M n l h ih u i
Pergu Pergunta ntass bási básica cass sob sobre re
Suicídio e Eutanásia
É certo praticá-los?
s
Pergunt ergunta as básicas sicas sob sobre Suicí Suicíd dio e Euta utanási násia a© 2004 20 04,, Editora Editora Cu Cult ltur ura a Cristã. Publicado em inglês com o título Ba Basic Questions on Suicide andEuthana uthanasia sia:Are They TheyEverRi Right? ht?Copyright Copyright © 1998 by The Center Center for Bioethics and Human Dignity. Todos os direitos são reservados. Ia edição em e m português português — 2004 20 04 3.000 exemplares
Tradução Suzana Klassen
Re Revisão David Araújo Rita de Cássia Pampado do Canto
Ed Editoração Maria Etema Gomes Malta Dedone Rissato Editoração
Capa Magno Paganelli Publicação autorizada pelo Conselho Editorial: Cláudio Marra Alex Barbosa Vieira, André Luís Ramos, Mauro Fernando Meister, Otávio Henrique de Souza, Ricardo Agreste,
{Presidente),
Sebastião Bueno Olinto, Valdeci da Silva Santos
iDITOftfl CULTURA CRISTÃ Rua Migu Miguel Teles J únior únior,, 394 - Cambu ambuci ci 0154 1540-04 -040 - São Pa P aulo - SP - Brasi Brasill C.Post .P ostal al 15.1 15.13 36 - São Pau P aulo lo - SP - 0159 1599-970 -970 Fone (0** (0**11) 11) 3207-7099 - Fax (0** (0**11 11)) 3209-1255 www.cep.org.br -
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Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas Editor: Cláudio Antônio Batista Marra
Sumário
Colaboradores 06 Intro In trodu duçã ção o ............................... ............................................... .......................... .......... 07 Objetivo............................................................... 08
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Considerações Fundamentais 1. O que é s u icíd ic íd io ? ................................ .......................................... .......... 2. Quais são alguns mitos sobre suicídio? 3. Porque Porque as pessoas pessoas comet cometem em su icíd ic íd io ? 4. Qual a diferença entre uma concentração de suicídios e suicídios em grupo? 5. O que é suicídio assistido ou suicídio auxiliado por um médico? 6. Por que as pessoas consideram a possibilidade de suicídio auxiliad aux iliado o por um médico? 7. O suicídio auxiliado por um médico é uma opç opção m o ral? ra l? 8. O que é e u tan ta n á s ia? ia ? ........ ............. ......... ......... ......... ........ ......... ......... ...... 9. Qual é a diferença entre eutanásia ativa e passiva? ................................... ................................................... ...................... ...... 10. Quais são as diferenças entre eutanásia voluntária, involutária e não volu vo lun n tária? tár ia?.... 1 1 . 0 que que está por por trás trás da abertura cada cada vez vez maior à eutanásia, especialmente nos casos de suicídio auxiliado por um médico? 12. A eutanásia é uma opção m o r a l? 13. Quão comuns são o suicídio, o suicídio auxiliado por um médico e a eutanásia eutan ásia?... ?...
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Assuntos Teológicos
14. De que maneira minha visão de Deus afeta minha compreensão sobre o tirar uma vida humana?...................................................... 37 15. De que forma a dignidade humana está relacionada a se tirar uma vida? ............... 39 16. Existe algum caso de suicídio na Bíblia? 41 17. Eu tenho o “direito de morrer”? .............. 43 18. É errado que eu deseje morrer? ............... 46 19.0 sofrimento deve ser eliminado a todo custo? 49 20. O suicídio é um pecado imperdoável? .... 52 21. Os cristãos sempre foram contra o suicídio? 54 22. Existe alguma diferença entre suicídio e martírio?...................................................... 56 Questões Legais
23. Do ponto de vista histórico, como a lei tem encarado o suicídio?.......................... 24. Do ponto de vista histórico, como a lei tem visto o suicídio assistido e o golpe de misericórdia? .............................................. 25. O que a Suprema Corte dos Estados Unidos tem dito sobre o suicídio assistido por um m édico?......................................... 26. De que forma o suicídio auxiliado por um médico torna-se legal? ............................... 27. Como outros países, além dos Estados Unidos, vêem o suicídio auxiliado por um médico?....................................................... 28. E a eutanásia na Holanda?........................ 29. A legalização do suicídio assistido o justificaria moralm ente? ............................
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Questões Médicas 30. Como a classe médica vê as diferentes formas de eutanásia? 3 1 .0 suicídio é here ditário?........................... 32. O que é o triângulo dosuicídio? 33. Quais são alguns sinais indicativos de que uma pessoa pode estar considerando cometer suicídio? 34. Posso continuar confiando em meu médico se ele aceita o suicídio auxiliado por um médico como uma alternativa? ... 35. O suicídio auxiliado por um médico é a única alternativa para o medo da dor, do isolamento, perda de controle e colapso financeiro?
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Questões de Relacionamento 36. Quais são os efeitos do suicídio e do suicídio auxiliado por um médico sobre a família e amigos do suicida? . 80 37. O que devo fazer se me sentir suicida ou quiser ser auxiliado por um médico para me suicidar? 83 3 8 .0 que devo fazer se encontrar alguém que acredite ser suicida ou que mostre desejo pelo suicídio auxiliado por um m édico?... 84 39. Como devo agir em relação a pessoas que tentaram o suic íd io ?........................... 87 40. O que devo fazer sobre alguém próximo a mim que perdeu um ente querido por suicídio ou suicídio auxiliado por um médico? 88 Conclusão.......................................................... 90 N otas 93
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Colaboradores Linda K. Bevington, M.A., é administradora de projeto do Center for Bioethics and Human Dignity, Bannockburn, Illinois. Paige C. Cunningham, J.D., escreveu vários artigos sobre aborto e a lei. Ela é co-autora do artigo que a juíza O’Connor citou em sua discussão sobre a viabilidade de sobrevivência da criança fora do ventre materno sem suporte artificial no caso Webster v. Reproductive Health Services.
William R. Cutrer, M.D., trabalhou por muitos anos como obstetra e ginecologista, especializando-se no tratamento da infertilidade. Atualmente ele é diretor da área Dallas/Fort Worth para a Christian Medical and Dental Society. Timothy J. Demy, Th.IM, Th.D., é capelão militar, coautor e autor de vários livros e artigos. Ele é membro da Evangelical Theological Society. John F. Kilner, Ph.D., é diretor do Center for Bioethics and Human Dignity, Bannockburn, Illinois. Ele também é professor de Bioética e Cultura Contemporânea na Trinity International University, Deerfield, Illinois. Dónal P. O’Mathuna, Ph.D., é professor associado de Ética Médica e Química no Mount Carmel College of Nursing, Columbus, Ohio. Gary P. Stewart, Th.M., D.Min., é capelão militar e coautor de vários artigos e livros. Ele é membro da Evangelical Theological Society.
Introdução renças têm conseqüências. Aquilo em que acreditam os em relação à vida e à morte tem implicações em nosso quotidiano. Como indivíduos, famílias, culturas e nações, nossas crenças sobre suicídio, suicídio assistido e eutanásia são cruciais. Mesmo que, em certos momentos estes sejam três assuntos bem diferentes, com diferenças nos aspectos estatísticos e diversas outras preocupações, todos eles lidam com o fim voluntário da vida humana. Eles respondem a ne-
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cessidades prementes tais como o alívio do sofrimento e da dor. Mas são a resposta errada a essas necessidades. Suicídio, suicídio assistido e eutanásia são tentativas de encontrar atalhos para lidar com preocupações verdadeiras. Existem, porém, respostas mais adequadas para as questões do suicida, daqueles que querem auxílio para cometer suicídio e dos indivíduos e sociedades que devem cuidar dessas pessoas. Este livro foi preparado para ajudálo a pensar nessas alternativas. O que está em jogo é muito importante: é uma questão de vida ou morte.
Objetivo ste livro não tem o objetivo de rep roduzir todas as informações disponíveis sobre o assunto, mas sim, de simplificar, complementar e suplem entar outras fontes acessíveis, às quais os leitores são encorajados a consultar. Alguns d esses materiais estão listados no final deste livro. Esta obra não tem a intenção de tomar o lugar do aconselhamento ou tratamento teológico, legal, médico ou psicológico. Caso se faça necessária
E
a assistência em qualquer dessas áreas, por favor, busque o auxílio dp um profissional especializado. Os pontos de vista expressos neste livro são exclusivamente aqueles dos autores e não representam ou refletem qualquer posição ou endosso de quaisquer agências ou departamentos governamentais, militares ou outros.
C o n s i d e r a ç õ e s F u n d a m e n t a i s
1. O
que é suicídio?
Em seu nível mais básico, suicídio é o ato voluntário e intencional de matar a si mesmo. Por isso, é diferente de outras formas indiretas, não intencionais e acidentais de matarse. A palavra suicídio vem de dois termos do latim, sui, que significa “próprio”, e caedere , que significa “matar”. O suicídio tem sido estudado de forma extensa por várias pessoas de diferentes áreas da medicina, religião, sociologia e psicologia. Esses pesquisadores não investigam o suicídio apenas do ponto de vista acadêmico e clínico já estiveram pessoalmente envolvidos com indivíduos que tentaram se matar. Pessoas que tentam o suicídio, de um modo geral, sentem diversos tipos de necessidades e vêemse diante de questões prementes para as quais o suicídio parece ser a melhor “solução” .1Independente de quão ampla ou longa é a definição que damos, no fundo, o suicídio é o desejo e o ato de assassinato próprio. A primeira vista, tanto a definição quanto o uto de suicídio podem parecer um tanto simples. Entretanto, as causas e circunstâncias, o ato em si
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e os resultados dele são frequentemente mais com plexos do que se pensa. O suicídio traz à tona emoções, respostas e reações naqueles que são afetadas pela morte. Palavras freqüentemente associadas a ele incluem: raiva, desânimo, falta de esperança, desamparo, falta de valor, depressão, medo, tragédia, mistério, vergonha, vingança, protesto, ressentimento, alívio da dor, busca por soluções, um grito por ajuda, um legado destruído, perguntas não respondidas, sonhos não realizados, erros, desespero, amargura, lágrimas e arrependimentos. O suicídio sempre afeta muitas pessoas. Apesar da ilusão de que é um ato solitário, na realidade ele traz consequências duradouras para muitos.
2. Quais são alguns mitos sobre suicídio? Existem diversos mitos e concepções erradas sobre suicídio. Aceitar essa desinformação pode ser prejudicial para os esforços no sentido de se reconhecer e ajudar aqueles que são ou podem vir a ser suicidas. Todas as ameaças, afirmações e conversas sobre suicídio devem ser levadas a sério. Se compreendermos os mitos, seremos capazes de melhor nos posicionar para ajudar a outros. Eis alguns dos mitos mais comuns: Mito: Pessoas que falam sobre com eter suicídio não chegam realmente a fazêlo. Realidade: Oitenta porcento daqueles que cometem suicídio deram algum sinal, especial-
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mente na forma de afirmações verbais. Comentários como “não consigo ver outra saída” ou “vocês se arrependerão quando eu não estiver mais aqui” certamente servem de alerta. Mito: Pessoas
suicidas estão plenamente decididas a morrer ou estão certas de que irão cometer suicídio. Realidade: A maior parte daqueles que são suicidas está indecisa entre morrer ou viver e joga com a morte, deixando para os outros a tarefa de salválos. São relativamente poucos os que cometem suicídio sem antes dar sinais de como estão se sentindo. O ato final na maior parte das vezes acontece em isolamento, mas as circunstâncias que o levaram até ele dificilmente são individuais. A maioria dos suicidas não quer a morte; eles só querem fazer parar o que consideram ser uma dor emocional ou sofrimento psicológico insuportáveis. Mesmo assim, existem casos em que os sinais de um suicídio em potencial são ocultados daqueles que estão próximos da pessoa suicida. Quando as pessoas acreditam, de fato, que querem ou precisam morrer, elas fre qüentemente isolamse do mundo ao seu redor. Algumas vezes deixam uma carta, outras não. Mito: Uma
vez suicida, sempre suicida.
Muitas pessoas são suicidas apenas por um determinado período. Os sentimentos mudam com as circunstâncias c, com fre Realidade:
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qiiência, pensamentos suicidas passam com o rempo, à medida que os eventos causadores do desespero alteramse ou são resolvidos. Certamente esse não é o caso para todos os suicidas, mas o é para muitos. Mito: Pessoas que fazem uma tentativa de suicídio não irão fazer outras. Realidade: A maior parte das pessoas não tenta o suicídio mais do que uma vez; mas 10%
daqueles que fazem uma tentativa acabarão cedo ou tarde conseguindo se suicidar. Mito: O suicídio é um ato impulsivo e sem
planejamento prévio. Realidade'. A maior parte dos suicídios é cuidadosam ente preparada ou pensada semanas antes do ato em si. Certamente não é uma regra absoluta. C ada suicídio tem suas peculiaridades, mas a norma é de que haja considerável preme ditação antes de uma tentativa. Mito: Pessoas que estão pensando em sui-
cídio não estão dispostas a procurar ajuda. Realidade: Mais da metade daqueles que cometem suicídio receberam atendimento médi-
co ou aconselhamento num período de seis meses antes do ato. Mito: Melhora significa que o risco de suicí-
dio passou.
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R ealidade:
Muitos suicídios ocorrem durante os primeiros meses que se seguem ao começo de uma melhora. Por vezes, o indivíduo não tem a energia emocional necessária para realizar o ato durante a crise. Entretanto, uma vez que há alguma melhora, pode tentar cometer suicídio para “evitar se sentir num ponto tão baixo novam ente“ ou para “não ter que passar por tudo aquilo de novo” . M ito : Mulheres
só tentam o suicídio, mas
homens o realizam. Realidade: Tanto
homens quanto mulheres ameaçam, tentam e completam o ato de suicídio. Esse não é um problema específico de um dos sexos e não existe um “gene suicida”. E uma crise igualitária para todos os indivíduos. Porém, é verdade que cinco vezes mais homens cometem suicídio do que mulheres e que duas vezes mais mulheres do que homens tentam suicidar se mas devemos nos lembrar de que o suicídio afeta seriamente ambos os sexos2. Mito: Se
você for direto e perguntar a uma pessoa “Você é suicida?” irá desencadear nela uma tentativa de suicídio. R ealid ade:
Perguntar diretamente a uma pessoa sobre suas intenções ou tendências suicidas frequentemente alivia a ansiedade do indivíduo sobre os seus sentimentos e pode, portanto,
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ser uma forma de deter o comportamento suicida. A comunicação não atrapalha, e sim, ajuda. Mito: Apenas
certos tipos de pessoas cometem suicídio. Outros são completamente imunes. Realidade:
Sob circunstâncias muitíssimo extenuantes, trágicas ou uma combinação de am bas, qualquer pessoa é suscetível ao suicídio. É verdade que existem fatores e perfis de risco para indivíduos que são mais propensos ao suicídio. Entretanto, não sabemos com certeza como iremos reagir às muitas provações, traumas e tentações da vida. Para alguns, o suicídio pode ser pouco provável, mas nunca é impossível. São muitos os mitos acerca do suicídio e podem ter surgido por várias razões culturais. E extremamente importante que reconheçamos e saibamos separar os fatos da ficção. O suicídio cruza todas as fronteiras geográficas, raciais, sexuais, religiosas, culturais e sociais. Nenhum de nós deve subestimar seus efeitos dev astadores e sua abrangência.
3. Por que os pessoas cometem suicídio? Não existe uma única resposta para o porquê das pessoas se matarem. Qualquer um que perdeu um amigo ou ente querido para o suicídio
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é dolorosamente confrontado com a pergunta: “Por quê?” inúmeras vezes após a morte. As pessoas que cometem suicídio têm um sentimento opressivo de desamparo, falta de esperança e de valor. Há muitas circunstâncias e eventos que podem serv ir de catalisadores e, frequentemente, como veremos mais adiante, o suicídio é uma questão muito complexa. Pessoas que cometem suicídio, muitas vezes pensam erroneamente que não importa se elas vivem ou morrem, que ninguém irá sentir falta delas, que seus amigos e fam ília estarão melhor sem elas e que o suicídio é a única forma possível de escapar da dor emocional insuportável. Para muitas pessoas suicidas, o objetivo não é a morte, mas sim dar um fim ao sofrimento emocional. Comentários do tipo “Dói tanto”, “Não posso mais suportar” ou “Só quero ficar em paz” são comuns entre aqueles que são suicidas. No fim das contas, suicíd io não é uma questão de morrer e sim , de viver. E o acúmulo de nossos medos e circunstâncias indesejadas que acaba nos levando a uma visão emocional e psicológica muito limitada. Quais são alguns dos gatilhos emocionais que desencadeiam o suicídio? Esses eventos ou sentimentos são variados e, raramente, únicos. Frequentemente, são uma série de eventos e sentimentos não resolvidos que acabam tornandose um fardo grande demais para serem carregados sozinho. Entre eles estão a depressão, o alcoolis
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mo, o uso de drogas, a raiva, a vingança, uma doença terminal, uma enfermidade, a perda de um ente querido, de um amigo próximo, de um emprego ou outro revés financeiro, a humilhação pública ou perda do status social e a esquizofrenia ou distúrbios da personalidade. Para cada um desses gatilhos ou para cada combinação de vários deles existe, aparentemente, uma crescente incapacidade de aliviar (diminuir) a dor emocional. Em tais casos, o suicídio parece ser o único meio de escapar ou encontrar alívio. O suicídio é erroneamente visto como uma solução permanente para o que parece ser um problema ou uma série de problemas pessoais insolúveis. Lamentavelmente, aqueles que cometem suicídio são incapazes ou não estão dispostos a ver as horríveis consequências de seu ato sobre a vida de fam iliares e amigos. O suicídio sempre cria mais dor do que alivia.
4. Qual é a diferença entre uma concentração de suicídios e suicídios em grupo? Uma concentração de suicídios ocorre quando um certo número de pessoas estatisticamente semelhantes e que vivem numa mesma região geográfica cometem suicídio, dentro de um período curto de tempo.' Um exemplo seria o caso de vários alunos de uma determinada escola que cometem suicídio dentro de um período de algum as se-
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manas ou meses. Uma forma semelhante à concentração de suicídios é o '‘suicídio por imitação"' em que vários suicídios de natureza parecida ocorrem logo após o suicídio de uma figura pública proeminente. Os suicídios que se seguiram imediatamente após o de Marilyn Monroe são citados como exemplo desse fenômeno. Adolescentes estão par ticularmente vulneráveis tanto à concentração de suicídios quanto ao suicídio por imitação, porque a imitação e a mímica de um modelo são comportamentos que prevalecem nesse grupo. Eles tendem a copiar o jeito de vestir, falar, os maneirismos e até outros comportamentos destrutivos de seus colegas e de personalidades conhecidas, como estrelas do rock.4 Por causa disso, é importante que os pais entendam a dinâmica do suicídio e conversem com seus filhos se um amigo, colega ou pessoa famosa se matar. Suicídios em grupo ocorrem quando duas ou mais pessoas cometem suicídio ao mesmo tempo como parte de um “pacto de amizade”, ato religioso ou por causa de pressões de um gru po. Um exemplo recente de suicídio em grupo é aquele que aconteceu em 1997, com membros da seita H eavens Ga te na Califórnia. Trinta e nove pessoas se mataram, acreditando que uma nave espacial, que supostamente vinha logo atrás do com eta HaleBopp, iria salválas uma vez que aband onassem seus corpos ou “em ba lagen s” . Um outro suicídio em grupo ocorreu em James
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town, na Guiana, em 1978. Foi uma tragédia em que novecentos e doze membros de uma seita religiosa cometeram suicídio em massa.
5.0 que é suicídio assistido, ou suicídio auxiliado por um médico? O suicídio assistido, especialmente aquele auxiliado por um médico, é uma das questões mais sérias de nossa sociedade nos dias de hoje. É um assunto com enormes implicações morais, religiosas, políticas, sociais, médicas e legais para todas os povos e nações. O suicídio assistido é aquele que ocorre quando alguém provê os meios para que outra pessoa tire a própria vida ou torne possível que o suicídio ocorra. O suicídio auxiliado por um médico é aquele em que o médico provê essa assistência. O quão ativo é o papel do médico nesse tipo de morte varia a cada caso. Um médico pode, por exemplo, recomendar ou receitar uma dose letal de medicamento para um paciente, tendo conhecimento de que esse paciente pretende cometer suicídio. Ou, como em alguns dos suicídios auxiliados por Jack Kevorkian, o médico oferece à pessoa um equipamento que permite a ela se matar. Tanto num caso quanto no outro, o médico pode ou não estar presente no momento da morte. E claro que as pessoas que auxiliam num suicídio não precisam ser médicos, ou seja, podese tratar de farmacêuticos, enfermeiras, ou-
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tros profissionais da área da saúde ou membros da família. O fim é sempre o mesmo. Pessoas estão ajudando outras pessoas a se matar. Daqui em diante, no resto do livro, o termo “suicídio auxiliado por um médico” irá se referir a todas as formas de suicídio assistido, tendo em vista que esta é a sua forma mais discutida.
6. Porque as pessoas consideram a possibilidade de suicídio auxiliado por um médico? O suicídio auxiliado por um médico ocorre em circunstâncias diferentes da maioria daquelas citadas anteriormente, com exceção da de pressão, doença terminal e enferm idade. Pode haver várias razões pelas quais um doente term inal venha a con siderar ou escolher o suicídio au xiliado por um médico. A questão de como morremos é tão importante quanto o fato de que morremos. O suicídio auxiliado por um médico é promovido como uma forma através da qual as pessoas podem “morrer com dignidade”. Elas querem evitar estar sujeitas a uma morte lenta e dolorosa, cercadas de tecnologia médica indeseja da no ambiente estéril de um hospital. Muitas pessoas à beira da morte podem estar dispostas a optar pelo suicídio auxiliado por um médico, pois têm medo de perder o controle sobre suas vidas, à medida que a doença progride e a morte se aproxima. Um resultado dos tremendos avanços da me
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ciícina e da tecnologia médica nas duas últimas décadas é que pacientes e seus familiares agora precisam encarar mais decisões no final da vida do que poderia se imaginar no passado. O progresso médico tem nos levado a novos e mais complexos horizontes, tanto pessoais como éticos. O medo da dor descontrolada é uma preocu pação significativa para aqueles que sofrem de doenças terminais. Uma vez que o paciente rece beu e entendeu o diagnóstico de uma doença incurável, surgem outras preocupações críticas. “A consciência da morte que se aproxima os leva a redefinir a vida em termos rígidos e inaceitáveis, e a probabilidade de morrer em meio a dores sem alívio tornase uma preocupação p redom inante” .5 Alguns dos grandes avanços da medicina nos últimos anos têm sido no campo do controle da dor; qualquer mudança no sentido da aceitação do suicídio auxiliado por um médico coloca em risco avanços futuros nessa área. No momento, um nível bastante alto de controle da dor está disponível. O Dr. Matthew Conolly observa acerca do controle da dor em pacientes de câncer: “Nosso objetivo não é oferecer alívio sob a forma de uma inconsciência resultante do uso de morfina, mas sim, de oferecer o máximo de alívio para a dor com o mínimo de efeitos colaterais”.0Assim sendo, o medo da dor sem alívio não deve prevalecer. O controle apropriado da dor é crucial para deter aqueles que estão considerando a possibilidade de suicídio auxiliado por um médico como uma opção
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e pode ser um dos grandes antídotos para a aceitação dessa forma de suicídio. A depressão e o medo do isolamento tam bém podem ser fatores que pesam no pensamento daqueles que desejam o suicídio auxiliado por um médico. O medo do isolamento é uma realidade que pode ser evitada através do cuidado ade quado, da verdadeira compaixão e, se desejado, do internamento em uma instituição para doentes terminais. Esse tratamento permite que o doente termina] morra bem. A preocupação de se tornarem um fardo financeiro ou outro é um fator que leva essas pessoas a procurarem o suicídio auxiliado por um médico. A falta de cobertura do plano de saúde e o custo enorme de tratamento podem ser fatoreschave no processo de decisão dos doentes terminais e suas famílias. Porém, nem mesmo o tratamento de saúde adequado pode resolver todos os problemas do paciente. Mesmo quando os pacientes têm acesso a tratamento adequado, incluindo o controle eficaz da dor, existem outras necessidades sérias que não são preenchidas. Pode haver, por exemplo, grandes sofrimentos que vão além da dor física. Os médicos podem ser eficientes em preencher as necessidades físicas dos pacientes. Entretanto, eles raramente têm tempo de preencher as necessidades da pessoa como um todo incluindo corpo, mente e espírito sem falar nas necessidades da fam ília.7
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As necessidades dos que estão morrendo são muitas e não devem ser menosprezadas, negadas ou ignoradas. Uma combinação de envolvimento ativo, atenção e cuidado por parte dos familiares, amigos e a comunidade médica e religiosa pode muito ajudar a reduzir os medos daqueles que estão morrendo, bem como o desejo de recorrer ao suicídio auxiliado por um médico. Esse cuidado não deve ser visto como algo opcional, e sim como uma obrigação médica e moral.
7. Osuicídio auxiliadopor um médico é uma opção moral? Norm alm ente, quando falamos de suicídio auxiliado por um médico, é em relação a pessoas que sofrem de doenças terminais e buscam ajuda para acabar com sua vida. Uma vez que esse caso passa a ser permitido, a aceitação de se acabar com “qualquer vida que não valha a pena” estendese para outros casos. Existe, aqui, uma encosta escorregadia na qual o respeito pela vida humana está cada vez mais perdendo o equilí brio. Conform e um crítico observou, “a legalização do suicídio assistido, mesmo para os doentes terminais, irá ameaçar diretamente a vida de um número cada vez maior de pessoas vulneráveis: os deficientes físicos e mentais, os idosos, os po bres e até mesmo aqueles cujo sofrim ento pode ser temporário”.8Infelizmente, existem evidências históricas bem docum entadas que justificam
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essa preocupação (ver a discussão sobre a Alemanha Nazista na questão 37 e comparar com a Holanda dos dias de hoje na questão 29).9 Apesar de ainda haver grande oposição ao suicídio auxiliado por um médico, lamentavelmente, o apoio a ele está aumentando, rapidamente minando um consenso histórico de vinte e cinco séculos. Numa pesquisa feita pelo jornal Washington Post, mais da metade dos pesquisados disse que o suicídio auxiliado por um médico deveria ser legalizado para aqueles que sofrem de doenças terminais."1O New Engla nd Journal o f M edicine relatou recentemente que um terço dos médicos pesquisados receitaria doses mortais de medicamentos e um quarto disse que daria injeções letais se o suicídio auxiliado por um médico fosse legalizado.11A medicina profissional começou na Antiguidade com o Juramento de Hipocrates no, qual o médico promete não ministrar qualquer remédio letal a qualquer um que o peça. Desde aquele tempo, a grande maioria dos médicos não tem encontrado ambiguidades a respeito de seu papel de curar; eles trabalham para promover a vida e não para ajudar a morrer. A aceitação do suicídio auxiliado por um médico, em última instância, leva à corrupção do papel do médico como aquele que cura. “O suicídio auxiliado por um médico transform a aqueles que deveriam curar em mercadores da morte, incumbidos do papel de julgar a qualidade e quantidade
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de vida. O único referencial será o julgamento falível deles próprios.” 12 E justa m ente porque nos preocupamos, e não porque não nos importamos ou não temos com paixão por aqueles que sentem dor ou estão em estágios terminais, que não podemos aquiescer ao suicídio auxiliado por um médico. O professor de Harvard, Arthur Dyck, amplia esse ponto ao identificar cinco razões pelas quais não devemos ser coniventes com o suicídio auxiliado por um médico: (1) a defesa da vida é prejudicada ou perdida; (2) perdese a defesa pelo alívio da dor; (3) os limites para o suicídio auxiliado por um médico são inerentemente instáveis; (4) comprometese seriamente a prevenção do suicídio de um modo geral e (5) uma decisão bem informada é um dispositivo de segurança inadequado.12 O suicídio auxiliado por um médico pode parecer um gesto preocupado e compassivo, mas, no final, sua aceitação aca bará erodindo os valores sociais bem como dando um fim a vidas humanas. Suas muitas outras im plicações são apresentadas em mais detalhes nas questões 2 a 5 deste livro.
8. Oque é eutanásia? A palavra eutanásia é originada de duas palavras gregas, eu que significa “bom” e thonus que significa “ morte”, então literalmente falando significa “boa morte”. A palavra referese a um processo em que a morte do indivíduo é intendo
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nalmente trazida por ele ou outros; em geral recomendada para aliviar a dor e o sofrimento. Enquanto alguns usam o termo eutanásia apenas quando um indivíduo é morto por outro (“golpe de misericórdia”), o termo é amplo o suficiente para também incluir suicídio e suicídio assistido por um médico assim como a suspensão do tratamento de sustento à vida. A eutanásia não é um conceito novo na sociedade ocidental e sua moralidade é altamente discutida nos dias de boje. Ela é defendida por organizações como Hemlock Society, EXIT e Choice in Dying. Os slogans, definições e termos que cercam a eutanásia são confusos e enganadores. Algumas das expressões mais comumente usadas na discussão do assunto são eutanásia ativa, eutanásia passiva, eutanásia voluntária, involuntária e não-voluntária. As questões 9 e 10 irão escla-
recer as diferenças entre esses vários termos.
9. Qual é a diferença entre eutanásia ativa e passiva? As discussões sobre eutanásia muitas vezes se tornam improdutivas por causa da confusa definição de termos. Considere, por exemplo, os vários tipos de eutanásia. Os termos eutanásia ativa e eutanásia pa ssiva referemse ao tipo de envolvimento que outros têm no ato de dar término à vida da pessoa. A eutanásia ativa é o ato de uma pessoa causar sua própria morte ou a de
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outro. Nas três formas de eutanásia ativa suicídio, suicídio assistido e golpe de misericórdia a causa médica da morte não é uma doença ou ferimento, mas a ação fatal realizada. Apesar de, às vezes, as pessoas identificarem a eutanásia ativa apenas com uma forma de golpe de misericórdia, é mais acurado distinguirse o golpe de misericórdia das outras duas formas de eutanásia ativa, bem como das formas de eutanásia passiva (ver questão 8 e figura 101 no final da questão 10). A eutanásia passiva tem como objetivo a morte através da privação (incluindo a remoção ou recusa) de tratamento médico disponível ou qualquer cuidado que ciaramente poderia permitir a pessoa viver um período signific ativamente mais longo. A morte é intencional, mas não medicamente causada pela pessoa que está realizando a eutanásia passiva. Outra expressão para esse tipo de prática é a “privação fatal intencional”. O uso desse termo pode ajudar, já que é mais explícito sobre o que se trata, ao invés do termo eutanásia passiva. É importante não confundir a privação fatal intencional que é sempre moralmente problemática com a decisão legítima de privar o paciente de cuidados médicos que serão inúteis, como por exemplo no caso em que a morte é iminente mesmo com o tratamento (veja Decisões do Fim da Vida , desta série).14 No caso do golpe de misericórdia (na eutanásia ativa), o médico normalmente induz a mor
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te através da administração de uma injeção letal no paciente. No caso de privação fatal intencional (na eutanásia passiva), o médico remove um tratamento já iniciado (como um respirador) ou decide não iniciar um tratamento (tal como res suscitação cardiorrespiratória) e permite que uma morte evitável aconteça. Repetindo: a diferença entre eutanásia ativa (golpe de misericórdia) e eutanásia passiva (privação fatal intencional) está no fato de a morte ser causada por uma pessoa ou pela doença/ferimento. Essas categorias podem ajudar a esclarecer o que se passa quando alguém fala sobre aliviar a dor. Se uma overdose de medicamentos é administrada a fim de causar a morte, é eutanásia. Se uma quantidade de remédio apenas suficiente para aliviar a dor é administrada e, ainda assim o paciente morre, não é eutanásia. A eutanásia é sempre a intenção de causar a morte de alguém.
10. Quais são as diferenças entre eutanásia voluntária, involuntária e não-voluntária? Esses três termos não se aplicam ao suicídio ou suicídio assistido, pois todos os atos de suicídio são voluntários; entretanto, eles oferecem uma compreensão mais precisa do golpe de misericórdia (eutanásia ativa) e da privação fatal intencional (eutanásia passiva).
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O golpe de misericórdia voluntário ocorre quando um paciente pede que outra pessoa tire sua vida e seu pedido é atendido. O golpe de misericórdia involuntário acontece quando um paciente se recusa expressamente a ser morto e seu pedido não é atendido. Por fim, o golpe de misericórdia não-voluntário ocorre quando o paciente é morto por alguém que não sabe o que ele desejava, quer porque fosse impossível descobrir seu desejo, quer porque a pessoa resolveu não descobrir qual era o desejo do paciente. Duas perguntas podem ser feitas a fim de determinar qual tipo de golpe de misericórdia (eutanásia ativa) está sendo colocado em prática. Primeiro, pergunte: “Eu sei, através de uma declaração escrita ou oral, se o paciente deseja ser morto?” Se a resposta é não e o paciente é morto, a morte é um golpe de m isericórd ia não voluntário. Se a resposta é sim e o paciente é morto, o golpe de misericórdia pode ser voluntário ou involuntário. Em segundo lugar, para determ inar se o golpe de m isericórdia é voluntário ou involuntário, devese perguntar: “Eu estou agindo de acordo com o desejo do paciente?'". Se a resposta for não e o paciente for morto contra sua vontade, a morte será involuntária. Se a resposta for sim e o paciente for morto de acordo com seu desejo, a morte será um golpe de misericórdia voluntário.
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Voluntária (suspensão intencionaltatai)
Passiva Eutanásia -jA .
jS m Involuntária
Suicídio .
\ Ativa
./
/ ---------------
\N ã o voluntária
. Suicídio assistido \
Golpe de misericórdia
voluntária
■ Involuntária \N ã o voluntária
Essas mesmas duas perguntas podem ser feitas para determ inar qual tipo de privação fatal intencional (eutanásia passiva) está em questão. Apesar de o golpe de misericórdia e a privação fatal intencional serem moralmente inaceitáveis (ver questões 14 a 22), as formas involuntárias e nãovoluntárias são particularmente hediondas. Nessas formas de eutanásia, uma pessoa está assumindo responsabilidade total sobre a existência de outro indivíduo uma responsabilidade que ninguém tem o direito de assumir.
11. Oque está por trás da abertura cada vez maior à eutanásia, especialmente nos casos de suicídio auxiliado por um médico? A tragédia da eutanásia normalmente está nos argumentos bemintencionados que as pessoas usam para justificála. “Eles se resumem a duas idéias: respeito à autonomia (A vida é minha; deixeme decidir como e quando termi
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nála) e compaixão (Eu não gostaria de sofrer dessa forma ou, como alguns dizem. Eu não dei xaria que meu cachorro p assa sse p o r isso nós o levaríam os ao veteriná rio) d''' Enquanto
esses argumentos são profundamente enganosos, eles apelam para valores que consideramos im portantes. Cada um deles será tratado mais tarde, mas é fácil compreender num primeiro momento qual é o seu atrativo. A crescente disposição em se aceitar a eutanásia, especialmente sob a forma de suicídio auxiliado por um médico, também é resultado de uma crescente secularização de nossa sociedade nas últimas décadas. Certamente os atos de Jack Kevorkian que, desde 1990, auxiliou dúzias de suicídios nos Estados Unidos, deram destaque a esse assunto nas notícias diárias e na mente das pessoas. Interessantemente, Derek Humphrey, que há muito tempo é ativista a favor da eutanásia e suicídio auxiliado por um médico, acredita que o movimento próeutanásia ganhou força nos últimos anos por causa da questão do aborto e do caso Roe v í . Wade, na Suprema Corte dos Estados Unidos. A corte legalizou o aborto, e Derek Humphrey identifica isto como o começo da abertura da sociedade para a eutanásia. Quando o “direito de escolha” de se interromper ou não uma gravidez e matar o bebê nãonascido tornouse legal (fundamentado na premissa do “direito à
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privacidade”), o movimento próeutanásia ganhou energia. Uma vez que o princípio de privacidade foi legalmente estabelecido no caso Roe, permitindo tirarse a vida de um inocente, tornouse cada vez mais difícil, senão impossível, impedir a queda. Foi posto em movimento um modo de pensar em que os pressupostos anteriores em favor da vida humana deram lugar a muitas formas de racionalização e desculpas para se tirar a vida hum ana.16 Os defensores da eutanásia fazem uso de todas as oportunidades para identificar a sua causa com aquela do “direito à escolha” no debate sobre o aborto. Eles acreditam que atrelar a eutanásia ao aborto pode beneficiar a causa em favor da eutanásia, fazendoa ganhar para si a mesma aceitação pública que eles vêem crescer nos dias de hoje sobre o direito da mulher de interromper a gestação.17 Numa sociedade moralmente relativista que rejeita a existência de quaisquer absolutos, os sem prem utáveis valores da sociedade e da opinião popular irão determ inar todas as decisões, inclusive aquelas que envolvem vida e morte. Conforme veremos mais adiante, a mensagem cristã de esperança torna a visão de vida e morte totalmente diferente. “Ao deixarmos claro para toda sociedade que aquilo que os ensinamentos cristãos oferecem é uma alternativa viável, é possível que sejamos capazes de desacelerar ou re
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verter a queda da sociedade no redemoinho moral que o papa João Paulo II recentemente chamou de ‘cultura de m orte’.’' 18
12. A eutanásia é uma opção moral? Os defensores da eutanásia afirmam que a morte pode ser “natural” e “boa” se sua maneira e momento puderem ser controlados. Entretanto, o ponto de vista cristão sob re a morte é muito diferente. Tem por princípio o conceito filosófico de que uma “boa” morte é uma contradição de termos. Pode ocorrer de pessoas morrerem com pouca dor ou sofrim ento; podem morrer suavemente e com tranqüilidade. Mas a morte em si nunca é boa. Há nobreza e dignidade em se cuidar dos que estão morrendo, mas não na morte em si. A morte separa entes queridos uns dos outros, separa indivíduos da comunidade como um todo. A idéia de que a dignidade é mantida através de tal separação é uma péssima inter pretação do que é dignidade. A dignidade está enraizada na vida em como vivemos e cuidamos uns dos outros. A morte, sim, é indigna, pois é completamente estranha aos planos e desejos de Deus para a humanidade. E algo imposto so bre a humanidade como conseqüência de nosso pecado e separação de D eus.19 Para os cristãos, a morte é uma aberração do plano original de Deus e é contraditória com o destino eterno em Cristo. Devemos ter compaixão e cuidar dos que estão morrendo, mas não
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devemos apressar ou auxiliar em sua morte. Ed mund Pellegrino resume bem essa perspectiva. Do ponto de vista cristão, uma morte digna é aquela em que a pessoa que está sofrendo faz uso de todas as medidas possíveis para aliviar a dor e melhorar aquilo que traz a perda da dignidade atri buída, mas também reconhece que sua dignidade inerente permanece intocada. Numa morte digna, afirmamonos como pessoas ao nos entregarmos à presença de Deus mesmo nos momentos de maior desespero, como Jesus fez nas horas horríveis no Getsêmani e no Gólgota. Paradoxalmente, a morte por crucificação era, para os romanos que crucificaram Jesus, a forma de morte mais indigna. Entretanto, pela maneira como Jesus confrontou a crucificação, ela tornouse a morte mais digna que o mundo já experimentou.20 Uma visão cristã de vida e morte rejeita a eutanásia, mas promove de maneira enérgica o cuidado e a compaixão para com aqueles que estão morrendo. “Ao nos relacionarmos com os doentes, os que sofrem, os deficientes e os que estão morrendo, devemos aprender de novo a sabedoria que nos ensina a sempre cuidar, nunca matar. Mesmo que algumas vezes pareça ser um ato de compaixão, matar nunca é sinônimo de cuidar.”21 Nós podem os e devemos praticar o cuidado sem coerção e a compaixão sem morte, O controle apropriado da dor, tratamento com passivo e atendim ento em lugares apropriados para doentes terminais, quando necessários, são
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formas de cuidar que, no momento, estão disponíveis para aqueles que se encontram no vale da sombra da morte,
13. Quão comuns são o suicídio, o suicídio auxiliado por um médico e a eutanásia? O suicídio tem aumentado em países do primeiro mundo, onde estatísticas nacionais estão disponíveis.22Em 1995, o suicídio ocupava o nono lugar entre as maiores causas de morte nos Estados Unidos, sendo responsável por 1,3% do total de mortes.22No Reino Unido, os números foram um pouco menores, mas ainda assim, significativos.24 Nos Estados Unidos, aproxim adamente trinta mil suicídios são registrados por ano (alguns pesquisadores estimam que o número real seja, na verdade, mais do que o dobro e talvez até três a cinco vezes maior, pois muitos suicídios não são oficialmente registrad os).25 O que mais sabemos? Segue uma rápida relação: • O suicídio com armas de fogo é o método mais comum, tanto para homens como mulheres, sendo usado em 60% dos casos. • Quase 80% dos suicídios com armas de fogo são cometidos por homens brancos. • Duas vezes mais mulheres do que homens admitem ter tentado suicídio. • Quatro vezes mais homens do que m ulheres morrem por suicídio.
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• 73% de todos os suicídios são cometidos por homens brancos. • Os índices mais aitos de suicídio são para pessoas com mais de sessenta e cinco anos de idade. • Suicídio é a terceira maior causa de morte entre jovens de quinze a vinte e quatro anos de idade (incluindo seis vezes mais homens do que mulheres). • Para cada suicídio levado a cabo, estima se que haja um equivalente de oito a vinte tentativas de suicídio (240 mil a 750 mil anualmente nos Estados Unidos). • Os fatores de risco mais fortes para uma tentativa de suicídio entre jovens são: de pressão, álcool e uso de drogas.26 A partir das informações acima, vemos que mais mulheres tentam o suicídio do que homens, mas que é mais provável para os homens com pletar o ato. Nos Estados Unidos, apesar de ocorrerem números pequenos, proporcionalmente, os índios têm o maior índice de suicídios, seguidos pelos caucasianos (brancos), japoneses, chineses, hispânicos, negros e filipinos.27 Para todos aqueles envolvidos, esses números são perturbadores e sugerem fortemente que nenhum com entário ou tentativa suicida deve ser considerado irrelevante ou pouco sincero. E difícil determinar os números exatos relativos a suicídios auxiliados por um médico e eu
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tanásia, devido às proibições legais para esses casos. Com a exceção da Holanda, onde ambas as práticas são ilegais, porém amplamente toleradas, as estatísticas são praticamente inexistentes. Um estudo patrocinado pelo governo da Holanda descobriu que, em 1990, 1,8% de todas as mortes ou seja, aproximadamente 2.300 foram causadas por médicos obedecendo ao pedido de seus pacientes. Entretanto, descobriuse também que mais 1.040 pessoas foram mortas por seus médicos sem que elas tivessem consentido.28 Esse estudo, conhecido como Relatório Remmelink, também mostrou que 8.100 pacientes morreram de overdose intencional de morfina ou outro medicamento para controle da dor, receitados com a finalidade de dar fim à vida. Se a eutanásia e o suicídio auxiliado por um médico fossem legalizados nos Estados Unidos e apresentassem números equivalentes aos da Holanda, significaria um total de 41.500 mortes por eutanásia, 16.000 mortes involuntárias causadas por médicos e 78.000 overdoses resultando em morte (veja também a questão 2 9 ).29 Na ausência de proteção legal, os números atuais certamente são mais baixos, mas é igualmente baixa sua precisão. Uma pesquisa americana recente sobre suicídio auxiliado por um médico e eutanásia relata que 6% dos médicos, profissionais mais sujeitos a receber solicitações de receitas para remédios letais ou injeções,
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atenderam ao pedido de seus pacientes (114 entre 1.902 que responderam à pesquisa). Esses são os resultados enquanto o suicídio assistido ainda é ilegal. É interessante notar que os médicos foram pesquisados “durante uma época em que as informações médicas sobre cuidados paliativos (remédios para a dor) eram pouco disponíveis e apenas raramente ocorria esse tipo de tratam ento” .30 A medida que o tratamento paliativo tornase mais disponível, es perase que tais pedidos dim inuam.
A s s u n t o s T e o l
ó g ic o s
14. De que maneira minha visão de Deus afeta minha compreensão sobre o tirar uma vida humana? Como você vê Deus? A resposta é muito importante, pois a maneira como uma pessoa vê Deus e a qualidade de seu relacionamento com ele será um fator significativo na forma em que essa pessoa lida com o estresse e as crises. Por todo o livro de Salmos, lemos sobre emoções humanas que acompanham um amplo espectro de circunstâncias na vida do salmista e em nossas próprias vidas. Lá, encontramos alegria, medo e dor, ânimo e depressão, vitória e derrota, espe
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rança e desespero. As emoções expressas pelo salmista são tão diversas quanto os acontecimentos dos quais se originaram. O que sustentou os escritores ao longo desses acontecimentos foram sua fé pessoal e uma visão bíblica do mundo a capacidade de ver a vida através da perspectiva divina (Salmos 102, 116 e 121). Esse mesmo sustento está disponível para nós hoje. Quando os traumas, catástrofes e crises inevitáveis da vida ameaçam lançar sobre nós seus dardos destrutivos, é a nossa fé pessoal e nossa visão de mundo (que inclui nossa visão de Deus) que irá nos guiar para um lugar seguro. Saber que Deus é quem está por trás das circunstâncias nos permite ir além do porquê dessas circ unstâncias. Tal conhecimento não nega as circunstâncias ou a dor e o sofrimento que teremos que suportar; porém, nos ajud a a ter uma perspectiva correta sobre eles. Nossos medos e lágrimas são muito reais, mas o conhecer a Deus e o saber algo sobre sua natureza é o que pode nos conduzir do desespero para a esperança. A Bíblia ensina que Deus é onisciente e oni presente, ou seja, sabe tudo e está em todo lugar. Deus sabe de todas as coisas que podem acontecer. Deus sabe da angústia e da ansiedade em nossas vidas e está consciente de cada aspecto de nossa existência diária. Deus também está presente em meio a nossas provações e tentações, o que significa que nunca estamos sós ou de
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samparados, mesmo quando nossos sentimentos nos fazem crer cre r no co contrário ntrário (ver Saimo S aimo 139 39). ). As Escrituras também ensinam que Deus é onipotente, ou seja, tem todo o poder. Deus é capaz de nos livrar de algumas de nossas no ssas provações provaç ões e tenten tações, inclusive de suicídio. A Bíblia Bíb lia deixa claro o caráter amoroso de Deus. O amor de Deus para pa ra c o n o s c o é tão tã o gra gr a n de q ue Jes Je s u s m orre or reuu po porr nós. Há uma profundidade no amor de Deus que ja j a m a i s s e r e m o s c a p a z e s d e c o m p r e e n d e r p o r completo. De D e u s e stá st á p r o f u n d a m e n t e p r e o c u p a do conosco, importase conosco e nos ama muito mais do que possamos imaginar. O foco
egocêntrico egocê ntrico do indivíduo suicida s uicida e a perspectiva humana limitada daqueles que auxiliam no suicídio, ignoram ou subestimam subestim am o amor am or ativo de Deus e sua preocupação. É possível que as dificuldades com as quais deparamos na vida sejam muito reais, mas o Deus amoroso diante do qual podemos coloca c olocarr essas dificuldades dificulda des também é rea reall. Nu N u n c a estamos sozinhos. 75. De D e q u e f o r m a a d i g n i d a d e h u m a n a está relacionada a se tirar uma vida?
Do ponto de vista cristão, a distinção entre o ser humano e os demais seres está baseada em um inquestionável fato teológico: todo indivíduo é criado à imagem de Deus. Cada ser humano tem significado intrínseco, inato e imensurável justamente porque cada um é um ser
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humano. Portanto, tirar uma vida e as condições sob as quais isso ocorre é um ato a ser considerado com seriedade e escrúpulos. A visão cristã da humanidade reconhece a dignidade fundamental de todas as pessoas. Para os cristãos, a dignidade humana reside no fato de que cada pessoa é uma criatura de Deus e tem valor simplesm ente por ser ser uma pessoa —e não porque outros o utros lhe lhe atribuíram atribuíra m digni dig nida da-de. de. Assim Assim sendo, a dignidad dign idadee hum h umana ana não é algo que possa ser perdido, mesmo quando reduzida aos próprios olhos da pessoa ou aos olhos de outros, mesmo quando alguém é marginalizado por sua aparência, apa rência, incontinênc incon tinência ia ou dor. dor. O ser hum ano é uma criatura pela qual Deus decidiu morrer. De que forma forma tal criatura pode perder perd er a dignid dig nidaade que receb re cebeu eu de D eus?3 eu s?31 A dignidade humana não é diminuída por doen ças ou ou circuns tâncias, tân cias, mesmo m esmo que tal tal idéia seja um erro comum quando as pessoas estão em meio à dor extrema e enfermidade. Precisamos, especialmente, resistir à tentação de enc on trar alívi alívio o de nossas pró prias frustrações prias frustrações e amarguras sobre a morte prolongada de outros, ao fingirmos que podemos matálos para manter su s u a d i g n i d a d e . 32 Reconhecer que a humanidade é criada à imagem de Deus é algo que tem implicações abrangentes abran gentes do ponto de vist vistaa pessoal, teológico e cultural, incluindo a rejeição da eutanásia em todas as suas formas. Ignorar o Deus Criador e
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seu propósito ao criar a humanidade em geral, e a cada indivíduo em particular, é não compreender o fato de que existe um propósito que vai além de nós mesmos e que, portanto, não temos 0 direito de entregar nossas vidas ou as vidas de outros a uma morte prematura.
16. Exist Existee algum caso de sui suicíd cídio na Bíblia? Seis suicídios são relatados na Bíblia, sendo cinco cin co no Antigo Antig o Testam Tes tamen ento to e um no N o v o .53 Em nenhum desses casos caso s há aprovação moral moral do ato. ato. Há, sim, um mero registro desses eventos. A Bí bli b liaa n u n c a nega ne ga e v e n tos to s h istó is tóri ricc o s ou m e n o s p rere za emoções humanas. Ela apresenta fielmente as experiências boas e as ruins da vida. Assassinato, adultério, adu ltério, roubo, mentira, m entira, raiva, raiva, suicídio, todos são relatados em suas páginas. Tais relatos fazem parte da razão pela qual as Escrituras ainda são tão significativas e aplicáveis nos dias de hoje. Seus registros espelham os acontecimentos e emoções em oções do nosso próprio p róprio tem po.3 po .34 O primeiro p rimeiro caso de suicídio na Bíblia é o de Abimeleque, o filho de Gideão. Quando é ferido durante a batalha, Abimeleque ordena que seu escudeiro escud eiro apresse sua morte morte (Juízes 9.5055). Em 1 Samuel Samuel 31.16, 31.16, encontramo enco ntramoss a morte suicida de Saul, rei de Israel. Assim como Abimeleque, Saul também é ferido numa batalha e pede que seu escudeiro o mate. Quando este se recusa.
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Saul desembainha sua própria espada e cai so bre ela. Mas, é possível que Saul não tenha morrido por causa do ferimento que causou a si pró prio. As Escrituras registram que um amalequita declarou ter matado Saul. Ele conta para o rei Davi que encontrou Saul após este ter se ferido com sua própria espada. Em agonia, Saul implorou ao Am alequita que tivesse misericórdia dele e o matasse. Sabendo que a morte de Saul era inevitável, o Amalequita atendeu ao pedido e o matou. A resposta de Davi a esse relato é instrutiva. Ao refletir sob o ponto de vista bíblico de que a vida humana é preciosa, ele conclui que o ato do Amalequita não foi de compaixão, mas sim ofensivo e digno de punição severa (2 Samuel 1.116). Quando o escudeiro de Saul descobre que seu rei está morto, ele se desespera e comete suicídio (1 Samuel 3 1.5). O quarto caso de suicídio é a morte de Aito fel, conselheiro de Davi e Absalão. Sua morte está registrada em 2 Samuel 17.23, onde diz que, quando seu conselho não foi aceito por Absalão, ele “albardou um jumento, dispôsse e foi para casa e para a sua cidade; pôs em ordem os seus negócios e se enforcou”. O estudioso do Velho Testamento, Dr. Eugene Merril, comenta esse suicídio. “O suicídio de Aitofel foi desencadeado por sua humilhação pública e não foi um ato im pensado ele considera suas opções e conclui que a autodestruição é a m elhor dela s.”35
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O último suicídio registrado no Antigo Testamento é o de Zinri, que foi rei de Israel por sete dias e que colocou fogo em seu palácio, queimando a si mesmo (e provavelmente a outros) ao invés de ser capturado por seus inimigos (1 Reis 16.18). Nesses cinco casos, é importante notar que nenhum dos suicídios é visto de forma favorável ou como uma opção legítima, mesmo nas situações mais difíceis.36 Um suicídio é registrado no Novo Testamento o de Judas Escariotes, que se enforcou após trair Jesus (Mateus 27.310; Atos 1.1819). Alguns defensores do suicídio contendem que o desejo intenso de Paulo de estar com o Senhor, conforme registrado em Filipenses 1.2126, era um desejo suicida latente. Tal interpretação não compreende o ponto principal do que Paulo disse. Contemplar a vida eterna com Deus deve nos levar a um desejo maior de servir ao Senhor nesta vida (2 Coríntios 5.9; Romanos 14.78). Em Filipenses 1.1926, Paulo admite que a morte pode parecer muito atraente. Mas os cristãos devem resistir a essa tentação, como ele fez e encontrar maneiras de amar aos outros e glorificar a Deus.37
17. Eu tenho o “direito de morrer”? Muito da retórica contemporânea nos debates sobre suicídio envolve a afirmação ou negação do direito de morrer.38 Quão válido é esse conceito? A idéia central da filosofia do direito
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de morrer vem do conceito de primazia da autonomia e da autodeterminação do indivíduo: “Minha vida me pertence e só eu tenho o direito de decidir como ela é (ou não) vivida”. Durante as três íiltimas décadas, o direito de morrer veio a significar não apenas que se deve permitir que o paciente morra (ao suspen der trata mento), mas que ele tem o direito de ser morto .59 Defensores desses direitos “afirmam não apenas o direito de tentar suicídio, mas também o de se ter sucesso e, isso significa, na prática, o direito à assistência letal de outros. E, portanto, apropriado entender o ‘direito de m orrer’ em sua forma mais radical, ou seja, o direito de tornarse ou ser morto, por quaisquer que se jam os m eios” .40 Entretanto, o próprio conceito do direito de morrer é contrário a toda a história dos direitos nos últimos três séculos. Tanto filosoficamente (especialmente em termos de teoria política) quanto legalmente, o direito de morrer é inexistente. Conforme um estudioso observa, “se começarmos do princípio, com os grandes mestres filosóficos dos direitos naturais, a própria idéia do direito de morrer não faz nenhum sentido” .41 Todos os direitos, ele explica, pressupõem a nossa ligação de interesse próprio à vida. Todos os direitos naturais devem estar enraizados no direito primário à vida, ou, mais especificamente, no direito da autopreservação.
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Três dos maiores perigos de se aceitar a existência do direito de morrer refletem prob lemas mais amplos e uma crescente abertura para a eutanásia: Em primeiro lugar, o direito de morrer, especialmente se ele inclui o direito a “auxílio para morrer”, ou suicídio assistido, ou eutanásia, se traduzirá numa responsabilidade dos outros em matar ou ajudar a matar. Em segundo lugar, não há como restringir a prática àqueles que consciente e livremente solicitam morrer. A vasta maioria das pessoas que são candidatas à morte assistida são e vão ficando cada vez mais incapazes de escolher e efetivamente causar a própria morte. Em terceiro lugar, a profissão médica dedicada à saúde e à recusa de matar a sua essência ética será permanentemente destruída e, com ela, se perderá a confiança do paciente e o autocontrole do médico.42 O slogan “direito de morrer” contém a sutil sugestão de “obrigação de morrer”. Como indivíduos e cultura, devemos coloca r limites e dizer não. Ao invés do direito de morrer, nós temos a obrigação de viver. Se de fato nos preocupamos com nós mesmos e com outros como pessoas e pacientes, devemos rejeitar o eufemismo do direito de m orrer e a falsa prom essa que ele traz de podermos ajudar uma pessoa ao elim inála .43
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18. É errado que eu deseje morrer? Essa é uma pergunta muito séria, que abrange várias questões. As circunstâncias nas quais essa pergunta é feita são diferentes no caso de uma pessoa relativamente saudável que está considerando a possibilidade de suicídio e no caso de uma pessoa com doença terminal ou com uma enfermidade que causa grande dor e debilitação. A resposta não é simplesmente sim ou não. A resposta deve ser dada em longas conversas com o indivíduo que está fazendo a pergunta. O dese jo de morrer pode ser compreensível, mas não deve ditar nossas ações. A morte não encerra nossa existência pessoal. Somos mais do que apenas carne e sangue e a deterioração do corpo não significa que deixamos de ser pessoas. De acordo com a Bíblia, a morte irá acarretar para o descrente uma se paração consciente de Deus muito mais dolorosa do que pode ser qualquer sofrimento no fim da vida (Daniel 12.2; Mateus 25.4146; Lucas 16.1931; Apocalipse 20.1115). O amor pelos descrentes deve nos levar a questionar se eles não estão buscando a morte ingenuamente, sem saber o que ela implica. Ainda mais no caso de um cristão que sabe que a morte física significa estar no céu com Cristo uma existência muito melhor do que qualquer coisa que este mundo tenha para oferecer. É por isso que Paulo pôde dizer que “o morrer é lucro” (FiIipenses 1.21).
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Mas a essa afirmação ele anexa a constatação do “viver em Cristo” viver sob o senhorio de Cristo e a serviço dos outros. Paulo prossegue, de forma bem explícita, concluindo que aquilo que vem após a morte para o crente é algo que deve ser almejado, mas que a decisão de morrer não cabe a nós. Devemos deixar esse tempo nas mãos de Deus. O desejo de morrer pode ser muito forte em algumas pessoas e tal desejo deve ser tra tado. Devemos perguntar àqueles que expressam o desejo de morrer: “Por que você quer morrer?”. Será por causa de humilhação, desânimo, dor intratável, medo ou uma porção de outros catalisadores? Uma vez que compreendemos esse desejo, podemos lidar com ele de forma apropriada. Para o indivíduo com uma doença terminal, existe uma diferença importante entre desejar morrer e conseguir reconhecer e aceitar que a morte é inevitável. As pessoas não têm obrigação de suportar tratamentos que não irão ajudá las. O cuidado com pacientes terminais entra numa linha em que em um dos extremos está a possibilidade de tratamento excessivo e, no outro extremo, a possibilidade de tratamento insuficiente. Nenhum dos dois é desejável e, portanto, decisões devem ser tomadas cautelosamente pelo paciente, pela família e pelos profissionais envolvidos.44 Existe uma diferença crucial entre acei
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tar a morte e ter a intenção de morrer. O primeiro caso é permissível, o segundo não. Não podemos evitar alguns males deste mundo, sendo que a morte é um deles. Devemos aceitar a morte quando não podemos mais postergála, nos alegrando em saber que Deus irá realizar o melhor através dela. Mas, se as circunstâncias nos dão a possibilidade de viver, então não nos cabe decidir (ter a intenção de) morrer, seja provocando a morte através de medicam entos ou suspendendo o tratam ento médico disponível.45 No caso do indivíduo suicida, para o qual a morte não é iminente devido a uma doença, colocar em prática o desejo de morrer é errado por muitas das mesmas razões que se aplicam àqueles que são doentes terminais. A vida é um presente de Deus e nossas vidas não nos pertencem de fato (1 Coríntios 6 .19,20). Mesmo que a morte possa parecer muito atraente, ela não deve ser buscada. A vida nos é cedida para que cuidemos dela e a usemos para servir a outros e não a nós mesmos. O suicídio não torna a vida melhor para os outros. Ele produz um sofrimento durável e outras conseqüências que afetam família e amigos por muitos anos e até gerações. Um desejo suicida é um pedido de socorro. Se você ouvir esse grito, responda; se o grito for seu, procure ajuda.
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19. Osofrimento deve ser eliminado a todo custo? Ao pensarmos sobre o conceito de sofrimento, devemos distinguir entre dor, na qual pensamos normalmente como sendo fisiológica, e sofrimento, que é um conceito mais amplo e englo ba tanto a dor quanto outros fatores médicos, sociais, familiares e teológicos. Apesar de usarmos as duas palavras como se fossem sinônimas, não é prudente fazêlo. O controle da dor e o controle do sofrimento podem ser duas coisas diferentes. Certamente precisamos controlar a dor, e grandes progressos têm sido alcançados nessa área. Na maioria dos casos, a dor pode ser controlada. Aliás, é essencial lutar para m elhorar a qual idade de vida através do alívio da dor. O objetivo não é produzir alívio causado pelas drogas, mas oferecer o máximo de alívio com o mínimo de efeitos colaterais. E preciso que sejam feitos mais estudos e pesquisas. Como anestesiologista, o Dr. Matthew Conolly conclui que “sendo a morte inescapável, a conquista da dor é o último grande serviço que podemos oferecer aos nossos pacientes e é im portante que tenhamos sucesso”46 O sofrimento, entretanto, envolve mais do que dor física. Ele também inclui uma série de sentimentos como medo, abandono, isolamento, desespero e perda. Podese dizer, por exemplo, que alguém que perde um filho está sofrendo,
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mesmo que não apresente dor física. O alívio do sofrimento, portanto, abrange mais do que o tratamento médico. Ele exige uma reação da família, amigos, igreja, profissionais da saúde e comunidade. O sofrimento é, até um certo ponto, uma experiência única para cada indivíduo.47 Para reagir adequadamente ao sofrimento, devemos procurar identificar o maior número possível de questões tanto médicas quanto de quaisquer outros tipos que estão envolvidas. Mesmo que não possamos compreender totalmente as causas e propósitos do sofrimento, existe uma resposta cristã apropriada para isso, e é nessa atitude que podemos crescer. Isso não significa que todo sofrimento é redentor e que os cristãos devem procurar o sofrimento ou prolongálo. Através dos padrões bíblicos, os cristãos são chamados a aliviar a dor e sofrimento quando possível. Entretanto, porque existe um significado no sofrimento, mesmo que seja misterioso, o cristão pode oferecer mais do que a mera extinção para aquele que está sofrendo.48 Ele pode oferecer a esperança de vida eterna, onde não haverá dor ou sofrimento, nem lágrimas ou tragédia (Apocalipse 21.4). O cristão também pode oferecer a certeza de que os clamores do sofredor não passam despercebidos. O sofrimento de Jesus Cristo, Deus encarnado, que sofreu e morreu para nossa redenção, torna essa esperança e certeza disponível para todos aqueles que aceitarem a oferta da salvação (Hebreus 4.15,16; 12.1,2).
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Devemos fazer todo o possível para eliminar tanto a dor quanto o sofrimento. E preciso que haja grande compaixão e cuidado por parte de todos os envolvidos, inclusive da comunidade. Para sermos verdadeiramente compassivos, devemos literalmente estar dispostos a sofrer junto com a outra pessoa. A compaixão é uma emoção que nos encoraja a nos identificarmos com o sofrimento físico, mental ou emocional do outro. E impossível com preender completamente e ajudar o outro quando nos separamos de seu sofrimento seja através do distanciamento físico ou emocional, seja matando essa pessoa. Esses não são atos de compaixão e, sim, de abandono. Da mesma forma que o amor não é genuíno no contexto do adultério, a compaixão também não é genuína no contexto de matar o outro. A compaixão identificase com a fraqueza humana e enxerga além das condições espirituais ou físicas de uma pessoa, a fim de oferecer ajuda. '‘Ele, porém, que é misericordioso,(...) não destrói (...). Lembrase de que eles são carne, vento que passa e já não volta” (Salmo 78.38,39). A compaixão honra a vida de todas as formas; ela jamais apressa a morte (ver Mateus 9.36; 14.14; 15.32; 18.27; 20.34 e Marcos 6.34 sobre a vida de Jesus). Eliminar o sofrimento eliminando o sofredor é uma forma de fugir da responsabilidade de buscar a verdadeira compaixão. E abandonar aqueles que sofrem e o Deus que prometeu
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acompanhálos através de seu momento de maior necessidade.
20. Osuicídio é umpecado imperdoável? Talvez você já tenha ouvido alguém dizer que o suicídio é um pecado que Deus não perdoa. Esta idéia frequentemente baseiase no princípio de que a pessoa que comete suicídio não é capaz de pedir e receber perdão pelo ato cometido e, portanto, recebe o castigo eterno. De fato, você não pode pedir perdão uma vez que está morto. Por ser o assassinato de si mesmo, o suicídio é pecaminoso. O ato de suicidarse, entretanto, não condena ninguém ao castigo eterno e separação de Deus. A salvação e a vida eterna são dádivas que Deus oferece livremente a todos que admitem sua natureza pecaminosa e confiam pessoalmente na morte de Cristo na cruz como forma de pagamento pelos seus pecados (João 3.16; Efésios 2.8,9; Romanos 8.31 33; 2 Coríntios 5.21). A salvação para qualquer pessoa reside no trabalho consumado por Jesus Cristo na cruz, não na abstenção de atos pecaminosos. O cometer suicídio, em si, não nos condena ao castigo eterno mais do que qualquer outro pecado pelo qual não tenhamos pedido perdão até o momento de nossa morte (ver 1Coríntios 3.915; 2 Coríntios 5.10). Para o cristão, não existe um ato ou pecado individual que possa apagar a salvação, mu
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dar o seu destino eterno ou separar o crente de Deus inclusive o suicídio (Romanos 8.1, 37 39). Nós somos pecadores por natureza e qualquer um dos muitos pecados que cometemos ao longo de nossas vidas poderia nos condenar à separação de Deus (Romanos 3.23; 6.23) se não houvesse a cruz sobre a qual os pecados do passado, presente e futuro do crente foram pagos por toda a eternidade. As passagens bíblicas das quais é originada a idéia de pecado imperdoável como Hebreus 6 normalmente não tratam de um pecado individual (uma ação) nem se aplicam a algo que é imperdoável. Essas passagens desafiam àqueles que estão correndo o risco de vacilar em sua caminhada com Deus a terem um relacionamento próximo com Deus, que é sem pre fiel em perdoálos e sustentálos. Uma possível exceção é o caso de Marcos 3.2830. Mas mesmo nessa passagem Jesus enfatiza que todos os pecados, exceto a rejeição do trabalho redentor do Espírito Santo em nossas vidas, podem ser perdoados. Salvação e suicídio são duas questões separadas. Nós todos cometemos muitos pecados ao longo de nossas vidas. Todos nós precisamos de salvação, independente da questão do suicídio. Cada pessoa deve escolher aceitar ou rejeitar a morte de Jesus por sua vida. O destino de qualquer um que você possa ter conhecido e que tenha cometido suicídio não
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foi determinado pelo ato em si; foi determinado pela maneira como essa pessoa se relacionava com Cristo. Esse relacionamento podia ser pú blico ou privado. Talvez até mesmo a própria pessoa, por diferentes razões, podia não estar certa dele. Deus, entretanto, não fica incerto quanto à identidade de seus filhos. Por isso, devemos descansar em sua misericórdia, em seu amor e em suas promessas eternas. O suicídio é, normalmente, um ato muito privado; o que pode ter se passado do ponto de vista espiritual durante aqueles momento finais de desespero, só Deus sabe. Deus ouve as orações e o clamor de todos os que o buscam e é sempre fiel em responder a esses pedidos.
21. Os cristãos sempreforam contra o suicídio? Em toda a história do cristianismo, o suicídio é rejeitado como solução viável para o cristão. Há declarações extensas de teólogos como Agostinho e Tomás de Aquino que declaram explicitamente que o suicídio é imoral. Em todo o amplo espectro dos ensinamentos cristãos, o suicídio tem sido rejeitado. Quer se observe a história e os ensinamentos do catolicismo romano, ortodoxo ou do protestantismo, o repúdio ao suicídio sem pre está presente. O fato de o cristianismo ter historicamente repudiado o suicídio não significa que os cristãos
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estejam, ou tenham estado, imunes a eie. Como filosofia, prática e princípio de vida, entretanto, há pouco apoio para o suicídio na história do cristianismo. A razão para essa oposição tão firme é que o suicídio vai diretamente contra algumas convicções mais básicas da fé cristã. A soberania e a bondade de Deus são tão fundamentais nos escritos dos líderes da igreja primitiva e a ênfase de que o suportar pacientemente as aflições é uma virtude cristã é tão freqiiente, que não nos surpreende saber que esses escritos nem mencionam o suicídio. Como cristãos, devemos reafirmar a vida com todos os seus aspectos com plexos e todos os seus desafios e não buscar a morte. Conforme um escritor observa: A proibição cristã do suicídio baseiase no pressuposto de que nossas vidas não nos pertencem para que possamos dispor delas como bem entendermos. Mas tal proibição é apenas um lembrete do tipo de compromisso que faz com que o suicídio seja errado mesmo quando, em alguns momentos de nossas vidas e de determinados pontos de vista, o suicídio pareça ser uma solução tão racional, tão errado. Essa proibição nos faz lembrar como é importante que sejamos pessoas capazes de cuidar de uma criança doente e, ao mesmo tempo, aprendamos a cuidar de nós mesmos. Esse tipo de lição pode não dar sentido à vida, mas certa mente é suficiente para nos sustentar na im portante tarefa de viver.49
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22. Existe alguma diferença entre suicídio e martírio? Alguns teólogos e historiadores têm debatido nos últimos tempos que o martírio era uma forma de suicídio praticado pelos cristãos da igreja primitiva e aprovado pela tradição cristã. Tal ponto de vista, porém, distorce a história e confunde as motivações daqueles que foram martirizados. Há uma diferença entre buscar a morte e estar disposto a morrer. O suicídio é um ato no qual alguém tem a intenção de morrer; o martírio é um ato no qual alguém está disposto a morrer por suas crenças. No martírio, não existe a intenção de morrer. Enquanto o martírio é o último gesto de sofrimento e sacrifício por suas crenças, o suicídio é, tipicamente, o último gesto de fuga do sofrimento. O suicídio em face de uma doença só pode ser visto como martírio se acreditarmos que Deus não é completamente soberano ou que ele é um tirano opressor.50 Os apóstolos da igreja primitiva sabiam que seu compromisso com Cristo poderia custarlhes a vida. O Senhor os avisou sobre o ódio que o mundo sentiria dele e, portanto, daqueles que o seguissem (João 15.1825). Num mundo caído, alguns virão a pagar o preço mais alto para proclamar a verdade como o próprio Cristo fez. Com parar esse tipo de sacrifício com suicídio é confundir atos de amor desinteressado com um ato de egocentrismo.
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23. Doponto de vista histórico, como a lei tem encarado o suicídio? Nos Estados Unidos, grande parte da leis deriva do código de leis da Inglaterra. Pelo menos desde o século 13 a Inglaterra considerava o suicídio como um crime grave, chamandoo de homicídio. O suicídio era visto como um crime contra a Coroa, pois privava o Estado da vida de seus cidadãos. A punição para o suicídio era severa. Se fosse cometido para evitar a punição de um crime, todas as propriedades imóveis e pessoais do indivíduo eram confiscadas para o rei. No caso de uma pessoa que cometesse suicídio para evitar dor física ou o cansaço da vida, apenas as propriedades pessoais eram tomadas. No caso de pessoas consideradas loucas ou mentalmente retardadas, as propriedades não eram tomadas. As colônias americanas adotaram as mesmas leis, mas sem as punições severas. Tais penalidades castigavam os familiares e não a pessoa que havia cometido suicídio. Depois da Guerra Revolucionária, o suicídio raramente era proi bido e muito menos punido. A única penalidade inglesa imposta nas colônias era o enterro desonroso. A pessoa que cometia suicídio não re-
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cebia um enterro cristão. Não há registro de confisco de propriedades imóveis ou pessoais nas leis coloniais americanas.51
24. Doponto de vista histórico, como a lei tem visto o suicídio assistido e o golpe de misericórdia? O suicídio assistido é ilegal na maioria dos estados norteamericanos desde a metade da década de 80, quando essa prática foi proibida, quer diretamente por um estatuto, quer por uma decisão da corte. Dependendo do grau de assistência, auxiliarem um suicídio é muitas vezes considerado uma forma de homicídio. Quase metade dos estados permitem o uso de força nãoletal para impedir tentativas de suicídio.52 Quando da elaboração deste texto, trinta e quatro estados norteamericanos explicitamente proibiam o suicídio assistido através de estatuto. O Distrito de Columbia e doze estados (Alaba ma, Idaho, Maryland, Massachusetts, Michigan, North Carolina, Ohio, Nebraska, South Carolina, Vermont, Virgínia e West Virginia) consideravam o suicídio assistido um crime através de uma lei comum (lei determinada por um juiz). A situação em quatro outros estados (Hawaii, Nevada, Utah c Wyoming) não era elara, pois suas cortes e legislaturas nunca precisaram lidar com esta questão. Finalmente, apenas um estado —o Oregon perm itia o suicídio auxiliado por um médico em
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circunstâncias limitadas, medida que se tomou efetiva na segunda metade de 1997. A lei sempre considerou o golpe de misericórdia como sendo homicídio. A lei não aceita o consentimento da vítima como defesa para a acusação de assassinato. Motivos benevolentes não são considerados desculpa legal. Quando da ela boração deste texto, quarenta e sete estados re provavam expressam ente o golpe de misericórdia em suas leis sobre causas naturais de morte, testamentos ou procuração para cuidados médicos.
25. Oque a Suprema Corte dos Estados Unidos temdito sobre o suicídio assistido por um médico? Em dois marcos históricos de 1997, a Suprema Corte americana julgou pela primeira vez o suicídio assistido. Por unanimidade, a Corte manteve as leis dos estados de New York e Washington que proíbem os médicos de auxiliarem no suicídio de seus pacientes. No primeiro caso, Wa shington vs. Glücksberg, a Corte determinou que a proibição do estado de Washington para o suicídio assistido não violava a cláusula de processo devido da Constituição.53 Para ser um direito fundamental e uma li berdade protegida pela Constituição, o suicídio assistido teria que estar enraizado na história e tradições do país. A Corte não encontrou tais tra
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dições e afirmou que, através do tempo, esse “d ireito” havia sido sempre rejeitado. Mais recentemente, proibições estaduais têm sido reexaminadas e, geralmente, reafirmadas. Achar um direito constitucional que apoiasse o suicídio assistido seria como “regredir em séculos a doutrina e prática legal e derrubar a política escolhida por quase todos os Estados” . 34 Defensores do suicídio assistido apoiaramse no caso de Nancy Cruzan, uma menina de dez anos que vivia em estado permanente de inconsciência desde que havia sofrido um acidente de automóvel.34 No caso de Cruzun , entretanto, a corte se recusou a aceitar que há um direito constitucional de se morrer. Ao invés disso, o que foi colocado em questão foi o significado da doutrina de consentimento informado, em que um paciente competente se recusa a aceitar medidas de nutrição e hidratação que podem salvar sua vida. A Suprema Corte concluiu no caso Glitcksberg que as leis que proíbem o suicídio assistido estão racionalmente ligadas a interesses legítimos do governo, preenchendo, portanto, os requisitos mínimos para serem consideradas constitucionais. Esses interesses importantes incluem: (1) um “interesse nãoqualificado” na preservação da vida, (2) um interesse em proteger a integridade da profissão médica e (3) um interesse em proteger grupos vulneráveis. Em outras palavras, mais uma vez a Suprema Corte não encon
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trou na Constituição dos Estados U nidos o direito de morrer. No caso Vacco vs.Quill, o caso de New York,56 a Suprem a Corte con cordou por unanimidade que a proibição do suicídio assistido não viola a cláusula de proteção igual da Décima Quarta Emenda. O lado queixoso afirmou que era discriminatório permitirse a suspensão do tratam ento através do uso de equipam entos m édicos e, ao mesmo tempo, proibirse o suicídio auxiliado por um médico. Mas a corte discordou, afirmando que existe uma diferença entre suspensão de tratamento em que o paciente morre devido ao ferimento ou doença causadora de seu estado e matar um paciente através de medicação. Quando o médico suspende ou evita um tratamento, a intenção é de aliviar o peso do processo de morte a intenção não é causar a morte. A corte enfatizou que não existe o direito a suicídio ou a apressar a morte. Tais atos são diferentes do direito de recusar tratamento, baseandose em direitos estabelecidos sobre a integridade física e a liberdade de recusar ser tocado. A corte também examinou a questão extensiva do uso de remédios para dor até o fim da vida. Mais uma vez, a corte fez distinção entre uma intervenção aceitável, quando o intento não é o de provocar a morte e a causa médica do óbito é a doença em si, e a interven
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ção não aceitável quando o intento e a causa médica da morte é a intervenção. De acordo com a corte, “as drogas para dores podem apressar a morte de um paciente, mas o propósito e intenção do médico é, ou pode ser, apenas de aliviar a dor do pacien te” .57
26. De que forma o suicídio auxiliado por um médico torna-se legal? O suicídio auxiliado por um médico pode ser legalizado nos Estados Unidos de três formas: (I) pela decisão de uma corte menor, (2) pela aprovação de uma lei estadual ou (3) por uma decisão da Suprem a Corte que declare que a ação é um direito constitucional. Apesar de algumas cortes menores (de julgamento e de apelação) terem reconhecido algumas formas de suicídio auxiliado por um médico, essas decisões foram rejeitadas por cortes superiores. Numa revisão final, nenhuma corte aceitou o suicídio auxiliado por um médico como um direito constitucional. Se algum dia a Suprem a Corte decidir que existe um direito constitucional de morte, nenhum estado poderá proibir o suicídio assistido ou suicídio auxiliado por um médico. Quando da ela boração deste texto, o estado do Oregon foi o único a tomar a iniciativa de legalizar o suicídio auxiliado por um médico na falta de tal mandato da Suprema Corte.
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27. Como outros países, além dos Estados Unidos, vêem o suicídio auxiliado por um médico? Somente a Colôm bia declarou a legalidade do suicídio auxiliado por um médico. Em 12 de ju nho de 1997, numa decisão de seis a três, a corte Co nstitucional Colom biana declarou que, de acordo com os princípios da Carta Magna, a eutanásia é permitida para pacientes terminais que expressarem seu consentimento. A decisão concluiu que a eutanásia seria permitida para indivíduos que experim entassem muita dor, em decorrência de doenças como AIDS, câncer ou deficiência renal, mas não no caso de doenças degenerativas como os males de Alzheimer ou Parkinson. A corte deixou por conta da legislatura as questões de consentimento e os meios usados para com eter suicídio. Essa corte liberal é considerada uma anomalia em um país fortemente conservador. O efeito positivo da oposição britânica ao suicídio auxiliado por um médico pode ser visto no grande número de centros de tratamento paliativo estabelecidos na GrãBretanha, contrastando com o caso da Holanda, onde o suicídio auxiliado por um médico vem sendo praticado há muitos anos sem qualquer punição. Essa diferença é devidamente observada pelo juiz Breyer na declaração de 8 de janeiro de 1997 nos casos Vacco v.v. Qiiill e Glücksherg vs. Washington.
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Outros exemplos de países em que foi tomada uma decisão significativa incluem o Canadá e a Austrália. O suicídio auxiliado por um médico continua sendo ilegal no Canadá mesmo depois do caso Rodriguez v.v. British Cnlumbia de 1993.58 A corte fez uso de uma lei criminal contra a assistência ou aconselhamento para que alguém cometa suicídio. Na Austrália, o Northern Territory pôs em efeito uma lei que permite o suicídio auxiliado por um médico em circunstâncias determinadas e restritas. Felizmente, poucos médicos estavam dis postos a participar. Ocorreu um número pequeno de casos de suicídio auxiliado por um médico e, em seguida, a lei foi revogada.
28. E a eutanásia na Holanda? A eutanásia (incluindo diversas formas de suicídio assistido) não foi formalmente legalizada na Holanda. Entretanto, ela freqüentemente é desculpada, ou seja, não é punida, de acordo com diretrizes estabelecidas por um procurador e aprovadas pela corte. Os esforços para se mudar a lei e permitir a eutanásia explicitamente falharam. As primeiras diretrizes judiciais exigiam um pedido específico da pessoa que quisesse morrer. Agora, por motivos práticos, os médicos tomam todas as decisões e, de um modo geral, esse procedimento é tolerado.
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Estudos realizados em 1990 e 1995 revelam que 59% dos médicos holandeses não relatam seus casos de suicídio assistido c golpe de misericórdia. Além disso, mais de 50% sentem que têm liberdade de sugerir a eutanásia a seus pacientes e aproxim adam ente 25% admitem ter dado fim à vida de pacientes sem o consentimento dos mesm os.30 Em 1991, o Comitê Holandês de Investigação de Práticas Médicas Referentes à Eutanásia relatou que 10.61 5 pacientes tiveram suas vidas tiradas voluntariamente, ou seja, com o seu consentimento. Esse total é a soma de quatro subcategorias: morte direta de pacientes (2.300 casos), aplicação de morfina em quantidade excessiva com a finalidade de causar a morte (3.159 casos), suicídio auxiliado por um médico (400 casos) e privação fatal intencional de tratamentos que poderiam prolongar a vida dos pacientes (4.576 casos). O comitê também relatou que 14.691 pacientes foram mortos involuntariamente ou nãovoluntariamente, ou seja, sem o seu consentimento. Esse total é a soma de três subcategorias: morte direta de pacientes (1.000 casos), receita de morfina em quantidade excessiva com a finalidade de causar a morte (4.941 casos), e privação fatal intencional de tratamentos que poderiam prolongar a vida dos pacientes (8.750 casos). Nos 1.000 casos de morte direta, 14% dos pacientes estavam totalmente de posse
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das suas faculdades mentais e 11% parcialmente. Dos 4.941 casos em que uma dose excessiva de morfina foi administrada. 27% dos pacientes estavam totalmente em posse de suas faculdades m entais.6(1 O caso da Holanda dem onstra como é fútil deixar essa questão por conta de regulamentações legais que limitem a eutanásia. As diretrizes estabelecidas pelas cortes holandesas não têm sido respeitadas. A prática de eutanásia tem mudado de pacientes com doenças terminais para pacientes com doenças crônicas, daqueles com doenças físicas para aqueles com sofrimento psicológico e de eutanásia voluntária para eutanásia involuntária.61 Parece possível que nossa preocupação sobre o futuro não esteja apenas escorregando pela encosta da eutanásia, mas sim caindo em seu precipício.
29. A legalização do suicídio assistido ojustificaria moralmente? A legalização do suicídio assistido não o ju stifica moralmente. Exemplos das consequências devastadoras da legalização de um ato imoral incluem a decisão da Suprem a Corte no caso Dred Scott de 1857, quando foi declarado que nenhuma pessoa negra, livre ou escrava poderia requerer cidadania americana. Outro exemplo é o caso Roe vs. Wade , que legalizou o aborto durante toda a gravidez. Na decisão desse caso. a corte contrariou anos de objeções legais, religio-
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sas e sociais ao aborto. Muitas mulheres, ao veremse diante da decisão de fazer um aborto que, no fundo, elas não querem, racionalizam que, tendo em vista ser o procedimento legal, então ele também deve ser moral. E papel do governo proibir e punir comportamentos, de preferência baseado em considerações morais, mas as leis não tornam um comportamento moral ou imoral. Amoralidade é medida por um outro padrão mais elevado na verdade, um padrão absoluto. Se o suicídio auxiliado por um médico receber aprovação judicial ou legislativa, mais pessoas vão morrer nas mãos de seus médicos. Eles podem pensar que suas escolhas são morais, pois estão dentro dos limites da lei. Entretanto, nenhum governo (especialmente um que diz ser fiel a Deus) pode delegar um poder que não possui, ou seja, o poder de intencionalmente tirar a vida de um outro ser humano inocente.
Q u est õ es M édicas
30. Como a classe médica vê as diferentesformas de eutanásia? O juramento de Hipocrates e a prática da medicina que nele se baseia têm o compromisso de curar e não matar. No juramento, médicos pro
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metem não matar um paciente e nem sequer prover a pacientes os meios para que eles se matem. Está claramente declarado que, nesses casos, os desejos do paciente são irrelevantes. Os médicos reconhecem, entretanto, que mesmo que fossem levar em conta os desejos dos pacientes, ainda faltaria muito para se ter clareza sobre o que é uma situação típica de suicídio. Com freqiiência, a depressão é um fator que leva a pessoa a desejar a própria morte. Mas, com tratamento, a depressão pode ser diminuída ou até mesmo curada. Diversos membros da classe médica estão envolvidos com pacientes suicidas. Normalmente, são clínicos gerais ou psiquiatras que têm contato com o indivíduo suicida, a menos que haja uma tentativa de suicídio; nesse caso, a equipe do prontosocorro tam bém pode estar envolvida. Em casos de doenças terminais, muitas vezes também há outros especialistas envolvidos. Em 1994, um estudo publicado no New En gla nd Journa l o f M edicine sobre as atitudes dos médicos em relação à eutanásia constatou que hematologistas e oncologistas eram os que tinham mais contato com doentes terminais, e também os que se opunham mais fortemente ao suicídio assistido e à e u ta n á sia .P o ré m , um estudo também publicado no New E ngkm d Journal o f Medicine em 1998 sugere que esta tendência pode estar mudando. De dez especialis
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tas pesquisados, clínicos gerais e aqueles especializados em geriatria ou problemas dos pulmões estavam mais propensos a apressar a morte de um paciente.(l' Na época em que este texto foi escrito, a Americ an M edic al Associa tion ainda era contra o suicídio auxiliado por um médico; entretanto, a tendência atual da medicina que se distancia do juram ento de Hipocrates, juntam ente com uma falta de treinamento entre os médicos sobre o uso de tratamento paliativo, aparentemente tem encorajado uma atitude mais tolerante em relação à eutanásia.
31. Osuicídio é hereditário? As estatísticas mostram que os membros da família que tem que passar pelas conseqüências do suicídio de um de seus membros correm maior risco de com eter suicídio. Não existe uma ex plicação única para isso e nem há certeza de que o suicídio ocorrerá em uma família mais de uma vez. O suicídio é uma escolha feita pelo indivíduo; não é uma doença contagiosa como rubéola ou um mal hereditário como um câncer de base genética. Apesar de haver fatores com influência hereditária que contribuem, para o suicídio, como depressão e esquizofrenia, existem tam bém comportamentos aprendidos e aspectos sociais, bem como características de personalidade e a capacidade de lidar com problemas que
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podem fazer parte da explicação para os suicídios em uma mesma família. Uma vez que um suicídio ocorre em uma família, ele pode ser visto por outros membros da família como uma opção para se lidar com as dificuldades da vida. Por outro lado, é possível que um suicídio possa ajudar a evitar outros por causa do trauma que fica como legado para o resto dos familiares. Nenhum indivíduo ou fam ília está predestinado a cometer suicídio. Se já houve um sui-
cídio em sua família, você não precisa crer que a mesma tragédia vai se repetir. Você deve, entretanto, estar atento para a dinâmica do suicídio. Ao mesmo tempo, se sua família não teve essa experiência, não quer dizer que ela esteja imune a tal ato. No fundo, o suicídio é sempre um ato infeliz e individual que traz tristeza e devastação imensuráveis sobre as famílias.
32. Oque é o triângulo do suicídio? O triângulo é um modelo comportamental usado para discutir a maior parte dos suicídios. Na maioria dos casos, existem três elementos proeminentes: (1) uma experiência extremamente humilhante ou uma perda; (2) acesso a armas de fogo e (3) presença de álcool. Muitas vezes, quando um indivíduo experimenta uma grande hu milhação ou perda (financeira, familiar, relacional ou vocacional), busca no álcool um consolo
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temporário. O álcool, porém, é um depressor e sua presença nunca melhora as circunstâncias. A mistura de álcool e situações trágicas com frequência leva a mais depressão e, se há pronto acesso a armas de fogo, pode resultar em suicídio. Assim como o oxigênio, materiais com bustíveis e uma faísca podem causar fogo, da mesma forma o triângulo de humilhação ou perda, álcool e uma arma de fogo pode resultar em suicídio. Isso não significa, é claro, que todas as vezes que estes elementos estão presentes haverá um suicídio, nem que todos os suicídios têm esses três elementos. Eles são, entretanto, fatores comuns em muitos casos. Assim, devemos estar extremamente atentos para sua presença repetidamente em nossas vidas e na vida daqueles a quem amamos e com quem nos preocupamos. Assim como dizemos que Aião se deve beber e dirigir”, também devemos tentar separar esses três elementos (ou qualquer combinação deles) sempre que possível. E particularmente importante separar a humilhação extrema ou persistente do acesso a meios letais (que podem incluir outros meios além de armas de fogo, como é o caso das drogas). Mesmo sem a presença do álcool, pode haver uma tamanha falta de esperança que parece não haver possibilidade de resolvêla de outra forma a não ser através do suicídio. A verdade é que sempre há uma outra forma de resolver essa falta de esperança, mesmo que
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a solução não seja imediatamente aparente. Procure ajuda. Quando você tem pensamentos suicidas, nunca é prudente isolarse dos outros.
33. Quais são alguns sinais indicativos de que uma pessoa pode estar considerando cometer suicídio? Apesar de não podermos prever o suicídio, existem alguns sinais imediatos de perigo dos quais precisamos ter consciência ao interagirmos com outros. A presença desses sinais de aviso não significa necessariamente que a pessoa que os apresenta irá tentar o suicídio, mas com frequência eles são indicadores de pensamentos suicidas. Existem cinco sinais de perigo de suicídio diferentes64: 1. Depressão mental. 2. Mudanças na personalidade ou comportamento. 3. Fazer preparativos como se estivesse aprontandose para uma saída final. 4. Ameaças de suicídio ou outras declarações que indiquem o desejo ou intenção de morrer. 5. Uma tentativa de suicídio. Esses cinco sinais de perigo são comunicados de diferentes maneiras e variam de um indivíduo para outro. Alguns itens para os quais deve se ficar atento são:
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• Conversas sobre o desejo de morrer ou cometer suicídio. • Um plano de suicídio bem elaborado. • Distanciamento de amigos e família. • Mudanças nos hábitos de sono e/ou apetite. • Uma súbita e extrema negligência com a aparência. • Queda no desempenho profissional, escolar ou outros problemas de natureza semelhante. • Mudanças súbitas na personalidade e/ou comportamento. • Comportamento agressivo e impulsivo, como explosões violentas. • Depressão prolongada decorrente da morte de um amigo ou parente. • Uso de álcool ou drogas. • Falar sobre como se sente sem valor e em circunstâncias sem esperança. • Distribuir bens pessoais de valor. • Repentina preparação de um testamento ou revisão de apólices de seguro ou documentos de imóveis. • Preocupação ou interesse anormal com assuntos relacionados à morte, demonstrada através da comunicação oral e escrita ou obsessão com músicas, livros ou filmes com temas suicidas.
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Nem toda pessoa que está deprimida, com variações de humor ou passando por dificuldades é suicida. Entretanto, muitas vezes, depois de um suicídio, amigos e familiares começam a enxergar a combinação de vários dos fatores mencionados acima. A presença de qualquer um deles é motivo para conversar, preocuparse e agir. mesmo que a pessoa não seja suicida. Se você tem motivos para pensar que alguém é ou pode vir a ser suicida (especialmente se já ocorreram outras tentativas ou ameaças), é essencial intervir. Toda suspeita de pensamento ou comportamento nesse sentido deve ser confrontada imediatamente. O risco de passar vergonha por estar errado não é nada comparado ao perigo de perder um amigo, colega de trabalho ou ente querido por falhar ou hesitar agir. Detectar depressão e conseguir ajuda para alguém que está deprimido é uma forma de salvar vidas. A depressão é a porta aberta psicológica e emocional pela qual muitos suicidas passam. Se pudermos encontrálos nessa porta, é possível evitar muita tristeza e tragédias.
34. Posso continuar confiando em meu médico se ele aceita o suicídio auxiliado por um médico como uma alternativa? O relacionamento entre médico e paciente é muito especial e desenvolvese com o tempo. A cura é o propósito central da medicina e daquilo
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que o médico faz. As energias dos médicos devem estar concentradas no paciente e não na família, hospital ou qualquer outra coisa. E uma premissa aceita e compreendida na medicina que o bemestar do paciente não deve ser sacrificado em função de pressões externas de outros indivíduos, instituições, membros da família ou sociedade. Os doentes recebem cuidados e tratamentos do médico, não porque têm pedidos ou exigências, mas porque estão enfermos. Eles têm necessidades. Assim, a doença torna a humanidade igual e cria uma dependência nas habilidades, conhecimentos e tratamentos dos médicos. Qualquer quebra dessa confiança tornase crítica. Devido à confidencial idade médica, muito raramente um paciente teria como saber que seu médico auxiliou no suicídio de outro paciente. Assim, a pergunta relevante não é “Você já fez isso?”, mas “Você estaria disposto a fazer isso?” Existem, entretanto, questões mais amplas que surgiriam do simples fato de transformar o suicídio auxiliado por um médico em um procedimento legal, quer seus pacientes saibam ou não da sua opinião acerca do suicídio assistido: Será difícil manter a confiança na devoção total do médico em buscar o que é melhor para o paciente se os médicos tiverem permissão para ma tar(...). Não irá importar que o seu médico nunca tenha matado ninguém; mas fará toda a diferença saber que ele tem o direito legal de fazêlo
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mesmo que seja sob circunstâncias regulamen tadas(...). Etambémfará muita diferença psíquica para os médicos conscientes. Como eles poderão fazer o máximo para cuidar de seus pacientes quando sempre existe a possibilidade de matálos como "opção terapêutica”?1’' Será que a confiança das pessoas em seus médicos seria realmente afetada? Uma pesquisa recente realizada entre pacientes com câncer sugere que sim. Quando perguntados sobre a possibilidade de suicídio auxiliado por um médico, a maioria respondeu que perderia a co nfiança em seu médico até mesmo se ele só mencionasse o suicídio assistido como opção. Eles também afirmaram que mudariam de médico se ficassem sabendo que seu médico já havia auxiliado um suicídio.66 Quanto menos podemos confiar nos profissionais médicos, mais devem os nos apoiar na família (incluindo a família da igreja) e nos amigos. Fazer conhecidos os nossos desejos para eles, verbalmente e por escrito é a melhor maneira de estarmos certos de que os nossos últimos dias e morte serão honrados e nossa vida não será interrompida prematuramente (ver a questão so bre diretivas prévias no livro Decisões do Fim da Vida desta série). Esse tipo de comunicação também é importante com relação a nossos médicos, porque eles normalmente irão respeitar os desejos dos pacientes sobre o tratamento nos úl
Suicídio c Eutanásia
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timos dias de vida, mesmo que esses médicos pessoalm ente prefiram outras opções.
35. Osuicídio auxiliado por um médico é a única alternativa para o medo da dor, medo do isolamento, perda de controle e colapso financeiro? O medo de isolamento, juntamente com a indignação e com a crescente dependência de tecnologia médica, freqüentemente leva ao pedido pelo direito de morrer com dignidade. Leo Kass identificou os seguintes fatores que são comuns àqueles que exigem o direito de morrer: 1. Medo do prolongamento do processo de morte através da intervenção médica e, portanto, o desejo de recusar tratamento ou hospitalização, mesmo que a morte ocorra como resultado desse desejo. 2. Medo de viver por tempo demais, sem sofrer de uma doença fatal e, portanto, o desejo de cometer suicídio assistido. 3. Medo da degradação da senilidade e de tornarse dependente e, portanto, o desejo de m orrer com dignidade. 4. Medo de perder o controle e, portanto, o desejo de escolher a hora e a forma como irá morrer. 5. Medo de tornarse um peso para outros financeira, psicológica ou socialmente e, portanto, o desejo de morrer quando achar melhor.67
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Coleção Bioética
Muitos desses medos são tratados em outras partes deste livro (ver especialmente a discussão sobre dignidade humana na questão 15). Independente da situação pessoal e familiar, o tratamento médico e a fé cristã têm muito o que oferecer. Um médico, por exemplo, pode aliviar a dor, oferecer forças, apoio e conforto, evitar tecnologias caras que provavelmente não seriam úteis, comunicarse com o paciente e a família, ajudandoos a compreender o significado do sofrimento. O profissional da área médica nunca foi tão capaz quanto agora de oferecer alívio e conforto. Causar intencionalmente a morte de um paciente é a maneira fácil de alguns médicos abandonarem suas responsabilidades essenciais.68 O cuidado com a saúde, entretanto, vai além do tratamento médico. Uma das mais importantes maneiras através das quais se pode mostrar carinho e compaixão por aqueles que estão morrendo é oferecer a eles os cuidados de um programa de tratamento para pacientes terminais. Esse tipo de atendimento junta equipes de enfermeiras, capelões, assistentes sociais e outros profissionais que aliviam a dor e diminuem o sofrimento, ao invés de continuar com procedimentos invasivos inúteis (ver a questão sobre esse tipo de instituição no livro Decisões do Fim da Vida desta série). Através dos cuidados desses programas, há muito que podemos fazer para dissi par os medos daqueles que estão morrendo e tam bém tornar menos atrativa a opção de suicídio
Suicídio e Eutanásia
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auxiliado por um médico. Esses programas garantem aos pacientes e suas famílias que a morte será com dignidade.
Nos Estados Unidos, existe um programa de apoio bastante desenvolvido para aqueles que têm a vida ameaçada por doenças incuráveis e terminais. Existe uma área de estudo na medicina especializada e concentrada em aliviar os sintomas e manter ao máximo a normalidade da vida dos indivíduos com os dias contados. Existe um programa reconhecido pelo governo e coberto pelos planos de saúde que oferece apoio a pacientes, profissionais da saúde e familiares. Há organizações voltadas para o cuidado da pessoa como um todo, que valorizam a vida mesmo durante o processo de morte, preparando o paciente para trilhar esse caminho com integridade. Para isso servem esses programas especializados.69 Também existe a igreja. Muito do apoio de que as pessoas que estão morrendo precisam não tem nada a ver com o tratamento de saúde. Elas precisam de uma paz que exceda todo entendimento. Essa paz vem do saber que a vontade de Deus irá ao encontro das nossas necessidades mais profundas, não só agora, mas por toda a eternidade. A igreja nos ensina e nos faz lembrar desse magnífico amor, mostrandoo para nós através do compartilhar sem egoísmo. Se você não tem uma igreja assim, encontre uma. Essas comunidades são a forma que Deus usa para pro
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ver os que estão morrendo, bem como todos os outros (Hebreus 10.1925). Assim, muitos recursos estão disponíveis para tratar dos medos resultantes da doença terminal. Não é preciso que ninguém se volte para o suicídio auxiliado por um médico como a única solução.
Q u e st õ es
de
R e l
a c io n a m e n t o
36. Quais são os efeitos do suicídio e do suicídio auxiliado por um médico sobre afamília e amigos do suicida? O suicídio tem um impacto devastador tanto nos indivíduos como nas famílias. Choque, raiva, tristeza, medo, culpa, depressão, vergonha, negação, autorecriminação e confusão são alguns dos muitos sentimentos que se seguem a um suicídio. Eric Marcus, cujo pai se suicidou, relata que ao suicídio de um ente querido deixa para trás um rastro de confusão dolorosa, que é expresso na pergunta Por quê? Dentro dessa pergunta, há outras três: Por que nós não percebemos que isso poderia acontecer? Por que não nos pediu ajuda? Por que fez isso?"71’ A busca por respostas e a vasta gama de emoções pode durar anos, ou até mesmo o resto da vida. Isso faz parte da tragédia que é o suicídio: as pessoas o cometem na esperança de dar um fim à dor e ao sofrimento, mas,
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na verdade, causam naqueles que as amam ainda mais traumas do que esperavam. As emoções muitas vezes são intensificadas pela natureza violenta do suicídio. A perda de um amigo ou ente querido traz tristeza e lágrimas, ainda mais quando a morte é causada pela própria pessoa. Ao ter contato com o suicídio, ninguém nunca mais é o mesmo. O impacto sobre a família também pode ser devastador. Mais uma vez, Eric Marcus lamenta:
Assim como o suicídio devasta indivíduos, seu impacto sobre a família essa teia complexa que inclui irmãs, irmãos, pais, amigos, tios, tias e primos pode ser monumental. Algumas famílias são separadas pela culpa que se segue. Outras se tornam mais unidas, na determinação de ajudar uns aos outros, enquanto cada um luta com a tristeza e confusão individual e coletiva. Ainda outras famílias continuam em silêncio, fazendo de conta da melhor maneira possível que nada aconteceu ou que o suicídio foi uma morte acidental. No caso de minha própria família, o suicídio de meu pai cortou os já frágeis laços que nos mantinham unidos. Minha família nunca se recu perou. Eu penso na morte de meu pai como uma bomba emocional que ele deixou em nossa sala de estar. Nenhum de nós foi morto, mas as pessoas se espalharam para todos os lados e o estrago emocional ficou por toda parte.71
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Pode haver cura e crescimento após um suicídio, mas, como cicatrizes físicas que carregamos conosco resultantes de ferimentos, o suicídio deixa uma cicatriz emocional que jam ais poderá ser completamente apagada. Os efeitos sobre a família e os amigos daquele que morreu através de suicídio auxiliado por um médico podem ser diferentes. Em tais casos, ainda existe a dor da perda, mas a pergunta por quê? pode não estar presente. Por ser um assunto contemporâneo, controverso e não tão predominante quanto outras formas de suicídio, não existem muitas informações disponíveis sobre as conseqüên cias póssuicídio. Apesar de alguns membros de famílias nessa situação terem expressado um sentimento de alívio pelo fim da dor e sofrimento do falecido, ainda assim as emoções envolvidas são complexas. E comum as pessoas ficarem imaginando se havia mais alguma coisa que elas poderiam ter feito ou por que o cuidado e apoio que eles deram não foram suficientes para sustentar o falecido. Quanto mais as pessoas começam a compreender o tratamento por programas especializados em pacientes terminais, bem como a eficiên cia das formas de co ntrole de dor nos dias de hoje, e quanto mais elas aprendem sobre a disponibilidade desses recursos, fica mais difícil lidar com o suicídio assistido de alguém próximo a elas. Mesmo quando, a princípio, todos os amigos e fam iliares concordam com o suicídio assis
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tido, os estragos emocionais em longo prazo podem ser imensuráveis. Se você perdeu alguém amado por causa de um suicídio, é importante saber que há esperança. No Salmo 34.18 lemos que “Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito oprimido.” Em meio às lágrimas, traumas e tragédias, os cristãos têm a certeza de que Deus irá ouvir suas orações e pedidos. Deus conhece todas as nossas emoções, nossos medos e circunstâncias e será fiel para conosco se nos voltarmos para ele. Dê a si mesmo tempo para a cura. Será lenta, mas virá. Não tenha medo de chorar, pois em suas lágrimas está o início da recuperação. Lembrese de que não foi você quem fez a escolha. Você vai sentir a dor, mas não é culpado pelo que aconteceu. Pode acontecer de você nunca mais ser o mesmo, mas é possível sobreviver e seguir em frente. Essa tragédia não precisa ocupar o centro de sua vida. Procure em Deus força e ajuda e saiba que ele vai lhe dar graça suficiente para cada dia em sua jornada por um novo caminho.
37. Oque devofazer se me sentir suicida ou quiser ser auxiliado por um médico para me suicidar? Se você sentirse suicida, fale com alguém sobre seus sentimentos e providencie ajuda médica e pastoral imediatamente. Não se isole, mesmo
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que a tendência para isso seja forte. Encontre um amigo, um familiar, seu pastor, o médico de sua família ou um serviço de assistência por telefone. Sentimentos de solidão, desânimo, depressão e desespero podem ser resolvidos. Eles não são permanentes. Há esperança. Há ajuda. Sua vida é importante demais para Deus, seus familiares e amigos para que você cometa suicídio. Além disso, evite aceitar pensamentos pe jorativos sobre si mesmo que podem vir quando você está deprimido ou em fases de dificuldades. Os pensamentos negativos devem servir apenas como m otivadores para que cresçamos. Jamais devem ser aceitos como definição so bre quem nós vamos ser para sempre. Tais pensamentos são resultado de nossa natureza caída ou vêm de Satanás (I Pedro 5.8). Quando deixamos de dar ouvidos a esses pensamentos e olhamos para Deus quem ele é e o que ele pode fazer as possibilidades para o nosso futuro começam a melhorar consideravelmente.
38. Oque devofazer se encontrar alguém que acredite ser suicida ou que mostre desejo pelo suicídio auxiliado por um médico? Se você acha que alguém está se sentindo suicida, não fique apenas olhando e esperando. Fale com essa pessoa. Ouça o que ela está dizendo. Não julgue. Encoraje a pessoa a buscar
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ajuda e ofereça assistência se você notar que ela está relutante. Não use frases feitas como “Ani mese!” e não condene ou inferiorize o indivíduo com afirmações do tipo “isso é besteira” ou “suicídio é uma tolice”. As pessoas que estão pensando em suicídio já estão se sentindo mal e, de um modo geral, sabem que o suicídio é socialmente inaceitável. Ouça a pessoa e peça que ela lhe prometa que não irá se matar “agora”, “hoje” ou “esta noite”. Se você está com a pessoa, não a deixe sozinha. Não hesite em pedir ajuda ou ligar para um serviço de emergência. Lembrese de que algumas pessoas dão sinais de que estão pensando em se suicidar (ver a questão 34). Esses sinais são pedidos de socorro e devem ser levados em consideração. Diga à pessoa que você se importa e depois mostre isso auxiliandoa para que encontre ajuda. A situação pode muito bem ser um caso de vida ou morte e sua reação é crítica. Além disso, é só tentando auxiliar a pessoa que você pode se consolar sabendo que fez o possível, ainda que a pessoa chegue a se suicidar. Mesmo não sendo responsável pelo suicídio, sua falta de vontade para ajudar poderia criar dentro de você profundos sentimentos de culpa. Se você conhece alguém que está considerando a opção de suicídio auxiliado por um m édico, procure descobrir o que a pessoa sabe sobre seu bemestar físico que a está amedrontando tanto. O medo do desconhecido não produz pensa
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( ’nleçãu Bioélica
mentos racionais. “Ansiedade, depressão e desejo de morrer são as primeiras reações quando as pessoas descobrem que têm uma doença grave ou letal.”72 Esses pacientes não são muito diferentes daquelas pessoas que estão passando por uma situação difícil demais para lidarem com ela. A responsabilidade dos profissionais que se dispõe a ajudar com compaixão é descobrir quais são as necessidades do paciente e oferecer o tratamento que vá ao encontro dessas necessidades. A depressão decorrente de receber notícias terríveis e a frustração que normalmente acom panha doenças sérias são duas coisas que podem ser tratadas de maneira eficiente. Pessoas em crise precisam de segurança e esperança. Elas também precisam ser encorajadas a falar sobre sua situação física, emocional, mental e espiritual com seus entes queridos e amigos. Mesmo sendo muito íntima para o paciente, a tragédia também é uma questão pessoal para os familiares e amigos dele, bem como para outros que venham a se envolver durante o tratamento. A vida é um desafio que coloca muitos obstáculos em nosso caminho, sendo que a morte é um deles. Quando esses obstáculos são encarados ao invés de evitados, resultam em algo de bom, especialm ente para aqueles que amam a Deus (Romanos 8.28). Optar pelo suicídio assistido em qualquer eta pa do processo de morte rouba de todos os envol-
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vidos a oportunidade de lidar com seus medos e consertar ou aprofundar relacionamentos preciosos. Passar pelo processo de morte junto com outros dá aos envolvidos tempo de refletir sobre as questões mais sérias de vida e morte, questões estas que muitas vezes são negligenciadas quando estamos saudáveis. Durante toda a vida, que também inclui a experiência de morrer, mantenha sua fé em Deus, fortaleça suas esperanças nas promessas dele e aprofunde seu amor pelos outros.
39. Como devo agir em relação a pessoas que já tentaram o suicídio? Com a ajuda adequada, a maior parte dos suicidas recuperase das circunstâncias difíceis. O cuidado e o apoio de amigos e familiares é crucial para esta recuperação. Muita coisa de pende do seu relacionamento com a pessoa que tentou suicídio e do estado dela depois da tentativa. Se você é um amigo íntimo ou membro da família, está numa boa posição para apoiar a recuperação da pessoa, tanto em curto quanto em longo prazo. O segredo é evitar julgar e ouvir. Se for apropriado, você deve conversar com profissionais da saúde, pastores e outros que este jam envolvidos no processo de ajudar a pessoa que tentou suicídio e aprender de que form a você pode auxiliar mais efetivamente. Você também pode perguntar diretamente para seu amigo ou familiar “O que eu posso fazer para ajudar?’"
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Outra opção é ligar para um serviço telefônico de atendimento a suicidas, explicar a situação e pedir sugestões sobre o que você pode fazer.73 Reafirme seu amor e preocupação para com as pessoas que tentaram suicídio. Relembreas de seu valor como seres humanos e do amor de Deus por elas. Ore por elas e ore para que você tenha sabedoria para ajudálas em sua hora de necessidade. A maior parte das pessoas que tentam suicídio não devem ser vistas como doentes mentais ou loucas. Algumas vezes, os desafios da vida são muito grandes e o peso de um fardo, que cada vez aumenta mais, faz com que as pessoas busquem soluções. Quando o indivíduo é levado a crer que não existem soluções disponíveis, o suicídio tornase uma possibilidade ou até mesmo a única opção. Nossa aceitação daqueles que lutam na vida irá nos ajudar a ver diversas soluções que o sentimento de desamparo e desespero acabam escondendo. Os fardos de outros podem muitas vezes ser aliviados com uma ajuda am iga a sua!
40. Oque devofazer sobre alguém próximo a mim que perdeu um ente queridopor suicídio ou suicídio auxiliado por um médico? Como em toda morte, há lágrimas e tristeza. No caso do suicídio, a perda é ainda mais concentrada. O que você pode fazer por alguém que
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está sofrendo tal perda? Esteja presente, seja paciente e ore. As pessoas não se recuperam rapidamente da morte de um ente querido. Você precisa dar a elas tempo para estarem tristes. Mais importante ainda, não se afaste delas. Ajudar alguém em luto pode ser difícil. Entretanto, se você hesitar ou se afastar, sua ausência será notada; a pessoa sentirá falta de sua presença. Essa presença, mais do suas palavras, é de que a pessoa precisa nesse momento. Seja um bom ouvinte! Quer você demonstre sua preocupação pessoalmente, por telefone ou por carta, mostre para a família que você se preocupa e quer ajudar. Ofereça assistência e digalhes que, se quiserem, podem falar com você. Não pressuponha, só porque eles não estão falando, que então tudo está bem. Pergunte, “Como vocês estão?” ou “Sobre o que vocês gostariam de falar?” O maior erro que se pode cometer é fingir que a morte não aconteceu. É preciso sabedoria, discernimento e oração para saber quando falar e quando ficarem silêncio(Eclesiastes 3.7b), mas fuga ou negação jamais são reações corretas. É verdade que a vida continua, mas, depois de uma tragédia, as pessoas precisam de tempo para ju n tar os pedaços de suas vidas antes que possam seguir adiante. Se você tem o privilégio de servir àqueles que estão em luto, você foi abençoado com uma grande honra.
Conclusão
m última instância, a questão do suicídio não se refere à morte, mas sim à vida. O clamor que leva uma pessoa ao suicídio e ao suicídio
E
auxiliado por um médico é real e jam ais deve ser diminuído ou menosprezado. Mas as soluções médicas, espirituais e emocionais tam bém são verdadeiras. Como cristãos, há coisas que podemos fazer em relação a um indivíduo suicida e em relação à nossa cultura de morte, que está lutando com a questão do suicídio auxiliado por um médico. Precisamos estudar as Escrituras e pensar cuidadosamente sobre a natureza da vida humana e o significado da morte. Precisamos pensar sobre a bondade e soberania de Deus e o que significa ser criado por ele. Nossas vidas não nos pertencem, são um empréstimo de Deus para que as administremos sabiamente. Precisamos com preender o sofrimento humano e as maneiras como Deus o usa em nossas vidas. Precisamos apoiar os que estão morrendo e precisamos fazê lo de maneiras melhores do que vínham os fazendo no passado; temos que encorajar a com unidade médica a continuar trabalhando no campo do controle da dor.
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Também precisamos encorajar nossos legisladores para que aprovem leis que proíbam o suicídio auxiliado por um m édico e precisamos en corajar a comunidade médica a resistir à prática desse tipo de suicídio. Precisamos orar por aqueles que estão morrendo, os desanimados e os que estão passando por grandes dificuldades, para que Deus os conforte e guie. Precisamos orar para que aqueles que praticam a medicina o façam com sabedoria, competência e comprometimento, mantendo o juramento de curar ao invés de matar. Ao mesmo tempo em que devemos nos opor às formas mais hediondas de eutanásia, como o golpe de misericórdia, precisamos reconhecer que limites devem ser colocados, e logo (antes de começarmos a trilhar o caminho do suicídio assistido) se queremos evitar que pessoas sejam mortas sem seu consentimento. Lembrese de que o suicídio assistido não é um ato de compaixão. Vai fundamental mente contra o cristianismo bíblico e é uma tentativa distorcida de uma cultura desesperada para fugir da falta de esperança que muitos sentem ao estar diante da morte. Os cristãos têm uma mensagem de importância crucial para esta geração. Há esperança! Esperança em Cristo por uma vida que vai além desta existência tem poral.74 Nas páginas da Bíblia a dignidade e valor do ser humano são repetidamente enfatizados. Tam bém o são a natureza caída do mundo e a reaii
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dade do sofrimento. Ao suportarmos o sofrimento sem negarmos a natureza caída, podemos dar glórias a Deus. Assim, também somos encorajados a responder de forma apropriada aos desafios daqueles que estão morrendo. As questões que enfrentamos como indivíduos e sociedade são críticas e nossa resposta deve ter não apenas implicações temporais, mas também eternas. Em todas as nossas ações, devemos escolher a vida, pois, independente das circunstâncias nas quais nos encontramos, temos a certeza da presença e do amor de Deus. Para os cristãos, há a promessa e a certeza de que um dia Deus “enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto nem pranto, nem dor” (Apocal ipse 21.4). Com a graça e a força de Deus. que possamos optar pela vida em todas as circunstâncias até esse dia chegar. “... te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe , pois, a vida, para que vivas, tu e tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, dando ouvidos à sua voz e apegandote a ele; pois disto depende a tua vida e a tua longevidade...” (Deuteronômio 30.19,20, ênfase acrescentada).
Notas 1
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4. ibid. 5.
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