18 a 22 de maio de 2009 Águas de Lindóia/SP FZEA/USP-ABZ
AGRICULTURA FAMILIAR E EXTENSÃO RURAL NO BRASIL BR ASIL
Matheus Anchieta Ramirez 1, Erly do Prado 2 1 2
Mestrando em Zootecnia na Escola de Veterinária da UFMG, e-mail:
[email protected] Professor Adjunto do Departamento de Zootecnia da EV-UFMG, e-mail:
[email protected] [email protected]
Resumo: Este trabalho teve o intuito de fazer uma proposta para a criação de uma nova pratica extensionista e definindo qual seria o público beneficiado com esta nova pratica. Para tanto fez-se uma análise da pratica da extensão rural feita historicamente no Brasil, analisando seus resultados e sua metodologia de ação. A forma tradicional de extensão rural sempre foi pautada na simples difusão de tecnologias, difusionismo, sendo reconhecidamente ineficiente e muitas empresas publicas que se dedicavam a esta pratica foram extinta. A proposta de uma extensão rural alternativa é pautada no conhecimento das ciências agrárias, da antropologia cultural, de sociologia rural, de pedagogia e de filosofia. O objeto desta prática passa a ser o ser humano em uma pratica eminentemente educativa, priorizando-se a inclusão social, o desenvolvimento das potencialidades humanas, da autonomia dos grupos locais, da autogestão de seus destinos destinos e a capacitação efetiva efetiva dos atores. O publico publico alvo desta nova nova forma de extensão rural é a agricultura familiar. Palavras Chaves: educação popular, trabalho comunitário, metodologia participativa FAMILY FARMING AND EXTENSION RURAL IN BRAZIL BR AZIL Abstract: This study had the aim of making a proposal for a new extension practices and defining what the public would be benefited by this new practice. For both it was an analysis of the practice of extension done historically in Brazil, analyzing the results and methodology of action. The traditional form of extension was always based on simple diffusion of technology, diffusion, and admittedly inefficient and many public companies engaged in this practice were abolished. The proposed alternative is an extension based on knowledge of the agricultural sciences, anthropology cultural, rural sociology, and philosophy of pedagogy. The object of this practice becomes the human being in a highly educational practices, prioritizing is social inclusion, the development of human potential, the autonomy of local groups, self-management of their destinations and effective training of actors. The target audience of this new form of extension and family farming. Keywords: education, community work, participatory methodology Introdução A Extensão Rural sempre foi tratada, no Brasil, como um “serviço”, e não como uma área do conhecimento cientifico. Seu papel foi historicamente resumido à transferência de tecnologias agropecuárias, o que restringiu também a exigência da formação profissional aos contornos da dimensão técnica relativa à produção agrária. Esse modelo tradicional entrou em crise e muitas instituições foram extintas. Porém, as necessidades de apoio à agricultura familiar, as disposições constitucionais, a crise do abastecimento e a elevação dos custos dos alimentos se conjugaram para despertar a sensibilidade dos governantes para o problema da assistência técnica. Nessas circunstâncias, surgiu o empenho para a reestruturação do sistema. A condição, contudo, exige uma nova forma de atuação metodológica. Este trabalho foi elaborado visando atender essa exigência, bem como aos anseios e preocupações da maioria dos técnicos engajados na construção de uma nova prática. Seu resultado caracteriza a estruturação de uma atividade com embasamento embasamento científico, portanto constituindo-se constituindo-se como um ramo do conhecimento. O objetivo deste trabalho é fazer uma discussão sobre a prática
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extensionista adotada no Brasil desde seus primórdios até hoje e propor uma nova metodologia de ação. Material e Métodos O trabalho foi feito através de pesquisa bibliográfica. O embasamento cientifico teve por premissa os conhecimentos das áreas de Pedagogia, Sociologia Rural, Comunicação e Antropologia cultural. As atividades de pesquisa foram desenvolvidas entre o segundo semestre de 2007 e o primeiro semestre de 2008. A proposta alternativa da ação extensionista foi fundamentada nas características da agricultura familiar Brasileira cujo universo corresponde ao público beneficiário do trabalho de extensão. Resultados e Discussão Em sua origem, a Extensão Rural implantada no Brasil destinava-se, pelo menos na retórica, a assistir aos agricultores familiares, na época, designados por pequenos produtores. O modelo da Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR), como foram denominados os órgãos instituídos, foi uma invenção da política de ajuda externa norte-americana do pósguerra, e as instituições nos foram ofertadas como uma dádiva. Porém com o passar do tempo as ações extensionistas foram desviadas em favor dos grandes empreendimentos rurais. A pratica da Extensão Rural no Brasil sempre se pautou pelo difusionismo, simples difusão de tecnologia, sem considerações de ordem política, social, cultural, ambiental. O difusionismo é uma metodologia de trabalho que ignora o saber que não seja cientificamente aprovado. É uma forma não-dialógica e autoritária de ação que visa unicamente o incremento tecnológico da produção. Nesta forma de trabalho o encontro entre técnico e produtor é interpretado, segundo a visão tecnicista, como uma possibilidade de uma batalha pelo domínio da verdade, na qual o técnico bom é aquele que sabe convencer, que tem argumentos incontestáveis, que apanha o agricultor em suas contradições. Este modelo de Extensão Rural entrou em descrédito e a maioria das entidades que se dedicavam a esta prática foram extintas. Porém novas exigências sociais e constitucionais como as necessidades de apoio à agricultura familiar, a crise de abastecimento e a elevação dos custos dos alimentos se conjugaram para despertar a sensibilidade dos governantes para o problema da assistência técnica. Assim, emergiu o empenho de se recriar um novo modelo Extensão Rural, que não cometesses os erros perpetrados pelo modelo tradicional e que atenda as necessidades da Agricultura Familiar, tomada por público alvo da prática extensionista. Este trabalho tem a finalidade dar suporte a essas exigências discorrendo sobre as características da agricultura familiar e propondo uma metodologia de trabalho compatível com ela. As características da agricultura familiar levantadas na pesquisa foram: o predomínio força de trabalho oriunda do grupo doméstico, principalmente nas funções de gerência (GUAZIROLI e CARDIM, 2000), a vida em comunidade, sociedade de interconhecimento, regras sociais estabelecendo a conduta dos membros comunitários, subordinação do agricultor a mercados com elevado grau de imperfeição (ABRAMOVAY, 1992). Segundo dados apresentados por GUAZIROLI e CARDIM (2000) uma grande proporção do universo de agricultores no Brasil pode ser reconhecido como familiares (85%). E é importante salientar que deste universo de agricultores familiares apenas 16,7% recebem assistência técnica (GUAZIROLI e CARDIM, 2000). Nesta nova proposta de trabalho rejeita-se a concepção difusionista e produtivista. Em vez da centralidade na adoção de inovações, na cadeia produtiva, no produto, em que os referenciais são invariavelmente elementos da natureza e artefatos, vegetal ou animal, elegese o ser humano, a família, a comunidade como a razão primordial do serviço de extensão. Em vez do desenvolvimentismo centrado no crescimento econômico, na garantia das políticas macroeconômicas, no abastecimento do mercado, prioriza-se a inclusão social, o desenvolvimento das potencialidades humanas, da autonomia dos grupos locais, da autogestão de seus destinos e a capacitação efetiva de atores. Neste contexto, a metodologia participativa é eleita por proporcionar a formação de cidadãos dotados de autonomia e independência para gerir o seu próprio destino, e que é somente através da participação, dialogicidade, que se dá uma processo verdadeiramente educativo e democrático.
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O papel do profissional de extensão passa a ser eminentemente educativo e político, não sendo permitido a ele a neutralidade política, pois esta nova forma de Extensão exige uma opção pelo desenvolvimento e respeito às comunidades rurais. O trabalho de extensão rural, a par das exigências supracitadas, exige um mínimo de compreensão das teorias sobre educação, comunicação, ação social, sociologia rural, antropologia cultural, política agrária. Esta nova Extensão Rural deve estar assentada na metodologia grupal uma vez que esta promove a alocação mais racional dos recursos aumentando o potencial de atendimento das comunidades pelos técnicos, lembrando que de um total 4.139.369 estabelecimentos familiares apenas 16,7% recebem assistência (GUAZIROLI e CARDIM, 2000). Conclusões A Extensão Rural que estamos propondo está fundamentada em bases científicas. De acordo com Ferreira (1993) Ciência “é o saber e habilidade que se adquire para o bom desempenho de certa atividade”. Apoiado nesta definição podemos inferir que a Extensão Rural proposta, bem como a que está requisitada pelo MDA (Política 2004), enquadra-se perfeitamente na rubrica de uma área c ientifica. Agradecimentos Agradecemos a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo financiamento deste projeto de pesquisa. Literatura Citada ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão . Campinas: UNICAMP, 1992. 274p.
FERREIRA, A.B.H. Minidicionário da língua portuguesa . 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. 93 p. GUAZIROLI, C. E.; CARDIM, S. E. C. S. (coord.) Novo retrato da agricultura familiar : o Brasil redescoberto. Brasília: INCRA/FAO, 2000. 76 p. (Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO). POLÍTICA Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. Brasília: Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural, 2004. 22 p.
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