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AMARANTE, Paulo, coord. Loucos pela Vida: a Trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil. R de Janeiro, FIOCRUZ, 1995.
Este livro é o resultado de uma investigação desenvolvida por pesquisadores da Esco Nacional de Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/FIOCRUZ). Sob a coordenação de Pau Amarante, reconstitui a história e analisa o processo de transformações no campo da saúd mental no Brasil. Retrata o complexo processo da reforma psiquiátrica brasileira, desenvolvid por meio de várias estratégias nos âmbitos conceitual, assistencial, político e cultural.
1) REVISITANDO OS PARADIGMAS DO SABER PSIQUIÁTRICO: TECENDO O PERCURSO DO MOVIMENTO DA REFORMA PSIQUIÁTRICA
As novas experiências de novas psiquiatrias se desenvolveram a partir do surgimento de uma crítica teórica e prática da psiquiatria clássica, quando, no seu objeto, ocorre uma mudança evolutiva do tratamento da doença mental para a promoção de saúde mental.
Existem dois grandes períodos que marcam alterações nos campos teórico-assistenciais da psiquiatria. O primeiro período constitui-se de um processo de crítica à estrutura asilar, quando a questão principal é retomar o caráter de cura das instituições. O segundo período é marcado pela extensão da psiquiatria ao espaço público, com o objetivo de prevenir e promover a saúde mental. Enquanto esses dois momentos tentam reformar o modelo psiquiátrico, a antipsiquiatria na tradição basagliana, por sua vez, rompe totalmente com ele através de uma forte crítica a toda constituição do saber/prática científicos da psiquiatria, buscando uma desconstrução desse conjunto de relações. Antecedentes teóricos da Reforma
O Surgimento da instituição psiquiátrica e o nascimento da psiquiatria
Neste item são retomados autores como Foucault e Goffman cujas obras compreendem um estudo do modelo psiquiátrico clássico enquanto saber e prática. Foucault historicisa criticamente a constituição do saber sobre a loucura e sua submissão à razão pelo Sign up to vote on this title internamento. Nesta obra se acompanha a passagem de uma visão trágica para uma visão Useful Not useful crítica da loucura. A primeira, reconhece-a inscrita em um lugar social social e a segunda organiza um lugar fechado e de exclusão para o louco. A partir do século XIX, há a produção de uma
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para observar e descrever os sintomas. Ao liberar os loucos das correntes, Pinel não possibilit a inserção deles num espaço de liberdade, mas ao contrário, funda uma ciência que os classifica e os acorrenta como objeto de saberes/discursos/práticas. A partir do século XIX a psiquiatria seguirá uma orientação positivista, da mesma forma que todas as ciências naturais através de um modelo que se baseia na medicina biológica, limitando-se a observar e descrever, para um conhecimento objetivo do homem. A obra de Pinel representa um passo histórico para a medicalização do hospital, transformando-o em instituição médica. Desde o primeiro momento encontram-se desacordos e muitas críticas, principalmente pelo fato de o modelo de Pinel possuir o caráter de uma instituição fechada e autoritária. A partir dessa crítica vão se constituindo rupturas a tradição pineliana. As reformas da reforma ou a psiquiatria reformada As reformas posteriores a Pinel, cujo cenário compõem o período pós-guerra, procuram questionar o papel e a natureza da instituição asilar e do saber psiquiátrico.
Comunidade Terapêutica e Psicoterapia Institucional: a pedagogia da sociabilidade
As comunidades Terapêuticas datam do período pós-guerra. Chama atenção da sociedade para a deprimente condição dos hospitais psiquiátricos e estabelecem uma comparação com os campos de concentração nazistas, imagens que a Europa já não mais tolerava. Toda violência e desrespeito aos direitos humanos é repudiada. O asilo psiquiátrico se encontrava You're eReading a Preview numa situação de extrema precariedade não cumpria mais a função de recuperar os doente mentais, ao contrário, era responsável a adoença. Unlockpor full agravar access with free trial.Tal quadro se abre para uma série de propostas de reformulação deste espaço. Retomou-se o mito de que o trabalho transforma e sociabiliza o doente mental. Trabalha-se muito Download With Free Trialna dimensão de grupo, envolvendo o sujeito na sua própria terapia e com os demais. A experiência da comunidade terapêutica, porém, não conseguiu solucionar a questão da exclusão, pois a proposta se redu ao espaço asilar.
A psicoterapia institucional foi um trabalho que denunciou e lutou contra o caráter segregado e totalizador da psiquiatria. Observava-se que o mau uso da terapêutica e da administração e descaso político e social, fez com que o hospital se desviasse de sua finalidade para tornar-se Sign up vote on this title lugar de violência e repressão. Objetiva-se recuperar a função detocurar e tratar a doença Useful useful louco Notcurar mental, trazendo uma nova ideia de que antes de curar o é preciso a instituição. Este movimento questiona, enquanto espaço de segregação e do poder do médico. O objeto da psicoterapia institucional é o coletivo dos pacientes e técnicos, ao invés da relação vertical
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Os territórios passam a ser divididos em setores geográficos, cada um deles contando com uma equipe (psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, etc.) e diversas instituições externas que asseguram o tratamento pós-cura. No entanto a prática dessa experiência não alcança os resultados esperados devido a uma grande resistência conta a possível invasão dos loucos nas ruas.
A psiquiatria preventiva nasce nos Estados Unidos, almejando não só a prevenção das doença mentais, mas a promoção da saúde mental. Saiu-se às ruas para reconhecer, identificar e
mapear os “suspeitos” de serem portadores de doença mental. Esse projeto determina que a
intervenções precoces evitem o desenvolvimento de doenças, tornando assim, o hospital psiquiátrico obsoleto.
A institucionalização/hospitalização é vista como um problema a ser enfrentado já que produ dependência do paciente em relação à instituição, pela falta de elos comunitários, familiares, sociais e culturais, conduzindo à cronificação. Dentro desse novo contexto surge a expressão desinstitucionalização que designa um conjunto de medidas de desospitalização criando-se serviços alternativos que contrapõe ao processo de alienação e exclusão social dos indivíduos São centros de saúde mental, hospitais dia/noite, oficinas protegidas, lares abrigados e enfermarias psiquiátricas em hospitais gerais. Procura-se também, retirar a exclusividade dos médicos nas decisões terapêuticas para trabalhar numa equipe multidisciplinar. A Antipsiquiatria e a desinstitucionalização na tradição Basagliana You're Reading a Preview
A Antipsiquiatria: desconstruindo saberwith médico sobre a loucura Unlock fulloaccess a free trial.
A Antipsiquiatria surge na década de sessenta, na Inglaterra, em meio aos movimentos Download With Free Trial underground da contracultura, como um grupo de psiquiatras. Busca romper, no âmbito teórico, com o modelo assistencial vigente, buscando destituir o valor do saber médico. A Antipsiquiatria estabelece um diálogo entre razão e loucura, enxergando-a em meio aos homens e não dentro deles. O método terapêutico da Antipsiquiatria não prevê tratamento químico ou físico, e sim, valoriza a análise do discurso, da viajem ou delírio do louco, que não deve ser podada. O louco é acompanhado pelo grupo através da não repreensão da crise, e é auxiliado pela psicodramatização e recursos de regressão. Essa tradição traz importantes Sign up de to vote on this title contribuições para a transformação prático-teórica do conceito desinstitucionalização com Useful Not useful desconstrução.
A tradição Basagliana e a psiquiatria democrática italiana (ou uma cartografia da
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A trajetória italiana propiciou uma ruptura radical com o saber/prática psiquiátrico e, o que estava em jogo, era desconstruí-lo. Nesse sentido desinstitucionalizar não se confunde com desospitalizar, mas significa entender a instituição no sentido dinâmico e complexo de prática e saberes que produzem determinadas formas de perceber, entender e relacionar-se com fenômenos sociais e históricos.
Com Basaglia, em 1971, em Triste, dá-se início a um processo de desmontagem do aparato manicomial seguido da criação de novos espaços e formas de lidar com a loucura e a d oença mental. Surgem os centros de saúde mental, grupos-apartamento, cooperativas de trabalho e serviços de emergência psiquiátricas. A experiência de Triste demostra ser possível a constituição de um circuito de atenção que oferece e produz cuidados, ao mesmo tempo oferece novas formas de sociabilidade e de subjetividade para aqueles que necessitam de assistência psiquiátrica.
O movimento psiquiátrico democrático que, muitas vezes é confundido com a própria tradiçã teórica basagliana é, na verdade, um movimento constituído em 1973, objetivando construir bases sociais cada vez mais amplas para viabilização da reforma psiquiátrica na tradição de Basaglia em todo território italiano. 2) A TRAJETÓRIA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL Início do Movimento da Reforma Psiquiátrica: A trajetória alternativa You're Reading a Preview Neste capítulo se busca identificar as principais instituições, entidades, movimentos e Unlock full access with a free trial. militâncias envolvidas diretamente com a formulação de políticas de saúde mental no Brasil, entre os anos 1978 e 1980. O a utor chamou o período de ‘início do movimento da reforma Download With Free Trial psiquiátrica’.
A crise da DINSAM
O estopim do movimento da reforma psiquiátrica brasileira foi o episódio que ficou conhecid como ‘crise da DINSAM’ (Divisão Nacional de Saúde), órgão do Ministério d a Saúde, responsável pela formulação de políticas de saúde no subsetor saúde mental. Em abril de 1978, os funcionários de quatro unidades psiquiátricas do Rio de Janeiro declaram uma greve Sign up to vote on this title seguida da demissão de 260 funcionários. A crise é deflagrada a partir de uma denúncia das Not useful Useful situação irregularidades do hospital psiquiátrico, trazendo ao público a trágica dos hospitais. Trabalhava-se em condições precárias, em clima de ameaça e violência a trabalhadores e
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humanização dos serviços. Entre 1978 e 1980, são realizados diversos congressos a nível nacional, visto que este movimento já se desenvolvia em alguns estados. Alguns desses congressos possibilitaram a vinda ao Brasil dos principais mentores da Rede de Alternativa à Psiquiatria, do movimento Psiquiatria Democrática Italiana, da Antipsiquiatria, em fim, das correntes de pensamento crítico em saúde mental, dentre eles Franco Basaglia, Félix Guatarri Robert Castel, Erwing Goffman etc. Neste período, surgem diversas questões a respeito da realidade da saúde mental: o direitos dos pacientes psiquiátricos, o processo de mercantilização da loucura, a privatização da saúde, o ensino médico e a psiquiatrização da sociedade. Critica-se o modelo assistencial como ineficiente, cronificador e estigmatizante em relação à doença mental.
Algumas considerações sobre a caracterização do MTSM
O MTSM caracteriza-se por seu perfil não cristalizado institucionalmente que faz parte de um estratégia proposital: é uma resistência à institucionalização. Uma relação bastante singular vai surgir no decorrer dessa trajetória entre a opção pela não institucionalização do MTSM e pela ‘desinstitucionalização’ do saber e prática psiquiátricos. Essa última se tornará conceit
chave no projeto de transformação da psiquiatria por parte do movimento. O MTSM caracteriza-se também por ser múltiplo e plural, tanto no que se refere à sua composição interna quanto no que se refere às instituições, entidades e outros movimentos nos quais atua. Assim, o MTSM é o primeiro movimento em saúde mental com participação popular. Em decorrência desse seu caráter múltiplo, You'reencaminha Reading apropostas Preview de transformação para unidade psiquiátricas públicas, buscando influenciar na formulação de políticas de saúde no país. Unlock full access with a free trial. Inicialmente grupos formadores de opinião e as discussões dos econtros criticam a assistência deficiente dispensada à população, propondo o cumprimento das alternativas baseadas em Download With Free Trial reformulações preventistas, extra-hospitalares e multidisciplinares. A co-gestão interministerial e o Plano do CONASP: A trajetória Sanitarista I
No início dos anos 80, um convênio entre os Ministérios da Previdência e Assistência Social (MPAS) e o da Saúde (MS), demarca uma mudança nas políticas públicas de saúde. O convêni chamado co-gestão, prevê a colaboração do MPAS no custeio, planejamento e avaliação das unidades hospitalares do MS. Nesse espírito, o MPAS deixa de comprar serviços do MS e pass Sign up to vote on this title a participar da administração global do projeto institucional da unidade co-gerida. Esse Useful Not useful processo torna-se um marco nas políticas públicas de saúde. No mesmo momento em que o Estado passa a incorporar os setores críticos da saúde mental, os movimentos de
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absorvia grande parte do orçamento previdenciário destinado à assistência médica, causando a estagnação do setor hospitalar público, principalmente no campo da saúde mental. Crescem o número de internações, reinternações e o Tempo Médio de Permanência Hospitalar, o que contraria a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS). A política privatizante da Previdência Social acaba produzindo um excesso fraudes e abusos que causam um déficit nos cofres da PS, o que lhes obriga a pensar em novas soluções. A criação da co-gestão surge num contexto em que a Previdência Social se encontra em uma profunda crise institucional, de insatisfação popular com o sistema e de sucateamento do serviço público. A crise não tem apenas caráter financeiro, é uma crise fundamentalmente qualitativa, de caráter ético e de modelo de saúde. Com a co-gestão cria-se a possibilidade de implantar uma política de saúde que tem como bases: o sistema público de prestação de serviços, a cooperação interinstitucional, a descentralização e a regionalização. São propostas defendidas pelo movimentos de Reforma Sanitária e Psiquiátricas.
Metas da co-gestão
O Ministério da Saúde e o Ministério da Previdência e Assistência Social estabelecem diretrize a serem cumpridas pela co-gestão: no que se refere à clientela, o atendimento será de forma universalizada; em relação aos recursos humanos, torna-se possível sua utilização comum pelos dois ministérios; quanto aos recursos financeiros, ambos o ministérios contribuem em partes iguais para a manutenção dos hospitais. A implantação da co-gestão funciona como recurso para a agilização assistencial e financeira unidades de saúde. Com o advento da c You're Readingdas a Preview gestão as unidades de saúde são transformadas em polos de emergência. Ao abrir suas porta Unlock full access with a free trial. à comunidade, amplia-se a atenção ambulatorial, criando-se espaços para a atuação de equipes multiprofissionais. Neste contexto, a necessidade de superação da hospitalização, q Download With Free Trial prioriza em sua atuação a ressocialização, equivale à superação do manicômio como recurso terapêutico. Este processo de co-gestão pode ser considerado como precursor do sistema único de saúde (SUS), pois orienta-se para uma utilização total e prioritária do setor público, ficando em segundo plano a participação de entidades beneficentes e do setor privado.
O plano do CONASP
Com o agravamento da crise financeira da Previdência Social, em 1981, é criado o Conselho Sign up to vote on this title Consultivo da Administração de Saúde Previdenciária (CONASP), que conta com a participaçã Useful Not useful de representantes governamentais, patronais, universitários da área médica e dos trabalhadores. Pode ser entendida como uma ampliação a nível nacional da experiência
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Os Encontros de Coordenadores da Região Sudeste e as Conferências de Saúde Mental
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Em continuidade à trajetória iniciada com a co-gestão, tem-se um período em que são realizados os encontros de coordenadores e as conferências de saúde mental, num momento em que o MTSM encontra-se instalado no aparelho do Estado, dirigindo e coordenando as políticas de saúde mental. A partir de 1985 uma parte dos postos de chefia estaduais e municipais de saúde mental, assim como a direção de unidades hospitalares públicas, está a condução de fundadores e ativistas do MTSM, principalmente na região sudeste. Assim decide-se organizar o I Encontro de Coordenadores de Saúde Mental da Região Sudeste, que representa uma estratégia de articulação entre os vários dirigentes e para discutir e rever as suas práticas, uma oportunidade para criar mecanismos e condições de auto-reforço e cooperação mútua. Essa trajetória termina com a I Conferência Nacional de saúde Mental. Novos Rumos: A trajetória da desinstitucionalização
A trajetória da desinstitucionalização tem início na segunda metade dos anos 80 e, se insere n contexto político da redemocratização brasileira. Para a saúde mental, é um período marcado por eventos e acontecimentos muito importantes. Essa trajetória pode ser identificada por uma ruptura ocorrida no processo da reforma psiquiátrica brasileira que deixa de ser restrito ao campo técnico-assistencial para alcançar e articular além desse, os campos político-jurídic teórico-conceitual e sociocultural. Ocorre em Brasília, em março de 1986, a 8ª Conferência Nacional de saúde e, pela primeira vez, teve o caráter de consulta e participação popular. Um You're Reading a Preview nova concepção de saúde surgiu dessa conferência, na qual ela passa a ser aceita como direit full accessawith a free trial. dos cidadãos e dever do Estado, oUnlock que permitiu definição de alguns princípios básicos como universalização do acesso à saúde, descentralização e democratização, e uma nova visão de saúde como sinônimo de qualidadeDownload de vida. With Free Trial
Com vista a realização da Conferência Nacional de saúde Mental, foram organizados alguns encontros, num dos quais, contou-se com a presença de Franco Rotelli, então secretário-gera da Rede Internacional de Alternativas à Psiquiatria e também diretor do Serviço de saúde Mental de Trieste, desde a saída de Franco Basaglia. Neste evento Rotelli atentou para o fato de que o problema da exclusão nas sociedades ocidentais era muito mais uma questão de cultura do que econômica. Pode-se antever aí, a diemensão de ruptura que estava sendo Sign up to vote on this title iniciada no Movimento. Passa a prevalecer o entendimento da noção de desinstitucionalizaçã Useful Not useful em sua dimensão mais propriamente Antimanicomia. A I Conferencia Nacional de saúde Mental foi finalmente convocada para junho de 1987, no Rio de Janeiro. Paralelamente a isso
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No âmbito do modelo assistencial essa trajetória é marcada pelo surgimento de novas modalidades de atenção, como alternativas ao modelo psiquiátrico tradicional. O surgimento do primeiro Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), em São Paulo, em 1987, passou a influencias muitos serviços por todo país. Conforme o projeto original, o CAPS tinha como objetivo criar mais uma forma de atendimento entre o hospital e a comunidade. Pretendia-se garantir o atendimento e o acolhimento de pessoas com dificuldade de inserção social, atravé de programas de atividades psicoterápicas em regime de funcionamento integral.
Em maio de 1989, o processo da reforma psiquiátrica assumiu repercussão nacional mediante o caso da Casa de Saúde Anchieta, no município de Santos, quando foram constatadas as piores barbaridades neste hospital psiquiátrico privado. Esse episódio possibilitou um process inédito em que foram criadas condições para implantação de um sistema psiquiátrico que se defina como completamente substitutivo ao modelo manicomial, que deu -se com a criação d Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS), cooperativas, associações, além da reformulação do espaço do antigo hospício. O processo santista representou um marco na reforma psiquiátrica brasileira. A partir da criação de CPAS e NAPS, o Ministério da Saúde regulamentou a implantação e o funcionamento de novos serviços dessa natureza, ampliando o leque de opções terapêuticas e assistenciais no processo da reforma, tornando tais serviços como modelo para todo o país.
No campo jurídico-político, foi apresentado o Projeto de Lei 3657/89, do Dep. Palo Delgado (PT/MG). Neste projeto, regulamentavam-se os direitos do doente em relação ao tratamento You're Reading a Preview indicava-se a extinção progressiva dos manicômios públicos e privados, bem como sua Unlock full access with a free trial. substituição por outros equipamentos não-manicomiais de atendimento. Esse projeto de lei estimulou alguns estados a elaborarem e aprovarem projetos de lei com os mesmos Download With Free Trial propósitos. Foi o caso do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e mina Gerais. A II Conferência Nacional de Saúde Mental, que ocorreu em Brasília, em 1992, na qua participaram 20 mil pessoas ao longo de suas três fases, nas quais foram reafirmados e renovados os princípios e diretrizes da reforma psiquiátrica brasileira na linha da desinstitucionalização e da luta Antimanicomial. No entanto, novos problemas se apresentam desde então. Um deles, com relação aos novos serviços externos ao manicômio, os quais não garantem sua natureza não-manicomial, pois pode acabar por reproduzir os mesmos upproblema, to vote on this titlemesmo com mecanismos ou características da psiquiatria tradicional. Sign Outro é que Useful Noteuseful participação social, com a aprovação da legislação da reforma psiquiátrica o surgimento de serviços alternativos, o modelo psiquiátrico asilar tradicional, em pouco foi afetado.
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vincula-se a outros movimentos de transformações superficiais. O termo prevaleceu, porém, pela necessidade de não se criar maiores resistência a transformações.
Proposta de periodização da reforma psiquiátrica brasileira – uma sístese cronológica das principais trajetórias e cenários
A reforma psiquiátrica brasileira surge no fim da década de 70 com o surgimento do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) que, como um protagonista, desempenha o principal papel tanto na formulação teórica quanto na organização de novas práticas. De meados do século XIX, período de constituição da medicina mental no Brasil, até II Guerra Mundial, é considerado um período de uma trajetória higienista, responsável por projeto de medicalização social, no qual a psiquiatria surge como um instrumento tecnocientífico de poder, que tem caráter disciplinar e serve como um dispositivo de controle político e social. Após a II Guerra Mundial surgem experiências socioterápicas, como a comunidade terapêutica inglesa, a psicoterapia institucional e a psiquiatria de setor francesas culminando com a experiência com a psiquiatria preventivo-comunitária norte-americana. Neste período a psiquiatria não visa simplesmente à terapêutica e à prevenção das doenças mentais, mas constrói um novo objeto: a saúde mental. Surgem desde então, no Brasil, uma série de experiências inspiradas nesses modelos. Divide-se a trajetória da reforma psiquiatrica brasileira em três momentos: 1)
2)
You're ReadingConstitui-se a Preview no contexto dos últimos anos do Trajetória alternativa: é o início da reforma. regime militar. É um momento em que a estratégia começa a defrontar-se co Unlock full access with a freeautoritária trial. seu fim, com o crescimento da insatisfação popular decorrente da falta de liberdade e da perda de participação social das classes médias e baixas. Download With Free Trial Com isso, crescem os movimentos sociais de oposição à ditatura militar, que começam a demandar serviços e melhorias de condição de vida. Nesse contexto, surgem as primeiras manifestações no setor da saúde. Surgem o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (SEBES) e o Movimento de Renovação Médica (REME), decorrentes da necessidade de discutir e organizar as políticas de saúde. Neste período surge também o MTSM, que assume um papel relevante, ao abrir um leque de denuncias e acusações ao governo militar, principalmen sobre o sistema de assistência psiquiátrica, que inclui torturas, corrupções e fraudes. Éa Sign up to vote on this title partir dessas organizações que são sistematizadas as primeiras denúncias do modelo Useful Not useful asilar dominante e surgem os primeiros projetos alternativos a ele. Trajetória sanitarista: é o segundo momento da reforma, iniciado nos primeiros anos da
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saúde mental encontra uma nova tática: é preciso desinstitucionalizar no cotidiano das instituições e inventar novas formas de lidar com a loucura e o sofrimento psíquico, transcendendo os modelos preestabelecidos pela instituição médica. Trajetória da desinstitucionalização: no final dos anos 80, surgem novos atores no cenári das políticas de saúde mental, que passam a merecer um papel de destaque. É o caso da associações de familiares e usuários. A questão da loucura e do sofrimento psíquico deix de ser exclusividade dos médicos, administradores e técnicos, para alcançar o espaço da cidades e da vida dos cidadãos. O lema ‘por uma sociedade sem manicômios’ retoma a
questão da violência da instituição psiquiátrica e ganha as ruas e a imprensa. Surgem os CAPS e os NAPS, é instituído o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, apresenta-se o Projeto de Lei da Reforma Psiquiátrica.
Deve-se reconhecer que, apesar da adoção de uma tradição sanitarista, o movimento pela reforma psiquiátrica conservou um viés muito menos institucio nalizante que o movimento da reforma sanitária. Enquanto esta caminhava da linha da institucionalização densa, o movimento pela reforma psiquiátrica mantinha-se voltado para a questão da transformação do ato de saúde, da desinstitucionalização como descontrução. Os atores da reforma psiquiátrica brasileira Nesse item se relata os atores e as práticas que criaram tensão no campo da saúde mental. São divididos em grupos, muitas vezes heterogêneos, que contribuem com seus diferentes You're Reading a Preview olhares sobre a loucura. Unlock full access with a free trial.
O Movimento de Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) Download With Free Trial O MTSM é o ator e sujeito político que se destaca na divulgação, mobilização e implantação das práticas transformadoras. Funda-se aí um exercício regular e sistemático de reflexão e crítica ao saber/prática psiquiátricos. Este movimento, no entanto, não é uma organização unitária, homogênea. Em sua origem, congrega técnicos de várias categorias profissionais, principalmente médicos recém-formados e acadêmicos. Apesar disso, o movimento não pretende ser entendido como restrito a um sindicato ou associação profissional, mas como uma mobilização política em torno de uma temática social, a da saúde mental.
A Associação Brasileira de Psiquiatria (APB)
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A APB é constituída a partir de 1970. É composta por profissionais que atuam na prática clínic
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No fim dos anos 80 a APB passa por uma crise de filiação e se divide em outras várias entidades e deixa de ser a única associação psiquiátrica de caráter nacional. Diante deste fato há uma evidente revitalização em torno do debate da saúde mental e da assistência psiquiátrica.
O setor privado
Este setor reduz praticamente à Federação Brasileira de Hospitais (FBH), que é uma entidade quase exclusivamente formada por investidores na área de hospitais privados de psiquiatria. criada em 1966 e insere-se num período em que se consolida o processo de maciça privatização da assistência médica previdenciária, quando o Estado deixa de investir na constituição/qualificação de uma rede própria, para comprar serviços privados para prestaçã de assistência aos previdenciários. No campo da psiquiatria, começa a existir uma enorme proliferação de clínicas psiquiátricas, já que, como entendem os empresários, tratam-se de serviços de fácil montagem, sem necessidade de tecnologia sofisticada ou de pessoal qualificado. No regime autoritário, a assistência médica privada torna-se mero instrumento d lucro, sem a efetiva preocupação com a resolutividade dos problemas de saúde apresentado pelas pessoas. No final da década de 70, o domínio do FBH começa a ser ameaçado. O processo de redemocratização assume um caráter nacional de grande importância, fazendo-s ouvir críticas e denúncias quanto ao processo de privatização médica e outros aspectos do sistema de saúde. O modelo previdenciário acarreta graves problemas ao Estado, principalmente financeiros e, com You're isso começa-se iniciativas para controlar o setor Reading aatomar Preview privado e as fraudes e distorções. A FBH torna-se por um período, o principal inimigo não Unlock full access with a free trial. apenas do movimento pela reforma psiquiátrica, mas também do movimento sanitário. O período de crise da FBH se consolida com a criação da co -gestão, tornando-se silenciosa por Download With Free Trial algum tempo. Volta aparecer quando se articula em torno da luta pela rejeição do Projeto de Lei Paulo Delgado.
A indústria farmacêutica
A indústria farmacêutica é aparentemente um ator ausente no debate sobre as organizações da assistência psiquiátrica. Buscava uma imagem de que a sua contribuição era apenas científica e não política. Na verdade organiza uma verdadeira guerra, assediando médicos, Sign up to vote on this title profissionais intermediários e também toda a população, no sentido de estimular a Useful Not useful automedicação. E, quando os órgãos públicos normatizam a comercialização dos medicamentos, é que essa indústria demonstra seus interesses por meio da Associação
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A partir dos trabalhos de preparação da I Conferência Nacional de Saúde Mental, as associações de usuários e familiares se afirmam como importantes entidades presentes no cenário das políticas públicas. Muitas outras associações de usuários e familiares têm sido criadas desde então. Com esse novo protagonismo, o do próprio louco, delineia-se, efetivamente, um novo momento no cenário da saúde mental brasileira. O louco deixa de ser simples objeto da intervenção psiquiátrica, para tornar-se, de fato agente da transformação d realidade, construtor de outras possibilidades até então imprevistas no panorama psiquiátric ou nas iniciativas do próprio MTSM. A luta Antimanicomial cumpre um importante papel no campo da saúde mental: é o ator político a construir as propostas e as possibilidades de mudanças.
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