Andreia Cláudia da Silva Cunha Mendes
Bruxaria e Mitos Afins no Tratado de Confissom de 1489
Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes, orientada pelo Professor Doutor José Carlos ibeiro Miranda
!a"uldade de Letras da #ni$ersidade do Porto %etembro de &'()
*ersão Definiti$a
II
FACULDADE DE LE!AS DA U"#$E!S#DADE D% &%!% &%!% MES!AD% EM ESUD%S L#E!'!#%S( CULU!A#S E #"E!A!ES
B!U)A!#A E M#%S AF#"S "% TRATADO DE CONFISSOM DE 1489
Dis Dissert ertação ação de Mest estrado rado ap aprresen esenta tada da + !a"u !a"uld ldad adee de Letr etras da #ni$ersidade do Porto para a obtenção do rau de Mestre em Estudos Literários, Culturais e Interartes, realizada sob a orientação "ient-fi"a do Prof Prof.. Do Dout utor or José José Carl Carlos os ibe ibeir iroo Mira Mirand nda, a, Prof Profes esso sorr /sso /sso"i "iad adoo do Departamento de Estudos Portuueses e Estudos omâni"os
/0DEI/ CL1#DI/ D/ %IL*/ C#02/ ME0DE%
%E3EM45 &'()
III
IV
A*rade+i,entos
*ou tentar ser o mais su"inta poss-$el nesta se"ção da dissertação, de forma a abraner todos a6ueles 6ue me estão perto do "oração e 6ue tanto me apoiaram nesta etapa, 6ue se re$elou man-fi"a e repleta de no$os "on7e"imentos. "on7e"imentos. /ntes de tudo8todos, 6uero arade"er aos meus pais, Ema Mendes e José Eduardo Mendes, sem os 6uais isto não teria sido poss-$el de realizar, ou de outra forma eu não estaria a6ui a es"re$er. Eles, 6ue foram tão insistentes, tão dedi"ados e 6ue sempre me apoiaram em todas as min7as de"is9es, fossem elas boas ou más. /o meu namorado, :il %al$ini, 6ue sempre me alerou e demonstrou apoio e "arin7o ao lono desta tão importante fase. %empre foi um porto seuro e uma ;ro"7a< na 6ual eu me pude apoiar, "onfiar e desabafar, e 6ue sempre me disse para não desistir. /o meu rande amio Joel /l$es, 6ue tanto me aturou, 6ue partil7ou 7ist=rias "omio e 6ue me ou$iu a "ontar outras tantas. E "laro, por >ltimo, mas não menos importante, ao meu Professor8orientador, José Carlos Miranda, 6ue sempre me demosntrou 6ue as "oisas se realizam, desde 6ue ten7amos pai?ão, dedi"ação, "om alum esforço + mistura, por a6uilo 6ue fazemos. %empre me fez $er 6ue e?iste sempre mais "on7e"imento para além da6uilo 6ue imainamos, e 6ue partil7ou "omio um enorme interesse pelo randioso tema desta dissertação. / todos, não $os posso arade"er 6ue "7eue, e 6ue isto se@a apenas o in-"io de uma no$a e boa etapa. 5briada por tudoA
V
!ESUM% B!U)A!#A E M#%S AF#"S "% TRATADO DE CONFISSOM DE DE 1489
0o final da Idade Média assisteBse, um pou"o por toda a Europa, a uma "res"ente opinião ad$ersa "ontra mul7eres 6ue eram desinadas bru?as, termo 6ue foi $ariando "onforme as l-nuas mas "u@o "onte>do se mante$e nota$elmente está$el. Prati"antes das artes mái"as e propaadoras do Mal por onde passassem, eram sobretudo a"usadas de estimular uma se?ualidade desenfreada, "u@a oriem esta$a no pa"to demon-a"o 6ue as le$a le$a$a $a a ter ter rela relaç9 ç9es es se?u se?uai aiss "om "om o pr=p pr=pri rioo De Dem= m=ni nio. o. 0e 0est stee "ont "onte? e?to to,, eram eram "onsideradas nada mais do 6ue 7erees, 6ue repudia$am Deus, a fé "ristã e a Ire@a, $indo, por isso, a sofrer sobretudo na Fpo"a Moderna a repressão destinada a todos a6uele a6u eless 6ue se in"luin"lu-am am nessa nessa "ateo "ateoria ria.. ealid ealidade ade so"ia so"iall ou fi"ção fi"ção imain imainári ária, a, "onstru-da para sublimar as puls9es re"al"adas dos aentes en"arreados da repressãoG 0un"a o saberemos totalmente. 0ão sendo uma abordaem 7ist=ri"a, o presente trabal7o toma "omo ponto de apoio o Tratado de Confissom, Confissom, uma das primeiras obras impres impressas sas no espaç espaçoo portu portuuH uHss ainda ainda no sé". sé". * *,, para para pro"ed pro"eder er a um in6uér in6uérito ito preliminar sobre este este tema e sua imediata imediata posteridade.
&alavras-+have. &alavras-+have. /ruxa 0 e+lesiásti+os 0 ,itos0 #nuisi23o #nuisi23o 0 ,anuais de +onfiss3o +onfiss3o
VI
ABS!AC #C5C!AF A"D !ELAED M65S #" 5E TRATADO DE CONFISSOM %F 1489
In t7e late Middle /es, t7rou7out Europe, t7e in"reasin ad$erse opinion spreads aainst omen 7o ere Knon as ;it"7es<, a term t7at $aried a""ordin to t7e lanuaes, alt7ou7 its "ontent 7as remained remarKabl stable. Pra"titioners of mai" arts and spreaders of e$il ere mainl "7ared it7 en"ourain an unbridled se?ualit, 7ose sour"e as demoni" pa"t t7at brou7t t7em to 7a$e se? it7 t7e de$il. In t7is "onte?t, it"7es ere "onsidered not7in more t7an 7ereti"s 7o 7ated :od, t7e C7ristian fait7 and t7e C7ur"7, bein, t7erefore, fated to suffer espe"iall in t7e modern eraBt7e "ra"Kdon aimed to all t7ose in"luded in t7is "ateor. %o"ial realit or imainar fi"tion, built to sublimate t7e impulses of t7e aents responsible for repressionG e ill ne$er Kno. 0ot bein a 7istori"al approa"7, t7is paper taKes as a point of support for t7e Tratado de Confissom, one of t7e earliest printed orKs in t7e Portuuese territor in t7e () t7 "entur, to "arr out a preliminar in6uir on t7is topi" and its immediate posterit.
7eords. it+h-e++lesiasti+s-,ths-#nuisition-,anuals of +onfession
VII
VIII
:"D#CE
/rade"imentos
*
esumo
*II
/bstra"t
I
Introdução
N
Cap-tulo I En6uadramento te=ri"o
O
(.( Introdução ao mundo das bru?as em Portual no in-"io da Idade Média
O
(.& Con"eção9esQ de uma bru?a
((
(.N De Deusas, "renças e unuentosR pa"tos, perseuiç9es e mitos
(S
(.S 5 ato de $oar e as transformaç9es
(T
(.) 3ratados rediidos e o uia de e?e"uçãoR Malleus Maleficarum
&(
(.O / possessão demon-a"a asso"iada + bru?aria
&O
(.U 5 pa"to diab=li"o
&T
(.T / lu?>ria e o %abat
N'
(.V De "omo as bru?as pro$o"a$am o infort>nio
N&
Cap-tulo II :uias, entidades @usti"eiras e penitHn"ias
N)
&.( 5 Tratado de ConfissomR elaboração e "onte?to
N)
&.& 5 Tratado "ontribuintes
NU
de
ConfissomR
fontes
1
&.N /s noç9es do pe"ado
NV
&.S Dos pe"ados da mul7er
S&
&.) 5 testemun7o de :il *i"ente
SU
&.O 5 ato de "onfissão
SV
&.U Crenças difundidas
)&
&.T Conse6uHn"ias e perseuiç9es
)S
&.V 5s a"usados
)U
&.(' / In6uisição "omo entidade ;@usti"eira<
O'
&.(( /s práti"as e o seu sinifi"ado
ON
&.(& / posição do "ristianismo
OO
Cap-tulo III Est=rias 6ue se "rHem $er-di"as
U&
N.( /s mouras en"antadas
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N.& Lendas do Castelo de Montalere
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N.N / lenda da Dama do PéBdeBCabra
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Con"lusão
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4ibliorafia
TN
/ne?os
TV
2
#"!%DU;<%
De a"ordo "om %tuart ClarK, na Europa do enas"imento era opinião 6uase unânime entre os 7omens instru-dos 6ue diabos e bru?as não s= e?istiam, "omo aiam nos limites das leis da natureza. (5 mo$imento repressi$o da in6uisição, ou ;"aça +s bru?as<, le$ou ao @ulamento e "7a"ina de muitos mil7ares de indi$-duos, os 6uais foram pre"edidos e a"ompan7ados da redação de $ários te?tos, 6ue relata$am os assuntos da bru?aria, bem "omo os perios asso"iados + mesma. %abemos 6ue $ários tratados 6ue en$ol$iam a bru?aria foram rediidos, prin"ipalmente no norte e "entro do "ontinente europeu, tratados esses 6ue infundiam uma ele$ada porção de 7orror. 0esse mesmo énero literário relata$amBse as aç9es tenebrosas prati"adas por bru?as e, de iual modo, a obtenção de poderes sobrenaturais e in"ompreens-$eis "on"edidos pelo Diabo. De$ido a essa "rença 6ue se en"ontra$a $in"ulada em muitos su@eitos, era fortemente apoiada a repressão de 6uem poderia prati"ar ou prati"a$a mesmo esse tipo de atos tão aterrorizantes e bizarros, e tudo isto estaria liado + deradação dos tempos e ao /po"alipse. 5s te?tos mais representati$os do sé"ulo * 6ue tratam dos assuntos sobrenaturais asso"iados + bru?aria são sem d>$ida aluma o Formicarum, de J. 0ider, de (SU), e o Malleus Maleficarum de 2. Wramer e J. %prener, publi"ado em (STO. 3odos estes li$ros, além de re"orrerem + arte da es"rita, utilizaram, de iual forma, representaç9es i"onoráfi"as, para 6ue se pudesse mostrar, mais afin"adamente, o $erdadeiro "ará"ter demon-a"o da maia nera. /ssim, retrata$am 6ue as bru?as8feiti"eiras, aliadas ao Diabo, podiam e "onseuiam, "om su"esso, prati"ar atos e e?er"er poderes 6ue l7es eram "on"edidos, mas a"ima de tudo eram $erdadeiramente mere"edoras do foo, da morte "erta. Contrariamente, em Portual não se $erifi"ou a e?austi$a produção de tratados 6ue se dedi"assem de forma espe"-fi"a + dis"ussão do problema da bru?aria e da sua posterior repressão. 0esse "onte?to, Tratado de Confissom, impresso em (STV, faz fiura de primeiro testemun7o de um mo$imento 6ue iria "res"er e intensifi"arBse no sé"ulo seuinte. 3odo o imainário so"ial asso"iado +s bru?as repousa num "on@unto de mitos, dos 6uais aluns são bem identifi"á$eis. Por e?emplo, é do "on7e"imento eral 6ue o 1
Cf. ClarK (VV(Q. 3
%ol é tido em "onta "omo o prin"-pio da $ida, é a representação do "alor, do dia. Porém, a Lua é soberana sobre a noite e protee os seres inanimados. 3in7aBse e temBse "omo "rença 6ue os mortos surem durante a noite, bem "omo os esp-ritos maléfi"os. %endo assim, o dia e o %ol representam o bem, a força e a $ida. Contudo, a Lua é um s-mbolo da noite, da morte e das forças do mal. 0a /ntiuidade, e em determinados pa-ses nos dias de 7o@e, não se podia re"orrer + maia de forma ob@eti$a, ou se@a, não era poss-$el ir de en"ontro + maia "omo se $ai de en"ontro a uma "iHn"ia espe"-fi"a, parti"ular. Indubita$elmente, as bru?as e feiti"eiras fazem parte de um mundo tenebroso, ins=lito. 3oda$ia, a maia tem $árias $ertentes, pois nem toda a maia está liada + práti"a do mal, nem toda a maia tem "omo ob@eti$o atinir fins 6ue pre@udi6uem outrem. Mas, tal "omo se entende, é, maioritariamente, sobre a maia nera 6ue $amos fazer in"idir a nossa atenção. Dessa forma, "olo"amos a 6uestãoR por 6ue razão as bru?as surem 6uase sempre asso"iadas ao pe"ado da lu?>riaG Xual o moti$o para as mesmas in"idirem sobre os assuntos de amor e misturarem os mesmos "om a tentação "arnal, do adultérioG /poiandoBnos na bibliorafia e?istente, $amos ;espreitar< o n>"leo do tema bruxaria e tudo a6uilo 6ue a rodeia, "omeçando pelos mitos mais "omuns. 5 %abat e as missas neras estão asso"iadas a esta temáti"a, @á 6ue a tentação "arnal, as orias e o pe"ado e?tremo faziam parte destes rituais, do 6ue realmente "ara"teriza uma bru?a, sendo, deste modo, esta sempre asso"iada ao pe"ado da lu?>ria. Dito isto, no presente trabal7o, propomos analisar o 6ue se entende por bru?aria e de 6ue modo a mul7er foi importante no desempen7o desse papel, ou se@a, 6ual o poder da mul7er, ou falta dele, e de 6ue modo as ditas bru?as re$olu"ionaram o mundo, 6ual foi o seu YpesoY perante a so"iedade, 6uais os benef-"ios ou malef-"ios 6ue elas poderiam trazer, e, de iual modo, no 6ue é 6ue elas realmente a"redita$am. F ne"essário tentar "ompreender a oriem da bru?aria e a ne"essidade 6ue aluns rupos e "amadas so"iais ti$eram e tHm de re"orrer aos di$ersos tipos de maia e?istentes "omo, por e?emplo, a maia natural, a artifi"ial ou mesmo a maia do dem=nio, ou se@a, a maia neraQ, 6uer fosse "om bons prop=sitos ou "om o intuito de prati"ar o mal, pre@udi"ando 6uem se pretendesse, ou 6uem se atra$essasse nosQ seusQ "amin7osQ. Por outro lado, $amos também ;merul7ar< no mundo da "onfissão, ou se@a, 6uais as "onse6uHn"ias apli"adas aos atos de bru?aria e a "aça +s bru?as, 6ual o
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poder da ire@a e 6uão @usti"eira, ou não, esta se fazia sentir perante o despautério asso"iado +s artes mái"as.
*=s, os 6ue não "redes em bru?as, nem em almas penadas, nem em tropelias de %atanás, sentaiB$os a6ui + lareira, bem @untos ao pé de mim Z...[ E não me diam no fimR \ Ynão pode ser.Y \ Pois eu sei "á in$entar "oisas destasG &
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2EC#L/05, /le?andre, (T)(, p. T. 5
CA&:UL% # 0 Enuadra,ento te=ri+o
1>1 #ntrodu23o ao ,undo das /ruxas e, &ortu*al no in?+io da #dade Moderna
] semel7ança do 6ue su"ede "om 6ual6uer fen=meno so"ial de dimensão 7ist=ri"a, a bruxaria ofere"e m>ltiplas abordaens, umas de natureza "on"eptual, outras atinentes aos fen=menos "on"retos 6ue se podem des"re$er sob dessa desinação. 5 mais "orrente será estabele"er uma "orrelação entre bru?aria e feitiçaria, o 6ue permite de imediato atribuir ao fen=meno a um espaço e um tempo muito amplos, 6ue remontam sem d>$ida + "ultura mediterrâni"a antia. /final não era Medeia uma "on7e"ida feiti"eiraG E?plorando ainda a dimensão "on"eptual, poderemos afirmar 6ue bru?as ou feiti"eiras tem "omo traço distinti$o dominante o fa"to de mane@arem e seremBl7es atribu-dosQ poderes nãoBme"âni"os, 6ue sus"itam a a"ção de forças in$is-$eis no sentido de obter efeitos sobre os 7umanos. %endo patente 6ue os saberes antios, nos seus di$ersos dom-nios, sempre perseuiram o ob@e"ti$o de mo$er as forças o"ultas da natureza no sentido de propi"iar a a"ti$idade 7umana a bus"a da pedra filosofal, o eli?ir da $ida eterna, ou mesmo a adi$in7ação do futuro atra$és de orá"ulos ou da práti"a astrol=i"a , 7á 6ue "onsiderar 6ue bru?as e feiti"eiras se mo$em num terreno afim, mas de âmbito mais restrito, $isando produzir efeitos meramente "ir"unstan"iais, referentes a indi$-duos parti"ulares. / Idade Média europeia "on7e"eu bem a fiura do mao, 6ue era a6uele 6ue prati"a$a maia. :eralmente os maos são "on7e"edores das forças da natureza e do pensamento, lidam "om essa forças em benef-"ios pr=prio e de seu semel7ante. Maos são afins dos bru?os, s= 6ue eralmente se apresetam "omo personifi"aç9es do bem e detentores de uma rande sabedoria o"ulta ou esotéri"a. Lembremos apenas a e?traordinária fortuna medie$al do Mao Merlin. F "laro 6ue a maia poderá repartirBse em $ários ramos, fazendo a bru?aria parte de um deles. Mas en6uanto os maos prati"am uma maia superior, possuindo um énero de poder erudito, @á os bru?os prati"am as artes mái"as "omuns, ou se@a, utilizam materiais mais ;simples< e re"orrem, "om mais fre6uHn"ia a re"eituários 6ue 6
podem ad6uirir a forma de li$ros. /s artes mái"as prati"adas pelos maos tHm mais a $er "om o mistério, "om o in"=nito e "om a ne"essidade de atinir o saber. Comparati$amente "om os maos, os bru?os possuem um "on7e"imento menor, mais $oltado para a "ir"unstân"ia e para o "on"reto. Por outro lado, a Idade Média, a partir do sé"ulo II, "on7e"e uma e?tensa proliferação da fiura da fada, 6ue não de$e ser "omfundida, nem na oriem, nem na função, "om a da feiti"eira ou da bru?a, "on6uanto na literatura do final da Idade Média se@am $is-si$eis ine$itá$eis interferHn"ias entre essas duas fiuras. %endo pro$á$el 6ue a pala$ra ;fada< pro$en7a do latim Fata, 6ue sinifi"a fado8destino, as fadas 6ue irrompem sobretudo na literatura "a$aleires"a tHm um perfil distinto e in"onfund-$el. %ão sem d>$ida mul7eres imainárias pro$enientes de um outro mundo ar"ai"o e nãoB "ristão, "u@a função era eneri"amente "on"eder aos 7omens benef-"ios materiais, 6ue podiam ir até + maternidade, no "aso das melusinianas, ou então uiandoBos para o mundo além da morte, "omo su"ede "om as moranianas, desinação pro$eniente da !ada Morana 6ue "onduz o rei /rtur, seu irmão, + il7a de /$alon N. /s fadas perduraram no imainário "ole"ti$o até aos nossos dias, por e?emplo, nas zonas rurais de Portual, en6uanto dispensadoras de ri6ueza mediante um pa"to "om um 7omem S. 5"upam também um luar "entral na estrutura dos mitos e "ontos populares, pois detHm o poder de tornar poss-$el a realização dos son7os e8ou ideais inerentes + "ondição 7umana. Esses seres fantásti"os ou imainários são dotados de rande beleza e apresentamBse e?"lusi$amente sob a forma feminina, en"ontrandoBse intrinse"amente liados ao feéri"o. Como seres imainários, as fadas não se misturam "om as bru?as "u@a identifi"ação re"a-a em mul7eres "on"retas, assumidas "omo tal, ou apenas a"usadas de o serem. / espe"ifi"ação da fiura da bru?a e da bru?aria 6ue apenas é per"ept-$el no final da Idade Média Europeia e, sobretudo, na Idade Moderna, onde esta a"ti$idade e as suas promotoras são ob@e"to de ampla e $iolenta perseuição tem "ontudo de ser en6uadrada num outro 6uadro diferente do 7erdado da "ultura antia, das fantasias "a$aleires"as ou das mun$idHn"ias ar"ai"as. F o predom-nio da reliião "ristã, da sua domáti"a e do seu poder institu"ional en6uanto Ire@a, 6ue a"ompan7a a emerHn"ia
3erminoloia "riada por 2/!BL/0C0E (VTSQ. *er ainda :/LL/I% (VV&Q. 3ambém podem ser desinadas mouras. %obre o assunto, $er !/^_58M5/I% &''VQ` !EEI/ (VVVQ. 3 4
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das bru?as ou então o seu opr=bio so"ial, em termos 6ue tentaremos mostrar ao lono do presente trabal7o. 0a realidade, a 7ist=ria "ultural do final da Idade Média é fertil em e?emplos re$eladores de uma "res"ente "ontestação das artes di$inat=rias ou mái"as prati"adas sobretudo nos meios "ultos e até a"adémi"os, $istas "omo paãs e al7eias + ordem di$ina. %e a foueira ardeu para 7omens "omo :iordano 4runo, um intele"tual e um fil=sofo, "ompreendeBse bem 6ue para fiuras an=nimas, femininas, muitas $ezes $i$endo de práti"as "urandeiras, depressa a perseuição se tornasse impla"á$el, "omo teremos oportunidade de mostrar adiante. / e?pressão ;"aça +s bru?as< passou mesmo a "onstituor a imaem 6ue dá "onta da perseuição impla"á$el a 6ual6uer minoria "u@o "omportamento fosse des$iante. /inda a6ui, são ne"essários aluns apontamentos espe"ifi"adores, @á 6ue lidamos "om $ários "on"eitos 6ue são re"obertos por le?emas não "oin"identes nas $árias l-nuas. 0a realidade, o termo bru?a é t-pi"o das l-nuas ibéri"as portuuHsR bruxa, espan7olR bruja, "atalãoR bruixaQ. 5 mais pro$á$el é 6ue este $o"ábulo fosse espe"-fi"o uni"amente do latim peninsular ou então de aluma das l-nuas préBromanas "orrentes na Pen-nsula. Esta 7ip=tese é reforçada pelo fa"to de s= apare"er nas l-nuas ibéri"as` se $iesse do latim, de$eria também estar presente no fran"Hs sorcièreQ e no italiano stregaQ, as 6uais também perten"em + fam-lia das l-nuas români"as. Por outro lado, outras l-nuas, "omo a6uelas em 6ue se en"ontram es"ritas as primeiras es"rituras, pare"em men"ionar também a forma etimol=i"a da pala$ra, e a l-nua "elta também a testemun7a, $isto 6ue bri?t sinifi"a feitiço, bri?to sinifi"a f=rmula mái"a e bri?tu sinifi"a maia` ou mesmo su"ede "om o :aulHs, @á 6ue bri?tom e bri?tia são pro$enientes do "élebre nome da deusa aulesa 4ri"ta ou 4ri?taQ ). epareBse 6ue, pelo "ontrário, o termo YfeitiçariaY pro$ém da pala$ra de farmakía, 6ue sinifi"a Y"urandeiroY, sendo no latim veneficae, de onde também deri$a a pala$ra Y$enenoY, ou se@a, preparação de misturas "om fins terapHuti"os a partir de er$as e plantas. 5b$iamente 6ue as misturas eram, muitas $ezes, utilizadas para pro$o"ar estados alterados de "ons"iHn"ia, sendo prati"a "omum na a"ti$idade das bru?as. %endo assim, "ompreendeBse 6ue, "omo o passar dos tempos, as pala$ras se fossem tornando sin=nimas, sendo "orrente 7o@e dizerBse 6ue uma bru?a é uma feiti"eira e $i"eB$ersa. Dispon-$el emR 7ttpsR88pt.iKipedia.uz84ru?a . Consultado no dia (S de Maio de &'().
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3ambém na l-nua fran"esa "orrente, o termo sorcière ad6uire imensos sinifi"ados. Por e?emplo, este termo apli"aBse a pessoas 6ue são "onsideradas aptas para prati"ar as artes mái"as neras + distân"ia, "om "on7e"imento $asto de en"antamentos e substân"ias psi"otr=pi"as, "om o ob@eti$o de prati"arem o bem ou o mal. Mais a feiti"eira do 6ue o feiti"eiro, é fre6uentemente uma "riatura amb-ua, a 6ual abandona o seu "orpo f-si"o durante a noite e parte para reuni9es obs"uras, en$ol$endoB se em orias demon-a"as O. Já na l-nua inlesa, a pala$ra witch deri$a do anloBsa?ão, antio wicca para as mul7eres e wicce para os 7omens. /"reditaBse piamente 6ue a pala$ra i""a remonta + e?pressão the wise ones, ou se@a, os sábios. Isto é, a6ueles 6ue dispun7am o seu poder perante a "omunidade, sarando os enfermos, e também afasta$am a maldade atra$és de rituais sa"ros U. Como seria ine$itá$el, a bru?aria foi sendo identifi"ada "om o mal e "om o dominio do demon-a"o, não s= por6ue propun7a uma a"ção 6ue es"apa$a + das potHn"ias di$inas institu-das e dos seus emissários an@os, santos, sa"erdotes "omo por6ue também as a"ç9es propostas podiam, de fa"to, $isar o pre@u-zo ou mesmo a morte de aluém. / maia nera pairou sempre "omo arumento para as mais ferozes puniç9es da6ueles ou da6uelas 6ue eram identifi"ados "omo bru?os. /ssim, o termo Ybru?ariaY, tão utilizado pela Ire@a durante a In6uisição, foi sendo "orrela"ionado "om maleficiis e "om a pala$ra Ymalefi"ioYmaleficusQ, ou se@a, a6uele 6ue prati"a$a o mal, de a"ordo "om as "renças "ristãs. 0ão raro, tanto as bru?as "omo os prati"antes da bru?aria a"abaram por, de uma forma ou de outra, ser defensores de uma práti"a reliiosa alternati$a, insistindo em temas 6ue eram absolutamente interditos pela reliião ofi"ial. Entre estes an7a espe"ial $ulto a se?ualidade. Podemos dizer 6ue nem toda bru?a era uma feiti"eira e nem toda feiti"eira era bru?a, mas todas as mul7eres 6ue, mesmo sem se darem +s práti"as da feitiçaria, por parti"iparem em rituais paãos eram, para o %anto 5f-"io, uma má influHn"ia para o po$o e "olidiam "om a ideoloia "leri"al. 0a realidade, "om o ad$ento da "omtemporaneidade, rande parte dos temas asso"iados + bru?aria $iriam a "on7e"er uma admissibilidade so"ial "res"ente das formas tradi"ionais de "ura por er$as e unuentos e até as práti"as se?uais , mas nem por isso o imainário "ole"ti$o dei?ou de dar + bru?a um papel a um tempo assustador e 6
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3al é o e?emplo do tão "élebre %abat, 6ue "onsiste num ritual em 6ue as bru?as tHm relaç9es se?uais "om o Dem=nio e en$ol$emBse em ba"anais. Cf. 4/P3I%3/, :ar"ia &''&Q. 9
fas"inante, assumino a sua desinação, na nossa l-nua, sinifi"ados mais ou menos nefastos "omo, por e?emplo, benilheira, ca!"o, cascarra, feiticeira, maga, mágica, #ata$roxa%, e por a- em diante , os 6uais denotam a a"eitação ou mesmo uso 6ue o po$o fazia dos ;ser$iços< da mul7er assim identifi"ada.
Cf & 'icionário de (in)nimos (VVUQ, p. &'U.
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1>@ Con+e23oes de u,a /ruxa
o no "reo en bru@as, pero 6ue las 7a, las 7a.V
*emos, por $árias $ezes, a dita bru?a a perfilarBse "omo um ser perturbado, estran7o e até mesmo e?tra$aante, sobre o 6ual não se pode near a realidade. Porém, a "ara"terização da bru?a é "omple?a e pode "orresponder a personaens "om perfis de personalidade $ariados. / bru?a do "ampo, ou rural, $ista "omo uma $el7a na maior parte das $ezes, é temida, desprezada, e en"ontraBse sempre + marem da so"iedade. Esta é "ara"terizada "omo uma mul7er ner$osa, su@eita a enormes "rises. 3em "on7e"imentos limitados de "urandeira, é prati"ante da arte da adi$in7ação e, tal$ez, pro"ure na natureza 6ue a rodeia uma espé"ie de "onsolo, "onforto. De 6ual6uer forma, uma mul7er s= era "onsiderada bru?a ap=s ter passado por fra"assos durante a sua $ida. (' %eundo /le?andre ParafitaR (( / bru?a é uma mul7er 6ue tem pa"to "om o dem=nio e as "ir"unstân"ias 6ue l7e "onferem esse estatuto podem ser de 6uatro naturezasR a primeira é a de ela ser fruto de um "oito "om o dem=nio` a seuinte é a de ela ser a >ltima de sete fil7as seuidas da mesma mãe e 6ue não 7a@a tido por madrin7a a irmã mais $el7a` a ter"eira é a de ela ter obtido o dom por 7erança de outra bru?a` a 6uarta é a de o dom ter sido obtido 6uando 7erda a peneira de outra bru?a.
Embora a "ara"terização da bru?a aponte para a posse de poderes ps-6ui"os, isso não torna a mesma, automati"amente, numa bru?a. /s bru?as são assim "7amadas pela nerura da sua "ulpa, 6uer dizer, os seus atos são mais malinos 6ue os de 6uais6uer outros malfeitores Z...[ elas in"itam e "onfundem os elementos "om a a@uda do dem=nio, "ausando terr-$eis temporais de Ditado "astel7ano. Como, por e?emplo, amores frustrados ou mesmo $eron7osos, os 6uais dei?aram mar"as, tais "omo uma sensação ou "omple?o de impotHn"ia, os 6uais ela "ombatia atra$és de meios nada le-timos, mas nem sempre sa-dos do inferno "ristão. P//!I3/, /le?andre, &''&, p. &&. 9
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ranizo e outras tempestades. MaisR enfeitiçam a mente dos 7omens, le$andoBos + lou"ura, ao =dio e + las"-$ia desrerada. E, prosseue o autor, pela força terr-$el de suas pala$ras mái"as, "omo por um ole de $eneno, "onseuem destruir a $ida.(&
F sabido 6ue a bru?a pro"ura$a em di$ersos e determinados estupefa"ientes "ertos ;estados de son7o<, 6uer fosse para si mesma ou para outrem. /s bru?as europeias re"orriam a determinados estupefa"ientes para obter o 6ue realmente dese@a$am.(N Era atra$és da maia artifi"ial, isto é, da maia 6ue ne"essita$a passar por ;pro"essos de transformação< (S, 6ue as bru?as podiam al"ançar ou fazer al"ançar os referidos ;estados de son7o<. /inda nos dias de 7o@e, mais "on"retamente na Europa "entral, as solaná"eas são utilizadas "omo fonte de prazer para as pessoas, +s 6uais a sua 6ualidade de pobreza pro-be o "onsumo de $in7os e li"ores, e 6ue reforçam a "er$e@a 6ue tem bai?o teor al"o=li"o. Determinados espe"ialistas afirmam 6ue as solaná"eas são de$eras no"i$as para os seres 7umanos, tendo efeitos mais periosos 6ue os do pr=prio 7a?i?e. 5u se@a, o prin"ipal efeito pro$o"ado pelo "onsumo destas plantas é a e?periHn"ia de $is9es, o 6ue le$a as pessoas a um estado de del-rio, de ilusão. /ssim sendo, alumas abordaens intele"tuais apia$amBse no "on7e"imento dos efeitos 6ue determinadas plantas pro$o"a$am para poderem e?pli"ar ditos ;fen=menos< rela"ionados "om as bru?as, "omo, por e?emplo, o ato de $oar.
F de ressal$ar 6ue do ponto de $ista 7ist=ri"o e antropol=i"o, a bru?aria e a demonolatria de$em ser separadas em termos de estudos, embora possam também misturarBse. /inda 7o@e em dia se "elebram missas neras e e?istem, iualmente, "asas dedi"adas +s práti"as de demonolatria. Contudo, tenden"ialmente, a6ueles 6ue assistem ou fazem parte dessas "elebraç9es são pessoas maioritariamente sofisti"adas, "om um eo 7iperatrofiado, "om uma "uriosidade m=rbida por determinadas psi"opatias, sobretudo relati$as + se?ualidade. W/ME e %PE0:E, &''), p. OUBOT. 3al é o e?emplo da beladona e do meimendro. Já a leste utiliza$am a s"opolia e, nos pa-ses mediterrâneos, a tão "on7e"ida mandráora. Como, por e?emplo, esmaar plantas "om o intuito de fazer "7á, remédios, et". 12 13
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Constatamos, assim, 6ue tanto bru?as "omo feiti"eiras são seres 6ue estão re"eti$os, de forma $oluntária, a todo o tipo de influHn"ias de ordem inferior, tal "omo o satanismo e o lu"iferanismo, e é por isso 6ue as mesmas se tornam em ;instrumentos< relati$os a esses des-nios.
0o in-"io do sé"ulo , os di$ersos estudos sobre a maia antia partiam da ideia de 6ue era um fa"to eral e de "erta forma isolá$el. () De 6ual6uer modo, para esp-ritos menos doutrinários, tornouBse dif-"il separar a maia do reliioso. (O 5s ritos reliiosos esta$am liados a atos mái"os, e "ada tipo de "renças possu-a a sua maia parti"ular. PodeBse então "onstatar 6ue a maia p>bli"a utilizada para fins benéfi"os, "omo, por e?emplo, obter "7u$a ou mel7ores "ol7eitas, "orrespondia a um ;mt7os< (U e a um ;loos< (T, e possui o seu ;et7os< (Ve o seu ;eros< &', os 6uais esta$am interados num sistema reliioso, assim "omo a maia maléfi"a esta$am interada num outro sistema.
!oi uma épo"a de randes definiç9es, "omo o animismo, préBanimismo, totenismo, e por a- fora. 2o@e em dia, todas essas di$ersas teorias surem "om um $alor, nitidamente, mais limitado do 6ue a6uele 6ue l7es tin7a sido atribu-do. Em sistemas "omo a reliião dos e-p"ios, "aldeus e8ou de outros po$os antios. YMt7osY no reo antio sinifi"a$a a pala$ra dita, a lenda 6ue se "ria$a e se narra$a de bo"a a bo"a. #m mito do reo antio cg, translit. Ymit7=sYQ é uma narrati$a de "aráter simb=li"oBimaéti"o, rela"ionada a uma dada "ultura, 6ue pro"ura e?pli"ar e demonstrar, por meio da ação e do modo de ser das personaens, a oriem das "oisas do mundo` dos 7omens` dos animais` das doenças` dos ob@etos` das práti"as de "aça, pes"a, medi"ina entre outros` do amor` das relaç9es, se@a entre 7omens e 7omens, 7omens e mul7eres e mul7eres e mul7eres` enfim, de 6ual6uer "oisa 6ue se@aQ. /o mito está asso"iado o rito. 5 rito é o modo de se phr em ação o mito na $ida do 7omem B em "erim=nias, danças, oraç9es e sa"rif-"ios. 5 termo YmitoY é, por $ezes, utilizado de forma pe@orati$a para se referir +s "renças "omuns "onsideradas sem fundamento ob@eti$o ou "ient-fi"o, e $istas apenas "omo 7ist=rias de um uni$erso puramente mara$il7osoQ de di$ersas "omunidades. YLoosY , no reo, sinifi"a$a ini"ialmente a pala$ra es"rita ou falada BB o *erbo. Mas a partir de fil=sofos reos "omo 2erá"lito passou a ter um sinifi"ado mais amplo. YEt7osY, pala$ra de oriem rea, sinifi"a oriinalmente morada, 7abitat dos animais, mas mais tarde foi o nome dado a éti"a, ou se@a, um "on@unto de normas de "onduta adotado "om fundamento éti"o. YErosY em reoRYjkgY transliteração para o latim YérsYQ é o amor apai?onado, "om dese@o e atração sensual. 5eros indi$idual forne"e muitas $ezes a e?pli"ação dos son7os. Definiç9es de Ymt7osY, YloosY, Yet7osY e YerosY dispon-$eis emR 7ttpR88pt.iKipedia.or8iKi8Mito` 7ttpR88.di"ionarioinformal."om.br8loos8`7ttpR88.di"ionarioinformal."om.br8sinifi"ado8et7os8S&O O8 `7ttpR88pt.iKipedia.or8iKi8Erospsi"anCN/(liseQ , "onsultado no dia 'N de Maio de &'()Q. 15
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1> De deusas( +ren2as e un*uentos. a+tos( erse*ui2es e ,itos
4aro@a (VUTQ defende 6ue a bru?aria europeia, a 6ual $iu ;nas"er< as randes perseuiç9es, tem as suas oriens 7ist=ri"as no "ulto de Diana. Para o "ristão, Deus é a imaem pura do bem e o Diabo a do mal. Mas @á os paãos assumiam, o 6ue @á nessa épo"a não dei?a$a de "7o"ar aluns esp-ritos, 6ue também os seus deuses esta$am su@eitos ao mal e sofriam das mesma pai?9es, "apri"7os e8ou dese@os efémeros, tal "omo os 7omens. 5 mái"o, atra$és das suas ordens, do malBdizer, do roar de praas e de ameaças, pare"e a"reditar 6ue pode e?plorar os pontos fra"os do deus, 6uer o @ulue "apri"7oso, 6uer "on7eça os seus seredos, tal$ez até $eron7osos, 6ue o resto dos leios e mortais inoram. Pro$a$elmente, a 0atureza, a Moral, a Di$indade e o 2omem não são entidades tão distintas "omo o retratam nos sistemas filos=fi"os e nas relii9es da épo"a moderna, na 6ual o 2omem pare"e 6ue $i$e numa espé"ie de mundo modelado pela "iHn"ia e filosofia, $astamente se"ularizado. %e assumirmos 6ue a maia e a reliião sempre esti$eram intimamente rela"ionadas, $isto 6ue somente um $-"io de método pode "on"eber a maia "omo sendo um sistema de "renças inteiramente separado da reliião ou desliado dela de forma o"asional, a abordaem do mundo das bru?as resultará bem mais fa"ilitada. 0ão se pode arumentar de forma asserti$a 6ue a reliião se en"ontra inserida numa espé"ie de ;"asulo< do bem, e 6ue dela irá apenas ad$ir bondade, "arin7o, nãoB dis"riminação, @á 6ue foi atra$és de uma rande reliião 6ue a ;"aça +s bru?as< foi despoletada, an7ando terreno de forma in"ompreens-$el, e atuando sem d= nem piedade. 0a realidade, é 6uase imposs-$el separar, de forma supérflua, a maia da reliião, "omo outrora se fez. 5 6ue se de$e, na $erdade, separar é a tipoloia entre maias, ou se@a, a maia bran"a da maia nera. EntendaBse 6ue, a maia bran"a enloba tudo a6uilo 6ue diz respeito ao diurno, ao p>bli"o, ao bem. Contudo, a maia nera diz respeito a tudo a6uilo 6ue en$ol$e seredos, o mal, o noturno, o antisso"ial, isto é, é tudo a6uilo 6ue se pode rela"ionar "om a reliião e mitoloia, e é tão "elebremente "on7e"ido pelo nome de bru?aria. 14
Diana é a deusa dos "ultos se"retos e do terror, e em "ertos "asos de lou"ura pediaBse a sua a@uda, pois pensa$aBse 6ue a lou"ura era obra das almas dos mortos. F de$ido a Diana 6ue sure a e?pressão lunático, 6ue sinifi"a estar sobre a influHn"ia da Lua, perder a "abeça. Como se pode "onstatar, a Hnfase paira, maioritariamente, sobre a bru?aria, as entidades protetoras da maia maléfi"a, $isto 6ue é um énero de maia 6ue possui "ara"ter-sti"as mais interessantes do 6ue a maia bran"a. 4ru?as e fadas mar"aram e mar"am presença no imainário "oleti$o. Xual6uer mul7er 6ue $i$esse sozin7a, fosse solteira ou mesmo $i>$a, era "onsiderada bru?a durante a Idade Média. 3odos os mitos fazem parte da "ultura da 7umanidade no seu todo, "omo narrati$as poten"iais 6ue ;7abitam< no in"ons"iente de "ada um de n=s, e podem ser$ir de uias para uma mel7or e?pli"ação e "ompreensão do mundo. /ssim, não será ousado afirmar 6ue a mul7er 6ue se e?prime na dupli"idade bru?a8fada representa $erdadeiramente a polaridade en$ol$ida na oposição profano8sarado. 3al pode ser "onstatado atra$és do mito de Lilit7, mais "on7e"ida por Donzela 0era. Xuando abordamos a i"onorafia, $erifi"amos 6ue Lilit7 é $ista "omo uma mul7er @o$em, bastante sedutora, "om lonos "abelos loiros, "omo o sol. 0a simboloia, ela é retratada, de iual modo, "om uma serpente, a 6ual en$ol$e o seu "orpo nu. #ma pla"a 6ue foi des"oberta por ar6ue=loos, 6ue se @ula ser de Lilit7, retrataBa "om pés de "oru@a. 3al "ara"ter-sti"a f-si"a en$ol$e toda uma simboloia, ou se@a, ao ter pés de "oru@a sinifi"a 6ue a Donzela 0era esta$a de$eras rela"ionada "om a noite, e tal está "laramente liado aos mistérios da lua. 0a ra$ura ela também possui asas, o 6ue nos remete para a metáfora do $oo e de, tal$ez, "omuni"ação "om alo superior, "om o di$ino. / feiti"eira é uma santa do demo` o santo, um feiti"eiro di$ino. #m ;$H< e fala "om o dem=nio, o outro "om Deus.&(
Constatamos 6ue, no mito da "riação do mundo, Lilit7 sure antes de E$a, "omo mul7er de /dão, de a"ordo "om a tradição 7ebrai"a "ristã. Ela é até men"ionada di$ersas $ezes em relatos babil=ni"os e ass-rios. De a"ordo "om o 7istoriador 2usain &&R
5LI*EI/, Martins, (VTO, p. &&)
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/o lono da 7ist=ria, e em muitas "ulturas diferentes, a "apa"idade da deusa produzir "7u$a tem sido bastante a"eite de um modo eral, e?"eptuando 6uando pro$o"a tempestades "omo as 6ue eram trazidas por Lilit7 Z[ das 6uais pode resultar a destruição da 3erra. Pre"isamente 6uando dissipa$a a fe"undidade do solo "om os seus e?"essos, Lilit7 foi também a"usada de desperdiçar o poten"ial de fertilidade 7umana le$ando os 7omens a e@a"ularem durante o sono. Era um dos dem=nios mais temidos e 7a$ia rande $ariedade de amuletos, e de medidas de defesa, 6ue era utilizada "ontra ela.
/ssim, de a"ordo "om o mito, Lilit7 re$oltouBse "ontra Deus e /dão e usou os seus poderes para $oar até ao Mar *ermel7o. &N *erifi"amos 6ue a Donzela 0era não era a t-pi"a mul7er submissa, bem "omportada, a 6ual aia de a"ordo "om a $ontade do marido, irmão, pai e por a- em diante. Ela era antes uma mul7er li$re, "om $ontade pr=pria. Lilit7 é assim um e?emplo da mul7erBbru?a, em oposição ao e?emplo da mul7erBsanta, pois, por um lado, e?iste um ideal de mul7er @á representado, ou se@a, a *irem Maria, e, por outro, e?iste a imaem da mul7er las"i$a, tenebrosa, isto é, a bru?a. / Donzela 0era está fortemente liada ao "ampo se?ual, o 6ue a torna num ser inferior e até repunante para aluns. Durante a Idade Média suriram di$ersas 7ist=rias rela"ionadas "om a Donzela 0era, e até nos dias de 7o@e e?istem "omunidades @udai"as onde a "rença em Lilit7 permane"e. F bastante pro$á$el 6ue o mito em "ausa ten7a, de aluma forma, influen"iado as "ulturas onde o mesmo se en"ontra presente, e, tal$ez, esse mesmo mito le$asse + "on"eção da imaem de bru?a da Idade Média. 3oda$ia, é bastante pro$á$el 6ue a Donzela 0era se ten7a re$oltado ao tomar de "ons"iHn"ia do seu poder. Deste modo, temos Lilit7 "omo uma mul7er eman"ipada, nada submissa e totalmente "apaz de tomar as suas pr=prias de"is9es. 5 nosso mundo, ou se@a, o mundo "ontemporâneo des$aloriza a importân"ia dos mitos, imaens e s-mbolos. EntendaBse 6ue, de fa"to, em 2#%/I0, &''(, p.OTBOV.
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%eundo a tradição 7ebrai"a, o Mar *ermel7o era um luar onde 7abita$am esp-ritos malinos e dem=nios, era um luar amaldiçoado. 23
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parte, a In6uisição foi um pou"o responsá$el pela Y"aça +s bru?asY, toda$ia, estas foram maioritariamente perseuidas por autoridades "i$is, bem "omo por e"lesiásti"as. De um modo eral, as perseuiç9es feitas ad6uiriram "ara"ter-sti"as, em maior es"ala, lo"ais. F pre"iso arumentar e defender de forma "on$i"ta alo 6ue se a"redita, ou se@a, para 6ue outros partil7em da nossa opinião é ne"essário tornar essa "rença minimamente "red-$el, a"eitá$el, senão essa "rença poderá tornarBse numa espé"ie de superstição, ou se@a, se o termo ;bru?aria< se en"ai?ar numa $isão do mundo "oerente, isto é, se fizer sentido,
então
a
7ip=tese
de
se
tornar
numa
superstição
é
e?"lu-da.
ConstataBse 6ue, a maia não pode ser submetida a testes "ient-fi"os e, sendo assim, a possibilidade de esta poder ser, e$entualmente, ;apro$ada< ainda é um problema. Contudo, a maia da épo"a moderna, "ontemporânea, tem um prop=sito, esta bus"a o "on7e"imento, no entanto, podeBse afirmar 6ue, os meios 6ue esta utiliza para poder obter o dito "on7e"imento são de$eras in"oerentes.
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1>4 % ato de voar e as transfor,a2es
De modo a poderem realizar, de forma mais "=moda, os seus sortiléios, as bru?as transforma$amBse em "ães, a$es ou mos"as. /ssim, entra$am dentro das 7abitaç9es, pois reduziam o $olume do "orpo, e ser$iamBse das entran7as dos mortos para poderem fazer os seus filtros. Por isso, estas atra-am os 7omens 6ue l7es arada$am e "astia$am ferozmente a6ueles 6ue l7es resistiam. Por $ezes, era de seu arado transformáBlos, durante um "erto per-odo de tempo, em rãs, "astores ou "arneiros, e, outras $ezes, urina$am na "ara dos 6ue assistiam, de forma aterrorizada, +s suas práti"as nada ino"entes. De noite, + "andeia, a bru?a pare"e donzela. &S
*erifi"aBse 6ue a dramatização é um aspeto essen"ial, prin"ipalmente se "onsiderarmos a maia "omo uma defesa "ontra o desespero do 7omem ou da mul7er, num uni$erso onde o "ontrolo não é tomado "omo arantido. %endo assim, durante o lono per-odo da /ntiuidade Clássi"a, 7á $ários do"umentos 6ue "ompro$am a "rença no poder 6ue determinadas mul7eres possu-am não sendo elas obriatoriamente $el7asQ de se poderem transformar ou de transformar outras pessoas em animais, 6uando assim o dese@assem. Estas podiam, iualmente, $oar durante a noite, e utilizando os seus poderes poderiam não s=, mas também penetrar nos luares mais se"retos e tenebrosos. Para poderem realizar os seus ditos atos de maldade ou "rimes, realiza$am reuni9es durante o per-odo noturno e diriiamBse a 2é"ate ou Diana, sendo estas as suas di$indades protetoras, as 6uais as a@uda$am no fabri"o dos seus filtros e mistelas. In$o"a$am, de iual forma, poemas ou f=rmulas "ominat=rias ameaçadoras, para 6ue pudessem al"ançar os seus ob@eti$os.
3odas sendo mais ou menos feiti"eiras, as damas preparam entre si misturas suspeitas, a "omeçar pelas ma6uil7aens, os unuentos, as pastas depilat=rias de 6ue se ser$em, falsifi"ando
as
suas
aparHn"ias
"orporais
para
se
Ditado popular.
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apresentarem enanadoras diante dos 7omens.&)
3oda$ia, o erotismo, a maldade, o medo e todas as pai?9es e $-"ios submetiamB se + maia sob a forma de proteção "onstante de uma di$indade 6ue não é, obriatoriamente, tenebrosa e maléfi"a. 0ão se pode near a e?istHn"ia das ;artes mái"as<&O , $isto 6ue os te?tos sarados "onsidera$amBnas reais, mas podiaBse, em alumas o"asi9es, limitar o poder do Diabo. Certos "amponeses ainda "ontinuam a "rer 6ue tudo a6uilo 6ue tem um nome é real, não somente "omo alo imainário ou "omo apenas um "on"eito, mas "omo alo 6ue é palpá$el. Deste modo, se se en$eredar por essa l=i"a, as bru?as e?istem, @á 6ue o termo ;bru?a< e?iste. %e se faz referHn"ia a tudo a6uilo 6ue elas fazem, "omo, por e?emplo, o ato de $oar, de se transformarem em animais e de transformarem outras pessoas em animais, e por a- fora, é por6ue tudo isso é $er-di"o. &U %eundo uma das leis europeias mais famosas, a lei sáli"a, era pre"iso "ompro$ar a realidade do fa"to, ou se@a, se a mul7er era a"usada de práti"as de maia ou bru?aria tin7am de ter "omo pro$áBlo, pois a lei "ondena$a o difamador. Z...[ a "rença aas profe"ias, $s9es, son7os, dar aa $ontade, $ir das pala$ras, pedras e er$as, snaaes nos "eeos, e por6ue se fazem na terra em pessoas e alimárias, e terremotos, raças espe"iaes 6ue Deus outora 6ue a@am alumas pessoas, a astroloia, nroman"ia, eoman"ia, modo de tre@eitar por D#4, &''(, p. (N. / astroloia, adi$in7ação, malef-"ios e feitiços, a "iHn"ia denominada matemáti"a, o fabri"o de filtros e os sortiléios. ;Em 3rásBosBMontes e nas 4eiras as Maias estão asso"iadas +s "astan7as, 6ue muita ente uarda de prop=sito para esta data. %eundo Jore Lae, no ( de Maio de$emBse "omer "astan7as. Caso "ontrário, ao passarBse por um burro, este atiraBse + pessoa e mordeBa Diz o ditado 6uem não "ome "astan7as no ( de Maio, montaBo o burro. Isto por6ue Maio é o mHs dos burros, "omo afirma o po$o. 5 uso de "omer "astan7as se"as em Maio, terá a $er "om a tradição muito antia de no ( dia o "7efe de fam-lia ir + fonte e es"on@urar ou afastar "om fa$as pretas os esp-ritos o MaioQ da sua fam-lia. Da- a e?pressão *ai + feira e trazBme as maias as "astan7as piladasQ. De um modo eral, o "enário das $árias "elebraç9es "-"li"as "ompreende "erim=nias de $éspera. / "olo"ação de iestas fazBse no dia N' de /bril para 6ue as "asas este@am floridas no momento em 6ue "omeça o dia, para o Maio, o Carrapato ou o 4urro não entrarem. 5 Maio ou o 4urro são entidades no"i$as, "u@o malef-"io se pretende "on@urar "om uma oposição de flores ou a mandu"ação de "ertas espé"ies. Z[ 0os $ariados aspe"tos, por $ezes tão distintos, das "elebraç9es do ( de Maio, terBseBia pois operado um sin"retismo de práti"as e "renças, tal$ez de oriens diferentes mas todas "on$erentes, re"obrindo a obs"ura ideia, 6ue subsiste no esp-rito do 2omem, da ne"essidade de desen"adear formas efe"ti$as de prote"ção e de es"on@uro a opor + inseurança da $ida e + omnipresente ameaça do mal<. Dispon-$el emR 7ttpR88."mB mirandela.pt8inde?.p7pGoidqNT(' , "onsultado no dia ') de /bril de &'()Q. 25 26
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soliteza de maãos ou natural maneira nam "ostumada. &T
4/:/, 3e=filo. * #ovo #ortugu+s nos seus costumes, cren!as e tradi!es, (VVS, p. TS.
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1> ratados redi*idos e o *uia de exe+u23o. Malleus Maleficarum
/s bru?as depra$amBse atra$és do pe"ado, loo, a "ausa de depra$ação não 7á de residir no diabo e sim na $ontade 7umana...5s atos das bru?as são de natureza tal 6ue não podem ser realizados sem o au?-lio de dem=nios... 4ru?as são assim "7amadas por "ausa da atro"idade de seus malef-"ios` perturbam os elementos e "onfundem a mente dos 7omens sem se utilizarem de 6ual6uer poção $enenosa, apenas pela força de seus en"antamentos \ a destruir almas e a pro$o"ar toda sorte de efeitos 6ue não podem ser "ausados pela influHn"ia dos "orpos "elestes "om a mera intermediação de um 7omem... Pare"e assim 6ue a $ontade malina do diabo é a "ausa da $ontade malina no 7omem, e espe"ialmente, nas bru?as. &V
Durante a seunda metade da Idade Média, foi entre os @u-zes e dis"-pulos de @uristas 6ue a "ondenação + foueira foi mais popular. / norma era a "ondenação absoluta, não s= das ati$idades mái"as em blo"o, mas também da6ueles 6ue eram a"usados de as prati"ar. N' Porém, mesmo sendo apli"ado este "astio, a bru?a "ontinua$a a fre6uentar o "astelo sen7orial, o paço epis"opal e o /l"azar real. 0o famoso tratado de 0i"olau Emeri"7, datado de (NUO, e $árias $ezes reeditado, nos sé"ulos *I e *II, distinuemBse trHs tipos de bru?asR as do primeiro énero são a6uelas 6ue prestam aos dem=nios um "ulto idolátri"o, ofere"endo sa"rif-"ios, entoando "ânti"os, 6ueimando $elas ou in"enso em sua 7onra. /s do seundo énero são a6uelas 6ue se limitam a prestar um "ulto de dulia ou até mesmo 7iperdulia, misturando nas suas ladain7as os nomes dos santos e dem=nios, e 6ue supli"am a estes >ltimos 6ue se@am os seus inter"essores perante Deus. 5 ter"eiro e >ltimo énero é a6uele 6ue refere +s bru?as "omo seres 6ue in$o"am alo "om a a@uda de fiuras mái"as, di$indades, pondo uma "riança no meio de um "-r"ulo, utilizando W/ME e %PE0:E, &''), p. VOBVU. Em (N(), Enuerrand de Marin foi "ondenado pelos sortiléios 6ue a sua mul7er e "un7ada realizaram, "om a a@uda de um mao e maa, os 6uais as a@udaram a fazer bone"as de "era para 6ue o rei morresse. CLFME03, Pierre, (T)V,p. ('NQ. Em (N(U, a "ondessa d/rtois, Ma7aut, foi a"usada de mandar fazer filtros e $enenos a uma bru?a de 2esdin. 0o entanto, foi de"larada ino"ente. Ibid., p. ((, nota OQ. 29 30
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uma espada, um espel7o, et". (. Xuem in$o"a o dem=nio prestandoBl7e "ulto de latria, e "onfessa isso ou está @uridi"amente "on$i"to disso, não será "onsiderado nem adi$in7o nem mái"o, e sim 7eree. ...Q &. Xuem in$o"a o dem=nio, sem, entretanto, prestarBl7e "ulto de latria, mas de 7iperdulia ou de dulia, "omo foi e?pli"ado anteriormente, e 6ue "onfessa ou está @uridi"amente "on$i"to disso, não será "onsiderado adi$in7o, e sim 7eree ...Q N. Xuem in$o"a os dem=nios utilizando práti"as "u@o "aráter látri"o ou d>li"o não é "laro, será, entretanto, "onsiderado 7eree e tratado "omo tal, por "ausa da ra$idade da in$o"ação. In$o"ar tem, efeti$amente, na %arada Es"ritura, o sentido de prati"ar um ato de latriaR não se pode, portanto in$o"ar o diabo e "ultuar a Deus. 5 in6uisidor de$e e?aminar "om bastante atenção a finalidade deste ter"eiro tipo de in$o"ação, pois, se o in$o"ador espera do diabo 6ual6uer "oisa 6ue ultrapasse os limites e os poderes da pr=pria natureza do in$o"ado "on7e"er o futuro, ressus"itar os mortos, prorroar a $ida, le$ar aluém ao pe"ado et".Q, estará "onfessando sua pr=pria 7eresia, @á 6ue estará tratando o diabo "omo uma di$indade.N(
/ssim sendo, o in6uisidor faz distinção entre a ordem e a s>pli"a. F atra$és da s>pli"a 6ue a 7eresia se manifesta, pois são os termos supli"antes ou 6ue induzem em s>pli"a 6ue impli"am a adoração. 0o entanto, foi atra$és do apare"imento do Malleus Maleficarum 6ue se phde falar de um uia pre"iso para os @u-zes de bru?as, $isto 6ue foi atra$és deste li$ro 6ue se atiniu o ponto "ulminante de detenção e punição relati$os + bru?aria. 5 Malleus Maleficarum é di$idido em trHs partes. / primeira parte trata da ne"essidade de e?istir uma "rença na a"ção das mul7eres maléfi"asQ, fazendoBse sempre referHn"ia ao feminino, e na sua "olaboração "om o Diabo, o 6ual é o >ni"o 6ue pode realizar maldades, sendo este o 6ue desen"adeia todo o mal. Esta parte relata, de iual modo, 6ue e?iste uma 7ierar6uia entre os dem=nios, tendo aluns deles dado oriem a "ertos entes liados + bru?aria. 3ambém os "orpos "elestes, "omo, por e?emplo, a Lua, tHm um papel a desempen7ar, no 6ue diz respeito + multipli"ação das maldades ou delitos, em rande parte oriinados pelas mul7eres. /tra$és destas ;maléfi"as<, as pessoas são induzidas a a"reditar em determinadas "oisas irreais, e é a partir da inter$enção do dem=nio, o 6ual inspira =dio ou amor, 6ue se pro-be a pro"riação e o ato "arnal, e podeBse persuadir um indi$-duo de 6ue este é "astrado. EMEIC2, (VVN, p. )OB)U.
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/ seunda parte do Malleus é mais dedi"ada + narrati$a, e trata apenas de dois temas, e?pondo, primeiramente, até onde $ai o poder das bru?as` e, posteriormente, a forma de "ombater e destruir as suas obras "a=ti"as. Com o intuito de fazer prosélitos, maioritariamente entre as mul7eres, o Diabo utiliza trHs pro"essosR inspiraBl7es um desosto parti"ular` tentaBas e "orrompeBas. /lumas das narrati$as do Malleus soam a estere=tipo, a ;"onto<, no sentido literal da pala$ra.N& / >ltima e ter"eira parte trata do pro"esso. Para 6ue se abrisse um pro"esso era sufi"iente a a"usação de um parti"ular ou den>n"ia sem pro$as por parte de uma pessoa in$e@osa. Desta forma, 6uem "ostuma$a tomar a ini"iati$a era um @u-z, o 6ual era pressionado por parte do esmaador rumor p>bli"o. aramente, o testemun7o de uma "riança ou dos inimios do a"usado basta$a para se pro"eder + sua e?e"ução. 5 @ulamento era rápido, simples e não e?istia 6ual6uer forma de apelo. 5 @u-z era a entidade 6ue possu-a plenos poderes, pois era ele 6uem da$a o a$al ou não para o a"usado se defender, era ele 6uem es"ol7ia o defensor, impun7a todo o tipo de "ondiç9es poss-$eis e imainá$eis, isto é, o @u-z, no pro"esso, desempen7a$a um papel mais de a"usador do 6ue de propriamente @u-z. 3odos os atos de tortura eram permitidos, e se o a"usado não "onfessasse os seus pe"ados, sob tortura, era permitido a"reditar 6ue tudo isso se de$ia a sortiléios demon-a"os. 5 @u-zo de Deus não era permitido e os @ulamentos a"aba$am 6uase sempre da mesma forma, $isto 6ue mesmo 6ue o a"usado se mostrasse arrependido dos seus pe"ados isso não o sal$a$a dos braços da morte. 5 "rime de bru?aria não era somente tido em "onta "omo alo de "ará"ter reliioso, mas também "i$il. / batal7a durou, assim, "er"a de dois sé"ulos, *I e *II, pare"endo ter sido $en"ida no sé"ulo *II, de$ido a todos a6ueles 6ue se re"usa$am, de uma forma ou de outra, a a"reditar na realidade dos atos de bru?aria. 3oda$ia, en6uanto durou, a batal7a foi feroz e dif-"il de terminar.
Como o da $el7a bru?a de 4alds7ut da dio"ese de Constança. Como não foi "on$idada para uma boda, fi"ou tão furiosa "om os seus $izin7os 6ue pediu ao dem=nio para 6ue fizesse "air ranizo e estraasse a festa. 5u$indo as suas pre"es, o dem=nio le$ouBa até uma montan7a $izin7a onde aluns pastores a $iram "a$ar um bura"o no 6ual urinou. De seuida, me?eu o l-6uido "om o dedo e o dem=nio ele$ou o $apor até ao "éu e fez "air ranizo sobre os "on$idados da festa, 6ue esta$am em pleno baile. 3endo tudo isto sido referido, bastou o testemun7o dos pastores, bem "omo as suspeitas dos "on$idados, para 6ue a $el7a fosse a"usada e pere"esse em "7amas. Malleus Maleficarum, I, p. (U) & parte, 6uaestio I, "ap. IIIQ. 32
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3irai do mundo a mul7er e a ambição desapare"erá de todas as almas enerosas .NN
!oi atra$és do Malleus Maleficarum 6ue a ire@a re"on7e"eu a e?istHn"ia das bru?as e da bru?aria, e também forne"eu autorização para 6ue os prati"antes das artes mái"as fossem perseuidos e erradi"ados. Desta forma, instaurouBse a feroz "aça + bru?as, a 6ual durou sé"ulos e foi "ausadora de um $erdadeiro eno"-do tanto de mul7eres "omo de 7omens, por toda a parte do "ontinente europeu.
/ "erim=nia solene é realizada em "on"la$e, "om data mar"ada. 0ela o diabo apare"e +s bru?as em forma de 7omem, re"lamandoBl7es a fidelidade 6ue será firmada em $oto solene. Em tro"a, prometeBl7es a prosperidade mundana e lone$idade. Depois, as feiti"eiras ZnoteBse o termo[ re"omendamBl7e uma ini"iante uma no$iça para seu a"ol7imento e apro$ação, a 6uem o diabo então peruntaR Juras repudiar a !é e renun"iar + santa reliião Cristã e + adoração da Mul7er /n=malaG por6ue assim "7amam a %ant-ssima *irem Maria. Juras nun"a mais $enerar os %a"ramentosG %e então pare"eBl7e 6ue a no$a dis"-pula está disposta a assentir "om o 6ue l7e é pedido, estendeBl7e a mão, ao 6ue ela responde fazendo o mesmo, e de braço estendido, firma o @uramento e sela o pr=prio destino. !eito isso o diabo prosseueR /inda não basta. E o 6ue mais 7á para ser feitoG indaa a dis"-pula. F pre"iso 6ue te entreues a mim de "orpo e alma, para todo o sempre, e 6ue te esfor"es ao e?tremo para trazerBme outros dis"-pulos, 7omens e mul7eres. E assim prosseuem na preleção, e?pli"andoBl7e "omo fazer a pomada espe"ial dos ossos e dos membros de "rianças, sobretudo de "rianças batizadas` e por tudo isso, e "om a sua a@uda, ela se $erá atendida em todos os seus dese@os .NS
EntendaBse 6ue a "arnalidade era uma parte do "ompromisso 6ue mul7eres e 7omens a"ol7iam durante a "elebração do pa"to diab=li"o. Era atra$és da "arnalidade 6ue se $enera$a o dem=nio, e desse modo submetiamBse +s $ontades do mesmo, sendo submissas perante ele, @á 6ue 2EC#L/05, /le?andre, (VTT, p. &N. W/ME e %PE0:E, &''), p. &().
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Xuais6uer efeitos "ausados pela "7amada bru?aria 6ue não foram feitos atra$és de um tru6ue, de um "omplh, de uma ilusão ou impostura "omo a maioria, senão todos elesQ foram realizados ou por "ausas meramente naturais, ou pela força da imainação da bru?a e do mais intenso dese@o de fazer o mal aos 6ue ela odeia, ou por essas duas "oisas @untas. %atã não é um autor ou ator, mas en6uanto uia e dire"iona as mentes das bru?as para aç9es tão malinas e as le$a a pro"urar por seredos "omo $enenos, amuletos, imaens e outras "oisas es"ondidas, usadas de um @eito ou de outro, pode produzir efeitos tão destruti$os 6uanto os prop=sitos desprez-$eis e diab=li"os delas e neste sentido as bru?as são "lientes dele Zdo Diabo[, são $assalos fiéis, não o "ontrário.N)
E4%3E, (OUU, p. &USB&U).
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1>G A ossess3o de,on?a+a asso+iada H /ruxaria
0o 6ue diz respeito + bru?aria e possessão demon-a"a, "onstataBse 6ue esta >ltima é $ista "omo um fen=meno reliioso 6ue sure em rande n>mero em di$ersas so"iedades de relii9es distintas. /ssim, entendeBse por possessão demon-a"a todo o 7omem ou mul7er ;preso< ou domado por um esp-rito impuro ou imundo, 6ue o faz falar e ter "ertas reaç9es de a"ordo "om a sua $ontade. E?teriormente, os sinais são, eralmente, sempre os mesmos, não "ostumam $ariar. / pessoa, "omo um ser indi$idual, desapare"e, e sure uma no$a entidade indi$idual "om $ontade pr=pria, a 6ual possui a pessoa por um per-odo de tempo relati$o, "onsoante o seu interesse. %endo assim, 6uando a possessão é in$oluntária e não artifi"ial, o indi$-duo possu-do é, "laramente, uma $-tima indefesa, 6ue fi"a + mer"H de outra entidade maléfi"a e 6ue e?plora todos os seus pontos fra"os.
Pul$erizada, a imaem de %atanás ia "omeçar a esposar modas, a adaptarBse +s e$oluç9es dos "ostumes e da so"iedade. / sua pro@eção na "ena literária ou art-sti"a, sob m>ltiplas fa"etas, resultou na multipli"ação de simbolismos Z...[NO
5 ato de possessão pode ser realizado de duas formas distintasR ou o dem=nio atine diretamente o "orpo do indi$-duo e toma de imediato posse do "orpo dele` ou, instiando, possui o indi$-duo apenas por pura "rueldade ou por outra razão 6ual6uer. Em "ertas so"iedades ainda 7á a "rença de 6ue "ertas pessoas estão amaldiçoadas ou 6ue possuem, in$oluntariamente, o mauBol7ado, sendo estas, por $ezes, "olo"adas de parte, re@eitadas, para 6ue 6uem as rodeia não fi6ue também pre@udi"ado. Contudo, o mauBol7ado é "onsiderado alo natural, o 6ual em muitas o"asi9es é pro$o"ado por impurezas e su@idades 6ue são lançadas atra$és dos ol7os das pessoas, na maioria dos "asos por pessoas solteiras, doentes ou malB7umoradas. M#C2EM4LED, &''(, p. &SS.
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3oda$ia, a"redita$aBse 6ue e?istiam "ertas pessoas 6ue eram "apazes de prati"ar o mal, sem serem inteiramente responsá$eis pelas suas aç9es. #ma bru?a podia transmitir o seu poder atra$és de um ob@eto "arreado de força maléfi"a. F, de iual modo, a partir do dom de ob@etos tri$iais 6ue os bru?os e bru?as, 6ue se dedi"a$am ao enen7o do mal, "onseuiam enfeitiçar e possuir aluém. NU Desta forma, os dem=nios "onsiderados ob@eto de espe"ulaç9es psi"ol=i"as e morais tornamBse, repentinamente, em seres f-si"os e palpá$eis. CrHBse, assim, 6ue é 6uase sempre raças a um ob@eto ou a alo material 6ue o bru?o ou bru?a tem o poder de introduzir o dem=nio no "orpo de outrem.
5 mal e?iste, ae li$remente` tem o poder de seduzir os 7omens e infestar o seu esp-rito. NT
0os e?or"ismos, por e?emplo, utilizamBse substân"ias 6ue possuem um odor e sabor "ara"ter-sti"os para 6ue se possa e?pulsar os dem=nios dos "orpos das pessoas. 5 mesmo é feito "om "ertos bi"7os, isto é, tentaBse afuentáBlos atra$és de inseti"idas ou fumeaç9es. D#4, &''&, p. (NU. 37
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1>I % a+to dia/=li+o
0o 6ue diz respeito ao pa"to "om o Diabo, sabeBse 6ue este tin7a de ser benéfi"o para ambas as partes, ou se@a, se o Diabo forne"ia a@uda a 6uem l7e pedia, fosse 7omem ou mul7er, parteBse do pressuposto 6ue alo também tin7a de ser retribu-do. EntendaBse 6ue, e?istem dois tipos de pa"tos diab=li"os 6ue podem ser feitos, isto é, o pa"to e?presso8e?pl-"ito, no 6ual o mái"o se diriia ao Diabo pessoalmente ou atra$és de um 6ual6uer representante, atra$és de pala$ras formais ou mesmo atra$és de "ertos sinais, "omo, por e?emplo, fazendo "-r"ulos. Desta forma, a bru?a ou bru?o estabele"ia um "ontrato "om o Diabo, em 6ue a entidade demon-a"a se dispun7a a a@udáBloaQ, forne"endoBl7e poderes e "on7e"imento. 0o entanto, o 7omem ou mul7er 6ue fizesse o pa"to tin7a de estar disposto a prestar "ulto + entidade, bem "omo fazer oferendas, na pior das 7ip=teses teria de l7e entrear a sua alma. Já o pa"to impl-"ito impli"a$a a $ontade da pessoa 6ue o prati"a$a al"ançar determinados ob@eti$os8fins, "omo, por e?emplo, "urar uma doença, mas atra$és de meios "onsiderados impr=prios, isto é, meios 6ue não possu-am nen7um tipo de $irtude natural para se "umprir o prop=sito dese@ado. PodeBse afirmar 6ue a noção do pa"to diab=li"o em si, e dos poderes 6ue dele ad$in7am, era, sem 6ual6uer sombra de d>$ida, um dos prin"ipais aspetosB"7a$e das preo"upaç9es e das narrati$as do mundo erudito. 3anto o %abat "omo as missas neras estão $erdadeiramente liados ao ;problema< "om 6ue nos defrontamos 6uando 6ueremos entender o por6uH da bru?aria estar intrinse"amente rela"ionada "om um dos pe"ados "apitais, a lu?>ria.
*erifi"amos 6ue, e?istia uma espé"ie de per"eção entre os e"lesiásti"os de 6ue um surto demon-a"o se en"ontra$a entre eles e o po$o, ou se@a, estes possu-am um tremendo re"eio do Diabo e dos seus dem=nios, e também dos aentes 6ue atua$am em nome dele. Era atra$és do pa"to diab=li"o 6ue se esta$a em maior sintonia e "onta"to "om o Diabo, $isto 6ue as pessoas 6ue re"orriam ao Diabo tin7am em $ista determinados ob@eti$os8fins a "umprir, pretendendo al"ançar alo 6ue não podia ser al"ançado a não ser "om a sua enorme a@uda. 28
0o entanto, "omo @á referimos, o Diabo não da$a nada sem ter alo em tro"a, isto é, tudo a6uilo se desenrola$a em torno de uma tro"a de fa$ores, no 6ual as pessoas entrea$am a sua alma ao Diabo e ele, em tro"a, "on"edia $anta@osos poderes aos seus ;submissos<.
Era uma "asualidade tr-pli"e 6ue podia mo$er Deus. Primeiro, e esta era a Doutrina mais e?pandida, Deus permitia 6ue o Dem=nio apo6uentasse os seus fil7os "omo forma de "astiar os pe"adores. Era a l=i"a de Deus @usti"eiro e "astiador, tão difusa ap=s 3rento Z[ %eundo, para testar a 7umanidade, para se "ertifi"ar até 6ue ponto os seus adeptos l7e eram fiéis, isto é, para se asseurar 6ue nas 7oras ad$ersas os 7omens "ontinua$am a "onfiar em si. 3er"eiro, "omo forma de a$iso, de sinal para a 7umanidade pe"adora. NV
Deste modo, numa tentati$a de tirar "onfiss9es aos pe"adores, a In6uisição possu-a determinados do"umentos, do"umentos esses 6ue presidiam nas identifi"aç9es e a"usaç9es dos mesmos. Porém, seundo Pai$a, a so"iedade portuuesa tomou, "ontudo, uma de"isão um pou"o mais des"rente relati$amente a esses assuntosR
Claro 6ue a"redita$am na e?istHn"ia de "riaturas 7umanas 6ue por meio de um pa"to estabele"ido "om o Dem=nio podiam produzir a doença, a morte, a perdição de bens, mas ao relatarem estas opini9es não dei?am transpare"er um estado de terror e inseurança perante o fa"to. /o "ontrário, notaBse até uma "erta tendHn"ia para limitar os poderes diab=li"os e por e?tensão o perio latente dos seus ;"onfederados<.S'
/ssim, "onstatamos 6ue, apesar de tudo, o elemento mais ;pro"urado< no "onfessado era des"obrir se este 7a$ia perpetuado um pa"to "om o Diabo.
1>8 A luxJria e o Sa/at 39 40
P/I*/, (VVU, p. (ST. P/I*/, (VVU, p. )S. 29
Di$ersos te=loos "ristãos esta$am de a"ordo "om a ideia de submissão perante o Diabo, e tudo isto era "on"retizado atra$és da "arnalidade, "omo @á referimos. Porém, seundo Pierre de osten "a. ())NB(ON(Q, %atanás tin7a preferHn"ia pelas mul7eres "asadas, $isto 6ue ao possuir uma mul7er 6ue fosse "asada, o Dem=nio estaria não s= a "onduziBla para o pe"ado da lu?>ria, mas também uia$aBa em direção ao adultério. Era atra$és do pe"ado do adultério 6ue a mul7er se torna$a bru?a.
Primeiramente, por6ue Cristo as afastou da administração de seus sa"ramentos, por isto o Dem=nio l7es dá esta autoridade, mais a elas 6ue a eles os 7omensQ na administração de seus ;e?e"ramentos<. Em seundo por6ue mais rapidamente são enanadas pelo Dem=nio, "omo pare"e pela primeira 6ue foi enanada, a 6uem o Dem=nio te$e re"urso primeiro 6ue ao $arão. Em ter"eiro, por6ue são mais "uriosas em sabedoria e em es6uadrin7ar as "oisas o"ultas e dese@ar ser sinulares no saber, "omo se neasse a sua natureza. Em 6uarto, por6ue são mais faladeiras 6ue os 7omens e não uardam tanto seredo, ensinando assim, umas +s outras, o 6ue não fazem tanto os 7omens. Em 6uinto, por6ue são mais su@eitas + ira e mais $inati$as, "omo tem menos força para se $inar de alumas pessoas "ontra as 6uais tHm ressentimentos, pro"uram e pedem $inança e fa$or ao Dem=nio.S(
EntendaBse 6ue, se o marido "onsentisse "om a práti"a de adultério este também poderia tornarBse bru?o, @á 6ue permitia 6ue o seu "asamento abençoado perante Deus fosse "orrompido, e, de iual modo, entrea$a a sua mul7er "omprometida +s forças do mal. Xuando se fala do %abat na bru?aria, "onstatamos 6ue este é o momento de reunião e "omun7ão, "omo um rito reliioso, entre bru?as. F durante este ritual 6ue se "elebra a "omuni"ação "om as di$indades e seres espirituais, de onde ad$ém o seu poder e transformação. Para a maioria dos estudiosos, o Dem=nio esta$a presente C/%3/E:/, ()&V apud 05:#EI/, (VV), p. ('(.
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durante a práti"a deste ritual nada 7onroso, e apresenta$aBse sob a forma de um bode. 3in7aBse, de iual forma, "omo "rença 6ue, as bru?as "on"ediam o seu "orpo + possessão demon-a"a, e, deste modo, "elebra$am as lu?>rias e os seus $-"ios de$assos pela "arne 7umana. /"redita$aBse também 6ue os dem=nios reiam e en$ol$iamBse nos feste@os deste ritual de bru?aria. eistaramBse "asos nos 6uais determinadas mul7eres "onfessaram a realização de um pa"to diab=li"o, e 6ue mantin7am relaç9es de natureza se?ual "om o Diabo, o 6ual "7ama$am, de forma isolada, de li$re e espontânea $ontade. *erifi"a$aBse a e?istHn"ia de todo o tipo de mul7eres a realizar o tão relatado pa"to, desde freiras, "riadas e es"ra$as. 3in7aBse "omo "rença 6ue, por $ezes, os del-rios e os dis"ursos aressi$os e de "ará"ter se?ual 7a$iam sido "ausados de$ido a uma $ida en$olta em "astidade e isolamento. 5s supostos e derradeiros ;en"ontros< 6ue "ada um mantin7a "om o Diabo a"onte"iam muito raramente, e até 7á pa"tos em 6ue se $erifi"ou a "onfissão por parte do aruido, em 6ue este "onfirma 6ue o Diabo não este$e presente. %upostamente, neste tipo de "asos, "onstata$aBse a intenção, somente, de fidelidade em tro"a de um fa$or pedido.S& Em Portual, todo este ;pro"esso< era "on7e"ido por ;a@untamento<, e este foi apenas o mero resultado de um "omple?o e $asto pro"esso de fusão a n-$el "ultural, @á 6ue o mesmo se prende "om o fa"to de 6ue os relatos mais estereotipados do %abat se terem $erifi"ado no sé"ulo *III, e @á nessa altura tudo o 6ue en$ol$ia o mito @á tin7a tido muito tempo para ser e?"essi$amente di$ulado. 3oda$ia, + medida 6ue as ;diliHn"ias< de "olonização "ultural empreendidas pelos doutos an7a$am terreno, as referHn"ias +s "renças antias, relati$as ao "onta"to "om o mundo dos mortos e +s bru?as, torna$amBse mais raras, deturpadas e até obsoletas.
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Porém, e?istiam "asos em 6ue a "on$i$Hn"ia se $erifi"a$a durante laros e duradouros anos. 31
1>9 De +o,o as /ruxas rovo+ava, o infortJnio
Constatamos 6ue a ;produção< das artes da adi$in7ação portuuesas era de$eras 7omoénea, ou se@a, não era "onsiderada muito polémi"a, e era "onsiderada nada oriinal. Pelo "ontrário, esta esta$a asso"iada a um pensamento mais ortodo?o. / ;performan"e< $erifi"ada por parte dos tribunais réios, nesta matéria, era bastante restrita. Em di$ersos te?tos portuueses, a arte da adi$in7ação era, por $ezes, analisada muito atentamente. Por $arias $ias se pretende adi$in7ar e al"ançar o futuro, "omo 7e por feitiçarias, niroman"ias, prestiios, arte mai"a, aouros, sortes, en"antamentos, in$o"ação de esp-ritos malinos e por outros semel7antes modos.SN
Do ponto de $ista dos 6ue iam "omo seus "lientes, tudo o 6ue as bru?as faziam, "omo, por e?emplo, pre$er o futuro, a"onsel7ar, proteer, "urar, e por a- em diante, tudo isso torna$aBas num a al$o a ser perseuido, odiado e a abater. SS F do "on7e"imento eral 6ue a maioria dos indi$-duos a"usados de prati"ar tais artes eram do se?o feminino. Era uma realidade de$eras "orrente 6ue se re"orria a bru?as para 6ue as desraças e "alamidades fossem e?pli"adas. ]s bru?as asso"ia$amBse trHs éneros de desraçaR primeiramente, a morte, sobretudo se esta fosse repentina ou mesmo se a"onte"esse sem "ausa plaus-$el, ou 6uando se trata$a de re"émBnas"idos` em seunda instân"ia, a doença, maioritariamente, as 6ue atiniam "ontornos de dif-"il e?pli"ação, e 6ue dei?a$am os enfermos ansiosos, "om paralisia, ou mesmo outros "asos, em 6ue as mul7eres dei?a$am de amamentar, pois fi"a$am sem leite, ou até mesmo as "rianças, as 6uais fi"a$am sem $ontade de mamar` por >ltimo, $erifi"a$aBse toda uma se6uHn"ia de infort>nios e "alamidades, 6ue in"idiam sobre os bens ou mesmo ati$idades produti$as das $-timas, de onde se desta"a$a a doença e até mesmo morte dos animais` en"antamento de embar"aç9es` destruição de determinados terrenos "ulti$ados, en"antamento de "açadores8pes"adores, os 6uais fi"a$am sem 6ual6uer $ontade de "açar8pes"ar` en"antamento de fornos e moin7os, os 6uais fi"a$am sem "ozer e moer. 43 44
Constitui!es de 4raa, ()NT. F de ressal$ar 6ue, não eram raros os indi$-duos a"usados de prati"ar as artes mái"as. 32
Para os leios, tudo isto se de$ia +s bru?as e aos seus en"antamentos, todo o tipo de mal e infort>nio era deri$ado da bru?aria, do seu mauBol7ado e todas as "atástrofes 6ue l7es ad$in7am. /s mais $ariadas noç9es de malef-"io não foram apenas mais ;re"on7e"idas< a partir do sé"ulo *I, @á 6ue estas se $erifi"a$am, de iual forma, na /ntiuidade romana, e também fizeram furor em $ários lo"ais da Europa durante a épo"a medie$al. 3in7aBse também "omo "rença 6ue uma bru?a podia enfeitiçar ou até matar, se assim o dese@asse, atra$és de um simples to6ue ou ol7ar. S) Xuem poderia ser a pessoa mais indi"ada para 6uebrar um feitiço do 6ue a pr=pria 6ue o lançouG /ssim, a pessoa "erta para ;"urar< um feitiço era mesmo a6uela 6ue o tin7a ;atribu-do<, $isto 6ue sabia perfeitamente o 6ue tin7a feito e "omo o tin7a feito, tendo, de iual modo, o >ni"o poder para o retirar. *árias formas de tentar desfazer feitiços e "urar malef-"ios são "on7e"idas, e uma delas é tão "élebre 6ue temos de a men"ionar, isto é, os e?or"ismos realizados por parte da ire@a. Este é um pro"esso bastante "on7e"ido por m>ltiplas pessoas e é um pro"esso muito reQ"orrente, na medida em 6ue, a partir do mesmo, se "onseuia ;"onfirmar< 6ue um mal tin7a oriem num malef-"io, ou se@a, num feitiço, @á 6ue nada resulta$a, "omo os remédios, ou mesmo os pr=prios e?or"ismos não faziam muito efeito, e a >ni"a e?pli"ação esta$a no fa"to de ter oriem na bru?aria. Por $ezes, re"orriaBse a determinados "urandeiros, 6ue se a"redita$a não serem os oriinadores de todos os males e infort>nios pro$o"ados. *erifi"amos 6ue os meios para tentar resol$er as ditas "alamidades, os 6uais eram atribu-dos +s bru?as8feiti"eiras, eram de$eras m>ltiplos. %empre ou$i dizer aos mais antios 6ue na Eira do Monte 6ue perten"e a Paradela mas fi"a entre dois "amin7os, ali + sa-da de %endim, é onde as bru?as se $ão esfrear. #ma o"asião, um 7omem disse assim pra outro, amio deleR \ 5l7a 6ue a tua mul7er também é bru?aA 0uma not-"ia, na 6ual se des"re$e um feitiço usado para matar, apresentaBse o seuinteR uma raparia "onta 6ue foi pedir um feitiço para "asar "om "erto rapaz a uma /na :omes, residente em %oza, dio"ese de Coimbra. Entretanto, o rapaz terBseBia "asado "om outra mul7er e a "liente foi re"lamar, tendoBl7e a /na :omes retor6uido 6ue se ela 6uisesse se podia matar o rapaz, bastando para isso 6ue ela ;tome 7um "am e 7um ato e 7um sapo e fira a "ada 7um em 7um ol7o at7e 6ue bote sanue e bote 7uma pina do sanue de "ada 7um destes animais em 7um papel e $a enterrar o tal papel em 7uma en"rusil7ada e $a da7i a no$e dias bus"allo 6ue 7ade a"7ar um ol7o e 6uando o tou?er 7a de $ir sempre "om as "ostas para tras e mande fazer 7um anel e em luar da pedra 6ue se "ostuma por mandasse meter esse ol7o e o traa no dedo 6ue "om este remedio $osse se $inara<. Cf. P/I*/, (VVU, p. (&VQ. 45
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E eleR \ /i não, não éA Da min7a mul7er não se "onsta issoA Mas, pelo sim pelo não, a partir da- o 7omem phsBse mais atento aos 7ábitos dela. E nun"a "erta noite, fi"ou a"ordado, mas fazendo 6ue dormia, e ou$iuBa le$antarBse da "ama e dizerR B Eu te benzo, belbezu, Com as fraldas do meu "u. En6uanto eu não $ier, 0ão a"ordes tuA Ela então lá foi + $ida dela, @untarBse "om as outras e esfrearBse na tal la@e. Xuando $eio, o 7omem esta$a + espera e $iu 6ue trazia o rabo todo 6ueimado de tanto se esfrear. Pr= outro dia, ao en"ontrar o amio, dizBl7e entãoR \/ora sim, @á estou fiado, Xue ela traz o "u todo 6ueimado.SO
P//!I3/, /le?andre. , &''U , p.()U.
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CA&:UL% ## 0 Kuias( entidades usti+eiras e enitn+ias
@>1 % Tratado de Confissom . ela/ora23o e +ontexto
5 Tratado de Confissom, rediido em (STV, foi o primeiro li$ro impresso em l-nua portuuesa. Por "onter imensos "astel7anismos, pensaBse 6ue será, tal$ez, um li$ro deri$ado do "astel7ano, do 6ual o autor não se "on7e"e. 3rataBse de um manual destinado aos membros do "lero, "onduzindoBos na missão de "onferir aos fiéis o sa"ramento da "onfissão e da penitHn"ia. /lém de ser "onsiderada uma obra de "ariz pastoral, é também polémi"a e até repressi$a, na medida em 6ue retrata os ;"omportamentos des$iantes< dos "ristãos do sé"ulo *, prin"ipalmente no 6ue diz respeito ao "onte?to se?ual. Este Tratado, de$eras importante e imponente, trata$a ainda do lançamento de sortes pelos e"lesiásti"os, na medida em 6ue os pr=prios sa"erdotes "ristãos eram a"usados de re"orrer a pessoas prati"antes das artes da adi$in7ação. Contudo, muitos dos prati"antes não eram letrados e muitos $i$iam uma $ida sinela, em 7armonia "om os "amponeses "om 6uem lida$am e ser$iam. F de$eras natural 6ue os mesmos sa"erdotes partil7assem "om a restante população parte das suas "renças, por mais des$iantes 6ue essas fossem. 0o 6ue diz respeito + a"usação de eles mesmo prati"arem as artes mái"as, podendo usáBlas para o bem ou para o mal, éBnos fá"il entender 6ue eles pudessem, de aluma forma, manipular essas artes, @á 6ue l7es "ompetiam erir as relaç9es dos 7umanos "om o sarado. Porém, não 7á "on7e"imento de 6ual6uer a"usado por tal 7eresia 6ue fizesse parte do "lero. F mais "omum a a"usação de práti"as de bru?aria por parte de mul7eres do 6ue de 7omens, pois o n>mero de mul7eres, pelo menos 6ue se ten7a "on7e"imento, 6ue ;aderiam< a essas práti"as do dem=nio era bastante superior ao n>mero de 7omens. /s mul7eres prati"antes de feitiçaria, eram também asso"iadas a determinados pe"ados, "omo é o "aso da prostituição e da al"o$iti"e, e mais raramente + $iolHn"ia e ao 35
roubo. EntendaBse 6ue as mul7eres prati"a$am, maioritariamente, maia 6ue se destina$a +s uni9es amorosas, 6uer dissessem respeito a si mesmas ou a outrem, autHnti"as ou não. Para 6ue tudo fizesse efeito, as ditas bru?as enendra$am filtros, os 6uais pediam +s suas ;"lientes< para inerir, ou ineriam elas mesmas, se o intuito fosse para fazer efeito em si pr=prias, ou faziam representaç9es em "era, barro ou metal, de forma a submetHBlas a 6ual6uer tipo de adulteração. / lei portuuesa fazia distinção entre a bru?aria 6ue se destina$a + práti"a de malef-"ios, dist>rbios e $eneração do Diabo B esse énero de maia era se$eramente punida "om a morte e a maia bran"a, 6ue mesmo não tendo os mesmos prop=sitos da bru?aria, era "onsiderado um tipo de maia ile-tima, sendo punidos os 6ue a prati"a$am "om "astios mais ;lieiros<. 3oda$ia, determinadas superstiç9es, 6ue não eram, de modo nen7um, a"eitá$eis, e 6ual6uer tipo de maia 6ue não fosse le-tima, mas 6ue também não se diriisse para os "amin7os do Inferno, não eram punidas de forma tão drásti"a, e então eram apli"ados "ertos "astios "onsiderados mais ;lieiros<.
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@>@ Tratado de Confissom: as fontes +ontri/uintes
*erifi"amos 6ue, na obra em 6uestão, o autor se baseou em di$ersas obras8fontes para poder rediir o seu trabal7o, "omo, por e?emplo, as fontes patr-sti"as, b-bli"as, as fontes "an=ni"as e as obras medie$ais de "ariz pastoral. Porém, "onstatamos 6ue, + e?"eção das fontes referen"iadas, o autor não faz referHn"ia a 6uais6uer outras obras, nas 6uais se poderá ter baseado. 0ão podemos fi"ar, de modo nen7um, surpreendidos por o autor ter utilizado di$ersas fontes b-bli"as, uma $ez 6ue esta obra se en"ontra inserida numa traição @udai"oB"ristã, tendo estas mesmas fontes um papel de$eras rele$ante na obra, na medida em 6ue e estas representam e atuam em dualidade. Isto é, atra$és da mensaem de Deus e do 6ue a6uilo 6ue Ele pretendia transmitir ao 2omem, e também atra$és dos e?emplos a seuir, os 6uais o 2omem de$ia "umprir, para 6ue se pudesse inserir nas normas "omportamentais estabele"idas. Constatamos 6ue, muitas das trans"riç9es b-bli"as, bem "omo as paráfrases, en"ontramBse presentes na sua rande maioria na seunda parte da obra, e mais "on"retamente na parte 6ue diz respeito aos Dez Mandamentos. /ssim, no 6ue diz respeito +s alus9es, paráfrases e trans"riç9es b-bli"as, Pina Martins afirma 6ueR 5s passos em 6ue o "asu-sta se permite maiores "on"ess9es + eleân"ia ou + raça formais e se dei?a arrebatar por um flu?o orat=rio de elo6uHn"ia "on"reta, 6uando não por um apuro formal 6ue dirBseBia pretender $alorizar o dis"urso, são eralmente trans"ritos da %arada Es"ritura.SU
Deste modo, apresentamos um 6uadro 6ue re$ela 6uais as passaens mais referen"iadas no Tratado de Confissom, passaens estas 6ue tanto dizem respeito ao /ntio "omo ao 0o$o 3estamento.
M/3I0%, Pina, (VUN, p.VS.
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Nuadro # 0 Enumeração dos li$ros presentes na 4-blia /ntio e 0o$o 3estamentoQ Fonte. Ma"7ado, J. 4arbosa, &'(S.
/tra$és da obser$ação do 6uadro I, "onstatamos 6ue o autor se baseou mais fre6uentemente nas passaens do 0o$o 3estamento, e mais afin"adamente no E$anel7o de %. Mateus. 0o 6ue diz respeito ao /ntio 3estamento, $erifi"amos 6ue o autor faz, usualmente, maior referHn"ia ao li$ro dos %almos. elati$amente +s lin7as nas 6uais en"ontramos a des"rição ;não identifi"ados<, essas mesmas dizem respeito a determinadas alus9es, paráfrases, 6ue não "onseuimos identifi"ar, 7a$endo apenas meras suspeiç9es, mas nada 6ue se@a "on"lusi$o.
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@> As no2es do e+ado
Durante a Idade Média, a "ons"iHn"ia do pe"ado @á fazia parte do 6uotidiano das pessoas, le$ando isso ao "ondi"ionamento dos "omportamentos pri$ados, bem "omo dos reliiosos. 5 "ristianismo antio fala mais fre6uentemente de uma di$ersidade de pe"ados da "arne 6ue de um s= pe"ado da "arne. / unifi"ação da repro$ação da se?ualidade fazBse + $olta de trHs noç9esR (. / de forni"ação, 6ue apare"e no 0o$o 3estamento e será "onsarada, sobretudo a partir do sé"ulo III, pelo se?to mandamento de DeusR 0ão forni"arás, desinando assim todos os "omportamentos se?uais ile-timos mesmo no seio do "asamentoQ` &. / de "on"upis"Hn"ia, 6ue en"ontramos nos Padres da Ire@a e 6ue está na raiz da se?ualidade` N./ de lu?>ria, 6ue ao ser "riado "om o sistema dos pe"ados mortais, entre o sé"ulo * e o sé"ulo II "onrea todos os pe"ados da "arne.ST
3anto as Constituiç9es %inodais "omo os li$ros peniten"iais ti$eram a sua oriem numa ne"essidade didáti"a, tendo "omo ob@eti$o "ontrolar os "omportamentos, tanto dos 7omens "omo das mul7eres, fazendo assim parte de uma tentati$a por parte da Ire@a de anular os $-"ios e de reular "omportamentos di$erentes e 6ue não fossem a"eitá$eis, fazendo, desta forma, uma espé"ie de apelo + "ompreensão, introspeção, repreendendo e punindo. /ssim, estes te?tos, en6uanto normati$os, permitemBnos ;pintar< o retrato de uma so"iedade nada "umpridora de reras. Estes te?tos também nos dão a"esso a uma $isão detal7ada dos pe"ados e dependHn"ias de uma população formada tanto por "lérios, "omo por leios, durante a épo"a medie$al. Deste modo, "onstatamos 6ue o papel dos "onfessores foi de$eras importante, prin"ipalmente no 6ue dizia respeito + re"on"iliação dos pe"adores8pe"adoras "om a Ire@a, e também no 6ue dizia respeito ao ato de dis"iplinar, instruindo, de "erta forma, as pessoas para 6ue não $oltassem a pe"ar. 48
LE :5!!, Ja"6ues, (VV&, p. (V&B(VN. 39
0este sentido, $erifi"amos 6ue o Tratado de Confissom se dirie maioritariamente aos indi$-duos do se?o mas"ulino, s= fazendo referHn"ia a indi$-duos do se?o feminino de forma esporádi"a. Este modo deue ter o "omfessor "9 a6uelles 6ue "9fesar. SV
Durante a Idade Média, as "alamidades e desraças não se de$iam apenas ao mero a"aso, nem s= ao "astio atribu-do por Deus por se ter "ometido determinados pe"ados. Constatamos 6ue, a bru?aria sempre este$e presente no 6uotidiano das pessoas, mais nuns lo"ais do 6ue noutros, tendo sempre tido desta6ue, não pelo seu lado bom, mas pelo mau, @á 6ue esta era $ista "omo uma forma de ren>n"ia a Deus, + Ire@a e + fé. 3odas e 6uais6uer práti"as mái"as molda$amBse atra$és de um "on@unto de "renças estabele"ido, o 6ual se en"ontra interado num determinado sistema reliioso. Deste modo, "omo @á dei?ámos dito atrás, 6ual6uer tipo de reliião abrane, em maior ou menos es"ala, determinadas ;práti"as mái"as<, se@a em 6ue forma for, "omo, por e?emplo, rituais, se@am eles, purifi"at=rios, di$inat=rios ou de metamorfose. Contudo, isto não sinifi"a 6ue as práti"as das artes mái"as ten7am sido implementadas e e?e"utadas da mesma forma em todas as relii9es. Constatamos 6ue, a n-$el de reliião, em Portual a Ire@a Cat=li"a era preponderante, ofere"endo "on7e"idas re"ompensas espirituais aos 6ue seuissem os "ânones por si propostos e impostos, mas "onstata$aBse também uma forte presença de prati"antes das artes mái"as, ou pelo menos tin7aBse a "rença disso, $isto 6ue uma "ultura de superstiç9es e re"eios an"estrais era eneralizada. Embora a reliião dominante fosse sem d>$ida "ristã, não restam d>$idas de 6ue muitas tradiç9es e "ostumes paãos ainda perdura$am.
/ práti"a da feitiçaria "onstituiBse, essen"ialmente, numa práti"a indi$idual, e de "aráter urbano, lo"al pri$ileiado onde os problemas 7umanos, os =dios, as pai?9es, a$olumamBse e an7am densidade, re"lamando a presença de um intermediário no 6ual depositam as suas esperanças e dese@os. F no meio urbano 6ue se en"ontra a possibilidade do en"ontro da mes"la de desiualdades materiais e mentais, "riando no$as ne"essidades e dese@os nas "ons"iHn"ias dos M/C2/D5, J. 4arbosa, &'(S, p. NS.
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indi$-duos e 6ue @ustifi"am a ne"essidade da feiti"eira. )'
%endo assim, "remos 6ue o 7omem das épo"as medie$al e moderna tin7a ne"essidade de pro"urar a a@uda de ;representantes da reliião<, 6uer estes fossem prati"antes das artes mái"as, ou se@a, bru?as, ou até mesmo membros do "lero. Em Portual, mais uma $ez, não se asso"ia$a tanto a bru?aria +6uelas 6ue prati"a$am as artes da "ura maia bran"aQ ou até +6uelas 6ue propaa$am a morte, a desraça, a doença maia neraQ, mas sim +6uelas 6ue inter$in7am nos "asos de amor, de erotismo, para 6ue as mesmas pudessem air "omo intermediário. 3al é o "aso das mul7eres 6ue re"orriam +s bru?as 6uando suspeita$am 6ue os seus maridos "omeça$am a perder interesse nelas. / feiti"eira atua$a "omo ailizadora e ao mesmo tempo "onser$adora das estruturas so"iais e familiares em 6ue opera$a. Esta, tida "omo assassina, destruidora de matrim=nios, pro"uradora de abortos, infanti"ida, "riadora de adultérios, e$ita$a ao mesmo tempo as "rises domésti"as e interfamiliares o"ultando as suas poss-$eis "ausas, elimina$a a poss-$el estruturação das $inanças rituais e ;sal$a$a< nas situaç9es desesperadas. *endendo ilus9es, a feiti"eira ali$ia$a a 6uantos a"udiam a ela le$ados pela ira, pelo ran"or, pelo desespero. Por isso, no fundo, a 6uestão so"ial "omeça$a ali onde a ;feiti"eira< terminaR ali onde o 7omem se des"obre sozin7o diante do seu destino.)(
05:#EI/, Carlos ., (VV(, p. N&. C/DI0I, !ran"o, (VT&, p. ((T.
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@>4 Dos e+ados da ,ulher
0o 6ue diz respeito +s Constituiç9es %inodais, $erifi"amos 6ue uma das prin"ipais prioridades dos 6ue as leisla$am, era "onseuir ani6uilar a presença das mul7eres da $ida dos "lérios. Deste modo, "onstatamos 6ue, os pe"ados 6ue abranem o se?o feminino estão de$eras interliados a uma natureza se?ual, natureza essa mantida "om os 7omens da Ire@a.
5s atributos femininos, na so"iedade da épo"a, de"orrem da tradi"ional leitura mis=ina da 4-blia. Esses atributos, fundamentais para "ompreender o 6ue está em @oo nos pro"essos de feitiçaria e bru?aria, assentamBse nas ideias de frailidade essen"ial da mul7er, predominân"ia do instinto sobre a razão, da simpli"idade sobre a inteliHn"ia, o 6ue a tornaria presa fá"il do dem=nio. )&
3emos de ter em "onta a ra$idade asso"iada ao pe"ado da lu?>ria, na medida em 6ue o leislador uia$a o "onfessor, para 6ue este demonstrasse "autela ao abordar os 7omens e mul7eres a"er"a deste pe"ado, e tudo isto durante o ato de "onfissão. 0o 6ue trata das peruntas a serem feitas, e estas não de$iam diferir para ambos os se?os, abordando o en$ol$imento e a parti"ipação, tanto dos 7omens "omo das mul7eres, no pe"ado em "ausa. Desta forma, era da responsabilidade do "onfessor des"obrir determinados assuntos, "omo, por e?emplo, se o 7omem forni"a$a "om uma mul7er 6ue fosse "asada, solteira, $i>$a, $irem` se o ato tin7a sido prati"ado de li$re e espontânea $ontade ou não` se se $erifi"a$a 6ual6uer énero de rau de parentes"o entre si` se tin7a 7a$ido promessas de "ompromisso` se o pe"ado 7a$ia sido prati"ado em dias8noites de festi$idade, ou em luares sarados, ou até mesmo durante o per-odo menstrual da mul7er. 4E32E0C5#3, &''S, p. &'O.
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/ssim, "onstatamos 6ue, no Tratado de Confissom, era "onsiderado pe"ado muito ra$e ter uma relação f-si"a "om mul7eres $i>$as ou $irens, e uma das "onse6uHn"ias asso"iadas a esse pe"ado era ter de desposar a mul7er "om 6uem o pe"ado 7a$ia sido "ometido. 2á 6ue ter em "onta 6ue, neste Tratado, a forni"ação era apenas ;autorizada< se se ti$esse "omo intuito a reprodução, ou se@a, a pro"riação. *erifi"amos, de iual modo, 6ue, no Tratado de Confissom, se a mul7er "ometesse adultério, a "ulpa era atribu-da ao 7omem, $isto 6ue se o marido não se 6uisesse deitar "om a sua mul7er, mesmo 6ue esta fosse pro"urar ;alento< a outro s-tio, a "ulpa "ontinua$a a ser atribu-da ao 7omem. 3oda$ia, o mesmo não se apli"a$a se a mul7er abandonasse o marido. /-, a "ulpa @á era sua e ela ainda tin7a ;direito< a ser tratada "omo forni6ueira e enanadora.
/ maa mol7er 6ue lei?a seu esposo ou marido e se ua "9 outro outro 7e "7amada adulterin7a, e forni6ueira.)N
Constatamos, de iual modo, 6ue a mul7er, no Tratado, também se en"ontra fortemente liada ao pe"ado da soberba, na medida em 6ue este "onsiste no ;$oltar de "ostas< a Deus para se $irarem para o Diabo.
/ alma le?a de seruir a Deus pelo 6ual ela fo "riada e "9 6ual fo esposada no bautismo 6uando disse 6ue ren"ia$a a %at7anas e todas suas p9pas.)S
/ssim sendo, a mul7er é no$amente "omparada +s ad>lteras, @á 6ue abandona o seu "riador para se $oltar para o Dem=nio, tendo esta uma espé"ie de relação de ;forni"ação espiritual "om o Diabo, e por isso é "onsiderada uma pe"adora infame.
2e "7amada adulterin7a desãparou o seu boo e primeiro esposo e M/C2/D5,, J. 4arbosa, &'(S, p. )(. M/C2/D5,, J. 4arbosa, &'(S, p. )(.
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suiuouse aos pe"ados mortaaes Z[ E bv asi pode seer dito e "9 $erdade da alma 6ue lei?a o seu esposo "9 6ue fo esposada e "asada e serue o mudo e o diaboo e a "arne. ))
Desta forma, "onstatamos 6ue o Tratado de Confissom demonstra os pe"ados rela"ionados "om a feitiçaria, maioritariamente a6ueles todos 6ue são prati"ados pelas mul7eres, tal "omo se $erifi"a pela parte do "onfessor em 6ue se deue de #reguntar aas molheres -ue confessar a -uada h.a se feerom ou deram alg.as cousas a seus maridos ou a outros homens #er modos de amadigos ou de fe/ti!os e esta meesma #regunta fa!a aos hom0s&)O /ssim, as mul7eres, de modo a obterem o 6ue dese@a$am, utiliza$am filtros, poç9es e feitiços, sendo a"usadas de ter "on7e"imentos o"ultos e paãos, de forma a poderem prati"ar as suas mal-"ias.
Item todo 7omv ou mol7er 6ue lamça "7umbo por ueer ala "ousa este pe"ado 7e muto danoso, "a seundo "omo pom dereto por ueer alas destas e 6uantas uezes. 4em as iam de reteer os diaboos as suas almas em as penas do inferno e uer9 so telas. Por6ue nom 7á no mundo 7omv ou mol7er 6ue possa ueer o 6ue 7a de ser saluante soo Deus.)U
Desta forma, "onstatamos 6ue o Tratado repro$a impla"a$elmente a bru?aria, @á 6ue nele se es"re$e e perunta ao "onfessado se prati"ou feitiços, e 6ue irá ser "ondenado se$eramente, $isto 6ue reneou a fé de Deus.
3odo pe"ado se fundamenta em alum dese@o natural, e o 7omem,ao seuir 6ual6uer dese@o natural, tende + semel7ança di$ina, pois todo bem naturalmente dese@ado é uma "erta semel7ança "om a bondade di$ina. Z...[ a bus"a da pr=pria e?"elHn"ia é um bem` a desordem, a distorção desta bus"a é a M/C2/D5, J. 4arbosa, &'(S, p. )(. M/C2/D5, J. 4arbosa, &'(S, p. &N. M/C2/D5, J. 4arbosa, &'(S, p. &O.
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soberba, 6ue, assim, se en"ontra em 6ual6uer outro pe"ado, se@a por re"usar a superioridade de Deus 6ue dá uma norma, norma essa re"usada pelo pe"ado, se@a pela pro@eção da soberba 6ue se dá em 6ual6uer outro pe"ado. Z...[ assim, a soberba, mais 6ue um pe"ado "apital, é a rain7a e raiz de todos os pe"ados. / soberba eralmente é "onsiderada "omo mãe de todos os $-"ios e, em dependHn"ia dela, se situam todos os sete $-"ios "apitais, dentre os 6uais a $aidade é o 6ue l7e é a mais pr=?ima, pois esta $isa manifestar a e?"elHn"ia pretendida pela soberba, e, portanto, todas as fil7as da $aidade tem afinidade "om a soberba. )T
3udo isto está inteiramente rela"ionado "om a "rença de 6ue as bru?as pe"a$am apenas "ontra o 7omem, obriandoBos a beber "oisas 7ediondas, "omo, por e?emplo, áua su@a de ban7os, ou até os seus fluidos "orporais, sendo tudo isto "onsiderado um enorme ultra@e perante a fé "ristã.
3oda mol7er 6ue der a "omer ou a beber asseu marido ou asseu amio alwa "ousa por bem 6uerer, ou mal 6uerença, assim "omo alwa auua "om 6ue lauam seus "orpos ou dam a "omer o li?o ou o uedo ou alwas outras "ousas 6ue metem em seus "orpos ou uardã li?o de taaes "ousas "omo estas fezer deue ieiuãr as 6uartas feras e sestas e os sabados toda a sua uida a pã e aoa e o pam seia o terço de ziina e o terço de farin7a e o terço de sal e aoa por6ue estes pe"ados som mu danosos e som uiltamxto da fe e despraz "om el7es muto a Deus e a %an"ta Maria. )V
Podemos "onstatar, então, 6ue o Tratado de Confissom foi, prin"ipalmente, rediido "om o pensamento in"idente nos leios e "lérios mas"ulinos, @á 6ue e?istiam determinados pe"ados 6ue era impensá$el 6ue pudessem "ometer.
0a realidade,
a
maioria dos pe"ados "ometidos por 7omens eram de natureza e"on=mi"a, so"ial ou profissional, e "omo as mul7eres nun"a "7eariam a al"ançar um estatuto tal 6ue l7es permitisse "ometHBlos, tais pe"ados nem mesmo l7es eral atribu-dos, "omo se fosse imposs-$el 6ue os prati"assem. %endo assim, $erifi"amos 6ue as mul7eres eram /X#I05, &''(, p. OT. M/C2/D5, J. 4arbosa, &'(S, p. &O.
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totalmente postas de parte de "ertas esferas da $ida so"ial, o 6ue tin7a "omo efeito 6ue "ertos pe"ados, por6ue se a@usta$am ao seu estatuto so"ial, l7es eram diretamente dire"ionados. %ão disso e?emplo os pe"ados da soberba e da lu?>ria, os 6uais estão estritamente rela"ionados "om a bru?aria. O' Constatamos 6ue a mul7er era $astamente inferiorizada em relação ao 7omem, sendo $ista nada mais "omo um ser submisso a ser dis"riminado, re$elando uma so"iedade totalmente "ontrolada por 7omens, "7eando, fre6uentemente, a mul7er a ser reneada en6uanto énero.
Estas eram "onsideradas pe"adoras, pois seduziam os 7omens atra$és do seu "orpo, para 6ue atinissem os seus ob@eti$os no "ampo amoroso. #sa$am, de iual modo, feitiços, poç9es e unuentos para seduzir o se?o oposto, renun"iando a Deus. 60
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@> % teste,unho de Kil $i+ente
0o 1uto das Fadas de :il *i"ente, e?iste uma personaem, a !eiti"eira, a 6ual "om re"eio de $ir a ser presa de$ido + práti"a do seu of-"io, 6uei?aBse a elBei, e assim, mostrando$lhe #er rees -ue #era isso lhe dá, -u"o necessários s"o seus feiti!os& O( Constatamos 6ue :il *i"ente, no 1uto das Fadas, "7ea a ridi"ularizar a práti"a das artes mái"as e, desta forma, demonstra uma mentalidade aberta e sadia, 6uando se trata de pre"on"eitos desonrosos, "7eando mesmo a ;raspar< no "riti"ismo +s superstiç9es da so"iedade, tudo isso, para :il *i"ente, era moti$o de es"árnio. 0um outro ponto da obra referida, sure uma feiti"eira, a 6ual tem por nome :enebra Pereira, 6ue alea estar a fa$or das mul7eres malBamadas, a@udando também o namorado des"on"ertado, sendo ela toda a fa$or de "ausas 7umanitárias. ealmente, o 6ue o autor está a falar é das mul7eres 6ue propi"iam práti"as se?uais, não propriamente de ;fadas<. /penas não l7es "7ama bru?as. Por al"o$iteira entendeBse uma ;fiura< do tipo 7umano e so"ial, e nada indi$idualista, e, por isso, :il *i"ente re"orre + utilização deste tipo de ;fiura<, de modo a demonstrar os $ários éneros de deradação8adulteração presentes na so"iedade. *erifi"amos então 6ue, a al"o$iteira, tal "omo se apresenta :enebra Pereira, retrata o des$io, a deturpação, e também se dedi"a a planear matrim=nios. O& / al"o$iti"e era se$eramente punida, então essa ;ati$idade< era ;"amuflada< "om outras, isto é, para 6ue as suas práti"as reais não fossem des$endadas estas faziamB se passar por fabri"antes de produtos de beleza, ou mesmo "ostureiras, e por a- em diante. F atra$és de :enebra Pereira 6ue :il *i"ente demonstra a saa"idade e o bom uso dos feitiços 6ue tão presentes esta$am durante a Idade Média.
*ICE03E, :il, (VTN, p. S''. /s al"o$iteiras esta$am imensamente liadas aos assuntos do amor, da alma.
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Isto é fressura de sapo, 8 6ue está neste uardanapo. 8 Eis a6ui mama de por"a, 8 barbas de bode furtado, 8 fel de morto e?"omunado, 8 sei?in7os do pé da for"a` 8 bolo de trio al6uei$ado 8 "om dous ratos no meu lar, 8 per min7a mão sameado, 8 "ol7ido, mo-do, amassado, 8 nas "ostas do aluidar. ON
0ão era por pura bondade 6ue as al"o$iteiras atua$am, de todo. Era então por puro interesse, pois todos os fa$ores 6ue estas presta$am tin7am de ser ;"obrados<, não se reendo estas por uma mera 6uantia de din7eiro, mas sim pela ;ambição de an7ar<, e?plorando estas a boa fé dos seus ;"lientes<. / al"o$iteira é utilizada por :il *i"ente de forma astuta e mordaz, @á 6ue esta rebai?a$a membros da so"iedade 6ue se en"ontra$am num estatuto bastante superior a si. /ssim, o autor te"ia "r-ti"as impla"á$eis, a uma so"iedade 6ue ele a"redita$a en"ontrarBse "orrompida, atra$és de personaens 6ue, supostamente, não o de$eriam8"onseuiriam fazer. Desta forma, afirmamos 6ue :il *i"ente foi um dos autores 6ue bem demar"ou o dualismo ;fada8bru?a<, pro"edendo este + alusão, $ariadas $ezes, das moças árabes 6ue uarda$am tesouros $alios-ssimos, estas 6ue tão "elebremente são "on7e"idas por ;mouras en"antadas<.
*ICE03E, :il, (VTN, p. S'O.
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@>G % ato de +onfiss3o
5s bispos e seus fun"ionários de$em trabal7ar "om todo $ior para e?tirpar de suas par=6uias a perni"iosa arte da feitiçaria e do malef-"io, in$entada pelo Diabo, e se en"ontrarem 7omem ou mul7er dedi"ados a essa per$ersão de$em e?pulsáBlo em desraça de suas par=6uias. Z...[ 0ão se de$e dei?ar de men"ionar 6ue alumas mul7eres detestá$eis, per$ertidas pelo Diabo, seduzidas pelas ilus9es e apariç9es de dem=nios, a"reditam e professam elas mesmas 6ue pelas 7oras da noite "a$alam em "ertas bestas @unto de Diana, a deusa dos paãos, e uma inumerá$el multidão de mul7eres, 6ue no silHn"io da madruada transp9em randes distân"ias, 6ue obede"em aos "omandos dela "omo se fosse sua sen7ora, 6ue são in$o"adas a seu ser$iço em dadas noites. Mas eu ostaria 6ue fossem somente elas 6ue pere"essem na sua infidelidade e não le$assem tantos "onsio para a destruição.OS
/ temáti"a presente no Tratado de Confissom não se en"ontra muito distante da dos outros manuais de "onfissão. Constatamos 6ue, nesta obra, são apresentados os sete pe"ados "apitais, os Dez Mandamentos e, também, os "in"o sentidos, le$ando tudo isto + "onstrução de uma espé"ie de uia, "om o intuito de orientar o "onfessor na elaboração de um árduo interroat=rio a fazer aos a"usados.
/tra$és de la "onfesi=n se lora el perd=n de los pe"ados, siempre 6ue se tena prop=sito de no $ol$er a "ometerlos se "umpla la peniten"ia impuesta por el "onfesor. El "onfesor fue ad6uiriendo un papel "ada $ez de maor importan"ia en la so"iedad "ristiana medie$al, pues en sus manos estaba la re"on"ilia"i=n de los pe"adores "on la so"iedad lai"a "on la Ilesia. En la "onfesi=n, los "lérios re"on"iliaban a los pe"adores a las pe"adoras "on la Ilesia, pero también deb-an e@er"er su pastoral, instruendo a las personas, para e$itar 6ue "aeran nue$amente en el error. O) 64
W5% e PE3E%, (VU&, p.&V. 49
De iual modo, $erifi"amos 6ue, na maior parte dos "asos, os "onfessores ;apoia$amBse< apenas nos sete pe"ados e nos Dez Mandamentos. 0o entanto, para além de tudo o 6ue se possa pensar, os e"lesiásti"os eram, $árias $ezes, mentores das práti"as da adi$in7ação, e todo o tipo de en$ol$imento "om estas práti"as era altamente "ondená$el, @á 6ue tudo isto "7o"a$a, brutalmente, "om o primeiro mandamento, ou se@am, 1mar a 'eus sobre todas as coisas.
/s feiti"eiras, 6uando a sua ira era pro$o"ada e as suas té"ni"as bem su"edidas, afliiam o "orpo das pessoas e das "rianças. Mata$am por"os, espal7a$am a doença entre o ado e transforma$am o seu leite em sanue. 3orna$am as pessoas se?ualmente impotentes e faziam "air tempestades para arruinar "ol7eitas de aluém. 5"asionalmente menos na $ida diária do 6ue na aitação dos randes "onflitos pol-ti"osQ perseuiam até + morte.OO
/s mul7eres eram as prin"ipais suspeitas de "ometer "rimes 7ediondos, atra$és dos seus en"antamentos e sortiléios, elas eram as prin"ipais a"usadas, perseuidas e submetidas aos pro"essos de tormento, elas é 6ue renea$am a Deus, + fé e + Ire@a. De a"ordo "om Jo7n 4oss, a maior #arte destes seres eram mulheres2 as mulheres, es#ecialmente se eram velhas, solteiras e sem amigos, eram como monges e recorriam a m3todos excecionais #ara conseguirem os seus objetivos, #or-ue a sua condi!"o im#edia$as de utiliarem os m3todos convencionais2 elas eram #ortadoras de um ressentimento -ue, de outro modo, seria im#otente& *s feiticeiros eram fre-uentemente, e #elas mesmas raes, membros do clero& *nde um homem atuaria #elo fogo e #ela es#ada, elas atuariam #ela doen!a e #ela tem#estade OU, e, dessa forma, a 4greja, com o objetivo de a#oiar uma re#ress"o mais efica, conseguiu definir bruxaria como uma ofensa 5 f3& 678 9m dos #ontos fulcrais 3 -ue definiu a ofensa, n"o como sim#les abjura!"o, mas como idolatria& * -ue era, em #rimeiro lugar, uma conse-u+ncia da %E:#/ :/I5, Cristina, &''T, p. &(SB&(). 45%%, (VV', p. VV. 45%%, (VV', p. VVB(''.
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bruxaria ser considerada como uma ofensa ao #rimeiro Mandamento, o -ue os te)logos sem#re haviam feito&OT 0o pr=prio Tratado fazBse in"idHn"ia sobre os "rentes nas práti"as da adi$in7ação, @á 6ueR 5utros "reer pelos adi$in7aderos 7e de pou"o siso por6ue saber 7o 7omem o 6ue 7á de uiinr 7e de rande nobreza e santidade. Por6ue 7e "ousa 6ue pertee"e soomxte a Deus. E se fosse "ousa "9uin7abel 6ue alwu ouuese dadiuin7ar ou saber as "ousas 6ue 7ã de uiinr os mais nobres e os 6ue fazem boa uida o auiam de ssaber as "omo som o leterados e os res e os prim"ipes e os 6ue bem uiuem as "omo som reliiosos de boa uida e estes n9 no sabem. Ero mas pou"o o deuem de ssaber os uel7os, e as uel7as 6ue nu"a souber9 6ue "ousa era detar de si os pe"ados e os maoos pensamxtos os 6uaaes nos uxe da parte do do diaboo.OV
*erifi"amos 6ue, nas partes em 6ue o autor da obra faz referHn"ia + atribuição das $árias puniç9es, prop9eBse aos a"usados 6ue em $ez de realizarem essas mesmas puniç9es, estes podem sobrephBlas atra$és do "umprimento de indulHn"ias, @á 6ue esta #rática viria a ser, entre outras, uma das causas da :eforma no s3culo ;<4& =a realidade, sob formas variadas, a indulg+ncia já vinha de muito longe& >á em meados do s3culo ;4 o ?a#a come!ara a conceder #erdes gerais a gru#os de fi3is, ou #or-ue tivessem #artici#ado na constru!"o de uma igreja, ou #or-ue se tivessem mostrado #articularmente generosos com o seu sacrifício ou o seu dinheiro& @ssas indulg+ncias, orais ou escritas, e-uivaliam a um nAmero de dias de #urgat)rio -ue o beneficiário n"o teria -ue cum#rir U', uma $ez 6ue uma indulg+ncia n"o 3 com efeito outra coisa sen"o uma absolvi!"o sem confiss"o& @m virtude de circunstBncias #articulares, e em troca de uma #e-uena -uantia, o fiel 3 dis#ensado da confiss"o mas recebe o #erd"o& U(
45%%, (VV', p. ('(. M/C2/D5,, J. 4arbosa, &'(S, p. S'. 4EC23EL, (VVV, p. TNBTS. 4EC23EL, (VVV, p. TN.
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@>I Cren2as difundidas
Constatamos 6ue as mul7eres sempre e?istiram, de uma forma ou de outra, na $ida dos "lérios. Isto su"edia, por e?emplo, 6uando o "asamento era permitido. Xuando este foi proibido, as mul7eres foram in"essantemente perseuidas pela so"iedade e"lesiásti"a, aora pela tentação se?ual por elas representada, "onsiderada pe"aminosa e depra$ado. Com o intuito de "essar determinados "redos, "onstatamos 6ue, a partir de "ertas re"omendaç9es feitas aos "onfessores, e?istia a preo"upação, por parte dos leisladores, de ter "on7e"imento de 6uem espal7a$a os mitos rela"ionados "om as bru?as, por e?emplo, o ato de $oar, o entrar sorrateiramente pelos orif-"ios das 7abitaç9es. E assim as entidades rela"ionadas "om a Ire@a ti$eram a ne"essidade de adotar medidas pre$enti$as e puniti$as, de$eras ra$es, para 6ue os ;inorantes< se desa"reditassem dos "redos do po$o. 3oda$ia, independentemente de todo o empen7o instaurado por parte de 6uem leisla$a, "ontinua$am a $erifi"arBse "renças rela"ionadas "om fiuras da feitiçaria e "om o Dem=nio. 0o 6ue diz respeito +s relaç9es se?uais 6ue estas mantin7am "om o Diabo, os "redos populares alimenta$amBnos de tal forma 6ue se pensa$a $erdadeiramente 6ue tais relaç9es realmente a"onte"iam. 0o entanto, tudo isto não passa de uma imaem espel7ada de uma so"iedade na 6ual as relaç9es entre 7omem e mul7er di$eriam rosseiramente, sendo a mul7er en"arada "omo um ser submisso, sem $ontade pr=pria.
5 6ue se terá $erifi"ado em muitas das narrati$as difundidas é 6ue as raz9es 6ue le$aram as mul7eres a "ometerem determinados pe"ados, "omo é o e?emplo do adultério, terão sido $árias e indeterminadas, uma das 6uais o fa"to de o 7omem não se en"ontrar presente nas suas $idas, maioritariamente de$ido a 6uest9es de natureza profissional ou a puro desinteresse. Deste modo, de$ido ao fa"to de se en"ontrarem absolutamente aborre"idas pela ausHn"ia dos seus maridos, estas "on$ida$am "ompadres e frades para "ear, o 6ual se "ara"teriza por ser o ato ante"edente ao ato 52
se?ual.U& /ssim, obser$amos 6ue, de "erta forma, a tradição popular "orrompeu os medos se"ulares 6ue se en"ontra$am difundidos nos te?tos normati$os, deparandoBnos "om situaç9es de natureza "=mi"a, remo$endo e reduzindo a ele$ada importân"ia atribu-da aos pe"ados do esp-rito e da "arne. 5 Diabo não está, toda$ia, sozin7o. 0a sua 6ueda, arrastou uma multidão de an@os. 3endo "onser$ado os seus "orpos feitos de ar e de luz, $oam "omo abel7as, deslo"amBse a uma $elo"idade fulurante, pro"uram pre@udi"arBnos dos mais di$ersos modos, arrastamBnos para o mal, pro$o"am "atástrofes naturais. Mais aindaR aluns deles, os dem=nios -n"ubos e s>"ubos, podem ter relaç9es se?uais "om os seres 7umanos, 7omens e mul7eres, pro$o"andoBl7es orasmos parti"ularmente deli"iosos . UN
/pesar de se $erifi"arem tantas referHn"ias ao diabo, podeBse afirmar 6ue a situação do Dem=nio estar em "onta"to "om o ser 7umano, e estar presente na 3erra, é $ista, por aluns, "omo um sinal de esperança, de boas e?pe"tati$as, $isto 6ue, de a"ordo "om o imainário medie$al, o retorno de Jesus Cristo esta$a pr=?imo, e no dia do @u-zo final Jesus Cristo destruiria o dem=nio. ConstataBse, desta forma, 6ue, a6ui deparamoBnos "om a di"otomia 7orror8esperança. 3oda$ia, no mundo em 6ue $i$emos, na "ontemporaneidade, toda a e?istHn"ia de alo 6ue não é palpá$el 6uestionaBse "onstantemente, tudo o 6ue não é $isto ou 6ue não e?istem pala$ras 6ue o possam des"re$er é eliminado ou es6ue"ido. /té a literatura sofreu alumas alteraç9es, a imaem do Dem=nio terror-fi"o e assustador, 6ue esta$a presente nas ra$uras, foi substitu-da por um ;ser< 6ue esti$esse mais pr=?imo do 2omem. US
Era durante estas alturas 6ue o marido apare"ia em "asa, surpreendendo a sua mul7er durante o ato. 72
MI05I%, &''N, p. S)BSO. Como, por e?emplo, :oet7e "riou Mefist=teles, o 6ual é a representação de um dem=nio 6ue mais se identifi"a "om a Modernidade, e 6ue não se apro?ima tanto de alo $isto "omo tenebroso. 73 74
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@>8 Conseun+ias e erse*ui2es
elati$amente + Ire@a portuuesa esta tin7a não s= umaQ enorme poder8força8influHn"ia, "omo também era pri$ileiada no 6uadro da Ire@a em si, na medida em 6ue pun7a + disposição dos "rentes determinados meios le-timos para 6ue pudessem "ombater o Diabo e o infort>nio. Estes mesmos meios in"lu-am práti"as, "omo, por e?emplo, os e?or"ismos, remédios, as pre"es e até mesmo o batismo U). 3udo isto era disponibilizado aos fiéis, para 6ue os seus ;ser$iços< fossem prestados de forma $in"ulati$a e satisfat=ria, sem 6ue os fiéis ti$essem 6ual6uer tipo de $ontade de re"orrer aos ser$iços da6ueles 6ue prati"a$am as artes mái"as. Desta forma, $erifi"amos 6ue as elites portuuesas não fi"aram aterrorizadas nem re"eosas perante o poder das ditas bru?as, @á 6ue a instituição 6ue as proteia mante$eBse sempre firme, disponibilizando determinados meios de proteção "ontra os ata6ues maléfi"os, pro$enientes de bru?as e feiti"eiras, minimizando, drasti"amente, a $iorosidade 6ue os mái"os possu-am em relação ao po$o. Contudo, as "on7e"idas perseuiç9es foram ini"iadas por elites 6ue ;"asaram< os atos mái"os "om os pa"tos diab=li"os, nos lo"ais onde tudo isto atiniu efeitos de$eras dramáti"os, e 6ue ampliaram até + e?austão os poderes destes seres, passando estes a ser $istos de forma tenebrosa. 0ada faria sentido, 6uando falamos em a"usaç9es de bru?aria, se as pessoas não alimentassem determinadas "renças e superstiç9es. Podemos espe"ular 6ue, a maior parte dos "asos relati$os a a"usaç9es de$iamBse prin"ipalmente a fatores de natureza e"on=mi"a, so"ial ou até mesmo desa$enças e in$e@a entre $izin7os. Desse modo, $erifi"amos 6ue, era a partir dos "redos populares, das superstiç9es, 6ue era poss-$el pro"eder + @ustifi"ação de determinados "omportamentos e atitudes por parte de determinadas pessoas, $isto 6ue sem "renças presentes não fazia sentido fazer 6ual6uer énero de a"usação, não 7a$endo moti$os para tal tudo isso seria o"o. Como @á referimos anteriormente, a maioria das "renças basea$amBse Crença instaurada no po$o de 6ue se as "rianças não fossem batizadas permane"eriam no limbo.
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prin"ipalmente no fa"to de as bru?as surirem durante a noite, "om o intuito de prati"ar o mal. Estas tin7am a $ontade e poder de se tornarem in$is-$eis 6uando assim o dese@assem, s= assim entra$am nas 7abitaç9es de outras pessoas sem 6ue ninuém as $isse, s= as re"on7e"endo 6uem foi mesmo al$o dos seus ata6ues. 3odos a6ueles 6ue pensa$am ser perseuidos por elas temiamBnas, maioritariamente durante o per-odo noturno, @á 6ue estas emitiam sons de forma a anun"iaremBse a si pr=prias. Podiam fazer a"onte"er o 6ue l7es bem aprazesse, podendo pro$o"ar tristeza, an>stia, e?tremo sofrimento a outrem, sendo as "rianças as suas $-timas preferidas, pelo 6ue as bru?as as "7upa$am até 6ue elas desfale"essem. 3udo isto fazia sentido pelo simples fa"to de as pessoas a"reditarem mesmo nisso, pois se se fala$a ou se tin7a a "rença $erdadeiramente presente então era por6ue realmente e?istia. Constatamos 6ue, para 7a$er uma a"usação de bru?aria basta$a mais do 6ue um pe6ueno arrufo entre $izin7os, não era sufi"iente 7a$er um simples desentendimento, era pre"iso alo mais, alo em 6ue se pudessem apoiar, para 6ue posteriormente as @ustifi"aç9es de tal a"usação fossem minimamente plaus-$eis. /ssim, uma a"usação de bru?aria era um pro"esso moroso e bastante "omple?o, era um resultado de m>ltiplos fatores "on@untos, estando a @ustifi"ação presente no seio da "omunidade em 6ue se inseriam. 3odos esses fatores en"ontra$amBse estritamente liados a um $asto "on@unto de "renças, "renças essas rela"ionadas "om "alamidades, infort>nio, "om os poderes 6ue se a"redita$a 6ue determinadas pessoas tin7am, ou se@a, as bru?as. 0a $erdade, para 6ue se $erifi"asse $erdadeiramente uma a"usação, era ne"essário e?istir uma pan=plia pré$ia de "renças relati$as ao assunto em 6uestão, e também era pre"iso 6ue se $erifi"asse uma relação forte entre as pessoas en$ol$idas no pro"esso de a"usação, $isto 6ue para esta ter efeito não basta$a apenas um indi$-duo, mas sim um $asto "on@unto deles, e s= assim é 6ue se fazia a força, atra$és da re$olta "oleti$a e até da superstição "oleti$a. Era também ne"essário 6ue se "onstatasse uma relação minimamente ;-ntima< entre o a"usador e o a"usado, na medida em 6ue se tin7a "omo essen"ial o seuinteR para se poder a"usar ;@ustamente< era estritamente ne"essário 6ue o a"usado e a"usador ti$essem tido 6ual6uer tipo de relação, preferen"ialmente ambos os indi$-duos tin7am de se dar minimamente bem, para 6ue, posteriormente, esta se fosse deteriorando,
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7a$endo, depois, testemun7os de ameaças e "onstantes azáfamas. UO /tra$és disso, se se tin7a presente a des"onfiança de 6ue aluém poderia ser bru?a, as d>$idas dei?a$am de e?istir, pois aora e?istia uma @ustifi"ação para tudo a6uilo su"eder. Para 6ue a a"usação ti$esse ainda mais impa"to, era 6uase obriat=rio 6ue se $erifi"assem desraças ap=s os "onflitos, mas sempre depois e nun"a antes. Era a partir disto 6ue a a"usação ia an7ando mais força, mais razão de ter su"edido. Porém, nem todas as desraças 6ue a"onte"iam e as azáfamas entre $izin7os "onduziam a uma a"usação de bru?aria, no entanto, a suspeita esta$a 6uase sempre presente. 2á 6ue ter em atenção 6ue as a"usaç9es não eram uma forma de fazer "om 6ue as outras pessoas desapare"essem, perdessem poder ou de pura $inança. 3oda$ia, não podemos afirmar asserti$amente 6ue tal não ten7a realmente a"onte"ido.
Isto é, para 6ue as a"usaç9es fossem feitas de forma ;fundamentada<, era pre"iso 6ue os en$ol$idos no pro"esso ti$essem uma relação 6ue não fosse loo + partida má, mas 6ue se fosse deteriorando. %= assim o a"usador podia alear 6ue alo no a"usado 7a$ia mudado, 6ue a sua relação se foi arruinando, tendo então isso aluma razão estran7a de ser. 76
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@>9 %s a+usados
Z...[podeBse dizer 6ue o sistema in6uisit=rio, reido pelo prin"-pio in6uisiti$o, tem "omo prin"ipal "ara"ter-sti"a a e?trema "on"entração de poder nas mãos do @ulador, o 6ual detém a estão da pro$a. /6ui, o a"usado é mero ob@eto de in$estiação e tido "omo detentor da $erdade de um "rime, da 6ual de$erá dar "ontas ao in6uisidor .UU
2á 6ue ressal$ar 6ue uma a"usação de bru?aria tal$ez fosse uma forma de pro"eder ao "ontrolo a n-$el so"ial, ou se@a, era um modo de se pro"eder + preser$ação de determinados "omportamentos so"iais, um meio de não se dese6uilibrar uma "omunidade, na 6ual se a"redita$a 6ue não 7ou$essem indi$-duos dispostos a deneriB la, desinteráBla. Era atra$és da a"usação 6ue, na realidade, se "onseuia preser$ar uma "omunidade, ;libertandoBa< dos "ausadores de "alamidades. Esta era uma forma de manter "ertos ideais "onser$adores, pro"edendo ao impedimento do aumento des"ontrolado de "omportamentos "onsiderados indese@á$eis e absurdos. / Ire@a fazia parte das randes instituiç9es 6ue pretendiam preser$ar os bons "omportamentos e atitudes a n-$el so"ial, abranendo determinadas formas de "onstatação de "ondutas des$iantes e tudo a 6ue elas esti$esse liado, "omo é o "aso da In6uisição, o sistema "onfessional e até mesmo as $isitas pastorais. /ssim sendo, obser$amos 6ue as "renças na bru?aria, bem "omo as "onse6uentes a"usaç9es e e?puls9es, fossem temporárias ou definiti$as, 6ue delas ad$in7am pro$o"a$am, de aluma forma, determinados efeitos, $isto 6ue estes ;sistemas< opera$am "omo modo de re"on7e"imento de 6ue uma "alamidade tin7a uma "ausa de ser.
Z[ é por6ue as a"usaç9es de$eriam se referir a bru?aria e não a alum outro "rime. Isto, afinal, é o 6ue pre"isa ser e?pli"ado em $ez de aluma in"riminação eral de mul7eres. Z...[ ser anormal poderia dar em alum outro tipo de a"usação na $erdade, C5#3I025, &''(, p. &T.
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6ual6uer tipo de a"usação e o arumento sobre seu papel préB "ondi"ionante ser$iria iualmente. 5 efeito insatisfat=rio disto é 6ue trata a a"usação espe"-fi"a de bru?aria "omo se fosse a"idental.UT
/ a"usação tin7a "omo efeito o bai?ar de n-$el de temor 6ue os 7abitantes de um lo"al tin7am das "riaturas noturnas, as 6uais emitiam sons tenebrosos durante a noite, e assim $erifi"a$aBse um "erto apaziuamento da "ons"iHn"ia das pessoas 6ue tin7am no pensar 6ue 7a$iam sido, em aluma altura, menos "orretos "om a pessoa a"usada. 3ambém temos de referir 6ue era atra$és do pro"esso de a"usação 6ue a "omunidade se sentia mais liberta, @á 6ue se tin7a $isto li$re de uma pessoa 6ue em nada "ontribu-a para a "omunidade. Muito pelo "ontrário, essa pessoa dependia sim da simpatia, bondade e "aridade de ter"eiros para subsistir, e por $ezes utiliza$a os seus poderes para poder retirar bens aos outros, "onstituindo nada mais do 6ue um fardo para as restantes pessoas. %= assim era poss-$el repreender todos a6ueles 6ue 7a$iam tido "omportamentos deplorá$eis, preser$ando ao mesmo tempo o "onser$adorismo da so"iedade, "ontinuando tudo a pro"eder em normalidade, li$res de infort>nios e depra$aç9es.
Z...[ era imposs-$el ao a"usado ter a"esso +s peças do pro"esso, imposs-$el "on7e"er a identidade dos denun"iadores, imposs-$el saber o sentido dos depoimentos antes de re"usar as testemun7as, imposs-$el fazer $aler, até os >ltimos momentos do pro"esso, os fa"tos @ustifi"ati$os, imposs-$el ter um ad$oado, se@a para $erifi"ar a reularidade do pro"esso, se@a para parti"ipar da defesa. UV
2á 6ue ressal$ar 6ue, muitos dos 6ue "onfessa$am ter realmente feito um pa"to "om o Diabo, não afirma$am, posteriormente, 6ue renea$am a Ire@a e a Deus. Por outras pala$ras, a maioria das "onfiss9es era obtida atra$és de intensa tortura, e não por6ue os réus afirma$am 6ue re@eita$am Deus, a fé e a Ire@a. EntendaBse 6ue, uma ;simples< "onfissão de práti"as de bru?aria "arrea$a a miseri"=rdia por parte da CL/W, &''O, p. ()U. !5#C/#L3, Mi"7el, (VV(, p. N).
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In6uisição, ou assim se fazia pensar.
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@>1O A #nuisi23o +o,o entidade Pusti+eiraP
Era fá"il nos finais do sé"ulo I "riti"ar a atitude dos in6uisidores, dos @u-zes e das autoridades em relação + bru?aria. Mas a6ueles 6ue, le$ados pelo seu esp-rito lai"o, ra"ionalista e um nadin7a anti"leri"al, @ula$am se$eramente essas personaens, pou"o simpáti"as, sem d>$ida "omo o são todos a6ueles 6ue tHm de pronun"iarBse nos "asos dif-"eis , de$eriam ter "on7e"ido mel7or os traços de "ará"ter dos indi$-duos e das massas sobre 6uem se e?er"ia essa @ustiça impla"á$el.T'
Definiti$amente, a entidade 6ue fez um maior n>mero de $-timas, deri$adas das suas a"usaç9es, foi a In6uisição. Porém, tudo isto não sinifi"a 6ue ten7a sido a instituição mais repressora, mas foi a6uela 6ue mais $est-ios dei?ou. 3odo o pro"esso por detrás dos @ulamentos in6uisitoriais é altamente "on7e"ido, $isto 6ue este ia desde a suspeição, passando pela re"ol7a de pro$as, posteriormente da$aBse a a"usação, até ao ;passo final<, ou se@a, a ;eliminação<. Eram 6uatro os prin"ipais meios 6ue a In6uisição dispun7a para 6ue esta mesma se fizesse ;notar< @unto das pessoas. /ssim, dos meios utilizados pela mesma desta"amosR a realização de $isitas pelo territ=rio na"ional, as 6uais tin7am por 7ábito terminar relati$amente "edo` a afi?ação e leitura nas portas da ire@as sobre os éditos da fé, e estes "onsistiam no relato dos "omportamentos a não ter, os 6uais de$iam ser relatados ao %anto 5f-"io` seueBse a rede de "omissários, "onstitu-da por aentes perten"entes ao "lero, interantes do tribunal` e, por fim, os autosBdaBfé, ou se@a, o "ulminar de todo o pro"esso de a"usação. Desta forma, era a estes passos a"ima des"ritos 6ue se de$iam "on@uar as "onfiss9es realizadas a6uando os pro"essos, e também atra$és da a@uda prestada pelos tribunais se"ulares e e"lesiásti"os, 6ue a In6uisição "onseuia obter a"usaç9es. !oi atra$és da $asta rede de "omissários 6ue a maioria dos "asos de a"usação "7eou +s mãos da In6uisição. 80
4/5J/, (VUT, p. (U. 60
EraBse bru?a por6ue se nas"ia assim, por6ue a a$= e mãe @á o 7a$iam sido, no dizer de uma testemun7a, uma mul7er en"ontrada de noite em ;fiura de bru?a< pediu 6ue a não delatasse por6ue a sua "ondição era ;fado<. /o a"usar uma ;bru?a<, "erta testemun7a afirmaR ;tudo l7e $em @a por "asa por6ue sua a$o e ma ti$eram @á a mesma fama de bru?as e feiti"eiras<.T(
2á 6ue ressal$ar 6ue, os "omissários re"ebiam paamentos relati$amente a den>n"ias obtidas, $isto 6ue nos "asos em 6ue os in6uisidores 6uisessem pro"eder + re"ol7a de pro$as, para 6ue futuramente de"idissem 6uais as pris9es a utilizar, os "omissários de$eriam pro"eder ao for@amento das mesmas, uma $ez 6ue eram paos para tal. /s den>n"ias "7ea$am posteriormente ;aos ou$idos< da In6uisição, reunindoB se pro$as8den>n"ias por parte de testemun7as 6ue fossem "onsideradas sufi"ientes, @á 6ue a In6uisição não pro"edia ao en"ar"eramento de nen7um indi$-duo sem 6ue as testemun7as "onfirmassem os "omportamentos "orrompidos dos a"usados. 5 per-odo de ;"ati$eiro< era lono, e rande parte dos a"usados passa$a rande parte dos seus dias en"ar"erado. /lumas pessoas "7ea$am a entrar em desespero de$ido aos lonos per-odos de tempo 6ue passa$am nas pris9es, e também as "ondiç9es de 7iiene não eram as mais fa$orá$eis. Estas pessoas eram fra"amente alimentadas, "on$i$iam "om todo o tipo de doença, "om imensa pressão e ansiedade por muitas $ezes não se en"ontrarem perto da sua fam-lia e do seu lo"al de 7abitação, e pela imensa tortura 6ue sofriam "onstantemente. Muitas das artiman7as 6ue os en"ar"erados adota$am de modo a enanarem os in6uisidores "7eam a surpreender, "omo, por e?emplo, di$ersos indi$-duos, mal eram presos, "onfessa$am ter feito tudo a6uilo 6ue os in6uisidores tanto dese@a$am ou$ir, "omo é o "aso da "onfissão do pa"to diab=li"o, aleando 6ue esta$am de$eras arrependidos e supli"a$am por miseri"=rdia aos in6uisidores.
Z...[ a Ire@a deleouBl7es um en"aro de perseuição 6ue de$erá purifi"ar o mundo do dem=nio satâni"o, sal$ar as "riaturas arrastadas P/I*/, (VVU, p.(N.
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pelo Dem=nio, e limpar as aldeias, as "omunidades infetadas pelas desordens desses se6uazes do Diabo. Z[ Dei?arBse apiedar pelas lárimas, pelas s>pli"as, seria "orrer o ris"o de entrar em "umpli"idade "om %atã, e até de dar a uma de suas "riaturas uma no$a oportunidade de prati"ar atos nefastos. Essas lárimas poderiam muito bem ter sido sus"itadas pelo pr=prio Diabo.T&
Porém, se se $erifi"a$a 6uem pro"edia + total "onfissão, também se "onstata$a 6uem re"usasse "onfessar 6ual6uer tipo de práti"a ou "omportamento des$iante. Mesmo 6uando 7a$ia pro$as de 6ue esses mesmos indi$-duos tin7am re"orrido a simples pro"essos de "ura, eles resuarda$amBse num total silHn"io, não proferindo uma pala$ra 6ue fosse, até + altura da tortura e tormento. C7ea$aBse a $erifi"ar, de iual modo, a e?istHn"ia de determinados indi$-duos 6ue adota$am des"ulpas de modo a atenuar a sua pr=pria responsabilidade. /ssim, 7a$ia a6ueles 6ue alea$am não saber 6ue esta$am a "ometer pe"ado ao realizar determinadas práti"as, ou até 6ue eram fra"os de entendimentos, ou até 6ue eram in"enti$ados por outras pessoas. Deste modo, 6uando se pro"edia + "onfissão de tudo o 6ue era poss-$el, "omo o pa"to diab=li"o e a reneação da fé em Deus e da Ire@a, as penas mais r-spidas eram apli"adas. Contudo, o pro"esso de tortura não era apli"ado, o 6ue se torna$a, por um lado, num rande al-$io para o réu, e 6uando eram apli"adas as mais se$eras penas, as sentenças eram "on7e"idas pelo nome de ;ab@uração em forma<. 3oda$ia, as sentenças "on7e"idas "omo ;ab@uração de le$e< "onsistiam na obtenção de "onfiss9es dos réus pela força, pelo tormento, "orrespondendo a penas mais ;lieiras<, e eram apli"adas a todos a6ueles 6ue se re"usa$am a "onfessar as práti"as das 6uais eram a"usados. /ssim, "onstatamos 6ue é "erto 6ue se reistaram determinadas o"orrHn"ias 6ue delimita$am o desempen7o das práti"as in6uisitoriais, pois tudo isto não passa$a de um @oo, o 6ual era pre"iso saber manusear por ambas as partes.
@>11 As ráti+as e o seu si*nifi+ado M/0D5#, (VOT, p. TTBTV.
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De a"ordo "om José Pedro Pai$a (VVUQ o contactoD 3 o #rincí#io -ue admite -ue objetos -ue estiveram em contacto est"o e #ermanecem eternamente unidos& ?or isso se usa um #eda!o de #"o mastigado #or uma #essoa, ou uma sua #e!a de vestuário, #ara executar actos -ue a afectassem, ou -ue um seixo #or ter estado em contacto com uma forca trans#ortava consigo o #oder da morte, o -ue o to-ue no cor#o de uma carta de tocarD o #rotegia& 1 lei da contiguidadeD, #or Altimo, esclarece como a #arte e-uivale ao todo, #elo -ue, #or exem#lo, os cabelos e as unhas de um indivíduo o re#resentavam integralmente&TN Determinados estos relati$os +s práti"as mái"as eram bastante formais, e era "om raridade 6ue se $erifi"a$am os atos simples, isto é, 6uanta mais "omple?idade fosse apli"ada nos estos, mais efi"az seria a práti"a. E toda a formalidade e?iia também 6ue se seuissem + ris"a determinados passos, para 6ue as práti"as mái"as ti$essem o seu de$ido efeito. De iual modo, a pro"ura de espaços sarados, tal "omo as ire@as, era bastante ele$ada, $isto 6ue os espaços de e?e"ução das práti"as mái"as também possu-am determinadas reras a "umprir. Deste modo, os espaços sa"ros tanto eram pro"urados para a realização do bem "omo do mal, ou se@a, para a realização de "uras ou malef-"ios. De iual forma, seundo Pai$a (VVUQ, as fontes e for"as, ou pelourin7os, também eram $istos "omo uma predileção para os prati"antes das artes mái"as. /ssim, a fonte está fortemente liada + ideia de fonte da $ida, de "on7e"imento, de ino"Hn"ia e purifi"ação` por outro lado, os pelourin7os tHm um sinifi"ado simb=li"o muito apro?imado + morte, e essa ideia de morte não é nada pa"-fi"a, mas sim $iolenta, e, dessa forma, era mais fá"il para a bru?a manipular o poder dos esp-ritos, @á 6ue a separação do "orpo "om o esp-rito torna$aBse mais dif-"il de se "onsumar. 3ambém se tin7a "omo "rença 6ue os prati"antes das artes mái"as atua$am perto de portas, pontes e @anelas, na medida em 6ue estes s-tios tHm um sinifi"ado "omum, pois são tidos em "onta "omo luares de passaem, isto é, passaem de um estado para o outro, de doente a são, ou $i"eB$ersa. Contatamos 6ue, rande parte dos P/I*/, (VVU, p. (N&.
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ob@etos, produtos e lo"ais es"ol7idos pelas bru?as tin7am um ele$ado $alor simb=li"o. De iual forma, o sal, o azeite, a áua e também o en?ofre eram aluns dos produtos "onsiderados essen"iais para a realização de determinadas práti"as. Por e?emplo, o azeite era tido em "onta "omo alo puro, 6ue propor"iona$a prosperidade, possuindo "ara"ter-sti"as "urati$as bastante fortes. Por $ezes, utiliza$aBse o azeite para pro"eder + "ura de doenças pro$o"adas por pessoas in$e@osas, as 6uais faziam "om 6ue as outras pade"essem. 0o 6ue diz respeito ao sal, de$ido ao pro"esso de e$aporação resultante da áua do mar, era tido em "onta tanto "omo o s-mbolo da transformação f-si"a "omo espiritual, e a sua utilização era bastante re"orrente em $ariadas "erim=nias, "omo, por e?emplo, as de "ura, as da passaem da enfermidade para o são. Já a áua, sendo l-mpida e transparente, era $ista "omo um aente de purifi"ação, de limpeza, e esta tin7a, também, "omo utilidade a $isão de determinadas realidades o"ultas, des$endando mistérios. elati$amente ao en?ofre, este en"ontraBse asso"iado +s práti"as de feitiçaria, "omo, por e?emplo, a in$o"ação de esp-ritos, da maldade, e até na fer$ura do mesmo nos "aldeir9es das bru?as. Em di$ersas situaç9es, era bastante re"orrente $erifi"arBse a e?e"ução de determinados estos de forma oposta ao reular. 5u se@a, pear em ob@etos "om a mão es6uerda, andar de "ostas ou mesmo $estir roupa do a$esso são $ários e?emplos das "ontradiç9es ao 7abitual. *erifi"amos 6ue, determinados elementos "one"tados a antios "ultos préB"ristãos da morte, a $el7as $aloraç9es do poder do "osmos e dos astros, e mesmo até fazendo referHn"ia a determinados aspetos da mitoloia romana, atra$és da in$o"ação de esp-ritos demon-a"os e infernais, tudo isto "on$ere, "ruzandoB se, e tudo muitas das $ezes ;"ompa"tado< num >ni"a "erim=nia, oriinando, assim, "omposiç9es de$eras sinistras, das 6uais o final tornaBse bastante imposs-$el de pre$er. /s modalidades de aprendizaem eram $ariadas. / forma mais "omum de transmissão de "on7e"imentos entre os "uradores, era a de, + 7ora da morte, ou nos >ltimos momentos da $ida, um moribundo ensinar a um ente estimado, normalmente um familiar, tudo o 6ue sabiaR f=rmulas, bHnçãos, $irtudes de "ertas plantas, et". Z[ / e?periHn"ia da práti"a "urati$a e as $árias tentati$as 6ue se iam fazendo para resol$er difi"uldades "on"retas "om 6ue se 64
depara$a, eram outro meio de aprender. Em "asos raros, @á 6ue os "uradores eram maioritariamente analfabetos, usa$amBse li$ros, 7erbolários, ou até tratados de medi"ina, "omo fonte do saber. %e os "uradores aprendiam pelos "anais 6ue se a"abam de e?por, as feiti"eiras, sobretudo as dos meios urbanos, dedi"adas + maia amorosa e adi$in7ação, e?e"uta$am os seus a"tos baseando na6uilo 6ue outras "onta$am.TS
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P/I*/, (VVU, p. (OO. 65
@>1@ A osi23o do +ristianis,o
Pare"e "erto 6ue uma no$a interpretação relati$a +s "renças 6ue e?istiam na Europa nas"eu atra$és do triunfar do "ristianismo. /ssim, a partir da "ondenação do paanismo pro"edeuBse ao desnaturamento das relii9es paãs, de modo a 6ue estas fossem retratadas "omo sendo representaç9es do maléfi"o. *erifi"amos 6ue, anteriormente, eram os paãos 6uem afirma$am 6ue os "ristãos faziam adoração ao bode, tortura$am e atormenta$am "rianças, e, também, prati"a$am todo o énero de atro"idades. 0esse seuimento, os "ristãos a"usaram, posteriormente, os paãos de forma mais s=lida, baseandoBse e sublin7ando os mitos e rituais 6ue estes tin7am por 7ábito prati"ar, os 6uais se ;apoia$am< no tenebroso, no malef-"io, sendo obs"enos e nada aradá$eis de relatar. Desta forma, pro"edeuBse + asso"iação dos deuses antios a dem=nios, "u@a alma era "orrupta e repleta de maldade, "7eando mesmo a asso"iáBlos ao pr=prio Diabo.
Xuem são a6ueles 6ue nada tHm a an7ar "om o "ristianismoG /s al"o$iteiras e os outros ser$idores da lu?>ria, os si"ários assassinos, os en$enenadores, os maos, os ar>spi"es, os adi$in7os ;arioli
F "om in"erteza 6ue afirmamos 6ue 7á um "erto impedimento no 6ue diz respeito ao apre"iar de $alores do paanismo, $isto 6ue e?iste uma diferença de$eras radi"al entre este e o "ristianismo. Porém, não nos podemos es6ue"er 6ue uma $ez formuladas as doutrinas teol=i"as ou @ur-di"as desen$ol$emBse, de "erto modo, de forma independente. Por $olta do sé"ulo I*, $erifi"ouBse a autorização por parte da Ire@a relati$amente + in$estiação de supostos "asos de bru?aria, e tudo isto seria feito atra$és 85
3E3#LI/05 in 1#ologia a#ud 4/5J/, (VUT, p. OV. 66
da In6uisição. TO
Deste modo, "onstatouBse a elaboração de determinados do"umentos para 6ue tudo isso, de iual forma, fosse ;tra$ado<, @á 6ue se poderia $erifi"ar uma "ontra$enção do poder da Ire@a, na medida em 6ue um des"umprimento das normas de "onduta nos "ampos da se?ualidade, reliião ou pol-ti"a resultaria nisso mesmo. /ssim, era de$eras impres"ind-$el a e?istHn"ia de um do"umento, ou do"umentos, o 6ual tin7a de possuir obriatoriamente $alor leal, sendo ofi"ial, re"on7e"ido pelos membros interantes do "lero, para 6ue se pudesse pro"eder + punição efi"az das práti"as de bru?aria. / In6uisição é um tema muito sens-$el na 7ist=ria portuuesa e europeia e, por isso, é ne"essário ser o mais rioroso poss-$el. Em Portual, estamos a falar da In6uisição institu-da em ()NO, no tempo de D. João III, embora na Europa os tribunais desse tipo e?istissem @á desde os finais do sé". II para lutar "ontra a 7eresia dos CátarosQ. /"7o 6ue será sempre interessante apontar 6ue, 6uando o Tratado de Confissom é editado, ainda não e?istiam esses tribunais em Portual. 3al$ez a- 7a@a uma influHn"ia do ambiente "astel7ano, onde @á era famoso o in6uisidor 3omás 3or6uemada.
/lt7ou7 in t7ese senten"es t7e "ondemned is abandoned to an se"ular @usti"e for burnin, t7e 7ole pro"eedin as merel desined to se"ure t7e "onfis"ations and en7an"e t7e solemnities of t7e autos de fe it7 additional "omburation of effiies. Its nullit in ot7er respe"ts as admitted b t7e rule t7at, if a "ulprit 7o 7ad been burnt in effi s7ould return spontaneousl, "onfessin and 3al é o "aso dos 3emplários e das 4euinas, os 6uais foram al$o da á$ida atenção, perseuição, punição e e?e"ução por parte da In6uisição, e em (N(( o Con"-lio de *ienne "ondenouBas de$ido ao perio de blasfémia 6ue estas tanto representa$am. 86
;/s beuinas, tal "omo as beatas e as mer"eeiras, eram mul7eres leias "at=li"as 6ue prati"a$am uma $ida as"éti"a em "omum, pare"ida "om a mona"al, a maior parte das $ezes nos "7amados beuinários, na área da a"tual 4éli"a. /p=s a sua fundação, espal7aramBse, tal "omo a"onte"eu "om os beardos, pelos Pa-ses 4ai?os, /leman7a e !rança. /s beuinas dedi"a$amBse ao "uidado dos doentes e dos pobres Z...[<.Dispon-$el emR 7ttpsR88pt.iKipedia.or8iKi84euina. Consultado no dia &N de /bril de &'().
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repentin, 7e "ould be admitted to re"on"iliation or, if 7e asserted 7is inno"en"e, 7e as to be 7eard in 7is defen"e. 37is as de"reed b 3or6uemada Z...[TU
Determinados do"umentos, "omo é o "aso do Malleus Maleficarum, suriram "omo forma de determinar diretrizes, pro"edendoBse + identifi"ação, a"usação e punição das bru?as. #ma das formas de punir as mul7eres era atra$és da tortura, "rendoBse 6ue, atra$és disso, se "onseuia e?trair 6ual6uer tipo de informação 6ue se dese@asse. TT Desta forma, 6ual6uer mul7er, eralmente solteira, 6ue prestasse os seus ser$iços de "urandeira, 6ue ti$esse um animal de estimação, usualmente um ato, poderia muito bem ser a"usada de prati"ar as artes mái"as maléfi"as. 5 Malleus não passa de um resultado de um pensamento misto entre a pol-ti"a e reliião, tendo "omo prin"ipal intuito dis"iplinar, "ontrolar "omportamentos depra$ados e per$ersos, não podendo ser separado, de forma aluma, das práti"as ;@ustas< da In6uisição, espel7ando, assim, um mundo 6ue re"al"a$a as mul7eres, menosprezandoB as, a"usandoBas de atos il-"itos, atra$és de meras suspeiç9es. #ma das formas de os sa"erdotes ;$as"ul7arem< o "orpo das mul7eres era atra$és da aleação de 6ue estas tin7am, em aluma parte do seu "orpo, o s-mbolo do Diabo. Deste modo, eles abusa$am in"essantemente das mul7eres utilizando des"ulpas 6ue se torna$am a"eitá$eis para 6uem não o fazia. Muitas mul7eres "7earam a ter imenso re"eio 6ue, um dia, pudessem $ir a ser a"usadas de prati"ar atos de bru?aria, $isto 6ue os atos de tortura não para$am de aumentar, atos estes 6ue, maioritariamente, eram lentos e bastante dolorosos, "7eando a atinir pi"os de "ariz se?ual, por parte do "lero. %uspeitaBse 6ue a Ire@a ten7a "riado pro$as de forma a poder a"usar muitas mul7eres ino"entes, as 6uais não eram, de todo, bru?as ou utiliza$am os seus ser$iços apenas "om o intuito de prati"ar o bem. /inda mais, no 6ue diz respeito + dita mar"a do Diabo 6ue as mul7eres possu-am ;"ra$ada< nos seus "orpos, os prati"antes da In6uisição "riaram uma forma de pro$ar, em praça p>bli"a, 6ue estas eram realmente LE/, 2.C., (V'O, $ol. N, li$ro O. Dispon-$el emR 7ttpR88.utenber.or8files8SO)'V8SO)'VB78SO)'VB 7.7tm. Consultado no dia (S de /osto de &'(). /lumas das formas de tortura menos ;aressi$as< "onsistiam no a6ue"imento dos pés ou na inserção de ferros sob as un7as. 87
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adoradoras do maléfi"o. 0=s não a"eitamos a opinião 6ue @ula 6ue os dem=nios se mo$em, $ão de lá pra "á neste mundo elementar ao seu prazer, fazem o 6ue dese@am, apare"em 6uando, "omo e em 6ual6uer forma 6ue 6ueiram, por6ue senão o mundo estaria "7eio de apariç9es, "ada "anto "7eio de seus tru6ues, "omo nos tempos do papismo e da inorân"ia, em 6ue não 7a$ia dis"ussão, mas fadas, oblins, apariç9es, esp-ritos, dem=nios, almas bradando em "ada "asa, fazendo @ouetes em "ada "idade e $ilare@o, no tempo em 6ue não 7a$ia nada a não ser a "redulidade supersti"iosa e as fantasias inorantes do po$o @unto das imposturas dos padres e mones. TV
Consta no Malleus 6ue se a"redita$a 6ue onde o s-mbolo esti$esse, essa parte do "orpo da mul7er estaria adorme"ida, não sentindo 6ual6uer énero de dor f-si"a. /ssim, os membros do "lero enendraram uma espé"ie de fa"a, a 6ual se retra-a 6uando to"a$a em alo. Desta forma, atra$és de uma ilusão de =ti"a de 6ue a fa"a estaria mesmo a perfurar essa parte do "orpo da mul7er, ela não emitia sons de dor ou aonia, fazendo "rer, a 6uem esti$esse a assistir, 6ue ela não era nada mais, nada menos do 6ue uma bru?a, saindo, assim, a In6uisição, mais uma $ez, $itoriosa. Contudo, a mul7er, em "onsonân"ia "om os modelos impostos pelo "ristianismo, "ontinua$a a ser $ista "omo a oriem p>di"a, pura, submissa ou "omo uma mul7er pe"adoraV', "omo uma "riatura fantásti"a, a 6ual ;empurra< o 7omem para "amin7os pe"aminosos, para a desraça. Estas definiç9es ou formas de se $er a mul7er fazem parte da "orrente românti"a, na 6ual a mul7er desempen7a um papel de$eras importante, e esta tanto pode ser "ara"terizada "omo ;mul7erBno@o<, 6uando ela tenta uiar o 7omem para os "amin7os @ustos, do bem` ou "omo ;mul7erBdem=nio<, 6uando esta tenta arrastar o 7omem para a tentação, para os "amin7os da es"uridão e do arrependimento. Em Portual não se reistou um forte mo$imento no 6ue diz respeito + perseuição das bru?as, mais "on"retamente 6uando se trata de e?trema $iolHn"ia, "omparati$amente "om outros pa-ses da Europa do 0orte e do Centro. 3oda$ia, o fa"to de não se ter $erifi"ado uma ma"iça perseuição +s bru?as não sinifi"a 6ue as 89
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E4%3E, (OUU, p. (TVB(V'. 3al "omo E$a, 6uando inorou Deus e "omeu o fruto proibido. 69
entidades responsá$eis pelo ;"ontrolo< da6ueles 6ue prati"a$am as artes mái"as não esti$essem atentos ao 6ue se passa$a. Entre as elites portuuesas, o tema da bru?aria não foi "onsiderado uma área a e?plorar intensamente nem a debater, no entanto, para o setor e"lesiásti"o este tema era de rande rele$ân"ia. 3odos os mitos asso"iados + bru?aria eram do "on7e"imento das elites portuuesas, apesar de todo o "eti"ismo 6ue manifesta$am relati$amente, por e?emplo, +s transformaç9es, ao ato de $oar, +s reuni9es "om o Diabo, e por a- em diante. 3odo esse "eti"ismo e?istia, prin"ipalmente, de$ido ao fa"to de estarem presentes "renças intr-nse"as, no 6ue dizia respeito ao limitado poder do Dem=nio perante o poder de Deus. /s pessoas ;proteiamBse< atra$és da sensação de seurança 6ue a Ire@a l7es passa$a, @á 6ue 6uando as pessoas tin7am a "erteza 6ue sofriam de alum mal maior re"orriam + Ire@a, e esta disponibiliza$a determinados meios, "omo, por e?emplo, remédios, f-si"os ou não 6ue a@uda$am na "ura desses males, e 6ue podiam pre$enir o surimento de outros. Pelo 6ue pudemos apurar, uma maior in"idHn"ia de "onstatação de práti"as das artes mái"as e de "renças se terá $erifi"ado em nen7uma reião em parti"ular, o"orrendo as mesmas um pou"o por todo o territ=rio portuuHs. elati$amente +6ueles 6ue es"re$iam8relata$am o assunto da bru?aria, "onstatamos 6ue a sua preo"upação era, maioritariamente, saber 6ue tipo de 7eresias as pessoas a"usadas 7a$iam ou não "ometido, para, posteriormente, apurarem a ra$idade dos fa"tos apresentados, e depois de"larar a entidade @ur-di"a na 6ual osQ "asosQ de$iamQ ser a"ol7idosQ. 5utra das suas in>meras ponderaç9es era também a distinção entre bru?as, ou se@a, entre a6ueles 6ue atua$am em nome do Diabo, "om o intuito de prati"ar malef-"ios, e a6ueles 6ue atua$am em nome de Deus, os 6uais tin7am o ob@eti$o de prati"ar o bem, "urar os enfermos. 5 rande "on@unto de "renças e práti"as mái"as possu-am uma imensa influHn"ia em di$ersos "ampos da $ida das pessoas, "omo, por e?emplo, as adi$in7aç9es, as tentati$as de e?pli"ação de in>meras desraças, as "uras da alma e do "orpo, as maias do o"ulto, e as proteç9es "ontra as "alamidades. *erifi"amos 6ue, não era ao a"aso 6ue estas práti"as mái"as eram efetuadas, estas seuiam sim um $asto 70
"on@unto de reras, f=rmulas, e a obriatoriedade de utilizar determinados espaços espe"-fi"os para determinadas práti"as tin7a de ser "umprida "om respeito e rior, baseandoBse, na sua maioria, nos $alores simb=li"os 6ue estas a"arreta$am. Desta forma, "onstatamos 6ue, as práti"as mái"as, ou paraBreliiosas, 6ue diziam respeito + população portuuesa en"ontra$amBse dentro dos parâmetros 6ue todo um panorama eral europeu abrania.
/s far as "an be as"ertained t7e total re"ord of t7e Portuuese In6uisition Z...[ is ((U) rela?ed in person, ONN in effi and &V,)V' penan"ed. 37e proportion of 0e C7ristians amon t7ese is impossible of as"ertainment, but toards t7e last it diminis7ed "onsiderabl, and, as in %pain, t7e @urisdi"tion in"luded superstitious sor"er, blasp7em, biam, et". V(
LE/, 2.C., (V'O, $ol. N, li$ro T. Dispon-$el emR 7ttpR88.utenber.or8files8SO)'V8SO)'VB78SO)'VB 7.7tm. Consultado no dia (S de /osto de &'(). 91
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CA&:UL% ### 0 Est=rias ue se +ree, ver?di+as
Contar uma lenda sinifi"a, ao mesmo tempo, $erbalizar uma 7ist=ria @á e?istente, a"tualizar o seu sinifi"ado e restauráBla para a mem=ria "ole"ti$a. / tradição oral é, ao mesmo tempo, o ponto de partida, o a"to e o resultado do a"to. 5 pro"esso não tem "omeço nem fim.V&
>1 As Mouras en+antadas
0ão apenas no /lar$e, "omo muitas $ezes se pensa, e?istem di$ersas 7ist=rias, 6ue fazem alusão +s mouras ou ;moiras< en"antadas, tanto a norte "omo a sul do pa-s. F um dos $est-ios mais "onos"-$el da o"upação, a 6ual durou "er"a de meio milénio, árabe8islâmi"a no nosso pa-s. 3ambém estas lendas fazem parte da "ultura popular, sendo "onsideradas um dos elementos mais re"orrentes na mesma. /luns e?emplos disso são o "into ofere"ido de forma traiçoeira "om o intuito de "ortar ao meio 6uem o usasse` o ouro 6ue se transforma$a em "ar$ão` a moura 6ue batia "om o pé no "7ão trHs $ezes para 6ue uma passaem se abrisse` determinados instrumentos 6ue tin7am determinadas "ara"ter-sti"as mái"as, "omo, por e?emplo, as "7arruas, rades ou "anas` os tão "on7e"idos tesouros 6ue eram uardados pelas mouras en"antadas. 0a maioria dos "asos, as mouras tornaramBse ;en"antadas< de$ido a moti$os "atastr=fi"os, da- 6ue tanto o romantismo "omo a melan"olia fazem parte das lendas das mouras. 2á, também, outros elementos 6ue estão bem presentes nestas lendas. 3al é o "aso do "ânti"o das mouras ao luar, en6uanto pentea$am o seu "abelo, a enorme beleza 6ue elas possu-am, os imponentes palá"ios onde $i$iam, estando a maior parte deles situados no subterrâneo.
P/LME0!EL3, (VVN, p.(OO.
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:rande parte destas lendas fazem parte da "ultura tradi"ional portuuesa. Estas são $erdadeiras 7ist=rias relatadas em re"antos mal iluminados, de paisaens re"hnditas, e pelos ;desen7os< estran7os 6ue as ramifi"aç9es das ár$ores fazem anoite"er, 6uando a lua espel7a todas as sombras. Imensas 7ist=rias destas des$ane"eramBse + medida 6ue também desapare"iam as pessoas 6ue as mantin7am uardadas na sua mem=ria. Estes seres 7abita$am em lo"ais nada prop-"ios aos seres 7umanos, @á 6ue eram lo"ais onde apenas se pensa$a 6ue bi"7os os 7abita$am, "omo, por e?emplo, rutas, ro"7as, fontes. Era ne"essário 6ue se $erifi"asse uma liação minimamente forte entre os seres en"antados e os 7umanos, para 6ue se desse o pro"esso de desen"antamento. /o fi"arem ;desen"antados< os 7omens eram re"ompensados "om randes ri6uezas, tesouros, mas se tal não a"onte"esse o infort>nio dos seres en"antados redobra$a, e o 7umano não era então ;re"ompensado<. 5 ser 7umano sempre te$e uma enorme "uriosidade pelo 6ue ia além do seu "on7e"imento, pelo sobrenatural, pelo 6ue ;desafia$a< as ;leis< da normalidade, tendo, ao mesmo tempo, medo de o enfrentar, ou por $ezes $ontade de saber mais do 6ue a6uilo 6ue de$ia, "aindo di$ersas $ezes em desraça, oriinando "atástrofes e sofrimento.
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>@ As lendas do +astelo de Montale*re
(. De a"ordo "om a lenda, no "astelo de Montalere, + meiaBnoite em ponto do dia de %. João, apare"eram trHs meninas muito bonitas, as 6uais esta$am sentadas em "adeiras feita de ouro. !az parte da 7ist=ria 6ue elas "7earam a dar um a$ental feito de @=ias a uma mul7er, a 6ual as de$ia le$ar para "asa sem proferir 6ual6uer pala$ra durante o "amin7o todo. Porém, durante o per"urso, a mul7er en"ontrou uma amia 6ue l7e peruntou o 6ue ali le$a$a no a$entalQ, e, pensando 6ue ia mostrar muita ri6ueza s= $iu nada mais 6ue "ar$ão. Já 7ou$e 6uem $isse as meninas, no entanto, ninuém sabe "omo as des"obrir. &. Certa noite, um 7omem foi "7amar uma parteira da $ila de Montalere. 5 7omem "onduziuBa até ao "astelo, e ali le$antou uma la@e, debai?o da 6ual se en"ontra$a um lind-ssimo edif-"io, e dentro dele esta$am também duas meninas muito bonitas. / menina mais $el7a esta$a "om imensas dores de parto, e deitada numa "ama feita de ouro. #ma menina nas"eu, e a parteira entreou a respeti$a "riança + outra menina 6ue não a mãe. Posteriormente, o 7omem abriu uma a$eta 6ue "ontin7a imensas ri6uezas, e o 7omem disse + parteira para le$ar o 6ue ela dese@asse, porém, esta nada 6uis le$ar. N. 0o meio de duas pe6uenas pedras, as 6uais esta$am situadas no "amin7o do "astelo de Montalere, no meio do "amin7o da Portela mais espe"ifi"amente, uma mul7er en"ontrou um fio de ouro, 6uando se diriia para a ire@a do "astelo. /o pu?ar por ele, reparou 6ue o mesmo não tin7a fim, e por isso, a determinada altura de"lamou 6ue para ser ri"a @á era sufi"iente, e "ortou o fim, $isto 6ue não 6ueria "7ear atrasada + missa. 0o momento em 6ue "ortou o "ordão, o mesmo "omeçou a desfazerBse em sanue e a mul7er ou$iu $árias maldiç9es e ritos proferidos "ontra si. %e a mul7er ti$esse demorado mais alum tempo a pu?ar o fio de ouro en6uanto o padre re"ita$a a missa o en"anto era 6uebrado .VN
!onte biblioráfi"a das lendasR P//!I3/, &''O, p. N'N.
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Constatamos 6ue, para além de as mouras estarem inteiramente liadas + ideia de misti"ismo e en"antamentos, estas também se en"ontram liadas + ideia de aprisionamento, @á 6ue estas proteiam randes tesouros e tin7am de $elar pelos mesmos. *erifi"amos 6ue, o >ni"o dia em 6ue estas podiam passar pelo pro"esso de ;desen"antamento< ou 6ue podiam ser libertadas era no dia de %. João. %ão $árias as formas pelas 6uais as mouras podem passar a6uando do pro"esso de ;desen"antamento<, "omo, por e?emplo, atra$és de um bei@o apai?onado, en6uanto estas se en"ontram no seu estado animal. VS Porém, as mouras eram também "ara"terizadas pelo seu erotismo, pelo seu poder de deslumbramento, o 6ue era também tido em "onta "omo sendo um sin=nimo de pe"ado, na medida em 6ue esta per$ertia o "ristão, tenta$aBo e inunda$aBo em desraça. /lém destas serem, na sua maioria, $istas "omo fadas, @á 6ue eram en"antadas, mas, por $ezes, a fada transforma$aBse em bru?a, a 6ual tin7a o prop=sito de pro$o"ar sofrimento, de a"ordo "om as "renças medie$ais. V) / fiura da moura sure "omo $-tima, um ser supli"ante, e?piador das ;"ulpas< da sua etnia e por 6uem o po$o nutre "ompla"Hn"ia e pai?ão, en6uanto o mouro é apresentado "omo um ser ab@e"to.VO
/ssim, desta"amos dois tipos de en"antamento 6ue as mouras podiam sofrerR o primeiro énero de en"antamento de$iaBse ao fa"to de estas terem sido ;abandonadas< pelos seus familiares, $isto 6ue os árabes tra$aram imensas batal7as na Pen-nsula Ibéri"a, e ao serem dei?adas para trás sofriam o pro"esso de en"antamento para 6ue pudessem uardar em seurança os seus tesouros mais $aliosos, pois tal$ez um dia os árabes podiam $oltar para re"lamar os seus bens pre"iosos` o seundo tipo de en"antamento de$iaBse, na sua eneralidade, a uma espé"ie de punição atribu-da pelos pr=prios pais, $isto 6ue os pais tin7am "omo ob@eti$o sal$auardar a preser$ação da raça muçulmana, para 6ue as suas fil7as não se en$ol$essem "om nen7um "ristão. Muitas eram as $ezes em 6ue as mouras possu-am "ara"ter-sti"as animais e 7umanas, "omo, por e?emplo, pés de "abra, da "intura para bai?o eram serpentes. 3anto a moura "omo o Diabo podiam propor"ionar ri6ueza, $isto 6ue a moura ;forne"ia< tesouros e o Diabo forne"ia poder, mas sempre em tro"a de alo, "omo é o "aso das almas 6ue este ;arrasta$a< para o Inferno. P//!I3/, &''O, p. ((). 94
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> A lenda da Da,a do &Q-de-Ca/ra
/ 7ist=ria do "onto 1 'ama do ?3$de$Cabra desenrolaBse em torno de D. Dioo Lopes, o 6ual se apai?ona por uma dama, 6uando a ou$e "antar numa floresta, em "ima de uma ro"7a. D. Dioo apresentaBse de imediato + bela dama, 6ue tanto o en"antou, refere 6ue é dono de um rande dom-nio e pedeBa, de imediato, em "asamento. / formosa dama a"eita, porém, imp9eBl7e uma "ondição, a de 6ue ele nun"a se poderá benzer. Ele a"eita a "ontrapartida, alo inédito ;possui< D. Dioo, $isto 6ue este era pro$eniente de uma fam-lia "ristã.
De Dom Dieo Lopez, sen7or de 4iz"aia, bisneto de Dom !room, e "omo "asou "om wa mol7er 6ue a"7ou andando a monte, a 6ual "asou "om ele "om "ondiçom 6ue nun"a se beenzesse, e do 6ue l7e "om ela a"onte"eo. E prosseue a lin7aem dos sen7ores 6ue foram de 4iz"aia. VU
4em mais tarde, D. Dioo aper"ebeBse de 6ue a sua mul7er possu-a uma anomalia f-si"a, a 6ual, até ao momento, tin7a passado desper"ebida, de$ido ao en"antamento 6ue esta l7e "ausou, 6uando estes se "on7e"eram. 3oda$ia, apesar da anomalia, D. Dioo "ontinua a $i$er "om a sua dama, pois até então eles tin7am $i$ido uma $ida boa e , de "erto modo, eram felizes ao lado dos seus fil7os. 0um belo dia de "aça, D. Dioo "açou um @a$ali e, posteriormente, atira um osso do animal ao seu "ão, o 6ual foi morto por uma "adela feroz, a 6ual perten"ia + sua en"antada dama. *endo isto, D. Dioo fi"a e?tremamente aterrorizado e benzeBse, 6uebrando, de imediato, o @uramento 6ue 7a$ia feito + sua mul7er. Xuando D. Dioo se benze, a dama tenta desertar e le$ar os seus fil7os @untamente "om ela. D. Dioo "onseue re"uperar apenas o seu fil7o, porém a dama le$a a fil7a, $oando, atra$és de uma @anela e?istente no "astelo. Ela desapare"e, por entre as montan7as, e mais ninuém $olta a ;"olo"ar o ol7ar< sobre a dama.
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M/335%5, (VT', p. (NT 77
Desde esse dia 6ue não se soube mais do paradeiro da mãe nem da fil7a. / podena nera, essa sumiuBse por tal arte, 6ue ninuém no "astelo l7e $oltou a phr a $ista em "ima.VT
5 tempo passa, e D. Dioo parte para uma "ruzada em 3oledo, durante a 6ual é aprisionado pelo inimio. 5 fil7o 6ue D. Dioo re"uperou da dama, D. Inio, tenta sal$ar o seu pai, mas para tal a"onte"er, ele tem de ir em bus"a da sua mãe, desapare"ida, até então, nas montan7as. D. Inio en"ontra a sua mãe, e esta ofere"eBl7e um onaro um pou"o diferente de todos os outros, @á 6ue este não possui ne"essidades bási"as, "omo, por e?emplo, "omer ou ser ferrado, no entanto, é iualmente forte e $itorioso.
Entom "7amou wu "a$alo 6ue anda$a solto pelo monte, 6ue 7a$ia nome Pardalo, e "7amouBo per seu nome. E ela meteo wu freo ao "a$alo, 6ue tiin7a, e disseBl7e 6ue nom fezesse força polo desselar nem polo desenfrear nem por l7e dar de "omer, nem de be$er nem de ferrar` e disseBl7e 6ue este "a$alo l7e duraria em toda sa $ida, e 6ue nun"a entraria em lide 6ue nom $en"esse dele. VV
5 fil7o de D. Dioo "onseue, por fim, ir até + prisão onde o seu pai se en"ontra$a. Este esta$a aprisionado num estábulo, e "om a a@uda do seu animal, D. Inio "onseue arrombar a porta e libertar o seu pai. D. Inio le$a D. Dioo de $olta a 4is"aia, "onseuindo lá "7ear antes de anoite"er. Este "onto termina "om a morte de D. Dioo, mas, por outro lado, $erifi"aBse o massi$o triunfo e l=ria do seu fil7o. /tra$és da reno$ação do pa"to, entre mãe e fil7o, o mais esperado seria outra espé"ie de "ontrapartida, ou mesmo ;punição<. /o "ontrário do seu pai, D. Inio nun"a se "onfessa, benze ou $ai mesmo + ire@a. 3al é $isto por muitos "omo uma espé"ie de pa"to 6ue D. Inio terá feito "om 4elzebu, ou mesmo "om a sua mãe. Contudo, D. Inio sai sempre $itorioso de todas as batal7as, nun"a é ferido e morre de $el7i"e.
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2EC#L/05,/.,(T)(, p.() M/335%5, &''(a, p.&') 78
Diziam os rumores em 0ust>rio 6ue o ilustre barão tin7a um pa"to "om 4elzebu. Xue tin7a $endido a metade da sua alma 6ue não era da parte da sua mãe. !osse "omo fosse, Inio :uerra morreu $el7oR o 6ue a 7ist=ria não "onta é o 6ue então se passou no seu "astelo. E "omo não 6uero impro$isar mentiras, não irei dizer mais nada. (''
%endo assim, "onstataBse 6ue surem alumas d>$idas, no 6ue diz respeito a est=rias mara$il7osas, pois embora 7a@a uma punição relati$a aos pe"adores, aos prati"antes de atos maléfi"os, não se $erifi"a, também, um final feliz, $isto 6ue todos a"abam, de aluma forma, por ser perdedores. Estas lendas não são nem mais nem menos do 6ue uma des"rição da deterioração oriinada pelo perio, tormentos e pre@u-zos pro$enientes das alianças desumanas.
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2EC#L/05, /., (T)(, p.SV 79
C%"CLUS<%
/s bru?as podem "ertamente e?istir ou ter e?istido. / imaem 6ue se tem das mul7eres "omo uma espé"ie de portadoras de uma se?ualidade desenfreada, ou de uma á$ida lu?>ria, sendo estas mais ati$as do 6ue os 7omens, é parte interante do modelo da mentalidade do per-odo de aue da ;"aça +s bru?as<. 0o entanto, a partir do sé"ulo *III, essa mesma opinião foiBse alterando na literatura, a 6ual ;pintou< a mul7er "omo um ser sem l-bido e submissa. Essa transmutação $ai a par "om o "res"imento do "eti"ismo sobre relaç9es se?uais entre mul7eres e seres demon-a"os e "om a des"rença na ideia de 6ue as bru?as satisfaziam os dese@os se?uais do pr=prio Diabo. De forma $aarosa, as "renças em torno da mitoloia 6ue en$ol$ia a bru?aria "ederam "om o a$anço do ra"ionalismo, passando o $erdadeiro Mal a ser patrim=nio de "ada indi$-duo e afastandoBse as mul7eres dos poderes sobrenaturais 6ue, anteriormente, l7es 7a$iam sido "on"edidos. / proressi$a diminuição da Hnfase da presença do Diabo no mundo "ontribuiu para a "orrente neação das façan7as e peripé"ias das bru?as, as 6uais foram sendo transformadas em meros del-rios, tornandoBse, deste modo, obsoletas. / bru?aria está fortemente liada a um sistema parti"ular de "renças e emoç9es. F pro$á$el 6ue os ante"edentes da bru?aria se en"ontrem nos "ultos paãos, atra$és da adoração de "ertas di$indades, ou na demonolatria de oriem medie$al. *erifi"amos ainda 6ue se tin7a "omo "rença 6ue a bru?aria ad$in7a do prazer "arnal, da lu?>ria, do adultério, os 6uais por serem pe"ados $i"iantes "ontribu-am para o surimento de alo maléfi"o, tenebroso, ou assim faziam "rer %prener e Wramer. 5ra, a Ire@a de oma 7a$ia ini"iado no final do sé"ulo I, "om a reforma reoriana, uma intensa luta em prol do "elibato dos seus membros. 0este "onte?to, a ofi"ialização do $oto de "elibato por parte dos e"lesiásti"os "ontribuiu imenso para o radual aumento da erotização do "orpo da mul7er, ao mesmo tempo 6ue a menospreza$a fortemente, "onsiderando 6ue esta @á tin7a presente na sua natureza o des"ontrolo, a maldade e a las"-$ia. Dessa forma, os 7omens da Ire@a, não podendo "eder aos seus intensos dese@os se?uais, a"abaram por "ulpabilizar as mul7eres pela sua frustração, afirmando, di$ersas $ezes, 6ue estas não s= seduziam os 7omens "omuns, "omo também se in"lina$am para os 7omens sa"ros, e tudo isto por influHn"ia do Dem=nio. /s mul7eres tornaramBse assim o prin"ipal al$o das a"usaç9es, @á 6ue por serem seres fra"os, e sem $ontade pr=pria, ;su"umbiam< +s tentaç9es do Dem=nio, o 6ual 80
;@oa$a< "om elas "omo se se tratassem de meras marionetas, estando ao seu dispor 6uando este ne"essitasse, sendo elas possu-das por sentimentos de $inança, orul7o, anân"ia e lu?>ria. /sso"ia$aBse a mul7er ao a"onte"imento de todas as desraças e infort>nios 6ue iam su"edendo, "omo é o "aso do surimento de doenças, mortes de adultos, "rianças e ado, tempestades, problemas "om as "ol7eitas, e por a- em diante. 5 apare"imento de tratados a"abou por "onferir um estatuto de realidade + bru?aria, ou se@a, se a bru?aria, até então, não era "onsiderado alo $er-di"o, foi atra$és do surimento de obras "omo o Malleus ou o Tratado 6ue o"orre uma e$olução no imainário so"ial. De$ido a uma instiação "res"ente, in>meras pessoas, maioritariamente mul7eres, sofreram as "onse6uHn"ias da "onstante presunção de práti"as rotes"as e maléfi"as, sendo 6ueimadas nas foueiras em praça p>bli"a. 0a maior parte dos "asos, as mul7eres 6ue sofriam as a"usaç9es eram solteiras ou $i>$as, tendo sido reistados bastantes "asos de a"usação e e?e"ução em di$ersos territ=rios do "ontinente europeu, "omo, por e?emplo, Inlaterra, /leman7a, Itália e a Pen-nsula Ibéri"a. Por outro lado, todas as mul7eres 6ue fossem suspeitas de "ometer atos de 7eresia passaram a ser a"usadas, de iual modo, de bru?aria, uma $ez 6ue ambos os pe"ados iam "ontra a Ire@a, reneando a fé e a Deus, e atra$és da mistura ou ;fusão< de ambos os pe"ados, as a"usaç9es teriam maior fundamento. Determinados uias8manuais foram elaborados "om o intuito de orientar os e"lesiásti"os a6uando da "onfissão, e dos passos a seuir, prin"ipalmente 6uando era da sua $ontade forçar re$elaç9es a"er"a de pe"ados respeitantes + lu?>ria, soberba, adultério e forni"ação, ou se@a, e$itar tentaç9es de modo a 6ue se preser$assem os bons "ostumes e "omportamentos, mesmo não se $erifi"ando a "onsumação de 6ual6uer pe"ado. Era por isso 6ue os "onfessores tin7am de pro"eder a interroat=rios e?tensos e se$eros, de modo a 6ue se pudessem esmiuçar todos os pormenores relati$os aos in6uiridos e obter ind-"ios sufi"ientes das práti"as de eram a"usados. 0o Tratado de Confissom @á se en"ontra$a presente uma intensa apreensão, a 6ual enloba$a a forma "omo eram interroados os "onfessados, na medida em 6ue 6uando estes eram in6uiridos sobre tudo a6uilo 6ue 7a$iam feito ou não "olo"a$aBse a 6uestão de saber se não se estaria a ensinar aos a"usados alo 6ue eles até então não tin7am 6ual6uer tipo de "on7e"imento, $isto 6ue os interroat=rios eram demasiado e?pl-"itos e minu"iosos. 5 prin"ipal ob@eti$o da a"usação e posterior "onfissão era o "ontrito se 81
arrepender dos seus pe"ados e pedir perdão, sendo 6ue s= assim a sua alma seria sal$a. 3oda$ia, muitas $ezes esse perdão era "on"edido somente atra$és da tortura e do pere"imento. 0os manuais de "onfissão 6ue abranem os sé"ulos * e *III, estando o Tratado inserido neste per-odo, o pe"ado "om maior desta6ue era, sem d>$ida, o da lu?>ria, "7o"ando este "om o se?to mandamento ; ="o fornicarásD. / bru?aria esta$a então intensamente liada a este pe"ado, sendo as bru?as "onsideradas as forni"adoras do Dem=nio, e por isso o Tratado penaliza impla"a$elmente a bru?aria e tudo o 6ue esta abrane.
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B#BL#%K!AF#A
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A"E)%S
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Fi*ura 11O1
Fi*ura @1O@
?acto com o 'em)nio L gravura do s3culo ;<44& 1#ari!"o do 'em)nioE gravura antiga&
101 102
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Fi*ura 1O
Fi*ura 41O4
Mago, Kruxo $ gravura antiga& Xravura antigaE Kruxaria, invoca!"o de 'em)nios&
103 104
90
Fi*ura 1O
Fi*ura G1OG
Missa =egra L gravura de %_, de >ules Michelet& IAcifer L gravura&
105 106
91
Fi*ura I1OI
Fi*ura 81O8 Malleus Maleficarum& Missa =egra L gravura de ]OS&
107 108
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Fi*ura 91O9
Fi*ura 1O11O
?acto demoníaco #or contrato $ gravura de P& Kruxas, es#íritos e necromancia L gravura de \&
109 110
93
Fi*ura 11111
Fi*ura 1@11@
Kruxas L gravura de _& Kruxa e 'em)nio$ gravura medieval&
111 112
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Fi*ura 111
Fi*ura 14114
Kruxa julgada #ela 4n-uisi!"o L gravura gravura antiga& (at"E 4lustra!"o do Y?araíso ?erdidoZ de Milton&
113 114
95
Fi*ura 111
Fi*ura 1G11G
Missa =egra do 1bade Xuiborg L 4lustra!"o 4lustra!"o de P%& :e#rodu!"o de relevo ancestral ancestral sobre o dem)nio dem)nio feminino&
115 116
96
Fi*ura 1I11I
Fi*ura 18118
Kruxa e 'em)nio$ 4lustra!"o 4lustra!"o de %_O& Xrim)rio&
117 118
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Fi*ura 19119
Fi*ura @O1@O
(acrifício ao dem)nio L ?intura de Felicien :o#s, %%S& :ituais de Missa =egra L gravura&
119 120
98
Fi*ura @11@1
Fi*ura @@1@@
?rofecias e ?ragas $ gravura antiga& Kruxa e o 'iabo$ gravura&
121 122
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Fi*ura @1@
Fi*ura @41@4
Kruxaria Medieval& ?ersegui!"o 5s bruxas L gravura do s3culo ;<4&
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100
Fi*ura @1@
Fi*ura @G1@G
Kruxa em trabalho de bruxaria$ gravura& Kruxas -ueimadas #ela 4n-uisi!"o L gravura&
125 126
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