Denunciar a filosofia existente e fornece r à ciência a filosofia filosofia
merece: eis um dos objectivos de Bachelard que, no seu projecto epistemológico, tende para um p uralismo filosófico assinala filosofia o lugar entre a ciência e a poesia, como linha de demarcação que permite liberdade e a eficácia. presente compilação reúne algumas das ideias centrais da sua reflexão. qu
A epistemologia
1111111111111
00000209100
ISBN 972-44-1268-7
III I 789724
412689
S A B E R DA F I L O S O F I A
Nesta colecção publicam-se textos considerados representativos dos nomes importantes da Filosofia, assim como de investigadore de reconhecido mérito nos mais diversos campos
I-AEPISTEMOLOGIA Gastoo Bache1ard 2 - IDEOLOGIA E RACIONALIDADE RACIONALIDADE NAS CIÊNCIASDA VIDA George C a n ~ l h e m 3 - A FILOSOFIA FILOSOFIA CRITICA CRITICA KANT Guilles Deleuze
7 - PROLEGÓMENOS A TODA A METAFÍSICA METAFÍSICA FUTURA Immanuel Kant 8 ROUSSEAU E MARX Galvano DeI1a Volpe ATEÍSMO James Thrower
10 FILOSOFIA DA FÍSICA Mario Bunge 1i - A TRADIÇÃO TRADIÇÃO INTELECTUAL INTELECTUALDO OCIDENTE J.
Bronowski
Bruce Mazlish
LÓGIC COMO CIÊNCIA CIÊNCIA mSTÓ RICA 12 A LÓGIC Galvano Della Volpe 13 mSTÓRIA DA LOGICA Rohert Blanché e Jacques Dubucs 14-ARAZAO
Gilles-Gatton Granger HERMENÊUTIC 15 HERMENÊUTIC Richard E. Paboer FILOSOFIAANTJGA JGA 16 A FILOSOFIAANT Emanuele Severino
FILOSOFIA MODERN 17 A FILOSOFIA Emanuele Severino
18 - A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA Emanuele Severino
INTERPRETAÇÃO DA FILOSOFIA TEÓRICADE KANT 19 EXPOSIÇÃO E INTERPRETAÇÃO Felix Grsyeff 20 - TEORIAS DA LINGUAGEM. TEORIAS DAAPRENDIZAGEM Massimo (org.) 21 A REVOLUÇÃO REVOLUÇÃO DA CIÊNCI 1500 1700 1700 A. Rupert Hall 22 -INTRODUÇÃO FILOSOFIA DA mSTÓRIA DE HEGEL Jean Hyppolite 23 AS FILOSOFIAS DA CIÊNCIA RomHorré 24 EINSTE EINSTEIN: IN: UMA LEITURA DE GALILEU E NEWTON Françoise Balibar 25 AS RAZÕES DA CIÊNCIA Ludovico Ceymonat e Giulio Giorello 26 A FILOSOFI FILOSOFI DE DESCARTES Jobo Cottingham 27 -INTRODUÇÃ O A HEIDEGGE Gianni Vattimo 28 - HERMENÊUTICA E SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO Susan J. Hekman 29 EPISTEMOLOGI EPISTEMOLOGIA A CONTEMPORÂNE CONTEMPORÂNE Jonathan Dancy 30-HERMENÊUTICACONTEMPORÂNEA JosefBleicber CRÍTIC DA RAZÃO CIENTÍFICA 31 CRÍTIC KurtHubner 32 AS POLÍTICAS DA RAZÃO Isabelle Stengers NASCIMENTO DA FILOSOFIA FILOSOFIA 33 O NASCIMENTO
Epistemologia
Título original: L 'épistemologie
PressesUniversitaires de France, 197 Tradução: Fátima Lourenço Godinho e Mário Carmino Oliveira Capa: F.B.A. Depósito Legal n° 246396/06 ISBN (10): 972-44-1268-7 ISBN (13): 978-972-44-1368-9 ISBN da la edição: edição: 972-44-0232-0 Impressão, paginação e acabamento: acabamento: PAPELMUNDE
para EDIÇÕES 70, LDA. Setembro de 2006 Direitos reservados reservados para língua portuguesa por Edições 70 EDIÇÕES 70, Lda. Rua Luciano Cordeiro, 123 - 10 Esqo 1069-157 Lisboa Lisboa / Portugal Portugal Telefs.: Telefs.: 213190240 - Fax: 213190249 e-mail:
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Epistemologia Gaston Gaston Bachelar Bach elar
ADVERTENCIA Uma palavra sobre princípio que guiou a escolha destes textos. Ela tenta responder a uma exigência dupla e contraditória: dar aceso fácil a uma epistemologia que fez precisamente da dificuldade a marca distintiva do trabalho produtivo científico e filosófico. Assim, por preocupação de ordem pedagógica, reproduzimos in extenso os exemplos que não requerem uma informação científica demasiado especializada, correndo risco de trazer até ao leitor textos de uma extensão não habitual nesta colecção,· po outro lado, evitámos-Ihe a aridez das páginas onde a transcrição do pormenor dos cálculos poderia desagradar. Mas não quisemos com isso alimentar certa imagem demasiado espalhada de um bachelar dismo indulgente, que, baseando-se somente numa leitura acrítica da obra ambígua que é A formação do espírito científico, se reduziria à justaposição inorgânica de alguns princípios metodológicos gerais, de certos conselhos pedagógicos judiciosos e de várias notações de fina psico logia mais ou menos unificadas sob amável estandarte de uma psicanálise adocicada. A realidade da epistemo logia bachelardiana é bem outra: é oonstituída por um atenção aplicada, durante perto de um quarto de século, aos progressos contemporâneos das ciências física e quí mica, por uma vigilância polémica sem desfalecimentos relativamente às teorias filosóficas do conhecimento e fruto destes interesses combinados, por uma rectificação prias categorias. A ordem aqui adoptada pretenderia dar conta deste triplo carácter. leitor terá já compreendido
que, por princípio, esta recolha não pretende dar um quadro sistemá tico da epistemologia de Bachelard: é que, no seu «recomeçar «recomeçar» » perpétuo , ela exclui a forma do sis tema para fazer do seu inacabamento essencial índice da sua progressividade. Que não se tome, portanto, a vizinhança de textos aparentemente semelhantes por simples repetições: cada um marca uma etapa do trabalho bachelardiano' não nos admiremos também por ver estes textos acaba/em numa série de questões teóricas conduzindo História das Ciências: é que esta «epistemologia histórica» abria campo a uma nova disciplina, disciplina, onde outras depois se introduziram, «a história epistemológica dds ciências». Não reside aí seu menor interesse.
LISTA DAS OBRAS EPISTEMOLóGICAS DE BACHELARD
(Abreviatu'l"8S empregadas)
Livros Essai sur la connaissance approchée, Ed. Vrin, 1928 (Essai). Etude sur l'évolution d'un probleme de physique, Ed. Vrin, 1928 (Etude). La valeur inductive de la relativité, Ed Vrin, 1929 (Valeur inductive) Le pluralisme cohérent de la chimie maderne. Ed. Vrin. 1932 (Pluralisme). Les {ntuitions atomistiques, Ed. Boivin, 1933 (Intuitions). Le nouvel" esprit scientifiqu e, Presses Universitaires de France, 1934 (Nouvel Esprit). La dialectique de la durée, Presses Universitaires de France, 1936. L'expérience de l'espace dans la physique contemporaine, Presses Universitaires de France, 1937 (Expérience). La formation de l'esprit scientilique, Ed. Vrin, 1938 (Formation). La philosophie du Non, ,Presses Universitaires de France, 1940 (Philosophie). Le rationalisme appliqué, Presses Universitaires de France, 1949 (Rationalisme). L'activité rationaliste de la physique contemporaine, contemporaine, Presses Universitaires de France, 1951 (Activité). Le matérialisme rationnel, Presses Universitaires de France, 1953 (Ma térialisme). La psychanalyse du leu, GaIlimard, coIlection ddées. (psychanalyse). Artigos principais
La richesse d'inférence de la physique mathématique, Scientia, 1928. et microphysique, Recherches philosophiques, I, 1931 (reproduzido in Etudes. Vrin. 1970). Le Monde comme caprice et miniature, Recherches philosophiques, lII, 1933 (reproduztdo in Etudes, Vrin, 1970).
N o u m ~ n e
Idéalisme discursif, Recherches philosophiques, IV, 1934 (reproduzido in Etudes, Vrin, 1970). Le surrationalisme, Inquisitions, n.O 1, 1936 (reproduzido in L'engagement rationaliste, P.U.F., 1972). Lumiere et substance, Revue de Métaphysique et de Morale, 1938 (reproduzido in Etudes, Vrin, 1970). Univers et realité, Travaux du 11' Congres des sociétés de philosophie à Lyon, 1939 (reproduzido in L'engagement rationaliste, P.U.F., 1972). \ Discours du Congres international de Philosophie des Sciences, Ed. Hermann, 1949 (reproduzido in L'engagement rationaliste, P.U.F., 1972). L'idonéismeet l'exactitude discursive, ex. Etudes de philosophie des sciences, Neuchâtel, Ed. du Griffon, 1950 (reproduzido in L'enga gement rationaliste, P.U.F., 1972). L'actualité de l'histoire des sciences, Ed. du Palais de la Découverte, Outubro, 1951 (reproduzido in L'engagement rationaliste, P.U.F., 1972).
PONTOS DE PARTIDA
A «NOVIDADE»
A.
DAS
~ e n s a g e D S de
CIgNCIAS CONTEMPORANEAS
um
mundo
desconhecido...
No fim do século passad o acreditava-se acreditava-se ainda no 1. carácter empiricamente unificado do nosso conhecimento do real. Er mesmo um conclusão na qual as filosofias mais hostis se reoonciliavam. Com efeito, a unidade da experiência aparece sob um duplo ponto de vista: para os empiristas, a experiência é uniforme na sua essência por qu tudo vem da sensação; para os idealistas, a expe riência é uniforme porque é impermeável à razão. Tanto
na adopção como na recusa, o se empírico forma um bloco absoluto. De qualquer maneira, julgando afastar qualquer preocupação filosófica, a ciência do século pas sado oferecia-se como um conhecimento homogéneo, como a ciência do nosso próprio mundo, no contacto da experiência quotidiana, organizada po um razão uni versal e estável, co a sanção final do nosso interesse comum. O sábio era, segundo Conrad, «um de nós». Ele vivia na nossa realidade, manejava os nossos objectos, educava-se co o nosso fenómeno, encontrava a evidên cia na clareza da nossas intuições. Desenvolvia as suas
demonstrações seguindo a nossa geometria e a nossa mecânica. Não discutia os princípios da medida, deixava o matemático no jogo dos axiomas. Contava coisas sepa radas, nã postulava números que já não são os nossos números. Dele a nós, existia muito naturalmente a mes ma aritmética. A ciência e a filosofia falavam a mesma linguagem.
ainda esta clencia para filósofos qu ensinamos nossos filhos. a ciência experimental das instru ções ministeriais: pesem; meçam, contem; desconfiem do abstracto, da regra; liguem os espíritos jovens ao con creto, ao facto. Ver para compreender, tal é o ideal desta estranha pedagogia. Pouco importa se o pensamento for, or consequência, do fenómeno ma visto para a expe riência ma feita. Pouco importa se a ligação epistemo lógica assim estabelecida fo do pré-Iógico da observação su verificação sempre infalível pela ex imediata para periência comum, em vez de ir do programa racional de pesquisas para o isolaruento e a definição experi mental do facto científico sempre artificial, delicado e escondido. Mas eis que a física ocmtemporânea nos tTaZ men sagens de um mundo desconhecido. Estas mensagens sã redigidas em «hieróglifos», seguindo a expressão de Wal te Ritz. Na tentativa de as decifrar, apercebemo-nos de qu os sinais desconhecidos 'São ma interpretados no psicológicos. Eles parecem par plano dos nossos hábitos psicológicos. análise usual que separa um ticularmente refractários coisa da sua acção. No mundo desconhecido que é átomo, haveria assim um espécie de fusão entre acto e o ser, entre onda e o corpúsculo? Deveremos falar de aspectos complementares ou de realidades complemen tares? Não se tratará de uma cooperação mais profunda entre objecto e o movimento, de um energia complexa em qu converge aquilo qu é aquilo que está sujeito ao devir? Finalmente, como estes fenómenos nunca desig na um problema de um grande al as 11()ssas avisas, filosófico o interrogar-nos se eles designam ooisas. cance filosófico Da um alteração total do pr.i!ncípios realistas da sin taxe do iIlIfinitamen1le pequeno. Nesta sintaxe, o swbs t:alntivo está doravante demasiado ma definido para remar na f.rase. Não é, portant'O, a ooisa que nos po ,cLerá dnsúruir di,rectamente como o proclamava a fé empírica. Nã aumentaremos o conhecimento de um objecto microscópico iJSolando-o. Isolado, um corpúsculo torna-se um centro de irradiação para um fenómeno mais um meio de maior. Tomado no se papel físico, análise do qu um objecto para o conhecimento empí rico. E um pretexto de pensamento, nã um mundo explorar. inútil levar a análise at isolar sob todos os pontos de vista um objecto único, porque, segundo pa rece, no mundo da microfísica, o único perde as suas propriedades substanciais. Só há, portanto, propriedades ao
substanciais acima nã abaixo - do objectos micros micros cópicos. A substância do infinitamente pequeno é contem porânea da relação. Se real se desinvidualiza fisicamente indo em di r,ecção às regiões profundas da física infinitesimal, o sábio vai da mais importância à organização racional das suas experiências à medida que fizer a u m e n t ~ r su precisão. precisão. Uma med ida precisa ~ A s e z ; n p r e u m ~ medIda.com iportam.t1O, um expenencla organ lzada raCIon plexa· raCIonal al Daí segundo epistemologia contem um abalo na m e n t ~ . porânea. Temos de sublinhar su impo!tância f i 1 o ~ ó fica. Parece-nos, co efeito, efeito, que a constru çao matemátlca das hipóteses atómicas ve contradizer a t e o r i ~ , q ~ e atribuía estas hipóteses um papel apagado e provlsono. No século XI t o m a v a m ~ s e a , s hipótese Científicas como organizações eS'quemáticas ou mesmo pedagógicas. Gos tava-se de repetir que elas eram simples meios de ex pressão. A ciência, acreditava-se, er real pelos seus objectos, hipotética pelas ligações estabelecidas entre os mínima contradição, .à ,mínima ~ i f i c ~ l d a d e objectos. experimental abandonavam-se abandonavam-se as hipoteses de hgaçao que se rotulavam de convencionais, como se um convenção científica tivesse 'Outro meio de se objeotiva qu nã tosse o carácter racional! novo físico inverteu, por tanto, a perspectiva da hipótese pacientemente desenhada po Vaihinger. Agora, são os objectos qu são represen tados po metáforas, su organização qu passa po Po
outras
que
é nosso fenómeno; porque nossa captação imediata do real não actua senão como um dado confuso, provi sório, OOIIlve.nclonal esta captação fenJOlllenológica e x i ~ e inventário e dassificação. Po outro lado, é a reflexao qu dará um sentido ao fenómeno inicial sugerindo um orgânica de pesquisas, um perspectiva racio s e ~ ' uência na de experiências. Não podemos te a priori nenhuma co fiança na informação que o dado imediato pretende for ecer-nos. Não é um juiz ne sequer um testemu nha; um réu um ré qu acabamos po convencer do engano. conhecimento cientÍlfico é sempre reforma de ve na des um ilusão. Não podemos, pois, continuar mundo imediato, mais crição, mesmo minuciosa, de do que uma fenomenologia de trabalho exactamente no mesmo sentido em que se falava outrora de hipótese de trabalho. (<
B.
Ruptura
com o conhecimento comum
2. As ciências físicas e químicas, no seu desenvolvi mento contemporâneo, podem ser caracterizadas episte mologicamente como domínios de pensamento que rom o conhecimento vulgar. O qu se p e ~ J?itidamente _co opoe a constataçao desta profunda descontinuidade epis t e ~ o ~ ó g i c a t e ~ qu o ~ ó g i «a c a educação científica», que julgamos sufICIente para cultura geral, nã visa senão a física e a química mortas, no sentido em que dizemos qu lati.m é um língua «.morta». Não há nisso nada de pejo ratIvo, se apenas qUIsermos fazer notar qu existe um c ~ ê ~ c i a v ~ v a : v ~ v a : própri? ~ m i l e Borel mostrou que a me camca classIca, a mecamca morta, continuava a se um cultura indispensável para estudo das mecânicas con temporâneas (reltativista, quântica, ondulattória). Mas os rudimentos já nã são suficientes para determinar as características filosóficas fundamentais da ciência. O fi lósofo deve tomar consciência das novas características da ciência nova. O simples facto do carácter indirecto da determina ções do real científico já nos coloca nu reino epistemo l"gico n?,:"o: Po exemplo, :nquanto se tratava, nu espí n.to pOSItIVIsta, de determInar os pesos atómicos, a téc nIca - se dúvida, muito precisa - da halança bastava. Mas, quando no seculo XX se separam pesam os isó top<;>s, é necessár!a '!lma técnica indirecta. espectrosCOpto de massa, IndIspensável para esta técnica, funda menta na acção dos campos eléctricos e magnéticos. um Instrumento qu podemos perfeitamente qualificar de ifl:dfrecto se compararmos balança. A ciência de I . : a v o ~ s I e r , q ~ e funda o positivismo da balança, está em os aspectos imediatos da expe h . ~ a ç ~ o contInua co nenCIa usual. Já nã acontece o mesmo quando acres c e ~ t a I ? 0 s um e!ectrismo ao materialismo. Os fenÓIDenos electncos do átomos estão esoondidos. preciso ins que não tem aparelhagem significa t ~ u m e ~ t á - I o s n u ~ a çao dlrecta na VIda c?mum. Na química lavoisiana, pe sa-se o clo!eto de SÓdIO ~ 0 ! l l 0 na vida .comum se pesa sal da COZInha. As condIçoes de precIsão científica na q ~ m k : a p o s ~ t i v i s t a , nã fazem senão acentuatr as c ~ n d i ç,:?es de pr:c!são comercial. De um precisão outra, na se modIfIca o pensamento da medida. Mesmo se ler mos a posição da agulha fixada ao braço da balança com um ~ i c ~ o s c ó p i o , nã a h ~ n d o n a m o s o pensamento de um equlltbrlO, de um identidade de massa, aplicação muito ..
simples do princípio de identidade, tão tranquilamente fundamental para o conhecimento comum. No qu diz respeito ao espectroscópio de massa, encontramo-nos em plena epistemologia discursiva. discursiva. Um longo percurso atra vés da ciência teórica é necessário para compreender os seus dados. Na realidade, os dados são aqui resultados. Objectar-nos-ão qu propomos um distinção muito delicada para separar o conhecimento comum e o conhe cimento científico. Ma é neceslSário compreender qu os cambiantes são aqui filosoficamente decisivos. Tra ta-se nada mais nada menos qu da primazia da reflexão preparação numenal dos fenóme sobre a percepção, nos tecnicamente constituídos. As trajectórias qu per mitem separar. os isótopos no espectroscópio de massa nã existem na natureza; é preciso produzi-las tecnica mente. São teoremos reificados. Teremos de demonstrar homem faz numa técnica científica que aquilo qu [ ... ] não existe na natureza e não é sequer um conti nuação natural dos fenómenos naturais. (RationoJisme, caip. VI pp. 101-102.)
A «PREGUIÇA»
A.
DA
FILOSOFIA
Negligência
3. Se traçássemos um quadro geral da filosofia con temporânea, não deixaríamos de ficar impressionados com o pequeno lugar qu nela ocupa a filosofia das ciências. De um maneira mais ,geral ainda, as filosofias do conhecimento parecem actualmente desfavorecidas. O es forço do saber parece maculado pelo utilitarismo; os conceitos científicos, todavia tão be harmonizados, são considerados apenas co o valor de utensílios. O homem de ciências, de pensamento tão obstinado e tã ardente, de pensamento tão vivo, apresentado como um homem abstracto. Cada vrez mais, todos OIS valores do homem estudioso, do homem engenhoso, são desacrecli.'tarlos. A ciência está reduzida a um pequena aventura, um aventura nos países quiméricos da teoria, nos labirintos tenebrosos de experiências factícias. Po um paradoxo inacreditável, inacreditável, a darmo s ouvidos aos críticos da actividade científica, o estudo da natureza desviaria os sábios dos valores naturais, a organização racional das ideias pre judicaria a aquisição de novas ideias. Se um filósofo fala do conhecimento, pretende que ele seja directo, imediato, intuitivo. Acaba-se po fazer da ingenuidade um virtude, um método. Damos forma ao jogo de palavras de um grande poeta que tira a letra palavra 'connaissance' para sugerir qu o verdadeiro conhecimento um co-nascimento. E professamos que o primeiro acordar já plena luz, que o espírito possui um lucidez nata.
Se
filósofo fala da experiência, coisas. ~ a ~ i ~ a ~ deprêssa; .tmtar-se da su propna expenenCIa, do desenvolvimento tranquilo de um temperamento. Aca ba-se po descrever um visão pessoal de;> mundo como se ela encontrasse ingenuamente o sentIdo de todo o .t.miverso. E a filosofia contemporânea assim ~ a . briaguez de personalidade, um e m b r i a g u ~ z de ong!nah dade. E esta originalidade pretend((-se radIcal, enraIzada no próprio ser; assinala um existência concreta; f ~ z : d a um existencialismo imediato. Assim cada um se dInge imediatamente ao se do homem. inútil ir procurar mais longe um objecto de m e ~ i t a ç ã o , um o b ~ e c t o de estudo, um objecto de conheCImento, uIl!- ~ b l ~ C ~ O de experiência. experiência. A consciência. um l a ~ o r a t ó ! l . ( ~ mdIvIdual, um laboratório inialto. AssIm, os eX1stlenclabsmos abun dam. Cada um te o seu; cada qual encontra a glória na sua singularidade. Pois bem! Na activildade oientífim nã se original po tão baixo preço; o p e n s ! l m ~ n t o cientí!ico não encop tr tão facilmente a permanencIa e a coesao de u ~ a ~ ~ I S tência. Mas, em contrapartida, o p e n s ~ m e n t o c ~ e n A t I f I ~ o define-se como um evidente promoçao da eXIstenCIa. para esta promoção da existência que eu queria :B chamar a vossa atenção. Em suma em lugar de um existência na raiz do ser, no repouso um natural perseverança no ser, a ciên cia propõe-nos um existencialismo pela acção enérgica do se pensante. O pensamento· um força, nã um substância. Quanto maior a: força, tanto mais elevada é a promoção do ser. portan.to, nos dois momentos em que o homem alarga a sua experiência e em que coordena .seu !Saber qu se iIllStittui verdadeiramente na sua dinâ mica de se pensante. Quando um existencialista célebre nos confessa tranquilamente: «O movimento um doença do ser», respondo-lhe: o se um obstrucão do movimento, um paragem, um vagatura. um vazio. E veio a necessidade de um invertsão radical da fenomeno logia do se humano, de modo a descrever o se humano corno promoção de ser, na su tensão essencial. substi tuindo sistematicamente toda a ontologia po urna dina mologia. Po outras palavras, parece-me Que a existência da ciência se define como um progresso do saber, Que a ignorância. Em suma. nada simboliza juntamente co a ciência um da testemunhas mais irrefutáveis da existência essencialmente progressiva do ser pensante. um be n h ~
i
se pensante pensa um pensamento cognoscente. Não pensa um existência. O que será então des1gn:ada, nu estilo moderno. a filosofia das ciências? Será uma fenomenologia do ho me estud1oso, do homem debruçado sobre o seu es tudo e não somente um vago saldo de ideias gerais e de resultados adquiridos. Terá de nos fazer assistir ao drama quotidiano do estudo quotidiano, de descrever a rivalidade e a cooperação entre o esforço teórico e a investigação experiment:aJ, de nos oolocar no centro do perpétuo conflito de métodos que é o carácter manifesto. carácter tónico da cultura científica contemporânea. (Congres intemational intemational dePhilosophie des ScieIliCe!S, 1949.)
B.
Pretensões
4. Terá o conceito de limite do conhecimento cien tífico um sentido absoluto? Será mesmo possível traçar as fronteiras do pensamento científico? Estaremos nós verdadeiramente encerrados nu domínio objectiva mente fechado? Seremos escravos de urna razao imu tável? o espírito um espécie de instrumento orgâ nico, invariável como a mão, limitado como a vista? Estará ele ao menos sujeito a urna evolução regular em ligação co um evolução orgânica? Eis muitas pergun tas, múltiplas e conexas, qu põem em jogo toda um filosofia e qu devem da um interesse primordial ao estudo dos progressos do pensamento científico. Se o conceHo de limite do conhecimento científico parece claro primeira vista, é porque se apoia pri meira vista em afirmações realistas elementares. Assim, para limitar oa1canee das ciências naturais, objectar -se-ão impossibilidades inteiramente materiais, quase im possibilidades espaciais. Dir-se-á ao sábio: nunca pode reis atingir osalSÍ'ros! Nunca poderei,s 'ter a certeza de qu um corpúsculo seja indivisível. Esta limitação inteira inteiramente geométrica, inteiramente mente esquemática está na origem da clareza do conceito de fronteiras epistemológicas. Naturalmente, temos toda um série de interdições mais relevantes, ma igualmente brutais. Obiectar-se-á, po exemplo, a impossibilidade de triunfar sobre a morte, de conhecer a essência da vida, a essência do espírito, a essência da matéria. Pouco a pouco, de unia maneira mais filosófica, rodear-se-á o pensamento por um conjunto de posições pretensamente
essenciais. Por outras palavras, recusar-se-á ao pensa• mento discursivo a possibilidade de conhecer as coisas em si eatribuir-se-á um pensamento intuitivo, mais directo, mas nã o científico, científico, o privilégio de conhecimentos ontológicos. Os partidários da limitação metafísica do pensamento científico sentir-sesentir-se-ãó ãó também no direito de pô a priori limites que não têm relação com o p e n s a ~ mento que limitam. Isto tã verçladeiro que o conceito obscuro da coisa em si é utilizado quase inconsciente mente para especificar as impossibilidades da ciências particulares. Assim, o metafísico repetirá: nã podeis dizer o que a electricidade em si, a luz em si, a matéria em si, a vida em si. Ora, não nos devemos deixar enganar pela falsa cla reza desta posição metafísica. De facto, para provar que o conhecimento científico limitado, nã basta mostrar su incapacidade para resolver certos problemas, de fazer certas experiências, de realizar certos sonhos hu manos. Seria necessário poder circunscrever inteiramente campo do conhecimento, desenhar um limite contínuo inultrapassável. marcar uma fronteira que toque verda deiramente o domínio limitado. Se esta última precau ção, pode-se desde .iá dizer qu questão de fronteira do conhecimento científico científico nã te nenhum interesse para a ciência. O espírito científico seria então bem capaz de tirar fáceis desforras. Poderia arguir que um problema insolúvel um problema mal posto, que uma experiência descrita como irrealizável é um experiência em que a impossibilidade se coloca nos dados. Demasiadas vezes o enunciado de um limitação implica um condenação ao insucesso, porque o problema impossível impõe já um método de resolução defeituoso. defeituoso. Insistamos neste ponto e iremos verificar que a cons de maneira ne tatação de uma impossibilidade nã nhuma sinónimo de um limitação do pensamento. Po exemplo, o facto de não podermos resolver a quadratura do círculo não prova de modo nenlhum um enfermidade da razão humana. Tal impossibilidade prova pura e sim plesmen'te qu o problema quadratura do círculo está mal posto, qu os dados da geometria elementar não são suficientes para esta solução, qu palavra quadra tura implica já um método de solução defeituoso. :e ne cessário, portanto, deixar ao matemático o cuidado de enunciar novamente a Questão intuitivamente mal posta; é necessário dar-lhe o direito de aperfeicoar um método de transcendência apropriado ao problema judiciosa-
mente rectificado. Para iludir imediatamente a dificul dade, poderíamos arguir de um maneira analógica que de certo modo o problen;a. da problema da morte quadratura do círculo biológico e que está, sem d ~ v I d a , bastante mal posto quando procuramos a soluça0 ao nível do humano como, po exemplo, a manutenção de um personalidade da qual nã temos sequer, ao longo da nossa vida, a garantia de que ela seja v e r d a d e i r a m e ~ t e v e un e permanente. Pe:dem>1Ilos qUle c o n S ' e r v ~ m o s , a,qUIlo qu nã temOiS. Para resolver o problems m:soluvel morte será necessári'O recorrer transcendencIas expen menltais a ,tran'scendêncd:aoS biológicas, no senltidlo do ma t e m á t i c ~ que compreta o seu material de e ~ l i c a ç ã o diante de um novo objecto matemático. Mas, seguindo o seu adversário neste terreno, o espí rito científico apenas tende a mostrar que, em caso de necessidade seria um bom jogador. Na realidade, a dis cussão n ã o ' reside aí. Não a propósito de interdições longínquas e brutais que convém disctiti\ Somente. a ciência se encontra habilitada a traçar as suas próprIas fronteiras. Ora, para o espírito científico, traça,r cl'!ra já ultrapassá-la. mente uma fronteira CIentífica menos um limite do que um zona de pensa mentos particuloomente acttivos, um domínio de a s s i , ~ a s s lação. Pelo contrário, a fronteira imposta pelo metafísIco apresenta-se ao sábio como um espécie de f r o n t ~ i r f a r o neutra, abandonada, indiferente. (Concept de fronttere, VllIe Congres international de ,Ntilosophie, 1934.) 5. Cientificamente; a fronteira do conhecimento ape nas parece marcar um paragem momentânea do pensa mento. Seria difícil traçá-la objectivamente. Parece qu é mais em termos de programa que de obstáculo albsoluto, mais em termos de possibilidade do qu de impossibilidade, qu a limitação do pensamento cientí fico é desejável. Seria dedeseiar qu cada ciência pu desse propor um espécie de plano quinquenal. Filosoficamente, toda fronteira absoluta proposta à ciência marca de um problema ma posto. :e impos sível pensar fertilmente um impossibilidade. Quando uma fronteira epistemológica parece nítida, porque se arroga o direito de, a propósito, te como necessárias intuições primeiras. Ora, as intuições primeiras são sem pr intuições a Tectificar. Quando um método de inves tigação científica perde su fecundidade, porque ponto de partida é demalSiado intuitivo, demasiado esque-
r d a d e i r a m e ~
i , ~ n t ~ i r
a hase de organização é demasiado da filosofia científica parece então e s t ~ e I t a . ~ l a r ~ ~ e c e s s á r i o limar po todos os lados as cien 1 ~ n : t I t a ç o e s InICIaIS, reformar o conhecimento nã tIfICO, qu entrava sempre o conhecimento científico. A f ~ l o s o f i a . científicatlem de al,guma maneira de destruir s!stematicamente os limites que a filosofia tradicional tInha imposto. c ! ~ n c i a . de reqear, co efeito, qu per:sam:nto, ~ I e n t I f I c o nao conserve vestígios da limi taçoes f I l o ~ o f f I I c l a o s ~ . o f Em resumo, a filosofia científica deve s ~ : e ~ s e n c I a l m e n t e uII?-a pedagogia . científica. Ora, para que mais nos faz c I e n c I ~ nova, p e d ~ g o g I a p e nova. d ~ g o g I Aquilo a falta e um doutrIna do saber elementar de acordo co saber científico. Numa palavra, OIS a priori do pensa definitivos. Também devem se subme ~ e n t o ~ e não n t o são tIdos. transmutação dos valores racionais. Devemos a,d9 as condições sine qua no da experiência cien t ~ f ~ c a . P r o p o ~ o s , po consequência, qu a filosofia cien tIfIca 'renunCIe ao r e a ~ r e imediato e que ajude a ciência na a ~ sua luta contra as Intuições primeiras. As fronteiras opressoras são fronteiras ilusórias. ilusórias. (Ibid.) m á t i ~ o ;
porque
O dever
IH AS
QUESTOES
DO
EPISTEMÚLOGO
6. Aos filósofos redamaremos o direito de nos ser virmos de elementos filosóficos s e p a r a d o ~ dos sistemas em que 'tiveram origem. A força de um 'sistema encon tra-se algumas vezes concentrada numa função particu lar. Porquê hesitar em propor esta ,função particular ao pensamento científico, que tem tanta necessidade de prin cípios de informação filosófica? Será sacrilégio, po exemplo, pegar nu aparelho epistemológico tão mara vilhoso como a categoria Kantiana e demonstrar o seu interesse para a organização do pensamento científico? Se um eclectisTIlO dos fins cOMunJde indevidamente todos as sistemas, parece que um eclectismo dos meios seja admissível para um filosofia das ciências, que pretende fazer face a todas as tarefas do pensamento científico, que pretende dar conta dos diferentes tipos de teoria, que pretende medir o alcance das suas aplicações, que quer, antes de mais nada, sublinhar os processos tão variados da descoberta, mesmo que eles sejam os mais arriscados. Pedkemos 'também aos filósofos que 'rom a ambição de encontrar um único ponto de pa co vista e um ponto de vista fixo para julgar no conjunto ciência tão mudável como a física. Chegaremos um então, para caracterizar a filosofia das ciências, a um pluralismo filosófico qu o único capaz de informar os elementos tã diversos da experiência e da teoria, tã longe de estarem todos ao mesmo nível de maturi dade filosófica. filosófica. Definiremos a filosofia das ciências como um filosofia dispersa, como um filosofia distribuída. Inversamente, o pensamento científico aparecer-nos-á
como um método de dispersão be ordenada, como um método de análise muito aguçada, para os diversos filo sofemas agrupados demasiado maciçamente nos sistemas filosóficos. Aos Aos cientis.ta cientis.tass reclama remos o direito de desviar po um instante a ciência do seu trabalho positivo, da su vontade de objectividade para descobrir o que resta de subjectivo nos métodos mais severos. Começaremos po pô aos sábios questões de aparência psicológica e, pouco a pouco, provar-Ihes-emos que toda a psicologia é soli dária de postulados metafísicos. O espírito pode mudar de metafísica; nã pode passar sem metafísica. Pergun taremos, portanto, aos sábios: como pensam, quais as vossas tentativas, as vossas experiências, os vossos erros? S o ~ que impulso mudam de opinião? Porque são tã sucmtos quando falam das condições psicológicas de uma nova investigação? Dêem-nos sobretudo as vossas ideias vagas, as vossas contradições, as vossas ideias fixas, as vossas convicções nã !provadas. Fazem de vós real'ilStas. Será c e r ~ o qu esta filosofia maciça, sem articulações, sem dualIdade, sem hierarquia, corresponde variedade dos v o s ~ o s pensamentos, liberdade da vossas hipó teses? DIgam-nos o que pensam, nã saída do labora tório, mas nas horas em que deixam a vida comum para Dêem-nos, nã o vosso e m p i ~ ~ ' a e ~ t r a r na v i ~ ' a v i científica. nsmo da noIte, ma o vosso rigoroso racionalismo da a priori do vosso devaneio matemático, o en m a ~ h ã , tUSIasmo dos vossos projectos, as vossas intuições in confessadas. Se pudéssemos desenvolver assim o nosso inquérito psicológico, parece-nos quase evidente qu espírito científico apareceria também ele numa verda deira dispersão psicológica e, po consequência, numa v e r ~ a d e i r a dispersão filosófica, já que toda a raiz filo sófica nasce de um pensamento. Os diferentes problemas do pensamento científico deviam, portanto receber dife rentes ~ ~ f i c i e n t e s filosóficos. P a r t i c u l a r m e ~ t e , o balanço do realIsmo e do racionalismo nã seria o mesmo para todas a ~ n o ç õ e s . pois, na nossa opinião, ao nível de noção se colocariam as tarefas precisas da filo :'3ue. c a ~ a sofia . ~ a s . ClenClas. Cada hipótese, cada problema, cada expenenCla, cada equação reclamaria a su filosofia. veríamos ·fundar um filosofia do pormenor epistemoló gico, uD?-a filosofia científica diferencial Que estivesse em esta ~ a r m O ? I a ~ o m a. filosôfia integral dos filósofos. dlferenclal encarregada que estaria de medir f I l o ~ o f l a deVIr de um pensamento. De um modo geral, o devir de
um
um
lização, transformação da forma realista numa forma racionalista. Esta transformação nunca total. As noções não se encontram todas no mesmo momento das suas transformações metafísicas. Meditando filosoficamente sobre cada noção, veríamos também mais claramente o carácter polémico da definição retida, tudo o que esta definição distingue, suprime, recusa. As condições dia lécticas de um definição definição científica difere nte da definição usual apareceriam então mais claramente e compreen deríamos, no pormenor das noções, aquilo que chamare mos a filosofia do não. (Philosophie, Avant-propos, pp. 10-13.)
Secção AS REGIOES DA EPISTEMOLOGIA
NOÇÃO DE REGIÃO EPISTEMOLÓGICA 7. Uma vez qu pretendemos caracterizar o raciona lismo no seu poder de aplicação e no se poder de extensão, torna-se [ ... ] indispensável exami nar sectores particulares da experiência científica e procurar em qu condições esses sectores particulares recebem nã so mente um autonomia, mas ainda uma autopolémica, ou seja, um valor de crítica sobre as experiências antigas um valor de acção sobre as experiências novas. tese do racionalismo activo opõe-se à filosofia empírica, que apresenta a ideia como um resumo da experiência, separando a experiência de todos os a priori da prepa ração. Opõe-se também à filosofia platónica, a qual pro fessa qu as ideias declinam quando aplicadas às coisas. Pelo contrário, se aceitarmos a valorização pela aplicação que propomos, não é um simples regresso à experiência primitiva, ela aumenta a «distinção» do conhecimento, no sentido cartesiano do termo. A ideia não pertence à ol1dJem da Teminiscência, é antes da ordem da presciên.- cia. A ideia não é um resumo, antes um programa. A idade de ouro das ideias não está no passado do ho mem, está no futuro. Voltaremos, em todas as ocasiões, a este valor, de extensão das noções racionais. As regiões do saber científico são determinadas pela reflexão. Não as encontraremos delineadas numa feno menologia de primeira apreciação. Numa fenomenologia de primeira apreciação, as perspectivas são afectadas po um subjectivismo implícito, que teríamos de preoisarr 'se pudéssemos trabalhar um dia na ciência do sujeito cioso de cultivar os fenómenos subjectivos, deterptinando um
fenomenotécnica da psicologia. Mas, ainda qu a pers pectiva desse todas as garantias de extraversão e que indicasse ao se pensante a direcção do saber segura mente objectivo, ainda não teríamos nada qu pudesse justificar a parcialidade do interesse do conhecimento, interesse que nã só faz escolher ao sujeito um sector particular, mas qu sobretudo faz persistir sujeito na su escolha. É-nos necessário, portanto, ultrapassar as descrições fenomenológicas qu ficam, po princípio, submetidas ao ocasionalismo dos conhecimentos. Tudo se torna claro, nítido, recto, seguro, quando este interesse de conhecimento é o interesse específico pelos valores racionais. Assim, em apreensão directa do mundo fenomenal (não se tendo ainda exercido o poder de eliminação) as regiões do saber nã se constituem. Não podem se ro deadas nu primeiro esboço se que a faculdade de discernir tenha fixado as suas razões de funcionar. En contramo-nos sempre diante do mesmo paradoxo: o ra cionalismo é um filosofia qu nã te começo; o racio nalismo pertence ordem do recomeço. Quando o defi nimos numa da suas operações, operações, há já muito tempo que ele recomeçou. Ele a consciência de uma ciência rectifi cada, de um ciência que tem marca da acção humana, de acção reflectida, industriosa, normalizante. racio nalismo SÓ tem de considerar o universo como tema de progresso humano, em termos de progresso de conheci mento. Um poeta viu-o he na audácia da suas imagens: foi quando Cristóvão Colombo descobriu a América. qu a Terra, certa de se redonda, se pôs, enfim, a girar rotação dos céus parou, as resolutamente 1. Então, estrelas fixas tornaram-se durante os quatro séculos que antecederam Einstein - as referências de um espaço absoluto. Tudo isto porque um barco viajou em sentido con trário ao país da especiarias. facto da rotação Foi necessário qu Terra se te tornado um pensamento racional,
pensamento que
se aplicava a domÍillÍos diferentes, para que fossem des truídas todas as provas da imobilidade da Terra encon tradas na experiência comum. Portanto, os factos encadeiam-se tanto mais solida mente quanto mais implicados estão numa rede de rapelo encadeamento, concebido racionalmente, zões. Luc Decaunes, Les
idks
noires,
p. 246.
que os
factos heter60Htos
r e c e ~ m '?
estatu'lx?
factos científicos. Que a Terra grra e, pOIS, um ,dela antes de se um facto. Ta facto não tem primitivamente
nenhum traço empírico. E. necessário colocá-lo no s ~ u lugar, nu domínio racional de ideias, para ousar afIr má-lo. necessário compreendê-lo para o apreender. Se Foucault procura, co o pêndulo do Panthéon, um prova terrestre deste facto astronó'!'-ic,?,. porque um longo p r e â m b u l ~ A de. pensamentos ~ l e n t l f ! c ~ s ~ l lhe n t l fde ! c ~ s ideia desta expenencla. E quando ,Pomcare dIZ que, sobre um terra coberta de nuvens escondendo as estrelas, os homens teriam podido descobrir a rotação da Terra através da experiência de Foucault, ele apenas nos dá um exemplo de racionalismo r e c o r r e n t ~ respondendo fórmula: teríamos, deveríamos te preVIsto, o qu equI vale a definir o pensamento racional como um pres ciência. Mas co um exemplo tã escolar, tã escolarizado, como a ~ o t a ç ã o ~ da a r e v o l ~ ç ã o r . e e v s o t l r ~ i ç t ãa mo ~ n t e ~ p i s o t a ç Terra, ã o temológica que propomos 'para e V I d e n c I . a ~ I o. a racIOnalIsmo ~ (a ordem das razões) e SItuar em pOSlçao subalt«?rna o empirismo (a ordem dos factos) pode parecer SImples paradoxo. Do ensino científico da escola retemos os factos, esquecemos as razões e é assim que «cultura geral» fica entregue ao empirismo da m e m ó r ~ a . Ser-nos-á necessário, portanto, encontrar exemplos maIS ~ o d e r n o s em qu se pode seguir o esforço efectivo de ensmo. Resta-nos provar que as regiões do racional na ciências físicas se determinam numa experimentação nu menal do fenómeno. E. aí, e de nenhum modo super fície dos fenómenos, qu se pode sentir a sensibilidade da adaptação racional. As estruturas racionais são mais visíveis numa segunda posição· do que numa primeira aproximação; elas recebem verdadeiramente a su per fectibilidade quando ati!1gem os modelos experimen tais de segunda aproxImaçao ou, pelo menos, quando lei se designa racionalmente po cima das suas flutua ções. Se um organização de pensamento não pode se ainda narrativa de um progresso do pensamento, nã um organização racional. E. po isso qu um segunda aproximação dá frequentemente a um noção assim ex plicitada a assinatura da racionalidade. Desde qu apa rece a segunda aproximação, o c o n h e c ~ ~ e ~ t o n e c e s s ~ riamente acompanhado por uma conSCIenCIa de perfectI bilidade. conhecimento de segunda aproximação prova, portanto, qu o conhecimento se valoriza. Se esta se-
gunda aproximação acarreta problemas de método, ou seja, problemas qu exigem discussões racionais, os valo res apodícticos manifestam-se. aí que o racionalismo aplicado deve se colocado na categoria de um filosofia compromettda, tã profundamente comprometida que uma tal filosofia já não é escrava dos interesses de pri meiro compromisso. racionalismo realiza-se na liber tação de interesses imediatos; c o l o c a ~ s e no reino dos va lores reflectidos, 'que podemos também considerar como o reino da reflexão sobre os valores do conhecimento. (Ratianalisme, pp. 141-124.) EPISTEMOLOGIA DA FISICA
A. 1.
«Provocação» Relativista
-Esta novidade
uma objecção• . . •
8. Uma da características exteriores m ais evidentes das doutrinas relativistas é a su novidade. El espanta o próprio filósofo, 1:ransfornn:ado subitamente, em face de um construção tão extraordinária, em campeão do sen da 'simplicidade. Esta novidade é assim tido comum um objecção, um problema. Não será, em primeiro lugar, um prova de que o sistema não está contido nos seus postulados, pronto para a explicação, apto para dedução, mas que, pelo contrário, o pensamento que o anima se coloca resolutamente perante um tarefa cons trutiva, onde ele procura os complementos, as associa ções, toda a diversidade que faz nascer a preocupação de precisão? Por outras palavras, a novidade relativista não na su essência estática; não são as coisas que vêm surpreender-nos, mas o espírito que constrói a sua própria surpresa e que se envolve no jogo das ques tões. A Relatividade mais do qu um renovação defi nitiva na maneira de pensar o fenómeno físico, é um método de descoberta progressivo. Numa perspectiva histórica, a aparição das teorias relativistas é igualmente surpreendente. Com efeito, se existe um doutrina que os an teceden tecedentes históricos nã explicam é a da Relativi dade. Pode dizer-se qu a primeira dúvida relativista foi posta po Mach. Mas nã mais do que um dúvida céptica; não de modo nenhum um dúvida metódica
susceptível de preparar um sistema... Em suma, a reali relação c o m a história ao ritmo de uma dade só te termo até dialéctica. Estabelece-se opondo-se. Explora aí descurado de um alternativa inicial. Compreende-se,
portanto, qu el rompa co co um ensino hábitos particularmente sólidos e qu apareça como propria mente extraordinária. (Valeur inductive, Intr., pp 5-7.)
9. R e l ~ t i v i d a d e ... constituiu-se como um franco sistema da relação. Violentando hábitos leisrelação inde do pensamentQ, aplicámo-nos a discernir pendentemente dos termos em ligação, a postular liga ções de preferência a objectos, a dar uma significação aos membros de um equação apenas em virtude dessa equação, tomando assim os objectos como estranhas fun ções da função qu os relaciona. Tug.o para a síntese, tudo pela síntese, ta foi o fito, ta foi o método. Ele mentos qu a sensação apresentava nu estado de aná vários títulos, qualificar de lise qu se pode bem, natural foram postos em relação nã receberam daí em diante um sentido senão através desta relação. Atin gimos assim um fenómeno de ordem de certa maneira matemática. qu se afasta tanto da teses do absoluto como das do realismo. Que belo exemplo o da fusão da matemática do espaço do tempo! Tal união tem tudo contra si: a nossa imaginação, a nossa vida sensorial, as nossas representações; só vivemos o tempo esquecendo espaço suspendendo o espaço, só compreendemos po si CUTSO do tempo. Mas o espaço-tempo te su própria álgebra. Está em relação total em relação pura. fenómeno fenómeno ma temático essencial. :e. portanto A Relatividade só conseguiu conceber se desenvol vimento na atmosfera de um matemática aperfeiçoada; doutrina carece na realidade de po essa razão que antecedente. (Valeur inductive, capo IH pp 98-99.) 2.
Desvalorização das «ideias primeiras»
10. 10. Não foi a propósito da configuracão do Mundo, como a'stronomia geral, qu a Relatividade surgiu. Nasce de um reflexão sobre os conceitos iniciais, de um pô em dúvida as ideias evidentes, de um desdobramento há de funcional das ideias simples. Po exemplo, qu mais imediato, de mais evidente, de mais simples que ideia de simultaneidade? Os vagões do comboio partem
os carris sã todos simultaneamente paralelos: nã reside precisamente aí um verdade dupla qu ilustra ao mesmo tempo as ideias primitivas do paralelismo simultaneidade? Relatividade atacará, contudo, o pri mitivismo da ideia de simultaneidade, como Geometria primitivismo da ideia de pa de Lobatchewsky atacou ralelismo. Por uma exigência súbita, o físico contempo râneo pedir-nos-á para associar à ideia pura de simulta neidade experiência qu deve provar simultaneidade de dois acontecimentos. Foi desta exigência inaudita qu nasceu a Relatividade. Relativista provoca-nos: como se servem da vossa simultaneidade? simultaneidade? como ideia simples? como provam conhecem? conhecem? com se propõem dar-no-Ia a conhecer, nó que não pertencemos ao vosso sistema de referência? Em suma, como fazem funcionar o vosso conceito? Em qu juízos experimentais o implicam, pois nã reside pre cisamente aí, na implicação dos conceitos no juízo, o
próprio sentido da experiência? quando respondemos, quando imaginamos um sistema de sinais ópticos para Que observadores pudessem acordar-se numa simultanei nossa dade, o Relativista constrange-nos incorporar experiência na nossa conceptualização. Lembra-nos qu mundo é, nossa conceptualização é um experiência. experiência. pois. menos nossa representação do que nossa verifi cação. Doravante, um conhecimento discursivo e exPeri mental da simultaneidade deverá estar ligado à pretensa intuição que nos dava de imediato a coincidência de dois fenómenos ao mesmo tempo. carácter primitivo da mantido; ideia pura nã ideia simples nã é conhe nã se em composição, pelo seu papel nos com cida iull!ávamos postos em qu se integra. Esta ideia qu na na razão. ne primeira nã encontra um base ne experiência. Como nota Brunschvicg 1, «ela não poderia pela razão suficiente, ne se definida logicamente ne constatada fisicamente fisicamente de uma forma fundo, el negar que falta um certo um negação; volta tempo para propagação da acção de sinalizacão. Aper noção de tempo absoluto ou, cebemo-nos então de qu mais exactamente, noção de medida única do tempo, simultaneidade indepen po outras palavras, de um dente do sistema de referência, apenas deve a su apa-
p.408.
Brunschvicg, L'expérience humaine et la causalité physique,
rência de simplicidade e de imediata realidade a um defeito de análise.» (Nouvel Esprit, capo 11, pp. 4344.) 3.
((A objectivação de real ...
um
pensamento
procura do
. 11. .Se tentarmos ~ g o r a r e c e n s e ~ r . julgar as garan tIas reahstas da doutnnas da RelatIvIdade, nã nos po demos defender da impressão de que elas são muito tardias que repousam sobre fenómenos pouco nume e de um agudeza desconcertante. Os realizadores r ~ o s afastam-se destas doutrinas, porque para eles a realidade não espera: é preciso agarrá-la imediatamente no se necessário pô-la primeiro fenómeno, e p r o ~ a na or dem de grandezas da experiência positiva. A experiência é a s s . i ~ urgente e peremptória. Em contrapartida, os Rela1ThvIstas pretendem um sistema da su liberdade espi ritl;lal e organizar a su prudência: para começar, só retIrarão da experiência as características inteiramente assimiláveis pelos seus métodos de referência, confes toda a realidade' em sando assim nã se prenderem seguida, dedicarão toda a sua atenção a ligar os fenó menos pela razão suficiente, fazendo prevalecer a objecti vação sobre a objectividade. Com efeito, é erradamente qu se pretende ve no real a razão d e t e r m i ~ a n t e da objectividade, quando obter maIS do que prova de urna objecti n u n ~ a n se u n ~ pode a v a ç ~ o correcta. «A presença da palavra real, corno diz mUIto be Campbell, é sempre o sinal áe um perigo de confusão de pensamento.» Se quisermos continuar na problema sistematica verdade, é preciso conseguir pô mais de objectivação do que de objecti em termos ~ e n t e vIdade. Determinar um carácter objectivo nã tocar nu absoluto, é provar que se aplica correctamente um em virtude de método. Objectar-se-á sempre que c!lrácter r e v e l ~ d o ~ r t e n c e r ao objecto que ele é objec tIvo, quando JamaIS se fornecerá outra coisa além da prova da su objectividade em relação a um método de obiectivação: A razão apresentada prova gratuita pelo contrário, é positiva. Pensamos, portanto,'que m e ~ I ~ o r nã falar da objectivação do real, mas da ob,iectiva procura do real. A primeira ça de um pensamento expressão relaciona-se com a metafísica, a segunda é maIS susceptível de seguir o esforço científico de um pensamento. Precisamente a Relatividade... parece-nos
um dos esforços mais metódicos do pensamento, no sen tido da objectividade. Esta modificação na direcção do processo de objecti vação equivale a dizer qu problema da verdade de um doutrina não deriva do problema da su realidade, ma que, pelo contrário, o juízo de realidade deve fa zer ..se em função de um organização de ,pensamento qu já deu provas do seu valor lógico. Campbell indicou esta ordem filosófica em termos particularmente claros. Co locando-se no ponto de vista próprio do físico, ele per po fi descobrir a ver gun1:a-se se a Relativida:de te dadeira natureza do mundo real. Eis um pergunta, diz ele, qual é preciso responder com perguntas. Eis, por tanto, as perguntas primordiais 1: «Acreditarão os físicos (não digo na:da dos matemáticos e do s filósofos) na reali ãade de um certa coisa po alguma outra razão que nã seja o facto de essa coisa resultar de um concenção de um lei verdadeira ou de um teoria verdadeira? Temos alguma razão para afirmar que as moléculas são reais teoria molecular se verdadeira não ser o facto de e rd rd a e iirr a no sentido de predizer exactamente e de interpretar as predições em termos de ideias aceitáveis? Que razão alguma vez tivemos para dizer qu o trovão e o relâmpago acontecem realmente ao mesmo tempo, a nã se a concepção da simultaneidade, que torna verda deira esta afirmação, qu possibilita a medição dos inter valos de tempo? Quando tivermos resPondido a tais per guntas, será chegado o momento de discutir se a Relati vidade nos diz alguma coisa sobre o tempo real e sobre
o espaço real.» Como se vê, é um físico qu levanta o nroblema filosófico da relações relações do verdadeiro do real. real. Propo mos que ele se formule da seguinte maneira: como que certo verdadeiro pode preparar o real, ou mesmo, nu sentido, como pode o verdadeiro tornar-se real? co problema parece mais sus efeito, sob esta forma que ceptível de acolher a importante contri,buição trazida pela Relatividade. A doutrina relativista surge, com toda a evidência, como verdadeira antes de aparecer corno real, refere-se durante muito tempo a si própria para estar em primeiro lugar certa de si 'Própria. El um modo de dúvida provisória mais metódico ainda e, sobre tudo, mais activo qu a dúvida cartesiana, porque preCamp,belI, Tbeory and experiment in Relativity (apud Nature,
17 Fev. 1921).
e funda um verdadeira dialéctica matemática. Não vemos, de resto, o que poderia fazer a prova experimen taI con.tra esta dúvida essencialmente construtiva erhdda nu sIstema de uma tão grande coerência matemática. Uma vez empenhados na Relatividade, apercebemo-nos de que devemos colocar no decorrer da construção o preciso, antes a s s e r t ~ r i o muito depois do apodíctico. de I?aIs n ~ d a , tomar consciência da necessidade cons trutIva e crIa: uma lei para reie.itar. como diz Si Lodge. para
tudo o.
a construção do real precisa da prova desta a construcão construcão do do real nã pode confiar-se realidade, ~ p e n a s a, ~ m a necessidade que venha de um n e c e s s a ~ l O que o. p e n ~ a m e n t o construtivo reconheça a sua prÓP!Ia n e c e ~ s l d a a e . Em contrapartida. a certeza da con!truçao atraves de um realidade acabada nã node na deve se senão supererrogatória. capo VIII, pp. 242-246.) n e c e s s ~ d a d e .
nece necessI ssIda dade de::
4.
desconhecimento realista
O que ;deve, em primeiro lugar, reter a nossa a rapIdez co que o Realista recorre às eXIpe a . ~ n ~ a o rIenCIas proprIamente geométricas. Instem com ele um pouco. Objectem-lhe que conhecemos muito pouco sobre o real que ele pretende interpretar como um dado. O R e ; a l i s t a a q ~ i e s c e r á . Mas respcmder-Ihes-á logo em se gmda:«que Importa qu nã saibamos o qu é o objecto?; está; tanto apesar dISSO, sabemos que o objecto é, pois vós como eu poderemos sempre encontrá-lo numa região denominada espaço.» O lugar aparece como a primeira das qualidades existenciais, a qualidade pela qual tam todo o estudo deve acabar por ter garantia da bé experiência positiva. Poder-se-ia falar de um realidade presente em todo o lado? O mesmo será dizer que nã o meio e s t ~ em parte nenhuma. De facto, o es
lume. Atribuindo a voluminosidade a todas as sensações, disso um metáfora da qual não garantirá a objec lividade 1. Admitirá que o objecto suporte ma su con figuração, que seja deformável, compressível, poroso, fu gidio. Mas, pelo menos, nem que seja por um único ponto, o objecto será retido na existência geométrica, e esta espécie de centro de gravidade ontológico apresen tar-se-á como a raiz da experiência topológica. (Expérience, ca'P. I, pp. 5-6.) fará
B. HIstória Epistemológica do «EIectrlsmolt 1.
empirismo do século
XVIII
13. Ao le os numerosos livros consagrados ciência eléctrica no séc. XVIII, o leitor dar-se-á conta, segundo nos parece, da dificuldade havida em abandonar o pito resco da observação observação primeira, em descolorir o fenómeno eléctrico, em desembaraçar a experiência das suas ca racterísticas parasitas, do seus aspectos irregulares. Ver-se-á nitidamente que o primeiro empreendimento em pírico não dá sequer o delineamento exacto do fenóme nos, ne sequer um descrição be ordenada, be hie rárquica dos fenómenos. mistério da electricidade, um z ace te e é sempre muito rápido aceitar um mistério como t a l electricidade, dava lugar um «ciência» fácil, muito próxima da História natural, afastada dos cálculos e dos teoremas ,que, depoils dos Huyghens, dos Newton, inva diram pouco a pouco a mecânica, a óptica, a astronomia. Priestley escreve ainda nu livro traduzido em 1971: «As experiêricias eIéctricas são as mais claras e as mais agradáveis que a Física oferece.» Assim, estas doutrinas primitivas, que abordavam fenómenos tã complexos, apresentavam-se como doutrinas fáceis, condição indis pensável para serem divertidas, para interessarem um público mundano. Ou, ainda, para falar em filosofia, estas marca de um empidoutrinas apresentavam-se co rismo evidente e inato. tã doce para a preguiça inte lectual acantonar-se no empirismo, chamar um facto um facto e impedir a investigação de um lei! Actual mente, ainda todos os maus a!lunos da classe de Física «compreendem» as fórmulas empíricas. Acreditam facH-
Cf. W. James, Précis
de
psychologie,
trad., p. 443.
mente que todas as fórmulas, mesmo as qu decorrem de um teoria fortemente organizada, são fórmulas empí ricas. Imaginam qu umaf6rmula apenas um conjunto de números em expectativa que basta aplicar a cada caso particular. E, de resto, quão sedutor é o empirismo da primeira electricidadel Não somente um empirismo evidente, um empirismo colorido. Não necessário compreendê-lo, basta vê-lo. 'Para os fenómenos eléctricos, o livro do Mundo é um livro de imagens. Devemos fo lheá-lo sem tentar a surpresa. Neste domínio, ele parece tão seguro que nunca poderíamos te previsto aquilo qu vemos Priestley diz, justamente: «Todo aquele qu ti vesse sido levado (a predizer o choque eléctrico) po algum raciocínio, teria sido olhado como um grande p:énio. Mas as descobertas eléctricas são de ta maneira da forças da Natureza qu excitam a admiração que lhes dedicamos»; dedicamos»; sem dúvida, é um Meia fixa, em Priest ley, a de reportar todas as deseobertas científicas ao acaso. Mesmo quando se trata das suas descobertas pes soais, pacientemente prosseguidas co um ciência da experimentação química muito notável, Priestley tem a
de
a or:ganizar experiências fecundas. Tem um ta vontade de filosofia empírica que o pensamentoiá nã mais do que uma espécie de causa ocasionai da experiência. A acreditarmos em Priestley, o acaso fez tudo. Para ele, o acaso precede a razão. 'Entreguemo-nos, portanto, ao es pectáculo. Não nos ocupemos do Físico, qu não é mais do que um encenador. encena dor. Já não acontece o mesmo nos nossos dias em que a astúcia do experimentador, o rasgo de génio do cte6rico, provocam a admiração. E, ipall"a mos trar be que a origem do fenómeno provocado hu mana, é o nome do experimentador que atribuído m eternidade - ao efeito qu construiu. at o caso do efeito Zeeman, do efeito Stark, do efeito Raman, do efeito Compton, QU ainda do efeito Cabanes efeito de -Daure que poderia servir de exemplo de certo modo social, produzido pela colaboração dos espí ritos. O pensamento pré-científico nã se obstina no es tudo de um fenómeno muito oirounscrito. Procura, niio a variação, ma a variedade. E isso constitui um traço particularmente característico: a procura da variedade leva o espírito de um objecto para outro, sem método; o espírito nã visa assim mais do qu a extensão dos
conceitos; a procura da variação liga-se a f e ~ ó m e n o particular, tenta objectivar todas as suas vanávels, expe rimentar a sensibilidade das variáveis. Enriquece a com preensão do conceito e prepara a matematização da expe riência. Mas vejamos o espírito pré..científico procura de variedade. Basta percorrer os primeiros livros sobre a electricidade para ficar surpreendido co c a r á c t ~ r heteróclito dos objectos em qu se procuram as propnedades eléctricas. Não que se faça da electricidade um propriedade geral: de um maneira paradoxal, é consi derada como um propriedade excepcional, mas ligada às substâncias mais diversas Na primeir primeiraa categ categor oria ia na as pedras preciosas; depois, t u l m n te te enxofre, os resíduos de calcinação e de destilação, as belemnites, os fumos, a chama. Procura estabelecer-se um ligação entre a propriedade eléctrica e as propriedades de primeira evidência. Tendo feito o catálogo das substâncias suscep tíveis de serem electrizadas, Boulanger conclui que «as substâncias mais quebráveis e mais transparentes são sempre as mais eléctricas» 1. Dá-se sempre um grande atenção ao que é ruztural. Sendo a electricidade um prin cípio ruztural, esperou-se po momentos te aí um meio para distinguir os diamantes verdadeiros dos diamantes falsos. espírito pre-científico quer sempre que o pro duto natural seja mais rico que o produto factício. (Formation, capo I, I, pp 29-31.) Um
exemplo: a garrafa de Leyde
14. A ,garrafa de Leyde foi a ocasião para um ver dadeiro espanto 2. «A partir do ano em que foi desco berta, numerosas pessoas, em quase todos os países da Europa, ganharam a su vida deslocando-se a todo o lado ,para a mostrar. O homem comum de qualquer idade, de qualquer sexo e de todas as classes conside rava este prodí.gioda Natureza co 9llrpresa e espanto»3. «Um imperador poderia contentar-se, como rendimento, com somas dadas em schillings e em trocos para ve fazer a eJCPeriência de Leyde.» No decurso do desenvoIPriestley, Histoire p.237.
p. 156.
de
l'électricité, trad. 3 vol., Parie, 1771, t. I,
Priestley, Histoire de l'électricité, t. I, p. 156. Loc.
cit., t. 111, p. 122.
vimento científico, veremos sem dúvida uma utilização especulativa de algumas descobertas. Mas esta utiliza ção é agora insigniticante. Os demonstradores de raios X que, há trinta anos, se apresentavam aos directores de escola para oferecer um pouco de novidade no ensino certeza fortunas Íill1periais. Parecem te nã faziam co desaparecido completamente nos nossos dias. Um abismo separa, doravaIl!te, pelo menos na ciências físicas, o oharlatão e o sábio. No séc. XVIII, a ciência interessa todo o homem culto. Pensa-se instintivamente qu um gabinete de His um laboratório se montam como um tória natural biblioteca, ao sabor das ocasiões; confia-se: espera-se qu os casos descoberta individual se coordenem po si mesmos. A Natureza não é coerente e homogénea? Um autor anónimo, presumivelmente o abade de Mangin, apresenta a su História geral e particular da electricibe sintomático subtítulo: «Ou o que disse dade co de curioso e divertido, de útil e interessante, de ra regozijante e jocoso, a'lguns físicos da Europa.» Sublinha o interesse- mu1 mu1to to mundano da sua obra, porque, se se e s ~ u d a r e m as suas ~ e o r i a s , poder-se-á «dizer qualquer COIsa de claro e preCISO sobre as diferentes contestações que se levantam todos os dias no mundo, a propósito da propor ques q ~ a i s as p r ó p r i ~ s Damas são as primeiras toes ... O cavaleIro a quem outrora um fio de voz e um bela figura teriam podido bastar para ter um bo nome nos círculos, é obrigado, no momento presente, a saber pelo menos um pouco o seu Réaurn:ur, o seu Newton, o seu Descartes» (F'ormation, capo I, I, p. 33.) 1.
2.
«Desrealização» do fenómeno eléctrico
15. Os progressos do conhecimento dos' fenómenos eléctricos puseram em evidência um verdadeira desreaseparar o fenómeno eléctrico das l i ~ a ç ã o . l i Foi ~ a ç ã necessário o . su condi especificações materiais, qu pareciam se çã profunda. Até ao fim do séc. XVIII foi considerada como um propriedade de certas substâncias. Foi estu dada como um história natural que colecciona subs t ~ n ~ i a s . : Mesmo q,!ando começou o primeiro e s f o r ~ o de dIstmçao dos fenomenos, quando se reconheceram nã somente os fenómenos de atracção, mas também os fen6-
nome do autor, Ristoire générale et partieuliere de l'éleetricité, 3 partes, Paris, 1752; 2." parte, pp. 2 e 3. Sem
menos de repulsão, nã foi possível manter a designação das d.uas electricidades como vítrea resinosa. Estas designações são filosoficamente defeituosas. Em 1753, Canton reconhece (Mascart, Traité d'électricité statique, t. 1, p. 14) «que um .barra de vidro despolido co es meril adquiria a electricidade resinosa quando o esfre gavam com flanela, e electricidade vítrea co um pano seda oleado e seco». As condições da fricção podem modificar modificar totalmente os fenómenos. Hegel notou este movimento epistemológico (Philosophie de la nature, trad., t. 11, p. 194): «Saber-se como a diferença da electricidade, que a princípio er associada a obJectos empíricos determinados - ao vidro e à resina, electricidade vítrea e electricidade qu de origem se idealizou e mudou numa diferença espe resinosa culativa (Gedankenunterschied), em electricidade positiva medida que a experiência em electricidade negativa, se alargou e completou. Tem-se aí o exemplo qu mostra de uma maneira notável como o próprio empirismo, que, inicialmente, pretende compreender e fixar o geral sob um form'a sensível, acaba po suprimir esta forma.» sua maneira mostrando «quão E Hegel insiste pouco a natureza física e concreta do corpo se empenha na electricidade». A designação dos corpos em idio-eléctricos e em ane léctricos também não pode ser mantida. Reconheceu-se que, se a electricidade nã se manifestava nos metais friccionados, er porque a electricidade produzida pas sava para o solo através da mã do experimentador. Bastou colocar uma manga isoladora para qu a electri cidade aparecesse no metal. De um modo definitivo, como o indica Mascart (t. I, p. 90): «Coulomb verificou que a electricidade não se espalha em nenhum corpo po um afinidade química ou por uma atracção electiva, ma se reparte entre dife rentes corpos postos em contacto, de uma forma inde su pendente da sua natureza e unicamente em razão forma e da suas dimensões.» do séc. XVIII, toda a refe Em suma, a partir do fi rência interiorista fora pouco a pouco eliminada. Autilização do vidro, da resina, do enxofre para a produção de electricidade já nã er decidida senão po razões de comodidade 1. (RationoJisme, capo VIII, pp. 144-145.) Oe
Estas considerações apenas visam a electricidade estática. A elec.. tricidade voltaica teve de distinguir os metais segundo as forças electro motrizes que aparecem ao seu contacto.
3.
Formação do conceito de «capacidade eléctricalt
16. Mas vamos seguir co ·um cer.to pormenor, de modo a fornecer um exemplo extremamente simples a actividade conceptualizante conceptualizante qu constitui a noção de pacidade eléctrica. Este exemplo bastará para provar qu a conceptualização no pensamento científico não está suficientemente caracterizada, se no colocarmos somente no ponto de vista do c;impirismo. Quando tivermos re leI?br.ado a formação htstórica do conceito de capacidade electnca, passaremos à formação epistemológica deste conceito insistindo no vários valores operatórios. Pen
samos poder definir assim um novo conceptualismo conceptualismo ql.J.e se encontrará colocado precisamente nesta zona inter mediária, entre o nominalismo e o realismo, na qual agru pamos todas as nossas observações epistemológicas. primeira exposição, poderíamos resumi-la Quanto so o título: da garrafa de Leyde ao condensador. Não podemos de modo nenhum imaginar, hoje em dia, o prodigioso interesse ocasionado, no séc. XVIII, pelos fenómenos da garrafa eléctrica. Para Tibere Ca valIo, a grande descoberta feita «no an memorável de 1745 desta maravilhosa garrafa» «deu electricidade um face inteÍlramen1:e nova». (Trait é complet d'électrici électricité, té, ,trad. 1785, p. XXIII.) Quando, actualmente, po recorrên cia, encontramos na garrafa de Leyde as características de um condensador, esquecemos qu este condensador foi primitivamente um verdadeira garrafa, um objecto dúvida, tal garrafa tinha particula da vida comum. Se ridades que deviam embaraçar um espírito atento às !Significações comuns; ma a psicanálise da significações nã tã fácil como postulam os espíritos científicos seguros do seu saber. De facto, a noção de capacidade um noção difícil de ensinar a espíritos jovens e, neste ponto como em tantos outros, a historicidade acumula as dificuldades peda.gógicas. Tentemos ve trabalhar um se instrui num 'laboratório do espírito reflectido qu
século XVIII. Não esqueçamos, para começar, as ideias claras, as ideias qu se compreendem de imediato. Po exemplo armadura interna termine por um ganoho, eis o qu qu muito natural, um vez qu se te de suspender garrafa na barra de cobre da máquina de Ramsden. E, depois, relativamente a essa cadeia de cobre qu vai do gancho às folhas metálicas que forram interior da garrafa, compreende-se facilmente o seu papel nu sé-
culo em que se sabe já que os metais são os melhores condutores de electricidade. Tal cadeia princípio concreto da condução eléctrica. Fornece um sentido electrioamente concreto locução abstracta: fazer cadeia para transmitir entre dez pessoas o choque eléctrico. O gancho, a cadeia metálica, a cadeia da mãos qu sen tirão o choque, eis elementos facilmente integrados na imagem fádl da garrafa eléctrica. Ao acumular tais in genuidades, arriscamo-nos indubitavelmente a cansar leitor instruído. Encontramo-nos, no entanto, diante do próprio problema do conflito das significações: signifi cação usual e significação científica. E preciso objectivar os fenómenos científicos, apesar da características dos objectos comuns. Importa determinar o abstracto-con creto, apagando os primeiros aspectos, as primeiras signi bca9ões. Se déssemos atenção fenomenologia do peda goglsmo, reconheceríamos a importância nociva das pri meiras convicções. De facto, através do exemplo tão sim ples qu propomos !pode v e r ~ e v de maneira a inte e r ~ qu e gração fácil acarreta pensamentos obscuros qu se asso ciam às pobres ideias demasiado claras qu enumeramos. Assim se forma um monstruosidade pseudocientífica que a cultura científica terá de psicanalisar. Uma palavra basta para definir a monstruosidade que prolifera no domínio das falsas explicações do co nheCImento vulgar: a garrafa de Leyde nã um garrafa. Não te nenhuma, absolutamente nenhuma da funções da garrafa. Entre uma garrafa de Leyde e' um garrafa de Sohiedam I, existe a mesma heterogeneidade qu entre um cão de caça e um cão de espingarda. Para sair do impasse cultural qu nos levam as palavras. palavras. e as coisas, necessário fazer compreender qu capactdade da garrafa de Leyde não é a capacidade de um recipiente, qu ela não contém verdadeiramente electricidade. em função do se tamanho qu nã pode remos apreCIar as suas dimensões em função da avidez de um bebedor. garrafa de Leyde, entanto, quanto maior fo E, mesma máquina de Ramsden, tanto maIS f ? r t ~ é, co o choque electncol De onde vem a relação tamanho choque? Eis a resposta esta primeira pergunta específica: superficie da se garrafa tem grandes dimensões, _ Fazem.me notar ~ u e há pessoas suficientemente ignorantes para nao saberem que o Schledam é um dos melhores álcoois holandeses.
grande. A extensão da armaduras duras é a primeira variável técnica.
superfície das arma
Naturalmente, os primeiros técnicos tomaram ime diatamente conhecimento do papel da superfícies, pois armaram interior e o exterior da garrafa co folhas metálica,s. Mas é necessári,o qu a noção de superfície acttva fique be esclarecIda para qu seja eliminada toda a reterência confusa ao volume da garrafa. É pela su ' s u p e r ~ í c i e ! pela supeIfície de uma ,armadura, qu garrafa electnca recebe «uma capacidade». Um outro factor menos apanmte intervém em breve é a espessura do vidro. Quanto mais fino é o vidro' maior éI: capacidade Não podemos, no entanto, s e r v i r ~ -nos de VIdros demasIado finos porque a descarga eléc trica p o d ~ r i a atra,:essáatra,:essá-Ios. Ios. Procura-se, Procura-se, p ortant o, tecnicamente, VIdros mUlto regulares, sem bolhas internas. A espessura, do vidro é assim a segunda variável técnica. Por fIm, reconhece-se a influência de um terceiro própria matéria do vidro. e l e m e ~ t ~ mais e ~ c o n d i d o : SubstItumd.o o VIdro po outra matéria, descobre-se qu um virtude específica, qu certas ma c ~ ~ a m a ~ é n a te que outras. Mas tenas d a ~ f ~ n ó m e n o s d a mais ~ f ~ n fortes ó m e n o s do esta r e f e r e ~ c l a um :poder dieléctrico específico só tem lugar se tIverem obtIdo alguns meios mais ou menos grosseiros medida. Volta comparava ainda capacidade de dOIS condutores, contando o número de voltas de um máquina eléctrica, que dava a cada um destes condutores a su carga máxima. Serão necessárias medi das_mais 1?recisas p a ~ a 9.ue. o factor K, qu especifica a acçao partIcular do dIelectnco na condensação sej be determinado. (Ratiomdisme, capo VIII, pp. 147-Í49.) ..
A «fórmula» do condensador
4.
, 17.
~ a ; s fizemos um esboço empmca d ? ~ ~ o n d , e n ~ a d o r e s
suficiente da pré-his eléctricos, pois que t o r ~ a obtIvemos as vanavelS tecmcas que vão agora permitir um instrumentação mais livre. Em lugar do condensa do p a r t i c ~ l a r qu er a garrafa de Leyde, podemos agora conSIderar os condensadores das mais variadas formas. condensador será constituído po duas fometahcas separadas por um isolante (podendo este ~ h a s Isolante se o ar). A palavra condensador é, de resto, se integrada numa signi t ! ' l m b ~ m ~ m ~ palavra q u ~ q de,:,e u ~ fIcaçao cIentIfIca, preCISO libertá-la do seu sentido ha-
bitual, Em rigor, um condensador eléctrico eléctrico não condensá a electricidade: recebe a quantidade de electricidade qu qu
Prevenimos contra a acepção usual da palavra capacidade. Em breve a noção será esclarecida pela teoria. Mas, se ;tivéssemos de explicar um pouco a palavra antes da coisa, sugeriríamos empregá-la no sentido de um brev.et de capacidade. Pela su capacidade,', um conden , sador um maneira mais geral, um condutor isol isolad adoo é capaz de de reagir reagir de uma determinada ma neira em condições qu teremos de precisar 1. , Como tudo se torna claro quando, po fim, aparece fórmula que dá a capacidade de um condensador! Com tudo qu relatámos sobre as difiruldades psicológicas dos primeiros acessos ciência se torna, de repente, psi cologicamente nulo! É em virtude deste racionalismo, que se constitui numa fórmula, qu podemos com toda a razão criticar as nossas preocupações de psicanálise do c onhecimento científico. Mas nã escrevemos somente para os racionalistas convictos, para os racionalistas que experimentaram as coerências do pensamento científico. É-nos ne,cessário, portanto, assegurar a retaguarda, te be a certeza de que nã deixamos atrás de nós vestígios de irracionalismo. Eis porque, acerca do caso específico que estudamos, quisemos da toda a psicologia de puri ficação indispensável para fundar racionalmente a ciência física. Chwolson, Traité de physique, t. IV, 1.0 fascículo, 1910, p. 92: «A palavra capacidade foi derivada, ,por analogia, da teoria do calor; mas é importante notar que, ao passo que, a capacidade calorífica de um corpo depende apenas da natureza e do peso desse corpo, a capa cidade eléctrica de um condutor não de.pende nem da sua natureza, nem do seu peso, mas unicamente da sua forma exterior.» A compa ração entre a capacidade eléctrica e a capacidade, calorífica é, portanto, pedagogicamente, muito má. Se a história das ciências é tão difícil de apresentar no seu conteúdo psicológico, é porque nos reporta a concepções científicas ainda implicadas em concepções usuais, Eis um exemplo em que a palavra capacidade intermediária entre as duas significações: ser 'susceptível de electrização, ser um contentor de electricidade: «o célebre P. Becaria pensa que a fricção aumenta a capacidade do corpo eléctrico; isto é, toma a parte que é friccionada capaz de conter uma maior quantidade de fluido; de tal maneira que esta recebe do corpo que fricciona uma superabundância de matéria eléctrica, que não se manifesta, entretanto, na sua superfície senão no momento em q?e a fricção deixa de agir sobre ela, e q?e então ela perde esta capa Cidade, fechando-se ou encolhendo-se» (Tlbere Cavallo, Traité complet d'électricité, trad. 1785, p. 86).
ponto de Eis, pois, a fórmula que pode. agora ser racionalização da condensação eléctrica:
partida de um
c=
KS
S=superfície de uma armadura (ficando be enten outra armadura deve ter, até aos infinita dido qu mente pequenos, a mesma superfície); e=espessura do isolante (suposta be uniforme); K=poder eléctrico do isolante (suposto be homogéneo). Nesta fórmula, o estudo filosófico do fac to r K vai empirismo e permitir-nos reacender o debate entre racionalismo e mostrar a acção da racionalização técnica. factor K depende da matéria empregada. Podere mos, portanto, fazer dele o sinal filosófico da irracionali dade qu resiste à integração do fenómenos numa forma algébrica simples. empirismo apoiar-se-á neste facto, de certo modo incondicionado, para mostrar qu a ciên ci nã pode atingir, na suas explicações, o carácter íntimo, o carácter qualitativo da coisas. A electricidade teria, nesta maneira de ver, as suas substâncias singulares. E, portanto, interessante mostrar qu este carácter um substância particular pode, irracional atribuído de certo modo, se dominado ao mesmo tempo· pelo racionalismo e pela técnica. Notemos, em primeiro lugar, qu somos levados a. falar do poder dieléctrico do vazio. Toma-se at p o d e ~ dieléctrico do vazio como unidade. Parece-nos qu isto já suficiente para provar qu materialidade de pri meira aparência, aquela qu toca os nossos sentidos, nã está totalmente integrada na noção de capacidade de um condensador. De resto, se tomarmos consciência da racionalidade papel de K e o papel de na fórmula dos papéis, c=--
vão poder esclarecer-se po compensações. Uma vez qu podemos aumentar capacidade diminuindo ou aumen tando K, a inteligência técnica realiza um inteira racio nalização do factor material. matéria já nã é utilizada senão como um subterfúgio para evitar os e demasiado pequenos. Um condensador com um camada de de
espessura demasiado pequena descarregar-se-ia po um faísca entre as placas. Substituindo lâmina de ar por um lâmina de mica, evita-se este inconveniente, pelo menos dentro de certos limites. Assim, quando empirismo nos objectar carácter realista incondicionado do poder dieléctrico de um subs poder dieléctrico é re tância, quando nos disser qu presentado po
um número sem estrutura, um número
com decimais sem lei racional, poderemos responder que o técnico nã vê nisso mais irracionalidade do que nu comprimento determinado. Tecnicamente, o poder die léctrico recebe um pemeita equivalência equivalência geométrica. Bem entendido, limitámos nossa discussão ao caso em que se tomam como lâmina isolante substâncias na turais, como a mica, ou substâncias fabricadas sem preo cupação de um emprego especial, o vidro. Tería mos novos argumentos se no referíssemos à técnica própria das matérias, às possibilidades oferecidas po um química que pode criaT substâncias co proprie dades físicas muito definidas. toda De qualquer maneira, a técnica realiza co segurança a fórmula algébrica da capacidade de um con densador. Eis um caso be simples, ma particularmente claro, da junção do racionalismo e da técnica. (Rationalisme, C3ip. VIII, pp. 150-152.) 5.
«Socialização» do electrismo
18. Mostremos, em primeiro lugar, como a técnica que constituiu lâmpada eléctrica de fio incandescente todas as técnicas de ilumi rompe verdadeiramente co humanidade até ao séc. XIX. nação usadas po toda Em todas as antigas técnicas, para iluminar necessário queimar um matéria. Na lâmpada de Edison, a arte técnica é impedir qu um matéria quei:rp.e. antiga técnica é um técnica de combustão. A nova técnica é um técnica de não-combustão. Mas,. paTa jogar co esta dialéctica, qu conheci mento especificamente racional sobre combustão é ne cessário ter! O empirismo da combustão já nã é sufi ciente para quem se contentava co um classificação das substâncias combustíveis, co um divisão entre substâncias susceptíveis de alimentar combustão e subs tâncias «impróprias» para necessário te alimentar. compreendido que uma combustão um combinação,
não o desenvolvimento de um poder substancial, para A química do oxigénio reformou impedir e s s ~ e combustão. s s ~
de alto a ba"ixo o conhecimento das combustões. Numa técnica de não-combustão, Edison criou a am pola eléctrica, o vidro de lâmpada fechado, lâmpada tiragem. A ampola não foi feita para impedir a lâm se pada de se agitada pelas correntes de ar. Foi feita para conservar o vácuo à volta do filamento. A lâmpada eléc trica não tem absolutamente nenhum carácter constitu tivo comum com a lâmpada ordinária. única caracte rística que permite designar as duas lâmpadas pelo mes mo termo qu ambas iluminam quarto, quando chega a noite. Para as aproximar, para as confundir, para as designar, fazemos fazemos dela 'O objecto de um comportamento da ·vida comum. Mas esta unidade de objectivo só um unidade de pensamento para quem só pensa no oblectivo. :.;: este objectivo que sobrevaloriza as descrições fenome nológicas nológicas tradicionais do conhecimento. Frequentemente, conhecendo-lhe lhe os filósofos acreditam conhecer o objecto conhecendo'O nome, sem terem bem a noção de que um nome traz consigo um significação que não tem sentido senão nu corn'O de hábitos. «Eis o que sã os h'Omens. Mostrou -se-lhes um objecto, ficam.satisfeitos, isso te um nome, eles nã esquecerã'O ta nome.» (Jean de B'Oschere, L'obscur Paris, p. 63.) Mas ' O b i o o t a r ~ n o s - ã ' O que, tomando c'Omo exempl'O a lâmpada eléctrica, nos colocámos nu terreno dema siado ,favorável às nossas teses. :.;: be certo, dir-se-á, que estudo de fenómenos tão novos como 'Os fenómenos eléctricos poderia da à técnica da iluminação meios inteiramente nov'Os. Mas nã'O nOSlSa discussão. essa IQue querem'Os demonstrar qu na própria ciência e1éctrica se institui um técnica «nã'O natuifal», um técnica' qu nã tira lições de um exame empírico da natureza. Não se trata, c'Om efeito, como iremos fazer notar, de partir de fenómenos eléctricos tais como eles se 'Oferecem à 'Observação imediata. Na ciência natural da electricidade, no séc. XVIII, dá-se precisamente um eQuivalência substancial entre os três princípios, fop:o, electricidade. luz. Por outras palavras, a electricidade é tomada pelas características evidentes da faísca eléctrica, a eleotricidade fogo e luz. «o fluid'O eléctrico ( d ~ z abade Bertholon, L'électricité L' électricité des vél!eteaux, p. 25) é o fog'O· m'Odificad'O, ou, 'O Que significa o mesmo. um fluido análogo ao .fogo e à luz; porque tem com eles grandes afinidades, as de iluminar,
de brilhar, de inflamar de queimar ou de fundir certos corpos: fenómenos que provam que a su natureza é do f'Ogo, um vez que os seus efeitos gerais sã os mes m'Os; ma 'O fogo modificado, pois que difere dele em alguns pontos.» Esta nã um intuição isolada, encon trá-Ia-em'Os facilmeJllte em ,numer'Osos livros do século XVIII. Uma técnica de iluminação associada a uma tal concepção substancialista da electricidade teria procu rado transformar a electricidade em fogo-luz, transfor mação aparentemente fácil, visto que, so as duas for e llee ct ct rrii ci ci da da de de e l z s e supunha tratar-se do mes ma mo princípio material. A exploração directa das primei ra observações, exploraçã'O guiada pelas intuições subs tancialistas, exigiria unicamente ou atribuíssemos um esta electricidade fogo-luz (u aliment'O Mbulum, se gundo o termo consagrado). Poríamos assim em acção toda um série de conceit'Os utilizados na vida comum, em partioulalf o conceito de alimen'to. qu um te grande pr'Ofundidade no inconsciente. Se aprofundásse mos a compreensão dos conceit'Os«naturais», encontra .tão raros da electriddade, ríamos sob os fenómenos, aliá s .tão as 'qualidades profundas, as qualidades elementares: o fogo e a luz. Assim enraizado nos valores elementares, o conheci mento comum não pode evoluir. Nã'O pode deixar o seu primeiro empirismo. Tem sempre mais respostas do qu dúvidas. Tem resposta para tudo. Vêmo-Io bem no exem plo e s c o l h i e d s o c ~ o l se pa de resina lança faíscas à mínima h i fricção, é porque está cheio de fogo. Porquê ficar cho cado com este novo fenómeno? Não se fazem desde tem pos imemoriais tochas co resina? E essas f a í ~ c a s não sã somente -luz &ia, sã'O quentes, podem inflamar aguardente. Todas estas observações, no estilo empírico do sé culo XVIII, provam continuidade da experiência co fenómeno, Que antes da e ~ p e r i ê n c i a científica. mu nos surpreendia, nã em breve mais do Que um exem pl da circulação do fogo em toda a natureza, na nrónria vida. Como diz Pott, empregando a sábia palavra flomsto, ma pensando na palavra popular: fogo. «o alcance desta palavra (o flogisto) chega tã longe com'O o universo; está espalhada po toda a natureza, ainda que em com nã
há
rais a não ser as intuições ingénuas. As intuições ingé nuas explicam tudo.
E, evidentemente, a física natural te su micro física. Considera qu o fogo latente está aprisionado no pequenos alvéolos matéria, como a gota de óleo está fechada no pequeno grão de colza. A fricção, quebrando as paredes destes alvéolos, Hberta o .fogo. Se esta liber tação se generalizasse, um fogo visível e constante acen der-se-ia sobre pa de resina ,friccionado pela pele de gato: existe continuidade entre pau de resina e tábua combustível do primeiro: «Considero {di ainda Pott) matéria do fogo contida no corpos combustíveis o alj.. mento do fogo, como um número de prisioneiros enca deados. em que primeiro qu é Hbertado v a ~ imediata mente libertar que lhe rvizinho, o qual, po su vez, liberta um terceiro, e assim po diante ... Tais imagens que poderíamos multiplicar tram muito claramente com que facilidade um empi rismo ,de observação estabelece o seu sistema e quão fechado. Como se vê, os co rapidamente este sistema nhecimentos eléctricos, tais como os constroem os pri meiros observadores, são rapidamente associados a um cosmologia do fogo. E, se se tivesse feito um lâmpada eléctrica no séc. XVIII. ter-se-ia colocado a s e ~ i n t e questão: como é qu o 0/2:0 eléctrico latente pode tor nar-se nu fogo manifesto? Como é qu a luz da faísca se pode tornar uma luz permanente? Outras tantas per
guntas que tendem para um resposta directa. Nenhuma destas apreciações do Universo pode guiar um técnica. Voltemos, pois, ao exame da fenomenotécnica. A his his tória efectiva aí está para provar qu a técnica é um técnica racional. um técnica inspirada po leis racionais, Que a lei racional que po leis alJiébricas. Sabe-se be re!!e os fen6menos da lâmpada eléctrica incandescente é a lei de Joule, qu o'bedece fórmula altgébrica W = R I ~ (W: ener/2:ia; R: resistência; I: intensidade; t: tem'Oo). Ei um relação exacta .de conceitos muito .definidos. re!;dsta-S'e no contador. RIlt despende-se na lâmpada.
A organização obiectiva dos valores é perfeita. Evidentemente, a cultura abstracta bloqueou as pri meiras intuicões concretas. Já nã se diz diz pens pensaa-se se ape ape [0/2:0 e luz circulam no filamento ofuscante. na A explicacão técnica contradiz a explicação substancia lista. Assim, quando se pretende determinar melhor os e_ efeitos da resistência, relembra-se a fórmula: R (e: Resistividade do metal; 1: comprimento do fio; s: sec çã do .fio) e compreende-se a necessidade técnica de
usar um
fio longo e fino. para
aumentar
a resistência,
admira-se a delicadeza do. fio tremendo sobre as suas
poternas de vidro. O factor conserva, se dúvida, urna certa reserva de empirismo. Mas é um empirismo be enquadrado, racionalmente enquadrado. De resto, contra este empirismo, urna ciência mais avançada poderá vir ulteriormente multiplicar indústria moderna ligando-se a um técnica definida, trabalhando sobre um substância bem purificada, ta corno aqui tungsténio,chega um espécie de Tacionalização da matéria. Para a fábrica qu produz as lâmpadas com já não conserva sur filamen to de tung sténio, o facto presa empírica. Ele está, de certo modo, materialmente desindividualizado. Se formos um pouco sensíveis aos matizes filosóficos, nã podemos deixar de reconhecer o trabalho de racionalização em acção numa indústria qu fabrica lâmpadas eléctricas em série. Podemos, portanto, afirmar que ampola eléctrica um objecto do pensamento cienttÍlfico.1!, a este título, simples, mas muito nítido, para nós. um exemplo be de um objecto abstracto-concreto. Para compreender se funcionamento, é necessário fazer um desvio que nos um estudo da r.elações do fenómenos, isto é, conduz um ciência racional, expressa algebricamente. (Ratio ndisme, capo
C.
VI, pp. 105-109.)
O Atomismo
que faltava aos atomismos do séculos pas merecer nome de axiomático, era um movi mento verdadeiramente real na composição epistemoló palavra áto gica. Com efeito, nã basta :postular, co mo, um elemento insecável para pretender te colo cado na base da ciência física um verdadeiro postulado. Seria ainda necessário serVir-se desta hipótese, como a geometria se serve de postulado. Seria necessário nã se um dedução, co confinar frequência inteiramente verbal, qu tira consequências de um suposição única; mas, pelo contrário, dever-se-ia tentar encontrar os meios de combinar características múltiplas construir através desta combinação fenómenos novos. Mas como seria possível esta produção, pois que apenas se pensa em com provar existência do átomo postulado, em reificar um suposição. A teoria filosófica do átomo põe fim às Ques tões; nã as sugere. (Intuitions, capo VI, pp. 133-134.)
19.
sados, para
I. A noção de corpúsculo na física contemporânea 1.
Características principais
20. Um filósofo qu aborde o estudo da ciência fí sica contemporânea atormentado, em primeiro lugar, como toda a gente, pelo peso dos acontecimentos comuns; em seguida, como toda a pessoa culta, pelas recordações da sua própria cultura. Assim, imagina, seguindo as intui ções da vida comum, qu um corpúsculo um pequeno corpo e pensa, numa homenagem tradicional filosofia de Democrito, qu o átomo um indivisível, o último elemento de um divisão da matéria. Com seguranças etimológicas ttão indestrutíveis, como compreender a novidade da linguagem da ciência? Como aprender formar noções inteiramente novas? Como estabelecer, margem do empirismo quotidiano, a filo sofia exacta do empirismo do laboratório? Como, enfim, substituir um racionalismo que funcionava baseado nas grandes certezas de um conhecimento universal por um racionalismo puramente axiomático, que se estabelece como um espécie de vontade de manter regras be definidas, ,bem limitadas a um domínio particular? Como se vê, as ciências físicas contemporâneas necessitariam, para receber os seus justos valores filosóficos, de filoso fias an'abaptistas que abjurassem ao mesmo tempo dos seus conhecimenos racionais elementares e dos seus co nhecimentos comuns para abordar simultaneamente um novo pensamento e um nova experiência. Na nossa tentativa para reduzir a noção de corpús culo sua novidade para inserir esta noção de corpús culo no seu exacto contexto axiomático, vamos comentar um sequência de teses, qu e ~ p r i m i r e m o s de um forma um pouco paradoxal para obstruir de imediato as intui ções preguiçosas. {Aotivité, capo IH p. 75.) corpúsculo não é um pequeno-corpo. corpúsculo nã um fragmento de substância. Não tem qualidades propriamente substanciais substanciais Ao formular a noção de áto mo, a química teórica já despojava o átomo de muitas das suas propriedades retidas pela experiência comum. Assim: azulado TJálMo e fuf{Ítivo do enxofre I, Que poeta designa como um raiz da sua ontolof{ia infernal, nã deixa nenhum vestígio na química do átomo. Ao atomiVictor Hugo, La
!in
de Satan, Vange de Liberté.
zar-se, o enxofre perdeu os seus aspectos satânicos. As «realidades» comuns não se interessam mais solidamente pelo átomo do enxofre do lQue as suas «'realidades» meta fóricas. fóricas. O átomo, pelo simples facto de se definido numa organização racional da experiência química, recebe um novo estatuto ontológico. Ainda talvez mais nitidamente, os corpúsculos da física moderna são referidos a um tipo de organização experimental be definido. Devemos determinar o estatuto ~ n t o l 6 g i c o ao nível da sua definição exacta. Trazemos hábitos ruinosos para a ciência se pen sarmos, po e x e m p l o ~ que o electrão é um pequeno corpo carregado de electriti electritidàde dàde negat negativ iva, a, se pensarmos pensarmos em dois dois tempos tempos a existê existênci nciaa de um se e a existência das suas propriedades. H. A. Wilson indicou explicitamente o vazIo filosófico de um ta pensamento 1: «,Podemos per guntar se protões e electrões devem se olhados como partículas materiais carregada'S de electricidade. A res posta é que esta ideia nãdo justificada pelos factos. A operação de carregar um corpo com electricidade nega tiva consiste em juntar electrões a estes corpos, e um corpo carregado positivamente suprimindo-Ihe elec trões, de maneira a deixar-lhe um excesso de protões. Assim, não podemos supor um electrão carregado nega tivamente, um vez que 1untar um electrão a um electrão daria dois electrões. Electrões Electrões e protõ es são precisamente de eleotricidade e. tanto quantto se sabe ho,ie em ~ t o m ( ) l ~ st o m ( ) l aia, são indivisíveis. Conhecemos apenas a eletricidade sob a forma de electrões e de protões. de modo que não faz nenhum sentido falar destas diferentes partículas como se consistissem de duas partes: electricidade e matéria. Traduzimos este longo t e ~ o porque o físico Que no-lo dá não hesita em insistir sobre um dificuldade filosófica muito determinada. Estamos aqui diante de uma ruptura absoluta dos conceitos da microfísica e dos conceitos da física clássica. A operação: «carreJ!ar um corpo de electricidade», tão comum na ciência eléctrica comum, já nã faz sentido ao nível do corpúsculo. cor púsculo eléctrico eléctrico não é um oequeno CQr110 carref{ado de electricidatk. Uma análise linguística seria enganadora. A análise filosófica usual deve também proscrever-se. Temos, com efeito, de onerar a síntese total do atributo da substância ou, melhor dizendo, devemos «reali7;ar» pura e simnlesmente o atributo. Po trá!'; do atributo electricidade nã de considerar a sulbstância matéria. H. A. Wilson,
The Mysteries
01
the atom,
1934, p. 28.
A filosofia do corpúsculo, nesta ocasião do corpúsculo eléctrico como em outros casos, ensina-nos um ontologia muito definida, estritamente definida. E esta ontologia teria um valor de ensino filosófico considerável, bas tando que o filósofo quisesse dedicar-se-Ihe: co efeito, a ontologia do corpúsculo risca com um traço particular_ mente nítido toda a fuga para o irracionalismo da substância. . corpúsculo não tem dimensões absolutas assinaláveis; não se lhe confere mais do que um ordem de grandeza. Esta ordem de grandeza determina mais um zona de influência do que um zona de existência. Ou,
mais exactamente, o corpúsculo só existe nos limites do espaço em que actua. Em muitas ocasiões, assinalaremos o carácter essen cialmente enerf!ético da existência corpuscular. Na sua recente obra: Philosoph.Y of Mathematics an Natural. Science (949), Hermann Weyl, lembrando qu ordem de grandeza atribuída ao electrão 10)3 cm, acrescenta: «este número deve se interpretado como a distância Qual dois electrões se aproximam um do outro co um velocidade comparável velocidade da luz». O corpúsculo assim definido, não verdadeiramente no seu se como um coisa inerte, mas no seu rode r de oposição. E a curiosa definição de Hermann Weyl pro cura, de alguma maneira, a oposicão máxima. Com efeito, se pensarmos ou a velocidade da luz tida. na ciência relativista relativista contemporânea, como um velocidade limite, vemos\anarecer vemos\anarecer uma relação entre velooidade limite de abot\dagem e a pequenez limite. E ~ t ~ < ' maneira de definir dinamicamente as dimen sões limites de um corpúsculo deve esclarecer-nos sobre a novidade essencial da filosofia corpuscular moderna. a noção clássica de impeneN ~ d a 'que se, pareça co preciso tornar os físicos mais r e a l i s t a s travei. Não mais mais tradicion tradicionalme almente nte realista realistass do qu eles são e ligar, como parece fazer Meyerson, o atomismo da ciência mo derna ao atomismo dos filósofos. Somente os filósofos consideram ainda o átomo, ou o corpúsculo, como impenetrável. Ora, podem ler-se algullis mUhares de livros da f í s i ~ a e da q u í ~ i c a modernas sem ve evocada a noção de ImpenetrabIlIdade. Quando a noção parece desempe nhar um papel, reconhece.ne rapidamente' que ela não desempenha com um carácter absoluto como acontecia no atomis mo filosófico...
Correlativamente, se corpúsculo não ~ e m ,dimensões assinaláveis, também não te forma assma[avel. . Por outras palavras o elemento não te geometrza.
Tal facto deve se c o l o c ~ d o c o na da filosofia corpus l o c base ~ d o moderna. de um grande novidade filosófica. filosófica. A geometria só intervém na comp?sjçã<;> do ~ l e m e n tos e unicamente quando esta composlçao e posslvel. Do ponto de vista do conhecimento ~ o s .fenómenos da substâncias, a geometria aparece pnmelro como . u ~ Jogo de pontos e de d i r e c ç õ ~ s . Parece q ~ e c o m p o s l ~ a o A su.scita orientações das quaIs se pode a f l r m a r . u ~ a eXlstencla vktuar no elementos antes da composlçao. M ~ s esta existência virtual deve conservar-se como um vIsta do espírito. O elemento restituído su solidão nã te geometria ... cular
Uma /Vez que não podemC?s atrjbuir um f o r ~ a ~ e t e r minada ao corpúsculo, tambem nao podemos a t r t b u z r - ~ h e um lugar muito preciso. ~ t r ~ b u i r - l h e um l';lgar precIso
não seria, como efeito, atnbulr-lhe, do extenor, de certo modo negativamente, negativamente, um forma? Assim a intuição confunde-se, quer ao buscar lugar absoluto, quer ao procurar a figura absoluta Nes:e ponto, assiste-se a um ruptura total com a imagmaçao cartesiana. Com efeito como be conhecido, em virtude do princípio de indeterminação de Heisenberg, a l o c a l i z ~ ç ã l o o c a l i z ~ do corpúsculo, na análise externa qu pede mlcro física, encontra-se submetida a tais restrições qu a fun ção da existência situada já nã te valor absoluto. Esta carência da ontologia pontual incidindo preci samente na física do corpúsculo deve fazer reflectir o filósofo. A existência situada nã é a função primordial que designe os o b ~ e c t o s em, qualquer _discu.ssão ~ ? b r e realismo? Estar al tambem a funçao pnmordlal qu fixa a perspectiya obje_ctiva9ão .filosofia fenomeno lógica. Ao seguIr dlscussoes fIlosófIcas, p e r g u n t a m o · n c ~ s p e r g u n frequentemente se a consciência não um consciêncza de índex, um consciência de dedo apontado para coisas. . Mas a miorofísica não poderia conservar este pnVl légio de designação directa. ,Por coIliseguinte, tanto o rea lismo tradicional como a fenomenologia moderna se reve la inaptos para abordar a microfísica. São filosofias que se orientam partir da experiência c o m ~ m . ~ i ê n c i a contemporânea reclama novo c o m e ç ~ . Poe ao f l l ó s o ~ o f l l ó s o ~ necessáno o curioso problema de um nova partIda.
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aqui apoiar-se em técnicas qu nã se exprimem total mente na linguagem dos nossos gestos mecânicos e das qu a microfísica traz, leva de resto substituir a feno menologia po um numenologia, isto é, po um orga nização de objectos de pensamento. Os objectos de pen samento tornam-se, po consequência, objectos de expe riências técnicas, nu puro artificialismo da experiên cia. Quantos tfenómenos directos devem se afastados, bloqueados, subtraídos, para trabalhar na física do elec trão! Quantos pensamentos acumulados, coordenados, d'Íscutidos, para assegurar as téoni'cas do electrão! Deve também sublinhar-se na mesma ordem de pen samentos paradoxais qu a locução, tã familiar tã clara na experiência experiência comum: estar em começa a l e v ~ t a r objecções tã importantes como as objecções feitas locução estar aí. Com efeito, pode ver-se na ciência do n ~ c l e o ató?Iico o caso curioso de um corpúsculo qu eXiste salda de um espaço, no qual plausivelmente nã t:xistia. Sai certamente dos electrões do núcleo no de correr de certas transmutações. Naturalmente, as primei ra tentativas para imaginar estrutura do núcleo foram feitas tomando o electrão como um dos elementos do edifíoio nuclear. Mas a concepção de um eleotrão inrtra nudear conduziu a dificuldades cada vez maiores. Bstá-se agora convencido de qu nã existem electrões no núcleo. de c e ~ t o modo, a dindmica da expulsão que dá aqui eXlstencla corpuscular ao resultado da expulsão. O dina mismo é aqui, um vez mais, o primeiro princípio a me di ta e é necessário chegar' um informação essencial mente dinâmica da micrologia. Quanto mais se penetra no domínio da microfísica, mais importância se deve da ao temas da energia. Só os objectos do conhecimento comum podem existir placidamente, tranquilos inertes no espaço. , Constatemos também, de de passagem, como quanto o pensamento científico amadureceu rapidamente nos nossos dias. Durante séculos pensou-se qu o fogo existia antes da percussão pederneira. Apenas durante uma dezena de anos se r ~ s t r e o u a intuição correspondente para o electrão no núcleo.
Em várias circunstdncias, a microflsicaestabelece como um verdadeiro princípio, a perda de i11!dividuall dade de um corpúsculo. Com e f ~ i t o , e f s.e corpúsculos individualizados pe ~ i t dois o , la suas traJectónas passarem po um região suficiente-
mente estreita para que se nã possa mais distingui-los, saída desta região já nã será possível manter a nume ração qu os distinguia. Contudo, seria um engano ver aí um acidente qu arruina o conhecimento. Na realidade, a constatação do facto de um desindividualização nas circunstâncias qu acabamos de evocar .fornece um princípio fecundo, um princípio que dá cQnta de todo um sector da experiência positiva. Trata-se, em suma, de um corolário do princí pio de indeterminação de Heisenberg. Este corolário te mesma positividade qu o teorema fundamental. Be entendido, também ele exige um ponto de partida. Renova a noção de indiscerníveis, qu de origem a tantas discussões entre os filósofos ... Enfim, última tese que contradiz o axioma funda mental do atomismo filosófico: a física contemporânea corpúsculo possa aniquilar-se. Assim o admite que átomo, cuja primeira função er resistir toda mu dança íntima, e, a fortiori, destruição, já nã preenche, na ciência contemporânea, a su função de existência radical. O antigo adágio: nada se perde, nada se cria, deve se de novo meditado. Há, sem dúvida, fenómenos consecutivos aniquilação aniquilação de um corpúsculo e o filósofo poderá arguir que, desaparecido o corpúsculo, alguma coisa subsiste. Mas esse alguma coisa já nã um ooisa. Pensando tornar mais clara a filosofia realista qu atribuía 'ao físico, Meyerson dizia que o físico er coisista. Esta intuição ,vinlha ao encontro, sob muitos as pectos, da afirmação bevgsoniana sobre a inteligência hu mana qu estaria especificamente adaptada ao conheci mento dos sólidos. Os átomos eram então concebidos como !pequenos só'li!dos, como pequenas coisas. O a.tomismo era, po excelência. a doutrina da cOÍ'sitas. A aniquilação de um corpúsculo consagra, parece -nos, a derrota do coisismo. Vamos retomar, em breve, debate co o coisismo. Mas ainda necessário qu su blinhemos, desde já, a su importância filosófica. tanto mais necessário quanto estes fenómenos de criação e de aniquilação corpusculares nã retêm de modo ne nhum a atenção do comum dos filósofos. Esta indife um nova rença diante de fenómenos tão curiosos marca da profunda separação entre espírito filosófico e espírito científico. QU'ando, diante de um público de filósofos, se evocam estes fenómenos de aniquilação e de criação, apercebemo-nos quase fenomenologicamente des ta indiferenças, lemos verdadeiramente esta indiferença
nos seus rostos. Tais fenómenos são, para o fillósofo moderno, fenómenos «da ciência», ciência», nã são fenómenos da .filósofo aceita-os disc discut utir ir é re O se « ~ a t u r e z a » . ClSO! e cont contmu mua. a. Não Não os leva leva em conta em filosofia. Conserva os seus absolutos na própria época em qu ciência prova o 'seu declínio. (Activité, capo IH pp. 75-82.) 2.
Derrota do «Coisismo»
Se se percorrer a lista de restrições qu relem nas p á ~ i n a s p áprecedentes, vê-se que, ma se pôs o ~ i n a s concelto de cOlsa sob as propriedades do elemento cor puscular, foi preciso pensar os factos da experiência, reti rando-Ihes .0 exoesso de, i ~ a g e m que existe nesta pobre palavra COlsa. É necessano, em particular, tirar coisa as suas propriedades espaciais. Então o corpúsculo defi ne-se como um coisa não-coisa. não-coisa. Basta considerar todos os « o b j , e ~ t o s » microfísica,. todos os recém-chegados o st qu a físlca deslgna pela termmação d,?s os. um coisa s para compreender o qu cOlsa que. se singula s ingulariza riza po propriedades, naO-COlsa, u ~ a cOlsa que nunca sao as propnedades das coisas comuns. Ten taremos, em seguida, caracterizar rapidamente todos es tes e l e ~ ~ r õ e s , IprotõeS, IprotõeS, nucleões nucl eões,, neUltrõe neUltrões, s, fotões fotõ es ... Mas, grande variedade das suas d e s d ~ Ja, devemos notar tonalIdades filosóficas. Têm estatutos ontológicos dife rentes. E esta diferença seria ainda maior se acrescen tássemos nossa lista as gravitões de Mme. Tonnelat os limitões de Kwal, os excitões de Bowen e todos projécteis da física nuclear. Diante de um tal variedade os f i l ó s o f o ~ , os realistas, os positivistas, os racionalistas' os conv conven encl clOn Onal alis ista tass e os cépt céptico icoss podem podem da retira; o exemplo que lhes sirva de argumento. Abafar-se-ia Abafar-se-ia as d i s c u s ~ õ e s filosóficas ao confundir todos os aspectos so a quabficação de coisista. Seria n e c ~ ~ s á r i o , de resto, pô paralelamente ao pro blema do ~ O l s l s m o o problema similar do choquismo. Com noçao de choque encontramo-nos diante de um espécle . de mons!ruosid ade epistemológica. epistemológica. Considera-se Considera-se c?mo slmple: e e de '!ID:a complexidade inicial, pois qu Cons S l ~ ! e t l z a nc;>çoes. ~ e ~ m e t n ~ a s ~ o ç õ e s materialistas. Cons ~ r O l - s e asslm c ~ e n c l a e fIlosofla sobre um conjunto de lmagens grosselras e ingénuas. Que seria a filosofia de Hume se os homens não tivessem jogado bilhar! Uma 21. bramc;>s
carambola .bastou para mzera ffiosofia de toda a natu reza. E o paradoxo continua. choque, que fornece tan tas lições para um cosmologia do acaso, p r o p o r ~ i o n o u própria raiz da doutrina da causalidade. choque ofe rece verdadeiramente a lição ingénua da causalidade. E podemos perguntar-nos se a noção de causalidade ultra passa a informação qu dã as intuições ingénuas do choque. Cuvier faz a este respeito um confissão muito clara, qu nã reteve suficientemente a atenção dos filó sofos: «Uma vez saídos dos fenómenos do ohoque, não temos ideias nítidas sobre as relações de causa e efeito» 1. (Activité, capo I, pp 83-84.) 3.
Derrota do «Choquismo»
22. Haveria muito a dizer sobre o choque esquematizado qu passa po ideia simples no conhecimento co
mum. Mas, se nos ativermos filosofia -corpuscular, pa rece se necessário defendermo-nos de toda a referência um teoria macroscópica do choque e se necessário refazer de novo um teoria do encontro. Émile Meyerson escreve, porém: «Toda a acção entre corpúsculos nã pode, evidentemente, o p e r a r - s ~ nã se pelo choque... choque ... a acção pelo choque constitui o elemento essencial, nã unicamente da teoria dos gases, mas de toda a teoria corpuscular» 2. Sublinhámos duas palavras do texto, por que são as palavras sobre as quais se devia fazer opo sição numa discussão co o filósofo coisista. Mas ta discussão é irlútil.' A ciência contemporânea é formal, conclui exactamente pelo inverso da tese meyer soniana. Com efeito, a ciência actual evita' cuidadosa mente empregar ,a palavra choque, não ser em vista da brevidade, em lugar dos" difere ntes pr ocessos ocess os de in teracção. Po exemplo, no seu belo livro sobre os raios cósmicos, Leprince-Ringuet escreve: «No domínio ató mico e, em particular, quando se trata de partículas como os electrões, a expressão de «choque» ... nã im plica que tenha havido contacto, pela razão de que nã é possível fazér-se um representação espacial do elec trão: é melhor dizer «interacção» do que choque, porque faz intervir imagens menos definidas e é menos ine-Cuvier, Rapport historique sur les progres des sciences naturelles depuis 1789, Paris, 1818, p. 7. Meyerson, llQentité etréa1ité, p. 63. ~ m i l e
xado» 1. P. e R. Daudel fazem a mesma observação: para eles, falar de choque escala da microfísica nã faz'!
muito sentido
2.
Acumularíamos facilmente observações similares. De resto, basta pensar em fenómenos de interacção de partí culas de natureza diferente, como o fotão e o electrão, para compreender que esta interacção não pode se estu dada como um choque de duas bolas de idêntico marfim. E necessário, então, pelo menos, da ao choque novas definições. O efeito Compton, que estuda uma ta interac ção, está cheio de novos pensamentos. pensamentos. Perderíamos se valor instrutivo 'se negligenciássemos a variação de fre quência do fotão, se no limitássemos a ver no encontro um «ohoque». Assim, o coisismo e o choquismo aparecem-nos como filosofias "muito pouco apropriadas para uma descrição dos fenómenos da ciência moderna. Tais filosofias entre gam-nos escravidão das nossas intuições primeiras rela tivas ao espaço e força. Estamos mal preparados para seguir a evolução do atomista moderno, se aceitarmos a fórmula de Meyerson, que diz qu átomo não é, «a be dizer, senão um bocado :do espaço» 3. Ei um elemen·tar fórmula-resposta, fórmula que fecha questões, que nã faz perguntas, que nã dá importância enorme problemática do atomista moderno. Liquida, po isso, muito depressa, as restrições prudentes do espírito posi tivista. Podemos, portanto, apresentar esta fórmula como um exemplo nítido da involução do pensamento filosó fico. Na verdade, a noção de um corpúsculo definido como «um pequeno bocado do espaço» reconduzir-nos-ia um física cartesiana, a um física democritiana contra as quais é necessário pensar, se se pretendem abordar os problemas da ciência contemporânea. A noção de corpúsculo concebido como um pequeno corpo, a noção de interacção corpuscular concebida como o choque de dois corpos, eis precisamente noções-obstdculos, noções paragem-de-cultura contra as quais é necessário preca ver-se. E, a este propósito, é todo o drama da «explicação das ciências» que é necessário evocar: porque se explica e quem se explica? Se dúvida, explica-se a quemLeprince-Ringuet, Les rayons cosmiques, Albin Michel, no UV. éd., p. 23. P. et R. Daudel, Atomes, molécules et lumiêre, Paris, 1946. emile Meyerson, ldentité et réalité, p. lZ43.
precisa de explicação, a quem não sabe. Mas saberá ele um pouco e quererá saber mais? E, se ignorante quiser sa1?er mais, estará preparado para saber de outra ma netra? Estará ele pronto a receber progressivamente toda a problemática do tema estudado? Em suma trata-se de cur.iosidade ou de cultura? Se a «explicação» nã fo maIS que um redução ao conhecimento comum ao co p;odução n h e c i ~ e n t o vulgar, nã terá nada a ver co
esencIal do pensamento científico. Ora, demasiado fre quentemente, repitamo-lo neste ponto preciso da nossa d i s c u ~ S ã o , a filosofia, ao interrogar o sábio, pede-lhe para reduzzr o conhecimento científico ao conhecimento usual seja, ao conhecimento sensível. Sobe ao longo d o ~ d o ~ seculos para reencontrar a feliz ingenuidade da intui ções primeiras. (Activité, capo lIl, pp 85-86.) lI
conceito científico de matéria física contemporânea
na
1.
A física contemporânea
«materialista»
23. Uma coisa pode muito bem ser um objecto inerte para uma espécie de empirismo ocioso e maciço, para um experiência nã realizada, ou seja, nã com provada e, po consequência, abstracta, apesar das suas reivindicações do concreto. Não acontece o mesmo co um experimentação da microfísica. Aí, nã se pode praticar a pretensa análise do real e do devir. Só se pode um fotão imó descrever numa acção. Po exemplo, qu vel? Não se pode separar o fotão do seu raio, como gos taria, sem dúvida, de fazer um coisista habituado a ma nejar os objectos incessantemente disponíveis. O fotão é evidentemente um tipo de coisa-movimento. De um ma neira geral, parece que quanto mais pequeno é o objecto, melhor ele realiza o complexo de espaço-tempo, qu é própria essência do fenómeno. O materialismo alarg"ado, liberto da su abstracção geomét:ica pr:mitiva, leva assim naturalmente a associar a matéria e a radiação. Deste ponto de :vdsta, quais :vão ser, para matéria, as características fenomenais maIS importantes? Sã as qu dizem respeito à su energia. Antes de mais nada, é necessário considerar a matéria como um transformador de energia, como uma fonte de energia; depois, prefazer qu a equivalência das noções e perguntar-se como energia pode receber as diferentes características da ma-
téria. Por outras palavras, é a noção de energia qu traço de união mais frutuoso entre a coisa movimento; é po intermédio energia qu se avalia a eficácia de um coisa em movimento, é por este inter médio qu podemos ve como um movimento se torna ooisa. um 'Passado já se ~ e m dúvida, na ~ a c r o f í s i c a do século 'Passado exammavam com CUIdado as transformações de energia, ma tratava-se sempre de balanços foscos em que o por menor da evolução nã estava fixado. Daí a crença nas transformações contínuas nu tempo sem estrutura: continuidade de um conta no banco impedia de com preender carácter discontínuo da troca. Tinha-se che gado a um espécie de doutrina abstracta da transfe rência, que hastava, acreditava-se, para explícar a econo mi energética. Assim, as energias cinéticas tornavam-se p o t ~ n c i a i s ; as d ~ v e r s a s f o ~ a s de energia, caloríficas, lummosas, qUlmlcas, eléctncas, mecânicas, transforma vam-se directamente um na outra, graças a coeficientes de conversão. Se dúvida, caía-se mais ou menos na conta de que um matéria devia formar o lugar, servir de base esta troca energética. Mas, em tais trocas matéria não ~ r a muitas. vezes ma!-s que um espécie de c a u ~ ~ c ao ~ u à ~ s ~ l O n a l , um. SImples melO de expressão para um ClenCla que quel'la continuar realista. Toda uma escola, de resto, pretendia dispensar a noção de matéria. E r a ? teII!po em qu ~ s : w a ! d dizia: O paJU que bate em Scapm nao prova a eXlstencla do mundo exterior. Esse pa nã existe. Só existe a su energia cinética. Karl Pearson dizia o mesmo: A matéria é imaterial em mo
forma
v i ~ e n t o ! .
is
~ - 7 1 ' W l f j t e r in m o t r o n t.
Outras tantas
aflrmaçoes q1!e. podlat.n parecer legítimas, porque não matena. conSIderada senão como um suporte s e n ~ o pláCIdo e a energIa como um qualidade de certa forma indiferente ao suporte, er possível, através de e x t e r i o ~ uma cntlca à Berkeley, f ~ z e r a economia do suporte para a I ? ~ n a s f a l ~ r f a do l ~ r v e r d ~ d e I r o fenómeno de essência ener getlca. ASSIm se exphca qu um ta doutrina se tenha af!stado de todo o estudo relativo à estrutura da energia. Nao somente el se opunha às investigações atómicas s o ~ r e e ~ t ~ t u r a da matéria, mas dirigia-se, no s ~ u pró dommlO, para um estudo geral da energia, se pro-
Cité par Reiser, Mathematics and emergent evolution, in Mo nist, Out. 1930, p. 523.
curar construir a energia. (Nouvel Esprit, capo IH 61-63.) 2.
Ela não
pp.
empirista
24. Se seguirmos assim problema das trocas entre matéria e a energia, tentando descer aos domínios da microfísica onde se forma o novo espírito científico, apercebemo-nos apercebemo-nos qu e o estado de análise das nossas intui qu as Meias mais ç?es comuns mu to enganador SImples, cÇ>mo as do choque, da reacção, da reflexão material QU luminosa, precisam de se revistas. O mesmo é dizer qu as ideias simples precisam de se complica das para poderem explicar os microfenómenos. Tomemos, po exemplo, o caso da reflexão luminosa e vejamos como própria ideia de reflexão, tã clara na intuição macroscópica, se torna confusa desde qu se pretende estudar a «reflexão» de um radiação sobre um
corpúsculo. Compreenderemos facilmente neste exemplo ideias simples do tipo i n e ~ i c á c i a epistemológica da carteSIano, quando se vão buscar estas ideias simples a um intuição imediata, na qual se realiza demasiado de pressa a fusão dos ensinamentos da experiência e da geometria elementares. A experiência habitual do espelho é, ao primeiro con tacto, tã simples, tã clara, tã distinta, tã geométrica que poderia s ~ r colocada na base da oorrduta científica, no mesmo estIlo em qu Pierre Janet fala do comporta mento do cesto para caracterizar mentalidade 1)umana mostrar grande superioridade da criança q ~ e q com ~ e preende a aeção totalizante do cesto, enquanto qlIe o cão nunca se serve do cesto como colector de objectos. Na realidade, o comportamento do espelho é um lesquema de pensamento científico tã primitivo qu pa ce difícil de a n a ~ i s a r psicologicamente. Também os pr cipiantes se admIram muitas vezes com a insistência do professor diante. da lei da reflexão. Parece-lhes evidente que raio reflectldo tome um orientação exactament simétrica ao raio i ~ c i d e n t e . .o fenómeno imediato ão põe o pro blema. P ~ e s t 1 ~ y , na su h i s t ó ~ i a da óptica, iz que a lei da r ~ ~ e x a o fOI sempre conheCIda, sempre c mpreendida. desenvolvimento pedagógico provém ~ i f l c u l d a d e aqUI, como.:m .multos ~ a s . o s , da. facilidade da experiência. ~ s t a ~ x p e n e n c l a constItuI preCIsamente o tipo de dados tmedtatos qu pensamento científico científico nov o deve recons-
truir. E isto não é um questão de pormenor, porque a reflexão da luz ilustra toda a experiência de ressalto. As
intuições mais diversas reforçam-se umas às outras: com preende-se o < : h o q ~ e : l á s ~ c : o pela reflexão luminosa apli cando um prmcípIO mtuItIvo caro a Kepler, que queria que «todos os fenómenos da natureza fossem referidos p r i n c í p ~ o da luz». Reciprocamente, explica-se a refle xao pelo rIcochete das balas luminosas. :g mesmo nessa aproximação qu se encontra um prova da materiali dade destas balas. Cheyne, um comentador de Newton r : t e ~ e - o ~ x p r e s s a m e n t e . A luz é um corpo ou uma s u b s ~ tancIa, dIZ ele, porque «pode se reflectida e determi nada mudar de movimentos como outros corpos, e (que) as leis da reflexão são as mesmas que as dos outros corpos». Encontraremos no sábio livro de Mme. Metzgel t, do q?a! retiramos e s ~ a citação, ~ a s s a g e n s em que o subs tancIahsmo dos corpusculos lummosos é mais acentuado' primeira prova: o ricochete continua sempre a se ;de razão ac!ua claramente a pro ~ u f i c i e n t e ~ r i n c í p i o pÓSIto da leI da reflexao; vem subItamente ligar expe riência real a lei matemática e assim se forma na base da ciência, um belo tipo de experiéncia privilegiada, de grande riqueza explicativa, totalmente explicada; um acontecImento do mundo físico é promovido categoria de meio de pensamento, de Denkmittel de categoria do espírito científico. Este acontecimento é a ocasião de um geometrização fulminante qu deveria levantar as suspeitas do filósofo habituado complexidade da Física matemática. Com efeito, esta fonte de clareza qu é a intuição privilegiada da reflexão luminosa pode se um causa de cegueira. Sigamos, po exemplo, a propósito do pro blema da co azul do firmamento, os reais obstáculos trazidos pela conduta do espelho. O problema foi posto pela primeira vez em termos científicos po Tyndall. Tyndall não se contentou co explicação substancialista, curiosamente ambígua, que pretendia que o ar fosse incolor com pouca espessura, e colorido com grande espessura, dupla afirmação be característica de um espírito pré-científico, descansado perante as teses realistas, mesmo quando contraditórias. Fazendo referência a engenhosas experiências sobre sus pensões de almécega em água límpida, Tyndall acreditou Mme.
H e l ~ n e
chimique, pp. 74
Metzger. Newton, Stahl, Boerluzave et la doctrine
sega.
poder estabelecer que o fenómeno do azul do céu pro vinha de um difusão da luz sobre partículas materiais. Lord Rayleigh apresentou em 1897 um teoria do fenó meno, mostrando que a difusão não se fazia de modo nenhum através de poeiras ou de gotinhas, mas sim de moléculas do próprio gás. Segundo esta teoria, toda a luz emitida pelo Sol está be difundida, mas como a inten sidade da luz difundida é inversamente proporcional quarta potência do comprimento de onda, é a luz azul, cujo comprimento de onda é o mais pequeno, que predo mina no efeito de conjunto . A .fórmu .fórmula la de Lord Rayleigh é engenhosa e rebuscada, mas a intuição de base perma nece muito simples: energia recebida é devolvida; a mo lécula faz pura e simplesmente obstáculo luz, reflecte a luz segundo o comportamento do espelho. Não há ne cessidade, pensa-se, de procurar mais longe. Não nos encontramos diante da mais clara, da mais distinta, da mais essencial das intuições em que coisa reflecte um movimento? Ora, um descoberta muito importante continuava escondida pela própria explicação. Pareceria evidente qu o fenómeno de mudança de cor da luz reflectida de vesse sugerir um estudo espectroscópico da radiação di fundida. No entanto, este estudo espectroscópico foi du rante muito tempo negligenciado. negligenciado. [ ... 25. Foi somente em 1928 .que um físico genia-l hindu, Si Raman, fez notar que a luz difundida contém raios de frequências inferiores e superiores frequência inci dente. O alcance científico da descoberta do efeito Ra ma muito conhecido, ma como negligenciar o seu alcance metafísico? Com efeito, ao nível da microfísica, apercebe-se um cooperação entre a radiação e a molé cula; a molécula reage juntando radiação recebida as suas próprias características radiantes. A vibração que vem tocar a molécula nã ressaltará como um objecto inerte, nem como um eco mais ou menos abafado; terá um outro timbre, porque vibrações múltiplas virão .Iuntar-se-Ihe. Mas esta é ainda um visão e um expressão demasiado materialista para darem conta da interpreta ção Quântica do Ifenómeno: será verdadeiramente um espectro luminoso que sai da molécula tocada por um raio? Não será antes um espectro de números que nos transmite as novas matemáticas de um mundo novo? De qualquer maneira, quando vamos ao fundo dos mé todos quânticos, damo-nos conta de que já não se trata de um proHema de choque, de ricochete, de reflexão,
nem sequer de um simples troca energética, mas que as trocas de energia e de luz se estabelecem segundo um jogo duplo de escrita, regido po conveniências nu méricas complicadas. Assim, o azul do céu interpretado matematicamente actualmente um tema de pensamento científico, de que nunca seria demais acentuar a impor tância. azul do céu, do qual nós afirmámos mais acima, o pouco que tem de .«'realidade» é tã instrutivo para o novo espírito científico como o foi, séculos atrás, mundo estrelado po cima das nossas cabeças. Assim, é quando observamos o fenómeno luminoso resistindo ao esquematismo, lutando contra intuição primeira, provocando razões de pluralismo experimental, qu se atingem os pensamentos que corrigem os pensa as experiências qu corrigem as observações. mentos (Nouvel Esprit, capo IH pp 71-73.) 3.
Ela não descreve, «produz» fenómenos
26. Desde qu se sabe qu a's 'trocas Ide ' e n e ~ a se fazem, no pormenor dos fenómenos. po unidades, desde que se conhece o valor desta unidade, encontramo-nos diante de uma outra perspectiva de racionalidade. Assim, o fracasso das intuições continuistas está be longe de ser um fracasso do racionalismo. Este fracasso pôs caminho novo. O racionalismo clás racionalização nu sico, desenvolvendo-se em intuições estritamente geomé realidade senão através do tricas, não podia atingir espaço. As relações entre o racionalismo e o idealismo podiam continuar estreitas. O racionalismo da energia tira toda a possibilidade de interpretação idealista. Se pretendesse desenvolver um interpretação subjectiva, não abordaria senão metáforas, sofreria sedução da belas imagens do activismo. O destino do racionalismo da energia é inteiramente diferente quando o considera mo
no imenso
doravante energetismo descontínuo. Este racionalismo um racionalismo que te um obiecto real, raciona lismo que informa carácter realístico maior. A energia é própria realidade, dizia-se já no fi do séc. XIX. químico Ostwald gostava de repetir que não er pa de Scapin que era real; ma energia cinética do pau. Mas o eneJ:1geti'smo século XX te um alcance mudto um simples descrição dos fenómenos; diferente. Nã põ em evidência a produção do fenómenos. O energe-
tismo quântico nã no dá somente o como do f e ~ ó menos, dá-nos o porquê do fenómenos. E, além do maIS, esta ciência do porquê pode parecer um decepção total para a ciência do como. Precisamente esta ciência do porquê exige um conversão de dnteresses, IUma adesão novos tipos de explicação, substituindo precisamente as provas racionalistas pelas evidências sensíveis. (Activité, capo V, p. 139.) 4.
E uma ciência de «efeitos»
27. Eis, de resto, um característica be especial da cência física moderna: ela vem a se menos um ciência de factos do qu um ciência de efeitos. Quando as nossas teorias permitiram prever a acção possível de um dado princípio, encarniçámo-nos em realizar esta acção. Estamos dispostos a da que for preciso, ma é neces sário que o efeito se produza no interesse em que é racio nalmente possível. Enquanto qu o efeito Kehr é fácil de realizar, o efeito Zeemann exige meios mais poderosos. O efeito Stark reclama campos eléctricos muito intensos. Mas os meios são sempre encontrados quando o fim definido racionalmente. Para um fenómeno previsto ra cionalmente, pouco importa de resto ordem de aproxi mação da verificação. Nã se trata tanto de grandeza, ma de existência. Frequentemente, a experiência comum um causa de desencorajamento, um obstáculo; então a experiência aperfeiçoada que decide tudo, porque é ela que obriga o fenómeno a mostrar su estrutura de licada. Há aí um filosofia de um empirismo activo be diferente de um filosofia do empirismo imediato e pas sivo qu toma a experiência de observação como juiz. A experiência já não pronuncia julgamentos se apelo; ou, pelo menos, enquanto ela se recusar sancionar nossa expectativa, faremos apelo a um experiência nova. um ponto de partida, já nã A experiência já nã um fim. (Pluralisme, sequer um simples guia, el p. 229.)
EPISTEMOLOGIA DA QU1MICA
A. 1.
Os obstáculos ao «materialismo raelonab Retrospecções intempestivas
usual, quando se 28. Nos livros de vulgarização quer apresentar o problema moderno das transmutações dos elementos químicos, evocar os alquimistas. Relem bra-se, bra-se, com complacência, complacência, que gerações de pesquisadores obstinados tentaram transformar o chumbo em prata em ouro e conclui-se po um fórmula do estilo: «Os
sábios contemporâneos realizaram o velho sonho dos al ,quimistas.» Mas pOPquê refenir-se a este qlano de fundo legen dário? Que impureza de pensamento! Como se pode te tão pouca confiança no espírito de novidade do leitor? arte e a literatura «realizam» sonhos; a ciência, não. O onirismo dos alquimistas potente. Ao estudá-lo pene tramos em camadas profundas do psiquismo humano e todo o psicólogo do inconsciente encontrará uma mina inesgotável de imagens na literatura alquímica 1. Mas o inconsciente, numa cultura científica, deve se psicanali sado de um lado ao outro. O pensamento científico re pousa sobre um passado reformado. Está essencialmente em estado de revolução contínua. Vive actualmente de axiomas e de técnicas, ou seja, de pensamentos verifi cados e de experiências que deram, com extrema pre cisão, as suas provas de validade. A ciência, nestas conCf. C. G. Jung, Psychologie und Alchemie, Zurich, 1944.
dições, não. teJ?
ganhar em qu lhe propúnhamos quando se trata de francas dialéc t ~ c : a s . _ Porque nada, absolutamente nada, legitima um fIhaçao das t ~ a n s m u t a ç õ e s alquímicas em transmutações nucleares. DeIxar supor um ta filiação é confundir os faltar precisamente ao dever filosófico de ins v . a l ~ r e s , tItuIr os valores propriamente -científicos, estabelecendo estes valores na su autonomia. P a , r ~ instituir os valores propriamente científicos é ~ e ~ e s s a n o colocar-se no próprio eixo dos interesses cien tIfIcos. falta de interesses propriamente científicos o aos resultados da c i ê n ~ i à p e ~ s a m e n t o p , e ~ s relativamente a m e n t o arnsca-se aos pi?res desvios. De qualquer modo, a t é c n i c ~ das t r a n ~ m u t a ç ~ s nucleares nã se pode compreender se p ~ d I r . aC? ~ e I t o r um e s ! o ~ ç o do pensamento actual, se necessano que o leitor saiba pelo va hIstona: menos onde se sItuam os problemas para julgar sobre o valor das soluções. contradição filosófica E, de resto, fácil fazer ve dos « t ~ a ? a l h o s alquímicos» e das pesquisas nucleares. alqUImIsta pretendia um mudança de qualidades. Ten t a v ~ , po exemplo: um mudança de cores, confiando no caracter s1;1bstancIa.1 d:;t cor. Que pudesse amarelecer o chumbo, eIS um. pnmeIro sonho, eis um programa. Com um semente cmzenta, com o germe do chumbo que substância ~ b t e r g r a ~ d e sonho o de fazer amadurecer realIzando metáforas, colheitas de ouro! Mais profun: damente amda, se o trabalho aiquímico podia tornar pesado o chumbo, se o chumpo pudesse tornar-se tã pesado A c ~ m o o ouro, a transmutação estaria be perto de te exIto!
f ~ l s a s f ~ contmUIdades, l s a s
76
particulares. Mas, desde que se pense na concepção de um .química essencialmente intermaterialista, de dência que es1Jll'da as relações ponderais entre as subs tâncias que .se combinam entre elas para ar novas subs tâncias, a :noção de densidade é relegada para o seu papel de simples designação preliminar; trabalhar sobre a den sidade, como tentavam fazê-lo os alquimistas, er por tanto trabalhar um nível superficial da fenomenologia, longe dos factores activos da transmutação. facto r activo não é sequer um facto r químico. E o Z do núcleo. E o número de protões no núcleo do átomo. Se a transmutação «sonhada pelos alquimistas» se houver de fazer, será necessário transformar Z=82 dó chumbo no Z=79 do ouro. Eis aqui um transforma ção eléctrica, ou melhor, um transformação protónica. técnica nuclear só pode conseguir esta transmutação se permitir subtrair cada átomo de chumbo três pro tóes. Se el executar ..esta subtracção, tudo resto é dádo po acréscimo: as propriedades químicas, as proprieda des físicas, at as boas velhas metáforas do grande peso e do brilho solar. falta de poder trabalhar estas profundidades, para além mesmo da primeira profundidade química, ao próprio nível da profundidade protónica, toda a tenta tiva de transmutação material devia resultar vã. por tanto be inútil colocar um falso problema na origem de um verdadeiro problema, absurdo mesmo fazer a apro ximaçãoentre alquimia e física nuclear. Muito pelo con
trário, é preciso que o pensamento filosófico acompanhe a técnica para pôr problema da sistemática das subs tânoias elementares ao nível em que aparecem as verda deiras filiações. Mas a perspeotiva dirigida para os fundamentos objectivos objectivos do real carecerá de profundidade se pretender sistematicamente conseguir a clareza do conhcimento conhcimento no primeiro contacto com esse conhecimento, sem seguir tarefa de aprendizagem progressiva do pensamento científico. filósofo fenomenológico declara, sem cessar, que coisa, a que é necessário voltar própria coisa. que objecto de ciência poderíamos agarrar-nos, quando cultura científica realiza precisamente um afastamento dos primeiros objectos? Quando se assinala aos filósofos este aprofunda mento da fenomenologia, necessário para classificar os. valores da experiência científica, quando o tomamos como pretexto para reconhecer um profundidadie na
objectividade, e correlativamente na consclencia um hierarquia de racionalidade, eles respondem frequente mente através da velha imagem céptica dos véus de 1sis, que eternamente desvelada guarda sempre os véus suficientes para esconder o se mistério. Eles recusam esta admiração racionalista que nos faz descobrir cada vez mais racionalidade, quando se destroem as primeiras ilusões. ilusões. Porqu e, enfim, a profundeza de objectividade, ta como a explora a ciência contemporânea, é, em cada descoberta, um prolongamento da racionalidade. O poder de explicação aumenta. Quanto mais profundamente fo a experiência, tanto mais sistematicamente se organiza o saber. Como se vê, um técnica de materialidade em pro fundidade é acompanhada, como o dizíamos mais acima, por um pensamento que toma consciência da sua racio nalidade, o que é, em nosso parecer, um renovação da tomada de consciência. A consciência da racionalidade de um saber um novo ponto de partida para uma feno menologia. Uma ta racionalização denuncia, po recor rência, a intencionalidade empírica da consciência pri meira, denuncia o ocasionalismo essencial da consciência no seu despertar. A consciência de racionalidade liga o se pensante a si mesmo através do próprio exercício do se pensamento ... De qualquer modo, esta divisão dos níveis materiais, todas as de qu acabamos de fazer um esboço, põ fi concepções filosóficas vagas na quais a matéria rece bi caracterizações gerais, como, po exemplo, no muito curto capítulo qu Émile Boutroux consagra matéria no seu livro sobre A contingência das leis da natureza. :E. necessário agora tomar a ciência da matéria na su pluralidade,. tomar matéria nas suas instâncias be diferenciadas. O que era para o filósofo um prova de contingência tornou-se um campo de racionalidades cada vez melhor ordenadas, cada vez mais hierarquizadas. Esta frágil contingência pela qual o filósofo defendia o seu sistema das ciências elimina-se no exame preciso dos problemas científicos. Ao procurar na realidade pro vas de contingência, parece que o filósofo espera ins truir-se diante do caos, diante dos fenómenos brutos, não esclarecidos. O filósofo perderia as suas ilusões de cép tico se participasse nã somente na obra de ordena mento dos seres da matéria, mas ainda nesta criação de seres novos, criação operada segundo planos racionais
cada vez melhor elaborados. (Matérialisme, pp. 103-105.) 2.
capo III,
Analogias imediatas
29. Não seria difícil mostrar que as carcterísticas marcantes do objecto físico foram, na r e a l ~ d a d e , na ori gem da ciência química, os primeiros obstáculos defi nição do indivíduo químico. Basta apenas pensar no carácter de solidez ou de fluidez tã contingente do ponto de vista químico, tão essencial do ponto de vista físico. Este insucesso é be visível quando se examina o ponto de partida das observações químicas nas obras do século XVIII. Haverá programa mais vasto e ao mesmo tempo mais directamente em contacto co a natureza do que os propostos pelos Lémery, pelos Rouelle, pelos Baumé! Assim Baumé proclama que fez com Macquer dezasseis cursos de q u í ~ i A c a , .cada compor d ~ s d quais ~ s tou mais de 2000 expenenclas, o que, Juntamente co mais de 10000 experiências pessoais de Baumé, ultra passa portanto número de 42 000 experiências. Se certas dosagens, dúvida, um químico químico m oderno cheg seguindo a evolução de certas reacçoes, a acumular tra balhos igualmente numerosos; mas trata-se sempre experiências similares qu podem se agrupadas em, espe cies em suma muito pouco numerosas. Com Baume, tra ta-se de experiências diversas e mesmo heteróclitas. De resto Baumé repete que a Natureza oferece um campo de estudos inesgotável. Mas este esboço nã tem no século XX. Com mesmo sentido no ,século XVIII efeito os estudos modernos tê pouco contacto com o facto 'natural e imediato. Partindo deste campo estreito, elas desenvolvem-se em profundidade. Todas as questõe nelas contidas são indirectas. No século XVIII, a Natu reza é, pelo contrário, tomada s u p e r f i c i a l m e ~ t ~ . s u «Que p e r f i c oi a Químko (diz Baumé 1) lance um olhar às IDlmmas pro duções que a Natureza estende diante dele, e sentir-se-á humilhado de ver esta ~ s é r i e de experiências que se ofe recem às suas investigações.» Eis, portanto, o químico diante de ';lma d i ~ e r ~ i d a d e que, primeira vista, parece dever m a ~ s m u l t l p l i c a r - ~ do que reduzir-se. Vejamos agora como e que a analogIa
Baumé, Ghymie expérimentale et raisonnée, t.
79
I, p.
VII.
l m e ~ t ~ .
vai
neste domínio imediato e constatemos que ela chega a organizar-se, a tornar-se realmente um analogia química. Precisamente Baumé pretende que plano de redução. Natureza oferece por ela Para ele, com efeito, a harmonia natural está indicada traços largos nas trocas químicas da vegetação. «A vege tação é o primeiro instrumento que Criador emprega Natureza em acção» 1. A função dos vegetais para pôr «é combinar imediatamente os quatro elementos e servir de pasto aos animais.» Depois, virá a acção do ~ r ó p r i o s animais, qu «convertem em terra calcária terra vitri Hoável elementar qu a vegetação já alterou». A Natureza te su disposição os combustíveis e a matéria então calcária; faz us deles «de milhares de maneiras». Como vemos, seriam os reinos da Natureza que forneceriam os quadros dos estudos químicos. Ideia falsa entre todas tã pobre de aplicações imediatas que o seu próprio promotor, depois de a te desenvolvido complacente mente no longo prefácio do se livro, não tarda a aban doná-la logo que passa aos trabalhos de laboratório. Mesmo em relação a um estudo mais profundo necessi mais preciso, a analogia de primeiro exame te dade de se rectificada. Tal é o caso das primeiras tenta tivas de classificação, fundamentadas nos fenómenos de combustão. Estas acções violentas definem-se po si mes ma aos olhos do observador. Nada nos prova, entre tanto, que elas tenham neceSsariamente de valer como factores determinantes de um analogia de conjunto. Na verdade, Baumé pensará por um instante em classificar os corpos pelo seu poder de combustão poder bem difícil de apreciar dlUrante o século XVIII - mas, longe de precisar este princípio, Baumé tentará aproximá-lo do motivo de analogia tirado mais um vez da intuição dos reinos naturais. Julgará poder tomar combustão como um característica química própria para distinguir, po um 1ado, os minerais (incombuSJtíve1s) e, po outro, os corpos de origem vegetal e animal ,(combustível). e. sem pre, portanto, mesma tendência para explicar o fenó meno químico por um fenómeno de certo modo mais imediato, mais geral, mais natural. Esta tendência, como ao vemos, vias a ,química mo derna encontrará o progresso. A experimentação química será fecunda quando investigar a !diferenciação da su'bsnão
jogar
tânoias, de preferência a um vã generalização dos aspec tos imediatos. (Pluralisme, capo I, pp. 30-33.)
mesma
Baumé,
loco
cit., t.
I, p. 10.
3.
A categoria filosófica
da
matéria
30. Não é raro encontrar nos juízos de valor que o filósofo exprime sobre a noção de matéria o vestígio de um verdadeira antinomia. Numa primeira série de juízos de valor, considera-se, co efeito, a matéria como um princípio de generalidade uma entidade suficientemente geral para essencial. El as explicar, todas as formas .!Índividuais, sustentar, se todas as qualidades particulares. Não se lhe reconhece nenhuma força para manter su forma. E pode-se at privá-la das suas qualidades. São numerosos os textos alquímicos em que se refere esta pretensão de desquali ficar matéria para, em seguida, lhe atribuir uma quali dade escolhida. Esta técnica torna-se nu movimento do pensamento filosófico muito comum, se que o pen em dia, nesta ocasião, o samento filosófico ponha be sentido das suas abstracçães. Em tal maneira de ver, a matéria já nã retida não ser sob o signo da quanti.;. dade. A matéria não é então mais do que quantidade, quantidade imutável, quantidade que se conserva através de todas as transformações. E assim, sob o signo da quantidade, graças aos princípios de conservação, a no ção de matéria abandonada ao sábio pelo filósofo. Na verdade, grandes sectores do conhecimento desenvol vem-se de acordo com a limitação do reino da matéria. Considerando a matéria pela su massa, pelo seu volume, pelo seu movimento, um doutrina como a mecânica racional te um valor de explicação insi'gne. Mas, mesmo quando o filósofo reconhece o sucesso de tais explicações científicas, continua muito perto de denunciar o quanti tativismo como um abstração. E eis então outro pólo da antinomia: numa outra série de juízos de valor, considera-se a matéria como própria raiz individuação, c o n f e r e m ~ s e - I h e , em todos os seus elementos, muitas vezes na mais ínfima parte, qualidades singulares, qualidades, po essência, incom paráveis de um matéria para outra. Sobre matéria assim tomada como raiz de toda a individuação, funda-se um irraoionalismo radical. E desafia-se o sábio a conhe ce matéria «no. seu fundo» {of. Boutroux, Les lois naturelles). Ao quantitativismo da matéria opõe-se então
81
um qualitativismo. filósofo pretende que intuições matizadas podem po si só fazer-nos atingir a qualidade. Capta a qualidade na su essência, da mesma forma que se prova um vinho fino. Vive os matizes. Vive «imediata
mente» a qualidade como se a vida sensível supra-indivi dualizasse ainda a individualidade da matéria oferecida à sensação. Esta antinomia não resiste a um estudo atento e pa ciente do mundo da matéria. Um estudo científico dos fenó fenóme meno noss materi materiais ais se este estudo trabalha os dois lado ladoss da antinomi antinomiaa dá-n dá-nos os ao mesmo tempo, caracte rísticas gerais, contáveis, sobre o conhecimento racional, e características particulares susceptíveis de definições experimentais precisas. A química, quando a seguirmos nos seus grandes progressos, dar-nos-á na sequência mui tas provas desta dupla determinação. Mas, desde já, no conhecimento comum, tomamos contacto, por um lado, constâncias materialistas qu ultrapassam co pobre generalidade co qual se queria limitar o conheci mento da matéria e, po outro, encontramos, nas diver sas matérias, propriedades muito be especificadas qu permitem um acordo particularmente claro entre os espíritos. Com efeito, comparar directamente as matérias, fa zer agir uma matéria sobre outra matéria, acompanhar a acção do fogo, da água, da luz sobre um matéria, eis e ~ e r i ê n c i a s imediatas que podem fundar um acordo pre liminar dos espíritos no tocante ao mundo material, acordo tanto mais claro quanto mais claramente se en trava qualquer interpretação. Este acordo dos espíritos já urna objecção ao irra s mo mo q ue ue p ro ro v s ór ór iio o cionalismo profundo que colocamos sob o signo da reali dade material insondável. Podemos certamente falar de um clareza materialista, capaz de rivalizar com a clareza geométrica. Se o filósofo desenvolve o seu protocolo de dúvida referindo-se às características fluentes de um matéria, à inconstância das qualidades materiais da cera, ele continua entretanto muito certo de poder retornar no di seguinte a su meditação a propósito da cera. O filó sofo tem, de resto, a certeza de se compreendido pelas outras pessoas quando fala da cera. Esta certeza não seria maior se ele falasse da forma das células hexagonais de um bolo de cera. Existem espécies materiais susceptíveis de serem tão claramente distintas entre si como o cone e a esfera no domínio das formas. A cera nunca será confundida com o alcatrão, como o hidromel
nunca capo lI
será com a panaoeia d e Berkeley (Matérialisme,
pp 61-62.) B.
«ma.teriaUsmo racional»
1.
Classifioação dos elementos
a)
Um
«pluralismo coerente»
31. Ao estudar-se o princípio das investigações que tiveram origem na organização das substâncias elemen tares de Mendéléeff, nota-se qu pouco a pouco a lei excede o facto, que a ordem da substâncias se impõe como um racionalidade. Que melhor prova podemos te do carácter 'fadonal de um ciência da substâncias qu chega a predizer, antes da descoberta efectiva, as propriedades de um substância ainda desconhecida? poder organizador do quadro de Mendéléeff é ta qu o químico concebe a sUlbstância no seu aspecto formai aDites de a compreender- sob as espécies espécies materiais. O género comanda a espécie. Em vão nos será objectado mais um iVez qu essa é um tendência muito parti cular e que a maior 'parte dos químicos, no seu labor quotidiano, se ocupam de 'Substâncias actuais e reais. menos verdade qu uma meta química surgiu Não com o quadro de Mendéléeflf e qu a tendência orde nadora e racionalizante levou a êxitos cada vez mais numerosos, cada vez mais profundos. Uma característica nova deve se assinalada: é a preo cupação de completude qu acaba de se manifestar na doutrina das substâncias químicas. O realismo, colo cando naturalmente o objecto antes do conhecimento, confia na ocasião, no dado sempre gratuito, sempre pos sível, nunca acabado. Pelo contrário, um doutrina qu se apoia numa sistematização interna provoca a ocasião, constrói qu não lhe é dado, completa e acaba heroica mente um experiência desconexa. Po conseguinte, o desconhecido é formulado. Foi sob esta inspiração qu a química orgânica trabalhou: conheceu,- el também, a cadeia antes dos elos, a série antes dos corpos, a ordem antes dos objectos. As substâncias foram então como que depositadas pelo ímpeto do método. Sã concreções de circunstâncias escolhidas na aplicação de um lei geral. Um potente a priori conduz a experiência. O real não mais que a realização. Parece até que um real s6 é ins-
certo se foi realizado e, sobretudo, se foi reco locado no seu lugar exacto, naS'Ua categoria de criação progressiva. nã Exercitamo-nos também pensar no real em mais nada senão naquilo que lá pusemos. Nada se deixa ao irracional. A química técnica chega a eliminar as aberrações. Quer construir um substância normalizada, acidentes. Está tanto mais segura um substância se mesmo quanto de te encontrado em função do se método de produção que ela determina. Se, como o diz tão justamente Roger Caillois 1, racionalismo se define po um sistematização interna, po um ideal de econo mi na explicação, por uma interdição de recorrer princípios exteriores ao sistema, temos de reconhecer qu doutrina das substâncias químicas é, na sua forma de conjunto, um racionalismo. Pouco importa que este exército de de rearearacionalismo dirigente comande todo um exército listas . .o princípio da investigação das substâncias está so a dependência absoluta de um ciência de princípios, de um doutrina de formas metódicas, de um plano coordenado em que o desconhecido deixa um vazio tã claro qu forma do conhecimento já nele está prefi trutivo
gurada.
Mas, se conseguimos fazer partilhar ao leitor nossa convicção da súbita supremaci dos valores de coerência radical na química moderna, se conseguimos dar-lhe a impressão de que as funções da filosofia Kantiana podem servir para designar certas tendências em acção no co nhecimento das substâncias, parte mais dura da nossa tarefa não está realizada e o qu resta fazer é aparente mente bastante enganador, pois que nos será necessário Kantismo da substância, acabado de ins mostrar que química contemporânea, contemporânea, se vai dialectizar. (Phi talar losophie du Non, capo IH pp 58-59.) b)
Dialéctica
32. A dialéctica parece-nos desenvolver-se em duas em ex direcções muito diferentes - em compreensão substância ao lado da substância na b tensão unidade da substância na pluralidade das substâncias. Primeiramente, sob a substância, a filosofia química formas geométricas que, no se colocou esquemas Roger Caillois, Le mythe et l'homme, p. 24, nota.
primeiro aspecto, eram completamente hipotéticas, mas qu pela S'Ua coordenação nu vasto conjunto doutrinaI se foram pouco pouco valorizando racionalmente. Ver dadeiras funções numenais apareceram então na química, em particular na química orgânica na química dos co complexos. Nã noção de justiça que, perante fórmula desenvolvida, se diz qu um tal fórmula um representação convencional; é antes um apresentação expe que sugere experiências. Da experiência primeira riência instruída existe um passagem da substâncio. substituto. fórmula desenvolvida é um substituto racio nal que dá para a experiência, um contabilidade clara da possibilidades. Existem, portanto, experiências quí micas qu aparecem a priori como impossíveis porque são interditas pelas fórmulas desenvolvidas. Na ordem fenomenal, as qualidades substanciais não indicariam de maneira nenhuma semelhantes exclusões. Vke-Versa, há experiências qu nunca se teria sonhado rea'lizar se não se tivesse previsto a priori su possibilidade confiando nas fórmulas desenvolvidas. Raoiocina-se acerca de um substância química desde qu dela tenhamos estabelecido fórmula desenvolvida. Vemos assim qu um um substância química fica a partir de então associado um verdadeiro número. Este número é complexo, reúne vá rias funções. Seria rejeitado por um kantismo clássico; mas, o não-kantismo, cujo papel é dialectizar as funções do kantismo, pode aceitá-lo. Naturalmente, ohieotar-nos-ão qu este número quí longe da ooisa em si, qu está em estreita relação com o fenómeno, traduzindo frequentemente termo po termo, numa linguagem racional, caracterís ticas que poderíamos exprimir na linguagem experimen tal. Objectar-nos-ão, sobretudo, qu nós tomamos pre sentemente os nossos exemplos numa química das subs tâncias complexas e qu propósito da substância necessário arprooiar o carácter filosófico simvlesque da Meia de substância. Mas esta última objecção nã carácter numenal !fez válida, porque su aparição na doutrina da substâncias simples. Cada substância sim ples recebeu, co efeito, um substrutura. E, facto ca racterístico, esta substrutura revelou-se de um essência totalmente diferente da essência do fenómeno estudado. organização de corpúsculos eléctricos, a ciência contem porânea estabeleceu um nova ruptura epistemológica. Ao explicar natureza química de um elemento po um
mico está be
Uma espécie de não-química constitui-se para sustentar a química. E, nã nos enganemos, não foi a fenomeno logia eléctrica que se colocou sob a fenomenologia quí mica. No átomo, as leis da fenomenologia eléctrica são, elas também, desviadas, dialectizadas. De modo que um electricidade não-maxweliana oferece-se para constituir um doutrina da substância química não-kantiana. Por tanto, as descobertas modernas exprimem-se de forma assaz incorrecta, quando se diz numa frase predicativa: «A matéria é, na su essência, eléctrica.» Esta forma rea lista desconhece a importância da física interna da subs tância. (Philosophie du Non, capo IH pp. 59-60.) c)
Constituição da sistemática
33. Perante todos os obstáculos encontrados pelas tentativas de classificação, classificação, é necessário chegar segunda para que o problema de uma metade do século XI sistemática dos elementos da matéria seja colocado numa perspectiva esclarecedora. esclarecedora. Se tivéssemos de marcar um pouco grosseiramente as revoluções de ideias pelas quais a ciência se renova, poderíamos falar, em primeiro lugar, da er analítica de Lavoisier, em seguida, da er sincrética de Mendéléeff. su Os trabalhos de Mendéléeff, qu tiveram durante vida muito pouca ressonância, tomaram, cinquenta anos após a su aparição, um importância considerável, ao quadro de Mendéléeff, sem dúvida várias ponto de vezes modificado, se uma. das páginas mais filosóficas da ciência. O quadro, ao estabelecer como um totali dade orgânica o conjunto outrora indeterminado dos cor pos simples, funda verdadeiramente a química sincrética. Ponhamos rapidamente em evidência a coerência sistemática dos corpos simples realizada po Mendéléeff. Em lu!!ar das classificações lineares que organiza os elementos em família sem nunca organizar entre va eles as famílias de elementos, o quadro de Mendéléeff põe em prática um ordem cruzada, um ordem com duas variáveis. Ao princípio, nã se distinguiu muito nitidamente estas duas variáveis; só foram be delinea das numa informação eléctrica muito avançada, que não podia aparecer na primeiras formas do sistema. Mas as diferentes funções destas duas variáveis ordinais multi plicaram-se com os progressos da ciência e podemos dizer que, em cada década que passa, nos últimos três
quartos de. século, século, compreende mos melhor a significação da ordem cruzada que constitui o princípio do quadro de Mendéléeff. A ideia directriz de Mendéléeff foi tomar para os corpos simples, como primeiro motivo de ordenação, o peso atómico e, como segundo motivo, a valência Quí mica. Ao escrever ,num linha horizontal a sequência dos corpos simples se·guindo a ordem cres cent e dos ;pes ;pesos os ató micos, ele interrompia primeira linha para colocar em colunas verticais os corpos simples da mesma valência. Acabada a segunda linha, uma. outra recomeça s ~ i n d o o mesmo apelo para pôr, pouco a pouco, as valências em colunas. Nada de mais simplesmente totalizador do que esta classificação qu põe em prática as duas noções
de peso atómico e de valência química que dominam a química clássica. (Matérialisme, capo IH 'PIp. 91-92.) d)
noção de peso atómico
34. Mas vejamos icle mais perto a noção de TJem atómico, que parece conter nas primeiras formas do Qua dr de Mendéléeff um privilégio de ordenação. A nocão de oeso at6mico, se isolarmos as fases da sua evolucão, pode co efeito servir-nos de a-rgumento para o polifilo sofismo que defendemos na presente obra. curta No decorrer desta noção, Que tem, na verdade, mais de um sécuqo de existência, exis te épocas em qu nã se hesita em afirmar realismo da noção, outras épocas em que se marca uma vontade explícita de se limitar ao TJositivismo da eXTJePretende-se entã manejar símbolos, símbolos, confia nu riência. Pretende-se simbolismo organizador, ma proíbe-se ir mais longe. Recentemente no ensino - em atraso aqui como frequen temente em relação ciênci ciênciaa efec efectiv tivaa insi insist stia ia-s -s no carácter de hipótese da noção de átomo. Aconselhava-se um TJeso, pois então a dizer qu peso atómico nã que apenas designa as relações ponderais dos corpos qu entram em composição. O peso atómico, se fosse verda deiramente o peso de um átomo, deveria se um número absoluto. Nas primeiras determinações e durante o séc. XIX, o peso atómico er um número relativo, um nú indica um relação de peso. O verdadeiro mero qu nome da sistemática dos pesos atómicos na química do séc. XI devia te sido: quadro dos números proporcio nais determinando a composição, em corpos simples, simples, dos
corpos compostos. Só depois do trabalhos da escola atomística do séc. XX em particular da escÇ)la de Jean Perrin número absoluto de i p os os sí sí ve ve l determinar peso determinado de substância átomos contidos nu calcular peso absoluto de um átomo de um substância
designada. Assim, sobre esta noção de peso atómico, podemos seguir um evolução de filosofia química, filosofia qu acede lentamente ao realismO' precisa graças organi zação racional de um experiência comparativa essencial mente complexa. Basta seguir esta evolução qu conduz um realismO' científica para ve
quão inertes são as
teses de um realismO' imediata, realismo imediato sem alinhar todo seu saber pre pronto partir de um experiência particular. Através da suas técnicas múlti plas e das suas teorias cada vez mais racionais, a quí mica contemporânea determina um verdadeiro «espectro filosófico», qu apresenta os diversos matizes de um filosofia primitivamente tã simples como o realismo. Enganar-nos-íamos, de resto, se bloqueássemos a filo sofia nu estado particular da ciência, ainda Que fosse estado presente. Persiste no espírito científico um visível, nitidamente história viva. Esta história be activa, ao nível da noção particular de peso atómico. Como um facto indelével, como facto de um cultura facto histórico: a peso atómico um tarnou absoluta. Este tornar-se deve ainda induzido em toda educação científica sã. E todo
activa subsiste
peso que
se
químico guarda no seu espírito marca desta trans químico formação.Em muitos dos seus pensamentos, utiliza ainda se aspecto noção de peso atómico so de número proporcionaI de combinação (noção muito positiva, pura tradução das relações ponderais encontra na sínteses do laboratório de quí das nas análises mica). :Mas o >químico sabe que o físico levantou as hipó teses e qu estamos neste momento no direito de tradu zi na linguagem realista as diferentes relações ponderais expressas na linguagem positivista. A linguagem realista mais forte. Confirma químico químico no bem fundamentado da noções teóricas; permite ao químico prender-se mais aos esquemas atomísticos, se prudência abandonar qu da regra no laboratório. Assim, ao peso atómico corresponde, de facto, um conceito afectada por um ,devir epistemológico, um con ceito que conserva as ligações históricas. Um filósofo que marcasse com um único traço a filosofia de um ta
conoeito impedir-se-ia de seguir a c t . i , : i d a ~ e p ~ i c o l ? ~ i c a real do sábio. através de tais simphfIcaçoes fIlosofIcas qu se chega a essas filosofias univalentes, filosofi filosofi.as .as sem pre tão cépticas perante teses adversas, cÇ>mo facIlmente convencidas pelas teses dogmaticamente " ' P r ~ f e s s a d a s . particular se nos afastarmos da teses geraIS, se deternll narmos os valores filosóficos ao níver61e problemas par poderemos aceitar como um ~ i l ~ m a ~ ai l esco ticulares, nã poderemos ~ m a lha que propõe Meyerson: realismo ou P O S I ~ I V I s m o . p? sitivismo nã se deixa tã .facilmente exclUIr e o propno realismo muda de carácter ao mudar de nível. Precisa problema que nos ocupa, a. designação mente, sobre electrónica dos diferentes tipos de átomos vaI des!oc:ar e precisar realismo da noção de elemeI?-tos ~ U ! m I c o s . Houve efectivamente um tempo em qu a SlstematIca fun dada po Mendéléefif sobre um fenomenologia pura mente química foi aprofundada positivamente po u ~ a organização, qu já não corresponde ao aspecto p r o p ~ a mente químico. noção de peso atómICO sucede entao como variável organizadora do quadro de Mendé léeff - um noção fenomenologicamente mais abstracta: noção de número atómico. A princípio, o número at6mico er um verdadeiro número ordinal; era, em suma, número que fixava a classe das substâncias elementares na sequência das diversas linhas horizontais no quadro de Mendéléeff. Filosoficamente, o progresso alcançado ao nível da noção de número atómico consistiu precisa função carmente na sua passagem de função ardinal dinal.Pudemos aperceber-nos de qu com esta n o ç ~ o n nã o ç ~ o
somente ordenávamos elementos ma qu contavamos qualquer coisa. Co noção ?e efeito, correlativamente família de elementos químicos, estabeleceu-se um n o ç ~ o aproximada, ma realisticamente mais profunda: n o ç ~ ? de estrutura electrónica qu dependia de um contabIlI dade inteiramente cardinal de electrões. Assim desde começo do séc. XX, a fenomenologia das substâncias elementares desdobrou-se e um siste mática especificamente electrónica foi instituída como base da sistemática química de Mendéléeff. Em conse quência deste facto, as doutrinas da matéria acolheram tipos de explicação i n t e i r a m e ~ t e D;0vos, f u n ~ a d o s s o ~ r e um verdadeiro domínio de raCIOnalIdade prOVIdo de prm cípios autónomos: 'a mecânica 'quânti-<:a. } J ~ novo o b j e ~ o b j e ~ efeIto pnnClJpIOS orgam electrão reclama co to zação e s p e c í f e i s ~ p a e , c i í ~ ftais a , como, po exemplo, o princípio de exclusão de Pauli. (Matérmlisme, capo lU pp 92-93.)
e)
Número atómico: uma das maiores conquistas teóricas do século
35. [ ... ] (a) justi ficaç ão da [perturbações origi nais do quadro de Mendéléeff qu devia] encaminhar para um conceito espantosamente fecundo, cuja forma ção segue de resto um progresso tã contínuo que difi cilmente se distingue o instante em Que este conceito se impõe na ciência. ciência. Preten demos falar da noção de número atómico. formação desta noção que vamos agora tentar descrever, porque ela que constituirá factor é, portanto, ao principal da harmonia material. El nossos olhos, um da maiores conquistas técnicas do
século. Devia, sem dúvida, parecer be audacioso a-bando na os pesos atómicos como base da classificação. Eles revelavam-se, co efeito, como parâmetros extremamente sensíveis, ultrapassando em todo caso a precisão neces sária à classificação das propriedades gerais. Por outro do séc. XIX, os químicos atinham-se siste lado, no fi maticamente às características puramente fenomenoló gicas da ciência: um vez que os fenómenos no apare ciam solidários, qu importa raiz sem dúvida para sem pr eS'Condida da Isuas ligações? A tarefa verdadeira mente positiva deve confinar-se à descrição das relações para esta descricão nã há mais do que as questões de franca comodidade, que possam fazer-nos preferir um variável a outra. Razões suficientes para negligenciar qualquer discussão sobre realidade fundamental de um variável distinguida na base de um descrição feno menológica. De resto, se basta mudar de variável, como nã adoptar uma variável qu seja aparente no fen6meno, um quantidade Que possamos ,pôr em evidência medir numa experiência? no entanto, um variável, qu devia parecer acabamos po d i r i g i r ~ o s , eminentemente factícia, qu visto que escolhemos, como elemento determinante fun damental, o simples número de ordem, qu fixava o lugar do elemento químico no quadro de Mendéléefif, como se paginação de wm livro pudesse esclarecer o todo! Mas o qu esta variável. qu er qu ainda mais espantoso em princípio um simples indicação Que nã tinha primi tivamente nenhum sentido experimental, nenhum sentido quantitativo, tenha tomado pouco a pouco um valor explicativo mais lonllo e mais profundo. Tornou-se um valor teórico particularmente claro e sugestivo; encon-
trou-se-Ihe um sentido aritmético muito simples. Actual mente, é esta variável solidária do conjunto dos corpos qu dá verdadeiramente medida da realidade química dos diversos elementos. (Plu"alisme, capo VIII, pp. 133-135.) 36. que é, portanto, número atómico que carac terIza um dado elemento químico? número de electrões contidos nu dos seus átomos. Assim tudo se torna claro numa nova explicação electrónica da sistemática química: o princípio ordenador é número atómico não é o peso atómico. E se sistema de Mendéléeff se pôde c ~ n s t ~ t u i r foi. em razão de um paralelismo (paralelismo alIás I ~ p e r f e l t o ) entre crescimento do peso atómico e o creSCImento do número atómico. O número atómico 1 V a ~ a 1 V de a ~ a 1 a 92, unidade po unidade, este número per mIte numerar as casas do quadro de Mendéléeff. Se os filósofos meditassem nesta passagem do ordi na ao cardinal, estariam menos cépticos acerca dos pro gressos filosóficos do pensamento científico. eis agora a ligação do número atómico com as considerações de estrutura para os diferentes tipos de átomos. Os períodos químicos (comprimento das linhas desenvolvem-se seguind cada um horizontais do quadro) desenvolvem-se número progressivamente crescente dos electrões na camada externa dos diferentes átomos do período. Po outro lado, a designação das famílias químicas faz-se pelo número de electrões na camada externa. Quando a ca mada externa contém um electrão, o elemento um elemento alcalino; alcalino; quando camada externa contém dois electrões, o elemento é um elemento alcalino-terroso ... co sete elementos na camada externa, obtém-se a famí lia dos Ihalogéneos; co oito electrões, a ,família dos gases inertes. Assim, as famílias químicas, po mais difíceis qu tenham sido de agrupar pela fenomenologia estrita mente química auxiliada pelas considerações de valência qu estavam ligadas às leis de Faraday sobre a electró lise, estão portanto claramente explicadas electricamente, ou, para falar de um maneira mais exacta as famílias químicas estão explicadas electronicamente. ' Sendo assim, se tivermos em consideração soma c ~ n s i d ~ r á y e l de pontos de vista teóricos e de organiza çoes tecmcas qu reclamam a noção de electrão, teremos de concordar Ique sistemática química, desde Que fun dada sobre esta noção, recebe um carácter filosófico novo, o carácter exacto que colocámos sob o signo de
racionalismo aplicado. A organização electrónica, tomada como um novo domínio de racionalidade, escla rece, 1ndireota mas profundamente, o nosso sa.ber empí rico. O quadro de Mendéléeff, reorga.nizado ao nível dos conhecimentos actuais, acede a um verdadeiro raciona lismo aritmético da matéria; ou seja, o quadro de Men déléeff é um verdadeiro ábaco que nos ensina a aritmé tica das substâncias, que nos ajuda a aritmetizar a quí mica. E avaliemos be esta diferença filosófica essencial: a matéria não é eléctrica substancialment'e; é electrónica aritmeticamente. A ciência da matéria escapa através desta revolução epistemológica aos sonhos dos filósofos irracionalistas. Com efeito, tudo o que o irracionalista postulava como substância designa-se como estrutura. Em vão, na su embriaguez do insondável, o filósofo irracionalista objecta ao sábio contemporâneo: «Não sa beis no fundo qu é substância do electrão», electrão», em vão o filósofo irracionalista acredita poder reportar a inge nuidade das suas questões ao além substancialista do corpúsculo constituinte. Postulando um espécie de trans cendência da profundeza substanciaHsta, o filósofo irra cionalista nã faz mais Ique tapar os ouvidos. O filó sofo irracionalista quer sempre ver as coisas sua maneira. Finge limitar-se às questões primitivas. Recusa-se à longa aprendizagem que permitiu ao sábio rectificar as perspectivas iniciais e abordar um problemática pre cisa. Como poderia ele, portanto, pô as questões que nascem precisamente de um inversão das relações entre 'a substância e a qualidade? Para compreender esta inversão é necessário dizer: as qualidades substanciais encontram-se acima da orga nização estrutural; não se encontram abaixo. As quali dades materiais são factos de composição, nã factos numa substância íntima dos componentes. Tocamos um limite em que o realismo não se interioriza mais, em qu precisamente o realismo se exterioriza. A revolução epis temológica da doutrina das qualidades materiais apare cerá de um forma mars clara -quando a tivermos, em seguida, estudado nu capítulo especial. especial. Mas desde já temos de comprender que a duali dade da organização electrónica e da organização quí mica comporta um dialéctiça que não node entregar su imobilidade a doutrina das qualidaaes substanciais. De qualquer maneira, sem nos aventurarmos ainda numa filosofia da qualidades materiais, podemos consum
tatar um diferença filosófica essencial entre os períodos do primitivo quadro de Mendéléeff, fundados sobre as qualidades químicas, e o período do quadro moderno, fundado sobre as estruturas electrónicas. Os períodos primitivos, tais como aparecer am nas investigaçõe investigaçõess empí ricas, são factos sem explicação. Estão ainda ligados à periodicidade de qualidades frequentemente imprecisas, po vezes ma medidas, que tinham sido estudadas po Lothar Meyer. Mas, quando a valência química é expli cada pelas organizaçõeselectrónicas, o empirismo de começo aparece como um conhecimento em primeira posição, conhecimento que constata, mas não explica. A teoria electrónica adquire então a função de um or dem de razões que explicam os factos. Uma tal hierar quia nos factos e nas razões não deve se apagada. Falar ainda do empirismo absoluto quando se atinge um tal potência dedialoctica de síntese confundir os cam biantes, recusar precisamente, na avaliação dos pen samentos científicos, os cambiantes filosófico filosóficos. s. Perdemos assim a espantosa instrução filosófica que acompanha oS progressos moderno s do conhecimento científico. científico. (Matérialisme, capo IH, IP'P. 95-97.) f)
noção de valência
doutrina das valências químicas, mesmo quan 37. do apenas examina o período moderno, pode [ ... de senvolver-se sob duas formas. conforme ela sistematize o aspecto propriamente químico ou encare as correla ções electrónicas sob o fenómeno químico das valências. Mas, um vez que o electrão no átomo na molécula obedece aos princípios da mecânica quântica, voltamos um dialéctica fundamental. um reforma radical da compreensão dos fenómenos, que nos é exigida se quisermos comparar as explicações químicas clássicas e as explicações electrónicas. Se pudéssemos viver verdadeiramente esta alterna tiva, levar a cabo estes dois desenvolvimentos paralelos de Uma ciência, na verdade duplamente activa, recebe ríamos o estranho benefício de um dupla compreensão. Tal seria a confirmação da verdade qu encontraríamos nestas ideias duplamente verdadeiras, nestas ideias du plas, ou, para falar como Victor Hugo, nesta «ideia bifurcada fazendo-se eco dela própria» 1. Como a nossa Victor Hugo, WiUiam Shakespeare, p. 221.
inteligência seria alertada pela alegria de compreender duas vezes, de compreender sob dois pontos de vista inteiramente diferentes, de compreender de outro modo, fundando em nó próprios um espécie de consciência de alter ego. Quando Hegel estudava o destino do sujeito racional na linha do saber, só dispunha de um raciona lismo linear, de um racionalismo qu se temporalizava na linha histórica da sua cultura realizando os momen tos sucessivos de diversas dialécticas e sínteses. racio nalismo, já tã nitidamente multiplicado na filosofia ma temática moderna pela multiplicidade das dialécticas de base, pela oposição das axiomáticas, recebe, nos domí nios da física e da química contemporâneas, um multi plicidade de linhas de cultura visando um mesmo objecto. Este racionalismo co vários registos, estes pensamentos com dupla história forçam-nos a deslastrar o espírito de um demasiado longínqua história. Estas duplas filiações tendem a actualizar-nos na cultura racio nalizada. (Matérialisme, capo IV, p. 138.) 2.
simbolismo químico
38. Outrora, a pré-química considerava como su principal tarefa estudar os «mistos» as misturas mate riais. curioso ve a ciência contemporânea estudar verdadeiras teorias mistas. verdadeiramente nesta coo peração de princípios teóricos qu se manifesta intensa actividade dialéctica, que caracteriza a ciência contem porânea. Este «misto de teorias» determina um curioso misto de símbolos qu merece, cremos nós, chamar atenção do filósofo. O trabalho do simbolismo de que queremos falar toca traço de união qu química elementar tornou familiar ao colocá-lo em todas as fórmulas desen volvidas para indicar as valências trocadas, como, po exemplo, na !fórmula desenvolvida da moléctrla de água. H-O-H
,Em primeiro lugar, qu devemos distinguir daqui em diante a electrovalência e a covalência, é necessário que o simbolismo se divida. Para indicar as electrova
lências servir-nos-emos dos sinais recebem significação eléctrica, o anião terá o sinal e catião o s i n a l - . Assim, para explicitar o carácter heum
teropolar do ácido clorídrico, escrevemos H+ CI-. Aniões apenas u m ~ contendo duas electrovalências terão nã em expoente. iEstes aniões deverão, ma dois sinais numa molécula de carácter heteropolar, estar associados a catiões com dois sinais - em expoente. Mas oomo representar a oovalência? O traço de união que conserva um sentido oculto de força de liga ção deve, ao que parece, se afastado... covalência é devida ao acasalamento de dois electrões. ;É, p o ~ s , muito natura'l representar uma união de covalências po dois pontos. Portanto, no lugar do traço horizontal, colo car-se-ão como símbolo, no caso da covalência, dois pon tos colocados verticalmente. Em lugar do tradicional sinal químico ( - ) , teremos então o sinal electrónico (:) e fórmula da água desenvolvida electronicamente virá
a ser:
porque, na molécula covalentes.
da
água,
as
ligações são ligações
aqui que entra em acção um dialéctica tão rápida tã delicada que poderíamos avaliar ma o seu valor. Esta dialéctica articula, contudo, dois períodos diferen tes da história da química [ ... ] Esta dialéctica um pouco desconcertante como toda grande dialéctica consiste em conservar o traço de união conferindo-lhe a signifi
cação dos dois pontos electrónicos.
Eis
um
materialista.
outra história desta mudança
de pontuação
Foi 'grande químico R. Robinson quem propôs reinstalação do traço de união dando-lhe um significa çã elootrónica 1. Bemard Eistert3lpresenta o desloca mento da significação simbólica nestes termos 2: «O traço não simboliza apenas uma relação abstracta de valência entre dois átomos, ma um relação muito concreta, a saber, a participação comum de dois átomos a dois electrões. E podemos da um passo ainda mais decisivo definindo, a partir da preposição de R. Robinson, o traço como o símbolo de dois electrões (pares de electrões ou doblete). Se reunirmos em pares os electrões livres e se representarmos cada par por um traço, obteremos então Cf. Kermack e R. Robinson, 'oum. Chem. soe, London, 121,
433, 1922. Bemard Eistert, Tautomlrie et mésomérie, trad.,
p.
8.
as fórmulas de Robinson. Por exemplo, a fórmula elec trónica da molécula de água: 0:
torna-se, na escrita de R o b i ~ s o n : H-O-H
Quando os dobletes de electrões estão livres, Eistert propõe um modificação suplementar do simbolismo de Robinson, modificação que consiste em nã pô o traço correspondente ao doblete livre em situação radioal, ma em pô-lo em situação tangencial, de certo modo tangente ao núcleo da molécula. Nestas condições, em lugar da fórmula da molécula da água de Robinson: H-O-H
teremos a fórmula de Eistert: H-O-H
A quadrivalência do car bono escrever-seescrever-se- no simbolismo de Eistert: le
Assim, um longa longa histó ria da química será resumida na seguinte série de fórmulas representando a molécula da água:
HzO, H - O - H , H : O : H H-O-H, H-O-H
Para bem apreciar todo o valor epistemológico des
activo mos casos mais complexos. Mas o filósofo -las através de fórmulas mais complicadas do que as que correspondem a um pequena molécula de água. Como todos os valores construtivos, é ao nível das relações mais complicadas que podemos verdadeiramente apre-
tr
ciar todo o seu alcance. :e. um infortúnio para a filo sofia das ciências te de se apresentar através de casos simplificados, quando o pensame:q.to cientifico se encon tr activo no casos mais complexos. Mas o filósofo devia te confiança no sábio. O químico não complica estes símbolos para se divertir, mas porque sabe qu deve torná-los adequados a um ciência qu se complica ao progredir. Aqui, na linha simples qu indicámos, re side um facto: o novo simbolismo contém mais pensa mento do que o antigo, contém não somente um ver dadeira história dos progressos, ma traz ainda suges tões pesquisa experimental. O simbolismo rectificado, enriquecido, te assim um certa espessura filosófica, um profundidade epistemológica. Um filósofo sorrirá, sem dúvida, ao le que, seguindo a palavra de Robinson, «o traço adquiriu substância». O filósofo não se serve assim tão gratuitamente da noção de substância. E, no entanto, a expressão nã surge irreflectidamente sob a caneta de um químico. El retomada po Eistert, reto mada po Dufraisse. :E basta meditar na dialéctica que, partir do traço oonvencional, passando por uma refe rência à realidade do doblete electrónico, volta ao traço carregado de sentido para compreender a justeza da de signação signação substancialista indicada po Robinson. Porque, afina:!, se o filósofo quiser analisar as suas categonas, não será conveniente que as examine quando elas funcionam? E talvez po privilégio privilégio de exame, quand elas funcionam delicadamente, subtilmente? Poderá ele sentir-se satisfeito co um acto predicativo, afirmando um substancialidade sempre incondicionada, enquanto se lhe oferecem tipos de substancialização, utilizações da categoria de substância inteiramente novas, que a refle xão filosófica nunca poderia encontrar? Em suma, não teria o ·filósofo vantagem em vi procurar no pensamento científico tã activo objectos precisos para as suas dis cussões, condicionamentos delicados susceptíveis de ma tizar a u:trlização da suas categorias? (Má.térialisme, capo IV, 132-135.)
3.
A «socialização» da química contemporânea
a)
l l o ~ ~ e ~ d a
d e
39. Quando materialismo abandona a falsa cla reza de um teoria do quatro elementos, das quatro
raizes simples da materialidade, entrega-se a investiga ções qu dizem respeito a matérias terrestres, a corpos tangíveis; tangíveis; ele é de novo colocado dian te da extrema diver diver sidade das matérias sólidas. E esta diversidade que im porta reduzir e, se ;possível, ordenar. O pritmeiro passo é o de romper com o mito filosófico de um espécie de diversidade em si. Para isso, é preciso considerar um noção que ne sempre reteve suficientemente a atenção homoge neidade rrulte rrulteria rial. l. dos filósofos: a noção de homogeneidade primeira vista, poderia parecer qu a noção de homogeneidade fosse como que um espécie de categoria do materialismo. El é, sob muitos aspectos, um pausa no progresso dos conhecimentos da matéria. Mas esta pausa sempre provisória; é o ponto de partida de um dialéctica materialista: o químico procura, em primeiro lugar, a substância homogénea, em seguida, volta a pô em questão a homogeneidade, procurando detectar o ou tr no seio do mesmo, a heterogeneidade escondida no seio da homogeneidade evidente. Assim, antes de chegar a um reportório da subs tâncias homogéneas, das espécies químicas, das matérias fundamentais, o químico tem necessidade de fazer nume rosas observações e experiências. A realidade, muitas ve zes, não oferece senão misturas grosseiras, diversidades materiais confusas. Uma «análise imediata», segundo a palavra empregada nos tratados de química, é portanto um técnica preliminar indispensável. Ma esta técnica elementar tem, el também, um história. Cada época reconsidera, portanto, doutrina das substâncias homo géneas. Poderíamos escrever toda história da química relatand o as exigências de de homogeneização nos diferentes estádios do progreso da eXlperiência. A substância homo génea é um ponto de partida possível para um estudo da matéria. Desde que um matéria seja homogénea, parece qu possui um sinal substancial. Subtrai-se, sob certos aspectos, categoria da quantidade: 2 g de ouro e 5 g de ouro manifestam, da mesma maneira, a substância ouro. Uma substância pode considerar-se materialmente be definida quando é homogénea. Uma ta substância é a ocasião para um conhecimento materialista claro distinto. Tendo em conSideração -as substâncias homogéneas, é possível um cartesianismo materialista rigoroso. Uma espécie de lógica materialista ,fundada sobre a experiên cia -química parece reger as matérias homogéneas como a lógica formal rege os termos be definidos. O metal desafia a atenção discriminante. 'Dá ao químico uma
consciência clara do mesmo. Uma substância química pode mudar de forma continuando a se ~ e s m a . Esta constatação, sem dúvida be banal, a d q w ~ e c o ~ t u d o um tonalidade nova, se se pretender qu seJa aplIcada pelo químico. Vê-Io-emos melhor ainda se nos lembrar mos mos volta voltare remos mos a este este ass assunt unto o dos dos tempos tempos em que alquimista imprimia um 'Vida nas substâncias, profes sava um futuro da substâncias mais homogéneas. No pensamento científico moderno, o '1tlleSmO está imóvel. Nós entramos oom a química no reino da substâncias nítidas no reino das srubstâncias qu a técnica torna níti das, d ~ d o - l h e s um total homogeneidade. (Matérialisme, capo lI w. 62-63.) 40. Mas eis UIID ponto acerca do qual teremoS de insistir incessantemente: a fenomenologia das substân cias homogéneas, ainda qu possa, ao qu parece, encon trar exemplos nas substâncias naturais, é solidária de fenomenologia dirigida. um fenomenotécnica. E um Esqueceríamos um c a r a c t ~ s t i c a imp0:tan!e se n e ~ l i n e ~ genciássemos o aspecto SOCIal da mvestlgaçao materIa lista. No limiar do materialismo instruído é necessârio que nos sejam designadas .substâncias materiais. fundamentais. ,Podemos, sem dUVIda, encontrar um crIança degénio qu refaça, numa reflexão solitâria, a geometria euclidiana com círculos e barras. Não é caso para pensar que possamos encontrar um materialista de génio que refaça a química, longe dos livros, co pedras e pós. estranho que at certos sábios desconheçam o diri gismo essencial ciência moderna. Podemos ler, po exemplo, um curiosa página na qual o sábio químico Liebig pretende que: «se reuníssemos em bloco, sobre um mesa, os 56 corpos simples, um criança poderia dividi-los em duas grandes classes a partir das suas pro priedades exteriores» (os metais e os metalóides) 1. Eis um afirmação que nã contém a mínima verosimi lhança; nenhum espírito novo, entregue ao empirismo imediato, porá numa única categoria: o enxofre, o br6mio, o iodo, o oxigénio. E impossível, sem um mestre, constituir a categoria dos metalóides. Raros são os sá bios que tomam gosto em constituir as avenidas reais da su cultura; vivem com demasiada intensidade a cultura
Liebig, Lettres sur lachimie, trad., 1845, p. 34. O número 56 corresponde número dos elementos que eram conhecidos há um século.
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presente para se interessarem pelo passado obscuro das noções. Um homem tão positivo como Liebig contere ás suas certezas de professor um peso psicológico domi nante. Eis um prova de qu os documentos psicológicos dos me}hores sábios devem se submetidos a crítica. A psicologia do espírito científico está po fazer. progresso do materia Quando se segue, portanto, lismo instruído, vê-se que não podemos de modo nenhum confiar numa homogeneidade sensível, numa homogenei dade de um ,dado. A homogeneidade retida pela ciência passou pela instru.ção do intermaterialismo, fo obtida indirectamente pela aplicaçãp de técnicas comprovadas, de técnicas incessan temente rectilficad rectilficadas. as. Caracteriz um época científica. Fora dos métodos de homogeneização um valor fundados cientificamente, a homogeneidade te duvidoso. Quando, po exemplo, na EncWlopédkL (artigo: Plâtre) se define o gesso he cozido po «uma certa um gordura qu cola ao dedos quando untuosidade o manejamos», impede-se um investigação mais objec tiva. Esta «gordura» do gesso remete iparaum sartrismo avante Ia lettre, para um filosofia existencialista orien tada ao inverso da perspectiva do materialismo combi nador, do materialismo que procura as suas provas numa correlação explícita das substâncias, excluindo precisa mente a relação com a sensação directa. Este gesso es cozido? Peguemos antes de mais nada numa tará be amostra eamassemo-Ia: determinemos a combinação gesso e água. E é esta experiência que dará lugar um juízo objectivo. Todas as características retidas pela ciên ci da matérias devem se pós-experimentadas. Todo o dado só é recebido provisoriamente. .(Matérialisme, capo pp 65-66.) b)
Simplicidade
41. As primeiras substâncias que receberam o esta tuto de corpos simples foram co algumas excepçães os metais. Foi necessário o advento como o enxofre dos tempos modernos, sobretudo durante o séc. XVIII, curta lista das subs tâncias reconhecidas como para que simples comece a aumentar. Os séculos XVIII XI sã para a exploração materialista um época prestigiosa. E mesmo do simples ponto de vista do empirismo o filó sofo deveria avaliar aqui qu um aumento do tipos de seres materiais.
Mas, ao mesmo tempo que o número de tipos de substâncias encontradas na natureza aumenta, define-se um nova doutrina da simplicidade. Na realidade, pode mos falar de um verdadeira substituição da ideia de simplicidade. Demonstremo-Io rapidamente. Em primeiro lugar, mesmo quando ainda se faz refe rênciaao séc. XVIII, já nã se considera a ideia de qu os quatro elementos são' as substâncias mais simples. Em segundo lugar, já nã se imagina que as substâncias encontradas na natureza sejam po essa mesma razão substâncias simples. A análise tomou-se a preocupação químico começa a su dominante de todo o químico. investi!!"ação multiplicando os esforços de decomposição. A simplicidade aparece então como um limite a todo o esforço de decomposição. A simplicidade é, portanto, aqui, da ordem xl'e um resultado; er apresentada como inicial na doutrina dos quatro elementos; é agora terminal. A química apresenta-nos assim um nova forma «do declínio dos absolutos», para empregar uma expres são de Georges BouHgand, tã rica em sentido, para caracterizar a evolução da epistemologia moderna. Com efeito, colocar o simples como limite decomposição nã prejulga carácter absoluto deste limite e é so mente no período contemporâneo qu se estabelece um espécie de coerência das' substâncias simples, coerência qu confere aos elementos um estatuto be definido de substância elementar ... Compreendamos a importância fHosófica da descobertas como as de Cavendish, pro um elemento, ou a descoberta vando qUe a água nã paralela res'Peitante ao ar de Lavoisier. Tais descobertas quebram o fio da história. Marcam um derrota total do imediato. Fazem aparecer profundidade do químico so o f ís ís i o o u po outras palavras, a heterogeneidade física. Existe aí um dialéctica íntima que toda cultura materialista deve atravessar para chegar ao materialism instruído. do
instante
histórico surpreendente em que foi possível anunciar au a água é o resultado da síntese de dois Igases! nã somente privilégio do antigo elemento á ~ u a á que ~ u a desa parece, mas ao mesmo tempo positividade conauistada para a noção de gás. Antes de Cavendish, antes de Lavoi sier. a noção de gás parti'Cipa ainda da noção de fluido. fluido, no 'Pensamento p r é ~ i e n t í f i c o , p r carrega-se é ~ i e n t í f i c o livre , mente dos mais confusos valores: é magnético. é vital, dá a vida, dá a morte. experiência de Cavend ish é decideci-
siva, risca co um traço brutal todo o vitalismo do reino dos «espíritos». Os dois materialismos da subs tância tangível (a água) e substância invisível (os gases) estão em total correlação. correlação. Existe um enorme dife rença entre este materialismo generalizador, que alarga o seu domínio seguindo experiências progressivas, e um materialismo de afirmação inicial, qu acredita sempre que a matéria tangível dá as lições mais decisivas. Seria necessário um livro volumoso para descrever todo o conjunto das experiências que determinaram carácter elementar do oxigénio e do hidrogénio. iDez anos de psicologia do espírito cientifico viveram somente da história da descoberta do oxigénio. Que o oxigénio ape nas esteja misturado com o azoto no ar enquanto está combinado com o hidrogénio na água, com os metais nos óxidos, eis matéria suficiente para levantar muitos problemas filosóficos. Hoje em dia, os livros apagam demasiado depressa a perspectiva destes dramas de cul tura. Os livros escolares transformam imediatamente a lição sobre o oxigénio nu modelo de empirismo sim ples: basta aquecer numa retorta certos óxidos, po exem plo, o óJrido de manganésio, Ipan obter o gás maravi lhoso que reacende um fósforo não tendo mais «do qu um ponto em ignição». Fala-se 'assim 'Para empregar expressão consagrada qu resume com frequência, infeliz mente!, tudo qu resta na «cultura geral» da propriedades do oxigénio 1. Esta simplicidade de ensino oculta a fina estrutura epistemológica de um experiência primi tivamente empenhada numa problemática multiforme. 1! aqui que um recorrência à situação histórica complexa útil para fazer sentir como o pensamento materialista se enriquece. Que o oxigénio tenha sido, durante algumas décadas, extraído dos minerais, do ar da água, em suma, dos mais variados corpos para a experiência comum, tanto basta para explicar qu se tenha promovido este corpo químico particular um nível insigne. 1! verdadeiramente o advento de um substância «científica». Foi, se dú vida. necessário, po consequência, retirar ao oxigénio o privilégio de designar potência ácido. Mas ele foi duQue reivindicação contra a vaidade seu professor de química existe nesta pequena frase de Lautréamont: o oxigénio ateia «sem orgulho» um f6sforo! O professor de química elementa r recomeca com uma satisfação evidente esta proeza em todos os outubros da sua carreira.
ram:e muno tempo o smal matenal aa nova qUlmIca. E os filósofos, os Schelling, os Hegel, os Franz von Baa der, nã hesitaram em fazer do oxigénio um verdadeiro geral. Po exemplo, Hegel põe m o m e n t ~ m de o m e explicação n t ~ em .relaçao as quatro substâncias: azoto, oxigénio, hidro gémo e caroonc;> como um organização de conceitos qu forma_ -«a totalIdade noção» 1. Ao reler tais páginas, t ~ r - s e - a o claros exemplos da adesão precipitada do idea lIsmo a valores experimentais. O idealismo procura se cessar razões para unificar a experiência, sem avaliar ~ e m os poderes diversificantes da experiência... O idea hsmo um filosofia demasiado afastada do centro de acção do pensamento científico para poder apreciar _métodos de investigação e de expe p . ~ p e l . recIprocc;> .dos _métodos Temos aqui um prova precisa n e ~ c I a n e de. ~ c I ,:e;IfIcaçao. a da. ImpOSSIbI ImpOSSIbIlIdade lIdade de um idealismo da experiência cien tífIca. Nada se esclarece com a meditação de um caso único, o n d ~ um única experiência revelaria todo o poder de conheCImento de um sujeito. 1! necessário aceitar todas as ~ x t ~ n s . õ e s positiyas de todos os exemplos. De facto, a dIalectIca da OXIdação da redução, que deu lugar tantas reflexões filosóficas, é apenas um reci procidade material, tomada entre muitos outros pro cessos recíprocos de síntese e de análise. , . Com Com a desc obert a do oxigénio, os filósofos foram VItImas, ~ e s t a como em muitas outras ocasiões, da novi dade. QUIseram assimilar imediatamente um descoberta espanto sa apoiando-se apoiando-se na melhor das hjroóteses! - em racionalismos a priori. se tomar o cuidado de estabele racionalismo científioo historicamente preparado ce da exPeriên por um progressivo ajus1:amento da teoria O idealismo te su ra:iz no imediato. O espírito de certo modo, sempre imediato a si mesmo. Ora, n ã ~ existe eX'Oeriência científica imediata. Não e x . j ~ t e , já nã senamos capazes de abordar um pensamento novo em bran<:o, co um espírito nã Ip:reparado, sem levar a cabo or SI mesmo a revolução cient]fica que assinala o pensa mento .novo como ,?m progresso do espírito humano. se assumI'r o eu SOCIal da cultura. Será necessário fazer notar, em jeito de digressão, qu eu da cultura é exacta antítese da cultura do eu? (Matérialisme, capo pp 73-76.)
Hegel, Filosofia
da
natureza,
328.
Pureza
c)
42. Considerava-se outrora em química como evi dente a existência de corpos puros. Um corpo absoluta mente puro nã é, contudo, senão um entidade. «Puro» já nã é, para um químico moderno, um adiectivo qu repugne classificar. Mas, dir-se-á, a pureza desempenha papel de um ideia platónica na qual na matéria mundo participa. um ideal do qual o químico se apro xima afastando as impurezas. Concedemos que ele nunca o atingirá. Preferimos dizer qu um químico minucioso o atinge sempre. Com efeito, um definição pureza deve acompanhar-se de um critério de pureza 1: «Um corpo .puro é um corpo que só foi submetido a trans formações hilotrópicas, pelo menos no interior do se domínio de pureza.» Desde qu todas as regras deste critério sejam correctamente aplicadas, o corpo deve se declarado experimentalmente puro. São os métodos que determinam a 'PIlreza... portanto, tã vã como falso separar critério de pureza dos instrumentos qu o estu dam. (Essai, capo V, pp. 80-81.)
d)
Um exemplo tipo:
corpo dos reagentes
43. De um maneira geral. podemos dizer que não existe pureza sem purificação. E nã há nada ou possa carácter eminentemente social da ciên provar melhor cia contemporânea do que as técnicas de purificação. Com efeito, os processos de purificação só se podem desenvolver pela utilizacão de todo um conjunto de rea gentes cuja pureza recebeu um espécie de garantia so cial. Um filósofo terá facilidade em denunciar aí um círculo vicioso: vicioso: purificar um substância através de um sequência de reacções em qu se introduzem reagentes garantidos como puros é evidentemente esquecer o !pro blema inicial, o problema pureza dos reagentes. Mas a ciência contemporânea pode, em boa consciência, negli genciar esta ob.fecção prévia. aqui um estado de factos, um momento histórico be definido. Cada época da ciência, no seu desenvolvimento moderno, estabeleceu um espécie de corpo dos reagentes constituídos a um nível de purificação be determinado. Existem idades pureza materialista. E a nossa sociais diversas para 'Boll, Cours de chimie, p. 9, nota.
idade define-se po um tal requinte de pUrificação qu podemos dizer que a ciência contemporânea possui rea, gentes novos, utensílios novos, qu nenhuma outra época precedente conheceu. A técnica materialista da química moderna Iproporciona-nos um natureza nova. essen cialmente um 'segundo ponto de parti'da do materiatlismo. Assim, estes utensílios de purificação que são os rea gentes, eis doravante um contributo social absoluto; o pretensão de químico isolado não seria capaz de te substituí-lo po utensílios pessoais, todo corpo de reagentes amassados numa preparação pessoal refazendo, história da química. A quí po sua: conta e risco, toda mica economiza a su longa histó rica. um das ciências mais claramente vivas no seu pr1esentie. químico entra no laboratório, onde encontra um presente absoluto, presente absoluto, dados técni cos, dados que se oferecem no seu conjunto, na sua tota lidade, po consequência muito diferentes do dados na turais encontrados no essencial ocasionalismo do empi rismo. O químico moderno parte deste materialismo de um presente absoluto, deste materialismo dos reagentes seu trabalho técnicos cooroenados. Tem de inscrever conjunto huquotidiano no presente da ciência, nu mano no qual ele se integra, já so ponto de vista um necessidade teórico, através de um cultura qu para a acção científica eficaz Mas todas estas teses pareceriam menos superficiais ao filósofo se ele quisesse tomar consciência do verda produção de deiro aperfeiçoamento necessário para um substância pura na técnica conte mporân ea. -Depress -Depress compreenderiaaue uma ta purificação já nã se satisfaz com um actividade individual, que ela reclama um trabalho em cadeia, purificações em série, em suma, a fá brica-laboratório é um realidade doravante fundamental. vista de um plano de acabamento máquina para um 'Pllrifkação seria, de resto. mais convincente do que todo o desenvolvimento filosófico. O leitor poderá, po exemplo, reportar-se ao esquema das operações que con duzem do berilo ao berilium puro em palhetas, a partir emPregado na Degussa A.G. Este esquema do método emPregado indicado po J. Besson nu artigo que apareceu no Bulletrn de la Sodété Chimique de France {ano de 1949); nós nã reproduzimos este eSQuema: duas páginas do presente seriam mos aí dezenas de operações de purificacões, po assim dizer cruzadas, purificações retomadas sob vários pontos
de vista, determinadas po reagentes diferentes. Medi tando em todos os circuitos destes processos químicos com a finalidade de produzir um substância particular com todas as garantias de pureza, comprenderemos que um ta aperfeiçoamento só pode se pensado no cume de um cultura e realizado numa cidade qu industriali zasse a ciência de alto a baixo. (Matérialisme, capo 11, pp. 77-78.)
44. Assim, o corpo dos regentes simultaneamente coerente e eficaz. Todos os reagentes sã dados co um garantia de pureza qu permite trabalho positivo. Não seria conveniente, no entanto, atribuir uma validade in condicional ao conceito de pureza em si. Postular um pureza em si seria voltar ao mito da pureza natural. De facto, um vez que a ciência positiva solidariza a noção de pureza com a noção de operação de purificação, nã relativismo da pureza. Com efeito, podemos afastar segundo o processo de purificação empregado, podemos obter, para um mesmo produto, graus de pureza diferen tes. Mas isso nã quer dizer que possamos ordenar esses graus de pureza, porque pureza considera-se muitas vezes ao nível de uma -qualidade particular. -Por vezes,
um propriedade particular qu não integra profunda mente conjunto da propriedades químicas pode reve· lar-se de um incrível sensibilidade mínima impureza. Andrew Gemant, nu capítulo do manual -'de ElectricaJ properties of hydrocarbons (p. 215), diz qu um hidrocarbono líqujldo tem uma condutibi1idade eléc trica que varia de 10_19 mho/cm, para um amostra extre mamente purificada, a 10- 13 para uma amostra comercial, ou seja, um variação de para 1 milhão. Verifica-se a enorme acção da Imínima impureza. Gemant acrescenta qu as determmações de conootibilidade dão valores que diminuem indefinidamente co procura de um purificação cada vez mais aperfeiçoada, ma que, no en em vista. tanto, nenhum valor ltmite se te Compreendamos bem que não poderemos ordenar purezas naturais vdsando um ,pureza em ISi. Ainda mais, apesar de todos os esforços do materialismo decidida mente artificialista, a linha das purificações nunca te certeza de visar um purificação absoluta. Bastaria que um novo tipo de experiências fosse instituído para que o prob1ema se pusesse de uma forma nova. A purl?Jzal de um substância é, portanto, obra humana. Não pode ri ser tomada po um dado natural. Conserva a relati-
vidade essencial das obras humanas. O seu em si con dicionado po um longo passado de experiências levadas po diante nas vias de um facticidade incessantemente acrescida. De qualquer modo, factício dá incomparavel natural. (Matérialisme, mente mais garantias do que capo 11, 78-79.) 4.
conceito científico da matéria na química cantemporârrea
45. O conceito de energia, se o tomarmos na sua acepção científica exacta, um aquisição essencialmente modem-a. Para um físico, para um matemático, o con qu de ceito agora tão nítido que podemos inseri-lo vemos inseri-lo na categoria dos conceitos funaamen tais, conferindo-lhe o seu total estatuto científico, quer dizer. separando-o de toda a relação com as noções comuns, pondo fim a todas as ressonâncias de um pala vra que se perde no vago e na multiplicidade das ima gens, na facilidade das metáforas. certo que acerca deste conceito científico, dora vante tã claro, pod,eríamos descrever um confusa his tória; poderíamos, em particular, referir as últimas difi culdades da su clarificação. clarificação. Tocaríamos, po exemplo, um ponto sensível da evoLução das ideias estudando noção sob a su forma mecânica, já muito racionalizada, nas relações da mecânica de nescartes c o m a mecânica de Leibniz 1. Os debates sobre a noção de força viva foram numerosos, muito misturados. Haverá sempre interesse, num acto cultural, em reviver tais polémicas. Mas a nossa finalidade, neste capítulo, partir do espí rito científico constituído. Uma demasiado longa história racional que nos é perturbaria a declaração de primazia racional necessário fazer para acompanhar o início da ciência energética moderna, para compreender a organização essencialmente energética da matéria. Do ponto de vista filosófico, o materialismo energé tico esclarece-se estabelecendo um verdadeiro existencialismo da energia. No estilo ontológico, 'no qual o filósofo gosta de dizer: o se é, deve dizer-se: a energia é. El absolutamente. E, por uma conversão simples, podemos Os bons livros que estudam este período abundam. Ver, em particular: Emst Mach. La mécanique, trad., 1925. lRené D u g a ~ , D Histoire u g a ~ , de la mécanique, 1950. Os filósofos lerão com interesse a obra de Martial Gueroutt, Dynamique et métaphysique leibniziennes.
dizer duas vezes exactamente a mesma coisa: o se energia energia e a energia energia é ser. ser. A matéria é energia. No mesmo instante, reino do ter é transformado. :É virado de alto a baixo, não somente com proveito para o ser, mas também para a energia. A energia a base de tudo; nã existe mais nada po trás da energia. Dizia-se outrora: matéria te um energia; atri buía-se um energia matéria como se atrela um cavalo um charrua. Assim fazendo, limitava-se, po um dia léctica rápida, a noção de matéria ao seu carácter de necessário matéria inerte, de matéria para a qual não encarar uma energia inerte. Certamente, tinha-se razão em escolher esta limitação, em impor esta dialéctica em certos sectores da organização científica, nu raciona lismo regional como a mecânica em que é indiferente saber se o móbil do movimento é em ferro, em pedra ou em cobre. Mas este materialismo exteriorista, este mate rialismo da matéria resumida su inércia, da matéria qu 'consideramos como desprovida de energia interna, já nã é sUJficiente 'quando se aborda a ciência química contemporânea, quando se quer tomar conhecimento, não somente dos fenómenos químicos, mas da dinâmica pró pria dos fenómenos químicos que, ao trazer a verdadeira explicação da fenomenologia materialista, abre o caminho para realizações inteir ament e novas. Portanto, a raiz essencialmente energética dos fenó menos químicos impõe-se investigação. Entramos numa zona da experiência na qual o fenomenismo estrito, aquele qu professa desinteressar-se das causas profun das, só pode ser uma cláusula de estHo. ,Podemos ainda muito be dizer que um dada substância apresenta tal e tal fenómeno. Mas o fenómeno nã um simples apa rência qu possamos limitar-nos a descrever; é a mani festação de um energia; as reacções químicas são rela ções de energia. Se nã conhecermos estas relações de energia, não poderemos explorar todas as possibilidades de acção que possuímos doravante para a criação de s,wbstâncias novas. Po oonseguinte, um filósofo qu reco nheça a instância profunda que é a energia, um filósofo que siga o pensamento efectivo do químico contempo râneo, deverá convir que a energia desempenha doravante o papel de a coisa em si ,Esta velha noção, da qual com tanta frequência denunciámos o carácterde monstruosa abstracção, ei-Ia concretizada. Pelo 1Ilenos, podemos si tuar filosoficamente a energia como situávamos a coisa em si: base fundamental dos fenómenos. De qualquer
maneira, se fazemos questão de deixar dormir no pas sado os velhos fantasmas da :filosofia, será sempre neces neces sário reconhecer qu a energia a realidade a estudar em segunda posição, sem dúvida depois term?s .des crito os fenómenos resultantes das reacçoes qUlmlcas, mas co um necessidade inelutável desde qu se queira compreender os fenómenos a fundo, ao mesmo tempo nas suas causas profundas e nas suas razões fw:tdamen tais. O materialismo te um fundo de energetlsmo. :É através das leis da energia que podemos explicar os fenómenos da matéria. (Matérialisme, capo VI, pp'. 176-178.)
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Secção
AS CATEGORIAS
11
PRINCIPAIS DA EPISTEMOLOGIA
O RACIONALISMO APLICADO
A. 1.
noção
de
«racionalismo IDtegral
Não um racionalismo todos os países»
«dJe
todos os tempos e de
46. Um vez qu se fragmentou o racionalismo para associar matéria qu informa, aos fenómenos melhor que rege e fenomenotécnica que fundou, somos levados pô problema filosófico da relação de um raciona lismo geral com os diversos racionalismos regionais. Exis te duas maneiras de encarar esta relação. nã nossa Uma primeira maneira é fine e, se necessário, redefine, um racionalismo a priori, válido para todas as experiências, alguns diiem qu para toda quaisquer experiência, e mesmo para toda a expe futura. Constitui-se, assim, um racio riência presente nalismo em reouo 'sobre a experiência, um racionalismo mínimo com qual nos arrogamos o direito .paradoxal de alcançar um experiência de Universo. Quanto mais simples fossem os meios de informação, mais amplo seria o domínio informado. A este ponto de vista adoptado pelo racionalismo fixista ,podemos fazer objecções qu se apoiam no nosso sistema de explicação filosófica inicial e qu vão permitir apresentar um segunda maneira, que será a nossa, de resolver o problema evocado. Parece-nos, co efeito, qu um racionalismo que te uma tal pretensão de universalidade permanece muito perto da soluções solipsistas do idealismo. A partir do
aplicados em mais explicitamente, a partir ~ m ' ~ que m ' se m o m ~ n t o visa a aplicação de esquemas 10gICOS, a IdentIdade A;=A passa se apenas a identidade de. ~ o ~ t o de vIsta, um identidade assinada por um s U J e l ~ o umco e po sujeito que. está, de ~ e r t o mo?o, r e t ~ r a d o do ~ o n h e c l ~ o n h e c l mento, sujeIto que deIxa p.or Jogo o ?bJecto do seu conhecimento, que se lImIta as c ~ r ~ c t e n s t l c a s c ~ f r o ~ c t e n s t l mais do conhecimento. Quando o sUJel.to do co,?hecl mento é «formalisante», torna-se « f o r ~ a l I z a d o » . Nao ,ha veria igualdade tA.=A se nã houvesse Igualdade ao mvel , . da instância igualadora Eu=:: Eu. pela .simplicidade da 1 9 ~ 1 d a d e log.lca ~ = A - I g u a l dade manifestamente -grosselr'a na aphcaçao - qu se chega ao postulado da igualdade. Eu=.Eu, a r r o . g ~ n d o - n o s o direito de desprezar toda a pSIcologIa do SUJeIto. ~ o n seguimos assim, simullaneamente, e x p u ~ s a r todo ' P s ~ o o logismo fundar logicamente o , c 0 J ? - h e c I ~ e n t o o.bJectlvo. Mas este duplo sucesso é a propna ruma do Interesse de conhecimento, 'a impossibilidade de. trabalhar tempo em prol da diferenciação da realIdade e da dife renciação dos pensamentos. Po que razão, aliás, se há-de procurar. um o u t r ~ verdade quando se tem a verdade do rogtto? Porque conhecer imperfeitamente, i n d ! r e c t a m e n ~ e , . i ~ n u d a ! nr e d c o t a se m e n te ~ e , . a possibilidade de um cOnheCIIl1ento p n m I t l v a ~ e n t e p e ~ feito? Os princípios lógicos obtidos po reduçao do dI verso, be como o argumento lógico q u ~ a s s e ~ u r a ~ verdade do cogito, eis um núcleo indestrutlVel cUJa soh dez é reconhecida po qualquer filósofo. Nós objectamos apenas que se trata de uI:TI núcleo sem. car.iocinese, um núcleo que nã pode prohferar. Ou, maIS SImplesmente, um processo de redução nunca p o d ~ r á : r ~ o d u z l : r r ~ um o d u z lp r ~ grama suficiente para um estudo fIlosófIco do conheCI mento. Uma filosofia que se compraz num trabalho de redução torna-se fatalmente involutiva. Deve-se te em conta, nã obstante, que o raCIOna lismo numa perspectiva razoavelmente imprecisa, aplica os s e ~ s princípios racionais e ~ p e r i ê n c i a com?m. ~ o s confins do idealismo idealismo o racionahsmo passa de ImedIato ao realismo nã r e c ~ n s e a d o , ao realismo qu se baseia numa realidade nã estudada. Finalmente, para o racio nalismo fixista os princípios da mais hospitaleira con servação, os p ~ i n c í p i o s p ~ da i n c í razão. p i o s Este racionalismo fi xista formula as condições de um consenso dos homens
de todos os países e de todos os tempos perante toda qualquer experiência. Isto equivale a estudar o movi mento do espírito no ponto morto, resignando os facto res de inércia que se opõem mudança. (Rationalisme. capo VII, pip. 131-132.)
c a s
2.
um
racionalismo dialéctic
possível um outro racionalismo, qu do 47. Mas minaria os racionalismos regionais, e a que chamaremos o racionalismo integral ou, mais exactamente, o racio nalismo integrante. Este racionalismo integral ou integrante deveria se instituído a posteriori, depois de se terem estudado di versos tipos de racionalismos regionais, co máxima organização possível, e contemporâneos da relacionação dos fenómenos que obedecem a tipos de experiência muito definidos. Seguindo esta via, somos levados a con sociedade erudita do considerar consensos limitados sensos altament e especializados. especializados. Objectar-nos-ão, Objectar-nos-ão, se dú vida, que um domínio erudito não deixa de ser um do mínio humano e que nã modificamos o problema meta físico ao especializar as organizações racionais ,socializa das nu domínio erudito. Tal objecção especiosa. De signamos precisamente um cidade de físicos ou um cidade de matemáticos como formadas em torno de um pensamento provido de garantias apodícticas. Existem, doravante, núcleos de apodicticidade na ciência física ou na ciência química. Não reconhecer este novo cambiante é ignorar precisamente as emergências das ciências con temporâneas. A cultura um acesso a um emergência; no domínio científico, estas emergências estão de facto constituídas socialmente. Existe, no domínio mecanístico, um cantão relativista. Trata-se de um eminente emer gência cultural e só poderemos julgá-Ia se a ela aderir mos. Poder-se-ia fazer um divertida antologia de dispa rates reunindo as opiniões dos filósofos ou escritores qu '«julgaram» a Relatividade. Demonstram um oompe tência semelhante de um cego qu discursa sobre as cores. Quem pertence ao cantão relativista vê imediata mente qu seme1hante tipo de opiniões ne sequer te discussão. Em resumo, o consenso que define socialmente mais do qu um facto um racionalismo regional ' sinal de um estrutura.
racionalismo integral deve ser, portanto, um racio nalismo dialéctico que decide qual estrutura em qu pensamento se deve integrar para informar um expe riência. Corresponde a um espécie de administração cen tral de um fábrica qu atingiu um certo grau de racio nalização. Deixa, assim, de ter sentido a questão de defi ni um racionalismo geral que recolheria a parte comum dos racionalismos regionais. Nessa via, chegaríamos so mente ao racionalismo mínimo utilizado na vida comum. Apagar-se-iam as estruturas. Trata-se, pelo contrário, de multiplicar e afinar as que, do ponto de VlÍsta racionalista, deve estruturas, exprimir-se como um actividade de estruturação, como um determinação da possibilidade de axiomáticas múl tiplas para fazer face multiplicação das experiências. Uma das características mais recentes da epistemologia ccntemporânea é o facto de as diferentes abordagens experimentais do real se revelarem solidárias de um modificação axiomática da organizações teóricas. O ra cionalismo integral só poderá ser um domínio das dife rentes axiomáticas de base. E designará o racionalismo como um actividade de dialéctica, dado que as axiomá ticas diversas se articulam entre si dialecticamente. Assim, quando tivermos realmente trabalhado em diferentes racionalismos regionais, quando tivermos com preendido o seu valor de diferenciação e experimentado psicologicamente a sensibilidade qu trazem às variações principais, poder-se-á falar de um axiomatização das técnicas, atribuindo um axiomática particular um técnica particular. O movimento dialéctico, qu começa com as dialécticas das axiomáticas, prossegue, portanto, pela formação de axiomáticas em física e, finalmente, pela formação de axiomáticas na técnica. A experiência nã é, pois, bloqueada de forma alguma na suas técni cas. O progresso das técnicas muitas vezes determinado vez insistimos por uma revolução nas bases. Já um nesta discontinuidade essencial. E dávamos o exemplo simples da máquina de costura, que atingiu a su racio nalização quando se pôs fim às tentativas de imitar gesto da costureira, fundando costura numa nova base. Mas sobretudo na técnicas nã mecânicas qu estas observações adquirem o seu pleno sentido, e bastará exa minar, po exemplo, as técnicas radiofónicas para se verem em acção autênticas opções qu lembram adesões a axiomáticas particulares.
estamos a compli O b j e ~ t a r - n o s - ã o , O b se j e ~ t a dúvida, r - n o s - ã o qu , as c . o ~ s a s e que os antigos conceitos da epistemologia sao sufICIentes para compreender tudo, que as antigas palavras são perfeitamente ·suficientes para dizer tudo. P a r e ~ e que n o ~ ã o de hipótese chega para tudo. Mas, preCIsamente ~ e v I d o su generalidade, esta palavra pre para todas as mcompreensões de qu espírito filosófico é vítima. A hipótese científica um tema tradicional de partir de agora, é a este d ~ s s e r t a ç ã o de . licenciatura. E, mvel que se flxa cultura filosófica no qu concerne ~ e t o d o l o g i a ~ e cJentífica. t o d o l o g i a Em torno deste conceito grosseiro gIram as noções usuais da psicologia da suposição. Pen sa-se, naturalmente, com as palavras: para os filósofos hipótese hiJ1!>tética, logo, quase um ilusão ou, ~ l o menos, um SImples ficção. Não se vê que se trata de um . pensamento c ~ n s t r u í d o , um pensamento em parte Com efeito, as hipóteses de base ~ a r e a h z a ~ r o e a p h e z ~ a a ~ p e técmca. da radIOgrafia inscrevem-se mesmo na aparelhagem. Subestimam-se, além disso, os diferentes elementos de um hipótese se nã lhe fo concedido o seu valor de pos.tulado. Se examinarmos, po exemplo, o racionalismo regIOnal qu corresponde ao atomismo em microfísica postulado a hipótese d e v e ~ o ~ c o n ~ i ~ e . r a r como dUVIda, na química, parte-se su l n : d l s c ~ r m b l l i d a J d e . Se do prmcípIo de qu os átomos de um mesmo elemento são idênticos. Julga-se poder conservar a possibilidade de discernir átomos idênticos pela su situação no es paço: O espaço comum é, co efeito, úm espaço de dis atcontece !Qo espaço da c e . r n I m ~ ? 1 0 . Mas o mesmo nã mIcrofIsIca, espaço de certa forma celular devido ao axioma Heisenberg. assim que a hipótese atómica em químIca e a hitpótese atómica em microfísica nã pos suem mesma estrutura nocional. um estrutura no cional é precisamente a intermediária entre uma estru tura _realista e um estrutura simbólica, trata-se de um funçao que um elemento activo do racionalismo apli cado. Encontramo-nos perante uma diferenciação da hi pótese atomística. Se seguirmos, na suas variações, hiuóteses aparentemnte tã siIIlJPles tã primitivas, aca baremos po nos aperceber de que é necessário estudar os seus valores epistemológicos em toda su profundi dade e não, à maneira da filosofia oficial no arbitrário do idealismo. Outras críticas se poderão fazer a este refinamento da epistemologia. Virão do lado dos físicos que não tê c ~ r
a nossa tarefa restituir à ciência todos os seus inte resses e, antes de mais, os seus interesses filosóficos. Se olharmos um pouco mais de perto, veremos qu as fun ções filosóficas da ciência se multiplicam. Poucos pensa mentos serão filosoficamente mais variados do que o pensamento científico. papel da filosofia das ciências é recensear essa variedade e mostrar como os filósofos se poderiam instruir se quisessem meditar no pensa mento científico contemporâneo. (Rationalisme, capo VII, pp. 133-134.) B. Racionalismo aplicado e filosofia
1. Matemática
experimentação
48. Se seguirmos com atenção, isto é, com um inte resse apaixonado, a actividade da ,física contemporânea, veremos animar-se um diálogo filosófico que te o mé rito de um precisão excepcional: o diálogo do experi mentador provido de instrumentos precisos e do mate mático que ambiciona informar estreitamente a expe riência. Enquanto que, nas polémicas filosóficas, é fre quente o realista e o racionalista não conseguirem falar de um mesma coisa, no diálogo diálogo científico temos a níti da e reconfortante impressão de que os dois interlocutores falam do mesmo problema. Enquanto que, no congres sos de filosofia, vemos os filósofos trocar entre si argu mentos, no congressos de física vemos os experimenta dores e os teóricos t:cocar informações. Não será neces sário que o experimentador se informe sobre o aspecto teórico dos dados que o matemático considera fortemente coordenados, sem o que o experimentador pode se ví tima, nas suas interpretações, de pontos de vista pes soais? Não será preciso também qu o teórico se informe sobre todas as circunstâncias da experimentação, sem o que as suas sínteses podem ficar parciais ou simples mente abstractas? A física tem, assim, dois pólos filo sóficos. um verdadeiro campo de pensamento que se esoecifica em matemáticas e em experiências e que se anima ao máximo na conJunção da matemáticas e da experiência. A física determina, como um síntese emi nente, um mentalidade abstracta-concreta. (. .. Tentare mos caracterizar esta mentalidade na sua dupla acção de abstracção e de concretização, sem que alguma vez se
quebre o traço de união i mposto pela linguagem, na falta de conhecimento de princípios mais unitários para com preender a reciprocidade das dÜ11écticas que fluem inter minavelmente, e nos dois sentidos, do espírito para as coisas. O contacto experiência matemáticas desenvolve-se a experi numa solidariedade que se propaga. Quando mentação que traz a primeira mensagem de um fenó meno novo, o teórico tenta todo custo modificar a teoria reinante para que el possa ass imilar o facto novo. Com esta modif modifica icação ção obviam obviament ent tardia o tico- mostra Ique a teoria, cq um pouco mais de flexibili dade, deveria 'ter previst6 a novidade. Gosta de exibir um espécie de fecundidade recorrente, que um ca racterística importante do racionalismo, porque essa fe cundidade recorrente constitui o fundamento da memória racional. Esta memória da razão, memória das ideias coordenadas, obedece a leis psicológicas muito diferentes das da memória empírica. As ideias ordenadas. reordena das e coordenadas no tempo lógico determinam um autênti'ca emergência da memória. Naturalmente que nin guém troça deste retorno fora de., tempo às fontes da previsão teórica, e o experimentado r menos que qualquer outro. Pelo contrário, o experimentador felicita-se co assimilação da sua descoberta pelos matemáticos. Sabe que um facto novo, ligado ao aspecto moderno da teoria reinante, recebe as garantias de um objectividade pro fundamente vigiada, sendo a teoria reinante um sistema de exame experimental !que acrua no cérebros mais bri lhantes da época. Tem-se a impressão de que o problema está bem visto, só pelo facto de que "oderia ter sido pT'evisto. A perspectiva teórica coloca o facto experimen tal no seu devido lugar. Se o facto é be assimilado pela teoria, nã há 'hesitação sobre qual o lugar qu lhe deve se atribuído nu pensamento. Já nã se trata de um facto heteróclito, de um facto bruto. Trata-se at!ora de um facto de cuz.tura. Possui um estatuto racionalista. Passa a se tema de um diálogo entre o racionalista e o empirista. Quando é o teórico que anuncia a nossibilidade de um novo fenómeno, o experimentador debruca-se sobre sinta
na
cia moderna. Foi assim que, nos começos da mecânica ondulatória do electrão, se procurou um fenómeno que equivalesse, para o electrão, ao .fenómeno da polarização
da luz. Mesmo quando um pesquisa tão bem especifi cada permanece vã, teúl, l'I.pesar disso, um carácter posi limitar ajuda tivo para a epistemologia, dado que precisar as analogias. A experiência assim associada perspectivas teóricas nada te de comum co a pes quisa ocasional, co as experiências «para ver» qu nã têm qualquer lugar em ciências solidamente constituídas como o são actualmente a física e a química, em ciências instrumento é na quais intermediário necessário para estudar um fenómeno verdadeiramente instrumen tado, designado como um objecto de um fenomenotéc nica. Nenhum físico gastaria «a su credibilidade» em mandar construir um instrumento sem destinação teó rica. Em física, experiência «para ver» de Claude Ber sentido. nard nã te Que grande acordo tácito reina assim na cidade física! Como dela são afastados os sonhadores impeni tentes qu querem «teorizar» longe dos métodos matemá ticos! teórico deve estar na posse .de todo o passado tradição racio matemático da física - isto é, de toda nalista da experiência. experimentador, po seu turno, presente da técnica. Causaria es deve conhecer todo panto que um físico se servisse, para fazer o vácuo, da antiga máquina pneumática, mesmo guarnecida da tor neira de Babinet. Modernismo da realidade técnica teoria matemática, eis o tradição racionalista de toda duplo ideal de cultura que se deve afirmar em todos os temas do pensamento científico. cooperação filosófica do dois aspectos da ciência física - aspecto racional aspecto técnico - pode resu mir-se nesta .dupla questão: rrazão de um Em que condições se pode ,explw.ar fenómeno preciso? palavra p"ooiso é, aqui, essencial, porque razão se empenha. na precisão qu Em qu condições se podem fornecer provas reais da validade de um o r g a n i ~ a ç ã o matemática da expe riência física? tempo de um epistemologia que considerava matemática como um simples meio de expressão das leis físicas já passou. As matemáticas da física são agora mais «comprometidas». Nã possível fundamentar as ciências físicas se entrar no diálogo filosófico do racio nalista e do experimentador, experimentador, sem responder às duas ques tões de certa forma recíprocas qu acabamos de colocar. Por outras palavras, o físico moderno tem necessidade de um dupla certeza:
certeza de qu 1.° real tem um insistência directa sobre a racionalidade, merecendo po isso mesmo nome de real científico. certeza de qu os argumentos racionais rela 2.° tivos à experiência sã já momentos dessa experiência. racionalidade vazia, ne empirismo Em resumo, ne desconexo, eis as duas obrigações filosóficas qu funda precisa síntese da teoria da expe mentam estreita riência na física contemporânea. Esta dupla certeza é essencial. Se um dos termos faltar, po melhor que se façam eXiperiências, me lhor 'que se façam matemáticas, nã se participará na actividade científica da ciência física contemporânea. Esta dupla certeza só pode exprimir-se mediante um filosofia de dois movimentos, através de um diálogo. tão errado que dificilmente nele se Mas este diálogo pode reconhecer marca do velho dualismo dos filó sofos. ,Não se trata iá de confrontar um espírito solitário um universo indiferente. necessário, doravante, colo no centro onde espírito minado pelo objecto preciso do se conhecimento onde, su eXIPeem troca ele determina co maior precisão riência. :li exactamente nesta posição oentral qu a dia su eficácia. da técnica encontra léctica da razão Tentaremos instalar-nos nesta posição central onde se manifestam tempo um racionalismo aplicado um
materialismo instruído. Teremos, aliás, de racionalismo insistir no poder de aplicação de todo científico, isto é, de todo racionalismo qu leve as suas provas de fecundidade at à organização do pensamento técnico. pelas aplicações qu racionalismo conquista os seus valores objectivos. Consequentemente, para jul pensamento científico, nã se trata já de no apoiar ga mo nu racionalismo formal. abstracto, universal. necessário alcançar um racionalismo concreto, solidário de experiências sempre particulares e precisas. igual mente necessário que este racionalismo seia suficiente mente aberto para receber da experiência determinações novas. Ao viver um pouco mais de perto esta dialéctica, convencemo-nos da realidade eminente do campos de pensamento. Nestes campos epistemológicos permutam do experimentalismo. -se os valores do racionalismo (Rationalisme, capo .r, iptp. 2-4.)
2.
espectro filosófico
49. Na -realidade, esta contradança de duas filoso:fias contrárias em acção no pensamento científico leva ao empenhamento de muitas outras filosofias, e teremos de apresentar diálogos indubitavelmente menos compJe xos, mas que alargam a psicologia do espírito científico. Po exemplo, não examinar modo como se situam positivismo ou formalismo, ambos indubitavelmente co funções na física e na -química contemporâneas, se ria mutilar a filosofia da ciência. Mas um das razões qu no fazem crer qu nossa posição central está Ibem fundamentada o facto de todas as filosofias do conheci mento científico se ordenarem partir do racionaNsmo aplicado. quase desnecessário comentar quadro se guinte quando o aplicamos ao conhecimento científico. Assinalemos apenas as duas perspectivas de pensa mentos debilitados :que levam, rpor um ,lado, do raciona lismo ao idealismo ingénuo e, po outro, do materialismo
técnico ao realismo ingénuo.
Idealismo Convencionalismo Formalismo Racionalismo aplicado e Materialismo técnico -J,
Positivismo -J., Empirismo -J,
Realismo
Assim, quando interpretamos sistematicamente o co nhecimento racional como a constituição de certas formas como um simples instrumental de fórmulas pró qualquer experiência, i?sti p r i a ~ para informar toda tuímos um formalismo. Este formalismo pode, em ngor, utilizar os resultados do pensamento racional, mas não pode produzir todo trabalho do pensamento racional. Aliás, nem sempre no atemos um formalismo. En saiou-se um filosofia do conhecimento qu enfraquece
papel da experiência. Quase que se vê na ciência teó rica um conjunto de convenções, um sequência de pen samentos mais ou menos cómodos organizados segundo a linguagem clara da matemática, a qual nã é mais do que o esperanto da razão. A comodidade das convenções nã lhes retira se carácter arbitrário. Essas fórmulas, essas 'Convenções, esse arbitrário acabam naturalmente por ser submetidos a um actividade do sujeito pen sante. Chegamos assim um idealismo. Este idealismo nã se reconhece já na epistemologia contemporânea, ma desempenhou um ta papel nas filosofias da natu reza, no decurso do séc. XIX, que deve figurar ainda nu exame geral das filosofias da ciência. necessário, aliás, sublinhar a impotência do idea lismo para reconstituir um racionalismo de tipo mo derno, um racional ismo a:ctivo a:ctivo susceptível de informar os conhecimentos das novas regiões da experiência. Po ou tras palavras, não é possível inverter a perspectiva que acabamos de descrever. Com efeito, quando o idealista estabelece um filosofia da natureza, contenta-se co ordenar as imagens que constrói sobre a natureza, entre gando-se ao qu essas imagens tê de imediato. Não ultrapassa os limites de um sensualismo etéreo. Não se compromete numa experiência continuada. Espantar-se-ia se lh pedíssemos que seguisse as pesquisas da ciência na experimentação essencialmente essencialmente instrumental. Não se julga forçado aceitar as convenções dos outros espí lenta disciplina que formaria ritos. Não se submete se espírito. Na lições da experiência obiectiva. O idealismo perde assim toda a possibilidade de explicar pensamento científico moderno. O pensamento cientí fico nã pode encontrar as suas f o m a s sólidas e múl tiplas nessa atmosfera de solidão, nesse solipsismo que ma congénito de todo o idealismo. O pensamento é científico necessita de um realidade social, o assenti mento de um cidade física e matemática. Devemos. pois, instalar-nos na posição central do racionalismo a."licado, esforçando-nos po criar um filosofia específica para pensamento científico. Na outra perspectiva do nosso quadro, em vez desta evanescência Que conduz ao idealismo, vamos encontrar um inércia progressiva do nensamento que conduz ao realismo, a um concepção da realidade como sinónimo da irracionalidade. Ao passar do racionalismo da experiência da física, fortemente solidária da teoria, ao positivismo, parece que
se perdem automaticamen1e todos os princípios da necessidade. Daí qu o positivismo puro não possa de modo nenhum justificar poder de dedução qu actua no desenvolvimento da teorias modernas; não pode aper ceber-se dos valores de coerência da física contemporâ empirismo nea. E, no entanto, em comparação com positivismo surge, pelo menos, como puro, guardião da hierarquia da Jeis. Arroga-se o direito de afastar as alproximações s'llbtis, os pormenores, as variedades. Mas esta hierarquia das leis nã possui valor de organização da necessidades claramente compreendidas compreendidas pelo racio nalismo. De resto, ao basear-se em juízos de utilidade, degenerar em pragmatismo, para o positivismo tende positivismo essa poeira de receitas qu é empirismo. do qu necessário para decidir sobre as or nada te dens de abordagens, para sentir estranha sensibilidade de racionalidade proporcionada pelas abordagens de segunda ordem, os conhecimentos mais precisos, mais dis cutidos, mais coerentes, qu encontramos no exame atento da experiências delicadas e qu no fazem com preender que existe mais racionalidade no complexo do que no simples. Aliás, um passo mais além do empirismo, que se absorve na narrativa dos seus êxitos, e eis-nos perante esse amontoado de factos e de coisas que, estorvando ilusão da riqueza. Mostraremos em realismo, lh dá seguida at que ponto todo espírito cien contrário Hfico o postulado, tã facilmente admitido or .certos filósofos, que assimila um pólo de irracio realidade nalidade. Quando tivermos reconduzido actividade filo sófica do pensamento científico ao seu centro activo, materialismo activo te tornar-se-á claro qu precisa mente po função jugular tudo que poderia se auali nos seus objec ficado de irracional na suas matérias tos. A química, imbuída dos seus a priori racionais, ofe rece-nos substâncias sem acidentes, desembaraça todas as matérias da irracionalidade das origens. (Rationalisme, capo I, pp. 6-7.)
C.
ConceItos 1.
Uma
fundamentais
do
racionalismo aplicado
epistemologia histórioa
50. Se pusermos agora problema da novidad cien tífica no plano genuinamente psicológico, torna-se evi-
dente qu comportamento revolucionário da ciência contemporânea deve reagir profundamente sobre estru tura do espírito. O espírito tem uma estrutura variável, partir do momento em qu conhecimento tem uma história. Com efeito, a história humana, nas suas paixões, no seus preconceitos, em tudo qu depende das im pulsões imediatas, pode bem ser um eterno recomeço; ma há pensamentos que não recomeçam: sã os pen samentos que foram rectificados, alargados, completados. Não retornam su área restrita ou vacilante. Ora, o espírito científico é essencialmente um rectificação do saber, um alargamento dos quadros do conhecimento. Julga seu passado histórico, condenando-o. A sua estru tura é a consciência dos seus erros históricos. Cientifica mente, considera-se o verdadeiro como rectificação histó rica de um longo erro, considera-se a experiência como rectificação de um ilusão comum e inicial. Toda vida intelectual da ciência se joga dialecticamente nesta dife rencial do conhecimento, na fronteira do desconhecido. própria essência da reflexão compreender que não se tinha compreendido. Os pensamentos nã{)-;baconianos, não-euclidianos, não-cartesi'anos estão ICompendiados Illesta dialécticas históricas apresentadas pela rectificação sistema, pelo comple de um erro, pela extensão de mento de um pensamento. {Nouvel Esprit, capo VI, pp
173-174.)
51. Em suma, a ciência instrui a razão. A razão te de obedecer à ciência, à ciência mais evoluída, à ciência direito de que está em evolução. A razão não tem sobrestimar um experiência imediata; deve, pelo con trário, harmonizar-se com a experiência mais ricamente estruturada. imediato deve, em todas as circunstâncias, passo ao construído. Destouohes repete co ceder fre quência: se a aritmética, em desenvolvimentos longín quos, se revelasse contraditória, teria de se reformar contradição, e conservar-se-ia in razão para eliminar aritmética. aritmética deu tantas provas de tacta eficiência, de exactidão, de coerência, qu é impensável su organização. Perante um contradição abandonar súbita ou, mais exactamente, perante a necessidade sú bita de um us contraditório da aritmética, colocar-se-ia problema de uma não-aritmética, de um pan-aritmé tica, isto é, de um prolongamento dialéctico da intuições do número que permitisse englobar doutrina clássica doutrina nova. e
Nã hesitamos em levar ao extremo nossa tese nítida. Esta extensão da aritmética para tornar be nã está ainda feita. Ao supô-la como possível, queremos apenas afirmar que aritmética não é, ta como a geome tria, um promoção natural de um razão imutável. A aritmética não se baseia na razão. E a doutrina da razão que se baseia na aritmética elementar. Antes de saber qu er a razão. contar, desconhecia-se. praticamente espírito, de uma maneira geral, te de se submeter às condições do saber. Te de se mobilizar em torno.de articulações qu correspondem às dialécticas do saber. que seria um função sem oportunidades de funcionar? qu ·seria um razão sem oportunidades de raciocinar? A pedagogia da razão deve, pois, aproveitar todàs as oportunidades de raciocinar. Deve procurar a variedade dos raciocínios ou, melhor dizendo, as variações do ra ciocínio. Ora, as variações do raciocínio são actualmente numerosas na ciências geométricas e físicas; e sã todas solidárias de um dialéctica dos princípios da razão, de um actividade da filosofia do não. A razão, um vez mais, te ciência. A geometria, a física, de obedecer aritmética são ciências; a doutrina tradicional de um razão absoluta e imutável nã passa de um filosofia. um filosofia ultrapassada. (Philosophie, capo VI, pp 144-145.)
52. Como é possível, então, não ver que um filo sofia que pretende se verdadeiramente adequada ao pen samento cientítft.co, em evolução consrtoote, deV'e consi derar a reacção dos conhecimentos científicos sobre po isso que nos defrontamos, estrutura espiritual? E desde o início das nossas reflexões sobre papel de um filosofia da ciências, co um problema qu no parece ma equacionado quer pelos sábios quer pelos filósofos. E problema da estrutura da evolução do espírito. Aqui, um vez mais, a mesma oposição: o sábio cr conhecimentos; partir de um espírito se estrutura, se o filósofo baseia-se, a maior parte da vezes, nu espí rito constituído, provido de todas as categorias indispensáveis para compreender o real. Para o sábio, o conhecimento emerge da ignorância, ta como a luz emerge da trevas. O sábio nã vê que ignorância é um teia de erros positivos, tenazes, soli dários. Ele não se apercebe de que as trevas do espírito condições, toda uma estrutura que, nessas condições, tê e ~ e riência objectiva correctra deve sempre determinar a cor-
recção de um erro subjectivo. Mas nã muito fácil destruir os erros um um Eles estão coordenados. O es pírito cientifico só pode constituir-se destruindo o espí rito nã científico. O cientista adere muitas vezes a um pedagogia fraccionada, quando, na verdade, espírito científico deveria visar um reforma subjectiva total. Todo progresso autêntico no pensamento científico ne cessita de um conversão. Os progressos do pensamento cien tífico contemporâneo determinaram transformações nos próprios prindpios do conhecimento. Para o filósofo que, po profissão, descobre em si verdades primeiras, o objecto, considerado em bloco, confirma facilmente princípios gerais. ,Por isso, as per turbações, as flutuações, as variações ,preocUlpam pouco o filósofo. Ou as despreza como pormenores inúteis, ou as colige para se convencer da irracionalidade funda mental do dado. Em ambos os casos, o filósofo está pronto a desenvolver, a propósito da ciência, um filo sofia dara, rápida, fácil, ma que continua se um filosofia de filósofo. Basta, então, um única verdade para sair da dúvida, da ignorância, do irracionalismo; suficiente para iluminar uma alma. A su evidência re flecte-se em reflexos se fim. Esta evidência é um luz única: nã te espécies, não tem variedades. espírito vive uma única evidência. Não tenta criar outras evidên cias. A identidade do espírito no eu penso é de ta ma neira d a r a qu a ciência dessa consciência d a r a é ime diatamente a 'consciência de um ciência, a certeza de fundar uma filosofia do saber. A consciência da identi dade do espírito nos seus diversos conhecimentos cons titui, em si, a garantia de um método permanente, funda mental, definitivo. Perante um tarl sucesso, como apontar a necessidade ,de modificar espírito e de em busca de conhecimentos novos? Para o filósofo, as metodolo gias, po muito diversas e móveis qu sejam nas diferen tes 'ciências, 'ciências, bas eiam-se, apesar disso, nu método inicial, nu método geral 'que deve informar todo o saber, qu deve tratar da mesma maneira todos os objectos. Assim, conhecimento um tese como a nossa, qu considera como um evolução do espírito, ·que aceita variações res peitantes unidade e à perenidade do eu penso, perturba necessariamente o fillósofo. E, não obstante, é um ta conclusão que teremos de chegar se quisermos definir a filosofia do conheci mento científico como um filosofia aberta, como a cons ciência de um espírito· qu se constrói no trabalho sobre
o desconhecido, buscando no real aquilo qu contradiz conhecimentos anteriores. :E. necessário, antes de mais, tomar consciência do facto de qu a experiência nova diz não experiência antiga, se o que, obviamente, não se trataria de um experiência nova. Mas, este não, nunca definitivo para um espírito que sabe dialectizar os seus princípios, constituir em si mesmo novas espécies de evidência, enríquecer o seu corpo de explicação se con ceder nenhum privilégio àquilo que seria um corpo de explicação natural capaz de tudo explicar. (Philosophie Avant-Propos, pp 8-10.) 2.
a)
noção de objoctividade Objecto científico e objecto imediato
53. Na nossa opinião, é preciso aceitar o postulado seguinte para a epistemologia: o objecto não pode se designado como um «objectivo» imediato; po outras palavras, um movimento para o objecto não inicial mente objectivo. :E. necessário aceitar, pois, um verda deira ruptura entre o conhecimento sensível e o conheci mento científico. Cremos, co efeito, te demonstrado, no decurso das nossas críticas, qu as tendências nor mais do conhecimento sensível, intensamente animadas de pragmatismo e de realismo imediatos, determinavam apenas um falsa partida, um falsa direcção. Em parti cular, a adesão imediata a um objecto concreto, apreen dido como um bem, utilizado como, um valor, compro mete demasiado intensamente o se sensível; é a satisfação íntima; nã evidência racional. Como Baldwin afirma numa fórmula de admirável densidade: «E a estimulação, nã a resposta, que permanece o factor de con trolo na construção dos objectos dos sentidos.» Mesmo sob a forma aparentemente geral, mesmo quando se repleto e farto crê te chegado a hora de pensar gratui tamente, é ainda sob a forma de estimulação qu ele coloca a primeira objectividade. Esta necessidade de sen ti o objecto, este apetite pelos objectos, esta curiosidade seja indeterminada nã correspondem ainda qu tí tulo fo um estado de espírito científico. Se um paisagem um estado de alma romântico, um pedaço de ouro um estado de alma avaro, um luz um estado de alma extáüco. Um espírito rpré-científico, quando se 'tenta embaraçá-lo com objecções sobre o seu. realismo priinicial, sobre a su pretensão em apreender, logo
meira, o seu objecto, desenvolve sempre a psicologia dessa estimulação, qu o verdadeiro valor da convicção, se nunca atingir sistematicamente a psicologia do con trolo objeotivo. Co efeito, como Baldwin sugere, ta controlo resulta, antes de mais, de um resistência. Po controlo entende-se em geral the checking, limiting, regudo lation 01 the constructi:ve processes·. pedimento' e da censura que correspondem curiosamente explilCitaremos a nação de ao 'Conceito inglês de check fracasso, implicada igualmente mesma palavra. :E. por refreamento da estimulação. qu há fracasso qu Se este revés, a estimulação seria valor puro. Seria embriaguez; e, em virtude do enorme sucesso subjectivo que um embriaguez, el seria o mais irrectificável do erros objectivos. Assim, para nós, o homem qu tivesse a impressão de qu nunca se engana, estaria sempre enganado. (Formation, capo XII, p. 239). 54.
Basta falarmos nu
objecto para parecermos
objec.tivos. Mas, pela nossa primeira prefetência, mais o obJecto qu no escolhe do que nó o escolhemos a ele, e aquilo qu consideramos os nossos pensamentos fundamentais sobre mundo são, muitas vezes, vezes, confidên cias 'Sobre a juventude do nosso espírito. Po vezes, fica mo deslumbrados perante um objecto eleito; acumula mo as hipóteses e os sonhos; formamos assim convic ções qu possuem a aparência de um saber. Mas a fonte inicial é impura: a evidência primária nã um verdade fundamental. A objectividade científica só possível de pois de termos rompido com o objecto imediato, de termos recusado a s e ~ u ç ã o da primeira escolha, de ter mo parado contradIto os pensamentos qu nascem da primeira observação. Toda a objectividade, devidamente verificada, desmente primeiro contacto co o ohjecto. Te de começar IpOr criticar tudo: a sensação, o senso comum, at prática mais constante e própria etimo logia, pois o verbo, qu é feito para cantar e seduzir raramente vai ao encontro do pensamento. Em vez de deslumbrar, o pensamento objectivo deve ironizar. Se vigilância desconfiada, nunca alcançaremos um ati esta vigilância tude verdadeiramente objectiva. Se se trata de examinar homens, iguais, irmãos, a simpatia base do método. Mas, perante mundo inerte que não vive a nossa vida qu nã sofire de nenhum dos nosSOs males qu n e n h u ~ ,Em inglês no original. (N. do T.)
ma das nossas alegrias pode exaltar, devemos cessar todas as expansões, devemos controlar a nossa pessoa. Os eixos da poesia e da ciência são, antes de mais, inver sos. Tudo o que a filosofia pode esperar tornar a poesia
e a ciência complementares, uni-las como dois contrários be ajustados. necessário, pois, opor ao espírito poé tico expansivo expansivo o espírito científico taciturno, para qual antipatia prévia constitui um sã precaução. (Psychanalyse, capo I, !pp. 9-10.) b)
A noção de «facto cientifico»
55. A dúvida universal pullverizaria irremediavel mente o dad()' numa acumulação de factos heteróclitos. Não corresponde a nenhuma instância real da investi gação científica. A investigação científica reclama, em vez da parada da dúvida universal, universal, a constituição de um problemática. Toma como ponto de partida real um problema, mesmo que esse problema esteja mal posto. O eu científico é então programa de experiências, ao passo qu o não-eu científico é já problemática constituida. Em
total. A fortiori, contra todas as teses que afirmam um irracional fundamental, nunca se trabalha na base do incognoscível. Po outras palavras, um problema científico põe-se partir de uma correlação de leis. Na falta de um proto colo preliminar de leis, um facto limitado a um cons tatação arrisca-se a ser mal compreendido. Ou, mais exactamente, afirmado dogmaticamente po um empi rismo qu se compromete na sua própria constatação, um facto enfeuda-se a tipO's de compreensão sem relação corri a ciência actual. Daí certos erros que a cidade cien tífica não tem dificuldade em julgar. Quem compreendeu, po exemplo, a teoria científica do ponto de orvalho te consciência de que ela apresenta um prova definitiva que vem encerrar uma antiga controvérsia. A técnica de um higrómetro como os de Daniell ou de Regnault - para citar apenas aparelhos conhecidos em meados do séculO' XIX - dá um garantia de objectividade que não é fácil de obter através de um simples observação «natural». Depois de termos recebido esta lição de objectividade, já não é possível cometer erro de Renan, qu cr poder rectificar o senso comum nestes termos: «Ao povo pare ce-lhe que o orvalho ca do céu, e é co dificuldade que
acredita no sábio qu lhe assegura que o orvalho sai da plantas» 1. Ambas as afirmações sã igualmente falsas; ambas trazem a marca de um empirismo sem organiza ção de leis. O facto de o orvalho cair do céu ou sair das plantas nã suscitaria mais que uma problemática muito reduzida. fenómeno do orvalho é racionalizado pela lei fundamental da higrometria, que liga a tensão do vapor temperatura. Baseados na racionalização de um ta lei, pode-se, sem contestação possível, resolver o pro blema do orvalho. Um outro historiador, muito zeloso do pensamento científico, vítima, ta como Renan, de um equívoco. Taine, ao escrever em 1861, ao seu amigo de Suckau, pretende pô-lo ao corrente dos êxitos da ciência no últimos meses: «Neste m o m e n t o ~ e s t u d a - m s o e m e intensamente n t o ~ e s t u d a a luz; luz; temos as experiências experiências de de izeau, izeau, que provam que ela avança mais depressa na água do que no ar, e as de Beoquerel filho, Ique !provam qu todos os cOIipos são fosforescentes» (Correspondance, t. 11, p. 214). A luz «avança mais depressa na água do que no ar». Deveria te dito o contrário. Simples lapso, dirão. Sem dúvida. Mas o físico fica tão chocado com um tal lapso como ficaria um historiador a quem dissessem que o golpe de Estado de Najpoleão precedeu a Revolução de qruar-enta e oito. Mais precisamente, Taine limita-se a da experiên cia de Fizeau apenas o valor de um facto constatado. Se tivesse alpreciado esta experiência a partir pro blemática que a tornava interessante, é provável qu não tivesse cometido o mesmo erro. A experiência de Fizeau é mais do qu um resultado, é um conclusão. Constitui um valor epistemológico racional. Considera-se justa mente como um experiência crucial qu decide em favor da teoria das ondulações luminosas contra a teoria da emissão. O problema voltará, se dúvida, a se posto com a Relatividade, e um problemática mais vasta exi girá novos comentários. Mas, há um século, a expe riência exigia já um longo comentário, um valorização, porque representava um valor epistemológico eminente. Er mais do que um facto histórico, mais do que um facto que resulta de um constatação. Resolvia um problema (Raticmalisme, capo 111, cpp. 52-53.) ..
Renan, L'Avenir de la
p. 20.
c) Uma «revolução coperniciana da objectividade» 56. Nestas condições, um mundo que já possui um segurança objectiva apresenta-se-nos como um senda de problemas be definidos. Tal situação foi muito bem definida po várias notas de Georges Bouligand, em que o sábio matemático apresenta com toda a clareza dese jável a dialéctica da síntese global (estado actual dos conhecimentos matemáticos) e dos problemas postos de um forma clara em função dessa mesma síntese global. No domínio do conhecimento científico do real, a situa ção nã é certamente tã nítida como a que Georges Bouligand caracterizou relativamente ao progresso das ciências matemáticas. Mas coloca, nã obstante, a mes ma dialéctica. Com efeito, se quiséssemos descrever a actividade do pensamento científico estilo já célebre do existencialismo, teríamos de dizer que o pensamento científico está sistematicamente «em situação» de objecti vação precisa, de um abjectivação que se expõe como um escala de precisão. E aqui, mais um vez, vemos a enorme superioridade de instrução metafísica do objecto ex.periência comum, pais científico ,sobre o objecto é pela acção enérgica da objectivação cada vez mais precisa que entram em jogo as funções importantes da racionalização do objecto. Em lugar do dualismo de ex clusão do sujeito e do objecto, em lugar da separação das substâncias metafísicas cartesianas, vemos em acção a dialéctica de um acoplamento entre os conhecimentos objectivos e os conhecimentos racionais. No trabalho da precisão científica podemos os elementos de um revolução coperniciana da objectivi dade. Não é o objecto que designa a precisão, é o método. Compreenderemos esta subtileza metafísica se nOS repor tarmos qualquer medida primitiva. Diz-se, po exemplo, que o nome de carat vem do nome de um árvore afri cana (Kuara), cujas sementes, depois de secas, apresen ta mais ou menos o mesmo peso. Os indígenas, con fiando nesta regularidade, servem-se desses grãos para pesar o ouro. Assim, para um primeiro uso, servimo-nos, com toda a ingenuidade, de um regularidade---natural para determinar um precisão técnica, e isto numa me dida de matéria preciosa. Será necessário inverter a pers pectiva para fundar o racionalismo da medida. evidente qu um objecto pode determinar vários tipos de objectivação, várias perspectivas de precisão, podendo pertencer a problemáticas diferentes. O estudo
de um molécula química pode desenvolver-se na pers pectiva da química e na 'Perspectiva espectografia. Seja como for, um objecto científico só é instrutor em relação a uma construção !preliminar a rectifioar, um construção a consolidar. Encontramo-nos sempre perante o mesmo paradoxo: o racionalismo é um filosofia qu continua; nunca é verdadeiramente um filosofia qu começa. Nestas condições, toda a experiência sobre a reali dade já informada pela ciênci é, simultaneamente, um experiência sobre o pensamento científico. E é esta expe riência auplicada do racionalismo aplicado que é a ade quada para confirmar discursivamente um existência, ao mesmo tempo nq. objecto e no sujeito. A existência do sujeito racionalista nã poderia se provada pelo pro cesso unitário. Ela adquire a sua segurança no seu poder dialéctico. eminentemente dialéctica e discursiva por que é obrigada a agir fora de si e em si, assumindo um substância e um existência. E se quisermos, a partir dalqui, fazer ontologia, terá de se ontologia de um devir psíquico que provoca um ontogenia de pensa mentos. Não é possível, portanto, deixar de ve que o objecto designado e o objecto instrutor correspondem a duas instâncias de objectivação radicalmente diferentes. Reme tem, um e outro, para níveis de existência subjectiva valorizados de forma muito diversa. A maior parte das discussões filosóficas sobre «a realidade do mundo sen sível» fazem-se a propósito de objectos tomados como exemplos, pretextos ou ocasiões - l o g o , ao nível da ins tância de objectivação do objeoto designado. Mas o obJecto simplesmente designado nã propriamente um bo 'Sinal ode reuniã o iPar dois espíritos que pretendem aprofundJar o conhecimento do mundo sensívetl. Po exem plo, na-da há 'de mais -i'l1lCoociHável do que as a'titudes filo sóficas perante um objecto familiar, segundo se consi familiaridalde ou dere esse objecto su ,am!biência na su individualÍ'dade necessariamente original. E será ainda um coisa i:nteiramente i:nteiramente diferente se quiseI1IIli()s es rudarum fenómeno enraizado nu objecto, numa maté ria, um cristal, um luz. Imediatamente se nos 81presenta a necessidade neces sidade do ,progr ama de eJQP eJQPer eriê iêno noia iass 'a obrigação, para dois espíritos qu se pretendam instruir mutua mente, de se colocarem numa mesma tHnha de 8J'rofun damento. Já não se trata então de designação imediata
intuitiva, ma Ide um designação progressiva e discur siva atravessada po linúmeras rectificações. 'Para esquematizar a rivalidade do racionalismo e do empirismo nesta apreensão dos objectos, poder-se-ia evo ca este curto diálogo: O empirista costuma dizer a um racionalista: «Já sei o que vai diier.» A isto, o racionalista d e ~ e responder; «Nesse caso relativamente ao tema em dlscussao, esta se tão ra'cionalista como eu.» Mas o outro continua: «Mas «Mas você você racionalista, não adivinha aquilo qu vou dizer.»- «Sem dúvida (responde o racionalista), ma's adi vinho que o que vai dizer está fora do 'tema que estamos a discutir.» Vemos Vemos assim que, do p onto de vista do conhecimento científico, o objecto designado pelo conhecimento não possui nenlhuma virtude de engate. Locahza mu um nome nu vocabulário, mais do que um coisa nu universo. O objecto designado pelo termo isto, mesmo apontado a dedo, é quase sempre designado numa lin guagem, nu mundo da denominação. 'Perante um objecto que me é designado pelo seu nome usual, n ~ n c a sei se é o nome ou a coisa que ganham forma na mmha mente, ou ainda essa mistura de coisa e de nome, in forme, monstruosa, na qual ne a experiência nem a linguagem são dadas na sua acção maior, no seu trabalho de interpsicologia efectiva. (Rationalisme, capo IH pp. 54-55.) 3.
n(Jção de «problemática»
5'7. Tudo se esclarece se inserirmos o objecto de conhecimento numa problemática, se o assinalarmos processo discursivo de instrução, como um ele nu mento situado entre racionalismo docente e radiona lismo discente. Acrescente-se que se trata agora de um objecto interessante, de um objecto em
sente, deixam às coisas o seu passado de coisas reco nhecidas. O objecto reconhecido e nomeado oculta-lhes o objecto-a-conhecer. Se fizermos a um existencialista um objecção a esse passadismo da su teoria do conheci mento, ele vira-se inflexivelmente para um futuro de conhecimentos e começa a desenvolver, perante todo e qualquer objecto da vida comum, a singularidade da sua atitude de sujeito aberto a todo o conhecimento. Passa do sempre conhecido ao nunca conhecido com o maior desembaraço. Não considera verdadeiramente um exis tencialismo do conhecimento progressivo. A 1?osição do objecto científico, do objecto actual mente m s t r u t o r , é muito mais complexa, muito mais comprometida. Reclama um solidariedade entre método e experiência. necessário, pois, conhecer o método para conhecer, para captar projecto a conhecer, isto é, no reino do conhecimento metodologicamente valorizado valorizado objecto susceptível de transformar o método de conhe cer. Mas voltaremos a esta diS'C'Ursividade metafísica. Basta-nos, po agora, te sugerido ao leitor a ideia ne cessária de um problemática antecedente antecedente toda a expe riência que se pretende instrutiva, um problemática que se fundamenta, antes de se precisar, numa dúvida espe cífica, numa dúvida especificada pelo objecto a conhecer. Não acreditamos, um vez mais, na eficácia da dúvida em s ~ , da dúvida que não se aplica a um objecto. (Rationa ItSme, cap. IH p. 56.)
4.
A noção de «método cientifico»
a)
«Cortesia do espírito cientifico»?
58. Não há dúvida de que já passou o tempo de um Discurso do Método. Já Goethe, no fim da vida, escrevia: «Descartes fez e refez várias vezes o se Discurso do Mé,todo. No entanto, ta como o possuímos hoje, não nos pode prestar qualquer ajuda.» Não serei tão severo coma Goethe. Mas as regras gerais do método cartesiano são doravante regras óbvias. Representam, po assim dizer, a cortesia do espírito científico; são, para um Congresso como o nosso, os hábitos evidentes do homem de bo sociedade. Seria um cientista aquele que aceitasse a ver dade de um coisa antes de esta se lhe te apresentado como ta em toda a su evidência? Encontraria audiência nu Congresso de sábios aquele que nã ordenasse os
seus pensamentos tendo 'sempre presentes !IlO espírito as verdades básicas da ciência qu cultiva? As dificuldades já não residem aí. Têm as suas cau sas na diversidade dos métodos, na especialização das disciplinas, sobretudo no facto de qu os métodos cien tíficos se desenvolvem à m arg em po vezes em opo sição sição dos preceitos preceitos do senso comum, comum, dos dos tranquilos ensinamentos da experiência comum. Todos os métodos científicos activos são precisamente métodos de ponta. Não são o resumo dos hábitos ganhos na longa prática de um ciência. Não se trata de sabedoria intelectual adquirida. O método é, na realidade, um astúcia de aquisição, um novo e útil estratagema na fronteira do saber. Por outras palavras, um método científico é um método que procura o risco. Seguro da su conquista, arrisca-se numa aquisição. A dúvida está su frente e não atrás como na via cartesiana. Po isso, pude afir mar, sem grandiloquência, qu o pensamento científico er um pensamento empenhado. Está constantemente a pô em jogo a sua própria constituição; Mas há mais. Parece que, po um insigne paradoxo, o espírito científico vive na estranha esperança de qu próprio método venha a fracassar totalmente. Porque a maliciosa um fracasso é o facto novo, a ideia nova. função matemática, qu renuncia ao espartilho das deri vadas permanecendo honestamente contínua. Vem zom ba dos velhos mestres, sorrir da ingenuidade dos velhos livros. Não me recordo já do nome nome do sábi sábio o talv talvez ez esteja entre vós - qu disse qu é de bo grado que nos desviamos de um método de fecundidade excessiva mente regular. Tal método acaba po passar da categoria de método de descoberta à categoria de simples método de ensino. A clareza é, po vezes, um sedução qu faz vítimas na classe dos professores. Encontram-se muitos que, docemente, na monotonia das lições, se contentam com um clareza antiquada e se atrasam um geração. Não Quereria obscurecer este dia de festa intelectual que é abertura ,de um Congresso dando exemplos de mé todo qu só possuem um passado. Mas vós sentis be qu o método nã pode se um rotina e que, para me servir novamente de um pensamento de Goethe: «Quem perseverar na sua pes'quisa é levado, mais tarde ou mais cedo, a mudar de método.» (Congresso internacional de Filosofia.)
b)
Um
p ~ d i m e n t o
nã()..essencial?
59. Mas estaríamos a interpretar ma o problema dos métodos científicos se víssemos nos métodos, po um excesso contrário de mobilidade, um série de pro cedimentos sem relação com o corpo das verdades pro fundas, se julgássemos o seu valor em função de um pragmatismo obsoleto ou de um pluralismo esfarelado. Semelhante !pragmatism !pragmatismo o exerc eu tã grandes devas devas tações na doutrina da ciência, serviu tã facilmente para afirmar um cepticismo sobre os valores da verdade, que vos peço autorização para insistir no poder de constante integração do saber científico moderno. Um método particular, um método que visa um es tudo m uito especializad especializado, o, se fo verda·deiramente fecundo, expansões t ais da cultura qu é possível espan determina expansões tarmo-nos com as habituais homilias contra a especiali zação. Deixaríamos certamente embaraçados os qu pr().. fessam um admiração eloquentepela cultura geral se lhes pedíssemos que a definissem. Na su definição, fa cilmente se encontraria a marca indelével dos seus estu dos de juventude, -podendo afirm ar.:&e:cbamo cuatura geral àquilo que os meus bons e velhos mestres me ensinaram. Ter aprendido é, po vezes, um desculpa para nos desinteressarmos de aprender. Toda a polémica, aliás, se esclarece se evocarmos o que se pode muito be chamar, incluindo precisamente as ciências humanas, a cultura geral cientifica. Com esta extensão, o espírito científico deve apresentar-se. como próprio esqueleto de um cultura geral moderna. Assim, Assim, se segui rmos a hi stó ria .das ciências desde os dois últimos séculos, aperceber-nos-emos de Que ela é a um tempo uma história de especializações do saber um história da integração, numa cultura geral, das cul turas especializadas. Este poder de integração tã grande qu especializações constit ui um belo temor das especializações exemplo de temor vão. Ao longo de toda a história da ciências podemos recolher queixas filosóficas que preten dem alertar os espíritos contra a especialização. l! possí vel, hoje, espantarmo-nos com um Goethe .que conside rava a óptica do início do séc. XI demasiàdo especia. lizada. O qu é demasiado especializado para um filósofo é, po vezes, um elemento da cultura geral do sábio. de que. o filósofo nã se conta qu M a ~ M a9-uil,? a ~ a especlahzaçao é mUltas vezes a actuahzação de um
cultura científica geral. A especialização faz passar acto um potência largamente acumulada. quanta coerência nã encontra ~ m a ~ v m i a d ~ de sábio numa profunda especialidade! Descobnmos entao a fen? menologia da obstinação racionalista, a f e n o m e n o l o g ~ a experiência minuciosa, numa palavra, a fenomenologia da experiência da coragem da inteligência. Para servir um especialização, o espírito abre-se inteiramente os olhares dirigem-se para vasto mundo. qUe leitu;a imensa, qu avidez de informaç?es não especialização moderna! Pode a f I r m ~ r - s e reclama um qu se es'creveram, em meio séotilo, mais livros. e 'artIgos sobre o electrão do que, ao longo de todas as Idades, se escreveu sobre a Lua. B vêde onde se manifesta fecundidade real da cul comparação do tura a viva actualidade da cultura! movimento Lu movimento lCla Iqueda do c o ~ o s c o ~ o s foi, se duvida, a causa, quando as medidas se t o r n a r ~ m suficientemente 'Precisas, da grandes sínteses n e w t ~ n ~ a na!s. ,Mas, actualmente, electrão, essa lu do p r o d I g I ~ so mUlI1dos minúsculos, empenha-nos numa problema tica mais vasta. estudo da mecânica do electrão 'Solici ta-nos pensamen'tos cada vez mai: ~ e r a i s , cada v: mais englobantes. breve mecamca da Lua nao será para nós mais do qu !Uma mecânica clássica, a mecânica de um electtão preguiçoso, um e l e c t ~ ã o :nonstruosame:I?-te entollJ>Ccido. ·E os sábios a b a n d o n a ~ l o - a o a b ao a n d o devaneIos n a ~ l o - a o do poetas, que reencontrarão assim um das suas espe
ciaHdaaes! :.;: preciso, pois, ignorar totalmente a psicolo&ia. do especialista, do traiba,Lha:dor arrebatado .pela .espedialIzar .espedialIzar ção, para descrever como um h ~ T e J ? 1 de VIstas cur!as empenhado nu impasse. Em cIencIa, as pe:cepçoes exactas sã garantias de percepçoes amplas. (IbUl.) c)
mudar de métodos, a ciéncia torna-se cada vez mais metódica»
«Ao
valor 60. Mas existe um outra razão que acentua do métodos múltiplos, outra razão que, apesar do movi ciência moderna uma mento dos seus métodos, dá feliz feliz estabilidade. :.;: facto de que toda crise profunda imediatamente um consciência da reorga no método nização do método. Encontrarão provas disso, entre mui-
to outros casos, se seguirem os colóquios de matemática ou aprofundarem os debates sobre determinismo. Estamos aqui em presença dos mais evidentes con perguntar-me se nã flitos de métodos. Chego mesmo existirá actualmente um certa oposição entre os esforços para alicerçar a ciência e os esforços para a erigir. Não devemos, é certo, tornar-nos vítimas das nossas próprias metáforas. No fi de contas: alicerçar, projectar, erigir nã passam de imagens. No que concerne ao edifício da ciência, é possível erigi-Io se o alicerçar. também possível, infelizmente!, alicerçar se erigir. Se as minhas solenes funções de presidente do Congresso nã me pri vassem do prazer das polémicas vivas e amigáveis, pode ri da exemplos. Vós próprios os haveis de encontrar. Mas, na qualidade de homens de ciência, sabeis melhor do que ninguém que a ciência não se destrói, que ne se progresso, qu nhuma crise interna pode deter se poder de integração permite-lhe aproveitar aquilo que a contradiz. Um modificação na bases da ciência prodüz um expansão no seu cimo. Quanto mais se es cava a ciência, mais el se eleva. Podemos, assim, estar seguros de qu a multiplica ção dos métodos, seja qual for o nível a que esses mé todos operem, nã poderá prejudicar unidade da ciên cia. Explicitando melhor, empregando um conceito epistemológico de M. Bouligand, pode-se afirmar qu síntese global da ciência está tanto mais assegurada quanto mais longe possível essa síntese global irradiar sua problemática. perfeitamente possível assinalar um método que se desgasta, um método que, em contra dição com a 'etimologia da palavra, nã anda. Mas a condenação de um método equivale de imediato, na ciên proposição de um método novo, de um cia moderna, método jovem, de um método de jovens. Encontrarão muitos testemunhos disso no presente Congresso. Nã existe interregno no desenvolvimento dos métodos cientí ficos modernos. Ao mudar de métodos, a ciência cada vez se torna mais metódica. Estamos em estado de raciona
lismo peI1manenre. (Ibid.) 5.
noção de aplicação
61. (. .. ) espírito científico pode extraviar-se se guindo duas tendências contrárias: atracção do s i ~ guIare atracção do universal. Ao nível da conceptuah-
zação, definiremos estas duas tendências como caracte rísticas de um conhecimento em compreensão e de um conhecimento em extensão. Mas, se a compreensão e a extensão são, um e outra, motivos de ruptura episte mológica, onde se encontram as fontes do movimento espiritual? Qual a correcção que permitirá ao pensa mento científico encontrar um saída? Seria necessário criar aqui um palavra nova, entre compreensão e extensão, designar essa actividade do pensamento empírico inventivo. Seria necessário qu essa palavra pudesse receber um acepção dinâmica par ticular. Com efeito, segundo o nosso ponto de vista, a riqueza de um conceito científico mede-se pelo seu poder de deformação. Tal riqueza nã pode ligar-se a um fenó meno isolado que seria reconhecido como cada vez mais rico em características, cada vez mais rico em com preensão. Tal riqueza também não pode ligar-se a um colecção qu reuniria os fenómenos mais heteróclitos, que se estenderia, de um maneira contingente, a casos novos. matiz intermediário será realizado se o enrique cimento em extensão se tornar necessdrio, e tão coorde nado quanto a riqueza em compreensão. Para englobar provas experimentais novas, será então necessário defor os conceitos primitivos, estudar as condições de ma aplicação de um conceito no próprio significado do con ceito. nesta última necessidade que reside, quanto nós, o carácter dominante do novo racionalismo, corres pondendo a um estreita união da experiência e da razão. A divisão clássica qu separava a teoria da sua aplicação ignorava a necessidade de incorporar (as condições de aplicação na própria essência da teoria. Como a aplicação está sub:n;tetida a aproximações sucessivas, pode afirmar-se qu o conceito científico que corresponde a um .fenómeno particular é agrupamento das aproximações sucessivas be ordenadas. A concep tualização científica necessita de uma série de conceitos em vias de aperfeiçoamento para receber o dinamismo que temos em vista, para formar um eixo de pensamen tos inventivos. Esta conceptualização totaliza e actualiza 'a história do conceito. Para além da história, impulsionada pela história, ela suscita experiências para deformar uma fase histórica do conceito. Na experiência, ela procura oca siões para complicar o conceito, para aplicar nã obs tante a resistência do conceito, para realizar as condições de aplicação que a realidade nã reunia. então qu
nos apercebemos de que a ciência realiza os seus objec tos, sem , n u ~ c a os considerar totalmente acabados. acabados. 4- fe n o m e n < ? t e c ? ~ c a alarga a fenomenologia. Um conceito tor na-Se CIentIfIco na medida em que se torna técnico, em q1!e se faz acompanhar de um técnica de realização. e.-se bem, portanto, que o problema do pensamento cien tIfIco ~ o d e r n o l;lma vez mais, um problem a filosofi filosofica ca Como nos tempos de Abelardo, nós m e , n t ~ m t e r m e d ~ a n o . numa posição média, propnos g o ~ t ~ r . I a m o s g o de ~ t ~ nos r . I a m fixar o s entre os pOSItIvIstas. o ~ f o r m a l i ~ t a s , entre os partidários dos factos e os partIdános dos SI'gnOS. Expomo-nos pois de todos os lados, cn'tica. (For1'tUltion ca UI' pp 60-6i.) , '
11
O MATERIALISMO T t t N l C O
1.
Instrumentos e precisão
62. Na ciência moderna, as condições da precIsa0 tornam-se cada vez mais absorventes. Antes de mais, estão, sem dúvida, ma esclarecidas. A «Toesa do Ohâ telet» 1, incrustada em 1668 na parede exterior do rande Châtelet, exposta a todas as intempéries, usada com fre quênoia para controlo dos aferidores mercantis, serviu para determinar a toesa do Peru qu Bouguer, La Con damine e Godin levaram, em 1735, para o Equador. Foi nas mesmas condições que a missão da Lapónia, dirigida po Maupertuis e Clairaut, determinou a toesa do Norte. Os sábios e os experimentadores mais prudentes e minu ciosos da época contentavam-se co um determinação muito grosseira, mesmo nas pesquisas científicas da mais elevada ordem. Segundo a opinião do astrónomo Lalande, a diferença das duas toesas pode atingir 1/25 de linha, ou seja, cerca de 1/10 de milímetro. Há duzentos anos, um erro de um décimo de milímetro era, pois, conside rado como negligenciável ou dificilmente determinável. No final do séc. XVIII, o estabelecimento do sistema mérito possibilitou investigações r n a ~ s minociosas. nios e lupas passam se utilizados. Vários experimen tadores repetem inúmeras séries de determinações. Qual foi o resultado? Delambre, na obra sobre a base do Châtelet: nome dado a duas fortalezas de Paris. O «Grande Châleteb era a sede da jurisdição criminal do viscondado e do prebostado de Paris. (N. do T.
sistema métrico decimal, dá entender que grandezas da ordem do centésimo de milímetro parecem-Ihe inacessí veis às observações, mesmo nas pesquisas científicas da mais alta precisão. Passados cinquenta anos, a precisão limite foi decuplicada. Cem anos depois, apenas coril meios directos, com aparelhos ópticos (microscópio de média ampliação) que os sábios da Convenção puderam utilizar, atinge-se um apro ximaç ão de 1/10 000 000 de milí metro. Finalmente, nu último período, os sábios aperce bem-se de que os instrumentos directamente adaptados à medida dos comprimentos tinham atingido o máximo da perfeição qu deles se podia esperar. Para afinar conhecimento, eram necessários métodos novos. Em 1900, M. Benoit terminava nestes termos o seu relatório ao Congresso internacional de Física: «Estou persuadido de qu os nossos descendentes farão melhor do qu nós, mas, para isso, com toda a probabilidade, terão de fazer de outro modo.» Dirigir-se-ão, po exemplo, para as interferências ópticas, pondo em prática um ideia de Fizeau. Este físico escrevia, em 1864: «Um raio de luz, com as suas s ~ r i e s de ondulações extremamente ténues ma perfeitamente regulares, pode considerado como um micrómetro natural da maior perfeição, particular mente próprio para determinar comprimentos.» Po ve zes, com métodos diferentes, as dificuldades mudaram inteiramente de aspecto. Assim, nas determinações di rectas de comprimento, er evIdentemente a parte deci ma mais difícil de !precisar. Nos processos óptilCoS, tratava-se de um tarefa relativamente fácil. O maior obstáculo consiste em conhecer a parte inteira que se exprime em comprimento de onda por um número muito grande. Vemos aqui intervir o papel primordial dos ins trumentos nos conhecimentos aproximados em Física.· (Essai, capo V, pp 60-61.) 63. Um instrumento, na ciência moderna, é verdadeiramente um teorema reificado,' ao considerarmos a cons t r u ç ~ o esq;temática da experiência capítulo po capítulo, ou amda mstrumento por instrumento, apercebemo-nos· de que as hipóteses devem se coordenadas do próprio de ponto de vista do instrumento; os aparelhos como Millikan, ou como os de Stern e Gerlach, sã pensados dinectamente em função do electrão ou do átomo. As suposições que se fazem actualmente, na base da ciência propósito do caracteres atómicos, nã são, assim, s i m ~
pIes fantasias. Constituem próprio esqueleto da nossa ciência experimental. Po isso, a doutrina de Vaihinger, aliás tã sugestiva, nã nos parece te apreendido o ver dadeiro papel das concepções atomísticas contemporâ neas. Para Vaihinger, o átomo nã constitui um hipó tese propriamente dita; corresponderia antes a um fic çã 1. Logo, enquanto ficções, rodos os caracteres atri buídos directamente ao átomo deveriam se eliminados um vez executada a su função muito intermediária, exactamente da mesma maneira qu o símbolo da quan tidade imaginária utilizado pela álgebra deve desaparecer assim qu se enunciam. os resultados. precisamente porque a intui.ção de átomo acabará ipor 'ser eliminada qu a podemos carregar de características contraditórias. isto seria igualmente verdadeiro no que diz respeito às intuições. Vaihinger chega a dizer que uma intuição, mesmo sendo materialmente falsa, serve muitas vezes provisoriamente, na falta de um intuição exacta. Do nosso ponto de vista, este carácter deliberadamente factício traduz m a I o carácter técnico, cuja importância sub dar uma linhamos mais acima. O factício pode be metáfora; não pode, como o técnico, fornecer um sin taxe susceptível de reunir entre si os argumentos e as intuições. Além disso, como o próprio Vaihinger reco nhece, se se pode, a propósito das hipóteses atomísticas, falar pelo menos do jogo da imaginação, deve reconhe oer-se qu esse jogo nã é ilusório. Longe de conduzir o entendimento ao erro, facilita-lhe a tarefa. (Intuitions, Calp. VI, 'W. 140-142.) 64. De um forma ainda mais nítida e quase mate rial, poder-se-iam poder-se-iam determinar as diferentes idades de um ciência através da técnica dos seus instrumentos de me dida. Cada um dos séculos que acabam de passar tem su escala de precisão particular, o seu grupo de deci mais exactas e os seus instrumentos específicos. Não pretendemos retraçar aqui esta história dos instrumen tos, qu evocáJmos numa outra obra 2. Queremos simples mente assinalar a dificuldade em determinar as primeiras condições da medida. Po exemplo, Martine lembra que os primeiros termómetros eram fabricados com muita V.aihinger, Die Philosophie des AIs Ob, connaissance approchée (D. L.) (As notas acres No Essai sur cidas às de Bachelard são seguidas das iniciais D.L.).
imprecisão 1. «Mesmo os de Florença, cujo grau mais elevado er fixado segundo o maior calor do sol nessa região eram demasiado vagos e indeterminados.» Aper cebern'o-n cebern'o-nos, os, apena a pena po este exemplo, do carácter nefasto do uso directo do termómetro. Como o termómetro no deve informar sobre temperatura ambiente, a indica ções meteorológicas qu iremos começar : p o ~ pedir princípio da sua graduação. Numa perspectIva seme lhante, Halley propõe, como ponto fixo, a temperatura dos locais subterrâneos insensíveis ao Inverno e ao Verão. Essa insensibilidade foi reconhecida pelo termómetro. Não -era directamente objectiva na ausência de um me dida instrumental. Ainda no tempo de Boyle, observa Martine, «os termómetros eram de ta maneira variáveis e indeterminados que parecia moralmente impossível estabelecer, po seu intermédio, um medida do calor do frio ta como possuímos para o tempo, para a dis tância, para o peso, etc.». Perante um ta carência técnica instrumental, não nos devemos espantar co a prodigiosa variedade dos primeiros termómetros. Passou a haver, em pouco tempo, rtipos malÍs numerosos do que as medidas de peso. Esta variedade é muito característica de um ciência de ama dores. Os instrumentos de uma cidade científica estru turada como a nossa são quase imediatamente estan dardizados. A vontade de técnica é, no nosso tempo, tã nítida a tolerância dos tã vigiada que nos espantamos co construção de um apaprimeiros erros. Cremos qu relho objectivo é simples, ne sempre vemos a soma das precauções técnicas que reclama a montagem do apare lho malÍs simples. Haverá, po exemplo, algo aparente mente mais simples do que a montagem, sob a forma de barómetro, da e;,operiência de Torricelli? Mas só o tubo reclama muitos cuidados. E a acto de encher mínima falha neste aspecto, a mais pequena bolha de ar que fica, determina diferenças notáveis na altura baro métrica. O amador Romas, na pequena cidade de Nérac, seguia as variações diferentes de cinquenta aparelhos. Simultaneamente, multiplicavam-se as observações para penetrar a influência das variações barométricas em di versas doenças. Assim, o aparelho e o objecto da medida
revelavam-se ambos mal adaptados e afastados das boas condições de conhecimento objectivo. No conheci mento instrumental primitivo podemos ve a erguer-se o mesmo obstáculo que no conhecimento objectivo ordi nário: o fenómeno não oferece necessariamente medida variável mai'S regular. Pe'lo contrário, conforme os instrumentos se vão afinando, o seu produto científico fica cada vez mais be definido. O conhecimento tor na-se objectivo na proporção em que se torna instru mental. doutrina da sensibilidade experimental é um con cepção muito moderna. Antes de todo o empreendimento experimental, um físico tem de determinar a sensibili dade dos seus aparelhos. E isso que espírito pré-cien tífico não faz. A marquesa du Châtelet esteve muito perto da experiência que oule realizou um século mais tarde, se te compreendido a su possibilidade. El afirma explicitamente: «Se o movimento produzisse fogo, água fria, sacudida co força; aqueceria, o que nã acontece de um forma sensível; e, se chega a aquecer, muito dificilmente.» O fenómeno qu mão não dis tingue de um maneira sensível teria sido assinalado po um termómetro ordinário. A determinação do equiva lente mecânico do calor será apenas o estudo deste aque cimento difícil. Ficaremos menos surpreendidos com esta ausência de perspi per spicáci cáciaa eXiper eXiperime imenta ntall ll se considerarmos mistura das intuições de laboratório e das intuições naturais. Po isso Voltaire pergunta, como marquesa du Châtelet, por que razão os ventos violentos do Norte nã produzem calor. Como vemos, o espírito pré-cientí um doutrina clara do grande e do pequeno. f i ~ o nã MIstura o grande e o pequeno. Talvez a maior falha do espírito pré-científico seja a ausência de um doutrina dos erros eXiperimentais. (Formation, caIp. XI, pp. 216-217.) 2.
a) A Escola 65. Como é possível, doravante, deixar de inscrever filosofia fundamental do pensamento científico, na sequência do seu estatuto intersubjectivo, o seu carácter social inelutável? Porque, no fundo, a pluralidade essen cial dos pensadores de um pensamento científico deterna
Martine, Dissertation sur
velles sur
la
Paris, 1751,
p.
construction et
6.
la
la chaleur avec les observations noucomparaison des t h e r m o m ~ t r e s , trad.
A «cidade científica"
minado eis, como afirma o poeta, a expressão do homem «na miÍésima pessoa do singular» 1, eis um geração de sábios unificada na singularidade de um verdade intei ramente nova na racticidade de um experiência desco carácter nhecida das 'gerações anteriores. Parece qu social das ciências físicas se manifesta precisamente pelo vidente progresso dessas ciências. O trabalhador isolado deve confessar «que não teria conseguido descobrir tudo isso sozinho». O .progresso a estas ciências um verda deira história do ensino cujo carácter social nã pode se desprezàdo. A comunhão social do racionalismo do cente e do racionalismo discente qu tentamos caracte rizar na nossa última obra (trata-se do Rationalisme appliqué) confere ao espírito científico a dinâmica de um crescimento regular, a dinâmica de um progresso certo, de um progresso confirmado psicológica socialmente pela própria expansão das forças culturaIS. O homem -ües -üesit ita. a. A Escola Escola nas ciências ciências nã hesita. A Escola nas nas ciên ciênci cias as arrasta. cultura científica i m p ~ a s i suas tarefas, a su linha de crescimento. crescimento. As utopias filo- sóficas não têm, aqui, quaisquer valor. necessário inte grar-se na Escola, na Escola ta qua.l é, na Escola ta transforma. como evolui, no pensamento social qu E, um véz qu é nossa intenção nada esquecer dos caracteres que determinam a evolução do pensamento cientifico, não podemos deixar de assinalar a extrema importância do livro científico moderno. As forças cul turais visam a coerência e organização dos livros. O pen samento científico é um livro iactivo, um livro a um ~ e m p o audacioso e prudente, um livro em ensaio, um livro do qual se desejaria apresentar um nova edição, ver um edição melhorada, refundida, reorganizada. dadeiramente o se de um pensamento em vias de cresci mento. Se esquecermos este carácter de sucessiva solidez -Ia cultura científica moderna, estamos a avaliar ma ua acção psicológica. O filósofo fala de fenómenos e de números. Porque não há-de ele conceder a su atenção ao se do livro, ao bibliómeno? Será qu um filósofo céptico pergunta se o electrão existe? Não é fugir ao debate responder-lhe com o argumento do livro: o número de livros escritos sobre o electrão em cinquenta anos é indu bitavelmente maior do que o número de livros escritos sobre a Lua em quinhentos anos. Existir através do livro já um existência, um existência tã humana, tão soli· ...
Renri Pichette, prefácio a Grenier sur l'Eau. de Emanuel Looten.
m p ~ a s
damente humana! Objectar-se-á, em vão. que a Lua «existe» para dois biliões de homens - ço um grande variedade de valores ontológicos e, precisamente po isso, se grande garantia de objectivddade c o m u m - , ao passo que o electrão só existe para alguns milhares de físicos informados, que transmitem sua cultura a algumas cent'enas de milhares de leitores atentos. Mas é precisa mente po isso qu se torna necessário edificar um filosofia da cultura científica, na qual se indicarão todas as ocasiões de fornecer um hierarquia dos valores de realidade. Uma ta filosofia da cultura científica é muito diferente do cientismo, um vez que, longe de 'Se satis fazer com os resultados adquiridos. se emnenha arroia damente numa discussão sobre os valores filosóficos dos temas variados da experiência e das dialécticas diversas que abalam e reorganizam os valores racionais. Através de tais esforços, a natutêza posta sob o signo do ho mem activo, do homem qu inscreve a técnica na natu reza 1. A coerência hum8JUa, em tomo de um ser técnico, acaba po se mais forte do que em tomo de U1Ill objecto natural. Ora, a técnica nã se descobre, aprende-se nu determinado ensino, transmite-se através de renresenta ções e desenhos. Encontramo-nos perante valores de 7-9.) objectividade codificados. (Activité, Intr., b)
Cidade teórica e cidade técnica
66. Vemos aparecer o teórico nã solitário. Inúme memórias teóricas trazem, frequentemente, várias assinaturas. No primeiro trimestre de 1948 foram publi cadas 70 memórias em The Physical Review. das quais só metade assinadas po um único nome. Vinte e duas memórias surgem assinadas po dois nomes. Oito po três nomes. Há quatro memórias que são fruto da cola boração de quatro autores. Esta cooperação na desco berta racional é uma marca dos temnos modernos. A his tória das matemáticas, at ao séc. XX, não dá um único exemplo de um matemática a duas vozes. Mas esta pequena contabilidade nã fornece um cÔm puto suficiente da comunhão dos teóricos. Assim como um técnica particular comanda a construção de um cidade inteira, de um c i d a d e ~ á b r i c a , para criar alguns átomos de plutónio e encerrar mais alguns cornúsculos ra
Cf. Karl Marx. L'idéololtie Allemande. trad. Mo1itor. pp. 163 segs.; edição portuguesa: A Ideologia Alemã. Editorial Presença.
no ínfimo núcleo do átomo, para aí suscitar um energia monstruosa, um energia energia sem paralelo co as forças da tempestade, também um enorme preparação teórica reclama o esforço de toda a cidade teórica.
E as duas sociedades, a sociedade teórica e a socie dade técnica, tocam-se e colaboram. Ambas se compreenesta compreensão mútua, íntima, activa, que dem. E constitui o facto filosófico novo. Não se trata de um compreensão natural. Para a obter, não basta aprofundar um clareza de espírito inata ou refazer com um maior precisão um experiência objectiva corrente. preciso aderir resolutamente ciência do nosso tempo. pre ciso, antes de mais, le livros, muitos Hvros difíceis, e elevar-se gradualmente perspectiva das dificuldades. Eis as tarefas. No outro eixo do trabalho científico, do lado técnico, é necessário manipular, em equipa, apare lhos Que são frequentemente, de uma maneira paradoxal, delicados e potentes. Semelhante convergência de exacti dã da força nã corresponde no mundo sublunar a ne nhuma necessidade natural. Ao seguir a física contem porânea, abandonámos a natureza para entrar numa fábrica de fenómenos. Obiectividade racional, ob.fectividade técnica e ob.fectividade social, eis três caracteres doravante fortemente ligados. Se esquecermos um só que seja dos caracteres da cultura científica moderna, entramos no domínio da utopia. Uma filosofia das ciências que não se pretenda utó pica deve tentar formular um síntese destes três carac teres. Em particular, é sem dúvida a ela que compete a tarefa de mostrar a importância docarácter intersubjec tivo, do carácter histórico e social, em reacção mesmo contra os próprios hábitos do pensamento filosófico Comnete filosofia das ciências pôr em evidência os valores da ciência. Tem de refazer, em todos os períodos do desenvolvimento da ciência. a tradicional dissertacão sobre o valor da c i ~ n c i a . Cabe-lhe igualmente a tarefa de estudar psicoloQ"icamente os interesses culturais, be como a tarefa de determinar os elementos de um ver dadeira orientação profissional da cultura científica. (Activité, Intr., pp. 9-10.) Q)
Especializações
67. Dado que 'a especialização do pensamento cientí fico é necessariamente precedida de um cultura cientí-
fica sólida qu determina precisamente a especialização, temos o direito de ficar surpreendidos com o facto de a especialização científica ser_tão fácil e constantemente denunciada como um mutilação do pensamento. Mesm em épocas nas quais o pensamento científico permanecia. de acordo co a perspectiva actual, muit-o g((ral e fácil, vamos encontrar as mesmas condenações, os mesmos avisos contra os perigos que, através .(Ia especialização, ameaçam o futuro da ciência. Há pouco mais de um século, Goethe, qu lutara to'da a su vida contra a infor mação matemática do fenómenos físicos, deplorava a tendência da ciência para a especialização. E não será sintomático o encontro, a este respeito, de um Goethe e de um Jérôme Paturot? Escrevia Louis Raybaud em '1948: «À força de se orientar a ciência no sentido das especialidades, das minúcias, se assim se pode dizer, chegamos a um espécie de quinta-essência em que tudo se decompõe. Receio be que, na auímica, se tenha já chegado a esse ponto, e na matemática tam bém.» E s ~ o páginas e páginas que, neste velho romanc.e, romanc.e, afirmam textualmente os escárnios de hoje contra os sábios «encravados numa espeCializacão». contra Químico que descobriu que o «protóxido de manganés . isomorlo em relação ao do ferro, e qu o seu sesQuióxido em relação ao peróxido de ferro.» A isomorfia nã interessa a Jérôme Paturot e, ,como a química o empe nharia em problemas tã especializados, não seria ela que lhe daria «uma posição social». Quem se julga filo soficamente inteligente revela-se muito ingénuo na apre ciação dos valores científicos. Tais apreciações têm. pelo menos, o condão, quer sejam pronunciadas por um dos grandes da Terra, como Goethe. ou por um bUI"Q"uês médio. médio. co mo ,herói de Loui's Ravbaurd, de nos imnressio na pela sua ineficácia. A ciência segue tranquilamente o seu caminho; Mas, sem nos OOUIParmos mais dos ecos destl'lc; crí ticas obsoletas, se nos determos no exame d a ~ ohillrações dos partidários da cultura geral, desses filósofos que crêem poder armar-se em .fuízes em domínios Que pouco conhecem e qu são. ao contrário do célebre dito. como esferas cuia circunferência está em toda parte e centro em nenhuma, consideremos o problema da especialização no se aspecto positivo e actual. Louis Raybaud, JértJme Paturot sociale, ed. 1858, ,p. 264 (1.' ed., 1943).
la
recherche d'une position
Temos, antes de mais, um facto patente: a especiali zação do pensamento científico te um recorrência tão profunda sobre o passado do saber que recobra toda a eficácia dos pensamentos gerais e estimula as especiali zações paralelas. Em suma, a especialidade actualiza um generalidade e prepara dialécticas. Dá um prova exacta espe da generalidade, um verificação pormenorizada. A espe cialização pertence necessariamente ao reino da segunda aproximação epistemológica. E nã há exemplo de um segunda aproximação que não conserve o benefício da primeira aproximação. Todo o utensílio especial, po muito elementar que seja, rectifica iá um utensilagem demasiado valla, um utensilagem demasiado oróxima de um necessidade primitiva, e qu o existencialismo facil mente denuncia. J! certo que nos podemos servir de qualquer corpo sólido, fazendo-o funcionar como ala vanca, a fim de conseguirmos efectivamente1;atisfazer a vontades de lJ)Oder. Mas r e a i l i ~ a r e m o s melhor essa acção, iá compreeMeremos, se usarmos um barra de ferro. Especializamos um utensílio. Se faltar o utensílio, pode remos procurar mais inteligentemente um substituto. Po último, as culturas mais esoecializadas são as mais abertas às substituições. Para disso nos convencer mos, basta seguir os processos essencialmente dialécticos dos oensamentos e da técnicas especializadas, onde um aoerfeicoamento de pormenor exige, po vezes, um re fundicão dos processos de fabrico. Esta aptidão para as substituicões deve se elevada categoria de um valor de primeiro plano. As culturas especializadas especializadas sã igualmente as Que pos suem um maior sensibilidade aos fracassos, daí um maior solicitação de rectificação. As rotinas, essas, são incorrilzíveis e as ideiasgerais são suficientemente fluÍ das nara Que se encontre sempre um meio de as verificar. As ideias gerais são razões de imobilidade. Po isso, passam po fundamentais. O mesmo sucede na ordem dos oensamentos teóri cos. Quem se especializou numa questão de álgebra alarcultura algébrica ireral. Uma f!OU necessariamente um esoeciaH7acão constitui, neste caso, um penhor de cul tura orofunda. E trata-se de um cultura que exige um oroQ'resso. Que oossui, além do seu saber, um proble mática. Uma cultura científica sem esoecializacão seria como um utensflio sem ponta, um cinzel de fio embotado. A especializa especializacão científica determi na um adesão do pensamento subjectivo a um tarefa, nem sempre a mes-
ma,
que pretende continuamente renovar-se. Essa a condição de um vigoroso empenhamento de um espírito nu domínio de pesquisa. Se não se com preender esta dialéctica da adesão e do empenho, despre zam-se as virtudes renovadoras da investigação científica especializada. A cultura geral, tal como é pregada pelos filósofos, permanece muitas vezes um cultura incoativa. Não se deve também fazer da disposição de espirito um valor absoluto, pois é necessário que o espírito cien tífico possua, correlativamente, um virtude de posição de objecto. Ao ler certos fenomenólogos, pode pensar-se o pensamento é sempre pensamento leitmotiv Que baste para definir a via de ohfectivi de alguma coisa dade central. Mas aqui qu entra em jogo o pa epis temológico: aplicabilidade e aplicação. O pensamento va gabundo caracteriza tanto o pensamento humano como amor volúvel representa o verdadeiro carácterdo amor humano. O poder de fixação acaba por ser o carácter positivo da disponibilidade do espírito reflectido. Este poder de fixação nã recusa as objecções; recusa as distracções. Enquanto não se tiver realizado a dupla ancoragem no mundo do sujeito e no mundo do objecto, o pensamento não encontrou as raízes da eficácia. Em suma, o filósofo afastado do pensamento científico nã vê todo o valor de um empenhamento obiectivo porque o obiecto comum nã determina realmente um empe nhamento. Fora do interesse estético e do interesse cien tífico, o objecto permanece Um ohiectivo efémero. Se o obiecto for um utensílio, visado numa utilidade mo mentânea. numa utilidade Que pode muito be ooor-se a um utilidade nu outro domínio. O cosmos da utilidade um tecido de contradições. Já Vanini dizia: «Do burro, animal tão útil ao homem, nascem vespões, inimillos do bem-estar do homem.» Para além dos interesses estéticos e científicos, o ohiecto é um ser do mundo suoerficial. Com o pensamento científico, científico, surge no obie cto um pers pectiva de profundidade. O emoenhamento obiectivo for talece-se numa escala de precisão, na sucessão de abor dagens cada vez mais delicadas, abordagens essas ligadas um mesmo obiecto e que, no entanto, se d e s i ~ a m umas a seguir às outras como níveis diferentes do conhe cimento obiectivo. Ao seguir um tal persoectiva dos níveis obiectivos ordenados. o espírito é exercitado numa discinlina ae rectificação. Torna-se a pouco e 'POuco um esvirito recto.Porque a rectidão da razão não é c o n ~ é nita. E, mesmo que se tire partido do privilégio da razão ma
adesão
r,ecta, nã é difícil reconhecer que convém te oportuni dades de a aplicar. Quanto mais difícil fo a aplicação, mais salutar o exercício. 1? evidente que um pensa mento qu visa um especialização coloca-se sob o bo signo de um rectificação. Não fácil i n s t a l a r ~ s e nu estudo científico especializado. E, pense o qu pensar a cr ítica filosófic filosófica, a, um verdadeiro sábio nunca está instalado na sua especialidade. 1? forte na sua especialidade, armados qu quer dizer que se situa entre os mais be para descobrir fenómenos novos nesSa especialidade. A su cultura é, pois, um história de constantes 'reformas. Examinada por um psicólogo da inteligência, a cul colecção de tipos de tura científica surge como um progresso inegáveis. As eSlpocia.Jizações constituem, no domínio do pensamento científico, tipos particulares de progresso. Seguir-lhes a retrospectiva é captar própria perspectiva de progresso preciso. A ciência, nas suas di versas especializações, ensina-nos o progresso. E, se defi nirmos a inteligência como a essencial faculdade de pro gressividade, vemos qu cultura científica fica melhor colocada do que qualquer outra determinação empírica pelos testes qu dã a conhecer um nível intelectual. cultura científica propõe, ao longo de todas as suas aquisições, obiectos de progresso, objectivos para a ne cessidade intelectual de progredir. Um dos traços mais marcantes da espe especi cial aliz izaç ação ão do nosso ponto de vista, um traç traço o f z Que el um sucesso da sociedade dos cientistas. Um indivíduo par ticular não pode, pela su própria pesquisa, encontrar as vias de uma especialização. Se se entregasse sozinho a um trabalho especial, enraizar-se-ia nos seus primeiros hdbitos, viveria no orgulho da sua primeira destreza, como esses trabalhadores sem liberdade técnica qu pas sam a vida a gabar-se de possuir o melhor instrumento, deles e porqu e o h áb áb it it o porque é o deles por um maneiam bem. Esses trabalhadores tornaram-se sujeitos corporais de um único objecto. de um único utensílio. Envelhecem, enfraquecem, ficam mais perspicazes, me no atentos, e conservam nas mãos a mesma pá, o mesmo martelo, a mesma gramática, a mesma poética. Em todos os reinos da actividade humana, os rudimentos consti tuem, assim, falsas especializações. A especializacão cien tífica é o orosto destas escravaturas primitivas. Dina miza integralmente o espírito. Trabalha. Trabalha sem cessar. Trabalha se cessar na frente mais avançada do trabalho.
Resumindo, a especialização parece-nos reunir as qu Nietzsche apresenta para própria essên CIa do trabalho científico. Nela se exprime «a fé na soli dariedade e continuidade do trabalho científico, de tal foz:na que. cada um 1?ossa trabalhar no seu lugar, po maIS humIlde que seja, com a confiança de que não em vão... «Só existe um única grande para t : ~ b a l h a lISIa: trabalhar em vão, lutar em vão» 1. (Activité, Intr., pp. 11-14.) c ~ > n d i ç õ e s
».
questões do determinismo
3.
As
a)
determinismo filosófico: lectual»
um
«monstro inte-
68. Se desenvdlvêssemos, em todas as suas minúcias, os pensamentos que se resumem no determinismo filosó fico, ,recuaríamos perante afirmações incríveis e acaba ríamos po nã ousar mais assumir carácter monstruoso da hipótese do determinismo universal. Mas, se Q u i ~ e r m C ? s tomar exemplos precisos, damos a impressão de tndeltcadeza em relação aos metafísicos; seria, pois, necessário perguntar-lhes: «Acreditais sinceramente qu os coices de um cavalo nos campos franceses perturbam o voo de um bOl'boleta na Hhas da Sonda 2?» E haveria . f i l ó ~ o f o s suficientemente obstinados para responder afir o efeito da causa lon ~ a t l v a m e n t e , acrescentando qu gmqua pode, se dúvida, nã se percebido, mas existe. Pensam assim filosaficam:ente, ainda que observem, como toda a gente, algo inteiramente diferente. Tais filósofos são vítimas da ideia de espaço. Atri apenas buem ,à realidade um 1:ipo de existência que espaço, um ontologia particular da ideia de espaço. pensam .eles, tem um «existência» ilimitada; po isso, o real, SItuado no espaço, possui a mesma determinação universal que o espaço infinito. Se chamarmos o filósofo experiência positiva, se pedirmos a um filósofo do determinismo universal que estude o determinismo de um fenómeno particular, po exemplo, o determinismo de um fenómeno mecânico ou o determinismo de um
p.99.
ment.
Nietzsche, Vo1onté de puissance, trad. Bianquis, t. n,
299,
Diderot, Principes philosophiques sur la matiere et le mouve-
fenómeno electromagnético ou de um fenómeno químico, responde referindo-se a um intuição elementar da extensão infinita. Seja que for colocado seja onde for, seja em que altura for, produz em tooa a parte o efeito da sua existência. Começa então para determinismo filosófico, para determinismo que não tem necessidade de experiências seu absoluto, reino da fórmulas: Tudo para afirmar Do nada 'Si mesmo se contém Tudo está em tudo possui realidade se nã ai O nada s ai nã pode se limitado pelo nada universo um todo solidário. O determinismo filosófico transforma-se assim comentário da ideia de totalidade. ideia de todos, nu relação qu ,se acaba de fazer tã clara quando resume dos objectos de um colecção, é substituída pela ideia vaga, obscura, de um Todo indefinido. Mas os filósofos apoiam se na opinião de Laplace: «Devemos considerar o es'tado presente do universo como efeito do se estado anterior como causa do estado que se há-de seguir. Um inteligência que, nu determinado instante, conhecesse todas as forças de que natureza está animada e situação respectiva dos seres compõem, se, além disso, fosse suficientemente qu vasta para submeter esses dados à análise, abarcaria na mesma fórmula os movimentos do maiores corpos do universo Ido mais ínfimo átomo; nada seria incerto para el e futuro, assim como passado, apresentar-se-ia ao seus olhos. Todos os esforços do espírito humano na limite da procura da verdade tendem aproximar-se se inteligência que acabamos de imaginar.» Este texto, tantas vezes invocado na discussões filo sóficas, parece-nos trazer marca de um idealismo des medido, tanto mais digno de nota quanto frequente repetir-se, do mesmo Laplace, a frase: «Não necessito da em hipótese Deus para explicar o universo.» Nã se te conta que hipótese do matemático possuidor de um fórmula que retmiria o pa'ssado e o futuro de todos os movimentos é, no próprio estilo de Laplace, um substi tuto da «hipótese Deus». Mais precisamente, a universa lidade mecânica ingénua suposta po Lanlace é um sim ples função idealista. Nã se vê verdadeiramente su aplicação ao real. Se espírito humano fizesse realmente todos os seus esforcos para determinar todos os movi mentos das mais ínfimas parcelas de todo o universo, espécie de determinismo do insif!n,ifichegaria um fenómenos assim mecanismo do cante. Perdido nu
ele
..
pulverizados, o espírito não teria acesso às diversas significações da fenomenologia. Com efeito, o pensa pensamento científico, nã mento filosófico, ta como pode interessar-se senão po fenómenos estruturados, sistemas definidos, sistemas que, através de um sequên conduzidas, podem se defini ci de aproximações be do nu isolamento. Será legítimo, então, perguntar que significação poderia Laplace te em vista se se lhe pedisse para precisar noção de seres qu el evoca. Não serão os seres laplacianos simples substancializações da função estar situado? Quando Laplace reclama, como dado primordial, «a situação respectiva do seres qu compõem a natureza», nã estará ele implicitamente maneira como a inteligência decompõe considerar natureza? Nã será ele vítima de um intenção idealista não examinada, não referida experiência positiva? Bas tará alterar tipo de experiências, bastará nã colocar se na primeira mira de um e S i p í ~ i t o ocioso para qu problema da composição da decomposição da «natu reza» modifique noção de ser. Regressamos -assim, continuamente, ao nosso princípio filosófico da noção de regiões do ser. Ao seguir os esforços efectivos do pensa toda a evi mento da experiência científicos, vê-se co dência qu se se coloca em domínios de experiências temporal nã t-ão diversos qu su descrição espacial é suficiente para decidir de todas as suas determinações. Um determinismo universal limitado à descrição espacial mesmo se esta fosse exprimível, mesmo não sendo
simples hipótese idealista nã um daria um enqua estudo da ligação real do dramento suficiente para fenómenos. (Activité, ConoluSÍon, pp 211-213.)
b)
determinismo dinâmico da ciência quântica
69. Poder-se-ia, aliás, se fosse necessário, apoiando na ciência quântica, designar limites um determi nismo mecânico que pretende implicar todo universo partir de um acção local particular. Assim, se a energia contida nu fenómeno mecâ nico particular se propagasse, como supõe o determi nismo universal, em todas as direcções de maneiro se sensível em todos os pontos do universo, essa energia seria em breve dividida or um divisor tã grande que acabaria po ficar abaixo do quantum de e n e ~ g i a neces sário para impressionar qualquer detector imaginável,
-nos
quantum de energia necessário, mads mads exactamente, toda a detecção natural. Esta limitação, na realidade, nã se deve unicamente insuficiência dos meios humanos. auto detecção da natureza que está em causa, do mesmo modo que em toda a aplicação do princípio de Heisen beng. Chegamos aqui um ponto litigioso, pOI1que muitos filósofos parecem incapazes de assumir ao mesmo tempo realismo do princípio de Heisenberg e o seu papel de postulado racionalista, sobrepondo energicamente o rea lismo e o racionalismo, de acordo com o que cremos se aplicado. próprio princípio do racionalismo aplicado. Assim, desde qu se eleve a mecânica ao nível de aproximação mais delicada qu é a mecânica quântica, chegaremos sempre um distância a partir da qual o determinismo absoluto qu implica todo o espaço, um espaço monolítico, acaba po se abolir. A mecânica quân tÍ'Ca formulada na micrafísÍ'Ca terá deste modo uma acção rectificante sobre as vistas indolentes de um universo ilimitado. mundo pode se concebido como pleno, como um bloco solidário transmitindo movimentos no âmbito de um visão cinemática, numa intuição qu nã considera forças. Então mundo, tal como na física cartesiana, nã é senão um espaço reificado. Só se es tUJda. nesse caso, um determinismo geométrico. mundo real e determinismo dinâmico qu ele im plica exigem outras intuições, intuições dinâmicas para as quais se necessita de um novo vocabulário filosófico. palavra indução nã estivesse já tã carregada de Se significado, proporíamos su aplicação a estas intui ções dinamizantes. Quer se lhes ohame intuições dinâ micas, induções, conduções, nã deixa de se certo qu elas nos empenham nu realismo directo da energia. Este realismo da energia obriga-nos a pô os problemas do racionalismo nu reino qu já nã é reino único da geometria. (Activité, Conclusion, p. 214.)
c) «Todo o determinismo é
70. Em suma, todo determinismo é parcial, parti cular, regional. Ele é captado de um ponto de vista espe cial, numa ordem de grandeza designada, designada, em Hmites ex plícita ou tacitamente fixados. que se estuda com cuidado Inversamente, tudo científico determinado, está afectado de um determi nismo determinado. Mesmo o princípio de indetermina-
ção de Heisenberg recebe um jurisdição determinada; ex representa um sector especial do determinismo, co pressões e leis algébricas rigorosas. Nesta região do de terminismo, a indeterminação é codificada e abre-se um campo de previsão relativamente ao nivelamento no fenómenos realmente observáveis. pensamento Mas, quando se compreendeu que científico estabelece o determinismo em todas as regiões dos seus estudos, nã se infere daí que, segundo a fór mula filosófica, tudo seja determinado. Esta fórmula filo sófica não pode te qualquer sentido para um técnico, um vez que o papel do técnico é precisamente insta lar-se numa região do determinismo, esforçando-se po det,erminismo eliminar tudo o qu possa perturbar especial da sua técnica. Ele afastará .os parasitas, domi nará as perturbações, eliminará as impurezas; terá em vista o regime, a marcha regular, o acordo cada ve mais íntimo entre instrumento e a lei científica. Realizará sua obra cada vez com maior perfeição, ria medida em qu desfizer a nuvem de der,erminismo ilimiMdo qu rodeia a estrutura do determi:bismo be definido, qu o objectivo da sua técnica. Se acreditasse que tudo está em tudo, que tudo age sobre tudo, privar-se-ia da su consciência de a p a l " ~ l h o , perderia própria base das suas certezas técnicas. (Activité, Condusion, 'Pp. 217-218.) d)
«domínio humano sobre; a natureza»
71. Mas o determinismo é então uma noção qu assinala o domínio humano sobre a natureza. O grande factor determinante é o factor humano, factor humano da ciência humana. Tentaremos, para acabar, esclarecer este factor. Para isso, mesmo correndo o risco de no repetirmos, tomemos as coisas um pouco mais acima, reflictamos muito simplesmente na noção de causalidade e vejamos a nova força co que essa noção se especifica nos conhecimentos científicos. Todas as distinções qu fizemos a propósito do determinismo vão-se encontrar novamente, como é lógico, lógico, a propósito da noção de causa, apresentando, no entanto, cambiantes que legitimam, parece-nos, algumas repetições. evidente, co efeito, qu a função humana é com preender aS--eflUsas maiores. Mas nós vamos ainda afrouxar o nosso exame do determinismo e terminar o livro reflectindo muito sim
..
plesmente na noção de causalidade ta como ela se pre se especifica, não ao nível da consciência comum, mas antes ao nível da pesquisa científica actual. A noção de causa natural nã um noção de com preensão tão directa como se afirma vulgarmente. Na realidade, mesmo sendo consagrada objectivamente, a no ção de causa, no primitivismo da convicção qu lhe é implícito, implica um eu pensante e activo, um eu que afirma um pensamento como um substantivo de um acção, um eu que tenha reunido, po intermédio do pen samento, os elementos fundamentais que constituem um causa qu se serve deles como um demiurgo. Eis o que se passa no plano imediato. Mas, no plano científico, a determinação de um causa reclama um sujeito que se intrui, que quer instruir-se, um sujeito numa via de ra cionalidade. Temos, portanto, de considerar um técnica íntima da elaboração causal. Só se eu próprio tiver qu a causalidade po reunido os elementos da causa evldente qu derá ser OIbjecto de um noção sintética. a reunião dos elementos causalizantes pode também se feita po interposta pessoa. Posso comandar as forças «em causa»; crer qu comando, imaginar que comando. compreender o universo, o homem cria, se pre ciso, os deuses encarregados do mecanismo universal. Existe um imperialismo da causalidade, ou melhor, como sucede com todo o limpedailismo,uma ficção de imperia lismo. Conhecer uma causa natural é imaginar-se sobe rano de um universo. Daí essas fórmulas célebres, pela sua orgulhosa modéstia: saber para poder. Se dúvida, o imperialismo que assinala o conhecimento de um causa rapidamente se dispersa numa administração anó nima. Toda a ciência, mais exactamente toda a cidade científica, situa-se como garante da validade de um lei. Mas é no próprio porm'enor da leis que se deve esta belecer a relação de saber de poder. Mais do que saber, compreender no é preciso compneender. Só então surge em todo se poderio. Compreender um fenómeno é, então, submetê-lo a um espécie de potencialidade do meu eu causante, do meu eu que adianta hipóteses, do meu eu que discute {seguro de vencer} com qualquer outro sujeito qu se recuse a compreender a causalidade do fenómeno qu eu agora conhece. Quer se me queira quer não, temos de encarar uma instância de convicção pessoal se quisermos fazer a psicologia inte gral do sujeito racional, do sujeito racionalizante, na su cisae
um
Estamos em presença
um
mica virtual, latente, surda, que a. consciência racional causa tida po obtida através de inúmeros erros. Toda real emerge de um fundo de quimeras. Sã estas qui
meras qu para provar (Activité, p.
sujeito racionalista denunciará nos outros sua tomada de consciência da causa real.
218.)
um objecto. 72. Seja como for, o Universo nã Não podemos estar certos de um devir do Universo. Nã podemos senão falar do devir de uma certa categoria de fenómenos dados no Universo. Toda nossa expe riência e todo o nosso saber são relativos a um secção de um fenomenologia, cuja totalidade nã podemos con
ceber.
Nã podemos falar de causalidade se nã nos atri buirmos, pelo menos em imaginação, o_embargo sobre as condições iniciais. Ao descobrir as condições iniciais qu presidem ao desenvolvimento do fenómeno, atribuí m ~ n o s pelo menos a possibilidade de pensar quando pretendemos que esse fenómeno se desenrole. causa, então, nunca verdadeiramente empírica. Está sempre primitivamente oculta, oculta ,pelo menos no erros da primeiras pesquisas, oculta nas brumas da ingenuidade. Um causa SÓ pode se conhecida se se in serir nu sistema de causas, se passar po um exame causal. Não existem verdadeiramente causas excepciÜ'nais. Uma causa excepcional é um milagre. Um milagre nã instrui. Ora, se seguirmos a desvalorização causal de David causa mais banal possui Hume, terá de se dizer qu em si um ressaibo de excepção. um excepção banali zada. preciso esperá-la, sem razão para esperar, como um excepção. E, depois, a sucessão pura das causas dos efeitos um sucessão no tempo humano, nu tempo expresso em experiências de sujeitos. Eis ,u tecido de malha demasiado ceNa!da.. Nã possível seguir linearmente sempre expresso de p o s ~ ç ã o para fluxo causal. El racionalidade qu dá o sinal da partida, posição. E garantindo dogmaticamente qu o fenómeno efeito se produzirá ohegada. Toda causa expressa um causa de arranque. Não conhecemos nenhuma causa de desen volvimento. Tudo, felizmente, se transformará quando tivermos matematizado continuidade do tempo, quando noção antropormófica de causa tivermos substituído pela noção científica de função, quando tivermos estabe-
lecido, através de um técnica da causalidade, princípios de encadeamentos. sujeito individual será, então, eliminado. M ~ i s M exactamente far-se-á a inversão decisiva qu perInlte pensar c a ~ s a l i d a d e d sob a d e a f o ~ m ~ de um ~ o d e r do_ sujeito .pode indeterminado. Mas este sujeIto mdetermmado nao .pode ser o sujeito empírico entregue ao empirismo do conheci mento. B o sujeito qu conhece claramente as certezas da sua generalidade, sujeit? ~ a c i o n a l , é s ~ j e i t ~ que possui as garantias de se SUjeIto de um racIOnalIsmo docente, de um poder de transmissão do conhecimento racional, é, numa palavra, o sujeito da cidade científica. Pela racionalidade das causas expostas numa mate mática das funções tem-se a garantia do acesso d U ' P ~ a .objectividade do racional e do rea.l. S o b ~ s .suas f ? r m a ~ primitivas, a c a u s a ~ i d ~ d e er m a g I ~ e. a m m ~ s m o , I ~ t O e, estava ligada ao mveIS de coalescencIa do InCOnSCIente, onde tudo se encontra misturado numa nebulosa psí quica. Na sua forma científica mais a v a ~ ç a d a , !la, s ~ a forma matemática he elaborada, a causalid.adee gemo. Basta ir história das ciências para disso no conver cermos: todas as grandes causas, todos os grandes prin cípios tê um patronímico. A atracção na razão inversa do quadrado das distâncias causa « n e w t o n i a n ~ » . eléctrica está ligada ao génio humano, a gémos humanos tão numerosos qu se tornam docemente anónimos. Se o homem não existisse sobre a terra, nã existiam outras causalidades eléctricas além da que vai do raio ao trovão: um relâmpago e barulho. Só a sociedade pode lançar fio; só el pode da aos fenómenos ~ l e c t r i c i d a d e nu eléctricos a causalidade linear do fio, com os problemas das ramificações. Poincaré fazia notar que, se história científica tivesse querido que a telegrafia sem fios fosse descoberta antes da telegrafia co fios, esta teria sido um aperfeiçoamento da primeira. impossível transmitir o som de um continente a outro através de meios naturais, po mais potente que seja o porta-voz. intermediário electrónico é indispen sável e esse intermediár io é humano, é social. Acima da h i o s f ~ r a e abaixo da inosfera, o homem determinou um radioesfera submetida wrna causal,ida causal,idade de eminentemen te técnica. Sem dúvida, essa técnica pode ser perturbada po p a r a s i t ~ , ipOr modificações .magnéticas. Mas esses parasitas, essas desordens naturals, essas desordens cau sadas pela natureza, levam-n?s t ~ o - s ó um m e n l < ~ r com preensão do poder de orgamzaçao racIonal e técmca qu
~ i s
a limita, que os anula. A causalidade técnica estabelece-se solidamente, apesar da causalidade caótica natural ( ... ). Assim, o determinismo torna-se um doutrina geral depois, e não antes, da especificação dos determinismos particulares. Situá-lo como determinismo universal seria confundir os esforços de especificação, embargar o es forço humano de determinação particular. Cair-se-ia numa espécie de fatalismo da matéria muito diferente do materialismo téanico. (Activité, Cond'llsion, pp. 220-222.)
II
A PSICANÁLISE
DO
CONHECIMENTO OBJECTIVO
A. Princípios 1.
A noção
de
«obstdculo epistemológico»
73. Quando se procuram as condições psicológicas dos progressos da ciência, em breve se chega convicção de qu em termos de obstdculos que se deve pôr problema do conhecimento científico. E não se trata de considerar obstáculos externos, como a complexidade e a fugacidade dos fenómenos, nem tão-pouco de incrimi no na a fraqueza dos sentidos e do espírito humano: próprio acto de conhecer, intimamente, que aparecem, po espécie de necessidade funcional, lentidões e perturbações. aqui que residem causas de estagnação e mesmo de regressão, é aqui que iremos descobrir cau sas de inércia a que chamaremos obstáculos epistemoló epistemoló gicos. O conhecimento do real é um luz que sempre projecta algures umas sombras. Nunca imediato e pleno. As revelações do real são sempre recorrentes. O sempre real nunca «aquilo qu se poderia crer», ma aquilo qu se deveria te pensado. O pensamento empí rico claro, fora de tempo, quando o aparelho das razões já foi afinado. Ao desdizer um passado de erros, encon tramos a verdade nu autêntico arrependimento inte lectual. Com efeito, nó conhecemos contra um conheci mento anterior, destruindo conhecimentos ma feitos, ultrapassando aquilo que, no próprio espírito, constitui espiritualização. um obstáculo
A ideia de partir do zeró para fundar aumentar algo qu se pretende, só pode vi de culturas de simples justaposição, nas quais um facto conhecido constitui imediatamente Uma riqueza. Mas, perante o mistério do real, a alma não pode, po decreto, fazer-se ingénua. Tor na-se então impossível, de um SÓ golpe, fazer tábua rasa dos conhecimentos usuais. Face ao real, aquilo que se julga saber claramente ofusca aquilo que se deveria sa ber. Quando se apresenta cultura científica, o espírito nunca é jovem. E. mesmo muito velho, pois te a idade dos seus preconceitos. Te acesso à ciência é, espiritual mente, rejuvenescer, é aceitar um mutação brusca qu deve contradizer um passado. A ciência, na su necessidade de aperfeiçoamento como no seu princípio, opõe-se radicalmente à opinião. Se, po acaso, sobre um ponto particular, legitimar a opinião, será po razões diferentes das que fundamentam a opinião, de modo que a opinião, legitimamente, nunca te razão. A opinião pensa mal; ela não pensa: traduz necessidades em conhecimentos. Ao designar os objectos coíbe-se de os conhecer. Nada se pode pela sua utilidade, coíbe-se partir da opinião; é necessário, antes de mais, fundar destruí-la. constitui o primeiro obstáculo a ultra passar. Não bastaria, po exemplo, rectificá-Ia nalguns pontos específicos, mantendo, como um espécie de mo ra provisória, um conhecimento vulgar provisório. O es pírito científico proíbe-nos de te um opinião sobre questões que nã compreendemos, sobre questões que nã sa'bemos formular claramente. E. preciso, antes de tudo, saber formular problemas. E, diga-se o qu se disser, na vida científica os problemas nã se formulam a si próprios. E. precisamente o sentido do problema qu marca do verdadeiro espírito científico. Para um dá espírito científico, todo o conhecimento um resposta um questão. Se nã houver questão, nã pode haver conhecimento científico. Nada natural. Nada é dado. Tudo é construído. Um conhecimento adquirido po um esforço cientí fico pode também declinar. A questão abstracta e livre acaba po consumir-se: a resposta concreta permanece. Po conseguinte, a actividade espiritual inverte-se e fica bloqueada. Um obstáculo epistemológico incrusta-se no conhecimento nã ques,tionado. Hábitos intelectuais que o tempo, estorvar a pes foram úteis e sãos podem, co quisa. «O nosso nos so eS'pírl. pírl.to to (diz j us'tamente us'ta mente M. Bergson) te um tendência irresistírvel para considerar como mais
clara a ideia que lhe serve mais frequentemente.» A ideia ganha, assim, um claridade intrínseca abusiva. Com o uso, as ideias valorizam-se indevidamente. Um valor em si opõe-se circulação dos valores. E. um factor de inér ci para o espírito. Po vezes, um ideia dominante pola riza um espírito na su totalidade. Um epistemólogo irre verente afirmava, há cerca de vinte anos, que os grandes homens s'ão úteis à ciência, na primeira metade da sua vida, e prejudiciais na segunda. O instinto formativo é de tal maneira persistente nalguns homens de pensa mento que não nos devemos alarmar co esta observa ção espirituosa. Mas o instinto formativo acaba po ceder perante espírito conservativo. Chega uma altura em que o espírit() gosta mais daquilo que confirma o seu saber do qu daquilo qu o contradiz, !prefere as respos dominar tas às perguntas. Passa então instinto con servativo e o cresoimento espiritual cessa. (Formation, pip.
14-16.)
A noção de obstáculo emstemológico pode se desenvolvimento histórico do pensamento científico e na prática da educação. Tanto nu caso como noutro, nã se trata de um cómodo. A his tória, no seu princípio, é, co efeito, hostil a todo juízo normativo. E, no entanto, é necessário colocarmo -nos nu ponto de vista normativo, se quisermos julgaI a eficácia de um pensamento. Tudo aquilo qu se no depara na história do pen1samento científico está be longe de servir efectivamente a evolução desse pensa mento. Certos conhecimentos, mesmo sendo justos, fa-, zem cessar demas.iado cedo pesquisas úteis. O epistemó logo tem, assim, de fazer um triagem dos documen tos recolhidos 'Pelo historiaJdor. Deve julgá-los do ponto de vista da razão, e mesmo do ponto de vista da razão que podemos evoluída, ponque só nos nossos dias julgar plenamente os erros do passado espiritual. Aliás, mesmo nas ciências experimentais, é sempre a interpre tação racional que situa os factos na su posição justa. E. no eixo experiência-razão e no sentido da racionaliza ção qu se encontram um tempo o risco e o sucesso. Só a razão dinamiza a pesquisa, pois só el sugere, para a'lém da experiência 'Comum (imediata e eS'Peciosa) a ex periência científica (indirecta e fecunda). E. o esforço de racionalidade e de construção que deve reter a atenção qu distingue o do epistemólogo. Podemos ve aqui tra,balho do epistemólogo do do historiador da ciências. 74.
estudada no
historiador da ciências tem de tomar as ideias como factos. O epistemólogo te de tomar os factos como ideias, inserindo-os nu sistema de pensamento. Um facto ma interpretado po um época continua se um facto para historiador. Para o epistemólogo, constitui
um obstáculo, um E., sobretudo, aprofundando a noção de obstáculo epistemológico que se pode da todo o seu pleno valor história do pensamento científico. Muitas espiritual vezes, a preocupação pela objectividade, qu leva o histo riador das ciências a inventariar todos os textos, nã chega ao ponto de avaliar as variações psicológicas na interpretação de um mesmo texto. Numa mesma época, mesma palavra exprime conceitos tã diversos! O qu nos engana é o facto de que mesma palavra designa e explica ao mesmo tempo. A designação a mesma; ma explicação é diferente. Po exemplo, palavra telefone correspondem conceitos qu diferem totalmente para assinante, para a telefonista, para o engenheiro e para matemáti co, preocUl preocUlpad pad co as equações diferenciais da corrente telefónica. O epistemólogo deve, pois. esforçar-se por captar os conceitos científicos em sínteses psicológi cas efectivas, isto é, em sínteses psicológicas progressivas, estabelecendo, a propósito de cada noção, um escala de conceitos e mostrando como um conceito produziu outro, se ligou a outro. Só então terá alguma hipótese de avaliar eficácia epistemológica. Em breve o pensamento um científico surgirá como um dificuldade vencida, como um obstáculo ultrapassado. Na educação, a noção de obstáculo pedagógico igualmente deg.prezada. Muliltas vezes me tenho impres sionado co o facto de os professores de ciências, mais ainda, se possível, d o a u e os outros, não compreenderem que não se compreenda. Muito poucos sã aqueles que investigaram a psicologia do erro, da ignorância e da irreflexão. (. ..) Os pr ofesso res de ciências imaginam que espírito começa semelhança de um lição, au é sem pr possível refazer um estudo indolente repetindo um aula, que é sempre possível fazer compreender um de monstração repetindo-a ponto po ponto. Não reflectiram aula de física co no facto de qu o adolescente chega conhecimentos conhecimentos empíricos já constituídos: trata-se, então, nã de adquirir uma cultura experimental, ma sim de mudar de cultura experimental, eliminar os obstáculos iá acumulados pela vida auotidiana. Basta um exemplo: o equilíbrio do corpos flutuantes objecto de um in-
tuição familiar que é um teia de erros. De um maneira mais ou menos nítida, atrihui-se um actividade actividade.. ao corp que flutua, melhor dizendo, ao corpo que nm1a. Se ten tarmos, com a mão, afundar um pedaço de madeira na água, ele 'resiste. Não se atribui facilmente a resistência água. Torna-se, então, bastante difícil fazer compreen princípio de Arquimedes, na Sl.la espantosa simpli de cidade matemática, se nã tivermos previamente criti cado e desorganizado o complexo impuro das intuições primárias. Sem esta psicanálise dos erros iniciais, nã será possível, em particular, fazer compreender qu corpo que emerge e o corpo completamente submerso obedecem mesma lei. Assim, toda cultura científica deve começar, como teremos oportunidade de explicar longamente, por uma catarse intelectual e afectiva. Resta-nos, depois, a tarefa mais difícil: colocar a cultura científica em estado de mobilização permanente, substituir saber fechado e estático po um conhecimento aberto e dinâmico, dialec tizar todas as variáveis experimentais, dar, po último, razão razões para evoluir. Estas observações poderiam, ailiás, se generalizadas: sã mais visíveis no ensino científico, ma são válidas a propósito de todo o esforço educativo. No decurso de um carreira já longa e diversa, nunca vi um educador mudar de método de educação. Um educador não tem sentido do fraoosso precisamente porque se julga um mestre. Quem ensina comanda. Daí um fluxo de instintos. Von Monakow e Mourgue notaram precisamente esta dificuldade de reforma nos métodos de educação ao invo carem o peso dos instintos nos educadores 1. «Há indi víduos a quem todo o conselho relativo aos erros educativos qu cometem absolutamente inútil, porque esses supostos erros nã são senão a expressão de um compor tamento instintivo.» Na realidade, von Monakow e Mour gue visam «indivíduos psicopatas», ma a relação psico lógica de mestre aluno um relação facÍ'lmente pato génica. O educador e educando dependem de U I m l psica nálise especial. Em todo o caso, o exame das formas inferiores do psiauismo nã deve se negligenciado se quisermos caracterizar todos os elementos da energia preparar um regulação cógnito-afectilVa in espiritual dispensável ao progresso do espírito cIentífico. Mais preGérard Varet.
Essai
l'irréflexion, Paris, 1898.
de psychologie ob;ective. L'ignorance et
cisamente, descobrir os obstáculos epistemológicos é con tribuir para fundar os rudimentos de um psicanálise da
razão. (Formatton, pp
16-19.)
2.
Alguns obstáculos
a)
A experiência inicial
'75. Na formação de um eSPírito científico. o pri meiro obstáculo é a experiência inicial, é a experiência situada antes e acima da crítica. qu é necessariamente um elemento integrante do espírito científico. Dado que a crítica não operou explicitamente, a experiência inicial nã pode. em caso algum. constituir um apoio seguro. Daremos inúmeras provas da ITagi'lida ITagi'lidade de dos conhecimen to iniciais. ma opomo-nos desde iá nitidamente essa filosofia fácil qu se baseia nu sensualismo mais ou menos sincero, mais ou menos romanceado, e qu pre tende receber directamente as suas lições de um dado claro. nífi.do, seguro, constante, sempre oferecido a um espírito sempre aberto.
Eis, então. a tese filosófica que iremos defender: o eslpírlto científico te de se formar contra a Natureza, contra aquilo que, em nós fora de nós, o impulso e entusiasmo natural, a instrução da Natureza, contra contra o facto colorido e variado. O espírito científico tem de se formar deformandO'se. Perante a Natureza ele nã pode instruir-se senão purificando as s u b s t â n c i a ~ naturais ordenando os fenómenos misturados. A pró pria Psicologia tornar-se-ia científica se se tornasse dis cursiva como a Física, se se apercebesse de que em nó assim como fora de n6s mesmos, só compreendemos Natureza resistindo-lhe. Segundo a nossa perspectiva, a única intuição legítim em Psicologia é a intuição de um inibição. Mas nã altura de desenvolver esta Ipsicologia essencialmente reaccional. Queremos apenas fazer notar qu a psicologia do espírito científico, que aqui expomos, corresoonde a um tipo de psicologia qu pode se gene ralizado. bastante difícil captar de imediato o sentido desta tese, porque a educação científica elementar, nos nossos dias, introduziu, entre -natureza e o observador. um livro muito correcto, muito corrigido. Os livros de Física pacientemente copiados un dos outros desde há um m e i ~ século, fornecem às crianças um ciência bastante socia-
lizada, bastante imobilizada e que, graças à permanência muito curiosa do programa dos cursos universitários, chega a passar po natural; ma não o é de modo algum; do cam já nã o é. Não se trata já da ciência da ru uma ciência elaborada num mau laboratório, ma pos. que traz, apesar disso, a feliz marca do laboratório. Po vezes, sector da cidade que fornece a corrente eléc trica que nos traz assim os fenómenos dessa antiphysis, na qual Berthelot 'reconhecia a marca dos tempos novos (Cinquantenaire scientifique, p. 77); as experiências e os livros estão agora de certa maneira desligados da obser-
vações iniciais. O mesmo nã sucedia durante pré-cientí fico do séc. XVIII. Nessa altura, o livro de ciências podia se um bom ou um m ~ u livro'l Mas nã er controlado po um ensino oficial. Quando trazia marca de um controlo, er muitas vezes o de um des'sas academias de província, recrutadas entre os espíritos mais confusos e mundanos. O livro partia então da natureza, interes sava-se pela vida quotidiana. Er um liwo de vulgari base espiritual zação para o conhecimento vulgar, se qu faz po vezes do nossos livros de vulgarização livros de alto nível. Autor e leitor pensavam ao mesmo nível. A cultura científica er como ·que esmagada pela massa e variedade do livros secundários, muito mais pelo contrário, numerosos do que os livros de valor. muito significativo que, na nossa época, os livros de vulgarização científica sejam livros relativamente raros. Abri um livro do ensino científico moderno: a ciên um teoria de con cia é apresentada em conexão co carácter orgânico é aí tã evidente qu seria junto. be difícil saltar capítulos. Mal se lêem as primeiras páginas, vê-seque o senso comum deixa de poder falar; deixam igualmente de se ouvir as perguntas do leitor. frase Amigo leitor seria de bo grado substituída po um aviso severo: aluno. toma atenção! O livro põ as suas próprias questões. O livro comanda. Abram um livro científico do séc. XVIII e aperce ber-se-ão de que está enraizado na vida quotidiana. O autor conversa co o seu leitor como um conferencista de salão. Partilha os interesses e anseios naturais. Tra ta-se, po exemplo, de descobrir a causa do Trovão? Fa la-se ao leitor ,do temor do Trovão. tentando mostrar-lhe vão, e nã resistindo a repetir-lhe a que esse temor velha observação: quando rebenta o trovão, o perigo iá passou, pois só o relâmpago pode matar. O livro do
abade Poncelet traz, na primeira página do .Prefácio: «Ao escrever sobre o Trovão, a minha principal intenção foi sempre a de moderar, na medida do possível, as imo pressões incómodas qu esse fenómeno atmosférico pro duz habitualmente sobre um infinidade de Pessoas de todas as idades, seja qual fo o sexo e a condição social. Quantas vezes nã as tenho visto passar os dias em agi tações violentas e as noites em mortais inquietações?» O abade Poncelet consagra um capítulo inteiro, inteiro, 'Que acaba mais longo do livro (pp. 133 135), a Reflexões po se sobre o medo causado pelo trovão. Distingue quatro ti pos de medos, qu analisa em pormenor. Qualquer leitor tem, assim, a possibilidade de encontrar no livro os elementos do seu diagnóstico. Este diagnóstico er útil, pois a hostilidade da Natureza parecia então, de certa forma, mais directa. Actualmente, as nossas causas domi nantes de ansiedade são causas humanas. do próprio homem que, hoje em dia, o homem pode sofrer maiores danos. Os fenómenos naturais estão desarmados, porque estão explicados. Para melhor se compreender a dife rença das mentalidades no decurso de um sécúlo e meio, vejamos se a seguinte página, tirada do Werther de Goethe, corresponde ainda um realidade psicológica: «Antes do fim da dança, os relâmpagos, qu há muito víamos brilhar no horizonte, ma que, at então, eu fizera passar po cintilações devidas ao calor, aumentaram con sideravelmente; e o barulho do trovão sobrepôs-se ao da música. Tres damas saíram precipitadamente das suas filas, os cavalheiros qu as acompanhavam fizeram o mesmo, a desordem t o r n o u ~ s e geral e os músicos cala ram-se... estas causas que· atribuo os comportamen tos estranhos aos quais vi várias dessas damas entre gar-se. A mais razoável sentou-se nu canto, voltando as costas para janela tapando os ouvidos. Uma outra, aioelhada diante primeira, escondia a cabeça nos joe lhos desta. Uma terceira introduzira"se no meio das suas duas irmãs, Que abraçava ao mesmo tempo qu vertia torrentes de lágrimas. Algumas queriam voltar para casa; outras, ainda mais desorientadas, nem seauer tinham presenca de espírito suficiente para se defenderem da temeridade de alguns jovens audaciosos. qu pareciam muito nreocupados em recolher, do lábios dessas bele zas aflitas, as orações que, no seu temor, <;lirigiam ao Abbé Poncelet, La nature dans la formation du Tonnerre et reprodrv:tion des Etres vivantes, 1769.
la
céu ... Creio que seria i m p o s s í v e ~ incluir s e m e l h a n ~ ~ s des e m e l h crição nu romance contemporaneo. Tanta puerIlIdade acumulada pareceria irreal. Nos nossos dias, o medo do trovão está dominado. Só age na solidão. Não pode per turbar uma sociedade porque, socialmente, a teoria do trovão está inteiramente racionalizada; as vesânias indi vi,duais são apenas singularidades que se ocultam.. Todos se ririam da hospedeira de Goethe, qu fecha as Janelas e baixa as persianas para proteger um baile. (Formation, CaqJ. IH pp. 23-25.) b)
Obstáculo «realista»
76. Se quisermos tentar caracterizar caracterizar b em a seduçao da ideia de substância, nã devemos recear ir procurar seu princípio at ao inconsciente, onde se formam as preferências indestrutíveis. A ideia de substância é um ideia tã clara, tã simples, tã pouco discutida que deve repousar numa experiência muito mais íntima do qu qualquer outra. . Partir emos, pois, pois, de algumas observações qu pare cerão, primeira vista, exageradas. Nós próprios nos sentimos chocados co elas, no início das nossas refle xões. Além disso, as intermináveis leituras qu fizemos dos livros alquímicos e as pesquisas psicológicas que tivemos ocasião de realizar na decurso de um ensino já longo e diverso colocaram-nos em !presença de convic ções substancialistas de ta maneira ingénuas qu nã hesitamos mais em fazer do realismo um instinto e em propor para ele um psicanálise especial. Com efeito, não só a convicção inicial do realismo nã é discutida como ne sequer é ensinada. De forma que o realismo pode, co j us us ti ti ça ça o q u quanto a nós, não abona em seu favor favor chamar-s chamar-see a única filoso filosofia fia inata. Para juLgar juLgarmos mos correctam ente, é mesmo necessário U'1trapassar
o plano intelectual e compreender que a substância de
pessoal. Apoderamo um objecto é aceite como um be -nos dela espiritualmente como nos apoderamos de um benefício evidente. Ouçam os argumentos de um realista: possui imediatamente um vantagem sobre o seu adver sário, porque, segundo crê, está do lado do real, porque possui a riqueza do real, enquanto que o seu adversário, corre atrás de Na sua forma ingénua, na sua forma afectiva, a certeza do realista procede de um alegria de avaro. Para pre-
a n ~ ~
cisar melhor nossa tese, afirmemos mesmo num tom pOllémico: do 1P0ll to de vista psicanalítico e nos excessos da ingenuidade, todos os realistas sã mesquinhos. Reci procamente, e desta vez se reservas, todos os mesqui
nhos são realistas. A psicanálise que seria preciso instituir para cura do substancia1ismo é a psicanálise do s.entimento do ter. O complexo que seria necessário dissolver é o complexo qu poderíamos chamar, para ser do pequeno lucro mos breves, o complexo de Harpagão. o complexo do pequeno lucro que atrai a atenção para as pequenas coi nã devem perder-se, pois, um vez perdidas, ~ a s , ~ a que s , Já nã se recuperam. ,Por isso um objecto pequeno .é guardado com um grande atenção. O vaso frágil é aquele qu dura mais tempo. Não perder nada assim p ~ I m e I r p a ~ I VIsta, m e I r u ~ a prescnçao normatIva. Esta prescnçao torna-se depOIS um descrição; passa do norma tivo ao positivo. E, finalmente, vem o axioma funda mental do realismo MO provado: Nada se perde, nada se cria, é um máxima de avaro. (Formation, capo VII, ..
. .
. .
..
P'P. 131-132.)
Mas é altura de marcar mais fortemente mais d i r ~ c t ~ m e n t e , ~ s alegrias do possuidor e as s e g u ~ a n ç a s obJectIvas traZIdas pelo manuseamento de certas subs muito valiosa. tâncias. A pedra preciosa é pequena e Concentra a riqueza. pois, adequada para concentrar a doce meditação do proprietário. Dá a clareza da evi dência ao complexo do pequeno lucro. Normalmente, o complexo do pequeno lucro desenvolve-se a partir de _o complexo de Laf.fitte apa objectos i n s i g n ~ f i c a n t e s : nhando um alfmete do chao. Mas qu este desvio nã no.s i l u ~ a sobre prindipi? da avareza inteligente: pos SUIr mUIto nu volume illlmmo. Voltamos necessidade da concentração dos bens. Malouin considera «uma da química reduzir, po vezes, os me grandes v a n t a g ~ s um volume mínimo, se lhes enfraquecer d i c ~ m e n t o s a VIrtude». Amda no nossos dias, um radiologista em cada dois nã resiste a comunicar ao seu cliente que um pequeno tubo de rádio contém cem mi francos. Outrora os alquimistas guardavam se pó de projecção n u ~ pequeno estojo. Consideravam o ouro como um concentração de virtudes 1.«0 ouro ... possui as virtudes amplas 77.
Lettre philosophique. Obra muito considerada por aqueles que se comprazem nas verdades herméticas, trad. do alemão por Antoine Duval, Paris, 1723, p. 47.
do Sol concentradas no seu 'forp o.» De Locques diz tam No ouro, natureza «concentrou as virtudes até ao infinito» 1. Po esta última expressão sente-se :bem qu o inconsciente qu encontra no ouro causa ocasional de todos os seus sonhos. A contradição íntima do fraco volume e do alto preço reforçada por uma outra: pedra preciosa brilha tanto fortuna ostensiva como a for e esconde-se. El tuna dissimulada, a fortuna do pródigo e a fortuna do avarento. O mito do tesouro escondido é impossível se esta condensação do bens. lEste mito anima gerações sucessivas. O pa de Villieres de L'lsle-Adam levou toda su vida a procurar ouro enterrado pelos seus antepassados. Villiers Villiers de L'lsle-Adam realizou a aspiração raro está «es de se pa ao escrever Axel. Tudo qu condido». O ouro esconde-se, ta como nó escondemos o ouro. O melhor é o que está mais esconrlido. Certos natureza um C'omporta alquimistas atribuem, assim, mento de avarento. Thomas Sonnet afirma, se provas: «A natureza selecciona e escolhe, para a geração do ouro,
bé
um mina
pedreira particularmente encerrada
no seio da Terra.» Po isso, o ouro deslumbra
oculta
atrai. Mas este deslum esta atracção serão metáforas? Lemos na Chimie médicinale de Malouin, impressa em 1755 (t. lI p. 5): «,observei, no Jardim Real, um certa alegria pin tada no rosto dos ouvintes, vista do ouro que lhes mos trávamos antes de fazer a su dissolução.» Eu próprio observei muitas vezes o mesmo facto: quando, no liceu, se fazia a experiência da dissolução da folha de ouro na água de cloro, perguntava a Illim mesmo, cheio de escrú pulos: Será que se perde a folha de ouro? Esta morte de um riqueza perfeita, de um riqueza indiscutida, pro vocava, na aula, um instante dramáti co. IPerant este inte resse apaixonado, explica-se mais facilmente po qu ra zão Malouin continua afirmando com toda a tranquiH dade que (p. 6): «.o ouro (diz Mathiole sobre Discórides) possui uma certa virtude atractiva, pela qual alivia coração daqueles que o olham.» Assim, Assim, este bom químico do séc. XVIII passa insensivelmente da alegria pintada no rosto, sinal de um reconforto ambíguo, para um
bramento
..
N ~ o o l a ' s de Locques. lilements philosophiques des arcanes et dudissolvant général, de leurs vertus, propriétés et ellets, Paris, 1668, p. 49. Thomas Sonnet, Saty·re contre les charlatons et pseudo-médecines empyriques, Paris, 1610, p. 194.
acção tónica positiva sobre a mais nobre da vísceras. Mais um passo e, po assim dizer, acabaria po digerir su alegria ,para nos recordar que a digestão é o indi cativo mais doce e mais seguro das possessões. Malouin escreve realmente: o ouro é «um bo remédio para desinteria». (Formatron, pp. 138-139.) c)
Obstáculo «animista»
jona um ser vivo perde propriedades importantes. A cera e a seda estão neste caso: po isso, ;nem um ne outra é electrizável. Levando mais longe este raciocínio, a cera e a seda nã !passam, na realidade, de excrementos dos corpos que foram em vida» (p. 13). (Formation, capo VIII, pp. 154-155.)
d)
A «libido»
78. A palavra vida um palavra mágica. um palavra valorizada. Qualquer outro princípio fica obscu recido quando se pode invocar um princípio vital. O livro do conde de Tressan (2 tomos de 400 páginas cada) esta belece um 'síntese que reúne todoS' os fenÓInenos na base apenas da intuição de um matéria viva qu comanda uma matéria morta. E, porque o fluido eléctrico é essa matéria viva, anima e move todo o universo, os astros as plantas, os corações e os germes. a fonte de toda a actividade, de toda a fermentação, de todo o cresci mento, porque é «repulsiva para consigo mesmo». Nesta obra, facilmente se pode surpreender a intuição de uma intensidade de certa forma indefinida, inesgotável, pela qual autor condensa um valor vital num material infi nitamente pequeno. Sem qualquer prova, pela simples sedução de um aJfirmação valorizante, o autor atribui mesmo um um poder sem limites a alguns elementos. sinal de poder escapar à experiência. «A matéria morta forma orgânica, a matéria viva é um inerte se milhão de vezes mais ténue do que a mais pequena mo lécula de matéria morta, que o melhor microscópio nos possa revelar ... » Po muito que procuremos no enorme tratado do conde de Tressan, nã encontraremos nada que possa provar e s ~ a tenuidade, nada que possa legi timar essa substancialização de um impulso vital. Há apenas, mais um vez, as metáforas sedutoras da vida. nã se trata da intuição de um autor apenas. O conde de La Cépede escreve como um axioma, em 1781: «A ex pansibilidade nã pode adequar-se de forma alguma matéria morta» Todo o impulso é vital. A vida marca as substâncias que anima de um valor indiscutido. Quando um substância deixa de estar ani mada, perde algo de essencial. Uma matéria que aban-
79. Uma psicanálise completa do inconsciente cien tífico deveria empreender um estudo de sentimentos mais ou menos directamente inspirados pela libido. libido. Seria par ticularmente necessário examinar a vontade de poder que a libido exerce sobre as coisas e sobre os animais. Tra ta-se, se dúvida, de desvio da vontade de poder que, em ,toda a su plenitude, é um vontade de dominar os homens. Este desvio será, talvez, um compensação. Em todo o caso, é muito evidente perante representações reputadas perigosas. Daremos alpellas um exemp'lo qu nos parece de um psicanálise especial. especial. o caso de um orgulho vencido, de um poder ostensivo, sintoma de uma impotência latente. Iremos ver um orgulhoso taumaturgo apanhado na sua própria armadilha. A visão de certos objectos, objectos, de certos seres vivos, está carregada de uma tal massa de afectividade que é inte ressante surpreender os fracassos dos espíritos fortes, que se aventuram a estudá-los. Eis um divertido relato do abade Rousseau (p. 134): «Von Melmont alfirnna que, se metermos um sapo nu recipiente suficientemente fundo para que nã possa de lá sair, e se o olha-rmos fixamente, o animal, após te feito os esforços para sair do recipiente e fugir, volta-se, olha-nos fixamente e, pou oos momentos depois, cai morto. Va Helmont atribui este efeito a um ideia de medo horrível que o sapo con cebe à vista do homem. A qual, pela atenção assídua, excita-se e exalta-se ao ponto de ~ a n i m a l ficar sufocado. Repeti esta experiência quatro vezes, e pude cons1:atar que van Helmont dissera a verdade. Na ocasião minha teoceira experiência, Ique ocorreu EgiJpto, um turco qu estava presente aclamou-me como um santo, por ter morto co olhar um animal qu eles acreditam te sido criado pelo Diabo... Diabo ...
Conde de La CépCde, Essai sur l'électricité naturelle et arti!i2 vols., Paris, 1781, .t. 11, p. 32.
Abade Rousseau, Secrets et remedes éprouvés, Paris, 1747, p. 134.
1.
cielle,
no
Eis 'O taumaturgo em toda su glórial Vejam'Os agora· a d e r r o t ~ , que no ir permitir ve be exacta ambivalência de um coragem tão mal utiJizada. «Mas a'O te pretendido fazer pela última vez a mesma coisa em Lyon... Longe de te sido o sapo morrer, fui antes eu qu pensei estar às portas -da morte. O animal, após te tentado inutilmente sair, virou-se para mim; e, inchando extraordinariamente e elevando-se na quatro patas, res folegava impetuosamente sem sair do mesmo lugar, olhando-me assim se mexer os 'Olh'Os, qu eu viasen·sivelmente ficarem vermelhos e inflamados; assaltou-me então um fraqueza universal, que me levou de imediato ao desmaio, acompanhado de suores frios e de soltura pelos intestinos e pelas urinas, de modo que me julgaram morto. Na altura, só tinha comigo Teriaga e pó de Ví bora, dos quais me deram uma grande dose qu me rea nimou; e continuei, durante 'Oito dias, a tomá-la de ma nh e à noite, enquanto durou minha fraqueza. Não me permitido revelar todo s os efeitos espantos os. de qu sei que este animal capaz.» Parece-nos que esta página é um belo exemplo da concretizaçã'O -do medo que perturba tantas culturas pré -científicas. A valorização do pó de 'Víbora é devida, em um medo dominado. O triuIllfo contra a repug parte, nância e o perigo é suficiente para valorizar o objecto. O medicamento t'Orna-se, ·assim, um troféu. ,Pode muito be fortalecer ·um recalcamento e este recalcament'O, de certa forma materializado, pode ajudar 'O inconsciente. Facilmente se chegaria doutrina de qu é preciso tratar' 'Os estúpidos de uma maneira estúpida, de que o incons ciente te necessidade de um descarga feita po pro cessos grosseiramente materialistas, grosseiramente con cretos. (Fo1"111ation, capo X, pp. 207-209.) 80. Poder-se-á Poder-se-á acrescent ar qu já se .gastaram t'Odas as metáforas e que o espírit'O moderno! pela própria triunfou vas que deixaram de entravar o conhecimento dos objec tos. Se quisermos, no entanto, examinar 'O qu se passa nu espírit'O em formação, colocado perante um expe
riência nova, surpreender-n'Os-á o facto de encontrarm'Os,
antes de mais, pensamentos sexuais. Assim, é muito sin tomático que um reacçãoquímica em qu entram em jogo dois corpos :diferentes seja imediatamente sexuali zada, po vezes de um maneira dificilmente atenuada, pela determina,ção de um dos c'Orpos como activo e do
outro como passivo. Quando ensinava qwmlca, pude c'Onstatar que, na reacção de um ácido co um base, quase totalidade dos alunos atribuía papel activo ao ácido e o papel passivo à base. Aprofundando um pouco aperceber de que o inconsciente, não nos tardamos base feminina e o ácido masculino. O facto de o pro duto resultante se um sal neutro nã deixa de ter um certo eco psicanalítico. Boerhaave fala ainda de sais her mafr'Oditas. Tais concepções são verdadeiros obstáculos. :E. po isso qu a noção de sais básicos é um noção mais djJfícid de fazer admitir no ensino elementar do qu noção de sais ácidos. O ácido recelbeu um privilégio de explicação pelo simples facto de te sido considerado como activo em relação à base. Eis um texto do séc. XVII qu pode levar às mes ma conc1usões.«O ácido fermenta co o alcali, povque, um vez introduzida a su pequena ponta em qualquer um dos poros, e, nã ,tendo perdido o movimento, esfor ça-se po avançar mais. ,Por este meio, alarga as partes, pouco ácid'O contido no alcali, nã es de forma que tando já tão apertado, junta-se ao se libertador para, em conjunto, sacudir jugo que natureza lh tinha imp'Osto.» Um espírito científico, .seja ele de formaçã'O racionalista ou de formação experimental, experimental, geómetro ou químic'O, não encontrará nesta página nenhum elemento de reflexão, nenhuma questão razoável, nenhum esquema descritivo. Nem sequer a pode criticar, !tal a distância que separa a explicação figurada da experiência química. Um psicanalista, pelo contrário, não terá dificuldade em pô âmago exacto da c'Onvicção. Se soubéssemos provocar confidências sobre 'O es tad'O de alma qu acompanha os esforç'Os de conheci mento 'Objectivo, muitos traços se encontrariam dessa simpatia muito sexual po certos fenómenos químicos. JuIles Renard transcreve, 1Il'O 'seu Journal (l p. 66), 'O se guinte devaneio, ligado com t'Oda a evidência a recorda ções de estudante: «Fazer um idíli'O co amor de dois metais. Vimo-los primeiro inertes e frios entre os dedos do professor mediad'Or; depois, so a acção do fogo, mis turarem-se, impregnarem-se mutuamente e identificarem -se DiUrna fusão ·absoluta, ta como nunca h ã o ~ d e reali za os amores mais inflamados. Um deles cedia já lique fazendo-se por uma ponta, dissolvendo-se em gotas es branquiçadas crepitantes ... Estas linhas sã muito claras para um psicanalista. Já não são tanto para uma interpretaçã'Orealista. de facto, muito difícil deter-
minar realidade que Jules Renard viu. Fazem-se poucas ligas de metais no ensino elementar, os metais não cedem assim tã facilmente, liquefazendo-se po um ponta. Temos, pois, fechada aqui a via da interpretação objectiva e inteiramente aberta a via da interpretação psicanalítica. E, aliás, bastante picante ver um ironista tã desajeitado a procurar esconder os seus desejos e hábitos de colegial. (Formation, capo X, pp. 195-196.)
B. llustra ções históricas 1.
«Extensão abusiva de u ma imagem famili familiar» ar»
a)
Um
81.
Iremos agora tomar
pobre palavra pobre palavra esponja
veremos que ela permite exprimir os mais variados fenó menos. Esses fenómenos exprimem-se: julga-seque se explicam. Reconhecem-se: crê-se que os conhecem. Nos fenómenos designados pela palavra 'esponja, o espírito, vítima de um poder substancial. fun no entanto, não çã da esponja de um evidência clara e distinta, a ta ponto que não se sente a necessidade de a explicar. Ao explicar os fenómenos. pela palavra esponja, nã se te impressão de cair num substancialismo obscuro; tam a impressão de estar a fazer teoria, bém não se te es dado que esta função é inteiramente experimental. ponja corresponde, pois, um denkmitte do empirismo ingénuo. Recorramos imediatamente um autor importante, reportando-nos a um artigo de Réaumur publicado nas
Mémoires de l'Académie royaJ.e des Scietnces, em 1731
(p. 281): «Uma ideia bastante vulgar a de considerar ar como algodão, lã ou uma esponja, e muito mais esponjoso ainda do que sã todos os outros corpos ou grupos de corpos ao quais estes podem se compa rados. Esta ideia revela-se revela-se perfeitamente apta para expli ca a razão po qu .o ar se deixa comprimir considera velmente pelos pesos, qu pode se extremamente rarefeito e ficar ço um volume que ultrapassa consi deravelmente aquele sob o qual o víramos anterior mente.» Provido deste instrumental metafórico, Réaumur Em alemão no original. A letra, significa «auxiliar de pensa mento». (N. do T.)
vai responder a Mariotte, que trouxera entretanto alguma luz ao assimilar o fenómeno da dissolução do ar na água cU.ssolução de um sal. Penso, diz Réaumur (p. 382), «que Mariotte não tinha necessidade de levar tã longe su hipótese; parece-me que, em vez de supor que: a água pode dissolver o ar dissolução essa, alIás, mUlto difícil de conceber, se nos contentarmos em supor qu ela pode penetrá-lo, molhá-lo, temos o que predsamos estão aqui em causa». explicar os fenómenos Se seguirmos em pormenor a explicação de Réaumur, aperceber-nos-emos do que um imagem generalizada, expressa numa só palavra, leitmotiv de uma intuição valor. «Continuemos a considerar ar como s e m ~ s se lhante su estrutura, aos corpos esponjosos, daqueles que a 'água pode penetrar, pode embeber, e deixaremos de nos surpreender pelo facto de que ar, que fica con tido na água deixa de se compressível e ocupa, na água, pouco e ~ ' P a ç o . e !Se um esponja numa mem ~ ' P a envolver ç o . brana impermeável e a conservar suspensa dentro de água, po intermédio de qualquer fio preso no fundo do vaso, es-ponja ficará então tão compressível como era
no meio do ar Se, po intermédio de um pistão ou de qualquer outro p.rocesso, comprimirmos a água, esta descerá, a esponja será forçada ocupar po muito menos volume, as suas partes serão obrigadas a ir ocupar os espaços vazios qu tendem conservar entre si, e a água ocupará lugar abandonado pelas partes da esponja. Deixemos de comprimir a água, e a esponja regressará ao e s t a ~ o iniICial. .. Se, em seguida, retira-rmos à esponja mart:éna impermeável oom qu 'a envolvemos, a água poderá insi nuar-se no seu interior; dêmos-Ihe o tempo suficiente para ocupar todos os !espaços vazios entre os f ~ o s espop josos, após o que, se recorrermos, um vez maIS, ao pIStã para comprimir a água, verificaremos que ele nã cederá como ,primeira vez, ou cederá muito p o u ~ o . esponja tornou-se então incompressível, ou Quase m compressível; as suas partes, comprimidas, não encon tram mais espaços vazios que possam ocupar, pois estão cheios de água; a água que neles se aloJou neqtraliza o esforço daquelas que tende a expul,sá-Ia. Se ar pode, ta como a esponJa, ·se penetrado pela água, se esta pode ocupar os espaços vazios entre as suas partes, então ar deixa de se compressível.» Sentimos necessidade de pedir desculpa ao leitor pela citação desta página interminável, desta página tã
e m ~
ma escrita, de um autor célebre. Mas muitas outras lhe roram poupadas, do mesmo estilo, em que Réaumur ex plica interminavelmente os fen6menos pelo carácter es ponjoso. Necessitávamos, no entanto, de um exemplo um pouco longo, onde a acumulação de imagens negasse co toda a evidência a razão, e 'Onde o concreto reunido sem visão abstracta prudência constituísse um obstáculo nítida dos problemas reais. Seguidamente, Réaumur não deixa de afirmar qu o esquema proposto não passa de um esboço, sendo possível, naturalmente, ar às «esponj'as do ar» formas muito diversas da da esponja ordinária. Mas todo o pensamento está informado por esta imagem, nã pode sair da su intuição inicial. Quando ele pretende apagar a imagem, a função da imagem persiste. Po isso Réau abstém-se de tirar conclusões sobre forma «dos 'grãos 10 ar». S6 exige, para su explicação, um coisa (p. 286), «é qu a água possa penetrar os grãos do ar». Po outras palavras, ele nã se importa, no fim de con tas, de sacrificar a esponja, ma pretende conservar a esponjosidade. Eis a prova de um movimento pura simplesmente linguístico que, associando um palavra um palavra concreta, cr te feito avançar abstracta o pensamento. Uma doutrina da abstracção coerente ne cessita de um desprendimento muito maior em relação às imagens primitivas. Mas talvez se v,eja melhor carácter metafórico deficiente da explicação pela esponja se recorrermos a casos em qu essa exPlicação é proposta para fen6me nos menos imediatos. Franklin, po exemplo, escrevia 1: «A matéria comum um espécie de esponja para fluido eléctrico; um esponja nã receberia a água se as partes da água nã fossem mais pequenas que os poros da esponja; recebê-Ia-ia muito lentamente se não hou vesse um atracção mútua entre as suas partes e as par tes da esponja; esta última ficaria embebida muito mais rapidamente se atracção recíproca entre as partes da água não constituísse um obstáculo, pelo qu deve haver Qualquer força usada para as separar: po último, a absorção seria muito rápida se, em vez de atraccão, hou vesse, entre as partes da água, um repulsão mútua Que acompanhasse a atracção da esponja. precisamente Beniamin Franklin. Expériences et observations sur ('électriciM. comunicadas em diversas cartas a P. Collinson, da Real Soe. de Londres, trad. Paris, 1752, p. 135.
matéria eléctrica e a matéria co qu sucede co mum.» Todos estes pormenores, todas estas suposições, todos estes esquemas eiheios de correcções nos mostram muito claramente que Franklin procura aplicar as expe riências eMctricas primitiva experiência da esponja. Mas Franklin 'só pen'sa no plano da esponja. A esponja é, para ele, um verdadeira categoria empírica. Talvez que, na su juventude, este simples objecto tenha fas cinado. muito frequente. Tenho muitas vezes surpreen dido crianças muito interessadas po um mata-borrão qu «bebe» um mancha de tinta. Naturalmente, se recorrermos autores subalternos, a aplicação será mais rápida, mais directa, se possível, menos vigiada. Nesse caso, a imagem explica automati camenrte. Numa dissertação de P. Béraut encontramos condensada esta dupla explicação: os vidros e matérias vitrificáveis são «esponJas de luz, porque (são) todos penetrados pela matéria qu constitui a luz; pela mesma razão, podemos afirmar que são todos esponias de ma téria eléctrica». Lémery chamava pedra de Bolonha um «esponja de luz» co maior precis'ão, pois esta pera fosforescente retém, ap6s exposição ao sol. um certa quantidade «de matéria luminosa» qu deixa depois esca par-se. Co a rapidez que irão ver, em três linhas, Marat explica o arrefecimento de um corpo quente mergulhado ,água 1: {«'Aqui, ar e a água agem apenas no ,ar ou como esponjas; porque um corpo só arrefere outro que toca se aJbsorver o fluido ígneo qu dele se eSICapa.» Um imagem tã clara pode ser, na aplicação, mais confusa e complicada. Assim, o abade de Mangin diz bre vemente 2: «O 1ge1o, sendo um esponja de água solidifi cada e gelada pela retirada do fogo, possui um aptidão que se lhe apresente.» para ,absorver facilmente tudo Parece que, neste último caso, assistimos ,à interiorizacão do carácter esponjoso. Estecarácter é, aqui, um aptidão para receber, para absorver. Seria fácil encontrar exem plos no quais se descobrissem assim, insensivelmente, as instituições substancialistas. A eSlponia possui, então, um poder secreto, um poder primordial. Para o Cosmo polita: «A Terra um esponja e o receptáculo dos ouMarat, doutor em medicina e médico dos lnlardas oessoais de Monsenhor o conde de Antois. Découvertes sur le Feu, l'Electricité et la Lumiere, constatadas numa sequência de experiências novas. Paris, 1779, p. :H. Abade de Mangin, Question nouvelle et intéressant 6ur l'électricité, Paris, 1749, p. 38.
tros Elementos.» Um médico-parteiro chamado David considera útil esta imagem: «O sangue é um espécie de esponja impregnada de fogo.» (Formation, capo IV, pp. 74-76.) b)
físioa cartesiana:
uma
merafísica da esponja
82. Podemos, aliás, encontrar exemplos em que grandes espíritos são, po assim dizer, bloqueados pela imagem inicial. Pôr em dúvida a clareza e a distinção da imagem que nos é dada pela esponja é, para Descartes, subtilizar sem razão as explicações (Principes, lI 7). «Não ,sei porque que, quando se pretendeu explicar de qu maneira um corpo se rarefaz, se preferiu afirmar que era pelo aumento da sua quantidade em vez de se usar o exemplo desta esponja.» Por outras palavras, a imagem da esponja é suficiente numa explicação parti cular, logo podemos utilizá-la para organizar experiências ,diversas. Porquê ir procurar mais longe? Porquê não pensar de acordo com este tema ~ e r a l ? Porquê não gene ralizar o que é claro e simples? Expliquemos, portanto, um material de fenóme os fenómenos complicados co no simples, exactamente como se esclarece um ideia complexa decompondo-a em ideias simples. O focto de os pormenores da imagem acabarem po ficar obscurecidos não nos deve levar a abandonar essa imagem. Retivemo-Ia nu aspecto, e isso basta. A confiança de Descartes na clareza da imagem da esponi a muito sintomática da impotência em instalar a dúvida ao nível dos pormenores do conhecimento objectivo, em desenvolver um dúvida discursiva que desarticularia todas as ligações do real, todos os ângulos das imagens. A dúvida geral mais fácil do qu a dúvida varti'Cular. nã devemos achar dificuldades em crer qu a rare facção se faça desta forma que afirmo, ainda que não nos apercebamos, po nenhum dos nossos sentidos, do corpo que enche (os poros de um corpo rarefeito), por que nã há qualquer razão que nos obrigue a crer qu devemos distinguir pelos nossos sentidos todos os cor pos qu nos rodeiam, e porque vemos qu muito fácil qu é impossível concebê-Ia explicá-la desta maneira diversamente.» Po outras palavras: um esponja mos tra-nos a esponjosidade. Mostra-nos como um matéria particular «se enche» de outra matéria. Esta lição da plenitude heterogénea chega para explicar tudo. A meta·
física do espaço é, em Descartes, a metafísica da esponja. (Formation, capo IV, 'Pp. 78-79.) 2.
Química
alquimia do fogo
a)
Substancialização
83. O fogo é, talvez, o fenómeno que mais tem preo cupado os químicos. Durante muito tempo, p e n s ~ ) U - s e que resolver o enigma do fogo er resolver o emgma central do Universo. Boerhaave, que escreve ;por volta de 1720 afirma ainda 1: «Se vos enganardes na exposição da N a t ~ r e z a do Fogo, o vosso erro repercutir-se-á em todos os ramos da física, e isso porque, em todas as sempre o principal produções naturais , o Fogo... agente.» Meio século mais tarde, Scheele lembra, po um la:do 2: «As dificuldades in:umeráveis que apresentam as pesquisas sobre o Fogo. Ao reflectir no séculos qu se passaram, surpreende-nos que nã se tenha consegl!ido adquirir mais conhecimentos sobre as suas verdadeIras propriedades.» Po outro lado: «Algumas pessoas caem num erro absolutamente contrário ao eXip'Hcarem a na tureza e os fenómenos do Fogo com tanta facilidade qu parece qu todas as dilficuldades foram e l i m ~ n a d a s . Mas quantas olbjecções não se lhes pode fazer! Tão depressa um efeito do Fogo: calor é o Fogo elementar como aqui, a luz mais puro fogo e um elemento; mais além, el está já dispersa em toda a extensão do globo, e o impulso do Fogo elementar comunica-lhe o se movi mento directo; aqui, a luz é um elemento que pode se captado po intennédio do acidum pingue, Hbertado pela dilatação deste suposto ácido, etc.» Esta oscilação, assinalada po Scheele, é muito sintomática da tã be dialéctica da ignorância, que vai da obscuridade à ce gueira e que toma descuidadamente os próprios termos do problema pela su solução. Como o fogo nã :pôde revelar o seu mistério, é considerado como um causa universal: e então tudo se explica. Quanto mais inculto fo um -espírito -espí rito pré-cient:íJ pré-cient:íJfico, fico, maior é o problema qu ele escolhe. Desse grande problema, faz um pequeno livro. Boerhaave, Elémpnts de chimic, trad., 2 vols., leide, 1752, t. I, p. 1 4 ~ . Charles-Guillaume Soheele, Traité chimique de {'air et du leu, trad., Paris, 1781.
livro da marquesa du Châtelet te 139 páginas e trata fogo. Nos períodos \ p ~ i e n ' t í f i c o s , realmente difícil deli mitar um tema de estudo. Relativamente ao fogo, mais do qu qualquer outro fenómeno, as concepções ani mistas e as concepções substancialistas misturam-se de um maneira inextricável. Enquanto que, na nossa obra de índole geral pudemos analisar separadamente estas concepções, aqui teremos de as estudar 'ao nível da su interpenetração. E, naquilo em qu conseguimos fazer progredir a análise, foi precisamente graças às ideias científicas que, a pouco e pouco, permitiram distinguir os erros. Mas o fogo, ao contrário da electricidade, nã encontrou ainda su ciência. Permaneceu, no pré-dentítfico, 'Como um fenóme no compil compilexo exo que depende um tempo da química da biologia. Necessitamos, por tanto, de conservar no conceito do fogo o aspecto totali zante que corresponde à ambiguidade das explicações qu vã alternativamente da vida substância, em inter mináveis reciprocidades, para nos apercebermos dos fe nÓInenos do fogo. O fogo pode, então, servir-nos para ilustrar as teses que expusemos no nosso livro sobre La formation de l'esprit scientifique. scientifique. Em particular, pelas ideias ingénuas que dele se faz, dá um exemplo do obstáculo substancialista do obstáculo animista que, tanto um como outro, entravam pensamento cientifico. Iremos começar por mostrar casos em que as afir mações substancialistas são apresentadas sem mínima prova. O R. P. Castel não põe em dúvida o realismo do fogo 2: «Os negros pintura são, na maioria, produçqes do fogo, e o fogo deixa sempre qualquer coisa de corro sivo e abrasador nos corpos que receberam su im pressão viva. Há quem p r e t e n d ~ que são as partes íp;neas, de um verdadeiro fogo, que permanecem na cal, nas cinzas, nos carvões, nos fumos.» Nada legitima esta perdo fogo matéria corante, ma podemos ve em funcionamento o pensamento substan ciaHsta: aquilo 'que recebeu o fogo tem de ficar a quei mar, logo, corrosivo. Po vezes, a afirmação substancialista apresenta-se pureza tranquila, verdadeiramente desligada co um de toda prova mesmo de toda a imagem. Escreve do
Trata-se de La formation de l'esprit scientifique (D. L.). R. P. Castel, L'optique des conleurs, P,aris, 1740, p. 34.
Ducarla 1: «As moléculas 19neas... aquecem porque são; sã porque foram... esta acção só deixa de se produzir po falta de sujeito. O carácter tautológico da atribuição substancial aqui particularmente nítido. A sátira de Moliere sobre virtude dormitiva do ópio, que faz dor mir, nã impede um autor importante, que escreve no final do séc. XVIII, de afirmar que a 'Virtude calorífica do calor te propriedade de aquecer. (Psychanalyse, capo V, pp 104-107.) b)
Valorização
84. Para muitos espíritos, o fogo possui um ta valor que nada limita o seu império. Boerhaave pretende nã fazer nenhuma suposição sobre o fogo, mas começa po afirmar, sem mínima hesitação, qu «os elementos do fogo encontram-se 'em tudo; encontram-se no ouro, que mais sólido dos corpos conhecidos, e no vácuo de Torricelli 2. Para um químico como para um filósofo, para um homem instruído como para um fantasista, o fogo substancializa-se tã facilmente que relacionado or espaço cheio. Se o vácuo, or co dúvida, a co física moderna reconhecerá que o vácuo atravessado po inúmeras radiações do calórico radiante, ma nã faz dessas radiações um qualidade do espaço vazio. Se se produzir um luz no vácuo de um barómetro que atin gido, o espírito científico nã concluirá da que o vácuo
de Torricelli continha fogo latente. A substancialização do fogo concilia facilmente as características contraditórias: o fogo ,pode se vivo e rápido sob formas dispersas; ,profundo e durável sob formas concentradas. Basta, assim, invocar concentração substancial para explicar aspectos muito diversos. Para Carra, autor frequentemente citado no final do séc. XVIII3: «Na pa1ha e no papel, o flogisto integrante muito raro, ao passo qu abunda no caI"Vão de pedra. As duas primeiras substâncias, no entanto, ardem ao pri o fogo, enquanto Que última leva meiro contacto co entrar em combustão. Nã se pode expli muito tempo ca esta diferença de efeitos senão reconhecendo qu
de la
Ducarla, loco cit., p. 4. Boerhaave, P.léments de chimic, t. I, p. 145. Carra, Dissertation élémentaire sur la nature de la lumiere, chaleur, du leu et de l'électricité, Londres, 1787, p. 50.
do papel, embora mais flogisto integrante da palha raro qu do carvão, está menos cOIl!centrado, mais disseminado e, consequentemente, mais susceptível de um pronto desenvolvimento.» Deste modo, um expe riência insignificante como de um papel rapidamente inflamado é explicada, te ffittensidade,por um grau da concentração substancial .do flogisto. Não podemos dei xa de sublinhar aqui a necessidade de explicar os pormenores de um experiência inicial. A necessidade de explicação minuciosa muito sintomática no espíritos nã científicos, que pretendem negligenciar e ar conta de todos os aspectos da experiência concreta. A vivacidade de um fogo sugere, assim, falsos problemas: im pressionou de ta maneira nossa imaginação infantil! fogo da palha continua a ser, para o inconsciente, um fogo característico. particularmente interessante, para uma psicaná lise do conhecimento objedivo, ver como um intuição carregada de afectividade, como a intuição do fogo, se presta para a explicação de fenómenos novos. Foi o qu sucedeu 'quando o /pensamento pré-científico pré-científico procurou ex plicar os fenómenos eléctricos. prova de qu o fluido eléctrico é apenas o fogo nã é .difícil desde que nos contentemos em seguir a assim qu abade sedução da intuição substancialista. de Mangin fica rapidamente convenk::ido 1: «Antes de mais, em todos os corpos ,betuminosos e sulfurosos, tais como vidro e as resinas, que se encontra matéria eléctrica, sua dos betumes e enxofres assim como trovão tira atraídos tpel'a 'acção do Sol.» Posto isto, nã é necessário muito mais para provar qu vidro contém fogo e para o classificar na categoria dos enxofres e das resinas. Para abade de Mangin, «o cheiro a enxofre qu (o vi dro) exala quando, sendo friccionado, acaba po quebrar prova convincente) de qu os betumes e os óleos sã nele dominantes». Será preciso lembrar também a velha espírito pré-científico, que etimologia, sempre atetiva pretendia se o vitríolo corrosivo óleo de vidro? A intuição de interiorlda.de, de intimidade, tã forte mente ligada intuição substancialista surge aqui numa ingenuidade tanto mais surpreendente quanto pretende explicar fenómenos científicos be determinados. «Foi sobretudo nos ,betumes, no óleos, nas gomas, na resiAbade de Mangin, tricité, 1749, pp. 17, 23, 26.
et
nas, qu Deus encerrou o fogo, na qualidade de formas capazes de o conter.» Um vez qu houve submissão
metáfora de um propriedade substancial encerrada numa caixa, o estilo começa a carregar-se de imagens. Se o fogo eléctrico «pudesse insinuar-se no orifícios dos pequenos novelos de fogo qu atravessam o tecido dos corpos que são, po natureza, eléctricos; se ele pudesse d.esunir esta multidão de pequenas bolsas qu tê interno, poder de manter esse fogo oculto, secreto manterem-se unidas, então essas parcelas de fogo, soltas, sacudidas, comprimidas, libertadas, associadas, violenta mente agitadas, comunicariam ao fogo eléctrico um acção, um força, um velocidade, um aceleração, um fúria, qu desuniria, 'quebraria, illlf11amaria, destruiria composto». Mas, como isso é ,impossível, os conpos como de conservar o fogo natureza, tê a resina, eléctricos encerrado nas suas pequenas cavidades, nã podem rece be a electricidade po comunicação. Eis aqui, cheia de imagens, carregada de verbalismo, a explicação prolixa do caráoter dos corpos maus condutores. Aliás, esta eXiPli. cação, qu equivale a negar um carácter, é assaz curiosa. Não se vê be a necessidade da conclusão. Parece qu ta conclusão vem simplesmente interromper um deva neio qu se desenvolvia co tanta facilidade, bastando acumular sinónimos. Quando se reconheceu que as centelhas eléctricas que saem do corpo humano electrizado inflamavam a aguardente, foi um autêntico deslumbramento. fogo eléctricoera, então, um verdadeiro fogo! Winckler subU nh «um acontecimento tã extraordinário». Na reali dade, nã é fácil perceber como é que semelhan te «fogo» «fogo» brilhante, quente, inflamado, pode estar contido, se mais pequeno incómodo, no corpo humano! Um espírito de Winckler não põ tã preciso e meticuloso como em dúvida postulado suhstancialista, e é desta ausência problema 1: «Um de crítica filosófica qu ir nascer fluido nã pode inflamar coisa alguma, a menos que con tenha partículas de fogo.» Se o fogo sa do corpo hu mano, é porque, antes disso, estava contido no corpo humano. Será preciso sublinhar a facilidade co que esta inferência é aceite po ·um espí'rito pr dentílfico qu segue, se disso se da conta, as seduções que denun..
Vinclder, Essai sur la nalure, les eflels cité, trad., Paris, 1748, p. 139.
et
les causes de l'électri
..
ciámos nos capítulos precedentes? O único mistério está que o fogo inflama o álcool no exterior, ao passo que inflama os tecidos internos. Esta inconsequência da intuição realista não basta, entretanto, para diminuir realidade do fogo. O realismo do fogo conta-se entre os mais indestrutíveis. {PsychanaJ.yse, carp. V, pp 115-116.)
em nã
Secção PARA
II
A HISTÓRIA DA
CIE.NCIAS
CONTINUInADE
DESCONTINUIDADE?
a) Uma «emergência» progressiva
da
ciência?
85. Uma das objecções mais naturais dos continuistas da cultura consiste em evocar a continuidade da história. Uma Ve!Z que se faz um narrativa continua dos
acontecimentos, crê-se facilmente reviver os acontecimen tos na continuidade do tempo e dá-se, insensivelmente, toda história a unidade e a continuidade de um livro. As dialécticas ficam, assim, veladas sdb um sobrecarga de acontecimentos menores. E, no que diz respeito aos problemas epistemológicos que nos ocupam, não se bene ficia da extrema sensibilidade dialéctica que caracteriza a história das ciências. Além disso, os ICOntinUÍ1stas gostam de ref1eotir sobre as origens, detêm-se na zona de elementaridade da ciên cia. Os progressos científicos começaram po se lentos, muito lentos. Quanto mais lentos são, mais contínuos parecem. E, como a ciência sai lentamen'te do corpo dos conhecimentos comuns, crê-se te a certeza definitiva da continuidade do saber comum do saber cientÍlfico. Btn suma, eis o axioma de epistemologia posto pelos conti nuÍstas: dado que os começos são lentos, os progressos são contínuos. O filósofo nã vai mais longe. Pensa que é inútil viver os tempos novos, os tempos em que, preci samente, os progressos científicos reben.tam po toda parte, fazendo necessariamente «rebentar» a epistemo logia tradicional. Para legitimar esta noção de «rebentamento», eis algumas referências e factos.
Riezler, referindo-se aos 600 isótopos descobertos ou criados pelo homem apenas numa década, vê aí, precisa mente, um evolução explosiva, eine stürmische Entwicklung
1.
Uma descoberta como a de cia em duas simples linhas:
J o l i o t ~ C u r i e ,
qu
se enun
AI · p i ~
s i i ~ s i i ~
+t
abala, em poucas ~ e m a n a s , todo um sector da ciência da matéria. O próprio Jean Thibault sublinhou a impor tância desta descoberta que se resume em duas linhas. Hevesy, no Colóquio sobre as «Trocas isotópicas e estruturas moleculares», que teve lugar em Paris em 1948, diz (p. 107): «Para aqueles que viveram o desen
da coberta da radioactividade radioactividade artificial parece um milagre.» Sim, po que razão nã há-de um cientista que vive intimamente o progresso científico te o direito de usar um palavra, tão excepcional na su boca, para exprimir
as suas impressões? A propósito da descoberta da radioactividade artifi cial, Pollard e Davidson insistem igualmente no desen volvimento espantoso, the astonishing development· do campo dos conhecimentos humanos. Desde 1933, afir eles, at 1945 (data da publicação do se livro), ma número do radioelementos artificiais passou de 3 a 300. Esta proliferação extraordinária da ontologia mate rialista nã pode, naturalmente, se avaliada com justiça partir do exterior. E. po isso que o filósofo não se im pressiona co este deserwolvimento espantoso. Ele lê relê generalidades qu condenam a técnica. Nã dá qual quer atenção ao carácter eminentemente eminentemente desinteressad de algumas investigações técnicas, nã vê su beleza intelectual, permanece estranho harmonia que se revela nesta multiplicidade de seres be ordenados. Desuma niza, assim, um esforço prodigioso do espírito humano, próprio esforço da cidade científic perante um mundo criar numa extraordinária novidade. Em Maio de 1948 (este mês tornou-se agora um realidade na bibliografia científica), F. B. Moon, ao es1942,
p.
Wolfgang Piezler, Einführung in die Kernphysik, 132.
Em
inglês no original. (N.T.)
2."
00., Leipzig,
crever o prefácio do livro Artificial radioactivitl' publi cado em Cambridge em 1949, desculpa-se por na? poder fornecer um lista completa dos corpos provIdos de radioactivildade artilFi'Cial. E acrescenta: «O t e ~ a t edesen ~ a volve-se com tanta rapidez que seme1hantes listas tO!nam-se rapidamente incompletas.» A ciência da maténa cresce tã depressa que já não se consegue fazer o seu balanço. No meio de um ta fervilhar d e s c o b e r t a ~ , como se pode deixar de ver que q u a l q u ~ r q lmha u a l q u ~ de r contI nuidade será sempre um traço demasIado grosso, um esquecimento especificidade dos p o r ~ e n . o r e s ? E. necessário, aliás, p < : r g ~ t a r aos p ~ ~ p r ~ o s clentlstas a consciência das descontmuldades da ClenCla contempo rânea. Eles 'assinalam essas descontinuidades co toda a precisão desejável. No prefácio ao colóquio do. C.N.R.S. sobre La liaison chimique (Abril de 1948, publIcado em 1950), Edmond Bauer, recordando ~ e m ó r i a f . u n d a I } l ~ n ta de Heitler e London sobre a molecula de hldrogemo, publicada em 1927, escreve: k < E s ~ a k < ~ E m s ~ ó a r i a ~ m ó r i a um ~ a ~ autêntica descontinuidade na histona da qUlIDlca. Depois dela, os progressos foram rápidos.» Nestes instantes inovadores, a descoberta tem uma tã grande p l u r a ~ i d a . d e de c o n s e q u ê ~ c i ~ s qu abordamos, co toda a evidenCIa, um descontmwdade do saber. A molécula de hidrogénio já nã um s i ~ p l e s pormenor do materialismo, um objecto de pesqwsa como os ou rros. A molécula de hidrogénio, a partir da memória de Heitler e London, é um motivo de instrução fundamental, a razão de uma reforma radical do saber, um novo pon!to de partida da filosofia química. Ma passa-se sem mesma coisa, o filósofo ~ ã o a b o r d ~ a zona das ~ e s pr afIrmar tranquIla continuidades efectivas; contmua mente a continuidade do saber. b)
noção de «influêncio.»
Uma outra maneira de obscurecer as descontinuida des no progresso cientÍlfico é atribuir o seu mérito à mul tidão dos trabalhadores anónimos. Há muito quem goste de afirmar que os progressos estavam ~ n o ar» quando_o homem de génio os trouxe luz do. dIa." E ~ t r a m entao em 'Consideração 'Consideração a s «'atmosferas», as «.mfl,!e «.mfl,!e?Cla ?Clas». s». Qua Q uanto nto mais longe estamos dos factos, maIS facIl é evocar as «influências». As influências são frequentemente evoca das para as mais longínquas origens. Faz-se co qu
elas atravessem os continentes e os séculos. Mas a noção de influência, tão cara ao espírito filosófico, te pouco sentido na transmissão das verdades e das descobertas na ciêIllCia contemporânea. Nã dúvida de qu os tra balhadores se agrupam, não há dúvida de qu colaboram na !investigação. Formam actualmente equipas e escolas. Mas o génio de certos laboratórios é feito, simuhaneamente, de orítica de inovação. A autocrítica dos traba lhadores de laboratório contradizem muitos aspectos, tudo o que depende de um «influência». Gradualmente, tudo o que existe de inconsciente e de passivo no saber dominado. As dialécticas proliferam. Alarga-se o campo das contradições possíveis. A partir do momento em qu se aborda a região do problemas, vive-se realmente numa época marcada po instantes privilegiados, po desconti nuidade manifestas. Ao le um livro 'Como de Gamov e Critchfield sobre a física nuclear, vê-se até que ponto os cientistas 1m coosciêIllCia impeIfeição do seus mé todos, da desarmonia dos métodos. «Não satisfaz», eis um looução repetida em quase todos os parágrafos. Nunca este 1'aciorudismo experimentado, qu os métodos novos representam, foi 'mais variado, mais móvel, mais assim qu o racionalismo científico, qu deve vigiado. assimilar os progressos da experiência, cresce no sentido inverso do dogmatismo do racionalismo sucinto. Caracte rizar espírito científico como um espírito canalizado no dogmatismo de uma verdade indiscutida
fazer
psicologia de um caricatura obsoleta. O tecido da his tória da ciência contemporânea é o tecido temporal da discussão. Os argumentos que nele se cruzam são outras tantas ocasiões de descontinuidade. c)
argumento do «senso comum»
Uma terceira ordem de objecções é adoptada pelos continuístas da cultura no domínio da pedagogia. Quanto mais se cr na continuidade entre o conhecimento co mu e o conhecimento científico, mais esforços se fazem para manter, torna-se obrigatório I'eforçá-Ia. Faz-se assim sair do bo senso, lentamente, suavemente, os rudimentos do saber científico. Tem-se repugnância po violentar o «senso comum». E, nos métodos do ensino elementar, adiam-se de ânimo leve os tempos de inicia ções viris, procura-se conservar tradição da ciência elementar, da ciência fácil; considera-se um dever fazer
estudante participe da imobilidade do < : o n h ~ com que cimento inicial. necessário, apesar disso, conseguIr cncultura elementar. Entra-se, então, no reino da ticar cultura científica difícil. E eis aqui um desconti.nuidade qu não será fácil de apagar invocando um simples relativismo: de fácil, química torna-se, subitamente, difícil. Torna-se difícil nã só para nós próprios, difícil nã só para o filósofo, ma verdadeiramente difícil em si. Os historiadores da ciên cias nã aceitarão certamente que se caracterize a cul tura científica do nosso tempo como especificamente di fícil. Objectarão que, ao longo da história, todos os pro gressos foram difíceis, e os filósofos repetirão que os nossos filhos aprendem hoje na escola co facilidade aquilo que exigiu um esforço ext:r.aordinário aos génios solitários dos tempos passados. Mas este relativismo, que é real, qu faz senão salientar me e v i d ~ n t e , nã lhor carácter absoluto da dificuldade da ciências física química contemporâneas, a partir do momento em que se sai do reino da elementaridade. não se trata de um questão de aptidão. Para cer tos espíritos, a matemática mais elementar pode se difí cil. Mas, no qu concerne química, parecia que ela fora um espécie de erudição dos factos materiais, parecia exigir apenas muita paciência e minuciosa experiência. Dizia·se que er um ciência de memória. Eis precisa mente qu el já nã é. Os químicos são formais a este respeito. No final do estudante só encontrava soc. XIX, afirma Lespiau 1, na química «u amontoado de factos se coesão»; tomava como axioma «essa frase tão repetida ainda no nossos dias (em 1920): a Química é apenas um questão impressão de memória. Ao sair do liceu, ficava co de qu esta ciência (?) nã tinha qualquer valor educa tivo. Se, no entanto, viesse a frequentar um curso de química orgânica professado po um atomista. su opinião modificava-se. Os factos encadeavam-se. bastava aprender alguns para achar Que se sabiam muitos». Ex celente expressão da inteligibilidade indutiva qu co manda um empirismo informe. Os factos científicos mul empirismo diminui. Eis tiplicam-se e, nã obstante, memória dos factos submetida compreensão das leis. NeSta via, a revolução epistemológica continua. Na QUÍmicà contemporânea, é necessário compreender para, reR. Lespiau,
La
molécule chimique, Paris, 1920, p. 2.
ter. E preciso compreender em perspectivas sintéticas cada vez mais complexas. Está fundada a química teórica. Fundada em primeira união com física teórica. No iní cio do nosso século, emergia, sob o nome de química física, um ciência muito delimitada, particularmente definidas. Nos nossos dias, rica em experiências be emerge um química teórica4ísica 'teórica que fornece às ciências f í s i c o ~ q u í m i c a s um racionalismo comum. O ponto de interrogação colocado po Lespiau a seguir à palavra «ciência» (?) para simbolizar o doce desprezo dos educadores do seu tempo po um estudo que ocupa inutilmente a memória nã t r a ~ t sen'ão r a ~ o cepticismo dos ignorantes, o cepticismo dos filósofos qu decidem do valores culturais, reportando-se ao tempo da sua adolescência escolar. Para nos referirmos a um texto contemporâneo, não haverá um espécie de desafio irónico na frase qu ter mina o prefácio Que R. Robinson escreve para o difícil J. S. Dewar: The electronic theory oi ort r a t ~ d o de gantc Chemtstry (Oxford, 1949): «Como conclusão, desejo pleno sucesso a todo este esforço recente para genera lizar a nossa ciência nu dos seus aspectos mais fasci nantes. Já passaram os dias em qu a Química orgânica podia se estigmatizada como um trabalho de memória e os estudantes qu seguirem Dewar através do t e r r i t ó r i ~ recentemente conquistado em breve verão po que razão isto verdadeiro.» Assim, torna-se tã difícil aprender química sem a compreender como recitar de cor, sem esses pequenos tropeços qu nunca enganam o professor perspicaz, a lição de matemática. E, se confiarem assim tanto nesse poder de memorização, bastar-vos-á abrir o manual de Dewar - ou o de Pauling ou o de Eistler de ou Ar1beN PauHman Bernaro prova as para porem vossas forças. Abordai a química difíoil e reconhecereis que entrastes nu reino novo de racionalidade. Será esta dificuldade da ciência contemporânea um obstáculo à cultura ou será antes um atractivo? El é, segundo cremos, a própria condição do dinamismo psico lógico da pesquisa. O trabalho científico exige precisa mente Que o investigador crie dificuldades. O essencial é criar dificuldades reais, eliminar as falsas ditficuldades as dificuldades imaginárias. história da um facto que, ao longo de toda espécie gosto pelos problemas c i . ê ? c i ~ , se revela um mérito de vencer a difIceIS. O orgulho de saber eXIge
su dificuldade de saber. O alquimista pretendia qu dênlCia fosse difílCi1 e rara. Outorgava ao seu saber a ma jestade da dificuldade. Carregava o problema das trans formações materiais com dificuldades cósmicas, morais e religiosas. Exprimia, pois, essencialmente o comportamento do difícil. Em suma, o saber alquimista realizava para si da dificuldade. E, na ausência do realismo das manipulações alquímicas, o alquimista projectava o seu apetite da dificuldade, esse para si da dificuldade, numa espécie de em si do difícil. Pretendia resolver um grande problema, penetrar no grande mistério. Descobrir a pa lavra do enigma ter-lhe-ia dado a omnipotência sobre o mundo. Muitas vezes, o historiador que pretende trazer à luz do dia estes pensamentos obscuros deixa-se seduzir po estas dificuldades ultrapassadas. E acrescenta ainda, à dificuldade qu embaraçava o alquimista, a dificuldade de se reportar, após as múltiplas' evoluções do pensa mento científico, ao momento da história em que os interesses da investigação eram inteiramente diferentes dos nossos. Mas todas as sombras, arduamente reconsti tuídas, tuídas, desaparecem desaparecem quando quando os antigos antigos problemas problemas os fals falsos os problemas problemas são são coloca colocados dos em face de um objec tividade definida. Apercebemo-nos de que a experiência alquímica não pode se «montada» nu laboratório mo derno sem que se tenha de imediato a impressão de se estar a fazer ao mesmo tempo uma caricatur do passado um caricatura do presente. Quando muito, alguns grandes cientistas contemporâneos gostam de colocar, como frontispício das suas obras, a antiga gravura de um velho livro qu reproduz o alquimista diante dos seus fornos. Não será esta nostalgia dos antigos mistérios um manifestaçao do inconsciente inconsciente que acompanha o espí rito científico, como assinalávamos no início deste en saio? Estaríamos, então, em presença de um tema de continuidade: seria a continuidade daquilo Que nã muda, a continuidade do que resiste às transformações. Mas· o problema epistemológico qu estamos a tratar já não reside aí. Com efeito, «as dificuldades da alqui mia» representam, em comparação com as dificufldades do materialismo moderno, um puro anacronismo. Entre as dificuldades de outrora e as dificuldades do presente, existe um total descontinuidade.
d)
As
armadilhas
da
linguagem
Finalmente, para terminar este esboço de um polé mica periférica contra os partidários da continuidade da cultura científica, sublinharemos o facto de que a lin guagem pode se tão -falaciosa na ciências físicas como o é nas ciências psicológicas para espíritos despreveni dos, para espíritos que não estão atentos própria evo lução da linguagem da ciência. A nomenclatura química não pode ser definitiva como a tabela das-declinações de um língua morta. ~ . c o n s t a n t e m e n t e rectificada, cpmple tada, diversificada. A linguagem da ciência está em es tado de revolução semântica permanente. Po vezes, o epistemólogo continuísta engana-se, quando julga a ciência contemporânea a partir de um espécie de continuidade das imagens e das palavras. Quando foi necessário imaginar o inimaginável domínio do núcleo atómico, propuseram-se imagens e fórmulas verbais relacionadas exclusivamente co a ciência teó rica. Não se devem, naturalm ente, tomar estas fórmulas letra e atribuir-lhes um sentido directo. Uma constante transposição da linguagem quebra, assim, a continuidade do pensamento comum e do pensamento científico. ne cessário repor constantemente as ex,pressões novas na perspectiva das teorias qu as imagens e as fórmulas resumem. o caso, po exemplo, da imagem apresentada por Niels Bohr para condensar certas leis do núcleo atómico sob o nome de «gota de água». Esta imagem «ajuda admi ravelmente (afirmam -PoHard e Davidson-Iloc. cit., lp. 194) a compreender o como e o porquê da fissão». A coberto da imagem da «gota» onde se aglomeram os núcleos, poder-se-á diz-er que a incorporação de um neutrão suple mentar aumenta a energia interna do núcleo, po outras palavras, a «temperatura» do-núcleo. Na sequência deste aumento de «temperatura», um emissão de um corpús culo poderá produzir-se de acordo co um processo a que chamaremos um «evaporação». Mas as palavras gota, temperatura e evaporacão evapora cão devem naturalmente ser postas entre aspas. Para os fískos nucleares, estas pala vras estão, de certo modo, tacitamente redefinidas. Re presentam conceitos qu são totalmente diferentes dos conceitos da física clássica, forttori, muito diferentes dos conceitos do conhecimento comum. Provocaria um gargalhada geral quem perguntasse se a física nuclear fa-
brica um termómetro para medir «a temperatura» de . um núcleo I Não existe, pois, qualquer ct;ntmutdad! entre a noção da temperatura do laboratóno e. n ? ~ a o n da ? ~ a «tem1?e o ratura» de um núcleo. A linguagem cIentlinca é, ~ o r prm dpio, um neoldnguagem. ~ ~ r a s e r m o ~ ~ t ~ n d I d o s no mundo científico, necessano falar C I e n t I f I C ~ m e n t e e n t e
linguagem científica, traduzindo os termos da lmguagem
comum em linguagem científica. Se c o ~ c e n t r á c ~ o s ~ e c m e o n s t ~ r s á e m o s
nossa atenção nesta actividade de traduçao, mUltas vezes encoberta, aperceber-nos-íamos de que existe, na lingua gem da ciência, um grande número de termos entre pas. Poder-se-iam c o ~ p a r a r estas aspas c o ~ c oos~ paren teses dos fenomenologIstas. As aspas revelanam um das atitudes específicas da consciência científica. Sã soli dàrias de um declaração de consciência de método. termo entre aspas eleva o tom, que passa, para além da linguagem comum, a to científico. Sempre que um palavra da antiga l i n g u ~ g e m ~ l '1?o.sta, i n g u ~ g e pelo m ~ pensamento cientifico. entre aspas, ISSO slgnilfIca um mudança de método de conhecimento relativamente a um novo do mínio da experiência. Pode dizer-se que, do ponto de vista do epistemólogo, é o sinal de um ruptura. de um descontinuidade de sentido, de uma reforma do saber. conceito de «temperatura» do núcleo atómico tota liza mesmo duas reformas. Avaliza, antes de mais, nu novo domínio. a noção cinética de temperatura, ta co:n foi introduzida na ciência pela termodinâmica clássIca, seguida este conceito <;ientífico. para_ um transpõe esfera de aplIcação em Que o conceIto cláSSICO !1ao se aplioa forma habitual. Vemos estruturarem-se dwersos níveis do conceptualismo da ciência: a «temperatura» do núcleo um espécie de conceito de conceito, um conceito que não é um conceito de p r i m e i r ~ a b s t ~ c ç ~ ~ . Utiliza-se porque está perfeitamente esclarecIda a sIgmfI cação racional clássica do conceito de temperatura, o qual, po sua vez, foi já desligado, pela física c . l á ~ s i c a , das suas significacões sensíveis imediatas. (Matérialtsme, Condusion, pp. 209-217.)
QUE
1.
UM
StNTESE
HISTÓRICA?
Uma «síntese transformanfie»
86. A mecânica ondulatória surge-nos co um das sínteses científicas mais amplas de todos os tempos. E é, um síntese cultural de facto, um síntese histórica. qu implica a reunião de vários séculos de rultura. Como assinala Louis de Broglie 1: «Muitas ideias cientírfi'cas de ,hoje seriam diferentes se os caminhos seguidos lPelo eSipírito humano para as atingir tivessem 'sildo outros.» Em si mesma, esta observação c(jloca todo problema da obiectividade cientíHJca, um vez qu situa essa objecti vidade na confluência de uma história humana de um esforço de aotuaHdade essencial a toda in!Vestilgação científioa. Trata-se, pois, de um questão que o filósofo deve considerar: que nível do pensamento científico se faz a integração da história dos ,pensamentos na actividade científica? Será exacto qu a actividade científica, que se pretende obiectiva, possa tomar como um regra constante partir de l,lma tdbua rasa? Em todo o caso, para nos limitarmos mecânica ondulatória. é difícil i m a ~ i n a r um pedagogia directa, um pedagogia baseada em experiências imediatas. Toda a pedagogia de um ta doutrina é necessariamente um exercício de transforma ção do conhecimento. Neste caso, o espírito só pode ins truir-se transformando-se. Para compreender o sentido da mecânica ondulatória, para equacionar problema
Louis de Broglie,
Physique et microphysique,
p. 9.
em toda su amplitude e apreciar os valores de reorga nizaçãO' racional da experiência que estão impHcados nest,a nova doutrina, cDnveniente percorrer um longo preâmbulo históricO'. Mas atenção a um paradoxo: cometeríamos um grave erro se acreditássemDs que essa síntese ,histórica foi his toricamente preparada, se afirmássemDs, segundo a ex pressão habitual dos historiadores que pretendem da CDrpD história, qu essa descDberta «estava no )!T.» Na realidade, a óptica física de Fresnel suplantará inteira mente a óptica física de Newton quando Louis de Broglie propôs um ciência nUVla, aO' as-sOCÍar certas hipóteses newtonranas a certas hipóteses fresnellianas para estudar o CDmportamento de partíou.}.as qu nã dependiam ne da ciência de Fresnel, nem da ciência de Newton. Nada prova, melhor do que istO', que a síntese científica é um síntese transfDrman:te. Antes desta associação, antes desta ,síntese, .lá Einstein vira, se dúvida, a necessidade de definir um quantum de irradiacão, que em breve se cha maria fotãu, para explicar os fenómenos fotoeléctricos. (. ..) Mas a sínt ese da hipóteses ICDrpusculares e das hipóteses Dndulatórias não er encarada na su generali dade. Nenhuma razão histórica incitava a ciência pare via de semelhante síntese. Só um espécie de aspiração estética das hiTJÓteses podia abrir dupla perspectiva de 'penrsamen'tos Que caracteriza a mecânica fundada po LDUis de Broglie. Foi o factO' de se aplicarem temas Dndu latórios, não só a '1l\.lZ como também à matéria, qu des locou o prDblema e alatt'gDu O' debate. (Activité, capo I, pp 21-23.)
2. «Ciências
se
antepassodros»
.87. Em ·suma, as mecânicas contemporâneas, a me câmca relativista, a mecânica quântica, a mecânica ondu latória, sãO' ciências sem antepassados. Os nossos bisne tDS desinteressar-se-ão, se dúvida, da ciência dos nOSSDS bisavós. Não verãO' nela mais do que um museu de pen samentos inactivos ou, pelO' menDS, de pensamentos que só ,poderãO' servir como pretextO' de um reforma dO' e ~ s i n o . Já :;t bomba atómica, se me permitem a expres sa0', ,pulvenzDu um ~ a n d e ~ sectDr a n d e da história das ciên cias, pDrque, no espírito dO' físko nuclear, nada 'resta das nDções fundamentads dO' atDmismD tradicional. precisO' pensar nú'C'leo dO' átomo numa dinâmica da eneI1gia
nuclear e nãO' numa 'geDmetria da disPDSiçãD dDS seus constituintes. Semelhante ciência nãO' encDntra análogo nO' -passadO'. Dá-nos um exemplO' particularmente clarO' da ruptura histórica na eVDluçãD das oiências mDdernas. E, nãO' Dbstante, apesar dO' seucarácter revDluciD eVDluçãD náriD, llipesar dO' seu carácter de ruptura co da mecânica histórica regular, um doutrina CDmD oodu}.atória é um síntese histórica, porque a história, tendo-se detidO' pDr duas vezes em sistemas de pensa mentDs perfeitamente elabDradDs: DS iPensamentDs new DS pensamentDs fresnellianDs, tDma um nDVD ~ o n i a n D s rumO' e tende para um nDva estética dDS pens'amentDs científicDs. O pontO' de vista mDdernD determina assim um perspectiva nDva sDbre a história das ciências, perspec tiva que cDloca O' prDblema da eficácia actual dessa his tória das oiências na cultura científica. Trata-se, CDm efeitO', de mDstrar a acçãD de um história julgada, um história que tem obrigaçãO' de distinguir O' erro e a ver dade, o inerte e o activo, o iPrejudicial e O' fecundO'. De uma maneira geral, nã se poderá alÍdrmar que um his tória compreendida já nãO' história pura? NO domínio da história das ciências, é necessáriO', além de compreen der, saber analisar, saber julgar. Aplica-se aqui, mais do que em qualquer Dutro casO', a opinião de Nietzsche: «Só se deve , i n t e ~ p r e t a r O' -passado luz da maior força do presente» 1. história dDS impérios e dos povos te po ideal, a justo título, o relato Dbjectivo dos factos; historiador nãO' julgue e, se O' historiadDr exige que impõe DS valores do se tempo determinação dos valo res dos tempos passadDs, é acusadO', e co razão, de seguir O' «mitO' ,dO' prDgresso». Mas eis um diferença evidente: para o pensamentO' cientificO', o progresso demonstra-se, é demonsm-ável, a mesmO' um elementO' pedagógico in su demDnstração dispensável para o desenvolvimento da cultura científica. Por outras palavras, O' progresso é a própria dinâmica da cultura científica, e é essa dinâmioa que história das ciênJci'as deve descrever. Deve descrever julgando-a, valo rizando-a, eliminando toda a possibilidade de um re história das ciências só gresso a noções insistir nos erros do .passado a título de elemento de comparação. Reencontramos, assim, a dialéctica dos obsvénients
Nietzsche, Considérations inactuelles. De l'utilité et des incon des études historiques, trad., Albert, p. 193.
táculos epistemológicos
dos actos episMmológicos.
Ti
vemos oportunidade, numa obra anterior \ de estudar longamente o conceito de obstáculos epistemológicos. A noção de actos epistemológicos, que opomos hoje no ção de obstáoulos epistemológicos, corresponde aos ím petos do génio cientifico qu provocam impu1sos inespe rados no curso do desenvolvimento científ.ico. ExJ.ste, assim, um negativo um positivo na história do pensa mento cientifico. E, aqui, o negativo e o positivo sepa ram-se de um forma tão radical que o sábio qu to masse partido pelo negativo e x p u l s a r ~ s e - i a si próprio do mundo científico. Quem se limitasse a viver na coerência do sistema de Ptolomeu não passaria de um historiador. E, do ponto de vista da ciência moderna, o qu negativo depende de uma psicanálise do conhecimento; é ne cessádo pôr-lhe um travão, se tentar renascer. Pelo con trá,rio, aquilo que, do passado, permanece positivo, con tinua ainda agir no pens,amento moderno. A herança positiva do passado constitui um espécie de passado actual, cuja acção no pensamento científko dos nossos dias é manifesta. Deve-se, pois, compreender a im.portância de um dialéctica histórica própria do pensamento científico. científico. Em resumo, é necessário constantemente formar reformar a dialéctica da histór,ia ultrapassada da história san cionada pela ciência actualmente activa. A história da obsoleta porque se baseia nu erro teoria do flogisto fundamental, numa contradição da química ponderaI. Um racionalista nã pode i n t e r e s s a r ~ s e po el se um certa conSICÍênlCia. Um epistemólogo só pode inte ressar-se or el para encontrar motivos de psicanálise do conhecimento objectivo. Um historbador das ciências qu nela se detenha deve est
critos
na qualidade de elementos da história sancionada. Há um interesse constante em conhecê-los teoricamente, em esclarecê-los epistemologicamente, em seguir a su incor,poração nu corpo de conceitos racionalizados. A filosofia da história, a filosofia epistemológica, a filosofia racionalista podem descobrir neles um motivo de análise espectral, na qual se distr,ibuem as variantes de um
polifilosofia. Talvez se sorriam do d'Ogmatismo de um fHósofo racionalista que escreve um «para sempre» a propósito de um verdade escolar. Mas existem conceitos tã indi,s pensáveis numa cultura cient:Í!fica qu ,inconcebível qu se possa ser levad'O a abandoná-los. Deixam de se con tingentes, ocasionais, c'Onvencionais. Se dúvida, forma ram-se numa atmosf'era histórica obscura. Mas torna 'ram-se tão ,precisos, tã daramente funcionais que já nã podem recear um dúvida instruída. Estarão expostos, quando muito, a esse cepticismo geral de que a ciência alv'O, a eSse cepticismo sempre pronto a ironizar sobre caráoter abstracto da noções científicas. Mas essa ironia fácil não perturba a tese racionalista que faz de pender uma cultura de conceitos indestrutíveis, tese qu atirma «para sempre» um valor epistemológko preciso. A razão possui alguns temas de fidelidade. Distingue muito bem as noções que comprometem futuro do de futuro para pensamento e as noções que são a cultura. A filosofia da continuidade das noções valori zadas defr'Onta, assim, um problema de ligação histór;ica, ligação pela qual o racional domina progressivamente o contingente. Vê-s'e, então, a necessidade educativa de formular um história recorrente, um história que se esclarece pela finalidade do presente, um histór-Ía que parte da certezas do presente e descobre, no passado, as forma ções progressivas da verdade. assim que 'O pensamento científico se fortalece na descrição dos seus progressos. Esta história recorrente aparece, nos livros de ciência actuais, sob a forma de preâmbulo histórico. Mas ge ralmente muito curta. Esquece muitos intermediários. suficientemente formação ,pedagógica dos Nã prepara suficientemente diferentes limiares diferenciais da oultura. evidente que esta história recorrente, esta história julgada, esta história valorizada não pode ne quer res tabelecer mentalidades pré-dentíficas. feita mais para ajudar tomar consdênJcia da força de certas barreiras que o passado do pensamento científico f'Ormou contra
irracionalismo. Jean-Baptiste Biot, nu Essai sur l'histoire des scienoes pemdant la Révolutioti française, escrç via, em 1803 (p. 6): «A EnciiClopédira er um barreira que impedia para sempre o espírito humano de retro gredir.» Existe aqui um espécie de Declaração dos di reitos do homem racionalis·ta, que teremos oportunidade de ilustrar se considerarmos a história das ciências como um progresso da su racionalidade. A história das ciên cias surgirá, então, como a mais irreversível de todas as h1stórias. Ao descobrir o verdadeiro, o homem de oiência obstrui um irracional. Sem dúvida, o irracio nalismo pode brotar de outro lado qualquer. Mas tem, doravante, cer a história ta vias interditas. A história da ciências derrotas do irracionalismo. (Activité, cap. I, pp. da
ACTUALIDADE DA HISTORIA DAS CI:E.NCIAS
25-27.)
88. Se o historiador de uma dada ciência deve ser um juiz dos valores de verdade relativos a essa ciência, su profissão? A resposta onde deverá ele aprender não admite dúvidas: o hi storia dor das ciências, ciências, para bem julgar o ,passado, deve conhecer o presente; deve apren de melhor possível a ciência cuja história se propõe escrever. E aqui que a história das ciências, quer se queira quer não, te a actuaH um forte ligação co dade da ciência. Na própria medida em que o historiador das ciên cias estiver instruído sobre a modernidade da ciência, descobrirá cambiantes cada vez mais numerosos, cada vez mais subtis, na historicidade da ciência. A consciên cia de modernidade e a consciência de historicidade são
. aqui rigorosamente proporcionais. partir das verdades que a ciência actual tornou mais claras e melhor coordenadas, o passado de verdade surge mais claramente progressivo na Iprópria qualidade de passado. Parece que um história clara das ciências não pode ser inteiramente contemporânea contemporânea do se desen rolar. Seguiremos mais facilmente o drama das grandes descobertas, o seu desenrolar na história, se tivermos assistido ao V acto. Po vezes, um luz súbita exalta o valor do passado. indubitavelmente, o conhecimento do passado que ilu marcha da ciência. Mas poder-se-ia dizer, em cer mina tas circunstâncias, que o Ipresente que .ilumina o pas sado. Presenciámo-Io ,bem quando, a dois séculos de dis tância, BrianlChon apresentou o seu teorema formando 14
209
dualidade co o famoso hexagrama místico de Pascal. Tudo o que er ~ p i s t e m o ~ l p o i g s i t c e a m m o e l n o t g e i c misterioso no hexa a m e real grama mistico de Pascal surge so u ~ a nova luz. mistério trazido luz do dIa. Parece que, na mente dualidade Pascal-Briancho Pascal-Brianchon, n, o espantoso teorema de Pas cal redobra de valor. Naturalmente, esta luz !recorrente, qu actua de uma fonna tão clara no harmonioso d e s ~ n v o l v i ~ e ~ t o d e s ~ pen n v o l v samento matemático, pode se mwto maIS IndecIsa na fixação dos valores histó,ri.cos r e l a t i v ~ m ~ n t e outros ra mo da ciência, como a fIsIca ou a qUImIca. Ao pretender tornar demasiado activos certos pensamentos do pas sado, podemos cometer v e r d a d e i r a ~ racionalizações, ra cionalizações qu atribuem um sentIdo permatura o des cobertas passadas. Léon Brunsc:hvicg c;>'bservou-o sl1:g az mente ao criticar um texto de HoulleVlgne. HoullevIgne escrevia, após te recordado várias experiências feitas em 1659 para dissolver o ouro: «A estes métodos pura mente químicos, Langelot, .em 1672, opunh!processo físico qu consistia em tnturar AO ouro d I V I ~ I d o fo «moinho fl!losó lhas mU'Ílto finas, durante um mes, nu fico», provavelmente um a 1 m o f ~ r i z cujo pilão er a ~ i o nado po um manivela. Ao fIm desse tempo, o ~ t m h a sus:pensao na um ,pó extremamente fino que, posto água, aí se mantinha formando um 'líqUIdo mwto verme 'lho; este Hquido obtildo obtildo !por Langelot ... - c o n h e c ~ m o - I o é ouro coloidal. E foi a s s i ~ que, p e 1 1 S e ~ n d o hoje su quimera, os alquimistas d ~ s c o b n r a m os .metaIs colm dais, cujas espantosas propnedades BredIg, 250 anos mais tarde haveria de demonstrar.» Mas Léon Brunschviag, co seu habitual sentido da subtilezas, suspende, em breves palavras, esta « r a ~ i o nalização»: «Só qu (afir.ma ele) a su descobert;a eXls!e para nós, mas não existia para eles .. Com efeIto, na podemos afirmar qu sabemos um COIsa quando a faze mos não sabendo qu a fazemos. Sócrates professava já qu saber se capaz e ensmar» A 'advertência de Brunschvicg deveria ficar inscrita na categoria da máximas directivas da história d a ~ ciên cias. necessário um verdadeiro tacto para m a n e ~ a r as recorrências possíveis. Mas continua se necessáno d:u plicar história do desenrolar dos factos co tória do desenrolar do valores. E nã se podem apreciar devidamente os valores se nã se conhecerem os valores
Léon Brunschvicg,
La
connaissance de soi, p. 68.
i ~ e ~ t o
dominantes, os valores que, no pensamento científico, se activam na modernidade. A posição filosófica que assumo aqui é, certamente, nã apenas difícil e perigosa. Contém em si um elemento qu arruina: esse elemento ruinoso é o carácter efémero da modernidade da ciência. De acordo co o ideal de tensão modernista que proponho para história da c ~ ê n das, essa história terá frequentemente de se refeIta, reconsiderada. Na realidade, é precisamente isso qu se passa. E é a obrigação de esclarecer a histoHcidade da ciências pela modernidade da ciência qu faz da história das oiências um doutrina sempre jovem, um das dou trinas mais vivas e mais educativas. . Mas não queria dar-vos a impressão de que me iímito a desenvolver aqui um filosofia abstracta da história das ciências, se ,recorrer a exemplos históricos concre tos. Vou tomar um exemplo muito simples qu me ser virá para dois fins: 1.0 Mostrar-vos-á qu carácter de história julgada esteve sempre activo, ou menos na his tória das ciências; 2.° Mostrar-vos-á qu esta assimilação do passado da ciência pela modernidade da ciência pode ser ruinosa quando esta nã conquistou ainda essa hierarquia dos valores qu caracteniza, em particular, a ciência dos sé culos XI
xx.
O exemplo que vou estudar é-me fornecido po um explicação qu físico suíço Jean Ingen-Housz, q? ho escrevia no final do séc. XVIII, pretende dar daspropnedades da pólvora. Vai tentar fazer compreender os efei to da pólvora servindo-se das novas concepções da quí mica lavoisiana, ao nível, portanto, da modernidade da ciência do seu tempo. Jean Ingen-Housz exprime-se deste modo 1: '«A pólvora um ingredJente tanto mais mar-avilhoso os conhecimentos qu temos hoje das dife quanto, se rentes espécies de fluidos aéreos, sobretudo do ar se flogisto (entenda-se o oxigénio) e do inflamável (en tenda-se o hidrogénio), parece impossível qu se tenha podido imaginar su composição a priori, isto é, qu se tenha podido adivinhar mais cedo qu estas três subs tâncias (enxofre, carvão, salitre, ou mesmo as duas últi mas, pois primeira, o enxofre, nã absolutamente Jean Ingen·Housz, Nouvelles expériences et observations sur divers objects de physique, Paris, 1785, p. 352.
necessária) misturadas, podiam produzir um efeito tã espantoso.» Ingen-Housz explica longa mente como que, Jean Ingen-Housz em suma, não se deveria te podido inventar a pólvora. Pretende assim tornar compreensível, na actualidade da ciência do se tempo, aquilo que não podia se com ,preendido no momento em que história fixa a desco berta. Mas acontece qu a ciência do tempo de Ingen -Housz nã permite ainda a explicação recorrente qu faz salientar os valores, e as e ~ p l i c a ç õ e s de Ingen-Housz sã um bo exemplo desses textos confusos, tã caracte rísticos da verdade em vias de constituição, ma ainda pré-cientíiiJC íiiJCas. as. muito embaraçados po noç ões pré-cient Façamos um breve resumo desta modernização pre matura. El é, do nosso ponto de vista, um exemplo da história das ciências incoactiva, da história da ciências que tenta constituir-se. «O salitre (afirma Ingen-Housz), composto de potassa e de ácido «chamado nitroso», não contém nenhum prin cípio ígneo, a p o t a s s a , « ~ o n g e p o de extin t a s se s a , combustível, « ~ o n g e gue o fogo» e priva mesmo da sua inflamabilidade os corpos combustíveis «que impregna». Da mesma forma, «o ácido nitroso, po muito concentrado qu seja, nã pode se inflamado, e «extingue tanto o fogo como água». união destas duas substâncias nã ígneas no salitre não cria, para Ingen-Housz, o principio de ignição. «Pode-se mesmo mergulhar um ferro em brasa numa massa de lS'alitre fundido ao rubro 'sem qu este se inflame» 1. «O carvão, que é o segundo ingrediente necessário ao fabrico da pólrvora (continua Ingen-Housz), também não apresenta nada que nos possa fazer suspeitar de qu haja o mínimo perigo na su manipulação. Infla ma-se -e fica reduzido a cinzas se o mais pequeno estré pito ou movimento.» Logo, conclusão de Ingen-Housz, um vez que os princípio c o n ~ t i ~ u ~ n t e s não possuem em si mesmos ne de 'lgmçao ne força de explosão, é natural qu a pól vora não possa ne .inflamar-se ne explodir. O velho inventor, no dizer de Ingen-Housz, não podia compreen de su invenção a ,partir do conhecimento comum da substâncias qu combinava. Loc.
cit., p. 354.
Vejamos agora como Ingen-Housz em a c ç ~ o tenta ao vdho conhecimento histórico um actualIdade ao nível da ciência do seu próprio tempo. Considera, co razão, qu o salitre é um fonte de ar sem flogisto (oxigénio).Pensa, erroneamente, qu cél!I'Vão um fonte de ,gás inf1.amável (hidrogénio). Sabe que a combinação de dois «ares» se inflama «c?m ut;ta extrema violência ao contacto com o fogo». Cre, entao, estar na .posse de todos os e l e m e ~ t o s p , a ~ a c ~ m p r ~ e n d e : r o fenómeno da explosão. ActualIza a illlstóna reImagI nando, assim, um descOlberta, qu considera racionail, da pólvora. «Parece-me !provável (diz ele) qu estas novas descobertas (do oxigénio e do hddrogénio) hddrogénio),, feita s sem ha ve mínima intenção de as adaptar natureza da pól vora, em breve nos levariam descoberta deste com tivesse já sido descoberto po posto terrível, se nã acidente.» . Vemos actuar, neste simples exemplo, um neceSSIdade de ,refazer a história da ciências, um esforço para compreender modernizando. Neste caso, o esforço é in feliz e nã lDoderiam deixar de ser numa época em au conceitos, 'Para se oompreender os e X ' O l o s i v o ~ . nã!> tinham ainda sido formulados. Mas este esforco mfelIz inscreve-se, também ele, na história, e há, serundo cre mos, um certo interesse em seguir a história da história das ciências, em vias de reflectir sobre si mesma, esta história sempre reflectida, sempre recomeçada. Para exprimir todo me pensamento, creio que !história da ciências nã :poderia ser uma história empí rica. Não poderia se descrita na dispersão dos factos, dado que é essencialmente, nas suas formas elevadas, a história do progresso das ligações racionais do saber. 'Ciências para além do elo de causa-efeI história da s 'Ciências to esta estabe bele lece ce-s -s um el de mzão-consequência. El está !pOis de certa maneira, dU'Plamente relacionada. abrir lCada vez mais às organizações racionais. T e ~ Ide Quanto mais nos queixarmos do nosso século, mais sen timos que os valores racionais conduzem a ciência. E, se considerarmos algumas das modernas descobertas, ve mo que, no espaço de alguns lustr,es, elas passam da fase empírica à organização racional. é assim Que, de um forma acelerada, a história recente reproduz racionalidade que o ;processo de pro mesmo acesso gresso qu se desenvolve devagar na história mais an tiga. (Conférence au Palais de la Déoouverte, 1951.) da
lNDICE DOS PRINCIPAIS NOMES CITADOS (Os números indicados referem-se aos números dos textos)
ARQUIMEDES
(aprox. 287 a. C. 212 a. C.) matemático, físico e engenheiro grego, 74.
BALDWIN (James)
(1861-1934) 53. (1728-1804) (1852-1908) (1859.1941) (1813-1878) 48. (1774-1862)
(Antoine) BECQUEREL (Henri) BERGSON (Henri) ,BERNARD (Claude) BAUM:e
BIOT (Jean-Baptiste) BLACK (Joseph) BOERHAA VE (Herman) BOHR (Niels) BOREL (Emile) BOUGUER (pierre) BOULIGAND (Georges) BOUTROUX (:emite) BROGLIE (Louis, príncipe BRUNSCHVICG (Léon) CAMPBELL (William) CANTON (John) CA VENDISH
(Henry)
psicólogo americano, químico francês, 29. físico francês, 55. fil6sofo francês, 73. fisiologism francês,
físico, químico e asfrancês, 87. (1728-1799) químico escocês, 87. (1668-1738) médico, botânico químico holandês, 83. (1885-1962) físico dinamarquês, t1'6nomo
85. (1871-1956) matemático francês, 2. (1698-1758) matemático, astr6no mo e hidr6grafo, 62. (nascido em 1889) matemático' francês, 41, 56, 60. (1845-1921) filósofo francês, 28, 30. (1892) físico francês, 86. (1869-1944) fil6sofo francês, lO, 88. (1862-1938) astr6nomo americano, 11.
(1718-1772) astr6nomo e físico in
glês, 15.
(1731-1810) físico e químico in
glês,
41.
CLAIRAUT (Alexis) COMPTON (Arthur) COULOMB (Charles) CUVIER (Georges) DELAMBRE (Jean-Baptiste) DEMóCRITO DESCARTES (René) DIDEROT (Denis) EDISON (Thomas) ARADY (Michael) FIZEAU (Htppolyte) FOUCAULT (Léon) FRANKLIN (Benjamin)
(1713-1773)
62.
matemático francês,
(1892_1962) físico amerioano,13. (1736-1806) mecânico e físico f,rancês, 15. (1769-1832) zoólogo e paleontó logo {,rancês, 21.
astrónomo e enge nheiro geodésico francês, 62. (aprox. 460 -a. C. apro aprox. x. 37 a. C.) filósofo grego, 20. (1596-1650) filósofo, matemático e físico francês, 45, 82. (1713-1784) filósofo e escritor francês, 68. (1749-1822)
(1847-1931) 18. (1791-1867)
glês, 36.
inventor americano, físico e químico in
FRESNEL (Augustin)
físico ft'l8ncês, 55, 62. físico francês, 7. físico, filósofo e esta dista americano, 81. (1788_1827) físico francês, 86.
GOETHE (Johann Wolfgang)
(1749-1832)
HEGEL (G. W.
F.)
HEISENBERG (Werner) HUME (David) HUYGENS (Christian) JANET (Pierre) JOULE (James Prescott) KEPLER (Johann) LAcePtDE
LA
(Bernard, conde de)
CONDAMINE (Carles-Marie de)
(1819-1896) (1819-1868) (1706-1790)
escritor e estadista alemão, 58. 67, 75.
(1770-1831) 37, 41.
filósofo alemão, 15,
(1901-1976) fímco alemão, 20, 69. (1711-1776) filósofo inglês, 21. (1629-1695) matemático, 88tr6no mo e físico holandês, 13. (1859-1947) médico e psicólogo francês, 24. (1818-1889) físico e industrial in glês, 18, 64. (1571-1630)
astrónomo alemão, 24
(1756-1825) 78. (1701-1774)
noaturalista francês,
maremático e enge nheiro geodésico francês, 62. LAPLACE (Pierre-Simon, marquês de) (1749-1827) matemático, físico e astrónomo francês, 68. LAVOISIER (Antoine-Laurent de) (1743-1794) químico e fisiologista francês, 33. LEIBNIZ (Gottfried Wilhelm) (1646-1716) filósofo e matemá alemão, 45. LeMERY (Nicolas) (1645_1715) médico e químico f.rancês, 81. LIEBIG (Justus, barão de) (1803-1873) químico alemão, 40. LOBATCHEVSKY (Nicolas) (1792-1856) matemático russo, 10.
MACH (Ernest) MARAT (Jean-Paul) (Jean-Pa ul) MARIOTTE (Abade Edme) MARX (Karl) MAUPERTUlS (Pierre-Louis de)
(1838-1916)
físico e filósofo aus
(1743-1793)
médico e político
(1620-1684) (1818-1883) alemão, 65. (1698-1759)
físico francês, 81. filósofo e sociólogo
tríaco, 8.
francês, 81.
MEYER (Lothard) MEYERSON (emile)
matemático, natura lista e filósofo francês, 62. (1834-1907) químico russo, 31, 33, 34, 35, 36. (1830-1895) químico alemão, 36. (1859-1933) filósofo francês, 20,
MILLIKAN (Robert Andrews)
(1868-1953)
MENDeLeEFF (Dimitri)
NEWTON (Isaac) NIETZSCHE (Friedrich)
22,34.
físico americano,63.
(1643-1727) matemático, físico e astrónomo inglês, 13, 86. (1844-1900) filósofo alemão, 67,
87.
OSTWALD OSTWALD (Wilhelm)
(1853-1932) físico, químico e filó sofo alemão, 26.
PAULI (Wolfgang) PAULING (Linus) AERSON (Karl)
(1900-) físico suíço, 34. (1901-) químico americano, 85. (1857-1936) ooólogo e estatístico
PERRIN (Jean) POINCARe (Henri) PONCELET (Jean-Victor) PRIESTLEY (Joseph) PTOLOMEU (Cláudio) RAMAN RAYLEIGH (John William) ReAUMUR (René-Antoine de)
inglês, 23.
(1870-1942) (1854-1912) francês, 7. (1788-1867) francês, 75. (1733-1804)
físico francês, 34. matemático e filósofo general e matemático químico, físico e teó
logo inglês, 13, 24. (séc. 11) astrónomo, maremático e
geóg,rafo grego, 87,
ROBINSON (Sir Robert)
físico indiano, 13, 25. físico inglês, 24. físico, químico e na turalista francês, 81. (1810-1878) físico e químico fran cês, 55. (1886-1975) químico inglês, 38.
SCHEELE
(1742-1786)
químico sueco, 83.
(1608-1647)
físico e matemático
REGNAULT (Victor)
(Coar!
Wilhelm)
TORRICELLI (Evangelista) VÀN HELMONT (Jean-Baptiste) VANINI (Lucilio)
(1888-1970) (1842-1919) (1683-1757)
i,taliano, 84.
(1577-1644) médico, naturalista e químico flamengo, 79. (1600-1675) cosmógrafo e mate mático holandês, 67.
VOLTAIRE (F'lIançois-Marie AROUET, conhecido por)
(1694-1778) escritor francês, 64.
WEYL (Hermann)
(1885-1955) matemático alemão, 20.
ZEEMAN (Pieter)
(1865-1943) físico holandês, 13, 27.
lNDICE TEMAT I r o (Os números indicados ,referem-se aos números dos textos)
Abstracto, 16, 18, 48, 49. Acção, I, 20, 22, 23. Alquimia, 28, 39, 76, 83, 85. Analogia, 29. Aplicação, 46, 61. Aproximação, 7. Axiomática, 19, 20, 47. Categoria, 6, 24, 38, 39. Causalidade, 21, 71, 72. Cepticismo, 28, 87. Choque (choquismo), 21, 22, 24. Coisa (coisismo), 20, 21, 22. Compreensão, Conceito, 10, 13, 16, 61. Concreto, 16, 18, 48, 49. Conhecimento (vulgar), 2, 3, 8, 18, 21, 22; (imediato), 3, 13, 18; (limitado?), 4; cf. Obstáculo. Contingência, 28. Convencionalismo, I, 49. Cultura, 59, 64, 67, 85-87. Dado, 2, 24, 29, 51, 53, 75. Determinismo, 68-72. Dialéctica, 8, 32, 36, 37, 47, 87. Dúvida, 57, 82. Elemen'to, 41. Empirismo, 1, 7, 13, 27, 36, 49, 56, 75. Energia (energético), 20, 23, 26, 45, 69. Erro, 52, 64, 87. Espaço, 9, 12, 20-22, 68. Especialização, 59, 67.
Estrutura, 23, 36, 47, 50. Evidência, 22. Existência (existencialismo), 3, 57. Experiência, I, 3, lO, 13, 27, 46, 49,75.
Explicação, 22. 84. Facto (científico), 1, 2. 7, 55, 85. Fen6meno, I, 13, 16, 20, 45. Fenomenologia (da existência científica), 3, 59, 67. Fenomenotécnica, 16, 17, 18, 20, 27, 40, 43, 46, 48, 61, 66. Ficção, Formalismo, 49. Geometria, 24, 26, 69. História, 34, 50, 64, 74, 85. Homogéneo (e heterogéneo), 39. Hip6tese, I, 19, 47, 86. Idealismo, I. 46, 49, 65. Identidade, 2. Imagem, 20, 21, 22. Imediato, i, 24, 29, 39, 41, 51, 53,86.
Instrumento (científico), 62-64. Intuição, 3-5, 10, 18, 22, 24, 25, 64,69,84.
Libido, 79, 80. Linguagem, 56. Matemática (e física), 18, 48. Matéria, 17, 20, 23, 24, 30, 39.
Medida. 1, 44, 62-64. Metafísica, 4, 6. Método, 1, 5, 11, 56-61. Modelo, 24. Movimento, 23, 24. Não, 6, 52. NatureZia, 3, 75, 77. Número, 32. Objectividade, 11, 12, 20, 28, 53, 54, 56, 57. Obs,táculo, 73, 74; (exemplos de obstáculo), 21, 22, 25, 27, 29 75-82. ' Opinião, 73; cf. senso comum. Pedagogia, 1, 16, 41, 74, 80, 85-87. P.luralismo (filosófico), 6; (racional), 37; (dos métod os), 59. Polémica, 6, 10. Positivismo, 2, 34, 49. Pragmatismo, 49, 59. Precisão, 1, 56, 62, 64. Problema (problemátic a), 4 55 57. Psicanálise, 17, 28, 53 73-84. ' Psicologia (do e s p í r i t ~ científico), 6, 17, 40, 46, 49, 67, 73-75. Pureza. 42-43. Racionalidade, 26, 28, 31. Racionalismo, 1, 6, 7, 17, 26, 46, 47, 56, 69, 87.
Racionalização, 88. Razão (devir da Razão) 1 4 5 72, 74; ( ~ o n s c i ê n c i a r a c i o n ~ l ) : 88: Real (reahsmo), 2, 6, 11, 12, 18, 20, 26, 34, 49. Recorrência , 7, 48, 67, 87 87 88. Rectificação, 56, 67. Ref.lexão, 2, 7. Relação, 1, 9, 20. Relatividade, 8. Ruptura, 2, 32; (exemplos de rup tura), 16, 20, 53. Senso comum, 8, 85. S í m ~ l o , 34, 38. Simplicidade, 10, 41. Sistemas (filos6ficos), 6. Sociedade (a ciência como socie dade), 40, 43, 47, 65, 66 75 85. Substância, 1, 18, 31, 36 38 39 76, 83. ' Tempo, 9, 10, 23. 72.
lNDICE
ADVERT1!NCIA L I S T A D A S OBRAS
Universo, 68, 69, 72. Valência, 37. VaIor, 7, 65, 66, 73, 77, 84, 88. Verdadeiro, 11, 73. Verificação, 10. Vida, 78.
EPISTEMOLÓGICAS DE BACHELARD PONTOS
I
DE
11
PARTIDA
A «novidade» das ciênciJas contempordneas
15
A)
«Mensagens
B)
Ruptura com o conhecimento comum
15 18
de um
mundo desconhecido desconhecido ... »
«preguiça» da filosofia
11
A)
Negligência
B)
Pretensões
1 1 1 - As
questões do epistemólogo
20 20 22 27
Secção
AS R:EGIOES DA ;EPISTEMOLOGIA
I
A noçào de região epi.'stemológica
33
Epist'emologiJa. da física
37
A)
A «provocação» relativista
3
uma objecção ... » «Esta novidade Desvalorização das «ideias iniciais» «A objectivação de um pensamento em busca do
real»
37 37 38 40 42
B)
História epistemológica do «electrismo. empirismo do séc. XVIII «Desrealização» do fen6meno eléctri'oo eléctri'oo ••• Formação do conceito de «capacidade e i é : : t r i d ~ ; A «fórmula» do condensador «Socialização. do do electrismo
.o
2 3 4 5 C)
O atomismo 1 A noção de de cotpúsoulo na física contemporânea 2 Derrota do «coisismo. 3 Derrota do «choquismo. 11
O conceito científico de matéria na física contemporânea
A física contemporânea é «materialista. .. 2 Ela não não é empidst 3 Ela não descreve, «produz» fenómenos .. l! uma ciência de «efeitos» IH
p i s t : e m o l o g ~
da química
43 43 46 48 50
.os obstáoulos ao «materialismo l'I8cionaI.
B)
1 2 3 O
Retrospecções intempestivas Analogias imediatas A categoria filosófica filosófica de matéria «materialismo racional»
..
PRINCIPAIS
A)
Princípios 1 A noção de «obstáculo «obstáculo epistemológico. epistemológico. 2 Alguns obstáoulos
B)
A noção de «racionalismo integraI. 1 Não é um racionalismo «de «de todos os tempos e de todos os paíse6» .. l! um racionalismo dIaléctioo
Contmu:idade
83
qu
115
B)
Racionalismo aplicado e filosofia
118 118
C)
1 Matemática e experimentação .o espectro filosófico .. Conceitos fundamentais do racionalismo aplicado 1 Uma epistemologi epistemologiaa histórica 2 A noção de objectividade
122 124 124 128
180 180 185
um
desocmtJinuiJ&ade?
193
sínteS'e hist6rica? ...
203
OU
1 Uma «síntese transf ormanre» 2 «Ciêncras «Ciêncras sem antepassados»: um «acto epistemológico.
94 97
113
..
HIST6RIA
83
113 113
165 165 170
..
Ilustrações históricas 1 «Extensão abusiva abusiva de uma imagem imagem familiar» 2 Químic'a e alquimi a do fogo
165
Secção III
81
EPISTEMOWGIA
racionalismo apli'C'aJllv
I-
A psica1'l'áfise do conhecimento objectivo ..
UI
actua1üMde da hist6ria
lNDICE DOS
DA
143 147 155
A)
75 75 79
Secção 11
CATEGORIAS
IH
67 67 69 72 73
107
143
Instrumentos e precisão 2 A «cidade cientí fica. .. As qw:stóes do determinismo
75
...
A)
1 Classifi cação dos elementos .. .. .o simbolismo químico 3 A «socializaç «socialização» ão» da química contemporânea .. 4 .o conceito científico científico de matéria na química contemporânea
AS
materialismo técnico ...
H
53
57 58 64 65
134 135 139
3 A noção de «problemát ica» 4 A noção de «método «método científ ico. 5 A noção de aplicação ..
lNDICE
PRINCIPAIS NOMES
TEMATICO'
daJs
ciências
CITADOS
203 204
209 215 219