CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam
ASSOCIAÇÃO MINISTÉRIO ENSINANDO DE SIÃO Filiada ao Netivyah Bible Instruction Ministry (Israel)
CURSO DE TEOLOGIA DA RESTAURAÇÃO (CTER): a Bíblia no contexto judaico-messiânico Disciplina Disciplina (CAT030): João e o Logos Prof. Joseph Shulam
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JOÃO E O LOGOS
O texto do apóstolo João não só é interessante: também é de difícil entendimento, por se tratar de áreas que normalmente não estudamos. O conceito de inspiração das Escrituras Sagradas, tanto na forma judaica ortodoxa, quanto na forma cristã, é chamado de “Inspiração Plena Verbal.” Isso significa que tudo que está escrito nas sagradas Escrituras foi ditado por D’us, e os autores escreveram conforme ouviram. Contudo, o papel original onde estas palavras foram escritas, as primeiras cópias, nos são inacessíveis. O que temos como referência são cópias das cópias das cópias. E as traduções que utilizamos, em diversas línguas, resultados de comitês, cujos integrantes pesquisadores escolheram, dentre um grande número de textos, uma coletânea que culminou na redação que temos hoje. Devido a isso, a posição cristã diante das Escrituras, diz que o “ditado verbal”, não faz sentido nos nossos dias. Quando lemos esses textos nos idiomas em que foram escritos – hebraico, aramaico e grego –, percebe-se em cada livro um estilo literário diferente. Por exemplo, o estilo literário do livro de Ruth é diferente do estilo de D’varim – Deuteronômio. Percebemos diferenças quanto ao vocabulário, em função da época em que o livro foi escrito (1Re 5 a 8). O que estamos tentando esclarecer é que o texto bíblico reflete o lugar e a época em que aconteceram e foram escritos, o estilo e os problemas que os autores tinham. Ou seja, foram pessoas que escreveram tais acontecimentos, com suas impressões pessoais da época em que viveram, e D’us não suplantou a porção humana impressa nesses escritos. O que devemos ter em mente, é que a porção divina dos relatos bíblicos, são os eventos que D’us causou ou influenciou na história, que foram descritos por testemunhas fiéis, e que foram protegidos pelo Espírito de D’us. É por isso que temos só Copyright © Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida Pr oibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 2/28
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quatro evangelhos, e há entre eles diferenças muito perceptíveis. O mesmo acontece também no livro de Deuteronômio, que é a repetição do que está escrito em Êxodo, Levítico e Números. Outro exemplo são os livros primeiro e segundo de Samuel, dos Reis e das Crônicas: podem-se perceber detalhes e particularidades distintas. O Evangelho de Mateus começa pela genealogia de Yeshua, mas, no Evangelho de Marcos, o autor não menciona nem a genealogia, nem a história do nascimento de Yeshua. O Evangelho de Lucas começa com o nascimento de João Batista, e depois o relata o nascimento de Yeshua. Já o Evangelho de João não começa nem com nascimento de João Batista, nem com o de Yeshua. O que podemos extrair disso, é que são pessoas diferentes com pontos de vista diferentes, mas que descrevem sobre uma mesma história. Tudo isso se constitui um problema na interpretação das Escrituras, tanto no Tanakh,1 quanto na Brit Chadashá. 2 Assim, se crermos que a Bíblia foi ditada pelo Espírito Santo de D’us, podemos ser levados a crer que, em um texto mais recente, o Espírito Santo de D’us se esqueceu do que havia dito antes, pois veio a ditar um texto diferente. Devemos entender que “inspiração” nada mais é que homens fiéis registrando, como testemunhas, o que D’us fez no contexto de seu tempo, em sua época, cultura e local de habitação. A partir desse pensamento, percebemos no Evangelho de João, que o autor está agindo dessa mesma forma, ou seja, ele está escrevendo para uma platéia grega, dentro do contexto cultural grego, mas usando o pensamento judaico, para mostrar que Yeshua é o Messias. O Evangelho de João é um escrito voltado para o fortalecimento da fé com propósitos evangelísticos, e totalmente dentro do contexto cultural greco-romano, de sua 1
TaNaKh, ou Antigo Testamento: (1) Torá, (2) Neviim e (3) Ketuvim, ou seja, (1) Pentateuco, (2) Profetas e (3) Escritos, conforme o agrupamento dos livros da Bíblia na tradição judaica. As Bíblias judaica e cristã são diferentes quanto à ordenação e agrupamento dos livros.
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Nova Aliança, ou Novo Testamento. Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 3/28
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época. Apesar disso, João usa como referência o Tanakh, como podemos perceber logo no primeiro verso: “B’reshit”, “No princípio.” O que João pretendia era levar sua platéia, ou seus leitores a se conectarem com os primeiros versos de Gênesis. Ao contrário do pensamento ocidental, ele não está querendo convencer ninguém a nenhuma corrente filosófica grega, mas levá-los a se conectarem com a mensagem bíblica. João quer converter seus leitores, ao D’us de Israel, ao Messias de Israel e à eleição de Israel, partindo da premissa de que eles não têm conhecimento da Torá. Devemos também levar em consideração que, no pensamento filosófico grego daquela época, o tempo e o universo sempre existiram – estavam lá. O conceito de tempo para o pensamento judaico é linear, 3 ou seja, dentro da Eternidade de D’us, houve um momento para o “início” de todas as coisas. 4 O tempo de D’us tem início e terá um fim, pois está escrito no Tanakh e na Brit Chadashá que haverá “novos céus e nova terra.” Esse é um conceito da Torá e não da Brit Chadashá. João começa dizendo “No princípio era a Palavra.” Note que a Palavra existia: ela era. O tempo verbal apresentado aqui é “passado.” No original grego, está escrito que “A Palavra” estava lá, ela existia. Dessa forma, podemos entender que a Palavra não foi criada. E esse “Verbo”, “Palavra”, estava com D’us. E se ela estava, não pode ser a mesma pessoa, mas uma outra pessoa. E essa Palavra que está com D’us no princípio é D’us. Para o pensamento judaico, isso não é difícil de entender, mas para uma mente ocidental cristã induz a interpretações falsas. O conceito que João está tentando ensinar e introduzir no pensamento grego é muito judaico. João usa a palavra “logos”, que começou a ser usada por Zenão quatro séculos antes. Zenão foi muito influenciado pela filosofia de Hieráclito.
3
O conceito de tempo no pensamento cristão é cíclico, influenciado pelo pensamento grego-romano. Mas o tempo, no pensamento judaico, é linear: tem início, meio e fim.
4
Antes de B’reshit, só havia a G’vura – Poder Pleno.
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Se nesse texto João quisesse dizer que Yeshua é D’us, ele não precisaria ficar floreando o texto, ele simplesmente diria. Mas João tem um propósito para proceder assim. O uso da palavra “logos”, no pensamento grego, é interpretado como o “Elemento Unificador da Natureza”, ou o elemento que traz ordem ao “caos da natureza.” Tentem avaliar isso no centro de um mundo sem D’us, um fundo filosófico, destituído de um conceito monoteísta de “Adonay Echad” – “D’us é um”. A observação de Zenão à natureza o levou a conceber que existe uma certa ordem nela e que ela tem uma explicação, uma lógica. Há uma lógica para o nascer e o pôr do sol, e em tudo que há na natureza. João usa esse termo grego filosófico – “logos” – e diz: “No princípio era o logos.” Uma pintura tem a assinatura do artista, ou a forma como ele enxerga a cena e a reproduz. Por isso podemos afirmar que uma pintura é de determinado artista. Por que o caráter, a personalidade e a impressão digital estão na criação. Vejam: a foto de uma pessoa é a pessoa. Se cortarmos a foto, a pessoa não sentirá dor, mas se cortarmos a pessoa da foto, ela sentira dor e sangrará. Por isso, João diz que o Logos estava com D’us e que o Logos é D’us. No segundo versículo ele repete: “Ele estava com D’us no princípio.” João repete para que seus leitores não tivessem dúvida: Ele é D’us e Ele estava com D’us. No verso três, ele diz: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” Há um pensamento judaico que diz que tudo que existe tem um nome e foi criado por palavras. Ora, as palavras são formadas por letras. Assim podemos entender que D’us falou ao mundo e o trouxe a existência. Ele disse: “Haja luz”, e a luz passou a existir. Ele disse: “Produza a terra árvores, e relva, e flores”, e a terra produziu, árvores relva e flores. Pelo uso da palavra “logos”, nos versos 1, 2 e 3, João quer enfatizar que a criação tem ordem e lógica. Querendo ou não, o mundo ocidental foi influenciado pela Palavra de D’us, e isso é bem entendido pelos judeus, pelos cristãos e até pelos muçulmanos. Mas, se não conhecêssemos a Bíblia, e se não crêssemos que o mundo foi criado por um D’us, não chegaríamos à conclusão de que criação tem ordem e lógica. Chegamos a essa Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 5/28
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conclusão por que conhecemos a Bíblia. Quando João diz para sua platéia grega que o mundo foi criado pelo “Logos”, pela Palavra, ele diz: existe um D’us, Criador, que tem
uma Palavra, e essa Palavra é o instrumento para dar início à criação. Para o pensamento grego, essa informação se torna uma boa notícia, porque o princípio motivador do texto de João é dizer que Yeshua é a lógica, ou seja, o criador da ordem para o caos em que se encontrava o mundo. Yeshua é o propósito, a razão e
a glória de toda a criação. João está dizendo que tudo o que foi criado o foi pelo Logos. A Carta aos Hebreus (cap. 1) confirma de forma judaica o que João está dizendo aos gregos: que o filho é a revelação de D’us para nós hoje. Ele é o herdeiro de todas as coisas. Ele foi o criador de todas as coisas. No texto grego, a palavra é
kosmoe
(kosmoe)
e está no plural – “mundos” –, significando “Universo”. Yeshua é também a Luz, para resplandecer a Glória de D’us, como está descrito no Evangelho de João. Os textos de João e de Hebreus, informam que, não só no passado, mas também no presente, Yeshua é o sustentador da criação. Os rabinos dizem que todo o Universo foi criado para o Messias, e é exatamente isso que é dito: “tudo foi criado para Ele e por Ele, e Ele sustém todas as coisas.” Ele é a fonte da existência da vida nesse mundo. “Nele estava a vida, e a vida era a Luz da humanidade” (Jo 1:4). Na Carta aos Hebreus, diz-se que Ele era o resplendor da Glória, a Sh’khinah 5 – brilho ou resplendor aludem a Luz. João está introduzindo um conceito que já era conhecido pela mitologia grega a respeito do primeiro ser humano criado. No mito, o nome do ser era
fws
(Phós)
– Luz. João está unindo conceitos gregos e conceitos hebraicos, para ensinar sobre o Messias, usando a Torá. Nos primeiros versos, lemos que Yeshua já existia (cf. também: Jo 17:24; Ef 1:4; 1Pe 1:20; Ap 13:8). No quarto verso, João está fazendo alusão aos fatos de que o corpo 5
A palavra Sh’khinah aparece apenas na literatura rabínica, havendo na Torá somente alusões a essa presença divina. Por exemplo, em Ex 25:8: “ ” – “E fareis um santuário para Mim, e habitarei neles.” Observe-se que a palavra “ve shakhanti” tem a mesma raiz da palavra Sh’khinah. “Veshakhanti” é uma conjugação do verbo (shakan), que significa habitar.
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de Yeshua era feito de Luz e de que a Luz é o poder que dá Vida. Isso nos conduz a uma interpretação judaica de Gênesis, sobre o pecado de Adão e Eva. A primeira percepção de Adão e Eva, pós-transgressão, foi terem visto nus a si mesmos, e então começaram a se esconder de D’us. Quando ouviram a Voz de D’us andando pelo Jardim, não era D’us que estava andando, mas a Palavra (Gn 3:8-10). No séc. II a.C., quando a Torá foi traduzida para o aramaico por Onkelos – um prosélito do judaísmo –, este traduziu Gn 3:8-10 com a palavra “Memra”, que é a correspondente aramaica para “Logos.” Então, Adão e Eva estavam se escondendo de Memra, Logos, Palavra de D’us que andava pelo jardim. Não apenas D’us criou o mundo, dizendo “Haja Luz”, “Haja separação entre a terra e as águas”, “Produza a terra vegetais”. Não só D’us criou o mundo com o Logos, Palavra. Quando Adão e Eva pecaram, após a obra da Criação ter sido acabada, o Logos ainda estava lá. A voz de D’us estava lá e falava, por que a Voz de D’us disse para Adão, “Onde está você?”. Somente D’us é Onisciente. Yeshua não é onisciente (cf. Mt 24:36). Então, o Logos não é onisciente. Se Ele fosse onisciente deveria saber onde Adão e Eva estavam. E Ele também estava lá no Jardim, mas não os via. Conforme descrito em Gn 3:21, “Adonai, D’us, fez roupas de pele para Adão e para sua mulher, e os vestiu.” A versão cristã dos Pais da Igreja, explica esse texto dizendo que D’us sacrificou um cordeiro, fez a cura do couro, pegou uma agulha e linha, mediu Adão e Eva e costurou-lhes uma vestimenta para cobrir sua nudez. Mas, no pensamento judaico, Adão e Eva tinham corpos feitos de luz, e D’us lhes deu um material “opaco” de carne e osso, pele, e os vestiu com corpos de pecado. Porque, se eles não tivessem pecado, eles não morreriam, mas Paulo diz: Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram. Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado não havendo lei. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir. (Rm 5:12-14)
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Se eles não tivessem transgredido o mandamento de D’us, eles viveriam eternamente no Jardim, e a promessa de D’us foi que morreriam se transgredissem. E a morte começou a atuar neles a partir do momento em que eles receberam um corpo como o nosso. João tem esse mesmo pensamento e tenta influenciar o pensamento grego dentro desse princípio. O homem, como o Messias, deveria viver eternamente. “A Luz brilha nas trevas e as trevas não entendem isso.” (Jo 1:5) Ele era a Luz que brilhava nas trevas, mas as trevas não O aceitaram. No Tanakh, a palavra “trevas” é usada, na maioria das vezes, nos Salmos e nos profetas para descrever a condição do mundo pagão dos gentios. Ou seja: os gentios sem D’us estão mortos. Paulo (Ef 2) e João (1:5) também confirmam essa posição. Podemos interpretar “trevas” de diversas formas. Escuridão de forma generalizada, ou qualquer tipo de escuridão, por exemplo. Mas não dentro do contexto de João. Pois a física provou o que o pensamento grego já sabia: que a luz espanta as trevas, e onde não há luz há trevas. Esse é o princípio físico que João quer mostrar, mas não é o que ele está dizendo. Ele diz que a Luz brilha nas trevas, no tempo presente, agora. A Luz ainda resplandece nas trevas, e isso não foi só no tempo da Criação. Diante disso temos: Existe o Logos que é a Palavra de D’us. A Palavra de D’us está com D’us, e a Palavra de D’us é D’us. Essa Palavra criou tudo. Essa Palavra é a Vida, e a Vida é a Luz. Essa Luz brilha nas trevas, e as trevas ainda não podem compreendê-la. Isso é verdade hoje como foi ‘No princípio’.
É fácil adorar coisas, mas é difícil entender a essência da adoração a D’us: como nossa oração pode chegar aos ouvidos de D’us, como podemos entender o funcionamento da vida dos crentes sendo inspirados pelo Espírito de D’us, como a obra da salvação atua em mim e me direciona. Isso é algo de difícil compreensão. É fácil adorarmos a D’us e adorarmos Yeshua, mas é difícil entendê-los. Temos Yeshua como nosso Salvador, como Juiz, como D’us, como Amigo, mas a última coisa é Yeshua como Professor, como Mestre.
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Assim era como as pessoas do Seu tempo O conheciam e O queriam, porque só se pode ser aluno se houver alguém ensinando. Ninguém quer o ensino de Yeshua Rabeinu, porque são ensinos muito duros. Ele nos compara a uma árvore, e diz que se não dermos fruto, seremos arrancados e jogados ao fogo. As “Boas Novas” são duras. Ele também diz: “E você colocar seu pai, sua mãe ou seu irmão na minha frente, você não é digno de mim.” Isso não só é difícil, mas também muito duro. João traz a essência do Evangelho, usando esses termos gregos filosóficos, e casando esses termos com o livro de Genêsis, com a história da Criação, e introduzindo no mundo grego esses conceitos judaicos da Criação. João (1:6), apresenta João, o Imersor, 6 de uma forma peculiar e que sai totalmente da sequência apresentada até o verso 5. A pergunta aqui é: “Por que o escritor está fazendo isso?” D’us usa muitas pessoas, muitas ferramentas, para seus objetivos, mas aqui, o escritor não quer que pensemos que todo mensageiro de D’us é igual ao Logos. O profeta Isaías também proclamava nas ruas de Jerusalém: “Assim diz o Senhor”, “o Senhor D’us vos fala”. Isso não queria dizer que Isaías fosse o Logos. A palavra de D’us estava saindo através da boca de Isaías – ou de qualquer um dos outros profetas – e eles eram mensageiros de D’us. João usa um recurso para mostrar que o Logos não é um mensageiro, e que João, o Imersor, não era a Luz, mas uma testemunha da Luz. Yeshua é a monogênese, 7 o único criado com a sua própria natureza, o unigênito de D’us. E, como unigênito de D’us, Ele pode ser mensageiro de D’us. Ele foi enviado por D’us e está falando as Palavras de D’us. Yeshua diz duas vezes no Evangelho de João, “Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou.” (Jo 14:24) Yeshua é mensageiro, mas João está dizendo que Ele é mais que um mensageiro, Ele é maior que João, o Imersor.
6
João Batista. “Batismo” vem do grego (miqvéh).
7
Teoria segundo a qual todos os seres derivariam por evolução de um mesmo ser primordial.
baptizw
(baptizó): mesmo que “imersão”. Em Hebraico,
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É por isso que João quebra a sequência do pensamento e só retorna no verso 14 para dizer que não são todos os mensageiros de D’us iguais ao Logos. Só Yeshua é o Logos. O testemunho de João é que a verdadeira Luz que veio ao mundo, ilumina todo homem. Quando um judeu lê esse texto, ele entende que a Torá é essa Luz que foi dada pelo Logos a todo homem que vem ao mundo, por que a Torá é também chamada de Luz, Óleo, Água. Quando João menciona a João, o Imersor, como testemunha da Verdadeira Luz, é esse Logos que se fez carne, se tornou ser humano. O autor do livro de Hebreus diz que Yeshua é a Torá, é Ele que Ilumina a Torá. João tenta mostrar aos gregos que Yeshua é a Luz de D’us que veio a todo homem, e todo ser humano tem se beneficiado da obra de Yeshua, do Logos de D’us, da Palavra de D’us, seja ele cristão, mulçumano, judeu, budista ou hindu. A Palavra de D’us tem influenciado toda a raça humana. Os direitos civis, a abolição da escravatura, valores morais ocidentais, a Carta Magna, o Presidente Lula e até mesmo os que se chamam ateus foram influenciados e se beneficiam hoje da Palavra de D’us. E eles não gostariam de viver em um mundo onde não existissem direitos, e leis, e os Dez Mandamentos, e igualdade entre raças, homem e mulher. Todas essas coisas e valores que o mundo aprecia hoje são resultado da Luz que veio de Yeshua e resplandeceu sobre todo o mundo. “Estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu.” (Jo 1:10) A palavra “intermédio”, no contexto grego, quer dizer “através”. Dentro desse contexto, Yeshua não é o Criador, mas o instrumento da Criação. Dentro do pensamento judaico, o Logos – Yeshua –, a Luz, a Vida, são instrumentos e não possuem finalidade em si mesmos. Com essa noção, se fomos criados para viver, por que morremos? E se vivemos para morrer, por que vivemos? Assim, a vida em si mesma não é o objetivo final, mas uma ferramenta. Ou seja: a vida é uma passagem, uma ponte que devemos atravessar sem temer. Esse conceito judaico de “vida” está também na Brit Chadashá: “Somos peregrinos e estrangeiros atravessando esta terra.” (1Cr 29:15 // 1Pe 2:11) O propósito Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 10/28
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da nossa existência é passarmos por esta vida e alcançarmos uma existência duradoura. Esta vida não é o objetivo final, mas um instrumento para nos preparar e treinar para algo melhor e eterno. João está dizendo que Yeshua também não é o propósito final, mas um instrumento. Como a Torá, a Palavra de D’us e a Igreja são instrumentos. No momento em que a Igreja pensar que ela é o propósito final da criação e não o instrumento, estaremos com um grande problema e seremos uma seita. João diz que “o mundo foi criado através dele, e o mundo não o conheceu”. Será que isso é uma condenação para o mundo? Não. Uma mãe está grávida de um bebê. Ele não a conhece, mas isso não é uma coisa ruim. Se ela comer dentes de alho, ele vai saber e perceber, mas ele não conhece sua mãe. João diz a mesma coisa do Messias. Isso é natural. O que não é natural é: “Ele veio para o que era seu e os seus não o receberam.” (Jo 1:11). Ele não veio para nenhum outro povo a não ser o povo judeu. É aqui que está o problema. O povo d’Ele deveria estar preparado desde dois mil anos antes de sua vinda, mas não o reconheceram: essa foi a grande tragédia. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de serem chamados filhos de Deus, aos que crêem em seu nome.” (Jo 1:12) Essa é uma doutrina pouco ensinada no cristianismo evangélico. Esse direito é um privilégio, mas podemos pegá-lo ou rejeitálo. Pegá-lo hoje e recusá-lo amanhã. Por que é um direito. Mas, para termos o direito legitimamente, devemos fazer uso dele. Temos o cheque de um milhão de Reais. Se o guardarmos na gaveta, podemos até dizer que temos essa quantia, mas se não descontarmos, não usufruímos dele. O que João quer enfatizar é que todo homem, de qualquer nação, que o recebe, que dá testemunho d’Ele, recebe o direito, o privilégio de ser chamado filho de D’us. Há no cristianismo uma noção de que somente são filhos de D’us os que aceitam o Messias como Senhor e Salvador. Mas na interpretação judaica, todo ser humano é filho de D’us, porque D’us os criou a sua imagem e semelhança (Gn 1:26,27), embora os que
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testemunham Yeshua como Mashiach são filhos para a salvação, e os demais para a condenação. Contudo, uma pessoa somente é chamada de filho de D’us quando esse direito é posto em prática. Isso contraria o que a doutrina cristã tem pregado há quase dois mil anos: “É só aceitar Jesus como Senhor e Salvador e ser batizado.” Na verdade, esse direito é dado por Yeshua, o Logos, no momento em que o colocamos em exercício. Esses filhos são os que crêem em Seu Nome. No evangelho de João, a questão do Nome é de muita importância, porque O Nome de Yeshua em hebraico quer dizer “D’us é Salvação.” O nome grego “ Ihsouj” (Iesus) é uma transliteração e não tem significado nenhum em nenhuma língua. Essa forma de transliteração do hebraico para o grego, do grego para as outras línguas – Issa, no árabe; Gesù, no italiano, Jesus, no português
etc.
–, pode reduzir o entendimento
sobre quem verdadeiramente Ele é. Mas, a todos quantos o receberam, aos que depositaram confiança na pessoa e no poder dele, Ele lhes deu o direito de se tornarem filhos de Deus, Não por causa da linhagem [sangue], nem da vontade da carne [pai e mãe – impulso físico], nem da vontade do homem, mas por causa de Deus. (Jo 1:12,13, tradução de David Stern)
Nascer de novo é um termo muito popular no mundo cristão. Na Bíblia, porém, nascer de novo é algo muito concreto, não é somente espiritual. Representa uma
mudança da matriz de nossa vida. Para sermos discípulos de Yeshua, chamados Filhos de D’us, significa estar neste mundo e não pertencer a ele. Vivemos aqui na carne, mas nossos valores e lealdade não são para esta realidade.8 Há uma mudança de aliança, das instituições deste mundo, para uma instituição real de valores de um novo Reino. Como discípulos de Yeshua, não pertencemos a este mundo, mas estamos atravessando a ponte que é este mundo, para um local que qualquer que ele seja e nos espera, é muito melhor do que o que tem aqui.
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(Olam haZeh), “este mundo”.
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Se não crermos que haverá uma vida eterna, que haverá um dia de juízo, que nesse dia Yeshua vai cobrir seus pecados – se não crermos nisso, nós estamos perdendo tempo, pois essa é a essência de “nascer de novo”. Paulo diz que éramos escravos do pecado, mas, no batismo, morremos com o Messias, ressurgimos dos mortos quando saímos da água e, a partir desse momento, somos escravos de D’us (Rm 6). Quando, como discípulos de Yeshua, não estamos felizes é porque tentamos viver em dois mundos simultaneamente, tentando agradar a dois senhores. Um dia você ama um e odeia o outro. Noutro dia, odeia o primeiro e ama o segundo. O Corpo do Messias, a Igreja, deve aprender esses princípios básicos e colocá-los em prática, pois aqueles que nasceram de novo têm com matriz e valores novos para conduzir sua vida – as regras expostas na Palavra de D’us: a Torá, os profetas e os apóstolos. A Palavra se tornou um ser humano e habitou (tabernaculou) entre nós (Jo 1:14). Isso é verdade ainda em nossos dias, e Ele continua a bater nas portas de nossas vidas. Mas a chave está dentro de nós: essa é uma ação que nós temos que executar, a de abrir a porta e deixar que Ele entre. O conceito de “logos” é um dos mais complicados da Bíblia e também do judaísmo. Como é uma união de conceitos gregos e judaicos, de filosofia grega com a Palavra de D’us, tentar simplificá-lo requer um esforço de ambas as partes. João usa esse recurso para fins evangelísticos, e ele é o único que usa a palavra “logos” dessa forma. A palavra “logos” aparece 311 (trezentas e onze) vezes no Novo Testamento. Na maioria das vezes, a tradução de “logos” é usada para designar “palavra”. No hebraico, há três vocábulos para designar palavra: (1) “milah”, que significa “palavra”; (2) “amar”, que significa “dito” e que também pode significar “palavra”; e (3) “davar”, o termo mais complicado, que pode significar “palavra”, “evento”, “acontecimento”, “coisa” e, até mesmo, “nada” – “shundavar” é o mesmo que “nada”. A Bíblia usa todos estes termos. Em nosso cotidiano, o uso das palavra é complicado. As palavras são como recipientes, porque tudo depende de o quê você “coloca” na palavra, como a dizemos, com que ênfase, pois as mesmas palavras ditas em tons diferentes são compreendidas de formas diferentes. Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 13/28
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D’us resolveu se revelar à humanidade através da Palavra. Para isso, a literatura tem de ser entendida, mas as palavras podem mudar o sentido, porque elas têm sentidos múltiplos. Uma palavra dita há cinquenta anos pode hoje significar algo bem diferente. Mesmo dentro de um país, os dialetos e a forma de compreender as palavras são diferentes, ou seja, palavras diferentes para a mesma coisa e vice-versa. Geralmente a palavra “logos” significa “Palavra de D’us”, a “Bíblia”, e é assim que é usada nos Evangelhos, nas Cartas de Paulo, no livro de Atos. Mas João usa a palavra “logos”, dentro do contexto filosófico de uma escola grega, e tenta unir esse conceito grego com o conceito judaico. João pega um conceito filosófico do séc. IV a.C., usado pela filosofia estóica, para dizer que Yeshua é a Palavra, o “logos” do estoicismo. 9 Os estóicos eram pessoas escolarizadas, e a sua origem nos sugere que eram “preguiçosos”. Quem poderia ficar à toa pensando? Pessoas que não trabalhavam, ricas o suficiente para filosofar – daí também a origem da palavra “escola”. 10 Esses filósofos pensavam sobre o quê, e qual o elemento que une o Universo, qual a razão da vida. Os estóicos eram pessoas tristes e pessimistas, pois falavam que o mundo era uma bagunça, que está envelhecendo, que a vida não tem gosto, e então há sofrimento ao longo da vida. Os estóicos foram os que começaram a usar o termo “logos”, e é por isso que João tenta convencer os gregos de que D’us criou o Mundo: Ele usou esse poder unificador, a razão e a lógica – e essa lógica se tornou um homem, e esse homem é Yeshua. João afirma isso (1:14), mas ele não usa, e não informa o nome de Yeshua. João também não usa as palavras “judeu”, “Israel”, “Torá”, “cristão”. Ele fala no geral,
9
“Doutrina fundada por Zenão de Cício (335-264a.C.), e desenvolvida por várias gerações de filósofos, que se caracteriza por uma ética em que a imperturbalidade, a estirpação das paixões e a aceitação resignada do destino, são as marcas fundamentais do homem sábio, o único apto a experimentar a verdadeira felicidade. O estoicismo exerceu profunda influência na ética cristã.” (HOUAISS, Antônio. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0.5. Instituto Antônio Houaiss, 2002. Verbete “estoicismo”.)
10
“Lat. schola(ae) ‘lugar nos banhos onde cada um espera a sua vez; ocupação literária, assunto, matéria; escola, colégio, aula; divertimento, recreio’, do gr. skhole(es) ‘descanso, repouso, lazer, tempo livre; estudo; ocupação de um homem com ócio, livre do trabalho servil, que exerce profissão liberal, ou seja, ocupação voluntária de quem, por ser livre, não é obrigado a; escola, lugar de estudo’.” (Idem. Etimologia do verbete “escola”.) Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 14/28
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tentando convencer os adeptos do “mundo das idéias”, da filosofia, que aquela lógica se tornou algo tangível, visível e que nós a vimos, vimos a Glória – Sh’khinah. Essa idéia sublime de o Logos descer até nós era impossível ao pensamento grego, por que o cosmos grego era dividido entre o mundo dos deuses – o Olimpo – e a terra onde nós estamos. Esta era considerada o mundo dos mortais, e esses dois mundos não se relacionam a não ser em raras ocasiões. Os “deuses” querem ficar em paz, e não querem ser incomodados pela humanidade. Havia também a figura do demiurgo, meio deus e meio homem. O mais famoso de todos é Hércules, filho de Zeus com uma mulher mortal. Esses demiurgos podiam transitar entre esses dois mundos e faziam uma ponte entre os homens e os deuses. O conceito cristão que foi desenvolvido logo após o século primeiro, e que foi copiado de Platão, era exatamente esse. Platão usou a noção de “logos” como o mediador entre o mundo divino e o mundo terreno. Podemos perceber essa forma de pensar nas representações artísticas cristãs que usaram o mesmo modelo na arte sacra. João diz que o Verbo, a Palavra, fez-se carne e habitou entre nós (1:14). Isso era quase uma blasfêmia para o pensamento grego, pois os gregos não entendiam como o divino poderia descer e se revestir de carne. Paulo também lida com o problema em vários textos, e o mais conhecido é Fl 2:6-7: “Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens.” Quando comparamos os textos de João e de Paulo, notamos duas palavras que aparentemente se contradizem. As palavras são “forma” e “semelhança”. No entendimento de João, Paulo estaria errado, pois, para João, Yeshua é verdadeiramente homem de carne corruptível. Paulo vê Yeshua sob um prisma diferente, essencialmente sob dois prismas. No primeiro, ele vê D’us se revelando ao homem em forma de homem, mas não completamente homem, embora mais que um simples homem. No segundo, Paulo O vê em semelhança de homem. Para Paulo, Yeshua é um homem que alcançou D’us – e é
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D’us que alcançou o homem. Essas duas direções se encontram na pessoa e no caráter de Yeshua. Pela ótica de João, Yeshua não se revela assim. Para João, há somente uma forma de enxergar Yeshua: de cima para baixo, na direção divino-humano. Isso nos ajuda responder outra pergunta: Por que a Torá veio dos Céus? Por que D’us revelou a Torá a Moisés, e Moisés a revelou ao povo? Entender isso é difícil para Israel. Há uma história, que é a chave para entendermos o judaísmo farisaico nos tempos de Yeshua. Na parte interna de um forno, o tijolo não pode ser revestido de argamassa, mas em sua área externa pode ter revestimento para selá-lo. Se for usado para cozinhar alguma coisa à base de leite, como queijo, e se o queijo se espalhar nos poros daquele revestimento, e depois esse forno for usado para cozinhar um alimento à base de carne, e a carne também grudar nos poros, o forno terá misturado leite e carne em seus poros. Então, para que um forno seja considerado kasher, 11 não pode ter internamente nenhuma cobertura nos tijolos, por que esse material é poroso. Havia um homem que construía fornos e o nome dele era Arnay. Ele construiu um forno, e o forno era construído de tijolos. Outros judeus estavam discutindo sobre esse forno que Arnay construiu. Um rabino disse para Arnay: – Seu forno não é kasher. Mas o rabino dele, Eliezer, disse que era kasher, porque, pelo princípio judaico, o fogo purifica. Então houve uma grande discussão entre o rabino professor e os seus talmidim, que também eram rabinos. Os discípulos diziam que o forno não era kasher, mas o professor dizia que era kasher. O rabino professor disse então que provaria sua responsa 12 e daria uma prova dos Céus. Então ele disse para uma árvore: – Arranque-se daqui e plante-se no mar! E a árvore saiu de onde estava e se plantou no mar. Então os discípulos disseram: 11
Dentro das normas haláchicas de purificação, no conceito rabínico.
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Respostas para perguntas sobre o judaísmo e a vida judaica. Diferentemente das resoluções, que são adotadas por voto nas convenções, a responsa fornece uma guia, e não uma regra.
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– Não podemos fazer halachá 13 baseada em árvores. Foi um milagre, mas um milagre não serve para se fazer halachá. Então o rabino disse para seus discípulos: – Vou lhes dar outra prova. Vocês estão vendo esse aqueduto e como a água sai da parte de cima para a parte de baixo. Pois bem: eu darei uma ordem a ela, para que ela inverta seu fluxo. O rabino deu a ordem e a água começou a subir pelo aqueduto. Os discípulos então disseram: – Não podemos fazer doutrinas baseadas em milagres de aquedutos, porque milagres não provam a Lei. Então o rabino disse-lhes: – Vou pedir a meu Pai, que está no céu, que fale com vocês que eu estou certo. Nesse momento veio uma voz do céu e lhes disse: – O rabino Eliezer está certo. Ao que os discípulos responderam: – Mas a Torá não está no céu. A Torá já desceu até nós. Ela está na terra.
Essa é uma frase muito famosa, que, para os judeus, significou que D’us deu a Torá aos homens, que agora nós somos guardiões da Torá e que a maneira como decidimos as doutrinas aqui – a halachá – é lidando com o texto, interpretando-o, e não por meio de milagres ou revelações (conferir Gl 1:8). João (1:14) confirma essa mesma idéia quando não diz que o Logos esteja nos Céus, mas sim que veio habitar conosco aqui na terra, quando diz que a Palavra se fez carne e que ela vive entre nós, e nós vimos a Sua Glória. João está tentando ensinar que, se olharmos os seres humanos, a carne, podemos ver a Glória de D’us. Não é necessário termos uma experiência extracorpórea, espiritual, para vermos a Glória de D’us. A própria carne, o homem, já é uma 13
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proclamação da Glória, da revelação e da presença de D’us. Podemos deduzir que João não está falando só de Yeshua, mas de toda a humanidade, pois fomos criados à imagem e semelhança de D’us, como está descrito em Gênesis. Quando observamos o nosso próximo, o nosso irmão, o nosso semelhante, devemos vê-los como a revelação da Glória de D’us. João (1:14b) continua: “E vimos a Sh’khinah, a Sh’khinah do Filho único do Pai, repleto de graça e verdade.” O que João quer nos dizer? De onde ele tirou essa combinação: “graça e verdade”? Da Torá. Porque a revelação de D’us na Torá, é graça e verdade. “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Yeshua haMashiach.” (Jo 1:17) A expressão “graça e verdade” vem do livro de Êxodo, no capítulo 34. Mas a base é o capítulo 33, quando Moisés discutia com D’us, após o evento do “Bezerro de Ouro”. No verso 20, Moisés pede a D’us: “Mostra-me a Tua Sh’khinah [Glória].” Observe-se que a Sh’khinah está também em João 1:14. Vejamos o que segue em Ex 34:6,7, onde Moisés lista os 13 atributos do caráter do E TERNO: Passando, pois o SENHOR perante a sua face, clamou: S ENHOR, o SENHOR, Deus, misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta geração.
No original hebraico, onde se lê “beneficência e verdade”, está escrito: (chésed v’emét), ou seja “graça e verdade”. Essa combinação ocorre mais de 20 (vinte) vezes em todo o Tahakh. No Tanakh, os tradutores cristãos usaram sinônimos, mas em Jo 1:14 e Jo 1:17, usaram “graça e verdade”. Provavelmente, a opção por não usar a palavra “graça” nas ocorrências da combinação no Tanakh foi feita porque a redação de Jo 1:17 tornar-se-ia um problema, associando claramente a Torá a “graça e verdade”: se a graça e a verdade vieram por Yeshua, como poderiam ter vindo por intermédio de Moisés?
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O primeiro ponto onde aparece a expressão “graça e verdade” é Gn 24, que não é muito teológica. Diz respeito ao servo de Abraão, Eliezer, que subiu à Síria para trazer uma noiva para Isaac. No desenrolar da história, no verso 49, os tradutores usam o sinônimo “benevolência” em vez de “graça”. No livro de Salmos, também isso ocorre em vários pontos. O mais interessante é Sl 25:10: “Todas as veredas do SENHOR são misericórdia e verdade para aqueles que guardam a sua aliança e os seus testemunhos.” Aqui também os tradutores cristãos usaram um sinônimo para “graça”. Por uma única razão: não entendiam que poderia haver Graça no Antigo Testamento. Assim, quando se usa a concordância bíblica para pesquisar sobre Graça e Verdade, ninguém encontra a combinação, a não ser no primeiro capítulo do evangelho de João. João afirma que, quando o Logos se tornou carne, Ele veio habitar entre nós. “Nós” é o povo de Israel, porque Yeshua mesmo diz mais de uma vez: “Eu vim para as ovelhas perdidas da casa de Israel.” (cf. Mt 15:24) Quando aquela mulher fenícia, não judia, uma gentia, veio pedir a cura para sua filha, Yeshua disse que “não se dá comida dos filhos para os cãezinhos” (Mc 7:27). Essa não foi uma resposta muito agradável de Yeshua, mas a razão é confirmar o que João quer dizer: que D’us usa o povo de Israel para a Sua revelação, no poder do Logos revelado a Israel, e que o Logos veio habitar entre nós, Israel, e nós fomos os primeiros a ver a Sua Glória, a Glória do único Filho de D’us, que foi revelada pelo Pai como sendo cheio de Graça e de Verdade. Isso também significa que Yeshua está contido no caráter de D’us e na revelação da Torá, como lemos em Sl 25, além de 85:11, 40:11-12 e 64, entre outros. Graça e verdade são como água e óleo: elas não se misturam. Se você for ao mercado e pedir um quilo de picanha, e o açougueiro lhe der um quilo e cem gramas, e você pagar por apenas um quilo, você ganhou 100 gramas através da “graça”. Por outro lado, isso não é “verdade”, por que você pagou por um quilo exato. Se você recebesse um quilo, isso seria a representação da “verdade”. A graça e a verdade não podem existir no mesmo evento. Mas em D’us podem, porque D’us pode exercer justiça e
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verdade ao mesmo tempo que exercer longanimidade e graça. Essa é a função exata do Logos. O Logos é o Elemento que traz equilíbrio à natureza. Fazendo isso, Ele revela o caráter de D’us de Graça e Verdade, que é também mostrado na Torá (Ex 34:6,7). Em Jo 1:17, o problema está na forma como João usa as preposições: “Porque a Torá foi dada por intermédio de Moisés.” A Torá não tem origem em Moisés. Moisés é o instrumento que D’us usa para dar a Lei a Israel. A Torá não pertence a Moisés, porque não foi ele que originou a Torá. Ele foi o mensageiro de D’us que entregou a Torá ao povo de Israel. Na continuação do verso 17, temos: “a graça e verdade vieram por intermédio de Yeshua, o Messias.” Mas Yeshua foi aquele que originou a Graça e a Verdade. Não há apenas Graça, ou apenas Verdade, mas Graça e Verdade habitando na mesma pessoa, Yeshua HaMashiach. N’Ele, tanto o Juízo de D’us, quanto o Amor de D’us são demonstrados. Ele pagou o preço da Justiça de D’us e, ao mesmo tempo, demonstrou a Graça, o Amor de D’us. Moisés foi o intermediário da Torá, mas Yeshua é a essência da Torá. Então, podemos afirmar que Moisés entregou ao povo de Israel a própria essência da Graça e da Verdade. Foi por isso que Yeshua disse: “Eu vim para os meus e eles não me reconheceram.” No verso 15, João retorna ao que havia dito nos versos 6 a 8, com a figura de João, o Imersor: “Esse era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu.” Por que será que João o apóstolo menciona João, o Imersor, no início de seu Evangelho? Observe-se que o livro foi o que mais tardiamente foi escrito – segundo os historiadores, por volta do ano 90 E.C. 14 Os outros Evangelhos já existiam quando o de João foi escrito. Primeiramente, o autor do evangelho de João quer deixar bem claro, como já dissemos, que Yeshua não é qualquer mensageiro ou profeta de D’us, mas muito além disso. Ao trazer João, o Imersor, para o seu relato, o evangelista quer demonstrar que o Logos não é mais um mensageiro ou profeta.
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E.C.: Era Comum, para determinar o tempo desde a primeira vinda de Yeshua haMashiach.
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A outra razão é política. João, o Imersor, tinha discípulos, e eles continuaram existindo, e não se associavam automaticamente aos discípulos de Yeshua (At 19). Em Éfeso, vemos discípulos de João, o Imersor, que só conheciam o batismo de João. Um exemplo é Apolo, a quem Áquila e Priscila ensinaram o caminho de D’us. Também os discípulos de Apolo que estavam em Éfeso e diziam não ter conhecimento de duas coisas: (1) o batismo de Yeshua; e (2) a vinda do Espírito sobre o povo em Shavuot (cf. At 2). Então Áquila e Priscila ensinam o caminho de D’us mais perfeitamente. Na continuação do Evangelho de João, os discípulos de João, o Imersor, perguntam a Yeshua: “Você é mesmo o Messias? Nosso mestre quer saber.” Yeshua responde através de seu testemunho de vida: “Eu abro a vista aos cegos, alimento os necessitados, [...] 15, voltem e digam isso a João.” Ou seja: “Deixem que ele mesmo decida se sou ou não o Messias.” Havia competição entre os discípulos de João, o Imersor, e os de Yeshua. Isso fica evidente quando os discípulos de Yeshua dizem: “Aqueles batizam em teu nome mas não são dos nossos.” A resposta de Yeshua foi: “Não o proibais, porque quem não é contra nós é por nós.” (Mc 9:40 e Lc 9:50) Então, o apóstolo João, no início de seu Evangelho, falando sobre João, o Imersor, o faz por razões doutrinais e políticas. Onde existir seres humanos, lá estará a política, em todas as congregações, nas Igrejas, nos hospitais, nas escolas, em todo negócio – e até mesmo na política. Existia política não apenas entre os discípulos, mas também entre os apóstolos. Na Carta aos Gálatas, Paulo conta como ele mesmo repreendeu Pedro. Se não fosse por uma questão política, Paulo não precisaria contar essa história. Fez isso porque havia pessoas que se opunham a ele. Ele quis mostrar ao Gálatas que era tão bom quanto Pedro. “Esse era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu.” (Jo 1:15) João usa de política para elevar Yeshua.
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Isaías 35:5-6
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“E todos nós recebemos também de sua plenitude, e graça por graça.” (Jo 1:16) João nos leva de volta a Ex 34:6,7. Em Ex 34:6, temos “graça e verdade” como atributos do caráter de D’us. No verso seguinte, aparece um outro tipo de Graça: Que guarda a beneficência [ (chésed)] em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta geração.
Aqui, novamente a tradução cristã oculta a palavra “graça” presente no texto original hebraico. A “graça” do verso 7 é uma Graça guardada, protegida ou escondida, para gerações ou multidões. Veja o texto hebraico:
M‹¹–L ´ ¼‚L ´ …¶“‰ ¶ š·˜¾’ (notzer chésed laalafim) Literalmente: “Guarda graça para duas mil.” Em hebraico,
é a palavra que
designa a trava de segurança de uma arma. Isaías fala no “notzrim b’har Efraim” isso significa “os guardas das montanhas de Efraim”. Yeshua vem de Natzaret, e seus discípulos eram chamados de “notzrim” – nazarenos. Paulo é chamado de “o cabeça da seita dos nazarenos” (At 24:14), embora negue, dizendo crer na Lei e nos profetas e andar segundo aquele que é chamado de “Caminho”. “Netzer” também é um dos nomes do Messias, uma planta da oliveira da Casa de David. Assim, Ex 34:7 informa que D’us “notzer” – guarda, protege – uma outra medida de Graça, para duas mil – ou milhares – de gerações, ou para as multidões. Então, quando João (1:16) diz que através do Logos, da plenitude de Yeshua, recebemos Graça sobre Graça, o evangelista refere-se a duas graças: (1) a Graça da Torá, que vem em parceria com a Verdade; e (2) um tipo de Graça escondida, que está sendo revelada agora, através da plenitude. “Plenitude” tem muito significado para João por ser também um termos filosófico grego –
plhrwma
(pleroma) –, que quer dizer “a razão da existência de algo”. Estar em
“plenitude” significa cumprir o propósito de sua existência. O uso desse termo por João quer dizer que “da plenitude de Yeshua temos recebido Graça sobre Graça”. Ou seja, Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 22/28
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quando Yeshua cumpriu o propósito de sua existência, nós recebemos aquela dupla Graça de D’us prometida na Torá. Estar dentro do propósito para o qual D’us nos criou, nos traz serenidade e satisfação. A cultura moderna não ensina os seres humanos a cumprirem o seu propósito e viverem satisfeitas com o que elas são. Os filmes e as propagandas levam os homens a viverem no mundo da fantasia e do que eles impõem como o estereótipo do correto e do belo. Elas se tornam infelizes mesmo tendo todos os motivos para serem felizes. Quando o apóstolo Paulo fala de humildade, ele diz: “Não pensem que são maiores do que realmente são.” Viver na verdadeira felicidade é estar dentro da plenitude que D’us criou para nós. João está dizendo que, quando Yeshua entrou em Sua plenitude, a “Graça sobre Graça” foi revelada para a toda a humanidade. O texto de Êxodo nos mostra que o Caráter de D’us é Graça e Verdade, Longaminidade e Misericórdia. Ele escolheu se revelar a uma nação, Israel – uma nação pequena e fraca, é o que diz Deuteronômio. A essa nação ele deu a Torá, que é a Palavra de D’us – é o que encontramos registrado em todo o Tanakh (exemplo: Sl 119) e na Brit Chadashá. Quando lemos em Atos (4, 13, 18 e em todo o livro) que os apóstolos ensinavam a Palavra de D’us, eles estavam ensinando a Torá. Paulo diz que é isso que ele ensina. O que significa “Palavra de D’us” no Novo Testamento? A “palavra de santo Agostinho”?
Os apóstolos ensinavam a Torá e os profetas porque, naquela época, era isso que existia de Escritura Sagrada. Quando Paulo diz: “Toda a Escritura é inspirada e útil para exortação, correção e para obedecer aos mandamentos, equipando assim os homens de D’us para toda boa obra.” O que Paulo está dizendo? Que as Escrituras eram todo o Antigo Testamento. O “Novo” ainda não existia. Paulo disse: “Eu creio em tudo o que está escrito na Torá e nos profetas.” (At 24) Mesmo quando ele foi às sinagogas de Tessalônica e Bereia, tendo afirmado que proclamou a Palavra do Senhor: sua leitura no Shabat, nas sinagogas, era a Torá! Os apóstolos usavam a Torá para provar que o Mashiach deveria vir e morrer, ressuscitar e se assentar à direita de D’us. Estes eram os únicos textos que Paulo tinha nas mãos.
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Quando falamos de Palavra do Senhor se tornando carne, não estamos nos referindo apenas à pessoa de Yeshua, Filho de D’us. Falamos também do Logos, que é a Torá. A Torá foi exemplificada e também se tornou carne através do testemunho de Yeshua – Ele cumpriu a Torá sem pecar. Tudo isso está incluso no texto de João, mas o nome de Yeshua somente é apresentado a partir de 1:17. Todo grego e todo judeu que ler o texto de Jo 1:1-16, concordará com o que ali está exposto. É um texto filosófico e cabalístico, místico. Porém, quando João diz que “a Torá foi dada por Moisés, e a Graça e a Verdade, prometida, por meio de Yeshua HaMashiach”, João transforma o que era filosofia em história real, num ser humano e personagem histórica. Algo muito bonito e grande, porque mostra o nosso D’us se revelando através da história e da realidade, e não através de fantasias acerca do que acontece nos céus. Não estamos negando que nos céus aconteçam coisas. O fato é que D’us nos informa apenas algumas poucas e nos dá pequeninas dicas a respeito, porque o que nos importa é o que está acontecendo aqui em baixo, porque estamos conectados a este mundo, a nossa carne, e presos a nossas limitações. Nesse estágio de vida, somente podemos ouvir um tipo de onda – mecânica. Mas existem muitos mundos ao redor do nosso, e não sabemos nada a respeito deles. D’us resolveu dar Sua revelação através da forma humana, carne e sangue, forma limitada, como todos nós, e é essa a mensagem de João até o verso 17, ainda conectado a Êxodo 34. E em João 1:18, “Ninguém jamais viu Deus, mas Seu Filho unigênito, que é idêntico a D’us e está ao lado do Pai, ele o tornou conhecido.” Isso é verdade, mas Yeshua haMashiach não veio à terra fazer o que Ele queria, ou o que determinava a Sua vontade. Ele veio cumprir a vontade do Pai. Na existência do mundo, da natureza, o Logos não é o objetivo final, mas um instrumento de D’us. É difícil aceitarmos que o Logos é um instrumento e também que nós mesmos somos instrumentos. Nós gostamos de ter o direito de existir para nosso próprio prazer, para nossa própria existência. Mas D’us nos deu um propósito e um chamado. Também
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deu um propósito e um chamado a Yeshua, que é o de declarar o Pai, preparar o Reino e devolvê-lo ao Pai no final (1Co 15:26-28 e Sl 8:6(7)). Yeshua é o Logos, a razão, o propósito e a lógica para a existência do Universo. Isso é maravilhoso, mas este mundo, como o conhecemos, terminará, e existirá um novo mundo. Nele, Yeshua continuará sentado à destra de D’us e não no Trono de D’us. Continuará honrando Seu Pai. É no Evangelho de João que estão estas palavras de Yeshua: “É através de mim que vocês chegam ao Pai.” (Jo 14:6) Então ele é um instrumento, um importante instrumento, mas não o objetivo final. Ele é um instrumento divino, e é Ele que demonstra o grande amor de D’us a toda a humanidade. Yeshua diz que Ele mesmo é o caminho – e o caminho é o instrumento. Ele também diz que é a Verdade – e a Verdade também é um instrumento. Ele diz que é a Vida – e a Vida também é um instrumento. Nosso tempo de vida aqui na terra é uma ponte que temos que atravessar para chegarmos ao outro lado, porque é lá que será demonstrada a realidade e o propósito da existência: a Vida Eterna. Aqui, apesar de passarmos por momentos de alegria limitados, na maior parte do tempo estamos trabalhando, sacrificando, nos entregando para construirmos o Reino de D’us. João então está nos dizendo que Yeshua, no seio do Pai, está declarando o Pai. Em 1:19, o evangelista apresenta novamente João, o Imersor, por dois propósitos. O político e o teológico. O político, para mostrar que João, o Imersor, não é o Messias e não é Elias, mas sim um mensageiro cumprindo o que Isaías profetizou: “A voz de alguém clamando: ‘No deserto, façam o caminho reto para Adonay!’” (Jo 1:23) Há um paralelo entre as palavras de Isaías e o início do Evangélho de João. Yeshua é o Logos, a Palavra de D’us. João, o Imersor, é a Voz de D’us. O evangelista não está colocando João, o Imersor, em uma condição inferior, mas em uma condição paralela. Yeshua é o Logos, a Palavra, e João, o Imersor, é a Voz. O primeiro é sinônimo do segundo, não na acepção da palavra, mas, no contexto, é similar. O evangelista faz esse paralelo por motivos políticos e para argumentar sua teologia.
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Na Primeira Carta de João, o evangelista traz o mesmo conceito de Logos. Ele começa com o mesmo enunciado de Bereshit (1Jo 1). João está reforçando que isso não é teologia e também não é doutrina, mas experiência com “A Palavra de D’us”. Nós a tocamos e vimos: a Palavra da Vida. Para João, a Vida Eterna NÃO é uma
experiência após a morte. No pensamento judaico, que João quer transmitir, a experiência da Vida Eterna é agora, e nós testemunhamos a Eternidade nesse momento. Em Sua a última oração no Getsêmani, Yeshua diz: E a vida eterna é essa: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse. (Jo 17:3-5)
A tradição informa que, após morrermos, ressuscitaremos e passaremos pelo julgamento, D’us nos justificará pelo sangue de Yeshua, e então teremos Vida Eterna. Mas, para João, a Vida Eterna não é uma questão de tempo: é uma questão de qualidade. Podemos recebê-la agora, e Paulo parece ter o mesmo ponto de vista. Para Paulo, depois de crermos, e confessarmos que Yeshua é o Messias, e nos arrependermos, somos batizados e morremos, começando imediatamente uma vida nova (Rm 6:3-5). Essa é uma vida real e não religiosa, porque muda a matriz que comanda nossa vida e nossos valores – isso é o nascer de novo. João está tentando ensinar que isso não é teoria, não é religiosidade: testemunhamos que a Vida Eterna é real, como a vimos, nela tocamos e acerca dela falamos. Tivemos comunhão com o Pai e com o Filho. “Escrevemos estas coisas para que a nossa16 alegria seja completa” (1Jo 1:4), ou seja, podemos ter a alegria plena de viver na Palavra de D’us, em Yeshua haMashiach, a realidade da Sua presença em nossas vidas.
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Alguns textos, como na tradução inglesa, dizem “ vossa alegria”.
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“E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele trevas nenhuma. Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade.” (Jo 1:5,6) No Evangelho, João mostra que a Luz que brilha nas trevas. Tanto no texto, quanto no pensamento judaico, quando lemos a respeito dos não judeus – os “pagãos” –, entendemos que estes estão em trevas. Exemplo é o relato sobre quando o povo hebreu estava no Egito. Uma das dez pragas era trevas. O texto relata algo estranho, por que diz que os egípcios estavam em trevas, mas os israelitas estavam na Luz. João mostra que Yeshua ensinou que D’us é Luz, e n’Ele não habita trevas. Essa não é uma mensagem religiosa, mas uma mensagem que traz mudança de vida, que traz alegria a nossa existência e que tem implicações morais. Nós, como discípulos de Yeshua, judeus ou não, não podemos viver como pagãos, em trevas, sem conhecimento de quem é D’us, sem o conhecimento de que o mundo tem um Mestre, sem o conhecimento de que haverá um dia de juízo. Israel é a única religião, a única nação e a única fé no mundo que crê numa ressurreição geral dos mortos. Toda a humanidade, os maus e os bons ressuscitarão. É a única fé que diz que toda a carne será julgada. Também é a única que diz que a maneira como você vive determina a sua eternidade. Os cristãos e os muçulmanos obtiveram essa informação da Torá e dos profetas – trata-se, portanto de um pensamento judaico. João conecta todo esse pensamento – o juízo e o perdão – à Palavra de D’us, ao Filho de D’us: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça.” (1Jo 1:9) A purificação não é só de nossos pecados mas também de toda a injustiça que cometemos contra nosso próximo e que nosso próximo comete contra nós. João foi muito bem sucedido em evangelizar os gregos em Éfeso. Policarpo foi um velho martirizado pelos romanos – os romanos o fritaram e lhe tiraram a pele, ainda vivo, porque ele não quis adorar a César e negar ao D’us de Israel. Esse mesmo Policarpo conhecia pessoalmente João e dizia que costumava-se trazer João aos cultos, Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 27/28
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na cidade de Éfeso, deitado numa cama, pois o evangelista já estava muito velho. Toda semana. João proclamava o mesmo sermão. Ele dizia: “ Meus filhinhos, amem-se
uns aos outros.”
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