Todos os direitos reservados. Copyright © 2018 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina. Preparação dos srcinais: Miquéias Nascimento Capa e projeto gráfico:Santos Elisangela Santos Editoração: Elisangela Produção de ePub: Cumbuca Studio CDD: 250 – Congregações cristãs, práticas e teologia pastoral ISBN: 978-85-263-1550-1 ISBN digital: 978-85-263-1627-0 As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de 1995 da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário. Para maiores informações sobre livros, revistas, periódicos e os últimos lançamentos da CPAD, visite nosso site: http://www.cpad.com.br. SAC — Serviço de Atendimento ao Cliente: 0800-021-7373 Casa Publicadora das Assembleias de Deus Av. Brasil, 34.401 – Bangu – Rio de Janeiro – RJ CEP 21.852-002 1ª edição/2018
Ao pastor Hércules Carvalho Denobi e sua esposa, irmã Eliane. Vocês têm mostrado à nossa geração o que significa ser sal da terra e luz do mundo.
AGRADECIMENTOS A primeira pessoa a quem apresentei o projeto de escrever um livro na década
de 1990 e que acreditou em sua viabilidade foi a minha amada esposa Luciana. Ela tem estado ao meu lado nesses quase 30 anos de lutas e vitórias. Estendo minha gratidão à nossa princesa, Júlia, fruto da nossa indissolúvel união no Senhor. Ambas participaram ativamente deste projeto sugerindo temas e revisando algumas partes do texto na medida em que o produzia. Amo muitíssimo vocês! Minha dívida de gratidão com os meus pais é impagável. Renato (in memoriam) e Célia Zibordi ensinaram-me as sagradas letras desde muito cedo, fazendo valer o que está escrito em Provérbios 22.6: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele”. Tenho certeza de que grande será o seu galardão. Ronaldo Rodrigues de Souza, para mim, não é somente o diretor executivo da CPAD. Além de líder-empreendedor e homem de marketing, esse servo de Deus com grande visão do Reino é um amigo diretamente envolvido em cada livro que escrevo. Ele incentiva, desafia, faz críticas, sugestões, etc. Que Deus derrame toda sorte de bênçãos sobre a vida do irmão Ronaldo e de sua querida esposa, irmã Carla! José Wellington Costa Júnior é o homem que Deus levantou para presidir a Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), o qual, por muitos anos, foi também presidente do Conselho Administrativo da nossa Casa
Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD). Quero, aqui, ao dirigir-lhe estas singelas palavras, estender minha gratidão a todos os funcionários da CPAD, não somente da Diretoria, mas também dos departamentos de Publicações, Arte, Produção, Marketing, Vendas, etc. Que Deus abençoe ricamente o pastor Wellington Júnior e sua amada esposa, irmã Lídia! Antonio Gilberto é um mestre, teólogo e escritor que me inspira desde os meus primeiros anos de fé. Tive o privilégio de estar bem próximo dele durante um tempo da minha vida e apreendi lições preciosíssimas. De uns tempos para cá, não temos conversado com muita frequência; porém, sua contribuição para meu crescimento teológico por meio de suas obras (artigos, comentários de Escola Bíblica Dominical, etc.) continua a mesma. Pastor Gilberto e irmã Iolanda, meus pais, jamais me esquecerei de vocês! Que o Senhor Jesus lhes dê, ainda, bênçãos surpreendentes, muito além das que estão esperando. Hércules Carvalho Denobi e sua esposa não têm medido esforços para expandir o Reino de Deus na face da terra. Para mim, tem sido muito gratificante desfrutar de sua amizade e ajudá-los a levar a sã doutrina a todas as regiões do Brasil e, também, a alguns países. Que Deus os abençoe, como nunca antes, em tudo, queridos amigos, pastor Hércules e irmã Eliane! Há, ainda, vários pastores que posso ousar chamar de amigos; homens que têm contribuído para meu desenvolvimento ministerial. Paulo Lopes, meu pastor em Niterói, Rio de Janeiro, na Assembleia de Deus da Ilha da Conceição. ecer Goes, meu grande amigo cearense, um verdadeiro pai, amoroso e disciplinador. Daniel Acioli, outro pai e conselheiro desde Apucarana, Paraná. Gedeão Grangeiro, o irmão mais novo que não tive. Sou grato, finalmente, ao pastor Carter Conlon, líder da Times Square Church, cujas mensagens muito me edificam, semanalmente, pela Internet; e aos inesquecíveis evangelistas Valdir Bícego e David Wilkerson, homens que estão na glória e presentes em meus pensamentos; ambos continuam influenciando profundamente a minha vida como pregador do evangelho e ensinador da sã
doutrina. Acima de tudo, estou muito agradecido por outro ano de oportunidade para servir ao meu maior Amigo, o Senhor Jesus Cristo.
PREFÁCIO é um grande desafio na pós-modernidade, e cativar leitores na era E screver digital é uma missão quase impossível. É o que dizem os profissionais de diversas áreas, que reclamam da falta de foco das pessoas. Há alguns anos, quem trabalhava com rádio podia fazer vídeos de cinco minutos para agências de publicidade. Hoje, é preciso limitá-los a, no máximo, um minuto e meio, para que se consiga prender a atenção de uma pessoa que geralmente está ansiosa para checar suas mensagens. Esse mesmo problema ocorre no campo da leitura. Até mesmo um professor universitário reconheceu que, atualmente, não consegue “ler mais de duas páginas por vez. Sinto a necessidade incontrolável de entrar na internet e ver se recebi novos e-mails. Acho que estou perdendo a minha capacidade de manter a concentração em qualquer coisa séria” (GOLEMAN, p. 15). Não há como negar; vivemos num tempo em que ler um único capítulo da Bíblia por dia tornou-se uma tarefa maçante, enfadonha, quase impossível, ante tantas distrações que chegam a nós pelo smartphone. Alguns cientistas acreditam que a Internet está moldando nosso cérebro, fazendo com que não apreciemos mais a leitura de livros. “Para algumas pessoas, a ideia mesma de ler um livro tornou-se antiquada, até um pouco tola — como costurar as próprias roupas ou escrever com lapiseira. ‘Não leio livros’, diz Joe O’Shea, que foi o presidente do grêmio estudantil da Universidade Estadual da Flórida e que recebeu em 2008 uma bolsa Rhodes. ‘Vou ao Google e posso absorver a informação relevante rapidamente’. [...] Em uma palestra durante um recente encontro da Phi Beta
Kappa, a professora da Universidade de Duke, Katherine Hayles, confessou: ‘Não consigo mais fazer com que meus alunos leiam livros inteiros’” (CARR, p. 21,22).
Não por acaso, aceitei o desafio de preparar esta série de livros, a quarta da minha carreira. Uma das mais importantes missões que tenho como escritor é fazer pessoas apreciarem a leitura. E, por isso, gosto muito de produzir séries de leitura rápida, visto que os livros que as compõem, além de não serem muito densos, permitem um tipo de abordagem leve, não muito acadêmica. A primeira série que escrevi destina-se ao aconselhamento do público juvenil: Perguntas Intrigantes que os Jovens Costumam Fazer (2003) e Adolescentes S/A: coisas que rapazes e moças precisam saber (2004). E a segunda visa a orientar os obreiros do Senhor que lidam com a Palavra e com o louvor: Erros que os Pregadores Devem Evitar (2005), Mais Erros que os Pregadores Devem Evitar
que Evitar os Adoradores (2007), Erros Pregadores Devem (2012).Devem Evitar (2010) e Erros Escatológicos que os Iniciei, em 2006, uma terceira série sobre a pregação e o pregador com base na vida do apóstolo Paulo. No primeiro livro, Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria, a ênfase recai sobre a pregação. No segundo, Procuram-se Pregadores como Paulo (2015), sobre o caráter do expoente das Escrituras. Na presente série, Pregadores da Bíblia, meu objetivo é fazer uma análise da pregação contemporânea, dando destaque para os acertos do pregador bemsucedido, isto é, aquele que tem compromisso com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra. Nesse caso, visando a uma abordagem positiva, selecionei sete pregadores neotestamentários aprovados por Deus, a fim de discorrer sobre as suas principais características. Gosto de títulos compridos. Daí, João Batista: o Pregador Politicamente Incorreto. Mas o que procuro mesmo em cada novo trabalho literário é produzir um texto de leitura rápida, bem-humorada e estimulante, que incentive o leitor a continuar lendo. Isso, no entanto, não significa que este livro, o qual abre a presente série, não contenha exegeses de passagens, bem como abordagens
teológicas. Tudo isso está presente aqui, de alguma forma, “tudo junto e misturado” (risos). Confesso que uma das minhas maiores alegrias como escritor tem sido ouvir o testemunho de alguns leitores que não gostavam de ler: “Seu livro foi o primeiro que li e, desde então, me interessei pela leitura”. Este, aliás, é um dos meus principais propósitos ao escrever: despertar o interesse pela leitura num tempo em que, segundo especialistas, as pessoas têm perdido cada vez mais o poder de concentração. No caso desta série, reitero que minha abordagem baseia-se nas marcas de sete personagens neotestamentários — inicialmente —, os quais tinham um mesmo segredo: João Batista, Jesus Cristo, Pedro, Estêvão, Filipe, Barnabé e Paulo. pesar de todos estes — apresentados em ordem cronológica, aqui neste prefácio — terem inúmeras qualidades, uma delas está presente na vida de cada um, o que os torna membros de um seleto grupo de pregadores do Novo Testamento. Qual é o segredo desses pregadores? Espero que o leitor se mantenha atento, a fim de descobri-lo. Ciro Sanches Zibordi Niterói, RJ, Primavera de 2017
SUMÁRIO Dedicatória Agradecimentos Prefácio Introdução - Sete Pregadores e um Segredo Capítulo 1 - Houve um Homem Enviado de Deus Capítulo 2 - The Voice Capítulo 3 - Pregação Politicamente Incorreta Capítulo 4 - Pregador Cristocêntrico Capítulo 5 - Dois Batistas Capítulo 6 - Por que Não um dos Doze Apóstolos? Capítulo 7 - Acabou a Carreira, Perdeu a Cabeça, Guardou a Fé Bibliografia
Introdução
SETE PREGADORES E UM SEGREDO Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio.
Atos 6.3
O número sete (hb. sheba ou shibah) aparece quase 260 vezes no Antigo
Testamento, mas também é mencionado de modo indireto. O Criador, por exemplo, quando submeteu a Criação a seu próprio teste de qualidade, viu “que era bom” a cada ato criativo (Gn 1.4,10,12,18,21,25). E, ao concluir toda a sua obra, “viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (v. 31). Ao todo, Ele viu que sua Criação era boa por sete vezes! Ainda em Gênesis, vemos que o Senhor fez sete promessas a Abraão: “far-te-ei uma grande nação”, “abençoar-te-ei”, “engrandecerei o teu nome”, “tu serás uma bênção”, “abençoarei os que te abençoarem”, “amaldiçoarei os que te amaldiçoarem”, “em ti serão benditas todas as famílias da terra” (12.1-3). Por que sete, e não seis ou oito? Em Josué 6.4-15, vemos que sete sacerdotes, levando sete buzinas diante do Senhor, rodearam a cidade de Jericó durante sete dias, sendo que, no sétimo, a circundaram por mais sete vezes (cf. Hb 11.30). Nos dias do profeta Elias, havia 7 mil homens que não se prostraram diante de Baal (1 Rs 19.18; cf. Rm 11.4). Certo salmista — até hoje desconhecido — disse ao Senhor: “Sete vezes no dia te louvo pelos juízos da tua justiça” (Sl 119.164). E, em Provérbios 24.16, lemos: “sete vezes cairá o justo e se levantará; mas os ímpios tropeçarão no mal”. Finalmente, em Isaías 11.2, está escrito que sete Espíritos (na verdade, sete
manifestações do mesmo Espírito de Deus) repousam sobre o Messias (cf. 61.1,2). No Novo Testamento, o número sete (gr. hepta) aparece mais de 60 vezes. Num dos milagres de multiplicação de alimento, Jesus precisou de sete pães para alimentar uma grande multidão; e, em seguida, foram recolhidos sete cestos cheios de pedaços (Mt 15.34-37). O Mestre também disse a Pedro que ele deveria perdoar seu irmão não apenas sete vezes, e sim setenta vezes sete (18.22). Já no Evangelho Segundo João, o Senhor empregou a frase “Eu sou”, acompanhada de um qualificativo, por sete vezes. Ele disse: “Eu sou o pão da vida” (6.35); “Eu sou a luz do mundo” (8.12); “Eu sou a porta” (10.9); “Eu sou o bom Pastor” (v. 11); “Eu sou a ressurreição e a vida” (11.25); “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (14.6); e “Eu sou a videira verdadeira” (15.1). Por que o Senhor, quando na cruz, proferiu sete frases que formam a famosa mensagem evangelística: As Sete Palavras da Cruz ? Por que, de acordo com Atos 6.1-5, foram escolhidos sete diáconos para atender a igreja em Jerusalém? E por que, finalmente, em Apocalipse são mencionados sete castiçais, que aludem a sete igrejas (1.4-12); sete estrelas e sete anjos, que representam sete pastores (vv. 16-20; 2.1); sete Espíritos de Deus, isto é, sete manifestações do mesmo Espírito (3.1; cf. Is 11.2); sete selos (Ap 5.1-6; 6.1); sete anjos com sete trombetas (8.6); sete trovões (10.4); sete anjos com sete taças (15.1-8), sete pragas (21.9), etc.? Coincidência? Não! Nas Escrituras, o número sete raramente aparece sem um propósito definido e pode denotar perfeição, plenitude ou totalidade. A razão pela qual escolhi, pelo menos a princípio, sete personagens neotestamentários — oão Batista, Jesus Cristo, Pedro, Estêvão, Filipe, Barnabé e Paulo — para dar ênfase às qualidades ou marcas indispensáveis aos pregadores bem-sucedidos é a existência de um elo que os liga. E este, como veremos, é o segredo do pregador aprovado por Deus. Neste primeiro livro, João Batista: o Pregador Politicamente Incorreto, discorro sobre esse enviado de Deus e suas importantes qualidades. Pregadores
malsucedidos valem-se de “milagres” ou “sinais” para alcançar fama e dinheiro, porém ignoram o testemunho que Jesus deu de seu precursor: “Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista” (Mt 11.11). Este, apesar de não ter feito sinal algum, disse toda a verdade acerca do Senhor (Jo 10.41), além de não pregar o que os fariseus e as turbas desejavam ouvir, e sim o que precisavam escutar. Jesus Cristo é o nosso paradigma ou modelo, a quem devemos imitar e seguir os passos (Jo 13.15; 1 Pe 2.20,21). Ele, sem dúvida, foi o maior pregador que já andou na terra. E, entre todas as suas características, uma tem maior destaque. Ele realizou toda a vontade do Pai, podendo dizer-lhe, depois de cumprir sua missão: “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer” (Jo 17.4; cf. 19.30). Quantos pregadores estão dispostos a fazer isso hoje? Pedro é um personagem que pode ser visto a partir de vários ângulos. Mas, como a minha intenção é apresentá-lo como um exemplo para os pregadores, darei destaque para o fato de ter sido ele o primeiro pregador pentecostal. Isso mesmo! Logo após o derramamento inaugural do poder dinâmico do Espírito Santo no dia de Pentecostes, Pedro toma a palavra e transmite uma autêntica mensagem pentecostal. Não é por acaso que boa parte dos pregadores da atualidade tem priorizado a Teologia da Prosperidade, a pregação coaching e outras efemeridades, como contar piadas. À luz do Novo Testamento, podemos dizer que o pregador que verbera contra o pecado pode vir a ser decapitado, crucificado, apedrejado, etc. Os principais arautos do arrependimento mencionados nas páginas neotestamentárias — e que fazem parte do grupo dos sete pregadores constantes desta série — morreram de modo trágico por causa de sua pregação irritante e politicamente incorreta. Um deles foi Estêvão, o homem que viu Jesus em pé, à direita de Deus, enquanto pregava! Filipe foi um pregador inteiramente guiado por Deus, um homem que priorizou sua chamada, e não o título de evangelista. Isso não aparece de modo
direto no texto sagrado, mas depreende-se do fato de que ele, como um dos sete diáconos da Igreja Primitiva, já fazia a obra de um pregador do evangelho. Somente em Atos 21, muitos anos depois da eleição dos diáconos, quando Paulo voltava da sua terceira viagem missionária, é que Lucas refere-se a Filipe como “o evangelista, que era um dos sete” (v. 8). Por esse motivo, ele é chamado por alguns escritores, inclusive este, de diácono-evangelista. Não é muito comum chamar Barnabé de pregador, em razão de seu trabalho como auxiliar ao lado de Paulo. O ministério deste, cuja chamada foi muito mais abrangente (cf. 1 Tm 2.7), tem ofuscado, de certa forma, o importante trabalho daquele “filho do encorajamento”. Todavia, Barnabé, como veremos, tem uma qualidade muito marcante como mensageiro do Senhor: ele cumpriu cabalmente a Grande Comissão, a qual abarca evangelização (Mc 16.15), discipulado e ensino teológico (Mt 28.19,20). Ao chamar Paulo para pregar o evangelho, Jesus disse o seguinte a seu respeito: “este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel” (At 9.15). Se o predecessor de Cristo, João Batista, foi a voz do que clamou no deserto, seu sucessor — como pregador da Palavra —, o apóstolo Paulo, foi a voz que clamou nas sinagogas, na ágora, no reópago, nas casas, dentro de navios e em todos os lugares onde ele podia anunciar o evangelho e ensinar a sã doutrina “a tempo e fora de tempo” (2 Tm 4.2). De todas as suas qualidades, a que mais se destaca é exatamente a mencionada por ele mesmo em 1 Coríntios 11.1: “Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo”. Bem, chegou a hora de começarmos, efetivamente, a discorrer sobre os Pregadores da Bíblia. Os nomes deles — pelo menos, os dos sete primeiros — já foram revelados. Mas, e o segredo, isto é, a marca que todos os homens de Deus retratados nesta série possuem, a qual é indispensável a todo pregador bemsucedido? Não se apresse! Continue lendo. Temos muito a conversar sobre João Batista
— o pregador politicamente incorreto —, e o segredo será revelado a qualquer momento...
Capítulo 1
HOUVE UM HOMEM ENVIADO DE DEUS E, naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus.
Mateus 3.1,2 — Olá, senhor. Tudo bem? — Sim, graças a Deus. — Somos sacerdotes e levitas e gostaríamos de fazer-lhe algumas perguntas. — Sinceramente, estou um tanto ocupado, senhores — responde-lhes João Batista, afastando-se do grupo. Ele parece estar se preparando para pregar mais um sermão sobre o arrependimento, e as pessoas já começam a ficar aglomeradas. — Fomos enviados pelos fariseus e... — Fariseus?! Não, não posso atendê-los agora, pois preciso falar a toda essa gente dentro de alguns instantes. Muitos aqui vieram de muito longe. — Por favor... Estamos a serviço do Sinédrio. Não vamos tomar muito do seu tempo. Andamos sete quilômetros para falar com o senhor. E, a rigor, só precisamos de uma ou, no máximo, duas respostas. — Tudo bem, tudo bem... Mas nossa conversa precisa ser realmente muito rápida, pois tenho pouco tempo — diz João, percebendo que a delegação não desistiria facilmente de interrogá-lo. — Sim, claro. Não vamos demorar. E, se o senhor quiser, basta apenas confirmar ou negar, dizendo “sim” ou “não”. — Certo. Prossigam.
— Em primeiro lugar, como devemos chamá-lo? — Meu nome é João. — Sabemos disso. Mas devemos chamá-lo de profeta, pregador... — Apenas João, mesmo — diz o Batista, querendo ir logo direto ao assunto. — Bem, senhor João, estão dizendo do outro lado do rio Jordão, em toda a udeia, que o senhor é o Cristo que haveria de vir... — Não, eu não sou o Cristo. E também não pretendo criar uma nova seita. Se essa é a preocupação do Sinédrio ou dos fariseus, podem tranquilizá-los. — Mas... — Só mais uma pergunta, certo? — Sim; porém, sua resposta nos surpreendeu; esperávamos que o senhor admitisse que é o Cristo, pois milhares de pessoas estão acreditando que o senhor possa sê-lo. — O povo diz muitas coisas, não é? Mas o mais importante é o que Deus diz de nós. — No entanto, se o senhor afirma de modo peremptório que não é o Messias, admite, então, que é o Elias que havia de vir? — Mil vezes não! — responde o Batista de modo ainda mais enfático. — O senhor, talvez por modéstia, não queira admitir. Porém, como esse profeta foi elevado às alturas sem passar pela morte, estão dizendo também — inclusive, aqui em Betânia, os rumores são muito fortes — que o senhor seria o profeta Elias. O senhor não acredita nessa possibilidade? — Bem, vocês vão insistir com essas perguntas até que eu confirme alguma das suposições que andam dizendo a meu respeito, não é? — Não, senhor João. Não pense isso. Queremos apenas a verdade. — Se querem somente a verdade, já lhes disse que não sou Elias. Aliás, ele continua no mesmíssimo lugar — diz o Batista, apontando para o céu e esboçando um sorriso. — Bom saber que o senhor tem senso de humor. Mas, veja vem, há quatro
séculos, nenhum homem levantou-se em Israel com tanta autoridade... — Senhores, me desculpem. Há muitos que vieram de longe para receber o batismo de arrependimento. Preciso me despedir de vocês agora. — O senhor pode, pelo menos, confirmar se é ou não um profeta? — Sim. — O senhor é um profeta?!! — Não! Eu apenas disse que posso confirmar se sou ou não. E lhes digo com todas as letras: Eu não sou um profeta! Aliás, olhem para mim. Por acaso, eu me pareço com um profeta? Que tipo de profeta seria como eu? — responde-lhes oão, apontando para sua roupa. — Achamos que o senhor se parece com Elias. — Mas de novo essa conversa? — risos. — Se eu fosse Elias, jamais iria querer sair do céu para viver neste deserto. — Mas os profetas disseram que o Elias vem antes do Messias e... — Sim, eu sei disso, senhores, eu sei disso. Mas acredito que o mensageiro mencionado pelos profetas será um homem com um ministério parecido com o de Elias, e não ele em pessoa. — O senhor está querendo dizer que não é o profeta Elias, mas, sim, alguém com um ministério similar ao dele e que, por isso, tem esse estilo de vida excêntrico e prega no deserto? — Eu não disse nada! Vocês que estão supondo isso. Neste momento, alguém do meio da multidão grita: — Que hora vai começar o batismo?! Eu vim de Nazaré para ouvir a Palavra de Deus! — Senhor João, vamos terminar logo com isso. Precisamos levar uma resposta aos fariseus. — O que querem que eu diga a eles, afinal? — O senhor apareceu pregando de modo contundente no deserto, vestindo-se como os profetas do passado, comendo gafanhotos com mel, verberando
ousadamente contra grupos religiosos e já tem até uma legião de discípulos. pesar disso, não se considera sequer um profeta? Como deveríamos chamá-lo então? — Bem, voltamos para o começo. Que tal me chamarem de Batista? É o apelido que o povo me deu — risos. — Sim, é natural que o chamem assim, pois o senhor é um batizador. Isso é óbvio. Mas, geralmente, quem batiza pessoas tem uma missão especial da parte do Eterno. — Sei que os senhores se preocupam muito com títulos... O que me interessa é dizer toda a verdade acerca do grande Homem que vem após mim. Mas, se vocês querem mesmo uma resposta sobre quem eu sou, vamos finalizar logo nossa conversa. Anotem aí: “Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor”. — Nós conhecemos essa profecia de Isaías. O que o Senhor quer dizer com isso? Trata-se de algum enigma? — Não. Eu quero dizer que sou apenas uma voz. Não preciso de títulos para pregar o arrependimento neste deserto. Quero apenas cumprir a minha missão, que é preparar o caminho de quem vem após mim. — Então, para finalizar, se o senhor não é o Messias, nem Elias, tampouco um profeta, por que batiza pessoas? Isso não seria uma conduta de quem pretende criar uma nova seita? — Eu batizo com água aqueles que se arrependem de seus pecados. E eles permanecem me seguindo por livre e espontânea vontade. No entanto, entre vocês, está quem é muito maior do que eu... — O que o senhor quer dizer com isso? Nossos superiores estão em Jerusalém. Somos apenas seus emissários. Quem, entre nós, é maior que o senhor? — Vocês ainda não o conhecem. Ele, que se manifestará depois de mim, já existia antes de todos nós. — O senhor agora está falando como os filósofos gregos...
— Ele é tão grande, tão grande, que não sou digno de, abaixando-me, desatar as correias das suas sandálias. O Batista, então, começa a afastar-se da comitiva rapidamente, em razão dos gritos da multidão, que deseja ouvir sua pregação. Os emissários do Sinédrio, no entanto, não se convencem de quem João Batista é, de fato, e continuam por perto, observando tudo: seu comportamento, a maneira como prega, etc., até que, no dia seguinte, o Homem de quem João falava vem ao seu encontro. Todos estranham a atitude do pregador do deserto: ele para de pregar de repente e fica olhando fixamente para o meio da multidão. Todos estão na expectativa do que ele poderá dizer. — Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! — exclama João. — É dEle que estou falando. Esse que vem depois de mim, ainda que tenha existido antes, na eternidade, com seu Pai, eu não o conhecia, mas sabia que deveria ser seu precursor, preparando o caminho para a sua pregação e batizando os pecadores arrependidos. — Mas de quem ele está falando? — conversam entre si os sacerdotes e levitas. — Eu vi o Espírito de Deus descer do céu como se fosse uma pomba, a qual pousou exatamente sobre Ele — continua João. E parece haver um brilho diferente em seus olhos. — Quem é Ele, afinal? — perguntam-lhe pessoas que estão mais próximas. — Eu não o conhecia — diz João Batista, olhando para o céu. — Mas quem me mandou batizar em água os que se arrependessem me disse: “Sobre aquele que vires descer o Espírito e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo”. Por isso, tenho certeza de que Ele é o Filho de Deus! — Do que o senhor está falando? Como assim Ele é o Filho de Deus? — pergunta-lhe um emissário dos fariseus. — Exatamente. Ele é o Cordeiro, o Messias, o Filho de Deus! — Mas que absurdo! Quer dizer, então, que o Messias já está entre nós? Herodes precisa saber disso — comentam os herodianos com os fariseus,
sabendo que o tetrarca teria, a partir de agora, um bom motivo para aprisionar oão Batista, aquele que o repreendera por causa de sua relação adúltera com Herodias, mulher de seu irmão Filipe. — E digo-lhes mais: Ele é o Cristo e “vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele tem a pá na sua mão, e limpará a sua eira, e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga” — conclui João Batista, gerando grande alvoroço. Essa entrevista — em parte ficcional — e o testemunho posterior de João Batista relacionam-se com as seguintes passagens neotestamentárias: João 1.1936, Lucas 3.15-20 e João 3.23-30. Estas, na ordem citada, apresentam as mensagens de João Batista a grupos de sacerdotes e levitas a serviço de fariseus (ao que tudo indica, membros do Sinédrio) antes e depois do seu encontro com o Senhor em Betânia e Enom. Ali, ele, momentos antes de ser preso por Herodes, salientou: “É necessário que ele cresça e que eu diminua”.
João Batista Histórico Desde o Iluminismo (séc. XVIII), a historicidade de alguns personagens neotestamentários, como Jesus Cristo e João Batista, vem sendo posta à prova. lguns críticos das Escrituras têm dito que é impossível harmonizar os dados constantes dos Evangelhos, já que estes apresentariam muitas contradições entre si. Entretanto, ainda que os quatro evangelistas não tenham sido historiadores — e, isso mesmo, tenham se preocupado com o rigora cronológico notase por perfeita sincronianão entre eles, sendo possível reconstruir sequência de—, todos os eventos alusivos aos dois personagens históricos mencionados. O termo “Jesus histórico” foi criado no século XVIII por acadêmicos que queriam reconstruir, por meio de uma análise crítica, levando-se em consideração os Evangelhos e seu contexto histórico-cultural, a figura de Jesus como ser humano. Depois de muitos estudos, não há mais nenhuma dúvida quanto a sua existência. O que ainda resta, especialmente por parte dos racionalistas, é a pergunta: Quem foi Ele? O mesmo aplica-se a João Batista. É
impossível negar que ele tenha realmente andado na terra há mais de 2 mil anos. Mas, quem foi ele? Alguns teólogos ainda dizem que é plausível duvidar da existência desse enviado de Deus, em razão de as fontes históricas do primeiro século serem raras, apresentarem lacunas e serem problemáticas. “A literatura hebraica desse tempo, apesar de abundante, apresenta com muita frequência dificuldades intransponíveis de datação e de interpretação. Geralmente de inspiração farisaica, ela elimina de seus horizontes tudo o que não é desse partido. Nós não saberíamos quase nada dos essênios se os manuscritos do Mar Morto não tivessem sido descobertos em 1947, e nada de Iéshoua [Jesus] se a Igreja fundada por ele não tivesse recolhido e transmitido o Novo Testamento” (CHOURAQUI, p. 22).
Quem é o João Batista histórico? As fontes de informações em primeira mão concernentes à sua vida estão limitadas ao Novo Testamento e ao famoso historiador judeu Flávio Josefo (37–100 d.C.). Em Antiguidades Judaicas, ele afirma que um dos exércitos do tetrarca Herodes — não confunda com Herodes Magno — foi destruído em 36 d.C. e que muitos judeus voltaram-se para o Senhor depois disso e reconheceram que esse infortúnio ocorrera por causa do que Herodes fizera a João Batista. Isso confirma a narrativa neotestamentária da prisão e morte do precursor de Cristo (Lc 3.18-20; Mt 14.1-12). De acordo com o mencionado historiador, muitos “judeus julgaram que aquela derrota do exército de Herodes era um castigo de Deus, por causa de João, cognominado Batista. Era um homem de grande piedade, que exortava os judeus a abraçar a virtude, a praticar a justiça e a receber o batismo, depois de se terem tornado agradáveis a Deus, não se contentando em não cometer pecados, mas unindo a pureza do corpo à da alma. Assim como uma grande multidão de povo o seguia para ouvir a sua doutrina, Herodes, temendo que o poder que ele tinha sobre eles não viesse a suscitar alguma rebelião, porque eles estavam sempre prontos a fazer o que lhes ordenasse, julgou dever prevenir o mal para não ter motivo de se arrepender por ter esperado muito para remediá-lo. Por esse motivo mandou prendê-lo numa fortaleza de Maquera, e os judeus atribuíram essa derrota de seu exército a um castigo de Deus, por um ato tão injusto” (JOSEFO, p. 205).
Precursor de Cristo nos Evangelhos Nos Evangelhos, a vida desse enviado de Deus é mencionada do nascimento até a morte, mas há também fragmentos, especialmente sobre o “batismo de João”, em Atos dos Apóstolos (1.5,22; 10.37; 11.16; 13.24,25; 18.25; 19.3,4). “Comparado com outras fontes históricas, o cenário dos Evangelhos é — quanto à linguagem, à história, à política, à geografia e à religião — o da Palestina antes de 70 d.C. As instituições e doutrinas da Igreja primitiva, que tomaram forma definida pelo ano 50 d.C., não aparecem nos Evangelhos. Tomando em seu conjunto, este argumento é de impressionante evidência; seu valor atenua-se, se impelido até demonstrar que todo particular possui igual valor histórico” (MCKENZIE, p. 323).
Ainda que haja fatos harmoniosos nos sinóticos, também existem ênfases especiais sobre o Batista em cada um deles. Em Mateus, destaca-se o testemunho de Jesus Em quanto ao sublime profético desseversículo enviado (1.2-9); do Senhor (11.11). Marcos, ele entra ministério em cena logo no segundo esse Evangelho também pormenoriza a sua morte pela mão de Herodes Antipas, “um dos filhos de Herodes Magno, que regia toda a Palestina quando Cristo nasceu. Morrendo o pai, tornou-se soberano da Galileia e da Pereia. É chamado tetrarca (de uma palavra que significa ‘quatro’) porque o reino srcinal era dividido em quatro partes” (PEARLMAN, 1996, p. 109). O Evangelho Segundo Mateus tem como característica principal citar o ntigo Testamento para mostrar a Israel o cumprimento do plano salvífico de Deus: “este é o referido por intermédio do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (3.3, ARA). No segundo Evangelho, alude-se, também, a esse profeta, mas com uma pequena diferença: “Como está escrito no profeta Isaías: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti” (Mc 1.2). O termo “anjo” (gr. aggelos), aqui, não significa “ser angelical”, e sim “mensageiro” ou “embaixador”. Marcos — que mencionou apenas o nome do profeta Isaías em razão de ser
este o mais famoso — combina duas profecias, a de Isaías 40.3 com a de Malaquias 3.1, a fim de afirmar que João é um mensageiro ou embaixador (hb. malak), enviado para preparar o caminho do Senhor (cf. Ag 1.13; Ml 2.7). Ele veio com a missão de tirar os obstáculos (cf. Is 57.14; 62.10), como um representante enviado à frente de um monarca para avisar de sua chegada, o que era um antigo costume oriental (cf. 30.4). Em Lucas, enfatiza-se que João Batista era dominado pelo Espírito; aliás, o único servo de Deus, em toda a Bíblia, descrito como “cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe” (1.15). O quarto Evangelho, por sua vez, conhecido como suplementar, dá destaque para os seus testemunhos acerca de esus. Além disso, é em João que o precursor de Cristo recebe status de apóstolo (gr. apostellō), um predecessor também dos doze que o Senhor ainda convocaria: “Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio para testemunho para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele” (1.6,7). Em João, vemos que o “ministério de João Batista mexeu com a antiga esperança dos judeus sobre o aparecimento do Messias e o próprio João foi confundido com o advento do Rei (1.19-28). No batismo de Jesus, Deus mostra a João que seu primo é verdadeiramente o Filho de Deus (vv. 29-34). O primeiro contato de Jesus com algumas pessoas que mais tarde viriam a ser seus discípulos acontece quando João declara ser Jesus o Cordeiro de Deus” (RICHARDS, p. 679).
Ademais, o Batista foiJesus: alguém que, conquanto nãoeletenha feito Na sinais, disse toda a verdade acerca de “E muitos iam ter com e diziam: verdade, oão não fez sinal algum, mas tudo quanto João disse deste [Jesus] era verdade” (10.41).
Os Pais de João Batista Passados mais de 2 mil anos desde o nascimento desse mensageiro do Senhor (7 ou 6 a.C.), ainda se especula sob quais influências ele viveu durante os anos de sua formação. A Palestina do seu tempo tinha de 50 a 100 quilômetros de
largura e 200 quilômetros de comprimento. Seu clima era seco no verão e chovia entre os meses equivalentes a outubro e abril. No oeste, estendiam-se planícies férteis, e o Vale do Jordão, com margens bem escarpadas e abaixo do nível do mar, era quase desértico. Em ambos os lados do rio, erguiam-se cadeias de montanhas de seiscentos a mais de mil metros de altitude. Havia ali, à época, várias províncias: Idumeia, udeia, Samaria, Galileia, Pereia, Decápolis (conjunto de dez cidades de populações não judaicas, subordinadas ao procônsul romano da Síria) e as quatro conquistadas por Herodes Magno: Itureia, Gaulanítide, Bataneia e Traconítide. Os pais de João Batista, Zacarias e Isabel, viviam na Judeia e eram irrepreensíveis e tementes a Deus (Lc 1.5,6). Ambos, muito idosos, descendiam de família sacerdotal: Isabel tinha ascendência araônica, e Zacarias exercia o sacerdócio no turno de Abias. Ela certamente experimentou grande êxtase quando recebeu a notícia de que seria mãe. Além de idosa, era estéril, assim como as mulheres dos principais patriarcas — Sara, Rebeca e Raquel —, a mãe do juiz Sansão e também Ana, mãe do profeta, sacerdote e juiz Samuel (Lc 1.7,36; cf. Gn 11.30; 25.21; 29.31; Jz 13.2,3; 1 Sm 1.5). Mulheres nessa condição sentiam-se inferiores a outras e sofriam preconceito da sociedade. Não ter filhos era motivo de tristeza para uma família judaica, pois, “além do amor natural às crianças, havia sempre a esperança de que um dos filhos fosse o libertador do seu povo” (PEARLMAN, 1995, p. 8). Por isso, ao longo da História de Israel, vemos o Senhor intervindo para abrir a madre de estéreis, a fim de trazer ao mundo homens ligados ao plano salvífico de Deus (Sl 113.9; Is 49.21; 54.1). O anúncio do nascimento de João Batista ocorreu quando Zacarias estava junto ao altar de ouro (ou do incenso) no Templo e ficou face a face com o anjo Gabriel. Sacerdotes e levitas de várias localidades vinham a Jerusalém e dividiamse em 24 turnos (plantões) que duravam duas semanas. Para distribuírem-se os deveres, tiravam-se sortes, e a um cabia cuidar do fogo do altar, a outro, do
candelabro, etc. Oferecer incenso no altar de ouro, que ficava no lugar santo, era, talvez, a honra maior, já que o sacerdote, ali, apresentava a Deus as petições do seu povo. Tão grande era esse privilégio que um sacerdote só podia usufruir dele uma única vez. Durante a oração no Templo, Zacarias aproximou-se do altar de ouro, a fim de colocar brasas vivas na grelha, juntamente com um punhado de incenso, quando foi surpreendido por Gabriel. Este, então, lhe deu a notícia de que seria pai pela primeira vez. E mais: seu filho prepararia o caminho do Messias, além de contribuir, com a sua pregação, para o retorno de muitos israelitas a Deus (Lc 1.11-17). É possível que a vida de Isabel, até então, transcorresse numa rotina bastante desgastada. E o que era apenas um desvanecido sonho transforma-se em estimulante realidade: ela daria à luz um filho — o precursor de Cristo! —, pois o Senhor dera a ela um presente que não mais esperava em sua idade.
Nasce o Precursor de Cristo Que surpresa maravilhosa! Dois idosos, sem filhos, escolhidos por Deus para serem os pais do “Elias que havia de vir”, o primeiro pregador chamado, textualmente, de cheio do Espírito Santo no Novo Testamento! O Senhor, de fato, está no controle de todas as coisas! Observe, porém, que os pais de João Batista eram um casal de oração: “Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida; Isabel,ARA). tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome de oão” (Lce 1.13, Jamais devemos deixar de confiar no Senhor. É necessário esperar sua providência, pois foi em meio a condições muito desfavoráveis que o anjo Gabriel apareceu a Zacarias dentro do Templo e, evocando profecias veterotestamentárias, prometeu-lhe o nascimento de um filho (Lc 1.14-17). A despeito da compreensível incredulidade de Zacarias — que resultou em seu emudecimento até que João nascesse —, Isabel concebeu, e ambos alegraram-se muito no Senhor quando ela deu à luz (Lc 1.18-25; 67-80). O Senhor orientou
Zacarias a chamar seu filho de João (gr. Iōannēs, “O SENHOR dá graça” ou “O SENHOR é gracioso”), “nome mui apropriado devido à avançada idade de seus pais” (GUNDRY, p. 130). Esse nome, aliás, aparece pela primeira vez no Novo Testamento exatamente em relação ao Batista: “E, naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judeia e dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mt 3.1,2). Como o batismo, um meio de confissão pública, caracterizou seu trabalho, isso lhe rendeu o título “Batista”, isto é, “batizador”. Essa linda história faz com que reflitamos sobre os imprevisíveis caminhos do Senhor. Dizem que Ele escreve certo por linhas tortas; na verdade, seu caráter nunca é inconsistente, a despeito de sua audácia e habilidade em surpreender-nos e deixar-nos boquiabertos. O Senhor está no controle de todas as coisas. Acima de quaisquer esforços ou planejamento apressados de nossa parte está a soberana vontade do Senhor, boa, perfeita e agradável (Rm 12.1,2). Ele costuma confundir a sabedoria convencional ao realizar seus propósitos. Deus escolhe pessoas incomuns, desconsidera tradições e costumes criados pelos homens e desafia a lógica humana.
Capítulo 2
THE VOICE Disseram-lhe, pois: Quem és, para que demos resposta àqueles que nos enviaram? Que dizes de ti mesmo? Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.
João 1.22,23 das predições mais famosas do profeta Isaías diz respeito à chegada do U mamonarca Ciro, chamado pelo próprio nome 150 anos, aproximadamente, antes de seu nascimento: “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela sua mão direita, para abater as nações diante de sua face; eu soltarei os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão” (Is 45.1; cf. 44.28). Todavia, há um feito desse profeta — ou melhor, do Espírito de Deus — ainda mais surpreendente. Isaías, que começou seu ministério em 740 a.C., no ano em que morreu o rei Uzias (6.1), descreveu com riqueza de detalhes, como se estivesse vendo, a primeira aparição pública do último profeta do período veterotestamentário em 26 ou 29 d.C. Ou seja, ele profetizou acerca da “voz do que clama no deserto” (40.3), cerca de oito séculos antes de isso acontecer!
Embaixador de Deus “Deus é sábio: nunca faz qualquer coisa importante sem primeiro preparar o caminho” (PEARLMAN, 1995, p. 7). Ele enviou seu Filho Unigênito ao mundo na plenitude dos tempos (Jo 3.16; Gl 4.4), no momento que determinou, fazendo com que houvesse plenas condições para a propagação do evangelho. No
primeiro século, havia estradas pavimentadas; os meios de transporte marítimo e terrestre estavam em franca evolução; a paz literalmente imperava, já que fora imposta por Roma; e um dialeto era falado em todo o mundo conhecido, o grego koiné. Quando o tempo chegou, Deus enviou o seu Filho. No entanto, antes de Ele começar a cumprir a agenda do plano salvífico estabelecido por seu Pai (cf. Jo 17.4,5; 19.30), teve o caminho preparado por um precursor, um embaixador de Deus, o qual iniciou seu ministério no deserto da Judeia com um discurso muito simples, porém verdadeiro. Evocando Isaías 40.3, ele disse: “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus. Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Mt 3.2,3). Essa mensagem tinha peso na boca de João Batista, já que fora antes corroborada pelo anjo Gabriel, no Templo, quando citou a seu pai, Zacarias, outra profecia a seu respeito (Ml 4.5,6; cf. Lc 1.11-17). O ministério que Deus outorgou a João não era multifacetado como o de esus Cristo, que percorria “toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo” (Mt 4.23). O Batista tinha a convicção de que tão somente deveria preparar o caminho do Messias, não sendo ele a luz do mundo, porém testificando dela aos pecadores (Jo 1.6-8; 8.12). Preparar o caminho do Senhor significava não apenas pregar a mensagem do arrependimento por antecipação (Mt 4.17), mas também implicava batizar em água, não somente os pecadores, como também o Homem perfeito (que jamais pecou), para que se cumprisse toda justiça (3.6,15); profetizar sobre o derramamento do Espírito (Lc 3.15,16); e apresentar Jesus ao mundo — e não apenas a Israel — como o Cordeiro de Deus (Jo 1.29).
Chamada Confirmada no Deserto Geograficamente falando,
“a antiga terra de Israel é notável. Ao contrário de seus vizinhos, cujos territórios são predominantemente compostos de áridos desertos, Israel é uma faixa de terra estreita e fértil, que se beneficia da chuva que vem do Mediterrâneo. [...] Porém, isso só é verdadeiro na região ocidental” (WALKER, p. 51-52).
No interior da Palestina, há “algumas zonas semiáridas e desabitadas que também são chamadas de ‘desertos’ na Bíblia. Entretanto, apenas uma parte do deserto das imediatas proximidades da Palestina apresenta o aspecto desolado de areia e pedras que o nome ‘deserto’ geralmente evoca” (MCKENZIE, p. 229).
João cresceu nesses desertos (Lc 1.80) da Judeia (Mt 3.1), um lugar extremamente quente durante o dia e gélido à noite, belo e silencioso, próprio para experimentar-se a solidão e ouvir a voz do Senhor (cf. Lc 4.1). Ali, ele teve a confirmação da chamada divina para seu ministério profético — a qual recebera desde o ventre de sua mãe (1.15-17), à semelhança de Sansão (Jz 13.3-5), Isaías (49.1,2), Jeremias (1.1-5) e o apóstolo Paulo (Gl 1.15,16) —, já que “veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias. E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para perdão dos pecados” (Lc 3.2,3). De modo geral, a aprendizagem escolar dos meninos judeus começava aos seis anos de idade. Como, à época, não existiam muitas escolas em Judá, os pais de oão ensinaram-no a ler e a escrever, além de ter dado atividades regulares a ele. os 14 anos, após estudar a Lei do Senhor nas escolas da sinagoga, ele teria iniciado um novo ciclo em sua educação, junto ao mar Morto, em En-Gedi (próximo a Qumram), visto que fora chamado por Deus para exercer o nazireado (cf. Lc 1.15; Is 40.3-5). O nazireu (hb. nezîr, “separado”) isolava-se de todos, a fim de consagrar-se a Deus, pois tinha um voto que o proibia de passar navalha no cabelo e na barba, consumir bebida alcoólica, comer alimento impuro, etc. (cf. Jz 13.5-7; 16.17;
m 2.11,12). “O israelita desejoso por consagrar-se ao Senhor de modo especial fazia o voto de nazireu. Enquanto durasse o voto, tinha de abster-se do vinho, deixar os cabelos crescerem e evitar qualquer contato com cadáveres (Nm 6)” (PEARLMAN, 1995, p. 9).
Homem de Oração Nos primeiros meses após minha conversão, um dos livros que marcou a minha vida foi O Homem que Orava, que conta a história de João Hyde, servo de Deus que ganhou 100 mil indianos para Cristo! Em um trecho dessa obra, lemos o seguinte: “Coloquemo-nos, pois, ao lado do quarto de oração de João Hyde, onde nos é permitido ouvir os suspiros, sentir os gemidos e contemplar o querido rosto, banhado, repetidamente, de lágrimas! É aí que podemos mirar o corpo enfraquecido depois dos dias que passara sem comer e as noites sem dormir. É aí que, entre soluços, o ouvimos implorar com insistência: ‘Ó Deus, dá-me almas ou morrerei!’” (MCGAW, p. 13).
Em Lucas 11.1, está escrito: “aconteceu que, estando ele [Jesus] a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos”. O Batista não somente orava e jejuava, como também ensinava seus discípulos a fazer isso (cf. Mt 9.14; Mc 2.18). A quem interessaria, hoje, aprender a orar? Pense num cartaz para um evento, em uma igreja, com os seguintes dizeres: “Curso intensivo de oração. prenda a orar e a dizer as palavras certas para obter a sua reposta”. O Senhor Jesus jamais ensinou alguém a pregar ou a cantar. Ele nunca disse a seus discípulos: “vós pregareis assim” ou “vós cantareis assim”, porém afirmou: “vós orareis assim” (Mt 6.9). O que é mais fácil: pregar, cantar ou orar? Por incrível que pareça, pregar e cantar é mais fácil que orar! Quantas vezes pregamos durante vários minutos, ficamos animados e queremos continuar falando e falando... O mesmo ocorre quando cantamos. Mas, como é difícil orar por apenas cinco minutos! Se quisermos ser como João
Batista, que cumpriu seu chamado à risca e jamais será esquecido por causa disso, precisamos aprender a orar.
João Batista Era um Essênio? No século II a.C., membros de uma seita estabeleceram-se num monastério, no deserto, às margens do mar Morto. “Eles tinham se desiludido com a hierarquia do Templo de Jerusalém e acreditavam que tinham sido chamados para criar uma comunidade alternativa. [...] Localizados no deserto, devotados ao estudo estrito das Escrituras e especialmente dos livros proféticos, viam a si mesmos, por meio da imagem de Isaías, como um tipo de vanguarda — uma ‘tropa’ avançada preparando a era do cumprimento do Senhor” (WALKER, p. 46).
Esse grupo ficou conhecido como os essênios, uma das principais seitas que havia entre os judeus naqueles dias. “Existiam três seitas entre os judeus, a primeira das quais era a dos fariseus [com mais de seis mil membros na época], a segunda a dos saduceus e a terceira, a dos essênios, que é a mais perfeita de todas” (JOSEFO, p. 214).
O Novo Testamento, porém, menciona apenas a primeira e a segunda, com destaque para a seita farisaica (Mt 3.7; 16.6; Mc 12.13,18; At 4.1; 23.6-8, etc.), o que contribui para o surgimento de especulações sobre a seita essênia. Alguns eruditos afirmam que João associou-se aos essênios no deserto de Qumram, o que é apenas uma especulação, pois “a verdade é que João parece ter sido um profeta isolado, tipo eremita, e não membro de algum agrupamento monástico” (GUNDRY, p. 133). O mais importante é que ele, durante o tempo em que esteve no deserto, obteve uma experiência espiritual tamanha, que se lançou à especial tarefa de “preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Lc 1.17).
The Voice of the Wilderness pesar de sua beleza austera, o deserto da Judeia é um lugar de silêncio
assustador, onde qualquer ser humano percebe sua fragilidade e dependência plena de água para sobreviver. “Mesmo nos tempos bíblicos, era um local em que as pessoas iam para desfrutar da solidão, da vastidão do espaço e para ouvir a voz de Deus, que se elevava sobre a cacofonia de outros sons vozes.também João Batista seu ministério: ‘umabuscou voz clamando no seu deserto’ (Is 40.3).e Esse foi o começou lugar quealiJesus naturalmente para forjar próprio ministério, nas palavras de Deus” (WALKER, p. 52).
The voice, “a voz”. Assim era chamado o cantor Francis Albert “Frank” Sinatra (1915–1998), especialmente depois de lançar seu primeiro álbum, The Voice o Frank Sinatra, em 1946. Theme from New York, New York, Strangers in the night, The girl from Ipanema (composta pelo célebre compositor brasileiro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim), Fly me to the moon e My way são algumas das cançõesdemais conhecidas gravadas por esse astro norte-americano, descendente italianos. Outros famosos cantores, inclusive do meio gospel, também receberam da crítica, e especialmente de seus admiradores, o título the voice. Entretanto, muito tempo antes, o profeta João Batista já o havia recebido — e do próprio Deus: “this is the one referred to by Isaiah the prophet when said, ‘The voice of one crying in the wilderness, make ready the way of the Lord, make his paths straight!’” (Mt 3.3, NASB). Quando essa voz começou a ecoar no deserto da Judeia? A primeira aparição pública de João Batista foi cuidadosamente datada nos Evangelhos: “E, no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia, e Herodes, tetrarca da Galileia, e seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João” (Lc 3.1,2). Esse décimo quinto ano de Tibério César tem sido entendido como uma alusão a 26 d.C. — pouco tempo antes de o Senhor Jesus começar a pregar o evangelho —, embora alguns estudiosos acreditem que seja uma referência ao ano 29.
Note que Lucas emprega um modo veterotestamentário para mostrar como oão Batista recebe a mensagem do Senhor. Isso ocorre porque ele é um profeta que surge nos tempos neotestamentários, mas que ainda vive segundo os padrões do Antigo Pacto. Somente dele, no Novo Testamento, diz-se que “veio [...] a palavra de Deus” (Lc 3.2), à semelhança do que acontecera a Abraão (Gn 15.1), Samuel (1 Sm 15.10), Natã (2 Sm 7.4; 1 Cr 17.3), Davi (1 Cr 22.8), Salomão (1 Rs 6.11), Semaías (2 Cr 11.2), Jeú (1 Rs 16.1,7), Elias (17.8; 18.1; 19.9; 21.17,28), Isaías (2 Rs 20.4; Is 2.1; 38.4), Jeremias (1.2-13; 2.1 etc.), Ezequiel (1.3; 3.16, etc.), Jonas (1.1; 3.1), Ageu (1.1; 2.1-20) e Zacarias (1.7; 6.9, etc.).
De onde Veio esse Pregador? O estilo de vida de João, muito parecido com o dos profetas anteriores ao período intertestamentário, “que, segundo as melhores informações históricas hodiernamente aceitas, durou mais ou menos quatrocentos anos” (TOGNINI, p. 12), despertava a curiosidade das pessoas. Talvez, a pergunta mais frequente delas fosse esta: De onde veio este homem? Para muitos, é essencial saber a srcem de um pregador. Veja como, hoje, os conferencistas norte-americanos e europeus são prestigiados na América do Sul e na África! Assim como Atenas era o centro da filosofia naquela época — Sócrates e Platão nasceram ali, e Aristóteles mudou-se para lá aos 17 anos —, um profeta que merecesse respeito deveria, necessariamente, ter começado seu ministério em erusalém. Lembra-se da pergunta de Natanael a Filipe, quando este lhe falou de Jesus? “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (Jo 1.46). Supunha-se, então, erroneamente, que nenhum profeta surgira na província da Galileia (7.52), ignorando-se a referência do Antigo Testamento a Jonas (2 Rs 14.25), “natural de Gate-Hefer, pequena aldeia de Zebulom, na Galileia, hoje chamada de elMeshad” (BUCKLAND, p. 241). Ainda que os profetas tenham dito que o Messias seria chamado de Nazareno (Mt 2.23), Ele, ao que tudo indica, começou a ser nomeado assim de modo
pejorativo e irônico (cf. Mc 14.67; Jo 18.5; 19.19), e o mesmo parece ser aplicado ao adjetivo “galileu” (cf. Mc 14.70; Lc 22.59). Não obstante, muito mais importante que a srcem de um pregador, geograficamente falando, é o fato de ele ser um enviado de Deus (Jo 1.6). Por isso, Mateus afirma que, “naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto” (3.1). Ele entra em cena sem nenhuma explicação anterior do autor sagrado, assim como Elias. Sem aviso, surge pregando! “Veio-lhe a palavra do Senhor” (1 Rs 17.2, ARA). Entretanto, “nem Jesus nem o Batista surgiram ‘do nada’, mas, ao contrário, vieram em cumprimento do plano de redenção elaborado por Deus” (HURTADO, p. 24).
Profeta do Deserto Elias concluiu seu ministério depois de passar pelo rio Jordão (1 Rs 19; 2 Rs 2.611). João, portador da “virtude de Elias” (Lc 1.17), começou seu ministério dentro do rio Jordão (Mc 1.4-9). Assim como Elias, o Batista foi um profeta do deserto, onde, desde a infância, cresceu e fortaleceu-se, “até ao dia em que havia de mostrar-se a Israel” (Lc 1.80). Quem escolheria o deserto para iniciar seu ministério, se não fosse verdadeiramente um enviado de Deus? Qualquer pregador não chamado pelo Senhor teria escolhido um lugar melhor para pregar; talvez, onde tivesse maior visibilidade e pudesse contar com um público numeroso e nada hostil. Noé entanto, enviado do coisa; Senhorele“não um crente queabraçar resolveu pregar. Não ele quem um decide fazer tal nem émesmo decide a pregação como uma chamada” (LLOYD-JONES, p. 100). Sempre disposto a obedecer à direção do Espírito, ele é capaz de deixar uma grande multidão, a fim de pregar a uma única pessoa (cf. At 8.26-40; 16.9-14). E, no caso de João Batista, contrariando a toda e qualquer lógica, um grande número de pessoas vindas da Judeia ou de regiões próximas reunia-se no deserto para ouvir sua contundente mensagem, confessando seus pecados a Deus e recebendo o batismo do arrependimento.
Para um profeta ou pregador chamado por Deus, deserto também simboliza provações, lutas ou perseguições. Trata-se de um lugar que é, ao mesmo tempo, “uma realidade geográfica e um símbolo importantíssimo na religião de Israel e no cristianismo dos primeiros séculos. [...] O deserto alimentará uma experiência espiritual importante, linhagem do (do profeta Elias (ver, 1‘deserto’), Rs 19,4) e, depois, dos eremitas Na Idade Média,naesses eremitas grego santos homens vivendocristãos. em lugares érêmos retirados e selvagens, no mais das vezes em florestas, tornam-se os [...] campeões da luta contra o diabo” (FOUILLOUX, p. 77).
Deus Está conosco no Deserto! Lembro-me da bela história do saudoso evangelista David Wilkerson (1931– 2011), que começou a ganhar notoriedade ao pregar o evangelho a gangues no coração de Nova York, Estados Unidos. Em 1958, ele servia a Deus em uma pequena igreja, na pacífica Philipsburg, Pensilvânia, uma cidadezinha no meio do “nada”, a mais de 500 quilômetros de Nova York. Ao folhear a revista Life, Wilkerson leu uma reportagem sobre o assassinato de membros de gangues nessa cidade. Até aquele momento, só pensara em visitá-la para conhecer a Estátua da Liberdade, mas ouviu uma voz falar ao seu coração: “Vá para Nova York e ajude esses jovens”. Ele, então, foi para aquele “deserto” e pôs sua vida em risco durante muitos anos, até inaugurar a Times Square Church em 1987. Turistas que visitam essa linda igreja, pastoreada pelo fervoroso Carter Conlon, em Manhattan, não imaginam o quanto David Wilkerson sofreu no “deserto” antes de estabelecê-la. Quando chegou ali, drogas e prostituição imperavam, e, ao evangelizar líderes de gangues, especialmente Nicky Cruz, foi agredido, humilhado e ameaçado de morte. Sua voz, contudo, não se calou, e onde o pecado sobejava, “superabundou a graça” (Rm 5.20). Jesus salvou aquele jovem rebelde, que jamais se esqueceu do semblante e, sobretudo, da voz do franzino pregador da Pensilvânia, tornando-se, também, um mensageiro do evangelho. A dramática conversão de Nicky Cruz foi retratada no livro The Cross and the
Switchblade (A Cruz e o Punhal) de 1962 e no filme de mesmo nome (com Pat Boone e Erick Estrada) de 1970. Quando estudamos sobre João Batista, aprendemos que a mensagem de um pregador transcende a ele próprio. Mesmo que ele morra, sua voz continuará ecoando. Uma frase marcante de David Wilkerson ao então cruel jovem Nicky revela o que significa ser apenas “uma voz no deserto”: “Você poderia me cortar em milhares de pedaços e espalhá-los pela rua, e cada pedaço amaria você” (WILKERSON, 1977, p. 95). Ainda que esse pregador tivesse morrido naquele momento, sua mensagem jamais seria esquecida.
Pregador do Arrependimento oão Batista ganhou fama como pregador do arrependimento, um título que muitos hoje não apreciariam. “Eu, hein! Esse rótulo não é nada bom para o
marketing pessoal. Quero ser conhecido como pregador coach, que ajuda as pessoas a serem felizes”. Às vezes nos cansamos mesmo de ser chamados disto ou daquilo; e somos tentados a mudar a nossa forma de pregar ou até o conteúdo da mensagem bíblica, a fim de obter maior aceitação por parte do público. Entretanto, assim como o precursor de Cristo não se importava com o que pensavam ou diziam dele, já que fora escolhido pelo Senhor desde o ventre de sua mãe (Lc 1.15), todo pregador enviado de Deus deve orgulhar-se — no bom sentido — de sua chamada. the evoice Quando no lhe deserto, falava que o povo queria ouvir, simapareceu a dura pregando palavra que veio ele da não parte do oSenhor. Sem preocupar-se com vantagens e comodidade, ele começou seu ministério falando de arrependimento, e não de dez passos para enriquecer. Quantos hoje apreciam a vida e a obra desse homem? Seria ele um modelo para nós? Quantos livros evangélicos sobre João Batista já foram escritos? Na verdade, a despeito de ele ser o precursor de Cristo, temos a tendência de vê-lo como alguém que fracassou, visto que foi preso e assassinado por causa de sua fidelidade ao Senhor.
Ignorando o exemplo desse enviado de Deus, muitos pregadores da atualidade priorizam a fama e o dinheiro, fazendo da pregação um negócio (2 Co 2.17, RA). Eles não querem ser tidos como “polêmicos”, antipáticos e provocadores. Por isso, prezam novidades como, por exemplo, o coaching, termo emprestado do mundo empresarial que significa “treinamento”. O pregador coach evita palavras “negativas” como “pecado” e “arrependimento”, já que é um motivador e explora as potencialidades humanas, valendo-se da neurolinguística, “mas sem abrir mão das Escrituras”. Na verdade, ainda que não admitam, os adeptos da pregação coaching têm dado nova roupagem à Teologia da Prosperidade, além de nova vida à Confissão Positiva. Para alguns desses pregadores emergentes, a mensagem da cruz não faz mais sentido. Eles “acreditam que vivemos em uma cultura pós-moderna e, portanto, devemos construir igrejas pós-modernas. [...] E pós-modernismo aceita o pluralismo, acata o empírico, deleita-se com o místico, e sente-se à vontade diante da narrativa, do que é fluido, global, comunitário/tribal, e assim por diante. [...] Termos bíblicos como ‘evangelho’ e ‘Armagedom’ precisam ser ‘desconstruídos e redefinidos’. A mensagem bíblica é comunicada por meio de um misto de palavras, artes visuais, silêncio, testemunhos e história. O pregador é um motivador que encoraja as pessoas a aprenderem das Escrituras” (CARSON, p. 32-44).
‘Joões Batistas’ do nosso Tempo Pensemos, agora, em alguns pregadores do nosso tempo que, assim como João Batista, foram como fiéis à “o suaprofeta chamada DavidOswald Wilkerson, já (1889–1986) mencionado, notabilizou-se do até juízoo fim. de Deus”. Smith converteu-se aos 16 anos, em 1906, em Toronto, Canadá, ao ouvir uma pregação do célebre evangelista R. A. Torrey (1856–1928). Aos 18 anos, Smith começou a pregar, vindo a ser pastor, escritor, poeta, compositor, jornalista, etc. Entretanto, não escapou dos rótulos condizentes com a sua chamada: “ganhador de almas” e “senhor missões”. O que dizer de Billy Graham (1918–2018)*, que ficou conhecido como “o maior evangelista do século XX” em razão de sempre ter sido fiel à sua chamada
de levar o evangelho com simplicidade às nações e aos povos? Ele “é prova de que a fama não precisa corromper e a humildade genuína pode existir em um homem que é admirado por milhões de pessoas. Seu compromisso com a centralidade do evangelho é modelo para todos nós” (LUTZER, 2005, p. 108). Diante do exposto, o Senhor quer que sejamos apenas a “voz que clama no deserto”. Se formos bem tratados por causa da pregação do evangelho, louvado seja Deus. Mas, se formos perseguidos pelo mesmo motivo, glória ao Senhor também. Nenhum pregador enviado de Deus tem o direito de abrir mão de sua chamada para tornar-se um pregador coach ou animador de plateia. Fomos chamados para pregar a Palavra de Deus em um tempo em que não se suporta mais a sã doutrina, e não para massagear o ego das pessoas ou lhes oferecer autoajuda (2 Tm 4.1-5; Tt 2.1). * N. do E.: Billy Graham morreu no dia 21 de fevereiro de 2018 aos 99 anos. Há muito tempo, ele sofria de câncer, pneumonia e outras doenças. Billy Graham completaria 100 anos em novembro de 2018.
Capítulo 3
PREGAÇÃO POLITICAMENTE INCORRETA Dizia, pois, João à multidão que saía para ser batizada por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?
Lucas 3.7
A mensagem de João Batista não era simpática aos religiosos do seu tempo,
especialmente os fariseus e saduceus. Para ele, não havia verdades que não podiam ser ditas, o que o transformava — como diríamos hoje — em um pregador contrário à ditadura do politicamente correto, que é a “tentativa de reformar o pensamento tornando algumas coisas indizíveis; também é a obscena, para não dizer intimidadora, demonstração de virtude (concebida como a adesão pública às visões ‘corretas’, isto é, ‘progressistas’) por meio de um vocabulário purificado e de sentimentos, ou não usar tal vocabulário, é colocar-se fora do grupo de homens civilizados (ou deveria eu dizer ‘pessoas’?)” (PONDÉ, p. 11).
Ditadura do Politicamente Correto Essa ditadura — uma marca da sociedade pós-cristã — é injusta porque não atende a todos os grupos sociais, e sim a quem obedece à agenda progressista, contrária à cosmovisão judaico-cristã. Quando ocorrem, por exemplo, atentados terroristas perpetrados por muçulmanos, a grande mídia avisa logo: “Cuidado com a islamofobia”. Há uma preocupação maior com a discriminação que os grupos islâmicos poderão sofrer do que com as famílias que efetivamente perderam seus entes queridos de maneira cruel. Se um pensador cristão simplesmente usar o termo “homossexualismo” em vez de “homossexualidade” nas suas mídias sociais será tachado imediatamente de preconceituoso. E, se disser que, biblicamente, a conjunção carnal entre pessoas
do mesmo sexo é pecaminosa, será duramente criticado e chamado de homofóbico. Não é mais possível “falar em família, tradição, normalidade, moral, ética sem correr risco de ser moralmente atacado pelo ‘politicamente correto’, que é uma estratégia maquiavélica [...] para amordaçar onatureza contraditório. A (LOBO, ordem é p. perverter humana” 11). todo e qualquer sentido natural de toda a história da
O objetivo da ditadura do politicamente correto é, supostamente, neutralizar o discurso de ódio, racista, xenofóbico, sexista, patriarcal ou homofóbico dos fundamentalistas religiosos, fanáticos e preconceituosos. Nesse caso, paradoxalmente, quem obedece à “ditadura da hipocrisia imbecil do politicamente correto” (GARCIA, 2013) é um cidadão modelo, que respeita a diversidade do mundo pós-moderno.
Mundo Politicamente Correto No mundo politicamente correto, o cristão deve tolerar a heresia para demonstrar que ama o próximo. “A antiga suposição de que existe verdade objetiva deve ser substituída pela noção de que, na realidade, não há ‘verdade’ — se por verdade quisermos dizer valores aplicáveis a todas as culturas e em todas as épocas. [...] Teoricamente, o pós-modernismo diz que não há padrão independente de certo ou errado. [...] Se alguém pensa que tem a ‘verdade’, a cortesia exige que ele mantenha seus pensamentos consigo. [...] Você pode dizer que Jesus mudou sua vida, mas é inadmissível declarar que Ele é o único caminho para Deus” (LUTZER, 2005, p. 10-22).
Falar de Jesus Cristo em um programa de televisão ou dizer um simples “Feliz Natal” no mês de dezembro pode ser uma conduta politicamente incorreta e ofensiva aos não cristãos, especialmente os ateus. Mesmo nos Estados Unidos, país cristão em sua srcem, a ditadura do politicamente correto ganhou muita força nos últimos anos, especialmente durante os dois mandatos de Barack Obama, um presidente que se pautava pela agenda progressista, a qual se opõe
frontalmente à cosmovisão cristã. Obama sequer pronunciava a consagrada frase Merry Christmas (“Feliz Natal”) no fim do ano, preferindo a genérica e politicamente correta Happy Holidays, equivalente ao nosso “Boas Festas”. Entretanto, seu sucessor, o politicamente incorreto Donald Trump, assim que eleito em 2016, fez questão de enfatizar: “Vamos voltar a dizer Feliz Natal”. O pastor e escritor David Jeremiah, indignado com o desrespeito ao cristianismo por parte de comediantes ateus nos Estados Unidos, o que, de modo injusto, não é considerado politicamente incorreto, escreveu o seguinte: “Os ateus costumavam ser relativamente passivos, mas agora temos uma avalanche de não crentes valentões que estão indignados e são proativos, decididos a intimidar os crentes em Deus. [...] Na América atual, Ele [Jesus Cristo] passou da figura central da História mundial para uma fonte de material para comediantes [...] que não se atrevem a tratar a outros líderes religiosos com a mesma falta de respeito” (JEREMIAH, 2012, p. 15-16).
Papa Politicamente Correto Em 2013, o papa Francisco veio ao Brasil e encantou a muitos, inclusive alguns pastores evangélicos, com a sua aparente humildade. Ele, porém, tem outra característica muito valorizada na pós-modernidade, que poucos notaram: ele é politicamente correto. Sua última entrevista, antes de chegar a Roma, foi concedida aos jornalistas brasileiros que o acompanharam no avião. E, apesar de estar visivelmente cansado, ele, com boa vontade, deixou sua primeira classe e cumpriu uma promessa que fizera no voo de ida ao Brasil: conceder uma entrevista a bordo da aeronave. Um dos repórteres questionou o papa sobre a mala preta que ele faz questão de carregar. Com muito bom humor, Francisco respondeu: “Não tinha a chave da bomba atômica. Eu sempre fiz isso. Quando viajo, levo minhas coisas. E dentro o que tem? Um barbeador, um breviário [livro de liturgia], uma agenda, tinha um livro para ler, sobre Santa Terezinha. Sou devoto de Santa Terezinha. Eu sempre levei eu mesmo minha maleta. É normal. Nós temos que ser normais” (CHADE, 2013).
Sem dúvida, é exemplar o fato de o papa carregar a própria bagagem de mão. Mas, por outro lado, não é estranho que o líder do catolicismo — admirado até mesmo por evangélicos — não leve consigo um exemplar da Bíblia Sagrada? Aliás, fiquei pensando: “Que exemplo — melhor até do que carregar a própria mala — o papa teria dado a todos os cristãos brasileiros se ele os tivesse incentivado a ler a Bíblia! Imagine o que aconteceria se ele, em suas homilias, tivesse dito aos milhões de peregrinos e telespectadores que o assistiam: ‘Abramos as nossas Bíblias e leiamos a Palavra de Deus’! Não é a Bíblia, ao lado da tradição, a fonte de todas as encíclicas, homilias e discursos papais?”. Acredito que, se o papa Francisco, nesses tempos em que a Bíblia é tida como um livro “altamente preconceituoso” e “fomentador de ódio”, portasse um exemplar das Escrituras, ele não seria tão admirado pela grande imprensa. Aliás, por que esta, que tanto criticava Bento XVI, agora endeusa Francisco? ustamente porque ele tem se mostrado um pontífice flexível, disposto a dialogar, um gentleman, um líder religioso politicamente correto, que evita tocar em assuntos polêmicos. Nas Escrituras, temos a melhor defesa dos conceitos de família, valores éticos e morais, vida embrionária, etc. E os que se opõem a tais conceitos não querem, evidentemente, ouvir falar de Bíblia. Sendo assim, se o papa objetiva agradá-los, o primeiro passo é ignorar ou menoscabar tal Livro, dando a entender — tacitamente — que ele é fonte de autoridade precípua e primacial apenas para os “fanáticos” e “fundamentalistas” evangélicos. Na verdade, desde o início de seu pontificado, o argentino Jorge Mario Bergoglio jamais defendeu com firmeza os valores cristãos esposados nas páginas sagradas. Sinceramente, apesar de eu não ser romanista, gostaria muito que as homilias do papa fossem menos politicamente corretas e mais parecidas com os sermões do Sumo Pastor da Igreja, nosso Senhor Jesus (cf. Mt 5—7; 23; Jo 13— 17, etc.). À luz do que temos estudado sobre João Batista, o papa Francisco seria um
bom referencial para os cristãos, especialmente para líderes? Com toda a franqueza, se é para admirar um pontífice, prefiro o papa emérito Bento XVI (Joseph Aloisius Ratzinger). Penso que este é mais teológico que político, enquanto Francisco tem sido mais político que teológico. Não há dúvida de que o papa tem procurado agradar a todos, especialmente os progressistas. E, com isso, acaba relativizando as verdades fundamentais do cristianismo, a ponto de sugerir que a conjunção carnal entre pessoas do mesmo sexo não é pecaminosa e afirmar que não existe a necessidade de condenar o aborto com veemência, etc.
Evangelho Politicamente Correto ditadura do politicamente correto não tem cooptado apenas formadores de opinião, a grande mídia e o Vaticano. Há pastores por aí defendendo, aberta ou tacitamente, a ideia falaciosa de que o amor cristão sobrepuja a verdade do evangelho. Eles têm transformado o cristianismo no vilão da história, dando razão às vozes cristofóbicas, que estereotipam os evangélicos, tachando-os de ignorantes, preconceituosos e fundamentalistas. Alguns desses pastores chegam ao ponto de lavar e beijar os pés de líderes de seitas anticristãs e ateus diante dos holofotes da grande mídia. Entretanto, apesar desse “ato de amor” e demonstração de tolerância, por que eles não pregam abertamente que Jesus é a única porta para a salvação? Na verdade, esses tenha pastores a ideia por maistenham que o Senhor Jesus dito(pastores?) “Eu sou defendem a porta” (Jo 10.9)dee que, os apóstolos corroborado com essa declaração (1 Tm 2.5; At 4.12), cada pessoa tem o seu ponto de vista, a “sua verdade”. Para esses adeptos do politicamente correto, o mais importante é amar as pessoas, e não apontar seus erros. Mas, que mensagem Jesus Cristo pregou ao andar na terra? “Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mt 4.17). E o que o pregador João Batista começou a pregar antes? Ele anunciou exatamente a mesma mensagem (3.2).
O evangelho politicamente correto está, aparentemente, coberto de coerência, haja vista firmar-se no pressuposto de que devemos respeitar a crença das pessoas. Ele parte do princípio “democrático” de que cada um tem o direito de acreditar no que quiser sem ser incomodado. Segundo esse “outro evangelho” (cf. 2 Co 11.4; Gl 1.8) — que, a cada dia, seduz mais e mais cristãos malorientados —, não há espaço para os antigos protestantes. “Ninguém deve ser intolerante e preconceituoso”, dizem. Se alguém pensa crer na verdade, repito, a cortesia, o bom-senso, a coerência, a ética e, sobretudo, o amor cristão mandam que ele mantenha consigo os seus pensamentos. No evangelho politicamente correto, o amor substitui a verdade e é mais importante que o próprio evangelho. Em outras palavras, é melhor tolerar a heresia do que parecer desamoroso para o mundo. Assim, em vez de pregar e ensinar a Palavra de Deus como ela é — cumprindo a Grande Comissão (Mt 28.18-20; Mc 16.15-20; At 1.8) —, os cristãos devem fazer as pazes com os pecadores, lavar os seus pés, pedir-lhes perdão por terem sido tão “preconceituosos” e “intolerantes”. Mas, seria mesmo o amor uma justificativa para desistir da verdade do evangelho? Segundo as Escrituras, o amor e a verdade são indissociáveis (E 4.14,15). No verdadeiro cristianismo, prevalece a unidade em amor em torno da verdade (Jo 13.35), e não a unidade com aqueles que ensinam heresias ou apoiam comportamentos anticristãos. O verdadeiro amor não abre mão da verdade; ele não é sinônimo de tolerância. Quem ama o Senhor deve submeterse aos seus mandamentos, pois amá-lo implica fidelidade à Palavra (Jo 14.23; Tg 4.4,7). Caso o amor anulasse a verdade, e devêssemos, em decorrência disso, tolerar o erro e lavar os pés dos pecadores em prol da unidade, como deveríamos interpretar as seguintes palavras de Jesus? “Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas; para que não as pisem e, voltando-se, vos despedacem” (Mt 7.6). Entretanto, para os pregadores do falso evangelho
politicamente correto é preferível tolerar as heresias e lavar os pés dos oponentes da Palavra de Deus a parecer desamorosos para o mundo. Eles ignoram que a Palavra de Deus ordena que não amemos o mundo (1 Jo 2.15-17) nem nos conformemos com ele (Rm 12.1,2).
Escritores Politicamente Corretos
No mercado editorial evangélico, também há autores politicamente corretos, que escrevem livros interessantes, inspirativos. Quando, no entanto, citam as palavras de Jesus Cristo, omitem seu nome; mencionam, quando muito, apenas o lugar onde elas estão registradas. Aparentemente, eles têm receio de falar de Jesus, esquecendo-se do que o próprio Senhor disse em Mateus 10.33: “qualquer que me negar diante dos homens, eu o negarei também diante de meu Pai, que está nos céus”. Certo escritor, em meio a várias frases, citou a seguinte, sem mencionar a autoria, fazendo parecer que o seu autor era desconhecido: “Mais bemaventurada coisa é dar do que receber”. Curiosamente, ao citar outras frases de personalidades da História, ele fez questão de dizer seus nomes: Madre Teresa de Calcutá, Albert Schweitzer, Winston Churchill, etc. (cf. URBAN, 2006). Se essa frase fosse de Paulo, o autor talvez lhe desse o crédito. Entretanto, esse apóstolo, antes de introduzi-la em Atos 20.35, disse que é necessário “recordar as palavras do Senhor Jesus”. É interessante como muitos “sábios”, apesarconsideram de reconhecerem as verdades ditas pelo Mestre dos mestres, evitam sua Pessoa; politicamente incorreto a simples menção do seu nome. Eles agem como os doutores da lei dos tempos em que Jesus andou na terra, os quais examinavam as Escrituras com avidez, julgando ter nelas a vida eterna, porém não queriam reconhecer o Mestre como Senhor, Salvador e Cristo: “Examinais as Escrituras, [...] não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5.39,40).
Pastores Politicamente Corretos
Há pouco tempo, um famoso pastor e escritor brasileiro concedeu uma entrevista à BBC Brasil (cf. PUFF, 2015). Nas suas respostas a perguntas relacionadas com o papel do evangelicalismo frente ao mundo pós-moderno, ele priorizou o que está em sintonia com a ditadura do politicamente correto. Quando perguntado sobre movimentos extremistas, que militam contra a família e em favor da erotização de crianças, ele limitou-se a dizer que são cidadãos, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero. Ele perdeu a oportunidade de criticar, ainda que de modo diplomático, o perigoso ativismo desses movimentos. Estes são hostis, cristofóbicos e procuram a todo custo, por meio da nefasta Ideologia de Gênero, desconstruir o que chamam de “heteronormatividade”, termo usado por quem defende a teoria esdrúxula de que “os que não são heteronormativos não são percebidos como ‘normais, morais ou merecedores de ajuda do Estado’. Querem imputar aos que são a favor da heterossexualidade o rótulo de preconceituosos?” (LOBO, p. 49).
O entrevistador também lhe perguntou sobre o aborto, e a resposta do escritor foi a de que ele é “a favor de uma melhor compreensão da legislação em termos de saúde pública e da preservação da mulher”. Ele tratou o assunto como uma questão de saúde pública, mas, em momento algum, afirmou que o aborto é o mesmo que assassinar covardemente uma pessoa indefesa, já que, segundo a biologia, a vida é contínua desde a concepção até a morte. Por isso, a própria Palavra de Deus assevera que o Senhor conhece o ser humano ainda informe, no ventre de sua mãe (Sl 139.14-16; Jr 1.5). Parecendo já saber de antemão o tipo de resposta que obteria, o entrevistador perguntou ao pastor politicamente correto se ele acreditava que pessoas com maior tendência à intolerância religiosa poderiam estar encontrando amparo em “figuras influentes no cenário nacional mantendo uma ideologia de confronto e não de conciliação com relação a grupos [religiosos] com visões diferentes”.
O pastor, então, defendeu a ideia de que os evangélicos não devem parecer ofensivos ou desamorosos, criando “um ambiente propício para que gente doente, ignorante, mal esclarecida e mal resolvida dê vazão aos seus impulsos de violência, de rejeição ao próximo, aos seus ímpetos de prepotência, à sua ambição e sede de poder, à sua personalidade opressiva”. Ele ainda sugeriu que um político evangélico deve despir-se de todas as suas convicções, a fim de servir ao Estado, que é laico. Não obstante, deixou de observar que a sociedade é diversa, formada por vários grupos (católicos, evangélicos, espíritas, ateus, agnósticos, etc.) portadores de várias opiniões. Todos esses segmentos devem ser ouvidos e participar da política por meio dos representantes que elegem. Ou será que os evangélicos devem ficar bem quietinhos, apenas orando, permitindo que a agenda progressista, que abarca desconstrução da família segundo o padrão divino, aborto e perseguição religiosa seja implementada? Finalmente, o escritor disse ao entrevistador da BBC que está buscando espaço para mostrar um lado mais “ponderado, inclusivo e progressista” dos evangélicos. Em outras palavras, ele defende um evangelho de facilidades, não confrontador, politicamente correto, que visa a uma convivência ecumênica e que agrada a todos, dizendo às pessoas o que elas desejam ouvir, e não o que elas precisam escutar. Ou seja, apesar de esse pastor e escritor ser um bom comunicador, intelectual e filósofo, ele não prega o autêntico evangelho do arrependimento e da “porta estreita” propagados por João Batista e pelo Senhor Jesus (Mc 1.2-8; Mt 4.17; 7.13,14).
João Batista, o Pregador Politicamente Incorreto pregação tem mudado muito por causa da ditadura do politicamente correto, a qual, evidentemente, se opõe à liberdade de expressão e “amordaça” os pregadores do evangelho. Muitos deles, receosos, não querendo ofender as pessoas nem sofrer algum tipo de perseguição, evitam tocar em assuntos mais sensíveis como, por exemplo, a Ideologia de Gênero (cf. LOBO, 2016), o
terrorismo islâmico (cf. WEISS; HASSAN, 2015), o feminismo (cf. EDWARDS; ANDERSON, 2007) e as questões atuais ligadas a Israel e Estados Unidos (cf. JEREMIAH, 2016). Se vivesse hoje, João Batista seria persona non grata, pois ele não elogiava os ouvintes, falando-lhes palavras agradáveis aos ouvidos. Antes, denunciaria os pecados de toda a sociedade de maneira contundente, inclusive os dos saduceus e fariseus, cujos frutos eram a hipocrisia e a autossuficiência, baseadas na presunção de que tinham Abraão por pai. Como descendentes naturais desse patriarca, confiavam em sua ascendência para escapar de uma sentença condenatória por parte do Justo Juiz. João Batista não “passou a mão na cabeça” deles, mas, de modo ousado, protestou contra suas obras, valendo-se de uma metáfora politicamente incorreta. Ele disse que, se eles quisessem escapar da condenação no Juízo Final, precisavam converter-se e produzir frutos dignos de arrependimento: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento e não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai braão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a braão. E também, agora, está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo” (Mt 3.7-10). De acordo com Mateus, logo após mencionar essa metáfora das árvores, o Batista passa a discorrer sobre o batismo com o Espírito Santo e com fogo (3.11,12). Mas, em Lucas 3.1-20, mencionam-se, entre esses dois momentos, as respostas dele a três grupos — multidão, publicanos e soldados —, os quais lhe fizeram a seguinte pergunta: “Que faremos?” (vv. 10,12,14). No dia de Pentecostes, aconteceu exatamente o mesmo após a pregação de Pedro, quando pecadores “compungiram-se em seu coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, varões irmãos?” (At 2.37). Esse apóstolo, então, após responder a essa pergunta, apresentou-lhes o batismo com o Espírito Santo como uma promessa atemporal, extensiva a todos os salvos em Cristo (vv. 38,39).
Havia escassez de alimentos, e ter uma túnica de reserva era privilégio de poucos, um luxo no início do primeiro século, devido ao alto preço das vestimentas. Diante disso, a resposta de João ao primeiro grupo, a multidão, revela que ele não era materialista, mas preocupava-se com o próximo: “Quem tiver duas túnicas, que reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, que faça da mesma maneira” (Lc 3.11). Aos publicanos, que eram desprezados e odiados pelos judeus, “não só porque extorquiam dinheiro, mas também por serem considerados traidores e aliados do poder de ocupação” (GOWER, p. 178), ele disse: “Não peçais mais do que aquilo que vos está ordenado” (v. 13). E, ao terceiro grupo, os soldados, respondeu: “A ninguém trateis mal, nem defraudeis e contentai-vos com o vosso soldo” (v. 14). Para recebimento da vida eterna, segundo o precursor de Cristo, os “méritos de Abraão não seriam suficientes, mas apenas um ato de arrependimento que incluísse a renúncia a todas as presunções fundadas em eleição ou etnicidade” (METZGER; COOGAN, p. 160). Muitos pregadores da atualidade, entretanto, não enfatizam a necessidade de o pecador arrepender-se e produzir frutos dignos de arrependimento, isto é, obras que agradam ao Senhor. Eles supervalorizam uma suposta eleição arbitrária, feita por Deus antes da fundação do mundo, que conferiria a um grupo seleto de privilegiados a certeza da vida eterna, haja o que houver. Armínio, no século XVII, citou o presente sermão de João Batista quando refutou os supralapsarianos, que defendiam a mencionada eleição arbitrária e a predestinação fatalista. Ele afirmou que isso “opõe-se diametralmente à doutrina contida nas seguintes palavras de João Batista: ‘Não presumais de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão’ (Mt 3.9)” (cf. ARMÍNIO, 2015).
Conquanto tenhamos sido salvos inteiramente pela graça de Deus, Ele espera
que produzamos frutos dignos de arrependimento (cf. Ef 2.8-10). Por isso, limpa a árvore que está nEle, para que dê mais fruto (Jo 15.1-5). Mas, quando não produzimos tais frutos, em vez de podá-la, Ele a corta pela raiz! Foi aos salvos que o autor de Hebreus disse estas duras palavras: “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo. ntes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hb 3.12,13). Lembremo-nos sempre disto: o machado está posto à raiz das árvores!
A Igreja e a Ditadura do Politicamente Correto Igreja é um povo chamado do mundo, para estar separado dele quanto à doutrina e ao comportamento (2 Co 6.14-18). O povo de Deus deve estar unido em Cristo, em torno de uma fé comum, firmada nas Santas Escrituras. Paulo e principalmente Jesus, o nosso Senhor, disseram que a nossa salvação está relacionada com o conhecimento da verdade (1 Tm 2.4; Jo 8.32). Note o que o Mestre disse: “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Ele não falou de “uma verdade”, pois — para o cristão — a verdade quanto à salvação não é algo que cada um pode sustentar como se fosse de sua propriedade. Não! Embora muitos estejam criando o seu próprio sistema de crenças, é a Palavra de Deus que permanece para sempre (1 Pe 1.24,25). Deve, pois, o cristão ficar calado para não parecer preconceituoso e intolerante? acordo com as Escrituras, estamos na aterra parasobre agradar o mundo. PeloDe contrário, devemos apresentarnão à humanidade verdade Jesus (At 4.20). E sabemos que, ao fazer isso, seremos odiados por muitos (Mt 5.11,12). Pregar o evangelho é, também, combater a mentira, o que não implica sermos inimigos das pessoas. Não se deve confundir o mundo que Deus amou — a humanidade (Jo 3.16) — com o mundo que jaz no Maligno (1 Jo 5.19). Nossa luta não é contra a carne e o sangue, e sim contra as forças espirituais, comandadas pelo deus deste século, o Diabo (Ef 6.12; 2 Co 4.4). Jesus foi categórico ao mostrar o quanto é
importante pregar sem medo a sua Palavra diante dos homens (Mt 10.32,33), e o apóstolo Paulo orientou-nos a protestar contra o pecado (Tt 1.10,11). É claro que a Palavra de Deus não nos ensina a entrar numa “guerra santa” com os que não obedecem ao evangelho. Entretanto, devemos demonstrar o nosso amor pregando a verdade do evangelho, e não de outro modo. O amor sem a verdade é fraco e sem influência; e a verdade sem o amor é rígida demais, sem misericórdia. Se os cristãos devem unir-se aos adeptos de outras religiões em amor, lavar seus pés, beijá-los, pedir-lhes perdão, em vez de pregar o arrependimento de modo contundente — como fizeram João Batista, Jesus e os apóstolos —, então por que Paulo foi tão categórico ao dizer que está sob ou é anátema (amaldiçoado, condenado) quem não ama Jesus (1 Co 16.22)? Nossa missão é pregar a Palavra da Cruz (1 Co 1.18-23), quer gostem, quer deixem de gostar. Lembremo-nos de que o amoroso Deus também é santo e justo, e aqueles que permanecerem no pecado, por mais convincentes que sejam as suas argumentações, serão lançados no Inferno (Ap 21.8). Lavar os pés de ativistas de movimentos contrários à “heteronormatividade”, representantes de religiões e de ateus é um “belo ato”, que agrada muito a sociedade pós-moderna (e pós-cristã) e a grande mídia cristofóbica. Mas o que agrada a Deus, mesmo, é dizer ao mundo: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At 3.19).
Capítulo 4
PREGADOR CRISTOCÊNTRICO No dia seguinte, João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. João 1.29
se mensura a grandeza de uma pessoa? Para os materialistas, ela é C omo medida pela riqueza, associada à posição política ou social. Os bárbaros relacionam-na com a força bruta. E os gregos dizem que a grandeza de um homem está no seu intelecto. Mas o precursor de Cristo era “grande diante do Senhor” (Lc 1.15). Em João Batista, temos “um exemplo do padrão divino de grandeza constituída por firmeza e coragem inabaláveis, total sinceridade, perfeita consagração a Deus e ardente entusiasmo pela justiça. Autenticavalhe a grandeza o fato de não saber ele que era grande! Era apenas uma voz a clamar no deserto, preparando o caminho para alguém maior que ele. Tinha de diminuir, enquanto seu sucessor crescia” (PEARLMAN, 1995, p. 13).
Simples Pregador, Grandes Resultados Se andasse na terra hoje, o precursor de Cristo seria um pregador simples, e não uma celebridade evangélica. Tal como sua pregação, seu estilo de vida era muito singelo, próprio de um homem que vivia no deserto. Em uma época de extrema simplicidade na maneira de vestir-se, ele superava as expectativas. Quem ia ao seu encontro via “um homem metido num pano grosseiro de pelo de camelo e com um cinto de couro atado à cintura, o traje ostensivo de um profeta” (METZGER; COOGAN, p. 160). Ademais, ele alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre (Mt 3.4; Mc 1.6).
Sua roupa era parecida com a de Elias, mas não igual, já que a desse profeta veterotestamentário “era feita de pele de ovelha ou de algum outro animal, não sendo tirada a lã (2 Rs 1.8). A arte de tecer os pelos dos animais era conhecida dos hebreus desde os tempos muito afastados (Êx 26.7; 35.6); o sacop.penitencial, usado em ocasiões de tristeza, era feito de pelo de cabra preta” (BUCKLAND, 442).
Nos tempos bíblicos, o cinto era “uma faixa de couro ou de tecido, com a largura de 7-8 centímetros — servia não apenas para suster as indumentárias e erguê-las para o trabalho ou para facilitar os movimentos, mas continha também aberturas providas de pequenas bolsas para as moedas, os punhais etc.” (MCKENZIE, p. 958).
O mel era muito apreciado pelos judeus e empregado de diversas formas: como remédio, adoçante ou ingrediente de bolos e doces (Êx 16.31). Comer mel silvestre era tão comum quanto consumir peixes, ovos, leite, carnes e verduras. Mas, e quanto a gafanhotos? Estes, ainda que mencionados na Lei (Lv 11.22), não eram um tipo de alimento muito comum. Como os gafanhotos eram preparados nos tempos do Novo Testamento? “Recolhe-se uma vasilha de gafanhotos [...] e removem-se as asas, patas e cabeça. Em seguida, prepara-se o gafanhoto ao gosto de cada um — assado, ferventado ou refogado. Mas pode-se comê-lo cru, ou submetê-lo a um processo de secamento também. Ainda pode ser comido com mel. Quando cozido em água e sal, seu sabor lembra o do camarão” (COLEMAN, p. 50).
Segundo a descrição do próprio Senhor Jesus, João Batista era como “uma cana agitada pelo vento” (Mt 11.7). No entanto, apesar de sua fraca aparência e para além de seu estilo de vida excêntrico, era um profeta ousado no falar, extremamente desafiador e que não temia líderes religiosos ou políticos. Todas as características que deveriam, em tese, isolá-lo — visto que ele, inclusive, vivia no deserto — atraíam grandes multidões.
Pessoas de Jerusalém, de toda a Judeia e da circunvizinhança do Jordão queriam ouvir atentamente o seu duro discurso. Além disso, muitas delas eram batizadas por ele, “confessando os seus pecados” (Mc 1.5). Que resultado, ante tamanha simplicidade! Isso nos ensina que jamais devemos ficar afastados “da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (2 Co 11.3, ARA). Para que Cristo seja glorificado e haja resultados auspiciosos para o Reino de Deus, o pregador cristocêntrico deve ser simples, assim como João Batista.
Por que João Batizou Jesus Cristo? ntes de ascender ao céu, o Senhor Jesus instituiu o batismo em água, fazendo dele uma das duas ordenanças da Igreja, ao lado da Ceia do Senhor (Mt 28.19; 1 Co 11.23-34). Entretanto, o primeiro pregador do arrependimento a batizar, no período neotestamentário, foi João Batista. Em Mateus 3.1-7, aliás, vemos, pela primeira vez no Novo Testamento, o adjetivo “Batista” ou “batizador” (gr. baptistes), o verbo “batizar” (gr. baptizo) e o substantivo “batismo” (gr. baptisma): “naqueles dias, apareceu João Batista [...] dizendo: Arrependei-vos, [...] e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados. E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?”. Como precursor de Cristo, João veio, inicialmente, para chamar a todos os israelitas, antecipação, e batizar veio em água aqueles queo desejassempor tornar pública aaosuaarrependimento confissão. Ele também para identificar Messias esperado e apresentá-lo ao povo: “eu não o conhecia, mas, para que ele fosse manifestado a Israel, vim eu, por isso, batizando com água” (Jo 1.31). E essa identificação ocorreu mais precisamente quando Jesus entrou no rio ordão: “Eu vi o Espírito descer do céu como uma pomba e repousar sobre ele. E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo. E eu vi e tenho testificado que este é o Filho de Deus” (Jo
1.32-34). Mateus, Marcos e Lucas, diferentemente do quarto Evangelho, mencionam de maneira direta o batismo de Jesus por intermédio de João Batista, quem, a princípio, não queria imergi-lo na água. Ao conversar com o Mestre, o precursor de Cristo foi convencido de que era necessário cumprir toda a justiça (Mt 3.1317; Mc 1.9-11; Lc 3.21,22). Possivelmente, todos os presentes ouviram o som que veio do céu, mas nem todos discerniram o testemunho de Deus: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17), já que “ouviu-se uma voz dos céus” (Mc 1.11). No entanto, quando confrontamos as mencionadas passagens sinóticas com João 1.29-34, vemos que somente Jesus e seu batizador viram o Espírito Santo descendo do céu em forma de pomba.
João Batista e a Doutrina da Trindade
O batismo do Deus-Homem, a descida do Espírito Santo como pomba e a voz do Pai celestial autenticam a doutrina da triunidade de Deus, evidenciando que a deidade é formada por três Pessoas. Não se trata de triteísmo (três Deuses), visto que Deus é uno (Dt 6.4), e sim de tripessoalidade. Não confundamos, no entanto, a Pessoa divina com a pessoa humana. “Aplicando o termo em análise [‘pessoa’] ao que chamamos de Pessoas da Trindade, alguém poderia ser induzido a crer no sabelianismo ou no modalismo. Por essa razão, os pais da igreja preferiram chamar as Pessoas divinas de homoousios, ‘um ser’ ou hipostasis. [...] Nas discussões teológicas sobre a doutrina da Trindade, na era patrística, tal palavra foi aplicada como sinônimo de ousia, ‘essência, ser’” (SOARES, p. 102).
João Batista, portanto, teve dois privilégios extraordinários. Primeiro, o de batizar o Homem Jesus nas águas do rio Jordão. Segundo, o de aprender a doutrina da Trindade de forma presencial, com o próprio Deus trino, uma vez que, no exato momento em que ele batizava em água o Filho de Deus, viu o Espírito manifestar-se e ouviu a voz do Deus Pai.
Observe que João não tinha dúvida de que Jesus, apesar de ser Deus, não era a mesma Pessoa que seu Pai, pois viu que o Filho estava falando com o Pai em oração, quando o Paracleto desceu sobre Ele como uma pomba (Lc 3.21,22). Como é triste saber, ante tamanha evidência em prol da Trindade, que algumas pessoas têm-se desviado do evangelho verdadeiro, trinitário, para abraçar o unicismo, heresia que nega a triunidade de Deus!
Pregação Cristocêntrica de João Batista Uma pregação pode ser muito cativante, cheia de humor, ricamente ilustrada, arrebatadora e, mesmo assim, não ser cristocêntrica. A melhor definição de pregação cristocêntrica está em 1 Coríntios 2.1-5: “E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. [...] A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus”. Procurei responder à pergunta “O que é a pregação cristocêntrica?” em minhas obras Erros que os Pregadores Devem Evitar (uma série de três livros), Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria e Procuram-se Pregadores como Paulo, confrontando o cristocentrismo com o antropocentrismo. E, aqui, desejo reiterar que ela “não é simplesmente evangelística, nem confinada a uns poucos relatos do evangelho. Abrange o todo da Escritura como revelação do plano redentor de Deus, e anuncia cada passagem dentro do seu contexto — um modelo que Jesus mesmo nos apresenta (Lc 24.27)” (CHAPELL, p. 32).
Nessa passagem dos Evangelhos, vemos que, “começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”. O Evangelho de João é o que mais dá ênfase aos testemunhos cristocêntricos do Batista. Sem preocupar-se com seu nascimento, apresenta-o como um
enviado (gr. apostellō) de Deus para testemunhar da luz (Jo 1.6-8), ressaltando que Jesus não é apenas um profeta, e sim o Deus-Homem. “João testificou dele e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: o que vem depois de mim é antes de mim, porque foi primeiro do eu” (v. 15). Aqui, como o precursor de Cristo, evidentemente, nasceu primeiro que seu parente (Lc 1.57-66; 2.1-7); oão, porém, está falando da preexistência do Senhor junto ao Pai (cf. Jo 1.15,30). A centralidade de Cristo na pregação de João Batista é facilmente percebida em suas próprias declarações e na explicação do apóstolo João a respeito de seu testemunho: “E todos nós recebemos também da sua plenitude, com graça sobre graça. Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer” (Jo 1.16-18). Por isso, Paulo, o maior defensor da pregação cristocêntrica na Igreja Primitiva, citou o testemunho do Batista: “levantou Deus a Jesus para Salvador de Israel, tendo primeiramente João, antes da vinda dele, pregado a todo o povo” (At 13.23,24). Ainda no começo do quarto Evangelho, vemos a entrevista que the voice concedeu, em Betânia, a sacerdotes e levitas enviados desde Jerusalém pelos fariseus (Jo 1.24), possivelmente membros do Sinédrio, já que somente estes tinham poder para enviar uma delegação. Esse tribunal supremo dos judeus, composto de 71 membros, era formado por “três classes de pessoas: os anciãos, ou seja, os mais velhos dentre os chefes das famílias e dos clãs; os sumos sacerdotes, isto é, os ex-sumos sacerdotes e os anciãos das quatro famílias sumo-sacerdotais; os escribas, que geralmente eram membros da seita dos fariseus” (MCKENZIE, p. 885).
Os fariseus eram dominantes nessa corte, mas os saduceus também tinham sua representatividade ali (At 23.6-8). Os emissários do Sinédrio percorreram cerca de sete quilômetros e estavam certos de que João diria a eles que era o Cristo, Elias ou, pelo menos, um dos
profetas. Contudo, o Batista — mesmo conhecendo as profecias de Isaías (40.3) e Malaquias (3.1; 4.5,6) a seu respeito — rechaçou suas sugestões (Jo 1.20-22), limitando-se a dizer que era “a voz do que clama no deserto” (v. 23). Insatisfeitos, perguntaram-lhe por que estava batizando (Jo 1.25), e sua resposta, num primeiro momento, foi inconclusiva: “Eu batizo com água, mas, no meio de vós, está um a quem vós não conheceis. Este é aquele que vem após mim, que foi antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar as correias das sandálias” (vv. 26,27). Ele para de falar nesse ponto. Somente no dia seguinte, quando João vê Jesus Cristo, conclui seu testemunho, respondendo por que veio “batizando com água”: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Este é aquele do qual eu disse: após mim vem um homem que foi antes de mim, porque já era primeiro do que eu. [...] Eu vi o Espírito descer do céu como uma pomba e repousar sobre ele. E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo. E eu vi e tenho testificado que este é o Filho de Deus” (Jo 1.2934). Quando esse embaixador de Deus afirmou que Jesus é “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, decerto tinha em mente as profecias, tipos e símbolos alusivos à sua obra expiatória (Is 53.1-7; Jr 11.19; Gn 22.8). Certamente, Deus revelara a ele que Jesus, após sua morte expiatória, seria chamado de o “Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13.8). Em outras palavras, ele sabia que todos os cordeiros mortos de modo sacrificial desde o princípio, inclusive o primeiro cordeiro pascal (Êx 12), apontavam para o sacrifício perfeito de Jesus Cristo, que comprou “para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação” (Ap 5.9).
João Batista Era Universalista? Teólogos vêm debatendo há séculos a respeito do alcance da obra salvífica de Cristo, principalmente por causa da declaração de João Batista em João 1.29.
Calvinistas creem que a expiação de Cristo foi restrita, limitada, eficaz somente para um grupo seleto de eleitos (cf. Mc 10.45). Já os arminianos defendem que esus morreu por toda a humanidade, embora somente “aquele que nele crê” seja efetivamente salvo (cf. Jo 3.16; 1 Tm 2.4-6). Tratarei dessa discussão posteriormente, ainda neste capítulo; agora, porém, darei destaque para o perigoso universalismo, combatido por todos os evangélicos que se prezam. Segundo essa heresia, Deus é amor e não permitirá que ninguém — nem mesmo o Diabo! — sejam condenados. “O universalismo postula que a obra salvífica de Cristo abrange todas as pessoas, sem exceção” (HORTON, 1996, p. 358). Poucos pregadores universalistas, na atualidade, têm a coragem de afirmar que Deus é tão amoroso, a ponto de salvar o próprio Diabo. Todavia, certo pastor e escritor brasileiro afirmou recentemente, com base em João 1.29, que o pecado não está mais presente na relação entre Deus e os homens. E, com base nisso, ele disse também que poderemos encontrar até Hitler no céu! E não porque esse tirano tenha se arrependido antes de morrer, mas, sim, porque Deus já tirou o pecado do mundo. Segundo esse pastor, que também é teólogo, todas as pessoas serão salvas, haja o que houver, já que o pecado não mais existe. É um grave erro interpretar a frase “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” de maneira isolada, fora do seu contexto, sem considerar os três aspectos da obra salvífica, relacionados com a santificação: posicional, progressivo e perfectivo. À luz das Escrituras, nossa preciosa salvação pela graça de Deus abrange passado, presente e futuro. No passado, a salvação é posicional. E, como já fomos justificados, regenerados e santificados, estamos “em Cristo” (2 Co 5.17; Ef 2.1-6). No presente, a salvação é progressiva, uma vez que, a cada dia, como salvos, devemos ser mais santos (Hb 12.14) e operamos a nossa salvação com temor e tremor (Fp 2.12). No futuro, ela será perfeita (Fp 3.19,20); esse aspecto perfectivo da nossa salvação está ligado a outra dimensão, na glória, quando estivermos para sempre
com o nosso Deus (Rm 8.18; 13.11; 1 Pe 5.1). Hoje, estamos libertos, em Cristo, do poder do pecado. Mas, somente na glória, estaremos livres da presença do pecado. O erro do mencionado pregador, então, é acreditar que Deus, hoje, já nos livrou da presença do pecado, e não apenas de seu poder, contrariando o que está escrito em Gálatas 5.16-26. Ou seja, ele não apenas defende a ideia falaciosa da libertação da presença do pecado ainda neste mundo, como também comete erro maior ao afirmar que haverá salvação automática de todos, inclusive de Hitler, sem a necessidade de fé e arrependimento. A Palavra de Deus é clara quanto à necessidade de o ser humano precisar crer e arrepender-se para receber a preciosa salvação pela graça de Deus (Mc 1.15; Jo 3.36; At 3.19; Rm 10.9,10). Quanto ao universalismo, ao longo da História da Igreja, tem sido recusado “por aqueles que levam as Escrituras a sério. É claro que, se seu ensinamento fosse verdade, não haveria nenhum motivo premente para cumprir a grande comissão nem para incitar os descrentes a aceitar Cristo nesta vida” (LUTZER, 2011, p. 112).
João Batista Hoje Seria Calvinista ou Arminiano? Se João Batista, em João 1.29, não quis dizer que Jesus morreu por toda a humanidade, Ele, então, teria morrido somente pelos eleitos? Se vivesse hoje, o precursor de Cristo seria calvinista ou arminiano? Claro que a Bíblia está acima de todas as escolas de interpretação, mas, para os pentecostais, os teólogos rmínio e Wesley foram os que melhor interpretaram a obra expiatória. Para explicar melhor isso, farei uma breve exposição dos cinco pontos soteriológicos do arminianismo wesleyano, expressos sinteticamente por meio do acróstico FACTS, em inglês: freed by grace to believe; atonement for all; conditional election; total depravity; e security in Christ. Trata-se de uma resposta aos cinco pontos do calvinismo, também sintetizados em um acróstico, em inglês, TULIP: total depravity; unconditional election; limited atonement; irresistible grace; e perseverance of the saints.
Freed by grace to believe Essa frase significa, em português: “liberto ou livre pela graça para crer”, ponto que responde à quarta letra da TULIP ( irresistible grace, “graça irresistível”) e alude à graça preveniente, que é persuasiva, mas não coercitiva. Ela é interpretada pelos pentecostais como uma graça convincente, convidativa, iluminadora, que capacita o pecador antes — daí, preveniente — da conversão propriamente dita, tornando o arrependimento e a fé possíveis. Nesse caso, embora a salvação ocorra como resultado dessas duas respostas humanas, antes disso vem a capacitação do Espírito Santo, por meio da graça preveniente. O ser humano nasce moral e espiritualmente depravado e incapaz de fazer qualquer coisa boa ou digna aos olhos de Deus, sem uma infusão especial da graça divina para superar as inclinações do pecado srcinal. O novo nascimento é totalmente pela graça, pois o pecador está morto (Ef 2.5,6). Assim como não pudemos ajudar em nada em nosso primeiro nascimento, nada poderemos fazer também para nascer de novo (cf. GILBERTO, 2008, p. 333-378). Portanto, a ação por parte do Espírito para convencer o pecador não é uma coerção, e sim como uma persuasão (Jo 16.8-12). Deus oferece a salvação; ela não é imposta, e sim proposta (Mt 13.37). Atonement for all Isto é, “expiação para todos”, ponto que responde à terceira letra da TULIP:
limited atonement ou “expiação limitada”. Expiação para todos não significa salvação geral, universal; denota expiação total do pecado adâmico. Por isso, os pentecostais acreditam na salvação das crianças que morrem antes de alcançar a idade do despertamento da consciência, uma vez que Deus alcança-as por meio de sua graça preveniente. A expiação é geral — ilimitada, por assim dizer — porque se refere ao pecado (Jo 1.29; cf. Lv 4; 16; 23), já que se entende por expiação o ato de tirar o pecado em potencial. Nesse caso, ela é diferente de redenção, a qual é limitada porque se
refere ao pecador e à concretização de sua salvação, de modo eficaz, após arrependimento e fé. Para o pentecostalismo, a expiação precede a redenção, visto que, sem expiação pelo sangue, não há perdão do pecado (Lv 4.35). Jesus expiou (tirou) o pecado do mundo, para que todos os que crerem sejam redimidos, pois “todos pecaram” (Rm 3.23). Deus ama a todos os pecadores (Rm 11.32) e deseja que cada um seja salvo (Jo 3.16; 1 Tm 2.4), mas a salvação só se realiza, eficaz e efetivamente, quando um pecador crê no Redentor (Jo 5.24; Rm 5.19; Hb 5.8,9). Se a redenção — e não a expiação — fosse ilimitada em sua extensão, o universalismo seria bíblico, pois o Senhor Jesus provou a morte por todos os homens (Jo 1.9; Tt 2.11; 1 Jo 2.1,2). Em alguns casos, o vocábulo “todos” pode não designar toda a humanidade, mas, quando empregado no contexto da doutrina da expiação, sempre alude à totalidade do mundo (Hb 2.9; Rm 11.32; 1 Tm 2.4-6). Conditional election Ou: “eleição condicional”. Este ponto responde à segunda letra da TULIP: unconditional election ou “eleição incondicional”. Alguns arminianos interpretam a eleição exclusivamente segundo a presciência de Deus, quem elegeu de antemão os que responderiam livremente à graciosa oferta de salvação. Nesse
caso, é o edecreto de Deus para salvar por intermédio de Cristo todos aospredestinação que virem a crer se arrepender. Outros arminianos, embora não neguem a presciência de Deus, veem a eleição para a salvação como corporativa, condicionada ao plano salvífico para com a Igreja. Creem que o Senhor não elegeu indivíduos para a salvação antes da fundação do mundo, e sim o seu Corpo, a Universal Assembleia dos Santos (E 1.1-4; 1 Pe 2.9,10). Total depravity
Essa frase significa: “depravação total”. Equivale, aparentemente, à primeira letra da TULIP. Mas, para eruditos como Norman Geisler e Antonio Gilberto, essa depravação total é mais extensiva e corruptora que intensiva e destruidora (cf. GILBERTO, 2008). Ela é a corrupção, e não a destruição, do bem, já que o ser humano nasce com a propensão, e não com a necessidade, de pecar. Os efeitos deletérios do pecado não resultaram em destruição total da vontade humana. Se a Queda tivesse destruído a capacidade do ser humano de distinguir o bem do mal, então teria destruído a sua própria capacidade de pecar (cf. GEISLER, p. 64-83). Ou seja, não obstante, os efeitos deletérios do pecado, o ser humano ainda pode receber ou rejeitar livremente a salvação (cf. Dt 30.19; Lc 9.23; Ap 22.17). Security in Christ
Isto é, “segurança em Cristo”, em resposta à quinta letra da TULIP: erseverance of the saints ou “perseverança dos santos”. Armínio e seus discípulos (os remonstrantes), a bem da verdade, não se posicionaram em relação a essa questão (cf. OLSON, 2013; e ARMÍNIO, 2015). Os pentecostais, de modo geral, discordam do bordão calvinista: “Uma vez salvo, sempre salvo, haja o que houver”, pois acreditam na possibilidade de perda de salvação — não por qualquer motivo, é claro. Cremos que só existe segurança da salvação em Cristo, pois não podemos ignorar as contundentes advertências bíblicas sobre a possibilidade de cair da graça (cf. Ap 3.8; 2 Pe 2.1-20; Hb 3.1214; 6.4-6; 10.19-39, etc.). Vigiemos!
Capítulo 5
DOIS BATISTAS E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
Mateus 3.11
O apóstolo Paulo chamou o Senhor Jesus de último ou segundo Adão, quando
o contrastou com o primeiro, a fim de ensinar-nos importantes lições (cf. 1 Co 15.45-47). À luz dessa analogia, tratarei de dois Batistas neste capítulo. O primeiro foi o protagonista do batismo em água. E, por ser ele o pioneiro dessa modalidade nas páginas do Novo Testamento, ganhou um verbete alusivo à sua missão: “batismo de João” (Lc 7.29; Mt 21.25; At 1.22,23; 10.36,37; 19.3). Quis Deus que João, o primeiro Batista, apresentasse ao mundo o segundo Batista (gr. baptistes, “batizador”), Jesus Cristo, o protagonista do batismo em fogo: “ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11). Segundo as Escrituras, em todo batismo, “há três condições para que esse ato se realize: um candidato; um batizador do candidato; e um elemento ou meio em que o candidato vai ser imerso. No batismo de que estamos tratando — o batismo com o Espírito Santo —, o candidato é o crente; o batizador é o Senhor Jesus; e o elemento ou meio em que o candidato é imerso é o Espírito Santo” (GILBERTO, 2008, p. 191).
Sim, o Senhor Jesus também é Batista!
O Segredo do Pregador João Batista
Não existe lugar vazio no universo; a natureza não tolera o vácuo. Da mesma forma, não há espaços vazios na alma do salvo em Cristo. Jesus ensinou que a alma que se esvazia das coisas mundanas, mas não se enche do que é bom, logo se tornará espaço do mal (Mt 12.43-45). “Deus nos esvazia do pecado a fim de encher-nos com Ele mesmo. É seu plano que sejamos cheios do Espírito. Sua presença, tomando conta da alma toda, não deixará lugar ao diabo. Ser cheio do Espírito Santo significa mais que a experiência única de ser nEle batizado: é a vida vivida continuamente sob o controle de Deus” (PEARLMAN, 1995, p. 14).
Lembra-se de que, na introdução deste livro, eu disse que João Batista e todos os personagens abordados nesta série tinham um segredo? Chegou o momento de revelá-lo! O Novo Testamento menciona textualmente apenas sete pregadores cheios do Espírito. Em ordem cronológica, João, o primeiro Batista (Lc 1.15); esus Cristo, o segundo Batista (4.1); Pedro, o primeiro pregador pentecostal (At 4.8); Estêvão, o primeiro mártir do cristianismo (6.3,5; 7.55); Filipe, o diáconoevangelista (6.5); Barnabé, o encorajador (11.24); e Paulo, o imitador de Cristo (13.9). Eis o segredo: todos eram cheios do Espírito Santo! João Batista é o único pregador do Novo Testamento descrito como cheio do Espírito Santo antes de nascer. Jesus, o segundo Batista, obviamente, sempre foi cheio do Espírito, mas a Palavra de Deus só lhe atribui essa qualidade quando menciona sua caminhada para o deserto, sob a direção do Paracleto, a fim de ser tentado pelo Diabo Os outros cinco (4.1). pregadores — Pedro, Estêvão, Filipe, Barnabé e Paulo — também são descritos como cheios do Espírito na fase adulta (At 4.8; 6.3-5; 11.24; 13.9). O único mencionado como “cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe” (Lc 1.15) é o precursor de Cristo. Aliás, no Novo Testamento, a família do primeiro Batista é a única que, no texto sagrado, é descrita como cheia do Espírito Santo. Ao receber a visita de Maria, sua parente (gr. suggenis, não necessariamente prima), que queria dar-lhe a notícia de que estava grávida, Isabel foi visitada pelo
Espírito Santo. Quando a mãe de Jesus — o qual, naquele momento, era um embrião de quatro semanas, na fase da embriogênese, medindo apenas um milímetro (cf. LISBOA, 2012) — saudou a mãe de João, este, que era um feto de vinte e quatro semanas (Lc 1.36), “saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo” (v. 41).
Atenção, Abortistas! brindo um parêntese, temos, aqui, uma prova de que, para Deus, a vida intrauterina é tão valiosa quanto a de quem já nasceu (cf. Jó 31.13-15; Jr 1.5). O Senhor conheceu a Davi quando este ainda era um plasma, uma substância sem forma, um emaranhado de células (Sl 139.13-16). Voltando ao encontro entre as mães do primeiro e do segundo Batistas, observe como Isabel referiu-se ao embrião que estava no ventre de sua parente (prima?), Maria: “de onde me provém isso a mim, que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?” (Lc 1.43). Ora, hoje, há juristas pró-aborto e parlamentares abortistas querendo que a vida intrauterina seja interrompida até três meses depois da fecundação, o que é assassinato, já que a vida humana é contínua a partir da concepção. Entretanto, a mãe de João Batista chamou um embrião de um milímetro (de quatro semanas) de “meu Senhor”! O primeiro Batista era cheio do Espírito Santo ainda no ventre de sua mãe. E esta também já o era antes mesmo de dar à luz. Um membro da família ainda não havia recebido essa dádiva de seraliás, inteiramente controlado, dominado, pelo Espírito Santo: maravilhosa, o pai de João.a Este, até o nascimento do menino, estava mudo por causa de sua incredulidade. No entanto, quando Isabel deu à luz e chegou o momento de dar nome à criança, a língua de Zacarias “se lhe soltou; e falava, louvando a Deus. [...] E Zacarias, seu pai, foi cheio do Espírito Santo e profetizou, dizendo: Bendito o Senhor, Deus de Israel” (Lc 1.64-68). Agora, a família toda estava sob o domínio do Paracleto!
O que É Ser Cheio do Espírito Santo? Lucas é o único autor neotestamentário que emprega o termo “cheio do Espírito Santo”. Ele menciona como cheias do Espírito, em ordem cronológica, as seguintes pessoas: João Batista (Lc 1.15); Isabel (v. 41); Zacarias (v. 67); Jesus Cristo (4.1); os quase 120 crentes no dia de Pentecostes (At 2.4); Pedro (4.8); todos os crentes presentes numa reunião de oração em Jerusalém (v. 31); os sete primeiros diáconos, destacando-se Estêvão e Filipe (6.3-5; 7.55); Barnabé (11.24); Paulo (9.17; 13.9); e os discípulos de Antioquia da Pisídia (v. 52). Como se vê, o Batista não foi apenas o primeiro a pregar o arrependimento e a batizar em água. Ele também foi o primeiro crente do Novo Testamento a ser cheio do Espírito Santo antes mesmo de seus pais. Contudo, desde os tempos do ntigo Testamento, vemos crentes dominados pelo Espírito de Deus. José, filho de Jacó, talvez seja o primeiro grande exemplo nesse sentido. Ao escolhê-lo para governar o Egito, Faraó afirmou: “Acharíamos um varão como este, em que haja o Espírito de Deus?” (Gn 41.38). Moisés — talvez, o exemplo mais emblemático — era tão cheio do Espírito, que o Senhor tirou parte do poder que atuava nele e repartiu com outros 70 homens (Nm 11.16). Outro caso sui generis é o de Bezalel, que foi cheio do Espírito para atuar na edificação do Tabernáculo, a fim de “inventar invenções, e trabalhar em ouro, e em prata, e em cobre, e em lavramento de pedras para engastar, e em artifício de madeira, para trabalhar em todo lavor” (Êx 31.1-5). Josué tornou-se sucessor de Moisés justamente por ser cheio do Espírito (Nm 27.18; Dt 34.9). Quanto a Sansão, qual era a fonte da sua força? E seu segredo? Os longos cabelos? Não! O Espírito Santo apossava-se dele “possantemente” (Jz 14.6,19; 15.14). Antes do primeiro rei de Israel, Saul, desviar-se do Caminho do Senhor, o Espírito apoderou-se dele de tal modo, que até profetizou (1 Sm 10.6). E, acerca de seu sucessor, o grande rei Davi, está escrito: “Então, Samuel tomou o vaso do azeite e ungiu-o no meio dos seus irmãos; e, desde aquele dia em diante, o Espírito do Senhor se apoderou de Davi” (16.13).
Finalmente, os profetas eram cheios do Espírito Santo, apesar de não haver, em relação a eles, uma expressão similar às mencionadas em Lucas e Atos, no Novo Testamento. Talvez, a única exceção seja esta afirmação do profeta Miqueias: “eu sou cheio da força do Espírito do Senhor e cheio de juízo e de ânimo, para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado” (3.8). O que significa ser cheio do Espírito Santo? Em Efésios 5.18, Paulo estabelece um contraste: “não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito”, por meio do qual “mostra de que modo o cristão deve ficar embriagado — não com vinho, mas com o Espírito Santo. Ser cheio com o Espírito Santo é o oposto de ser cheio com vinho, que conduz a excessos. [...] O fruto de ser cheio com o Espírito Santo é a preservação da salvação e das obras da luz. Não ser cheio com o Espírito Santo é o modo pelo qual a salvação e as obras da luz são perdidas” (SARCERIUS, p. 397).
Quando interpretamos Efésios 5.18 à luz do que aconteceu no dia de Pentecostes (At 2), chegamos à conclusão de que o crente, mesmo depois de revestido de poder, deve continuar sob o controle do Espírito Santo. “Não é mera coincidência que em Atos 2 também o encher-se de vinho e o encher-se do Espírito estejam lado a lado. Lá está implícito, e repete-se aqui, que o cristão conhece um caminho melhor do que o vinho para sair da depressão e da monotonia insípida da vida, um meio mais eficiente de remover as preocupações pessoais e estimular a mente, a palavra e a ação, do que pelo uso de bebidas alcoólicas. Para isso, enchei-vos do Espírito” (FOULKES, 125).
Ser cheio do Espírito, portanto, é muito mais que ser revestido de poder ou ter dons. Implica ter a vida inteiramente dominada pelo Paracleto. Assim como uma pessoa embriagada fica sob a influência da bebida alcoólica, quem experimenta a plenitude do Espírito fica sob seu total controle. Os dois verbos empregados por Paulo “indicam as seguintes mensagens: ‘nunca façam assim’, referindo-se à tolerância para com a embriaguez, e ‘sempre façam assim’ em relação a encher-se do Espírito” (ADAMS; STAMPS, p.
1.255). Não se trata de uma opção; esse apóstolo disse: “enchei-vos”, e não “quem quiser, encha-se”. Trata-se de uma ordem. E, nesse caso, não peca apenas quem se embriaga de vinho e o que gera contenda. Peca também quem não se enche do Espírito Santo.
Jesus Cristo Batiza com Fogo?
Os quatro Evangelhos mencionam a abordagem de João sobre o batismo com o Espírito Santo (cf. Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33), mas somente Mateus e Lucas acrescentam o complemento “com fogo”, o que tem levado alguns teólogos a afirmarem que ele aludiu a um terceiro tipo de batismo. O Batista teria, então, falado de três batismos: (1) em/com água; (2) no/com o Espírito Santo; e (3) em/com fogo. Quem defende o desmembramento do batismo com o Espírito Santo e com fogo em dois afirma que o batismo com fogo é escatológico. Trata-se do “castigo terrível pelo qual os pecadores serão julgados no último dia” (PFEIFFER, p. 272), já que Jesus Cristo em “sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará” (Mt 3.12). De fato, João, ao mesmo tempo em que pregou sobre a promessa do derramamento do poder dinâmico do Espírito sobre os servos do Senhor também falou do fogo do juízo. Não obstante, como demonstraremos, os teólogos pentecostais, modo geral, razões parao interpretarem batismo com o Espíritodee com fogo comotêm umaboas única bênção: revestimento deo poder para o salvo em Cristo (Lc 24.49; At 1.5,8; 2.1-4). Quando estamos diante de um texto cuja significação não é clara em si mesma, precisamos recorrer à análise contextual, que, em Hermenêutica, abarca sete tipos de contexto: geral, imediato, remoto, referencial, histórico, literário e cultural. No caso do termo constante de Mateus 3.11 e Lucas 3.16, o contexto imediato não é suficiente para uma correta interpretação, visto que a doutrina do batismo com o Espírito Santo transcende a pregação de João Batista.
Antes de ser assunto ao céu, o Senhor Jesus fez menção de João Batista e da promessa veterotestamentária que ele reiterou — alusiva às profecias de derramamento do Espírito (cf. Is 44.3; Jl 2.28.29) — nos seguintes termos: “na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1.5). Observe que não há qualquer menção destacada ao “batismo com fogo”, o que fortalece a ideia de que “batismo com o Espírito Santo e com fogo” é apenas um termo mais extenso para uma mesma bênção. Quando estava pregando na casa de Cornélio, Pedro lembrou-se dessas mesmas palavras do Senhor sobre João Batista (At 11.16). E, aqui, o uso da conjunção “mas” reforça a ideia do antagonismo entre o batismo em água, do primeiro Batista, e o batismo com o Espírito, do segundo Batista. Nesse caso, como água contrasta com fogo, fica evidente que este é apenas uma ênfase simbólica para realçar os efeitos do revestimento do Espírito: iluminação, fervor, purificação, etc. Por que João Batista menciona o fogo do juízo logo depois do batismo com o Espírito Santo? Esse enviado de Deus exerceu um ministério profético nos moldes do Antigo Testamento, já que foi o último dos profetas antes da inauguração do Novo Pacto ou Dispensação da Graça (Lc 16.16; Jo 1.17). E, para os profetas veterotestamentários, era comum falar de bênçãos e juízos de modo intercalado. Veja o caso de Isaías, que discorre sobre várias bênçãos trazidas pelo Messias e, ao mesmo tempo, menciona “o dia da vingança do nosso Deus” (61.1-3). Em Zacarias 9, ocorre o mesmo: bênçãos e juízos aparecem de modo intercalado. Certos teólogos — inclusive alguns pentecostais — preferem dizer que há um duplo sentido na menção do precursor de Cristo ao batismo com fogo. Para eles, as “palavras de João Batista aplicam-se mais diretamente à separação entre o povo de Deus e os que têm rejeitado a Ele e ao Messias. Os que o rejeitaram serão condenados ao fogo do juízo.
Por outro lado, o fogo ardente e purificador do Espírito da Santidade também opera no crente (1 Ts 5.19)” (MCLEAN, p. 388-389).
A rigor, o fato de o Batista ter mencionado, antes e depois da promessa do revestimento de poder, o juízo por meio do fogo (Mt 3.10-12) não oferece base suficiente para desmembrarmos o batismo com o Espírito e com fogo. De acordo com a analogia geral da Bíblia — analogia da fé —, o fogo não significa apenas juízo, mas também: purificação, iluminação e fervor propiciados pelo Espírito. Isso ficou evidente no dia de Pentecostes, já que “foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles” (At 2.3). Não por acaso, Paulo asseverou: “Não extingais [ou apagueis] o Espírito” (1 Ts 5.19). Ele usou a figura do fogo para ilustrar a manifestação do Espírito, uma vez que o fogo alastra-se; comunica-se; purifica; ilumina; aquece, etc. Assim é a multifacetada manifestação do Paracleto. No batismo em apreço, por conseguinte, o fogo seria uma referência enfática ao elemento purificador na vida de quem recebe essa dádiva do Espírito Santo. final, o fogo “é símbolo do Espírito Santo. Deus manifestou-se a Moisés na sarça onde o fogo ardia e não se consumia (Êx 3.2). Quando Salomão consagrou o templo ao Senhor, desceu fogo do céu (2 Cr 7.1). No Carmelo, Elias orou, e o fogo desceu (1 Rs 18.38,39). Deus é fogo. Sua Palavra é fogo. Ele faz dos seus ministros labaredas de fogo. Jesus batiza com fogo, e o Espírito desceu em línguas como de fogo. O fogo ilumina, purifica, aquece e se alastra. Jesus veio para lançar fogo sobre a terra” (LOPES, 2015, p. 83).
Afinal, o que É o Batismo com o Espírito e com Fogo? Robert Morris, pedindo permissão para parafrasear as palavras de João em Mateus 3.11, também atrelou o fogo ao batismo com o Espírito Santo: “Vocês me têm visto imergir pessoas arrependidas em água, mas eu sou apenas um precursor daquele que é muito maior, Jesus, quem imergirá pessoas nascidas de novo no fogo do Espírito Santo” (MORRIS, p. 90).
Estamos, pois, diante de dois Batistas, que ministram dois tipos de batismos: o “batismo de João lava pela água; o batismo de Jesus purifica pelo fogo” (MOUNCE, p. 34). E este, como vimos, não diz respeito “ao julgamento final e à destruição por fogo dos ímpios, mas aos acontecimentos momentosos do Livro de Atos. A unção com o Espírito não é identificada explicitamente com o batismo com o Espírito e com fogo, mas Jesus confirma a promessa de João Batista acerca do batismo [...], o qual é cumprido como ‘línguas de fogo’ que pousaram sobre cada um dos discípulos” (ARRINGTON, p. 335).
Para alguns teólogos, é muito difícil aceitar a ideia de que o batismo com o Espírito Santo e com fogo é um revestimento de poder para os salvos em Cristo, isto é, uma “segunda bênção”. Isso porque a salvação também é descrita, figuradamente, como um batismo (cf. 1 Co 12.13; Gl 3.27; Ef 4.5; Hb 12.23). Num sentido, todos os salvos foram batizados pelo Espírito Santo — outro Batizador — no Corpo de Cristo (cf. 1 Co 12.13). Noutro, nem todos foram batizados com o Espírito Santo e com fogo, conquanto esse dom esteja à disposição de cada salvo em Cristo. Afinal, essa “promessa [...] diz respeito [...] a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar” (At 2.39). Todos os salvos foram verdadeiramente batizados pelo Espírito, imersos, feitos participantes do Corpo místico de Cristo, que é a sua Igreja. Nesse batismo da conversão, recebemos vida de Deus. Entretanto, o batismo com o Espírito e com fogo confere-nos poder de Deus (Lc 24.49; At 1.8); seu real objetivo “é capacitar os homens para que sejam testemunhas de Cristo e de sua salvação e façam isso com poder. O batismo com o Espírito Santo não é a mesma coisa que regeneração [...]; antes, é um batismo de poder, um batismo de fogo, um batismo que capacita o crente individual a ser testemunha” (LLOYD-JONES, p. 287).
Os discípulos que foram agraciados com o revestimento de poder no dia de Pentecostes já eram salvos!
Observe a promessa que o Senhor Jesus havia feito a eles: “Porque, na verdade, oão batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1.5). Quando o apóstolo Paulo passou por Éfeso, depois de Apolo, disse aos salvos que ali estavam: “Certamente João [Batista] batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas e profetizavam” (At 19.4-6).
O que São as Línguas como que de Fogo? No dia de Pentecostes, os seguidores do segundo Batista receberam a bênção em apreço pela primeira vez, tendo como evidência as línguas repartidas como que de fogo que pousaram sobre cada um deles (At 2.1-4). Elas não foram produzidas pelos próprios seguidores de Jesus, mas vieram de modo sobrenatural sobre eles: “E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles” (At 2.3). Línguas como evidência do batismo no Espírito É importante dizer que o termo “línguas estranhas” é usado no meio pentecostal para denotar que essas línguas são estranhas (desconhecidas) a quem as pronuncia, e não — necessariamente — a quem as ouvem. Vários dons do Espírito Santo são exercidos por meio desse dom. Deus usa as línguas estranhas como sinal externo do batismo com o Espírito Santo e com fogo, para demonstrar sua inteira posse e controle da nossa língua ao batizar os seus servos (cf. Tg 3.8). Há muitos abusos nessa área que são promovidos por movimentos pseudopentecostais. Contudo, o livro de Atos dos Apóstolos não deixa dúvidas quanto ao fato de as línguas estranhas serem a evidência inicial do revestimento de poder em análise. Em três passagens, pelo menos, é mencionada, textualmente, essa verdade: “começaram a falar em outras línguas” (2.4); “os
ouviam falar em línguas e magnificar a Deus” (10.46); “e falavam línguas e profetizavam” (19.6). Dom de variedade de línguas As línguas estranhas não são apenas um sinal do batismo com o Espírito. Elas
também são apresentadas no Novo Testamento como um dos dons pelo qual Deus fala com o seu povo (1 Co 12.10,30). O dom de variedade de línguas é usado pelo Espírito em conexão com o dom de interpretação das línguas (cf. vv. 10,28,30; 14.5,13,26-28). Há pessoas revestidas de poder que falam em línguas, mas não são portadoras de mensagens proféticas. E é aqui que reside muita confusão. Contudo, em Atos 2.16,17 e 19.6, vemos que as línguas ocorreram inicialmente como sinal do batismo e, logo depois, quase ao mesmo tempo, houve a manifestação do dom de variedade de línguas. No dia de Pentecostes, as línguas “como que de fogo” vieram do céu. Elas não foram produzidas por vontade humana. Hoje, infelizmente, há pregadores e cantores que mandam o povo “dar uma rajada de línguas estranhas”, o que é uma aberração. Ainda que o espírito do profeta esteja (ou deva estar) sujeito ao profeta, não falamos em línguas apenas porque queremos falar, e sim porque elas foram antes geradas sobrenaturalmente em nosso espírito. É o Espírito Santo quem acende o fogo em nossos corações! É preciso ter em mente, então, que as línguas são multiformes em sua manifestação. Línguas para edificação do crente As línguas dadas ao crente pelo Paracleto são, a princípio, o sinal do batismo com o Espírito. Mas também podem conter mensagens proféticas, que precisam — geralmente — de interpretação, a menos que sejam conhecidas do público, como ocorreu no dia de Pentecostes. E elas, ainda, edificam o crente (1 Co 14.4). Muita gente opõe-se às línguas estranhas, mas elas são o único dos dons —
entre as manifestações esporádicas do Espírito — do qual está escrito que edifica o seu portador. Os outros edificam a igreja. Paulo, em 1 Coríntios 14, asseverou que falava mais línguas (estranhas) que todos os coríntios (v. 18) e ensinou: “Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar e não proibais falar línguas” (v. 39). As línguas para edificação do crente são mencionadas na Bíblia como um meio de o crente falar diretamente a Deus na dimensão do Espírito Santo: “Porque o que fala língua estranha não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala de mistérios” (1 Co 14.2). Essa oração “no Espírito” é confirmada em outras passagens como, por exemplo, 1 Coríntios 14.14,15; Romanos 8.26; Efésios 6.18; e Judas v. 20. Embora haja manifestações pseudopentecostais no meio dito pentecostal, isso não é motivo para desprezarmos o que a Bíblia diz a respeito das línguas “como que de fogo” produzidas sobrenaturalmente pelo Espírito. Porém, tenho visto muitos zombarem delas. Esses ignoram que, por meio desse dom espiritual, o crente louva e adora a Deus melhor, inclusive cantando, dando-lhe graças (1 Co 14.15-17; Ef 5.19) e falando de suas grandezas (At 2.11; 10.46). O estudo sobre as línguas estranhas é vastíssimo, e o crente que se preza não o negligencia. Afinal, a Palavra de Deus afirma em 1 Coríntios 14.26: “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação”. E essa recomendação não é apenas para os crentes que se dizem pentecostais, mas para todo o povo de Deus! Creiamos, portanto, que o segundo Batista, que é mais poderoso que o primeiro, ainda batiza com o Espírito Santo e com fogo, pois essa promessa diz respeito a todos quantos o Senhor chamar (At 2.39).
Capítulo 6
POR QUE NÃO UM DOS DOZE APÓSTOLOS? Que fostes ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento? Sim, que fostes ver? Um homem ricamente vestido? Os que se trajam ricamente estão nas casas dos reis. Mas, então, que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e muito mais do que profeta.
Mateus 11.7-9 Batista é o primeiro servo de Deus cheio do Espírito Santo no Novo J oão Testamento; e com um destaque: “desde o ventre de sua mãe” (Lc 1.15). Ele também foi o primeiro pregador a falar do arrependimento e a mencionar o Reino dos céus (Mt 3.1,2), termo que Mateus empregou em lugar de Reino de Deus “por causa da relutância semítica em proferir o nome divino. O reino de Deus é a soberania de Deus sobre seu povo” (MOUNCE, p. 32). João foi, ainda, o primeiro a batizar em água nos tempos neotestamentários (vv. 5,6) e a profetizar sobre o batismo com o Espírito Santo (v. 11). Diante de tantos feitos e qualidades positivos, por que ele não fez parte do colégio apostólico?
Pregador da Verdade Caso João Batista vivesse hoje, ele não seria um pregador coach, animador de auditório ou comediante. Aliás, tem aumentado o número de pregadores que sabem cativar plateias com mensagens que divertem, que até geram alguma reflexão e motivam, mas que torcem o evangelho. Com grande habilidade para fazer imitações e contar anedotas, eles substituem a pregação expositiva, cristocêntrica, pelo modelo stand-up. As mensagens desses pregadores (pregadores?) são agradáveis — reconheço —,
centradas naquilo que o ser humano gosta; mas, estão eles prontos para serem presos ou até mesmo morrerem pela verdade, assim como o precursor de Cristo? Se forem confrontados, o que dirão? Eles pregarão o que as pessoas gostam de ouvir, ou o que precisam escutar? João Batista sempre foi fiel à mensagem que o Senhor deu a ele (Jo 3.31-36). Ele sabia que sua missão era pregar toda a verdade no poder do Espírito Santo: “aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, pois não lhe dá Deus o Espírito por medida” (v. 34). Embora essas palavras, evidentemente, refiram-se a outro enviado, o Senhor Jesus (cf. 4.34; 17.3), João também tinha consciência de que fora enviado pelo Senhor (cf. 1.6) e deveria falar somente a Palavra. O precursor de Cristo não desperdiçava seu precioso tempo com efemeridades. Suas pregações evocavam os Profetas, isto é, as Escrituras veterotestamentárias; não orbitavam em torno das preferências humanas ou de si mesmo, já que, para ele, o protagonista sempre foi Jesus Cristo. João, na verdade, ao pregar, antecipou o testemunho que seria dado, de modo mais eficaz, pelas próprias obras do Messias (Jo 5.31-37). Aqui, o Mestre, a despeito de demonstrar que o maior testemunho provém do Deus Pai, avalizou todas as palavras de seu precursor: “Vós mandastes a João, e ele deu testemunho da verdade. Eu, porém, não recebo testemunho de homem, [...] o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou de mim” (vv. 33-37).
É O Pecado precursorSer de Famoso? Cristo ficou muito famoso pregando no deserto da Judeia e batizando pessoas no rio Jordão. Multidões acorriam para ouvi-lo (Mt 3.5). O próprio Mestre dos mestres foi ao seu encontro! Como explicar tamanho sucesso? Não estamos falando de um pregador coach, capaz de cativar o público com suas histórias engraçadas, contadas em um grande auditório, com sistema de som de última geração, ar-condicionado e poltronas confortáveis, mas, sim, de um pregador simples, dono de um duro discurso e que pregava no deserto! Não é pecado ser famoso, pois Jesus Cristo também o era (Mt 4.24; 14.1). O
erro de muitos pregadores está em buscar a fama, cultivá-la e viver em função dela, como se isso fosse prioritário. A grande popularidade do pregador do deserto não tinha relação alguma com aspectos que “fazem a diferença”, como boa aparência, mensagem tipo coaching — que faz uma “coceira” gostosa nos ouvidos (cf. 2 Tm 4.1-5) —, abordagem politicamente correta, etc. Na verdade, sua fama decorria do fato de ele ser fiel à sua chamada e dizer toda a verdade a respeito de Jesus (Jo 10.41). Era isso que lhe conferia autoridade similar à que Elias teve diante dos profetas de Baal (cf. Ml 4.5,6; Mt 11.13,14). O povo respeitava-o tanto, que, mais tarde, Jesus Cristo calou os religiosos que o testavam, ao perguntar-lhes sobre a srcem do batismo de João (Mc 11.30). Naquela ocasião, eles não puderam negar que este procedera de Deus porque povo dizia: “João, verdadeiramente, era profeta” (v. 32).
O que Era o Batismo de João?
Segundo algumas fontes, o judaísmo já ordenava, naquela época, que prosélitos gentios batizassem a si mesmos, por imersão, como rito de iniciação. “Essa imersão (tebila em hebraico) consistia em mergulhar, inteiramente nu, nas águas de um rio ou de uma piscina ritual. Era um rito de purificação que restabelecia a presença de Deus naquele que se submetia a esse ritual, e apressava sua libertação. Esse rito era e continua a ser praticado pelos hebreus para sua purificação. [...] Quanto a João Batista, ele dá a esse rito de purificação o valor de um ato de adesão, não somente a Deus, mas também ao mestre que o pratica” (CHOURAQUI, p. 46)
Outras fontes mostram que “esse ritual foi novidade na religião judaica. A seita judaica de Qumram (lugar onde se encontraram os rolos do mar Morto) teria praticado imersões ritualísticas todos os dias, como símbolo (e efeito?) da purificação diária, da eliminação da imundícia religiosa” (HURTADO, p. 27).
Na verdade, diferentemente do que ocorria, como se supõe, no judaísmo,
“João exigia o batismo para judeus, como sinal de arrependimento dos pecados. Ou, então, se o batismo de prosélitos ainda não tivesse sido adotado no judaísmo (as evidências são motivo de disputas), João pode ter tomado por empréstimo a prática das autolavagens, um ritual costumeiro dos essênios, revestindo-a de nova significação. Qualquer que seja a teoria de sua srcem, o fato é que João criara uma inovação, administrando ele mesmo o rito batismal — donde provém a expressão ‘batismo de João’” (GUNDRY, p. 134).
O termo “batismo de João”, que aparece sete vezes no Novo Testamento, começou a ser usado assim que o Batista foi preso. Quando o Senhor Jesus disse que não havia profeta maior que João, “o povo que o ouviu e até os publicanos reconheceram a justiça de Deus, tendo sido batizados com o batismo de João” (Lc 7.29, ARA). Este também é mencionado no episódio relatado nos Evangelhos sinóticos em que Jesus, sabiamente, ao ter sua autoridade questionada, emudeceu os principais dos sacerdotes, escribas e anciãos com a seguinte pergunta: “O batismo de João donde era? Do céu ou dos homens?” (Mt 21.25; cf. Mc 11.30; Lc 20.4). Jesus Cristo — que iniciou seu ministério após o batismo de João (At 10.36,37) — valeu-se do fato de esse profeta, mesmo morto, exercer grande influência sobre o povo, deixando os religiosos sem resposta. Essa boa fama de oão, aliás, seria reconhecida pelos próprios apóstolos momentos antes do derramamento do Espírito, no dia de Pentecostes: “o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo de João até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima” (At 1.21,22). Isso mostra que a fidelidade de um pregador a Deus faz com que sua conduta e sua mensagem durem muito mais que a sua própria vida na terra. A expressão “batismo de João”, por conseguinte, não alude apenas ao batismo em si, mas à obra e à pregação do Batista como um todo, as quais jamais foram esquecidas nem ficaram circunscritas à Judeia. Aproximadamente 25 anos após a morte desse profeta, o apóstolo Paulo encontrou alguns dos seus discípulos em Éfeso, importante cidade da Ásia Menor. Instruídos pelo pregador Apolo, de lexandria (At 18.24), eles conheciam bem a obra e a pregação do precursor de
Cristo, a ponto de responderem a Paulo que foram batizados no batismo de João (19.3). Aqueles discípulos do Batista eram salvos em Cristo, já que haviam se arrependido de seus pecados e tornado isso público mediante o batismo de arrependimento (At 19.4); Paulo, porém, batizou-os em nome de Jesus e apresentou-lhes o revestimento de poder, o batismo com o Espírito Santo (vv. 5,6). Por que esse apóstolo batizou-os de novo? Porque, para ele, pelo que tudo indica, o batismo de João era somente preparatório, já que o Batista foi apenas o precursor de quem era muito maior e que batiza com o Espírito e com fogo. “Diante disso, foram batizados no nome (no serviço e na adoração) do Senhor Jesus. Depois, ‘as mãos de Paulo tendo sido impostas sobre eles, veio-lhes o Espírito Santo; e começaram a falar línguas e a profetizar’ [lit.]” (HORTON, 1993, p. 175).
Procuram-se Pregadores Humildes comunhão entre João Batista e Jesus Cristo começou quando ambos sequer haviam nascido. O primeiro era um feto de 24 semanas quando saltou no ventre de sua mãe, ao perceber a presença do Verbo encarnado, um embrião de quatro semanas, que media apenas um milímetro (cf. LISBOA, 2012). Eles tinham um vínculo familiar, já que a mãe de João, Isabel, era parente de Maria. Não é possível determinar exatamente esse grau de parentesco, pois o termo “parente” (gr. suggenis), em Lucas 1.36, aplica-se a primos, tios ou outro tipo de relação. Mas, possivelmente, os dois brincaram juntos em algumas ocasiões, no período da infância, e cresceram como qualquer criança ou adolescente (vv. 80; 2.52). Mais tarde, afastaram-se, visando à preparação para o importante trabalho que realizariam. Como precursor de Jesus Cristo, enviado adiante dEle, João Batista jamais se valeu disso para exaltar-se. Pelo contrário, sempre deu toda glória ao Senhor, mesmo depois de batizá-lo no rio Jordão. E, ainda antes de ser preso por Herodes, disse a seus discípulos que ninguém “pode receber coisa alguma, se lhe
não for dada do céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: eu não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele. Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já essa minha alegria está cumprida. É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.27-30). Os fariseus não compreendiam a relação amistosa entre os dois e pensavam que eles seriam rivais ou disputariam para ver quem batizaria mais (Jo 4.1), “ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos” (v. 2). João começou a perder seguidores, ao mesmo tempo em que crescia a multidão que acompanhava o Senhor. “Contudo, é isso que João quer, pois suas palavras de despedida são as de um discípulo que deseja tornar-se pequeno como uma criança, a fim de ganhar o reino (cf. Mateus 18:3-4; 23:12; João 3:5). Foram palavras proferidas com o intuito de serem repetidas, palavras que as pessoas devem proferir como fruto de suas próprias experiências” (MICHAELS, p. 76).
Lucas é o único dos Evangelhos que revela a motivação do precursor do Messias ao profetizar sobre o batismo com Espírito Santo e com fogo: “estando o povo em expectação e pensando todos de João, em seu coração, se, porventura, seria o Cristo, respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu [...]; este vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (3.15,16). Uma das razões por que foi Joãopara contrastou seu batismo águaque comeleo era do Senhor, no Espírito Santo, deixar claro diante deemtodos menor do que Jesus. Seu batismo não era definitivo; tratava-se apenas de uma maneira de levar as pessoas a outro batizador, muito mais poderoso do que ele. Como se vê, o Batista não tinha inveja nem ciúme do ministério de Jesus Cristo; ele não se importava de perder discípulos. Aliás, ele mesmo encorajava-os a segui-lo: “No dia seguinte João estava outra vez ali, na companhia de dois de seus discípulos. E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus. E os dois discípulos ouviram-no dizer isso e seguiram a Jesus” (Jo 1.35-37).
Hoje em dia, não é todo pregador que diz de outro: “Fulano é um homem de Deus, tem compromisso com a verdade, é bom escritor, ensina bem a sã doutrina”. Infelizmente, há muito egoísmo no meio evangélico, inclusive entre os ministros. É mais fácil um pregador falar mal de outro do que o recomendar. Muitos querem brilhar sozinhos, esquecendo-se de que Jesus disse a todos: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5.14). Vivemos numa época de competição entre pregadores. Muitos não suportam ver a luz do outro brilhar. E, deselegantemente, atacam colegas de púlpito diante da congregação, com indiretas e gracejos sem graça. Não me refiro à contestação de heresias e má conduta, e sim de ataques fúteis, por mera inveja de quem está crescendo. Imaginemos o que teria acontecido se João, em vez de alegrar-se com o crescimento ministerial de seu parente, ficasse ressentido com a redução do número de seus discípulos! O que teria acontecido se ele, num rompante de soberba, quisesse crescer mais que o Senhor? Ele, porém, estava convicto da sua chamada e tinha certeza de que era apenas uma luz — uma “candeia que ardia e iluminava” (Jo 5.35) —, e não a luz do mundo (8.12). Nos Evangelhos, vemos que João jamais se vangloriou de ser o Elias, o mensageiro que haveria de vir, mas glorificou a Cristo (Mt 3.11,12; Mc 1.7,8; Lc 3.15-17; Jo 3.22-30). Os quatro registram o momento em que o Batista, ao falar do Senhor Jesus, assevera que não era digno de levar as suas sandálias (Mt 3.11) ou desatar a correia delas (Mc 1.7; Lc 3.16; Jo 1.26,27). “Desatar as sandálias é o gesto pelo qual um escravo honra seu senhor, uma mulher seu marido, um anfitrião seu visitante. Implica prostrar-se de joelhos, mas Iohanân [João Batista] sabe que mesmo este gesto seria demasiadamente pouco para ele, diante da transcendente grandeza do Adôn Iéshoua’ [Jesus]” (CHOURAQUI, p. 47).
Por que João Batista não Foi um dos Apóstolos? Embora João Batista, digamos, tenha recebido o status de apóstolo, visto que era um enviado (gr. apostellō) de Deus (Jo 1.6), o primeiro apóstolo, nos tempos
neotestamentários, de fato, foi o Senhor Jesus: “Pelo que, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão” (Hb 3.1). Mas, se o Batista também foi um embaixador do Senhor, por que não se tornou um dos apóstolos? Por que ele, que reconheceu a proeminência do Senhor antes de todos (Lc 3.16; Jo 3.30), não faz parte do colégio apostólico? O Senhor Jesus foi “quem primeiro usou a palavra [apóstolo] no período do Novo Testamento, para com ela designar os doze discípulos que havia escolhido” (LOPES, 2014, p. 25). Ainda que João Batista tenha sido um enviado de Deus (Jo 1.6), não foi efetivamente um apóstolo (gr. apostolos) porque o ministério apostólico foi estabelecido por Jesus Cristo, o sumo apóstolo. Ele inaugurou esse ofício quando enviou seus 12 discípulos mais chegados, chamando-os de apóstolos (Mt 10; Mc 6.30). E, depois da sua morte expiatória, Ele outorgou o ministério apostólico à sua Igreja para edificação e aperfeiçoamento dos santos (Ef 4.8-11). Aliás, o título de apóstolo, no texto grego do Evangelho Segundo João — onde o Batista é chamado de enviado de Deus —, só aparece uma vez, quando o Senhor Jesus afirmou “que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado [gr. apostolos], maior do que aquele que o enviou” (13.16). Há que se distinguir, por conseguinte, um enviado de Deus (gr. apostellō) do enviado que recebeu o ministério de apóstolo (gr. apostolos). E essa distinção fica muito mais clara à luz de Lucas 6.13, passagem que comprova o fato de o ministério apostólico ter sido estabelecido por Jesus: “chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos”. Embora João Batista tenha sido um embaixador de Deus e o precursor de Cristo, não foi um dos apóstolos do Senhor, tampouco um ministro nos moldes do Novo Testamento, em razão de não ter sido chamado para isso. Não obstante, o Deus soberano enviou-o para exercer um ministério singular, visto que, após um longo período de silêncio profético, o intertestamentário (cerca de
400 anos), o levantou para pôr termo ao Antigo Concerto. Ele precedeu o “que batiza com o Espírito Santo” (Jo 1.33), Jesus Cristo, quem inaugurou a Nova liança (a Dispensação da Graça), já que “a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (v. 17). João Batista, portanto, embora apareça nos tempos neotestamentários, é o último dos profetas do Antigo Testamento: “todos os profetas e a lei profetizaram até João” (Mt 11.13). Ele foi chamado por Deus para exercer uma missão específica (preparar o caminho do Senhor), e não para ser um dos 12 apóstolos, eleitos soberanamente por Jesus, quem “chamou para si os que ele quis” (Mc 3.13). Contudo, João teve um ministério tão importante quanto o deles, a ponto de o Senhor Jesus ter dito: “Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista” (Mt 11.11).
Existem Apóstolos nos Dias de Hoje? Na atualidade, muitos pregadores e líderes de igrejas têm feito questão de ostentar títulos cada vez mais pomposos, que, na maioria das vezes, não correspondem ao chamado que — pretensamente — receberam do Senhor. É o caso do banalizado título de apóstolo, que muitos utilizam para demonstrar que estão no topo de uma pirâmide hierárquica. Eles fazem parte das chamadas redes apostólicas, encabeçadas por um “bispo primaz” ou “patriarca”. Por outro lado, tenhamos cuidadoque com as posições identificadas comà oIgreja cessacionismo, pelo qual se tem afirmado dons e ministérios outorgados ficaram restritos ao primeiro século. Não confundamos, entretanto, nossos irmãos cessacionistas com os antipentecostais. Os primeiros ignoram certas verdades bíblicas muito caras aos pentecostais, privando-se dos benefícios da promessa do dom do Espírito, os quais foram outorgados aos crentes da Igreja primitiva, mas também a “todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2.39, ARA). De forma total ou parcial, os cessacionistas não creem na atualidade
dos dons e ministérios do Espírito Santo. Os antipentecostais, no entanto, além de abraçarem o cessacionismo, têm verdadeira aversão aos pentecostais, chegando ao ponto, em alguns casos, de afirmar que estes estão endemoninhados. Iracundos, irônicos e zombeteiros, eles gostam de desafiar os pentecostais para debates, visto que estes, segundo os antipentecostais, são ignorantes e incapazes de refutar sua argumentação. É evidente que, hoje, o ministério apostólico está banalizado e muito distante do que Paulo ensinou em Efésios 4.11-13: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”. Entretanto, todos esses ministérios outorgados pelo próprio Senhor Jesus — inclusive o apostólico — hão de permanecer até que todos cheguemos à medida da estatura completa de Cristo. Sabemos, portanto, que o ministério apostólico, “uma obra de edificar igrejas, [...] continua no decurso da História da Igreja, e ainda é necessário nos dias de hoje. Falsos apóstolos surgem (Apocalipse 2.2), mas precisam ser testados pelos seus ensinos (Gálatas 1.8) e por sua vida. Os verdadeiros apóstolos edificavam a Igreja. Nenhum deles suscitou um grupo para lhe seguir” (HORTON, 1993, p. 289).
Nãoque há,faz pois, nenhuma razão para dizer que é apóstolo hoje. Não éo título a pessoa; é a pessoa quemalguém faz o título. Paulo até costumava afirmar que era apóstolo (1 Tm 2.7), mas não por vaidade pessoal. Ao iniciar a Epístola aos Romanos, ele fez questão de dizer primeiro que era servo de Jesus Cristo (1.1).
Nenhum Sinalzinho, João? Certo pregador fez um gracejo com o fato de o Batista não ter feito nenhum sinal: “João não fez milagre porque era batista. Se ele fosse assembleiano, teria
sido diferente”. Brincadeiras à parte, o que mais se destaca na vida desse pregador é a sua obediência a Deus e seu compromisso com a verdade, e não os sinais miraculosos. Não obstante, sabemos, ante tudo que temos visto, que a vida de João Batista, em si, foi um grande milagre! Em João 10.41, está escrito que “João não fez sinal algum, mas tudo quanto oão disse deste [Jesus] era verdade”. Esse versículo aponta para “função e status de João Batista, e nos estimula igualmente a seguir Jesus. João simplesmente apontou Jesus; agora todos devem segui-lo como verdadeiro Messias” (AKER, p. 561). O que é mais importante: fazer sinal ou dizer toda a verdade acerca de esus? Para muitos, sinais são prioritários, mas, para Deus, a primazia é da Palavra. Note como, na hierarquização dos dons feita pelo Senhor, operadores de milagres são mencionados “depois”: “A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1 Co 12.28, ARA). O fato de João Batista não ter feito sinais miraculosos estimula-nos a termos cautela, e não a sermos incrédulos (Gl 1.8; 2 Co 11.3,4). Isso porque os enganadores, ainda que façam milagres por permissão de Deus (Dt 13.1-4), não amam o Senhor (Jo 14.23). E, naquele grande Dia, saberão que Ele jamais aprovou suas obras (Mt 7.21-23). Não sejamos incrédulos, em razão de João não ter feito nenhum sinal. Sabemos que o Espírito Santo é dado a quem obedece a Deus (At 5.32) e mantido por quem tem compromisso com a Palavra de Deus (1 Co 14.37-40). Na pós-modernidade, prioriza-se a pregação malabarista e milagreira, e não a verdade sobre Jesus. Ignora-se que os sinais, prodígios e maravilhas são o efeito da pregação do evangelho (Mc 16.15-20). Quem opera maravilhas é o Senhor. os pregadores, cabe apenas e tão somente dizer toda a verdade sobre Jesus, assim como fez João Batista, um exemplo para todos nós.
João Batista foi humilde em todo o tempo e desempenhou sua missão dando toda glória ao Senhor, sem buscar seus próprios interesses. Ao final, o que Jesus disse a seu respeito? Que, entre os nascidos de mulher, nenhum profeta foi maior que ele (Mt 11.11). Diante do exposto, lembrando do gracejo do irmão que disse: “João não fez nenhum sinal porque era Batista, e não Assembleiano”, o meu desejo sincero é que, nesses últimos dias, surjam muitos “Joões” não somente Batistas, mas também Assembleianos, Presbiterianos, Metodistas, Congregacionais, etc. Enfim, procuram-se pregadores como esse enviado de Deus. Que o Senhor Jesus chame e levante pregadores de todas as denominações evangélicas, homens de oração, cheios do Espírito Santo, compromissados com a Palavra de Deus e com o Deus da Palavra, que digam toda a verdade acerca de esus, ainda que, por causa disso, possam vir a perder a cabeça.
Capítulo 7
ACABOU A CARREIRA, PERDEU A CABEÇA, GUARDOU A FÉ Mas João, quando completava a carreira, disse: Quem pensais vós que eu sou? Eu não sou o Cristo; mas eis que após mim vem aquele a quem não sou digno de desatar as sandálias dos pés.
Atos 13.25 á alguns anos, ouvi um famoso pregador dizendo que João Batista fracassou ao querer ser “demasiadamente justo”, pois faltou-lhe sabedoria, habilidade e “jogo de cintura” para contornar situações difíceis, o que resultou em uma morte horrível, antes do tempo determinado por Deus. Fiquei pensando em como esse enviado do Senhor, um homem de oração, cheio do Espírito Santo, que teve o privilégio de batizar Jesus Cristo no rio ordão, foi capaz de fazer tudo errado, a ponto de perder a cabeça. Sinceramente, essa não é a melhor maneira de um embaixador de Deus morrer, não é mesmo?
H
Sete Passos para Perder a Cabeça O precursor de Cristo — sou obrigado a concordar — cometeu graves e injustificáveis erros que culminaram em seu assassinato. Por essa razão, visado a orientar os pregadores da atualidade, a fim de que não terminem como João Batista, advirto-os quanto às sete atitudes equivocadas que João podia ter evitado. No entanto, caso você queira correr o risco de sofrer como ele, siga rigorosamente os passos abaixo. 1. Obedeça fielmente ao chamado de Deus
Já vou logo dizendo que esse negócio de ser fiel ao chamamento do Senhor não tem futuro. Invista mais em sua carreira. Não entendo por que João, cujo pai era sacerdote, preferiu ser um simples precursor de outro pregador, tornando-se apenas um coadjuvante! Você já leu O Príncipe? Esse livro é fundamental para fazê-lo aprender “uma regra geral que jamais ou raramente falha: aquele que promove o poder de um outro perde o seu” (MAQUIAVEL, p. 17). Entendeu? Que tal ser um pregador coach ou comediante? João Batista priorizou a chamada de Deus, promoveu o poder de Jesus Cristo e veja o que lhe aconteceu: acabou degolado. Espero que você não queira correr esse risco! Chamada é importante no começo do ministério, quando ninguém o conhece. Depois, convém que você cresça e apareça! 2. Pregue o arrependimento e seja politicamente incorreto Para que falar de arrependimento na atualidade? As pessoas não suportam mais ouvir pregações pelas quais se diga o que elas devem ou não fazer. rrepender-se de quê? Arrepender-se para quê? Deus é amor e não está preocupado com o que fazemos ou deixamos de fazer. Quem ama não tem preconceito. Por isso, caro pregador, nada de discriminar as pessoas. Aceite-as. Que tal pregar mensagens inclusivas? Use uma linguagem agradável, acessível, simpática, politicamente correta, que faça as pessoas gostarem de você. Não seja
indelicado comelequem “abençoar” seu ministério! Veja só como os João Batistae equivocou-se: teve pode a grande oportunidade da sua vida, quando fariseus saduceus foram ouvi-lo, mas ele não soube aproveitar esse privilégio. Não vá fazer como João, hein! 3. Preocupe-se menos com a aparência e consagre-se a Deus Você conhece pregador mais simplório que João Batista? O camarada podia usar uma túnica mais fashion, porém preferia aquela roupa estranha, feita de pelos de camelo. E o que ele comia, então? Com tantas boas opções
gastronômicas na Judeia, ele comia mel silvestre e gafanhotos. Ah, faça-me o favor! Definitivamente, o Batista não soube investir em sua carreira. Ele podia ter orado menos naquele inóspito deserto e procurado fazer amizade com os influentes escribas e fariseus em Jerusalém. Não siga o exemplo desse pregador fracassado, meu amigo! Ou você quer correr o risco de ser perseguido e perder a cabeça? 4. Não abra mão da mensagem cristocêntrica Sabemos que Jesus é o Salvador. Nenhum cristão deve duvidar disso. Mas estamos na pós-modernidade! É necessário relativizar algumas coisas, caso queiramos ser bem-sucedidos. Se você quiser sofrer o mesmo que o Batista, basta ser rígido, inflexível. Diga toda a verdade sobre Jesus Cristo, e as pessoas vão
abandonar você, pois, afinal de contas, há várias religiões no mundo, e todas acreditam que pregam a verdade. O cristão pós-moderno, definitivamente, não pode ser como João Batista. Para ele, Jesus é o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Você ainda acredita nisso? Sinceramente, não vejo problemas em manter a sua convicção, mas guarde-a para si. Não construa muros. Construa pontes. Como pretende conquistar a amizade de um muçulmano dizendo a ele que Jesus é a única porta para a salvação? 5. Seja cheio do Espírito Santo e creia no Pentecostes Às vezes, penso que o maior problema de João Batista foi o fato de ele ser cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe. Isso pode ter feito com que ele ficasse cada vez mais distante de uma visão mais humanista... Mas João teve a oportunidade de rever seus conceitos. Ninguém é obrigado a aceitar sua condição srcinal. Para o Batista, manter-se cheio do Espírito não o ajudou em nada. E ele, ainda por cima, para agravar mais sua situação, resolveu pregar sobre o batismo com o
Espírito Santo e com fogo! Ele não podia ter evitado mais esse assunto polêmico? Esse Batista... 6. Não queira aparecer, mas dê toda glória a Jesus Humildade em excesso não é bem-vinda, prezado leitor. Se você quer ser um
pregador famoso, o qual diz, nas redes sociais, que sua agenda está aberta, e seu telefone não para de tocar, tenha mais presença de palco e fale menos de Jesus. final, Ele não precisa crescer mais, pois já é grande. Quem precisa crescer é você! Ninguém valoriza pessoas humildes. Não tenha receio de ser imodesto. Fale mais dos seus feitos. Onde você estudou? Fale de sua carreira acadêmica: sua graduação; sua pós-graduação; seu mestrado; seu doutorado; seu pós-doutorado. Conte belas histórias. Fale de suas viagens. E, às vezes, para não ser mal interpretado, diga alguma coisa sobre Jesus. 7. Priorize a Palavra de Deus, e não os sinais Uma coisa que não entendo, quando investigo a biografia de João Batista, é o fato de ele ter se dedicado tanto à sua chamada, orando, humilhando-se, pregando a verdade, mas não ter feito nenhum sinal! Francamente, que decepção! Pregador bom é o que faz milagres, principalmente aqueles mais exóticos, como “emagrecimentos instantâneos” e “dente de ouro”, é ou não é? Gosto muito de pregadores que têm uma unção especial para derrubar pessoas e fazê-las rir sem parar! Eles não precisam perder tempo estudando a Bíblia, pois a unção resolve todos os problemas. João Batista definitivamente não é um bom exemplo em nada. Não entendo como possa haver pessoas que o admirem... Bem, agora desligue o modo irônico, pressionando a tecla [turn off irony], e vamos continuar aprendendo com a vida e a obra do pregador politicamente incorreto, acerca de quem o Senhor Jesus disse: “Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista; mas aquele que é o menor no Reino dos céus é maior do que ele” (Mt 11.11).
Missão Cumprida O homem que veio preparar o caminho para o Messias completou sua missão principal ao batizá-lo no rio Jordão. A partir daí, como ele mesmo admitiu, convinha que diminuísse, e seu ministério começou a perder notoriedade, na mesma medida que se expandia o do Senhor, uma vez que “o nome de Jesus se tornara notório” (Mc 6.14). Chegou o momento em que a “voz do que clama no deserto” precisava dar lugar à voz do Noivo: “O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que está presente e o ouve muito se regozija por causa da voz do noivo. Pois esta alegria já se cumpriu em mim. Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.29,30, RA). Até o batismo de Jesus Cristo, João tinha total liberdade para exercer seu ministério. Ele pregava o evangelho e exortava seus discípulos sem nenhum impedimento, apesar de os emissários dos fariseus e de Herodes Antipas nunca o terem perdido de vista. Herodes, aliás, estava muito incomodado, pois vinha “sendo [...] repreendido por ele [João] por causa de Herodias, mulher de seu irmão” (Lc 3.19), cujo nome era Filipe. Esse Filipe, irmão do tetrarca, não deve ser confundido com o famoso filho de Herodes Magno com Cleópatra, o qual deu à cidade que construiu o nome de Cesareia de Filipe, a fim de distingui-la da Cesareia marítima, erigida por seu pai. Herodias abandonou a outro Filipe (não muito famoso), filho de Herodes Magno com Mariana. Se João fosse politicamente correto, teria apenas orado por Antipas e acobertado seu adultério, pois o próprio irmão deste, aparentemente, não se incomodara muito com o abandono de sua esposa. Mas o homem que trilhava o caminho da justiça (Mt 21.32) sabia que Herodes havia pecado contra a lei do levirato (cf. Lv 18.16; 20.21). E, por isso, dizia continuamente a ele: “Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão” (Mc 6.18). Um pregador
“menos consciencioso evitaria atacar a ilícita união daquele homem poderoso. João Batista, porém, não conciliaria meios-termos à sua vocação de profeta. [...] Não iria ele alterar a lei de Deus para agradar ao rei. A Herodes doía-lhe ser tocado naquele ponto sensível da consciência. Herodias, qual onça furiosa, valeu-se da sua vontade de ferro para persuadir o soberano a prender João” (PEARLMAN, 1996, p. 109-110).
Embora o Batista tenha sido preso por causa de uma repreensão moral e particular, está implícito que ele vinha também sofrendo perseguição políticoreligiosa. Josefo atribui a sua prisão “ao temor de Antipas de que o profeta incitasse o povo à revolta (Antiquities, 18.116-119). É certo que a denúncia do casamento de Antipas com Herodias teria sobretons políticos, visto que na antiguidade denunciar o casamento de um governador era o mesmo que denunciar o próprio governador” (HURTADO, p. 109).
O Sinédrio também incomodado com a sua dura pregação (Mta 3.7-10), a ponto de enviar umaestava comitiva de sacerdotes e levitas a Betânia, fim de interrogá-lo (cf. Jo 1.15-29,35,43). Por pressão de sua amante, Antipas decidiu tirar a vida de João, mas “temia o povo, porque o tinham como profeta” (Mt 14.5). Aqui, na frase “querendo matá-lo” (no grego), temos o particípio presente thelō (“queria”), o qual “indica que Herodes desejava continuamente livrar-se do Batista. Deve-se entendê-lo como particípio concessivo e traduzi-lo assim: ‘Embora desejasse mandar matá-lo, temia a reação do povo’” (MOUNCE, p. 152).
Assim, não podendo executá-lo de imediato, Herodes resolveu “encerrar João num cárcere” (Lc 3.20), o que não satisfez Herodias por completo. Flávio Josefo confirma o que a narrativa dos Evangelhos, especialmente a de Marcos, sugere: o precursor de Cristo foi aprisionado na fortaleza de Maqueronte ou Maquera, na Pereia (atual Jordânia), a mais de mil metros acima do mar Morto (cf. JOSEFO, p. 205). Ali, havia um castelo, que fora erguido em 90 a.C. por Alexandre Janeu, destruído pelos romanos em 57 a.C. e reconstruído
“como fortaleza por Herodes Magno em 25-13 a.C., sendo depois herdado por Herodes Antipas” (MCKENZIE, p. 576). Enquanto Herodes, apesar de ter mandado encarcerá-lo (Mt 14.3), “temia a oão, sabendo que era varão justo e santo; e guardava-o com segurança e fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boa vontade o ouvia” (Mc 6.20), sua mulher, Herodias, “o espiava e queria matá-lo, mas não podia” (v. 19). Esse tetrarca sabia que João dizia-lhe somente a verdade, mas, ao mesmo tempo, era controlado por sua mulher, que nutria grande ódio pelo precursor de Cristo. Nesse ponto, as semelhanças entre João e o profeta Elias “ajudam a explicar o modo por que a morte do Batista é narrada por Marcos. Herodes, que simultaneamente tem medo e ressentimento de João, fica parecido com Acabe, o rei de Israel, em sua atitude contra Elias; Herodias, que planeja a morte do Batista, faz lembrar Jezabel, esposa de Acabe, que odiava Elias de modo especial” (HURTADO, p. 106-107).
Por que João Duvidou da Messianidade de Jesus? Depois da prisão de João, o Senhor Jesus partiu para a Galileia (Mt 4.12-17; Mc 1.14,15; Lc 4.14,15). Não há consenso sobre o tempo em que o Batista permaneceu na fortaleza de Maqueronte; a maioria dos comentadores afirma que ele ficou ali por dez meses, até ser morto em 26 d.C., por ocasião do aniversário de Herodes Antipas. Durante sua prisão, seus discípulos traziam-lhe informações sobre os feitos de Cristo (Lc 7.18; Mt 11.2). E, depois de certo tempo, João — que vira o Espírito Santo descendo sobre Jesus no seu batismo (Mt 3.16) e havia afirmado, peremptoriamente, que Ele é “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29) —, estranhamente, passa a duvidar da messianidade de Jesus. Sua dúvida é compreensível, pois qualquer pessoa encarcerada pode ser afetada em sua autoestima e convicções. Sua situação era tão dramática, que “é retratado como definhando na prisão, torturado por dúvidas acerca de Jesus. Às margens do Jordão ele havia proclamado destemidamente a vinda de Alguém que batizaria com fogo, tendo na mão a pá com que haveria de separar a palha que será queimada com fogo
inextinguível (Mateus 3.11-12). Entretanto, o ministério messiânico não saíra à altura dessa pregação. E se ele não fosse o Messias? Não teria o Messias providenciado a libertação do precursor?” (MOUNCE, p. 111).
Por que João Batista, homem cheio do Espírito Santo desde o ventre materno (Lc 1.15), estaria em dúvida? Teria ele fraquejado espiritualmente? Para entender o que possivelmente estava acontecendo, precisamos levar em consideração o fato de ele ser o último profeta nos moldes do Antigo Testamento, alguém que não dispunha do conhecimento que temos hoje de todo o plano de Deus. “Sabemos — porque temos a Bíblia completa — que Ele voltará para arrebatar os salvos, nas nuvens (1 Ts 4.16,17); e que, sete anos depois, virá à Terra para instaurar o Milênio (Ap 19.11,15; 20.1-6). Os israelitas não conseguiam vislumbrar, então, todo esse desdobramento” (ZIBORDI, 2008, p. 488).
Observe que Isaías profetiza sobre as duas vindas do Senhor como se fossem uma só (61.1,2), pois Jesus, na sinagoga de Nazaré, leu essa profecia somente até o ponto que diz “ano aceitável do Senhor”, já que a outra parte alude à sua Segunda Vinda (cf. Lc 4.16-21). O mesmo ocorreu com Zacarias, que profetizou sobre a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, montado num jumento (9.9), e acrescentou: “destruirei os carros de Efraim e os cavalos de Jerusalém” (v. 10), não fazendo distinção entre a primeira vinda de Jesus, para morrer pelos nossos pecados e ressuscitar para a nossa justificação, e a segunda, para instaurar seu Reino Milenial (Hb 9.27,28; Ap 20.1-6). João Batista era um israelita e, como tal, esperava ansiosamente pela restauração do reino a Israel (cf. At 1.7). Ele, porém, não teve o privilégio de ouvir o sermão profético de Jesus, motivado por uma pergunta tripartida dos discípulos (Mt 24.3), a partir do qual Ele pormenorizou os eventos escatológicos (Lc 21.5-36; Mc 3.1-13; Mt 24.4-51). Diante disso, a dúvida de João possivelmente decorria do fato de ele acreditar que o Senhor, ainda em sua primeira vinda, além de salvar os pecadores, atuaria
como um libertador militar. Como o tempo ia passando e nada mudava, o Batista decidiu enviar dois discípulos a Jesus, a fim de perguntar-lhe se Ele era, de fato, o Cristo (Lc 7.19,20). O termo “outro” (gr. heteros, “dessemelhante”, e não allos), constante da pergunta dos discípulos de João, indica que ele realmente estava esperando um Messias que agisse de modo diferente: “És tu aquele que havia de vir ou esperamos outro?” (Mt 11.3). O Senhor, então, respondeu-lhes: “Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho. E bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em mim” (vv. 4-6). Lucas acrescenta que, antes de responder à mencionada pergunta, Jesus, “na mesma hora, curou muitos de enfermidades, e males, e espíritos maus; e deu vista a muitos cegos” (Lc 7.21). Isso mostra que João Batista, apesar de não ter feito sinal algum ao andar na terra (Jo 10.40,41), cria, com base nas profecias, que sinais, prodígios e maravilhas, além da pregação do evangelho aos pobres, autenticavam a messianidade de Jesus (cf. Is 29.18-21; 35.5,6; 61.1; Lc 4.18). Nesse caso, o Senhor considerou sabiamente mais necessário responder à delegação batista com evidências de que era o Cristo do que simplesmente afirmar: “Sim, eu sou aquele que havia de vir”. O testemunho de Jesus a respeito de João Batista evidencia que ele não havia perdido a sua fé. Ele estava apenas passando por um momento de dúvida, precisando de uma confirmação antes de completar sua carreira. E a resposta que o Senhor enviou-lhe certamente o tranquilizou e mostrou-lhe que tudo estava sob controle. Às vezes, apesar de termos a certeza de que Deus é soberano e de que tudo ocorre segundo a sua vontade, precisamos que Ele confirme o que nos prometeu, como fez a Abraão (cf. Gn 12-22). Entretanto, considerando que não somos supercrentes, passar por momentos de dúvidas e questionamentos sobre o que
está acontecendo em nossa vida é algo natural, especialmente quando enfrentamos privações e provações. Em sua autobiografia, Billy Graham menciona as dúvidas que experimentou em certo momento de sua caminhada e como Deus o fortaleceu. “Sofri uma série de enfermidades e cirurgias ao longo dos anos, e só relatei algumas nestas páginas. Geralmente surgiam quando eu estava prestes a iniciar uma cruzada ou outro projeto; nessas ocasiões, eu me perguntava se Satanás não estaria usando essas enfermidades para investir contra nosso trabalho de alguma maneira (e desconfio que isso era verdade). Ao mesmo tempo, porém, Deus as usou para me ensinar a ser paciente a me dar um tempo, que de outra forma não teria, para ler e meditar” (GRAHAM, 1998, p. 694).
O que Jesus Pensava de João ssim que a delegação enviada por João partiu, o Senhor perguntou ao povo, referindo-se a esse enviado de Deus: “[...] Que fostes ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento? Sim, que fostes ver? Um homem ricamente vestido? Os que se trajam ricamente estão nas casas dos reis. Mas, então, que fostes ver? Um profeta?” (Mt 11.7-9). Certamente, Ele queria, com todas essas perguntas, fazer com que as pessoas refletissem profundamente sobre a importância do ministério do Batista, o único profeta enviado para preparar o caminho para o Messias (Lc 7.27). Os comentários sobre o precursor de Cristo eram variados, e um, em específico, parece ter motivado o testemunho do Mestre: “veio João, não comendo, nem bebendo, e dizem: Tem demônio” (Mt 11.18). Jesus, então, para surpresa de muitos, afirma que o Batista é “muito mais do que profeta; porque é este de quem está escrito: Eis que diante da tua face envio o meu anjo, que preparará diante de ti o teu caminho. Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista; [...] todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir” (vv. 9-14). Há vários mensageiros no Antigo Testamento, mas João Batista, a despeito de
seu estranho estilo de vida e aparência exótica, veio como “o meu anjo, que preparará o caminho diante de mim” (Ml 3.1). Daí Jesus ter dito “que, entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João Batista” (Lc 7.28). O Mestre, que não respondera objetivamente à pergunta: “És tu aquele que havia de vir?”, usou a mesma construção frasal para afirmar que “é este o Elias que havia de vir” (Mt 11.14). Ele pôs um ponto final na crença propagada pelos escribas de que o profeta Elias retornaria ao mundo (cf. 17.10) em carne e osso, antes da vinda do Messias, ao interpretar que a profecia de Malaquias 4.5,6 refere-se a João Batista.
O Elias Profético já Veio? No primeiro século, muitos esperavam a vinda de Elias, mas não sabiam exatamente como isso ocorreria, a ponto de muitos pensarem que Jesus Cristo, por causa dos sinais, prodígios e maravilhas que realizava, fosse esse profeta. Se o “Elias que havia de vir” já veio, como disse o Senhor (Mt 11.14), como explicar a parte da profecia de Malaquias 4.5 alusiva ao “dia grande e terrível do Senhor”? Isso claramente diz respeito ao juízo futuro, por ocasião da Grande Tribulação, antes da Manifestação do Senhor, e não ao ministério de João Batista. Como vimos, muitas profecias messiânicas são também escatológicas e aludem às duas vindas do Senhor. Ou seja, uma parte delas já se cumpriu há mais de 2 mil anos, quando o Verbo se fez carne (Jo 1.14), enquanto a outra parte só se cumprirá por4.17-21; ocasião de relativo à Segunda Vinda (Hb 9.28; cf. Is 61.1,2 c/ Lc Zcalgum 9.9,10evento c/ Mt 21.1-11). Ao longo desta obra, também vimos que João acumula vários títulos: Batista, precursor de Cristo, voz do que clama no deserto, anjo ou mensageiro e enviado de Deus. E ainda podemos propor mais um à luz de Lucas 1.16,17: Elias rofético. Isso porque João Batista é referido por Gabriel como o Elias que viria por ocasião do primeiro advento do Senhor, a fim de “converter o coração dos pais aos filhos e os rebeldes, à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto” (v. 17).
Como esse anjo nada disse acerca do “dia grande e terrível do Senhor”, conclui-se que há de vir ainda outro “Elias” durante a Grande Tribulação, isto é, uma das duas testemunhas, que terão “poder para fechar o céu, para que não chova nos dias da sua profecia” (Ap 11.6). Se o primeiro Elias profético (João Batista) não fez sinal algum (cf. Jo 10.41), o próximo será diferente e terá outras semelhanças com o profeta veterotestamentário (cf. Tg 5.17). Por outro lado, a interpretação que Jesus fez de Malaquias 4.5,6 tem sido erroneamente usada pelos espíritas para afirmar que o Batista foi a reencarnação de Elias. Mas, supondo que o Senhor tivesse dito que João é mesmo o Elias reencarnado, estaríamos diante de uma grande contradição. Primeiro, porque esse profeta sequer morreu (2 Rs 2.11). Segundo, porque a profecia não diz que Elias viria em pessoa, e sim que “irá adiante dele no espírito e virtude de Elias” (Lc 1.17). Está claro que viver segundo a virtude (poder) e o espírito de uma pessoa “não significa ser a própria pessoa. Além do mais, o mesmo João Batista negou (João 1.21) que fosse, de fato, o profeta Elias. É certo que o mesmo ímpeto, a mesma coragem, o mesmo poder que impulsionou Elias no cumprimento do seu ministério, impulsionou também João Batista” (COSTA, p. 162).
Espíritas têm citado, ainda, o episódio da transfiguração, no qual Moisés e Elias conversam com o Senhor no monte Tabor (Mt 17.1-9). A essa altura, João Batista já havia morrido. Por que, então, é Elias quem aparece? Após esse episódio, o Senhor disse aos discípulos: “Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem” (vv. 11,12). Quando ouviram isso, “entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista” (Mt 17.13). Portanto, em momento algum, Jesus assevera que o profeta Elias voltou do céu, e sim que, em outras palavras, João é o primeiro Elias
profético, já que ainda virá outro no tempo da Segunda Vinda.
Perdeu a Cabeça, mas Ganhou o Céu Em 2015, o Estado Islâmico (EI) — que é uma organização terrorista cristofóbica e também “uma máfia adepta em explorar mercados obscuros transnacionais que existem há décadas para o tráfico de petróleo e armas” (WEISS; HASSAN, p. 14) — tentou chamar a atenção do Ocidente com mais um de seus cruéis atentados. Terroristas filmaram, enquanto decapitavam, 21 cristãos coptas egípcios na praia de Trípoli, na Líbia, e divulgaram um vídeo na Internet com o seguinte título: “Uma mensagem assinada com o sangue para o povo da cruz”. Ao decapitar os cristãos — que, antes de morrer, reafirmaram ousadamente a sua fé no Senhor Jesus Cristo —, os terroristas do EI objetivavam convencer a civilização ocidental de que Alá é maior que o Deus dos cristãos e dos judeus; que Muhammad (Maomé) é superior a Jesus Cristo; que o Alcorão é mais confiável que a Bíblia Sagrada, etc. Eles queriam, sobretudo, escarnecer do povo da cruz, a quem odeiam. E, por isso, gostam de exibir suas cabeças como troféus. Entretanto, não foram bemsucedidos, pois aqueles mártires tornaram-se grandes exemplos de fé em Cristo, e sua última imagem tem contribuído para o fortalecimento da fé de muitos ao redor do mundo. Os Evangelhos sinóticos, especialmente Marcos, Mc descrevem as circunstâncias da morte de João Batista (Mt 14.1-12; 6.14-29;emLcdetalhes 9.7-9). Da mesma forma que o EI odeia os cristãos, Herodias detestava João Batista e esperava ansiosa “uma ocasião favorável” (Mc 6.21) para arrancar-lhe a cabeça, a fim de exibi-la como um troféu. E esse grande dia chegou, quando, no dia do aniversário de Herodes, a filha de Herodias com o marido traído, Herodes Filipe — chamada de Salomé por Flávio Josefo —, dançou diante dos convidados de Herodes (Mt 14.6,7). Este, possivelmente embriagado, gostou tanto da dança, que concedeu à jovem
Salomé o direito de fazer-lhe um pedido especial: “Pede-me o que quiseres, e eu to darei” (Mc 6.22). Tudo indica que a “dança a que o texto se refere, num banquete de homens embriagados, teria sido um evento impressionante, sensual, e a excitação de Herodes (6.22) pode implicar desejo sexual pela enteada. Se assim foi, Herodias e Salomé nos são retratadas manipulando cinicamente a Herodes, por suas próprias fraquezas morais” (HURTADO, p. 110).
Salomé, uma pré-adolescente — já que, segundo algumas fontes, ela “devia ter quinze anos por volta do ano 30” (CHOURAQUI, p. 113) —, foi, então, convencida por sua mãe a pedir num prato a cabeça do precursor de Cristo (Mt 14.8). Antipas “afligiu-se, mas, por causa do juramento e dos que estavam à mesa com ele, ordenou que se lhe desse. E mandou degolar João no cárcere” (vv. 9,10). Finalmente, Herodias podia alegrar-se com a morte daquele que tanto golpeou sua consciência. E nosso pregador politicamente incorreto acabou executado devido a uma fútil promessa de Herodes Antipas durante uma festa orgíaca. E “sua cabeça foi trazida num prato e dada à jovem, e ela a levou a sua mãe. E chegaram os seus discípulos, e levaram o corpo, e o sepultaram, e foram anunciálo a Jesus” (Mt 14.11,12). Quanto a Herodes, ele nunca mais pôde dormir sem pensar em João. E, quando ouvia falar de Jesus Cristo, dizia aos que estavam por perto: “Este é João Batista; ressuscitou dos mortos, e, por isso, estas maravilhas operam nele” (v. 2). Se a última imagem é a que fica, a derradeira referência a João Batista nos Evangelhos não diz respeito à sua execução, mas trata do momento em que o Senhor Jesus, ao escapar das mãos dos judeus em Jerusalém, retira-se “outra vez para além do Jordão, para o lugar onde João tinha primeiramente batizado, e ali ficou. E muitos iam ter com ele e diziam: Na verdade, João não fez sinal algum, mas tudo quanto João disse deste era verdade. E muitos ali creram nele” (Jo
10.40-42). O Batista, sem dúvida, é um dos “homens dos quais o mundo não era digno” (Hb 11.38) e triunfou ao completar com louvor a sua carreira! Enquanto sua cabeça era exibida diante de escarnecedores embriagados com vinho em que há contenda, esse enviado de Deus, que fora cheio do Espírito Santo desde o ventre de sua mãe, era recebido na glória! Ao completar sua carreira, perdeu a cabeça, mas ganhou o céu! Sim, ele foi decapitado, e sua cabeça exibida em um prato, como se fosse um troféu. Mas, quando o Senhor voltar, João receberá a coroa da justiça. Parafraseando as últimas palavras de Paulo antes de sua morte (2 Tm 4.7,8), oão Batista acabou a carreira, perdeu a cabeça, mas guardou a fé.
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Valores Cristãos Baptista, Douglas 9788526315754 160 páginas
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O Sermão do Monte Carvalho, César Moisés 9788526314436 160 páginas
Compre agora e leia Estudar o Sermão do Monte é um desafio pois a familiaridade com o material e a aparente facilidade dos seus enunciados esconde o fato de que se trata de um texto de difícil interpretação e, ainda pior, aplicabilidade. Nesta obra, os capítulos foram organizados obedecendo a estrutura da revista Lições Bíblicas Jovens, porém desenvolvidos em forma de comentário bíblico valorizando, sobretudo, o aspecto teológico do mais popular e célebre dos sermões proferidos pelo Mestre. Um Produto CPAD. Compre agora e leia
O Caráter do Cristão de Lima, Elinaldo Renovato 9788526314429 160 páginas
Compre agora e leia O pastor Elinaldo Renovato prepara um estudo completo de personagens bíblicos que nos ajudarão a entender o verdadeiro caráter Cristão. Começando com Abel, passando por Isaque, Jacó, Rute e Maria, e terminando com nosso maior referencial, Jesus, este livro é um alerta à igreja com relação aos maus exemplos deste mundo e um chamamento a termos a Bíblia como maior parâmetro de caráter. Compre agora e leia
Falando Bem Swindoll, Charles R. 9788526315679 264 páginas
Compre agora e leia Saber comunicar-se bem é uma importante qualidade na vida de qualquer pessoa, mas para os que pregam a palavra de Deus, esta habilidade é um dos principais "instrumentos de trabalho". Em "Falando Bem" o autor Best-Seller e mestre em comunicação, Charles R. Swindoll, conta os muitos segredos práticos sobre como discursar e pregar de maneira eficaz. Repleto de técnicas, histórias pessoais e modelos que explicam claramente as fórmulas de uma fala bemsucedida, esta obra ensina os principais fundamentos de comunicação, tais como preparar um discurso, organizar pensamentos, filtrar o supérfluo, capturar a atenção do ouvinte e saber como e quando parar. Esta obra é o resultado de uma vida inteira de conhecimentos adaptados às necessidades de comunicação para os querem aperfeiçoar ou aprender a se comunicar com qualidade. Um produto CPAD. Compre agora e leia