Revista Eletrônica “Fórum Paulo Freire” Ano 1 – Nº 1 – Julho 2005
CONTRIBUIÇÕES DE PAULO FREIRE À EDUCAÇÃO BRASILEIRA Titiva Cardona Leal Secretaria de Educação de Pelotas
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Resumo:
Este trabalho é um resumo de um livro com o mesmo título, resultante de uma pesquisa que realizei com o propósito de verificar qual a contribuição de pensamento pedagógico de Paulo Freire à educação brasileira nos últimos dez anos. O desejo de realizar esta investigação decorreu da minha curiosidade após a leitura de várias obras deste educador e verificar algumas semelhanças entre sua pedagogia e a pedagogia inserida em alguns documentos relativos à educação brasileira. A comprovação das minhas suspeitas se deu ao concluir os estudos investigatórios entre parte da bibliografia de Paulo Freire e alguns documentos da Legislação e Institucionalização da Educação do nosso país.
1. Paulo Freire: o educador-pedagogo; É atuando no mundo que nos fazemos. Por isso mesmo é na inserção no mundo e não na adaptação a ele que nos tornamos seres históricos e éticos, capazes de optar, de decidir, de romper (Freire. 2000: 90).
Paulo Reglus Neves Freire, conhecido no Brasil e no exterior somente como Paulo Freire, nasceu em Recife, Pernambuco, estrada do Encantamento, nº 724, em 19 de setembro de 1921. Filho de Joaquim Temístocles Freire e Edeltrudes Neves Freire, menino pobre, que aprendeu a ler e escrever em casa, com sua mãe, na sombra de uma mangueira, com palavras do seu mundo, tendo o chão como quadro-negro e gravetos como giz (Freire. 2001: 15).
Paulo Freire iniciou sua trajetória como educador muito cedo. Foi diretor e, em seguida, superintendente do setor de Educação e Cultura do SESI (Serviço Social da Indústria), em Pernambuco, durante 10 anos (1947/1957). Ao sair da prisão, após ficar detido 75 dias, durante o golpe militar, em 1964, precisou exilar-se no exterior, ficando 15 anos fora do país. Ao retornar ao Brasil, assumiu a Secretaria da Educação de São
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Paulo, tendo como meta prioritária, educar para a libertação. Em 1993 foi incluído na lista dos candidatos ao Premio Nobel da Paz, assessorou governos de diversos países da América Latina, Ásia e África. Paulo Freire acreditava na educação dialógica entre a leitura e a mudança da sociedade, convivendo com o antagônico e dialogando com o diferente. Acreditava, também na educação recíproca em que educador e educando ensinam e aprendem mutuamente. A metodologia freireana tinha como meta educar homens e mulheres no seu contexto histórico, com palavras do seu meio e significado para os educandos. Quando se dirigia aos educadores, chamava a atenção para que esses oportunizassem uma educação prazerosa, em que o educando fosse participante do processo do conhecimento e não mero receptor de conteúdos. A prática do ensino dos conteúdos jamais poderá ser desvinculada do ensino do pensar certo. Deve, também, promover a desacomodação, pois a acomodação é a expressão da desistência da luta pela mudança e a liberdade, segundo ele, é um parto doloroso (Freire, 1987:35). Como prova da sua eterna indignação com as injustiças sociais, na última entrevista que concedeu à TV PUC, poucos dias antes da sua morte, já doente, Freire disse: Eu morreria feliz se visse o Brasil, em seu tempo histórico, cheio de marchas. Marchas dos sem escola, marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem, marcha dos que se recusam a uma obediência servil, marcha dos que se rebelam, marcha dos querem ser e estão proibidos de ser... As marchas são andarilhagens históricas pelo mundo. 2. Principais Características do pensamento de Paulo Freire
O pensamento freireano surge da sua percepção do ser humano e do mundo. Vê no homem e na mulher seres de relações que respondem aos desafios para criar e recriar um mundo de cultura adaptando-o as suas necessidades. Freire era um educador comprometido com a educação popular e a definia como um espaço de mobilização, organização e capacitação científica e técnica, em que o conhecimento do mundo é feito através das práticas do homem, de acordo com as suas necessidades de sobrevivência no meio em que vive. Segundo ele, educação popular e mudanças sociais andam juntas.
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Uma entre tantas características do pensamento desse educador nasce da sua prática, tendo como princípio as experiências, surpresas, alegrias e tristezas do cotidiano. O meu ponto de vista é dos “condenados da terra”, o dos excluídos (Barreto, 1998:53). Criticava a malvadeza do neoliberalismo possuidor de uma ideologia fatalista em que não permite aos desvalidos da sorte, o sonho e a utopia como fomentadores da esperança. Freire é considerado o filósofo inaugural da pedagogia crítica. Na Pedagogia crítica a evolução progressista do pensamento educacional, como revolucionário, nunca abandona o sonho de uma transformação radical do mundo. Ele não concebia a idéia de diálogo na ausência dum profundo amor pelo mundo e pelas pessoas. Freire vislumbrava a emancipação dos homens e mulheres através da educação. Para ele, educar significava conscientizar as pessoas do direito de dizerem a sua palavra e do seu papel de fazedores da própria história em lugar de ficarem como meros espectadores. Ele acreditava, também na educação recíproca em que educador e educando ensinam e aprendem constantemente. Só educadoras e educadores autoritários negam a solidariedade entre o ato de educar e o ato de serem educados pelos educandos (Freire,
2001:27). Para Freire educação é o compromisso do profissional desta área em fazer dela um instrumento de mudança na sociedade, através da reflexão e da ação do educando. A qualidade que Freire considerava fundamental no educador era gostar da vida. Pregava uma pedagogia democrática, desveladora das injustiças e desocultadora das mentiras ideológicas em que o educando tinha o dever de brigar pelo direito de participar da escolha dos conteúdos aprendidos por ele. Via o amor como uma tarefa do sujeito, portanto não acreditava na educação sem amorozidade. Quanto à utopia que Freire cita tantas vezes em sua obra, evoca uma ação cheia de esperança histórica. Uma ação crítica como possibilidade humana para, através da educação, concretizar uma mudança social radical e libertadora rompendo com o sistema opressivo objetivando a transformação da realidade. Utopia é prospectiva do que ainda não existe e que impulsiona o homem em direção à luta por um futuro mais humano visando à integração da própria consciência a consciência do outro. A educação é uma busca que pressupõe esperança. Não há educação sem esperança. Foi com esse
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pensamento inovador que Freire contribuiu para a educação no mundo e, principalmente, a brasileira. 3. Contribuição do pensamento de Paulo Freire à educação brasileira 3. 1. na perspectiva da legislação:
Um dos principais objetivos do Plano Nacional de Educação é a melhoria da qualidade do ensino, cuja meta somente será viável através da valorização do magistério. Essa intenção estende-se à formulação das propostas e projetos pedagógicos das escolas, dos conselhos escolares quanto à elaboração do plano de carreira e da remuneração dos educadores. Formar mais e melhor os profissionais do magistério é apenas uma parte da tarefa. É preciso criar condições que mantenham o entusiasmo inicial, a dedicação e a confiança nos resultados do trabalho pedagógico... Salário digno e carreira de magistério entram, aqui, como componentes essenciais para a qualificação do ensino (PNE, 2001:137).
Um dos maiores desafios do Plano Nacional de Educação se refere à qualificação dos educadores e, para isso, é preciso que o Poder Público se mobilize no sentido de tornar viável a solução desse problema. A implantação de políticas públicas na formação inicial e continuada dos professores é uma das condições para o avanço e para o desenvolvimento científico e tecnológico do país uma vez que a produção de conhecimentos depende do nível de qualidade na formação dessas pessoas. Tendo em vista a melhoria da qualidade do ensino necessária ao acesso da cidadania e a inserção nas atividades produtivas indispensáveis ao crescimento constante do nível de vida da população nacional exige um comprometimento da nação nesse sentido, uma vez que os educadores exercem um papel fundamental no processo educativo. Já a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, se refere à formação de professores da seguinte forma: educação continuada para os profissionais da educação de todos os níveis, promovida pelos sistemas de ensino, valorizando estes educadores e assegurando-lhes, de acordo com os termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério, o aperfeiçoamento profissional continuado inclusive com licenciamento periódico remunerado, piso salarial e condições adequadas
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de trabalho para esse fim. A progressão funcional se baseará na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho dos educadores, com períodos reservados para estudos, planejamento e avaliação, inclusos na carga horária com condições adequadas de trabalho. É de fácil percepção os pressupostos defendidos por Paulo Freire na legislação brasileira. A sua contribuição torna-se evidente na preocupação demonstrada com a formação permanente dos educadores, valorização do magistério público, salários mais justos aos profissionais profis sionais da educação, espaços es paços físicos mais adequados, etc... 3. 2. na perspectiva do sujeito histórico:
Homens e mulheres, ao contrário dos animais, podem tridimencionar o tempo e perceber o passado, presente e futuro. O ser humano torna-se responsável pela sua história quando reconhece as conseqüências da sua ação sobre o mundo em tempos históricos diferentes. É pela ação e na ação que o homem se constrói como sujeito. Essa atitude crítica torna o homem capaz de se impor e tomar decisões em lugar de domesticá-lo como faz a educação oficial na maior parte do mundo. É preciso fazer desta conscientização o objetivo de toda educação, ou seja, desafiar a intencionalidade da consciência crítica no educando fazendo com que esta provoque uma ação. O surgimento da consciência popular surpreende as massas ao perceberem o que antes não percebiam, saindo da “cultura do silêncio”, passando a participar do processo histórico e pressionar elite, pois, esse movimento provoca inquietude tanto nuns quanto noutros. Nesse sentido, cobra-se do educador progressista a coerência que aproxime o que diz do que faz. Freire dizia que, para ser válida, toda educação deve, necessariamente, estar precedida de uma reflexão sobre o homem e seu meio de vida concreto. Pela ausência de uma análise do meio cultural, corre-se o perigo de realizar uma educação préconcebida, que não está adaptada ao homem concreto a que se destina. Cada homem está situado no espaço e no tempo, no sentido em que vive numa época precisa, num lugar preciso, num contexto social e cultural preciso. O homem, segundo Freire, é um ser de raízes espaço-tempo. Uma educação que procura desenvolver a tomada de consciência e a atitude crítica, graças à qual o homem escolhe e decide, liberta-o em lugar de submetê-lo, de domesticá-lo, de adaptá-lo, como faz com muita freqüência a educação em vigor num
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grande número de países do mundo. Educação esta que tende a ajustar o indivíduo à sociedade, em lugar de promovê-lo em sua própria linha. Pela ação e na ação, é que o homem se constrói como homem. O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade, se não é auxiliado a tomar consciência da realidade e de sua própria capacidade para transformá-la, pois, ninguém luta contra as forças que não compreende, cuja importância não mede, cujas formas e contornos não discerne. 3.
3. na perspectiva política:
Barreto (1998:61) afirma: A educação é sempre política. ... não existe educação neutra, numa sociedade em que convivem segmentos da população com interesses opostos e contraditórios. É impossível a existência de uma única educação que sirva, da mesma maneira, a todos estes grupos sociais. Ela está sempre a favor de alguém e, por conseqüência, contra alguém.
Essa era a visão que Freire tinha do processo educativo na sociedade: ou ela é conservadora e acomoda as pessoas ou é transformadora e faz com que homens e mulheres se envolvam na mudança do mundo em que vivem. A educação transformadora estará contra as classes dominantes e a favor dos marginalizados, enquanto na conservadora acontece o contrário, ou seja, os opressores serão beneficiados e os grupos desprovidos da sorte ficarão prejudicados. Ao mesmo tempo em que Freire afirmava que a educação era um ato político, ele advertia que ela não era partidária. Os seres humanos buscam na educação a possibilidade de ser mais, e a educação reduzida aos limites partidários ficaria empobrecida a ponto de inviabilizar esta mudança tão desejada. Freire tornou-se um educador popular que, via na educação a possibilidade de mudança na sociedade. Esse educador amoroso e abnegado fazia da docência o fim de sua vida. Enquanto Marx via nas lutas de classes a possibilidade de solucionar os problemas sociais, Freire acreditava na educação como instrumento transformador da sociedade. Antes de falar em educação popular Freire falava em educação libertadora. Uma educação crítica e conscientizadora onde o educando é sujeito da sua história e não um mero espectador dos acontecimentos históricos. Ele via a educação como um processo dialético entre a leitura e a transformação do mundo.
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Foi assim que Freire se tornou um educador progressista, o pedagogo da indignação que via no processo educativo um ato político. Convidava o educando a sair da apatia e do conformismo e deixar de pensar que a sua situação de “ser menos” e “demitido da vida” é vontade de Deus, e perceber que tudo isso advém da imposição do contexto econômico-político-ideológico determinado pelo meio em que vive. Freire defendia a docência com liberdade, contra o autoritarismo, com respeito ao conhecimento trazido pelos educandos e ao senso comum. O amor, segundo Freire, é uma tarefa do sujeito, portanto não há educação sem amor. Uma ação crítica como possibilidade humana para, através da educação, concretizar uma mudança social radical e libertadora rompendo com o sistema opressivo, objetivando a transformação da realidade. Utopia é prospectiva do que ainda não existe e que impulsiona o homem em direção à luta por um futuro mais humano visando à integração da própria consciência à consciência do outro. 1. 4. na perspectiva da institucionalização da educação:
Durante o tempo em que foi Secretário de Educação da cidade de São Paulo, Freire declara que se deparou com um problema que, segundo ele, em qualquer parte do nosso país, seria o mesmo: uma grande deficiência no sistema educacional, tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo. Essas deficiências da educação escolar castigam somente as crianças das classes populares, pois, não se vê fora da escola, filhos de famílias que comem, vestem e, sobretudo, sonham. No que se refere à qualidade do ensino, são as crianças pobres, que conseguem chegar a uma escola e nela permanecer, são as que mais sofrem com essa carência na educação. Freire estava convencido da importância e urgência da democratização da escola pública, da formação permanente de professores e professoras incluindo nos cursos de atualização, merendeiras, zeladores e vigias, promovendo, portanto, ampliar a participação de todos os sujeitos, possibilitando a efetiva presença dos alunos e familiares nestes espaços. Para entender e trabalhar o papel fundamental da escola na transformação da sociedade faz-se necessário uma compreensão dialética entre escola e sociedade. Freire expõe suas idéias relativas à política municipal de educação, que tem por meta o estabelecimento de uma escola pública, popular e democrática. Na visão de Freire competência não significa falta de humor, pois, segundo ele:
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... a alegria de ensinar-aprender deve acompanhar professores e alunos em suas buscas constantes. Precisamos é remover os obstáculos que dificultam que a alegria tome conta de nós e não aceitar que ensinar e aprender são práticas necessariamente enfadonhas e tristes (1999: 37). 3. 5. na perspectiva curricular:
Na perspectiva da pedagogia freireana , a elaboração do currículo exige uma reorientação presidida pela racionalidade emancipatória, apoiada na teoria crítica, tomando como centrais os princípios de crítica e ação. A melhoria da educação pública municipal provocou, também, mudanças nas relações internas das escolas e nas relações escola/população. Para isso, segundo ele, faz-se necessária a democratização da escola, com a participação dos pais, alunos, professores e outros trabalhadores da área na discussão e decisão de seus rumos. As escolas precisam eleger seus conselhos no início de cada ano letivo, objetivando a participação dos pais, alunos, funcionários e educadores reunindo-se periodicamente para debaterem os problemas da escola e apontarem caminhos no sentido de solucionálos. O desenvolvimento dos conselhos da gestão escolar exige um trabalho de formação permanente e sistemática na dimensão político/pedagógica. Para tornar realidade a escola pública popular e democrática de boa qualidade na direção de uma educação crítica e transformadora, exige-se repensar a proposta pedagógica e a reconstrução do currículo, instrumento básico de organização da escola entendido numa perspectiva ampla, progressista e emancipadora. Para desenvolver uma proposta pedagógica comprometida com a democratização da educação escolar, Freire previa a necessidade das seguintes medidas: o respeito à identidade cultural do aluno; a apropriação e produção de conhecimentos relevantes e significativos para o aluno, de modo crítico, na perspectiva de compreensão e transformação da realidade social; a mudança de compreensão do que é ensinar e aprender; o estímulo à curiosidade e à criatividade do aluno; o resgate da identidade do educador e a integração comunidade/escola como espaço de valorização e recriação da cultura popular.
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As Secretarias de Educação devem, também, no sentido de tornar viável um novo projeto político/pedagógico, investir no Movimento de Reorientação Curricular e na Formação Permanente de Educadores em todas as modalidades de ensino. A reorientação curricular constitui, portanto, um processo de construção coletiva da qual participam diferentes grupos em constante diálogo: escola, comunidade e os especialistas das diferentes áreas do conhecimento. Só assim as comunidades escolares se apropriarão do direito e do dever de ter a voz na elaboração do currículo (Aplle e Nóvoa, 1998:104).
Quanto ao “Método Paulo Freire” utilizado, pela primeira vez, em 1963 para alfabetização de adultos, na cidade de Angicos, consistia em ensinar não só a ler, mas conscientizar as pessoas dos seus direitos de cidadão do mundo e não somente no mundo. Iniciou o processo de alfabetização com palavras do meio dos alfabetizandos. O objetivo da metodologia freireana consiste em possibilitar o desenvolvimento da consciência crítica do educando alguns símbolos relacionados à palavra e, em seguida, desafiando-os criticamente a redescobrir a associação entre estes símbolos e as palavras e assim aprendê-las. Tem como meta educar homens e mulheres no seu contexto histórico, com palavras do seu meio, cheias de significado para os mesmos. Entre as novidades trazidas por Freire do tempo em que ficou no exílio, como a problematização do educador e o estímulo à participação dos educando no processo educativo, foram os recursos audiovisuais. Passou a levar para as aulas de alfabetização, um aparelho chamado epidiascópio utilizado para projetar as imagens de desenhos e palavras relativos ao tema do dia, do papel na parede. Ele ficava observando a reação dos educandos em frente aos novos recursos utilizados com sucesso em outros países. 3. 6. na perspectiva da valorização e formação continuada de professores:
Partindo do princípio que o conhecimento é inacabado, Freire, durante sua administração frente a Secretaria de Educação de São Paulo, dedicou especial atenção àquela que considerava como uma das medidas prioritárias no sentido de democratizar o ensino público, ou seja, a formação continuada dos educadores. Essa postura de Freire transcendeu à SME de São Paulo para se tornar medida essencial para a qualificação do ensino numa perspectiva de educação democrática no Brasil e no mundo. Ele citou seis princípios que considerava básicos para o programa de formação
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de professores da SEM de São Paulo: 1- O educador é sujeito de sua prática, cumprindo a ele cria-la e recria-la; 2- A formação do educador deve instrumentalizá-lo para que ele crie e recrie a sua prática através da reflexão sobre o seu cotidiano; 3- A formação do educador deve ser constante, sistematizada, porque a prática se faz e se refaz; 4- A prática pedagógica requer a compreensão da própria gênese do conhecimento, ou seja, de como se dá o processo de conhecer; 5- O programa de educadores é condição para o processo de reorientação curricular da escola; 6- O programa de formação de educadores terá como eixos básicos: a fisionomia da escola que se quer, enquanto horizonte da nova proposta pedagógica; a necessidade de suprir elementos de formação básica aos educadores nas diferentes áreas do conhecimento humano; a apropriação, pelos educadores, dos avanços científicos do conhecimento humano que possam contribuir para a qualidade da escola que se quer (Freire, 1999:80). •
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O trabalho direcionado à formação continuada de professores exige um grande investimento no sentido de que a escola pública mude sua fisionomia de “educação bancária” para uma educação voltada para uma pedagogia crítico-dialógica, uma pedagogia da pergunta. A escola pública na visão de Freire, é aquela que estimula o aluno a perguntar, questionar, opinar, onde se propõe a construção coletiva do conhecimento, articulando o saber popular ao saber científico. Não podemos pensar em mudar a cara da escola, não se pode pensar em ajudar a escola a ir ficando séria, rigorosa, competente e alegre sem pensar na formação permanente da educadora (Freire, 1999:38).
A formação do educador se dá através da prática, da real participação em torno da democracia, ultrapassando e transcendendo os cursos explicativos teóricos. A prática da democracia, segundo Freire, vale muito mais do que um curso sobre democracia. Quando o educador se referia à formação continuada, não estava querendo dizer a permanência de valores, pelo contrário, estava se referindo à permanência do processo educativo e das mudanças culturais no sentido de evoluir. Bibliografia:
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