Audiovisual & Informação Informação Princípios elementares
Ronni Santos Oliveira
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São Paulo, 2011 Projeto Audiovisual & Informação
Audiovisual & Informação: Princípios Elementares E-mail:
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SUMÁRIO Apresentação, 1 1 Introdução, 2 2 Audiovisual & Informação: princípios elementares, 5 2.1 Informação Audiovisual, 8 3 Mídias digitais e interatividade, 12 4 Princípios de gestão significativa da informação audiovisual, 12 5 Audiovisual & informação: princípios de mediação cultural, 14 6 O profissional da informação: competências, posturas e atitudes, 15 7 Onde o audiovisual pode ser encontrado: contextos sociais e mercado de trabalho, 17 8 Textos complementares, 20 Significados da informação no audiovisual: o início de um diálogo, 20 Bancos de Imagens em comunicação, 21 Bancos de imagens: por que gerenciar informações e imagens?, 22 9 Diálogos, oficinas e cursos, 23 10 Bibliografia, 24
Apresentação Este trabalho tem como objetivo iniciar um diálogo sobre as relações entre Audiovisual e Informação no âmbito da Ciência da Informação. A proposta possui um caráter introdutório e panorâmico, versando sobre princípios elementares relativos à natureza da informação visual, sonora, hipermídia e suas relações de hibridimos. A produção audiovisual cresce a cada momento, diversifica-se. Como administrar todo esse volume de informação? A sociedade busca, cria demandas, expressas necessidades diante de todo o potencial de significação proporcionado pela linguagem audiovisual. Como compreender essa necessidade e como promover ações e criar instrumentos, ferramentas, metodologias para a gestão da documentação audiovisual? Levantaremos essas e outras questões pertinentes. O trabalho é o resultado de uma séria de atividades e ações – concretizadas em oficinas, cursos e palestras – dialógicas desenvolvidas por todo o Brasil, envolvendo estudantes e profissionais das Ciências da Informação, Educação e Comunicação tendo como intento estimular e construir um diálogo plural, amplo e significativo em torno das relações transdisciplinares entre audiovisual e informação. Vamos debater as características da informação audiovisual e suas tipologias: imagens, expressões sonoras, hipermídia... Repensar valores, posturas, atitudes... Construir saberes, fazeres e competências plurais. Esse trabalho é o primeiro de uma série de diálogos e publicações sobre o tema. Outros serão desenvolvidos para que novos debates e questionamentos sejam construídos. Ronni Santos Oliveira
Dê sua sugestão, envie-nos informações, esclareça suas dúvidas. Vamos construir toda essa proposta de forma colaborativa! Entre em contato com o Projeto Audiovisual & Informação: e-mail:
[email protected] Ronni Santos Oliveira (professor): e-mail:
[email protected] Nosso blog: http://informacaoaudiovisual.blogspot.com/ Em breve, lançamento do livro (edição impressa): Bancos de Imagens Fotográficas: gestão da informação
Autor: Ronni dos Santos Oliveira
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1 Introdução A produção audiovisual é intensa e crescente na sociedade. Quem nunca produziu um material audiovisual? Pensemos em algo simples, uma ferramenta tecnológica de comunicação que está ao alcance de todos: um celular. Basta um clique para produzirmos uma expressão audiovisual. Nesse aspecto, também estamos envolvidos com a produção do audiovisual e contribuindo para o aumento progressivo de toda essa massa de expressão e informação. Fala-se muito da sociedade da informação; nela, está presente o audiovisual, na sua pluralidade de linguagens. Ao crescer de forma vertiginosa, ele provoca, também, o surgimento de novas necessidades: as pessoas buscam, de forma sistemática, essa documentação. Querem usá-la de alguma forma, para finalidades variadas. Nesse momento, a informação se transforma, ganha novos significados. São necessidades bem distintas, amplas, pontuais, contextualizadas, uma teia de desejos e anseios. E onde fica armazenado todo esse volume de informação e documentação? Aliás, a pergunta poderia partir da seguinte questão: como todo esse volume crescente está organizado, armazenado, como se processa a sua gestão tendo em vista toda uma necessidade de busca, pesquisa e recuperação? Como toda essa informação, inserida em sistemas de unidades de informação, centros de documentação, arquivos, museus, bancos de imagens e sons pode se tornar objeto cultural de produção de sentidos, ressignificação? O audiovisual é rico em linguagens, provoca sensações e percepções. A gestão dessa documentação, baseada exclusivamente em princípios operacionais e instrumentais não se mostra adequada para proporcionar um diálogo plural diante das necessidades almejadas pelos sujeitos. Quem busca informação audiovisual coloca em evidência a interferência de um referente que se manifesta de maneira própria e peculiar, muito diferente dos objetos presentes na informação textual-escrita. Como trabalhar com uma informação que mexe com todos os órgãos do sentido humano? A produção audiovisual e toda a diversidade de necessidades e demandas sociais nos colocam diante de um desafio: como construir metodologias plurais para a gestão significativa de toda
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essa informação, como pensar formas de mediações culturais com os sujeitos em ambientes de informação, comunicação e educação? Como andam as atitudes e posturas dos profissionais da informação diante da documentação? Como construir competências plurais necessárias a um trabalho que possibilite o desenvolvimento de processos dialógicos entre sociedade, sujeito e linguagem audiovisual, de modo que as pessoas possam atuar enquanto protagonistas culturais, possam se apropriar dessa informação e produzir novo sentidos? A formação do profissional da informação preconiza tais diálogos? Coloca-nos diante desse desafio de forma aberta e plurissignificativa? Como anda o nosso potencial de invenção e criação para lidar com uma informação dinâmica, polifônica e sinestésica? Efetiva-se um diálogo consistente e adequado em torno da linguagem audiovisual enquanto objeto de informação plural? Existe uma cultura do debate em torno dessa questão em todos os âmbitos? O Projeto Audiovisual & Informação
O projeto Audiovisual & Informação foi criado como uma forma de contribuição para motivar e construir um diálogo em torno das relações entre audiovisual, informação, linguagem, comunicação e educação. Procuramos levantar questões relativas à pluralidade de sua linguagem e suas formas de manifestação e expressão; buscamos iniciar a construção de nos saberes e fazeres, novas competências para se trabalhar com uma informação especifica que se materializada sensações e percepções variadas. Informação polifônica e sinestésica. De forma interativa e colaborativa, o projeto envolve e busca a participação de estudantes, profissionais, instituições educacionais, empresas e organizações, num pressuposto que coloca em evidência toda a natureza transdisciplinar da informação audiovisual. Transdisciplinaridade envolvendo as áreas de Ciências da Informação, Comunicação, Educação, Linguagem e seus atores, agentes e profissionais, em uma permanente troca de conhecimentos e informações, práticas, ações, procedimentos e metodologias, leituras diferentes, valores diversos, atitudes e posturas plurais, competências variadas, em busca da permanente produção de sentidos e de novos saberes e fazeres (MEDINA, 2008).
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O projeto foi desenvolvido para levar esse debate, para construir um diálogo, uma prática, experimentação, promover uma troca de informações e conhecimentos em torno dos processos significativos de trabalho com o audiovisual. Criar, provocar o surgimento de focos de debates, da cultura do diálogo sobre a informação audiovisual é uma das grandes metas. É importante que todas as regiões do Brasil possam ter a oportunidade vivenciar esse debate, pois terão a oportunidade de descobrir a pluralidade de linguagens, expressões e mídias abarcadas pelo audiovisual, a diversidade do seu mercado profissional, as competências almejadas por profissionais da informação que lidam com esse tipo de expressão e informação. Um universo de muitas possibilidades de atuação e construção. Compreender a natureza de uma informação que causa sensações e percepções variadas é perceber como ainda temos muito a aprender e experimentar, portanto, a construir e criar diante de todo o nosso perfil e profissional na área de Ciência da Informação. Era um diálogo que faltava de forma ampla e sem limites geográficos. Iniciamos o diálogo. Que ele se multiplique da melhor forma possível e que todos os envolvidos se apropriem e construam novos significados. A proposta do projeto, concretizada em oficinas e cursos, acompanhada de produções bibliográficas como esta, contempla debates para a compreensão e construção plural de referenciais práticos e conceituais relativos às formas de análise da informação e documentação audiovisuais, natureza de suas linguagens e suas especificidades, metodologias de gestão, organização e tratamento, ferramentas, instrumentos e estratégias de pesquisa, busca e recuperação dessa informação, construção de linguagens, vocabulários controlados, tesauros, políticas de indexação, enfim, tudo numa abordagem compatível e contextualizada à natureza polifônica e sinestésica da informação e documentação audiovisuais. A mediação cultural com informação audiovisual em ambientes de informação, educação e comunicação também será alvo de nossa proposta para o projeto nas oficinas. Nessa publicação, levantaremos princípios elementares (numa outra publicação trataremos esse tema de forma intensa). A mediação é um trabalho de grande importância, pois lida com a produção sentidos, com os processos de significação de toda essa informação. As práticas de mediações
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culturais colocarão o sujeito enquanto ator, protagonista cultural nos processos de produção de sentidos, constituindo mecanismos de apropriação cultural e simbólica da informação audiovisual. O que isso significa? Tudo o que foi debatido, questionado, experimentado, as metodologias de gestão desenvolvidas assumem um ganham significados. O que era atividademeio, nesse momento, torna-se atos de significação. O sujeito se apropria do audiovisual e passa a atribuir novos sentidos. Ressignificação. O ato de criação cultural humano passa a se concretizar de forma intensa e plurissignificativa. Iniciamos, de forma dialógica, um amplo processo de produção de sentidos na informação audiovisual. Esses são os pressupostos almejados pelo Projeto Audiovisual & Informação.
2 Audiovisual & informação: princípios elementares Existe uma relação indissociável entre audiovisual e informação. Se levarmos em consideração um conceito – das dezenas existentes em torno dessa questão – de informação ligada à produção de sentidos, aos processos de significação conseguiremos compreender essa relação, pois o audiovisual, enquanto expressão plena de sensações e percepções, é objeto de significados. O conceito de informação, nesta proposta, está na essência dos processos de permanente produção de sentidos, transformação de um fenômeno, evento, objeto cultural humano. “A estruturação da informação para a sua inserção nos sistemas informacionais não ocorre num vazio, como tem conseqüências na oferta de sentidos, na possibilidade de apropriação e de transformação da informação.” (LARA, 2009, p. 15) Informação como um objeto de significação, de produção de sentidos, de representação. Informação é signo. Ela existe e é ressignificada. Dessa forma, no audiovisual, ela é algo que gera um significado, que representa (chega a confundir-se com o próprio objeto representado, algumas vezes), da vazão à construção de novas idéias, leituras e interpretações. A informação enquanto um objeto, um elemento, um evento de sensações e percepções. Vejo, ouço e sinto. Um olhar, um ouvir, um tocar, um sentir que podem provocar novos significados: informação audiovisual.
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A informação audiovisual compreendida como um conjunto de elementos diversificados de sensações, percepções e produção de sentidos, materializados em meios e canais de comunicação, mídias impressas e digitais, linguagens híbridas, polifônicas e sinestésicas, articuladas em conteúdo e formas expressivas plurais. Segundo SANTAELLA (2001), a linguagem é produto do pensamento humano, caracterizada por três matrizes:
Visual Sonoro Verbal
As três matrizes, com suas variações, são muito importantes para se compreender o universo da informação audiovisual, pois nos colocará em permanente diálogo com a natureza especifica de cada uma dessas expressões, evidenciando o que de singular cada uma possui, proporcionando percepções e sensações diferenciadas que devem ser levadas em consideração durante os processos de gestão significativa da informação e mediação cultural. A informação audiovisual é um misto de produção de sentidos: é unidade, conjunto, complexo envolvendo conteúdo, expressões, formas e sensações. Cada um desses elementos – que constitui o complexo informacional no audiovisual – é objeto de significação, ressignificações: o tempo, o espaço, os corpos, as cores, as formas, as curvas, a profundidade, o discurso, as falas, as dimensões, os planos, os cortes, a duração, o movimento, o timbre, a intensidade, os ângulos, os enquadramentos, os movimentos, a seqüência, a harmonia, a ilusão, sensação de realidade, o grau de imersão, o toque, a interação, a construção e a desconstrução, a leveza das estruturas digitais... A informação audiovisual é polifonia e sinestesia visual, sonora, verbal e híbrida. Não poderia ser diferente. Por quê? Porque estamos diante de um objeto – presente ou não – que aguça a nossa percepção e sentido, nos faz olhar, observar, analisar, sentir algo que pode não ser necessariamente o que imaginamos ser. Muitas vezes o seu potencial de sugestão nos engana. É real? É o próprio objeto? A sua pista, de fato, remete ao que estou pensando? Trabalhar com
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informação audiovisual é tudo isso: jogo de significados. Polissemia. Cada um pode construir a sua unidade de sentido, o seu conjunto, o complexo de sentido. E cada sentido advém de um contexto de percepção. A informação pode ser a cor azul turquesa observada na imagem fotográfica de uma praia em Maceió, no estado de Alagoas. A cor. O contexto social, o discurso histórico, sociológico, os elementos geográficos, o fator antropológico, cultural pode não ser o alvo de uma pessoa que está diante de uma imagem. Por que isso é possível? Porque existe um objeto (um referente) presente nessa expressão, algo que mexe com a nossa percepção visual, auditiva, tátil. O jogo de significados é muito amplo e variado Observe essa imagem:
Figura 1 - Autoria: Ronni Santos Oliveira
O que pode ser significativo? A informação (a produção de sentidos) pode ser representada por quais elementos, unidades, complexos? Cores? Formas? Ângulos? Enquadramentos? Gestos? Temas? Contextos?
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E quanto a essa outra?
Figura 2 - Autoria: Phê Brito
O que pode ser objeto de significação? 2.1 Informação audiovisual Fotografia, música, programas de TV, sons, filmes publicitários, filmes de ficção, tomografias computadorizadas, infografias, games, dança, gravações sonoras, pinturas, filmes documentários, telejornal, novelas, programas de rádio, jogos eletrônicos, trilhas sonoras, shows, expressão corporal, poéticas digitais, efeitos especiais, eventos sonoros, ultrassonografias, minisséries, realidade virtual, trailer, reality show, espetáculos, teatro, animação, videoclipes, ressonância magnética, desenhos animados, ruídos, mídias digitais...
Em um de seus trabalhos, SMIT (2001) caracteriza o universo da informação e documentação audiovisuais da seguinte forma: A) Informação iconográfica B) Informação sonora C) Informação cinematográfica D) Multimídia Dentro dos nossos objetivos, essa classificação será utilizada da seguinte maneira:
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A) Informação iconográfica
Nesta categoria, podem ser encontrados: desenhos, pinturas, gravuras, fotografias etc. O nosso objeto de estudo será a Imagem Fotográfica: o registro, a representação, a captura de um momento, de um tempo, de um evento, espaço, objeto, fenômeno na sua pluralidade de interpretações, percepções e sensações. Objeto de significação. Informação. A imagem fotográfica, enquanto objeto de informação, possui características que devem ser analisas e observadas para um adequado processo de gestão significativa. Ela possui uma linguagem própria, elementos visuais que podem nos colocar diante de alguns dilemas, como a semelhança do objeto enfocado com o objeto real da qual parte a sua representação. Ela possui, no universo de sua análise, elementos como um espaço, um tempo, um momento, uma forma de enquadramento (expressão fotográfica), um discurso. Os detalhes relativos às suas formas de análise, gestão, organização, tratamento, significação, pesquisa, busca e recuperação em sistemas, bancos e arquivos, numa próxima publicação específica sobre esse tema denominada “Gestão da Informação em Bancos de Imagens Fotográficas”, serão debatido s com a intensidade necessária. B) Informação sonora
Toda a estrutura de registro e representação das expressões sonoras, tais como: os ruídos, barulhos, músicas, vozes, gravações, trilhas sonoras, sons experimentais, programas e gravações de rádio etc. Ao analisarmos a informação sonora procuramos compreender os seus mecanismos de produção de sentidos: “formas sonoras reconhecíveis, a associação de cada forma sonora a um conteúdo e a parte do universo que estamos nomeando ou escutando” (RODRÍGUEZ, 2006, p. 243). A informação sonora, na concepção schaefferiana (RODRÍGUEZ, 2006) esta inserida em quatro mecanismos diferenciados da escuta: ouvir, escutar, reconhecer e compreender. Os processos de análise da informação, visando a sua produção de sentidos, iniciam-se no momento da escuta, no qual procuramos extrair e identificar algum tipo de informação; no momento do
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reconhecimento identificamos as suas formas e associamos a uma fonte; a compreensão nos coloca diante da interpretação, do significado que damos ao fenômeno. Exemplo: Um barulho repentino (ouvi algo). Isso me chama a atenção e passo a buscar algo (escuto): o que está acontecendo? Tenho reconhecê-lo, identificá-lo (construção da informação): o que é isso? De onde vem? Quem fez isso, provocou? Consigo compreendê-lo (o vento soprou muito forte, meu irmão entrou e bateu a porta).
A sutileza da informação sonora está na sua capacidade, em algumas situações, de gerar associações, comparações, sugestões, pistas da presença e da manifestação de certos objetos, eventos e fenômenos naturais e culturais. É uma informação com alto grau de polissemia. O seu jogo de causa-efeito é bastante curioso. Dessa forma, construir metodologias de gestão significativa para essa informação requer uma atenção perceptivo-sensorial bastante ampla, para que a sua natureza polissêmica seja preservada, gerando ressignificações constantes. Essa informação, na sua especificidade enquanto linguagem, possui tempo, ritmo, intensidade, vibração, tonalidade, duração, cadência. Um grito agudo pode não possui o mesmo teor/grau de informação que um grito grave/prolongado/curto/contínuo/entrecortado. A essência estrutural dos corpos e eventos sonoros merece bastante atenção quando lidamos com os processos de gestão significativa dessa informação. C) Informação e Movimento (Imagens em movimento)
A semelhança do objeto, do fenômeno, num alto grau de intensidade. O movimento dos corpos, dos objetos como a representação mais próxima da realidade, tendo em vista a percepção do deslocamento de forma clara e evidente. Essa é uma das características das imagens em movimento, da informação em movimento, em expansão e projeção no tempo e no espaço. Segundo SMIT (2001), essa informação pode ser de natureza documental ou ficcional. Como exemplo, temos os filmes cinematográficos de ficção, documentários, filmes publicitários, toda a variedade de programas de TV (telejornal, novelas, talkshows, minisséries,
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programas de entrevista...), animações etc. A sua análise leva em consideração a articulação entre imagem e som, num universo que envolve elementos variados, tais como: enquadramentos, sequências, planos, movimento de câmera, discurso, narrativa, gêneros, personagens, objetos (animados e inanimados). D) Hipermídia
Informação em estado de construção e desconstrução. A hipermídia é um complexo híbrido de linguagens em permanente estado de interação digital e virtual, em constante mutação e significação que rompe a barreira de tempo, espaço e linearidade. A informação expressa por esse tipo de linguagem é altamente sensorial, aguçando a percepção de forma ampla e plural. A estrutura da informação na hipermídia “mescla textos, imagens fixas e animadas, vídeos, sons, ruídos em um todo complexo” (SANTAELLA, 2009, p. 48). A hipermídia, na sua polifonia e sinestesia de linguagem e informação, cria um novo perfil de usuário, cidadão, sujeito: o leitor imersivo que navega no ciberespaço, construindo a sua própria realidade, informação e conhecimento. Pura ressignificação. Enquanto objeto de gestão significativa, os elementos informacionais contidos na hipermídia deverão ser tratados de acordo com a sua especificidade. Existem elementos de informação que provocam a sensação de profundidade, aproximação, manipulação de objetos, sensações táteis... São elementos provenientes de ferramentas e instrumentos de interação característicos, por exemplo, da realidade virtual. Portanto, os processos e as metodologias de gestão dessa informação deverão levar em consideração a sua especificidade enquanto linguagem híbrida, digital e sensorial. Uma espécie de informação que salta aos nossos olhos. Os jogos eletrônicos (games) são exemplos de produtos e objetos com tais características de informação e linguagem. Ações e mediação culturais encontram, nessas expressões, amplo espectro para protagonismo, apropriação, produção de sentidos, interação e ressignificação, tendo em vista as possibilidades de imersão oferecidas por seus dispositivos (SANTAELLA, 2009).
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Fizemos aqui uma breve introdução ao universo da informação e documentação audiovisuais, procurando elencar e evidenciar algumas de suas características enquanto objetos de gestão e significação.
3 Mídias digitais e interatividade
As mídias digitais representam uma evolução psíquica, cultural e social. A informação, neste momento, passa a circular de forma independente em relação aos meios e suportes. “Imagens e textos se deslocam de seus contextos, fragmentando e desestruturando as referências semânticas e históricas em que seus sentidos se conectavam” (SANTAELLA, 2001). É o universo da hipermídia e multimídia. A informação pode ser manipulada a todo o momento, reconstruída ou destruída. Tudo se sustenta de uma forma bastante leve e sutil, constituindo-se numa nova ordem sentido e apropriação. É informação sem barreiras, sem limites de espaço, tempo e dimensões. Uma nova ordem informacional. Nesse aspecto, esse novo objeto e espaço de informação são capazes de envolver o sujeito de uma maneira bastante interativa e imersiva, dando-lhe autonomia para manipulação e transformação dos fluxos de informação.
“A interatividade em um sistema informacional dá ao receptor alguma influência sobre o acesso à informação e um controle sobre os resultados a serem obtidos” (FELDMAN, 1995, p. 6 apud SANTAELLA, 2001, p. 52).
4 Princípios de gestão significativa da informação audiovisual Segundo DIAS; BELUZZO (2003, p. 65), a gestão da informação “(...) estuda os processos informacionais de modo que a informação possa ser organizada, armazenada, recuperada e utilizada para a tomada de decisões e para a construção do conhecimento”.
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Essa consideração, muito recorrente nos ambientes organizacionais, deixa claro o caráter instrumental e funcional dos mecanismos de gestão da informação e documentação. O desenvolvimento de tais processos gerenciais, na maioria das vezes, está atrelado ao alcance da eficiência e da eficácia organizacionais, tendo em vista a excelência dos fazeres técnicos, operacionais e instrumentais. A nossa proposta é a seguinte: construir um processo de gestão caracterizado como significativo. Gestão significativa da informação.
Para compreender essa proposta, levaremos em consideração os processos de significação, de produção de sentidos. A atividade de gestão, neste aspecto, ultrapassa o fazer instrumental e operacional, ligado exclusivamente ao alcance da eficácia e eficiência organizacionais. Todo o processo de gestão estará mergulhado no conceito de dialogia, de interação e experimentação. A gestão, neste aspecto, está em permanente processo de produção de sentidos, negociação com todas as esferas envolvidas: gestores, informação, documentação, sujeitos e sociedade como um todo. As ferramentas gerenciais, vistas como atividades-meios – pois se concentram em ações instrumentais e operacionais – passam a assumir um caráter criativo, inventivo. Todas as atividades desenvolvidas levarão em consideração um diálogo aberto e plural entre a natureza da informação audiovisual (perceptivo-sensorial) e as características dos desejos e anseios expressos pelo sujeito que busca construir novos significados diante de toda essa informação polifônica e sinestésica. O gestor se torna um protagonista, pois ele mantém diálogo e sente a tessitura dessa informação. Ele preserva a sua polissemia. Não submete a expressão audiovisual a regras e procedimentos pré-estabelecidos em função exclusiva de uma eficiência técnico-operacional. As metodologias de gestão da informação serão sempre flexíveis, dialógicas, conectadas com as necessidades plurais apresentadas pelos sujeitos. A gestão significativa se constrói tendo como pressuposto os sentidos que todo esse processo administrativo faz para as pessoas, indo ao encontro do diálogo pleno. A regra não existe. O que existe é a orientação operacional centrada em atos de significação. A gestão significativa se compromete com os processos de apropriação cultural. Nada fará sentido numa atividade
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dessa natureza se o sujeito não puder construir o seu próprio sentido. É o que se pode chamar de gestão colaborativa. Desenvolvemos ferramentas gerenciais de acordo com o grau de sentidos que eles podem proporcionar aos sujeitos. Essa proposta se sustenta diante de uma informação sinestésica e polissêmica (a informação audiovisual), diante de um conjunto de necessidades culturais igualmente plurissignificativos. A proposta de gestão significativa da informação audiovisual dialoga e busca inspirações nos pressupostos da Infoeducação, desenvolvidos pelo prof. Dr. Edmir Perrotti, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Recomendo a leitura do texto, do professor mencionado, registrado na bibliografia dessa publicação. O teor de suas propostas é de uma riqueza cultural singular e plural para as ciências da informação, comunicação e educação.
5 Audiovisual & informação: princípios de mediação cultural A vasta produção audiovisual nos colocou diante de um grande desafio: como construir uma gestão significativa de toda essa informação de modo que ela permita a produção permanente de novos significados? Podemos construir processos dialógicos, interações entre todo esse universo de informação e a sociedade. Neste caso, iniciamos os processos de mediação cultural, nos quais trabalhamos, de forma plural, percepções e sensações, descobertas, transformações. Dialogamos uns com os outros, debatemos, experimentamos e ressignificamos fenômenos, objetos, eventos culturais. As mediações culturais trabalham com atos plenos de significação. Lidamos com a nossa capacidade de negociação, invenção e transformação. Uma imagem fotográfica pode significar um caminho de indagações, questionamentos, descobertas. Um som, um ruído, um grito elementos que desencadeiam sensações e percepções variadas, colocando-nos enquanto protagonistas na construção de significados diante de tais expressões. Os processos de mediações estão ligados a todas as possibilidades de diálogos plurais entre sujeitos, informação e ambientes diversos. Contribuem para a construção de novos significados,
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estimulam novas práticas e novos saberes. Constroem novas atitudes e posturas. Repensam valores, condutas e idéias. Desenvolver processos de mediação cultural no âmbito das expressões audiovisuais é nos colocar diante das diferenças, debates, análises e construção de novos referenciais, de sensações diversas, discursos e diálogos plurais; é compreender as adversidades, o pensamento do outro, dos outros. É experimentar o coletivo dialógico. As mediações proporcionam conhecer outras realidades, desconstruir valores arraigados, uma vez que lidamos com a heterogeneidade de concepções. A mediação pressupõe ação, negociação, diálogos, construção plural, troca, interação e transformação. Vivenciamos o ato pleno da invenção, de criação. É ato de significação. Ressignificação. A informação audiovisual é sinestésica e polifônica, plural. Os diálogos proporcionados são amplos, abertos, cheios de significados. As práticas de mediações são ricas e diversificadas tendo em vista a sua peculiaridade enquanto fenômeno e objeto de percepção e sensação plurais.
6 O profissional da informação: competências, posturas e atitudes Quem são os profissionais envolvidos com o universo das expressões, da informação e documentação audiovisuais? Cineastas, fotógrafos, diretores, bibliotecários, arquivistas, museólogos, educadores, jornalista, publicitários... A relação é bem extensa e exaustiva tendo em vista o caráter transdisciplinar de criação, gestão, usos e significações dessa linguagem. Ela impõe diálogos entre segmentos e classes profissionais distintas, numa harmonia plena e altamente promissora. Qual seria o perfil desse profissional? Um perfil diversificado e plural, um profissional com capacidade de comunicação e articulação bem desenvolvidos, sensível a sutileza de uma linguagem em expansão e constante transformação. A capacidade de lidar com percepções e sensações variadas é algo que deve constar da lista de aptidões almejadas para profissionais
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que estão dispostos a trabalhar com o audiovisual nos ambientes de informação, comunicação e educação. Um profissional que esteja disposto a constantes experimentações e se sinta motivado a buscar sempre novas formas de olhar, ouvir e sentir a informação na sua explosão de significados. Nesse aspecto, analisar e repensar as nossas atitudes e posturas profissionais é algo que merece uma atenção especial. Atitudes arraigadas e preconizadas para determinados contextos de trabalho (o trabalho com o verbal escrito, por exemplo) podem não fazer muito sentido se mecanicamente aplicadas aos trabalhos com a informação audiovisual. E as competências? Como poderiam ser caracterizadas? Poderíamos compreendê-las sob dois aspectos: a) Atitudes, saberes e posturas b) Aptidões, habilidades e fazeres operacionais e instrumentais No primeiro item, competência relaciona-se a um saber refletir, articular idéias e ações, construir conhecimentos pertinentes, desenvolver mediações, realizar interações, promover avaliações, inventar algo novo, criar soluções e alternativas... O conceito de competência aqui preconizado é o da experimentação das potencialidades plenas de criação do sujeito. É a competência que se faz presente em atitudes e posturas. O audiovisual sugere atitudes e posturas plurais, atendendo as necessidades da natureza de suas expressões e linguagens. No que se refere às habilidades e aos fazeres operacionais, as competências construídas estarão ligadas aos seguintes aspectos:
Trabalhar a linguagem da informação audiovisual compreendendo a sua especificidade;
Desenvolver e aplicar instrumentos, ferramentas e metodologias de gestão da informação;
Construir e estruturar linguagens para o tratamento da informação audiovisual;
Desenvolver, por intermédio das tecnologias de informação, ferramentas e instrumentos de pesquisa, busca e recuperação de informação no âmbito das expressões audiovisuais;
Gerenciar arquivos, bancos, sistemas, unidades, centros e complexos organizacionais que possuam documentos audiovisuais;
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Desenvolver habilidades para a construção de ações e mediações culturais com o audiovisual em ambientes de informação, educação e comunicação;
Capacidade estratégica, instrumental e operacional para criar, desenvolver, implementar, acompanhar, avaliar projetos ligados à gestão significativas da informação e documentação audiovisuais.
As competências aqui elencadas estão relacionadas a condutas profissionais, aquisições de habilidades e fazeres plurais no contexto do audiovisual, capacidade de lidar com adversidades, independência e autonomia na construção de soluções para problemas de ordem estratégica e operacional e habilidades para construir instrumentos de gestão, estratégias de comunicação e mediação dialógicas.
7 Onde o audiovisual pode ser encontrado: contextos sociais e mercado de trabalho Emissoras de TV, empresas jornalísticas, arquivos e bancos de imagens, emissoras de rádio, agências de publicidade, produtoras de cinema, indústria sonora, bibliotecas, estúdios de animação, indústria em geral, hospitais, centros de pesquisas, centros de documentação, gravadoras, indústria do lazer e do entretenimento, centros de medicina diagnóstica por imagens, instituições educacionais, agência noticiosas, centros de Memória, estúdios fotográficos, indústria dos games e jogos eletrônicos, centros culturais, rede e salas de cinemas...
Os contextos nos quais encontramos a informação e documentação audiovisuais são amplos e diversificados: comunicação (publicidade e jornalismo), artes visuais, informação, educação e saúde. Documentos audiovisuais são produzidos, armazenados, organizados, usados, transformados, ressignificados em função das mais variadas necessidades apresentadas pela sociedade. Arquivos de empresas privadas e públicas, bancos de imagens e sons no âmbito comercial, bibliotecas, museus possuem sistemas de gestão de informação audiovisual em arquivos fí sicos, eletrônicos, digitais e virtuais.
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A atuação de profissionais no âmbito da informação e documentação audiovisuais pode ser analisada sob dois aspectos: 1) Um segmento de mercado tradicional no qual bibliotecários, arquivistas, museólogos possuem uma participação plena e assegurada por conta da reserva de mercado, num espaço de atuação destinado à profissionais com formação acadêmica específica: a biblioteca e os arquivos públicos seriam um exemplo clássico. A natureza e a diversidade de informação e documentos armazenados e geridos nessas instituições são bem amplas. Documentos escritos, textuais, informação digital, audiovisual, suportes variados, linguagens híbridas... A complexidade é imensa e a diversidade profissional, na maioria das vezes, reduzida. Por conta da exclusividade de atuação nesses âmbitos tradicionalmente destinados a profissionais com formação específica - como biblioteconomia -, um único perfil profissional lida com toda essa diversidade de linguagem, como se tudo fosse uma grande massa homogênea documental. Um grande perigo. Uma linguagem polifônica como a audiovisual demanda diálogos plurais, profissionais variados, em permanentes processos de interação, para a construção de adequadas metodologias gerencias. Trabalhar com o audiovisual requer saberes, fazeres, atitudes e posturas plurais. Profissionais (bibliotecários, arquivistas, jornalistas, publicitários, administradores...) inseridos nesse contexto de trabalho terão que lidar com uma teia ramificada e complexa de necessidades, linguagens, procedimentos, ações, mediações e sentidos.
2) Na outra esfera, surge um mercado transdisciplinar, no qual o diálogo entre profissionais provenientes das mais variadas formações se torna indispensável para o trabalho com uma informação polifônica e sinestésica como a audiovisual. O que se coloca em evidência, nesse outro contexto, é a capacidade de articulação de um profissional em consonância com as especificidades de uma linguagem que demanda
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posturas amplas e globais, diálogos, negociações e habilidades operacionais compatíveis à natureza de uma linguagem híbrida e que causa sensações emocionais e físicas. Neste contexto, existe uma grande demanda latente e crescente, ampla e diversificada, em variados âmbitos de atuação, por profissionais que possuam a capacidade de lidar com experimentações sensoriais, interações com outros profissionais, adversidades instrumentais e com o desenvolvimento de soluções criativas e inovadoras. Existe algo paradoxal em meio a esse universo: a busca por profissionais da área de Ciência da Informação. Profissionais da CI possuem um perfil interessante e promissor para as questões relacionadas aos processos de gestão da informação, em vários contextos. Não poderia ser diferente no segmento audiovisual. O paradoxo se torna evidente quando a formação desses profissionais não contempla um debate consistente em torno das práticas metodológicas e gerenciais em torno da informação audiovisual. Uma lacuna. Onde estaria a gênese dessa realidade? Profissionais de comunicação (publicitários, jornalistas...) usam de seus instintos e buscam diálogos com profissionais da CI, procurando construir um trabalho colaborativo em relação a todas essas questões. O perfil existe, porém, as competências contextualizadas, os saberes e fazeres plurais ligados ao trabalho com a informação audiovisual deverão ser gradualmente desenvolvidos para que se efetive, de forma promissora, toda essa interação. Temos todos os ingredientes para a construção dessa realidade: uma enorme produção audiovisual que nos coloca diante dos desafios ligados às metodologias de gestão significativa de toda essa informação, tendo como meta a sua recuperação de forma rápida e precisa; necessidades sociais, demandas mercadológicas de uso e transformação dessas expressões; profissionais compatíveis, cujo perfil se mostra apropriado para todo esse trabalho, havendo, apenas, a necessidade de uma ampla discussão em torno de novas práticas, atitudes e posturas diante do audiovisual.
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8 Textos complementares Significados da informação no audiovisual: o início de um diálogo Um filme. Uma fotografia. Um grito. Um momento vivido e representado por uma imagem. Uma enchente. Um documento e um registro. Pinceladas, cores e formas. Você vê o que eu vejo: Sensações. Percepções. O que há de comum em tudo isso? Linguagem e Informação. Sim, Informação. Imagem e Som, em forma e conteúdo: informação. Tomemos como exemplo, a animação “A Era do Gelo”. Ela possui o mesmo status de informação que um livro sobre a Revolução Francesa? Qual a relação do conceito de informação em um telejornal que aborda as facetas dos conflitos no oriente médio e a impagável comédia “Apertem o cinto, o piloto sumiu”? Ou mesmo as seqüências de planos e cenas nas quais a personagem Marion Crane (Janet Leigh) é esfaqueada em pleno banho, em “Psicose”, de Alfredo Hitchcock, regada, durante os seus momentos de agonia e desespero, a uma das trilhas sonoras mais famosas da historia do cinema mundial (nesse exemplo estou me referindo ‘a expressão sonora construída para o momento do banho e do ato ocorrido). Essa trilha sonora é informação? Por que existe certo estranhamento, mal estar quando se coloca em evidência a natureza de informação dessas expressões audiovisuais? Por que ao ser comparado a um filme documentário, uma matéria jornalística, um artigo científico, esses documentos audiovisuais não são compreendido, na sua essência, como in formação? Existem várias considerações a respeito disso e uma delas está ligada ao fato de que informação é tudo aquilo que tem um caráter exclusivamente utilitário, instrumental e engajado. A informação como o discurso da verdade, do registro, do fato, d o quase “tangível”, a serviço do fazer humano canalizado para fins específicos, ditos pertinentes para o desenvolvimento da sociedade. A exacerbação da supremacia e da linguagem verbal escrita como registro da verdade. É o conceito de informação atrelado à convenção social arraigada e pré-estabelecida, em usos e contextos pré-determinados. Convencionalidade. E onde ficam, nesse caso, os processos de significações, de ressignificações proporcionados pela experimentação de sensações provenientes da polifonia e sinestesia continuadas na linguagem audiovisual? Significados. É a partir daí que considero o debate, acerca do conceito de informação, bastante produtivo, pois nos libertamos das amarras puramente utilitárias, logocêntricas e instrumentais aplicadas a esse objeto cultural humano de sensações e percepções. Informação é signo. Signo é objeto de representação. Objeto de representação é pura significação, produção de sentidos. O audiovisual é representação no mais alto grau de significação.
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Bancos de Imagens em comunicação Comunicação e imagem: um binômio indissociável. A importância das imagens (estáticas, fixas, em movimento, animadas) para o universo da comunicação social é inquestionável. Campanhas e filmes publicitários, reportagens, produções fotojornalísticas... Imagens que marcaram e ficaram nas nossas mentes; imagens que chocaram e nos fizeram rir e chorar. Com as imagens chegamos à lua e acompanhamos dramas sociais; chegamos a lugares diferentes e inimagináveis; chegamos ao fundo do mar e encontramos navios naufragados. Imagens que nos mostram o interior do nosso corpo. A imagem na publicidade. A imagem no jornalismo. A imagem informação, entretenimento, diversão. Um mundo de imagens que hoje pode ser encontrada nos Bancos de Imagens Comerciais espalhados pelo mundo. O que são esses bancos? O que fazem essas empresas? Por que elas existem e qual a sua importância para a Publicidade e para o Jornalismo? Os Bancos de Imagens são empresas, organizações e instituições que produzem imagens fotográficas e em movimento/animadas (filmes) para empresas, profissionais e todo tipo de empreendimento em comunicação. Trabalham com a gestão de milhões de informações, em sistemas que recuperam imagens de forma precisa, contextualizada, rápida e dinâmica. Os Bancos de Imagens atendem a todo tipo de necessidade expressa pelo mercado publicitário, jornalístico e editorial. Em minutos, informações e imagens são pesquisadas e recuperadas. E essas são utilizadas em centenas de trabalhos de impacto na área de comunicação. Elas existem para atender a toda uma demanda em imagens para um mercado altamente competitivo e que busca uma informação de altíssima qualidade em termos de conteúdo e expressão. E esses bancos vão ao encontro das expectativas apresentadas por publicitários e jornalistas. Para que esse resultado seja alcançado de forma eficiente, os Bancos de Imagens desenvolveram metodologias, ferramentas e instrumentos gerenciais de informação e linguagem. Com isso, uma necessidade se transforma em imagem. Não há como não recuperar a imagem que se desejada - num banco contendo milhões de informações imagéticas -, seja qual for a sua complexidade, em fração de segundos. Em um Banco de Imagens como esse, a imagem procurada pela equipe de produção e criação de uma campanha publicitária, por exemplo, encontrará a imagem almejada. Ou mesmo aquela cena peculiar, de cunho editorial, que marcou um conflito em determinada região do mundo, procurada por uma equipe de jornalismo. Os Bancos de Imagens proporcionam às empresas de comunicação grandes possibilidades de construções criativas em suas produções, de forma rápida e dinâmica, dentro de altos padrões de qualidade técnica e de informação.
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Bancos de Imagens: por que gerenciar informações e imagens? Pense nas seguintes situações: você está na redação de uma grande empresa jornalística e, de repente, acontece um fato social inesperado em alguma parte do mundo. Lembremos do ataque, nos Estados Unidos, às torres gêmeas do World Trade Center, em New York. No mesmo instante, jornalistas se mobilizam para construir, o mais rápido possível, uma matéria sobre o acontecimento, que deverá ser editada imediatamente. Imagens farão parte desse conteúdo. Em pouco tempo, deverão ser selecionadas as melhores fotografias. Como localizar, em segundos, fotografias do WTC com características específicas, singulares, ângulos, enquadramentos e posicionamentos de câmeras contextualizados a determinadas necessidades editoriais para a construção de um discurso jornalístico? Detalhe: possuímos centenas de milhares de imagens sobre o WTC. Outro detalhe importante: o tempo é curto e a matéria precisa ser editada rapidamente. A imagem desejada possui certas características. O banco de imagens do jornal atende, de forma precisa e rápida, a essa necessidade? Esse banco possui um eficiente sistema de gestão de informação em imagens fotográficas? Pense, agora, também, nessa outra situação: um filme publicitário. A equipe de criação e produção busca uma determinada imagem: “um executivo, molhado, arrastando -se nas areia de uma praia, cansado, puxando uma maleta aberta cheia de dinheiro”. Não há tempo a perder. Tempo, neste caso, literalmente, é dinheiro e sucesso. Possuímos um banco de imagens. Existe toda uma metodologia de gestão de linguagem e informação nesse sistema de busca? Centenas de imagens recuperadas. Houve agilidade e precisão nas estratégias e processos de busca? A imagem foi encontrada? O que há em comum nessas duas situações? A eficácia e a eficiência nos processos gerenciais de informação em imagens. Bancos de imagens são criados e desenvolvidos. Acumulam volumes de informações gigantescos e diversificados. Atendem a necessidades variadas. Existem para gerenciar todo esse fluxo de imagens e informações. Portanto, a gestão estratégica de bancos de imagens se torna algo imprescindível quando se tem em mente a sua eficiência enquanto sistema de pesquisa, busca e recuperação de imagens. É uma gestão que demanda ações, atividades, metodologias e procedimentos complexos e diversificados, competências e habilidades profissionais que dialoguem com o grau das especificidades das necessidades apresentadas por publicitários e jornalistas nos usos de imagens em ambientes de comunicação.
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9 Oficinas: os diálogos Segue a relação de oficinas que criamos para construir todo esse debate e competências ligadas à gestão da informação e mediação cultural em imagens, expressões sonoras e mídias digitais interativas
Oficina 1: Introdução à informação audiovisual: imagens, expressões sonoras e mídias digitais interativas
Oficina 2: Bancos e arquivos de imagens fotográficas: princípios de gestão da informação
Oficina 3: Imagens em movimento e informação: análise e princípios de gestão
Oficina 4: Expressões sonoras: análise e gestão da informação
Oficina 5: Audiovisual & Informação: mediações culturais em ambiente de informação, educação e comunicação
Oficina 6: Mídias digitais e interatividade: novas percepções da informação
Oficina 7: Bancos de Imagens em Comunicação: gestão da informação e criação de projetos
Oficina 8: Arquivos de Imagens Fotográficas: princípios de gestão da Informação e documentação
Oficina 9: Laboratório de Construção de Vocabulários Controlados para Imagens Fotográficas
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10 Bibliografia
MEDINA, Cremilda. Ciência e jornalismo: da herança positivista ao diálogo dos afetos. São Paulo: Summus Editorial, 2008. LARA, Marilda Lopes Ginez de. Linguistica documentária: seleção de conceitos. 2009. Tese (Livre docência), Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo.
SANTAELLA, Lucia. Matrizes da linguagem e do pensamento: visual, sonoro e verbal. São Paulo: Iluminuras, 2001. SANTAELLA, Lucia. Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2009. PERROTTI, Edmir; PIERUCCINI, Ivete. Infoeducação: saberes e fazeres da contemporaneidade. In: LARA, Marilda Lopes de Ginez et al (org.). Informação e contemporaneidade: perspectivas. Recife: Nectar, 2007. SMIT, Johanna W. Documentação audiovisual. In: LIMA, Yedda Dias; SMIT, Johanna W. (coord.). Organização de arquivos. São Paulo: USP/IEB/ECA, 2002, p. 79-94, v.3 SMIT, Johanna W. A representação da imagem. Informare, Cadernos do Programa de Pósgraduação em Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 2, n.2, p. 28-36, jul./dez., 1996. CORDEIRO, Rosa Inês de Novais. Informação e movimento: uma ciência da arte fílmica. Rio de Janeiro: Madgrafica, 2000. RODRIGUEZ, Angel. A dimensão sonora da linguagem audiovisual . São Paulo: Editora Senac, 2006.
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