MANUAL DE CONSTRUÇÃO DA VIOLA CAIPIRA: História e Iniciação.
VIOLAMINEIRA
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PARTE INICIAL O AUTOR.
Primeira Edição
Violeiro, professor de Filosofia, luthier apaixonado pela Viola Caipira, divulga o instrumento através do Violamineira. Constrói Violas e Violões de vários tamanhos com apego à tradição. Mineiro, é pioneiro na fabricação de Violas de Guatambu.
A CÓPIA D DESTA É É P PERMITIDA M MEDIANTE CONTATO PRÉVIO C COM O O A AUTOR. VENDA P PROIBIDA.
luthier Luciano Borges
1ª Edição Novembro 2008
Manual de Construção da Viola Caipira
Edição/ Criação/ Editoração por Luciano Borges
Capítulo I A HISTÓRIA DA VIOLA
Capítulo I Breve Histórico da Viola:
A VIOLA MINEIRA DE QUELUZ
Capítulo II CONHECIMENTOS PRÁTICOS BÁSICOS MADEIRAS RESPONSABILIDADE AMBIENTAL TIPOS DE CORTES FERRAMENTAS COLAS CINTURANDO A VIOLA AGRADECIMENTOS/ LINKS ÚTEIS
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A Viola com se conhece hoje, é uma evolução da Viola Portuguesa, que remete ao período da Colonização do Brasil e foi trazida pelos Portugueses. Era ela então um instrumento essencial usado pelos Jesuítas na Catequização dos Índios. Logo, ela foi se “enraizando” na cultura popular brasileira, estando presente em todo território nacional. Essa extensão possibilitou a criação de vários ritmos regionais como os Cururus, os Cateretês, as Toadas, as Modas, a Polca, o Chamamé, o Rasqueado, o Pagode de Viola, dentre outros mais. A Viola de Queluz, marca já a transição da Viola Portuguesa para a Viola Moderna, possui esse nome pois eram fabricadas no interior de Minas Gerais na região de Queluz (hoje Conselheiro Lafaiete). Eram Violas em geral de dez a doze cordas, bem rústicas e artesanais, feitas de pinho
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no tampo, cedro nas laterais e lindas marchetarias no tampo em Jacarandá. O Cavalete no estilo “bigode” e a afinação por cravelhas também figura em sua tradição. Duas famílias se destacaram em sua fabricação, sendo os Salgado e os Meireles. Da região saíam para todo o Brasil, sendo estas hoje, objetos de colecionadores, pois sua fabricação foi extinta em fator as produção de Violas em larga escala. Como reinício, nas últimas décadas, a Viola foi reinventada e torna-se novamente um ícone forte na cultura popular pela dupla Tião Carreiro e Pardinho, estando muito presente na era do Rádio (década de 80). Sua tradição erudita hoje é resgatada pelos novos Violeiros, sendo Renato Andrade, o Violeiro de maior representação nesse movimento. Acesse o Violamineira para mais informações. Ao lado, foto de uma Queluz originalmente feita pelo luthier Salgado, gentilmente cedida pelo proprietário Max Rosa de Belo Horizonte. Fig 1. Viola de Queluz/Salgado, Max rosa 2008
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Manual de Construção da Viola Caipira
Capítulo II Conhecimentos práticos básicos A) MADEIRAS Conhecendo as Madeiras. A madeira é a matéria prima básica e essencial para se fazer diversos tipos de instrumentos musicais, desde pianos, oboés, guitarras e violões. Não sendo diferente, a viola segue o mesmo caminho. A seleção correta da madeira, tons, cores, tempo de cura e sobretudo tipos de cortes, influenciarão diretamente na qualidade final do instrumento. Nem toda madeira serve para a arte de se construir a viola, sendo as preferidas as que sejam macias e médio-duras ao corte. Vinda de várias partes do mundo, e até mesmo do Brasil, caracterizam-se como “madeiras de timbre” ou tonewoods, assim chamadas por serem excelentes ao corte e acabamento e principalmente por conterem características acústicas peculiares, ou seja, o som é transmitido sem
PARTES
MADEIRAS
Tampo
Abeto (pinho), Cedro Canadense, Caixeta
Fundo/ Laterais
Jacarandá Indiano, Jacarandá da Bahia, Maple, Cedro, Mogno, Imbuia, Guatambú
Escala/Cavalete
Ébano, Jacarandá da Bahia.
Estrutura Interna
Abeto (pinho), Cedro, Mogno
Braço
Cedro, Mogno, Maple, Marfim
dificuldades por suas fibras. O interessante é a mistura, madeira de países onde o inverno é rigoroso como Europa e na América do Norte geralmente são mais indicadas para o tampo, por terem formação mais lenta, e por serem bem macias, estáveis e vibrantes, como os abetos, spruces e cedros. De países tropicais como o Brasil, América do Sul e África, extraem-se madeiras de maior densidade, para laterais, fundo e escalas. O orgulho brasileiro é o Jacarandá da Bahia (Dalbergia Nigra ), sendo esta espécie a mais cobiçada no mundo todo para laterais e fundo, infelizmente, não soubemos usar da sustentabilidade e a colocamos em
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risco de extinção, sendo proibido corte e exportação no início da década de 90. Será necessário uma pequena pesquisa sobre as espécies básicas que são mais utilizadas na fabricação do instrumento, pois conhecendo sua estabilidade, quanto a sonoridade e densidade, saberemos melhor sua aplicabilidade na composição das várias partes que formam o todo do projeto. Se pretende-se levar a arte de fabricação a sério, adquira o hábito de comprar madeira, datá-la e estocála por alguns anos, isso garantirá o seu uso num futuro não muito distante. De outra forma, pode-se comprar a madeira já preparada e cortada para essa finalidade em locais especializados, até mesmo pela internet. A madeira quando cortada, não se encontra pronta para o uso pois não está “curada”, ou seja, não perdeu a quantidade de água necessária para sua estabilidade. A madeira, chamada de “verde” ou “molhada” não pode ser usada pois precisa perder a água nela entranhada, esse processo chamamos de “secagem”. Usar madeiras que não estejam prontas acarretará em problemas posteriores como rachaduras e deformidades no instrumento. Cada espécie
possui um tempo necessário para sua cura, umas possuem secagem mais rápida como as madeiras macias, e as mais duras levam até anos, no caso dos jacarandás, de quatro a cinco anos é o mínimo. Um diagnóstico bom, mas não cem por cento eficaz, é serrar um pedaço da madeira que se pretende utilizar, se a serragem estiver úmida ao apertá-la com os dedos, formando um “bolinho”, está ainda imprópria. Do contrário, se ao serrada expelir um pó fino, seco como farinha, já está pronta. Este teste não é muito eficiente para a madeira de mogno, pois esta tem características naturais em suas fibras que podem formar o “bolinho” ao ser apertada, contudo, pode estar seca. Por isso é importante anotar as datas de corte nas pranchas.
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Antes de chegar até você em pequenas pranchas, a madeira possui a forma correta de ser serrada (fig. 2 ). O ideal é que você escolha os cortes mais Radiais, dessa forma obteremos uma madeira mais estável, com fibras mais homogêneas que possibilitam a passagem do som com maior facilidade. Como identificar um corte Radial? Simples, procure se orientar pelos anéis da madeira que estarão mais paralelos, e desenhos mais homogêneos conforme a figura acima. As madeiras para instrumentos musicais são cortadas dessa forma, a dificuldade surge quando precisamos comprar de madeireiras comuns, estas cortam a madeira em camadas, de forma Transversal. Isso não implica que esse corte impossibilite fazer o instrumento, contudo não possui as características acústicas do primeiro. Um ponto positivo do corte transversal é que este dá mais vida à madeira, mostrando mais desenhos e figurações, Ao contrário do que se pensa, a madeira quando atinge sua cura, não perderá muita água com o passar dos anos. Adquirindo sua estabilidade não fará mais trocas consideráveis com o meio. Se perder mais que o necessário
aparecerão fraturas e fissuras, por isso há pouca diferença entre uma madeira centenária de outra com apenas dez anos de cura. B) RESPONSABILIDADE AMBIENTAL Somos agraciados por termos uma natureza exuberante em nosso país, com ótimas madeiras de timbre para a Viola. Contudo, é obrigação (por isso uso do termo RESPONSABILIDADE AMBIENTAL) de todo luthier, repor de forma consciente as árvores que foram usadas como matéria prima. Isso implica o plantio, cultivo de mudas e coleta de sementes para que espécies como o Jacarandá da Bahia (Dalbergia Nigra) não sejam extintas, pois já se encontram escassas.
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Em casa, é possível germinar sementes em sacos plásticos e substrato, assim como coletar e doar sementes a um viveiro municipal especializado. Contribua para garantirmos o futuro da Viola e, sobretudo o futuro da Humanidade.
fresas, furadeira. É muito importante mantê-las sempre afiadas para um trabalho preciso. Como afiar o formão? Use sempre uma pedra de amolar, passe um pouco de óleo mineral sobre a pedra (para deslizar o fio) e realize pequenos movimentos circulares obedecendo o ângulo do corte da ferramenta.
C) FERRAMENTAS Ferramentas Pesadas: São necessárias para realizar
Usar a ferramenta certa para o serviço certo é o mais indicado, assim, o hábito de colecionar ferramentas ou até mesmo fabricá-las torna-se uma rotina. No Brasil esbarramos na dificuldade de não termos ferramentas próprias para a luthieria como na Europa ou nos EUA, por isso, se sobressai quem usa do improviso ou paga o preço da importação destas. Aqui, seremos adeptos do faça-você-mesmo e improvisaremos algumas ferramentas.
cortes maiores das partes que irão compor a Viola. Estas exigem muita perícia pois algum descuido pode causar danos irreversíveis como perder um dedo ou até a mão. Portanto, cuidado redobrado. São elas: Serra Circular, Desempenadeira de Bancada, Lixadeira de Rolo, e Serra de Fita dentre outros
Ferramentas Leves: São importantes pois ajudarão no
seu dia a dia tais como: Formão, Serrote, Raspadeiras, Grosas, Limas, lixadeiras elétricas, tupia manual com jogo de
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D) COLAS Usaremos as colas próprias para madeira feitas de PVA, as chamadas “colas amarelas”. Existem algumas marcas no mercado, deve-se escolher aquela que melhor “vitrifique” após secar, isso garantirá uma boa junção entre as partes coladas. Sua aplicação deve ser moderada, ou seja, nada de derramar cola, lambuzar toda a peça, o excesso pode enfraquecer a junta. O ideal é aplicar uma fina camada sobre as duas partes antes de juntá-las (as juntas serão mais fortes quando a camada de cola for bem aplicada, o excesso só deixa a emenda enfraquecida), Limpe com pano o excesso que aparecer após prensar para um acabamento bem feito.
Tipo de Serviço
Cola mais Indicada
Colar tampo e Fundo
Amarela
Colar tróculos e engrosso
Amarela
Colar filetes e roseta
Amarela
Colar Braço e escala
Amarela
Colar trastes
Cola Cianoacrilato (supercola)
Colar marchetarias na escala
Cola Epóxi (Mistura)
Uma dica importante é fazer ranhuras em treliça com a ponta afiada do formão ou estilete em toda a superfície a ser colada, isso garantirá melhor aderência fazendo com que a cola penetre com mais facilidade. (fig 3) Uma superfície muito lisa, bem lixada, dificulta a penetração da cola pois pois não possibilita sua entrada pelos poros.
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E) CINTURANDO A VIOLA Esteja certo disso, a madeira poderá ser curvada usando dois elementos importantes para o processo, calor e umidade. Essa técnica é milenar pois assim eram fabricados os cascos de navios na antiguidade. Isso quer dizer que ao esquentar e umedecê-la, a madeira torna-se maleável, é nesta hora que daremos cintura para a Viola. Existem vários meios de se dobrar a madeira, são técnincas desenvolvidas por luthiers de várias partes do mundo. Alguns profissionais, após encharcar a madeira em água quente dobram até com as próprias mãos, contudo, acho um tanto perigoso podendo rachar pelo excesso de força. Por isso aconselho a construção de um Ferro para Curvar ou uma Curvadeira de Laterais , ambos são mecanismos baratos e simples de funcionamento, aquecidas por lâmpadas incandescentes, geram calor suficiente para “deformar” a madeira. Vejamos o esquema a seguir:
Como proceder: O Jacarandá deve ficar em média uma hora imerso na água, e outras madeiras como cedro ou mogno ,em média 30 minutos. Sempre use o spray de água para evitar que a madeira se queime. Ligue o aparelho na tomada, espere-o aquecer por alguns minutos. Comece pela cintura. Forçando a madeira contra o metal aquecido, notará que poderá dar forma à madeira. Tenha sempre cuidado com as mãos, o contato poderá causar queimaduras.
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! LEMBRETE: Madeiras figuradas, como o maple, a imbuia figurada, não podem ser encharcadas, mas apenas levemente umedecidas com um spray. Isso pois as fibras que mostram figuras são irregulares, ao serem saturadas de água, expandem-se, ocasionando fraturas na madeira. AGRADECIMENTOS A todos luthiers Parceiros do VIOLAMINEIRA, em especial Marcelo Wenio, Flávio Delisa, Jeziel e Dida da Viola, Max Rosa e convidados. À Lilian da VIVACEPARTS pelo apoio irrestrito, e a todos aqueles que de alguma forma contribuem para a realização do meu trabalho. Emerson Reis pela inspiração, Norberto pela “visão”. Aos amigos Leonardo, Ricardo e Fernanda pelo amor, pais Delfino e Alaora, Elisa, Joaquim e Adebrani, familiares. A todos aqueles que acessam o Violamineira.blogspot.com São todos bem vindos. Luciano Borges/ Novembro 2008
LINKS ÚTEIS WWW.violamineira.blogspot.com (Construção da Viola) WWW.vivaceparts.blogspot.com (Madeiras para Instrumentos musicais) www.violadearame.com.br (Orquestra de Viola) WWW.frets.com (Frank Ford e seus reparos) www.stewmac.com (Ferramentas Importadas de luthieria) www.didadaviolaluthier.com.br (Luthier de Viola) www.pedrosantos.com.br (Luthier de Viola e bandolins) www.revistaviolacaipira.com.br (Revista Especializada)
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