo das dif iceis relac;oesentr e as lavr ador es d e Jucara e a empresa de semente de capim q ue as cantr ata a precos aviltados e 0 q ue ajud a a entend er como f uncionam as relacoes de poder e m nossa r egiao; a) entre os proprietar i os de terra e as seus subor d inados; b) do apar ato juridico-politico de poder e controle; c) dos diversos gr upos da socied ade civil associados politicamente aos donos do podel' ( partidos da situac;ao, igrejas dominantes etc.); d ) d as comunid ad es, da c1asse camponesa, de suas e outr as categorias d e trabalhador e s (peq uenos propr ietarios, lavradores par ceiros, ar re ndatar ios, agr egados assalariados, volar t es b6ias-fr ias, biscateiros); e) dos grupos e instituic;oes da sociedade civil cor npr ometidos com os gr upos po pular es, como e 0 nosso pr 6pr io caso. Mais d o q ue isso, 0 exame destas relacoes de conf lito coloca em evidencia o funcionamento, como ob jeto d e estudo, das contr ad ic;oes de ur n tip de socied ade como a nossa e d as rela90es concretas entr e as clif er ent s categor ias d e gru pos e movimentos populares d entro do seu contux!ll.
Assim, sugiro pensarmos na possibilidade de partir mos de ur n levantamento das 'areas quentes' de relatyOessociais e de mobilizatyaopopular que envolvem diretamente 0nosso compromisso e a nossa p' ra t ica. Podemos cometyar por separ ar regioes geogr af i cas significatIvas (Urtl Fartura, Vale do Sao Patr icio, Ser ra Dourada, Rio Vermelho) e f azer 0 levantamento dos setores de atyao social (produtyao de bens - terra + tr a balho, or ganizar ;ao de gr u pos comunitar ios e de classe, saude, educac;ao, comunicatyao, religiao). Neste r ecor te entr e lugar + setor, podemos destacar aspectos das relatyoes saciais entre categorias de pessoas que consideremos como os mais adequados: I?) par a explicar, atr aves de pesquisa, 0 que realmente aconteceu ali (nao como 0 povo esta com relac;aoa questOes de saude, por exemplo, mas como estao se dando as relac;Oesde poder e como esta sendo a atuatyao movimentos populares X instituityOesde"saude na regiao); 2?) para ex plicar , atr aves da integratyao de var ias pequenas pesquisas par ciais, como funciona a estrutur a social e 0 que esta acontecendo nela agor a; 3?) para explicar , como urn momento de avaliatyao d a pesq uisa, qual e como esta sendo a nossa presentya e 0 nosso tra balho de educatyaopopular na regiao. Tal como foi colocado antes, podemos partir de levantamentos pr eliminar es e d ecidir juntos quais serao os mais r elevantes par a serem investigados mais a f undo. Nll.oser ao todos. Nll.o envolver ao todas as regioes geogrilficas, nem todos os 13 municipios. Nao incidir ao sobre tod a s as questoes importantes. 0 fundamental e ter m os urn conjunto de sit uat yt5esconcr etas da vida social que ser ao reconstituid as como objeto de uma pesquisa feita por agentes de pastor al e agentes de base. Cada uma d as areas escolhidas constituir a ur n me~mo 'locus' de pesquisa e ali sera f e ita uma pesq uisa completa, ar tIculada sobr e 0 acontecimento social escolhido. De pois de concluidas todas as pesquisas parciais e feitos os seus r elat6r ios, haver a urn tempo de aglutinar todo 0 material e, em r eunioes sucessivas, inclusive nas comunidades, discutir e produzir ur n r elatorio integrado das pesquisas locais. 0 seu objetivo ser a 0 de nao a~enas mostr ar ind icadores sociais da vid a do lavr ador , mas: a) ex plicltar processos sociopoliticos de pr oduc;ao daqueles indicadores' b) avaliar criticamente 0 nosso trabalho; c) estabelecer bases futura~ de atuatyaodos movimentos populares." Ate aqui, 0 documento de estudo previa d a pesq uisa de 1979. Como tar ef a inicia~, as equipes locais deveriam fazer 0 peq ueno levantamento sugendo. Vma reuniao posterior examinaria os levantamentos e determinaria, em principio, as regioes geograf icas e os set?res de .r :lacoes/ pr~ticas que se tornariam objeto de uma pes-
balhar com metodos antro pol6gicos, mais d o q ue com metod os tradicionais, "neutr os" e q uantitativos. Observa~ao par ticipante, aproveitamento d e reunioes d e gr upos para coleta dir eta de dad os "na a~ao", analise de conf l itos, pesquisa dir eta com base em "dr amas sociais" etc. Justamente uma d as tar ef as da assessor ia d ~ pesquisa seria a de estudar a questao e propor rnet od os que t Omassem a pesquisa urn t r aha/ho incor por a do as pr aticas dir etas das pessoas e gr upos , ao inves d e ser urn t i po d e tr a ha/ho a parte. Eis
0
r oteir o do levantamento
pr eliminar
sugerid o as equipes
locais.
1) Localizar dentr o do municipio uma comunid a de r ur a l, uma comunid ad e de 'ponta de r ua', uma f a zenda, ur n espatyo social de trabalho (relac;oes d e luta entr e lavr ador es e fazendeiros, por exem plo), ond e este jam haven do situac;oes de conflit o, ou de t rabalho po pular signi f icat ivo. 2) Definir 0 tipo de fato que vai ser d escrito: urn conflito por terras? urn conf lito tr a balhista? urn conf lito por questoes d e saude (como no caso de Itaguaru)? 3) Descrever a conjuntura em que se deu 0 fa to q ue vai ser descr ito: a situac;aoantecedente , a composir ;ao d e f ortyasde urn lade e do outr o , os deter minantes imed iatos da deflagra~ao do conflito etc. 4) Descrever de modo sumar io, mas 0 mais complet6' pdssivel, o f ato escolhido. A descr ityaodeve ser a de umacontecimen to social, narr a do do ponto de vista das tr acas e telatyOes·sociaismais impor tantes partici pantes da questao. Se possivel, incor por a r pequenas entr evistas ( passagens curtas) sobr etudo com r elatyao aos lavrad or es envolvidos. 5) Descr ever 0 encaminhamento do fato. Quais as possi bilidades de d esenvolvimento do conflito? Em que ele esta comprometendo a vid a e as relac;Oesentre categoria-ssociais de sujeitos do lugar (f azendeiros, autoridades, lavradores etc.)? 6) Discutir 0 modo como os gr u pos e instituityoes sociais d e compr omisso popular estao par tici pando dos acontecimentos. Analisar, pr incipalmente, 0teor da par ticipatyao da equipe local de agentes de pastoral. 7) Relacionar as f ontes dir etas e indiretas de dad os sobre 0 acontecimento, para 0 caso de ele se r urn dos escolhidos como ob jeto da pesquisa mais ampla.
dores e dos migrantes para as 'pontas de rua'. Ou seja, nao proceder como na 'Pesquisa socio-economica' feita ha 10 anos. Nao concentrar, por outro lado, a investiga<;aosobre urn urtico aspecto da vida do povo 'da ro.;a' e da cidade, por exemplo: as condi<;oes de acesso ao trabalho, a saude e a educa<;ao. Finalmente, nao realizar uma investiga<;aocentrad a em algum aspecto da pratica que estamos desenvolvendo como urn tipo de avalia<;aode urn setor unico de nosso trabalho, como ja foi feito com outras pesquisas. Como pensar, portanto, uma pesquisa que esteja inserida plenamente em nossa realidade e que envolva todos os tipos de pessoas participantes de urn mesmo trabalho de liberta<;ao? Urn caminho 'seria 0 de pensar uma investiga<;aoque nos permita compreender a realidade social olhando-a atraves de nossa pratica. Isto e mais ou menos 0 mesmo que afirmar que a pesquisa deve avaliar a nossa pratica atraves de seus efeitos sobre a vida social da regiao. Este ·poderia ser urn primeiro passo para criarmos juntos urn tipo de pesquisa que escape dos padroes academic os e se adeque as nossas condi<;oesde trabalho e a experiencia de tantos anos de envolvimento lavradores-agentes em Goias. E urn caminho para tomar efetiva a participat;iio popular em uma pesquisa que, por sua vez, participe, como urn instrumento de trabalho, dos movimentos de Igreja, de comunidade e de classe. Melhor do que nos sao os agentes da base os que sabem definir quais os aspectos da vida social que eles precisam conhecer ou aprofundar para orientar a sua pratica (nas comissoes, nos grupos de base, nos movimentos); que eles querem conhecer a respeito de si proprios para redefinir a sua pratica (questOes de identidade popular, ideologia do campesinato, posi<;ao de classe, interesses de classe, etc.); que eles consideram relevantes como contribui<;ao de nosso trabalho de educa<;aopopular - nossas atividades avaliadas com melhores criterios pelo proprio povo, de acordo como incidiram sobre ele e tal como ele a partir dai atribui significados a isso. Assim, ao inves de uma equipe de agentes de pastoral determinar 0 que e importante investigar, perguntando depois aos representantes das comunidades e dos movimentos populares 0 que eles acham disso, nos vamos estabelecer os pontos a serem pesquisados a partir de urn levantamento feito com esses proprios representantes. E possivel que tenhamos surpresas ai. Podemos chegar com algumas ideias prontas e ouvir dos representantes que sao outras as questoes que os estao preocupando mais. A sensibilidade para o1.1vire com preender 0 ponto de vista e as razoes dos grupos de base e 0 primeiro
Poderiamos, em principio, desenvolver a ideia que foi colocada por alguem em nossa primeira reuniao. Muito bern, se 0 nosso projeto de conhecimento da realidade e de avaliar;ao de nossa pratica politico-pedagogica sobre ela nao e rigorosamente academico, entao nao devemos recortar academicamente 0'objeto de pesquisa'. Vejamos, 0 nosso compromisso aqui e com a libertal;ao de urn povo oprimido e nao apenas com a melhoria setorial de alguns aspectos de sua vida material. 0 processo de realiza<;aodesta 'libertal;?IO'sac transforma..oes estruturais significativas, incidindo sobretudo nos polos de rela••oes sociais que produzem as condi ••oes de opressao (questlio agraria, questao das rela<;oescapitalistas de trabalho, questao do poder popular etc.). Ora, 0 caminho de op••ao da Igreja de Goias e 0 da realiza<;ao de transforma ••oes estruturais atraves da conquista do poder popular sobre as estruturas de decisao da vida politica local, regional e naciona!. Assim, toda a nossa prfltica de pastoral popular (que temos chamado tambem de uma pratica de educat;iiopopular) esta dirigida a transforma<;ao de toda a realidade. Porem, ela incide com prioridade sobre alguns setores especificos de tal realidade, com a esperan<;a de que haja ai urn efeito multiplicador (nao somos os unicos nem a nossa e a unica regiao onde se dao trabalhos de mobiliza<;ao popular) que, por sua vez, participe do processo de articula<;ao de rela<;oesque contribuam para a transforma<;ao de todas as estruturas sociais de teor politico. E sobre certas areas conflagradas de relat;6essociais que temos trabalhado preferentemente . Por outro lado, e 0 que acontece ai no interior de tais areas de rela<;oes 0 que explica da melhor maneira aquilo que esta acontecendo em toda a arma<;ao da vida socia! . Por exemplo, 0 exame da luta entre os lavradores e os fazendeiros de Britania pela posse de terras, ou 0 estudo das dificeis rela<;oesentre os lavradores de Ju<;arae a empresa de semente de capim que os contrata a pre<;osaviltados e 0 que ajuda a entender como funcionam as relal;oes de poder em nossa regiao; a) entre os proprietarios de terra e os seus subordinados; b) do aparato juridico-politico de poder e con trole; c) dos diversos grupos da sociedade civil associados politicamente aos donos do poder (partidos da situa<;ao, igrejas dorninantes etc.); d) das comunidades, da classe camponesa, de suas e outras categorias de trabalhadores (pequenos proprietarios, lavradores parceiros, arrendatarios, agregados assalariados, volar -tes boias-frias, biscateiros); e) dos gropos e instituil;oes da sociedade civil comprometidos com os grupos populares, como e 0 nosso proprio caso. Mais do que isso, 0 exame destas rela<;5esde confJito coloca em evidencia o funcionamento, como objeto de estudo, das contradi<;oesde urn tip o de sociedade como a nossa e das rela<;oesconcretas entre as dif er entes
Assim, sugir o pensarmos na possibilid ad e d e partirmos de ur n levantamento das 'areas quentes' de rela~oes sociais e de mobiliza/yaopopular que envolvem diretamente 0nosso com promisso e a nossa p'ratica. Podemos come/yarpor separar regioes geograficas signif icatIvas(Uru Fartura, Vale do Sao Patricio, Serra Dour a da, Rio VermeIho) e fazer 0 levantamento dos setores de a/yao social (produ/yao de bens - terra + trabalho, organiza/yao de gr upos comunitar ios e de c1asse, saude, educa/yao, comunica~ao, religiao). Neste r ecorte entre lugar + setor, podemos destacar aspectos das rela~oes sociais entre categorias de pessoas que consideremos como os mais adequados: I?) par a explicar, atraves de pesquisa, 0 que realmente aconteceu ali (nao como 0 povo esta com r ela~ao a quest5es de saude, por exemplo, mas como estiio se dando as r ela~oes de poder e como esta sendo a atua/yiio movimentos populares X institui~oes desaude na regiao); 2?) para ex plicar, atraves da integra/yao de varias peq uenas pesquisas parciais, como funciona a estrutur a social e 0 q ue esta acontecendo nela agora; 3?) para explicar , como urn momento de avalia/yiio d a pesquisa, qual e como esta sendo a nossa presen~a e 0 nosso trabalho de educa~ao popular na regiao. Tal como foi colocado antes, podemos par tir de levantamentos pr eliminares e d ecidir juntos quais serao os mais r elevantes para serem investigad os mais a fundo. Nao serao tod os. Nao envolver ao todas as regioes geogrMicas, nem todos os 13 municipios. Nao incidirao sobre tod a s as questoes im portantes. 0 f u ndamental e ter mos urn conjunto de sit ua{:oes concr et as da vid a social que serao reconstituidas como objeto de uma pesquisa feita por agentes de pastoral e agentes de base. Cada uma das areas escolhidas constituir a ur n me~mo 'locus' de pesquisa e ali sera f eita uma pesquisa completa, artIculada sobr e 0 acontecimento social escolhido. De pois de concluidas todas as pesquisas parciais e feitos os seus relat6rios, haveni urn tempo de aglutinar todo 0 material e, em r eunioes sucessivas, inclusive nas comunid ades, discutir e produzir ur n relat6rio integrado das pesquisas locais. 0 seu objetivo ser a 0 d e nao apenas mostrar ind icadores sociais da vida do lavr a dor, mas: a) ex plicitar processos sociopoIiticos de produ~ao daqueles indicadores; b) avaliar criticamente 0 nosso trabalho; c) estabelecer bases f uturas de atua/yao dos movimentos populares."
Ate aqui, 0 documento de estudo previa da pesquisa de 1979. Como tarefa inicial, as equipes locais deveriam fazer 0 peq ueno levantamento sugerido. Vma r euniao posterior examinar ia os levantamentos e determinaria, em principio, as regioes geogr af icas e os set~res de .r~lar ;oes/pr~ticas q u e se tornariam objeto d e uma pes-
balhar com metodos antr opol6gicos, mais d o q ue com metodos tradicionais, "neutros" e quantitativos. Observar;ao par ticipante, aproveitamento de reunioes de grupos para coleta d ir eta d e dados "na ar;ao", analise de conf l itos, pesquisa d ir eta com base em "dr amas sociais" etc. Justamente uma d as tar efas d a assessor ia d ~ pesquisa seria a de estudar a q uestao e propor metodos que tornassem a pesquisa ur n t ra balho incorporado as praticas d ir etas das pessoas e gru pos, ao inves d e ser urn t ipo de tr a balho a parte.
Eis locais.
0
r oteiro d o levantamento pr eliminar sugerido as equipes
1) Localizar d entro do municipio uma comunid ade rur a l. uma comunid ade d e 'ponta d e rua', uma f azenda, urn espa/yo social de tr abalho (rela/yoes d e luta entr e lavr ador es e fazendeiros, por exem plo), ond e este jam haven do situa/yoes de con flito , ou d e t rabalho po pular significativo. 2) Definir 0 tipo de fato que vai ser de scrito: urn conflito por terras? urn conflito trabalhista? urn conflito por questoes d e saude (como no caso de Itaguar u)? 3) Descrever a conjuntura em que se deu 0 fato que vai ser descrito: a situa/yiioantecedente, a composi~ao d efon,as de urn lado e d o outro, os determinantes imed iatos d a deflagra/yao do conflito etc. 4) Descrever d e modo sumario, mas 0 mais completo passivel. o fato escolhido. A descri/Yiiodeve ser ade umacontecimento social, nar rado do ponto de vista das tr ocas e rela/yoes-sociaismais importantes par tici pantes da questiio. Se possivel, incor por ar pequenas entr evistas ( passagens cur tas) sobr etudo com r ela/yao aos lavradores envolvidos. 5) Descr ever 0 encaminhamento do f ato. Quais as possi bilid ades de desenvolvimento do conflito? Em que ele esta comprometendo a vid a e as rela/y5esentre categoria-ssociais de sujeitos do lugar (f azendeiros, autoridades, lavradores etc.)? 6) Discutir 0 modo como os grupos e institui/yoes sociais d e compromisso popular estiio participando dos acontecimentos. Analisar, pr incipalmente. 0 teor da par ticipar;iio da equi pe local de agentes de pastoral. 7) R elacionar as f ontes dir e tas e indir etas de dad os sobre 0 acontecimento, par a 0 caso de ele ser urn d os escolhid o s como o bjeto d a pesquisa mais ampla.
As relar;oes pesquisa/ ar;io: problemas
e alternativas
Tal como foi pensada em primeira instancia, a pesquisa partici pante cuja proposta foi redigida por mim em 1979 e reproduzida acima nao foi realizada em Goias. Justamente entre 1978 e 1979, quando ela f oi primeiro decidida em uma assembleia anual, atraves do voto de agentes populares da regiao e dos de agentes de trabalho de Educacrao Popular da Igreja e, depois, pre-elaborada em duas reunioes de uma comissao de coordenacrao de pesquisa, alguns acontecimentos muito importantes ocorreram na regiao d a Diocese d e Goins. 1) Os movimentos populares de comunidade e de classe desvincular am-se de uma tutela relativa dos agentes da Igreja. Este sempre f oi urn momenta esper ado e ur n horizonte dir e tor de tod o 0 tr a balh0 de Educacrao Popular. Todos sabiam que 0 desejado er a que, ap6s urn perlodo de tr abalho politico- pedag6gico d e criacr ao e f or talecimento de movimentos populares d a Igreja (de que os Gr u pos de Evangelho foram 0 melhor instr umento), surgissem e se f or talecessem e m tod as as comunidades rur ais e per ifericas movimentos ef etivamente po pular es, ou seja, movimentos submetidos ao contr ole exclusivo de agentes locais, lavr a dores na sua maioria, representantes da comunidade (como no caso das associa~oes de mor adores), ou do campesinato enquanto classe (como as oposi~oes sindicais). Este seria 0 momenta em que todo 0 trabalho de educacr ao popular atingir ia urn momenta de maturidade. Ele passaria a agir como espacrode assessoria de militantes eruditos (educadores, cientistas sociais, agentes religiosos, medicos e enfermeir as) aos pr opr ios movimentos populares, cuja pr atica seria entao 0elemento determinante de todo 0 nosso trabalho de mediacrao. 2) Houve alguma divisao entre os pr6prios lavradores. Husao imagina-Ios como uma classe perfeita e indivisivel. O perarios, lavradores e outras categor i as de subalternos aprendem com a pr atica politic a de s ua or ganizacr ao. 0 caminho e dif icil e as oposicroes internas nos movimentos populares - algumas delas manipuladas de for a pelos grupos dominantes, outras incentivadas tambem de f o ra por grupos mediadores - nao sac uma excecrao. Ora, agindo como profissionais e militantes com prometidos com projetos populares e, portanto, sem aparentemente possuirem urn projeto alternativo pr oprio, os agentes de pastor al dividiram-se tambem, 0 que provocou momentos de tensao e conflito dentro das pr6prias equipes
como uma pesquisa ampla e partici pante estiveram perdidas durante algum tempo e so mais tar de foram e m parte recuperadas. 3) Por outro lado, alguns agentes de Igreja se negavam a partici par de toda e qualquer pr atica de pesq u isa que nao fosse iniciada e dirigida pelos movimentos de lavrador es. Par que uma instituic;ao como a Igreja pr o cede a uma pesq uisa e envolve nela 0 trabalho dos lavradores, quando eles pr6prios, a partir dos seus movimentos, sind icatos e par tidos poderiam f azer isto, convid ando, quando quisessem, agentes profissionais para, eles sim, partici parem dos trabalhos como assessores? (ha exemplos reais disto em sindicatos de oper ar i os do R io e de Sao Paulo). 4) Finalmente, a p6s retirar -se como instituir yao de iniciativas d e produr yao de movimentos populares - ja que as classes popular es ocupavam por sua conta este es pac;o de iniciativas politicas -, as equipes de pastor al r etor naram a dais ti pos de atividades na r egiao, f ora as do trabalho pr opr iamente r eligioso: a) 0 apoio aos movimentos popular e s de comunidades e de classe; b) a realizaryao de tra balhos setor iais de ed ucar yao popular: saude, alf abetizaryao, melhoria de condir yoesde vida nas "pontas d e r uas" etc. Foi justamente destes ultimos es paryos de trabalhos d e educaryaopopular que as pesquisas pensadas no item anter ior for a m de novo progr amadas e, apenas no caso de uma delas, plenamente r ealizadas. Descrevo sumariamente dois exemplos.
o meio Grito - um estud o so br e as condi~, os direitos, 0 valor e 0 trabalho po pular associados 80 pr o blema da sand e e m GOUIS Lavradores e sobretudo mulheres das comunidad es r ur a is e das "pontas de rua" pedir am a comissiio regional de saud e uma "cartilha" par a que nela eles a pr e ndessem a se relacionar com os ser vic;osmed icos dos sindicatos e de tr abalhadores r ur ais ou da Previdencia Social. Foi suger ido que, em vez de uma r esposta d ir eta da comissao, todos juntos participassem de uma ampla pesquisa na "regiao do Vale do Sao Patricio". A pesq uisa f oi f eita e, em certa med id a, tornou-se urn modelo bast ante cr iativo de tr abalho partici pante. De seu processo sairam: a) urn r elat6r io sobr e q uestoes e lutas de saude, publicado pelo Centro Ecumenico de Documentaryao e Informaryao e d ir igido a agentes de educacr ao popular ; b) uma versao po pular da pesquisa escr i ta par a os lavradores pelo medico
tida pelas proprias equipes populares que realizaram a pesquisa; c) a cartilha anteriormente solicitada pelos lavradores e que veio a chamar-se A Lamparina (existente so em versao dos lavradores e circuland o apenas entre eles); d) urn documento didatico escrito pelo medico da comissao, chamado 0 Relat o do Meio Gr ito, nao publicad o ainda.13
Em algumas comunidades f oram solicitados cursos de alfa betiza~ao, d e pos-alf a betiza~ao e de su pletivo. A decisao das eq ui pes de pastoral f oi a de nao implantar urn " progr a ma de alf abetiza~ao" (modelo considerado como ultr apassado). Dentro de uma pr atica de r espostas assessoras as reivind icac;oes d as comunid ades, a sugestao foi a de par ticipar d a constru~ao e r ealiza~ao con junta de nucleos d e alfabetiza~ao, etc., a penas nas comunid ades onde isto a parecesse como uma exigencia po pular e onde 0 tra balho, desde 0 inicio, f osse assumid o em co-res ponsa bilidad e pela comunidade e pela equipe de pastoral. Am pliand o ur n pouco a pr o posta de investiga~ao do univer so vocabular e do universo tematico em Paulo Freire, foi pensad a uma pesquisa partici pante sobre questoes e atitudes da comunidade a respeito d a r e pr od u~iiod o saber . A pesquisa e para ser rea.lizad a apenas naquelas comunidades onde haja uma disposic;ao em co-d ividir urn projeto de escolariza~ao popular. 14 E, neste sentid o, urn primeiro passo do proprio trabalho pedagogico.
comunidades, que urn dos tra balhos mais urgentes seria 0 d e ur n novo amplo estudo sobre a situac;ao dos lavr a dores e familias migrantes para as cidades. Criou-se uma eq ui pe de coordena~ao d a equipe envolvendo agentes de base e d e pastoral. Foi r esolvido q ue a pesquisa somente seria programada d e pois que as comunidad es d e cada municipio que assumissem r ealiza-Ia d ecidissem .a r es peito d e como ela dever ia ser exercida alL Foi pr evisto urn segundo encontr o na cidade de G O U lS , onde os representantes d as comunid ades levar iam as decisoes de suas bases. Entao, a " pesquisa d as per if erias" seria pr ogramada e posta em estad o de realizac;ao. Narr ei ate aqui casos e seqiiencias de uma historia d e incor porac;aode sucessivas ex per iencias de pesquisa a urn trabalho q ue,em ter mos amplos, pod e ser definido como d e Ed uca~ao Popular ; Nar re i uma historia de id as e vindas, de sucessos e f racassos que vivi d e perto, algumas vezes prof undamente envolvido. Houve avan~os muito impor tantes, mas eles SaG parte dos momentos de r ecuo, de er ros. A maior de tod as as pesquisas, aquela que incid iria sobr e as q uestoes a nosso ver mais relevantes, e q ue ter ia a mais significativa participa~ao popular, nao f oi levada a efeito. Outras, como a de ed uca~ao nas comunid ad es, estao q uase paralisad as, por qu e 0 pr o pr io tr a balho nao avanc;a. Nao ha cond ic;oes de construir mos ali modelos pre-f a bricados de participa~ao e de pesquisa par ticipante para podermos escrever r elator i os invejaveis. A partir do momenta em q ue urn tr abalho coletivo de produ~ao de conhecimento militante deixa de ser a atribui~ao d o poder decis6rio de uma equipe q ue gerencia, inclusive, 0controle sobre os convites e os limites da par ticipa~ao popular, ele se envolve de todos os atr opelos que fazem a r otina de q ualquer tipo de a~ao mediadora verdadeiramente a ser vi~odo trabalho popular .
Na 11~ Assembleia Diocesana foi decidido, com voto unanime, inclusive 0 de uma maior ia absoluta de re pr esentantes das
(13) 0 Me io Gr ito, em sua versao para os agentes de pastoral, foi publicado inicialmente em Cadernos do Cent;o Ecumfmico de Documentar;ao e Informar;ao n? 3 e, depois, em Pesquisa Participante, Sao Paulo, Brasiliense,
1981. (14) Escolar iza!;ao
Popular e
0
nome da Educar;:ao Popular
quando
Que ideias poder i am ser r eunid a s aq ui a p artir d a peq uena historia de trocas de saber entre equipes de agentes de ed uca~ao po pular e comunid ades e grupos·or ganizados d e lavr ad or es? Em q ue poder ia nos ser uti! pensar a par tir de uma tra jetor ia de 12 anos d e buscas dirigidas a colocar a pesquisa social como urn instrumento d a ed uca~iio popular , da causa po pular ? ia questao dapartici ii sta em j Ur dos E
convocar todos a participa~ao. Conclamar as classes populares a "urn ample processo de participa~ao" para, depois, exercer sobre urn "povo participante" projetos tutelares de controle e'manipula~ao. Urn dos estados da federa~ao br asileira cujo governador 6 fiel adepto do r egime autoritario ter n como lema, esparr a mado em milhares de discursos e placas, "Desenvolvimento com Par ticipa~ao". Uma coisa 6 criar estrat6gias de "participa~ao" popular e transforma.la em urn exerdcio de mani pula~ao populista, e outra coisa 6 fazer com que as praticas de media~iio sejam, elas sim, participantes d e situa~oes e processos de produ~ao e fortalecimento do poder popular. Uma coisa 6 invenhlr a "pesquisa par ticipante" que justif i que a ilusao da co-r esponsabilidade politic a do tr a balho e d a co-par ticipa~ao cientif ica da prod u~ao de urn saber necessar io, e outr a coisa 6 tor nar a pesquisa urn instrumento cientif ico, ped ag6gico e politico de partici pa~ao nos tr abalhos de produ~ao do poder popular . o que quero r ecordar aq ui 6 que a id6ia depar ticipa~iio , em si mesma, nao d efine nem encaminha uma ex periencia de. ed uca~ao po pular, d esd e q ue ed uca~iio popular se ja entendida como uma pr atica d e med ia~ao com o p~ao por urn pr o jeto hist6rico d e pr oduC;aode poder do povo e de realiza~ao de sucessivas transforma~oes sociais a partir de tal conquista de poder. De igual rnaneir a, a id6ia de transfor m ac;ao social 6, em si mesma, vazia de sentido, se nao for definido 0 pr ojet o politico de classe a que 0seu pr ocesso se submete. A id6ia de par ticipa~ao deixa de ser adjetiva (aquela ser ve para qualificar tudo) e se torna substantiva, quando se estabelece em nome de qual projeto politico ela 6 colocada em a~ao nas comunidades pop\!lares: 1) serve a simples amplia~ao de uma pr esenc;a popular em progr a mas que, realizando servi~os sociais setor iais (saude, educac;ao etc.) as classes popular e s, reproduzem servi«os politicos dominantes de preservac;ao da ordem social estabelecida atr av6s da partici pac;ao de mecanismos sociais de controle dos gr u: pos e movimentos populares? ou 2) serve, passo a passo, a pr oduc;ao, reprod uc;ao e fortalecimento de urn poder de classe; de urn poder pro~ressivamente autonomo de autocontrole e participa~ao organ izad a nos espa~os politicos de determinac;ao da vida social? No c aso do primeiro tipo de vinculaC;ao, por maior que seja 0 teor social da " participac;ao" (toda a comunidade 6 convidad a a par tici par d e todas as f a ses da pesquisa e 0 seu re1at6rio 6 escr ito "para 0 povo") a pesq uisa nao 6 ainda urn instr umento que possua
urn teor politico de par tici pa~ao. Ela nao e ainda urn instrumento politico e pedag6gico de prod uc;ao cientifica de um tipo necessario de saber popular e de orientac;ao d e ac;oes populares que sirvam efetivamente aos seus objetivos. No caso d o segundo tipo d e vincula~ao, ainda que possa haver ur n baixo ind ice de participac;ao popular (em nem todas as fases da pesquisa existe uma participa'Vao da comunid ade), ela 6politicamente uma pesquisa part icipando (sendo or ientadapar a e ser vindo a) d e projetos populares d e pr oduryaoe uso de saber. Isto nao signif i ca que ex per iencias inter mediar ias de tr a balhos de prod uc;ao d e conhecimento social com par ticipa'Vao popular nao devam ser postas em pratica. Qualquer que se ja 0 ponto d e inicio d e. ur n tal tipo d e pesquisa, as deter mina~oes d e sua continuidade e a d ir e~ao ef etiva d o uso d e seus pr odutos ser ao 0 seu melhor meio d e avalia~ao. E neste sentid o q ue eu quer o tomar uma id 6ia r ecentemente exposta pelo pr of essor Jos6 d e Souza Martins para estabelecer paralelos. Do ponto de vista da eq uac;ao entr e forma d e partici pa~iio da pesquisa no tr abalho po pular X forma d e participa~iio d o trabalho popular na pesquisa,· ha tres alternativas possiveis. Mais d o que tipos ir reconciliaveis - como algumas pessoas acr ed i tam que seja 0 caso entr e a "pesq uisa acad emica" e a "pesq uisa par ticipante" -, sao modalid ad e s de tr abalho cientifico, pedag6gico e politico que, d entr o de uma ac;ao mais am pla, pod em ser seqiientes e complementares. A primeira opc;aode pesquisa descr ita linhas atr as 6 a de uma pesquisa com partilhad a. Proposta por urn progr ama antecedente, dela par ticipam sujeitos populares mesmo q u e a pro pr ia pesquisa nao par t icipe de ur n ef etivo tra balho politico de acumula~ao de sa ber -e-poder popular es, e nao se ja controlada por agentes do povo em seus polos d e decisao, ou seja, 'antes do comec;o" e "depois do fim" da pesquisa. A segunda opc;ao descr ita e a de uma pesquisa partici pant e. Pr o posta d esde 0 interior d e uma pratica q ue associa politicamente agentes de media~ao e agentes populares, estes ultimos par t icipam d a pesq uisa porq ue tanto ela quanta 0 tr abalho a q ue se vincula partici pam antecedentemente de pr ojetos e pr ocessos de acurnularyao de saber - e-poder populares. Vma terceir a mod alid a de pode ser colocad a num ponto proximo a u r n horizonte d ese jado. Quer o chama-Ia de pesquisa popular e imaginar ur n tra balho de pr odu~ao de saber de classe q ue, pr o posto e dir igido d e sde os movimentos po pulares, envolva a p ar ticipa~ao com pr ometid a e assessor a de agentes d e mediac;ao.
Este e 0 momento - e eu trago de volta ideias aprendidas com Jose de Souza Martins - de pensarmos sobre a possibilidade da reduc;ao imediata ou da extinc;ao da desigualdade de saberes entre tipos diferentes de agentes como fundamento da pesquisa partici pante. Esta e uma ilusao que atrapalha porque mente. Supor que a participac;ao esta baseada em uma relac;ao de troca constituida sobre uma suposta igualdade de poder e saber oculta.o fato real de que, entre 0 agente de mediac;ao (urn intelectual nao raro de "nivel superior") e a "comunidade" (lavradores, subempregados, operarios), hii. uma desigualdade antecedente. Tal desigualdade nao se resolve metodologicamente, nem na relac;ao de compromisso entre os dois lados, nem, de modo especifico, no interior de uma pesquisa participante. Constituida por relac;Oesdesiguais da estrutura social de saber e de poder, tal desigualdade e constitutiva da pr6pria ac;ao mediadora do agente a quem, nao raro, gostamos de dar 0 nome de intelectual organico a servic;odas classes populares. 0 seu trabalho de agente e utH ao povo porque e conjunturalmente desigual, ainda que no seu horizonte exista, na bruma da manha, a aurora de urn mundo onde a diferenc;a que faz a liberdade nao se estabelec;a sobre a desigualdade que gera e preserva a opressao. A questao fundamental e a de saber colocar a desigualdade a servic;o. Deve-se desconfiar de modelos unicos e de experiencias exclusivas, cuja perfeic;ao de laborat6rio justamente impede a possibilidade de sua repeitc;ao e de sua incorporac;ao aos trabalhos "de base". Nao hii.modelos unicos e nao hit usos normativos de tipos de pesquisa participante. Ela e urn instrumento dentro da ariio popular. 0 papel do intelectual (0 educador, 0 cientista social, 0 agente de mudanc;a) e 0 de ser urn ouvinte atento das decisoes dos movimentos populares, ou de necessidades cornunitarias efetivas. E 0 de ser urn mediador que responde, com os instrumentos do seu saber e de sua profissao, a tais decisoes e exigencias, colocando-os a servic;o nao da comunidade Osso a "Alianc;a para 0 Progresso" fazia), mas da pratica politica popular na comunidade. Este e 0 caminho pelo qual, no limite, a pesquisa participa, como urn instrumento de educac;ao popular, dos movimentos populares. Quando as pessoas do povo vem participar dela, hii.de ser porque de algum modo ela jii.faz parte de suas prii.ticas, de seus projetos de classe e e, por isso, par ti cipante.