C B Ü
Desde esde o surgim surgimento do crist cristiani ianismo smo,, filó filósof sofos os e teólogos teólogos — desd desde e Paulo aulo até Agostinho, Agostinho, Aquino, Lutero Lutero e Pasca ascall — procuraram procuraram defender a fé do ataque ataque de detratores detratores e demonstr demonstrar ar que que o cristi cristiani anismo smo,, além de “fazer “fazer senti sentido”, do” , tem o poder de expli explicar a natureza natureza de de Deus, do homem homem e do univer universo. so. As As pessoas que fazem tal defesa são conhecidas conhecidas como como apologistas (da apologistas (da palavra grega para defesa). Em defesa). Embora bora nenhuma nenhuma geração de cri cristãos stãos tenha ficado ficado sem eles, o século século 20 apresent apresentou ou um grande aument aumento o no número de de apologi apologist stas as ativos, ativos, um aumento aumento que que continua com força força total total no terceir terceiro o mil milênio. ênio. Apologética cristã cris tã para o século XXI analisa analisa tanto os principais principais apologist apologistas as como os principais argumentos apresentados em defesa do cristianismo hist históri órico co e ortodoxo ortodoxo durante o últ último imo século. século. Ao longo do livro, livro, é focada a linha linha mais popular popular da apologéti apologética (em oposi oposição ção à linha acadêmica), a qual qual encontra encontra sua maior maior font fonte e na obra de C. S. Lewi Lewis. Ess ssa a linha linha da da apologét apologétiica também busca encontr encontrar ar um denominador comum entr entre e crist cristãos ãos e não não crist cristãos, ãos, bem bem como entre as diferentes denominações cristãs.
LOUIS MAR MARKOS (PhD, Univer Universidade sidade de Mi Michigan) chigan) ocupa a cadeir cadeira de de Rober Robertt H. Ray em Hum Humanidade na Houston Baptist Baptist Uni Universit versity. Ele é autor autor de vários vários livros, incluindo From Achilles Achille s to Christ: Why Christians Should Shou ld Read Read the Pagiui Pagiui Classics e Lewis Agonistes: How C. S. Lewis Can Train Us to Wrestle witli tho Modern and Postmodern Worldl
PFNTRAI PFNTRAI f urada ur ada do Guattnguê, IBM IB M l.ui l.uinai.i nai.i p n C D t l Riodi iodi<
ISBN U/a
Desde esde o surgim surgimento do crist cristiani ianismo smo,, filó filósof sofos os e teólogos teólogos — desd desde e Paulo aulo até Agostinho, Agostinho, Aquino, Lutero Lutero e Pasca ascall — procuraram procuraram defender a fé do ataque ataque de detratores detratores e demonstr demonstrar ar que que o cristi cristiani anismo smo,, além de “fazer “fazer senti sentido”, do” , tem o poder de expli explicar a natureza natureza de de Deus, do homem homem e do univer universo. so. As As pessoas que fazem tal defesa são conhecidas conhecidas como como apologistas (da apologistas (da palavra grega para defesa). Em defesa). Embora bora nenhuma nenhuma geração de cri cristãos stãos tenha ficado ficado sem eles, o século século 20 apresent apresentou ou um grande aument aumento o no número de de apologi apologist stas as ativos, ativos, um aumento aumento que que continua com força força total total no terceir terceiro o mil milênio. ênio. Apologética cristã cris tã para o século XXI analisa analisa tanto os principais principais apologist apologistas as como os principais argumentos apresentados em defesa do cristianismo hist históri órico co e ortodoxo ortodoxo durante o últ último imo século. século. Ao longo do livro, livro, é focada a linha linha mais popular popular da apologéti apologética (em oposi oposição ção à linha acadêmica), a qual qual encontra encontra sua maior maior font fonte e na obra de C. S. Lewi Lewis. Ess ssa a linha linha da da apologét apologétiica também busca encontr encontrar ar um denominador comum entr entre e crist cristãos ãos e não não crist cristãos, ãos, bem bem como entre as diferentes denominações cristãs.
LOUIS MAR MARKOS (PhD, Univer Universidade sidade de Mi Michigan) chigan) ocupa a cadeir cadeira de de Rober Robertt H. Ray em Hum Humanidade na Houston Baptist Baptist Uni Universit versity. Ele é autor autor de vários vários livros, incluindo From Achilles Achille s to Christ: Why Christians Should Shou ld Read Read the Pagiui Pagiui Classics e Lewis Agonistes: How C. S. Lewis Can Train Us to Wrestle witli tho Modern and Postmodern Worldl
PFNTRAI PFNTRAI f urada ur ada do Guattnguê, IBM IB M l.ui l.uinai.i nai.i p n C D t l Riodi iodi<
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Apolog ogét étic ica a “Ao oferecer um panorama de quase um século de apologética cristã, Apol cristã para o século 21, de Lou Markos, abrange desde G. K Chesterton e C. S. Lewis
até o pós-modernismo, os neoateus e a recente crença do ex-ateu Antony Flew na existência existência de Deus. Tratando de autores relevantes relevantes,, bem como com o de suas suas idéias idéias e obras, obras, Markos escreve em estilo popular, de facil leitura, que poderia ser considerado uma jorn jo rn ad a coloquial colo quial p o r cada um desse dessess tópicos. Aqueles Aque les que se interessam p o r apo apo logética encontrarão diversos itens de grande importância neste texto, o qual possui grande projeção e ritmo acelerado.” Gary R. Habermas, professor eméri em érito to e catedrático cated rático do D epar ep artam tam ento en to de
Filosofia e Teologia da Universidade Liberty “Este é um livro excelente. Eu já li centenas centenas de d e livros livros em defes defesaa da fé nos nos últimos anos, mas este se destaca. O professor Markos reúne, de maneira ímpar, teologia, lite ratura, história, ciência e filosofia, a fim de produzir uma obra de apologética tanto erudita como completamente acessível. Aproveitei cada página.” Craig J. Haz en, fundador e diretor do Programa de Mestrado em Apologética
Cristã da Universidade Biola “E chocante, de certa forma, o fato de que todas as gerações de cristãos precisem levar a cultura geral a lembrar-se de que realmente temos argumentos e razões para nossa nossa fé. fé. Contudo Cont udo,, dada dadass a hegem onia cultural, a onipresença do materialismo ateísta ateísta e a maneira como este moldou nosso entendimento daquilo que é bom, verdadeiro e belo, não deveria surpreender-nos [o fato de] que nossos antagonistas queiram Apolo logé gétic tica a cr cristã istãpara para o século 21 é um antídoto retratar a fe e a razão como adversárias. Apo
de facil leitura contra uma sabedoria convencional que é, de fato, convencional, mas não sábia.” Francis J. Beckwith, professor profess or de Filosofia e Estudos sobre Igreja-Es Igrej a-Estado tado na
Universidade Baylor “Lou Markos entrou para o grupo dos melhores comentaristas sobre a obra de C. S. Lewis e é um apologista influente da fé cristã por mérito próprio. Seu domínio das das duas grandes grandes linhas de pensame pens amento nto ocidental — cristianismo e cláss clássic icos os — per per mitiu-o desenvolver uma obra cativante, sofisticada e convincente.” Ro ber t B. Sloan Jr., Jr., presiden pre sidente te da Univers U niversidade idade Batista de H ousto ou ston n
“Felizmente, a disciplina da apologética hoje está passando por uma espécie de renascimento. Além disso, não faria sentido negligenciar a importância considerável de C. S. Lewis, que ocasionou um grande ressurgimento de interesse pela defesa da fé. Louis Markos realizou um ótimo serviço para nós ao colocar a obra de Lewis em
diálogo com as questões da atualidade, algumas das quais eram certamente contem porâneas porân eas ao sábio de Oxfor Ox ford, d, enqu en quan anto to outras outra s ganh ganhara aram m pre preem eminê inênc ncia ia um po uco uc o depois, embora ainda sejam questões com as quais ele teria gostado de envolver-se. Este volume ajudará os leitores a verem como Lewis teria lidado com as questões de nossa época. No fim, o livro lembrará os leitores da vitalidade da afirmação de que a fé cristã é verdadeira.” William Edgar, professor professo r de Apolo Ap ologé gétic ticaa no Sem inário iná rio Teoló Te ológic gicoo de WestW estminster, Filadélfia, Pensilvânia “Louis Markos é a forma platônica do professor universitário cristão. Seu amor pelas Escrituras Escrit uras e seu amplo amp lo do dom m ínio ín io da tradiçã trad içãoo filosófica ociden oci dental tal fazem faze m dele o modelo para uma nova geração de apologistas que surge nas universidades. Suas aulas são um grande sucesso com alunos novos e mais velhos na universidade e com o público púb lico global de The Teaching Company. Os leitores descobrirão que ele é tão agra dável no papel como é à frente de uma sala de aula.” Hunter Baker, decano adjunto da Faculdade de Artes e Ciências da Universi dade dade Union e autor de The End En d o f Sec Secula ularis rism m [O fim do secularismo] “Louis Markos provou, mais uma vez, que é um dos principais apologistas cris tãos da atualidade. Ao escrever com a eloquência e a acessibilidade que caracterizam a obra de seu mentor, C. S. Lewis, ele constrói a defesa racional da fé com autori Apolog ogét étic ica a cris cristã tã para para o séc século 21 dade e firmeza. Espelhando sua estrutura na Bíblia, Apol começa com um ‘antigo testamento’ (parte um), na qual as obras dos profetas da modernidade mode rnidade — Chesterton, Cheste rton, Lewi Lewiss e Saye Sayers rs — estabelecem estabelecem o fundam ento para o ‘novo testamento’ (parte dois), no qual os apologistas de hoje desafiam e vencem os Apolog ogét étic ica a cr cristã istãpara para o séc século 21 mostra que Markos ‘neoateus’e outros dragões atuais. Apol é um apologista do século 21 de primeira linha.” Joseph Pearce, escritor residente e professor adjunto de Literatura na Univer sidade Ave Maria, Flórida, e autor de livros sobre escritores cristãos importantes, incluindo C. S. S. Lewis, Lewis, G. G. K K.. Chester Che sterton ton,, Alexander Alexande r Soljenítsin e J. R. R .To .Tolki lkien en “Inspirado nos ricos recursos de apologistas importantes do século 20, Louis Markos produziu uma obra brilhante de defesa [da fé] cristã. Assim como Lewis e ( .'liesieitim, que vieram antes dele, Markos usa seu talento literário e sua precisão ,u ,n leuii< a para conquistar tanto o coração como a mente ao apresentar evidências e aipiiuirutiis 1 1 ist. ist.ur, ur, Nr|;t r|;t voi voi é
pinii pinii -.oi i!■ i!■ lilii lilii-M -M.i .iuu na na I ai uldailf Betei, Betei, listado listadoss Unido s, e
,H, ll < H' l II IIII l l lt ul il( ( „ ‘tl li ! ,H,ll H'|/ fi 1
jl t et e t o > p i an a n i lr lr , 1 IIrr ll ll s é l lo lo l ll ll j
Apologetics for the Twenty-first Century Copyright © 2010 by Louis Markos Published by Crossway A publishing ministry ministry o f Goo d N ews Publishe Publishers rs Wh eato n, Illinois Illinois 60187, U.S.A. U.S.A. This edition published by arran gem ent w ith Cros Crossw sway ay.. All rights reserve reserved. d. Copyright 2013 por Editora Central Gospel
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M a r k o s , Louis Apol Apolog ogét étic ica a cris cristã tã para para o sé século 2 1 Título original: Apol Apolog oget etic icssfor fo r the Tw Twent enty-f y-firs irstt Century R io de Janeiro: Janeiro: 2013 2013 340 páginas ISBN: 978-85-7689-327 -1 1. Bíblia Bíblia - Vida Cristã Cristã I. Títu lo II. II.
Gerência editorial e de produção GilmarVieira Chaves Gerência de Marketing Marcos Marcos He nriqu e Barboza Barboza Coordenação editorial editorial Michelle Cândida Caetano Tradução Ana Paula Paula Argen tino Giuliana Niedhardt Revisão Débora Costa Elen Canto Paulo Pancote Queila Memória Capa Josias Finamore Diagramação Julio Fado Impressão e acabamento Ediouro 1“ edição: Jun ho/20 13 As citações bíblicas utilizadas neste livro foram fo ram extraídas da Versão Versão Almeida Almei da Revista e Corrigida (ARC), salvo indicação específica, e visam incentivar a leitura das Sagradas Escrituras.
Editora Central Gospel Ltda. Estrada Estrada do Gue renguê, reng uê, 1851 1851 Taquara ( I I’
/ I 1 001 001
Este livro é dedicado ao ministério da Inter InterVa Varsi rsity ty Christian Christian Fello Fellows wshi hip p [Comunhão Cristã InterVarsity]:
po p o r in c u tir ti r e m m im u m cora co raçã ção o para pa ra o evange eva ngelism lismo; o; po p o r m e ofer of erec ecer er os prim pr im eiro ei ross ensino ens inoss sobre sob re apolo ap ologét gética ica;; po p o r m e ensin en sinar ar a c o n d u zir zi r estudo est udoss bíblicos; bíblic os; e por me proporcionar a oportunidade, em um estudo bíblico da IVCF,de conhecer a pessoa mais impo im portante rtante de m inha vida, minha min ha espo esposa sa,, Donna. Do nna.
*
ofrfftwaoÇ)]
S u m á rio
Prefácio
9
Parte um 0 legado de Lewis e Chesterton 1. Apologética: o que é e po r que se torn ou tão pop ular
17
2. As coisas que não poderiam ter evoluído: C. S. Lewis argumenta a favor da existência de Deus 3. Do teísmo ao cristianismo: a defesa de C. S. Lewis a favor de Cristo 4. O único m un do possível: C. S. Lewis fala acerca do
27 37
problema do sofrimento 5. A trama maior: C. S. Lewis defende os milagres 6. A psicologia do pecado: por que C. S. Lewis acreditava
47 57
no inferno 7. Mais do que Balder, não menos: C. S. Lewis e a
67
apologética da mitologia
77
8. A jornad a de volta para casa: com o G. K. Chesterton “desc obriu” a ortodoxia 9. Dos hom ens das cavernas aos cristãos: resumo da história
87
por G. K. Ches te rton 10. A mente do Criador: Dorothy Sayers faz com que
99
a Trindade tenh a sentido 1I A pré apologética de Francis Schaeffer
109 119
I A p o lo g é tn a ao estilo norte americano: o legado de Josh M< I )owcll
129
Parte dois A defesa da fé em um mundo (pós-)moderno 13. A existência de Deus I: os argumentos da lógica
143
14. A existência de Deus II: os argumentos da ciência
153
15. A existência de Deus III: por que coisas ruins acontec em a pessoas boas
163
16. Assim diz a Bíblia: defendendo a autorida de das Escrituras
173
17. Em busca do Jesus histórico 18. Em defesa da ressurreição de Cristo
185 197
19. Por que Cristo é o único caminho: cristianismo e outras religiões 20. Além do Código Da Vinci: em resposta aos neognósticos 21. O reto rno ao mito: apologética para os pós-mode rnos
209 221 233
22. O Design inteligente: além do Big Bang
245
23. Respo nd en do aos novos ateístas 24. C om o o ateu mais famoso do m un do m ud ou de ideia
257 269
A p ê n d i c e s
Linha do tem po
281
Glossário
283
Q uem é quem
291
Bibliografia anotada
299
Prefácio
Desde o surgim ento do cristianismo, filósofos e teólogos — desde Paulo até Agostinho, Aquino, Lutero e Pascal — procuraram defender a fé do ataque de detratores e demonstrar que o cristianismo, além de “fazer sentido”, tem o poder de explicar a natureza de Deus, do homem e do universo. As pessoas que fazem tal defesa são conhecidas como apologistas (da palavra grega para “defesa”). Embora nenhuma geração de cristãos tenha ficado sem eles, o século 20 notou um gran de aumento no número de apologistas ativos, um aumento que conti nua com força total no terceiro milênio. Neste livro, analisarei tanto os principais apologistas como os p rin cipais argumentos apresentados em defesa do cristianismo histórico e ortodoxo durante o último século. Ao longo do livro, meu foco per manecerá na linha mais popular da apologética (em oposição à linha acadêmica), a qual encontra sua maior fonte na obra de C. S. Lewis e que é escrita em termos leigos, não exige conhecimentos prévios de filosofia, teologia ou estudos bíblicos. Essa linha da apologética tam bém busca en co ntrar um denomin ador comum entre cristãos e incré dulos, bem como entre denominações cristãs diferentes, mantendo um tom pragmático e referente a este mundo. Após um capítulo introdutório — no qual defino o que a apologétu a é e o que ela não é, discuto como o triun fo do m odernism o •,<■( ul.it do Iluminismo incentivou a recente explosão da apologética e apresento razões por que C. S. Lewis continua sendo o apologista mais bem sucedido do século 20 — analisarei, ao longo de seis capítulos, as pum tpais obras e o s princ ipais argumentos apologéticos de Lewis. ( Hini-i.uri o capítulo te< oustilumdo sua tentativa de demonstrar
Prefácio
que tanto nossos anseios por algo que transcende o mundo natural como nosso entendimento inerente sobre o código moral (chamado por ele de Tao) são fenômenos observados que não podem ser expli cados somente com recursos de processos naturais, físicos ou materiais. Após ter estabelecido a centralidade do Tao na apologética de Lewis, prosseguirei, no capítulo 3, apresentando o argumento desse auto r de que nossa incapacidade para observar o Tao leva diretamente à solução cristã. Tam bém discutirei aqui o argum ento apologético mais famoso de Lewis: Cristo só poderia te r sido um a das três coisas — mentiroso, lunático ou Senhor. N o capítulo 4 e 5, apresentarei as respostas de Lewis ao problema do sofrimento e da negação de milagres nos dias atuais. Quanto ao sofrimento, Lewis nos ajudará a ente nder nosso estado de criaturas caí das; quanto à negação dos milagres, ele nos ajudará a ver que os mila gres, longe de violar as leis* da natureza, revelam o maior desígnio de Deus. Assim como os céticos argumentam que a presença da dor e do sofrimento no mundo contradiz o ensinamento cristão de que Deus é um Deus de amor, eles tamb ém argum entam que tal Deus jamais seria capaz de confinar uma pessoa ao inferno. O capítulo 6 será dedicado a explicar o argumento de Lewis de que, dados a natureza divina e o dom do livre-arbítrio concedido a nós, a existência do inferno é necessária não apenas teológica como também psicologicamente. Por fim, no capítulo 7, considerarei a maneira de Lewis em defender os elementos míticos do cristianismo como argumentos a favor de sua verdade e de seu poder universais. Especificamente, analisarei a crença de Lewis de que Cristo foi o mito que se tornou fato e demonstrarei, por meio de um a breve olhada na obra Crônicas de Nárnia, como Lewis foi capaz de unir aspectos racionais e imaginários em sua ficção. Os capítulos 8 e 9 serão dedicados a estudar as duas principais obras apologéticas de G. K. Chesterton, um homem cujas defesas mordazes e eruditas do cristianismo exerceram uma influência permanente em Lewis. Primeiro considerarei como Chesterton contrasta, em Ortodoxia, a obscuridade e as crenças contraditórias do modernismo com a vita lidade sólida e as verdades paradoxais do cristianismo. Então, voltarei minha atenção para a análise absolutamente singular da história cris-
APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21
APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21
tã feita por Chesterton em O homem eterno. Por meio de uma leitura atenta dessa obra clássica, mostrarei a habilidade com que o autor cri tica o pensamento evolutivo moderno, apresenta Cristo como auge do mundo antigo e apoia a defesa da ortodoxia pela Igreja. O capítulo 10 mudará o foco para uma terceira apologista britânica que compartilha va a sagacidade, a imaginação e o amplo conhecimento de Lewis e de Chesterton: Dorothy Sayers. Em The Mind of the Maker [A mente do Criador], Sayers oferece uma intrigante analogia entre a natureza trina de Deus e o processo criativo humano que tanto confirma a realidade da Trindade com o também elucida a origem do mal e do livre-arbíti io Os capítulos 11 e 12 transportarão o livro para o outro lado do Atlântico, a fim de considerar a obra de dois apologistas americanos fundamentais que prepararam terren o para a maioria das apologias que os seguiram. Um panorama da trilogia apologética de Francis Schaeffei ajudará a explicar seu argumento de que, após o Iluminismo, a ciênci.i a lógica e a razão se separaram da religião, da revelação e da fé. Mais que um carpinteiro, o livro bastante influente de Josh M cDowell, bem como seu estilo apologético também influente e tipicamente norte-ameritu no, serão o foco do capítulo 12. Mostrarei como McDowell, em todas as suas obras, coloca uma forte ênfase na confiabilidade bíblica, nas declarações de Cristo e nos depoimentos de especialistas e convertidos N a segunda metade do livro, mudarei meu foco de apologistas específicos para temas e argumentos apologéticos em geral. Em ve/ dr analisar obras individuais, eu me apropriarei, de modo mais amplo, dr obras de apologistas principais, como Lee Strobel,William Lane ( aaig. Ravi Zacharias, Gary Habermas, Alister McGrath, J. P. Morei.md Phillip E. Johnson, William D embski, Francis Collins, Don Richau l son,A lvin Plantinga e N .T .W right. Os capítulos 13, 14 e 15 ofeu-i . rão perspectivas diferentes sobre os argumentos a favor da existem u de Deus. Começarei focando argumentos mais clássicos, tomados dos mundos da filosofia e da lógica. Em seguida, buscarei argumento-, n o mundo tia ciência moderna, particularmente a descoberta de qur o universo na o sei ia m i n o , mas que teru sido <11 ado no Ihg Mang Pm lim rutrenlarci d r novo, ■- to m mais Irivm, a questão que alasta a
Prefácio
Nos capítulos 16, 17 e 18, será abordada uma das principais pre o cupações da apologética: a defesa da Bíblia como testemunha precisa da obra do divino no mundo. Primeiro, apresentarei argum entos para a confiabilidade geral do registro bíblico. Segundo, considerarei especificamente a historicidade dos Evangelhos e das declarações de Cristo. Terceiro, analisarei os muitos argumentos reunidos para a defesa da declaração histórica mais importante do cristianismo: a de que Jesus Cristo, após ter estado morto por três dias, levantou-se corporalmente da sepultura na manhã da Páscoa. Nos seis capítulos finais do livro, colocarei a atenção em alguns dos progressos recentes da apologética. Portanto, o capítulo 19 apresentará um contraste do cristianismo com outras religiões do mundo e argu mentará a favor da exclusividade do evangelho, ao passo em que o capí tulo 20 revelará tanto os erros como os perigos do crescente interesse nos evangelhos gnósticos — um interesse evidenciado no sucesso e na controvérsia do romance de Dan Brown, O código Da Vinci. O fato de as questões levantadas nos capítulos 19 e 20 serem tão prementes teste munha o rápido crescimento do pensamento pós-moderno nos Estados Unidos. Como resposta a esse crescimento, o capítulo 21 considerará novas abordagens feitas pelos apologistas para alcançar os pós-m oderno s que anseiam por espiritualidade, mas que são m uito receosos em relação a religiões, principalmente as religiões “institucionais” . Os capítulos 22 e 23 entrarão em dois dos principais campos de batalha da apologética na últim a década: os argumentos dirigidos pelo movimento do design inteligente contra o darwinismo e, depois, o surgimento de uma nova e mais agressiva forma de ateísmo. Por fim, no capítulo 24, atentarei à conversão ao deísmo do filósofo ateu octo genário Antony Flew e ao livro que ele escreveu para documentar sua conversão: Um ateu garante: Deus existe— As provas incontestáveis de um filósofo que não acreditava em nada.
Embora este livro tenha sido concebido e escrito como um manus crito único, unificado, ele incorpora algumas idéias e passagens de obras minhas publicadas anteriormente. Há muitos anos, publiquei duas obras (a primeira Ibi uma série de palestras, e a segunda, um livro) que dis cutem, entre outras coisas, us ai guinemos r abordagens a pu lngrtuos
APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21
de C. S. Lewis: The Life and Writings of C. S. Lewis [A vida e os escritos de C. S. Lewis] (The Teaching Company, 2000) e Lewis Agonistes: How C. S. Lewis Can Train Us to Wrestle with the Modem and Postmodern World
[Lewis agonista: Como C. S. Lewis pode ensinar-nos a lutar contra o mun do m odern o e pós-m oderno] (Broadman & Holman, 2003). Há, inevitavelmente, algumas sobreposições de diversos trechos dessas duas obras em várias partes dos capítulos 2— 7 deste livro. Os leitores que desejarem explorar mais a fundo a apologética de C. S. Lewis são incentivados a consultar essas obras. Trechos dos capítulos 11, 19 e 24 ta mbém já apareceram antes, de form a alterada, com os seguintes títulos respectivamente: “Apologetics for the 20th Century The Legacy of Francis Schaeffer” [Apologética para o século 20: C) legado de Francis Schaeffer] no volume 22, número 2 de Faith and Mission; “An O pen Letter to Lovers o f The Da Vinci Co de” [Carta aber
ta aos amantes de O código Da Vinci ] na edição de novembro/dezembro de 2007 de Saint Austin Review ; e “Ho ly Probable: A R ev iew Essay of There Is a God by Antony Flew” [Santa probabilidade: Um ensaio crí tico sobre Um ateu garante: Deus existe, de Antony Flew] na edição de maio de 2008 de Touchstone. Dediquei este livro ao InterVarsity Christian Fellowship, mas tam bém quero re conhecer o amável apoio e o incentivo de vários respou sáveis da Universidade Batista de Houston: Robert Sloan (presidcn te), Paul Bonicelli (reitor), Diane Lovell (decano de Artes e Ciências Humanas), Robert Stacey (decano de honra) e Matthew Boylestou (professor catedrático de Inglês).Também agradeço à universidade pot conceder-me a cátedra de Robert H. Ray em Ciências Humanas e o título de Acadêmico R eside nte — distinções que m e deram o temp o e a oportunidade necessários para finalizar este livro.
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O legado de Lewis e Chesterton
1
APOLOGÉTICA: O QUE É E POR QUE SE TORNOU TÃO POPULAR
Em 399 a. C., Sócrates foi acusado pela assembléia ateniense de cor rom per a juve ntu de e de d efende r deuses estrangeiros. Em reação a isso, o filósofo, aos 70 anos, foi até a corte para responder às acusações dirigidas contra ele. Seu discurso perante os cidadãos indignados de Atenas foi registrado por seu famoso pupilo, Platão, e publicado com o título de Apologia. Qualquer um que tenha lido o apelo genial, como vente e completamente desprovido de desculpas de Sócrates percebera, de modo rápido, que apologia significa simplesmente defesa. E foi
isso
que Sócrates apresentou aos seus acusadores: um a defesa arrazoada da origem de seu ensinamento (ele fora instruído pelo Oráculo de Delfos a fazer isso) e de sua maneira de ensinar (questionar todas as pessoas que alegavam possuir a Verdade). Quase cinco séculos mais tarde, Pedro c onclam ou seus compa nhia ros cristãos a serem tão destemidos — mas não tão ofensivos — quanto Sócrates ao d efend er a fé em Cristo: antes, santificai a Cristo, como Sctilioi, em posso coração; e estai sempre preparados para responder [fazer uma apoio gia\ com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que Iní em vós (1 Pe 3.15). Seguindo a tradição de Sócrates e Pedro, o apo logisla cristão moderno não se desculpa por suas crenças nem conlia mei.unente na emoção ao confrontar aqueles que consideram sen
Apoloqé tica:
o
que f e por que se tornou tão popular
humana. Isso não equivale a dizer que os apologistas acreditam que podem alcançar a fé cristã por meio da razão, mas sim que a fé pode ser um passo racional em vez de um salto no vazio. O cristianismo, em resumo, faz sentido. C om o sistema de crença, ele interessa à pessoa por inteiro: corpo e alma, coração e mente.
DEFESA DA FÉ Embora os apologistas abordem a defesa da fé a partir de diversos ângulos diferentes, uma apologia completa deve incluir, em sua essên cia, a defesa da doutrina central e determ ina nte do cristianismo — a saber, a doutrina de que Jesus de Nazaré não foi somente um homem bom ou um profeta inspirado, mas o Filho unigênito de Deus. Essa doutrina, conhecida como encarnação, afirma que Jesus não foi meio hom em e meio Deus, mas completamente humano e completam ente divino. Em torno da encarnação, podem ser agrupadas outras doutrinas essenciais da fé: a de que Deus, emb ora seja Um , existe eter nam ente com o três pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo (aTrindade); a doutrina de que todos nós nascemos com uma natureza pecaminosa, e existimos em um estado de rebelião contra Deus e contra Sua Lei (o pecado original); a de que a morte sacrificial de Jesus na cruz nos trouxe de volta a um relacionamento justo com Deus Pai (a expiação); a de que o Filho voltou à vida corporalmente (a ressurreição); a doutrina de que Ele também retornará fisicamente (a segunda vinda); e a de que todos os que estão em Cristo se unirão a Ele na ressurreição final dos mortos. A essas doutrinas fundamentais e inegociáveis, podem ser acrescen tadas mais duas: a de que Deus é o Criador do céu e da terra e a de que a Bíblia é a Palavra oficial de Deus. Muitos apologistas (entre eles, eu) incluiriam outras qualidades a essas duas últimas doutrinas, mas nenhum apologista ortodoxo as rejeitaria nesta forma. Estas, portanto, representam as doutrinas essenciais da fé cristã, as quais recebem clara expressão nos credos da Igreja e que contêm os princípios básicos do que C. S. Lewis batizou noto riam ente de “ m ero ” cristianismo. Desde a época dos apóstolos, a principal tarefa do apo logista é defender essas doutrinas de sofrerem ataques dos d c i i a l o i r s
APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21
presentes tanto dentro co mo fora da Igreja. N a maioria dos casos, essa defesa é estruturada em forma de diálogo, no qual o apologista res ponde as principais perguntas feitas pelos céticos que procuram lançar dúvidas sobre o cristianismo. Uma lista das principais perguntas que os apologistas, desde Paulo, procuram abordar inclui as seguintes: 1) Se Deus é am oroso e onip o tente, por que existe dor, sofrimento e injustiça no mundo? 2) Como os cristãos podem acreditar em milagres, se acontecimentos como a divisão do mar Vermelho, a ressurreição de Lázaro dentre os mortos, o nascimento virginal e a caminhada de Jesus sobre as águas violam cia ramente as leis da natureza? 3) Como um Deus de misericórdia pode condenar pessoas ao inferno? 4) Como é possível saber que podemos confiar nos relatos da vida de Jesus registrados nos Evangelhos? Durante os últimos três séculos, essas perguntas ganharam um tom cada vez mais intenso e pen etrante, assumindo, com frequência, a for ma de acusação direta e de escárnio: 1) A história de um Deus que morre e ressuscita não é só um mito para pagãos ignorantes e crianças da modernidade? 2) A religião não é apenas uma espécie de muleta e a realização de desejos para as pessoas que são fracas demais para lidar com a realidade? 3) A ciência não refutou o cristianismo e demonstrou que ele é falso? 4) A Igreja não fez mais mal do que bem e não inspirou mais hipocrisia do que qualquer outra instituição na história? O bom apologista não se esquivará de perguntas difíceis como essas, mas lidará com as questões em si e com a raiva, a culpa, o deses pero e a confusão que muitas vezes se encontram por trás dessas per guntas. E ele fará ainda mais: mostrará que o cristianismo apresenta uma cosmovisão coerente, consistente e universal, que não apenas res ponde a perguntas difíceis individualmente, como também apresenta uma visão unificada que dá sentido a todos os aspectos do nosso mun tio, de nós mesmos e de nosso destino. Aliás, uma das principais tarefas do apologista é defender o cristianismo de cosmovisões rivais — sejam religiosas, políticas ou filosóficas — que alegam tci a competem ia r a auloriiladr dr tlrfinn
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Apologética: o que é e po r que se tornou tílo
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Naturalm ente, os apologistas cristãos não tratam iodos os outros sistemas de crença como se fossem inerentemente falsos. Muitas vezes, esses apologistas começam estabelecendo um denominador comum entre o cristianismo e outros tipos de fé monoteísta (islamismo, ju da ísmo, deísmo, unitarismo). Principalmente em nossa época, muitos apologistas acreditam que nem sequer podem começar a defender a deidade de Cristo antes de construir uma defesa da existência de um Deus único, pessoal, Criador do universo e Autor da moral. Outras vezes, os apologistas concordam acerca da natureza do problema — que a culpa deve ser expiada (paganismo); que o homem moderno vive em um estado de alienação (marxismo); que devemos encontrar um modo de controlar nossos instintos básicos (freudismo) — mas discordam quanto à origem e à solução final desse problema. Em sua melhor forma, a tarefa do apologista é profundamente humanista. Ela procura não abandonar as esferas física, humana e comum em troca de um mundo abstrato de idéias, mas sim remir essas três esferas para que possam ser glorificadas. Muitas pessoas, hoje em dia, confundem apologética com evangelismo, pois essas duas disciplinas cristãs possuem muito em comum. Todavia, as duas buscas são bem diferentes no foco e na abordagem. Um evangelista, como Billy Graham, compartilha a mensagem evangelística de que Jesus Cristo foi o Filho de Deus, de que Ele morreu por nossos pecados e de que nós só encontramos a salvação se confes samos esses pecados e colocamos nossa fé no Cristo ressurreto. O termo evangelismo vem de duas palavras gregas, eu (“bom”) e tingel (“notícias”), as quais, quando traduzidas para o inglês antigo, tor
naram-se god-spel, ou gospel. Um evangelista, portanto, é alguém que literalmente divulga as boas-novas (ou evangelho). Os bons evangelistas apresentam essas boas-novas de uma maneira que faça sentido, mas estão menos preocupados em apresentar uma defesa arrazoada do que o apologista. O evangelismo se prende mais ao emocional do que ao racional, e mais ao prático do que ao filosófico. Ele busca [conduzir o ouvinte a tomar] uma decisão que ocasione mudança em seu coração, t não [formar] um c onsentim ento racional de um a verdade particular
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temas como a existência de Deus, a autoridade das Escrituras ou a possibilidade da realização de milagres. Eles simplesmente tomam esses assuntos como pressupostos, concentrando-se em sua mensagem. Ao passo que o evangelista é, em prim eiro lugar, um pregador, o apologista é essencialmente um professor. Este trabalha mais como um advogado apresentando um caso; e aquele, como um pastor concedendo confor to e aconselhamento. N o m eio -term o entre o evangelista e o apologista, há vários escri tores e oradores cuja principal preocupação é ganhar de volta uma porção do público para um verdadeiro compromisso com o Deus da Bíblia. Alguns, como Bill Hybels,Thom Rainer e Rick Warren, ofere cem diretrizes [de orientação sobre como] compartilhar o evangelho com pessoas de fora da Igreja que vivem em uma sociedade secular mas que, apesar disso, anelam por espiritualidade e propósito [de vida]. Outros, como C hu ck Colson, James Dob son, Jay Sekulow e o falecido Richard John Neuhaus, são guerreiros culturais que buscam garantir uma voz legítima para a cosmovisão cristã em meio ao público geral e reviver os princípios cristãos éticos e sexuais que estão em declínio. Assim com o esses Wilberforces1 da atualidade, os apologistas p ro curam, sim, restaurar a integridade intelectual da cosmovisão cristã, principalmen te no meio acadêmico; e há ramificações da apologética que oferecem uma defesa arrazoada da moralidade sexual tradicional, mas tais apologias se privam de envolvimento civil e de política parti dária. Apesar disso, a apologética é essencialmente “conservadora” em sua busca por preservar os credos da Igreja frente a tentativas “liberais” de despojar o cristianismo de elementos sobrenaturais e alegações uni versais da verdade, be m com o das tentativas de substituir o Cristo da fé por um Jesus “ histó rico” . 1W l ll ia m W i lb e r f o r c e
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ton iipon I hill, Yorkshire, com eço u sua carreira política em 1780 com o c andida to ind ep en ilriiir. v iu lo deputad o do condad o de Yorkshire entre 1784 e 1812. Em 1785 converteu-se ao i< iiip.elie.de.mi), mudando eomplelamente o seu estilo de vida e se preocupando ao
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Mais próximos da iniciativa apologética, encontram-se escritores como Mark Noll, George Marsden e Arthur Holmes, que procuram reintegrar fé e aprendizado ao meio acadêmico e convencer seus cole gas mais céticos de que o cristianismo, quando corretamente compre endido, não reprime, mas intensifica a busca pela beleza estética, pelo estudo científico e pela pesquisa acadêmica. Próximos tam bém estão escritores com o Joh n M acArthur, Joh n Piper e Charles Ryrie, que procedem, específica e intencionalmente, de uma única denominação cristã e que argumentam, de modo elo quente, a favor da verdade de suas características teológicas e eclesiás ticas. Em bora alguns desses escritores — principalm ente os que pro cedem do calvinismo reform ado e do dispensacionalismo — tenh am contribu ído bastante co m a iniciativa apologética, manterei, neste livro, o foco firme nas preocupações centrais da apologética e naqueles ele men tos do cristianismo que todos os cristãos ortodoxos compartilham.
LUTANDO À SOMBRA DO ILUM INISMO Desde sua fundação, a Igreja é abençoada com uma longa lista de apo logistas que construíram defesas filosóficas e teológicas para a ortodo xia cristã. Os principais deles são Paulo, Irineu, Atanásio, Agostinho, Aquino, Lutero, Calvino, Pascal e Jonathan Edwards. Na fase inicial da Igreja, a apologética consistia, na maioria das vezes, em esclarecer a doutrina cristã sobre e contra as alegações de seitas hereges, tais como a dos arianos (que negavam a deidade de Cristo) e dos docetistas (que negavam Sua humanidade). A apologética medieval — mais bem resumida na obra Suma teo lógica, de Tomás de Aquino, e em seu corresponde nte estético, A divina comédia, de Dante — procurava unificar todos os pensamentos sob o
glorioso domínio da rainha das ciências: a teologia. Para eles, a beleza, a bondade e a verdade eram consideradas uma única coisa, e a teologia da Igreja Católica era o que as unia em harmonia atemporal. Os apo logistas medievais, por sua vez, foram seguidos por apologistas refor mados, que procuravam purificar as doutrinas da Igreja de [possíveis] “acréscimos” posteriores e apresentar uma doutrina poderosa e sistc iiiálit a Ao f a z e r e m isso, eles tinham em vista as pessoas pur. i ada vez
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mais, julgavam a verdade não po r autoridade e tradição, mas segundo sua própria consciência. Embora influenciada por esses três grupos, a apologética moderna é, em grande parte, uma reação à tentativa secular do Iluminismo de separar a fé da razão e de estabelecer tudo, desde a filosofia até a teologia e a ética, segundo princípios racionais. Iniciando no século 18 e alcançando o auge nos dois séculos seguintes, o pensamento ocidental adotava, cada vez mais, um paradigma antissobrenaturalista, insistindo que tudo poderia e deveria ser explicado som ente com base em processos naturais, materiais e físicos. Dali em diante, a revelação divina e os milagres permaneceriam fora de cogitação, pelo menos para os envolvidos em buscas acadêmicas sérias. Embora esse paradigma originado no Iluminismo não necessite do ateísmo, a maioria dos principais pensadores ocidentais desde H um e trata Deus como uma hipótese desnecessária. [O pensamento desses homens seria o de que| Deus poderia b em existir, mas certam ente não precisaríamos dele para explicar coisa alguma. Consideremos resumidamente alguns desses pais fundadores do mundo moderno. H um e limitava o conhecimento à observação empírica, incentivando seus herdeiros filosóficos a ignorarem assuntos espirituais, sobre os quais nada seria possível saber. Kant fundam entou a moralidade no imperativo categórico em lugar dos Dez Mau damentos; fornecendo à ética humana, assim, uma base racional, em oposição à sobrenatural. Darw in propôs a seleção natural, um método pelo qual nosso corpo poderia te r se desenvolvido sem a intervenção divina. Freud veio em seguida, fazendo o mesm o com a consciêiu 1.1 humana, o qual ele considerava como tendo surgido de uma incons ciência profunda e material, em vez de proceder do grande Eu S( >i i Marx reduziu a filosofia, a teologia e a estética a forças econômicas, argumentando que a religião, as artes e até mesmo a própria const i êiK ia eram meros produtos de forças materiais socioeconômicas, sobic as quais não temos qualquer controle, Nictzsche anulou a léon.i da formas, que tora elaborada poi IMatai t, aigiuuentando que a brle/a, i vri i lai Ir* r i just Iç .1 n ao sao
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Apologética : o que k e po r que se tornou tão pop ular
Saussure despojou a linguagem de seu estado transcendente, conce dido por Deus, tornando-a também um produto de forças estruturais profundas que controlam nossas palavras e nossos pensam entos. E a lista continua. Embora os ensinamentos básicos de Cristo c ontinuem a ser respei tados, esse paradigma pós-iluminista retirou lentamente a cosmovisão cristã da base da cultura e do pensamento moderno. Como resultado direto dessa mudança, as afirmações doutrinárias tradicionais do cris tianismo foram removidas do âmbito da verdade objetiva e depositadas no âmbito do sentimento subjetivo, ocasionando a formação de uma ruptura artificial entre fatos empíricos e valores espirituais. De modo lento, furtivo e sistemático, as afirmações da verdade do cristianismo foram perdendo espaço nas esferas acadêmica e pública, e passaram a entrar em um compartimento privado e impermeável. Em vez de perseguirem o cristianismo diretamente, como aconteceu na antiga União Soviética, as democracias ocidentais tornaram-no irrelevante como veículo para discernir a verdade sobre a condição humana. Sim, a maioria dos europeus e americanos continuou a aderir às crenças e práticas do cristianismo, mas permitiu que a elite secular pensasse em seu lugar. Os fiéis resguardaram seu espaço religioso e deixaram que o meio acadêmico, as escolas públicas, as artes, os meios de comunicação e o governo caíssem sob o domínio do humanismo secular. Em certo sentido, eles “fizeram um acordo”, [foi como.se dis sessem]: deixem nossa fé conosco, e cederemos a razão a vocês. Em tro ca, os secularistas romperam com a moralidade cristã e transformaram-se radicalmente em indivíduos autônomos que não prestavam contas a Deus nem à comunidade mais ampla de fé. Então, um professor de Língua Inglesa da Universidade de Oxford chamado C. S. Lewis entrou em cena. Embora não tenha sido, de maneira alguma, o primeiro escritor cristão a desafiar a divisão iluminista entre fé e razão — o cardeal Newman e G. K. Chesterton, entre outros, precederam-no — Lewis foi o estopim que acendeu a revolta cristã contra o status quo secular. Se for verdade, conforme o escritor |declarado| ateu Richard Dawkins gracejou certa vez,-que Darwiu h o v. ib l ll l ol l s e r m o s . il rt is m t r l e r l i r i l m r n t r s n ti sl ei lo s r n l
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mo modo, é verdade que Lewis possibilitou sermos cristãos intelec tualmente satisfeitos, embora ainda vivamos em um mundo moderno, pós-iluminista. Inspirado por Lewis, um número crescente de apologistas nos últi mos 50 anos procura defender a integridade e a consistência intelectual do cristianismo. Sem reduzir a centralidade da fé, os apologistas moder nos definiram para si a tarefa de explodir o mito iluminista, defendendo que as afirmações cristãs da verdade não possuem conteúdo lógico e objetivo. Nem reacionários nem obscurantistas, eles compreendem que vivemos em uma era secular, e que o cristianismo medieval é passa do. No entanto, a aceitação deles apenas intensifica o compromisso de defender o estado racional e universal dessas afirmações de verdade con tra as forças corrosivas do ceticismo, do racionalismo e do relativismo. Eu já apresentei, no prefácio, o esquema organizacional que segui rei neste livro. Em vez de repetir o esquema, terminarei este capítulo introdutório defendendo minha escolha por dedicar seis dos 24 capí tulos aos argumentos de um único apologista: C. S. Lewis. A seguir, estão minhas dez razões principais para fazê-lo: 1. N ão é exagero dizer que, de alguma maneira, todos os apologis tas modernos foram influenciados por Lewis. Tenham eles sido trazidos à fé pela leitura de Cristianismo puro e simples, encora jado s por seu testem unho ou influenciados por seus principais argumentos, as últimas duas gerações de apologistas têm uma dívida profunda e eterna com Lewis. 2. Lewis foi ateu du rante metade de sua vida e, portanto, conhecia o tipo de argumento que os céticos modernos mais precisavam ouvir. Certa vez, a respeito de suas obras apologéticas, ele disse que tentara escrever o tipo de livro que gostaria de ter lido durante seus anos de ateísmo. 3.
Em vez de basear todas as suas provas nas Escrituras, Lewis bus cava provas fora da Bíblia, a fim de poder criar um denomina
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Ap ologé tica: o que é e por que se tornou tão p opular
últimas seções de Cristianismo puro e simples defendam especificamente as doutrinas cristãs, as duas primeiras [partes do livro] argumentam a favor das crenças teístas das quais a maioria dos judeus e muçulmanos compartilham . 5. Em vez de rejeitar a lógica sistemática que aprendera du rante os anos de ateísmo, ele tomou essa lógica e colocou-a a serviço da apologética cristã. 6.
Com a coragem e a tenacidade de um Galileu mode rno, Lewis questionou ousadamente os dogmas centrais do modernismo. Em vez de limitar-se a argumentos superficiais, ele se apro fundou para desvelar e criticar as hipóteses fundamentais do
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naturalismo e do humanismo secular. Lewis, um professor de Língua Inglesa, e não um teólogo ou pastor, era sempre cuidadoso ao equilibrar razão e emoção. Nas obras apologéticas de C. S. Lewis, o leitor encontra argum entos tanto da mente como do coração.
8. Diferente da maioria de seus contem porâneos no meio acadê mico, Lewis escrevia em termos pessoais, leigos e que falavam diretamente aos seus leitores. Embora fosse um dos homens mais instruídos de sua época, ele queria ser compreendido. Seu compromisso com a clareza ajudou a inspirar dezenas de apo logistas a imitar seu estilo claro e de leitura extremamente fácil. 9. Em vez de apresentar teorias novas e exóticas sobre Jesus, a respeito das Escrituras ou acerca das doutrinas da Igreja, Lewis se contentava em reformular as afirmações tradicionais do cris tianismo de uma forma renovada e imparcial. 10. Embora fosse um anglicano devoto, o apologista Lewis per maneceu firme na neutralidade denominacional e manteve o foco no mero cristianismo. Por esta razão, seus livros são lidos e distribuídos igualm ente p or católicos, batistas, metodistas, or to doxos, luteranos e pentecostais.
2 AS COISAS QUE NÃO PODERÍAM TER EVOLUÍDO: C. S. LEWIS ARGUMENTA A FAVOR DA EXISTÊNCIA DE DEUS
Não im porta se você o considera um grande líder m undial, um ditador oportunista, um reformador ou um tirano, Napoleão foi um homem que entendia bem as consequências não somente de ações, mas tam bém de idéias. Talvez tenha sido por isso que, quando Pierre Laplace explicou ao imperador a hipótese nebular, Napoleão respondeu com uma pergunta filosófica, e não científica: “Onde está Deus em tudo isso?”. A resposta de Laplace, “Não tenho necessidade dessa hipótese”, mostrou-se profética em sua afirmação de que o pensador pós-iluminista pode explicar todas as coisas sem recorrer a um criador divino ou regulador do universo. Conforme vimos no capítulo 1, aqueles que adotam o paradigma modernista se sentem confiantes de que todas as coisas podem ser explicadas somente com base em processos naturais, físicos e materiais. Em meados do século 20, poucos acadêmicos europeus questiona vam, ao menos publicamente, a capacidade do paradigma modernista em
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rais e hum anos. Durante os anos [que passou] no ateísmo, Lewis m u mulava ( u t i l m e n t e com esse paradigma, considerando os acadêmicos 11111
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e ao cristianismo (aos 32 anos), entretanto, ele começou a questionar a suficiência do paradigma modernista e a cosmovisão naturalista que o sustentava. Em livros como Cristianismo puro e simples, Milagres e O problema do sofrimento, Lewis identificou vários fenômenos em nosso mundo que não poderiam ter evoluído apenas com processos naturais e, portanto, exigiam uma fonte sobrenatural [para sua explicação]. O A R G U M E N T O D O DESEJ O
Agostinho medita nas linhas iniciais de sua obra Confissões: “O Senhor, Tu nos fizeste para ti mesmo, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar descanso em ti”. Embora sejamos, por causa da natureza de nosso corpo físico, membros do reino animal, há algo dentro de nós que não é nem pode ser satisfeito apenas pelo mundo natural. Nossos desejos e anseios transcendem os limites físicos do mundo e do corpo, deixando-nos inquietos como nenhum animal esteve ou poderia estar. De acordo com Lewis, o motivo dessa inquietação estranha e contínua é que todos nós possuímos um senso inerente de alegria que nos leva em direção a Deus. A longa jornada do próprio Lewis em direção à fé, documenta da com vigor em sua autobiografia espiritual, Surpreendido pela alegria, começou no início da infância por meio de uma série de momen tos aparentemente seculares, porém espiritualmente intensos, de per cepção sobrenatural. Quando Lewis ainda era criança, seu irmão mais velho, Warren, mostrou-lhe um jardim de brinquedo improvisado que ele acabara de criar dentro de uma lata de biscoito. Era um objeto feito rapidamente e nada muito bonito, mas, quando Lewis olhou para ele, foi tomado subitamente por uma sensação de campos verdes úmidos — uma intimação do Éden que ele sentiu quando já era mais velho. Algum tempo depois, enquanto lia o livro A história do esquilo trincanozes, de Beatrix Potter, Lewis ficou inquieto com aquilo que chama va de ideia do outono. Um a terceira experiência ocorreu quando ele encontrou p or acaso algumas palavras em um livro sobre mitologia nórdica. Assim como as palavras de A história do esquilo trinca-nozes haviam aberto seus olhos naiu a nlenitude da estação outonal as nalavras do livro niitnlcWicn o
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transportaram para lugares frios do hemisfério norte. Em todos os três casos, a experiência em si fora rápida, mas deixou o jovem Lewis com uma sensação de desejo por algo [que estava] fora dele mesmo e além dos limites de seu mundo. Às vezes, Lewis empregava a palavra alemã Sehnsucht (“anseio”) para referir-se a esses momentos; porém, com mais frequência, referia-se a eles simplesmente como “alegria”. Ao compartilhar com os leitores esses momentos de alegria, o apologista Lewis nos convida a explorar nossos próprios momentos de alegria e a questionar a fonte de nossos anseios mais profundos. Como cidadãos do mundo moderno, fomos ensinados — consciente ou inconscientem ente — po r Freud e seus herdeiros a interpretar nossos anseios espirituais ora como uma sublimação de emoções mais primitivas ora como um produto da satisfação de desejos. Entretanto, por que e de que modo uma natureza incons ciente produziria em nós um desejo consciente de algo que transcende o mundo natural? Na base de nossa experiência compartilhada de ale gria, Lewis coloca uma de suas apologias mais atraentes e originais a favor da existência de Deus: o argumento do desejo. Assim como o fato de termos sede é prova de que somos criaturas para as quais é natural beber água, também o fato de desejarmos um objeto que nosso mundo natural não pode suprir sugere a existência de outro m undo, ou seja, um mundo sobrenatural. O desejo não garan te que alcançaremos esse outro mundo — assim como se ficarmos perdidos no deserto, morreremos de sede — mas, sugere que somos criaturas capazes de alcançá-lo e criadas, de algum modo, para isso Com certeza acharíamos estranho se uma mulher que morou a vida toda no Kansas, Estados Unidos, e nunca viu o mar ou as montanhas, nem ouviu falar deles, fosse subitamente tomada por um desejo de caminhar na praia ou de escalar um pico coberto de gelo. E, apesar d is so, não achamos estranho que criaturas aparentemente formadas apc n.is poi pmc essos materiais almejem algo fora desses processos. A água nau pndr elevai se ,u un a de sua fonte. e. se fossemos de lato piodutos apena s >la UtUMh /a, Jiao sei ia mos e a pa /r s d e elevai nos, em i m p o ou • 111 i
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Na conclusão de seu livro Reflections on the Psalms [Reflexões sobre os salmos], Lewis, expandindo seu argumento sobre o desejo, oferece o que eu considero a melhor apologia da imortalidade da alma. Não é estranho, pergunta Lewis, o fato de que nos surpreendemos continua men te co m a passagem do tempo? Enco ntramos alguém que n ão vemos há anos, e surpreendemo-nos com o fato de essa pessoa ter crescido [tanto]. Achamos impossível acreditar que nossas crianças “de repente” se tornaram adultas e deixaram-nos para começar sua própria família. Não é a vaidade ou o med o de envelhecer que desperta esses m om en tos de vertigem temporal. Simplesmente não sabemos para onde o tem po “foi” , ou co mo ele pô de escapar de nós sem que percebéssemos. Considerando o fato de que não conhecemos nada além de passado, presente e futuro, e que o tempo é o elem ento no qual vivemos, é estra nho, de fato, que a passagem dele seja uma surpresa contínua para nós. Tal sobressalto sucessivo causado pela passagem do tempo, sugere Lewis, é equivalente a um peixe sendo surpreendido pela umidade da água. Isso, naturalmente, seria algo estranho, uma vez que a água é o elemen to no qual o peixe vive sua existência. Contudo, essa situação não seria estranha se esse peixe fosse destinado a ser um animal terrestre algum dia. Se nossa surpresa pela passagem do tempo nos ensina algo, é isto: não fomos feitos para o tempo, mas para a eternidade, para outro modo de existência, no qual tudo permanece em um presente perpétuo. Eu acrescentaria à percepção profunda de Lewis [a concepção de] que não apenas o tempo, mas também o próprio espaço acaba sendo algo estranho para nós. Nossa mente luta constantemente contra os limites espaciais do mundo, desejando romper as restrições físicas que nos circundam. Por que, pergunta nossa mente, não podemos movi mentar as coisas para perto ou para longe de nós com o poder da nossa vontade? Costumo falar brincando, mas com um fundo de verdade, que a ma ior prévia do céu oferecida pelo mu ndo m od ern o é o con tro le remoto. Com ele, de repente ganhamos um “braço” de três metros que pode magicamente alterar o mundo ao nosso redor, enquanto permanecem os sentados e imóveis. Se o paradigm a modernista esti vei t orreto, e formos produtos de processos naturais que “co nh ec em ” int->ii !^ i t i n n h m m m e i i m h » m n n ç i m n l p c m p n f p m r\
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explicar a sensação profunda e inabalável de que esses gêmeos tiranos, o tempo e o espaço, não deveriam ter domínio sobre nós. Hoje, os apologistas, seguindo o argumento de Lewis sobre o dese jo , costum am fazer uma abordagem um pouco diferente [da realizada pelo autor]. Usando um a frase de Pascal, eles falam sobre todas as pes soas como se elas tivessem um vazio em forma de Deus no coração. Tentamos preencher esse vazio com toda a sorte de coisas terrenas, mas nada é realmente eficaz. Quer tentemos preenchê-lo com coisas “ruins”, como drogas e promiscuidade, ou com coisas “boas”, como patriotism o e am or maternal, descobrim os inevitavelmente que a dor interior persiste. Somente quando passamos a entender, assim como Agostinho, que fomos feitos por Deus e para Deus, e que o vazio inte rior que sentimos vem de uma falta de intimidade com o divino, é que percebemos que só Cristo — o Deus que se to rnou homem — pode preencher o vazio que há em nosso coração.
ÉTICA, RELIGIÃO E RAZÃO Lewis começa sua principal obra apologética, Cristianismo puro e sim ples, fazendo uma pergunta aparentemente sem sentido: quando duas pessoas discordam sobre alguma coisa, por que elas discutem sobre o assunto? A pergunta de Lewis pode parecer bastante inócua, mas por trás dela se esconde outro fenô meno observado que não se pode expli car apenas por forças evolutivas naturais — um fenômeno que não apenas sugere, mas exige uma fonte sobrenatural. A única maneira de levar duas pessoas a discutirem sobre algo, expli ca Lewis, é aceitar um padrão comum como base, para enfim elas cria rem seus argumentos [sobre o assunto]. Na ausência desse padrão, resta lhes apenas brigar. Os modernistas podem hesitar o quanto quiserem, mas o fato é que nós somos, por natureza, animais éticos. Sabemos que existem padrões éticos reais e que somos obrigados — não p or lei, m a s por nossa própria consciência interior — a viver de acordo com <-|.-. Sim, nós os violamos diariamente, mas o fato de, apesar disso, espei.u mos que as milras pessoas nos tratem de acordo com esses padrões e piova
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<>l>i ig.it,nr, Ale mesmo um relativista declarado ficaria bravo se alguém furasse a fila, entrando em sua frente. E, se essa outra pessoa reagisse dizendo que veio de uma cultura em que furar fila é aceitável, o relati vista certamente rejeitaria o argumento como sendo enganoso. Se padrões morais e éticos reais não existissem, os julgamentos de Nuremberg não poderiam ter acontecido após a queda do Terceiro Reich. A única razão pela qual o tribunal pôde declarar culpados os criminosos de guerra nazistas foi a existência de dois fatos indiscutí veis: 1) há padrões morais que transcendem nações e culturas; e 2) os nazistas tinham consciência desses padrões, mas violaram-nos mesmo assim. Não julgamos um cachorro pit bull se ele mata uma criança, pois o pit bull não é um agente moral. Todavia, seres humanos são agentes morais vivendo em um universo moral e podem, portanto, ser punidos por tomar decisões erradas e agir de acordo com elas. Às vezes, natural mente, um criminoso é isentado por motivo de insanidade, mas essa é a exceção que prova a regra. Nossa obrigação de aderir aos padrões éticos é primordial, e, embora os núcleos morais de nosso cérebro possam ficar temporariamente debilitados por doenças mentais ou por um momen to avassalador de paixão, por causa da nossa espécie, somos definidos não por relativismo, mas segundo padrões morais generalizados. Lewis insiste que esses padrões são universais e interculturais e, a fim de provar seu argumento linguisticamente, escolhe referir-se a esse código de leis universal com uma palavra oriental, e não ocidental: o /<’/<>.Todas as sociedades, argumenta Lewis em A abolição do homem, pos suem um entendimento básico do Tao. Para dar respaldo à essa ousada afirmação, o autor oferece um apêndice no qual dispõe os códigos legais de mais de 12 povos antigos, desde os gregos e os romanos, pas sando pelos babilônios e os egípcios, até os nórdicos e os índios nativos norte-americanos. Ao fazer isso, fica claro que todas as culturas antigas possuem um entendim ento básico daquilo que os judeus e os cristãos
s que ouvem a afirmação de Lewis acerca da universalidade do Iao pela ptnneiia ve/ costumam recusá-la, pois a antropologia moder na i- m u i t o efn a/ em i ouvem et nos de que a moralidade varia muito it. l! 1>i>pai a 11ibo Ma issi i nao ai oiitei e. A llloi a Iidade supo a nnruli 1
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invertida de povos isolados na África ou na Nova Guiné vem a ser, afinal, uma invenção em grande parte de antropologistas fanáticos ou o resultado de um fato muitas vezes negligenciado acerca de nosso mundo caído. Seja qual for o motivo, nosso mundo é povoado por um número pequeno, porém significativo, de psicopatas e sociopatas. Na verdade, o que se aplica a indivíduos também costuma aplicar-se a tribos. Afinal, há alguns grupos por aí que parecem habitar fora do cír culo das normas éticas, no entanto o comportamento aberrante desses grupos sociopatas não contradiz a universalidade do Tao, assim como a existência de paraplégicos não contradiz o fato de que as pernas foram feitas para andar. Desde Freud, nossa sociedade sofre de uma espécie de amnésia mental e moral. Realmente, somos levados a acreditar [no princípio de] que a normalidade não existe mais e que todos têm alguma fobia ou neurose. Isso não é verdade. O que pode ser chamado de argumento da exceção apresenta a refuta ção mais forte da afirmação de Lewis de que o Tao é universal e intercultural. Porém, há outras contestações. Alguns modernistas se opõem à afirmação de Lewis, argumentando que o Tao não é um código transcendente implantado em nós pelo Criador, mas uma invenção de profetas e mestres carismáticos. Em resposta a isso, Lewis traz à memó ria dos críticos que a verdadeira função dos profetas e dos mestres não é inventar o Tao, mas lembrar-nos do Tao que já conhecemos e ao qual deixamos de dar importância. Na verdade, aqueles que tentam construir seus próprios códigos morais são geralmente falsos profetas e líderes de seitas. Nem mesmo o próprio Jesus “inventou” a Lei, mas cumpriu-a e aperfeiçoou-a. Outros críticos de Lewis afirmam que o Tao não é um dom de revelação divina, mas um produto de instintos naturais. Lewis reco nhece que temos instintos naturais para sobrevivência, procriação c outras coisas, mas pergunta o que fazemos quando dois desses instintos naturais entram em conflito. A fim de solucioná-lo, precisamos in oi rer a um leiteiro fator |lat. tertium
A s coisas que não poderíam ter evoluído: C. S. Lewis argum enta a fa vo r da existência de De us
nós também devemos ensinar às crianças as tabuadas matemáticas. A analogia é importante, pois a matemática e a moralidade têm algo em comum: o Tao, assim como o teorema pitagórico, não é algo que inventamos, mas algo que descobrimos. Em O problema do sofrimento e Milagres, Lèwis discute dois outros fenômenos que, além de não poderem ter evoluído, chegam a nós por meio de descoberta, e não de invenção. O primeiro, curiosamente, é a religião. Embora os antropologistas e outros modernistas argumentem que a religião encontra sua verdadeira fonte no estranho medo do des conhecido — o qual teria evoluído de nosso medo natural e primitivo do perigo físico — Lewis diz que isso é improvável. Equiparar o medo do perigo físico ao medo do desconhecido é brincar com a palavra medo. O medo que temos de tigres não é quantitativamente, mas qua litativamente distinto de nosso medo de fantasmas; aquele não poderia simplesmente ter se transformado neste. Em outras palavras, a diferença entre os dois medos não é relativo à intensidade, mas ao seu tipo.Tentar camuflar esse fato dizendo que nosso medo do desconhecido evoluiu de nosso respeito para com os chefes tribais é colocar a carroça na frente dos bois. A verdadeira pergunta não é se a reverência pode transformar-se em um senso do sagrado, mas de onde veio a reverência, a princípio. De acordo com Lewis, a verdadeira origem da religião está situada no temor divino do sobrenatural, um medo exclusivo dos seres huma nos — os únicos animais em nosso planeta que têm m edo de seus próprios mortos. Entretanto, isso não é tudo. Para passar de religiões primitivas baseadas no medo a religiões monoteístas mais sofisticadas, como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, deve ocorrer um salto qualitativo para o qual não há qualquer comando evolutivo. O verda deiro teísmo não nasce até que o Deus que instila em nós um temor espiritual esteja unido ao Deus que criou e dirige o Tao. Já houve, e continuam existindo, tanto religiões amorais como moralidade não religiosa. Encontramos as religiões amorais em ritu.1 is pagãos que misturam sacrifício hum ano ou prostituição ritualística ( mu uni piolmiiln mmimi de sagi.ido. A moralidade não religiosa é vista tu is i stnit ir. i ui ■ hiiili i i qui procuram ter uma vida de ilisi íplina
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De acordo com o livro de Exodo, entretanto, houve um m om ento cul minante na história da religião em que o Deus que bradou no monte Sinai, provocando um medo terrível no povo de Israel, revelou ser o mesmo Deus que deu a Moisés as tábuas da Lei. Lewis argumenta que a religião, portanto, exige uma fonte sobre natural; mas, por outro lado, a ciência e os princípios racionais sobre os quais a ciência repousa também. Para o naturalista moderno que considera a evolução como uma explicação suficiente, a natureza é o todo, é um sistema completo que responde por tudo o que existe, tornando desnecessária qualquer outra explicação. Se isso for verdade, lembra-nos Lewis, então o naturalismo, que se expressa por meio de leis e princípios que transcendem a natureza, contradiz-se. Assim como ninguém pode dizer com certeza que tudo é relativo, as declarações científicas e filosóficas dos naturalistas tam bém se torn am insignifican tes com a afirmação naturalista de que nossa mente é o mero produto de movimentos aleatórios de átomos. A razão humana repousa não em observações empíricas, mas sobre princípios abstratos que jazem fora do sistema da natureza, em uma esfera sobrenatural de conhecimentos prévios eternos. De fato, nossa razão transcende tanto a natureza que, ao utilizarmos nossa raciona lidade, podemos alterar a própria natureza. É verdade que os animais são capazes de fazer conexões simples de causa e efeito (indutivas), [compreendendo, por exemplo, a relação:] “quando o sino tocar, serei aHmentado”; mas, eles não conseguem ir além disso. Somente os seres humanos realizam saltos lógicos (dedutivos) com base em princípios preexistentes (a prion) que se encontram fora da natureza. Inclusive, a declaração aparentemente empírica, “se eu estudar a natureza, com pre enderei suas leis”, baseia-se em nosso conhecimento prévio de que a natureza é real e ordenada e de que podemos confiar em nossos senti dos e em nossa razão. Dentro de cada um de nós, conclui Lewis, deve existir uma enti dade sobien.iiiiial chamada razão. No entanto, ela deve ter uma fonte sobien ilui d itm i i n, unia ve/ que, com frequêm ia, iu>v.a i.i/.io dorme c pode i i dt hdtt idu |uii substaiK ias Iisi
A s coisas que não poderíam ter evoluído: C.
5.
Lewis arg um enta a fa vo r da existên cia de Deu s
consciência limitada e individual (“eu”), deve haver uma autoconsciência maior e eterna (Eu Sou). Remover o Eu Sou — o nome pelo qual Deus se revelou a Moisés no Sinai — faz o “eu ” hu ma no perder tanto sua origem como a capacidade de sustentar-se; pois a consciên cia, assim com o a alegria, a moralidade e a religião, é, no fim das contas, um dom concedido do alto. E o paradigma evolucionário modernista não pode esclarecer isso.
3 DO TEÍSMO AO CRISTIANISMO: A DEFESA DE C. S. LEWIS A FAVOR DE CRISTO
N o capítulo anterior, vimos que o argumento do desejo de Lewis, sua afirmação de que oTao é universal e intercultural e sua alegação de que a religião e a razão não poderíam ter evoluído somente por processos naturais, apontam para um Ser ou uma Força sobrenatural que habita fora dos limites de nosso contínuo espaço-tempo. Mas, que tipo de Deus é esse Ser ou essa Força? Que provas temos de que a Fonte divina de alegria, moralidade, religião e razão equivale ao Deus da Bíblia? Em Cristianismo puro e simples, Lewis argumenta que, após aceitar mos a existência de deus (es), temos duas versões conflitantes de como um deus pode ser: ele ora transcende a natureza (o teísmo propriamen te dito) ora é ineren te à natureza (panteísmo). Na prim eira conjuntura, Deus habita acima e à parte de Sua criação; na segunda, habita dentro e por meio de Sua criação, não tendo Sua existência separada dela. Embora ambas as opções possam parecer igualmente válidas a princí pio, apenas a primeira é compatível com nossa experiência com o Tao. Somente um Deus separado de Sua criação poderia agir como guia e encarnação da moralidade boa e pura. Se o panteísmo estivesse correto e I )eus fosse indistinguível de Sua criação, Ele não pode ria ser bom nem mau, apenas uma força espiritual amoral. Nas religiões panteístas, os deuses não vivem fora do tempo e do espaço — eles mesmos s.io nascidos do i aos primitivo (material). Eles não personificam um p a d i a o sanlo ou tmivi i sal r, portanto, não p o d em sei vii <0 1 1 1 0 fonte de 1I i tS S
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Do teísmo ao cristianismo: a defesa de C. S. Lew is a favor de Cristo
Lewis sugere que, se os dualistas estiverem corretos e houver não um, mas dois deuses — um deus bom , que está perpe tuam ente em guerra com um deus mau, semelhante, porém antagônico? Essa opção l.unbém parece razoável até percebermos que ela vai de encontro ao mesmo problema do arg um ento de que o Tao é um p rodu to de instin tos naturais —- a saber, o problema do terceiro elem ento (o tertium quid). Se os dois poderes forem igualmente fortes, como podemos dizer qual c o bom? Na ausência de um padrão mais elevado (um tertium quid)
i om o qual julgar os dois poderes rivais, não podemos determinar qual r bom e qual é mau. Nesse caso, o Tao fica perdido, e nos resta apenas acreditar que a razão do mais forte sempre vence e depender de brigas, c não de argumentos. N o entanto, conclui Lewis, a opção mais racional é a de que a fonte do Tao é um Deus único, bom e transcendente que criou o mundo, mas não faz parte dele — exatam ente o Deu s descrito na Bíblia. Co ntu do, se esse for o caso, devemos perguntar: então, por que existe 0 mal no mundo? Curiosamente, a resposta curta para essa pergunta ofeicce mais um a prova a favor da existência do Deus da Bíblia. Os homens modernos reclamam que há muito mal e injustiça no mundo, mas se esquecem de que a única maneira pela qual podemos chamar algo de mau ou injusto é se tivermos um padrão bom ou justo para compararmos.
Sc não fôssemos criados por um Deus bom, sendo meros produtos de um processo amoral de seleção natural (sobrevivência dos mais aptos), não saberiamos que o mundo está cheio de mal e injustiça. Como os iiomens primitivos poderíam, observando diariamente o sofrimento ao icdor, ter inventado um Deus bom? Não podemos dizer que uma linha está torta, lembra Lewis, a menos que saibamos o que é uma linha reta. Essa é a resposta curta para a questão da presença do mal no mun do. A resposta longa, confo rm e desenvolvida por Lewis em Cristianismo puro e simples e em suas outras obras apologéticas, oferece o mapa que
pode levar-nos do teísmo ao cristianismo.
PROBLEMA E SOLUÇÃO 1)c acordo com a Bíblia e a teologia cristã, o mal não é uma entida-
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Agostinho chama o mal de negação ou privação da bondade. O mal é como um rasgo em uma camisa: sem a camisa, o rasgo não existe. N em mesmo Satanás é uma figura do mal “puro”, e sim um anjo caído que foi criado bom, mas que escolheu desobedecer e rebelar-se con tra seu Criador. De fato, explica Lewis, embora o bem possa chegar à perfeição, o mal nunca conseguirá tornar-se perfeitam ente mau. Caso Satanás se tornasse um mal “puro”, ele deixaria de existir. / E por esta razão que o cristianismo rejeita o conhecido conceito oriental de yin/yang — as trevas com uma semente de luz e a luz com uma semente de trevas. Sim, o mal/trevas tem uma semente de bondade/luz (caso contrário, ele não poderia sequer existir) mas a luz de Deus é pura e incorrupta. Se limitarmos nossa visão apenas ao mundo caído, onde toda a bondade foi corrompida pelo pecado, talvez, então, seja possível atribuir alguma verdade ao yin/yang. No entanto, uma vez que elevamos a visão para além do nosso mundo, devemos restringir o yin/yang à perfeita bondade e luz de Deus, fora da qual o yin e o yang, a bondade e o mal, a luz e as trevas acabam tornando-se termos sem importância. E coincidentemente significativo o fato de que a própria filosofia chinesa reconhece algo mais elevado do que o yin e o yang: o inefável, o C am inho primordial, ou Tao. Lewis, ao que parece, escolheu bem seus termos! Se até mesmo os proponentes panteístas do yin / yang podem reconhecer uma força sobrenatural que transcende nosso mundo amoral, então a palavra Tao é verdadeiramente uma designação adequada para o código moral universal e intercultural. Não im porta quando ou onde nascemos, não im porta a cultura ou a religião em que fomos criados, há duas verdades das quais todos temos consciência: 1) deveriamos viver de determinada maneira; 2) deixamos de viver como deveriamos. Gênesis nos diz que o homem foi criado à imagem de Deus e, no início, permaneceu em estado de inocência. Contudo, desobedecemos ao nosso Criador e caímos em pecado. É realmente necessário provar essa doutrina teológica funda m e n t a l 7' Não estamos todos cientes tanto do mal em nosso mundo como de nosso próprio dcsi miipi intento do Tao? O mesmo se aplica aquele-. <1111• irjrilam i n a t i m - . - a i o i upiilsoí ia do ! , n > S c n e i n mesmo i
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Do teísmo ao cristianismo: a defesa de
C.
S. Le wis a favo r de Cristo
ma pessoa honesta pode alegar sequer ter cum prido seu próprio códi go moral pessoal — com o então poderiamos seguir a Lei sup erior que transcende indivíduos e culturas e cujo dirigente é Deus? Em certo sentido, argumenta Lewis, todas as religiões têm consci ência de que não apenas vivemos em estado de violação do Tao, como também somos, no final das contas, incapazes de cumpri-lo. E, apesar disso, embora todas as religiões e pessoas saibam que não conseguimos cumprir o Tao, apenas o cristianismo leva esse problema realmente a sério. Ao passo em que todas as outras religiões dizem, de uma manei ra ou de outra, que nós não conseguiremos seguir o Tao, mas mesmo assim nos instruem a tentar, o cristianismo aceita totalmente a inca pacidade humana e procura um a solução divina. Ao aceitar, realmente aceitar, o problema — ou seja, de que existimos em um estado de rebelião e separação do dirigente do Tao e que não podemos retor nar a um relacionamento correto com Deus pela aderência ao Tao — somente o cristianismo leva-nos à solução necessária e inevitável. Praticamente todas as religiões e pessoas aceitam e aclamam Jesus como um bom mestre moral que, no Sermão do Monte e em outros ensinamentos, deu a expressão mais completa e perfeita do Tao. Toda via, se Jesus fosse apenas isso, então não precisaríamos dele, pois Ele \eria supérfluo. Já que ninguém além de Jesus seguiu ou seguirá o Tao, i apresentação do Tao por Ele, por mais perfeita que tenha sido, não nos pode conduzir a um relacionamento correto com o Dirigente do lao. Nosso mundo ofereceu-nos vários mestres morais bons: Moisés, Hnda, Maomé, Confúcio, Gandhi, o Dalai Lama. Nosso problema não r desconhecermos o Tao, mas conhecê-lo e, assim mesmo, violá-lo . O cristianismo, segundo Lewis, não tem coisa alguma a dizer-nos até que percebamos nosso verdadeiro estado em relação a Deus e ao Tao. 1ewis escreve no capítulo 6 de O problema do sofrimento: “Não somos apenas criaturas imperfeitas que devem ser aperfeiçoadas, somos [...] i ebeldes que precisam depor as armas” . Som ente quando aceitamos o tato de que Jesus, como mero mestre moral, não podería salvar-nos i I r n o s s a n n apat iilatlc-
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APOLOGÉTICA CRISTÃ PARA O SÉCULO 21
dir. Nossa terra é um território ocupado pelo inimigo, e a história do cristianismo é o relato de como o bom Rei veio à terra disfarçado e chamou seguidores para ficar do seu lado. O cristianismo começa não com esforço moral, mas com uma confissão humilde de que não podem os satisfazer as exigências do Tao e com uma rendição de todo o nosso eu a Jesus. Cristo é Deus em forma humana; por meio de Seu sofrimento e de Sua morte na cruz, Ele nos trouxe de volta a um relacionamento correto com o Pai (a expiação). Embora evite definir a natureza exata da expiação, Lewis explica que Cristo, ao morrer e ressuscitar, deu-nos o poder de participar indiretamente de Sua morte e ressurreição. O cristianismo significa muito mais do que adquirir um tíquete gratuito para sair do inferno. Sim, ele começa salvando-nos das conse quências espirituais de nosso pecado, mas seu objetivo final é levar-nos à presença do próprio Deus. Salvação, explica Lewis, significa nada menos do que participar da vida eterna de Deus, não de alguma força espiritual genérica ou de Uma Alma, mas da vida dinâmica e da alegria que existe na Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Qu an do a Bíblia diz que D eus é amor, não significa que Ele é a forma platônica do amor — Amor com A maiusculo — mas que Deus é amor em ação. Por toda a eternidade, explica Lewis (conforme Agostinho) em Cristianismo puro e simples, o Pai amou o Filho, e o Filho amou o Pai; e esse Amor é tão real, tão dinâmico, que é também uma pessoa: o Espírito Santo. A fim de permitir que participássemos desse Amor, Cristo não considerou desprezível ser rejeitado, açoitado e crucificado. Somente derrotando a morte e o pecado na carne de um homem é que Deus poderia redimir a humanidade e levá-la para a glória. A fim de ajudar a esclarecer esse aspecto maravilhoso e sublime da teologia cristã, Lewis distingue dois tipos de vida: a vida animal, que todos os seres viventes possuem, mas que um dia acabará (bios, em gre go) e a viamoroso da Trindade. Salvação não significa ganhar m . u s bio m i u-1 !!■ iv. i /)(<)! destruída e substituída pela zoe. A promessa q ii i V l i m o s i r ssusi Itados ileutie os m o i l o s (como dr t i i . i i i ii L i ----- 1
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Do teísm o ao cristianismo: a defesa de C. S. Lew is a fa vo r de Cristo
vida de ressurreição de Cristo. O u, dito d e o utro mod o, a salvação não é tão semelhante a um homem bom tornando-se um homem santo, mas sim a uma estátua ganhando vida. Lewis também descreve esse processo como uma mudança de esta do de criaturas feitas a filhos gerados. Assim como uma artista pode fazer (ou criar) uma estátua que se assemelhe a ela de alguma forma, mas que, apesar disso, seja qualitativamente distinta, essa artista também pode gerar um filho qu e co mpartilha de sua natureza essencial. De modo semelhante, somos criaturas feitas à imagem de Deus, e Jesus, o unigênito Filho de Deus, compartilha totalmente da natureza divina. Quando, por meio da mediação da vida, morte e ressurreição de Cris to, somos trazidos de volta a um relacionamento correto com Deus, Ele literalmente nos adota, insere-nos em Sua família e permite que compartilhemos, a vida de Seu Filho unigênito. Embora não nos tor nemos como Deus, essa dõutrina poderosa, conhecida pelos cristãos ortodoxos como teose, promete-nos uma glorificação final que nos elevará acima de nosso estado edênico anterior à queda. Conforme Atanásio explica em A encarnação do Verbo, Deus tornou-se semelhante a nós para que pudéssemos tornar-nos semelhantes a Ele. O TRILEMA
A doutrina cristã de salvação em sua totalidade é verdadeiramente algo glorioso, mas ela se apoia diretamente sobre uma crença única e central: a de que Jesus de Nazaré não foi apenas um bom mestre ou profeta, mas o Filho de Deus encarnado. De todos os argumentos apologéticos que Lewis faz em Cristianismo puro e simples, o mais essencial, conheci do e durado uro deles procura justam ente substanciar essa crença c en (ral e inegociável. Lewis sabia que, para um núm ero crescente de cristãos do século 20, a doutrina da encarnação não era mais vista como sustentável ou nem mesmo necessária. Muitos críticos modernos que abordavam a Bíblia a partir de um ponto de vista naturalista e contra milagres rejeitavam a encarnação como uma relíquia supersticiosa de uma época ingênua, e não científica. Esses críticos alegavam que foram o', teólogos posteriores que formularam a doutrina da encarnação e
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Porém, argumenta Lewis, essa é uma alegação que não se pode fazer sob o ponto de vista lógico. Repetidas vezes ao longo dos Evangelhos, Jesus faz declarações sobre si que Ele só poderia ter feito se fosse o Filho de Deus: de ter o poder de perdoar pecados; ser um com o Pai; ser a ressurreição e a vida, bem como o caminho, a verdade e a vida; e ser, Ele mesmo, o próprio objeto de nossa adoração e de nosso culto. Se Jesus fosse apenas um homem, e não o que ele alegava ser (o Filho de Deus), então seria ou u m lunático delirante ou o maior im postor que já existiu. Os hospícios estão cheios de pessoas que acreditam ser Deus ou Jesus, assim como nosso mundo continua a ser atormentado por líderes de seitas que reivindicam para si uma posição divina. N o entanto, quase ninguém que tenha lido os Evangelhos atualmente acredita que Jesus foi um louco ou um charlatão. Pelo contrário, Jesus é universalmente proclamado co mo um hom em de grande sabedoria e bondade. O que os céticos modernos deixam de ver é que, se Jesus não fosse quem ale gava ser, seria alguém desprovido de toda sabedoria ou de toda bonda de. Eu iria até mais longe do que Lewis acrescentando que, se Ele não fosse o Filho de Deus, seria o pior blasfemo que já existiu, e os fariseus estariam certos por tê-lo condenado à morte e entregado aos romanos. Usando uma expressão de Josh McDowell, bastante citada, Cristo só poderia ter sido uma destas três coisas: um mentiroso, um lunático ou o Senhor.
Não podemos
dizer é que Ele foi um homem bom, mas
que não o Filho de Deus. Jesus não nos deixou essa opção. Agora, acrescento logo que o trilema de Lewis somente funciona po rque Jesus era j udeu. Se ele tivesse sido um monista hindu, acredi tando que todas as coisas são uma só e que todos nós somos parte do mesmo espírito universal, o trilema não funcionaria. O Jesus histórico, devemos lembrar, era totalmente monoteísta. Sua alegação de ser o Filho de Deus — uma alegação que seria bem menos cho cante se fosse feita, digamos, pelo Dalai Lama — teria sido considerada uma blasfêmia grave pelos ju deus de Sua época. M uito em bora os teólo gos modernos que negam a encarnação afirmem, com frequência, que esi.ío sendo fiéis ao contexto histórico dos Evangelhos, o fato é que, quanto mais entendemos o judaísmo de Jesus, mais deveriamos ficar ...... a ........... i .....................i ........ i - t . i .. m. i ........ . .
D o teísmo ao cristianismo: a defesa de C. S. Lew is a fa vor de Cristo
De fato, talvez a melhor maneira de entender o trilema de Lewis seja colocá-lo no contexto de outras religiões do mundo. Se alguém perguntasse a um judeu, a um muçulm ano ou a um deísta se ele acre dita que Jesus foi o Filho de Deus, a resposta seria um retumbante “não”, seguido pela afirmação indignada de que Deus não tem Filho. Se alguém perguntasse a um hindu, a um budista ou a um adepto da Nova Era se ele acredita que Jesus foi o Filho de Deus, muito prova velmente a resposta seria “sim”. Contudo, após concordar que Jesus foi o Filho de Deus, é possível que essa pessoa acrescente: “ assim como Buda, Confúcio, Ga ndhi e todos nós somos — só não sabemos disso”. Diferente de ambos os grupos de religiosos, o cristão responderia que Jesus foi o Filho unigênito de Deus. Por fim, é preciso notar que o trilema não pode ser estendido a todos os profetas e homens consagrados. Profetas como Moisés e Maomé e homens consagrados como Buda e Gandhi apenas alegaram ter ouvido Deus e ser transmissores de Sua palavra. Jesus, em contraste, alegou ser o próprio Deus encarnado. Os profetas prometem mostrar-nos o caminho, ensinar-nos a verdade e guiar-nos à vida, ao passo que Jesus afirmou ser o caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6). A maioria de nós, senão todos, acredita ter ouvido Deus falar conosco um a vez ou outra. Talvez tenham os sido inspirados até mes mo a anotar essas palavras em um caderno e a compartilhá-las com outras pessoas. Então, aquelas que as leem podem concordar com o que escrevemos ou discordar, mas não seriam forçadas a chamar-nos de mentirosos, de lunáticos ou de Senhores (profetas). Deus pode, de fato, ter falado conosco, mas é possível que não o tenhamos ouvido de modo pleno ou correto. Ou, mais provável, Deus realmente falou conosco, mas fez uma revelação pessoal para nós, e não para todos os indivíduos de todas as épocas. Há uma diferença qualitativa entre a alegação de Cristo de ser Deus c a alegação de Moisés e Maomé de terem ouvido Deus. Suponhamos que o presidente dos Estados Unidos fosse discursar na minha uni versidade, e depois retornasse imediatamente a Washington antes que alguém tivesse a chance de entrevistá-lo. Se eu subisse à tribuna depois
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estar certo ou errado, parcialmente certo ou parcialmente errado, mas não seria um mentiroso, um lunático ou o Senhor. No entanto, se eu subisse na tribuna com audácia e dissesse “Eu sou o presidente, portanto, minha interpretação é infalível”, eu estaria ou mentindo para o público, ou seriam ente enganado — ou então seria o pró prio presidente. Nesse caso, não haveria uma quarta opção.
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4 0 ÚNICO MUNDO POSSÍVEL: C. S. LEWIS FALA ACERCA DO PROBLEMA DO SOFRIMENTO
Embora tenha sido publicado em 1952, o livro Cristianismo puro e sim ples teve início uma década antes, durante os dias sombrios em que Londres era bombardeada pelos ares pela Luftwaffe [força aérea alemã]. Em 1941, a BBC [British Broadcasting Corporation (Corporação Bri tânica de Radiodifusão)], com a esperança de fortalecer a fé e a resiliência dos cidadãos, pediu a Lewis que fizesse uma série de “conversas” pelo rádio para explicar ao público britânico os principais dogmas do cristianismo. Um dos motivos pelo qual Lewis fora escolhido para prestar esse serviço foi o sucesso que ele alcançara, po uco tempo antes, explicando por que a presença abundante de sofrimento em nosso mundo não era incompatível com um Deus onipotente e amoroso. Escrito em um estilo claro, sem jargões e repleto de perspicácia, sabedoria e compaixão, o livro O problema do sofrimento (1940), de Lewis, obteve êxito em transmitir conceitos filosóficos e teológicos abstratos com poder semelhante, tanto ao indivíduo sentado no banco da igreja como àquele que está dentro do bar ou na rua. Nesse livro, sua primeira grande obra apologética, Lewis demonstrou que o cris tianismo, longe de exigir uma fé cega por parte de seus seguidores, contém uma cosmovisão que pode ser defendida de modo racional, e que pode oferecer respostas às perguntas mais difíceis da vida. Uma ve/ que o problema do sofrimento demonstra ser, há muito tempo, 0 maior obstáculo da fe cristã, não surpreende que Lewis, o jovem e tii>v.u(> apologista, escolhera enlreiila I" uas etapas iniciais de sua cai 1 r n a a| m i | i ty rl lt a
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único mundo possível: C. S. Lewisfala acerca do problema do sofrimento
Lewis parece ter entendido intuitivamente que, se um apologista vivendo em uma sociedade moderna e intolerante à dor não consegue oíerecer uma explicação para a dor e o sofrimento, ele dificilmente poderia nutrir esperanças de ganhar a atenção de interessados e cétii os. E era exatamente esse o problema desde que David Hume, um ilos guardiões intelectuais de nosso mundo pós-iluminista, apoiou o problema do sofrim ento como sendo o principal argumento contra o I )eus da Bíblia.
NÃO ESTAMOS AQUI POR DIVERSÃO I inbora Lewis não mencione Hume diretamente, e apesar de Hume (ci nicamente não ter inventado o argumento, ao começar o segundo i .ipítulo com uma breve definição do problema do sofrimento, Lewis parece ter o fantasma cético de H um e em mente. O nocaute de H um e contra o teísmo bíblico pode ser expresso em uma única frase: a Bíblia j firma que Deus é onipotente e amoroso; entretanto, a presença da dor sugere que Ele não tenha p oder para eliminar nosso sofrimento ou não tniba a intenção amorosa de fazê-lo. Em resposta a esta suposta co ntradição entre a natureza de Deus e nossa experiência prática no mundo, 1rwis oferece a justificativa cristã tradicional: a dor e o sofrimento humanos têm sua origem não na ausência de poder ou amor divinos, e im no mau uso do livre-arbítrio concedido ao homem pelo Criador. Bem, pelo menos essa é a resposta curta de Lewis ao problema do sofrimento. Sua resposta longa é bem mais complexa e genuína, e nos •■ui vida a discutir as implicações mais amplas do livre-arbítrio. Embora u‘. lilósofos e teólogos cristãos continuem a debater sobre a natureza r .1 extensão exatas do livre-arbítrio humano, todos reconhecem que I teus nos criou como seres volitivos e que nossas escolhas são, portan to, reais. De fato, se não tivéssemos algum grau de escolha, dificilmente poderiamos ser o que Gênesis insiste que somos: criaturas feitas à imafo m do Criador. Deus nos criou não como partes de Si, mas como •rirs separados e com identidades únicas. Dentre todos os animais, Ele i oneedeu razão, consciência e vontade somente a nós.
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Deus nos concedeu livre-arbítrio, ora age como se Ele não tivesse realmente nos concedido. Isso é insustentável, afirma Lewis. O Senhor não pode dar-nos livre arbítrio e tirá-lo de nós ao mesmo tempo. Contradição lógica é contradição lógica, mesmo se a apresentarmos dizendo: “Deus falou”. Se o Criador decidiu, pelo motivo que for, dar-nos livre arbítrio, Ele deve estar disposto a aceitar as complicações de tal decisão. Lewis chega a descrever Deus fazendo um experimento com o livre-arbítrio. Com isso, ele não quis sugerir que Deus se diverte fazendo jogos frívolos com Suas criaturas, mas quis lembrar-nos de que houve algum propósito divino por trás da decisão divina de criar-nos como somos. Foi, e ainda é, de grande importância para Deus ver o que faremos com o que Ele nos concedeu: usaremos Seus dons —o dom da escolha, no caso - para amá-lo, servi-lo e glorificá-lo, ou nos elevaremos ao lugar de Deus? Uma vez que admitimos a realidade desse experimento com o livre-arbítrio, argumenta Lewis, percebemos rapidamente que, para que ele seja realizado, deve haver algum tipo de espaço. Se fôssemos almas sem corp o flutuando no vácuo, dificilmente poderiamos partici par do “jogo” de Deus. A fim de que a verdadeira escolha fosse exerci da de modo comunal, Deus precisou oferecer-nos um campo de ação neutro, isto é, algo como nosso mundo natural. E esse campo de ação deveria ser, assim como a terra, relativamente fixo, estável e imutável. Se eu tivesse o poder de alterar o campo de ação de acordo com cada capricho e desejo meu, estaria roubando o livre-arbítrio do meu pró ximo. Da mesma maneira, se Deus mudasse a natureza a cada minuto para evitar a dor e o desconforto de cada uma de Suas criaturas, todo o Seu experimento com o livre-arbítrio fracassaria. Tudo isso para dizer que, até mesmo antes da queda, a possibilidade de sofrimento deve ter existido no jardim do Éden; caso contrário, o jogo teria sido inviável desde o início. Lewis conclui que talvez este não seja o melhor mundo possível, mas talvez seja o único tipo de mundo possível para o experimento que Deus decidiu realizar. A essa intratabilidade da natureza, Lewis acrescenta uma segunda condição essencial para a realização tio experimento divino com o livre arbiti Muitos homens modei nos que não aceitam o soírimen 10
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to têm essa reação, com frequência, por causa da sensação de estarem sendo tratados injustamente e de que Deus seria um desmancha-pra zeres, impedindo sua diversão. Porém, quem faz tais queixas está inter pretando mal Seu propósito maior para a hum anidade. Apesar de Deus não ser, de maneira alguma, contra a felicidade, Ele não nos colocou nesta terra apenas para que nos divertíssemos. Deus nos colocou aqui para que pudéssemos crescer e tornar-nos as criaturas que Ele intentou i|ue fôssemos. Lewis diz que nós, cristãos, alegamos adorar a um Pai celestial, mas o que realmente desejamos é um avô no céu que satisfaça i ada capricho nosso e fique satisfeito se todos estiverem divertindo-se. Felizmente, a Bíblia nos apresenta um Deus cujos desejos para nós iianscendem a mera diversão. Longe de revelar um Deus impassível, indiferente ou desdenhoso, o sofrimento humano revela um Deus envolvido que “nos recompensou com a extravagante benevolência de Seu amor por nós, no sentido mais profundo, mais trágico, mais inexorável” (O problema do sofrimento, capítulo 3). Como a maioria dos pais, eu e minha esposa ficaríamos satisfeitos se nossos filhos não se envolvessem com drogas e permanecessem fora da cadeia, mas não é isso o que desejamos para eles; essa certamente não foi a razão pela qual geramos nossos filhos. De fato, aceitaríamos vê-los enfrentando dor e sofrimento, embora não ficássemos felizes com isso, se fosse para atin girem seu potencial completo. A fim de ajudar-nos a entender melhor o relacionamento entre 1)eus e o homem, Lewis apresenta-nos uma série de quatro relacio namentos terrenos em ordem crescente de intimidade. No primeito, I )eus é um escultor que se em penha, com paciência e amor, para transformar-nos em uma obra de arte, muito embora saiba que o pro c e s s o necessitará de cortes profundos e dolorosos. N o segundo, Ele é o dono de um animal de estimação, e faz uso de treinamento e disciplina rígidos para tornar-nos melhores do que somos por natureza. No tero-no,l ewis, seguindo um a metáfora bíblica frequente, apresenta Deus . oino um pai sábio e amável que preferiria ver seu filho bom, mas infeliz, do que triunfante, poré m mau. Por fim, apropriando-se de um a niei.iloi.i bíblica ainda mais recorrente, Lewis apresenta Deus como
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quando sua esposa se desvia da aliança, mas que, apesar disso, esforça-se para torná-la pu ra e digna de amor. Em todos os quatro cenários, o crescimento e a perfeição não podem ser alcançados sem ao menos a possibilidade de dor e sofrimento. O AL TO-FAL A NTE DE DEUS
Até mesmo em nosso estado anterior à queda, sugere Lewis, a dor e o sofrimento eram possibilidades reais. Desde a queda, entretanto, eles se intensificaram muito e tornaram-se ferramentas necessárias na opera ção divina de salvação. Na verdade, até que compreendamos totalmen te nosso estado de criaturas caídas, não poderemos sequer começar a apreciar o papel central que o sofrimento desempenha em conduzir mos de volta a Deus. A fim de ajudar-nos a entender melhor a natureza da queda e seus efeitos, Lewis dedica o quinto capítulo de O problema do sofrimento a uma versão modificada e fictícia de Gênesis 1— 3. Tomando os seis dias de criação no sentido figurado, em vez de literal, Lewis narra um conto em que Deus usa forças naturais para formar, aos poucos, nosso corpo físico. Após milhões de anos, alcançamos a forma humana, mas ainda não passamos de hominídeos irracionais. Somente quando Deus sopra diretamente em nossa alma é que nos tornamos criaturas cons cientes, racionais, volitivas e capazes de conhecer a Deus, de avaliar e apreciar a beleza e de obedecer ou desobedecer ao nosso Criador. Nesse estado original de inocência, escreve Lewis com entusiasmo, éramos uma maravilha a ser contemplada. O homem não caído con trolava, sem esforço, a natureza, os animais e sua própria vontade. Não obstante, confiava totalmente em Deus e obedecia-lhe em tudo. Sim, essa obediência exigia alguma entrega, mas era uma entrega agradável, semelhante às milhares de pequenas concessões que os recém-casados fazem um ao outro na lua de mel. I rês anos após a publicação de O problema do sofrimento, Lewis piiblu o u um m i n a m r excêntrico e marcante de ficção científica (Perehiihliii) no qual u ■unia a lusiui ia do jardim do Hden como se tivesse H oiltCi lil o (ll l V ■ iHi PI i di ■l u ao de 1 e\vis, a l|iaIO! pai Ir de VeillIS — í- á — I
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çam sobre as ondas, deslizando sobre a superfície de suas águas crista linas. É realmente um paraíso, mas, assim como nosso próprio paraíso, havia uma restrição divina. Deus diz ao Adão e à Eva venusianos que, embora pudessem caminhar durante o dia em terra seca, deveriam dormir nas ilhas flutuantes à noite. O argumento de Lewis aqui é que .1 proibição divina do fruto do conhecimento do bem e do mal em Gênesis 3 não tinha a ver com regras alimentares, e sim com o desejo de Deus de que o obedecéssemos e confiássemos totalmente em Sua vontade e provisão. Infelizmente, apesar da bondade divina dispensada .10 Adão e à Eva terrenos, escolhemos abandonar Seu senhorio e cha mar a alma que temos de nossa. Ou, usando a metáfora inteligente de I ewis, insistimos em ser um substantivo, sendo que Deus intentou que lôssemos um adjetivo. No momento em que declaramos nosso senhorio direto sobre I )eus, sobre a natureza e sobre nós mesmos, caímos, sacrificando nosso estado original e lançando-nos, bem como nosso mundo, em um estai Io de destruição e de futilidade. Antes da queda, a alma de Adão con trolava o corpo dele, porém, depois, o corpo tomou o controle sobre a ilma e caiu no domínio das leis naturais. Sua mente tam bém caiu no domínio das leis naturais (psicológicas), levando à repressão, à neurose e ao nascimento do sombrio subconsciente. O pior de tudo é que a obediência que ainda prestávamos ao nosso Criad or deixou de ser uma entrega fácil e agradável, tornando-se uma luta difícil e amarga. A bondade do homem propriamente dita era, e ainda é, renderse a Deus e glorificar Seu nome, mas isso é algo que o homem caído recusa-se a fazer. Assim como achamos impossível seguir oTao, consi deramos igualmente impossível abrir mão de nossas vontades a favor da vontade de Deus e confiar completamente nele. Desde o Iluminisino, o homem ocidental tem afirmado, cada vez mais, que o verdadeiro problema da raça humana é a ignorância e a pobreza; se pudéssemos eliminar esses dois “pecados”, seríamos capazes de aperfeiçoar a huma md.ide e construir uma utopia. O problema é que esse não é o proble ma <>pecado, o orgulho e a desobediência é que se encontram na raiz da gin 1 1 .1, da pobreza e da injustiça; e, na raiz do pecado, do orgulho
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Lewis compara o homem caído não a um grande rebelde ou revolu cionário apaixonado, mas a uma criança mimada e teimosa. Desde a queda, todos nós —hom ens, mulheres e crianças - somos culpados de acolher “o desejo sombrio, satânico, de matar ou morrer em vez de ceder” (Oproblema do sofrimento, capítulo 6). A única maneira de fugir desse desejo é a autoentrega, mas nossa vontade rebelde nos ensurdece para o chamado de Deus. Como resul tado, Ele precisa usar o sofrimento para obter nossa atenção, literal mente. Lewis escreve: “Deus sussurra por meio dos prazeres, fala por meio da consciência, contudo grita por meio dos sofrimentos: este é Seu alto-falante para despertar um mundo surdo” (O problema do sofri mento, capítulo 6). Gastamos a maior parte da vida construindo nossas
próprias torrezinhas de Babel, sem perceber que essa suposta fortaleza não passa de um castelo de cartas. O sofrimento é uma das armas que Deus usa para derrubar nosso castelo de cartas, e Ele precisa usá-la várias vezes, pois, assim que nosso castelo cai, o desejo de sermos inde pendentes de Deus nos faz trabalhar para reconstruí-lo. O sofrim ento destrói nossa autossuficiência e nossas ilusões de segurança terrena; ele nos faz soltar o que estamos segurando para que possamos abraçar o amor de Deus. Ao longo de O problema do sofrimento, Lewis acrescenta vários alertas à sua apologética, os quais completam a análise. Quatro desses alertas são dignos de uma menção resumida por sua capacidade de refutar parte de nosso pe nsamento falho acerca da natureza e do propósito do sofrimento. Primeiro, frente a infinitos protestos contra a soma impres sionante e ento rpe cen te da miséria humana, Lewis afirma co m ousadia que não há uma “soma” de miséria humana. O conceito é totalmente abstrato, pois ninguém na terra sente literalmente essa quantidade de sofrimento (embora seja possível argumentar que Deus, por meio de Jesus, sentiu e suportou essa soma terrível de sofrimento). Quando alcançamos a dor máxima que um indivíduo pode sentir, ( hep,amos ao lim ite dela. Segundo, a dor, diferente do pecado, não <\i.i uilt-t t.itLi quando termina, ela realmente termina.Terceiro, o sofriin rii iu ..!.m i i i aiii' a po bte/a, nao e bom em si, mas Deus o usa para o I
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prazer nela; somos chamados tão somente a suportar a dor necessária para que Deus seja glorificado por meio dela. Por fim, o sofrim ento nos lembra de algo que nosso mundo pós-iluminista esqueceu quase completamente: de que esta terra não é nosso lar final, e sim apenas tuna parada no caminho. Quase 20 anos após escrever O problema do sofrimento, Lewis, que lora solteiro a vida toda, casou-se com Joy Gresham, mas ela morreu de i .incer três anos depois. Como meio de lidar com o sofrimento intenso, I ewis começou a escrever um diário pessoal. Em bora não tivesse plane|,ido publicá-lo originalmente, ele acabou decidindo que suas reflexões pessoais poderiam ajudar outros indivíduos que também sofriam com a ■lor da perda de um ente querido. Assim, publicou (anonimamente) suas Hllexões com o título de A anatomia de uma dor: um luto em observação 1 1%1). Considero esse livro um dos melhores já escritos a respeito da d o r - nem tanto por causa das respostas que ele dá, mas por causa da honestidade inflexível com que Lewis apresenta suas dúvidas e lutas mu iais. Infelizmente, a mesma honestidade com que ele apresenta essas duvidas levou alguns críticos (injustos) a usarem A anatomia de uma dor ■0111o arma para atacar suas obras apologéticas anteriores. I )e fato, muitos cristãos que leem A anatomia de uma dor ficam ini*ulmente confusos com o tom desesperador das duas partes iniciais, e perguntam: “Será que esse é mesmo Lewis, o grande apologista? Com o um homem desse poderia sofrer com dúvidas tão terríveis?”. Entretan to, cie sofria, e seu sofrimento inicial aumentava, e não diminuía, pela h no I )eus do cristianismo. Com o cristão, Lewis sabia que as coisas não =levei iam ser assim, e sua fé foi testada, durante várias semanas, com o *■ouro é testado no fogo. Embora nunca houvesse duvidado da Sua * m .lencia, ele se perguntou, por um breve e aterrorizante momento, =! 1 )eus não seria um sádico cósmico ou um vivisseccionista eterno bi tiu ando com seus ratos humanos. Clama Lewis a Deus: “Por que o .. uhoi arrancou-me de minha concha solitária e, depois, tirou Joy de mun I por que, quando eu mais preciso do Senhor, ouço apenas o 3=.ui d.- uma porta batendo na minha cara?”. N o 1mi, após uma intensa luta em ocional e espiritual, a fé de Lewis toma, mas uao i um a lógn a sriena de O problema do •olnmeiito Lm
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vez disso, as respostas (ou, melhor, resoluções) vêm de uma forma mais pessoal, casual, e até mesmo infantil: •
Para um animal doente, um veterinário poderia parecer um vivisseccionista; talvez Deus precise ferir para curar.
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Será que, na verdade, não fui eu quem bateu a porta na cara de Deus; não seria eu como um homem se afogando que, por agarrar-se amedrontado a seu salvador, não possa ser resgatado?
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Não sou culpado por buscar a Deus como meio de ter Joy de volta? O Senhor deve ser amado por causa de quem Ele é, não como um meio para uma finalidade. Somente buscando Deus por quem Ele é que poderemos receber de volta o que perdemos.
•
Eu realmente amava Joy ou apenas a imagem que eu fazia dela? Talvez Deus tenha precisado quebrar essa imagem, esse castelo de cartas, a fim de que eu não a transformasse em um ídolo.
E p or fim, ele oferece u ma parábola simples, po rém profunda, para ajudá-lo (e ajudar-nos) a entender a verdadeira natureza de sua (nossa) situação e a colocar o sofrimento na perspectiva correta. Imagine um homem , escreve ele, em escuridão total. Porq ue está escuro, ele acredita estar trancado em uma masmorra da qual não pode fugir. Então, ao longe, esse homem ouve um som —talvez o som de pássaros cantando, árvores balançando ao vento ou água caindo sobre pedras. E, de repen te, ele percebe que não está em uma masmorra, e sim do lado de fora, ao ar livre. Em certo sentido, a situação não mudou; o homem ainda aguarda na escuridão. Porém, agora ele sabe que não é um prisioneiro, que não foi abandonado e que há uma realidade e uma vida maior do que pode compreender.
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5 A TRAMA MAIOR: C. S. LEWIS DEFENDE OS MILAGRES
Na parte 1, pe rgun ta 2, artigo 3 de Suma teológica, Tomás de Aquino aborda a questão da não existência de Deus. Mantendo seu método organizacional, ele começa listando as razões contra a proposição de que Deus existe. Significativamente, Aquino consegue pensar em apenas duas razões pelas quais um indivíduo racional poderia negar a exis tência de Deus: 1) por causa do problema do sofrimento; 2) por causa de tudo o que pode ser explicado por processos naturais. Lewis parece ter concordado com Aquino nesse ponto, pois dedicou dois dos três livros de sua trilogia apologética (Cristianismo puro e simples, O problema do sofrimento e Milagres) para abordar as duas razões de Aquino para o
ateísmo. Por um lado, as respostas de Lewis para o problema do sofrimento e da autossuficiência da natureza são consistentes com aquelas apre sentadas por apologistas tradicionais como Agostinho e Aquino. Por outro lado, ele introduz seus argumentos apologéticos com uma ori ginalidade e uma vitalidade que obrigam tanto céticos como cris tãos a questionarem suas suposições acerca da verdadeira natureza de Deus, do homem e do universo. No capítulo 4, vimos como Lewis, em O problema do sofrimento, força-nos a explorar as ramificações totais do experimento divino com o livre-arbítrio. Neste capítulo, veremos como Lewis, em Milagres, força-nos a repensar o que é milagre e o que não é. I onge de violai as leis da natureza ou a dignidade divina, declara I r u is
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A trama maior: C. S. Le wis defende os milagres
CRER PARA VER
Lewis começa sua defesa dos milagres com uma declaração que deve ria ser óbvia, mas que se tornou impressionante após dois séculos de doutrina iluminista: a crença em milagres não é sinônimo de ignorân cia. Seja de modo consciente ou inconsciente, todos nós fomos ensi nados que as pessoas menos esclarecidas do passado acreditavam em milagres porque não entendiam as leis da natureza. Como os “povos primitivos” se escondiam de eclipses e de cometas, assim os cristãos antigos e medievais, intimidados por um universo que não podiam compreender, rotulavam como milagre tudo o que não eram capazes de explicar. Admito que essa superstição era (de algum modo) mais predom inante na época anterior à ciência moderna, porém há um a diferença qualitativa entre crença em amuletos ou feitiços de vodu e nos milagres registrados na Bíblia. Embora prefiram não declarar com tanta franqueza, um número considerável de acadêmicos altamente instruídos acredita que a única razão para os cristãos primitivos terem crido no nascimento virginal foi por não entenderem a ciência da reprodução. Se colocarmos de lado nossos preconceitos íluministas por um momento, o bom sen so mostrará que esse argumento é falacioso. Apesar de José nunca ter visto um espermatozóide ou um óvulo e de ser ignorante quanto à embriologia, ele sabia de onde vinham os bebês. José não precisava de um livro de ciência moderna para saber que uma mulher só pode ter lillios se fizer sexo com um homem. Foi precisamente por causa de seu i nuliecimento desse fato científico que ele estava prestes a separar-se de Maria. Além disso, foi somente por causa desse conhecimento que |osé e a Igreja primitiva reconheceram o nascimento virginal como milagre. De fato, a única maneira de reco nhecer um milagre como milac.ie é saber como a natureza funciona normalmente. Ao rejeitar as leis da natureza, você também estará rejeitando os milagres. Adi ferença entre os homens medievais e os homens modernos está nem tanto em seu conhecimento do universo, mas sim em sua interprchiftlo d e s s e conhecimento. O hom em mo derno contempla a imensidão , 1.1 u m v e i •,( i, ( ( oiu Im que nosso mund o deve ser insignificante demais
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antigos e medievais que acreditavam em milagres também sabiam que o universo era vasto. Boécio e Dante o descrevem como apenas um ponto no espaço. Não foi a ignorância deles que os perm itiu acreditar em milagres, mas sua recusa em interpretar a pequenez de nosso pla neta ou de nós mesmos como indicação de insignificância. Durante os anos como ateu na Universidade de Oxford, Lewis aceitou, sem ques tionar, o repúdio modernista à Idade Média como sendo uma época de trevas, ignorância e superstição —até que seu amigo Owen Barfield desafiou-o a olhar novamente para as evidências. O que Lewis des cobriu foi que a verdadeira razão para a crença medieval em milagres ter sido abandonada pelos pensadores pós-iluministas não foi sua refu tação, mas o simples fato de as pessoas pararem de acreditar. Também com Barfield, Lewis aprendeu a referir-se a esse preconceito moderno como esnobismo cronológico. Por causa do esnobismo cronológico, nós que vivemos no mun do moderno, nos precipitamos ao supor que, por estarmos “além” da crença em milagres, a questão está determinada e não precisa ser deba tida, nem mesmo reconhecida. Em vez de investigar as evidências ou enfrentar as suposições, muitos homens modernos, incluindo membros do clero, simplesmente aceitam que milagres não acontecem. Natural mente, a maioria desses depreciadores de milagres alega ter chegado à sua conclusão por meio de uma análise científica dos fitos, mas a verdade costuma ser o oposto exato. Essa descrença não foi alcançada como resultado de investigação rigorosa; pelo contrário, a descrença deles foi imposta pela rejeição anterior (a priort) de milagres. É precisamente por causa da rejeição a priori de milagres que os leitores modernos da Bíblia são impelidos a apresentar uma explicação “natural” para acontecimentos milagrosos, como a divisão do mar Ver melho. Uma vez que apresentam a explicação “natural”, entretanto, eles usam essa explicação como “prova” de que milagres não aconte cem. () mesmo se aplica à data dos Evangelhos ou dos livros proféticos: caso um desses livros contenha uma profecia exata sobre o futuro —a pu-dgao de Jesus sobre a destruição do templo, por exemplo —ele th'i'1 lei sido csi iit«» (ou ale ilibado sua loi ma Imal) dc por. do aconte .......... 1 - . . . iimiami .1 utafoi . ........ I — • A .
A trama maior: C. S. Leu/is defende os milagres
exige a existência de uma inteligência sobrenatural fora do tempo e espaço, impõe tal conclusão. Colocando em termos lógicos, embora os modernistas aleguem estar lidando com uma prova indutiva baseada apenas na coleta de dados objetivos e empíricos, eles estão, na verdade, ocupados com o que chamo de dedução disfarçada, pois sua interpreta ção dos fatos é orientada, se não predeterminada, por uma suposição prévia não comprovada (de que milagres não acontecem). Os homens modernos, escreve Lewis, recorrem com frequência à explicação “racional” mais improvável, em vez de aceitarem um mila gre muito mais provável. Ainda que a maioria dos cientistas e filóso fos, seguindo o princípio conhecido como navalha de Occam, favo reça soluções simples que não necessitem da multiplicação de causas, ela rapidamente muda seu padrão quando se trata de milagres. Essa inconsistência é enfatizada por uma história conhecida (e possivel mente apócrifa) sobre uma professora modernista que, após ler para seus alunos a história da divisão do mar Vermelho, inform a-os de que o acontecimento não fora realmente milagroso, pois “sabemos agora” que o m ar Vermelho tinha apenas alguns centímetros de profund idade naquela época do ano. Imediatamente, um garoto no fundo da sala exclama que, se isso for verdade, então o milagre fora ainda maior. Quando a professora pergunta o que ele quis dizer, o garoto responde, sorrindo: “Imagine só! Deus afogou todo o exército egípcio, carrua gens e tudo com apenas alguns centímetros de água!”. Um dos credos modernistas mais populares nos Estados Unidos é “ver para crer”. Na realidade, argumenta Lewis, é mais frequente o caso de crer para ver. Se nos recursarmos a aceitar a validade ou até mesmo a possibilidade de milagres, rejeitaremos inclusive os milagres que ocorrem diante de nossos olhos. Quando levamos em conta a força composta pelo esnobismo cronológico e pela rejeição a priori de todas as explicações a respeito tios milagres, não deveria surpreender-nos o fato de que no mundo moderno quase haja apenas milagres ilegítimos. Mas a situação, infe lizinente, é ainda pior. Hoje, até mesmo aqueles que conseguem superar esses dois preconceitos pós-iluministas estão propensos a rejeilai nula »\/M*
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estes violam as leis da natureza. Lewis, com plena consciência do quão profundamente essa má compreensão dos milagres e das leis da natu reza está impregnada, esforça-se para nos instruir sobre a verdadeira natureza de ambos. Embora a maioria dos homens modernos faça pouco caso do fato de que as leis naturais definem os acontecimentos, elas realmente defi nem sequências ou processos. Se eu pegar um vaso com a mão direita, levantá-lo acima da minha cabeça e soltá-lo, ele cairá no chão e se quebrará. Sei disso porque estou ciente da força descendente exercida pela lei da gravidade. Entretanto, que aconteceria se, um segundo após soltar o vaso, minha mão esquerda se estendesse e o segurasse? Ele não cairia no chão nem se quebraria. Com isso, eu teria violado a lei da gravidade? É claro que não! Eu simplesmente teria acrescentado um novo fator (minha mão esquerda) à equação, um novo fator que suspende —mas não viola nem destrói —a sequência natural dos acon tecimentos. De fato, se minha mão esquerda soltasse o vaso, o curso natural da gravidade retomaria o controle, e o vaso continuaria caindo até atingir o chão. Oferecendo um segundo cenário, suponha que eu abrisse a gaveta de cima de minha cômoda e colocasse cinco centavos dentro dela. Cinco horas depois, à meia-noite, eu abro a gaveta novamente e colo co mais cinco centavos. Ao abrir a gaveta de manhã, a lei da adição requer que haja dez centavos na gaveta... a menos, naturalmente, que um ladrão invadisse minha casa no meio da noite e roubasse quatro centavos. Se isso acontecesse, haveria apenas seis centavos na gaveta ([liando eu a abrisse. A lei da adição seria quebrada? Não, um novo fator (o ladrão) seria acrescentado, fazendo com que a lei fosse tempo rariamente suspensa. Ou, em um último cenário, imagine que eu esteja jogando bilhar. Se acerto uma bola a um a determ inada velocidade e em determinado ângulo, e, se a mesa estiver perfeitamente plana e lisa, as leis da física determinam o curso ou a trajetória que minha bola seguii.í a menos que, um segundo após eu atingi-la, duas mãos mist e i i n s a s s e estendam e sacudam a mesa! Milagu s sao como t mao que segura o vaso. o ladrao que rou •----- —«— — -J — ----- ..... ........
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momento de intervenção sobrenatural nas questões predefinidas do nosso mundo. Contudo, é um momento passageiro, pois, assim que o milagre altera a situação, a natureza rapidamente se adapta à mudança, e suas leis co ntinuam como antes. Jesus curou muitas pessoas durante seu ministério de três anos, mas todos aqueles que Ele curou acabaram morrendo. Lewis conclui que os milagres não violam as leis naturais. Pelo contrário, apenas quem crê em milagres realmente enxerga a natureza. Som ente o sobrenaturalista pode ob ter a perspectiva adequada, ou seja, apreciar a natureza pela criatura singular e bela que é.
MILAGRES DA A NT IG A E DA N O VA CRIA ÇÃ O Até aqui, avaliei as razões para a atual rejeição de milagres que estão mais propensas a influenciar os humanistas seculares e outros indivíduos profundamente céticos, ou ao menos indiferentes, quanto à existência de Deus e do sobrenatural.Todavia, eles não são os únicos em nosso mundo moderno cuja reação inicial à afirmação de milagres é de sus peita e descrença. Assim como o “hom em da ciência” modern o rejeita os milagres porque estes parecem violar a uniformidade da natureza, o “homem da fé” moderno rejeita os milagres com frequência por estes parecerem violar a dignidade de Deus. De fato, muitos cristãos que são bastante ortodoxos em suas crenças, e que aceitam a historicidade dos milagres registrados na Bíblia, muitas vezes desaprovam, ou até mesmo zombam, quando ouvem alguém dizer que testemunhou um milagre. Essas pessoas respondem com indignação e em tom de condescendência: “Nosso Deus não faz truques de mágica!”. Lewis escreve em um artigo intitulado Miracles (“Milagres”, pertencente à antologia God in lhe Dock [Deus no banco dos réus]), Os homens modernos têm quase uma aversão estética aos milagres. Ao admitirem que Deus poderia, eles duvidam que Ele faria. Violar as leis que Ele mesmo impôs sobre Sua criação lhes parece despótico, grosseiro, um artifício teatral conveniente apenas para impressionai selvagens —um solecismo contra a gramática do universo. (
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independente de nossas crenças religiosas, tendemos a desconfiar de acontecimentos que não estejam em conformidade com os padrões esperados. Embora possamos apreciar uma surpresa ocasional, preferi riamos muito mais que a natureza (e Deus) mantivessem a programa ção e seguissem as regras. Lewis, ele próprio um produto do mundo moderno, também entendeu esse desejo por previsibilidade e precisão. Não obstante, ele nos desafia, em Milagres, a reconsiderar a questão a partir de um a perspectiva mais elevada. Talvez, sugere Lewis, o motivo de considerarmos os milagres artificiais e disruptivos seja por não ter mos olhos para ver nem ouvidos para ouvir. Com frequência, meus alunos me encaram com descrença quando eu os informo de que os críticos de Shakespeare no século 18 costuma vam considerar suas peças ótimas em algumas partes, mas inconsisten tes e de fraca execução com o u m todo. Do po nto de vista de escritores neoclássicos como Samuel Johnson, Shakespeare era sempre culpado por violar o decoro dram ático e por não seguir as regras da tragédia e da comédia estabelecidas por Aristóteles, Horácio e outros críticos clássicos. Dos escritores do século 19 em diante, como Samuel Taylor Coleridge, entretanto, a avaliação crítica de Shakespeare começou a mudar. Em vez de censurarem pelas frequentes quebras de decoro, os críticos mais recentes aprenderam a elogiar as supostas inconsistências cie Shakespeare como artifícios intencionais que revelavam a harmonia maior e mais estrutural de suas peças. Assim, ao passo em que o natu ralista e o cético cristão veem nos milagres uma violação desse decoro artificial imposto por eles mesmos no universo e no próprio Deus, o verdadeiro sobrenaturalista vê o desígnio total, a unidade mais profun da do que Deus está fazendo em nosso mundo. Como eu gosto de dizer, seguindo o exemplo de Lewis, um milagre não é uma violação das leis da natureza ou da dignidade de Deus, e sim um ato sublime durante o qual o Criador, por um m om ento curto r |>l<>i i o s o , restaura a ordem verdadeiramente natural —ou seja, original di- S u a ei iação. fiara Lewis, todos os milagres de Deus se unem em uin 111111
A trama maior: C. S. Lewis defende os milagres
a natureza de dois tornando-se um do casamento, a necessidade de reconciliar corpo e alma —encontram sua expressão mais completa no Cristo encarnado, o Deus-homem. Em uma bela metáfora, Lewis compara o Cristo encarnado a um mergulhador que precisa descer às profundezas sombrias do mar para recuperar uma pérola escondida. A fim de efetivar nossa salvação, Deus não apenas apareceu em forma humana, mas entrou nos confins físicos e materiais de nosso mundo. Deus tornou-se h om em em Jesus e, como tal, também se tornou feto, zigoto e espermatozóide! O fato de Deus destituir-se do céu e descer à terra para “sujar-se” com a matéria a fim de poder redimir e santificar não é uma violação de Sua criação. Em vez disso, é uma representação histórica do que a própria criação sem pre esperou. Deus, o verdadeiro dramaturgo divino, primeiro inscreve 0 padrão na natureza, e depois entra em cena e interpreta esse padrão em si mesmo. A fim de prosseguir nessa visão mais profunda e rica dos mila gres, Lewis considera atentamente os milagres de Jesus registrados nos Evangelhos. Apesar de todos eles apontarem para um Deus cujo talento artístico transcende as regras artificiais do decoro, Lewis diferencia sutil
mente dois tipos, ou categorias, de milagres. N o prim eiro —que ele chama de milagres da velha criação - vemos Cristo realizar, com rapidez e em peq uen a escala, o que Deus faz todos os dias em grande escala. Por meio de uma longa e complexa série de processos “naturais”, o Senhor transforma continuamente água em vinho, mas o milagre é tão lento que não percebemos. Entretanto, no casamento em Caná da Galileia, quando Jesus transforma água em vinho de maneira instantânea e repentina, é revelada a verdade que sempre esteve diante de nós, mas para a qual estivéramos cegos demais a saber, que Deus é o verdadeiro criador do vinho. Todos os dias, por causa das propriedades milagrosas com as quais 1)eus investiu o solo, a água, o sol e os grãos, um pouco de trigo se transforma em muito trigo. O mesmo se aplica à fecundidade dos pei xes que vemos em todos os lagos e rios. Entretanto, qu and o
Cristo
alimenta
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entendemos que os milagres de Jesus revelam um Deus que não viola a natureza, mas aquele que a criou e formou-a antes de qualquer coisa. E o mesmo se aplica aos milagres de cura de Jesus. Conforme Lewis nos lembra, os médicos raramente curam nosso corpo. Este se cura sozi nho; o verdadeiro papel do médico é imobilizar o membro quebrado e com bater a infecção. O poder milagroso manifestado po r Jesus de Nazaré está inscrito nas próprias células corporais. Embora o corpo acometido pelo pecado pare de funcionar algum dia, a ostentação (e o louvor) do salmista de que fomos criados de modo assombroso e maravilhoso é bem clara para qualquer médico que consiga enxergá-la. Os milagres da velha criação atestam o fato de que o Deus da Bíblia é também o Deus da natureza. Cristo não é um impostor usur pador, e sim o verdadeiro R ei que veio até Seu reino. Há uma dife rença qualitativa entre os milagres registrados na Bíblia e aqueles que aparecem na obra de escritores pagãos, com o Homero, Hesíodo, Vir gílio e Ovídio. Se os milagres de Cristo são verdadeiros, temos muitos motivos para regozijar-nos, mas só apreciamos a leitura de Metamorfo ses, de Ovídio, por sabermos que seus “milagres” não são verdadeiros. Se descobrisse que as histórias de Dafne e Calisto (moças encantadoras que foram transformadas em uma árvore e um urso, respectivamente) fossem verdadeiras, eu sairia correndo apavorado para salvar minha vida, convencido de que o universo é regido não por um Deus de amor e de ordem, mas por um monstro despótico. Em contrapartida, quando passei a acreditar na verdade histórica dos milagres de Jesus, a veracidade do que eu sempre sentia em meu coração foi confirmada: que este é verdadeiramente o mundo de nosso Pai e que toda a natu reza leva a marca do Criador e anseia por Seu toque. Embora a maioria dos milagres registrados nos Evangelhos se encaixe na categoria de Lewis de milagres da velha criação, há alguns que parecem transmitir uma mensagem diferente. Nesses milagres, os quais Lewis chama de milagres da nova criação, Cristo não nos lembra tanto do que I )eus esth fazendo na natureza, e sim do que Ele fará algum ilí,i em uma n atu n/a redimida e aperfeiçoada. Temos um vislumbre dessa peilt e.m n a . amiuh.ida de )esus sobre as águas, um evento que 11.mirende t itãi i i rlrrd m nm rrssns iinrniJis da li.itiirr .1 Vri m >■
A trama maior: C. S. Le wi s defe nde os milagres
isso de forma suprema na ressurreição de Cristo. Nela, o maior milagre registrado na Bíblia, Jesus não apenas volta da morte (como Lázaro), mas também ressuscita em um novo corpo espiritual não mais preso às tiranias do tempo, do espaço e do declínio. Possivelmente fazendo referência ao seu livro O problema do sofri mento, Lewis nos lembra da visão que a Bíblia nos oferece da Nova Jerusalém, a qual será nosso lar final. Quando a última trombeta soar, e formos revestidos com um corpo ressurreto como o de Cristo, recu peraremos o controle espontâneo sobre a natureza que teria sido nosso no Éden. Jesus é nosso Salvador, entretanto também é algo mais: as primícias de um modo de existir novo e mais elevado. Diante de nossa tendência moderna de falar sobre Deus e sobre o céu em termos negativos, Lewis declara triunfantemente que nosso corpo na ressurreição será melhor, e não pior, do que nosso corpo terreno. Mesmo assim, o Deus eterno que trouxe a nós e nosso mu ndo à existência com palavras não é incorpóreo nem impessoal: Ele é transcorpóreo e transpessoal!
6 A PSICOLOGIA DO PECADO: POR QUE C. S. LEWIS ACREDITAVA NO INFERNO
Se há uma do utrina da Igreja menos propensa a ser pregada no púlpito moderno, certamente é o ensinamento tradicional do inferno. Anjos, tudo bem , pois
muitas pessoas que necessariamente não creem em
Deus acreditam neles. Porém , qualquer discussão sobre dem ônios pode suscitar risos confusos e escárnio desdenhoso. Ironicamente, os tipos de pregadores mais propensos a exorcizar o inferno e os demônios dos sermões são aqueles que ostentam que o “seu” cristianismo não tem por base os concílios posteriores da Igreja, e sim as palavras do pró prio Cristo - as palavras destacadas em vermelho. Isso é irônico porque, de todas as figuras da Bíblia, quem mais fala sobre o diabo e nos dá mais informações sobre o inferno não é ninguém menos do que Jesus. Com o perdão do trocadilho, as palavras destacadas em vermelho nos falam mais sobre o fogo do inferno do que qualquer outro versículo da Bíblia! Devemos perguntar-nos por que a era moderna sentiu necessida de de eliminar o inferno e os demônios do cristianismo, sendo que o próprio Cristo claramente ensinou a respeito de ambos, e os dois ensinamentos sempre desempenharam um papel central na doutrina da Igreja? Apesar de poder dedicar um capítulo inteiro a esse enigmá(ico fenômeno cultural e espiritual, examinarei rapidamente sete das pi nu ipais razões para a aversão e o desprezo modern os em relação ao inl' ino. ( ãim i v a » , espero estabelecer uma base para a poderosa, porém relevante, defesa
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A psicologia do pecado: por que C. S. Le wis acreditava no inferno
Primeiro, em nítido contraste com os tempos antigos, nossa época parece ser incapaz de conciliar o am or e a compaixão de Deu s com Sua justiça e Seu julgamento. Quando lemos a Bíblia, vemos apenas um Deus de ira absoluta e fúria avassaladora no Antigo Testamento e um Deus de perdão puro e tolerância ilimitada no Novo Testamento. Somos aparentemente incapazes de imaginar que Deus possa demonstrar um amor austero, ou que Sua misericórdia possa ser inseparável de Sua santidade. Segundo, reduzimos o inferno a uma superstição primitiva que nenhum homem moderno instruído poderia levar a sério. Conseguimos fazer isso oferecendo a nós mesmos o que os lógicos chamam de falsa dicotomia: devemos ora aceitar literalmente as imagens exuberantes (e antibíblicas) de demônios com calças vermelhas e tridentes ora rejeitar por completo a existência de demônios. Terceiro, de acordo com a interpretação romântica e equivocada de Paraíso perdido, de John Milton, pensamos que, se o diabo existe, ele deve ser um herói trágico ou um rebelde nobre. O modernismo é, em grande parte, fruto da Revolução Francesa, e nós somos, portanto, muito propensos a simpatizar com, e não a rejeitar, um ser angélico que se recusou a obedecer a seu Criador “opressivo” e que deixou seu lar celestial a fim de “em pre ender” seu pró prio reino separado. Quarto, por influência de Sigmund Freud, nossa tendência natural é rejeitar o inferno (e o céu) como formas de realização de desejos. O inferno expressaria o desejo para nossos inimigos, e o céu, os desejos para nós mesm os e nossos amigos. Quinto, por influência de Karl Marx, cuja utopia nós absorvemos, mesmo se repudiarmos seu socialismo, nossa tendência natural é rejeitar o inferno (e o céu) como impedimentos à construção da utopia. Ao oferecer a promessa de uma “fantasia” sobrenatural, seja para nossos inimigos ou amigos, o inferno e o céu tiram nosso foco do mundo e fazem com que a ordem utópica do modernismo seja gradualmente interrompida. Sexto, o inferno viola nossa crença moderna na santidade ou na igualdade .ib\