Notas de leitura
Nota otas s de leitura
nário de Olinda, Olinda, de Gilberto Luiz
mentos do livro, seja em textos que tra-
Alves, dando conta, assim, das duas
tam das concepções pedagógicas, seja
FARIA FILHO, Luciano Mendes
tendências pedagógicas que predomi-
naqueles que se debruçam sobre as re-
VEIGA, Cynthia Greive. (orgs.).
naram no referido período: a pedagogia
formas do ensino.
500 anos de educação no Brasil. Brasil.
jesuítica, que perdurou de 1549 a
LOPES, Eliana Marta Teixeira,
a
Além dos graus que compõem a
2 ed. Belo Horizonte: Autêntica,
1759, e a orientação pombalina que
estrutura dos sistemas de ensino, o livro
2000. 606 p.
prevaleceu até praticamente o momen-
apresenta estudos que abordam tanto
to da independência. A escolha do se-
aspectos amplamente reconhecidos pela
minário de Olinda para tratar da fase
sua importância no conjunto do proces-
pombalina me parece acertada porque,
so educativo como temas cuja relevân-
ensejo das comemorações dos 500 anos
efetivamente, foi nessa instituição que
cia se manifestou mais recentemente no
do descobrimento do Brasil pelos portu-
se expressaram, de forma mais acaba-
contexto da renovação da historiografia
gueses, agora em 2a edição onde são
da, o significado e as potencialidades
educacional.
corrigidos os problemas ocorridos na
do iluminismo português à base do
editoração dos originais, apresenta um
qual foram formuladas as reformas
os textos de Marta Maria Chagas de
amplo painel da produção historiográfi-
pombalinas da instrução pública.
Carvalho, Reformas Carvalho, Reformas da instrução públi-
O livro em referência, lançado ao
ca sobre educação cobrindo um largo le-
Os níveis, por assim dizer, clássi-
Entre os primeiros se encontram
ca,, Clarice Nunes, (des)encantos da ca
que de temas e contemplando, de um
cos, da organização dos sistemas de en-
modernidade pedagógica pedagógica,, Marcus
modo ou de outro, os vários períodos
sino são contemplados explicitamente
Vinicius da Cunha, A Cunha, A escola contra a
atravessados pela educação na história
nos textos de Moysés Kuhlmann Júnior,
família,, Diana Gonçalves Vidal, Escola família Vidal, Escola
de nosso país.
Educando a infância brasileira, brasileira,
nova e processo educativo, educativo, Carlos
Luciano Mendes de Faria Filho, Instru-
Roberto Jamil Cury, A Cury, A educação como
tos. O primeiro, A civilização pela pa-
ção elementar no século XIX , Heloísa
desafio na ordem jurídica jurídica,, e Rogério
lavra,, de João Adolfo Hansen, tem, de lavra
de O.S. Villela, O mestre-escola e a
Fernandes, A Fernandes, A instrução pública nas
fato, caráter inaugural, pois traça o
professora profes sora,, Denice Bárbara Catani, Es-
Cortes Gerais Portuguesas Portuguesas,, tratando,
quadro em que a Igreja se associou à
tudos de história da profissão docente, docente,
este último, das posições assumidas so-
Monarquia para, através da palavra,
Jailson Alves dos Santos, A trajetória
bre educação pelos delegados brasilei-
implantar na nova terra a civilização
da educação profissional, profissional, e Luiz Antô-
ros presentes nas Cortes Gerais Portu-
dos que dela se apossavam. Nesse pro-
nio Cunha, Ensino Cunha, Ensino superior e universi-
guesas reunidas com o caráter de
cesso desempenharam papel central os
dade no Brasil, Brasil, os quais tratam, respec-
Congresso Constituinte em 1822.
jesuítas não sendo, pois, por acaso que
tivamente, da educação infantil, do
o sistema pedagógico expresso no ratio
ensino fundamental, da formação de
lhos de Arilda Ines Miranda Ribeiro,
studiorum tenha como elemento censtudiorum
professores e da profissão docente, da
Mulheres educadas na Colônia, Colônia, Eliana
tral a retórica. O período colonial é
educação profissional e do ensino supe-
Marta Teixeira Lopes, Conselhos de
ainda contemplado nos textos seguin-
rior. Embora o ensino secundário não
Bárbara Heliodora, Heliodora, Marly Gonçalves
tes, Educação jesuítica no Brasil colo-
conte com um texto específico, ele não
Bicalho Ritzkat, Preceptoras alemãs no
nial,, de José Maria de Paiva, e O seminial
deixa de estar presente em diversos mo-
Brasil,, Constância Lima Duarte, A fic Brasil
A obra é constituída por 24 tex-
Revista Brasileira de Educação
Entre os segundos estão os traba-
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Notas de leitura
ção didática de Nísia Floresta, Luiz
Redijo a presente nota de leitura
pelas duas grandes guerras mundiais e
Alberto Oliveira Gonçalves, Negros e
sob o duplo impacto de ter lido e “ter
pelas revoluções que, em nome da aspi-
educação no Brasil, Lúcio Kreutz, A
ouvido” o livro. Explico: é que o livro
ração ao progresso, marcaram a Europa
educação de imigrantes no Brasil,
em referência é uma coletânea de textos
no século XX: em reação à turbulência,
Cynthia Greive Veiga, Educação estéti-
apresentados durante o IV Seminário
buscaram as permanências, a longa du-
ca para o povo, Guacira Lopes Louro,
Nacional de Estudos e Pesquisas “His-
ração, a história quase imóvel das es-
O cinema como pedagogia, e José Gon-
tória, Sociedade e Educação no Brasil”,
truturas renitentes à mudança. O tercei-
çalves Gondra, Medicina, higiene e
realizado em Campinas, em dezembro
ro artigo dessa primeira parte é de José
educação escolar .
de 1997, ao qual assisti. Li o livro, ten-
Paulo Neto (UFRJ e PUC-SP), que
do antes participado do evento.
aponta para a atualidade do pensamento
O fato de que os temas emergentes constituam o conjunto mais numeroso
O livro consta de uma Apresenta-
de Marx na compreensão das leis fun-
não é o único indicador do caráter inova-
ção, pelos organizadores, uma Introdu-
damentais que regem a economia e a
dor da obra. Com efeito, também os te-
ção e três partes. Na Introdução,
sociedade capitalista.
mas de que tradicionalmente se ocupam
Dermeval Saviani (UNICAMP) lamenta
os estudos de história da educação são
que os historiadores, em geral, com
metodológicas da história da educação”,
tratados, no livro, com novo enfoque,
poucas exceções, não tenham “se ocu-
começa com um trabalho de Zeila de
seja questionando explicitamente as ver-
pado, com a desejável acuidade, das
Brito Fabri Demartini (UNICAMP e
sões anteriores, seja abrindo caminho
questões epistemológicas da história”
USP), que destaca as relações entre as
para a compreensão de aspectos não pri-
(p. 9). Retomando Ciro Flamarion Car-
ciências sociais e a história e a contri-
vilegiados naquelas versões.
doso, Saviani localiza nos paradigmas
buição da história oral para a pesquisa
“iluminista” e “pós-moderno” os dois
histórica. Elomar Tambara (UFPel), a
pois, uma obra de grande relevância,
pólos do atual embate teórico-metodo-
seguir, advoga “uma posição
pois torna acessível aos professores de
lógico nos “domínios da história”.
ecumênica” contra uma história da edu-
história da educação e aos educadores,
Posicionando-se no interior do primeiro,
cação “feita ‘em remendos’”. Mirian
de modo geral, um conjunto amplo de es-
o autor situa no “entusiasmo” dos “jo-
Jorge Warde (PUC-SP) defende a inser-
tudos oriundos de investigações realiza-
vens investigadores da história da edu-
ção da história da educação como uma
das nas universidades e nos centros de
cação” pelo segundo, e particularmente
“história de disciplina específica” e
pesquisa de nosso país. Em tal condição,
por um dos seus principais nomes,
aponta a fecundidade da colaboração
este livro expressa o significativo desen-
Michel Foucault, parte das atuais difi-
entre as ciências sociais e a história.
volvimento da historiografia atual da
culdades na área. Daí a necessidade e a
Fecha esta parte a comunicação de Zaia
educação brasileira ao mesmo tempo em
importância para a história da educação
Brandão (PUC-RJ), que, partindo de
que dá ao conhecimento do público al-
de aprofundar o debate epistemológico.
um trabalho de Anísio Teixeira sobre a
500 anos de educação no Brasil é,
guns dos importantes resultados já obti-
A parte um, denominada “Ques-
A parte dois, “Questões teórico-
educação e a ciência, problematiza a
dos. De posse desses resultados os pro-
tões teórico-metodológicas da história”,
identidade do campo da história da edu-
fessores poderão elevar, também, a
abre com o artigo em que Edgar
cação e incorpora ao seu âmbito, num
qualidade do ensino não apenas da histó-
Salvadori de Decca (UNICAMP) faz
“mergulho disciplinar”, contribuições
ria da educação mas das demais discipli-
uma revisão de algumas das mais signi-
de nomes da história cultural contempo-
nas que, em larga medida, se baseiam no
ficativas propostas da “história como
rânea, como Robert Darnton e Carlo
conhecimento histórico para o desenvol-
narrativa”, a começar por Hayden
Ginzburg.
vimento de seus conteúdos curriculares.
White e chegando a Edward P.
A parte três, “Questões relativas à
Thompson. Para este último, um “mar-
trajetória da pesquisa em história da
Dermeval Saviani
xista peculiar” com quem de Decca ma-
educação no Brasil”, abre com um artigo
Universidade Estadual de Campinas
nifesta grande afinidade, a história “é
de Jorge Nagle (UNESP), em que são
herdeira da narratividade”. Segundo o
narrados os caminhos de investigação de
autor, o retorno da narrativa é
seu clássico Educação e sociedade na
José Claudinei, SANFELICE, José
alvissareiro para a história, mas coloca
Primeira República. A seguir, Carlos
Luís (orgs.). História e história da
problemas que exigem atenção. O se-
Roberto Jamil Cury (UFMG) mostra seu
educação: o debate teórico-metodo-
gundo artigo é de José Carlos Reis
itinerário desde a preocupação inicial
lógico atual. Campinas: Autores
(UFMG), que defende a tese de que a
com “uma visão macroestrutural que res-
Associados: HISTEDBR, 1998.
Escola dos Annales foi uma espécie de
saltasse o contexto histórico e a crítica
refúgio para pesquisadores esgotados
social” até seu “encontro com a pesqui-
SAVIANI, Dermeval, LOMBARDI,
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Mai/Jun/Jul/Ago 2000 Nº 14