O DILEMA MORAL DO ATEÍSMO
O Dilema Moral do Ateísmo
Andrei S. Santos
Rio de Janeiro 2015
DISTRIBUIÇÃO DISTRIBUIÇÃO INDEPENDENTE INDEPENDENTE Brasil, Rio de Janeiro © Andrei S. Santos 2015
Os direitos do autor devem ser assegurados
Http://www.razaoemquestao.blogspot.com.br
Primeira edição publicada em 2015
Este livro é independente e de livre circulação, podendo ser compartilhado ou distribuído sem restrições, por meios eletrônicos ou impressos. Todavia, faz-se necessário clarificar que os direitos autorais da referida obra são reservados ao autor, a utor, devendo este ser devidamente citado. Este livro foi elaborado em forma de artigo, no ano de 2015, e publicado no Blog Razão em Questão pelo próprio autor. Devido ao considerável sucesso do texto, o autor decidiu transformá-lo em livro, acrescentando novos argumentos e pensamentos. Não obstante, a linha argumentativa argumentativa principal da obra segue em sintonia com o propósito inicial do autor, como consta no artigo lançado no Blog do mesmo. Nesse sentido, as a s mudanças ocorridas durante o processo de conversão em livro são estritamente pontuais. Em conclusão, o autor deseja a todos os leitores leit ores boas e sinceras reflexões.
AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, eu agradeço a Deus por me conceder paz de espírito e me permitir viver para contribuir de algum modo com o referido trabalho. Em segundo lugar, agradeço aos meus pais pelo incondicional apoio que recebi nessa empreitada. Do mesmo modo, agradeço a minha namorada, Ana Carolina, pelo amor integral, paciência e incentivo durante todo o trabalho. Agradeço também ao meu irmão pelos estimados conselhos, sem os quais não poderia concluir esta obra. Agradeço igualmente aos amigos e leitores do Blog, em especial Reginaldo Castro, pelos comentários construtivos e incentivos que, sem dúvida, contribuíram na minha decisão de concretizar este trabalho. Por fim, e não menos importante, agradeço e presto uma singela homenagem a todos aqueles que considero os meus mentores intelectuais, sem os quais não teria suporte intelectual para escrever sequer a introdução deste livro: Alvin Plantinga; William Lane Craig; J. P. Moreland; Albert Camus; Jean-Paul Sartre; Nietzsche; Descartes; David Hume; Immanuel Kant; Santo Agostinho; Santo Tomás de Aquino; Santo Anselmo da Cantuária; e o Mestre dos mestres: Jesus Cristo. A todos, meus mais sinceros agradecimentos. agradecimentos. A Cristo, toda honra e toda glória, agora e para sempre. Amém.
SOBRE O AUTOR Andrei S. Santos é graduando graduando em Antropologia (ênfase ( ênfase em antropologia filosófica) pela UFF – UFF – Universidade Universidade Federal Fluminense e Arqueólogo Técnico licenciado pelo IPHAN – Instituto Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Ar tístico Nacional. Criador e administrador do blog Razão em Questão e da página Relicário de Roma. Roma. Colaborador da página Ciência e Religião. Religião. Atualmente, desenvolve pesquisas no laboratório de antropologia biológica do Museu Nacional – UFRJ – Universidade Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, sob a supervisão da estimada Professora Doutora Andrea Lessa. Futuramente, após um tão almejado PhD em bioarqueologia, o mesmo pretende se graduar também em filosofia, sua segunda paixão. Um grande entusiasta da música (do metal ao erudito), da arte (do sacro medieval ao surrealismo), das ciências naturais, da filosofia e da teologia, aventura-se constantemente no campo da escrita. Em seu tempo livre, dedica-se à música. Por fim, define-se como um católico romano e evolucionista convicto.
Domínios Eletrônicos Públicos: Http://www.razaoemquestao.blogspot.com.br Http://www.facebook.com/razaoemquestao Http://www.relicarioderoma.wixsite.com/relicarioderoma Http://www.facebook.com/relicarioderoma Http://www.facebook.com/ciencia-e-religiao
PREFÁCIO Esta obra tem como objetivo produzir uma crítica consistente acerca do ateísmo e seus desdobramentos filosóficos. Para este fim, abordar-se-ão as questões fundamentais do pensamento naturalista estritamente aos olhos da filosofia moral. As ferramentas utilizadas para se atingir o propósito do referido artigo fazem-se presentes na lógica estrutural, na epistemologia e, principalmente, na ontologia. Deste modo, pretende-se demonstrar, aqui, as reais dificuldades lógicas e filosóficas que permeiam a visão naturalista como um todo, propondo-se fornecer, em contrapartida, uma visão alternativa e sólida frente à cosmovisão naturalista. O desejo de tornar real este trabalho se deve aos constantes pensamentos que inundaram minha mente nos últimos anos, em especial os desdobramentos teleológicos da cosmovisão ateísta. De certo modo, pode-se dizer que a maior parte deste livro se desenrola em função do sentido da vida e do significado de nós, seres humanos, frente a um mundo sem Deus. A partir daí, serão analisadas as consequências éticas do ateísmo em contraste com um mundo orquestrado e supervisionado por um Legislador Moral. No decorrer da obra, a poesia naturalmente produzida pelo existencialismo vai de encontro às palavras de consagrados e notáveis pensadores, como Francis Schaeffer e Kail Nielsen. Não obstante, de modo a preservar a coerência da narrativa, a história será brevemente percorrida, na introdução do livro, a fim de se compreender os avanços do ateísmo no século passado e seu constante crescimento nos dias atuais. Deste modo, o arcabouço intelectual necessário à compreensão do texto, estará servido à mesa, da melhor maneira possível, esperando ser degustado pelos seus leitores.
SUMÁRIO
1. Introdução
1
2. O que é Ateísmo?
3
3. O Naturalismo Metafísico
7
4. O Ateísmo e suas Implicações Existenciais
10
5. Reflexões sobre Filosofia Moral
17
6. A Distinção entre Epistemologia Moral e Ontologia Moral
22
7. A Distinção entre Moral, Ética, Valor e Dever
24
8. Uma Breve Introdução à Teoria Moral
26
9. Nominalismo, Conceitualismo Conceitualismo e Realismo Realismo
32
10. Valores Morais, Objetos Abstratos e Objetos Concretos
35
11. O Parâmetro Moral Perfeito
44
12. O Dilema de Eutífron
46
13. O Subjetivismo Moral
50
14. O Objetivismo Moral
54
15. O Legislador Moral e a Teoria do Comando Divino
57
16. O Mal como Evidência da Existência de Deus
59
17. Moralidade e Cultura
61
18. A Ética Naturalista
64
19. Consequencialismo Consequencialismo e Utilitarismo
80
20. Dilemas Morais
83
21. O Dilema Final
84
22. Considerações Finais
85
Autores Recomendados
87
Páginas Eletrônicas Recomendadas
88
Referências Bibliográficas
89
O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites. (Albert Camus, O Mito de Sísifo, Pág. 70)
1
INTRODUÇÃO Desde a revolução francesa, perpassando pela ascensão do marxismo no século XX, até o início do período vigente, o ateísmo militante mili tante cresceu e vem crescendo de forma considerável, fazendo-se notar cada vez mais e estabelecendo-se no mundo como uma religião sem Deus. Para alguns ateus, a inexistência das divindades não se limita ao mero espectro da dúvida. Em um mesmo conjunto, estão os que entendem a adesão de uma proposição ateísta ateísta como uma opção opção de âmbito exclusivamente exclusivamente pessoal, que. Ao invés de se lançarem ao extenso debate vinculado ao tema, se limitam ao abandono às divindades enquanto postura sustentada em opções próprias. Por outro lado, há os ateus defendem que seja possível, por meio de argumentos lógicos, comprovar a ideia de que as divindades e sua realidade espiritual não sustentam a criação do mundo em que vivemos. A partir desta última concepção, constrói-se não mais um modo de vida particular, mas sim uma proposição ideológica sobre a realidade, e, como tal, está sujeita à militância. Ao falarmos sobre ateísmo, muitos costumam reduzi-lo a um mero conjunto de pessoas que negam a existência de divindades. Todavia, o desenrolar dessa história parece se prender a implicações infinitamente mais complexas e marcadas por posturas e pressupostos até então inimagináveis. Permeado por guerras, atrocidades morais e pilhas de corpos, poder-se-ia dizer, de certa forma, que o século XX contribuiu significativamente para a crescente adesão do ateísmo. As consequências imediatas da Segunda Guerra Mundial provocaram, a título de exemplo, um ambiente social propício para as visões existencialistas e absurdistas, especialmente na devastada França. Dali, surgiram nomes como Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Emil Cioran (filósofo romeno, porém, radicado na França), cujas ideias influenciaram de forma bastante significativa o pensamento vigente. Com o moral baixo após as duas maiores guerras da história, a humanidade se viu inundada por um enorme sentimento de vazio, derrota, desilusão e confusão. Diante da infinita capacidade humana de ferir seus semelhantes, não demorou muito para que os existencialistas franceses começassem a questionar a natureza humana e o propósito da humanidade. A conclusão que se seguiu é que a vida é inerentemente miserável, irracional
2
e absurda. Finalmente, assentado nos pilares da liberdade e da existência ante a essência, renascia o ateísmo. Àquela altura, a humanidade havia deixado de se preocupar com abominações morais e começado a se preocupar em não desistir de ser o que é. Afinal, seria o existencialismo ateísta a abolição de Deus ou do homem? De onde havia surgido essa consciência aguda de abandono, solidão, impotência e injustificabilidade de nossas ações, tão bem manifestadas nas principais obras existencialistas? Das vontades humanas à renúncia mundana, personagens históricos como Nietzsche e Schopenhauer se debruçavam não somente sobre o sentido da vida, mas sobre o sentido da própria humanidade. O que há de valor em nós ou em tudo o que fazemos? Por meio de questionamentos como esse, o ateísmo foi ganhando forma e foi se desenrolando em novas perspectivas sobre a então frágil condição humana. Do romantismo ao pessimismo, as velhas indagações ganhavam ganhavam novas respostas. A partir desta perspectiva, será possível compreender que o ateísmo se desdobra em múltiplas formas de se reconhecer e agir em um mundo desprovido de um Deus. A melhor ferramenta, julgo eu, para se trabalhar a estrutura em questão, se dá por meio da abordagem àquilo que molda as relações socioculturais no mundo: a moralidade, cujo debate em torno da temática, como se observa atualmente nas academias do mundo, é escasso e, às vezes, evitado. Talvez, Talvez , isto se deva às graves objeções ainda não respondidas respondid as de forma satisfatória e, principalmente, às implicações teleológicas do naturalismo . Em suma, quando analisada em última instância, a moralidade parece constituir um incômodo problema aos ateus. Todavia, antes de darmos início à leitura, é importante ressaltar que o propósito desse trabalho não é a conversão de ateus. Em contrapartida, desta obra espera-se uma sólida crítica, com base em raciocínios lógicos e dedutivos, às bases ontológicas da moralidade no naturalismo, o qual tomaremos – tomaremos – a a fins argumentativos – argumentativos – como como sinônimo de ateísmo. Por fim, ao decorrer da obra, analisaremos a fundo as consequências da referida cosmovisão e seus desdobramentos desdobramentos teleológicos, éticos e sociais.
3
O QUE É O ATEÍSMO? Em séculos de história, a palavra "ateu" sempre foi rodeada de polêmicas. Da antiguidade à renascença, o termo "ateu" se equivalia a um insulto. Não ocorreria a alguém, simplesmente, autodenominar-se autodenominar-se ateu de uma hora para a outra. No grego antigo, atheos é formado pelo prefixo a, que significa "ausência", e o radical teu – teu – o adjetivo atheos é theós – que derivado do grego theós – que significa "Deus". Logo, o significado literal do termo é "sem Deus". A palavra passou a indicar de forma mais direta pessoas que não acreditavam em divindades apenas no século V a.C., desdobrando-se em definições como "cortar relações com os deuses" ou "negar os deuses". Nesse sentido, o referido termo passou então a ser aplicado contra aqueles que impiamente negavam ou desrespeitavam os deuses locais, ainda que crendo em outros deuses. A título de exemplo, o termo era frequentemente utilizado no sentido pejorativo em debates entre os primeiros cristãos e os helênicos. A palavra "ateísmo" foi utilizada pela primeira vez para descrever a opção livre pessoal na Europa do final do século XVIII, especificamente denotando descrença no Deus monoteísta abraâmico. Já no século XX, em função da globalização, globalização, o termo teve o seu significado expandido para referir-se à descrença em todas as divindades, embora ainda seja comum na sociedade ocidental descrever o ateísmo como simples "descrença em Deus." Recentemente, tem havido um movimento em certos círculos filosóficos para redefinir ateísmo como a "ausência de crença em divindades", e não como uma proposição sobre a realidade. Embora sua utilização seja relativamente rara em meios acadêmicos, esta definição tornou-se corriqueira no meio ateísta popular. Afinal, seria esta definição adequada? Parece-me que não. Talvez, alguns ateístas afirmem que o ateísmo é simplesmente a ausência de crença – ao ao invés de uma crença na não existência de divindades – divindades – a a fim de evitar críticas críti cas relacionadas à fé. No entanto, essa linha argumentativa aparenta ser implicitamente inadequada de diversas maneiras. Em primeiro lugar, penso que os ateus não deveriam se preocupar com quaisquer críticas relacionadas à fé. A princípio, a etimologia da palavra “fé” não deve ser confundida com o significado do termo “fideísmo”. Ao passo que o último se traduz em um completo
4
desprendimento à razão, a fé parece ser justamente o contrário. No dia-a- dia, “fé” confiança que temos em alguém ou algo. significa simplesmente a confiança que A título de exemplo, quando um concorrente ao Oscar está prestes a ouvir o vencedor do prêmio, um de seus amigos pode lhe dizer: “Eu tenho fé que você irá ir á ganhar o prêmio”. prêmio”. Agora, notem que se s e convertermos essa sentença para “Eu confio que você irá ganhar o prêmio” não prêmio” não há qualquer perda de significado. Ora, a própria formação da palavra “confiança” se deu, na origem, exatamente pela a união dos termos “com” e “fides” (fé, em latim), latim) , o que explica a igualdade de sentido. Essa, portanto, parece ser a definição mais adequada para se definir a fé. Não obstante, tradicionalmente, há uma definição teológica para a fé. Segundo Parente, Piolanti e Garofalo, no Dicionário de Teologia Dogmática, fé é “a adesão do intelecto, sobre a influência da graça de Deus, a uma verdade revelada por Deus, não por sua evidência intrínseca, mas na base da autoridade que a revelou”. revelou”. A referida definição parece, então, ainda mais acurada que a simples “confiança” do dia -a-dia. O conhecimento conhecimento pode ser descrito como a união do intelecto i ntelecto com o objeto inteligível. Uma verdade só nos é inteligível à medida que ela se torna evidente para nós. Nesse sentido, as evidências podem surgir de várias formas, seja imediata ou mediata. Entre as coisas imediatamente conhecidas, estão as leis da lógica e as verdades matemáticas. Em segundo plano, estão as verdades a nós reveladas a partir de outras verdades que conhecemos. Isso nos é constantemente evidenciado no cotidiano. A fins argumentativos, imaginemos que surgiu nos noticiários a notícia de que fora encontrado uma nova espécie mamífera no Brasil. Certamente, não sabemos nada a respeito da nova espécie, mas suponha que eu – munido munido de meu interesse – vá vá a uma conferência dos cientistas que trabalharam na descoberta descoberta e verifique que o consenso entre eles é de que a nova espécie possui vinte pares de cromossomos. Eu sei que a referida comunidade científica é confiável e sei que eles me informam esse último dado. Nesse sentido, meu intelecto aderiu à verdade revelada por eles. Ora, como se deu essa adesão do meu intelecto? Não por meio da evidência intrínseca do fato, mas na base da autoridade – autoridade – a a comunidade científica – científica – que que a revelou. r evelou. Obviamente, como a autoridade é humana e, portanto, falível, esse conhecimento também pode sê-lo. No entanto, adotá-lo adotá-lo pelas referidas vias não deixa de ser “racional” racional”. Crer em
5
algo por meio de evidências indiretas que justifique essa crença parece, portanto, algo natural e razoável. Surpreendentemente, rejeitar a dita forma de adesão do intelecto a uma verdade é logicamente equivalente a rejeitar todo empreendimento empreendimento científico. No aspecto teológico, a fé é vista de forma semelhante. A fé, no sentido teológico mais fundamental, parece seguir o mesmo segmento lógico. Crê-se em algo pelo qual não nos parece ser acessível ao conhecimento direto, mas que se deve acreditar com base na autoridade divina e infalível que a revelou. É por esse mesmo motivo que, tradicionalmente, existe a diferença entre os “artigos de fé” e os “preâmbulos da fé”. Os primeiros são os objetos específicos que, em tese, só são passíveis de conhecimento através da Revelação de Deus. Os Preâmbulos da Fé, por justifica a adesão do intelecto aos sua vez, são constituídos do conhecimento natural que justifica a artigos de fé. É por isso que, ao comentar a existência de Deus, São Tomás de Aquino, ência de na Suma Teológica (Parte I, Questão 2, Resposta à Objeção 1), diz que “A exist ência Deus e outras verdades verdades a Seu respeito que podem ser conhecidas conhecidas pela razão natural natural não são artigos de fé, mas preâmbulos aos artigos, pois a fé pressupõe o conhecimento natural, assim como a graça pressupõe a natureza e a perfeição supõe algo que pode ser aperfeiçoado. ” Nas palavras do filósofo americano Edward Feser: “Em resumo, a razão nos diz que Deus existe e que ele revelou "X" verdades, fé é, então, uma questão de acreditar naquilo que a razão demonstrou que Deus revelou. Nesse sentido, a f é não só não está em conflito com a razão como ela está baseada nela”. Edward Feser Ora, se a justificativa etimológica da fé parece soa tão racional, por que é que a maioria dos ateus contemporâneos se mostra tão hostil a ela? Parece-me que, de fato, a hostilidade surge com base em um desconhecimento do real significado da fé. Obviamente, uma pessoa menos sofisticada pode ter o entendimento da fé baseado na pura confiança, mas se estamos falando da versão mais sofisticada da mesma, devemos ir até os cristãos mais sofisticados para ver o que eles têm a dizer. Em segundo lugar, a palavra “crença” crença ”, em sua própria etimologia, significa o estado psicológico em que um indivíduo detém uma proposição ou premissa para a verdade .
6
Dito isso, podemos estabelecer o ateísmo como crença sem maiores problemas ao percebermos que o mesmo, de fato, se mostra uma proposição de negação da existência de Deus. Uma proposição é uma expressão sobre o mundo distinto da sentença que a expressa. Se o ateísmo fosse uma mera ausência de crença, logo, seria, ao invés de uma proposição, uma propriedade. propriedade. Segundo Segundo as definições definições mais frequentes, uma propriedade propriedade é uma qualidade possuída por um ser. A título de exemplo, o homem detém a propriedade de ser racional. r acional. Pela definição de "não crença", verifica-se que, se o objeto do ateísmo é uma propriedade e não algum tipo de proposição, então o próprio ateísmo também se torna uma propriedade aplicável a pedaços de pedra e micróbios. Afinal, pedras também apresentam ausência de crença em Deus, assim como os micróbios. Essa infame constatação abre margem para se dizer que sequer é preciso ser racional para ser ateu – afinal, afinal, uma pedra ou uma porta não são exatamente racionais – racionais – oo que é um “tiro no pé” daqueles que dizem buscar, a todo custo, a razão. Realismo, conceitualismo, nominalismo, empirismo, racionalismo, idealismo e materialismo. O que esse monte de “ismos” possui em comum afinal? Todas são posições filosóficas. Assim como o teísmo e o ateísmo, são posições discutidas, debatidas e que podem ser verdadeiras ou falsas. Do mesmo modo, podem entrar em relações lógicas e possuir consequências consequências diretas se forem reais ou não. Nesse sentido, é evidente que ninguém diria que o racionalismo é “somente” uma propriedade de alguém ou algo. Se o ateísmo e o teísmo estão no mesmo grupo das correntes filosóficas, como de fato aparentam estar, então eles não são propriedades, mas têm caráter proposicional. Eles expressam uma determinada crença sobre o mundo e podemos racionalmente analisar se esse algo corresponde a maneira como o mundo é ou não. Em conclusão, o ateísmo parece não ser uma simples ausência de crença. Mais do que isso, a referida visão se apresenta como uma crença na realidade de um mundo livre de quaisquer divindades. Ora, mas qual o problema de se ter fé no ateísmo? Afinal, o único problema real para os ateus neste caso é ter de lidar com a ironia de ser apenas mais um crente. Aparentemente, a única distinção entre um ateu e um teísta é o objeto da fé.
7
O NATURALISMO METAFÍSICO O naturalismo é, em oposição ao sobrenatural, a posição filosófica que sustenta que não há nada para além da natureza. Apenas as leis e as forças naturais operam no mundo. Basicamente, trata-se de um sistema filosófico que suporta a ideia de que não existe nada além das forças e causas do tipo das que são estudadas pelas ciências naturais, ou seja, aquelas que são requeridas para compreender o nosso mundo físico. O naturalismo metafísico afirma que todos os conceitos relacionados com a consciência e a mente fazem referência a entidades que podem ser reduzidas a relações de superveniência com forças e causas naturais. Especificamente, o naturalismo metafísico afasta a hipótese da existência objetiva de fenômenos sobrenaturais, tais como mentes, espíritos e almas – exceto exceto em relação de superveniência – superveniência – como ocorre nas religiões humanas. Do mesmo mesmo modo, o naturalismo também afasta a ideia de teleologia, t eleologia, ou seja, atribuir um processo a uma finalidade, vendo, em contrapartida, o que é sobrenatural explicável explicável do ponto de vista natural. O naturalismo metafísico, também conhecido como naturalismo ontológico, resume-se na visão não dualista da realidade. Os seus adeptos comumente afirmam que as leis naturais são as regras que regem a estrutura e o comportamento do universo natural e que cada etapa da evolução do universo é um produto dessas leis. É válido ressaltar que, por mais que soe estranho, até mesmo um naturalista pode assumir a existência de entes como Deus, mentes, espíritos e outros fenômenos de caráter metafísico. Todavia, o naturalista o faz recorrendo ao princípio da superveniência. Em filosofia, o referido conceito nos diz que há uma estrita relação de determinações entre propriedades de um determinado sistema. A título de exemplo, teríamos que as propriedades sociais seriam, em alguma instância, supervenientes supervenientes às propriedades psicológicas. psicológicas. As propriedades psicológicas, por sua vez, seriam supervenientes às propriedades biológicas. As propriedades biológicas seriam supervenientes supervenientes às propriedades químicas. Por fim, as propriedades químicas seriam supervenientes às propriedades físicas. físicas.
8
Diante da complexidade do referido conceito, nos é pertinente uma explicação didática. A título de exemplo, o valor de uma nota de dez reais não é superveniente em relação às micro-características do papel de qual é feito, porque o valor do dinheiro não é somente determinado pelas características internas do papel, mas também – e mais amplamente – amplamente – pelas pelas instituições sociais. O papel-moeda, sozinho, não determina o valor do dinheiro. Nesse sentido, não há relação de superveniência entre o papel-moeda e o valor do dinheiro, mas sim entre este e as instituições sociais. Observem que a ordem estabelecida no parágrafo anterior não é sempre, ou necessariamente, um critério para as relações entre propriedades do sistema. Uma vez compreendido o conceito, podemos prosseguir na explicação conceitual conceitual do naturalismo. naturalismo. O naturalismo metafísico difere enormemente do que conhecemos como naturalismo metodológico. Este último é a tese epistemológica que afirma que o método científico é a única forma efetiva de se investigar a realidade universal. O naturalismo metodológico não necessariamente diz que os fenômenos e hipóteses inicialmente descritos como sobrenaturais não existem ou são necessariamente necessariamente forjados, mas defende que todos os fenômenos no universo – que que podem de alguma forma ser percebidos e estudados pelo homem – têm sido e são passíveis de estudo pelos mesmos métodos atrelados aos estudos dos fenômenos f enômenos naturais já conhecidos. Obviamente, um naturalista metodológico não está obrigado a ser um naturalista metafísico. A título de exemplo, ele não precisa negar que milagres acontecem ou que existam entidades sobrenaturais. Ele afirma apenas que tais coisas não são a preocupação da ciência. Ciência é apenas a busca por causas naturais ou explicações de fenômenos. Esta tese metodológica é a com que uma grande parte, se não a maioria, dos cientistas cristãos concordam. Após uma breve análise conceitual sobre o ateísmo e o naturalismo, ficou evidente que ambos são posições muito parecidas. Mais que isso, são posições idênticas! À medida que demonstramos, no capítulo anterior, a inadequação da ideia de “ausência de crença” como definição para o ateísmo, restou a crença na não existência de divindades, que é justamente a asserção asserção do naturalismo. naturalismo. Nesse sentido, ao adotarmos adotarmos a definição de ateísmo ateísmo como sendo a adesão de uma proposição negativa com relação a divindades, e o naturalismo como sendo a declaração de que não há nada para além da natureza, nos fica
9
evidente que são conclusões bastante íntimas. Em síntese, a negação da existência de divindades implica na existência una e primordial da natureza, isto é, naturalismo. Logo, o ateísmo, de fato, é idêntico ao naturalismo. De qualquer maneira, o naturalismo – ou ou ateísmo – ateísmo – não não é somente a crença na não existência de divindades e, consequentemente, a crença na existência una da natureza. Seus postulados, antes de tudo, se desdobram em pressupostos teleológicos que não podem ser ignorados.
10
O ATEÍSMO E SUAS IMPLICAÇÕES EXISTENCIAIS Em uma cosmovisão ateísta, podemos compreender a natureza teleologicamente como sendo desprovida de um propósito objetivo. Não há um Deus, não há vida após a morte, não há julgamentos e tampouco existe um parâmetro moral que transcende t ranscende espaço, espaço, tempo e cultura. Estamos falando, portanto, de um universo livre de qualquer entidade suprema metafísica. Nesse cenário, literalmente, a natureza é tudo o que existe, e não há nada além dela. Certamente, poderíamos considerar outras formas de materialismo, no qual entidades abstratas existem em relação de superveniência e/ou redutíveis, em última instância, às propriedades naturais. Todavia, as referidas alternativas não fogem à máxima naturalista, onde a realidade se resume ao mundo natural. Na ausência de um padrão moral objetivo que sirva como parâmetro para nossas ações, todas as regras éticas e morais seriam, por consequência lógica, estritamente derivadas de convenções sociais, isto é, cada sociedade definiria para si o que é certo e errado. No entanto, tal subjetividade moral mostra-se aparentemente contraditória. A razão nos diz que duas verdades antagônicas são uma impossibilidade lógica, afinal, um lápis não pode ser monocromaticamente verde e azul ao mesmo tempo. O mesmo princípio lógico se aplica à subjetividade moral: se uma sociedade define que a pena de morte, a título de exemplo, é algo bom e outra sociedade diz que é algo mau, logo, qual delas está, de fato, com a razão? Obviamente, nenhuma delas. A consequência lógica é, portanto, a dissolução de ideias como moral, ética, certo, errado, bem e mal. Em outras palavras, toda e qualquer verdade moral daria lugar a um mar de subjetividades, isto é, opiniões e preferências pessoais. Não Não obstante, há implicações mais profundas: a título de exemplo, todo e qualquer valor moral que viéssemos a utilizar como justificativa para abominar um determinado ato, trataria, na realidade, apenas de uma mera ilusão construída por nós mesmos a fim de maquilar a cruel e implacável indiferença da natureza, onde o único e verdadeiro objetivo é de fato a sobrevivência. Nesse cenário despropositado, nós seríamos como seres biológicos condenados inevitavelmente à morte do universo. Ora, se a vida termina na sepultura, logo, não faz diferença viver como um Stálin ou como Madre Tereza. Parafraseando o autor russo Fiódor Dostoiévski: “Se não há imortalidade, tudo é permitido".
11
Desde a Idade das Luzes, quando o mundo arrancou de si os grilhões da religião, o homem procura responder às perguntas existenciais sem fazer referência a Deus. No entanto, as respostas obtidas se mostram terríveis: “você é subproduto acidental da natureza, resultado de uma soma de matéria, tempo e acaso. Não há razão alguma para que exista. Tudo que lhe espera é a morte” (William Lane Craig). O homem moderno pensava que, ao ao livrar-se de Deus, Deus, também também se livraria de tudo que que o reprimia e coibia. Em Em vez disso, descobriu que, ao matar Deus, também matou a si mesmo. Se não há Deus, a vida do homem torna-se absurda. Se eu deixo de existir quando morro, então, que significado supremo pode ser dado a minha vida? Que importância real e objetiva tenho eu se alguma vez existi? Certamente, a vida de um indivíduo pode ter importância relativa a certos eventos, mas qual é a importância final de qualquer um desses eventos? Se todos os eventos não têm sentido, então que sentido último há em influenciar qualquer um deles? Em última análise, não faz nenhuma diferença. A mesma lógica se aplica à espécie humana como um todo. A humanidade está condenada à destruição num universo em processo de morte. Uma vez que a humanidade deixará finalmente de existir, não faz nenhuma diferença se ela algum dia realmente existiu. A humanidade é, portanto, não mais importante do que um enxame de mosquitos ou uma manada de porcos, pois o fim de todos é o mesmo. O processo cósmico cego que de início os lançou para fora, f ora, no final, os engolirá de novo totalmente. Ora, e o que há a ser dito acerca dos portadores de doenças congênitas e deficientes? Quer gostemos ou não, nesse cenário, eles não passam de meros efeitos colaterais oriundos de um processo evolucionário cego que não se importa com vidas individuais. São apenas produtos malsucedidos da mutação genética. Nada são frente uma cega, cruel e impiedosa indiferença postulada por um universo sem valor e sem sentido. Afinal, o DNA não se importa. O DNA simplesmente é. A mesma lógica ainda pode ser aplicada de forma ainda mais avassaladora. As contribuições dos cientistas para avançar o conhecimento humano, as pesquisas dos médicos para aliviar a dor e o sofrimento, os esforços diplomáticos para assegurar a paz no mundo, os sacrifícios dos homens bons em todos os lugares para melhorar a condição da raça humana, tudo isso resulta em nada. Este é a conclusão necessária: necessária: uma vez que o universo termina em nada, o homem não é nada. Os existencialistas franceses Jean-Paul Sartre e Albert Camus também tiveram a mesma compreensão.
12
paredes , Sartre retratou a vida como o inferno, onde a Em sua peça Entre quatro paredes, fala da última cena são as palavras de resignação: “Pois é, vamos continuar? ”. ” . Por isso, noutro livro, Sartre escreve sobre a “náusea” “náusea” da existência. Camus também via a vida como um absurdo. No final de seu romance r omance O estrangeiro, o herói de Camus percebe de repente que o universo não tem sentido e não existe Deus para dotá-lo de um. Nas palavras de Kai Nielsen, filósofo ateu que tenta defender a viabilidade de uma ética sem Deus: "Não conseguimos mostrar que a razão exige o ponto de vista moral, ou que todas as pessoas realmente realmente racionais, cujos olhos olhos não estão vendados pelo mito mito ou pela ideologia, não têm necessidade de ser egoístas individuais ou amoralistas clássicos. Aqui, a razão não toma decisões. O quadro que pintei para vocês não é nada agradável. Pensar a respeito dele me deprime [...] A razão pura e prática, mesmo com um bom conhecimento dos fatos, não levará à moralidade." Kai Nielsen
Logo, o fantasma do naturalismo nos assombra novamente: homem e o universo são meros acidentes do acaso, empurrados na existência sem razão alguma. Sem Deus, o universo é o resultado de um acidente cósmico perpetrado pelo acaso. Não há razão alguma para a existência. O homem, por sua vez, não passa de um bocado de lodo que evoluiu racionalmente. Se Deus não existe, somos um aborto da natureza, lançados lançados num universo despropositado para viver uma vida despropositada. A conclusão, mais uma vez, nos espanta. Se Deus está morto, nós também estamos. É evidente que a maioria das pessoas não pensa pensa a respeito das consequências de um mundo incriado e, assim, como a multidão da praça do mercado, continua a viver inadvertidamente. Todavia, quando compreendemos, assim como Nietzsche, a implicação do ateísmo, a seguinte pergunta nos oprime: como nós, assassinos de todos os assassinos, consolaremos a nós mesmos? A única solução que os ateus conseguem nos oferecer é que devemos encarar o absurdo da vida e viver corajosamente. Bertrand Russell, por exemplo, escreveu que temos de edificar a nossa vida sobre “o firme alicerce do desespero inabalável”. inabalável”. Somente reconhecendo reconhecendo que o mundo é de fato um lugar terrível podemos entrar num acordo eficaz com a vida. Camus chegou à conclusão de que deveríamos reconhecer honestamente o absurdo que é a vida e, então, viver em amor mútuo. No entanto, o problema dessa estrutura de pensamento é a impossibilidade de viver de modo coerente e feliz nessa visão
13
de mundo. Se alguém vive coerentemente, não será feliz; se vive feliz, é só porque não é coerente. Francis Schaeffer, afirma: "O homem moderno habita um universo com dois andares. No andar de baixo, está o mundo finito sem Deus; aqui a vida é absurda, como já vimos. No andar de cima, há sentido, valor e propósito. Todavia, o homem moderno vive no andar de baixo, pois acredita que Deus não existe. Ele não consegue ter uma vida feliz nesse mundo tão absurdo; por isso, sempre dá saltos de fé até o andar de cima para afirmar sentido, s entido, valor e propósito, mesmo não tendo esse direito, já que não acredita em Deus." Francis Schaeffer Schaeffer
Por fim, o homem, tal como qualquer outro organismo biológico, morrerá, e o próprio Universo também enfrentará um fim próprio. Segundo recentes descobertas no campo da astronomia, o universo está se expandindo, e isso o leva a ficar cada vez mais frio conforme sua energia vai sendo utilizada. Eventualmente, todas as estrelas irão se reduzir às cinzas e toda a matéria vai entrar em colapso, resultando em um grande cemitério de corpos celestes e enormes buracos negros. Não haverá luz, não haverá calor e não haverá vida, restando apenas os corpos de estrelas mortas e galáxias se expandindo na escuridão interminável de um espaço sem calor . calor . Esta é uma teoria t eoria científica amplamente aceita, cujo nome nos é assimilável através do termo "Big Freeze". Por mais inimaginável que isso possa soar, é o que os atuais estudos nos indicam. No fim, seríamos apenas pedaços de carne que interagem entre si e têm reações químicas no corpo, onde o nosso único objetivo é, nas palavras do biólogo ateu Richard Dawkins, propagar DNA. Obviamente, a referida visão possui implicações impli cações éticas intrínsecas: se nós, meros sacos de uma sopa primordial reorganizada decidimos, por exemplo, assassinar um semelhante, o que é o assassinato senão um saco de compostos químicos impactando outro saco de compostos químicos? A única maneira de quem nega a existência de propósito na vida levar uma vida feliz é, me parece, criar algum propósito passo a passo – o o que resulta em um autoengano autoengano acalentador – ou deixar de de levar a própria visão às suas conclusões conclusões lógicas finais. Consideremos o problema da morte, por exemplo. De acordo com Ernst Bloch, o único meio pelo qual o homem moderno pode se portar diante da morte é tomando emprestada,
14
de modo subconsciente, a crença na imortalidade, a mesma pela qual seus antepassados se sustentavam, apesar dele mesmo não ter fundamento nenhum para isso. Ao tomar emprestados os resíduos de uma crença na imortalidade, escreve Bloch: “O homem “O homem moderno não percebe o precipício que o rodeia e que, com certeza, no final o tragará. Por meio desses resíduos, ele preserva seu senso de identidade e deles surge a impressão de que o homem não está perecendo, mas somente que algum dia o mundo caprichosamente caprichosamente não lhe aparecerá mais”. Bloch conclui: “Essa coragem bastante rasteira vai às compras com um cartão de crédito emprestado. Vive à custa das esperanças antigas e do amparo que outrora concediam” . Diante desta constatação, o homem moderno percebe que não tem mais nenhum direito a esse amparo, já que rejeita a Deus. Todavia, ávido para viver a vida com um propósito, ele dá um salto de fé a fim de assegurar uma razão para viver. Corriqueiramente, encontramos a mesma inconsistência entre os que defendem que o homem e o universo vieram à existência sem nenhuma razão ou propósito, mas exclusivamente por acaso. Incapazes de viverem num universo impessoal, em que tudo é resultado de forças não intencionais, tais pessoas passam a atribuir personalidade e motivos aos próprios processos físicos. É um modo bizarro de falar e de representar o salto do andar de baixo para o de cima. Code , A título de exemplo, Francis Crick, em sua obra The Origin of the Genetic Code, Natureza com a inicial maiúscula “N”, e por todo o livro refere-se passa a grafar grafar Natureza refere -se à seleção natural como sendo “inteligente” e “intencional”, como se “pensasse” naquilo que fará. O astrônomo inglês Fred Hoyle atribui ao universo as qualidades de Deus. Para Carl Sagan, o “Cosmos”, que ele escreve sempre com inicial maiúscula, parece cumprir perfeitamente o papel papel de Deus-substituto. Embora todos esses homens professem não crer em Deus, parecem contrabandear um Deus substituto pela porta dos fundos, porque não suportam viver em um universo em que tudo é o resultado casual de forças mecânicas, cegas e impessoais.
15
Do mesmo modo, é interessante notar muitos pensadores traírem suas visões quando são forçados às conclusões lógicas delas. Por exemplo, alguns grupos feministas explodiram em protestos diante da psicologia sexual freudiana, pois a consideravam machista e degradante para as mulheres. Por isso, alguns psicólogos cederam e alteraram suas teorias. Ora, isso é totalmente inconsistente. Se a psicologia freudiana fosse mesmo verdadeira, não importa se é degradante para as mulheres. m ulheres. Não se pode mudar a verdade por não se gostar daquilo a que ela leva. Mas as pessoas não conseguem conseguem viver de modo consistente e feliz num mundo no qual outras pessoas são desvalorizadas. Se Deus não existe, quem ou o que dá valor a nós, seres humanos? Aparentemente, somente se Deus existir será possível apoiar coerentemente os direitos das mulheres. Porque, se Deus não existe, a seleção natural determina que o macho da espécie é o elemento dominante e agressivo. Nesse sentido, a mulher teria o mesmo direito que uma cabra ou uma ave o têm. Na natureza, seja como for, tudo está certo. Mas, sinceramente, quem consegue viver de acordo com essa perspectiva? Certamente, nem mesmo os psicólogos freudianos que traíram suas teorias ao serem empurrados para as conclusões lógicas a que elas levam. Ao considerarmos o determinismo biológico de homens como Francis Crick, nos deparamos com a angustiante constatação de que o homem não passa de outro espécime qualquer de laboratório. O mundo ficou horrorizado ao saber que, em campos de concentração como os de Dachau e Birkenau, os nazistas usavam os judeus como cobaias de experiências médicas horrendas. Mas por que não? Se Deus não existe, não pode haver nenhuma objeção ao uso de pessoas como cobaias humanas. O fim fi m dessa visão resulta no controle populacional, em que os fracos e indesejados são exterminados para abrir espaço para os mais fortes. Mas como podemos protestar contra essa visão em um mundo sem valor? O dilema do homem moderno é, aparentemente, irremediável. Se tentarmos viver de maneira coerente segundo a cosmovisão ateísta, nos veremos profundamente infelizes. Se, em vez disso, conseguirmos viver felizes, será somente dentro de um castelo de ilusões. Confrontado por esse dilema, o homem moderno debate-se em agonia procurando algum modo de escapar. As chagas dolorosas do homem moderno sangraram diante de multidões no célebre discurso à Academia Americana para o Avanço da Ciência, em
16
1991. O Doutor. L. D. Rue, desafiado pela difícil situação do homem moderno, teve a ousadia de advogar que devíamos nos enganar com alguma “Mentira Nobre” que nos faça pensar que nós e o universo ainda temos valor. valor. Com a alegação de que “os últimos dois séculos nos ensinam que o relativismo intelectual e moral são a única opção”, opção” , Dr. Rue imagina que a busca do homem pela plenitude pessoal e a procura pela coerência social tornam-se independentes uma da outra. É assim porque, segundo a perspectiva relativista, cada um escolhe seu próprio conjunto de valores e de sentido. Se quisermos evitar “a opção do manicômio” , então, não temos escolha senão adotar alguma Mentira Nobre que nos inspire a viver além de interesses egoístas ou da espera agoniante da morte eterna . Mentira Nobre “é aquela que nos ilude e nos compele a viver além do próprio eu. É uma mentira porque nos diz que o universo exala valor (o que é uma grande ficção); porque apela a uma verdade universal – apesar apesar de não existir nenhuma – nenhuma – e e porque nos impele a não viver pelo interesse em nós mesmos, o que é notoriamente falso. “Mas, sem essas mentiras, não conseguimos viver”. É essa a sentença que paira sobre o homem moderno. Para sobreviver, ele tem de viver em um castelo de ilusões. Até mesmo a Mentira Nobre, no final, é impraticável. Para ser feliz, é preciso propósito e valor objetivos. Todavia, como é possível acreditar nessas Mentiras Nobres e, ao mesmo tempo, aceitar as implicações finais do ateísmo? Parece-me que quanto mais se está convencido da necessidade de uma Mentira Nobre, menos se acredita nela. Semelhante ao efeito placebo, a Mentira Nobre só funciona em quem acredita que ela é verdadeira. Tão logo se perceba a ficção, a mentira perde seu poder sobre nós. Assim, ironicamente, a Mentira Nobre não é capaz de resolver o problema da frágil frágil e angustiante condição condição humana. humana. A Mentira Nobre, na melhor das hipóteses, nos leva à Matrix, um lugar onde somos privados dos horrores do mundo real. Mas por que deveríamos sacrificar a verdade em troca de uma ficção? Por que fingimos que não conhecemos a verdade? Por que somos tão fracos a ponto de não sabermos lidar com a realidade? Parece-me que, de certa forma, nós nunca deixamos de acreditar em “Papai Noel” . No final das contas, a Mentira Nobre nos revela a única diferença entre as crianças que o fazem e nós: a inocência de um e a covardia de outro.
17
REFLEXÕES SOBRE FILOSOFIA MORAL O que alguém deve fazer? O que é o bem? Como podemos dizer o que é bom e o que é mal? Procurando entender a natureza das propriedades e avaliações dos enunciados éticos à luz da metafísica, o homem se encarregou de responder a essas questões. Nesse sentido, surge a metaética. No período clássico da filosofia grega, os sofistas rejeitavam a tradição mítica ao considerar que os princípios morais resultam de convenções humanas, isto é, os princípios morais enquanto subjetivos. Embora na mesma linha de oposição aos princípios religiosos, Sócrates se contrapunha aos sofistas ao buscar aqueles princípios não nas convenções, mas na natureza. Platão, assim como Sócrates, combatia o relativismo moral dos sofistas. Sócrates estava convencido que os conceitos morais podiam ser estabelecidos racionalmente mediante definições rigorosas. Estas definições, curiosamente, seriam depois assumidas como valores morais de validade universal. Platão atribui a estes conceitos ético-políticos o estatuto de Ideias (Justiça, Bondade, Bem, Beleza etc.), pressupondo que os mesmos são eternos e estão inscritos na alma de todos os homens, o que viria a ser conhecido, posteriormente, como como realismo moral. Posteriormente, Posteriormente, Aristóteles Aristóteles aprofunda a discussão a respeito das questões éticas, mas, para ele, o homem busca a felicidade, que consiste na vida teórica e contemplativa cuja plena realização coincide com o desenvolvimento da racionalidade. O que há de comum no pensamento desses dois filósofos gregos é a conclusão de que a virtude resulta da reflexão, da sabedoria e do controle racional dos desejos e das paixões. Durante Durante a Idade Idade Média, a visão teocêntrica teocêntrica que predominava predominava no mundo fez com que os valores religiosos submergissem nas concepções éticas de modo que os critérios de bem e de mal se tornavam voltados a Deus, enquanto fundamento externo, transcendente e objetivo dos valores morais. Na perspectiva religiosa, os valores são considerados transcendentes porque resultam de um ser pessoal, externo e imaterial, o que determinaria a identificação do homem moral. No entanto, a partir da Idade Moderna, com o advento do Iluminismo, a moral viria a se torna laica, ou seja, o elo entre a moral e a religião seria rompido.
18
Deste modo, era perfeitamente concebível um indivíduo ateu ser moral, afinal, segundo os iluministas, o fundamento dos valores não estria em Deus, mas no próprio homem. Embora este seja um erro filosófico comum propagado pelos iluministas (a moralidade não deriva da crença em Deus, mas de sua existência enquanto fundamento dos valores morais), ainda perdura na atualidade. No lugar de explicações religiosas, o iluminismo forneceu três tipos de justificação para a norma moral: as teses jus naturalistas de Hobbes, Rousseau e Locke; as teses empiristas, de Hume e nas teses racionalistas de Kant. A máxima expressão do pensamento iluminista se concentra em Kant, o qual, havia analisado os princípios da consciência moral e concluído que a vontade humana é verdadeiramente moral quando regida por imperativos categóricos, que são assim chamados por serem incondicionados e absolutos, voltados para a realização da ação tendo em vista o dever. Nesse sentido, Kant rejeitava as concepções concepções que predominavam predominavam até então, seja da filosofia grega ou da filosofia cristã, e que norteiam a ação moral a partir de condicionantes como a felicidade ou o interesse. Para Kant, o agir moralmente se funda exclusivamente na razão. A lei moral que a razão descobre é universal, pois não se trata de descoberta subjetiva (mas do homem enquanto ser racional), e é necessária, pois é ela que preserva a dignidade dos homens, o que pode ser sintetizado na seguinte afirmação: “Age de tal modo que a máxima de tua ação possa sempre valer como princípio universal de conduta”. conduta”. No entanto, Kant não havia notado notado que a razão não exige exige o ponto de vista moral ou sequer que todas as pessoas sejam realmente racionais. A razão não toma decisões. A razão pura e prática, mesmo com um bom conhecimento dos fatos, não levará à moralidade, assim como o filósofo ateu Kai Nielsen constatou. Um exemplo prático que pode nos ajudar a entender melhor a constatação de Nielsen Nielsen é um hipotético hipotético conflito conflito entre interesses próprios e moralidade. Quando estes entram em conflito, na maioria das vezes, a moralidade perde. Imagine que há um cofre de banco subterrâneo aberto com lotes e lotes de dinheiro bem na sua frente. Você, submerso em dívidas, poderia realmente usar esse dinheiro. Adicione a este fato a garantia de que, se você pegar o dinheiro, ninguém nunca vai saber. Onde está a racionalidade r acionalidade em não tomar para si o dinheiro?
19
O exemplo acima nos evidencia, portanto, que nem sempre a razão nos leva a atitudes moralmente louváveis, podendo, em contrapartida, nos levar a atitudes moralmente repugnantes, tais como o roubo. Não obstante, o bstante, como o imperativo categórico de Kant trata de deveres morais, nós estaríamos então moralmente obrigados a cometer tais atos, visto que deveres morais se relacionam com obrigatoriedade. Talvez, se os seres humanos fossem desprovidos de sentimentos, o sistema ético proposto por Kant poderia ser, em certa medida, útil enquanto ferramenta epistemológica. No entanto, mediante a analogia aqui apresentada, nos é evidente que o fenômeno que envolve o Imperativo Categórico Kantiano ocorre não na razão, mas na experiência moral, haja vista que é por meio desta que entendemos que o roubo é algo, de fato, reprovável. Ainda assim, Kant não tratou de sustentar ontologicamente seus imperativos categóricos. Ora pois, quais são os fundamentos objetivos de suas máximas? Por que devemos agir de modo que a máxima de nossas ações possa sempre valer como princípio universal de conduta? Kant apenas eleva uma sentença de caráter pessoal ao status de verdade objetiva sem fundamentá-la no mesmo patamar. Por fim, se a razão nem sempre nos leva a moralidade, logo, não serve como um parâmetro para deveres morais. O deontologismo proposto por Kant falha, portanto, ao percebermos que qualquer sistema que pode nos levar a cometer atos moralmente abomináveis como o roubo, certamente, são sistemas imperfeitos e inadequados. Segundo a tese de doutorado sobre o argumento moral (Ohio State University, 2009) de Matthew Jordan, qualquer teoria adequada do dever moral deve necessariamente responder as seguintes s eguintes categorias:
Objetividade: a verdade de uma proposição moral é independente das crenças de qualquer ser humano em particular ou comunidade c omunidade humana. Normatividade: considerações morais, como tal, constituem razões para agir. Categoricidade: razões morais são razões para todos os seres humanos, independentemente de quais metas ou desejos que eles possam ter. Autoridade: razões morais são razões especialmente importantes.
20
Cognoscibilidade: Em circunstâncias normais, os seres humanos adultos têm acesso epistêmico a considerações moralmente relevantes. Unidade: Uma pessoa humana pode ter uma razão moral para agir, ou abster-se abster-s e de agir, de maneiras que afetam ninguém menos que o agente que pratica o ato. Portanto, qualquer teoria que não possua essas propriedades não será uma teoria adequada do dever moral. Embora Kant tenha tentado postular a objetividade – talvez o elemento mais importante de um sistema moral – ele ele falha ao tentar sustenta-la na razão r azão prática, como já observamos. observamos. Obviamente, alguém poderia tentar redefinir os os termos, termos, mas uma simples reformulação semântica não afetaria as reivindicações ontológicas que permeiam qualquer qualquer sistema ético. Dando prosseguimento ao referido capítulo, já no século XIX, as relações entre capitalistas e proletariados atingem níveis alarmantes, fazendo surgir os movimentos de massa revolucionários e a tentativa de teorização desses fenômenos. A partir deste momento, surge a preocupação empírica em examinar a então conjuntura vivida pelos homens em suas relações sociais. Para Marx, “o modo de produção da vida mate rial condiciona condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral” (Karl Marx, contribuição à crítica da economia política, 1859). Isso significa que as expressões da consciência humana, incluindo a moral, são o reflexo das relações que os homens estabelecem na sociedade para produzirem sua existência, e, portanto, mudam conforme mudam os meios de produção. A essa altura, as concepções de moral e ética já haviam se libertado completamente dos grilhões da religião. Não obstante, ainda no século XIX, Nietzsche faz a análise histórica da moral, critica a moral tradicional e preconiza a “transvaloração de todos os valores”. Eis aqui as bases do existencialismo ateu, porém, em sua forma mais extrema: o niilismo. A vida, para Nietzsche, é sem sentido objetivo, propósito ou valor intrínseco. i ntrínseco. No que diz respeito respeito ao universo, universo, o niilismo existencial existencial postula que um único ser ser humano ou mesmo toda a espécie humana é insignificante, sem propósito e irrisória a ponto de não mudar em nada a totalidade da existência. Dada esta circunstância, a própria existência – existência – toda toda a ação, sofrimento, sentimento ou valor moral – é, é, em última instância sem sentido e vazia. Já no século XX, Sartre afirma que:
21
“O conteúdo [da moral] é sempre concreto e, por conseguinte, imprevisível; há sempre invenção. A única coisa que conta é saber se a invenção que se faz, se faz em nome da liberdade”. liberdade”. (Jean-Paul Sartre) A dedução proveniente desse pensamento é a dificuldade em estabelecer os critérios para a fundamentação da moral. Sartre prometeu e não conseguiu cumprir a elaboração de uma ética que não sucumbisse ao individualismo e ao relativismo já que, segundo ele, cada homem é responsável por toda humanidade. Em conclusão, o debate acerca da filosofia moral é como um ringue: de um lado, a ordem subjetiva das vivências e emoções, a anarquia dos princípios ou a simples ausência deles; do outro lado, a verdade objetiva e o realismo moral enquanto pilar de sustentação dos valores morais. Embora a batalha continue continue a pleno vapor, penso penso que, em função dos atuais debates debates acerca da moral e da ética, bem como as enormes dificuldades apresentadas em sistemas morais subjetivos e sistemas éticos eudemonísticos – eudemonísticos – os quais iremos abordar abordar ao final do livro – livro – a a guerra parece estar sendo sendo vencida pelo realismo moral.
22
A DISTINÇÃO ENTRE EPISTEMOLOGIA MORAL E ONTOLOGIA MORAL Ontologia moral e epistemologia moral são duas ferramentas da metaética que, embora possam causar uma certa confusão, possuem papéis muito distintos, porém, ontos, "ente", e logoi, logoi, "ciência do ser", é o igualmente importantes. Ontologia, do grego ontos, "ente", ramo da metafísica que trata da natureza, da realidade e da existência dos entes. A ontologia trata, portanto, do ser enquanto ser, isto é, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e a cada um dos seres. Embora haja uma especificação quanto quanto ao uso do termo, a filosofia Contemporânea entende que Metafísica e Ontologia são, na maior parte das vezes, sinônimos, muito embora a metafísica seja o estudo do ser e dos seus princípios gerais e primeiros – os os quais não são limitados pelo tempo, matéria ou espaço – espaço – sendo, sendo, portanto, mais ampla que o escopo da ontologia. Já a epistemologia, é o ramo da filosofia que trata da natureza, etapas e limites do conhecimento conhecimento humano, especialmente nas relações que se estabelecem entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Nesse sentido, pode ser mais adequado nomeá-la de teoria do conhecimento. Em sentido mais restrito, refere-se às condições sob as quais se pode produzir o conhecimento conhecimento científico e dos dos modos modos para alcançá-lo, avaliando a consistência consistência lógica de teorias. Nesse caso, identifica-se com a filosofia da ciência. Penso que distinguir ontologia e epistemologia de forma perfeita seja a chave para o completo entendimento do argumento moral. Para isso, devemos ter em mente que a afirmação de que os valores e deveres morais são fundamentados em Deus é uma afirmação Metaética sobre ontologia moral, e não sobre linguística moral ou epistemologia moral. É fundamentalmente fundamentalmente uma afirmação sobre o status objetivo de propriedades morais, não uma afirmação sobre o significado de frases morais ou sobre justificação ou conhecimento de princípios morais. Embora seja tênue a linha que separa os conceitos em questão, é extremamente importante que mantenhamos a distinção entre epistemologia e ontologia moral o mais claro possível. Quando atingirmos esse objetivo, será possível enxergar que nós não precisamos conhecer ou até mesmo acreditar que Deus exista a fim de discernir valores morais objetivos ou reconhecer nossos deveres morais. Afirmar os fundamentos ontológicos de valores e deveres objetivos morais em Deus da mesma forma não diz nada sobre como nós viemos a conhecer esses valores e deveres, assunto o qual pertence à epistemologia
23
moral. Qualquer teísta pode e deve estar genuinamente aberto a quaisquer teorias epistemológicas propostas. Por fim, é importante ressaltar, no entanto, que o modo pelo qual nós viemos a conhecer nossos deveres morais, por se tratar de uma questão de epistemologia moral, é irrelevante para os argumentos apresentados na obra, haja vista que trabalhamos apenas com ontologia moral, isto é, com os fundamentos dos valores morais.
24
A DISTINÇÃO ENTRE MORAL, ÉTICA, VALOR E DEVER Neste momento, é de suma importância o estabelecimento estabelecimento da distinção entre moralidade, ética, valores e deveres morais. A moralidade nada mais é que uma reunião de inferências socioculturais acerca dos valores morais reunidas em um conjunto que denominamos moralidade. Já os valores morais, enquanto objetivos, existem na condição de substrato da moralidade, isto é, servem como parâmetro para todo e qualquer sistema moral. A título de exemplo, temos a justiça, a honra e a humildade. Tais valores, por serem objetivos - isto é, constituem verdade independente independente de opiniões humanas - devem ser fundamentados em algo acima de nós, servindo, desta forma, como um parâmetro absoluto e externo para pautarmos nossas ações. Tais valores são universais e independem de qualquer convenção humana, tempo, emoção ou opinião pessoal, isto é, são sempre verdadeiros. Sua ontologia (origem) é atribuída a um Legislador externo, pessoal e moralmente perfeito, isto é, Deus. É importante ressaltar que tal conclusão era reconhecida e aceita até mesmo por ateus existencialistas como Nietzsche, Camus e Sartre, ao passo que entendiam e concordavam que a existência de valores morais objetivos requerem um legislador moral para poder existir. ethos, pode ser entendida como a reflexão dos princípios Por fim, a ética, do grego ethos, e valores universais que regem, orientam e regulam a conduta humana. Nesse sentido, a ética se assemelha à moralidade, pois ambos buscam se aproximar ao máximo dos valores morais. Todavia, a ética tem como característica fundamental a universalidade e a adaptação em função de uma determinada realidade social. Aqui, por mais que a distinção entre os dois termos não seja mais tão recorrente na filosofia, ainda pode-se diferir ética de moralidade, sendo a última um fenômeno estritamente local e fruto de fatores socioculturais. Por fim, a distinção entre valores e deveres se mostra de suma importância: valor tem a ver com o fato de algo ser bom ou mau, já deveres têm a ver com o fato de algo ser certo ou errado. É evidente que você não é moralmente obrigado a fazer algo somente porque seria bom que você fizesse fizesse aquilo. aquilo. Por exemplo, exemplo, seria seria bom que você você se formasse em medicina, mas você não está moralmente obrigado a se tornar um médico. Além disso, às vezes tudo Sofia), embora não seja errado você que se tem são escolhas ruins (vide A escolha de Sofia),
25
escolher uma delas, uma vez que se tenha que escolher uma. Assim, nos é evidente que existe uma diferença significativa entre bem e mal, assim como entre certo e errado. Em tempo: bom e mau têm a ver com o valor de algo, enquanto certo e errado têm a ver com o fato de algo ser obrigatório.
26
UMA BREVE INTRODUÇÃO À TEORIA MORAL Atualmente, é comum que a ética seja tomada como "a área da filosofia que se ocupa do estudo das normas morais nas sociedades humanas" e busca explicar e justificar os costumes de um determinado agrupamento agrupamento humano, bem como fornecer subsídios para a solução de seus dilemas mais comuns. Todavia, faz-se necessário clarificar que a ética não deve ser confundida com lei ou regras morais, embora com certa frequência a lei tenha como base princípios éticos. Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por outra instância, a cumprir as normas éticas, nem sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas. Por outro lado, l ado, a lei pode ser omissa quanto a questões abrangidas no escopo da ética. Um exemplo prático que pode nos ajudar a entender o porquê da necessidade de distinção entre ética e lei, segue: imagine um indivíduo dentro de um ônibus lotado que segue rumo a um destino distante. O mesmo indivíduo ocupa um lugar reservado às gestantes. Enquanto Enquanto o ônibus segue o trajeto, uma gestante encontra-se de pé ao lado do assento reservado ocupado pelo sujeito em questão. Ora, intuitivamente, podemos conceber como antiético o fato de se ocupar um lugar exclusivo ao passo que se deixa uma gestante de pé durante toda a viagem. No entanto, a referida ação não é ilegal e, obviamente, não comporta penalidades penalidades afins, como o cárcere ou a pena de morte. Tratase apenas de uma atitude antiética cuja constatação parte de condenações baseadas em nossos juízos de valor. O estudo da ética dentro da filosofia divide-se, atualmente, em alguns sub-ramos que se encarregam de trabalhar com distintas vias filosóficas. Essa divisão ocorreu principalmente após o advento da filosofia f ilosofia analítica, no século XX, em contraste com a filosofia continental ou com a tradição filosófica grega. As referidas subdivisões são:
Metaética: levanta questões sobre a teoria da significação e da referência dos termos e proposições morais e como seus valores de verdade podem ser determinados, fundamentados fundamentados e sustentados;
Ética normativa: encarrega-se de refletir sobre os meios práticos de se determinar as ações morais; teorias do dever; referente ao certo e errado ou bom ou mau; normas de conduta; como as pessoas devem agir e se comportar;
27
Ética aplicada: sobre como a moral é aplicada em situações específicas; aborto; eutanásia; pena de morte; direito dos animais;
Ética descritiva: também conhecida como ética comparativa, é o estudo das visões, descrições e crenças que se tem acerca da moral; comparação de interpretações culturais acerca dos valores (sistemas morais);
Ética Moral: trata-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais consideradas tanto no âmbito coletivo como no âmbito individual; i ndividual; síntese da disciplina ética; reflexão sobre deveres e valores morais; Deste modo, a ética abrange os campos que atualmente são denominados antropologia, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, política e todas as esferas do conhecimento conhecimento humano. Em suma, os campos estão diretamente ou indiretamente ligados ao que influi na maneira de viver do homem. Dentre os campos citados acima, dois se destacam nas discussões filosóficas: a metaética e a ética normativa. Enquanto as éticas normativas se encarregam de formular questões como "O que alguém deve fazer?" , a metaética formula questão como "O que é o bem?" Ou "Como podemos dizer o que é bom e o que é mal?". Deste modo, procuramos entender a natureza das propriedades e avaliações dos enunciados éticos. Ora, é justamente nas considerações metafísicas sobre a moral que se encontra a chave de toda a questão, haja vista que a condição ontológica precede quaisquer teorias morais e tomada de decisões acerca da moral prática. Em suma, devemos verificar os fundamentos dos juízos morais antes de realizá-los, no intuito de atestar sua validade. De modo que possamos trabalhar a questão, devemos nos fazer duas perguntas:
(1) Qual a natureza dos juízos morais? (2) Como os juízos morais podem ser apoiados e defendidos? A primeira indagação diz respeito ao status ontológico dos juízos e valores morais (objetividade ou subjetividade). Já a segunda questão diz respeito a como nós podemos saber que algo é certo ou errado, isto é, epistemologia. Como foi possível observar, as respostas destas duas perguntas, embora pertencentes a duas esferas distintas da filosofia,
28
são indissociáveis. Em outras palavras, a resposta de uma implica fortemente a resposta de outra. mal?" Ou ainda "O Não obstante, outras indagações surgem: "O que é o bem e o mal?" Ou que é moral e imoral?" Tais questões pertencem, respectivamente, à semântica (linguística moral) e à definição de moralidade. De modo que evitemos a confusão entre os termos da teoria moral, segue uma ilustração retirada do domínio eletrônico Reasonable Faith Faith que nos ajuda a compreender as divisões da metaética e da ética aplicada:
Retirado de http://www.rea http://www.reasonablefai sonablefaith.org/portu th.org/portuguese/qa-261 guese/qa-261
À luz do diagrama, é possível identificar o campo no qual fazemos uma determinada afirmação. A título de exemplo, quando dizemos que os valores morais são fundamentados em Deus, estamos, na verdade, fazendo uma afirmação metaética sobre ontologia moral. Do mesmo modo, quando nos perguntamos como conhecemos ou aprendemos os valores morais, estamos fazendo uma afirmação sobre epistemologia moral. Por fim, quando nos perguntamos sobre o que é o bem ou o mal, estamos fazendo uma afirmação sobre semântica moral, isto é, uma questão puramente linguística. A confusão entre os termos é comum até mesmo entre filósofos treinados, portanto, faz-se necessária a observância da relação entre as afirmações e a instância i nstância filosófica.
Metaética: Cognitivismo vs. Não-cognitivismo Em seus diversos modos de aplicação, a ética acaba por nos conduzir a distintos e não-relacionados não-relacionados campos, incluindo a ciência, as teorias políticas, econômicas e sociais, bem como quaisquer outras abstrações da cognição humana. Do mesmo modo, as aplicações se voltam à estrutura da família, à sexualidade, e até mesmo o modo pelo qual a sociedade vê o papel dos indivíduos, arrolando teorias como o feminismo, o marxismo,
29
o existencialismo sartreano e outras modos de se ressignificar o homem. Inicialmente, para se analisar uma determinada uma uma determinada visão ética, é necessário necessário definir uma sentença ética, também conhecido como uma afirmativa normativa. Trata-se de um juízo positivo ou negativo (em termos morais) morais) de alguma coisa. Sentenças Sentenças éticas, por sua vez, vez, são frases que usam palavras como bom, mau, certo, errado, moral, imoral, etc. Segue abaixo alguns exemplos de sentenças éticas:
(A) Abortar é moralmente errado; (B) As pessoas não devem roubar; (C) A humildade é uma virtude; Em contrapartida, uma proposição não-ética necessita ser uma sentença que não serve para uma avaliação avaliação moral. Alguns Alguns exemplos são: são:
(D) Carlos é uma pessoa alta; (E) As pessoas se movimentam nas ruas; (F) Pedro é o chefe do departamento; Notem que ao consideramos as expressões não-éticas (D; E; F), estamos, na realidade, expressando expressando crenças sobre o mundo. Em suma, estamos descrevendo-o. Agora consideremos as proposições morais (A; B; C). Elas expressam uma crença sobre o mundo? Elas são verdadeiras ou falsas? Em função das perguntas levantadas, as respostas se distinguem radicalmente de acordo com a visão metaética adotada.
Cognitivismo: é a visão de que declarações morais são "truth-apt", isto é, variam de acordo com o contexto e podem ser tanto uma proposição verdadeira quanto falsa. Dito isso, os exemplos anteriores, quando colocados nessa perspectiva, nos mostram que as declarações éticas e não-éticas possuem o mesmo status. No geral, A não é fundamentalmente fundamentalmente diferente de D. Apenas se está expressando uma crença sobre aborto, o qual possui a propriedade de ser errado (wrongness property).
Não-Cognitivismo: ao contrário do cognitivismo, esta visão nega que declarações morais sejam "truth-apt", isto é, nega que variem de acordo com o contexto ou que possuem valor alético. Basicamente, tem-se que as declarações morais não expressam proposição
30
alguma e que, portanto, não podem ser verdadeiras ou falsas. Nesse contexto, A seria errado apenas por conta de uma expressão emocional de desaprovação do aborto. Em resumo, tratam-se apenas de expressões emocionais emocionais sobre declarações morais.
Teorias Metaéticas Em função das definições de cognitivismo e não-cognitivismo, observemos abaixo um esquema com as teorias mais recorrentes da ética:
Após analisarmos o diagrama com cuidado, vamos às explicações conceituais:
Antirrealismo Moral Em tese, a posição antirrealista nos diz que as declarações morais são sempre dependentes da mente humana. Em outras palavras, o antirrealismo é a negação de que propriedades morais existam independentemente independentemente da mente humana. Nesse sentido, as propriedades morais estão sujeitas a opiniões, gostos gostos ou preferências pessoais, sejam elas elas
31
individuais ou coletivas. Logo, a veracidade ou falsidade de sentenças morais como “abortar é moralmente errado” são inteiramente dependentes da mente humana.
Realismo Moral O realismo moral nos diz que algumas declarações morais são verdadeiras independentemente independentemente da mente humana (gostos, preferências ou opiniões pessoais). Nesse sentido, se um realista moral acredita que o aborto é moralmente errado, ele quer dizer que, mesmo que todos no mundo concordem que abortar é moralmente correto, o aborto ainda seria moralmente errado, pois independe da mente humana. Em suma, o aborto possui a propriedade propriedade objetiva (mental-independente) (mental-independente) de ser errado (wrongness property). property). Para um realista moral, os valores morais são características do mundo não menos reais que a lei da gravidade ou a solidez dos objetos. Nota: Não devemos confundir objetivo e subjetivo, respectivamente, com absoluto e relativo. O oposto de "objetivo" é "subjetivo", ao passo que oposto de "absoluto" é "relativo". Nos é óbvio que "relativo" não significa "subjetivo", na medida em que um não implica no outro. O fato de os deveres morais de alguém serem relativos às próprias circunstâncias não implica, de modo algum, que eles sejam subjetivos, isto é, de que não existe algo objetivamente certo ou errado para fazer em tal situação. Assim, a distinção objetivo/subjetivo não é a mesma que absoluto/relativo. "Absoluto" significa "independentemente das circunstâncias". "Relativo" significa "variando " variando com as circunstâncias". Nós podemos concordar, por exemplo, que não é absolutamente errado matar outra pessoa. Em algumas circunstâncias matar outra pessoa pode ser moralmente justificado e até mesmo obrigatório. Afirmar que um dever de ver moral varia de acordo com as circunstâncias não quer dizer diz er que não temos deveres morais objetivos a cumprir. É de suma importância a distinção, já que, a título de exemplo, a declaração "existem valores e deveres morais absolutos" é radicalmente distinta de "existem valores e deveres morais objetivos" na medida em que a primeira declaração afirma que certas coisas são sempre certas ou erradas, ao passo que a segunda afirma que há deveres morais a se cumprir e valores a se observar.
32
NOMINALISMO, CONCEITUALISMO E REALISMO Tendo em vista a discussão do próximo tópico (Valores morais, objetos abstratos e objetos concretos), faz-se estritamente necessária a introdução de algumas correntes filosóficas que permeiam o debate acerca da existência dos universais. O universal é um conceito metafísico que caracteriza uma propriedade ou uma relação que pode ser exemplificada por um número de coisas particulares diferentes. Em síntese, trata-se de uma ideia ou essência comum a todas as coisas que agrupamos sob um mesmo signo linguístico. Por exemplo, cada coisa branca é um exemplar ou um espécime da propriedade da brancura; e cada coisa quadrada é um exemplar da propriedade da quadratura. As coisas abrigadas por um universal são, assim, semelhantes em algum aspecto. O problema dos universais diz respeito à determinação do fundamento e do valor dos conceitos e termos – por por exemplo 'animal' e 'homem' – universais universais aplicáveis a uma multiplicidade de indivíduos. Dentro do referido debate, existem várias teorias que buscam compreender, sob diversas perspectivas, o tema em questão. A título de exemplo, para os realistas, os universais têm existência própria, fora da mente humana. Há dois tipos de realismo: o aristotélico que acredita na existência dos universais nas coisas particulares, como sua essência ou forma imanente e o platônico – também também conhecido como platonismo – que que ensina que os universais são realidades em si, isto é, existem fora das coisas concretas e particulares. Já o Conceitualismo vê os universais apenas como construções da nossa mente; são conceitos fabricados pela nossa inteligência, que, através da indução, são retirados das coisas individuais e transformados a priori, tendo com elas uma semelhança real. Finalmente, o Nominalismo define os universais como nada mais que nomes (palavras, sons) que se dá às coisas. As ideias não têm universalidade, senão que foram formadas a partir de repetidas experiências experiênci as com o mesmo objeto a que se associou um mesmo nome: as ideias universais universai s são reduzidas a simples coleções de várias experiências similares, às quais se associou um nome comum. Em meio ao embate do problema dos universais, os nominalistas costumavam afirmar que nenhuma substância metafísica se esconde por trás das palavras, ou seja, as essências não seriam nada além de palavras ou signos que rrepresentam epresentam coisas sempre singulares. Em contrapartida, os realistas postulavam que a existência de coisas exteriores a nós e independe do que pensamos sobre elas. Na idade Média, Guilherme de
33
Champeaux (1070-1120), um grande defensor do realismo, dizia que a natureza ou essência de algo – algo – por por exemplo, de um homem – homem – é é única e idêntica em todos os indivíduos dos quais podemos predicar a palavra “homem”. Os indivíduos seriam meras variações acidentais da natureza ou da essência. No entanto, Pedro Abelardo (1079-1142), um de seus pupilos mais astutos, logo percebeu o problema que a ideia de universais universais nas coisas (universale (universale in re) poderia poderia criar e colocou o seu mestre em uma grande saia justa ao propor que, se a Platão é um homem e Sócrates é um homem, e se só existe uma única natureza humana, então Platão é Sócrates. No extremo oposto do debate, encontrava-se Roscelino (1050-1120), que negava que os conceitos fossem algo distinto de sua expressão linguística, ou seja, os nomes não eram mais do que sons arbitrários (flatus vocis) que associamos a determinados objetos. Em síntese, fora de nosso intelecto, só existiriam os seres singulares. Como vimos anteriormente, para os nominalistas, os conceitos universais são criações do nosso intelecto e não têm existência fora da mente. Quando utilizamos conceitos para nos referirmos às coisas, devemos ter em mente que os mesmos conceitos não são uma propriedade das coisas, existindo exclusivamente exclusivamente em nossas mentes. Ora, se a mente formula os conceitos a partir das coisas, por perceber semelhanças entre elas, ou se já possui em si mesma os conceitos que associa às coisas, coisas, em ambos os casos, casos, os conceitos conceitos permanecem como sendo uma uma produção do intelecto sem sem correspondência correspondência a nada de real fora da mente. A partir do século XII, XI I, começa a se desenvolver uma versão moderada de realismo com Pedro Abelardo, resultando em importantes desdobramentos em Tomás de Aquino (século XIII). O último, no entanto, teve a vantagem, em relação a Abelardo, de contar com a tradução das obras de Aristóteles para o latim. Deste modo, ele pode incorporar elementos aristotélicos em seu realismo moderado. Para Tomás de Aquino, os indivíduos são compostos de matéria e forma, sendo a matéria o princípio de individuação. A forma (alma) ao se unir à matéria (corpo) formam os indivíduos enquanto unidades indissociáveis. Nosso intelecto, porém, é capaz de percebê-las como separadas através da abstração. Em seguimento, nossos sentidos imprimem uma imagem de um objeto físico em nossa mente. Essa impressão é nomeada por Aquino de fantasma. Em seguida, nosso
34
intelecto agente abstrai, das imagens, a forma (o inteligível) que está impressa em nosso intelecto passivo (que a recebe dos sentidos). Por fim, esta forma, recebida pelos sentidos, impressa em nosso intelecto passivo e abstraída pelo intelecto agente, é o que conhecemos como conceito. Dados os inúmeros conceitos e debates que circundam o problema dos universais, nos é evidente que a discussão ainda não encontrou o seu fim. Atualmente, em conjunto com a sofisticação e o rebuscamento das teorias já existentes, mais correntes de pensamentos surgiram, tais como o ficcionalismo, a Lógica Livre, o Neutralismo, o fenomenismo e inúmeras outras denominações. De todo modo, a atual conjuntura demonstra uma surpreendente abundância abundância de nominalistas que invadiram o debate acerca da condição ontológica de objetos abstratos, como os números, e a existência dos universais, e a tornaram uma questão que pesa mais para o lado destes. Por fim, a relevância do debate entre as correntes nominalistas e realistas recai sobre a discussão dos objetos abstratos, que por sua vez, formulam uma grande questão na filosofia moral, afinal, um dos elementos que preenche a categoria dos objetos abstratos são, além dos números, os valores morais.
35
VALORES MORAIS, OBJETOS ABSTRATOS E OBJETOS CONCRETOS Neste momento, nos perguntemos: "Qual é a relação dos objetos abstratos com Deus?". Sem dúvidas, se consideramos o platonismo, a conclusão seria que existem seres que são não criados por Deus, tais como os números, haja vista que o Platonismo (uma forma de realismo) é a visão de que existem objetos abstratos não criados, como números, valores, conjuntos, propriedades e assim por diante. Eis a chave da questão: pensemos sobre a existência dos números. Certamente, pode haver três bananas, por exemplo, em cima da mesa; mas, além das maçãs, será que o número 3 existe? Ora, não estamos perguntando se se o numeral “3” existe, mas se o número 3 existe existe em si mesmo. Existem coisas chamadas “números”? Os números, de fato, existem na realidade? Algumas pessoas podem achar essa pergunta tão banal a ponto de considerá-la totalmente irrelevante. Todavia, ela traz à tona uma questão teológica fundamental, cuja importância é absoluta. Se os números, de fato, existem, de onde eles vêm? Segundo a teologia cristã, tudo o que existe foi criado por Deus. Mas os números, se existirem, são quase sempre considerados seres necessários, isto é, são auto existentes. Desse modo, ao que aparece, eles existem apesar de Deus. Essa é a visão que o platonismo sustenta. Se tentarmos evitar esse problema adotando uma espécie de platonismo modificado, segundo o qual os números foram criados de forma necessária e eterna por Deus, surge então o problema de circularidade viciosa: antes de Deus criar o número 3, o número de pessoas na Trindade já existiria (3). Então, o número 3 existia antes mesmo de Deus criar o número 3, o que é logicamente inconcebível. De todo modo, o platonismo falha ao sustentar tais entidades abstratas. O único argumento conhecido a favor do platonismo é o chamado argumento argumento da indispensabilidade, indispensabilidade, proposto pelo falecido falecido W. V. O. Quine, que se sentia obrigado a admitir a existência de objetos matemáticos, especificamente os conjuntos, na sua ontologia. Ele entendia que a verdade de nossas melhores teorias científicas nos comprometia com a realidade delas. Segundo o trabalho sobre objetos abstratos do filósofo e doutor William Lane Craig, o argumento de Quine baseava-se em diversas teses teses distintas:
36
1- A ciência natural é o único árbitro da verdade e guia para a realidade. (Naturalismo) 2- Declarações formuladas canonicamente quantificando entidades matemáticas são indispensáveis às nossas melhores teorias científicas. (Tese da indispensabilidade) 3- Estamos comprometidos ontologicamente com o valor de qualquer variável vinculada ao quantificador existencial na simbolização de primeira ordem de uma declaração formulada canonicamente. (Critério do compromisso ontológico) 4- A confirmação da verdade de nossas melhores teorias científicas cabe a cada declaração indispensável dessas teorias. (Holismo confirmativo) Craig ressalta: “O naturalismo nos diz que não existem fundamentos metafísicos nem extra nem extra científicos para se rejeitar a existência de objetos matemáticos. Aquilo que a ciência exige que seja real é real e ponto final. A tese da indispensabilidade está, portanto, no âmago de qualquer versão do argumento. É fundamentalmente a alegação de que a quantificação de entidades matemáticas em nossas melhores teorias não pode ser interpretada livremente. Quine admite que declarações da linguagem comum, se consideradas sem maiores análises, envolveriam a quantificação de pseudo-objetos; daí a necessidade de uma formulação canônica das declarações de uma teoria científica, assegurando que seus comprometimentos ontológicos são irredutíveis. O critério do compromisso ontológico intuído por Quine não é por si só um critério de existência, mas nos diz aquilo que deve existir obrigatoriamente para que uma declaração canônica seja verdade. Admitindo-se o naturalismo, devemos estar em termos ontológicos comprometidos exclusivamente por declarações de nossas melhores teorias científicas que forem verdade, sejam quais forem. Finalmente, o holismo confirmativo garante que as declarações matemáticas indispensáveis de teorias científicas verdadeiras sejam elas mesmas verdadeiras. Afinal, qualquer evidência que venha confirmar a verdade da teoria como um todo vem confirmar toda declaração que ela abrange. Uma vez que as declarações matemáticas de uma teoria científica verdadeira são indispensáveis, estamos ontologicamente comprometidos por essas teorias aos objetos matemáticos quantificados. Por isso, a ciência moderna exige que creiamos na existência de objetos matemáticos. ” William Lane Craig em: Obra atual a despeito de deus e de objetos abstratos
37
Em função dá frágil base que sustenta as teses quineanas, cada uma delas parece ser altamente controvertida, e nenhuma delas aparenta ser plausivelmente verdadeira. O naturalismo, não estando ele mesmo entre as deliberações da ciência natural, é incapaz de ser justificado racionalmente. Além disso, o naturalismo de Quine, ironicamente, ir onicamente, mutila a matemática, interpretada conforme o platonismo, pois o fragmento da matemática que a ciência natural exige é uma parte infinitesimal do universo do discurso matemático. Não obstante, a tese da indispensabilidade de Quine tem sido alvo de críticas com base nos mais diversos fundamentos. As críticas de Charles Chihara foram especialmente devastadoras (ontology and the vicious circle principle [a ontologia e o princípio do círculo vicioso], ithaca, n.y.: cornell university press 1973, cap. 3). Chihara destaca que Quine não dá nenhuma pista do que seria uma proposição formulada canonicamente, nem de qual seria o procedimento para a obtenção de uma, e muito menos apresenta a garantia de que as declarações das teorias científicas podem sem formuladas canonicamente de maneira a eliminar todos os pseudoobjetos quantificados em linguagem comum. Sem tal procedimento, a proposta de Quine não pode nem mesmo decolar do chão. Além disso, ele apenas supõe que todas as nossas melhores teorias científicas podem ser formuladas adequadamente em lógica predicativa de primeira ordem, o que parece duvidoso demais. Lógica modal, lógica temporal e lógica contrafactual parecem ser necessárias para apreender adequadamente o conteúdo teórico da ciência natural. Uma vez que o critério do compromisso ontológico de Quine não funciona nesses contextos, o critério não conseguirá revelar acuradamente os compromissos ontológicos dessas teorias. Na teoria de Chihara, certos símbolos de proposições abertas — ou ou seja, sinais oracionais contendo variáveis livres — são são construíveis e as declarações de filiação fixa são reescritas como enunciados sobre algum indivíduo que satisfaça uma proposição aberta. Chihara não alega que sua semântica representa o modo como os matemáticos entendem, de fato, o linguajar deles, nem que ela deveria substituir a linguagem matemática padrão, mas que mostra apenas como declarações matemáticas podem ser consideradas verdadeiras sem nenhum comprometimento ontológico com objetos abstratos. De modo parecido, o Estruturalismo Modal de Geoffrey Hellman evita com êxito a quantificação de objetos matemáticos (mathematics without numbers: towards a modal-structural interpretation [matemática sem números: a caminho de uma interpretação modal-estrutural], oxford: oxford university press, 1989).
38
O estruturalismo vai buscar a sua inspiração na percepção de que as únicas propriedades matematicamente relevantes dos números são suas propriedades relacionais. As propriedades intrínsecas dos números naturais podem, por isso, ser ignoradas em favor da estrutura ordinal abstrata instanciada por eles. É matematicamente irrelevante os tipos de objetos que preencham as posições nessa estrutura ordinal. Portanto, não precisamos realmente de número algum. A fim de evitar o comprometimento ontológico com estruturas abstratas, Hellman afirma meramente a possibilidade lógica de tais estruturas. Assim, mais uma vez, declarações matemáticas não envolvem a quantificação de objetos ou posições em uma estrutura ordinal real, uma vez que leva em consideração apenas a possibilidade de objetos inter-relacionados inter-relacionados estruturalmente ou as posições. posições. Ora, é possível afirmarmos coisas como: c omo: “Existem diferenças profundas entre republicanos e democratas” ou “Há falta de integridade no comportamento dele” sem imaginarmos que assim nos obrigamos a incluir essas características como diferenças e carências em nossa ontologia. É quase impossível exagerar a importância dessa ideia. Racionalmente, não é possível considerar que a quantificação existencial na linguagem comum nos comprometa ontologicamente com os itens quantificados. Quine, obviamente, reconhece isso, mas ele insistia que, já que as proposições de nossas melhores teorias científicas foram postas na forma canônica e simbolizadas na lógica predicativa de primeira ordem, então estamos comprometidos com qualquer qualquer item ligado pelo quantificador existencial, mesmo sem dar nenhuma dica sobre como fazer para transformar as proposições da linguagem comum na forma canônica, nem apresentar absolutamente nenhum argumento para justificar que, ao fazer isso, as livrará de quaisquer compromissos indesejáveis da linguagem comum. Além disso, ele também não apresenta nenhuma garantia de que nossas melhores teorias científicas podem ser simbolizadas com sucesso na notação da lógica predicativa de primeira ordem. À luz desses entendimentos alternativos do quantificador universal, nos fica evidente que o critério do compromisso ontológico de Quine parece não ser apenas não garantido, mas é também equivocado e implausível. A falha do argumento de Quine e a fragilidade do platonismo abrem a porta para o ficcionalismo, o qual defende que, embora o conteúdo nominal de uma teoria científica possa estar certo, o conteúdo conteúdo puramente matemático, caso seja seja considerado literalmente, literalmente, é falso, sendo apenas uma ficção útil. O ficcionalismo tem adotado dois caminhos para
39
responder ao argumento da indispensabilidade. O caminho, tomado por Hartry Field (science without numbers [ciência sem números] princeton: princeton university press, 1980), desafia a tese da indispensabilidade, segundo a qual a matemática é indispensável nominalizada de uma teoria científica em que para a ciência e para fornecer uma versão nominalizada de não se faz nenhuma referência a objetos matemáticos. O segundo caminho, adotado por Mark Balaguer (platonism and anti-platonism in mathematics [platonismo e antiplatonismo na matemática], nova iorque: oxford university press, 1998), aceita a tese da indispensabilidade, mas sustenta que, conquanto a matemática possa ser indispensável para a prática científica, em nada seu conteúdo coopera para o conhecimento do mundo e que o platonismo não é a melhor explicação para a sua aplicabilidade. Ambos os caminhos concordam que o conteúdo platônico da ciência empírica é fictício e, portanto, falso. Obviamente, proposições como “2 + 2 = 4” assemelham -se a declarações concernentes a personagens f ictícios ictícios como “Papai Noel mora no Polo Norte”. Essas orações não conseguem corresponder corresponder à realidade, pois têm em si termos desprovidos de conteúdo. Já que não correspondem à realidade, são literalmente falsas. Como a pessoa de Papai Noel não existe, ele não pode viver literalmente no Polo Norte. Pelo fato de não existirem coisas como dois e quatro, não é literalmente verdadeiro que quatro é a soma de dois números dois. O que é verdadeiro afirmar, porém, é que Papai Noel vive no Polo Norte de acordo com a conhecida história de Papai Noel. De acordo com essa história, ele não fez a sua casa no leste de Peoria. Do mesmo modo, é verdadeiro afirmar que 2 + 2 = 4 conforme a descrição padrão da Matemática. Isso salva o ficcionalista do embaraço de declarar descaradamente que “2 + 2 = 4” é falso, pois ele concorda que essa declaração é verdadeira no modelo padrão da aritmética. Todavia, nega que tal modelo corresponda a qualquer realidade independente. independente. É um erro imaginar que a prática matemática nos obriga à verdade literal das teorias matemáticas, pois a questão ontológica concernente à realidade de objetos matemáticos é uma questão filosófica da qual a própria matemática não trata. No máximo, a nossa prática nos obriga a sustentar que certas declarações são verdadeiras de acordo com a descrição padrão da área relevante.
40
As verdades ficcionais são, portanto, geradas pela prescrição ou ordem para que se imagine que algo seja verdadeiro. Os acordos feitos entre os participantes do jogo sobre o que deve ser imaginado servem de regras para prescrever certas fantasias. Essas regras são os princípios geradores de um mundo fictício no qual certas proposições devem ser imaginadas como verdadeiras. Walton frisa que esse modo de entender as regras r egras do jogo pode pode realmente não ser consciente nem explícito. “Pode estar tão entranhado que dificilmente o notamos, pode ser tão natural que é difícil imaginar que não o temos” (IBID., P. 41). Assim, é possível envolver-se com o faz de conta sem ter a mínima consciência dele. Mais uma vez, fica evidente que o holismo confirmativo de Quine é, portanto, implausível, e a rejeição dele abre a porta para a leitura ficcionalista das declarações declarações da matemática pura, empregada na ciência, a qual tem obtido grande apoio e sucesso em meio aos debates atuais. Ainda assim, o próprio C.S Lewis era um antiplatonista. Em seu ensaio "Bluspels e Flalansferes: a semantic nightmare", Lewis afirma que a maior parte da nossa linguagem é metafórica, em vez de literal. Lewis argumenta que, "[...] o nosso pensamento é independente das metáforas que empregamos na medida em que essas metáforas são opcionais. Isto é, na medida em que somos capazes de ter a mesma ideia sem eles" (CLIVE STAPLES LEWIS). Logo, nossa reivindicação de independência da metáfora é, na verdade, uma reivindicação de conhecer o objeto de outra maneira do que através dessa metáfora. Isto também pode ser evidenciado quando o homem aprendeu a matemática. Quando imputamos a metáfora à matemática, nós não passamos do símbolo para o simbolizado, mas apenas passamos de um conjunto de símbolos para outro. É evidente que Lewis é um antiplatonista acerca da matemática, pois ele a enxerga como sendo metafórica, tal como seus objetos irreais. Lewis pensava que, em muitos campos de discurso, a incapacidade de perceber que alguém está usando metáforas mortas sem nenhuma compreensão do seu significado leva à falta de sentido desse próprio discurso. Ainda assim, ele é mais otimista com relação ao discurso matemático: "os matemáticos que raramente se esquecem de que seus símbolos são simbólicos beira aos noventa por cento" (CLIVE STAPLE LEWIS). Em síntese, Lewis sabia que os próprios matemáticos percebem que seus discursos não são literais, mas metafóricos.
41
No que que tange aos valores morais, o platônico entende o Bem Bem como como sendo sendo um objeto abstrato não-criado, necessariamente existente. Ora, seria, de fato, bizarro pensar que o Bem pode ser um objeto abstrato criado por Deus, pois Deus não teria de ser bom a fim de criar o Bem? Poderia um ser moralmente neutro criar a bondade? Explicativamente anterior à criação de sua própria bondade, Deus seria moralmente neutro, e assim parece que temos um exemplo do poder criando o justo. Esse é o círculo vicioso que observamos quanto à questão dos números. Disso decorre, portanto, que o Bem não pode ser um objeto abstrato, uma vez que não há objetos abstratos não-criados. Então, em conclusão, nem os números nem os valores morais são objetos abstratos. Ao invés disso, o Bem é um objeto concreto, ou seja, o próprio Deus, afinal, a benevolência não é uma propriedade, mas sim o próprio Deus enquanto paradigma da bondade. Como os valores morais poderiam existir, enquanto objetos abstratos, separadamente das pessoas? A propriedade de ser bom não é um objeto abstrato, do mesmo modo que as propriedades de ser marrom ou de ser rápido r ápido não o são. O platonismo moral parece até mesmo ininteligível. O que significa, por exemplo, dizer que o valor moral da justiça apenas existe? E difícil tirar algum sentido disso. É fácil f ácil compreender compreender o que significa dizer que alguém é justo, mas é desconcertante quando alguém diz que a justiça existe por si só, na ausência de qualquer pessoa. Os valores morais parecem ser propriedades das pessoas, e é difícil entender como a justiça possa existir como uma abstração. Em segundo lugar, essa visão não fornece uma base para os deveres morais. Vamos supor, a título de argumentação, que valores morais como a justiça, a lealdade, a misericórdia, a paciência e outros apenas existam. Como isso resultaria em qualquer obrigação moral para mim? Por que eu teria teri a um dever moral de ser, por exemplo, misericordioso? Quem ou o que imporia tal obrigação a mim? Note que, segundo essa visão, vícios morais como cobiça, ódio, apatia e egoísmo também presumivelmente existem por si só, como abstrações. Então, por que somos obrigados a alinhar nossa vida com um dos grupos desses objetos abstratamente existentes em vez do outro? Parece óbvio, portanto, que mandamentos morais não podem existir independentemente de uma pessoa que emita tais mandamentos. Assim como não há interrogações a menos que alguém faça perguntas, não há imperativos a menos que alguém emita comandos.
42
Não obstante, é preciso estar atento aos sentidos diferentes em que a palavra "realismo" é utilizada. A palavra "realismo" como usada por alguns filósofos, por exemplo, Michael Dummett, é um tipo de realismo de valor de verdade (realismo alético). Ele mantém simplesmente que as declarações de um certo tipo de discurso (por exemplo, discurso matemático ou discurso moral) têm valores objetivos de verdade, ou seja, são objetivamente verdadeiras verdadeiras ou falsas. Isso é muito diferente do que poderíamos chamar de realismo ontológico, que afirma que existem objetos de um certo tipo, por exemplo, números ou propriedades. Os antirrealistas ontológicos não precisam ser antirrealistas aléticos. Isto quer dizer que se pode negar, por exemplo, que existam objetos matemáticos e ainda acreditar que declarações matemáticas são objetivamente verdadeiras ou falsas. Dentro do realismo alético, estão presentes as declarações que pertencem ao discurso moral, estético e matemático. Eles são objetivamente verdadeiros ou falsos, embora não haja objetos abstratos como números e propriedades morais ou estéticas. Assim, por exemplo, se é verdade que "1 + 1 = 2" mesmo que não haja nenhuma entidade abstrata denotada por "1 + 1"; e é verdade que "O rosto de Scarlett Johansson é lindo", mesmo que não haja nenhum objeto abstrato lá fora que seja a propriedade lindo (na verdade, não faz sentindo incluir nem mesmo o rosto de Scarlett no inventário ontológico. Scarlett certamente existe, mas além dela existe um outro objeto denotado por "seu rosto"?), é verdade que "As ações do ISIS (Estado Islâmico) são cruéis" mesmo que não haja nenhum objeto abstrato denominado “crueldade” crueldade”. Você simplesmente não precisa dessas entidades abstratas estranhas, estranhas, causalmente inativas em sua ontologia a fim de ser um realista sobre o valor de verdade de tais declarações. É evidentemente um fato da linguagem comum que nós, frequentemente, fazemos afirmações verdadeiras que possuem termos singulares, mas, ao mesmo tempo, denotam objetos existentes. Segue abaixo alguns exemplos:
(1) O clima no Rio de Janeiro vai ser quente hoje. (2) O ingresso do cinema é de dez reais. (3) Quarta-feira cai entre terça-feira e quinta-feira. (4) Seu depoimento foi comovente.
43
Seria simplesmente fantástico pensar que todos os termos singulares existentes nas frases acima têm objetos no mundo que lhes correspondam. Todavia, se adotássemos o critério de compromisso ontológico, seríamos obrigados a dizer que todas t odas essas frases são falsas, já que não há correspondência. Não somente as referidas frases, mas todo o conteúdo expresso pela linguagem humana que não tenha correspondência com objetos no mundo real teria de ser falso, o que seria um completo absurdo. Por fim, quando dizemos que valores e deveres morais objetivos existem, a ênfase não é na metafísica, mas na objetividade, em oposição à mera subjetividade dos valores e deveres morais. O que se quer dizer é que certas coisas são objetivamente boas/más e alético. Realismo moral, certas ações são objetivamente certas/erradas. Isto é realismo alético. neste sentido, é a visão que afirma que afirmações morais são objetivamente verdadeiras ou falsas. Realismo moral, em outro sentido, é a visão de que existem objetos independentes da mente que são chamados “valores” ou “deveres morais” e que devem ser incluídos em seu inventário ontológico de coisas. O sentido que adotamos para tratar de filosofia moral é, obviamente, o primeiro. Ora, então, o que faz com que afirmações morais sejam objetivamente verdadeiras ou falsas? O próprio Deus, que é, definitivamente, um objeto concreto. Dessa forma, a objetividade dos valores e dos deveres morais é assegurada em um fundamento externo e efetivo.
44
O PARÂMETRO MORAL PERFEITO Em função do capítulo anterior, surge a inevitável pergunta: por que Deus deve ser a fonte dos valores morais? À luz da lógica, além de Deus, poderíamos conceber outras duas possibilidades: os números e as formas geométricas. Como vimos anteriormente, os números, tais como as formas geométricas constituem uma verdade, isto é, são verdadeiros independentemente independentemente de qualquer inferência in ferência humana, logo, são objetivos. Em decorrência, por que os números e as formas geométricas, se são objetivos (e alguns ainda defendem que são auto existentes, isto é, necessários), não podem sustentar os valores morais? Simplesmente porque ambos não são agentes causais. Tanto os números quanto as formas geométricas não possuem a capacidade de serem bons ou maus, tampouco possuem intencionalidade ou potencialidade. Dito isso, a única possibilidade lógica que nos resta é, de fato, um Ser pessoal e imaterial, isto é, Deus. Logo, temos um legislador moral na condição de parâmetro para todas as nossas ações e fonte de todos os valores morais (o que faz destes, objetivos, isto é, independem de nossas inferências pessoais), que por sua vez, estão assentados em sua natureza benevolente. Contudo, isso nos levanta outra questão: como podemos saber se Deus é bom? À priori, Deus é definido na filosofia com um ente de grandeza máxima. Um ente de grandeza máxima, por sua vez, é definido como um ser que possui todas as qualidades que são desejáveis de se ter e que podemos definir como propriedades que o tornam excelente, ou seja, o maior ser logicamente concebível. Podemos saber que Deus é bom, portanto, pela sua sua própria própria natureza natureza perfeita, afinal, afinal, são características desejáveis de se ter, o amor, a sabedoria e a bondade. Vejamos o que o filósofo William Lane Craig tem a dizer acerca da bondade: “[...] Você declara sua pergunta fundamental da seguinte forma: Como é que sabemos que Deus é bom? Agora em um nível, como expliquei na pergunta passada # 294, essa pergunta é fácil de responder: responder: é conceitualmente necessário que Deus seja bom. Ou seja, a bondade pertence ao próprio conceito de Deus, assim como não ser casado pertence ao conceito de um solteiro. ” William Lane Craig (Sobre a Bondade de Deus)
45
Um ente de grandeza máxima teria tais propriedades em uma extensão máxima, tornando-o um ser perfeito. Tal ente também não possuiria qualidades que não são desejáveis, tais como imperfeição e corrupção. Essas são definidas como propriedades que o tornam menos excelente. Portanto, Deus é bom porque a sua natureza moral lhe é essencial. Dizer que uma propriedade é essencial a Deus significa dizer que não há nenhum mundo possível em que Deus exista e não tenha essa propriedade. Deus não “aconteceu “aconteceu de ser”, por acidente, amoroso, bondoso, justo e por aí vai. Ele é dessa forma essencialmente porque é a necessidade lógica de um ente de grandeza máxima. Da mesma forma, C.S. Lewis indica que o criador do Universo deve ser moralmente perfeito, porque o mal não pode existir por si mesmo, já que é sempre uma perversão do bem. Consequentemente, Consequentemente, Deus deve ser benevolente para que possa existir. existir . Os mais versados Ontológico. em filosofia poderão reconhecer o referido conceito no Argumento no Argumento Ontológico.
46
O DILEMA DE EUTÍFRON Alguns ateus podem questionar os fundamentos morais em Deus à luz do Dilema de Eutífron. O referido dilema é apresentado por Platão no diálogo Eutífron, no qual Sócrates pergunta a Eutífron: "Então, a piedade é amada pelos deuses, porque é piedade, ou é piedade, porque é amada pelos deuses?" Em deuses?" Em termos monoteístas, isto é usualmente transformado em: "A moral é comandada por Deus por ser moral ou é moral por ser comandada por Deus?" Para responder a essa questão, nada melhor do que apresentar um diálogo entre o filósofo e teólogo Dr. William Lane Craig e um de seus alunos: "Olá, Dr. Craig. Eu tenho me perguntado ultimamente se você voc ê pode gastar algum tempo me ajudando a resolver alguns problemas. Eu estive lidando com o Dilema de Eutífron. Como você sabe, o Dilema consiste consiste numa pergunta parecida parecida com: “Isso é bom porque Deus aprova, ou Deus aprova por ser bom? Agora, o teísta não vai querer dizer que a “Bondade” é boa simplesmente porque Deus a aprova, já que isso faria a moralidade ser arbitrária (chame isso de “Opção A”). Também não vai querer dizer que Deus aprova a Bondade porque ela é, de fato, boa, porque isso pareceria levar à conclusão da existência de padrões de bondade fora de Deus (chame isso de “Opção B”.) Então, o teísta pode tentar quebrar quebrar o dilema entre escolher “A” e “B”, criando uma uma terceira opção que é: Deus é necessariamente bom, e a fonte e o padrão de Bondade são a própria natureza de Deus. Por um lado, isso evita a “Opção B”, já que Bondade, ao invés de existir fora de Deus, é parte da própria natureza Dele (e depende, na realidade, da Sua existência para existir também). E, ainda por outro lado, também evita evit a a “Opção A”, já que as vontades de Deus não são arbitrárias, mas, ao invés disso, operam de acordam com um padrão absoluto de moral (a natureza necessariamente boa de Deus). Mas parece que, agora, o ateu pode reformular em um novo dilema: “É a natureza de Deus boa porque aconteceu na maneira de Deus ser, ou é boa porque corresponde a algum padrão externo de Bondade? ” Parece-me que a resposta res posta para o Dilema reformulado envolve alguma coisa como a afirmação que a natureza de Deus não poderia ser nada além de boa – i.e. que a natureza de Deus não simplesmente “aconteceu” de ser de uma certa maneira. Mas eu não tenho certeza do que significa dizer isso, visto que, a menos que nós tenhamos uma
47
concepção de Bondade externamente a Deus, isso iss o não parece importar muito, no sentido que não parece sobrar lugar para colocar qualquer restrição na natureza de Deus. Eu suspeito que o conceito de mundos possíveis possa ajudar aqui. Mas eu não tenho certeza como ou por que. Minha sugestão para um argumento seria se ria algo como isso: • (1) Deus é, por definição, definiçã o, um ser maximamente notável; • (2) Isso implica em Ele ser metafisicamente necessário necessário e moralmente perfeito. • (3) Logo, por (2), Deus existe em existe em todos os mundos possíveis. • (4) Mas, se valores morais são objetivos, a perfeição moral representa (ou pelo menos, tende a) um único, máximo conjunto de valores morais. • (5) Então, por (1), (3) & (4), segue que Deus tem o mesmo padrão moral em todos os mundos possíveis. • (6) Logo, a natureza de Deus é boa nem pelo modo que ele “veio” a ser, tampouco por corresponder a um padrão externo de moralidade. O que responde o Dilema reformulado. — O Isso parece OK para mim. Mas eu não estou convencido de (4). Eu também t ambém estou preocupado que eu tenho ido longe l onge demais com isso e tenha começado a falar besteira nesse ponto. Parece que eu estou andando em círculos na minha cabeça. Se você puder explicar de forma clara e simples para mim, eu seria extremamente grato." James
48
Dr. William Lane Craig responde: "Eu penso que sua intuição acertou o alvo, James! O argumento que você deu simplesmente precisa de alguns ajustes. Quanto o ateu diz “A natureza de Deus é boa porque “aconteceu” na maneira de Deus ser, ou é boa porque correspond e a algum padrão externo de Bondade? de Bondade? ” , a segunda opção do Dilema não apresenta apresenta nada novo – é a mesma que a segunda opção do Dilema original, ou seja, que Deus aprova alguma coisa por ser boa, e nós já rejeitamos isso. Então a questão se nós estamos presos na primeira opção do Dilema. Bom, se o “aconteceu de ser” que o ateu se s e refere significa ser uma propriedade contingente de Deus, então a resposta óbvia é “Não”. A natureza moral de Deus é essencial a Ele; foi por isso que nós dissemos que era parte de Sua natureza. Dizer que uma propriedade é essencial a Deus significa dizer que não há nenhum mundo possível em que Deus exista e não tenha essa propriedade. Deus não “aconteceu de ser”, por acidente, amoroso, bondoso, justo e por aí vai. Ele é dessa forma f orma essencialmente. Você não precisa se preocupar com “o que significa dizer que, a menos que nós tenhamos uma concepção de Bondade externamente a Deus, isso não parece importar muito”. Pois isso é confundir ontologia moral com semântica moral. Nossa questão é com é ontologia moral, isto é, o fundamento na realidade dos valores moral. Nossa questão não é com semântica moral, isto é, o significado si gnificado dos termos morais. O teísta está pronto para para responder que nós temos um entendimento claro do vocabulário vocabulário moral como “bom”, “mau”, “certo”, e assim vai, sem fazer referência para Deus. Dessa maneira, é instrutivo aprender que “Deus é essencialmente bom”. Muito frequentemente os opositores do Argumento Moral lançam ataques confundindo ontologia moral tanto com semântica moral com, ainda com mais frequência, f requência, epistemologia moral. Se nos perguntarem por que Deus é o paradigma e o padrão da Bondade moral, então eu penso que a premissa (1) de seu argumento responde à questão. Deus é maior ser que pode ser concebido, e é maior ser concebido como o paradigma do valor moral que corresponder a ele. Sua premissa (2) também é verdadeira, que é por que Deus pode servir para o fundamento das verdades morais necessárias, isto é, verdades morais que são em qualquer mundo possível. Eu não tenho certeza do que você queria dizer com a premissa (4); mas eu penso que é dispensável. Tudo que você precisa dizer é que os
49
valores morais (ou pelo menos a maioria deles) não são contingentes, mas existentes em todos os mundos possíveis. Então Deus será a base desses valores em todos os mundos possíveis. Isso parece, a mim, resolver o problema. Bem distante de estar falando besteira, parece-me que você nos dirigiu exatamente para a resposta correta!" William Lane Craig
O que devemos ter em mente, portanto, é que os valores morais não são baseados na vontade de Deus, mas em sua própria natureza. Os deveres morais, por sua vez, são baseados em sua vontade ou comandos (expressos nos mandamentos, a título de exemplo). São justamente os valores morais que nos fornecem uma base objetiva para realizar juízos de valor (julgar de a ação x é boa ou má). De forma similar, são os deveres morais expressos pelos mandamentos de Deus que nos compele a agir de uma determinada maneira. Devemos ainda manter em mente que valores v alores morais são anteriores a sua vontade, já que a própria natureza de Deus não é algo inventado por Deus. Como a sua vontade não é independente de sua natureza, mas deve expressar sua natureza, é logicamente impossível para Deus emitir determinados tipos de comandos. Para fazer isso, Ele teria de ter uma natureza diferente, o qual é logicamente impossível, pois se Deus é definido como o maior ser logicamente concebível, ele deve ser também necessário. Se ele é um ser necessário, logo, existe necessariamente, do mesmo modo, em todos os mundos possíveis. Portanto, sua natureza é imutável. i mutável. Deste modo, nossas interpretações morais estão asseguradas asseguradas no caráter do maior ser logicamente concebível.
50
O SUBJETIVISMO MORAL Nós vimos na introdução da obra que, em um universo incriado, todas as regras éticas e morais seriam estritamente derivadas de construções socioculturais ou pressões evolutivas. No primeiro caso, cada indivíduo ou sociedade definiria para si o que é certo e errado. Já no segundo caso, nossa noção de moralidade evolui como um resultado de pressões sociobiológicas sociobiológicas e tem como finalidade única a sobrevivência. sobrevivência. Ora, quais são as possíveis implicações implicações desses sistemas? sistemas? O Subjetivismo moral tem sido, ao longo dos séculos, constantemente estudado dentro da ética, o qual se desdobra no indivíduo e na cultura. Filósofos amantes do existencialismo como Sartre, Albert Camus e Bertrand Russel, além de serem adeptos do subjetivismo, dissertaram incansavelmente sobre o assunto. Como resumo de suas ideias, tem-se que a moralidade subjetiva varia conforme a sociedade, isto é, ela não tem o objetivo de ser universal. Em ética, nomeamos isso de subjetivismo moral individual ou cultural. Trata-se, na realidade, de uma tese cognitivista (declarações morais expressam valores de verdade, falsidade ou variações) e antirrealista (propriedades morais de uma declaração são subjetivas, isto é, dependentes dependentes da mente humana). Para compreendermos melhor a dinâmica das teses éticas subjetivas, tenhamos em mente a seguinte declaração moral: “Estuprar bebês por diversão é moralmente errado”.
À luz do subjetivismo moral, a referida declaração expressa valor de verdade. No entanto, a veracidade da mesma depende do estado mental do sujeito que a expressa. Nesse sentido, quando eu digo que estuprar bebês por diversão é moralmente errado, eu não estou dizendo nada além de "eu desaprovo o estupro". Do mesmo modo, eu não estou discorrendo sobre o ato em si, mas estou apenas expressando o modo como me sinto em relação ao ato. Em resumo, a verdade ou falsidade de uma declaração moral é relativa ao indivíduo. Isso significa que estuprar bebês por diversão é errado para X, que desaprova, porém, certo para para Y, que aprova, aprova, o que nos leva leva ao problema do referencial. Em um mundo moralmente subjetivo, atitudes como descritas na declaração moral que utilizamos como exemplo não podem ser postularas como erradas e tampouco más, pois, como vimos, a veracidade ou falsidade de uma declaração depende de cada
51
indivíduo ou sociedade. Todavia, se a moralidade na cosmovisão ateísta deriva de convenções sociais, isto é, se é a sociedade quem decide o que é certo e errado, o que é que nos impede de dizer que Hitler tinha razão? Afinal, a sociedade alemã acreditava que o que fazia era, de fato, correto. A pergunta acima, torna-se então, extremamente problemática para um ateu. Perceba que ela não pode ser respondida com um simples "não gosto de genocídio" ou "genocídio é errado". O ateu tem que responder de acordo com o significado do ateísmo, que é contrário à existência de Deus. Como no ateísmo não há moral ou regras de um Ser superior, mas apenas convenções humanas, como é possível condenar objetivamente o Holocausto em um cenário onde a veracidade de uma declaração moral é dependente de um indivíduo ou sociedade? Simplesmente não há como fazê-lo, pois, a opinião ou gosto pessoal de X não é mais válido que o de Y. Muitos ateus apelam à empatia ou à cooperação como um sistema moral opcional, mas será que tais recursos são válidos? Vejamos: se você tem algumas propriedades acidentais instanciadas no cérebro (empatia) que te faz não gostar do ato, logo isso significa que o ato é, em si, errado? Não parece ser o caso. Nesse contexto, nós apenas não gostamos do ato, mas ele não é de fato errado. Nós simplesmente descrevemos nosso estado mental em função de um ato neutro. Tal conceito – o o qual nomearei de Empatismo Moral – Moral – é é bastante parecido com uma tese ética não-cognitivista (declarações morais não expressam valor de verdade ou falsidade) conhecida como Emotivismo, a qual abordamos anteriormente. O Emotivismo traduz-se na visão de que declarações morais expressam meramente atitudes emocionais. A declaração "estuprar um bebê por diversão é moralmente errado" significa, em termos de onomatopeia, uma sonora vaia. É extremamente importante não confundir uma tese não-cognitivista, como o emotivismo, com uma tese cognitivista, como o subjetivismo individual. De acordo com o subjetivismo individual, quando eu faço uma declaração moral, eu estou, na verdade, reportando o meu ponto de vista moral. Portanto, pode ser tanto verdadeiro como falso. Já de acordo com o emotivismo, declarações morais não reportam coisa alguma. Tratam-se apenas de expressões emocionais.
52
Notem que é justamente isso que ocorre com o Empatismo Moral. Nada se diz acerca do ato expresso pela declaração moral, mas apenas acerca do modo como se sente em relação a mesma. Quando um indivíduo que odeia salame vai a um restaurante e o garçom lhe serve um prato cheio de salames, naturalmente a reação do sujeito seria algo parecido com: "- Urgh! Nojento!". Notem que ele está simplesmente expressando expressando uma reação negativa sobre o salame, portanto, sua elocução não pode ser verdadeira ou falsa. Em decorrência, mais uma vez, não seria possível condenar o Holocausto como sendo bom, mal, certo ou ou errado, já que não há expressão expressão de valor algum. algum. Até mesmo se todas as pessoas do mundo tivessem a mesma experiência empática para com um mesmo ser, ainda assim, o ato expresso na referida declaração ainda não seria errado e tampouco mau, pois estaria, da mesma forma, sujeito à subjetividade. Nesse cenário, nós apenas projetamos nosso estado mental em um ato indiferente. Em termos existencialistas, para o universo cru, o bem-estar humano não é mais importante do que o bem-estar dos fungos. Conclui-se, portanto, que a única saída lógica para um ateu subjetivista é abraçar o fato de que não há certo e errado e tampouco bem e mal. Esta implicação nos coloca diante do que conhecemos como Niilismo, que é, mediante a conclusão que nos foi aqui apresentada, a consequência lógica do ateísmo. Como um último suspiro, alguns ateus tentam desesperadamente escapar das garras do subjetivismo ao se objetificar máximas e redefinir os conceitos de bem e mal para, então, concluírem que a existência dos mesmos é logicamente possível. Muitos deles costumam dizer que as bases da moralidade se sustentam em declarações como "não faça com os outros aquilo que não quer que façam com você", conceito este que nos remete ao Imperativo Categórico Kantiano. O problema torna-se evidente à medida que não há como sustenta-la acima das opiniões mundanas. Quando um indivíduo ou uma sociedade constrói um conceito como o referido acima e o toma como uma regra objetiva, ele ainda permanece subjetivo, devido ao seu suporte ontológico fincado em gostos ou opiniões pessoais. Torna-la válida para outras pessoas ou sociedades sociedades parece uma tarefa inviável inviável à medida que um mero mero gosto gosto ou ou opinião opinião pessoal não é mais válido que outro. De modo análogo, insistir em uma ilusória superioridade conceitual conceitual incorreria em uma arbitrária e ilegítima imposição de ideias.
53
Não obstante, essa definição social desdobra-se sobre uma enorme gama de interpretações que variam de acordo com uma determinada cultura ou indivíduo. O tiro saiu, então, pela culatra: o referido conceito socialmente construído e postulado de mal, é, na verdade, apenas uma entre muitas outras regras subjetivas. Nesse cenário, uma norma que diz para “não prejudicar as pessoas” é tão válida quanto a que diz “o mais forte sobrevive” sobrevive” ou "faça aquilo que te dá prazer" (o que é um prato cheio para psicopatas). Mais uma vez, portanto, o ateu subjetivista é forçado a concluir que não há h á certo e errado e tampouco bem e mal. Em conclusão, o presente capítulo nos mostra que o subjetivismo moral, em seus mais variados desdobramentos, é incapaz de responder ao problema do referencial, bem como falha em explicar a realidade suportada pela nossa experiência moral. Negar a realidade dos valores morais é, portanto, negar que existem certas coisas que são objetivamente boas e más, bem como certas e erradas. Do mesmo modo, negar a crença na realidade do conteúdo de nossa experiência moral é incorrer em um ceticismo defeaters para a crença na realidade dos valores injustificado. Na ausência de quaisquer defeaters para morais, somos racionalmente justificados em aceita-la, do mesmo modo que aceitamos a existência da realidade física ao nosso redor.
54
O OBJETIVISMO MORAL Como vimos anteriormente, em metaética, existe uma gama de teses realistas, as quais divergem enormemente entre si, à medida que possuem seus fundamentos ontológicos fincados em bases naturais e não-naturais. A título de exemplo, o naturalismo ético – ético – o o qual trataremos mais a frente com o devido cuidado – é é uma teoria cognitivista realista. Ela também afirma que as propriedades morais são objetivas, mas, ao contrário da ética teísta, o naturalismo ético nos diz que as propriedades morais são idênticas as propriedades naturais. naturais. Já a ética ética teísta – teísta – também também uma tese cognitivista realista – possui possui o seu fundamento consolidado em Deus. Do mesmo modo, nossa experiência moral não é vista como um mero aparato evolutivo – tal tal como a visão naturalista afirma – afirma – mas mas como uma instância metafísica pela qual podemos saber que existem certas coisas que são objetivamente boas e más, tais como certas e erradas. Através dessa mesma experiência pessoal, sabemos que sempre emerge de dentro de todos nós, vindos de qualquer cultura, o sentimento de certo e errado. Até mesmo um ladrão se sente frustrado e maltratado quando alguém o rouba. Se alguém rapta uma criança da família e a violenta sexualmente, há uma revolta e raiva que confrontam aquele ato como maléfico, independente da cultura. De onde vem essa noção de errado? Como explicamos uma lei universal na consciência de todas as pessoas de diversas culturas dispostas no espaço e diversificadas no tempo, que diz que assassinato por diversão é errado? Valores e deveres como coragem, morrer por uma causa, amar, ter dignidade, dever e compaixão, perceptíveis em toda e qualquer cultura, mesmo que expressas de formas distintas, de onde vem isso tudo? Se as pessoas são meros produtos da evolução física, onde visa-se a sobrevivência, por que nos sacrificamos uns pelos outros e louvamos quem o faz? De onde herdamos essa noção interior de certo, errado, bem e mal? A resposta mais racional é que a nossa consciência é fundamentada em um legislador moral. Dessa forma, fica evidente que a moralidade não depende da religião para existir, mas sim do próprio Deus, na condição de legislador moral. A partir deste raciocínio, podemos concluir igualmente que ateus também podem ser bons e morais, pois os valores são intrínsecos e inteligíveis a todo e qualquer ser humano. Em tempo, é válida a ressalva: a moralidade não depende da crença em Deus, mas sim de sua existência.
55
Os filósofos, ao refletirem sobre nossa experiência moral, não veem razões para desconfiar dessa experiência mais do que veem para a experiência dos nossos cinco sentidos. Acredito naquilo que meus cinco sentidos me dizem, ou seja, que existe um mundo de objetos físicos à minha volta. Meus sentidos não são infalíveis, mas isso não me leva a pensar que não haja um mundo exterior à minha volta. Do mesmo modo, na ausência de alguma razão para desconfiar de minha experiência moral, devo aceitar o que ela me diz, isto é, que algumas coisas são objetivamente boas ou más, certas ou erradas. Então, de onde é que os ateus retiram os conceitos do justo e injusto, certo e errado, bem e mal, visto que, para eles, não existe moralidade objetiva? (1) Um homem não qualifi ca uma linha torta de “torta” a não ser que ele tenha uma ideia do que uma linha reta é. Com o quê é que alguém compara o Universo quando o próprio o qualifica como sendo “injusto”? Se tudo o que aconteceu desde o princípio foi maléfico e injusto, como é que o ateu, que supostamente faz parte do espetáculo, encontra-se na posição de rebeldia contra a situação? Um homem sente-se molhado quando cai na água porque ele não é um animal aquático: um peixe nunca se sentiria molhado. (C.S. Lewis) (2) Claro que um ateu poderia, certamente, ter abandonado a ideia de justiça afirmando que ela apenas era uma ideia pessoal. Porém, se ele fizesse isso, o argumento contra Deus entraria em colapso, uma vez que o argumento depende do fato de o mundo ser de fato injusto e não simplesmente que ele não agrada suas preferências pessoais. (3) Portanto, durante o ato em tentar provar que Deus não existe – em em outras palavras, que não há um sentido real no universo – o ateu é forçado a assumir que uma parte parte da realidade nomeadamente, – nomeadamente,
sua concepção de justiça – fazia fazia sentido. Consequentemente o ateísmo
revela-se muito simples. (4) Se o universo não tem um propósito, nós nunca haveríamos de saber que ele não tem propósito ou sentido: do mesmo modo que se não existisse luz no universo, e portanto não houvesse criaturas com olhos, nós nunca saberíamos que ele estava escuro. A palavra “escuro” não faria sentido.
(5) Quando o ateu usa o argumento do “mal”, ele, inconsequentemente, assume coisas que
contradizem diretamente o que ele tenta provar com esse mesmo argumento. Ele
56
simplesmente revela ter um determinado conhecimento que vai para além do mundo em que vivemos. (6) O argumento do mal assume muitas coisas, uma delas sendo que o ser humano não foi feito para viver com o que o ateu qualifica de “mal”. No entanto, de onde vem essa crença? Se a morte, violência, assassinatos, violações, pedofilia, terremotos e outras coisas mais sempre fizeram parte da existência humana, de onde é que vem o conhecimento de que essas coisas são intrinsecamente más? Com o quê um ateu as compara? Existe algum padrão moral absoluto na qual o ateu qualifica comportamentos e eventos? Houve alguma altura em que o homem não sofreu? Será que há uma versão ateísta do Jardim do Éden? (7) Quer o ateu aceite ou não, a conclusão lógica pela qual o ateu sabe que isto está errado é devido a existência de um parâmetro moral objetivo. Portanto, existem, de fato, valores objetivos.
Em suma, bases metaéticas parecem ser necessárias para moralidade. Se um Legislador Moral não existe, então é plausível crer que não há valores morais objetivos, que não temos obrigações morais, e não existe responsabilidade moral pela maneira que vivemos e agimos. O horror de tal mundo moralmente neutro é, no entanto, óbvio. Se, por outro lado, cremos, como isso parece ser racional, que responsabilidades responsabilidades e valores morais objetivos existem, então temos bons fundamentos para crer na existência de um legislador moral. Em adição, temos razões poderosas para adotar o teísmo em vista dos efeitos moralmente fortificantes que a crença na responsabilidade moral produz. Logo, não podemos ser realmente bons sem a existência de um legislador moral, na condição de fonte dos valores, mas se podemos ser bons de alguma forma, então segue-se que um legislador moral existe. O que torna esse argumento tão cativante não é só o fato de ser logicamente perfeito, mas também que, de modo geral, as pessoas acreditam nas duas premissas. Numa era pluralista, os indivíduos têm medo de impor seus valores aos outros. Assim, a Premissa 1 parece-lhes correta. Valores e deveres morais não são realidades, mas são opiniões meramente subjetivas imbuídas em nós pela evolução biológica e pelo condicionamento condicionamento social. Ao mesmo tempo, porém, as pessoas acreditam profundamente que certos valores e deveres morais como tolerância, mente aberta e amor são objetivamente válidos. Elas acham que é objetivamente errado impor seus valores aos outros. Assim, estão profundamente envolvidas também com a Premissa 2.
57
O LEGISLADOR MORAL E A TEORIA DO COMANDO DIVINO A Teoria do Comando Divino é uma teoria metaética que postula que os nossos deveres morais são constituídos pelos comandos de um Deus essencialmente justo e amoroso. No entanto, isso parece evidenciar um problema ao percebermos que se trata tr ata de derivar um "deve" de um "é". Em metaética, lida-se com o que chamamos de o problema do “ser - dever ser”, ser”, o qual fora articulado pelo filósofo escocês David Hume. O filósofo notou que muitos escritores fazem afirmações sobre o que deve ser com base em afirmações sobre o que é. Hume partilhava da ideia de que existe uma diferença significativa entre afirmações descritivas e afirmações prescritivas ou normativas, e de não ser óbvio como derivar as últimas das primeiras. Hume discute o problema na parte I do livro III da sua obra Tratado da Natureza Humana: “Em todo to do sistema de moral que até hoje encontrei, sempre notei que o autor segue durante algum tempo o modo comum de raciocinar, estabelecendo a existência de Deus, ou fazendo observações a respeito dos assuntos humanos, quando, de repente, surpreendo-me ao ver que, em vez das cópulas proposicionais usuais, como é e não é, não encontro uma só proposição que não esteja conectada a outra por um deve ou não deve. Essa mudança é imperceptível, porém da maior importância. Pois como esse deve ou não deve expressa uma nova relação ou afirmação, esta precisaria ser notada e explicada; ao mesmo tempo, seria preciso que se desse uma razão para algo que parece totalmente inconcebível, ou seja, como essa nova relação pode ser deduzida de outras inteiramente diferentes. ” ” (Hume, David. Tratado da natureza humana. Tradução de Débora Danowiski. Livro III, parte I, seção II. São Paulo, editora Unesp, 2000, p. 509). Segundo Hume, não se pode deduzir o que deveria do que é, que enunciados descritivos puramente fatuais somente podem vincular ou implicar outros enunciados descritivos fatuais e nunca normas, pronunciamentos éticos ou prescrições para se fazer alguma coisa. A teoria do Comando Divino parece, de fato, derivar um deve de um é, e com razão, embora não da maneira que aparenta ser. A teoria fundamenta os valores morais na natureza imutável de Deus, haja vista que Ele é o paradigma da bondade. Mas isso não quer dizer que "porque Deus é de certa forma, logo, nós devemos nos comportar de determinada maneira." Como já postulamos po stulamos no tópico “A “A distinção entre ética, moralidade e valores morais” morais ”, nossas obrigações morais e proibições surgem como resultado dos comandos de Deus para nós.
58
A natureza de Deus serve para estabelecer valores – tais tais como bondade e maldade – enquanto enquanto os mandamentos de Deus estabelecem deveres morais – o o que devemos ou não devemos fazer. Fundamentar valores morais em Deus não mais deriva um "deve" de um "é" quanto à fundamentação fundamentação dos valores. Então, como a Teoria do Comando Divino deriva um "deve" de um "é"? Bem, ela diz que nós devemos fazer algo porque é ordenado por Deus. Isso é, certamente, derivar derivar um "deve" de um "é". Alguém poderia exigir, "Por que somos obrigados a fazer algo só porque é ordenado por Deus?" A resposta a essa pergunta fica evidente evidente ao refletirmos sobre sobre a natureza do dever moral. Dever surge em resposta a um imperativo de uma autoridade competente. Por exemplo, se uma pessoa aleatória me dissesse para encostar o meu carro na estrada, eu não tenho absolutamente nenhuma obrigação obrigação legal de fazê-lo. No entanto, se um policial fosse emitir tal comando, eu teria a obrigação legal de obedecer. A diferença entre os dois casos está nas pessoas que emitiram os comandos: uma é qualificada para fazê-lo, enquanto a outra, não. Agora, da mesma forma, no caso das obrigações morais, estas surgem como resultado de imperativos emitidos por uma autoridade competente. Em virtude de ser o Bem, Deus é unicamente qualificado para emitir tais comandos como uma expressão de Sua natureza. Por fim, a derivação de um "deve" a partir de um "é," da Teoria do Comando Divino, longe de ser objetável, capta uma característica central do dever moral e plausivelmente o fundamenta.
59
O MAL COMO EVIDÊNCIA DA EXISTÊNCIA DE DEUS Uma forma bem eficiente através da qual nós podemos ver que muitos ateus, inconscientemente, inconscientemente, admitem que um legislador moral (Deus) existe são as suas constantes alusões ao “problema do mal”. O mal”. O que eles falham em perceber, no entanto, é que não há como sustentar a existência do bem ou do mal no naturalismo, portanto, não há o que se falar acerca de bondade ou maldade. Se Deus não existe, logo não há um padrão absoluto que sirva de modelo comportamental, e, como tal, o ateu não tem argumento nem forma de classificar classificar situações e comportamentos como “maus”. Assim como é difícil para qualquer pessoa negar negar a existência objetiva do bem e do mal, assim também o é para um ateu. Logo, como uma tentativa de fuga, ele apela a uma lei moral absoluta, embora se tente convencer de que o Criador dessa mesma lei não existe. O mal torna-se, portanto, uma prova da existência de um legislador moral. No entanto, o que é o mal? Segundo o filósofo Dr. William Lane Craig, o mal pode ser definido no seguinte argumento lógicoestrutural:
(1) O mal é um desvio do modo pelo qual as coisas deveriam ser. (2) Se o mal é um desvio do modo pelo qual as coisas deveriam ser, logo há uma maneira pela qual as coisas deveriam ser. (3) Se há uma maneira pela qual as coisas deveriam ser, logo há um u m padrão objetivo e transcendental que determina como as coisas deveriam ser. À luz das premissas acima, podemos concluir que o mal não só prova a existência de um legislador moral, como também é a única saída lógica para explicar sua própria existência. Após análise dos pontos, conclui-se que não só é o caso que a existência de valores morais objetivos depende da existência de Deus, como também é o caso que tais valores morais objetivos existem, donde segue-se que Deus precisa existir. Desta forma, diante da relação ontológica existente entre a objetividade dos valores morais e do constante testemunho da existência destes valores através da experiência pessoal acessível a todo e qualquer ser humano, tem-se um argumento válido para a existência de Deus: a existência concreta da moralidade objetiva.
60
Entretanto, por que a maioria dos ateus é tão moralista? Por que os ateus criticam pastores ladrões ladrões e padres pedófilos, por exemplo? exemplo? Por que os ateus fazem fazem distinção entre entre alimentar um faminto e queimar uma criança? O que os faz pensar que realmente existe uma moral objetiva? Como relativizar os valores morais frente a algumas coisas que, mediante a nossa capacidade intuitiva, sabemos que são realmente más, tais como o estupro, a tortura de bebês, o abuso sexual infantil, o ódio e a crueldade? Percebam que ao se portarem como moralistas e afirmarem que determinados valores como pedofilia e roubo são errados, eles estão, inconscientemente, afirmando a existência de valores morais objetivos.
61
MORALIDADE E CULTURA É importante ressaltar que, ainda que possam existir divergências com relação à aplicação dos valores morais em diversas culturas, os mesmos ainda são objetivos. A objetivos, discussão entorno do argumento moral é sobre a existência de valores morais objetivos, interpretação desses valores. Através de um olhar mais atento, é possível e não sobre a interpretação desses perceber que em toda e qualquer qualquer cultura, o heroísmo, o altruísmo, a liberdade e a justiça são objetivados e exaltados, isto é, esses valores são válidos em toda e qualquer parte do universo, sendo, em função disso, universais. As culturas que praticam o infanticídio, a título de exemplo, o fazem a fim de garantir a sobrevivência da tribo e, por vezes, expressa através da cosmogonia. Mães amorosas são muitas vezes forçadas pela tradição cultural a trair seus instintos e desistir de suas crianças. Algumas preferem se suicidar a fazer isso. Outras têm que conviver com a dor e o remorso pelo resto da vida. Em alguns casos, as mães lutam pela vida de seus filhos enquanto podem, e são obrigadas a viverem excluídas da sociedade ou a se refugiar fora da sua comunidade. O que percebemos aqui? A presença de valores em comum: heroísmo, altruísmo e sacrifício expostos das mais variadas formas. Portanto, é evidente que o que muda de sociedade em sociedade é a interpretação sobre eles, e não os valores em si. Confundir comportamento com valor é um erro muito comum. Basicamente, tratase de uma confusão entre aquilo que é com o que deveria ser. O que pessoas fazem pode mudar, mas o que deveriam deveriam fazer, não. Eis abaixo alguns exemplos: exemplos: (1) Um indivíduo pró aborto é a favor de tal posição porque considera um direito da mulher, já um conservador é contra o ato pois considera assassinato. Perceba que eles discordam acerca do que é considerado assassinato, mas não se assassinato é ou não é errado. (2) Um indivíduo a favor da pena de morte considera tal ato como justiça, já um indivíduo contra a pena capital considera que é injusto. Observe que eles discordam acerca do que é justiça e não se devem ou não ser justos. justos. (3) Um muçulmano radical flagela sua mulher porque pensa ser uma punição justa. Um judeu discorda porque pensa ser uma punição injusta. Observe que eles discordam acerca do modo de se aplicar a justiça, mas não se devem ou não ser justos.
62
À luz dos exemplos acima, nos fica evidente que o valor em questão, a justiça, justi ça, é de fato um valor objetivo e imutável. É estritamente necessário, mais uma vez, observar que quaisquer objeções que tratem de interpretações morais, não apenas perdem o sentido do argumento como também cometem uma falácia non sequitur ao ao alegar que, porque as diferentes sociedades existem. não chegaram a realizar os os mesmos atos de valores morais, então estes não existem. Ainda assim, a possibilidade de uma moral subjetiva em nada responde ao argumento, pois ela não tira a insignificância ainda presente no subjetivismo da moralidade numa cosmovisão ateísta. Em tempo: a validade moral de uma ação é totalmente indiferente ao número de pessoas que concordam sobre se ela é moralmente boa ou má, bem como uma ação não recebe um valor moral objetivo porque um número grande de indivíduos, mesmo que todos os indivíduos existentes em todo o universo, venha a concordar sobre o valor moral que tal ação tem. Dessa forma, mesmo que a humanidade inteira concordasse que, por exemplo, o estupro é algo ruim, e um único indivíduo se prostrasse de forma contrária a essa resolução, alegando alegando ser o estupro algo bom, de modo algum a primeira estaria correta (e tampouco teria o direito) de julgar tal indivíduo como estando errado ou sofrendo de algum problema mental, pois a moralidade continuaria sendo puramente subjetiva, ou seja, uma mera opinião da sociedade. Da mesma maneira, se toda a humanidade, sem nenhuma exceção, exceção, viesse a concordar que o estupro é algo ruim, isso não tornaria tal ação ruim: continuaria a ser algo totalmente subjetivo e, uma vez que a humanidade tomasse isso como verdadeiro, tal ação apenas constituiria em uma ilusão. É interessante notar que a crença na moralidade subjetiva é justamente a raiz de todos os grandes genocídios do século XX. Hitler matou milhões de judeus porque ele acreditava que quem iria julgá-lo era a sociedade germânica, e não Deus. No entanto, embora os nazistas mantivessem um sistema moral próprio, ainda assim, tendiam a objetivá-lo, isto é, tornar o referido padrão um modelo para o mundo, uma verdade moral universal e absoluta (o mesmo pode ser dito, de certa forma, acerca dos extremistas islâmicos). Como já vimos anteriormente, devido ao problema do referencial, a ética nazista não poderia ser desacreditada internamente. Essa crítica só poderia ser lançada a
63
partir de uma posição privilegiada transcendente, acima dos costumes morais socioculturais relativistas. Na ausência de Deus, falta exatamente exatamente essa perspectiva perspectiva privilegiada. Stalin matou milhões de ucranianos de fome porque acreditava que quem iria julgá-lo j ulgá-lo era a sociedade soviética, isso é até meio óbvio, se o sujeito realmente acredita que matar um inocente é errado e moralmente abominável, então eles jamais teriam matado milhões de pessoas. Hitler é talvez o maior exemplo de darwinista do século XX. É claro que nenhum darwinista irá concordar, mas a história nos diz que Hitler só queria exterminar os judeus para "aperfeiçoar a raça ariana" e purificá-la, isto é, puro eugenismo. Ele simplesmente queria acelerar e redirecionar o processo evolutivo. De forma simplista, o darwinismo nos diz que os mais "adaptáveis" tendem a sobreviver, enquanto enquanto os menos capazes morrem. Na visão de Hitler, os judeus eram esses menos capazes, inclusive ele não só matava judeus, mas também foi um dos primeiros governos a incentivar a eutanásia e morte de incapazes e deficientes. Se perguntarmos a um ateu "por que é errado matar uma criança de três tr ês anos?" A resposta mais racional que iríamos obter é: "porque a sociedade assim decidiu". Não teremos nenhuma justificativa melhor do que essa. Muitos neo-ateus antirreligiosos, hoje em dia, dizem "não acredite em Deus porque Deus é mau" enquanto querem dizer, na realidade, "não acredite em Deus porque é inconveniente i nconveniente para a sociedade". O que eles não percebem, p ercebem, no entanto, é que a grande maioria dos ateus no mundo (os que vivem no Ocidente) têm certo senso de cristandade interior, justamente por causa da formação cristã da Civilização Ocidental (o Cristianismo é, segundo os livros de história, um dos pilares da civilização ocidental junto à Filosofia Grega e o Direito Romano). O fato é que a maioria de nós, ateus ou não, tem certo senso de cristandade, mesmo que não viéssemos a admitir, pois trata-se, na verdade, de uma herança moral advinda diretamente da civilização ocidental, a qual o Cristianismo ajudou a construir. Esse senso de cristandade, portanto, além de cultural, é a manifestação dos valores objetivos, os quais o Cristianismo propagou.
64
A ÉTICA NATURALISTA A fins argumentativos, vamos considerar que o nosso senso moral evoluiu como sapiens; um tipo de “moralidade resultado de pressões sociobiológicas no Homo sapiens; gregária” que funciona bem na perpetuação de nossas espécies na luta pela sobrevivência. Ora, não parece realmente haver alguma coisa a respeito do Homo sapiens que torne essa moralidade objetivamente verdadeira. Certos tipos de atividades, digamos, como o incesto ou o canibalismo, podem não ser biológica nem socialmente vantajosas e, portanto, no curso da evolução humana foram convertidas em tabu. Todavia, percebam que não há nada realmente errado quanto ao cometimento desses atos. Se os princípios morais que governam nosso comportamento estão enraizados no hábito e no costume, no sentimento e na moda”, então, o inconformado que prefere debochar da moralidade gregária ao cometer um ato tido como "moralmente abominável" não está fazendo nada mais grave do que andar fora da moda. Se o ateísmo for verdadeiro, não parece ser possível que valores morais objetivos existam. Todavia, se Deus não existe, então, qual seria o fundamento dos valores morais ou de nossa experiência moral? Ou ainda, nesse cenário, qual é a base para o valor dos seres humanos? Se Deus não existe, fica difícil, nesse caso, ver alguma razão para considerar que os seres humanos sejam especiais ou que a moralidade deles seja objetivamente verdadeira. Além disso, se não há nada acima de nós que sirva como um parâmetro para o bem, o mal, o certo e o errado, por que razão acharíamos que temos t emos obrigações morais para fazer qualquer coisa? Será que é o naturalismo ético a teoria mais adequada para se explicar a realidade? Segundo a filosofia contemporânea, contemporânea, isso está longe l onge de ser verdade. A tese cognitivista e realista do naturalismo ético, ao tentar fundamentar a existência de valores e deveres morais objetivos, bem como ao tentar validar a nossa experiência moral, aparenta falhar de diversas maneiras. Alguns de seus principais problemas são: são:
1- Falácia do Especismo Mesmo que os seres humanos possuam alguma substância metafísica relacionada ao seu ser (chamem de alma, mente ou do que quiser), eles ainda não seriam qualitativamente diferentes de nenhuma outra espécie animal. Nesse sentido, considerar a moralidade humana como objetiva (tal como o naturalismo ético apresentado pelo Paulo) é cair na
65
armadilha do especismo. Para a antropologia materialista, não há razão para considerar que os seres humanos sejam objetivamente mais valiosos do que sanguessugas. Quando um leão mata uma lebre l ebre para se alimentar, não há nada de errado. Então, por que haveria de sê-lo para com os seres humanos? Por que contra este levantam-se juízos de valor? Percebam que a conclusão não corresponde à realidade.
2- O Problema da Constituição Física Se mente e cérebro são a mesma coisa (considerando-se ainda relações de superveniência entre substâncias metafísicas redutíveis à natureza), tudo t udo quanto pensamos e fazemos é, em última instância, determinado pelos cordões percepto-sensoriais da constituição física (leis naturais) e pela nossa estrutura genética. Se as leis naturais são prescritivas (regem o universo), e não descritivas, devido ao seu caráter não-contingente, logo, não há livre arbítrio. Sem liberdade, nenhuma de nossas escolhas é moralmente importante. São como os gestos espasmódicos dos membros de uma marionete, controlada pelos cordões da percepção sensorial e da constituição física. E que valor moral tem uma marionete ou seus movimentos? Em conclusão, não se pode emitir ou ser objeto de juízo de valor algum. Percebam, mais uma vez, que tal inferência, longe corresponde à realidade, beira à ilogicidade.
3- O Problema da Ausência de Normatividade Nor matividade Segundo Matthew Jordan, um cuidadoso exame de nossa experiência moral nos revela algumas categorias imprescindíveis para toda e qualquer teoria ética. Uma delas é a normatividade, categoria responsável por fundamentar normas e deveres morais. Justamente esse fundamento aparenta estar ausente no naturalismo. Se a moralidade for somente um resultado de pressões sociobiológicas, sociobiológicas, o que exatamente nos comanda a ser morais? Por que deveríamos nos comportar moralmente, sobretudo quando isso conflita com nosso próprio interesse em sobreviver? Quando um gato se alimenta de um rato, ele não está fazendo nada imoral, mas está apenas agindo de acordo com sua natureza. Se nós somos indistinguíveis em essência dos outros seres vivos, logo, a mesma regra se aplica a nós: assim como eles, nós não teríamos obrigação moral alguma uns com os outros. Nesse cenário, nada nos obriga a ser moral. Mais uma vez, isso contrasta com a realidade, ao passo que nossa experiência moral nos diz que temos obrigações morais uns com os outros.
66
4- A Guilhotina de Hume Em metaética, a Lei de Hume, também conhecida como guilhotina de Hume, ou ainda, o problema do "ser "ser - dever ser", foi articulado articulado pelo filósofo escocês escocês David Hume, que notou que muitos escritores faziam afirmações sobre o que deve ser com base em afirmações sobre o que é. Hume estabeleceu a ideia de que existe uma diferença significativa entre afirmações descritivas e afirmações prescritivas (normativas), e de não ser óbvio como derivar as últimas das primeiras. O naturalismo ético, por sua vez, deriva um (deve) de um (é), ao passo que reduz propriedades morais a propriedades naturais. Basicamente, tem-se, de uma descrição da natureza (é), uma norma (deve ser). Sigam o exemplo abaixo:
P1 - Você não deve assassinar humanos; P2 - João é Humano; C- Portanto, você não deve assassinar João; Notem que P1 e C são premissas normativas, ou seja, elas prescrevem normas e, portanto, o raciocínio é logicamente l ogicamente válido. Todavia, quando partimos de uma premissa puramente descritiva para uma conclusão normativa - que é o que o naturalismo ético faz - somos guilhotinados por Hume. É isso o que acontece:
P1 - Humanos sentem dor se você os ferir; P2 - João é humano; C - Portanto, você não deve ferir João; Notem que C não segue de P1, o que, conclusivamente, invalida o raciocínio. Nós poderíamos tentar adicionar adicionar mais premissas descritivas, mas a conclusão ainda ainda assim assim não seguiria, pois não é logicamente possível – como como demonstrou Hume – Hume – derivar derivar premissas normativas de premissas descritivas. Nesse sentido, a tentativa de se derivar normas de descrições submerge em um\ sucessão de erros lógicos e estruturais que se mostram irreparáveis:
67
P1 - Humanos sentem dor se você os ferir; P2 - João é humano; P3 - Dor é uma forma de sofrimento; C - Portanto, você não deve ferir João; Podemos tentar adicionar mais uma premissa, mas ainda assim, o raciocínio segue inconclusivo:
P1 - Humanos sentem dor se você os ferir; P2 - João é humano; P3 - Dor é uma forma de sofrimento; P4 - João não quer sofrer; C - Portanto, você não deve ferir João; Parece evidente que C não segue de P1 em nenhum dos exemplos acima. Nesse sentido, não importa quantos fatos em forma de premissa são inseridos no silogismo, ele ainda será inválido. Isso coloca o naturalismo ético em enormes dificuldades, pois, com base nas premissas anteriores, não parece ser possível, nesse cenário, sustentar a objetividade de uma determinada declaração moral sem sermos guilhotinados por Hume.
5- A Falácia Naturalista de Moore Moore nos mostra que a afirmação de que apenas a felicidade ou o prazer são bons, por exemplo, implica que saibamos "o que é bom" e independentemente do prazer e da felicidade – felicidade – porque, porque, de contrário, raciocinamos em círculo e somos vítimas da falácia naturalista.
6- O Problema da Distinção Fato/Valor Para o naturalismo ético, é possível examinar empiricamente propriedades morais, haja vista que estas são redutíveis a propriedades naturais, todavia, parece-nos que fato e valor diferem enormemente um do outro. A título de exemplo, a sentença "a chuva está gelada" é puramente descritiva. Nesse sentido, é possível examiná-la empiricamente, pois é um
68
juízo de fato. Por outro lado, a sentença "a chuva é bela" parece ter uma natureza completamente diferente. Embora o naturalismo ético não faça distinção entre fato e valor, este aparenta não ser acessível ao conhecimento empírico. Ora, não parece ser possível colocar valores morais em tubos de ensaio a fim de estuda-los. Dito de outro modo, podemos conceber que é possível examinar empiricamente o que ocorreu nos campos de concentração nazistas, mas parece não ser possível, utilizando a mesma metodologia, dizer se aquilo foi bom ou ruim. De qualquer maneira, existem muitos outros problemas tão ou piores que estes. Todavia, somente os argumentos apresentados acima já dão mostra o suficiente da fragilidade do naturalismo ético. É consenso na filosofia contemporânea que a referida teoria enfrenta problemas muito graves. Talvez, por esse motivo tenha caído em desuso. Embora esteja fora de moda, alguns ateus ainda insistem em trazê-la aos holofotes – como como o proeminente filósofo ateu Sam Harris o faz – mas mas sem sucesso. De todo modo, os problemas levantados levantados acima permanecem permanecem sem uma uma resposta plausível, plausível, e, aparentemente, aparentemente, não há previsão de obtermos alguma. Se o naturalismo for verdadeiro, parece ser impossível condenar a guerra, a opressão ou o crime como maus. Do mesmo modo, parece ser impossível enaltecer a fraternidade, a igualdade ou o amor como benignos. Não importa quais valores se escolham, pois não há certo nem errado. Nesse cenário, bem e mal não existem. Isso significa que uma atrocidade como a do Holocausto, na realidade, seria moralmente indiferente. Pode ser que você o ache errado e moralmente abominável, mas a sua opinião não seria mais válida do que a do criminoso de guerra nazista, que o considerava certo e bom. Em tempo: se um estuprador estuprador tem em si que violentar violentar uma criança é algo bom, o que torna nossa opinião mais válida que a dele? Absolutamente nada. Richard Taylor, eminente especialista em ética, escreve: "A era moderna, ao repudiar em maior ou menor medida a ideia de um legislador divino, tem, no entanto, procurado preservar as ideias do que é moralmente certo e errado, sem s em perceber que, ao descartar descartar Deus, as pessoas aboliram, aboliram, da mesma maneira, as condições de significado para o que é moralmente certo ou errado. Assim, até mesmo indivíduos letrados declaram que certas coisas como guerra, aborto ou violação de certos direitos humanos são “moralmente erradas” e imaginam terem dito algo verdadeiro e cheio de sentido. Entretanto, é dispensável dizer a pessoas instruídas que questões desse tipo
69
jamais foram respondidas fora do âmbito da religião. [...] contemporaneamente, contemporaneamente, os autores que escrevem sobre ética, que discursam descuidadamente sobre o que é moralmente certo ou errado e sobre a obrigação moral sem nenhuma referência à religião, na verdade só estão tecendo teias intelectuais no ar rarefeito; isso equivale a dizer que o discurso deles não tem sentido." Richard Taylor
Alguns naturalistas ainda tentam suspirar apelando à semântica moral. Algo como: "o mal é tudo aquilo que atrapalha a sobrevivência e bem é tudo aquilo que ajuda a sobreviver ”. Todavia, se colocarmos esse conceito conceito de mal em uma analogia apropriada, o erro fica em evidência: imagine-se em um jogo de xadrez onde você é o Rei. Se você fez uma jogada contra a sua própria sobrevivência, logo você é uma pessoa má? desvantajosa para Obviamente, isso não faz nenhum sentido. Você fez apenas uma jogada desvantajosa para a sua sobrevivência, essa é a definição correta. Toda essa redefinição de conceitos não passa de uma uma confusão entre semântica moral e ontologia moral. A semântica moral tem a ver com o significado dos termos morais como "bom" e "certo". O que estamos fazendo aqui, no entanto, é justamente oferecer um fundamento para a existência de valores morais, ou seja, ontologia moral. A dissociação é muito importante, haja vista que alguns ateus insistem em realizar modificações semânticas indiscriminadas ao definirem, a título de exemplo, "bom" como sendo "o bem-estar das criaturas conscientes." O problema é que não podemos redefinir termos ao nosso bel prazer e torná-lo objetivos. A redefinição de conceitos é, em conclusão, uma tática arbitrária e idiossincrática. i diossincrática. Em seguimento, a pergunta que nos foi colocada na introdução, retorna sob uma nova perspectiva: se a moralidade for somente uma convenção humana, por que deveríamos nos comportar moralmente, sobretudo quando isso conflita com nosso próprio interesse interes se em sobreviver? Quando sobreviver? Quando um gato se alimenta de um rato, ele não está fazendo nada imoral, mas está apenas agindo de acordo com sua natureza. Se nós somos indistinguíveis em essência dos outros seres vivos, logo, a mesma regra se aplica a nós: assim como eles, nós não teríamos obrigação moral alguma uns com os outros. o utros. Estamos de volta ao problema da ausência de normatividade.
70
Não obstante, retornamos novamente ao problema da liberdade. Se o naturalismo é verdadeiro, então eu não sou moralmente louvável ou censurável por nenhuma de minhas ações, pois valores e deveres morais objetivos não existem. Porém, eu sou moralmente louvável ou censurável por minhas ações. Se você pensar que alguma vez fez algo verdadeiramente errado ou correto, logo, devemos concluir, igualmente, que o naturalismo não é verdadeiro. Ainda assim, a alegação da moral biológica viola a lei básica de toda a ciência: ciência: a lei da causalidade. Ela coloca mais mais no efeito do que na causa, causa, dizendo-nos que a moralidade surgiu da amoralidade. O naturalismo metodológico científico, no entanto, não possui a capacidade de explicar nada sobre sobr e como ou porque a mente funciona, mas apenas o que acontece durante o funcionamento. Se os elementos materiais fossem os únicos responsáveis pela moralidade, logo, psicopatas como Hitler não teriam verdadeira responsabilidade moral pelo que fazem, pois eles apenas tinham algumas propriedades biológicas substanciais su bstanciais instauradas em seus cérebros sujeitas às leis determinantes da natureza. Ainda à luz da biologia, alguns alguns naturalistas naturalistas tendem a dizer que a moralidade como um todo é produto da evolução, porém, inferir que, em virtude de a evolução nos ter programado a acreditar em certos valores, esses valores não são objetivos, incorre em uma falácia lógica. O filósofo americano Dr. William Wil liam Lane Craig apresenta um artigo contra cont ra Michael Ruse em um debate: "O raciocínio de Ruse é, na pior das hipóteses, um exemplo de falácia genética num livro escolar, e, na melhor das hipóteses, só prova que a nossa percepção subjetiva de valores morais é fruto da evolução. Mas, se os valores morais forem descobertos gradualmente, não inventados, então essa apreensão gradual e falível do universo moral mina a realidade objetiva desse âmbito, tanto quanto a nossa percepção gradual e falível do mundo físico mina a objetividade desse outro âmbito." W.L. Craig
71
A falácia genética é implícita sempre que um indivíduo procura invalidar uma visão explicando como tal visão se originou ou passou a ser adotada. As pessoas cometem essa falácia, por exemplo, quando rejeitam a sua crença na democracia dizendo: “você só acredita nela porque nasceu numa sociedade democrática. ” Essa ” Essa pode ser, de fato, a razão por que você acredita num governo democrático, mas isso i sso por si só não serve de nada para provar provar que a sua crença é falsa. Ou ainda: ainda: “você crê que a terra é redonda só porque nasceu numa era científica! ”. ”. Desta forma, é evidente que a afirmação não torna falsa a crença na forma da Terra. Tomemos como um outro exemplo, a beleza como valor estético: consideremos que a evolução programou os homens para enxergarem as mulheres jovens como mais bonitas do que as mulheres idosas por causa da vantagem seletiva para a espécie de acasalar com mulheres mais jovens. Será que isso serve de algum modo para provar que as mulheres mais jovens são realmente mais bonitas fisicamente que as mulheres idosas, que não existe diferença objetiva entre beleza e feiura? Obviamente, não. Valores estéticos objetivos podem existir a despeito de como passamos a apreendêlos. Além da falácia genética, quando se tenta fundamentar a existência de valores morais no naturalismo, quer seja em processos neurológicos ou evolutivos, inconscientemente, pressupõe-se que o naturalismo seja verdadeiro, logo, incorre-se em petição de princípio. Em síntese, subentende-se que o naturalismo seja verdadeiro e que os valores morais são meros produtos naturais. Não obstante, obstante, em em função função de alegações do tipo "nossos valores morais são produtos da evolução biológica" , faz-se estritamente necessário ressaltar que o argumento aqui utilizado para evidenciar a existência de valores objetivos diz respeito à ontologia da moralidade, e não à questão epistemológica, que por sua vez, diz respeito ao vir a conhecer quais são estes valores morais. A afirmação de que os valores e deveres morais são fundamentados em Deus é uma afirmação Metaética sobre Ontologia Moral, não sobre Linguística Moral ou Epistemologia.
72
A declaração “os valores morais são objetivos” é fundamentalmente uma afirmação sobre o status objetivo de propriedades morais, e não uma afirmação sobre o significado de frases morais ou sobre justificação ou conhecimento de princípios morais. É importante ressaltar igualmente que afirmar os fundamentos ontológicos de valores e deveres objetivos morais em Deus não diz nada sobre como nós viemos a conhecer esses valores e deveres. O modo como nós viemos a conhecer conhecer nossos valores e deveres morais, por outro lado, é uma questão de epistemologia moral e é, portanto, irrelevante ao propósito do texto. Devemos, portanto, ter o cuidado de dissociar epistemologia moral de ontologia moral quando tratamos da origem e dos fundamentos dos valores morais. Nós não precisamos conhecer ou até mesmo acreditar que Deus existe a fim de discernir valores morais objetivos ou reconhecer nossos deveres morais. Afirmar os fundamentos ontológicos de valores e deveres objetivos morais em Deus da mesma forma não diz nada sobre como nós viemos a conhecer esses valores e deveres. O teísta pode e deve estar genuinamente aberto a quaisquer teorias epistemológicas que seu oponente secular propuser de como como viemos a conhecer conhecer valores valores e deveres objetivos. Insistentemente, alguns naturalistas costumam dizer que que a Lei Moral é uma simples consequência das pressões evolucionárias na forma de altruísmo. Essa objeção surge no campo da sociobiologia e tenta fornecer explicações naturalistas para o comportamento altruísta com base no valor positivo da seleção natural. Ao interpretarmos a lei moral desta forma, inevitavelmente, enfrentaríamos um problema em potencial. O que é, à priori, o altruísmo? O impulso altruísta é simplesmente a voz da consciência nos chamando a ajudar o próximo, mesmo sem receber nada em troca. É importante ressaltar, no entanto, que nem todas as exigências da lei moral se resumem ao altruísmo, é claro. O inexplicável peso na consciência que alguém sente após uma mínima distorção dos fatos na declaração de imposto de renda não pode ser atribuído à sensação de ter prejudicado um um ser humano identificável. Em tempo, o altruísmo não não deve ser ser entendido como um comportamento do tipo "uma mão lava a outra", ou seja, praticar a bondade esperando algum benefício em troca. O altruísmo está um grau acima: dar-se sem egoísmo aos outros, com sinceridade, sem nenhuma intenção secundária. Quando observamos, no
73
dia-a-dia, a demonstração desse tipo de amor e generosidade, ficamos dominados por surpresa e respeito profundo. Oskar Schindler, a título de exemplo, colocou sua vida em grande risco para proteger mais de mil judeus do extermínio nazista durante durante a Segunda Guerra Mundial e, por fim, morreu morreu pobre. Todos nós sentimos uma grande admiração por seus atos. Algumas vezes, o altruísmo pode ampliar-se até para circunstâncias em que a pessoa beneficiada pareceria um inimigo inimigo visceral. No notório exemplo contido na obra do Dr. Dr. Francis Francis Collins Collins - A linguagem de Deus -, a freira beneditina irmã Joan Chittister narra a seguinte história sufi: Era uma vez uma idosa que costumava meditar às margens do Ganges. Certa manhã, ao encerrar sua meditação, ela avistou avist ou um escorpião flutuando indefeso na forte correnteza. À medida que era arrastado para mais perto, prendeu-se nas raízes raíz es que se ramificavam para dentro do rio. O escorpião lutava freneticamente para se libertar, mas cada vez ficava mais emaranhado. Imediatamente a senhora aproximou- se do escorpião que se afogava e este, assim que ela o tocou, cravou-lhe seu ferrão. A mulher afastou a mão, mas, após ter recobrado o equilíbrio, tentou de novo salvar a criatura. Todas as vezes que ela tentava, porém, o ferrão na cauda do animal a atingia com tamanha gravidade que suas mãos sangravam e seu rosto distorcia-se de dor. Um transeunte que via a idosa lutando com o escorpião gritou para ela: — Qual o seu problema, sua tola? Quer se matar tentando salvar essa coisa feia? Olhando nos olhos do estranho, ela retrucou: Só porque é da natureza do escorpião ferroar, por que eu deveria negar minha própria — Só natureza de salvá-lo? Sufi é como é conhecido o adepto do sufismo, forma de ascetismo e misticismo islâmico, influenciada pelo hinduísmo, pelo budismo e pelo cristianismo. Talvez, esse pareça um exemplo drástico, pois não há muitos dentre nós que arriscariam a vida para salvar um escorpião. No entanto, não é disso que se trata. Não é o fazer, mas sim o entender acerca do certo e do errado. A maioria das pessoas, sem dúvida, já experimentou um chamado interno para ajudar um estranho em necessidade, mesmo sem nenhuma
74
possível vantagem pessoal. E, se de fato agiu guiada por esse impulso, teve como consequência consequência uma sensação confortável de "ter feito a coisa certa". C. S. Lewis, em seu destacado livro Os Quatro Amores, explora ainda mais a natureza desse amor generoso, que ele chama de "ágape", palavra derivada do grego. O autor ressalta que essa forma de amor se distingue das outras três (afeto, amizade e amor romântico), podendo ser mais bem compreendida como vantagem recíproca, e que podemos vê-la destacada destacada em outros animais além além de nós. A ágape, ou o altruísmo, desta forma, apresenta-se como um importante desafio aos evolucionistas. Trata-se, basicamente, basicamente, de um escândalo escândalo para o raciocínio raciocínio reducionista. Não pode ser responsabilizado responsabilizado pelo impulso de se perpetuar perpetuar dos genes egoístas egoístas do indivíduo. Muito pelo contrário: pode levar os seres humanos a realizar sacrifícios que trarão sofrimento pessoal, ferimento ou morte, sem prova alguma de benefício. E, contudo, se examinarmos com cuidado aquela voz interior que às vezes chamamos de consciência, consciência, perceberemos que a motivação para a prática desse tipo de comportamento existe objetivamente dentro de todos nós, apesar de nossos esforços frequentes para ignorá-la. Ainda assim, sociobiólogos tentaram explicar, sem sucesso, esse comportamento com base em algum benefício reprodutivo indireto para o praticante da ação altruísta. Os argumentos, contudo, rapidamente se tornam um problema. Uma suposição é de que os repetidos comportamentos altruístas de um indivíduo são reconhecidos como atributo positivo na seleção do companheiro. Tal hipótese, entretanto, entra em conflito direto com observações observações feitas em primatas pri matas não-humanos que, em geral, mostram o oposto, como, por exemplo, a prática do infanticídio por um macaco recém-dominante para limpar o caminho a sua futura ninhada. Um outro argumento naturalista é o de que benefícios recíprocos indiretos, oriundos do altruísmo, proporcionaram vantagens ao praticante durante o período da evolução, no entanto, essa explicação não leva em conta a motivação do ser humano para praticar pequenos atos de consciência consciência a respeito dos quais ninguém mais sabe. Um terceiro argumento naturalista é o de que o comportamento altruísta entre membros de um grupo beneficia o grupo todo. Como exemplos temos os formigueiros, nos quais
75
operárias estéreis trabalham de maneira árdua e incessante para criar um ambiente onde suas mães possam gerar mais filhos. Esse tipo de altruísmo das formigas, contudo, é prontamente explicado em termos evolucionários pelo fato de que os genes que incentivam as formigas operárias estéreis, são exatamente os mesmos que serão transmitidos pela mãe aos irmãos e irmãs que aquelas estão ajudando a criar. Em suma, trata-se de cooperação em função da perpetuação da espécie. Os evolucionistas agora concordam, quase unânimes, que essas conexões de DNA incomuns não se aplicam a populações mais complexas, nas quais a seleção trabalha no indivíduo, não na população. O comportamento limitado da formiga operária, portanto, apresenta uma diferença essencial com relação à voz interior que faz com que eu me sinta compelido a saltar no rio para tentar salvar um estranho que está se afogando, mesmo que eu não seja um bom nadador e possa morrer na tentativa. Além disso, para que o argumento evolucionário referente a benefícios grupais de altruísmo se mantivesse, seria necessária, aparentemente, uma reação oposta, ou seja, a hostilidade a indivíduos que não fizessem parte do grupo, a competição. A lei moral nos diz que é certo que salvemos alguém que está se afogando, mesmo que seja um inimigo. Se a Lei da Natureza Humana não pode ser explicada sem hesitação como uma ferramenta cultural ou um produto indireto da evolução naturalista, como, então, podemos justificar sua presença? C.S Lewis responde: "Se houve um poder controlador fora do universo, este não poderia apresentar- se a nós como um dos fatos que fazem parte do universo — assim assim como o arquiteto de uma casa não é, de fato, uma das paredes, ou a escada,ou a lareira dessa casa. A única maneira pela qual podemos esperar que ele se mostre é dentro de nós, como uma influência ou um comando tentando fazer com que nos comportemos de determinado modo. E é isso que encontramos dentro de nós. Sem dúvida, isso não deveria levantar suspeitas?" C.S Lewis
76
Acerca do naturalismo em essência, que este encontra-se em uma grande dificuldade filosófica é um fato, e o é em diversos aspectos, ora pois, a título de exemplo, não temos razão alguma para pensar que a evolução apoia de alguma maneira o naturalismo, haja vista que a evolução e o naturalismo são logicamente inconsistentes. Em outras palavras, não se pode racionalmente aceitar ambos. O problema, como muitos pensadores (C.S. Lewis, Lewis, por exemplo) têm visto, é que que o naturalismo parece nos conduzir conduzir a um ceticismo fundo e penetrante. Ele nos leva, inevitavelmente, à conclusão de que nossa cognição ou faculdades produtoras de crenças – memória, percepção, insight lógico, etc. – etc. – são são duvidosas e não se pode confiar nelas para produzir uma preponderância preponderância de crenças verdadeiras sobre crenças falsas. Ora, pois, o próprio Darwin teve preocupações preocupações com esses esses assuntos: “Comigo”, diz Darwin, “a dúvida horrível sempre surge se as se as convicções da mente do homem, as quais têm sido desenvolvidas da mente de animais inferiores, são de qualquer valor ou dignas de confiança. Poderia qualquer um confiar nas convicções da mente de um macaco, se houvesse qualquer convicção em tal mente? ” Charles Darwin
Claramente, esta dúvida surge para os naturalistas, mas não para aqueles que acreditam em um Ser criador. Isto porque se Deus nos criou à sua imagem, então, mesmo que ele tenha no moldado por meios evolucionários, ele presumivelmente queria que nós parecêssemos parecêssemos com ele na capacidade de conhecer a verdade, verdade, mas então a maior parte do que nós acreditamos pode ser verdade mesmo que nossas mentes tenham se desenvolvido a partir daquelas dos animais inferiores. Por outro lado, l ado, há um problema real aqui para o naturalista evolucionista. Se nós, seres humanos, somos objetos materiais, com nenhuma alma imaterial ou espiritual, logo, somos apenas nossos corpos, ou talvez algumas partes dos nossos corpos, tais como o nosso sistema nervoso, ou cérebros, ou talvez parte de nossos cérebros (o hemisfério direito ou esquerdo, por exemplo) ou talvez alguma parte ainda menor. Para fins argumentativos, vamos pensar no naturalismo como incluindo o materialismo. De acordo com os materialistas, crenças, juntamente com o resto da vida mental, são causadas ou determinadas pela neurofisiologia, pelo que acontece no cérebro e no sistema nervoso. A neurofisiologia, além disso, também causa o comportamento. De
77
acordo com a história habitual, sinais elétricos seguem via nervos dos órgãos sensoriais até o cérebro. Lá, alguns processos continuam: impulsos elétricos vão via nervos eferentes do cérebro para outros órgãos incluindo músculos; em resposta a estes sinais, certos músculos se contraem, assim causando movimento e comportamento. Agora, o que a evolução nos diz (supondo que nos diz a verdade) é que nosso comportamento (talvez mais exatamente o comportamento de nossos ancestrais) é adaptativo; desde que os membros de nossa espécie têm sobrevivido e se reproduzido, o comportamento de nossos ancestrais foi conduzido, no seu meio, à sobrevivência e à reprodução. Portanto, a neurofisiologia que causou este comportamento era também adaptativa; nós podemos sensatamente inferir que permanece adaptativa. O que a evolução nos diz, portanto, é que nosso tipo de neurofisiologia promove ou causa comportamento adaptativo, o tipo de comportamento que resulta em sobrevivência e reprodução. Agora, esta mesma neurofisiologia, de acordo com o materialista, também causa crenças. Esse é o ponto: a seleção natural premia o comportamento adaptativo (premia-o com sobrevivência e reprodução) e penaliza comportamentos mal adaptativos, ele não se importa nem um pouco a respeito da crença verdadeira. Como Francis Crick, o co-descobridor do código genético, escreve no livro The Astonishing Hypothesis: “Nossos cérebros altamente desenvolvidos, consequentemente, não evoluíram sob a pressão da verdadeira descoberta científica, mas apenas nos possibilitam possibili tam a ser sagazes o bastante para sobreviver e deixar descendentes”. Francis Crick
Retomando este tema, a filósofa naturalista Patrícia Churchland declara que a coisa mais importante sobre o cérebro humano é que ele evoluiu; portanto, ela diz que a sua principal função é possibilitar ao organismo mover-se apropriadamente. Resumindo o essencial, o sistema nervoso possibilita o organismo ter êxito nos quatro aspectos: alimentação, fuga, luta e reprodução. O cerne principal do sistema nervoso é colocar as partes do corpo onde elas deveriam estar, a fim de que o organismo possa sobreviver. Melhoramentos no controle sensório-motor conferem uma vantagem evolucionária: um estilo imaginativo de representação é vantajoso na medida em que está engrenado no
78
modo de vida do organismo e aumenta as suas chances de sobrevivência. Em síntese, a verdade, ou que quer que seja, definitivamente, não importa. A seleção natural não se preocupa acerca da verdade ou da falsidade de suas crenças, mas preocupa-se apenas com o comportamento adaptativo. Suas crenças podem todas ser falsas – ridiculamente falsas. A título de exemplo, consideremos um sapo sentado sobre uma vitória régia. Diante dele, uma mosca voa. O sapo, então, estende sua língua e a captura. Se no nosso cérebro é formulada a crença que aquelas coisas pequenas e voadoras são boas de comer, ótimo. Mas se causa também uma crença obviamente falsa, como, por exemplo, se o sapo comer a mosca, ele se transformará em um príncipe, isto também está ótimo! Não há problema algum nisso, desde que seja um comportamento adaptativo. Tudo que realmente importa, no que diz respeito à sobrevivência é a reprodução; é que a neurofisiologia cause o tipo certo de comportamento. Se ela também causa crença verdadeira (em vez de crença falsa) é irrelevante. Isso inclui, logicamente, crenças na nossa experiência moral e no próprio naturalismo. Agora, calculemos a probabilidade de que uma crença, nesse contexto, seja verdadeira. Bem, o que nós sabemos é que uma crença em questão é produzida pela neurofisiologia adaptativa, isto é, neurofisiologia que produz comportamento adaptativo. Mas como nós temos visto, isto não nos dá nenhuma razão para pensar que essa crença seja verdadeira (e nenhuma para pensar que seja falsa). Nós devemos supor, portanto, que a crença em questão tem tanta probabilidade de ser falsa quanto de ser verdadeira; a probabilidade de qualquer crença particular ser verdadeira está perto de 1/2. Mas então, adicionamos aqui o fato de que é solidamente improvável que as faculdades cognitivas dessas criaturas produzam preponderantemente crenças verdadeiras sobre falsas conforme exigido pela confiabilidade. Se eu tenho 1.000 crenças independentes, por exemplo, e a probabilidade de qualquer crença particular ser verdadeira é 1/2, então a probabilidade de que 3/4 ou mais dessas crenças são verdadeiras (certamente uma exigência modesta o bastante para confiabilidade) será pouco menos do que 10(-58). E mesmo se eu estivesse trabalhando com um modesto sistema epistêmico de apenas 100 crenças, a probabilidade de que 3/4 delas sejam verdadeiras, dado que a probabilidade de qualquer um seja verdadeira é de 1/2, é muito baixa, alguma coisa como 0,000001. Então as chances de que as crenças verdadeiras dessas criaturas substancialmente sobrepujem suas falsas crenças (mesmo
79
numa área particular) são pequenas. A conclusão retirada é que é extremamente improvável que suas faculdades cognitivas sejam confiáveis. A evolução, portanto, longe de sustentar o naturalismo, é incompatível com ele, nesse sentido que você não pode racionalmente acreditar em ambos. Por mais que os argumentos da filosofia contemporânea abalem gravemente as estruturas do naturalismo, alguns ateus ainda tentam defender a referida posição e a existência de valores morais objetivos ao mesmo tempo. O grande problema, no entanto, é que todos que o fazem, sem exceção, caem no misticismo, tornando-se mais místicos do que ateus em si. Talvez, isso de deva ao conflito interno de nossa consciência com a tendência humana natural ao ceticismo. Todavia, um simples e sincero exame introspectivo pode nos revelar se nossas dúvidas são baseadas em meras questões racionais ou se são puramente emocionais, frutos de uma simples negação. Por fim, não basta apenas questionarmos a realidade ao nosso redor. Antes de tudo, devemos questionar o nosso próprio ceticismo.
80
CONSEQUENCIALISMO E UTILITARISMO O consequencialismo e o utilitarismo são duas correntes filosóficas praticamente idênticas, haja vista que ambas se pautam no propósito final das ações. Basicamente, estamos falando de sistemas éticos através dos quais podemos entender o que é moralmente correto e incorreto simplesmente em função de seus fins. Embora as duas visões tenham como foco a consequência das ações, o utilitarismo, doutrina esta teorizada pelo filósofo inglês John Stuart Mill, no século XIX, difere do consequencialismo consequencialismo no sentido de que a atitude mais correta seria a que resulta no maior bem-estar ou prazer para o máximo de pessoas (hedonismo), ao passo que o primeiro se sustenta na premissa eudemonística de que é a felicidade quem possui valor intrínseco. Embora muitos ateus, como Sam Harris, busquem nestas correntes filosóficas um sistema moral alternativo que não necessite de um legislador externo, esta pode não ser a melhor opção de fuga, haja vista que a ética de escolher o mal menor tem um lado bastante perigoso. Considerem o seguinte dilema: Um trem está prestes a atingir cinco pessoas que trabalham desprevenidas sobre a linha, porém, você tem a chance de evitar a tragédia acionando uma alavanca que leva o trem para outra linha, onde ele atingirá apenas uma pessoa. Você mudaria o trajeto, salvando as cinco pessoas e matando uma? Se você respondeu sim, logo, você agiu de acordo com o utilitarismo, porém, basta multiplicar o número de pessoas em questão por um milhão. Você mataria um milhão de pessoas para salvar a vida de cinco milhões? Decisões como esta vêm sustentando regimes totalitários desde o século XX, que, por sua vez, desgraçaram, em nome da maioria, uma minoria tão inocente quanto o homem sozinho no trilho, o que nos remete à conclusão de que o ato de matar um para salvar cinco simplesmente ignora o fato de que toda a vida humana possui valor intrínseco. Logo, nesse cenário, utilizar a razão é indiferente. Do mesmo modo, o utilitarismo pode ser utilizado para justificar outras ações que são claramente imorais: Consideremos o caso de um feto severamente deformado. É certo que tal criança viverá brevemente, embora, de forma indolor. Em função disso, ele ou ela não irá fazer nenhuma contribuição à sociedade. A última, por sua vez, irá suportar grandes despesas. Médicos e outros profissionais de saúde irão investir tempo, emoção e esforço em
81
adicionar algumas meras horas de vida ao bebê. Os pais vão conhecer e amar a criança apenas tempo o suficiente para ter seus corações partidos pela perda inevitável. Um aborto nega todas essas perdas (utilidade). Nesse cenário, não há utilidade positiva perdida. Muitos dos mesmos custos estão envolvidos no cuidado de doentes terminais idosos. Eles também podem não sofrer nenhuma dor, assim como não podem oferecer nenhum benefício para a sociedade. Equilibrando aspectos positivos e negativos e excluindo da equação todo e qualquer valor moral objetivo e intrínseco, chegaríamos a decisões moralmente repugnantes. Aqui, a ética deontológica claramente nos conduziu ao que é mais fácil ao invés do que é certo. De uma maneira similar, o utilitarismo nega a existência de atos superabundantes, superabundantes, isto é, atos de heroísmo moral que não são moralmente obrigatórios, mas ainda são louváveis. Exemplos claros são a doação de setenta e cinco por cento de sua renda para os pobres ou jogar-se sobre uma bomba para salvar um estranho. O utilitarismo demonstra uma visão extremamente inadequada dos direitos humanos e da dignidade humana. Se escravizar uma minoria de pessoas, digamos, por um prêmio, produziria o maior bem para o maior número de pessoas, então, tal atitude poderia ser perfeitamente justificada justifi cada em um esquema utilitarista. Entretanto, a escravização claramente viola os direitos individuais, assim como tratar as pessoas como um meio para um fim, haja vista que são criaturas com valor intrínseco enquanto seres humanos. Se atos como o aborto, a eutanásia ativa ou o suicídio assistido maximizam a utilidade ou o bem-estar geral, então eles são moralmente obrigatórios para um utilitarista. No entanto, sabemos que qualquer sistema moral que faz do aborto ou suicídio algo moralmente obrigatório, certamente, é imperfeito. É um fato inteligível a todo e qualquer ser humano, através de nossa consciência e experiência moral, que devemos louvar o bem em si e buscar um bom caráter porque estes são intrinsecamente valiosos. Por outro lado, l ado, o utilitarismo implica que a única razão r azão pela qual devemos procurar fazer o bem ao invés do mal, ou buscar um bom caráter em vez do mau caráter, é porque tais atos iriam maximizar a utilidade. É óbvio que devemos louvar bons motivos e culpar os maus simplesmente porque eles são intrinsecamente bons e ruins, e não porque tais atos produzem boas ou más consequências. consequências. Em suma, deve ficar fi car claro que o utilitarismo é uma teoria moral inadequada.
82
Não obstante, o utilitarismo contemporâneo – tal tal como a visão do filósofo ateu Peter Singer – Singer – entra entra no rol das teses éticas cognitivistas, realistas e naturalistas, o que o coloca sob a mesma gama de problemas metafísicos que os naturalistas n aturalistas éticos enfrentam. Isso ocorre porque, embora o utilitarismo e o consequencialismo tenham como foco a consequência das ações, ambos possuem seus fundamentos redutíveis às propriedades naturais. A título de exemplo, o fundamento f undamento moral do utilitarismo (o bem-estar ou prazer) está intrinsecamente ligado à capacidade sensorial humana, que é, por sua vez, um componente natural. Nesse sentido, as propriedades morais de um utilitarista são, em última análise, puramente naturais. Esse fato leva os utilitaristas a lidar com os mesmos graves problemas que os naturalistas éticos enfrentam. Ainda assim, outro grave problema presente no utilitarismo é o seu foco no prazer ao contrário do que é intrinsecamente bom. O prazer é uma definição humana de bem e, como tal, é subjetiva. O que é agradável para um pode não ser agradável para outro. Entretanto, segundo a filosofia clássica, Deus é benevolente e imutável, logo, uma vez que Deus não muda, consequentemente, a definição acerca do que é bom também não pode mudar, mudar, ou seja, trata-se trata-se de uma objetividade. Por fim, após após evidenciarmos evidenciarmos os males males do utilitarismo, a conclusão que se segue é que, não importa a vertente consequencialista adotada, sua base não só é amplamente rejeitada pelos estudiosos da ética, como também é amplamente implausível e absurda, haja vista as inúmeras e graves falhas morais demonstradas anteriormente. Não é à toa que tal teoria caiu em desuso e seus ideólogos foram e são constantemente acusados de promover, sem justificativa alguma, uma sociedade superior, ao passo que a referida corrente filosófica, segundo a filosofa americana Ayn Rand, poderia justificar até mesmo o holocausto nazista.
83
DILEMAS MORAIS Dilemas morais, de acordo com a filosofia, são situações nas quais nenhuma solução é satisfatória. São situações que desafiam todos que tentam criar regras para decidir o que é certo e o que é errado. Comumente, nos deparamos com uma pequena história, por vezes contada por relativistas, para demonstrar que não existe uma lei moral objetiva e que tudo é relativo. Eis um exemplo:
Existem cinco pessoas tentando sobreviver em um bote salva-vidas projetado para levar apenas quatro pessoas. Se uma pessoa não for jogada no mar, todos morrerão. O dilema é então discutido, propõe-se diferentes soluções e, então, conclui-se que seu desacordo prova que a moralidade deve ser relativa. O que não foi percebido, porém, é que esse dilema prova o oposto. Se não houvesse uma lei moral absoluta, não haveria um dilema. As pessoas diriam “ah, joga qualquer um no mar. Quem se importa? i mporta? ” Se ” Se não existisse um certo e um errado, ou um bem e mal de fato, logo não haveria problemas em realizar um ato como esse, afinal de contas, em uma dimensão subjetiva, o que vale é a sobrevivência sobrevivência pessoal. À luz l uz da resolução do dilema, C.S. Lewis responde: “Suponhamos que você ouça o grito de socorro de um homem em perigo. Provavelmente P rovavelmente sentirá dois desejos: o de prestar socorro (que se deve aos impulsos) e o de fugir do perigo (que se deve à autopreservação). Mas você encontrará dentro de si, além desses dois impulsos, um terceiro elemento, que lhe mandará seguir o impulso da ajuda e suprimir o impulso da fuga. Esse elemento, que põe na balança os dois instintos i nstintos e decide qual deles deve ser seguido, não pode ser nenhum dos dois. Você poderia pensar também que a partitura musical, que lhe manda, num determinado momento, tocar tal nota no piano e não outra, é equivalente a uma das notas no teclado. A Lei Moral nos informa informa da melodia a ser tocada; nossos instintos são meras teclas. ” C.S Lewis
84
O DILEMA FINAL Enfim, após uma longa discussão sobre a ontologia dos valores morais e o propósito de um mundo sem Deus, é chegado o momento de apresentar aos leitores o dilema final sob o qual todo o trabalho se assenta. Na ausência de evidências para sustentar a existência de valores morais objetivos sem Deus, os ateus têm de enfrentar de peito aberto o inevitável dilema:
(1) Insistir que há valores objetivos, ao passo que os negam simultaneamente, pois querem continuar se iludindo e lutando contra o fato de que não suportariam viver em uma dimensão subjetiva onde o estupro fosse visto como sendo apenas uma escolha. (2) Admitir que há valores e deveres morais objetivos no mundo, pois estes existem de fato e são inteligíveis a todo e qualquer ser humano. Se, para o ateu, a primeira opção está correta, então, ele, assim como a maioria dos ateus, age de maneira contraditória e irracional, escondendo-se em um castelo de ilusões construído a fim de maquilar a cruel indiferença do universo. Se a segunda opção está correta, então, segue-se, inevitavelmente, que um Legislador Moral existe.
85
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após uma vasta exposição acerca da moralidade no ateísmo, acredito que estamos diante do mais contundente, eficiente e surpreendente argumento em favor do teísmo. Com base em uma sincera análise de um universo sem Deus, foi possível perceber que nós, seres humanos, estamos fadados à insignificância de um universo sem propósito. Tão irrisória a vida se mostra, a ponto de não mudar em nada a totalidade da existência o fato de existirmos. Do mesmo modo, na ausência de Deus, parece não haver bases adequadas para sustentar a existência de valores e deveres morais no mundo. Logo, a própria existência e seus efeitos (toda a ação, sofrimento e sentimento e valor) aparenta ser, em última instância, sem sentido e vazia. Albert Camus, a título de exemplo, é um dos poucos que têm a coragem de responder o que ele considera ser a causa maior existencialista: será que a realização da plenitude e absurdo da vida exigem suicídio? Ele descreve, então, a condição absurda da humanidade: "A grande parte da nossa vida é construída sobre a esperança do amanhã, do amanhã que nos aproxima da morte, e é o último inimigo; pessoas vivem como se elas não tivessem a certeza da morte; uma vez despojado do romancismo comum, o mundo é um estranho e desumano lugar; o verdadeiro conhecimento é impossível de ser explicado pela racionalidade da ciência em favor do mundo: suas histórias, his tórias, em última análise, no sentido de abstrações, se dão em metáforas. Desde que o momento absurdo é reconhecido, ele se torna a mais angustiante de todas as paixões." Albert Camus
Não obstante, por meio de um sincero exame de nossa experiência moral, nos parece evidente que existem certas coisas que são objetivamente boas, más, certas ou erradas, independentemente independentemente da mente humana. O ateísmo, em contrapartida, não somente aparenta falhar em fornecer uma base ontológica para a existência de valores e deveres morais, como também nos apresenta uma explícita contradição: ao passo que se afirma a subjetividade dos valores morais, em algum momento, afirma-se a objetividade dos mesmos, ao se mencionar, por exemplo, as injustiças e os males do mundo. Alguns ateus costumam pensar que o mal fornece "provas contundentes" contundentes" contra a existência de Deus, no entanto, o oposto é que parece constituir verdade.
86
O mal no mundo, surpreendentemente, se mostrou uma forte evidência para a corroborar a existência de Deus, à medida que, sem a sua existência para constituir o parâmetro objetivo para nossas ações e juízos, não poderiam existir valores e deveres morais. Tampouco, seria possível explicar a existência do próprio mal e sofrimento no mundo. A conclusão que se segue, portanto, é que não há uma aparente escapatória: parece-nos notoriamente mais razoável aceitar a existência de Deus do que persistir na ilusão de que não há regras morais no mundo, ao passo que, em algum momento moment o de nossas vidas, sempre apelamos as mesmas. O ateu está, portanto, não entre a cruz e a espada, mas entre a ilusão e a contradição.
87
AUTORES RECOMENDADOS Abaixo, segue uma lista de leituras que julgo serem imprescindíveis ao conhecimento relativo ao tema do livro: 1- Albert Camus – Camus – O O Mito de Sísifo 2- Albert Camus – Camus – O O Estrangeiro 3- Albert Camus – Camus – A A Peste 4- Albert Camus – Camus – O O Homem Revoltado 5- Alvin Plantinga – Plantinga – An An Evolutionary Argument Against Naturalism 6- Alvin Plantinga – Plantinga – An An Existentialist Ethics 7- C. S. Lewis – Lewis – A A Abolição do Homem 8- Dostoievski – Dostoievski – Crime Crime e Castigo 9- Dostoievski – Dostoievski – Os Os Irmãos Karamazov 10- Emil Cioran – Cioran – Nos Nos Cumes do Desespero 11- Francis Collins – Collins – A A Linguagem de Deus 12- Kierkegaard – Kierkegaard – O O Conceito de Angústia 13- Nietzsche 13- Nietzsche – – Além Além do Bem e do Mal 14- Nietzsche 14- Nietzsche – – Genealogia Genealogia da Moral 15- Sartre – Sartre – A A Náusea 16- Sartre – Sartre – Entre Entre Quatro Paredes (Dramaturgia) 17- Sartre – Sartre – O O Existencialismo é um Humanismo 18- Sartre – Sartre – O O Ser e o Nada 19- Schopenhauer – Schopenhauer – Dores Dores do Mundo 20- Schopenhauer – Schopenhauer – Metafísica Metafísica do Amor, Metafísica da Morte 21- Schopenhauer – Schopenhauer – O O Mundo como Vontade e Representação 22- Frithjof Schuon – Schuon – A A Contradição do Relativismo 23- William Lane Craig – Craig – Em Em Guarda 24- William Lane Craig – Craig – Philosophical Philosophical Foundations for a Christian Worldview W orldview 25- William Lane Craig – Craig – Reasonable Reasonable Faith
88
PÁGINAS DA INTERNET RECOMENDADAS Abaixo, segue uma lista de páginas da internet as quais julgo serem bastante pertinentes na defesa e divulgação de uma filosofia rigorosa e consistente: 1- Apologética Cristã 2- Ateísmo Refutado 3- Ciência e Religião 4- Contra os Acadêmicos (Grupo no Facebook) 5- Entre o Malho e a Bigorna 6- Logos Apologética 7- Respostas ao Ateísmo 8- Razões Para Crer (Grupo no Facebook) 9- Quebrando o Encanto do Neo-Ateísmo 10- Tuporem.org
89
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
“Epistemology in the Age of Neuroscience," Journal of Philosophy, Vol. 84 (October 1987), pp. 548-49.
Agradeço a Paul Zwier, que realizou os cálculos.
Aqui eu vou fornecer apenas a essência do argumento; para uma descrição mais completa veja o meu Warranted Christian Belief (Oxford Univ. Press, 2000), cap. 7; ou minha contribuição para Knowledge of God (Blackwell, 2008); ouNatural Selection and the Problem of Evil (The Great Debate), editado por Paul Draper, www.infidels.org/library/modern/paul_draper/evil.html.
AQUINO, Thomas St. – St. – Obras Obras diversas;
BALAGUER, Mark - Fictionalism in the Philosophy of Mathematics; First published Tue Apr 22, 2008; substantive revision Fri Sep 16, 201 (Stanford Encyclopedia of Philosophy) - http://plato.stanford.edu/entries/fictionalismmathematics/#Con
CANTUÁRIA, Anselmo St. – St. – Obras Obras diversas;
Carta a William Graham (Down, 3 de Julho, 1881), em The Life and Letters of Charles Darwin, ed. Francis Darwin (London: John Murray, 1887), Volume 1, pp. 315-16.
COLLINS, Francis - A linguagem l inguagem de Deus;
CRAIG, W. L. – L. – Antiplatonismo Antiplatonismo e realismo moral; reasonablefaith.org;
CRAIG, W. L. – L. – Deus Deus e objetos abstratos; reasonablefaith.org;
CRAIG, W. L. – L. – Em Em guarda (2011);
CRAIG, W. L. – Obra atual a despeito de Deus e objetos abstratos; reasonablefaith.org;
CRAIG, W. L. - On Guard; TeonisWiki - O argumento da moralidade objetiva;
CRAIG, W. L. – L. – Valores Valores morais e objetos abstratos; reasonablefaith.org;
CRAIG, W. L. - A Ética Teísta Deriva “Deve” de “É”?
CRAIG, W. L. - Objective Moral Values Exist;
90
DESCARTES, René – René – Meditações Meditações Metafísicas;
Escrito em co-autoria com Alvin Plantinga na série Blackwell's Great Debates in Philosoph (Blackwell, 2008). Nota do tradutor: O livro não possui tradução para o português.
FRANCK, R, ROZE, CONNOLLY, R. (Orgs.). - What Does It Mean To Be Human? Reverence for life Reaffirmed by Responses from Around the World. New York: St. Martin's Griffin, 2000. p. 151;
HIPONA, Agostinho St. – St. – Obras Obras diversas;
http://pibidfilosofiauesc.blogspot.com.b http://pibidfilosofiauesc.blogspot.com.br/2011/10/nominalismo-e-realismo r/2011/10/nominalismo-e-realismo.html .html
HUME, David – David – Diálogos Diálogos sobre a religião Natural/
KANT, Immanuel – Immanuel – A A crítica da razão pura;
LENNOX, John - artigos diversos;
LEWIS, C. S. - Cristianismo Puro e Simples; Si mples;
MARX, Karl – Karl – O O manifesto Comunista;
MORELAND, J.P - Utilitarianism and consequentialism;
NIETZSCHE, Friedrich – Além Além do bem e do mal, Prelúdio a uma filosofia do futuro;
NIETZSCHE, Friedrich Friedrich – – Aurora, Aurora, reflexões sobre preconceitos morais;
PLANTINGA, Alvin - Deus, a liberdade e o mal;
PLANTINGA, Alvin – Alvin – O O argumento evolucionista contra o naturalism;
Resenhado por Douglas Groothuis, em um texto onde quatro livros que lidam com o ateísmo de uma forma ou de outra são examinados [aqui]. Nota do tradutor: O livro não possui tradução para o português.
RUSSELL, Bertrand - Why I Am Not a Christian, London: George Allen & Unwin;
SARTRE – SARTRE – Jean-Paul Jean-Paul - L'Existentialisme est un humanism;
Se você não pensa que o naturalismo inclui o materialismo, então pense no meu argumento como a conclusão de que não se pode sensatamente aceitar a conjunção tripartite do naturalismo, evolução e materialismo.
91
Veja, por exemplo, Naturalism Defeated?, ed. James Beilby (Cornell Univ. Press, 2002), que contém dez artigos por críticos do argumento, junto com minhas respostas às suas objeções.
GEORGE MINOIS – MINOIS – História História do Ateísmo;
Kai Nielsen, “Why Should I Be Moral?”, American Philosophical Quarterly 21 (1984): 90.
Richard Taylor, Ethics, Faith, and Reason (Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall, 1985), 90, 84.
H. G. Wells, The Time Machine (Nova Iorque: Berkeley, 1957), cap. 11 [publicado em português com o título A máquina do tempo, em diversas traduções e edições].
W. E. Hocking, Types of Philosophy (Nova Iorque: Scribner’s, 1959), 27.
Friedrich Nietzsche, “The Gay Science”, in The Portable Nietzsche, org. e trad. W. Kaufmann (Nova Iorque: Viking, 1954), p. 95 [publicado em português com o título A gaia ciência, em diversas traduções e edições].
Bertrand Russell, “A Free Man’s Worship”, in Why I Am Not a Christian, org. P. Edwards (Nova Iorque: Simon & Schuster, 1957), p. 107 [publicado [ publicado em português com o título Por que não sou cristão. Porto Alegre: L&PM, 2008].
Bertrand Russell, carta a Observer, 06 de outubro de 1957.
Jean Paul Sartre, “Portrait of the Antisemite”, in Existentialism from Dostoyevsky to Sartre, ed. rev., org. Walter Kaufmann (Nova Iorque: New Meridian Library, 1975), p. 330.
Richard Wurmbrand, Tortured for Christ (Londres: Hodder & Stoughton, 1967), p. 34 [publicado em português com o título Torturado por amor a Cristo. São Paulo: A. D. Santos, 1998].
Ernst Bloch, Das Prinzip Hoffnung, 2.ed., 2 vols. (Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 1959), 2:360-361 [publicado em português com o título O princípio esperança, esperança, 3 vols. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005].
Loyal D. Rue, “The Saving Grace of Noble Lies”, discurso à Academia Americana para o Avanço da Ciência, fevereiro de 1991.