Introdução “Ainda não está timbrando”, “falta pouco pra timbrar”, “opaaa, agora timbrou!”. Quem nunca ouviu ou se apropriou desse termo tão disseminado no meio vocal? Não é necessário ser um expert em música ou, mais especificamente, em voz para saber que esse termo se popularizou em ensaios de concertos, shows, gravações de estúdios e igrejas... Agora, você já parou para pensar o que exatamente significa “timbrar”? Não sei você, mas no ambiente musical – seja como cantora ou instrumentista – eu utilizei esse termo durante anos sem ao menos questionar o seu significado objetivo, mesmo entendendo a sua aplicabilidade e importância. Ok, falamos de vozes, mas vamos estreitar um pouco mais: sabe aquele grupo de vozes microfonadas chamado de backing vocals1, backup singers2, background singers3 ou simplesmente vocalists4 (ufa, quanto nome!)? Você já teve a oportunidade de cantar em uma configuração como essa? “1, 2, teste, som”, “dá pra aumentar o meu retorno?”, “minha voz está abafada”. Sim, é apenas uma questão de endereços diferentes! Nosso foco aqui é o contexto da igreja, mas em todo lugar ouvimos frases similares se estivermos falando de backing vocals. Conhecidos por aquele grupo de vocalistas que fica logo atrás do líder de louvor, os backing vocals têm papeis muito bem definidos dentro da equipe de louvor e que podem fazer uma enorme diferença se buscarmos cumpri-los com excelência. Neste ebook o meu objetivo é dar a você, em primeira mão, algumas das estratégias de grandes backing vocals para levá-lo a um nível acima. Então vamos comigo?
Em português, chama-se “cantores de apoio” 2Em português, chama-se “cantores de apoio” 3 Em português, chama-se “cantores de fundo” 4 Em português, chama-se “vocalistas” 1
Grandes Backing Vocals Sabem a sua Função Para mim, cantar é compartilhar. Nunca é uma competição. Mas, às vezes, vejo um clima que me tira do sério.5 (Lisa Fischer) Você não precisa se prender à sua individualidade vocal, pois você está tentando misturar sua voz, sua persona, com as outras vozes. Isso é incrível! 6 (Janice Pendarvis)
Essas afirmações não são de qualquer cantora. Estamos falando de backing vocals que dividiram palco com artistas como Rolling Stones, David Bowie, Stevie Wonder, entre outros. Artistas que supostamente poderiam se portar como “a última bolacha do pacote”. Em Filipenses 2:3 diz: Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos.
Você está em um formato de grupo que sacrifica, ou pelo menos deveria, a individualidade a fim de obter uma harmonia tanto musical quanto relacional. É chegar com o coração disposto para servir , pronto para fazer o que precisa ser feito! Cantar com outras pessoas não significa cantar em grupo. Inclusive, de forma mais ampla, em uma banda ou a gente tem um conjunto de músicos que executam a canção individualmente ou que executam em grupo. Portanto, ter habilidades vocais é importantíssimo (afinação, extensão, controle de intensidade, fazer ornamentos, etc.) e, realmente, existem muitos cantores com destreza vocal, mas eles compreendem e colocam em prática as suas funções quando estão como cantores de apoio? O próprio nome já diz! Se você não é o líder de louvor ou cantor principal de determinada canção, automaticamente você é um backing vocal, ou seja, seu trabalho é apoiar o líder de louvor/cantor principal.
Nosso objetivo é estarmos em sincronia – sejam nas entradas, no andamento, nos cortes, na pronúncia – e misturarmos as vozes, como as cantoras acima mencionaram. É estarmos realmente sensíveis ao espírito da música e darmos todo o suporte. Citação retirada do DVD “A Um Passo do Estrelato”. 6Citação retirada do DVD “A Um Passo do Estrelato”. 5
Rita Baloche, esposa do compositor e líder de louvor Paul Baloche7, diz para os vocalistas: Esteja adorando a Deus, mas quando estiver chegando para a próxima seção8 , dê uma olhada para a boca do líder de louvor 9. Sim, tenha certeza de que você está se mantendo junto com ele. ESTEJA LÁ. Muitas vezes vejo vocalistas perdendo as primeiras sílabas do coro por distrações ou manterem os olhos fechados o tempo inteiro. Ao invés de entrarem no “aleluia”, entram no “luia”. Tudo isso tem o propósito de nos tornarmos mais eficientes em liderar a congregação que Deus confiado em nossas mãos, semana após semana. Convido você e seu grupo a se perguntarem: “Como podemos criar um ambiente através desse veículo da música para que nossos irmãos possam confiar a Deus as suas preocupações e fardos?” ou “Como podemos criar um ambiente que facilita para eles a conexão com o Senhor?”. A missão do líder de louvor é transmitir uma mensagem de forma musical, e os instrumentos que o ajudam a fazer isso é a banda e backing vocal. Se eles não estiverem em plena sintonia com o líder de louvor, estarão tomando caminhos opostos que irão dificultar o fluir do louvor, possivelmente tornando a mensagem ineficaz.
Grandes Backings Vocals Timbram De acordo com o Dicionário Aurélio, a palavra “timbre” quer dizer: - Qualidade sonora de instrumento ou voz; - Som diferente de diversos instrumentos, embora da mesma altura e intensidade. Por analogia, podemos pressupor que no meio musical essa palavra transformou-se em um verbo: timbrar . Sendo assim, poderíamos dizer que “timbrar” é equalizar as frequências produzidas por diferentes timbres (no caso, diferentes vozes), de tal forma a agradar os nossos ouvidos. Mas será que existe alguma forma mais palpável e objetiva de mensurar isso? A resposta é sim! E quero compartilhar com você quais são as principais características que regem esse aspecto tão importante quando estamos falando de backing vocal.
Paul Baloche é responsável pela composição de canções mundialmente conhecidas como “Abra os Olhos do Meu Coração”, gravada por David Quinlan, e “Bem Mais que Tudo”, gravada por Aline Barros. 7
Seção é uma parte estrutural da música, o que ajuda bastante na visualização e construção da jornada dinâmica. Introdução é seção, verso é seção, coro (refrão) é seção, e assim por diante. 8
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Citação retirada do DVD “Worship Band Workshop – roadmad to a skilled team”.
Primeira coisa de tudo: se você busca uma boa timbragem, blend, mistura, existem dois truques que carrego comigo por onde vou: 1 – Escuta
Depois que tive acesso às ideias de Murray Schafer 10, um importante pedagogo musical do séc. XX, a minha concepção de escuta mudou drasticamente. Primeiro porque ele já começa dizendo que ouvir é diferente de escutar. O barulho dos carros, do ar condicionado, dos mosquitos, são sons que normalmente estão ali em todo tempo e só nos damos conta desses ruídos quando alguém comenta ou quando eles param. Segundo Schafer, isso é ouvir. Ouvimos o dia inteiro, mas não prestamos atenção em exatamente tudo o que está entrando no nosso canal auditivo, até porque seria exaustivo estar atento a todos os barulhos ao longo do dia, inclusive à nossa respiração! Agora, quando você percebe uma voz bonita ou quando você para pra ouvir aquele canto do pássaro, você está escutando. Escutar é apresentar interesse e conseguir decifrar o som. Na fonoaudiologia, escutar faz parte do chamado “processamento auditivo”, um evento cerebral, ou seja, o cérebro detecta e interpreta os eventos sonoros. Pois bem, um bom backing vocal se presta a escutar, antes de mais nada, as vozes das pessoas envolvidas no grupo. Não se trata apenas de pegar o microfone e começar a cantar como se não houvesse o amanhã; é saber que cada voz tem características diferentes e que quando juntamos as vozes, elas precisam soar como uma, tanto em uníssono11 quanto em harmonia12. É compreender que quando os backings vocals estão cantando, o amigo de fora não pode ser capaz de identificar qual voz faz parte do grupo. “Nossa, estava de costas e sabia que era você cantando!”. Essa afirmação mostra que o grupo ainda não conseguiu timbrar. 2 – VAT
Como visto acima, podemos afirmar que a escuta será a base para colocarmos em prática os 3 parâmetros objetivos para uma boa timbragem dos backing vocals: o VAT. 10
Os seus livros “A Afinação do Mundo” e “Ouvido Pensante” são uns dos mais conhecidos.
Uníssono é duas ou mais pessoas emitirem um som na mesma altura, ou seja, na mesma frequência. Exemplo: 220Hz (nota Lá2). 11
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Harmonia é o encadeamento de diversos sons simultâneos e que normalmente estão de acordo com a tonalidade vigente.
2.1 Volume Quando falamos de volume, nada mais é do que intensidade13: piano, mezzo piano, mezzo forte, forte, etc. Todo grupo vocal possui vozes mais fortes, fracas ou medianas. Normalmente isso tem relação com a personalidade da pessoa, sua cultura familiar, assim como outras questões que acabam influenciando na emissão vocal. Comece a notar como o típico extrovertido14 se comporta socialmente; ele “chega chegando”, fala alto e antes de pensar, solta gargalhadas. O típico introvertido fala mais baixo, seleciona o que vai falar, é mais discreto e observador. Agora imagine esses opostos cantando um trecho de uma canção juntos? Pode ser que o extrovertido cante muito mais alto que o introvertido! Além disso, fatores externos também podem influenciar na emissão vocal daquele dia em específico, como fatores de saúde ou emocionais. E aí que eu chamo a atenção para começarmos a escutar quais são as vozes que naturalmente já são mais fortes e quais são as mais fracas. Temos formas ainda mais aprofundadas para trabalhar esse e os próximos parâmetros, mas só de você conseguir detectar essas características citadas acima, já é possível equalizar na mesa de som, junto ao técnico de som, os microfones. Então já sabemos que essa história de mesmo volume para todos os microfones não funciona – mesmo que esse cantor se aperfeiçoe e entenda que cantar forte é diferente de projeção vocal –, ainda mais entendendo o conceito de que todas as vozes devem soar como uma. 2.2 Afinação Falou de afinação, dá até um certo arrepio, não? De maneira panorâmica, o som é resultado de uma vibração que se propaga pelo ar até o nosso ouvido. Quanto maior a velocidade de vibração, ou seja, a quantidade de ciclos (vibrações) por segundo, mais agudo o som. Essa velocidade de vibração é chamada de frequência e a unidade de medida é em Hertz. 1 Hz significa 1 ciclo por segundo, Existem mais graus de intensidade, como molto pianíssimo, pianíssimo, fortíssimo, molto fortíssimo, o que oferecem mais opções de gradações, e normalmente estão presentes nas partituras de música clássica. 13
Digo típico extrovertido/introvertido, pois, segundo Susan Cain, advogada e consultora de negócios que fez um discurso no TED Talks, nem sempre o extrovertido é uma pessoa falante, assim como nem sempre o introvertido é calado e tímido. O que difere a extroversão da introversão são os estímulos necessários para desenvolver a produtividade, criatividade, etc. 14
100 Hz significa 100 ciclos por segundo, e assim por diante. Então: Vibração lenta = som grave Vibração moderada = som médio Vibração rápida = som agudo Utilizamos amplamente nos dias atuais e no meio ocidente a afnação temperada, ou afinação igual, com o intuito de padronizar igualmente a escala musical15, mantendo a afinação das notas fixas durante a performance, como ocorre com o teclado e violão. No oriente, é de costume mais divisões nos sons musicais, onde aparecem subdivisões entre os semitons (não usuais ao nosso ouvido). Hoje em dia, a maioria dos instrumentos são afinados na frequência 440Hz, isto é, 440 ciclos por segundo. Lembra do famoso “me dá um Lá3?” ou o spalla16 de uma orquestra dando a nota Lá3 pra todos afinarem? Dependendo da orquestra, o Lá pode estar até em 442Hz. Em uma formação de banda com instrumentos modernos (teclado, baixo, guitarra, violão), é utilizada a afinação temperada. Os instrumentos que permitem afinar as notas enquanto se toca – podendo ter afinação mais baixa ou mais alta – são violino, saxofone, flauta, etc. Quando falamos de voz, pra que eu consiga produzir a nota Lá3 em 440Hz, as minhas pregas vocais17 precisam fechar e abrir 440 vezes por segundo (sim, é extremamente rápido). Embora as pesquisas relacionadas à afinação estejam cada vez mais crescendo, não vou me aprofundar em questões atreladas à desafinação vocal. Mas de uma coisa é certa: quando alguém canta um Lá 442Hz, outra canta um Lá 438Hz e o teclado está – como de costume – no Lá 440Hz, o que podemos esperar desse som final? No conceito temperado de afinação, está ocorrendo desafinação. Por sermos instrumentos biológicos, pode ser muito comum ocorrerem pequenos
A palavra escala está ligada à uma ideia de medida. Temos escalas cartográficas, escalas estatísticas. Em música medimos as escalas através dos tons e semitons, portanto, escala é uma sequência de notas através de um caminho medido por tons e semitons. Exemplo: Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, do. 15
O spalla é responsável pela afinação da orquestra, execução de solos de violino, além de chefe de naipe dos primeiros violinos. 16
Pregas vocais são músculos constituídos por ligamento e mucosa, responsáveis pela emissão de sons nos seres humanos e em algumas espécies de animais. As pregas vocais se localizam no interior da laringe (ponha a mão no “gogó” e sentirá!) e vibram em virtude da pressão do ar vinda do pulmão, o que gera a produção de sons que serão moldados e amplificados pelo trato vocal (faringe, cavidade nasal, cavidade oral, etc.). 17
“deslizes” de afinação, ainda mais porque outros fatores podem estar relacionados a isso (nível de percepção e de condicionamento muscular, qualidade de sono, etc.). Hoje existem aplicativos que podem ajudar a vermos e não só escutarmos se estamos afinando na mesma frequência, assim como um bom treino de percepção musical, treino vocal e escutar músicas (isso pressupõe um ouvido crítico, como falamos acima). 2.3 Timbre Como visto no início deste tópico, “timbre” tem a ver com a qualidade sonora que diferencia uma voz da outra. Alguns professores podem até dizer “cor da voz”. Uma das coisas que mais me fascina quando falamos de voz cantada, é que temos a capacidade de plasticidade vocal. Isso quer dizer que posso dar diferentes “cores de voz” sem comprometer minha saúde vocal e aumentar a gama de possibilidades estilísticas e interpretativas. E é muito importante falarmos de estilo, pois o atual estilo de canto congregacional tem sido voltado mais ao pop, o que já nos dá algumas pistas de como esse som pode ser gerado. Não pretendo fazer juízo de valor nesse momento, no sentido de certo e errado, som feio e som bonito, mas estamos falando de estilo musical. Músicas cristãs mais tradicionais normalmente possuem 3 divisões vocais, uma tendência à voz de cabeça e muito vibrato (lembrando coral lírico). Outros estilos existem muitas divisões vocais e complexas, como vemos no grupo a cappella Take 6. Na adoração moderna não há nada disso. É música pop. É música comercial contemporânea18. Nesse estilo estamos buscando um som que tenha: - qualidade de voz falada; - pouco ou nenhum vibrato; - mais uníssono e 1 divisão vocal (algumas vezes 2 divisões); - a melodia como a principal, em relação às outras vozes. Então convido você a pensar se no seu grupo todos estão buscando elementos parecidos. Se tivermos uma pessoa que lembra o estilo lírico de cantar e outra que lembra o estilo moderno, essas vozes não se encaixarão. Em inglês, chama-se “contemporary commercial music”. Esse termo foi criado e divulgado pela pesquisadora/pedagoga vocal Jeanie LoVetri. A música comercial contemporânea abrange todos os estilos que não provêm do canto erudito (clássico). Então: pop, rock, blues, R&B, teatro musical, etc. 18
Sempre existirão pessoas com timbres diferentes, mas com a possibilidade – mediante a busca de características do estilo em comum – de soar como uma voz, pois a plasticidade vocal permite chegar mais próximo da voz do outro.
Grandes Backing Vocals Constroem uma Jornada Dinâmica O líder de louvor Ronaldo Bezerra diz que há uma tendência de supervalorizar quantas notas o cantor executa por segundo19. Além disso, vejo vocalistas ávidos por cantarem com “potência”, o que sem o acompanhamento com um vocal coach20, fonoaudiólogo e otorrinolaringologista, pode acarretar em fadiga vocal demasiada e patologias (nódulos, pólipos, etc.). Velocidade não é sinônimo de bom cantor e cantar sempre forte – e sem técnica – não é sinônimo de bom cantor. Então, além de buscarmos timbrar bem as vozes, outra característica de grandes backing vocals é a capacidade de saber quando cantar. Muitas vezes vejo vocalistas cantando do início ao fim e na mesma intensidade, sem ao menos pensar na música como uma jornada. Algo que exemplifica muito bem essa jornada, é imaginarmos umpico sendo escalado . No início da canção começamos a subir o pico, portanto, uma dinâmica mais fraca. À medida que vamos nos aproximando do refrão, estamos perto de chegar lá no topo, então a dinâmica se torna bem forte normalmente. Em seguida, passamos a descer o pico, o que ocorre a queda da dinâmica quando voltamos para o início da canção. Você já teve a oportunidade de ir a um concerto de música erudita? Se você começar a observar e escutar, perceberá que existem muitos instrumentos que não tocam do início ao fim em uma peça musical. Por exemplo, dependendo da peça, o tímpano – um grande tambor – só é percutido depois de vários compassos de pausas. Da mesma forma, como backing vocals, devemos saber quando é apropriado abrir vozes e quando não é, quando devemos cantar mais forte ou mais fraco, quando saímos de cena e reaparecemos. Isso é pensar a jornada dinâmica da música. É feita antes toda uma análise, um preparo antes da execução.
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Disponível em: http://revista.cifras.com.br/artigo/17-dicas-para-os-musicos_1644
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Dependendo do foco de atuação, o vocal coach também pode referir-se a preparador vocal e professor de canto.
Em gênesis 1:1 diz assim: No princípio Deus criou os céus e a terra. Um versículo tão pequeno, mas que já nos diz tanta coisa! Estamos falando de um Deus criativo. Um Deus que cria as coisas com detalhes e beleza. Indo um pouco mais à frente, no versículo 26 continua: Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão’.
Então além de Deus criar o mundo, Ele decidiu fazer seres à Sua imagem e semelhança e colocar em suas mãos a capacidade de cultivar, de exercer a criatividade e mordomia sobre a Terra. A pergunta que faço a você: estamos nos olhando no espelho e refletindo um Deus detalhista, dinâmico, que se preocupa com a beleza, com a ordem? Backing vocals deveriam raramente cantar a música inteira no microfone. Mesmo que soe fantástico, toda a música que não tem novidades se torna chata de ouvir... Nossos ouvidos ficam cansados de qualquer som que se mantém igual do início ao fim. Inconscientemente a congregação perde o interesse, pois o som acaba se estagnando em apenas uma dinâmica. Por isso a dinâmica e harmonia são importantes! Pois trazem frescor, profundidade e novidade. Muita harmonia logo no início da música significa perder todo um potencial de criar momentos fantásticos. Pense cada música como uma jornada e pra qual lugar essa jornada vai nos levar!
Grandes Backing Vocals São Atletas da Voz É comum a ideia de que cantar se trata apenas de abrir a boca. Aliás, é recorrente ver backing vocals chegando para o ensaio ou celebração sem aquecerem e desaquecerem suas vozes – sem contar a ausência de uma rotina de treino durante a semana.
Por trás de um canto autêntico, versátil e saudável existem diversos fatores envolvidos para a manutenção dessas características. O fato de você não ser o cantor principal, não o priva das mesmas questões que serão discutidas a seguir. Primeiramente, é necessário entendermos que o cantor – principalmente os que usam a voz profissionalmente – é considerado um atleta, pois estamos lidando com músculos (a voz é músculo!) e, consequentemente, a chance de riscos de lesões é maior. Pense em um jogador de vôlei: a possibilidade de lesão no joelho é muito maior do que em uma pessoa que joga na praia de vez em quando. Além de atleta, diferente de um instrumento a voz é o próprio corpo. Dependemos de uma boa alimentação, de uma noite reparadora, de saúde física e emocional e um sistema vocal equilibrado para obtermos uma emissão satisfatória. Lembra daquele dia que você acordou com rinite alérgica e a voz parecia sair “abafada”? A Dra. Silvia Pinho, reconhecida fonoaudióloga de cantores dos mais diversos gêneros, afirma que as pregas vocais de pessoas treinadas são fortes, grossas e rmes. Então aquele show que cansava, agora não cansa mais. 21 Imagina que maravilha você sair daquele culto de domingo sem a garganta queimando? Para isso, tem crescido cada vez mais a parceria entre os três principais profissionais da voz – professor de canto22, fonoaudiólogo e otorrinolaringologista – para acompanhamento e desenvolvimento de um mecanismo vocal saudável, isto é, forte, resistente e eficiente. É responsabilidade do professor de canto construir técnica em uma voz saudável. A partir disso, ele deve ter competência estilística – seja pop, gospel, rock –, além de saber conduzir na dicção, no repertório, técnicas de palco e interpretação. Na maioria dos casos, professores de canto possuem formação em Música (bacharel ou licenciatura) e atualmente tem se tornado crescente o interesse por formações adicionais, como: Pedagogia Vocal, Linguística, Anatomia, etc. Embasados na ciência, estão mais preparados para lidar com o aperfeiçoamento vocal como um todo. No geral, o fonoaudiólogo é o profissional que cuida da comunicação humana. Na graduação aprende-se audiologia, linguagem, voz, motricidade, etc. Então, para o nosso caso, é importantíssimo que procuremos um especialista em Voz. Esse profissional é capacitado para a reabilitação e habilitação da voz, ou seja, tanto para tratamento de desvios vocais quanto para aperfeiçoamento de vozes saudáveis. 21
Citação retirada do curso “A Fisiologia como Base da Técnica da Voz Cantada”, em 2015.
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Dependendo do foco de atuação, esse profissional pode referir-se a vocal coach ou preparador vocal também.
Com a tecnologia, alguns fonoaudiólogos têm se aprofundado no manuseio de aparelhos para somar à prática clínica, como: eletroestimulação, termoterapia, bandagem elástica, etc. O otorrinolaringologista trata de fatores médicos, desde o diagnóstico por meio de exames23 – analisar a saúde das pregas vocais e estruturas envolvidas – até o tratamento de alergias sazonais ou crônicas, infecções e refluxo laringofaríngeo. Também é de sua responsabilidade as cirurgias de patologias vocais (pólipos, nódulos, etc.) e de dificuldades da via área superior (desvio de septo, amígdalas, etc.). Assim como o fonoaudiólogo, é importante que procuremos um profissional com experiência em Voz Cantada, pois terá mais propriedade para avaliar a biomecânica da voz e encaminhar para o professor de canto e/ou fonoaudiólogo. Por fim, vale mencionar que, devido à complexidade dos aspectos ligados à uma voz saudável, pode ser recomendada a ida a outros profissionais: pneumologista, dentista, fisioterapeuta, nutricionista, endocrinologista, entre outros.
Conclusão Segundo o grande Stevie Wonder, nos tempos de hoje boa parte do music business é baseado em questões que não têm nada a ver com música. 24 No caso, é visto cantores chegando ao topo, mas pautados prioritariamente em técnicas de mercado, sem pagar o preço do treino, do estudo, da preparação. Hoje vivemos a realidade dos softwares de afinação, inclusive existindo um orçamento em estúdios para essa finalidade. Então eles só cantam e depois afinam tudo. Muitas horas são gastas, pois demanda tempo pra afinar nos softwares e é muito difícil. O segredo está, como o próprio Stevie Wonder diz, em você aperfeiçoar o dom que recebeu. Cabe a você pôr a sua alma na música. Cabe a você concentrar-se na letra que está cantando. Viva a experiência do que está cantando e cante com o coração. Entender a função, saber timbrar, construir uma jornada dinâmica da música, ser um atleta da voz, são apenas alguns dos aspectos que formam grandes backing vocals e que já dão um salto em relação aos que preferem permanecer na zona de conforto. Espero que você tenha aproveitado as informações valiosas desse ebook e continue caminhando com a gente. O preço é alto, mas sempre valerá a pena! 23
Normalmente os exames mais realizados são videolaringoscopia e videoestroboscopia.
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Citação retirada do DVD “A Um Passo do Estrelato”.
Musicista multifacetada, vocal coach/preparadora vocal, teóloga e motivada pela interação entre arte e educação, Andressa Marinoni é mestranda em Fonoaudiologia pela PUC-SP, pós-graduada em Voz Artística pelo CEV-SP, especialista em Educação Musical e bacharel em Música pela Faculdade Cantareira, bacharel em Teologia pela FTSA-PR, além de formada em Louvor & Adoração pelo CTMDT. Concluiu certificações na área de Pedagogia Vocal e Consciência Corporal, como o Método Somatic Voicework – The LoVetri Method (Level I-II), Vocal Pedagogy – Contemporary Commercial Music (Shenandoah University/EUA), Belting Contemporâneo (Maestro Marconi Araújo) e Método Bertazzo. Além disso, teve contato com grandes pesquisadores da Voz: Johan Sundberg, Ingo Titze, Franco Fussi, Ana Flavia Zuim, entre outros. No aperfeiçoamento em Prática de Banda, aprendeu ferramentas valiosas com grandes nomes da área, como: Paul Baloche, Tom Jackson, Tim Johnson e maestro Sérgio Gomes. Sua experiência de 20 anos no meio erudito e popular – como cantora crossover, violinista e tecladista em festivais, shows, concertos – complementa-se com a atuação em treinamentos pelo Brasil, congressos e em instituições sobre assuntos relacionados às artes, como Harmonização & Backing Vocal, Técnica Vocal, Prática de Banda, Expressão Vocal & Corporal, História da Música Cristã, etc. Atualmente é diretora e professora do IACA – Instituto de Adoração, Cultura & Arte; líder de música da Igreja Batista Nações Unidas (Pr. Luiz Sayão); vocal coach/preparadora vocal da academia de teatro musical Allégresse e cantora do Ensemble Marconi Araújo.