Curso Vida Nova de Teologia Básica INTRODUÇÃO À BÍBLIA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Harris, R. Laird Introdução à Bíblia I R. Laird Harris ; tradução Bruno G. Destefani. -- São Paulo : Vida Nova, 2005. -- (Curso vida nova de teologia básica ; v. 1) Título original: Exploring tha basics of the Bible. ISBN 978-85-275-0331-0 1. Bíblia - Introduções 2. Teologia - Estudo e ensino I. Título. II. Série.
CDD-220.61
05-1682
Índices para catálogo sistemático: 1. Bíblia : Introdução 2. Introdução à Bíblia
220.61 220.21
Curso Vida Nova de Teologia Básica
INTRODUÇÃO À BÍBLIA R. LAIRD HARRIS
Traducão .>
Bruno G. Destefani
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VlDANOVA
Copyright © 2002 Evangelical Training Association Título do original: Exploring tha Basics ofthe Bible Traduzido da edição publicada em 2002 pela Crossway Books, uma divisão da Good News Publishers (Wheaton, Illinois, EUA) 1: edição: 2005 Reimpressão: 2007 2: edição: 2008 Reimpressão: 2010
Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados por SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA,
Caixa Postal 21266, São Paulo, SP, CEP 04602-970 www.vidanova.com.br Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em banco de dados, etc.), a não ser em citações breves · com indicação de fonte. ISBN 978-85-275-0331-0 Impresso no Brasil/ Printed in Brazil
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Robinson Malkomes CONSULTORIA
Aldo Menezes REVISÃO
Marisa K. Alvarenga de S. Lopes COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO
Sérgio Siqueira Moura DIAGRAMAÇÃO
Sk editoração CAPA
Julio Carvalho
Conteúdo
Apresentação . ... .... ... ... ... .... ... .... ... .... ... ... .... .... ... ... ... .... ... ... .... ..... ..
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1. Revelação e inspiração .............................................................. 11 2. Por que os cristãos crêem na Bíblia? -
O Antigo Testamento..................................................... 23
3. Por que os cristãos crêem na Bíblia? -
O Novo Testamento ....................................................... 33
4. Qyem escreveu o Antigo Testamento?.................................... 43 5.
Qyem escreveu o Novo Testamento?....................................... 55
6.
Como a Bíblia foi preservada -
7.
O Novo Testamento........................................................ 6 7
Como a Bíblia foi preservada O Antigo Testamento .....................................................
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8. Controvérsias em torno da Bíblia .... .. .. .. ....... .... .. .. .. .. .. .. .. .. .... ...
85
9. A alta crítica e a Bíblia.............................................................
99
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10. A arqueologia e o Antigo Testamento ..................................... 107 11. Ferramentas para o estudo bíblico ........................................... 117 12.
Métodos de estudo bíblico ...................................................... 129 Enriqueça sua biblioteca............................................................... 13 9
Apresentação Curso Vida Nova de Teologia Básica
T
odos os cristãos precisam de teologia
Durante muito tempo a teologia esteve confinada nos círculos acadêmicos. Sua linguagem técnica e seu rigor científico impediam que o público leigo, não-especializado, saboreasse a boa erudição bíblica. A parte que lhe cabia era ouvir longos sermões, que nem sempre atingiam o coração dos ouvintes, muito menos sua mente. A distinção entre clérigos e leigos, sem dúvida, contribuiu para o surgimento desse abismo entre a teologia e os não-iniciados no saber teológico. O estudo sobre Deus e sua relação com seu povo foi se tornando cada vez mais propriedade de uma elite intelectual. As Escrituras, no entanto, apontam outro caminho. O povo de Deus, e não apenas uma parcela desse povo (os mestres), é chamado de "sacerdócio real". Esse povo deve anunciar "as grandezas daquele que [o] chamou das trevas para sua maravilhosa luz" (lPe 2.9). Todos estão obrigados a cumprir a Grande Comissão: fazer discípulos para o Mestre, ensinando-os a obedecer todas as coisas que ele ordenou (Mt 28.19-20). Todos devem renovar a mente, para experimentar a "boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2). Todos devem estar preparados para "responder a todo aquele que [ ... ] pedir a razão da esperança" que há neles (lPe 3.15). Todos são instados a crescer não apenas na "graça'', mas também "no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (2Pe 3.18). A retomada do ensino bíblico do sacerdócio de todos os crentes, no entanto, não significa que Deus não tenha capacitado especialmente alguns para exercer determinados dons na igreja. O apóstolo Paulo afirma que
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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Deus "designou uns como apóstolos, outros como profetas, e outros como evangelistas, e ainda outros como pastores e mestres" (Ef 4.11). Esses especialmente capacitados, porém, não deviam guardar para si o depósito do conteúdo da fé. Eles tinham uma missão a cumprir: ... o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério e para a edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo; para que não sejamos mais como crianças, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela mentira dos homens, pela sua astúcia na invenção do erro; pelo contrário; seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. Nele o corpo inteiro, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas asjuntas, segundo a correta atuação de cada parte, efetua o seu crescimento para edificação de si mesmo em amor (Ef 4.12-16).
Essas passagens bíblicas mostram claramente que a teologia deve estar a serviço de todo o povo de Deus. Mais ainda: que todo o povo de Deus deve se beneficiar de todos os campos do labor teológico. Vejamos alguns exemplos:
1.
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Anunciar as grandezas de Deus (1Pe 2.9) requer preparo no falar. A parte da teologia que cuida da boa transmissão oral da Palavra de Deus é a homilética, cujos princípios não se aplicam somente à preparação de sermão, mas à comunicação da Palavra de Deus como um todo. Não basta fazer discípulos, é preciso ensiná-los (Mt 28.19-20). Isso requer conhecimento das coisas de Deus (e esta é uma definição básica de teologia= estudo sobre Deus). Estar preparado para "responder a todo aquele que [... ] pedir a razão da esperançà' que há em nós (1Pe 3.15) requer conhecimento bíblico e o exercício da "apologética" (um discurso de defesa da fé cristã bem embasado nas Escrituras). Qyando Pedro disse que os cristãos devem crescer "no conhecimento de [ ... ] Jesus Cristo" (2Pe 3.18), ele estava, segundo o contexto, alertando-os a não se deixar levar pelos que "deturpam'' as Escrituras (2Pe 3.14-17). Pedro também reconheceu que há passagens de difícil interpretação (v. 16). A hermenêutica é a parte da teologia que se encarrega de avaliar o sentido preciso de uma passagem bíblica, lidando com as "coisas difíceis". Bem preparados, não seremos "levados [... ] por todo vento de doutrina, pela mentira dos homens, pela sua astúcia na invenção do erro" (Ef 4.14).
É evidente, portanto, que todos nós, povo de Deus, precisamos de teologia. Todos nós precisamos aprimorar diariamente nosso conhecimento das Escrituras. Devemos ser realmente estudiosos da Palavra de Deus. E o labor teológico nos conduz a esses fins.
APRESENTAÇÃO
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A importância e as vantagens do Curso Vida Nova de Teologia Básica
Edições Vida Nova reconhece o valor e a força da comunidade leiga de nossas igrejas. Nossa missão é levar conhecimento e preparo teológico a todo o povo de Deus. Pensando nessa parcela significativa de cristãos e com pleno conhecimento da necessidade do saber teológico para todos, temos o prazer de apresentar o Curso Vida Nova de Teologia Básica. Trata-se de um curso básico de teologia para leigos. Isso quer dizer que esse curso está desprovido do jargão teológico tradicional e de tecnicismos dessa área. É um curso perfeito para leitores que desejam conhecer um pouco de teologia numa linguagem informal, instrumental e não-acadêmica. O material é altamente didático e informativo. É de fácil assimilação. Os autores também se valem de perguntas para debate, que funcionam como questões de recapitulação, a fim de fixar na mente do leitor os pontos principais apresentados ao longo de cada lição. Como se diz em homilética: ''A repetição é a mãe da retenção". C2lianto mais recapitulamos, mais fixamos o que aprendemos. Além disso, há uma bibliografia ao mesmo tempo concisa e precisa, conduzindo o leitor a obras que poderão auxiliá-lo em seu crescimento espiritual. Todos os cristãos desejosos de crescer no "conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" se beneficiarão desse curso. Crentes bem preparados e conhecedores da Palavra de Deus farão das escolas dominicais, dos centros de treinamento de líderes e de outros ministérios voltados para o aperfeiçoamento do corpo de Cristo um espaço agradável de estudo e reflexão das Escrituras. O currículo básico do curso inclui os seguintes assuntos: 1. Introdução à Bíblia 2. Panorama do Antigo Testamento 3. Panorama do Novo Testamento 4. Panorama da história da igreja 5. Homilética 6. Apologética cristã 7. Teologia sistemática 8. Educação cristã 9. Filosofia 10. Aconselhamento Os próximos volumes previstos para lançamento são: Interpretação da Bíblia, Missões, Evangelismo, Louvor e adoração, Ética cristã e Administração eclesiástica.
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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Introdução à Bíblia Como não se pode fazer teologia sem a Palavra de Deus, esse é o tema deste primeiro volume do Curso Vida Nova de Teologia Básica. Este volume pretende fornecer respostas às seguintes questões:
1. 2.
3. 4. 5. 6. 7. 8.
Deus realmente se revelou à humanidade? Há objetividade nessa revelação? Se a Bíblia foi escrita por homens, como ela pode ser definida como a Palavra de Deus? De que modo Deus se comunicou com os homens a fim de produzir a Bíblia? Por que os cristãos crêem na Bíblia? Há evidências racionais para essa crença? Qyem escreveu o Antigo Testamento? A Bíblia é um livro antigo, mas é realmente confiável? Como ter certeza de que o conteúdo não foi alterado com o passar do tempo? Existem realmente milagres e profecias? O que é alta crítica? Conseguiu a Bíblia sobreviver a seus ataques? O que a arqueologia tem a dizer sobre a confiabilidade das Escrituras?
Além de analisar essas questões altamente relevantes, o estudante da Bíblia também será equipado com ferramentas para o estudo das Escrituras. São publicações que devem compor sua biblioteca particular: diversas versões das Escrituras, bíblias de estudo, obras de consulta, livros de teologia sistemática, comentários bíblicos, introdução bíblica, história da igreja e da teologia e livros de teologia prática. Mas nem só de ferramentas vive um estudante das Escrituras. Ele precisa de um método de pesquisa a fim de facilitar e conduzir seu trabalho de pesquisa da Bíblia. Há um capítulo destinado exclusivamente a isso. Aproveite o Curso Vida Nova de Teologia Básica. Prove por si mesmo como é bom e agradável conhecer profundamente a Palavra de Deus. Tome para si as palavras de Paulo a Timóteo: "Procura apresentar-te aprovado diante de Deus, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (2Tm 2.15). Os Editores Março de 2005
Revelação e inspiração
O
livro de Génesis conta como Deus criou a humanidade à sua imagem e semelhança. Um dos propósitos do Senhor era que Adão tivesse contato e comunhão com ele. A partir desse relato, fica claro que Deus cuidava do homem, conversava com ele e lhe dava ordens. Pois, o fato de o Deus altíssimo dialogar com pessoas dessa maneira representa uma maravilhosa revelação de sua Palavra, de seu ser e de sua vontade. Depois que Adão e Eva pecaram, Deus poderia muito bem ter desistido deles. O primeiro casal o desobedecera por livre e espontânea vontade; a conseqüência disso era a morte. Entretanto, Deus, em sua infinita misericórdia, desenvolveu o plano da salvação. Assim sendo o Senhor procurou Adão no jardim e o responsabilizou por seu pecado. Essa foi a primeira revelação de Deus para o ser humano pecador.
REVELAÇÃO ESPECIAL E REVELAÇÃO GERAL Deus deu continuidade a essa prática falando com Adão, Eva, a serpente, Caim, Noé e muitos outros. A essa comunicação direta da parte de Deus chamamos revelação especial. Podemos aprender muito sobre Deus a partir do universo que ele criou. Uma criação tão vasta dá testemunho da existência de um Deus Todopoderoso. As maravilhas de nosso mundo dão prova da sabedoria infinita
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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de Deus. Nossa própria consciência aponta para a existência de um Deus santo e benevolente. A essas provas de sua presença através da criação chamamos revelação geral. Entretanto, essa revelação geral tem sido negada por muitos. Segundo alegam, aquilo que nos parece complexo na natureza é pura obra do acaso, e essa "ética interior'', a que chamamos consciência, é fruto de nosso convívio social, de um aprendizado recebido desde o nascimento, de uma ilusão que nós mesmos criamos, etc. No entanto, em Romanos 1.19-23 o apóstolo Paulo afirma claramente que podemos perceber Deus na natureza, e ele se refere expressamente à consciência no texto de Romanos 2.15. Todavia, é impressionante percebermos que a grande maioria das pessoas sempre acreditou em algum tipo de divindade. Além disso, embora alguns neguem a existência da consciência, todas as culturas conhecidas possuem alguma espécie de código moral. Isso nos leva a concluir que a revelação natural já está bem fundamentada. Paulo diz que o fato de isso não levar algumas pessoas a adorar o Deus verdadeiro se deve à iniqüidade delas (Rm 1.18).
INSPIRAÇÃO Qgando Deus falou ao ser humano na Antigüidade, isso se deu através de uma revelação oral especial. Até onde sabemos, o homem só foi desenvolver um sistema de escrita depois do dilúvio. Talvez as pessoas daquela época utilizassem algum método para registrar quantidades de objetos, mas ao que parece a escrita como hoje a conhecemos teve início na Mesopotâmia e no Egito, pouco antes de 3000 a.C. Porém, a revelação oral de Deus era algo tão especial, verdadeiro e inspirado quanto sua palavra escrita, que surgiria mais tarde. Qyando falou a Caim, Deus não o fez através da voz de sua consciência, e Caim respondeu-lhe com ira. Essa passagem retrata uma comunicação direta e objetiva da parte de Deus. Ninguém sabe o nome de muitas das pessoas com quem Deus conversou nos primeiros tempos. Embora o Antigo Testamento afirme que Enoque "andou com Deus'', esse termo provavelmente se refere a um convívio habitual e constante, e não à ação de caminhar junto com alguém. De qualquer maneira, isso indica harmonia e comunhão, o que implica em diálogo. Tal conceito concorda com a referência no Novo Testamento de que Enoque foi um profeta (Jd 14). Noé recebeu revelações explícitas e meticulosas da parte de Deus. Não foi a sua própria imaginação bem desenvolvida que lhe deu as instruções a respeito da arca. Ao contrário, o Senhor lhe disse quais deveriam ser as dimensões da embarcação, que animais reunir, etc. Sem essa mensagem específica, Noé também teria perecido.
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO
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Outra lição que podemos aprender com Noé é que ele ministrava a Palavra de Deus para sua geração. O relato de Gênesis, e de forma mais direta uma passagem de 2Pedro, mostram que Noé avisou seus contemporâneos a respeito do julgamento iminente que sobreviria ao mundo. Essa é a função do profeta. Após ter recebido uma mensagem de Deus, ele deve transmiti-la ao povo. Embora a Bíblia não conte muito a respeito da revelação divina durante o longo período entre Noé e Abraão, ela traz muitas informações sobre as épocas subseqüentes. Deus falou muitas vezes a Abraão. Deu-lhe ordenanças específicas e promessas que seriam cumpridas de maneiras que ele jamais poderia ter imaginado. Ele era considerado um príncipe pelos seus contemporâneos (Gn 23.6) e um adorador do Deus verdadeiro (Gn 14.22). Através de sua vida e de suas mensagens, ele ministrava à sua geração, e por meio dos registros feitos por Moisés, continua falando também a nós. Moisés foi o primeiro profeta a preservar as palavras de Deus da forma escrita. O Senhor lhe falou face a face (Nm 12.8). Além disso, ordenou-lhe que escrevesse seus mandamentos (Êx 24.4-8). A maior parte do Pentateuco, depois do relato do chamado de Moisés, em Êxodo 2, traz expressões como "o Senhor disse a Moisés". No final de Deuteronômio, lemos que Moisés escreveu a lei de Deus e instruiu o povo a obedecer aquelas ordenanças, bem como a lê-las publicamente durante a Festa dos Tabernáculos, realizada a cada sete anos (Dt 31.9-13). Veremos mais a respeito dos profetas e de sua atuação no quarto capítulo. No momento, estudaremos algumas conseqüências decorrentes dessa visão dos profetas do Antigo Testamento como instrumentos da revelação de Deus, ou como seus porta-vozes para o povo (Êx 7.1, 2). Lembremos que um profeta em Israel não era considerado apenas um homem profundamente espiritual. Na verdade, era visto como um indivíduo chamado por Deus para dele receber revelações (Nm 12.2-8). A palavra do profeta era reconhecida como a palavra de Deus, de tal maneira que era como se ele tivesse ingerido um rolo de pergaminho vindo do céu e depois o transmitisse oralmente para o povo (Ez 2.7-3.3). A mensagem por eles transmitida era a palavra de Deus. O mesmo podemos dizer a respeito daquilo que os profetas escreveram. Nem todas as mensagens proféticas eram registradas por escrito. Urias profetizou em nome do Senhor, assim como o fizera Jeremias. No entanto, foi morto pelo rei Jeoaquim e suas palavras não foram registradas (Jr 26.20, 21). Todavia, quando o Senhor falou através dos profetas em Israel, na Antigüidade, as palavras deles eram genuinamente vindas de Deus. O fato de terem sido transmitidas apenas oralmente ou também na forma escrita não importava. Josué, por exemplo, acrescentou seu relato ao Livro da Lei de Deus (Js 24.26). Sabemos, porém, que boa parte, senão a quase
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totalidade do Antigo Testamento, foi transmitida primeiramente de forma oral e mais tarde registrada através da linguagem escrita. Alguns defendem uma diferença entre o discurso profético e os escritos proféticos, afirmando que apenas estes últimos foram inspirados. Todavia, o Antigo Testamento não faz tal distinção. Esses exemplos ilustram o que queremos dizer com o termo "inspiração das Escrituras". Uma boa definição desse termo seria afirmarmos que a inspiração é "obra do Espírito Santo em indivíduos escolhidos por Deus, através do qual a pessoa é levada a falar ou escrever, em seu próprio idioma, exatamente as palavras de Deus, sem que cometa erro algum com respeito a fatos, doutrinas e juízos". No segundo e terceiro capítulos iremos oferecer a base bíblica desse conceito.
INSPIRAÇÃO VERBAL Esse conceito de inspiração defende que as próprias palavras transmitidas são de fato prescritas por Deus, inspiradas pelo Espírito Santo. Isso às vezes é apresentado de maneira caricatural como sendo a "teoria do ditado". Entretanto, a maioria dos teólogos conservadores atuais não acredita que Deus simplesmente tenha ditado sua Palavra para escribas, como se eles fizessem as vezes de uma secretária ou de um robô. Deus usava os profetas e os controlava, porém sem violar o estilo de redação ou a personalidade deles. A doutrina que mais se aproxima da "teoria do ditado" foi aquela desenvolvida em 1545, no Concílio católico de Trento. Ela expressa, em latim, que as Escrituras são Spiritu Sancto dictante. Todavia, nessa expressão o vocábulo dictante não significa "ditadas", segundo entendemos hoje, mas sim "ditas" ou "transmitidas" pelo Espírito Santo.
INFALIBILIDADE E INERRÂNCIA Historicamente, a Bíblia tem sido considerada um texto inspirado, o que quer dizer, em outras palavras, que ela é tida como a autêntica Palavra de Deus. Tradicionalmente também tem sido considerada infalível. Isso é o mesmo que dizer que nas Escrituras não há erros. Em épocas mais recentes, teólogos da linha conservadora têm considerado a crença na Bíblia como "a única regra infalível de fé e prática". Com isso querem dizer claramente que a Palavra de Deus é uma regra perfeita de fé e de conduta. Entretanto, com o surgimento do liberalismo, essa doutrina tem comumente sido reinterpretada para transmitir o significado de que a Bíblia é infalível apenas em questões de fé e moral. Dessa maneira o termo infalível foi "diluído", permitindo a identificação de equívocos no texto bíblico com relação a fatos científicos e históricos. Essa postura é amplamente defendida entre os
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liberais da atualidade. Para combater essa postura "secularizada" com relação às Escrituras, teólogos conservadores consideraram necessário adotar o uso do adjetivo inerrante, para afirmar que a Bíblia não possui erros. Dizer que a Palavra de Deus é infalível deveria ser suficiente. Entretanto, diante da situação mencionada acima, percebemos ser necessário dizer também que ela é inerrante, uma vez que se pretenda declarar que a Bíblia é a perfeita verdade em tudo o que afirma,. Assim, a Bíblia é verbalmente inspirada, infalível e inerrante, no sentido de que seus manuscritos originais não contêm erros. A declaração de fé da Evangelical Theological Society expressa esse pensamento de maneira sucinta, porém precisa: "Apenas a Bíblia, em sua totalidade, é a Palavra de Deus em forma escrita e, portanto, inerrante em seus autógrafos [textos originais]". Muitos consideram essa visão das Escrituras muito restritiva. Dizem que estamos vivendo no século XXI, e que não deveríamos acreditar mais em tais doutrinas. Afirmam que os fatos contrariam essa visão e que os conceitos científicos presentes na Bíblia já caíram em desuso. Não podemos mais acreditar na existência de uma terra plana, com o céu "lá no alto", segundo dizem eles. Afirmam que a crença na existência real de Adão ou em histórias como a de Jonas deve ser negada. Na verdade, declaram que as Escrituras possuem contradições. Essas pessoas defendem que há um elemento humano na Bíblia que não pode ser isento de erro. E chegam à conclusão de que, se insistirmos na questão da inerrância da Palavra de Deus, jamais iremos convencer os indivíduos da era moderna. Apresentaremos algumas respostas breves contra essas críticas e as trataremos com mais detalhes no oitavo capítulo. Primeiramente, temos que dizer que é necessário sermos cautelosos ao refutar qualquer doutrina antiga - principalmente uma que esteja fundamentada no ensino de Cristo e de seus apóstolos - pela simples finalidade de supostamente convencermos nossos contemporâneos. Os profetas da Antigüidade receberam a instrução de pregar a Palavra de Deus, quer as pessoas lhes dessem ouvidos ou não (cf. Is 6.9, 10; Jr 20.9 e Ez 2.5-7). Em segundo lugar, é bastante duvidoso que a Bíblia retrate uma terra plana, com o céu "lá no alto". Alguns afirmam que perceberemos essa descrição apenas se interpretarmos as Escrituras literalmente. Entretanto, ninguém, nem mesmo o teólogo conservador mais zeloso que existe, lê a Bíblia tomandoª em sentido literal. O texto sagrado está repleto de metáforas, parábolas e poesia, que devem ser interpretadas da mesma maneira que as presentes em qualquer outra obra literária. Ninguém levaria ao pé da letra expressões comuns como "morrer de dar risada'' ou "ele tem um coração de ouro'', ou ainda "faz uma eternidade desde que a vi pela última vez". Portanto, a objeção levantada pelos liberais baseia-se numa interpretação literal e errônea de várias passagens poéticas, para daí afirmar que a Bíblia contradiz o senso comum. Todavia, chegaríamos à mesma conclusão se aplicássemos essa sistemática a poesias
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que descrevam a lua, as árvores, as montanhas ou qualquer outro cenário maravilhoso e belo. Muitos se esquecem de que os astrônomos da época neotestamentária já afirmavam que a Terra era redonda. Até mesmo antes, no ano 250 a.C, Eratóstenes mediu a circunferência de nosso planeta com bastante precisão. É curioso o fato de que teólogos mais recentes, que se opõem à idéia de que o céu esttja "lá no alto'', falem sobre a "intervenção" do reino do céu na história. E tão esquisito retratar o céu dessa maneira, como algo à parte da história, quanto é imaginá-lo como algo "lá no alto". Entretanto, como afirmou C. S. Lewis com muita pertinência em seu livro Miracles 1, "toda descrição a respeito de coisas que não podemos perceber por meio dos sentidos deve ser considerada metafórica. Não há outra maneira para descrever o que não conseguimos vislumbrar". Portanto, a linguagem bíblica não implica o fato de que o céu, em termos espirituais, esteja "lá no alto" (embora no hebraico, como em nosso idioma, usa-se a mesma palavra para significar o céu no qual estão as estrelas, as nuvens, e o espaço onde os pássaros voam, o qual de fato encontra-se "lá no alto"). De maneira semelhante, não se pode dizer que "os confins da terra" sejam o extremo do planeta além do qual caímos no espaço. O vocábulo hebraico traduzido por "terra" também é muito usado com o significado de "território ou região". Os "confins da terra" geralmente representam lugares distantes e "quatro cantos da terra" descreve vastas áreas em qualquer direção (cf. Ez 7.2). Em terceiro lugar, se as pessoas não conseguem crer em uma criação no sentido literal, devem ser suficientemente capazes de provar que o acaso é o responsável pela incrível riqueza e complexidade da vida, ou pela criação desse ser tão singular e dotado de inteligência, propósito e consciência moral a que chamamos de ser humano. Por último, fazer objeção quanto à inerrância das Escrituras com base em supostas contradições é um ato de negligência para com os vastos estudos sobre esses assuntos, realizados desde os dias de Justino, que foi martirizado por sua fé, no ano 148 de nossa era. Ele escreveu em sua obra Diálogo com o judeu Trifõ: "Estou plenamente convicto de que nenhum trecho das Escrituras contradiz outro". É óbvio que a Bíblia contém algumas aparentes complicações e certos conceitos difíceis de compreender. Com toda certeza, podemos esperar algo assim de um documento proveniente de outra cultura que remonta aos tempos antigos. Se o choque cultural é algo previsível quando viajamos para outros países, maior ainda é a possibilidade de encontrarmos aspectos
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C. S. Lewis,Miracles (Nova York: Macmillan, 1947; publicado no Brasil sob o título Milagres), p. 74.
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surpreendentes na Bíblia. Entretanto, muitas dessas dificuldades já foram solucionadas por intermédio de descobertas a respeito de costumes e idiomas antigos. Assim, um cristão bem informado pode atribuir as dificuldades que ainda restam ao mero desconhecimento sobre detalhes do cotidiano e da história da Antigüidade. Problemas de ordem factual continuam a ser elucidados, para satisfação de muitos dos estudiosos atuais. Os cristãos da linha conservadora não aceitam a idéia de que as Escrituras contenham verdadeiras contradições. Assim como os pais da igreja primitiva, eles acreditam que essas supostas contradições devem-se à falta de conhecimento ou a erros de cópia de menor importância.
INTERPRETAÇÃO BÍBLICA (HERMENÊUTICA) A Reforma Protestante foi um movimento que incentivou o retorno à Bíblia. Sua ênfase estava em disponibilizar as Escrituras para os leigos. Wycliffe defendera esse princípio anteriormente, mas foram Lutero, Tyndale e outros que realmente levaram adiante o trabalho de traduzir a Bíblia para o idioma das massas. O corolário era que a Palavra de Deus é um livro simples que pode ser lido e compreendido por pessoas comuns. Obviamente a própria história comprovou essa visão. Isso não significa, porém, que qualquer um possa compreender plenamente todas as passagens bíblicas. No entanto, ao lê-las, podemos aprender de Deus e a respeito do seu plano da salvação, e pela fé aceitá-lo. Os juízos do Senhor, porém, são insondáveis e "inescrutáveis, os seus caminhos" (Rm 11.33). Até mesmo referências a incidentes históricos e práticas comuns na Antigüidade são complicadas de entender. Para isso precisamos de informações sobre o cotidiano do mundo daquela época. Portanto uma interpretação detalhada da Bíblia requer o estudo de idiomas, da cultura, da história, etc. Todavia, existe uma nova vertente da hermenêutica que afirma que a Bíblia não é relevante para nós, hoje em dia. Defensores dessa postura dizem que os judeus antigos viviam de maneira muito diferente da nossa, que não se interessavam por exatidão numérica, relações cronológicas, ou precisão histórica. Esses críticos dizem que a Bíblia não apresenta erros sob a ótica dos padrões da época em que foi escrita, mas que revela incorreções se estudada à luz dos padrões científicos atuais. Podemos mencionar muitos fatos para refutar essas afirmações. Primeiro, os antigos não eram tão relapsos assim como alguns pensam. As pirâmides, construídas 500 anos antes de Abraão, são orientadas com base na Estrela Polar, com um desvio de apenas cinco graus! No ano 732 a.C, em Jerusalém, os engenheiros comandados por Ezequias cavaram um túnel sinuoso através de mais de 600 metros de rocha sólida. Começaram o trabalho a partir dos dois extremos e as duas equipes de escavação se encontraram no
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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meio do caminho. Os dois braços do túnel ficaram desalinhados por pouco mais de meio metro. Em segundo lugar, ninguém é totalmente exato. Fazer cálculos aproximados não é o mesmo que cometer erros. Muitos já afirmaram que a Bíblia continha equívocos históricos, mas em diversas ocasiões, descobertas arqueológicas vieram a demonstrar que as Escrituras estavam corretas. Outros defendem o argumento - já bastante desgastado - de que a Bíblia é irrelevante para nossa época, por ser produto do mundo antigo. Todavia milhões de pessoas, que encontraram conforto, respostas e salvação através das Escrituras, afirmam justamente o contrário. Embora a cultura da Antigüidade seja bastante distinta da nossa, as diferenças não ofuscam as semelhanças. Os seres humanos naquela época viviam, amavam, alimentavam-se, ficavam doentes, lutavam, pensavam, pecavam e morriam da mesma maneira que nós hoje. Não é correta a afirmação de que a mente do homem antigo era muito diferente da nossa. E. D. Hirsch chama isso de "falácia do passado inescrutável"2 • Ele comenta que há menos diferenças entre os indivíduos da era moderna e os da época antiga, do que entre vários indivíduos que vivem no mundo de hoje. Portanto, a Bíblia é compreensível e também relevante. Ainda há outros, que se denominam evangélicos, que dizem que a Bíblia contém erros. Eles afirmam, porém, que essas incorreções podem ser desconsideradas e que não afetam a mensagem divina. Dizem ainda que a inerrância anularia o fator humano necessário para o registro das Escrituras. Entretanto, essa idéia baseia-se num erro de interpretação. O conceito histórico de inspiração verbal e de inerrância defende que Deus, por seu Espírito, age de maneira poderosa nos seres humanos, embora seu trabalho se dê "nos bastidores". O processo de inspiração não vem totalmente de Deus, excluindo assim a participação do homem, pois isso seria uma espécie de ditado espiritual. Em contrapartida, também não é totalmente humano, desconsiderando por sua vez a intervenção de Deus, uma vez que isso seria humanismo. Tampouco podemos dizer que foi realizado metade por Deus e metade pelo homem. Dessa forma graves erros seriam inevitáveis. A resposta correta é que Deus valeu-se de indivíduos, que lançaram mão de toda sua capacidade humana, e agiu através deles de maneira poderosa, embora tenha permanecido totalmente no controle de todo processo. Concluímos então que a inspiração verbal somente é possível porque o Espírito de Deus é perfeitamente capaz de agir dessa maneira. O resultado foi que os autores da Bíblia não escreveram como as pessoas comumente o fazem, mas foram "movidos pelo Espírito Santo" (2Pe 1.21). Como acontece
2
p. 41.
E. D. Hirsch, The Aims of Interpretation (Chigago: University of Chicago, 1976),
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO
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com a maioria das verdades espirituais, essa doutrina também está envolta em mistério. Entretanto, é um mistério maravilhoso, pois colocou em nossas mãos uma Bíblia inerrante.
A IMPORTÂNCIA DAS ESCRITURAS INSPIRADAS O conceito de inspiração verbal ou de inerrância tem sido adotado pelos líderes da igreja desde seu início3• Uma postura tão difundida com certeza é fundamental. Uma das principais ênfases da Reforma era o lema sola scriptura, ou seja, somente a Bíblia. Esse enfoque foi vital para dar vazão àquele grande avivamento espiritual. Devido à influência dos liberais, a doutrina da inerrância praticamente desapareceu da Alemanha, no século XIX, e em muitas partes dos Estados Unidos, no início do século XX. Uma renovação da plena confiança e da crença na Bíblia fomentou o fortalecimento dos evangélicos e da pregação das boas novas no final do século passado. É muito fácil perceber a ligação entre as duas coisas. Sem que haja uma mensagem real e verdadeira vinda do céu, ficamos perdidos num oceano de opiniões humanas e de fraqueza moral. O ensino dos Dez Mandamentos foi eliminado das escolas públicas americanas. Sua autoridade tem sido negada em algumas denominações mais antigas. O resultado é desastroso. Entretanto, o discípulo amado há muito deixou a advertência: "Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro" (Ap 22.18, 19). A Bíblia é a Palavra de Deus transmitida a nós. Devemos lê-la, estudá-la, meditar nela, e principalmente, colocá-la em prática. Em seguida, é preciso que nos juntemos a outros que partilham dessa fé preciosa, a fim de garantir que as Escrituras sejam respeitadas e ensinadas até os confins da terra.
3 Norman L. Geisler, ed., Inerrancy (Grand Rapids: Zondervan Publishing, 1980), caps. 12 e 13.
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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1ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO
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revelação geral, revelação especial, infalível, inerrante, hermenêutica
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PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO 1
1.
O que o texto de Romanos 1.18-32 nos ensina com relação à possibilidade de as pessoas conhecerem o Deus verdadeiro por meio de sua revelação na natureza?
2.
Se todo ser humano possui uma consciência e, por conseguinte, padrões morais, por que motivo não tem uma vida boa e perfeita?
3.
O que o texto de Êxodo 7.1 ensina com relação aos profetas serem porta-vozes de Deus?
REVELAÇÃO E INSPIRAÇÃO
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4.
Os profetas de Baal, sustentados por Jezabel, realmente falaram em nome de seu deus, ou apenas disseram aquilo que o povo queria ouvir (1Rs 22.6)?
5.
Compare os textos de Jó 26.7 e 9.6. Como podemos explicar a aparente contradição entre eles?
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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ANOTAÇÕES
Por que os cristãos crêem na Bíblia? O Antigo Testamento
P
or que os cristãos crêem na Bíblia? Podemos elucidar essa questão de várias maneiras. Algumas respostas são mais importantes do que outras. Uma parte delas baseia-se bastante na razão. Já outra parte fundamenta-se na fé. Todas essas respostas são fundamentais e estudaremos esses dois grupos separadamente. Neste capítulo, apresentaremos as respostas relacionadas ao Antigo Testamento. No capítulo seguinte, trataremos das razões pelas quais os cristãos podem crer no Novo Testamento.
A APROVAÇÃO DE CRISTO A resposta mais direta e mais clara do porquê de os cristãos crerem no Antigo Testamento é o fato de que Cristo também cria. Confiamos em seus ensinamentos. Para nós, cristãos, o Senhor Jesus é a autoridade máxima em todas as questões. Por meio de milagres, maravilhas e sinais, ele provou, sem deixar dúvidas, que viera de Deus. Através de seu poder, ao ressuscitar dos mortos, demonstrou ser o Filho unigênito de Deus. Paulo resumiu essa doutrina em Romanos 1.4: "E foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos". Se duvidarmos dos ensinamentos de Cristo, estaremos questionando tudo o que há de mais precioso e fundamental na fé cristã. Jesus cria no Antigo Testamento e ensinava as verdades que ali se encontram. Isso, por si, já é suficiente.
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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Através do relato bíblico, fica claro que Cristo realmente cria e ensinava que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus. Muitos versículos em particular mostram seus ensinamentos com relação a isso, e várias outras passagens nos evangelhos revelam, de maneira geral, sua atitude para com as Escrituras Sagradas. A conversa de Cristo com os dois discípulos, na estrada para Emaús depois de sua ressurreição, é de importância fundamental. Leia Lucas 24.13-31. Nesse relato, percebemos claramente que aqueles indivíduos não haviam· acolhido plenamente o testemunho das mulheres, que afirmavam que Cristo havia ressuscitado. A eles Jesus disse: "Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!" (v. 25). E então passou a citar muitas passagens do Antigo Testamento, mostrando como as Escrituras traziam a previsão daqueles acontecimentos. O texto diz ainda: "E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunhalhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras" (v. 27). Notemos como Cristo baseou seus argumentos no livro conhecido como "as Escrituras" e também como "Moisés e os Profetas". Este último é um designativo do Antigo Testamento comumente encontrado nos manuscritos do mar Morto e também no Novo Testamento. Esse termo ou "a Lei e os Profetas" aparece várias vezes no Novo Testamento, com pequenas variações. Jesus estava declarando que os discípulos deveriam ter crido naqueles escritos. O texto de Lucas 16.29-31 apresenta esse ensinamento de maneira veemente. Na parábola sobre o homem rico e Lázaro, Jesus dá grande ênfase à necessidade de crermos na Palavra de Deus. O homem rico foi condenado ao tormento eterno, do qual não havia escapatória nem alívio. Lázaro, o mendigo, por sua vez, encontrava-se em um lugar de bênção eterna. O homem rico rogou que Abraão enviasse Lázaro de volta, para alertar seus cinco irmãos. Cristo cita a resposta do patriarca demonstrando sua óbvia aprovação: "Eles têm Moisés e os Profetas", isto é, o Antigo Testamento. O homem condenado ao tormento eterno implorou novamente que seus irmãos recebessem um testemunho especial e miraculoso. Abraão respondeu: "Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos" (v. 31.). Notemos a força e a pertinência desse argumento. O testemunho do Antigo Testamento é mais valioso do que o de um indivíduo vindo do além. Os líderes judeus, através de sua tradição, haviam anulado a palavra do Senhor. Vemos também como essa verdade transparece em outros fatos posteriores. Nem as ressurreições de Lázaro, de Betânia, e a do próprio Cristo foram suficientes para convencer os líderes judeus. O testemunho da Lei e dos Profetas é definitivo, exatamente como Jesus afirmara. Outras passagens bíblicas confirmam isso. Em João 10.33-39, Jesus cita o texto de Salmos 82.6, chamando esse versículo de "vossa lei". Ele prossegue argumentando que, como "a Escritura não pode falhar", ela servia
POR QUE OS CRISTÃOS CR~EM NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO
para justificar o que ele dizia. Não pretendemos aqui considerar a clara afirmação de Cristo quanto à sua divindade. Desejamos, porém, chamar atenção para o fato de que Jesus baseou seus argumentos nas Escrituras, que não podem falhar. Ele fundamentou sua defesa na palavra deuses. Essa única palavra, por constar nas Escrituras, era algo tão certo que Jesus pôde usá-la como base para sua afirmação. "Porque, se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito. Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?" (Jo 5.46, 47). Nessa passagem, Cristo refere-se a Moisés como o autor dos primeiros cinco livros do Antigo Testamento - também chamados Pentateuco-, e afirma que devemos crer nesses escritos. Na verdade, Jesus faz uma estreita ligação entre o fato de crermos nos escritos de Moisés e a necessidade de crermos em suas palavras. Dessa forma, duvidar do Antigo Testamento é o mesmo que duvidar de Jesus. Se cremos nele, também devemos crer no Antigo Testamento. Essas passagens ensinam sobre a importância de crermos no Antigo Testamento, bem como acerca do perigo de negá-lo. Há outras provas disso em Mateus 5.17-19 e Lucas 16.16, 17. Pedimos ao leitor que confira essas passagens. Elas demonstram claramente que Cristo referia-se ao Antigo Testamento ou à "Lei e os profetas". Esse termo era usado para designar, de maneira específica, os 39 livros do Antigo Testamento presentes no cânon que usamos hoje. Esse compêndio, ou "a Lei", é reconhecido como perfeito em todo o seu registro. A declaração mais estupenda em relação ao Antigo Testamento é a seguinte: "E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei" (Lc 16.17). Mateus foi ainda mais explícito, afirmando que ela é perfeita até a "menor letra ou o menor traço" (NVI). É interessante comparar essas passagens com o que Jesus disse a respeito de suas próprias palavras. Disse ele: "Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão" (Mt 24.35; Lc 21.33). Notemos que Jesus não se referia à preservação do meio em ·que seriam registradas, pois muitos dos documentos originais já se deterioraram. Ele falava da verdade e do poder eternos presentes na Palavra. Algumas pessoas fazem objeção à afirmação presente em Mateus 5 .17, dizendo que Jesus, na seqüência do texto, contradiz as Escrituras. A respeito disso é suficiente afirmar que tal fato não ocorreu. Cristo não estava contradizendo o Antigo Testamento, mas sim negando a interpretação tradicional, transmitida pelos escribas. No versículo 43, por exemplo, lemos: "Ouvistes que foi dito" [e não "o que está escrito"]: "Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo". Apenas a primeira parte dessa citação (Lv 19.18) consta do Antigo Testamento. O trecho seguinte não está presente nas Escrituras.Jesus contradisse esse acréscimo feito pelos fariseus. Em versículos semelhantes, podemos demonstrar que Jesus não contrariou o Antigo Testamento em si. Ele criticava os acréscimos, os erros de tradução e as
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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deturpações feitas pelos escribas.Jesus honrava o Antigo Testamento como a genuína Palavra de Deus. A atitude de Jesus com relação ao Antigo Testamento também é clara em muitas referências genéricas. Ele citou as Escrituras para expulsar Satanás (Mt 4.4, 7, 10). Deu início ao seu ministério em Cafarnaum, ao ler Isaías na sinagoga (Lc 4.16-19). Ele declarou à congregação reunida: "Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir" (Lc 4.21). Disse aos saduceus que estes erravam "não conhecendo as Escrituras" {Mt 22.29). Apelou para o Antigo Testamento com o intuito de justificar suas ações no sábado (Mt 12.5), sua atitude ao expulsar os cambistas do templo (Mt 21.13) e o fato de ter aceitado o louvor do povo em sua entrada triunfal em Jerusalém (Mt 21.16). Declarou que deveria sofrer, como estava previsto nas profecias {Lc 18.31-34). Afirmou também que a ação de Judas havia sido profetizada {Me 14.21; Jo 13.18; 15.25). Jesus recusou-se até mesmo a recorrer à ajuda dos anjos, pois do contrário não "se cumpririam as Escrituras" (Mt 26.54). Suas atitudes como um todo demonstravam que ele era submisso à Palavra. Isso fica claro em um versículo notável: "Para que se cumpram as Escrituras" (Me 14.49). Logo, se Jesus aceitava o Antigo Testamento, quem somos nós para questioná-lo ou negá-lo? Os cristãos devem crer na Palavra de Deus e prestar-lhe obediência. Podemos apresentar várias outras provas. Jesus aceitava os ensinos do Antigo Testamento bem como sua aplicação; a história nele relatada e também as doutrinas ali contidas. Acreditava em tudo o que ali está escrito. Referiu-se à história de Jonas e o peixe (Mt 12.40), à criação de Adão e ·Eva pelas mãos de Deus (Me 10.6), à arca de Noé (Mt 24.38) e à mulher de Ló (Lc 17.32). Em todos os evangelhos e em muitas outras passagens, Jesus sempre nos é apresentado como um indivíduo que cria de maneira plena e coerente no Antigo Testamento. Hoje em dia, até mesmo os estudiosos mais incrédulos admitem que Cristo realmente cria no Antigo Testamento. Eles é que não têm fé em Jesus. Todavia, para os cristãos, basta o testemunho do Mestre.
A APROVAÇÃO DOS APÓSTOLOS Podemos encontrar mais uma confirmação através da atitude dos apóstolos, que foram instruídos por Cristo. Um exemplo magnífico está na segunda epístola de Paulo a Timóteo. Essa foi a última carta do apóstolo e contém muitas advertências sérias. Paulo incumbiu Timóteo de realizar uma tarefa solene: "Prega a palavra" (2Tm 4.2). Para frisar essa ordem, ele relembra a Timóteo que "toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça" (2Tm 3.16).
POR QUE OS CRISTÃOS CR~EM NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO
Alguns têm questionado o significado desse versículo, mas não há justificativa para tanto. A palavra inspirada não significa "soprada", mas literalmente "soprada por Deus", ou seja, declarada pelo Senhor. Isso cancela qualquer dúvida com relação ao propósito das Escrituras. O apóstolo fazia alusão ao Antigo Testamento como um todo, a respeito do qual Timóteo fora instruído por sua mãe, uma senhora judia. A segunda epístola de Pedro é igualmente clara. Prevendo sua morte iminente (2Pe 1.14), ele ansiava por deixar um legado valioso. Para manter seus amigos firmes na fé, o apóstolo lhes recomenda a revelação profética das Escrituras, que jamais "foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo" (2Pe 1.21). Os demais apóstolos citaram o Antigo Testamento da mesma maneira que Jesus. Ele declarou que foi Davi quem escreveu o texto de Salmos 110, inspirado pelo Espírito Santo (Me 12.36). Pedro afirmou que Davi era um profeta e, portanto, previu o advento de Cristo em Salmos 16 (At 2.30, 31). Paulo citou o texto de Isaías 6 e confirmou que o Espírito Santo falara através do profeta (At 28.25). O autor de Hebreus afirma o mesmo: "Havendo Deus [... ] falado [... ] pelos profetas" (Hb 1.1). A prova é cabal e satisfatória. Cristo e os apóstolos, a quem ele ensinou, aceitavam o Antigo Testamento como a Palavra de Deus, verdadeira e confiável. Notemos que os estudiosos da Bíblia não se valem do chamado "raciocínio circular", ou seja, não provam a veracidade das Escrituras a partir das próprias Escrituras. Primeiramente, aceitam o Novo Testamento como um relato histórico coerente da vida e dos ensinamentos de Cristo, o que esses escritos claramente são. Em seguida, analisam os ensinamentos de Cristo, examinando a forma como provou ser ele próprio a verdade e a fonte da vida eterna. Todavia, Cristo ensinou ainda que os 39 livros do Antigo Testamento, conhecidos como "a Lei e os Profetas", eram a Palavra de Deus revelada, verdadeira e inerrante em seus mínimos detalhes. A essa doutrina, transmitida pelo próprio Jesus, chamamos inspiração verbal. E, a partir de sua autoridade, nós a aceitamos. Os primeiros cristãos também defendiam esse ensinamento, ao se referirem à Bíblia como infalível ou ao falar sobre a inspiração plenária (completa, total) das Escrituras. Esse conceito tem sido acatado pelos cristãos de todas as épocas. E o argumento que lhe serve como base é o melhor de todos: o testemunho do próprio Cristo.
A CONFIRMAÇÃO ATRAVÉS DOS FATOS Há muitos outros fatores que confirmam a inspiração divina do Antigo Testamento. Qyalquer pessoa que estude a Bíblia com dedicação deve estar atenta a essas confirmações e ser capaz de avaliá-las.
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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A confirmação pelos milagres Os milagres realizados pelos profetas de Deus, e relatados nas Escrituras, indicam que aqueles homens transmitiram mensagens vindas do Senhor.
A confirmação pelas profecias A Palavra de Deus contém centenas de profecias. Muitas delas já se cumpriram, tais como a dispersão do povo judeu e a pregação do evangelho por todo o mundo. Outras, como a segunda vinda de Cristo, ainda irão acontecer. Desenvolveremos esse assunto com mais detalhes no oitavo capítulo. Entretanto, agora desejamos chamar a atenção do leitor para o fato de que as profecias são provas do caráter sobrenatural da Bíblia. A razão de sua existência é mostrar que Deus realmente falou à humanidade. O cumprimento de uma profecia era uma das maneiras de confirmar que um profeta realmente falara da parte de Deus, como vemos em Deuteronômio 18.20-22. Micaías profetizou a morte de Acabe em Ramote-Gileade e provou essa revelação pelo cumprimento de suas palavras (lRs 22.28.) Um exemplo de profecia com cumprimento de "longo prazo" foi dado por Isaías (Is 44.26-28), que profetizou que Ciro reconstruiria o templo em Jerusalém. Em geral, essas previsões são espantosamente minuciosas. Outros livros religiosos que não têm relação com a Bíblia não trazem profecias desse tipo. O Alcorão, os livros sagrados do Oriente, os escritos dos filósofos gregos - nenhum deles faz o que a Bíblia faz, através das centenas de profecias nela encontradas. Os céticos buscam explicações para esse fenômeno. Todavia, não há resposta satisfatória, a não ser que as profecias bíblicas são mensagens divinas, que não nos fornecem simplesmente meras impressões e sentimentos, mas sim informações e revelações claras da parte de Deus.
A realidade das verdades espirituais A Bíblia lida com realidades celestiais e espirituais tais como conversão, vitória em Cristo, a eficácia da oração e a comunhão cristã. Estas e um semnúmero de outras realidades divinas dão testemunho de que a Bíblia é a Palavra de Deus.
O testemunho da história Outro argumento é que, por séculos, muitos indivíduos têm dado testemunho coerente do único Deus verdadeiro, mesmo quando outras culturas antigas estavam profundamente envolvidas com o politeísmo ou perdidas na iniqüidade. Se julgarmos por seus frutos, com certeza a Bíblia vem de Deus.
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO
A CONFIRMAÇÃO DA FÉ No início deste capítulo afirmamos que algumas pessoas crêem na Bíblia pela razão. Isso, por si só, não é suficiente. A verdade é que nem mesmo os melhores argumentos são capazes de convencer um incrédulo. Não obstante, a fé proveniente de Deus é prova cabal de que a Bíblia é verdadeiramente a Palavra do Senhor. Isso não significa que os argumentos apresentados anteriormente sejam fracos ou inadequados, mas simplesmente que quem não está salvo encontra-se cego para o evangelho. "Coisas espirituais [ ... ] se discernem espiritualmente" (1Co 2.13, 14). Um daltônico não consegue diferenciar o verde do vermelho. Um cego não é capaz de enxergar a luz do sol. Apenas quando o Espírito de Deus age em nosso coração não-regenerado é que nos tornamos capazes de crer plenamente na Bíblia. Aqueles que não são salvos podem crer que as Escrituras trazem relatos confiáveis ou conselhos salutares. Podem até se sentir impressionados pelo valor moral de seus escritos. Entretanto, apenas a operação do Espírito Santo em seu interior pode levá-los a enxergar a Bíblia exatamente como ela é - a revelação de Deus para a humanidade. Isso é o que chamamos de testemunho interior do Espírito Santo no homem. Entretanto, devemos ser cautelosos e compreender essa doutrina corretamente. Os cristãos não ouvem uma voz que diz: "Esse livro de capa preta foi inspirado por Deus". O Espírito não dá testemunho e não nos revela nada que vá além do que está escrito na Bíblia. Em vez disso, traz confirmação através da Palavra que acolhemos em nosso coração. Como disse Abraham Kuyper, o Espírito testemunha ao "âmago" do ser humano, falando dos fatos básicos de nossa salvação. A Bíblia nos mostra o caminho da salvação. O Espírito nos concede olhos para que a vejamos, aceitemos e valorizemos. O Espírito Santo faz nascer em nós uma fé genuína através da pregação e do ensino do evangelho. Ouvimos as boas novas - a vida, a morte e a ressurreição de Jesus. Somos convencidos do pecado pelo Espírito de Deus e persuadidos a crer que Cristo é o único Salvador. "Aquele que crê no Filho de Deus tem, em si, o testemunho. [ ... ] E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida" (1Jo 5.10-12). Assim nos convertemos e somos capacitados a confiar em Cristo e a crer em seus ensinamentos. Um deles é que a Bíblia é verdadeiramente a Palavra de Deus. Assim, quem crê se torna filho de Deus, um cristão. Nós, cristãos, "crescemos na graça" ao ler e estudar a Bíblia. Cada vez mais percebemos que as Escrituras são divinas. Pelafé e pela razão aceitamos
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
~-----------as verdades bíblicas a respeito de Deus, da humanidade, do pecado e do Salvador. O Espírito Santo usa dessas provas infalíveis para levar pecadores a Cristo e abrir seus olhos para "crer tudo o que os profetas disseram". "Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus" (1Jo 5.13).
1ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO
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Inspiração plenária, inspiração verbal.
1PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO
1
1.
Usando uma concordância bíblica, localize todas as ocorrências no Novo Testamento da expressão "Moisés e os Profetas" ou "a Lei e os Profetas".
2.
~ala prova de
3.
Decore dois ou três textos que demonstram que Jesus cria nas Escrituras.
que Jesus transmitiu o mesmo ensinamento a respeito do Antigo Testamento antes e depois de sua ressurreição?
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O ANTIGO TESTAMENTO
4.
Qyais as suas razões para crer que o Antigo Testamento é a Palavra de Deus?
5.
O que Jesus quis dizer com a afirmação de Mateus 5.17?
6.
Prepare um debate imaginando uma situação em que um cético desafia um cristão com a pergunta: "Por que eu deveria crer na Bíblia''?
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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ANOTAÇÕES
Por que os cristãos crêem na Bíblia? O Novo Testamento
s cristãos que acreditam no Antigo Testamento geralmente não têm dificuldade em crer no Novo. Isso é perfeitamente compreensível. O Novo Testamento traz o relato do evangelho de Cristo e muitos detalhes sobre a fundação e o desenvolvimento da igreja primitiva. Como ele foi escrito em épocas mais recentes do que o Antigo Testamento, há testemunho abundante por parte de indivíduos contemporâneos dos autores ou de outras pessoas que viveram pouco depois deles. Todos os que tiveram os olhos abertos pelo Espírito Santo para perceber as verdades do Antigo Testamento também irão acolher prontamente o Novo. Entretanto, é importante apresentar provas explícitas de nossa crença e estudar as evidências que apontam para as verdades presentes no Novo Testamento. Ademais, a compreensão de seu conteúdo e de sua origem irá se somar ao nosso conhecimento sobre a formação do Antigo Testamento. No caso deste último, é possível encontrar citações de Cristo mostrando que a primeira parte da Bíblia é perfeita e completa. Entretanto, o mesmo não se dá com o Novo Testamento, pois foi inteiramente escrito após a ascensão de Jesus. Portanto, devemos estabelecer os princípios que sustentam nossa crença no Novo Testamento a partir do que Cristo disse previamente e também através do que os apóstolos registraram sobre os ensinamentos do Mestre.
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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O TESTEMUNHO DOS APÓSTOLOS A defesa dos apóstolos com relação a esses assuntos é bastante explícita. Alguns céticos afirmam que eles não tinham idéia de que seus escritos seriam recebidos, compilados e estimados como Palavra de Deus. Na opinião dessas pessoas, Paulo escreveu suas cartas com uma disposição muito semelhante à de qualquer um de nós, e foi apenas em épocas posteriores que elas foram reconhecidas como verdade divina e reunidas em um único volume. Essa visão nega que os apóstolos tenham recebido dons espirituais. Nega também que seus escritos tenham sido inspirados por Deus. Tal ceticismo faz oposição às afirmações decorrentes dos próprios apóstolos de que estavam escrevendo intencionalmente, para que seus leitores cressem neles e obedecessem. Por último, os críticos negam fatos históricos claros que provam que essas epístolas e livros foram recebidos e estimados não apenas centenas de anos mais tarde, mas já durante a era apostólica - como demonstram as provas que temos atualmente. Todavia, é necessário observar as afirmações dos apóstolos com atenção. Seus argumentos dizem respeito basicamente a problemas que haviam surgido quando igrejas desobedientes se rebelaram contra seus mestres. É bem sabido que isso aconteceu, principalmente em Corinto. Qyais as alegações de Paulo em defesa de sua autoridade dirigidas aos habitantes daquela cidade?
Paulo De maneira sucinta, porém enfática, Paulo afirmou estar falando e escrevendo a Palavra de Deus. A epístola de 1Coríntios foi especialmente escrita para uma igreja dividida, pecaminosa e rebelde. Alguns de seus membros afirmavam ter dons espirituais, mas não demonstravam isso em suas atitudes. Nos capítulos 12 a 14, Paulo apresenta diretrizes para o uso dos dons espirituais. Ele conclui com um lembrete bastante incisivo: "Porventura, a palavra de Deus se originou no meio de vós ou veio ela exclusivamente para vós outros? Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo" (1Co 14.36, 37). Nessa passagem, o apóstolo afirma claramente ter recebido autoridade de Deus para escrever suas cartas. Em 1Tessalonicenses, sua primeira epístola, Paulo escreve de maneira semelhante. Ele elogia os cristãos de Tessalônica por sua fidelidade e declara terem recebido suas instruções como Palavra de Deus, o que realmente eram, e não palavras de homens. Pouco depois, escreveu a segunda epístola aos tessalonicenses porque os membros daquela igreja haviam interpretado erroneamente a doutrina da segunda vinda de Cristo. Naquela carta, Paulo fala desta maneira: "Caso alguém não preste obediência à nossa palavra
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO
dada por epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado" (2Ts 3.14). O apóstolo trazia a Palavra de Deus às igrejas e esperava que os cristãos cressem nela e obedecessem a ela como tal. O segundo capítulo de 1Coríntios também é uma passagem de grande impacto. Em defesa de seu ministério, Paulo declara que falou "em demonstração do Espírito" (v.4), apresentando "a sabedoria de Deus" (v.7), que lhe fora transmitida "pelo Espírito" (v.10). Ele conhecia as revelações de Deus (v.12), e as apresentava não através de ensino humano, mas em palavras "ensinadas pelo Espírito" (v.13). É possível que isso passe despercebido, porque Paulo usa o pronome "nós" em algumas partes da carta. Esse pronome possivelmente referia-se a Paulo e aos outros apóstolos, como em 1Coríntios 4.9. Entretanto, o mais certo é que ele tenha-se valido do plural de modéstia para falar de si mesmo. Em 2Coríntios 10.8, ele afirma que aquele grupo detinha a mesma autoridade ("nossa autoridade") que ele alegava possuir ("a autoridade que o Senhor me conferiu"), como mencionou em 2Coríntios 13.10.
Pedro Pedro também acreditava estar escrevendo sob a inspiração de Deus. Em 2Pedro, sua última carta, ele enfatiza a credibilidade do Antigo Testamento. O apóstolo afirma também que o dom da inspiração, concedido a ele e aos demais apóstolos, era idêntico ao dom que os autores do Antigo Testamento receberam: "Para que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos" (2Pe 3.2; veja também 2Pe 1.16). Essas afirmações comprovam que devemos aceitar e crer nas Escrituras.
Pedro aceitou os escritos de Paulo Ainda mais diretas são as referências que Pedro faz ao apóstolo Paulo: "Como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles" (2Pe 3.15, 16). Nesse trecho, Pedro confirma que Paulo redigiu Escrituras que, à semelhança do Antigo Testamento, também eram passíveis de ser deturpadas, mas apenas para prejuízo dos leitores. Ele fez menção específica de certas "epístolas" de Paulo. Essa passagem na qual Pedro refere-se aos escritos de seu colega apóstolo é notável, e essa foi, provavelmente, a primeira vez que se usou o termo "Escrituras" ao mencionar um texto neotestamentário. Outra
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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ocorrência desse uso parece estar presente em 1Timóteo 5.18, onde lemos: "Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário". Essa citação consiste de duas partes. A primeira vem de Deuteronômio 25.4. A segunda é idêntica (no original grego) à passagem de Lucas 10.7. Parece bastante natural acreditar que Paulo está citando o Antigo Testamento e também o terceiro evangelho, referindo-se a ambos como "Escrituras". A terceira passagem dessa mesma natureza encontra-se em Judas 17, 18. Ali o autor relembra seus leitores "das palavras anteriormente proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo". Ele cita quase literalmente 2Pedro 3.3. Esse trecho reforça a autoria apostólica da carta e sua composição em data anterior, demonstrando também o grande apreço que as pessoas daquela época tinham pelos apóstolos.
João O testemunho derradeiro é do apóstolo João. Ao escrever seu evangelho, ele se identifica como o discípulo que se reclinou sobre o peito de Jesus durante a última ceia.João afirma que seus escritos e seu testemunho são verdadeiros (Jo 21.20-24). Em sua primeira epístola, João também apresenta uma argumentação detalhada do que testemunhara e afirma estar escrevendo uma mensagem recebida do próprio Deus (1Jo 1.1-5). Ele adverte seus leitores para a existência de falsos profetas e insta aos cristãos que usem de discernimento (4.1). Sem hesitação, escreve: "Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus nos ouve; aquele que não é da parte de Deus não nos ouve" (1Jo 4.6). Em seu comentário bíblico, Meyer declara que essa passagem ensina que João e os demais apóstolos falavam da parte de Deus.
O TESTEMUNHO DE APOCALIPSE Provavelmente os argumentos mais enfáticos a respeito do Novo Testamento sejam os que João apresenta em Apocalipse. Muitos cristãos aplicam esses versículos à Bíblia como um todo, mas sua referência primordial é ao livro de Apocalipse. Todavia, podemos interpretar esses princípios de maneira que englobem todo o conjunto das Escrituras. O livro que se inicia com as palavras "revelação de Jesus Cristo [... ] ao seu servo João" traz uma saudação (1.4, 5), assim como vemos nos escritos paulinos. O autor garante bênçãos a todos os que lerem, ouvirem e obedecerem ao que ali fora registrado (1.3). Profere também uma pesada maldição sobre os que ousarem fazer "qualquer acréscimo" ou "tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia" (22.18, 19). É um anjo que esclarece a razão disso: "Estas palavras
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO
são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer ( ... )Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro" (22.6, 7). Mais adiante (v. 10), o Senhor ordena a João que não sele esses escritos proféticos. Notemos o contraste entre essa afirmação e aquela registrada em Daniel 12.9. Ali, Deus diz ao profeta que "estas palavras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim". Na verdade, o livro de Apocalipse é colocado em pé de igualdade com o Antigo Testamento. Essa era a interpretação dos apóstolos e deve ser também a nossa atitude com relação ao Novo Testamento como um todo.
O OFÍCIO APOSTÓLICO Como era possível que os apóstolos fizessem referência a seus próprios escritos como a Palavra de Deus? Encontramos a resposta na atitude de Cristo ao escolher pessoalmente os Doze e no fato de ter prometido que receberiam o Espírito Santo, para que pudessem realizar sua obra especial como mestres da Palavra de Deus. Consideremos a grandeza do ofício apostólico. O próprio Cristo selecionou os Doze, após uma noite de intercessão (Lc 6.12, 13). Mais tarde, disse-lhes: "Assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel" (Mt 19.28). Os nomes dos apóstolos estarão gravados nas doze pedras que compõem o alicerce da Nova Jerusalém (Ap 21.14). A igreja foi edificada "sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular" (Ef 2.20). Os apóstolos são os primeiros na hierarquia eclesiástica {lCo 12.28). Estes, juntamente com os profetas veterotestamentários, foram ordenados para desfrutar tal privilégio. Os apóstolos testemunharam a ressurreição de Cristo (At 1.22), e Jesus prometeu que seu Espírito revelaria a Palavra de Deus a eles. No registro de João sobre a última ceia, bem como sobre fatos posteriores, o apóstolo apresenta muitas promessas preciosas (Jo 13-17) Em alguns casos, vemos uma clara distinção entre os apóstolos e os demais cristãos. Em João 17.20, Jesus orou, dizendo: "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra". Os relatos de João 14.26 e 16.13 são passagens igualmente marcantes. Na primeira, Jesus prometeu o Espírito Santo aos apóstolos. Embora o Espírito habite em todos os cristãos, aquele versículo garante especificamente que o Consolador viria sobre os apóstolos para que se lembrassem das palavras que Jesus ensinara. É perfeitamente possível que tivessem tomado nota das mensagens de Jesus. Naquela época, já havia uma técnica de escrita simplificada. Pode ser que os apóstolos a tenham utilizado. Qyer isso tenha acontecido, quer
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não, Jesus prometeu o Espírito Santo especificamente para trazer à lembrança de seus seguidores os fatos do evangelho. Ele os guiaria a toda a verdade (Jo 16.13). Alguns cristãos defendem que essa é uma promessa que se estende à igreja como um todo. Entretanto, o contexto limita claramente aos apóstolos a promessa da inspiração e revelação do Espírito Santo. O Espírito de Deus lhes fora prometido e, como disse Jesus, "vos anunciará as coisas que hão de vir". Essa não é uma revelação geral, que o Espírito de Deus traz a todos os cristãos, mas uma promessa específica feita aos Doze. Isso corrobora a autenticidade do Novo Testamento. Nunca deixemos de nos maravilhar diante da maneira como ele foi escrito. Deus, que falara através dos profetas, enviou seu Filho para nossa salvação. Após a ascensão de Cristo, a igreja neotestamentária foi estabelecida milagrosamente no dia de Pentecostes. Foi o próprio Cristo quem escolheu os fundadores e líderes dessa igreja. Eles eram os apóstolos, que receberam o dom da inspiração e a capacidade de realizar milagres que confirmariam seu ofício. Eles afirmavam falar e escrever a Palavra de Deus da mesma maneira que os profetas do Antigo Testamento. Referiam-se aos escritos uns dos outros com o termo "as Escrituras". Insistiam que esses registros deveriam ser lidos e obedecidos. Falavam em nome de Cristo e ensinavam com a autoridade do Mestre. Historicamente, todos os segmentos da igreja têm sustentado que devemos acatar as palavras dos apóstolos e de seus colaboradores (entre eles Marcos e Lucas) como Palavra de Deus. Dessa maneira, podemos justificar plenamente nossa declaração de que o Novo Testamento, exatamente como o Antigo, foi escrito por homens de Deus, movidos pelo Espírito Santo.
O TESTEMUNHO DOS PAIS DA IGREJA O grande apreço pelos apóstolos era compartilhado também pelos chamados pais da igreja, que escreveram pouco depois da era apostólica.
Clemente, bispo de Roma Em 95 d.C, Clemente, bispo da igreja em Roma, escreveu uma carta aos cristãos de Corinto. Nela, menciona os "ilustres apóstolos" Pedro e Paulo. Clemente diz que pregavam o evangelho de Cristo e foram confirmados na palavra com total garantia por parte do Espírito Santo. Defendia que ambos detinham perfeito conhecimento dos assuntos da igreja. Por último, acrescenta que "o bendito apóstolo Paulo" escreveu aos coríntios "sob a inspiração do Espírito", a respeito da oposição de certas facções contra eles (isto é, Pedro e Paulo) e contra "um homem que eles haviam aprovado" (Apolo). Fica óbvio que Clemente respeitava os apóstolos e cria em seus escritos.
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO
Inácio de Antioquia
Inácio foi contemporâneo de Clemente e bispo da igreja de Antioquia. Morreu como mártir entre 107 e 117 d.C. Em sua viagem para Roma, onde seria executado, escreveu ~ete epístolas sucintas para diferentes igrejas e pessoas. Em várias ocasiões, diferenciou-se dos apóstolos, considerando-os em maior estima. Em sua carta aos efésios, por exemplo, refere-se a Paulo, que também lhes havia escrito uma epístola, chamando-o "o santo, o martirizado, o que é merecidamente mais feliz". Aos romanos, Inácio escreveu: "Não vos entrego mandamentos, como fizeram Pedro e Paulo. Eles eram apóstolos; eu, porém, não passo de um condenado". Policarpo
Policarpo também foi um famoso mártir que deu a vida pela causa de Cristo, já em idade avançada. Ele morreu aproximadamente em 155 d.C., tendo sido cristão (como ele mesmo disse) por oitenta e seis anos. Em sua juventude, conheceu o apóstolo João. Inácio destinou uma de suas epístolas a Policarpo. A epístola de Policarpo aos filipenses, escrita por volta de 118 d.C., contém citações de cerca de metade dos livros do Novo Testamento. Ele diz que os apóstolos são semelhantes aos profetas do Antigo Testamento. Declara também que não conseguia "alcançar a sabedoria do bendito e glorioso Paulo", que também havia escrito aos cristãos de Éfeso. Ele fez referência ao martírio de Inácio, mas reservou a categoria de apóstolo apenas a Paulo e a outros como ele. Outros pais da igreja
Outros autores, entre eles Papias, Ireneu e Tertuliano, deixaram referências mais específicas sobre esses assuntos, de maneira que temos um testemunho bastante amplo dos homens da geração pós-apostólica. Cronologia de alguns pais da igreja e de escritos importantes
95 117 117 130 145 145 160 160 170 200
d.C.
d.C. d.C. d.C. d.C. d.C. d.C. d.C. d.C. d.C.
Clemente de Roma Inácio Epístola de Policarpo Epístola de Barnabé Papias Justino Mártir; Barnabé; Hermas Pastor de Hermas Didaquê ou Ensino dos Doze Apóstolos Ireneu, Cânon Muratoriano Tertuliano, Clemente de Alexandria
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1ENRIQU:::,~DO
O VOCABULÁRIO
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Apóstolo, Clemente, pais da igreja, Inácio, Policarpo, Apocalipse.
1PERG~~m!:'m! DE RECAPITULAÇÃO l 1.
Compare a lista de apóstolos registrada em Mateus 10.2-4, Lucas 6.14-16 e Atos 1.13, 26.
2.
Olie argumento Paulo apresenta em lCoríntios 2.13 e lTessalonicenses 2.13 para afirmar que seus escritos são verdadeiros? O que ele diz com respeito à inspiração de seus ensinamentos públicos?
3.
Oliais as duas passagens do Novo Testamento que fazem referência a outros livros neotestamentários como "Escrituras"?
4.
Para ser considerado apóstolo um indivíduo devia ter sido testemunha da ressurreição de Jesus. Como foi possível a Paulo receber esse título (lCo 15.8, 9)?
POR QUE OS CRISTÃOS CRÊEM NA BÍBLIA? - O NOVO TESTAMENTO
5.
Hoje em dia, alguém pode ser chamado apóstolo? ~e razões o leitor pode apresentar para defender sua resposta (At 1.22)?
6.
~e maldições sobrevirão a quem alterar o texto das Escrituras, segundo o livro de Apocalipse? O que está prometido aos que lerem esse livro e guardarem seus ensinamentos?
7.
~e razões há para crermos que o Novo Testamento foi inspirado por Deus, à semelhança do Antigo?
8.
Estude a cronologia apresentada acima.
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ANOTAÇÕES
Quem escreveu o Antigo Testamento?
eus poderia ter comunicado sua vontade e suas obras a nós de inúmeras maneiras. Ele escolheu usar o relato bíblico para nos revelar sua sabedoria e verdade. Como sabemos, antes dos dias de Moisés, Deus falou a Adão, Caim, Enoque, Noé, Abraão e vários outros. Esses homens comunicaram a Palavra de Deus aos seus semelhantes através da linguagem oral. Suas mensagens aparentemente não foram registradas por escrito. Na verdade, alguns deles proferiram seus discursos em épocas em que ainda nenhuma forma de escrita havia sido inventada. Mais tarde, porém, Deus comissionou alguns indivíduos para que escrevessem a mensagem que lhes entregara. Estudando a doutrina da inspiração, percebemos que Deus registrou as Escrituras sagradas por intermédio de seu Espírito. A Bíblia é uma biblioteca divina compilada por vários autores humanos. Nosso propósito é estudá-los, mas devemos sempre nos lembrar de que a Palavra de Deus é um livro único, escrito por um único autor, o Espírito Santo. Ela apresenta um tema principal (a redenção da humanidade) e uma grandiosa seqüência de acontecimentos (as obras de Deus para a salvação do ser humano pecador).
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MOISÉS O primeiro autor das Escrituras foi Moisés, sobre quem Deus afirmou: "Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas" (Nm 12.8). Ele
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escreveu os cinco primeiros livros aos quais chamamos Pentateuco ou Lei de Moisés. O termo hebraico para designar esses livros é Torá (Lei). Moisés também foi o autor do salmo 90. Nunca devemos menosprezar nem minimizar a ação do Espírito Santo, quando mencionamos a genialidade de Moisés, porque foi o Senhor quem lhe conferiu inteligência e instruções. Qiiando Deus deseja realizar algum propósito, escolhe o homem certo para fazê-lo. E Moisés foi um desses homens, pois foi colocado por Deus no limiar de uma nova era. Até então, Deus havia lidado com indivíduos e famílias. Agora, de acordo com o que prometera a Abraão, faria de Israel uma nação. Através da providência divina, Moisés, que nasceu sob um regime de escravidão, "foi educado em toda a ciência dos egípcios" (At 7.22). Ele aprendera com sua mãe a respeito do Deus dos israelitas, pois ela cuidou de seu próprio filho como ama contratada pela filha do faraó. Na corte real, Moisés aprendeu a ler e a escrever e foi instruído na cultura egípcia. Falava a língua do Egito e o acadiano (da Babilônia), além do hebraico, sua língua materna. Ele provavelmente estudou os clássicos babilônios, administração pública e ciência militar. Mais tarde, ele se valeria de todo seu preparo e de sua capacidade nata, quando Deus faria dele o líder da nação, o juiz de Israel, o capitão do exército, o arquiteto do tabernáculo, o poeta do povo e o profeta e legislador divino. Moisés foi realmente um vaso escolhido, um homem de Deus! Moisés nasceu provavelmente em 1520 a.C., durante um dos períodos mais prósperos da história egípcia. Seus escritos são conhecidos e admirados em todo o mundo. Foi ele quem deu início à extensa linhagem dos profetas do Antigo Testamento, que revelaram a vontade de Deus a Israel por mais de mil anos.
A LINHAGEM PROFÉTICA Deus providenciou certos critérios pelos quais os profetas deveriam ser provados. (Dt 13 e 18.) Os falsos profetas eram aqueles cuja mensagem não estava de acordo com a verdadeira revelação já entregue, cujas predições não se cumpriam. O texto de Êxodo 4.1-5 demonstra que os milagres também serviam para dar crédito à mensagem do profeta. Através desses parâmetros, o povo de Israel podia saber quem eram os genuínos arautos de Deus e quais eram os falsos. Todos os verdadeiros profetas representavam Jesus Cristo, o grande Profeta que havia de vir. Não sabemos os nomes de todos eles, mas muitos nos são conhecidos. Samuel escreveu pelo menos um livro a respeito do reino, na época em que Saul fui ungido rei (lSm 10.25). Ele registrou a história do reinado davídico (1Cr29.29) e fez muitas profecias. Davi, excelente cantor e rei extraordinário, também foi profeta (At 2.30). Escreveu cerca de metade do livro de Salmos.
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Entre os dias de Davi e os de Malaquias houve dezenas de outros profetas. Nesse grupo encontram-se Elias e Eliseu, por volta de 850 a.C.; Isaías, Oséias e Joel, por volta de 725 a.C.; Jeremias, Naum, Habacuque e Sofonias, por volta de 600 a.C.; Ezequiel, Daniel e outros, durante e após o cativeiro, em cerca de 400 a.C. Houve ainda uma sucessão de outros profetas menos conhecidos, que registraram a história da época. Seus nomes figuram em vários versículos nos livros de 1e2Crônicas. Durante o reinado de Davi (1Cr 29.29), lemos sobre Samuel, Natã e Gade. No tempo de Salomão (2Cr 9.29), há referência a Aías e Ido. Em 2Crônicas 12.15, aparece Semaías em meio ao relato sobre Roboão. Entre outros profetas encontram-se Jeú, filho de Hanani, que escreveu sobre o rei Josafá (2Cr 20.34), e Isaías, que registrou os fatos do reinado de Uzias e Ezequias (2Cr 26.22 e 32.32). Além desses, muitos outros profetas também são citados. A maioria dos livros do Antigo Testamento foi escrita por profetas cujos nomes conhecemos. Os outros estão incluídos na "palavra profética" confirmada (2Pel.19) e nos "profetas que se lêem todos os sábados" (At 13.27). Mediante o exame do Antigo Testamento revelam-se muitos detalhes dos escritos desses indivíduos. A história de Israel que vai do período do Pentateuco até a era davídica está relatada nos livros deJosué,Juízes, Rute e possivelmenteJó. Não sabemos com certeza quem escreveu o livro de Josué, mas provavelmente ele é o autor de todo o livro ou de pelo menos parte dele. Ele era cheio do Espírito (Dt 34.9), o povo o respeitava, à semelhança de Moisés (Js 4.14), e ele escreveu as palavras da aliança no Livro da Lei de Deus (Js 24.26). Ele se valia do "jargão" profético: "Assim diz o SENHOR" (Js 24.2). Um dos livros apócrifos, escrito durante o período intertestamentário, refere-se a Josué como "o sucessor de Moisés na transmissão de profecias" (Eclesiástico 46.1). Juízes e Rute relatam os fatos ocorridos desde Josué até Sansão. O primeiro livro demonstra a maldade daqueles dias (Jz 17- 21). Rute traz um belo relato sobre pessoas que temiam a Deus e preservaram a fé durante uma era de trevas. Ela foi a bisavó de Davi. Os livros de Juízes e Rute formam um único volume nas Escrituras hebraicas e provavelmente foram escritos ao final do período histórico que relatam. O livro de Jó merece considerações especiais. Teólogos mais conservadores acreditam que ele seja bastante antigo, provavelmente escrito antes de Moisés. A base para essa afirmação é o fato de que o livro não faz menção ao culto no tabernáculo. Lemos que Jó oferecia sacrifícios na casa de seus filhos, prática semelhante ao culto privativo que Abraão prestava. Outros estudiosos ligam o livro de J ó a um período muito posterior. Baseiam seus argumentos no estilo do livro e na teologia apresentada. Esses são os mesmos argumentos comumente usados para defender a datação mais recente de outros livros que a Bíblia afirma especificamente terem sido escritos em
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épocas mais antigas. Não podemos aceitar esses argumentos, porque atribuem aos livros uma data de composição recente demais. Davi, que viveu por volta de 1000 a.C., é o principal autor do livro de Salmos. Hemã, Asafe e outros são mencionados como profetas de Deus (1Cr 25.5; 2Cr 29.30). Dezoito salmos não têm título, mas a Septuaginta relaciona a autoria de alguns deles a Ageu, Zacarias e outros. Salomão escreveu Eclesiastes, Cântico dos Cânticos (Cantares de Salomão) e a maior parte de Provérbios. Hoje é possível situar o reino de Salomão entre 960 e 920 a.C. Descobertas arqueológicas demonstram que seu reinado coincide com o período de maior prosperidade em Israel. Salomão instituiu e incentivou a adoração a Deus no novo templo. Ele foi o autor adequado para os livros que os judeus chamam de Literatura de Sabedoria. A importância do livro de Provérbios está no fato de que "o temor do SENHOR é o princípio da sabedoria" (Pv 9 .10). Ele não é meramente um livro de máximas resultantes da experiência de vida. Ele contrasta o bem e o mal e demonstra a necessidade de confiarmos no Senhor (Pv 22.19). Em Provérbios, o "sábio" é o homem temente a Deus, e o "tolo" é o pecador. É possível que os últimos capítulos, chamados "profecias'', escritos por indivíduos que desconhecemos (Pv 30.1; 31.1), tenham sido acrescentados mais tarde. Eclesiastes, livro bastante filosófico, propõe a seguinte questão: "(hial é o principal propósito do homem?" Seu autor apresenta várias respostas pouco satisfatórias e as examina. A conclusão do "Pregador, filho de Davi, rei de Jerusalém" é: "Teme a Deus e guarda os seus mandamentos" (Ec 12.13). Cântico dos Cânticos de Salomão é um poema sobre o amor genuíno, que simboliza o amor de Deus por seu povo. Podemos resumi-lo com as palavras "o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme [ ... ] As muitas águas não poderiam apagar o amor" (Ct 8.6, 7). Os escritos de Salomão, compostos em sua juventude, foram incluídos nas Escrituras sobre as quais se afirma terem sido dadas por "seus profetas" (Rm 1.2). Há uma citação do livro de Provérbios nos manuscritos do mar Morto, datados do segundo século antes de Cristo, que é introduzida pela expressão "está escrito", reservada apenas aos textos bíblicos. Três grandes ciclos de atividade profética completam o Antigo Testamento. Por volta de 700 a.C., Deus levantou homens notáveis para advertir e consolar Israel durante o domínio assírio. Entre eles estão Isaías, o profeta evangélico, e vários profetas menores. Joel, Amós e Jonas talvez tenham sido os mais antigos. Isaías, Oséias e Miquéias vieram logo em seguida. Obadias não informa expressamente uma data, mas pode ser incluído nesse período por causa de sua localização tradicional entre Amós e Jonas. Desses, Oséias e Amós profetizaram no reino do norte, que sucumbiu definitivamente em 721 a.C., após seguidas invasões pelos assírios. Durante um século, começando por volta de 625 a.C., Jeremias ministrou ao reino de Judá já em declínio. Esse período também marcou a
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presença de três profetas menores: Naum, Habacuque e Sofonias. Todos eles previram a queda de Nínive, capital do império assírio, que se deu em 612 a.C. Pouco tempo depois, Nabucodonosor levou a Babilônia ao auge do poder. Ao expandir suas conquistas para o oeste, derrotou o Egito e finalmente destruiu Judá em uma série de ataques (604, 597 e 586 a.C.). Um grupo insignificante de judeus foi levado para o cativeiro na Babilônia, fato que marcou o fim da independência da nação judaica, até o ano de 1948 de nossa era. Durante o exílio, Ezequiel e Daniel profetizaram ao remanescente que seguiu para a Babilônia. Esses homens empenharam-se bastante para manter viva a fé genuína do povo naquela época de trevas. Suas profecias que falavam do Messias como a esperança de Israel trouxeram novamente à luz as grandes revelações messiânicas de Davi, Isaías, Miquéias e outros. Após o exi1io, os judeus retornaram à Palestina em três estágios. Em 538 a.C., Ciro permitiu que os israelitas voltassem, sob a liderança de Zorobabel. Nessa época, Ageu e Zacarias profetizaram ao povo em Jerusalém, incentivando-o a construir o segundo templo, em 516 a.C. Nesse mesmo período, o livro de Ester foi escrito na Mesopotâmia. Seu propósito principal era demonstrar a providência de Deus e seu cuidado para com os cativos que haviam permanecido no exílio, bem como enfatizar os perigos aos quais os judeus estavam expostos enquanto viviam sob o domínio dos reis pagãos da Pérsia. O massacre de Hamã provavelmente preparou muitos judeus para os estágios seguintes do retorno à Terra Prometida. Estes aconteceram em 456 e 444 a.C. Esdras e Neemias retornaram para reconstruir a cidade e os muros. Os primeiros capítulos de Esdras mencionam o retorno anterior de Zorobabel, ocorrido em 538 a.C. O restante do livro, bem como o livro de Neemias, contam a história de Israel até cerca de 400 a.C. Malaquias, o último dos profetas menores, concluiu o registro do Antigo Testamento também por volta desse ano. Após esse período, a voz profética silenciou. De acordo com a tradição e a história judaica, não houve nenhum profeta até que João Batista apareceu anunciando a chegada de uma nova era. Portanto, o Antigo Testamento foi escrito de 1400 a.C. até 400 a.C. por mais de vinte autores conhecidos e alguns desconhecidos. O Antigo Testamento que possuímos foi convenientemente dividido em cinco grupos de livros. Essa divisão é uma modificação da Bíblia em latim a partir da Septuaginta. Os cinco grupos perfazem um total de 39 livros: 5 Livros da Lei
12 Livros Históricos 5 Livros Poéticos 5 Profetas Maiores 12 Profetas Menores
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Datas de composição dos livros do Antigo Testamento
a.e. 1400 1400 1350 1050 1000 1000 - 575 950 750 - 700 625 - 575 600 - 539
539 - 515 475 456 - 400
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio Jó (?) Josué Juízes, Rute Salmos (a maioria) 1 e 2Samuel; 1 e 2Reis Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos Isaías, Oséias, Joel(?), Atnós, Obadias (?) Jonas, Miquéias Jeremias, Naum, Habacuque, Sofonias Ezequiel, Daniel Ageu, Zacarias Ester 1 e 2Crônicas, Esdras, Neemias, Malaquias
O Antigo Testamento hebraico tem atualmente três divisões - a Lei, os Profetas e os Escritos. Há cinco livros da Lei, quatro livros de profetas anteriores, quatro livros de profetas posteriores (os doze profetas menores são contados como um único livro) e onze livros de Escritos. O total de vinte e quatro livros inclui, em várias disposições, exatamente os 39 livros do Antigo Testamento que conhecemos. A atual divisão tripartite deve-se provavelmente ao uso litúrgico e talvez remonte ao ano 200 d.C. Antes disso também havia uma divisão em três partes Quntamente com uma divisão dupla - a "Lei e os Profetas"), mas o conjunto de livros que as formavam era diferente. Dois dos livros mais curtos foram combinados com outros. Josefa (veja mais adiante) relaciona cinco livros da Lei, treze Profetas e outros quatro livros na terceira divisão. Nos manuscritos do mar Morto há uma referência ao conjunto inteiro de livros como a "obra de Moisés e os Profetas". Jesus fez menção a esse livro após sua ressurreição, quando desafiou os apóstolos a "crer tudo o que os profetas disseram" (Lc 24.25).
OS LIVROS APÓCRIFOS Outros sete livros completos e alguns acréscimos constam da Bíblia católica. A esses livros chamamos apócrifos. Se estudarmos sua origem entenderemos por que não foram incluídos no cânon protestante.
QUEM ESCREVEU O ANTIGO TESTAMENTO?
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Os nomes dos livros apócrifos Os livros apócrifos foram obviamente escritos durante o período intertestamentário. Apenas um deles é datado. Dois livros, a saber Judite e Tobias, relatam as invasões assíria e babilônia. Outros dois, 1 e 2Macabeus, relatam a guerra da independência dos judeus, por volta de 165 a.C. Ainda outros dois são livros de sabedoria - Eclesiástico e Sabedoria de Salomão. Um deles é um adendo ao texto de Jeremias. Há também acréscimos curtos ao livro de Ester e de Daniel. Os outros livros escritos nesse período não são aceitos pelos católicos nem pelos os protestantes. Eles relatam a história e o pensamento do período intertestamentário. Entre eles estão Enoque, Jubileu e o Testamento dos Doze Patriarcas. Havia fragmentos deles entre os manuscritos do mar Morto. Esses livros não foram aceitos como parte das Escrituras. Têm seu valor, mas não constam do cânon.
Josefo, o historiador judeu Como podemos ter certeza de que esses livros não deveriam ter sido incluídos no cânon do Antigo Testamento? É certo que não constavam das Escrituras aceitas e usadas por Cristo e pelos apóstolos. O historiador judeu Josefo, que escreveu por volta de 90 d.C., viveu durante a época da queda de Jerusalém, no ano 70 de nossa era. Ele relata em sua autobiografia que o imperador Tito lhe entregou os rolos sagrados, que haviam sido retirados do templo em Jerusalém, quando este foi pilhado pelos soldados romanos. Josefo era um indivíduo qualificado para conhecer o cânon vigente nos dias de Jesus. Em um de seus escritos mais importantes, ele afirma: Não temos um sem-número de livros que discordam e contradizem um ao outro, mas sim apenas vinte e dois livros que contêm todo o registro dos tempos passados, os quais são corretamente considerados divinos. Destes, cinco são da autoria de Moisés e trazem as leis e as tradições a respeito da origem da humanidade até a morte desse patriarca. Esse intervalo de tempo corresponde a pouco menos que três mil anos. Da morte de Moisés até o reinado de Artaxerxes, rei da Pérsia, sucessor de Xerxes, osprqfetas, que vieram depois de Moisés, escreveram, em treze livros, o que ocorreu naquela época. Os quatro livros restantes contêm hinos a Deus e preceitos para a conduta humana. É verdade que nossa história tem sido minuciosamente registrada desde Artaxerxes, porém não se considera que possua a mesma autoridade atribuída aos escritos anteriores de nossos antepassados. Isso se deve aofato de que não houve uma sucessão exata de prqfetas desde aquela época. Nossa atitude para com esses registros demonstra claramente aforma como contamos esses livros de nossa nação em alta estima. Durante todas as épocas passadas, ninguém teve a ousadia de acrescentar nem de retirar algo deles, muito
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menos de introduzir qualquer mudança nesses livros. É algo natural para todojudeu, desde seu nascimento, apreciar esses livros por conterem doutrinas divinas, segui-losfielmente e, se necessário, estar disposto a morrer por eles. Essa citação revela várias verdades. Primeira, que os judeus acreditavam na inspiração verbal. Segunda, que receberam os livros canônicos porque foram escritos pelos profetas. Terceira, que era sabido que os livros apócrifos e outros documentos não eram de autoria dos profetas. Qiiarta, que o cânon judaico incluía apenas os 39 livros do Antigo Testamento que temos hoje. Qiiinta, e muito importante, que Josefa apresenta a primeira e única lista dos livros do Antigo Testamento de que se tem notícia antes de 170 d.C. Eles eram divididos em três grupos, diferentes das divisões adotadas pelos judeus em períodos posteriores e encontradas nas Bíblias hebraicas atuais.Josefa relacionou o Pentateuco em primeiro lugar, depois todos os livros proféticos e históricos, e em seguida os quatro livros poéticos e de instrução (provavelmente Salmos, Provérbios, Cântico dos Cânticos e Eclesiastes). Em sexto lugar, vemos ainda que Josefa dava proeminência à autoria profética dos livros bíblicos. O Novo Testamento contém citações de praticamente todos os 39 livros canônicos, mas nenhuma dos apócrifos. Jesus se referiu ao Antigo Testamento como a "Lei de Moisés'', os "Profetas" e os "Salmos" (Lc 24.44). Muitas passagens do Novo Testamento trazem citações do Antigo dividido em duas partes - a Lei e os Profetas ou Moisés e os Profetas. (Mt 5.17; Lc 16.29; 24.27.) Entretanto, não há uma única menção dos livros apócrifos.
Os manuscritos do mar Morto Os manuscritos do mar Morto apresentam mais uma confirmação desses fatos. Neles há indicação de que as Escrituras são as palavras de Moisés e dos Profetas. Embora tragam citações de muitos livros do Antigo Testamento, os quais consideram Escrituras Sagradas, neles também não há uma única referência aos apócrifos.
A Septuaginta Poderíamos considerar essa discussão encerrada, exceto por um problema. As cópias da Septuaginta que chegaram até nós contêm os livros apócrifos. Uma vez que no Novo Testamento há várias citações de passagens da Septuaginta, muitos estudiosos da Bíblia argumentam que o Novo Testamento sanciona os apócrifos. Todavia, é importante saber que as cópias da Septuaginta que temos hoje foram feitas em um período muito posterior, por volta de 325 d.C. Não há provas de que a Septuaginta original contivesse os livros apócrifos. Na verdade, há evidências em contrário.
QUEM ESCREVEU O ANTIGO TESTAMENTO?
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Os primeiros pais da igreja A maioria dos primeiros pais da igreja não inclui os apócrifos no cânon bíblico. Melito, bispo de Sardes em 170 d.C., apresenta uma lista dos livros do Antigo Testamento numa divisão semelhante à nossa, que excluiu os apócrifos. Orígenes do Egito, homem extremamente culto, em 250 d.C., também os excluiu. Jerônimo, que traduziu os livros apócrifos para o latim, disse explicitamente não serem eles canônicos. Apenas dois concílios da Antigüidade, cuja autoridade não era muito reconhecida, aprovaram os livros apócrifos. Outro concílio, de uma época posterior, foi o de Trento, realizado em 1545. Nele, os católicos, ao fazerem oposição aos protestantes, defenderam que os livros apócrifos eram inspirados por Deus. É provável que seja esse um dos grandes pontos fracos da teologia católica romana. Cremos que os 39 livros do cânon do Antigo Testamento são a Palavra de Deus inspirada. Os apócrifos não o são. Eles foram aprovados por Jesus e pelos apóstolos, mas o mesmo não se deu com os demais livros. A maioria dos 39 livros é de autoria dos profetas. Se 1 e 2Samuel e 1 e 2Reis foram trabalho de uma sucessão de profetas como mencionado em Crônicas (1Cr 29.29; 2Cr 9.29; 12.15; 20.34; 26.22; 32.32), e se Salomão recebeu visões como profeta de Deus, então pelo menos 30 livros do Antigo Testamento foram escritos por profetas. Os outros nove podem muito bem ter sido escritos por eles também. No Novo Testamento, foram incluídos ao lado dos outros 30. Foram considerados obras de profetas também nos manuscritos do mar Morto e por Josefo. Os apócrifos e outros livros não recebem aval semelhante e, portanto, não são considerados revelação de Deus. Podemos lê-los como fonte de informação e de conhecimento sobre a história e a cultura do período intertestamentário, ou sobre o cotidiano na época de Cristo, mas reservamos nossa fé e confiança aos livros aceitos por Jesus. "Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos" (Lc 16.29).
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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1ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO
1
Livros apócrifos, Pentateuco, Septuaginta, Torá.
1PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO
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1.
Decore a ordem dos livros do Antigo Testamento.
2.
Um profeta também podia ser rei (At 2.30) ou sacerdote (Ez 1.3)?
3.
Qyando os escritos do Antigo Testamento foram completados, que profeta ainda estava por vir? (Ml 4.5; Mt 17.12, 13; Lc 1.17)
4.
Compare a divisão do Antigo Testamento em cinco partes que temos hoje com a divisão hebraica em três partes.
QUEM ESCREVEU O ANTIGO TESTAMENTO?
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5.
Como é possível que as Escrituras hebraicas, que contêm apenas 24 livros, incluam os 39 livros do cânon do Antigo Testamento protestante?
6.
O que são livros apócrifos?
7.
Por que os livros apócrifos não foram incluídos no cânon?
8.
Estude a tabela "Datas de Composição dos Livros do Antigo Testamento" apresentada neste capítulo. Divida os livros de acordo com o período em que foram escritos nos seguintes grupos: da criação à peregrinação no deserto, na terra prometida, no exílio, volta do exílio.
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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ANOTAÇÕES
Quem escreveu o Novo Testamento?
P
edro faz referência à Bíblia como um todo quando nos exorta: " ... que vos recordeis das palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador" (2Pe 3.2). Olialquer estudo dos escritos neotestamentários deve enfatizar a importância do ofício apostólico. Tem que considerar os detalhes dos vários livros, as datas em que foram escritos e seus autores. Além disso, tal estudo estaria incompleto sem um exame da literatura cristã publicada logo após a era apostólica. Esses escritos apresentam evidências externas da autoria dos livros canônicos e também de sua aceitação e reconhecimento como parte da Palavra de Deus.
OS PAIS DA IGREJA Nos capítulos anteriores, já mencionamos alguns pais da igreja ou "pais apostólicos", como são comumente chamados. Entre eles destacam-se Clemente de Roma, Inácio de Antioquia e Policarpo. Falamos desses indivíduos ao abordar o assunto da autoridade divina dos escritos do Novo Testamento. Eles são importantes também para determinar a autoria desses livros. Veremos adiante como esses homens, através de seus escritos, apóiam a autenticidade das cartas de Paulo e de outros apóstolos.
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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Papias Um importante elo nesse estudo é Papias, que viveu por volta de 140 d.C., e nos conta como buscou diligentemente conhecer as tradições dos apóstolos a partir das pessoas que haviam convivido com eles. Nesse contexto, ele menciona sete dos doze apóstolos. É sabido que ele escreveu uma obra de cinco volumes a respeito dos evangelhos. Esse livro infelizmente se perdeu, mas algumas citações dele nos contam como os evangelhos foram registrados. Tais fragmentos estão preservados na História Eclesiástica, de Eusébio, escrito aproximadamente em 300 d.C.
Justino Pouco depois de Papias, aproximadamente em 145 d.C., apareceu Justino. Antes de ser martirizado por sua fé, escreveu vários livros, sete dos quais ainda permanecem. Mais adiante neste capítulo, veremos seu testemunho a respeito dos evangelhos.
Escritos gerais dos pais da igreja Várias outras publicações daquela mesma época são conhecidas, mas sua autoria é incerta. Entre elas estão a Epístola de Barnabé, o Ensino dos Doze Apóstolos (conhecido como Didaquê) e a alegoria intitulada O Pastor de Hermas. Vários outros livros mais antigos se perderam. O Evangelho da Verdade, escrito por volta de 140 d.C. e perdido durante muito tempo, foi encontrado recentemente. Em si ele não é valioso, mas apresenta um testemunho excelente sobre o uso de muitos livros do Novo Testamento no primeiro século. A lista acima engloba a literatura produzida até cerca de 145 d.C., cinqüenta anos após a morte do último apóstolo. Os escritos que permaneceram são interessantes e valiosos. Eles exalam a fragrância da genuína devoção cristã. Depois do ano 170 de nossa era, os registros bibliográficos que sobreviveram até os nossos dias são muito mais numerosos. Um trabalho de Ireneu, daquele mesmo ano, consta de mais de 250 páginas de tamanho grande. Seus escritos têm importância especial porque ele foi pupilo de Policarpo e, portanto, diretamente associado com o apóstolo João. Há uma lista valiosa dos livros do Novo Testamento, do ano 170 d.C., chamada Cânon Muratoriano. Infelizmente parte dela foi destruída. Datando de aproximadamente 200 d.C., temos os trabalhos de Tertuliano, que viveu no norte da .África, imediatamente abaixo do litoral da Espanha. Clemente de Alexandria, no Egito, foi outro que também publicou seus escritos por volta dessa época (veja quadro cronológico no final do capítulo 3).
QUEM ESCREVEU O NOVO TESTAMENTO?
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Essas testemunhas da Antigüidade nos contam muito a respeito da formação do Novo Testamento. Entretanto, a tarefa do estudante da Bíblia é aliar o testemunho cristão antigo às evidências internas que o Novo Testamento apresenta sobre as pessoas que o escreveram e compilaram. Portanto, passemos a analisar os documentos que compõem o Novo Testamento, combinando suas evidências internas com o testemunho dos pais da igreja, acima introduzido.
OS ESCRITOS DE PAULO Os escritos de Paulo são de importância fundamental porque muitas de suas epístolas nos informam quando foram escritas. Treze cartas, de Romanos a Filemon, começam com uma apresentação que traz o nome de Paulo. Hoje em dia, até mesmo os estudiosos mais críticos admitem que a maioria dessas epístolas são da autoria do apóstolo. Não há nenhuma prova concreta que contrarie a autoria paulina. Em Gálatas, o apóstolo revela alguns detalhes a respeito de sua vida. Três anos após sua conversão, encontrou Pedro em Jerusalém (Gl 1.8). Catorze anos depois, visitou novamente essa cidade, dessa vez acompanhado por Barnabé e Tito (Gl 2.1). Essa informação e outros dados das epístolas aos coríntios e do livro de Atos indicam que Paulo se converteu no início da década de 30 d.C., e esteve com Pedro em Jerusalém por volta de 37 ou 38 d.C. O testemunho de Paulo a respeito dos fatos da vida de Cristo, portanto, remonta aos primeiros dias da comunidade apostólica em Jerusalém. Isso é de extrema importância, uma vez que valida o testemunho detalhado de Paulo sobre a ressurreição de Jesus (lCo 15.1-20). Através desse registro o leitor pode imaginar-se diante da tumba vazia em Jerusalém, pouco mais de cinco anos após Cristo ter ressurgido dos mortos. O livro de Atos relata os acontecimentos das três jornadas missionárias de Paulo e sua prisão na Palestina por dois anos, e depois em Roma, por mais dois anos. Várias indicações deixam claro que ele não escreveu nenhuma carta em sua primeira viagem ao sul da Ásia Menor. Durante sua segunda jornada, que o levou à Grécia, Paulo permaneceu em Corinto por aproximadamente dois anos e escreveu duas epístolas, a saber, 1 e 2Tessalonicenses. Devemos estudá-las à luz de Atos 18. Elas são cartas sucintas, enviadas depois que o apóstolo havia recebido boas notícias da igreja recémfundada em Tessalônica. Esses escritos reforçam a doutrina da salvação em Cristo (lTs 1.9, 10) e demonstram claramente a autoridade do apóstolo (lTs 2.13; 2Ts 3.14-17). Em seguida, Paulo escreveu suas cartas mais importantes. Gálatas provavelmente foi escrita no início de sua terceira viagem. Nessa época, ele
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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permaneceu em Éfeso por cerca de três anos e escreveu três epístolas Romanos, 1 e 2Coríntios (veja At 19). É aconselhável estudar Romanos e Gálatas juntos porque possuem uma semelhança na estrutura, no assunto e no estilo de redação. Ao final de sua terceira viagem missionária, Paulo foi preso em Jerusalém. Há um detalhe interessante no livro de Atos. Em algumas passagens, tais como em Atos 16.10, o autor diz que "nós" realizamos algumas jornadas. Em outras (At 20.13, 14), esse mesmo pronome refere-se a um grupo de missionários que seguiram viagem, enquanto Paulo tomou um caminho diferente. A conclusão lógica é que Atos foi escrito por um indivíduo que costumava acompanhar o apóstolo em suas viagens. As partes do livro em que o pronome aparece no plural mostram que o autor acompanhou Paulo em sua última viagem a Jerusalém. Certamente esse homem permaneceu livre na Palestina por dois anos, enquanto Paulo estava preso. Mais tarde, acompanharia o apóstolo em sua viagem a Roma, que terminou em um naufrágio (At 27.2), e permaneceu livre em Roma por dois anos, enquanto Paulo estava na prisão. O Cânon Muratoriano, os escritos de lreneu e outros testemunhos antigos afirmam que Lucas era o auxiliar do apóstolo. Enquanto Paulo estava no cárcere em Roma, escreveu as quatro importantes epístolas da prisão - Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. Colossenses e Efésios são bastante semelhantes e, por esse motivo, devemos estudá-las em conjunto. Filipenses 1.12-25 mostra que Paulo aguardava seu julgamento e tinha esperança de ser posto em liberdade. Isso realmente aconteceu, porque em uma de suas viagens ele deixou uma capa e alguns livros em Troas (2Tm 4.13). Durante esse período, Paulo escreveu as epístolas pastorais - Tito e 1 e 2Timóteo. 1Timóteo e Tito são bastante semelhantes e podemos usá-las para explicar uma à outra. Ambas oferecem detalhes a respeito da organização das igrejas na época e as características dos vários ofícios eclesiásticos. 2Timóteo foi a última epístola escrita por Paulo. Ele foi preso novamente e executado (2Tm 4.7, 8). No ano 95 d.C., Clemente de Roma disse que Paulo pregou "até o limite do extremo oeste", satisfazendo seu desejo de visitar a Espanha (Rm 15.24), após sua primeira prisão em Roma. Todas as epístolas paulinas foram usadas por autores que escreveram antes de 120 d.C., trinta anos após a morte do último apóstolo. Há vários documentos que fazem menção específica de algumas delas. Clemente, por exemplo, escrevendo aos coríntios, em 95 d.C., menciona o fato de Paulo ter escrito àqueles cristãos. Em 117 d.C., Inácio, em uma carta aos efésios, menciona especificamente a epístola que Paulo lhes escreveu ou as epístolas paulinas de modo geral. Policarpo, em carta destinada aos filipenses em 118 d.C., cita a epístola que Paulo lhes enviara e acrescenta citações de seis outras cartas de autoria do apóstolo.
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QUEM ESCREVEU O NOVO TESTAMENTO?
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Tabela das Epístolas Paulinas Viagens
Epístolas
Primeira viagem missionária (apenas na Asia Menor)
Nenhuma epístola
Segunda viagem missionária (através da Asia Menor e Grécia; dois anos em Corinto)
1Tessalonicenses 2Tessalonicenses
Terceira viagem missionária (mesmo território da segunda; três anos em Éfeso)
Romanos !Coríntios 2Coríntios Galátas (nessa época ou antes)
Prisão na Palestina por dois anos
Nenhuma epístola
Primeira prisão em Roma por dois anos
Epístolas da Prisão Efésios Filipenses Colossenses Filemon
Período de liberdade Viagem para Troas e Espanha (?)
!Timóteo Tito Hebreus (?)
Segunda prisão em Roma e martírio
2Timóteo
O EVANGELHO DE LUCAS Lucas era bastante próximo de Paulo. Atos 1.1 explica que esse livro, destinado a Teófilo, era a segunda obra do autor. Obviamente, a partir de Lucas 1.1-3, percebemos que o evangelho foi o primeiro livro escrito por Lucas. O Novo Testamento não afirma explicitamente que a autoria do terceiro evangelho e do livro de Atos seja de Lucas. Todavia, a partir dos trechos desse último livro em que o pronome pessoal aparece na primeira pessoa do plural (nós), fica claro que algum companheiro de Paulo realizou aquele registro. Além disso, as pesquisas de William Ramsey1 e outros têm comprovado, nos mínimos detalhes, os eventos do livro de Atos. O nome e título de Gálio (At 18.12), o título de Sérgio Paulo (At 13.7) e de outros oficiais e também alguns detalhes históricos são tão precisos que a conclusão
1 Citado e defendido por Donald Guthrie, New Testament Introduction, vol. 3 (Downers Grove, Ili: InterVarsity Press, 1965), p. 321, 322.
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natural é que esse livro é de autoria de um indivíduo que viveu na época em que os fatos ocorreram. Obviamente o Evangelho de Lucas foi redigido antes de Atos (At 1.1). Tanto Inácio como Policarpo fizeram uso do Evangelho de Lucas e de Atos. Justino Mártir citou passagens dos três evangelhos sinóticos e provavelmente também de João, chamando esses quatro livros de ''As Memórias dos Apóstolos". Ele faz uma descrição interessante de um culto de domingo, no qual foi lido ''As Memórias dos Apóstolos ou os Escritos dos Profetas", seguido de um sermão. Ele se referiu aos evangelhos como "as memórias que eu digo terem sido reunidas pelos apóstolos de Cristo e pelos seguidores destes". Nessa citação ele demonstra que os evangelhos de Lucas e de Marcos não são da autoria de apóstolos, embora em outras de suas obras ele chame esses livros de "a obra dos apóstolos". O Cânon Muratoriano e os escritos de Ireneu (170 d.C.) afirmam que Lucas escreveu um evangelho, mas o fez em uma espécie de associação com Paulo. Tertuliano, por volta de 200 d.C., corrobora a autoria de Lucas, acrescentando o fato de esse evangelho ter sido escrito sob a supervisão de Paulo. Ele dá a entender que podemos considerar o Evangelho de Lucas uma obra paulina. Os fatos parecem confirmar a participação do apóstolo. Em 1Timóteo 5.18, ao mencionar o salário dos líderes, Paulo cita trechos curtos de Deuteronômio e Lucas 10.7. Em 1Coríntios 9.7-18, ele defende a mesma coisa, citando extensivamente o Antigo Testamento, mas não se vale do Evangelho de Lucas. A "Tabela dos Escritos Paulinos", apresentada anteriormente, demonstra que, no período entre a composição de 1Coríntios e 1Timóteo, Paulo foi aprisionado na Palestina. Nesse ínterim Lucas permaneceu livre. Essas e outras provas nos levam a crer que Lucas reuniu o material necessário e escreveu o terceiro evangelho naquela época. O livro de Atos teria sido redigido pouco tempo depois, provavelmente durante a prisão de Paulo em Roma. Ambos os livros podem perfeitamente ser da autoria de Lucas, sob a supervisão do apóstolo.
A EPÍSTOLA AOS HEBREUS A Epístola aos Hebreus é da autoria de Paulo? Se a resposta for afirmativa, quando foi escrita e como? Os estudiosos mais dedicados não chegaram a um consenso nessas questões. Alguns crêem que essa epístola foi escrita de maneira semelhante ao Evangelho de Lucas e Atos, ou seja, por um dos auxiliares de Paulo, sob sua supervisão. A Epístola aos Hebreus era conhecida e utilizada desde os dias de Clemente de Roma (95 d.C.). Primeiramente foi aceita por todos. Um tempo depois, seus ensinos foram questionados no Ocidente, sendo
QUEM ESCREVEU O NOVO TESTAMENTO?
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finalmente acolhida por toda a igreja. Há pouquíssimo debate a respeito da canonicidade dessa obra. O principal problema tem sido a dúvida com relação ao autor. Em todos os lugares em que se acreditava ser de autoria paulina, a epístola foi aceita sem questionamento. No Egito, a tradição da autoria paulina chega aos dias de Clemente de Alexandria (200 d.C.), e até mesmo antes dele, com Panteno. À semelhança de Policarpo, Panteno alcançou idade avançada e serviu de elo entre a igreja em Alexandria e a comunidade cristã primitiva. Se consideramos a epístola como de autoria de Paulo, todos os fatos parecem se harmonizar. Entretanto pode ter sido escrita ou até mesmo traduzida por Lucas, Barnabé ou outra pessoa. Não há dúvidas quanto ao fato de Paulo ter-se valido de escribas, como demonstra Romanos 16.22. É famosa a frase bastante citada de Orígenes (250 d.C.): "Apenas Deus sabe ao certo quem escreveu essa epístola". 2 Entretanto, se analisarmos o contexto, perceberemos claramente que ele se referia ao escriba e defendia que foi Paulo quem ditara a epístola. Em sua obra De Principiis [Dos princípios], Orígenes faz mais de seis referências à Epístola aos Hebreus como de autoria do apóstolo 3 , e em seu livro Ad Africanus ele diz ser possível provar que o autor daquela carta é realmente Paulo. 4 O papiro Chester Beatty das epístolas paulinas é datado por volta do ano 200 d.C., e inclui o livro de Hebreus, situando-o entre Romanos e Coríntios. De qualquer maneira, provavelmente a epístola foi escrita durante o período final da vida de Paulo.
O EVANGELHO DE MATEUS Esse é o evangelho sobre o qual temos evidências externas mais antigas. Ele foi usado por Clemente, Inácio, Policarpo e outros. Barnabé cita-o juntamente com a expressão "está escrito". Sua autoria nunca foi questionada na Antigüidade. Papias afirma que Mateus foi escrito em aramaico e que o evangelho foi posteriormente traduzido para o grego. Se isso for verdade, o original em aramaico se perdeu. É possível que o próprio Mateus tenha feito sua obra em aramaico e também em grego. Isso era prática comum porque na época usavam-se ambas as línguas na Palestina. Todavia um fato é claro: Mateus escreveu seu evangelho diretamente para os judeus, que eram maioria na igreja cristã primitiva.
2
Citado por Eusébio em História Eclesiástica, vi, 25. Alexander Roberts e James Donaldson, eds., Early Church Fathers, The Ante-Nicene Fathers, vol. 4 (Henderson, Mass.: 1994), p. 310, 333, 361ff. 4 Ibid., p. 388. 3
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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O EVANGELHO DE MARCOS De acordo com o testemunho de Papias, Marcos escreveu o segundo evangelho como auxiliar de Pedro (isto é, seu tradutor), em Roma. Justino Mártir fez uso desse livro. Ireneu e Clemente de Alexandria concordavam quanto à autoria de Marcos. As opiniões divergem sobre o fato de Marcos ter escrito enquanto Pedro ainda estava vivo. Tanto Papias como Clemente acreditam que ele escreveu seu evangelho sob a direção de Pedro. Essa é a conclusão mais óbvia, já que Justino inclui Marcos nas "Memórias dos Apóstolos". É muito difícil identificar o uso desse evangelho pelos pais da igreja, uma vez que a quase totalidade de Marcos também se encontra em Mateus ou Lucas. Muitas citações do evangelho são idênticas a trechos encontrados nos evangelhos de Mateus e de Lucas. Todavia o testemunho de Papias é positivo e bem antigo. Obviamente Marcos destinava-se aos gentios, provavelmente aos romanos a quem Pedro pregou.
OS ESCRITOS JOANINO$ Os escritos de João constituem a maior parte do restante do Novo Testamento. O discípulo amado mudou-se para Éfeso e lá viveu até idade bastante avançada. Foi naquela cidade 9ue Policarpo o conheceu. Patmos, a ilha onde foi exilado, ficava próxima a Efeso. Ireneu, discípulo de Policarpo, conta-nos que João viveu até os dias de Trajano (98-117 d.C.). Os cristãos sempre gostaram dos escritos joaninos porque apresentam Cristo de maneira muito amorosa. A afirmação é que são de autoria do "discípulo amado". O estilo semelhante das epístolas reforça a defesa da mesma autoria de cada uma. Tanto Clemente de Roma como Inácio fazem referências ao Evangelho de João. Policarpo fez uso de 1João. Papias provavelmente conhecia esse evangelho, lJoão e Apocalipse. Justino deu testemunho da relação entre o Evangelho de João e Apocalipse. O Cânon Muratoriano, que está incompleto, cita pelo nome o Evangelho de João, Apocalipse e duas epístolas, provavelmente 2 e 3João. Traz ainda a citação de lJoão 1.1. O testemunho é mais do que suficiente. Todavia, temos ainda uma prova adicional. Um fragmento de papiro foi descoberto no Egito, em 1917, e publicado em 1931. Peritos em caligrafia dataram o Papiro Rylands como de aproximadamente 125 d.C., apenas trinta anos após a morte de João. Esse papiro contém porções de cinco versículos de João 18. Talvez Justino ou Policarpo tenham visto esse documento. Em 1957, um papiro maior que continha o Evangelho de João foi publicado. É conhecido como Papiro Bodmer II e foi datado como de 200 d.C. Ele contém a maior parte do Evangelho de João. Tinha o formato de livro e não de rolo, e há apenas algumas páginas faltando. Essa é a porção
QUEM ESCREVEU O NOVO TESTAMENTO?
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mais extensa do Novo Testamento já encontrada. Mais tarde outro papiro semelhante foi publicado. Trata-se do Bodmer XIV-XV, que contém praticamente todo o Evangelho de Lucas e dois terços do Evangelho de João em um só volume. Provavelmente ele é um pouco anterior ao Papiro Bodmer II. Também foi confeccionado no formato de livro e fornece um testemunho precioso do texto dos evangelhos e de seu uso na Antigüidade.
PEDRO, TIAGO E JUDAS As epístolas de Pedro, Tiago e Judas receberam menção de apenas alguns teológos da Antigüidade. Entretanto, seu testemunho é positivo. Clemente mencionou Tiago, Policarpo fez alusão a 1 e 2Pedro, e Papias falou a respeito de lPedro. O Cânon Muratoriano menciona a epístola de Judas. Tertuliano nos assegura que Judas foi escrito por um apóstolo. O texto de 2Pedro traz fortes evidências internas. Nele lemos que essa é a segunda epístola de Pedro, o apóstolo que presenciou a transfiguração de Cristo (1.1, 18; 3.1, 2). É de igual interesse o fato de Judas citar a epístola de Pedro (vv. 17, 18), afirmando ser obra de um apóstolo (2Pe 3.3). Outro Papiro Bodmer (v11-1x), datado como anterior a 300 d.C., está agora disponível e traz os textos de 1 e 2Pedro e Judas. A identidade de Tiago e Judas, que eram irmãos (Jd 1), tem sido objeto de grande discussão. Aparentemente, havia dois irmãos com aqueles nomes entre os doze (Lc 6.16), e mais dois outros que eram meio-irmãos do Senhor (Mt 13.55). Alguns teólogos afirmam que esses meio-irmãos na verdade eram primos de Cristo e que são os mesmos Tiago e Judas que integravam o grupo de discípulos. Essas provas são provavelmente inconclusivas, e não se sabe exatamente qual dos pares, se é que houve duas duplas de irmãos, escreveu as epístolas. Não sabemos as datas em que essas epístolas menores foram escritas. Como todos os outros livros do Novo Testamento, elas foram escritas pelos apóstolos e seus auxiliares "sob inspiração do Espírito", como afirma Clemente de Roma, a respeito da carta de Paulo aos coríntios. Missionários, líderes e mestres cristãos devem aprender mais a respeito da época, da autoria e das circunstâncias relacionadas a todas essas epístolas. Podemos vir a conhecer muito sobre esse assunto através de um estudo diligente dos próprios livros. Os autores antigos confirmam sua fé nesses escritos como a Palavra de Deus, verdadeira, inspirada pelo Espírito e pregada pelos apóstolos. Nenhum outro grupo de livros têm sido tão estudado, e não há nenhuma prova da existência de outros escritos de autoria dos apóstolos. Os pais da igreja concordam que alguns textos falsos realmente circularam (2Ts 2.2; 3.17). Entretanto, foram prontamente combatidos e apenas algumas pessoas foram enganadas. Embora Cristo nunca tenha apresentado
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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uma lista dos livros do Novo Testamento, ele escolheu os doze apóstolos, e também Paulo, para que lançassem o fundamento da igreja. Esses homens, divinamente indicados e capacitados pelo Espírito, escreveram o Novo Testamento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Os cristãos que acreditam na Bíblia se regozijam por terem acesso à Palavra escrita de Deus.
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ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1 Cânon Muratoriano, Didaquê.
1PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO
1
1.
Faça uma tabela mostrando os autores do Novo Testamento e seus livros.
2.
Faça uma revisão deste capítulo e verifique a afirmação de que "trinta anos após a morte de João, apenas os livros de Judas e 2 e 3João não tinham sua canonicidade confirmada através dos escritos dos pais da igreja".
3.
Qyem foi Inácio e quais de suas obras chegaram até nós?
QUEM ESCREVEU O NOVO TESTAMENTO?
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4.
Qyal o primeiro pai da igreja cujas obras permanecem até hoje?
5.
A partir de 2Pedro 3.15, 16 e Judas 17, 18, explique a atitude de respeito que os apóstolos demonstravam em relação os escritos uns dos outros.
6.
Qyal a prova de que os apóstolos consideravam seus escritos como inspirados por Deus?
7.
Marque o trajeto das viagens missionárias de Paulo num mapa bíblico e faça uma lista mostrando a ordem em que ele escreveu suas epístolas.
8.
Por que o cânon do Novo Testamento tem apenas vinte e sete livros?
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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ANOTAÇÕES
Como a Bíblia foi preservada ONovo Testamento
A
maioria dos cristãos não procura saber como os escritos neotestamentários foram preservados até os dias de hoje. Por ser fácil conseguir um exemplar da Bíblia, supõem que as Escrituras sempre estiveram disponíveis. Como todas as outras bênçãos que recebemos, essa também não deve ser menosprezada. Homens e mulheres morreram para que a Bíblia pudesse ser preservada, traduzida e publicada. Mesmo em nossos dias, em alguns países, exemplares da Palavra de Deus ainda são escassos. Podemos dividir a história da preservação do Novo Testamento em duas partes - antes e depois da invenção da imprensa. No século XV, três eventos trouxeram benefícios inestimáveis para a era moderna. Em 1492, Colombo descobriu o Novo Mundo. Em 1456, Johann Gutenberg inventou a imprensa. Em 1493, nasceu Martinho Lutero, o líder da Reforma Protestante. Esses acontecimentos marcaram profundamente a abrangência e a influência do cristianismo nos tempos modernos.
A IMPRESSÃO DA BÍBLIA O primeiro livro a sair da impressora de Gutenberg foi a Bíblia em latim. Ainda existem exemplares dessa primeira edição. Depois, imprimiu-se
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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o Novo Testamento em grego e também o Antigo Testamento em hebraico. Após isso, a preservação das Escrituras tornou-se uma tarefa relativamente simples, visto que era possível produzir exemplares da Bíblia aos milhares. Depois que Tyndale traduziu as Escrituras para o inglês, estas passaram a ser impressas na Holanda e contrabandeadas para a Inglaterra. Por um curto período, os bispos ingleses tentaram queimar todos os exemplares, mas não obtiveram sucesso. Depois de poucos anos, a Bíblia de Tyndale e de seus sucessores podia ser facilmente adquirida em toda a Inglaterra.
Os primeiros versículos de Gênesis da Bíblia de Gutenberg, cuja primeira edição foi impressa em 1456. O tipo móvel de Gutenberg abriu caminho para a ampla distribuição da Bíblia em outros idiomas além do latim.
As primeiras palavras de Gênesis da tradução de Tyndale, em sua primeira edição do Pentateuco, publicada em 1530.
Desde a invenção da imprensa, tornou-se relativamente fácil reproduzir a Bíblia sem erros. Antes disso, alguém copiava o texto à mão e podia facilmente
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA - O NOVO TESTAMENTO
cometer alguns erros. Se a pessoa descartasse o trabalho e recomeçasse, provavelmente evitaria os erros anteriores, mas cometeria outros. Hoje em dia, ao imprimir um livro, basta corrigir os erros sem alterar o restante. Através de uma revisão cuidadosa, pode-se imprimir a Bíblia sem nenhum erro. Ao se prepararem os originais para impressão, são feitas várias leituras de provas. Os revisores podem trabalhar em pares, um deles lendo a partir de uma exemplar perfeito e o outro verificando as provas. Ou então o revisor pode ler a prova, enquanto ouve uma versão do texto bíblico. Em edições mais baratas, pode haver erros de impressão porque o texto não é verificado tão cuidadosamente. A maioria dos livros comuns não recebe uma revisão minuciosa e é passível de apresentar erros tipográficos. Algumas vezes o problema não estava nos erros de cópia, mas sim no estilo da língua vigente na época. Durante o século posterior à tradução da versão King James de 1611, a pessoa que fazia as impressões tinha de ser um gramático, pois precisava saber que palavras teriam sua grafia alterada nas edições subseqüentes. Por esse motivo, uma cópia antiga da Bíblia difere das edições mais recentes. Essas distinções não são erros de tradução nem de impressão, mas ajustes introduzidos devido à transformação do idioma.
AS PRIMEIRAS CÓPIAS DO TEXTO DO NOVO TESTAMENTO Para compreender como o Novo Testamento foi preservado, o estudante precisa conhecer a história do império romano. No período apostólico, o império havia-se expandido por toda a região do Mediterrâneo - Espanha, França, Itália, Grécia, Turquia, Síria, Palestina, Egito e norte da África. Estendeu-se também até a Grã-Bretanha e partes da Alemanha. A língua falada pelos governantes era o latim, mas o povo em geral usava o grego para se comunicar. O cristianismo tinha presença marcante, principalmente no Egito, na Palestina, na Ásia Menor, em Roma e no norte da África. Entretanto, era uma religião proibida, e os cristãos foram vítimas de pelo menos dez cruéis perseguições. Seus livros eram constantemente queimados. Muitos morreram por se recusarem a lançá-los nas fogueiras. Por fim, em 313 d.C., o imperador Constantino, o Grande, converteu-se ao cristianismo. Ele promulgou o famoso edito de Milão, garantindo liberdade de culto aos cidadãos. Nas décadas seguintes, o império romano se enfraqueceu devido aos ataques dos bárbaros godos, e também pela invasão de outros povos, que vieram para a Europa através da Ásia. Em 410 d.C., Roma sucumbiu. Essa foi a época em que Jerônimo viveu. Ele ficou conhecido por sua tradução da Bíblia para o latim, chamada Vulgata.
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Agostinho, outro líder desse período, também ficou famoso. Pouco depois da queda de Roma, o império se dividiu. Constantinopla foi escolhida como capital do império romano do Oriente, e Roma, do império romano do Ocidente. A língua falada na porção oriental era o grego, preservada durante toda a Idade Média. Na porção ocidental falava-se o latim. O estudioso que queira pesquisar a cópia do Novo Testamento que mais se aproxime do original, redigido pelos apóstolos, preferirá os exemplares em grego aos escritos em latim. Algumas das cópias mais antigas dos originais gregos datam de um período anterior a Jerônimo. Pela providência divina, o estudante do Novo Testamento tem o privilégio de ter acesso a muitas cópias antigas. Os manuscritos originais, chamados "autógrafos", foram registrados provavelmente em papiros ou pergaminhos. Todavia, por volta de 125 d.C., era costumeiro usar uma espécie de livro chamado códice,em vez de rolos. Assim ficava mais fácil reunir vários escritos em um único volume. Fizeram-se várias cópias desses livros no idioma grego. Pouco tempo depois, provavelmente em 200 d.C., a igreja em Antioquia e os povos da Mesopotâmia, no Oriente, queriam ter a Palavra de Deus no idioma siríaco, predominante na época. Essa língua era bastante semelhante ao hebraico. Naquele mesmo período, as igrejas no norte da África queriam ter acesso aos evangelhos em latim. Daí produziuse uma tradução em latim antigo. Mais tarde essa tradução foi substituída pela Vulgata de Jerônimo. No entanto, até o ano 400 d.C., o grego permaneceu como o principal idioma bíblico. As cópias mais antigas do Novo Testamento eram feitas com letras minúsculas. Os manuscritos medievais em grego também eram escritos dessa maneira. Essas cópias são chamadas "cursivas". Por volta do ano 300 d.C., excelentes cópias em pergaminho tornaram-se comuns, escritas cuidadosamente com letras maiúsculas. Esses manuscritos receberam o nome de "unciais" (maiúsculas). Muitos desses excelentes manuscritos unciais ainda existem. Eles ficaram armazenados por várias gerações em bibliotecas de antigos mosteiros, e apenas alguns exemplares dentre centenas sobreviveram ao desgaste e às ondas de perseguição. As perseguições eram a maior ameaça a esses manuscritos. Qyando os muçulmanos invadiram o Egito, no sétimo século, incendiaram a biblioteca de Alexandria, que possuía um acervo de cem mil volumes, incluindo muitos tesouros bibliográficos da Antigüidade. Por volta da mesma época, atearam fogo à biblioteca de Eusébio, localizada em Cesaréia da Palestina, que guardava muitos documentos de valor inestimável do ínicio da era cristã. Entretanto, pela providência de Deus, muitas cópias escaparam às chamas. Afirma-se que existem cerca de três mil cópias integrais do Novo Testamento em grego ou de partes dele. Destas, uma dúzia ou mais superam mil e quinhentos anos de idade.
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA - O NOVO TESTAMENTO
OS MANUSCRITOS ANTIGOS Qgais são os manuscritos mais antigos que temos? Como são eles? Nos últimos dois séculos, muitos manuscritos antigos foram encontrados. Eles nos fornecem informações adicionais a respeito do texto bíblico original.
O Texto Alexandrino Em 1859, Constantino Tischendorf encontrou um manuscrito de valor inestimável entre outros documentos antigos, no mosteiro de Santa Catarina, situado na encosta do monte Sinai. Esse manuscrito recebeu o nome de Códice Álef ou Códice Sinaítico e data do quarto século de nossa era. Códice significa "livro" e álef é a primeira letra do alfabeto hebraico. Em 1868, a biblioteca do Vaticano publicou outro manuscrito antigo, também do quarto século, chamado Códice B (conhecido também como Códice Vaticano, por ter sido encontrado na biblioteca do Vaticano). Esses dois manuscritos, o Códice Álef e o Códice B, têm um texto bastante semelhante. Parece claro que foram copiados da mesma fonte ou então de cópias semelhantes. Eles pertencem à mesma família de manuscritos designada como Texto Neutro, mais tarde chamado Texto Alexandrino.
O Coinê Muitas cópias que datam da Idade Média formam outra família de manuscritos que se diferenciam apenas por alguns detalhes de estilo. A esse grupo chamamos Coinê, vocábulo grego que significa "comum". Essas cópias também receberam o nome de Textus Receptus. Essa família de manuscritos foi usada pelos tradutores da versão King James e por João Ferreira de Almeida. A versão Corrigida de Almeida está baseada no Textus Receptus. As demais versões bíblicas em português baseiam-se no Texto Alexandrino. Entre elas estão a versão Revista e Atualizada, a versão Revisada de Acordo com os Melhores Textos, a Bíblia na Linguagem de Hoje, a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, a Nova Versão Internacional e a versão Almeida Século 21. É fácil comparar esses dois grupos de manuscritos ao confrontar a versão Corrigida de Almeida com as outras versões mais recentes do Novo Testamento.
Outros manuscritos Em épocas posteriores, encontraram-se cópias ainda mais antigas entre papiros no Egito. Os papiros Chester Beatty contêm grande parte do texto do Novo Testamento e datam de cerca do ano 200 d.C.
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O papiro Rylands, de aproximadamente 125 d.C., é valioso, embora contenha apenas uma pequena parte do texto do Novo Testamento. Ele é praticamente idêntico ao Texto Alexandrino. Os papiros Bodmer de João, que mencionamos no quinto capítulo, confirmam o Texto Alexandrino. A maioria das traduções mais recentes baseia-se nesses manuscritos.
Crítica textual Ao estudo dos manuscritos antigos chamamos crítica textual, ou baixa crítica, para distingui-lo da alta crítica, que é bastante destrutiva. A crítica textual é uma ciência antiga e bastante valiosa. Tem sido praticada por teólogos cristãos desde a época de Orígenes (250 d.C.). Entretanto, ela exige um conhecimento profundo das línguas originais. A base da crítica textual do Novo Testamento vem sendo reforçada desde que se publicaram as obras de Tischendorf, Westcott, Hort e outros. A crítica textual pode ser de grande allX11io para os cristãos por dois motivos. Em primeiro lugar, pode nos ajudar a recuperar as palavras originais escritas pelos apóstolos, em muitas passagens duvidosas. As cópias disponíveis atualmente foram feitas muitas gerações depois de os originais terem sido escritos. Ao compará-las às famílias antigas de manuscritos, o estudioso geralmente pode determinar que palavras constavam dos primeiros documentos. Em segundo lugar, em alguns trechos, é difícil identificar o texto original. O texto falava em "Simão" ou "Pedro", em "Jesus" ou ''Jesus Cristo"? Talvez não seja muito simples chegar a essa conclusão, mas quando famílias completas de manuscritos concordam entre si, qualquer que seja a leitura, não há grandes diferenças. Normalmente se defende, com base em provas substanciais, que o texto da família dos manuscritos alexandrinos é o mais próximo do original, embora tenhamos sempre de compará-lo com outros registros. E a família Coinê, que muitos pensam conter alguns poucos erros, ainda é tão confiável quanto os melhores documentos bíblicos. As diferenças restringem-se apenas a detalhes eventuais. As maiores discrepâncias entre as traduções modernas, realizadas por estudiosos cristãos que se esmeraram para traduzir o texto com precisão, não são diferenças provenientes dos manuscritos. O que há são divergências de interpretação e de estilo. Com relação a esse assunto vale a pena citarmos o comentário de Westcott e Hort, em 1881: Se deixarmos de lado superficialidades comparativas, em nossa opinião, as palavras nos manuscritos bíblicos que ainda levantam dúvidas chegam a menos de um milésimo de todo o texto do Novo Testamento.
Descobertas mais recentes têm confirmado e reforçado a conclusão de Westcott e Hort.
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA- O NOVO TESTAMENTO
O Novo Testamento que temos atualmente foi preservado por monges e estudiosos, por mártires e missionários, através de um trabalho de cópia laborioso, à mão livre, e também por meio de impressões cuidadosas. Em comentários críticos e em inúmeras traduções, a Palavra de Deus transmitida pelos apóstolos tem sido preservada com fidelidade e distribuída diligentemente por todo o mundo. Os cristãos podem ler e estudar a Bíblia com confiança, sabendo ser ela a genuína Palavra de Deus. "Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão"
(Mt 24.35).
1ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO
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Autógrafos, manuscritos cursivos, crítica textual, manuscritos unciais, Coinê, Textus Receptus.
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PERGUNTAS DE
RECAP~:~LAÇÃO 1
l.
Olial o lapso de tempo entre a época da confecção do manuscrito mais antigo do Novo Testamento ainda preservado e os dias em que viveu João, seu autor?
2.
Oliais são as três cópias de maior importância do Novo Testamento, feitas antes do ano 400 d.C., cuja maior parte ainda está preservada?
3.
Compare a narrativa da ressurreição (Jo 20) nas versões Almeida Corrigida e Almeida Século 21.
4.
Podemos confiar até no mais "precário" texto do Novo Testamento? Por quê?
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ANOTAÇÕES
Como a Bíblia foi preservada OAntigo Testamento
O
Antigo Testamento data de uma época muito anterior aos escritos do Novo Testamento. Malaquias, o último livro do Antigo Testamento, provavelmente foi escrito por volta de 400 a.e. Até recentemente, não tínhamos muita informação para o estudo dos textos hebraicos originais. Todavia, com a descoberta dos manuscritos do mar Morto, no ano de 1947, conseguiu-se um grande tesouro em novo material de estudo.
A PRESERVAÇÃO NA ANTIGÜIDADE Moisés e os demais profetas escreveram o Antigo Testamento ao longo de mil anos - de 1400 a 400 a.e. Durante esse período, uma parte das cópias das Escrituras ficavam em poder dos sacerdotes do templo, outra parte de posse do rei e ainda outra sob o cuidado dos profetas, a quem Deus concedeu seu Espírito a fim de que revelassem sua vontade. Durante certos períodos, as profecias eram escassas em Israel, como aconteceu nos dias de Eli: "Naqueles dias, a palavra do SENHOR era mui rara; as visões não eram freqüentes" (1Sm 3.1). Era comum os povos envolverem-se intensamente com a idolatria, como no reinado de Acabe. Em todos esses períodos, Deus levantava profetas fiéis, inspirados pelo Espírito Santo. Esses homens amavam e valorizavam a Palavra de Deus, e a transmitiam com intrepidez.
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INTRODUÇÃ O À BÍBLIA
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Há poucas evidências da história desses períodos da Palestina provenientes de fontes outras que não o texto bíblico. Entretanto, a Bíblia contém evidências "internas" a respeito de seus processos de composição e preservação. Obviamente naquele período da história também havia a literatura secular, tanto sob a forma de documentos como de livros, mas esses registros se perderam. Um grande número de relatos, contos e poemas foi preservado em placas de argila, feitas pelos povos da Mesopotâmia. No Egito escrevia-se em papiros, que, embora frágeis, resistiram devido ao clima bastante seco da região. Mercadores vindos da Palestina compravam papiro egípcio em troca de madeira de cedro e azeite de oliva. O papiro era bastante conveniente, mas todos os manuscritos registrados nesse material se perderam, por causa das estações chuvosas da Palestina. Apenas na área seca e quente do mar Morto é que os papiros e os pergaminhos conseguiram resistir. Assim, a literatura secular da Palestina se perdeu e os manuscritos bíblicos ficaram muito desgastados. A medida que os pergaminhos antigos se estragavam ou eram destruídos, tinham de ser copiados novamente. O que aconteceu com as cópias dos textos bíblicos, depois que o ofício profético cessou, por volta de 400 a.C.? Iniciando nesse ponto da história, iremos retroceder quase 2400 anos, até a época antiga.
R olo com texto hebraico do liv ro de Ester.
A Idade Média Durante a Idade Média, os judeus se incumbiram de preservar o Antigo Testamento hebraico. Naquele período, a ciência na Europa praticamente não se desenvolveu. A igreja latina usava a Vulgata de Jerônimo, pois nenhum dos estudiosos de seu corpo eclesiástico sabia o hebraico. A igreja ortodoxa grega, no leste do Mediterrâneo, usava a Septuaginta, escrita em grego, e nenhum dos teólogos daquele lugar parecia importar-se com o idioma original hebraico. Os judeus, por sua vez, apesar das perseguições
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA - O ANTIGO TESTAMENTO
cruéis que sofriam, espalharam-se por toda parte, continuaram zelando pelas Escrituras e preservaram seus costumes e suas tradições. A tradição judaica ensina que os rabinos da época medieval copiavam as Escrituras com grande cuidado. Chegavam ao ponto de contar os versículos de cada livro e assinalar o versículo central. O resultado disso foi uma fidelidade incrível na transmissão do texto bíblico. Além do mais, quando comparamos a Bíblia hebraica com a tradução em latim (a Vulgata), feita por Jerônimo por volta de 400 d.C., fica evidente que Jerônimo trabalhou com uma cópia das Escrituras hebraicas muito semelhante à que temos hoje em dia. Na verdade, vários estudiosos judeus fizeram algumas traduções para o grego, por volta do ano 200 de nossa era. (Não devemos confundi-las com a Septuaginta, que é anterior a elas.) Isso prova que a Bíblia hebraica daquela época era quase igual à que temos atualmente. Essas traduções menos importantes para o idioma grego não foram preservadas em sua totalidade. No entanto, ainda assim nos ajudam a traçar a história da preservação do texto hebraico. Até pouco tempo, não se conhecia nenhuma cópia em hebraico que datasse de antes de 200 d.C. Além disso, nenhuma outra tradução importante foi feita antes da Septuaginta, em 200 a.C. Havia os targuns siríaco, samaritano e aramaico, mas as datas desses documentos são incertas e eles não tinham muita importância. Portanto, havia poucas evidências sobre a meticulosa preservação do texto hebraico, ao menos no que se referisse a textos que pertencessem ao período anterior a 200 d.C.
OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO No ano de 1947, um pastor árabe atirou uma pedra para dentro de uma caverna próxima ao mar Morto e ouviu o som de um vaso quebrando. Agora todo o mundo conhece a história do beduíno que retirou sete manuscritos daquela caverna, deixando centenas de fragmentos. Desde então, foram encontrados mais pergaminhos do Antigo Testamento e escritos judaicos em outras cavernas. Milhares de fragmentos ainda estão sendo pacientemente organizados e estudados. Os manuscritos do mar Morto, guardados por muitos séculos pelos escribas da comunidade de Qymran, trouxeram novas e valiosas provas da preservação do texto hebraico na Antigüidade.
Os manuscritos não-bíblicos O tesouro encontrado abrange dois tipos de documentos, sendo o primeiro deles composto por manuscritos não-bíblicos. Esses escritos mostram que o grupo que habitava em Qymran considerava os livros do Antigo Testamento uma obra escrita pelo próprio Deus através de seu
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Espírito, por intermédio dos profetas. Repetidas vezes, fazem referência à "Lei de Moisés e os Profetas" ou "o que Deus falou através de Moisés e todos os Profetas". Sua postura diante do Antigo Testamento e da terminologia que empregavam são semelhantes à de Cristo e dos apóstolos.
Os manuscritos bíblicos O segundo grupo de manuscritos encontrados na região do mar Morto é composto por manuscritos bíblicos. Essas cópias antigas foram comparadas diretamente com a Bíblia hebraica que temos hoje em dia. Elas demonstram o quanto os escribas da Antigüidade foram precisos em seu trabalho. Todos os livros do Antigo Testamento, com exceção de um, foram encontrados naquelas cavernas. O livro de Ester ainda não foi identificado. De alguns livros, tais como Salmos, Deuteronômio e Isaías, há várias cópias. Já de outros, como Crônicas, restaram apenas fragmentos. O pergaminho mais extenso é o de Isaías, preservado em sua totalidade e em boas condições. Aparentemente remonta ao ano 125 a.C. Alguns documentos são ainda mais antigos. Calcula-se que trechos de Jó, Jeremias, Samuel e Salmos são do ano 200 a.C. ou até de antes. Uma parte do livro de Salmos recebeu uma datação não-oficial de 300 a.C. Uma cópia de Edesiastes, que data do ano 150 a.C., desperta um interesse especial, porque alguns críticos mais extremados insistem que esse livro foi escrito numa data muito posterior. Cópias do livro de Daniel do segundo século a.C. são muito importantes, porque se aproximam bastante da data crucial de 165 a.C. A alta crítica afirma ter sido esse o ano em que o livro foi escrito.
Conclusão Os manuscritos do mar Morto são extremamente semelhantes à Bíblia hebraica da atualidade. Eles provam que os indivíduos que copiaram os textos em hebraico, desde o segundo século antes de Cristo, realizaram um trabalho extremamente cuidadoso. É comprovado que a Bíblia hebraica que temos hoje é praticamente a mesma que os judeus usavam 200 anos antes de Cristo, uma vez que alguns dos manuscritos do mar Morto são mais antigos que o rolo de Isaías. Podemos afirmar com confiança que não se tem notícia de evento algum na história de Israel que tenha introduzido mudanças na técnica de cópia de manuscritos usada pelos judeus entre os dias de Esdras e o ano 200 a.C. Portanto, concluímos que o Antigo Testamento atual é, tanto na sua essência quanto em seus pormenores, muito semelhante às Escrituras que Esdras ordenou que fossem lidas aos israelitas em Jerusalém, após o retorno do cativeiro babilônico. Tais provas são suficientes para fins de estudo. Todavia, os pesquisadores bíblicos hodiernos já conseguem remeter a história do Antigo
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA - O ANTIGO TESTAMENTO
Testamento a uma data ainda mais remota. Ainda existem várias cópias da Septuaginta, traduzida por volta de 200 a.C., feitas por escribas cristãos. Isso é de grande valia, mas levanta algumas questões. Há algumas citações no Novo Testamento retiradas da Septuaginta que divergem do texto hebraico. Nesses casos, será a Septuaginta melhor que o texto original? Será que essa tradução para o grego foi realizada de forma meticulosa? Hoje em dia, há provas concretas para solucionar essas questões. Alguns manuscritos do mar Morto datam de cerca de 200 a.C. Eles são tão semelhantes ao texto da Septuaginta, que certamente foram esses os textos nos quais os tradutores daquela versão se basearam. As diferenças entre a Septuaginta e o texto hebraico que temos hoje devem-se provavelmente ao fato de que já havia dois ou mais textos hebraicos sendo usados concomitantemente, por volta do ano 200 a.C. Essa nova evidência ajudou a solucionar várias dúvidas sobre citações do Novo Testamento, pois demonstrou que, nesses casos especificamente, a Septuaginta realmente estava correta. É impressionante perceber que, mesmo após muitos séculos, dois textos foram preservados - o original hebraico e a Septuaginta em grego. Qiial a importância de conhecermos as diferentes "famílias" de textos do Antigo Testamento? Primeiramente, através de uma comparação cuidadosa entre eles, é possível determinar o texto original. Em segundo lugar, podemos perceber o evidente cuidado com que os copistas lidavam com os textos na Antigüidade. Terceiro, ao comparar as duas famílias como um todo, podemos chegar à conclusão de que nenhum dos textos diverge muito das primeiras cópias que geraram todas as demais.
COMPARAÇÃO TEXTUAL Dois outros argumentos reforçam a crença de que o Antigo Testamento foi copiado com grande exatidão desde épocas muito remotas. Primeiro, as passagens de livros que trazem citações de outros livros bíblicos geralmente se aproximam bastante. Em segundo lugar, os nomes que aparecem no Antigo Testamento e em inscrições feitas por povos da Antigüidade são muito semelhantes. Alguns exemplos serão suficientes para esclarecer isso.
A concordância entre passagens paralelas Há mais passagens paralelas no Antigo Testamento do que a maioria dos leitores percebe. O texto de Salmos 18 é idêntico ao de 2Samuel 22; Salmos 14 tem o mesmo texto de Salmos 53; Salmos 108 consiste de partes de Salmos 57 e 60. O texto de Isaías 36-39 é igual ao texto de 2Reis 18.13- 20.19. Longos trechos de 2Samuel e do livro de Reis aparecem também em Crônicas.
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A Concordância entre Nomes Nomes de indivíduos importantes oferecem uma maneira interessante de fazer comparações. A Bíblia traz muitos nomes estranhos como Sisaque, Q9edorlaomer, Azarias, Tiglate-Pileser e J eoaquim. Robert Dick Wilson afirma que, das 184 letras que aparecem em quarenta nomes citados nas cópias em hebraico, praticamente todas estão registradas corretamente. Placas de argila encontradas depois da época em que Wilson realizou suas pesquisas acrescentaram outros exemplos desse fato. Um exemplo notável é o texto de Jeremias 39.3. Por vários séculos, os indivíduos ali mencionados permaneceram desconhecidos para nós. Recentemente, encontraram-se registros arqueológicos dos nomes dos oficiais de Nabucodonosor. Assim, os estudiosos puderam compará-los com a grafia apresentada no versículo. Os tradutores confundiram os nomes dos indivíduos com seus títulos, mas cada letra foi minuciosamente preservada. A tradução correta é "Nergal-Sarezer de Sangar; 1 NeboSarsequim, o Rabe-Saris; Nergal-Sarezer, o Rabe-Mague". Tal precisão nas cópias prova que o Antigo Testamento nos foi transmitido com incrível fidelidade. Para todos os fins, o estudante da Bíblia pode afirmar que os escritos proféticos foram preservados sem nenhum erro que possa afetar a mensagem da Palavra de Deus. O texto é confiável, e podemos usá-lo com a mesma convicção demonstrada por Cristo e os apóstolos.
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Ver o artigo "Nergal-Sarezer" de E. M. Yamauchi em Wyclijfe Bible Encyclopedia, ed. Charles F. Pfeiffer, H. F. Vos eJ. Rea (Chicago: Moody Press, 1975).
COMO A BÍBLIA FOI PRESERVADA - O ANTIGO TESTAMENTO
1ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1 Manuscritos do mar Morto, evidências bíblicas externas, evidências bíblicas internas, passagens paralelas,comparação textual, transmissão, Vulgata.
1PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO
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1.
Como podemos saber se o Antigo Testamento que temos hoje em dia foi preservado, sem grandes mudanças, desde 400 d.C.? E desde 200 d.C.?
2.
O que é a Septuaginta e quando foi composta?
3.
Qyais os dois tipos de manuscritos encontrados nas cavernas da região de Qymran?
4.
Qyantos livros do Antigo Testamento estão presentes entre os manuscritos do mar Morto?
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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5.
Qyais as datas aproximadas de alguns rolos do Antigo Testamento e de seus fragmentos?
6.
Como os manuscritos do mar Morto comprovam que o Antigo Testamento foi meticulosamente copiado nos séculos anteriores ao advento de Cristo?
7.
O que a crítica textual conclui a respeito do Antigo Testamento?
8.
Leia com atenção 2Samuel 22 e Salmos 18, procurando observar as diferenças entre os dois textos. Explique como pequenas alterações no texto hebraico produziram essas variações.
9.
Prepare uma apresentação com gravuras, artigos e livros que mostrem como o Antigo Testamento foi transmitido e preservado. Enciclopédias atualizadas, tanto seculares como religiosas, contêm artigos e fotografias sobre descobertas arqueológicas recentes. Coloque esse material à disposição de todas as classes da escola dominical e da igreja.
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ANOTAÇÕES
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ANOTAÇÕES
Controvérsias em torno da Bíblia
A
Bíblia é o livro mais importante de todas as épocas. Ela é mais extensa do que a maioria dos leitores imagina. Se impressa em tipo de tamanho comum, sem muitos comentários, ocupa aproximadamente 1300 páginas. Não é de surpreender que céticos e descrentes encontrem problemas ao lidar com uma obra tão volumosa. A Bíblia é um livro estranho também - diferente de todos os outros que existem. Ela lida com assuntos de ordem espiritual, que não podemos compreender naturalmente. As coisas do espírito "se discernem espiritualmente" (1Co 2.14-16). Críticos oposicionistas encontram problemas mesmo onde eles não existem. Nicodemos disse a Jesus: "Como pode suceder isto" (Jo 3.9)? Os que não estão dispostos a aceitar a mensagem espiritual da Bíblia não conseguem entendê-la. Ademais, a Bíblia é um livro antigo. Foi escrita por profetas, reis, coletores de impostos e estudiosos em hebraico, aramaico e grego. Seu contexto histórico abrange desde a idade do bronze até os tempos do império romano, passando pela idade do ferro. Os eventos nela relatados ocorreram em Canaã, no Egito, na Grécia e na Ásia Menor. Não é de admirar que tenha causado perplexidade em alguns leitores. Essas supostas dificuldades são resultado da ignorância com relação às regiões, aos costumes e aos idiomas mencionados na Bíblia. Se a estudamos de maneira aprofundada, com dedicação e apoiados pela oração, podemos
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solucionar a maioria desses problemas. O estudante cristão dedicado deve exercitar sua fé e seu discernimento espiritual. Se levarmos em conta o tamanho da Bíblia e os contextos em que foi escrita, que são pouco comuns, ela apresenta pouquíssimos problemas de interpretação. A maravilhosa harmonia que encontramos nesse livro é um fato já consolidado. Foi escrita ao longo de dezesseis séculos por cerca de trinta e cinco autores. As Escrituras contam uma única história e apresentam uma mensagem coerente. A própria harmonia que nela encontramos já foi citada como prova de sua inspiração divina. Alguns assuntos mais problemáticos, no entanto, têm sido debatidos. Vários deles estão relacionados aos milagres, às profecias e a supostas contradições presentes nas Escrituras. Ao examiná-los, o estudante encontrará respostas para outras questões e dúvidas paralelas.
OS MILAGRES A Bíblia relata muitos milagres. Alguns afetaram uma região muito grande e envolveram um grande número de pessoas, como a travessia do mar Vermelho, por exemplo (Êx 14). Outros são mais simples e menos "visíveis", como na ocasião em que Eliseu fez um machado flutuar (2Rs 6.1-7). Alguns tratam de curas, como na ocasião em que Jesus restituiu a visão ao cego (Jo 9).Já outros envolvem coisas do mundo natural, como no milagre da multiplicação, quando Jesus alimentou cinco mil homens com alguns pães e peixes (Me 6.34-44). Como podemos definir a importância desses milagres? O que aprendemos com eles? É possível para nós, cristãos do século XXI, crer nesses acontecimentos? Como? Por que? Para responder a essas questões, precisamos definir o que são milagres bíblicos. Todos os milagres bíblicos têm um ponto em comum: estão relacionados ao mundo natural, ao mundo em que vivemos: um pedaço de ferro que flutua, água transformada em sangue, a cura de lepra ou de surdez, um coxo que volta a andar, uma tempestade acalmada. Os milagres bíblicos também foram fatos singulares, contrários à experiência comum. Foram feitos inacreditáveis, algo que nenhum ser humano poderia realizar. Pessoas não andam sobre a água. Ferro não flutua. Fogo não cai do céu e consome um sacrifício sobre o altar - água, pedras e tudo o mais. Os milagres são resultado de uma interferência direta de poderes sobrenaturais em nosso mundo natural. É um acontecimento fora do comum que se manifesta no mundo físico e vai além de nossa capacidade humana. Hoje em dia, é comum ver pessoas negarem a possibilidade da existência de milagres. David Hume argumentou que nunca conseguiríamos
CONTROVÉRSIAS EM TORNO DA BÍBLIA
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provas suficientes para garantir que eles existem. Os cientistas insistem que o universo é governado por leis fixas e que não há exceções possíveis. Defendem que os indivíduos da Antigüidade eram ignorantes e ingênuos. Segundo eles, aquelas pessoas acreditavam que Deus controlava o universo por intervenção direta e, assim, podia facilmente mudar o que desejasse. Alguns cientistas afirmam: "Sabemos que Deus - se é que ele existe - age através das leis físicas deste mundo, que não podem ser violadas". Entretanto, a Bíblia mostra claramente que os povos antigos não eram ingênuos. É verdade que não tinham conhecimento de dados científicos, mas sabiam não ser possível para um ser humano andar sobre a água (Mt 14.25; Me 6.49; Jo 6.19). Qyando viram Cristo fazendo isso, ficaram aterrorizados e pensaram quer ele era um fantasma. Qyando Paulo curou o homem coxo (At 14), os habitantes de Listra acharam que os deuses haviam assumido a forma humana. Portanto, eles sabiam que seres humanos não tinham poder para fazer aquilo. O cego curado por Jesus disse: "Desde que há mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença" (Jo 9.32). Ele tinha conhecimento de que Cristo havia realizado algo impossível ao homem. A ciência daquela época era bastante rudimentar, mas as pessoas acreditavam na regularidade das leis da natureza e na lei da causa e efeito. Criam em milagres não porque fossem ingênuas, mas porque as provas captadas por seus sentidos eram fatos inegáveis. Tinham certeza de que o Deus dos milagres visitara este mundo pecaminoso, manifestando seu poder. Alguns críticos esforçam-se bastante para desacreditar os milagres. Levantam hipóteses de que Jesus pode ter curado através da psicologia. Afirmam que os discípulos não o viram andando sobre as águas, mas de pé sobre os juncos, próximos à praia. Apresentam muitos detalhes para justificar a multiplicação dos pães para cinco mil pessoas. Supõem que o povo havia trazido alimento e que o exemplo de altruísmo do rapazinho é que os teria constrangido, levando-os a compartilhar sua refeição. Essas teorias tolas, que não se apóiam em fatos científicos, encontradas em muitos livros publicados hoje em dia, não lidam com as evidências claras em cada caso. O maior milagre de todos, a ressurreição de Cristo, não pode ser explicado através de meios naturais (Mt 28; Me 16; Lc 24; Jo 20). O argumento mais forte a favor da ressurreição de Jesus é a transformação que ele operou nos discípulos. Aqueles que o haviam abandonado e fugido (Me 14.50) tornaram-se testemunhas destemidas, dispostas a morrer por sua fé. Os que tentam explicar milagres nos mínimos detalhes, incluindo a ressurreição de Cristo, possuem nada mais do que uma religião vazia, sem poder, alegria ou salvação; cultivam uma filosofia vã, destituída da revelação abençoada de Deus. Esses indivíduos estão em densas trevas, sem a luz da vida. Cristãos genuínos não têm dificuldade para lidar com os milagres. Eles se encontram no cerne de nossa fé. Sua veracidade está relatada na
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Palavra de Deus como a prova cabal e exclusiva da validade da nossa fé e de nossa confiança. Paulo teve uma resposta contundente contra todo ceticismo. ~ando compareceu diante de Festo e Agripa, o governador se recusou a acreditar nas doutrinas que o apóstolo apresentara. Ele declarou que Paulo estava louco (At 26.24). Sua resposta a Agripa foi muito sensata. Disse ele: "Por que se julga incrível entre vós que Deus ressuscite os mortos" (At 26.8)? ~alquer um que acredite em Deus não terá dificuldade em aceitar milagres. Os sinais miraculosos, consistentes e sensatos, apresentados no Novo Testamento, são prova de que o Deus misericordioso realmente se pronunciou. Os milagres são um testemunho essencial de nossa fé e uma prova dela.
AS PROFECIAS Os argumentos derivados das profecias são igualmente marcantes. As profecias bíblicas trazem previsões explícitas, precisas e geralmente de longo prazo. Ninguém poderia imaginar que fossem acontecer, não importa o quão sábia fosse essa pessoa. Obviamente, indivíduos sagazes e observadores conseguem prever determinados acontecimentos. Os meteorologistas arriscam-se a oferecer uma previsão de curto período para o clima de uma região. As pesquisas de opinião usadas durante campanhas políticas procuram descobrir o resultado da votação, com várias semanas de antecedência. Uma profecia genuína, porém, é algo sobrenatural.
O cumprimento de profecias no Antigo Testamento As profecias bíblicas não são previsões que possam dar origem a dupla interpretação, como as fornecidas pelos oráculos gregos. Estes diziam que se determinado rei saísse para a batalha, ele arrasaria um poderoso império. Ele assim o fazia. No entanto, o império que ele destruía era o seu próprio. Em contraste com isso, os profetas hebreus revelavam fatos futuros oferecendo detalhes precisos, geralmente enunciando as datas e os nomes das pessoas envolvidas. Os profetas assim falavam porque Deus lhes dava uma visão sobrenatural e informações minuciosas sobre fatos futuros. Essa é uma das provas vitais da autenticidade da Bíblia como um todo. ~alquer cristão evangélico crê nessa verdade. Como os céticos tratam essas profecias? De maneira muito astuta. ~ando encontram uma previsão no capítulo de Isaías sobre o reinado de Ciro, por exemplo, dizem: "Esse capítulo foi escrito depois da coroação do monarca". Se uma previsão do livro de Reis cita o nome de Josias, eles afirmam que essa informação foi acrescentada ao versículo numa época posterior à ascensão de Josias ao trono. Se Daniel prevê os dias de Antíoco Epifânio, consideram isso uma prova positiva de que o livro foi escrito
CONTROVÉRSIAS EM TORNO DA BÍBLIA
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depois de 165 a.C. A postura dos teólogos liberais diante das profecias que contêm previsões faz com que insistam que o Antigo Testamento foi escrito num período posterior, por autores diferentes daqueles reconhecidos nos próprios livros bíblicos. Qyal é a resposta para essas objeções? Primeiro, devemos destacar a tendência de muitos estudiosos em negar o fator sobrenatural. Em seguida, podemos demonstrar que há evidências bíblicas internas e externas que comprovam que o Antigo Testamento foi redigido em um período bem antigo. Entre os manuscritos do mar Morto estão cópias de Daniel feitas por volta de 110 a.C. Isso comprova que esse livro não pode ter sido escrito por um falso Daniel, através de uma farsa, próximo ao ano de 165 a.C. Seria muito difícil produzir muitas cópias do texto e manter sua origem falsa em segredo, e ainda assim ter sua autoridade canônica reconhecida, tudo isso em um período de cinqüenta e cinco anos. Os documentos encontrados na região do mar Morto trazem fortes evidências em prol de uma data mais antiga para o livro de Daniel, o que o caracteriza como uma profecia com previsões. Em segundo lugar, muitas profecias bíblicas fazem referência à primeira vinda de Cristo ou a fatos ocorridos durante nossa época, que vieram a acontecer vários séculos depois. O lapso de tempo era tamanho que seria simplesmente impossível que os profetas acertassem as datas com precisão. Podemos dar muitos exemplos. A profecia do nascimento virginal de Cristo é um dos casos (Is 7.14). Os críticos afirmam que o vocábulo traduzido como "virgem" nessa passagem significa na verdade ''jovem mulher". O bebê seria o filho de Isaías, que nasceria em breve, ou um descendente de Acabe. No contexto, a criança, Emanuel, também é chamada "Maravilhoso'', e recebe a promessa de vir da linhagem davídica (Is 9.6, 7). Isaías já tinha um filho, Searjasube; portanto, a passagem não pode se referir a ele. Tampouco podemos aplicá-la ao herdeiro de Acabe, Ezequias, que nessa época já tinha mais de nove anos de idade. Ezequias tinha vinte e cinco anos quando sucedeu Acabe, que reinou por dezesseis anos. Como prova adicional, a palavra virgem, usada outras seis vezes no Antigo Testamento, nunca diz respeito a uma mulher casada. Em pelo menos três das ocorrências, significa claramente uma virgem. Além disso, esse versículo na Septuaginta traz um termo que claramente significa uma donzela virgem. Muito antes do nascimento de Cristo, os judeus já acreditavam nessa profecia clara da concepção virginal de Jesus. A atitude tendenciosa dos críticos os impede de aceitar essa maravilhosa previsão. Consideremos também a profecia de Daniel sobre as setenta semanas (Dn 9.24). Ela diz claramente que, a contar da época em que fosse dada a ordem para a reconstrução de Jerusalém até a vinda do Messias, o Príncipe, passariam-se sete semanas e sessenta e duas semanas. Depois da 62.ª semana, o Messias seria morto, e a cidade, destruída. Os estudiosos mais críticos já tentaram, sem sucesso, oferecer uma tradução diferente para essa passagem
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e diluíram seu significado ao afirmar que os períodos de tempo mencionados na profecia são apenas simbólicos. Podemos destacar duas explicações. Primeiro, de acordo com o costume judaico, a palavra semanas diz respeito a um período de sete anos. Os hebreus contavam o tempo em grupos de sete e de cinqüenta - semanas e jubileus. Após sete anos, as dívidas deviam ser perdoadas, e a cada jubileu, que ocorria de cinqüenta em cinqüenta anos, todos recebiam de volta as terras que porventura tivessem perdido. Essa prática era tão antiga quanto as leis e preceitos levíticos. O Livro do jubileu, escrito no período intertestamentário, data eventos em Gênesis a partir de critérios como o jubileu, a semana, o ano, o mês e o dia de cada acontecimento. Obviamente, as "semanas" naquela cronologia representam períodos de sete anos. Assim, sete semanas e sessenta e duas semanas são, portanto, sessenta e nove "semanas" de anos, ou seja, sessenta e nove multiplicado por sete, o que resulta em 483 anos. Uma semana adicional, mencionada no versículo 27, completa as setenta semanas. Em segundo lugar, houve várias ordens para restaurar e reconstruir Jerusalém. A primeira delas partiu de Ciro, por volta de 539 a.C. Essa foi posteriormente revogada e apenas o templo foi reedificado. Os próximos decretos desse tipo ocorreram no período de Esdras e Neemias, entre 456 e 444 a.C. O texto de Esdras 9.9 dá a entender que o edito incluía também a reconstrução de Jerusalém. Assim, o profeta reergueu a cidade, e seu amigo Neemias terminou os muros. Por esse motivo alguns estudiosos contam a partir da data mencionada por Neemias, usando anos mais curtos do que o normal (porque Apocalipse 11.2, se comparado com 12.6, refere-se a anos de 360 dias). Parece mais lógico usar anos "normais", iguais aos que os judeus empregavam em seus cálculos, e contar a partir da data de Esdras. Portanto, 456 a.C. menos 483 anos é igual a 26 d.C. (Não existe "ano zero", portanto a resposta correta não é 27 d.C.). Esse é precisamente o ano em que Cristo foi anunciado por João Batista como o Messias de Israel. Pouco tempo depois, Jesus foi morto. Qyarenta anos mais tarde, a cidade foi destruída em um cerco cruel realizado pelos romanos. Em qualquer teoria sobre a data de Daniel, a profecia, desde que interpretada com rigor, refere-se a fatos que aconteceriam muito depois da época daquele profeta. Portanto, o argumento a favor da profecia é bastante forte. No entanto, as opiniões podem divergir com relação ao cumprimento da 70. ª semana. Os premilenistas (dentre os quais o autor se inclui) acreditam que ela ainda está para se cumprir, de acordo com indicações fornecidas por Cristo em Mateus 24.15. O cumprimento de profecias no Novo Testamento
Muitas profecias registradas no Novo Testamento estão se cumprindo nos dias de hoje. Jesus fez uma profecia ousada, quando disse a alguns
CONTROVÉRSIAS EM TORNO DA BÍBLIA
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pescadores: "Mas é necessário que primeiro o evangelho seja pregado a todas as nações" (Me 13.10). Contudo, sabemos que a partir de uma origem humilde, a igreja cristã se expandiu a ponto de chegar a todas as principais regiões do mundo. Jesus também previu: "Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça" (Mt 24.34). Os judeus resistiram, mesmo depois de serem dispersados, perseguidos, expulsos e massacrados. O retorno dos judeus a Israel, que vem acontecendo em nossa época, é um cumprimento adicional muito importante das profecias da Antigüidade (Zc 12.1). Essas previsões não representam um problema nem causam constrangimento algum à fé cristã. As muitas profecias que já se cumpriram são uma prova sobrenatural de que Deus se pronunciou.
AS SUPOSTAS CONTRADIÇÕES Os críticos liberais dizem ter encontrado várias contradições na Bíblia. Estas, porém, não são tão graves como eles alegam. Neste estudo, infelizmente é impossível responder a todas essas questões. John Haley pesquisou as publicações dos críticos modernos e fez uma revisão de todas as dificuldades que eles afirmam ter descoberto. As respostas de Haley, cuidadosamente preparadas, têm sido aceitas por causa de sua fidelidade aos fatos. Elas são dignas de consideração. Outros estudiosos evangélicos contribuíram com mais sugestões. Uma dessas supostas contradições é o suicídio de Judas. Mateus 27.5 relata que "Judas (... ) retirou-se e foi enforcar-se". Em Atos 1.18. lemos: "E, precipitando-se, rompeu-se pelo meio". A palavra no original de Mateus, traduzida como "enforcar'', não se refere necessariamente a enforcamento, mas ao ato de suicídio em geral ou ao estrangulamento. Ela é usada em 2Samuel 17.23, para traduzir o vocábulo hebraico hanaq. Essa raiz, usada apenas em Naum 2.12 e emJó 7.15, significa não o enforcamento especificamente, mas sim qualquer tipo de estrangulamento. A morte na forca não era comum no período veterotestamentário. É claro que, caso o corpo de Judas não fosse encontrado, iria inchar e romper. A suposta contradição pode se dever a uma tradução demasiadamente precisa. Marcos 14.30 e 72 relatam a tríplice negação de Pedro antes que o galo cantasse duas vezes. Os outros evangelhos mencionam apenas o cantar do galo. Alguns dos manuscritos mais antigos de Marcos não incluem a expressão duas vezes. Portanto, concordam com o texto de Mateus e de Lucas. Em alguns manuscritos lemos no texto de 2Crônicas 36.9 que Joaquim tinha oito anos quando foi levado cativo, mas 2Reis 24.8 menciona que ele tinha dezoito. Alguns dos textos em hebraico e a Septuaginta trazem a segunda opção. Esse é, obviamente, o texto original em ambos os livros. Assim, a crítica textual soluciona esse problema.
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Outro exemplo é o do cego que foi curado, quando Jesus deixava Jericó (Me 10.46-52). Os relatos paralelos parecem discordar. Mateus 20.30 traz: "E eis que dois cegos, assentados à beira do caminho ... ". Lucas 18.35 menciona "um cego" que foi curado, quando Jesus se aproximava de Jericó, dando a entender que o homem teve sua vista restaurada nos arredores daquele lugar. Naquela época, havia duas cidades com o nome de Jericó - uma antiga e outra, onde ficava o palácio de inverno de Herodes. Logo, o grupo de discípulos poderia estar saindo de uma das cidades e passando pelas imediações da outra. Esses relatos não são contraditórios; simplesmente um deles traz mais detalhes do que o outro. Muitas outras supostas contradições não são narrativas conflitantes, mas sim relatos que se complementam. A inscrição colocada no topo da cruz é um exemplo disso. Ela é apresentada com algumas variações nos quatro evangelhos. A placa trazia o título de Jesus em grego, latim e hebraico. Outras inscrições trilíngües daquela época não eram idênticas em todos os idiomas. A variação indica que um dos evangelhos traz parte do título e os demais acrescentam outras partes. A maioria dessas possíveis contradições não trata de questões sérias. Uma boa Bíblia de estudo geralmente traz algumas respostas. Normalmente, o problema decorre de nosso conhecimento limitado ou de interpretações errôneas de cada caso. Os céticos dão muita ênfase aos problemas encontrados na Bíblia. Apesar de seus ataques, o texto bíblico permanece e multidões de cristãos e estudiosos fiéis encontram nele a luz da vida e a verdade de Deus. Devemos lembrar a confissão de fé feita por Pedro: "Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna" (Jo 6.68). Muitos rejeitam a Palavra por causa de alguns discursos de Jesus, difíceis de entender, mas "nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus" (Jo 6.69).
A BÍBLIA E A CIÊNCIA Tem-se divulgado amplamente a idéia de que os avanços da ciência tornam impossível acreditarmos na Bíblia. Isso não é verdade para o cristão que realmente estuda a Palavra de Deus. As Escrituras são inspiradas e verdadeiras não apenas em questões de ordem espiritual, mas também naquelas passagens em que dizem respeito à ciência e à história. No entanto, a Bíblia não é uma publicação científica e raramente faz menções de aspectos da física, química, matemática ou eletricidade. Os principais conflitos entre a Bíblia e a ciência estão nos primeiros capítulos de Gênesis, e geralmente nas questões relacionadas à evolução. Essa controvérsia se dá geralmente em torno de três assuntos: a idade da terra, a rígida delimitação das espécies e a origem do homem.
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A idade da Terra A geologia afirma que nosso planeta tem de quatro a cinco bilhões de anos. Será que isso está de acordo com o relato bíblico? É possível apresentarmos aqui apenas a resposta mais sucinta. Alguns estudiosos das Escrituras sugerem que os seis dias da criação são na verdade longos períodos de tempo, e não devem ser tomados literalmente como dias de vinte e quatro horas. Os primeiros três "dias" ocorreram antes que o Sol fosse criado e utilizado como referência para a contagem do tempo. Aqueles que defendem essa doutrina também sugerem que os dias da criação não tiveram necessariamente a mesma duração. O primeiro deles pode ter se estendido por muito mais tempo. A criação da vida vegetal, as fases finais da formação do Sol, da Lua e o início da vida animal podem ter ocorrido em épocas bastante próximas, seguidas de um longo período de crescimento com mais criações posteriores. Em contrapartida, outros teólogos, que defendem a ocorrência de dias com vinte e quatro horas de duração, argumentam que Deus pode ter criado o mundo dando-lhe, desde o início, o aspecto de algo mais velho do que realmente era. No entanto, devemos deixar claro que o relato bíblico é verdadeiro no que diz respeito à idade da terra.
A rígida delimitação das espécies Esse problema depende muito do significado que se atribua à palavra espécie. Não há uma definição capaz de englobar todas as acepções da palavra. Na biologia, a palavra espécie é definida como plantas ou animais que apresentam características semelhantes. Segundo essa definição, a palavra espécie não recebe uma rígida delimitação. O repolho, a couve-flor e a couvede-bruxelas, por exemplo, embora tenham aparências bem distintas, podem sofrer cruzamentos entre si sem problema algum. Em contrapartida, se definirmos espécie como organismos que admitem cruzamentos entre si, mas não com outras espécies, então estaremos delimitando rigorosamente o significado da palavra, restando apenas raros exemplos que fogem à regra.
A idade do homem Não há uma data precisa que indique há quanto tempo os seres humanos habitam o planeta. As teorias mais antigas sobre a evolução defendiam que o homem primitivo surgiu durante o período glacial, também chamado Pleistoceno, cerca de quinhentos mil anos atrás. Foi sucedido pelo Homem de Neanderthal, por volta de sessenta mil anos atrás e, em seguida, pelo Homem de Cro-Magnon, há vinte e cinco mil anos. Essas teorias foram alteradas devido a descobertas recentes. Descobriu-se que o Homem de Carmelo apresenta características do homem moderno, embora estime-se
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que tenha vivido há cento e vinte e cinco mil anos, a partir de comparações com o período glacial. Essa data foi alterada mais recentemente para trinta e cinco mil anos com o auxílio do método do carbono 14, que, em si mesmo, também apresenta variações consideráveis. Descobriu-se ainda que o Homem de Swanscombe e o Homem de Kanjera também tinham muitas características do ser humano moderno, embora calcula-se que tivessem vivido há trezentos mil anos. A datação, também baseada em fenômenos glaciais, é bastante questionável. Os cientistas agora concordam que os Neanderthais não eram tão primitivos como se acreditava. Todo esse processo de datação científica não é confiável e está sendo constantemente estudado e revisto. Novas descobertas nessas áreas têm acontecido rapidamente com os achados de Louis Leakey na garganta Olduvai, na África, e também nas escavações de seu filho, Richard Leakey, mais ao norte, além de Donald Johanson e outros. Embora as supostas épocas em que esses hominídeos viveram sejam muito antigas (dois ou três milhões de anos), os espécimes mais recentes encontrados por Richard Leakey apresentam estatura ereta, arcada dentária semelhante à do homem moderno e habilidade na fabricação de ferramentas. Isso pode significar a existência de variações dentro da raça humana, mas não a evolução desta. A própria Bíblia, embora seja clara a respeito dos fatos da criação, não fornece uma data específica. Não obstante, a maioria dos estudiosos da Bíblia acredita que o universo seja bem mais recente, com apenas dez ou quinze mil anos de idade. Uma crescente intimidade com as Escrituras e uma fé sincera em sua origem divina levarão o estudante da Bíblia a ter uma confiança profunda na noção de que, quando conhecermos todos os fatos, perceberemos que a verdadeira ciência estará em perfeita harmonia com uma interpretação bíblica precisa, sensata e minuciosa.
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1ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO
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Supostas contradições, postura tendenciosa da crítica, teoria da evolução, milagre, ciência.
1PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO
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1.
Localize os oito milagres relatados nos evangelhos que não estão relacionados com cura.
2.
Como é possível que o diabo e os demônios realizem milagres (cf.
Êx 7.22; Ap 13.14)?
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3.
Leia os sermões de Pedro (At 2) e os de Paulo (At 13) e faça uma lista das profecias que se cumpriram em Cristo.
4.
À luz da ciência moderna, apresente as razões pelas quais os cristãos podem continuar acreditando na Bíblia.
5.
Apresente contradições bíblicas que não mencionamos neste capítulo, que o leitor tenha encontrado. Como podemos responder a essas questões?
CONTROVÉRSIAS EM TORNO DA BÍBLIA
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ANOTAÇÕES
INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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ANOTAÇÕES
A alta crítica e a Bíblia
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odos os estudantes da Bíblia devem se inteirar dos ataques que têm sido lançados contra as Escrituras. Ao fazê-lo, estarão preparados para provar os espíritos. Assim se tornarão capazes de permanecer firmes no caminho e não receber influência de indivíduos instáveis que distorcem a Palavra de Deus, sofrendo eles mesmos a punição por seu erro (2Pe 3.16). O mesmo acontece com um estudante de medicina, que aprende sobre as doenças para saber como preservar a saúde de seus pacientes. Sempre houve pessoas que não acreditam na Bíblia. Em nossos dias, existe um tipo particular de descrença que é expressa sob a forma da alta crítica. Não iremos estudar todos os detalhes dessa linha de argumentação, mas é prudente que estejamos cientes da sua existência.
DEFINIÇÃO A alta crítica examina, entre outros assuntos, a data de composição dos livros da Bíblia e sua autoria. Muitos dos adeptos da alta crítica defendem que alguns livros da Bíblia, senão todos, na realidade não foram escritos pelos homens mencionados nos próprios livros como seus autores. Afirmam também que esses livros não foram escritos na data estimada e que muitos deles não constituíam um volume único, mas compõem-se de vários documentos, que foram reunidos através dos séculos.
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Hoje em dia, alguns teólogos ortodoxos empregam o termo alta crítica de uma maneira um pouco diferente. Admitem haver lugar para o tipo certo de alta crítica, algo totalmente distinto da atitude maldosa e descrente demonstrada pelos liberais. Os críticos ortodoxos estudam a autoria dos livros da Bíblia e o contexto histórico a eles relacionado. Usam as técnicas da alta crítica, porém de maneira reverente. A alta crítica ortodoxa é simplesmente outra designação para aquilo a que chamamos "introdução à Bíblia". A expressão "alta crítica" geralmente refere-se à postura ideológica descrente mencionada acima. Sempre foi e ainda é nociva para a fé e fatal para o esforço cristão. Se a Bíblia é um grande apanhado de mentiras (como dizem os críticos liberais), por que devemos lê-la ou pregar sua mensagem pelo mundo? De que valeria ensinar nossos filhos a guardar os Dez Mandamentos, se os próprios mandamentos transmitissem um testemunho falso da experiência de Moisés com Deus no monte Sinai? Para que possamos compreender essa teoria errônea, é necessário que recordemos alguns detalhes históricos. Em 1753, o médico francês Jean Astruc notou que o nome divino, no livro de Gênesis, às vezes aparece como "Deus" (Elohim em hebraico) e outras vezes como "Javé" ou YHWH (SENHOR, em algumas de nossas versões). Astruc sugeriu que essa variação devia-se ao fato de Moisés ter usado duas fontes diferentes quando compôs o livro de Gênesis, a "fonte E" e a "fonte J". Astruc não negou que Moisés fosse o autor de Gênesis, mas concluiu que a combinação dessas duas fontes resultou no primeiro livro da Bíblia. --~--------------
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A CRÍTICA DO ANTIGO TESTAMENTO Escritores racionalistas franceses e alemães empenharam-se para ampliar a teoria de Astruc e disseram que o Pentateuco na verdade fora obra de alguém que viveu muito depois de Moisés. Eles alegam que a "fonte E" foi o documento mais antigo usado e que a "fonte J" teria sido consultada mais tarde. Em 1853, o alemão Hupfeld mudou completamente o rumo dessa pesquisa. Ele declarou que o próprio documento "E" era composto de duas partes, sendo que uma delas havia sido acrescentada posteriormente. Críticos alemães de um período posterior, principalmente Wellhausen (1878), foram além e afirmaram terem sido capazes de identificar quatro documentos na formação do Pentateuco. Seus nomes e datas são os seguintes: Documento J, de 850 a.C. (agora datado como um pouco anterior - recebeu esse nome por causa do uso da palavra "Javé", traduzida por SENHOR)
A ALTA CRÍTICA E A BÍBLIA
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Documento E, de 750 a.C. (assim designado por causa do uso de "Elohim" para se referir a Deus) Documento D, 625 a.C. (composto em grande parte pelo texto de Deuteronômio) Documento P, 450 a.C. (com maior ênfase sacerdotal) Wellhausen afirmou que nenhum dos textos do Pentateuco foi escrito por Moisés e estimou que todo o registro relativo aos sistema sacerdotal ou às leis sacrificiais foi compilado por homens que viveram mil anos depois de Moisés. A autoria mosaica do Pentateuco
A alta crítica não se limita a negar a autoria mosaica. Rejeita também a verdade e o valor doutrinário inerentes ao Pentateuco. Declara-se, por exemplo, que nunca houve tabernáculo no deserto. Defendem que esses relatos foram inventados por sacerdotes do período pós-exílico. Alguns dos críticos mais antigos chegaram a ponto de afirmar que Moisés não sabia escrever, isto é, aqueles que acreditam que Moisés realmente existiu. Chamaram os relatos sobre os patriarcas de "um punhado de lendas inventadas posteriormente". Eles duvidam totalmente do episódio do êxodo do Egito (Êx 12). Chamam de espúrias as leis transmitidas no Sinai (Êx 20). O milagre das dez pragas (Êx 7.9), da travessia do mar Vermelho (Êx 14.21), do maná (Êx 16.14) e outros foram todos descartados. Ainda mais grave é a afirmação dos adeptos da alta crítica de que Deus não se revelou ao povo da Antigüidade como o Deus único, santo e verdadeiro. Eles insistem que os patriarcas da época de Abraão eram animistas simplórios (adoradores de pedras e árvores). Já nos tempos de Moisés teriam sido politeístas (adoradores de muitos deuses). Afirmaram também que Davi foi henoteísta (alguém que crê que toda nação tinha seu deus particular). Segundo eles, o monoteísmo (crença em um único Deus) teria sido uma descoberta dos profetas do oitavo século antes de Cristo. Essa reconstrução diabólica da religião e da história primitiva do povo de Israel foi o "resultado plenamente comprovado" a que chegaram os críticos racionalistas alemães, no início do século XX. Qyem negava essa visão era considerado retrógrado e ignorante. Graças a Deus, muitos milhares de cristãos fiéis à Bíblia nunca se renderam aos ataques sutis dos liberais adeptos da alta crítica. Davi, Isaías e Daniel
A alta crítica foi bem além do Pentateuco. Era praticamente inevitável que aqueles teólogos tentassem refutar toda a Palavra de Deus. Se Davi não
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era monoteísta, não poderia ter escrito os salmos, porque esses textos falam de um único Deus, santo, vivo e verdadeiro. Por essas e outras razões, os críticos determinaram que o registro da maioria dos livros do Antigo Testamento deu-se num período muito posterior. Segundo eles, Isaías teria sido supostamente escrito por um, dois, três ou mais indivíduos. Eles dizem que o livro não previu a chegada de Ciro com 175 anos de antecedência. Isso teria sido registrado por Dêutero-lsaías, ou um segundo Isaías, que viveu durante o reinado daquele monarca. Afirmam ainda que Daniel não previu a sucessão dos poderosos impérios da Babilônia, Medo-Pérsia e Grécia, até o reinado de Antíoco Epifânio, em 165 a.C. Presumem que o livro tenha sido escrito num período posterior, durante a guerra entre os exércitos de Antíoco e os macabeus. Logo, dizem que na verdade eram apenas registros da história antiga e não uma profecia. Portanto, os defensores da alta crítica não se limitaram a combater os detalhes ligados à estrutura do texto bíblico. Atacaram também as verdades fundamentais e o valor teológico de praticamente todos os livros do Antigo Testamento.
Cristo aprovou o Antigo Testamento A alta crítica afeta nossa visão tanto do Antigo Testamento como do Novo. No segundo capítulo, mostramos de maneira clara que Cristo e os apóstolos criam plenamente no Antigo Testamento. Jesus ensinou que "é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei" (Lc 16.17). Ele declarou ainda que o testemunho do Antigo Testamento era mais convincente do que o de alguém que ressuscitasse dos mortos (Lc 16.29-31). Jesus acreditava na existência real de Adão e Eva, de Jonas e o grande peixe, no maná que caiu do céu e em todos os demais fatos registrados no Antigo testamento. Cristo não era um adepto da alta crítica. Todavia, a alta crítica moderna retrata-o como um indivíduo semelhante a outros de sua época, sujeito aos ensinamentos ingênuos, errôneos e acríticos de seu tempo. Os críticos liberais ensinam que Jesus tomou consciência gradual de que era o Messias. Afirmam que se enganou a respeito de sua segunda vinda e que não morreu como um substituto divino em nosso lugar (lPe 2.24, 25), mas como um mártir humano. A alta crítica destitui o Antigo Testamento de seu valor e priva o Novo Testamento de seu Senhor. Infelizmente, temos que admitir que essa visão tem-se difundido e arraigado profundamente na teologia. Ela é a base do chamado "modernismo". No início do século xx, jovens e promissores teólogos iam para a Europa estudar e geralmente retomavam infectados pelos ensinos modernistas da escola alemã. A maioria das grandes e mais tradicionais escolas teológicas aceitou esse liberalismo como base de seu ensinamento teológico, e seus formandos pregaram tais conceitos por vários anos. Muitos líderes cristãos de igrejas locais nem sequer imaginam a extensão dessa influência.
Ela tem sido combatida por muitas instituições e faculdades cristãs e por um contingente bem grande de universidades e seminários evangélicos ortodoxos, principalmente aqueles fundados após 1920. Entretanto, a alta crítica afetou uma grande porcentagem dos pregadores protestantes de nossa geração. Todos os cristãos envolvidos no ministério, bem como os professores de escola dominical devem procurar compreender plenamente os efeitos da alta crítica.
A CRÍTICA ANTIGA Os ícones da alta crítica liberal antiga são as referências aos documentos e P, a negação da unidade de Isaías, a defesa de uma data posterior (pós-exílica) para a maioria dos salmos, uma datação para o livro de Daniel no período dos macabeus (165 a.C.), a tese da evolução da religião de Israel (em vez de sua revelação divina), a descoberta do monoteísmo pelos profetas do oitavo século antes de Cristo e várias outras negações das verdades bíblicas. Através da lógica humana, um indivíduo que acredite em alguns dos pontos defendidos pela alta crítica acreditará nos outros também. Qyem crê na existência de "dois ou três Isaías", dificilmente concordará que Daniel foi escrito em 550 a.C. Aquele que acredita que Moisés não escreveu nenhum livro também se recusará a crer que Davi foi o autor dos salmos que lhe são atribuídos. A alta crítica é um sistema doutrinário e opõe-se ao cristianismo ortodoxo em todos os conceitos básicos. Felizmente, a própria alta crítica vem sofrendo ataques hoje em dia. Por providência de Deus, desde 1920, arqueólogos têm feito descobertas notáveis. Elas têm convencido estudiosos, até mesmo os não-ortodoxos, de que os relatos em Gênesis são verdadeiros. Moisés pode muito bem ter sido monoteísta, muitos dos salmos foram registrados em períodos tão antigos quanto a época de Davi, etc. De acordo com W. F. Albright, um estudioso bastante proeminente, a antiga teoria de Wellhausen sofreu um "colapso total". As posturas antigas têm sido intensamente modificadas. As novas descobertas arqueológicas realmente comprovam os conceitos ortodoxos. Todavia, não são muitos os que estão retornando à ortodoxia. Em vez disso, propõem novos tipos de crítica que não têm sido acolhidas por todos os teólogos. Na verdade, revelam-se tão erradas como as idéias anteriores.
J, E, D
A NOVA CRÍTICA A nova crítica não é tão unificada como as posturas antigas do início do século xx, e não é possível acompanhá-la em detalhes. Há uma teoria sobre a tradição oral que defende que nenhum documento bíblico foi registrado até o período em que Israel seguiu para o exílio. Segundo essa
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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teoria, as tradições hebraicas foram passadas adiante de forma oral. Uma perspectiva mais comum defende a teoria das fontes J, E, D e P, mas tenta identificar a tradição oral subentendida nesses documentos. Outra linha estabelece subdivisões para essas fontes,J1,J2, PA, pB, etc. Outra teoria comum agora admite ser possível identificar sinais dos documentos J, E e P apenas em Gênesis, Êxodo, Levítico e Números (o chamado Tetrateuco) e que o autor, editor ou escola que compilou o livro de Deuteronômio foi o mesmo que escreveu Josué, Juízes, 1e2Samuel e 1 e 2Reis, em um período próximo ao exílio. Obviamente, de acordo com esses teólogos, o trabalho do "deuteronomista" não configura uma unidade. Ele supostamente se valeu de vários registros antigos, e muitas passagens foram inseridas no documento em épocas posteriores. Os argumentos para essas idéias são bastante subjetivos e por isso muito diversificados. Eles partem das afirmações antigas defendidas por Wellhausen, a respeito de passagens paralelas, afirmações contraditórias ou ainda sobre estilos e conceitos característicos, e a seguir dividem os textos segundo esses aspectos que lhes chamam a atenção. É interessante perceber que a extensão do documento P em Gênesis, por exemplo, como afirmou Driver quase um século atrás, é muito parecida com a posição defendida hoje em dia por Martin Noth1 • A principal diferença entre ambos está no fato de que Noth não identifica a presença de trechos do documento P nos capítulos 14 e 24 de Gênesis. Os críticos mais antigos afirmavam que o texto de Gênesis 14 foi acrescentado bem depois, possivelmente no período dos macabeus (ou seja, aproximadamente em 165 a.C.). Estudos arqueológicos hodiernos demonstram que aqueles trechos enquadram-se perfeitamente na época dos patriarcas, e não em um período posterior. Surpreende-nos que a crença nos documentos J, E, D e P ainda esteja em voga, com bem poucas alterações, pois não há nenhuma descoberta arqueológica que comprove a existência de tais documentos. Ao contrário, muitos achados apóiam a veracidade histórica dos textos bíblicos em questões de maior e menor importância. Para um estudo mais aprofundado acerca dos detalhes complexos resultantes dessas análises críticas, aconselhamos que o leitor consulte a obra de Archer, Merece Confiança oAntigo Testamento?, publicada por Edições Vida Nova.
1 Martin Noth, A History of Pentateuchal Traditions, tr. B. W. Anderson (Chico, Calif.: Scholars Press, 1981), p. 17, 18.
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A ALTA CRÍTICA E A BÍBLIA
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1ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO 1 Animista, evangélico, henoteísta, alta crítica, liberalismo, monoteísta, ortodoxo, politeísta.
1PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO
1
1.
Mencione vários conceitos inter-relacionados, defendidos pela alta crítica, que dizem respeito aos livros do Antigo Testamento.
2.
Apresente várias razões por que a alta crítica é nociva à fé cristã.
3.
Explique o que a alta crítica diz sobre as profecias que contêm previsões e sobre a realidade dos milagres.
4.
Em nossa época, quais fatores têm contribuído para derrubar os antigos pensamentos defendidos pela alta crítica?
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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1
ANOTAÇÕES
A arqueologia e o Antigo Testamento
J
á se publicaram muitos livros que tratam da relação entre a arqueologia e o Antigo Testamento. Neste capítulo, podemos apenas definir o conceito de arqueologia, mencionar a abrangência desse estudo e demonstrar a ligação entre a arqueologia e o Antigo Testamento.
DEFINIÇÃO Arqueologia é o "estudo dos costumes e culturas dos povos antigos". Em termos práticos, limita-se a analisar fatos históricos da Antigüidade, trazidos à luz através da escavação de cidades, túmulos e da descoberta de relíquias. A arqueologia bíblica está voltada principalmente para os objetos encontrados na região da Palestina, do Egito e da Mesopotâmia. Os arqueólogos trabalham escavando cuidadosamente ruínas antigas. Em seguida, fotografam e registram tudo exatamente como encontraram, interpretando os resultados. Eles também traduzem e estudam os documentos encontrados.
HISTÓRIA Na Idade Média, pensava-se que as pinturas e escritos presentes nos templos egípcios tivessem poderes mágicos. Por volta do ano 1700, alguns
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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arqueólogos descobriram a Pedra de Roseta, que trazia um texto em três línguas, dentre elas o grego. Esse achado forneceu aos estudiosos a chave para decifrar o idioma egípcio. Em meados de 1800, um arqueólogo decifrou a inscrição de Behistune, de Dario, o Grande. Ela também era trilíngüe e possibilitou aos estudiosos desvendar o idioma assírio-babilônico. Pesquisadores agora chamam essa língua acadiano, em homenagem à cidade de Acade, mencionada em Gênesis 10.10. O acadiano era escrito com uma cunha, com o qual se faziam várias combinações de marcas em placas de argila ainda mole, que eram geralmente do tamanho e do formato de uma pedra de sabão. Essas placas eram colocadas para secar ao sol. Os objetos que chegaram aos nossos dias ainda estão muito bem preservados. Aquele tipo de escrita é chamado cuneiforme (em forma de cunha). A maioria dos escritos na Palestina e no Egito era feita em papiro, material semelhante ao papel, confeccionado a partir de uma planta que tinha o mesmo nome. O papiro apodrecia facilmente nas estações chuvosas e úmidas da Palestina durante o inverno. Portanto, apenas uns poucos documentos armazenados naquela região resistiram até nossos dias. Uma exceção foi a descoberta recente de muitos fragmentos e pergaminhos guardados em cavernas do deserto próximo ao mar Morto, um local quente e seco. Esses manuscritos datam desde 200 a.C. até 50 d.C. Com exceção desses, os documentos palestinos restringem-se a algumas poucas inscrições, selos e textos gravados em cerâmica. Os primeiros arqueólogos não contavam com técnicas muito precisas e adotavam métodos não-científicos para lidar com seus achados. Escavavam as ruínas antigas aleatoriamente, na esperança de encontrar algum material escrito, estátuas bem preservadas ou algum tesouro. Por fim, descobriram que as cidades antigas da Palestina e da Mesopotâmia eram dispostas em níveis de ocupação, uma sobre a outra. Os primeiros moradores abandonavam as cidades em períodos de guerra, fome ou pestilência. As casas feitas de tijolos de barro e seus muros ruíam. Mais tarde, novos grupos se mudavam para aquele lugar, nivelavam o terreno sobre as ruínas antigas e construíam um novo nível bem em cima do anterior. Descobriram-se até vinte e três cidades sobrepostas no mesmo local. Arqueólogos de épocas mais recentes encontraram esses estratos, através de suas escavações, um após o outro. Assim, puderam estudar a relação entre os grupos de habitantes de cada local. A arqueologia desenvolveu-se muito pouco até a Primeira Guerra Mundial. Naquela época, os arqueólogos chegaram à conclusão de que os estratos de cidades pertencentes a cada período eram caracterizados pelas peças de cerâmica produzidas por aqueles povos. Um estudo cuidadoso dos tipos de objetos, principalmente a cerâmica local, tomou possível comparar as ruínas de uma cidade com os vestígios de povoados antigos de locais diferentes. Outras comparações com eventuais inscrições permitiram a
A ARQUEOLOGIA E O ANTIGO TESTAMENTO
datação desses estratos, muitas vezes com bastante precisão. Por isso se afirma que a arqueologia tornou-se em ciência por volta de 1920. Trabalhos arqueológicos mais antigos podem ter revelado fatos valiosos, mas tiveram de ser reestudados com o uso de procedimentos e métodos mais precisos da arqueologia de períodos recentes. No entanto, os avanços da arqueologia nos últimos 65 anos foram tremendos. Pouco mais de cem anos atrás, não se conhecia bem a história do Egito, da Mesopotâmia ou da Palestina, em épocas anteriores a 800 a.C. Agora possuímos achados brilhantes que remontam a 3000 a.C. ou até antes disso. Os cientistas descobriram os nomes dos antigos reis da Babilônia, da Síria e do Egito. Esses reis também são mencionados na Bíblia, e encontraram-se até mesmo pinturas de alguns deles. Antigas batalhas, leis, línguas e culturas ressurgiram sob a investigação paciente desses estudiosos. Qyal a influência disso para a Bíblia em si? Obviamente, muito grande. As descobertas recentes revelam e confirmam fatos relacionados às Escrituras, e em vários casos oferecem resposta satisfatória para os ataques dos críticos.
CONFIRMAÇÃO Muitos trechos do Antigo Testamento não podem ser confirmados. Nenhum arqueólogo pode provar que "o SENHOR é o meu pastor; nada me faltará". A arqueologia interessa-se pela história bíblica. Assim, podemos usá-la para confirmar fatos relatados nos livros históricos e proféticos. Contudo, ela não traz discernimento espiritual. Descobertas arqueológicas confirmam a batalha de Sisaque contra Roboão (1Rs 14.25, 26), o reinado de Onri e o poderio de Acabe (1Rs 16.22), a revolta de Mesa de Moabe (2Rs 3.5), a queda de Samaria (2Rs 18.10), a escavação do aqueduto de Ezequias (2Rs 20.20), a invasão liderada pelo faraó Neco (2Rs 23.29), a queda de Jerusalém e a deportação de Joaquim (2Rs 24.10-15). É impressionante quando algum detalhe, há muito esquecido por todos, exceto pelos autores bíblicos, é confirmado por descobertas arqueológicas. Tais comprovações corroboram que os livros da Bíblia foram escritos por testemunhas oculares dos fatos nela relatados, ou por outros indivíduos que os conheciam intimamente e que viveram nas épocas ali mencionadas. Dois exemplos são suficientes para ilustrar isso.
O selo de Baruque Baruque, escriba de Jeremias, foi sem dúvida uma personagem de importância secundária. Ninguém, a não ser seus contemporâneos, saberia de sua existência. Há menção de seu nome apenas no livro de Jeremias. Ele
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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aparece 23 vezes nos capítulos 32, 36, 43 e 45. Todavia, descobriu-se em Jerusalém um selo com a seguinte inscrição: "Pertencente a Baruque, filho de Nerias, o escrivão". No mesmo grupo de objetos desenterrados, encontrou-se outro selo com os dizeres: "Pertencente a Jerameel, filho do rei" (cf. Jr 36.26, 32). A conclusão mais lógica é que Jeremias foi escrito por alguém da época ali retratada. Os ferreiros
Um tipo diferente de ilustração encontra-se em lSamuel 13.19-21. Nessa passagem, lemos que os filisteus não permitiam que os israelitas tivessem ferreiros, para que não fossem capazes de forjar espadas para seus exércitos. Por muito tempo, os tradutores tiveram dificuldade ao interpretar esses versículos. Parecia estranho .não haver nenhum ferreiro entre os hebreus, pois o trabalho com metal já era conhecido havia séculos, em toda a região do Oriente Próximo. Informações recebidas posteriormente provam que esses versículos retratam exatamente a situação do povo de Israel na época. Os filisteus introduziram a Idade do Ferro na Palestina e, a princípio, mantiveram o monopólio do trabalho com esse material. Não havia ferreiros em Israel porque os filisteus fizeram do manuseio do ferro um segredo militar. A frase "tinham, porém, limas adentadas para os seus sachos" (lSm 13.21, ARC) agora foi esclarecida através da descoberta de uma peça de metal que continha uma gravação de um termo hebraico derivado da palavra traduzida como "sacho". Obviamente esse termo não tinha o mesmo significado da palavra original, mas era uma referência ao preço cobrado dos israelitas para afiar ferramentas que, como o "sacho'', eram utilizadas na agricultura. O conhecimento de um detalhe como esse é uma prova clara de que o autor de lSamuel estava plenamente ciente da história de sua época. Copistas posteriores, que não sabiam de todos os detalhes, interpretaram mal o versículo. Agora percebemos o que o autor do livro quis dizer. Somente assim foi possível traduzir o vocábulo hebraico corretamente.
ILUMINANDO O TEXTO Podemos fornecer outros exemplos sobre o uso da arqueologia para ilustrar e iluminar o Antigo Testamento. Eles confirmam o texto bíblico e revelam o contexto histórico subjacente ao texto. Essa capacidade de lançar luz sobre os textos é em si mesma importante, porque não poderemos valorizar devidamente a Bíblia se não a compreendermos. Um conhecimento adequado das Escrituras poupará o estudante de cometer muitos erros graves de interpretação. Novamente iremos apresentar apenas alguns exemplos.
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Os horeus Em Gênesis, Números e Deuteronômio, encontramos menções do povo horeu. Aparentemente esse povo tinha ligação com Edom. Os horeus podem ter tido alguma relação com os jebuseus, que habitavam Jerusalém. A palavra hor, em hebraico, quer dizer "buraco". Por esse motivo, um dos léxicos mais antigos (isto é, um livro que contém as palavras de uma língua, dispostas em ordem alfabética e acompanhadas de sua definição em outra língua), tal como o que foi escrito por Brown, Driver e Briggs, traz que o termo horeu "provavelmente significa "escavadores de cavernas". Isso implica a existência de um grupo de indivíduos que habitavam em cavernas na Palestina, na época dos patriarcas. Mais recentemente, a arqueologia descobriu outros detalhes sobre os horeus. Eles não eram escavadores de cavernas, mas sim um povo tão avançado como qualquer outro da Antigüidade. Hoje já se sabe também que Abraão viveu numa cultura que já contava com mil anos de desenvolvimento. Os horeus agora são chamados hurritas. Escavações na cidade de Nuzi, na Mesopotâmia (1929), revelaram costumes relativos às leis e à vida em família desse povo. Atualmente, ensina-se a língua hurrita em algumas universidades.
Salomão Salomão é famoso por sua sabedoria. No entanto, a história antiga fala tão pouco sobre ele que alguns estudiosos se perguntam se sua riqueza e sabedoria não foram na realidade exageradas nos relatos bíblicos. Todavia, várias descobertas revelaram e confirmaram o que a Bíblia diz sobre esse rei, apesar de os arqueólogos não terem descoberto nenhuma placa de argila ou outro tipo de inscrição sobre Salomão. Primeiramente, foram feitas escavações na cidade de Megido (1925-1939). Os edifícios do lugar comprovam o conhecimento arquitetônico de Salomão e seu interesse nessa arte. Os achados corroboram o costume do monarca de fundar várias cidades que se destinavam a abrigar carruagens militares (lRs 10.26). É interessante notar que havia uma estrela de seis pontas entalhada em um dos edifícios, construído pouco tempo depois. Esta é a estrela de Davi, também conhecida como "escudo de Davi", símbolo que hoje figura na bandeira de Israel. Escavações posteriores em Hazor da Galiléia (1955-1959) mostram indícios de uma riqueza semelhante no nível de ocupação da era salomônica. Estima-se que o portão principal de Hazor seja quase idêntico ao portão construído por Salomão em Megido. Pesquisas realizadas ao sul do mar Morto, por Nelson Glueck, acrescentam provas à existência da era salomônica. Glueck descobriu várias minas de cobre com fornalhas rudimentares, usadas para derreter o metal, no vale ao sul do mar Morto. Peças de cerâmica demonstram que as minas foram escavadas no tempo de Salomão. Obviamente o cobre seguia para
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Eziom-Geber (atual Elate), na margem oriental do mar Vermelho. Em 1938, Glueck encontrou em suas escavações uma notável cidade claramente planejada e construída para funcionar como um centro destinado ao refino e fundição do cobre e também ao comércio. A Bíblia afirma que os barcos de Salomão partiam de Eziom-Geber em direção a portos distantes, e traziam de volta carregamentos valiosos (1Rs 9.26-28). As descobertas arqueológicas confirmam as verdades bíblicas. Os barcos de Salomão exportavam cobre e garantiam uma grande renda a Israel. Esse rei foi um magnata do cobre da Antigüidade.
RESPONDENDO À ALTA CRÍTICA A alta crítica praticada pelos teólogos liberais têm sempre sido embuída de ceticismo. Embora seja essencialmente uma análise da autoria dos livros da Bíblia e da data em que foram escritos, essa linha de argumentação tem trazido resultados lamentáveis para o ensino cristão. A alta crítica surgiu num período de grande ignorância a respeito do contexto histórico da Bíblia. Ensinava-se que a Palestina e a Mesopotâmia eram tão atrasadas como a Grécia em 1500 a.C., e que Moisés não sabia escrever. Os relatos sobre os patriarcas eram supostamente mitos folclóricos dos hebreus que viveram entre 900 e 700 a.C. Dizia-se serem apenas contos explicativos, à semelhança de lendas do folclore de um povo. Os críticos liberais afirmavam que os relatos de Gênesis apenas tentaram fornecer hipóteses para a formação das famílias, a razão por que mulheres detestam cobras, etc. Era difícil combater tais falácias numa época em que a história antiga do Oriente Próximo era praticamente desconhecida. Hoje em dia, tal ceticismo é mera tolice. Já está provado que nos dias de Moisés um homem culto sabia escrever em três ou quatro idiomas. Os patriarcas habitavam um mundo repleto de indivíduos poderosos e culturas avançadas. As descobertas arqueológicas a respeito dos tempos dos patriarcas e da língua hebraica são de especial importância. Em 1929, encontrou-se a antiga cidade de Nuzi, ao norte da Mesopotâmia. Essa localidade revelou um grande tesouro em placas de argila, que em sua maioria datavam de cerca do ano 1500 a.C. Esses objetos esclarecem fatos sobre o cotidiano e sobre os as leis dos hurritas e demais povos que habitavam o trecho norte do Crescente Fértil. Arqueólogos notáveis como E. A. Speiser e W. F. Albright, entre outros, demonstraram como esses achados comprovam e explicam detalhadamente muitos costumes típicos dos patriarcas a respeito da vida em família. Os acordos nupciais do povo de Nuzi especificavam que, se a esposa fosse estéril, devia-se oferecer uma escrava ao marido, para que esta lhe desse um herdeiro. A criança nascida receberia o direito de primogenitura.
A ARQUEOLOGIA E O ANTIGO TESTAMENTO
Entretanto, se mais tarde a esposa desse à luz um filho, o primeiro herdeiro deveria ceder lugar ao segundo. Esses e muitos outros costumes estão perfeitamente de acordo com os costumes dos patriarcas. Em contrapartida, não são similares aos costumes dos israelitas, no período de 900 a 700 a.C. A partir de evidências assim alguns estudiosos se convenceram da veracidade histórica das narrativas de Gênesis. É bastante animador perceber que muitos dos ícones do liberalismo estão sendo derrubados. Hoje em dia, até mesmo os novos liberais encontram-se na defensiva. No entanto, nem todos os arqueólogos acreditam na inspiração verbal. Muitos fatos a respeito do Antigo Testamento não podem ser comprovados através da arqueologia. Os cristãos os aceitam pela fé, confiando na aprovação dada por Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, não há nenhuma descoberta arqueológica que tenha obrigado os teólogos ortodoxos a rever profundamente suas doutrinas com relação à autenticidade da Bíblia. Pode-se pressupor que os estudos arqueológicos do futuro fornecerão outros dados que confirmarão as verdades nas quais cremos.
1ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO
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Arqueologia, cuneiforme, hurritas, léxico, placas de argila, níveis de ocupação.
1PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO
1
1.
Faça um resumo da história da arqueologia bíblica.
2.
Dê dois exemplos de como a arqueologia confirma a Bíblia.
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3.
O que veio primeiro: a alta crítica ou a arqueologia científica? O que podemos aprender com a ordem em que esses estudos surgiram?
4.
Dê um exemplo da maneira como a arqueologia têm confundido a alta crítica.
5.
Usando uma concordância bíblica, liste as referências a respeito dos horeus.
6.
Descreva as descobertas arqueológicas relacionadas a Salomão.
A ARQUEOLOGIA E O ANTIGO TESTAMENTO
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ANOTAÇÕES
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ANOTAÇÕES
Ferramentas para o estudo bíblico
odo cristão deve crescer "na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (2Pe 3.18). Qyando Pedro deu esse conselho, de acordo com o contexto, ele estava alertando seus irmãos a não se deixarem levar pelos "ignorantes e instáveis" que "deturpam" as Escrituras para a própria destruição deles e ainda arrastam outros para esse mau caminho (2Pe 3.14-17). Mas queremos chamar sua atenção para outra coisa importante que Pedro destacou. Ele disse que essa deturpação também ocorre porque nas Escrituras "há coisas difíceis de entender" (v. 16). Por não saberem lidar com essas "coisas difíceis", muitos cristãos relegam o estudo da Bíblia ao segundo plano, ou resolvem aplicar o "achódromo" como meio de interpretá-la. Outros, por sua vez, vivem na dependência de algum "assessor para assuntos bíblicos", sem ao menos abrir as Escrituras para se certificar de que aquilo que estão aprendendo corresponde realmente à "sã doutrina" (2Tm 4.3). Como cristãos, precisamos aprimorar diariamente nosso conhecimento das Escrituras. Devemos ser realmente estudiosos da Palavra de Deus. Os "livros" e os "pergaminhos" ainda são indispensáveis. E o mundo editorial evangélico está repleto de excelentes ferramentas para nos ajudar nesse processo de crescimento bíblico e espiritual. Evidentemente, nenhuma dessas publicações substitui a Bíblia. Elas são apenas recursos adicionais para melhorar nossa compreensão do texto bíblico. A Bíblia é, e sempre será, a única regra de fé e prática do povo de Deus.
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Apresentamos a seguir algumas das ferramentas que devem compor o arsenal literário de um cristão, que o ajudarão a se alimentar cada vez mais da Palavra viva de Deus. Por isso, é importante que cada um procure montar sua biblioteca.
BIBLIOTECA PESSOAL "Biblioteca não é luxo; é uma das necessidades da vida." Essa frase é do escritor e editor americano Henry Ward Beecher (1813-1887). E ele estava certo. Concorda? Para montar nossa biblioteca, Deus nos presenteou de uma tacada com 66 livros, que foram chamados apropriadamente de "biblioteca divina" (expressão cunhada no quarto século por Jerônimo, tradutor da Vulgata - a primeira Bíblia traduzida das línguas originais para o latim). É bom lembrar que o apóstolo Paulo também tinha uma biblioteca pessoal. Qgando esteve encarcerado em Roma, ele pediu a Timóteo que lhe trouxesse seus "livros, especialmente os pergaminhos" (2Tm 4.13). Os livros eram feitos de papiro, em forma de rolos; os pergaminhos eram confeccionados com pele de animal, principalmente de cabra ou de ovelha. A dificuldade se encontra em determinar o conteúdo desse material solicitado pelo apóstolo. É provável que Paulo estivesse se referindo ao Antigo Testamento. Outra hipótese é que se tratasse de livros de outra espécie. Independentemente do conteúdo, o que nos importa saber é que ele reconhecia a importância de ter uma biblioteca. E foi esse homem estudioso e desejoso de conhecer as coisas divinas que Deus usou para compor quase metade do Novo Testamento. Estabelecida a importância de uma biblioteca pessoal, surge agora uma pergunta: Qge livros escolher para compor nossa coleção? Escolhendo os livros para sua biblioteca O mundo nunca mais foi o mesmo desde Johann Gutemberg (c. 1400-1468), o inventor da imprensa. Devido a essa brilhante invenção, o mundo está saturado de literatura as mais diversas. Aqui cabem as palavras de um sábio: "... não há limite para fazer livros" (Ec 12.12). E isso foi dito quase 2 500 anos antes de Gutemberg! O fato é que temos de tudo no mercado editorial, tanto do bom e do melhor, quanto do ruim ao pior. Precisamos, portanto, ser seletivos quanto ao que vamos escolher para compor nossa biblioteca. Isso diz respeito não só aos livros que nos servirão de auxílio em nossa pesquisa, mas também à escolha da versão bíblica que adotaremos. Comecemos então por este tópico.
FERRAMENTAS PARA O ESTUDO BÍBLICO
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QUE VERSÃO DA BÍBLIA ESCOLHER?
É interessante observar que antes da invenção da imprensa não havia bíblias disponíveis para todo o povo de Deus. Aliás, durante um bom tempo o povo foi privado das Escrituras, que passou a ser monopolizada por uma elite que falava latim. Os que se opunham a isso e tentavam verter as Escrituras para o vernáculo eram severamente punidos, muitos até com a perda da própria vida. O cenário mudou. Com o advento da Reforma protestante, ocorrida em 31 de outubro de 1517, os esforços para tornar a Bíblia disponível no idioma nativo foram intensificados. Em conseqüência desses incansáveis esforços, hoje podemos ter quantas bíblias quisermos, em diversos idiomas, cores e tamanhos. Há bíblias muito práticas, como as que trazem dedeiras (recurso que permite abrir um livro da Bíblia à altura exata por meio de marcadores na lombada). Enfim, Bíblia é o que não falta. Não há como desacelerar o avanço da "biblioteca divina". Assim, já temos o primeiro item para a composição de nossa biblioteca. A questão é: entre as várias versões existentes em português, qual delas devemos adotar como texto-padrão? Essa não é uma pergunta fácil de ser respondida. Na verdade, o ideal é que tenhamos todas as versões disponíveis em nosso idioma. Não se pode dizer que existe a versão definitiva das Escrituras, a fiel das fiéis, a versão das versões. Todas têm contribuições importantes no campo do estudo das Escrituras. Apresentamos a seguir as principais versões em português da comunidade evangélica:
João Ferreira de Almeida Esse é o nome mais conhecido das versões protestantes da Bíblia. Ao 16 anos, o português João Ferreira de Almeida entraria para sempre na história das traduções das Escrituras. Com essa idade, ele empreendeu a árdua tarefa de traduzir a Bíblia diretamente das línguas originais, dedicando toda a vida a esse empreendimento. Infelizmente, morreu antes de concluir seu intento. Outros terminaram o que ele começou. Sob esse nome há diversas versões:
1.
Almeida Revista e Corrigida (ARC ou RC) - publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), fundada em 1948. Foi publicada originariamente em 1898 pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. Em 1995, a SBB elaborou uma revisão nesse texto, dando origem à Almeida Revista e Corrigida, 2. ª edição.
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2.
Almeida Revista e Atualizada (ARA ou RA) - texto que começou a ser produzido pela SBB em 1948 e publicado em 1956. Trata-se de uma atualização teológica e lingüística da ARC. O trabalho foi elaborado por uma equipe de tradutores brasileiros. Em 1993, a SBB fez uma revisão no texto, que ficou conhecido como Almeida Revista e Atualizada, 2.ª edição.
3.
Almeida Corrigida e Fiel (ACF) - publicada pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, fundada em 1969.
4.
Versão Revisada de Acordo com os Melhores Textos em Hebraico e Grego (VR) - publicada em 1967 pela Imprensa Bíblica Brasileira (IBB), órgão da Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP), ligada à Convenção Batista Brasileira.
5.
Edição Contemporânea de Almeida (ECA) - tendo como ponto de partida a ARC, essa versão, publicada em 1990 pela Editora Vida, é uma revisão estilística da própria ARC. Traz as palavras de Cristo em vermelho.
6.
Almeida Século 21 - a mais nova versão das Escrituras baseada no texto de Almeida. Trata-se de um trabalho de tradução e revisão inspirado pela VR. Prima pela exatidão exegética e pela fluência do texto sagrado, aliados ao respeito à tradição histórica. Essa versão é fruto da parceria da Imprensa Bíblica Brasileira/ JUERP e Edições Vida Nova, em conjunto com Editora Hagnos e Editora Atos.
Nova Versão Internacional (NVI) Traduzida diretamente das línguas originais por tradutores de diversas denominações evangélicas, a NVI é uma das mais novas versões das Escrituras. É publicada pela Editora Vida e pela Sociedade Bíblica Internacional desde 2001.
Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) Lançada em 2000 pela SBB, trata-se de uma revisão da Bíblia na Linguagem de Hoje (BLH), publicada em 1988 pela mesma entidade.
Bíblia Viva (BV) Publicada em 1981 pela Editorâ Mundo Cristão, é considerada mais uma paráfrase das Escrituras que uma tradução, embora empregue o método idéia por idéia, em vez de palavra por palavra.
FERRAMENTAS PARA O ESTUDO BÍBLICO
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Uma versão infiel Há uma versão que deve ser evitada, pois foi feita para se conformar às doutrinas da seita religiosa Testemunhas de Jeová. Trata-se da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, publicada pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblia e Tratados. Uma versão completa dessa versão (alguns a definem como "perversão") foi publicada em português em 1967. Os adeptos da seita defendem que essa versão é a única tradução confiável das Escrituras. Por meio dessa obra, as Escrituras foram adaptadas ao sistema doutrinário da seita, que nega a divindade absoluta de Cristo (em João 1.1 afirma-se que Jesus é "um deus"); sua morte na cruz (o termo "cruz" foi substituído pela expressão "estaca de tortura"); em Filipenses 2.6 afirma-se que Jesus consideraria ser igual a Deus uma usurpação, quando o texto bíblico diz justamente o contrário, ou seja, Jesus considerava-se Deus, mas nunca usou isso como meio de se autopromover; em Hebreus 1.6 afirma-se que os anjos "prestam homenagem'' a Jesus, em vez de adorá-lo etc.
BÍBLIAS DE ESTUDO São bíblias com comentários do texto bíblico e notas sobre os mais diversos tópicos das Escrituras, além de outros recursos igualmente importantes para o estudo da Bíblia (o leitor só precisa tomar o cuidado de fazer distinção entre aquilo que a Bíblia diz e aquilo que consta das notas do comentário). O ideal é ter todas elas em nossa biblioteca. A comparação entre os comentários de cada uma conduz o estudante a diversos pontos de vista sobre temas bíblicos. Algumas são bem focadas, destinando-se ao público jovem (Bíblia jovem, da Editora Vida; Bíblia Teen, da Editora Hagnos), às mulheres (Bíblia de Estudo da Mulher, da Editora Mundo Cristão; Bíblia Devocional da Mulher, da Editora Vida; Bíblia da Mulher, da Editora Atos), aos líderes (Bíblia do Executivo, da Editora Vida) etc. As principais são: 1.
Bíblia Shedd - Sob a coordenação do eminente teólogo Dr. Russell Shedd, uma equipe de comentadores produziu milhares de notas para essa bíblia de estudo altamente respeitada no meio evangélico. Essas notas foram escritas no Brasil, tendo em vista o leitor brasileiro. A Bíblia Shedd é publicada por Edições Vida Nova em parceria com a SBB. Ferramentas de estudo: notas de rodapé (que incluem miniesboços de sermão), concordância bíblica, cronologia bíblica, tabela de pesos, dinheiro e medidas, mapas coloridos e análise e introdução aos livros da Bíblia. O texto bíblico adotado é o da ARA, 2. ª edição.
2.
Bíblia de Estudo Esperança - publicada em 1998 em co-edição por Edições Vida Nova e SBB, destina-se a responder objetivamente às questões mais importantes da vida, apresentadas por meio de centenas
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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de perguntas espalhadas por suas páginas. Ferramentas de estudo: notas exegéticas, textos paralelos dos evangelhos etc. O texto bíblico adotado é o da ARA, 2. ª edição.
3.
Bíblia de Estudo Almeida - Publicada em 1999 pela SBB. Ferramentas de estudo: concordância temática, dicionário, guia sinótico dos evangelhos, cronologia bíblica e tabela de pesos, moedas e medidas. O texto bíblico adotado é o da ARA, 2. ª edição.
4.
Bíblia Anotada - Publicada em 1991 pela Editora Mundo Cristão, com introdução, esboço, referências laterais e notas. Ferramentas de estudo: notas de rodapé, harmonia dos evangelhos, resumo da doutrina bíblica, estudos sobre a Bíblia, cronograma de leitura da Bíblia em um ano, concordância, mapas etc. O texto bíblico adotado é o da ARA, 1.ª edição.
5.
Bíblia de Estudo Vida - Publicada pela Editora Vida em 1999. Ferramentas de estudo: notas laterais, dicionário, mapas, tabelas, concordância e plano de leitura. O texto bíblico adotado é o da ARA, 2.ª edição.
6.
Bíblia de Estudo NVI - Publicada pela Editora Vida em 2003. Ferramentas de estudo: notas de rodapé (traduzidas da edição americana da New International Version), cronologia do Antigo e do Novo Testamento e concordância bíblica. O texto bíblico adotado é a NVI.
7.
Bíblia de Estudo de Genebra - Publicada pela Cultura Cristã (editora confessional da Igreja Presbiteriana do Brasil) e Sociedade Bíblica do Brasil em 1999. É uma Bíblia voltada para a teologia reformada (calvinista). Ferramentas de estudo: notas de rodapé, introdução a cada livro da Bíblia, diversos artigos, além de concordância e mapas. O texto bíblico adotado é o da ARA, 2. ª edição.
8.
Bíblia de Referência Thompson - Publicada pela Editora Vida em 1990. Ferramentas de estudo: palavras de Cristo em vermelho, sistema Thompson de estudo bíblico original e exaustivo (sistema numérico de referências em cadeia, análise de livros, estudos esboçados e ilustrados, harmonias, mapas, descobertas arqueológicas e concordância). O texto bíblico adotado é o da ECA. Outras versões importantes
O leitor também tem à disposição versões interlineares da Bíblia (traz o texto grego na primeira linha, uma tradução literal para por palavra na
segunda e, opcionalmente, uma versão corrente em língua portuguesa), como o Novo Testamento interlinear grego-português, da Sociedade Bíblica do Brasil. Outro excelente recurso é o Antigo Testamento poliglota (Edições Vida Nova e SBB), que traz em colunas paralelas o texto hebraico (Texto Massorético), grego (Septuaginta, versão de Ralphs), português (ARA, 2.ª edição) e inglês (NVI). As duas editoras também lançaram em co-edição o Novo Testamento trilíngüe, contendo em colunas paralelas o texto em grego (Nestle-Aland 27.ª edição), português (ARA, 2.ª edição) e inglês (NVI).
OBRAS DE CONSULTA Também conhecidas como obras de referência, são livros que não precisam ser lidos do começo ao fim, pois se destinam exclusivamente a consulta, como dicionários, enciclopédias, atlas, concordância (ferramenta para localizar versículos com mais rapidez por meio de palavras-chave) etc. São obras mais técnicas. Dentre essas obras podemos destacar:
1.
Dicionários: Novo dicionário da Bíblia, Dicionário bíblico Vida Nova, Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento, Dicionário internacional de teologia do Antigo Testamento, Dicionário ilustrado da Bíblia, Manual bíblico Vida Nova (todos publicados por Edições Vida Nova).
2.
Enciclopédias: Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã (Edições Vida Nova), Enciclopédia de Bíblia, teologia efilosofia (Editora Hagnos), Enciclopédia de apologética (Editora Vida).
3.
Atlas: Atlas Vida Nova da Bíblia e da história do cristianismo (Edições Vida Nova).
4.
Concordância: Concordância bíblica (Sociedade Bíblica do Brasil). Contém mais de 340 mil referências. Baseada no texto da tradução de Almeida Revista e Atualizada.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA Nome dado à disposição das principais matérias que compõem o estudo da teologia em ordem lógica de temas: bibliologia (doutrina das Escrituras), teologia (doutrina de Deus), cristologia (doutrina de Cristo), pneumatologia (doutrina do Espírito Santo), antropologia (doutrina do homem), soteriologia (doutrina da salvação), eclesiologia (doutrina da igreja), escatologia (doutrina do futuro). As principais teologias sistemáticas do mercado evangélico são:
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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1.
Teologia sistemática, de Wayne Grudem (Edições Vida Nova). Teólogo batista, Grudem é doutor em teologia. A obra é extremamente didática e de fácil compreensão. Acompanha CD-ROM.
2.
Teologia sistemática, de Louis Berkhof (Editora Luz Para o Caminho). Teólogo presbiteriano. É uma obra densa e de alto nível teológico.
Para os que quiserem obras menos volumosas, Edições Vida Nova publicou a excelente Introdução à teologia sistemática, de Millard Erickson, escritor de renome internacional, de estilo claro e preciso. A Editora Cultura Cristã publicou a obra Teologia concisa, do conceituado teólogo J. 1. Packer. Trata-se de uma síntese dos fundamentos históricos da fé cristã numa linguagem bem acessível.
COMENTÁRIOS BÍBLICOS Esses ajudam principalmente o estudante leigo a obter explicação sobre o sentido do texto bíblico, concentrando-se, sobretudo, nas passagens de maior dificuldade para o estudo das Escrituras. Ainda não foi escrito o comentário dos comentários. O ideal é ter todos os comentários bíblicos disponíveis. Analisar a diferença entre os diversos comentadores é um processo enriquecedor. Se não puder ter todos, tente adquirir pelo menos dois dos principais comentários gerais. Um aviso: dê preferência a obras de cristãos conservadores, evitando a teologia liberal. Uma excelente opção é a "Série Cultura Bíblica", de Edições Vida Nova, com cerca de 40 volumes.
INTRODUÇÃO BÍBLICA Esse tipo de literatura destina-se a inteirar o estudante a respeito da autoria e dos dados históricos dos livros da Bíblia. Qyestões do tipo "Qyando se completou o cânon do Antigo Testamento?", "Qyal evangelho foi escrito primeiro?", "Podemos confiar na historicidade do Antigo e do Novo Testamento" são respondidas de forma mais abrangente e satisfatória em comparação com os dicionários e enciclopédias bíblicas, que oferecem informações parciais acerca desses assuntos. Há introduções ao estudo da Bíblia em geral, como Introdução bíblica, de Norman Geisler, da Editora Vida. Outras abrangem somente o Antigo ou o Novo Testamento. Obras mais específicas assim tendem a suprir o estudante com mais informações detalhadas. As seguintes publicações de Edições Vida Nova ilustram bem isso: Introdução ao Antigo Testamento, de LaSor, Hubbard e Bush, e Introdução ao Novo Testamento, de Carson, Moo e Morris. Algumas obras são mais especializadas ou limitadas. Outras são
FERRAMENTAS PARA O ESTUDO BÍBLICO
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bastante técnicas. Não importa aqui a natureza abrangente ou limitada da publicação, o importante é evitar livros doutrinariamente liberais, que tendem a defender que há erros de diversos tipos nas Escrituras inspiradas por Deus. Autores como Rodolf Bultmann, Paul Tilich e outros devem ser evitados ou lidos com muita cautela. Pesquise as credenciais do autor antes de comprar um livro sobre introdução bíblica.
HISTÓRIA DA IGREJA E DA TEOLOGIA Estudar o percurso histórico da igreja e da teologia cristã é importante para entender o panorama religioso atual. Situar também cada acontecimento no seu contexto histórico (político, econômico, social, intelectual etc.) leva-nos a não tirar conclusões precipitadas sobre o que ocorreu no passado. Os heróis da fé de todos os tempos devem ser vistos em seu ambiente histórico. Livros como Uma história ilustrada do cristianismo (em dez volumes), de Justo Gonzales, e O cristianismo através dos séculos, de Earle Cairns, publicados por Edições Vida Nova, são exemplos de excelentes obras que versam sobre esses tópicos.
LIVROS DE TEOLOGIA PRÁTICA Há livros teológicos de análise pouco aprofundada, menos técnicos, mas muito importantes para o estudante da Bíblia, pois tratam da aplicação de princípios bíblico-teológicos para a vida cristã. Entre esses podemos citar: Cristianismo básico, do conceituadíssimo comentador bíblico John Stott (Edições Vida Nova), e Cristianismo puro e simples, de C. S. Lewis (ABU Editora), entre outros. Outro autor muito importante é Francis Schaeffer. Seus livros O Deus que intervém, O Deus que se revela e a Morte da razão são exemplos nessa área. Livros sobre ética e aconselhamento também entram nessa área. Podemos citar Ética cristã, de Noman Geisler e Aconselhamento cristão, de Gary Collins, ambos publicados por Edições Vida Nova.
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1ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO
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Introdução bíblica, comentários, teologia sistemática, concordância, bíblia de estudo.
1PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO
1
1.
Compare as traduções de Hebreus 1 nas versões Almeida Revista e Corrigida, Almeida Século 21 e Nova Versão Internacional.
2.
Faça o mesmo com o salmo 45.
3.
Avalie as qualidades e as deficiências das versões acima. Explique suas respostas.
FERRAMENTAS PARA O ESTUDO BÍBLICO
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4.
Use um dicionário bíblico ou uma enciclopédia para procurar as datas do reinado de Sargão da Assíria e conte algo sobre esse monarca.
5.
Tente encontrar cinco dos livros mencionados neste capítulo. Você possui algum desses exemplares em sua biblioteca particular? Caso não tenha, talvez seu pastor permita que você pesquise usando os livros dele. Sua igreja tem biblioteca? Se não, que tal incentivar a criação de uma?
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ANOTAÇÕES
Métodos de estudo bíblico
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orno posso aprofundar meu conhecimento da Bíblia? Como posso estudar e compreender melhor a Palavra de Deus?" Essas duas perguntas são interligadas e muitos cristãos dedicados as tazem constantemente. Devemos avaliá-las com atenção, porque o conteúdo da Bíblia é bastante diversificado, e os aspectos históricos a ele relacionados são muito diferentes. Através dos séculos, indivíduos de grande capacidade intelectual têm-se dedicado a estudar a Palavra de Deus. Como podemos desfrutar desse tesouro? Para encontrar essa resposta, temos de considerar dois aspectos: como valorizar e compreender melhor a Bíblia e como extrair o máximo de suas bênçãos para nossa vida diária. O primeiro aspecto está relacionado com o estudo bíblico; o segundo diz respeito à prática devocional. Infelizmente é possível conseguir um independentemente do outro. Um cristão maduro e bem discipulado compreende a Palavra de Deus e a guarda no coração.
LEITURA DEVOCIONAL Nada substitui a leitura diária da Bíblia. Deve ser uma leitura devocional - feita em espírito de oração e meditação, deixando o coração aberto para ouvir a voz de Deus. Há muitas obras devocionais hoje em dia. E com certeza todos os cristãos concordam que o Espírito Santo é o mestre supremo.
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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Ao fazer leituras devocionais, não devemos ler muito de uma só vez.
É preferível nos restringirmos a meio capítulo, sublinharmos os versículos mais importantes e tomarmos nota das lições que aprendemos com o trecho. Se lermos apressadamente três ou mais capítulos, não absorveremos quase nada. Embora exija tempo e disciplina, decorar versículos ou capítulos é um excelente hábito. Devemos revê-los freqüentemente e compartilhar nosso aprendizado com os outros. Algumas passagens da Bíblia combinam muito bem com a leitura devocional. Outras, como as genealogias e leis sobre impureza, não são tão adequadas para a prática devocional, embora sejam verdadeiras e importantes. Os recém-convertidos terão mais facilidade em começar seu estudo devocional pelos salmos ou pelos evangelhos, principalmente o de João. O livro de Atos e as epístolas mais curtas também são recomendados. Todavia, por onde quer que comecemos, devemos manter o coração aberto para receber as bênçãos de Deus. Desejamos, no entanto, transmitir um alerta: alguns indivíduos entendem que introspecção, emocionalismo ou edifícios religiosos constituem a essência da prática devocional. Se fosse verdade, Paulo teria tido uma vida devocional medíocre. Um folheto que traga um versículo bíblico fora do contexto, conte a história de um garoto que entregou toda sua mesada para o irmão e encerre com uma oração do tipo: "Ó Senhor, ajuda-nos a ajudarmos uns aos outros", não traz benefício devocional algum. Seu guia de leitura devocional exalta o Senhor Jesus Cristo como o Salvador qúe realizou milagres, levou sobre si nossos pecados e ressuscitou? Essa publicação o incentiva a se dedicar à oração e a esperar que Deus responda? Ela fornece a essência da Palavra, interpretada da maneira certa? Caso isso não aconteça, analise-o novamente. Há muitos livros excelentes dentre os quais o leitor pode escolher, como Pão Diário, No Cenáculo e Mananciais no Deserto. Programas de rádio e TV que transmitam doutrinas bíblicas corretas também são de grande valia.
ESTUDO BÍBLICO Cristãos que participam de ministérios da igreja precisam mais do que uma simples leitura devocional da Bíblia. Professores e líderes principalmente precisam saber dos fatos, conhecer as doutrinas e colocar-se a par dos aspectos históricos das Escrituras. Sem um conhecimento vasto não serão capazes de responder aos questionamentos de outras pessoas ou extrair as riquezas contidas na Palavra de Deus. Como podemos estudar a Bíblia e conhecer a fundo seu conteúdo? Qyalquer resposta a essa pergunta implica uma disposição para estudar. Não é possível aprender matemática, francês ou química sem dedicação. O mesmo é verdade com respeito à Bíblia.
MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO
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Para o estudo bíblico utilizamos obras da autoria de teólogos. Por que? Os cristãos de épocas passadas não discutiam intensamente a respeito do significado das epístolas. Conheciam a linguagem e os aspectos culturais e sociais mencionados naqueles documentos. Hoje em dia, muitos cristãos envolvidos no ministério não sabem grego nem hebraico. Tampouco têm conhecimento amplo e profundo das épocas antigas. Por esse motivo dependem do auxílio de indivíduos que dominem essas informações. Assim é importante que se valham dessas publicações de maneira sábia. No seminário ou em uma escola bíblica, estudamos as Escrituras de vários "ângulos". A maioria dos professores, obreiros ou oficiais de uma igreja não tem formação em escolas teológicas, mas pode estudar a Bíblia de maneira diligente e coerente. Wilbur Smith, em seu excelente livro Pro.fitable Bible Study [Estudo bíblico proveitoso], defende vários métodos de abordagem - o estudo de um livro de cada vez (em geral, pesado demais para o iniciante), o estudo de capítulos, de parágrafos, de versículos e de palavras. Ele sugere também estudarmos a vida de personagens bíblicos e as orações contidas na Palavra de Deus. Todo esse material deve estar relacionado com Cristo e sua obra redentora. Ele cita ainda as dez perguntas elaboradas por Grace Saxe, que devemos nos fazer ao final de cada capítulo. São elas: Qyal o assunto principal? Qyal a lição principal? Qyal o melhor versículo? Qyem é o personagem principal? O que essa passagem ensina a respeito de Cristo? Essa passagem traz algum exemplo a seguir? Essa passagem menciona algum erro que devamos evitar? Ela apresenta algum dever que devamos cumprir? Há alguma promessa cujo cumprimento devamos esperar? Há alguma oração que devamos imitar? O dr. Smith cita seu colega, Howard A. Kelly, famoso cirurgião, que afirmou: "O principal segredo para o estudo bíblico é simplesmente realizá-lo!" O que um iniciante pensa ser um profundo conhecimento da Bíblia geralmente nada mais é do que o resultado natural de perseverar no método mais simples de todos: ler a Bíblia dia após dia, até que todo seu conteúdo se torne algo extremamente familiar para nós.
O estudo dos livros da Bíblia O estudo de livros ou trechos chama-se exegese ou interpretação bíblica. Para obter sucesso nesse estudo, devemos obedecer a algumas etapas.
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Primeira, ler o livro em questão várias vezes. Em seguida, fazer um resumo de modo que analisemos a mensagem do livro. É preciso colocar os assuntos gerais em primeiro plano, demonstrando a relação de cada parte com as demais. Ao longo desse estudo ajuda muito fazer as seguintes perguntas: O livro apresenta um tema principal? Como esse tema é trabalhado? Se o livro é histórico, qual o ponto de vista do autor? O que o autor enfatiza? Em alguns livros, como Salmos, não é tão fácil encontrar uma unidade temática. Nesses casos, é melhor estudá-los parte por parte.
Divisão em parágrafos Talvez o leitor deseje estudar um versículo de cada vez ou analisar um trecho mais longo. Algumas Bíblias trazem os parágrafos bem destacados, geralmente em blocos de versículos, ou adotam a marcação dos parágrafos iniciando-os com o número do versículo em negrito. Ao estudar um livro, devemos prestar atenção nessas divisões.
Introdução à Bíblia
É importante conhecer os aspectos históricos por trás de cada livro, bem como o motivo de terem sido escritos. Uma boa introdução à Bíblia nos fornece essas informações. Ao estudar Colossenses, por exemplo, descobriremos que esse livro é uma das quatro "epístolas da prisão", de autoria de Paulo, escrito em Roma. Isso explica a harmonia entre Efésios e Colossenses, uma semelhança tão notável que uma carta serve para explicar a outra. Ambas foram escritas para combater a heresia do gnosticismo, que estava se espalhando entre os cristãos da época. Por esse motivo, nessas epístolas Paulo destaca a singularidade de Cristo. Tais informações enriquecem a interpretação. Um estudo detalhado de história e dos achados arqueológicos também ajuda a aprofundar nosso conhecimento bíblico. O estudo das doutrinas Esse estudo, mais conhecido como teologia sistemática, só é limitado pela nossa disponibilidade de tempo e capacidade. O estudo das doutrinas melhoram a interpretação de passagens bíblicas. Em contrapartida, uma interpretação correta das Escrituras é fundamental para o estudo doutrinário. Se fizermos uma análise de "Cristo" no primeiro capítulo de Hebreus, entenderemos o erro de alguns teólogos liberais, que afirmam que Colossenses 1.15 ensina que Cristo é o primogênito em uma sucessão de indivíduos
semelhantes a ele. Em vez disso, esse trecho declara que Jesus é o Filho unigênito de Deus, que existia antes de todas as coisas que ele mesmo criou. A comparação entre passagens das Escrituras é uma prática correta e útil, porque o Espírito Santo é o autor da Palavra de Deus. Ele nos dirige e nos instrui, à medida que delineamos cada doutrina através da Bíblia. O estudo minucioso de "Cristo nas epístolas da prisão" traz à tona muitas verdades, que às vezes passam despercebidas em um estudo geral. O estudo das doutrinas ajuda a amadurecer e fortalecer nossa fé. Pode ser difícil lembrar todos os textos relacionados com a "natureza do pecado", mas algumas informações doutrinárias sucintas de um credo, ou de uma obra de teologia sistemática, fornecerão um resumo dos ensinos bíblicos sobre o assunto. Isso vale tanto para nossa vida cristã como para fins de estudo bíblico. O estudo histórico
Outro excelente método é estudar a Bíblia a partir dos períodos históricos. Isso é importante no que tange aos escritos do Antigo Testamento, pois ali os livros não estão dispostos em ordem cronológica. Livros com assuntos inter-relacionados devem ser estudados em conjunto. A divisão abaixo poderá ser de grande benefício ao leitor. Antigo Testamento
O Pentateuco (Gênesis a Deuteronômio) é um conjunto de cinco livros que relatam os primeiros fatos da história bíblica. Os salmos de Davi acompanham 1 e 2Samuel. Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos devem ser estudados em conjunto com os capítulos iniciais de 1Reis. Isaías deve ser lido juntamente com os primeiros seis profetas menores - Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas e Miquéias. Jeremias, Ezequiel, Daniel e três profetas menores - Naum, Habacuque e Sofonias - são aproximadamente do mesmo período. Esdras, Neemias e os três profetas menores restantes - Ageu, Zacarias e Malaquias - são do período pós-exílico. As passagens em 2Samuel devem ser lidas e comparadas com o livro de !Crônicas para verificarmos se são paralelas ou complementares. De maneira semelhante, devemos ler 2Crônicas comparando-o com os livros de 1 e 2Reis. Novo Testamento
O espaço de tempo registrado no Novo Testamento é mais curto, mas os detalhes históricos são igualmente importantes. É interessante estudar
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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o livro de Atos fazendo uma pausa em cada uma das localidades que Paulo visitou, e nas quais escreveu uma epístola. Antes de seguir com a leitura, devemos estudar a epístola correspondente. Esse método une o livro de Atos e as epístolas paulinas, enriquecendo a interpretação do texto.
O estudo de palavras O objetivo da exegese é simplesmente descobrir o que a Bíblia diz. Oliando lemos uma revista ou jornal, não temos que fazer um estudo exegético, porque estamos perfeitamente familiarizados com a linguagem. Vez por outra encontramos uma palavra estranha, e então consultamos o dicionário. No entanto, ao ler textos mais difíceis, temos de empregar mais a exegese. A Bíblia foi escrita em hebraico, aramaico e grego. Essas são línguas estranhas para nós, e os costumes da Antigüidade também nos são pouco familiares ou talvez até desconhecidos. O texto bíblico contém verdades divinas profundas e maravilhosas. Portanto, devemos buscar com esmero o sentido de cada passagem. O estudo de palavras geralmente é muito útil nesse intento. A pesquisa sobre o uso de um vocábulo e de suas variações envolve a consulta de dicionários e outras obras de referência. Por exemplo, Jesus afumou: "Eu sou o pão da vida" (Jo 6.35). O que ele quis dizer com isso? Será que Jesus é um pedaço de pão? Olial a relação entre as palavras "pão" e "vida" nesse trecho? Essa é uma verdade muito profunda, que poderemos entender apenas se meditarmos na passagem. Para o estudo de palavras, podemos procurar todas as referências que Jesus fez ao pão, principalmente o fato de ele próprio ser o Pão. Obviamente Cristo não estava se referindo à vida física ou ao alimento comum. Notemos que ele também afirmou oferecer a "luz da vida" (Jo 8.12) e a "água vivà' (Jo 7.38). Analise as outras metáforas que contêm a expressão "eu sou" - "eu sou a porta" (Jo 10.9) ; "eu sou o caminho, a verdade e a vidà' (Jo 14.6). O estudo de palavras revela as verdades mais profundas da Bíblia. Algumas palavras, porém, nos são um pouco estranhas. Um vocábulo bastante debatido é o verbo batizar. O estudo de palavras não fornece uma resposta definitiva. Se isso fosse possível, poria fim às discussões. Entretanto, devemos procurar todos os usos desse vocábulo. Olialquer que seja nosso ponto de vista, é bom que se analisem os dados bíblicos. Use dicionários de grego e descubra de quantas maneiras a palavra grega baptizo foi traduzida. Confira todas essas referências. A investigação das evidências lhe dará certeza de que sua opinião está baseada em fatos. O estudo de palavras é uma ferramenta valiosa na exegese.
Combinação de métodos de estudo bíblico Todos os métodos de estudo bíblico são inter-relacionados. Não iremos aprender as doutrinas antes de realizar uma exegese. Tampouco devemos
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MÉTODOS DE ESTUDO BÍBLICO
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estudar um livro inteiro e seus parágrafos antes de nos inteirarmos a respeito dos aspectos históricos e sociais que formam o contexto da narrativa. O fato é que todos os métodos de estudo devem ser usados o tempo todo. Ninguém deve se valer do estudo de livros específicos ou do método de interpretação versículo por versículo sem usar também os demais métodos. Estudantes diligentes, que consultam outras obras de pesquisa, irão aprimorar sua vida pessoal e seu ministério. Um dos principais objetivos do Curso Vida Nova de Teologia Básica é oferecer ao leitor um guia, bem como sugestões para aprofundar seu estudo da Bíblia e realizá-lo de maneira completa, pois isso é uma bênção. "Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, porque o tempo está próximo" (Ap 1.3).
1ENRIQUECENDO O VOCABULÁRIO
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Catecismo, cronologia, estudo das doutrinas, exegese, gnosticismo, estudo histórico, interpretação, teologia sistemática, estudo de palavras.
1PERGUNTAS DE RECAPITULAÇÃO
1
1.
Apresente duas razões por que a exegese do Novo Testamento é mais problemática hoje para nós do que para os cristãos da igreja primitiva.
2.
Por que os cristãos devem estudar a Bíblia tanto de forma devocional quanto técnica?
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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3.
Se estudarmos a epístola de 2Timóteo, por exemplo, que informações poderemos obter sobre o período da vida de Paulo em que ela foi escrita e sob que circunstâncias?
4.
Consulte o Breve Catecismo de Westminster e procure a doutrina sobre a pessoa de Cristo.
5.
Descreva os métodos de estudo bíblico que você tem usado.
MÉíODOS DE ESTUDO BÍBLICO
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ANOTAÇÕES
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ANOTAÇÕES
Enriqueça sua biblioteca
ARCHER, JUNIOR, Gleason L.. Enciclopédia de temas bíblicos: respostas às principais dúvidas, dificuldades e "contradições" da Bíblia. 2. ed. São Paulo: Vida, 2002. _ _ .Merece confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 1974. BERKHOF, Louis. A história das doutrinas cristãs. São Paulo: PES, 1992. _ _ . Teologia sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 1990. BLACK, David Alan. Por que 4 evangelhos? São Paulo: Vida, 2004. BROWN, Colin. Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento. 4 vols. São Paulo: Vida Nova, 1981. BRUCE, F. F. Merece confiança o Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1965. CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1992. CARSON, D. A. Teologia bíblica ou teologia sistemática?: unidade e diversidade no Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2001. _ _ .A exegese e suas.falácias. São Paulo: Vida Nova, 1992. _ _.Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997. Confissão de Fé de Westminster, A. São Paulo: Cultura Cristã, 1994. - (Série Símbolos da Fé). DAGG, John L. Manual de teologia. São José dos Campos, SP: Fiel (Missão Evangélica Literária), 1989.
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INTRODUÇÃO À BÍBLIA
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Esta obra foi composta por Sk editoração usando as fontes Acaslon e Swis721, capa em cartão 250 g/m2, miolo em off-set 63 g/m2, impressa pela Imprensa da Fé em junho de 2010.