AS CONFRARIAS JORGE ANDRADE
PERSONAGENS MARTA JOSÉ, filho de Marta SEBASTIÃO, marido de Marta !ITÉRIA, ama"te de Jo#$ IRMÃOS DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO MANOE% DE ABRE!, &m de'oto IRMÃOS DE IRMANDADE DO ROS(RIO P(ROCO DO ROS(RIO IRMÃOS DA IRMANDADE DE SÃO JOSÉ P(ROCO DE SÃO JOSÉ )OMEM BRANCO IRMÃOS DA ORDEM TERCEIRA DAS MERC*S DEFINIDORES DAS MERC*S !M ATOR !M C!RA DOIS BE%EG!INS MINEIRO + MINEIRO MINEIRO !M )OMEM CENÁRIO – IGREJAS E DIVERSOS LUGARES DO BRASIL COLÔNIA ÉPOCA – FINS DO DO SÉCULO XVIII XVIII CENA – AO ABRIR-SE O PANO, O FUNDO DA CENA ESTÁ ILUMINADO, MOSTRANDO O ALTAR DO CONSISTÓRIO CONSISTÓRIO DA IGREJA DO CARMO. O ALTAR E O TETO SÃO DOURADOS, DOURADOS, E AS PAREDES PINTADAS. EM FRENTE AO ALTAR E EM VOLTA DE MESA RICAMENTE RICAMENTE TRABALHAD TRABALHADA, A, ESTÃO ESTÃO SENTADO SENTADOS S OS COMPONENTE COMPONENTES S DA MESA DA ORDEM TERCEIRA TERCEIRA DE NOSSA SENHORA DO MONTE DO CARMO. AO LADO, BANCAS ALTAS SUSTENTAM GRANDES LIVROS DE REGISTOS. ALGUNS ESTÃO ABERTOS, E O IRMÃO-SECRETÁRIO IRMÃO-SECRETÁRIO ESCREVE NUM DELES. EM PRIMEIRO PLANO, ES!UERDA, UM ANDOR SUNTUOSAMENTE SUNTUOSAMENTE ORNA ORNAME MENT NTAD ADO O COM COM NO NOSS SSA A SENH SENHOR ORA A DO DOS S PASS PASSOS OS,, COLO COLOCA CADO DO SOBR SOBRE E !U !UAT ATRO RO CADEIRAS.
MINISTRO - De quem é o pedido de empréstimo, irmão tesoureiro? TESO!REIRO - João Viana, irmão ministro. MINISTRO . É da nossa Ordem? TESO!REIRO - É. MINISTRO - Leia o documento. Lê0 - Tendo notícia de que no cofre desta ener!e" Ordem Terceira de #ossa TESO!REIRO /Lê0 $en%ora do &armo estão depositados seiscentos mi" réis para serem... PRO1EDOR - É s' o que temos no cofre? TESO!REIRO - &"aro que não. (sto é o que e"e precisa. /O"%a ressentido para o )roedor 0... para serem emprestados a ra*ão de +uros de "ei, e como o sup"icante d! para fiadores irmãos desta mesma Ordem e a"ém disso %ipoteca mesma fiana todos os ens que possui... MINISTRO - / e"e possui a"0uma coisa? TESO!REIRO - É pessoa de aono, irmão ministro. MINISTRO - 1proo. e"e ainda oferta de*essete de*essete oitaas de ouro, ouro, para ora TESO!REIRO - 1"ém dos títu"os de díida e"e merit'ria de "ire ontade da Ordem. PRO1EDOR - $e nossos deedores fossem todos assim2 TESO!REIRO - 3ue quer di*er, irmão proedor?
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PERSONAGENS MARTA JOSÉ, filho de Marta SEBASTIÃO, marido de Marta !ITÉRIA, ama"te de Jo#$ IRMÃOS DA ORDEM TERCEIRA DO CARMO MANOE% DE ABRE!, &m de'oto IRMÃOS DE IRMANDADE DO ROS(RIO P(ROCO DO ROS(RIO IRMÃOS DA IRMANDADE DE SÃO JOSÉ P(ROCO DE SÃO JOSÉ )OMEM BRANCO IRMÃOS DA ORDEM TERCEIRA DAS MERC*S DEFINIDORES DAS MERC*S !M ATOR !M C!RA DOIS BE%EG!INS MINEIRO + MINEIRO MINEIRO !M )OMEM CENÁRIO – IGREJAS E DIVERSOS LUGARES DO BRASIL COLÔNIA ÉPOCA – FINS DO DO SÉCULO XVIII XVIII CENA – AO ABRIR-SE O PANO, O FUNDO DA CENA ESTÁ ILUMINADO, MOSTRANDO O ALTAR DO CONSISTÓRIO CONSISTÓRIO DA IGREJA DO CARMO. O ALTAR E O TETO SÃO DOURADOS, DOURADOS, E AS PAREDES PINTADAS. EM FRENTE AO ALTAR E EM VOLTA DE MESA RICAMENTE RICAMENTE TRABALHAD TRABALHADA, A, ESTÃO ESTÃO SENTADO SENTADOS S OS COMPONENTE COMPONENTES S DA MESA DA ORDEM TERCEIRA TERCEIRA DE NOSSA SENHORA DO MONTE DO CARMO. AO LADO, BANCAS ALTAS SUSTENTAM GRANDES LIVROS DE REGISTOS. ALGUNS ESTÃO ABERTOS, E O IRMÃO-SECRETÁRIO IRMÃO-SECRETÁRIO ESCREVE NUM DELES. EM PRIMEIRO PLANO, ES!UERDA, UM ANDOR SUNTUOSAMENTE SUNTUOSAMENTE ORNA ORNAME MENT NTAD ADO O COM COM NO NOSS SSA A SENH SENHOR ORA A DO DOS S PASS PASSOS OS,, COLO COLOCA CADO DO SOBR SOBRE E !U !UAT ATRO RO CADEIRAS.
MINISTRO - De quem é o pedido de empréstimo, irmão tesoureiro? TESO!REIRO - João Viana, irmão ministro. MINISTRO . É da nossa Ordem? TESO!REIRO - É. MINISTRO - Leia o documento. Lê0 - Tendo notícia de que no cofre desta ener!e" Ordem Terceira de #ossa TESO!REIRO /Lê0 $en%ora do &armo estão depositados seiscentos mi" réis para serem... PRO1EDOR - É s' o que temos no cofre? TESO!REIRO - &"aro que não. (sto é o que e"e precisa. /O"%a ressentido para o )roedor 0... para serem emprestados a ra*ão de +uros de "ei, e como o sup"icante d! para fiadores irmãos desta mesma Ordem e a"ém disso %ipoteca mesma fiana todos os ens que possui... MINISTRO - / e"e possui a"0uma coisa? TESO!REIRO - É pessoa de aono, irmão ministro. MINISTRO - 1proo. e"e ainda oferta de*essete de*essete oitaas de ouro, ouro, para ora TESO!REIRO - 1"ém dos títu"os de díida e"e merit'ria de "ire ontade da Ordem. PRO1EDOR - $e nossos deedores fossem todos assim2 TESO!REIRO - 3ue quer di*er, irmão proedor?
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PRO1EDOR . 3ue o 0oerno da capitania ainda não sa"dou a díida conosco. / emprestamos quase todo o nosso capita"2 1"tio0 . Temos no cofre da Ordem oito contos quatrocentos e noenta e três mi" TESO!REIRO /1"tio0 e oitenta e dois réis. MINISTRO - / o 0oernador deu ouro em p' em cauão2 TESO!REIRO - Tratando-se do 0oernador, não é o que importa. )recisamos estar em com e"-rei. (r5nico0 - #ão deemos nos esquecer de que temos irmãos em "uta como poder rea". PRO1EDOR / PRO1EDOR /(r5nico0 O quinto corado de )edro de 6iranda é e7torsão. TESO!REIRO . /nquanto o ré0io et!rio for deedor nosso, o poder rea" nada far! contra )edro de 6iranda. assunto 0 . (rmão MINISTRO //itando o assunto0 . (rmão secret!rio2 3ua" o caso que quer apresentar 6esa? SECRET(RIO - 6anoe" de 1reu, irmão ministro. MINISTRO - 3ua" é o pro"ema? SECRET(RIO - (nf8mia de mu"ata. MINISTRO - (nf8mia de mu"ata? /m nossa Ordem? PRO1EDOR - /nquanto a sindic8ncia sore o passado de nossos pretendentes não for em feita, termos sempre pro"emas aorrecidos. Ofendido0 - 6anoe" de 1reu não pertence n's ordem, irmão proedor. proedor. S2NDICO /Ofendido0 MINISTRO . $e não pertence, nada temos com isso. / se quer pertencer, responda que não pode ser aceito. SECRET(RIO - É que e"e traa"%ou a ida toda para nosso irmão Vicente de 1"meida 6a0a"%ães2 PRO1EDOR - Vicente de 1"meida 6a0a"%ães2 $' podia ser. 1té depois de morto dificu"toso Ordem. MINISTRO - 3ue o sen%or o ten%a em santa pa* SECRET(RIO . 1o morrer, nosso irmão dei7ou a 6anoe" de 1reu tudo o que possuía, inc"usie as roupas. PRO1EDOR - Tudo? 1 um sero? SECRET(RIO . /m nossas 9"timas cerim5nias re"i0iosas, 6anoe" tem se apresentado com a opa da irmandade. PRO1EDOR - É s' e7p"icar a e"e que não pode us!-"a. SECRET(RIO - J! e7p"iquei. )ara a procissão de %o+e, +! se apresentou de opa. )eo 6esa que reso"a. sai 0 1 compreensão é fi"%a da oa e7p"icaão. #osso irmão MINISTRO - :aa entrar. /O secret!rio sai0 secret!rio não é de muitas "u*es. S2NDICO - É noite de reu2 PRO1EDOR - Tamém, com as idéias que Vicente de 1"meida 6a0a"%ães trou7e de suas ia0ens2 S2NDIC S2NDICO O - $' fa"aa na /uropa com sa" imprensa de cem o"%os, de cem ocas propa0ando a i"ustraão por todas as c"asses. o* 0 que rouara TESO!REIRO - 1ndou por aí fa"ando de um ta" 6onsieur :ran;"in... /1ai7a a o*0 o cetro aos tiranos e o raio aos deuses. S2NDICO - &om a inquietaão surda que anda por aí, se Vicente não tiesse fa"ecido, as idéias de"e em nossa Ordem seriam... /6anoe" entra, estido coma opa da irmandade, ir mandade, ricamente ordada.0 ordada. 0
MINISTRO /
MINISTRO - $e consertar e esti-"a noamente, "earemos o caso +ustia. @! outras irmandades onde pode ser admitido. #em todas as portas estão fec%adas a ocê. )ode sair.
"MANOEL ABRA#A-SE OPA E, PROFUNDAMENTE FERIDO, OLHA OS IRMÃOS. SUBITAMENTE, SAI RETESADO, PARANDO DIANTE DE MARTA. MARTA TIRA A OPA DAS MÃOS DE MANOEL, DEIXANDO-A CAIR AO CHÃO. MANOEL OLHA A OPA E MARTA, VOLTA-SE E DESAPARECE.$
PRO1EDOR /&om despre*o0 - :amí"ia Dias2 MINISTRO - )recisamos proiir em nossos estatutos que as estes da Ordem se+am... 3uem é? SECRET(RIO - #ão con%eo. S2NDICO - #unca i no &armo. (!UAL!UER COISA NA EXPRESSÃO DE MARTA "A# COM !UE OS IRMÃOS RECUEM COM CERTO RECEIO
MINISTRO - 3ue dese+a em nossa i0re+a? 3uem é ocê? MARTA - 6eu nome é 6arta. 1cao de c%e0ar a esta cidade. S2NDICO - )or que nos o"%a assim? PRO1EDOR - /st! se sentindo ma"? MARTA - 1s ruas são ín0remes... e %! duas %oras que carre0o meu fi"%o. MINISTRO - $eu fi"%o est! doente? /$i"êncio0 #ão ouiu? 3ue tem seu fi"%o? MARTA - 6orreu... a camin%o daqui. PRO1EDOR - / o que dese+a? MARTA - Am "u0ar para enterr!-"o. SECRET(RIO - )ertence Ordem Terceira do &armo? MARTA - #ão. #em meu fi"%o pertencia. B
SECRET(RIO - /ntão, procure sua irmandadeC MARTA - #ão pertencemos a nen%uma2 PRO1EDOR - &omo?2 IRMÃOS //ntreo"%am-se, at5nitos0 MINISTRO - #ão pertencem a nen%uma das confrarias? MARTA - #ão //7pressão impenetr!e"0 6as creio em &risto. PRO1EDOR - &omo pode crer, se não pertence ao corpo da $anta madre i0re+a? SECRET(RIO /Desconfiado0 - )or que +ustamente no cemitério de nossa confraria? MARTA //ni0m!tica0 - )or causa de $anta 3uitéria. #ão é a padroeira desta i0re+a? Di* a "enda que, martiri*ada, carre0ou a pr'pria caea decepada... 6eu fi"%o era a min%a caea... e não o estou carre0ando? MINISTRO - 1c%o %umanamente impossíe", inacredit!e", que a"0uém não pertena s irmandades deocionais2 PRIOR / #eroso0 - Tamém ac%o, irmão ministro. MARTA /&om ma"ícia fu0idia0 - 6eu fi"%o ia comp"etar trinta anos. )a0o os anuais de trinta anos em ouro do me"%or qui"ate. /6ostra a saco"a0 1qui est!. SECRET(RIO - #in0uém pode repousar em so"o sa0rado, sem cuidadosa sindic8ncia. PRIOR - #em precisamos de seu ouro. MINISTRO /1centua-se a desconfiana0 - $eu fi"%o morreu do quê? MARTA /$i"êncio. &ontrai-se "i0eiramente0 PRIOR - $uicídio, não foi? MARTA /$orri de maneira estran%a0 - 6orreu de amor. //"ea a o*0 /u disse que morreu de amor2 PRO1EDOR - 3ue doena é essa que ainda não c%e0ou aqui?2 S2NDICO /
MARTA - 6eu fi"%o nasceu em i"a distante daqui, onde, no princípio, não %aia ouro, mas a terra douraa-se em mantimentos. (JOS$ ENTRE DE#ESSEIS E DE#ESSETE ANOS, VAI SENDO ILUMINADO, TENTANDO IMITAR O CRESCIMENTO E A MORTE DE UMA PLANTA. À MEDIDA !UE $ ILUMINADO, OS IRMÃOS DESAPARECEM MUTAÇÃO
MARTA - José2 José2 ocê não oue? JOSÉ - )reciso de concentraão mãe. MARTA - &oncentraão2 )or que não concentra em arado? $e est! querendo moimentar o corpo, temos mi"%o para descascar. JOSÉ - É assim que acontece com tudoE nasce, cresce, ene"%ece e morre MARTA - 3uem não sae que tudo nasce e morre2 Onde aprendeu isto? JOSÉ - Oserando2 )ara que serem os o"%os? MARTA . )ara se0uir o su"co do arado, er onde co"ocar sementes, o que est! om para co"%er... /ntendeu? JOSÉ - 1 sen%ora é sempre c"ara. MARTA - /m e* de imitar p"antas, faa a"0umas crescerem como seu pai. JOSÉ - &ada um tem o seu sentido de p"antar. MARTA - /scute aqui, meu meninoE o que pretende da ida, %ein? JOSÉ - Ver como é a pr'7ima cidade, e a pr'7ima, e a pr'7ima....2 correr mundo. Dee %aer, ne"e, um "u0ar que é s' de seu fi"%o. MARTA /Despeitada0 - &idade são casas em o"ta de ruas. JOSÉ - Onde mora 0ente. MARTA - 1qui tamém. 3ue é que somos? =ic%os? JOSÉ - De e* em quando a sen%ora ira ona. MARTA /1mar0a0 -
MINISTRO - /m que conento estee? MARTA - Das franciscanas. :ui educada por e"as para ser freira. /(ntenciona"0 6as não quis ser. MINISTRO - $em pais, pore, que destino mais santo poderia querer, do que ser esposa de &risto?2 MARTA - 3ueria ser de um %omem. PRO1EDOR . Você parece mu"%er ímpia2 MARTA - O sen%or tem fi"%os? PRO1EDOR - 6uitos. MARTA - &omo poderia tê-"os se todas as mu"%eres fosse freiras? (SEBASTIÃO APARECE AO "UNDO CARREGANDO UM "EIXE DE LENHA E SEGURANDO UM MACHADO. ELE EMPILHA A LENHA, OBSERVADO POR MARTA. OS IRMÃOS VAI DESAPARECENDO, !UANDO MARTA SE APROXIMA DE SEBASTIÃO
MARTA //ocando, carin%osa0 - 3uando $eastião apareceu, "eando a irmã para ser freira, pedi que se casasse comi0o. Dois meses depois, e"e o"tou para me "ear. #unca i $eastião parado. #o traa"%o da terra, nin0uém o i0ua"aa2 "MUTA#ÃO$ SEBASTIÃO - )or que me o"%a? MARTA - )orque 0osto. SEBASTIÃO /(nterrompe o traa"%o0 - 3ue foi, 6arta? MARTA - Fosto quando c%e0a si"encioso. $ina" de que tudo ai em. SEBASTIÃO /&ontinua o serio0 - / ai mesmo. MARTA - :i* pão. 3uer? SEBASTIÃO - Depois que acaar o serio. MARTA - /mpi"%e a "en%a aman%ã. Ten%o astante na co*in%a. SEBASTIÃO - )or que dei7ar para aman%ã? MARTA - 1ssim conersa comi0o. SEBASTIÃO - &onseramos enquanto empi"%o. MARTA /)ausa0 - Você precisa de a"0uém para a+udar. SEBASTIÃO - #ão %! muito para fa*er. $' esperar que en%a mais c%ua. MARTA - José deia ir na roa. SEBASTIÃO - 6eu pai era faiscador. /u 0osto da terra. Dei7e que e"e descura o que quer. MARTA /1raa $eastião, encostando o rosto nas costas de"e 0 SEBASTIÃO /Terno0 - 3ue est! acontecendo, 6arta? MARTA - #ão 0osto de er ocê traa"%ando so*in%o. SEBASTIÃO - 6as é assim que traa"%o. José quer con%ecer cidades, ia+ar, sentir-se no mundo. MARTA - O mundo est! em toda parte. SEBASTIÃO - )arece que o de"e não est! aqui. #ão ac%a? MARTA - #ão sei. #ão con%eo outro. SEBASTIÃO /$orri0 - Dei7e o fi"%o ater as assas. MARTA - )or que dei7ar meu fi"%o partir para um mundo que não con%eo? SEBASTIÃO - J! pensou o que seria, se eu estiesse até %o+e eira de um rio fuando o "odo? / se ainda estiesse no conento desfiando contas de ros!rio? MARTA - Deus me "ire. /)ausa0 $into por ocê. SEBASTIÃO /spero0 - /st! sentindo pena de mim? MARTA - #ão. SEBASTIÃO - 1inda em.. José acaar! encontrando o que quer. Vamos2 Vamos er esse pão. /)u7a 6arta0 3ue foi? MARTA - $eastião2 1race-me2 SEBASTIÃO - 3ue est! acontecendo, 6arta?2 MARTA - Ten%o medo. SEBASTIÃO - 6edo de quê? MARTA - #ão sei. &%e0ou de repente. SEBASTIÃO - 10ente não dee ter medo. De nada2 /stamos +untos, não estamos? MARTA - É om estar em suas mãos2 /=ei+a a mão de $eastião0 /"as descoriram em mim o que eu não saia e7istir. :oi com e"as que me con%eci. K
(AS LU#ES ABAIXAM, APARECENDO OS IRMÃOS NA PENUMBRA. SEBASTIÃO SEGURA MARTA E SAI, PUXANDO-A. SUBITAMENTE, PÁRA OLHANDO JOS$ !UE ENTRA PREPARADO PARA VIAJAR. OS DOIS SE EN"RENTA, NUMA DESPEDIDA MUDA.
MARTA /Vo"ta-se, com o"%os mare+ados0 - @! momentos que ficam incrustados na 0ente, como pedras. 3uando i José com a trou7a, senti que meus dois %omens iam me diidir para sempre2 SEBASTIÃO /)ausa0 - $ae o que ai fa*er, fi"%o? JOSÉ - 1inda não. SEBASTIÃO - / parte assim mesmo? JOSÉ - $e não procuro, não posso encontrar. MARTA - )ara ter certe*a, fi"%o. JOSÉ - /u ten%o. )reciso ir mãe. &ompreenda2 MARTA - )e0ou tudo que é seu? JOSÉ /)u7a a trou7a0 - )e0uei. MARTA - #ão est! "eando pão, fi"%o2 JOSÉ - 6ãe, por faor... MARTA - #ão custa. Vou uscar. /$ai, tentando conter os so"uos0 SEBASTIÃO - #ão ai encontrar pão i0ua" ao de sua mãe. JOSÉ - )or isto mesmo. $e ou tentar a ida no mundo, quero o que e"e tem para dar. SEBASTIÃO - :a* em. 6as sua mãe se sentir! me"%or, "eando o pão. JOSÉ /)ausa0 - :ui er a roa, pai. /st! muito onita. SEBASTIÃO - O tempo das !0uas tem sido om. JOSÉ - O sen%or sae p"antar. SEBASTIÃO /&onse"%o discreto0 - O amor é importante no traa"%o, fi"%o. 1 0ente precisa ter certe*a do que procura e não recuar diante de nada. :oi ao 6orro Ve"%o? #o pr'7imo ano ou p"antar "!. JOSÉ /1n0ustiado0 - /stie em todos os "u0ares do sítio.. procurando não sei o quê2 SEBASTIÃO . /u i. O que quer não est! aqui, fi"%o. V! procurar2 $e não encontrar... o"te, quem sae +!... JOSÉ - #ão ou o"tar mais, pai. SEBASTIÃO - /u sei. #ão di0a nada sua mãe. JOSÉ - 1c%o que e"a +! perceeu. MARTA /Vo"ta, disfarando a emoão0 - 1inda em que fi* pão esta man%ã. JOSÉ /Tenta sorrir 0 - Tudo isto?2 MARTA - )e"o menos por uma semana sei que ter! o que comer. JOSÉ /)ausa difíci"0 - 1té a ista, pai. SEBASTIÃO - Dese+o que encontre o que procura, fi"%o. JOSÉ - 6ãe2 MARTA /$e0ura o rosto de José, osessia 0 - /ste é o seu rosto. 1que"e que ai ficar 0uardado aqui dentro para sempre. JOSÉ /$orri0 - O traa"%o ai mud!-"o, não é assim? SEBASTIÃO - 3ue traa"%o? JOSÉ /Tenta encer a emoão0 - #ão sei. 1 mãe di* que o traa"%o modifica a 0ente. /1fastando-se0 #ão ie di*endo que o sen%or tem cor de terra? / eu não rinco... que e"a tem e tri0o e de "in%o? (JOS$ VOLTA-SE E CAMINHA COM RESOLUÇÃO. SEBASTIÃO SAI, OBSERVANDO JOS$. OS IRMÃOS SÃO ILUMINADOS, ACABANDO DE VESTIR OPAS
S2NDICO - 1inda não i in0ratidão maior2 MINISTRO - / seu marido se matou so*in%o no traa"%o? MARTA //7amina o a"tar e o teto, retesada0 - :oram outras coisas que o mataram. PRO1EDOR - /"e aandonou ocês para fa*er o quê? MARTA /&O6/1#DO O JOFO0 - )rimeiro traa"%ou numa nau dos quintos /$ondando0 nos carre0amentos do ouro que nos tiram e nos emporecem. PRO1EDOR - 6ais um pouco e teremos que suar ouro2 MARTA /$O<<(, 1&/#TA1#DO O JOFO0 - O poo est! suando %! muito tempo. José correu mundo... e acaou descorindo o que %aia dentro das casasE 0ente suando dí*imos... em triste M
estado procurando com esperana de encontrar, encontrando com a certe*a de não usar. :oi assim que se preparou para o traa"%o. PRIOR /(r5nico0 - O traa"%o que muda o rosto? TESO!REIRO - 3ue traa"%o é este que não con%ecemos por aqui? MARTA /$orri com ast9cia0 - &on%ecem, sim. S2NDICO - $eu marido tin%a cor de terra, ocê, de tri0o... e e"e? MARTA //sperando o efeito0 - Tin%a do %omem... que nascia diariamente no corpo de"e. PRIOR - 3ue est! di*endo?2 TESO!REIRO - )erdeu a ra*ão?2 MARTA - :oi o dem5nio e &risto. #ão são dois rostos diferentes? IRMÃOS //ntreo"%am-se, at5nitos0 MINISTRO - Você di*... Deus e o dem5nio no mesmo corpo?2 MARTA - Deus e o dem5nio, rancos e ne0ros, crentes e ateus, mu"%eres e %omens. /
J!I3 - 1prendi a "er e escreer. 3ueria ser fariqueiro. 6as os pardos é que são contratados pra tudo. $' porque têm tinta de ranco. MINISTRO //ntrando0 - O irmão secret!rio não em mesmo? J!I3 - É costume de"e, quando temos questão com ranco. MINISTRO - O p!roco foi aisado? TESO!REIRO - :oi. Q
MINISTRO - 6ande entrar. /$ai o Jui*0 Vai receer o casti0o que merece. 1 0ente pode ser escrao, mas fora da i0re+a. 1qui dentro tamém saemos aoitar. PRO1EDOR - )ara mim, Deus é ne0ro. / o dem5nio, ranco e de cae"o de mi"%o. MINISTRO - /sses rancos s' não têm qui*i"a de ne0ro, quando "eam nossas mu"%eres para cama. / o que d!? /ssa mu"atada faan%uda. PRO1EDOR - 1treida2 Vie di*endo que é "ire. Lire2 S2NDICO - Lire que não é ranco, nem ne0ro, pra que sere? TESO!REIRO - =ri0es com a 0ente, mas mansos nos pés do ranco. P(ROCO //ntrando0 - (rmão ministro e mais irmãos da ener!e" irmandade do
P(ROCO - / escrai*am em sa" mina, ne0ros de outras naes2 MINISTRO - )ertencem a trios inimi0as. P(ROCO - #a frica, não aqui. Todos deiam ser "ires. PRO1EDOR /(ntenciona"0 - Vossa caridade fa"a mais em "ierdade do que na ontade de Deus2 P(ROCO /Disfara0 - Diante De"e somos todos i0uais. MINISTRO - )or que não ai di*er isto aos poderosos do &armo? &omprar ou ender produto da terra, das !rores, dos rios, do mar e das 0entes é arte de ocês rancos. &ontinue, irmão +ui*2 J!I3 - 1ssim, ossa caridade mantém retidos em seu poder "iros da irmandade. P(ROCO - 6anten%o porque o irmão prior pretendia queimar o "iro de compromisso, para que a irmandade fosse considerada secu"ari*ada e ficar apenas com premissas de representaão de c"asse. RS
MINISTRO - #e0ro não pode entrar no &armo. )or que somos ori0ados a ter secret!rio ranco? J! temos quem sae "er. P(ROCO - $ão tão into"erantes quanto os carme"itas2 PRO1EDOR - :oram e"es que nos ensinaram. P(ROCO - Vio"ência não +ustifica io"ência. MINISTRO - :icar com nossos "iros é io"ência de ossa caridade. PRO1EDOR - 3uando sairmos %o+e nas ruas, a cidade ai ficar des"umrada com a nossa rique*a. Vocês rancos querem %umi"%ar nossa irmandade, mas a %umi"%aão ser! imposta por n's. MINISTRO - 1s escraas da mina ão sair na procissão com os cae"os empoados de ouro. Depois, "aarão os cae"os na pia, dei7ando o ouro como donatio Vir0em. PRO1EDOR - J! e7pu"samos os rancos dessa irmandade. 10ora, ser! ossa caridade. P(ROCO - $ou comiss!rio até a pr'7ima e"eião da 6esa. /nquanto isso, os "iros ficarão em min%a casa. /Vo"ta-se para sair 0 PRO1EDOR - / se o 0oernador ficar saendo de certas reunies, na ca"ada da noite, em casa de con%ecido poeta? P(ROCO /&ontro"a-se0 - @! muitas reunies nesta cidade. PRO1EDOR - #ão como as que são feitas "!. Vossa caridade sae disto. P(ROCO - #ão sei do que est! fa"ando. PRO1EDOR -
MINISTRO - / %! um preferido por todosE 1 "ierdade, posto que tardia2 P(ROCO /@irto0 - #ada sei dessas reunies2 PRO1EDOR - #ão?2 1 cidade inteira sae, menos o 0oernador. MINISTRO . Di*em que estão +untando ouro, com intenão ma"éo"a. :oi pra isto que 0uardou o nosso? P(ROCO /Líido0 - )odem mandar uscar os "iros. O ouro tamém. (AO SE VOLTAR, O PÁROCO V' MARTA E PÁRA. OS DOIS SE ENTREOLHAM. MARTA, INDIGNADA, DESVIA O ROSTO, OBSERVANDO OS IRMÃOS. O PÁROCO, PREOCUPADO E REVELANDO CONHECER MARTA, CONTROLA-SE E SAI. O SACRISTÃO ENTRA CORRENDO
SACRISTÃO - (rmãos2 (rmãos... PRO1EDOR - 3ue foi? S2NDICO - )erdeu a "ín0ua? SACRISTÃO - Tem um %omem morto n adro2 /nro"ado numa rede. /Temeroso0 É fi"%o daque"a mu"%er. Veio do &armo. MARTA - 6eu nome é 6arta. SACRISTÃO - 1 procissão ai sair. Tire o corpo de "!. /"a dei7ou o corpo em em frente da porta. Os fiéis estão temerosos. MINISTRO - )ode ir. Descemos a0ora mesmo /O sacristão sai0 3ue dese+a em nossa i0re+a? MARTA - /nterrar meu fi"%o. MINISTRO - )rocure sua irmandade. MARTA - É no meio de ocês que e"e dee repousar. PRO1EDOR - / procurou primeiro no &armo? MARTA /1rdi"osa0 - )rocurei a i0re+a onde $anta 3uitéria é padroeira. TESO!REIRO - / por que não permitiram? MARTA /&O6/1#DO O JOFO0 - Desconfiaram que meu fi"%o tin%a san0ue ne0ro. PRO1EDOR /
MARTA /1&/#TA1 O JOFO0 - Vocês er0ueram pa"!cios, i0re+as, casas, teatros2 &a"aram ruas, ras0aram montan%as, construíram o poder da )roíncia. $em as mãos de ocês, Deus não poderia ser 0"orificado. /Jo0ando com a fatuidade de"es0 / nin0uém 0"orifica como ocês. 3ue compan%ia me"%or poderia ter meu fi"%o? Vocês são a erdadeira nore*a, não os irmãos do &armo com seu títu"os. É aqui que dee estar a re"i0ião. PRO1EDOR /&apciosos0 - 3ue cor ac%a que tem o dem5nio? MARTA /&ompreendendo o ardi"0 - 1 que cada um "%e d!. (MARTA VOLTA-SE, EN!UANTO UM CURA, ACOMPANHADO POR DOIS BELEGUINS, PASSA AO "UNDO. O ROSTO DE MARTA CONTRAI-SE NUMA EXPRESSÃO DE DOR E %DIO
MARTA - )ara mim... e"e é ranco e usa atina2 /O cura sai, r!pido0 MINISTRO /:!tuo0 -
MARTA - 3uando passei pe"a i0re+a, i a 0ente que sai das sen*a"as e das minas... e que na procissão, por um momento, ai dei7ar de ser escraa. Vi os 0uies de damasco fran+ados de ouro, cru*es, aras e toc%eiros de prata andores de ta"%a dourada com ima0ens recamadas de peas de ouro e diamantes2 /m cada rosto, o sofrimento se estindo de a"e0ria o catieiro, esquecido em c8nticos re"i0iosos marcas de ferros se corindo de pedrarias e o amor a Deus se transformando em ouro. /1pro7imando-se de $eastião0 Ouro nos cae"os, nas ima0ens, nos a"tares e no teto... fa*endo-me "emrar a a0onia de $eastião. 1té então, não saia que o desespero, nos ons, pode irar f9ria, sementeira de todas as io"ências2 MINISTRO /VOU0 - #o marido ou no fi"%o? MARTA - #os dois... mas de maneira diferente. (SEBASTIÃO SE APROXIMA VERGADO SOB UM "ARDO; PE O "ARDO NO CHÃO E SE DEBRUÇA SOBRE ELE, ASSOBIANDO. MARTA, AGONIADA, "ICA OBSERVANDO-O E ESCUTANDO O ASSOBIO.
MARTA - 3ue foi, $eastião? SEBASTIÃO - Am %omem p"anta sementes e co"%e dí*imos. Dí*imos sore a terra, sore a p"anta, sore o mantimento. 6eses de traa"%o redu*idos nistoE um saco de tri0o e muitos de ameaas. MARTA - 1meaas? R4
SEBASTIÃO - Vamos perder a terra, 6arta. 1c%aram ouro no 6orro e"%o. MARTA - /m nosso sítio? SEBASTIÃO - #o riac%o tamém. Veios riquíssimos disseram. MARTA - Am pouco do ouro ser! nosso, $eastião. Vai nos a+udar. SEBASTIÃO - )ara pa0ar o quinto da )roíncia que est! atrasado. MARTA - Am dia... o ouro acaa e irão emora. SEBASTIÃO - $ei o que acontece onde ac%am ouro f"or da terra. #ão restar! nem uma p"anta. Am suor ma"dito ai sa"0ar a !0ua e a terra2 /m e* de mi"%o e arro*, ão rotar por todos os "ados cru*es e e"as acesas... MARTA /$uitamente af"ita0 - $eastião2 Vamos emora2 SEBASTIÃO - ... casca"%o e oraes por assassinados... MARTA - Vamos procurara José. SEBASTIÃO - #ão saio daqui, 6arta. MARTA - Você disse que a terra est! perdida. SEBASTIÃO - )osso "utar. MARTA - 3ue aconteceu na cidade? SEBASTIÃO /
MARTA /torturada0 - 1 partir daque"e dia, s' %aia ne"e um si"êncio terríe"2 TESO!REIRO - #em tentou minerar em sua pr'pria terra? MARTA - )ouco a pouco, o casca"%o estendeu um "eno" de pedras sore a terra, e comearam a aparecer as entran%as do 6orro Ve"%o /&ontrai-se a0oniada0 MINISTRO - 3ue foi? PRO1EDOR - )or que nos o"%a assim? J!I3 - /"a parece que não en7er0a a 0ente2 MARTA - Am assoio foi ouido em diersos "u0ares. Junto com e"e comearam a aparecer mineiros mortos... sempre estran0u"ados e sem as mãos. O paor e a superstião tomaram conta das minas. 6as o outro é mais forte do que tudo2 /"e e o medo acaaram fa*endo de todos um s' corpo... e as mãos dos mineiros foram encontradas enterradas deai7o da !rore. IRMÃOS /Temerosos, +untam-se numa atitude de defesa. Três mineiros entram arrastando MUTA#ÃO $eastião.0 MINEIRO + //mpurra $eastião com io"ência0 - /7comun0ado2 R>
MARTA /@irta0 - 3ue ão fa*er? MINEIRO - - )endurar o %ere0e na mesma !rore onde enterraa as mãos. MINEIRO - )or isto não iam ao santo cu"to que nos intimida a re"i0ião2 MINEIRO + - 6a"ditos incréus2 SEBASTIÃO /$ereno0 - $eriam as i0re+as de"es ou a min%a. MARTA - /u sei. SEBASTIÃO - 1ntes... queria um pedao de pão. MARTA /Tira do o"so0 - /u dou para ocê. MINEIRO + - #ão c%e0ue perto. É o dem5nio. MARTA /Dando o pão0 - É meu marido. MINEIRO - - Vai ser enforcado e ficar! e7posto. 3uando enterrar, nin0uém poder! acompan%ar. #in0uém2 /st! ouindo? MINEIRO + - 1 casa ser! destruída e este "u0ar, sa"0ado. Tire suas cosias. SEBASTIÃO /1ai7a a o*0 - )rocure José. @! outras mãos que precisam ser cortadas. #ão se esquea disto. MARTA - #ão me esquecerei. MINEIRO - - /st! na %ora. SEBASTIÃO - 6arta2 #ão ! me er. Dei7e-me... até que a c%ua apodrea a corda. MARTA /@irta de dor 0 - Dei7arei. SEBASTIÃO - 3uero que meus ossos fiquem espa"%ados em min%a terra. MINEIRO + - / é onde ai ficar. )ensa que a"0uma i0re+a receeria seu corpo? SEBASTIÃO /O"%a o c%ão0 - @! uma que ai receer. MINEIRO - &omo? $aemos que não pertence a nen%uma confraria2 SEBASTIÃO /=ei+a o rosto de 6arta, o"ta-se e camin%a firme, acompan%ado pe"os mineiros 0 MARTA /Frita desesperada0 - $eastião2 O ouro tirado de sua terra ai serir para a"0uma coisa. /u prometo2 (SEBASTIÃO DESAPARECE. OS IRMÃOS SÃO ILUMINADOS. MARTA VIRA-SE, COM OS OLHOS MAREJADOS
MINISTRO - / ocê dei7ou o corpo insepu"to? PRO1EDOR - Lar0ou os ossos, como se fossem de anima"?2 MARTA - 3uando parti, o"%ando de "on0e, pareciam espi0as de mi"%o espa"%adas. #a paisa0em... a 9nica coisa erde era a !rore. TESO!REIRO - #ão mandou re*ar nem uma missa? MARTA - #ossa i0re+a tin%a sido destruída /D/$1)1&/6 O$ $L(D/$0 MINISTRO - #ão sepu"tou o marido, nem re*ou por e"e... e em pedir para enterrar o fi"%o em nossa i0re+a?2 3ue est! querendo?2 (VOLTA A EXPRESSÃO IMPENETRÁVEL EM MARTA, EN!UANTO VEMOS SEBASTIÃO PASSAR AO "UNDO, CARREGANDO UM "EIXE DE LENHA.
MINISTRO -
MARTA - É no traa"%o que compreendemos os outros. 3uem se transforma em ne0ro, em %omem ou mu"%er, em +udeu ou mouro, sente cada um como rea"mente é. 1andona seu corpo por um RB
outro. /squece seus sentimentos e fa* outros nascerem. Fuarda em a"0um "u0ar suas idéias e ensina outras. /ncontra em si mesmo sentimentos que são de todos. :iquei e7tasiada, ouindo o que e"e di*ia...2 (OS IRMÃOS DESAPARECEM. ESTÃO EM CENA CATÃO E MARCO-BRUTO , !UE REPRESENTAM DIANTE DO P+BLICO, COMO SE ESTE "OSSE O SENADO ROMANO. JOS$, NO PAPEL DE MARCO BRUTO, VESTE ROUPA DE CENTURIÃO. CATÃO ESTÁ DE TOGA NEGRA.
CATÃO - N#ão %! san0ue que o farte, não %! crime 3ue o deten%aE seu carro de triunfo #ão impea nos montes de cad!eres 3ue "%e +uncam a estrada. :ique o mundo Todo um sepu"cro, um s' momento a terra... 6as reine e"e sen%or sore esse t9mu"o. Di*eiE qua" é ossa a"ma, as tenes ossas? (nda ousais defender a "ierdade? :irmes em acaar primeiro com e"a (nda ousais preferir a morte %onrada 1o +u0o, escraidão? G =ruto fa"e? MARCO.BR!TO - N/u oto a 0uerra G / 0uerra s' nos cumpre. )ouco somos mas "ires, mas ousados. #o furor da pe"e+a, quantas e*es Am s' rao astou a decidi-"a? &ésar... 1%2 coeste nome em osso peitos #ão fere a indi0naão, não pu"a o 'dio? / este mesmo senado inda duida, )ausado a0ita, frio de"iera $ore a causa da p!tria? 1%, não, ' )adres, #ão a"e em "ances destes a prudênciaE $' produ* entusiasmo as aes 0randes. #ão a0uardaremos que o inimi0o ousado Ven%a em nossas mura"%ar atacar-nos Vamos n's mesmo, n's, o ferro em pun%o, )or entre essas ind5mitas fa"an0es Lon0a ariremos san0uinosa estrada... $enão para a it'ria que nos fo0e, H F"'ria ao menos de e7pirar
J!I3 - 1penas um ator2 MINISTRO - /ntão, foi por isto que o &armo não quis enterrar? PRO1EDOR - )ensou que enterraríamos porque somos ne0ros? MARTA - #ão pensei que enterrassem IRMÃOS //ntreo"%am-se, confusos0 MARTA - Tin%a certe*a disto. MINISTRO /De repente, compreendendo0 - Você não queria mesmo2 10ora eu e+o2 3uem é ocê? 3ue quer de n's? MARTA . 1 9nica diferena entre ocês e o &armo é a cor da pe"e. /scondem-se atr!s de"a, e s' saem se "amentar. O que 0eram seus pais é produto de enda, compra ou troca. 6as não fa*em nada para acaar com isto. /1ponta0 /scrai*am tamém por este ouro2 $ão tão odientos quanto os rancos2 MINISTRO /Tapa os o"%os0 - $ai da nossa i0re+a2 MARTA /&%eia de ira0 - )resenciei o que fi*eram ao p!roco. #as mãos de"e o ouro ia serir para a"0uma coisa, não iria parar em tetos, paredes e ima0ens2 J!I3 - #ão o"%em para e"a2 R
S2NDICO - #ossa i0re+a est! profanada2 J!I3 /1paorado0 - Tire seu fi"%o do nosso adro2 MARTA - O ouro continuar! se transformando em san0ue, o amor, em 'dio... enquanto este corpo ficar insepu"to. 6as ão enterrar. S2NDICO - @! uma "ei can5nica que... MARTA / #um 0rito0 - /u farei as "eis mudarem nesta noite2 MINISTRO - )ensa mesmo que amos enterrar o dem5nio na casa de Deus? MARTA - Vão, sim. 6as não ser! aqui. MINISTRO - /ntão, não ser! na casa de Deus. MARTA - #a 9nica que e7iste. / ocês irão. /Vo"ta-se e sai0 (OUVEM-SE CNTICOS NA IGREJA !UE LEMBRAM MISSA LUBA, EN!UANTO OS IRMÃOS DESAPARECEM. ILUMINA-SE O CONSIST%RIO, À ES!UERDA, ONDE A IRMANDADE DE SÃO JOS$ ACABA DE CHEGAR DA PROCISSÃO. MARTA E !UIT$RIA SURGEM AO "UNDO, CARREGANDO A REDE; ATRAVESSAM A CENA E DESAPARECEM À ES!UERDA. ARCADA E COM OS OLHOS "IXOS NO CHÃO. MARTA PASSA MURMURANDO UMA CANTIGA DE NINAR. MANOEL DE ABREU ENTRA, OBSERVANDO E ACOMPANHANDO; ELE TENTA OCUPAR O LUGAR DE MARTA, MAS $ REPELIDO; DEPOIS SEGUE-AS. O PÁROCO DO ROSÁRIO SURGE E DESAPARECE AO "UNDO, OBSERVANDO MARTA
P(ROCO - )e"o contrato feito entre o c"ero e a coroa, ficou decidido que seria esta que deeria carre0a-se da reparaão das i0re+as. 6as são os fiéis que arcam com esse pesado 5nus. BRANCO - Ama das coisa que aprendi nesta ia0em. &omunicarei ao 0oernador. P(ROCO - O sen%or con%ece o 0oernador?2 BRANCO - $omos ami0os. P(ROCO - :icaria muito 0rato se fa"asse a e"e a respeito do canonicato. BRANCO /&ontrariado0 - )osso fa"ar. P(ROCO - $e for necess!rio, entrarei com din%eiro. BRANCO - #ão é tr!fico i"ícito de cosias santas o que est! propondo, sen%or cura? P(ROCO - (nfe"i*mente, nesta naão, a ena"idade est! consa0rada pe"o uso, e sem e"a, nada poderíamos fa*er. BRANCO - #ão seria ofensa ao 0oernador? P(ROCO - )eo apenas recomendaão. /"a e um pouco de ouro arem qua"quer porta. #ão ten%o tanto quanto ser! preciso mas arran+arei. BRANCO //ita o assunto0 - ouiu fa"ar na mu"%er que carre0a o fi"%o morto? P(ROCO - /"a procurou rancos e ne0ros. 10ora, dee ser a nossa e*. PRO1EDOR /)ern'stico0 - )rocura ãs quimeras. P(ROCO /&onfidencia ao =ranco, oserado pe"o )roedor, dese+osos de estar na conersa 0 Fente parda 0osta de ser diferente. $e ne0ros e rancos não aceitaram, podem aceitar perfeitamente. Depende sempre do que querem ne0ar no momento. BRANCO - &omo assim? P(ROCO /6a"doso0 - )ro0ênies que incomodam. Depois, nesta confraria estão tamém estatut!rios e pintores. Fente de sensii"idade diferente. #unca se sae do que são capa*es. BRANCO - 1 erdade é que a"0uém precisa fa*er a"0uma coisa. P(ROCO - O /stado que enterre. BRANCO - Onde, se não %! cemitérios municipais? P(ROCO - / para que... se todos pertencemos s confrarias? BRANCO /$aindo0 /m min%a cidade as festas re"i0iosas não são tão ma0nificentes2 1 irmandade do
PRO1EDOR /$uperior 0 . #osso p!roco tem aara sede de tesouros. / é "iertino. Viram como o"%aa as ne0ras do
P(ROCO - J! con%ecemos seu caso. 1conse"%o que procure a &8mara 6unicipa". MARTA /&o"oca a saco"a sore a mesa 0 TESO!REIRO - 3ue é isto? MARTA - Ouro em p'. TESO!REIRO - Ouro em p'?2 Tudo isto? )ara quê? MARTA - Trinta anos de anuais, de dí*imos de confisses e comun%es que um re"i0iosos teria pa0o desde os sete anos. #ão é quando se comea a pa0ar os anuais? PRO1EDOR - Tire seu ouro daqui2 //mpurra a saco"a0 P(ROCO /Detém o moimento do proedor 0 - #ão nos esqueamos da caridade. S2NDICO - #ão ouiu o que os irmãos do
MARTA - &omo não acreditar, sen%or p!roco, que o naio se+a 0uiado por fora superior, quando nae0ando num oceano tempestuoso, so direão de pi"otos ne0"i0entes e in!eis, resiste, contudo, s maiores tempestades? P(ROCO -
MARTA - $e meu fi"%o estiesse io e não fosse ator, pertenceria a esta irmandade. P(ROCO - /ra mu"ato? PRO1EDOR - )ardo, sen%or p!roco2 MARTA - 3uem pintou as te"as escu"piu as ima0ens, er0ueu as i0re+as e comp5s as m9sicas? 3uem são os atores que diertem o poo da co"5nia? Todos mu"atos. PRO1EDOR - )ardos2 MARTA /Vo"ta-se e o"%a José0 - 3uem conse0ue sentir os outros, se não os que iem diididos em mi" pedaos2 /"e tin%a muito de pardo. Daque"es que são estran0eiros em sua pr'pria casa. /1pro7imase de José, enquanto os (rmãos desaparecem 0 3uando ficamos perdidos em n's mesmos, não emos o que nos rodeia, o que rea"mente nos ameaa. /6AT1XO0 Deaneios e mais deaneio. JOSÉ /Vo"tando a si0 - 6ãe2 1 sen%ora não me disse, um dia, que tin%a sido criada num conento de franciscanas? MARTA - Disse. JOSÉ - 6as saia que eram seus pais? MARTA - #ão. :ui para o conento muito criana. )or quê? JOSÉ - A"timamente... ten%o me per0untado muito quem seriam meus a's. MARTA - /st! aí uma coisa que nunca me per0untei. JOSÉ - Am %omem tem direito de saer que san0ue corre nas eias de"e. MARTA - $e+a qua" for, não dei7a de ser %omem. JOSÉ/(mpaciente0 - $ou ator, mãe2 MARTA - / daí? JOSÉ - )ara todos, ator não passa de mu"ato. MARTA - $aia disso quando fe* sua esco"%a, não saia? JOSÉ - &omo e"es... a 0ene ie s'2 MARTA - )orque nos fa*emos s's. JOSÉ - Hs e*es, sinto-me como se andasse em camin%o ermo, carre0ando no peito duas feras que querem me deorar. MARTA - 6as... de onde est! saindo tudo isto? Am %omem pode ser ranco ou ne0ro, sem que incorra em ma"dião, sem que as portas "%e se+am fec%adas. JOSÉ . Depende das portas que procure. / mu"ato não é ranco, nem ne0ro, nem tem porta para ater2 MARTA - :i"%o2 3ue aconteceu? Di0a2 JOSÉ - &erto dia, saindo do teatro, a"0uém me per0untouE ocê é mesmo mu"ato? #ão parece. É o primeiro ranco que e+o nesta profissão. / um ator que estaa comi0o acrescentou, rindo e ma"icioso aposto que todos pensam que ocê é ranco. 6as %! 0ostas de san0ue que não dei7am marcas. :oi aí que comecei a perceer o"%ares curiosos sore mim. $enti-me como a"0uém que tiesse atraessado uma fronteira, sem saer de onde tin%a indo nem para onde pretendia ir, em RM
uma naão sem 0eo0rafia. 6eus o"%os, meus cae"os, min%as feies di*iam que eu era uma coisa meu traa"%o afirmaa que era outra. /1n0ustiado0 Lemrei-me da sen%ora, quando percei que estaa escutando em paredes inisíeis, un%ando muros ima0in!rios2 /ra "ire e estaa trancado2 3uando i... traa"%o, futuro, aspiraes... tudo estaa de"imitado2 MARTA - @! outras de"imitaes muito piores por aí. JOSÉ . 6as o pro"ema não é este2 É sentir que pertence, não importa a que "ado2 #ão compreende? MARTA - #ão posso p5r fim em suas d9idasE não sei quem foram meus pais. 6as, fi"%o, o que %! de me"%or, é que tudo é produto de soma, e todas as partes são i0ua"mente importantes. JOSÉ /Torturado0 - Tudo isto me reo"ta. MARTA /Dura0 - )e"os outros, ou s' por ocê? $e a preocupaão é seu san0ue, ! ao conento das franciscanas. $e não é, use sua reo"ta para a"0uma cosia. &ausas não fa"tam. JOSÉ /Leanta-se, a0itado0 - 1ssunto encerrado. /$ai0 MARTA /Frita0 - #ão se esquea de 6arco-=ruto2 "JOSÉ PÁRA E OLHA MARTA, DEPOIS SAI. MARTA SORRI. OS IRMÃOS APARECEM. MARTA EXAMINA-OS, VOLTANDO A EXPRESSÃO IMPENETRÁVEL$
MARTA - José pertenceu de fato a esta confraria. É aqui que dee repousar. /&O6/1 O JOFO0 Lemraa muito ocês... no amor, na arte, na cama... entre as pernas de uma mu"%er. P(ROCO /:urioso0 - $e empre0ar esta "in0ua0em, mando tir!-"a daqui2 MARTA - É a min%a "in0ua0em2 P(ROCO - &ertas coisas não se fa"am numa i0re+a. MARTA /spera0 - / o que se fa"a num confession!rio, sen%or p!roco? $omos todos i0uais. J! é mais do que tempo de se fa"ar em coisas que todos fa*em toda noite ou todo dia. De atos naturais e muito a0rad!eis. $e acontecem é porque Deus permite. P(ROCO - Ou o dem5nio2 MARTA /
MARTA /1centua a proocaão0 - #os pra*eres carnais, meu fi"%o foi natura" e rousto. /ra onde representaa seu me"%or pape". #a cama, fa*ia coisas que muitos fa*em e mentem não fa*er. P(ROCO - &oisas? 3ue coisas? MARTA - Ora, o sen%or sae2 O que não acontece numa cama entre um %omem e uma mu"%er c%eios de dese+o? P(ROCO /@irto0 - Onde aprendeu esta "in0ua0em? MARTA - Viendo. )or que têm medo de tudo, até das pa"aras? /"as e7istem porque e7istem atos. P(ROCO - 1c%a que tudo é permitido? MARTA - 1c%o. S2NDICO - 1 mentira? MARTA - 3uem não mente não é fi"%o de oa 0ente. S2NDICO - 1 0u"a, o adu"tério, a "u79ria... tudo?2 PRO1EDOR /(ncomodado0 - $e tudo fosse permitido, Deus não e7istiria. MARTA - )ara mim e7iste, e7atamente porque tudo é permitido. S2NDICO /1t5nito0 - #unca encontrou Deus? MARTA - &omo posso encontr!-"o, se não en7er0o meu pr'prio rosto2 O sen%or en7er0a? S2NDICO /(nstintiamente "ea a mão ao rosto0 - 6eu rosto é este. MARTA /$orri0 - 3ua"? O que e+o? O que e"e ê? Ou aque"e que tem a imoi"idade da a0onia... no instante do pra*er que tra* ida a noos rostos? É o que ei+a? O que condena? O que cospe? O que come ou o que omita? IRMÃOS /a"0uns passam a mão no rosto 0 MARTA - )ouco a pouco, endo José de persona0em em persona0em, de rosto em rosto, comecei a compreendê-"o. (AS LU#ES VÃO ABAIXANDO. MARTA CAMINHA NA DIREÇÃO DE JOS$, DESLIGADA DESTE E DOS IRMÃOS
JOSÉ /Frita0 - 6ãe2 MARTA - 1mou ne0ras, rancas e pardas. RQ
JOSÉ - 6ãe2 1 sen%ora não oue? MARTA - :oi com e"e que aprendi até que ponto um %omem é capa* de ir. 6as foi comi0o que aprendeu a representar, na ida, certa persona0em do pa"co. /&ontrai-se, a0oniada0 / foi e"a que o "eou para dentro da rede. (MUTAÇÃO JOSÉ - $ae? /stie pensando. MARTA - =om sina". JOSÉ - #ão é mesmo 0rande saedoria essa teoria do suso"o pertencer ao /stado? MARTA - )e"o menos, prende-se ou mata-se dentro da "ei. )or que di* isso? JOSÉ - )or nada. 6e ocorreu. MARTA /)ausa0 - 1ssisti seu traa"%o ontem. JOSÉ - Ten%o impressão de que nin0uém compreendeu nada. MARTA - 1que"a 0ente não podia, mesmo. /stão com &ésar2 1fina", quem ai ao teatro? JOSÉ - &onersaam, comiam... foi o inferno2 MARTA /)ausa0 - 1que"e %omem da pea, como se c%ama? O fi"%o astardo de &ésar? JOSÉ - 6arco-=ruto. MARTA /(nsinua0 - 6uito onita a frase2 &omo é, mesmo? JOSÉ - #ão sei a qua" se refere. 1s frases de 6arco-=ruto são todas onitas. MARTA - N)ouco somos mas "ires, mas ousados. #o furor da pe"e+a, quantas e*es um s' rao astou para decidi-"a?P /)ausa0 J! foi er os +ardins do )asseio )9"ico? JOSÉ /$orri0 - :oi onde i 3uitéria pe"a primeira e*. MARTA - 1s pessoas passam, o"%am as f"ores e não ouem os 0emidos. JOSÉ - É um +ardim, mãe2 )or que ouir 0emidos? MARTA - :oi com o rendimento de aoites em escraos, que os sen%ores mandaam dar, que a fa*enda rea" pa0ou as oras. #ão saia? /1mar0a0 =usquei ocê por toda parte, ouindo, o"%ando min%a o"ta. 1s cidades, os campos que percorri, foram p"antando indi0naão e reo"ta em mim. Vi coisas que não pensei e7istir entre os %omens... e compreendi que iera trancada no sítio, mais do que no conento. / ocê eio para conquistar a cidade, arir portas e er como as pessoas iem, e não saiu do pa"co, ou de ocê mesmo. $ua indi0naão termina com os papéis que representa. 3ue importa saer de quem descende, se não en7er0a nem os que iem sua o"ta? JOSÉ - 6ãe2 /u não ten%o as qua"idades que pensa. MARTA - Tem sim. JOSÉ - $ei muito em do que sou capa*. MARTA - $er! capa* do que quiser. JOSÉ - 3ue quer de mim, mãe? MARTA - 3ue não fique se amesquin%ando por causa deste ou daque"e san0ue. 3ue o"%e sa" o"ta... e e+a que o poo s' con%ece impostos que ima0inam o c"ero, a ma0istratura e o fisco. Têm cem raos arrecadando cem o"%os i0iando, atormentando com den9ncias e urdindo in0anas. Am dia, suas 0arras c%e0aram em nossa casa e penduraram seu pai em uma !rore. JOSÉ /1tormentado0 - /squece isto, mãe2 )or faor2 MARTA - /squecer, como? JOSÉ - 1 sen%ora tem me censurado como se eu fosse o cu"pado2 MARTA . 1inda não é. 6as poder! ser. Am %omem não morre inuti"mente. $ão os outros que tornam a morte in9ti", não a usando para nada. :i"%o2 $ão e"os os papéis que representa. 6as %! outros que iem sua o"ta. #en%um dos persona0ens que cria tem a mesma 0rande*a de seu pai2... matando para defender o traa"%o de"e cortando a"0umas mãos do monstro que continua nos sufocando. JOSÉ - Vai acaar encendo, mãe2 MARTA - #ão quero encer, fi"%o. 3uero que en7er0ue por ocê mesmo. Onde ai? JOSÉ /$aindo0 - Vou er 3uitéria. MARTA - #ão faa da cama campo de ata"%a. #ão se esquea de que %! outros. JOSÉ - /m todos poso me dar em. MARTA - )or enquanto s' con%ece doisE a cama e ocê mesmo2
4S
JOSÉ /)!ra0 - #ão posso ser sem meu corpo. / sou o que o meu corpo é. É de persona0em, fi"'sofo ou meu mesmo? MARTA - 3uem sae de quem é... o que um ator di*2 /(nsinua0 Hs e*es é de"e. N/u oto a 0uerra. / a 0uerra s' nos cumpre.P JOSÉ - (sto é de 6arco-=ruto. MARTA - / de todos que "utam contra a in+ustia. (JOS$ OLHA MARTA E SAI. EN!UANTO OS IRMÃOS SÃO ILUMINADOS, MARTA PERMANECE DE COSTAS. PERCEBE-SE A ANSIEDADE DO IRMÃO MINISTRO.
TESO!REIRO - 3ue foi, irmão ministro? MINISTRO /&ontro"a-se0 - #ada. P(ROCO - &on%ece o p!roco do
MARTA - 3uitéria2 /)ropositadamente0 6u"%er cisterna de paredes de is0o. &apa* de prender um %omem até seu 9"timo fim. Tem pernas que iram era-passarin%o no tronco de um %omem. P(ROCO /$ensua"0 - É escraa? MARTA - :oi... até descorir a fora que tem entre as pernas. 6ina mais rica que o Teuco2 /(ntenciona"mente sensua"0 )arece ter sido feita para a"imentar a %umanidade, com os peitos que possui. /Vo"ta-se, des"i0ando-se dos (rmãos, que ficam na penumra como si"%ueta 0 Fostaa de oser!-"os. Tudo, entre e"es, era "uto de possuídos2 Duas foras diidam aque"e corpo. 6as uma terceira comeou a "utar dentro de"e... e as per0untas que se fe*, teceram a rede onde est!2 (MARTA ESCONDE-SE E "ICA OBSERVANDO JOS$ E !UIT$RIA
!ITÉRIA - 3ue anda acontecendo com ocê? JOSÉ - #ada. !ITÉRIA - &ostuma fa"ar so*in%o, é? JOSÉ - É a persona0em. !ITÉRIA /&iumenta0 - $aia2 Você matina mais ne"a do que em mim. JOSÉ - (sso é o que pensa. &om esses peitos aí na min%a frente? !ITÉRIA - )or isto mesmo. /stão aqui, são seus... e ocê aí matinando sei "! com quê. JOSÉ - Vou sair pe"o interior com a compan%ia, 3uitéria. / ten%o que "ear aque"a cena. !ITÉRIA /
É porque 0osta do fi"%o. =ruto mesmo, esse 6arco2 1que"e e"%o a0ourento é que a*arou tudo. /
F2GARO - N@! nada mais esquisito do que o meu destino? 1tiro-me de corpo e a"ma no teatroE antes tiesse amarrado uma corda no pescoo2 1"in%ao uma comédia nos costumes do serra"%o. 1utor espan%o", pensei que podia troar de 6aomé ontadeE na mesma %ora um eniado.... de não sei onde quei7a-se de que eu ofendo em meus ersos a $u"ime )orta, a )érsia, uma parte da penínsu"a da Yndia, todo o /0ito, os reinos de =arca, Trípo"i, T9nis, 1r0e" e 6arrocosE e "! se ai nossa comédia s urti0as, para a0radar aos príncipes maometanos, nen%um dos quais, penso, saer "er e que nos ma0oam o omop"ata, c%amando-nos de cães cristão ZLeanta-se[ &omo 0ostaria de se0urar um desses tiranetes de 9"tima %ora, tão pouco preocupados com o ma" que ordenam2 3uando um om desfaor tier c%ocado o or0u"%o de"es, eu "%es diria... que sem a "ierdade de censurar, não %! e"o0iado que "ison+ear e que s' os %omens pequeninos temem os pequenos escritos. ZTorna a sentar-se[ &omo é preciso +antar, aparo ainda a min%a pena e per0unto a todos qua" é o assunto do diaE di*em-me que se estae"eceu em 6adri um sistema de "ierdade a respeito da enda das produes, o qua" c%e0a a estender-se até as da imprensa e que, uma e* que eu não fa"e em meus escritos nem da autoridade, nem do cu"to, nem da po"ítica, nem da mora", nem da \pera, nem dos outros espet!cu"os, nem de pessoas que ten%am por onde se "%es pe0ue, posso imprimir "iremente tudo, so a inspeão de dois ou três censores. )ara me aproeitar desta doce "ierdade, anuncio uma pu"icaão peri'dica e, crendo não camin%ar nas pe0adas de nin0uém c%amo-o JO<#1L (#]T(L. $uprimem-me e eis-me de noo sem empre0o2
JOSÉ - 1c%a om? !ITÉRIA - /n0raado est!2 JOSÉ - $er! que a 0ente da proíncia ai compreender? !ITÉRIA - $' se for tudo toupeira. 3ue é que tem para compreender? JOSÉ /(rritado0 - #ada. !ITÉRIA - 3uem é $u*anin%a? JOSÉ /$orri, paciente0 - &riada de quarto. 44
!ITÉRIA /$uitamente0 - )or que é tão importante esta ia0em? 6ais até do que eu? JOSÉ - É tão importante quanto ocê. !ITÉRIA - / me dei7a aqui? #ão di0o que anda esquisito? JOSÉ - 1inda ai compreender. !ITÉRIA - &ompreendo é que mudou muito depois que sua mãe c%e0ou. #ão sei mais se é o José... /acariciando-o0 que era s' meu. JOSÉ - Tamém não ten%o mais certe*a se sou eu. 3uem sou eu? 3ue é que se esconde dentro de mim? O que sou para mim e o que sou para os outros? !ITÉRIA /=ei+a o corpo de José0 - )ara mim... é o 9nico que me ensinou a não ter er0on%a do meu corpo. JOSÉ //ntre0ando-se s carícias de 3uitéria0 - #ão posso "e!-"a. Você me fa* esquecer dos que precisam de mim. !ITÉRIA - O que é meu, é s' meu. MARTA /1pro7ima-se, oserando fascinada0 !ITÉRIA - Você mesmo ie di*endo que é o corpo que tem2 Dei7e que e"e se+a como é. JOSÉ /$ensua"0 - :oi o seu que me ensinou. !ITÉRIA - )ara que fa*er tantas per0untas? NDe onde en%o? )ara onde ou?P /)u7a José sore e"a0 Ven%a para dentro de mim. JOSÉ - )romete... não 0emer como uma possessa...? !ITÉRIA - #ão prometo... nada...2 MARTA /&om e7pressão impenetr!e"0 - Veio de mim e ai para dentro de outra, e de outra... e de outra, o"tando sempre ori0em, num tempo sem fim2 (A CENA DESAPARECE EN!UANTO OUVIMOS OS GEMIDOS LASCIVOS DE !UIT$RIA. OS IRMÃOS SÃO ILUMINADOS HÁ HORROR E MEDO EM SEUS ROSTOS.
MARTA - / e"e acaou aprendendo... que a"ém de 3uitéria... P(ROCO - @aia Deus para casti0ar os pecadores. MARTA - ...%aia a "uta pe"os outros... P(ROCO - É uma mu"%er-dem5nio2 MARTA - ... que o medo podia ser encido... e que restaam mãos para serem casti0adas. P(ROCO - )ara isto e7iste a "ei. PRO1EDOR - / Deus2 MARTA - /ntão, para que tanto sofrimento nas cidades e nos campos? P(ROCO - )or que pecam. É por isto que seu fi"%o não tem onde ser enterrado. #em seu marido tee. 3ue fi*eram de om? MARTA /1taca0 - )ode ser muito onita a ocaão espiritua", mas e"a não dispensa nin0uém de traa"%ar. P(ROCO - Traa"%o para Deus. MARTA /)erde o contro"e0 - :a*endo da i0re+a seu ce"eiro. Deus não em fome, nem doenas, sen%or p!roco. /nquanto os %omens sofrem, "! fora, ocê re*a2 PRO1EDOR - Tirem esta mu"%er daqui2 MARTA - @! sécu"os que e7p"oram um corpo e7posto, confundindo a ida com a morte, espa"%ando ce0ueira e medo2 P(ROCO - 3ue est! querendo? /m que ocê crê? MARTA - /m meu fi"%o. P(ROCO - 3ue pensa sore a derrama? MARTA - O mesmo que ocês. P(ROCO - 1s idéias de seu fi"%o pertenciam a quem? MARTA - @! idéias que pertencem a todos. P(ROCO - $eu fi"%o eio se encontrar com o p!roco do
MARTA - #ão quero missas. #em que fique na i0re+a /O"%a sua o"ta0 /"a "emra o )asseio )9"ico. 1qui co"ocam inscries santas, ima0ens, pinturas, ta"%as de "aor inestim!e". 6as, por ai7o, nos a"icerces e nas paredes, estão os que 0emeram nos 0ri"%es, os que acaaram seus dias, sem &risto e sem remédios. P(ROCO - 6as fi*eram de nossa i0re+a "u0ar de conso"o para os fiéis2 S2NDICO - Onde "ouamos Deus na escu"tura2 SECRET(RIO - #a pintura2 PRO1EDOR - /m nossa m9sica2 MARTA - Vocês tra*em feridas na a"ma e tentam corir com a re"i0ião. 1 parte que amar0ura, a %umi"%ada, a traída, é que procuram esconder, e quanto mais escondem, mais se diidem e se ree"am... e acaam numa cru*... /1ponta0 como e"es2
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aparecer os ossos. 3ue daque"e corpo i0oroso fiquem apenas os cae"os. 3ue o odor do corpo de"e torne insuport!e" a ida na cidade2 É a maneira que ten%o para enterr!-"o onde é preciso. IRMÃOS /1nsioso0 - Onde? &omo? /nterr!-"o onde? MARTA - Vocês erão e ão a+udar /Vo"ta-se para sair 0 MINISTRO /1f"ito0 - $ua saco"a de ouro2 MARTA - )ertence ao p!roco. TESO!REIRO - $' a e"e? MARTA . #ão é a e"e que os dí*imos são pa0os? 1ra a saco"a, irmão ministro, e despe+e sore a mesa. P(ROCO /@irto0 - 6as... isto é areia2 1reia pura2 MARTA - Tente se0ur!-"a, sen%or p!roco2 (MARTA COMEÇA A RIR; SUA GARGALHADA AUMENTA, ECOANDO EM TODA A IGREJA. OS IRMÃOS, MALDOSOS, RIEM TAMB$M. MARTA VOLTA-SE E SAI RINDO
PRO1EDOR - (rmão ministro2 3ue foi? Onde ai? (A CENA DESAPARECE, EN!UANTO O IRMÃO MINISTRO CAMINHA NA DIREÇÃO DA PORTA POR ONDE SAIU MARTA, DEIXANDO A OPA CAÍDA NO CHÃO. MARTA ESPERA O MINISTRO E LHE ESTENDE A MÃO. O "UNDO DO PALCO $ ILUMINADO REVELANDO RI!UÍSSIMO ALTAR-MOR. A ORDEM TERCEIRA DAS MERC'S ESTÁ REUNIDA. HÁ MISTURA E!UILIBRADA DE BRANCOS, NEGROS E MULATOS. EMBORA HAJA NERVOSISMO ENTRE ELES, ESTÃO RINDO, MALICIOSOS
DEFINIDOR + - Fostaria de ter isto a cara do p!roco. TESO!REIRO - 1reia ranca, pura2 DEFINIDOR + - /"e, que é capa* de ender a a"ma por um canonicato. TESO!REIRO - )or uma ne0ra +! endeu muitas e*es2 DEFINIDOR + - &ape"a
PRO1EDOR - &uidado, irmão2 1s paredes escutam2 MINISTRO - 1s ore"%as do Visconde estão por toda parte. DEFINIDOR + - /stamos na i0re+a. PRO1EDOR - Onde e"as entram tamém. MINISTRO - É erdade que est! %aendo conentícu"os por aí? DEFINIDOR + - NOs tirando da p!tria asso"adores. Do poo des0raado são f"a0e"os. 3ue enia ao mundo a c'"era ce"este.P DEFINIDOR + - 3uem dei7ar! de entreer no peito desses %omens as c%amas da sedião, quando seus suspiros são tão enér0icos? PRO1EDOR - /ntão, é certo mesmo que se quer fa*er por aqui uma /uropa? MINISTRO - #ão treme ao proferir estas pa"aras? DEFINIDOR + - $er! crime 0ostar de e"os ersos? / se fosse, antes morrer como &atão do que ari"%antar como m!rtir a merc%a de &ésar2 4
TESO!REIRO - @! setenta anos, irmão ministro, que s' os a"finetes das rain%as consomem de*enas de arroas de ouro. 10ora, com a derrama, teremos que pa0ar quase seiscentas. 1s minas e7aurindo, dia a dia, poderão pa0!-"as? MINISTRO - 1 temeridade nem sempre é oa conse"%eira. TESO!REIRO - 3uerem o quê? 1caar com a tirania, sem "utar? PRO1EDOR - )ara que derramar san0ue2 #ão 0osto de io"ência. #ão é da nossa índo"e. TESO!REIRO - )odemos produ*ir e comerciar? $' entram cosias sem a"idade e sai nosso minério. J! mandaram destruir nossos teares. Ordens reais2 / quem as fa* cumprir? "DURANTE ESTA FRASE, MARTA SURGE PORTA E OBSERVA OS IRMÃOS$
S2NDICO - )arece que... nin0uém conse0uiu descorir como foi que esse %omem morreu2 SECRET(RIO - Di*em que a ne0ra não dei7a arir a rede2 TESO!REIRO /
JOSÉ - /m eios de mu"atos atores, Ve+am o que di*em do meu 0oernar, 6a"ditos ates escrein%adores2 N)retende, Doroteu o nosso c%efe 6ostrar um 0rande *e"o nas coranas Do imenso caeda" que todo o poo, 1os cofres do monarca, est! deendo. /nia ons so"dados s comarcas, / manda-"%es que corem, ou que metam, 1 quantos não pa0arem, nas cadeias. /ntraram, nas comarcas, os so"dados, / entraram a 0emer os tristes poos. Ans tiram os rinquin%os das ore"%as Das fi"%as e mu"%eres outro endem 1s escraas, +! e"%as, que os criaram, )or menos duas partes do seu preo. )or mais que o deedor e7c"ama e 0rita 3ue os créditos são fa"sos, ou que foram @! muitos anos pa0os, o ministro Da seera corana a nada atende. O pore, porque é pore, pa0ue tudo, / o rico, porque é rico, ai pa0ando $em so"dados porta, com sosse0o2 6a"dito, Doroteu, ma"dito se+a Am ruto, que s' quer, a todo custo, /ntesourar o s'rdido din%eiro. /u creio, Doroteu, que tu +! "este 3ue um &ésar dos romanos pretendera Vestir, ao seu caa"o, a nore to0a Dos e"%os senadores. /sta %ist'ria )ode serir de f!u"a, que mostre 4I
3ue muitos %omens, mais que as feras rutos, #a erdade conse0uem 0randes %onras2 6as a%2 pre*ado ami0o, que ditosa #ão fora a nossa &%i"e se, antes, isse 1dornado um caa"o com insí0nias De 0enera" supremo, do que er-se Ori0ada a dorar os seu +oe"%os #a presena de um c%efe, a quem os deuses $omente deram a fi0ura de %omem2 /ntão, pre*ado ami0o, o néscio poo &om fitas "%e enfeitara as ne0ras crinas, Ornara a estrearia com tapetes, &om formosas pinturas, ricos panos, =ordados reposteiros e cortinas Am dos 0randes da terra "%e "eara Licor, para eer, em a"des douro, Outro "%e dera o mi"%o em ricas sa"as 6as sempre, Doroteu, aque"es néscios 3ue ao ruto respeitassem, poderiam $eri-"o acaute"ados e de sorte 3ue dar-"%e não pudesse um "ee coice. / que queres, ami0o, que suceda? /speraas, acaso, um om 0oerno Do nosso :anfarrão? /$aindo de cena, ameaador e ainda mais ridícu"o 0 Vendam-se os castiais, tinteiro e ancos, Venda-se o pr'prio pano e mesa e"%a, 3uando isto não aste, %! om remédio, 1s fa*endas se tomem, não se pa0uem...P/$ai0 (OUVEM-SE GARGALHADAS. ILUMINA-SE A CENA OS IRMÃOS, COM EXCEÇÃO DO PROVEDOR, SE TORCEM DE RIR. MARTA, RINDO, ESTÁ PARADA ENTRE ELES , COMO SE "I#ESSE PARTE DA IRMANDADE. HÁ CERTA INTIMIDADE ENTRE ELA E O TESOUREIRO.
DEFINIDOR + /
PRO1EDOR /(nsiste0 - &omo foi que e"e morreu? MARTA - 3ue sentido teria a arte de meu fi"%o, se não "easse aos outros a compreensão da an09stia que sentem? $e não mostrasse aos que "utam, em nome do que estão "utado? /6a"iciosa0 )ara isto, precisaa de uma causaE seus teares2 IRMÃOS //ntreo"%am-se, compreendendo0 MARTA /$e0redando0 . 3ueram nossos teares, porque o nosso ouro, com "i0eira etapa nos cofres reais, ai amontoar-se nas arcas dos respeit!eis rit8nicos. / o que receemos em troca, a"ém de panos e padres? TODOS . O quê? MARTA /(ncitando0 - O quinto, dí*imos e a0ora a derrama do Visconde. J! pensaram o que isto si0nifica para ocês, comerciantes da )roíncia? MINISTRO /1"iiado0 - Os irmãos definidores c%e0aram2 (ENTRAM SEIS DE"INIDORES, ENCONTRAM-SE COM OS IRMÃOS !UE, REVOLTADOS E EXCITADOS, DISCUTEM ENTRE SI. !UANDO TODOS SE VOLTAM PARA MARTA, ILUMINA-SE A CAMA ONDE !UIT$RIA ESTÁ DEITADA. JOS$ OBSERVA-A. OS IRMÃOS "ICAM NA PENUMBRA
MARTA /Leantando-se0 - 6eu fi"%o saia que é difíci" "utar pe"os outros que tudo que é in+usto, é in+usto para todos2 &om a persona0em que esco"%eu ser... atirou-se contra a ameaa do mundo e tentou se defender, defendendo ocês. /$ai0 JOSÉ - &ansada de ficar no quarto? /u disse para não ir. !ITÉRIA - #ão 0osto daque"e cura que em me a*ucrinar. JOSÉ - Vo"tou !ITÉRIA - 3uer me sa"ar. (MARTA ENTRA E SENTA-SE NA CAMA
JOSÉ - 3ue foi que e"e disse? !ITÉRIA - 3ue sou a ima0em do pecado e não sei o que sore nossa presena na cidade. MARTA /1preensia0 - 3ue tem nossa presena? !ITÉRIA - #ão sei, não me "emro. MARTA - 3ue respondeu a e"e? !ITÉRIA - 3ue não ten%o nen%uma reaão s min%as tentaesE sou escraa de"as. #em ten%o remorsos. )eco, porque pecar é f!ci"... /=ate no meio das pernas0 e porque foi com isto que conse0ui a "ierdade. MARTA - =em respondido. !ITÉRIA - #a se d! um passo sem que um padre pu"e na frente da 0ente2 Vocês rancos, quando não tentam sa"ar, tra*em a 0ente em ferros ou com um astardo na arri0a. /
C!RA - )ermite isto? #a sua frente? MARTA - Tamém ten%o seios. $ua mãe não tem? &om toda esta atina, sei o que tem no corpo de a"to a ai7o. Você tamém sae o que ten%o... e como é. /(ntenciona"mente deoc%ada0 Fosto de er... é quando estão fa*endo amor2 C!RA /@irto0 - Você ê?2 $eu pr'prio fi"%o?2 MARTA - /u não o e+o eer, comer, son%ar? C!RA - (sto é feio, pecaminoso2 MARTA - :eio para pessoas como ocê. /u ac%o muito onito... e todos 0ostam e fa*em. C!RA /(ncomodado0 - 3ue dese+a? $' ier em pecado? JOSÉ /=om %umor 0 - 3uero tirar tudo da ida, aqui e a0ora, sen%or cura. C!RA - #ão é capa* de encer sua imora"idade?2 MARTA - /"a est! na sua caea. / não en%a fa"ar noamente em mortos. /nquanto son%a com e"es, não pode mesmo compreender os ios. C!RA - #ão tem medo do inferno, mu"%er? !ITÉRIA - 1 0ente acostuma com e"e aqui, pode a0Wentar qua"quer um que en%a depois. 1posto que não é mais quente do que %o+e. C!RA - (nferno?2 1qui?2 !ITÉRIA - J! estee acorrentado numa sen*a"a? /ntão, o que sae do inferno? MARTA - Tamém con%eo outros infernos por aí. Am de"es é esse sofrimento de ser sa"o, sem saer do quê2 C!RA /$ondando0 - #ão deemos nos esquecer de que a i0re+a "uta por n's. MARTA - Os tiranos tamém. 6as 0astam a fora apenas disputando a presa. Hs e*es, são até af!eis, amorosos... enquanto não comeam a impor preceitos. C!RA - #ão 0osta de padres? MARTA /Troca o"%a com José0 - )or que não %aia de 0ostar? &%e0o até a respeit!-"o, sen%or cura. Ver esses peitos e resistir, ac%o di0no de respeito... ou de piedade2 JOSÉ /1dertindo0 - 6ãe2 MARTA - Faranto uma coisaE se ocê se perdesse entre essas pernas, nunca mais encontraria uma atina como a sua... mas poderia encontrar deus2 !ITÉRIA /
MARTA - /u sei JOSÉ - )or que est! com os o"%os c%eios d!0ua mãe? MARTA - )or nada. V!2 (rei mais tarde. (!UIT$RIA E JOS$ SAEM. S% MARTA "ICA ILUMINADA. O CURA PASSOU AO "UNDO ACOMPANHADO POR DOIS BELEGUINS.
MARTA /Do"orosa0 - &omo morre um %omem, s' a e"e interessa. 6i"%es estão morrendo e nem c%e0amos a saer. )ara mim, não é or0u"%o como morreu, pois não deia era morrer. &omo ieu e "utou, estou contando /&ontrai-se0 3uando mais precisou ier em o seu pape"... nunca foi tão mau ator2 3uando i o cura e os e"equins...2 DEFINIDOR + / #eroso0 - 3uando aconteceu? 1 reunião, o cura, os e"e0uins... tudo? MARTA - Ontem. DEFINIDOR + - $eu fi"%o mencionou a"0um nome? De p!roco ou de poeta? MARTA - De nin0uém. DEFINIDOR + - 6as ocê fa"ou p!roco do
JOSÉ - 6as ser! que não compreendem? )or quanto tempo amos a0Wentar isto? /&omo se ouisse a fa"a de a"0uém0 #ão2 #ão é erdade2 #'s nos diidimos porque muitos não acreditam em "ierdade. $' querem estar em eidência. 6as e+am quantos ministros reais, oficiais de +ustia, de fa*enda, de 0uerra, foram mandados para c! para e7traão, se0urana e remessa do ouro2 #ão aprenderam ainda que o serio rea", quando estendido aqui ao "on0e, se torna io"ento e insuport!e"? #ão, não saiam2 3uantos ofícios não foram criados para confundir ocês e sepu"t!-"os em suas minas /6isturando, inconscientemente suas idéias com fa"as de 6arco-=ruto e &atão 0 N$ore nossas caeas cada instante emos troar da tirandina os raiosP. MARTA - /sta "in0ua0em e"es não entendem, fi"%o2 JOSÉ - Temos sido feitores e não sen%ores do que é nosso. N1 #ature*a, que nos deu a ida... deunos com a ida essenciais direitos.P MARTA - :a"e da derrama, não em direitos, José2 JOSÉ - #ão é nosso o nosso escrao, nem nosso o nosso carro e o nosso oi. /3uitéria preocupada, apro7ima-se de José0 N1 resistência do poo a seus tiranos e opressores nunca é ã, não se perde.P Vo"tem2 #ão ten%am medo2 MARTA /Desesperada0 - :a"e em =aracena, não em &ésar2 JOSÉ /)erdendo-se na persona0em0 NJ9"io é outro2 $oe+a-"%e arte para ser tirano De sa" p!tria decrépita. &ésar é traidor a"0o*E não mata a ferro, / s' ai propinando "entamente Venenos encoertos, disfarados, 3ue, sem traar nos "!ios, "eam morte 1o coraão G e o derradeiro afo0am Dese+o, idéia, ima0em da proscrita Lierdade...P >S
(JOS$ SAI CORRENDO PELA PLAT$IA SEGURO POR !UIT$RIA. MARTA CORRE, PARANDO EM PRIMEIRO PLANO, HIRTA, TRANSPASSADA DE DOR, EN!UANTO OUVIMOS O TIRO E O GRITO DE !UIT$RIA. MARTA PASSA OS OLHOS PELO P+BLICO, COM EXPRESSÃO IMPENETRÁVEL, OUVINDO A "ALA DO DE"INIT%RIO, COMO SE ESTA VIESSE DA PLAT$IA. NO CENTRO DO PALCO OS DE"INIDORES ESTÃO REUNIDOS EM BLOCO
DEFINIDOR + /1dianta-se0 - Dese+ando faorecer em tudo os (rmãos Terceiros desta ener!e" Ordem, os definidores, em santa e deota conferência, c%e0aram a uma conc"usão. Di* a premissa can5nicaE um ator interpreta todo e qua"quer pape" que "%e é dado, inc"usie o do dem5nio e quem conse0ue ier tão em um persona0em ne0atio, fata"mente tem um denominador estreito com esse persona0em. 1ssim, os atores au7i"iam a corromper costumes e até mesmo a p5r em risco certas firme*as da fé. #'s definidores, corpo "e0is"atio desta ener!e" Ordem, temos ori0aão de aco"%er proposies da reforma do estatuto que G recon%ecemos2 Tem fa"%as de estrutura2 6as, tamém con%ecemos os c8nones e saemos que não podemos feri-"os. $ão os pi"ares da nossa i0re+a2 1ssim, de"ieramos consu"tar nosso santo )roincia" nas terras do 6aran%ão, pedindo a santa aproaão para receer este corpo em nosso so"o sa0rado G pois não o repe"imos2 /m ista de que a resposta se a"on0aria por estradas de terra e de mar, ordenamos que a Vener!e" Ordem Terceira das 6ercês, num ato de caridade cristã, acompan%e, em procissão, esta pore mãe ao "u0ar onde deer! dar descanso a seu fi"%o José. pe"o arti0o quarto da "ei proincia", qua"quer pessoa poder! ser enterrada em sa" propriedade, contanto que esta se+a fora dos pooados e na dist8ncia prescrita. &omo a sen%ora não tem propriedade aqui, reso"emos que se arran+e quem ten%a e autori*e. 1 $ereníssima
PRO1EDOR - )e"o desemarao e pouca re"i0ião de que muitas e*es deu proa, posso afirmarE seus pais foram cristão noos2 (APAVORADOS, OS IRMÃOS ESPALHAM-SE EM TODAS AS DIREÇES. MARTA CORRE E SOBE NO ALTAR
DEFINIDOR - - Tirem essa mu"%er da casa de Deus2 MARTA - )ara que serem essas ima0ens coertas de ouro... se iem nus, como escraos2 MINISTRO /@irto de paor 0 - $acrí"e0a2 DEFINIDOR + - É o dem5nio2 PRO1EDOR - Tra0am !0ua enta2 Depressa2 S2NDICO - É uma possessa2 DEFINIDOR + - 3ue ai fa*er?2 SECRET(RIO - Dei7e a ima0em...2 IRMÃOS /10rupam-se, apaorados0 . #ão2 1faste-se2 $aia daqui2 /sta é a nossa ora mais rica2 Lee seu fi"%o para "on0e de n's2 MARTA /1tira a ima0em aos pés do definit'rio 0 - 1rranquem o medo da a"ma2 /sse Deus +! est! morto. #ão sentem o c%eiro da sua decomposião? /st! aqui nesta i0re+aE em dos a"icerces, das ima0ens, das confrarias. :oram ocês que o mataram, com a faca do desamor. $' o suor de seus corpos poder! "aar o san0ue nesta faca. DEFINIDOR + - #em ocê, nem seu fi"%o terão sa"aão2 MARTA - 1 sa"aão é de todos ou não ser! de nen%um. //7amina os (rmãos, o"tando e7pressão impenetr!e"0 #in0uém amou o fi"%o mais do que eu. #ão posso fa*er mais nada por e"e. O corpo ficar! no adro, esperando a resposta do )roincia"... ou até que o enterrem. $' sei "utar pe"os ios. Os mortos pertencem a ocês2 (MARTA DESAPARECE RÁPIDA. OS IRMÃOS, DESARVORADOS, CORREM DE UM LADO PARA O OUTRO. LENTAMENTE, OS ALTARES DESAPARECEM, TRANS"ORMANDO O CENÁRIO EM LUGAR >R
ERMO, SEM "ORMAS. NO MEIO DO CENÁRIO DISTINGUIMOS UM MONTE DE TERRA. MARTA SURGE AO "UNDO, CAMINHANDO ERETA EM DIREÇÃO AO MONTE DE TERRA
MARTA /&arin%osa0 - Viu como conse0ui? )"antei ocê dentro de"es2 Juntaram-se todas as confrarias para tra*erem ocê. )e"o medo, eu sei. Tantas oraes, tanto por amor in9ti" +o0ado s estre"as, dei7ou o mundo de"as a*io, pooado s' pe"o medo. :iquei o"%ando de "on0e, fi"%o. 6as sentia todos aque"es pés camin%ando em mim, cortando a min%a carne como arados. &arre0aam ocê... e eu me sentia como se carre0asse todos... %! mi"%ares de anos2 $ae por que o dei7ei naque"e adro? )or que usei seu corpo? De repente compreendi que tanto mais p"ena de sentido, quanto mais "i0ada a uma e7istência %umana for a ida, tão menos terríe" é a morte. / por que... se eu o enterrasse com min%as mãos, esqueceriam que ocê ieu... e porque morreu /6arta a+oe"%ase e ei+a a terra0 aqui é o seu "u0ar. Daí eio, para aí tin%a que o"tar. Todos os %omens, até mesmo Deus, o"tam um dia terra. 1qui, poder! contemp"ar as estre"as, o espao infinito, as fo"%as, as f"ores e os frutos. )oder! i0iar o camin%ar da "u* que se apro7ima cada e* mais de todos os %omens. /"a é como a "u* das estre"asE demora a c%e0ar, mas c%e0a. É terríe" descorir que nada e7iste a"ém de n's, que nen%uma transferência pode ser feitaE carre0aremos o que somos até o 9"timo fim. / é om saer disso2 /nquanto e7istir um %omem na face da Terra, ocê não estar! s'. Deus morreu... para que ocê e7ista2 6ais um pouco... e uma s' ser! a confraria de todos2 (ENTRA UM HOMEM CARREGANDO UMA TROUXA E SE APROXIMA DE MARTA
MARTA - 3ue quer? )OMEM - É aqui que enterraram o %omem? MARTA - 3ue %omem? )OMEM - 3ue não podia ser enterrado. MARTA - É aqui mesmo. )OMEM - #ão puseram nen%uma pedra?2 MARTA - )ara quê? O corpo não est! aqui? )OMEM /1+oe"%a-se0 MARTA /<íspida0 - 3ue est! fa*endo? Leante-se2 )OMEM - Vou ia+ar e quero antes fa*er uma oraão. MARTA - 3ue oraão poder! fa*er? )OMEM - 1prendi muitas... MARTA /&orta0 - #en%uma sere. /$enta-se sore o monte de terra0 )OMEM - Você est! sentada em cima2 MARTA - $ente-se tamém e conerse. &onte-me sua est'ria. É uma oa oraão. )OMEM - 1 sen%ora é en0raada2 1c%a que conersar é oraão? MARTA - Traa"%ar tamém é. /)u7a o %omem0 $ente-se )OMEM /$entando-se0 - &onersar o quê? MARTA - :a"e do seu traa"%o. )OMEM - É %orríe", dona2 MARTA - )or quê? )OMEM - Traa"%o nas minas do 6orro Ve"%o. MARTA - Traa"%a no 6orro Ve"%o? )OMEM - J! estee "!? MARTA - /stie em toda pare. )OMEM - $e traa"%ar é oraão... +! re*ei muito. #asci endo o traa"%o min%a o"ta. #in0uém fa*ia o pão como a min%a mãe2 &om on*e anos, +! "eantaa +unto com o dia e, com pão na saco"a, saía ainda ouindo meu paiE N#ão dei7e nunca o so" pe0ar ocê na cama2P /$orri0 )erto da min%a casa %aia uma !rore...com uma cru*2 Todo o mundo a temia, nem passaam perto. 6as era onde eu 0ostaa de me sentar /&onfidencia0 :oi onde escondi o ouro que encontrei. MARTA /$uitamente, ei+a o rosto do @omem0 )OMEM - )or que fe* isso? MARTA - 6e deu ontade. &ontinue2 )OMEM - Deai7o da !rore sentia-me prote0ido... e son%aa rea"i*ar o que me propus. MARTA /)erdida, acaricia o monte de terra0 >4