Angélica Liddell Liddell Tenho 46 anos. Nós mulheres mais velhas não prestamos, não é? Damos nojo mesmo, não é? Nós andamos sozinhas melhor que qualquer indigente. entimos mais medo que um doente quando a!ordamos de manhã. Deveriam entender essa palavra de uma vez por t odas. "u #alo !om o medo, porque sei que ele me ouve. "le sempre est$ ouvindo. "u queria !ortar os dedos da minha mão !om toda !alma. %omer a mim mesma !om toda !alma. &li$s, hoje estou estou 'em !alma. &prendi a não me me desenvolver desenvolver a #or(a, )s pressas. pressas. &prendi a respeitar respeitar a dist*n!ia, dist*n!ia, !omo se um padre padre me empurrasse !om o !a'o de uma uma vassoura. + isso que #azem # azem !om insetos mortos. ão empurrados !om o !a'o de uma vassoura. &prendi a odiar odiar o meu !orpo de mulher, mulher, ) #or(a & aprendizage aprendizagem m é sempre o'rigatória. o'rigatória. -o! é edu!ada o'rigatoriamente. + a#astada o'rigatoriamente. /izeram !om que sinta !ulpa por ser mulher. 0erda 1 que #izeram !om minha auto!on#ian(a, auto!on#ian(a, droga? -o!s #oderam a minha !on#ian(a e agora, quero ser uma por!aria de homem. " quero ser uma por!aria de homem, apesar de ter nojo deles, para ter nojo de mim mesma. 2uero ser uma por!aria de homem para ser med3o!re, idiota, #ilho da puta, e ven!er, governar, e impor minhas !ondi(es e regras, e #oder quem eu quiser sem que me #odam. 2uero ser um puto, para ser um pinto entre pintos ao invés de uma perere!a entre pintos. " quero ser uma por!aria de homem para ser um soldado e dar um tiro em mim mesmo na #rente do presidente da /ran(a e para ser um homem, entro e mijo nos mi!tórios. 1
0ijar em mi!tórios #az parte do meu treinamento espiritual. 5$ estou !ansada de ser mulher Não se es#or!em. Não vou am$los. 5$ me dei7aram se!a. 5$ dei o melhor de mim. -o!s j$ me #oderam demais, um a um, !ada um do seu jeito. &gora só resta o pior pior de mim. &qui, o 8ni!o pinto pinto sou eu. ", além disso, sou mais alta que 9ant. 9ant media :;< !m. " eu tenho :6= !m. ou mais alta que o desgra(ado do 9ant. "ste é o meu pinto, e tam'ém tenho uma loira 'urra que est$ me !hupando. Deve ser atriz ou dan(arina, que são as mais 'urras e as que melhor sa'em !hupar. ..... %ome!ei a mostrar esta !ruz no pal!o depois de lan(ar esta pe(a no 0é7i!o. &queles teatros teatros estavam lotados de de homens nojentos, nojentos, 'rutos, ignorantes, ignorantes, pregui(osos, pregui(osos, que não paravam de #alar !oisas nojentas so're mulheres. &ntes da estreia, estreia, #ui ao mer!ado de >a!hu!a >a!hu!a e !omprei !omprei uma !ruz. "u a !oloquei no pal!o e disse a eles, só mais uma palavra, uma piada mais so're mulheres e os mando !avar t8mulos de mulheres em %idade 5uarez. "u os mando !avar os t8mulos das suas mulheres. %avar t8mulos. " desde então, toda vez que vou tra'alhar em um teatro, mostro uma !ruz. ..... a'em o que meu av dizia? 1 meu av dizia que não queria que levassem #lores para ele no !emitério. 2ueria que, ao morrer, !olo!assem !ravos no sa!o dele. " eu quero ser uma por!aria de homem para que, ao morrer, !oloquem !ravos no meu sa!o. ..... 2@"0 2@"A %10"A &NB+C%& CDD"CC? @0 "E+A%T1, >1AA& 2@"A1 @0 "E+A%T1, &@T"ACTF 2
Na primeira vez que me !hamaram de puta, #alaram para o meu pai. Disseram a eleG H& sua #ilha é uma putaH. 1 meu pai era militar. 0or$vamos no quartel. " nós meninas us$vamos a pis!ina dos soldados. " os soldados me7iam !om a gente. @m dia, um o#i!ial !hamou meu pai e disseG H& sua #ilha é uma putaH. "u tinha I anos. 2uando o meu pai !hegou em !asa, me disseG H&ndam dizendo que vo! é uma puta.H "u levei uma surra. " #oi a 8ni!a vez que apanhei do meu pai na vida. Desde então, j$ me !hamaram de puta, #ilha da puta, grande #ilha puta, muitas vezes. " desde então, pou!o me importa o que pensam de mim. "u não dou a m3nima. 1 meu pai me deu estes livros. HJ"DH, a #ilha da puta prin!ipal da Jeidi, que tinha um namorado !hamado >edro, e eu não tinha namorado. Ninguém gostava de mim. HK1 /A&N%%1 E&-"AH, a 'iogra#ia daquele #ilho da puta, do ão /ran!is!o Eavier. &o estudar em um !olégio !olégio de #reiras, #reiras, tinha que estudar estudar a vida do #ilho #ilho da puta do ão /ran!is!o Eavier. H& 0@J"AFNJ&H, as 4 #ilhas de puta, as 4 #ilhas da puta das mulherzinhas, mulherzinhas, " quem diria que virei es!ritora porque uma das #ilhas da puta das mulherzinhas es!revia, e se sustentava assim. >orra, e eu queria ser !omo ela. >orra, eu queria ser !omo ela, porque era a mais #eia e !ome!ei a es!rever. %ome!ei a es!rever. H& &-"NT@A& &-"NT@A& D1 ;H, os !in!o #ilhos da puta, e eu que não tinha uma turma de amigos, tinha sido e7pulsa. Tinha que ler as histórias daqueles !in!o #ilhos da puta, que nojo, de onde tiraram a ideia de me dar um livro so're uma turma de amigos, eu estava sozinha e não gostava disso. Turmas de amigos... 3
"u era e7pulsa delas por ser #eia, tenho nojo delas. " o meu livro pre#eridoG H0&A& &NT1N"T&H. "u li a 'iogra#ia da 0aria &ntonieta v$rias vezes. 1 t3tulo, do primeiro !apitulo, era H@ma n#*n!ia /elizH. "u adorava 0aria &ntonieta, porque era muito 'onita e todos os homens eram apai7onados por ela. "u queria ser tão 'onita quanto a 0aria &ntonieta e transar muito !omo 0aria &ntonieta. ", além disso, adorava que !ortassem sua !a'e(a no #inal. Talvez seja por isso que, )s vezes, d$ vontade de !ortar meu pes!o(o. >orque quando era pequena, queria ser 0aria &ntonieta. -o! j$ imaginou a 'o!eta de uma menina de I anos? @m pou!o, só um pou!o. -o! j$ se e7!itou imaginando a 'o!eta de uma menina de I anos? @m pou!o, só um pou!o. 5$ se mastur'ou pensando na 'o!eta de uma menina de I anos? @m pou!o, só um pou!o. -o! j$ gozou imaginando a 'o!eta de uma menina de I anos? @m pou!o só um pou!o. -o! j$ se imaginou en#iando a l3ngua na #enda da 'o!eta de uma menina de I anos? @m pou!o, só um pou!o. "u não sou 'onita. "u não sou 'onita e nem quero ser. "u não sou 'onita e nem quero ser. "u não sou 'onita e nem quero ser. Diz o 'arqueiroG H0ulher 'onita não pagaH. "le diz isso !antando. %uspindo testosterona azeda na menina mais 'ran!a. Bovernado pelos m8s!ulos in#eriores. %om aquela !on#ian(a #e!al nos genitais. 4
"m seu dom3nio, seu a'uso, seu poder. " seus l$'ios pare!idos a dois inverte'rados inverte'rados vis!osos. 0ostrando sua dentadura parda. %omo se tivesse li7o na 'o!a. Não me mate, 'arqueiro. >or #avor, não me mate. 2ue !onsequn!ia teria minha morte para as meninas que !res!em? 2ue !onsequn!ia teria minha morte para as meninas mortas? e minha morte tivesse !onsequn!ias para as meninas mortas. Não me mate, 'arqueiro. >or #avor, não me mate. "u o dei7o ver a morte so' meu vestidinho rosa. %onsegue ver a morte tra'alhando so' meu vestidinho rosa? 0eninas só servem para isso, 'arqueiro. >ara o dom3nio, para o a'uso, para o poder. %oelhinho, %oelhinho, 'uraquinho, 'uraquinho, pei7inho !arinho, putinha, merdinha, sa#ada, vaga'unda. vaga'unda. 0eninas só servem para isso, 'arqueiro. "7istem dois tipos de mulheresG &s que sa'em !hupar e as que não. " j$ ouvi isso no 'ar. 1uvi isso. 0as não me mate, por #avor, não me mate. 1 que posso #azer? + um medo de nas!en(a. %omo uma mar!a. @m privilégio inverso. %omo se nós meninas nas!ssemos !om um despojo es!arlate preso ao ventre. @m estigma que nos insere na roletarussa dos '$r'aros. Não me mate, 'arqueiro. >or #avor, não me mate. 1lhe, vamos #azer uma !oisa. >rimeiro vo! a'usa de mim. 5
0eninas só servem para isso. >ara o dom3nio, para o a'uso, para o poder. sso mesmo. >rimeiro vo! a'usa de mim. " depois en#or!a um animal na #loresta. 1lhe quantos #ilhotes !orrem pela #loresta. >ode en#or!ar um e #azer de !onta que sou eu. + só pensar que est$ en#or!ando a mim. %omo se estivesse en#or!ando alguma daquelas daquelas !rian(as que apare!em mortas na #loresta. " enquanto est$ apertando o pes!o(o do 'i!hinho !omo se #osse eu, vo! suja sua !ue!a !om seu grude viril. /i!a !om pele e pelos do 'i!hinho por 'ai7o das unhas. %omo se #osse pele e pelos de uma menina por 'ai7o das unhas. %omo se #osse a minha pele e os meus pelos por 'ai7o das unhas. " depois, vo! a're o 'i!hinho !om uma #a!a. &rran!a seus pulmes pulmes e o #3gado. #3gado. " os leva ao rei das meninas estupradas e assassinadas. " depois de !ozinh$los !om sal, ir$ !omlos. %omo pode ver, 'arqueiro. "u não sou 'onita, nem quero ser. "u não sou 'onita, nem quero ser. "u não sou 'onita, nem quero ser. %1N/K1G +A&01 TAL 0"NN&. TMNJ&01 I &N1. TMNJ&01 >"A0K1 D1 N11 >& >&A& -T&A 1 "TO@C1. "A& N1A0&C. /A"2@"NT". 0"NN1 " 0"NN&, >1DM&01 -T&A -T&A 1 "TO@C1 2@&ND1 2@+"01. "T&"T& -&0 &1 C&D1 D& N1& N1 & %&&. "A&0 1 "TO@C1 D1 2@&AT"C. 6
NP 01A01 A-&01 &01 "NTA" 0CT&A" 0 CT&A" " %&-&C1. %&-&C1. N&2@"C" D& @0 1CD&D1 /1 %10 & B"NT" D@A&NT" & -T&. 1 1CD&D1 >"AB@NT1@G H2@"A @OA @O A "0 &CB@0 %& %&-&C1?H NP A">1ND"01G H0, N""H. "A& 1 %&-&C1 0& O1NT1 D1 "TO@C1. 1 1CD&D1 &>A1-"T1@ & T@&QK1. %10"Q1@ & @&A. @& %&A& /%1@ -"A0"CJ&. 1@ & >A0"A& >A0" A& & @OA. >&A& @OA N1 %&-&C1, 1 1CD&D1 0" "B@A& D" @0 5"T1 "TA&NJ1. "C" "N/& @& 0K1 BB&NT"%& N1 0"@ >"2@"N1 "E1 "N2@&NT1 0" C"-&NT&. "C" T"NT& >@E&A 0NJ& %&C%NJ& >&A& 1 C&D1. @& "@ D"D1 >&A& ">&A&A 1 CO1 CO1 D" 0NJ& -@C-@C-&. "C" &>"AT &>"AT&. &. DP. "C" 0&NT+0 & 0K1 "NTA" 0NJ& ND"B& " 1 C10O1 D1 %&-&C1. "C" 0"E" 1 D"D1 %101 " /1"0 -"A0". NT1 @& @NJ&. 1 1CD&D1 &>"AT& %10 @0 D"D1 P. "@ /&C1 2@" 2@"A1 D"%"A. 1 1CD&D1 ">"A& 0& @0 >1@%1. "C" A. &>"AT& &>"AT & 0NJ& 0NJ& -&BN& -&BN& 0& 0& @0 >1@%1. /N&C0"NT", 1 1CD&D1 0" D"%" D1 %&-&C1. "C" >&& & 0K1 N1 N&AF. %J"A& "@ D"D1. "C" C"-&NT& & 1@TA& 0"NN&. "@ 0" C"0OA1 D& -"AB1NJ&. 7
P 0" C"0OA1 D& -"AB1NJ&. TMNJ&01 I &N1. 2@&ND1 &M01 D1 "TO@C1 "T-&01 "A&. %&C&D&. D" A">"NT", @0& DFG H"C" /"F &CB@0& %1& %10 -1%LR? "@ A">1ND1 2@" NK1. >1A2@" T"NJ1 -"AB1NJ& D" DF"A 2@" 0. NK1. NK1. & 1@TA& 1@TA& DF DF 2@" 1 1CD&D1 1CD&D1 & 0&%J@%1@ C C "0O&E1. "@ DB1 2@" NK1. %10B1 "C" NK1 /"F N&D&. T"NJ1 -"AB1NJ& D" DF"A 2@" 0. N&D&. NK1 ". %10B1 "C" NK1 /"F N&D&. "@ /2@" 0&C. NK1 %1NT" >&A& NNB@+0. /@ >&A& %&&. " N&2@"C& N1T", -10T". " N&2@"C& N1T", -10T". " N&2@"C& N1T", -10T". -o! gosta de mim? "u nun!a !onhe!i um homem ino!ente Aealmente ino!ente. e nos en!ontr$ssemos !ara a !ara !om a ino!n!ia não ter3amos solu(ão além de ir até o rio e nos a#ogarmos de propósito. Não ser3amos !apazes de suportar isso. 0as vo!, que é um !avalo, é in!orrupt3vel e est$ livre de toda !ulpa. 8
%ada movimento seu a!res!enta ino!n!ia ao mundo >or isso, !avalos não !onseguem se a#ogar de propósito. -o! é apenas um !avalo entre !avalos. Bosta de mim? >elo menos não pre!isa provar que é um !avalo. 1s homens vivem de e7pli!a(es e provas. @m !avalo não pre!isa provar. Não vai me entediar !om as suas e7pli!a(es e provas Bosta de mim? e nos #i!$ssemos juntos, !omo seria o nosso se7o? 2ual seria a melhor posi(ão? "st$ di#3!il, vo! é um !avalo. %omo poderia inserir seu se7o na minha vagina? %omo o mastur'aria !om mãos tão pequenas? %omo #aria se7o oral em vo! !om uma 'o!a tão t ão pequena? "s!ute, a nossa perversão vai ser a nossa ino!n!ia. -o! e eu vamos #azer ino!n!ia. Tenho algo para dizer aos homens. Tenho que dizerG ngratos -ão viver muito mais que eu. im, vão perdurar além de mim. 0as eu os tratarei !omo estivessem mortos 0eu !orpo, #inalmente, arran!ou de mim o direito de desejar. 5$ sou uma p$ria >1A2@" -1C"T& /1 "N%1NTA&D& "N/1A%&D& "0 @0& >"DA"A&, &1 S &N1. >1A2@" & >"2@ >1A2@" >"2@"N& "N& A&2@ A&2@"C "C &>&A"%" &>&A"%"@ @ 01A 01AT T&, "0N "0N@& @& " "N& "N&NB@ NB@"NT "NT&D&, &D&, N& O&" D" @0& 01NT&NJ& D" &C. >1A2@" N@A& TNJ& := &N1 &1 "A "T@>A&D& "T@>A &D& N& /C1A"T& &T+ 01AA"A. 01 AA"A. >1A2@" 1 %1A>1 D& 0&A&, D"B1C&D& &1 : &N1, /1 %1AA10>D1 "0 @0& %&& &O&ND1N&D& &T+ 1 1 %K" C& C&TA"0. TA"0. " N&2@"C& N1T", -10T". 9