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Conhecendo as Divindades Yorubá
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ÈSÙ PRIMEIRO DOS ÒRÌSÀ DO PANTEÃO YORÙBÁ. QUANDO ELÉDÙMARÈ / DEUS JUNTOU ILÉ / TERRA E OMI / ÁGUA E MODELOU O PRIMEIRO SER, SOPRANDO-LHE VIDA, NASCEU ÈSÙ YANGI. DAÍ UM DOS MOTIVOS PELO QUAL ESTE ÒRÌSÁ DEVE SER LOUVADO EM PRIMEIRO LUGAR EM TODOS OS CULTOS. É ELE O ELO DE LIGAÇÃO ENTRE O ÒRUN / ALÉM E O ÀIYÉ / MUNDO, ASSIM NADA NOS CHEGA, OU É LEVADO À ELÉDÙMARÈ , OU AOS OUTROS ÒRÌSÀ, SEM QUE TENHA A ATUAÇÃO DE ÈSÙ, O QUE TAMBÉM O FAZ DE GRANDE IMPORTÂNCIA, NÃO SÓ COMO PRIMOGÊNITO, MAS COMO O INTERMEDIÁRIO DIVINO. NOSSOS PEDIDOS À ELÉDÙMARÈ SÃO CONDUZIDOS POR ÈSÙ, E CASO ELE NÃO ESTE ESTEJA JA PLEN PLENO O EM SUA SATISFAÇÃO, SATISFAÇÃO, PODE PODERÁ RÁ COND CONDUZIR UZIR INDEV INDEVIDAMEN IDAMENTE TE NOSS NOSSAS AS SOLICITAÇÕES GERANDO DESENCONTROS DESENCONTROS NAQUILO QUE PRETENDEMOS DE DEUS. DEUS. EM ILÉ OLUJÍ ANUALMENT ANUA LMENTE E PRÓX PRÓXIMO IMO A FEVE FEVEREIRO REIRO SÃO REAL REALIZADOS IZADOS FESTI FESTIVAIS VAIS À ÈSÙ PARA MARC MARCAREM AREM O INÍCIO DO CULTIVO DA TERRA, AFIM DE PEDIR A ESTE ÒRÌSÀ BÊNÇÃOS AO CULTIVO ANUAL. É ASSIM TAMBÉM TAMBÉM QUE NO INÍCIO DE QUAL QUALQUER QUER CERIMONIA CERIMONIA SE “DESPACHA” “DESPACHA” A ÈSÙ. TEM O TERMO “DESP “DE SPAC ACHA HAR” R” O SE SENT NTID IDO O DE SO SOLIC LICITA ITAR R QU QUE E ÈS ÈSÙ Ù SE SEJA JA LI LIBE BERA RADO DO,, EN ENVI VIAD ADO, O, A LE LEVA VAR R OS PEDIDOS AOS ÒRÌSÀ QUE SERÃO CULTUADOS.
Um mito Yorùbá que um rei tinha três filhos: Ògún, Sòngó e Èsù. Este último não era um mau rapaz, mas era turbulento, brigão e lutador. Depois de sua morte sempre que os africanos faziam sacrifícios aos espíritos, ou celebravam uma festa religiosa, tudo dava errado, os deuses não atendiam os pedidos devidamente, rebanhos eram reduzidos, as colh co lhei eita tass se seca cava vam m e pr prod oduz uzia iam m po pouc ucos os fr frut utos os.. Qu Que e há de er erra rado do? ? Um Bà Bàbá bálá láwo wo consultou os obis e estes responderam r esponderam que Èsù estava com ciúmes, queria sua parte nos sacrifícios dos deuses. Como as calamidades não cessavam, cada vez piorando mais, o povo voltou a consultar o Bàbàlàwó, obtendo a seguinte resposta: Èsù quer ser servido em primeiro lugar. Mas quem é esse Èsù? Como? Vós não lembrais dele? Ah, aquele pretinho muito chato, que amola muito! Exatamente Portanto daí nunca mais nada foi feito sem que Èsù fosse servido em primeiro lugar, ante que qualquer dos seus irmãos ou ainda outro Òrìsà. PELA SUA RELAÇÃO DIRETA COM HOMEM, ÈSÙ ASSIMILA DELE MUITAS CARACTERÍSTICAS E FO FORM RMAS AS DE PE PENS NSAR AR,, IN INCL CLUS USIV IVE E AL ALGU GUMA MAS S RU RUIN INS, S, CO COM M MÁ ÍN ÍNDO DOLE LE,, O AG AGRA RADO DO PE PELA LA BARGANHA, OU O NÃO FAZER NADA SEM HAJA TROCA, NÃO ESQUECENDO-SE NUNCA DE COBRAR ALGO QUE LHE TENHA SIDO PROME PROMETIDO. TIDO. NÃO PODE PODEMOS MOS ESQU ESQUECER ECER QUE TODOS OS SERE SERES S 2
HUMANOS TEM EM SI A SEMENTE DO MAL. ESTE É O MOTIVO DE ÈSÙ SER TRATADO COMO O MAIS HUMANO DOS ÒRÌSÀ. ESTA É A INFLUÊNCIA QUE O LEVA A REALIZAR PRÁTICAS MALDOSAS EM CERTOS MOMENTOS DE SUA IRA. MAS ISSO NÃO O TONA DEUS DO MAL, OU MUITO MENOS O DIABO, COMO PRETENDEM CERTAS FACÇÕES RELIGIOSAS. Sua predileção por receber oferendas de sacrifício de animais – étù / galinha d’Angola, àkùkodìe / galos, e ako / bodes – somada a necessidade do homem de saber que seus pedidos estão sendo conduzidos ao Àiyé corretamente, faz com sempre lhe seja ofertado o que lhe é de mais predileto, isto fez com que lhe fosse dada, pelos católicos e seus descidentes, a interp int erpret retaç ação ão dia diabó bólic lica, a, tom tomand ando o fo form rmas as es espe pecíf cífica icas. s. CA CABE BE RE REAL ALÇA ÇAR R QU QUE E O NE NEGR GRO O ES ESCR CRAV AVO O PREVA PRE VALEC LECEU-S EU-SE E DES DESTE TE SIN SINCRE CRETISM TISMO, O, ADQ ADQUIR UIRIND INDO, O, PEL PELO O ME MEDO, DO, FOR FORÇAS ÇAS À SUA CUL CULTUR TURA A JUNTO AOS SEUS SENHORES, O QUE AJUDOU A ACENTUAR ESTA RELAÇÃO ‘ÈSÙ-DIABO’, QUE PERMITINDO UMA MAIOR LIBERDADE RELIGIOSA E UMA RESISTÊNCIA CULTURAL YORÙBÁ. ERA À ÈSÙ QUE OS NEGROS PEDIAM O MAL AOS QUE OS HAVIAM ESCRAVIZADO. PORTANTO O QUE ERA BOM PARA UNS ERA VISTO COMO MAU PELOS PADRES JESUÍTAS E SENHORES DE ENGENHO. MAS A CULTURA NÀGÓ NÀGÓ DESCONHECE DESCONHECE QUALQUER QUALQUER SER ENDEMONIAD ENDEMONIADO, O, OU MUITO MENOS TÊM EM SUA DOUTRINA RELIGIOSA ALGUÉM QUE POSSA ASSIMILAR-SE AS CARACTERÍSTICAS DE UM ANJO CAIDO. PARA O POVO YORÙBÀ, TUDO O QUE ELÉDÙMARÈ CRIOU É BOM PARA O PROGRESSO, OU ESTÁ RELACIONADO COM O BEM, PORTANTO SERIA ANTAGÔNICO A HIPÓTESE DE EXISTIR UM DEMÔNI DEM ÔNIO O NES NESTA TA CUL CULTUR TURA. A. ES ESTAS TAS INT INTERP ERPRET RETAÇÕ AÇÕES ES BRA BRASIL SILEIR EIRAS AS ER ERRÔN RÔNEAS EAS QUA QUANTO NTO A PERSONALIDADE – QUE POR VEZES É LEVIANA E AS VEZES DE UM RADICALISMO EXCESSIVO – É QUE FAZ DESTE ÒRÌSÀ ÒRÌSÀ UM SER TODO ESPECIAL ESPECIAL E POLÊMICO, POLÊMICO, PRINCIPALMEN PRINCIPALMENTE TE NA FORMA E MANEIRA DE SE LIDAR COM ELE. Em Cuba, Èsù é sincretizado com o Menino Jesus. HÁ DE SER RESPEITADO AQUELE QUE DESEMPENHA O PAPEL DE PODER AGIR LIVREMENTE EM TODOS OS NÍVEIS, NÍVE IS, PLANOS, PLANOS, ESPAÇOS E TEMPO, TEMPO, TANTO NO MUNDO DOS DEUSES DEUSES COMO NO MUNDO MUNDO DOS HOMENS. ELE É ÒJÍSÉ, O MENSAGEIRO. MAS NÃO PODEMOS NEGAR QUE ESTE MODO ERRADO, DE OLHAR ÈSÙ COMO SENDO DEMÔNI DEM ÔNIO O EX EXISTE ISTE,, E FOR FORMA MA PRE PRECON CONCEI CEITOS TOS EM DET DETERM ERMINA INADAS DAS CAS CASAS AS DE SA SANTO NTO QUE QUE,, AO DEPARAR, PELO JOGO DE BÚZIOS, COM UM FILHO DE ÈSÙ, TENTA INDUZI-LO, AFIRMANDO QUE ELE É FIL FILHO HO DE ÒG ÒGÚN ÚN OU AI AIND NDA A DE ÒS ÒSUN UN.. TR TRAT ATAM AM O OM OMO O ÈS ÈSÙ Ù CO COMO MO SE SEND NDO O UM UMA A PE PESS SSOA OA SOFREDORA, LIGADA AO MAL, OU QUE ESTÁ SENDO CASTIGADA POR SER FILHO DELE. TAIS AFIRMAÇÕES AFIRM AÇÕES SE FAZEM NOTA NOTAR R PELA PELAS S TERMI TERMINOLOG NOLOGIAS IAS UTILIZA UTILIZADAS DAS NEST NESTES ES TERRE TERREIROS. IROS. AFIRMAM AFIRM AM QUE UM ELÈG ELÈGÚN ÚN “POSS “POSSUI” UI” DETER DETERMINAD MINADO O ÒRÌSÀ ÒRÌSÀ,, ENQU ENQUANTO ANTO OS FILHOS DE ÈSÙ “CARREGAM” SEU SANTO. ENXERGAM EM ÈSÙ UM “ESCRAVO” DO SANTO. VEJA AI A CONTRADIÇÃO CLARA GERADA PELO DESCONHECIMENTO: AO ÒRÌSÀ DISCRIMINADO É DADA A FUNÇÃO DE ZELAR PELA PE LA SE SEGU GURA RANÇ NÇA A DA DAS S PO PORT RTAS AS DE EN ENTRA TRADA DA DO DOS S TE TERR RREI EIRO ROS. S. NÃ NÃO O É CO COIS ISA A DE DO DOID IDO O ENTREGAR A SEGURANÇA DE SUA CASA AO DIABO? SERÁ QUE O POVO YORÙBÁ, CONHECEDOR DE TODOS OS SEGREDOS DAS FORÇAS DA NATUREZA, É UM POVO TÃO BURRO? SUA ATUAÇÃO ESTÁ DIRETAMENTE RELACIONADA COM AS FINANÇAS, A SEXUALIDADE, O PODER DE FERTILIZAÇÃO E A FORÇA TRANSFORMADORA DAS COISAS. É O AGENTE QUE CRIA EXPECTATIVA AOS SEUS CULTUADORES, GERA FÉ. ELE É A AGILIDADE, A FORÇA RENOVADORA. É O ARQ RQUÉ UÉTI TIPO PO DA NÃO ÃO-S -SU UBM BMIS ISS SÃO ÃO,, DO PR PRO OTE TETO TOR, R, DA CO CORA RAGE GEM M, DA VALE LEN NTI TIA, A, DA AGRESSIVID AGRE SSIVIDADE, ADE, DA DA IMPULSIVID IMPULSIVIDADE, ADE, DA RESI RESISTÊNC STÊNCIA, IA, PRÓPRIOS PRÓPRIOS DE SEU DINAMIS DINAMISMO. MO. PORTANTO PORTANTO É A REBELDIA AOS PADRÕES E CONVENÇÕES DA SOCIEDADE, SEM LIMITES ÉTICOS E MORAIS. FAZENDO O PROIBIDO PASSAR A SER PERMITIDO. SUA PRESENÇA SEMPRE INCOMODA, POIS É CONTESTADOR DA DOMINAÇÃO, PORTANTO SENHOR DA LIBERDADE. CONCENTRA O PODER DA DEFESA E DA FIDELIDADE. SE POR UM LADO ÈSÙ TRANSMITE – LIGA – POR OUTRO TAMBÉM APRESENTA APRE SENTA O PODER INVERSO, INVERSO, CONF CONFUNDE UNDE E SEPA SEPARA. RA. COMO POSSIBILITA POSSIBILITA A CRIA CRIAÇÃO ÇÃO TAMBÉ TAMBÉM M PERMITE A DESTRUIÇÃO. CONHECEDOR DE SUA GRANDE IMPORTÂNCIA NESTES CAMPOS DA VIDA HUMANA, E DENTRO DO RITUAL, ELE EXIGE SER MANTIDO EM LOCAL ESPECIAL, SEPARADO E ISOLADO DOS LOCAIS DE LOUVORES À OUTROS ÒRÌSÀ, COMO TAMBÉM REQUER O MÁXIMO DE RESPEITO AO SE LIDAR COM SEUS FUNDAMENTOS. Sendo assim ele é uma das poucas unanimidades entre os cultuadores e das Ilé Àse Òrìsà / Casas de Força dos Santos, gerando para si pouquíssimas divergências. SEU ARQUÉTIPO É O DAS PESSOAS DOTADAS DE UM FORTE SENSO DE HUMOR, UMA TEND TE NDÊN ÊNCI CIA A A IR IRON ONIA IA E AT ATÉ É AO DE DEBO BOCH CHE. E. AL ALTA TAME MENT NTE E CO COMU MUNI NICA CATI TIVO VOS, S, AD ADQU QUIR IREM EM POPULARIDADE COM FACILIDADE. FACILMENTE ESTÃO ENVOLVIDOS EM INTRIGAS. ONDE ESTÁ O DINHE DIN HEIR IRO O E OS NE NEGÓ GÓCI CIOS OS EL ELES ES SE SERÃ RÃO O EN ENCO CONT NTRA RADO DOS. S. GR GRAN ANDE DES S AM AMIG IGOS OS,, CO COM M MU MUITA ITA FACIL FA CILID IDAD ADE E EM OU OUVI VIR R OS PR PROB OBLE LEMA MAS S DO DOS S OU OUTR TROS OS,, E AC ACON ONSE SELH LHAR AR.. PO POSS SSUE UEM M OL OLHO HOS S INCISIVOS E BOCAS RASGADAS QUE SEMPRE ESTÃO DISPOSTAS A LARGOS SORRISOS. São
ambivalentes e relativos, tem falta de posturas morais rígidas e inabaláveis, maleáveis. Vêem cada situação como única, merecedora de uma saída diferente. Outra Ìtòn conta que Sòngó e Òsun eram casados. Mesmo muito bonita Òsun não era feliz com seu marido, porque este sempre a deixava só. Grande conquistador, Sòngó 3
não se contentava com uma única mulher, sempre saindo em busca de novos amores. Muito dengosa e chorona Òsun sempre estava a reclamar. De tanto chorar Òsun irritou Sòngó, que a prendeu em uma torre bem alta em um de seus castelos. Um dia Èsù, passando em frente ao castelo de Sàngó, ouviu Òsun chorar. Perguntou-lhe qual o motivo de tantas lágrimas, e ela lhe contou tudo sobre seu marido. Èsù penalizado foi procurar Òrúnmìlà que lhe deu um tipo de ìse / pó de folhas mágicas que deveria ser entregue a Òsun e que lhe fosse dito que mantivesse sua janela aberta. Èsù soprou o pó na janela e Òsun transformou-se em uma eyelé funfun / pomba branca, que sai voando e volta a se refugiar na casa de seu Pai. Ao chegar retornou a sua forma original. Este é o motivo pelo qual Òsun tem èèwò / quizila – tabu com pomba branca, não comendo e não aceitando como oferenda. Demonstra esta lenda o caráter ora dócil e protetor de Èsù. Cada pessoa tem seu Òrìsà Orí / Santo de Cabeça – Anjo da Guarda e também tem seu Èsù, como parte da constituição de seu caráter. Ele é o momento da raiva que acomete o motorista, no trânsito ao receber uma fechada de um outro veículo, que pode levar a um acidente ou a uma briga com grave final; é a força que gera no interior do ser, ao ver-se ofendido, e o leva as agressões; são as garras que surgem na mãe, que enfurece ao ver seu filho agredido, esteja ele certo ou errado; é o impulso que a emoção cria, e que faz a razão ser ignorada. Características, como Senhor das ruas, esquinas e estradas, o faz por momentos confundido com Ògún, seu irmão, porém o seu domínio sobre o Àse / energia vital, como controlador e propulsor, como intérprete e acionador dos mecanismos litúrgicos de cada divindade, que cabe somente a Èsù, os diferencia. Podemos então concluir que o conhecimento de toda simbologia do Àse, de todos os Òrìsà, só é movimentado pela ação de Èsù. Portanto é simbolizado pelas três cores primárias: o preto, o branco e o vermelho, de onde todas as outras variam. Todos estes são alguns dos motivos pelo qual ele sempre é mantido também nas entradas dos Terreiros, pois como seu guardião atento, sempre estará alerta a prevenir àqueles pertencentes a família de Santo de tudo o que pode passar por aquela porteira, seja bom ou ruim, seja para o bem ou para o mal. UM DE SEUS INSTRUMENTOS É O ÒGÒ, BASTÃO COM FORMA DE FALO, ENFEITADO COM PEQUENAS ÀDÓ / CABAÇAS, ONDE DENTRO ESCONDE OS PÓS MÁGICOS DE SEUS SEGREDOS. TAMBÉM É TRATADO POR ELÉGBÁRA / SENHOR DA FORÇA, E NOS RITOS ANGOLANOS COMO ALUVIÁ. NO KÈTÙ TAMBÉM É OLÒOJÀ / O SENHOR DO MERCADO, ONDE SE REZA OS ORIN / CANTIGAS, DAS OFERENDAS DE EPO PUPA / AZEITE DE DENDÊ O SEGUINTE: EPO NÍ ÈRÒ, NÍ O OJÚ OLÒOJÀ O AZEITE DE DENDÊ É CALMA, O SENHOR DO MERCADO É TESTEMUNHA. ENCONTRA ÈSÙ, NAS FEIRAS LIVRES E MERCADOS, TUDO O QUE LHE DÁ PRAZER: GRITOS PARA QUE SE EFETUE A TROCA ATRAVÉS DAS VENDAS, A POSSIBILIDADE DE SE PASSAR O COMPRADOR PARA TRÁS, VENDENDO-SE GATO POR LEBRE; O MOVIMENTO GERADO PELO DINHEIRO; O AGLOMERAMENTO DE PESSOAS CIRCULANDO; A ENERGIA VITAL QUE OS ALIMENTOS ALI ENCONTRADOS EMANAM; ENFIM TUDO ISSO SOMADO SEMPRE NOS FARÁ ENCONTRAR ÈSÙ NESSES AMBIENTES SAUDÁVEIS.
Pierre Verger consagra 38 páginas do seu livro: “Esplendor e decadência do culto de Ìyàmí Òsòròngá entre os Yorùbá” à importância das feiras livres para o povo da Nigéria e Benin, onde relata: “.... para os Nagôs, o deus protetor das feiras é Èsù e alguns dos Oríkì que compilamos explica essa associação: ‘Sua mãe o pariu na volta da feira.’ ...tem seu lugar lá onde se dá o encontro das células sociais, familiares, étnicas e confrarias religiosas. E porque ele é o Senhor das Feiras, as mulheres sempre depositam em seu altar, antes de começarem as vendas, toda sorte de oferendas: ‘Ele(Èsù) compra na feira sem pagar.’ Mas quem o esquece, ou não lhe faz as devidas oferendas, incorre na sua ira e ele, por ser extremamente vingativo, provocará brigas e disputas – pois é o Senhor de quem está na feira – ou, então, fará as intercomunicações cessarem: ‘Ele pode fazer com que não se compre nem se venda nada até a noite.’.” Assim, toda feira livre tem seu altar 4
consagrado para Èsù, onde é garantida a justiça nos casos de roubo e disputas. Nas terras de Kètù este papel é cumprida pelo altar da “mãezinha”, especial fundadora da pequena feira local. O Rei designa um Ministro – “Esa-Kètu” – para tomar conta da feira principal, e um “Igara” – o chefe dos mágicos – para dirigir a pequena feira. Foi somente mais tarde que o vigésimo Monarca de Kètù, o Rei Arogbo, trouxe para sua cidade uma antiga tradição de Ilè Ifé – capital Yorùbá – que consistia em nomear um eunuco – Òní Odja – para policiar as pequenas feiras, detendo este um caráter sagrado. Esta grande importância consagrada a relação Èsù – feira está também comprovada quando ocorrem os festejos do nascimento das crianças Yorùbá. Elas são apresentadas para a multidão nas feiras, e no caso de serem gêmeas, a mãe deve comprar a maior variedade de comida, colocar em uma cabaça e apresentar como oferenda no momento dos sacrifícios do festejo. Também os mortos antes de serem enterrados debaixo de suas casas, no terceiro ou sétimo dia após o falecimento, são apresentados à feira, acompanhados de músicos que cantam fatos acorridos em sua vida. No Brasil consagrou-se a Segunda-feira como dia deste Òrìsà, assim como ofertar a ele bebidas destiladas, como a pinga – água-ardente de cana-de-açúcar – mas somente pelo seu baixo custo, e não por tratar-se de otí, bebida Yorùbá que lhe é oferecida. Podemos citar o otí olójé / Gin seco como o que mais se aproxima da origem, mas nem sempre seu custo está a mão do povo de Òrìsà. Quanto as comidas são ofertadas a Èsù em troca de seus favores: Pàdé / farofa, que pode ser de farinha de milho branca ( para o crescimento, progresso – o milho em seu cultivo cresce para o Céu, ele sobe ), ou de farinha de mandioca – elubo ( para a neutralização, a mandioca como raiz, em seu cultivo dirige-se ao centro da Terra, que absorve tudo ). O pàdé pode ser de epo pupa / azeite-de-dendê, Oyin / mel ou Omí / água. Oferta-se também gùgùrù / pipoca, èwà / feijão, ìsú / inhame, ègbo / canjica branca, àkàsà / bolinho de canjica, ou arroz, envolto em folha de bananeira e omí / água, além dos animais para sacrifícios já citados. Seu número é o 01, que representa o início, a ação, o movimento, a continuidade, o progresso. Dentre os elementos terra, água, ar e fogo, Èsù, é o ìna / fogo. Sabemos que o fogo é o símbolo da transformação que purifica, ele é a renovação. No período da Inquisição, aqueles se negavam ao Catolicismo, eram tidos como feiticeiros, e levados às chamas das fogueiras da purificação. Estudiosos afirmam que as iniciais INRI pregada na cruz do Salvador do povo Cristão significava IGNE NATURA RENOVATUR INTEGRA, ou seja, “O fogo renova integralmente a natureza”. COMO MENSAGEIRO, ÈSÙ, É O INTÉRPRETE DAS COMUNICAÇÕES DE IFÁ (ÒRÚNMÌLÀ – DIVINDADE DA ADIVINHAÇÃO) EXERCIDA PELOS ORÁCULOS ÒPÈLÈ IFÁ / CORRENTE DE IFÁ, DE COCOS DE DENDÊ E MÉÉRÌNDÍLÓGÚN (JOGO DE 16 BÚZIOS CHAMADO IFÁ OLÓKUN). ALGUMAS LENDAS DIZEM QUE ÈSÙ FOI QUEM ENSINOU OS SEGREDOS DA ADIVINHAÇÃO À IFÁ. DEVE SEMPRE SER SAUDADO COM A EXPRESSÃO “LÁARÓYÈ!” / “VIVA ÈSÙ!”.
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Assimilada a verdadeira realidade dos Òrìsà, cada um como elementos da Natureza, devemos qualificar Èsù como um todo em cada um destes elementos criados por Elédùmarè / Deus. Ou seja, na água (Òsun), símbolo maior de vida, que fertiliza, que limpa, que equilibra o planeta, também tem ela o seu lado Èsù, destruindo pelas enchentes, pelos maremotos e tormentas, ou ainda pela sua falta nas secas. Também podemos usar os metais (Ògún) como, por exemplo: o ferro que constrói, utilizado nas casas, nos edifícios e pontes, que trabalhado transforma-se em aço, também destrói se utilizado com leviandade, nos casos das facas, navalhas e tesouras, ou ainda transformado em armas de fogo, aviões bombardeiros e outros. ESTA DUALIDADE DA NATUREZA É ÈSÙ. ELE É MOVIMENTO QUE GERA AÇÃO, QUE GERA VIDA. DESTA FORMA É QUE O POVO YORÙBÁ CRÊ QUE TODA A CASA, TODO AMBIENTE POSSUI UM ÈSÙ, A QUEM SE DENOMINA ÈSÙ ÒNÍLÉ / DONO DA CASA. À ESSA ENERGIA, À ESSA FORÇA CABE O BOM, OU MAU, ANDAMENTO DA VIDA DAQUELES QUE HABITAM O AMBIENTE. ESSA ENERGIA ( ÈSÙ) CASO ESTEJA PARADA, INERTE, CAUSARÁ: O REGRESSO DAQUELE LAR, PODERÁ TRAZER PROBLEMAS DE SAÚDE, E ATÉ A MORTE, O DINHEIRO NÃO FICARÁ NESTE AMBIENTE. OU CASO ESTA FORÇA ESTEJA AGITADA, BRIGAS E DESENTENDIMENTOS OCORRERÃO TAMBÉM. ESTA FORÇA DEVE ESTAR EQUILIBRADA, OU SEJA, NEM TÃO ESTACIONADA, E NEM TÃO EXCESSIVAMENTE AGITADA. OS ESOTÉRICOS DÃO A ESSA FORÇA O NOME DE “EGRÉGORA”. ENTRE A EGRÉGORA E ÈSÙ NADA HÁ DE DIFERENTE. É ELE ESTE SER ENERGÉTICO QUE CRIAMOS PELA FORÇA DOS NOSSOS PENSAMENTOS, E QUE PASSAM A CONVIVER CONOSCO, AO NOSSO REDOR, OU NO AMBIENTE QUE VIVEMOS DIARIAMENTE. 6
O Igbá Èsù é o assentamento do Òrìsà Èsù, ou ainda o altar de louvores e oferendas a ele. Para esta explicação vou ater-me aos ensinamentos daquele que hoje zela pela minha Orí / cabeça, o Bàbálòrìsà T’Ogún – Altair B Oliveira. As minhas origens, como as De meu Pai, foram nos cultos Afro Brasileiros, que tem como costume fazer Igbá para todos os filhos, mas hoje sabemos que esse hábito não condiz com as tradições Yorùbá. Lá, os Ojúbo / assentamentos, são coletivos, servindo a toda uma família, aldeia, vilarejo ou ainda uma cidade. Creio que o Igbá só deve ser feito para o elégùn – aqui chamado também de Ìyàwó / literal = esposa ou filho de santo – quando este receber seu “Deká”, ou seja, passar pelos rituais mínimos após completados os aprendizados e obrigações de sete anos de iniciação, onde este receberá os Àse que o autorizam a desenvolver sua própria egbé / sociedade ou família de santo, tornando-se um Bàbálòrìsà ou Ìyálòrìsà, e dando continuidade ao Àse que recebeu. Cada Ilé Òrìsà adota uma maneira própria para fazer os fundamentos dos Òrìsà conforme a Nação - aqui como região africana – à que pertença ou ainda dentro dos parâmetros do Òrìsà que rege a Casa. Portanto não pretendo dar uma forma tratando-a de única forma correta de fazer Igbá Èsù, mas de um modo geral todos se utilizam destes materiais:
Argila ( amòn ); 17 imãs; 17 búzios ( owó eyo ); 17 moedas correntes; 01 pedra ( òkúta ) pode ser de rua, rio ou minério de ferro, etc.; 01 faca ( òbe ) com ponta sem cabo ouro ; prata; chumbo; estanho; Mercúrio líquido ( azougue ); 05 ovos brancos ( eyin ); 01 panela de ferro – podendo ser de barro ( vaso ); álcool; aguardente ( otí ); pimenta ( ataare ) ; pó branco da seiva de árvore ( efun ); pó vermelho – pupa ( osùn ); pó índigo ( wájì ); banha vegetal ( òrí ); nóz de cola ( Obi àbàtà ); cabacinha de pescoço ( àdó ); orógbó; maceração de folhas para banho; azeite de dendê ( epo pupa ); sal ( iyò ); mel ( oyin ); carvão vegetal ( èédú ); um àkùkodìe ( galo ) é suficiente para a obrigação da confecção do igbá. Algumas Casas de Santo, principalmente as que praticam o culto Afro-brasileiro, costumam utilizar ainda: guizos e cabeça de cascavel, penas de urubu, escorpiões, ferraduras, correntes, terras de banco, supermercado, praça, cemitério, folhas de urtiga brava, e outros elementos que julgo secundários, pois do meu ponto de vista não condizem totalmente com o Òrìsà em questão. Com o àgbo lava-se todos os objetos que farão parte do assentamento. Preparase uma argamassa com amón, eyin, pouco de otí, efun, osùn, wájì, òrí, iyò, e um pouco de àgbo e deixa-se descansar. Algumas pessoas costumam usar cimento branco para dar consistência à massa, porém este material a torna impermeável, não permitindo que os Àse penetrem. Deve-se colocar os metais dentro da panela e adicionar álcool e acender o fogo. Prepara-se enquanto isso um braseiro com um carvão bem vivo. Quando 7
o fogo da panela apagar, colocar um pouco das folhas maceradas para o àgbo sobre os ferros, onde se ouvirá um chiado dos ferros quentes. Sobre as folhas colocar um pouco das brasas bem acesas e unidas, ao seu redor coloca-se a argamassa e sobre o braseiro colocar os òkúta (pedra). Depois termina-se de cobrir tudo com a argamassa. Por cima da massa coloca-se o ouro, prata e joga-se o mercúrio – cuidado com o manuseio deste, pois ele é altamente tóxico – 17 grãos de ataare, o obì e o orógbó . Costumo nesta etapa cobrir tudo com folhas de fortuna. Depois disso preencher toda panela com argamassa tomando cuidado de deixar aproximadamente uns três centímetros abaixo da borda, para que sirva de aparador. Costuma-se também modelar com esta argamassa uma cabaça e pescoço para que sirva de simbolismo ao ato de Elédùmarè na criação de Èsù Yangi. Enquanto a massa estiver mole fincar o sónsó òbe (faca pontiaguda) com a ponta para cima, enfeitando-se toda a massa com as moedas e os búzios ( owó eyo). Faça um amarrado com palha da costa e prenda a cabacinha ao redor da panela. Cobrir tudo com um pano bem úmido para que seque de dentro para fora e não forme rachaduras. Durante todo o tempo da confecção do igbá, deve-se rezar os ofòs fún Èsù (encantamentos para Èsù). Para este ritual o elégùn deve estar preparado, tomado banhos de ariàse do Òrìsà e recolhido ao runko (quarto de santo) para efetuar as àdúràs (rezas). O igbá deve sempre ser mantido seco e limpo – nada de manter Ojúbo sempre inundado de mel e dendê ou ainda impregnado de outros elementos – Costumo antes de qualquer obrigação dar ose (sabão, banho), lavando o igbá com sabão de coco, depois em infusão de folhas, colocando para secar ao sol. Daí então serão feitos os sacrifícios no igbá, que depois do período que as oferendas forem deixadas para o Òrìsà, será novamente limpo e lavado com oti (pinga) sem retirar totalmente o èje impregnado, levado ao sol para secar, e depois de seco untado com epo pupa, e levado de volta ao seu lugar de origem. Sempre será mantida uma quartinha (tipo de Moringa) de barro tampada, com água filtrada e limpa junto ao Igbá. Toda esta ritualística de confecção do Igbá deve ser preparada por um Sacerdote, que executará toda liturgia devida, para a propiciação dos elementos utilizados. Caso contrário o assentamento não será mais nada do que um aglomerado de objetos sem o devido encantamento e sem possuir Àse.
Dou abaixo um oríkì fún Èsù (evocação para Èsù) ÈSÙ ÒTA* ÒRÌSÀ ÈSÙ INIMIGO DOS ÒRÌSÀ ÒSÉTÚRÁ L’ORÚKO BÀBÁ MÒ ÒSÉTURÁ É O NOME PELO QUAL SEU PAI TE Ó CHAMA ALÁGOGO ÌJÀ L’ORÚKO ÌYÁ ALÁGOGO ÌJÀ É O NOME PELO QUAL SUA NPÈ É MÃE TE CHAMA ÈSÙ ÒDÀRÀ OMOKÙNRIN ÈSÙ ÒDÀRÀ, O HOMEM FORTE DE IDÓLÓFIN 8
ÌDOLÓFIN. O LÉ SÓNSÓ S’ÓRÍ ESE ELÉSE ÈSÙ QUE SENTA NOS PÉS DOS OUTROS KÒ JE KÒ SÌ JÉ KÍ ENI NJE GBÉ QUE NÃO COME E NÃO PERMITE A QUEM E MÍ ESTÁ COMENDO QUE ENGULA A KÌ Í L’ÓWÓ LAI MÚ TI ÈSÙ QUEM TEM DINHEIRO, RESERVA PARA ÈSÙ KÚRÒ UMA PARTE A KÍ Ì L’ÁYÒ LÁI MÚ T’ÈSÙ QUEM TEM ALEGRIA, RESERVA PARA ÈSÙ KÚRÒ UMA PARTE ÀQUELE QUE JOGA NOS DOIS TIMES SEM ASÒNTÚN-SÒSÌ LÁÌ NÍ’TIJÚ CONSTRANGIMENTOS ÈSÙ, ÀPÁTA S’ÓMO OLÓMO ÈSÙ QUE FAZ UMA PESSOA FALAR COISAS L’ÉNU, QUE NÃO DESEJA QUE USA PEDRA EM VEZ DO MAL O FI ÒKÚTA DÍPÒ IYÒ. VINDO DO CÉU, QUE SUA GRANDEZA SE LÓGEMO ÒRUN, A NLA KÁ’LU MANIFESTA EM TODA PARTE PÀÁPA-WÀRÁ, A TÚKÁ MÁSE I QUE QUEBRA EM FRAGMENTOS QUE NÃO SE SÀ PODERA JUNTAR NUNCA ÈSÙ MÁ SE MÍ, OMO ELÓMÍRÀN ÈSÙ NÃO ME FAÇA MAL, FAÇA AO FILHO DE NI KO SE OUTRAS PESSOAS Cabe aqui uma observação quanto a tradução da palavra òta como sendo “inimigo”. O termo Òòta sendo “oficial da guarda”, o que também achamos mais lógica do que a tradução dada pelo Sr. Síkírù Sàlámì, porém esta grafia do oríkì foi tirada do livro: “Awon Àsà ati Òrìsà Ilè Yorùbá” (As tradições e Òrìsà na terra Yorùbá) University Press of Ibàdàn – Nigéria que julgamos tratar-se de uma Universidade de mais alta confiabilidade. •
UM OFÒ FÚN ÈSÙ PODE SER ESTE: Èsù Òdàrà Èsù Òdàrà Ònílé kóngun-kóngun òdè òrun. Dono da casa que está acima do infinito. Ó bá obìnrin je. Você que come com a mulher, Você que bebe com o homem, Ó bá okùnrin mu. 9
Oníbodè òrun Porteiro do céu. Bàbá ó ! Pai ! Wá gbèèmi ó (ou Wá gbè nome da Venha socorrer-me ! pessoa ) Chefe que é visto sempre e está dentro das Ògà ki ó rí jé nínú ìdàrú, confusões, Èsù, Senhor poderoso do Céu Èsù lógémón òrun Májé kí mo (ou Májé kí nome da pessoa Não permita que eu (ou não permita que...) veja sua ira ) Èsù m´sé mi, Èsù não me faça mal, Não faça mal a... Másé mi (ou Másé nome da pessoa ) Àgò l’ònòn fún wa, Me dê licença nos caminhos, S’ònòn mi (ou s’ònòn nome da pessoa Faça que os caminhos de... sejam bons ) ní rere, Àse, àse, àse. Assim seja, assim seja, assim seja. Uma Ìtòn (lenda) conta que o monopólio do cultivo de milho era detido por Oko (Òrìsà da Agricultura). Isto trazia a ele um poder enorme, pois todos precisavam deste cereal para subsistência. Ele era muito rico e ganancioso. Oko, muito esperto, só vendia o milho torrado, para que ninguém conseguisse fazer com que ele germinasse e assim viessem a surgir novas plantações. O poder de Oko incomodava Èsù, pois também impedia o crescimento da Agricultura. Como conseguir sementes de milho para o desenvolvimento do povoado? Era uma das questões que atormentava a vida de Èsù. Èsù procura mais uma vez Oko propondo negociação para as sementes, mas Oko nega-se incontinente as investidas insistentes de Èsù. Pois bem Oko – fala Èsù – não posso comprar suas sementes de milho, mas vim aqui afim de negociar. Então quero comprar uma de suas galinhas. Mas quero a mais gorda e que tenha mais apetite. Satisfeito pelo cessar da insistência de Èsù em comprar sementes, e afim de verse livre o mais rápido dele, Oko busca a mais esfomeada das galinhas que ele possuía e negocia por ela o mais alto preço com Èsù. Fingindo-se enganado, Èsù sai com sua compra sobre o braço. Assim é que Èsù sai das terras de Oko com a galinha com o papo cheio de milho novo. Ai vemos a astúcia de Èsù. Sei que simplesmente transcrever Orín ( cantigas de louvor ) não satisfaz muito, por não poder passar a música e o ritmo, mas a título de ilustração para que se tenha idéia de como eles são, vai uma Orín fún Èsù :
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A jí kí Barabo e mo júbà, àwa kò sé Nós acordamos e cumprimentamos Barabo, a vós os meus respeitos, não nos faça mal A ji ki Barabo e mo júbà, e omodé Nós acordamos e cumprimentamos Barabo, a vós os meus respeitos a criança é educada na ko èkó ki escola que a Barabo se respeita. Barabo e mo júbà Elégbára Èsù Barabo eu apresento meus respeitos, Senhor da l’ònòn. Força, Èsù dos Caminhos. Bará o bebe Tiriri l’ònòn
Èsù Tiriri realiza proezas maravilhosas nos caminhos Èsù Tiriri, Bará ó bebe Tiriri Èsù Tiriri, é o Èsù Senhor dos Caminhos l’ònòn Èsù Tiriri Èsù Tiriri Já relatamos a grande importância das folhas no ritual dos Òrìsà, segue abaixo algumas delas utilizadas no Àgbo de Èsù: -Òfùèfùè( Urtigão ) -Osàn Làkúègbé ( Limoeiro ) -Àbá Modá ( Fortuna ) -erú Òdúndún ( Saião ) -elésin Máso ( Picão ) -Comigo-ninguém-pode -Làrá ( Mamona ) Nunca deve ser esquecido que todo Àgbo tem de levar Obi e Orógbó ralados. Como os banhos são Asé (energia-força) das Ewé (folhas = Òrìsà Òsónyin), não se deve misturar a ele èje (sangue) ou ese (tripa de animais), como também sempre deve ser frio, na temperatura ambiente, pois o aquecimento ou a fervura muda a terapêutica da folha. Àgbo (literal = sopa) é a maceração manual das folhas que se deixa fermentar em porrões (jarros de barro). Portanto subentende-se que o sumo, ou extrato, obtido é o próprio sangue das folhas, este é o motivo pelo qual não devemos adicionar sangue animal a ele. Em respeito ao Òrìsà Òsónyin todo banho de folhas deve ser tomado agachado, nunca em pé, e sempre jogado em todo o corpo, o que inclui a cabeça. Dentro 11
da verdadeira tradição do ritual, ao banhos eram feitos da seguinte forma: as folhas quinadas eram esfregadas no corpo nu do elègún pelo Bàbálòrìsà. Depois o elègún agacha e recebe lentamente sobre si o Àgbo sem folhas. Porém tal prática causa extremo constrangimento ao elègún, portanto com o passar do tempo foi sendo esquecida. PARA QUE NÃO PAIREM DÚVIDAS QUANTO AO ÒRÌSÀ ÈSÙ, E OS EXÚS INVOCADOS E INCORPORADOS PELOS MÉDIUNS NA UMBANDA, TENHO A ESCLARECER QUE NADA HÁ ENTRE ELES QUE POSSA FAZER COM QUE SE ASSEMELHEM. OS EXÚS QUE COMPARECEM NA UMBANDA SÃO ESPÍRITOS DESENCARNADOS, QUE VIERAM NO BRASIL ANTIGO, - SÉCULO XVIII E XIX – MUITO CARENTES DE ENSINAMENTOS E PROGRESSO ESPIRITUAL. RECEBEM DENOMINAÇÃO DE ENCANTADOS, ASSIM COMO OS CABOCLOS – ÍNDIOS BRASILEIROS -, PRETOS-VELHOS – ESCRAVOS TRAZIDOS PARA O BRASIL -, E OUTRAS ENTIDADES UMBANDISTAS. NADA HÁ PORTANTO ENTRE ESTES ENCANTADOS E ÈSÙ, QUE COMO ÒRÌSÀ, É UM ELEMENTO DA NATUREZA A QUEM FOI DADO UM ARQUÉTIPO HUMANO.
Na Umbanda Exú é a figura violenta e negativa. São espíritos das trevas ou do baixo mundo astral. Consideram alguns como Exús Batizados – pouco mais evoluídos – são servis ao mal e ao bem, e responsáveis pela tutela dos Exús menos elevados e pela limpeza dos Terreiros, levando as influencias negativas deixadas pelo ritual praticado. Seus cultos são as sextas-feiras, dia consagrado à Magia Negra no ocidente, assim como o horário da meia-noite. À eles são oferecidos pinga, velas pretas e vermelhas, e charutos, nas portas do cemitério e encruzilhadas. Pela característica de Religião criada no Brasil, a Umbanda aboliu os sacrifícios animais, como também a iniciação de seus médiuns. Também utilizam-se das chamadas Pomba-Giras, nome vindo de Pongogira, dos rituais Angolanos. Muito parecidas com prostitutas, sem compostura, sensuais, gostam de saias rodadas, perfumes e champanhe .
Tenho a concluir que: A MORALIDADE, E O BEM, DEVEM ESTAR EM QUEM PRATICA A RELIGIÃO, E NÃO NO ÒRÌSÀ QUE ESTÁ SENDO CULTUADO. QUERO MOSTRAR AQUILO QUE ESTÁ OBSCURO NO CULTO DOS ÒRÌSÀ, PARA ALGUNS, QUE TENTAM DEPRECIÁ-LO, AGREDINDO, EM DECORRÊNCIA DOS RITOS, POR VEZES ARCAICOS, QUE ELA UTILIZA. ESTA É UMA RELIGIÃO MILENAR, QUE TEM COMO BASE A TRADIÇÃO, A ANÁLISE DO COMPORTAMENTO HUMANO, O ENSINAMENTO DA LIBERAÇÃO DO HOMEM PELA TRANSFORMAÇÃO DO SEU CARÁTER, PORTANTO ESTÁ FORA DA RITUALÍSTICA ATUALIZAR OS CULTOS, DESCULPANDO-SE COM O “CHAVÃO” – O HOMEM EVOLUIU ENTÃO A RELIGIÃO TEM QUE EVOLUIR -. DIVULGAR A PALAVRA DE DEUS ESCRITA EM UM LIVRO QUE TEM MAIS DE 2000 ANOS, É ATUAL? NEM POR ISSO ELA DEIXA DE SERVIR AO HOMEM DO SÉCULO XXI. A EVOLUÇÃO TEM QUE ESTAR NAS PRÁTICAS DA VIDA DO HOMEM, E NÃO NOS CULTOS DOUTRINÁRIOS, E MUITO MENOS NA LITURGIA DA RELIGIÃO. A MISSA NÃO É UMA LITURGIA QUE REVIVE O QUE JESUS CRISTO PRATICOU COM SEUS APÓSTOLOS HÁ QUASE 2000 ANOS? NÃO É ELA TODA CHEIA DE SIMBOLISMO? 12
JÁ É BEM CLARO AOS QUE ESTUDAM AS RELIGIÕES, O POTENCIAL DE ENERGIA QUE OS CULTOS AOS ÒRÌSÀ SÃO CAPAZES DE REALIZAR. AS ESCONDIDAS, PADRES, PASTORES E OUTROS MEMBROS DE RELIGIÕES RADICAIS CONTRA O ESPIRITISMO DE UM MODO GERAL, VÊEM SE SOCORRER PROCURANDO OS EBOS DO CANDOMBLÉ, QUANDO TEM PROBLEMAS MATERIAIS À RESOLVER. PORQUE NÃO SOLUCIONAM SUAS QUESTÕES COM AQUILO QUE PREGAM? PORQUE A IGREJA EXCOMUNGOU MARTINHO LUTÉRO? POR QUE ELE TORNOU A BÍBLIA UM LIVRO PÚBLICO, PERMITINDO A TODOS ACESSO A ELA, COISAS QUE ERAM RESTRITAS AOS PADRES. NO CONCÍLIO VATICANO II, MARTINHO LUTÉRO FOI NOVAMENTE CONSIDERADO PADRE, E DELE FOI RETIRADA A EXCOMUNHÃO. PORTANTO ELES PODEM FAZER E DESFAZER, A SEU BEL PRAZER. MAS OS OUTROS TODOS NÃO PODEM ERRAR, POIS SE COMETEM LAPSOS, NÃO ESTÃO PRATICANDO A RELIGIÃO DE DEUS. COMO QUERIA DETER O CONHECIMENTO DA BÍBLIA, A IGREJA TAMBÉM QUERIA DETER O MANUSEIO DA MAGIA. PRETENDIAM MANTER SOMENTE PARA OS PADRES OS PODERES QUE ELA PROPORCIONA. E ATÉ NOS DIAS DE HOJE CONTINUAM A FAZER USO DESSES CONHECIMENTOS. QUALQUER UM QUE SE PROPUSER A ESTUDAR IRÁ ENCONTRAR NAS IGREJAS UMA DEZENA DE SÍMBOLOS MÁGICOS E DE MANUSEIO DE ENERGIAS.
Posso exemplificar: toda Igreja possui um altar Mor as duas colunas que simbolizam o bem e o mal; algumas possuem em seu teto torres triangulares para que as energias sofredoras que adentram a Igreja sejam captadas pela base do triângulo, e espargidas pela ponta para o infinito, ou então tem seu teto com forma de arco, com o mesmo sentido de espantar as energias ruins; também o altar Mor sempre está sob um triângulo; os nichos, onde os Santos são colocados para visitação não possuem cantos vivos – de 90 graus – para que as energias das súplicas não permaneçam naquele local. Temem a magia, mostrando dela somente a parte Negra, divulgando somente o ruim, como se não houvesse o ruim em suas Igrejas, afim de colocarem um vel opaco no sentido real que a Magia tem que é fazer um ser humano feliz, realizado, de sucesso em paz, comprovando a bondade de Deus, que nos doou alimentos energéticos, de extremo potencial de força e realização de força e realização, que a Natureza detém em si. ONDE ESTÁ O INCONVENIENTE EM UTILIZAR-SE AS FORÇAS DA NATUREZA PARA SOLUCIONAR NOSSOS PROBLEMAS? DEUS NOS DEU A NATUREZA SOMENTE PARA EXTRAIRMOS DELA CHÁS E REMÉDIOS DE SUAS FOLHAS E RAÍZES? CLARO QUE NÃO! Ainda há alguém sobre a Terra que duvide da eficácia desses medicamentos? O HOMEM SÓ EVOLUIU QUANDO APRENDEU A RETIRAR E TRANSFORMAR OS POTENCIAIS DA NATUREZA. DO MOVIMENTO DAS ÁGUAS O HOMEM APRENDEU A RETIRAR A ENERGIA ELÉTRICA; DE VER OS PÁSSAROS VOAR, ABUSOU, E HOJE TRANSITA PELO AR INDO DE PAÍS À PAÍS, PARA LUA E OUTROS PLANETAS; DO PETRÓLEO SE VESTE, PELOS FIOS DE POLYESTER QUE TECE; ENFIM TUDO O QUE SE VÊ, UTILIZA E CONSOME, NOS FOI DADA POR DEUS ATRAVÉS DA NATUREZA. MAS SERÁ QUE DEUS SÓ NOS DEU, ATRAVÉS DA NATUREZA, AQUILO QUE PODEMOS VER, PEGAR, APALPAR? SERÁ QUE NELA NÃO HÁ ALGO MAIS? INVISÍVEL, ABSTRATO, MAS QUE LÁ ESTÁ, PRONTO A SER UTILIZADO EM FAVOR DO BEM DA HUMANIDADE, como os exemplos acima? AQUELES QUE CULTUAM OS ÒRÌSÀ APRENDEM A SABER QUE NA NATUREZA HÁ UMA SÉRIE DE OUTRAS ENERGIAS, QUE PODEM PROPORCIONAR COISAS MUITO MELHORES, E MAIORES, DO QUE AS QUE O HOMEM ENCONTROU ATÉ AGORA. LÁ EXISTE A FORÇA DESTE DEUS TÃO BOM, QUE NOS PERMITE A PAZ, A SAÚDE, AS ALEGRIAS, A UNIÃO, A ESTABILIDADE, O EQUILÍBRIO EMOCIONAL, O PROGRESSO, A PROSPERIDADE, O SUCESSO NOS NEGÓCIOS E NAS FINANÇAS, OU SEJA, TODA FELICIDADE QUE ELEDÙMARÉ, COMO PAI E MÃE BONDOSO, QUER PARA SUA MAIOR CRIAÇÃO QUE É O HOMEM. NOS ÒRÌSÀ NÃO EXISTE INFELICIDADE. TODOS VÊM PARA O MUNDO PARA SEREM FELIZES E PRÓSPEROS. MAS COMO CONSEGUIR ESTA BENÇÃO DO PAI ETERNO? EXISTE TODA UMA RITUALÍSTICA A SER APRENDIDA. OS CONHECIMENTOS QUE AS PALAVRAS DE LOUVORES, SÍMBOLOS E SINAIS, DEDICAÇÃO E INTERIORIZAÇÃO, AUTO CONHECIMENTO E MODIFICAÇÕES DE CARÁTER, ACONSELHAMENTO COM OS ANTEPASSADOS, ENFIM, UMA SÉRIE DE PRÁTICAS MÁGICAS, QUE OS ANTIGOS PESQUISARAM, CONHECERAM, PRATICARAM E DESENVOLVERAM A FIM DE QUE O HOMEM ENCONTRE ESTA FORÇA NA NATUREZA E CANALIZE PARA SUA FELICIDADE NA VIDA DA TERRA. APRENDA COMO USAR A LIMPEZA ENERGÉTICA QUE A ÁGUA (ÒSUN) PROPORCIONA. USE O VIGOR DOS METAIS (ÒGÚN) PARA AS CONQUISTAS QUE SEUS OBJETIVOS PRETENDEM ; ABUSE GRACIOSAMENTE DAS FORÇAS VITAIS QUE OS BANHOS DE FOLHA (ÒSÓNYIN) PODEM PROPORCIONAR; SEJA FELIZ BUSCANDO A BELEZA DAS FORÇAS DO ARCO-ÍRIS (ÒSÙMÀRÉ) QUE 13
TEM EM SEU FIM UM POTE DE OURO; ENCONTRE O PODER DA JUSTIÇA CONTIDO NO TROVÃO (SÒNGÓ) COM A RIGIDEZ DAS ROCHAS; SAIBA COMO APROVEITAR A ASTÚCIA DAS SITUAÇÕES INESPERADAS (ÈSÙ) EM PROVEITO DE SUAS FINANÇAS; GLOBO TERRESTRE (ONILÈ) CONCENTRA TODA FORÇA DA CRIAÇÃO, ESSE NOS SEUS PROPÓSITOS. ESTES SÃO ALGUNS EXEMPLOS DO QUE É O VERDADEIRO CULTO DOS ÒRÌSÀ, E NÃO ESTA PARAFERNÁLIA DE ABUSOS DO ILUSIONISMO E DA BOA FÉ DO SER HUMANO QUE ALGUNS QUE SE AFIRMAM PAIS DE SANTO DESENVOLVEM NOS LUGARES QUE CHAMAM DE TERREIRO. PORQUE A NIGÉRIA E BENIN, PAÍSES DA ORIGEM DOS ÒRÌSÀ, NÃO SÃO POTÊNCIAS MUNDIAIS, SENDO ELES SENHORES DESTES VALORES ENORMES QUE ELEDÙMARÉ ENSINOU? A NIGÉRIA FOI COLÔNIA INGLESA ATÉ 1960. COMO OUTROS COLONIZADORES, OS INGLESES VAMPIRIZARAM QUASE TUDO DE VALOR QUE ELES POSSUÍAM, DA MESMA FORMA QUE OS PORTUGUESES FIZERAM COM O BRASIL E ANGOLA. EM SEGUNDO LUGAR, A CULTURA NIGERIANA DÁ VALORES MAIORES PARA O QUE NÃO SE VÊ, COMO A ÍNDIA, O TIBÉT, AS FILIPINAS E OUTROS PAÍSES ONDE, A VIDA MATERIAL É SECUNDARIA. PARA ELES A RIQUEZA DO HOMEM ESTÁ NO ESPÍRITO, E NÃO NO BOLSO. A MORAL O RESPEITO, A HONRA, O TEMOR A DEUS, A EVOLUÇÃO DO ESPÍRITO, A TRANSFORMAÇÃO DO CARÁTER, SÃO ALGUNS DOS VALORES QUE ELES PERSEGUEM EM SEU DIA – A – DIA, COMO A GRANDE MAIORIA DOS POVOS ORIENTAIS. OS ÒRÌSÀ EM SUAS MENSAGENS QUASE QUE DIÁRIAS, SEMPRE FALAM QUE O HOMEM TEM QUE BUSCAR SUA FELICIDADE MATERIAL TAMBÉM NESTE MUNDO BASTA SEGUIR AQUILO QUE ELÉDÙMARÈ DEU, ATRAVÉS DE CADA UM DOS ÒRÌSÀ QUE CRIOU. PELA MANHÃ, BEM CEDO, FECHE SEUS OLHOS E VEJA O TAMANHO DO GLOBO TERRESTRE. VOCÊ ENTROU EM CONTATO COM ONILÉ. IDENTIFIQUE COMO ELEDÙMARÉ, ESSE DEUS PAI CRIADOR, É GRANDE EM PODER CRIAR ALGO TÃO ENORME. ENTÃO PEÇA A ONILÉ, O SENHOR DE TODAS AS FORÇAS QUE ESTÃO SOBRE A TERRA, QUE LHE TRAGA SUA FORÇA A FIM DE QUE NA POSSE DELA SEU LUGAR SEJA FELIZ, SUA VIDA SEJA CHEIA DE SAÚDE, E QUE A PROSPERIDADE, O PROGRESSO E O SUCESSO HABITEM O SEU LAR. AGUARDE O RESULTADO.
Exu, filho primogênito de Iemanjá com Orunmilá, o deus da adivinhação, é irmão de Ogum, Xangô e Oxóssi. Ele é o deus da comunicação, do dinamismo, muito querido entre os iorubás. Exu é a figura mais controvertida dos cultos afro-brasileiros é também a mais conhecida. Há, antes de mais nada, a discussão se EXU é um orixá ou apenas uma entidade diferente, que ficaria entre a classificação de orixá ou ser humano. Sem dúvida, ele trafega tanto pelo mundo material (ayê), onde habitam os seres humanos e todas as figuras vivas que conhecemos, como pela região do sobrenatural (orum), onde trafegam orixás, entidades afins e as almas dos mortos. Esse orixá não deve ser confundido, porem, com os ÉGUNS, (almas) dos mortos. Exu é figura de status entre os orixás. Apesar de ser subordinado ao poder deles, constitui uma figura tão poderosa que são freqüentes as lendas onde não apenas desafia as próprias divindades como lhes prega peças e até as vence. Sua função mítica é a de mensageiro é o que leva os pedidos e oferrendas dos seres humanos aos orixás, já que o único contato direto entre essas diferentes categorias só acontece no momento da incorporação, quando o corpo do ser humano é tomado pela energia e pela consciência do seu orixá pessoal (QUANDO A CONSCIÊNCIA DE QUEM "carrega" O ORIXÁ DESAPARECE). É Exu quem traduz a linguagem humana para as das divindades. Por isso, é imprescindível para a realização de qualquer ritual, porque é o único que efetivamente assegura em uma dimensão (ayê ou orum) o que esta acontecendo na outra, abrindo os caminhos para os orixás se aproximarem dos locais onde estão sendo cultuados. O poder de comunicar e ligar confere a ele também o oposto: a possibilidade de desligar e comprometer qualquer comunicação. Possibilita-se a construção, também permite a destruição. Esse poder foi traduzido mitologicamente no fato de Exu habitar as 14
encruzilhadas, passagens, os diferentes e vários cruzamentos entre caminhos e rotas, e ser o senhor das porteiras, portas, entradas e saídas. Isso não entra em contradição com o fato de Ogum, o orixá da guerra, ser considerado o senhor dos caminhos. Além da grande afinidade entre as duas figuras míticas (QUE SÃO IRMÃOS DE ACORDO COM AS LENDAS), Ogum é o responsável pelo desbravamento, pelo desmatar e o criar de novo caminhos, pela expansão imperialista do reino, enquanto Exu é o senhor da força (axé) que percorre esses caminhos. Exu é o primeiro orixá a ser louvado no candomblé, porque representa o principio do movimento. Uma vez acionado é preciso controla-lo, como se sabe com respeito a qualquer movimento. Como a fome é um dos motivos que levam o homem a se mover em direção a um objetivo, Exu come demais. E por comerem as plantações, é que as formigas são tidas como sendo de Exu e a terra dos formigueiros também. Ele é compreendido na África como um deus do movimento (nada a ver com o diabo cristão, embora o sincretismo o associe assim, no Brasil), que come tudo que pode, e que é "quente". Exu mora nas encruzilhadas (a idéia é "o que é, mas não é", sempre. Uma encruzilhada a princípio não é caminho algum e ao mesmo todos eles, certo?) Os pés de qualquer animal também são de Exu, segundo os africanos. E Exu é controvertido, porque tem um gênio travesso (Em Cuba, por causa disso ele é o Menino Jesus) e faz o que lhe pedem. Não tem noção de bem e de mal e se movimenta apontando o pênis para o lugar onde quer ir. Não existe lugar, no passado, presente ou futuro a que Exu não possa ir. Existe um oriki (verso sagrado) que diz, inclusive, que "Exu mata ontem um passarinho com pedra que atirou hoje para o amanha." Exu também é associado à sexualidade, a segunda fome humana. O dia da semana: segunda-feira (o primeiro dia na semana Iorubá , que tem 4 dias, também). Existem infinitos avatares de Exu, e mitos muito bonitos também. Um deles, de que eu gosto muito conta que “Exu, filho primogênito de Iemanjá com Orunmilá, o deus da adivinhação e irmão de Ogum, Xangô e Oxóssi, era voraz e insaciável. Conseguiu comer todos animais da aldeia em que vivia. Depois disso, passou a comer as árvores, os pastos, tudo que via até chegar ao mar. Orunmilá previu então que Exu não pararia e acabaria comendo os homens, e tudo que visse pela frente, chegando mesmo a comer o céu. Ordenou então a Ogum que contivesse o irmão Exu a qualquer custo. Para conseguir isto, Ogum foi obrigado a matar Exu, a fim de preservar a terra criada e os seres humanos. Mas mesmo depois da morte de Exu, a natureza, os pastos, as árvores, os rios, tudo permaneceu ressecado e sem vida, doente, morrendo. Um babalaô (representante de Orunmilá na terra) alertou Orunmilá de que o espírito de Exu sentia fome e desejava ser saciado, ameaçando provocar a discórdia entre os povos como vingança pelo que Orunmilá e Ogum haviam feito. Orunmilá determinou então”. que”. em toda e qualquer oferenda que fosse feita pelos homens a um orixá, houvesse uma parte em homenagem a Exu, e que esta parte seria anterior a qualquer outra, para que se mantivesse sempre satisfeito e assim possibilitasse a concórdia". Cor: preto e azul escuro entre os iorubás, preto e vermelho entre os angolas (A cor preta se relaciona ao fato de que para que a luz chegue a algum lugar o movimento já precisa ter sido acionado, ou seja Exu deve ser antes do movimento da luz) Elemento: fogo e ar. Símbolo: ogó (um pênis de madeira, com búzios pendurados simbolizando o sêmen) Numero 1 Comida: farofa 15
Saudação: Laroiê, Exu!
LENDA EXÚ Exu, filho primogênito de Iemanjá com Orunmilá, o deus da adivinhação, é irmão de Ogum, Xangô e Oxóssi. Ele é o deus da comunicação, do dinamismo, muito querido entre os iorubás. Exu era voraz e insaciável. Conseguiu comer todos animais da aldeia em que vivia. Depois disso, passou a comer as árvores, os pastos, tudo que via até Chegar ao mar. Orunmilá previu então que Exu não pararia e acabaria comendo os homens, e tudo que visse pela frente, chegando mesmo a comer o céu. Ordenou então a Ogum que contivesse o irmão Exu a qualquer custo. Para conseguir isto, Ogum foi obrigado a matar Exu, a fim de preservar a terra criada e os seres humanos. Mas esmo depois da morte de Exu, a natureza, os pastos, as árvores, os rios, tudo permaneceu ressecado e sem vida, doente, morrendo. Um babalaô (representante de Orunmilá na terra) alertou Orunmilá de que o espírito de Exu sentia fome e desejava ser atendido, ameaçando provocar a discórdia entre os povos como vingança pelo que Orunmilá e Ogum haviam feito. Orunmilá determinou então que em toda e qualquer oferenda que fosse feita pelos homens a um orixá, houvesse uma parte em homenagem a Exu, e que esta parte seria anterior a qualquer outra, para que se mantivesse sempre satisfeito e assim possibilitasse a concórdia.
I Exú sempre foi o mais alegre e comunicativo de todos os orixás. Olorun, quando o criou, deu-lhe, entre outras funções, a de comunicador e elemento de ligação entre tudo o que existe. Por isso, nas festas que se realizavam no orun (céu), ele tocava tambores e cantava, para trazer alegria e animação a todos. Sempre foi assim, até que um dia os orixás acharam que o som dos tambores e dos cânticos estava muito alto, e que não ficava bem tanta agitação. Então, eles pediram a Exú, que parasse com aquela atividade barulhenta, para que a paz voltasse a reinar. Assim foi feito, e Exú nunca mais tocou seus tambores, respeitando a vontade de todos. Um belo dia, numa dessas festas, os orixás começou a sentir falta da alegria que a música trazia. As cerimônias ficavam muito mais bonitas ao som dos tambores. Novamente, eles se reuniram e resolveram pedir a Exú que voltasse a animar as festas, pois elas estavam muitas sem vida. Exú negou-se a fazê-lo, pois havia ficado muito ofendido quando sua animação fora censurada, mas prometeu que daria essa função para a primeira pessoa que encontrasse. Logo apareceu um homem, de nome Ogan. Exú confiou-lhe a missão de tocar tambores e entoar cânticos para animar todas as festividades dos orixás. E, daquele dia em diante, os homens que exercessem esse cargo seriam respeitados como verdadeiros pais e denominados Ogans.
II 16
Orunmilá e Exú eram amigos, mas disputavam entre si o poder. Houve uma guerra na cidade de Ajala Eremi. Tendo isso chegado ao conhecimento de Exú, por seus seguidores que invocavam-no e pedia a sua ajuda, ele correu a Orunmilá para contar a novidade. Orunmilá ficou curioso de saber como Exú já sabia da guerra, uma vez que a cidade era longe e parcos os recursos. Exú, muito vaidoso, disse saber tudo, em virtude de seus poderes, e completou - "Vamos lá salvá-los". Viajaram juntos, e chegando à Ajala Eremi, ajudaram o povo a vencer a guerra, e foram reverenciados e louvados. Na volta, Exú disse a Orunmilá - "Você vai ver, a minha magia é maior que a sua". Orunmilá riu, disse que seus poderes eram bem maiores, e disse também: "Ki okunrin ma to ato rin Ki obinrin ma to ato rin Ki awo eni ti aso re yio rin". "O homem fica em pé e urina andando A mulher fica em pé e urina andando Vamos ver a roupa de quem fica molhada primeiro". Com essas palavras ele desafiou Exú. Caminharam muito até que anoiteceu, e pararam em Ileto (pequena cidade baale - aldeia pobre). Orunmilá pediu aos mais velhos pousada por uma noite para ambos. O Rei permitiu que dormissem e determinou em que casa ficariam. No meio da noite, estando Orunmilá dormindo, Exú acordou bruscamente. Exu saiu para o pátio, foi ao local onde as galinhas dormiam, agarrou o galo pelos pés, torceu-lhe o pescoço, arrancou-lhe a cabeça e enfiou no bolso. Fez uma ótima e solitária refeição com a carne e alguns inhames, pimentas, tomates e cebolas que achou nos campos, temperou tudo com óleo dendê, bebeu vinho de palma e completou com litros e litros de água fresca. Voltando à casa, chamou Orunmilá, e disse -" Vamos embora depressa". Orunmilá acordou estremunhado, e ainda tonto, achou que era de manhã, e seguiu com Exú pela estrada como bons amigos. Em Ileto, assim que amanheceu, descobriram a morte do galo, a fuga dos hóspedes e o povo, revoltado, decidiu persegui-los. Juntaram os Ode (soldados). Correram atrás de Exú e Orunmilá e alguém lembrou que Exú usava uma roupa de búzios (símbolo de magia). Exú sabia que o povo de Ileto e os soldados vinham em sua perseguição. Olhava para trás e ria. Falou a Orunmilá -"O povo vem aí, traz lanças, facas e soldados. Mostre a força de sua magia agora". Orunmilá, sempre muito calmo, disse a Exú -"A mim não pegam. Eu adivinho que você matou o galo e comeu-o, porque o sangue pinga de seu bolso". E disse "A ki gbo iku a fibi oba sa". ("Não se pode ter má notícia da terra. Ela não morre".) Depois de proferir estas palavras mágicas, Orunmilá disse a Exú: -"Agora você dá a solução". 17
Exú sugeriu que subissem em uma árvore sagrada (ikin), de cuja madeira são feitos instrumentos para o culto, e esperassem para ver os Ode passarem. Os soldados e o povo viram o sangue, e revistando a árvore acharam Exú lá em cima, junto com Orunmilá. Alguns ficaram de guarda à árvore, enquanto outros foram buscar machados e facões para derrubá-la. Quando começaram a cortar a árvore, Exú riu e disse a Orunmilá: - "É agora! Vamos cair os dois, faça a sua magia, eu faço a minha e veremos qual o poder maior". A árvore caiu. Orunmilá se enterrou no chão e virou água. Exú bateu no chão e virou pedra. O povo e os Ode procuraram e não acharam ninguém. O lugar virou uma grande confusão, com todos gritando e se acusando mutuamente. Os que estavam sedentos, viram a água que era Orunmilá, beberam dela e se acalmaram. Os que estavam cansados sentaram na pedra que era Exú e ficaram agitados. E daí para a frente, dois tipos de pessoas se criaram no mundo, os calmos e os agitados. E todos que jogam Ifá (antigo sistema yorubá de adivinhação), têm que cultuar Exú e Orunmilá.
III Exu foi o primeiro filho de Iemanjá e Oxalá. Ele era muito levado e gostava de fazer brincadeiras com todo mundo.Tantas fez que foi expulso de casa. Saiu vagando pelo mundo, e então o país ficou na miséria, assolado por secas e epidemias. O povo consultou Ifá, que respondeu que Exu estava zangado porque ninguém se lembrava dele nas festas; e ensinou que,para qualquer ritual dar certo, seria preciso oferecer primeiro um agrado a Exu. Desde então, Exu recebe oferendas antes de todos, mas tem que obedecer aos outros Orixás, para não voltar a fazer tolices.
IV Um homem rico tinha uma grande criação de galinhas. Certa vez, chamou um pintinho muito travesso de Exu, acrescentando vários xingamentos. Para se vingar, Exu fez com que o pinto se tornasse muito violento. Depois que se tornou galo, ele não deixava nenhum outro macho sossegado no galinheiro: feria e matava todos os que o senhor comprava. Com o tempo, o senhor foi perdendo a criação e ficou pobre. Então, perguntou a um babalaô o que estava acontecendo. O sacerdote explicou que era uma vingança de Exu e que ele precisaria fazer um ebó pedindo perdão ao Orixá. Amedrontado, o senhor fez a oferenda necessária e o galo se tornou calmo, permitindo que ele recuperasse a produção.
V Certa vez, dois amigos de infância, que jamais discutiam, esqueceram-se, numa segunda-feira, de fazer-Ihe as oferendas devidas para Èsù. Foram para o campo trabalhar, cada um na sua roça. As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro. Èsù, zangado pela negligência dos dois amigos, decidiu preparar-Ihes um golpe à sua maneira.
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Ele colocou sobre a cabeça um boné pontudo que era branco do lado direito e vermelho do lado esquerdo. Depois, seguiu o canteiro, chegando à altura dos dois trabalhadores amigos e, muito educadamente, cumprimentou-os: -"Bom trabalho, meus amigos!" Estes, gentilmente, responderam: -"Bom passeio, nobre estrangeiro!" Assim que Èsù afastou-se, o homem que trabalhava no campo à direita, falou para o seu companheiro: -"Quem pode ser este personagem de boné branco?" -"Seu chapéu era vermelho", respondeu o homem do campo a esquerda. -"Não, ele era branco, de um branco de alabastro, o mais belo branco que existe!" -"Ele era vermelho, um vermelho escarlate, de fulgor insustentável!" -"Ele era branco, tratar-me de mentiroso?" -"Ele era vermelho, ou pensas que sou cego?" Cada um dos amigos tinha razão e ambos estavam furioso da desconfiança do outro. Irritados, eles agarraram-se e começaram a bater-se até matarem-se a golpes de enxada. Èsù estava vingado! Isto não teria acontecido se as oferendas a Èsù não tivessem sido negligenciadas. Pois Èsù pode ser o mais benevolente dos òrìsà se é tratado com consideração e generosidade.
VI Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam secos e a chuva não caia. As rãs choravam de tanta sede e os rios estavam cobertos de folhas mortas, caidas das árvores. Nenhum òrìsà invocado escutou suas queixas e gemidos. Aluman decidiu, então, oferecer a Èsù grandes pedaços de carne de bode. Èsù comeu com apetite desta excelente oferenda. Só que Aluman havia temperado a carne com um molho muito apimentado. Èsù teve sede. Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua sede! Èsù foi á torneira da chuva e abriu-a sem pena. A chuva caiu. Ela caiu de dia, ela caiu de noite. Ela caiu no dia seguinte e no dia depois, sem parar. Os campos de Aluman tornaram-se verdes. Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua glória: "Joro, jara, joro Aluman, Dono dos dendezeiros, cujos cachos são abundantes; Joro, jara, joro Aluman, Dono dos campos de milho, cujas espigas são pesadas! Joro, jara, joro Aluman, Dono dos campos de feijão, inhame e mandioca! Joro, jara, joro Aluman!" E as rãzinhas gargarejavam e coaxavam, e o rio corria velozmente para não transbordar! Aluman, reconhecido, ofereceu a Èsù carne de bode com o tempero no ponto certo da pimenta. Havia chovido bastante. Mais, seria desastroso! Pois, em todas as coisa, o demais é inimigo do bom.
VII 19
Lenda de Eshu Jelu ( Ijelu ou Ajelu ) Mandaram Eshú fazer um ebó, com o objetivo de obter fortuna rapidamente e de forma imprevista. Depois de oferecer o sacrifício, Exú empreendeu viagem rumo a cidade de Ijelu. Lá chegando, foi hospedar-se na casa de um morador qualquer da cidade, contrariando os costumes da época, que determinavam que qualquer estrangeiro recém chegado receberia acolhida no palácio real. Alta madrugada, enquanto todos dormiam, Exú levantou-se sorrateiramente e ateou fogo as palhas que serviam de telhado à construção em que estava abrigado, depois do que, começou a gritar por socorro, produzindo enorme alarido, o que acordou todos os moradores da localidade. Eshú gritava e esbravejava, afirmando que o fogo, cuja origem desconhecia, havia consumido uma enorme fortuna, que trouxera embrulhada em seus pertences, que como muitos testemunharam, foram confiados ao dono da casa. Na verdade, ao chegar, Exú entregou ao seu hospedeiro um grande fardo, dentro do qual, segundo declaração sua, havia um grande tesouro, fato este, que foi testemunhado por enumeras pessoas do local. Rapidamente, a notícia chegou aos ouvidos do Rei que, segundo a lei do país deveria indemnizar a vitima de todo o prejuízo ocasionado pelo sinistro. Ao tomar conhecimento do grande valor da indemnização e ciente de não possuir meios para saldá-la, o rei encontrou, como única solução, entregar seu trono e sua coroa a Eshú, com a condição de poder continuar, com toda sua família, residindo no palácio. Diante da proposta, Eshú aceitou imediatamente, passando a ser deste então o rei de Ijelu.
VIII Sobre Eshú existem muitas lendas, mas esta demonstra bem o carácter irreverente de Eshú: Eshú, sabedor de que uma rainha fora abandonada pelo seu Rei (dormindo assim em aposentos separados), procurou-a, entregou a ela uma faca e disse que se ela desejasse ter ele de volta, deveria cortar alguns fios da sua barba ao anoitecer quando o Rei dormisse. Em seguida, foi à casa do Príncipe Herdeiro do trono, situada nos arredores do palácio e disse ao Príncipe que o Rei desejava vê-lo ao anoitecer com o seu exército. Em seguida, foi até ao Rei e disse: "A Rainha magoada vai tentar matá-lo à noite. Finja que está dormindo para não morrer. E a noite veio. O Rei deitou-se e fingiu dormir e viu depois a Rainha aproximar uma faca de sua garganta. Ela queria apenas cortar um fio da barba do Rei, mas ele julgou que seria assassinado. O Rei desarmou-a e ambos lutaram, fazendo grande algazarra. O Príncipe, que chegava com os seus guerreiros, escutou gritos nos aposentos do Rei e correu para lá. O Príncipe entrou nos aposentos e viu o Rei com a faca na mão e pensou que ele queria matar a Rainha e empunhou a sua espada. O Rei, vendo o Príncipe entrar no palácio armado, à noite, pensou que o Príncipe queria matá-lo, gritou pelos seus guardas pessoais e houve uma grande luta, seguida de um massacre generalizado.
IX 20
Conta-nos uma lenda, que Òsùn queria muito aprender os segredos e mistérios da arte da adivinhação, para tanto, foi procurar Èsù, para aprender os princípios de tal dom. Èsù, muito matreiro, disse a Òsùn que lhe ensinaria os segredos da adivinhação, mas para tanto, ficaria Òsùn sobre os domínios de Èsù durante sete anos, passando, lavando e arrumando a casa do mesmo. Em troca, ele a ensinaria. E, assim foi feito. Durante sete anos, Òsùn foi aprendendo a arte da adivinhação que Èsù lhe ensinava e consequentemente, cumprindo seu acordo de ajudar nos afazeres domésticos na casa de Èsù. Findando os sete anos, Òsùn e Èsù, tinham se apegado bastante pela convivência em comum, e Òsùn resolveu ficar em companhia desse Òrìsà. Em um belo dia, Sàngó que passava pelas propriedades de Èsù, avistou aquela linda donzela que penteava seus lindos cabelos na margem de um rio e, de pronto agrado, foi declarar sua grande admiração para com Òsùn. Foi-se a tal ponto que Sàngó, viu-se completamente apaixonado por aquela linda mulher, e perguntou se não gostaria de morar em sua companhia no seu lindo castelo na cidade de Oyó. Òsùn rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a companhia de Èsù. Sàngó então, irado por ter sido contrariado, sequestrou Òsùn e levou-a em sua companhia, aprisionando-a na masmorra de seu castelo. Èsù, logo de imediato sentiu a falta de sua companheira e saiu a procurar, por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo, sua doce pupila de anos de convivência. Chegando nas terras de Sàngó, Èsù foi surpreendido por um canto triste e melancólico que vinha da direcção do palácio do Rei de Oyó, da mais alta torre. Lá estava Òsùn, triste e a chorar por sua prisão e permanência na cidade do Rei. Èsù, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Òrùnmílá, que de pronto agrado lhe cedeu uma poção de transformação para Òsùn fugir dos domínios de Sàngó. Èsù, através da magia, pôde fazer chegar às mãos de sua companheira a tal poção. Òsùn tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se numa linda pomba dourada, que voou e pode então retornar em companhia de Èsù para a sua morada.
X Como Èsù tornou-se Òsijè-Ebó Essa história revela o nascimento do 17o. Odù, como e de onde nasceu Òsetùwá, em decorrência, veremos a analise através de como Èsù se tornou Èsù Òsijè-Ebó, o transportador e encarregado de encaminhar as oferendas entre a terra e o òrun. Quem deveria consultar o porta-voz-principal-do-culto-de-Ifá; a nuvem está pendurada por cima da terra... Bábálàwó dos tempos imemoriais; Os "siris" estão no rio; a marca do dedo requer Yèréòsùn (pó sagrado de Ifá). Estes foram os Bábálàwó que jogaram Ifá para os quatrocentos Irúnmolè, senhores do lado direito, e jogaram Ifá para os duzentos malè, senhores do lado esquerdo. E jogaram Ifá para Òsun, que tem uma coroa toda trabalhada de contas, no dia em que ele (Òsetùá) 21
veio a ser o décimo sétimo dos Irùnmolè que vieram ao mundo, quando Òlódumàrè enviou os òrìsà, os dezesseis, ao mundo, para que viessem criar e estabelecer a terra. E vieram verdadeiramente nessa época. As coisas que Òlódumàrè lhes ensinou nos espaços do òrun constituíram nos pílares de fundação que sustentam a terra para a existência de todos os seres humanos e de todos os ebora. Olódumàrè lhes ensinou que quando alcançassem a terra, deveriam abrir uma clareira na floresta, consagrando-a de Orò, o Igbó Orò. Deveriam abrir uma clareira na floresta, consagrando-a a Eégún, o Igbó Eégún, que seria chamado Igbó Òpá. Disse que deveriam abrir uma clareira na floresta consagrando-a a Odù Ifá, o Igbó Odù, onde iriam consultar o oráculo a respeito das pessoas. Disse ele que deveriam abrir um caminho para os Òrìsà e chamar esse lugar de Igbó Òrìsà, floresta para adorar os òrìsà. Olódumàrè lhes ensinou a maneira como deveriam resolver os problemas de fundação (assentamento) e adoração dos ojóbo (lugares de adoração) e como fariam as oferendas para que não houvesse morte prematura, nem esterilidade, nem infecundidade, que não houvesse perda, nem vida paupérrima, não houvesse nada de tudo isso sobre a terra. Para que as doenças sem razão não lhes sobrevivessem, que nenhuma maldição caísse sobre eles, que a destruição e a desgraça não se abatessem sobre eles. Olódumàrè ensinou aos dezasseis òrìsà o que eles deveriam realizar para evitar todas as coisas. Ele os delegou e enviou à terra, a fim de executarem tudo isso. Quando vieram ao òde àiyé, a terra, fundaram fielmente na floresta o lugar de adoração de Orò, o Igbá Orò. Fundaram na floresta o lugar de adoração de Eégún. Fundaram na floresta o lugar de adoração de Ifá que chamamos Igbódù. Também abriram um caminho para os òrìsà, que chamamos igbóòòsa. Executaram todos esses programas visando a ordem. Se alguém estava doente, ele ia consultar Ifá ao pé de Òrúnmìlá. Se acontecia que Eégún poderia salvá-lo, dir-lho-iam. Seria conduzido ao lugar de adoração na floresta de Eégún ao Igbó-Igbàlè, para que ele fizesse uma oferenda para Egúngún. Talvez que um de seus ancestrais devesse ser invocado como Eégún, para que o adorasse, a fim de que esse Eégún o protegesse. Se havia uma mulher estéril, Ifá seria consultado, a respeito dela, a fim de que Orúnmìlà pudesse indicar-lhe a decoação de Òsun, que ela deveria tomar. Se havia alguém que estava levando uma vida de miséria, Orúnmìlà consultaria Ifá, a respeito dele. Poderia ser que Orò estivesse associado à sua própria entidade criadora. Orúnmìlà diria a essa pessoa que é a Orò que ela devia adorar. E ela seria conduzida à floresta de Orò. Eles seguiram essa prática durante muito tempo. Enquanto realizavam as diversas oferendas, eles não chamavam Òsun. Cada vez que iam à floresta de Eégún, ou à floresta de Orò, ou à floresta de Ifá, ou à floresta de Òòsà, a seu retorno, os animais que eles tinham abatido, fossem cabras, fossem carneiros, fossem ovelhas, fossem aves, entregavam-nos a Òsun para que ela os cozinhasse. Preveniram-na que quando ela acabasse de preparar os alimentos, não devia comer nenhum pouco, porque deviam ser levados aos Malè, lá onde as oferendas são feitas. Òsun começou a usar o poder das mães ancestrais - àse Iyá-mi - e a estender sobre tudo o que ela fazia esse poder de Iyá-mi-Àjé, que tornava tudo inútil. Se se predissesse a alguém que ele ou ela não fosse morrer, essa pessoa não deixava de morrer. Se fosse proclamado que uma pessoa não sobreviveria, a pessoa 22
sobreviveria. Se se previsse que uma pessoa daria à luz um filho, a pessoa tornava-se estéril. Um doente a quem se dissesse que ele ficaria curado não seria jamais aliviado de sua doença. Essas coisas ultrapassavam seu entendimento, porque o poder de Olódumàre jamais tinha falhado. Tudo que Olódumàre lhes havia ensinado eles o aplicavam, mas nada dava resultado. Que era preciso fazer ? Quando se congregaram numa reunião, Orúnmìlà sugeriu que, já que eles eram incapazes de compreender o que se estava passando por seus próprios conhecimentos, não havia outra solução senão consultar Ifá novamente. Em consequência, Orúnmìlà trouxe seu instrumento adivinatório, depois consultou Ifá. Contemplou longamente a figura do Odù que apareceu e chamou esse Odù pelo nome de òsetùá. Ele olhou em todos os sentidos. A partir do resultado definitivo de sua leitura, Orúnmìlà transmitiu a resposta a todos os outros Odù-àgbà. Estavam todos reunidos e concordaram que não havia outra solução para todos eles, os òrìsàs-irúnmàlè, senão encontrar um homem sábio e instruído que podesse ser enviado a Olódumàrè, para que mandasse a solução do problema e o tipo de trabalho que devia ser feito para o restabelecimento da ordem, a fim de que as coisas voltassem a normalizar-se, e nada mais interferisse em seus trabalhos. Ele, Orúnmìlà, deveria ir até a Olódumàrè. Orúnmìlà ergueu-se. Serviu-se de seus conhecimentos para utilizar a pimenta, serviu-se de sua sabedoria para tomar nozes de obi, despregou seu òdùn (tecido de ráfia) e o prendeu no seu ombro, puxou seu cajado do solo, um forte redemoinho o levou, e ele partiu até aos vastos espaços do outro mundo para encontrar Olódumàrè. Foi lá que Orúnmìlà reencontrou Èsù Òdàrà. Èsù já estava com Olódumàrè. Èsù fazia sua narração a Olódùmarè. Explicava que aquilo que estava estragando o trabalho deles na terra era o fato de eles não terem convidado a pessoa que constitui a décima sétima entre eles. Por essa razão, ela estragava tudo, Olódumàrè compreendeu. Assim que Orúnmìlà chegou, apresentou seus agravos a Olódumàrè. Então Olódumàrè lhe disse que deveria ir e chamar a décima sétima pessoa entre eles e levá-la a participar de todos os sacrifícios a serem oferecidos. Porque, além disso, não havia nenhum outro conhecimento que Ele lhes pudesse ensinar senão as coisas que Ele já lhes havia dito. Quando Orúnmìlà voltou à terra, reuniu todos os òrìsà e lhes transmitiu o resultado de sua viagem. Chamaram Òsun e lhe disseram que ela deveria segui-los por todos os lugares onde deveriam oferecer sacrifícios. Mesmo na floresta de Eégún. Òsun recusou-se: ela jamais iria com eles. Começaram a suplicar a Òsun e ficaram prostrados um longo tempo. Todos começaram a homenageá-la e a reverenciá-la. Òsun os maltratava e abusava deles. Ela maltratava Òrìsànlá, maltratava Ògún, maltratava Orúnmìlà, maltratava Òsányín, maltratava Orànje, ela continuava a maltratar todo mundo. Era o sétimo dia, quando Òsun se apaziguou. Então eles disseram que viesse. Ela replicou que jamais iria, disse, entretanto, que era possível fazer uma outra coisa já que todos estavam fartos dessa história. Disse que se tratava da criança que levava no seu ventre. Somente se eles soubessem como fazer para que ela desse à luz uma criança do sexo masculino, isso significaria que ela permitiria então que ele a substituísse e fosse com eles. Se ela desse à luz uma criança do sexo feminino, podiam estar certos que esta questão não se apagaria em sua mente. Ficariam aí, pedaços, pedaços, pedaços. E eles deveriam saber com certeza que 23
esta terra pereceria; deveriam criar uma nova. Mas se ela desse à luz um filho homem, isso queria dizer que, evidentemente, o próprio Olórun os tinha ajudado. Assim apelou-se para Òrìsàlá e para todos os outros òrìsà para saber o que deveriam fazer para que a criança fosse do sexo masculino. Disseram que não havia outra solução a não ser que todos utilizassem o poder - àse - que Olódumàrè tinha dado a cada um deles; cada dia repetidamente deveriam vir, para que a criança nascesse do sexo masculino, Todos os dias iam colocar seu àse - seu poder - sobre a cabeça de Òsun, dizendo o que segue: "Você Òsun ! Homem ele deverá nascer, a criança que você traz em si!" Todos respondiam "assim seja", dizendo "tó!" acima de sua cabeça... Assim fizeram todos os dias, até que chegou o dia do parto de Òsun. Ela lavou a criança. Disseram que ela deveria permitir-lhes vê-la. Ela respondeu "não antes de nove dias". Quando chegou o nono dia, ela os convocou a todos. Esse era o dia da cerimónia do nome, da qual se originaram todas as cerimónias de dar o nome. Mostrou-lhes a criança, e a pôs nas mãos de Òrìsàálá. Quando Òrìsàálá olhou atentamente a criança e viu que era um menino, gritou: "Músò"...! (hurra...!). Todos os outros repetiram "Músò".....! Cada um carregou a criança, depois o abençoaram. Disseram "somos gratos por esta criança ser um menino". Disseram: "Que tipo de nome lhe daremos?". Òrìsàálá disse: "Vocês todos sabem muito bem que cada dia abençoamos sua mãe com nosso poder para que ela pudesse dar à luz uma criança do sexo masculino, e essa criança deveria justamente chamar-se À-S-E-T-Ù-W-Á (o poder trouxe ela a nós)" Disseram: "Acaso você não sabe que foi o poder do àse, que colocamos nela, que forçou essa criança a vir ao mundo, mesmo se antes ela não queria vir à terra sob a forma de uma criança do sexo masculino? Foi nosso poder que a trouxe à terra". Eis por que chamaram a criança de Àsetùwà. Quando chegou o tempo, Orúnmìlà consultou o oráculo Ifá acerca da criança, porque todos devem conhecer sua origem e destino, colheram o instrumento de Ifá para consultá-lo. Eles o manipularam e o adoraram. Era chegado o momento de consultar Ifá a respeito dele, para saberem qual era seu Odù, para que o pudessem iniciar no culto de Ifá. Levaram-no à floresta de Ifá, que chamamos Igbódù, onde Ifá revelaria que Òsè e Òtùá eram seu Odù. Este foi o resultado que ele deu a respeito da criança. Orúnmìlà disse: "a criança que Òsè e Òtùá fizeram nascer, que antes chamamos de Àsetùwá", disse, "chamemo-la de Òsètùá". Foi por isso que chamaram a criança com o nome do Odù de Ifá que lhe deu nascimento, Òsètùá. Àsetùá era o nome que ele trazia anteriormente. Assim, a criança participou do grupo dos outros Odù, ao ponto de ir com eles a todos os lugares onde se faziam oferendas na terra. Foi assim que todas as coisas que Olódùmàrè lhes tinha ensinado deixaram de ser corrompidas. Cada vez que proclamavam que as pessoas não morreriam, elas realmente sobreviviam e não morriam. Se diziam que as pessoas seriam ricas, elas tornavam-se realmente ricas. Se diziam que a mulher estéril conceberia, ela realmente dava à luz. A própria Òsun deu a essa criança um nome nesse dia. Disse ela: "Osó a gerou (significando que a criança era filho do poder mágico), porque ela mesma era uma ajé e a criança que ela gerou é um filho homem. Disse ela: "Akin Osò", (Akin Osò: poderoso mago; homem bravo dotado de um grande poder sobrenatural) eis o que a criança será ! É por isso que eles chamaram Òsetùá de Akin Osò, entre todos os Odù Ifá e entre os dezasseis òrìsà mais anciãos. Depois eles disseram que em qualquer lugar onde os maiores se reunissem, seria compulsório que a criança fosse um deles. Se não pudessem encontrar o décimo sétimo membro, não poderiam chegar a nenhuma decisão, 24
e se dessem um conselho, não poderiam ratifica-lo. Finalmente, aconteceu! Sobreveio uma seca na terra. Tudo estava seco! Não havia nem orvalho! Fazia três anos que tinha chovido pela última vez. O mundo entrou em decadência. Foi então que eles voltaram a consultar Ifá, Ifà àjàlàiyé. (aquele que administra a terra) Quando Orúnmìlà consultou Ifá àjàlàiyé, disse que deveriam fazer uma oferenda, um sacrifício, e preparar a oferenda de maneira que chegasse a Olódùmàrè, para que Olódùmàrè pudesse ter piedade da terra, e assim não virasse as costas à terra e se ocupasse dela para eles. Porque Olódùmàrè não se ocupava mais da terra. Se isso continuasse, a destruição era inevitável, era iminente. Somente se pudessem fazer a oferenda, Olódumàrè teria sempre misericórdia deles. Ele se lembraria deles e zelaria pelo mundo. Foi assim que prepararam a oferenda. Eles colocaram, uma cabra, uma ovelha, um cachorro e uma galinha, um pombo, uma preá, um peixe, um ser humano e um touro selvagem, um pássaro da floresta, um pássaro da savana, um animal doméstico. Todas essas oferendas, e ainda dezasseis pequenas quartinhas cheias de azeite de dendê que eles juntaram nesse dia. E ovos de galinha, e dezasseis pedaços de pano branco puro. Prepararam as oferendas apropriadas usando folhas de Ifá, que toda oferenda deve conter. Fizeram um grande carrego com todas as coisas. Disseram então, que o próprio Èjì-Ogbè deveria levar essa oferenda a Olódumàrè. Ele levou a oferenda até as portas do òrun, mas elas não lhe foram abertas. Èjì-Ogbè voltou à terra. No segundo dia Òyèkú-Méji a carregou, ele voltou. Não lhe abriram as portas. Ìwòrí-Méji levou a oferenda, assim fizeram Òdi-Méji; Ìrosùn-Méji; Òwórin-Méji; Òbàrà-Méji; ÒkànrànMéji; Ogúndá-Méji; Òsá-Méji; Ìká-Méji; Òtúrúpòn-Méji; Òtúá-Méji; Ìrètè-Méji; Òsè-Méji; Òfún-Méji. Mas não puderam passar, Olórun não abria as portas. Assim decidiram que o décimo sétimo entre eles deveria ir e experimentar o seu poder, antes que tivessem que reconhecer que não tinham mais nenhum poder. Foi assim que Òsetùá foi visitar certos Babaláwo, para que eles consultassem o oráculo para ele. Esses Babaláwo traziam os nomes de Vendedor-de-azeite-de-dendê e Comprador-de-azeite-de-dendê. Ambos esfregaram seus dedos com pedaços de cabaça. Jogaram Ifá para Akin Osò, o filho de Enìnàre (aquela que foi colocada na senda do bem) no dia em que ele conseguiu levar a oferenda ao poderoso òrun. Disseram que ele deveria fazer uma oferenda; disseram, quando ele acabasse de fazer a oferenda, disseram, no lugar a respeito do qual ele estava consultando Ifá, disseram, ali, ele seria coberto de honras, disseram, sucederá que a posição que ele ali alcançasse, disseram, essa posição seria para sempre e não desapareceria jamais. Disseram, as honras que ele ali receberia, disseram, o respeito, seriam intermináveis. Disseram: "Você verá uma anciã no seu caminho", disseram, "faça-lhe o bem". Assim, quando Òsetùá acabou de preparar a oferenda, seis pombos, seis galinhas com seis centavos e quando estava em seu caminho, ele encontrou uma anciã. Ele carregava a oferenda no caminho que levaria a Èsù, quando encontrou essa anciã na sua rota. Essa anciã era da época em que a existência se originou. Disse: "Akin Osò! à casa de quem vai você hoje ?" Disse: "eu ouvi rumores a respeito de todos vocês na casa de Olófin, que os dezasseis Odù mais idosos levaram uma oferenda ao poderoso òrun sem sucesso". Disse: "assim seja". Disse: "é sua vez hoje?'' Disse: "é minha vez". Disse: "tomou alimentos hoje?" Respondeu ele: "eu tomei alimentos". 25
Disse ela "quando você chegar a seu sitio, diga-lhes que você não irá hoje". Disse ela: "Esses seis centavos que você me deu", Disse: "há três dias não tinha dinheiro para comprar comida" Disse: "diga-lhes que você não irá hoje". Disse: "quando chegar amanhã, você não deve comer, você não deve beber antes de chegar ali". Disse: "você deve levar a oferenda". Disse: "todos esses que ali foram, comeram da comida da terra, essa é a razão por que Olórun não lhes abriu a porta!" Quando Òsetùá voltou a casa de Oba Àjàlàiyè, todos os Odù Ifá estavam reunidos lá. Disseram: "você deve estar pronto agora, é sua vez hoje de levar a oferenda ao òrun, talvez a porta seja aberta para você!" Disse ele que estaria pronto no dia seguinte, porque não tinha sido avisado na véspera. Quando chegou o dia seguinte, Òsetùá, foi encontrar Èsù e lhe perguntou o que deveria fazer. Èsù respondeu: "Como! Jamais pensei que você viria me avisar antes de partir". Disse ele: "isso vai acabar hoje, eles lhe abrirão a porta !" Perguntou ele: "Tomou algum alimento?" Òsetùá lhe respondeu que uma anciã lhe tinha dito na véspera que ele não devia comer absolutamente nada. Então Òsetùá e Èsù puseram-se a caminho. Partiram em direcção aos portões do òrun. Quando chegaram lá, as portas já se encontravam abertas. Quando levaram a oferenda a Olódùmarè e Ele examinou. Olòdumarè disse: "Haaa! Você viu qual foi o último dia que choveu na terra?! Eu me pergunto se o mundo não foi completamente destruído. Que pode ser encontrado lá?" Òsetùá não podia abrir a boca para dizer qualquer coisa. Olódùmarè lhe deu alguns "feixes" de chuva. Reuniu, como outrora, as coisas de valor do òrun, todas as coisas necessárias para a sobrevivência do mundo, e deu-lhas. Disse que ele, Òsetùá, deveria retornar. Quando deixaram a morada de Olódumarè, eis que Òsetùá perdeu um dos "feixes" de chuva. Então a chuva começou a cair sobre a terra. Choveu, choveu, choveu, choveu.... Quando Òsetùá voltou ao mundo, em primeiro lugar foi ver Quiabo. Quiabo tinha produzido vinte sementes. Quiabo que não tinha nem duas folhas, um outro não tinha mesmo nenhuma folha em seus ramos. Voltou-se em direcção à casa do Quiabo escarlate, Ilá Ìròkò tinha produzido trinta sementes. Quando chegou a casa de Yáyáá, esse havia produzido cinquenta sementes. Foi então até à casa da palmeira de folhas exuberantes, que se encontrava na margem do rio Awónrin Mogún. A palmeira tinha dado nascimento a dezasseis rebentos. Depois que a palmeira deu nascimento a dezasseis rebentos ele voltou à casa de Oba Àjàlàiyé. Àse se expandia e se estendia sobre a terra. Sémen convertia-se em filhos, homens em seu leito de sofrimento se levantavam, e todo o mundo tornou-se aprazível, tornou-se poderoso. As novas colheitas eram trazidas dos plantios. O inhame brotava, o milho amadurecia, a chuva continuava a cair, todos os rios transbordavam, todo mundo era feliz. Quando Òsetùá chegou, carregaram-no para montar num cavalo (signo de realeza: só os mais poderosos podem-se permitir a criar ou montar cavalos em País Yorùbá). Estavam mesmo a ponto de levantar o cavalo do chão para mostrar até que ponto as pessoas estavam ricas e felizes. Estavam de tal forma contentes com ele, que o cobriram de presentes, os que estavam em sua direita os que estavam em sua esquerda. Começaram 26
a saudar Òsetùá: "Você é o único que conseguiu levar a oferenda ao òrun, a oferenda que você levou ao outro mundo era poderosa ! Disseram, "sem hesitação, rápido, aceite meu dinheiro e ajude-me a transportar minha oferenda ao òrun! Òsetùá! Aceite rápido! Òsetùá aceite minha oferenda!" Todos os presentes que Òsetùá recebeu, os deu todos a Èsù Òdàrà. Quando os deu a Èsù, Èsù disse: "Como!" Há tanto tempo ele entregava os sacrifícios, e não houve ninguém para retribuir-lhe a gentileza. "Você Òsetùá! Todos os sacrifícios que eles fizerem sobre a terra, se não os entregarem primeiro a você, para que você possa trazer a mim, farei que as oferendas não sejam mais aceitáveis". Eis a razão pela qual sempre que os Babaláwo fazem sacrifícios, qualquer que seja o Odù Ifá que apareça e qualquer que seja a questão, devem invocar Òsetùá para que envie as oferendas a Èsù. Porque é só de sua mão que Èsù aceitará as oferendas para levá-las ao òrun. Porque quando Èsù mesmo recebia os sacrifícios das pessoas da terra e os entregava no lugar onde as oferendas são aceitas, eles não demonstravam nenhum reconhecimento pelo que ele fazia por todos até o dia em que Òsetùá teve de carregar o sacrifício e Èsù foi abrir o caminho apropriado para o òrun, para alcançar a morada de Olódumàrè. Quando se abriram as portas para ele. A qualidade de gentileza que Èsù recebeu de Òsetùá era realmente muito valiosa para ele (Èsù). Então ele e Òsetùá decidiram combinar um acordo pelo qual todas as oferendas que deveriam ser feitas deveriam ser-lhe enviadas por intermédio de Òsetùá. Foi assim que Òsetùá converteu-se no entregador de oferendas para Èsù. Èsù Òdàrà, foi assim que ele se converteu em O portador de oferendas para Olódumàrè, Èsù Òsijé-Ebó, no poderoso òrun. É assim como este Itan (verso) Ifá explica, a respeito de Èsù e Òsetùá.
XI "Exu, filho primogénito de Iemanjá com Orunmilá, o deus da adivinhação e irmão de Ogum, Xangô e Oxóssi, era voraz e insaciável. Conseguiu comer todos animais da aldeia em que vivia. Depois disso, passou a comer as árvores, os pastos, tudo que via até chegar ao mar. Orunmilá previu então que Exu não pararia e acabaria comendo os homens, e tudo que visse pela frente, chegando mesmo a comer o céu. Ordenou então a Ogum que contivesse o irmão Exu a qualquer custo. Para conseguir isto, Ogum foi obrigado a matar Exu, a fim de preservar a terra criada e os seres humanos. Mas mesmo depois da morte de Exu, a natureza, os pastos, as árvores, os rios, tudo permaneceu ressecado e sem vida, doente, morrendo. Um babalaô (representante de Orunmilá na terra) alertou Orunmilá de que o espírito de Exu sentia fome e desejava ser saciado, ameaçando provocar a discórdia entre os povos como vingança pelo que Orunmilá e Ogum haviam feito. Orunmilá determinou então que em toda e qualquer oferenda que fosse feita pelos homens a um orixá, houvesse uma parte em homenagem a Exu, e que esta parte seria anterior a qualquer outra, para que se mantivesse sempre satisfeito e assim possibilitasse a concórdia".
XII Filho de Oxalá com Yemanjá e irmão gémeo de Ogum, Elegbará sempre aprontava para chamar a atenção, devido aos seus ciúmes. Destemido, valente e brincalhão, adorava se envolver em tudo o que acontecia na Terra. Devido à sua imensa curiosidade e vontade de viver, ele andou pelos quatro cantos do 27
mundo, buscando descobrir todos os segredos e mistérios que envolviam a nosso planeta. Elegbará era um orixá que ao mesmo tempo que era amado, era muito temido, pois já intimidava a todos com seus olhos, que eram duas bolas de fogo. Ao contrário de alguns orixás que ansiavam em ter um reino, fundando nações, ele queria o mundo todo, por isto saía pelas estradas, vivendo aventuras e angariando adoradores em todas as tribos que visitava. Elegbará é aquele que vive no plano intermediário entre o Orum e o Aiyê. Ele é o protector dos aventureiros, jogadores e todos aqueles que gostam de viver. Dia: Segunda-feira Cores: Vermelho e preto, violeta cintilante. Metal: Ferro, bronze e Terra Pedra: Rubi, granada Comida: Aguardente, cebola e mel, Farofa de dendê, bife acebolado, picadinho de miúdos, omolocum. Limão Símbolos - Tridente, bastão (agô) Elemento - Fogo Plantas - Pimenta, capim tiririca, urtiga. Arruda, salsa, hortelã. Bebidas - Cachaça e batida de mel para exu; anis e champanha para pomba-gira. Sincretismo - Santo Antonio e São Benedito. Domínio - Passagens : Encruzilhadas e portas. Missão - Vigia as passagens, abre e fecha os caminhos.por isso ajuda a resolver problemas da vida fora de casa e a encontrar caminhos para progredir, além de proteger contra perigos e inimigos. Quem é - Mensageiro dos mortais para os orixás, senhor da vitalidade. Características - Apaixonado, esperto, criativo, persistente, impulsivo, bri ncalhão. Quizília - Comidas brancas e sal. Saudação - Laroiê! Onde Recebe Oferendas - No canto das encruzilhadas. Riscos de Saúde - Dores de cabeça relacionadas a problemas de fígado. Presentes Prediletos - Dinheiro, velas, suas comidas e bebidas preferidas, charutos (exu) ou cigarros (pomba-gira).
Observação - Pomba-gira (de bombogira, nome de exu em angola) é o nome dado aos exus femininos. Na Umbanda, existem muitos exus e pombas-giras que governam lugares diferentes e auxiliam os Vários orixás. EXU é o pré-existente à ordem do mundo. Como a própria vida, ele se transforma sem parar, mas não uniformemente, porque EXU muda o jogo a seu bel prazer - é um "tríckster". É astucioso, vaidoso, inteligente e ambíguo- a tal ponto que os primeiros missionários assustados com pararam-no ao diabo, dele fazendo símbolo de tudo que é maldade. Mas EXU, por ser o próprio dinamismo, é quem faz, com seus paradoxos, as coisas manterem-se vivas. É ele que propicia estar o AXÉ sempre circulando e, ao ser tratado com consideração (oferendas), reage favoravelmente, mostrando-se serviçal e prestativo. EXU revela-se o mais humano dos ORIXÁS, nem completamente mau, nem completamente bom. Por estar relacionado com os ancestrais, ele é o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. Cada pessoa tem o seu BARA - até cada ORIXÁ tem seu EXU. Ele está em tudo e com tu do, pois à o intermediário eterno entre os homens e os deuses. É por isso que em todas as cerimônias do CANDOMBLÉ, sua 28
oferenda é a primeira e chama-se PADÉ - que significa re-união. No PADÉ, EXU é chamado, saudado, cumprimentado e enviado ao alem, com dupla intenção: convocar os outros ORIXÁS para a festa e ao mesmo tempo afasta-lo, para que não perturbe a boa ordem da cerimônia, com seus golpes de "tríckster". Como transportador das oferendas, ele é OXETUÁ, filho de OXUM com os dezesseis ODU do oráculo (Jogo de búzios) (CAURI) Este aspecto benfazejo de EXU outorga-lhe o poder de restituir a fecundidade ao mundo. Como senhor do poder da transformação, ele é EXU ELEGBARA, que foi cortado em pedaços e em seguida se regenerou e, ao fazê-lo, reuniu simbolicamente o Universo inteiro. EXU mantém o equilíbrio das trocas, provoca o conflito para promover a síntese. Tudo que se une, multiplica-se, separa-se, transforma-se - tudo é EXU, personificação do principio da transformação. Seu dia é segunda-feira. Ele está associado ao nascente e ao futuro e sua cor é o azul-escuro arroxeado, cor do mistério da procriação. Seu animal e o cão; o cacto e o mandacaru são suas plantas. Rege o sexo e usa um chapéu que se assemelha ao falo: não há sexualidade sem EXU. OKOTÓ é o caracol, símbolo de EXU, e representa a espiral da evolução. Quando se manifesta, é saudado por um de seus nomes (LAROYE). Veste-se de branco, azul e vermelho, leva na mão um tridente ou um ferro de sete pontas ou ainda uma lança. O tipo psicológico do filho de EXU tem as seguintes características: é robusto, ágil, dinâmico, incansável, transborda vitalidade. Ë grande amigo dos prazeres da vida, guloso, está sempre com fome e bebe bastante. E por isso que ninguém do CANDOMBLÉ deve beber nada sem antes jogar no chão da porta da rua, bebida para EXU. Alegre, brincalhão, gosta de pregar peças, esconder objetos, contar mentiras, ensinar o caminho errado. Adora chocar, dizer palavrões. E desordeiro e adora tumultuar festas e reuniões. Quando lhe convém, pode ser extremamente trabalhador, eficiente, incansável e obstinado tendo em vista sempre o que com isso irá ganhar. Mas e totalmente imprevisível, podendo deixar o trabalho em que se empenha apenas por capricho. Não é, entretanto, Insensível. É prestativo e não recusa sua ajuda aos amigos. É chamado sempre para resolver problemas financeiros, brigas, encrencas amorosas, as quais com habilidade e bom humor consegue dar uma solução feliz. Mas a principal característica dos filhos de EXU e a exarcebação da sexualidade; suas vidas são regidas por intensa atividade sexual, e fidelidade sexual e algo impossível de obter-se dos filhos de EXU.
Estereótipo de Esù O arquétipo de Exu é muito comum em nossa sociedade, onde proliferam pessoas com caráter ambivalente, ao mesmo tempo boas e más, porém com inclinação para a maldade, o desatino, a obscenidade, a depravação e a corrupção. Pessoas que têm a arte de inspirar confiança e dela abusar, mas que apresentam, em contrapartida, a faculdade de inteligente compreensão dos problemas dos outros e a de dar ponderados conselhos, com tanto mais zelo quanto maior a recompensa esperada. As cogitações intelectuais enganadoras e as intrigas políticas lhes convêm particularmente e são, para elas, garantias de sucesso na vida.
Oríkìs Oríkì à Esù Èsù òta òrìsà. Osétùrá ni oruko bàbá mò ó. Alágogo Ìjà ni orúko ìyá npè é, Èsù Òdàrà, omokùnrin Ìdólófin, O lé sónsó sí orí esè elésè Kò je, kò j é kí eni nje gbé mì, A kìì lówó láì mú ti Èsù kúrò, A kìì lóyò láì mú ti Èsù kúrò, Asòntún se òsì láì ní ítijú, Èsù àpáta sómo 29
olómo lénu, O fi okúta dípò iyò. Lóògemo òrun, a nla kálù, Pàápa-wàrá, a túká máse sà, Èsù máse mí, omo elòmíràn ni o se.
Tradução Exú, o inimigo dos orixás. Osétùrá é o nome pelo qual você é chamado por seu pai. Alágogo Ìjà é o nome pelo qual você é chamado por sua mãe. Exú Òdàrà, o homem forte de ìdólófin, Exú, que senta no pé dos outros. Que não come e não permite a quem está comendo que engula o alimento. Quem tem dinheiro, reserva para Exú a sua parte, Quem tem felicidade, reserva para Exú a sua parte. Exú, que joga nos dois times sem constrangimento. Exú, que faz uma pessoa falar coisas que não deseja. Exú, que usa pedra em vez de sal. Exú, o indulgente filho de Deus, cuja grandeza se manifesta em toda parte. Exú, apressado, inesperado, que quebra em fragmentos que não se poderá juntar novamente, Exú, não me manipule, manipule outra pessoa. Padê para Esú Ingredientes: - 01 pcte. de farinha de milho amarela - 01 vidro de azeite de dendê - 01 cebola grande - 01 bife - 03 charutos - 01 caixas de fósforo - 01 garrafa de aguardente - 07 pimentas vermelhas Modo de preparo: Em um alguidar coloque a farinha de milho e um pouco de dendê, com as mãos faça uma farofa bem fofa sempre mentalizando seu pedido. Corte a cebola em rodelas e refogue ligeiramente no dendê, faça o mesmo com o bife. Cubra o padê com as rodelas de cebola e no centro coloque o bife, enfeite com as sete pimentas. Ofereça a Exú o padê não esquecendo dos charutos e da aguardente.
As Comidas do Santo EXÚ - Farofa - Dendê e Pinga. OGUN - Feijão Preto com Cebola ( macundê ). OXOSSI - Milho e Coco. OSSAIN - Feijão Preto com Mel e Coco. OBALUAIÊ - Pipocas. XANGÔ - Quiabo ( Ajobô ). OXUMARÊ - Batata Doce ou Amendoim Cozido com Casca e Mel. OXUN - Ovos Cozidos, Camarões, Milho e Coco. IANSÃ - Acarajés. NANÃ - Folha de Mostarda com Arroz. OBÁ - Divide com Xangô o Quiabo ( Amalá ). EWÁ - Frutas. IROCO - Verduras e Cebola. IEMANJÁ - Arroz com Mel e Manjar Branco. OXALÁ - Arroz Branco - Inhame Pilado e Cozido.
COMIDA PARA ESU Material Necessário:FarinhaAzeite-de-DendêMel de AbelhaMilho BrancoFigado, Coração e Bofe de BoiCebolaCamarão Seco SocadoUm Oberó 30
Maneira de Preparar:
Mi-Ami-Mi : É a farofa amarela ( farinha misturada com Azeite-de-Dendê ). Padê Branco : É a farofa de Mel ( farinha de mandioca misturada com mel de Abelha ). Acaçá Branco: O acaçá feito de milho branco de canjica, moído e enrolado na folha da bananeira depois de cozido. Eram: Figado, coração e bofe de boi, cortados em pedaços muídos, misturados com Azeite-de-Dendê, camarão seco socado e cebolas cortadas em rodelas, num oberó. Esú torna-se o amigo predileto de Orunmila Como se explica a grande amizade entre Orunmila e Exu, visto que eles são opostos em grandes aspectos? Orunmila, filho mais velho de Olorun, foi quem trouxe aos humanos o conhecimento do destino pelos búzios. Exu, pelo contrario, sempre se esforçou para criar mal-entendidos e rupturas, tanto aos humanos como aos Orixás. Orunmila era calmo e Exu, quente como o fogo. Mediante o uso de conchas adivinhas, Orunmila revelava aos homens as intenções do supremo deus Olorun e os significados do destino. Orunmila aplainava os caminhos para os humanos, enquanto Exu os emboscava na estrada e fazia incertas todas as coisas. O caráter de Orunmila era o destino, o de Exu, era o acidente. Mesmo assim ficaram amigos íntimos. Uma vez, Orunmila viajou com alguns acompanhantes. Os homens de seu séqüito não levavam nada, mas Orunmila portava uma sacola na qual guardava o tabuleiro e os Obis que usava para ler o futuro. Mas na comitiva de Orunmila muitos tinham inveja dele e desejavam apoderar-se de sua sacola de adivinhação. Um deles mostrando-se muito gentil, ofereceu-se para carregar a sacola de Orunmila. Um outro também se dispôs à mesma tarefa e eles discutiram sobre quem deveria carregar a tal sacola. Até que Orunmila encerrou o assunto dizendo: "Eu não estou cansado. Eu mesmo carrego a sacola". Quando orunmila chegou em casa, refletiu sobre o incidente e quis saber quem realmente agira como um amigo de fato. Pensou então num plano para descobrir os falsos amigos. Enviou mensagens com a notícia de que havia morrido e escondeu-se atrás da casa, onde não podia ser visto. E lá Orunmila esperou. Depois de um tempo, um de seus acompanhantes veio expressar seu pesar. O homem lamentou o acontecido, dizendo ter sido um grande amigo de Orunmila e que muitas vezes o ajudara com dinheiro. Disse ainda que, por gratidão, Orunmila lhe teria deixado seus instrumentos de adivinhar. A esposa de Orunmila pareceu compreende-lo, mas disse que a sacola havia desaparecido. E o homem foi embora frustrado. Outro homem veio chorando, com artimanha pediu a mesma coisa e também foi embora desapontado. E assim, todos os que vieram fizeram o mesmo pedido. Até que Exu chegou.
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Exu também lamentou profundamente a morte do suposto amigo. Mas disse que a tristeza maior seria da esposa, que não teria mais pra quem cozinhar. Ela concordou e perguntou se Orunmila não lhe devia nada. Exu disse que não. A esposa de Orunmila persistiu, perguntando se Exu não queria a parafernália de adivinhação. Exu negou outra vez. Aí Orunmila entrou na sala, dizendo: "Exu, tu és sim meu verdadeiro amigo!". Depois disso nunca teve amigos tão íntimos, tão íntimos como Exu e Orunmila.
Esu instaura o conflito entre Iemanjá, Oiá e Oxum Um dia, foram juntas ao mercado Oiá e Oxum, esposas de Xangô, e Iemanjá, esposa de Ogum. Exu entrou no mercado conduzindo uma cabra. Exú viu que tudo estava em paz e decidiu plantar uma discórdia. Aproximou-se de Iemanjá, Oiá e Oxum e disse que tinha um compromisso importante com Orunmila. Ele deixaria a cidade e pediu a elas que vendessem sua cabra por vinte búzios. Propôs que ficassem com a metade do lucro obtido. Iemanjá, Oiá e Oxum concordaram e Exu partiu. A cabra foi vendida por vinte búzios. Iemanjá, Oiá e Oxum puseram os dez búzios de Exu a parte e começaram a dividir os dez búzios que lhe cabiam. Iemanjá contou os búzios. Haviam três búzios para cada uma delas, mas sobraria um. Não era possível dividir os dez em três partes iguais. Da mesma forma Oiá e Oxum tentaram e não conseguiram dividir os búzios por igual. Aí as três começaram a discutir sobre quem ficaria com a maior parte. Iemanjá disse: "É costume que os mais velhos fiquem com a maior porção. Portanto, eu pegarei um búzio a mais". Oxum rejeitou a proposta de Iemanjá, afirmando que o costume era que os mais novos ficassem com a maior porção, que por isso lhe cabia. Oiá intercedeu, dizendo que, em caso de contenda semelhante, a maior parte caberia à do meio. As três não conseguiam resolver a discussão. Então elas chamaram um homem do mercado para dividir os búzios eqüitativamente entre elas. Ele pegou os búzios e colocou em três montes iguais. E sugeriu que o décimo búzio fosse dado a mais velha. Mas Oiá e Oxum, que eram a segunda mais velha e a mais nova, rejeitaram o conselho. Elas se recusaram a dar a Iemanjá a maior parte. Pediram a outra pessoa que dividisse eqüitativamente os búzios. Ele os contou, mas não pôde dividi-los por igual. Propôs que a parte maior fosse dado à mais nova. Iemanjá e Oiá. Ainda um outro homem foi solicitado a fazer a divisão. Ele contou os búzios, fez três montes de três e pôs o búzio a mais de lado. Ele afirmou que, neste caso, o búzio extra deveria ser dado àquela que não é nem a mais velha, nem a mais nova. O búzio devia ser dado a Oiá. Mas Iemanjá e Oxum rejeitaram seu conselho. Elas se recusaram a dar o búzio extra a Oiá. Não havia meio de resolver a divisão. Exu voltou ao mercado para ver como estava a discussão. Ele disse: "Onde está minha parte?". Elas deram a ele dez búzios e pediram para dividir os dez búzios delas de modo eqüitativo. Exu deu três a Iemanjá, três a Oiá e tre a Oxum. O décimo búzio ele segurou. Colocou-o num buraco no chão e cobriu com terra. Exu disse que o búzio extra era para os antepassados, conforme o costume que se seguia no Orun. Toda vez que alguém recebe algo de bom, deve-se lembrar dos antepassados. Dá-se uma parte das colheitas, dos banquetes e dos sacrifícios aos Orixás, aos antepassados. Assim também com o dinheiro. Este é o jeito como é feito no Céu. Assim também na terra deve ser. Quando qualquer coisa vem para alguém, deve-se dividi-la com os antepassados. "Lembrai que não deve haver disputa pelos búzios." 32
Iemanjá, Oiá e oxum reconheceram que Exu estava certo. E concordaram em aceitar três búzios cada. Todos os que souberam do ocorrido no mercado de Oió passaram a ser mais cuidadosos com relação aos antepassados, a eles destinando sempre uma parte importante do que ganham com os frutos do trabalho e com os presentes da fortuna.
Exu leva aos homens o oráculo de Ifá Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra. Os deuses cada vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados pelos homens? Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome. Sem a proteção dos deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes, pobres, infelizes. Um dia Exu pegou a estrada e foi em busca de solução. Exu foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a boa vontade dos homens. Iemanjá lhe disse: "Nada conseguirás. Xapanã já tentou afligir os homens com doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios". Iemanjá disse: "Exu matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer. Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocupam com ele. Então é melhor que procures solução em outra direção. Os homens não tem medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para tanto, desejem continuar vivos". Exu retornou o seu caminho e foi procurar Orungã. Orungã lhe disse: "Eu sei por que vieste. Os dezesseis deuses tem fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfaça. Eu conheço algo que pode fazer isso. É uma grande coisa que é feita com dezesseis caroços de dendê. Arranja os cocos da palmeira e entenda seu significado. Assim poderás conquistar os homens". Exu foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos macacos dezesseis cocos. Exu pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com eles. Os macacos então lhe disseram: "Exu, não sabes o que fazer com os dezesseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam esses cocos de palmeira. Em cada um desses lugares recolheras dezesseis odus. Recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos. Cada história tem a sua sabedorias, conselhos que podem ajudar os homens. Vai juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás dezesseis vezes dezesseis odus. Então volta para onde moram os deuses. Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Exu de novo". Exu fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos Orixás. Exu mostrou aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram: "Isso é muito bom". Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens. Os homens então puderam saber todos os dias os desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir. Quando jogavam os dezesseis cocos de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande quantidade de mal que havia no futuro. Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os ameaçavam. Eles recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes 33
para os deuses. Os Orixás estavam satisfeitos e felizes. Foi assim que Exu trouxe aos homens o Ifá.
Porque Esu não deve viver na Casa de Oxalá Eshu gostava muito de dançar e para ir a uma festa fazia qualquer coisa. Um dia havia uma festa e ele não podia ir porque não tinha dinheiro. Fez todos os esforços possíveis até que, como última alternativa, chegou a casa de Oxalá e prometeu limpar-lhe a casa todos os dias se ele o livrasse de um grande apuro que tinha. Oxalá aceitou e pagou-lhe adiantado, pelo que Eshu pode ir à festa nessa noite. Esteve muito contente e divertiu-se muitíssimo, estando tão cansado no outro dia que lhe custou fazer o trabalho a Oxalá como tinham combinado. A limpeza foi feita de má vontade, nesse e em todos os outros dias. Enquanto isto sucedia, Oxalá ficou doente repentinamente, a tal ponto que teve que consultar Orunmilá. Nesta consulta saiu que na sua casa havia alguém que não era dali e que era necessário que se fosse embora. Que apenas esse alguém saísse de sua casa, ele melhoraria de saúde, e também lhe foi dito que aquele que estava em sua casa se sentia preso e que essa era a razão da sua enfermidade. Oxalá recordou-se do rapaz que tinha na sua casa para a limpeza, mas não o despediu de imediato, e, quando houve outra festa na povoação disse-lhe: "Toma este dinheiro e vai à festa. Já não me deves nada, mas não me abandones e visita-me quando quiseres". Eshu foi-se embora muito contente e desde esse momento Oxalá começou a melhorar e curou-se da doença que tinha.
Sobre as Qualidades Exú 1. Elegbára 2. Alákétu 3. Laalu 4. Jelu 5. Run danto 6. Tiriri 7. Lonan 8. Jele bara 9. Anan ou Inan 10. Bará 11. Jigidi 12. Mavambo 13. Embeberekete 14. Sinza Muzila 15. Sandú 16. Baragbo 17. Akesan 18. Baralajki 19. Betire 20. Lamu Bata 21. Okanlelogun Folhas Litúrgicas no Candomblé Èsù Odun-dun - Folha-da-costa Teté - Bredo sem espinhos 34