A ARTE DE FALAR EM PÚBLICO Categoria : formação. Tipo : resumo de livro. Título : “A Arte de Falar em Público”. Tema : retórica. Resumo : expõe sinteticamente os elementos técnicos necessários para falar em público. Fonte : resumo do livro “A Arte de Falar em Público”, de Silveira Bueno, editora Saraiva e Cia, 1947, São Paulo. Registrada em : 20/3/1992. PRIMEIRA PARTE: ELOQÜÊNCIA EM GERAL Capítulo 1. Qualidades intrínsecas do orador A eloqüência é a faculdade natural de operar sobre o espírito, o coração e a vontade por meio da palavra. É uma faculdade natural, não adquirida, porque a eloqüência é um dom de berço. Não se confundam duas coisas diferentes: uma é ser eloqüente; outra é saber falar em público, conhecer a retórica. Esta é a arte que dirige e desenvolve as nossas disposições naturais de eloqüência. É uma art arte, porqu orquee se trat rata de um métod étodoo, de um con onju junt ntoo de regr regraas determinadas, que, postas em prática, podem dar-nos a habilidade de falar com elegância. A retórica difere da eloqüência como a teoria difere da prática. Nesse sentido se diz que o orador se faz e o poeta nasce. Estudar, pois a retórica, é pôr em prática certas regras que servem para dirigir as disposições da eloqüência. Os dotes do orador podem dividir-se em dois grandes grupos: 1) Dotes internos: talento, memória, imaginação e inspiração, que pertencem à inteligência; sensibilidade e emoção, que pertencem à vontade. 2) Dotes externos: aparência agradável e voz perfeita. Dotes internos: - O TALEN ALENTO TO.. O orad orador or tem tem de ser ser inte inteli lige gent nte, e, qu quer er na disp disposi osiçã çãoo do doss argumentos, quer na maneira oral com que os apresenta ao público, ferindo com muita habilidade o ponto fraco da assistência. Do seu talento depende o menor dos seus gestos, o registro da voz, a maneira imediata de aparecer perante o auditório. A declamação deve
ser tal que as inteligências sintam a força convincente do orador, que as vontades se deixem emocionar pelos seus argumentos. - A MEMÓRIA. É indispensável que o orador possua boa e fidelíssima memória para as datas, nomes, textos e circunstâncias principais de um fato, para desenvolver todos os pontos do seu discurso de acordo com o plano traçado de antemão, dando ao auditório a impressão de um trabalho completo e bem desenvolvido, de uma peça inteiriça e perfeita. A memória é um grande auxílio para o vocabulário e para as frases e expressões exigidas no momento da elocução. Todos devem disciplinar a inteligência e a memória por meio de esquemas. São de inestimável valor para todos, mormente para os principiantes. Os esquemas põem-nos claro diante dos olhos o plano que temos de seguir. São os guias dos quais não nos é permitido afastar-nos sem incorrermos no perigo de um desastre. Os oradores escravos da memória tornam-se autômatos, sem espontaneidade alguma. Outros tomam tal velocidade no falar que parecem tangidos pelo demônio da pressa, tão só porque a memória os arrasta como doida. Nada disso acontece aos que se acostumaram à disciplina dos esquemas. - A IMAGINAÇÃO. A imaginação constitui o maior tesouro do orador. É quem lhe vai sugerindo as mais lindas comparações, as mais formosas e adequadas figuras para os seus pensamentos, as transposições elegantes, as inversões de efeito oratório, as descrições empolgantes. - INSPIRAÇÃO. Por inspiração entendemos a espontaneidade que o orador deve ter em criar figuras, em conceber idéias, em descobrir expressões, em saber aproveitar-se das circunstâncias, surpreendendo os ouvintes com o brilho e o inesperado de sua força oratória. A inspiração não se manifesta unicamente nas expressões orais, nas palavras, mas também nos gestos, na aparência toda, na voz, nos acentos da declamação do orador. - A SENSIBILIDADE. A sensibilidade é um dom natural que devemos encontrar em todo e qualquer artista e, portanto, no orador também. Consiste na facilidade expontânea de perceber e de reproduzir os sentimentos, dando-lhes um cunho pessoal inconfundível. Quem não dispuser deste caráter sensível nunca poderá ser orador nem sequer comum. Urge, porém, prevenir os perigos do excesso de sensibilidade. São os nervosos e impressionáveis ao extremo. Dotes externos: - A APARÊNCIA AGRADÁVEL. Captar as simpatias do auditório é tudo na oratória. Ora, quem sabe apresentar-se bem, quem sabe ter aparência agradável, já conseguiu metade de seu objetivo, porque já conseguiu cercar-se da atenção simpatizante da assistência. Ao contrário, orador que se apresente causando má impressão aos ouvintes, terá de lutar e bastante para vencer a repulsa do auditório. Ao iniciar o discurso, fazê-lo com serenidade, pondo de parte os gestos, que só hão de vir mais tarde. Evitar as cortesias exageradas na saudação aos assistentes: o orador deve compenetrar-se de que ele é a
pessoa mais importante no momento; de que todos aí estão para ouvi-lo e, portanto, não deve mendigar a benevolência dos presentes, mas consegui-la nobremente. A postura deve ser natural, espontânea, flexível. Nem ficar ereto, petrificado, nem curvar-se quase a cair da cátedra. Tudo há de ser naturalíssimo, como se o orador falasse com íntimos, dentro das maiores comodidades, sempre porém do alto. - A VOZ PERFEITA. A oratória baseia-se na voz, como a música no som, como a pintura na cor. Quem não tiver voz perfeita, jamais conseguirá ser orador. Qualquer voz é susceptível de melhorias, de aperfeiçoamento, dependendo tudo dos exercícios e da força de vontade de quem pretende dedicar-se à oratória. - O SEGREDO DA RESPIRAÇÃO. Para que se tenha voz perfeita é necessário também que se saiba respirar. Muitas vezes oradores que não possuíram voz apreciável, conseguiram suprir este ponto fraco por meio de uma boa respiração. A maioria dos que falam em público logo se fadiga por não saber aproveitar o sopro respiratório. Outra grande parte perde a metade dos efeitos que poderia conseguir porque respira onde não deveria respirar. Em oratória, a respiração é mais importante ainda do que a própria voz - A PRONUNCIA. Mais necessária do que a própria voz no orador é a dicção correta, a sua pronúncia perfeita. É necessário que o orador articule, perfeitamente, consoantes e vogais, que saiba onde fazer a ligação e onde evitá-la, que as suas elisões sejam inteligentes, sem prejudicar a clareza do entendimento, nem afeiar a pronúncia. Capítulo 2. Qualidades literárias da linguagem oratória Supõe-se sempre que o orador seja antes de tudo escritor. Não se admitem erros literários na oratória. É necessário, pois, que aos exercícios de eloquência precedam os estudos da literatura. A literatura é imprescindível na oratória, e não admitimos que possa haver orador perfeito que desconheça os segredos da forma escrita. Vamos dizer alguma coisa dos dotes principais da linguagem oratória. Dotes da linguagem oratória - PUREZA DE VOCABULÁRIO. As palavras de um discurso devem pertencer ao caudal da nossa língua, à expressão corrente e aceita no país. Não querer ressucitar termos arcaicos, criar neologismos desnecessários, usar de vocábulos ininteligíveis para o auditório. - PROPRIEDADE. Diz-se que um termo é próprio quando expressa exatamente a nossa idéia. Da propriedade do termo surge a concisão do pensamento, a elegância da expressão, a energia das afirmações. - CLAREZA. Esta há de ser a primeira e a mais estimada qualidade do discurso; o orador tem que ser claro em seus pensamentos, nas suas frases, nos seus menores vocábulos. Prejudicam em excesso a clareza do discurso as palavras difíceis, de uso raro, preciosas, as frases empoladas, os períodos de enorme extensão e de construção inversa.
- OS PERÍODOS E AS ORAÇÕES. Na oratória os períodos não podem ser breves, mas, sim longos, para que o orador possa empregar todos os recursos da sua arte. As pessoas acostumadas a falar em público possuem quase sempre bom fôlego, respiração larga, podendo manter a expiração por vários segundos. Assim podem manter também o período, dando-lhe cadência e ritmo, tendo o máximo cuidado de não torná-lo obscuro pela extensão, dividindo-o bem com pontuação oral. Mas o orador deve entremear os períodos longos com outros menores a fim de manter a variedade e movimento. - HARMONIA DOS PERÍODOS. Muito cuidado com a harmonia das frases de que se compõe o período. Fazer elisões e ligações muito bem feitas; evitar durezas e dissonâncias de consoantes ásperas: pôr de parte a sequência das mesmas vogais; fugir dos hiatos, dos ecos sobretudo, das cacofonias. Figuras de retórica e de pensamento É necessário observar que a linguagem figurada tem que ser natural, espontânea e adequada. A figura deve surgir da natureza do próprio assunto. Figuras de retórica:
a. A dubitação, pela qual o orador finge duvidar daquilo que vai propor a fim de prever possiveis objeções. Ex. “Em verdade, não sei como dirigir-vos a palavra. Chamarvos-ei de cidadãos? Mas já não pertenceis à pátria, porque a atraiçoastes. De soldados? Mas, sem disciplina não há exércitos.”(Cipião). b. A comunicação, o orador parece consultar os ouvintes, predispondo-os a receber como justo o que vai dizer. Ex. “Que diremos, pois, de uma instituição que alia em si, do modo como aqui as contemplamos, a cultura artística e a cultura feminina? Que essa instituição decifou os segredos do nosso futuro.” (Rui Barbosa). c. A concessão, consiste em o orador aceitar o que poderia rejeitar, para melhor sustentar o que quer afirmar. Ex. “Finjamos que vem a Bahia e o resto do Brasil às mãos dos holandeses; que é o que há de suceder em tal caso? Entrarão por esta cidade com fúria de vencedores e de hereges; não perdoarão a estado, a sexo, nem idade; com os fios dos mesmos alfanges medirão a todos ...” (Vieira). d. A correção, o orador finge arrepender-se do que disse, emendando a expressão. Ex. “Feras? Mas, feras, não: que mais monstruosos são da nossa alma os bárbaros afetos.” (Santa Rita Durão). e. A preterição , diz-se que não se quer tocar em tal e determinado assunto e, sem embargo, vai-se tratando dele. Ex.”Não falo dos juros, que fidalgos têm vendido, nas jóias empenhadas, nas lágrimas das mulheres, na pobreza da gente nobre, na miséria dos que pouco podem.” (Vieira).
Figuras de pensamento: a. A perífrase, substitui a expressão simples de uma idéia por outra mais desenvolvida e enérgica. A perífrase é necessária quando se trata de assuntos triviais, vulgares em excesso, que possam arrastar o orador a usar de expressões menos delicadas ou convenientes. Ex. “Metal que a fortuna a tantos nega.” (Camões, referindo-se ao ouro). b. A antítese, consiste na oposição de idéias de pensamentos ou de simples vocábulos contrários. Ex. “Se o pungente brado não encontrou eco nos corações de pedra, as pedras se fizeram corações para o sentir.” (Pe. Pedro de Paula Barbosa). c. A gradação, que pode ser ascendente ou descendente, indica sempre o desenvolvimento de uma idéia, do menos para o mais ou do mais para o menos. Ex. “Ide, correi, voai, que por vós chama o Rei, a pátria, a glória, a fama.” (Alguns exemplos, como este, vêm no livro sem referir quem é o autor). d. A alusão, é uma figura que esconde sob certas palavras um segundo sentido facilmente compreensível ao leitor ou ao ouvinte. Ex. “Sei que alguns homens altos - e aqui não há certamente desses - costumam curvar-se para poder passar por certas portas; mas os homens baixos têm esta vantagem, nunca se curvam.” (José de Alencar). e. A ironia, é a figura que expressa pejorativamente o contrário daquilo que queremos dizer. Ex. “Holanda edificará templos. Holanda levantará altares ...” (Vieira). Nota - Quando a ironia é acompanhada de gestos e de riso, passa a ser sarcasmo. f. A litotes, dá-se quando usamos de expressões que significam menos para dizer mais. É muito empregada pelos oradores que, sendo, em geral, escolhidos pela alta consideração em que são tidos pelos outros, costumam iniciar os discursos dizendo : “Tolerai que o mais humilde, que o mais indigno, que o mais insignificante dentre vós tome a palavra ...” g. A interrogação, aparece quando um interlocutor faz uma pergunta, dando ele próprio a resposta para que o pensamento ganhe vivacidade, elegância, movimentando o discurso. Ex. “Quem são os ricos deste mundo? Os que têm milhões? Não, porque tendo muito, desejam ainda mais e a quem deseja mais, falta-lhe o que deseja, e essa falta o faz pobre.” h. A apóstrofe, existe quando se dirige a palavra a um ser animado, mas ausente, ou inanimado embora presente. Ex. “Estrela brilhante do sul, formosa província de Minas, porque desmaias no céu de nossa pátria quando ela precisa que cintiles com toda a tua pureza antiga?” (F. Otaviano). Nota 1 - Quando a palavra dirigida a outrem encerra uma praga, chama-se imprecação. Ex. “Monstro, que te envolveste na púrpura do sangue humano, sê para sempre execrado ...” Se, em lugar de praga encerra súplica, a figura dizse, então, deprecação . Ex. “É o que Vos pedimos com o pranto e os soluços da humanidade esmagada, Criador nosso, Redentor nosso ...” (R. Barbosa). i. A exclamação, serve para manifestar os sentimentos súbitos e vivos da alma. Ex. “Oh! meu Brasil! pátria minha querida! Curva o teu joelho reverente diante de Jesus
Cristo ...” (D. Antônio de Macedo Costa). j. A reticência , interrompe o discurso, mas de maneira que a parte subentendida possa ser interpretada com facilidade. Ex. “Quando virdes no Corpo de Jesus Cristo as cicatrizes de Sua morte, então convertidas em testemunhos da vossa reprovação eterna ... Quando virdes ... Oh! Céus! Oh! Deus! quem poderá descrever ...” k. A suspensão, é a figura que prolonga por meio de circunstâncias a conclusão do pensamento, despertando sempre maior curiosidade. Ex. “Quantas vezes agradeceu ela humildemente a Deus duas grandes graças : uma, a de tê-la feito cristã; a outra ... que pensais vós, senhores? Talvez o haver restabelecido os negócios do rei, seu filho? Não! Foi o tê-la feito rainha desgraçada!”. (Bossuet). l. A prosopopéia,é a figura que faz falar os seres inanimados, fictícios ou ausentes, pondo-lhes nos lábios palavras que o próprio autor proferiria. Ex. “Ouvirás a voz da tua pátria: `filho, tu que escutaste os cânticos da minha felicidade, porque não queres ouvir agora os soluços da minha desgraça?”. Estilos oratórios Cada orador tem sua maneira própria de expressar os pensamentos. Mas cada assunto também requer a sua maneira própria de ser tratado. Uma conferência científica não pode ser desenvolvida com o mesmo estilo de um panegírico. O orador não deve darse a todos os gêneros de oratória, nem a todas as espécies de oração. Cada qual se restrinja aos tipos e à oratoria que mais se adaptem às suas qualidades de orador. Eis os estilos oratórios: - ESTILO SIMPLES. É a exata tradução do pensamento, sem adornos ou riquezas de imaginação, nem de epítetos ou de qualquer outro realce da expressão literária. Diz simplesmente o que deve dizer. Procura-se unicamente a naturalidade, a correção e a clareza . - ESTILO TEMPERADO, muito próprio para a eloquência, lança mão dos ornatos e das figuras para ampliar, aformosear e tornar enérgico o pensamento. As qualidade que nêle se requerem são a elegância, o imaginoso da expressão, ao par da fantasia ponderada, linguagem viva, mas correta , ornada, clara, cuidada e nobre. - ESTILO SUBLIME, serve-se do que de mais rico, veemente e nobre existe na linguagem para realçar até o patético o pensamento humano. Toda a pompa de figuras, de ornatos, de imaginação equilibrada há de ser posta em jogo a fim de atingir o mais elevado grau de expressão oratória. Capítulo 3. O discurso e suas partes O discurso é uma exposição ordinariamente preparada de pensamentos e raciocinios, segundo as leis da oratória, com o fim de convencer ou comover os ouvintes.
As partes do discurso são três: 1) a proposição que encerra o exórdio; 2) a exposição, que inclui a confirmação e a refutação; 3) a peroração, onde podemos encontrar o epílogo e a invocação. O exórdio. Cícero definiu o exórdio como sendo “A oração que prepara o ânimo do ouvinte para bem receber o restante do discurso”. O objetivo do exórdio é tornar o auditório benévolo, atento, dócil. Espécies de exórdios: - Exórdio pomposo. Quando se inicia o discurso com toda a magnificência de expressões, com toda a elevação de pensamentos. - Exórdio exabrupto ou veemente. Que consiste em entrar o orador inesperadamente no assunto, sem a menor preparação. - Exórdio insinuante. Pelo qual o orador entra no assunto do discurso de uma forma quase imperceptível, através de rodeios e disfarces. - Exórdio simples ou direto. É aquele pelo qual o orador, numa exposição breve de motivos, entra imediatamente a tratar do assunto. Qualidades do exórdio: - Adequado ao assunto. - Proporcionado ao discurso. - Modesto, sem exageros. A proposição É a indicação breve e clara do assunto do discurso: é o próprio discurso em miniatura. A proposição pode ser simples ou complexa, dependendo se há um ou vários assuntos. No discurso pode haver divisão quando há varios objetivos a atingir. O orador poderá escolher várias ordens na distribuição do seu assunto complexo. A narração, que segue, é uma parte acidental do discurso, sem a qual pode o orador passar muito bem. Na maioria dos casos tem como efeito principal despertar a curiosidade do auditório, tornando-o dócil e disposto a aceitar os objetivos do discurso. São qualidades da narração a clareza, a persuabilidade, o interesse e a rapidez. A exposição A parte por excelência do discurso é a confirmação , quando o orador se esforça por convencer a assistência. O trabalho oratório da convicção é muito complexo. Exige a adesão do espírito e da vontade dos ouvintes. A convicção é o objeto único da oratória, resultado final do interesse, da instrução e da emoção, encontra o seu ponto decisivo na confirmação. O orador encontra duas espécies de resistência no auditório: a passiva, quando os
ouvintes, não tendo propriamente idéias contrárias nem objetivos determinados, se deixam dominar pelo indiferentismo, pelo tédio, não estando presentes senão quanto ao corpo. A ativa, quando o auditório é absolutamente contrário às idéias do orador porque possui idéias próprias, objetivos firmados, tirando conclusões diametralmente opostas às que o discurso desejaria provar. No caso da resistência passiva, o orador tem que despertar o interesse do auditório, obrigando-o a dar-lhe atenção. O orador pode conseguir o interesse da assistência pela forma nova e curiosa em que sabe apresentar certas matérias de si fastidiosas ou já conhecidas demais. Para tal pode deitar mão de: - Descrições - Comparações - Humorismos - Circunstâncias Obtida a atenção do auditório, surge então a segunda parte do discurso — a instrução da assistência. A argumentação oratória consiste no encadeamento perfeito dos argumentos, na artificiosa e bem apresentada citação dos motivos e das causas particulares. O orador pode usar do sistema indutivo ou do dedutivo, de acordo com a natureza do assunto e das circunstâncias especiais em que se encontra o homem da palavra. A oratória serve-se de todas as formas de argumentação que a lógica nos ensina, mas, claro está, sem aquela rigidez da velha arte de raciocinar. Quanto à ordem dos argumentos, o orador deve evitar a confusão, a mistura deles quando forem de natureza diversa. Deve fortificar gradativamente a tese. O primeiro argumento deve ser o mais forte. Se os argumentos são todos ótimos, é preciso apresentálos de forma tal que os ouvintes apreciem o valor de cada um deles separadamente. Se, porém são apenas prováveis, o orador deve apresentá-los em massa. Por último, não se deve multiplicar em excesso o número dos argumentos.
Maneira de apresentar os argumentos . Não basta que o orador possua argumentos, exige-se que os saiba apresentar de modo eficiente. Onde se aprende a arte de argumentar: na dialética, uma parte da lógica. Todo discurso é um raciocínio, e todo orador um silogista. Como se deve refutar? Primeiro, diretamente: Examinando os fatos apresentados pelo adversário, provando-lhes a falsidade ou dando-os como duvidosos; atacando as testemunhas ou os documentos que lhes servem de base; examinando e destruindo as circunstâncias; provando que as conclusões do adversário são maiores do que as premissas. Segundo, se em lugar de fatos forem argumentos, deve o orador reduzilos a um silogismo só, rápido e claro, mostrando então pela lógica os defeitos dessas argumentações, a falsidade dos princípios em que se apóiam, o exagero das consequências. Terceiro, no caso de doutrinas, a refutação consistirá em provar que há erros, preconceitos, expondo-se então com clareza a verdadeira doutrina. Quarto, os depoimentos são facilmente refutados pelas contradições neles contidas, pela parcialidade das testemunhas, pela condescendência do juiz , pelos sofismas de que se socorreu o adversário para obter tais declarações. Quinto, pode haver o caso em que seja necessário
refutar documentos e o orador recorrerá então aos métodos de hermenêutica, examinando o valor intrínseco e o extrínseco do documento. A peroração. É a última parte do discurso, em que se concentra o maior esforço de persuasão. Compõe-se de duas partes bem distintas: o epílogo e a peroração propriamente dita. Na oratória sagrada a peroração costuma terminar por uma invocação ao Céu, a Deus ou a um Santo. O epílogo é um breve resumo das provas que foram desenvolvidas no discurso e deve ser feito de maneira rápida para não fatigar o auditório. A peroração é o término de tudo, a última impressão que o orador vai deixar na assistência. O patético entra em máximo jogo, requerendo-se por isto mesmo que seja rápido e pomposo.
Observação: A segunda parte do livro trata de gêneros de eloquência como a acadêmica, a parlamentar, a forense e a sagrada, com várias citações de textos exemplificativos, que não têm interesse imediato para este resumo. Regina Apostolorum, ora pro nobis!