DA CIl
ALAN
CHAUMERS
"Espero que um exame detalhado da
maneira como fabricado (n sentido de 'fabricar': construir, elaborar) legítimo conhecimento científico mostre
como le pode
diferenciado de suas
fabricações (no sentido de 'fabricar':
montar)."
I S B N 85-7139-059-2
Copyright © 1990 by Alan Alan F. Chalmers Título original em inglês: Science and its fabrication Copyright © 1994 da traduçãobrasileira: Fundação Editora da UNESP (FEU)
A
A.
F.
(Alan F r a n c i s )
fabricaçã o
da
ciência
50(091)/C438f
Av. Rio Branco, 1210 01206-904-São Paulo-SP Tel./Fax: (011)223-9560
(179116/02)
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP Brasil)
Chalmers, Alan F., 1939 - AFabricação da ciência/Alan Chalmers; Chalmers; tradução de Beatriz Sidou. - São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1994. (Biblioteca básica) Bibliografia. ISB N 85-7139-0 85-7139-059-2 59-2
Hugo:
l. Ciência Aspectos 2. Ciência Filosofia 3. Ciência História 4. Ciência Metodologia I. Título. II. Série.
Joshua:
94-1012
CDD-500
índice para catálogo sistemático: 1. Ciências 500
OQACÃQ BIBLIOTECA
H.»
CENTRAL
Levantei cedo esta manhã porque decidi agir. Este é o alvorecer do inesperado. Que horas são? Doze em ponto, senhor Hugo. Jean Anouilh,
an
em volta da lua
Copyright © 1990 by Alan Alan F. Chalmers Título original em inglês: Science and its fabrication Copyright © 1994 da traduçãobrasileira: Fundação Editora da UNESP (FEU)
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A.
F.
(Alan F r a n c i s )
fabricaçã o
da
ciência
50(091)/C438f
Av. Rio Branco, 1210 01206-904-São Paulo-SP Tel./Fax: (011)223-9560
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Chalmers, Alan F., 1939 - AFabricação da ciência/Alan Chalmers; Chalmers; tradução de Beatriz Sidou. - São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1994. (Biblioteca básica) Bibliografia. ISB N 85-7139-0 85-7139-059-2 59-2
Hugo:
l. Ciência Aspectos 2. Ciência Filosofia 3. Ciência História 4. Ciência Metodologia I. Título. II. Série.
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CDD-500
índice para catálogo sistemático: 1. Ciências 500
OQACÃQ BIBLIOTECA
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CENTRAL
Levantei cedo esta manhã porque decidi agir. Este é o alvorecer do inesperado. Que horas são? Doze em ponto, senhor Hugo. Jean Anouilh,
an
em volta da lua
SUMÁRIO
Prefacio 11
Capítulo política da filosofia da ciência 1.1 A filosofia da ciência ciência como como questão questão política 1.2 A estratégia estratégia Métodos e padrões historicamente contingentes positivista 1.3 Métodos 1.4 A crítica da pseudociência
23
Capítulo Contra método método universal 2.1 Observações introdutórias 2.2 O recurso natureza humana 2.3 O recurso recurso à física e sua sua história: história: positivismo positivismo e falsificacionismo 2.4 Os métodos padrões variáveisna variáveis na física
39
Capítulo meta da ciência 3.1 Observações introdutóri intro dutórias as 3.2 A ciência como busca da generalidade 3.3 As primeiras primeir as tentativas para o estabelecimento das general generaliz izações ações eóricas 3.4 A generalidade generalidade e a experimentação: experimentação:
g
AL AN CHALMERS
61
Capítulo 4 observação objetivada hipóteses empiristas sob ataque 4.2 A observação 4. teórico-dependente 4.3 A observação objetiva como realização prática 4.4 O significado e o caráter problemático dos dados de Galileu sobre o telescópio 4- As observações de Galileu das luas de Júpiter 4.6 O tamanho dos planetas vistos pelo telescópio
Capítulo
PREFÁCIO
experimento 5.1 A produção e a rejeição dos resultadosexperimentais implicaçõespara empirismo 5.3 As implicações para 5.2 filosofia da ciência de Popper 5.4 defesa do experimento contra ataque dos céticos 5.5 O retorno do experimentador
10
Capítulo ciência e a sociologia do conhecimento 6.1 A sociologia e o ceticismo em relação ciência 6.2 O retrato inadequado que os sociólogos fazem seus opositores 6.3 As origens sociais do conhecimento científico 6.4 A ênfase inadequada na crença 6.5 A explicação sociológica restrita à m ciência
129
Capítulo 7 Dois estudos de caso sociológicos 7.1 A teoria estatística e o interesses sociais 7.2 A explicação social de Freudenthal par os Principia de Newton 7.3 Observações finais
CapítuloS dimensão social
política da ciência
8.1 Observações introdutórias 8.2 As oportunidades objetivas e a escolha individual 8.3 A política da atividade científica 8. Colocando-se ciência em seu lugar
16
17
Apêndice A extraordinária pré-história da lei da retração
Bibliografia
Este livro é uma seqüência What is this thing called science?. Nesse livro, submeti algumas das explicações mais comuns da ciência e seus métodos a minucioso exame crítico, mas não cheguei elaborar em detalhe nenhuma alternativa p^ira elas. Convenci-me que tal elaboração é necessária, sobretudo diante da amplitude as críticas que, contra as minhas intenções, têm considerado minha posição radicalmente cética, negadora de qualquer estatuto distintivo, objetivo do conhecimento científico. Este livro contém uma ampliação e uma reelaboração do argumento de seu predecessor. Persisto em minha rejeição às concepções filosófico-ortodoxas do chamado método científico, mas demonstro como, não obstante com algumas ressalvas, é possível uma defesa da ciência como conhecimento objetivo. Conseqüentemente, não tenho dúvidas de ue receberei desdém de muitos filósofos, minha direita, e de sociólogos da ciência, minha esquerda.
muitos pontos utilizei material publicado nos seguintes artigos: "The case against a universal ahistorical scientific method" (O que há contra um método científico universal a-histórico, 1985);
10
A L A N CHALMERS
tions of Venus an Mars" (A observações telescópicas feitas po Galileu Vênus Marte, 1985); "The sociology of knowledge an the epistemological status of science" (A sociologia do conhecimento e estatuto epistemológico da ciência, 1988); "The extraordinary prehistory of the la of refraction" (A extraordinária pré-história da lei da refração, 1975). Sou m uito grato aos editores, que d eram permissão pa ra utilizar este material aqui. Agradeço também a Patrícia Bower e Verônica Leahy, qu pacientemente e com mu ita eficiênci datilografaram manuscrito, e Wa Sutching, pela crítica proveitosa.
CAPÍTULO
POLÍTICA
filosofia
FILOSOFIA
CIÊNCIA
ciência como questão política
"Nos tempos modernos ciência muito respeitada." Esta sentença qu abre livro qual este é uma seqüência (Chalmers, 1982). Quinze anos dando aulas numa faculdade de artes, be como a inclinação para algumas formas da filosofia e da sociologia contemporânea, proporcionaram idéia quantidade ressalvas de que essa afirmativa necessita. ciência geralmente considerada desumanizadora, dand tratamento insatisfatório povos, sociedades natureza, nela considerados objetos. valores ciência percebida alegada neutralidade isenção po muita gente como não-autêntíca, idéia estimulada pelo fenômeno, cada vez mais comum, do desacordo entre especialistas, em lados opostos de uma discussão politicamente suscetível acerca substância do fato científico. A destruição e a ameaça de eliminação de nosso meio ambiente resultantes avanços tecnológicos sã em geral consideradas algo qu compromete ciência. Existem
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ALAN CHALMERS
para o misticismo, as drogas para a filosofia francesa contemporânea. Embora certamente reste argumento de que um alto apreço pela ciência e uma generosa avaliação de seu campo constituam importante componente ideologia contemp orânea, abun dam as posições oponentes. fato das questões que dizem respeito ao estatuto da ciência serem politicamente impo rtantes nã escapou muitos filósofos e, mais recentemente, sociólogos ciência. oi assim que, em 1973, Imre Lakatos (1978b, p. 6-7) resumiu o assunto numa transmissão radiofônica: problema da demarcação das fronteiras entre ciência e a pseudociência tem sérias implicações ... para institucionalização da critica. teoria de Copérnico foi proibida pela Igreja católica em 1616 por ser considerada pseudocientífica. Em 1820, fo retirada do Index, porque àquela altura Igreja acreditou que os fatos haviam comprovado e, portanto, el se tornara científica. O Comitê Central do Partido Comunista Soviético, em 1949, declarou pseudocientífica'a genética men deliana matou os que defendiam em campos de concentração, como aconteceu ao acadêmico Vavilov (depois do assassinato de Vavilov, a genética mendeliana foi reabilitada). Contudo, manteve-se direito do partido decidir o que é científico publicável e o que é pseudocientífico passível de punição. novo establishment liberal do Ocidente também exerce o direito de negar a liberdade d palavra ao que é considerado pseudocientífico, como já se viu na discussão respeito de raça inteligência. Todos esses julgamentos inevitavelmente baseavam-se em alguma espécie de critério de demarcação. por que o problema dos e entre Esta é pseudociência não é um pseüdoproblema de filósofos de poltrona: ele tem sérias implicações éticas e políticas.
aturalmente, akatos tinha grande consideração pela ciência, como Karl Popper, cujos passos apaixonadamente seguiu. Popper (l 966, 369) explica como a sua defesa racionalidade em geral, e da ciência em particular, é uma tentativa d e ir contra o "relativismo intelectual e moral", considerado por ele a "principal doença filosófica nosso tempo". Não é incomum que os defensores de
F A B R I C A Ç Ã O DA C I Ê N C I A
13
afinal contas, "o que realmente está em jogo nada menos qu noss a civilização " (Theocharis Psimopoufuturo progresso los, 1987, 597).
Paul Feyerabend é um dos filósofos mais lidos que se opõe zomba dessas venerações ciência. Segundo algumas suas formulações mais radicais, as atitudes atuais em relação ciência eqüivalem a nada menos que uma ideologia representando um papel afim ao que desempenhou o cristianismo na sociedade ocidental, algumas centenas de an os atrás, e da qual devemos nos livrar. Feyerabend (1975) diz que a ciência moderna não tem características que a tornem superior distinta do vodu ou da astrologia. Em seu livro mais recente (l 987), el glorifica um "adeus à razão", onde "razão " deve ser lida como modo de racionalidade que os filósofos, que defendem para el algum a situação privilegiaa, presumem distinguir ciência. as últimas décadas, tornou-se cada ve mais comum os sociólogos voltarem su atenção para dimensão social ciência e, em especial, para os processos implicados na construção social do conhecimento científico. Essas investigações levaram maioria deles questionar as explicações ortodoxas atribuídas ao estatuto privilegiado da ciência, e alguns deles assumir posturas semelhantes defendida Feyerabend. Collins e Cox (1976), por exemplo, defend em explicitamente um ponto de vista relativista intransigente, com o argumento de que ão há uma diferença intrínseca entre método da ciência e o método empregado por Marian Keech e seus seguidores para convencer os outros autenticidade de sua maneira lidar co seres extraterrestres. As páginas qu seguem contêm minha tentativa esclarecer essas discussões a respeito do estatuto da ciência. Uma investigação detalhada da prática científica exigirá que nos unamos Feyerabend e ao s sociólogos contem porâneos na rejeição de boa parte filosofia ortodoxa da ciência. Entretanto, procurarei resistir ao relativismo radical freqüentemente defendido esses autores
ALAN CHALMERS
14
isenção de valores da ciência. Ou melhor, espero que um exame detalhado da maneira como é fabricado (num certo sentido de "fabricar": construir, elaborar) legítimo conhecimento científico mostre como ele pode ser diferenciado de suas fabricações (num segundo sentido de "fabricar": montar). No capítulo final mostrarei por que não desejo que minha defesa restrita do estatuto epistemológico da ciência seja equiparada à defesa do tipo de atitude que prega "manter a política longe da ciência", atitude que deixa sem questionamento campo político, já incontestável dentro da ciência.
1.2
estratégia positivista
principal objetivo dos positivistas lógicos, ue floresceram em Viena durante as décadas de 20 e 30 e cuja significativa influência ainda persiste, er fazer defesa ciência distingui-la do discurso metafísico e religioso, ue a maioria deles descartava como bobagem não-científica. Eles procuravam construir uma definição ou caracterização geral da ciência, incluindo os métodos apropriados para sua construção e o critérios a que recorrer para fazer sua avaliação. Com isso em mãos, visavam defender ciência e criar dificuldades para a pseudociência, mostrando como a primeira se ajusta caracterização geral, e a última não. Os detalhes da concepção de ciência oferecidos pelos |)ositivistas foram rejeitados ou radicalmente alterados na últimas décadas. ão obstante, a estratégia geral contida em sua tentativa de defender a ciência ainda tem muitos adeptos. Ou seja, como ainda pressupõem normalmente os filósofos, cientistas e outros, para defender a ciência devemos recorrer a uma explicação geral de seus métodos padrões. lém do mais, os positivistas nã foram os primeiros tentar uma caracterização geral da ciência. O Novum organum de
FABRICAÇÃO DA CIÊNCIA
esforços positivistas para elaborar ciência e seus métodos.
15
explicação geral
A caracterização geral da ciência buscada pelos filósofos a que referi pretendia ser universal e a-histórica. Universal, no sentido de que se tencionava qu fosse igualmente aplicada todas as teses científicas. Os positivistas buscavam, por exemplo, uma "teoria unificada da ciência" (Hanfling, 1981, capítulo 6) que pudessem empregar para defesa da fisica e da psicologia behaviorista para criticar com severidade a religião e a metafísica. A explicação que se buscava para a ciência seria a-histórica no sentido de que deveria aplicar-se tanto às teorias passadas como às contemporâneas e às futuras. or conveniência, refiro-me ao objetivo defender ciência por meio do recurso a uma explicação universal e nãohistórica de seus métodos e padrões como estratégia positivista, já ue esta foi uma proeminente característica do positivismo lógico.
Imre Lakatos Karl Popper são dois eminentes filósofos da ciência dos tempos recentes que adotam a estratégia positivista, ainda que, é claro, sejam bastante críticos em relação à particular
explicação da ciência oferecida pelos positivistas. Imre Lakatos (1978, p. 168-9 189) acreditava que o "problema central na filosofia da ciência" era "a questão de determinar as condições universais sob as quais teoria científica". le sugeria que a solução do problema "deveria oferecer-nos um orientação respeito de quando a aceitação de uma teoria científica é racional e quando é irracional" e esperava ue isso nos ajudasse a "criar leis para lutar contra ... a poluição intelectual". Lakatos recorria a sua teoria da ciência para defender os físicos contemporâneos e criticar o materialismo histórico e alguns aspectos da sociologia contemporânea, expressando caráter universal ue atribuía ciência, embora se caráter a-histórico esteja evidente no uso que ele fez para defender o caráter científico da revolução copernicana também da einsteiniana. Alan (1974, p. 560) considera solução de Popper para o relatívismo "uma insistência em
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FABRICAÇÃO DA CIÊNCIA
A L A N CHALMERS
17
não-ciência em termos de um método que ele considerava caracte rístico de todas as ciências, inclusive as sociais.
Podemos nos perguntar como é que muitas universidades pelo mundo afora proporcionam seus estudantes de ciência cursos formais
Não é incomum encontrarem-se os próprios cientistas em atividade expressando idéia de que uma explicação universal método científico poderia ou deveria se usada para defender ou ajudar aperfeiçoar ciência. Assim, dois físicos contemporâneos (Theocharis Psimopoulos, 1987) insistem em que a prática e defesa ciência deveriam exigir definição mais razoável método científico deploram quanto os cientistas em exercício ignoram essa definição. Chegam mesmo atribuir essa ignorância o que consideram ser a doença atual da ciência. Outros cientistas tentaram analisar as controvérsias contemporâneas respeito sistemas satisfatórios classificação biológica voltando-se par "estrutura filosófica dos critérios de teorias metodologias científicas" (Bock, 1973, p. 381) considerando problema relativo "natureza ciência" (Gaffhey, 1979, p. 80).
sidades ue proporcionam cursos optativos sobre as tendências atuais na filosofia da ciência, será ue seus corpos dirigentes têm consciência do fato de que muitos professores desses cursos inclinam-se a sabotar o método científico?
Até que ponto amplo profundo sentimento de que uma defesa ciência deve seguir estratégia positivista evidencia-se partir da reação típica dos filósofos e sociólogos da ciência ue negaram a existência algo como explicação universal a-histórica do método e padrões científicos capazes de orientar trabalho dos cientistas ou de avaliar mérito da ciência ue estes produzem. Essa reação parece motivada pelo pressuposto de que abandono da noção de um método ou conjunto de padrões universais necessariamente encerra ceticismo radical em relaçã ciência, segundo qual nenhuma teoria científica pode ser considerada melhor do que qualquer outra; ciência epistemologicamente eqüivale astrologia ou ao vodu, e avaliação da teorias científicas questão de opinião ou gosto, atitude resumida pelo slogan utilizado po Feyerabend (1975, p. 28) para caracterizar su teoria "anarquista" ciência: "vale tudo". Theocharis Psimopoulos (1987, 597) estão tã convencidos de que uma defesa ciência exige recorrência a uma explicação filosófica do método
sobre os
do
Em
às
No próximo capítulo, exponho me argumento contra estratégia positivista, ue considero bastante equivocada para os
qu desejam defender ciência. capítulos subseqüentes, mostr por que a rejeição do método universal não tem conseqüências ue possam causar quaisquer preocupações ao corpos dirigentes da universidades.
1. Métodos
padrões historicamente contingentes
Digo que a reação comum de horror em relação ao abandono método conjunto padrões a-históricos, que vê a mudança como um abandono total da racionalidade, resulta de falha distinção entre rejeição método conjunto padrões universais imutáveis, por um lado, ue defendo, rejeição de todo método padrão, por outro, a que resisto. Como já disse em outro texto (Chalmers, 1986, p. 26): "Não existe nenhum método universal. Nã existe nenhum padrão universal. Contudo, existem padrões a-históricos contingentes implícitos nas atividades bem-sucedidas. Isso não significa um vale tudo em questões epistemológicas". Não são apenas aqueles qu adotam estratégia positivista qu deixam fazer distinção entre os métodos padrões universais absolutos e o métodos padrões contingentes sujeitos mudança. Feyerabend (1975, p. 285), da mesma forma, não discrimina quando, depois de
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A L A N C HA L M E R S
metafísicos, ânsias religiosas, em resumo: anseios subjetivos".
FABRICAÇÃO
qu resta sã nossos
Recorrendo-se aos padrões contingentes, idéia ue defendo, será possível bloquear o caminho para um tipo de relativismo cétíco às vezes apoiado por Feyerabend e por alguns dos sociólogos da ciência, que discutiremos mais adiante neste livro? fato de que resposta afirmativa não é uma resposta direta evidencia-se na
reação comum desses ue adotam estratégia positivista para Barry posturas como minha. Isso fo levantado, exemplo, Gower (l 98,8) em sua crítica algumas de minhas idéias publicadas anteriormente. Se há padrões implícitos nas atividades bemsucedidas, como sustento, como essas atividades podem ser avaliadas fora? Mais especificamente: se física aristotélica incorporasse padrões aristotélicos e física de Galileu incorporasse padrões galileanos, como poderíamos estar em posição de dizer que a física de Galileu é superior à aristotélica, como desejariam os defensores da ciência? Quando se adotam padrões aristotélicos, física de Aristóteles superior, ao passo que, adotando-se os padrões galileanos, julgamento invertido. Tout comprendre, c'est tout pardonner (Compreender tudo tudo perdoar), resume Gower (1988, p. 59). Para dizer que a física de Galileu é um avanço em relação à física aristotélica não precisaríamos de algum superpadrão aplicável ambas? Isto não nos leva de volta à necessidade de um método universal? Da mesma forma, meus oponentes podem observar ue existem métodos padrões inerentes na astrologia ou na parapsicologia chegar conclusão de que a minha postura não deixa espaço para crítica dessas atividades, já que eu me nego recorrer ao padrões universais para avaliar os métodos padrões implícitos em quaisquer atividades, por mais distanciadas que estejam de ualquer ciência ortodoxa. Acompanhando essa linha argumentação, os defensores da estratégia positivista podem dizer que não há meio caminho como esse a que aludi para falar de padrões contingentes implícitos nas atividades bem-sucedidas.
CIÊNCIA
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menos que eu tenha alguma caracterização universal do sucesso, ão há meio caminho, como aparentemente insinua essa linha de argumentação. Ou temos padrões absolutos específicos para uma explicação universal da ciência ou temos o relativismo cético, e opção entre teoria evolucionária e ciência criação torna-se urna questão de gosto ou de fé. A tentativa que faço neste livro de apreender o campo entre o método universal e o relativismo cético continua mais ou menos da seguinte forma. De modo bastante pragmático, e de olho no que a ciência física já conseguiu realizar, tento especificar qual é meta da ciência. A meta da física é estabelecer teorias e leis extremamente gerais aplicáveis ao mundo. quanto essas leis teorias são realmente aplicáveis ao mundo deve ser determinado no confronto entre elas e o mundo, da maneira mais rigorosa possível, segundo as técnicas habituais existentes. Além do mais, compreende-se que a generalidade e grau de aplicabilidade de leis teorias estão sujeitos a um constante aperfeiçoamento. Tendo assim especificado meta ciência, depois havê-la elaborado ilustrado com exemplos, para torná-la um pouco menos inócua, depois de argumentar que esta é uma meta não-utópica muitas vezes satisfeita na ciência, estou em posição de avaliar métodos e padrões com base no ponto de vista a que eles atendem. Como meta da ciência certamente terá de ser avaliada em relação a outros objetivos outros interesses, uma vez adotada essa meta, extensão alcançada pelos diversos métodos padrões não é uma questão de opinião subjetiva, mas de fato objetivo a ser determinado rnaneira prática. Os defensores da estratégia positivista normalmente se apresentam como defensores da ciência e da racionalidade, e seus opositores, como inimigos da ciência e da racionalidade. Neste Ponto, estão enganados. adotar um estratégia em defesa da ciência condenada falha, estão servindo de joguete nas mãos do Movimento contra ciência, ue tanto temem, tornam trabalho
FABRICAÇÃO DA CIÊNCIA
ALAN CHALMERS
oportunidades neste livro, expressa de modo admirável o que tento demonstrar: Enquanto
autoridade científica
legitimada em relação
filosofias
da os muito simples mostrar que a atividade científica em qualquer caso particular não está de acordo com os cânones das filosofias que a legitimam. Estão se cumprindo os temores daqueles qu fazem objeção ao relatívismo com base em suas conseqüências anárquicas, não como resultado do relativis-
mo, mas como resultante de uma confiança exageradamente prolongada na mesmas filosofias que se supõe cercarem a autoridade científica. Esta cerca parece ser feita de palha. Se novas cercas tiverem de ser construídas, elas deverão ter sua base na atividade científica.
Gosto de pensar que a defesa da ciência ue ofereço neste livro superior às defesas no estilo positivista, porque sustentável porque deixa claro terreno em que a ciência deve ser defendida.
crítica da pseudociência Neste livro procuro retratar a física como um empreendimento objetivo progressivo. maneira como elaboro minha argumentação exige um exame minucioso do que a física já realizou e de como isto fo realizado. Particularmente, minha formulação meta da ciência chegou a uma configuração bastante pragmática, servindo aos tipos de leis teorias estabelecidas pelo desenvolvimento de métodos satisfatórios na física. Como minha argumentação assume essa forma, há limites necessários que determinam até ue ponto minha análise pode servir de base para criticar áreas do conhecimento estranhas à física. Se alguma área do conhecimento, como psicologia freudiana ou o materialismo histórico de Marx (para tomarmos dois dos alvos favoritos dos filósofos da ciência), tivesse de receber uma crítica fundamentada no fato de
21
drões da física. Não me sinto preparado para esta pressuposição penso que seria muito difícil defendê-la. À luz de minha análise, um tipo de crítica possível contestar pretensos conhecimentos apresentados como se fossem científicos mesmo sentido da física, talvez porque pretendam ter sido construídos de acordo com métodos similares aos d física e, conseqüentemente, apresentados como se tivessem um estatuto epistemológico semelhante ao desta ciência. Se criacionismo, parapsicologia, a eugenia ou o que Marian Keech diz a respeito dos seres extraterrestres (Collins Cox, 1976) são defendidos por serem considerados científicos no mesmo sentido em que a física científica, acredito que as ponderações apresentadas neste livro indiquem como se pode repudiar esse tipo de pretensão.
Quando nos voltamos para campos como o da teoria ou história social, dos quais plausivelmente se pode afirmar terem objetivos um pouco diferentes e, analogamente, métodos padrões também diferentes da física, minha explicação da ciência não tem muito oferecer, nem pretende ter muito oferecer em relação maneira como as teorias nesses campos poderiam ser avaliadas. máximo, minha análise e defesa da física podem ser tomadas como indicação do modo de proceder em outros casos, ou seja, na tentativa de identificar as metas implicadas, as práticas desenvolvias para corresponder essas metas e o grau de sucesso obtido. penúltima seção What is this thing called science. resumi minha atitude em relação a essas questões da seguinte maneira: Como agora está claro, acredito que não existe nenhuma concepção atemporal universal da ciência e d método científico ue possa atender ao objetivo de avaliar todas as pretensões de conhecimento. Não temos os recursos para chegar a isso e para defender essas idéias. Não podemos defender ou rejeitar com legitimidade pontos do conhecimento porque eles se ajustem ou não a determinados critérios já prontos da cientifkidade. A coisa é bem mais séria do que isso. Se, por exemplo, desejamos assumir uma postura esclarecida sobre determinada versão do marxismo, teremos
ALAN CHALMERS
que determinam seu desenvolvimento. Estaríamos então em posição de avaliar versão do marxismo em termos da conveniência daquilo a que almeja, do quanto seus métodos permitem qu essas metas sejam atingidas e dos interesses a que atende. (Chalmers, 1982, p. 169)
Espero que a discussão exposta nos próximos capítulos venha esclarecer e desenvolver m ais o conteúdo dessas observações e possa mostrar por que não sinto nenhuma necessidade voltar a elas.
CAPÍTULO
CONTRA
M É T OD O U N I V E R S A
2. Observações introdutórias Como já indiquei an teriormente, os que defendem um estatuto privilegiado para conhecimento científico normalmente adotam o que d enominei estratégia positivista. Quer dizer: tentam definir um certa metodologia universal a-histórica da ciência que especifique os padrões em relação ao quais se deva julgar as supostas ciências. Popper Lakatos, influentes filósofos da ciência, embora antipositivistas em aspectos fundamentais, adotaram uma versão dessa estratégia. Em época mais recente, John Worrall (1988, 265 e 274) expressa muito enfaticamente sua fidelidade à estratégia positivista. Segundo Worrall, "estabelecer princípios fixos para avaliação da teoria científica é a única alternativa ao relativismo", de mod o que, "sem os princípios invariáveis da boa explicar-se desenvolvimento ciência ciência, toda idéia corno um processo racional seguramente abandonada". Jttesma forma, Barry Gower (1988, p. 59) lamenta o fato'de qu
A L A N CHALMERS
FABRICAÇÃO DA C I Ê N C I A
este capítulo, exponho resumidamente as razões pelas quais uma tentativa de defender a ciência recorrendo-se a uma explicação universal a-histórica está condenada. Suponhamos, em nome argumentação, que existe uma categoria excepcional chamada "ciência" e um método científico universal regendo o seu progresso e a sua avaliação. Como pod eriam os filósofos da ciência estabelecer caracterização satisfatória desta categoria, "ciência", e seu método? Que recursos têm os filósofos à sua disposição para determinar o que a ciência é ou deveri ser? Devo examinar uma série de respostas possíveis e sustentar que elas são insatisfatórias.
xjo terreno dos empiristas, encontramos John Locke (1967, xxxii) explicando que, diante de certas questões epistemológicas específicas, percebera que, antes de tratar dessas questões, era nreciso "examinar nossas próprias capacidades e verificar qu objetos de nossa compreensão eram ou não próprios para tal".
.2
recurso natureza humana
s tentativas feitas por uma série de filósofos do século XVII para responder minh a pergu nta concentravam-se na importância natureza humana. Colocada em termos bastante simples, sua posição pode ser caracterizada da seguinte m aneira: já que são seres humanos ue produzem e que avaliam conhecimento em geral e conhecimento científico em particular, para compreender as diversas maneiras pelas quais conhecimento pode se apropriadam ente a dquirido d evemos levar em conta a naturez a de cada ser h u m a n o que o adquire e o avalia. Devemos analisar os aspectos relevantes da natureza humana. Esses aspectos são a capacidade que os seres humanos têm de raciocinar e sua capacidade observar m u n d o por meio dos sentidos. Os racionalistas clássicos, como Descartes, concentraram-se no primeiro aspecto. A ssim, vemos que em seu Discurso sobre método Descartes rejeitava costume e autoridade como fontes satisfatórias para fundamentação segura do conhecimento e decidira estudar por si mesmo, usando todas as forças de sua mente numa tentativa de livrar-se dos "muitos equívocos que possam obscurecer a luz da natureza em nós e que nos deixam menos capazes de dar ouvidos razão".
Entre essas capacidades, para L ocke, muito importante era, naturalmente, capacidade dos seres humanos observarem m u n d o po meio dos sentidos. David Hume (1969, p. 42), buscando os elementos empiristas na epistemologia de Locke, deixou muito claro que, em sua opinião, a natureza do conhecimento deve ser compreendida por meio da investigação da natureza dos seres humanos que o adquirem. Para citar suas próprias palavras: evidente ue todas as ciências têm uma relação, maior ou menor, com a natureza humana; e, por mais ue qualquer uma delas pareça distanciar-se disso, continuarão voltando a ela por uma ou outra passagem. Mesmo matemática, filosofia natural e religião natural dependem em certa medida da ciência do homem, pois estão além do conhecimento dos homens e são julgadas por suas forças suas faculdades. impossível dizer quais mudanças e aperfeiçoamentos poderíamos fazer nessas ciências se estivéssemos inteiramente ao corrente da extensão e da força do entendimento humano pudéssemos explicar natureza das idéias ue empregamos e das operações ue realizamos em nosso raciocínio.
s teorias racionalistas e empiristas da ciência so frem de graves problemas internos. Os racionalistas, quando tentavam justificar proposições advindas de um pensar claro como verdades absolutas eram, com efeito, obrigados a adotar certas noções problemáticas evidentes por si mesmas. (Vale pena lembrar que boa parte de su física, qu Descartes tentou justificar recorrendo a seu método racionalista, termino u por revelar-se totalmente falsa.) Os empirista estavam diante de uma série problemas relacionados falibilidade e ao campo restrito dos sentidos, e do problema de justificar as generalizações qu necessariamente ultrapassam evidência proporcionada por determinadas aplicações dos sentidos
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tentativas filosóficas tradicionais fundamentar teoria ciência com base na natureza humana. Contudo nã considero as dificuldades internas com que se depararam racionalismo e o empirismo tradicional as principais razões para rejeitá-los como explicações satisfatórias ciência. Sou da opinião de que a abordagem =geral qu exige que se trace natureza conhecimento científico de acordo com a natureza dos seres humanos que o produzem está fundamentalmente equivocada. O ser humano moldado pela sociedade em que vive e o problema definir-se alguma essência imutável atrás diferenças sociais, culturais históricas notoriamente difícil. Se sombra de dúvida, um aspecto essencial dos seres humanos é sua capacidade de pensar e de sentir. Entretanto, provavelmente de nada adiantará buscar natureza ciência em seja lá p que de universal existir nessa capacidade, pela simples razão que, sejam quais forem as resistências os homens, os processos racionais, empíricos e experimentais que a ciência historicamente encerra mudam evoluem. Assim, por exemplo, cálculo infinitesimal estava disposição dos cientistas ue vieram depois de Newton e Leibniz, mas não antes; era possível valer-se dele na sustentação de debates sobre infinitesimais, algo que não estava disposição de Arquimedes. repito, depois qu Galileu introduziu técnica teste as leis científicas sob as condições artificiais de um experimento controlado, podia-se justificar ordem física or trás mundo desordenado da experiência comum de um modo antes impossível. Quando Galileu surgiu com o telescópio, abriu-se um novo campo de dados para ciência, ue tornou redundante boa parte dos dados anteriores obtidos olho nu. * Os fatos relativos variações nos procedimentos racionais empíricos empregados na ciência não têm muito a ver com natureza humana. diferenças entre métodos de Arquimedes Newton, Aristóteles Galileu não devem se compreendidas em termos suas respectivas naturezas,
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em termos dos cenários epistemológicos em que estavam •mersos. natureza do conhecimento científico, maneira como ela deve se justificada co recurso razão e observação, muda
historicamente. Para compreendê-la identificá-la, devemos analisa os instrumentos intelectuais práticos que um cientista tinha mão em determinado contexto histórico. Tentar classificar método científico pela análise da natureza humana examinar precisamente lugar errado.
2.3 O recurso física e sua história:
positivismo falsificacionismo
Embora abordagem tradicional da compreensão do conhecimento e da ciência, centrada nas faculdades humanas, ainda tenha grande influência na filosofia ortodoxa ciência, hoje série de filósofos da ciência contemporâneos procur justificar suas explicações da ciência e do método científico de maneiras bastante diferentes. Esses filósofos aceitam o que foi dito acima propósito da natureza humana chegam conclusão de que, se quisermos compreender ciência seus métodos, devemos nos concentrar na própria ciência e nos métodos que ela incorpora, mais do que nos cientistas e em sua natureza. Os filósofos que adotam essa abordagem normalmente tomam a física e sua história como um do melhores exemplos do que seja ciência. Assim, desenvolde uma
e de
é
desenvolvimento da teoria ue melhor corresponda exemplar física. Uma explicação do método científico deve ser testada em relação história da fisica. Thomas Kuhn, Imre Lakatos Paul Feyerabend são filósofos contemporâneos que dão uma atenção detalhada história da ciência inerente essa abordagem. Eu diria que, desse modo, as tentativas caracterização justificar universal da ciência e seu método enfrentam sérias dificuldades
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Essa é uma grande dificuldade. exigimos que uma teoria satisfatória ciência seus métodos seja compatível com a história e prática contemporânea temos nenhuma física, então nosso dispor. Os melhores candidatos para um explicação do método universal nã passam no teste. Essa é a questão mais importante qu Feyerabend levanta em seu livro Contra método e também uma das principais conclusões a que fui levado em eu livro anterior. Tento aqui resumir argumentação essencial desse livro e de outros textos. Alguns- pormenores acréscimos mais recentes esses argumentos estão nos capítulos subseqüentes. Os positivistas visavam mostrar que a ciência autêntica "verificada" mostra se verdadeira provavelmente verdadeira em relação "sentenças protocolares" fatos revelados observadores cuidadosos por meio de seus sentidos. Contudo, relatórios observação são públicos, passíveis de teste e de revisão, além de bastante diferentes da concepção ue tinham os positivistas sobre verdades indiscutíveis diretamente reveladas aos observadores por meio dos sentidos (Chalmers, 1982, capítulo 3). A afirmação de
qu "a Terra estática" fo aceita como fato observável or milhares anos antes que as novas teorias movimento levassem à sua rejeição substituição durante revolução científica. Se nos voltamos para experimento e seu papel na física contraposto simples observação, problema para idéia positivistas de que ciência se baseia em fundamentos seguros fornecidos pelos sentidos torna-se ainda maior, como veremos no capítulo 5. Mesmo se admitirmos que os positivistas tiveram alguma base observacional segura para ciência, a sua exigência de que as teorias científicas fossem verificadas em relação essa base ão pode se respondida. Inevitavelmente há uma lacuna lógica entre prova finita seletiva disponível como suporte exigências científicas e a generalidade dessas mesmas exigências. Descobriu-se que os aspectos lógicos desse argumento sã ampliados pela observação histórica de que muitas teorias científicas passado (inclusive as
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superadas (I^ikatos, 1968). exigências utópicas do positivistas tê como conseqüência fato de que as nossas mais respeitadas teorias científicas não são científicas or seus critérios, reduzem-se bobagens para os positivistas, ue sustentam o ponto de vista de qu proposições não-verificáveis sã realmente bobagens.
rival mais importante positivismo é explicação falsificacionista da ciência, de Popper, aceita por muitos cientistas filósofos em atividade. Acho que não há objeções fazer alguns os aspectos mais gerais posição Popper. teorias científicas sã falíveis permanecem sujeitas a aperfeiçoamento ou substituição. medida em que as teorias dizem algo sobre mundo, elas devem se aferidas em confronto co ele. prática, história da ciência pode ser compreendida como sobrevivência da teoria mais apta em condições rigorosas de teste. entanto, essas concessões Popper não chegam ao ponto de admitir ue ele tenha seguido co êxito estratégia positivista conseguido formular um explicação universal a-histórica da metodologia tentarmos extrair do textos de Popper os critérios científica. falsificacionistas visando aceitar ou rejeitar teorias em uma ciência ou designar áreas inteiras como científicas ou não-dentíficas, recairemos em problemas semelhantes àqueles a que - o próprio Popper mostrou - o positivismo estava sujeito. Ou seja, se formos rigorosos demais em relação nossos critérios falsificacionistas, muitas de nossas mais admiradas teorias na física não poderão ser consideradas oa ciência, ao passo que, se os atenuarmos, poucas áreas deixarão assim qualificar-se. exemplo, suponhamos que o falsificacionismo exija rejeição as teorias falsificadas. Neste caso, menos qu este "falsificada" seja interpretado maneira tã branda ponto se ineficaz, teorias científicas exemplares deixarão corresponder exigência. or exemplo ainda, toda su história impressionantemente bem-sucedida, astronomia de Newton enfrentou observações incompatíveis com ela - ue iam desde observações sobre órbita da L ua às da órbita planeta Mercúrio. Natural-
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acompanhar nossa estrita regra falsificacionista perfeitamente com preensível e razoável. As situações realistas de teste na ciência são muito complexas; não apenas contêm a teoria que está sendo testada, mas uma série de outras pressuposições secundárias, condições iniciais afins. Para se comprovada, teoria de Newton sobre órbita da Lua exigiu pressuposições sobre a forma da Lua e seus movimentos internos, bem como sobre os da Terra, correções nas leituras do telescópio para permitir verificar-se refração na atmosfera da Terra - assim por diante. Mais tarde, Newton, localizando causa as foi possível poupar teoria aparentes falsificações em outros pontos do labirinto teórico. Transpirou depois que os problemas colocados pela órbita de Mercúrio não poderiam ser eliminados dessa maneira. Contudo, seria muito implausível esperar ue alguma regra felsificacionista estivesse à altura de indicar previamente aos cientistas que resultado esperar. É uma felicidade ue os físicos do século XIX não fossem felsificacionistas, como definido pela estrita regra considerada, e que eles tenham continuado a desenvolver a teoria newtoniana, apesar do problema não-resolvido da órbita de Mercúrio. ão seremos, assim, também forçados fazer concessões, or exemplo, em relação aos criacionistas ou "cientistas da criação", por terem fechado os olhos para os aspectos problemáticos dos registros fósseis? próprio Popper não defende regrafelsificacionistarigorosa discutida acima. Ele reconhece que se deve dar uma chance para que as teorias mostrem seu mérito e que elas não deveriam ser descartadas aos primeiros sinais de dificuldades. Como ele mesmo di (1974, p. 55): "Sempre sublinhei a necessidade de um certo dogmatísmo - cientista dogmático tem um papel importante desempenhar. Se nos entregamos crítica muito facilmente, jamais descobriremos onde está verdadeira força de nossas teorias". O critério da demarcação usado por Popper para distinguir a ciência da não-ciência pode ser dividido entre o que se poderia chamar um parte "lógica" e uma parte "metodológica". parte lógica
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substantiva sobre como é o mundo, é porque deve haver maneiras pelas quais se pode reconhecer que ela tem algum problema. Ou seja, devem existir maneiras possíveis de admitir ue mundo diferente do que diz a teoria. Essa é uma exigência razoável,
proveniente de uma concepção muito geral do que entendemos po conhecimento do mundo. No entanto, problema de Popper é que ele se satisfaz co esse leque amplo teorias. Esse problema tinha sido resolvido pela física de ristóteles, para a qual o movimento de um projétil impunha um problema. Fora resolvid pela astrologia, quando uma previsão nela baseada deixava de ocorrer, e foi resolvido pela teoria Freud, já que sua afirmação de que os sonhos são a realização desejos ameaçada pela existência dos pesadelos e dos sonhos cheios de ansiedade, para usar um exemplo a que o próprio Popper se referiu (1983, seção 18). simples exigência de falsificabilidade, compreendida meramente como possibilidade de um conflito entre as previsões de teoria algum resultado observável, embora suficiente para eliminar afirmações como "está chovendo" ou "não está chovendo" ou alguma paródia mais radical teoria freudiana ou da astrologia, admite bem mais do que os defensores estratégia positivist gostariam de admitir como ciência autêntica. O segundo aspecto metodológico do critério da demarcação de
Popper fo projetado para responder dificuldade esboçada acima e diz respeito ao caráter estratégia apropriada adotar diante falsificações aparentes. teorias deveriam se expostas críticas e não deveriam se modificadas maneira ad hoc com a introdução
acréscimos impossíveis testar para resolver evidências problemáticas. Poderíamos argumentar que foi dessa maneira nada científica ue os aristotélicos eliminaram o problema imposto pelo movimento projétil, introduzindo hipóteses impossíveis testar sobre força motriz do ar pelo qual aquele se movimentava, enquanto (pelo menos, segundo Popper) a resposta de Freud para problema dos pesadelos foi igualmente insatisfatória. O problema é que, se esse aspecto do critério de marcação de
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força, física deixa de ser uma ciência. ossas mais prezad as teorias na física enfrentam sempre invariavelmente enfrentaram probleas para os quais os físicos ou fecham os olhos ou respondem de maneira provisória. or exemplo, no primeiríssimo documento em ue apresentava os fundamentos de sua teoria cinética do gases, em 1859, Maxwell (1965, p. 409) observava ue "possivelmente teoria não satisfazia conhecida relação entre os dois calores específicos todos os gases". Todos os consideráveis êxitos teoria fo teoria cinética ocorreram depois que a dificuldade avaliada. Ela não foi eliminada até o advento mecânica quântica. Os problemas ue ocorrem na física atômica nuclear contemporânea são eliminados com o uso de diversas técnicas de "renormalização", que em geral se admite serem ad hoc. Por que uma teoria muito boa, com um potencial não-detectado, seria rejeitada por enfrentar dificuldades que, segundo todas as aparências, só podem se resolvidas man eira arbitrária? Qu alternativas têm os físicos modernos, senão dar prosseguimento ao desenvolvimento dos aspectos promissores da mecânica quântica, apesar de qualquer mal-estar que sintam a respeito da renormalização? Se o critério Popper receber uma formulação precisa para ter falsificacíonista força normatizadora, terá conseqüências indesejáveis para ciência.
outro que as explique melhor; po r exemplo, podemos dizer, co base em uma perspectiva pós-einsteiniana, que a órbita Mercúri falsifica teoria newtoniana, enquanto século er apenas urna anomalia. Um problema no critério de demarcação de Lakatos é ausência de força normativa. enhum programa de pesquisa pode ser rejeitado po falsificação porque se sucesso pode estar logo al adiante, de modo que "podemos racionalmente apegar-nos a u programa degenerescente até este ser superado por um rival mesmo depois" (Lakatos, 1978, p. 117). Quem diria que os grandes êxitos, na form a de previsões confirmadas de modo impressiona nte, estão à espera de programas dentro do marxismo ou da sociologia contemp orânea, para citar-se du as áreas de que Lakatos não g osta... Como instrum ento para combater a pseudociência, a metodologia de Lakatos realmente muito rudimentar. Um segunda enorme dificuldade em sua metodologia provém do quanto Lakatos adaptou para que ela correspondesse à física contemporânea (Feyerabend, 1976). Ele defende sua metodologia testando-a em relação episódios da história da física dos últimos duzentos anos, mais ou menos, geralmente aceitos como grandes realizações científicas (Lakatos, 1978, p. 124). Dado ess fato, nã basta presumir que o critério implícito para demarcação nessa metodologia aplica-se outras áreas que não a física. Mais vez, verifica-se que a metodologia de L akatos é um instrumento ineficaz para combater pseudociência. dificuldade acima enfrenta todas as explicações da ciência seus métodos e padrões implícitos na estratégia de tentar justificar física e sua história. teorias gerais da ciência recorrendo-se Quando se presume que os métodos padrões a que se chega dessa maneira sejam em geral aplicáveis biologia, psicologia, teoria social afins, tacitamente pressupõe-se que a física constitui o paradigma da boa ciência, a que todas as outras ciências devem aspirar. À prim eira vista existem razões amp lamen te reconhecidas para rejeitar-se essa pressuposição. Os povos, as sociedades e os
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dificuldades para o critério de demarcação de Popper que discuti são precisamente aquelas apontadas por Lakatos. A s u a metodologia para os programas pesquisa científica fo criada com uma alteração do falsificacionismo de Popper, de modo metodologia de Lakatos corresponder essas dificuldades. contém um liberalização do critério falsificacionista de Popper. Um bom programa de pesquisa invariavelmente depara com certas dificuldades, alguns fenôm enos recalcitrantes mas não precisa se abandonado por conta disso. As evidências conflitantes com as afirmações centrais de um programa tornam-se antes anomalias, programa científico se apresenta perspectifalsificações. va para pesquisa, e se essa pesquisa leva (pelo menos às vezes) êxitos na forma de novas previsões. anomalias tornam-se
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lados da mesma maneira que os objetos da física. Os experimentos artificiais e papel ue estes desempenham na físicaprevisivelmente não são os meios, próprios ou possíveis, suficientes para su compreensão. Enquanto as teorias sociais ou algumas as teorias psicológicas influenciam disposição ou as ações as pessoas, elas têm um efeito sobre sistemas a que supostamente se aplicam um forma que as ciências físicas não têm. Há um sentido real em que, no desenvolvimento das ciências humanas sociais, visamos antes mudar do que simplesmente interpretar o mundo. Em todo caso, este não é o lugar em que se vai discutir os problemas especiais
de que se ocupam teoria social, ecologia afins. Basta observar ue Lakatos e os que seguem estratégia semelhante pressupõem ue todo conhecimento científico autêntico deveria compartilhar os métodos padrões da física, posição essa difícil defender para a qual Lakatos ão oferece nenhuma defesa.
2. Os métodos padrões variáveis na física Surge mais dificuldade para os que defendem os métodos padrões universais no momento em que se admite que os métodos padrões da física estão sujeitos mudança e que estão sujeitos essas mudanças precisamente as ocasiões em que a física mais avanço impressionante. Os cientistas alteram seus métodos padrões quando aprendem, na prática, o que se ganhará com essa mudança. Ironicamente, um excelente exemplo histórico desta minha argumentação está narrado num ensaio de Lakatos publicado postumamente (1978a). argumento deste ensaio impõe séria dificuldade para estratégia positivista contrariamente defendida Lakatos. distinção entre ciência não-ciência geral aceita época de Newton era uma versão da distinção ue havia na Antigüidade entre episteme doxa entre conhecimento genuíno
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estabelecidas pela razão, enquanto muitos acrescentavam esta exigência "essencialista" de que estas fossem verdades fundamentais, seja, verdades que não necessitavam de uma explicação. geometria euclidiana er muitas vezes tomada como ciência exemplar, de acordo com esse ideal. teoria do conhecimento de Descartes, muito influente na época de Newton considerada pelo próprio Newton principal explicação ciência levar-se em conta para su avaliação, eu expressão a uma idéia ciência baseada em princípios evidentes muito claros priori. teoria Newton entrava em conflito co essa concepçã ciência com os padrões científicos época. Sua física, especialmente su explicação da gravidade, nã podia ser comprovada por meio de princípios evidentes. concepção ação gravitacional à distância, longe de ser evidente, era em geral considerada ininteligível em certo sentido, essa era uma opinião aceita pelo próprio Newton, qu admitia que, embora pudesse descrever ação gravidade, ão poderia explicá-la. teoria de Newton não proporcioríou as explicações fundamentais. Apesar de conflitante com os cânones aceitos da ciência, teoria de Newton funcionou muitíssimo bem na astronomia e n física terrestre. Estava claro que, colhidos os frutos dessa teoria, padrões teriam de ser mudados para incorporá-la oi precisamente ue aconteceu. Os cartesianos "foram obrigados, quase contra vontade, opor a tirania do evidente aos primeiros princípios fundamentais e, assim, mudar padrões crítica e d demonstração científica e até o próprio conceito de conhecimento" (Lakatos, 1978a, p. 207). Um trecho do ensaio de Lakatos (1978a, p. 201) resume situação: grandes obras de arte podem mudar os padrões estéticos e as grandes realizações científicas podem mudar os padrões científicos. história padrões é história interação decisiva - e nem tão decisiva assim entre os padrões e as realizações". Desde que não se force demais analogia com a arte,
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A FABRICAÇÃO DA CIÊNCIA
as realizações práticas. minha análise da introdução do telescó io na astronomia ue está no capítulo 4 é mais um exemplo. reconhecimento de que os padrões estão sujeitos mudança diante da prática poderia ser indicativo de que a busca por uma metodologia universal a-histórica substantiva é fútil. É o que realmente penso. Como poderia Lakatos então conciliar sua explicação da grande transformação que Newton levou aos padrões científicos com sua defesa estratégia po sitivista? Creio que a seguinte citação servirá pista para qual teria sido resposta Lakatos:
avanço que a mecânica quântica permitiu, devemos no adaptar às mudanças nos padrões que ela encerra. advento da radioastroomia eu origem discussões respeito do que deve se considerado evidência relevante na astronomia (Edge Mulkay, 1976), análogas às que surgiram quando Galileu apareceu com o telescópio. cada desses casos, resultado foi uma mudança progressiva significativa em alguns dos padrões implícitos na astronomia experimental. D arei um terceiro exemplo hipotético, ma instrutivo. Suponhamos, como algumas pessoas já acreditam, qu o raciocínio dentro da mecânica quântica encerra uma nova "lógica quântica" qu viola certos princípios clássicos lógica. Nessa circunstância, sucesso prático mecânica quântica constituiria uma boa razão para mudar nossos padrões lógicos nesse contexto. N em mesmo nossos ma is reverenciados padrões lógicos sã dados universalmente.
ewton desencadeou primeiro grande programa de pesquisa cientí fica da história dos homens; ele e seus brilhantes segu idores estabeleceram
na prática as configurações básicas da metodologia científica. Nesse sentido, podemos dizer que o método de Newton criou ciência moderna. (1978a, p. 220)
mudança nos métodos padrões descrita por Lakatos interpretada por ele como, na prática, descoberta dos métodos padrões corretos qu presumivelmente seriam e são empregados aí em diante form a imutável para "ajudar-nos criar leis para deter ... a poluição intelectual" (Lakatos, 1974, p. 89). Há du as razões pelas quais considero insustentável essa posição que aqui atribuo a Lakatos. Em primeiro lugar, depois de haver concordado que é perfeitam ente inteligível dizer que os métodos padrões mudam diant prática, como fa Lakatos em seu estudo física de N ewton, não é razoável pressupor que semelhantes mudanças nã ocorram em outras ocasiões subseqüentes. Em segundo lugar, possível apresentar exemplos mudanças padrões da física depois de Newton. Por exemplo, um padrão implícito na física século tratava de seu caráter determinista. Dadas as condições iniciais bem-definidas de um sistema, se física. desenvolvimento posterior determinado pelas leis Sabe-se muito bem que o abandono do determinismo restrito na
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ponderação qu apresento seguir reforça um argumento apresentado no final da seção 2.3. Se admitimos o quanto os métodos e padrões da física são moldados pela prática, podemos reconhecer quanto precário tra nsferir esses métodos e padrões para ou tras áreas como a sociologia ou a história. Ainda assim, deve-se fazer precisamente isso, se tivermos de empregar estratégia positivista para deter "poluição intelectual", como visava Lakatos, po exemplo. Outra conclusão extrair
Neste capítulo, refleti sobre duas possíveis respostas para questão dos recursos que os filósofos têm à disposição para estabelecer um explicação a-histórica universal do método científico. Levei em consideração a natureza humana e também recorri física e a sua história afirmei que a questão ão pode se respondida de m odo satisfatório lançando-se mão desses recursos, tt outra possibilidade a ser aventada, que recorre ao objetivo ciência: talvez seja possível estabelecer um determinada metodologia, forma que ela seja mais apropriada para contribuir ar
CAPÍTULO
META DA CIÊNCIA
3. Observações introdutórias Embora seja necessário falar muito mais sobre o que exporei resumidamente, a meta da ciência pode ser entendida como a produção do conhecimento do mundo, ao passo que o objetivo da ciências físicas, com as quais preocupo neste livro, pode se entendido como produção do conhecimento do mundo físico, em oposição ao mundo social. Falando superficial e rapidamente, pode-se no mínimo avaliar a distinção que existe entre o objetivo ou o interesse na produção do conhecimento e outros objetivos, como atender a interesses econômicos ou políticos de indivíduos, grupos ou classes específicos.* Eu diria, contra os céticos (entre os quais se pode incluir uma série de sociólogos contemporâneos), que nas ciências físicas foram desenvolvidas técnicas devidamente idéia desenvolvida aqui tem certa afinidade com a compreensão de Althusser (1966, capítulo 6 e p. 231) da produção do conhecimento, que ele considerava
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interpretadas para a produção do conhecimento que corresponde meta da ciência. A seguir apresentarei um esboço caracterizador meta ciência que, po alto, serve para distingui-la outras formas do conhecimento; depois, atendendo história e prática da física, ofereço caracterização mais detalhada as metas implícitas na ciência contemp orânea. Pode-se defend er métodos padrões d o pon to d e vista do quanto estes atendam à versão prática possível da meta ciência. Muitos filósofos tradicionais abordam o problema da análise da ciência procuran do elaborar uma caracterização geral do conhecimento genuíno para só então entender a ciência como um caso especial dessa caracterização (ou, como interpretam os positivistas lógicos, como caso único). capítulo anterior, já me referi às tentativas dos gregos antigos de extrair uma distinção geral entre o conhecimento autêntico e a simples opinião. L ogo no início da era da ciência moderna, encontramos John Locke (1967, capítulo l, seção 2) descrevendo seu propósito: "... investigar a origem, a certeza e a extensão do conhecimento hu ma no, jun to com as bases grau de crença, opinião concordância". David Armstrong (1973) estabelece uma versão especialmente clara das tentativas de filósofos analíticos mod ernos de proporcionar uma caracterização geral do conhecimento com o algo justificado, verdadeira crença ou coisa do gênero. ão seguirei nenhu ma abordagem geral desse tipo em minha tentativa de carac terizar a meta d a ciência. Como já mostrei na discussão dos capítulos anteriores, não acredito que os filósofos disponham de recursos que lhes permitam formular uma explicaçã geral conhecimento suas metas, sem um exame detalhado de alguns exemplos reais do que é considerado conhecimento. Feito isso, creio que se torna bastante clara existência dessa diversidade de tipos de conhecimento e que o esforço de encontrar Outros (Po pper, 1979, p. 191-205; Wa tkins, 1985; Laudan, 1984) recorreram meta da aencm para justificar suas metodologias, embora não da mesma maneira ou com
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„ caracterização do co nhecimento que ap reenda os aspecto rlistintivos de todos eles não está destinado a obter resultado. Assim, além do que é normalmente considerado conhecimento científico, temos conhecimento do cotidiano, que é o bo senso, conhecimento que possuem os artesãos habilidosos ou os políticos espertos, conhecimento contido nas enciclopédias ou armazenado na mente de um especialista em programas de auditório - e assim por diante. Além de deixar de apreender os aspectos distintivos de alguns ou de todos esses tipos variados de conhecimento, as explicações mais tradicionais falham no momento em qu passam a ser utópicas, pois especificam critérios para o conhecimento genuíno que não podem ser satisfeitos. Esse é o destino em que recaem as diversas tentativas pa ra distinção entre conhecimento e mera opinião ue recorrem às idéias do que é necessário ou verdad e essencial, características do conhecimento genuíno. Os comentários do parágrafo anterior mostram como defendo abordagem pragmática para especificação e adoção de m etas. Para serem úteis, e não fúteis, as metas não podem ser utópicas. Devem ser tais que se possa constatar um avanço em sua realização. há mais: saber se a meta é ou não u tópica é algo que só se aprend na prática. Nossas metas podem e devem ser modificadas diante ue aprendemos sobre o que é possível realizar.
3.2 A
ciência
como
busca
da
generalidade
Um aspecto do conhecimento científico ue desejo esclarecer
sua generalidade. S e tomamos exemplos incontestáveis do conhecimento científico (digamos, geometria euclidiana e a lei da reflexão da luz conhecida pelos antigos, ou mecânica newtoniana teoria relatividade Einstein, épocas mais modernas), ão difícil avaliar generalidade as afirmações al contidas. Os teoremas da geometria aplicam-se igualmente aos domínios da
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newtoniana tanto se aplica ao movimentos os cometas quanto oscilação de um pêndulo. importância da generalidade, de um ponto de vista pragmático, está muito be ilustrada pelo exemplo de Randall Albury (1983, p. 44-5) da bomba da espinha dorsal do dragão. Era uma bomba usada na sociedade chinesa tradicional para irrigar os arrorais. água era carregada em paletes, ue eram elevados em ângulo reto por um mecanismo de bicicleta. Os detalhes do desenho dessa bomba chinesa tradicional, especialmente .a forma dos paletes, variava de uma circunstância para outra, presumivelmente como resultado da experiência prática dos que a utilizavam. A bomba foi introduzida no Ocidente durante o século XVII e era usada em projetos hidráulicos pelos bombeiros. século XVIII, elidor submeteu essa bomba em sua Arquitetura hidráulica, análise geométrica e mecânica e apresentou uma explicação geral de seu funcionamento. om auxílio análise de De Belidor, possível especificar-se forma ideal palete para determinada circunstância. En uanto os chineses tradicionais possuíam o conhecimento artesanal baseado na experiência prática, o tratamento de De Belidor constituía um conhecimento científico. A geometria e a teoria das máquinas que ele usou eram gerais, no sentido de que se aplicavam qualquer situação mecânica; resultante teoria da bomba da espinha dorsal do dragão poderia ser empregada para projetar bombas destinadas tanto a circunstâncias novas como às já conhecidas. O exemplo anterior serve para expor a ligação que existe entre generalidade e a utilidade. Embora a importância da ciência com recurso para oferecer controle aperfeiçoado amplo sobre natureza tenha aumentado firmemente desde o momento da revolução científica, muitos desejariam resistir a uma identificação estreita entre ciência e sua aplicação prática. Diz-se que a ciência busca a compreensão: aperfeiçoamento tecnologia é subproduto desta compreensão aperfeiçoada. Essa idéia certamente
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arências" - sem nenhuma preocupação especial com as aplica"es práticas. Talvez se possa dizer mesmo os cosmologistas modernos, por exemplo. Os antigos buscavam conhecimento peral qu explicasse mundo cotidiano as aparências. or exemnlo, tomando como certas as mudanças observáveis qu ocorrem
mundo cotidiano, como crescimento e decadência, congelamento e a ebulição, as mudanças da estações assim por diante, eles buscavam um explicação do mundo ue esclarecesse como, em geral, possível mudança. Esse problema levou alguns deles propor um teoria atômica, pela qual se explicaria identidade através da mudança em termos da persistência do átomos antes depois da mudança, ao passo que um novo arranjo desses átomos seria responsável pela mudança er si. Demócrito dizia que "na verdade só existem os átomos e o vazio". existe seja algo mais geral do que isso, talvez a teoria geral da relatividade, essencial par cosmologia moderna. Quer consideremos ciência em termos do controle material, quer em termos da compreensão qu el permite, generalidade é uma das características que a
distinguem.
Devo limitar ênfase na generalidade. características mportantes ciência, mesmo ciência contemporânea "pura", se perdem, se nos fixamos demais num uadro da ciência como busca de generalidades teóricas. lan Hacking (1983) ilustrou muito bem como às vezes experimento "tem vida própria" - o que é
importante. Por exemplo, ele descreve a maneira como David Brewster, personagem importante na ótica experimental na primeira metade século XIX, descobriu muitas propriedades da luz, Proporcionando assim material que seria*mais tarde incorporado teoria ondulatória da luz. "Brewster não estava testando ou Comparando nenhuma teoria", observa Hacking (1983, p. 157), te tentava descobrir como a luz se comporta." Para dar um ex emplo mais atual, Envin Hiebert (1988) descreveu como os tísicos que faziam experimentos nucleares foram levados pela
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em cadeia auto-sustentadas", que pouco deviam aos desenvolvimentos da teoria nuclear. Thomas Kuhn (1977) fa um esclarecedora distinção entre ue chama de matemático experimental ou ciência bacon iana no século XVII. A matemática, assim como a mecânica newtoniana,
encerrava leis matemáticas co elevado grau generalização, enquanto ciência baconiana trazia implícito conhecimento prático, baseado na experimentação do tipo tentativa acerto. Esta última exigia uma investigação intencional do com portamento da matéria em situações novas "torcer rabo do leão", como colocou Bacon. Grande parte da ótica do séculos XVII XVIII entra nesta categoria, assim como a linha d e pesquisa que levou à máquina vapor e Revolução Industrial. N enhu ma parte dessa pesquisa eficaz é entendida como bu sca da generalidade teórica. Ela pouco deveu à teoria explicitamente form ulad a. A ciência bac oniana, como prática sistemática disseminada, era uma novidade histórica estratégia foi uma descoberta no século XVII, e eficácia histórica, que p ermanece um componente vital da atividade científica. Parte importante da meta da verdadeira ciência é a ampliação dos meios de, na prática, intervir no m u n d o físico e controlá-lo, sistematicamente torcendo o rabo do leão... Acredito ue existam duas razões para existência importânci da ciência baconiana não tornar a minha ênfase na generalidade um aspecto distintivo do conhecimento científico insatisfatório. primeira exige considerações semelhan tes às ilustradas pela história da bomba da espinha dorsal do dragão. Como e até onde os efeitos práticos criados percebidos em específicas situações experimentais podem ser explorados fora delas? Uma boa resposta p ara essa questão num caso determinado requer uma boa compreensão teórica da situação, o que é com provado pelos exemplos da ciênci baconiana citados acima. Ap erfeiçoamentos drásticos no projeto da máquinas tornaram-se possíveis com a teoria geral da termodinâmica qu evoluiu século XIX, controle da fissão nuclear
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campo para possibilidades práticas que iam muito além do que grewster foi capaz de realizar. Se desejar negar amplitude importância da ciência baconiana contemporânea, suas generalizações teóricas é que torn am a ciência diferente e mais poderosa que a tecnologia medieval.
Uma segunda razão para meu enfoque das generalizações teóricas ciência é que este aspecto ciência te sido principal alvo do ataques do céticos ou dos relativistas intransigentes, mais que sua eficácia prática. Afinal de contas, no mundo contemporâneo computadores, transplantes cardíacos energia clear, muito difícil negar afirmação de que a ciência nos tenha levado a meios aperfeiçoados para um controle prático do mu ndo material. Estou preocupado em defender os aspectos teóricos ciência da crítica cética equivocada, criando com isso espaço para crítica da ciência mais eficaz, como a praticada na ciência contemporânea. Onde são levantadas d úvidas céticas a respeito dos ciência, como objetividade experiaspectos mais práticos mentação, eu a d efenderei adotamos ponto de vista de que a meta da ciência é o estabelecimento de generalizações ue governem comportamento do mundo, é possível calcular que há nisso um problema fundamental a ser resolvido. Como se poderá fundamentar esse tipo de generalização? Há realmente u m pro blem a a ser resolvido, algo que ve da reflexão de que o mundo nossa volta complexo desordenado e por isso não é possível distinguir as regularidades qu poderiam constituir as generalizações científicas aplicáveis ele. Fora de algumas áreas da astronomia e d ótica nã existem regularidades sem exceções a observar. Mesmo os prováveis opositores ue buscam regularidades com leis do tipo "objetos pesados caem direto no chão" ou "nascem bolotas no tronco dos carvalhos" sã contrariados muitas vezes em seu próprio jardim: primeiro, Pela queda da folhas no outono, depois, pelas bolotas ue caem em chão pedregoso ou são estragadas por geadas passarinhos.
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seletivo história ciência e d filosofia, para distinguir algumas da soluções ue têm sido oferecidas. Estaremos depois em melhor posição para avaliar essas soluções implícitas na ciência moderna.
3.3 As primeiras tentativas para estabelecimento das generalizações teóricas Como se podem fundamentar as generalidades científicas se exceções, dada natureza desordenada do mundo observável? Na filosofia de Platão e Aristóteles há respostas para esse problema. interpretação habitual da solução de Platão era pressupor que as exigências de conhecimento aplicam-se com certeza apenas a um mundo ideal, distinto do mundo natural em quevivemos, de modo que, por exemplo, a geometria constitui um conhecimento genuíno de um mundo de cubos triângulos ideais assim por diante - a ue, na melhor das hipóteses, os objetos circulares e triangulares do mundo real correspondem de maneira muito rudimentar. Essa mudança esquiva-se do problema ue apresentei a respeito do relacionamento entre as generalizações abstratas ue ocorrem no conhecimento científico e nos eventos desordenados do mundo real, pois estes são irrelevantes para o conhecimento platônico. posicionamento de Platão não constitui exatamente a solução de nosso problema para aqueles ue buscam conhecimento do mundo real, por mais plausível ue seja matemática. resposta de Aristóteles para o problema é mais interessante. Ao admitir a ocasional e até freqüente disparidade entre as exigências fundamentais de suas teorias da natureza e as observações comuns, Aristóteles qualificava afirmações como "objetos pesados caem na direção centro da Terra" e "sementes de oliveiras nascem em oliveiras' co expressões do tipo "na maioria dos casos" ou "via de regra' (Barnes, 1975). Em segundo lugar, Aristóteles distinguia o com-
vôo tremulante na brisa acidental. possível quando diz respeito ao essencial. sell
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conhecimento só é
Qualificar as generalizações co expressões como na maioria os casos" é uma splução insatisfatória para nosso problema. Embora seja expediente qu funciona razoavelmente bem na biologia so circunstâncias normais, já que, or exemplo, na maioria do casos as sementes de oliveira crescem em oliveiras, existem impressionantes exemplos contrários em outras áreas.
Tendo em mente o comportamento usual das folhas de outono, de penas em queda (e assim por diante), pode muito bem acontecer qu o número de objetos em queda que descem verticalmente em direção ao centro Terra esteja em minoria. questão fo retomada por muitos autores medievais, especialmente influenciado por Tomás de Aquino (Wallace, 1981, p. 132-5). Seu tratamento continha um assimetria entre elucidação e a previsão. ão é possível prever, por exemplo, que uma determinada semente crescerá numa oliveira ou que uma pedra jogada descerá na vertical. ocorrências acidentais, como a intervenção dos pássaros ou dos ventos, podem impedir que as coisas tomem seu rumo natural. Entretanto, conforme a argumentação de muitos peripatéticos medievais, se uma semente nasce numa oliveira ou uma pedra cai verticalmente, isto pode ser explicado mediante referência a sua essência e às causas naturais atuantes. Essa forma análise er chamada de raciocínio ex supositione. Ela se estendia explicação do fenômenos naturais que só têm ocorrência rara, com as eclipses lunares e o arco-íris (Wallace, 1974). Não se pode prever quando ocorrerá um arco-íris, mas, quando ele aparece, sua causa Pode se atribuída refração dispersão da luz do Sol pelas gotas da chuva.
Esse é portanto um desenvolvimento medieval de uma das respostas de Aristóteles ao que coloquei como problema da típica raltade consenso ue existe entre as nossas teorias e os acontecitos imediatamente observáveis. Diante disso, raciocínio í>ositione evita problema. Entretanto, permanece dificul-
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causais dos fatos que, segundo esse modo de raciocínio, presumese tenham ocorrido. Essa dificuldade está associada muito de perto à segunda resposta de Aristóteles ao problema anteriormente mencionado. Como se podem conhecer as generalizações ue regem o comportamento da luz encerradas na explicação do arco-íris? Que técnicas precisamente Aristóteles oferecia para distinguir essencial do acidental? Ne Aristóteles nem seus sucessores medievais tinham alguma resposta satisfatória para esse tipo de questão. Por exemplo, na física aristotélica, a distinção entre o movimento essencial e o acidental recai na noção de um cosmos ordenado, esférico centrado na Terra, sendo movimentos essenciais aqueles que servem para manter esta ordem (Clavelin, 1974, p. 12-21). Não é oferecido nenhum método sistemático para se estabelecer a existência e o caráter desta ordem. Em geral, ela se baseava nos pressupostos comuns da época, como a imobilidade da Terra e distinção entre reino terrestre e celestial. S. Gaukroger (1978, p. 124) diz que "a estrutura explanatória que Aristóteles propõe que utilizemos é incoerente, pelo feto de que as explicações do gênero requerido em princípio nã podem se dadas". Aristóteles era um empirista que acreditava que "a experiência deve proporcionar os princípios de qualquer assunto" (Primeiros Analíticos, l, 30, 46a), mas a experiência não leva ao conhecimento das causas necessárias, nem permite distinguir o essencial do acidental. Não obstante, voltando-nos para filósofos antigos e medievais talvez estejamos procurando uma resposta para nosso problema no lugar errado. Afinal de contas, a nossa discussão do capítulo anterior indicava que os filósofos ainda estão lutando para encontrar uma boa explicação da ciência, e este livro seria muito redundante se isso já tivesse Entremos na própria ciência do passado, em vez de na filosofia passada, para ver se nela existem meios satisfatórios para dar fundamentos às generalidades. Os candidatos mais evidentes para o conhecimento científico satisfatório estabelecido pelos gregos antigos são a geometria de
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Nessas ciências, as proposições aplicáveis ao mundo eram deduzias logicamente do que, na época, poderia ser plausivelmente interpretado como princípios evidentes por si mesmos, ou axiomas.
IsJão preciso estender-me sobre esse ponto em relação à geometria euclidiana. teoria do equilíbrio e dos centros de gravidade de Arquimedes tratava os objetos como formas geométricas dotadas de peso. Esses objetos poderiam ser suspensos por fios sem peso em braços rígidos apoiados por um eixo sem fricção. Os princípios teoria traziam implícita a geometria euclidiana, o pressuposto que os corpos tendem a s mover para baixo em virtude de seu peso e ponderações sobre a simetria, considerada evidente. (Por exemplo, pressupunha-se ue, se dois pesos iguais fossem suspenso em braços iguais de uma balança, haveria equilíbrio por causa simetria da situação.) Nenhuma situação física real corresponcom às da ou da estática de Arquimedes. No entanto, quando as situações físicas mais ou menos se ajustam às descrições de Euclides ou Arquimedes, presume-se que essas teorias da geometria e da estática contenham prescrições mais ou menos aplicáveis a tais situações. uando se adota esse ponto de vista, tanto adianta testar a estátic Arquimedes com a observação do comportamento de balança reais uanto a geometria euclidiana, com a medição e a soma dos ângulos de um triângulo material. Temos então alguma explicação para a relação a teoria e a experiência que prova ser satisfatória para uma boa diversidade de situações físicas estáticas. Embora a ciência de Euclides e Arquimedes se baseasse em princípios inicialmente evidentes, uma via de orientação mais empírica para a generalidade está implícita na antiga astronomia. cuidadosa observação dos céus trouxe um conhecimento geral na forma de uma especificação das órbitas observadas do Sol, da e dos planetas, conhecimento suficiente para a previsão dos eclipses e das conjunções e para servir de base a calendários práticos. A lei da reflexão da luz é mais um exemplo do conheci-
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consideravam princípios evidentes, Ptolomeu acreditava se necessário testar a lei por meio da experimentação. Ptolomeu suspeitava também ue houvesse uma lei regendo refração descreveu experimentos projetados para determiná-la, ainda ue nisso nã tenha tido muito sucesso. (Veja minha avaliação um tanto negativa do experimentos de Ptolomeu em Chalmers, 1975, ue é Anexo deste volume.) promessa oferecida por esses primeiros sucessos dos antigos nã teve confirmação. ão foram realizados grandes avanço em su contribuição para busca conhecimento científico aplicável maneira geral até a revolução científica. Retrospectivamente, podemos verificar por que isso teria acontecido. técnicas introduzidas pelos antigos para estabelecimento da generalidade aplicáveis ao fenômenos complexos desordenados do mundo real eram satisfatórias apenas em uma série muito restrita de circunstâncias. A busca pelos princípios físicos evidentes teve um sucesso limitado apenas em áreas onde mundo cotidiano da experiência comum oferecia uma boa base para abstração princípios que poderiam ser interpretados como evidentes. campo limitado e a confiabilidade desse procedimento tornam-se evidentes assim que o domínio da experiência transcendido. Hoje sabemos, por exemplo, que a geometria euclidiana violada na escala astronômica, enquanto estática de Arquimedes seria inútil para prever o comportamento de uma balança numa nave espacial. avaliação dessas limitações só apareceu nos tempos modernos, naturalmente. Mais significativo para nossa apresentação histórica é fato de que, em muitas áreas, estavam totalmente ausentes princípios qu poderiam se plausivelmente considerados evidentes por si. Foi exatamente esse problema ue surgiu quando Galileu tentou levar as técnicas Arquimedes estática para os corpos em movimento. O bom senso ou mundo da experiência cotidiana não nos propiciam princípios evidentes, capazes de nos proporcionar uma lei da queda, por exemplo.
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visíveis de nosso mundo físico. Como, por acaso, nosso sistema solar consiste em um Sol de grande massa acompanhado por meia dúzia de planetas de massa relativamente menor ue nã interagem modo significativo, os movimentos da Terra e dos planetas sã suficientemente regulares para que as regularidades com algum significado sejam discernidas pela observação empírica. De uma perspectiva moderna, podemos dizer que o sistema solar é um exemplo muito raro de uma instalação experimental conveniente ue por acaso ocorreu naturalmente. O comportamento regular os raios da luz sob uma ampla diversidade circunstâncias comuns também pode ser atribuído configurações acidentais de nosso mundo. interação entre lu e os campos gravitacionais muito pequena e comprimento de onda da luz visível suficientemente pequeno para minimizar os efeitos da difração no nível macroscópico. Dadas as técnicas criadas pelos antigos, se sucesso na determinação do conhecimento científico geral inevitavelmente limitouse a uma série restrita casos especiais.
3.4 A generalidade e experimentação: Galileu física de Galileu encontramos um solução inovadora para problema de como devem se autenticadas as generalizações científicas. Como indicado na seção anterior, pode-se dizer que o
principal objetivo física Galileu era uma extensão as técnicas qu Arquimedes havia empregado em sua estática para tratar os corpos (Clavelin, 1974; Vejamos como isso levou Galileu adotar um novo papel para experimentação na ciência. seus primeiros trabalhos sobre movimento, encontramos Galileu tratando situações idealizadas: balanças co eixos se fricção, esferas perfeitas rolando sobre planos inclinados perfeita-
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idealizadas se relaciona com os sistemas no mu ndo real e advertia qu "quem faz uma experiência sobre essa matéria nã deve surpreender-se se ela falhar" (Galileu, 1960, p. 68). Contudo, isso significa que a teoria de Galileu não pode ser legitimada pelo recurso à experiência. Uma vez que também se reconheça que recorrer à evidência também é insatisfatório para nossos objetivos, podemos ver como, nessa fase, Galileu não conseguiu resolver o nosso problema. Galileu continha solução física experimentada qualitativa. ua ciência do movimento encerrava tese de que todos os corpos tê propensão natural mover-se para baixo com uma aceleração uniforme e que o movimento horizontal preservado. Essas hipóteses combinad as pr odu ziram uma trajetória parabólica para os projéteis. Galileu (1974, p. 223) sabia que em geral essas experiência. afirmações ão eram provenientes
pedaço pergaminho, mais macio limpo possível" (Galileu, 1974, p-169). Os movimentos qu serviram como exemplificações testes teoria Galileu não são do tipo qu surge espontaneamente. exemplo, importante seqüência movimentos Galileu tratava de uma bola qu descia plano investigada inclinado, era desviada para um plano horizontal e saía deste para queda livre (Drake, 1973). oi necessário qu Galileu criasse situações artificiais especialmente planejadas com o objetivo de testar sua teoria, reduzindo a um mínimo os efeitos indesejáveis. série técnicas para reduzir os obstáculos El introduziu para tratar dos que restavam, e desde então elas se tornaram padrã atividade experimental (Koertge, 1977).
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conclusões abstratamente demonstradas são alteradas no concreto e são tão falsificadas que nem o movimento horizontal igual, nem a aceleração natural ocorre exatamente na proporção pressuposta, nem a linha do projétil parabólica - assim por diante.
ma razão fundamental pela qual os movimentos reais em teoria Galileu é geral ão correspondem ao descritos existência de uma série obstáculos atrito ao movimento. Considerando-se apenas obstáculo que o ar impõe aos movimentos em questão aqui, descobre-se que ele os perturba todos n u m a infinitude de maneiras, segundo as infinitamente inúmeras maneiras que variam as formas, os pesos e as velocidades das coisas móveis.
Devido a problemas desse tipo, as bases da teoria de Galileu só poderiam ser testadas em situações experimentais criadas especialmente para isso. As mais famosas eram as experiências com planos inclinados. Galileu testou suas afirmações sobre inércia a queda livre rolando bolas bronze "bem redondas polidas"
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quadro da ciência ue melhor atende teoria do movimento de Galileu pode ser resumido da man eira seguinte: as teorias e as leis científicas descrevem as tendências que têm os sistemas comportar-se de determinadas maneiras. N as situações físicas reais, modo essas tendências se combinarão maneiras com plexas que poucas regularidades aparecerão no nível os eventos obserintervenção experimental, podemos tentar váveis. Fazendo isolar e investigar as tendências individuais e discernir as leis qu as regem. Pressupõe-se então ue essas leis, cuja demonstração comprovada aqui e ali por meio de intervenções experimentais, aplicam-se tanto mundo exterior quanto ao mundo interno as situações experimentais (Bhaskar, 1978). Essa é a solução que Galileu deu ao problema da generalização e que se tornou lugarcomum na física. preciso impor algumas reservas ao caráter dess "solução". ão existe nenhuma garanti priori de que as leis identificadas na atividade experimental continuem a ser aplicadas fora as situações experimentais. O que se pode obter, pressupondo ue isso aconteça, algo qu terá de ser aprendido prática. sucesso que a física goza desde G alileu suficiente para confun dir o cético intransigente quanto esse aspecto, e não pode se superestimado.
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para tratar do mundo natural limitada fora de determinados aspectos da Isso exemplificado pela notória feita de confiabilidade as previsões meteorológicas ou mais grave, pela precariedade de nossas avaliações do impacto ambiental da intervenções tecnológicas no mundo natural. segunda ressalva necessária iz respeito limitada amplitude que se pode dizer ue Galileu tinha com relação consciência as implicações de sua atividade experimental. minha interpretação, Galileu transformou problemática meta da generalidade na ciência em uma forma que era viável em praticamente qualquer grau: "Identifique as generalidades em situações simples e, se necessário, artificialmente maquinadas, pressuponha ue essas generalidades continuem aplicar-se todas as situações, não importa su complexidade". Desnecessário dizer que-Galileu não interpretou dessa maneira suas inovações. Ele continuou atraído pelo ideal euclidiano ou arquimediano muitas vezes tentou apresentar sua teoria do movimento como derivada dos princípios evidentes, reivindicação que não poderia ser sustentada com plausibilidade e que era incompatível com sua experimentação (Wisan, 1978, p. 3-4). Deve-se acrescentar ainda um terceira ressalva: método de Galileu de dividir os experimentos certamente nã resulta nu método de estabelecer as generalidades co certeza. implicações epistemológicas da experimentação de Galileu são discutidas no capítulo 5.
3.5 A substituição do desenvolvimento pe certeza Já vimos antes como a física de Galileu foi realmente um ponto
partida para idéia de que a ciência deveria basear-se em verdades evidentes por si mesmas, ao passo que no capítulo
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fundamentais estabelecidas co certeza. Essas mudanças, qu colocaram a física em seu caminho moderno, podem se resumidas pela afirmação de que a ciência moderna substituiu meta utópica pela certeza mediante exigência de um aperfeiçoamento desenvolvimento constante. Essa exigência de desenvolvimento implica qu uma boa teoria deve nos contar alguma coisa que não sabíamos antes. quanto um teoria leva à boa previsão do fenômenos qualitativamente novos torna-se especialmente significativo. (A ênfase no desenvolvimento e nas novas previsões é uma das características das filosofias da ciência de Popper Lakatos.) importância dos tipos de consideração mencionados acima aparece como significativa no conflito entre cartesianos e newtonianos no final do século XVII e no início do século XVIII. Os newtonianos, co certa justificativa, argumentavam que a física cartesiana podia explicar apenas os fenômenos já conhecidos, qu mesmo isso só era obtido por meio de mecanismos necessários criados artificialmente co essa finalidade. Assim, foram imaginado vórtices etéreos para explicar os movimentos conhecidos do planetas; foram postuladas correntes de partículas em duas vias emitidas pelos ímãs fluindo ou caindo em sorvedouros de duas vias em materiais magnéticos para explicar os fenômenos magnéticos. Em compensação, os newtonianos diziam, mais uma vez justificadamente, até certo ponto, que a mecânica newtoniana não apenas explicava maneira não-artificial fenômenos conhecidos, como os movimentos planetários, ma também podia prever fenômenos anteriormente desconhecidos, como não-esfericidade da Terra, maneira exata como varia aceleração da gravidade em relação à distância do centro da Terra e, mais tarde, espetacularmente, o retorno do cometa de Halley. reconhecimento de que um do méritos da teoria de Newton era a amplitude de novas descobertas que ela propiciava fo enfatizado, po exemplo, em 1728, em visão da filosofia de sir haac Newton, obra em que H. Pemberton observava como el "levou ao conhecimento de
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nossas faculdades algum dia chegassem tão longe" (Worrall Currie, 212-3). De um ponto vista contemporâneo privilegiado, podemos acrescentar muitos exemplos espetaculares de novas previsões acertadas que a física possibilitou - um são as ondas rádio previstas pela teori Maxwell produzidas po Hertz, outro é a curvatura dos raios de luz nos campos gravitacionais, prevista na teoria da relatividade geral de Einstein e d etectada Eddington. propriedade ênfase desenvolvimento aperfeiçoamento do conhecimento e significado especial as novas previsões tê apoio as considerações gerais qu apresentarei seguir. Como já sublinhei, as pessoas conhecimento sozinhas e partir nada. Nascemos todos em um cenário epistemológico onde já existe muito conhecimento e variados métodos para su produção, ampliação aperfeiçoamento. ão coloco isso como priori. verdade concebível que os empiristas radicais estivessem corretos ao afirmar que as pessoas acumulam em mentes vazias conhecimento partir do que lhes é fornecido pelos sentidos; Descartes poderia estar certo ao dizer que as pessoas são capazes de estabelecer as verdades necessárias por m eio da luz natural d e sua razão. Entretanto, existem muitíssimas evidências qu dizem respeito natureza percepção, linguagem, aprendizado seres humanos, história em e d em conhecimento geral, história ciência particular, qu indicam qu eles ão estavam certos. ão existe nenhu m argumenqual se possa construir avaliar to de Arquimedes partir conhecimento. ão temos outra alternativa senão começar ponto em que ele estiver tentar acrescentar aperfeiçoar conhecimento existente com a utilização ou o aperfeiçoamento dos métodos que temos à mão. A s novas exigências de conhecimento deverão se avaliadas em relação ao que já é conhecido aceito. Ou seja, elas serão julgadas pela extensão em que forem aperfeiçoamento daquilo que veio antes. A capacidade de prever
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onde a ciência moderna encerra uma substituição do
hietivo da certeza pela meta do aperfeiçoamento ou desenvolvimento, aí ela representa uma redução dos padrões que os antigos forcaram-se por superar. Representa a substituição de um objetivo realizável por um utópico. Contudo, a discussão acima mostra sentido em que as exigências colocadas ciência moderna sã maiores do que as dos an tigos. A exigência de um desenvolvimento contínuo especialmente novidade qualitativa não é apenas uma exigência radical, mas algo que os antigos poderiam de maneira muito razoável considerar utópico. extensão e as formas com que a moderna ciência te sido capaz de se desenvolver e desvendar novos fenôm enos é uma descoberta ou percepção de ordem prática, que não poderia ter sido prevista.
3.6 A meta da ciência
Diante do que foi dito até aqui neste capítulo, iremos pond erar resumir o que pode ser dito sobre a meta da ciência. física encerra objetivo estabelecer generalizações aplicáveis ao mundo físico. É necessário haver meios de fundamentar essas generalizações. Pelo menos desde a época da revolução científica estamos em p osição de sa ber que essas generalizações (leis teorias) científicas nã podem se estabelecidas priori; temos também boa base para aceitar que a exigência de certeza é utopia. Contudo, exigência de que nosso conhecimento esteja sempre sendo transformado, aperfeiçoado ampliado não é utopia. Até que ponto essa concepção meta ciência serve substituto para método universal rejeitado capítulo anterior, evitando que se caia em algu m "vale tudo" radical? Se estamos a trás da meta da ciência, algumas recomendações muito gerais sobre Métodos e padrões podem ser defendidas por referência a minha caracterização dela. Podemos pedir, por exemplo, que as candidatas
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em relação outras concorrentes. Podemos acrescentar que, na física, teste tã severo (para usar terminologia apropriada Popper) normalmente tem implícita a experimentação artificial e fato de que o resultado positivo da previsão de novos fenômenos terá significado especial. Quaisquer métodos ou padrões mais fundamentados do que essas afirmações bastante moderadas terão de ser produzidos na prática dentro das próprias ciências. afirmações acima, que vão pouco além pautas esquemáticas muito mal-acabadas ou de uma orientação particular, embora caindo um pouco aquém da metodologia fundamentada a ue muitos filósofos dedicaram longos textos, bastam para ajudar combater as formas mais radicais do relativismo e do ceticismo. especial, as mudanças nos métodos, padrões e, se for o caso, paradigmas fundamentados podem se avaliadas do ponto de vista da amplitude em que estendem a meta da produção do conhecimento aperfeiçoado e mais abrangente. Afirmo que isso pode ser feito; a ciência pode e freqüentemente tem sido praticada de uma forma ue atende predominantemente ao interesses da produção do conhecimento, mais do que é subserviente outros interesses de classes, ideológicos ou pessoais. Um dos objetivos do restante deste livro é fundamentar isso em relação ao anarquismo de Feyerabend e ao relativismo de alguns sociólogos contemporâneos do conhecimento. Entretanto, no capítulo final, afirmo ue isso nã chega a ser uma assepsia ciência, que a imunize contra crítica social e política. Em vez disso, espero que minha análise limpe caminho para essa crítica. A tentativa que fiz de especificar a meta da ciência deve conter algumas ressalvas para eliminar alguns possíveis equívocos minha posição. Embora eu acredite que uma boa concepção da metas da ciência possa vir a ser empregada para defender ciência do ceticismo radical e possibilite avaliações de exigências de conhecimento que têm pouca força normativa em relação essa meta,
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tina de outras metas. Poder-se-ia muito bem dizer ue o problema tilizar eqüitativamente conhecimento científico ue temos problema de urgência maior do que a produção de mais onhecimento científico na sociedade contemporânea.
Um segunda ressalva é admissão de que a atividade científica e busca de suas metas na nossa ou em qualquer outra sociedade estão inevitavelmente entrelaçadas com outras atividades ue tê etas diferentes. Afirmar, como o faço, ue é possível distinguir objetivo da ciência de outros objetivos não é o mesmo ue expressar a tese de que as diversas atividades podem ser separadas. Falarei um pouco mais sobre essas ressalvas no capítulo 8.
CAPITULO
OBSERVAÇÃO OBJETIVADA
.1 As hipóteses empiristas sob ataque Muitos dos que preferem a estratégia positivista e buscam um caracterização geral ciência e seu método consideram essencial geral, qu estes estejam baseados em fundam entos seguros pressupõem que são os nossos sentidos qu proporcionam esses fundamentos e acreditam que a ciência se baseia em fatos "objetivos" determinados pelo uso cuidadoso do sentidos. A hipótese empirista relativa ao quanto uma observação objetiva para a ciência está a nosso disp or tem sido d uram ente criticada pelos filósofos da ciência na últimas décadas. Eles sublinharam caráter não-determinado, passível de revisão e de falha, "teóricodependente" da observação suas afirmações Eu mesmo adotei essa linha raciocínio capítulo 3 What is this thing called science. Embora continue pensando qu muita coisa está correta hipóteses empiristas sobre bases do conhecinessa crítica mento, desejo opor resistência a uma conclusão qu muitas vezes dela é extraída e que, por exemplo, meus alunos repetidamente
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modo que os "fatos" observáveis são relativos ao observadores dependem de sua psicologia, história cultura. Neste capítulo desejo resistir reação subjetivista relativista críticado empirismo, pela qual, parece, sou parcialmente responsável. Explorarei o sentido em que a observação, do modo como está infiltrada na ciência, objetiva, especialmente quando os sentidos recebem auxílio dos instrumentos apropriados. Contudo, a minha defesa observação nã servirá para socorrer empirista que procura a observação para fornecer bases seguras para conhecimento. Contra esse empirista, direi, por exemplo, ue, quando Galileu introduziu o telescópio na astronomia, houve um alteração nos padrões ue regiam o que deveria ser considerado um fato observável embora eu também diga, contra relativista fanático, que a mudança de Galileu constituiu um progresso, do ponto de vista da meta da ciência. Considero inoportunas as tentativas de enfraquecer as explicaçõe empiristas mediante o recurso aos aspectos subjetivos da observação. No capítulo oferecerei o que acredito ser um argumento bem mais vigoroso contra idéia empirista de que os sentidos podem proporcionar bases seguras para ciência argumento que não leva em conta os aspectos problemáticos da percepção.
4.2 A observação teórico-dependente ma linha de argumentação mais comum usada para contestar reivindicação empirist de que os fatos objetivos sã "dados" observadores cautelosos pelos sentidos enfatizar até que ponto as experiências perceptivas da pessoas não são determinadas de maneira objetiva unicamente pelos aspectos físicos do que está sendo observado, as influenciadas pelas expectativas pelo contexto, inclusive teórico, do observador. Assim, um leigo diante de um raio X do peito de alguém poderá ver apenas costelas rodeadas de manchas, enquanto um radiologista verá cicatrizes
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utros indícios de infecção doença; um microscopista experiente
células dividindo-se, onde James Thurber (l 933) vê apenas rna "substância leitosa um tanto nebulosa". Um exemplo mais específico vem da história da geologia, a respeito das formações horizontais ue parecem estradas nas encostas das montanhas de Glen Roy,na Escócia.Os fatos observáveisdiferiam uns dos outros segundo osdiferentes geólogos, aparentemente dependendo de sua base teórica e de sua experiência passada. diferentes teorias levavam a expectativas diferentes sobre a extensão e posição das estradas; diferentes observadores apresentaram descobertas diferentes e adequadas" (Bloor, 1976, p. 21).
Essas reflexões perfeitamente legítimas sobre importantes as pectos da percepção humana têm sido usadas pelos filósofos da
ciência para enfraquecer as hipóteses características dos empiristas relativas ao papel da observação na ciência (Hanson, 1958; Kuhn, 1970). Não é difícil ver como essa linha de raciocínio pode levar um posição totalmente relativista. argumento continua mais ou menos assim: os empiristas estabelecem que a percepção humana no fornece fatos objetivos sobre o mundo, que constituem os fundamentos da ciência. Contudo, as percepções do seres humanos não são objetivas, ma grandemente influenciadas moldadas pela subjetividade dos observadores, por sua base teórica, se histórico cultural suas expectativas pontos de vista. capacidade de discernir o que são os fatos observáveis em determinada situação ir variar de pessoa a pessoa, de cultura a cultura e de escola teóric escola teórica. Dada esta relatividade do fatos observáveis, ciência neles baseada igualmente relativa pessoas, culturas ou escolas teóricas. As reflexões do tipo acima são hoje comuns na filosofia da ciência; muitas vezes ocorrem sob o título de "observações teóricodependentes". Embora eu endosse muitos pontos dessas discussões, considero ênfase no aspectos subjetivos ou psicológicos da percepção de cada observador inoportuna e benéfica para os relativistas intransigentes, por razões que em breve mostrarei.
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Em seu estudo ciência Galileu, feito para ar apoio a sua argumentação contra o método, Feyerabend (1975) diz que a aceitação da teoria de Copérnico defend ida por Galileu não apenas encerrava um mudança na teoria, ma também no que eram considerados fatos empíricos. Antes da revolução de Cop érnico ciência continha fatos como Terra estacionaria" e movimento de uma pedra que cai é reto", ao passo que, depois dela, aceitou-se que a Terra gira em torno de seu eixo e fisicamente se movimenta em torno do Sol, enquanto componente direto do movimento de uma pedra que cai se superpõe ao movimento da Terra, de modo ue este movimento é na verdade "u misto de reto circular". ssim, Feyeraben d (1975, p. 89 e 187) diz que o argumento desenvolvido por Galileu em defesa da teoria de Copérnico continha uma "mudança de experiência" e uma "revisão parcial nossa linguagem observação" contrárias ao pressupostos dos empiristas ortodoxos.
xpressá-las lingüisticamente. Pondo-se lado essa ressalva, po demos manter a distinção e reivindicar que, quando um observaJor está diante de uma situação e descreve, automaticamente fa urna associação entre sensação e descrição, entre experiência mental e a verbal aceit co base sensação. Feyerabend (1975, p. 73) chama de "interpretações naturais" as "operações mentais qu seguem muito perto sentidos" constituem ligação entre ter-se sensação aceitar-se descrição. interpretações naturais são inculcadas em nós desde o nascimento. N ós as adquirimos durante processo de aprendizado de uma linguagem, pois elas no capacitam associar língua às situações ob serváveis. mais: as interpretações naturais incorporadas a uma língua e cultura em algum momento se integram, de modo típico, a elas e se tornam parte do processo de observação de várias gerações. Conseqüentemente, su natureza, mesmo fato de que estão presentes, não é, para o indivíduo, prontamente manifesta.
Se examinamos os detalhes da concepção de Feyerabend a respeito dessa mudança na base observacional da ciência, descobrimos que ela é atribuída a uma mu danç a sub jetiva ou psicológica nos observadores. Ele argumenta que, quando levamos em conta descrição de uma situação feita por um observador, podemos abstratamente fazer uma distinção entre as sensações implícitas ou seja, as experiências mentais por que passa observador diante da situação - e descrição verbal da situação que o observador adota, à luz dessas sensações. Feyerabend insiste que, embora para propósito da análise possamos distinguir entre sensação a descrição verbal, na prática essas duas etapas são inseparáveis. Podemos dizer que um observador não tem primeiro uma sensação diante de um a p edra que cai, e depois interpreta essa sensação como ind icadora de um a pedra que cai verticalmente. Em vez disso, el simplesmente vê pedra caindo depois sente-se disposto a aceitar a afirmação de que "a pedra caiu". Feyerabend admite que dividir os dois aspectos da observação, mesmo visando
Segundo Feyerabend, as observações de uma pedra ue ca continham uma interpretação natural, que era parte importante do senso comum no início século XVII, qual Galileu precisou contestar. Esse senso com um trazia implícita idéia de um espaço absoluto essencialmente definido pelo sistema planetário e estelar, com u ma Terra estacionaria em seu centro. Essa interpretação contém ainda a noção do movimento absoluto nesse espaço. Pressupõe-se que movimento absoluto tenha efeitos observáveis e, de maneira geral, os sentidos registram fielmente os movimentos reais. observador imbu ído dessas interpretações naturais automaticamente assume que movimento observado da pedra em queda é um movimento "real" no espaço absoluto. A observação dessa queda linear entra em conflito com o resultado da teoria de Copérnico, que diz que o movimento deve ser "um misto de reto circular". teoria, Copérnico refutada ponto de vista do senso comum no início século XVII e das interpretações n aturais emp regadas automática e inconscientemente pelos que a intemalizaram. Afinal de contas, "como se poderia nã
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Os detalhes da explicação de Feyerabend de como Galileu produziu mudança necessária nos fundamentos da observação ciência, de ue já discordei em outro texto (Chalmers, 1986), não precisam nos ocupar aqui. Desejo enfatizar o quanto Feyerabend interpreta essa mudança como uma mudança nas experiênobservadores, que ele considera como substituicias subjetivas çã de um conjunto de interpretações naturais por outro. Galileu "insiste numa discussão crítica para decidir quais interpretações naturais podem ser mantidas e quais devem ser substituídas" (Feyerabend, 1975, p. 73). "O primeiro passo de Galileu, nesse exame conjunto da doutrina copernicana e de uma interpretação natural conhecida as impenetrável, consiste portanto em substituir úítima por uma interpretação diferente. Em outras palavras: el apresenta um nova linguagem para a observação" (Feyerabend, 1975, p. 78-9). Desse modo, ele "faz voltar os sentidos a sua posição de instrumentos de sondagem" (Feyerabend, 1975, p. 78). Do ponto de vista de Feyerabend, portanto, o campo de teste para as teorias continuam sendo as observações feitas po cada observador. Tendo-se em mente que, para ele, as interpretações naturais sã "operações mentais que seguem muito de perto os sentidos" e que "estão tã firmemente ligadas suas reações que é difícil fazer separação", substituição de um conjunto interpretações naturais por outro tem implícita a substituição de um conjunto de operações mentais por outro. Assim, antes de Galileu, devido a se contexto histórico-cultural, a linguagem outras experiências do cotidiano do observador normal são programadas de uma forma ue leva um determinado conjunto de experiências de observação e a uma correspondente linguagem de observação, enquanto observador que se submeteu ao remédio Diálogo Galileu fica programado de uma maneira nova, que leva a um novo conjunto experiências observação e a uma nova linguagem observação. A mudança linguagem observação está localizada em cada observador. Basicamente, é uma mudança psicológica.
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por que passam os observadores
século ao observar as pedras caírem, o Sol levantar e a Terra estacionaria pouco diferem do que sentiam os observadores do século XVII. Contudo, a relevância e significado que um físico moderno atribuiria essas experiências são muito diferentes dos que lhes eram atribuídos pelos que se opunham à teoria de Copérnico no século XVII. Dá-se por certo qu Galileu tenha transformado as bases observação ciência. le fe introduzindo instrumentos, como o telescópio, que será discutido mais adiante neste capítulo, e o experimento controlacapítulo anterior cujas implicado, que já foi mencionado ções serão detalhadas no próximo. Entretanto, essas mudanças têm pouco a ver com as interpretações naturais que constituem estrutura psicológica das pessoas. Feyerabend equivocadamente física coloca mudança observação ciência implícit Galileu e, como veremos, subestima sua amplitude e seu significado.
4.3 A observação objetiva como realização prática fato de ter a percepção elementos subjetivos e culturalmente
relativos não escapou ao cientistas. Apenas devido essa percep-
çã evidente é que a necessidade de trocar simples observação pela observação efetuada em circunstâncias padronizadas, seguindo procedimentos rotineiros, é valorizada. A simples observação trocada pelo experimento medido controlado. Dessa maneira, muitas das idiossincrasias da percepção humana podem ser superadas. Francis Bacon compreendeu essa questão já no século XVII, ao escrever: sempre ue passo a um novo experimenta de qualquer sutileza (embora em minha opinião esteja oorreto e eu o aprove), acrescento uma explicação clara sobre como eu realizei; pois os homens, sabendo exatamente como
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provas puderem ser encontradas. Finalmente, interponho por toda parte admoestações, escrúpulos cautelas serem tomadas, com um religioso cuidado em eliminar, reprimir e até exorcizar todos os tipos de fantasmas. (Burtt, 1967, p. 21)
Presumo ue aqui argumento usado por Bacon, e por mim endossado, pode se ilustrado pelo exempl qu darei seguir. chamada "ilusão Lua" é u fenômeno bastante comum. A L u a parece ter um diâmetro muito maior quando está próxima ao horizonte do que quando está alta no céu. percepção normal, se tomada como guia confiável para tamanho Lua, ilusória. Contudo, podemos fazer coisa melhor, em vez de confiarmos no sentidos se ajuda nenhuma. Podemos, exemplo, montar tubo observação co arames cruzados numa extremidade, ta maneira que sua orientação poderá ser lida numa escala. ângulo subtendido pela Lua no ponto de observação pode ser determinado alinhando-se os arames cada lado da Lua de cada vez observando diferença as leituras correspondentes escala. Isso pode ser feito quando a Lua está alta pode se repetido quando el está próxima ao horizonte. identidade aproximada do resultado nos dois casos indica que o tamanho da Lua permanece imutável. percepção normal, nesse caso, realmente ilusória. Aqueles ue desejarem enfatizar observação "teórico-dependente" rapidamente apontarão "teoria" encerrada em meu método para observar tamanho da Lua. Terão podido notar, muito corretamente, que o significado atribuído alinhamento tubo observação encerra hipótese qu vagamente pode se afirmada como "a luz viaja em linhas retas", e que a competência observação tamanho da Lua feita pelo eu método baseia-se nesta e em outras hipóteses subjacentes. Seu argumento pode ainda se reforçado observando-se que, se um tubo observação tipo ue descrevo fosse usado para determinar direção em que está estrela alinhada próxima ao Sol, el daria resultado
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ão tenho questionamentos fazer em relação observações como essa. ão desejo negar que a suficiência e significado relatos observação dependem as hipóteses teóricas vários tipos e, conseqüentemente, sã passíveis de falha revisão. Desejo apenas ilustrar com meu exemplo questão de que a ausência um base segura para observação não se deve primordialmente percepção. ciência desenvolveu técnicas podeàs vicissitudes rosas para contornar esses problemas. té onde se pode dar um testar as teorias científicas po meio procedimentos jeito padronizados que encerram observação coisas como leitura ponteiros dados computador, ou contagem os cliques contador, os problemas qu brotam caráter subjetivo percepção humana podem se minimizados. observações relevantes são objetivadas. melhor deixar para os filósofos fanáticos tarefa de argumentar que uma afirmação como "o ponteiro está entre dois e o três da escala" baseia-se na teoria e é passível de falha. razões para se rejeitar afirmação de que a ciência te base segura para observação estão em outro canto. aspecto da percepção que os empiristas costumam deixar de lado e que os cientistas exploram até que ponto nela está implícito um envolvimento e não uma passiva contemplação do mundo. té mesmo na percepção comum, cotidiana, podemos verificar realidade de um objeto avistado - por exemplo, tocando nele ou movimentando cabeça para ver se a imagem responde da maneira adequada. Poppe (l 972, capítulo 5) notou esse aspecto percepção mostrou que o não-problemático nas descrições do mundo comum não é que sua verdade seja revelada observadores se preconceito po intermédio os sentidos, mas que ela capaz de resistir a uma porção de testes simples. Um microscopista célula vermelha sangue microscópio eletrôobserva nico e vê uma configuração corpos densos. Será qu eles correspondem estruturas na célula ou são artefatos do microscócélula está montada numa grade microscópica, cujos pio?
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anotada. A mesma amostra da célula na grade é então observada num microscópio fluorescente ue tem princípios físicos totalmente diferentes do microscópio eletrônico. mesmo arranjo de corpos densos é observado nas mesmas localizações na grade. Poderá haver alguma dúvida mais séria de que as estruturas observadas (quaisquer qu sejam) estejam realmente presentes célula (Hacking, 1983, capítulo 11)? São os resultados de nossas intervenções práticas ue emprestam objetividade e credibilidade relatórios de observação. Uma idéia ue tem apoio entre os filósofos da ciência, mas ue rejeito, retrata os fatos objetivos em que se baseia a ciência como esses registros de observação com que prontamente concordam os observadores normais diante da evidência trazida por seus sentidos. Essa visão de consenso da afirmaçõesda observação deixa de lado importância da habilidade e do conhecimento necessários para a observação científica. Um bom radiologista consegue ver sinais de infecção num raio X, e um bom microscopista consegue ver as células se dividindo, quando a maioria dos observadores sem um conhecimento mínimo não consegue. Se pensarmos ue os registros de observação (provisoriamente) aceitáveis são aqueles que passaram pelos testes mais rigorosos, uma forma de testar com rigor um afirmação sobre o que deverá ser observado num microscópio é pedir a um bom microscopista para dar uma olhada, em vez de procurar a opinião de James Thurber. A aceitabilidade de um relato de observação també nã pode seratribuída ao simples fato de que os especialistas concordam com ele. O fundamental é o quanto a afirmação suporta os testes objetivos. Os diagnósticos dos radiologistas especializados podem estar equivocados podem se testados de maneiras independentes - por exemplo, buscandose outros sinais para alegada infecção examinando-se diretamente área infectada por meio de uma cirurgia. Os relatos de observação aceitáveis podem se compreendidos como os ue descrevem situações observáveis capazes de sobreviver
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quantidade de testes disponíveis, serão teórico-dependentes em diversos aspectos, de modo que os registros de observação terão falhas em graus variados. (Podemos imaginar Ptolomeu testando fundamentando rigorosamente sua declaração de que a Terra estacionaria pulando no ar para ver se ela se mexia embaixo.) Em todo caso, não estou questionando a objetividade da observação na ciência por sua infalibilidade. Minha insistência na ciência física exige que a observação objetiva conforme minha caracterização esteja sujeita a uma importante ressalva: objetividade é uma realização prática. Embora eu afirme que ela pode freqüentemente obtida, na física não há garantia nenhuma de que isso se mostrará possível em todos os casos. Blondlot, físico francês, dizia haver descoberto novo tipo de radiação (os raios N) publicou instruções detalhadas sobre como el deveria se produzida observada. Ele e os colegas associados diziam ver as variações luminosidade numa tela, que para eles constituía uma prova. Contudo, pesquisadores de fora do laboratório foram incapazes de ver o que Blondlot insistia poder ver. Blondlot alegava ue seus críticos não tinham suficiente capacitação. Ou seja: as afirmações de Blondlot nã passaram no testesindependentes. Po exemplo, quando o físiconorte-americano R. B. Wood eliminou o prisma que se supunha influenciar na produção dos raios N, Blondlot, sem saber o que Wood fizera, continuou observando sinais dos raios N na tela. Mary Tiles (l 984, p. 60) resumiu admiravelmente situação: Insistir em que a observação experimentalexige desenvolvimento habilidades especiais na observação, que nem todos sã capazes obter,
é algo que, em si, é incorreto. Os problemas só ocorrem uando [com aconteceu no caso de Blondlot] falham todas as tentativas na confirmação instrumental indireta, de modo que a única evidência é perceptiva e por "sensibilidade" cada observador. Nessa isso muito dependente situação, fenômeno torna-se irremediavelmente subjetivo.
objetividade é uma realização prática, uma realização ue
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aplica em outras áreas algo qu deixo inteiramente aberto. ão estou absolutamente certo se, como e até que ponto os antropólogos ocidentais conseguem objetividade ao investigar tribo povos estranhos. Nã tenho nenhuma competência especial para tratar dessas questões, difíceis as importantes. No restante deste capítulo, ilustro desenvolvo minhas idéias sobre observação na ciência por meio de um exemplo detalhado telescópio. do uso que Galileu fez
significado e caráter problemático 4. do dados de Galileu sobre telescópio Interpreto a história da introdução dos dados telescópicos na astronomia como uma história da luta bem-sucedida de Galileu
para ob jetivar justificar esses dados. A minha versão pode ser instrutivamente comparada à Feyerabend, por ele usada para emprestar apoio à sua explicação anárquica da ciência. Segundo Feyerabend, confiabilidade as observações telescópicas Galile e a teoria de Co pérnico que lhe serviram de base foram refutadas pela experiência; o primeiro explorou a harmon ia entre essas duas idéias refutadas para obter apoio para ambas. Assim, ele promoveu causa copernicana "por m eio de hipóteses ue eram expe dientes técnicas engenhosas de persuasão" (Feyerabend, 1975, 143). Embora eu afirme qu esses exageros Feyerabend possam devam se evitados, veremos entretanto que a mudança de Galileu encerrava um transformação na observação astronômica e nos padrões ue regiam o que deve ser considerado evidênci satisfatória para a ciência. Nu período de três meses, de dezembro de 1609 fevereiro de 1610, Galileu voltou telescópio ue havia construído para céu. O que viu teve impressionantes implicações na astronomia e,
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apresentava essas primeiras descobertas; tornou-se então celebridade internacional. À primeira vista, essas revelações iniciais do telescópio ajudariam a causa de Copérnico, embora nã o na extensão que Galileu dava entender. Po exemplo, aparência terrestre da montanhas crateras d a L u a i m p u n h a problema para distinção aristotélica entre região celeste, etérea incorruptível, qu presumivelmente incluía L u a , e região terrestre, mutável corruptível. objeção aristotélica luas Júpiter serviram para difundir Copérnico, segundo qual movimento conjunto em teoria torno do Sol atribuído Terra por Copérnico tornava inexplicável fato da L ua permanecer junto com a Terra/Como os aristotélicos aceitavam idéia do movimento de Júpiter, suas luas impunham para eles problema semelhante. os anos seguintes essas observações iniciais, Galileu fe outras, ainda mais significativas. le descobriu ue o tamanhos aparentes de Marte Vênus, vistos pelo telescópio, variavam segu ndo as previsões da teoria de Co pérnico, ao contrário das observações olho nu, ue mostravam pouca mudança no tamanh o aparente. N essas observações concentravase acusação Feyerabend, qu dizia que os dados telescópicos de Galileu eram defendidos por meio de expedientes, como veremos. telescópio Galileu revelou as fases Vênus mostrou que elas aumentavam e diminuíam, conforme previra Copérnico. emprego de dados telescópicos para dar ão obstante, suporte à teoria de Copérnico levanta a questão de por que deveriam ser preferencialmente aceitos os dados do telescópio em vez dos dados correspondentes da observação a olho nu. Feyerabend está certo em insistir na importância fundamental dessa questão. Por que a evidência revelada pelas observações feitas pelo tubo Galileu, equipado co lentes côncavas convexas, deveria se preferida às evidências obtidas diretamente pelo olho? Junto co Feyerabend, notamos em primeiro lugar qu Galileu
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insatisfatória (Galileu, 1957, p. 245-6). Essa circunstância não impôs nenhum problema muito sério para Galileu. fato de que as lentes refletem a luz e de que cada lente pode ampliar era muito conhecido e havia sido explorado desde o final do séculoXIII para Não era ue fabricação de
combinação de duas lentes fizesse melhor trabalho. Emsegundo lugar, necessidade de dar apoio às observações recorrendo explicitamente teoria podia ser questionada seria possível dizer ue a confiança nos dados a olho nu não resulta do recurso a uma teoria do funcionamento do olho. Passemos então às possíveis justificativas prática. A veracidade das observações telescópicas de objetos terrestres pode ser demonstrada de maneira razoavelmente direta pelo fato de que os dados telescópicos podem ser verificados pela observação próxima, a olho nu, do objeto visto. Além do mais, a familiaridade que temos com os cenários terrestres nos permite utilizar, consciente ou inconscientemente, uma série de pistas ou deixas visuais quando vemos um determinado cenário. Assim, por exemplo, superposição nos proporciona uma orientação par estimativa da distância e tamanho relativos, em comparação com objetos de tamanho conhecido. Quando lembramos que os telescópios de Galileu eram protótipos feitos por tentativa e erro usando lentes polidas mão, podemos avaliar quantas aberrações elas devem ter produzido. Quando os objetos vistos são conhecidos, fácil para o observador destacá-los dos acessórios enevoados que apareciam no telescópio ou, por exemplo, deixar de lado curvatura e o colorido vermelho e azul exibido na imagem do mastro de um navio distante. uando o telescópio era voltado para os céus relativamente desconhecidos, em geral faltavam esses amparos percepção. Essa dificuldade pode ser constatada nos relatórios do próprio Galileu. maior as crateras mostrada desenho qu Galileu fe d a L u a não pode ser avistada com um telescópio moderno, nem pode ser
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qu seu telescópio ampliava as estrelas muito menos do que os planetas, mas não conseguiu explicar esta incongruência. Galileu tinha diante de si problemas reais quanto à veracidade de seus dados telescópicos.
Um outro obstáculo no caminho da aceitação do dados telescópicos era uma idéiafilosófica da percepção do sentidos, ue provinha de Aristóteles e era aceita por muitos opositores de Galileu. Segundo essa idéia, os sentidos necessariamente produziam informação confiável sobre mundo, quando usados com cuidado e sob condições normais. Ludovico Geymonat (1965, p. 45), biógrafo Galileu, refere-se crença "compartilhada po muitos estudiosos da época" de que "somente a visão direta podia apreender realidade", Scipio Chiaramonti, um dos opositores Galileu, referia-se idéia de que "os sentidos e a experiência devem ser nossos guias quando filosofamos" e "servir de critério para própria ciência" (Galileu, 1957, p. 248). Maurice Clavelin (1974, 384), contexto em que faz a comparação entre ciência aristotélica e a de Galileu, diz que "a principal máxima da fisica peripatética er jamais fazer oposição evidência os sentidos". Em contexto semelhante, Stephen Gaukroger (1978, p. 92) fala de "uma confiança fundamental exclusiva na percepção dos sentidos na obra de Aristóteles". ra comum a defesa teleológica da confiabilidade dos sentidos. Entendia-se como su função proporcionar-nos informação sobre mundo. Assim, embora os sentidos possam nos enganar em circunstâncias anormais (por exemplo, no meio da neblina ou quando observador está bêbado ou doente), não faz sentido pressupor ue sejam sistematicamente enganadores quando estã cumprindo missão para qual foram feitos. Irving Block (1961, p. 9), num artigo esclarecedor sobre a teoria da percepção dos sentidos, de Aristóteles, caracteriza visão deste filósofo desta maneira:
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contradição da Natureza er moldado Homem seus órgãos de tal maneira qu todo o conhecimento e a ciência fossem priori falsos.
A idéia de A ristóteles teve eco em Tomás de A quino, séculos
depois:
percepção do sentido sempre verdadeira em relação seus próprios objetos ... pois, como regra geral, as forcas naturais nã falham em atividades próprias delas e, quando falha m, iss se deve alguma anomalia. Assim, apenas em uma minoria de casos os sentidos analisam com imprecisão seus próprios objetos e, mesmo então, somente por algum defeito orgânico - por exemplo, quando as pessoas doentes e febris sentem amargo paladar das coisas doces, porque sua língua está indisposta. (Block, 1961, p. 7)
introdução telescópio ciência fo contra confiança na percepção nua dos sentidos, e sua escora teleológica; os contemporâneos de Galileu poderiam muito bem ter reagido isso dizendo, como Kuhn (1959, 226): "S Deus quisesse que o homem utilizasse essa invenção para ad quirir conhecimento, ele teria dotado os homens de olhos telescópicos". Para que Galileu obtivesse aceitação seus dados telescópicos, fo preciso que ele violasse e alterasse "o próprio critério da ciência". Vejamos como ele conseguiu fazer isso. 4.5 As observações de Galileu das luas de Júpiter a seção 4.3 eu disse que a reação científica hab itual às vicissitudes percepção tentar substituir simples observação pela medição, dentro de procedimentos de rotina e sob condições padronizadas. A observação de Galileu das luas de Júpiter é um excelente exemplo dessa mudança. Galileu em pouco tempo avaliou a necessidade de fixar telescópio em um suporte estável. Ele também descobriu que as
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tampa (Drake, 1978, p. 147). Quando Galileu, em janeiro de 1610, avistou pela primeira vez as "estrelinhas" qu acompanhavam Júp iter pelo céu, os aspectos qualitativos de suas posições em noites sucessivas levaram-no acreditar qu fossem satélites deste planeta. espaço de dois anos, Galileu criou um procedimento objetivo para m edir a separação dos satélites de Júpiter, o que lhe permitiu mon tar um longuíssimo argumento p ara a veracidade das observações telescópicas do satélites para as órbitas qu lhes atribuía. Vale a pena descrever com algum detalhe o procedimento de Galileu (Drake, 1983, p. 128 ss). escala fo anexada ao telescópio or meio de um anel, maneira tal que o plano da escala estivesse perpendicular em relação ao eixo aparelho pudesse deslizar para cima para baixo ao longo de seu comprimento. observador, espiando pelo telescópio com um olho, podia ver a escala com o outro. Para facilitar leitura, escala recebia iluminação de uma pequena lamparina. Com o telescópio voltado para Júpiter, a escala era empurrada ao longo do tubo até que a imagem do planeta, visto co escala, vistas olho, ficasse entre dua s marcas centrais co outro olho. Feito isso, posição de um satélite visto pelo telescópio podia ser lida na escala e a leitura correspondia a sua distância de Júpiter em múltiplos do diâmetro do planeta. Esse diâmetro era uma unidade conveniente, pois empregá-lo como padrão automaticamente resolvia problema de sua aparente variação, conforme o planeta se aproxima e se afasta da Terra. Onde necessário, Galileu podia transformar essa medida relativa em medidas absolutas do ângulo subtendido ao olho, dividindo os ângulos subtendidos pelas imagens na escala pela ampliação telescópio. Galileu criara um método para medir a ampliação de seus telescópios po uco depois d e começar a utilizá-los; esse m étodo fo descrito em mensageiro da estrelas. Usando os proced imentos acima descritos, Galileu pôde registrar histórico diário da quatro "estrelinhas" ue acompanhavam
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em órbita ao redor de Júpiter, com períodos constantes. pressuposto nã partiu apenas de avaliações quantitativas, ma também
observação mais qualitativa de que as "estrelinhas" às vezes desapareciam vista, conforme passavam pela frente ou por trás do planeta.
Galileu estava em boa posição para defender veracidade de suas observações as luas Júpiter, apesar serem elas invisíveis olho nu. Com isso, obteve argumentos contra insinuação de ue elas eram um ilusão produzida pelo telescópio, mostrando qu essa idéia tornava difícil explicar por que os satélites só apareciam próximo Júpiter e não em outros lugares. Galileu também poderia ter invocado coerência e repetibilidade de suas medições, além de serem estas compatíveis com a hipótese de que os satélites faziam órbita ao redor Júpiter co periodicidade constante. Os dados quantitativos de Galileu foram verificados por observadores independentes, entre os quais alguns no Colégio Romano e na Corte Papal, em Roma. Galileu previu ainda outras posições dos satélites e a ocorrência de trânsitos eclipses, ue também foram confirmadas por ele mesmo pelos observadores independentes (Drake, 1978, p. 175-6 e 236-7). veracidade do que fo visto no telescópio fo logo aceita pelos observadores competentes contemporâneos de Galileu, mesmo pelos qu inicialmente se opuseram ele. fato qu alguns desse observadores jamais tenham conseguido discernir os satélites, ma acredito ue isso não tem maior significado do que a experiência bastante comum de James Thurber, que não conseguiu distinguir estrutura da célula de plantas no microscópio. força do argumento de Galileu para veracidade de suas observações telescópicas das luas de Júpiter origina-se na amplitude de testes práticos objetivos pelos quais suas asserções passaram, com sucesso. Embora esse argumento ainda nã fosse lá muito conclu sivo, er incomparavelmente mais forte do" qu qualquer outro em
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tamanho do planetas vistos pelo telescópio
Segundo teoria Copérnico, distância de um planeta Terra deveria variar bastante durante curso da viagens de cada deles em torno do Sol. Quando um planeta está do mesmo lado do Sol que a Terra, ele estará relativamente próximo, ao passo que, do outro lado do Sol, estará relativamente distante. distância Marte em relação Terra varia por um fator ordem oito e, no caso de Vênus, por um fator da ordem de mais ou menos seis. Conseqüentemente, os diâmetros do planetas vistos da Terra variam em fatores semelhantes. Entretanto, quando visto olho nu, Marte parece mudar de tamanho por um fator não muito maior qu dois, enquanto aparente mudança no tamanho de Vênus insignificante. or essa razão, Galileu (1967, 334) em sua descrição Marte dizia qu este planeta era um "feroz ataque" ao sistema de Copérnico e que Vênus apresentava uma "dificuldade ainda maior". Quando os dois planetas são observados no telescópio, dificuldade eliminada. mudanças no tamanho estão de acordo com as previsões da teoria de Copérnico. Os tamanhos dos planetas vistos olho nu entram em conflito com a teoria de Copérnico; os dados correspondentes do telescópio confirmam. Qual desses conjuntos de dados deve ser aceito? contrário Feyerabend, direi qu Galileu obteve uma boa argumentação favor dados telescópicos independente compatibilidade desses dados em relação teoria de Copérnico. Galileu recorria ao fenômeno radiação para ajudar desaplanetas olho u dizia qu esse creditar observação fenômeno proporcionava fundamentações para que se preferisse observação ao telescópio. hipótese dele era que o olho "apresenta dificuldade própria" quando vê pequenas fontes de luz distantes brilhantes. or causa disso, os objetos parecem "ornaos comestranhos raios acidentais" (Galileu, 1967, p. 333). Assim, se as estrelas "são observadas com a visão natural, se ajuda
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com uma franja raios cintilantes" (Galileu, 1957, 46). irradiação dos planetas eliminada pelo telescópio. Já que a hipótese Galileu contém implícita afirmação que a irradiação conseqüência da luminosidade, da pequenez fonte avistada, el pode se testada alterando-se distância esses três fatores de várias maneiras, muitas da quais nã exigem o uso do telescópio algumas claramente mencionadas Galileu. luminosidade de estrelas planetas pode ser reduzida quando eles sã vistos através de uma nuvem, um véu negro, vidro colorido, um tubo, um intervalo entre os dedos ou um buraco de alfinete feito num cartão (Galileu, 1957, p. 46). irradiação eliminada planetas co essas técnicas, modo qu eles "mostram seus globos perfeitamente redondos bem-definidos", ao passo que, no caso as estrelas, el jamais totalmente eliminada, modo qu "jamais vista borda de sua periferia circular, as elas tê antes aparência brasas cujos raios vibram em torno cintilam bastante" (Galileu, 1957, p. 47). No que diz respeito dependência da irradiação no tamanho aparente das fontes de luz observadas, hipótese Galileu confirmada pelo fato de que a Lua e o Sol não estão sujeitos irradiação (Galileu, 1967, 338). Esse aspecto hipótese Galileu e a dependência, ela associada, que tem a irradiação da distância da fonte podem ser submetidas a um teste terrestre direto. Um lanterna acesa pode se vista perto ou de longe, de dia ou de noite. Quando vista noite e distância, luminosa em relação ao que a rodeia, el parece maior do que seu verdadeiro tamanho. Vista de dia ou de perto, na mão, tamanho aparente corresponde ao tamanho real da lanterna. Galileu lembra isso para dizer qu seus predecessores, entre eles Tycho Brahe Clavius, deveriam ter procedido co maior cautela ao calcular tamanho das estrelas. ão acreditarei qu eles pensassem que o verdadeiro disco de uma lanterna seria como parece na escuridão profunda, e não da maneira corno percebido em ambientes iluminados pois as nossas luzes vistas de longe
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dependência irradiação luminosidade de uma fonte relacionada a seu ambiente mais uma vez confirmada pelas estrelas crepúsculo, quando parecem muito menores do que à noite, e por Vênus, quando visto em plena luz do dia, parecendo "tão pequeno, que é preciso visão aguçada para vê-lo, embora na noite seguinte pareça um enorme lanterna" (Galileu, 1967, p. 361). Esse último efeito no oferece um maneira aproximada para testar a compatibilidade entre teoria Copérnico (e outras) e o tamanhos observados Vênus, se necessidade evidência telescópica. teste pode ser feito olho nu, desde que as observações sejam feitas ao crepúsculo. Há duas razões qu tornam esse teste difícil e não inteiramente satisfatório. primeira que, sob essas condições, Vênus parece tão pequeno ue torna difíceis estimativas precisas de seu tamanho aparente. segunda é que é impossível fazer esse teste quando Vênus está perto de seus tamanhos máximo mínimo aparentes, porque nesses momentos ele parece estar muito perto do Sol. Conseqüentemente, Vênus ão pode se observado à luz do dia por causa do brilho do Sol, ma apenas depois que o Sol desaparece ele está perto da Terra em seu maior tamanho, ou antes do Sol subir, quando planeta está mais distante da Terra, em seu menor tamanho. Contudo, pelo menos segundo Galileu, embora as mudanças no tamanho de Vênus só possam se observadas co precisão ao telescópio, elas sã "bastante perceptíveis olho nu (Drake, 1957, p. 131). Assim, por uma razão prática muito clara, Galileu conseguiu mostrar que o olho nu produz informações contraditórias quando se observa pequenas fontes de luz brilhantes luminosas em relação a seu ambiente, no domínio terrestre ou celeste. fenômeno irradiação, para qual Galileu dava série provas qual fazia demonstração mais direta com a lamparina, mostra que as observações olho nu de pequenas fontes de luz
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lu do dia, e não à noite, quando Vênus brilhante em relação
utilizadas como evidência favor teoria Copérnico, contra as outras teorias. Contudo, essas observações propiciaram razão para que os dados telescópicos fossem aceitos no campo astronomia, além os dados relacionados ao fenômeno irradiacontrário de muitas observações olho nu, as estimativas ção. telescópicas dos tamanhos dos planetas eram compatíveis com todas as teorias astronômicas época Galileu; su aceitação eliminava um problema ue estivera presente na astronomia desde Antigüidade.
nossa discussão do método de Galileu para medição dos movimentos da luas de Júpiter na seção 4.5 mostra como ele conseguiu objetivar quantificar su avaliação telescópica diâmetro de um planeta no correr do ano. variações observadas estavam precisamente acordo com as previsões teoria Copérnico. Isso não era justificado. Não se questionavam as observações telescópicas do tamanho aparente dos planetas ue serviam base para teoria Copérnico, em relaçãoao sistemas de Ptolomeu Tycho Brahe, porque estes previam exatamente as mesmas variaçõe de tamanho previstas por Copérnico. variações na distâncias da Terra, ue levam às mudanças previstas no tamanho aparente, surgem no sistema ptolomaico porque os planetas se movimentam mais perto depois mais longe da Terra, conforme vão atravessando os epiciclos sobrepostos ao deferentes, ,que posteriormente definem as rotas eqüidistantes Terra. Elas ocorrem no sistema de Tycho Brahe pela mesma razão que no sistema Copérnico, já que o dois sistemas sã geometricamente equivalentes. Derek J. de S. Price (1969) demonstrou de maneira bastante geral qu deve se assim, uma vez que os epiciclos sistemas sã ajustados para serem compatíveis com as posições angulares observadas dos planetas e do. Sol. Osiander, em sua introdução Revoluções das esferas celestes Copérnico, admite que os tamanhos aparentes dos planetas era um problema nas grandes teorias astronômicas desde Antigüidade.
discussão acima sobre introdução do telescópio na astronomia no permite colocar em perspectiva o que veio a ser conhecido como "observação teórico-dependente" e ilustra por que leitura subjetiva dessa tese deve se rejeitada. e nossa interpretação "objetivo" significa algo como "passível teste por meio de procedimentos de rotina" admitimos que os procedimentos satisfatórios muitas vezes exigirão habilidades qu pouco possuem, Galileu podia objetivar suas observações telescópicas. mais importante é que elas conseguiram passar por uma série de testes, como já vimos. correto na tese da "observação teórico-dependente" não é que a ciência seja desprovida objetividade, mas que a competência e pertinência relatórios observação na ciência estão sujeitas revisão. observação na ciência pode se objetivada, mas nem por isso temos acesso fundamentações garantidas para ciência. época em que as inovadoras observações telescópicas foram aceitas po terem passado em testes objetivos, muitos relatórios de observação baseados no olho nu e anteriormente aceitáveis tornaram-se inaceitáveis por su incapacidade sobreviver ao testes que as inovações Galileu tornaram possíveis. outro exemplo tirado da ciência Galileu reforçará minha distinção entre observação objetiva, ue acredito serviável e possibilidade'de base empírica segura irretocável para ciência, qu acredito ser um mito empirista. Em seu Diálogo
seu ambiente.
primeiro tipo de observação, ao contrário deste último, demonstra que o tamanho aparente de Vênus varia no correr do ano. Tudo isso pode ser dito sem qualquer referência ao telescópio. Agora percebemos que o telescópio elimina radiação se usado para observar os planetas que, mais importante, as variações no tamanho aparente assim reveladas são compatíveis com as variações observáveis olho nu e à luzdo dia - assim começa emerforte argumento favor os dados obtidos pelo telescópio. ir
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de uma estrela. le passava cordão entre el mesmo e estrela investigada e o movimentava para frente e para trás, até que o cordão estivesse bloqueando Sol. Galileu dizia que o ângulo subtendido ao olho pelo cordão era igual ao ângulo subtend ido ao olho pela estrela. Hoje sabemos ue o resultados de Galileu eram um tanto quanto enganadores. tamanho aparente de uma estrela, percebido po nós, d eve-se inteiram ente ao efeitos atmosféricos e outros efeitos ruídos e não tem nenhuma relação determinada com o tamanho físico da estrela. s medidas d Galileu tamanho as estrelas baseavam-se na teoria, eram falhas hoje são rejeitadas. Contudo, essa rejeição nada tem a ver com os aspectos subjetivos percepção. observações Galileu eram objetivas, no sentido de que encerravam procedimentos de rotina que, se hoje repetidos, dariam mais ou menos os mesmos resultados obtidos po r ele. N o próximo capítulo, reforçarei questão de que a ausência bases seguras para ciência não se deve aos aspectos subjetivos problemáticos da percepção humana; farei reflexão sobre certas características experimentação ciência.
CAPÍTULO
EXPERIMENTO
5.1 A produção e rejeição de resultados experimentais existem fund amen tos seguros para o conhecimento cientí
fico moderno, como pressupõem os filósofos ortodoxos, então, provavelmente, é o experimento que os fornece, e não a simples
observação. Entretanto, alguns aspectos gerais da experimentação têm tal configuração que os resultados experimentai sã bastante impróprios para constituir a base segura que esse "fundamentalistas" procuram. Os resultados experimentais são constantemente rejeitados, revisados, colocados de outra maneira ou considerados irrelevantes por uma série de razões bastante sérias do ponto vista da atividade científica. O qu anto a base experimental da ciênci é constantemente atualizada e transformad a nada tem a ver com problemas associados observação ou percepção humana. Mesmo que os sentidos nos proporcionem determinados fatos sobre mundo observável, continuamos se fundam entos seguros para
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rotineira oposto ao da filosofia da ciência empirista, como os exemplos seguintes mostrarão. Me primeiro exemplo di respeito série de experimentos de Heinrich Hertz, num período de dois anos, indo de 1886 1888 culminando na primeira produção controlad de ondas de rádio (Hertz, 1962). Além de revelar um novo fenômeno a ser explorado desenvolvido experimentalmente, os resultados de Hertztiveram grande significado teórico. Eles trouxeram fortes evidências para os aspectos fundamentais da teoria do campo eletromagnético de Maxwell, contrária às teorias "ação distância" em voga no continente europeu. Era uma conseqüência da teoria de Maxwell que as correntes oscilatórias se propagassem, embora próprio Maxwell não houvesse avaliado isso (Chalmers, 1973). De modo geral, os resultados de Hertz e o significado que ele lhes atribuía continuaram aceitáveisde um ponto de vista moderno. Entretanto, alguns de seus dados experimentais tiveram de ser substituídos uma de suas principais interpretações, rejeitada. Esses dois casos ajudam ilustrar o meu argumento contra os fundamentalistas. Hertz conseguiu usar se método experimental para medir velocidade da ondas de rádio ue havia produzido. Seus resultados mostravam que as ondas mais longas viajavam no ar a uma velocidade maior do que em fios, e mais depressa que a luz, enquanto teoria de Maxwell previa ue elas deveriam viajar àvelocidade da luz tanto pelo ar como pelos fios do aparelho Hertz. quais Hertz já Esses resultados eram insatisfatórios razões suspeitava. As ondas que se refletiam da paredes do laboratório no aparelho causavam interferências indesejadas. Os comentários do próprio Hertz (1962, p. H) sobre esses resultados problemático foram os seguintes: leitor talvez pergunte por que não me esforcei para resolver eu mesmo questão duvidosa, repetindo os experimentos. Na verdade, eu os repeti, porém apenas descobri, como seria de esperar, que uma simples repetição sob as mesmas condições não pode eliminar a dúvida, mas antes
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favoráveis significam salas maiores, que não estavam a meu dispor. Mais afirmação de que o cuidado nas observações não pode compensar falta de espaço. Se não é possível desenvolver ondas longas, evidente ue elas não podem ser observadas. um vezenfatizo
Os resultados experimentais de Hertz eram deficientes porque su maneira de experimentar nã servia para tarefa. comprimento as ondas investigadas deveria se pequeno em relação às dimensões do laboratório, para eliminar interferência indesejável. Como sabemos, em poucos anos os experimentos passaram a ser realizados "sob condições mais favoráveis" produziram velocidades de acordo com as previsões teóricas. Um ponto a ser enfatizado aqui é que o resultados experimentais são exigidos não apenas por serem satisfatórios, no sentido de constituírem registros precisos de eventos experimentais, mas por serem também apropriados ou significativos. Eles devem se planejados para lançar lu sobre alguma questão significativa exposta natureza. Discernir o que é uma questão significativa, e s algum experimento específico forma satisfatória respondê-la, dependerá muito de como são compreendidas situação prática teórica. Foi a existência de outras teorias sobre eletromagnetismo e o fato de que um dos grandes contendores previu que as ondas rádio viajavam no ar com a velocidade da luz que tornou bastante significativa tentativa de Hertz de medir velocidade compreensão as propriedades dessas ondas, embora fosse reflexão as ondas que tivesse levado avaliaçãode que o aparato experimental de Hertz er insatisfatório. Esses resultados experimentais práticos foram rejeitados logo substituídos, or razões claras nada misteriosas para a física. Assim como ilustra questão de que os experimentos devem se apropriados ou significativos e de que os resultados experimentais sã rejeitados ou substituídos quando deixam de ser experimentais, esse episódio na pesquisa de Hertz em suas próprias reflexões sobre el evidentemente mostra que a rejeição suas
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Hertz tenha observado cuidadosamente se aparelho, medindo distâncias, observando presença ou ausência faíscas as lacunas em seus detectores registrando as leituras os instrumentos. Pode-se pressupor qu seus resultados eram objetivos, sentido de que qualquer pessoa qu repetisse essas experiências poderia obter resultados semelhantes. próprio Hertzsublinhava esse ponto. problema com seus resultados experimentais não advinha de insuncências em suas observações, as antes maneira imprópria como el realizava experimentos. Hertz disse que "o cuidado as observações ão pode compensar falta espaço". Mesmo se concordamos com os empiristas, acreditando qu Hertz tenha sido capaz estabelecer fatos seguros po meio observação cuidadosa, vemos que em si isso nã bastava para produzir resultados experimentais satisfatórios para tarefa científica em questão.
discussão acima pode ser compreendida como ilustração de como aceitabilidade dos resultados experimentais teórico-dependente como os julgamentos sobr el estão sujeitos mudança durante o desenvolvimento da nossa compreensão científica. Em nível mais geral, isso ilustrado pela maneira como significado da produção de ondas de rádio de Hertz mudou desde o seu tempo. Na época em que Hertz as analisou, teoria de Maxwell ue dizia que os fenômenos eletromagnéticos eram manifestação dos estados mecânicos de um éter mecânico previa as ondas de rádio de uma forma que as teorias opostas ação distância nã previam. Conseqüentemente, Hertz seus contemporâneos pudera analisar produção ondas rádio, entre outras coisas, como sendo confirmação da existência do éter eletromagnético. Mais menos duas décadas depois, situação problema teórico er muito diferente. teoria eletromagnética Maxwell, devidamente modificada para incorporar elétron, eliminou as rivais ação distância, mas foi ue descartava teoria do éter mecânico de Maxwell. Tanto teoria
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Hertz produziu essas ondas, ão houve distinção entre as duas teorias, assim isso ão poderia se considerado evidência para existência do éter mecânico. Os resultados experimentais de Hertz ainda sã aceitos em geral, mas o significado eles atribuído transformou-se. segundo exemplo, que diz respeito medições peso molecular feitas no século XIX, ilustra ainda mais maneira como pertinência e a interpretação resultados experimentais depende do contexto teórico. medições do pesos moleculares de elementos componentes de ocorrência natural eram consideradas de primordial importância por muitos químicos no século XIX, especialmente pelos qu preferiam hipótese Prout, de que o átomo de hidrogênio é u bloco fundamental de construção de que se compõem os outros elementos. Este último esperava ue os pesos moleculares relativos ao hidrogênio fossem próximos números inteiros. complicadas medições dos pesos moleculare século IX efetuadas or importantes químicos experimentais tornaram-se muito pouco importantes do ponto de vista da química teórica, uma vez que se percebeu que os elementos ocorrência natural contêm um mistura de isótopos em proporções que não tinham nenhum significado teórico. Essa situação levou químico (Lakatos e 140) seguinte maneira: Há algo certamente aparentado, se não transcendendo tragédia, no destino ue superou obra de toda vida desta galáxia de químicos do século XIX, co razão reverenciados po seus contemporâneos como representantes do auge perfeição da medida científica precisa. Seus resultados duramente conquistados, pelo menos até o momento, parecem te pouco interesse significado, como determinação do peso médio de um coleção de garrafas, estando algumas cheias outras mais ou menos vazias.
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partem dos aspectos problemáticos da observação humana. Esses químicos século IX eram "reverenciados or seus contemporâneos como representantes do auge e perfeição da medida científica precisa", e não temos razão para duvidar competência suas observações medições. Também não precisamos duvidar de su objetividade. Não tenho dúvida nenhuma de que, se as suas experiências fossem repetidas por alguns químicos contemporâneos qu possuem as qualificações apropriadas, obter-se-iam resultados semelhantes. Serem bem-efetuadas é uma condição necessáresultados experiria, mas insuficiente para aceitabilidade mentais. Elas também devem se significativas importantes para algum problema.
Os argumentos que uso com o auxílio de exemplos podem ser resumidos de uma forma que acredito não ser contrária ao ponto de vista das atividades da fisica e da uímica. A quantidade de resultados experimentais considerados como teste satisfatóri para a teoria contemporânea tem sido devidamente atualizada. Os velhos resultados experimentais são rejeitados como insuficientes por muitas claras razões. Eles podem ser rejeitados porque experimentação não continha precauções satisfatórias contra possíveis fontes de interferência, devido ao emprego de formas de avaliação insensíveis e a métodos ultrapassados de detecção, porque os experimentos acabaram sendo considerados incapazes de resolver o problema ou porque a questão para a qual foram projetados não era mais reconhecida. Embora essas observações possam ser consideradas comentários bastante óbvios sobre atividade científica rotineira, elas contudo apresentam parte sérias implicações para filosofia mais ortodoxa ciência, pois abalam a noção geral de que a ciência repousa sobre bases muito seguras. Os resultados experimentais constituem provas empíricas de nossas teorias enquanto forem sendo constantemente revisados e atualizados. A ciência não tem, nem dev ter, bases seguras. Mais importante: as razões para isso não têm
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5.2
implicações par
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empirismo
Uma das implicações deminhas reflexões sobre certos aspectos experimento na ciência fo suficientemente enfatizada na parte anterior: sua incompatibilidade com as pressuposições empiristas de que são os sentidos que fornecem as bases seguras para ciência. mais seguras qu sejam consideradas as observações dos sentidos, sozinhas elas não servem para fornecer dados experimentais significativospara ciência.
mais comuns
Ro Bhaskar (1978) persuasivamente disse que a experimenta-
ção é incompatível com muitas concepções empiristas das leis científicas, segundo as uais estas são interpretadas como constantes associações de fenômenos, à moda de Hume. Segundo essas formulações, as leis científicas funcionam pelo esquema "sempre que um evento do tipo A ocorre, segue-se um evento do tipo B", ou, mais de acordo com o empirismo radical, "sempre que se observa acontecer um fenômeno do tipo A, observa-se a seguir um fenômeno do tipo B". Um problema para essa idéia deriva do que discuti no capítulo 3 sobre a situação que circundava Galileu, depois que ele introduziu o experimento na fisica. Existem poucas regularidades observáveis a discernir no mundo observável à nossa volta, de modo que, por exemplo, os que defendem generalizações como "objetos mais densos que a água afundam" sãorebatidos por agulhas ue flutuam e insetos de água. O mundo natural não se comporta de maneira suficientemente regular, de modo a permitir discernir regularidades sem exceções, embora o sistema solar quase sirva como uma exceção. Como demonstrou a nossa discussão sobre as inovações de Galileu, em certo sentido a experimentação proporciona a resposta para esse problema. Podemos construir artificialmente situações físicas em que as regularidades do tipo humeniano obtêm, por exemplo, que uma determinada mudança na força da corrente exposta por um amperímetro seja sempre
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em situações experimentais artificiais, se identificam com as leis científicas, ficamos sem saber o que rege comportamento do m u n d o fora das situações experimentais. idéia da associação constante talvez seja até compatível com os aspectos mais ordenados dos experimentos Hertz, mas não permite que se invoquem leis para explicar como um sinal de rádio de força flutuante chega a Syd ney, na A ustrália, desde o meio do Pacífico. Se as leis científicas sã identificadas com regularidades, na forma de associações constantes, porque as situações irregulares nã podem ser consideradas sujeitas a leis. Isso entra em conflito com a suposição da ciência natural, que diz que os sinais de ondas curtas irregulares de rádio sã regidos pelas equações de Maxwell tanto quanto o foram as ondas de rádio de Hertz.
sós processos se nenhum significad o epistemológico necessário. ciência exige produção observação dos eventos importantes, que o experimento procura facilitar.
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discussão acima esclarece um problema de uma concepção emp irista das leis científicas. Entreta nto, pelo menos desde a época Galileu, não é um problema para ciência. provas que dão apoio às leis científicas são obtidas em situações experimentais artificiais, as pressupõe-se que as leis assim identificadas apliquem-se também fora de tais situações, embora aqui sua situação se sobreponha a outras leis, levando a um com portamento irregular no nível da ocorrências. Do ponto de vista da física, não temos problema para compreender que a tensão superfície intervém para impedir que a agulha afunde na água ou que diversas perturbações atmosféricas e outras levam a irregularidades na força de um sinal de rádio. Na atividade científica moderna está implícito pressuposto de que os fenômenos naturais são regidos por leis, mas, mundo natura l, esses fenômen os se justapõem formas muito complexas. or essa razão, intervenção do experimentos necessária para desenterrar informações epistemologicamente importantes. E isso é incompatível com a interpretação das leis como regularidades empíricas também indica por que as descrições da situação observável em geral não servem para constituir os blocos com que se constrói conhecimento científico, segundo
5.3 As implicações para
ciência
filosofia Popper
Um elemento essencial na construção do falsificacionismo de Popper é a idéia do conteúdo empírico de uma teoria. Segundo Popper, na ciência buscam os teorias de grande conteúdo empírico; determinada mudança de teoria estará em andamento se a nova teoria aceita tiver conteúdo empírico maior do que o de sua predecessora. base ue apoia essa concepção da meta da ciência bastante clara: se pensamos no conteúdo em píric de uma teoria como medida de suas afirmações para justificar comportamento do m u n d o , preferência por teorias de grande conteúdo empírico significa apenas u ma preferênc ia pelas teorias que nos digam muita coisa sobre mundo. Além disso, quanto mais amplas as exigências da teoria, m ais aberta ela estará a uma possível falsificação. Dadas duas teorias opostas, a opção pela que tiver maior conteúdo empírico eqüivale opção pela mais falsificável (Popper, Popper 1972, p. 112-3). Exposta nesses termos gerais, tese parece muito plausível. Entretanto, quando examinamos em detalhe maneira como ele a desenvolve, descobrimos problemas papel experimentação, qu discutimos graves, provenientes acima. Popper (1972, p. 120) define conteúdo empírico de uma teoria como classe seus falsificadores potenciais. falsificador potencial é uma combinação de afirmações sobre observação "afirmações básicas") qu entra em conflito (que Popper chama co teoria. A ssim, po exemplo, combinação cinco posições
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elipse em torno do Sol". Normalmente, os falsificadores potenciais encerram especificação de um arranjo experimental planejado
para testar um teoria junto com a descrição de um resultado harmônico em relação ao que ela previa. or exemplo, um falsificador potencial para a lei da queda (d Galileu) seria descrição do aparato experimental envolvido em sua experiência com o plano inclinado, junto com os registros dos tempos da descida por diversos comprimentos do plano incompatíveis com uma aceleraçã constante. Em compensação, um descrição da caprichosa falsificador potencial para descida de uma folha não constitui a teoria de Galileu. A introdução da resistência do ar ou do vento torna queda tortuosa compatível com as afirmações Galileu sobre queda desimpedida. Os falsificadores potenciais de uma teoria são aqueles resultados experimentais que, ocorrendo, refutariam. O conteúdo empírico de uma teoria se identifica com o conjunto de eventos que ela rege. As leis científicas são decretos proibitivos. Popper (l 972, p. 113) afirma claramente que as teorias nada no dizem sobre os eventos compatíveis co elas. conteúdo de uma teoria co identificação qu Popper fa categoria seus falsificadores potenciais tem uma conseqüência indesejável. Segundo ele (1972, p. 113), é classe de seus falsificadores potenciais ue determina que uma teoria "diz" sobre mundo e representa "a informação empírica transmitida por uma teoria". Nã obstante, como já vimos, a não ser emcircunstâncias excepcionais, como as que prevalecem no sistema solar, somente por meio de um experimento controlado que uma teoria poderá se falsificada, modo que a classe os falsificadores potenciais constituir-se-á especificação os experimentos e seus resultados. tese de Popper implica que o conteúdo de uma teoria consiste no resultados experimentais que ela proíbe e, assim, nã di nada sobre comportamento do mundo fora das situações experimentais. A especificação da queda de uma ponte não seria mecânica newtoniana. Essa queda falsificador potencial
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ewtoniana se aplique ponte - e com boas razões. Da mesma a descrição da queda irregular de uma folha na brisa de outono nã constituiria um falsificador potencial da teoria gravitacional de Newton; mesmo assim, continuamos pressupondo ue gravidade atue sobre folha durante su queda segundo essa teoria atribuímos ação gravidade fato de que as folhas outono normalmente caem no chão. identificar conteúdo de uma teoria com a classe de seus falsificadores potenciais, Popper na verdade identifica o domínio da aplicabilidade da teoria com o domínio de suas situações satisfatórias de teste. Em outro texto, Popper (1961, p. 117) ex pressa um concepção mais plausível. trecho ue importa diz o seguinte:
form
O ponto crucial é este: embora se pressuponha que qualquer sucessão
real de fenômenos ocorra segundo as leis da natureza, é importante
percebermos que praticamente nenhuma seqüência de, digamos, três ou mais fatos concretos causalmente associados ocorre segundo uma determinada lei da natureza. Se o vento balança uma árvore e a maçã de Newton cai no chão, ninguém negará ue esses fatos podem ser descritos em termos de leis causais. Mas não existe uma única lei, como a da gravidade, nem mesmo um único conjunto de leis que sirva para descrever a sucessão real ou concreta de fatos causalmente associados; além da gravidade, teríamos de levar em conta as leis que explicam a pressão do vento, os movimentos bruscos do galho, a tensão no pedúnculo da maçã, o machucado sofrido pela maçã com o impacto - e tudo isso sucedido pelos processos químicos resultantes do machucado etc. A idéia de que qualquer seqüência ou sucessão de fatos concretos (além de exemplos como o do movimento de um pêndulo ou o de um sistema solar) pode ser descrita ou explicada por ualquer outra lei está simplesmente equivocada.
Aqui Popper admite que a maçã em queda regida por leis causais, como a da gravidade, ma reconhece também que a seqüência observada fatos nã pode se descrita po qualquer lei, or ualquer "conjunto definido leis". Esta última observaçã implica que as descrições da seqüência de fatos ocorridos naquele breve período da história da maçã não constituem um
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pelas teorias ue informam seu projeto ou interpretação, ou pela
crença do experimentador nessas teorias. Embora os detalhes de um arranjo experimental, assim significado associado aos resultados, dependam do julgamento do experimentador orientado pela teoria, uma vez ativada aparelhagem, é natureza mundo ue determina posicionamento de um ponteiro numa escala, os cliques do contador geiger, os relâmpagos numa tela assim por diante. oi porque mundo físico como é que um experimento realizado por Hertz em 1883 não apresentou nenhuma evidência detectável para efeito eletromagnético os raios catódicos; exatamente por ue mundo como é que a aparelhagemmais adequada de J. J. Thompson produziu evidência detectável duas décadas mais tarde (Hon, 1987). Foram as diferenças materiais os arranjos experimentais dos dois físicos ue levaram resultados diferentes e não as diferenças na teorias sustentadas pelos dois. fato de serem os resultados experimentais determinados pela maneira como o mundo funciona e não pelos pontos de vista teóricos dos experimentadores é que proporciona a possibilidade testar-se teoria em relação ao mundo. Isso não quer dizer ue se obtenha com facilidade resultado significativos, também não é uma negação de que o significado dos resultados experimentais seja às vezes ambíguo e nem uma exigência de que os resultados experimentais e as conclusões deles extraídas sejam infalíveis. Estou argumentando contra relativismo cético, não contra falibilismo. meta de produzir resultados experimentais objetivos, significativos e sem ambigüidade é u problema bastante sério. Embora priori nã existam garantias de que essa dificuldade venha a ser resolvida, história e prática ciência mostram qu isso geralmente é possível.
5.5
retorno do experimentador
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suficiência e significado serem atribuídos ao resultados experimentais baseiam-se na reflexão teórica e em refinadas análises
práticas, eles concluem que há uma circularidade quando se consideram os experimentos base satisfatória teste para as teorias científicas. Alguém se referiu esse problema como "o retorno do experimentador". Andrew Pickering (1981, p. 229), n u m a análise dos experimentos criados para detectar os quarks, escreveu seguinte: não se pode separar a avaliação de estar ou não suficientemente fechado
um sistema experimental da avaliação dos fenômenos que ele contém: se
alguém acredita em quarks livres, o experimento de Stanford [no qual seus realizadores julgaram ter detectado os quarks livres) está suficientemente fechado; se não acredita, ele não está.
Collins (l 985, p. 84) faz observação semelhante com referência experimentos criados para detectar as ondas gravitacionais de grande fluxo: O que é resultado correto depende das ondas gravitacionais atingirem
ou não a Terra em fluxos detectáveis. Para verificar isso, devemos construir um bom detector de ondas gravitacionais e fazer um exame. Contudo, não
saberemos se construímos um bom detector até que o tenhamos experimentado obtido resultado correto! E não sabemos qual é o resultado correto até que ... e assim por diante, ad in/initum.
Diante da existência desse círculo, que ele chama de "retorno do experimentador", Collins chega à conclusão de que as controvérsias na ciência nã podem se resolvidas co experimentos maneira objetiva científica. "Algumas táticas 'não-cienfeitos tíficas' devem se empregadas porque somente os recursos experimento sã insuficientes" (Collins, 1985, p. 143). Po isso, abdicar das ondas gravitacionais grande fluxo foi "um processo social (e político)" (Collins, 1981, p. 54). Nem mesmo os experi-
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acredita na paranormalidade, os experimentos são adequados, ma se nã acredita, eles nã são. Embora eu acredite que os estudos de Collins sociólogos de semelhante mentalidade lancem uma luz interessante sobre natureza e a complexidade do trabalho experimental, não penso ue suas conclusões radicais sejam garantidas eles nem são corroborados po seus próprios estudos. Para simplificar esclarece dicussão, eu me concentro em um dos estudos mais importantes ue Collins us para sustentar sua tese: as investigações sobre discussão relativ ao experimentos criados para detectar as ondas gravitacionais, desde momento em que Joseph Weber declarou havê-las detectado em 1969 at quando discussão foi encerrada e o que Weber reivindicava foi desacreditado, mais ou menos em 1975 (Collins, 1985, capítulo 3). Os experimentos foram criados para identificar os sinais devidos suposta interação da ondas gravitacionais com um detector para distingui-los dos ruídos térmicos outros. A forc do sinal ue Weber dizia ter detectado era tal que entrava em conflito com diversas ordens de magnitude que se deveriam esperar, segundo teoria aceita na época, inclusive a da relatividade de Einstein. Os experimentos de Weber foram tratados com ceticismo, especialmente enquanto funcionavam próximos do limites do que poderia ser considerado estatisticamente significativo. questão nem era tanto existência as ondas gravitacionais,as quais eram comumente previstas depois da teoria de Einstein, mas existência da ondas gravitacionais de grande fluxo, ue Weber dizia te detectado. início os anos 70 foram feitas tentativas repetir experimento de Weber, ma elas deixavam de detectar sinais estatisticamente significativos. Weber seguia duas linhas de investigação que prometiam reforçar a sua tese. primeiro lugar, el dizia qu havia correlações significativas entre sinais captados po detectores situados milhares de quilômetros de distância; em
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tados e a orientação da Terra em relação às estrelas. Essas duas correlações reforçaram reivindicação de que os sinais captados por Weber eram causados por um fluxo de ondas gravitacionais
qu atingiam Terra vindos de uma determinada direção espaço. Nã obstante, argumento de Weber favor da correlação entre detectores separados fo seriamente enfraquecido pela descoberta de um erro em seu programa computador pelo fato ue alguns do sinais do detectores distantes que ele havia comparado com o seu, os quais pressupunha terem sido gravado foram na
com
de
tentativas de Weber de embasar correlação sideral diferença. não tiveram êxito esta acabou desaparecendo
Um outro fator na discussão entre Weber seus críticos dizia respeito ao tipo de sistema, incluindo circuitos programas de computador, usado para processar sinal bruto ue vinha do detector. Esses críticos sabiam inferir do conhecimento geralmente aceito o suficiente para mostrar que, para inúmeros tipos de sinais, sistema linear seria mais satisfatório do que o sistema não-linear utilizado por Weber. Weber nã conseguiu resultados estatisticamente significativos usand um sistema linear. Ele concluiu então que os impulsos qu presumia serem causados pela absorção gravidade têm um perfil incomum. Mais ou menos em 1975, tese de Weber deixou de convencer comunidade científica, existência das ondas gravitacionais grande fluxo foi negada aquela linha pesquisa fo abandonada.
Collins usa esse outros estudos do gênero para contestar estatuto epistemológico distintivo habitualmente atribuído ao conhecimento científico, chega conclusão de que as discussões complexas na ciência não podem ser resolvidas com recurso ao experimento, por meios normalmente considerados "científicos". Elas sã antes resolvidas como resultado outras pressões sociais políticas. Levando em consideração sua análise da controvérsia acerca das ondas gravitacionais ele conclui que não há "nenhum
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A FABRICAÇÃO DA CIÊNCIA
os cientistas a buscar outros critérios de qualidade" qualidade" (Collins, 1985, p. 88), de modo que "deve-se empregar alguma tática 'não-científiElemostra que há maneiras possíveis ca'" (Collins, 1985, p. 143). Elemostra interpretar o argumento contra Weber, "observando falhas tais em cada tendência que uma rejeição absoluta da tese do grande fluxo não seria a inferência necessária" (Collins, 1985, 1985, p. 91). 9 1). Como "retorno do experimentador experimentador impede uma solução 'objetiva'" (Collins, 1985, 1985, p. 151), são os interesses interesses sociais e políticos da comunidade comunidade científica ue dão a preferência pref erência a um e não a outro resultado igualmente aceitável. "Não é a regularidade do mundo ue se impõe a nossos sentidos, mas a regularidade de nossa crença institucionalizada ue se impõe ao mundo" (Collins 1985, p. 148).
fluxo só pode se julgada uma vez que se tenha posição sobre essa existência, então o tipo de circularidade invocad por Collins
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s idéias i déias de Collins são erradas erra das e com certeza certeza não têm t êm apoio em suas investigações. Sobretudo retorno do experimentador, como o interpretam ele e outros, como Pickering, baseia-se baseia-se numa compreensão insuficiente da natureza papel do experimento. ponto ue deveriaser deveria ser enfatizado como como contrário àsreações às reações fanáticas e sem garantia ao peso da teoria do experimento é a
sensação de que os resultados experimentais são determinados mais pela natureza do mundo físico do que pelas teorias aceitas ou cogitadas pelos experimentadores ou intérpretes, como já salientado na seção 5.4. Weber teria realmente adorado que os sinais que experimental apresentassem periodisurgiam de seu aparato experimental cidade de vinte quatro horas, mas o mundo não cooperou. sociólogos de mesma orientação, podemos Como Collins e sociólogos aceitar que a competência e o significado de um resultado experimental sejam sensíveis em relação suposições antecedentes. retorno do experimentador, experimentador, da maneira formulada fo rmulada por Collins, qu ameaça idéia de que os testes experimentais possam oferecer base objetiva para avaliação da teoria, só tem força se as asserções em teste - por exemplo, ue existem ondas gravitacionais de grande fluxo ou quarks livres formam parte das suposições anteceden antecedentes tes ue informam i nformam os experimentos experimentos planejados para testar
Pickering
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realmente conseqüente. Contudo, essa não é a
situação que normalmente os cientistas experimentais enfrentam, nem corresponde à que Weber e seus críticos enfrentaram.
Instalada uma certa polêmica na ciência, a questão é chegar a resultados experimentais definitivos, que não contenham um julgamento prévio do caso. Esses resultados experimentais dependerão da suposições antecedentes estas estarão sujeitas questionamento. Se qualquer delas fo questionada se fundamentação ou de maneira superficial, o questio questionamento namento deve ser acompanhado por uma estratégia que possibilite a discriminação entre a suposição questionada questionada e a alternativa proposta. proposta. Isso correscorresponde à meta geral da ciência caracterizada caracterizadano capítulo 3, segundo a qual suficiência de nossas teses sobre mundo deveria ser avaliada em confronto com o mundo, de alguma maneira prática. em grande esforço, os experimentos realizados por Weber e seus críticos podem ser assim interpretados. Críticas Críticas à adequação adequação dos diversos resultados exigidos encerram uma série de pressupostos, as não são do tipo que produz a circularidade invocada por Alguns resultados de Weber foram claramente desacrediem certas suposições compartilhadas tados co base, por exemplo, emcertas respeito do que constitui um programa progr ama de computador computador confiável. Outras críticas eram mais sutis. Observamos atrás que que Weber foi criticado criticado por ampliar seus sinais utilizando um sistema não-linear, quando em geral se reconhecia que os sistemas lineares eram mais sensíveis, acordo co certas suposições tanto frágeis refeque o conhecimento rentes forma dos impulsos. Weber aceitava aceitavaque passado fosse base dessa crítica concluiu que os impulsos qu emanavam de seu detector deveriam ter um perfil incomum. Seus críticos estavam corretos ao insistir no caráter ad ho dessa resposta. Para reforçar a tese de Weber seria preciso haver alguma evidência auto-suficiente desse perfil comum. Er concebível que tal evidência
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obstante, Weber e os que o apoiavam não apresentaram esse tipo evidência auto-suficiente. Existem razões científicas objetivas muito boas para rejeitar as ondas gravitacionais de grande fluxo com base nas evidências ue atualmente possuímos. maior parte das provas apresentadas por Collins para defesa importância os fatores "não-científicos" na controvérsia sobre as ondas gravitacionais de grande fluxo originou-se dos resultados de entrevistas com os participantes. Collins (1985, p. 87) mostra que, entre as razões dadas pelos cientistas para a aceitação aceitação e rejeição dos resultad os experimentais, entravam fatores como personalidade ou nacionalidade dos experimentadores, tamanho prestígio da universidade de origem, fato dos cientistas trabalharem na indústria privada ou na academia, estilo da apresentação dos resultados, assim por diante. Entretanto, essas observações não trazem nenhuma preocupação, sequer para as mais ortodoxas concepções concepções d a racionalidade científica. s decisões decisões rotineiras tom ada s pelos cientistas a respeito das linha linha s de pesquisa seguir e das estratégias serem adotadas, em que experimentos confiar quais os que devem ser questionados, assim por diante, naturalmente serão influenciadas por uma série fatores subjetivos, como os indicados por Collins. Contudo, tais fatores nã poderiam determinar a aceitabil aceitabilidade idade de exigência exigência científicas; discussão sobre as ondas gravitacionais, gravitacionais, realmente realmente não determinaram. Outro aspecto ue Collins esclarece usando seu material de
entrevistas é natureza variável variável muitas vezes contraditória as crenças julgamentos dos cientistas. Assim, por exemplo, um cientista considerava um ponto favor fato de ter sido feita computador análise estatística do experimento de Weber, en quanto outro considerava isso um motivo de preocupação; alguns consideravam as coincidências entre detectores separados muito significativas, outros discordavam; alguns achavam convincentes as provas da existência das ondas gravitacionais, outros não.
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esse tipo de questão, modo que o fato de uma resposta resposta triunfa sobre a outra deve ser explicado pelos fatores não-científicos. Aceito e não me surpreendo com a variabilidade da opiniões crenças dos cientistas, observada por Collins. Entretanto, transferir essa diversidade diversidade p ara próprio conhecimento científico algo que não se justifica e me parece resultante de uma identificação muito próxima do conhecimento científico com as crenças opiniões dos cientistas. Basicamente, o que torna um hipótese científica aceitáve ou utilizável é quantidade de oportunidades objetivas que ela oferece para pesquisa futura ou aplicação prática, ou seja: quantidade de vias que se apresentam para investigação ou exploração futura, dados os recursos teóricos tecnológicos existentes (Chalmers, 1982, capítulo 11). socióloga Karin Knorr-Cetina (1981, p. 8) expõe um ponto de vista semelhante: Onde encontramos processo de validação em qualquer grau significativo, senão n o próprio laboratório? laboratório? ... O que é o processo de aceitação, senão um processo de incorporação seletiva dos resultados anteriores no processo constante da produção da pesquisa? Chamá-lo de processo de formação de opinião parece provocar provocar um série de conotações errôneas. ... O que temos, portanto, não é um processo de formação de opinião, mas processo em que determinados resultados sã solidificados pela incorporação contínua pesquisa em andamento.
Depois de 1975, Weber e os que o apoiavam talvez tenham continuado acreditar intensamente nas ondas gravitacionais de grande fluxo, seus oponentes, mesma forma, em sua inexistência, ma isso tem muito pouco a ver com o destino da hipótese de Weber. importante é que por volta de 1975 pouco havia fazer co essa hipótese. Uma vez que as tentativas tentativas para consu bstanciar correlação entre detectores separados e correlação correlação sideral haviam falhado, e uma vez que Weber fora obrigado lançar ão de suposições impossíveis de testar sobre perfil dos impulsos,
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nenhuma nenhu ma forma de consolidar sua hipótese integrando-a às pesquisa em andamento. Essa explicação "científica" perda interesse nas ondas gravitacionais de grande fluxo não recorre e não precisa recorrer interesses sociais políticos extracientíficos.
gravitacionais de grande fluxo. Sustento ue esses incidentes podem se compreendidos satisfatoriamente em termos da meta da produção do conhecimento científico e que não é necessário nenhuma espécie de fator extracientífico social ou recorrer político para avaliar epistemologia dessas situações. Isso nã quer dizer que a meta da ciência possa ser atingida isolad de outras metas e atividades, nem que a meta da ciência prevaleça ou deva prevalecer sempre sobre so bre outras outra s metas. Questões como essa são abordadas nos capítulos restantes deste livro.
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duas ressalvas fazer co relação essa resposta tanto conservadora ao .questionamento de Collins. Em primeiro lugar, de falhas e de prever maneiras de ressuscitar as hipóteses de Weber. Certo avanço na microeletrônica poderia tornar possível identificação dos perfis incomuns dos impulsos postulados por Weber, abrindo série oportunidades para pesquisa prática. Por sua vez, isso poderia desdobrar oportunidades para os teóricos procurarem explicação explicação para as ondas detectadas ou para p ara os astrônomos buscarem evidências auto-suficientes de sua origem. Até, ou a menos que algo assim aconteça, as hipóteses de Weber permanecerão na geladeira da ciência. Em segundo lugar, deve-se admitir ue poderia muito be haver episódios na ciência cujos resultados fossem determinados por fatores sociais políticos que não funcionam no interesse da ciência, embora eu tenha argumentado, contra Collins, que o episódio envolvendo Weber e as ondas grande fluxo não é um desses. Muitas as gravitacionais questões levantadas aqui, típicas nos debates dos sociólogos da ciência contemporâneos, serão discutidas discutidas mais extensamente extensamente nos capítulos seguintes. estudo de Collins sobre
tentativa de Weber para detectar
as ondas gravitacionais ilustra fato de que a produção de dados
experimentais experimentais pertinentes na ciência certamente certamente não é uma questão questão muito clara. Não obstante, também já argumentei, contra contra Collins, que problemas implícitos nem sempre são insuperáveis e que é possível possível obter resultados experimentais experimentais objetivos que que tenham ten ham uma relação decisiva decisiva com a nossa avaliação de pretensos conhecimentos científicos. Hertz apresentou boas provas da existência das ondas de rádio, enquanto Blondlot não conseguiu apresentar evidências
CAPÍTULO
CIÊNCIA E SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO
6.1 A sociologia e ceticismo em relação ciência ma idéia tradicional da objetividade na ciência diz que os méritos de uma teoria científica independem classe, raça, sexo outras características as pessoas ou grupos que a abraçam. Se as influências provenientes dessas características indivíduos grupos são chamadas de influências "sociais", pode-se dizer que, segundo essa idéia tradicional, desenvolvimento e avaliação da ciência não estão sujeitos a uma explicação social. Muitos sociólogo contemporâneos negam que a ciência esteja imune explicação ataque cético objetisocial; seus pontos vista constituem vidade e ao estatuto epistemológico distintivo normalmente atribuídos ao conhecimento científico. O que exporei seguir fornece alguns do muitos possíveis exemplos desse tipo de ceticismo. Segundo David Bloor (1982, p. 283), as leis científicas sã Protegidas tornam-se estáveis não por razões internas da ciência, ftias "devido a sua pressuposta utilidade para os propósitos de
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A FABRICAÇÃO DA CIÊNCIA
que não há nada distintivo no conhecimento científico, sustentando que ele está "sujeito ao mesmos determinantes influências que as outras formas de conhecimento". detalhado estudo do trabalho em laboratório de B. Latour e S. Woolgar (1979, p. 237)
mente subdesenvolvidas e efeito da informática em nossas vidas, sociologia não-cognitiva da ciência abrange os problemas sociais, políticos morais mais inquietantes de nosso tempo.
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levou-os negar qualquer distinção interessante entre ciência e a política, enquanto H. M. Collins e G. Cox (1976) defendem claramente uma idéia relativista intransigente da ciência, segundo qual as estratégias Marion Keech para convencer os outros realidade de sua comunicação com os seres extraterrestres nã difere muito da empregadas na ciência.
refutação afirmações céticas como essas exigirá cuidadosa ponderação dos sentidos em que se pode dizer que a ciência esteja sujeita a uma explicação social. Nesse contexto, muitas vezes se recorre a uma distinção entre o que se pode chamar aspectos "cognitivos" e "não-cognitivos" da ciência. os últimos estão implícitas coisas como organização social ciência, influência ciência sobre outros aspectos sociedade e as infato de que determinados fluências contrárias, qu resultam ramos da ciência tenham mais suport do que outros. Larry Laudan (1977, p. 197), um dos opositores às atuais tendências na sociologi do conhecimento, recorre essa distinção. Como exemplo de questões ue exigem um resposta sociológica, ele cita: "Por ue foram fundadas determinadas instituições ou sociedades científicas, por que a reputação de um cientista decaiu, por que determinado laboratório foi criado, quando onde, ou por ue o número de cientistas alemães aumentou de modo impressionante entre 1820 1860?". em mesmo os mais ortodoxos defensores da autonomia e da racionalidade da ciência negariam que a sociologia tem um papel na resposta essas perguntas. existência de uma autêntica sociologia não-cognitiva da ciência não é contestada, embora se deva dizer qu esse campo abrange questões be mais inquietantes do que as trazidas tona por Laudan. Se entre elas colocamos problemas como influência da ciência sobre meio
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Embora sua importância seja patente, um domínio legítimo para sociologia não-cognitiva da ciência nã está em discussão. Quando nos voltamos para os aspectos cognitivos da ciência é que chegamos ao âmago da discussão entre os defensores tradicionais autonomia racionalidade da ciência alguns sociólogos contemporâneos. David Bloor abre se livro Knowledge an social imagery (O conhecimento e representação social, 1976, p. 1) com a pergunta: sociologia do conhecimento pode investigar explicar próprio conteúdo e a natureza do conhecimento científico?" - e prossegue, esboçando seu "vigoroso programa da sociologia do conhecimento" conhecimento" planejado para dar uma resposta certa pergunta. El acha que os sociólogos que se detiveram antes de dar uma explicação social ao conteúdo da ciência sofrem de covardia. Bloor e uma série de outros sociólogos de mentalidade semelhante tiveram coragem de tomar conteúdo cognitivo da ciência como objeto de suas explicações sociológicas; os tradicionalistas normalmente interpretam seus esforços como ameaça ao estatuto epistemológico da ciência (veja também Mulkay, 1979, p. 60-2; Mackenzie, 1981, p. 2-4). necessário, ainda, fazer mais distinção, antes podermo identificar com precisão terreno da disputa. Falando por alto, essa é uma distinção entre a boa e a má ciência. Embora negando competência de uma explicação social do conteúdo cognitivo da boa ciência, os opositores tradicionais da sociologia do conhecimento conhecimento mostram-se prontos considerar as causas sociais invocadas quando se tem de explicar a má ciência ou a ciência fora do padrões. Assim, os tradicionalistas estão sempre mais do que propensos invocar as causas sociais sociais para pa ra explicar caso nazista, mas não consideram apropriado, por exemplo, buscar um
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social da má ciência evidenciada pelo quanto eles se sentem vontade com as explicações do antropólogos para os estranhos sistemas conhecimento tribos alienígenas, como crença na feitiçaria dos A zende, que lembr am aspectos aspectos da vida social social dess povo. Os sociólogos tradicionais do conhecimento seus contemporâneos mais radicais estão divididos na questão de estar ou não o conteúdo cognitivo de nossa melhor ciência sujeito a uma explicaçã social. No restante deste capítulo, procuro examinar examinar analiticamente essência discussão.
estatuto distintivo ciência, além das que os sociólogos normalmente consideram ser a oposição. Um exemplo ue ilustra a minha opinião é a maneira como Mulkay (1979) organiza se programa, criticando explicação "clássica". Os elementos dessa visão clássica identificada po estabelecer verdades sobre Mulkay são os seguintes. ciência pode estabelecer mundo natural natural na forma de leis universais da natureza; essas leis sã confirmadas lançando-se mão de afirmações factuais determinadas por meio de uma observação observação cuidadosa isenta de preconceitos. Embora certos componentes teóricos da ciência possam ir além do que a observação pode determinar, pode-se fazer distinção entre níveis teórico e observação. observação. N este último, ciência apresenta um crescimento cumulativo. Os critérios pelos quais as exigências de conhecimento devem ser analisadas são universais e a-históricos. s conclusões da ciência são determina social. as pelo mundo físico e não pelo mund o social. Mulkay dedica o seg und o cap ítulo de seu livro à rejeição rejeição dessa idéia já clássica. Ele recorre a um argumento usado por Hanson (1969) para insistir em que não se pode demonstrar que o mundo físico regido leis universais e que os argumentos normalmente apresentados para isso sã circulares. El enumera as diversas formas em que a tradicional distinção entre observação observação e teoria precária, e ilustra a possibilidade de revisão da evidência empírica. insiste aind em que os critérios critérios para a nalisar os méritos as El insiste teorias não são universais, mas se baseiam contexto estão sujeitos mudança. Na medida em que esses critérios forem produtos sociais, as conclusões da ciência não serão simplesmente determinadas pela natureza do mundo físico. Seguramente Mu lkay está está corret ao rejeitar o que chama idéia "clássica", mas ele se equivoca ao descrevê-la como clássica, ciência contemporâneos já qu apenas minoria filósofos ciência discordesejosos defender estatuto epistemológico rejeititaa não daria dele. Por exemplo, a maior parte do que M ulkay reje
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.2 O retrato inadequado que os sociólogos fazem de seus opositores A argumentação usada por sociól sociólogos ogos em defesa da necessi-
dade de uma explicação sociológica do conteúdo cognitivo da
ciência, ciência, procurando assim enfraquecer enfraquecer as idéias mais tradicionais respeito de seu estatuto epistemológico epistemológico distintivo, mu itas vezes arruinada por um retrato inadequado ultrapassado, de inspiração positivista, do que significam essas idéias tradicionais. Mulkay (l 979) prepara camin ho para essa versão sociologia ciência, rejeitando aquilo a que se refere como "idéia clássica" da ciência; David Bloor (1976) apresenta su opinião como alternativa para algumas ou tras versõe versõess bastante rad icalizadas do racionalismo racionalismo e empirismo; Barry Barnes (1977) elabora su tese em oposição "explicação contemplativa", ue encerra um versão radical da teoria da correspondência da verdade baseada numa analogia com pintura. Certamente me sinto contente em juntar-me aos sociósociólogos na rejeição desse tipo de idéias. Contudo, também assim assim se sentiria, por exemplo, Karl Popper, que os mencionados estudio-
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que as teorias científicas possam ser provadas insistir em seu permanente caráter hipotético hipotético não precisa de muita documentação. documentação. Além mais, el rejeita idéia de uma base segura para ciência, insiste em que as afirmações provenientes observação estão sobrecarregadas de teorias teor ias e são passíveis de revisão (Popper, 1972, capítulo 5). Ele sublinha que a observação e o experimento são devidamente concebidos como intervenções ativas mais do que que percepções passivas da natureza (Popper, 1979, pêndice 1), e destaca, também, a importância das decisões que dependem do contexto na aceitação aceitação ou rejeição de resultados de observações e experimentos (Popper, 1972, 197 2, p. 104-6). Ele observa que que o conhecimento conhecimento um produto social, social, resultante da modificação do conhecimen conhecimento to anterior, e, ainda, que não é estabe estabelecido lecido diretamente por meio de um embate com o mundo físico (Popper, 1979, p. 71). Talvez se possa dizer ue Popper atém-se idéia "clássica" "clássica" da ciência atéonde concorda com uma análoga teoria verdade; mas, se considerademarcação mos que seu critério falsificabilidade especifica absoluta as fronteiras entre as ciências e as não-ciências ou as pseudociências, pseudociências, ele poderia ser interpretado como como negador negador da dependência do contexto de alguns padrões científicos. Entretanto, temos apenas de nos voltar para Imre Lakatos, outro filósofo ue tem antipatia pela sociologia do conhecimento e que se via como elaborador das idéias de Popper, para encontrar algué ue descarta uma teoria de correspondência correspondência da verdade (Hacking, (Hacking, que explorou as maneiras como foram histori1983, capítulo 8) e que camente alterados os padrões científicos (Lakatos, 1978a). Popper Lakatos são representantes exemplares de uma série de filósofos contemporâneos qu rejeitam idéia clássica Mulkay tentam defender mais satisfatoriamente estatuto epistemológico da ciênConseqüentemente, ir contra esse estatuto estatuto epistemológico epistemológico cia. Conseqüentemente, idéias tradicionais exigirá muito mais do que a refutação desacreditadas.
Bloor, 1982). s teorias teor ias científicas são indeterminadas pela evidência. Portanto, fatores sociais extracientíficos entram no processos qu levam seleção de uma entre as talvez inúmeras possíveis teorias compatíveis com a evidência. Um exemplo especialmente claro dessa linha de argumentação encontra encontra-se -se num interessante documento em que David Bloor (l 982) procura recuperar aplicar ciência tese Durkheim Mauss, de que "a classificação as
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Outro argumento que se destaca nos textos dos sociólogos da
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coisas reproduz classificação do homem". Bloor emprega modelo da rede de Mary Hesse para ilustrar complexidade com que se relacionam entre si as afirmações cientificas. Hesse usa a correspondência", para se referir às forexpressão "condições as como as comunicações científicas sã limitadas pela evidência empírica, e a expressão "condições "condições coerência", para se referir outras restrições. Bloor (1982, p. 283) insiste em que é em condições de coerência ue devemos situar entrada da relações sociais na ciência. Ele utiliza temas encontrados no trabalho da antropóloga Mary Douglas para dizer qu "certas "certas leis sã protegidas e se tornam estáveis devido à sua pressuposta utilidade para fins de justificação, legitimação controle".
Esta mudança - a passagem da indeterminação das teorias pela evidência para presença de influências outras, além do conhecimento, que têm influência na ciência - é rápida demais fa muitas concessões às explicações tradicionais da ciência a que se opõem sociólogos. aspecto lógico segundo qual há uma infinidauniversais compatíveis com um dado conjunto de afirmações universais finito relatórios observação leva os filósofos empiristas tradicionais da ciência conclusão de que há uma infinidade de teorias científicas compatíveis compatíveis com a evidência oferecida. Naturalmente, isso contraria totalmente as situações com que se depara na ciência real, onde os cientistas cientistas muitas vezes vezes lutam para descobrir qualquer teoria viável compatível com alguma evidência problemáp roblemática. O argumento da indeterminação indeterminação dá uma atençã insuficiente ao desenvolvimento da ciência. conhecimento novo surge como
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senão usar, modificar ampliar os conceitos existentes analogias com outros conceitos existentes, ao mesmo tempo em que, se eles tiverem alguma utilidade, devem ao menos oferecer promessa alguma possível linha viável investigação. tentativas de analisar essas idéias em termos de simplicidade (Popper, 1972, capítulo 7) coerência progressividade (Lakatos 1974) ou grau de fertilidade (Cha lmers, 1982, capítulo 11) servem como indicadores fato de não ser possível pressupor que a indeterminação necessariamente leve introdução de fatores so ciais extracientíficos na ciência.
Jade e ao estatuto epistemológico distintivo norm almente atribuío el devem fazer mais do que combater filosofias da ciência radicais e bastante ultrapassadas.
A posição que defendi nos capítulos anteriores deste livro contém visão ciência qu oferece aspectos fundamentais de sua prática social. Os relatórios de observação e os resultados do experimento são produtos sociais h u m a n o s ue surgem em conseqüência d a discussão e das experiências. Co ntudo , de man eira su e, qu su ou sua transformação podem ser compreendidas em termos da meta da ciência, sem que se tenha d e recorrer a fatores sociais mais amplos. o capítulo anterior procurei mostrar que essa era a questão na controvérsia em torno das tentativas de detectar as ondas gravitacionais, e por isso ia contra a concepção sociológica mais radical de Collins daquele episódio. Embora os resultados da ciência nã sejam "determinados pelo mundo físico" em conseqüência de algum confronto direto, como diria empirista radical, experimentos são planejados para que o mundo físico desempenhe um papel decisivo na aceitação ou rejeição resultados. Eu já disse, especialmente no capítulo 2, que os m étodos e padrões da ciência são, historicamente, produtos sociais imprevisíveis e sujeitos à mudança, mas procuro compensar o que se poderia entender como as conseqüências relativistas radicais, indicando de que maneira essas mud anças podem ser compreendidas em termos da meta da ciência, ponto que ilustrei em m inha narrativa sobre como G alileu introduz iu o telescópio na astronomia. Se os sociólogos da ciência
claros a respeito do que deve ser explicado e do que significa explicação. Um forma de construir argumento compreender explicação algum fato conhecimento científico qu encerre história de como esse conhecimento foi elaborado. S e entendeos dessa m aneir argumentos sociólogos, estarei prepara do para admitir que o conteúdo do conhecimento científico está sujeito a uma explicação sociológica. Freqüentemen te, os con ceitos e métodos empregados para o bem da ciência têm suas origens no mundo social fora atividade científica numa concepção mais restrita. ma explicação sociológica da origens do conhecimento científico mu itas vezes está co rreta. caminho ue levou D arwin teoria da evolução é um bom exemplo. A visã darwiniana da seleção natural foi bastante influenciada pela idéia de M althus de que o taman ho das populações humanas tem um limite natural, porque um aumento ilimitado as levaria a esgotar o suprimento alimentar. S ua tese foi uma contri buição para as d iscussões sociais da época, que, entre outras coisas, estavam ligadas ao problema da pobreza. Os argumentos de Darwin para transformação as espécies para maneira como ocorria essa transmutação eram influenciados pelo conhecimento das técnicas dos criadores profissionais. Não há dúvida de que uma explicação correta surgimento teoria evolução até a maturidade além teoria Darwin no leva ultrapassar as
6.3
s origens sociais do conhecimento científico
avaliamos as declarações para sujeitar conteúdo natureza conhecimento científico à explicação sociológica, temos de ser
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Voltando física, segundo exemplo vem da teoria cinética dos gases, apresentada por James Clerk Maxwell no século XIX. técnicas estatísticas qu Maxwell empregou para deduzir as propriedades macroscópicas dos gases dos movimentos aleatórios das moléculas constituintes valiam-se de técnicas criadas por teóricos sociais para tratar da regularidades em fenômenos sociais, como as taxas de natalidade ou as de crime (Porter, 1981).
pretar e avaliar a teoria de Darwin desse ponto de vista, mas, além disso, essa meta era na realidade adotada e defendida no método usado pela biologia na época. A meta dos teóricos evolucionistas época era apresentar um explicação satisfatória do mecanismo da evolução, embora eles também participassem de outras atividaes com metas diferentes, como a religião e a política. As questões sobre o que há de satisfatório na teoria de Darwin como explicação do mecanismo da evolução distinguem-se das questões sobre sua origem ou os diversos usos ideológicos feitos dela. Se os sociólogos do conhecimento preferem argumentar que uma explicação de como a teoria funciona enquanto conhecimento e como ela contribui para meta da ciência encerra outros fatores sociais além dos internos da própria ciência, tenho de discordar deles.
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interpretar um componente do conhecimento científico dar uma explicação plenamente satisfatória de como ele surgiu,
já
qu
fatores
dos por sociólogos serão pertinentes nesse caso, também podemos dizer que existe realmente um papel para uma sociologia do conhecimento científico. Entretanto, há um outro gênero de "explicação" do conhecimento científico. Podemos procurar explica e avaliar como e até ue ponto um exemplo de conhecimento científico funciona como tal. Pode-se levar em conta até que ponto ele realmente contribui para a meta da ciência. Assim, voltando ao exemplo de Darwin, podemos procurar identificar a descrição de seleção evolução presente no textos do cientista. Podemos levantar questões sobre sua coerência interna e seus relacionamentos com as evidências, e compará-las com as teorias rivais nesse aspecto. Tais questões, além de legítimas, são precisamente as significativas quando estamos interessados no estatuto epistemológico da teoria de Darwin. Mais do que isso, as respostas para elas independem reflexões sobre as origens sociais as idéias Darwin. A própria teoria darwiniana não está acima da crítica, de um ponto de vista epistemológico. Em especial, os próprios texto de Darwin não deixam suficientemente claro o que é exatamente o mecanismo da seleção e como este mecanismo postulado foi estabelecido. Esse é um ponto especialmente importante, porque na época de Darwin em geral aceitou-se fato de que a evolução ocorre e ocorreu. O que se discutia era a explicação correta do mecanismo da evolução (Young, 1971).
A posição que adoto aqui pode ser tratada como uma versão distinção tradicional entre chamado modo de descoberta e modo de justificação. Segundo essa distinção, maneira como um teoria vem a ser proposta é um tipo de questão, ue exige uma resposta histórica, ao passo que a forma pela qual ela é justificada como conhecimento satisfatóri outra espécie de questão, ue exige uma resposta epistemológica. Não tenho nenhuma objeção fazer se minha posição for assim caracterizada, desde que se admita um série de ressalvas. Em primeiro lugar, método de justificação é para mim delimitado em termos de uma explicação meta da ciência, e não por referência a uma definição específica do método ou racionalidade científica. Em segundo lugar, há algumas uestões históricas pertinentes ao método de justificação, como Lakatos e seus seguidores já enfatizaram (Musgrave, 1974a; Nickles, 1987). A necessidade de uma teoria constituir um avanço em relação à teoria questionada, e a importância de previsões inovadoras nesse contexto, introduz um elemento histórico no domínio da justificação. Em terceiro lugar, não se deve considerar ue me argumento de que a meta da ciência e as correspondentes de questões epistemológicas podem se claramente
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ue retomarei no capítulo 8. Em quarto lugar, distinção entre as
questões origem e a questões mérito científico nã deve se considerada algo qu desvalorize as investigações primeira. inovação científicae avanço de uma ciência especializada podem fora da esacontecer po meio alguma informação ou fato pecialidade, ue tenha importantes implicações, por exemplo, para organização institucional ciência para educação científica.
6.4 A ênfase inadequada na crença discussão entre os sociólogos do conhecimento científico seus oponentes freqüentemente parte do pressuposto de que são as crenças do cientistas ue devem se explicadas. Laudan (1981, p. 173) diz, po exemplo, que os sociólogos a que se opõe afirmam poder proporcionar "uma explicação sociológica razão por que cientistas adotam praticamente todas as crenças sobre mundo ue eles mesmos criam". outro texto já apontei (Chalmers, 1982, capítulos 10 11) por que me coloco ao lado de Popper, considero também enfoque na crenças convicções pessoais algo bastante insatisfatório para compreender natureza ciência e seu progresso. Raramente estamos em posição de saber alguma coisa sobre grau de convicção que um cientista tem da teoria em que trabalha, ne precisamos conhecê-lo, quando estamos preocupados em caracterizar ou avaliar caráter científico de seu trabalho. Nã tenho nenhuma idéia do quanto convicção de Weber respeito das ondas gravitacionais de grande fluxo foi influenciada pela pesquisa descrita no capítulo anterior. Minha caracterização avaliação da quele episódio baseiam-se ou recaem sobre as ponderações feitas, os argumentos oferecidos e os experimentos realizados, mais do que em ponderações sobre crença dos cientistas envolvidos. ão incomum os cientistas trabalharem em cima de teorias de que
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Um exemplo é base ue Poisson inadvertidamente proporcionou
teoria ondulatória luz, Fresnel, século XIX. tentativa Poisson desacreditar teoria, demonstrando que ela teria "absurda" conseqüência de que um ponto brilhante deveria ser observado no centro do lado sombrio de um disco opaco devidamente iluminado, deu para trás, quando ponto brilhante foi observado no experimento. Dados alguns dos aspectos problemáticos mecânica quântica contemporânea, não estou muito certo do que significaria uma crença respeito dela, mas tenho um razoável idéia do que significa desenvolvê-la, compará-la com a mecânica clássica em diversos aspectos testar experimentalmente suas conseqüências. insuficiênciade uma atenção dada às crenças cientistas quando se tenta caracterizar ciência te recebido muito apoio socióloga contemporânea da ciência. Karin Knorr-Cetina (1981, p. 8), com base em seus estudos sobre trabalho em laboratório, insiste em que é muito insatisfatório pensar no desenvolvimento ciência em termos formação as crenças convicções cientistas. Diz ela que um resultado científico aceito não porque os cientistas preferem acreditar nele, mas em função haver sido incorporado ao "processo constante produção pesquisa", modo qu "chamá-lo processo formação de opinião parece provocar uma série de conotações equivocadas". Enquanto continuarmos identificando conhecimento científico com as crenças do cientistas, inevitavelmente estaremos versão discussão tradicional sobre forçados adotar quanto se deve atribuir essas crenças razões ou causas. Segundo ponto de vista tradicional, as crenças sã racionais atéonde sã constituídas à luz de boas razões, irracionais enquanto sã produzidas or causas psicológicas sociológicas. Laudan (1977, p. 198) adere a uma determinada versão desta distinção em sua crítica sociologia d ciência:
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evidências favor ou contra ela e as oponentes. sociólogo cognitivo, or outro lado, geralmente tentará explicar por que se deveria acreditar numa teoria em função das circunstâncias sociais, econômicas, psicológicas institucionais em que se encontrava agente. Ambos tentam resolver mesmo problema (ou seja: a convicção de algum agente histórico), ainda ue seus métodos para solucioná-lo sejam tão diferentes quanto são quase incomensuráveis.
mesmo quando aprendemos de maneira convincente ue cada pessoa ou grupo de pessoas acredita em um conjunto de proposições, não temos uma resposta para pergunta se como essas proposições compreende fatores sociais, ne se ou como os fatores sociais influenciam sobrevivência aceitação das afirmações de conhecimento. Em outras palavras, a questão epistemológica de como se constitui e aceito isto a que chamamos conhecimento não está resolvida ..
A visão de Laudan é que o conhecimento cognitivo da boa ciência deveria ser explicado recorrendo-se razões que as causas
para uma análise sociológica das origens do conhecimento cientí-
sociológicas só têm de ser lembradas quando ciência se extravia. história social ou "externa" da ciência subserviente em relação à história intelectual e "interna" da ciência (Laudan, 1977, p. 208).
Parece-me que, ao identificar um teoria científica com a crença ou convicção de algum agente histórico, Laudan escolheu um terreno muito impróprio para defender seu ponto de vista. Como já mostrei acima, raramente estamos em posição de avaliar o que sã realmente as convicções do cientistas e, sejam lá quais forem elas, estou certo de que essas convicções e sua intensidade serão influenciadas por uma enorme série de fatores psicológicos sociológicos, além de argumentos razões. Num dos principais exemplos Laudan para convicção racional (2 + 2 = 4) essa crença será influenciada at pela maneira como fo aprendida pela ironia a qualquer tentativa de negá-la. cho muitíssimo implausível a idéia, sugerida por Laudan, de que William Charleton talvez tivesse aceitado a filosofia mecânica por motivos puramente racionais. Há bastante campo para um estudo sociológico das crenças dos cientistas e sua ligação co coisas tais como classe de origem. Nã obstante, tendo em mente distinção entre conhecimento científico e a convicção pessoal, tais estudos em si não constituem um explicação sociológica do conteúdo cognitivo da ciência. Resta o problema do relacionamento entre as crenças dos cientistas e o conteúdo cognitivo do conhecimento científico que eles produ-
té agora,
discussão no levou
reconhecer que há campo
fico, das convicções do cientistas e dos aspectos "não-cognitivos" da ciência. Sã análises sérias, ue podem ser importantes. Contudo, elas não chegam a oferecer uma explicação sociológica do conteúdo cognitivo da ciência, no sentido de demonstrar como certos exemplos de conhecimento científico funcionam como conhecimento. Resta fazermos avaliação posição tradicional que permite um explicação sociológic da má ciência, mas não da boa.
6.5 A explicação sociológica restrita à má ciência comum dizer que uma explicação sociológica do conteúdo cognitivo da ciência só tem cabimento no casos em que a ciência se extraviou. Segundo essa visão, quando ciência avança, se progresso é explicável em termos de uma dinâmica "racional" própria, de modo ue é desnecessário haver uma explicaçãosociológica qu recorra influências externas. Recentemente, Laudan Lakatos nos deram versões diferentes dessa afirmação. Segundo o primeiro, "a sociologia do conhecimento poderá intervir para explicar as convicções apenas unicamente se essas convicçõe não puderem ser explicadas em termos de seus méritos racionais", de modo que "a aplicação da sociologia cognitiva questões históricas deve aguardar os resultados preliminares da aplicação do métodos
ALAN CHALMERS
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científico plenam ente explicado pela lógica pessoal descoberta científica", qu talvez tenha d e ser complementada por explicaçã externa apenas para esclarecer "os fatores residuais não-racionais" (Lakatos, 1978, p. 118).
atividade com metas específicas, quando suas ações contribuem para essa meta, não é preciso haver nenhuma explicação que examine mais do que a natureza da atividade. Isso não quer dizer qu futebol seja alguma atividade essência divina, não-sujeita qualquer tipo de explicação. Pode-se levantar uma série de ou tros questionamentos sobre as origens do jogo, as funç ões psicológica sociais a que ele atende, economia de sua profissionalização assim por diante. Certamente há contextos em que é preciso uma explicação sociológica do futebol. No entanto, nu contexto onde estão implícitos o jogo suas regras, as ações do jogadores sã compreendidas internamente de modo bastante satisfatório, menos que não estejam de acordo com os objetivos do jogo.
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David Bloor apenas um entre muitos sociólogos contemporâneos ue veementemente discordam do que ele considera uma tentativa injustificada de restringir o campo da explicação sociológica. Bloor (1976, p. 6-7) caracteriza atitude a que se opõe co proposições d o tipo "nada ob riga as pessoas a fazerem coisas certas, onde "o aspectos as algo faz com que se equivoquem", racionais da ciência se sustentam porque são autônomos e se explicam por si. A explicações empíricas ou sociológicas limitamse ao irracional". Acho inútil discussão de Bloor, porque radical, pouco indulgente bastante injustificada maneira como apresenta postura de seus oponentes. seguir, exponho defesa de uma versão da concepção tradicional, que diz que certos gêneros de explicação sociológica do conteúdo cognitivo da ciência não têm cabimento. Nã obstante, minha tese certamente não tem semelhança com os exageros de Bloor, nem é idêntica às defendidas por L a u d a n e Lakatos. analogia seguinte ajudará ilustrar minha posição. Suponhamos ue está havendo um partida de futebol; imaginemos ue bola aterrissa aos pés de um jogador ue está bem na frente da rede do campo oposto, e o goleiro não está ali. N esse contexto, não consideraríamos necessária uma explicação para a ação do jogador, ue chuta bola para dentro da rede - ou melhor, consideraríamos óbvia explicação "interna", dadas as regras futebol. Por outro lado, se o jogador, em vez de chutar a bola e gol, tirasse bolso faca e fazer garfo tentasse comê-la, ele estaria fazendo algo desprovido de sentido no contexto do jogo. Seria necessário uma explicação externa, talvez recorrendo-se a informações sobre a saúde mental do jogador. Natu ralmente, esse é um exemplo radical, mas ele ilustra maneira po onde
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Pode-se usar uma semelhante argumentação com respeito às atitudes radicais visadas por B loor em sua defesa de uma abordage simétrica em sua sociologia do conhecimento. lgum as opiniões expressas por W. Hamlyn contêm a assimetria a que Bloor tem aversão. Segundo Hamlyn, as maneiras como podemos perceber alguma coisa podem se divididas em duas classes: as certas e as erradas. Uma forma de perceber algo - a maneira certa - pode ser distinguida de todas as outras". A maneira certa "não deixa espaço para explicação científica, já que não é exigida nenhuma". Se duas linhas de igual comprimento são vistas como linhas igual comprimento, "nada fa com que elas pareçam te igual comprimento", porque elas "são assim mesmo" (B loor, 1981, p. 205). Posso concordar quando Bloor rejeita essas afirmações de Hamlyn até o ponto em que elas negam que a percepção humana deva ter alguma explicação. É perfeitamente legítimo perguntar como funciona a percepção dos seres hum anos, tanto qua ndo ela funciona bem, quanto quando nos ilude. Contudo, não é muito difícil modificar posição Hamlyn maneira preservar certa assimetria e ao mesmo tempo evitar idéia de que, de certa maneira, percepção correta é sua própria explicação. Nu contexto em que tacitamente se concorda com o funcionamento
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estão vendo. Nesse contexto, se Macbeth diz que vê um punhal à su frente, não é preciso nenhuma explicação quando há um punhal, mas necessário haver uma explicação "externa" talvez algo sobre seu estado psicológico - se não houver nenhum punhal ali. Com certeza há aqui um assimetria, embora Hamlyn não a tenha caracterizado devidamente. Embora as analogias entre ciência, por um lado, e o futebol e a percepção humana, por outro, tenham seus limites, elas servem para ilustrar maneira como se deve entender explicar internamente a ciência competente, em relação à meta e à característica da atividade. Questões como por que a teoria ondulatória da luz superou a teoria das partículas, por ue a tese de Blondlot sobre os raios N e a de Weber sobre as ondas gravitacionais de grande fluxo foram rejeitadas pela comunidade científica e como e por ue os resultados da pesquisa de Hertz sobre a eletricidade foram incorporados tão rapidamente à física, são respondidas de modo mais satisfatório internamente em relação à meta da ciência, que conhecimento geral capaz de tratar da natureza do mundo de maneira superior, mais competente mais ampla do que o conhecimento anterior. uscar uma resposta externa para essas uestões na classe social, na nacionalidade de origem e outras características doscientistas algo tão inadequado quanto procurar uma explicação semelhante para motivo pelo qual um jogador se aproveita do descuido do goleiro. Os tradicionalistas estão bastante corretos ao insistir em que os méritos de uma teoria devam ser avaliados independentemente da psicologia, da classe social de outras características dos que a propõem.
Quando reivindico um domínio legítimo para história interna da ciência e para a explicação e avaliação interna não-sociológica, nã estou obrigado negar qualquer outra explicação para ciência, nem a considerar a ciência sua própria explicação, que segundo um modo de racionalidade divino e eterno. existência e a extensão da atividade científica em nossa sociedade
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já mencionei, e isso será mais detalhado no capítulo 8, longe de insignificantes, essas questões encerram os problemas sociais
políticos mais urgentes de nossa época. Os métodos e os padrões implícitos na atividade científica estão sujeitos mudança, qualquer mudança exige explicação. Entretanto, num contexto onde meta da ciência adotada, essas explicações podem antes ser explicadas internamente em relação às descobertas e desenvol-
vimentos teóricos práticos, e não externamente, em relação interesses de classe afins. Naturalmente, se qualquer pressuposto ue permita mudança em métodos padrões negue uma racionalidade universal e eterna é considerado uma proposição sociolósociólogo ciência. Nessa circunsgica, devo considerar-me tância, o que me distingue dos sociólogos mais radicais é o quanto insisto em que a ciência, seus métodos e técnicas de progresso podem e devem ser compreendidos internamente em função de su meta geral produzir conhecimento, mais do que em função de outras finalidades ou interesses. Isso não significa adotar o ponto de vista ingênuo de que a ciência pode ser uma atividade praticada isoladamente em relação a outros interesses, nem que esses outros interesses jamais devem ou deveriam ser obstáculos para que se atinja objetivo da ciência. Apenas insisto em que é possível importante fazer distinção entre meta produzir conhecimento científico e outras metas, e que essa distinção é essencial para um explicação e uma avaliação satisfatória da
ciência.
No próximo capítulo tentarei tornar um pouco mais concretas as reflexões acima, um tanto quanto abstratas, mediante um exame cuidadoso de dois estudos detalhados em que se tenta explicar sociologicamente conteúdo cognitivo da ciência.
CAPÍTULO
DOIS ESTUDOS
CASO SOCIOLÓGICOS
7.1 A teoria estatística e o interesses sociais primeiro aspecto qu analiso é investigação sobre influência dos interesses sociais sobre desenvolvimento da teoria estatística no final do século XIX, estudo Donald Mackenzie (1978 e 1981), citado freqüentemente como exemplar (Barnes Mackenzie, 1979; Shapin, 1982). Mackenzie defende versão muito forte sociologia conhecimento, observando qu "ninguém duvida qu haja algum relacionamento entre ciência e contexto social em que ela se desenvolve" (1981, p. 2). Depois, ele fa distinção entre versão forte e uma versão frágil desse relacionamento. Segundo primeira, as influências sociais podem influenciar coisas como ritmo progresso ciência e a direção em que o apoio social canalizado. No que se refere influência no conteúdo ciência, segundo versão fraca sociologia ciência, as influências sociais só distorcem ciência, desviando-a de seu caminho. Onde as influências sociais interpenetram se
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do da boa ciência. Mackenzie esforça-se para exemplificar versão forte mostrando como os interesses sociais afetaram conteúdo da estatística matemática na Inglaterra, na virada do século.
teses substantivas eugenia respeito hereditariedade e do mérito social eram normalmente ampliadas por um programa
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Os interesses sociais de que fala Mackenzie em sua explicação sociológica são os de profissionais classe média na época. Embora Mackenzie nã afirme utilizar idéia classe em sentido técnico marxista qualquer outro, natureza e participação classe média profissional razoavelmente clara. la consiste em pessoas ue trabalham por um salário, e não nas que vivem do capital, mas se distinguem do proletariado porque seu trabalho uma atividade mental e não manual. entrada nessa classe se dá por meio da educação e da instrução, e não pelo nascimento, riqueza ou posição aristocrática recebidas por herança. Esses profissionais eram os guardiães de áreas de conhecimento especialipapel zação e seu poder derivava acordo com a importância social ue esse conhecimento especialização desempenhavam. Era de interesse classe média profissionalizada maximizar importância desse papel, mantendo ao mesmo tempo rigoroso controle sobre seus participantes.
eugenia, desenvolvida na virada século Inglaterra,fo utilizada para atender ao interesses da classe profissional. Segundo essa teoria social, "mérito civil", exatamente como "habilidade mental", era uma característica inata, fixa, herdada de cada pessoa. Somente os que possuíam essa característica inata em alto grau conseguiam passar pelas exigências de um aprendizado profissional. Desse modo, classe profissionalizada podia se considerada naturalmente superior, nã apenas em relação classe operária, ue poderia ser vista como trabalhadora manual, devido ausência de habilidade mental seus membros, as também em relação classe aristocrática e às comunidades empresariais, já que a aquisiçã de riqueza ou herança de uma linhagem aristocrática não era nenhuma garantia de habilidade mental. Interpretava-se um hie-
social planejado para melhorar composição genética raça humana. Po exemplo, foram propostas diversas medidas para desestimular ou evitar natalidade entre os paupérrimos, os criminosos e os deficientes mentais, foram propostos prêmios para estimular elevada taxa natalidade classe profissional. programa da eugenia servia para melhorar a força dos profissionais ue possuíam conhecimento dos processos considerados naturais ue estavam subordinados aos processos sociais.
Vamos admitir que, sujeita às ressalvas sobre as quais próprio Mackenzie chama atenção (1981, p. 46-50), eugenia proporcionasse uma oportunidade para classe média profissionalizada aperfeiçoar seus interesses. próximo passo na argumentação de Mackenzie é ligação ue h entre eugenia e desenvolvimento estatística. articulação e documentação herança pressuposta na eugenia exigia desenvolvimento de boas técnicas estatísticas. É pela análise desses fatos em poder dos que propunham eugenia, como Francis Galton Karl Pearson, qu Mackenzie visa oferecer tese forte para determinação social da ciência. eu estudo pretende mostrar como os interesses da classe média profissionalizada entraram no próprio conteúdo da estatística matemática. Vejamos at onde el consegue isso, concentrandonos na obra de Galton Pearson. Francis Galton passou vida entre elite inglesa. Ele mesmo conta qu suas primeiras reflexões sobre hereditariedade foram influenciadas pelos elos de parentesco ue havia notado entre os intelectuais em Cambridge. Convenceu-se de que os laços de parentesco entre os que tinham excepcional habilidade mental eram mais amplos do que seria esperar se habilidade mental estivesse distribuída maneira mais aleatória s primeiras idéias Galton sobre hereditariedade co toda certeza originaram-se em certos aspectos de sua experiência social contexto teórico em que ele desenvolveu suas teorias sobre hereditariedade era o
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A FABRICAÇÃO DE CIÊNCIA
er uma área cuja influência os cientistas profissionais lutavam par retirar autoridade religiosa. seus textos, Galton claramente expressou necessidade substituir autoridade religiosa por um "sacerdócio científico" (Mackenzie, 1981, p. 55).
Pearson deu grande contribuição estatística quantitativa - ele Galton estendeu-as às distribuições multírefinou as técnicas variadas. Mackenzie (1981, capítulo 7; 1978) ilustra o quanto as preocupações Pearson com a eugenia e os interesses sociais âmago de sua obra sobre técnica que ela servia penetraram estatística, pela análise de uma discussão entre Pearson e um de seus antigos discípulos, Gill Yule. Era uma discussão sobre a maneira correta medir as associações entre os dados relacionados ao mundo biológico, especialmente as características os seres humanos. Para variáveis contínuas, mensuráveis normalmente distribuídas, como altura, podiam-se construir coeficientes correlação de um modo que na época era uma via direta dados relacionados fenômeindiscutível. O problema estava nos que não eram mensuráveis num a escala contínua, como a cor olhos e inteligência. Pearson desenvolveu medidas para associação entre esses dad os, combase na hipótese de que houvesse alguns fatores variáveis subjacentes, distribuídos de m aneira n oral ou um tanto regular. Yule considerava insegura essa hipótese absurda hipótese Pearson relativa à série variáveis isoladas em ue estava particularmente interessado (por exemplo, morto vivo, inoculado não-inoculado). Yule criou então medidas pragmáticas de associação para duas variáveis arranjadas lado a lado em dois quadro s (por exemplo, vacinado não, viv não) que se ajustavam suas necessidades práticas. Pearson considerava as medid as de Yule teoricamente insignificantes mostrou que as medidas reai do grau de associação variavam, conforme número de medidas d iferentes empregadas. Yule respondeu que, se deparasse com a mesma medida decorrer de uma determinada investigação, suas medida s correspondiam às necessidades práticas para qu haviam sido planejadas e não deixavam contradições. pontos vista em termos Mackenzie explica essa divergência interesses em jogo. empenho de Pearson em suas medidas é atribuíd o aos tipos de correlações encerradas em su as hipótese mais ao que o de pragmáticos relativos à melhoria dos problemas sociais entre os pobres. Mackenzie nã procu ra explica ponto de vista de Yule
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erro existente teoria p ara as técnicas Galton pôde extrair estatísticas necessárias para suas preocupações eugênicas. Com-
preendia-se que os erros numa m edição flutuassem estatisticamente em torno de um valor mediano, de acordo com o que hoje chamaríamos distribuição normal. Galton adaptou essas técnicas para tratar variabilidade características seres hum anos, como altura, entre os membros de uma população. No entanto, mais do que simplesmente ajustar teoria erro, Galton teve de ampliá-la; nisso ele deu contribuições fund amentais para a estatística quantitativa. P ara a explicação qu antitativa da desc endênaprender tratar as variáveis ci qu buscava, Galton teve dependentes estatística. precisava especialmente tratar relacionamento qu havia entre distribuição de uma variável (como a altura) em gerações sucessivas. Foi nesse contexto que regressão Galton desenvolveu conceitos qu hoje chamamos correlação em distribuições normais duas variáveis. eugenia de Galton e sua estatística foram retomadas desenvolvidas por Pearson. Este último era realmente um membro da classe média intelectual profissionalizad a. Ele abraçava um tipo de socialismo semelhante ao dos fabiano s, que visava reforma s, em que o poder baseado riqueza burguesia seria substituído pelo poder baseado no conhecimento e nas habilidades mentais. eugenia cabia muito em nesse programa, como já vimos, Pearson considerava eugenia socialismo inseparáveis. Como matemática aplicada no University College Lonprofessor dres, em colaboração com W. F. R Weldon, professor dezoologia, Pearson procurou uma sólida base matemática para a teoria evolucionária instalado laboratório biométrico Darwin. e um de eugenia, e lançada um a revista especializada, Biometrika-
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pobres correspondia ao interesses de uma classe em decadência que a família de Yule pertencia, de maneira que temos "a possibi lidade de que interesses sociais específicos sustentassem estatística não-eugênica de Yule e dos que o apoiavam" (Mackenzie, 1981 .p 182). parágrafo acima ilustra o tipo de argumento encontrado nos textos Mackenzie, embora naturalmente eu reconheça te omitido muitos detalhes interessantes. Acredito que a explicação de Mackenzie para a entrada dos interesses sociais na atividade científica exemplifica versão fraca explicação sociológica, não uma versão forte, que ele visa consolidar. especial, Mackenzie nã mostra que os interesses sociais penetram no conteúdo da estatística matemática co força suficiente para dar apoio a sua argumentação (veja Yearley, 1982; Woolgar, 1981). Embora seja verdade que as contribuições de Galton Pearson para a estatística tenham aparecido no contexto de investigações
sobre a hereditariedade com implicações na eugenia, esses avanços tiveram um aplicação bastante generalizada. próprio Galton pesquisas estatísticas sobre o peso das sementes de ervilha realizou e a estatura dos seres humanos, por exemplo, nenhuma das uais tinha pertinência direta para a eugenia. Em relação a algumas das inovações de Pearson, Mackenzie (1981, p. 90) observa que suas definições "eram na verdade gerais, mas está claro que o homem er o organismo a que elas basicamente tencionavam aplicar-se". Isso implica que os interesses sociais estariam presentes na intenções de Pearson, mais do que a própria estatística. Mackenzie admite que muitos foram trabalhar com Pearson para aprender coisas ue poderiam aplicar em áreas distantes da eugenia. W. S. Gosset, por exemplo, aplicou os métodos de correlação parcial e múltipla desenvolvidos na escola Pearson para melhorar as técnicas da fabricação da cerveja, aumentando assim a fortuna da Arthur Guinness and Son, para quem trabalhava (Mackenzie, 1981, p. 111-3). O fato de ter a estatística utilidade para a eugenia e por isso atender aos interesses da classe média profissionalizada,
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compatível com a tese de que a estatística incorporasse interesses de classes profissionais nu sentido mais rigoroso. Se passamos da estatística matemática para eugenia, para cujo desenvolvimento fo utilizada, possível identificar presença de interesses sociais no conteúdo desta última. Muitos dos pressuposto essenciais eugenia tinham pouca justificação quando avaliados do ponto de vista da produção de conhecimento, mesmo quando eram vistos no contexto mais restrito da teoria da hereditariedade e não no contexto mais amplo de um programa social. idéia de que os seres humanos possuíssem um inerente característica de "mérito cívico" e que essa característica fosse distribuída normal ou regularmente alguma forma er simplesmente pressuposta e não questionada. As evidências a que se recorreu para dar apoio aos pressupostos da eugenia como observação de que em geral os filhos da elite intelectual tendiam por suaveza ser membros desta elite poderiam estar diretamente sujeitas a uma explicação do meio social. Contudo, houve pouca ou nenhuma pesquisa para fazer discriminação entre essas explicações conflitantes. Não tenho a menor dúvida de que grande parte do conteúdo da eugenia deve se explicado co relação ao interesses sociais a que atendia, em oposição ao quanto funcionava como conhecimento. Não obstante, essa é uma explicação social "m ciência" - que corresponde explicação sociológica fraca, oposta forte. Mesmo que eu esteja correto ao negar que o conteúdo da
estatística matemática nã está suficientemente explicado recorrendo-se aos interesses sociais mais amplos, há muito nessa atividade ue justifica um explicação sociológica; Mackenzie proporciona valiosas contribuições nessa direção. Certamente é correto dizer qu uma explicação das causas dos avanços na estatística no momento em que estes aconteceram e do quanto essa atividade obteve apoio social base institucional está muito associada eugenia e ao quanto esta serviu ao interesses classe média profissionalizada época. ã o fácil especificar forma precisa
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kenzie tenha conseguido esclarecer essa questão. le rejeita muito claramente a idéia de que as suas explicações sociológicas tencionam explicar a psicologia ou as motivações das pessoas e rejeita uma visão determinista, segundo a qual as idéias de uma pessoa sã causadas por seu histórico social (Mackenzie, 1981, p. 92). Mackenzie nesse ponto discorda da caracterização da explicação sociológica utilizada por Laudan em sua crítica da sociologia do conhecimento, onde ele diz: qualquer explicação da sociologia cognitiva deve, no mínimo, afirmar um relacionamento causai entre um certa convicção x d algum pensador y e situação social z de y. Ela estará fazendo isso (se é que as explicações da sociologia sã "científicas" em algum sentido) ao recorrer a uma lei geral que diz que todos (ou a maioria dos) que acreditam na situação do tipo z adotam as convicções do tipo x. (Laudan, 1977, p. 217)
explicações que se adaptam esse padrão nã apenas inexistem na sociologia, como em geral também inexistem em qualquer outra ciência. (Se as folhas chão, outono caem podemos recorrer gravidade para explicar por quê. Contudo, nem todas as folhas caem chão. Muitas as folhas as árvores minhas eu jardim sã levadas para telhado entopem calhas.) E tem mais: discussão capítulo anterior mostra qu considero insatisfatória atenção qu Laudan dá às convicções pessoais, ponto com o qual M ackenzie parece às vezes concordar, as se nenhuma congruência. Mackenzie deixa de apresentar uma caracterização geral satisfatória forma de sua explicação sociológica. Ele nos d iz que sua análise social indica "correspondência" entre convicções interesses sociais (Mackenzie, 1981, 92). le declara, ainda, qu "nós podemos ... algumas vezes discutir, proveitosamente, covicções ind ividuais co perspectivas sociais (Mackenzie, 1981, p. 73). Contudo, essas observações podem ser interpretadas no sentido
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análise da institucionalização da ciência, a análise de Mackenzie corresponde melhor a suas afirmações não-individualistas.
credito que a análise que M ackenzie fa dos interesses sociais ligados ao desenvolvimento da estatística na Inglaterra entre 1865 1930 estaria melhor se colocada da maneira ue exponho seguir. Em primeiro lugar, a nossa análise sociológica deveria procura r entender a situação social de maneira tal que se identificassem diversos grupo ou classes sociais seus interesses. N esse ponto, nã tenho nada de especial discutir sobre maneira como Mackenzie identifica classe média profissionalizada seus interesses. Feito isso, pode-se identificar as maneiras como a eugenia proporcionou oportunidades ue poderiam ser exploradas no interesse dessa classe. Uma vez que também se admite que o desenvolvimento da eugenia exigi desenvolvimento da estatística matemática, estamos em posição de compreender como desenvolvimento desta última proporcionou oportunidades para promover os interesses sociais da classe média profissionalizada. Acho ue isso é máximo a que uma análise geral pode chegar. estatística se desenvolveu na Dentro desse quadro, teses como Inglaterra na virada do século porque proporcionava oportunidades para atender aos interesses da classe média profissionalizada" tê força explicativa enquanto nã estiverem exigindo que as convicções e os motivos particulares das pessoas sejam identificados e deduzidos de sua posição social. quanto foram aproveitadas as diversas opo rtunidades, por quem e de que maneira, é uma questão acidental que só poderá ser resolvida como resultado de uma pesquisa histórica e que não está sujeita a uma explicação sociológica geral. análise muitas maneiras. Mackenzie resolve esse tipo de contingência exemplo, su história como Pearson nasceu numa classe média em ascensão, como ele reagia à pobreza e à miséria da Ingla terra vitoriana e à "superficialidade complacente" (M ackenzie, 1981, p. 75) da Universidade de Cambridge, como ele veio
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chegou a uma boa posição para promover interesses de sua classe mediante desenvolvimento da estatística matemática. Traduzindo isso nos termos empregados por Mackenzie, podemos compreender que a "correspondência" entre eugenia e os interesses da classe média profissionalizada fosse uma oportunidade para promoção de tais interesses, ue Pearson, dada natureza de seu conhecimento da matemática, estava em boa posição de aproveitar, e que realmente aproveitou. Resumindo: concordo com Mackenzie ue h espaçopara uma análise social da estatística matemática na Inglaterra durante período em .questão concordo que ele traz boas contribuições para esse tipo de análise, embora também haja espaço para esclarecimentos respeito forma precisa qu assumem essas explicações sociais. Isso suficiente para contrabalançar um visão purista conservadora de que a busca do conhecimento nas instituições acadêmicas prossegue segundo sua própria dinâmica, sem nenhuma ligação com interesses políticos ou sociais mais amplos. apoio material para desenvolvimento da estatística no University College de Londres estava estreitamente associado ao movimento pela eugenia, como Mackenzie mostra. Além disso, as teorias eugenia, em oposição estatística matemática, atendiam ao interesses classe média profissionalizada em grau be maior do que atendiam meta da produção de conhecimento. Nã obstante, seja qual for a importância atribuída análise Mackenzie, nego que ele tenha oferecido um explicação social do conteúdo estatística matemática suficiente para fundamentar su tese sobre a determinação social da boa ciência.
7.2
explicação social para os Principia
Freudenthal Newton
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el deixa esclarecer exatamente forma qu deve assumir a sua explicação social do conhecimento cognitivo. Ele não dá uma resposta satisfatória indagação Knorr-Cetina sobre como as proposições teóricas em si incorporam fatores sociais (KnorrCetina, 1983, p. 116). mesmo não se pode dizer da elaboração de Gideon Freudenthal (1986) sobre um explicação sociológica determinados aspectos física Newton. Freudenthal não se satisfaz em apontar paralelos ou correspondências entre as teorias científicas, por um lado, e as relações ou concepções sociais, or outro. Ele antes se esforça po traçar caminho preciso po onde as relações sociais entram no conteúdo da física de Newton. Vejamos até que ponto el consegue fazer isso. Freudenthal nã procura dar uma origem social todo conteúdo do Principia. Ele não busca um explicação social para as leis movimento e a lei da gravidade. entanto, Freudenthal procura demonstrar como outros pressupostos significativos nos Principia têm origem sustentação nas relações sociais. Apresento seguir um esbo"ço da via que ele traça partir da relações sociais, levando ao conteúdo cognitivo da ciência de Newton. mudança social do feudalismo para as formas primitivas do capitalismo gera concepção de sociedade em que esta deve ser compreendida em termos do bens essenciais da pessoas que a compõem. Essa explicação transforma-se nu princípio filosófico geral, forma em que os bens do conjuntos explicam-se em termos do bens essenciais de suas partes. Quando aplicado ao contexto da física newtoniana, te efeitos em porção de seu conteúdo. Como Freudenthal, levo em conta algum detalhamento do processo de entrada da relações sociais na física na ordem oposta em que se alega ue isso tenha ocorrido, começando pela identificação os aspectos os Principia qu devem se explicados socialmente. primeiro alvo de Freudenthal para um explicação social concepção de Newton do espaço absoluto, cuja defesa está nos
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superfície da água no balde em rotação e extensão da mola unindo as partículas foram tomadas po Newton para indicar presença de uma rotação relativa a u espaço absoluto ue existe independente da matéria. segundo dentre os alvos de Freudenthal é distinção qu Newton fa entre as propriedades essenciais universais da matéria. Contudo, do ponto de vista de Newton, aparentemente há uma exigência mais forte para que um atributo seja considerado universal. Por exemplo, Newton deixa be claro que a extensão é uma qualidade universal também essencial dos corpos, embora gravidade, sendo atributo universal, nã seja atributo essencial. terceiro lugar, Newton definia "quantidade de matéria" como produto da densidade do volume, enquanto em outro ponto Principia densidade definida como massa por volume unitário. Aqui há uma aparente circularidade, se fazemos verdadeira identificação de "massa" co "quantidade de matéria". O quarto alvo para explicação social de Freudenthal ue levo em consideração é argumento de Newton ue parte do fato de que os materiais diferem em densidade para chegar conclusão de que eles devem conter espaços vazios em grausvariados.
Todas as asserções do Principia observadas no parágrafo anterior são problemáticas. Os experimentos com um balde em rotação ou com um par de partículas poderiam se interpretados como indicadores movimento em relação às estrelas, po exemplo, ao passo que se acompanhamos Newton pressupomos que o movimento absoluto fo determinado, isso continua insatisfatório para estabelecera conclusão que-ele chegou, de^que movimento ocorre num espaço independente da matéria. Com respeito distinção entre as qualidades universais e as essenciais, difícil ver que conseqüências poderiam advir hipótese de que qualidade essencial, além estar presente em todos corpos observados ou em que foram feitas experiências. circularidade aparente encerrada discussão Newton sobre densidade evidentemente um problema, embora existam muitas explicações alternativas imediatas para as densidades diferenciadas
FABRICAÇÃO DE CIÊNCIA
Freudenthal diz que há um pressuposto no Principia que, se admitido, elimina essas dificuldades. É hipótese de que o mundo material se compõe de partículas iguais, cada um destas possuindo as mesmas qualidades essenciais, qualidades que uma partícula continuaria possuir mesmo estando sozinha no espaço vazio. Po conveniência, passarei referir-me isso como "hipótese da partícula elementar". Para compreender argumentação de Newton para rotação absoluta, pressuponha que é significativo conceber balde rodando num espaço preexistente, ue estaria vazio, não partícula elementar, fosse pela su presença. À luz da hipótese por que
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dade essencial gravidade, mesmo estando ela presente em todos os corpos encontrados no mundo. Segundo Newton, partícula sozinha no espaço vazio, embora continue possuindo extensão, po exemplo, nã possuiria gravidade. Se entendemos como "quanti"número partículas elementares", então dade de matéria" quantidade de matéria realmente volume multiplicado pela densidade da partículas. Contudo, já que as partículas ão podem se diretamente observadas contadas, quantidade de matéria e, po isso, densidade nã podem se medidas, neste sentido. Entretanto, como se pode medir - ou comparar massas volumes, podemos dar uma definição operacional densidade como massa dividida pelo volume. ão h circularidade, porque há duas concepções de densidade implícitas,uma das quais apenas mensurável. E, por fim, uma vez pressuposto qu diferentes materiais sã constituídos de partículas elementares iguais, então as diferentes densidades nã exigem existência de graus variados de espaçoentre as partículas, conforme conclusão de Newton. Um forma vigorosa da hipótese da partícula elementar não é explicitada por Newton nos Principia, embora haja evidências indiretas de que ele a adotou aqui e ali em seus textos. Um versão mais frágil formulada com clareza por Newton é seguinte: extensão, dureza, impenetrabilidade, mobilidade e força de inércia do todo resultam da extensão, dureza, impenetrabilidade, mobilidade e força
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os corpos sejam também extensas, duras e impenetráveis, móveis, dotadas de suas próprias forcas de inércia. E esse é o fundamento de toda filosofia.* (Freudenthal, 1986, p. 22)
partícula elementar veio a ser considerada evidente? Essas são as questões referentes às relações sociais ue Freudenthal se dispôs responder.
Como Freudenthal, percebemos que Newton não defende essa relação posição mais forte, explicitada por Freudenthal na forma da "hipótese da partícula elementar", principal argumento ue Newton realmente coloca que, um ve admitidos, os argumentos hipóteses dos Principia, que de outro modo seriam problemáticos, fazem sentido. explicação plausível razão por que ele hipótese partícula jamais explicitou todos os componentes elementar, e por que não se encontra nenhum argumento favor deles nos textos de Newton, é que este os considerava evidentes. Ou seja, ele os aceitava como reais se necessidade de maiores garantias.
Freudenthal traça as origens do percurso da hipótese de Newton, chegando às concepções individualistas sociedade qu apareceram no século XVII, quando sociedade feudal deu lugar capitalismo e mercado passou desemàs primeiras formas penhar um papel cada vez mais fundamental. Começamos com o fato de que a sociedade feudal tornava-se cada vez mais inviável com o crescimento das cidades e interdependência cada vezmaior de cidades e países. O aumento da importância do mercado, que veio logo depois de um aumento na complexidade e interdependência, fez com que os comerciantes pudessem acumular riquez poder, não apenas por direito de nascimento, ma aproveitando as oportunidades proporcionadas por esse mercado - e, a mesmo tempo, cada ve mais camponeses tinham possibilidade abandonar terra e jurisdição senhor feudal para tornarem-se trabalhadores assalariados as cidades. sociedades capitalistas que iam surgindo precisavam se compreendidas justificadas. Um alternativa para concepção da sociedade evidentemente hierarquizada, segundo clássicaformulação Tomás Aquino, tornava-se um necessidade teórica política. Thomas Hobbes início século XVII, especialreagiu esse questionamento mente em seu Leviatã, e mais tarde, nesse mesmo século, seguiram-se outras propostas, inclusive notavelmente formulada pelo contemporâneo de Newton, John Locke. Freudenthal chama a atenção para fato hoje muito bem compreendido de que, embora sociedade formuladas po diversos as diversas concepções teóricos diferissem em aspectos fundamentais, elas tinham algo em comum: todas procuravam explicar sociedade referindo-se às qualidades essenciais das pessoas que a integravam, qualidades que se considerava possuírem independentemente de sua existência na sociedade.
afirmação. Ele a expressa como se fosse evidente.
aceitamos reconstrução de Freudenthal da hipótese da partícula elementar, seu papel e seu estatuto, estaremos em posição avaliar o que ele visavaem sua explicação social par os Principia. hipótese de que o mundo material deve ser explicado em termos as propriedades ou ualidades essenciai que o constituem onde propriedade essencial se compreende como um propriedade (ou qualidade, ou atributo) que uma partícula possuiria se estivesse sozinha no espaço funciona como um princípio evidente nos Principia, e, embora não tivesse,.nenhuma influência no conteúdo da física que era passível de comprovação empírica na época, princípio tinha efeitos determinados nas hipóteses substantivas expostas. Como se explica essa situação? Como hipótese da Discordo de Freudenthal em um pequeno detalhe. Os argumentos de N ewton, que Freudenthal procura tornar convincentes com a introdução da tese da partícula elementar, requerem apenas que as partículas tenham a mesma densidade e não, como ele insiste, qu sejam também do mesmo tamanho. Além do mais, o uso do plural "forças de inércia" - por Newton, associado às partículas, é uma ndicação de que ele não pressupõe qu sejam todas do mesmo amanho. Corrigir Freudenthal
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tavam na física de Newton, por um lado, e as concepções da sociedade que surgiam eram aceitas no século XVII, po outro. Contudo, Freudenthal deixa claro que não se satisfaz co esse paralelo, sentido de que significasse explicação. Depois observar aparecimento de uma concepção individualista da sociedade como reação mudanças sociais, el deseja traçar caminho preciso pelo qual uma versão desse individualismo entrou física newtoniana. Segundo Freudenthal, esse caminho passa pela filosofia, e ele procura mostrar como Newton seguiu Hobbes, ao extrair teoria social concepção filosófica geral relacionamento entre elemento sistema, ue veio considerar evidente depois aplicou em sua física.
tornou-se parte da filosofia primeira. Hobbes aplicava ao mundo físico, por exemplo, quando pensava nas qualidades que um corpo teria se fosse outra ve criado noVácuo, concluindo qu teria apenas qualidade extensão. generalização hipótese qu relacionava elemento sistema à filosofia primeira e daí à filosofia natural também ajudou programa político de Hobbes, porquanto este servia para enfraquecer idéia relação entre elemento sistema qu permeavaa filosofia medieval, teoria social e a ciência natural onde os sistemas eram teoricamente anteriores seus elementos, teoria Hobbes era um ataque idéia de uma hierarquia sociedade feudal: centralizada em três frentes na relações filosofia primeira, a filosofia social e a filosofia natural.
Freudenthal enfatiza quanto teorização Hobbes poderia se considerada programa político planejado para combateras relações sociais feudais e a concepção hierárquica sociedade qu er usada para justificá-la para favorecer surgimento nova sociedade. Devemos rejeitar visão de que as idéias forma Hobbes eram reflexo inconsciente as relações contratuais evidentes no mercado, já que, em sua época, as relações feudais ainda persistiam foram sentidas po ele, embora como algo a que se opor e a ser substituído. le aproveitou as relações contratuais ue existiam entre proprietários independentes no mercado análise afirmou qu elas seriam própria base para sociedade, aventurando-se então projeto para fundame ntar suas teorias. Esse projeto tinha implicações políticas na etapas relativas substituição as relações sociais feudais pelas relações baseadas em contratos entre indivíduos livres autônomos.
programa político de Hobbes teve êxito na medida em que foram aceitas as idéias do relacionamento entre elemento sistema que ele introduziu em sua teoria social, passando daí à filosofia primeira e à filosofia social. Freudenthal documenta isso não apenas co relação Newton, as também em relação outros, como Jean-Jacques Rousseau Adam Smith. Talvez seja possível resumir a explicação social Freudenthal para aceitação princípio de que o todo deve ser entendido em função das qualidades essenciais suas partes, da maneira qu exporei seguir. Esse princípio fora aceito porque atendia ao interesses do adotavam propagavam porque podia ser pronta ue convincentemente exemplificado recorrendo-se ao caráter da relações de troca no mercado, cada vez mais importante, também recorrendo-se analogias mecânicas, como explicação as propriedades de um relógio em função da propriedades de suas partes.
os séculos XVII XVIII, er comum distinção três ramos da filosofia: a filosofia social, a filosofia natural philosophia prima (metafísica ou filosofi primeira). Esta última er considerada corpo generalizações abstratas aplicáveis tanto à filosofia social quanto natural. Freudenthal observa que a tese Hobbes que a sociedade poderia se compreendida em termos as qualida-
Freudenthal satisfatória; chegamos té aqui história agora a u ponto em que podemos entender como Newton veio adotar e a considerar evident idéiade que se deve compreender sistema em função as qualidades propriedades essenciais suas partes. Freudenthal leva análise ainda mais longe, para mostrar como alguns pormenores eram formulados na primeira
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filosofia, Newton dizia que a nossa experiência
movimentar voluntariamente uma perna ou um braço estabelece como óbvio o fato de que nós, como seres humanos, temos o livre-arbítrio e d que a matéria ue resolvemos movimentar passiva. argumento de Newton visa determinar ao mesmo tempo conceito de liberdade como qualidade essencial dos indivíduos e a passividade, como propriedade essencial da matéria.
ão traçados outros pormenores da análise social, chegando at situação social específica qu estava diante de Newton. ão apareceria uma sociedade proprietários independentes prevista po Hobbes. Ao contrário, surgiu uma sociedade capitalista, com a maior parte da terra outros meios de produção na mãos de poucos. Isso nã aconteceu sem uma luta política, onde houve eliminação do Niveladores, luta em que Newton tomou partido que na Inglaterra culminou com uma solução conciliatória com o rei. Um poder limitado qu permaneceria co este justificava-se po ser necessário par manutenção de uma ordem social que de outro modo nã aconteceria. verdade, sistema nessa sociedade nã pode ser considerado totalmente recorrendo-se às qualidades essenciais de suas partes: preciso um intervenção externa. Descobrimos precisamente o mesmo gênero de situação retratada na física d Newton: as propriedades físicas do sistema do mundo não podem se atribuídas às propriedades físicas dos corpúsculos que o constituem. Devido falta de elasticidade da colisões entre os corpúsculos e devido ao movimento introduzido no mundo por meio de nossas ações voluntárias, quantidade total do movimento nã será automaticamente conservada. Como já percebemos, gravidadetambém não pode se explicada pelas propriedades essenciais do corpos. Nesses dois casos, encontramos Newton e os ue o apoiavam recorrendo intervenção divina. Deus é administrador do relógio do mundo, assim como o rei é o administrador da sociedade. Posso aceitar linha geral explicação Freudenthal, qu di como as teorias individualistas sociedade surgiram como
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explicado em função as propriedades na
suas partes. Entretanto,
se
Hobbes como a Newton. Como a física de Hobbes era bastante diferente da física de Newton (por exemplo, Hobbes achava ue suas partículas possuíam apenas propriedade essencial da extensão), d eve-s acrescentar algo ao simples individualismo ou atomispara Freudenthal poder completar su explicação social. Como já vimos, Freudenthal acrescentou alguns detalhes concepção filosófica de Newton do livre-arbítrio e de sua idéia de Deus como administrador do mundo; essas duas visões são retraçadas até aspectos da postura política de Newton respeito de questões sociais de sua época. Essas idéias de Newton eram de fato amplamente aceitas exploradas pelos anglicanos ortodoxos pelos políticos do Whig, ue ocupavam posições sociais semelhantes ou qu adotavam posturas políticas iguais às de Newton (Jacob, 1976). Contudo, essas idéias nã eram adotadas universalmente. credito qu elas poderiam se antes consideradas extensões ideológicas física de Newton, em vez de partes dela. Esse ponto reforçado pelo fato de que outros físicos puderam interpretar a física newtoniana de maneiras que radicalmente diferem dos aspectos da interpretação do próprio Newton ue Freudenthal explica em termos sociais. or exemplo, Clerk Maxwell afastou-se radicalmente hipótese partícula fundamental ao utilizar mecânica newtoniana para desenvolver sua teoria do campo eletromagnético, em que os fenômenos localizados sã entendidos em função mecânica de um meio material contínuo ue tudo permeia, ao passo ue Thomson Tait (1879, p. 222) partiram da concepção da matéria passiva de Newton, porque ela teria "um poder inato resistir influência exterior". análise de Freudenthal não pode sertomada como explicação do conteúdo cognitivo da boa ciência. Aliás, Freudenthal também não a apresenta dessa maneira - mas faz claramente a distinção entre os aspectos Principia que têm justificação científica (como,
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ue estou usando
benefício da perspectiva do tempo para distinguir as partes boas ruins física Newton. nome argumentação, imaginemos que as hipóteses socialmente explicaas Freudenthal acabaram sendo justificadas. Imaginemos que ciência contemporânea possibilite medição os movimentos relativos ao espaço absoluto e a detecção contagem dos corpúsculos de N ewton. E u diria que um a boa resposta seria que, enquanto certas hipóteses tiveram origem na mudanças teorias sociais do século XVII, elas apenas receberam interpretação justificação científicas satisfatórias séculos depois. Estaríamos em situação semelhante à das inovações de Darwin em relação ao textos de Malthus e ao contexto social que os inspirou. análise qu Freudenthal faz dos Principia Newton (que escolhi como exemplo p orque era a melhor, m ais detalhada e mais cuidadosa explicação social da ciência ue pude encontrar) nã pode ser considerada uma boa explicação social para conteúdo cognitivo da boa ciência. Entretanto, isso nã diminui de modo algum importância e o interesse de seu estudo e de outros do gênero. melhor parte de sua análise m ostra como as hipóteses que têm origens sociais políticas atendem interesses sociais políticos podem facilmente penetrar na ciência mascaradas de boa ciência. Nem mesmo os Principia de Newton, que se poderia esperar servirem excelente exemplo ciência pura, estavam livres desse tipo de incursões. Não se pode aceitar se questionamento ue tudo o que se propõe em nome da ciência, ostensivamente justificado como seus interesses e metas, atenda realmente esses interesses e contribua para essas metas. Isso é tão verdad eiro hoje quanto o foi na época de Newton. 7.3 Observações finais
essa altura é bom que eu faça algumas observações gerais
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mundo natural não se comporta de um modo para os
capitalistas e de outro para os socialistas, de um modo para as culturas ocidentais e de outro para as culturas orientais. Uma guerra nuc lear em grand e escala, que a ciência tornou possível, nos destruiria a todos, seja qual for a classe, sexo u cultura. entanto, de lugares-comuns como esse não se poderia dizer que, estando implícito na ciência elaboração de generalizações ue caracterizem de modo satisfatório mundo natural, suficiência dessa caracterização não tem nada a ver com as predisposições ou interesses dos indivíduos ou grupos que a elaboram adotam? Os sociólogos radicais ue defendem um visão cética da ciência poderiam responder assim a essas observações: o conceito as generalizações sobre m u n d o , cuja suficiência avaliada independente de características sociológicas do indivíduos ou comunidades que as elaboram defendem, é, na melhor da hipóteses, um ideal irrealizável e, na pior d as hipóteses, não tem sentido. pretensões de conhecimento e as evidências apresentadas, os critérios p or qu e são avaliada s, são produ tos sociais e como tais inevitavelmente moldados por interesses sociais. Devido ao tipo de seres sociais que som os e aos mod os de elaborar e testar conhecimento disponível, inevitável ue interesses, como os de classe, acabem entrando na ciência. do se interexpostas, as pretadas como hipóteses empíricas. Como tais, eu as considero falsas. Afirmo que a comunidade científica te sido capaz desenvolver m étodos e técnicas para elaborar e testar as pretensões conhecimento ue podem muitas vezes realmente contribuem objetivamente para meta ciência. minha discussão sobre observação e experimento nos capítulos 4 e 5 foi planejada para mostrar como prática possível criar testes objetivos para verificar suficiência as teses, e eu mostrei qu esse é caso em situações escolhidas pelos próprios céticos como favoráveis a seu posicionamento. Mostrei, por exemplo, como as transformações
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passo objetivo frente, ponto vista meta ciência. Também demonstrei que a rejeição as hipóteses experimentais de Weber co respeito às ondas gravitacionais, usadas or Collins para ilustrar maneira como interesses sociais políticos externos entram na ciência, pode ser compreendida em função haver falhado er testes objetivos e não ter se dado be na crítica autêntica. Weber ficou sem ter para onde ir. O avanço objetivo na direção da meta da ciência pode e tem sido feito, o que não significa que se mostrará possível em todos os casos, nem que seja realizado segundo métodos inalteráveis ou em relação padrões imutáveis. como
Os estudos sociológicos, como os que descrevi neste capítulo, mostram como interesses outros podem influenciar a atividade científica. N ã o h á base para presumir complacentemente que a atividade científica prossiga de maneira determinada, única ou até principalmente, pela meta produção de um conhecimento científico adequado. A atividade científica inevitavelmente está interligada a outras, com outros objetivos e que atendem a outros interesses. Entretanto, a meu ver, em nada ajuda uma boa compreensão dessa situação deixar de lado ou contestar o que acredito distinção muito clara entre meta produzir se conhecimento científico adequado e outros objetivos.
CAPÍTULO
DIMENSÃO SOCIAL POLÍTICA
CIÊNCIA
8. Observações introdutórias O ponto essencial de meu exemplo referente às concepções
radicais relativistas ou céticas da ciência pode se assim resumido:
meta da ciências naturais ampliar aperfeiçoar nosso conhecimento geral do funcionamento do mundo natural. A competência nossas tentativas relacionadas isso pode se avaliada comparando nossas hipóteses de conhecimento com o mundo, por intermédio dos mais rigorosos testes experimentais e de observação existentes. Embora não exista nenhum método ou conjunto padrões universais para dirigir essa busca conhecimento, e embora sempre esteja presente a possibilidade de que o objetivo seja distorcido pela entrada subreptícia de outros interesses co objetivos diferentes, meta pode ser, e em geral é, atingida. O mundo natural é corno é, independentemente de classes, raça ou sexo dos que tentam conhecê-lo; mérito científico da teorias qu constituem nossa tentativa caracterizá-lo deveria se igualmente independente desses fatores. Apesar caráter social
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um conhecimento objetivo, ainda ue passível de falha improvável, do mundo natural foram desenvolvidos na prática e tiveram sucesso. Deixando-se de lado negação do método universal e reconhecimento de que a ciência falha e sua atividade inerentemente social, as observações anteriores podem se entendidas de maneira indiscutivelmente conservadora. om elas se poderia concluir que não considero análise política social atividade científica apropriada em qualquer sentido mais forte, pode-se supor ue acredito ue tudo esteja muito bem na ciência contemporânea assim continuará sendo enquanto el permanece autônoma e ao abrigo as influências políticas sociais. Isso está longe de ser o que penso. Este capítulo final é a tentativa de deixar clara minha visão.
8.2 As oportunidades objetivas e a escolha individual poucas palavras, me principal argumento este: embora meta da ciência possa se diferenciada de outras metas avaliações epistemológicas distintas outras avaliações, atividade científica encerrada na busca dessa meta nã pode estar separada outras atividades qu servem outros objetivos. Passo agora para elaboração desse ponto partir do que pode parecer um direção improvável - ou seja, uma crítica do papel fundamental normalmente atribuído escolha do indivíduo na atividade e no progresso da ciência. Começarei com uma historinha autobiográfica. um sábado, pouco antes do Natal, meu pai foi enviado em expedição compras natalinas, e eu, com uns cinco anos idade, deveria acompanhá-lo. hora, meu pai não gostou muito da idéia e das responsabilidades dessas compras, e por isso clima
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at um determinado balcão de brinquedos na Woolworth, onde estava exposta um meia dúzia de artigos, todos co preço de dois xelins, e convidou escolher. om certa consternação, vi-me diante daquelas opçõe se graça at que, pressionado para tomar um decisão, acabei escolhendo um trenzinho de brinquedo meio bobo. Voltamos para casa, cumprida missão de meu pai e radicalmente revisadas as minhas estimativas sobre méritos daquela festiva ocasião. Uma das diversas perguntas levantadas po minha mãe a respeito da sensatez da diversas compras concentrava-se na satisfação que eu teria com meu presente. "Foi ele que escolheu", respondeu prontamente eu pai. Minhas faculdades racionais nã estavam suficientemente desenvolvidas para que eu pudesse articular maneira como havia sido logrado, mas é claro ue sabia ue realmente isso acontecera. Talvez naquele momento tenha entrado em jogo algum impulso edipiano que me empurrou na direção de uma carreira na filosofia. De qualquer maneira, eu gostaria de apresentar moral ue tirei da história: quando as pessoas têm de fazer escolhas, todos os determinantes mais importantes já ocorreram.
Considero relevante na filosofia ortodoxa ciência ênfase insatisfatóriana escolha teoria. Normalmente se pressupõe que a questão do por que uma teoria suplanta outra deve ser explicada em termos das opções racionais do cientistas. mudança teoria identificadacom a escolha da teoria. Considero essa identificação enganadora insatisfatória. Certamente existem problemas quando se deve formular quais são os critérios para escolha da teoria* - os filósofos ue já tentaram discutir questão não chegaram nenhum consenso. Os próprios cientistas têm em certa dificuldade para compreender natureza geral problema, nã falando da capacidade de apresentarem um solução. Acredito que o fenômeno de cientistas escolhendo entre Thomas Kuhn (1977a identifica alguns dos problemas associados às tentativas de
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teorias opostas usando critérios racionais mais uma invenção da imaginação do filósofo analítico. cientistas fazem experimentações, deduzem as conseqüências das teorias, comparam-nas com as outras, modificam-nas diante dos problemas e assim por diante. um outro texto escrevi: Muitos cientistas contribuem de modo independente co suas habilidades independentes para desenvolvimento articulação da física,
exatamente como muitos trabalhadores juntam seus esforços na construção de uma catedral. exatamente como um operário especialista er chaminés pode estar muito feliz inconsciente da implicação que há em alguma descoberta sinistra dos trabalhadores que estão cavando próximo aos alicerces, um teórico ilustre pode muito be desconhecer importância de alguma nova descoberta experimental para teoria em que trabalha. (Chalmers, 1982, p. 116)
Como é que a teoria muda e progresso científico resulta dessa
atividade? Em outros textos (Chalmers, 1979, 1980) apresentei a idéia do "grau de fertilidade" de uma teoria para ajudar responder à pergunta. Uso a expressão para me referir amplitude de oportunidades para desenvolvimento que a teoria oferece nu determi-
nado contexto prático ou teórico, amplitude de linhas de desenvol vimento que são possibilidades reais que uma teoria desdobra, dados os recursos teóricos e experimentais disponíveis. Armados com essa concepção, podemos caracterizar a mudança da teoria como algo mais ou menos de acordo com o que exponho seguir. Suponhamos que a teoria A tem dificuldades criadas pela teoria B. Suponhamos ainda que existe uma porção de cientistas com as capacidades, recursos estruturas mentais apropriadas para trabalhar sobre teorias opostas. Nesse tipo de circunstância, bastante provável que as oportunidades de desenvolvimento que de fato existem mais cedo ou mais tarde acabarão sendo aproveitadas. Conseqüentemente, se a teoria realmente proporciona maiores possibilidades de desenvolvimento que a teoria A, e desde que
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tadas, o efeito é que a teoria avança enquanto teoria A fica estagnada. Essa concepção da atividade científica não é muito diferente de uma explicação do desenvolvimento econômico em um (hipotética) sociedade capitalista livre. Nesse caso, embora
desenvolvimento não seja controlado por nenhum plano racional dobal, ele é compreensível explicável em função das oportunidades objetivas de obter lucros e das maneiras como são aproveitadas essas oportunidades. Examinando mudança da teoria do modo que defendo, podemos por exemplo entender por que a versão de Fresnel da teoria ondulatória da luz suplantou teoria da partículas de luz no início da década de 30 do século passado, uma vez que a versão de Young para a teoria ondulatória não obtivera desenvolvimentos da técnicas da sucesso trinta anos antes. matemática para tratar de ondas num meio elástico, nas primeiras décadas do século XIX, tiveram como conseqüência fato de que as oportunidades para desenvolvimento da teoria ondulatória estavam disponíveis para Fresnel, mas não para Young. Para explicar a vitória da teoria ondulatória sobre a das partículas nã precisamos evocar idéia de cientistas, armados com critérios racionais para escolha de sua teoria, optando racionalmente po permanecer com a teoria das partículas no início do século, mas optando pela teoria ondulatória por volta de 1830 (Worrall, 1976). Encontrei ressonâncias dessas minhas idéias largamente negligenciadas sobre a mudança da teoria num lugar inesperado; sua exploração nos dará uma entrada instrutiva na dimensão social política da atividade científica. passagem seguinte, parte da qual utilizei no capítulo 6, foi tirada de um livro interessante informativo, Th manufacture knoivkdge (A fabricação do conhecimento), da socióloga Karin Knorr-Cetina: Já escutamos dizer que, na prática, a validação ou aceitação são consideradas parte do processo de formação do consenso, qualificado como "racional" por alguns filósofos e "social" por alguns sociólogos da ciência. Entretanto, racional ou social, aparentemente um processo de formação de opinião e, como tal, localizado em algum outro ponto que não a própria
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processo de investigação científica ... Contudo, onde encontramos validação, em qualquer grau mais significativo, senão no próprio laboratório? Senão no processo de tomada de decisões de laboratório, pelo qual urn resultado, método ou interpretação proposta anteriormente vem a ser preferido sobre outros incorporado aos novos resultados? O que processo de aceitação, senão incorporação seletiva de resultados anteriores ao constante processo de produção da pesquisa? Chamá-lo de processo de formação de opinião parece provocar uma série de conotações equivocadas. Ainda nã temos tribunais de ciência para formação oficial da opinião co poder legislativo na condução da pesquisa futura. Considerar consenso um agregado da opiniões científicas pessoais enganador, pois: (a) po falta de votação regular da opiniões, nã temos acesso às opiniões predominantes, gerais ou medianas dos cientistas importantes, e (b) é lugar-comum na sociologia fato de as opiniões terem um relacionamento complexo amplamente desconhecido com a ação. Assim, mesmo quando sabemos qual é a opinião dos cientistas, não saberíamos que resultados seriam coerentemente preferidos na pesquisa real. Não temos aí um processo de formação de opinião, mas um processo em que certos resultados são consolidados pela constante integração pesquisa em andamento. Isso significa que o locus da consolidação é o processo da investigação cientifica ... as seleções pelas quais os resultados da pesquisa são construídos no laboratório, (l 981, p. 8)
Se nivelamos o uso da expressão "formação de opinião", de Knorr-Cetina, com o meu uso da "escolha racional da teoria", há, eu diria, uma acentuada semelhança em nossos pontos de vista. Onde quero dizer que uma teoria prospera quando as oportunida-
de objetivas que ela oferece para pesquisa sã aproveitadas, Knorr-Cetina diz que um resultado se consolida até onde é integrado pesquisa em andamento. Entretanto, as maneiras como elaboramos nossas posições sã bastante diferentes, e acompanhando Knorr-Cetina que obtemos uma boa visão da dimensão social da atividade cientifica. Um diferença nossas respectivas abordagens que, nquanto estive preocupado com questões macroteóricas, como substituição da teoria das partículas pela teoria ondulatóría da luz, Knorr-Cetina se concentra nos microestudos do trabalho de labo-
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aceita se questionamento o que pressupõe ser a minha explicação da teoria da mudança: sempre haverá cientistas com as capacidades e os recursos apropriados para aproveitar as oportunidades para pesquisa. As linhas de pesquisa prática possíveis para um cientista ou um grupo de cientistas dependem de uma série de imprevistos, como disponibilidade do equipamento, matériasprimas, literatura, assistência técnica financiamento necessários Prosseguindo na questão de como as condições materiais sociais necessárias para pesquisa são correspondidas, em situações específicas ou de modo mais geral, logo temos revelado até que ponto prática científica encerra nã pode se separada de questões sociais políticas mais amplas.
8.3 A política da atividade científica fatores que se ocultam po trás da satisfação da condições materiais necessárias para trabalho científico envolvem uma ampla série de interesses outros que não a produção do conhecimento científico. Esse ponto grafkamente ilustrado por Bruno Latour (1987, p. 153-7) num trecho impressionante, em que ele compara a atividade cotidiana de uma cientista nurn importante laboratório californiano com o diretor do laboratório, quem se refere como "o chefe". cientista se considera interessada no desenvolvimento da ciência pura desinteressada das questões políticas ou sociais. Procura distanciar-se do governo do setor privado, para concentrar-se em sua pesquisa pura. Em compensação, chefe está sempre envolvido em atividades políticas em todos os níveis, o que muitas vezes lhe vale zombaria da cientista. exemplo de Latour trata da pesquisa de uma nova substância, pandorin, que promete ter grande significado na fisiologia. Na lista das atividades em que o chefe se envolve numa semana
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grandes companhias farmacêuticas a respeito do possível patente amento do pandorin; um encontro com o ministro da Saúde francês, onde será discutida a possibilidade de abertura de um novo laboratório na França; uma reunião na Academia Nacional de Ciência, em que o chefe defende necessidade de mais um subdepartamento; reunião da diretoria da revista médica Endocrinology, onde pede mais espaço para su área reclama de conselheiros que pouco sabem sobre disciplina; uma visita ao matadouro local, em que discute a possibilidade de decapitar ovelhas de modo causar menos danos ao hipotáíamo; reunião na universidade, onde propõe um novo programa de curso contendo mais biologia nuclear e informática; discussão com um cientista sueco sobre os instrumentos recentemente criados por ele para detectar peptídeos possíveis estratégias para desenvolvê-los; discurso na Associação dos Diabéticos. Continuemos acompanhando Latour, voltando nossa atenção para trabalho da cientista no laboratório pouco depois. Descobrimos que ela conseguiu empregar um novo técnico, o que foi possível graças a uma bolsa recebida da Associação dos Diabéticos; há também dois novos estudantes já formados que entraram no campo através dos novos cursos criados pelo chefe. Sua pesquisa beneficiou-se com amostras mais limpas de hipotáíamo, que são agora recebidas do matadouro, e com um novo instrumento de grande sensibilidade, recentemente adquirido da Suécia, que aumenta sua capacidade de detectar traços insignificantes de pandorin no cérebro. Os resultados preliminares de sua pesquisa serão publicados numa nova seção de Endocrinology. El está refletindo sobre um novo cargo que lhe foi oferecido pelo governo francês, para implantação de um laboratório na França. Se cientista da história muito realista de Latour considera-se envolvida na ciência pu ra, que não é perturbada por questões políticas e sociais mais am plas, ela está muito enga nada. A satisfação das condições materiais, que é um pré-requisito para realização de sua pesquisa, só pode ser obtida como resultado da atividade
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as atividades do chefe. Se, por exemplo, investigamos suficiente respeito da origem dos fundos para qualquer área de pesquisa na física, nos Estados Unidos, quase sempre damos de fren te com os interesses dos militares e do Departamento de Defesa no desenvolvimento dos modernos sistemas armam entistas. E. L. Woollett (l 980, p. 109) expõe situação, num artigo revelador: "... qualquer pessoa com o diploma de física que leia Relatório Anual da Secretaria da Defesa admitirá a man eira essencial como o progresso da ciência está hoje associado ao 'progresso' nos mode rnos sisteas armamentistas". Minha insistência em fazer uma distinção entre ciência outras atividades com metas difere ntes deixa pouc mais qu farelos para a análise do sociólogo. simples fato de que a atividade científica não pode ser separada das outras que atendem a outros interesses não implica si que o objetivo da ciência esteja subvertido. análise um tanto conservadora funcionalista da organização institucional da ciência de Robert Merton (1973) mostra isso muito bem. Merton acredita que a ciência governada por normas que definem código apropriado de comportamento dos cientistas, normas de universalismo, desinteresse, comunismo e ceticismo organizado. Presume-se que a fidelidade a essas normas leve adiante meta da ciência. Contudo, cada cientista tem suas próprias normas interesses, como aquisição de riqueza, fama poder, por exemplo. Me rton diz que a meta da ciência se concilia com os interesses dos cientistas por meio do sistema institucionalizado de recompensas penalizações. Dessa maneira, os cientistas são coagidos agir de modo a atender os interesse s da ciência, porque é exatamente esta forma de agir que resulta nas recompensas que atendem a seus próprios interesses. Naturalmente,há outros interesses em jogo na atividade científica, como os monopólios profissionais, governamentais e dos setores privados; o descuido em relação a estes é um das falhas da análise de Merton. Entretanto, ela serve para mostrar que a ciência não é automaticamente subvertida quando há outros interesses envolvidos. Podemos ilustrar mais esse ponto,
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dos interesses da ciência e os da burguesia que permitiu que a ciência prosperasse na maré da revolução científica (veja também Bartels e Johnston, 1984).
8.4 Colocando-se ciência em seu lugar Neste livro estive preocupado em identificar caracterizar meta da ciência, distinguindo-a de outras atividades com diferentes objetivos. Disso não se deve concluir que eu considere a meta da ciência algum bem absoluto e sem restrições, necessariamente superior a outras metas. Um exemplo ajudará a colocar a glorificação irrestrita da ciência dentro de uma perspectiva mais realista. Humphrey Davy inventou em 1815 a chamada lâmp ada de segurança dos mineiros. Não há nenhuma dúvida de que isso tenha sido uma bem-lograda conseqüência de uma pesquisa científica pura (possivelmente realizada por Faraday), que envolvia determinação da temperatura de ignição do metano e a eficácia de um véu de arame atuando como barreira para temperatura. J. A. Paris, um dos biógrafos de Davy, referiu-se a essa pesquisa bemsucedída como "orgulho da ciência,triunfo da humanidade e glóri da época em que vivemos" (Albury Schwartz, 1982, p. 13), e, mais recentemente, Union Carbide Chemicals and Plastics exaltou as virtudes da pesquisa de Davy comparou suas contribuições para a humanidade às da Union Carbide. "Afinal de contas, Hump hrey Davy acendeu uma lâmpada para benefício da humanidade e não desejamos que ela se apague" (Aíbury Schwartz, 1982, p. 13). Isso não é muito incomum em relação à maneira como valor intrínseco da ciência retratado glorifícado.
No entanto, como Albury Schwartz (1982) mostram, um exame mais circunspecto da história real desse episódio nos leva uma avaliação bem mais moderada. Um efeito imediato da introdução da lâmpada de Davy nas minas de carvão fo um aumento
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discernir razão para isso. Do ponto de vista dos proprietários das minas, o problema que pressionava não era tanto a segurança da mina, mas o fato de que as operações em minas ricas de carvão se tornavam inacessíveis por causa da acumulação do metano. problema deles, que era o que expuseram Davy, era saber como fazer os mineiros entrarem nas minas perigosas, cheias do gás venenoso. pesquisa de Davy proporcionava uma resposta, mas, naturalmente, sua lâmpada estava longe de ser perfeita. O véu poderia soltar-se as correntes de ar poderiam soprar chama para fora e as partículas de carvão que se grudavam em seu exterior se tornariam vermelhas com o calor. Os mineiros admitiam que o problema mais sério nas minas era uma ventilação precária. Eles percebiam que as principais fatalidades depois de uma explosão ocorriam por sufocação pelo monóxido dióxido de carbono, em conseqüência da explosão. Eles propunham medidas como aprofundamento de mais poços, mas essas sugestões foram em geral deixadas de lado, presumivelmente devido aos custos que encerravam. Os mineiros poderiam ser perdoados pelo ceticismo respeito de qualquer afirmação de que o progresso da ciência um bem sem reservas. Existem hoje situações comparáveis a essa. Diante dos efeitos adversos que a ciência possibilita, como a aniquilação nuclear ou danos menos adversos ao meio ambiente, razoável ern muitos contextos reivindicar que um uso socialmente mais eqüitatívo do conhecimento científico que temos é um problema de maior urgência do que a produção de mais conhecimento científico. Mesmo quando basta atribuir grande prioridade à aquisição do conhecimento científico, resta questão de qual das muitas linhas possíveis de pesquisa científica deveria ser seguida. Resta então questão: que espécie de ciência desejamos? É inquestionável que uma grande força por trás da direção do desenvolvimento da ciência ocidental proveniente dos interesses militares econômicos das agências governamentais e dos interesses aliados das corporações multinacionais. Muitos de nós desejariam que as coisas fossem
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de acordo com os interesses e a necessidades da pessoas comuns. De qualquer maneira, a ciência tem de ser avaliada e articulada segundo outros interesses e valores. As avaliações e as lutas políticas aí encerradas não são por si só receptivas às soluções científicas.
evitar conversa obscurantista sobre os interesses da humanidade em geral, qu esteve evidência nosso exemplo sobre as exageradas glorificações da ciência de Davy, para adm iti variedade de interesses associados diversas pessoas, grupos classes para admitir qu esses interesses freqüentemente entram conflito. Quando a segurança de uma usina de energia nuclear está questão, por exemplo, isso fa enorme diferença do ponto de vista daqueles cuja segurança será avaliada, sejam proprietários da usina, trabalhadores ou habitantes da s redondezas, sejam os industriais que poderão comprar energia abundante a um preço baixo. esforços para transformar análise do risco em uma ciência, de modo a que a segurança de uma usina de energia se expresse alguma medida objetiva, obscurecem os conflitos políticos implícitos proporcionam uma impressão ilusória da precisão com que essas projeções são possíveis.
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Essa última observação mostra a necessidade de controle dos limites finalidade do conhecim ento científico. A explicação das ciências que defendi os interpreta com métodos e padrões específicos, desenvolvidos na p rática, para corresponder a metas específicas. Uma vez compree ndidas dessa man eira, pode-se perceber que muitos problem as caem fora de seu campo. Me smo se restringimos discussão ao comportamento do mun do físico, quand o lemb ramos até que ponto as teorias científicas se apoiam nas evidências produzidas sob condições artificiais de uma experimentação controlada, podemos avaliar que as situações complexas no mundo real estão além do controle de uma análise cientifica completa. Por exemplo, embora ciência contemporânea seja muito capaz de produzir respostas precisas para as questões que dizem respeito meia-vida de diversos componentes do lixo radioativo ou ao q uanto vidro de borossilicato se desintegra quando exposto determinados graus de umidade, as precisas conseqüências a longo prazo do provável resultado das dive rsas técnicas de dispor o lixo nuclea r não podem ser determinadas cientificamente porque nosso conhecimento científico não é gerado para tratar da complexidade de situações na vida real, como a que se obtém quando o lixo nuclear é encerrado em vidro de borossilicato enterrado em buracos profundos ou lançado órbita planetária! Embora seja importante admitir qu conhecimento científico é um poderoso auxílio para nossas intervenções tecnológicas, mecânicas e ambientais no mundo e para nossa compreensão de seus possíveis efeitos, reconhecer as limitações da ciência em relação a isso é um corretivo necessário para as mistificações exageros que normalmente acompanham as reivindicações dos tecnocratas (veja, por exemplo, Lowe, 1987)Ultrapassamos legítimo domínio da ciência quando introdu-
zimos questões a respeito da conveniência e segurança das diversas
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Bastante influente, mas sem muita base, a ideologia de nossa época envolve um extensão da ciência be além de seus limites verdadeiros, de modo que os problemas sociais e políticos são construídos como se fossem científicos e as "soluções" oferecidas de maneira obscurecer as questões sociais políticas em jogo. Por exemplo, temos extensões ilegítimas da biologia e da teoria evolucionária na forma do darwinísmo social e da sociobiologia colocadas como explicações dos fenômenos sociais, disfarçando assim as realidades políticas e servindo para justificar os diversos gêneros de opressão, como a dos pobres, das mulheres ou das minorias raciais; em época mais recente testem unhamos uma tendência crescente para reduzir as questões sociais a questões econômicas, tratadas por uma (pseudo)ciência da economia. Está muito além do escopo deste livro explorar questões dessa importância. Contudo, um compreensão correta da natureza da ciência, dos tipos de realização de que é capaz também de suas limitações é pré-requisito para tratá-la de m aneira satisfatória. Não estou absolutamente sozinho ao refletir sobre as tendências sociais no mundo contemporâneo com desânimo susto.
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subdesenvolvidos se amplia, o ambiente está sendo destruído e paira a ameaça da eliminação da vida. Os problemas sociais e políticos que e stão a nossa frente são urgentes e vitais. Não penso que esta causa seja auxiliada por concepções da ciência como conspiração capitalista masculina ou como algo impossível de distinguir da magia negra ou do vudu. agora o me nariz começou a sangrar... APÊNDICE
A EXTRA ORDINÁRIA PRÉ-HISTÓRI DA LEI DA REFRAÇÃO
Esta lei diz que, quando um raio de luz passa de um meio a outro, proporção do seno do ângulo de incidência para seno do ângulo de refração é uma característica constante do par de meios. A lei foi descoberta experimentalmente por Marriott, teoricamente resolvida de maneira independente po Descartes chamada de lei de Snell. estudos teóricos experimentais da reflexão datam da Antigüidade. Euclides certamente já conhecia a lei da reflexão lá pelo ano 300 a. C. e, no início do século II d. C., Ptolomeu realizou experiências para fundamentá-la. Ptolomeu também realizou o que parece ter sido o primeiro estudo detalhado da lei da refração. Ocuparemos-nos aqui da história, começando pela obra de Ptolomeu. primeiro aspecto interessante da notável série de eventos qu levaram descoberta da lei de Snell está no fato de Ptolomeu haver subrepticiamente adaptado suas descobertas e xperimentais de modo a que se conformassem a uma idéia preconcebida. A seguir, depois da queda do Império Romano, cientistas árabes tomaram para si tarefa de aperfeiçoar os resultados obtidos por
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dos resultados experimentais. Enquanto isso, na Europa ocidental, foram perpetradas outras fraudes com mentalidade menos matemática. Essa história extraordinária aproxima-se do fim quando as duas tradições convergem em Kepler, que quase conseguiu desco brir a lei da refração. Ótica de Ptolomeu já não existe mais. Uma versão árabe do original grego também se perdeu. No entanto, foi feita uma tradução latina da versão árabe em meados do século XII, que ainda existe. Há uma tradução para o inglês de trechos pertinentes ao nosso tema em Cohen e Drabkin (1985, p. 271-81). Para finalidade deste texto, presuma-se que essa versão inglesa da tradução latina da interpretação do original grego corresponde ao que Ptolomeu realmente tenha escrito.
Os experimentos de Ptoíomeu com a refração diferem muito pouco daqueles com que nos aborrecemos na escola. Para investigações numa interface ar-água experiência feita da maneira que exporei seguir. Um disco circular de cobre, com a circunferência marcada por intervalos de um grau, era apoiado a um plano vertical com um diâmetro coincidindo com uma superfície de água. Um marcador colorido era fixado ao centro do disco, na interface ar-água. Um segundo marcador era fixado à circunferência acima da água, de modo a que a linha de união dos dois marcadores definia um raio de incidência. Um terceiro marcador podia ser movimentado em torno da circunferência do disco abaixo da superfície da água até que, visto de cima, estivesse alinhado com os dois marcadores já mencionados. linha que unia esse terceiro marcador ao centro do disco correspondia então ao raio refratado. Dessa maneira, Ptolomeu registrava os ângulos de refração, r, que correspondiam ângulos de incidência, i, que iam de l O a 80 graus, intervalos de 10 graus. Ele realizou investigações semelhantes sobre refração em interfaces ar-vidro água-vidro empregando um semicilíndro de vidro. Ptolomeu fe comentários qualitativos sobre os resultados. Por exemplo, ele observou: (1) que o raio de incidência e os raios
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de refração; (2) que os raios normais para a superfície não são refratados; e (3) que quantidade da refração depende da densidade dos meios. Apresentou também algumas desigualdades. Por exemplo, mostrou que se são dois ângulos de incidência e se são os ângulos de refração correspondentes, e se ii, então t'i fi/"f\- Ptolomeu não afirmou que t é proporcional como alguns historiadores afirmam - por exemplo, A. C. Crombie(1962, p. 120). Além de suas observações qualitativas, Ptolomeu apresentou resultados numéricos, sem comentá-los. As duas primeiras colunas da Tabela mostram esses resultados em relação a sua investigação numa interface ar-água, que têm uma certa regularidade. Os valores consecutivos de diferem entre si por uma quantidad e que decresc uniformemente, conforme aumenta r. As segundas diferenças são constantes e iguais a meio grau. Como outros já fizeram antes, especialmente A. Lejeune (1946), eu diria que Ptolomeu adaptou suas leituras experimentais de maneira a que tivessem essa regularidade. Restringindo-me inicialmente ao trabalho de Ptolomeu na interface ar-água, apresento quatro argumentos que sustentam minha acusação. Em primeiro lugar, como a regularidade nos resultados de Ptolomeu não corresponde à situação real expressa na lei de Snell, bastante improvável que os resultados equivocados possuíssem aleatoriamente essa regularidade. segundo argumento diz respeito às discrepâncias entre os resultados citados por Ptolomeu e os "verdadeiros" valores para r mostrados na terceira coluna da Tabela l, calculados a partir de i usando um índice de refração de ,33. Na parte superior e na inferior da tabela, discrepância entre os valores de Ptolomeu e os valores corretos são maiores do que se pode razoavelmente atribuir a um erro experimental. Para determinar esse fato, repeti experimento de Ptolomeu, reconstruindo seu aparelho da maneira mais fiel possível seguindo na medida do possível suas instruções bastante claras. Utilizando uma escala de nove polegadas de diâmetro, descobri que r poderia ser
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próximo, com exceção do maior ângulo de refração, onde erro poderia ser da ordem de até um grau. Admite-se que o uso de uma escala de três polegadas de diâmetro leve a erros prováveis muito maiores, mas não há razões para acreditar que Ptolomeu tenha preferido usar um escala tã inconvenienteme nte pequen a. Pto lomeu nã especifica as dimensões de seu aparelho.
quarto ponto, que empresta plausibilidade tese de que Ptolomeu adaptou sua s leituras para que as segundas diferenças se mantivessem constantes, é o fato de que as tabelas astronômicas babilônicas que retratavam distância angular traçada pelo Sol em me ses sucessivos (que le muito p rovavelmente conhecia) possuíssem precisame nte essa configuração. As séries matemáticas que os antigos conheciam muito bem, como a seqüência dos quadrados dos números naturais, também a possuem. Vale a pena observar que, essa altura da história, idéia de uma função matemática continua qu liga um variável outra ainda estava por ser desenvolvida. Se existisse algum "relacionamento quantitativo contínuo" ligando i e r, as tabelas do tipo qu estamos discutindo constituiriam os únicos instrumentos matemáticos de que dispunha Ptolomeu para expressá-lo.
Tabela l
Resultados experimentais de Ptolomeu comparados ao valores corretos
Resultados de Ptolomeu
r correto índice Calculado para de refração de 1,33
10
7°
30
20
151/2
30
14°
221/2
40
22
29
50
28
35
60
35°
401/2
10'
70
40°
451/2
37
80
44
50
57
47
5'
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fato de que os valores .para r que Ptolomeu registrou diferem mais dos valores corretos nos dois extremos da tabela do que no meio sugere idéia de que Ptolomeu tenha começado partir do meio da tabela dos valores medidos, que podemos considerar estarem a meio grau em relação aos valores corretos, e adaptado os valores no dois extremos até que as segundas diferenças fossem constantes e iguais a meio grau. Portanto, e le estava preparado para permitir que as leituras adaptadas funcionasse como as registradas, segundo método mais do que testado muito conhecido pelos estudantes de ciência. Até aqui,
Em terceiro lugar, há evidências de que Ptoíomeu realmente acreditasse precisa entre pois houvesse ahrmou ter demonstrado "que esse tipo de curvatura (refração) não ocorre em ângulos iguais, as que os ângulos, medidos partir da perpendicular, têm um relacionamento quantitativo preciso" K * > h e n e Drabkin, 1958, p. 272). Ptolomeu nã ofereceu nenhupr em apoio a essa afirmação, menos qu ordem de seus
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argumento contra Ptolomeu referiu-se apenas resultados para uma superfície ar-água. O argumento fica muito mais forte quando se observa que as outras duas tabelas de resultados de Ptolomeu, para as interfaces ar-vidro água-vidro, mostram precisamente mesma regularidade. segundas diferenças sã mais uma vez constantes iguais meio grau. Diante do que se disse acima, referência que G. Sarton (l 927, p. 268) faz ao trabalho de Ptolomeu na ótica como "a mais notável investigação experimental da Antigüidade", e observação de
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outros textos, uma combinação de intuição e sistema característica do homem", assumem um certo ar de ironia. As investigações óticas dos antigos cientistas árabes foram primeira seqüência ao trabalho de Ptolomeu. Aqueles cientistas conheciam bem a Ótica de Ptolomeu e procuraram aperfeiçoá-la de diversas mane iras. Alhazen (965-1039 d. C.) escreveu um grande tratado sobre a ótica e inúmeros trabalhos de menor importância. El procurou aperfeiçoar as descobertas experimentais de Ptolomeu criando um aparelho mais elaborado, cujo principal aperfeiçoamento era a substituição dos marcadores de Ptolomeu por um raio estreito de luz do Sol ou por uma vela. Alhazen chegou adm itir que os resultados de Ptolomeu não era m exatos, em bora ainda os empregasse quando procurava resultados das propriedades de concentração de uma esfera de vidro. Não citou nenhuma de suas próprias medições de r. Mais significativo para nossa história é trabalho realizado três séculos mais tarde po al-Farisi. Al-Farisi aceitava ordem qu havia nos resultados de Ptolomeu lutou para aperfeiçoá-los, não através de experimentos, mas empregando métodos "aperfeiçoados" de cálculo. Utilizand o as leituras de P tolomeu onde r correspondia a i = 40° e i = 50° numa interface ar-vidro, al-Farisi claramente utilizou um método "refinado", emprega ndo séries com primeira, segunda terceira diferenças constantes para calcular intervalos de um grau. para valores de que iam de 1° a 17 Os valores resultantes de r diferem mais dos valores corretos do que os de Ptolomeu. As técnicas empregadas por al-Farisi e ram comuns entre os astrônomos árabes e provinham da astronomia relacionar um variável outra usand da Babilônia, já citada. tabelas de complexidade cada ve maior, os cientistas árabes aproximaram-se mais da idéia de uma função contínua (para detalhes, veja Schrarnm, 1965). Ao contrário de sses primeiros cientistas árabe s, seus contemporâneos da E uropa ocidental eram muito m enos sofisticados adotaram uma abordagem mais qualitativa sob a influência dos
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muitas vezes referiam-se à importância da experimentação na ciência; contudo, po seus estudos sobre a lei da refração é bem difícil sustentar tese de Crombie (1962), de que em sua obra podem-se constatar as origens do moderno método experimental. Segundo Crombie, Robert Grosseteste foi um dos pioneiros do método experimental. Grosseteste dizia que a reflexão e refração estudadas com as experiências. da luz poderiam se mais Contudo, a lei da refração que ele propunha - ou seja: ângulo de refração é a metade do ângulo de incidência pode ser refutada muito simplesmente por meio do experimento. discrepância entre a reverência ao experimento, por um lado, e a ausência de resultados concretos obtidos com a experimentação real, por outro, ainda mais marcante nos textos do cientista da Silésia, Witelo. Passemos agora ao trabalho deste último. Mais ou menos em 1270, Witelo escreveu um livro sobre a ótica com b ase em todas as fontes que estavam à sua disposição, inclusive as obras de Ptolomeu Alhazen. Por nada menos que três séculos meio esta foi a obra clássica da ótica - não apenas devido à abrangência do tema, mas também porque, ao contrário de seus predecessores, estava escrita em latim legível. Nesse livro, Witeío discutia refração. Uma de suas afirmações sobre ela é seguida por este trecho: A comprovação dessa hipótese depende de experimentações feitas co instrumentos, e não de outros tipos de demonstração. Portanto, quando se deseja encontrar mane ira corno os raios de luz são refratados e m um segundo meio transparente mais denso do que o primeiro, como na água, que é mais densa que o ar (supondo que se use o instrumento descrito por Alhaz en)... (Crombie, 1962, p. 2Í9)
Witelo prosseguia, descrevendo detalhadamente um apare "° para mensuração do ângulos de refração que era uma versão aperfeiçoada do de Alhazen. Com esse aparelho, ele poderia medir para os raios qu passavam qualquer uma das duas direções
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citados por ele estão na Tabela 2. As diferenças entre e r foram, incluídas nas tabelas de Witelo. erro de subtração na primeira linha é de Witelo.
aparentemente baseava-se numa interpretação equivocada de Ptolomeu, qu escrevera em sua Ótica-.
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Examinemos em primeiro lugar os resultados relativos a arágua. Com exceção da primeira leitura, esses são idênticos aos de Ptolomeu e é provável que Witelo os tenha copiado. Seus resultados relativos ar-vidro são perfeitamente idênticos aos de Ptolofato de Witelo estar preparado para mudar primeira meu. leitura é muito significativo. Sua modificação elimina a ordem por trás das leituras e mostra que ele não havia percebido essa ordem. Ele não conhecia as técnicas da matemática, que seus contemporâneos árabes conheciam muito bem. Tabela 2 - Os resultados "experimentais" de Witelo Água-ar
Ar-água i°
10 20 30
40 50 60 70 80
7° 15° 22 29° 35° 40° 45° 50°
45'
30 30 0' 0' 30 30 0'
4° 30
30'
11 0' 15 0' 19 30' 24 30 30 0'
12° 5' 24 30 37 30' 51 0' 65 0' 79 30 94 30 110° 0'
Nossa proposiçã é a de que a quantidade da refração é mesma no dois tipos de passagens, mas as duas refrações são de tipo diferente. Em sua passagem de um meio mais rarefeito (ou menos denso) para um mais denso, o raio se inclina para a perpendicular, enquanto na passagem de um meio mais denso para um menos denso, ele se inclina para fora da perpendicular. (Cohen Drabkin, 1958, p. 279)
Essa é uma definição bastante descuidada da lei da reversibilidade. Witelo interpretou isso da seguinte maneira: para determinado ângulo de incidência, um raio que passa do ar para água defletido por x graus na direção normal, então um raio qu passa da água para o ar no mesmo ângulo de incidência será defletido po graus do normal. fato de serem as leituras de Witelo em parte copiadas e em parte calculadas de uma teoria falsa e de que, em especial, o segundo conjunto tenha pouco a ver com o que realmente acontece e significado do reduz autor sobre a importância do experimento.
30 30
11 15 19 30 24 30 30°
Passemos agora segunda metade da tabela de Witelo. Como os raios que passam da água para o ar sofrem uma reflexão interna total para grande s ângulos de incidência, um espiada de um olho moderno mostra que os resultados são absurdos não poderiam ser provenientes de me dições experime ntais. Não é difícil verificar
Nos três séculos que seguiram os eventos que acabo de descrever, os europeus ocidentais tomaram conhecimento de um núm ero cada vez maio r de textos árabe s e gregos. Os cientistas do Renascimento eram muito mais sofisticados em questões de matemática do que seus predecessores - e eram menos aristotélicos. Na primeira década do século XVII, pessoa mais notável para nossa história Kepler, qu voltou se imenso conhecimento teórico para um estudo sobre a ótica. Sua primeira fonte foi o texto de Witelo. Quando ele verificou o que pensava serem os resultados de Witelo sobre a refração (que sabemos serem de fato de Ptolomeu), seu conhecimento da técnicas do astrônomos fo suficiente para fazê-lo perceber imediatamente ordem qu havia po trás da leituras. Contudo, Kepler discordava de que o relacionamento entre e fosse aquele; estava convencido de que o relacionamento correto deveria assumir forma de uma função trigonométrica.
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experimento. Tentou i - r = k sec i, 2i - r -
tan
sen (i - r), l - tan i cot (i - r) =
sen i, itan i - tan r, tan i (aqui le começa
entrar desespero), l - tan cot (i - r sen i, - r se sen i. Nenhuma dessas i, finalmente, l - tan i cot (i - r) = fórmulas mostrou-se satisfatória, e essa altura Kepler aceitou derrota.
descoberta da lei correta não estava muito longe. Talvez os descobridores tenham sido três. Os manuscritos discutidos por Shirley (1951) que estão no Museu Britânico mostram que Thomas Harriott descobriu experimentalmente a lei por volta de 1616, embora não a houvesse divulgado. Snell também descobriu a lei talvez pouco antes de 1626, pois ela é mencionada em seus manuscritos. Também não a divulgou e até hoje não está muito clara a maneira como chegou a ela. Descartes obteve teoricamente lei do seno, talvez á por volta de 1619, foi com certeza o primeiro a publicá-la, em 1637. Sabra (1967, capítulo 4) persuasivamente afirma que Descartes chegou à lei independente e possivelmente antes de Snell, ao contrário do que dizem outros autores. Para um físico moderno, atribuição Descartes não é muito convincente, pois baseia-se em falsos pressupostos e não tem argumentação lá muito conclusiva. Entretanto, Sabra mostrou que a argumentação de Descartes tem muito sentido, quando se considera sua teoria dentro de seu contexto histórico. A história da lei da refração certamente é um golpe em qualquer idéia mais simplória de uma ciência progredindo uniformemente através de cuidadosas generalizações a partir de resultados de observação experimento. grotesco dos pesquisadores antigos serve para mostrar que o método experimental que a ciência moderna aceita sem discutir nem sempre existiu. A habilidade artesanal que a experimentação exige, a cuidadosa eliminação das fontes de erro, repetição e a crítica das leituras interpretações, a estimativa de erros prováveis e assim por diante gradualmente foram aparecendo durante século XVII, deve muito pioneiros como Kepler Galileu. Quando pensam na natureza, os cientistas
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ÍNDICE DE AUTORES
Albury, D.,160, 17 Albury, R., 42, 175 al-Farisi, 170 Alhazen, 170-1 Althusser, L, 39,175 Anscombe, E., 17 Aquino, T. de, 47, 76, 143 Aristóteles, 26 31, 46-8, 75-6,170 Arquimedes, 26,48-50, 56 Armstrong, D., 40, 17 Bacon, R, 14,44,67-8 Barnes, B., 112, 114,129, 17 Barnes, J., 46, 175 Bartels.D., 160, 17 Bhaskar, R., 53,91,175 Block, L, 16,175 Blondlot,R., 71,106,126 Bloor, D., 63,109, 111, 114, 115,124-5, 175-6
BockJ.W., 76,176 Brahe, T., 80, 82 Brewster, D., 43, 45
Chalmers, A. F., 11, 17, 21, 25, 28, 50,
66,105,116,120,154,176 Charleton.W., 12 Chiaramonti, S., Clavelin, M., 48, 51,75, 17 Clavius, C., 80 Cohen, M. R., 166,168,173, 17
Collier.A., 97, 176 Collins, H. M., 13, 19, 21, 99-106, 110, 116,150,177
Copérnico, N., 64-5, 72-3, 79 81-3 Cox,G., 13, 21,110,176-7 Crombie.A. C., 167,171,177 Currie, G., 56, 181 Darwin.C., 117-9,131-2, 14 Davy, H. 160-3 De Belidor, 42 Demócrito, 43 Descartes, R., 14, 24-5, 35, 56, 165,174 Douglas, M., 115 Drabkin, I. E, 166, 168, 173, 17 Drake, S., 53, 77,81 ,177